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49 Gávea" (São Conrado?). Até 1575 esses foram os únicos colonos lusitanos proprietários por essas bandas. Nesse ano de 1575 assume o governo da Capitania do Rio de Janeiro e parte sul do Brasil o Governador Antônio de Salema, natural de Alcácer do Sal (152?-1586). Êsse tal Salema era um jurista formado em Coimbra, e que odiava os índios. Antônio Salema, em seu mandato de três anos (1575-1578) descobriu uma lei editada pela Metrópole isentando de impostos por dez anos quem erguesse engenhos de cana de açúcar no Brasil. Inclusive, desde 1573, já existia um pioneiro engenho de cana em Magé, erguido pelo seu antecessor no governo, o Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros. Salema decidiu pura e simplesmente extinguir os índios tamoios das aldeias da Lagoa para lá erguer seu engenho, que seria movido à água, muito abundante haja vista os inúmeros córregos no local ("Macacos", "Rainha", "Iglésias", etc.). Mandou jogar no mato adjacente à Lagoa diversas mudas de roupas de doentes de varíola. Os índios pegaram as roupas, vestiram, pegaram varíola por contágio e morreram. Foi a primeira guerra bacteriológica nas Américas ... . ENGENHO DEL REI Uma vez livre dos índios, Salema deu início ao seu engenho. Pediu 3.000 cruzados de empréstimo ao Rei D. Sebastião de Portugal (1554-1578), enfurnou 2.500 cruzados e fez o engenho todo com 500 cruzados (detalhe: este empréstimo nunca foi pago). Deu-lhe o nome de "Engenho D`El Rei", cuja sede principal ainda existe, mesmo depois de muito alterada. É onde hoje funciona o "Centro de Recepção aos Visitantes no Jardim Botânico", com acesso pela rua Jardim Botânico, no. 1008. O "Engenho D`El Rei", haja vista os parcos recursos empregados, era uma porcaria e não funcionava. Fato que foi denunciado em 1578, depois de seu governo pelo Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros (o tal fundador do engenho de Magé). A sugestão do Provedor foi privatizar essa "estatal deficitária", decisão tomada em 1584. Em 1598, o "Engenho D`El Rei" foi vendido ao Vereador que autorizou sua alienação, Diogo de Amorim Soares, natural de São Vicente (1558?-1609?) o qual, a única coisa que fez após comprá-lo foi mudar o nome do engenho para o de "Nossa Senhora da Conceição da Lagoa", tendo igualmente erguido na mesma época uma capela dedicada à "Nossa Senhora da Conceição", ermida essa que em 1809 foi designada para sediar a "Freguesia de São João Batista da Lagoa", criada pelo Príncipe D. João. Esse templete existiu até 1826. Hoje no lugar dela está o prédio da "Embrapa", "Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias", na entrada secundária do Jardim Botânico, pelo no. 1008. Amorim Soares não era famoso por sua ética. Em 1599, Antônio Pacheco Calheiros (1569?-1634), genro de André de Leão, casado com sua filha Inês, solicitou à Câmara o aforamento de "todas as terras que houvessem da demarcação de Diogo de Amorim até entestar com as de André de Leão, e quinhentas braças de comprido correndo para a Gávea". O foro foi concedido em duas vidas, pagando Calheiros 100 réis por braça. Em 1603, Calheiros pede enfiteuse pelas mesmas quinhentas braças, bem como toda a terra que houver do engenho de Amorim Soares até a "Costa Brava" (Leblon), correndo até a Gávea(Vidigal). Pacheco pediu à Câmara confirmação de suas posses e as de André de Leão, em 1611 e 1616. A confirmação foi concedida pela Câmara. Parece que seu poderoso vizinho Diogo de Amorim estava derrubando suas cercas. Que desejava ampliar seus domínios não há dúvidas, pois ainda em 27 de novembro de 1608 Amorim aforoumais 300 braças de terras com vertentes para a Tijuca, com foro de 600 réis. PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com

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Gávea" (São Conrado?). Até 1575 esses foram os únicos colonos lusitanos proprietáriospor essas bandas.

Nesse ano de 1575 assume o governo da Capitania do Rio de Janeiro e parte suldo Brasil o Governador Antônio de Salema, natural de Alcácer do Sal (152?-1586). Êssetal Salema era um jurista formado em Coimbra, e que odiava os índios. Antônio Salema,em seu mandato de três anos (1575-1578) descobriu uma lei editada pela Metrópoleisentando de impostos por dez anos quem erguesse engenhos de cana de açúcar noBrasil. Inclusive, desde 1573, já existia um pioneiro engenho de cana em Magé, erguidopelo seu antecessor no governo, o Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros.

Salema decidiu pura e simplesmente extinguir os índios tamoios das aldeias daLagoa para lá erguer seu engenho, que seria movido à água, muito abundante haja vistaos inúmeros córregos no local ("Macacos", "Rainha", "Iglésias", etc.). Mandou jogar nomato adjacente à Lagoa diversas mudas de roupas de doentes de varíola. Os índiospegaram as roupas, vestiram, pegaram varíola por contágio e morreram.

Foi a primeira guerra bacteriológica nas Américas... .

ENGENHO DEL REIUma vez livre dos índios, Salema deu início ao seu engenho. Pediu 3.000

cruzados de empréstimo ao Rei D. Sebastião de Portugal (1554-1578), enfurnou 2.500cruzados e fez o engenho todo com 500 cruzados (detalhe: este empréstimo nunca foipago). Deu-lhe o nome de "Engenho D`El Rei", cuja sede principal ainda existe, mesmodepois de muito alterada. É onde hoje funciona o "Centro de Recepção aos Visitantesno Jardim Botânico", com acesso pela rua Jardim Botânico, no. 1008.

O "Engenho D`El Rei", haja vista os parcos recursos empregados, era umaporcaria e não funcionava. Fato que foi denunciado em 1578, depois de seu governopelo Provedor da Fazenda Real Cristóvão de Barros (o tal fundador do engenho deMagé). A sugestão do Provedor foi privatizar essa "estatal deficitária", decisão tomadaem 1584. Em 1598, o "Engenho D`El Rei" foi vendido ao Vereador que autorizou suaalienação, Diogo de Amorim Soares, natural de São Vicente (1558?-1609?) o qual, aúnica coisa que fez após comprá-lo foi mudar o nome do engenho para o de "NossaSenhora da Conceição da Lagoa", tendo igualmente erguido na mesma época umacapela dedicada à "Nossa Senhora da Conceição", ermida essa que em 1809 foidesignada para sediar a "Freguesia de São João Batista da Lagoa", criada pelo PríncipeD. João. Esse templete existiu até 1826. Hoje no lugar dela está o prédio da "Embrapa","Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias", na entrada secundária do JardimBotânico, pelo no. 1008.

Amorim Soares não era famoso por sua ética. Em 1599, Antônio PachecoCalheiros (1569?-1634), genro de André de Leão, casado com sua filha Inês, solicitou àCâmara o aforamento de "todas as terras que houvessem da demarcação de Diogo deAmorim até entestar com as de André de Leão, e quinhentas braças de compridocorrendo para a Gávea". O foro foi concedido em duas vidas, pagando Calheiros 100réis por braça. Em 1603, Calheiros pede enfiteuse pelas mesmas quinhentas braças,bem como toda a terra que houver do engenho de Amorim Soares até a "Costa Brava"(Leblon), correndo até a Gávea(Vidigal). Pacheco pediu à Câmara confirmação de suasposses e as de André de Leão, em 1611 e 1616. A confirmação foi concedida pelaCâmara. Parece que seu poderoso vizinho Diogo de Amorim estava derrubando suascercas. Que desejava ampliar seus domínios não há dúvidas, pois ainda em 27 denovembro de 1608 Amorim aforou mais 300 braças de terras com vertentes para aTijuca, com foro de 600 réis.

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Durante algum tempo a Lagoa foi denominada de "Lagoa de Amorim Soares", porcausa de seu latifundiário mais famoso. Não era lá muito querido esse vereador, que porcausa de seus escândalos, foi expulso da cidade em junho de 1609. Não sem antesvender seu engenho e terras para seu genro, Sebastião Fagundes Varela (1563-1639),que se casara pouco antes com sua filha, Da. Maria de Amorim Soares (1589-1676).

Varela não se contentou só com essas terras, solicitou outras à "Câmara deVereadores" e, não satisfeito, foi comprando as dos vizinhos e, em alguns casos,invadindo mesmo, derrubando cercas e agindo com alguma violência. Apesar dosprotestos da vizinhança, a Câmara se omitiu. Uma das proprietárias, Da. Felipa Gomes,viúva de André de Leão, vendeu as terras a Martim Barbosa em 17 de dezembro de1612. Compreendia quase toda a atual Marquês de São Vicente. Anos depois, em 1640,Martim Barbosa aforou 200 braças dessas terras à Pantaleão de Oliveira.

Como já se disse, Varela vivia solicitando terras à Câmara. Expediu petiçõesneste sentido em 22 e 27 de junho de1609, onde pedia trespasse das terras do sogro eaforamento por 9 anos de terras desde o Pão de Açúcar até a "praia brava" (Leblon),com 400 braças para o sertão. Em 23 de setembro de 1611 e 19 de julho de 1617solicitava mais terras para aumento de seus pastos. Em 1620 ele já era dono de toda aárea que ia do atual bairro do Humaitá ao Leblon, inclusive toda a Lagoa, que nessestempos passou a ser denominada de "Lagoa de Fagundes Varela" ("Sic Transit GlóriaMundi"). Só para se ter uma idéia da extensão de suas terras, elas abrangiam 1.700braças de testada e 4.500.000 braças de área, incluindo a Lagoa. Ele usava a praia deCopacabana (à época "Praia de Sacopenapan"), obtida por doação da Câmara em1619, para pasto de seu gado, que ruminava entre cajueiros, pitangueiras e ananases.

Em 1609 Varela finalmente ganhou um vizinho que não conseguia intimidar.Nada menos que Martim de Sá (1575-1632), Governador do Rio de Janeiro (1602/08 e1623/32) e então filho do ex-Governador Salvador Corrêa de Sá, nascido em Barcelos(1542-1631). Martim nesse ano de 1609 obteve trespasso de uma sesmaria obtida em1606 por Afonso Fernandes e Domingas Mendes. O "Conselho da Cidade" haviaaforado essa terra ao casal três anos antes, com foro de 1000 réis, correspondendo a"300 braças começadas a medir do Pão de Açúcar ao longo do mar salgado para aPraia de João de Souza (Botafogo) e para o sertão, costa brava e tudo que houvesse".Em 1609, Da. Domingas, já viúva, trespassou-lhe o aforamento.

CAPELA DE NOSSA SENHORA DAS CABEÇAS - RUA FAROOnde hoje está a rua Faro, Martim ergueu um aqueduto em alvenaria, cujas

ruínas ainda existem no fundo de alguns terrenos. Lá também se ergue a "Capela deNossa Senhora das Cabeças", o qual muitos asseveram ser obra dos primórdios doséculo XVII. Pretendia Martim de Sá alí fundar engenho de cana, o "Engenho de NossaSenhora das Cabeças", mas parece que algum tempo depois desinteressou-se por ele eo vendeu à Varela.

No século XIX a capelinha estava na imensa "Chácara de N. Sra. da Cabeça".Pertenceu por muitos anos à família Tosta, dos "Barões de Muritiba", sendo vendidadepois de 1860 ao Dr. Luís Pereira Ferreira de Faro, neto do 1o. Barão do Rio Bonito,Joaquim José Pereira de Faro, Presidente da Província do Rio de Janeiro e grandecafeicultor (1768-1843), filho do 2o. Visconde com Grandeza do Rio Bonito, JoãoPereira Darrigue Faro (1803-1856), e irmão do 3o. Barão do Rio Bonito, José Pereira deFaro (1832-1899) e sobrinho do Comendador Antônio Martins Lage, do qual depois sefalará. Loteada a chácara e nela aberta a rua Faro em 1870, ficou a dita capela nosterrenos da "Casa Maternal Mello Mattos", fundada no final do século XIX por estecélebre Juiz de Menores, casado com Da. Francisca "Chiquita" Mattos, que por muitos

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anos dirigiu a instituição e preservou com carinho a velha capelinha, hoje tombada pelo“IPHAN” como a relíquia mais vetusta do bairro. Perto dela, em frente ao no. 51, existehoje enorme figueira bicentenária, tombada pela municipalidade em 1980.

Outros engenhos surgiram na Lagoa. Baltazar de Seixas Rabelo, Juiz Ordinárioda Câmara, Provedor da Misericórdia, Capitão Mór de São Vicente (1560-1637), aforou200 braças de terras com um riacho em 1598, entre Felipa Gomes e Diogo de AmorimSoares. Ali abriu seu engenho de cana e rapadura.

Por essa época, João Martins Monteiro, pedreiro, traspassou 250 braças deterras na Lagoa para Sebastião Antunes. Essas terras foram antes de Manoel Pinto,ourives, e iam desde um riacho, onde se achava a divisa do engenho de Martim de Sá,com 600 braças de fundo, ao longo do caminho que vem do engenho para a cidade.Deve ser mais ou menos onde hoje se encontra o Parque Lage. Êsse Manoel Pinto, doqual nada se sabe, obtivera essas terras antes de 1606 para nelas fazer um engenho.

ENGENHOS DA FONTE DA SAUDADEMestre Bernardo, arrendou por nove anos 100 braças de terras que estavam

devolutas, por carta de 19 de dezembro de 1612. Eram no fim da "praia da Lagoa", ondeviveu Baltazar de Azevedo, até junto ao morro da "Saudade", vindo da Lagoa para acidade. É onde hoje existe a região denominada "Fonte da Saudade". A "Fonte daSaudade" era assim chamada porque no princípio do século XIX alí lavavam roupalavadeiras portuguesas, que cantavam fados relembrando com saudades a terradistante.

Há referências diminutas a outros engenhos na Lagoa, todos de localizaçãoimprecisa e escassas informações. Segundo Mello Moraes, possuíam tambémengenhos na região: Martim Gonçalves, rico comerciante com casas na rua daAlfândega; Pedro de Souza e Brito, Capitão de Infantaria (1584-16??), era filho de JoãoPereira de Souza Botafogo (1540?-1590), dono do que é hoje o bairro de Botafogo; ePedro Fernandes de Mello. Todos os seus engenhos foram de efêmera duração.

Em 06 de maio de 1614, Francisco Gomes requereu aforamento de mais terrasao "Conselho da Câmara" para ter mais largura que as que possuía Antônio de Almeida,porquanto tinha feito casas, roças, canaviais e um engenho de cana. Parece que esseFrancisco Gomes devia alguma, pois os "Oficiais da Câmara" foram à sua fazenda ebotaram tudo abaixo, derrubando o engenho, com pena de seis cruzados de o levantarde novo. Foi-lhe proibido de plantar cana e dado um prazo de um ano para se mudar.

A 24 de dezembro de 1616, Francisco Caldas, "Cavaleiro Fidalgo D`El Rei",requereu ao "Conselho da Câmara" aumento de terreno para acréscimo do engenho deaçúcar que ele fundou nas terras da Lagoa. A Câmara deu o aforamento, mas tudo levaa crer que o engenho não foi adiante e logo tornou-se mais uma extensão das terras deVarela.

FONTE DA SAUDADE – RESUMO HISTÓRICONo século XVI, a área em questão era parte da sesmaria de Antônio Francisco

Velho, Mordomo da Confraria de São Sebastião, e que recebeu a doação ainda em1565 do Governador Estácio de Sá. Em 1590, as terras passaram, por compra, ao juizJoão Pereira de Souza Botafogo, que as manteve até 1605. Alienada a parte da lagoaneste último ano, tentou-se ali erguer um engenho de cana, mas em 1620 os terrenoscaíram em mão de Sebastião Fagundes Varela, cuja família manteve a posse, atravésde seus herdeiros, até a chegada da Côrte, em 1808.

A única construção notável erguida na região durante o período colonial foi feitapelo Vice-Rei Luís de Vasconcellos, que mandou o engenheiro militar Jean Jacques

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Funck erguer em 1786 um forte no final da rua São Clemente, onde hoje está o CIEP deHumaitá, com linhas amuralhadas por toda a Fonte da Saudade, em áreas onde emépoca recente se abriu a rua Bogari. O que restava do dito forte foi demolido em 1983para a construção do preclarado CIEP de Humaitá.

Aí por volta de 1808, quando as terras foram alienadas, surgiram as primeirasreferências à existência de uma fonte de água potável, onde lavadeiras portuguesaslavavam as roupas dos nobres de Botafogo (fonte desenhada por Maria Graham, em1823). Elas cantavam fados de saudade à terra distante, surgindo daí a poéticadenominação de “Fonte da Saudade” (isso consta em A. J. Mello Moraes, “CrônicaGeral e Minuciosa do Império do Brasil”, Rio, 1879), a nomenclatura foi depois aplicadaao morro e praia lindeira (desenho de Thomas Ender, de 1817). Essa fonte aindasobrevive, com outra arquitetura, no pátio ajardinado fronteiro do prédio no. 111 da ruaFonte da Saudade.

As condições de péssima salubridade da lagoa, com freqüentes mortandades depeixes e falta total de saneamento, impediu qualquer ocupação de porte no local. Emvolta da lagoa, surgiram em fins do Império quatro fábricas de tecidos: uma, oCotonifício São Félix, na rua Marquês de São Vicente; a segunda, a Fábrica de TecidosCorcovado, onde aproximadamente hoje se ergue o Hospital da Lagoa; a terceira, aFábrica Carioca, na rua Pacheco Leão, e a quarta, uma pequena fábrica no Humaitá.Esta ocupação fabril gerou a existência de vilas operárias, casas de cômodos epensões, algumas ainda existentes nos bairros de Botafogo, Jardim Botânico e Gávea.

No primeiro recenseamento predial realizado na rua da “Praia da Saudade” (nãoconfundir com o logradouro de idêntico nome, na Urca, onde hoje existe o Iate Clube doRio de Janeiro) em 1879 por J. Cruvello Cavalcanti, constatou a existência de apenassete casas térreas, um telheiro e duas ruínas.

Decidido a reverter essa situação e conquistar essa importante área para aburguesia crescente da cidade, o Prefeito Carlos Sampaio mandou realizar importantesobras de saneamento na Lagoa Rodrigo de Freitas entre os anos de 1920/22, trabalho oqual foi encarregado o escritório técnico do competente engenheiro Saturnino de Britto,que realizou extensas obras de aterro das margens da Lagoa, canalização de rios,dentre outras. Na área da Fonte da Saudade, fez-se grande aterro de pântanos, o qualresultou toda a área que vai do lado par da rua Fonte da Saudade (até então somenteexistia o lado ímpar. O lado par era a praia) até a av. Epitácio Pessoa, concluída nessaépoca. A rua Fonte da saudade possuía, segundo o recenseamento geral de 1920, 87casas térreas (no lado ímpar), todas residenciais e ocupadas, dois sobrados, sendo umuma pensão e o outro uma casa-de-cômodos. Existia igualmente, como único comércio,uma padaria.

Como resultado dessas importantes obras, começou a ocupação da região porconstruções de melhor porte, bem como o surgimento das primeiras ruas transversais àrua Fonte da Saudade. Em 1928, surgiam as ruas Cássias e Madressilva, hoje,respectivamente ruas Carvalho Azevedo e Resedá.

Em 1935, é fundada a empresa loteadora DARKE S/A, criada pelo Sr. JorgeBhering de Oliveira Mattos e outros, com o fito de lotear dois grandes terrenos onde osSrs. Jorge e seu finado irmão Darke haviam erguido em 1928/29 dois imensospalacetes. Foi então elaborado um plano de arruamento e loteamento em duas folhasde papel ozalid, pelo Consultório Técnico do engenheiro Washington de Azevedo,aprovado em 29 de maio de 1935 pelo Prefeito Pedro Ernesto Batista, e que tomou onúmero 2396. Desse loteamento resultou a abertura das ruas “A”, hoje Ferreira deResende; “B”, hoje ruas Almirante Guilhobel e Vitória Régia; “C”, hoje rua Almeida

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Godinho; “D”, hoje Negreiros Lobato e “I”, hoje rua Sacopã. Não foram aprovadas asruas “E”, “F”, “G” e “H”.

Em 1938 Da. Maria Augusta Nunes Fleury decidiu lotear sua chácara, surgindoassim, com o novo projeto de arruamento, aprovado pelo Prefeito Henrique Dodsworth,a rua Baronesa de Poconé.

Finalmente, nos terrenos da antiga Fábrica David de papéis pintados, depropriedade de David e Cia., foi aberta em 1940, com o arruamento aprovado pelomesmo Prefeito Dodsworth, a rua Alfredo Barcelos, hoje Ildefonso Simões Lopes.

Com o acentuado crescimento populacional da Lagoa, foi criada em 1936 aParóquia de Santa Margarida Maria, cuja bela igreja foi projetada anos depois porFernando I. Lemos, arquiteto. Foi concluída em 1958 e é ainda o cartão de visitas dobairro.

A ocupação desordenada da lagoa por prédios de alto gabarito e a abertura doTúnel Rebouças em 1965 transformaram a Fonte da Saudade em bairro de passagem,tendo sido demolidas nessa última data a maioria das casas originais da av. EpitácioPessoa e rua Fonte da Saudade, com visível queda de qualidade de vida.

A luta pela preservação dos poucos remanescentes da ocupação original daFonte da Saudade, impõe-se desde já e é plenamente justificada por consenso popular,mobilizando a população e associações de bairro. Tanto isso é verdade que a própriaPrefeitura já tombou, em tempos idos, o Espelho da Lagoa Rodrigo de Freitas (em1988), o Monumento a Quintino Bocayúva, inaugurado em 1944 na Praça Álcio Souto,antiga Praça da Piaçava; a Obra do Berço, a primeira construção de porte do arquitetoOscar Niemeyer, erguida em 1937; e, mais recentemente, tombou, a nível provisório, aobra da Pequena Cruzada, construída em 1947 por Raul Penna Firme.

