young, c. e. f. (coord.)

448
Projeto PNUD BRA/11/022 Suporte Técnico ao Processo Preparatório da Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio +20 e desenvolvimento de seus resultados Estudos e produção de subsídios técnicos para a construção de uma Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Relatório Final 2016

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Page 1: YOUNG, C. E. F. (coord.)

Projeto PNUD BRA/11/022 – Suporte Técnico ao Processo Preparatório da

Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

Rio +20 e desenvolvimento de seus resultados

Estudos e produção de subsídios técnicos

para a construção de uma Política Nacional de

Pagamento por Serviços Ambientais.

Relatório Final

2016

Page 2: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

2

ESTUDO Estudos e produção de subsídios técnicos para a construção de uma

Política Nacional de Pagamento por Serviços

APOIO Ministério do Meio Ambiente - MMA

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD

Fundação COPPETEC

Instituto de Economia - Univ. Federal do Rio de Janeiro - IE/UFRJ

PROJETO PNUD BRA/11/022 – Suporte Técnico ao Processo Preparatório da

Conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio

+20 e desenvolvimento de seus resultados

COORDENAÇÃO Carlos Eduardo Frickmann Young

VICE-COORDENAÇÃO Biancca Scarpeline de Castro

EQUIPE DO GRUPO DE ECONOMIA DO MEIO AMBIENTE - GEMA IE/UFRJ

Carlos Eduardo Frickmann Young, Biancca Scarpeline de Castro, Rudi Rocha de

Castro, André Albuquerque Sant'Anna, Jaime Andres Erazo Moreno, Monica

Buckmann, Leonardo Barcellos de Bakker, Marcio Alvarenga Junior, Vanessa

Pereira, Camilla Aguiar, Luiz Tornaghi, Daniel Sander Costa, Marcos Pires Mendes,

Lucas Nogueira de Almeida da Costa, Daniel Magalhães Almeida.

AVISO O conteúdo apresentado neste estudo é de responsabilidade da equipe da

equipe do GEMA IE-UFRJ, e não representa necessariamente a posição oficial do

MMA e do PNUD sobre o tema.

CITAR COMO: YOUNG, C. E. F. (coord.). Estudos e produção de subsídios

técnicos para a construção de uma Política Nacional de Pagamento por Serviços.

Relatório Final. Instituto de Economia, UFRJ, Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 93.

2016.

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3

Sumário

1. Introdução .............................................................................................. 8

2. Histórico do projeto ............................................................................. 10

3. Custos associados à conservação e recuperação florestal .................... 14

4. Benefícios ambientais .......................................................................... 23

4.1. Conservação de carbono florestal ....................................................... 23

4.2. Redução de emissões de metano (CH4) por intensificação da pecuária

............................................................................................................................... 40

4.3. Erosão Evitada .................................................................................... 43

4.4. Biodiversidade .................................................................................... 45

5. Fontes de financiamento ...................................................................... 52

6. Considerações finais ............................................................................ 58

7. Bibliografia .......................................................................................... 63

APÊNDICE A - Curva de oferta de conservação ...................................................... 93

APÊNDICE B - Benefícios Ambientais .................................................................. 168

APÊNDICE C - Fontes de financiamento para PSA ............................................... 303

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4

Sumário Mapas

Mapa 1 Custo de Oportunidade da Terra em R$/hectare/ano, a preços de 2013 –

média dos modelos propostos .................................................................................... 16

Mapa 2 Passivo ambiental após a revisão do Novo Código Florestal .............. 18

Mapa 3 Custos de recuperação florestal por hectare, manutenção para 3 anos,

com densidades baixas de mudas e preço baixo (sem custos de transporte e

administração), em R$ de 2013. ................................................................................ 19

Mapa 4 Remanescentes de ecossistemas naturais em % da área total, por

município. ...............................................................................................................24

Mapa 5 Distribuição espacial do desmatamento evitado (abaixo da mediana) e

residual (acima da mediana) no período 2016-2030 .................................................. 27

Mapa 6 Preço mínimo da tonelada de CO2.eq que induziria a manutenção dos

estoques de carbono florestal, Modelo SISGEMA, R$ de 2013................................ 30

Mapa 7 Distribuição espacial do desmatamento evitado (abaixo da mediana) e

residual (acima da mediana) no período 2016-2030 .................................................. 34

Mapa 8 Preço mínimo da tonelada de CO2.eq que induziria a manutenção dos

estoques de carbono florestal, Modelo baseado na plataforma Dinamica EGO, R$ de

2013 ...............................................................................................................36

Mapa 9 Evolução Espacial da Emissão de Metano (CH4) por fermentação

entérica pela área do município – 2000-2013. ........................................................... 41

Mapa 10 Metano evitado por hectare de área de intensificação do rebanho ...... 43

Mapa 11 Perda anual média de solo, em t ha–1

ano–1

.......................................... 44

Mapa 12 Distribuição das áreas consideradas mais prioritárias em termos de

urgência de ações de acordo o custo de oportunidade da terra .................................. 46

Mapa 13 Áreas de Muito Alta e Extremamente Alta importância Biológica por

custo de oportunidade (em Quartis) ........................................................................... 47

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5

Mapa 14 Municípios de baixo custo de oportunidade (1. e 2. Quartil) e seus

respectivos remanescentes por ecorregião (%) .......................................................... 48

Mapa 15 Espécies animais ameaçadas por município ........................................ 49

Mapa 16 Densidade de espécies animais ameaçadas por município (no. de

espécies/área do município, em Km2) ........................................................................ 50

Mapa 17 Densidade de espécies animais ameaçadas em relação aos

remanescentes florestais, por município (no. de espécies ameaçadas/área de

remanescentes florestais do município, em Km2) ...................................................... 50

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6

Sumário Tabelas

Tabela 1: Custos totais de recuperação florestal por bioma (cenário com preços

de mudas normais, baixa densidade de mudas e pagamento de mão de obra, sem

custos de transporte de insumos e sem custos de administração), preços de 2013.

...............................................................................................................21

Tabela 2: Comparação das projeções de desmatamento nos Modelos SISGEMA e

baseado na plataforma Dinamica EGO ...................................................................... 32

Tabela 3: Captura de carbono por restauração florestal a partir dos diferentes

cenários de atendimento ao novo Código Florestal ................................................... 39

Tabela 4: Emissões de metano (em toneladas de CH4) para os três cenários

hipotéticos de intensificação da pecuária e seus respectivos sistemas de produção .. 42

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7

Sumário Figuras

Figura 1: Curva de oferta de conservação de PSA para o Brasil, em R$ por

hectare/ano, preços de 2013 – média dos modelos propostos. .................................. 15

Figura 2: Curva de oferta de conservação para custos de cercamento (CC) e

recuperação (CR), manutenção para 3 anos, com e sem custos de transporte de

insumo (CT) e administração (CA). .......................................................................... 17

Figura 3: Curva de oferta de conservação para custos de cercamento, custos de

recuperação, manutenção para 3 anos e custos de oportunidade (COP) com e sem

custos de transporte de insumo e administração. ....................................................... 20

Figura 4: Custos de recuperação florestal (cercamento, reintrodução de mudas

nativas e pagamento de mão de obra com e sem custos de transporte de insumo e

administração), em milhões de R$ de 2013. .............................................................. 21

Figura 5: Estágios da transição florestal .............................................................. 25

Figura 6: Cenários de projeção para as taxas de desmatamento – com e sem PSA

...............................................................................................................26

Figura 7: Custo anual do PSA por valor máximo do benefício a ser pago ......... 26

Figura 8: Emissões de CO2 evitadas dado um valor máximo do PSA ................ 28

Figura 9: Curva de oferta de carbono por redução do desmatamento (emissões

que seriam evitadas em função do preço da tCO2.eq), segundo Modelo SISGEMA 29

Figura 10: Cenários de projeção para as taxas de desmatamento – com e sem PSA

...............................................................................................................33

Figura 11: Custo anual do PSA por valor máximo do benefício a ser pago ......... 33

Figura 12: Emissões de CO2 evitadas dado um valor máximo do PSA ................ 35

Figura 13: Curva de oferta de carbono por redução do desmatamento (emissões

que seriam evitadas em função do preço da tCO2.eq), Modelo usando plataforma

Dinamica EGO ........................................................................................................... 36

Figura 14: Relação do montante financeiro para recuperação florestal e o número

de hectares, sem considerar o custo de mão de obra.................................................. 39

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8

1. Introdução

Este documento apresenta o Relatório Final da Pesquisa do Projeto PNUD

BRA/11/022 – “Suporte técnico ao Processo Preparatório da Conferência das Nações

Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável - RIO +20 e desenvolvimento de seus

resultados - Resultado 8: Subsídios técnicos para a construção de uma Política

Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais."

O Relatório apresenta, em seu corpo principal, os resultados mais importantes

identificados pela pesquisa e suas implicações para as políticas públicas na área

ambiental, em particular acerca dos custos de implementação de uma Política

Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Os apêndices ao Relatório

discorrem sobre os aspectos metodológicos e discussão detalhada acerca das

vantagens e desvantagens dos diferentes modelos apresentados. Em adição, contêm

os dados, informações e resultados revistos,produzidos nas fases anteriores,

incorporando as solicitações encaminhadas pela equipe do Ministério do Meio

Ambiente após sua apreciação. Assim, nos apêndices também são detalhados os

resultados relativos aos custos e benefícios da conservação ambiental, incluindo:

Estimativas de custo de oportunidade da terra;

Estimativas de custo de restauração florestal;

Estimativas das emissões de gases de efeito estufa evitadas pela conservação

florestal;

Estimativas de captura de dióxido de carbono pela restauração florestal;

Estimativas de redução de metano por intensificação da atividade pecuária;

Estimativas de erosão do solo evitada pela conservação e restauração

florestal;

Indicadores de relevância da conservação da biodiversidade.

O estudo inclui aindauma discussão a respeito das possíveis fontes de

financiamento para PSA no Brasil, identificando as diferentes origens dos recursos e

dimensionando o potencial de arrecadação associado. Para tal, foi realizada uma

resenha bibliográfica sobre as iniciativas de PSAs no Brasil, apontando as legislações

que se referem ao tema, os projetos que estão em andamentoe suas fontes de

financiamento. Os resultados dessa discussão estão presentes de maneira sucinta

neste relatório, e seu detalhamento encontra-se no apêndice.

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9

Em adição, está sendo encaminhado à Secretaria Executiva do MMA um CD

com as planilhas em Excel que compõem o Sistema de Informações Geográficas,

Econômicas e Meio Ambiente (SISGEMA), desenvolvido pelo Grupo de Economia

do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Instituto de Economia da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (GEMA – IE/UFRJ), e que constituem a

base de informações utilizadas neste Projeto de Pesquisa. O SISGEMA foi criado de

modo que o usuário possa desenvolver análises para um conjunto específico de

municípios, selecionados por bioma, Unidade da Federação,bacias hidrográficasou

outro critério de escolha, bem como optar por parâmetros diferentes daqueles usados

neste Relatório. Por isso, foram incorporados no CD os tutoriais e metadados das

variáveis utilizadas no SISGEMA.

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10

2. Histórico do projeto

A conservação da natureza e da biodiversidade é um imperativo para a

sociedade, e cabe ao estado organizar tanto o aparato de medidas de comando e

controle quanto formular outras políticas voltadas à distribuição de responsabilidades

entre os diversos atores envolvidos na questão.

O aparato de comando e controle já se encontra satisfatoriamente consolidado

no país, contando com vasta regulamentação, canais de participação e controle

social, e órgãos públicos razoavelmente estruturados para desempenhar as funções de

licenciamento ambiental e fiscalização do cumprimento da legislação.

Da mesma forma, o país já conta com um Sistema Nacional de Unidades de

Conservação, que as organiza em classes e tipos, disciplina suas possibilidades de

acesso e utilização econômica, bem como as responsabilidades por sua gestão.

Ainda no âmbito das unidades de conservação, o país assumiu compromissos

internacionais de ampliação de áreas protegidas, e conta com respaldo estrangeiro,

inclusive financeiro, para a implementação de tais compromissos.

Internamente, o país tem avançado em outras frentes importantes, como a

redução do desmatamento ilegal e a redução de emissões de carbono, mesmo em face

do pequeno desenvolvimento do Mercado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo –

MDL.

Finalmente, após anos de discussão no Congresso Nacional, o novo Código

Florestal estabeleceu claramente as obrigações impostas aos proprietários rurais em

relação às Áreas de Proteção Permanente e às Áreas de Reserva Legal, e criou uma

série de instrumentos de regularização dos déficits e comercialização dos excedentes

de Reserva Legal. Estabeleceu também o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental

Rural – SICAR que está sendo estruturado como uma plataforma tecnológica

integradora de todas as obrigações e funcionalidades previstas no Código Florestal.

A despeito de todos os avanços na política ambiental, falta agregar

mecanismos que permitam o adequado compartilhamento de responsabilidades e de

benefícios pelas ações e abstenções dos agentes públicos e privados no que concerne

à conservação da natureza, da qualidade ambiental e dos ecossistemas.

Serviços ambientais são os benefícios gerados pelos ecossistemas para a

sociedade e, geralmente, podem ser agrupados em quatro categorias: sequestro e

armazenamento de carbono, proteção da biodiversidade, proteção de bacias

hidrográficas e proteção de belezas cênicas.

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11

O ponto de partida para a construção de uma Política Nacional de Pagamento

por Serviços Ambientais (PSA) é a constatação de que condutas conservacionistas

revertem em benefícios para a sociedade como um todo, e, mais diretamente, para

agentes que usufruem de redução de custo ou melhoria da qualidade de insumos

necessários aos seus próprios processos produtivos.

Atualmente, há uma discussão em voga a respeito da conveniência de se

aplicar o PSA em projetos que contemplem a adicionalidade da conservação

ambiental com relação ao estipulado no Código Florestal. Em outras palavras,

discutem-se quais devem ser as ações de preservação e recuperação

ambientaiselegíveis a receber benefícios financeiros advindos dosPSAs, visto que

boa parte das propriedades rurais têm passivos ambientais que devem ser

compulsoriamente atendidos para se adequar à legislação. O debate acadêmico em

torno desse assunto é bastante rico (ver, por exemplo, Young & Bakker, 2014).

Entretanto, nesse relatório não se levou em consideração tal discussão, assumindo

que qualquer área, independente de sua adicionalidade, poderia receber ações de

PSA.

A possibilidade de utilizar o PSA como uma política governamental vem

atraindo a atenção de diversos setores da sociedade, inclusive do Congresso

Nacional, onde tramitam diversos projetos de lei que intentam disciplinar a matéria,

muitos dos quais atribuindo ao Estado a cobrança e o pagamento por serviços

ambientais. Por outro lado, já existem experiências bem sucedidas de arranjos

privados em que o pagamento é livremente pactuado entre prestadores e tomadores

de serviços ambientais.

Nesse sentido, a tarefa de precificação reveste-se de enorme complexidade

técnica e sensibilidade política e econômica, visto que impacta grupos de agentes

pagadores e recebedores. A definição dos valores a serem cobrados/pagos afeta a

viabilidade de implementação dessa política – decisões concretas para a

implementação do PSA requerem o conhecimento prévio, ainda que estimado, da

dimensão financeira dos pagamentos envolvidos.

Uma Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais seria, em

última análise, um mecanismo de intervenção no domínio econômico, construído

deliberadamente para alterar o custo de oportunidade relativo dos serviços

ambientais frente às outras destinações possíveis dos ativos envolvidos. Desta forma,

um modelo de simulação deve conter estimativas de precificação que sejam as mais

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12

objetivas possíveis, tanto dos serviços ambientais quanto das alternativas

concorrentes. Também deve prever o montante de recursos envolvidos e avaliar,

através da valoração dos ganhos esperados pela conservação dos serviços ambientais,

os benefícios esperados.

Assim, o objetivo deste estudo foi, precisamente, organizar subsídios

necessários ao posicionamento do Ministério do Meio Ambiente em relação à

Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais através da elaboração de

modelos de quantificação de tais serviços, vis a vis o custo de oportunidade dos usos

alternativos da terra e dos recursos naturais por parte dos proprietários.

Entre as atividades desenvolvidas ao longo do projeto, incluem-se:

a) Organização de base de dados coletados, premissas e parâmetros utilizados na

construção do modelo.

b) Estimativa do custo de recuperação ambiental por hectare, por bioma em todo

o território nacional (unidade de análise: municípios, quando possível, ou

microrregiões, de acordo com a classificação do IBGE).

c) Estimativa dos custos de oportunidade da terra por hectare, por bioma em

todo o território nacional, considerado o mesmo detalhamento geográfico

adotado em (b).

d) A partir dos resultados obtidos em (b) e (c), identificaçãodo custo de

conservação ambiental por hectare por bioma em todo o território nacional,

considerado o detalhamento geográfico adotado e unidade de análise

municipal.

e) Proposição e descrição de um modelo de simulação de custos de equalização

entre os custos levantados nos itens acima, considerados os biomas e

unidades geográficas de referência. Em outras palavras, propõe-se a

construção de uma “curva de oferta de conservação” que possibilite estimar, a

partir de um determinado valor hipotético a ser pago pelo PSA, qual será a

área de conservação que os proprietários rurais estarão dispostos a aceitar,

bem como sua distribuição pelo território brasileiro.

f) Proposição e descrição de um modelo de simulação de benefícios esperados

pela conservação dos serviços ambientais carbono e água, a partir das

estimativas de conservação das etapas posteriores. Ou seja, para um dado

volume de conservação adicional gerado pelo PSA, o modelo deve estimar

(ainda que de modo preliminar) os benefícios associados em termos de

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13

proteção de solo, redução de emissões por conservação florestal e/ou

sequestro de carbono.

g) Identificação de possíveis fontes de financiamento para Pagamento por

Serviços Ambientais (PSA) no Brasil, verificando as diferentes possibilidades

de origem dos recursos e dimensionando o potencial de arrecadação

associado.

Como mencionado anteriormente, esse relatório apresentaos resultados mais

importantes identificados pela pesquisa. Já os apêndices ao relatório discorrem

detalhadamente sobre aspectos metodológicos e os pontos apresentados acima.

Deve-se ressaltar que a ênfase do estudo foi apresentar modelos de estimação

que projetem custos e benefícios associados a essa iniciativa, bem como mapear

experiências de PSA já em vigor no país. Não houve preocupação em especificar um

modelo de cobrança ou pagamento pelos serviços ambientais, mas de construir

ferramentas flexíveis para que diversos cenários alternativos possam ser estimados.

Como alerta, deve-se ressaltar que os resultados da modelagem

apresentadaestão sujeitos a diversas limitações metodológicas e de carências de

dados. Essas restrições também são consequência do caráter pioneiro da iniciativa e

evidenciama necessidade de melhoria na geração e divulgação de dados primários

que extrapolem o território municipal, possibilitando a interpretação dos resultados

em uma escala local. Idealmente os resultados aqui apresentadospoderão ser

criticados e aperfeiçoados por estudos futuros.

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14

3. Custos associados à conservação e recuperação florestal

A primeira etapa do projeto foi estimar os custos associados à conservação e

recuperação florestal, sempre em escala municipal e preços de 2013. O custo de

conservação florestal foi estimado a partir de estimativas do custo de oportunidade

da terra, e os custos de recuperação florestal foram baseados em estimativas de

gastos necessários com cercamento, insumos e mão de obra. Não foram incluídos

custos de transação, fiscalização, monitoramento e recuperação do terreno. Desse

modo, os resultados apresentados devem ser vistos como componentes do custo do

PSA, mas não como seu custo pleno.

O custo de oportunidade da terra refere-se ao valor sacrificado pela

desistência da utilização das terras em atividades agropecuárias em favor da sua

conservação para a manutenção dos serviços ecossistêmicos. Isto é, trata-se da renda

mínima que o proprietário rural está disposto a receber para conservar as áreas de

remanescentes florestais ou regenerar vegetação nativa em sua propriedade.

Em função da escassez ou má qualidade dos dados disponíveis, foram

elaborados três modelos alternativos de estimação do custo de oportunidade da terra,

apresentado como o valor médio (por hectare/ano) da renda agropecuária sacrificada

em razão da opção pela conservação florestal:

Estimação pelo lucro presumido da agricultura, pecuária e

silviculturaem função dos dados do IBGE de valor da produção municipal

(Modelo COT – L).

Estimação por extrapolação das informaçõesde preços da terra, em

função do seu uso, disponíveis para um subconjunto de municípios (Modelo

COT – P).

Estimação por modelo econométrico de definição do preço da terra

(variável endógena) a partir de características físicas e de mercado (Modelo

COT – E).

Embora todos os modelos apresentem limitações específicase metodologias

diferentes, os resultados têm ordens de grandeza próximas. Como forma de distribuir

erros, sugere-se que seja utilizada a média dos valores obtidos em cada modelo. Mas,

de qualquer forma, o SISGEMA permite que os resultados sejam calculados a partir

de cada um dos modelos específicos.

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15

As estimativas de custo de oportunidade da terra são convergentes, com

mediana entre R$ 241/ha/ano (Modelo COT - L) e R$ 458/ha/ano (Modelo COT -

E).1

A Figura 1 apresenta a Curva de Oferta de Conservação de PSA para o

Brasilconsiderando, para cada município, a média dos resultados dos três modelos. O

valor mediano encontrado foi de R$ 403/ha/ano. Ou seja, um hipotético PSA que

pagasse até R$ 403/hectare/ano poderia compensar o custo de oportunidade em cerca

de metade da áreadas propriedades rurais brasileiras.

Figura 1: Curva de oferta de conservação de PSA para o Brasil, em

R$ por hectare/ano, preços de 2013 – média dos modelos propostos.

Fonte: Elaboração própria

O Mapa 1 mostra a dispersão do custo de oportunidade da terra no país. Esse

custo é mais baixonas regiões Norte e Nordeste (sobretudo no interior), e é mais alto

nas regiões Sul, Sudeste e parte da Centro-Oeste.

1 Com base em cenários para taxa de juros real igual a 6% a.a.

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

0 50.000.000 100.000.000 150.000.000 200.000.000 250.000.000 300.000.000

Lu

cro p

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R$/h

a/a

no

Área em hectare

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16

Mapa 1 Custo de Oportunidade da Terra em R$/hectare/ano, a

preços de 2013 – média dos modelos propostos

Fonte: Elaboração própria

Para as áreas onde não há mais tendência de desmatamento por escassez de

remanescentes florestais, a estimativa do custo de implementação do PSA deve levar

em consideração, além do custo de oportunidade da terra, o custo de recuperação de

vegetação nativa em áreas já desmatadas.

A Figura 2 mostraa curva de oferta de conservação de recuperação florestal,

ou seja, cumulativamente, os custos municipais médios de cercamento e

recuperaçãoflorestal. O valor mediano desses custos foi de R$ 7.466 por hectare,

desconsiderando os custos de transporte de insumos e administração, e de R$ 8.900

por hectare quando esses custos foram incluídos.Os valores máximos mudaram de

R$ 10.500 para R$ 12.400 quando considerados os custos de transporte de insumos e

administração.

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17

Figura 2: Curva de oferta de conservação para custos de cercamento

(CC) e recuperação (CR), manutenção para 3 anos, com e sem custos de

transporte de insumo(CT) e administração (CA).

Fonte: Elaboração própria

Portanto, é nítido que os custos de recuperação florestal são

significativamente superiores aos da conservação, indicando que evitar o

desmatamento é muito mais barato do que recompor a floresta depois de destruída.

Por outro lado, em um cenário futuro onde ocorram ações de recuperação

florestal em larga escala, esses custos devem variar em função de:

i. inclusão ou não de mão-de-obra;

ii. custo das mudas, visto que um projeto em larga escala diminuiria

bastante o custo unitário;

iii. planejamento temporal do projeto de restauração, considerando

apenas custos referentes à sua implementação, ou incluindo despesas

para a sua manutenção por até três anos.

Por isso, cenários alternativos foram elaborados de acordo com cada arranjo

estudado.Para estimar as áreas onde deve correr recuperação florestal com espécies

nativas, utilizou-se as projeções de Soares-Filho et al. (2014) e dados disponíveis no

servidor de mapas do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG, sobre déficit do

Código Florestal por município.2 Soares-Filho et al. (2014) estimam as áreas que

precisariam ser recuperadas com as regras do Código Florestal (CF), incorporadas as

2 Centro de Sensoriamento Remoto. Disponível em: http://maps.csr.ufmg.br/

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000

cust

os

R$/

ha

Área em hect

CC+CR CC+CR+CT+CA

Page 18: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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18

mudanças feitas em 2012, para atingir os requerimentos da Reserva Legal (RL) e das

Áreas de Preservação Permanente (APP), onde são inclusas as áreas de vegetação

riparia e os topos de morro. Segundo estes cálculos, o Brasil precisa de

aproximadamente 21 milhões de hectares em restauração florestal para atingir as

novas regras do Código Florestal estabelecidas em 2012.

Na presente pesquisa foramconsideradas apenas as áreas estimadas para

cumprir com as regras das Reservas Legais, equivalente a 18,8 milhões de hectares

(Mapa 2).Nesse caso, o maior passivo ambiental encontra-se nos estados de Mato

Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Pará, em função do maior

desmatamento nestas regiões. Deve-se destacar que as áreas em cinza são

classificadas como áreas protegidas e, por conseguinte, não são foram consideradas

como áreas a serem restauradas (mesmo que eventualmente a área não seja

integralmente coberta por remanescentes).

Mapa 2 Passivo ambiental após a revisão do Novo Código Florestal

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19

Fonte: Elaboração própria a partir de Soares-Filho et al (2013)

O Mapa 3 mostra a distribuição espacial dos custos de recuperaçãodo déficit

ambiental apresentado no Mapa 2, no cenárioque inclui custos de cercamento e

manutenção por três anos, preços de mudas mais baixos (devido ao efeito de um

hipotético aumento de escala de produção),mas desconsideraos custos de

administração e os custos de transporte de insumos. Há uma forte heterogeneidade

espacial, com custos mais baixos nas regiões Norte e Nordeste, enquanto os custos

mais altos estão na região Sul e no estado de São Paulo.

Mapa 3 Custos de recuperação florestal por hectare, manutenção

para 3 anos, com densidades baixas de mudas e preço baixo (sem

custos de transporte e administração), em R$ de 2013.

Fonte: Elaboração própria

A Figura 3 mostra a curva de oferta de restauração florestal quando somados

os custos de restauração e oportunidade da terra, para os cenários com ou sem custos

de transporte de insumos e manutenção.

Page 20: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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20

Figura 3: Curva de oferta de conservação para custos de cercamento,

custos de recuperação, manutenção para 3 anos e custos de oportunidade (COP)

com e sem custos de transportede insumo e administração.

Fonte: Elaboração própria

Quando se inclui o custo de reintrodução de mudas nativas, além do

cercamento, o custo da recuperação florestal sobe significativamente. A Figura 4

mostra que, nesse caso, a quantidade de investimento necessária para recuperaras

áreas mais baratas sobe mesmo se os custos de transporte de insumos e de

administração forem desconsiderados.

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000

Cu

sto

R$/

ha

Área de recuperação florestal, em ha

CC+CR+COP CC+CR+CT+CA+COP

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IEI-18958

21

Figura 4: Custos de recuperação florestal (cercamento, reintrodução

de mudas nativas e pagamento de mão de obra com e sem custos de transporte

de insumo e administração), em milhões de R$ de 2013.

Fonte: Elaboração própria.

A tabela 1 mostra que os biomas com maior área para recuperar são

Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. Para atingir 100% dos déficits de Reserva

Legal, seriam precisos R$ 165 bilhões para cobrir os custos do primeiro ano de

revegetação e de cercamento, e R$ 196 bilhões para cobrir os custos de cercamento e

três anos de manutenção da revegetação. Na média para o Brasil inteiro, os custos

por hectare são de R$ 8.790 para um ano, e de R$ 10.437/hectare para três anos.Os

custos de recuperação por hectare mais baixos estão na Caatinga (R$ 6.909/ha para

um ano, R$ 7.793/ha para três anos), e os mais altos na Mata Atlântica e Pantanal.

Tab ela 1: Tabela 1. Custos totais de recuperação florestal por bioma

(cenário com preços de mudas normais, baixa densidade de

mudas e pagamento de mão de obra, sem custos de transporte

de insumos e sem custos de administração), preços de 2013. Custos Totais de Restauração Florestal por Bioma

Bioma Áreas a restaurar (ha) Custo Total de restauração e

Cercamento - 1 ano

Custo Total de Restauração e

Cercamento - 3 anos

Pantanal 90.653 R$ 911.389.215,63 R$ 1.079.591.405,89

Pampa 409.801 R$ 3.820.242.557,09 R$ 4.907.699.847,64

Caatinga 650.592 R$ 4.495.520.379,87 R$ 5.070.068.053,33

Mata Atlântica 5.073.871 R$ 45.541.980.464,89 R$ 57.493.205.228,00

Page 22: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

22

Cerrado 5.022.044 R$ 45.765.089.249,14 R$ 55.194.119.840,14

Amazônia 7.624.226 R$ 65.357.357.776,98 R$ 73.228.259.584,57

Brasil 18.871.187 R$ 165.891.579.643,60 R$ 196.972.943.959,56

Fonte: Elaboração própria

Page 23: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

23

4. Benefícios ambientais

4.1. Conservação de carbono florestal

Evitar o desmatamento é uma das formas mais baratas e rápidas para reduzir

as emissões de carbono em grande escala. No Brasil, em especial, essa estratégia é

eficaz, visto que grande parte das emissões atuais de gases de efeito estufa (GEE) no

país continua sendo originada por desmatamento, sobretudo nos biomas Amazônia e

Cerrado.

Na última década o país passou por uma significativa redução das taxas de

desmatamento na Amazônia Legal e, consequentemente, das emissões provenientes

das mudanças no uso da terra. Este processo, iniciado em 2005, foi interrompido em

2012, ano a partir do qual se verifica o início de uma tendência de relativa

estagnação das taxas de desmatamento. Este fato aponta para a necessidade de

esforços adicionais, no sentido de promover e fortalecer iniciativas e políticas para a

conservação florestal. Os recentes compromissos assumidos pelo Governo Federal de

zerar o desmatamento até 2030 reforça ainda mais essa necessidade.

Nesta seção, estimou-se o potencial de redução de emissões de carbono em

razão do estabelecimento de um hipotético PSA nacional para conservação florestal.

O valor máximo do pagamento foi arbitrariamente estabelecido na mediana do custo

de oportunidade da terra (R$ 402,57/ha/ano).

O primeiro passo da modelagem consistiu em efetuar um levantamento dos

remanescentes florestais nativos ao nível local (Mapa 4).

Page 24: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

24

Mapa 4 Remanescentes de ecossistemas naturais em % da área

total, por município.

Fonte: Elaboração própria a partir de PRODES/INPE, SOS Mata Atlântica e PMDBBS/MMA.

Posteriormente, projetou-se a linha de base para o desmatamento no período

2016-2030 (cenário business as usual). O terceiro passo consistiu em projetar as

taxas de desmatamento segundo dois modelos de projeção das taxas de

desmatamento:o Modelo SISGEMA e o Modelo Dinamica EGO. Por fim, dado a área

de desmatamento que seria evitada, estimou-se a capacidade de conservação do

carbono florestal que poderia ser induzida pelo PSA.

4.1.1. Projeção de desmatamento pelo modelo SISGEMA

O modelo SISGEMA projetao desmatamento futuro pela extrapolação da

linha de tendência dos remanescentes florestais, para cada município brasileiro. O

formato dessa linha de tendência é, por hipótese, descrito pelo inverso de uma função

exponencial, parametrizada para cada município. Por causa dessa forma funcional, as

projeções apontam para uma redução assintótica das taxas de desmatamento ao longo

Page 25: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

25

do período 2016 – 2030, o que é compatível com a teoria da transição florestal

(Figura 5).

Figura 5: Estágios da transição florestal

Fonte: adaptado de Angelsen (2008)

Deve-se ressaltar que o modelo trabalha com valores agregados por

município. Dessa forma, não considera a distinção entre desmatamento ilegal e

supressão de vegetação nativa permitida pela legislação. Futuros estudos poderão

caracterizar melhor essa diferença, especialmente após a disponibilização das

informações do Sistema Nacional de Cadastro Rural (SICAR).

De acordo com o modelo SISGEMA, o desmatamento acumulado no período

2016-2030 superaria os 20,5 milhões de hectares, dos quais o Cerrado responderia

por mais de 14 milhões de hectares. Supondo um PSA pagando no máximo o valor

da mediana do custo de oportunidade da terra (R$ 402,57/ha/ano), seria possível

reduzir o desmatamento em 83% no período; isto é, seria possível reduzir a perda de

remanescentes florestais em mais de 17 milhões de hectares (Figura 6).

Page 26: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

26

Figura 6: Cenários de projeção para as taxas de desmatamento –

com e sem PSA

Fonte: elaboração própria

O custo dessa política seria de aproximadamente R$ 3,3 bilhões de reais

anuais. Essa cifra corresponde ao pagamento do PSA, calculado pelo custo de

oportunidade da terra das áreas para as quais foram projetadas perdas de

remanescentes florestais.Ou seja, revela o custo de conservar terras privadas

florestadas que sofrem ameça de desmatamento no período 2016-2030 (Figura 7).

Também é assumido que após 2030 não ocorrerá mais desmatamento líquido e,

portanto, a conservação das florestas nessas áreas será permanente.

Figura 7: Custo anual do PSA por valor máximo do benefício a ser

pago

0

2.000.000

4.000.000

6.000.000

8.000.000

10.000.000

12.000.000

14.000.000

16.000.000

18.000.000

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1.600.000

1.800.000

2016

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

2026

2027

2028

2029

2030

Des

mat

ame

nto

acu

mu

lad

o (

ha)

Des

mat

amen

to (h

a)

Desm. Evitado ( acumulado) Sem PSA Com PSA

R$ 0

R$ 200

R$ 400

R$ 600

R$ 800

R$ 1.000

R$ 1.200

R$ 1.400

R$ 1.600

R$ 1.800

R$ 2.000

R$ 0 R$ 1 R$ 2 R$ 3 R$ 4 R$ 5

R$/

ha/

ano

Custo total anual (em bilhões)

Page 27: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

27

Fonte: elaboração própria.

Como o custo de oportunidade da terra é desigualmente distribuído no país, o

efeito de um hipotético PSA pagando o valor máximo de R$ 402,57/ha/ano seria

fortemente concentrado no Norte e Nordeste do país (Mapa 5). Ou seja, o PSA seria

muito pouco eficaz para reduzir o desmatamento na Mata Atlântica, onde os custos

de oportunidade da terra nos municípios em geral superam o valor máximo anual do

benefício que seria pago por hectare. Por outro lado, na Amazônia e Caatinga, mais

de 96% dos desmatamentos projetados seriam evitados. O Cerrado também

apresentaria um alto percentual de abatimento do desmatamento, explicado,

sobremaneira, pelo baixo custo de oportunidade da parcela mais ao norte deste

bioma. Em parcelas mais centrais e ao sul, a política seria pouco funcional, diante da

alta lucratividade da terra nestas localidades, inclusive para a produção intensiva de

grãos para exportação.

Mapa 5 Distribuição espacial do desmatamento evitado (abaixo da

mediana) e residual (acima da mediana) no período 2016-2030

Fonte: elaboração própria

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28

A redução do desmatamento em 17 milhões de hectares resultaria na

conservação de mais de 4,77 bilhões de toneladas de carbono florestal entre 2016 e

2030, sendo que a Amazônia e o Cerrado responderiam conjuntamente por mais de

92% desse total (Figura 8).

Figura 8: Emissões de CO2 evitadas dado um valor máximo do PSA

Fonte: elaboração própria

É evidente que, ao focar o PSA nas áreas de menor custo de oportunidade da

terra, uma parcela significativa das emissões evitadas adviria das áreas onde a

conservação é mais barata. Este padrão é claramente reforçado para Amazônia, em

função de sua alta densidade de tonelada de carbono por hectare. Mas na Caatinga e

Cerrado, que têm densidade de carbono bem mais baixa, a redução projetada de

emissões por hectare seria bem menor. Contudo, o potencial de redução de emissões

do Cerrado em termos agregados é bastante significativo porque, no modelo

SISGEMA, as projeções de áreas a serem desmatadassão maiores (11 milhões de

hectares).

Cruzando as informações referentes às emissões que seriam evitadas com o

custo de oportunidade da terra, é possível calcular qual deveria ser o preço mínimo

da tCO2.eq para induzir a conservação florestal; isto é, o preço da tonelada de

carbono que seria capaz de cobrir inteiramente os custos de oportunidade da terra em

uma dada localidade. A Figura 9apresenta a curva de oferta de carbono por redução

R$ 0

R$ 500

R$ 1.000

R$ 1.500

R$ 2.000

R$ 2.500

R$ 3.000

R$ 3.500

R$ 4.000

0 1 2 3 4 5 6

R$/

ha/

ano

GtCO2eq acumuladas

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IEI-18958

29

do desmatamento, ou seja, o volume de emissões que seriam evitadas em função do

preço da tCO2.eq. Os resultados mostram que, ao preço de R$ 23,30 por tCO2.eq,

seria possível equiparar o custo de oportunidade de até 17 milhões de hectares de

remanescentes florestais que seriam desmatados na ausência de um PSA.

Alternativamente, com um preço de R$ 50,00 por tCO2.eq, a área de conservação

florestal induzida superaria os 20,5 milhões de hectares, eliminando praticamente

todo o desmatamento projetado para o período 2016-2030.

Figura 9: Curva de oferta de carbono por redução do desmatamento

(emissões que seriam evitadas em função do preço da tCO2.eq), segundo Modelo

SISGEMA

Fonte: Elaboração própria.

O Mapa 6 retrata a distribuição espacial do preço mínimo da

tCO2.eqpotencialmente capaz de induzir a conservação florestal. Na Amazônia, onde

o custo de oportunidade da terra tende a ser mais baixo e a densidade de carbono

tende a ser elevada, a conservação poderia ser induzida com um baixo preço da

tCO2.eq. Contudo, em parcelas significativas do Cerrado e Mata Atlântica, o preço a

ser pago pela emissão evitada de carbono tem que ser bem maior para compensar o

custo de oportunidade da terra.

R$ 0

R$ 5

R$ 10

R$ 15

R$ 20

R$ 25

R$ 30

R$ 35

R$ 40

R$ 45

R$ 50

0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000

R$/

tCO

2eq

desmatamento evitado (ha)

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30

Mapa 6 Preço mínimo da tonelada de CO2.eq que induziria a

manutenção dos estoques de carbono florestal, Modelo

SISGEMA, R$ de 2013

Fonte: elaboração própria

Caso o PSA fosse pensado a partir de orçamentos limitados, fixados em R$ 1

bilhão ou R$ 2 bilhões anuais, seria possível reduzir o desmatamento em 8,4 milhões

de hectares e 12,96 milhões de hectares, respectivamente. A quantidade de carbono

florestal (CO2) que seria conservado nesses casos iria de 2,4 bilhões de toneladasa3,7

bilhões de toneladas, respectivamente.

Um ponto importante a ressaltar é que os exercícios foram efetuados

assumindo-se que o proprietário rural receberia o valor pleno (100%) do custo de

oportunidade da terra como compensação pela expectativa de perda de produção com

a conservação florestal. Essa opção metodológica foi adotada para simplificar as

hipóteses do modelo, mas não se trata de uma proposta de política de implementação

Page 31: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

31

do PSA. Nesse aspecto, sugere-se que seja utilizada a proposta de Young & Bakker

(2014) de metodologia de cálculo do valor a ser pago ao proprietário rural. Essa

metodologia, já adotada na prática pelo Projeto Oásis, propõe um valor básico por

hectare de floresta conservada, a ser estabelecido como fração (por exemplo, 25%)

do custo mais baixo de oportunidade da terra na região - usualmente o arrendamento

para pastagem. Esse valor pode ser aumentado em função da caracterização da oferta

de serviços ambientais (qualidade e proteção à biodiversidade e aos recursos

hídricos) ou práticas agrícolas sustentáveis nas áreas de produção. Ou seja, o valor a

ser pago à propriedade varia de acordo com a qualidade da conservação ambiental e

das práticas agropecuárias adotadas.

4.1.2. Projeções de desmatamento pelo modelo baseado na Dinamica EGO

ODinamica EGO(EGO é uma sigla para a expressão Ambiente para Objetos

Geoprocessáveis, em inglês) é uma plataforma desenvolvida na UFMG, que permite

a modelagem de alteração, no tempo e no espaço, das mudanças no uso da terra e

outras variáveis ambientais. Dessa maneira, permite que sejam desenvolvidos

algoritmos para simulações espaciais, incluindo funções de transição e de calibração

e métodos de validação.

A partir dessa plataforma, através da análise de correlação entre as trajetórias

passadas de variáveis selecionadas, pode-se estimar probabilidades de desmatamento

distribuídas na área de estudo, dando suporte às simulações de mudança futura no

uso da terra (Mas et. al, 2014; Soares-Filho et al., 2009). Com essa ferramenta, foi

possível elaborar um modelo de previsão da expansão das áreas de desmatamento

para o período desejado.

É importante frisar que a plataforma Dinamica EGO é fortemente dependente

do período de base para a análise – no caso, os anos de 2002 e 2008. Contudo, como

houve grande variação estrutural no comportamento do desmatamento após esse

período, com significativa redução do desmatamento na Amazônia e expansão no

Cerrado, as projeções baseadas na plataforma Dinamica EGO diferem muito das

obtidas pelo modelo SISGEMA: como um todo, o desmatamento projetado baseado

na plataforma Dinamica EGO é muito maior do que o projetado pelo SISGEMA, e o

observado nos anos mais recentes. Espacialmente, a principal diferença é a

projetação de um desmatamento muito maior na Amazônia e bem menor no Cerrado.

Page 32: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

32

Novamente percebe-se discrepância com os dados observados para o período recente.

Por essa razão, recomenda-se que os resultados obtidos pelo Modelo SISGEMA

sejam adotados como melhor aproximação, e que os resultados obtidos usando a

plataforma Dinamica EGO sejam percebidos como um limite máximo, que

possivelmente projeta o desmatamento que teria ocorrido se as medidas de

governança adotadas desde a metade da década de 2000 não tivessem sido

implementadas (Tabela 2).

Tab ela 2: Tabela 2. Comparação das projeções de desmatamento nos

Modelos SISGEMA e baseado na plataforma Dinamica EGO

Bioma Área acumulada

Dinamica EGO

Bioma Projeção

exponencial

Diferença em

proporção

Amazônia 25.373.613 Amazôni

a

4.006.680 6,3

Caatinga 4.517.781 Caatinga 3.296.083 1,4

Cerrado 20.404.052 Cerrado 16.472.311 1,2

Pampa 577.460 Pampa 218.261 2,6

Pantanal 1.188.362 Pantanal 408.105 2,9

Mata

Atlântica

832.919 MataAtlâ

ntica

29.426 28,3

Fonte: Elaboração própria

Como no modelo SISGEMA,a simulação baseada na plataforma Dinamica

EGO não distingue desmatamento ilegal e supressão de vegetação nativa permitida

pela legislação. A disponibilização das informações georreferenciadas do SICAR no

futuro permitirão que esse tipo de caracterização seja feita na modelagem, mas no

momento não há elementos disponíveis para tal.

As projeções do modelo usando a plataformaDinamica EGOapontaram para

um desmatamento de 44,1 milhões de hectares no período 2016-2030. Caso fosse

implementado um PSA pagando a importância máxima de R$ 402/ha/ano, seria

possível reduzir essa área em 38,1 milhões de hectares.

Page 33: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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33

Figura 10: Cenários de projeção para as taxas de desmatamento –

com e sem PSA

Fonte: elaboração própria

O custo associado a esta política seria de R$ 7.5 bilhões por ano (Figura 11).

Figura 11: Custo anual do PSA por valor máximo do benefício a ser

pago

Fonte: elaboração própria

Alternativamente, para eliminar todo o desmatamento projetado no período

(44.1 milhões de hectares) seriam demandados recursos na ordem de R$ 10,5 bilhões

anuais. O Mapa 7 mostra que um hipotético PSA para reduzir o desmatamento teria

alta efetividade na Amazônia e em menor escala na Caatinga. No Cerrado, o PSA

seria mais efetivo na parcela mais ao norte do bioma, e menos efetivo na região de

produção intensiva de grãos para exportação. Já na Mata Atlântica a efetividade seria

baixa por causa do elevado custo de oportunidade da terra.

-

5000000,0

10000000,0

15000000,0

20000000,0

25000000,0

30000000,0

35000000,0

40000000,0

-

500000,0

1000000,0

1500000,0

2000000,0

2500000,0

3000000,0

3500000,0

Des

mat

ame

nto

acu

mu

lad

o (

ha)

hec

tare

s

Desmatamento evitado acumulado Sem PSA Com PSA

R$ 0

R$ 200

R$ 400

R$ 600

R$ 800

R$ 1.000

R$ 1.200

R$ 1.400

R$ 1.600

R$ 1.800

R$ 2.000

R$

0

R$

2

R$

4

R$

6

R$

8

R$

10

R$/

ha/

ano

Custo total anual (em bilhões)

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IEI-18958

34

Mapa 7 Distribuição espacial do desmatamento evitado (abaixo da

mediana) e residual (acima da mediana) no período 2016-2030

Fonte: elaboração própria

A Figura 12 relaciona o valor do benefício do PSA com a quantidade de

carbono que seria evitada por conservação florestal. Pagando até R$ 402,57/ha/ano

mais de 14,83 bilhões de toneladas de carbono deixariam de ser emitidas por

desmatamento entre 2016 e 2030. Deste montante, cerca de 11,13 bilhões de tCO2.eq

resultariam das áreas que seriam conservadas no bioma Amazônia.

Page 35: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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35

Figura 12: Emissões de CO2 evitadas dado um valor máximo do PSA

Fonte: elaboração própria

A divergência na quantidade de carbono florestal que seria conservado

segundo os dois modelos é o reflexo de dois fatores:

(i) o desmatamento projetado segundo o modelo usando a plataforma

Dinamica EGO é muito superior àquele estimado pelo modelo

SISGEMA;

(ii) o desmatamento usando a plataforma Dinamica EGO está mais

concentrado em zonas de custo de oportunidade mais baixo.

A curva de oferta de carbono por redução do desmatamento (emissões que

seriam evitadas em função do preço da tCO2.eq), segundo o Dinamica EGO (Figura

13) evidencia esses fatores. Enquanto o preço mínimo da tonelada de carbono

necessário para induzir a conservação florestal de 17 milhões de hectares no modelo

SISGEMAseria de aproximadamente R$ 23,00 por tCO2.eq, no DinamicaEGOesse

preço deveria ser de R$ 5,14 por tCO2.eq. Ainda, segundo o Dinamica EGO ao preço

de R$ 20,14 por tCO2.eq seria possível equiparar o lucro da agropecuária dos

municípios de custo de oportunidade da terra mais baixos, principalmente na

Amazônia. A área evitada de desmatamento nesse caso atingiria os 38,1 milhões de

hectares.

R$-

R$200

R$400

R$600

R$800

R$1.000

R$1.200

R$1.400

R$1.600

R$1.800

R$2.000

- 5 10 15

R$/

ha/

ano

tCO2eq acumuladas (em bilhões)

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IEI-18958

36

Figura 13: Curva de oferta de carbono por redução do desmatamento

(emissões que seriam evitadas em função do preço da tCO2.eq), Modelo usando

plataforma Dinamica EGO

Fonte: elaboração própria

A distribuição espacial dos preços implícitos para a tonelada de carbono

equivalente no modelo Dinamica EGOsegue o mesmo padrão encontrado no modelo

anterior. Novamente, a Amazônia desponta como uma possibilidade barata de

conservação, onde o preço mínimo da tCO2necessário para equiparar os rendimentos

por hectare da agropecuária chega a ser em média 10 vezes menor do que nas áreas

do país onde a terra é mais cara (Pampa e Mata Atlântica).

Mapa 8 Preço mínimo da tonelada de CO2.eq que induziria a

manutenção dos estoques de carbono florestal, Modelo baseado na

plataforma Dinamica EGO, R$ de 2013

R$ 0

R$ 5

R$ 10

R$ 15

R$ 20

R$ 25

R$ 30

R$ 35

R$ 40

R$ 45

R$ 50

0 10.000.000 20.000.000 30.000.000 40.000.000

R$/

tCO

2eq

desmatamento evitado (ha)

Page 37: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

37

Fonte: elaboração própria

Alternativamente, pensando o PSA a partir de orçamentos limitados, com o

total de recursos financeiros da ordem de R$ 1 bilhão ou R$ 2 bilhões anuais, seria

possível reduzir o desmatamento em 10,12 milhões de hectares e de 16,66 milhões de

hectares, respectivamente. Mediante a conservação dessas áreas, os benefícios

ambientais em termos abatimento de emissões chegaria a 3,8 bilhões de tCO2, para o

orçamento de R$ 1 bilhão anuais, e 6,52 bilhões de tCO2, para um PSA orçado em

R$ 2 bilhões por ano.

4.1.3Comparação dos modelos de Projeção de Desmatamento com o

modelo Globiom

O Globiom (GLObal BIOsphereManagement model) é um modelo de análise

de “baixo para cima” (bottom-up) de equilíbrio parcial, que tem seu foco em setores

relacionados ao uso da terra, como agricultura, florestas e biocombustíveis (Câmara

Page 38: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

38

et al, 2015)3. O modelo GLOBIOM calculou um desmatamento acumulado de 447

milhões de hectares até 2030 (10% a mais que a projeção empregando o modelo

DinamicaEGO). O GLOBIOM projetou um desmatamento no bioma Cerrado de 173

milhões de hectares, 41% a mais que o modelo DinamicaEGO. Por sua vez,

Amazônia foi o segundo bioma, com 109 milhões de hectares acumuladas

desmatadas até 2030, 20% a menos que a projeção do modelo Dinamica EGO. Para

o bioma Mata Atlântica, os resultados com as duas metodologias foram muito

próximos: 93 milhões de hectares, no GLOBIOM e 86 milhões de hectares

desmatadas na metodologia Dinamica EGO.

Segundo o SISGEMA, o total de desmatamento acumulado até 2030 seria de

cerca de 480 milhões de hectares para Brasil, enquanto o GLOBIOM projeta

aproximadamente 460 milhões de hectares (diferença de 4%). No ano 2030, a

projeção de estoques totais de remanescentes florestais no cenário SISGEMA e de

florestas maduras no Modelo GLOBIOM são muito similares, em torno de 400

milhões de hectares no cenário bussines as usual. Ou seja. o SISGEMA apresenta

uma afinidade bem maior com o GLOBIOM do que com o Dinamica EGO.

Esses resultados evidenciam que a modelagem SISGEMA apresenta a

vantagem de possuir maior aderência às tendências recentes de evolução do

desmatamento. Por essa razão, recomenda-se ao usuário que utilize as projeções de

desmatamento futuro obtidas pelo SISGEMA.

4.1.4. Restauração Florestal em áreas com déficit ambiental

A vegetação secundária em estágio de recuperação possui uma capacidade de

captura de carbono significativa que também deve ser avaliada como benefício por

um eventual Programa Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Como

cenário de base para estimar a necessidade de recuperação florestal,estimou-se as

necessidades de recuperação florestal a partir das exigências do Novo Código

Florestal e as diferentes taxas de regeneração de florestas nativas no Brasil. A partir

desses valores, e considerando as estimativas de densidade de carbono na vegetação

nativa, pode-se estimar o potencial de carbono capturado devido à recuperação de

florestas nativas.

3 O modelo foi ajustado para Brasil, com 5 cenários (Business as usual (BAU), Código

Florestal, Código Florestal sem Cota de Reserva Ambiental, Código Florestal sem anistia de pequenos

produtores e Código Florestal com Cotas só para terras agrícolas)

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39

Foram elaborados quatro cenários hipotéticos de atendimento ao déficit

ambiental, em função do nível de recuperação para cumprimento do Novo Código

Florestal: recuperação do déficit de Reserva Legal em 25%, 50%, 75% e 100%. Os

resultados, expressos em toneladas de carbono, são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Captura de carbonopor restauração florestal a partirdos

diferentes cenários de atendimento ao novo Código Florestal

Carbono capturado com recuperação florestal (tC)

% de

atendimento 25% 50% 75% 100%

Média por

município

4.831 9.661 14.492 19.323

Total 26.867.972 53.735.944 80.603.916 107.471.888

Fonte: Elaboração própria

Por fim, pode-se cruzar tais informações com as obtidas sobre custo de

oportunidade da terra, fazendo dois cenários.O primeiro é apresentado na Figura

14como uma estimativa do montante financeiro para recuperação florestal e o

número de hectares, sem considerar o custo de mão de obra,e considerando os preços

de mercado atuais para as mudas.

Figura 14: Relação do montante financeiro para recuperação florestal

e o número de hectares, sem considerar o custo de mão de obra

Fonte: Elaboração própria

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40

Observa-se que, caso houvesse um programa de recuperação florestal com

recursos da ordem de R$ 5 bilhões, seriam recuperados perto de 1,3 milhão de

hectares para o cenários com custos de cercamento e custos de revegetação e

manutenção para 3 anos, e de 1,4 milhão de hectares para um ano. Quando

considerados somente os custos de cercamento (CR), para 1 ano e para 3 anos, a área

para recuperação florestal se aproxima de 3 milhões de hectares. Com a inclusão do

custo de mão de obra,os mesmos R$ 5 bilhões/ano seriam suficientes para restaurar

entre 0,9 milhãoe 1,9 milhão de hectares.

Como conclusão, fica evidente que o gasto necessário para evitar o

desmatamento por unidade de área conservada é significativamente inferior ao gasto

necessário para recuperar aquelas áreas com déficit ambiental, sobretudo por conta

dos altos custos de revegetação e mão de obra. Por essa razão, programas de PSA

voltados para a recuperação de áreas já desmatadas, como é o caso da Mata

Atlântica, exigem valores de pagamento aos proprietários e custos de implementação

muito mais caros do que os voltados à conservação florestal.

4.2.Redução de emissões de metano (CH4) por intensificação da pecuária

A queda das taxas de desmatamento em meados da década de 2000 e o

aumento do efetivo bovino transformaram o setor agropecuário em um dos principais

emissores de gases causadores do efeito estufa.Para o ano 2010, as emissões de

metano representaram 63% das emissões totais da agropecuária e 22% das emissões

totais do Brasil. As emissões desse setor são dominadas pelas emissões de metano da

fermentação entérica do gado bovino, que é a única de emissão de GEE da pecuária

tratada neste estudo.

Haja vista as técnicas rudimentares, características da pecuária brasileira, e o

alto poder de aquecimento do metano na atmosfera, o potencial de geração de

benefícios pela introdução de melhores práticas de manejo pecuário são

significativos. Por isso, foi elaborada uma metodologia para estimar a redução de

emissões de metano de origem bovina, supondo que ocorresse um PSA que induzisse

a intensificação da pecuária bovina.

A distribuição espacial do metano bovino emitido acompanha o padrão de

crescimento desigual do rebanho bovino entre as regiões brasileiras, com

predominância da região norte nesse processo. No período entre 2000 e 2013,ocorreu

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41

um claro deslocamento das emissões por fermentação entérica. As áreas mais escuras

do Mapa9 apontam as regiões que mais emitem metano porfermentação entérica.

Mapa 9 Evolução Espacial da Emissão de Metano (CH4) por

fermentação entérica pela área do município – 2000-2013.

Fonte: Elaboração própria

Para o cálculo dos benefícios de uma possível intensificação da pecuária a

partir da implementação de um projeto de PSA fez-se necessário a construção de um

cenário alternativo àquele que vigora atualmente. Desta forma, o presente estudo

estimou o efeito que a intensificação do efetivo bovino pode ter na emissão de

metano, a partir da diferença entre os sistemas de produção extensiva/tradicional e

intensiva/confinamento.

Para o rebanho bovino à margem do sistema de confinamento,em 2013,foram

feitas as seguintes as simulações sobre a intensificação da pecuária ainda não

confinada:

a. Intensificação de 10% do efetivo bovino não confinado nos municípios

em 10 anos, com intensificação de 1% a cada ano durante este período;

b. Intensificação de 20% do efetivo bovino não confinado nos municípios

em 10 anos, com intensificação de 2% a cada ano durante este período;

c. Intensificação de 30% do efetivo bovino não confinado nos municípios

em 10 anos, com intensificação de 3% a cada ano durante este período.

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42

Os resultados obtidos para metano evitado pela intensificação apontaram para

uma redução de até 6,302 Gg de CH4, referentes à um cenário de intensificação de

30% da pecuária (Tabela 4). Vale dizer que uma intensificação de 30% do rebanho

resultaria na redução de 35% das emissões de metano da fermentação entérica.

Tab ela 3: Tabela 4.Emissões de metano (em toneladas de CH4) para os

três cenários hipotéticos de intensificação da pecuária e seus

respectivos sistemas de produção

Intensificação de

10% do rebanho

Intensificação de

20% do rebanho

Intensificação de

30% do rebanho

Metano emitido (ton CH4) pelos

cenários caso fossem mantidos em

sistema tradicional

6.068,751 12.137,502 18.206,253

Metano emitido pelos cenários caso

fossem transformados em

confinado/intensivo

3.968,029 7.936,059 11.904,089

Diferença de metano emitido pelos

cenários (Tradicional - Intensivo) -2.100,721 -4.201,443 -6.302,164

Fonte: Elaboração própria.

O Mapa 10 mostra a distribuição das áreas com maior potencial de redução de

emissões de metano caso ocorresse a intensificação da criação pecuária no Brasil.

Fica claro que existe grande potencial nas áreas de maior adensamento da pecuária,

com destaque para boa parte do Cerrado e o Arco do Desmatamento na Amazônia.

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Mapa 10 Metano evitado por hectare de área de intensificação do

rebanho

Fonte: Elaboração Própria

4.3. Erosão Evitada

A estimativa de erosão do solo por recuperação ou conservação florestal foi

obtida a partir da aplicação da Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS ou em

inglês: Universal Soil Loss Equation - USLE) a características do território

brasileiro. A USLE é constituída pelos principais fatores que causam a erosão do

solo hídrica: erosividade da chuva, erodibilidade do solo, comprimento e grau do

declive, fatores de uso e manejo do solo,e prática conservacionista.

O Mapa 11, calculado através da “Calculadora Raster” do software QGIS,

mostra a perda estimada de solo em t ha-1

ano-1

.

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44

Mapa 11 Perda anual média de solo, em t ha–1

ano–1

Fonte: Elaboração própria

Percebe-se, principalmente na região Sudeste, onde grande parte da área é

montanhosa e apresenta alto nível de desmatamento, que o efeito da erosão é

significativamente grande, enquanto na região Norte, no bioma amazônico, a forte

presença da cobertura vegetal ameniza o impacto erosivo. O valor médio de erosão

para todo o Brasil foi de 8,7 t ha-1

ano-1

.

Conhecer as áreas mais propensas a sofrer erosão é relevante, pois um

hipotético PSA pode ser utilizado para minimizar tal ocorrência. Assim, seria

possível priorizar áreas onde os benefícios fossem consideráveis, podendo ser

revertidos em menores custos com tratamento de água e menos desastres ambientais,

mesmo que o custo do pagamento direto aos produtoresseja mais elevado, como na

região sudeste.

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45

4.4. Biodiversidade

Outro tema tratado foi a identificação de áreas de maior relevância para a

conservação de biodiversidade. Para tal foram utilizadastrês metodologias de

priorização de áreas para a conservação da biodiversidade:

1. Áreas Prioritárias para a Conservação: Utilização Sustentável e

Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira, identificadas pelo Projeto de

Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira

(PROBIO), e incorporadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2007);

2. Prioridade de Conservação das Ecorregiões Terrestres, elaborada

pelo Laboratório de Biogeografia da Conservação (UFG) em parceira com o Instituto

Life (Instituto LIFE et al. 2015);

3. Índices SISGEMA do número de espécies animais ameaçadas de

extinção por municípios, fazendo uso de dados georreferenciados de espécies

ameaçadas, providos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio).

As áreas prioritárias para a conservação segundo o MMA foram identificadas

segundo dois critérios: (i) importância biológica para biodiversidade, a partir da

insubstituibilidade, a representatividade e a vulnerabilidade da área estudada; e (ii)

urgência para implementação das ações sugeridas, que considera, além da

importância biológica, os graus de estabilidade e ameaça, e as oportunidades de uso

sustentável.

