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FUNDACAO GETÚLIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRACAO PÚBLICA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRACAO PÚBLICA , MARTA ZORZAL E SILVA 198706 677 T/EBAP 85868 11111111111 1000047275 ESPIRITO SANTO: ESTADO, INTERESSES E PODER VOLUME 11 MONOGRAFIA APRESENTADÂ À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚ- BLICA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. RIO DE JANEIRO, 1986

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  • FUNDACAO GETLIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRACAO PBLICA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRACAO PBLICA , MARTA ZORZAL E SILVA 198706 677 T/EBAP 85868 11111111111 1000047275 ESPIRITO SANTO: ESTADO, INTERESSES E PODER VOLUME 11 MONOGRAFIA APRESENTAD ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAO P-BLICA PARA OBTENO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAO PBLICA. RIO DE JANEIRO, 1986
  • fUNDAAO GETLIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAAO PBLICA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAAO PBLICA E APROVADA , ESPIRITO SANTO: ESTADO, INTERESSES E PODER MONOGRAFIA DE MESTRADO APRESENTADA POR MARTA ZORZAL E SILVA PELA COMISSO JULGADORA EDUARDO OLIVEIRA DAPIEVE MPA - Mestre em Administrao Pblica FI I ;/ I):;~._~ I- 'fi. PAULO ROBERTO DE MENDONA MOTTA PhD - em Administrao Pblica ANTNIO CARLOS DE MEDEIROS PhD - em Cincia poltica
  • SUMARIO PGINA AGRADECIMENTOS vii RESU!-lO ............................................ xiii LISTA DE QUADROS, MAPAS E ANEXOS ............... ... xv INTRODUCAO PRIMEIRA PARTE: INTERESSES CONSTITUIDOS E DIRECAO POLTICA: DA PRI-MEIRA REPBLICA AO ESTADO NOVO ................... . CAPTULO I: INTERESSES CONSTITUDOS E PADRES DE ARTICULAO VIGE~TES, NO ESPRITO SANTO, DURANTE A PRIMEIRA RE-PBLICA .......................................... . 1. Ir.troduo .................................... . 2. Especificidades do espao scio-econmico e in-teresses constitudos no Esprito Santo ....... . 3. Estruturao do poder poltico ................ . 4. Coronelismo como foma de articulao entre clas-ses dominantes e dominadas .................... . CAP?ULO 11: REVO~UO DE 1930 E ESTADO NOVO: REBATIMENTOS NO 31 32 32 39 65 98 ESP:iUTO SANTO .................................... 139 1. I::troduo ..................................... 139 2. Posicionamento das foras polticas espiritos-santenses na Revoluo de 1930 156 ii
  • 2.1. Quadro Conjuntural do Esprito Santo no mo-mento pr-revolucionrio ................. . 2.2. A Revoluo de 30 no Esprito Santo ...... . 3. O rearranjo da direo do Aparelho Regional de Estado ........................................ . 4. A ao do militar - Capito Joo Punaro Bley-na direo poltica do Estado do Esprito Santo: (novembro/1930 a janeiro/19431 ................ . 4.1. Governo Provis6rio - Primeira Intervento-r i a ...................................... . 4.2. Governo Constitucional e Estado Novo - Se-gunda Interventor ia ...................... . 5. Concluses APKDICE N 1: A AO DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS PROTAGONISTAS, DO ESPRITO SANTO, NO MOVIMENTO REVOLUCIONRIO DE 1930 .. SEGUNDA PARTE: INTERVALO DEMOCRTICO: CORONELISMO VERSUS POPULISMO NA POLTICA PARTIDRIA ESPIRITOSSANTENSE ......... . CAPTULO 111: REARRANJO NA ESTRUTURA JURDICO-POLTICA: EMERGN-CIA DE UM NOVO SISTEMA PARTIDRIO ................ . 1. Introduo .................................... . 2. Formao do sistema partidrio brasileiro 3. Organizaes partidrias que constituiram dire-t6rios regionais no Esprito Santo 3.1. Composio das foras sociais 3.2. Forma de constituio dos diret6rios regio-nais no Esprito Santo ................... . iii PGINA 156 161 1 71 175 175 184 193 214 234 235 235 242 249 249 254
  • 3.2.1. Rearranjo nas organizaes partid-rias fundadas em 1945, no Esprito Santo, durante a vigncia do Regime Democrtico ....................... . 4. Potencial poltico e econmico do Esprito San-to ............................................ . 5. Concluses .................................... . APt\0ICE N 2: ORGA~IZAES PARTIDRIAS QUE SE CONSOLIDARAM NA AREt\A POLTICA BRASILEIRA - 1945/1965 ............ . CAPTULO IV: PSD/DDN EM ALIANA: ESBOO DA VIA INDUSTRIALIZANTE CmiO ALTERNATIVA PARA O ESPRITO SANTO - 1947/1950 1. Disputa Partidria: pleito de 1947 ............ . 2. A ao do Estado sob a direo de Carlos Lin-enberg ....................................... . 2.1. Composio dos quadros dirigentes ........ . 2.2. Diretrizes da poltica de desenvolvimento sc i o-econmi co .......................... . 2.3. Bases de financiamento das polticas , pu-blicas ................................... . 3. Concluses .................................... . CAP~ULO V: PSD/PTB EM ALIANA: AS QUESTES URBANAS ASSUMEM PRI-MAZI';? - 1951/1954 ............................... . 1. Disputa partidria: pleito de 1950 ............ . 2. A ao do Estado sob a direo de Jones dos San-tos Neves iv PGINA 268 285 293 312 328 328 351 351 359 367 374 390 390 4 1 1
  • 2.1. Composio dos quadros dirigentes ........ . 2.2. Diretrizes da poltica de desenvolvimento scio-econmico .......................... . 2.3. Bases de financiamento das polticas pbli-c as ...................................... . 2.4. A face social e institucional do Estado no Governo Jones 3. Concluses .................................... . CAPTJLO VI: PSP/PR/PRP/PTB EM COLIGAO DEMOCRTICA: A REPRODU-O DA PEQUENA PROPRIEDADE EM PAUTA? - 1955/1958 .. 1. Disputa Partidria: pleito de 1954 ............ . 2. A ao do Estado sob a direo de Francisco La-cerda de Aguiar 2.1. Composio dos quadros dirigentes ........ . 2.2. Diretrizes da poltica de desenvolvimento scio-econmico .......................... . 2.3. Bases de financiamento das polticas pu-blicas ................................... . 3. Concluses .................................... . CAPTULO VII: PSD/PSP EM ALIANA: A INTERSECO DO PROCESSO DE INDUSTRIALIZAO ACELERADA NA VIA CONSERVADORA DE DESENVOLVIMENTO DO ESPRITO SANTO - 1959/1962 ..... 1. Disputa Partidria: pleito de 1958 ............ . 2. A ao do Estado sob a direo de Carlos Lin-denberg ....................................... . 2.1. Composio dos quadros dirigentes ........ . 2.2. Diretrizes da poltica de desenvolvimento scio-econmico .......................... v PGINA 4 1 1 415 426 431 445 463 463 487 487 492 506 517 530 530 564 564 568
  • 2.3. Bases de financiamento das polticas pbli-c as ...................................... . 3. Concluses .................................... . CAPTULO VIII: PSP/PTB/PRP/UDN/PDC EM COLIGAO DEMOCRTICA: AINDA A PEQUENA PROPRIEDADE NA ORDEM DAS PRIORIDADES? 1963/1966 ........................................ . 1. Disputa partidria: pleito de 1962 2. A ao do Estado sob a direo de Francisco La-cerda de Aguiar 2.1. Composio dos quadros dirigentes ........ . 2.2. Diretrizes da poltica de desenvolvimento scio-econmico .......................... . 2.3. Execuo e limites que interceptaram a ao do Governo Lacerda de Aguiar ............. . 2.4. Bases de financiamento das polticas p-blicas ................................... . 3. Concluses .................................... . APNDICE N 3 .................................... -CONCLUSAO REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS - FO!\TES UTILI ZADAS .............................. . - BIBLIOGRAFIA ................................... . ANEXOS vi PGINA 591 600 623 623 656 656 660 681 697 710 728 745 765 766 783 798
  • LISTA DE QUADROS, MAPAS E ANEXOS 1. QUADROS r. 01: I. O::: : 1.02: 1.0';: Esprito Santo: Dimenso Populacional em r~ lao ao Brasil - 1872/1920 .............. . Esprito Santo: Participao Relativa das regies na Exportao de Caf - 1857/1885 ... Esprito Santo: Composio da Estrutura So-cial na ltima dcada do sculo XIX Esprito Santo: Evoluo do Sistema Parti-drio durante o Imprio .................. . I.C~: Esprito Santo: Evoluo das Composies PGINA 62 63 70 82 partidrias - 1889 a 1930 ................. 88 II.G6: Vitria-ES: Exportadores de Caf - Empresas Existentes - Dcadas 1910 e 1920 .......... 160 111.07: Esprito Santo: Dimenso Populacional em relao ao Brasil e a regio Sudeste e par-ticipao relativa da populao urbana e rural no Total - 1940/1980 ... ............. 290 111.08: Esprito Santo: Populao e Eleitorado em relao ao Brasil e a Regio Sudeste e par-ticipao relativa do eleitorado no total da populao - 1940/1962 ..... ........ ..... 291 111.09: Esprito Santo: Alguns indicadores econmi-cos - 1950/1980 ........................... 292 xv
  • IV.l0: Esprito Santo: Receita por Fontes de Re-cursos 1947/50 - Em Valores Correntes e participao relativa na receita total do Estado ................................... . IV. 1 1: Esp r i to Santo: Despesa por Poderes e rgos Administrativos 1947/50 - Em Valores Cor-rentes e participao relativa na despesa total do Estado .......................... . IV.12: Esprito Santo: Despesa por Elementos 1947/50 - Em Valores Correntes e participa-o relativa na desp2sa total do Estado ... IV.13: Esprito Santo: Despesas por Servios 1947/50 - Em Valores Correntes e p3rtici-pao relativa na despesa total do Estado . V. 14: V. 1 5 : V. 16: V. 17: V. 18: Esprito Santo: Plano de Valorizao Econ-mica do Estado - Programao dos Investi-mentos - Em Valores Correntes ............ . Esprito Santo: Plano de Valorizao Eco-nmica do Estado - Recursos Financeiros Previstos - Em Valores Correntes Esprito Santo: Plano de Valorizao Econ-mica do Estado - Detalhamento das p8ssveis fontes de recursos financeiros - Em Valores Correntes Esprito Santo: Receita por Fontes de Re-cursos - 1951/54 - Em Valores Correntes e participao relativa na receita total do Estado ................................... . Esprito Santo: Despesas por Poderes e r gos Admini strati vos - 1951/54 - E1n Valores Correntes e participao relativa na des-pesa total do Estado ...................... . xvi 370 371 372 373 438 439 440 441 442
  • V. 19: V.20: Esprito Santo: Despesas por Elementos 1951/54 - Em Valores Correntes e participa-o relativa, na despesa total do Estado ... Esprito Santo: Despesa por Servios 1951/54 - Em Valores Correntes e participa-o relativa na despesa total do Estado .... VI.21: Esprito Santo: Administrao Francisco La-cerda de Aguiar (1955-1959) - Composio dos Quadros Dirigentes do Governo ............ . VI.22: Esprito Santo: Receita por Fontes de Re-cursos - 1955/58 - Em Valores Correntes e participao relativa na receita total do Estado ................................... . VI.23: Esprito Santo: Despesas por Elementos 1955/58 - Em Valores Correntes e participa-o relativa na despesa total do Estado VI.24: Esprito Santo: Participao Relativa das despesas de pessoal no montante das recei-tas prprias do Estado - Em Valores Corren-tes VI.25: Esprito Santo: Despesas por Poderes e r-gos Administrativos - 1955/58 - E~ Valores Correntes e Participao relativa na despe-sa total do Estado ........................ . VI.26: Esprito Santo: Despesas por Servios 1955/58 - Em Valores Correntes e participa-o relativa na despesa total do Estado ... VII.27: Esprito Santo: Receitas por Fontes de Re-cursos - 1959/62 - Em Valores Correntes e p3.rti-cipao relativa na receita total do Estado ... xvii 443 444 490 512 513 514 515 516 596