PALACETE TAVARES – RUA ALMIRANTE GUILHOBEL, 5 – LAGOAO bairro da Fonte da Saudade, onde se insere a rua Almirante Guilhobel, foi

criado a partir do Projeto de Alinhamento no. 2396, de 29 de maio de 1935, aprovadopelo Prefeito Pedro Ernesto. O projeto foi elaborado em duas folhas de papel Ozalidpelo Consultório Técnico Washington de Azevedo para a Empresa Darke S/A,proprietária do terreno em questão. O Decreto 5699, de 24 de janeiro de 1936, assinadopelo próprio Pedro Ernesto, reconheceu as ruas e a denominação.

Segundo José Teixeira Júnior, Diretor Financeiro da Darke S/A e únicofuncionário ainda vivo desta empresa, neste mesmo ano o Sr. Jacy Tavares adquiriu oslotes 1, 3 e 5 da mesma rua, em posição privilegiada, com fachada confrontante tantopara a rua Almirante Guilhobel quanto para a rua Fonte da Saudade. O Sr. Jacy Tavaresera comerciante, dono da Farmácia Jesus, na rua do Catete, com alto prestígio nomercado, chegando a fornecer por vezes, medicamentos ao Palácio do Catete. Em 1936foi erguida esta sua residência apalacetada, em estilo eclético, com inspiração na idademédia italiana. Nela residiu por mais de 40 anos, quando então foi alugada para sediaruma clínica, atividade que manteve por mais de dez anos. Sofreu então algumasreformas que não a desfiguraram. Presentemente, encontra-se desocupada.

A casa ainda possui rica serralheria em estilo medieval, em ferro batido e fundido,com brasões heráldicos e raros motivos zoomorfos de dragões. Dentre os detalhes deserralheria mais interessantes, podemos ressaltar o gradil externo, ainda original eintacto; as arandelas existentes no hall principal e superior, com motivos de dragões, oguarda corpo das escadas, em motivos florais e os dois grandes lustres, feitosespecialmente para a casa. Os estuques que formam uma sanca em torno dosambientes nobres, em motivos fitomorfos acompanham o estilo da casa. O vão daescada ainda possui rico vitral com cena de gênero, não assinada, mas contemporânea

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da construção da casa. Outros acabamentos em vitral, no banheiro e cômodos nobresainda estão intactos. As portas em marcenaria de estilo ainda estão nos vãos originais,bem como a maioria das janelas antigas. A casa possui ainda dois pequenos chafarizescom seus tanques, um externo, em azulejo e pedra, faltando a carranca em metal ondejorrava água. O outro, no patamar da escada, em mármore branco e carranca debronze, está intacto. Os banheiros foram reformados em data posterior à construção,mas manteve-se o ambiente estilo “anos” 40. A casa em geral está em bom estado deconservação, necessitando de algumas obras de manutenção, poucas, haja vista aexcepcional qualidade dos materiais empregados. A garagem e a residência deempregados, nos fundos, são obras recentes e improvisadas, destoando do resto daconstrução.

UM CERTO CAPITÃO RODRIGOO castigo de Varela veio literalmente "à cavalo". Em 1702 era herdeira legítima de

suas terras sua única bisneta, Da. Petronilha Fagundes (1671-1717), filha de IsabelFagundes (1639-167?) e de Manuel Telles Barreto (1634-1707). Isabel, por sua vez, erafilha de João Fagundes Paris (1605-1662) e de Da. Petronilha Fagundes (1614-1668),esta filha mais velha de Varela. Sua bisneta era uma solteirona com cerca de 31 anos, oque a fazia uma valetudinária naqueles tempos, onde a idade de casamento dasmulheres ia dos 12 aos 18 anos, sendo que o limite de vida das jovens mal chegava aos40 anos. Nesse mesmo ano de 1702 chegou ao Rio de Janeiro um jovem "Capitão deCavalos" chamado Rodrigo de Freitas de Carvalho (1686-1748), natural de Suariba,Freguesia de Sam Payo de Visella, Têrmo da Vila de Guimarães, Arcebispado de Braga,e que aos 16 anos logo se casou com a Da. Petronilha (êle mudou seu nome após ocasamento para Rodrigo de Freitas Castro).

Foi o "golpe do baú" mais bem dado em terras do Brasil. A partir daquela época,o engenho passou a chamar-se de "Rodrigo de Freitas", e idem quanto à Lagoa.Rodrigo autodenominava-se "Senhor do Engenho de Nossa Senhora da Conceição daLagoa de Rodrigo de Freitas e da própria Lagoa", como pomposamente se titulava.

Em setembro de 1710 o engenho foi duramente saqueado pelas tropas invasorasfrancesas chefiadas por Jean François Duclerc (16??-1711), corsário francês à serviçodo Rei Luís XIV (encontramos muita louça de Duclerc nas escavações arqueológicasque realizamos na sede do engenho em 1991) e, após 1717, depois de viúvo, Rodrigode Freitas arrendou o engenho e casas a um particular e mudou-se para Portugal, ondepassou a viver das rendas de suas terras, indo morar em sua "Quinta" em Suariba, noAlto Minho, onde morreu em 1748, aos 61 anos, viúvo e muito rico.

Herdou suas terras e casas seu filho João de Freitas Castro (1704-1779), casadocom Da. Leonor Maria de Mello Pereira Sampaio (1714-177?). Seu primogênito, Rodrigode Freitas Mello e Castro (1740-1803), morava em Guimarães, onde casou-se em 1770com Da. Josefa Margarida Soares Tomásia Cardoso e Menezes (1750-18??). Forampais de Ayres de Freitas Mello e Castro (1771-1811), que morreu solteiro, e Da. MariaLeonor de Freitas Mello e Castro (1773-183?), que sobreviveu ao irmão muitos anos.

CHINESES NA ORIGEM DO JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIROO engenho de cana da Lagoa de Rodrigo de Freitas, fundado em 1575, decaiu

muito durante o século XVIII, só produzindo rapadura e cachaça. Por Decreto Régio de13 de junho de 1808, suas terras, que abrangiam os atuais bairros de Copacabana,Ipanema, Leblon, Gávea, Jardim Botânico e Lagoa, foram desapropriadas pelo PríncipeD. João. Recém chegado com sua Côrte ao Brasil, tencionava nelas instalar uma fábricade pólvora. D. João visitou a primeira vez o local em janeiro de 1809, chegando numa

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canoa pela Lagoa, condução apanhada no Morro da Saudade, pois o Príncipe tinhamuito medo de ir por terra, temendo que uma pedra próxima ao caminho, uma tal dePedra Santa, lhe caísse pela cabeça (essa pedra foi removida em 1837). Ao chegar aoengenho, foi D. João mal recebido pelo feitor do arrendatário do engenho, o qual fezcom que os escravos da casa virassem de costas e abaixassem suas calças quando dapassagem do Príncipe.

D. João ficou furioso e, por ordem escrita ao Ministro da Guerra, Dom Rodrigo deSouza Coutinho, Conde de Linhares, mandou prender o feitor e os escravos pelo"inaudito atentado" e fazê-los perder todas as graças e mercês régias. Procedeu-se aavaliação da propriedade e a indenização de todas as terras, cujos valores foramarbitrados por muito abaixo do real. Julgado a adjudicação por sentença de 30 dejaneiro de 1810, foi paga a pequena indenização. Após a desapropriação, a famíliaFreitas entrou na justiça para lutar por seus direitos, nada conseguindo. Basta dizer quea indenização só foi paga em 1826, por D. Pedro I, à herdeira de Rodrigo de Freitas, Da.Maria Leonor de Freitas Mello e Castro, filha do titular. Ela recebeu, finalmente, aindenização no valor de R$: 42:193$430 contos de réis. Após todos esses trâmites, asterras foram incorporadas aos próprios nacionais com as formalidades da lei de 28 desetembro de 1835. Os terrenos pertencentes ao Engenho da Lagoa pagavam de foro aoSenado da Câmara 6$400 réis. O pagamento continuou a ser feito à IlustríssimaCâmara Municipal até 1869.

Apesar do episódio do feitor, D. João enamorou-se pelo local, mandando alierguer uma casa avarandada para sua estadia pessoal, construção esta não maisexistente. Lá passava longas temporadas. Em julho de 1809 mandou plantar umapalmeira nas cercanias do engenho, cuja semente chegou às suas mãos por meiosrocambolescos.

O Chefe de Divisão português Luís de Abreu Vieira e Silva caíra prisioneiro dosfranceses após o naufrágio de seu navio Princesa do Brasil, perto de Goa, na Índia, em1808. Levado para Ilha Maurícia, no arquipélago de Madagascar, foi libertado algumtempo depois, junto com outros duzentos prisioneiros lusitanos após a dita ilha cair emmãos dos ingleses, aliados dos portugueses. Luís viajou então para o Brasil, não semantes aproveitar e roubar sementes de moscadeiro, canforeira, abacate, lechia,mangueira, cravo da índia, palmeira, noz moscada e outras especiarias (num total de 20caixotes de sementes) do Jardim Gabrielle, o maior jardim botânico de Madagascar.Luís de Abreu retornou a bordo do veleiro La Ville d`Autun. Ao chegar ao Rio de Janeiro,ofertou tais dádivas em junho de 1809 à D. João, o qual aceitou as ditas sementes commuito grado, e iniciou o plantio pela palmeira no mês seguinte. Depois de crescida, ficouconhecida pelo apelido de Palma Máter (Palmeira-mãe), haja vista que foi a primeiraPalmeira Real (Palmácea Oleodora Olerácea) do futuro Jardim Botânico do Rio deJaneiro.

Em 1909, o Diretor do Jardim Botânico João Barbosa Rodrigues, mandou erguerum busto em bronze de D. João VI, esculpido por Rodolfo Bernardelli, defronte aovegetal. O Dr. Guilherme Guinle doou em 1934 o belo gradil que a cerca. A Palma Mátersobreviveu a tudo e a todos, sendo morta por um raio em outubro de 1972, e abatidafinalmente em janeiro de 1973 para não cair. Na ocasião, a árvore já atingia altura de 35metros. Em seu lugar o Diretor Dr. Leonan de Azeredo Penna mandou plantar em 1973uma Palma Filia, que já atingiu presentemente considerável altura.

Além do plantio oriundo das aventuras de Luís de Abreu, D. João mandou vir deCaiena mais sementes de especiarias e plantas medicinais, e do Ceará a plantaindígena chamada Carnaúba, em 1810.

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A Administração da Fábrica de Pólvora da Lagoa foi entregue ao Marechal CarlosAntônio Galani Napione, nascido em Turim (1758-1814), sendo sua Direção entregue aoesperto Luís de Abreu Vieira e Silva. Foi esse homem que sugeriu a D. João oaproveitamento dos terrenos devolutos para ali instalar um Horto Botânico, com o fito deimplementar espécimes vegetais estrangeiros na agricultura brasileira. O Ministro Condede Linhares, solicitou então ao Senador de Macau Rafael Botado e Almeida quemandasse vir agricultores chineses, bem como sementes de chá, noz moscada e frutapão, além de outras especiarias para plantarem aqui. Com a chegada de 300 chinesesem princípios de 1811, foi emitido o Alvará Régio no. 5, datado de 11 de março de 1811,pelo qual D. João mandou criar e instalar o Real Horto Botânico da Lagoa, origem doJardim Botânico do Rio de Janeiro.

As coisas não deram muito certo no início. O Conde de Linhares, principalanimador do projeto, morreu de uma bengalada dada por D. João, durante umaadmoestação, em 1811. Seu sucessor, Antônio de Araújo e Azevedo, Conde da Barca(falecido em 1817), não se interessou muito pelo projeto.

Por outro lado, em vez dos portugueses mandarem vir agricultores especializadosda China, vieram, sim, todos os bandidos das prisões de Macau. Eles não plantavamquase nada, vendiam as mudas e sementes como camelôs pelas ruas da cidade e, como dinheiro arrecadado, compravam ópio nas boticas, o qual fumavam no rancho ondedormiam no Alto da Boa Vista. Os portugueses não entendiam porque esses chinesesficavam horas e horas a fio sentados ao chão, lá no Alto da Boa Vista, com aquelecachimbo enorme na boca, olhando para a paisagem. Pensavam que eles ficavam aliadmirando a beleza do lugar e, por esse motivo, batizaram o rancho onde viviam comoVista dos Chins, ou Vista Chinesa, nome que pegou e foi dado à primeira "boca-de-fumo" do Rio de Janeiro (e que ainda o é...).

Em 1905/6, o Prefeito Pereira Passos, em lembrança a esses chineses, construiuum quiosque de ferro fundido no local.

Uma tentativa de aproveitar esses chineses na Real Fazenda de Santa Cruz,bem como no Arsenal Real de Marinha não logrou sucesso. Muitos se suicidaram desaudades. Pior, não tinham mulheres. Um deles se casou com uma índia. Apesar detodos os percalços, o plantio de chá prosperou, e em 1817 já atendia a demandanacional do produto. Em 1819, sementes e agricultores foram levados à São Paulo, peloengenheiro Varnhagen, e lá a planta prosperou bem. Entretanto, os ingleses nãogostaram nada da notícia do Brasil produzir seu próprio chá e intimaram D. João aacabar com nossa produção.

O Rei obedeceu e assim terminou nossa experiência com o chá.

PRIMEIROS DIRETORES DO JARDIM BOTÂNICOOs primeiros diretores do Jardim Botânico foram políticos: Dr. João Gomes da

Silveira Mendonça, Visconde de Fanado e Marquês de Sabará (1781-1826), Brigadeiro;Membro do Conselho de Estado (1822); Deputado por Minas Gerais (1823); Ministro daGuerra (1823); Diretor da Fábrica de Pólvora da Estrela (1825); Senador por MinasGerais; possuía parcos conhecimentos de botânica, dirigindo o Jardim de 1811 a 1819.Foi sucedido por Dr. João Severiano Maciel da Costa, Marquês de Queluz (1769-1833),Magistrado; Deputado Constituinte (1823); Membro do Conselho de Estado (1823);Ministro do Império (1823/24); Presidente da Província da Bahia (1825); Senador pelaParaíba (1826); Ministro dos Estrangeiros (1826/27); dirigiu o Jardim de 1819 a 1824.

Ambos eram mineiros.

FREI LEANDRO DO SACRAMENTO

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Após a Independência, D. Pedro I nomeou o terceiro diretor e primeiro botânicopara ocupar o cargo, Frei Leandro do Sacramento (1779-1829), pernambucano, fradecarmelita e primo de Tiradentes (1746-1792); "Professor de Botânica na "EscolaAnatômica, Cirúrgica e Médica"; Membro das academias de ciências de Munique eLondres; Membro da "Sociedade de Agricultura de Gand". Dirigiu o estabelecimento de1824 a 29. Foi quem deu a configuração atual do Jardim Botânico. Frei Leandro mandouabrir o lago que depois se chamou "Frei Leandro", onde estão as famosas VitóriasRégias e Nenúfares, e com a terra retirada fez um morrote e mirante, a "Casa dosCedros", ambos ainda lá. Foi com Frei Leandro que o Jardim Botânico foi franqueadopela primeira vez ao público, em 1824. Inicialmente a visita era muito restrita pelaproximidade da Fábrica de Pólvora, que de vez em quando teimava em explodir.

Faleceu Frei Leandro em plena atividade no seu Jardim Botânico. A jaqueiraonde descansava e fiscalizava as obras ainda hoje se ergue na proximidade da "Casados Cedros" (e ainda dá jacas).

Outro que igualmente faleceu de comoção cerebral quando passeava no JardimBotânico foi o historiador Monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, autordas "Memórias Históricas do Rio de Janeiro", morto em 14 de maio de 1830 após comeruma carambola.

JOAQUIM SERPA BRANDÃOO quarto diretor, Dr. Bernardo Joaquim de Serpa Brandão, que dirigiu de 1829 a

1851, plantou as duas primeiras aléias de Palmeiras Reais em 1842, as quais ambasainda sobrevivem praticamente intactas (chamam-se, respectivamente "CândidoBaptista" e "Barbosa Rodrigues"). Inicialmente as sementes de "Palmeira Real" foramcolhidas pela primeira vez em 1822 e desde 1829 constituíam um monopólio do Estado.Mandavam queimar as que não se usassem para o plantio no Jardim. Mas, naquelaépoca, os interessados subornavam os escravos que tratavam do plantio e logo todopalacete particular passou a ostentar seu vigoroso renque de "Palmeiras Reais" nosjardins... . A proibição caiu por terra no “Segundo Império”, após a administração deSerpa Brandão. As aléias foram restauradas em 1951 pelo Diretor Paulo de CamposPôrto.

A "Fábrica de Pólvora da Lagoa" começou a funcionar por Decreto de 13 de maiode 1813 e, desde o princípio, era muito insegura, e conta-se ter sofrido três grandesexplosões. Já a 23 de outubro de 1824 era formada uma comissão para escolha de umnovo local para a fábrica. Em 1826, quando era dirigida pelo Major Graduado ManuelJoaquim Pardal, houve tal explosão que D. Pedro I preferiu transferi-la para a Serra daEstrela, em Magé, onde ainda existe funcionando como "Fábrica de Pólvora da Estrela",agora arrendada pelo exército brasileiro a particulares.

CONSELHEIRO CÂNDIDO BAPTISTA DE OLIVEIRADepois de transferida a fábrica, em suas abandonadas instalações, foi fundado

nelas uma fábrica de “Chapéus do Chile” pelo quinto diretor do Jardim Botânico,Conselheiro Cândido Batista de Oliveira, natural do Rio Grande do Sul(1801-1865),“Lente de Matemática da Escola Militar”; “Ministro da Fazenda e Estrangeiros”(1839);Senador pelo Ceará(1848); Concessionário de Linha de Bondes(1856-62); “Presidentedo Banco do Brasil”(1859-62); dirigiu o Jardim Botânico de 1851 a 59. Esse tal de"Chapéu do Chile" eram uns chapéus finos, que se podiam dobrar e colocar no bolso, eque usava como matéria prima as folhas de palmeira "Bombonassa", do Peru. Nãofuncionou por muito tempo. Inaugurada em 1855, fechou em 1859.

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Hoje, no prédio principal da velha "Fábrica de Pólvora", está o museuarqueológico "Casa dos Pilões", criado pelo "SPHAN" em 1996, instalado naadministração Sérgio Bruni, e contendo maquete das antigas máquinas, bem comocacos de antigas louças encontradas nas escavações, cachimbos de escravos, etc. Odepósito da pólvora com seu belo portal colonial hoje abriga um play ground ecológico ea seção do Jardim Botânico que pesquisa o plantio e o poder curativo de ervasmedicinais.

ADMINISTRAÇÃO DO JARDIM BOTÂNICOSe D. João VI apreciava seu Jardim Botânico, a ponto de ampliá-lo de muito, por

Decreto Régio datado de 11 de maio de 1819, que também regularizava seufuncionamento; D. Pedro I(1798-1834); Da. Leopoldina(que estudava botânica), suaesposa(1797-1826); e D. Pedro II(1825-1891) muito freqüentaram-no, sendo que oúltimo fazia concorridos piqueniques lá com as irmãs Francisca e Januária, onde usavapara seus convescotes uma mesa de cimento que ainda existe atrás da "Casa dosCedros".

O Jardim foi inicialmente uma dependência do "Museu Real", fundado em 1818por D. João VI no Campo de Santana. Ambos pertenciam administrativamente ao"Ministério de Estado e Negócios do Reino", quando era seu titular Tomás Antônio deVilanova Portugal(1745-1839), que era também encarregado da "Presidência do RealErário"(1817-1821). O Decreto de 22 de fevereiro de 1822 sujeitou o Jardim à"Secretaria de Estado dos Negócios de Interior" e, depois da Independência, ao"Ministério do Império". Em 1860, com a criação do "Ministério da Agricultura e ObrasPúblicas", foi para lá sua administração. Em 1861 o Jardim Botânico foi anexado ao"Imperial Instituto Fluminense de Agricultura", fundado ano anterior, onde ficou até suadesanexação, já na República, por Portaria do Ministro da Agricultura, GeneralFrancisco Glicério, assinada a 25 de março de 1890.

Essa anexação foi feita não sem protestos do então diretor, o Frade CarmelitaFrei Custódio Alves Serrão, nascido em Alcântara(1799-1873), e que administrou de1859 a 1861. Ele pediu e obteve sua exoneração. Por sua vez, o "Instituto Fluminense"substituiu o trabalho escravo no Jardim Botânico por aprendizes livres, geralmentecrianças carentes recuperadas pela escola do Instituto. Parte da mão de obra e dotrabalho especializado era ocupado por aprendizes egressos de orfanatos da “SantaCasa de Misericórdia”.

Entretanto, uma das conseqüências negativas dessas mudanças administrativasfoi a diminuição dos trabalhos de pesquisa, transformando-se o Jardim Botânico emárea de piqueniques e festas, assim permanecendo durante todo o "Segundo Império".Segundo relatos de 1865, estava o Jardim Botânico muito mal cuidado.

Em 1869, o "Governo Imperial" comprou por escritura de 18 de dezembro de1869, por 50 apólices à "Ilustríssima Câmara Municipal" o domínio direto de todas asterras do Jardim Botânico, deixando assim de pagar os foros tal como se fazia desde oséculo XVI.

O JARDIM BOTÂNICO NA REPÚBLICASomente em 1890 foram as pesquisas retomadas pelo Diretor Barbosa

Rodrigues, que proibiu os piqueniques e deu um caráter de centro de estudos àinstituição. Para se ter uma idéia do que se haviam transformado seus jardins, bastadizer que um cronista de época informa que, das 5 da manhã às 7 da noite, o JardimBotânico assemelhava-se à um "saguão de hotel", haja vista as inúmeras famílias quepara lá se deslocavam a fazer piqueniques.