O Mapa 12 mostra a distribuição das áreas consideradas mais prioritárias em

termos de urgência de ações (Prioridade Muito Alta e Extremamente Alta) de acordo

o custo de oportunidade da terra: o primeiro quartil (q1) agrega os 25% municípios

de custo de oportunidade da terra mais baixo, o segundo quartil (q2) agrupa os

próximos 25% municípios com custo de oportunidade da terra medianos ,e assim

sucessivamente.

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Mapa 12 Distribuição das áreas consideradas mais prioritárias em

termos de urgência de ações de acordo o custo de oportunidade da

terra

Fonte: Elaboração própria

O Mapa 13 apresenta a mesma análise, mas segundo o critério de

“Importância Biológica”. Os resultados mostram que as áreas prioritárias para a

conservação da biodiversidade nas Regiões Sudeste e Sul, e nos biomas Mata

Atlântica e Pampa, têm custos de oportunidade consideravelmente maiores do que as

áreas prioritárias no Norte e Nordeste, ou Amazônia e Caatinga, ficando a Região

Centro-Oeste e os biomas Cerrado e Pantanal em situação intermediária.

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Mapa 13 Áreas de Muito Alta e Extremamente Alta importância

Biológica por custo de oportunidade (em Quartis)

Fonte: Elaboração Própria

Na metodologia de Prioridade de Conservação das Ecorregiões Terrestres

(Instituto LIFE et al. 2015),a ameaça à conservação é considerada como

inversamente proporcional ao percentual de remanescentes protegidos. O Brasil é

dividido em quarenta e cinco ecorregiões, com um índice que pode oscilar entre um

valor máximo 100% (quando todos os remanescentes estão integralmente protegidos)

e mínimo de 0% (nenhum remanescente).

O Mapa 14 apresenta as áreas de custo de oportunidade mais baratos (1º e 2º

quartis) categorizadas segundo o índice de ameaça. Percebe-se que as terras mais

baratas tendem a apresentar o maior percentual de remanescente, concentrando-se

nos Biomas Amazônia, Caatinga e Pantanal, indicando que um hipotético PSA

nessas áreas seria menos custoso. Por outro lado, existe um conjunto importante de

áreas de alta prioridade (baixo remanescente) localizadas nos biomas Mata Atlântica

(Corredores Norte e Central) e Cerrado.

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48

Mapa 14 Municípios de baixo custo de oportunidade (1. e 2. Quartil)

e seus respectivos remanescentes por ecorregião (%)

Fonte: Elaboração Própria com base em dados LIFE&UFG.

Um terceiro índice foi construído a partir de dados primários fornecidos pelo

Instituto Chico Mendes de Conservação (ICMBio) de identificação de espécies

ameaçadas, classificados de acordo com escala de critérios da Lista Vermelha da

União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN), correspondendo às

seguintes categorias: vulneráveis (VU), criticamente ameaçadas (CR), em perigo

(EM), extintas (EX),e extinta na natureza (EW).

O Índice de Espécies Animais Ameaçadas foi construído agrupando-se por

município as 19.205 observações, correspondentes a 956 espécies. Esse índice

considera o número total de espécies ameaçadas observadas em cada município – por

exemplo, o valor seis é atribuído aos municípios onde foram observadas seis espécies

inclusas na lista, independente da frequência com que cada espécie foi identificada

(ou seja, se o animal foi visto uma ou mais vezes no município). O Mapa 15 mostra o

resultado, destacando Amazônia e Mata Atlântica como os biomas com a maior

presença de espécies ameaçadas.

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49

Mapa 15 Espécies animais ameaçadas por município, com base em

dados do ICMBio

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do ICMBio.

Nos resultados apresentados no Mapa 15 existe um viés associado ao

tamanho do município – municípios com maior território têm maior probabilidade de

avistamento de uma espécie do que municípios de menor tamanho, mas localizados

na mesma região. Por isso, uma forma alternativa de apresentar o resultado é

dividindo o número de espécies ameaçadas observadas pela área do município.

O Mapa 16 apresenta os resultados encontrados, com destaque para a Mata

Atlântica. A razão disso é porque esse bioma apresenta a maior concentração (54%)

de observações de espécies ameaçadas. A Amazônia é o segundo mais expressivo,

com 18% das observações, mas que ficam diluídos pela grande extensão territorial de

seus municípios. É importante destacar também um viés geográfico devido à maior

concentração de estudos feitos na Mata Atlântica em relação aos outros biomas.

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Mapa 16 Densidade de espécies animais ameaçadaspor município

(no. de espécies/área do município, em Km

2), com base em dados

do ICMBio

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do ICMBio

Outra maneira de lidar com o viés da área do município é dividir o número de

espécies ameaçadas observadas no município pela área de remanescentes florestais

estimado para o mesmo município (Mapa 17). A ideia por trás desse exercício é

supor que há correlação da densidade de espécies animais com a área de

remanescente florestal.

Mapa 17 Densidade de espécies animais ameaçadas em relação aos

remanescentes florestais, por município (no. de espécies

ameaçadas/área de remanescentes florestais do município, em

Km2), com base em dados do ICMBio

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Fonte: Elaboração própria, com base em dados do ICMBio

O mapa de espécies ameaçadas pela área de remanescente reforça o resultado

do índice anterior. A Mata Atlântica se destaca como bioma mais ameaçado, em

função da escassa vegetação remanescente. Já o bioma Amazônia aparece como

menos ameaçada devido ao alto percentual de remanescente.

Os diferentes modelos apresentados nesta seção podem ser utilizados pelo

gestor para definir prioridades de implementação de um PSA com vistas a proteger

ou recuperar áreas em função de sua relevância para biodiversidade. Essasprioridades

podem ser combinadas com outros parâmetros de decisão, como menor custo de

oportunidade de terra, maior densidade de carbono e potencial de erosão. Também é

possível fazer a seleção dentro de um bioma ou Unidade da Federação para se

escolher onde um possível PSA seria mais efetivo para os objetivos da política

ambiental.

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52

5. Fontes de financiamento

O objetivo deste item é discutiras possíveis fontes de financiamento para

Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Brasil, identificando diferentes

possibilidades de origem dos recursos e dimensionando o potencial de arrecadação

associado.

Essa análise é construída a partir das experiências concretas que vêm

ocorrendo a nível subnacional. Assim, em primeiro lugar, foram identificados os

Estados que atualmente possuem leis que versam sobre PSA. Essas leis foram

analisadas e equiparadas, com vistas a conhecer, principalmente, as fontes de

financiamento apontadas. Em segundo lugar, foram identificados os Estados onde

essas leis engendram projetos de PSA. Cada um dos projetos foi pesquisado e todos

foram comparados. A comparação desses projetos buscou dimensionar os montantes

aplicados em cada estado e os benefícios estabelecidos, destacando aqueles que estão

sendo mais bem sucedidos em captar recursos e desenvolver ações de PSA.

Foram também investigados projetos municipais de PSA. Sabe-se que

existem várias inciativas locais, promovidas pelo poder público ou pela sociedade

civil que, utilizando os pagamentos por serviços ambientas, têm o objetivo de

preservar o meio ambiente. Essas iniciativas possuem arranjos institucionais

distintos, dado as peculiaridades e necessidades de cada região. Mas considerando

que o número de municípios (5570) é muito mais amplo e diverso do que estados

(27, incluindo o Distrito Federal), o estudo concentrou-se em dois programas que

têm se destacado e difundido sua metodologia por várias cidades: Oásis, da Fundação

Grupo Boticário de Proteção à Natureza (FGBPN), e Produtor de Água, da Agência

Nacional de Água (ANA). Esses programas já estão em prática há 10 anos, sendo

aprimorados e disseminados em todas as regiões do país. No caso do Oásis são 09

iniciativas que estão em distintas fases de implementação, enquanto os projetos

engendrados pela ANA chegam atualmente a 38 municípios.

Com essa análise foi possível vislumbrar as principais fontes de

financiamento para Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Brasil, sendo que

a partir da experiência mais promissora foi realizado um exercício de simulação

dimensionando o potencial de arrecadação nacional, para o caso de sua utilização.

Foram identificadas 15 (quinze) leis estaduais que versavam especificamente

sobre a instituição de políticas e programas de Pagamento por Serviços Ambientais

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53

(PSA). Elas foram promulgadas no Acre, Amazonas, Bahia, Paraíba, Espírito Santo,

Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná.

Os estados que possuem leis sobre PSA regulamentam de forma distinta os

tipos de recursos que financiam os seus programas, sendo que apenas os Estados de

Santa Catarina4 e Paraíba

5 possuem fundos específicos para PSA. Já os Estados do

Acre, Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e

Paraná utilizam outros fundos para o financiamento desses programas e projetos.

As fontes de recursos identificadas com maior frequência nas leis estaduais

são recursos orçamentários do Estado e doações. Outras formas identificadas de

financiamento são: multas por infração de legislação ambiental; cobrança pelo uso da

água; recursos decorrentes de acordos, contratos, convênios não especificados; Taxa

de Fiscalização Ambiental; recursos provenientes dos royalties de petróleo;

compensação pela utilização dos recursos naturais; recursos de acordos bilaterais ou

multilaterais; investimentos privados; rendimentos de aplicação financeira; créditos

de carbono; recursos provenientes de controle de poluição veicular; empréstimos;

recursos oriundos de pagamentos por produtos, serviços ambientais; receitas das

unidades de conservação; dentre outros tipos de fontes não especificadas.

Através da análise das leis estaduais que versam sore PSA foi possível

verificar que os Estados possuem várias fontes de financiamento. Isso é muito

promissor, pois quanto mais fontes de financiamento, maior a possibilidade de obter

recursos para garantir os programas. Dentre os Estados analisados, Rio de Janeiro e

Santa Catarina possuem a maior diversidade de fontes de financiamento.

A abrangência das legislações estaduais fez com que fosse necessário

pesquisar e analisar os projetos até então executados por esses entes federativos. Sete

estados com lei de PSA já possuem programas ou projetos em andamento:Acre,

Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Essas iniciativassão recentes (a primeira é de 2008),mas o número de estados com

ações de PSA deve aumentar ao longo do tempo.

A maioria dos programas paga o proprietário/produtor em função da área

envolvida. Dentre os projetos analisados, o valor mínimo pago por hectare ao ano é

R$ 10,00 (PSA de conservação florestal no Rio de Janeiro) e o valor máximo é de R$

4 Lei Nº 15.133 de 19 de Janeiro de 2010.

5 Lei Nº 10.165 de 25 de novembro de 2013.

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54

2.866,24 (PSA de restauração no Espirito Santo). Ao todo, com os programas

estaduais foram preservados ou restaurados mais de 76 mil hectares.

Contudo,no Acre e Amazonas, as iniciativas pagampor produtor ou família

envolvida,com valores entre R$ 500,00 e R$ 600,00 ao ano, independentemente do

número de hectares. Isso se deve a características geográficas e socioeconômicas da

Amazôniaque impelem para o pagamento às famílias que protegem os serviços

ambientais, inclusive asresidentes de Unidades de Conservação que admitem o uso

sustentável dos recursos, conciliando a presença humana nas áreas protegidas.

No que se refere à gestão dos programas, em geral, os custos de

monitoramento e fiscalização das áreas são altos, até mais caros que o pagamento

direto aos provedores dos serviços ambientais. Isso porque todos os anos, antes do

pagamento referente ao número de hectares preservados ou restaurados, os

funcionários do governo precisam fiscalizar se as atividades acordadas foram

realizadas. O monitoramento e fiscalização são custosos, sendo necessário

contabilizar o valor do transporte até as propriedades, o tempo para a entrega e

registro dos documentos, o trâmite burocráticopara a validação dos resultados, além

da relação institucional entre os diferentes órgãos envolvidos no programa.

Ademais todos os programas exigem a elaboração de projetos de recuperação

ou manutenção das áreas que participarão dos mesmos, o que demanda um grande

volume de recursos com assistência técnica. Isso porque, como os programas em

geral buscam privilegiar a participação dos agricultores familiares que possuem

poucos recursos para a construção dos projetos, é necessária a interferência de

técnicos, pagos pelo poder público,que possam auxiliá-los.

Os programas municipais de PSA têm sido replicados rapidamente, e contam

com o apoio de diferentes atores. Em função da grande diversidade de casos, optou-

se em focar nas iniciativas Oásis e Produtor de Água, que envolvem o maior número

de municípios. Tanto o Oásis quanto o produtores de água trabalham com a proposta

de parcerias e possuem uma metodologia de estabelecimento dos pagamentos

ambientais relativamente simples. Essas metodologias se baseiam na utilização do

custo de oportunidade da terra para estabelecer um valor básico da remuneração.

Contudo, no caso da ANA, a fórmula está centrada nas alterações do uso do solo,

enquanto a fórmula do Oásis utiliza critérios de qualificação ambiental, dando pesos

e importâncias diferenciadas para aspectos distintos das áreas selecionadas.

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55

Esses programas também enfrentam problemas, como a dificuldade de

estabelecer as parcerias; a fragilidade dos acordos com o poder público municipal; a

resistência de setores que consideram os pagamentos pelos serviços ambientais como

uma forma de privatizar a natureza; entre outros. Apesar disso, a maioria dos

projetos municipais mencionados está em funcionamento e, como os projetos

estaduais, contam com diferentes fontes de financiamento, sendo a principal a

cobrança pelo uso da água.

Pelo exposto, afere-se que existem diferentes formas de financiar um projeto

de PSA, mas poucos têm garantia de continuidade e frequência na disponibilização

dos recursos. Recursos oriundos de doações e acordos multilaterais são contribuições

interessantes, mas não são fontes orçamentárias estáveis porque variam conforme os

interesses e possibilidades dos doadores, podendo variar muito em frequência e

constância.

Por outro lado, é bastante frequente apontar recursos orçamentários ordinários

dos entes federativos como base de todas as ações de preservação e recuperação do

meio ambiente do poder executivo. Contudo, no Brasil, é possível verificar que não

há avanço nas dotações orçamentárias para a gestão ambiental, ocorrendo em vários

casos declínio dessas dotações em termos relativos. Deve-se enfatizar igualmente que

os recursos orçamentários públicos são alterados conforme a situação econômica e as

prioridades estabelecidas pelos gestores públicos, o que pode prejudicar o andamento

dos programas.

Mecanismos alternativos de financiamento têm sido buscados, como por

exemplo recursos provenientes dos royalties de petróleo e gás. No caso do Espirito

Santo, esses recursos foram usados para a ampliação da política de PSA no estado.

Contudo, como o recebimento de royalties oscila junto com a variação dos preços de

petróleo e gás, essa fonte também se torna instável. O Espirito Santo vem sentindo as

consequências dessa situação: a queda do preço do petróleo em 2014 e 2015tornou

difícil manter o pagamento em dia das parcelas para os beneficiários do PSA.

É possível mencionar também as taxas e multas por infração ambiental. A

utilização das multas para bancar os programas de PSA é prevista em oito estados e

um município (daqueles estudados). Porém, nos projetos não foi identificado se e

como esses recursos são utilizados. Não foram encontradas informações sobre o

encaminhamento dos pagamentos das multas para os fundos indicados, nem sobre a

transferência desses montantes dos fundos para os pagamentos por serviços

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56

ambientais. Por outro lado, é temerário utilizar multas por infrações ambientais como

base de financiamento do PSA, tanto pelo motivo desta decorrer de uma

irregularidade ambiental ou dano ambiental,como pela variabilidade da periodicidade

do pagamento efetivo da mesma. Isso porque os autuados pela multa ambiental

podem discutir judicialmente a anulação da multa ou do valor arbitrado pelos órgãos

ambientais competentes. Com isso, acaba sendo variável a periodicidade de quitação

das multas ambientais junto aos cofres públicos, o que é um fator preocupante

quando os programas de PSA dependem desse recurso para seu financiamento.

Alguns projetos municipais têm se utilizado dos recursos provenientes de

Termos de Ajustamento de Conduta para financiar o PSA. Mas esses recursos são

finitos – após o TAC assinado, o poder público recebe o montante que depois de

utilizado, se encerra. A despeito dessa finitude dos recursos, sua conversão para

implementar sistemas de PSA é, pelo menos, uma solução inicial, apesar de

transitória, para o incentivo dessas experiências.

Taxas de Fiscalização Ambiental são mencionadas em algumas legislações

estaduais e municipais de PSA,mas não foram vislumbradas nos projetos estudados.

Entretanto, considera-se que a cobrança de uma taxa ambiental, não necessariamente

de fiscalização, seja um meio eficiente de levantar fundos para as políticas e projetos

de PSA. Nessas propostas o usuário paga diretamente pelo uso do serviço, gerando

uma identificação entre o pagamento e o consumo, diminuindo a resistência ao

desembolso e reduzindo o problema de custear os programas.

Um mecanismo de financiamentovigente que segue o mesmo preceito, mas

através da figura de preço público, é a cobrança pelo uso da água. A utilização desse

recurso é prevista por estados e municípios. Porém, dentre os estados, está ativa

apenas no Rio de Janeiro. Dentre os municípios, várias experiências têm sido

realizadas a partir da cobrança pelo uso da água, seja pela determinação do Comitê

de Bacia ou através da companhia de fornecimento de água. Essas experiências têm

tido continuidade e êxito em proteger os recursos hídricos, através da proteção de

florestas e boas práticas de utilização do solo, portanto, sua iniciativa deve ser

constantemente acompanhada e, se possível replicada, em outros projetos.Aliás,

acredita-se que além dos custos, esses projetos de PSA também geram benefícios à

própria sociedade que precisam ser contabilizados. No caso da água, esses benefícios

se referem principalmente à redução nas despesas com seu tratamento.

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Dessas iniciativas, destaca-se o caso de Tangará da Serra (MT) por

explicitamente estabelecer no boleto de cobrança da água um valor para

financiamento do PSA. Sugere-se que os modelos de financiamento de PSAdo Rio

de Janeiro e Tangará da Serrasejam replicados no futuro, não apenas por terem uma

fonte de recursos estável, mas porque estabelecem a conexão direta entre os

pagadores – a sociedade, que tem o abastecimento garantido e redução nos custos

totais de captação e tratamento -, e os protetores – proprietários rurais que se

beneficiam pelo pagamento da “floresta em pé”.

A grande dificuldade para a generalização da cobrança pelo uso da água é a

articulação institucional dos órgãos envolvidos com a gestão e consumo dos recursos

hídricos (comitês de bacia,companhias de abastecimento de água e tratamento de

esgoto, poder público, sociedade civil, etc.). Entretanto, as experiências como as dos

programas Oásis e Produtor de Água, mostram a viabilidade desse tipo de iniciativa

se a articulação ocorrer desde os primeiros estágios do processo.

Pelo exposto, afere-se que existem diferentes formas de financiar um projeto

de PSA, mas poucos têm garantia de continuidade e frequência na disponibilização

dos recursos. O modelo de cobrança parece ser a maneira mais viável para garantir

um programa de PSA nacional capaz de ter continuidade, e por essa razão, foi

realizado um exercício para verificar o quanto seria angariado de recursos ao se

utilizar a cobrança pelo uso da água. O exercício apontou que R$ 718 milhões anuais

poderiam ser arrecadados para o PSA caso fosse estabelecido um encargo de 1,5%

que recaísse sobre as contas de água e esgoto de todas as bacias hidrográficas. Se

essa cobrança adicional fosse de 2,1%, poderia se obter um bilhão de reais anuais

para PSA no país como um todo.

Considerando os resultados de outras etapas da pesquisa, o financiamento de

R$ 1 bilhão anual para o PSA poderia evitar o desmatamento de uma área de até 8,4

milhões de hectares, evitando um máximo de emissão de 2,9 bilhões de toneladas de

CO2, e a erosão de até 118 milhões de toneladas de solo por ano. Alternativamente,

estima-se que com R$ 1 bilhão anualpode-se restaurar 363 mil hectares de florestas,

que equivalem a 2,1% da área de déficit de Reserva Legal,capturando 125 milhões

toneladas de CO2,e evitando a erosão de até 3,7 milhões de toneladas por ano de

solo.

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6. Considerações finais

O objeto do presente estudo foi elaborarum modelo de estimação, em escala

nacional, dos custos de conservação de áreas de vegetação nativa, tanto para evitar o

desmatamento quanto para recuperação florestal. Esses resultados, disponibilizados

por município, foram posteriormente contrastados com serviços ambientais

esperados dessa conservação, em termos de captura ou redução na emissão de gases

de efeito estufa, erosão evitada e relevância para a conservação da biodiversidade.

Nesse sentido, foi disponibilizado para o MMA um sistema de informações -

SISGEMA -, que permite estabelecer áreas prioritárias para o estabelecimento de

sistemas de PSA que minimizem o custo de oportunidade ou de recuperação

florestal, combinado com critérios associados aos serviços ambientais considerados.

Além dos resultados apresentados nesse Relatório e seus Apêndices, o SISGEMA

permite que o usuário elabore análises para conjuntos específicos de municípios,

selecionados por bioma, Unidade da Federação ou outro critério de escolha, bem

como optar por parâmetros diferentes daqueles usados neste Relatório.

Também foi efetuada uma extensiva revisão da literatura e legislação

disponível sobre sistemas de PSA já estabelecidos no Brasil nas esferas estadual e

municipal. A despeito de todos os avanços identificados nas experiências já

implementadas, os sistemas de PSA ora vigentes ainda ocupam uma área

relativamente pequena do território nacional. Isso indica que até o momento existe

uma carência de mecanismos que permitam o adequado compartilhamento de

responsabilidades e de benefícios pelas ações e abstenções dos agentes públicos e

privados no que concerne à conservação da natureza, da qualidade ambiental e dos

ecossistemas.

Nesse contexto, fica evidente a importância de estabelecer uma Política

Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). A lógica do PSA é

estimular condutas privadas de conservação que revertam em benefícios para a

sociedade. Um grande avanço que poderá facilitar a implementação de uma

estratégia nacional de PSA é a consolidação do novo Código Florestal e do Sistema

Nacional de Cadastro Ambiental Rural (SICAR), pois possibilitam novas estratégias

e instrumentos de regularização das obrigações mínimas impostas pela legislação

(déficits) e comercialização dos excedentes de Reserva Legal.

Uma Política Nacional de PSA, a ser estabelecida por legislação específica

(ora em debate no Congresso Nacional),deve ser vigorosa para induzir a expansão

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em larga escala de práticas de conservação e recuperação florestal, mas não deve ser

restritiva ao ponto de inibir as iniciativas subnacionais. O conhecimento e

consideração de características regionais e locais, levando em conta a grande

heterogeneidade territorial brasileira, são fundamentais para uma política nacional

sobre o tema. Por isso, o desenvolvimento de modelos desagregados espacialmente,

como o SISGEMSA, é fundamental para simular e antecipar os possíveis efeitos de

diferentes desenhos de política.

As estimativas de custos e benefícios de um eventual sistema de PSA e a

identificação de possíveis fontes de financiamento para implementá-lo, principais

contribuições do presente estudo, constituem subsídio importante para a apresentação

de propostas de políticas destinadas à adoção de um PSA nacional mais eficiente.

Mas também é necessário discutir outras questões relacionadas à sua implementação,

que não foram objeto do escopo do presente trabalho, mas que merecem atenção para

estudos futuros, como por exemplo, a tributação do serviço ambiental, a necessidade

da adicionalidade em relação à legislação ambiental, a competência e

responsabilidade de cada agente envolvido com a política, entre outras questões.

Uma das questões mencionadas, mas ainda pouco explorada refere-se ao

custo de gestão, fiscalização e monitoramento dos programas que podem ser bastante

altos. Um equívoco comum é considerar apenas os custos diretos – custo de

oportunidade da terra e, quando é o caso, custos de recuperação florestal -,

ignorando-se que é necessário acompanhar, monitorar e prover assistência técnica

aos proprietários envolvidos. Essa temática deve ser mais aprofundada em

investigações futuras.

De qualquer forma, neste estudo foram identificadas as fontes de

financiamento e estimativas realistas do potencial de recursos necessários para a

ampliação da política. No que se refere ao financiamento por crédito de Carbono, foi

mostrado que ações visando à redução do desmatamento têm a capacidade de evitar

um alto volume emissões a um custo econômico (em R$/tonelada de CO2) muito

baixo. Porém, essas ações se concentrariam em áreas onde os estoques de

remanescentes florestais nativos ainda são bastante altos, em especial na Amazônia.

Caso a ênfase seja recuperar vegetação nativa, os custos por tonelada de CO2 são

significativamente maiores, e a Caatinga surge com destaque. Contudo, a

implementação de sistemas de PSA financiados por créditos de carbono ou outros

mecanismos relacionados a ações globais para mitigação de gases de efeito estufa

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dependem da disposição dos países desenvolvidos injetarem recursos financeiros

significativos para bancar tais ações. Embora o Acordo de Paris, em 2015, tenha

restabelecido a crença de que algum tipo de mecanismo financeiro global venha a ser

estabelecido nesse sentido, a experiência prévia com o Protocolo de Kyoto e outros

mecanismos de transferência de recursos foi bastante frustrante.

Assim, a adoção de políticas nacionais para PSA devem contar, nesse

momento, com fontes domésticas de recursos. Nesse sentido, surge com destaque a

cobrança pelo uso da água como fonte para o financiamento de uma política nacional

de pagamento por serviços ambientais.Recomenda-se, para tal fim, que seja

acelerada a cobrança pelo uso da água, e que parte das receitas obtidas seja utilizada

para financiar a manutenção ou recuperação de vegetação nativa. A grande vantagem

desse mecanismo é não depender de fontes externas ao país e nem de acordos

internacionais sobre o tema, que têm avançado muito lentamente sem grandes efeitos

práticos.

Além disso, é uma fonte estável de recursos, independente de orçamento

público, e que vincula diretamente o usuário como pagador e o protetor de florestas

como fornecedor do serviço ambiental.No entanto, existem dificuldades

institucionais para o estabelecimento dessa cobrança, pois envolve decisão de

diferentes atores, como governo do estado, municípios, comitês de bacias e

organizações não governamentais. De acordo com as experiências já realizadas, essas

dificuldades devem ser enfrentadas antes mesmo de se iniciarem os pagamentos por

serviços ambientais, pois é necessário firmar as parcerias com diferentes atores,

estabelecendo suas funções nos projetos.A esse despeito, a cobrança pelo uso da

água é uma ótima opção, pois é umafonte estável de recursose existem experiências

bastante avançadas de PSA baseados na conservação de recursos hídricos. Sem a

estabilidade dos recursos a chance de comportamento especulativo é imensa,

colocando em risco os projetos de PSA.

O modelo que tem se mostradoexitoso é a discriminação no preço da água de

uma parcela vinculada ao pagamento por serviços ambientais, a ser destinada

explicitamente para projetos de manutenção ou recuperação de áreas florestadas que

sejam relevantes para os corpos hídricos da bacia em questão. As recentes crises de

abastecimento vivenciadas no país mostram a importância que a proteção aos corpos

hídricos traz à população como um todo, inclusive nos grandes centros urbanos.

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No que diz respeito ao valor a ser estabelecido para que o pagamento seja

efetuado ao proprietário rural – ou seja, quanto o protetor de florestas deve receber -,

sugere-se que seja adotado o modelo proposto por Young & Bakker (2014) e já

incorporado com sucesso na metodologia do Projeto Oásis e em vias de

implementação no Programa Corredores Ecológicos, do Estado de Santa Catarina. A

lógica dessa metodologia é pagar ao proprietário rural em função da área de

conservação florestal a partir de um valor básico mínimo, em R$/hectare, usualmente

calculado por fração do preço do arrendamento da terra na região para pecuária. A

partir de características específicas da área conservada (sua importância para a

conservação de recursos hídricos e biodiversidade) e de práticas agrícolas adotadas

na propriedade, são estabelecidas notas que premiam as propriedades rurais que

apresentam melhor desempenho nesses quesitos, e o valor a ser recebido por hectare

conservado é aumentado.

A consideração da importância da conservação florestal para evitar a erosão,

conforme demonstrado no estudo, pode ser um desses elementos objetivos para

alterar o valor a ser recebido pelo proprietário: projetos de conservação ou

recuperação florestal em áreas críticas de erosão prestam um serviço ambiental

maior, do ponto de vista de proteção do solo, e por isso devem receber uma

premiação maior. Do mesmo modo, a introdução de critérios de relevância para a

conservação da biodiversidade, também examinados nessa pesquisa, deve afetar o

valor do pagamento: proteger áreas de maior relevância para a conservação da

biodiversidade deve receber maior prioridade.

A incorporação de informações do Cadastro Ambiental Rural,ainda em fase

de implementação, possibilitará exercícios de simulação mais focados e precisos. A

utilização de informações do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural

(SICAR) possibilita a parametrização de sistemas de PSA que sejam custo-eficientes.

As informações disponibilizadas pelo SISGEMA, tanto em termos de custos

econômicos quanto em relação aos serviços ambientais associados à conservação,

podem ser cruzadas com dados agregados pelo SICAR para fazer simulações de

mecanismos como o mercado de cotas ambientais. Por exemplo, a melhor

compreensão dos custos envolvidos em um PSA em associação com informações do

SICAR (déficits e superávits de Reserva Legal) permite selecionar as áreas de menor

custo de oportunidade da terra que deverão concentrar as ações de compensação.

Também permite estabelecer prioridades vinculadas às metas de conservação dos

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serviços ambientais considerados: impacto na concentração de gases de efeito estufa,

proteção do solo e conservação de biodiversidade.

Por fim, é crucial a integração dos sistemas de informações referentes ao

PSA, como o SICAR, com outros conjuntos de estatísticas. Ficou claro neste

relatório que o estabelecimento de um PSA nacional depende fortemente do

conhecimento das especificidades locais, sobretudo, no que diz respeito aos custos

associados. Nesse sentido, para que se estabeleça uma política eficiente, é

fundamental aprofundar e integrar os sistemas de informação relacionados ao tema.

Destaca-se a necessidade de integrar as bases de dados de natureza ambiental, como

o SICAR, com sistemas de estatísticas econômicos:

Estatísticas de produção agropecuária do IBGE (Pesquisa Pecuária

Municipal, Pesquisa Agrícola Municipal, Pesquisa de Extração

Vegetal e Silvicultura e ao futuro Censo Agropecuário)

Base nacional de preços da terra (vale lembrar que a Receita Federal

recebe, para fins de cálculo do Imposto Territorial Rural, informações

municipais de Valor da Terra Nua).

Por fim, deve-se chamar atenção que o custo de oportunidade do produtor

rural varia de acordo com o valor do arrendamento da terra. Esse, por sua vez,

depende do preço da terra e da taxa de juros. Tendo em vista que o preço da terra

depende dos ganhos associados à sua utilização, uma política de PSA, para ser bem

sucedida, deve considerar a variação nos preços agropecuários e na taxa de juros.

Assim, é necessário, no estabelecimento de um PSA, que se leve em consideração

esse fator no momento de definição dos valores a serem pagos.

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Governo do Estado do Espírito Santo (2012). Lei Nº 9864 de 26 de junho de 2012.

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Helena Carrascosa, Coleta de dados obtida por meio de perguntas estruturadas

realizadas por e-mail com, em 19/10/2015

Manuela Cardoso Stein, funcionária do Instituto Estadual de Florestas – IEF,

informação telefônica concedida em 19 de outubro de 2015.

Marcos Franklin Sossai, Gerente do Programa Reflorestar, Coleta de dados obtidos

por meio de perguntas estruturadas realizadas por e-mail no dia 30/09/2015

Oswaldo Bruno, coordenador do Programa RPPN Paulistas, Entrevista por telefone

com em 20/01/2016.

Tais Forte Garms, membro do Centro de Projetos de Uso Sustentável DDS/CBRN da

Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em Informações oferecidas por

e-mail por, em 21/01/2016.

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92

Tais Forte Garms, membro do Centro de Projetos de Uso Sustentável DDS/CBRN da

Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em Informações oferecidas por

telefone em 20/01/2016.

Shigueko T. Ishiy, Coordenadora do Subcomponente Gestão de Ecossistemas Santa

Catarina Rural – FATMA. Informações obtidas por e-mail, em 05/02/2016.

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93

APÊNDICE A: CURVA DE OFERTA DE CONSERVAÇÃO

1. Custo de oportunidade da terra

O custo de oportunidade da terra refere-se ao valor sacrificado (em termos

monetários) pela desistência da utilização das terras em atividades agropecuárias em

favor da sua conservação para a manutenção dos serviços ecossistêmicos. Isto é, trata-se

da renda mínima que o proprietário rural está disposto a receber para conservar as áreas

de remanescentes florestais ou regenerar vegetação nativa em sua propriedade (Young

& Bakker, 2015).

Há, portanto, um caráter voluntário intrínseco aos programas de Pagamentos por

Serviços Ambientais (PSA), diferentemente do que se observa para as políticas de

comando e controle. Se a transferência de recursos aos proprietários de terra em

contrapartida da produção dos serviços ecossistêmicos for pelo menos igual ao custo de

oportunidade, pode-se garantir que, do ponto de vista do interesse privado, tais agentes

estarão indiferentes entre conservar suas propriedades ou converte-las para o uso

agropecuário. Deste modo, não é o bem-estar privado que justifica a adoção dos

programas de PSA, mas sim os ganhos de bem-estar coletivo em função da manutenção

dos bens e serviços ambientais, sabendo que a disponibilidade dos mesmos é capaz de

impactar a utilidade e função de produção dos agentes econômicos.

Este capítulo apresenta modelos alternativos de estimação do custo de

oportunidade da terra, elaborados com intuito de calcular o valor médio (por hectare) da

renda agropecuária sacrificada em razão da conservação. Foram propostos três modelos

distintos, e a escolha pela utilização de diversas metodologias reside no fato de que os

dados disponíveis para o cálculo do custo de oportunidade da terra ainda são escassos

no Brasil. Dados referentes ao preço da terra, ao valor de arrendamento de propriedades,

à rentabilidade de diversas culturas agrícolas, bem como para a silvicultura e pecuária,

apresentam uma série de limitações, incluindo baixa amostragem, descontinuidade da

série histórica, má estimação ou mesmo a inexistência de informações para uma grande

parcela do território nacional.

Nesse sentido, as metodologias alternativas, além de revelarem formas distintas

de estimação do custo de oportunidade da terra – sem perder a sua dimensão técnica de

renda sacrificada -, remetem à necessidade de contornar as supracitadas limitações na

base de dados, sem se valer da utilização de hipóteses restritivas ou irreais.

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94

O custo de oportunidade foi calculado em escala municipal para o ano de 2013,

o ano mais recente para o qual foi possível contar com a disponibilidade de dados

necessários aos exercícios de estimação para as três modelos aqui propostos.

As bases de dados e os resultados dos modelos são apresentados nas próximas

subseções, onde se busca revelar vantagens e desvantagens no uso de cada uma das

metodologias alternativas.

A primeira subseção apresenta o custo de oportunidade da terra por meio da

estimação do lucro de três atividades econômicas concorrentes desenvolvidas no solo

(silvicultura, pecuária e agricultura) 1. A conveniência de se manter os resultados

desagregados provém do significativo diferencial de rentabilidade entre as três

atividades econômicas acima listadas, tendo em vista o impacto direto que este fato tem

sobre as áreas prioritárias à conservação. Como mostrado mais adiante, as áreas mais

baratas para a adoção de projetos de Pagamentos por Serviços Ambientais encontram-se

nas regiões Norte e Nordeste, notadamente aquelas ocupadas pela pecuária extensiva.

Ao confrontar essa informação com os resultados do capítulo de benefícios ambientais,

nota-se que a região Norte se sobressai ao Nordeste numa abordagem de custo-benefício

da conservação.

A segunda subseção apresenta a estimação do custo de oportunidade da terra

baseado em um modelo econométrico que estima preços da terra a partir de

determinadas características físicas e de mercado presentes na localidade onde essas

propriedades se encontram.

A terceira subseção apresenta o modelo de estimação do custo de oportunidade

da terra por extrapolação de preços observados no mercado fundiário. Nos modelos

econométrico e por extrapolação tomou-se o preço da terra como variável de partida

para se chegar ao valor do arrendamento da terra, que, em termos contábeis, expressa o

valor do lucro das atividades ali empregadas.

É importante frisar que os resultados das estimativas segundo os modelos

alternativos são bastante convergentes, e problemas específicos em cada uma delas pode

explicar, em boa medida, a divergência encontrada para a renda da terra em algumas

1 Deve-se ressaltar que existem outras formas alternativas de uso da terra, notadamente uso residencial e

industrial, mas não existem elementos suficientes para trabalhar com essas formas alternativas de uso em

escala nacional, conforme requerido por esse exercício. Outro elemento não trabalhado por esse estudo é

o custo de oportunidade das unidades de conservação públicas já estabelecidas. Embora o conceito de

custo de oportunidade também seja aplicável a esse caso, considera-se que foge ao objetivo geral do

estudo, que é a determinação dos custos e benefícios de implementação de sistemas de PSA em áreas

privadas no Brasil.

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IEI-18958

95

regiões em relação às demais estimativas. Os resultados mostrados neste capítulo

evidenciam essa convergência e, ao mesmo tempo, a base de dados SISGEMA permite

ao usuário estimar os custos de oportunidade pela alternativa de sua escolha.

2.1.1. Modelo de Custo de Oportunidade da Terra baseado na Estimação do

Lucro (Modelo COT – L)

A estimação do custo de oportunidade da terra baseada na estimação do lucro

das atividades agropecuárias nos municípios brasileiros foi realizada em duas etapas. Na

primeira, estimou-se, para cada município, o lucro por hectare de terra proveniente de

cada um de três usos concorrentes à conservação: lavoura, pecuária e silvicultura. O

fluxo de renda associado a cada um desses usos provém da lavoura (temporária e

permanente), da pecuária (em grande medida proveniente da pecuária de corte) e da

silvicultura (florestas plantadas). Na segunda etapa estimou-se o custo de oportunidade

da terra por município pelo somatório do lucro dessas atividades que seria supostamente

sacrificado em razão da decisão da conservação florestal, ponderado pela área utilizada

em cada uma das atividades produtivas mencionadas.

Dada a natureza distinta das atividades de lavoura, pecuária e silvicultura,

metodologias específicas foram elaboradas para cada uma delas, inclusive porque foram

encontradas restrições peculiares a cada uso, referentes à disponibilidade de dados.

A principal vantagem destas metodologias é partir, fundamentalmente, de dados

oficiais, disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

sobre o qual não pesam questionamentos em relação à credibilidade da fonte, além de

merecer destaque o tamanho da amostra através do qual as estatísticas são produzidas.

Contudo, foram encontradas diversas limitações, apresentadas no decorrer da descrição

metodológica.

Esta subseção se divide em cinco tópicos. O primeiro detalha a metodologia

utilizada para a estimação do lucro anual por hectare da lavoura, suas limitações e os

resultados para os municípios brasileiros. As duas partições seguintes têm a mesma

estrutura e realizam a análise para pecuária e silvicultura, respectivamente. Na

sequência, apresentam-se então as estimativas para o lucro médio anual por hectare para

os municípios brasileiros, resultado da média ponderada dos lucros provenientes da

lavoura, pecuária e silvicultura.

A última parte desta subseção se ocupa das considerações finais do modelo de

custo de oportunidade da terra a partir de estimação do lucro (doravante, COT-L), onde

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96

se destaca, em particular, a seguinte: observa-se nos resultados que o lucro anual médio

por hectare é em geral relativamente baixo no Brasil – a mediana da distribuição por

municípios é de R$243, valores de 2013, último ponto da série de dados. Este é

supostamente o custo de oportunidade da terra por hectare do município mediano

brasileiro. Ou seja, observa-se em pelo menos metade dos municípios brasileiros um

custo de oportunidade menor ou igual a R$243 por hectare/ano.

Importante mencionar que o valor desta mediana reflete um valor ainda mais

baixo para a mediana do lucro por hectare da pecuária por ano - de apenas R$182 por

hectare/ano. Como a pecuária é a atividade que ocupa a maior proporção da área

agropecuária no país, a maior parte da área a ser considerada em um PSA nacional deve

ser a de pecuária extensiva de baixa produtividade. Isso quer dizer que (i) um PSA

nacional se concentraria basicamente em áreas de pecuária, com pouco efeito redutor de

áreas de lavoura, e por essa razão sem consequências significativas para a produção de

produtos vegetais; (ii) o efeito sobre a produção de carne também seria pequeno, visto

que a produtividade das áreas consideradas é muito baixa; e (iii) a perda de emprego na

pecuária extensiva seria igualmente muito baixa, já que é pouco empregadora

(possivelmente um PSA nacional geraria mais empregos nas ações de conservação do

que seria perdido na pecuária extensiva, o que deve ser tratado em estudo posterior).

O levantamento de experiências de PSA no Brasil, apresentado no capítulo sobre

fontes de financiamento, mostra que a grande maioria dos projetos efetivamente

implementados paga valores em torno das medianas acima referidas (R$ 182 a

R$243/hectare/ano) indicando a aderência empírica desse resultado.

Por outro lado, também fica evidente que existe uma grande heterogeneidade

regional nos resultados. Em termos de biomas, é nítido que o custo de oportunidade da

terra é maior na Mata Atlântica que nos demais biomas. Como nesse bioma a demanda

por recuperação de vegetação nativa, que requer custos adicionais, é muito maior do que

a de conservação de remanescentes florestais (que não requer tais custos), o custo total

por hectare de um PSA na Mata Atlântica deverá ser maior do que em outros biomas.

É importante também mencionar que as margens de lucro na agropecuária (e,

portanto, o próprio custo de oportunidade da terra) são fortemente correlacionadas com

o ciclo de preços das commodities agrícolas. Dessa forma, existe um componente

dinâmico relevante e que deve ser levado em consideração ao longo do tempo. Em

momentos de crescimento de preços, as margens de lucro tendem a aumentar, e assim

também aumenta o valor daquilo que seria perdido em termos monetários pela

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97

desistência da utilização das terras em atividades agropecuárias por hectare de terra

conservada.

Neste relatório a análise é realizada para o ano de 2013, um período de preços

relativamente altos de commodities agrícolas. Logo, os resultados encontrados podem

estar associados a um momento de auge do ciclo de preços de commodities, e que os

resultados para o custo de oportunidade da terra podem ser alterados em um cenário de

queda de preços, como no período mais recente.

2.1.2. Estimativas para a Lavoura

Esta subseção está dividida em duas partes. A primeira apresenta e discute a

metodologia para a estimação do custo de oportunidade da terra, inclusive suas

limitações e razões para sua eleição. Na segunda parte apresentam-se os resultados

estimados.

2.1.2.1. Metodologia

Para o caso específico da lavoura, a estratégia consistiu na estimação de um

lucro da atividade agrícola aproximado por hectare/ano cultivado para cada município

brasileiro. Neste caso, o lucro anual por hectare deve refletir o valor daquilo que seria

perdido, em termos monetários, pela desistência da utilização das terras em atividades

de lavoura por hectare de terra a ser conservado. Como originalmente proposto no

relatório anterior (Produto 2), a estimativa do lucro por hectare/ano de lavoura foi

alcançada pela multiplicação do valor de produção agrícola por uma margem de lucro,

determinada exogenamente. A equação 1, a seguir, apresenta os detalhes.

Equação 01.

𝜋𝑚𝐿 = ∑ (𝛼𝑚

𝑐 ∗ 𝑉𝑃𝑚𝑐 )

𝑎𝑚𝑐

𝐴𝑚𝐿𝑐 (1)

Onde 𝜋𝑚𝐿 refere-se ao lucro anual médio de lavoura por hectare no município 𝑚.

Este lucro é estimado como um somatório dos valores de produção por hectare/ano das

diversas culturas 𝑐 presentes no município 𝑚 (𝑉𝑃𝑚𝑐 ) multiplicados pelas respectivas

rentabilidades específicas de cada cultura (margens de lucro 𝛼𝑚𝑐 ), ponderado pela

proporção da área que cada cultura ocupa (𝑎𝑚𝑐 ) na área de lavoura total do município

(𝐴𝑚𝐿 ).

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98

Para estimar tanto as áreas de lavoura como os valores de produção, utilizaram-

se os dados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM/IBGE) para o ano de 2013, o mais

recente disponível. Para cada cultura e município, calculou-se então a razão entre valor

da produção total e área total cultivada para a estimação dos termos 𝑉𝑃𝑚𝑐 .

2

Dentro do componente de lavoura, faz-se necessário considerar a possibilidade

de ocorrência de mais de uma safra por ano em uma dada localidade. Embora os dados

referentes à margem de lucro das culturas não façam qualquer referência sobre a

possibilidade de múltiplas safras, seus efeitos não foram desconsiderados na elaboração

do presente relatório, tendo estes sido capturados pela variável área plantada, obtida

junto ao IBGE. Para algumas culturas, como milho, batata, amendoim e feijão, foi

possível encontrar dados na PAM sobre área cultivada discriminada por safra. Para as

demais culturas, entretanto, ainda que os dados de área não tenham sido discriminados,

as várias safras foram igualmente contabilizadas e apresentadas na forma de um valor

sobreaditivo (áreas agrícolas que ao serem somadas com as áreas de pastagem do Censo

Agropecuário de 2006 extravasam a área total do município).

Originalmente, foi proposta a restrição da estimação da equação (1) a um

conjunto limitado de culturas que fossem relevantes para cada região e para as quais

existissem dados sobre rentabilidade em nível local3. No entanto, estas informações

sobre rentabilidade se mostraram também escassas, disponíveis apenas para poucas

culturas e para um número muito limitado de localidades. Ademais, estratégias

alternativas para o cálculo de margens de rentabilidade não se mostraram bem-

sucedidas. A Tabela 1, a seguir, ilustra este ponto.

2 Importante mencionar que, especificamente com relação às Regiões Norte e Nordeste, optou-se pela

aplicação de um ajuste no cálculo das áreas de lavoura, pecuária e silvicultura. Nestas regiões foi comum

observar valores de produção muito altos associados a áreas de produção extremamente reduzidas. Isso

pode ocorrer devido a erros de mensuração nas áreas em regiões de fronteira agrícola e onde direitos de

propriedade são mal definidos. A derivação do ajuste é detalhada no final desta subseção. 3 Também foi proposto originalmente adicionar à equação (1) um termo que refletisse o rendimento

proveniente da valorização futura da terra no caso em que esta já estivesse convertida para o uso em

lavouras em comparação ao cenário em que estivesse ainda com cobertura de matas. Este termo foi

omitido da análise final devido a duas restrições. Em primeiro lugar, definitivamente não existe

disponibilidade de dados confiáveis e em nível local para o preço da terra da lavoura versus de matas. Em

segundo lugar, não é claro como deverá ocorrer a valorização deste diferencial ao longo do tempo.

Prosseguir com esse tipo de análise só seria possível se um número bastante alto de suposições e outros

procedimentos ad hoc fossem introduzidos na estimativa, o que iria “contaminar” os resultados (parte

significativa dos resultados seria influenciado fortemente por suposições sem possibilidade de verificação

sobre sua acurácia).

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99

Tabela 1: Estimativas de Custos de Produção e Lucro Anual por

Hectare

O “Painel A” apresenta estimativas de custos de produção por hectare/ano para

quatro culturas relevantes – soja, milho, cana-de-açúcar e algodão. Os cálculos baseiam-

se em médias por cultura, sobre estimativas de custos por hectare/ano, feitas pela

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para regiões selecionadas no ano de

2011. No custo operacional incluem-se não apenas os custos fixos e despesas com

custeio (mão de obra, sementes, fertilizantes e defensivos), mas também as despesas

financeiras, com juros e seguro. No custo total inclui-se, adicionalmente, remuneração

de fatores – terra e capital.

Valores por hectare, em R$ de 2011

Soja Milho Cana-de

Açúcar Algodão Média Fonte de Dados

Painel A - Custos por Cultura

Custo fixo 194 213 908 454

442

Conab, Regiões Selecionadas

Custo operacional

(CO) 1294 1878 3509 4527

2802

Conab, Regiões Selecionadas

Remuneração capital 58 68 30 113

67

Conab, Regiões Selecionadas

Remuneração terra 320 325 370 362

344

Conab, Regiões Selecionadas

Custo total (CT) 1677 2271 3899 5002

3212

Conab, Regiões Selecionadas

Painel B - Lucros por Cultura

Valor da produção

(VP) 2002 1305 4093 3213

2653

PAM/IBGE

Lucro Total (VP -

CT) 325 -966 194 -1.788

-559

Elaboração própria

Lucro (VP - CO) 709 -573 584 -1.314

-149

Elaboração própria

VP / (VP - CO) 0,35 -0,44 0,14 -0,41

-0,09

Margem

Agrianual/FNP 0,35 0,08 - 0,24

0,22

Agrianual/FNP

Painel C - Diferentes Margens para Cálculo de Lucro/Ha na Lavoura

Média de margens,

Agrianual/FNP 0,22

Agrianual/FNP

EOB/VA 0,19

Contas Nacionais 2011/Agropecuária

Fonte: Elaboração própria.

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100

No “Painel B”, calculou-se o valor de produção anual por hectare, média entre

municípios, também para 2011, com base nos dados da PAM/IBGE. As diferenças entre

valor de produção e custo total (ou operacional) por hectare/ano resultam nos lucros

anuais por hectare. É interessante observar que as margens de lucro são bastante

negativas para milho e algodão, e positivas para soja e cana. Verifica-se que essas

margens tendem a ser muito mais baixas (com exceção da soja) ao serem comparadas

com as margens divulgadas pelo Agrianual/FNP4 por cultura. Isso ocorre devido ao fato

das estimativas sobre custos e margens de lucro no Brasil serem baseadas em culturas e

regiões de alta produtividade. Naturalmente, o produtor mediano não opera com uma

estrutura de custos tão complexa, ou tampouco obtém produtividade tão alta.

Como consequência, não foi possível aplicar as estimativas para margens de

lucros encontradas na literatura especializada para todo o país. Por outro lado, pode-se

assumir que o produtor mediano opera sob uma taxa de rentabilidade mediana do setor.

Como proxy para esta margem, foram utilizadas as estimativas do Sistema de Contas

Nacionais de 2011, o último disponível, para calcular a razão entre o excedente

operacional bruto e o valor adicionado pelo setor agropecuário. De acordo com as

Contas Nacionais de 2011, esta margem foi de 19%. Interessante notar que esta taxa é

próxima da margem média calculada entre culturas a partir do Agrianual/FNP (22%). A

implicação disso para a equação (1) consiste na substituição de margens de lucro

regionalizadas e por cultura 𝛼𝑚𝑐 por uma margem agregada para todo o setor, igual a

19%.

A partir do momento em que se aplica uma mesma margem de lucro para todo o

setor, permite-se que as estimativas da função lucro por hectare/ano variem de modo

diretamente proporcional à produtividade local, o que por sua vez está diretamente

relacionada ao preço e ao custo de oportunidade da terra. Em geral, áreas de lavoura de

alta produtividade estariam fora do alcance de incentivos para conservação via

esquemas de PSA. Por este motivo, a escolha de uma taxa de rentabilidade média a

partir do Sistema de Contas Nacionais seria adequada. Na próxima seção são

apresentadas as estimativas de lucro anual médio por hectare baseadas na equação (1)

acima, calculadas sobre uma margem de 19%, comum a todos os municípios e culturas.

2.1.2.2. Estimativas Para a Lavoura

4 Anuário da Agricultura Brasileira da Informa Economics FNP.

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101

Esta seção apresenta estimativas de lucro da lavoura por hectare no ano de 2013.

A Tabela 2 exibe algumas estatísticas descritivas, calculadas com base nos dados dos

5570 municípios brasileiros.

Tabela 2: Estatísticas Descritivas para a Lavoura

Observações Média Desvio-padrão Min Max

Lucro por hectare/ano 5.570 627 769 0 13.424

Área total utilizada em hectares 5.570 13.004 38.634 0 1.098.897

Proporção da área total utilizada 5.570 0,30 0,27 0 1

Lucro por hectare/ano, distribuição p10 p25 p50 p75 p90

20 156 513 819 1237

Fonte: Elaboração própria.

Verifica-se que, em média, a área ocupada por lavouras é de 30% da área total

utilizada pela agropecuária nos municípios brasileiros. O lucro anual médio por hectare

de lavoura é de R$627, embora a dispersão seja grande. Observou-se que 25% dos

municípios têm lucro anual por hectare na lavoura abaixo de R$156, enquanto em

outros 25% o lucro foi estimado acima de R$819 por hectare/ano. O Mapa 1, a seguir,

apresenta a distribuição do lucro anual médio da lavoura por hectare entre os municípios

brasileiros.

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102

Mapa 1: Lucro Anual da Lavoura em R$ por hectare/ano, preços de 2013,

Modelo COT - L

Fonte: Elaboração Própria

Observa-se que o lucro por hectare/ano tende a ser relativamente alto nas regiões

Sul e Sudeste, extensa parte do cerrado e nas partes mais setentrionais da Amazônia,

justamente no que é chamado de “Arco do desmatamento”. Esses resultados são

compatíveis com as expectativas de encontrar valores mais elevados nessas regiões, e

menor custo de oportunidade no interior das regiões Norte e Nordeste.

Na Figura 1, a seguir, apresenta-se a curva de custo de oferta de conservação

estimado pelo custo de oportunidade da terra de lavoura: de forma crescente para cada

nível de lucro da terra, é calculado o somatório da área de lavoura cuja rentabilidade

seria equalizado por um eventual PSA. Observa-se que para valores de lucro por

hectare/ano em R$243 (a mediana do lucro por hectare/ano relativo a todos os usos da

terra, como detalhado à frente), a curva de oferta de conservação de terras de lavoura

atinge um patamar de 9,7 milhões de hectares.

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103

Figura 1: Curva de oferta de conservação para PSA na Lavoura em R$ por

hectare/ano, preços de 2013 (Modelo COT – L)

Fonte: Elaboração própria.

2.1.3. Estimativas para a Pecuária

O cálculo do custo de oportunidade associado às áreas de pastagem

originalmente proposto no projeto de pesquisa seria feito a partir da estimação da taxa

de lotação, partindo de informações sobre o efetivo bovino e área de pastagem para o

conjunto dos municípios brasileiros. Todavia, o andamento do projeto revelou a

necessidade de se alterar a metodologia elaborada a priori. O aspecto central

responsável por promover tal mudança foi a existência de uma enorme quantidade de

municípios para os quais os respectivos efetivos bovinos contavam com áreas de

pastagem praticamente inexistentes, sobretudo nas Regiões Norte e Nordeste. Como

consequência, as taxas de lotação municipais (cabeças de gado por hectare) assumiram

valores significativamente altos, em completo desalinho com a realidade documentada

sobre a pecuária no país, principalmente na porção amazônica e no sertão nordestino.

Esse problema está pautado pelas limitações da mensuração da área de pastagem

no Brasil. Ademais, inexiste uma série histórica fundada em informações coletadas e

disponibilizadas anualmente. Como se sabe, as informações oficiais sobre o uso da terra

são disponibilizadas apenas para os anos censitários, de modo que, na melhor das

-

200

400

600

800

1.000

1.200

- 20.000.000 40.000.000 60.000.000

Lucr

o p

or

he

ctar

e -

R$/

ha/

ano

Área em hectares

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104

hipóteses, as informações sobre áreas de pastagem são fornecidas a cada década pelo

IBGE. Mas mesmo os dados censitários revelam valores questionáveis, como taxas de

lotação ou lucro anual por hectare extremamente altos em municípios amazônicos,

distantes de uma rede de infraestrutura efetiva de escoamento da produção. A possível

razão para isso é que, nesses municípios mais distantes ou de menor relevância para a

produção comercial, as áreas de pastagens identificadas pelas estatísticas são muito

inferiores às áreas onde, de fato, os animais pastam – como são criados “soltos” podem

estar avançando em capoeiras, áreas abandonadas, etc.

Ante a incapacidade de se estimar uma taxa de lotação confiável para cada um

dos municípios brasileiros partindo das séries históricas de efetivo bovino e de área de

pastagem, esta última anualizada pela Pesquisa Pecuária Municipal (PPM-IBGE),

optou-se pelo caminho inverso. Não identificando maiores problemas na série histórica

do rebanho bovino municipal, buscou-se na literatura correlata valores consolidados

para a taxa de lotação. Dessa forma, a taxa de lotação passou a ser determinada

exogenamente (embora esta tenha sido fruto de alguns ajustes, como anualização e

municipalização) e a área de pastagem de cada município brasileiro foi estimada

endogenamente.

Para o cálculo do custo de oportunidade da terra, partiu-se de informações

coletadas por estudos como Dias-Filho (2014), Soares-Filho et al. (2015) e Margulis

(2004) sobre a taxa de lotação média da pecuária no Brasil, grandes regiões e unidades

da federação, além de informações contidas no censo agropecuário de 2006. Em

nenhum dos estudos mencionados a taxa de lotação é apresentada na forma de série

histórica, e, tampouco, as informações se apresentam em escala municipal. Deste modo,

fez-se necessário compor a série para depois municipalizá-la.

Os dados sobre taxa de lotação utilizados nesse relatório fazem referência aos

anos de 1996 e 2006, ambos censitários, além do ano de 2011. Outras informações

sobre taxas de lotação foram apresentadas sem referência clara ao ano ou localidade às

quais se referiam. Estes dados foram descartados no processo de municipalização e

composição da série histórica, embora tenham servido para testar a aderência do cálculo

realizado no presente relatório.

A composição da série histórica foi feita através do cálculo da variação anual

média para a taxa de lotação das pastagens, sendo que se partiu das informações

censitárias para os anos de 1996 e 2006.

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IEI-18958

105

Sabendo que em 1996 a taxa de lotação das pastagens no Brasil era de 0,86

cabeças de gado por hectare, e que em 2006 seu valor atingiu a marca de 1,08,

depreende-se que, no período, a relação cabeça por hectare cresceu a uma taxa

aproximada de 1,023 ao ano. No caso, assume-se como hipótese que a lotação do

rebanho cresce de forma homogênea no tempo em todas as regiões do país, tal qual

expresso na Tabela 3, abaixo.

Tabela 3: Taxa de lotação para o Brasil e Grandes Regiões –

(cabeças por hectare)

Taxa de Lotação - Cabeça por Hectare

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

NORTE 1,00 1,02 1,04 1,07 1,09 1,12 1,14 1,17 1,20 1,22 1,25 1,28 1,31 1,34

NORDESTE 0,67 0,69 0,70 0,72 0,74 0,75 0,77 0,79 0,81 0,83 0,85 0,86 0,88 0,90

SUDESTE 0,97 0,99 1,01 1,03 1,06 1,08 1,11 1,13 1,16 1,19 1,21 1,24 1,27 1,30

SUL 1,19 1,21 1,24 1,27 1,30 1,33 1,36 1,39 1,42 1,46 1,49 1,53 1,56 1,60

CENTRO-OESTE 0,98 1,00 1,03 1,05 1,08 1,10 1,13 1,15 1,18 1,20 1,23 1,26 1,29 1,32

BRASIL 0,94 0,96 0,99 1,01 1,03 1,06 1,08 1,10 1,13 1,16 1,18 1,21 1,24 1,27

Fonte: Elaboração própria segundo os dados do Censo Agropecuário de (2006)

e Dias-Filho (2014).

Informação mais detalhada sobre a densidade do rebanho por área foi encontrada

em Soares-Filho et al. (2015), de onde foi possível dispor de valores para os estados

amazônicos para o ano de 2012. Esses valores serviram de parâmetro para a estimação

da série da taxa de lotação das unidades da federação pertencentes à região

administrativa da Amazônia Legal, tendo sido igualmente extrapolados a uma taxa de

1,023 ao ano para atender o período de análise estabelecido nesse relatório.

A municipalização dessas taxas de lotação estaduais ou regionais foi feita por

meio da utilização da composição do rebanho bovino municipal, informação obtida

junto ao Censo Agropecuário de 2006. Como cada município dispõe de uma

composição específica de rebanho (participações relativas de bois, vacas, novilhos,

novilhas, bezerros e bezerras), as taxas regionais/ estaduais de lotação passaram a

refletir, pelo menos em parte, critérios municipais. Como as informações são

censitárias, partiu-se da premissa de que a composição do rebanho se manteve

razoavelmente constante ao longo do período, haja vista a ausência de dados para os

Page 106: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

106

demais anos da série. Esta hipótese, embora simplificadora, é compatível com a ideia de

uma relação cabeça por hectare crescendo a taxas anuais constantes.