  • VII.28: Esprito Santo: Despesas por Elementos 1959/62 - Em Valores Correntes e partici-pao relativa na receita total do Esta-do ...................................... . VII.29: Esprito Santo: Despesas por Poderes e r-gos Administrativos - 1959/62 - Em Valo-res Correntes e participao relativa na receita total do Estado ................. . VII.30: Esprito Santo: Despesas por Servios 1959/62 - Em Valores Correntes e partici-pao relativa na despesa total do Estado. VIII.31: Esprito Santo: Administrao Francisco Lacerda de Aguiar - 1963/1966 - Composio dos quadros dirigentes do governo ....... . VIII.32: Esprito Santo: Plano de Industrializao Rural - Programao dos Investimentos e das fontes de recursos financeiros - Em Valores Correntes ........................ . VIII.33: Esprito Santo: Plano Educacional de Emer-gncia - 1964/1966 - Programao dos In-vestimentos e das fontes de recursos fi-nanceiros - Em Valores Correntes ........ . VIII.34: Esprito Santo: IBC-DAC - Programa de Di-versificao - Aplicaes da ACARES - ~ Em Crdito Rural orientado VIII.34A: Esprito Santo: Participao Relativa do montante investido em Crdito Rural Orien-tado no total das Receitas Prprias do Es-tado .................................... . VIII.35: Esprito Santo: Receitas por fontes de Re-cursos - 1963/1966 - Em Valores Correntes e par-ticipao relativa na receita total do Estado '" xviii 597 598 599 658 701 702 703 704 705
  • VIII.36: Esprito Santo: Despesas por Categorias Econmicas - 1963/1966 - Em Valores Cor-rentes e participao relativa na Despesa total do Estado ......................... . VIII.37: Esprito Santo: Despesas por Poderes e r-gos Administrativos - 1963/66 - Em Valo-res Correntes e participao relativa na despesa total do Estado ................. . VIII.38: Esprito Santo: Despesas por Servios 1963/64 - Em Valores Correntes e partici-pao relativa na despesa total do Estado. VIII.39: Esprito Santo: Despesas por Fun2s 1965/66 - Em Valores Correntes e partici-pao relativa na despesa total do Estado. VIII.40: Esprito Santo: Plano Trienal de Desen-2. MAPAS volvimento - 1961/63 - Programao dos In-vestimentos e respectivos custos - Em Va-lores Correntes (Apndice n 2) ......... . 01. Ocupao Territorial do Esprito Santo - ltima dcada do sculo XIX ......................... . 3. ANEXOS 3.1. Quadros IX. 41 : Esprito Santo: Disputa Eleitoral - 1945/ 62 - Alianas e Coligaes realizadas para as Eleies Majoritrias ................ . xix 706 707 708 709 741 64 799
  • IX.42: Esprito Santo: Participao em Eleies Majoritrias - 1945/1962 (Em Valores Abso-lutos) ................................... . IX.43: Esprito Santo: Participao em Elei~s Ma-joritrias - 1945/1962 (Em Valores Relati-vos) IX.44: Esprito Santo: Participao em Eleies Proporcionais - 1945/1962 (Em Valores Ab-sol utos ) .................................. . IX.45: Esprito Santo: Participao em Eleies Proporcionais - 1945/1962 (Em Valores Re-lativos) IX.46: Esprito Santo: Distribuio dos Votos Partidrios - 1945/1962 - Eleies Majori-trias: Presidncia da Repblica IX.47: Esprito Santo: Distribuio dos Votos Par-tidrios - 1945/1962 - Eleies Majorit-r ias: Governador ia Estadual .............. . IX.48: Esprito Santo: Distribuio dos Votos Par-tidrios - 1945/1962 - Eleies Majorit-rias: Senado IX.49: Esprito Santo: Distribuio dos Votos Par-tidrios - 1945/1962 - Eleies Proporcio-nais: Cmara Federal IX.50: Esprito Santo: Distribuio dos Votos Par-tidrios - 1945/1962 - Eleies Proporcio-nais: Assemblia Legislativa ............. . IX.51: Esprito Santo: Resultados das Eleies Presidncia da Repblica, Governadoria Es-tadual e Vice-Governadoria - 1945/1962 .... xx 800 802 803 804 805 806 807 808 809 810
  • IX.52: Esprito Santo: Resultados das Eleies ao Senado - 1945/1962 ....................... . 815 IX.53: Esprito Santo: Resultados das Eleies cmara Federal - 1945/1962 ............... . 816 IX.54: Esprito Santo: Resultados das Eleies Assemblia Legislativa - 1945/1962 ....... . 821 XXl
  • CAPITULO IV PSD/UDN EM ALIANA: ESBOO DA VIA INDUSTRIALIZANTE COMO ALTERNATIVA PARA O , ESPIRITO SANTO - 1947/1950 1. DISPUTA PARTIDRIA: PLEITO DE 1947 328 A eleio de 1947, alm de ter se constitudo num mo-mento de reacomodao das diversas faces polticas, que se rearticularam tanto a nvel intra-partidrio como a nvel in-ter-partidrio, marcou, tambm, o ingresso de novas foras polticas no campo da disputa partidria. Efetivamente, as rivalidades e diverg@ncias contempo-rizadas em nome da necessidade de se criar partidos fortes, de carter nacional, exacerbaram-se quando a luta poltica foi trazida arena regional, revelando toda a fragilidade da apa-rente harmonia de foras que se pretendia criar. Tanto no Diretrio estadual do PSD como no da UDN, partidos mojorit-rios naquele mom2nto, ocorreram rupturas irreconciliveis que acabaram resultando na formao de novos ncleos partidrios. Com efeito, apesar de existir no cenrio poltico es-piritossantense mais sete organizaes partidrias, alm do PSD, as polarizaes e disputas em torno da definio dos candidatos s eleies majoritrias (governador e senador) se
  • concentraram no mbito das duas faces pessedistas: nista" e a "atilista". Os movimentos ocorridos nos 329 a "jo-demais partidos se resumiram a posicionamentos ao lado de uma ou ou-tra dessas alas. Esse comportamento iria desde a formao de aliana com uma das faces, simples apoio, ou mesmo diviso de partido, como foi o caso da UDN, em que uma parte apoiaria a Attlio e a outra a Jones. Vistas, "a posteriori", as polarizaes que acabamos de sintetizar, parecem ter sido o resultado simples e natural de acomodao de tendncias. No entanto, ao se observar o desenrolar das articulaes verifica-se que na realidade tal configurao foi o resultado de um processo altamente contur-bado, marcado por vicissitudes momentneas e acertos de lti-ma hora que, em sntese, refletiram a maior diferenciao das foras polticas dominantes integrantes do bloco regional de poder. Na verdade, o pleito de 47 significou a primeira opor-tunidade de participao poltica das novas foras sociais que emergiram no ps 30, em funo da maior diferenciao social e da ocupao do norte do Estado, via desdobramento da colo-nizao estrangeira que fora realizada na regio Central. At ento, a luta se travava entre apenas dois conjuntos de for-as polticas: as constitudas no seio das clases agro-fun-dirias e aquelas constitudas no seio das classes mercantis-exportadoras. Nessas eleies, contudo, as foras polticas constitudas na pequena e mdia produo rural, atravs do PRP, ingressaram no cenrio da disputa partidria.
  • Em termos da disputa eleitoral os maiores 330 atritos e contra-tempos, tiveram suas origens no processo de escolha do candidato Governadoria do Estado e de seu companheiro de chapa para disputar a terceira vaga criada no Senado pela Constituio Federal de 46. Para o PSD a questo residia na escolha de um candida-to de consenso, suficientemente neutro e expressivo, capaz de, ao mesmo tempo, unir as duas alas do partido e ainda obter o apoio de outros partidos menores presentes no Estado. As ar-ticulaes nesse sentido foram encaminhadas pelos integrantes da ala "jonista". o nome encontrado pelos lderes dessa ala -Jones dos Santos Neves e Carlos Lindenberg - foi o do General Tristo de Alencar Araripe, o qual alm de ser espiritossan-tense, era militar e amigo do General Eurico G. Dutra, Presi-dente da Repblica. Da perspectiva dos articuladores, Tristo de A. Araripe possuia alguns requisitos bsicos que o tornava acessvel s duas alas, podendo assim, realizar a unio do partido. Em primeiro lugar moda Punaro Bley em 1930, Tris-to de A. Araripe no era poltico e estava distante h muitos anos das fissuras regionais, o que lhe dava um carter de cer-ta neutralidade diante das rivalidades que os dividia. Em segundo, o fato dele ser militar e amigo do General Dutra alm de facilitar o apoio eleitoral por parte do Presidente, apro-ximaria mais a ala "jonista" do Executivo Federal, j que esta, desde a eleio de Dutra, havia perdido terreno para a ala "atilista". Assim, no incio de outubro de 1946, os lderes da ala "jonista" telegrafaram ao General Tristo de A. Araripe,
  • 331 em servio no Estado do Mato Grosso, solicitando-lhe consen-timento para indicar seu nome como candidato Governador, pe-lo PSD, na conveno do partido que se realizaria em 26 de ou-tubro de 1946, e comunicava-lhe o propsito de indicar, no mesmo evento, o nome de Jones dos Santos Neves com8 candidato 1 a 3 vaga do Senado. No entanto, no foi apenas a faco "jonista" do PSD a unlca a lembrar o nome do General Araripe para governar o Esprito Santo. Tambm o PDC e a UDN haviam tido idia se-melhante, e, antes da ala "jonista", haviam, em separado, pro-curado o General com tal objetivo. 2 o PDC havia se reorgnizado, basicamente, para abrigar 3 a candidatura Punaro Bley ao Senado. Observando-se as arti-culaes encaminhadas por Bley nesse perodo, percebe-se que sua inteno era, pela via eleitoral, dar a volta por cima no ostracismo poltico a que fora relegado desde que fora "con-vidado" a deixar a interventoria estadual em 1943. Assim, de imediato, ele cuidou de agregar, em uma organizao partid-ria - o PDC -, lideranas polticas que se solidarizavam com seus propsitos e amigos que havia constitudo durante os anos 30. Estes lhe daria o necessrio apoio para a organizao do 'd 4 partl o. A seguir, j que sua inteno era eleger-se sena-dor, era preciso encontrar um candidato Governador que es-tivesse acima das competies particulares e rivalidades in-ter-partidrias, capaz de atrair o maior nmero de foras po-lticas possvel, para dar o necessarlO suporte a sua candida-tura. O candidato, com tais atributos, para Bley, era o ge-neral Tristo de Alencar Araripe. Assim, paralelamente re-
  • 332 organizao do PDC, ele iniciou as negociaes tanto com o general Araripe como com o Presidente Dutra, visando tornar f ~ 1 ,. 5 actlve sua estrategla. Na mesma poca, isto , na fase preliminar de sonda-gens de nomes para definies de candidatos, quando nenhum dos partidos havia ainda definido suas opes, a UDN, ao realizar suas conjecturas, encontra, tambm no General Araripe, o can-didato capaz de unir as foras polticas capixabas. As ra-zes da UDN eram, praticamente, as mesmas do PDC e, posteri-ormente, da ala "jonista" do PSD, ou seja, a UDN precisava de um candidato a governador, uma vez que queria eleger o 6 dor. sena-Da mesma forma a ala "atilista" do PSD, nessa fase, ao ser consultada para possvel negociao em torno da candi-datura Araripe, estabeleceu, como condio, a de indicar o candidato ao Senado. 7 possibilidade Ao que tudo indica parece que a estratgia s~bjacente, de cada partido ou ala, seria a possibilidade de, a posterio-ri, se realizar os arranjos e ajustes mais convenientes, j que seria garantido, por tal caminho a permanncia (caso da ala "jonista" do PSD) ou o acesso (caso da ala "atilista" do PSD, UDN e PDC) direo do Aparelho de Estado do Esprito Santo. Na realidade, a fragmentao partidria existente pas-sava a exigir a articulao de um novo mecanismo reagregador das foras polticas em disputa. Entretanto, a estratgia, posta em prtica, de reali-zar essa reagregao via consenso supra-partidrio no deu