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Pelo Decreto no. 1142, assinado pelo Marechal Floriano Peixoto em 22 denovembro de 1892, os serviços do "Ministério da Agricultura" foram transferidos para o"Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas". O Decreto no. 1606, assinado peloPresidente Afonso pena em 29 de dezembro de 1906, recriou o "Ministério daAgricultura, Indústria e Comércio", para lá sendo transferido o Jardim Botânico. Depoisde muitas peripécias, foi o Jardim, já nos idos de 1961, subordinado ao Parque Nacionalda Tijuca e ao "Instituto Brasileiro de Defesa Florestal". Em 1989, o "IBDF" foisubstituído pelo "IBAMA", sendo este subordinado à uma Secretaria de Govêrno. Noano de 1992, sob impacto da "Conferência Internacional de Meio Ambiente", realizadano Rio de Janeiro, foi criado o "Ministério do Meio Ambiente", ao qual o "IBAMA" e oJardim Botânico do Rio de Janeiro foram anexados.

TRANSPORTES COLETIVOS NA ZONA SULOs primeiros transportes coletivos para a zona sul logo vislumbraram aos homens

empreendedores a possibilidade de transportar pessoas de outros arrabaldes para oJardim Botânico e vice-versa, haja vista a potencialidade de lazer que o jardim oferecia,tão rara no Rio de então.

Ainda no ano de 1837, foi dada concessão ao francês Jean Lecoq para fazerfuncionar no Rio de Janeiro uma “Companhia de Omnibus” puxados à cavalos, comcapacidade de transportar 20 a 24 passageiros. O tráfego foi inaugurado em julho de1838 com quatro carros. Logo inaugurou-se uma linha para Botafogo em janeiro de1839. Em 1847 alugavam-se “omnibus” extraordinários para o Jardim Botânico e outrosarrabaldes. Em 1868, com o sucesso do bonde, extinguem-se todas as linhas do centro,só sobrevivendo uma linha da Praia de Botafogo ao “Largo das Três Vendas”, hojePraça Santos Dumont. Em 1882 a “Companhia de Omnibus” era vendida à “BotanicalGarden Rail Road Company”.

No ano de 1838 foi fundada a “Companhia das Gôndolas Fluminenses”, que era,em verdade, uma carrimpana fechada com nove lugares, menor que o “omnibus”, porémmais rápida. Em 1865 foi criada uma linha de “Gôndolas que passava pela Praia deBotafogo, Rua São Clemente, “Rua Berquó”, atual General Polidoro, e Jardim botânico.Essa linha manteve-se até a década de 1870, quando acabou pela concorrência com osbondes da “Jardim Botânico”.

Uma grande linha de “diligências” foi criada em 1854, ligando o centro comercialao Jardim Botânico. Era a “Companhia Sociedade Lagoense”, criada pelos diretoresAntônio de Pádua e Silva e José Maria Targine.

BONDES PARA A ZONA SULAinda em 12 de março de 1856, o Diretor do Jardim Botânico, Conselheiro

Cândido Baptista de Oliveira e seu filho Luiz Plínio de Oliveira, obtiveram do “GovernoImperial” a primeira concessão de uma linha de carris puxados à burro no Rio de Janeiropelo decreto no. 1733. Essa linha passaria defronte de seu Jardim Botânico,aumentando a freqüência. Entretanto, nomeado Diretor do Banco do Brasil em 1859,Cândido repassou essa concessão por quarenta contos de réis pelo decreto no. 2927,de 21 de maio de 1862 ao seu amigo Ireneu Evangelista de Souza, Barão e depoisVisconde de Mauá(1813-1889) e este, por cem contos de réis pelo decreto no. 3738, de21 de novembro de 1866 ao engenheiro americano Charles B. Greenough(1825-1880).

Conseguindo apoio financeiro nos Estados Unidos, rodava já em 09 de outubrode 1868 a linha de bondes da "Cia. Botanical Garden Rail Road", fundada pelo talengenheiro Greenough que inaugurou seus serviços de transportes coletivos para aZona Sul, indo a primeira linha da rua Gonçalves Dias, no Centro, até o Largo do

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Machado. Logo foi extendida até a rua “Nova de São Joaquim” (Voluntários da Pátria),em Botafogo e, em 1o. de janeiro de 1871, passou a circular pela rua Jardim Botânico,com ponto na porta do Jardim, aumentando de muito a freqüência à instituição e apopularização do Bairro, já chamado assim(em 1o. de abril de 1873, o bonde chegariaaté a “Olaria”, na rua Marquês de São Vicente).

A rua Jardim Botânico foi retificada, sendo um trecho tortuoso dela cortado porum atalho. Esse trecho ficou conhecido como "Estrada Velha do Jardim". Foi depois arua Frei Leandro, em 1922 incorporada ao "Jocquei Clube". A atual rua Frei Leandroresulta de um loteamento feito em 1921/22.

Em frente ao portão principal do Jardim Botânico foi construída uma estação debondes em 1874 para conforto dos visitantes. O portão original do Jardim Botânico foiprojetado em 1848 pelo arquiteto da "Missão Artística Francesa" e professor da"Academia Imperial de Belas Artes", Auguste Henry Victor Grandjean de Montigny(1776-1850), que morava na Gávea, em chácara ainda existente dentro do Campus da PUC.Mas o artístico portão foi demolido no século XX, substituído pelo atual em 1908. Parase fazer o novo portão, foi necessário que o Diretor Barbosa Rodrigues ordenasse oabate de uma árvore "Carrapateiro", ou "Itó", que contava mais de duzentos anos.

Seria tal o crescimento populacional ocasionado pelo bonde, que por DecretoLegislativo no. 2297, de 18 de junho de 1873, foi criada a "Freguesia da Gávea",separando-a da "Lagoa", que datava ainda de 13 de maio de 1809, com sede na Capelade N. Sra. da Conceição, erguida em 1852/56 pelo Capitão Manuel dos Anjos Vitorinodo Amaral no princípio da rua "da Boa Vista da Lagoa", atual Marquês de São Vicente.Foi seu primeiro Vigário Monsenhor Francisco Martins do Monte (183?-1909), e que eratambém Vigário da "Freguesia da Lagoa" e modesto acionista da "Botanical Garden RailRoad Company".

Quanto à companhia de bondes, seria nacionalizada em 1883, quando passou ater razão social de "Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico" e continuou a prestarbons serviços por muitos anos ao Rio de Janeiro. Em 1909 foi parcialmente arrendadapor contrato à "Light", empresa fundada dois anos antes por um grupo canadense e queficou responsável pelo fornecimento de energia elétrica à cidade. Entretanto, continuoua companhia de bondes funcionando independentemente até 1946, quando foidefinitivamente incorporada à "Light". Depois de 1950 desinteressou-se a companhiacanadense pelos bondes, cujo serviço foi decaindo até sua extinção definitiva em 1963pelo Governador Carlos Lacerda.

Em 1890 surgiu o projeto mais curioso, proposto pela "CompanhiaMelhoramentos da Lagoa Rodrigo de Freitas e Botafogo", que projetava, dentre outrosmelhoramentos, uma "Estrada de Ferro Elevada", partindo da Lagoa e terminando narua Primeiro de Março. No Leblon seria erguido um cemitério, proposto por AndréRebouças, idéia logo enterrada. Anos depois, nas terras do comerciante português JoséGuimarães Seixas, próximo ao Morro dos Dois Irmãos, foi proposto um prado decorridas, idéia que não andou. A companhia foi encampada pelo Governo Federal em1891.

OBRAS DE ARTE NO JARDIM BOTÂNICODe 1890 a 1909 dirigiu o Jardim Botânico o cientista João Barbosa Rodrigues,

mineiro(1842-1909), que era também historiador e esteta, pois usou de sua influênciapessoal junto ao Govêrno da República para levar ao seu Jardim Botânico, váriasestátuas, monumentos e chafarizes que estavam abandonados pela prefeitura nas ruasda cidade do Rio de Janeiro. Foi ele quem levou para a "Aléia Barbosa Rodrigues" ovelho chafariz francês em ferro fundido comprado por D. Pedro II e que desde 1878

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estava esquecido no "Largo da Lapa". Também levou para o Jardim as duas estátuasem liga de bronze feitas por Mestre Valentim da Fonseca e Silva(1745-1813), quehaviam sido fundidas para o "Chafariz das Marrecas" em 1785. A "Ninfa Eco" e o"Caçador Narciso", pois o dito artístico chafariz fôra demolido impiedosamente em 1896para se ampliar um quartel na rua dos "Barbonos"(atual Evaristo da Veiga). Em épocarecente(1992) o chafariz pôde ser reconstituído pelo arquiteto Glauco Campello, do"IPHAN", junto à "Aléia de Paus Mulatos". No ano de 1938, recebeu o Jardim seu últimopresente, o Pórtico Neoclássico em mármore e estuque da antiga "Academia Imperial deBelas Artes", projetada por Grandjean de Montigny em 1816/26 na "Travessa das BelasArtes", próxima ao "Largo do Rossio"(Praça Tiradentes) e burramente demolida em1938, quando nela já funcionava desde 1908 o "Ministério da Fazenda". Foi colocado nofinal da "Aléia Barbosa Rodrigues", pelo arquiteto do "IPHAN", Dr. José de Souza Reis.

Em 1922 sofreu o Jardim Botânico seu maior atentado. O Presidente daRepública, Epitácio da Silva Pessôa(1919-1922), mandou desapropriar grande parte dolado ímpar da rua Jardim Botânico, abrangendo parte dos terrenos onde continuava oJardim Botânico, que naquele trecho margeava a Lagoa. Lá ficavam as plantas daRegião Amazônica. Tudo resultou de uma consulta feita pelo Dr. Linneu de PaulaMachado ao engenheiro Eugênio Dodsworth, encarregado do atêrro das margens daLagoa, sobre a possibilidade de alí se instalar o prado de corridas do Jocquei Clube,então ocupando terras no Maracanã. Dodsworth deu carta branca e Linneu usou de suainfluência e amizade junto aos Presidente e Prefeito, obtendo permuta com a Prefeitura,que ficava com as terras do velho prado, levando Linneu o trecho mais nobre da Lagoacomo "troca". A destruição de parte do Jardim teve a justificativa oficial que as plantasdalí atraíam muitos mosquitos, tornando a Gávea inabitável.

O terreno que foi permutado ao seu amigo particular, Dr. Linneu de PaulaMachado, Vice-Presidente do "Jocquei Clube do Rio de Janeiro"(1880-1942), e seuPresidente depois de 1921. Foi onde se ergueu de 1919 a 1926 o conjunto monumentaldo "Jocquei Clube", sob projeto dos arquitetos Prof. Archimedes Memória e FranciscoCuchet, com supervisão do engenheiro Mário Azevedo Ribeiro e apoio irrestrito doPrefeito Carlos César de Oliveira Sampaio(1920-1922), que permitiu, inclusive, umgrande aterro na Lagoa com terras oriundas do arrazado "Morro do Castelo" e de obrasque realizara na cidade, matando os manguezais. Isso deu tal desgosto ao Diretor doJardim Botânico, Dr. Antônio Pacheco Leão, nascido no Rio(1872-1931, e que dirigiu oJardim de 1915 a 1931. Tal destruição marcou sua vida que, afirma sua família, acaboumatando-o de desgosto em 1931. Hoje a área do Jardim Botânico é de 117 hectares.Eram originalmente 171!

Depois da vitória de Vargas em 1930, foi o Jardim Botânico tratado com melhorrespeito. Em 1934 foi nomeado o botânico Paulo de Campos Pôrto, neto de JoãoBarbosa Rodrigues, que em sua longa administração, conseguiu restituir de muito agrandeza perdida, restaurando danos que já haviam ocorrido em muitos anos(1934 a1938, e depois voltou a administrar de 1951 a 1961).

Vale aqui assinalar a curiosidade que em 1963, o paisagista Roberto Burle Marx,conhecedor da história da mutilação do Jardim e visivelmente inspirado nos anseios dePacheco Leão e, doutro modo, impossibilitado de corrigir as amputações praticadas de1922 em diante, projetou uma ilha à ser construída no centro da Lagoa, constituída deripado e cultivo para as espécies de plantas marginais lacustres e aquáticas da florabrasileira, juntamente com instalações laboratoriais para estudo e controle da ictiologia.

SANEAMENTO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS

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Durante o século XIX, a ocupação do bairro restringia-se a poucas chácaras narua Jardim Botânico, outras tantas na Dona Castorina, ficando a população com apreferência por Botafogo e Gávea. Nem a chegada do bonde interferiu nessa escolhapara moradia, haja vista que a Lagoa Rodrigo de Freitas era considerada insalubre.Dominava a idéia de que a persistência da febre amarela no Rio de Janeiro estavaintimamente ligada às exalações miasmáticas. Dentro dessa perspectiva, sanear aLagoa Rodrigo de Freitas era obra prioritária. Mas os altos custos da empreitada e opouco estudo científico realizado para solucionar o problema das águas estagnadas daLagoa não justificavam o investimento em tão avultadas obras. Assim, nada foi feitopara melhorar as condições da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Data de 1880 o primeiro estudo realizado para saneamento da Lagoa, executadopelo engenheiro Antônio Luís Von Honholtz, Barão com Grandeza de Teffé(1837-1921).Propunha ele renovar a água da Lagoa por uma comporta e uma bateria de 40 bombasacionadas por moinhos de vento. Seguiram-se vários projetos de engenheiroscontemporâneos, todos pecando pela falta de suporte científico para suas conclusões.Uns propunham tornar a água da Lagoa doce, eliminando o canal de ligação com ooceano, deixando para os rios adjacentes a tarefa de manter o nível do espelho d`água.Outros pregavam o contrário, propondo o desvio dos rios para o oceano e a ampliaçãodo canal de ligação entre a Lagoa e o oceano.

Até 1893, a limpeza da Lagoa era feita de forma muito deficitária pela União.Nesse ano, a municipalidade assumiu essa incumbência, mas em 1896, ela foirepassada para a "Companhia de Melhoramentos da Lagoa e Botafogo", que continuouos serviços de forma rudimentar por alguns anos.

Em 1920/1922, foi a orla da Lagoa saneada por ordem do Prefeito CarlosSampaio, tendo o engenheiro Francisco Saturnino de Brito, após criterioso estudo dascondições locais, canalizado os rios e retificado o canal da Lagoa com o oceano(hojeJardim de Alah), criando duas ilhas artificiais para regularização das correntes("Piraquê" e "Caiçaras"), eliminando por muitos anos a mortandade de peixes e ascheias que assolavam o bairro durante as grandes chuvas. Passou então a Lagoa apossuir água salobra, já que antes era doce.

CIDADE JARDIM CORCOVADOFoi feito em 1921/22 o loteamento desses terrenos saneados, surgindo as ruas

que vão do Humaitá ao "Jócquei Clube". Como a idéia vingou, logo muitas dessasantigas chácaras foram loteadas, surgindo pitorescos arruamentos. Em 1926, numdeles, o "Cidade Jardim Corcovado", resultou nas ruas Frei Veloso, Getúlio das Neves,Professor Saldanha e Eurico Cruz. Como logo se venderam, o projetista J. O. SabóiaRibeiro traçou no mesmo ano de 1926 uma extensão pelas faldas do Corcovado, queresultou nas ruas Engenheiro Alfredo Duarte, Ministro Arthur Ribeiro, Senador LúcioBitencourt, Caio de Melo Franco, Ministro João Alberto, e Praça Luís Mignone. Algunslotes estavam em terrenos de tal inclinação que receberam críticas ferinas doEngenheiro José de Oliveira Reis, Diretor do Plano da Cidade, para que não fossemmais autorizados arruamentos em áreas como esta, em perigo potencial dedesbarrancamento.

AVENIDA EPITÁCIO PESSOANa ocasião foi completada a avenida que margeava a Lagoa, a qual inicialmente

denominou-se Epitácio Pessôa em toda a extensão. Nos anos 60, o trecho do Jócqueifoi batizado de Borges de Medeiros, em homenagem ao político gaúcho AntônioAugusto Borges de Medeiros (1863-1961). Novos aterros nos anos 30, durante a

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administração do Prefeito Henrique Dodsworth (1937/1945) deram origem à "VilaHípica" e ao "Clube Militar".

Uma das curiosidades da Lagoa nessa época é que em idos de 1935, o arquitetoLúcio Costa chegou a sugerir ao Ministro da Educação Cultura e Saúde Pública, omineiro Gustavo Capanema, a construção da "Universidade do Brasil" na Lagoa Rodrigode Freitas, não nas margens, mas no próprio espelho d`agua, com prédios flutuantes!Claro, tudo não passou de uma sugestão, logo esquecida...

EPITÁCIO DA SILVA PESSOA – DADOS BIOGRÁFICOSMagistrado, jurista e político, nasceu em Umbuzeiro, Paraíba, em 1865.

Bacharelou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Foi promotor público e secretáriogeral do Governo em seu Estado. Em 1890, elegeu-se deputado à AssembléiaConstituinte e à primeira legislatura ordinária da Câmara Federal. No Governo CamposSales, ocupou a Pasta da Justiça e Negócios Interiores, presidindo à elaboração dosprojetos do Código Cível e do Código do Ensino. Foi Ministro do Supremo TribunalFederal e procurador geral da República, presidente da comissão incumbida de prepararo projeto de Código de Direito Internacional Público, senador pelo seu Estado natal echefe da delegação brasileira ao Congresso de Paz de Versalhes. Em 1919, sucedendoa Delfim Moreira, elegeu-se presidente da República, e governou o país até 1922. Apartir de 1924, foi membro da Corte de Justiça Internacional de Haia. Nesse mesmoano, voltou a eleger-se senador pela Paraíba, exercendo o mandato até 1930. Cassadopela Revolução, retirou-se à vida privada e passou a residir no Alto da Boa Vista,alternando-se com sua casa em Petrópolis, onde, aliás, veio a falecer em 1942. QuandoPresidente da República, o Prefeito do Rio de Janeiro André Gustavo Paulo de Frontinabriu a famosa avenida que circunda a Lagoa Rodrigo de Freitas, batizada em seunome.

UNIVERCIDADE – CAMPUS IPANEMA – AVENIDA EPITÁCIO PESSOA, 1.664 -IPANEMA

Os alunos da Unidade Ipanema, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas,usufruem da localização privilegiada em um dos pontos mais valorizados da Zona Sul doRio de Janeiro. Com três prédios, situados próximos ao centro do bairro, onde estãolocalizadas livrarias, cinemas e teatros, a UniverCidade dá a seus alunos a vantagem depassarem horas em uma das áreas de maior efervescência cultural da cidade do Rio deJaneiro.

BAR LAGOA – AVENIDA EPITÁCIO PESSOA, 1.674 – LAGOAEm 1934, o arquiteto e pintor Eugênio de Proença Sigaud, formado dois anos

antes pela Escola Nacional de Belas Artes; projetou e construiu um pequeno edifícioresidencial com três pavimentos em estilo art-déco na orla da Lagoa Rodrigo de Freitas.Era à época, uma das primeiras habitações multifamiliares do bairro. No térreo,projetado com esmerado acabamento em mármore de Carrara nas paredes para sediarum estabelecimento comercial, se instalou no mesmo ano o Bar Berlim, fundado poralemães, o primeiro do lugar. Antes dele, só existia uma padaria metida a bar, aSacopam, e mesmo assim próxima do Humaitá. O bar deu certo e passou a contar comseleta freguesia que ali podia experimentar um bom chope, cerveja e a típica culináriaalemã.

Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942, o bar foi fechado,sendo reaberto dois anos depois com o novo e imparcial nome de Bar Lagoa. Naquelaépoca, num mezzanino especialmente projetado para isso, dava espetáculos noturnos

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um quarteto de cordas. A contrário de muitos bares, a freguesia sempre foi familiardevido à pequena e seleta vizinhança. Em 1957 os donos alemães fizeram sociedadecom um brasileiro, que é o atual dono. Nos anos 60 e 70 foi muito freqüentado pelosícones da Bossa Nova e do Tropicalismo, como Ton Jobim, Vinícius de Morais, ChicoBuarque de Hollanda, Miúcha, etc.

Mas nem a decoração art-déco, os lustres modernistas, a sacada internasuperior, nem o grande balcão no fundo do salão ou o mármore de Carrara nasparedes, nada dessa estrutura física, tombada desde 9 de setembro de 1987 pelaPrefeitura, é mais importante que o patrimônio palatável do Bar Lagoa.

Entre todas as muitas qualidades do Lagoa, nada do que se diga ou escreva émais marcante do que o sabor de seu chopp, um dos melhores da cidade. Tirado commaestria desde 1982 pelo competente Fernando, o chopp do Lagoa é uma instituição.Sempre na temperatura certa, com espuma consistente e frescor incomparável, o choppjorra ao final de uma serpentina de quarenta metros, o que, de uma vez por todas, provaque tamanho não é documento.

Nas mesas da aconchegante varanda ou do histórico salão, o chopp chegatrazido por garçons, alguns com quase 30 anos de serviço, cuja fama de rabugentos émuitas vezes produto de um excesso de fregueses ávidos pelo precioso líquido.

VIADUTO AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT – CORTE DO CANTAGALO – LAGOAEm 1938, o Prefeito Henrique Dodsworth mandou abrir uma via de comunicação

entre os bairros de Copacabana e Lagoa Rodrigo de Freitas pelo Morro do Cantagalo. Aobra, apelidada à época de Corte do Cantagalo e hoje de Avenida Henrique Dodsworth,resolveu o problema de forma satisfatória. Entretanto, o crescimento dos bairros deCopacabana e Lagoa levou ao surgimento de um ponto de estrangulamento de tráfego,justamente no entroncamento das avenidas Henrique Dodsworth e Epitácio Pessoa.Para resolver o problema, a Superintendência de Urbanização e Saneamento do Estadoda Guanabara (SURSAN), elaborou, em 1966, o projeto de um viaduto em concretoprotendido, criando um trevo rodoviário. Inaugurado em 1967 pelo GovernadorFrancisco Negrão de Lima, o viaduto com 94 metros, eliminou o cruzamento à saída doCantagalo, facilitou e deu fluidez ao tráfego em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas.

AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT – DADOS BIOGRÁFICOSEditor, comerciante, industrial, jornalista e poeta, Augusto Frederico Schmidt

nasceu no Rio de Janeiro, a 18 de abril de 1906. Fez seus estudos primários na Suíça eo secundário no Brasil. Trabalhou desde cedo no comércio e mais tarde, no decênio de1930, fundou uma casa editora que se distinguiu pela qualidade das publicações. Comoeditor, lançou os livros de estréia de alguns de nossos melhores escritores modernos,como Lúcio Cardoso e Graciliano Ramos. A seguir dedicou-se também aos negócios,em empresas mais vastas, tornando-se um homem importante na política e nas finançasdo país, em cujo desenvolvimento teve oportunidade de colaborar, sem nunca ter, noentanto, abandonado a composição dos poemas que o tornaram um verdadeiro poeta eum legítimo representante de uma das linhas permanentes da poesia brasileira.

Como poeta, foi acentuada a sua importância na segunda fase do Modernismo,quando se voltou contra o pitoresco e o malabarismo, buscando uma poesia quasedireta, espontânea e espiritualista, de aparente simplicidade, que exerceu grandeinfluência no decênio de 1930 e parte do de 1940. Dele procede o verso livre amplo emelodioso, com um toque bíblico, cheio de ressonância, marcado pela repetição quaseobsessiva, que assalta e domina a sensibilidade do leitor.

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Obras: Poesia: Canto do Brasileiro (1928); Canto do Liberto (1928); NavioPerdido (1929); Pássaro Cego (1930); Desaparição da Amada (1931); Canto da Noite(1934); Estrela Solitária (1940); Mar Desconhecido (1942); Poesias Escolhidas (1946);Fonte Invisível (1949); Mensagem aos Poetas Novos (1950); Poesias Completas (1956);Aurora Lívida (1958); Babilônia (1959). Prosa: Ensaio sobre Mauriac (1931); O GaloBranco (1948); Paisagens e Seres (1950); Discurso aos Jovens Brasileiros (1956); AsFlorestas (1958).

Schmidt foi representante do Brasil na Operação Pan-Americana e presidente doConselho dos 21, na Conferência de Bogotá. O poeta faleceu a 8 de fevereiro de 1965.

MONUMENTO A JOSÉ DE SAN MARTÍN – LAGOAMonumento eqüestre de grandes proporções, representa o autor da

independência da Argentina, Chile e Peru sobre um cavalo empinado, e apontado paraoeste, direção tomada pelo “Libertador” após o início da marcha triunfal sobre osespanhóis.

A estátua foi doada pelo Banco Municipal da Cidade de Buenos Aires. Obra dosartistas argentinos Sarubbi Y Barili de Buenos Aires. Erguida no sítio definitivo em 1971,pela Companhia Construtora Pederneiras, foi oficialmente inaugurada a 13 de março de1972, com a presença do Governador do Estado da Guanabara, Chagas Freitas, bemcomo representantes dos presidentes do Brasil e Argentina.

Mesmo sendo a Argentina uma antiga e tradicional inimiga política do Brasil, osgenerais portenhos procuravam, com essa estátua, selar um acordo de respeito mútuoentre os governos militares da Argentina (General Alejandro Lanusse) e Brasil (GeneralEmílio Médici). Entretanto, a eleição de Hector Cámpora no mesmo ano, seguida logodepois pela chegada de Juan Perón ao poder na Casa Rosada, reacendeu a velhainimizade, hoje mantida principalmente no futebol.

SAN MARTÍN – DADOS BIOGRÁFICOSMilitar e autor da Independência da Argentina. José de San Martín nasceu a 25

de fevereiro de 1778 em Yapeyu, povoado jesuítico, às margens do Rio Uruguay, naatual Província de Corrientes. De família nobre espanhola, San Martín atendeu àsexigências de sua casta e, em plena adolescência, seguiu para a Espanha, sentandopraça no exército espanhol e incorporando-se ao Regimento de Múrcia. Ainda jovem,combateu na África e, duas décadas após, trava sua última batalha em Alvuera, ondeespanhóis, ingleses e portugueses derrotam as forças francesas.

Abandonou então o exército espanhol, no posto de tenente-coronel, e rumou paraBuenos Aires, onde em, 1813, com sua experiência militar conquistada na cavalaria,fundou o Corpo de Granaderos a Caballo. Quando eclodiu a luta pela independênciaportenha, em maio, San Martín partiu com essa unidade do quartel de Retiro, emBuenos Aires, e percorreu parte do continente em triunfo, vencendo em várias batalhasos exércitos espanhóis, alcançando até Quito, capital do Equador. São os Granaderos aCaballo que selaram o fim do jugo.

Compreendeu San Martín que, para vencer o domínio estrangeiro, seria precisoformar um verdadeiro exército, nas províncias de Cuyo. Uma vez conseguido seuintento, partiu, cruzando os Andes para socorrer o Chile, e prosseguindo, pelo mar, até oPeru, onde faria desabar o último vice-reinado de Espanha na América.

Em 1824, após grave crise política, San Martin renunciou aos seus encargos eexilou-se voluntariamente. Viajou, então, para a França, onde passou a residir, afastadoda vida militar.

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A 17 de agosto de 1850, em Boulogne-Sur-Mer, França, morria Dom José de SanMartín, general de brigada das Províncias Unidas do Rio da Prata; capitão-general daRepública do Chile, e generalíssimo do Exército do Peru.

Seu corpo hoje repousa na Catedral Metropolitana de Buenos Aires.

PARQUE MARCOS TAMOYO (PARQUE DA CATACUMBA) - LAGOASituado na avenida Epitácio Pessoa, entre o Corte do Cantagalo e a Curva do

Calombo, o parque foi criado em 1975, sob projeto de Lúcio Costa e Roberto BurleMarx, no local da antiga Favela da Catacumba (erradicada em 1969), e ocupa uma áreade 300 mil m2.

Com uma belíssima vista da Lagoa Rodrigo de Freitas, o local é cercado por umavegetação tropical, com árvores frutíferas e 29 esculturas de consagrados artistascontemporâneos, como Bruno Giorgi, Roberto Moriconi, Caribé, Franz Weismann, FranzCaribé; bem como uma antiga escultura de H. Peyrol. No local também há constantesapresentações de grupos musicais e existe a sede da subprefeitura da Grande Lagoa,criada em 1992.

PAVILHÃO VICTOR BRECHERET - PARQUE DA CATACUMBA - LAGOAO Parque da Catacumba foi resultado da erradicação na década de 60, da

imensa favela que cobria a área, motivada por interesses imobiliários. Todo o entorno eáreas vizinhas foram liberados para empreendimentos imobiliários, e a parte centralentregue ao Departamento de Parques e Jardins, que ativou a criação de uma áreaverde com espaços voltados para o lazer e convívio cultural. O Pavilhão Victor Brecheretfoi projetado em 1979 pelo arquiteto Carlos Porto para atender às atividades culturais ede vigilância do próprio parque e recebeu prêmio na categoria Edificações para FinsCulturais na XVII Premiação do IAB/RJ, em 1980. O perfil do terreno sugeriu aconformação do traçado do muro de arrimo, resolvendo o programa em dois níveis: noinferior, com acesso independente, estão as dependências de serviço(vestiários,depósitos e sanitários) e no patamar superior o setor de conservação, depósito e copa;e o salão, administração e sanitários, acessíveis pela rampa de entrada. O maiorinteresse plástico do projeto reside na cobertura, que adota um aspecto dinâmico devidoà movimentação dos planos que propiciam iluminação e aeração adequadas ao interior.Em época recente, foi instalada neste pavilhão a Subprefeitura da Grande Lagoa,desvirtuando o objetivo inicial da construção.

POSTO DE ABASTECIMENTO CATACUMBA- AV. EPITÁCIO PESSOANo final da década de 60 a Petrobrás se lançou no competitivo mercado de

fornecimento de combustível. A programação visual da empresa foi entregue a AloísioMagalhães, e os projetos dos postos confiados a equipe de arquitetos Dilson GestalPereira, Waldyr A . Figueiredo, Paulo Roberto M. de Souza e Alfredo Lemos, com totalliberdade de criação. A idéia era associar à nova subsidiária uma imagem dinâmica emoderna, utilizando cores e formas de impacto para atrair clientela. O posto daCatacumba, de 1968, foi um dos primeiros projetos elaborados com esta finalidade e foipremiado na Universidade de Munique, Alemanha, em 1970. A localização do terreno,numa faixa central da av. Epitácio Pessoa, cercado por vegetação e emoldurado pelaLagoa Rodrigo de Freitas, foi determinante para o partido adotado. O elementodominante da composição é a cobertura, uma casca em concreto aparente, de grandeplasticidade, com as quatro extremidades pousadas sobre pequenos espelhos d`água,cercados por jardins. Para abrigar setores de escritório e vendas foi criada uma caixa devidro elevada em relação ao nível do terreno, e sob a qual se localiza, semi-enterrado, o

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pavimento de serviço com depósito, sanitários, vestiários e casa de bombas.Posteriormente foram feitas reformas, para abrigar salão de exposições, escritório edepósito.

EDIFÍCIOS SONATA DA LAGOA E RAPSODY - AV. EPITÁCIO PESSOAA produção arquitetônica dos irmãos Edison e Edmundo Musa, centralizada no

eixo Rio-São Paulo, compreende programas os mais diversificados. Sem dúvida, é nocampo imobiliário, com edifícios residenciais destinados às classes média e alta, que seconcentra o maior número de obras desses arquitetos gaúchos radicados no Rio. Esteconjunto de dois blocos de apartamentos, situado num terreno de 10.800m2 na orla daLagoa Rodrigo de Freitas, evidencia uma preocupação funcional e plástica característicade seus projetos. A implantação, a volumetria e os materiais adotados procuramresolver o espaço vazio criado por uma antiga pedreira. Compreendendo quatroapartamentos por andar, o projeto, de 1983, tira partido da vista privilegiada, voltandotodas as salas para a Lagoa. As varandas, nas quatro fachadas, funcionam comoproteção à insolação e ao ruído provocado pelo tráfego intenso da av. Epitácio Pessoa.É interessante a solução criada para o embasamento dos edifícios, onde se localizamquatro pavimentos de garagem, que foram recuados e fechados por “curtain-wall” de10m de altura. Os elevadores foram posicionados de modo a se tornarem panorâmicosnos primeiros pavimentos. Todas as fachadas receberam tratamento semelhante, comesquadrias em alumínio anodizado, vidro bronze e composição de granito Juparanãlustrado e pastilhas cerâmicas.

CHÁCARAS NA ORLA DA LAGOAExistiram chácaras famosas na rua Jardim Botânico, se bem que poucas.

Próximo ao "Largo das Três Vendas" (depois N. Sra. da Conceição, Ferreira Viana,Arthur Bernardes, atualmente Praça Santos Dumont), era o local da enorme chácara doComendador paulista Joaquim José de Souza Breves, o "Rei do Café"(1804-1889),amigo de D. Pedro I, grande produtor de café, dono de 37 fazendas e 27 chácaras,cujas terras iam de Sepetiba às Minas Gerais. Morava normalmente em São Cristóvão,próximo ao palácio. Usava eventualmente a casa do Jardim Botânico, principalmentedepois de 1863, quando caiu em desgraça perante o imperador, haja vista que mantinhaempresa clandestina de importação de escravos da África, atividade desbaratada nesteano. Breves igualmente controlava a "Empresa de Navegação da Piedade", comescritório na rua São Bento, 22. Todas sua fortuna, oriunda de seus cafezais,despencou quando da "Abolição da Escravatura", em 1888. Hoje, os terrenos de suademolida chácara estão incorporados aos do "Jocquei Clube".

PARQUE LAGEA chácara do "Parque Lage" também tem história. Em meados do século XIX era

essa chácara, então uma casa assobradada, possuindo o número 10 da rua JardimBotânico, com bonito parque arborizado projetado pelo arquiteto paisagista inglês JohnTyndale (cujo projeto do jardim substituiu um outro, feito por um pintor inglês, que nãovingou), quando foi adquirida pelo Comendador Antônio Martins Lage Júnior, armador,Diretor da "Empresa de Barcas Ferry", da qual assumiu o controle em 1877. Asatividades da família Lage começaram em 1822, quando o patriarca ComendadorAntônio Martins Lage montou negócios com armazéns de carvão de pedra e pequenaoficina de reparos de embarcações na "Ilha das Enxadas". Ele arrendou essa ilha de1825 a 1832, comprando-a em 1840. Nesse mesmo ano, Lage ganhou a "Ilha do Viana"numa rifa e, quando a Marinha requisitou a "Ilha das Enxadas" para nela instalar a

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"Escola Naval", Lage arrendou "Enxadas" para a Marinha e mudou-se para sua novailha com suas instalações em 1845. Posteriormente, a Marinha compraria a Ilha dasEnxadas em 1870, lá instalando um hospital e hoje uma academia.

Quando morreu, sua viúva fundou a "Empresa Viúva Lage & Campos", até que ofilho Antônio Martins Lage Júnior (1850?-1900?), homônimo do pai e igualmente"Comendador da Ordem da Rosa", pudesse tomar rumo dos negócios. Foi AntônioJúnior quem instituiu em 1881 o serviço regular de barcas para Paquetá, pois lá possuíamoradia desde 1878, num palacete da "Praia Grossa", onde hoje se ergue o "HotelFlamboyant". Em 1884 torna-se, enfim, o Presidente dessa Companhia, constituindo em1889 sociedade com o Ministro Manuel Buarque de Macedo, quando então fundaram a"Companhia Cantareira", da qual o Comendador Lage era Diretor. Foi casado desde1878 com Da. Cecília Braconnot Lage (1859-192?), filha do famoso engenheiro demáquinas, o Capitão-de-Fragata e Comendador Carlos Braconnot (1831-1894). Cecíliaera famosa por seu comportamento extrovertido, cantando e dando récitas em italiano efrancês nas festas em casa do Barão de Cotegipe. Como extravagância, usava umatornozeleira no pé esquerdo, atributo incomum para mulheres de família, tendo causadona época algum escândalo.

Tiveram quatro filhos: Antônio (vulgo "Antonico"), Henrique, Renaud e Jorge,sendo que "Antonico" e Jorge morreram em 1918 da "Gripe Espanhola". Antônio Júniorfundou a "Empresa Lage & Filhos", depois de sua morte rebatizada para "Lage &Irmãos". A Antônio e seu filho "Antonico" também são devidas a reconstrução da "Matrizdo Bom Jesus do Monte", em Paquetá (1898-1900), bem como outras melhorias na Ilha.A chácara do "Parque Lage" foi herdada em fins do século XIX pelo seu filho Antônio"Antonico" Martins Lage, nascido no Rio (1879-1918), casado com Da. Eugênia Noêmiade Sá Azevedo "Baby" (1886-194?). Tiveram quatro filhos.

Moravam na Ilha do "Viana", só usando a chácara do Jardim Botânicoeventualmente. Com o falecimento prematuro de "Antonico", em 1918, ficou com achácara do Jardim Botânico seu irmão e herdeiro, Henrique Lage (1881-1941), queentão morava em casa modesta na rua São Clemente, onde hoje é o prédio da "FiatLux".

Era Henrique, rico armador como seu irmão, pai e avô, dono da "EmpresaHenrique Lage", sucessora da "Lage & Irmãos", onde herdou a "Companhia Nacional deNavegação Costeira". Dono de verdadeiro império, fundou e dirigiu 23 empresas queincluíam o "Banco Sul do Brasil", companhia de seguro, companhia de navegação, doisestaleiros, empresa de exploração de carvão de pedra, "Empresa Docas de Imbituba",transporte de combustíveis, "Empresa Sociedade Anônima Gaz de Niterói"(1925), usinasiderúrgica no sul de Minas Gerais, fábrica de cerâmica em Santa Catarina e fábrica deaviões(a primeira da América Latina) e outras. Além de tudo, homem patriota(fezdoações à "Escola de Guerra", ganhando por isso o título de "Cadete no. 1"), foifundador do "Hospital Central dos Acidentados" e da "Companhia Nacional Civilidro",para construções civis e hidráulicas.

Amante e cultor do "bel canto”, apaixonou-se pela cantora lírica, a contraltoitaliana Gabriela Bezanzoni, que viera pela primeira vez ao Brasil, no Teatro Municipalainda em 1918, integrando a "Companhia Lírica da Empresa La Teatral", do empresárioitaliano Walter Mocchi. Não fez sucesso nessa primeira apresentação, pois ficou compapéis secundários. Retornou ao Brasil em 1922 pela mesma companhia, onde Gabriela"arrasou" no papel principal da ópera "Carmem". Foi quando Henrique apaixonou-se porela. Quando Gabriela retornou pela terceira vez ao Brasil em 1924, para outratemporada, ficou de vez. Henrique não mediu gastos para satisfazer os caprichos desua amada, a qual, de certa forma, lembrava um pouco sua finada mãe. Para ela,

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mandou fazer o magnífico palacete eclético italiano, encomendado em 1924 ao arquitetoitaliano Mário Vodred. Também levantou suntuária residência na "Ilha de Santa Cruz" e,rompendo com tradição familiar, vendeu em 1930 a chácara que seu avô erguera emPaquetá ao Conde Modesto Leal (1860?-1936).

Henrique largou sua primeira esposa, uma pianista italiana, passando a residirem Laranjeiras até ficar pronto o palácio no Jardim Botânico. Lá, na nova casa, cercadade explêndidos jardins, foram dadas inúmeras festas, onde Henrique, muito tímido,pouco aparecia (dizia-se que ele sofria de grave doença de pele, o que só piorou suaintrospecção). Henrique foi Deputado à Assembléia Constituinte de 1934, e morreu em1941. Deixou fortuna avaliada em 1 bilhão de cruzeiros, não sem antes colocar àdisposição do governo Vargas seu império industrial para o esforço de guerra.Entretanto, o Governo Vargas declarou guerra ao "Eixo" ano seguinte e, temeroso deque tantas e importantes indústrias caíssem no controle de uma italiana, cujo país natalestava em guerra com o Brasil, interpretou literalmente o último desejo de Henrique econfiscou o império industrial dos Lage por Decreto Lei, assinado pelo PresidenteGetúlio Vargas em 1942. A administração federal foi desastrosa, bastando dizer quetodas as empresas confiscadas davam lucro em 1941 estavam falidas em 1943.

Gabriela, muito ressentida, vendeu em 1945 as empresas que não tinham sidoconfiscadas ao Governo, retornando anos depois à Itália, onde faleceu nos idos de1960. Como não tiveram filhos, a casa ficou fechada alguns anos. Nos anos 60, oterreno da chácara foi cobiçado pela "Ordem Terceira do Carmo", que alí pretendiafazer seu "cemitério vertical". Outro que também cobiçou tais chãos foi o empresário dascomunicações jornalista Roberto Marinho (1908-2.003), que chegou a negociar com afamília o terreno, para nele instalar a "Rede Globo", que estava sendo criada (1965).Mas o Governador do “Estado da Guanabara”, jornalista Carlos Lacerda (1914-1977),desafeto de Roberto Marinho, tomou a dianteira e desapropriou tudo, pagou indenizaçãoirrisória de um cruzeiro a Marinho, e transformou a chácara em formoso parque,dependência do Jardim Botânico. No palacete, o cineasta Gláuber Rocha filmou em1967 sua obra prima: "Terra em Transe", com Paulo Autran, Glauce Rocha, Jardel Filho,José Lewgoy e Paulo Gracindo. Alí era o país "Eldorado", cercado de políticoscorruptos, onde as analogias eram óbvias. Foi no palacete Lage que acabou seinstalando em 1971 a "Escola de Artes Visuais do Parque Lage", hoje um importanteestabelecimento cultural da cidade.

SOLAR DO MONJOPEEm frente ao “Parque Lage”, existiu até os idos de 1977 o casarão do "Solar do

Monjope". Era a antiga "Chácara da Bica", que pertenceu em meados do século XIX aoComendador português Ribeiro de Carvalho, casado com Da. Umbelina Luiza deMedeiros Guimarães, irmã do Barão de Oliveira Castro. Foram pais do célebre Dr.Miguel Joaquim Ribeiro de Carvalho, Provedor da “Santa Casa de Misericórdia” em1902/38. A chácara foi vendida no princípio da década de vinte ao médico e crítico dearte José Mariano Carneiro da Cunha Filho(vulgo "Yoyô"), nascido em Pernambuco(1887-1948), fundador do "Instituto Central de Arquitetos" defensor da arte colonialbrasileira e seu grande divulgador, irmão do poeta Olegário Mariano. Foi a casaextensamente reconstruída, ganhando azulejos portugueses, chafarizes coloniais eestátuas antigas, frutos da paixão de colecionador de José Mariano. Reformou o belocasarão em 1928 o arquiteto Lúcio Costa(1902-1998), então em princípio de carreira,para que parecesse uma fazenda colonial. Após sua morte, a viúva, filhos e netoscontinuaram a habitá-lo até a década de setenta. Foi destruída sem piedade em 1976

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para que alí subisse um feio condomínio residencial de edifícios da "Concal". Hoje sóresiste de pé o velho portal brasonado e o altaneiro muro caiado.

Ao lado da "Chácara da Bica", existiu em meados do século XIX a "Chácara doPadeiro", ocupada em 1879 pelo Sr. José de Araújo Motta Júnior, onde, depois de 1889,seria incorporada pelo Sr. José da Cruz às terras que formaram a "Fábrica Corcovado".Alienados em 1920, alí surgiu o loteamento "Vila Floresta", do qual depois se falará.