O procedimento acima não foi realizado apenas em função da necessidade de se

aproximar as taxas regionais e estaduais de uma realidade municipal, mas também em

razão da necessidade de se encontrar um fator de equivalência entre cabeça de bovino e

unidade animal (medida que expressa 450kg de peso vivo). Com vistas a tal fim,

procedeu-se ao cálculo do peso médio do animal por município, em que a composição

do rebanho serviu como matriz de ponderação para o peso médio do gado brasileiro.

O peso médio do animal foi calculado a partir da pesquisa trimestral do abate de

animais, que fornece informações sobre o peso médio da carcaça dos animais vitimados

por categoria (bois, vacas, novilhos, novilhas, bezerros, bezerras, vitelos e vitelas).

Sabendo que o rendimento da carcaça no país encontra-se próxima de 50% do peso do

animal vivo, o peso do gado brasileiro foi obtido ao se multiplicar o peso do animal

vitimado por dois. Essas informações trimestrais foram anualizadas e posteriormente

ponderadas pela composição do rebanho de cada município.

Antes de prosseguir no cálculo da taxa de lotação municipal, expressa em

unidades animais, foi necessária uma correção, dado o diferencial inter-regional de

produtividade da pecuária brasileira. Não é razoável supor que a pecuária no sul do país

gere um gado médio com o mesmo peso que um gado amazônico, ou nordestino, dado

que a capacidade de suporte da pastagem é diferente, bem como a estrutura de

produção, sendo a pecuária no sul mais confinada do que a aquela que se localiza na

fronteira agrícola. Esta relação fica evidente na Tabela 4, abaixo, em que é possível

perceber que o grande problema da pecuária na Amazônia passa a descolar da taxa de

lotação medida de cabeça por hectare para se focar no peso médio do gado produzido.

De fato, o Norte do país possui atualmente a segunda maior taxa de lotação dentre as

grandes regiões brasileiras, contudo, o peso médio do seu gado só fica à frente do gado

nordestino, valendo aproximadamente 237kg (0,5271 x 450KG).

Tabela 4: Taxa de Lotação para o ano de 2011 e produtividade

relativa por animal

UA/HA CA/HA FATOR

NORTE 0,5271 1,28 82%

NORDESTE 0,5104 0,86 80%

SUDESTE 0,7047 1,24 110%

SUL 0,9646 1,53 151%

Page 107: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

107

CENTRO-OESTE 0,6489 1,26 101%

BRASIL 0,6402 1,21 100%

Fonte: Elaboração própria segundo dados do Censo Agropecuário (2006),

DIEESE (2011), Dias-Filho (2014).

Tendo sido feitas as devidas correções, multiplicou-se a matriz de peso médio do

animal por município por uma taxa de lotação (cabeça/hectare) estadual, de modo a se

obter o peso do animal vivo suportado em um hectare de pastagem para cada um dos

municípios brasileiros. Como o peso médio do gado brasileiro é expresso em unidades

animais, o resultado do cálculo aplicado nesta etapa conduziu a obtenção de uma taxa

de lotação municipal medida igualmente em unidades animais. Por fim, o lucro anual

por hectare foi encontrado ao se multiplicar a taxa de lotação municipal (UA/Ha) por

uma lucratividade média por unidade animal5 (ANUALPEC, 2013), expressa na Tabela

5. Essa lucratividade média foi calculada levando-se em consideração a porcentagem da

produção bovina obtida por meio de sistemas intensivos, semi-intensivos e extensivos,

dados retirados de Soares-Filho et al.( 2015).

Tabela 5: Sistema de produção e lucratividade anual média da

pecuária (R$/Ha)

Sistema de Produção

e Rentabilidade Amazonas Pará Rondônia Roraima Tocantins Amapá Maranhão

Mato

Grosso Acre Brasil

Intensiva 0,12 0,01 0,10 0,11 0,16 0,16 0,15 0,45 0,05 0,18

Semi-Intensiva 0,16 0,98 0,21 0,17 0,22 0,22 0,22 0,25 0,18 0,20

Extensiva 0,72 0,00 0,70 0,72 0,62 0,62 0,62 0,31 0,78 0,61

Rentabilidade

(R$/HA) 145,00 166,12 145,32 144,61 148,67 148,81 148,50 163,32 141,90 181,09

Fonte: Elaboração própria segundo dados da FNP (2014) e Soares-Filho et al.

(2015).

A Tabela 6 apresenta algumas estatísticas descritivas, calculadas com base nos

dados dos 5570 municípios brasileiros. Em média, a área ocupada por pastagens é de

5 Deve-se atentar para o fato de que a taxa de lucro por cabeça animal fornecida pela FNP (ANUALPEC,

2013) é calculada em função de uma taxa de abate para a região de referência. Isto é, em uma dada taxa

de lucro por unidade animal contabilizam-se as receitas obtidas dos animais abatidos e os custos de

produção referentes à totalidade do rebanho.

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IEI-18958

108

66% da área total utilizada pela agropecuária nos municípios brasileiros. Verifica-se que

o lucro anual médio por hectare de pecuária é de R$166. Embora a dispersão seja

grande, a pecuária adotada no país é de baixa lucratividade. Observou-se que 25% dos

municípios têm lucro por hectare/ano na pecuária abaixo de R$44, enquanto em outros

25% o lucro foi estimado acima de R$211 por hectare/ano.

Tabela 6: Estatísticas Descritivas para a Pecuária

Observações Média Desvio-padrão Min Max

Lucro por hectare/ano (R$) 5.570 166 124 0 524

Área total utilizada em hectares 5.570 30.948 71.314 0 2.060.803

Proporção da área total utilizada 5.570 0,66 0,28 0 1

Lucro por hectare/ano, distribuição p10 p25 p50 p75 p90

R$ por ha/ano 14 44 182 211 361

Fonte: Elaboração própria.

O Mapa 2, abaixo, apresenta a distribuição geográfica do lucro por hectare/ano

das áreas de pastagem no Brasil. Nota-se que a rentabilidade média da pecuária no

Brasil é bastante heterogênea, acompanhando o diferencial de produtividade da pecuária

medido em termos do peso médio do animal por região. A baixa lotação medida em

unidade animal por hectare é hoje um dos principais condicionantes da baixa

lucratividade da pecuária na região de fronteira. No interior do Nordeste, a lucratividade

também é baixa, reflexo das condições climáticas desfavoráveis à criação bovina. Por

outro lado, no sudeste do Pará, região que constitui importante vetor de expansão da

bovinocultura, a lucratividade média é relativamente mais alta.

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IEI-18958

109

Mapa 2: Lucro Anual da Pecuária em R$ por hectare/ano, preços de 2013,

Modelo COT – L

Fonte: Elaboração própria

Via de regra, não é apenas na fronteira agrícola que a lucratividade da pecuária

se encontra em níveis baixos. Com base nos resultados, esta é uma realidade nacional,

argumento que se suporta pelo fato do lucro anual médio por hectare no país ser de

R$166.

A partir das informações sobre lucro médio da pecuária, é possível inferir uma

curva de oferta de terras para pagamento por serviços ambientais no Brasil referente a

pastagens.

Ao preço de R$243 por hectare/ano (mediana do lucro anual por hectare quando

se considera todos os usos da terra) é possível equiparar os rendimentos de 155 milhões

de hectares de pastagens. Efetivamente, para que essas áreas retornem à sua ocupação

original, é necessário que se contabilizem também os custos de recuperação florestal.

Embora as despesas com a recuperação estejam sendo desconsideradas até este ponto,

chama atenção o fato de que a conversão de matas em pasto tem sido motivada

historicamente por uma taxa de lucro anual muito baixa por hectare.

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110

Novamente percebe-se que tanto os valores para a mediana (R$ 166/ha) quanto

para o percentil mais alto (R$ 243/ha) estão na faixa de valores identificados em

projetos de PSA já implementados no país. Isso significa que as áreas ocupadas pela

pecuária, especialmente quando extensiva e de baixa produtividade, devem ser

prioritárias na elaboração em um PSA nacional.

Figura 2: Curva de oferta de terras para PSA na Pecuária em R$ por

hectare/ano, preços de 2013 (Modelo COT – L)

Fonte: Elaboração própria.

Algumas considerações podem ser traçadas a partir desses resultados. É possível

propor que um PSA nacional se concentre em áreas de pecuária, o que resultaria em

pouco efeito redutor de áreas de lavoura e baixas consequências para a produção

agrícola. Essa proposta, proveniente de indicativos previamente demonstrados, é oposta

ao argumento usualmente empregado de que a implementação da legislação florestal

resultaria em retração na oferta de alimentos (e, especulativamente, com efeitos

inflacionários). Concentrando-se em áreas de pecuária de baixa produtividade, mesmo

os efeitos sobre a produção de carne não seriam consideráveis, visto que a produção

comercial em larga escala, que abastece o grosso do mercado interno e quase todas as

exportações, adota práticas muito mais eficientes em termos de uso da terra.

-

50

100

150

200

250

300

350

400

- 50.000.000 100.000.000 150.000.000

Lucr

o p

or

he

ctar

e -

R$

/ha/

ano

Área em hectares

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111

Outro aspecto é que os eventuais efeitos de perda de emprego seriam muito

pequenos, se é que existiriam, pois a pecuária extensiva caracteriza-se por empregar

muito pouca mão de obra. Aliás, é possível supor que a implementação de um sistema

de PSA nacional geraria mais empregos nas ações de conservação (que são mais

demandantes de trabalho) do que seria perdido na pecuária extensiva. Esse tema foge ao

escopo do presente trabalho, mas deveria ser tratado em estudo posterior (consequências

socioeconômicas da implementação do PSA).

Por outro lado, se o critério de alocação de áreas for restrito ao preço mais baixo

da terra, também fica evidente que existiria uma grande concentração das ações de

conservação na Amazônia e na Região Nordeste (mais especificamente, na caatinga). É

nítido que o custo de oportunidade da terra em um PSA na Mata Atlântica será mais

caro do que nos demais biomas. Como nesse bioma a demanda por recuperação de

vegetação nativa, que requer custos adicionais, é muito maior do que a de conservação

de remanescentes florestais (que não requer tais custos), o custo total por hectare de um

PSA na Mata Atlântica deverá ser bem maior do que em outros biomas.

Por isso, a introdução de critérios qualitativos para a definição de metas de áreas

prioritárias para a implementação de PSA deve levar em consideração outros critérios

além do custo. Mais adiante, o presente relatório apresenta estimativas sobre benefícios

ambientais da implementação de um PSA Nacional por critérios diferentes: gases de

efeito estufa (captura ou emissões evitadas), conservação do solo (erosão evitada) e

relevância para a conservação da biodiversidade, e mostra que a distribuição espacial

desses benefícios é bastante diferenciada das áreas mais baratas.

2.1.4. Estimativas para a Silvicultura

Essa seção detalha o método de estimação do custo de oportunidade da terra

associado à atividade de silvicultura. Nesse sentido, a finalidade é obter um valor

estimado de lucro anual por hectare decorrente da silvicultura, por município.

2.1.4.1. Nota Sobre a Temporalidade do Investimento em Floresta

A decisão de investimento em floresta plantada – em geral, eucalipto e pinus –

envolve um horizonte temporal de maturação relativamente longo, em torno de sete

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112

anos (Bacha, 2008)6. Diante disso, a maneira mais apropriada de se estimar o custo de

oportunidade da terra destinada à silvicultura seria por meio da análise do fluxo de

recursos ao longo do tempo. A literatura de análise econômica de projetos florestais

utiliza uma série de métodos distintos, que têm por base a análise a partir do Valor

Presente Líquido (Silva & Fontes, 2005).

A fim de uma análise desse tipo, seria necessário ter conhecimento do estágio de

maturação de cada projeto de floresta plantada no país, bem como suas características

específicas no que diz respeito a parâmetros como produtividade, taxa de desconto,

horizonte temporal e custos7. Diante da impossibilidade de seguir por esse caminho

metodológico, optou-se por um método mais simples, conforme descrito na subseção a

seguir.

2.1.4.2. Metodologia de Estimação do Custo de Oportunidade para Silvicultura

Para a estimação do custo de oportunidade da terra associado à silvicultura,

foram verificadas dificuldades relacionadas à disponibilidade de dados necessários ao

cálculo. Em primeiro lugar, só há dados municipais de área de floresta plantada por

município nos Censos Agropecuários, e o último censo data de 2006. Porém, a

Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas divulga, em bases anuais, a

área de floresta plantada, tanto para eucalipto quanto para pinus, por unidade da

federação. Assim, assumindo que a participação de cada município no total da área

ocupada por florestas permaneceu constante dentro de cada estado, é possível criar uma

série temporal, que contempla os anos entre 2004 e 2012, de área de florestas plantadas

por município.

No que diz respeito ao lucro por município, a Pesquisa Produção da Extração

Vegetal e Silvicultura (PEVS), divulgada pelo IBGE, apresenta o valor bruto da

produção por tipo de produto, para cada município produtor8. No entanto, não há

informações sobre os lucros ou rentabilidade da silvicultura nessa pesquisa. Assim,

optou-se por uma relação lucro/valor bruto da produção de 40%, baseado em pesquisa

6 Bacha (2008) argumenta que no Brasil, o tempo necessário para a primeira colheita é de sete anos, ao

passo que em outros países, varia entre 7 e 45 anos. Além disso, a produtividade em termos de m3/ha/ano

é muito superior no país. 7 Ou, alternativamente, seria necessário se ter uma média por de cada uma dessas variáveis para se montar

“projetos típicos” por município. 8 Vale notar que, ao considerar o Valor Bruto da Produção, como base para o cálculo do lucro por hectare,

implicitamente, assume-se que apenas os projetos de investimento já em fase de maturação geram lucros.

Infelizmente, dado o nível de detalhamento das informações, não é possível uma estimação para todo o

país com base em um método que leve em conta o horizonte temporal dos projetos.

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113

sobre o setor (Motta et. al., 2010; Pratti, 2010). O cálculo do lucro anual por hectare

pode ser descrito a partir da equação 2, a seguir:

Equação 02.

Π𝑚 = 𝛼.𝑉𝑃𝑚

A𝑚 (2)

Onde o termo Π𝑚refere-se ao lucro anual por hectare no município m. O

parâmetro 𝛼 refere-se à relação lucro/valor bruto da produção, e aqui será 40%. Por fim,

os termos 𝑉𝑃𝑚 e A𝑚 referem-se, respectivamente, ao valor da produção de carvão

vegetal, madeira em tora e lenha de eucalipto e pinus no município; e área de floresta

plantada de eucalipto e pinus no município.

Como o horizonte de investimento em floresta plantada envolve prazos mais

longos, optou-se por definir o custo de oportunidade do setor a partir da equação 3:

Equação 03.

𝐶𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑂𝑝𝑜𝑟𝑡𝑢𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑚 =∑ Π𝑚𝑡𝑡

9 (3)

Ou seja, para a silvicultura, foi feita a opção de considerar a média do lucro

anual por hectare, a preços constantes, observado entre 2004 e 2012. Com isso, é

possível suavizar eventuais discrepâncias resultantes de projetos em estágios distintos

de maturidade.

2.1.4.3. Estimativas para a Silvicultura

A Tabela 7 apresenta estatísticas descritivas de lucro anual por hectare e área de

florestas plantadas de eucalipto e pinus, em 2012, calculadas com base nos dados dos

5570 municípios brasileiros. Em média, a área ocupada por florestas plantadas é de 3%

da área total utilizada pela agropecuária nos municípios brasileiros. Verifica-se que o

lucro anual médio por hectare de silvicultura é de R$2.318. Observa-se que em mais

50% dos municípios não há florestas plantadas e, portanto, o lucro é zero.

Tabela 7: Estatísticas Descritivas para a Silvicultura

Observações Média Desvio-padrão Min Max

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114

Lucro por hectare/ano 5.570 1.756 16.422 0 825.676

Área total utilizada em hectares 5.570 1.121 6.281 0 181.024

Proporção da área total utilizada 5.570 0,03 0,09 0 1

Lucro por hectare/ano, distribuição p10 p25 p50 p75 p90

R$/ ha/ ano 0 0 0 536 2406

Fonte: Elaboração própria.

O Mapa 3, abaixo, ilustra a distribuição do custo de oportunidade da terra para a

silvicultura. É possível identificar no mapa os municípios de acordo com o intervalo de

valores de custo de oportunidade para um programa de pagamento por serviços

ambientais.

Mapa 3: Lucro Anual da Silvicultura em R$ por hectare/ano, preços de 2013,

Modelo COT - L

Fonte: Elaboração própria

Como se pode observar, a silvicultura concentra-se nas regiões sul e sudeste,

com expansão também na região centro-oeste. Na região Norte, há poucos municípios

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115

com silvicultura, porém com rentabilidade relativamente alta. Já na região nordeste, há

poucos municípios com florestas plantadas, com alguma concentração no sul da Bahia e

região central do Maranhão.

A partir dos dados de lucro por hectare/ano e da área ocupada por florestas

plantadas em cada município, é possível construir uma curva de oferta de terra para

PSA. Assim, podem-se identificar os municípios onde seria mais barato abrir mão de

floresta plantada para regeneração de mata nativa. A Figura 3 a seguir apresenta essa

curva de oferta para silvicultura.

Figura 3: Curva de oferta de PSA para Silvicultura em R$ por hectare/ano,

preços de 2013 (Modelo COT – L)

Fonte: Elaboração própria

Pode-se observar que ao custo de R$243 por hectare/ano é possível reduzir a

área de silvicultura em 1,7 milhões de hectares, ou 28% da área total de floresta

plantada no país.

2.1.5. Custo de Oportunidade da Terra no Brasil

A tabela 8, abaixo, apresenta as estatísticas descritivas consolidadas dos custos

de oportunidade de terra para lavoura, pecuária e silvicultura no Brasil. O painel

superior da tabela 8 consolida os lucros por hectare/ano e áreas utilizadas em cada uma

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

- 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 5.000.000 6.000.000

Área em hectares

Lucr

o p

or

hec

tare

- R

$/h

a/an

o

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116

das atividades mencionadas. Observa-se que o maior lucro anual médio por hectare

estimado é o de silvicultura, embora esta atividade ocupe apenas 3% da área

agropecuária. Neste sentido, embora a silvicultura possa influenciar a lucratividade

média do setor em localidades específicas, não é suficientemente predominante no país

a ponto de afetar a lucratividade média nacional.

Em segundo lugar, observa-se que o lucro anual médio da lavoura por hectare é

de R$627, enquanto a atividade ocupa em média 30% da área total utilizada no setor

agropecuário. Por fim, observa-se que o lucro anual médio por hectare para a pecuária é

o mais baixo: R$166.

O painel inferior da Tabela 8 consolida o lucro médio por hectare/ano levando

em conta a lucratividade de cada uma das três atividades e suas respectivas áreas. Com

o objetivo de estimar um único custo de oportunidade da terra para cada município,

calculou-se a média do lucro por hectare/ano entre as três atividades, ponderada pela

área utilizada em cada uma delas.

O último painel da Tabela 8 apresenta estatísticas descritivas para os 5570

municípios brasileiros. Em primeiro lugar, encontra-se um lucro anual médio por

hectare de R$328. Esta média, no entanto, é acima da mediana, de apenas R$243.

Observa-se também que o percentil 25 é de apenas R$68 por hectare/ano, enquanto que

o percentil 75 é de R$464 por hectare/ano.

Tabela 8: Estatísticas Descritivas Consolidadas, Modelo COT-L

Observações Média Desvio-

padrão Min Max

Lucro em R$ por hectare/ano

Lavoura 5.570 627 769 0 13.424

Pecuária 5.570 166 124 0 524

Silvicultura 5.570 1.756 16.422 0 825.676

Área total utilizada em hectares

Lavoura 5.570 13.004 38.634 0 1.098.897

Pecuária 5.570 30.948 71.314 0 2.060.803

Silvicultura 5.570 1.121 6.281 0 181.024

Proporção da área total utilizada

Lavoura 5.570 0,30 0,27 0 1

Pecuária 5.570 0,66 0,28 0 1

Silvicultura 5.570 0,03 0,09 0 1

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117

Lucro/ha/ano médio por município 5.570 328 376 0 7.492

p10 p25 p50 p75 p90

19 68 243 464 680

Fonte: Elaboração própria.

O Mapa 4 abaixo descreve a distribuição do lucro anual médio por hectare no

país. Observa-se que o resultado naturalmente reflete, em grande medida, uma

combinação entre os pesos de lavoura e pecuária nas diversas regiões brasileiras. Por

um lado, como esperado, o custo de oportunidade da terra é relativamente mais alto nas

regiões sul e sudeste. Destacam-se também a área central do Mato Grosso, Goiás, oeste

da Bahia e Maranhão, o Vale do São Francisco, na região Nordeste, e pontos isolados

da região Norte.

Mapa 4: Lucro Anual Médio da Agropecuária em R$ por hectare/ano, preços

de 2013, Modelo COT - L

Fonte: Elaboração própria

Por fim, a Figura 4 apresenta a curva de oferta de PSA consolidada para o Brasil,

levando em conta lucros por hectare/ano e áreas utilizadas pelas atividades

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118

agropecuárias no país – lavoura, pecuária e silvicultura. Pode-se observar que a um

custo de R$243 por hectare/ano9, o que equivale à mediana do lucro por hectare/ano na

distribuição entre municípios brasileiros, seria possível reduzir a área utilizada no setor

agropecuário em cerca de 130 milhões de hectares, ou aproximadamente metade (52%)

da área utilizada conjuntamente pelas atividades de lavoura, pecuária e silvicultura no

país. Esse resultado revela o peso de uma pecuária extensiva, de baixa lucratividade, e

que ocupa cerca de dois terços da área utilizada no setor agropecuário.

Figura 4: Curva de oferta de conservação para PSA no Brasil em R$ por

hectare/ano, preços de 2013 – Consolidada (Modelo COT – L)

Fonte: Elaboração própria.

9 Como visto mais adiante, outro indicador para expressar o custo de oportunidade da terra consiste no

valor do arrendamento da propriedade, que nada mais é do que o valor mínimo exigido pelo proprietário

para transferir o direito ao uso deste ativo para outros agentes. O Instituto de Economia Agrícola do

Estado de São Paulo (IEA-SP), por exemplo, dispõe de informações sobre o valor do arrendamento de

propriedades rurais para um conjunto de municípios, coletadas por meio de seus Escritórios de

Desenvolvimento Rural. Ao proceder ao cálculo da mediana do valor do arrendamento da terra para o ano

de 2013, chegou-se a quantia de aproximadamente R$ 771,00, contra o valor de R$ R$852,00 referente à

mediana do lucro anual por hectare no estado de São Paulo para aquele mesmo ano. Embora os valores

não sejam idênticos, a proximidade (a ordem de grandeza) entre estas cifras é interessante, na medida em

que revela a aderência dos resultados deste relatório com os valores que são realmente pagos aos

proprietários rurais por arrendatários.

-

200

400

600

800

1.000

1.200

- 50.000.000 100.000.000 150.000.000 200.000.000 250.000.000

Área em hectares

Lucr

o p

or

he

ctar

e

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119

2.1.6. Considerações finais a respeito do Modelo COT - L

Este item apresentou e discutiu um modelo de estimação para o custo de

oportunidade da terra para os municípios brasileiros. O custo de oportunidade da terra

refere-se ao valor daquilo que seria perdido em termos monetários pela desistência da

utilização das terras em atividades agropecuárias em prol da conservação. A estimação

deste custo para os municípios brasileiros foi realizada em duas etapas. Na primeira

delas, estimou-se, para cada município, o lucro anual por hectare de terra proveniente de

cada um de três usos da terra concorrentes à conservação: lavoura, pecuária e

silvicultura. Na segunda etapa estimou-se então o custo de oportunidade da terra por

município como o somatório do lucro perdido com essas atividades em razão da

conservação, ponderado pela área utilizada por cada um destes usos. Dentre os

principais resultados encontrados, destacam-se:

a) O lucro médio por hectare/ano é em geral relativamente baixo no Brasil em

comparação com o obtido nas áreas de maior produtividade – a mediana da

distribuição por municípios é de R$243, valores de 2013. Este é supostamente o

custo de oportunidade da terra, por hectare/ano, do município mediano

brasileiro. Ou seja, observa-se em pelo menos metade dos municípios brasileiros

um custo de oportunidade menor ou igual a R$243 por hectare/ano. Esse valor é

plenamente compatível com os valores encontrados para pagamentos aos

proprietários em PSAs já implementados no Brasil (detalhados no capítulo 4).

b) O valor desta mediana reflete em grande medida um valor ainda mais baixo para

a mediana do lucro anual por hectare da pecuária, de apenas R$182, atividade

que ocupa a maior proporção da área agropecuária no Brasil. Ao estimar a curva

de oferta de terras para conservação no país, a partir da relação entre lucro anual

por hectare médio e área acumulada, observou-se que a um custo de R$243 por

hectare/ano seria possível reduzir a área utilizada no setor agropecuário em cerca

de 130 milhões de hectares, ou aproximadamente metade (52%) da área utilizada

conjuntamente pelas atividades de lavoura, pecuária e silvicultura no país. Isso

equivaleria a aproximadamente R$31 bilhões de reais anualmente.

c) Existe grande heterogeneidade regional. Municípios com alta lucratividade e,

portanto, alto custo de oportunidade da terra, concentram-se nas regiões sul e

sudeste. Observam-se também municípios de alta lucratividade agrícola no

Centro-Oeste, oeste da Bahia e do Maranhão, e Vale do São Francisco, no

Nordeste.

Page 120: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

120

As margens de lucro na agropecuária (e, portanto, o próprio custo de

oportunidade da terra) são fortemente correlacionadas com o ciclo de preços das

commodities agrícolas. Dessa forma, existe um componente dinâmico relevante e que

deve ser levado em consideração ao longo do tempo. Em momentos de crescimento de

preços, as margens de lucro tendem a aumentar, e assim também aumenta o valor

daquilo que seria perdido em termos monetários pela desistência da utilização das terras

em atividades agropecuárias por hectare de terra conservada. Neste relatório realizamos

a análise para o ano de 2013, um período de preços de commodities agrícolas

relativamente altos. Logo, os resultados encontrados devem ser interpretados como um

limite superior para o custo de oportunidade da terra em um cenário de queda futura de

preços, movimento que se observa recentemente na conjuntura internacional.

2.1.7. Metodologia de Correção para Áreas das Regiões Norte e Nordeste no

Modelo COT – L

O procedimento apresentado nesta seção adotou o lucro por hectare/ano

proveniente da pecuária, agricultura e silvicultura como medida do rendimento que se

sacrifica quando o dono da terra opta pela conservação das áreas de matas e florestas de

sua propriedade em desistência de sua conversão em pasto, lavoura ou floresta plantada.

A estimação dessa variável para cada um dos municípios brasileiros esbarrou numa

série de dificuldades em razão da escassez, da periodicidade e qualidade dos dados

necessários ao referido exercício.

De antemão, destaca-se a quantidade reduzida de informações sobre a taxa de

lucratividade dessas atividades em escala municipal. Por isso, os dados de lucratividade

utilizados inicialmente referiam-se geralmente às médias estaduais ou regionais,

desconsiderando que dentro dessas fronteiras existem realidades bastante distintas no

que tange as estruturas de custos, comercialização e outros aspectos da produção. As

informações de área de lavoura, silvicultura e pecuária, obtidas junto ao Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também se mostraram problemáticas, quase

sempre subestimadas, para localidades específicas do país, notadamente para as áreas

remotas da Amazônia, bem como da Caatinga e parte do Cerrado nordestinos.

Em decorrência das limitações na base de dados, algumas distorções foram

geradas, ora superestimando os valores de lucro anual por hectare, ora distribuindo

espacialmente os lucros de forma equivocada, apontando maiores retornos por hectare

para alguns municípios localizados no interior da Amazônia ou no Nordeste brasileiro.

Page 121: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

121

A razão disso recai sobre a subestimativa sistemática das áreas de lavoura e pastagens

desses municípios: devido a sua produtividade muito baixa, essas áreas são muitas vezes

ignoradas pelas estatísticas oficiais.

Essas distorções concentraram-se em alguns municípios dessas regiões, de modo

que no restante do país a metodologia apontou para resultados bastante coerentes e

condizentes com os valores esperados, com médias e medianas do lucro por hectare/ano

próximas do que se tem documentado na literatura, ademais de uma boa distribuição

espacial desses valores. Nesse sentido, fez-se necessária a elaboração de um ajuste que

fosse capaz de corrigir os outliers nas áreas onde foram identificados os problemas.

A solução encontrada para corrigir a estimação das áreas utilizadas nas

atividades agropecuárias passou pela multiplicação do resultado final por um fator de

correção, para o caso específico dos municípios das regiões Norte e Nordeste, em três

passos. No primeiro deles, estimaram-se as áreas de lavouras, pecuária e silvicultura de

acordo com as metodologias detalhadas nas seções 2.1.1, 2.1.2, e 2.1.3,

respectivamente. A partir disso, agregou-se a área total destas atividades em cada

município a partir da soma das partes. Calculou-se também a proporção da área

utilizada em cada município em cada um destes usos alternativos.

No segundo passo, estimou-se, para cada município das regiões Norte e

Nordeste, uma área residual baseada na diferença entre a área do município e o

somatório das áreas de florestas, unidades de conservação, terras indígenas, zonas

urbanas, e espelhos d’agua. Essa área residual é, por suposição, livre para ser

aproveitada agricolamente (para lavoura, pastagens ou silvicultura) nessas regiões. No

terceiro passo, aplicaram-se sobre essa área residual as proporções estimadas no

primeiro passo, de modo a corrigir as áreas de lavoura, pecuária e silvicultura no Norte

e Nordeste através de um fator de ajuste. As taxas de lucro por hectare/ano para o Norte

e Nordeste foram então estimadas após o ajuste das áreas utilizadas em cada atividade e

município, onde se levou em consideração a área residual municipal para o cálculo da

área total utilizada no setor.

1.1. Modelo de custo de oportunidade da terra baseado na extrapolação de

preços observados no mercado (Modelo COT - P)

Na primeira parte do relatório, o lucro foi escolhido como variável chave para o

cálculo do custo de oportunidade da terra. Entretanto, pôde-se perceber que o processo

Page 122: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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122

de estimação do lucro por hectare esbarrou em uma série de limitações em função da

disponibilidade de dados, de onde se depreende algumas interferências sobre o resultado

final, evidenciados anteriormente.

Uma alternativa ao exercício proposto na primeira parte é dada pela

possibilidade de se estimar o custo de oportunidade da terra por meio do valor dos

contratos de arrendamento. Em termos econômicos, o arrendamento e o lucro da terra

são conceitos intercambiáveis, dado que ambos refletem a remuneração da terra

enquanto fator de produção. A diferença, de fato, é que o lucro pode ser empregado em

uma gama maior de situações, enquanto o arrendamento trata apenas de situações onde

o proprietário transfere o direito ao uso da terra a outro agente.

A natureza das dificuldades encontradas ao longo desse exercício estatístico é

rigorosamente a mesma daquela que se apresentou na primeira subseção do presente

capítulo. A falta de dados em escala municipal e a descontinuidade das séries históricas

impuseram grandes desafios à obtenção dos resultados, com o agravante de que a

disponibilidade de informações sobre o mercado de arrendamento de terras é ainda mais

precária – em parte pelo baixo dinamismo desse mercado no Brasil (PLATA &

REYDON, 2006). Por esta razão, optou-se estimar o valor do arrendamento em função

do preço observado da terra (Modelo COT – P), assumindo uma proporcionalidade

entre essas duas estatísticas.

A devida conversão do preço da terra em valor do arrendamento foi obtida por

meio da utilização de taxas reais de juros. De modo simples, é possível afirmar que o

preço de um ativo equivale à perpetuidade de seu fluxo de rendimento10

descontado

para o valor presente, tal qual evidenciado na equação (4), abaixo:

Equação 04.

𝑝 =𝑞

𝑖 (4)

Onde q é o fluxo de renda obtido pelo ativo – no caso específico, o valor obtido

pelo arrendamento da terra – e i é a taxa de juros real. Assim, tomando o log natural e

resolvendo para o preço de arrendamento, tem-se que:

10

Este seria seu valor de longo prazo, livre de flutuações decorrentes de especulação com o valor do

ativo.

Page 123: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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123

Equação 05.

ln 𝑞 = ln 𝑝 + ln 𝑖 (5)

Como parâmetro para os juros reais de longo prazo foram sugeridas taxas dentro

do intervalo de 4% a 9%. A escolha desses valores não foi arbitrária. O intervalo

abrange os valores mínimos e máximos da razão arrendamento preço da terra no

período 2000-2006, de acordo com os dados da IBRE-FGV, tal qual revela a tabela 9.

Mais além, cabe ressaltar que desde o primeiro trimestre de 2009 a taxa real de juros,

medida pela diferença entre o CDI e o IPCA vem assumindo valores anuais médios

próximos do intervalo de 4% e 6%, com exceção do período que vai de maio de 2012 a

dezembro de 2013 (Figura 5).

Tabela 9: Razão Arrendamento/Preço da Terra, período 2000-06

Tipo de Terra 2000 2001 2002 2003 2004 2005* 2006

Lavoura 0,08563 0,07964 0,08252 0,07446 0,06909 0,06503 0,06097

Pastagem 0,08189 0,07161 0,06599 0,05791 0,05298 0,05534 0,0577

Fonte: Elaboração própria segundo os dados da FGV

*Valor estimado pela média de 2004 e 2006.

Figura 5: Taxa Real de Juros (CDI-IPCA) – período 2000-2015

Fonte: Elaboração própria segundo dados do IBGE e do Banco Central.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

dez

/00

jul/

01

fev/

02

set/

02

abr/

03

no

v/03

jun

/04

jan

/05

ago

/05

mar

/06

ou

t/06

mai

/07

dez

/07

jul/

08

fev/

09

set/

09

abr/

10

no

v/10

jun

/11

jan

/12

ago

/12

mar

/13

ou

t/13

mai

/14

dez

/14

jul/

15

Page 124: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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124

As estatísticas descritivas foram calculadas para diversos patamares de taxas de

juros, mas os resultados aqui apresentados referem-se ao caso da taxa de juros igual a

6% ao ano. Entende-se que esse patamar reflete um cenário de normalidade,

especialmente por estar razoavelmente próximo dos valores médios nas séries históricas

de juros reais, quando observados para o último decênio, e dos valores assumidos pela

razão arrendamento/preço no final da série histórica acima apresentada.

Os dados referentes ao preço da terra foram obtidos juntos ao Anualpec (2013) e

Agrianual (2014), ambas as publicações de autoria da Informa Economics (FNP). A

base contida nas referidas publicações foram formadas pela coleta de dados referentes à

venda de propriedades rurais junto a corretores imobiliários. Desta forma, o valor

contido nos Anuários reflete o valor de mercado de fato, não sendo fruto de estimação,

mas da transação entre vendedores e compradores.

A grande vantagem de se utilizar esses dados é que as cifras sinalizam a real

disposição a pagar e a receber dos agentes que transacionam no mercado de terras. Para

compradores, o montante pago no momento da aquisição da terra reflete, grosso modo,

o valor presente do somatório das rendas esperadas ao longo da vida útil desse ativo. Na

perspectiva dos vendedores, trata-se da quantia mínima de moeda que exigem receber

para se desfazerem do direito que possuem de usufruir dessas rendas ao longo do tempo.

(KEYNES, 1936; REYDON, 1992; YOUNG, 1997; ALVARENGA JR., 2014).

As informações fornecidas pelos dois anuários estatísticos acima (ANUALPEC

e AGRIANUAL) encontram-se majoritariamente expressas em nível microrregional.

Desta forma, um dos maiores desafios encontrados no presente modelo de estimação do

custo de oportunidade da terra consistiu em transformar uma base de dados

microrregional em um conjunto de informações em escala municipal.

O processo de municipalização das informações contidas no Anualpec (2013) e

Agrianual (2014) seguiu a metodologia presente nos estudos de Young et al. (2007);

Queiroz (2008) e Alvarenga Jr (2014).

Ainda que para alguns municípios brasileiros os preços para os tipos de terra

catalogados pela FNP (mata, pastagem e terra agrícola) estejam disponíveis em

ANUALPEC (2013) e AGRIANUAL (2014), para a grande maioria estas informações

apresentam algum grau de incompletude. Isto é, para a grande maioria dos municípios

brasileiros ou inexiste informação sobre o preço de um determinado tipo de terra, ou

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125

simplesmente inexiste qualquer dado referente ao preço das propriedades transacionadas

naquelas localidades.

Para os municípios com falta de dados para áreas de mata, foi utilizado o menor

preço disponível para a terra naquela localidade. No caso de falta de informações sobre

o preço das áreas de pastagem, foi tomada a média entre o preço da mata e o preço da

terra agrícola. Por fim, em caso de inexistência de dados referente ao preço de terras

agrícolas, tomou-se o maior valor da terra no município. No caso extremo, em que

inexistiam informações de preços para quaisquer tipos de terra, tomou-se para esse

município o valor das médias estaduais para as áreas de mata, pastagem e terra agrícola.

Uma vez em posse de uma base municipal, o passo seguinte foi multiplicar o

preço da terra pelo parâmetro referente à taxa de juros real, de modo a chegar ao valor

do arrendamento de um hectare em cada município brasileiro para cada um dos tipos de

terra (mata, pastagem, terra agrícola). Por fim, para se chegar a um valor médio por

hectare arrendado, coube multiplicar o resultado acima pelo peso relativo dos diferentes

tipos de terra em cada município brasileiro – dados estes obtidos junto ao Censo

Agropecuário (IBGE). Ou seja, optou-se uma média ponderada do valor do

arrendamento da terra, tal qual expressa na equação abaixo:

Equação 06

Ai = (Ami . Ysi) + (Api . Ypi) + (Ati . Yai) (6)

Onde:

Ai = valor do arrendamento de um hectare de terra no município i;

Ami= valor do arrendamento da mata no município i;

Api = Valor do arrendamento do pasto no município i;

Ati = Valor do arrendamento da terra agrícola no município i;

Ysi = fração da área do município i ocupado por remanescente florestal;

Ysi = fração da área do município i ocupado por pastagens

Ysi = fração da área do município i ocupado pela agricultura.

A tabela 10, abaixo, apresenta os resultados da estimação do custo de

oportunidade da terra segundo o modelo de preços de mercado. Tendo o parâmetro para

a taxa de juros sido fixado em 6% - valor que expressa a condição de normalidade –,

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126

nota-se que a média do valor dos contratos de arrendamento nos municípios brasileiros

encontra-se abaixo dos R$ 435,00 por hectare/ano. Adicionalmente, o modelo de preços

exógenos revela que 50% dos municípios brasileiros possui um custo de oportunidade

menor que R$ 323,60 por hectare/ano, valor que se encontra dentro da fronteira de

pagamentos nos casos de PSA efetivamente implementados no Brasil.

Tabela 10: Custo de Oportunidade da Terra em 2013 – (R$/Ha)

Estatística 4% 5% 6% 7% 8% 9%

Média 289,42 361,78 434,14 506,49 578,85 651,20

Mediana 215,74 269,67 323,60 377,54 431,47 485,41

Fonte: Elaboração própria

Os valores para referentes ao custo de oportunidade da terra – aqui tratados

como valor do arrendamento – estão heterogeneamente distribuídos pelo território

nacional, tal qual revela o mapa 511. As condições técnicas e de mercado que

determinam os baixos retornos esperados na região amazônica e no sertão nordestino,

acabam por jogar o foco dos projetos de PSA para essas frações do território nacional,

em especial para as áreas de floresta amazônica, onde os benefícios provenientes da

conservação tendem a ser elevados (ver capítulo 3).

11

A relativa homogeneidade de valores observada na região norte se deve fundamentalmente ao baixo

número de observações sobre o preço da terra em escala municipal nessa localidade, agravados ainda pela

grande extensão dos municípios nessa porção do território nacional. Esses dois fatores em conjunto

acabaram contribuindo para o padrão monocromático observado na região, sendo tão mais evidente

quanto menor for a quantidade de dados em escala municipal, e quanto maior for o tamanho dos

municípios em uma dada unidade da federação (vide o caso do Amazonas).

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127

Mapa 5: Custo de arrendamento da terra em R$ por hectare/ano, preços de

2013, Modelo COT - P

Fonte: elaboração própria

Além de atentar para a significativa heterogeneidade na distribuição espacial de

valores, convém chamar a atenção de que o custo de oferta de conservação em uma

parcela significativa do território nacional é relativamente baixo (Figura 6). Os

resultados da estimação feita nesta seção revelaram que com aproximadamente

R$100,00 por hectare/ano seria possível equiparar o lucro da terra (valor do

arrendamento) em cerca de 40 milhões de hectares. Com R$ 200,00 hectare/ano seria

possível equiparar os rendimentos agropecuários recebidos em cerca de 92,5 milhões de

hectares.

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128

Figura 6: Curva de oferta de conservação para PSA no Brasil em R$ por

hectare/ano, preços de 2013 (Modelo COT – P)

Fonte: Elaboração própria

1.2. Modelo de estimação do custo de oportunidade da terra baseado em

modelo econométrico do preço da terra (Modelo COT – E)

Esta subseção apresenta o terceiro e último modelo para a estimação do custo de

oportunidade da terra, baseado em análise de regressão que tem por variável explicada o

preço da terra (Modelo COT – E). O exercício de estimação parte de informações

referentes ao Valor da Terra Nua (VTN) para os estados do Paraná e Santa Catarina

com a finalidade de estimar a sensibilidade do preço da terra em relação a um conjunto

de características presentes nos municípios onde essas propriedades se encontram.

Uma vez obtida a regressão para esses estados, pôde-se os mesmos parâmetros

para estimar o preço da terra para os municípios das demais unidades da federação12

.

Os estados do Paraná e Santa Catarina publicam estimativas de VTN anuais, por

município e para distintos tipos de terra. No Paraná, a Secretaria de Estado de

12

Apenas SP é uma exceção. Para esse estado, há informações sobre preço da terra, porém não ao nível

municipal, mas sim com uma agregação um pouco maior. O Instituto de Economia Agrícola de São Paulo

disponibiliza informações por Escritórios de Desenvolvimento Regional, que, em média, agrupam 8

municípios por EDR.

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

0 50.000.000 100.000.000 150.000.000 200.000.000 250.000.000 300.000.000

Lu

cro p

or

hec

tare

- R

$/h

a/a

no

Área em Hectare

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129

Agricultura e Abastecimento (SEAB/PR) divulga valores municipais de preço de venda

da terra desde 2005, para quatro classes de terra: mecanizada, mecanizável, não

mecanizável e inapropriada13

. Em Santa Catarina, a Empresa de Pesquisa Agropecuária

e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI/SC) é a responsável pelos cálculos de

VTN nos municípios do estado. A EPAGRI, por sua vez, classifica as terras

catarinenses em sete tipos: várzea sistematizada; várzea não sistematizada; terra de

primeira; terra de segunda; terra de terceira; campo nativo e servidão florestal.

Em vista das divergências presentes na classificação dos tipos de terra no Paraná

e em Santa Catarina, a Tabela 11, a seguir, apresenta uma proposta de equivalências

entre as duas metodologias de agrupamento.

Tabela 11: Equivalências entre tipos de Terra para os estados do

PR e SC Classificação SC Classificação PR

Várzea Sistematizada Mecanizada

Várzea Não Sistematizada Mecanizável

Terra de Primeira Mecanizável

Terra de Segunda Não Mecanizável

Terra de Terceira Inaproveitável

Campo Nativo Inaproveitável

Servidão Florestal Inaproveitável

Fonte: Elaboração própria

Para se obter uma extrapolação dos dados de SC e PR para o resto do país,

estimou-se um modelo econométrico que leva em consideração um grupo de variáveis

relevantes para a formação do preço da terra agrícola.

As variáveis, calculadas em nível municipal, utilizadas foram: potencial agrícola

médio; declividade média; altitude média; média e desvio-padrão da precipitação do

período 2000-2013; média e desvio-padrão da temperatura do período 2000-2013;

número de tratores em 2013; crédito rural em 2013; densidade de rodovias (km/km2);

custo de transporte até a capital mais próxima e custo de transporte até São Paulo.

Assim, foram utilizadas variáveis geográficas que impactam a produtividade da

terra, variáveis relativas à intensidade de capital utilizado (tratores e crédito rural) e

13

Ver http://www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deral/terras_metodologia.pdf para uma definição

detalhada das classes de terra agrícolas.

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130

variáveis relativas ao acesso a mercados (densidade de rodovias e custo de transporte

até a capital mais próxima e até São Paulo14

).

O modelo foi estimado a partir da equação 07, para preços da terra de 2013:

Equação 07.

ln (𝑝𝑟𝑒ç𝑜)𝑖 = 𝛽0 + 𝛽1𝑋𝑖 + 𝜀𝑖

Onde o (logaritmo do) preço de venda da terra no município i depende de um

vetor de variáveis X e do termo de erro do modelo, aqui representado por .

A tabela 12 apresenta os resultados do modelo estimado para cada uma das

quatro classes de terra dos municípios de SC e PR.

Tabela 12: Resultados e Parâmetros do Modelo de Preços

Endógenos para os estados do PR e SC (1) (2) (3) (4)

VARIÁVEIS terra mecanizada terra mecanizavel terra nao

mecanizavel

terra inapropriada

potencial_agricola 0.122*** 0.075*** 0.097*** 0.098***

(0.014) (0.022) (0.017) (0.024)

Declividade 0.012 -0.012 -0.000 0.004

(0.008) (0.008) (0.009) (0.011)

Altitude -0.001*** -0.001*** -0.001*** -0.001***

(0.000) (0.000) (0.000) (0.000)

precipitacao_media 0.001*** 0.001*** 0.001*** 0.001***

(0.000) (0.000) (0.000) (0.000)

precipitacao_desv_pad 0.000 0.003*** 0.001** -0.002***

(0.001) (0.000) (0.000) (0.001)

temperatura_media -0.052*** -0.043** -0.000 0.039

(0.018) (0.021) (0.021) (0.027)

temperatura_desv_pad 0.365 -0.547** -0.660** -0.235

(0.236) (0.255) (0.271) (0.318)

Trator 0.001** 0.002*** 0.003*** 0.003***

(0.001) (0.001) (0.001) (0.001)

log_cred 0.071*** 0.050*** 0.052*** 0.053**

(0.015) (0.016) (0.018) (0.021)

densidade_rodovias 1.225*** 0.866** 1.214*** 0.596

(0.372) (0.360) (0.347) (0.458)

log_custo_cap 1.135*** 0.050 0.585 -0.047

(0.386) (0.589) (0.697) (0.621)

custo_cap2 -0.114*** -0.025 -0.059 -0.018

(0.037) (0.057) (0.065) (0.061)

log_custo_sp 7.285** 12.031*** 6.646* 0.934

(2.849) (4.624) (3.887) (4.175)

custo_sp2 -0.533** -0.872** -0.470 0.025

(0.223) (0.358) (0.304) (0.331)

Constant -19.612** -32.858** -17.909 -1.599

14

As variáveis de custo de transporte são estimadas na sua forma quadrática, de modo a captar efeitos não

lineares sobre o preço da terra.

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131

(8.606) (14.141) (11.517) (12.432)

Observations 474 539 603 599

R-squared 0.662 0.538 0.445 0.412

Nota: Erros-padrão robustos em parêntesis. Os resultados foram estimados a

partir de uma cross-section de municípios de SC e PR, para o ano de 2013. ***

p<0.01, ** p<0.05, * p<0.1

A partir dos coeficientes estimados e das características dos demais municípios

brasileiros, o modelo foi aplicado para todo o Brasil, para cada uma das quatro classes

(mecanizada, mecanizável, não mecanizável e inaproveitável). O Mapa 6 apresenta os

preços (em logaritmo natural) estimados para terras mecanizadas. Apenas PR, SC e SP

contêm os preços efetivamente observados.

Mapa 6: Preços da terra em R$ por hectare, preços de 2013, Modelo COT - E

Fonte: Elaboração própria.

Esse modelo possui a vantagem adicional de apresentar maior variação entre

municípios. Há algumas situações onde os resultados encontrados fogem ao esperado,

notadamente no elevado preço da terra no Norte do Pará e litoral do Amapá. Isso se

deve possivelmente à influência de variáveis de natureza geográfica (altitude,

Page 132: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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132

declividade e precipitação), mas, como um todo, os resultados vão ao encontro do

esperado e convergem com os valores dos modelos anteriores.

Os dados acima fazem referência ao preço de venda da terra. Para se chegar a

uma expressão do valor dos contratos de arrendamento, novamente recorreram-se as

taxas de juros reais, cujos valores foram definidos anteriormente pelos critérios já

mencionados. A média da distribuição apontou para um valor de R$ 621,37 por hectare/

ano, enquanto o custo de oportunidade mediano foi de R$ 458,31 por hectare para o ano

de 2013.

Tabela 13: Custo de Oportunidade da Terra em 2013 – (R$/Ha)

Estatística 4% 5% 6% 7% 8% 9%

Média 414,25 517,81 621,37 724,93 828,49 932,06

Mediana 305,54 381,93 458,31 534,70 611,08 687,47 Fonte: Elaboração própria

A Figura 7 sintetiza o custo de oferta de conservação pelo custo de oportunidade

da terra, segundo o modelo COT - E. O valor da mediana (R$ 458,31 por hectare/ano) é

superior ao obtido nas demais estimativas (R$ 243 no Modelo COT – L, e R$ 324 no

Modelo COT – E), mas ainda sim possui ordem de grandeza dentro dos limites dos

valores pagos em PSAs implementados no Brasil.

Figura 7: Curva de Oferta de PSA consolidada para o Brasil, em R$ por

hectare/ano, preços de 2013 (Modelo COT – E)

Fonte: Elaboração própria

000

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

4.500

5.000

5.500

6.000

- 50.000.000 100.000.000 150.000.000 200.000.000 250.000.000 300.000.000

Lu

cro p

or

hec

tare

- R

$/h

a/a

no

Área em Hectare

Page 133: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

133

1.2.1. Considerações sobre os Diferentes Modelos de Estimação de Custos de

Oportunidade da Terra

Esta seção do relatório se ocupou em apresentar três modelos distintos para

estimar o custo de oportunidade da terra; um fundamentado na estimação do lucro por

hectare, e os demais apoiados nos dados referentes ao preço da terra no Brasil. Cada

uma das metodologias apresentou uma série de limitações devido à qualidade e

disponibilidade dos dados sobre os quais se debruçaram os três exercícios propostos.

Como as informações sobre lucratividade das atividades agropecuárias e sobre o

mercado de terra são escassas no país, torna-se inviável precisar qual metodologia se

aproxima mais da realidade. Assim sendo, cada uma das metodologias se apresenta

meramente como alternativa às demais, sem pretensão de se impor como a solução mais

acertada.

Os resultados apontaram um custo de oportunidade mediano entre R$ 241,32 e

R$ 458,31 (Tabela 14), dada uma taxa de juros real fixada em 6% ao ano. Dentro deste

intervalo, caso fosse efetivado um PSA remunerando os valores acima mencionados

como compensação pelo custo de oportunidade da terra. a área conservada iria de 103

milhões de hectares a 130 milhões de hectares15.

Tabela 14: Análise de sensibilidade: variação dos valores médios e

medianos dos diferentes modelos de custo de oportunidade da

terra (R$/ha/ano) em função da variação da taxa de juros

Estatística TRJLP Modelo

COT - L

Modelo COT

– P

Modelo COT

- E

Média

(3 Modelos)

Média

4%

326,35

289,42 414,25 346,02

5% 361,78 517,81 405,05

6% 434,14 621,37 463,57

7% 506,49 724,93 523,12

8% 578,85 828,49 582,15

9% 651,20 932,06 641,19

Mediana

4%

241,32

215,74 305,54 299,22

5% 269,67 381,93 351,89

6% 323,60 458,31 402,57

15

Inicialmente, a taxa de juros foi fixada em 6% em razão dos valores médios da relação

arrendamento/preço da terra e da taxa de juros real. Caso o parâmetro fosse escolhido apenas em função

da trajetória da taxa real de juros no ultimo decênio, o patamar mais adequado seria o de 5%. Nota-se,

nesse caso, uma proximidade maior entre os resultados dos diferentes modelos. A trajetória declinante da

razão arrendamento/preço exposta na tabela 14 também aponta para a possibilidade de se operar com uma

taxa anual mais baixa, próxima dos 5% ao ano. Todavia, como a série histórica sobre o arrendamento foi

interrompida em 2006, julgou-se prudente assumir um parâmetro mais conservador, mesmo sabendo que

o período que vai de 2006 a 2013 foi marcado por taxas de juros mais baixas..

Page 134: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

134

7% 377,54 534,70 453,99

8% 431,47 611,08 505,57

9% 485,41 687,47 554,60

Fonte: Elaboração própria

Ademais de se pensar em intervalos de custo de oportunidade, outra

possibilidade é dada pela consolidação de uma média dos resultados dos três modelos

propostos. Dado que não há razão, a priori, para afirmar a superioridade de um método

em relação aos demais, o uso da média aritmética dos valores encontrados por

município tem a vantagem de diluir eventuais erros e valores extremos. Assim, os

valores de referência do custo de oportunidade da terra usados na comparação com os

benefícios (conservação de serviços ambientais) são os da média aritmética dos

resultados obtidos em cada modelo. Porém, está sendo entregue junto com esse relatório

um conjunto de planilhas que permite reestimar os valores a partir da especificação

desejada pelo usuário (ou seja, o usuário pode optar em trabalhar com o resultado do

modelo de sua escolha).

Nesse caso, nota-se que o valor mediano para o custo de oportunidade da terra

em 2013 foi da ordem de R$ 402,57 por hectare/ano, novamente para uma taxa de juros

real fixada em 6% anuais (Figura 8).

Figura 8: Curva de oferta de conservação de PSA para o Brasil, em R$ por

hectare/ano, preços de 2013 – média dos modelos propostos

Fonte: Elaboração própria

-

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

0 50.000.000 100.000.000 150.000.000 200.000.000 250.000.000 300.000.000

Lu

cro p

or h

ecta

re -

R$/h

a/a

no

Área em hectare

Page 135: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

135

1.3.Custo de recuperação florestal

Para as áreas onde não há mais tendência de desmatamento por escassez dos

remanescentes florestais, a estimativa do custo de implementação do PSA deve levar em

consideração, além do custo de oportunidade da terra, o custo de recuperação ou

recuperação de vegetação nativa em áreas já desmatadas. Esta seção desenvolve um

modelo de estimação dos custos de recuperação florestal para o território nacional.

1.3.1. Metodologia, Fontes de Informação e Variáveis

Foi efetuado um levantamento da bibliografia sobre os custos referentes ao

cercamento do terreno, sem semear árvores, e recuperação com espécies florestais

diversas. Os passos metodológicos foram os seguintes:

a) Revisão de informação secundária e estudos técnicos por bioma para

identificação de quantidades por hectare ou por muda para as atividades de

cercamento e recuperação.

b) Definição de uma estrutura de quantidades básicas por hectare ou por muda

diferenciada para cada um dos biomas brasileiros, para cercamento e

recuperação.

c) Identificação de bases de dados (estaduais ou municipais) com preços dos

insumos empregados na estrutura de quantidades básicas.

d) Criação de uma base de dados sobre custos de cercamento e recuperação, por

hectare por município.

e) Geração de uma planilha de consulta que permite variação de alguns preços e

quantidades, para geração de diferentes cenários.

Com essas informações foi possível estabelecer a seguinte equação para os

custos de cercamento das áreas em recuperação florestal:

Equação 08.

𝐶𝐶𝑘 = [(∑ 𝑃𝐼𝑖𝑗 ∗ 𝑄𝐼𝑖𝑛𝑖=1 ) + 𝑃𝑀𝑗 ∗ 𝑄𝑀] ∗ 𝑄𝐶𝑚 (8)

Onde:

Page 136: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

136

CCk é o custo de cercamento no município k por hectare em recuperação

PIij é o preço estadual do insumo i, no estado j

QI são as quantidades do insumos empregados no cercamento, por quilômetro

linear

PMj é o preço da mão de obra no estado j

QM é a quantidade de mão de obra empregada para o cercamento por

quilômetro linear

QCm é um fator que mostra a quantidade de quilômetros lineares de cerca a

empregar por cada hectare de área em recuperação

Os custos de recuperação são apresentados na equação 09:

Equação 09

CRk = CL + CE +CM2 + CM3 (9)

Onde:

CL é custo de limpeza do terreno

CE são os custos de estabelecimento das mudas

CM2 é custo de manutenção no ano 2

CM3 é custo de manutenção no ano 3.

A equação 09 pode ser reordenada segundo as quantidades e preços empregados

em cada fase da seguinte forma:

Equação 10.

CRk = (QILib*PIij + QMLb*PMj) + (QIEib* PIj * QAb + QMEb PMj *QAb )+

(QIim2b PIij QAb+ QMm2b PMj*QAb)+ (QMm3b PMj*QAb) (10)

Onde:

CRk são os custos de recuperação por hectare no município k

QILib é a quantidade de insumo i a empregar por hectare, para o bioma b,

durante limpeza da área a recuperar

PIij é o preço do insumo i no estado j

Page 137: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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137

QMLb é a quantidade de mão de obra por hectare para o bioma b, na limpeza da

área a recuperar

QIEib é a quantidade de insumo i por muda, para o bioma b, a empregar durante

o estabelecimento

QAb é a quantidade de mudas por hectare para o bioma b

QMEb é a quantidade de mão de obra por muda para o bioma b, para o

estabelecimento.

PMj é o preço de mão de obra no estado j

QIim2b é a quantidade do insumo i por muda, na manutenção do segundo ano,

para o bioma b.

QMm2b é a quantidade de mão de obra por muda, na manutenção do segundo

ano, para o bioma b

QMm3b é a quantidade de mão de obra por muda, na manutenção do terceiro ano,

para o bioma b

Dentro da planilha de cálculo foram incorporados dois custos adicionais, tanto

para os custos de cercamento como para os custos de recuperação. Primeiro, o custo de

transporte de insumos até o local de trabalho foi calculado como uma porcentagem dos

custos dos insumos e foi somado aos custos totais (o valor de referência de este custo e

15%). Segundo, foi incorporado um custo de administração do projeto, que foi somado

aos custos totais anteriores, que já incluem os custos de transporte (o valor de referência

de este custo e 10%).

A revisão de informação secundária e estudos técnicos identificou onze estudos

para determinar os insumos empregados com maior frequência para a recuperação da

vegetação nativa e as quantidades desses insumos por hectare. Principalmente foram

procuradas informações sobre mão-de-obra agrícola, fertilizantes, agroquímicos e

quantidade de mudas.

Para os custos de cercamento foram identificados cinco estudos com quantidades

e preços de uso dos seguintes insumos: mourões, esticadores, arame, lascas e mão de

obra. Os estudos com informação relevante foram: De Andrade (2012), Plaster et al.

(2008), Cury & Carvalho Jr. (2011), Silva, Cavalcante & De Araújo (2011).

A Tabela 15 identifica os trabalhos sobre recuperação com espécies nativas em

diferentes biomas brasileiros.

Page 138: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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138

Tabela 15: Referência de custos de recuperação a cobertura

vegetal por bioma Insumos

Fonte Bioma

Mão

de

obra

Maq

uin

ário

Mudas

Sem

ente

s

Ara

me

Las

cas

/est

acas

Mourõ

es/

esti

cadore

s

Agro

quím

ico

s Adubo

quím

ico

/org

ânic

o

Condic

ionad

o

r de

solo

Cury e Carvalho (2011) Amazônia x x x x x x x x x

Plaster et al. (2008) Amazônia x x x x x x

TNC (2013) Amazônia x x x x x x

Junior et al (2008) Amazônia x x

Deprá et al (2009) Mata

Atlântica

x x x x

Rodigheri, H. R. (2000) Mata

Atlântica

x x x x x

De Andrade, T. (2012) Mata

Atlântica

x x x x x x x

Silva, Cavalcante e De

Araújo (2011)

Cerrado x x x x x x

MMA (n.d.) Cerrado x x x x x x x x x

Corrêa e Ferreira (2007) Cerrado x

Silveira e Coelho (2008). Cerrado x x x x x x

Fonte: Elaboração própria.

Além das informações sobre os insumos mais empregados para a recuperação da

vegetação nativa e as quantidades desses insumos por hectare, foram consultados doze

estudos sobre as espécies florestais que são recomendadas para a recuperação nos

diferentes biomas brasileiros. Os estudos encontrados com as sugestões das diferentes

espécies florestais, discriminados por biomas são apresentados na tabela 16.