  • 333 certo. o candidato escolhido com esse objetivo no realizou a faanha esperada pelos diversos partidos. Na verdade, seu comportamento poltico, aliado as intransigncias dos candida-tos ao Senado, que no abriram mo de suas candidaturas, aca-bou por aprofundar mais as divises existentes no PSD e, ainda de roldo, dividiu tambm a UDN. No existiu o candidato de consenso nem to pouco realizou-se o congraamento dos dissi-dentes e demais partidos como desejavam os articuladores do processo. Cada um dos grupos polticos acabou definindo seu prprio caminho . . A rearticulao do quadro da disputa eleitoral Nas articulaes iniciais, tanto para o PDC como para a UDN e, posteriormente, para a ala "jonista" do PSD, o ge-neral Araripe estabeleceu as seguintes condies para aceitar a candidatura. Primeiro, que a escolha de seu nome fosse aceita por todos, de modo a tornar-se ele candidato nico do Esprito Santo; segundo, que sua indicao tivesse o apoio explcito do Chefe da Nao. 8 Entretanto o que o desenrolar dos acontecimentos in-dica que, na medida em que nenhum~ das partes postulantes abria mo da candidatura ao Senado, a primeira condio tor-nava-se invivel. Alm disso, as foras integrantes da ala "atilista" do PSD no demonstravam grandes simpatias pela fr-mula em articulao. Encaminhavam, em paralelo, negociaes
  • 334 no sentido de lanar seu prprio candidato ao governo do Esta-9 do. Nessas circunstncias e, tendo garantida a segunda condio, o General Araripe preteriu as propostas do PDC e da UDN, posicionando-se ao lado dos "jonistas". Nesse sentido, em fins de novembro de 1946, ele aceitou a proposta da faco "jonista", embora, oficialmente, seu nome s fosse lanado na Conveno do Partido, que se realizaria em 15 de dezembro. Dessa definio do General Araripe resultou que os de-mais integrantes do preo se rearticularam em rumos distintos. Com efeito, alguns membros da faco "atilista" j vinham atu-ando com esse objetivo. Em meados de novembro de 1946 haviam fundado o diretrio estadual do PR com a finalidade de abrigar os dissidentes pessedistas e apoiar a candidatura de Attlio Vivcqua ao Governo do Estado. Por seu turno, Attlio Vivc-qua h3via convocado os dissidentes, que seguiam sua orienta-o, para realizao de uma assemblia preliminar, no dia 30 de novembro, em Cachoeiro de Itapemirim. Nessa assemblia de-cidiram no apoiar a candidatura do General Araripe e lanaram o nome de Attlio Vivcqua com~ candidato a Governador do Es-tado. Os principais lderes pOlticos que, juntamente Attlio, articularam a realizao da dita assemblia, com foram: Aristides Campos - ex-Interventor estadual -, Ubaldo Ramalhe-te Maia - ex-secretrio do Interior e Justia, Asdrubal Soares e Pa~lo Rezende - Deputados Federais pelo PSD, alm de alguns lderes de Diretrios Municipais e outras lideranas menos ex-pressivas. Tal candidatura seria poster iorm2nte, homologada pelo PR, na conveno do partido, realizada, em sua sede em
  • 335 Vitria, no dia 18 de dezembro. 10 A Conveno da UDN por sua vez, foi realizada nos dias 16, 17 e 18 de novembro. Todavia, os udenistas no chegaram a uma soluo definitiva, nessa Conveno. Acertaram, de incio, que no lanariam candidatos prprios nem a governa-doria nem a 3 senatria. Decidiram estudar melhor as propos-tas para colaborao do partido com outras agremiaes, colo-cadas tanto pela faco "jonista" quanto pela "atilista", j que o partido se achava dividido quanto a este aspecto. Con-vocaram uma segunda conveno, para decidir com qual das alas colaborariam, para o dia 28 de dezembro de 1946. 11 o PDC aguardou alguns dias para decidir seu destino. Realizou sua Conveno, em 19 de dezembro, quando o quadro po-ltico j estava mais ou menos definido, e suas chances, a esta altura, no eram mais muito promissoras. Alm disso, desconhecia sua fora eleitoral, considerando-se que esta se-ria a primeira vez que participaria do pleito com candidatos do E. Santo. Mas, mesmo assim, decidiu disputar as eleies com chapa completa. Lanou como candidatos o Dr. Fernando Duarte Rabelo e o Cel. Joo Punaro Bley, respectivamente, para Go-vernador do Estado e Senador. 12 Os demais partidos - PTB, PRD, PCB, exceto o PRP, que lanou candidato tambm ao Senado - lanaram candidatos apenas Assemblia Legislativa. Posteriormente, posicionaram-se ao lado de uma ou outra das faces do PSD, em relao ao pleito majoritrio.
  • 336 Finalmente, quando o campo das lutas estava mais ou menos articulado e em fase de largada final, novos complica-dores surgem na arena poltica. O General Tristo de Alencar Araripe resolve, em 26 de dezembro de 1946, retirar sua candi-datura a Governador do Estado, sustentada pela faco "jonis-ta" do PSD. Alegou, como razo para tal deciso, em "Mani-festo aos amigos do Esprito Santo", o fato de no ter se cum-prido a condio nmero um que havia colocado para candidatar-se. Mais precisamente, em suas prprias palavras: "Meus prezados amigos do Esprito Santo. esta explicao quando retiro meu nome de combinao poltica no Estado. ( ... ). ( . . .............. ) Devo-lhes qualquer A minha grande preocupao era harmonizar as corren-tes democrticas. Apesar do interesse e do que alimento pela terra natal e apesar de com nimo e meios para trabalhar na fase carinho sentir-me poltica que se vai inaugurar, no vejo benefcio em aumentar a discrdia, em insuflar ambies onde s deveria naver harmonia e esprito de sacrifcio para o bem comum. o que tenho afirmado aos membros da Comisso exe-2utiva do PSD, por inmeras vezes; o que tenho de-clarado ao Exmo. Sr. General Dutra, quando aconse-lhou que aceitasse e mantivesse a minha candidatura. Acontece, porm, no vejo possibilidades de :ealizados os desejos manifestos no meu de 23 de outubro. serem telegrama
  • 337 De um lado, o Exmo. Sr. General Dutra, que tem me aconselhado a aceitar e a manter a minha candidatura e que, por vrias vezes, tem prometido medidas para normalizar e harmonizar a situa~o do Estado, n~o tem conseguido nenhum xito nesse seu desideratum. Por outro lado, no tiveram resultado os passos da-dos por quem de direito no sentido de congraar os partidos de expresso poltica em torno do meu nome. No tive conhecimento, at agora, de acordo, de con-cesses de parte a parte, apesar de minha interfe-rncia para que se harmonizassem os dissidentes e os outros partidos. Convenci-me de que no venceria as ambies, os interesses e ressentimentos pessoais de muitos. Chego, assim, concluso de que tambm os espiri-tossantenses no manifestam interesse de ter no Go-verno um homem apoltico, com os meus propsitos e com as garantias que a minha vida ntegra lhes as-segurariam. Por isso, retirei o consentimento de apresentao do meu nome pelo PSD, embora reconhea a lisura das intenes dos amigos que a tenho. ( ... )".13 Diante do novo quadro, que a partir da se conf igurou, novos arranjos foram articulados. De imediato, a faco "jo-nista" do PSD substituiu o nome do General Araripe, em sua chapa de candidatos, pelo de Carlos Lindenberg e, ao mesmo tempo, acelerou as negociaes, em andamento, com a UDN, para b . 1 . d 14 o ter o apolo a meJa o.
  • 338 A UDN, comJ se V1U, estava dividida entre as duas alas do PSD e, ainda, no havia decidido a quem apoiaria. A conven-o para tal deciso se realizaria 28 de dezembro. Todavia, face a desistncia do General, a proposta de apoio a sua can-didatura perdera razo de ser. No entanto, os udenistas parti-drios dessa proposta redirecionariam os rumos da UDN. Apro-veitando-se do fato de, na Conveno, de 28 de dezembro, con-tarem com uma maioria ocasional, a qual representou o voto de uma delegao municipal, isto , 74 contra 70 votos, aprovaram uma nova frmula, em que a UDN decidia apresentar candidatos tanto Governadoria como ao Senado. Lanaram, assim, os no-mes dos Srs. Fernando Monteiro Lindenberg, irmo de Carlos Lindenberg (candidato da ala "jonista" do PSD) e Luiz Tinoco d F 0'5 a onseca, para os respectlvos cargos. Em seguida, os referidos udenistas consumaram seus objetivos, qual seja o de apoiar as candidaturas Carlos Lin-denberg e Jones dos Santos Neves. Mais precisamente, a 5 de janeiro de 1947, segundo afirmao do jurista Jos de Me-deiros Corra, Secretrio Geral do Diretrio Municipal da UDN em Cachoeiro de Itapemirim, foi selada, em Cachoeiro de Ita-pemirim, a aliana PSD/UDN. Neste acordo, "( o o o) resolveram anular o decidido na Conveno da UON, 28 de dezembro, em Vitria, passando o sena-dor da UON a suplente do PSO e o Or. Fernando Lin-denberg autorizado a desistir e inscrever seu ilus-tre e digno irmo Oro Carlos Lindenberg como candi-dato da UONo"'6
  • 339 Como consequncia imediata, aprofundaram-se as fen-das existentes na UDN. Os membros do partido, contrrios a tal deciso, desligaram-se, e passaram a fazer campanha para a candidatura de Attlio Vivcqua. Entre os separatistas da UDN destacavam-se as seguintes lideranas: Cel. Eleosippo Cu-nha, Rosendo Serapio de Souza Filho, Eurico Rezende (respec-tivamente proprietrio, diretor e redator-chefe do jornal "A Gazeta" e membros da Comisso executiva da UD~), Nahum Prado (membro do Diretrio estadual da UDN), Jos de Medeiros Cor-ra (Secretrio Geral do Diretrio de Cachoeiro de Itapemirim e membro do Diretrio estadual), entre outras, menos expressi-1 -: vaso Do outro lado, os "atilistas", tambm, promoveram no-vos ajustes. No dia 3 de janeiro de 1947, celebraram o acordo "PR, PDC e foras dissidentes do PSD" e registraram a primeira Coligao Democrtica para disputar o pleito no Esprito San-to, a qual, posteriormente, nos anos 50, se tornaria comUffi nas disputas eleitorais espiritossantenses. lugar De acordo com a Ata do referido acordo, publicada na Gazeta de 5 de janeiro, o candidato Governadoria do Estado pelo PDC - Dr. Fernando Duarte Rabelo - retirou sua candida-tura em favor da candidatura de Attlio Vivcqua, que foi regis~rada no TRE pelos partidos coligados. Registraram, tam-bm, como candidato comum, terceira vaga no Senado, o Te-nente-Coronel Joo Punaro Bley, e para as vagas de suplncia ao senado foi registrado um candidato do PR e dois do PDC. Pa-ra a hsse~blia Legislativa os registros foram feitos 1 8 parado. em se-
  • 340 Os outros partidos no registraram acordos formais com nenhum dos dois blocos de foras polticas caracterizados, po-rm, posicionaram-se, a nvel da campanha eleitoral, realizada para os cargos majoritrios. Assim, o PRD e o grupo separa-tista da UDN apoiaram os candidatos da Coligao PR/PDC e foras dissidentes do PSD. 19 O PTB e o PRP apoiaram os can-didatos da Aliana PSD/UDN. O PCB, por sua vez, resolveu di-vidir o seu apoio entre os candidatos dos dois grupos. Para a governadoria do estado apoiou o candidato da Coligao Demo-crtica - Attlio Vivcqua - e para a terceira senatria apoiou o candidato da Aliana PSD/UDN - Jones dos Santos Ne-20 ves. . Os candidatos e as campanhas O candidato da Aliana PSD/UDN - Carlos Fernando Mon-. . d b 21 l'd t te1ro L1n en erg era um 1 er pertencen e a antiga corrente jeronimista, o qual expressava e traduzia os interesses das foras agrofundirias do Esprito Santo, cuja base fundamental constituia-se na economia cafeeira. Como era membro de uma das mais tradicionais famlias do Esprito Santo - os Sousa Mon-teiro, radicados na regio de Cachoeiro de Itapemirim desde meados do sculo XIX - Carlos Lindenberg, praticamente, nasceu no seio da vida poltica espiritossantense. Diversos membros da famlia Sousa Monteiro participaram da vida poltica estadual, ocupando posies de destaque, tanto