CHÁCARA DA IMPERATRIZA família Oliveira Castro, importantes moradores do bairro, começou quando, em

c. 1840, transferiu-se para o Brasil Da. Castorina Angélica de Oliveira Castro (1820?-1880?), uma portuguesa baixinha, gorda, bigoduda e feiosa, atributos que não aimpediram de arrumar rico namorado durante a viagem de navio para o Brasil, o Fidalgoportuguês Antônio Mendes de Oliveira Castro, e com ele noivar e casar antes de aquiaportar. Foram morar no número 12 (1878) da estrada atrás do Jardim Botânico(justamente hoje estrada Dona Castorina), numa sede de fazenda que vinha do séculoXVIII, a "Fazenda dos Macacos", e que pertenceu por dilatados anos aos PadresJesuítas até sua expulsão do Brasil em 1759. Depois de 1760 foi adquirida pelo Juiz e"Provedor da Fazenda Real" Francisco Cordovil de Siqueira e Mello, nascido em Irajá(1707-1775). Após sua morte e de sua esposa, Da. Catarina Vaz Moreno (1711-1787),seus herdeiros venderam-na em 1828 ao Imperador D. Pedro I (1798-1835). Êle a deuem 1829 como presente de casamento para a princesa Da. Maria Amélia Napoleona deLeutchemberg, sua segunda esposa e Imperatriz (1812-1876). Ela vendeu-a em 1872ao empresário José de Vianna Drummond, Barão de Drummond, fundador de Vila Isabele do "Jogo do Bicho" (1825-1897), que vendeu a casa-grande em 1874 ao "ImperialInstituto Fluminense de Agricultura", e este a arrendou em 1876 aos Oliveira Castro.

Nessa casa morou um dos homens mais ricos do Brasil nos primeiros anos daRepública, José Mendes de Oliveira Castro, Barão de Oliveira Castro (1842-1896),grande comerciante, filho mais velho de Da. Castorina. José Mendes era "DiretorTesoureiro" da "Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico" em 1883, "ConselheiroFiscal" da mesma Companhia no ano seguinte, sendo oito anos depois seu maioracionista. Também era o maior acionista da "Companhia Ferro Carril Vila Isabel" em1892. Membro da "Comissão de Obras da Igreja da Candelária" e seu "Relator"(1884/86). Era também "Presidente da Comissão Fiscal da Irmandade do SantíssimoSacramento da Candelária" (1886). Barão, por Decreto Imperial de 13 de novembro de1889, foi o último nobre da monarquia. Foi também grande cafeicultor, adquirindo em1891 de Da. Rita Arnalda de Menezes Barros, "Baronesa de Vista Alegre", as fazendas"Chacrinha", "Campo Alegre" e "Vista Alegre", todas em Valença. Eram espólio dofinado "Barão de Vista Alegre" (1849-1891). Era casado, tendo a Baronesa de OliveiraCastro (1852-1942) sobrevivido muitos anos ao marido, morrendo aos noventa anos emNice, onde residia. Sua prole foi de dezoito filhos.

Desses filhos, vários lidaram com transportes coletivos.Octávio Mendes de Oliveira Castro, que morava em bela casa na Lagoa, próximo

ao "Corte do Cantagalo"(é a atual "Fundação Eva Klabin Rappaport"), fundou em 1911 asegunda empresa de ônibus do Rio, a "Empresa Auto-Avenida". Álvaro Mendes deOliveira Castro, que herdou as fazendas do pai, era engenheiro, tendo fundado em 1912a "Empresa Brasileira Auto-Viação", de aluguel de veículos. José Mendes de OliveiraCastro, comerciante, foi Presidente da "Associação Comercial do Rio de Janeiro" eacionista da "Companhia Jardim Botânico". Antônio e Francisco, seus filhos mais novos,também foram acionistas da poderosa empresa de bondes da zona sul.

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Após a morte do Barão em 1896, a Baronesa de Oliveira Castro desinteressou-sepela "Fazenda dos Macacos", retornando ao uso do governo. E esta foi, já no século XX,"Asilo Agrícola do Macaco", "Serviço Florestal", "Administração do Parque Nacional daTijuca(1961)", "Delegacia do IBDF no Rio de Janeiro"(1967), "Fundação GetúlioVargas", "6a. Diretoria Regional da Fundação Nacional Pró-Memória", etc. Hoje é umainstalação agrícola do Jardim Botânico, subordinada ao "IBAMA", denominada "Solar daImperatriz", numerada pela rua Pacheco Leão no. 2.040.

Em 1906, ainda vivia o cidadão Aniceto de Andrade, “macróbio” com 109 anos,viúvo, brasileiro e analfabeto, nascido na Gávea, na "Fazenda dos Macacos", ex-cavouqueiro, e que residia na Estrada Dona Castorina, s/no.

FÁBRICAS EM VOLTA DA LAGOAAnos depois, em 02 de janeiro de 1886, surgiu em terras dos Oliveira Castro, na

Estrada Dona Castorina no. 130, uma enorme fábrica de tecidos, a "Companhia deFiação e Tecelagem Carioca", que incorporou um estabelecimento anterior fundadopelos Srs. Bandeira, John Steel e Cia. Foram seus diretores em 1911 os Srs. FrederickBurrowes, Cecil E. Hogg e Alfred M. Oliver. Como empregava 1.300 operários, em 1891a "Carioca" construiu junto com a "Companhia de Saneamento do Rio de Janeiro"(fundada em 1889), do engenheiro empresário Arthur Sauer, na rua Dona Castorinauma enorme vila operária, a "Chácara do Algodão"(era assim denominada por sercortada pelo "Rio do Algodão"), com 150 casas, repartidas pelas ruas D. Emma(depoisFernando Magalhães); Abreu Fialho; Alberto Ribeiro; Caminhoá; Estella e MestreJoviano; uma escola e um clube recreativo, o "Carioca Sport Club", fundado emprincípios do século XX, sendo depois transferido para a rua Jardim Botânico, 638;onde, depois de reconstruído, desde os anos 60 é a sede da “ABBR”. Ao seu lado, no648; em 1905, o Comendador e construtor italiano Antônio Januzzi(1855-1949), ergueuo simpático templo Metodista que ainda resiste incólume. Perto, surgiu em 1920 ofamoso "Cine Floresta”, com 700 lugares, depois rebatizado como “Cine Carvalho", quedurou cinqüenta anos, fechando em 1973 e hoje demolido.

A fábrica possuía ainda uma “Sociedade de Socorros Médicos”, fundada em1907, na Da. Castorina 40-A e muito bem aparelhada. Anos depois, mudou-se para aRua Jardim Botânico, 442. Em 1912 atendia a 206 associados, entre operários e seusfamiliares. Como se fosse pouco, mantinha a fábrica uma “Caixa de Socorros”, queauxiliava pecuniariamente os operários necessitados. A fábrica foi fechada nos anos 30.Quanto à vila operária, esta existe na atual rua Pacheco Leão, tombada pelo município.

Em terrenos que foram da fábrica, surgiu em 1920 o loteamento "Vila Floresta",sendo abertas as seguintes ruas: Inglês de Souza(ex-Aura); Visconde de Itaúna(ex-Gávea); Lopes Quintas(ampliação); Peri; Engenheiro Pena Chaves; Zara; QuincasBorba(ex-travessa Corcovado); e Santa Heloísa. Anos depois, em 1926, surgiu maisacima na Da. Castorina outro loteamento, abrindo as ruas Marquês de Sabará e Barãode Oliveira Castro.

Outro vizinho interessante do Barão de Oliveira Castro, era o escravocrataDomingos Pereira Alves da Silva Pôrto, com enorme chácara na Da. Castorina no. 16.Pôrto foi dono de 1860 a 70 de cocheiras com carruagens, coches e berlindas dealuguel, com estabelecimentos na rua da Lampadosa e rua dos Arcos. Em 1870 elefundou a "Companhia de Carruagens Fluminense", na rua da Lampadosa, no. 40.Contam que tratava de seus escravos com extremada crueldade, e não escondia queagia assim.

O Bairro do Jardim Botânico era em fins do século XIX um bairro operário. Talmudança se deveu ao fato de que, com a abolição da escravatura, as imensas chácaras

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existentes tornaram-se grandes demais para serem mantidas por empregados livres.Sendo assim, muitas acabaram vendidas e loteadas. Como o local era tido porinsalubre, pensou-se em alí se instalarem fábricas e vilas operárias, ou habitaçõesproletárias. Só depois de 1920 é que o Jardim Botânico torna-se um bairro de elite,graças às obras de Carlos Sampaio. Com a valorização do solo, são extintas outransferidas as fábricas e vilas operárias, substituídas por loteamentos e casas demelhor categoria. Surgiram de retalhações de propriedades, muitas ruas novas, como aMaria Angélica, aberta em 1896 num terreno de chácara, bem como a Lopes Quintas,aberta nas terras do chacareiro Domingos Lopes Quintas.

Numa delas, justamente a que pertenceu ao mercador de escravos José FerreiraCallau, próximo à "Ponte de Táboas"(hoje é o quarteirão anterior ao Jardim Botânico,antigo no. 532), surgiu em 1889 a "Fábrica da Companhia de Fiação e TecidosCorcovado", fundada pelo empresário José da Cruz, o pioneiro na criação de creches eescolas para filhos de operários. Começando a funcionar apenas em 1894, commáquinas à vapor, foram trocadas por elétricas em 1910, quando a produção disparou.Empregava 10.000 operários em 1913, que dispunham de vila operária com 140 casas;duas escolas para ambos os sexos, tanto para crianças pela manhã, como de noite paraos pais operários; creche com atendimento médico e aleitamento(com visitas àscrianças pelas mães de, no máximo, duas vezes durante o horário de trabalho);armazém; farmácia(cujos lucros eram partilhados pelos empregados); clube recreativopara bailes e representações teatrais, etc. Mantinha ainda a “Fábrica Corcovado” um“Montepio dos Operários”, fundado em 1896, com sede na Rua Jardim Botânico no. 418.Conglomerava um grande “centro médico”, uma “creche” ao lado, muito bem aparelhadae inaugurada em 1899, e uma “farmácia”, na Rua Jardim Botânico, 434. Atendiam em1912 a 991 operários.

A fábrica foi desativada em 1937. Numa parte, no lado par da rua JardimBotânico, surgiu em 1938 um quarteirão de casas e prédios residenciais. Era o chamado"Jardim Corcovado". Foram abertas nas terras da fábrica as ruas: Benjamin Batista;Nascimento Bitencourt; Nina Rodrigues; Abade Ramos; Oliveira Rocha; Conde deAfonso Celso; Faro (extensão); Itaipava; Diamantina (ex-São José); e SenadorSimonsen. Quinze anos depois, no terreno ímpar foi erguido o moderno "Hospital daSulamérica", da "Fundação Larragoiti", projeto de Oscar Niemeyer (n. 1907) e HélioUchôa. Desde 1968 está com o Governo Federal. É o atual "Hospital da Lagoa".

HOSPITAL DA LAGOA - RUA JARDIM BOTÂNICO, 501 - JAR. BOTÂNICOO estudo funcional do programa, particularmente no que diz respeito a acessos e

circulações, aliado à forte expressão plástica, garante a solução exemplar deste projeto,elaborado em 1952 por Oscar Niemeyer e Hélio Uchôa. O volume principal, depredominância horizontal, tem duas empenas laterais cegas e duas fachadas tratadasde acordo com a incidência solar: vidro e painéis pré-moldados para orientação sul equebra sol vertical de alumínio, em composição com combogós cerâmicos, para norte. Asolução estrutural modulada e periférica proporciona clara organização dos espaçosinternos, beneficiados ainda pelo deslocamento da coluna de circulação vertical,resolvida num corpo independente. Merecem destaque os pilares em “V”, de proporçõesexatas, que emprestam dinâmica ao bloco estático do hospital. Este tipo de pilar, que setornou característico da obra de Niemeyer, oferecia como vantagem a redução donúmero de apoios, garantindo liberdade no arranjo da composição. Nas fachadas, o usode cores(azul nos painéis voltados para o sul e o tom natural da cerâmica alternado comlâminas de alumínio na fachada norte), dá ao conjunto uma aparência de grandeinteresse. A construção deste hospital arrastou-se até 1959, mas não foi concluída.

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IGREJA DE SÃO JOSÉ DA LAGOAA capela da Fábrica, denominada de "São José Operário", erguida em 1898 no

terreno ímpar, sobreviveu muitos anos, sendo demolida nos anos 60, para em seu lugarser erguido em 1962/1964 um novo templo, todo de vidro, projeto do arquiteto Edgar deOliveira da Fonseca(o mesmo que projetou a nova Catedral, na Av. Chile). Vale aquilembrar que essa capela mantinha, patrocinada pela fábrica, outra instituição deassistência social, a “Devoção Particular do Glorioso Patriarca São José da Gávea”,fundada em 1908, funcionando na própria capela e que auxiliava pecuniariamente osoperários e seus familiares necessitados.

Todo esse aparato não impediu que as duas fábricas do Jardim Botânico, maisduas outras existente na Marquês de São Vicente, deixassem de entrar na grande grevegeral de 1918, quando toda a produção foi suspensa por melhores condições detrabalho. Os trabalhadores, portando cartazes com dizeres marxistas e palavras deordem inspiradas na "Revolução Soviética", originaram o termo "Gávea Vermelha",usado pela imprensa para definir esta parte da cidade.

ANTÔNIO AUGUSTO BORGES DE MEDEIROS – DADOS BIOGRÁFICOS.Político, nasceu em Caçapava do Sul, Rio Grande do Sul, em 1864. Bacharelou-

se em direito no Recife. Em seu Estado natal, foi promotor público, chefe de polícia edesembargador do antigo Tribunal Superior. Em 1890, elegeu-se deputado federal e,com a dissolução do Congresso em 1891, uniu-se a Júlio de Castilhos na luta contra ogoverno federal. De que resultou a renúncia de Deodoro da Fonseca (1891). Com amorte de Júlio de Castilhos, assumiu o comando do Partido Republicano gaúcho,elegendo-se, cinco vezes, governador do Estado, em 1897, 1902, 1912, 1917 e 1922.Sua quinta reeleição desencadeou, sob a liderança de Assis Brasil, a luta armada noEstado, luta que terminou com a assinatura do Tratado de Pedras Altas (1923), que oalijou do poder. Apoiou os movimentos insurrecionais de 1930 e 1932, ocasião em quefoi preso no Rio de Janeiro e confinado no Recife. Foi anistiado em 1934, elegendo-sedeputado federal e perdendo o mandato com o Estado Novo, em 1937. Após acassação, retirou-se à vida privada. Faleceu em 1961, aos 97 anos, em Porto Alegre.

VILA OPERÁRIA ORSINA DA FONSECAOutras vilas operárias surgiram. Em 1910, o Presidente Marechal Hermes

Rodrigues da Fonseca (1855-1923), inicia uma política de estímulo à melhoria dascondições de vida dos operários(1910-1914). Em 1913, é erguida próximo do JardimBotânico, na "Praça N. Sra. da Conceição"(hoje Santos Dumont), a vila operária "Orsinada Fonseca", em homenagem à sua primeira esposa(falecida em 1911), com duasescolas e prédio dos bombeiros, projetados pelo arquiteto Marechal Francisco Marcelinode Souza Aguiar, com muitas ruas, ainda existindo algumas dessas casas e asescolas(que são tombadas pela municipalidade) e estação de bombeiros.

O QUASE LOTEAMENTO DO JARDIM BOTÂNICOEm 1969 quase que o Jardim Botânico voltou a ser um bairro operário. Aliás, para

dizer a verdade, quase que o parque foi convertido em conjunto habitacional! O GeneralPinto da Luz, Diretor do "Banco Nacional da Habitação"(o finado BNH, fundado em 1964e extinto em 1989) conseguiu que o Governo do Presidente Marechal Arthur da Costa eSilva(1966-1969) lhe cedesse 2/5 da área do Jardim Botânico do Rio de Janeiro paranele erguer um enorme conjunto residencial vertical para 800 famílias de favelados. A

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gritaria pública contra esse atentado, apesar da censura ditatorial, foi de tal maneira queo Governo recuou. Com a morte de Costa e Silva, o assunto também morreu.

VIADUTO SAINT- HILAIRE (VIADUTO DO TÚNEL REBOUÇAS)Projetado em 1961 pela Superintendência de Urbanização e Saneamento do

Estado da Guanabara (SURSAN) na gestão do Governador Carlos Lacerda. Em seuprojeto original, estava prevista a instalação de uma plataforma onde ficariam postos depedágio, o que foi suprimido em 1966. Inaugurado parcialmente em 1965 pelo mesmoGovernador Lacerda, foi totalmente inaugurado em 1967, junto com os dois túneis (sóum estava inaugurado), sendo o viaduto batizado de Saint - Hilaire, em homenagem aofamoso naturalista francês. Vale ressaltar que tanto o túnel Rebouças quanto o viadutoampliaram de muito o volume de tráfego de veículos no entorno da Lagoa, o queobrigou a SURSAN a realizar extensas obras de urbanização das áreas adjacentes, sóconcluídas em 1978.

SAINT - HILAIRE – DADOS BIOGRÁFICOSAuguste François César Provençal de Saint - Hilaire, naturalista e viajante,

nasceu na França a 4 de outubro de 1779. Sua adolescência passou-a em Hamburgotrabalhando no comércio e aí estudou alemão e inglês. Voltando à França, dedicou-seao estudo da Botânica sob a orientação de A. L. Jussieu, L. C. Richard e R.Desfontaines.

Em 1816 veio para o Brasil com o embaixador da França junto à Côrte do Rio deJaneiro. Durante seis anos percorreu as províncias deste vasto país, do Paraguai eUruguai. Nessas viagens coletou valiosos espécimes de História Natural, consistindo em24 mil exemplares de plantas de 6 mil espécies diferentes, a maior parte das quaisnovas; em 2 mil de aves, 16 mil de insetos, 135 de quadrúpedes e outras de répteis,peixes e minerais.

Em 1822 regressou à França dedicando-se ao estudo do material recolhido e àredação de extensos relatórios de viagem. Com o organismo profundamente abaladopor uma doença nervosa, quase cego, em conseqüência dessas penosas viagens quemuito exigiram de sua saúde, recolheu-se à histórica cidade de Montpellier onde, sobcuidados médicos, se restabeleceu. Entregou-se então a escrever obras como: FloraBrasiliae Meridionalis ou História e descrição de todas as plantas que crescem nasdiferentes províncias do Brasil (1825) e Viagem nas Províncias do Rio de Janeiro eMinas Gerais (1830), as quais lhe conferiram extraordinária reputação, sendo entãoconvidado para professor de Botânica e membro da Faculdade de Ciências de Paris.Escreveu ainda: Viagem no Distrito dos Diamantes e no Litoral do Brasil; Viagem àsNascentes do Rio São Francisco; A Agricultura e a Criação dos Animais dos CamposGerais.

Saint - Hilaire era observador hábil e colecionador sagaz. O mérito de seustrabalhos lhe proporcionou o ensejo de ser nomeado membro da Academia de Ciências,em virtude de sua preciosa bibliografia constituída por quinze trabalhos de real valorsobre o Brasil.

De tal forma se impôs a obra de Saint - Hilaire, por seu valor, no que se prendeaos assuntos da natureza e dos costumes brasilianos, que não se pode fazer qualquerestudo nesse sentido sem compulsar seus interessantes trabalhos. Em suahomenagem, além do viaduto, há no Jardim Botânico um busto em sua homenagem.

Saint - Hilaire morreu na França, a 30 de setembro de 1853.

TÚNEL REBOUÇAS

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O Túnel Rebouças era uma antiga aspiração dos cariocas. Projetado inicialmentepelo urbanista francês Alfred Agache em 1928 para o Prefeito Prado Júnior, só saiu dopapel em 1948, na administração do Prefeito Marechal Ângelo Mendes de Morais(1946/1951). Em 1950 as obras pararam. Foram retomadas em 1961 pelo Governadordo Estado da Guanabara, Carlos Lacerda (1914-1976), que o inaugurou parcialmenteem 1965. Foi totalmente inaugurado em 1967 pelo Governador Francisco Negrão deLima(n.1908), sendo considerado à época o maior túnel urbano do mundo, com 2.700m de extensão, dividido em duas partes, formando dois túneis gêmeos (André e AntônioRebouças), cortando os bairros do Humaitá, Jardim Botânico, Lagoa e Cosme Velho,ligando-os aos do Estácio, Rio Comprido e Tijuca, passando por debaixo do maciço doCorcovado. Conta-se que o Governador Lacerda só não inaugurou totalmente o túnelem 1965 para espicaçar com seu rival Roberto Marinho, que teria suas terras do CosmeVelho muito valorizadas pelo empreendimento.

Ainda em 1971, Francisco Negrão de Lima, Governador do Estado da Guanabara(1966-1971), no apagar das luzes do seu govêrno, intentou passar um decretopermitindo o aterro total da Lagoa Rodrigo de Freitas, para alí se fazer um novo bairro,beneficiando determinado construtor famoso que almejava tal quinhão há anos. Outroprojeto engavetado... .

Em 19 de fevereiro de 1988, grandes chuvas castigaram a Cidade do Rio deJaneiro. Por fatalidade, uma comporta dentro do "Jocquei Clube", que represava o "Riodos Macacos" estava fechada, fazendo-o transbordar e inundar o Jardim Botânico,causando enorme destruição. Levou-se dez anos e três administrações(Sérgio Bruni -1988/89, Wanderbilt Duarte de Barros - 1989/92, e novamente Sérgio Bruni - 1992/98),para reparar os estragos.

Hoje o 'Jocquei" possui avançado sistema para impedir que isso se repita.

IGREJA DE SANTA MARGARIDA MARIA - PÇA. FREI SOLANO - LAGOAElegante templo em estilo neocolonial tardio projetado por Fernando I. Lemos em

1948, e concluído dez anos depois. A fachada foi inspirada nas antigas igrejashispânicas da Califórnia. A abertura do Túnel Rebouças em 1965 deu especial relevo aoconjunto, valorizado pela existência de áreas livres no entorno.