Tabela 16: Fontes consultadas para custos de insumos agrícolas e

mão de obra.

Bioma Fonte Espécies

Mata Atlântica Nave, Rodrigues, e Brancalion

(2012)

Madeira inicial, média, final,

complementar

Mata Atlântica Rodrigues, Brancalion e

Isernhagen (2009)

Madeira inicial, média, final,

complementar

Mata Atlântica De Andrade (2012) Conforme terreno: árido, semiárido, úmido,

subsumido

Mata Atlântica Castro, Mello, e Poester (2012) Pioneiras, secundárias, climáticas

Mata Atlântica Noffs, Galli, e Gonçalves

(2000)

Pioneiras, definitivas

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IEI-18958

139

Mata Atlântica Moraes et al. (2013) Pioneiras, secundárias iniciais, secundárias

tardias, clímaxes; Floresta de Baixada,

Floresta Serrana, Floresta Estacional

Amazônia TNC (2013) Recobrimento, diversidade, intolerante à

sombra, intolerante à sombra, potencial

comercial

Cerrado Corrêa e Ferreira (2007) Pioneira, secundária, clímax, heliófita.

Mata Mesofítica, Mata de Galeria, Cerrado,

Cerradão, campos, Brejo.

% de sobrevivência

Caatinga, Mata

Atlântica, Amazônia

Cerqueira e Carvalho (2007) Pioneiras, não pioneiras, raramente

inundados, inundados periodicamente.

Pampa Tatsch (2011) Pioneiras, secundárias

Fonte: Elaboração própria.

Após estimar a quantidade por hectare de mudas recomendadas para a

recuperação dos diferentes biomas brasileiros por espécie florestal, foram identificados

os preços atuais para insumos agrícolas, como fertilizantes, herbicidas, inseticidas e

praguicidas. Também foram consultados alguns fornecedores de mudas para

recuperação de áreas florestais com o objetivo de conhecer não apenas os valores das

mudas, mas igualmente os custos de mão de obra para as atividades de recuperação. As

informações sobre os insumos têm diferentes níveis de agregação: alguns têm

abrangência nacional, outros têm abrangência estadual, e muito poucos com

abrangência municipal, como se pode observar na Tabela 17.

Tabela 17: Fontes consultadas para custos de insumos agrícolas e

mão de obra. Dado Fonte Abrangência Unidade de

Medida

Preço fertilizantes IEA-SP (2015) Municipal (para todo estado de São Paulo) R$/kg

Preço fertilizantes Epagri-SC (2015) Estadual (Santa Catarina) R$/kg

Preço fertilizantes SAA-PR (2015) Estadual (Paraná) R$/kg

Preço fertilizantes CONAB (2015) Estadual (BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG,

MS, MT, PI, RO, RS, TO)

R$/kg

Preço fertilizantes BN (2015) Nacional R$/kg

Preço herbicidas IEA-SP (2015) Municipal (para todo estado de São Paulo) R$/kg ou R$*/l

Preço herbicidas Epagri-SC (2015) Estadual (Santa Catarina) R$/kg ou R$*/l

Preço herbicidas SAA-PR (2015) Estadual (Paraná) R$/kg ou R$*/l

Preço herbicidas CONAB (2015) Estadual (BA, DF, ES, GO, MA, MG, MS,

MT, RO, RS, TO)

R$/kg ou R$*/l

Preço herbicidas BN (2015) Nacional R$/kg ou R$*/l

Preço inseticidas IEA-SP (2015) Municipal (para todo estado de São Paulo) R$/kg ou R$*/l

Preço inseticidas Epagri-SC (2015) Estadual (Santa Catarina) R$/kg ou R$*/l

Preço inseticidas SAA-PR (2015) Estadual (Paraná) R$/kg ou R$*/l

Page 140: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

140

Preço inseticidas CONAB (2015) Estadual (BA, DF, ES, GO, MA, MG, MS,

MT, RO, RS, TO)

R$/kg ou R$*/l

Preço inseticidas BN (2015) Nacional R$/kg ou R$*/l

Preço fungicidas IEA-SP (2015) Municipal (para todo estado de São Paulo) R$/kg ou R$*/l

Preço fungicidas Epagri-SC (2015) Estadual (Santa Catarina) R$/kg ou R$*/l

Preço fungicidas SAA-PR (2015) Estadual (Paraná) R$/kg ou R$*/l

Preço fungicidas CONAB (2015) Estadual (BA, DF, ES, GO, MA, MG, MS,

MT, RO, RS, TO)

R$/kg ou R$*/l

Preço fungicidas BN (2015) Nacional R$/kg ou R$*/l

Preço mão de obra

agrícola

IEA-SP (2015) Municipal (para todo estado de São Paulo) R$/mês

Preço mão de obra

agrícola

Epagri-SC (2015) Estadual (Santa Catarina) R$/mês

Preço mão de obra

agrícola

SAA-PR (2015) Estadual (Paraná) R$/mês

Preço mudas IEA-SP (2015) Municipal (para todo estado de São Paulo) R$/muda

Preço mudas Epagri-SC (2015) Estadual (Santa Catarina) R$/muda

Preço mudas SAA-PR (2015) Estadual (Paraná) R$/muda

Preço mudas IBF (2015) Nacional R$/muda

Preço mudas Fruticultura

Viçosa (2015)

Nacional R$/muda

Fonte: Elaboração própria.

Apenas em dois casos (São Paulo e Santa Catarina) foi possível obter

informações para custos de insumos agrícolas e mão de obra ao nível municipal. Nos

outros casos, existem informações estaduais, contudo, tem-se em consideração que os

dados obtidos refletiram as varações entre os diferentes estados.

Os preços das mudas tiveram variações importantes a partir da fonte de

informações coletadas e algumas fontes possuíam tanto o preço para o atacado quanto

para o varejo16

.

Na base SISGEMA, que acompanha este relatório, é possível encontrar as

diferentes tabelas de custos de recuperação das florestas dos estudos mencionados na

Tabela 17, e uma lista das espécies sugeridas para o reflorestamento.

Depois de levantadas as informações para as quantidades por hectare dos

insumos e seus respectivos preços, foi possível construir as matrizes de custos de

recuperação por bioma, estado e município, segundo os melhores dados disponíveis. Por

ausência de informações municipais, as bases de preços foram consolidadas a nível

estadual, enquanto os custos foram gerados a nível municipal.

16

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tem um registro de empresas

produtoras de mudas. O MAPA disponibiliza uma lista de todas as empresas registradas no Brasil, mas,

só fornece o nome da empresa e um telefone de contato, por tanto não foi possível contatar as empresas

adicionais. A lista de empresas registradas pelo MAPA está disponível No CD que acompanha este

relatório.

Page 141: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

141

Outro elemento que foi considerado dentro da estrutura de custos de recuperação

ambiental é a declividade do terreno. Segundo as estimativas de Depra et al. (2009)

para Santa Catarina, a declividade é um fator chave pois a quantidade de mudas a

empregar nas áreas que tinham previamente vegetação herbácea é proporcional à

declividade. Acolhendo essa proposta, foi feita uma estimativa de densidade alta

(declividade maior que 25%) e baixa (declividade inferior a 25%) para os diferentes

biomas do Brasil.

Tabela 18: Número de mudas por hectare para diferentes tipos de

declividade, por biomas no Brasil.

Biomas

Sistema Amazônia

Pampa,

Mata

Atlântica

Pantanal,

Caatinga,

Cerrado

Baixa densidade

(declividade

<25%)

1.406 1.666 1.334

Alta densidades

(declividade >

25%)

2.500. 2.500 2.224

Fonte: Elaboração própria.

A Tabela 18 mostra que as densidades de mudas por hectare podem variar de

1.300 até 1.600 em baixa densidade, e de 2.200 até 2.500 em alta densidade. As

análises foram feitas com a densidade pela declividade média dos municípios

brasileiros. Trata-se de uma aproximação necessária para a escala nacional do exercício

proposto; para áreas menores, é preciso realizar ajustes nas densidades de plantio

segundo as necessidades e características da área a recuperar.

1.3.2. Resultados

Após a análise das informações secundárias sobre os custos de cercamento, foi

possível estabelecer os seguintes custos de referência por hectare:

Tabela 19: Custo de cercamento por quilômetro, R$ de 2013.

Insumos Quantidade /

Km Unidade Observações

Custo por

unidade (R$)

Custo total

(R$)

Mourões/esticador 6 Unidade Cada 166 metros 52,12 312,70

Estacas/lascas 250 Unidade Cada 4 metros 13,36 3.340,78

Arame 4000 M 4 fios 0,54 2.144,17

Grampos 2 Kg

7,53 15,06

Subtotal

5.812,71

Page 142: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

142

Mão de obra 14,75 Diárias Media Br. 42,45 626,14

Custo total médio

6.438,85

Fonte: Cálculo dos autores com base em informação secundária e dados IBGE

para mão de obra.

Os maiores custos do cercamento têm relação com o preço das estacas. Para este

exercício foi empregado o menor preço das mesmas, sendo este relacionado com

materiais provenientes de espécies florestais não nativas, como o eucalipto. O preço das

espécies florestais nativas foi muito maior devido a sua escassez e altos preços pagos

para outras atividades comerciais.

O preço da mão de obra no Brasil foi calculado com base no valor do

rendimento médio mensal de homens de 15 anos ou mais anos de idade, na área rural, a

nível estadual, segundo os dados do IBGE. Esses dados mostram que existem

diferenças importantes entre os preços médios pagos para o cercamento ao longo das

diferentes regiões do Brasil, como consequência dos diferentes preços pagos aos

principais insumos empregados.

Tabela 20: Rendimento médio mensal, homens maiores de 15 anos,

na zona rural, para Brasil e grandes regiões, 2013. Região (R$)

Brasil 849

Norte 717

Nordeste 535

Sudeste 1.195

Sul 1.348

Centro-Oeste 1.269

Fonte: IBGE (2015)

A tabela 20 mostra que os maiores pagamentos para a mão de obra no setor

rural, encontram-se na região Sul, e os mais baixos na região Nordeste. Em 2013, os

valores pagos na região Sul foram 2,5 vezes maiores que aqueles pagos na região

Nordeste, e 1,8 vezes maiores que na região Norte. Portanto, os custos de cercamento

das áreas de interesse para recuperação florestal tiveram diferenças segundo os preços

dos insumos empregados e o preço da mão de obra.

As seguintes suposições foram necessárias para estimar os custos de cercamento.

Primeiro, a área de cercamento foi calculada como uma parte da área total de interesse

Page 143: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

143

para conservação. Para estimá-la, supôs-se que um hectare para conservação tem uma

largura de 30 m e comprimento de 333 m, ou seja, são necessários 333 metros de cerca

por hectare. Os valores de remuneração da mão de obra estaduais são válidos a nível

municipal, e as quantidades de insumos empregadas são iguais em todo o território

Brasileiro.

Assim, é possível estimar custos de cercamento entre R$ 2.043 e R$ 2.342 por

hectare. O valor médio foi de R$ 2.185, e a variabilidade dos dados foi baixa, pois no

intervalor de preços R$ 2.086 e R$ 2.284, é possível encontrar 90% de todos os valores

municipais estimados para o Brasil17

.

Adicionalmente, se considerados custos de transporte de insumos e os custos de

administração, os valores oscilam entre R$ 2.650 R$ 2.981, com média de R$ 2.808.

Analisando os valores médios, a incorporação de custos de transporte e administração

incrementaram os custos de cercamento em 28,5%.

O Mapa 7 ilustra os diferentes valores municipais de custos de cercamento sem

incluir custos de transporte e administração. Os maiores custos estão nas regiões Sul,

Centro Oeste e parte do Sudeste, enquanto os menores valores ocorrem no Nordeste e

Norte.

17

O desvio padrão dos de custos de cercamento por hectare foi de R$99,3.

Page 144: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

144

Mapa 7: Custos de cercamento por hectare (exclusive custos de transporte de

insumos e de administração), R$ /ha, preços de 2013

Fonte: Elaboração própria.

A variação do preço das mudas foi também considerado para quantificação dos

custos das atividades de recuperação florestal. Uma primeira fonte de dados analisados

foi o Instituto Brasileiro de Florestas (IBF, 2015). Aqueles dados foram classificados

segundo o grupo ecológico entre espécies: clímax, pioneiras, secundárias iniciais e

secundárias tardias. Também foi gerada uma classificação para espécies exóticas e

nativas. A Tabela 21 apresenta os resultados das análises de preço para os diferentes

tipos de mudas.

Tabela 21: Preços de mudas, atacado, varejo e por classe

sucessional.

Nativa,

Exótica

Grupo

Ecológico

Média do

preço

varejo, R$

de 2013

Média do

preço

atacado, R$

de 2013

% de mix

de mudas

Preço

ponderado,

R$ de 2013

Exótica ND 75,88 3,55 15% 0,53

Nativa Clímax 9,96 3,39 25% 0,85

Pioneira 10,20 2,20 20% 0,44

Page 145: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

145

Secundária

Inicial 9,85 2,47 15% 0,37

Secundária

Tardia 13,54 6,46 25% 1,62

Média

23,89 3,61 100% 3,81

Fonte: Elaboração própria com base em IBF (2015).

O preço das mudas exóticas encontrado foi maior que o preço das nativas, o que

não é um resultado trivial, pois usualmente as espécies exóticas têm custos de produção

menores. Outro fator importante é a diferença entre os preços de venda no atacado e no

varejo. Com a compra de mudas no atacado é possível ter reduções de custos entre 50%

e 90%. Essas diferenças são muito importantes, pois a quantidade de mudas vai

determinar a quantidade de insumos requeridos no processo de recuperação florestal.

Outro ponto de destaque é o mix de mudas desejado, segundo a proporção de

grupos ecológicos. No atacado, as espécies do tipo clímax e secundárias tardias têm um

preço superior que às espécies pioneiras e secundárias iniciais. Caso seja estabelecido

um mix de espécies segundo a proposta na Tabela 21, o custo médio total seria de R$

3,8 por muda, que comparado com outros custos reportados na literatura pode

considerar-se alto.

As espécies exóticas foram consideradas na proposta de recuperação florestal

pois essas espécies tem crescimento rápido e, portanto, ajudam a gerar condições para

outras espécies, como as secundárias e as de clímax. Um segundo ponto tem relação

com a possibilidade de geração de renda para os proprietários das terras, numa visão de

uso sustentável dos recursos, tanto florestais como não florestais. Isso também pode

acontecer com algumas espécies nativas, que podem gerar diferentes tipos de renda a

partir de frutos, sementes, entre outros. Neste estudo, não foram avaliados estes

benefícios.

Outra estimativa de custos de mudas pode ser derivada de Silva et al. (2015), a

partir de informações de 1.276 viveiros produtores de mudas no Brasil (Tabela 22).

Tabela 22: Custo das mudas, preços de atacado e varejo por

região.

Região

Custo das mudas (Reais) Preço das mudas (R$ de 2013)

Varejo Atacado

Média % CV Número de

Viveiros Média % CV

Número de

Viveiros Média % CV

Número de

Viveiros

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146

Norte 1,57 109,12 18 3,34 55,09 19 2,23 65,92 16

Nordeste 1,47 67,44 17 4,75 80,35 14 2,49 77,84 17

Sudeste 1,21 74,18 64 2,62 72,70 67 1,80 73,41 65

Sul 1,64 161,55 28 8,42 178,67 26 2,20 121,75 25

Centro-

Oeste 2,53 99,92 20 5,40 85,43 25 3,92 91,95 23

Total 1,55 114,17 147 4,37 160,18 151 2,33 96,87 146

Fonte: Silva et al. (2015)

Os dados de Silva et al. (2015) mostram uma diferença entre as compras no

atacado e no varejo. As compras no atacado tiveram, novamente, uma redução

significativa dos custos para os processos de recuperação. A diferença entre as regiões

é significativa, com custos maiores nas regiões Sul e Centro-Oeste, e menores no

Sudeste. Isso indica a importância de economias de escala: a região com maior

concentração de viveiros mostra o menor preço por muda.

Silva et al. (2015) mostram que as margens de lucro na produção de mudas

foram, na média, de 118% nas vendas no atacado e de 17% nas vendas no varejo. Isso

pode mostrar o potencial da promoção da produção de mudas para redução de custos,

caso sejam produzidas nos próprios projetos de reflorestamento ou para reduzir os

preços de venda pela maior oferta.

A quantidade de viveiros nos diferentes municípios do Brasil (Mapa 8) contribui

para explicar a diferença de custos de recuperação florestal. Segundo o estudo de Silva

et al. (2015), existe uma concentração de viveiros no bioma Mata Atlântica (125 no

total), enquanto outros biomas como Caatinga (18 viveiros) e Pampa (11) tiveram

valores muito baixos ou inexistentes como foi o caso do bioma Pantanal. Em áreas com

poucos viveiros como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, os custos de

recuperação florestal (com preço alto das mudas, incluindo mão de obra, e para 3 anos)

eram muito maiores, por conta da reduzida oferta de mudas.

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147

Mapa 8: Localização dos viveiros da pesquisa realizada pelo IPEA.

Fonte: Silva et al (2015).

A partir da estrutura de custos apresentada nos diferentes estudos, foi possível

identificar custos médios de recuperação segundo os diferentes biomas (Tabela 23).

Tabela 23: Quantidades de insumos por hectare, empregadas na

recuperação, para diferentes biomas brasileiros.

Quantidades de insumos usado na recuperação Biomas

Fase Etapas dos serviços Produto Amazônia Mata Atlântica Pampa Pantanal Caatinga Cerrado

Por ha Por ha Por ha Por ha Por ha Por ha

Limpeza

Motorrocadeira costal (Hh) 20,000 20,000 20,000 20,000 20,000 20,000

Glifosato (l) 2,750 3,500 3,500 3,125 3,125 3,125

Mão-de-obra glifosato (Hh) 12,000 12,000 12,000 12,000 12,000 12,000

Implantação

Combate à formigas Mão-de-obra (Hh) 3,453 11,996 11,996 11,107 11,107 11,107

Formicida (Kg) 0,839 2,916 2,916 2,700 2,700 2,700

Capina /rocada

manual Mão-de-obra (Hh) 40,000 53,333 53,333 46,667 46,667 46,667

Coveamento Mão-de-obra (Hh) 66,165 74,911 74,911 62,776 62,776 62,776

Adubação Base

Mão-de-obra (Hh) 11,579 17,592 17,592 14,086 14,086 14,086

Fertilizante 4-14-8 (Kg) 175,750 230,833 230,833 90,706 90,706 90,706

Esterco (Kg) 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Fosfato de rocha (kg) 56,240 242,327 242,327 123,698 123,698 123,698

Micronutrientes (Kg) 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000

Cal (Kg) 144,115 374,850 374,850 133,400 133,400 133,400

Mão de obra calagem (Hh) 8,271 9,800 9,800 7,847 7,847 7,847

Plantio Mão de obra (Hh) 40,869 59,405 59,405 47,566 47,566 47,566

Mudas 1406,000 1666,000 1666,000 1334,000 1334,000 1334,000

Replantio Mão de obra (Hh) 1,659 2,454 2,454 1,969 1,969 1,969

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148

Mudas 141,000 167,000 167,000 134,000 134,000 134,000

Adubação de

cobertura

Mão de obra (Hh) 6,752 8,000 8,000 6,406 6,406 6,406

kg 70,300 83,300 83,300 66,700 66,700 66,700

Manutenção 2°

ano

Coroamento Mão de obra (Hh) 41,353 74,480 74,480 59,638 59,638 59,638

Combate à formigas Mão de obra (Hh) 13,498 15,994 15,994 12,806 12,806 12,806

Formicida (kg) 2,812 3,332 3,332 2,668 2,668 2,668

Coroamento Mão de obra (Hh) 41,353 74,480 74,480 59,638 59,638 59,638

Manutenção 3°

ano

Coroamento Mão de obra (Hh) 41,353 74,480 74,480 59,638 59,638 59,638

Coroamento Mão de obra (Hh) 41,353 74,480 74,480 59,638 59,638 59,638

Total

Mão de obra para 1 ano (Hh) 210,747 269,492 269,492 230,425 230,425 230,425

Mão de obra para 3 anos

(Hh) 389,656 583,405 583,405 481,782 481,782 481,782

Total mudas 1547,000 1833,000 1833,000 1468,000 1468,000 1468,000

Fonte: Elaboração própria

Um dos fatores que tem influência na quantidade de mudas a empregar é a

declividade. Para áreas com mais de 45°, ou com um percentual maior que 25%, foi

selecionada uma densidade alta de árvores, entre 2200 e 2500 mudas por hectare

dependendo do bioma. Para densidades baixas, foram encontrados valores que vão

desde 1300 até 1600 mudas por hectare. Essa diferença entre biomas resulta em

diferentes cenários de custos de recuperação florestal para densidades altas e baixas de

mudas por hectare. Nos arquivos em Excel encaminhados em anexo (SISGEMA) é

possível mudar a densidade de mudas, para diferentes cenários de recuperação florestal.

Os preços dos insumos empregados na recuperação (fertilizantes, formicidas,

etc.) foram obtidos dados da CONAB (2015), e ajustados para preços de 2013,

empregado o deflator implícito do PIB do IBGE (Tabela 24).

Tabela 24: Preços de diferentes insumos para recuperação (R$

2013). Estado Sigla Glifosato

(R$/l)

Formicida

(Sulfuramida)

(R$/kg)

Fertilizante

(R$/kg)

Triple

fosfato

(R$/kg)

Cal

dolomita

(R$/ha)

Acre AC 20,82 9,05 1,13 0,68 0,07

Alagoas AL 33,23 9,05 1,25 1,31 0,24

Amazonas AM 20,82 9,05 2,15 0,68 0,32

Amapá AP 18,11 9,05 2,15 0,68 0,32

Bahia BA 33,23 9,05 1,13 0,68 0,07

Ceara CE 33,23 9,05 1,25 1,31 0,36

Distrito Federal DF 18,11 10,41 1,18 1,02 0,08

Espirito Santo ES 22,64 11,27 1,18 1,02 0,08

Goiás GO 11,77 10,41 1,21 0,82 0,09

Maranhão MA 18,11 9,05 1,25 0,71 0,09

Minas Gerais MG 13,43 10,41 1,05 0,79 0,09

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149

Mato Grosso do

Sul

MS 11,77 9,05 1,31 1,11 0,13

Mato Grosso MT 15,25 9,05 1,28 1,11 0,08

Para PA 18,11 9,05 1,21 0,82 0,09

Paraíba PB 33,23 9,05 1,25 0,71 0,09

Pernambuco PE 33,23 9,05 1,25 0,71 0,09

Piauí PI 33,23 9,05 1,25 1,31 0,24

Paraná PR 11,27 9,05 1,21 0,82 0,09

Rio de Janeiro RJ 12,40 10,41 1,18 1,02 0,08

Rio Grande do

Norte

RN 33,23 9,05 1,25 0,71 0,09

Rondônia RO 20,82 9,05 2,15 0,68 0,32

Roraima RR 20,82 9,05 2,15 0,68 0,32

Rio Grande do

Sul

RS 13,67 10,41 1,23 1,33 0,11

Santa Catarina SC 14,32 10,41 1,23 1,33 0,11

Sergipe SE 33,23 9,05 1,25 1,31 0,24

São Paulo SP 12,40 10,41 1,18 1,02 0,08

Tocantins TO 18,11 10,41 1,21 0,82 0,09

Fonte: Elaboração própria com base em CONAB (2015).

A variação dos preços dos insumos para recuperação florestal a nível estadual

também foi considerável. No caso do calcário dolomítico, os preços por quilo

mostraram diferenças de 448%, e no caso dos herbicidas (glifosato) a diferença foi de

até 195%. Essas diferenças estiveram relacionadas com a distância para as áreas de

produção, quantidades ofertadas, taxa de câmbio, sazonalidade da produção e da

demanda, entre outros.

Um fator que pode incrementar os custos de recuperação florestal são os

pagamentos para a mão de obra. Para as análises feitas, foram considerados dois

cenários: no primeiro, só considerando os custos de estabelecimento, incluindo custos

de insumos e pagamento de mão de obra (custos para um ano); no segundo, são

considerados tanto os custos de estabelecimento como custos por duas manutenções

(custos para três anos), principalmente o coroamento e o combate à formiga.

Os custos de mão de obra têm um incremento importante quando consideradas

as atividades de manutenção das áreas em recuperação. Os cenários gerados para os

diferentes custos de recuperação foram:

a) alta e baixa densidade de mudas, com variações entre biomas;

b) preço de varejo das mudas, tomado de Silva et al. (2015), que têm variações por

região, e outro com um preço hipotético mais baixo para todos os municípios,

supondo um custo por muda de R$ 0,8;

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IEI-18958

150

c) com custos totais incluindo ou não o pagamento de mão de obra, supondo que

aquele item é coberto pelo proprietário das áreas identificadas para recuperação.

A justificativa para o cenário que não inclui custos de mão de obra supõe que,

quando o processo de recuperação florestal é negociado junto ao proprietário rural, é

possível oferecer uma parceria na qual o proprietário recebe os insumos e, em troca,

fornece a mão de obra. Além de gear uma redução dos custos de cercamento e

recuperação florestal, isso geraria um maior comprometimento do proprietário na

permanência das atividades ao longo prazo.

No Mapa 9 é possível observar que os custos de recuperação variam entre R$

5.300 e R$ 12.800 reais por hectare, com média de R$ 7.770/ha. Os municípios de

custos maiores estão localizados no Centro-Oeste, Sul e parte de São Paulo. Os maiores

custos nesses estados tiveram relação com os custos da mão de obra e, principalmente, o

custo das mudas. Por sua vez, as áreas com menor custo estão no Norte, Nordeste e

parte de Minas Gerais.

Mapa 9: Custos de recuperação por hectare, manutenção para 3 anos, com

densidades baixas de mudas e preço normal.

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151

Fonte: Elaboração própria.

Uma redução nos preços das mudas altera a distribuição espacial dos custos de

recuperação recuperação (Mapa 10). Os custos por hectare mudam para um mínimo

perto de R$ 2.969,00 um máximo de R$ 8.151,00 e uma média de R$ 5.820,00. Os

municípios do Nordeste baixam os seus custos, e são as áreas com menor custo de

recuperação recuperação por hectare. Os municípios do Centro-Oeste têm uma redução

de custos, mas ainda permanecem na média dos custos para o Brasil todo. Os

municípios da região Sul e parte de São Paulo continuam apresentando os maiores

valores de custos de recuperação.

Mapa 10: Custos de recuperação por hectare, manutenção para 3 anos, com

densidades baixas de mudas e preço baixo (sem custos de transporte e

administração), em R$ de 2013.

Fonte: Elaboração própria

O Mapa 11 apresenta os resultados quando a mão de obra é provida pelo

proprietário das áreas para recuperação (custo não incluído no custo total de

Page 152: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

152

recuperação). Nesse caso, o custo mais alto é no Centro-Oeste, e caem bastante os

custos nas regiões Sul e Sudeste.

Mapa 11: Custos de recuperação por hectare, manutenção para 3 anos, com

densidades baixas de mudas, preço normal e mão de obra zero (sem custos

de transporte e administração), em R$ de 2013.

Fonte: Elaboração própria.

O Mapa 12 apresenta estimativas de custos com preços baixos para mudas e

excluindo custos de mão de obra. Percebe-se uma redução significativa dos custos de

recuperação, mas as regiões Sul e Sudeste ainda apresentam os custos mais altos no

país. Nesse cenário, que apresenta os custos mais baixos entre todas as possíveis

variações, os custos oscilam entre R$ 1.523 e R$ 2.341 por hectare, e uma média de R$

1.900.

Mapa 12: Custos de recuperação por hectare, para 3 anos, com densidades

baixas de mudas, preço baixo e mão de obra zero (sem custos de transporte

e administração), em R$ de 2013.

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153

Fonte: Elaboração própria.

Cabe mais uma vez a ressalva que os valores apresentados neste relatório devem

ser vistos como uma primeira aproximação dos valores efetivos. A revisão de literatura

mostrou que a construção da cerca depende também das diferentes atividades produtivas

que aquela área tem perto. Por exemplo, em áreas onde têm cria de animais menores, a

quantidade de fios precisa ser maior, para ter efetividade no controle da entrada dos

animais. A disponibilidade de diferentes tipos de postes também gera mudanças nos

custos, pois existem postes mais baratos, mas menos duráveis que outros mais caros,

segundo o tipo de madeira empregada.

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154

Figura 9: Curva de oferta de conservação para custos de cercamento e

recuperação, manutenção para 3 anos, com e sem custos de transporte e

administração, em R$ de 2013.

Fonte: Cálculos próprios.

A Figura 9 mostra que os custos médios de cercamento e recuperação florestal

foram de R$ 7.466 por hectare, desconsiderando os custos de transporte e

administração. Quando considerados estes últimos, a média foi de R$ 8.900 por

hectare. Os valores máximos mudaram de R$ 10.500 para R$ 12.400 quando

considerados os custos de transporte de insumos e administração.

Nas análises feitas as mudanças do custo de mão de obra (inclusão e exclusão) e

custo das mudas (preços baixos e preços de mercado) resultaram em alterações nos

custos de cercamento e recuperação por hectare, bem como na sua distribuição espacial

nos municípios brasileiros. Os estudos correlatos não incluem custos de transporte, de

insumos ou custos de administração. A inclusão desses custos pode acarretar em

incrementos de até 20% nos custos totais. Também, os custos variaram segundo as

mudanças nos período de duração do projeto, podendo incluir apenas custos de

estabelecimento (custos para um ano) ou considerar os custos de manutenção (até 3

anos).

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000

cust

os

R$/

ha

Área em ha

CC+CR CC+CR+CT+CA

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155

1.3.3. Simulação de necessidade de recuperação florestal

Um exercício foi efetuado para estimar os custos de recuperação florestal do

passivo ambiental brasileiro, segundo os dados de Soares-Filho et al. (2014) e dados

disponíveis no servidor de mapas do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG, sobre

déficit do Código Florestal por município.18

Soares-Filho et al. (2014) estimam as áreas

que precisariam ser recuperadas com as regras do Código Florestal (CF), incorporadas

as mudanças feitas em 2012, para atingir os requerimentos da Reserva Legal (RL) e das

Áreas de Preservação Permanente (APP), onde são inclusas as áreas de vegetação

riparia e os topos de morro. Segundo estes cálculos, o Brasil precisa aproximadamente

de 21 milhões de hectares em recuperação florestal para atingir as novas regras do CF

estabelecidas em 2012. Para este trabalho foi empregada apenas a área estimada para

cumprir com as regras da RL, equivalente a 18,8 milhões de hectares (Mapa 13).

Mapa 13: Passivo ambiental após a revisão do Novo Código Florestal

Fonte: Elaboração própria a partir de Soares-Filho et al (2013)

18

Centro de Sensoriamento Remoto. Disponível em: http://maps.csr.ufmg.br/

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156

O Mapa 13 mostra que o maior passivo ambiental encontra-se nos estados de

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Pará, em função do maior

desmatamento nestas regiões. Deve-se destacar que as áreas em cinza são classificadas

como áreas protegidas e, por conseguinte, não são foram consideradas como áreas a

serem restauradas (mesmo que eventualmente a área não seja integralmente coberta por

remanescentes).

Entretanto, deve-se destacar, conforme argumentam Soares-Filho et al. (2014),

que algumas diferenças em relação à nova legislação florestal mudaram

significativamente o cumprimento das regras, com destaque para o art. nº 67, no qual se

estabelece que, para propriedades de tamanho até quatro módulos fiscais, a Reserva

Legal será constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de

julho de 2008 (Brasil, 2012).

O estudo de Soares-Filho et al (2014) apresenta valores próximos ao de outros

estudos como Sparovek et al (2010), que estima o déficit ambiental para o atendimento

ao Código Florestal no que tange à reserva legal. A Tabela 25 apresenta uma

comparação entre os dois estudos, com valores próximos a 20 Mha (milhões de

hectares) de déficit ambiental no país.

Tabela 25: Comparação das estimativas de Soares-Filho et al

(2014) e Sparovek et al (2010) de déficit ambiental (em hectares)

para o atendimento ao Código Florestal brasileiro

Soares-Filho et al (2013) Sparovek et al (2010)

ha déficit. CF ha déficit. CF Diferença

Amazônia 7.711.529 7.000.000 -9%

Caatinga 755.798 1.000.000 32%

Cerrado 5.675.985 4.500.000 -21%

Mata Atlântica 6.055.108 4.300.000 -29%

Pampa 504.560 500.000 -1%

Pantanal 87.551

Fonte: Elaboração própria a partir de Soares-Filho et al (2014) e Sparovak et al

(2010)

O conceito do que seja “recuperação florestal” com espécies nativas é bastante

polêmico, indo desde a visão de que basta o cercamento da área e interromper ações

antrópicas, como queimadas, para que a natureza “dê conta do recado”, até posições

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IEI-18958

157

muito mais exigentes, nas quais é necessário recuperar a estrutura do solo e reintroduzir

as espécies originais que foram extintas da paisagem. É claro que a primeira visão de

recuperação implica custos muito menores do que a segunda, e por isso o

equacionamento do custo total necessário para a plena recuperação florestal depende de

qual visão for adotada.

Assumindo a visão mais simplificadora de que basta o isolamento das áreas a

serem recuperadas, e com base na projeção de déficit de Soares-Filho et al (2014) para

identificar a área de recuperação florestal, foram estimados os custos de cercamento,

incluindo ou excluindo os custos de transporte de insumos (CT) e os custos de

administração (CA). A Figura 10 ordena, de forma crescente, as estimativas de custo,

por município, para atender a meta de recuperação florestal.

Figura 10: Custos acumulados de cercamento e área acumulada a

reflorestar por ordem de custos de oportunidade médios por hectare

(Cenário com preços de mudas normais, baixa densidade de mudas e

pagamento de mão de obra), em R$ Milhões de 2013.

Fonte: Elaboração própria

A Figura 10 mostra que, para atingir 25% da área estimada para recuperação

florestal (aproximadamente 4,7 /milhões de hectares), ordenadas a partir das áreas de

custo de oportunidade e recuperação mais baixas, seria necessário cerca de R$ 10

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158

bilhões, desconsiderados os custos de transporte e administrativos. Para atingir a meta

total de reflorestar todos os 18,8 milhões de hectares de déficit ambiental, seriam

necessários R$ 41,4 bilhões, equivalente à média de R$ 2.195 por hectare.

Quando considerados os custos de transporte (calculados como 15% do valor

dos custos dos insumos), e os custos administrativos (10% adicional do valor total), o

custo de recuperação dos 25% de área mais barato seria de R$ 12.9 bilhões, com um

custo médio de R$ 2.820 por hectare. A inclusão de custos de administração e de

transporte incrementariam os custos em 28%, com relação aos custos iniciais.

Por outro lado, quando se inclui o custo de reintrodução de mudas nativas, além

do cercamento, o custo da recuperação florestal sobe significativamente. A Figura 11

mostra que, nesse caso, a quantidade de investimento necessária para atingir 25% das

áreas totais a reflorestar (aproximadamente 5,1 milhões de hectares) sobe para R$ 45

bilhões de reais, mesmo se os custos de transporte de insumos e de administração sejam

desconsiderados. Quando os custos de transporte, de insumos e administração são

incluídos, o custo total para recuperar 25% da área total é ainda maior, atingindo R$

55,7 milhões.

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IEI-18958

159

Figura 11: Custos acumulados de cercamento e área acumulada a

reflorestar por ordem de custos de oportunidade médios por hectare

(Cenário com preços de mudas normais, baixa densidade de mudas e

pagamento de mão de obra com e sem custos de transporte e

administração), em R$ Milhões de 2013.

Fonte: Elaboração própria.

A tabela 26 mostra que os biomas com maior área para recuperar são Amazônia,

Mata Atlântica e Cerrada. Para atingir 100% dos requerimentos de déficit de Reserva

Legal, seriam precisos R$ 165 bilhões para cobrir os custos do primeiro ano de

recuperação e de cercamento, e R$ 196 bilhões para cobrir os custos de cercamento e

três anos de recuperação, incluindo manutenção das áreas. Na média para o Brasil

inteiro, os custos por hectare são de R$ 8.790 para um ano, e de R$ 10.437/hectare para

três anos. Os custos de recuperação por hectares mais baixos estão na Caatinga (R$

6.909/ha para um ano, R$ 7.793/ha para três anos).

Tabela 26: Custos totais de recuperação florestal por bioma.

(cenário com preços de mudas normais, baixa densidade de

mudas, pagamento de mão de obra, sem custos de transporte de

insumos, sem custos de administração), preços de 2013.

Bioma Áreas a recuperar (ha) Custo Total de recuperação e

Cercamento - 1 ano

Custo Total de Recuperação e

Cercamento - 3 anos

Page 160: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

160

Pantanal 90.653 R$ 911.389.215,63 R$ 1.079.591.405,89

Pampa 409.801 R$ 3.820.242.557,09 R$ 4.907.699.847,64

Caatinga 650.592 R$ 4.495.520.379,87 R$ 5.070.068.053,33

Mata Atlântica 5.073.871 R$ 45.541.980.464,89 R$ 57.493.205.228,00

Cerrado 5.022.044 R$ 45.765.089.249,14 R$ 55.194.119.840,14

Amazônia 7.624.226 R$ 65.357.357.776,98 R$ 73.228.259.584,57

Brasil 18.871.187 R$ 165.891.579.643,60 R$ 196.972.943.959,56

Fonte: Elaboração própria

A tabela 27 mostra os custos de cercamento e recuperação por Unidade da

Federação (UF), para um ano e três anos. As UFs com maior área de déficit florestal

são Mato Grosso, São Paulo e Mato Grosso do Sul, e os de menor déficit são Amapá,

Distrito Federal e Roraima. Os estados que tiveram custos mais baixos por hectare para

um ano são Acre (R$ 6.726), Tocantins (R$ 6.747), Ceará (R$ 6.798) e Pará (R$ 6.847).

Em contraste, há estados com alto déficit florestal e altos custos por hectare, como por

exemplo, São Paulo (R$ 8.593/ha para um ano), Rio de Janeiro (R$ 7.833/ha para um

ano) e Espirito Santo (R$ 7.904/ha para um ano).

Tabela 27: Custos totais de recuperação florestal por unidade

federal (cenário com preços de mudas normais, baixa densidade

de mudas, pagamento de mão de obra, sem custos de transporte de

insumos, sem custos de administração), preços de 2013.

Custos Totais de Recuperação Florestal por UF

UF Áreas a recuperar

(ha)

Custo Total de recuperação e

Cercamento - 1 ano

Custo Total de recuperação e

Cercamento - 3 anos

AP 16.270 R$ 116.803.110,98 R$ 130.744.035,99

DF 12.861 R$ 133.428.524,78 R$ 161.543.726,01

RR 24.580 R$ 176.284.698,06 R$ 197.922.905,92

PI 33.951 R$ 234.845.739,45 R$ 262.706.588,62

PB 50.829 R$ 377.068.472,67 R$ 420.576.400,25

RN 54.905 R$ 395.164.381,25 R$ 450.335.160,64

SE 52.091 R$ 420.860.145,23 R$ 487.760.522,02

AC 79.856 R$ 537.130.619,98 R$ 594.659.136,33

CE 82.527 R$ 561.026.893,41 R$ 618.378.197,35

PE 109.944 R$ 813.894.149,83 R$ 914.904.929,73

AL 108.275 R$ 859.377.208,85 R$ 961.452.809,31

SC 88.919 R$ 864.929.309,67 R$ 1.137.694.178,62

RJ 145.885 R$ 1.142.858.940,64 R$ 1.438.385.507,77

AM 201.908 R$ 1.412.999.793,59 R$ 1.558.906.990,48

ES 197.105 R$ 1.558.008.017,66 R$ 1.964.007.628,69

Page 161: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

161

RO 308.244 R$ 2.352.713.446,74 R$ 2.715.552.114,18

RS 664.236 R$ 6.192.107.127,80 R$ 7.954.708.721,38

TO 934.666 R$ 6.307.035.093,69 R$ 7.154.415.842,78

GO 751.814 R$ 7.908.366.506,89 R$ 9.569.480.822,17

BA 1.028.426 R$ 7.909.483.642,77 R$ 8.994.488.117,50

MA 1.165.555 R$ 8.245.696.463,14 R$ 9.057.209.828,49

MG 1.312.065 R$ 9.706.747.666,56 R$ 12.220.493.060,15

PA 1.599.028 R$ 10.948.967.484,46 R$ 12.214.052.144,59

PR 1.259.614 R$ 11.207.252.417,67 R$ 14.241.579.768,17

MS 1.137.676 R$ 12.655.361.824,02 R$ 15.298.128.480,96

SP 1.612.469 R$ 13.856.442.177,45 R$ 18.733.334.337,64

MT 5.837.488 R$ 58.996.725.786,36 R$ 67.519.522.003,82

Brasil 18.871.187 R$ 165.891.579.643,60 R$ 196.972.943.959,56

Fonte: Elaboração própria

Por fim, deve-se comparar as estimativas elaboradas pelo presente relatório com

outros estudos elaborados para estimar custos de recuperação florestal no Brasil. A

Tabela 28 mostra uma comparação dos custos do presente estudo (GEMA) em relação a

outros estudos prévios sobre o tema: os valores médio, máximo e mínimo dos resultados

aqui apresentados (GEMA) estão próximos aos dos demais estudos. Os maiores custos

de recuperação foram estimados para a Bahia (Cunha et al., 2011) e Cerrado (Correa e

Ferreira, 2007), empregando espécies gramíneas e lenhosas na recuperação de áreas

mineradas. Os menores custos foram estimados para o Cerrado (Correa & Ferreira,

2007) e para Mata Atlântica (Nave, Rodriguez & Brancaloni, 2012), empregando

espécies frutíferas e madeireiras.

Tabela 28: Comparação custos de recuperação (sem inclusão de

custos de transporte de insumos ou custos de administração) para

diferentes estados do Brasil e cálculos de este estudo (reais de

2013)19

.

Fonte Projeto

Implantação

(R$/ha)

Manutenção

(R$/ha/ano)

Estudos alternativos

MÉDIA R$ 7.359,03 R$ 2.122,63

Máximo R$ 21.205,54 R$ 6.920,63

Mínimo R$ 706,85 R$ 346,03

GEMA MÉDIA R$ 5.135,89

19

Para calcular os valores médios e extremos dos cenários gerados no GEMA, foi empregado o valor

máximo dos máximos municipais, o valor médio das medias municipais e o valor mínimo dos mínimos

municipais, para identificar o rango da totalidade das projeções.

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162

Máximo R$ 11.351,93

Mínimo R$ 1.919,52

Cunha et al. (2011)

Banco de Carbono (Brasil) R$ 8.074,07 R$ 1.153,44

Mapa dos Sonhos do Pontal do Paranapanema (SP) R$ 5.767,19 R$ 2.076,19

Plantando Água (SP) R$ 5.767,19 R$ 2.076,19

Neutralização de Emissões de Carbono (SP, MG) R$ 9.227,51 R$ 2.479,89

Com Café (CE) – SAF R$ 4.729,10 R$ 346,03

EcoCitrus (RS) – SAF R$ 2.508,73

Carbono, Biodiversidade e Comunidade (Monte

Pascoal, BA) R$ 17.301,58 R$ 6.920,63

Projeto FlorestaViva (BA) R$ 13.841,26

Brasil MataViva (GO) R$ 1.203,04

Carbono, Biodiversidade e Renda (Pontal do

Paranapanema, SP) R$ 5.767,19 R$ 2.076,19

Reflorestamento das Bordas dos Reservatórios da AES

Tietê (SP) R$ 12.687,82

Programa Desmatamento Evitado R$ 576,72

Recomposição da Paisagem e SAFs (Café com Floresta

- SP) R$ 1.061,16

Média Geral R$ 5.478,83 R$ 1.561,76

Nave, Rodrigues e

Brancalion (2012)

Fazenda Santa Maria (Espécies Madeireiras +

Frutíferas) R$ 741,41

Fazenda São Luiz (Espécies Madeireiras) R$ 773,44

Adequação Ambiental e Agrícola de Propriedades

Rurais “Paragominas, Município Verde” R$ 786,47 R$ 1.310,79

Júnior et al. (2008) produção castanha-do-pará x paricá x taxi-branco R$ 3.918,93

Corrêa e Ferreira (2007).

preço mínimo R$ 706,85

preço máximo R$ 21.205,54

Plaster et al. (2008) Fazenda Maringá, MT R$ 3.077,81

Rodrigues, Brancalion e

Isernhagen (2009) R$ 10.029,23 R$ 2.771,08

Schindler e Saporta (2010) dados da AES Tietê R$ 12.213,78

Noffs, Galli e Gonçalves

(2000)

recuperação completa - preço mínimo R$ 13.134,44

recuperação completa - preço máximo R$ 16.846,65

solo ocupado por atividades agropecuárias - mín R$ 5.952,05

solo ocupado por atividades agropecuárias - máx R$ 8.533,46

Moraes et al (2013) Plantio de espécies nativas RJ R$ 2.130,00 R$ 3.830,00

Fonte: Elaboração própria

É importante ter em conta que esses estudos foram realizados para áreas

especificas do Brasil, e isso explica a sua variabilidade de valores para custos de

recuperação e manutenção. Outro fator de variabilidade dos custos tem relação com a

complexidade das atividades realizadas. Quando propostas atividade simples de

adequação, é possível ter custos baixos (como proposto por Nave, Rodriguez &

Brancolini, 2012), mas quando as propostas procuram ter uma recuperação total das

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IEI-18958

163

áreas (como proposto por Noffs, Gali & Gonçalves, 2000), os custos podem ser muito

maiores.

1.3.4. Considerações sobre Custo de recuperação florestal

Os mapas e gráficos anteriores mostram que os custos das mudas tem um peso

importante nos custos de recuperação. Logo, é importante identificar mecanismos para

poder reduzir custos nos processos de aquisição ou incentivar processos de geração de

mudas pelos próprios projetos ou ainda incrementar o número de empresas produtoras

de mudas em áreas de interesse para recuperação. Já os custos de mão de obra têm uma

influência importante nos custos totais, quando consideradas as atividades de

manutenção. Por isso, é essencial estabelecer esquemas para compartilhar tais custos

com os proprietários de áreas identificadas como prioritárias para os processos de

recuperação.

Quando considerados em conjunto, os custos de cercamento e os custos de

recuperação mostram a necessidade de investimentos altos. Sendo assim, faz-se

necessária a identificação de estratégias para reduzir aqueles custos e atingir uma maior

quantidade de área para recuperação.

Por fim, fica evidente que um PSA de recuperação florestal deve também incluir

os custos de oportunidade da terra, discutidos na seção anterior deste capítulo. Isto

significa que o custo de recuperar florestas, depois de destruídas, é muito mais alto do

que os destinados a evitar o desmatamento. Como diz o ditado, prevenir é melhor que

remediar.

1.4. Integração de custo de oportunidade e custos de recuperação florestal

Nesta subseção será apresentado o resultado consolidado dos custos de

oportunidade e de recuperação florestal. Os valores para o custo de oportunidade

remetem a média dos três modelos apresentados nas subseções 2.1, 2.2 e 2.3 do presente

relatório. Já para os custos de reflorestamento, estes compreendem a soma do custo de

cercamento e recuperação, com uma estrutura de gastos distribuída em três anos (um

ano de implementação do projeto e dois anos de manutenção).

Em termos contábeis, os resultados apresentados nessa seção revelam o custo de

produção de bens e serviços ecossistêmicos em localidades onde não existe tendência de

desmatamento em virtude da escassez de remanescentes florestais. Ao comparar os

Page 164: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

164

resultados desta seção com os valores dos benefícios gerados, a ser apresentado no

capítulo 3, pode-se decidir qual estratégia para o uso da terra é preferível do ponto da

geração de valor (e do bem-estar coletivo). Se os custos de se recuperar a floresta,

adicionados do custo de oportunidade da terra, forem inferiores ao valor dos benefícios

ecossistêmicos em uma dada localidade, então a decisão mais adequada seria a

recuperação dessa área e o seu posterior emprego em atividades de conservação.

O Mapa 14 sintetiza os resultados integrados dos custos de oportunidade e

recuperação florestal, revelando um caráter significativamente assimétrico para as

possibilidades de conservação no país. As diferenças inter-regionais de valores foram

expressivas, de modo que as zonas mais baratas para a conservação, isto é, semiárido

nordestino e frações do território Amazônico (borda amazônica do Maranhão, noroeste

do Pará e Acre), apresentaram um custo total cerca de 4,5 vezes menor do que aquele

observado nas regiões Sul e Sudeste.

Mapa 14: Custos de oportunidade por hectare somados com custos de

cercamento e recuperação florestal por hectare. ($R de 2013).

Fonte: Elaboração própria

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165

A Figura 12 mostra as curvas acumuladas para cada uma de essas variáveis e

uma curva conjunta que é a somatória das duas anteriores, considerando todos os

custos: custos de cercamento (CC) custos de recuperação florestal (CR), custos de

oportunidade (COP), custos de transporte de insumos (CT) e custos de administração.

Se desconsiderados os custos de transporte e de administração, a média foi R$ 7.870 por

hectare. Quando considerados estes custos, a média foi de R$ 9.400. Para atingir 10

milhões de hectares foi calculado um custo máximo de R$ 7260 por hectare,

desconsiderando custos de transporte e administração, e de R$ 8.620, quando

considerados estes custos.

Figura 12: Curva de oferta de conservação para custos de cercamento,

custos de recuperação para 3 anos e custos de oportunidade com e sem

custos de transporte e administração.

Fonte: Elaboração própria

A integração dos custos de oportunidade e de recuperação amplia as

possibilidades de uma política de pagamentos por serviços ambientais, na medida em

que auxilia o processo de adequação ao Código Florestal. Os resultados aqui

apresentados fornecem uma primeira aproximação dos custos de se eliminar os déficits

de reserva legal nos municípios brasileiros.

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000

cust

os

R$/

ha

Área em ha

CC+CR+COP CC+CR+CT+CA+CO

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166

A Figura 13 mostra que o custo total de se reduzir 25% do déficit de reserva

legal (4,7 milhões de hectares) é da ordem de R$ 36,8 bilhões. Com cerca de R$ 71,9

bilhões seria possível reduzir este déficit pela metade (equivalente a 9,3 milhões de

hectares). Nota-se ainda que a estratégia mais barata para garantir a manutenção dos

serviços ambientais é a conservação das áreas de floresta e matas nativas. Evitar a

conversão de novas áreas significaria uma economia de bilhões de reais a serem gastos

com a recuperação florestal.

Figura 13: Custos de oportunidade e custos de cercamento com

recuperação acumulados, em R$ de 2013

Fonte: Elaboração própria

Por fim, o Mapa 15 revela os custos totais acumulados por município para

cumprir com os percentuais mínimos de Reserva Legal segundo o novo Código

Florestal. Com R$ 20 bilhões, seria possível reduzir o déficit em um total de 2,8 bilhões

de hectares. Essas áreas encontram-se localizadas em municípios pertencentes aos

estados Amazonas, Roraima, Acre, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e

Bahia. Para valores entre R$ 80 bilhões e R$ 100 bilhões, foi possível incluir

municípios nos estados Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Rio

de Janeiro, reduzindo o déficit de reserva legal em 10,3 bilhões de hectares e 12,4

milhões de hectares, respectivamente.

$ -

$ 20.000.000.000

$ 40.000.000.000

$ 60.000.000.000

$ 80.000.000.000

$ 100.000.000.000

$ 120.000.000.000

$ 140.000.000.000

$ 160.000.000.000

- 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000

Reais

acum

ulad

os

hectares acumuladas

Custo de oportunidade Custo cerca+rec 3 anos Custo de oportunidade + cerca+rec 3 anos

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167

Mapa 15: Custos totais (cercamento, recuperação florestal e custos de

oportunidade) acumulados por município, para atingir o déficit de Reserva

Legal. Em milhões de reais de 2013.

Fonte: Elaboração própria

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168

APÊNDICE B: BENEFÍCIOS AMBIENTAIS

Neste apêndice são apresentados a metodologia e os resultados do modelo de

cálculo dos benefícios ambientais da conservação florestal que poderia ser resultante de

um PSA nacional. Os seguintes benefícios são considerados:

a) Emissões evitadas e captura de gases de efeito estufa (GEE):

i. Emissões de carbono evitadas por ações de conservação florestal que resultem

em prevenção do desmatamento;

ii. Emissões de metano evitadas pela intensificação da pecuária;

iii. Captura de CO2 pela incorporação de nova biomassa em áreas degradadas

anteriormente por atividades produtivas através da recuperação florestal em áreas de

déficit ambiental.

b) Erosão do solo evitada pela conservação florestal e pela recuperação florestal.

c) Áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade

Nas seções subsequentes são apresentadas tanto as metodologias de cada

componente, como também seus respectivos resultados. Entende-se que existem

limitações metodológicas importantes, tanto pela falta de informações e metodologias

específicas de estimação dos benefícios da conservação de serviços ambientais quanto

pela escala nacional do exercício. Portanto, os resultados apresentados devem ser vistos

como uma primeira aproximação, e estudos posteriores devem ser feitos para detalhar e,

possivelmente, corrigir os procedimentos aqui adotados. Contudo, é importante frisar

que, mesmo diante dessas limitações, trata-se de um grande avanço na estimativa dos

benefícios da conservação de serviços ecossistêmicos associados à proteção ou

recuperação de florestas induzidas por um sistema de Pagamento por Serviços

Ambientais (PSA), fornecendo relevantes subsídios para a formulação de políticas de

conservação florestal.

Além disso, a importância da conservação dos serviços ambientais vai além dos

elementos vistos acima. O Brasil possui a maior extensão de florestas tropicais do

mundo, sendo importante na manutenção do equilíbrio ambiental em escalas regional e

global, não só devido às emissões de gases de efeito estufa, proteção do solo e

biodiversidade, mas também ao controle de chuvas, polinização, provisão de alimentos,

dentre outros serviços ambientais (MEA, 2005). Todos esses serviços também deveriam

ser considerados junto com as estimativas apresentadas neste relatório, mas infelizmente

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IEI-18958

169

não existem ainda ferramentas capazes de fazer avaliações na escala pretendida neste

estudo.

2.1 Conservação de carbono florestal e captura de gases de efeito estufa

de gases de efeito estufa (GEE)

O Brasil reduziu significativamente a sua emissão total de GEE entre 1990 e

2010, principalmente pela redução de emissões causadas por desmatamento (Tabela 29).

Tabela 29: Emissões de gases de efeito estufa no Brasil por

setores, 1990-2010

Setores 1990 1995 2000 2005 2010 Variação

Gg CO2eq 1995-2005 2005-2010

Energia 191543 232430 301096 328808 399302 41,5% 21,4%

Processos Industriais 52536 63065 71673 77943 82048 23,6% 5,3%

Agropecuária 303772 335775 347878 415713 437226 23,8% 5,2%

Florestas 815965 1950084 1324371 1167917 279163 -40,1% -76,1%

Resíduos 28939 33808 38550 41880 48737 23,9% 16,4%

TOTAL 1392756 2615162 2083570 2032260 1246477 -22,3% -38,7%

Fonte: MCTI– SEPED– CGMC (2013)

Contudo, na década de 2010, ocorreu uma relativa estagnação dos níveis de

desmatamento (Figura 11), que permanecem ainda em patamar relativamente alto. Isso

indica que ainda há muito que fazer em termos de controle do desmatamento,

especialmente considerando a meta assumida pelo Governo Federal de diminuir as

emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030, tendo 2005

como ano-base, conforme anunciado pela presidente Dilma Rousseff na Cúpula das

Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, em setembro de 2015 (Agência

Brasil, 2015).

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IEI-18958

170

Figura 13: Emissões totais de GEE por mudança no uso da terra, Brasil,

1990-2013, Milhões de tCO2eq.

Fonte: SEEG, 2016.

Existe forte concentração das emissões por mudanças de uso da terra

(desmatamento) em apenas dois biomas: Amazônia, onde ocorreram 50% do total desse

tipo emissões em 2010, e Cerrado, com 39% do total (Tabela 30).

Tabela 30: Emissões de GEE pelas Mudanças de uso da terra e

florestas em Brasil 1990-2010. Gg CO2eq.

SETOR 1990 1995 2000 2005 2010 Variação

Gg CO2eq 1995-2005 2005-2010

Mudança do Uso da Terra e Florestas 816 1950 1324 1168 279 -40,1% -76,1%

Mudança do Uso da Terra 811 1945 1316 1160 269 -40,3% -76,8%

Bioma Amazônia 492 1486 858 837 140 -43,7% -83,2%

Bioma Cerrado 247 318 318 278 109 -12,6% -60,8%

Bioma Mata Atlântica 24 83 83 3 -5 -96,7% -276,9%

Bioma Caatinga 29 40 40 12 6 -69,1% -53,0%

Bioma Pantanal 19 17 17 12 2 -28,0% -79,6%

Bioma Pampa 0 0 0 17 16 - -9,7%

Calagem 5 5 9 7 10 38,5% 39,5%

Fonte: MCTI; Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e

Desenvolvimento – SEPED; Coordenação Geral de Mudanças Globais de Clima –

CGMC, 2013.

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

19

90

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

Milh

ões

de

tCO

2eq

(G

WP

)

Alterações de Uso do Solo Calagem Queima de residuos

Page 171: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

171

Se, por um lado, as emissões por desmatamento reduziram, por outro, as

emissões do setor agropecuário cresceram significativamente: 23,8% entre 1995/2005, e

5,2% entre 2005/2010 (Tabela 29). A Figura 14 mostra a evolução recente das emissões

de GEE por setor.

Figura 14: Emissões de GEE em Brasil por setor 2000-2014, MtCO2eq.

Fonte: SEEG, 2016b.

Dentro do setor agropecuário, ganha destaque as emissões de metano (CH4)

oriundas da pecuária por fermentação entérica: os dados da Tabela 31 indicam que

apenas esse componente foi responsável por 56,4% do total das emissões da

agropecuária em 2010. Além disso, as emissões de solos agrícolas por animais em

pastagens corresponderam por 15,7% das emissões agropecuárias. Ou seja, de longe, a

pecuária é a principal responsável por emissões de GEE no setor agrícola, e desenvolver

técnicas de intensificação da criação que resultem em menos emissões por animal

podem trazer grandes reduções nas emissões de GEE brasileiras.

Page 172: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

172

Tabela 31: Emissões de GEE do setor agrícola brasileiro por

principais atividades 1990-2010 em Gg CO2eq.

Fonte: MCTI; Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e

Desenvolvimento – SEPED; Coordenação Geral de Mudanças Globais de Clima –

CGMC, 2013.

Outro tema de extrema relevância é o potencial de captura de carbono por

recuperação florestal. A Presidente Rousseff assumiu a meta de reflorestar 12 milhões

de hectares e recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030. Isso

indica que a recuperação florestal de áreas degradadas ou de baixa produtividade

também traz grande potencial de redução da contribuição brasileira na concentração de

GEE na atmosfera.

Por outro lado, diversos estudos (IPCC, 2014; MCKINSEY, 2009) sugerem que

essas alternativas podem reduzir emissões de GEE de forma bastante custo-eficiente. As

próximas subseções analisam alternativas nesses setores, relacionados com a

agricultura, pecuária e manejo florestal (desmatamento e reflorestamento), que podem

SETOR 1990 1995 2000 2005 2010 Variação

Gg CO2eq 1995-2005 2005-2010

AGROPECUÁRIA 303772 335775 347878 415713 437226 23,8% 5,2%

Fermentação Entérica 176804 192667 201586 241225 246569 25,2% 2,2%

Manejo de Dejetos de Animais 16449 18161 17796 19155 21284 5,5% 11,1%

Solos Agrícolas 98472 110756 116563 141610 154091 27,9% 8,8%

Emissões Diretas 65979 74227 77860 94779 103229 27,7% 8,9%

Animais em Pastagem 51375 55706 56049 67290 68478 20,8% 1,8%

Fertilizantes Sintéticos 3417 4975 7314 9652 12156 94,0% 29,7%

Aplicação de adubo 4095 4523 4355 4845 5486 7,1% 13,2%

Resíduos Agrícolas 4753 6137 6708 9009 12218 76,8% 35,6%

Solos Orgânicos 2338 2886 3434 3982 4530 38,0% 13,8%

Emissões Indiretas 32493 36530 38703 46832 50862 28,2% 8,6%

Disposição Atmosférica 6541 7254 7506 9013 9610 24,2% 6,6%

Fertilizantes Sintéticos 380 553 813 1072 1391 94,0% 29,7%

Adubo Animal 6161 6701 6694 7940 2819 18,5% 3,5%

Lixiviação 25952 29275 31197 37819 41252 29,2% 9,1%

Fertilizantes Sintéticos 2847 4146 6095 8043 10430 94,0% 29,7%

Adubo Animal 23105 25130 25102 29776 30822 18,5% 3,5%

Cultura de Arroz 7626 9286 8251 8940 8788 -3,7% -1,7%

Queima de Cana e Algodão 4420 4905 3682 4782 6495 -2,5% 35,8%

Page 173: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

173

ser estimulados por um PSA nacional e conseguir reduções de emissões ou captura de

GEE com custos baixos de redução.