  • 341 no cenarlO regional como no nacional. Assim, desde seu av-Capito Francisco de Sousa Monteiro - passando pelos tios ma-ternos - Coronel Antnio de Sousa Monteiro (Deputado Estadual, Presidente da Assemblia), Jernimo de Sousa Monteiro (Gover-nador - 1908/1912, Deputado Federal, Senador), Bernardino de Sousa Monteiro (Governador e Senador), por seu primo - Nelson Goulart Monteiro (Deputado Federal); entre outros membros da famlia, a liderana poltica dos Monteiro sempre esteve pre-sente no cenrio poltico estadual. Nesse sentido, ele havia herdado, alm do "ethos" poltico, tambm os laos de solida-riedade poltica, constitudos por sua famlia, bem como, as desavenas criadas, ao longo dos anos. Em termos de atuao, a nvel de direo no Aparelho Regional de Estado, seu ingresso havia se efetivado apos a re-voluo de 30. Assim, durante o governo Bley, na segunda fase de sua gesto, Carlos Lindenberg exerceu os cargos de Secret-rio da Fazenda e de Secretrio de Agricultura Terras e Colo-nizao. Quanto a disputa cargos eletivos sua primeira par-ticipao ocorreu em 1920, quando concorreu ao cargo de Pre-feito do municpio de Cachoeiro de Itapemirim. Porm, como as foras jeronimistas, pelas quais concorreu, estavam desaloja-das do poder, ele no conseguiu ser eleito. Em 1934, no entan-to, a situao era outra, e pelo antigo Partido Social Demo-crtico do Esprito Santo ele foi Deputado Federal Assem-blia Constituinte de 1934. Seu tio, Jernimo Monteiro, tambm, foi eleito, mas pelo Partido da Lavoura, oposicionista. Em 1945 ao lado de Jones dos Santos Neves e Fernando de Abreu cuidou da fundao do Diretrio estadual do PSD, e foi, novamente,
  • 342 eleito Deputado Federal Assemblia Constituinte de 1946. Por sua vez o candidato da Coligao Democrtica Attlio Vivcqua - era membro de uma famlia de imigrantes italianos que se fixou, em fins do sculo XIX, na regio do atual municpio de Muniz Freire. Seus descendentes prosperaram como comerciantes de caf, os quais monopolizavam esse comrcio '- 1 22 na reglao su . o ingresso de Attlio Vivcqua na vida poltica es-piritossantense havia sido como vereador no municpio de Ca-choeiro de Itapemirim, onde exercera, tambm, o f , 23 pre elto. Marchava politicamente ao lado dos mandato de "bernadinis-tas", isto , com os integrantes do antigo Partido Republica-no do Esprito Santo, presidido por Bernardino Monteiro. No governo de Florentino Avidos (1924/1928) foi, ao lado do co-ronel Ildefonso Brito, diretor da Companhia Territorial, em-presa p~blica encarregada da colonizao da regio do Rio Do~ ce, com sede em Colatina. 24 E, no governo de Aristeu Borges de Aguiar, foi Secretrio da Educao, onde idealizou e exe-cutou uma reforma educacional, para o ensino primrio e m-dio, considerada revolucionria p3ra a poca. Durante os anos 30 atuou como advogado, porm, no permaneceu inteiramente no ostracismo poltico. Foi membro ativo do Partido da L3voura, fundado no interregno democrtico dos anos 30, o qual agregava os oposicionistas situao instaurada em 1930. Por esse partido fora eleito deputado estadual nas eleies de 1935. 25 Em 1945, no entanto, ingressou no PSD, foi eleito se-nador para a Constituinte de 46, sendo o mais votado dos can-
  • 343 didatos que concorreram no pleito de 45. Era considerado um advogado brilhante no meio jurdico brasileiro, foi projetos arrojados no parlamento nacional, tanto no autor de campo da preservao das riquezas nacionais, como em favor do setor agrarlo. Tambm, na rea constitucional, teve atuao desta-cada na Assemblia Constituinte de 1946 e, posteriormente, en-quanto presidente da Comisso de Constituio e Justia do Se-nado. 26 Em suma, tal prtica poltica o colocava ao lado das foras mais progressistas do PSD. Por isso, boa parte dos lderes que surgiram no pos 30, se identificaram com sua ao, principalmente, os representantes das classes mdias urbanas e das mercantis-exportadoras. Na verdade, Attlio expressava e traduzia os interesses da maior parte dos intelectuais e das classes mais esclarecidas do Esprito Santo, constituda por profissionais liberais, jornalistas, advogados, empresrios urbanos, enfim, as classes menos sujeitas ao controle corone-lstico. As plataformas polticas de cada um dos candidatos a Governadoria, por outro lado, traduzem bem o carter dos anta-gonismos existentes entre as foras polticas em disputa. A anlise comparativa de ambas permite estabelecer, de imediato, o cunho apelativo de uma em contraposio a complexidade da outra. Isso, especialmente, em se tratando do eleitorado, vejamos eminentemente rural, que deveriam atingir. mais detidamente seus contedos. Seno,
  • 344 o candidato da Aliana PSD/UDN - Carlos Lindenberg -na verdade, no apresentou propriamente uma plataforma pol-tica, pelo menos no nos mesmos moldes que seu adversrio. Alegaria, posteriormente, que sua candidatura fora lanada de ltima hora, por isso no tivera tempo para elabor-la. 27 Mas, o candidato antecessor, General Tristo de Alen-car Araripe, quando do lanamento de sua candidatura, na Con-veno de 15 de dezembro de 1946, apesar de enfatizar que seu discJrso no era uma plataforma de governo e sim um ensaio, traou as linhas bsicas que realizaria em seu governo. Fixou as prioridades para sua administrao no seguinte trinmio: comunicaes (= estradas), educao e sade, considerando que esses setores eram fundamentais p3ra o desenvolvimento estadu-1 26 a . o candidato sucessor da aliana PSD/UDN, em sua "cam-panha de ltima hora",29 calcaria sua mensagem em apenas um tema: "Cancelamento de todos os impostos sobre a lavoura".30 Considerando-se que 80% da populao do estado era rural (ver quadro 111.07) e que sua atividade principal era a prodJo cafeeira, sobre a qual incidia a maior parte dos im-postos sobre a lavoura; e, ainda, que o grau de alfabetiza-0 31 era bastante reduzido 28,9%; tudo indica que tal men-sagem tenha tido grande permeabilidade junto ao eleitorado ru-ralo o candidato da Coligao Democrtica - Attlio Vivc-qua - ao contrrio, apresentou um extenso programa de gover-no, fundamentado em um diagnstico dos principais problemas do
  • 345 Esprito Santo, segundo as grandes areas de atuao governa-mental. Considerando o mJmento poltico em que atuava - fase de redemocratizao do pas -, abria seu programa enfatizando a necessidade de " ( . . .) a s s e 9 u r a r, (...), o m a i s a b sol u t o r e s p e i t o s liberdades pblicas, dentro dos postulados do regime democrtico, 32 ( . . . ) . Em seguida, referindo-se aos princpios constitucio-nais garantidores da autonomia dos estados e dos municpios, ressaltava que: "( ... ) Todos os problemas governamentais se entrosam e interdependem; mas sem o imprio da justia, n~o podem subsistir os regimes livres e democrticos."33 E, a partir de uma concepo mais geral de democracia e governo, pautada pela filosofia liberal, estabelecia uma anlise suscinta, seguida pelo detalhamento de metas a cum-prir para cada uma das seguintes reas: Justia, Educao, Sade Pblica e Assistncia, Agricultura e Indstria, e Pro-blemas Gerais. No item Problemas Gerais relacionou cerca de 30 "assuntos" que deveriam ser objeto de estudo ou de dncias por p3rte de seu governo. Esses "assuntos" provi-ou pro-blemas destacados, em grande parte, ou abrangiam mais de um poder constitucional (Executivo, Legislativo, Judicirio), ou estavam afetos a mais de uma esfera de governo e, portanto, abrangiam relaes intergovernamentais e inter-administrativas entre Unio, Estado e Municpio. 34
  • 346 Na realidade, a plataforma de governo de Attlio vi-vcqua era, de certa forma, bastante avanada para a poca. Isto porque ao enfocar a ao governamental de uma perspecti-va de conjunto, ressaltando as interdependncias poltico-ad-ministrativas, revelava a dimenso e os limites do processo governamental, a partir do qual estabelecia seu programa de ao. Nesse sentido, ela divergia das dem~is, na medida que os e~foques, em geral, eram restritos a esfera estadual e mais voltados para os problemas regionais e locais, e de curto pra-zo da administrao pblica. Vista da perspectiva do eleitorado, tal plataforma, na verdade, parece ter sido muito pouco accessvel. Mesmo consi-derando-se que sua veiculao se fez sob a forma de discursos dura,-te o curto perodo da campanha eleitoral, o que, certa-mente, a tornou menos densa. Isto porque, alm de abrangente e, de certa forma, de difcil decodificao para o eleitorado rural, ela no definia um tema central capaz de estabelecer uma relao mais direta entre candidato e eleitor. Esse fa-tor seria crucial considerando que a prtica poltica da m~ior parte do eleitorado era pautada por relaes lsticas". "corone-Nesse sentido, apesar do contraste entre as mensagens dos candidatos, do ponto de vista prtico, ou seja, do impac-to sobre o eleitorado visando ganhar as eleies, e conside-rando-se os resultados alcanados, se pode dizer que a mensa-gem de Carlos Lindenberg foi mais eficaz. A campanha poltica, de ambos os lados, centrou-se nas
  • 347 cara~anas em marcha pelo interior do Estado. 35 Nestas cara-vanas seguiram os candidatos aos cargos majoritrios e aos cargos proporcionais, os quais, em cada municpio visitado, reafirmaram, junto aos correligionrios e demais coronis da regio, os compromissos polticos que os uniam. Alm disso, realizaram, nas sedes municipais mais populosas, comcios di-vulgando suas propostas polticas. Esta forma de campanha se tornaria comum nos pleitos seguintes e vigiria durante todo o perodo democrtico . . Resultado das Eleies Os resultados eleitorais indicam a vitria da Aliana PSD/CDN, tanto para o Governo do Estado como para o Senado. Na votao para governador Carlos Lindenberg obteve 64,9% dos vo-tos partidrios, contra 35,1% obtidos por Attlio Vivcqua (ver quadro IX.47), o que, na verdade, significou uma vitria folgada da Aliana PSD/UDN. Para o Senado, apesar do nmero de candidatos ser maior (quatro concorrentes), Jones dos Santos Neves, do obte~e a maioria absoluta dos votos partidrios, 57,6% quadro IX.48). PSD, (ver A votao para a Assemblia Legislativa, alm de re-fletir, como natural, a maior fragmentao, em torno dos di-versos partidos demonstrou que representantes de foras s~ci-
  • 348 ais, at ento sub-representadas, ingressaram no espao pol-tico-institucional do Estado, a partir desse pleito. Concreta-mente, ele inaugurou o ingresso no Aparelho Regional de Esta-do, de representantes das classes constitudas, na pequena e mdia propriedade privada (deputados eleitos pelo PRP) e, tam-bm, das classes populares urbanas (deputados eleitos PCB e PTB). Com isso, o PSD obteve, apenas, 30,9% dos votos pelo par-tidrios, pois a fragmentao em torno dos outros sete parti-dos capitalizou 69,1% dos votos partidrios restantes (ver quaro IX.50). Concretamente, a composio parlamentar da Assemblia Legislativa refletiu a emergncia dessas novas cli-vagens scio-econmicas na arena poltica. Nesse sentido, a representao poltica esteve distribuda da seguinte forma: PSD = 14; UDN = 6; PR = 4; PDC = 2; PTB = 2; PRP = 2; PCB = 1; PRD = 1. (Ver quadro IX.41). Os resultados eleitorais permitem, ainda, uma an-lise de conjunto em termos de participao do eleitorado e do percentual de votos brancos e nulos, para cada nvel em dis-puta. Esses ndices indicam, ainda que de forma precria, o relativo interesse da populao pela vida pJltico-partid-ria e a legitimidade do sistema partidrio. Sobre este aspec-to os dados revelam que 25,2% dos eleitores no comparece-rarr s eleies e que o interesse pela eleio do senador foi mer.or do que para governador e deputados estaduais; ou seja, os ndices de votos brancos e nulos foram respectivamente, os segJintes: 6,2%, 3,8% e 4,6%. (Ver quadros IX.42 a IX.45).