OBRA DO BERÇO - R. CÍCERO GÓIS MONTEIRO, 19/AV. EPITÁ. PESSOAEdifício destinado a serviços sociais de orientação à maternidade e abrigo a

crianças até dois anos de idade, assume importância fundamental por se tratar daprimeira obra construída de Oscar Niemeyer(1937). O conjunto, situado em terreno deesquina às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, é composto por dois blocos: frontal,com quatro pavimentos e fachada principal (voltada para oeste) protegida por “brise-soleil” vertical móvel; e posterior, com dois pavimentos, e predominância horizontal. Estebloco possui circulação por rampas para facilitar a locomoção de carrinhos e crianças. Oprédio é tombado pela Municipalidade.

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RESUMO HISTÓRICO DA GÁVEA, E RUA MARQUÊS DE SÃO VICENTE.Até prova em contrário, os primeiros habitantes legítimos da região foram os

índios tamoios, estabelecidos alí desde o séc. VI, divididos em cinco aldeias. Elesbatizaram o morro como “Metarecanga”(“Pedra Raivosa”, em tupi); e a Lagoa de“Piraguá” (“Água Parada”, idem) ou “Sacopenapã” (“Caminho onde andam as socós”).

Ainda no século XVI a pedra seria batizada definitivamente como “Gávea”, pelosportugueses, pois parecia-se com o cesto da gávea das caravelas. No século XVII,viajantes ingleses a chamavam de “Nariz do Lorde Hood”. No século XIX era conhecidacomo “Cabeça do Imperador”, pela sua vaga semelhança com a testa de D. Pedro II.Alguns viam nela obra artificial, chamando-a de “Esfinge”. O desabamento de parteposterior da “Pedra da Gávea” em 1915 acabou com essa semelhança.

Houve quem vislumbrasse inscrições fenícias em seu costão. Uma expedição deespecialistas do Instituto Histórico em 1839 ao seu cume esclareceu que as ditasinscrições são fendas naturais. Mesmo assim, até hoje há quem afirme realmente seremtais marcações fenícias, propondo alguns a seguinte tradução: “Tiro - Fenícia - Badezir,primogênito de Jetbaal”. Badezir foi efetivamente um rei fenício, e reinou em Tiro há3000 anos atrás. Se essa afirmação for correta, é a “pichação” mais antiga do Rio.

O Governador Antônio de Salema, jurista formado em Coimbra, natural deAlcácer do Sal(152?-1586), Governador da parte sul do Brasil (1575-1578), cobiçandoaqueles chãos para neles erguer um engenho de cana, mandou colocar no matagalroupas de doentes de varíola, matando os índios por contaminação. Uma vez livredeles, Salema ergueu em suas terras no ano de 1575 o Engenho D`El Rei, às margensda “Lagoa de Piraguá” (“água parada”, em tupi), ou de “Sacopenapã”(“Caminho ondeandam as socós”, em tupi), tendo doado em sesmarias as terras que não interessaram.

Por essa época, ou até antes, em 24 de abril de 1566, recebeu terras no local oCapitão de Infantaria Manuel de Brito Pereira, Cavaleiro Fidalgo da Casa D`El Rei,nascido em Beja(1542?-1602), que obteve do Governador Estácio de Sá(1542-1567)uma sesmaria de 1000 braças de largo e 1500 de comprido em direção à Gávea(Barrada Tijuca?). No mesmo ano, a 03 de dezembro, o português André de Leão, Fundadordo Rio de Janeiro(1540?-1611?), recebeu 200 braças para o longo do mar e 500 braçaspara o sertão, com carta passada pelo mestre de obras Francisco Gomes, que possuíaterras em Suruí e igualmente era sesmeiro na Lagoa. Leão, que foi Oficial da “Câmarade Vereadores” e antes morara em São Vicente, sesmeiro e intérprete da linguagem dosíndios, ergueu uma casa de moradia, cujos alicerces ainda existem, pois foramincorporados em 1828 ao casarão neoclássico erguido pelo arquiteto da Missão ArtísticaFrancesa Grandjean de Montigny, hoje propriedade da “PUC”. André solicitaria àCâmara, a 19 de janeiro de 1592, mais trezentas braças. Ano seguinte, a 25 desetembro de 1567, o fidalgo português Antônio Preto(1542?-1601), morador em SãoVicente, obteve da Câmara 1000 braças de largo e 1500 braças para o sertão “aquémda Gávea”(São Conrado?).

Foram seus vizinhos, dentre outros, Antônio Pacheco Calheiros (1569?-1634),vereador em 1619, que era genro de André de Leão, pois casara-se com sua filha Inês.Calheiros pediu aforamento à Câmara em 1599 terras que houvessem da demarcaçãode Diogo de Amorim até entestar com as de André de Leão e quinhentas braças decomprido para a Gávea. Em 1603, Calheiros solicitou aforamento dessas quinhentas

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braças até a “costa brava”(Leblon), correndo até a Gávea(Vidigal?); Baltazar de SeixasRabelo, “Juiz Ordinário da Câmara”, “Provedor Mór da Misericórdia”, Capitão Mór deSão Vicente(1560-1637), foi outro proprietário local, tendo recebido em 1598 aforamentode 200 braças de terras com riacho, entre Felipa Gomes e André de Leão; e, desde1598, o Vereador Diogo de Amorim Soares, dono do “Engenho de Nossa Senhora daConceição da Lagoa” (1558?-1609?) e tido como figura não muito honesta, sendoexpulso da cidade em 1609, não sem antes repassar seu engenho e benfeitorias ao“igualmente não muito honesto” seu genro, Sebastião Fagundes Varela, natural deViana do Castelo(1563-1639), casado com Da. Maria de Amorim Soares(1589-1676).

Com efeito, em 1610, Da. Felipa Gomes(1550-161?), viúva de André de Leão,reclamava de que seus vizinhos estavam invadindo suas propriedades, cobrando daCâmara providências. Pacheco Calheiros, seu genro, pediu em 1611 confirmação dasterras de sesmaria de André de Leão, bem como das datas concedidas pela Câmara. Aconfirmação foi dada a 24 de novembro de 1612. Apesar disso, a invasão continuou. ACâmara não fez nada, e Da. Felipa não resistiu vendendo suas posses em 17 dedezembro de 1612 a Martim Barbosa. Martim, por sua vez, vendeu-as em 1640 aPantaleão de Oliveira. Pacheco Calheiros, seu genro, resistiu mais algum tempo, tendosolicitado à Câmara em 1616 nova confirmação de suas terras, que foi concedida.

O acesso à fazenda de André de Leão deu origem a um caminho, que no séculoXIX foi batizado de “Rua da Boa Vista da Lagoa”(ou “Bela Vista”, como aparecetambém), rebatizada em 1878 para Marquês de São Vicente.

PRAÇA SANTOS DUMONTOnde é hoje a Praça Santos Dumont, no dito “Baixo-Gávea”, era até o século

XVIII um charco, um pantanal. Desde o princípio do século XIX, já aterrado, chamou-se“Largo das Três Vendas”, nome mudado depois para “Nossa Senhora da Conceição” e,já na República, para “Ferreira Viana”, “Arthur Bernardes” e, finalmente, depois de 1932,Praça Santos Dumont, em homenagem ao pai da aviação(1871-1932), falecido emGuarujá, nesse ano.

Nela, em meados do século XIX, só existia de importante o “Hotel do Amaral”, noprincípio da rua Boa Vista, e propriedade do Capitão Manuel dos Anjos Vitorino doAmaral. Era um modesto estabelecimento com cinco quartos, vendido depois de 1875 aJosé de Moura Carvalho, possuindo então o no. 1 da rua Boa Vista da Lagoa. Hoje nolocal está um prédio de apartamentos. Carvalho possuía também as casas de 3 a 7 darua, atuais 1 a 17, ou seja, o lado ímpar da rua Marquês de São Vicente até a Matriz.

TRANSPORTES COLETIVOS NA GÁVEAPara se estudar a história do Rio de Janeiro, torna-se fundamental conhecer a

história dos transportes em nossa cidade. E, quando se fala em transportes coletivos no“Rio Imperial”, é quase que sinônimo de “bondes”. Foram os bondes que promoveram aexpansão da cidade na segunda metade do séc. XIX. Nenhum veículo os suplantou emeficácia e praticidade.

Entretanto, não foram os bondes os primeiros veículos de transporte coletivo àchegarem ao bairro da Gávea. Antecederam-lhe os “omnibus”. Ainda em 1837 oGoverno Imperial deu concessão ao francês Jean Lecoq para fundar uma “Companhiade Omnibus” puxados a cavalos, na cidade do Rio de Janeiro, com capacidade para20/24 passageiros cada veículo. Foi inaugurado o tráfego desses veículos em julho de1838, com quatro carros. Em janeiro de 1839 inaugurou-se uma linha para Botafogo. Jáem 1847 alugavam-se “omnibus” extraordinários para o bairro do Jardim Botânico. Em1868, com a inauguração das linhas de bondes da “Botanical Garden”, foram extintas as

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linhas do centro, só sobrevivendo uma linha que ligava a Praia de Botafogo para o“Largo das Três vendas”. Em 1882 a “Companhia de Omnibus” era vendida à “BotanicalGarden Rail Road Company”.

Entretanto, já em 1854, criava-se uma linha de diligências à cavalo entre o centrocomercial e o Jardim Botânico, pela “Companhia da Sociedade Lagoense”, dirigida porAntônio de Pádua e Silva e José Maria Targine. Os bondes da “Botanical Garden”acabaram com as diligências.

No remoto ano de 1838 foi fundada a “Companhia das Gôndolas Fluminenses”. A“gôndola” era uma carrimpana menor que o “omnibus” e maior que a diligência, comcapacidade para nove passageiros. Em 1865 foi criada uma linha de “gôndolas” quepassava pela Praia de Botafogo, São Clemente, “Berquó”(hoje General Polidoro) eJardim Botânico, linha que se manteve até a década de setenta, quando os bondesacabaram com ela.

BONDES NA GÁVEAUma das primeiras concessões de linhas de bondes foi a dada pelo “Governo

Imperial” pelo decreto no. 1742, de 29 de março de1856 ao cidadão inglês ThomasCochrane (1805-1872), médico homeopata e sogro de José de Alencar (1829-1877),para formação de uma “companhia de carris urbanos” que fazia linha do centro ao “Altoda Boa Vista”. Não deu certo, haja vista a má conservação dos equipamentos, queresultou em prejuízo de 700 contos.

No mesmo mês de março de 1856, outra concessão foi feita pelo decreto no.1733, no dia 12 ao Senador, Conselheiro e Diretor do Jardim Botânico, Ministro CândidoBaptista de Oliveira(1801-1865) e seu filho Luiz Plínio de Oliveira. Indicado em 1859para a Presidência do Banco do Brasil, repassou Cândido sua concessão por quarentacontos de réis, pelo decreto no. 2927, de 21 de maio de 1862 ao seu amigo, IreneuEvangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá (1813-1889). Mauá, temerosocom o fracasso dos bondes da Tijuca, cedeu a concessão pelo decreto 3738, de 21 denovembro de 1866 por cem contos de réis ao engenheiro americano Charles B.Greenough (1825-1880), que obteve os capitais necessários nos Estados Unidos. Em09 de outubro de 1868 surgiram os bondes da “Botanical Garden Rail Road Company”,fundada pelo americano Greenough, cujo primeiro trecho a funcionar ia da ruaGonçalves Dias até o Largo do Machado. Com apoio do Imperador, a linha foi umsucesso estrondoso, a tal ponto que os bondes valorizaram de forma até entãodesconhecida os terrenos onde passavam, sendo motivo para muita especulação.Bairros semi-povoados como Botafogo e Laranjeiras tiveram rápida ocupação. Em 1870,quando alguém desejava adquirir algum imóvel no Rio, a primeira pergunta feita era“...se o bonde passa lá”.

Em 1o. de janeiro de 1871 a “Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico”(nesseano ainda era chamada de “Botanical Garden Rail Road”) chegou com sua linha debondes à burro ao “Largo das Três Vendas”, passando pela Praia de Botafogo, “RuaNova de São Joaquim”(atual Voluntários da Pátria) e Rua Jardim Botânico, estimulandoa ocupação local.

Dois anos depois, a 1o. de abril de 1873, a Companhia requisitou ao GovêrnoImperial a ampliação dessa linha, do “Largo das Três Vendas” até a “Olaria”. Essa dita“Olaria funcionava exatamente onde está hoje o “Campus da PUC”, e batizava toda aárea que hoje denomina-se “Médio Gávea”.

Como se verá adiante, a história dos bondes na Gávea tornou-se, não poucasvezes, a própria história do bairro. Em 1909 a “Companhia Ferro Carril do JardimBotânico foi arrendada parcialmente à “Light”, empresa que começou a funcionar em

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1907 no fornecimento de energia elétrica ao Rio de Janeiro. Entretanto, a “CompanhiaJardim Botânico” continuou como companhia independente até 1946, quando foiincorporada definitivamente à companhia canadense. Depois da 2a. Guerra, em 1950,desinteressou-se a “Light” pelos bondes, pois estava investindo agora nos ônibus àdiesel. O serviço de bondes foi decaindo até a extinção de tais veículos em 1963.

À guisa de curiosidade, vale lembrar que no princípio da República o Ministérioda Agricultura, Comércio e Obras Públicas concedeu permissão em 1891 para que a“Empresa de Melhoramentos da Lagoa Rodrigo de Freitas e Botafogo” construíssemuma estrada de ferro elevada, ligando o Leblon à rua Primeiro de Março, no centro.Nesse mesmo ano a empresa afundou e foi encampada pelo Governo Federal, não seouvindo mais falar da tal “linha elevada”.

Não seria o primeiro projeto exótico para a região. Anos antes, em 10 de fevereirode 1886, o engenheiro civil João Dantas requereu ao Ministro da Agricultura umaconcessão para abrir uma via férrea partindo da estação da “Companhia Ferro Carril doJardim Botânico”, no Largo dos Leões, em Botafogo, perfurando um túnel no final da ruaReal Grandeza, e dalí pela orla até o Leblon, onde correria a linha pela encosta doMorro Dois Irmãos, numa extensão de 193km, até Angra dos Reis. Em 1891 seriaconstituída por Dantas a “Estrada de Ferro Sapucaí”, que, por decreto no. 587, de 10 deoutubro de 1891, obteve autorização para estender seus trilhos até Guaratiba, ondeseria feito um cemitério. Fizeram muitas obras na Gávea, Leblon e Morro Dois Irmãos,onde chegou a ser escavado 800 m de estrada na rocha. O “encilhamento” liquidou coma empresa em 1891. A estrada seria depois ampliada em 400m, pelo engenheiro inglêsCharles Weeksteed Armstrong, levando-a até a “Praia do Vidigal”, onde o inglês fundouem 1911 o “Colégio Anglo Brasileiro”, para filhos de ingleses. Em 1915 o ComendadorConrado Jacob de Niemeyer doou à Prefeitura outros 3000m para se abrir a estrada atésuas terras, na Praia da Gávea. Finalmente, a Avenida Niemeyer foi inaugurada emoutubro de 1916, durante o “Congresso de Estradas de Rodagem”, realizado no Rio deJaneiro. Foi a Av. Niemeyer muito melhorada depois pelos prefeitos Paulo de Frontin,em 1919 e Carlos Sampaio, em 1920/22, mas ainda é basicamente a mesma de 1916.Depois voltaremos a falar muito dela.

O lado direito da praça Santos Dumont era, em 1809, a chácara do Tenente JoãoPinto. Cem anos depois, seu terreno foi quase todo tomado em 1912/13 pela “VilaOperária Orsina da Fonseca”, inaugurada pelo Presidente Marechal Hermes Rodriguesda Fonseca, marido de Da. Orsina(falecida em 1912). O projeto das belas casas,algumas ainda de pé, bem como das duas escolas e do corpo de bombeiros, foi doCoronel e arquiteto Francisco Marcelino de Souza Aguiar, Prefeito do Rio de 1906 a1909. Em 1913 surgiram, em conseqüência da expansão da vila, as ruas Magnólias,Jequitibá, Vicente de Souza(depois Orsina da Fonseca), Acácias, Oitis, Oliveira Belo,etc.

HISTÓRIA DO JÓCQUEI CLUBE DO RIO DE JANEIROTodo o lado esquerdo da praça até 1809 era na verdade um areal e as margens

da Lagoa. Depois de 1811, essas terras foram incorporadas ao “Real Horto Botânico”,origem do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, até serem em 1922 desapropriadas peloPresidente Epitácio Pessoa e alienadas a um grupo interessado na ereção de uma pistade corridas de cavalos na Zona Sul. Toda essa área foi, à partir de 1919, tomada pelasobras do “Jocquei Clube do Rio de Janeiro”, iniciativa do empresário e Vice Presidentedo “Jocquei”, Dr. Linneu de Paula Machado, mais ativo que seu Presidente, oengenheiro João Teixeira Soares. As obras começaram em 1921. Logo as sondagensrevelaram ser o solo impróprio para aquele tipo de construção. Depois de muitos

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estudos, decidiu-se continuar a obra assim mesmo e a primeira estaca foi cravada emjulho de 1924. A bênção da casa foi feita em 1925 por D. Aquino Corrêa, mas o pradosó foi inaugurado em julho de 1926. Os prédios foram projetados pelos arquitetosArchimedes Memória e Francisco Cuchet, sob supervisão do eng. Dr. Mário de AzevedoRibeiro.

IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DA GÁVEAEm 1852/55, no princípio da rua Marquês de São Vicente, o Capitão Amaral, o tal

dono do “Hotel do Amaral”(cuja sede ainda sobrevivia arruinada em 1926), mandouerguer uma capela em homenagem à Nossa Senhora da Conceição, pois uma capelahomônima existira por perto desde 1598 até 1826, exatamente onde hoje está o edifícioda Embrapa, na rua Jardim Botânico. Esta nova capela foi depois muito ampliada eelevada em 1875 à condição de Matriz da recém criada “Freguesia da Gávea”.

A nova Freguesia foi criada por decreto legislativo de 18 de junho de 1873,desmembrando-a da “Freguesia da Lagoa”. Esta, por sua vez, havia sido criada peloPríncipe D. João ainda no remoto ano de 1809, desmembrando-a da de São José.Antes da Igreja de Na. Sra. da Conceição, existia em 1809, naquele lugar a casa do Sr.Caetano da Silva. Era a única construção no princípio do século XIX até a chácaradenominada “Castelo”, onde hoje é o “Centro Cultural da PUC-Rio”. O Capitão Amaralcomprou a casa do Sr. Caetano e a mandou demolir. Era a Igreja a construção de no. 9na rua da “Boa Vista”. Hoje tem o número 19 da Marquês de São Vicente. É um bonitotemplo de linhas neoclássicas.

Foi seu primeiro vigário Monsenhor Francisco Martins do Monte (1830?-1909),que já havia sido desde 1862, vigário da “Freguesia da Lagoa”. Monsenhor Franciscotambém era pequeno acionista da “Botanical Garden Rail Road”, e em 1885 suadiretoria era “protetora” da Paróquia.

RUA MARQUÊS DE SÃO VICENTE - BAIXO GÁVEA - LADO ÍMPARNa rua “Boa Vista da Lagoa”(ou “Bela Vista”), depois de 1878 Marquês de São

Vicente, moraram, no século XIX, alguns dos homens mais ricos do Brasil. Ao menostrês presidentes de conselhos de ministros do Imperador, quatro diretores de empresasde bondes, fora alguns senadores.

Logo no. 11, ao lado da Matriz(detalhe, toda a numeração das casas aqui citadaspor diante são as constantes no levantamento de 1878, diferindo muito da numeraçãoatual, em alguns casos impossível de atualizar), morava o engenheiro Carlos AlbertoMorsing, concessionário de uma empresa de “diligências sobre trilhos de ferro”, ligandoa Côrte aos subúrbios em 1868, e anos depois, em 1872, co-fundador da empresa debondes “Companhia Ferro Carril São Cristóvão”. Nesse local, numerado em 1934 como23/25, foi aberta a rua “Regional”(hoje General Rabelo). Em outra fatia dessa chácara,surgiu em época recente a “Escola Ipiranga”(no.37).

No 19(em 1878), era a casa do Visconde de Jaguari, Deputado, Conselheiro deEstado e Ministro da Justiça(1848/53) e (1870/71), e Ministro do Império(1861/62), JoséIldefonso de Souza Ramos(1812-1883), advogado, fazendeiro e dono da “FazendaSanta Fé”, em Valença. Filho do primeiro Visconde de Jaguari. Era mineiro e foiPresidente das províncias de Piauí(1843/44), Minas Gerais (1848/49), ePernambuco(1849/50). Foi Deputado pelo Piauí(1850/56) e Presidente da Câmara,sendo também Senador(1852) e, igualmente, Presidente do Senado doImpério(1874/81). Membro do Conselho de Estado do Imperador e Provedor da “SantaCasa de Misericórdia”(1879/83), possuía a “Grã Cruz de Cristo” e a “Ordem da Rosa”.Após sua morte, morou em sua casa a “macróbia” do bairro, a maranhense Da.

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Custódia Antônia Ferreira, com 110 anos de idade segundo o recenseamento de 1906.Nesse terreno, já renumerado para 123, foi aberta em 1933/34, a rua Artur Araripe.

No 29(depois 115 e hoje inexistente), morou o empresário português Antônio deAlmeida Paschoal(1830?-1881), fundador, em 1864, da “Confeitaria Paschoal”, na ruado Ouvidor, fornecedora da Família Imperial. Paschoal era também grande acionista da“Botanical Garden Rail Road”. Aliás a própria Companhia teve seu escritório central nosobrado da Confeitaria, de 1869 a 1880.