3.1.1. Potencial de redução de emissões por conservação florestal

O potencial de redução de emissões de carbono por conservação florestal refere-

se à estimativa de emissões de gases de efeito estufa (GEE), notadamente dióxido de

carbono (CO2), que deixariam de ser lançadas na atmosfera em função do

estabelecimento de um PSA nacional. Esse componente é também conhecido na

literatura como Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal

(REDD) 20

, e está associado a atividades de conservação florestal.

Evitar o desmatamento, promovendo atividades de conservação florestal, é uma

das formas mais baratas e rápidas para reduzir as emissões de carbono em grande

escala. No Brasil, em especial, essa estratégia é eficaz, visto que grande parte das

emissões atuais de gases de efeito estufa no país ainda continua sendo originada por

desmatamento, sobretudo nos biomas Amazônia e Cerrado.

Estudo do Ministério do Meio Ambiente (MMA 2012b) identificou a

conservação florestal como um instrumento que pode estabelecer políticas e incentivos

para reduzir o desmatamento e a degradação florestal, reconhecendo a importância da

conservação e manejo florestais, bem como aumento dos estoques de carbono florestal.

Para tal, as ações de conservação florestal devem ter seus efeitos medidos, verificados,

quantificados e demonstrados a partir de ao menos uma dessas atividades (UNFCCC,

2007):

i. Reduzir as emissões do desmatamento;

ii. Reduzir as emissões de degradação;

iii. Preservar os estoques de carbono;

iv. Permitir o manejo florestal sustentável;

v. Aumentar os estoques de carbono.

Estabelecer um PSA para conservação florestal, contudo, exige estabelecer uma

linha de base para a projeção de desmatamento, visto que não seria correto supor que

toda e qualquer área de floresta seria hipoteticamente convertida para uso agropecuário.

20

REDD+ (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal) é um conjunto de políticas e

incentivos positivos para a redução das emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal, e

incremento de estoques de carbono florestal (incluindo conservação e manejo florestal sustentável) em

países em desenvolvimento (UNFCCC, 2007).

Page 174: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

174

Ou seja, o pagamento não deve ser efetuado para qualquer área de remanescente

florestal, mas apenas para a área que supostamente sofreria a tendência de

desmatamento.

Desta forma, o primeiro passo da modelagem consistiu na identificação dos

remanescentes florestais nativos ao nível local (Mapa 16).21

Mapa 16: Remanescentes de ecossistemas naturais em % da área total, por

município.

Fonte: Elaboração própria a partir de PRODES/INPE, SOS Mata Atlântica e PMDBBS/MMA.

Neste estudo, os remanescentes florestais foram obtidos a partir de informações

sobre o desmatamento anual em cada bioma. Foi utilizada a base de dados do “Projeto

21 Uma forma alternativa de entender o Mapa 16 é percebê-lo como a distribuição do

desmatamento acumulado em cada região do Brasil. Como é fartamente apresentado na literatura, o

desmatamento distribui-se de forma bastante desigual entre os diferentes biomas. A Mata Atlântica

apresenta a pior performance, seguida pela parte meridional do Cerrado. Amazônia e Pantanal apresentam

as maiores percentagens de remanescentes de ecossistemas. O Mapa 16 também mostra as desigualdades

internas aos biomas. O exemplo mais evidente é a situação do Cerrado, onde o desmatamento está

fortemente concentrado na parte Sul/Sudoeste, em contraste com áreas ainda extensas de remanescentes

nas porções Norte/Nordeste. Também fica evidente que o desmatamento é muito mais presente no “Arco

do Desmatamento” do que no resto da Amazônia. Mesmo na Mata Atlântica percebe-se diferenças

significativas, com as áreas de relevo mais acentuado apresentando maiores taxas de remanescentes

florestais.

Page 175: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

175

de Monitoramento do Desmatamento nos Biomas Brasileiros por Satélite - PMDBBS”

(MMA) -, que define os remanescentes florestais e/ou taxas médias de desmatamento

para todos os municípios do Brasil separados por bioma. As informações do bioma

amazônico são oriundas do sistema PRODES, organizado pelo Instituto Nacional de

Pesquisas Espaciais (INPE) (INPE, 2014).

O segundo passo consistiu em estimar uma linha de base (LB) para avaliar qual

seria o desmatamento potencial e onde ele ocorreria. Como linhas de base foram

propostas duas projeções alternativas: uma projeção assintótica em zero do

desmatamento (modelo SISGEMA) e uma projeção com base no software de

modelagem espacial e ambiental Dinamica EGO.

Uma vez em posse das projeções espaciais de desmatamento, é possível estimar

o quanto seria possível reduzir em área desmatada em função de um PSA para

conservação florestal.

O potencial de redução do desmatamento depende do valor por hectare pago

pelo PSA. Esse valor foi estabelecido arbitrariamente na mediana do custo de

oportunidade da terra. Deste modo, a questão que será respondida mais adiante é: dadas

as projeções de desmatamento, qual seria a redução da área desmatada mediante ao

pagamento por serviços ambientais no valor de R$ 402,57/ha/ano?

O cruzamento das informações referentes à área desmatada e ao custo de

oportunidade da terra também permite estimar o custo de se zerar o desmatamento

dentro dos prazos estabelecidos recentemente pelo Governo Federal. Isto é, quais seriam

os custos totais de: (i) zerar o desmatamento no bioma Amazônia até 2020; (ii) de zerar

o desmatamento nos demais biomas até 2030. Os resultados desse exercício também

serão apresentados no Anexo 2.1 desta seção.

Vale notar que os dois exercícios propostos seguem lógicas inversas. No

primeiro caso, optou-se por fixar o valor do PSA (na mediana do custo de oportunidade)

e calcular o potencial de redução de desmatamento associado. No segundo, optou-se por

fixar a quantidade de desmatamento a ser reduzida para então calcular o custo total

(somatório dos custos de oportunidade) desta ação.

Por fim, a partir do cálculo da redução do desmatamento, foi possível estimar a

emissão de carbono que seria evitada em função da implementação de um PSA para

conservação florestal. O valor total do benefício, medido em termos de toneladas de

carbono, foi obtido segundo a equação 11, a seguir:

Page 176: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

176

Equação 11.

E = D * A

Onde:

E = Redução de carbono emitido por conservação florestal (em toneladas de

carbono);

D = Densidade de carbono acima do solo (em toneladas de carbono/hectare)

(MCT, 2010);

A = Redução da área desmatada dado o estabelecimento de um PSA (em

hectares);

A densidade de carbono acima do solo foi obtida a partir do estudo da Fundação

de Ciência, Aplicações e Tecnologias Espaciais – FUNCATE (MCT, 2010). O potencial

de desmatamento evitado é calculado por bioma, em toneladas de carbono.

3.1.1.1.Projeção de Desmatamento no Modelo SISGEMA

3.1.1.1.1 Metodologia

Para calcular o total de emissões que seriam evitados por conservação florestal,

fez-se necessária a construção de dois cenários hipotéticos: (i) um cenário business as

usual, revelando a trajetória de desmatamento tendencial (na ausência de um PSA); (ii)

um cenário desejável, estimando a trajetória das taxas de desmatamento em um contexto

marcado pela presença de um PSA.

A literatura apresenta diferentes métodos para a projeção do desmatamento em

diferentes biomas do país e para o Brasil como um todo (Cunha et al, 2015; Lima, 2014,

WWF, 2014; Yanai et al, 2012; FAS, 2013). Nesta subseção, optou-se por um modelo

obtido pela inversa da função exponencial, cujas projeções apontaram para uma redução

assintótica das taxas de desmatamento ao longo do período 2016 – 2030. A escolha

desse modelo reside na sua aparente compatibilidade com a teoria da transição

florestal22

(figura 15).

22

Ao que parece, os biomas brasileiros estão localizados entre o 2º e o 3º estágios da transição

florestal, intervalo onde a curva de cobertura florestal apresenta um comportamento claramente

assintótico.

Page 177: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

177

Figura 15: Estágios da transição florestal

Fonte: adaptado de Angelsen (2008).

3.1.1.1.2 Resultados da projeção SISGEMA

As projeções de desmatamento consolidadas para o Brasil, estimadas a partir do

modelo SISGEMA, apesar de apresentarem uma tendência declinante do desmatamento,

revelam uma perda estimada de remanescentes florestais da ordem de 1,18 milhões de

hectares em 2030 (figura 16). No período 2016-2030, a perda de remanescentes

florestais superaria os 20 milhões de hectares.

Page 178: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

178

Figura 16: Cenários de projeção para as taxas de desmatamento – com e

sem PSA

Fonte: elaboração própria

Este cenário se contrapõe aos compromissos firmados recentemente pelo

Governo Federal de zerar o desmatamento em todos os biomas brasileiros até o ano de

2030, em que pese o prazo ainda mais exíguo para o bioma Amazônia23

. A diferença

entre a trajetória projetada para as taxas de desmatamento e a que seria necessária para

atender aos compromissos firmados revela a insuficiência dos atuais instrumentos em

operação, de onde se depreende a possibilidade de preencher tais lacunas por meio de

uma política nacional de pagamentos por serviços ambientais voltados à conservação

florestal.

Alternativamente ao cenário business as usual, supôs-se um PSA pagando o

valor máximo equivalente à mediana do custo de oportunidade da terra (R$

402,57/ha/ano), isto é, focando os esforços da política nos dois quartis onde a

conservação florestal seria mais barata. Os resultados mostraram que mediante ao

pagamento desse valor, seria possível reduzir o desmatamento total no período em

aproximadamente 17 milhões de hectares, o que equivale a 82,74% do desmatamento

projetado (vide figura 16).

23

Neste bioma, o prazo para zerar o desmatamento foi estabelecido em 2020.

0

2.000.000

4.000.000

6.000.000

8.000.000

10.000.000

12.000.000

14.000.000

16.000.000

18.000.000

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1.600.000

1.800.000

2016

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

2026

2027

2028

2029

2030

Des

mat

ame

nto

acu

mu

lad

o (

ha)

Des

mat

ame

nto

(h

a)

Desm. Evitado ( acumulado) Sem PSA Com PSA

Page 179: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

179

É possível estimar o valor anual da política em função do custo de oportunidade

da terra das áreas que seriam desmatadas entre 2016 e 2030 (Figura 17). Nota-se que

custo de um PSA de até R$ 402,57/ha/ano seria de aproximadamente R$ 3,3 bilhões de

reais anuais. Essa cifra consiste no pagamento das áreas para as quais foram projetadas

perdas de remanescentes florestais e revela o custo de se evitar hoje um desmatamento

que poderia ocorrer em qualquer ponto do tempo, deste momento até 2030.

Figura 17: Distribuição anual dos custos do PSA

Fonte: elaboração própria.

A eficácia de um PSA pagando o valor máximo de R$ 402.57/ha/ano é bastante

desigual em termos espaciais. Isto se deve às diferenças regionais nos custos de

oportunidade da terra. No mapa 17 é possível ver qual seria a região de êxito da política.

Fundamentalmente, se desenhada nesses termos, o PSA seria ineficaz para reduzir o

desmatamento nos biomas Pampa e Mata Atlântica, onde os custos de oportunidade dos

municípios ali localizados excedem, em sua grande maioria, o valor máximo anual do

benefício que seria pago por hectare. Enquanto no bioma Amazônia e Caatinga mais de

96% dos desmatamentos acumulados no período seriam evitados, na Mata Atlântica e

no Pampa não mais que 3,06% e 2,55%, respectivamente, deixariam de ocorrer. O

Cerrado também apresentaria um alto percentual de abatimento do desmatamento,

explicado, sobremaneira, pelo baixo custo de oportunidade da parcela mais ao norte

deste bioma. Em parcelas mais centrais e ao sul, a política seria pouco funcional, diante

R$ 0

R$ 200

R$ 400

R$ 600

R$ 800

R$ 1.000

R$ 1.200

R$ 1.400

R$ 1.600

R$ 1.800

R$ 2.000

R$ 0 R$ 1 R$ 2 R$ 3 R$ 4 R$ 5

R$/

ha/

ano

Custo total anual (em bilhões)

Page 180: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

180

da alta lucratividade da terra nestas localidades, geralmente empregada para a produção

intensiva de grãos para exportação.

Mapa 17: Distribuição espacial do desmatamento evitado (abaixo da mediana)

e residual (acima da mediana) no período 2016-2030

Fonte: elaboração própria

O potencial de conservação do carbono florestal dessa política é significativo. O

hipotético cenário em que 17 milhões de hectares deixariam de ser desmatados

conduziria a uma situação em que 4,77 bilhões de toneladas de CO2 deixariam de ser

emitidas na atmosfera entre 2016-2030 (Figura 18). Deste total, a Amazônia e o Cerrado

responderiam conjuntamente por mais de 92%. É evidente que, ao focar o PSA nos dois

primeiros quartis da distribuição do custo de oportunidade da terra, uma parcela

significativa das emissões que seriam evitadas adviria das áreas onde a conservação é

mais barata. Este padrão é claramente reforçado para Amazônia, em função da alta

densidade de tonelada de carbono por hectare nesse bioma, justamente o inverso do que

se verificaria para a Caatinga. A participação do Cerrado, por sua vez seria justificada

muito mais pela extensão da área de desmatamento que seria evitada nesse bioma (11

milhões de hectares), do que propriamente em função de sua densidade de carbono por

hectare.

Page 181: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

181

Figura 18: Distribuição quantílica dos custos do PSA e emissões de CO2

evitadas

Fonte: elaboração própria

A quantidade de emissões seria evitada varia de acordo com a extensão da área

que seria conservada, e esta última é função do custo de oportunidade da terra. De tal

sorte, é possível relacionar estas três grandezas, ainda que de forma indireta. A Figura

19 revela o preço da tonelada do CO2 capaz de igualar o custo de oportunidade da terra

de uma determinada área. Em outros termos, trata-se de uma curva de oferta de REDD

ou, ainda, de uma curva de custo de abatimento24

. Por meio desta, é possível notar que

com um preço de aproximadamente R$ 23,30 por tCO2 seria possível gerar um volume

de recursos capaz de eliminar o desmatamento nos dois primeiros quartis do custo de

oportunidade da terra entre 2016 e 2030. Alternativamente, com um preço de R$ 50,00

por tCO2eq., seria possível zerar praticamente todo o desmatamento projetado nesse

período.

24

Terminologia usada em Borner et al. (2010).

R$ 0

R$ 500

R$ 1.000

R$ 1.500

R$ 2.000

R$ 2.500

R$ 3.000

R$ 3.500

R$ 4.000

0 1 2 3 4 5 6

R$/

ha/

ano

GtCO2eq acumuladas

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IEI-18958

182

Figura 19: Curva de custo de abatimento de emissões potenciais de

desmatamento

Fonte: Elaboração própria

O Mapa 18 retrata o preço mínimo da tCO2eq capaz de induzir a conservação

florestal. Isto é, revela o preço por tonelada capaz de equiparar o valor presente líquido

do custo de oportunidade da terra no período 2016-2030. A distribuição de valores no

mapa está fortemente relacionada com dois fatores:

(i) a densidade de carbono acima do solo (tCO/ha);

(ii) o custo de oportunidade da terra.

Na Amazônia, como o custo de oportunidade da terra tende a ser mais baixo e a

densidade de carbono tende a ser elevada, a conservação poderia ser induzida com um

baixo preço da tCO2eq. Esta realidade não se aplica ao Pampa e a parcelas

significativas do Cerrado e Mata Atlântica. No Cerrado, as regiões produtoras de grão

apresentam um elevado custo de oportunidade da terra, em que pese o fato da densidade

de carbono desse bioma ser, em média, quase metade da densidade observada no bioma

Amazônia.

R$ 0

R$ 5

R$ 10

R$ 15

R$ 20

R$ 25

R$ 30

R$ 35

R$ 40

R$ 45

R$ 50

0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000

R$/

tCO

2eq

desmatamento evitado (ha)

Page 183: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

183

Mapa 18: Custo de Oportunidade do REDD em áreas ameaçadas por

Desmatamento

Fonte: Elaboração própria

A Tabela 32 apresenta os resultados resumidos dos custos e benefícios de um

PSA nacional pelo modelo SISGEMA. Por meio desta, é possível ver a contribuição

desigual dos biomas no tocante as emissões que seriam evitadas, bem como o custo

associado às políticas necessárias para a conservação do carbono florestal. Como se

pode notar, a relação entre custo e benefício do PSA é virtuosa na Amazônia, de modo

que em um contexto de recursos orçamentários limitados, torna-se provável – e até

mesmo desejável, do ponto de vista da eficiência econômica – que o foco de um PSA

nacional para conservação florestal recaia sobre esse bioma.

Page 184: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

184

Tabela 32: Resumo dos resultados para um PSA focado nos dois

quartis mais baratos – Modelo SISGEMA

Fonte: elaboração própria

3.1.1.2. Projeções de desmatamento pelo modelo Dinamica EGO

3.1.1.2.1 Metodologia

Na presente subseção, apresenta-se um modelo alternativo de projeção de

desmatamento para cada bioma brasileiro a partir de um modelo econômico e ambiental

de expansão de desmatamento, segundo a proposta por Soares-Filho, Cerqueira e

Pennachi (2002) e Soares-Filho et al. (2006). Para executá-lo empregou-se o software

de modelagem espacial e ambiental Dinamica EGO. O Dinamica EGO é uma

plataforma de simulação espacial para dinâmicas da paisagem. Este software emprega o

modelo de autômatos celulares,25

para trabalhar em diferentes escalas e gerar regras de

mudança segundo as características das células vizinhas. Também incorpora retornos

espaciais (feedback) junto como um programa de simulações de múltiplas etapas, para

calcular probabilidades de transição ao longo do tempo (Soares-Filho, Cerqueira e

Pennachi 2002).

Segundo Mas et al. (2014), os diferentes modelos de mudança de uso de solo e

cobertura, seguem em geral três passos: calibragem, simulação e avaliação. A Figura 20

identifica as etapas no processo de modelagem de mudanças de uso e cobertura da terra.

25

Um autômato celular é um modelo discreto que consiste em uma rede de células que podem tomar

diferentes valores segundo algumas regras definidas. Por exemplo, uma célula catalogada como floresta

passaria para um valor de não floresta no caso de se identificar mudança de uso do solo, segundo um

padrão determinado.

VARIÁVEL AMAZÔNIA CAATINGA CERRADO MATA ATLÂNTICA PAMPA PANTANAL BRASIL

Desmatamento projetado

(ha) 2.759.357 2.853.910 14.416.121 11.239 175.605 332.244 20.548.476

Desmatamento evitado

acumulado (ha) 2.651.558,53 2.844.738,48 11.220.319,68 344,38 4.481,18 281.001,23 17.002.443

Desmatamento residual

acumulado (ha) 107.798 9.171 3.195.802 10.895 171.124 51.243 3.546.032

Porcentual de abatimento

(%) 96,1% 99,7% 77,8% 3,1% 2,6% 84,6% 82,7%

Custo total anual do PSA R$ 500.094.657 R$ 294.356.130 R$ 2.458.410.943 R$ 99.844 R$ 1.623.016 R$ 72.200.385 R$ 3.326.784.975

tCO2eq evitadas 1.611.543.890 300.289.364 2.818.019.198 124.834 173.977 42.742.514 4.772.893.778

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IEI-18958

185

Figura 20: Diagrama de fluxo dos procedimentos gerais empregados na

modelagem de Mudanças de Uso e Cobertura da Terra (LUCC).26

Fonte: Mas et al. (2014)

Para Soares-Filho et al. (2009), o processo de simulação de mudanças pode ser

resumido em 10 dez passos, descritos na Figura 21.

26

Os retângulos indicam um processo, e os paralelogramos indicam entrada e saída de insumos desde os

processos.

Page 186: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

186

Figura 21: Dez passos do modelo de simulação de mudanças no uso e

cobertura da terra.

Fonte: Soares Filho et al. (2009)

O processo inicia com a identificação de um mapa de uso e cobertura da terra

para um período inicial (t0) e para um período posterior (t1). Comparando esses mapas é

possível identificar o quanto tem variado o uso de solo na paisagem escolhida em num

período de tempo. Essas variações, dispostas em forma de matriz (matriz de transição),

servem como base para as projeções futuras. Alternativamente, outra forma de calcular

a matriz de transição é empregar os coeficientes de uma regressão econométrica

contendo o conjunto de variáveis explicativas e determinar as taxas de mudança entre

tipos de uso de solo numa paisagem ao longo do tempo.

Na fase que Mas et al. (2014) identificam como calibragem, é possível

identificar quais são as variáveis que vão ser incluídas nas análises dos pesos de

evidência. Para fazê-lo, primeiro faz-se uma análise de correlação das variáveis para

excluir aquelas que tenham uma alta correlação. Segundo, é calculado o quanto cada

variável contribui na probabilidade de mudança de uso do solo (peso de evidência).

Exemplos de variáveis calculadas com essa metodologia são: distância de estradas,

distância de rios, distância de cidades ou centros povoados, altitude, declividade, entre

outras. Esses pesos são ajustados para cada variável segundo um intervalo de valores

determinado, e posteriormente são analisados em conjunto para gerar um mapa de

probabilidade. O mapa de probabilidade indica os locais com maior probabilidade de

ocorrer desmatamento futuro.

Page 187: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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187

Conhecendo como a probabilidade de desmatamento foi distribuída na área de

estudo, pode-se iniciar a etapa de simulação (Mas et. al, 2014). Nessa etapa

empregaram-se as variáveis físicas e socioeconômicas escolhidas nessa mesma área,

gerando primeiro um mapa de desmatamento para o período t0 e projetando a dinâmica

de desmatamento até o período t1. Depois, foi feita a validação, onde identificou-se a

similaridade entre o mapa t1 simulado e o t1 observado para identificar a acurácia (fase

de avaliação, segundo Mas et al., 2014).

O software Dinamica EGO emprega um análise de ajuste de similaridade dos

mapas simulado e observado a partir de análises em diferentes janelas ou grupos de

pixels. Assim, “se o mesmo número de células de mudança é encontrado dentro da

janela, o ajuste terá valor de 1, não importando suas localizações” (Soares-Filho et al.,

2009). Para o exercício em questão, isso foi feito empregando grupos cada vez maiores

de pixels, o que representa uma análise em uma janela de resolução menor - o tamanho

da janela deve ser selecionado empregando uma função de decaimento constante.

Realizada a análise de similaridade, foi possível rodar de novo o modelo

incluindo a expansão das áreas de desmatamento no mapa (empregando o “functor

expander”) ou a formação de novas áreas de desmatamento (empregando o “functor

patcher”). Finalmente, foi possível gerar uma projeção de desmatamento até o ano

desejado. As análises feitas empregaram como base os anos 2002 e 2008, para os

períodos t0 e t1.

Após a revisão de informação secundária para determinantes do desmatamento

nos biomas brasileiros, foram encontradas as referências bibliográficas que

identificaram diferentes variáveis relacionadas com as taxas de desmatamento, e a

metodologia empregada para realizar as análises. Essas informações estão resumidas na

Tabela 33.

Tabela 33: Relação de variáveis explicativas do desmatamento nos

biomas brasileiros.

Autor Ano Bioma Metodologia Variável Independente Fonte

LIMA, T. C. 2014 Cerrado

Modelagem Econométrica e

Modelagem Espacial de

desmatamento utilizando

software Dinamica EGO.

Lavoura Temporária IBGE

Page 188: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

188

LIMA, T. C. 2014 Cerrado

Modelagem Econométrica e

Modelagem Espacial de

desmatamento utilizando

software Dinamica EGO.

Declividade Calculado com QGIS e Dinamica EGO

LIMA, T. C. 2014 Cerrado

Modelagem Econométrica e

Modelagem Espacial de

desmatamento utilizando

software Dinamica EGO.

Atração Urbana Calculado com QGIS e Dinamica EGO

LIMA, T. C. 2014 Cerrado

Modelagem Econométrica e

Modelagem Espacial de

desmatamento utilizando

software Dinamica EGO.

Distância a

desmatamentos SIAD/MODIS

LIMA, T. C. 2014 Cerrado

Modelagem Econométrica e

Modelagem Espacial de

desmatamento utilizando

software Dinamica EGO.

Distancia a Vegetação

nativa SIAD/MODIS

LIMA, T. C. 2014 Cerrado

Modelagem Econométrica e

Modelagem Espacial de

desmatamento utilizando

software Dinamica EGO.

Efetivo Bovino IBGE

CASTRO, M. C. 2012 Cerrado

Calculo da correlação das

variáveis com o

desmatamento ocorrido no

estado de Goiás.

Lavoura Temporária IBGE

CASTRO, M. C. 2012 Cerrado

Calculo da correlação das

variáveis com o

desmatamento ocorrido no

estado de Goiás.

Efetivo Bovino IBGE

CASTRO, M. C. 2012 Cerrado

Calculo da correlação das

variáveis com o

desmatamento ocorrido no

estado de Goiás.

PIB da agropecuária

municipal IBGE

CASTRO, M. C. 2012 Cerrado

Calculo da correlação das

variáveis com o

desmatamento ocorrido no

estado de Goiás.

Lavoura Permanente IBGE

CASTRO, M. C. 2012 Cerrado

Calculo da correlação das

variáveis com o

desmatamento ocorrido no

estado de Goiás.

Área Desmatada IBGE/IMB(GO)/PMDBBS/SBF(MMA)

CASTRO, M. C. 2012 Cerrado

Calculo da correlação das

variáveis com o

desmatamento ocorrido no

estado de Goiás.

Crescimento

Econômico acumulado IBGE/IMB(GO)/PMDBBS/SBF(MMA)

CASTRO, M. C. 2012 Cerrado

Calculo da correlação das

variáveis com o

desmatamento ocorrido no

estado de Goiás.

Índice de Gini IBGE/IMB(GO)/PMDBBS/SBF(MMA)

CASTRO, M. C. 2012 Cerrado

Calculo da correlação das

variáveis com o

desmatamento ocorrido no

estado de Goiás.

Área do Bioma no

Município IBGE/IMB(GO)/PMDBBS/SBF(MMA)

CASTRO, M. C. 2012 Cerrado

Calculo da correlação das

variáveis com o

desmatamento ocorrido no

estado de Goiás.

Área de remanescente IBGE/IMB(GO)/PMDBBS/SBF(MMA)

FERREIRA et al. 2009 Cerrado

Análise do desmatamento

em Goiás com relação ao

incremento agrícola

Incremento Agrícola IBGE

Page 189: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

189

Brasil. Ministério

do Meio

Ambiente

Subsídios para a

elaboração do

plano de ação

para a prevenção

e controle do

desmatamento na

Caatinga /

Ministério do

Meio Ambiente. -

Brasília, 2011.

2011 Caatinga MMA

Bioma pampa:

ambiente x

sociedade /

organizado por

Anabela Silveira

de Oliveira

Deble, Leonardo

Paz Deble e Ana

Lucia Stefani

Leão. – Bagé:

Ediurcamp, 2012.

200p

2012 Pampa pecuária, sivilcutura

(celulose), etc Deble et al (2012)

Ministério do

Meio Ambiente.

Monitoramento

do desmatamento

nos bioma

brasileiros por

satélite.

Monitoramento

do bioma Pampa

2008-2009, 2011.

2009 Pampa

pecuária, lavoura de

arroz e sivilcutura

(eucalipto)

MMA (2011)

Orengo, R.

Bioma ameaçado

: desmatamento

do Pampa chega

a 54% , 2010.

2010 Pampa Soja, celulose e

pecuária Orengo (2010)

Ministério do

Meio Ambiente.

Monitoramento

do desmatamento

nos bioma

brasileiros por

satélite.

Monitoramento

do bioma

Pantanal 2008-

2009, 2011.

2009 Pantanal

Pecuária, projetos de

infraestrutura

(hidrelétricas, hidrovias

e mineração)

MMA (2011)

Melo, J. O que é

determinante da

fronteira agrícola

mato-grossense

no período

2001/2007:

produção

agrícola ou

pecuária, 2009.

2009 Pantanal Soja, pecuária Melo (2009)

Page 190: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

190

Fonte: Elaboração própria

Os dados espaciais e socioeconômicos por município que foram identificadas

como relevantes, assim como suas fontes, estão listadas nas tabelas 34 e 35.

Tabela 34: Dados espaciais relevantes para modelagem de

desmatamento no bioma Cerrado.

Variável Fonte

Estradas (Pavimentadas e não

pavimentadas)

LAPIG/DNIT, CSR

Desmatamento Histórico INPE, PMDBBS, etc

Hidrovia DNIT

Altimetria UFGM

Declividade Calculo GEMA base

UFMG

Instituto

Humanitas

Unisinos - IHU.

Pantanal: um

bioma ameaçado

pelo

desmatamento.

Entrevista

especial com

Viviane Moreira,

2012.

2012 Pantanal soja, arroz, pecuária,

hidrelétrica IHU (2012)

SOS Mata

Atlântica.

Divulgados

novos dados

sobre a situação

da Mata Atlântica

2013 Mata

Atlântica carvão vegetal, soja SOS Mata Atlântica (2013)

Critical

Ecosystem

Partnership Fund,

2011.

ATLANTIC

FOREST

BIODIVERSITY

HOTSPOT

2011 Mata

Atlântica

silvicultura (eucalipto),

cacau, carvão, pecuária SOS Mata Atlântica

Widescreen

Arkive. Atlantic

forest fact file

2010 Mata

Atlântica

eucalipto, pinho, soja,

construção de estradas e

lenha.

Wildscreen Arkive

The Nature

Conservancy.

The Atlantic

Forest harbors a

range of

biological

diversity similar

to that of the

Amazon.

Mata

Atlântica

lenha ilegal, pastagem,

agricultura, expansão de

áreas urbanas

The Nature Conservancy

Page 191: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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191

Tipos de solo EMBRAPASOLOS

Tipos de Vegetação RADAM/IBGE, MMA

Núcleos populacionais IBGE

Áreas protegidas e indígenas IBGE escala 250 mil,

ICMBio

Déficit hídrico LAPIG

Fonte: Elaboração própria

Tabela 35: Dados socioeconômicos relevantes para modelagem de

desmatamento no bioma Cerrado.

Nome da

Variável

Variável Ano Unidade Fonte

Codibge Código do município IBGE

share_am Participação da área do

município no Bioma

Amazônia

MMA, i3geo

share_caa Participação da área do

município no Bioma Caatinga

MMA, i3geo

share_cer Participação da área do

município no Bioma Cerrado

MMA, i3geo

share_mtl Participação da área do

município no Bioma Mata

Atlântica

MMA, i3geo

share_pam Participação da área do

município no Bioma Pampa

MMA, i3geo

share_pat Participação da área do

município no Bioma Pantanal

MMA, i3geo

Amun Área do Município Hectare GEMA-UFRJ, Qgis

bov92, bov

94, bov02,

bov08

Efetivo Bovino 1992,

1994,

2002,

2008

Cabeças IBGE, Pesquisa

Pecuária Municipal

apas94_fun,

apas02_fun

Área de Pastagem 1994,

2002

Hectare FUNCATE

apas02_fun Área de Pastagem 2002 Hectare FUNCATE

apas02,

apas08

Área de Pastagem 2002,

2008

Hectare IBGE, Pesquisa

Agrícola Municipal

PIB94,

PIB02,

PIB08

PIB Municipal 1994 R$ IBGE

PIBAG94,

PIBAG02,

PIBAG08

VAB na Agropecuária 1994,

2002,

2008

R$ IBGE, Pesquisa

Pecuária Municipal

atem92,

atem02,

atem08

Área de Cultura Temporária 1992,

2002,

2008

Hectare IBGE, Pesquisa

Agrícola Municipal

AreaSoja95,

Areasoja02,

AreaSoja08

Área plantada de soja 1995,

2002,

2008

Hectare IBGE, Pesquisa

Agrícola Municipal

Areacana95, Área plantada de cana-de- 1995, Hectare IBGE, Pesquisa

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192

Fonte: Elaboração própria

As informações espaciais foram transformadas em formato raster (imagem) com

uma resolução de 250 metros para cada pixel. Por tanto cada pixel tem uma medida de

62.500 m2, ou 6,25 hectares. Para realizar a calibragem do modelo foram empregados

os dados do Programa de Monitoramento dos Biomas Brasileiros por Satélite

(PMDBBS) para os anos 2002 e 2008, sendo essas duas informações tomadas como os

mapas para t0 e t1. Os dados de áreas de remanescente e áreas antrópicas ou desmatadas

nos anos 2002 e 2008 para Brasil são apresentados no Mapa 19, e para o bioma

Cerrado, escolhido para rodar o protótipo do modelo, no Mapa 20.

Areacana02,

Areacana08

açúcar 2002,

2008

Agrícola Municipal

Aremi95,

Areani02,

Areami08

Área plantada de milho 1995,

2002,

2008

Hectare IBGE, Pesquisa

Agrícola Municipal

Pop94,

Pop02,

Pop08

População Municipal 1994,

2002,

2008

Pessoas Censo Demográfico

PopRu94,

PopRu02,

PopRu08

População Municipal Rural 1994 Pessoas IBGE

rem94 Remanescente Florestal 1994 Hectare FUNCATE

rem02,

rem08, remo

09

Remanescente Florestal 2002,

2008,

2009

Hectare PMDDBS

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193

Mapa 19: Áreas de remanescente florestal, Brasil, 2008

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do PMDBBS.

Mapa 20: Áreas de remanescentes florestais e áreas desmatadas, Cerrado,

2002/2008

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do PMDBBS.

Page 194: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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194

Os valores de transição entre áreas de remanescentes naturais para áreas

antropizadas, desmatadas ou não floresta para todo o período (single step) e anualizadas

(multiple step) são apresentados na Tabela 36.

Tabela 36: Taxas de transição entre remanescente e áreas

antropizadas nos biomas brasileiros entre 2002 e 2008.

Bioma Taxa anual 2002-

2008 (single)

Taxa total período

2002-2008 (multple)

Amazônia 0.47% 2.81%

Caatinga 0.60% 3.52%

Cerrado 1.23% 7.16%

Pampa 0.51% 3.05%

Pantanal 0.55% 3.24%

Mata Atlântica 0.18% 1.06%

Fonte: Elaboração própria

Na média, a taxa de transformação de áreas de remanescente para áreas

antropizadas, usada para estimar desmatamento, foi de 3,47% considerando todo o

período 2002/2008 para todos os biomas, com uma média anual de 0,59%. O bioma

que apresentou as maiores taxas totais e anuais foi o Cerrado, entanto o bioma Mata

Atlântica apresentou as taxas mais baixas.

O passo seguinte foi analisar a correlação entre cada uma das variáveis

explicativas físicas para identificar possíveis correlações, e excluir aquelas que tiveram

um alto valor de correlação. Esse exercício foi feito para cada um dos biomas

brasileiros, e a Tabela 37 apresenta um exemplo de análises de correlação de variáveis

para o bioma Cerrado.

Tabela 37: Análises de correlação de variáveis espaciais para a

modelagem de desmatamento no bioma Cerrado.

Trasition

From*

Trasition

To* First_Variable* Second_Variable* Joint_Uncertainty

1 2 area_prot/layer_0 fator_r/layer_0 0.63353255

1 2 area_prot/layer_0 tipo_solo/layer_0 0.555460536

1 2 altimetria/layer_0 area_prot/layer_0 0.451641641

1 2 area_prot/layer_0 d_hidro/layer_0 0.301278401

1 2 area_prot/layer_0 d_nao_pav/layer_0 0.227936771

1 2 fator_r/layer_0 tipo_solo/layer_0 0.219163012

1 2 area_prot/layer_0 d_cidades/distance_to_1 0.191125324

Page 195: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

195

1 2 altimetria/layer_0 tipo_solo/layer_0 0.152441493

1 2 area_prot/layer_0 d_desm/distance_to_2 0.131826191

1 2 d_nao_pav/layer_0 tipo_solo/layer_0 0.107243981

1 2 area_prot/layer_0 d_pav/layer_0 0.097952512

1 2 area_prot/layer_0 d_outr_loc/layer_0 0.094924328

1 2 d_hidro/layer_0 tipo_solo/layer_0 0.06725142

1 2 altimetria/layer_0 fator_r/layer_0 0.060338416

1 2 d_cidades/distance_to_1 tipo_solo/layer_0 0.055379538

1 2 d_desm/distance_to_2 tipo_solo/layer_0 0.054602749

1 2 d_cidades/distance_to_1 d_nao_pav/layer_0 0.049604121

1 2 altimetria/layer_0 d_hidro/layer_0 0.04605862

1 2 d_cidades/distance_to_1 d_pav/layer_0 0.039233743

1 2 declividade/layer_0 fator_r/layer_0 0.034086494

1 2 d_hidro/layer_0 d_nao_pav/layer_0 0.032506131

1 2 d_nao_pav/layer_0 fator_r/layer_0 0.031015205

1 2 altimetria/layer_0 d_cidades/distance_to_1 0.029669094

1 2 declividade/layer_0 tipo_solo/layer_0 0.028081096

1 2 altimetria/layer_0 d_desm/distance_to_2 0.02667842

1 2 d_desm/distance_to_2 d_nao_pav/layer_0 0.025521197

1 2 altimetria/layer_0 d_nao_pav/layer_0 0.023142146

1 2 d_cidades/distance_to_1 d_desm/distance_to_2 0.022469497

1 2 d_pav/layer_0 tipo_solo/layer_0 0.022457806

1 2 d_cidades/distance_to_1 fator_r/layer_0 0.016830035

1 2 d_outr_loc/layer_0 tipo_solo/layer_0 0.014761343

1 2 altimetria/layer_0 d_pav/layer_0 0.011561779

1 2 area_prot/layer_0 declividade/layer_0 0.010959957

Fonte: Elaboração própria

As varáveis que apresentaram uma incerteza conjunta superior a 15% foram

consideradas com alta correlação, e portanto foi preciso retirá-las do conjunto das

variáveis que permitem a localização espacial das áreas desmatadas. Por exemplo, as

variáveis tipo de solo e áreas protegidas, assinaladas em vermelho, foram retiradas da

simulação pois apresentaram alta correlação com outras variáveis (joint uncertainty

maior que 15%).

Após a seleção das variáveis que não tiveram alta correlação com as outras

variáveis explicativas, foi realizado o processo de ajuste dos intervalos de pesos no

processo de localização espacial das quantidades de desmatamento já quantificadas a

partir das taxas anuais de desmatamento.

Page 196: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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196

Por exemplo, no bioma Cerrado, à medida que as cidades se aproximam de áreas

de remanescentes florestais, aumenta seu peso na explicação do desmatamento.

Analogamente, conforme as áreas de remanescente ficam mais distantes das cidades, o

peso dessa distância na probabilidade de desmatamento vai decrescendo. O peso dessa

variável na explicação do desmatamento vai, portanto, decrescendo. Assim, quanto

mais longe dos centros urbanos, a probabilidade de desmatamento diminui.

Após a calibragem dos intervalos das variáveis físicas explicativas, e dos pesos

de evidência dos mesmos, para cada um dos biomas, foi calculado um mapa de

probabilidade de desmatamento, que basicamente mostra em conjunto a probabilidade

de desmatamento quando todas as variáveis espaciais são consideradas. A simulação de

desmatamento entre 2002 e 2008 gerou, assim, os mapas de probabilidade de

desmatamento por bioma.

Mapa 21: Probabilidade de desmatamento no Cerrado

Fonte: Elaboração própria

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197

Mapa 22: Probabilidade de desmatamento na Catinga

Fonte: Elaboração própria

Mapa 23: Probabilidade de desmatamento na Amazônia

Fonte: Elaboração própria

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198

Mapa 24: Probabilidade de desmatamento na Mata Atlântica

Fonte: Elaboração própria

Mapa 25: Probabilidade de desmatamento no Pantanal

Fonte: Elaboração própria

Page 199: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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199

Mapa 26: Probabilidade de desmatamento no Pampa

Fonte: Elaboração própria

Probabilidade de desmatamento no Brasil por biomas

Fonte: Elaboração própria

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200

As áreas em vermelho indicam onde probabilidade de desmatamento é maior, e

as áreas em azul mostram áreas com baixa probabilidade, segundo os pesos de evidência

das diferentes variáveis físicas analisadas. Para todos os biomas, existe uma relação alta

entre a probabilidade de desmatamento e a distância até os remanescentes florestais,

sendo que a distância aos rios e às estradas tem um peso importante no caso da

Amazônia.

Posteriormente gerou-se a simulação de desmatamento até 2008 a fim de se

contrastar com o desmatamento efetivamente ocorrido. O Mapa 27 mostra a

comparação dos resultados para o bioma Cerrado entre o desmatamento observado até

2008 e o desmatamento projetado pelo modelo para o mesmo período.

Mapa 27: Desmatamento observado até 2008 e desmatamento simulado até

2008 empregando Dinâmica Ego.

Fonte: Elaboração própria

A análise de similaridade gera uma estatística para identificar a acurácia da

variável projetada (no caso, o desmatamento) em relação ao valor efetivo. O

procedimento é dividir as áreas em janelas de pixels de mesmo tamanho e compará-las

no cenário projetado e no cenário observado, de forma a detectar o quanto os pixels

identificados como área desmatada coincide em ambos cenários. Os valores de

similaridade entre o desmatamento observado e simulado até 2008 por bioma são

apresentados nas figuras e aquele simulado até 2008 estão nas Figuras 22 a 27.

Page 201: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

201

Figura 22: Similaridade máxima e mínima entre mapa de desmatamento

em 2008 e mapa projetado de desmatamento em 2008 no bioma Amazônia.

Fonte: Elaboração própria

Figura 23: Similaridade máxima e mínima entre mapa de desmatamento

em 2008 e mapa projetado de desmatamento em 2008 no bioma Caatinga.

Fonte: Elaboração própria

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202

Figura 24: Similaridade máxima e mínima entre mapa de desmatamento

em 2008 e mapa projetado de desmatamento em 2008 no bioma Cerrado

Fonte: Elaboração própria

Figura 25: Similaridade máxima e mínima entre mapa de desmatamento

em 2008 e mapa projetado de desmatamento em 2008 no bioma Pampa

Fonte: Elaboração própria

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203

Figura 26: Similaridade máxima e mínima entre mapa de desmatamento

em 2008 e mapa projetado de desmatamento em 2008 no bioma Pantanal

Fonte: Elaboração Própria.

Figura 27: Similaridade máxima e mínima entre mapa de desmatamento

em 2008 e mapa projetado de desmatamento em 2008 no bioma Mata

Atlântica

Fonte: Elaboração própria

Para o bioma Amazônia, a similaridade teve um máximo de 70% entre o mapa

real e mapa projetado em 2008.27

No bioma Caatinga foram de 68% e Cerrado, 60%. As

percentagens mais baixas foram na Mata Atlântica, com 36%, e Pampa, com 45%.

27

Para compreender melhor o conceito de similaridade, o exemplo do bioma Amazônia mostra que, se é

analisada uma janela de 5 pixels, a similaridade máxima está perto de 50% (ou seja, metade das mudanças

projetadas correspondem com as mudanças observadas). Se a janela de análise sobre para 11 pixels, a

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IEI-18958

204

O próximo passo foi estender a projeção do desmatamento até 2030, utilizando

os parâmetros estimados pelo modelo calibrado para o desmatamento até 2008. A

Figura 28 mostra os resultados agregados das projeções de desmatamento em cada

bioma.

Figura 28: Projeção de desmatamento nos biomas brasileiros 2010-2030,

empregando Dinâmica Ego. Hectares.

Fonte: Elaboração própria

3.1.1.1.2 Resultados do Modelo Dinamica EGO

As projeções do modelo Dinamica EGO apontaram para um desmatamento de

44,1 milhões de hectares no período 2016-2030. Novamente, o cenário se revelou

incompatível com os compromissos recentes assumidos pelo Governo no tocante ao fim

do desmatamento.

A construção de um cenário alternativo hipotético, marcado pela presença de

PSA, aponta para uma capacidade de redução significativa da perda de remanescentes

florestais e, por conseguinte, das emissões por desmatamento. Por meio da importância

máxima de R$ 402,57/ha/ano, seria possível evitar o desmatamento de em

aproximadamente 38,1 milhões de hectares (Figura 29).

similaridade máxima aumenta para 70% (o modelo simulado captura 70% das mudanças no modelo

observado).

0

500.000

1.000.000

1.500.000

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10

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30

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s

Amazônia Cerrado Caatinga Pantanal Mata Atlântica Pampa

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205

Figura 29: Comportamento das taxas de desmatamento com e sem PSA

Fonte: Elaboração própria

A figura 30 revela o custo anual da política em função do valor máximo do

benefício pago pelo PSA (R$/ha/ano). Tal qual se verifica, o custo anual de um PSA

direcionado aos dois primeiros quartis do custo de oportunidade da terra seria de

aproximadamente R$ 7,5 bilhões, a preços de 2013. Alternativamente, o custo de

eliminar todo o desmatamento nos próximos 15 anos seria de R$ 10,5 bilhões anuais.

Figura 30: Custo anual do PSA por valor máximo do benefício a ser pago

Fonte: Elaboração própria

A efetividade de um PSA de conservação florestal pagando a mediana do custo

de oportunidade da terra no modelo Dinamica EGO foi de 86,5%. O percentual mais

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

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3.500.000

2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030

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s

Desmatamento sem PSA Desmatamento com PSA

R$ 0

R$ 200

R$ 400

R$ 600

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R$ 1.000

R$ 1.200

R$ 1.400

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R$ 2.000

R$

0

R$

2

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4

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8

R$

10

R$/

ha/

ano

Custo total anual (em bilhões)

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206

elevado atesta para o fato de que, não apenas o desmatamento projetado pelo segundo

modelo é maior, como também a sua distribuição espacial encontra-se mais concentrada

em áreas onde o custo de oportunidade da terra é mais barato. Novamente, esse fato

reflete as diferenças inter-regionais dos custos de oportunidade da terra.

O PSA com o valor máximo de R$ 402,57/ha/ano seria ineficaz para reduzir o

desmatamento no bioma Pampa, e teria baixa efetividade sobre a Mata Atlântica (Mapa

28). No Cerrado, o PSA seria mais efetivo na parcela mais ao norte do bioma, afastado

da região de produção intensiva de grãos para exportação. Na Amazônia, e a capacidade

de abatimento do desmatamento seria bastante elevada (94,4%), em que pese o fato da

área da perda projetada de remanescente florestais seja significativamente maior

segundo o modelo Dinamica EGO do que no SISGEMA (Tabela 38).

Mapa 28: Distribuição espacial do desmatamento evitado (abaixo da mediana)

e residual (acima da mediana) no período 2016-2030

Fonte: elaboração própria

Tabela 38: Custos e Benefícios de um PSA focado nos dois

primeiros quartis do custo de oportunidade da terra.

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207

Fonte: Elaboração própria

As divergências nas projeções para Amazônia também se verificam para a

extensão da área que seria conservada em função da implementação de um PSA. No

modelo SISGEMA, o desmatamento hipoteticamente evitado na Amazônia seria de 2,65

milhões de hectares, contra 20,14 milhões de hectares no modelo Dinamica EGO. A

quantidade significativamente maior de desmatamento que seria evitado nos dois

modelos rebate em uma capacidade de abatimento das emissões de gases causadores do

efeito estufa por conservação florestal da ordem de 10 bilhões de tCO2eq.

A Figura 31 relaciona o valor do benefício do PSA com a quantidade de carbono

que seria evitada por conservação florestal. Pagando até R$ 402,57/ha/ano mais de

14,83 bilhões de toneladas de carbono deixariam de ser emitidas por desmatamento

entre 2016 e 2030. O Mapa 29 localiza as áreas que prioritariamente receberiam esses

recursos, em função do custo de oportunidade da terra a ser compensado por um

hipotético PSA para conservação florestal em áreas ameaçadas por desmatamento.

Figura 31: Distribuição quantílica dos custos do PSA

Fonte: Elaboração própria

VARIÁVEL AMAZONIA PAMPA CAATINGA CERRADO MATA ATLÂNTICA PANTANAL BRASIL

Desmatamento projetado (ha) 21.336.116 496.836 3.812.189 16.763.679 734.547 975.130 44.118.498

Desmatamento evitado

acumulado (ha) 20.138.253 374 3.801.455 13.163.675 397.903 661.193 38.162.854

Desmatamento residual

acumulado (ha) 1.197.863 496.461 10.735 3.600.004 336.644 313.938 5.955.644

Porcentual de abatimento (%) 94,4% 0,1% 99,7% 78,5% 54,2% 67,8% 86,5%

Custo anual do PSA 4.048.985.349R$ 124.323R$ 403.611.984R$ 2.776.958.904R$ 99.077.581R$ 181.729.667R$ 7.510.487.809R$

tCO2eq evitadas 11.137.088.324 16.950 362.829.424 3.097.504.422 138.636.911 102.102.646 14.838.178.677

R$-

R$200

R$400

R$600

R$800

R$1.000

R$1.200

R$1.400

R$1.600

R$1.800

R$2.000

- 5 10 15

R$/

ha/

ano

tCO2eq acumuladas (em bilhões)

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208

Mapa 29: Custo de oportunidade de um PSA para conservação florestal em

áreas ameaçadas por desmatamento

Fonte: Elaboração própria

Deve-se ressaltar que as projeções no presente estudo não consideram efeitos

exógenos, como mudanças nos preços das commodities ou redução/alteração de

cumprimento das normas legais. Mudanças desse tipo podem incrementar a quantidade

de desmatamento quando comparado com a linha de base assumida aqui.

Também deve-se ressaltar que é necessário garantir a continuidade dos esforços

de redução de desmatamento, incluindo investimentos públicos, que não estão sendo

considerados nos analises aqui realizados. Elementos como custeio do fortalecimento

das atividades de seguimento e monitoramento são necessárias além dos custos e

oportunidade aqui mostrados.

A análise das experiências concretas de programas de PSA no Brasil,

apresentada no presente estudo, mostra que o estabelecimento de um sistema efetivo de

PSA deve também incluir custos de monitoramento, fiscalização e administração, além

de custos de transação. Esses aspectos são importantes, mas muitas vezes são

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IEI-18958

209

negligenciados, gerando em inúmeros problemas que colocam em risco a

sustentabilidade do programa.

Por fim, mais uma vez deve-se lembrar que os valores aqui gerados são apenas

uma primeira aproximação aos custos totais de implementação de um PSA pela

conservação das florestas, e que estudos futuros devem ser elaborados para aprofundar e

precisar melhor os resultados.

3.1.1.2.3. Comparação com resultados do modelo GLOBIOM BRASIL

O Globiom (GLObal BIOsphereManagement model) é um modelo de análise de

“baixo para cima” (bottom-up) de equilíbrio parcial, que tem seu foco em setores

relacionados ao uso da terra, com são agricultura, florestas e biocombustíveis (Câmara

et al. 2015). O GLOBIOM foi desenvolvido pelo Internatonal Institute for Applied

Systems Analysis (IIASA) em 2007, e busca capturar as inter-relações entre os

diferentes sistemas envolvidos no fornecimento de produtos agrícolas e florestais, como

dinâmica da população, ecossistemas, tecnologia e clima. O modelo considera as 18

culturas agrícolas mais importantes a nível mundial, atividades relacionadas à pecuária,

commodities florestais, biocombustíveis de primeira e segunda geração, e água. A

produção é espacialmente distribuída levando em conta terra, gestão e características

meteorológicas (IIASA 2016).

Para sua construção, o GLOBIOM emprega modelos de equilíbrio de mercados,

modelos de otimização, modelos de equilíbrio parcial e modelos espaciais de equilibro

de preços, para calcular preços, quantidades demandadas e processadas, recursos

naturais e fluxos bilaterais de comércio a escala regional. Os resultados estão sujeitos a

variações exógenas na disponibilidade de recursos, tecnologia, e restrições de política.

Em escalas menores, calcula usos da terra, produtividade, produção da pecuária,

intensificação, uso de madeira e emissões de gases de efeito estufa dos diferentes

setores de uso da terra (Câmara et al. 2015). O modelo toma o ano 2000 como base de

comparação, e as simulações têm intervalos de 10 anos até 2050. Isso permite simular

usos futuros da terra a identificação de possíveis processos de escassez no suprimento

de alimentos e biomassa.

O modelo foi ajustado para Brasil, com uma resolução de 250.000 hectares para

cada unidade de simulação. No caso brasileiro foram feitos diferentes cenários de usos

de solo segundo diferentes alternativas de implementação das mudanças promulgadas

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210

no ano 2012 para o Código Florestal (CF). As alternativas propostas foram (Câmara et

al. 2015):

a. Business as usual (BAU): representa a situação do ano 2000 no Brasil, sem

controle efetivo do desmatamento. Não são cumpridas as regras do Código

Florestal, mas existe de desmatamento na Mata Atlântica em função da Lei da

Mata Atlântica. Não inclui as medidas de reflorestamento presentes no Código

Florestal.

b. Código Florestal (Forest Code - FC): a partir do ano 2010 incluiu a proibição de

desmatamento ilegal. Após 2020, considera atingir a meta de reflorestamento

para os requerimentos da Reserva Legal, incluindo implementação das Cotas de

Reserva Ambiental (CRA) e anistia para pequenos proprietários.

c. Código Florestal sem Cota de Reserva Ambiental (FCnoCRA): é semelhante a

(b), assumindo que são implementadas todas as provisões do CF, mas não há

implementação efetiva do mercado de CRA.

d. Código Florestal sem anistia de pequenos produtores (FCnoSFA): é igual a (b)

mas os pequenos produtores estão isentos da necessidade de recuperar a Reserva

Legal.

e. Código Florestal com Cotas só para terras agrícolas (FCcropCRA): só os

produtores agrícolas que tem déficit de RL têm interesse em comprar CRA.

Com essas alternativas de política foram calculados cenários de usos de solo

entre 2020 e 2050 para a evolução total das florestas, restauração florestal de áreas

desmatadas, florestas plantadas e conservação de florestas maduras.

As informações do GLOBIOM não são municipalizadas, impedindo a sua

utilização para os propósitos desse relatório. Mas, em termos agregados, é possível

realizar as comparações por bioma com os cenários de remanescentes florestais

previamente estimados. Na presente subseção, são comparados os resultados projetados

pelo Modelo baseado no Dinamica EGO, descrito na subseção anterior, com as

estimativas obtidas pela alternativa (a) do GLOBIOM, que representa o cenário BAU

Câmara (2015).

A Figura 32 mostra a comparação dos resultados agregados das projeções de

desmatamento pelo cenário Dinamica EGO (subseção anterior) e GLOBIOM, segundo

reportado por Câmara (2105). As projeções de desmatamento agregado até 2030 no

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211

modelo GLOBIOM (cerca de 450 milhões de hectares) são maiores que as projeções de

desmatamento agregado pelo cenário Dinamica EGO (aproximadamente 400 milhões de

hectares). Ou seja, GLOBIOM projeta 10% a mais de desmatamento em relação ao

cenário Dinâmica, que por sua vez apresentou projeções de desmatamento agregado

superiores aos dos cenários do modelo SISGEMA para o Brasil como um todo. Isso

revela a grande dificuldade de previsão do desmatamento futuro em função das

diferentes metodologias disponíveis para esse cálculo. Por outro lado, deve-se ressaltar

que apenas para o ano 2000 foram usadas informações observadas de desmatamento no

Modelo GLOBIOM, e por isso não captura tanto a aceleração do desmatamento no

período 2000-2005, quanto sua forte desaceleração entre 2005/2010.

Figura 32: Projeção total de desmatamento até 2030 empregando

Dinamica EGO e os resultados de Globiom Brasil. Hectares.

Fonte: Elaboração própria e Câmara (2015)

Figura 33: Projeção de desmatamento até 2030, por bioma, empregando

Dinamica EGO e os resultados de GLOBIOM Brasil. Hectares.

380.000.000

390.000.000

400.000.000

410.000.000

420.000.000

430.000.000

440.000.000

450.000.000

460.000.000

Resultado DinâmicaDesmatamento até 2030

Resultado GLOBIOMDesmatamento até 2030

hec

tare

s

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212

Fonte: Elaboração própria e Câmara (2015)

A Figura 33 detalha a comparação das projeções de desmatamento por biomas.

No modelo GLOBIOM, o Cerrado é o bioma com maior desmatamento projetado, com

173 milhes de hectares, e a Amazônia fica em segundo lugar, com 109 milhões de

hectares acumuladas de desmatamento até 2030. Essa é a principal diferença entre as

duas modelagens: como nos cenários do modelo SISGEMA, o maior desmatamento no

GLOBIOM está no Cerrado, enquanto que o Dinâmica Ego aponta a Amazônia como o

bioma mais criticamente ameaçado. Como já discutido antes, é possível que esse

resultado seja consequência de mudanças estruturais no processo de desmatamento

amazônico que ainda não puderam ser captadas na modelagem Dinamica EGO. Por

outro lado, os resultados do GLOBIOM são consistentes com as projeções do modelo

SISGEMA onde o desmatamento no Cerrado é o maior desafio para a conservação

florestal.

A Mata Atlântica possui a terceira maior projeção, com 93 milhões de hectares,

seguida por Caatinga (cerca de 40 milhões de hectares). Em ambos os casos, os

resultados das duas modelagens são próximos. Por fim, com projeções bem menores,

estão o Pampa e Pantanal. Em termos percentuais, as diferenças são grandes, e em

ambos os casos o GLOBIOM aponta para tendência de desmatamento maior.

A Figura 34 mostra as projeções de remanescentes florestais (florestas maduras,

na terminologia GLOBIOM) para Brasil e biomas Amazônia, Cerrado e Caatinga para

todas as alternativas de modelagem. O cenário BAU apresenta florestas maduras

decrescentes ao longo do período projetado para o país como um todo e para os biomas

0

20.000.000

40.000.000

60.000.000

80.000.000

100.000.000

120.000.000

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160.000.000

180.000.000

Amazônia Caatinga Cerrado MataAltântica

Pampa Pantanal

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s

Resultado Dinâmica Desmatamento até 2030 Resultado GLOBIOM Desmatamento até 2030

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acima citados. É interessante notar que a hipótese de implementação do Código

Florestal reduz consideravelmente as projeções de desmatamento das florestas maduras.

Figura 34: Projeção de florestas maduras no Brasil, Amazônia, Cerrado

e Caatinga para diferentes cenários, Modelo GLOBIOM. Milhões de

hectares.

Fonte: Câmara et al. (2015)

No caso do bioma Mata Atlântica, existe uma maior dificuldade de discriminar

florestas maduras e secundárias. Por isso, Câmara et al. (2015) não têm resultados para

florestas maduras, mas sim para florestas totais (Figura 35). Percebe-se que a tendência

BAU de desmatamento é bem pequena, e que a implementação do Código Florestal cria

grande espaço para restauração florestal (discutida na próxima seção), em particular no

cenário sem anistia a pequenos produtores (FCnoSFA).

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214

Figura 35: Área total de florestas no bioma Mata Atlântica. Milhões de

hectares.

Fonte: Câmara et al. (2015)

As figuras 36, 37 e 38 apresentam os resultados da projeção de remanescentes

florestais no cenário do modelo SISGEMA para cada um dos biomas, a fim de

comparação com os resultados do GLOBIOM. Para tal, partiu-se as estimativas de

remanescentes florestais por biomas, apresentadas no início da seção 3.2, e foram

descontadas as áreas projetadas de desmatamento anual. Novamente deve-se chamar

atenção para o fato de o somente o ano 2000 possui informações observadas de

desmatamento no Modelo GLOBIOM, enquanto que o cenário do modelo SisGema

utiliza os dados mais recentes observados (dependendo do bioma, de 2009 a 2013).

Figura 36: Remanescentes florestais no Brasil e bioma Amazônia

segundo o Modelo SISGEMA, 2000-2030, Milhões de hectares.