  • 349 Tais resultados demonstram que se, por um lado, o cam-po da luta poltico-p3rtidria foi ampliado com a introduo de novas foras polticas no cenrio da disputa, por outro, atestam que os padres coronelistas de articulao e media-o, ainda, deram o tom da disputa. Efetivamente, eles per-maneceram latentes na estrutura scio-poltica do Esprito Sar.to e, quando o esp3o poltico foi desobstrudo, foram re-torr3dos e adaptados a nova din~mica de articulao iniciada em 1 9~ 5. Na medida em que a luta pessoal de cada coronel, ou cl por ele representado, marcou a arena poltica espritos-sar.tense, tal fato ensejou uma grande fragmentao das foras polticas presentes. Essas foras, para garantirem a sua per-mar.ncia ou o acesso direo do Aparelho Regional de Estado, ti\-eram que articular outros mecanismos reagregadores de suas bases. Com isso, j no primeiro pleito ao Governo estadual, o co~?ortamento aliancista foi introduzido na arena poltica ca-pixaba. Efetivamente, durante o perodo de 1945 a 1964, a realizao de alianas, visando manter o poder, ou o acesso a elE, ser a tnica que vai permear o quadro da disputa polti-ca no Esprito Santo. Em termos de mediao com as classes dominadas o que esses resultados revelam que tambm nessas relaes pouca coisa fora mudada. A vitria expressiva dada ao candidato da aliana PSD/UDN - Carlos Lindenberg - evidencia que os laos de lealdade e de solidariedade inter-coronis ainda eram muito for~es no Esprito Santo. Por isso, as chances de candidatos mais progressistas, que centravam a tnica de suas campanhas
  • 350 no contedo de suas propostas de governo - como foi o caso de Attlio Vivcqua - eram reduzidas. Em suma, em termos comparativos com os demais Estados da regio sudeste - onde as prticas populistas passam, no ps-45, a se constituir na forma bsica das disputas poltico-partidrias - verifica-se que no Esprito Santo, ao contrrio, as prticas coronelistas so reeditadas e prevalecem no dom-nio poltico.
  • 351 2. A ACAO DO ESTADO SOB A DIRECAO DE CARLOS LINDENBERG 2.1. COMPOSIO DOS QUADROS DIRIGENTES O Aparelho Regional de Estado, a nvel do Executivo, nesse momento, era relativamente simples, refletindo a redu-zida diferenciao econmico-so~ial, ainda dominante no Esp-rito Santo. Apenas cinco secretarias constituiam a estrutura administrativa do Executivo. Estas cobriam as funes bsicas e tradicionais, caractersticas do Estado liberal clssico, concentrando, na maioria dos casos, mais de uma funo. Eram elas: Secretaria de Governo que agregava as fun-es de articulao poltica com as demais secretarias, r-gos autnomos e prefeituras municipais; as funes de comuni-cao social, controle estatstico, assessoria jurdica e, ainda, a partir de setembro de 1947, em decorrncia de ajustes entre as foras polticas no Governo e extino da Secretaria de Sade e Assistncia Social, tambm, essas funes. taria do Interior e Justia com as funes de segurana blica, assistncia ao menor Secre-p-de desamparado, e as atividades imprensa oficial do estado. Secretaria da Fazenda, na verdade a mais importante, responsvel pela formulao da poltica econmica e social do Estado. A definio inicial da polti-ca tributria e do gasto pblico se processava no interior dessa Secretaria. Por isso, alm de suas prprias funes de exao e fiscalizao financeira, e de coordenao e controle da execuo oramentria, agregava tambm as embrionrias fun-es de planejamento e, ainda, grande parte das atividades de administrao geral. As demais atividades de administrao ge-
  • 352 ral, principalmente, as atividades de administralo de pesso-aI ficavam a cargo do Departamento de Servio Pblico, o qual funcionava de forma autnoma, subordinado diretamente ao Go-vernador. Secretaria de Educao e Cultura com as funes de execuo da poltica educacional e, finalmente, Secretaria de Agricultura, Viao e Obras Pblicas, que ocupava o segundo lugar na ordem de importncia relativa entre as demais, na me-dida que a execuo da poltica de fomento agrcola, venda de terras devolutas, ensino e assistncia agropecuria, e a - d d b 'bl' 36 execuao e to as as o ras pu lcas estava a seu cargo. O volume de recursos alocados para cada uma, no pero-do 1947/50, fornece um outro indicador, em termos do grau de importncia relativa desses rgos no conjunto. O quadro IV.11, nesse sentido, mostra que as Secretarias da Fazenda e a de Agricultura, juntas, absorveram, em mdia, 58,52% do to-tal dos recursos, significando que mais da metade dos recur-sos disponveis foram administrados por apenas duas secreta-rias. Os 41,48% restantes estiveram distribudos com as de-mais secretarias, rgos autnomos, e ainda, com a Governado-ria, Poder Legislativo e Judicirio. Decorrentes dos compromissos assumidos pelo PSD com a UDN, na articulao da candidatura Carlos Lindenberg, o preen-chirrento desses postos dirigentes, no momento inicial, obede-ceu a uma distribuio, de certa forma, vantajosa para a UDN, na rredida que ela garantiu para o partido a Secretaria da Fa-zenda e a Procuradoria Geral do Estado. 37 Os discursos dos udenistas na solenidade de instalao da Assemblia Legisla-tiva e de posse do Governador eleito, traduzem, de certa for-
  • 353 ma, a euforia da UDN diante dos ganhos obtidos. Por conseguinte, at maro de 1948, quando novos ajus-tes foram feitos no bloco dirigente, os udenistas Olimpio Jos de Abreu e Antnio Pereira Lima permaneceram, respectivamente, a frente da Secretaria da Fazenda e Procuradoria Geral do Es-38 tado. Outro partido que havia hipotecado apoio a candidatura Lindenberg fora o PRP que para tanto havia pleiteado a dire-o de uma secretaria. Assim, quando da formao do quadro dirigente, coube-lhe a posteriormente extinta,39 S2cretaria de Sade e Assistncia Social, que foi entregue direo do per-. . B G 40 replsta Antonlo arroso ornes. Os demais secretrios e o prefeito da capital,que tam-bm era indicado pelo governador, foram escolhidos entre re-presentantes pessedistas. Assim, para a Secretaria do Inte-rior e Justia e para o comando geral da Polcia Militar foram designados respectivamente Jos Rodrigues Sette e Messias Lins de Oliveira Chaves, para a Secretaria de Agricultura, Napoleo Fontenellei para a Secretaria de Educao e Cultura, Fernando de hbreui para a Secretaria de Governo, Erildo Martins e para a Prefeitura de Vitria, Ceciliano Abel de Almeida. 41 Todavia, essa composio no se manteve no poder du-rante toda a gesto Carlos Lindenberg. O projeto de consoli-dao da hegemonia das foras polticas lideradas por Carlos Lindenberg, ento frente do Aparelho Regional de Estado, cede entrou em conflito com as foras polticas que haviam se aliado ou apoiado a faco jonista do PSD para a eleio do governador.
  • 354 Mais precisamente, Carlos Lindenberg estava dando con-tinuidade, como se ver no pr6ximo item, execuo do projeto de consolidao de estruturas e apoios capazes de permitir o controle hegemnico do Aparelho Regional de Estado ad infini-tum, pelas referidas foras polticas. Nesse sentido, ele vinha atuando desde a vit6ria da revoluo de 30 no Esprito Santo. E, nesse momento, estava, afinal, frente do Executi-vo, cujo espao de atuao lhe permitia amplas realizaes. Po-rm, no estava so. Haviam os aliados polticos em pontos chaves, com os quais precisava negociar e fazer concesses, pr6prias do jogo poltico. E, estas ltimas, principalmente, no eram o forte de sua agenda. Como consequncia, em pouco tempo, tanto o PRP como a UDN seriam eliminados da arena exe-cutiva. o PRP, politicamente o mais fraco dos trs 42 , foi co-locado margem pouco tempo depois. Na medida em que recebeu a direo da Secretaria de Sade e Assistncia Social e que, paralelamente, havia o Departamento Estadual de Sade, subor-dinado diretamente ao governador e funcionando de forma inde-pendente da referida Secretaria, os conflitos a imanentes surgiram de imediato. Desse conflito de direes resultou que o Secretrio de Sade e Assistncia pediu sua exonerao, e a Secretaria foi, a seguir extinta, permanecendo apenas o De-partamento Estadual de Sade, cujo titular era Santos Neves. 43 Jayme dos Por outro lado, a poltica de compresso do gasto pu-blico, meta prioritria do governo de Carlos Lindenberg, ti-nha por suposto a reduo do gasto corrente. Neste item, o
  • 355 gasto com pessoal era considerado muito alto, pelo Governa-44 dor, na medida que absorvia, exceto os encargos sociais, mais da metade da arrecadao do Estado. (Ver quadro IV.12 -ano de 1947). Esse fato limitava sobremaneira as possibilidades de inverso do Estado, uma vez que o Governador considerava que deveria governar mantendo o equilbrio oramentrio. A srie de medidas,45 visando reduzir o gasto pblico corrente e eliminar as chamadas "passagens de favor",46 que Lindenberg adotou com esse intuito, chocaram-se de imediato com os interesses das foras polticas aliadas. Com efeito, a UDN passou a ver nessas medidas um carter de "perseguio po-ltica" aos funcionrios pblicos ligados as hostes udenis-tas. 47 A tenso da resultante foi se acirrando durante todo o ano de 1947, atingindo seu climax nas eleies realizadas em novembro de 1947, para preenchimento dos cargos de vice-gover-nador, suplente de senador eleito em 45, prefeitos e vereado-res municipais. Isso porque Lindenberg, em sua estratgia de consolidao hegemnica, realizou uma srie de manobras e ar-ticulaes visando reduzir a ampliao do espao poltico da UDN, pela tentativa de garantir a eleio do maior nmero pos-svel de prefeitos pertencentes as hostes pessedistas. 48 Tais procedimentos do Governador acirraram as lutas inter-partidrias, criando um foco de tenso, que no limite, levaria ao rompimento do acordo existente entre o PSD e a UDN. Entretanto, enquanto a nvel regional a luta entre PSD e UDN assumia propores de conflito, a nvel nacional, em no-vembro de 1947, processava-se as negociaes para a realizao do acordo inter-partidrio PSD/UDN/PR, o qual se efetivou no
  • 356 49 incio de dezembro . Em funo desse acordo a direo nacio-nal da UDN recomendou a direo estadual, no Esprito Santo, que procurasse uma frmula para entendimentos com o Go-verno estadual. Com esse objetivo a UDN realizou, ento, em 21/02/48, uma Conveno, com a presena de vereadores, prefeitos, depu-tados, comisso executiva e diretrio estadual, destinada a "( ... ) traar a norma de conduta do partido".50 Nessa Conveno deliberaram pela formao de uma Co-misso encarregada de negociar com o Governador "( ... ) dimentos partidrios reclamados pela situao atual."51 enten-Efetivamente, a "situao atual" a que se refere a UDN era aquela causada, de um lado, pelas manobras do Governador no sentido de no ampliar o espao de participao das foras udenistas, tanto no governo estadual como no municipal, e de outro, pela poltica de reduo do gasto corrente, que, con-eretamente, redundava em cortes no funcionalismo pblico. Es-ta ltima, da perspectiva da UDN, estava atingindo sobretudo o funcionalismo identificado com as hostes udenistas. Por isso, segundo Areobaldo Lellis, as negociaes da UDN tinham por su-posto "( ... ) os propsitos do partido de novos ajustes com o governo, a fim de que ele, em ltima anlise, d uma marcha a r, no que h feito em matria de de-misses, remoes, etc., dos elementos udenistas, ( ... )".52
  • 357 Para tanto a referida Comisso da UDN encaminhou fr-mulas que deveriam ser estudadas por Carlos Lindenberg para a d d ' 'd" 53 , manuteno o acor o lnter-partl arlO. Porem, tanto o pos-terior "Manifesto da Unio Democrtica Nacional ao povo esp-rito-santense" como a resposta de Carlos Lindenberg, ao refe-rido manifesto, indicam que, de ambos os lados haviam se-rios impecilhos inviabilizadores de tal propsito. Assim, do lado da UDN, a ciso que ocorrera no partido, em funo do acordo com o PSD, para as eleies de 47, no havia ainda sido absorvida pelo Partido. Membros contrrios a tal acordo, per-maneciam em postos chaves no Partido, e atuavam no sentido de encaminhar o rompimento do acordo. Pelo lado do PSD, e, prin-cipalmente, do ponto de vista do Governador, a manuteno de tal acordo, a partir do momento em que fora eleito, s lhe , d" f - d 54 p trazla encargos, que everla cumprlr em unao o mesmo. or-tanto, no seria ele que iria batalhar para garantir a sua permanncia. Apenas reagiria, dentro dos padres de morosi-dade das formalidades burocrticas, visando com isso ganhar tempo diante das "demarches" que se processava no interior da UD~. O desenrolar dos acontecimentos evidenciam que a estratgia subjacente do Governador era a de no retornar atrs , 55 M em suas metas governamentals. anteve a questo meio que em "banho-maria" deixando que as prprias foras contr-rias, no seio da UDN, provocasse o rompimento do acordo, o que 1 " - d ,56 a las, nao tar ou a Vlr. Assim, em 13 e 14 de maro de 1948, a UDN, consideran-do a inviabilidade de manuteno do acordo inter-partidrio, publica sucessivas, notas oficiaisi 57 primeiro comunicando o afastamento de seus representantes dos cargos de direo do
  • 358 Governo e, a seguir, seu rompimento com o Governo e, por con-seQuinte, com o PSD, reservando para o partido U( ... ) completa . d d 1 h l't 58 In epen nCla em sua In a po I Ica." Posteriormente, em 23 de maro, a UDN publica o Mani-festo da Unio Democrtica Nacional ao povo espirito-santen-se, esclarecendo os motivos do rompimento do acordo inter-par-tidrio com o PSD. Com efeito, a partir da, os passos do Governador es-tariam, finalmente, definitivamente desobstrudos, no fosse, entretanto, o Legislativo a lhe cercear, de certa forma, as possibilidades de maiores avanos. Isso porque a partir do rompimento udenista a composio da Assemblia Legislativa, anteriormente, com maioria partidria a favor do Governo, in-verte-se-ia, passando a maioria a ser oposio ao Governo. Com exceo do PTB, que no se posicionou, todos os demais par-tidos, na verdade pequenos partidos, atuavam como oposicio-nistas 59 com os quais se juntaria, agora, tambm a UDN, a qual detinha 19% das cadeiras (ver quadro IX.41). Reequilibrar-se-ia, portanto, nesse processo, a correlao de foras at en-to favorvel ao grupo governista, recolocando, em outro n-vel, obstculos a plena realizao da poltica preconizada pe-lo grupo Lindenb2rg. Quanto aos cargos d2 direo, vagos em funo do con-flito, Lindenberg os preencheria com os seus mais fiis co-laboradores. Assim, para a Secretaria de Fazenda, designaria seu primo Nelson Goulart Monteiro, e para a Procuradoria Ge-ralo jurista Vicente Caetano. Alm disso, aproveitaria o mo-mento para promover algumas modificaes no grupo pessedis-
  • 359 ta. Substituiria o secretrio de governo Erildo Martins por Alfredo Cabral, e na Secretaria do Interior e Justia, tendo em vista que o titular fora eleito vice-governador, o cargo pas-saria as mos do ento chefe do Comando Geral da Polcia Mili-tar, Messias Lins de Oliveira Chaves. Posteriormente, em se-tembro de 1948, em virtude da morte de Fernando de Abreu, Se-cretrio de Educao e Cultura seria designado, para o posto, , 1 l' d' 60 Jose Ce so C au 10. Enfim, a configurao final que acabou assumindo a di-reo do Aparelho de Estado revela a ao das foras pessedis-tas lideradas por Carlos Lindenberg no sentido de buscar assu-mir a direo hegemnica do bloco regional de poder. Efetiva-mente, o lder das foras agrofundirias conseguiu vencer as resistncias colocadas pelas demais foras polticas (mercan-tis-exportadoras, classes mdias urbanas e pequena produo rural) integrantes da correlao de foras no poder regional e dessa forma, como se ver no prximo item, conseguiu impor sentido e orientao a poltica de desenvolvimento scio-eco-nmico do Esprito Santo. 2.2. DIRETRIZES DA POLTICA DE DESENVOLVIMENTO SCIO-ECONMICO Se, a nvel da campanha eleitoral, Carlos Lindenberg havia colocado, como prioridade nmero um, o cancelamento de todos os impostos sobre a lavoura, a nvel de sua prtica ad-ministrativa a prioridade bsica seria a obteno do equil-brio oramentrio.