Onde era sua casa, surgiu nos primeiros anos da República uma fábrica detecidos, a “São Félix”, depois rebatizada para “Cotonifício Gávea”. Essa fábrica, bemcomo outras duas que existiam nas ruas Jardim Botânico e Dona Castorina, entraram nagreve geral de 1918, provocada por melhores salários pelos imigrantes anarquistasitalianos. Durante anos suas vilas ficaram conhecidas como “Gávea Vermelha”, sendo,portanto, uma ironia o bairro que foi dos mais fidalgos do Império tornar-se-ia bairrooperário na República. Essa fábrica foi motivo de duas vilas operárias no local(a famosa“Gávea Vermelha”): a já citada “Orsina da Fonseca”, na Praça Santos Dumont, maschegando até a fábrica pela rua das Acácias; e outra mais adiante, hoje incorporada ao“Campus da PUC”. Depois de demolida, em seus terrenos foi aberta em 1982 a ruaProfessor Manuel Ferreira.

No 33/35(hoje ?), morou o Conselheiro de Estado, Senador e Ministro do Impérioem 1875/77, Dr. José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, Visconde com Grandeza deBom Conselho(1808-1891). Formado em direito, foi professor catedrático, DeputadoGeral por Pernambuco e Senador pela mesma Província. Presidiu as províncias deMinas Gerais em 1861/62, Pará, Alagoas e Pernambuco. Benfeitor do Liceu de Artes eOfícios. O Imperador D. Pedro II não deixava de visitá-lo com freqüência em sua casa.

No 39(hoje ?), morou o Visconde de Ouro Preto, o mineiro Dr. Afonso Celso deAssis Figueiredo(1837-1912), Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,historiador de mérito, considerado o maior gênio das finanças no Império, Ministro daMarinha em 1866/68 e Fazenda em 1879/80, último Presidente do Conselho deMinistros do Imperador D. Pedro II, em 1889. Formado em Direito, foi Deputado porMinas Gerais e Senador pela mesma Província em 1879. Era Membro do Conselho deEstado do Imperador. Depois da República, funcionou em sua casa um clube e teatro, o“Clube Dramático da Gávea”, mais conhecido como “Clube da Gávea”, ponto deencontro de políticos nos idos de 1891/5, animado pelo pai do pintor acadêmico Navarroda Costa e tendo como “ponto” o futuro Senador Antônio Azeredo. Já o teatro, vulgo“teatrinho da Gávea”. Durou até 1913.

No 51(hoje inexistente), morou o Conselheiro e Senador Joaquim AntãoFernandes Leão (1809-1887), nascido em Minas Gerais, foi Ministro da Marinha em1848, acumulando conjuntamente a pasta da Guerra, e Ministro da Agricultura,Comércio e Obras Públicas em 1863/69. Onde eram suas terras, está a rua Vice-Governador Rubens Berardo, aberta em 1955.

PLANETÁRIONo 65(hoje inexistente), morou e veio a falecer o Barão de Angra, o lisboeta

Almirante Elysiário Antônio dos Santos(1806-1883). Como militar, ingressou na Marinhaem 1822, participou das campanhas da “Cisplatina” (1822/26), “Cabanada”(1836),“Praieira”(1848), e foi herói na “Guerra do Paraguai” (1864-1870). Foi também chefe doEstado Maior da Armada e Diretor da “Estrada de Ferro D. Pedro II”. Reformou-se em1880. Onde era sua chácara estão hoje os fundos do “Planetário da Gávea”, inauguradoem 1970 pelo Governador do Estado da Guanabara Francisco Negrão de Lima. Oprédio, de linhas arrojadas, foi projetado pelos arquitetos Renato(1941) e Ricardo

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Batalha Menescal(1931). Seu projetor, um “Zeiss Jena Spacemaster”, fabricado naAlemanha, era à época, o mais moderno do mundo. Em fins dos anos noventa oGovernador Garotinho ampliou as instalações da agora “Fundação Planetário”, cujaentrada é pela Padre Leonel Franca, 240.

PUC E ARREDORES - MÉDIO GÁVEAAté aqui era o que modernamente se denomina “Baixo-Gávea”. Da “PUC” até

dois quarteirões seguintes convencionou-se denominar “Médio-Gávea”. No século XIX,o “Médio-Gávea” era denominado de “Olaria”, pois funcionava uma onde hoje está a“PUC”. Essa olaria existiu até o princípio do século XX. Até época recente, o início do“Médio-Gávea” era marcado pela “Padaria Hollanda”, a primeira do bairro, inauguradaainda no princípio do século XX e que durou até anos sessenta. Hoje alí funciona umarepartição dos correios.

No 75(hoje seria o 225, incorporado ao “Campus da PUC”), eram as casas de Da.Henriqueta Causa. Numa delas morou depois de 1878 e alí faleceu, o AlmiranteJoaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré(1807-1897), Comandante em Chefeda Esquadra do Brasil na “Guerra do Paraguai” (1864-1870), Membro do ConselhoNaval, Ajudante de Campo do Imperador D. Pedro II e, finalmente, “Patrono da Marinhado Brasil”. Já na década de 1920, surgiu nesse local uma vila de casas, das quaisalgumas sobrevivem.

No 79( depois 233 e hoje 263), há mais história. Era onde existia a casa doprimeiro sesmeiro, André de Leão, depois foi de sua viúva, Da. Felipa Gomes, e aindadepois a Martim Barbosa e Pantaleão de Oliveira. Cento e cinqüenta anos depois, defins do século XVIII até 1809 pertenceu a chácara a um famoso traficante de escravos,Nunes Vidigal, irmão do Major Vidigal, Chefe de Polícia de D. João VI. Contava umalenda existir enorme túnel que ligava a “Praia do Vidigal”, no Leblon, também suapropriedade, até sua chácara, túnel esse aberto para facilitar a passagem de escravosvindos da África. De 1809 a 1828 a chácara pertenceu ao português Antônio Pereira.Em 1828, adquire a propriedade o arquiteto neoclássico francês Auguste Henry VictorGrandjean de Montigny (1776-1850), que ali passou a viver e onde montou uma olaria.Até 1828 era a chácara de Grandjean a maior da rua. Excetuando a casa do Sr.Caetano da Silva, que era onde em 1852 foi iniciada a igreja, nenhuma outra existia nolado ímpar até a chácara de Grandjean. Aliás, tal chácara ia do começo da rua até o“Largo da Memória”, no Leblon. Grandjean, premido por dívidas pessoais após havererguido seu solar, tentou sorteá-lo numa loteria mal sucedida. Após este contratempo,não teve opção senão lotear boa parte de suas terras, surgindo daí todo o lado ímpar darua, desde a igreja até os limites atuais da “PUC”. Mesmo despojada de suas terras, a“PUC” ainda possui 80.000m2 de campus. Seu sóbrio casarão neoclássico com varandaperistilada, erguido nessa época, mas aproveitando o sólido alicerce da casa de Andréde Leão, foi depois de 1856 vendido pela viúva Da. Luíza Francisca Ramos PanascoGrandjean para o Sr. Antônio Rodrigues de Faria, que a revendeu em 1867 à Da.Felicidade Perpétua de Jesus. Ela a alugou ao mineiro e Senador por Minas Gerais, oConselheiro de Estado Lafaiette Rodrigues Pereira(1831-1917), o mesmo que, apósassinar o manifesto republicano de Itú, em 1870, e de criticar as instituiçõesmonárquicas, foi nomeado ainda assim Presidente do Conselho de Ministros doImperador D. Pedro II em 1883/84! Antes já havia sido Ministro da Justiça em 1879/80 eda Fazenda em 1883/84, acumulando com a Presidência. Lafaiette foi membro, desde1908, da “Academia Brasileira de Letras”, ocupando a cadeira no. 53, que fôra deMachado de Assis. Depois da República, Lafaiette mudou-se para Botafogo e a casa foivendida ao Sr. Manuel de Freitas Lima Guimarães e por sua filha ao Tenente Coronel

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Joaquim da Silva Ramos. Tombada em 1938, suas filhas Júlia e Maria Ramos avenderam aos padres jesuítas, para instalar-se nela em 1949, por iniciativa do PadreLeonel Franca a “Pontifícia Universidade Católica”(ao contrário de Lafaiette, a “PUC”nasceu em Botafogo, na rua São Clemente), da qual o velho casarão de Grandjean deMontigny, relíquia do bairro e hoje restaurado, é desde 1980 centro cultural da “PUC”.

Os prédios da “PUC” foram projetados em 1949 pelo arquiteto Edgard de Oliveirada Fonseca, os primeiros edifícios modernos no bairro.

MINHOCÃO DA GÁVEAUm pouco antes, na entrada da “PUC”, foi criado pelo prefeito Henrique

Dodsworth ainda em 1942 o famoso “Parque Proletário da Gávea”, que ganhoucontornos definitivos em 1952/54, quando se ergueu o prédio do “minhocão”, projetadopelo arquiteto carioca Affonso Eduardo Reidy(1909-1964); e destinado a receber asfamílias de 4.900 favelados que habitavam em 1950 a extinta “Favela do Capinzal”,onde hoje existem os fundos da rua Artur Araripe. Esse “minhocão” foi mutilado em1981/2 para por ele passar o acesso da auto-estrada “Lagoa-Barra”, haja vista a “PUC”tê-lo negado.

A av. Padre Leonel Franca surgiu à partir de 1935, quando se traçou umaavenida começando na Praça Sibelius, com 180m, paralela à rua Marquês de SãoVicente. Em 1945 melhoraram o projeto, dando um sentido à via, que passava a ser oprimeiro estágio da futura ligação “Lagoa-Barra”. Entretanto, somente em 1972 foiaberta até a “PUC”, com o asfalto indo até o Planetário. Dez anos depois foi asfaltadaaté a boca do túnel Dois Irmãos.

O terreno 287 foi comprado em 1919 pelo Presidente Epitácio da Silva Pessôapara que sua esposa, Da. Mary alí instalasse uma clínica de repouso. Desistiram poisconseguiram terreno melhor adiante, como se dirá.

No antigo 81(1879) e hoje incorporado à área da “PUC”, era a chácara de JohnSteele, um dos fundadores, em 1886, da “Fábrica de Tecidos Carioca”, na Estrada DonaCastorina, no Jardim Botânico. Já no século XX, e com o no. 325, ainda existia ocasarão, reformado em 1935 pelo arquiteto Paulo Pires para assemelhar-se a umcastelo medieval. Foi residência por anos da família Matin A. Koch. Ainda está de pé.

ALTO GÁVEA - LADO ÍMPAREm 1809, o terreno hoje defronte à rua Piratininga era ocupado pela chácara do

Vigário da Freguesia de Santa Rita. Em 1878, e já numerado como 83 era residência deSabino Eloy Pessôa. Sua casa, hoje com o número 331, abriga o “Colégio Teresiano”.Parte de seu terreno foi desapropriado em 1930 para nele surgir a rua Madre Jacinta.Em verdade, o terreno dessa chácara, muito extenso, deu origem a vários loteamentos.

Uma outra fatia, no século XX numerado como 389, e sediando o “Sanatório daImaculada”, guarda preciosa relíquia ecológica: um gigantesco Jequitibá Rosa com maisde duzentos anos de idade, a árvore mais antiga do bairro, tombada em 1987 peloPrefeito Saturnino Braga.

No antigo 85, depois 97 e hoje 441, ficava um enorme sobradão, velha sede dechácara, que foi residência de Antônio de Pádua e Silva, Diretor em 1854 da empresade diligências “Sociedade Lagoense”. Pádua e Silva, junto com o Capitão Vitorino doAmaral, ajudou a construir a Igreja Matriz da Gávea. Parte de suas terras foi loteada em1956, surgindo daí as ruas Mary Pessôa, Graça Couto e Alexandre Stockler. Esteúltimo, era médico famoso e clinicou na Gávea no princípio do século, sendo muitopopular.

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Essa chácara, pertenceu depois ao Sr. Alfredo Camilo de Valdetaro. Ao morrer,seus herdeiros venderam-na em 1919 para a esposa do Presidente Epitácio da SilvaPessôa, Da. Mary Sayão da Silva Pessôa, que nela fundou no mesmo ano a “Casa deSaúde Santa Inês”, casa de repouso para pessoas necessitadas e um pensionato.Originalmente com entrada pela Marquês de São Vicente no. 441, à partir de 1956 teveseu terreno cortado, passando a entrada a ser feita pela rua Mary Pessôa, 91. A belacapela, projetada pelo engenheiro Eduardo Pederneiras, ainda está lá. Aliás, suaesposa, Da. Laura Pederneiras, foi uma das fundadoras e dirigiu por muitos anos oestabelecimento. O terreno sofreu outro corte em 1967, sendo a casa principal, que eraa residência de Valdetaro, restaurada pelo engenheiro José Pereira da Graça Couto, foiparcialmente demolida pelas obras do túnel Zuzu Angel.

TÚNEL ZUZU ANGELAliás, o nome antigo do túnel era “Dois Irmãos”, haja vista que fura o morro deste

nome, mas foi rebatizado recentemente com a denominação atual haja vista ter sido emseu acesso assassinada por abalroamento criminoso de seu carro pelos policiaismilitares a famosa estilista Zuzu Angel Jones, então em campanha pela soltura de seufilho, o preso político Stuart Angel Jones.

O dito túnel “Dois Irmãos” foi efetivamente inaugurado em 1971 e mudou toda avida da Gávea, que passou de bairro residencial isolado, fim de linha, a local depassagem para a Barra da Tijuca, causando a descaracterização total do bairro pelaespeculação imobiliária, que em poucos anos substituiu os casarões centenários porprédios altos. Isso motivou muitos protestos dos moradores nos anos 70, que deramorigem a movimentos sociais urbanos contra a especulação que tomava o bairro. Édessa época a “AMA - Gávea”.

Outra fatia do terreno da Santa Inês depois virou o no. 449, mas por poucotempo. Desapropriado em 1937, deu origem à rua Engenheiro Mário Machado e PraçaAugusto de Lima, ambas cortadas em 1967 pelo túnel “Dois Irmãos”.

Depois de loteado todo o terreno cortado da “Casa de Saúde Santa Inês”,surgiram muitas casas no local. A mais criativa é a de no. 483, igualmente numeradapela Estrada da Gávea 1, residência moderna erguida nos anos 50 pelo arquitetoÂngelo Alberto Murgel para a família Lins e Silva, onde funciona desde 1970 a “EscolaParque”.

ESTRADA DA GÁVEAA Estrada da Gávea já existia desde 1767, ou mesmo até antes, sendo

denominada em 1878 como “Caminho que ia para a Praia da Gávea”. Foi melhoradaem 1916 pelo Comendador Conrado Jacob de Niemeyer, ganhando o nome atual em1917, quando incorporou parte da Marquês de São Vicente. Seu primeiro loteamentosurgiu em 1930, origem da rua Capuri. Hoje estaria mais urbanizada não fosse ocrescimento desordenado da “Favela da Rocinha”, surgida em meados dos anos 30.

O 87 da Marquês de São Vicente era a chácara de Da. Eufemia Maria daConceição. Em 1940, essa chácara, agora já numerada pela Estrada da Gávea no 47,propriedade de Da. Alice Torres Valdetaro Perdigão, foi loteada, surgindo a rua Cedro.Nela, o arquiteto Carlos de Azevedo Leão fez erguer as belíssimas mansões dosmédicos Drs. Hélio Fraga e Jesse Teixeira, bem como o sobradão de João Proença.

O último número ímpar da Marquês de São Vicente era o 37(1850), chácara deDa. Vicência Caldas Vianna, irmã do Visconde de Pirapetinga, que morava em frente.Em 1878, foi demolida e renumerada para 47, depois 89 e, finalmente depois de 1917,

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Estrada da Gávea no. 149. Loteada em 1962, nela surgiu a rua São Boneto e a atual ruaSérgio Pôrto.

Ao lado dela, no 151, mas ainda em terras que foram de Da. Vicência, surgiu em1930 a “Casa de Saúde Gávea S/A”, ainda existente.

MARQUÊS DE SÃO VICENTE - BAIXO GÁVEA - LADO PARO lado par da rua Marquês de São Vicente era também muito interessante.Voltando ao Baixo-Gávea, no 4 era em 1879 a chácara do famoso médico e

Conselheiro do Imperador Dr. Manoel José de Oliveira Catta-Preta, fundador em 1874da “Casa de Saúde Dr. Catta-Preta, Marinho e Werneck”, na Praça XV, que funcionouaté no princípio do século XX no prédio do “Hotel Pharoux”, demolido já nos anos 50.Seu irmão, Luiz Eugênio Catta-Preta, foi Diretor da “Imprensa Nacional”. Mais ou menosonde existia sua chácara e já numerado como 52, ergueu-se, em meados dos anos 70,o “Shopping da Gávea”. Esse moderno centro de compras veio dar nova vida ao bairro,pois só de uma vez nele se instalou três teatros, os primeiros desde 1958: “ClaraNunes”(da própria cantora), “Vannucci”(do ator), ambos no 3o. andar, e o “Dos Quatro”,do ator Sérgio Britto(1923), no 2o. andar.

Um pouco depois, numa fatia da chácara de Catta-Preta, já numerada como 92,surgiu nos anos 40 uma pequena favela que chegou a possuir 765 moradores em 1950.Removida em 1951/52, hoje alí existe outro Shopping.

No 8(em 1879), depois 104 e 124, era no século XIX a chácara do advogado,Almirante e Embaixador Carlos Frederico Taylor, filho do Almirante John Taylor, herói da“Guerra da Independência”. Carlos Taylor foi co-fundador, juntamente com o Barão deDrummond em 1872, da “Companhia Ferro Carril Vila Isabel”. Foi também advogado da“Botanical Garden Rail Road”, de 1868 a 1871. Já no século XX, no lugar da chácara,abriu-se em 1954 a rua Embaixador Carlos Taylor. Nela, montou a primeira bela casa,projetada pelo arquiteto Carlos de Azevedo Leão, o Sr. Carlos Soares Brandão, neto doSenador por Pernambuco advogado e Conselheiro Francisco de Carvalho SoaresBrandão, Ministro dos Estrangeiros em 1885.

No. 18, residia em 1879 o empresário e Comendador Domingos Xavier da SilvaBraga, dono de fábrica de chapéus e um dos maiores acionistas das “Companhias deFerro Carril São Cristóvão” e “Jardim Botânico” em 1892. Seu irmão, Antônio C. daSilva Braga, era Provedor da “Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária”.

No 28, residia em 1878 o Sr. Alexandre Pereira de Faria, cujo irmão eraConselheiro do Imperador e Diretor da “Companhia de Transportes Marítimos” em 1876,Dr. Joaquim Pereira de Faria. Num dos lotes resultantes do retalhamento de suachácara, surgiu, em 1955, a primeira casa noturna do bairro, uma ousadia incrível paraum reduto tipicamente residencial: a “Boite Monte Carlo”, do produtor Carlos Machado,numerada pela Marquês de São Vicente, 200. Com shows de “vedetes” escritos porSilveira Sampaio, Teófilo de Vasconcelos e até Antônio Maria, a “Monte Carlo”protagonizou um dos maiores escândalos no ano de 1958, quando o famoso jóqueicampeão, o chileno naturalizado Luis Rigoni invadiu o camarim da casa de chibata emchiste assim que soube que sua amante, a vedete Rosinha Lorcal, estava nos braços doex-Ministro da Fazenda de Getúlio Vargas, Dr. Napoleão de Alencastro Guimarães. Anotícia era verdadeira e Napoleão saiu às carreiras. Hoje no 200 existe um pacatosobrado.

MARQUÊS DE SÃO VICENTE - MÉDIO GÁVEA - LADO PARTodo o “Médio Gávea”, correspondendo às atuais ruas João Borges, Duque

Estrada, Frederico Eyer e parte da Piratininga eram, em 1809, parte da chácara de Da.

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Josefa Mineiro. Seus herdeiros a venderam à Da. Felicidade Perpétua de Jesus, e estaao médico Dr. Domingos de Azeredo Coutinho Duque Estrada, que vem citado adiante.Em 1925/26 foi loteada, nela surgiu as ruas João Borges, FredericoEyer(prolongamento), Piratininga e Duque Estrada(prolongamento da rua Franco).

Numa casa modesta da rua Frederico Eyer, nasceu e morou por muitos anos odiplomata, poeta e compositor Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes, vulgo Viníciusde Moraes(1913-1983).

Em 1878, no 34(hoje 224), já no “Médio-Gávea”, existia a estação de bondes da“Botanical Garden Rail Road”, inaugurada em 1874 e cujos bondes faziam a linha doLargo da Carioca até a Marquês de São Vicente em apenas 63 minutos em 1906! E olhaque o bonde ainda dois anos antes era puxado a burros, vindos de Sorocaba, SP. Alinha foi solicitada pela população à companhia ainda em 1873, o que motivou aDiretoria a solicitar ao Govêrno Imperial a 1o. de abril sua extensão. Em outubro domesmo ano foi reforçado o pedido e, sendo deferido, foi concluída a ampliação até“Olaria” a 15 de janeiro de 1874, sendo inaugurada a estação dia 17. Em dezembro de1883, prolongaram-na da “Olaria” até a “Ponte da Rainha”, no final da Marquês de SãoVicente, onde hoje é o princípio da rua Cedro. Em 12 de julho de 1887 foi feita umaexperiência com um bonde elétrico, movido a acumuladores “Julien”, na linha da Gávea.Nesse mesmo dia foi inaugurada a iluminação elétrica da estação, por meio de dozelâmpadas em arco voltaico, acesas por um desses acumuladores. A linha só foitotalmente foi eletrificada em 1904. Quanto à estação, resistiu até 1960 como uma lojade móveis e decorações. Hoje no local está um prédio de apartamentos.

Vale ressaltar que essa primeira iluminação elétrica, em 1887, foi feita não semprotestos da “Societé Anonime du Gaz”, que assinara com a municipalidade contrato noano anterior, privilegiando-a no fornecimento de iluminação à cidade. A coisa foiresolvida com diplomacia. Posteriormente a “Societé” implantaria a iluminação elétricapública, sendo que em 1907 iniciar-se-iam os serviços da “Light”, com a inauguração desua usina em “Ribeirão das Lages”. Só em 1907 surgiu iluminação domiciliar na cidade.