Fonte: Elaboração própria, com base em e dados PMDDBS e PRODES

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215

Figura 37: Remanescentes florestais nos biomas Caatinga e Cerrado

segundo o Modelo SISGEMA 2000-2030, Milhões de hectares.

Fonte: Elaboração própria, com base em e dados PMDDBS e PRODES

Figura 38: Remanescentes florestais nos biomas Mata Atlântica, Pampa e

Pantanal segundo o Modelo SISGEMA 2000-2030, Milhões de hectares.

Fonte: Elaboração própria, com base em e dados PMDDBS e PRODES

Segundo o SISGEMA, o total de desmatamento acumulado entre 2000 e 2030

seria de cerca de 480 milhões de hectares para Brasil, enquanto o GLOBIOM projeta

aproximadamente 460 milhões de hectares (diferença de 4%). No ano 2030, as projeção

de estoques totais de remanescentes florestais no cenário do modelo SisGema e de

florestas maduras no Modelo GLOBIOM são muito similares, em torno de 400 milhões

de hectares no cenário BAU. Ou seja, o cenário do modelo SisGema apresenta uma

afinidade bem maior ao GLOBIOM do que o Dinâmica Ego (ao menos, com o conjunto

de dados disponíveis para as presentes simulações).

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216

As principais diferenças entre o Cenário SISGEMA e o Modelo GLOBIOM

ocorrem no nível dos biomas. Para a Amazônia, GLOBIOM projeta menos

desmatamento e maiores remanescentes florestais, contudo no Cerrado as projeções de

desmatamento são maiores e de remanescentes florestais menores que as projetadas pelo

cenário do modelo SISGEMA. Isso indica que o esforço de atualização de dados e

aperfeiçoamento metodológico deve persistir para garantir melhores projeções futuras

de desmatamento, como subsídio para a implementação de PSA voltado à conservação

florestal.

3.1.1.2.4. Comparação com os resultados do modelo SISGEMA e Dinamica

EGO

A seguinte tabela resume os principais resultados do modelo SISGEMA.

Tabela 39: Projeção anual de desmatamento por bioma 2010-2030,

modelo SISGEMA. Hectares.

Bioma 2010 2015 2020 2025 2030

Amazônia 1.517.829 1.478.556 1.443.360 1.408.228 1.374.288

Caatinga 276.664 267.826 258.994 250.276 242.803

Cerrado 1.311.946 1.232.504 1.158.502 1.088.487 1.023.020

Pampa 35.444 34.505 33.631 32.793 31.901

Pantanal 69.741 67.886 66.098 64.338 62.525

Mata Atlântica

50.191 49.716 49.198 48.747 48.307

Total 3.261.815 3.130.993 3.009.784 2.892.868 2.782.844

Fonte: Elaboração própria.

É importante notar que as projeções são decrescentes para os diferentes biomas.

Isso significa que, quando comparados com a projeção do modelo SISGEMA, as

projeções são decrescentes, mas a quantidade de desmatamento projetada por bioma tem

valores maiores na projeção Dinamica EGO. A Tabela 40 contrasta as projeções de

desmatamento nos dois cenários. Percebe-se que pelo Dinamica EGO, o desmatamento

na Amazônia seria superior ao do Cerrado, mas no Cenário do modelo SisGema, a

projeção do desmatamento no Cerrado seria bastante superior. Esses valores estão

relacionados com as taxas de desmatamento calculadas anualmente e para o período

todo 2002-2008. Por tanto, ante as alterações mais recentes nas tendências de

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IEI-18958

217

desmatamento, é possível que as taxas de desmatamento tenham uma redução com

relação àquelas que foram calculadas no presente estudo.

Tabela 40: Comparação das projeções de desmatamento nos

Cenários Dinamica EGO e Exponencial

Bioma Projeção Dinamica EGO Projeção SISGEMA Diferença em proporção

Amazônia 25,373,613 3,198,916 7.93

Caatinga 4,517,781 3,072,980 1.47

Cerrado 20,404,052 15,472,464 1.32

Pampa 577,460 196,112 2.94

Pantanal 1,188,362 369,054 3.22

Mata

Atlântica

832,919 18,187 45.80

Brasil 52,894,187 22,327,712 2.37

Fonte: Elaboração própria

Em suma, as projeções de desmatamento empregando o modelo Dinamica EGO

foram muito superiores às obtidas no Cenário do modelo SISGEMA. As maiores

diferenças estão no bioma Amazônia, enquanto para Caatinga e Cerrado as projeções

têm valores mais próximos entre as duas metodologias.

Isso indica que há vantagens e desvantagens no emprego do modelo Dinamica

EGO. Ele permite gerar uma localização espacial dos desmatamentos projetados,

identificando áreas prioritárias onde os desmatamentos têm maior probabilidade de

ocorrência. Entretanto, o modelo Dinamica EGO pode superestimar os valores de

desmatamento quando comparado com outras metodologias, como a projeção do

modelo SISGEMA, empregada na primeira parte das estimações de desmatamento. Isso

ocorre porque mudanças nas tendências históricas podem não ser adequadamente

capturadas nos processos de identificação das taxas de desmatamento. Portanto, é

preciso obter informações de anos mais recentes, refletindo melhor as tendências de

curto prazo.

Esses resultados evidenciam que a modelagem SISGEMA apresenta a vantagem

de maior aderência com as tendências recentes de evolução do desmatamento. Por essa

razão, recomenda-se ao usuário que utilize as projeções de desmatamento futuro obtidas

pelo modelo SISGEMA.

Page 218: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

218

A acurácia da localização das áreas de desmatamento também vai depender da

qualidade da informação que esteja sendo empregada como insumo para determinar os

pesos de evidência das diferentes variáveis espaciais. Novamente, é chave contar com

informação atualizada sobre essas variáveis espaciais para minimizar erros nas

projeções.

_______________________________________________

Anexo 2.1: Custos e benefícios de um PSA projetado para zerar progressivamente

o desmatamento

Em 2015, o Governo Federal se comprometeu a zerar o desmatamento em todos

os biomas até 2030, com exceção da Amazônia, bioma para o qual se estabeleceu um

prazo mais exíguo28

.

Nas últimas seções, verificou-se que os custos de abater o desmatamento nos

dois quartis mais baratos da distribuição do custo de oportunidade da terra ficou entre

R$ 3,3 bilhões e R$ 7,5 bilhões anuais, a depender do modelo. Todavia, em nenhum dos

exercícios apresentados tanto para o modelo SISGEMA quanto para o Dinamica EGO

foi possível observar o atendimento dos prazos estabelecidos, o que acaba por

evidenciar a necessidade de esforços adicionais no sentido da ampliação dos recursos

para conservação florestal.

Em vista desses fatos, este anexo apresenta os resultados para os custos de se

zerar o desmatamento em todos os biomas brasileiros dentro dos prazos assumidos pelo

Governo Federal.

Como existem inúmeras possibilidades de se zerar a perda de remanescentes

florestais, cada um delas com um custo distinto, assumiu-se como hipótese de que o

desmatamento assumiria uma trajetória de abatimento progressivo29 ao longo dos anos

capaz de conservar a inclinação da curva original de desmatamento projetado (sem

PSA), tal qual exemplificado na figura 39 para o bioma Amazônia.

28

Neste bioma, o prazo para zerar o desmatamento foi estabelecido em 2020. 29

A redução progressiva do desmatamento implica em aceitar algum desmatamento residual,

decorrente do tempo necessário para que o PSA zere a perda de remanescentes florestais. Mais

além, nos biomas onde o custo de oportunidade terra é muito baixo, o PSA para zerar

progressivamente o desmatamento tenderá a apresentar uma perda de remanescentes maior do

que no exercício do PSA pagando a mediana do custo de oportunidade da terra, embora esta

perda esteja toda concentrada no período de ajustamento da política; isto é, entre o período

corrente e o ano em que expira o prazo dos compromissos assumidos pelo Governo. Desta

forma, zerar progressivamente o desmatamento não significa minimizar a perda de

remanescentes florestais ao longo do tempo.

Page 219: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

219

Figura 39: Projeção das taxas de desmatamento com e sem PSA pelo

modelo SISGEMA – Bioma Amazônia

Fonte: elaboração própria

Deste modo, tomando o caso da Amazônia como exemplo, entre 2016 e 2020

algum desmatamento seria observado nesse bioma, excederia em área o desmatamento

residual que ocorreria em resposta a um PSA pagando R$ 402,57/ha/ano.

Nessas condições, um PSA desenhado para zerar progressivamente o

desmatamento responderia pela redução da perda de remanescentes florestais em 18,82

milhões de hectares pelo modelo SISGEMA. Já no modelo Dinamica EGO, essa área

atingiria os 42,4 milhões de hectares entre 2016 e 2030 (tabelas 41 e 42). No que tange

aos benefícios ambientais, um PSA nesses moldes evitaria entre 5,1 bilhões de

toneladas a 16,1 bilhões de toneladas emitidas de CO2eq., a depender do modelo de

projeção de desmatamento utilizado.

Tabela 41: Resumo dos resultados – Modelo SISGEMA

Fonte: elaboração própria

-200.000

-100.000

-

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

2016

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

2026

2027

2028

2029

2030

Des

mat

amen

to (

em H

a)

Cenário sem PSA Cenário com PSA

VARIÁVEL AMAZONIA PAMPA CAATINGA CERRADO MATA ATLÂNTICA PANTANAL BRASIL

Desmatamento projetado (ha)

2.759.357 175.605 2.853.910 14.416.121 11.239 332.244 20.548.476

Desmatamento evitado

acumulado (ha) 2.397.670 97.109 2.508.158 13.622.868 77 196.139 18.822.021

Desmatamento restante

acumulado (ha) 361.687 78.496 345.751 793.253 11.163 136.105 1.726.455

Porcentagem abatimento (%)

87% 55% 88% 94% 1% 59% 92%

Custo do PSA 443.142.841$ 70.499.670$ 226.310.555$ 3.601.338.961$ 28.955$ 46.485.063$ 4.387.806.046$

tCO2eq evitadas 1.476.098.805 8.290.453 260.076.477 3.341.843.954 28.503 28.237.170 5.114.575.362

Page 220: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

220

Tabela 42: Resumo dos resultados – Modelo Dinamica EGO

VARIÁVEL AMAZONIA PAMPA CAATINGA CERRADO MATA ATLÂNTICA PANTANAL BRASIL

Desmatamento projetado (ha)

21.308.392 496.610 3.805.931 16.759.297 733.547 975.816 44.079.592

Desmatamento evitado

acumulado (ha) 21.237.933 478.754 3.637.688 15.341.324 724.150 938.666 42.358.514

Desmatamento restante

acumulado (ha) 70.459 17.856 168.243 1.417.973 9.397 37.150 1.721.078

Porcentagem abatimento (%)

100% 96% 96% 92% 99% 96% 96%

Custo do PSA 4.419.079.236$ 420.988.849$ 361.853.627$ 3.797.852.881$ 325.628.138$ 300.235.801$ 9.625.638.532$

tCO2eq evitadas 11.755.458.223 49.300.069 344.771.650 3.573.608.785 268.721.673 134.704.375 16.126.564.776

Page 221: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

221

Anexo 2.2. Capacidade de conservação de carbono florestal com orçamentos de R$

1 bilhão e R$ 2 bilhões anuais para PSA

Neste anexo, os benefícios ambientais provenientes da conservação foram

estimados em função do custo anual de um PSA. Supôs-se, nesse ponto, dois

orçamentos possíveis para essa política; um orçamento de R$ 1 bilhão e outro

orçamento de R$ 2 bilhões, ambos anuais.

Empregando o modelo SISGEMA, estimou-se o potencial de conservação do

carbono florestal destes PSA’s. Com R$ 1 bilhão de reais anual, o pagamento máximo

foi de R$ 179,00/ha/ano, o que resultaria na redução do desmatamento em 8,4 milhões

de hectares (figura 40). Dobrando este orçamento, o benefício pago chegaria a R$

252,00/ha/ano, de modo que seria possível reduzir as perdas de remanescentes florestais

em 12,96 milhões de hectares entre 2016-2030.

Figura 40: Potencial de redução de desmatamento (em ha) por

conservação florestal e custo anual da política, Modelo SISGEMA

Fonte: elaboração própria

A distribuição espacial do desmatamento que seria evitado revela que com

recursos até R$ 2 bilhões anuais o PSA seria praticamente inócuo para promover a

conservação nos biomas Pampa e Mata Atlântica, tal qual revela o Mapa 30.

R$ 0

R$ 1

R$ 2

R$ 3

R$ 4

R$ 5

R$ 6

0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000

Cu

sto

An

ual

(em

bilh

ões

)

Área evitada de desmatamento (ha)

Page 222: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

222

Mapa 30: Distribuição espacial do desmatamento evitado por custo anual do

PSA, Modelo SISGEMA

Fonte: elaboração própria

No tocante a capacidade de conservação do carbono florestal, com R$ 1 bilhão

anuais seria possível reduzir as emissões de CO2 em 2,4 bilhões de toneladas.

Alternativamente, com um orçamento de R$ 2 bilhões, mais de 3,7 bilhões de tCO2

deixariam de ser emitidas por desmatamento (figura 41).

Figura 41: Capacidade de conservação do carbono florestal por custo

anual do PSA, Modelo SISGEMA

Fonte: elaboração própria

R$ 0

R$ 1

R$ 2

R$ 3

R$ 4

R$ 5

R$ 6

0 2 4 6Cu

sto

An

ual

(em

Bilh

ões

de

R$)

tCO2 eq (em bilhões)

Page 223: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

223

Ao empregar o modelo baseado na plataforma Dinamica EGO, obtiveram-se

valores significativamente diferentes. Com um orçamento de R$ 1 bilhão por ano, seria

possível evitar o desmatamento em todos os municípios de custo de oportunidade da

terra inferior a R$ 132/ha/ano. Se o orçamento com a política fosse dobrado (R$ 2

bilhões), o a valor máximo do PSA atingiria R$ 174,80/ha/ano, de modo que todos os

municípios com custo de oportunidade inferior ou igual a este valor teriam suas áreas de

remanescentes conservadas. A redução do desmatamento mediante a estes pagamentos

atingiria 10,12 milhões de hectares e de 16,66 milhões de hectares, respectivamente

(figura 42).

Figura 42: Custo anual do PSA e área de desmatamento potencialmente

evitado, Modelo usando plataforma Dinamica EGO

Fonte: elaboração própria.

A distribuição do desmatamento evitado reforça mais uma vez a

conclusão de que com orçamento de até R$ 2 bilhões de reais, muito pouco poderia ser

feito pelos biomas Pampa e Mata Atlântica no tocante a conservação florestal induzida

por um PSA (figura 43).

Figura 43: Distribuição espacial do desmatamento evitado por custo

anual do PSA, Modelo usando plataforma Dinamica EGO

R$ 0

R$ 2

R$ 4

R$ 6

R$ 8

R$ 10

0 5 9

14

18

23

27

32

36

41

45

Cu

sto

to

tal a

nu

al (

em b

ilhõ

es d

e R

$)

desmatamento evitado (em milhões de hectares)

Page 224: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

224

Fonte: elaboração própria

Por fim, nota-se que a capacidade de abatimento de emissões encontrada neste

modelo é significativamente maior que àquela prevista no modelo SISGEMA. Isto se

deve ao fato de que o Dinamica EGO prevê uma perda de remanescentes florestais

muito maior no bioma Amazônia, onde a densidade de carbono é elevada. Neste caso,

as estimativas apontam para uma redução de emissões entre 3,8 bilhões de tCO2 e 6,52

bilhões de tCO2, a depender do orçamento destinado ao PSA (figura 44).

Page 225: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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225

Figura 44: Redução de emissões de CO2 por custo anual do PSA, Modelo

usando plataforma Dinamica EGO

Fonte: elaboração própria

0

2

4

6

8

10

12

0 5 10 15

Cu

sto

An

ual

do

PSA

(em

bilh

ões

de

R$)

tCO2eq acumuladas (em bilhões)

Page 226: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

226

Anexo 2.3. Metodologia para calcular um preço para a tonelada de carbono

equivalente a partir das áreas conservadas

A quantidade de carbono que seria evitada a partir de um PSA para conservação

florestal foi utilizada para a construção de uma curva de oferta de emissões evitadas de

carbono por conservação florestal. Partindo da hipótese de que o volume de CO2

evitado poderia ser transacionado no mercado de carbono, é possível se chegar ao preço

mínimo por tonelada capaz de induzir a conservação florestal. Isto é, é possível calcular

o preço da tonelada de carbono que geraria a quantidade de recursos financeiros

necessária para compensar o custo de oportunidade da terra nas localidades sob pressão

de desmatamento. A construção dessa curva foi obtida a partir dos seguintes passos:

1. Como o período de cálculo se estende por 15 anos, optou-se por tomar o

valor presente líquido (VPL) do custo de oportunidade da terra como medida

da renda que o proprietário da terra sacrificaria ao desistir de sua utilização

nas atividades agropecuárias. Para tal, utilizou-se uma taxa de desconto de

6% ao ano (a mesma adotada em outras seções deste relatório) sobre o custo

de oportunidade da terra calculado para o ano de 2013.

2. Os dados de densidade de carbono (tCO/ha) por município foram

convertidos em tCO2 por hectare.

3. Para se chegar ao preço implícito30

da tonelada de carbono equivalente,

dividiu-se o VPL do custo de oportunidade da terra pela quantidade de tCO2

por hectare.

4. Os municípios foram ordenados de forma crescente pelo preço da tCO2eq.

5. Finalmente as áreas sob pressão de desmatamento foram acumuladas para

construir a curva de custo de oferta de REDD (ou curva de custo de

abatimento).

30

Não se trata do preço de mercado, mas sim do valor mínimo da tCO2 para o qual seria possível

cobrir inteiramente o custo de oportunidade.

Page 227: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

227

3.1.2. Recuperação Florestal em Áreas com Déficit Ambiental

A vegetação secundária em estágio de recuperação possui uma capacidade de

captura de carbono significativa que também deve ser avaliada como benefício por um

eventual Programa Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Como já

discutido, a preservação de remanescentes florestais em proporção à área total do

município oscila consideravelmente entre municípios e biomas. Por isso, a importância

da recuperação de matas nativas será mais importante em regiões ou ecossistemas com

menor grau de preservação.

Como cenário de base para estimar a necessidade de recuperação florestal,

utilizou-se as projeções feitas por Soares-Filho et al. (2014) e Palermo (2011) que,

respectivamente, estimam as necessidades de recuperação ecológica florestal a partir

das exigências do Novo Código Florestal e as diferentes taxas de regeneração de

florestas nativas no Brasil. A partir desses valores, e considerando-se estimativas de

densidade de carbono na vegetação nativa, pode-se estimar o potencial de carbono

capturado devido à recuperação de florestas nativas.

O estudo de Soares-Filho et al. (2014) estima o balanço ambiental com o Novo

Código Florestal (Brasil, 2012), avaliando aqueles municípios que possuem uma

quantidade de florestas maior que as exigências do código florestal (denominadas ativos

ambientais) e outros com déficit de áreas florestais, para o cumprimento das regras do

código florestal (identificadas como passivos ambientais). Para o presente relatório é

utilizada a informação de passivo ambiental, ou seja, a área a ser recomposta para

cumprir às regras de Reserva Legal no novo Código Florestal. Não foram consideradas

as Áreas de Preservação Permanente e seu déficit.

Entretanto, deve-se destacar, conforme argumenta Soares-Filho et al. (2014), que

algumas diferenças em relação ao novo código florestal mudaram significativamente o

cumprimento às regras, com destaque para o art. nº 67, no qual se estabelece que para

propriedades de até quatro módulos fiscais a Reserva Legal será constituída com a área

ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008 (Brasil, 2012).

O Mapa 31 mostra que o maior passivo ambiental encontra-se nos estados de

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Pará, em função do maior

desmatamento nestas regiões. Deve-se destacar que as áreas em cinza são classificadas

como áreas protegidas e, por conseguinte, não são foram consideradas como áreas a

Page 228: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

228

serem restauradas (mesmo que eventualmente a área não seja integralmente coberta por

remanescentes).

Mapa 31: Passivo ambiental após a revisão do Novo Código Florestal para

Reserva Legal

Fonte: Elaboração própria a partir de Soares-Filho et al (2014)

O estudo de Soares-Filho et al (2014) apresenta valores próximos ao de outros

estudos, como Sparovak et al. (2010) que estimam o déficit ambiental para o

atendimento ao código florestal no que tange à reserva legal. A Tabela 43 apresenta

uma comparação entre os dois estudos, com valores próximos a 20 Milhões de hectares

de déficit ambiental no país.

Tabela 43: Comparação entre os estudos de Soares-Filho et al

(2014) e Sparovak et al. (2010) para o déficit ambiental (em

hectares) para o atendimento ao código florestal brasileiro

Soares-Filho et al

(2014)

Sparovak et al

(2010)

ha déficit ha déficit Diferença

Amazônia 7.711.529 7.000.000 -9%

Page 229: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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229

Caatinga 755.798 1.000.000 32%

Cerrado 5.675.985 4.500.000 -21%

Mata Atlântica 6.055.108 4.300.000 -29%

Pampa 504.560 500.000 -1%

Pantanal 87.551

Fonte: Elaboração própria a partir de Soares-Filho et al (2013) e Sparovak et al

(2010)

Outra informação relevante para o cálculo do potencial de captura de carbono

com a recuperação de áreas degradadas consiste na taxa de regeneração natural, definida

em tC/hectare/ano. Palermo (2011) apresenta resultados no nível de bioma, com base na

revisão de literatura disponível sobre o tema (Tabela 44).

Tabela 44: Incremento anual de carbono por regeneração da

vegetação dos biomas brasileiros

Bioma Taxa de Regeneração (ton C/ha/ano)

Amazônia 7,23

Mata Atlântica 6,92

Cerrado 2,63

Caatinga 1,75

Pantanal 2,63

Pampas 1,5

Fonte: Palermo (2011)

Como a informação de regeneração de floresta nativa é disponibilizada por

bioma, foi necessário distribuir a área de cada município por bioma. Para isso, utilizou-

se o software QGIS para recortar o mapa de área do município a partir das áreas de

remanescentes em cada bioma, e obter a estimativa de déficit ambiental para

cumprimento do Novo Código Florestal. Com base nessas informações, e na capacidade

de captura do carbono pela recuperação da vegetação nativa (Palermo, 2011), pode-se

estimar a quantidade de carbono capturada pela recuperação florestal a partir da

seguinte expressão:

Equação 12.

C = R * A (12)

Onde:

C =carbono capturada com a recuperação florestal (em toneladas)

Page 230: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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230

R = Taxa de regeneração natural (Palermo, 2011) (em tC/ha/ano)

A = Área de déficit ambiental para cumprimento ao Novo Código Florestal em

Reserva Legal (Soares-Filho, 2014) (em hectares)

Foram elaborados quatro cenários hipotéticos de atendimento ao déficit

ambiental, em função do nível de recuperação para cumprimento ao Novo Código

Florestal: recuperação do déficit de Reserva Legal em 25%, 50%, 75% e 100%. Os

resultados, expressos em toneladas de carbono, são apresentados na Tabela 45.

Tabela 45: Toneladas de carbono capturadas ao ano com a

recuperação florestal a partir dos diferentes cenários de

atendimento ao novo Código Florestal

Toneladas de carbono capturadas com recuperação florestal

Atendimento

ao Código 25% 50% 75% 100%

Média por

município

4.831 9.661 14.492 19.323

Total 26.867.972 53.735.944 80.603.916 107.471.888

Fonte: Elaboração própria

O Mapa 32 apresenta a captura de carbono por recuperação florestal, por

município, no cenário hipotético de cumprimento de 100% das normas do Novo Código

Florestal (ou seja, zerando todo o déficit ambiental para cumprimento da RL).

Page 231: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

231

Mapa 32: Captura de carbono (em tC) ao ano caso as áreas de déficit florestal

de RL, conforme o Novo Código Florestal, fossem recuperadas em 100%

Fonte: Elaboração própria a partir de Soares-Filho (2013) e Palermo (2011).

O resultado mostra que as áreas onde haveria maior potencial de sequestro de

carbono seriam o Arco do Desmatamento, as áreas de cerrado localizadas ao Sul e Oeste

do bioma, e parte significativa da Mata Atlântica.

Por fim, pode-se cruzar tais informações com as obtidas sobre custo de

oportunidade da terra, fazendo dois cenários:

São considerados custos anuais de recuperação e cercamento, para 1 e 3

anos, gerando um ordenamento a partir dos municípios que tem menor

custo de oportunidade (lucro/hectare/ano), sem incluir a mão da obra,

custos de transporte de insumos e custos de administração.

São considerados somente os custos anuais de recuperação e cercamento,

para 1 e 3 anos, gerando um ordenamento a partir dos municípios que

tem menor custo de oportunidade (lucro/hectare/ano), incluindo a mão da

obra, e sem incluir custos de transporte de insumos e custos de

Page 232: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

232

administração.

A Figura 45 apresenta a estimativa do montante financeiro para recuperação

florestal e o número de hectares, sem considerar o custo de mão de obra, considerando

preços de mercado atuais para as mudas (CC significa custos de cercamento, e CR

custos de recuperação).

Figura 45: Relação do montante financeiro para recuperação florestal e o

número de hectares, sem considerar o custo de mão de obra

Fonte: Elaboração própria

Observa-se que, caso houvesse um programa de recuperação florestal com

recursos na ordem de, por exemplo, 5 bilhões de reais ao ano, seriam recuperados perto

de 1,3 milhões de hectares para o cenários com custos de cercamento e custos de

recuperação (CC+CR) para 3 anos, e de 1,4 milhões de hectares para um ano (CC+CR 1

ano). Quando considerados somente os custos de cercamento (CR), para 1 ano e para 3

anos, a quantidade de hectares para recuperação florestal foi perto de 3 milhões de

hectares.

Os primeiros municípios que receberiam o aporte de R$ 5 bilhões ao ano para

recuperação florestal estão contidos no bioma da Caatinga, Cerrado e Amazônia,

evidenciando o baixo custo de oportunidade nestas regiões atrelado a seus benefícios

ambientais (Mapa 33).

Page 233: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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233

Mapa 33: Recuperação florestal com o aporte de R$ 5 bilhões ao ano sem custo

de mão de obra

Fonte: Elaboração própria

Com a inclusão do custo de mão de obra nos custos de recuperação, esse mesmo

montante recuperaria cerca de 0,9 milhões de hectares para o cenário com custos de

cercamento e custos de recuperação (CC+CR) para 3 anos, e 1,0 milhões de hectares

para 1 ano (CC+CR 1 ano). Caso fossem considerados só os custos de recuperação (CR)

para 3 anos a quantidade de área para atender ao novo código florestal, foi de 1,4

milhões de hectares, entanto que para 1 ano a área em recuperação foi de 1,9 milhões de

hectares (Figura 46).

Page 234: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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234

Figura 46: Relação do montante financeiro para recuperação florestal e o

número de hectares com o custo de mão de obra

Fonte: Elaboração própria

Há forte mudança quando somado os custos de mão de obra, sobretudo nos

estados do Pará, Tocantins e Maranhão. Nesse caso, os municípios com custos mais

baixos, que iriam receber os R$ 5 bilhões estão apresentados no Mapa 34.

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235

Mapa 34: Recuperação florestal com o aporte de R$ 5 bilhões ao ano com custo

de mão de obra

Fonte: Elaboração própria

Como conclusão, fica evidente que o gasto necessário para evitar o

desmatamento por unidade de área conservada é significativamente inferior ao gasto

necessário para recuperar aquelas áreas com déficit ambiental, sobretudo por conta dos

altos custos de recuperação e mão de obra. Por essa razão, programas de PSA voltados

para a recuperação de áreas já desmatadas, como é o caso da Mata Atlântica, mas

também de grandes extensões de outros biomas, exigem valores de pagamento aos

proprietários e custos de implementação muito mais caros do que os voltados à

conservação florestal.

2.2 Emissão de Metano (CH4) pela Fermentação Entérica de Bovinos

As emissões de metano de origem pecuária têm grande importância no Brasil,

mas costumam ser ignoradas em exercícios que estimam variações de emissões em

função de alterações no uso do solo. Esta seção apresenta uma metodologia para estimar

Page 236: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

236

a redução de emissões de metano de origem bovina caso fossem introduzidas melhores

práticas de manejo pecuário.

Para tal, apresenta-se inicialmente o panorama atual da pecuária brasileira para,

depois, estimar a emissão total de metano (CH4) proveniente da fermentação entérica,

descrevendo a metodologia, hipóteses adotadas e base de dados (principalmente

Pesquisa da Produção da Pecuária Municipal – PPM, do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística - IBGE). Por fim, são estimadas as reduções de emissões caso

ocorresse um PSA que induzisse a intensificação da pecuária bovina.

O Brasil tem o maior rebanho bovino comercial do mundo, com mais de 210

milhões de cabeças em 2013 (IBGE, 2014), e o segundo maior rebanho total, atrás

apenas da Índia (MAPA, 2014). A produção de carne bovina sofreu rápida expansão no

Brasil nos últimos anos, estimulada pela demanda interna e externa, que cresceu em

particular nos mercados emergentes, sendo a Rússia o maior importador. De acordo com

os dados anuais da Produção Pecuária Municipal - PPM (IBGE, 2014), o rebanho

bovino brasileiro cresceu de forma constante, mas diferenciada regionalmente (Figura

47). Enquanto nas regiões onde a atividade se desenvolveu historicamente antes (Sul,

Sudeste, Nordeste) observou-se estabilização ou mesmo diminuição (em valores

absolutos), os rebanhos das regiões Norte (bioma Amazônia) e Centro-Oeste

(predominantemente bioma Cerrado, mas também Pantanal) têm crescido rapidamente,

junto com a capacidade industrial de abate, em função da expansão da fronteira agrícola

nas duas regiões (Alvarenga, 2014).

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IEI-18958

237

Figura 47: Evolução do efetivo bovino, por região

Fonte: Elaboração própria a partir de relatórios anuais (2000-2013) da Produção

Pecuária Municipal - PPM (IBGE).

Os dados mostram que o rebanho bovino vem crescendo no Brasil,

principalmente na região Norte. Em contraste, nas regiões Sul e Nordeste, a quantidade

de bovinos tem se estabilizado nos últimos anos. Consequentemente, a importância das

emissões de metano oriundas do rebanho bovino também tem aumentado. Deve-se

ressaltar que a tonelada de metano causa efeitos maiores quando comparados à tCO2e.

No presente estudo usa-se a conversão definida pelo IPCC (2013) em que 1 tonelada de

CH4 corresponde a 34 vezes a tonelada de CO2e.

Entretanto, com o aumento do rebanho e redução das emissões ocorridas devido

às mudanças no uso do solo, sobretudo por conta da redução do desmatamento na

década dos anos 2000, a participação das emissões do setor agropecuário subiu para

35% em 2010 (MCT, 2013, apresentado na Tabela 46), atualmente este setor é o maior

emissor de gases de efeito estufa no país (Figura 48).

0

10000000

20000000

30000000

40000000

50000000

60000000

70000000

80000000

Centro-Oeste

Nordeste

Norte

Sudeste

Sul

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238

Figura 48: Emissões de CO2e por tipo de atividade econômica em 2010

Fonte: MCT (2013).

A emissão de gases de efeito estufa no setor agropecuário é oriunda das

seguintes atividades: fermentação entérica do gado, manejo de dejetos animais, solos

agrícolas, cultivo de arroz e queima de resíduos agrícolas. Os gases emitidos pelo setor

são metano (CH4) e Óxido Nitroso (N2O) com alto grau de impacto para o metano.

Para o ano 2010, as emissões de metano representaram 63% das emissões totais

da agropecuária e 22% das emissões totais do Brasil. As emissões desse setor são

dominadas pelas emissões de metano da fermentação entérica do gado bovino, que é a

única de emissão de GEE emitida pela pecuária tratada neste estudo.

Além disso, observa-se a evolução e a participação de cada atividade

econômica, dentro do setor agropecuário, na emissão de gases de efeito estufa no país

(Tabela 46).

Tabela 46: Emissões de CO2e para o setor agropecuária (1990-

2010) Setores 1990 1995 2000 2005 2010 Variação

Tg CO2eq 1995- 2005

2005 - 2010

AGROPECUÁRIA 303.772 335.775 347.878 415.713 437.226 23,80% 5,20%

Fermentação Entérica 176.804 192.667 201.586 241.225 246.569 25,20% 2,20%

Manejo de Dejeto de

Animais 16.449 18.161 17.796 19.155 21.284 5,50% 11,10%

Solos Agrícolas 98.472 110.756 116.563 141.610 154.091 27,90% 8,80% Emissões Diretas 65.979 74.227 77.860 94.779 103.229 27,70% 8,90%

Animais em Pastagem 51.375 55.706 56.049 67.290 68.478 20,80% 1,80%

Fertilizantes Sintéticos 3.417 4.975 7.314 9.652 12.516 94% 29,70%

Aplicação de adubo 4.095 4.523 4.355 4.845 5.486 7,10% 13,20%

Resíduos Agrícolas 4.753 6.137 6.708 9.009 12.218 46,80% 35,60%

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239

Solos Orgânicos 2.338 2.886 3.434 3.982 4.530 38% 13,80%

Emissões Indiretas 32.493 36.530 38.703 46.832 50.862 28,20% 8,60%

Deposição Atmosférica 6.541 7.254 7.506 9.013 9.610 24,20% 6,60%

Fertilizantes Sintéticos 380 553 813 1.072 1.391 94% 29,70%

Adubo Animal 6.161 6.701 6.694 7.940 8.219 18.5% 4%

Lixiviação 25.952 29.275 31.197 37.819 41.252 29,20% 9,10%

Fertilizantes Sintéticos 2.847 4.146 6.095 8.043 10.430 94% 29,70%

Adubo Animal 23.105 25.130 25.102 29.776 30.822 18,50% 3,50%

Cultura de Arroz 7.626 9.286 8.251 8.940 8.788 -3,70% -1,70%

Queima de Cana e Algodão 4.420 4.905 3.682 4.782 6.495 -2,50% 35,80%

Fonte: MCT (2013).

Ou seja, a fermentação entérica dentro das emissões da agricultura é o

componente mais significativos das emissões agropecuárias. A maior parte do metano

oriundo de fermentação entérica provém do gado de corte (75%), com valor bastante

superior ao do gado de leite (Figura 49).

Figura 49: Participação das emissões de GEE para o setor agropecuária

por atividade (2010)

Fonte: MCT (2013).

Para o cálculo das emissões de metano devido à pecuária, utiliza-se uma

adaptação da metodologia de Izko & Burneo (2003):

Equação 13.

Cpec = Ei Mi (13)

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240

Onde:

Cpec: Emissões pela pecuária (kgCH4/ano)

Ei: Fator de emissão por tipo de pecuária, expresso em kg CH4 (kgCH4/ano)

Mi: Efetivo pecuário (número de animais)

O fator de emissão por tipo de pecuária foi estimado em estudo do Ministério de

Ciência e Tecnologia (MCT, 2010) que apresenta estimativas de emissão de metano

(CH4) pelo rebanho bovino em todas as Unidades de Federação do Brasil. O estudo do

MCT (2010) apresenta a emissão de metano, tanto de gado de corte (jovens, fêmeas e

machos) quanto de gado leiteiro (fêmeas) com informações anuais de 1990 até 2006. A

unidade de medida apresentada é kgCH4/cabeça/ano. Assumiu-se o mesmo fator de

emissão das Unidades de Federação para seus respectivos municípios.

Outras hipóteses assumidas foram o cálculo da média da série histórica de fator

de emissão (anuais de 1990-2006) e utilizou-se a mesma proporção gado jovem/gado

adulto observado no gado de corte fêmea para gado leiteiro (fêmeas), como mostra a

Tabela 47.

Tabela 47: Fator de emissão de metano (CH 4) por fermentação

entérica (kg CH4/cabeça/ano) para cada Unidade de Federação

Gado de Corte Gado Leiteiro

UF Macho Jovens Fêmeas Fêmeas

Var. de Corte

Jovens

para

Corte

Fêmeas

Jovens

Var. de

Corte

macho para Corte

Fêmeas

Machos

AC 55,0 42,7 60,8 61,7 -30% 43,3 -10% 55,8

AL 61,0 47,3 75,9 70,5 -38% 44,0 -20% 56,7

AM 55,0 42,7 60,8 61,7 -30% 43,3 -9% 55,9

AP 55,0 42,7 59,4 60,3 -28% 43,3 -7% 55,9

BA 61,0 47,3 64,2 60,2 -26% 44,4 -5% 57,3

CE 61,0 47,3 67,8 63,4 -30% 44,3 -10% 57,0

DF 56,0 43,0 67,8 66,6 -37% 42,3 -17% 55,1

ES 56,3 43,7 67,5 65,0 -35% 42,0 -17% 54,2

GO 56,0 43,0 65,8 64,8 -35% 42,3 -15% 55,1

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241

MA 61,0 47,3 64,3 60,1 -26% 44,3 -5% 57,0

MG 56,3 43,7 70,8 68,1 -38% 42,0 -20% 54,2

MS 56,0 43,0 65,6 64,6 -34% 42,3 -15% 55,1

MT 56,0 43,0 66,5 65,5 -35% 42,4 -16% 55,2

PA 55,0 42,7 58,7 59,7 -27% 43,4 -6% 55,9

PB 61,0 47,3 65,6 61,6 -28% 44,5 -7% 57,3

PE 61,0 47,3 70,9 66,3 -33% 44,3 -14% 57,1

PI 61,0 47,3 62,0 58,4 -24% 44,5 -2% 57,4

PR 58,0 45,0 74,3 64,4 -39% 39,0 -22% 50,3

RJ 56,3 43,7 69,8 67,4 -37% 42,2 -19% 54,4

RN 61,0 47,3 68,0 63,5 -30% 44,2 -10% 57,0

RO 55,0 42,7 62,8 63,8 -32% 43,3 -12% 55,9

RR 55,0 42,7 56,8 57,8 -25% 43,4 -3% 56,0

RS 58,0 45,0 77,0 66,4 -42% 38,8 -25% 50,0

SC 58,0 45,0 76,2 65,9 -41% 38,9 -24% 50,2

SE 61,0 47,3 68,8 64,5 -31% 44,4 -11% 57,2

SP 56,3 43,7 67,5 65,2 -35% 42,2 -17% 54,4

TO 55,0 42,7 58,1 59,2 -27% 43,4 -5% 56,0

Fonte: Elaboração própria a partir de MCT (2013)

O efetivo bovino estimado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE) na Produção da Pecuária Municipal (PPM), com informações anuais de 2000

até 2013, foi usado como base o cálculo da emissão de metano por fermentação

entérica. Apesar da existência de informações com relação à área de pastagem por

município no Brasil (LAPIG,1996; IBGE, 2006; Soares-Filho, 2014), foram

identificados problemas com relação à taxa de lotação por município, uma vez que

alguns municípios apresentam taxa de lotação acima dos 100 cabeças de bovino/hectare

de pastagem, valor claramente irrealista. Isso se deve possivelmente ao deslocamento da

pecuária e a subestimativa das áreas de pastagens (ver capítulo sobre estimativas de

custo de oportunidade da terra). Para o cálculo da densidade bovina por município,

optou-se por estimar a área disponível para pastagem, obtida pela diferença entre a área

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242

total do município e outros usos, como unidades de conservação e terras indígenas

(Mapa 35).

Mapa 35: Densidade bovina (número de cabeças de bovinos/área total do

município exclusive áreas protegidas)

Fonte: Elaboração própria.

Entretanto, a informação sobre o efetivo bovino da PPM não é suficiente já que

as informações não são disponibilizadas por tipo de pecuária – distribuição entre gado

leiteiro e de corte, entre jovens e adultos, e entre, fêmeas e machos. Para estimar essas

diferenças, utilizou-se a informação por tipo de pecuária e sua finalidade da criação

obtida pelo Censo Agropecuário em 2005/2006 (IBGE, 2006) na qual apresenta a

porcentagem de cada finalidade por município: gado de corte fêmea, macho e jovens;

gado leiteiro fêmea, macho e jovens; e gado de trabalho fêmea, macho e jovens.

Assumiu-se a hipótese de que esta porcentagem de efetivo bovino por cada tipo de

pecuária e finalidade, descrito pela Pesquisa Pecuária Municipal - PPM (IBGE) é

constante para toda a série histórica (2000-2013).

A multiplicação do efetivo bovino pelo fator de emissão - ambas informações

por município, por tipo de pecuária (jovens, machos e fêmeas) e por finalidade (leiteiro,

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IEI-18958

243

corte e trabalho) - determina a emissão anual de metano municipal (CH4) durante 2000-

2013 (Figura 50).

Figura 50: Emissões Anuais de Toneladas de Metano por Fermentação

Entérica (2000-2013)

Fonte: Elaboração Própria.

Em um nível agregado, observa-se que as emissões estimadas correspondem a

11,5 Gg em 2013, com valores bastante próximos ao apresentado em MCT (2014)

Pode-se afirmar que os valores estimados pelo presente estudo são próximos aos

apresentados pelo MCT (2014), apesar do uso de metodologias diferentes (Tabela 48).

Tabela 48: Comparativo entre estimativas de emissões de metano

pela fermentação entérica (em milhões de toneladas de metano)

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

GEMA/UFRJ 9,0 9,4 9,8 10,3 10,8 11,0 10,9 10,6 10,7 10,9 11,1 11,3 11,2

SEEG 9,0 9,4 9,7 10,2 10,7 10,9 10,8 10,2 10,4 10,6 10,8 10,9 10,9

Diferença 0,1% 0,0% 1,1% 1,2% 1,1% 1,0% 1,0% 3,8% 3,5% 3,2% 2,9% 3,8% 3,0%

Fonte: Elaboração própria e MCT (2014)

A Figura 51 mostra as emissões desagregadas por Região. A Região Centro-

Oeste do país, onde está localizada boa parte da fronteira agrícola que se expande à

Região Norte, é a maior responsável por emissões de metano bovino (33%). Esse

resultado está próximo ao de valores obtidos em outros estudos (Bustamente et al,

9.000.000

9.500.000

10.000.000

10.500.000

11.000.000

11.500.000

tCH

4

Emissão deMetano Anuala partir daFermentaçãoEntérica

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IEI-18958

244

2009). O aumento das emissões na Região Norte e a queda nas emissões da Região

Sudeste refletem a variação no tamanho dos respectivos rebanhos: a expansão da

fronteira agropecuária empurra a pecuária para o Norte, ao mesmo tempo em que vem

sendo expelida das áreas consolidadas no Sudeste, possivelmente por substituição no

uso da terra por cultivos mais produtivos ou, inversamente, pelo declínio da capacidade

de suporte em áreas esgotadas.

Figura 51: Emissões Anuais de Metano por Fermentação Entérica por

Região (2000-2013)

Fonte: Elaboração Própria.

Os Mapas 36 e 37 mostram a evolução das emissões de metano bovino ao longo

do tempo (2000 a 2013). Como esperado, a expansão da pecuária da Região Centro-

Oeste para a Região Norte vem gerando um aumento da emissão de metano

especialmente no Arco do Desmatamento.

0

500.000.000

1.000.000.000

1.500.000.000

2.000.000.000

2.500.000.000

3.000.000.000

3.500.000.000

4.000.000.000

kg C

H4

Norte

Centro-Oeste

Sul

Sudeste

Nordeste

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245

Mapa 36: Emissão de Metano (CH4) pela fermentação entérica pela área do

município (ano 2000)

Fonte: Elaboração própria

Mapa 37: Emissão de Metano (CH4) pela fermentação entérica pela área do

município (ano 2013)

Fonte: Elaboração própria.

Uma política de Pagamento por Serviços Ambientais deveria também pensar de

que forma tal política pode impactar tanto a forma de criação (manejo) quanto o efetivo

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IEI-18958

246

de bovinos. A produção agropecuária vem se expandindo, sobretudo na Amazônia,

sendo um dos principais vetores de desmatamento e emissão de gases de efeito estufa

no país. Pode-se considerar que a pecuária estabelecida no Brasil é, majoritariamente,

de baixa rentabilidade, como comprovado no relatório 3, sobre o custo de oportunidade

da terra. Assim sendo, com o objetivo de transformar a pecuária em uma atividade

ambientalmente e economicamente mais eficiente, o presente estudo, avalia o efeito que

a intensificação do efetivo bovino pode ter na emissão de metano, a partir da diferença

entre os sistemas de produção extensiva/tradicional e intensiva/confinamento.

IBGE (2006) estimou o efetivo bovino em confinamento em cerca de 3 milhões

de animais em todo o Brasil. Para atualizar esses valores, assumiu-se a hipótese de que a

porcentagem de bovinos em confinamento sobre o efetivo bovino total seria mantida

por município, extrapolando assim o efetivo bovino em confinamento para o ano de

2013. Para o rebanho bovino em 2013 estimado que ainda não está em confinamento

(obtido por resíduo), foram feitas as seguintes as simulações sobre a intensificação da

pecuária ainda não confinada:

a. Intensificação de 10% do efetivo bovino não confinado nos municípios em

10 anos, com intensificação de 1% a cada ano durante este período;

b. Intensificação de 20% do efetivo bovino não confinado nos municípios em

10 anos, com intensificação de 2% a cada ano durante este período;

c. Intensificação de 30% do efetivo bovino não confinado nos municípios em

10 anos, com intensificação de 3% a cada ano durante este período.

Essas porcentagens foram consideradas a partir de resultados observados por

meio de uma revisão da literatura do assunto (como, por exemplo, o estudo de Barbosa

et al (2015) que projetou tais informações para a Amazônia). Conforme apresentado por

Soares-Filho et al (2010), as emissões de metano por ruminantes são, basicamente,

função da quantidade de alimento ingerido e da qualidade da dieta. A pecuária

intensificada emite mais metano do que a o gado tradicional já que o gado se alimenta

de produtos que podem gerar maior quantidade de metano, no rúmen, pelos processos

bacterianos. Entretanto, deve-se salientar que a alimentação da pecuária intensiva reduz

o ciclo de vida do animal, reduzindo o tempo que é empregado para engordar o animal,

aumentando o ganho de peso diário, e aumentando sua produtividade.

Segundo estudo de Demarchi et al (2006) , a intensificação da pecuária gera um

aumento na eficiência na produção de carne através do uso de tecnologias, ocasionando

Page 247: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

247

menores relações de metano / quilo de carne produzida; sendo que esse melhor

aproveitamento da energia do alimento pode gerar uma redução na emissão individual

de metano. Sendo assim, o estudo estima que apenas com a melhora no manejo

nutricional dos animais, reduzindo a idade de abate de 4,5 para 2 anos é possível

diminuir em cerca de 10% a emissão de metano. A redução na idade de abate reflete na

diminuição do tamanho do rebanho, porém com aumento de giro de capital no setor.

A intensificação da pecuária gera, segundo estudo da Embrapa para o estado do

Pará (2006), uma redução da área de pastagem de 0,84 hectares em média para cada

unidade de animal (UA)31

intensificada, enquanto que se obtém 1,35 UA em média com

a intensificação de 1 hectare (Tabela 49).

Tabela 49: Coeficientes técnicos para a intensificação

UA/ha ha/UA

Média

tradicional

0,75

1.33

Média intensiva 2,1 0,495

Diferença 1,325 -0,84

Fonte: Elaboração própria a partir de Embrapa (2006).

A simulação com os três cenários de intensificação foi feita para os dois sistemas

de produção - tradicional/extensiva e intensiva/confinada. Observou-se, portanto, a

diferença de hectares iniciais e finais com os dois sistemas de produção, resultando no

valor de áreas de pastagens que ficariam livres para outros tipos de atividades, como a

produção agrícola (Tabela 50).

Tabela 50: Hectares de pastagem livres com a intensificação da

pecuária

Intensificação de

10% do rebanho

Intensificação de

20% do rebanho

Intensificação de

30% do rebanho

31

O estudo da Embrapa (2006) utiliza unidade de animal (UA), enquanto que estava sendo usado a

unidade de cabeças de bovino. Assim, é feita a conversão de cabeças de bovinos para UA a partir da

informação do Censo Agropecuário (2006) com os pesos vivos de cada animal (bezerros, novilhos, vacas

e touros etc). Assume-se a hipótese de que a proporção de UA por município em 2006 será a mesma do

que em 2013.

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248

Hectares de pastagem livres

com a intensificação da

pecuária

14.523.507 29.047.015 43.570.522

Fonte: Elaboração própria.

Monteiro (2009) estimou a variação na emissão de metano para diferentes

sistemas de produção, que foi adaptada para calcular a variação. Dito isso, pode-se

observar a emissão evitada com a intensificação da pecuária (Tabela 51).

Tabela 51: Produção de gases de efeito estufa por unidade de

carcaça produzida, para os dois sistemas simulados

Variável Tradicional Intensivo

CH4/carcaça produzida (kg/kg) 0,78 0,51

Fonte: Adaptado a partir de Monteiro (2009)

Com isso, pode-se obter a emissão de metano tanto para o sistema extensivo

quanto para o sistema intensivo/confinamento, por meio da multiplicação destes fatores

descritos acima e UA por município (Tabela 52).

Tabela 52: Emissões de metano (em toneladas de CH4) para os

três cenários hipotéticos de intensificação da pecuária e seus

respectivos sistemas de produção

Intensificação de

10% do rebanho

Intensificação de

20% do rebanho

Intensificação de

30% do rebanho

Metano emitido (ton CH4) pelos

cenários caso fossem mantidos em

sistema tradicional

6.068.751 12.137.502 18.206.253

Metano emitido pelos cenários caso

fossem transformados em

confinado/intensivo

3.968.029 7.936.059 11.904.089

Diferença de metano emitido pelos

cenários (Tradicional - Intensivo) -2.100.721 -4.201.443 -6.302.164

Fonte: Elaboração própria.

Assim sendo, com os cenários de intensificação da pecuária, pode-se estimar a

emissão evitada em até 6.302 Gg de CH4, ou seja, em um cenário de intensificação de

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IEI-18958

249

30% da pecuária resultaria na redução de 35% das emissões de metano da fermentação

entérica.

Deve-se considerar o custo da intensificação da pecuária. Os custos médios para

manutenção e implementação para pecuária intensiva/confinamento estão apresentados

na Tabela 53, com base em Embrapa (2006).

Tabela 53: Coeficientes de custo para manutenção e implantação

de pecuária intensiva para Pará

2013

Custo médio da pecuária tradicional (em reais/ha/ano) R$ 211,21

Custo anual de manutenção da pecuária intensiva (em

reais/ha/ano) R$ 528,01

Custo de implantação de 1 ha de pastagem para PRI em área de

capoeira ou de vegetação secundária (Ano 0) (em reais/ha/ano) R$ 2.220,58

Fonte: Adaptado de Embrapa (2006) com ajuste de preços para 2013 pelo IPP

(Índice de Preços ao Produtor).

Apesar do elevado custo de implantação apresentado em Embrapa (2006), este

ainda é inferior àqueles descritos na literatura como, por exemplo, o estudo do Instituto

Internacional de Sustentabilidade (IIS, 2015) no qual apresenta o custo inicial de R$

2.400/ha. Segundo o IIS (2015), as fazendas que vêm adotando estas técnicas de

intensificação utilizam a estratégia de intensificar de 5% até 20% das pastagens como

em Apuí-AM (projeto desenvolvido pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento

Sustentável do Amazonas – Idesam), em Paragominas-PA (projeto do Sindicato de

Produtores Rural de Paragominas em parceria com o Imazon) e em São Félix do Xingu

(apoiado pela The Nature Conservancy). A partir destes cálculos é possível chegar a um

valor médio por ano para implementar e intensificar a produção pecuária (Tabela 54).

Tabela 54: Custo médio anual para intensificação da pecuária por

município e custo total médio para todo o Brasil, a partir dos

diferentes cenários (em bilhões de reais)

Intensificação

de

10%

Intensificação

de

20%

Intensificação

de

30%

Page 250: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

250

Custo Médio por ano durante 10

anos por município

R$ 1,5 milhão

R$ 3 milhões

R$ 4,5 milhões

Custo total médio por ano durante 10

anos para todo o Brasil R$ 8,3 bilhões R$ 16,7 bilhões R$ 25 bilhões

Fonte: Elaboração própria.

Assume-se a hipótese de que tais custos de implementação ocorrem por dez anos

(2014 2023), enquanto que o custo de manutenção para a intensificação da pecuária

ocorre até 2030. Apesar dos elevados custos de intensificação da pecuária para os três

cenários, a adoção de melhores práticas na pecuária pode gerar aumento de rendimentos

aos proprietários no médio/longo prazo. Assim, pode-se demonstrar que a

implementação de tais ações pode gerar ganhos acima dos custos de implementação e

manutenção. Alguns estudos como Bedoya et al. (2012) demonstram a viabilidade

econômica para o Programa de Agricultura de Baixo Carbono (ABC), com um

rendimento médio para pecuária extensiva e intensiva em R$ 121 reais/ha/ano e R$ 610

reais/ha/ano, respectivamente. Entretanto, utiliza-se a informação apresentada em

Embrapa (2006) em que apresenta os seguintes rendimentos para as atividades

agropecuárias (Tabela 55):

Tabela 55: Rendimentos para diferentes sistemas de produção de

pecuária

Rendimento R$/ha/ano

Pecuária extensiva/tradicional 193,60

Pecuária intensiva/confinamento 880,02

Fonte: Elaboração própria a partir de Embrapa (2006)

O valor apresentado por Embrapa (2006) para a pecuária extensiva/tradicional,

rendimento de R$ 193,60 reais/ha/ano, à estimativa de rendimento médio para toda a

pecuária brasileira, com todos os seus diferentes sistemas de produção, no valor de R$

166 reais/ha/ano, estimado no Capítulo 2 deste Relatório, que trata do custo de

oportunidade da terra. De forma conservadora, optou-se por utilizar os valores

apresentados por Embrapa (2006). Assim, da mesma forma como foi feito para os

Page 251: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

251

custos de intensificação da pecuária, é possível estimar o rendimento médio por

município por ano ao intensificar, ao final de 10 anos, em cerca de 10%, 20% ou 30% a

criação (Tabela 56).

Tabela 56: Rendimento médio anual com a intensificação da

pecuária por município em 10 anos e rendimento total médio para

todo o Brasil (em bilhões de reais)

Intensificação

de

10%

Intensificação

de

20%

Intensificação

de

30%

Rendimento Médio por ano

durante 10 anos por município

R$ 1,8

milhão

R$ 3,6 milhões

R$ 5,4

milhões

Rendimento total médio por ano

durante 10 anos para todo o Brasil R$ 8,3 bilhões R$ 16,7 bilhões

R$ 30,4

bilhões

Fonte: Elaboração própria.

Quando comparado os rendimentos e os custos anuais da intensificação da

pecuária pelos cenários de aumento de 10%, 20% ou 30% em dez anos, observa-se que,

ao final do processo de intensificação, os rendimentos serão maiores que os custos

(Figuras, 52 a 54).

Figura 52: Rendimentos e custos anuais com a intensificação de 10% da

pecuária em 10 anos

R$-

R$2.000.000.000,00

R$4.000.000.000,00

R$6.000.000.000,00

R$8.000.000.000,00

R$10.000.000.000,00

R$12.000.000.000,00

R$14.000.000.000,00

2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030

Rea

is

Rendimento totalpara intensificaçãode 10%

Custo total paraintensificação de10%

Page 252: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

252

Fonte: Elaboração própria

Figura 53: Rendimentos e custos anuais com a intensificação de 20% da

pecuária em 10 anos

Fonte: Elaboração própria

Figura 54: Rendimentos e custos anuais com a intensificação de 30% da

pecuária em 10 anos

Fonte: Elaboração própria

Portanto, quanto maior a intensificação, maior será o rendimento, como também

apresentado em IIS (2015). As informações de intensificação da pecuária também

R$-

R$5.000.000.000,00

R$10.000.000.000,00

R$15.000.000.000,00

R$20.000.000.000,00

R$25.000.000.000,00

R$30.000.000.000,00

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023

2024

2025

2026

2027

2028

2029

2030

Rea

is

Rendimentototal paraintensificaçãode 20%

Custo totalparaintensificaçãode 20%

R$-

R$5.000.000.000,00

R$10.000.000.000,00

R$15.000.000.000,00

R$20.000.000.000,00

R$25.000.000.000,00

R$30.000.000.000,00

R$35.000.000.000,00

R$40.000.000.000,00

R$45.000.000.000,00

Rea

is

Rendimentototal paraintensificaçãode 30%

Custo totalparaintensificaçãode 30%

Page 253: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

253

podem ser apresentadas relacionando a emissão de metano evitada e as áreas municipais

seguindo a ordem dos municípios com maior redução de emissão por hectare total

(Figura 55). Vê-se que nos municípios com maior atividade pecuária a mudança para

pecuária intensiva leva a uma grande redução das emissões de metano. As áreas à

esquerda do gráfico correspondem a municípios com menor presença de atividade

pecuária e com menor impacto da conversão para pecuária intensiva. Ou seja, a

intensificação num conjunto relativamente reduzido de municípios teria um grande

impacto na redução das emissões de metano.

Figura 55: Relação das emissões evitadas de metano (tCH4) com a

intensificação da pecuária e a área do território brasileiro

Fonte: Elaboração Própria.

Com isso, é possível observar a priorização naqueles municípios com maior

rebanho, proporcionalmente à sua área. Estes são, portanto, os municípios que deveriam

ser priorizados no caso de um PSA voltado a incentivar a redução de emissão de metano

a partir da intensificação da pecuária visto possuírem os maiores rebanhos. Pode-se

exemplificar que, caso fosse feita a intensificação de 30% da pecuária nos 50 milhões

de hectares com maior rebanho no Brasil, haveria uma redução de emissão de 32

milhões de tCO2e (Mapa 38).

0

20.000.000

40.000.000

60.000.000

80.000.000

100.000.000

120.000.000

140.000.000

0 200 400 600 800 1000

tCH

4 em

CO

2 eq

uiv

alen

te

milhões de ha do território brasileiro - municípios somados por ordem de eficiênciana na redução de CH4

Milhões

30%

20%

10%

Page 254: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

254

Mapa 38: Metano evitado por hectare de área de intensificação do rebanho

Fonte: Elaboração Própria

2.3 Erosão Evitada

A estimativa de erosão do solo por recuperação ou conservação florestal foi

obtida a partir da aplicação da Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS ou, em

inglês: Universal Soil Loss Equation - USLE) a características do território brasileiro.

A EUPS é constituída pelos principais fatores que causam a erosão hídrica,

ressaltando-se que o produto de todos os fatores resultará na estimativa das perdas

médias de solo, em t ha–1 ano–1. Essa equação pode ser expressa matematicamente, da

seguinte forma:

Equação 14.

A =R K L S C P (14)

Em que:

A = perda anual média de solo, t ha–1

ano–1

;

Page 255: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

255

R = fator erosividade da chuva, expresso por um índice numérico que estima a

capacidade da chuva de provocar erosão, MJ mm ha–1

h–1

ano–1

;

K = fator erodibilidade do solo, representando a suscetibilidade do solo à erosão,

expresso numericamente pela relação entre a perda anual média de solo e o fator

erosividade da chuva de uma parcela-padrão com 9% de declividade e 25 m de

comprimento, mantida continuamente sem cobertura vegetal e cultivada morro abaixo,

de forma a manter a superfície do solo livre de crostas, em t ha h ha–1

MJ–1

mm–1

;

L = fator comprimento do declive, que é a relação de perdas de solo entre uma

encosta com certo comprimento e a padrão com 25 m, sendo as demais condições

iguais;

S = fator grau de declive, que é a relação de perdas de solo entre uma encosta

com certo declive e a padrão com 9%, sendo as demais condições iguais;

C = fatores uso e manejo, que são a relação de perdas de solo entre um solo

cultivado com determinada cultura e esse mesmo solo mantido constantemente sem

cobertura, isto é, nas mesmas condições do fator K; e

P = fator prática conservacionista, que é a relação de perdas de solo entre um

solo com determinada prática de controle da erosão e um solo sem prática

conservacionista.

3.3.1. Fator Erosividade da Chuva, R

Os dados do fator erosividade da chuva, expressos por índices numéricos que

estimam a capacidade da chuva de provocar erosão foram extraídos da literatura. Foi

realizada uma pesquisa em uma grande quantidade de artigos, teses e dissertações para a

obtenção de dados consistentes, que abrangessem todo o país.

Esses dados, que são apresentados na Tabela 57 abaixo foram espacialmente

interpolados dentro do domínio brasileiro pelo método de interpolação de Krigging, ou

krigagem.