  • 360 Assim, em seu discurso de posse, ao enfocar seu pro-grama de governo relacionava uma srie de empreendimentos e obras pblicas que deveria realizar, nas diversas administrao pblica, ressaltando: reas da "c ... ) a necessidade que se impe ao governo de ori-entar seus esforos pelo progresso e desenvolvimento das zonas rurais, donde provm os recursos espcie, indispensveis vida nacional".61 de toda Para, em seguida, estabelecer as seguintes premissas com relao aos recursos financeiros viabilizadores de seu programa poltico-administrativo: "( ... ) 1 - no nos agrada o sistema de grandes prstimos, dos quais s lanaremos premido por circunstncias extremas; em-mos 2 - em hiptese alguma concordaremos com o aumento de impostos ou taxas que inci-dam sobre a atividade agropecuria ou sua produo, tendo em vista que a mesma j no mais comporta qualquer gravame e, an-tes, deve ser revestida de maiores tivos e melhores 62 compensaes." atra-As condies viabilizadoras de seu programa seriam, portanto, obtidas atravs de um completo reajustamento do or-amento e do ordenamento da mquina administrativa e financei-ra do Estado, para cuja tarefa convocava o apoio de Ou mais, precisamente, em suas prprias palavras: todos.
  • " ( . . .) T e r e mos dias de dificuldades e porque n~o fcil proceder-se a um sacrifcios, reajustamento t~o complexo e variado, como o que hoje se imp~e. Contamos com a boa vontade, a colabora~o, o pa-triotismo e, mesmo com o esprito de sacrifcio, de todos, a fim de que possamos colocar em ordem quina administrativa, as finanas pblicas, a nomia dentro de nossas fronteiras, porque s a m-eco-assim poderemos retomar o rtmo do progresso, em proveito da c o I e t i v i d a de. (...). Desejos pessoais n~o in-teressam ao Governo que agir com justia e 63 dade." proibi-361 Da mesma forma, a tnica que permeou todas as gens que encaminhou Assemblia Legislativa, durante mensa-sua gesto, evidenciam que a execuo de seu Projeto de Gover-no esteve pautada pelo suposto do equilbrio oramentrio. Nesse sentido, o trecho a seguir traduz claramente a concepo que orientava tal diretriz: " ... ) Somos dos que pensam que aos Governos h de caber intenso e permanente trabalho em realizaes que falem ao interesse do povo, sempre, porm, den-tro do justo equilbrio oramentrio, pois, quebrado este, o bem que se possa fazer dificilmente conse-guir compensar o mal que se provoca, abalando o crdito e pondo perigosas curvas nas linhas elevadas que devem ser seguidas pela administra~o pblica".64
  • 362 Com efeito, considerando-se que, nessa epoca, os au-xlios e transferncias da Unio no eram regulares e depen-diam, em grande parte, da atuao dos deputados e senadores, no Congresso Nacional, e que a obteno de recursos financei-ros via crdito estava fora de cogitao, constata-se que as realizaes dessa gesto, em termos de investimentos pblicos, se fizeram nos estreitos limites possibilitados pela receita tributria do Estado. Isso porque, concretamente, tal fonte significava, em mdia, 91,94% do total dos recursos (ver qua-dro IV. 10) . Na medida em que a maior parte dessas receitas tinham suas origens nos impostos e taxas sobre a produo e comrcio cafeeiro, o qual estava sujeito s flutuaes do mercado in-ternacional, depreende-se o quo limitados haveriam de ser os horizontes de realizaes do Governo. Alm, claro, de evi-denciar uma certa contradio entre os propsitos anunciados na campanha eleitoral e as reais possibilidades de realizao das promessas. Entretanto, alm das aparncias, tal promessa revela a tenacidade e argcia, das foras polticas lideradas por Car-los Lindenberg e Jones dos Santos Neves, ao utilizarem elei-toralmente, a recm promulgada, Constituio Federal de 46, a qual definia medidas no plano tributrio que tinham de ser im-plementadas. Nesse sentido, a referida Constituio havia redefi-nido as competncias tributrias da Unio, Estado e Munic-pios. Nesse processo, tanto isentou e aboliu itens tributveis
  • 363 como transferiu itens de uma esfera para outra, o que demanda-va, de imediato, uma reforma do Cdigo Tributrio Estadual, pelo governo que fosse eleito. Alm disso, um dos tributos que havia sido extinto era, justdmente, o incidente sobre a peque-na propriedade rural (Constituio Federal, art. 19, 1Q). O montante agregado da arrecadao desse tributo no era muito ex-pressivo, no afetando, portan~o, de forma significativa as f d . 65 lnanas esta ualS. Todavi~ do ponto de vista do contri-buinte enqJanto eleitor, era um imposto a menos, e na medida qJe a maior parte dos impostos sobre a produo eram indire-tos 66 compreende-se o alcance da mensagem eleitoral. Na ver-dade, significou uma moeda de grande efeito poltico que foi utilizada pelas foras ~essedistas ligadas a Carlos e Jones. Retornemos, contudo, a questo do sentido orientador das aes do Governo. A anlise do conjunto das realizaes do Governo Carlos Lindenberg, bem como de suas mensagens , a Assemblia e dos discursos pronunciados, revelam os con-tornos mais gerais de seu Projeto Poltico, enquanto lder das classes agrofundirias. Dessa perspectiva a ao do ncleo executivo esteve voltada para o futuro, no sentido de que tal gesto deveria criar e consolidar estruturas capazes de asse-gurar a manuteno da hegemonia dessas foras na direo do Aparelho Regional de Estado. Para tanto a ao governamental esteve centrada basi-camente em dois vetores: "arrumao" e agilizao dos apare-lhos financeiros e administrativos do Estado, e, na criao de condies capazes de dinamizar tanto a produo agrcola como a industrial.
  • 364 Visualizando seu Projeto como executvel em mais de um perodo governamental,67 e ainda premido pelos dispositivos constitucionais federais que impunham a nacessidade de uma re-forma tributria, Carlos Lindenberg realizou, em primeiro lu-gar, aes visando "moralizar" a administrao pblica, tanto pela excluso dos "gastos suprfluos ou adiveis,,68 como pelo maior rigor no controle do funcionalismo pblico,69 alm de medidas de cortes e transferncias de dotaes oramentrias . d ' bl . 7 O Vlsan o sanear o gasto pu lCO. Paralelamente encaminhou o processo de formulao da reforma do Cdigo Tributrio Esta-dual, para, no momento seguinte, investir em obras pblicas, . . 1 - d t d 71 prlnclpa mente, construao e es ra as. Estas constituiam o n grdio da poltica econmica, na m2dida que as carncias nesse setor eram significativas, impedindo dessa forma, o es-coamento da produo. Ainda no plano das mudanas administrativas, alm de encaminhar medidas no sentido de reduzir ao mnimo o gasto p-72 blico corrente, modernizou o aparelho arrecadador, dotando-o de estruturas e mecanismos capazes de assegurar a mxima efi-cincia possvel na arrecadao, o que, por outro lado, expres-sou o corolrio da diretriz de governar mantendo o equilbrio oramentrio. A aprovao da Lei n 135, em 30/11/48, por sua vez, ao introduzir alteraes significativas no Cdigo Tributrio Estadual, forneceu-lhe o necessrio respaldo fiscal para a execuo de suas metas dentro da referida diretriz. Em essn-cia essa lei extinguiu os impostos sobre transaes e inver-ses de capitais, sobre a explorao agrcola e industrial e
  • 365 o imposto territorial; criou o imposto sobre exportao e a taxa de fomento da produo agrcola e industrial; e, elevou a taxa sobre o imposto de vendas e consignaes, atual ICM, e a taxa de defesa do caf. 73 Enfim, redistribuiu a carga tributria direta entre a produo e o comrcio. Os efeitos de tais medidas sobre as finanas estadu-ais podem ser melhor visualizadas no quadro IV.l0. Este mostra que, de fato, a partir de 1949 o peso das receitas tributrias no total das receitas do Estado, foi expressivamente maior, passou de 71,82% do total, em 1947, para 95,31%, em 1950. Ainda no campo das medidas fiscais, visando aparelhar o estado com mecanismos incentivadores da produo, o bloco PSD/UDN, enquanto esteve junto, formulou e aprovou leis cujo contedo marcou os primeiros passos rumo a industrializao. Entre elas cabe destaque as oriundas do prprio executivo, e aprovadas em 1947, tais como: a Lei n 67, de 31/12/47, que dispunha sobre a iseno de impostos para todas as indstrias novas que se instalassem no Esprito Santo; e a Lei n 48, de 23/12/47, que concedia iseno de impostos para a Companhia d .,. 74 Ferro e Ao e Vltorla. Todavia, mesmo aps o rompimento da aliana, o Executivo formulou e aprovou leis visando con-ceder facilidades para a industrializao. Entre essas, apro-vou, em 1950, a lei congelando por 10 anos os impostos que recaissem sobre indstrias com capital no inferior a Cr$ 500.000,00. (Lei n 376, de 19/12/50).75 A vertente complementar dessa poltica foi a criao de infra-estrutura bsica (estradas, energia, etc.) capaz de dar o necessrio suporte almejada expanso e diversificao
  • 366 ecor.omlca. Entretanto, a questo da diversificao incluia, agora, tambm, a industrializao como possibilidade de li-vrar "( ... ) o caf do pesado nus de ser quase que exclu-sivo responsvel pelo bem estar de nossas populaes e pela posio das finanas e dos oramentos do Es-76 tado." Por conseguinte, a nfase de Carlos Lindenberg no que tange a aplicao dos recursos foi o investimento em obras p-blic3s, tanto na construo de estradas e pontes, como tambm, em r~dios escolares. Estes ltimos, visando atenjer demandas das populaes rurais, ligadas aos coronis do interior do Estado, os quais constituiam o necessrio suporte poltico. Por outro lado, a fim de criar condies para a in-dustrializao, encaminhou estudos para a construo de novas usir.as hidroeltricas (Jucu - 2), bem como, negociaes de emprstimo para que a empresa concessionria (Cia. Central Brasileira de Fora Eltrica) realizasse o investimento. Apesar desse empreendimento no ter se concretizado no seu governo, ele deixou articuladas algumas alternativas de realizao. Assi~, alm da acima referida, deixou, tambm, estudos para se cons~ituir uma empresa de economia mista, ou a possibilidade de c Estado bancar um emprstimo com esse fim. 77 A questo da energia eltrica era, e foi, por muitos anos, um entrave s-rio para a alternativa de industrializao, no Esprito San-t 78 o.