ESCOLA MUNICIPAL LUÍS DELFINOAo lado, no. 38(hoje 238), fazendo esquina com a antiga rua Franco, hoje rua

Duque Estrada, morou o médico Dr. Domingos de Azeredo Coutinho DuqueEstrada(1812-1900), um dos diretores da “Companhia Botanical Garden”, e igualmente,acionista da “Companhia de Carris São Cristóvão”. Duque Estrada também erarenomado médico homeopata, tendo sido um dos introdutores da homeopatia no Brasil,havendo sido em 1858 Diretor da “Enfermaria de Homeopatia do Hospital daPenitência”. Comendador e Conselheiro do Imperador D. Pedro II., era também“Provedor dos Socorros Públicos”. Ele havia fundado alí, em 1863, onde morava, umhospital homeopático denominado “Sanatório da Gávea”. Seu irmão, o engenheiroLeopoldo César de Andrade Duque Estrada, foi um dos presidentes da “JardimBotânico”.

Ao lado de onde era a estação dos bondes, em terreno que foi de Duque Estrada,hoje, funciona a “Escola Municipal Luís Delfino”. Dessa mesma escola, contam-semuitas histórias, mas a verdadeira é que o vigário da Igreja Matriz da Lagoa, organizouum leilão de prendas no “Largo das Três Vendas” em 1871, objetivando captar verbaspara edificação de uma escola primária na freguesia. Nesse mesmo ano, a “CompanhiaBotanical Garden Rail Road” estendia suas linhas do Humaitá até o “Largo das TrêsVendas”. Solicitou o vigário que a Companhia ajudasse a angariar verbas para aedificação da escola. O então Presidente da empresa, o engenheiro americano CharlesB. Greenough(1824-1880), não só aquiesceu, aumentando o número dos bondes em

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circulação no trecho durante o evento, como destinou parte da arrecadação daspassagens do trecho Jardim Botânico-Gávea para o empreendimento. Desde 1875 aCompanhia passou a dar passes gratuitos a todos os estudantes pobres dessa escola.Isso correspondia de 25.000 a 30.000 passes anuais. A “Escola Luís Delfino”, depois depronta, foi oferecida à “Câmara Municipal” pela Irmandade que mantinha a Igreja Matriz.

A Paróquia da Gávea ficou tão agradecida à Companhia, que, em sessãoocorrida no Consistório da Igreja a 12 de dezembro de 1885, foi a Diretoria da“Companhia Jardim Botânico”(tomou esse nome após sua nacionalização em 1883)aclamada como “Protetora da Capela de N. Sra. da Conceição”. O Presidente daCompanhia, João Ribeiro de Almeida, Barão Ribeiro de Almeida(1827-1908), aceitou ahomenagem e desde então a “Jardim Botânico” passou a apoiar todas as festaspromovidas pela Paróquia.

Em 1892 o Gerente da “Companhia Jardim Botânico”, o engenheiropernambucano José Cupertino Coelho Cintra, criou o “Expresso da Gávea”, que era umbonde rápido, só parando nas estações. A novidade durou pouco. Quanto à dita “EscolaLuís Delfino”, foi erguida em terreno cedido pelo Diretor Duque Estrada, desmembrando-o de terras que foram de seu “Sanatório da Gávea”. Em 1883/84, foi diretor dessaescola o Professor Edmundo da Costa, pai do cronista e historiador Luiz Edmundo.Duque Estrada, que também foi Vereador pela Câmara Municipal e um dos fundadores,em 1856, da “Sociedade Propagadora das Belas Artes”, era homem empreendedor, masnão foi modesto. Mandou arrancar as placas da rua Franco, colocando em seu lugaroutras com nome de rua Duque Estrada!

Aliás, a rua Franco, hoje Duque Estrada, fora aberta em 1875 nos terrenos dachácara de Da. Felicidade Perpétua de Jesus, uma latifundiária do bairro.

Perto da escola, em 1930, no número 250, foi instalado um posto policial, hojesubstituído por um prédio de apartamentos.

Números depois, onde existiram no século XX as casas 262 e 268, surgiu em1925 a rua João Borges, um dos donos do “Parque da Cidade”.

Como o clima da Gávea era propício a clínicas de repouso, nos anos 30 surgiu,no 316, o “Sanatório São Vicente”, especializado em casos nervosos e de intoxicação.Foram seus fundadores os médicos Drs. Genival Londres, cardiologista renomado(1899-197?) e Aluizio Marques. Logo depois venderam o terreno e a clínica mudou-se para arua João Borges 204.

Em 1939, os terrenos de no. 300 a 316, já de propriedade de Aurora LoboBarbosa e Wilhelm Brandt foram desapropriados para neles se abrir a rua Adolfo Lutz.Hoje, no que sobrou do 316, funciona o “Instituto Santa Lúcia”, fundado pelo finadomédico Dr. Guilherme Romano.

Logo depois era onde existia em 1809 a chácara de Antônio Maria de Jesus, paide Da. Felicidade Perpétua de Jesus, uma das latifundiárias da rua em fins do Império.Em 1930, já com o no. 328, foi nela aberta a rua Piratininga.

MARQUÊS DE SÃO VICENTE - ALTO GÁVEA - LADO PARJá no Alto Gávea, no 48(em 1879), morou o Dr. Daniel Arthur Horta O`Leary, que

em 1884 era Diretor e Guarda Livros da “Companhia de Barcas Ferry”. Já no século XX,quando possuía o no. 354 e pertencia à Sra. Nair Augusta de Magalhães, foidesapropriado, junto com o 430, para neles se abrir em 1944 a rua Raimundo deMagalhães.

No 50(depois 430), morou no fim do Império o famoso médico cirurgião, o cariocaBarão do Lavradio, Dr. José Pereira Rego(1816-1892), Conselheiro do Imperador paraassuntos de saúde, Médico da “Imperial Câmara”, Inspetor de Saúde nos Portos, Diretor

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do “Instituto Vacínico”, Vereador e Presidente Perpétuo da “Academia Imperial deMedicina”. Foi o pioneiro no uso de ambulâncias no Rio de Janeiro, possuindo uma frotade carruagens “Vitórias” adaptadas para esse uso. Era filho do português Visconde doLavradio, médico de D. João VI. Suas terras hoje são parcialmente ocupadas desde1944 pelas casas e terrenos da rua Raimundo de Magalhães. Uma parte final dachácara do Barão de Lavradio foi finalmente loteada em 1948, daí surgindo as ruaAntenor Rangel e Osório Duque Estrada.

No 56(1879), hoje 432, existiam um correr de chalés de aluguel do Sr. ManoelCarvalho de Araújo, dos quais ainda existe um, construído em 1881 e tombado pelamunicipalidade em 1987, na gestão Saturnino Braga.

No. 60(em 1879), morou o Conselheiro de Estado bacharel Manoel de JesusValdetaro, Intendente Geral de Polícia por três vezes, em 1842, 1844 e 1847.Presidente da Província do Rio de Janeiro. Elevado em 1889 à Visconde deValdetaro(1807-1897). Era neto do português de mesmo nome, bacharel e um dospovoadores do bairro do Catete em 1787, onde possuía chácara na qual, no século XIX,ergueu-se o Palácio do Catete. O irmão de Manoel, Alfredo Camilo, foi Presidente em1893/94 da “Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico”.

Ao lado, em 1809, existiam duas pequenas chácaras de Da. Maria Soares. Em1878, essas duas chácaras, refundidas e já numeradas como 62, morava Bento JoséFernandes, que junto com seu irmão José, eram donos em 1890 da firma “Fernandes &Irmão”, na rua Humaitá, 55, onde fabricavam e consertavam carruagens.

INSTITUTO MOREIRA SALLES - RUA MARQUÊS DE SÃO VICENTENuma fração de suas terras, e já numerado como 476, surgiu em 1951 a

magnífica mansão moderna do embaixador e banqueiro Walter Moreira Salles, projetadapara sua família pelo arquiteto carioca Olavo Redig de Campos(1906-1984). Encravadaem 10.000 m2 de jardins projetados por Roberto Burle Marx(1909-1994), que tambémconcebeu os imensos painéis de azulejos do pátio, jardim ornado com escultura artísticade Maria Martins e, enquanto residência, possuidora de notável pinacoteca ondeexistiam telas de Marc Chagall, Renoir, Van Gog, Matisse e Portinari; a mansão Sallesfoi residência familiar por quase quarenta anos. Em 1999, foi convertida na sede cariocado “Instituto Moreira Salles”, ainda presidido por seu patriarca, dirigida por seus filhos epor um conselho diretor. Um de seus filhos, João Moreira Salles, banqueiro, nela residiumuitos anos e, durante a década de setenta, foi considerado um dos homens mais ricosdo Brasil, como seu pai já o fôra nas duas décadas anteriores. Hoje, o casarão,convertido em centro cultural especializado em iconografia antiga brasileira, guardaimensa coleção de aquarelas e desenhos de artistas europeus que retrataram o Brasildo século XIX, bem como muitas fotografias antigas adquiridas do colecionador GilbertoFerrez, neto do fotógrafo Marc Ferrez, dum período que vai de 1862 a 1927.

PARQUE DA CIDADE - ESTRADA SANTA MARINHA S/NO.No 64, hoje Estrada Santa Marinha s/no., morou no século XVIII a Sra. Catarina

de Sene, a qual, após sua morte, seus herdeiros venderam sua magnífica chácara aodiplomata, Barão de Penedo, médico e embaixador Dr. Francisco Inácio de CarvalhoMoreira (1815-1906). Formado em Direito, foi Doutor pela Universidade de Oxford,Deputado por Alagoas, Embaixador em Washington em 1853 e Ministro Plenipotenciárioem Londres em 1888. Foi quem cuidou dos interesses do Império em 1875 junto aoPapa Pio IX, durante a “Questão Religiosa”, entre a Igreja Católica e a Maçonariabrasileira. Foi Veador da Imperatriz e Membro do Conselho de Estado.

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O Barão não ficou muito tempo com a casa, e logo a revendeu ao tambémdiplomata, Senador, Conselheiro, Ministro da Justiça em 1848, Estrangeiros em 1848 e1870/71 e Presidente do Conselho de Ministros em 1870/71, Dr. José Antônio PimentaBueno, Marquês de São Vicente(1803-1878). Formado em Direito, foi juiz de fora e juizda alfândega de Santos. Presidente do Tribunal de Justiça, além de Presidente dasprovíncias de Mato Grosso e do Rio Grande do Sul e Cônsul Geral do Brasil noParaguai em 1843/44 e 1850. Após sua morte, a Marquesa de São Vicente(1813-1883)residiu na casa mais alguns anos.

ANTÔNIO TEIXEIRA RODRIGUES - DADOS BIOGRÁFICOSDepois de sua morte, sua belíssima chácara foi adquirida dos herdeiros em 1887

pelo empreiteiro português Antônio Teixeira Rodrigues, que, apesar de ter vindo dePortugal semi-alfabetizado, estudou no Instituto de Belas Artes e obteve por seusméritos o título de Conde de Santa Marinha(1830?-1900). O Conde forneceu as pedraspara o “Palacete da Ilha Fiscal”, hoje um museu (1881/89); “Alfândega”, hoje “EspaçoCultural da Marinha”, no Centro(1880); Igreja de N. Sra. de Copacabana, no Posto VI(demolida, 1885/87); Igreja da Imaculada Conceição, na Praia de Botafogo (1868/81);Igreja de São João Batista, na rua Voluntários da Pátria(1871/74); Igreja do SagradoCoração de Jesus, no Catete(1879); “Banco Hipotecário”, hoje “Procuradoria Geral doEstado”, na rua Dom Manuel(1861); pórtico do “Cemitério de São João Batista”, emBotafogo(1859); “Asilo Gonçalves de Araújo”, em São Cristóvão (1897); “ImprensaNacional”, no Largo da Carioca (demolida, 1877/79); “Praça do Comércio”, hoje “CentroCultural do Banco do Brasil”, na rua Primeiro de Março, 66(1882/1900); “Fortaleza daLage”, na Baía de Guanabara(1896/99); “Forte do Imbuí”, em Jurujuba, Niterói(1896/99); “Lazareto”, na Ilha Grande(1885); e outros. Faleceu em 1900. Sua chácara foidepois vendida ao Sr. João Vieira da Silva Borges, sendo legada em testamento ao Sr.João Carvalho Macedo, cuja esposa, Da. Tereza, edificou ao lado da casa principal abela capelinha de São Sebastião, onde mandava rezar missa aos domingos e feriados.O Sr. João Borges era figura importante, tanto que, em suas terras, surgiu em 1931 a“Estrada João Borges”, rebatizada depois para Estrada Santa Marinha. Depois de 1931a propriedade foi vendida à família de Guilherme Guinle, a qual, por sua vez, a revendeuà Prefeitura em 1938, tendo sediado na casa grande a municipalidade carioca de 1942 a1948.

Nela igualmente passou a funcionar o “Museu Histórico da Cidade”, de 1941 a1942, e de 1948 até nossos dias. Os jardins, que ocupam a considerável extensão decerca de 57.000m2, foram recuperados em 1948 pelo paisagista Roberto BurleMarx(1909-1994). Nos anos 60, surgiu nas proximidades uma favela denominada“Parque da Cidade”, que em 1969 possuía 300 barracos. Hoje é parte da “Rocinha”.

MUSEU HISTÓRICO DA CIDADEJá o “Museu Histórico da Cidade”, teve vida atribulada.Criado por decreto municipal em 1891, só efetivamente saiu do papel em 1934

pela iniciativa do Prefeito Pedro Ernesto. Funcionou desde sua origem, em prédioadaptado no Campo de Sant`Ana. De 1942 a 1948 funcionou em prédio escolar sito áPraça Cardeal Arcoverde, em Copacabana. Depois de 1948, na Gávea, encontrou a pazpor alguns anos. Fechado em 1968, reabriu dois anos depois. Fechado novamente em1985, só foi reaberto em 1996, então cedido pelo Estado em regime de comodato àPrefeitura. Seu imenso acêrvo, valioso repositório de quatro séculos de história dacidade, foi desmembrado, indo peças para o “Museu dos Teatros”, em Botafogo; “Museu

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do Primeiro Reinado”, em São Cristóvão; “Museu do Palácio do Ingá”, em Niterói; eoutros. É como se vê, um museu itinerante.

O penúltimo morador da rua, na chácara no. 66, era o campista Sr. João CaldasVianna Filho, Moço Fidalgo e Cavalheiro da Casa Imperial, Visconde de Pirapetinga(1837-1895), dono de engenhos em Campos e filho do 5o. Presidente da Província doRio de Janeiro (1838 e 1843/44), o Comendador e Deputado campista João CaldasVianna. Onde existiu sua chácara foi aberta em 1945 a rua Tenente Francisco Mega,depois ligada à Estrada de Santa Marinha e em parte tomada pela favela(hoje bairro) da“Rocinha”.

No 70, era em 1879 a chácara do Sr. Francisco Luiz da Gama Rosa. Hoje, suasterras estão igualmente tomadas pela “Favela da Rocinha”.

Na virada do século, médicos famosos clinicaram na rua Marquês de SãoVicente. Um deles foi o Dr. José Murtinho (1850-1912), homeopata, grande acionista ePresidente (1883) da “Companhia Ferro Carril Carioca”, de Santa Teresa, irmão doigualmente médico homeopata e engenheiro Joaquim Murtinho (1846-1911), Ministro daFazenda de Campos Sales (1898-1902), e também Presidente da dita “CompanhiaFerro Carril Carioca” (1893-1906).

Dos últimos moradores ilustres que me lembro, vale ressaltar que na Marquês deSão Vicente, em casa modesta no Alto Gávea, morou no fim da vida e alí faleceu oMarechal Pedro Aurélio de Góes Monteiro (1889-1956), alagoano, Ministro do Exércitode Getúlio Vargas em 1934/35 e 1945/46, e Chefe de seu Estado Maior por muitosanos, em 1935/45 e em 1951/54.

Já no século XX, depois da Abolição da Escravatura e da República, o único solarque ainda manteve algum esplendor das festas dos tempos imperiais foi o de Da.Germana Barbosa, na Rua Marquês de São Vicente, já demolido.

GRANDE PRÊMIO CIDADE DO RIO DE JANEIRO (CIRCUITO DA GÁVEA)Em 1933, a pacífica rua Marquês de São Vicente tornou-se pista de partida para

o famoso “Circuito da Gávea”, corrida de carros de fórmula livre.A idéia partiu no ano anterior do empresário cinematográfico e teatral Francisco

Serrador, que logo contou com a adesão de automobilistas como Manoel de Tefé, IrineuCorrêa, Rubens Abrunhosa, Chico Landi e o português Fernandes Silva. Comprou aidéia e a desenvolveu o Dr. Lourival Fontes, Chefe do “Departamento de Turismo eCertames” da Prefeitura; e do “Automóvel Club do Brasil”. Denominado oficialmente“Grande Prêmio Cidade do Rio de Janeiro”, foi realizado pela primeira vez no dia 08 deoutubro de 1933, sagrando-se vencedor Manoel de Tefé, numa “Alfa-Romeo”, que fez opercurso em 3h19`24``, desenvolvendo a impressionante (para a época) velocidademédia de 67,15 km por hora. Seguram-se-lhe Primo Fioresti(Ford), Nino Crespi(Bugatti),E. MacCarthy(Chrysler) e Vittorio Coppoli(Bugatti). Manoel de Tefé recebeu comoprêmio, a fantástica soma de 25 contos de réis.

O roteiro era complicado e perigoso.A largada era, a princípio, no fim da Avenida Visconde de Albuquerque, em frente

ao antigo “Hotel Leblon”. Os carros iam em direção à Avenida Niemeyer, passavam pela“Gruta da Imprensa”, subiam a “Rocinha” e desciam pela Rua Marquês de São Vicente,calçada a paralelepípedos e com trilhos de bonde, terminando após vinte voltas (223, 2km) no ponto de partida. Depois, a largada passou a ser na Rua Marquês de SãoVicente.

Partia da Marquês de São Vicente, ia pela Visconde de Albuquerque, no Leblon,pegava a Av. Niemeyer, de lá subia pela Estrada da Gávea até a Marquês de SãoVicente novamente. Nalguns anos inverteram esse percurso. Repetia-se esse roteiro

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vinte e cinco vezes, totalizando 279 quilômetros. Era, portanto, um circuito que exigiaextrema resistência do piloto e da máquina. O trecho mais perigoso do circuito era o“Trampolim do Diabo”, cheio de curvas, compreendido hoje pelo início da Estrada daGávea, onde havia a famosa “Curva em S”.

O mais grave acidente do “Circuito da Gávea” ocorreu em 1937 com IrineuCorrêa, o grande vencedor de 1934. Ao largar, logo na primeira volta, seu carro Ford-35subiu ao meio-fio numa curva em frente ao “Jocquei Clube”, bateu numa árvore, sendoIrineu retirado das ferragens já morto. Antes disso, em 1934, também morrera NinoCrespi, quando sua barata foi de encontro a um poste na Rua Marquês de São Vicente.

Naqueles tempos, os corredores participavam das corridas por amor ao esporte.Os carros não tinham a segurança dos de hoje e os corredores não usavam capacete. O“Circuito da Gávea” era sempre um dia de festa. Os próprios corredores iam demadrugada preparar a pista, colocando sacos de areia nos pontos mais perigosos.

Havia até uma corredora, a francesa Helenice, uma das primeiras mulheres apilotar uma barata de corrida. Fez sucesso, não tanto pela sua perícia ao volante, maspelas fotografias que tirava na praia do Leblon num maiô de duas peças e fumandocigarro...

Tais corridas passaram a ser realizadas regularmente em junho, todos os anos,somando os prêmios a polpuda quantia de cem contos de réis.

Duraram até 1954, tornando famosos nomes como os do italiano CarloPintacuda(que venceu em 1937), o argentino Juan Manuel Fangio, que disputou em1952, só conseguiu completar duas voltas; e os brasileiros Irineu Corrêa(venceu em1934), e Chico Landi(1907-1987), vencedor dos prêmios de 1938, 1941 e 1947. Dequebra, Chico venceu o “Grande Prêmio de Bari”, em 1948. O maior duelo ocorreu em1937, entre o alemão Von Stuck, com sua “Auto-Union”, e o italiano Carlo Pintacuda,que acabou vencendo. O último grande vencedor foi o Barão Graffenried, com suaMasseratti, em 1953.

O “Circuito da Gávea acabou em 1954, substituído pelo automobilismoprofissional da “Fórmula Um”. Não existia mais espaço para o romantismo nascorridas...

ARQUITETURA MODERNA NA GÁVEAFoi o bairro da Gávea foi o segundo do Rio depois de Copacabana a ter obras de

arquitetura moderna. Já em 1933, os arquitetos Lúcio Costa(1902-1998) e GregoriWarchavchik(1896-1962) ergueram no Alto Gávea a residência Duarte Coelho, jádemolida. Jorge Machado Moreira(1904-1988) ergueria outra casa moderna na Marquêsde São Vicente em 1936 e, sete anos depois, Oscar Niemeyer(1907) levantaria tambémno “Alto Gávea” a residência Prudente de Morais Neto(1905-1989), originalmentepensada para a Pampulha, em Belo Horizonte, mas executada no Rio. Está de pé.

Tornou-se a Gávea no século XX bairro de conteúdo social heterogêneo, comconcentração de classes(A, B e C) em respectivos sítios(alto, médio e baixo Gávea), eno presente momento, passa por grandes transformações.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA SOBRE A GÁVEA01)- Abreu, Maurício de A .; Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, JorgeZahar Editor, 1987, il.02)- Bandeira, Manuel; e Andrade, Carlos Drummond; O Rio de Janeiro em Prosa eVerso. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editôra, 1965, il.03)- Belchior, Elísio de Oliveira; Conquistadores e Povoadores do Rio de Janeiro. Rio deJaneiro, Livr. Brasiliana Edit., Coleção Vieira Fazenda, 1965.

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