A krigagem é considerada uma boa metodologia de interpolação de dados. Ela

utiliza o dado tabular e sua posição geográfica para calcular as interpolações. Utilizando

o princípio da Primeira Lei de Geografia de Tobler, que diz que unidades de análise

mais próximas entre si são mais parecidas do que unidades mais afastadas, a krigagem

utiliza funções matemáticas para acrescentar pesos maiores nas posições mais próximas

aos pontos amostrais e pesos menores nas posições mais distantes, e criar assim os

novos pontos interpolados com base nessas combinações lineares de dados.

Page 256: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

256

A partir de gráficos como o (semi) variograma, a superfície contínua de dados é

criada, e pode-se ter uma ideia da segregação espacial das variáveis, e o alcance da

segregação no espaço, em unidades métricas conhecidas, como milhas, quilômetros, etc.

Alguns resultados foram extraídos do trabalho Rainfall erosivity in Brazil: A

review, de Paulo Tarso Sanches de Oliveira, Edson Wendland e Mark A. Nearing,

publicado na Revista Catena em março de 2012. (Oliveira et al.,2012).

Tabela 57: Valores do Fator Erosividade da Chuva para diversos

municípios Brasileiros Longitude Latitude Fator R Município Estado

-63.14 -4.10 8890 Coari AM

-60.00 -3.00 14129 Manaus AM

-38.55 -3.73 6774 Fortaleza CE

-40.00 -19.58 8536 Aracruz ES

-49.38 -16.68 8353 Goiânia GO

-51.12 -16.44 1833 Iporá GO

-45.00 -21.14 5403 Lavras MG

-44.25 -19.42 5835 Sete Lagoas MG

-42.55 -19.07 18646 Açucena MG

-42.85 -19.64 12919 Antônio Dias MG

-42.49 -19.22 8670 Belo Oriente MG

-42.15 -19.80 10115 Caratinga MG

-42.54 -18.56 9013 Peçanha MG

-43.08 -18.67 8670 Sabinópolis MG

-43.42 -19.96 9145 Santa Bárbara MG

-43.30 -18.46 15280 Sto. Ant.Itambé MG

-42.97 -18.87 13145 Sto.D.do Prata MG

-54.56 -22.12 9256 Dourados MS

-54.45 -18.30 10439 Coxim MS

-54.32 -20.27 9872 Campo Grande MS

-56.11 -15.62 8810 Cuiabá MT

-54.57 -16.45 6641 Rondonópolis MT

-57.68 -16.05 5056 Cáceres MT

-57.48 -15.65 8493 Cáceres MT

-57.27 -16.03 7830 Cáceres MT

-52.26 -13.55 12516 Canarana MT

-55.29 -12.29 15965 Vera MT

-54.39 -15.84 8652 Poxoréo MT

-56.71 -13.44 7107 São J. Rio Claro MT

-49.37 -8.23 11487 Conc. Araguaia PA

-49.11 -5.41 13915 Marabá PA

Page 257: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

257

Longitude Latitude Fator R Município Estado

-46.79 -1.08 12351 Bragança PA

-49.52 -2.26 14756 Cametá PA

-49.71 -3.78 14487 Tucuruí PA

-47.35 -3.03 13251 Paragominas PA

-48.48 -1.44 22452 Belém PA

-47.92 -1.30 22001 Castanhal PA

-35.15 -7.98 6325 Olinda PE

-35.43 -8.40 3601 Catende PE

-35.18 -8.00 3212 Gloria do Goitá PE

-35.98 -8.29 1909 Caruaru PE

-36.08 -8.19 1672 São Caetano PE

-36.42 -8.34 2862 Belo Jardim PE

-40.50 -7.57 2860 Araripina PE

-39.24 -8.28 2518 Cabrobó PE

-40.08 -7.88 2538 Ouricuri PE

-40.50 -9.39 3480 Petrolina PE

-37.72 -8.32 3159 Poço da Cruz PE

-42.32 -22.17 5431 Nova Friburgo RJ

-43.41 -22.46 5472 Seropédica RJ

-43.56 -22.07 4118 Rio das Flores RJ

-44.06 -22.23 6971 Valença RJ

-44.52 -23.03 10140 Angra dos Reis RJ

-44.58 -21.84 5653 Carmo RJ

-43.84 -22.48 4985 Barra do

-43.88 -22.70 6696 Pirai RJ

-44.12 -22.75 9031 Rio Claro RJ

-42.70 -22.71 5289 Rio Bonito RJ

-42.94 -22.58 10235 Magé RJ

-42.66 -22.48 7961 Conc. Macabu RJ

-43.00 -22.48 15806 Magé RJ

-42.55 -22.85 5448 Saquarema RJ

-43.42 -22.92 4439 Rio de Janeiro RJ

-43.28 -22.96 9331 Rio de Janeiro RJ

-43.88 -22.71 6772 Piraí RJ

-56.43 -30.38 9292 Quaraí RS

-52.15 -32.02 5135 Rio Grande RS

-56.00 -28.65 9751 São Borja RS

-52.52 -30.53 5534 Enc.do Sul RS

-57.08 -29.75 8875 Uruguaiana RS

-53.90 -28.55 8825 Ijuí RS

-52.34 -31.77 3924 Pelotas RS

-54.48 -27.85 11217 Sta. Rosa RS

Page 258: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

258

Longitude Latitude Fator R Município Estado

-51.20 -27.40 6329 Campos Novos SC

-50.33 -27.82 5790 Lages SC

-52.62 -27.10 10005 Chapecó SC

-49.32 -28.53 5665.10 Urussanga SC

-52.17 -22.62 7172 Teodoro Sampaio SP

-47.04 -22.52 6738 Campinas SP

-49.23 -23.22 7074 Piraju SP

-47.95 -24.28 12664 Sete Barras SP

-47.75 -24.40 6145 Juquiá SP

-47.01 -21.46 7747 Mococa SP

-48.57 -22.73 12667 São Manuel SP

-50.79 -22.81 12740 Pedrinhas Paulista SP

-47.65 -22.73 5719 Piracicaba SP

-48.91 -21.19 5848 Pindorama SP

-49.22 -21.47 7044 Novo Horizonte SP

-61.75 3.75 16698 Serra do Tequepem RR

-47.53 -8.08 8536 Goiatins TO

-45.33 -7.81 8536 Campos lindos TO

-45.52 -9.51 6248 Ouro PI

-45.24 -7.56 6248 Ribeiro Gonçalves PI

-44.95 -7.88 6248 Travessia PI

-43.86 -16.73 6994 Montes Claros MG

-47.88 -15.79 8319 Brasília DF

-35.51 -6.95 3423 Alagoinha PB

-49.94 -9.29 14000 Caseara TO

-40.28 -19.82 8536 Aracruz ES

-40.51 -9.43 4039 Juazeiro BA

-39.63 -5.74 5561 Mombaça CE

-39.42 -5.80 5999 Piquet Carneiro CE

-39.72 -5.45 6740 Pedra Branca CE

-39.02 -4.97 6114 Quixadá PB

-39.37 -5.59 4940 Senador Pompeu CE

-39.73 -5.13 5763 Boa Viagem CE

-39.29 -5.19 5926 Quixeramobim CE

-40.31 -5.39 5586 Independência CE

-39.57 -6.08 5937 Acopiara CE

-39.20 -5.68 5595 Milhã CE

-40.29 -6.01 4283 Tauã CE

-40.44 -5.14 5349 Deputado Irapuan

Pinheiro CE

Fonte: Oliveira et al. (2012)

Page 259: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

259

O Mapa 39 apresenta os valores da erosividade, R, em MJ mm ha–1 h–1 ano–1

para o território brasileiro e a localização dos pontos relativos aos municípios listados

na Tabela 57.

Os mapas foram produzidos através do software QGIS, que é um Sistema de

Informação Geográfico de código aberto de plataforma cruzada.

Mapa 39: Erosividade, fator R, para o território brasileiro em MJ mm ha–1 h–

1 ano–1.

Fonte: Elaboração própria.

Em estudo semelhante (Silva, 2004), foram aplicadas oito formulações distintas

para o território brasileiro de acordo com a erosividade da chuva estudadas por diversos

autores, c.v.

Tabela 58: Equações usadas para determinar a erosividade anual

Bacia Equação Fonte

1 RX = 3,376 . (MX2/P) + 42,77 Oliveira e Medina (1990)

2 RX = 36,849 . (MX2/P)

1,0852 Morais et al. (1991)

Page 260: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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260

3 RX = (0,66MX) + 88,8 Oliveira (1988)

4 RX = 42,307 . (MX2/P) + 69,763 Silva (2001)

5 RX = 0,13 . (MX1,24

) Leprum (1986)

6 RX = 12,592 . (MX2/P)

0,603 Val et al. (1986)

7 RX = 69,73 . (MX2/P)

0,841 Lombardi e Moldenhaner (1992)

8 RX = 19,55 + (4,20.MX) Rufino et al. (1993)

Fonte: Silva (2014)

As equações determinam a erosividade anual onde o fator Rx é o fator R em (MJ

mm ha– 1 h–1 ano–1), para cada mês x, Mx é a média da precipitação mensal (mm), e P

é a média da precipitação anual (mm).

Mapa 40: Bacias de aplicação das equações da Tabela 21

Fonte: Silva (2004)

Mapa 41: Mapa de erosividade da chuva, fator R, no Brasil

Page 261: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

261

Fonte: Silva (2004)

O estudo feito por Oliveira et al., 2012 também apresenta o Mapa de Erosividade

da chuva no Brasil, c.v. Mapa 46, e foi baseado na revisão da literatura utilizando

interpolação pelo método de Krigging.

Page 262: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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262

Mapa 42: Mapa de Erosividade da chuva no Brasil

Fonte: Oliveira et al. (2012)

No estudo feito por Gomez (2012) foram realizadas duas metodologias distintas

para o cálculo do fator R. A primeira obteve a erosividade para o Brasil para o período

entre os anos de 1988-2008 por técnicas de estatística espacial. A segunda metodologia

baseou-se nas informações de precipitação obtidas de WorldClim, que foram analisadas

e processadas para obter o Índice de Fournier e aos quais foram aplicadas a formulação

de Rufino et al. (1993) para se obter os valores de erosividade. Os mapas 43 e 44 são

respectivamente os mapas de erosividade relativos a primeira e segunda metodologias

do estudo de Gomez (2012).

Page 263: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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263

Mapa 43: Mapa de Erosividade da chuva no Brasil por técnicas de estatística

espacial.

Fonte: Gomez (2012)

Page 264: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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264

Mapa 44: Mapa de Erosividade da chuva no Brasil através da fórmula de

Rufino,1993

Fonte: Gomez (2012)

3.3.2. Fator Erodibilidade do Solo, K

Erodibilidade é uma propriedade do solo que representa a sua susceptibilidade à

erosão. A erodibilidade do solo (fator K) foi redefinida como a quantidade de solo

perdido em dada área por unidade do índice de erosividade adotado, nas condições

padrão (Wischmeier & Smith, 1978).

Tais quantificações são efetuadas nas condições de parcela padrão, que é a

unidade fundamental de pesquisa de erosão, preconizada pela equação universal de

perda de solo. Por outro lado, tolerância de perda representa a quantidade de solo que

pode ser perdida pela erosão acelerada, expressa em unidade de massa por unidade de

área no tempo, que mantém os seus níveis iniciais de fertilidade e com a equivalente

produtividade, por longo período de tempo (Wischmeier e Smith, 1965).

Avaliações experimentais do valor do fator erodibilidade (K), conforme as

normas estabelecidas pela equação universal de perda de solo, além de demandarem

excessivos gastos também exigem muito tempo nas suas determinações, uma vez que

Page 265: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

265

trabalham com o processo direto da causa e efeito, que é o fenômeno da erosão do solo.

Tais motivos tornaram necessária a estimativa do fator K por outros meios mais fáceis,

denominados métodos indiretos de determinação da erodibilidade.

Existem três métodos mais utilizados para a determinação da erodibilidade do

solo. A primeira é a determinação do fator K em condições de campo, sob chuva

natural. O segundo baseia-se na quantificação do fator K em razão das perdas de solo e

do fator erosividade sob condições de chuva simulada. O terceiro baseia-se em

regressões múltiplas que contenham como variáveis independentes atributos

morfológicos, físicos, químicos e mineralógicos do solo. O fator K medido no campo

(método direto), por meio de chuvas simuladas ou naturais, é considerado o valor que

verdadeiramente reflete a erodibilidade do solo, tal como ela é compreendida na USLE.

No entanto, o método direto, além de necessitar de determinações morosas e de alto

custo, principalmente quando medido mediante chuvas naturais, requer também

rigorosa padronização.

A metodologia adotada neste trabalho para o cálculo do fator K de erodibilidade

é a proposta por Wischmeier e Smith (1978), em que K é uma medida da

susceptibilidade do solo ao desprendimento e transporte das partículas influenciada por

características físicas e químicas do solo, como a quantidade de matéria orgânica,

textura, estabilidade estrutural e mineralogia dos constituintes do solo.

O modelo proposto é expresso por:

Equação 15.

K=[2.1*10-4*(12-MO)*M1.14+3.25*(s-2)+2.5*(p-3)]/759

Onde:

K: erodibilidade do solo em t ha h ha–1 MJ–1 mm–1;

MO: quantidade de matéria orgânica em %;

M: função da textura, onde M= (%silte+%areia fina)*(100-%argila);

s: código da estrutura, 1 (granular muito pequena), 2 (granular pequena), 3

(granular média a grande), 4 (blocos ou maciça);

p: código da permeabilidade, 1(rápida), 2 (moderada a rápida), 3 (moderada), 4

(lenta a moderada), 5 (lenta), 6 (muito lenta).

Page 266: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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266

Os dados de silte, areia fina, e argila a 22,5 cm da superfície do solo foram

obtidos no website do Instituto ISRIC - World Soil Information32

.

Mapa 45: Porcentagem de silte a 22,5 cm de profundidade.

Fonte: Elaboração própria

Mapa 46: Porcentagem de argila a 22,5 cm de profundidade

Fonte: Elaboração própria

32

Instituto ISRIC - World Soil Information. Disponível em: http://www.isric.org/.

Page 267: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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267

Mapa 47: Porcentagem de areia fina a 22,5 cm de profundidade.

Fonte: Elaboração própria

O mapa da Textura M foi obtido através da calculadora raster do software QGis,

utilizando a fórmula: M= (%silte+%areia fina)*(100-%argila).

Page 268: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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268

Mapa 48: Mapa da textura M a 22,5 cm de profundidade

Fonte: Elaboração própria

A quantidade de matéria orgânica em porcentagem foi obtida através da

porcentagem de carbono no solo em 2 cm de profundidade, obtida no website do

Instituto ISRIC - World Soil Information33

. Onde,

Equação 16.

MO (%) = Carbono (%) * 1,72 (16)

33

Instituto ISRIC - World Soil Information. Disponível em: http://www.isric.org/.

Page 269: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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269

Mapa 49: Porcentagem de Carbono em 2 cm de profundidade

Fonte: Elaboração própria

Mapa 50: Porcentagem de Matéria Orgânica em 2 cm de profundidade

Fonte: Elaboração própria

Page 270: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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270

O mapa 51 de código de estrutura foi confeccionado a partir do mapa de solos

brasileiro, fornecido pela Embrapa Solos, e dados da literatura, usando a ferramenta do

QGis de junção espacial tendo como máscara o mapa de tipos de solo.

Os dados da literatura foram obtidos de “Development of a soil and terrain

database for Latin America and the Caribbean34

”.

A classificação utilizada foi obtida de Wischmeier & Smith (1978), que

descrevem o código da estrutura como: 1 (granular muito pequena), 2 (granular

pequena), 3 (granular média a grande), 4 (blocos ou maciça).

Mapa 51: Mapa de código de estrutura, s.

Fonte: Elaboração própria

O Mapa 52 de código de permeabilidade foi confeccionado a partir do mapa de

solos brasileiro fornecido pela Embrapa Solos e de dados da literatura, usando a

ferramenta do QGis de junção espacial, tendo como máscara o mapa de tipos de solo.

34

Website SOTERLAC. Disponível em: http://www.isric.org/projects/soter-latin-america-and-caribbean-

soterlac.

Page 271: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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271

Os dados da literatura foram obtidos de Development of a soil and terrain

database for Latin America and the Caribbean. A Tabela 59 apresenta a classificação do

código da permeabilidade, baseada em Gomez (2012).

Tabela 59: Código de Permeabilidade

Classificação Código

permeabilidade

1 Rápida

2 Moderada a rápida

3 Moderada

4 Lenta a moderada

5 Lenta

6 Muito lenta

Fonte: Gomez (2012)

Page 272: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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272

Mapa 52: Mapa de código de permeabilidade, p

Fonte: Elaboração própria

O Mapa 53 apresenta a erodibilidade do solo, fator K, elaborado através do

QGis, utilizando os mapas de M, MO, s e p e aplicando a ferramenta calculadora raster

do QGis.

Foram utilizados os valores de K médios obtidos para cada tipo de solo

brasileiro, segundo códigos da Embrapa Solos. Esses valores médios de K serviram

como extrapolação de valores em áreas onde havia poucos dados.

Page 273: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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273

Mapa 53: Mapa da erodibilidade dos solos, fator K, em t ha h ha–1

MJ–1

mm–1

Fonte: Elaboração própria

3.3.3. Fator Topográfico, LS

De acordo com Wischmeier & Smith (1978), o comprimento de rampa é

caracterizado como sendo a distância do ponto de origem do caimento da água até o

ponto em que ela decresce, propiciando o início de uma sedimentação em rupturas de

uma vertente junto a vales, ou quando vai de encontro a um canal definido. O mesmo

pode fazer parte de rede de drenagem ou terraço. A EUPS utiliza o fator comprimento

de rampa (L), que é adimensional, adotando o comprimento de rampa medido em

metros, sem a unidade. O fator declividade (S) da EUPS é caracterizado como o ângulo

ou o índice da inclinação do terreno.

Dentre as variáveis utilizadas no modelo da EUPS, a que possui maior

dificuldade para ser estimada em ambiente computacional é o comprimento de rampa.

Visando automatizar o processo, várias metodologias vêm sendo propostas. Um

conceito que trouxe uma nova abordagem para a estimativa do comprimento de rampa é

a área de contribuição obtido a partir do Modelo Digital de Terreno (MDT) (Farinasso

et al., 2006).

Page 274: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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274

Os dados de declividade estão disponíveis nos mapas da Companhia de Pesquisa

de Recursos Minerais35

. O Mapa 54 mostra o mosaico dos mapas disponíveis no site.

Mapa 54: Mapa de Declividade em Percentual do Relevo Brasileiro

Fonte: CPRM (2010).

Os mapas de declividade também podem ser obtidos a partir dos mapas de

relevo disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –

Mapa 59.

35

Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). Disponível em:

http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1481&sid=9

Page 275: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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275

Mapa 55: Mapa digital do terreno

Fonte: UFMG36

O mapa de declividade em graus (Mapa 56) foi obtido a partir dos do mapa

digital do terreno utilizando-se a ferramenta raster do QGis.

36

Disponível em: http://www.csr.ufmg.br/

Page 276: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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276

Mapa 56: Mapa de declividade em graus

Fonte: Elaboração própria.

Segundo a metodologia de Guerrero( 2015), a ferramenta calculadora raster do

QGis e a fórmula abaixo, foi elaborado o mapa do fator topográfico LS (Mapa 57)

Equação 17.

Declividade <=30°= (0.009*("decl poly@1"^2)+(0.0798*"decl poly@1"))

Declividade >30°= (0.2558*"decl poly@1"+3.248)

Page 277: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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277

Mapa 57: Mapa do fator topográfico LS

Fonte: Elaboração própria.

3.3.4. Fator Uso e Manejo, C

O fator C representa a relação entre as perdas de solo de um terreno cultivado

em dadas condições e as perdas correspondentes de um terreno mantido continuamente

descoberto. Em áreas sem nenhuma vegetação o fator C tende a 1.

A cobertura e manejo do solo é o fator isolado mais importante na redução das

perdas de solo por erosão hídrica. O efeito combinado da cobertura e manejo é

computado na EUPS como fator C, que representa a relação entre a perda de solo de

uma área sob determinado sistema de manejo e cobertura e a perda de solo de uma área

mantida continuamente descoberta e preparada no sentido do declive.

O valor do fator cobertura e manejo é o mais complexo de ser determinado, pois

envolve a interação de inúmeras variáveis, sendo definido para cada local, uma vez que

o mesmo depende também dos fatores R e K. As variáveis que influenciam o fator C,

além dos índices dos fatores R e K, são o estágio durante o ciclo vegetativo da cultura, a

cobertura do solo pelo dossel das plantas, a cobertura do solo pelos resíduos culturais, o

Page 278: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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278

manejo dos resíduos culturais, o tipo de preparo do solo, o tipo de rotação de culturas e

o efeito residual dos cultivos do uso do solo (WISCHMEIER & SMITH, 1978).

Apesar de entender que o fator C contém valores distintos dependendo da

literatura, neste trabalho serão utilizados apenas os valores compilados do fator C37

,

conforme mostra a tabela 60. A partir do Mapa de Uso do Solo (Otimizagro, 2013) e

dos valores de C, o mapa do Fator C, foi obtido através do software QGis.

Mapa 58: Mapa de uso do solo

Fonte: OTIMIZAGRO (2013)

Tabela 60: Valores do Fator C compilados

Cultura C

água 0

urbano 0.115

pastagem 0.1406875

pastagem_em_AP 0.1406875

savanas 0.096

savanas_em_AP 0.096

florestas 0.001672

florestas_em_AP 0.001672

37

A partir de trabalhos de Bertoni e Lombardi Neto (1983); Farinasso et al. (2006); Paranhos Filho et al.

(2003); Britaldo; Morgan (1995); Shi (2002); ANA; Ribeiro e Alves (2007), entre outros.

Page 279: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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279

soja 0.25

cana_de_açúcar 0.1

milho 0.25

algodão 0.62

arroz 0.1

trigo 0.25

feijão 0.12210125

café arábica 0.37

café robusta 0.37

laranja 0.0449

mandioca 0.62

banana 0.008

cacau 0.008

fumo 0.12210125

milho_2s 0.25

feijao_2s 0.12210125

floresta_plantada 0.008

soja_milho_safrinha 0.2

soja_trigo 0.2

milho_trigo 0.2

soja feijão 0.25

milho feijão 0.25

feijão_feijão 0.12210125

Fonte: Elaboração Própria.

Page 280: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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280

Mapa 59: Mapa do fator uso e manejo do solo, Fator C

Fonte: Elaboração própria

3.3.5. Fator Prática Conservacionista, P

O Fator P está relacionado às práticas conservacionistas e representa a relação

entre a intensidade de perdas de solo com determinada prática de manejo e aquelas

quando a cultura está plantada no sentido do declive.

Stein et al. (1987) consideram que os Fatores C e P só devem ser tratados

separadamente quando o objetivo do trabalho for definir formas mais adequadas de

produção agrícola, minimizando os impactos gerados sobre o meio físico. Entretanto,

quando o trabalho enfoca a perda de solos por erosão, essas variáveis devem ser

analisadas conjuntamente. Nesse caso, os dados de C e P não são mais analisados em

função do estágio de desenvolvimento da cultura, mas sim pelo uso e ocupação da terra.

O fator P é a razão entre as perdas de solo de uma área com práticas

conservacionistas (Tabela 61):

(a) plantio morro a baixo;

(b) plantio em contorno;

Page 281: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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281

(c) alternância de capinas mais plantio em contorno;

(d) cordões de vegetação permanente.

Tabela 61: Valores do fator P para algumas práticas de

conservação

Práticas de Conservação Valor de

P

Plantio morro abaixo 1,0

Plantio em contorno 0,5

Alternância de capinas + plantio em

contorno

0,4

Cordões de vegetação permanente 0,2

Fonte: Bertoni (2004).

Devido à escassez de dados de prática protecionista para todo o território

nacional e como este fator é extremamente específico e variável, neste trabalho

considerou-se P igual a 1.

3.3.6. Perda de Solo, A

O cálculo da perda anual média de solo, em t ha–1 ano–1, fator A, foi calculado

através da calculadora raster do software QGis.

Equação 18.

A = R K L S C P (18)

Page 282: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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282

Mapa 60: Perda anual média de solo, em t ha–1

ano–1

Fonte: Elaboração própria

Com a calculadora raster do QGis e as máscaras de municípios do IBGE, pode-

se estimar o valor de perda de solo em t ha-1 ano-1 médio por município.

A partir do Mapa 46, pode-se estimar a variação da erosão de solo em função de

mudanças exógenas no uso do solo (fator CP).

O mapa 61 mostra a erosão média nos municípios de custo de oportunidade mais

baixo.

Page 283: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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283

Mapa 61: Erosão média por município

Fonte: Elaboração própria.

Page 284: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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284

Mapa 62: Erosão média por município nos dois primeiros quartis

Fonte: Elaboração própria.

Por fim, a partir das informações acima, o estudo cruza tais informações com o

cenário do modelo SisGema, que trata de desmatamento evitado.

Figura 56: Erosão evitada com base no modelo SisGema de projeção do

desmatamento x custo de oportunidade da terra acumulado

R$ 0

R$ 1

R$ 2

R$ 3

R$ 4

R$ 5

R$ 6

- 50 100 150 200 250

Rea

is (

Acu

mu

lad

os)

Bilh

õe

s

Toneladas de Sedimentos Evitados por Ano Milhões

Page 285: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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285

Fonte: Elaboração própria.

Observa-se que com um investimento de R$ 200 milhões seria possível evitar

cerca de 0,09 Gt de sedimentos por ano.

Outra importante relação feita abaixo é a quantidade de erosão evitada com a

recuperação do déficit relativo ao código florestal, apresentado na seção 2.2. e adaptado

de estudo de SoaresFilho et al (2013), com o custo de oportunidade da terra acumulado,

descrito no relatório 3. Assim sendo, observa-se que para evitar 0,15Gt de sedimentos

por ano, seriam necessários cerca de R$ 1 bilhão, conforme a figura abaixo.

Figura 57: Erosão evitada com a recuperação do déficit relativo ao

código florestal x custo de oportunidade da terra acumulado

Fonte: Elaboração própria.

R$ 0

R$ 1

R$ 2

R$ 3

R$ 4

R$ 5

R$ 6

R$ 7

R$ 8

- 100 200 300

Rea

is (

Acu

mu

lad

os)

B

ilhõ

es

Toneladas de Sedimento Evitado por Ano Milhões

Page 286: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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286

2.4. Biodiversidade

Embora façam referência explícita à importância da conservação da

biodiversidade, diversos projetos de PSA implementados acabam considerando

quantitativamente seus impactos sobre mudanças climáticas (emissão ou captura de

carbono), proteção de corpos hídricos ou conservação do solo sem introduzir um

elemento específico de quantificação da biodiversidade. Uma razão frequente para isso

é a dificuldade de obter métricas de impactos sobre a biodiversidade e é bastante usual

referir-se apenas à área de remanescentes de vegetação nativa.

O objetivo desta subseção é apresentar indicadores de relevância da conservação

de biodiversidade associados à conservação ou recuperação florestal com espécies

nativas. Para isso, foram utilizadas três metodologias de priorização de áreas para a

conservação da biodiversidade:

1. “Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e

Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”, elaborada pelo Projeto de

Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO), e

incorporadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2007);

2. “Prioridade de Conservação das Ecorregiões Terrestres”, elaborada

pelo Laboratório de Biogeografia da Conservação (UFG) em parceira com o Instituto

Life (Instituto LIFE et al. 2015);

3. Índice composto pelo número de espécies animais ameaçadas de

extinção, gerada pelo Grupo de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do

Instituto de Economia da UFRJ (GEMA/IE/UFRJ) fazendo uso de dados

georreferenciados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio) de espécies ameaçadas.

As próximas subseções apresentam a metodologia e resultados para cada uma

das abordagens. Em seguida, são feitos exercícios sobre o custo de conservar as áreas

mais importantes para a biodiversidade segundo seu custo de oportunidade,

especificando a quantos hectares isso corresponde. Por fim é elaborada uma análise

comparada dos resultados.

3.4.1. Áreas Prioritárias Segundo o Ministério do Meio Ambiente - MMA

Page 287: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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287

As “Áreas Prioritárias para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição

de Benefícios da Biodiversidade Brasileira” foram disponibilizadas em 2004 pelo

Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira

(PROBIO). O PROBIO é um mecanismo de auxílio técnico para implementar as

diretrizes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) e, por isso, incorporam

decisões da VII Conferência das Partes da CBD, junto com os princípios do

Planejamento Sistemático para Conservação (Margules e Pressey, 2000), como

representatividade (elementos da biodiversidade a se conservar) e vulnerabilidade

(locais onde as ações de conservação com maior probabilidade ou iminência de

erradicação dos alvos de conservação).

O ponto de partida foi o Mapa de Biomas do Brasil (IBGE, 2004), a partir do

qual criou-se um sistema de avaliação que classifica as áreas identificadas segundo dois

critérios: (i) importância biológica para biodiversidade e (ii) urgência para

implementação das ações sugeridas.

O mapa de importância biológica para biodiversidade de cada bioma considera

a insubstituibilidade, a representatividade e a vulnerabilidade da área estudada, sem

considerar ameaças, nem risco ou oportunidades de uso sustentável e de repartição de

benefícios. Foram criadas quatro categorias de importância biológica: Alta, Muito Alta,

Extremamente Alta e Insuficientemente Conhecida.

A urgência de ações de cada bioma considera, além da importância biológica, os

graus de estabilidade e ameaça, e as oportunidades de uso sustentável. A partir da

priorização nas categorias (Alta, Muito Alta e Extremamente Alta) são feitas

recomendações de ações a serem executadas, como criação de áreas protegidas ou

recuperação de áreas degradadas, manejo de bacias hidrográficas, etc.

A Tabela 62 mostra a distribuição das áreas prioritárias pelos biomas terrestres

brasileiros. Nela, observa-se que a Mata Atlântica foi o bioma que teve maior número

de áreas indicadas para recuperação, porém o Cerrado teve maior área física.

Tabela 62: Distribuição das Áreas Prioritárias indicadas para a

recuperação de Área Degradada nos Biomas Terrestres

Bioma

Área

Total do

Bioma

(km2)

Alta Muito Alta Extremamente

Alta

Insuficientemente

Conhecido

% do

Bioma

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288

n.de

áreas

Área

(km2)

n.de

áreas

Área

(km2)

n.de

áreas

Área

(km2)

n.de

áreas

Área

(km2)

Amazônia 4.245.024

12 26.211 7

24.978

10

50.103 2 9.926

2,60%

Pantanal

151.353

3 3.659 2

1.306

4 7.206 -

-

8,00%

Cerrado 2.052.708

10 29.596 14

52.361

18

52.515 - -

6,60%

Caatinga 852.261

17

25.559 19

31.514

12

11.125 4 12.246

9,40%

Mata

Atlântica

1.129.760 21 4.673

39

33.092

21 8.280 3

543

4,10%

Pampa

178.820

3 3.876 4

3.143

6 3.728 -

-

6,00%

Fonte: MMA (2007)

O Mapa 63 apresenta os dados georreferenciados de áreas prioritárias para a

biodiversidade no critério “Urgência de Ação”, cruzados com os limites municipais e

categorizados por custo de oportunidade para a implementação de PSA. Em outras

palavras, o Mapa 63 mostra a distribuição das áreas consideradas prioritárias em termos

de urgência de ações (Prioridade Muito Alta e Extremamente Alta) de acordo o custo de

oportunidade da terra.

Page 289: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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289

Mapa 63: Áreas de Muito Alta e Extremamente Alta urgência de ações por

custo de oportunidade (em quartis)

Fonte: Elaboração própria com base em dados do MMA

A análise revela que grande parte das áreas de Alta ou Extremamente Alta

urgência de ações tem baixo custo de oportunidade, e correspondem principalmente ao

bioma Amazônico e à Caatinga (Regiões Norte e Nordeste). Porém, existe um número

considerável de áreas prioritárias com custos de oportunidades relativamente altos,

especialmente na Mata Atlântica e Pampa.

O Mapa 64 mostra a mesma análise, mas segundo o critério de “Importância

Biológica”. Novamente percebe-se o padrão de concentração das áreas prioritárias das

Regiões Norte e Nordeste com menor custo de oportunidade de implementação. Já nas

Regiões Sudeste e Sul, o custo de oportunidade é maior.

Page 290: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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290

Mapa 64: Áreas de Muito Alta e Extremamente Alta importância Biológica por

custo de oportunidade (em Quartis)

Fonte: Elaboração própria com base em dados do MMA

Em síntese, como esperado, os resultados mostram que a implementação de um

PSA em áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade nas Regiões Sudeste e

Sul, e nos biomas Mata Atlântica e Pampa, terão custos de oportunidade

consideravelmente maiores do que no Norte e Nordeste, ou Amazônia e Caatinga. A

Região Centro-Oeste e os biomas Cerrado e Pantanal encontram-se em situação

intermediária (se bem que em determinadas partes do Centro Oeste/Cerrado, os custos

se aproximam aos do Sudeste/Sul).

3.4.2. Áreas Prioritárias Segundo LGB/UFG & Instituto Life

Enquanto a metodologia do MMA considera como critérios para priorização da

biodiversidade endemismo, ameaça e diversidade, a metodologia de Prioridade de

Conservação das Ecorregiões Terrestres, elaborada pelo Laboratório de Biogeografia da

Conservação (UFG) e Instituto LIFE tem como referência a cobertura vegetal

Page 291: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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291

remanescente nas ecorregiões terrestres do Brasil. Ou seja, atende apenas ao critério de

ameaça.

O Brasil é dividido em quarenta e cinco ecorregiões homogêneas, e prioriza cada

uma delas de forma proporcional à sua área de vegetação remanescente. Dessa forma,

obtém um índice que pode oscilar entre um valor máximo 100% (quando todos os

remanescentes estão integralmente protegidos) e mínimo de 0% (quando não mais

nenhum remanescente). A necessidade de ações de conservação é inversamente

proporcional a esse índice, e são estabelecidas cinco classes de prioridade:

i. Conservação baixa (≤ 20% de remanescente), ou seja, áreas de maior ameaça

(maior prioridade);

ii. Conservação baixa a média (21% a 40%% de remanescente);

iii. Conservação média (41% a 60% de remanescente);

iv. Conservação média a alta (61% a 80% de remanescente) e

v. Conservação alta (> 80% de remanescente), com menor grau de ameaça

(menor prioridade).

O Mapa 65 mostra o remanescente florestal em cada ecorregião, divido por

bioma:

Page 292: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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292

Mapa 65: Ecorregiões Terrestres segundo percentual remanescente

Fonte: Elaboração própria com base em Instituto LIFE & UFG (2015).

De acordo com essa metodologia, a maior parte do território brasileiro está

classificada como de preservação baixa a média e média a alta (Figura 58). Já o Bioma

Mata Atlântica, nessa abordagem, possui menor percentual de remanescente e, assim,

maior grau de ameaça e necessidade de ações de conservação.

Page 293: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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293

Figura 58: Distribuição das Áreas de Necessidade de Ações de

Conservação

Fonte: Elaboração própria com base em Instituto LIFE & UFG (2015).

Como esperado, ao categorizar as áreas quanto ao custo de oportunidade da terra

médio do município, percebe-se que as terras mais baratas apresentam o maior

percentual de remanescente, concentrando-se nos Biomas Amazônia, Caatinga e

Pantanal (Mapa 66). Essas áreas deveriam receber menor prioridade para o

estabelecimento de um sistema de PSA, a não ser que possa ser montado um PSA por

ações de redução do desmatamento com custos muito baixos.

16%

24%

11%

29%

20%

Alta

Média a alta

Média

Baixa a média

Baixa

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IEI-18958

294

Mapa 66: Municípios de baixo custo de oportunidade (1. e 2. Quartil) e seus

respectivos remanescentes por ecorregião (%)

Fonte: Elaboração Própria com base em dados de Instituto LIFE & UFG (2015).

Porém, percebe-se que um conjunto significativo de áreas de alta prioridade

(baixo remanescente) está localizado nos biomas Mata Atlântica (notadamente os

Corredores Norte e Central) e também Cerrado. Isso significa que existem importantes

espaços de conservação para a biodiversidade em áreas de custo de oportunidade

relativamente baixo, onde o papel primordial do PSA deve ser o de recuperação de

vegetação nativa.

3.4.3. Áreas prioritárias para a biodiversidade por espécies animais ameaçadas

de extinção

Um terceiro índice foi construído a partir de dados primários fornecidos pelo

Instituto Chico Mendes de Conservação (ICMBio) de identificação de espécies

ameaçadas, classificados de acordo com escala de critérios da Lista Vermelha da União

Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, ver Figura 59), correspondendo às

Page 295: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

295

seguintes categorias: vulneráveis (VU), criticamente ameaçadas (CR), em perigo (EM),

extintas (EX), extinta na natureza (EW).

Figura 59: Taxonomia de ameaça adotada

Fonte : IUCN (2012)

Apenas um grupo, aves, concentra 61% das espécies classificadas como

ameaçadas. Em segundo lugar, o grupo de mamíferos terrestres corresponde a 16% das

espécies consideradas. O grupo menos numeroso de espécies animais, invertebrados,

representa menos de 7% do total, indicando que a lista de espécies ameaçadas possui

um forte viés para espécies de vertebrados, em particular para os grupos mais estudados

(Figura 60).

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296

Figura 60: Distribuição de espécies ameaçadas no país por grupo

Fonte: Elaboração própria com base em dados do ICMBio

O Índice de Espécies Animais Ameaçadas foi construído agrupando-se por

município as 19.205 observações, correspondentes a 956 espécies. Esse índice considera

o número total de espécies ameaçadas observadas em cada município – por exemplo, o

valor seis é atribuído aos municípios onde foram observadas seis espécies inclusas na

lista, independente da frequência com que cada espécie foi identificada (ou seja, se o

animal foi visto uma ou mais vezes). O Mapa 67 mostra o resultado encontrado,

destacando Amazônia e Mata Atlântica como os biomas com a maior presença de

espécies ameaçadas.

0,81%

61,42%

2,03%

4,66%

0,48%

16,36%

6,63%

7,52%

0,10%

Anfibios

Aves

Invertebrados Aquaticos

Invertebrados Terrestres

Mamiferos Aquaticos

Mamiferos Terrestres

Peixes Continentais

Peixes Marinhos

Repteis

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297

Mapa 67: Espécies animais ameaçadas por município, segundo dados do

ICMBio

Fonte: Elaboração própria com base em dados do ICMBio

Nos resultados apresentados no Mapa 67 existe um viés associado ao tamanho

do município – municípios com maior território têm maior probabilidade de

avistamento de uma espécie do que municípios de menor tamanho mas localizados na

mesma região. Por isso, uma forma alternativa de apresentar o resultado é dividindo o

número de espécies ameaçadas observadas pela área do município. O Mapa 68

apresenta os resultados encontrados, com destaque para a Mata Atlântica. A razão disso

é porque esse bioma apresenta a maior concentração (54%) de observações de espécies

ameaçadas. A Amazônia é o segundo mais expressivo, com 18% das observações, mas

que ficam diluídos pela grande extensão territorial de seus municípios. É importante

destacar também um viés geográfico devido à maior concentração de estudos feitos na

Mata Atlântica em relação aos outros biomas.

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298

Mapa 68: Densidade de espécies animais ameaçadas por município (no. de

espécies/área do município, em Km2), segundo dados do ICMBio

Fonte: Elaboração própria com base em dados do ICMBio

Uma outra maneira de lidar com o viés da área do município é estimar a dividir

o número de espécies ameaçadas observadas no município pela área de remanescentes

florestais estimado para o mesmo município (Mapa 69). A ideia por trás desse exercício

é supor que há correlação da densidade de espécies animais com a área de remanescente

florestal.

Mapa 69: Densidade de espécies animais ameaçadas em relação aos

remanescentes florestais, por município (no. de espécies ameaçadas/área de

remanescentes florestais do município, em Km2) , segundo dados do

ICMBio

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299

Fonte: Elaboração própria com base em dados do ICMBio

O mapa de espécies ameaçadas pela área de remanescente reforça o resultado do

índice anterior. A Mata Atlântica se destaca como bioma mais ameaçado, em função da

escassa vegetação remanescente. Já o bioma Amazônia aparece como menos ameaçada

devido ao alto percentual de remanescente.

3.4.4. Exercícios da Curva de Oferta de Conservação com Índices de

Biodiversidade

Esta subsecção tem o objetivo de estimar a curva de oferta de conservação caso

seja adotado o critério de priorizar as áreas mais relevantes para a conservação da

biodiversidade.

Para o cálculo foram estimadas curvas de oferta de conservação aos moldes de

exercícios anteriores para benefícios ambientais. Acumulou-se as áreas de “Muito Alta”

e “Extremamente Alta” relevância pelo indicador de importância biológica do MMA.

Estas áreas foram cruzadas com o custo total acumulado de conservação em ordem,

primeiramente, de importância para biodiversidade e, em seguida, de mais baixo custo

de oportunidade da terra.

Page 300: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

300

Isso explica a descontinuidade evidente na Figura 61: são as áreas de

Extremamente Alta importância biológica em ordem crescente de custo de oportunidade

da terra, que foram analisadas separadamente das áreas de importância Muito Alta. A

Figura 61 mostra o quanto seria necessário desembolsar para preservar determinada área

em hectares de acordo com o indicador do MMA.

Figura 61: Curva de Oferta de Conservação utilizando Indicador de

Relevância de Biodiversidade do MMA

Fonte: Elaboração própria com base em dados do MMA.

A Figura 61 mostra que com R$ 1 bilhão de reais anuais seria possível conservar

cerca de 14 milhões de hectares, e com R$ 5 bilhões de reais anuais seria possível

conservar, aproximadamente, 34,5 milhões de hectares.

Utilizando o Índice de Espécies Animais Ameaçadas Observadas, com base nos

dados registrados pelo ICMBio, pela área total do município, em km², foram

relacionados o custo total de conservação por município e as áreas projetadas de

desmatamento a serem evitadas, ambos acumulados, em ordem decrescente do índice,

dando prioridade à conservação dos municípios com maior relevância para

biodiversidade.

R$ 0

R$ 2

R$ 4

R$ 6

R$ 8

R$ 10

R$ 12

R$ 14

ha 20 ha 40 ha 60 ha 80 ha

Cust

o t

ota

l de

conse

rvaç

ão (

em b

ilhões

)

Área de conservação (em milhões de ha)

Extremamente Alta Muito Alta

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301

A Figura 62 mostra a quantidade em reais necessária para preservar determinada

área em hectares de acordo com o Índice de Espécies Animais Ameaçadas Observadas

pela área do município, em km².

Figura 62: Curva de Oferta de Conservação Utilizando Índice de

Espécies Animais Ameaçadas Observadas pela Área do Município

Fonte: Elaboração própria com base em dados do ICMBio.

O gráfico mostra que com R$ 1 bilhão anual seria possível evitar o

desmatamento em cerca de 3,8 milhões de hectares de áreas de com indiciadores mais

altos de relevância para a biodiversidade..

A Figura 63 mostra a quantidade em reais necessária para preservar determinada

área em hectares de acordo com o a densidade de espécies ameaçadas em relação aos

remanescentes (Índice de Espécies Animais Ameaçadas Observadas dividido pela área

de remanescentes florestais, em km²), ordenados de forma crescente pelo custo

acumulado do PSA hipotético que compensaria o custo de oportunidade da terra nas

áreas ameaçadas de desmatamento.

R$-

R$500.000.000

R$1.000.000.000

R$1.500.000.000

R$2.000.000.000

R$2.500.000.000

R$3.000.000.000

R$3.500.000.000

R$4.000.000.000

ha 5.000.000 ha 10.000.000 ha 15.000.000 ha

Cu

sto

to

tal d

e co

nse

rvaç

ão

Área de conservação

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302

Figura 63: Curva de Oferta de Conservação Utilizando Índice de

Espécies Animais Ameaçadas Observadas pela Área de Remanescentes

Florestais

Fonte: Elaboração própria com base em dados do ICMBio.

Os resultados da Figura 63 são semelhantes: com R$ 1 bilhão de reais anuais,

seria possível evitar o desmatamento em cerca de 4,8 milhões de hectares das áreas

definidas como mais relevantes para a biodiversidade.

Como conclusão, percebe-se que os Índices de Espécies Animais Ameaçadas

Observadas por área total do município e por remanescente florestal não apresentaram

significativa correlação com os custos de oportunidade da terra, de modo que a curva se

mantém aproximadamente linear, principalmente no índice que utiliza a área total do

município.

Ou seja, não se pode estabelecer a priori uma associação entre áreas mais

relevantes para a conservação e o custo de oportunidade da terra: existem áreas

prioritárias para conservação tanto em regiões de alta produtividade agrícola quanto

baixa. Isso indica que o custo de implementação de ações para a conservação da

biodiversidade, medido em unidades territoriais (hectares conservados), irá variar

consideravelmente de acordo com os custos de oportunidade de cada bioma: na

Amazônia e Caatinga esses custos tendem a ser bem mais baixos que em Mata Atlântica

e boa parte do Cerrrado.

R$-

R$500.000.000,00

R$1.000.000.000,00

R$1.500.000.000,00

R$2.000.000.000,00

R$2.500.000.000,00

R$3.000.000.000,00

R$3.500.000.000,00

R$4.000.000.000,00

ha 5.000.000 ha 10.000.000 ha 15.000.000 ha

Cu

sto

to

tal d

e co

nse

rvaç

ão

Área de conservação

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IEI-18958

303

APÊNDICE C: FONTES DE FINANCIAMENTO PARA PSA

O objetivo deste capítulo é discutir as possíveis fontes de financiamento para

Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Brasil, identificando diferentes

possibilidades de origem dos recursos e dimensionando o potencial de arrecadação

associado.

Essa análise é construída a partir das experiências concretas que vêm ocorrendo

a nível subnacional. Assim, em primeiro lugar, foram identificados os Estados que

atualmente possuem leis que versam sobre PSA. Essas leis foram analisadas e

equiparadas, com vistas a conhecer, principalmente, as fontes de financiamento

apontadas. Em segundo lugar, foram identificados os Estados onde essas leis engendram

projetos de PSA. Cada um dos projetos foi pesquisado e todos foram comparados. A

comparação desses projetos buscou dimensionar os recursos aplicados em cada estado e

os benefícios estabelecidos, destacando aqueles que estão sendo mais bem sucedidos em

captar recursos e desenvolver ações de PSA.

Com essa análise foi possível vislumbrar as principais fontes de financiamento

para Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Brasil, sendo que a partir da

experiência mais promissora foi realizado um exercício de simulação dimensionando o

potencial de arrecadação nacional, para o caso de sua utilização.

1.5. Levantamento da Legislação estadual

Para a elaboração do levantamento das possíveis fontes de financiamento para o

PSA, primeiramente, foram analisadas leis e decretos estaduais que versam sobre

serviços ambientais. Desta forma, foram realizadas buscas nos sítios eletrônicos das

assembleias estaduais, a partir das seguintes palavras-chaves: meio ambiente; serviços

ambientais; carbono; recursos hídricos; água; mudanças climáticas; biodiversidade;

compensação ambiental; incentivos ambientais.

Nessa busca, foram encontradas e analisadas 105 (cento e cinco) leis e decretos

estaduais, sendo identificadas 15 (quinze) que versavam especificamente sobre a

instituição de políticas e programas de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Elas

foram promulgadas no Acre, Amazonas, Bahia, Paraíba, Espírito Santo, Minas Gerais,

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IEI-18958

304

São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraná. O mapa 70 aponta os Estados que

atualmente possuem leis de PSA no Brasil.

Mapa 70: Leis Estaduais já promulgadas no Brasil, 2015.

Fonte: Elaboração própria.

O Mapa 70 ressalta que o primeiro Estado a promulgar uma lei de PSA no país

foi o Amazonas em 2007, seguido pelo Acre e Espírito Santo que em 2008 aprovaram

suas leis. Os Estados que aprovaram suas leis recentemente e ainda não tiveram

programas ou projetos associados a elas são Bahia (Lei 13.223/2015), Paraíba (Lei

10.165/2013), e Paraná (Lei 17.134/2012). Em adição, é importante destacar que o

Estado do Espírito Santo aprovou sua lei de PSA em 2008 (Lei 8.995), contudo, devido

ao fato dos gestores estaduais considerarem esta legislação restritiva, em 2012 foi

reformulada e promulgada uma nova norma, a Lei 9.864/2012. A mesma situação vem

ocorrendo atualmente com Santa Catarina. O Programa Estadual de Pagamento por

serviços ambientais foi instituído pela Lei 14.675 de 2009, a sua regulamentação, bem

como a instituição da nova Política Estadual de Pagamento por serviços ambientais

ocorreu em 2013. Contudo, em conversa telefônica com Jaqueline Isabel de Souza,

Gerente de Projetos e Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável, da

Page 305: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

305

Secretaria do Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado38

, obteve-se a

informação de que estão sendo elaboradas novas mudanças na lei para adequá-la às

necessidades dos projetos em andamento.

As leis e decretos sobre PSA foram analisados com vistas a identificar

informações sobre o tipo de serviço ambiental proposto; o mecanismo de execução do

PSA; os agentes envolvidos; os órgãos reguladores e fiscalizadores; as fontes

financiadoras dos projetos; a aplicação dos recursos e, caso especificasse, o montante

total por projeto. A tabela 63 busca apresentar tais informações de maneira resumida:

38

Jaqueline Isabel de Souza, Gerente de Projetos e Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Sustentável,

da Secretaria do Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado de Santa Catarina, entrevista por

telefone em 01 de outubro de 2015.

Page 306: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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306

Tabela 63: Conteúdo da legislação Estadual de PSA no Brasil, resumido, 2015. Estados e

Legislações

Disposições Serviço Ambiental Agentes Envolvidos Fonte financiadora Aplicação dos

Recursos

Dimensão

Acre - Lei nº 2.308

de 22 de outubro de

2010

Cria o Sistema

Estadual de

Incentivos a Serviços

Ambientais - SISA, o

Programa de

Incentivos por

Serviços Ambientais -

ISA Carbono e

demais Programas de

Serviços Ambientais

e Produtos

Ecossistêmicos do

Estado do Acre e dá

outras providências.

Proteção do meio

ambiente, defesa do

solo, conservação das

águas, conservação

da beleza cênica,

controle da poluição,

redução de emissões

de gases de efeito

estufa por

desmatamento e

degradação florestal.

(art. 1º)

Poder público

estadual, agentes

privados nacionais ou

internacionais

(doações/

investimento), a

sociedade civil,

através da

participação em

Conselho/ Comitê/

Comissão Estadual, e

beneficiários não

especificados. (art. 2,

parágrafo único; art.

4º, 11º e 18º)

Fundo Estadual de

Florestas; Fundo Especial

de Meio Ambiente;

fundos públicos

nacionais; incentivos

econômicos; recursos de

acordos bilaterais ou

multilaterais sobre o

clima; doações públicas

ou privadas; recursos

orçamentários; recursos

de comercialização de

créditos sobre serviços e

produtos ambientais;

investimentos privados e

outros. (art. 18º)

Não específica Beneficiários não

especificados,

podendo ser qualquer

pessoa que promova

ações legítimas de

preservação,

conservação,

recuperação e uso

sustentável de

recursos naturais,

adequadas e

convergentes com as

leis estaduais

vigentes.

(art. 4º)

Acre - Lei nº 2.025

de 20 de outubro de

2008

Cria o Programa

Estadual de

Certificação de

Unidades Produtivas

Familiares do Estado

do Acre.

Mitigação e

adaptação às

mudanças climáticas

e a consequente

redução de emissões

de gases poluentes; o

uso sustentável e

adequado dos

recursos; e a geração

de renda por meio de

produção sustentável.

(art. 2º)

Poder Público

Estadual e

beneficiários

estabelecidos.

Fundo Estadual de

Florestas e recursos do

estado para utilização de

serviços e programas do

governo voltado à

produção sustentável.

(art. 4º)

Os produtores rurais

familiares que

aderirem

voluntariamente ao

programa estarão

aptos a receber

recurso financeiro

como pagamento

anual por serviços

ambientais e

incentivo para adoção

de práticas produtivas

sustentáveis, cujo

valor será

estabelecido no

regulamento do

programa; serviços

O projeto tem o

objetivo de

estabelecer um

processo voluntário

de certificação

socioambiental de

unidades produtivas

rurais familiares,

oportunizando sua

inclusão social,

econômica, a garantia

do uso sustentável

dos recursos naturais

e a gestão adequada

do território.

(art. 1º)

Page 307: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

307

de governo voltados à

produção sustentável;

inserção em linhas de

financiamento,

crédito e fomento

oficiais; e outros.

(art. 3º)

Amazonas - Lei nº

3.135 de 05 de junho

de 2007 e Lei n.º

3.184, de 13 de

novembro de 2007

Institui a Política

Estadual sobre

Mudanças Climáticas,

Conservação

Ambiental e

Desenvolvimento

Sustentável do

Amazonas, e

estabelece outras

providências.

Conservação dos

recursos naturais pela

manutenção das

florestas, serviços de

armazenamento de

estoques e sequestro

de carbono e

conservação do solo.

Poder Público

Estadual, entidades

públicas e privadas,

Doações públicas e

privadas a serem

gerenciados por uma

Fundação Privada de

utilidade pública estadual

e federal (Portaria MJ nº

3.098 de 26/09/2013) que

possua em seu Conselho

Deliberativo entre 20% e

40% de membros natos

representantes do Poder

Público.

Não específica. Foram criados alguns

programas, dentre

estes, o

Programa Bolsa

Floresta, com o

objetivo de instituir o

pagamento por

serviços e produtos

ambientais às

comunidades

tradicionais pelo uso

sustentável dos

recursos naturais,

conservação, proteção

ambiental e incentivo

às políticas

voluntárias de

redução de

desmatamento.

(art. 5, II)

Amazonas - Decreto

n.º 26.958 de 04 de

setembro de 2007

Institui o Programa

bolsa Floresta do

Governo do Estado

do Amazonas, na

forma que especifica,

e da outras

providências.

Concessão de

benefícios aos

residentes de

Unidades de

Conservação Estadual

com finalidade de

incentivar a

conservação dos

Poder Público

Estadual,

beneficiários

estabelecidos.

Não específica. Não específica. Beneficiários

especificados, ser (i)

morador (a) de

Unidade de

Conservação

estadual, com pelo

menos dois anos de

residência

Page 308: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

308

recursos naturais

através da

manutenção das

Florestas.

(art. 1º)

comprovada; (ii)

possuir Registro

Geral e Cadastro

nacional de Pessoa

Física regularizados;

(iii) tendo filhos em

idade escolar, mantê-

los matriculados e

frequentando a

escola, desde que

existam escolas na

localidade; (iv)

participar, antes da

concessão de

beneficio, da oficina

de formação sobre o

programa Bolsa

Floresta, ministrada

pela equipe da

Secretaria de Estado

do Meio Ambiente e

Desenvolvimento

Sustentável – SDS.

(art. 2º)

Bahia - Lei nº 13.223 de 12 de janeiro de

2015

Institui a Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais, o Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais e dá outras providências.

Ações ou atividades humanas de natureza voluntária que resultem na manutenção, preservação, conservação, recuperação, recuperação, uso sustentável ou melhoria dos ecossistemas e dos serviços

Poder Público Estadual e Municipal, beneficiários estabelecidos, e representantes dos Povos e Comunidades Tradicionais e agricultores familiares e empreendedores familiares rurais, do setor industrial ou comercial, do setor

Subcontas especiais de pagamento por serviços ambientais no Fundo de Recursos para o Meio Ambiente - FERFA e no Fundo Estadual de Recursos Hídricos da Bahia - FERHBAais, que têm por finalidade financiar as ações do Programa instituído na lei. (art. 28º)

A Secretaria do Meio Ambienta (SEMA) irá elaborar metodologia para a valoração econômica e também as fórmulas de cálculo dos valores monetários a serem pagos pelo Estado aos beneficiários do Programa, conforme definido em

O Programa instituído (PEPSA) é direcionado especialmente aos Povos e Comunidades Tradicionais e agricultores familiares e empreendedores familiares rurais que prestam serviços ambientais, visando fornecer serviços

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IEI-18958

309

ecossistêmicos que estes fornecem. (art. 2º, XVII)

agrosilvopastoril, de ONG, da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. - EBDA, por meio da participação no Conselho Deliberativo do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais - CD/PEPSA. (art.22º)

Regulamento. (art. 12º)

ecossistêmicos. (art. 15º, § 1º)

Paraíba - Lei nº 10.165 de 25 de

novembro de 2013.

Dispõe sobre a Política Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais, autoriza instituir o Fundo Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais, e dá outras providências.

Benefícios relevantes para a sociedade gerados pelos ecossistemas, em termos de manutenção, recuperação ou melhoramento das condições ambientais, nas modalidades de serviço de provisão, suporte e regulação, como por exemplo: sequestro de carbono, a manutenção do equilíbrio do ciclo hidrológico, o controle dos processos críticos de erosão e de deslizamentos de encostas, dentre outros que concorram para a manutenção da estabilidade dos processos

Gestão Compartilhada- Poder Público Estadual, sociedade civil -, por meio da Comissão Estadual da Política de Pagamentos por Serviços Ambientais – CEPSA; beneficiários estabelecidos.

Fundo Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais – FunPSA. (art. 11º)

Compete à CEPSA a definição dos valores a serem pagos aos beneficiados, considerando-se a importância do serviço ambiental prestado, a extensão da área, a condição socioeconômica do beneficiado, dentre outros critérios. (art. 5º - §4º, III)

Instrumento de promoção do desenvolvimento social, econômico e cultural das populações tradicionais, dos povos indígenas e dos agricultores familiares. (art. 4º - Inciso II)

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IEI-18958

310

ecossistêmicos. (art. 2º - Inciso II)

Espírito Santo - Lei nº 8.995 de 23 de setembro de 2008.

Lei n. 9.864 de 26 de junho de 2012

Institui o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais - PSA e dá outras providências.

Conservação e melhoria dos recursos hídricos, redução dos processos erosivos, conservação e incremento da biodiversidade, fixação e sequestro de carbono. (art. 3º)

Poder público estadual, agentes privados nacionais ou internacionais (doações/ financiamentos) e beneficiários especificados.

Fundo Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo - FUNDÁGUA; doações públicas ou privadas; agentes financiadores nacionais e internacionais; dentre outros. (art. 9º)

Valor máximo para pagamento será de 3.200 (três mil e duzentos) Valores de Referência do Tesouro Estadual - VRTEs. por hectare por ano, relativo aos serviços prestados. (art. 4º)

Proprietário de área rural é o beneficiário da lei, sendo que esta considera também por equiparação o arrendatário ou detentor do domínio legal de propriedade rural, a qualquer título. (art. 2º)

Minas Gerais - Lei nº 20.922 de 16 de outubro de 2013

Dispõe sobre as políticas florestal e de proteção à biodiversidade no Estado.

São estratégias que efetivem a conservação da biodiversidade. (art. 5º, XI)

Poder Público Estadual, órgão ambiental competente, beneficiário especificado.

Do valor arrecadado com a aplicação de penalidades administrativas, 50% serão aplicados no PSA, conforme estabelecido no inciso VII do art. 5º da Lei nº 17.727, que dispõe sobre o Bolsa Verde. Os recursos para a concessão do benefício do Bolsa Verde serão de consignação na Lei Orçamentária Anual; de 10% (dez por cento) dos recursos do fundo “FHIDRO”; da conta Recursos Especiais a Aplicar; da compensação pela utilização dos recursos naturais; de convênios celebrados pelo Poder Executivo com agências de bacias hidrográficas e com órgãos e entidades da União e dos Municípios;

Alei não versa sobre a aplicação dos recursos, assim destacamos os arts. 2º e 7º do Decreto 45.113/09 que versa sobre a Bolsa Verde. Com base nos dispositivos legais citados, será obedecida uma gradação de valores dos benefícios pecuniários, de acordo com níveis da área de adequação (propriedade rural) a critérios de regularização de RL e de APP. Dependendo da área, o valor será pago em auxílio financeiro a pessoas físicas, calculado de forma proporcional às dimensões da Área Protegida.