  • 367 Em suma, as aes empreendidas visavam a promoo e diversificao das atividades econmicas capazes de dar rtmo e forma ao processo de desenvolvimento scio-econmico preco-nizado pelas foras agrofundirias. A forma como Carlos Lindenberg viabilizou esse projeto de desenvolvimento esteve calcada na premissa da ao dentro dos parmetros do equilbrio oramentrio, cujo corrolrio bsico refletiu-se na maior austeridade e rigor na pOltica de gastos pblicos. A meta bsica de orientar os esforos gover-namentais para as zonas rurais consubstanciou-se na prioridade de alocao de recursos para as funes transportes (constru-o e reparos de estradas e pontes) e educao (construo de escolas). As anlises do prximo item corroboram os reflexos da poltica de compresso do gasto pblico e das mudanas in-trod~zidas no Cdigo Tributrio Estadual na performance das finanas pblicas, assim como, a importncia relativa das fun-es transportes e educao no conjunto das funes estatais. 2.3. BASES DE FINANCIAMENTO DAS POLTICAS PBLICAS Os quadros IV.10, IV.ll, IV.12 e IV.13, a seguir, do uma idia mais precisa do perfil da administrao Carlos Lin-denberg, ao demonstrar as fontes de obteno dos recursos fi-nanceiros do Estado e as prioridades de alocao dos mesmos, ao longo do perodo governamental. Verifica-se, atravs do quadro IV.10, que a quase totalidade dos recursos do estado
  • 368 tiveram suas origens nas receitas ordinrias, sendo que as re-ceitas tributrias contribuiram com a maior parte do montante obtido. A participao relativa dessas receitas no conjunto, significou, em mdia 91,94% do total. A forma como os referidos recursos foram alocados po-de ser visualizada atravs dos quadros IV.11, IV.12 e IV.13. Apesar desses quadros no fornecerem nmeros exatos sobre o quanto foi investido em obras pblicas e o quanto foi alo-cado em gasto corrente e transferncias, a anlise conjunta dos trs permite avaliar, por aproximao, o significado des-ses gastos. Nesse sentido, o quadro IV.11 ao especificar os gastos, por poderes e rgos administrativos, evidencia que a Secreta-ria de Agricultura, Viao e Obras Pblicas, responsvel pela execuo das obras pblicas e da poltica de fomento produ-o, absorveu, em mdia, 28,41% dos recursos. Alm disso, ve-rifica-se que ela deteve participaes crescentes que foram de 24,28% em 1947, a 34,18% em 1950, enquanto que os demais rgos administrativos, ou tm suas participa2s mantidas no mesmo nvel ou so reduzidas. O quadro IV.12, despesas por elementos, mostra que o gasto com pessoal teve uma participao mdia de 49,15%, en-quanto que o item material permanente e despesas diversas ab-sorveram, juntas 47,82%, em mdia. Tanto o item material per-manente como o item despesas diversas incluem os gastos com investimentos. Todavia, no item despesas diversas alm do gasto com obras pblicas (construo e conservao) esto in-cludas, tambm, vrias despesas de natureza econmica distin-
  • 369 ta, como: encargos sociais, auxlios, doao, subvenes, alu-guis, energia, etc. Tal classificao no p2rmite realizar uma anlise mais precisa sobre a natureza da despesa. O que se pode inferir , apenas, que as participaes de ambos os itens so crescentes enquanto que, com as despesas de pessoal e ma-terial de consumo so decrescentes. Finalmente, o quadro IV.13, despesas por servios, in-dica da mesma forma que o item servios de utilidade pblica, o qual inclui as despesas com construo e conservao de es-tradas de rodagem e construo, aquisio e conservao de prprios pblicos, tambm teve participao crescentes. Evo-luiu de 11,60%, em 1947, para 20,25%, em 1950. Por outro lado os servios: administrao geral, segurana pblica e assis-tncia social, educao e sade pblica, tiveram participao decrescentes, ao longo do perodo.
  • QUADRO IV.l0 ESPRITO S~NTO: RECEITA POR FONTES DE RECURSOS - 1947/50 EM VALORES CORRENTES E PARTICIPAO RELATIV~ NA RECEIT~ TOTAL DO EST~DO 1947 1948 1949 ESPECIFICAO CR$ % CR$ % CR$ 1. RECEITAS ORDINRIAS 98.766 82,30 138.558 97,81 226.081 1.1. Tributrias 86. 196 71 ,82 124.557 87,93 208.582 1 . 2 . Patrimoniais 1 .380 1 , 1 5 1 .449 1,02 1 . 1 27 1 . 3. Indstrias 11 . 190 9,33 12.552 8,86 16.372 1 . 4 . Diversas - - - - -2. RECEITAS EXTRAORDIN -RIAS 2.248 1 ,87 3.677 2,59 3.233 3. OPERAES DE CRDITO 9.875 8,23 - - -SUBTOTAL 110.889 92,40 142.235 100,40 229.314 4. DFICIT (-) OU SUPE RVIT (+) - ( - ) 9. 121 7,60 ( + ) (+) 44.253 571 0,40 TOTAL GERAL 120.010 100 141.664 100 185.061 - ~-- ~ -- -Fonte: Balano Geral do Estado do Esprito Santo - 1947/50. 1950 % CR$ 122,17 259.640 112,71 239.060 O , 6 1 2.468 8,85 18.112 - -1 ,74 3.964 - -123 ,91 263.604 23,91 (+)12.773 100 250.831 CR$ 1.000,00 % 103,51 95,31 0,98 7,22 -1 ,58 -105,09 5,09 100 PARTICI PAO-MDIA 101,44 91 ,94 0,94 8,56 -1 ,95 2,06 105,45 5,45 100 VJ -..J o
  • QUADRO IV. 11 ESPRITO SANTO: DESPESAS POR PODERES E RGOS ADMINISTRATIVOS - 1947/50 EM VALORES CORRENTES E PARTICIPAO RELATIVA NA DESPESA TOTAL DO ESTADO 1947 1948 1949 ESPECIFICAO CR$ % CR$ % CR$ 1. PODER LEGISLATIVO 6.303* 5,25 4.070 2,88 4.283 2. PODER JUDICIRIO - - 3.464 2,45 4.733 3. PODER EXECUTIVO - Governadoria do Estado** - - 2.679 1,89 3.491 - Secretaria do Governo*** 64 0,05 11 .660 8,23 15.772 - Secretaria do Interior e 18.944 15,79 16.253 11 ,47 20.114 Justia - Secretaria da Fazenda 35.875 29,89 40.870 28,85 57. 147 - Secretaria de Educao e 29.687 24,74 22.203 15,67 30.270 Cultura - Secretaria de Agricultu 29.137 24,28 40.465 28,56 49.251 ra, Viao e Obras Pblicas-TOTAL GERAL 120.010 100 141.664 100 185.061 CR$ 1.000,00 1950 PARTICI PAO-% CR$ % MDIA 2,31 4.784 1 ,91 3,09 2,56 5.076 2,02 1,75 1,89 3.524 1,40 1,29 8,52 20.977 8,36 6,29 10,87 21.588 8,61 11,68 30,88 77.270 30,81 30,12 16,36 31.885 12,71 17,37 26,61 85.727 34,18 28,41 100 250.831 100 100 ~~~------_ .. - ---~.- -~- _._- -- - --Fonte: Balano Geral do Estado do Esprito Santo - 1947/50. *Inclui as despesas do Poder Judicirio de 1947. **Inclui as despesas dos rgos autnomos (Dept~ Servio Pblico, Ministrio Pblico, Dept das Municipali des). -***Inclui Dept Estadual de Estatstica, Dept Ptadual de Sade, Servio Jurdico. "" -..J
  • QUADRO IV. 12 ESPRITO SANTO: DESPESAS POR ELEMENTOS - 1947/50 EM VALORES CORRENTES E PARTICIPAO RELATIVA NA DESPESA TOTAL DO ESTADO 1947 1948 1949 ESPECIFICAO CR$ % C % CR$ 1 . PESSOAL 63.524 52,93 73.072 51 ,58 94.347 1 . 1. F i xo 47.238 39,36 53.851 38,01 68.275 1.2. Varivel 16.286 13,57 19.27' 13.57 26.072 2. MATERIAL 6.539 5,45 1 1 . 7 J 8,28 19.961 2. 1 . Permanente 2.588 2, 16 7. 193 5,08 14.221 2.2. Consumo 3.951 3,29 4.527 3,20 5.740 3. DESPESAS DIVERSAS 49.947 41 ,62 56- .I 40, 14 70.753 I I 1 ".' r i : 1, 0,,9, j! 1 4 i TOTAL GERAL ' ' 120.010 , 100 185.061 I 1 '! , ! Fonte: Balano Geral do E~tado do E~pirito ~anto - 1947/50. 1950 % CR$ 50,98 103.125 36,89 71.947 14,09 31.178 10,79 32.292 7,69 25.946 3, 1 6.346 38,23 115.414 100 250.831 , . ') r", f) J 'I CR$ 1.000,00 % 4 1 , 1 1 28,68 12,43 12,88 10,35 2,53 46,01 . 100 - , /1 ) PARTICI PAO-MDIA 49, 15 35,74 1 3 , 4 1 9,35 6,32 3,03 41 ,50 100 " . \J.I --J "-'
  • QUADRO IV. 13 ESPRITO SANTO: DESPESAS POR SERVIOS - 1947/50 EM VALORES CORRENTES E PARTICIPAO RELATIVA NA DESPESA TOTAL DO ESTADO 1947 1948 1949 ESPECIFICAO CR$ % CR$ % CR$ 1. Administrao Geral 1 3 . 912 11 ,59 16.968 1 1 , 98 19.035 2. Exao e Fiscalizao 6.426 5,35 7.762 5,48 11.303 Financeira 3. Segurana Pblica e A~ 13.004 10,84 14.711 10,38 18.121 sistncia Social 4. Educao Pblica 22.312 18,59 20.634 14,57 31.520 5. Sade Pblica 8. 162 6,80 9.088 6,41 12.582 6. Fomento 4.461 3,72 6.476 4,57 7.805 7. Servios Industriais 9.734 8, 11 13.158 9,29 17.009 8. Servios da Divisa P 9.253 7,71 10.465 7,39 14.007 blica -9. Servios de Utilidade 1 3 . 919 Pblica 11 ,60 21.077 14,88 23.665 1 O Encargos Diversos 18.827 15,69 21.325 15, 05 30.014 TOTAL GERAL 120.010 100 141.664 100 185.061 Fonte: Balano Geral do Estado do Esprito Santo - 1947/50. 1950 % CR$ 10,29 21.980 6, 1 1 13.883 9,79 19.377 17,03 33.050 6,80 17.750 4,22 7.770 9, 19 24.774 7,57 7.889 12,79 50.788 1 6 , 2 1 53.570 100 250.831 ---~---- --CR$ 1.000,00 % 8,76 5,53 7,72 1 3 , 1 8 7,08 3, 10 9,88 3, 14 20,25 21 ,36 100 - -~ -PARTICI PAO-MDIA 10,65 5,62 9,68 15,84 6,79 3,90 9, 12 6,45 14,88 17,07 -100 Vl -...J Vl --
  • 37 -3. CONCLUSAO Os contornos mais gerais, expressos tanto pelo proces-so poltico-eleitoral, como pela ao governamental, desen-volyida por Carlos Lindenberg, evidenciam que a forma oligr-quica e elitista de articulao de interesses constituiram o modus operandis bsico da relao Estado-Sociedade no Esp-rito Santo, nesse perodo. Entretanto, a permanncia das formas de lealdade, ba-seaas em vnculos de solidariedade coronelstica, no signi-fico~ simplesmente a reedio de uma prtica cuja vigncia pautou as relaes scio-polticas da Primeira Repblica. Na medida em que tanto o espao poltico-institucional brasilei-ro, como a base estrutural do campo social espiritossantense haviam se modificado, as oligarquias dominantes para garanti-rem, quer a sua permanncia ou o acesso direo do Aparelho de Estado, quer o controle poltico das classes dominadas, ne-cessitaram criar, ao longo do tempo, mecanismos de ajustes para as referidas prticas de articulao e mediao polti-ca. Assim, a nvel da articulao inter-oligrquica, como o Sistema Partidrio em formao permitiu um amplo fraciona-mento das classes dominantes, bem como, a emergncia de novas foras sociais, no cenrio da representao poltica, tal fato passou a exigir, de imediato, a criao de um mecanismo rea-gregador das diversas foras polticas. Este consubstanciou-se no processo de formao de alianas, que ser, nos pleitos se-
  • 375 guintes, a estratgia bsica dos diversos diretrios regionais para garantirem quer a permanncia ou acesso direo do Aparelho de Estado. A nvel da mediao com as classes domi-nadas, nesse primeiro perodo, verifica-se que foram mantidos os padres de articulao vertical, baseado na lealdade e nos laos de solidariedade pessoal. Isso apesar de ter havido urna maior diferenciao da estrutura social, em relao ao perodo pr-1930, decorrente da maior ocupao territorial (regio norte) e expanso urbana, que ensejou a emergncia de novas foras polticas na arena poltica capixaba. No entanto, preciso ressaltar que a natureza da di-ferenciao social, que se processava no Esprito Santo, era distinta daquela que, simultaneamente, ocorria no centro-sul. Enq~anto que nos demais Estados do centro-sul, principalmente em So Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul a diferenciao era decorrente da intensificao do processo de industrializao e da concomitante urbanizao; sendo que este ltimo se realizava sobretudo via migrao de significa-tivas camadas populares do interior e do campo, que se deslo-cava~ para as capitais daqueles Estados; no Esprito Santo, a diferenciao decorria da expanso da fronteira agrcola, via processo de recolonizao de descendentes dos imigrantes es-trangeiros aqui fixados no ltimo quartil do sculo XIX. Essa maior ocupao territorial aumentou o contingente das classes formadas na pequena e mdia produo rural e gerou um maior dinamismo econmico, resultando na ampliao do espectro das atividades tercirias e expandindo dessa forma os centros urbanos.
  • 376 Como consequncia, as classes dominadas, presentes no Esprito Santo, eram distintas daquelas existentes no contex-to da industrializao/urbanizao dos Estados acima referidos. Com isso, a "situao de disponibilidade para participao po-ltica"79 de que fala Francisco Weffort, caracterstica dos grandes centros urbanos, a qual vai ensejar a emergncia do pop~lismo, no existia no Esprito Santo. No nos mesmos mol-des existentes naqueles Estados. A natureza distinta de pelo menos uma frao das clas-ses populares - a pequena burguesia rural, numericamente im-portante no conjunto das classes sociais espiritossantenses-engendrou uma forma de participao poltica dessa frao de classe que mesclou padres coronelsticos com forma de re-presentao autnoma - via PRP. Embora essa representao re-fletisse o carter subordinado e dependente dessa frao de classe s oligarquias agrofundirias e mercantis, expressas no PSD e UDN, tal fato registrou a presena da referida frao de classe de forma distinta daquela que ocorrera na Primeira Re-pblica. Com isso o nmero de atores da arena poltica foi am-pliado. As oligarquias remanescentes da Primeira Repblica, para manterem o controle poltico das classes dominadas, pre-cisaram ajustar as antigas prticas coronelsticas. Assim, apesar de, nesse pleito, as referidas oligarquias, encastela-das no PSD e UDN, terem recorrido tanto ao recurso da obteno de apoio - via negociao com o PRP - como s prticas de me-diao coronelsticas, se ver que, ao longo do tempo, princi-palmente, a ltima forma de mediao tornar-se-, gradativa-
  • 377 mente, menos eficaz. Em termos de ao governamental, Cailos Lindenberg inovou muito pouco. Isso quer em relao s formas de arti-culao poltica com as demais foras polticas integrantes da correlao de foras no poder, quer em relao ao sentido im-presso s polticas pblicas. As articulaes com as foras polticas componentes do bloco regional de poder constituem a expresso mais clara da sobrevivncia das prticas coronelsticas em sua estrat-gia de atuao. Na medida em que ele buscava consolidar a he-gemonia das foras agrofundirias na direo do Aparelho Regional de Estado ele utilizaria procedimentos tpicos do coronel i smo para conseguir seus objetivos; onde a estratgia de assumir a direo absoluta do referido Aparelho deles. Nesse sentido, como havia sido eleito com era um aliana e apoio de outras foras polticas, que desejavam, tambm, obter seus espaos de manobra, tal fato impedia a ampla atuao de Carlos Lindenberg que desejava expandir suas bases de apoio. Os conflitos da gerados resultou na eliminao das foras concorrentes (UDN) e de apoio (PRP) dos quadros dirigentes. Dessa forma o lder das foras agrofundirias pode dispor de forma absoluta da direo executiva do Aparelho Regional de Estado. Com isso obteve um amplo campo de manobra, princi-palmente, do ponto de vista clientelista que lhe permitia am-pliar significativamente os laos de solidariedade com as ba-ses coronelsticas localizadas no interior do Estado.
  • 378 A partir da, Carlos Lindenberg como preconizou em seu discurso de posse concluiu a arrumao da casa e passou efe-tivamente a execuo da poltica de desenvolvimento econmico e social. Essa, como enfatizara no referido discurso, ori-entou-se, principalmente, para o interior do Estado onde a criao de infra-estrutura bsica constituiu a pedra angular de seu governo. Na realidade representou o atendimento das de-manas mais prementes das classes agrofundirias que sem as vias de comunicao no podiam escoar a produo cafeeira para exportao. Apesar de se poder visualizar, em sua pOltica econ-mica, embrionrias medidas no sentido de se favorecer a emer-gncia de um setor industrial no Esprito Santo, estas no se constituram no contedo bsico de sua poltica de desenvol-vimento. Refletiu a estratgia de possibilitar o surgimento do setor de forma moderada e gradual, para permitir, assim, a diversificao econmica do Estado, que padecia dos efeitos da monocultura cafeeira. Porm, a industrializao no sua me-ta prioritria. No da mesma forma como o era para Jones dos Santos Neves. Para Carlos Lindenberg ela deveria caminhar ao ladc do desenvolvimento agrcola, portanto, no deveria pro-vocar grandes rupturas no processo de transformao em curso. Em certo sentido a via desenvolvimentista que se con-fig~rou sob a direo de Carlos Lindenberg refletiu o ethos conservador das foras que ele representava e, assim como, a gesto de Dutra que se realizava, concomitantemente, no plano nacional a via da industrializao acelerada sustentada pelo
  • 379 Estado, no se constituia na alternativa bsica de seus gover-nos. Em sntese, a gesto de Carlos Lindenberg expressou a reedio adaptada da forma coronelstica de articulao e me-diao de interesses, onde o carter personalista e autorit-rio, remanescente daquela forma, permeou o tom das relaes Es-tado e Sociedade no Esprito Santo.
  • 380 CAPTULO IV NOTAS E CITAOES BIBLIOGRFICAS 1. Cf. A Gazeta, 01/01/47, 1 p. Manifesto do General Tristo de Alencar, ao retirar sua candidatura ao Governo do Esta-do. 2. Iem, Ibidem. 3. Cf. A Gazeta, 24/11/46, 3 p. Novos Partidos (comentrios e a~lises polticas realizados por Areobaldo Lellis). 4. Iem, Ibidem; e, A Gazeta, 04/12/46, 3 p. A mesa redonda. (hreobaldo Lellis). 5. Iem, Ibidem; e, A Gazeta, 01/01/47, 1 p. Manifesto do Ge-neral Tristo de Alencar Araripe ... , cito 6. C:. A Gazeta, 22/11/46, 1 p. Do Rio ... Altas e baixas re-portagens para A Gazeta (matria do correspondente nal, no Rio de Janeiro). 01/01/47, 1 p., Manifesto neral Tristo ... , cito do jor-do Ge-7. C:. A Gazeta, 22/11/46, 1 p., Do Rio ... Altas e baixas re-portagens para A Gazeta, cit., 4/12/46, 3 p., A mesa re-donda (Areobaldo Lellis), cito 8. C:. A Gazeta, 4/12/46, 3 p., A mesa redonda (Areobaldo Lellis); 01/01/47, 1 p., Manifesto do General TristoAlen-car Araripe, ... , cito 9. C:. A Gazeta, 19/11/46, 1 p., Vem organizar o PR no Estado (refere-se chegada no Estado do poltico Manoel Silvino Monjardim); 27/11/46, 1 p. Reunio dos atilistas em Cacho-eiro de Itapemirim.
  • 381 10. Cf. A Gazeta, 03/12/46, 1 p. Lanada, em Cachoeiro do Ita-pemirim, a candidatura do Senador Vivcqua Governadoria do Estado; 19/12/46, 1 p., Homologada pelo PR a candida-tura Vivcqua Governadoria do Estado. 11. Cf. A Gazeta, 17/11/46, 1 p., A Conveno da Unio Demo-crtica Nacional; 31/12/46, 1 p., Ao povo Espiritossan-tense: Porque me desligo da UON. (Carta aberta, datada de 29/12/46, de Rosendo Serapio Souza Filho, membro da Co-rrisso Executiva da UDN-ES). 12. Cf. A Gazeta, 20/12/46, 1 p., Conveno do Partido Demo-crata Cristo; 21/12/46, 1 p., A Candidatura do Or. Fer-nando Rabello ao Governo do Estado. 13. Cf. A Gazeta, 01/01/47, 1 p., Manifesto do General Tris-to de Alencar Araripe .. cito (grifos meus). 14. Cf. A Gazeta, 29/12/46, 1 p., Chamado ao Rio o Sr. Jones dos Santos Neves; 31/12/46, 1 p., Situao Curiosa; 31/12/46, 3 p., A razo mxima (Areobaldo Lellis). Ins-tituto Jones dos Santos Neves. Depoimentos de: Carlos F. ~:. Lindenberg (Fita-02); Waldemar Mendes de Andrade (Fi-tas-OS e 06), cito 15. Cf. A Gazeta, 29/12/46, 1 p. A Conveno da UDN; 31/12/46, l p., Ao povo espiritossantense: porque me desligo da UON, cit., 30/03/47, 1 e 8 p., Instalada ontem solene-mente a Assemblia Legislativa Estadual (Declaraes do Deputado Estadual Dulcino Monteiro de Castro). 16. Cf. A Gazeta, 10/01/47, 1 p., Imperativos de uma de. atitu-17. Cf. A Gazeta, 31/12/46, 1 p., Ao povo espiri~~ .. , cit., 15/01/47, S p., Venceu o interesse pessoal; 03/01/4~ l p. Aos meus amigos do Esprito Santo: porque senador Attlio Vivcqua, etc. apoio o
  • 382 18. Cf. A Gazeta, 05/01/47, 1 p., Firmada vigorosa e vibrante Coligao Democrtica em torno da candidatura Attlio Vi-vcqua. 19. Idem, Ibidem. 20. Cf. A Gazeta, 17/01/47, 1 p., Definies Partidrias (Editorial). IJSN. Depoimentos de: Carlos F.M. Lindenberg (Fita-02); Waldemar Mendes de Andrade (Fitas-05 e 06), cito 21. Para a elaborao do perfil scio-poltico de Carlos Fer-r.ando Monteiro Lindenberg apoiou-se tes: nas segu