O Estado poderá realizar pagamento por serviços ambientais ao proprietário ou possuidor rural em Unidade de Conservação que adote voluntariamente medidas de redução dos impactos ambientais de suas atividades. (art. 45, § 4º)

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IEI-18958

311

de doações ou contribuições, públicas ou privadas; de 50% dos recursos arrecadados com a cobrança de multa administrativa por infração ambiental; dentre recursos de outras origens.

Rio de Janeiro -

Decreto nº 42.029 de 15 de Junho de 2011

Regulamenta o Programa Estadual de Conservação e Revitalização de Recursos Hídricos - PROHIDRO, previsto nos artigos 5º e 11 da lei nº 3.239, de 02 de agosto de 1999, que instituiu a política estadual de recursos hídricos, e dá outras providências.

Conservação e recuperação da qualidade e da disponibilidade das águas, da biodiversidade, das faixas marginais de proteção - FMP; sequestro de carbono originado de reflorestamento das matas ciliares, nascentes e olhos d’água para fins de minimização dos efeitos das mudanças climáticas globais. (art. 2º).

Poder Público Estadual, agentes privados nacionais ou internacionais (doações/ transferências) beneficiários especificados.

Fundo Estadual de Recursos Hídricos - FUNDRHI; doações e transferências, públicas ou privadas; de remunerações oriundas de projetos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL; recursos provenientes do Fundo Estadual de Conservação Ambiental - FECAM, mediante a apresentação de projetos específicos; e de quaisquer outras receitas, eventuais ou permanentes, vinculadas aos objetivos do Programa Estadual de PSA - PROPSA. (art. 6º)

Não específica.

Todas as práticas e iniciativas prestadas por possuidores, a qualquer título, de área rural situada no Estado do Rio de Janeiro, que favoreçam a conservação, manutenção, ampliação ou a recuperação de benefícios propiciados aos ecossistemas. (art. 2, caput)

São Paulo - Decreto nº 55.947 de 24 de Junho de 2010

Regulamenta a Lei nº 13.798, de 09 de novembro de 2009, que dispõe sobre a Política Estadual de Mudanças Climáticas - PEMC.

Conservação de remanescentes florestais; recuperação de matas ciliares e implantação de vegetação nativa para a proteção de nascentes; plantio de

Gestão pública compartilhada coordenada pela Secretaria do Meio Ambiente (art° 62), com apoio do Comando de Policiamento

Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição - FECOP. (art. 64º)

Os valores a serem pagos aos provedores de serviços ambientais deverão ser proporcionais aos serviços prestados considerando a extensão e

Não específica.

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312

mudas de espécies nativas e/ou execução de práticas que favoreçam a regeneração natural para a formação de corredores de biodiversidade; dentre outras medidas. (art. 63º, § 1°, 1)

Ambiental, da Polícia Militar, da Secretaria da Segurança Pública, e da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB),da Fundação Florestal, da Secretaria da Segurança Pública, e da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (art° 53), beneficiários não especificados.

características da área envolvida, os custos de oportunidade e as ações efetivamente realizadas, não podendo exceder a 100 UFESP’s por hectare por ano e 5.000 UFESP’s por participante por ano. (art. 65).

São Paulo - Lei Nº 15.684 de 14 de Janeiro de 2015

Dispõe sobre o Programa de Regularização Ambiental - PRA das propriedades e imóveis rurais, criado pela Lei Federal nº 12.651, de 2012 e sobre a aplicação da Lei Complementar Federal nº 140, de 2011, no âmbito do Estado de São Paulo.

Objetivo incentivar a recomposição florestal, a proteção dos mananciais no Estado e a compensação preferencial no Estado de São Paulo, na forma a ser definida em regulamento, sendo o mesmo uma ação integrante do Programa de Regularização Ambiental - PRA, devendo perseguir os mesmos objetivos. (art. 39, caput e § 1º).

Poder Público Estadual e beneficiários especificados

Fundos públicos e receitas próprias da Fazenda do Estado. (Art. 39, § 4º).

Não específica. Deverá atender preferencialmente aos proprietários e possuidores de imóveis rurais que (i) se enquadrarem na categoria de agricultores familiares ou de empreendimentos familiares rurais, (Lei Federal n° 11.326/ 2006); (ii) tenham área inferior a 04 (quatro) módulos fiscais; (iii) estejam localizados próximos a regiões de mananciais ou rios cuja capacidade hídrica seja utilizada para abastecimento

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313

público. (art. 39, § 3º)

Paraná - Lei Nº 17.134 de 25 de abril

de 2012

Institui o Pagamento por Serviços Ambientais, em especial os prestados pela Conservação da Biodiversidade, integrante do Programa Bioclima Paraná, bem como dispõe sobre o Biocrédito.

São serviços ambientais as funções prestadas pelos ecossistemas naturais conservados, imprescindíveis para a manutenção das condições ambientais adequadas à sadia qualidade de vida, funções estas que podem ser restabelecidas, recuperadas, restauradas, mantidas e melhoradas pelos proprietários ou posseiros. (art. 2º, I)

Poder Público Estadual, ficando facultada a parceria com entidades do Terceiro Setor, sem fins lucrativos, por instituições públicas ou privadas, nacionais ou internacionais, individualmente ou consorciadas, respeitadas a legislação e a regulamentação desta Lei, e beneficiários estabelecidos.

Fundo Estadual do Meio Ambiente – FEMA; Fundo Estadual de Recursos Hídricos – FERH/PR;BIOCRÉDITO (conjunto dos recursos financeiros, públicos e privados destinados à implementação da Política Estadual da Biodiversidade e da Política Estadual sobre a Mudança do Clima, constituindo um dos seus mecanismos de PSA). (art. 11º, art. 14º).

Os critérios para estabelecer o valor do Pagamento por Serviços Ambientais – PSA serão quali-quantitativos, baseados no tamanho do imóvel e da área de cobertura vegetal nativa conservada, na qualidade biótica do remanescente preservado e na região fitogeográfica onde estiver inserido. (art. 9º)

São benefícios os proprietários e posseiros de imóveis rurais que mantenham as áreas de preservação permanente e as de reserva legal devidamente conservadas e averbadas na matrícula do imóvel, devidamente inscritas no SISLEG – Sistema Estadual de Manutenção, Recuperação e Proteção da Reserva Legal e das Áreas de Preservação Permanente. (art. 5º)

Santa Catarina - Lei nº 15.133 de 19 de

Janeiro de 2010

Institui a Política Estadual de Serviços Ambientais e regulamenta o Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais no Estado de Santa Catarina, instituído pela Lei nº 14.675, de 2009, e estabelece outras providências.

Atividades humanas de preservação, conservação, manutenção, proteção, restabelecimento, recuperação e melhoria dos ecossistemas que geram serviços ambientais. (art. 6º).

Gestão Compartilhada, através do Comitê Gestor do Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais, composto por representantes de instituições e empresas públicas do Estado de Santa Catarina e da sociedade civil organizada (art. 19), e

Fundo Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais - FEPSA, de natureza contábil, com a finalidade de financiar as ações do PEPSA, dentro dos critérios estabelecidos nesta Lei e em seu regulamento. (art. 13º)

Os pagamentos dos projetos serão feitos respeitando os grupos prioritários, sendo: (i) classe I - 100% do Valor da Unidade de Referência; (ii) Classe II - 50% do Valor da Unidade de Referência; (iii) Classe III - 20% do Valor da Unidade de Referência. A Unidade de Referência adotada

Cada subprograma da lei prevê beneficiários diferentes, como: residentes no interior de Unidades de Conservação de uso sustentável e de proteção integral, físicas ou jurídicas proprietárias de Reservas Particulares do Patrimônio Natural, agricultores familiares, comunidades

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314

beneficiários especificados.

corresponderá ao valor pecuniário equivalente a 30 sacas de milho para cada hectare/ano da propriedade, fixado conforme avaliação de preço mínimo estabelecido pela Política de Garantia de Preços Mínimos - PGPM, do Governo Federal. (art. 8, § 3º, 4º, 5º, 6º e 7º)

tradicionais, povos indígenas e assentados de reforma agrária ou ocupantes de áreas situadas em bacias ou sub-bacias hidrográficas. (art. 10º, 11º e 12º).

Santa Catarina - Lei nº 14.675 de 13 de

abril de 2009

Institui o Código Estadual do Meio Ambiente e estabelece outras providências.

São serviços ambientais as funções imprescindíveis desempenhadas pelos ecossistemas naturais e úteis ao homem, tais como a proteção de solos, regulação do regime hídrico, controle de gases poluentes e/ou de efeito estufa, conservação da biodiversidade e belezas cênicas; (art. 28)

Poder Público Estadual e Municipal e sociedade civil.

Fundo de Compensação Ambiental e Desenvolvimento - FCDA. (art. 27) No caso do PSA existe o fundo especifico citado na análise da lei 15.133/10- o FEPSA.

Não específica. A regulamentação do pagamento de serviços ambientais a que se refere esta Lei será realizada por meio de lei específica a ser elaborada. (art. 288)

Fonte: Elaboração Própria.

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315

Os serviços ambientais mais mencionados nas legislações analisadas são a

regulação do regime hídrico, o controle de gases poluentes e/ou de efeito estufa,

conservação da biodiversidade e a redução dos processos erosivos, com a conservação

do meio ambiente. Alguns estados ainda citam itens específicos, como, a geração de

renda por meio de produção sustentável (Acre – Lei nº 2.025/08), o fomento à utilização

de sistemas agroflorestais (Minas Gerais – Lei 20.922/ 13) e conservação e recuperação

das faixas marginais de proteção (Rio de Janeiro – Decreto 42.029/11). Todas apontam

que os provedores dos serviços ambientais serão beneficiados com incentivos,

financeiros ou não e que poderão ser desenvolvidos programas cuja adesão é voluntária.

Dentre os agentes envolvidos, além dos beneficiários estabelecidos, é absoluta a

presença do poder público estadual. Está prevista também a participação da sociedade

civil através de conselhos e comissões, com a função de regulação e fiscalização, nos

seguintes estados: Acre - Lei 2.038/10, Bahia – Lei 13.223/15, Paraíba – Lei 10.165/13,

Santa Catarina Leis 15.133/10 e 14675/09. É notória a presença da Secretaria Estadual

de Meio Ambiente (SEMA) como órgão estadual regulador e fiscalizador, em todas as

legislações estaduais analisadas. Além disso, Espírito Santo (Lei 8.995/08), Rio de

Janeiro (Decreto 42.029/11) e Acre (Lei 2.308/10) mencionam a participação de agentes

privados nacionais ou internacionais no que diz respeito a doações e/ou investimentos.

No que se refere aos beneficiários observa-se que a maioria dos programas

estaduais prioriza os agricultores familiares. Os únicos estados que não têm em sua

legislação sobre PSA alguma alusão a essa categoria são Espirito Santo, Rio de Janeiro

e Paraná. Essa situação parece indicar que os objetivos das legislações subnacionais vão

além da preservação ambiental. Também possuem um enfoque socioeconômico que

busca favorecer os pequenos produtores com os incentivos financeiros e não financeiros

engendrados pelo fornecimento dos serviços ambientais. Acredita-se que esta escolha

política seja benéfica, pois se propõe a minimizar dois problemas enfrentados no país, a

pobreza e a degradação do meio ambiente, sendo mais fácil reduzir as resistências aos

programas que se propõem a realizar o pagamento pelos serviços ambientais. Por outro

lado, dado que os agricultores familiares são aqueles que não detêm área maior do que 4

(quatro) módulos fiscais39

(Lei Nº 11.326/ 2006) acredita-se que o alcance desses

programas seja reduzido, promovendo a preservação ou recuperação ambiental em uma

pequena porcentagem das áreas rurais. De qualquer maneira, essa resolução das

39

Os módulos Fiscais são unidades de medida de área (expressas em hectares), fixadas diferentemente

para cada município no Brasil, tendo em conta as particularidades locais (Art. 50, Lei 6746/79).

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316

legislações estaduais segue uma tendência nacional. A lei Nº 12.651/ 201240

em seu art.

41, parágrafo III, § 7o define que o pagamento ou incentivo a serviços ambientais serão

prioritariamente destinados aos agricultores familiares. A esse despeito alguns estados

ainda mencionam em suas legislações os povos indígenas e as populações tradicionais

(Bahia, Paraíba e Santa Catarina), frisando sempre que os beneficiários dos programas

devem promover ações legítimas de preservação, conservação, recuperação e uso

sustentável de recursos naturais.

Deve-se destacar ainda o fato de que todas as legislações Estaduais de PSA são

voltadas para as áreas rurais, sendo que quatro estados engendram a possibilidade

desses programas também serem implementados em áreas urbanas: Bahia, Paraíba,

Paraná e Minas Gerais. Até o momento, porém, apenas Minas Gerais chegou a

implementar um programa de PSA (Bolsa Verde) voltado especificamente para os

agricultores familiares (como será apresentado à frente), os outros três Estados ainda

não efetivaram nenhum projeto relacionado ao pagamento pelos serviços ambientais.

Acredita-se que a possibilidade de implementação de programas de PSA em

áreas urbanas deve ser exaltada, pois projetos de reciclagem de resíduos sólidos, de

energia limpa, de proteção de matas ciliares, hortas urbanas, entre outros, podem

contribuir para a qualidade de vida, ao mesmo tempo que favorecem o meio ambiente.

Os estados que possuem leis sobre PSA regulamentam de forma distinta os tipos

de recursos que financiam os seus programas, sendo que apenas os Estados de Santa

Catarina41

e Paraíba42

possuem fundos específicos para PSA. Já os Estados do Acre,

Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Paraná

utilizam outros fundos para o financiamento de programas e projetos de PSA.

O Amazonas, em sua primeira legislação (Lei nº 3.135 de 05 de junho de 2007)

criou o Fundo Estadual de Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e

Desenvolvimento Sustentável, a ser alimentado por diferentes fontes. Entretanto, quatro

meses após sua criação, a Lei n.º 3.184 de 2007, extingue o fundo e estabelece que uma

fundação privada de utilidade pública federal e estadual (a Fundação Amazonas

Sustentável – FAZ) seria responsável por gerenciar os programas engendrados pela

Política Estadual sobre Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e

40

LEI Nº 12.651, de 25 de maio de 2012, Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa, entre outras

disposições, também é chamada de Código Florestal. 41

Lei Nº 15.133 de 19 de Janeiro de 2010. 42

Lei Nº 10.165 de 25 de novembro de 2013.

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317

Desenvolvimento Sustentável do Amazonas e seus recursos. A tabela 64 apresenta os

fundos apontados pelas legislações estaduais de PSA.

Tabela 64: Fundos mencionados nas legislações estaduais de PSA,

2015

Estado/ Legislação Fundo Legislações do Fundo

(Estaduais)

Acre - Lei nº 2.308 de 22 de

outubro de 2010

Fundo Estadual de Florestas;

Fundo Especial de Meio

Ambiente

Fundo Estadual de Florestas -Lei

Nº 1.426 de 27 de dezembro de

2001; Fundo Especial de Meio

Ambiente - Lei nº 1.117 de 26 de

janeiro de 1994

Acre - Lei nº 2.025 de 20 de

outubro de 2008

Fundo Estadual de Florestas Lei Nº 1.426 de 27 de dezembro

de 2001.

Bahia - Lei nº 13.223 de 12 de

janeiro de 2015

Fundo de Recursos para o Meio

Ambiente - FERFA e Fundo

Estadual de Recursos Hídricos da

Bahia – FERHBA

FERFA - Lei nº 10431/2006 e

Decretos 11.235/2008 e

12.353/2010; FERHBA -

Regulamentado pelo Decreto

12.024/2010.

Paraíba - Lei nº 10.165 de 25 de

novembro de 2013.

Fundo Estadual de Pagamento

por Serviços Ambientais –

FunPSA

Lei Nº 10.165 de 25 de

novembro de 2013.

Espírito Santo - Lei nº 8.995 de

23 de setembro de 2008 (Decreto

2168-R/08 e Lei 9.607/10)

Fundo Estadual de Recursos

Hídricos do Espírito Santo –

FUNDÁGUA

Lei Nº 9.866 de 27 de junho de

2012; Decreto Nº 2.167 de 9 de

dezembro de 2008; Lei Nº 8.960

de 21 de julho de 2008.

Minas Gerais - Lei nº 20.922 de

16 de outubro de 2013 (Lei nº

17.727/08; Decreto nº 45.113/09)

Fundo de Recuperação, Proteção

Ambiental e Desenvolvimento

Sustentável das Bacias

Hidrográficas do Estado de

Minas Gerais – FHIDRO.

Lei nº 15.910, de 21 de

dezembro de 2005. Lei nº

13.194, de 29 de janeiro de 1999.

Rio de Janeiro - Decreto nº

42.029 de 15 de junho de 2011

(Lei nº 3.239/99)

Fundo Estadual de Recursos

Hídricos - FUNDRHI; Fundo

Estadual de Conservação

Ambiental - FECAM

FUNDRHI - Lei estadual N°

3.239/1999 e Decreto

N°35.724/2004; FECAM - Lei

Nº 1.060/1986 e Lei Nº

4143/2003.

São Paulo - Decreto nº 55.947 de

24 de junho de 2010

Fundo Estadual de Prevenção e

Controle da Poluição - FECOP

Lei Nº 11.160 de 18 de junho de

2002.

Santa Catarina - Lei nº 15.133 de

19 de janeiro de 2010

Fundo Estadual de Pagamento

por Serviços Ambientais –

FEPSA e Fundo Especial do

Petróleo (Lei federal nº 7.990).

Lei Nº 15.133 de 19 de janeiro

de 2010.

Santa Catarina - Lei nº 14.675 de

13 de abril de 2009

Fundo de Compensação

Ambiental e Desenvolvimento -

FCDA

Lei nº 14.675 de 13 de abril de

2009

Paraná Lei Nº 17.134 de 25 de

abril de 2012 (Lei 17.133/12 e

Decreto Nº 4.381/12)

Fundo Estadual de Recursos

Hídricos – FRHI/PR

Lei Nº 12.726 de 26 de

novembro de 1999.

Fonte: Elaboração Própria.

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318

Esses fundos seriam alimentados por diferentes fontes de recursos, todos

mencionados nas leis, tais como43

: recursos orçamentários do Estado e doações (esses

dois primeiros indicados com maior frequência nas legislações); multas por infração de

legislação ambiental; cobrança pelo uso da água; recursos decorrentes de acordos,

contratos, convênios não especificados; Taxa de Fiscalização Ambiental; recursos

provenientes dos royalties de petróleo; compensação pela utilização dos recursos

naturais44

; recursos de acordos bilaterais ou multilaterais; investimentos privados;

rendimentos de aplicação financeira45

; créditos de carbono; recursos provenientes de

controle de poluição veicular; empréstimos46

; recursos oriundos de pagamentos por

produtos, serviços ambientais; receitas das unidades de conservação47

; dentre outros

tipos de fontes não especificadas. A tabela 65 abaixo aponta as principais fontes de

financiamento definidas nas legislações estaduais de PSA.

Tabela 65: Fontes de financiamento apontadas nas legislações

estaduais que mencionam o PSA, Brasil, 2015

TIPOS DE RECURSOS AC AM ES MG RJ SC SP BA PB PR TOTAL

Recursos orçamentários do Estado X X X X X X X X X X 10

Doações/ transferências

(PF/PJ; Nac./ Int.) X X X X X X X X X X 10

Multas por Infração X X X X X X X

X 8

Cobrança pelo Uso da Água

X

X

X

X 4

Recursos de Acordos Bilaterais ou

Multilaterais X X X X X X X X X X 10

Taxa de Fiscalização Ambiental

X

X

2

Oriundos de projetos no âmbito do

MDL X

X

2

Royalties do Petróleo/Gás Natural

X

X X

3

Outros Tipos de Fontes X X X X X X X X X X 10

Fonte: Elaboração própria.

43

As fontes a seguir são apontadas na tabela 3 como “outros tipos de fontes”. 44

Minas Gerais. 45

Amazonas. 46

Paraíba. 47

Amazonas.

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319

Sobre as fontes de financiamento, é possível destacar que todos os Estados

citados acima preveem como fonte de financiamento de PSA a utilização de recursos

orçamentários do próprio Estado. Essa situação deflagra a expectativa dos legisladores

com o comprometimento do poder executivo nas ações de preservação e recuperação do

meio ambiente. Contudo, no Brasil é possível verificar que o poder público federal vem

reduzindo frequentemente as dotações orçamentárias para a pasta. Young et al. (2012)

mostra que a alocação do orçamento público para a preservação ambiental não tem

aumentado ao longo do tempo no período de 2002-2010, e há uma grande variação entre

os estados. Além disso, a atual crise econômica piorou as condições fiscais

governamentais, e a hipótese de novos orçamentos Estatais destinados aos projetos

ambientais parece muito otimista para o futuro próximo.

Outras possíveis fontes de financiamento mencionadas em todas as leis estaduais

analisadas são doações e recursos de acordos bilaterais ou multilaterais. Acredita-se que

seja temerário construir políticas públicas nacionais ou subnacionais de meio ambiente

baseadas na expectativa de financiamento através de doações e transferências. As

doações e transferências podem não ser regulares e frequentes, variando de acordo com

a situação financeira e interesse dos doadores. Caso a política dependa deste tipo de

recursos pode não ter uma continuidade, desperdiçando os esforços empreendidos em

ações que não terão eficiência.

Considera-se ainda relevante apontar três propostas específicas: A cobrança pelo

uso da água; a implementação de recursos provenientes de multas ambientais; e receitas

das unidades de conservação.

A cobrança de uso da água parece ser uma maneira promissora de obter

recursos, ao passo que há uma série de bacias que já estão realizando tal cobrança. Além

disso, há uma identificação direta entre o pagamento e o serviço ambiental o que pode

facilitar a aceitação da cobrança ao consumidor. É possível ainda destacar que está pode

ser uma fonte permanente de captação de recursos para os programas de PSA,

diferentemente de doações, por exemplo, que podem variar devido a vários fatores,

como situação econômica do doador, seus interesses particulares, a possibilidade da

doação se reverter em benefícios publicitários, entre outros.

No caso das multas, há duas dificuldades principais de aceita-las como fonte de

recursos para os programas de pagamentos por serviços ambientais: a primeira de ordem

objetiva (montante arrecadado com as multas) e a segunda de ordem teórica (as multas

devem cair ao longo do tempo). No primeiro caso, o grande problema é o montante das

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320

multas que realmente são pagas no Brasil. Reportagem do Jornal Gazeta do Povo afirma

que entre janeiro de 2005 e outubro 2009, 99,4% das multas aplicadas pelo Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) não foram

pagas48

. O trabalho de Souza e Lopes (2015) vem reforçar essa condição, mostrando

que menos de 2% das multas ambientais são pagas no Brasil.

No segundo caso, o problema é conceitual: teoricamente, as multas são fruto de

atividades irregulares e responsáveis pelos danos ao meio ambiente. Dessa forma,

acabam sendo um contrassenso a utilização de recursos oriundos de multas ambientais

para financiamento de ações sustentáveis, visto que para que os projetos de PSA possam

ser contínuos irão necessitar de recursos provenientes das multas e, consequentemente,

da ocorrência de irregularidade ambiental ou dano ambiental.

Por outro lado, considerando a existência de uma irregularidade ambiental ou

dano ambiental acaba sendo plausível a conversão dessas receitas em recursos

financeiros para implementar sistemas de PSA. A este exemplo, cabe destacar a

experiência positiva do município de Brumadinho (MG), onde as receitas de multas

ambientais são impostas pelo poder judicial para financiar um sistema PES local para

proteger florestas de galeria (MENDONÇA, 2014).

Essa alternativa de utilização de recursos oriundos de TAC se for replicada no

caso do rompimento da barragem em Mariana (MG) que aconteceu no final de 2015,

por exemplo, haverá disponível um montante considerável de recurso para

financiamento de programas locais de PSA.

As receitas das unidades de conservação poderão ser bem aproveitadas se

destinadas aos projetos de PSA existentes no entorno das próprias Unidades de

conservação. Atualmente essas receitas acabam retornando aos cofres da união e não

necessariamente são destinadas a projetos de preservação. Caso a cobrança da entrada

nas Unidades de conservação fosse destinada aos projetos de PSA, poderia ocorrer uma

maior disposição do visitante a realizar tal pagamento, pois ele vislumbraria sua

contribuição direta para a preservação. Medeiros e Young (2011) mostraram que o

aumento do turismo em áreas protegidas no Brasil teria o potencial de gerar bilhões de

dólares nas economias locais onde estes parques estão estabelecidos.

48

CASTRO, Pedro de. Ibama não recebe 99% das multas. In: Gazeta do Povo. 15/07/2010. Disponível

em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/ibama-nao-recebe-99-das-multas-

44qmwildxgw1bavw9jcy53jny

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321

De qualquer forma, através da análise das leis estaduais que versam sore PSA foi

possível verificar que os Estados possuem várias fontes de financiamento. Isso é muito

promissor, pois quanto mais fontes de financiamento, maior a possibilidade de obter

recursos para garantir os programas. Dentre os Estados analisados, Rio de Janeiro e

Santa Catarina possuem a maior diversidade de fontes de financiamento.

Figura 64: Estado com maior diversidade de fonte de financiamento de

PSA, 2015

Fonte: Elaboração própria.

A maioria das legislações estaduais sobre PSA estudadas apresentam um

conteúdo genérico, deixando ao cargo da regulamentação ou dos projetos engendrados

pelas secretarias estaduais do meio ambiente a responsabilidade por definir as regras

específicas e os montantes de aplicação dos recursos. Entretanto, as leis de Espírito

Santo (Lei n. 9.864/ 2012), São Paulo (Decreto 55.947/ 10) e Santa Catarina (Lei

15.133/ 10), fogem a essa regra. Esses últimos estabelecem na própria legislação

estadual montantes indexados como limites máximos a serem pagos aos beneficiários

por hectare por ano. A legislação de São Paulo define também valores máximos por

participante do programa, impedindo que um mesmo agente acumule vários benefícios.

Os valores indexados pelas legislações Paulista e Capixaba são definidos com base nas

0

2

4

6

8

10

FONTES DEFINANCIAMENTO

DE PSA

AC

AM

ES

MG

RJ

SC

SP

PB

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322

unidades de referência estaduais49

, já aquele estipulado em Santa Catarina tem como

referência o valor pecuniário equivalente a 30 sacas de milho. Nos três casos apontados

os pagamentos serão proporcionais aos serviços prestados, considerando a extensão e

características da área envolvida. Nas leis estaduais de Minas Gerais (Lei 20.922/13) e

Paraná (Lei 17.134/12) são apenas apontados que os valores a serem pagos serão

proporcionais às dimensões das áreas protegidas pelos proprietários rurais.

Para ilustração, a Tabela 66 abaixo aponta quais Estados possuem previsão legal

dos valores a serem pagos aos beneficiários do PSA.

Tabela 66: Análise da legislação estadual: indicação dos valores a

serem pagos aos beneficiários de PSA, 2015

Quantidade Estado

Estados com projetos de

PSA implementados 7

AC (2 projetos); AM; ES;

MG; RJ; SP (2 projetos); SC

Leis que não explicitam

valores a serem pagos 4 AM, MG, RJ, AC

Leis com valor nominal não

indexado 0 0

Leis com valor nominal

indexado 3 ES, SC, SP

Fonte: Elaboração própria a partir da análise das leis estaduais relacionadas ao

PSA.

Dado a diversidade existente no Brasil, que é caracterizado por diferenças

ambientais, sociais, econômicas e culturais muito significativas, acredita-se que seja

adequado o estabelecimento de legislações Estaduais com textos mais genéricos. Com

leis mais abrangentes é possível construir diferentes projetos com vieses, públicos e

áreas prioritárias distintas em um mesmo estado. Por outro lado, quanto mais

abrangentes as leis, maior a dificuldade de fazê-las cumprir. De qualquer maneira,

sugere-se que a futura legislação nacional de pagamentos por serviços ambientais siga a

49

Unidade Fiscal do Estado de São Paulo (UFESP), e Valores de Referência do Tesouro Estadual

(VRTE), no Espirito Santo. Em 2015, 1 UFESP valia R$ 21,25, enquanto que 1 VRTE estava cotada em

R$ 2,6871.

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323

tendência de estabelecer um marco genérico de forma que crie condições para que os

órgãos ambientais instaurem ações de PSA de acordo com interesses específicos,

respeitando as singularidades do local onde os projetos serão implementados. No

entanto, a lei precisa ter salvaguardas e condicionalidades para garantir que

efetivamente seja cumprida.

A abrangência das legislações estaduais fez com que fosse necessário pesquisar

e analisar os projetos até então executados por esses entes federativos. Como

mencionado anteriormente, apenas três dos dez estados que já possuem leis que tratam

de PSA no Brasil não possuem projetos em andamento: Bahia, Paraíba e Paraná. Nesse

último estado, porém, em janeiro de 2015, foi publicada uma resolução da Secretaria

Estadual do Meio Ambiente que estabelece as normas para os projetos de Pagamentos

Por Serviços Ambientais às Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).

Apesar da resolução publicada o projeto ainda não foi iniciado. A perspectiva é que o

primeiro edital do projeto saia em março de 201650

.

Por outro lado, sete estados que já possuem legislações sobre o PSA, possuem

projetos ativos. Para compreender melhor as características dos projetos, cada um deles

foi estudado. Buscou-se enfocar na análise dos projetos, principalmente, o seu

funcionamento, formas de financiamento, beneficiários e a área preservada. Acredita-se

que com essa pesquisa seja possível ter uma melhor dimensão dos recursos aplicados no

PSA em cada estado, dos benefícios estabelecidos e alcance do programa.

1.6.Projetos Estaduais

1.6.1. Acre

O Estado do Acre possui quase 88% do seu território ocupado por vegetação

nativa, sendo que destes 45% são áreas de proteção ambiental, como Unidades de

Conservação (UC), Terras Indígenas (TI), Áreas de Preservação Permanente (APP),

Reservas Legais (RL) e Áreas Militares. Dado que a maior parte do desmatamento

existente no estado (60%) é realizado em áreas de até 10 hectares, principalmente nos

50

Agência de Notícias do Paraná. Governo edita regras para Pagamento Por Serviços Ambientais. Paraná

05/01/2016. Disponível em:

http://www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=87422&tit=Governo-edita-regras-para-

Pagamento-Por-Servicos-Ambientais&ordem=1000. Acessado em fev. 2016.

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IEI-18958

324

municípios mais populosos, devido a tendência à pecuarização e ao uso do fogo como

maneira de “limpar” a área, acredita-se que as políticas de PSA sejam particularmente

interessantes para auxiliar na preservação ambiental (STANTON, 2014).

Assim, em 2008 foi editada a Lei nº 2.025 que cria o Programa Estadual de

Certificação de Unidades Produtivas Familiares do Estado do Acre. Esse foi o primeiro

programa de PSA gerenciado pelo poder público Estadual, apesar da possibilidade desse

instrumento já ser mencionado no seu Zoneamento Ecológico e Econômico (ZEE).

Trata-se de um programa voluntário de certificação que busca incentivar os

proprietários e posseiros de terra a modificar seu sistema de produção, através do

oferecimento de benefícios monetários e não monetários (STANTON, 2014).

Já em 2010, a lei 2.308, foi promulgada, criando o Sistema Estadual de

Incentivos a Serviços Ambientais - SISA, o Programa de Incentivos por Serviços

Ambientais - ISA Carbono e demais Programas de Serviços Ambientais e Produtos

Ecossistêmicos do Estado do Acre. Essa lei construiu um arcabouço institucional

propício para a instauração de uma série de programas visando à redução de emissões

de gases de efeito estufa oriundos de desmatamento, a conservação da

sociobiodiversidade, dos recursos hídricos, da beleza cênica natural, do clima, do solo e

a valorização do conhecimento tradicional ecossistêmico.

Entretanto, atualmente (janeiro de 2016) apenas dois programas foram iniciados:

o programa Estadual de Certificação de Unidades Produtivas Familiares e o Programa

de Incentivo a Serviços Ambientais - Carbono – ISA. O primeiro teve seus participantes

selecionados em 2010, mas devido às mudanças no código Florestal Brasileiro foi

alterado em 2013 pela a lei Estadual N° 2.693. Esse programa é o foco de análise deste

item, pois foi possível encontrar dados satisfatórios que indicassem suas principais

características e resultados. Já o segundo ainda está em fase de implementação, apesar

de ser a grande aposta dos pesquisadores da área, dado as expectativas relacionadas ao

mercado de carbono.

Considerações sobre o PSA no âmbito Estadual

Como mencionado anteriormente, a primeira legislação relacionada aos

pagamentos por serviços ambientais no Acre estava associada ao programa Estadual de

Certificação de Unidades Produtivas Familiares (Lei nº 2.025 de 2008).

Entretanto, apenas a Lei 2.308, de 2010 criou o Sistema Estadual de Incentivos a

Serviços Ambientais – SISA e os Programas de Serviços Ambientais e Produtos

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325

Ecossistêmicos do Estado do Acre. Essa última estabeleceu os princípios do SISA, seus

objetivos e definições.

No Art. 4º desta última lei foi definido que os provedores de serviços ambientais

são aqueles que promovem ações legítimas de preservação, conservação, recuperação e

uso sustentável de recursos naturais. Esses provedores, poderão se habilitar

voluntariamente para serem beneficiários do SISA, sem que a lei mencione o fato do

beneficiário possuir a propriedade da terra.

A lei em questão cria uma série de órgãos e entidades responsáveis pela gestão e

funcionamento dos programas engendrados pelo SISA, dentre eles é possível

mencionar, o Instituto de Regulação, Controle e Registro, supervisionado pela

Secretaria de Estado de Meio Ambiente – SEMA; a Agência de Desenvolvimento de

Serviços Ambientais (criada pelo Decreto Nº 6306 de 2013); um comitê científico; e a

Comissão Estadual de Validação e Acompanhamento51

. De acordo com informações do

website do Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais do

Estado do Acre, o arranjo institucional do SISA ocorre da seguinte forma:

Figura 65: Arranjo Institucional SISA - Acre52

Fonte: Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais, s/d53

.

51

Essa última estabelecida pelo Decreto Estadual 7.208 de 19 de março de 2014. Disponível em:

http://www.imc.ac.gov.br/wps/wcm/connect/bc4b2800441827e5b63bb63e9eaeade9/Estrutura+Organizaci

onal+Ceva+2014_2015.pdf?MOD=AJPERES 52

CEMACT: Conselho Estadual de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia; CFE: Conselho Florestal

Estadual; CEDRFS: Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e Florestal Sustentável; SEMA:

Secretaria de Estado de Meio Ambiente; PGE: Procuradoria Geral do Estado; CEVA: Comissão Estadual

de Validação e Acompanhamento; GTI: Grupo de Trabalho Interinstitucional Indígena; SECT: Secretaria

de Estado de Ciência e Tecnologia; IMC: Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços

Ambientais; SEDENS: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e

dos Serviços Sustentáveis; CDSA: Companhia de Desenvolvimento dos Serviços Ambientais.

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326

Apesar da legislação criar o Instituto de Regulação, Controle e Registro,

definindo inclusive a origem das suas receitas (doações e/ou investimentos efetuados

por fundos públicos, privados ou multilaterais) e o montante total (R$ 70.000,00), para

o pagamento de funcionários e implantação dos seus serviços, não foi possível obter

informações sobre o seu funcionamento atual, bem como não foi encontrado seu lugar

no organograma apresentado na Figura 65.

Já a Companhia de Desenvolvimento de Serviços Ambientais do Estado do Acre

foi criada como uma sociedade anônima de economia mista (Art. 15 da Lei 2.308),

regulamentada pelo Decreto Nº 6306 de 2013. Essa agência teria como função captar

recursos financeiros, criar os planos de ação e projetos e executar os programas do

SISA. Atualmente, esta Companhia está em funcionamento, mas ainda não está

completamente estruturada, não sendo possível encontrar maiores informações sobre

sua atuação.

Um fator de destaque na legislação do Estado são os instrumentos econômicos e

financeiros do SISA. De acordo com o Art. 18 da Lei 2.308 os possíveis meios de

financiamento dos programas de PSA são provenientes do Fundo Estadual de Florestas,

criado pela Lei n. 1.426, de 27 de dezembro de 2001 e do Fundo Especial de Meio

Ambiente, criado pela Lei n. 1.117, de 26 de janeiro de 1994. Além desses, são

mencionados ainda fundos públicos nacionais, recursos provenientes de ajustes e

convênios celebrados com órgãos da administração pública, recursos provenientes de

acordos bilaterais ou multilaterais sobre o clima, doações, recursos orçamentários e

recursos provenientes da comercialização de créditos relativos a serviços e produtos

ambientais. Esse último item se relaciona especificamente à expectativa de crescimento

do mercado mundial de carbono, sendo previsto um tratamento tributário diferenciado

nestas operações.

53

Disponível em:

http://www.imc.ac.gov.br/wps/portal/imc/imc/principal/!ut/p/c5/1ZHdboJAEIWfxQfQXcCF5RJFYIHlR_

7EGwJqECpCixXh6Uvbi6YXtTemSefcTDJz8k3OgC0YdU6vRZ5eivqcnsAGbPnE0YjrBRpicLDmIHFC

WzZUxGGXAxHYwHnilX1DhqdhXcKup_BmX0qpo7JCaGmRNughNS3qDaHj-

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327

Programa Estadual de Certificação de Unidades Produtivas Familiares do

Estado do Acre.

Origem do Programa

De acordo com a Lei 2.025, de 2008, o programa Estadual de Certificação de

Unidades Produtivas Familiares do Estado do Acre tem como objetivo realizar a

certificação socioambiental voluntária de proprietários de terra54

com até 100 hectares,

atestando o uso sustentável dos recursos naturais com inclusão social e econômica. O

programa busca beneficiar os proprietários interessados em recuperar ou manter suas

áreas de reserva legal ou preservação permanente, usando processos produtivos

baseados no uso adequado da floresta e das áreas desmatadas.

Etapas do projeto

O Programa de Certificação das Unidades Produtivas do Estado do Acre, de

acordo com o art. 5° da lei 2.025, é estruturado em quatro fases:

I - Adesão ao programa, com duração de doze meses;

II - Certificação básica, com duração de vinte e quatro meses;

III - certificação intermediária, com duração de vinte e quatro meses; e

IV - Certificação plena, com duração de quarenta e oito meses.

Para ser classificada em uma das fases a unidade produtiva deverá passar por

uma avaliação.

Para a posterior mudança de fase os proprietários de terra precisam adequar suas

áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente à legislação ambiental. Entretanto

propriedades que possuem nascentes ou práticas produtivas ambientalmente

responsáveis, bem como restringem o uso do fogo para a limpeza do terreno, recebem

uma melhor avaliação e classificação nas fases mencionadas. O mesmo ocorre se o

proprietário está inserido em alguma organização coletiva.

A proposta do programa é que ao longo de nove anos as unidades produtivas

assumam atividades conservacionistas, sendo que, de acordo com a fase em que se

encontram recebem diferentes incentivos. Os incentivos financeiros variavam entre

R$500 e R$600 por ano por propriedade, independentemente do número de hectares. Há

54

Na primeira etapa de adesão foram aceitos os mais diversos documentos para comprovar a posse da

terra. Contudo, para o pagamento do bônus do programa, a Secretaria de Estado de Extensão

Agroflorestal e Produção Familiar -Seaprof exigiu o registro oficial de propriedade da terra, o que tem

gerado inúmeros problemas. (STANTON, 2014).

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IEI-18958

328

também a oportunidade de obterem prioridade em financiamentos oficiais. Os

benefícios não monetários se referem ao incentivo à mecanização do sistema produtivo,

ao fornecimento de mudas, insumos, além de assistência técnica e capacitação do

produtor. Esses incentivos variavam entre as propriedades, sendo implementados

conforme o potencial de geração de renda da localidade. O objetivo era auxiliar o

produtor a realizar e comercializar a sua produção de maneira sustentável de forma que

após os nove anos de programa, ele não precisasse mais do apoio do mesmo

(STANTON, 2014).

As áreas e comunidades passíveis de fazerem parte do programa são definidas

previamente pela Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal (SEAPROF) em

conjunto com a Secretaria do Estado de Meio Ambiente (SEMA). O Programa pode

abranger todo território do Acre, entretanto, as zonas prioritárias foram aquelas de

influência direta das rodovias federais (BRs 364 e 317) ocupadas principalmente por

pequenos produtores assentados ou posseiros, alguns empreendimentos pecuaristas e

seringais (ALMEIDA Jr., s/d apud STANTON, 2014).

De acordo com informações da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e

Produção Familiar do Acre – SEAPROF, entre 2009 e 2014 foram assinados 4.608

Termos de Adesão com produtores rurais familiares. Destes, 114 foram desligados do

programa, seja porque venderam ou abandonaram a propriedade, ou desistiram do

Programa. Apesar desse alto número de adesões, apenas 42,03% do total de produtores

ativos (1.889) tiveram o “Plano da Unidade Produtiva - PUP” construído. Sem esse

plano, o produtor não poderia passar de fase e receber as demais parcelas previstas no

programa (SEMA, 2015).

Para que o Programa de Certificação das Unidades Produtivas seja

implementado e cada uma de suas fases realizadas, uma série de etapas devem ser

cumpridas. A tabela 67 abaixo, elaborada a partir da Portaria Normativa N.º 017 da

SEMA, que estabelece o regulamento do Programa, ilustra essas etapas:

Tabela 67: Etapas do Programa de Certificação das Unidades

Produtivas do Estado do Acre

Etapa Órgão

Responsável Atividade realizada

Etapa 1

Informações

Preliminares

Escritórios Locais da

SEAPROF e Rede

de ATER

Divulgação do programa e decisão do produtor quanto à

participação

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329

Etapa 2

Assinatura do Termo

de Adesão e Cadastro

Escritórios locais da

SEAPROF e Rede

de ATER

Entrega de documentos pelo produtor, e preenchimento

do Termo de Adesão e do Cadastro da Unidade

Produtiva. Os técnicos visitam a unidade produtiva para

o Georreferenciamento da mesma.

Etapa 3

Pagamento da 1ª

Parcela do Bônus e

Cálculo do % passivo

ambiental

Secretaria

Executiva da

Certificação

/SEAPROF

Confirmação de que o produtor está apto para aderir ao

programa e recebimento de 50% do bônus no valor de

R$ 250,00 por propriedade.

Paralelamente, os dados da propriedade são

encaminhados ao IMAC, para definição da situação do

passivo ambiental a ser recuperado.

Etapa 4

Elaboração do plano

de unidade produtiva

Escritórios Locais da

SEAPROF e Rede

de ATER

Após o conhecimento a respeito do passivo ambiental os

técnicos da Rede de ATER elaboram em conjunto com

os produtores o Plano da Unidade Produtiva, com a área

a ser recuperada. Concluído o Plano, o técnico verifica

se o produtor tem licenciamento da Propriedade no

IMAC.

Etapa 5

Pagamento da 2ª

Parcela do Bônus

Licenciamento

Ambiental

Escritórios locais da

SEAPROF/Rede de

ATER local/

Entrega o protocolo de licenciamento ao produtor rural.

Este protocolo habilita o produtor a receber os 50% de

bônus restantes no valor de R$ 250,00.

Etapa 7

Licenciamento

Ambiental

Núcleo do

IMAC local

Procedimentos para o encaminhamento da licença ou das

pendências aos Escritórios locais da SEAPROF/Rede de

ATER.

Etapa 8

Enquadramento da

Fase de Certificação

Técnico do

Escritório/

Rede de

ATER local

Análise técnica e enquadramento da fase de Certificação

em que o produtor está. Certificado habilita o produtor a

receber o bônus da referida fase.

Etapa 9

Implementação do

Plano de Certificação

da Unidade Produtiva

Gerente do escritório

local da

SEAPROF

Efetua alimentação de dados no sistema, monta o

calendário do monitoramento e efetua os pagamentos.

Fonte: SEMA, Portaria Normativa N.º 017/ 2010.

Essas fases implicam em uma série de procedimentos técnicos e administrativos,

como a entrega de documentos, fiscalizações e monitoramentos, pagamentos e a

coordenação entre os diferentes órgãos estaduais. Tudo com o objetivo que o produtor

regularize o seu passivo ambiental e obtenha um uso mais sustentável de sua

propriedade. Contudo, o cumprimento dessas etapas, não garantia que o produtor

estivesse na condição de regular perante a legislação ambiental. Seria necessário ainda

entrar com um processo no Instituto de Meio Ambiente do Acre - IMAC para obter a

Licença Ambiental Rural – LAR. A emissão desta licença por sua vez, possuía um

tramite moroso e burocrático, não atendendo a todos os produtores a contento (SEMA,

2015).

Tratando ainda das dificuldades operacionais, os procedimentos viabilizados

para o pagamento dos produtores tiveram alguns contratempos. De acordo com a ex-

Page 330: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

330

coordenadora do programa55, a princípio o SEAPROF imaginou que seria adequado

pagar os beneficiados por ordem de pagamento. Entretanto, dado o prazo estipulado

para que o produtor retirasse o pagamento no banco, esse procedimento se mostrou

inadequado. Em um segundo momento, buscou-se viabilizar a abertura de contas

correntes em bancos para que os bônus fossem depositados. Porém, os bancos não

permitiram a isenção das taxas bancárias. Por fim, ficou-se definido que os produtores

deveriam abrir contas poupanças, se eximindo assim das taxas. Mas, de qualquer modo,

alguns produtores ainda encontravam dificuldades para realizar esse trâmite burocrático

devido à falta de documentos.

Serviços ambientais

O Art. 2º da lei que instituiu o programa Estadual de Certificação de Unidades

Produtivas Familiares estabeleceu dentre seus objetivos a melhoria dos seguintes

serviços ambientais: a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, com a redução de

emissões de gases poluentes, o uso sustentável dos recursos naturais, a conservação da

sociobiodiversidade e das águas e recursos hídricos. O modelo de PSA seguido pelo

programa é o do Provedor-Recebedor, ou seja, aquele que contribui para a existência e

manutenção do serviço ambiental recebe o bônus.

Agentes envolvidos

Os agentes envolvidos no Programa são as unidades produtivas rurais familiares,

proprietárias de terra, com até 100 hectares, sendo eles os possíveis beneficiários. A

Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (SEAPROF),

gestora do programa. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), que realizou a

sua coordenação estratégica. A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da

Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis – SEDENS que executou ações

junto a algumas comunidades de manejadores florestais. E o Instituto de Meio

Ambiente do Acre – IMAC, responsável, à época da elaboração do programa de

certificação, pela regularização dos passivos ambientais.

Em adição, a lei 2.025 em seu Art. 7º criou ainda a Rede Estadual de Assistência

Técnica e Extensão Agroflorestal, composta por instituições públicas e privadas. A rede

tinha a função de garantir uma maior oferta de serviços de assistência técnica rural,

55

Conversa telefônica com Marlene Jardim, em 12/01/2015, Técnica da SEAPROF.

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331

contribuir com os processos de regularização do passivo ambiental florestal e de

certificação socioambiental da unidade produtiva56

. Para que uma organização fizesse

parte da Rede, teria que manifestar o seu interesse para a SEAPROF que é a responsável

por aceitar ou rejeitar a proposta.

A Figura 66 aponta a organização dos órgãos responsáveis por gerir e

implementar o Programa de Certificação das Unidades Produtivas Familiares, que fazia

parte da Política de Valorização do Ativo Florestal.

Figura 66: Organização institucional do Programa de Certificação das

Unidades Produtivas Familiares, Acre, 2008.

Fonte: STANTON, 2014

Arranjos Institucionais

O Programa Estadual de Certificação de Unidades Produtivas Familiares, como

mencionado anteriormente, foi criado em 2008, pela Lei 2.025, mas iniciou suas

atividades em 2009, com o primeiro grupo de agricultores manifestando seu interesse

em participar do mesmo. Desde então foi articulada a Rede Estadual de Assistência

Técnica e Extensão Agroflorestal, cujos técnicos auxiliaram os produtores que

participavam do programa a construir seus Planos das Unidades Produtivas. A

56

SEMA, PORTARIA NORMATIVA N.º 017 DE 23 DE MARÇO DE 2010. Diário Oficial do Estado

do Acre. Ano XLIII - nº 10.262. Segunda-feira, 29 de março de 2010

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332

SEAPROF definiu os procedimentos para monitoramento, fiscalização e pagamento

para os produtores e a SEMA coordenou o programa, estabelecendo as áreas prioritárias

para recebê-lo.

Contudo, com a promulgação do novo código florestal, através da Lei Federal nº

12.651, de 25 de maio de 2012, o programa Estadual de Certificação de Unidades

Produtivas Familiares do Estado do Acre precisou passar por modificações, tendo que

ser compatibilizado com as novas exigências federais.

Assim em janeiro de 2013, foi editada a Lei Nº 2693 que institui o Cadastro

Ambiental Rural - CAR, no âmbito do Sistema Estadual de Informações Ambientais do

Estado do Acre - SEIAM e cria o Programa de Regularização Ambiental (PRA-Acre).

Essa lei define também que apenas aqueles proprietários e possuidores rurais que já

haviam aderido ao programa Estadual de Certificação de Unidades Produtivas

Familiares poderiam permanecer no mesmo, ou seja, não seriam realizadas novas

adesões ao programa. Por outro lado, a mesma lei autorizou àqueles que tivessem o

interesse de renunciar ao programa de certificação a aderir ao PRA-Acre. Os

beneficiários do Programa de Certificação que aderissem ao PRA-Acre, teriam os

direitos e obrigações inerentes ao Programa de Certificação cancelados.

Há algumas diferenças entre o Programa de Certificação e o PRA-Acre. O

primeiro programa foi elaborado tendo em conta as normas previstas no Código

Florestal de 1.965 (Lei Federal nº 4.771/1965), enquanto o segundo estava ajustado ao

novo código florestal. Isso significa que o programa de certificação tinha normas mais

rígidas quanto às áreas de preservação permanente e reservas legais, com prazos

menores para a recomposição de passivos ambientais (9 anos versus 20 anos do novo

código). Em adição, o CAR apresentou soluções institucionais que permitiram dar uma

grande escala de atendimento e resposta ao produtor rural, diferentemente do LAR

emitido pelo IMAC. Outra diferença fundamental entre os programas é que enquanto o

Programa Estadual de Certificação de Unidades Produtivas Familiares dispunha de

adesão voluntária por parte dos produtores, o CAR e o PRA-Acre são obrigatórios, ou

seja, todos os produtores rurais do Estado devem cadastrar sua propriedade e se adequar

ao novo código florestal. Além disso, o programa de certificação propunha pagamentos

diretos aos produtores que fossem adequando a sua produção às normas ambientais,

enquanto o PRA-Acre parece entender que está é uma obrigação legal dos proprietários

rurais, sem que seja realizado o pagamento por serviços ambientais.

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333

Por outro lado, de acordo com a Nota Técnica N. 001/ 2015 da SEMA, o

Governo do Acre está revendo o PRA-Acre, para estabelecer medidas de incentivo a

regularização ambiental dos imóveis rurais, com tratamento diferenciado para a

agricultura familiar. A ideia é que o PRA-Acre assuma estratégias similares àquelas

existentes no Programa de Certificação, entre elas um modelo de assistência técnica

sustentável, com incentivos não monetários e pagamentos por serviços ambientais.

Contudo, apenas em novembro de 2015 a Portaria SEMA Nº 123 estabeleceu o

regulamento para a transição dos beneficiários do Programa Estadual de Certificação de

Unidades Produtivas Familiares do Estado do Acre para o Cadastro Ambiental Rural -

CAR e Programa de Regularização Ambiental do Estado do Acre - PRA-Acre, com a

elaboração de um termo de renúncia. Em adição, até o momento (janeiro de 2016) não

foi retomado o pagamento direto aos produtores que se mantiveram no programa de

certificação ou estabelecido um novo regulamento ou plano para o PRA-Acre.

Fonte de recursos

De acordo com o artigo 4º da lei 2.025, poderão ser utilizados recursos do Fundo

Estadual de Florestas para pagamento do bônus aos agricultores que participam do

programa.

O Fundo Estadual de Florestas foi criado pela Lei Nº 1.426 de 27 em dezembro

de 2001, com recursos provenientes do orçamento do Estado; contribuições e

transferências de quaisquer órgãos da administração direta ou indireta dos três entes

federativos; contratos, empréstimos, ou doações de organismos públicos e privados,

nacionais e internacionais. A lei, em seu art. 45, menciona ainda a possibilidade dos

recursos advirem de taxas, tarifas, leilões e indenizações decorrentes da preservação e

conservação das florestas do Estado; valores arrecadados com a venda de produtos e

subprodutos florestais apreendidos; e recursos provenientes de multas e infrações

ambientais, que também serão em parte destinados ao Fundo Estadual de Meio

Ambiente.

Contudo, de acordo com Santos et al. (2012)57

apenas uma parcela pequena dos

recursos foi direcionada ao programa, principalmente porque o fundo só foi

57

Marco regulatório sobre pagamento por serviços ambientais no Brasil /

Organização de Priscilla Santos; Brenda Brito; Fernanda Maschietto; Guarany

Osório; Mário Monzoni. – Belém, PA: IMAZON; FGV. CVces, 2012. http://fas-

amazonas.org/versao/2012/wordpress/wp-content/uploads/2013/07/Marco-regulat%C3%B3rio-PSA-

Brasil_FGV.pdf

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IEI-18958

334

regulamentado em 201058

. A tabela 68 abaixo aponta o total de despesas pagas

anualmente por esse fundo.

Tabela 68: Total das Despesas Pagas anualmente pelo Fundo

Estadual de Florestas do Estado do Acre - FEF

Ano Acumulado pago

2010 R$ 37.019,49

2011 R$ 104.900,00

2012 R$ 386.311,77

2013 R$ 6.868.878,32

2014 R$ 35.800.575,45

2015 R$ 16.789.245,38

Fonte: Elaboração própria a partir do portal da transparência do Estado do Acre.

É claro que nem todo o montante de despesas pagas do fundo foram destinados

ao programa de Certificação das Unidades Produtivas do Estado do Acre, porém, com

tais informações é possível ter uma ideia do crescimento dos gastos com meio ambiente

e sua gestão no Acre.

Além do fundo florestal, outra importante fonte de financiamento do Programa

de Certificação foram os recursos do BNDES, através do Fundo Amazônia e o convênio

celebrado com a rede de TV Sky do Reino Unido, com o apoio da WWF que resultou

no repasse de mais de 6 milhões de libras esterlinas (WWF, 2013). Esses recursos

viabilizaram principalmente a realização de benefícios não financeiros, como a

construção de açudes que favoreceram diversos produtores (STATON, 2014).

No que se refere aos benefícios financeiros, pagos em espécie diretamente aos

produtores (Bônus) é possível destacar que ao longo dos seis anos que o programa de

Certificação esteve ativo foi gasto R$ 2.021.050,00, pagos pela SEAPROF e pela

SEDENS. A Tabela 69 abaixo aponta os valores totais pagos em cada ano, por fase do

programa com a fonte de recurso utilizada, por cada uma dessas secretarias ao longo do

tempo.

Tabela 69: Demonstrativo do Pagamento de Bônus pela SEAPROF

e SEDENS entre 2009 e 20014

58

Resolução do Conselho Florestal Estadual do Acre 001 de 09/12/2012. Aprova o Regimento Interno do

Fundo Florestal, votado em reunião plenária realizada em 09/12/2010 (SANTOS et al., 2012).

Page 335: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

335

S

E

A

P

R

O

F

Ano Fonte de

Recurso

1º Parcela

Adesão

(N° de

beneficiários)

2º Parcela

Adesão

(N° de

beneficiários)

1º Ano

Execução PUP

(N° de

beneficiários)

2º Ano

Execução

PUP

(N° de

beneficiários)

Total

Aplicado (R$)

2009

Recurso Próprio

884 42 231.500,00

2010 811 118 11 238.850,00

2011 105 11 58 11 70.400,00

2011 WWF/SKY 359 12 92.750,00

2012

Recurso Próprio 64 7 38 30 58.550,00

Fundo Amazônia 44 2 11.500,00

2013 WWF/SKY 327 562 225.250,00

2014

WWF/SKY 426 380 203.000,00

Fundo Amazônia 520 209 182.250,00

Total Parcial SEAPROF 3.540 1.343 107 41 1.314.050,00

S

E

D

E

N

S

2012 Fundo Amazônia 354 177.000,00

2013 Fundo Amazônia 125 467 296.000,00

2014 Fundo Amazônia 468 234.000,00

Total Parcial SEDENS 479 467 468 707.000,000

TOTAL Geral 4.019 1.810 575 41 2.021.050,00

Fonte: SEMA (2015).

A tabela 69 demonstra que, ao todo, 4.019 produtores receberam a primeira

parcela, no valor de R$ 250,00, para participarem do programa de certificação das

unidades produtivas. Esse valor é um pouco diferente do declarado pela SEMA e

destacado no início deste texto (4.497). Contudo, independente da pequena diferença

identificada é importante verificar que o número de beneficiários que receberam os

bônus caiu consideravelmente ao longo do programa. Isso porque após a adesão, como

mencionado anteriormente, o produtor precisava fazer, com ajuda dos técnicos da Rede

Ater, o Plano da Unidade Produtiva – PUP. Esse plano demandava não apenas a

reestruturação produtiva, com o fim da utilização do fogo, mas também a recuperação

das áreas de preservação permanente e a reserva legal. A elaboração dos PUPs e seu

Page 336: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

336

posterior cumprimento e monitoramento, impunham uma série de dificuldades que

fizeram com que o número de beneficiários caísse para apenas 14% do total, no

primeiro ano de execução do programa e 1% do total no segundo ano.

De acordo com informações obtidas por telefone com a ex-coordenadora do

Programa de Certificação de Unidades Produtivas59

, desde 2013 não eram realizadas

novas adesões (implementadas em 2014). Dado a instituição do CAR e PRA-Acre, o

Programa de Certificação está voltado a manter aqueles que optaram por continuar nele

e deixaram de realizar o pagamento de bônus financeiros, para se concentrar nos

incentivos não financeiros. De qualquer maneira, nas Leis Orçamentárias Estaduais dos

anos de 2014; 2015 e 2016 há dotações financeiras destinadas a ele. A tabela 70 abaixo

aponta um interesse do Estado do Acre em aumentar os gastos com o programa ao

longo do tempo.

Tabela 70: Previsão de gastos com o programa de Certificação das

Unidades Produtivas do Estado do Acre descriminados nas Leis

Orçamentárias Anuais, entre 2014-2016

Ano Montante previsto (unidade R$)

2014 300.000,00

2015 1.200.000,00

2016 8.651.487,89

Fonte: Elaboração Própria a partir da LOA, 2015; LOA, 2014; LOA; 2013.

Metas

De acordo com a Nota Técnica nº 001/2015, da SEMA, até 2017 deve ser

realizada a transição entre o Programa de Certificação e o PRA-Acre. Porém, a

transição deve respeitar e manter as mesmas diretrizes e objetivos do Programa de

Certificação, ou seja, manter modos de produção sustentáveis sem descuidar da justiça

social.

Staton (2014) enfatiza, entretanto, a necessidade de garantir novas fontes de

financiamento para tais Programas, pois apesar de reconhecer que a aplicação dos

recursos do Fundo Amazônia foi fundamental para a sua continuidade, destacou

também que o Fundo beneficiou apenas quatro municípios que sofrem diretamente com

as obras da rodovia BR-364.

59

Conversa telefônica com Marlene Jardim, em 12/01/2015, Técnica da SEAPROF.

Page 337: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

337

Outro desafio e meta do programa de Certificação das Unidades produtivas está

relacionado à sua implementação. O programa demanda uma grande quantidade de

trabalho dos técnicos da rede ATER, que devem elaborar planos, definir as vocações

produtivas, ajudar no encaminhamento dos produtos para o mercado, monitorar e

fiscalizar as propriedades, além de indicar aos agricultores os procedimentos

burocráticos para receberem os bônus. Desta maneira, a implementação demanda uma

série de recursos humanos, o que por si só torna o programa relativamente caro.

ISA Carbono

A lei N° 2.308, de 2010 criou o programa ISA Carbono. De acordo com essa lei,

no seu Art. 22, o programa tem o objetivo de promover a redução progressiva,

consistente e de longo prazo das emissões de gases de efeito estufa, com vistas ao

alcance da meta voluntária estadual de redução de emissões por desmatamento e

degradação florestal.

Para sua realização foi estabelecido, em 2012, um acordo entre o governo do

Acre e o banco alemão KfW. Neste acordo o Banco deveria pagar ao Estado Acre o

montante total de 16 milhões de euros, ao longo de quatro anos, por ter deixado de

emitir 4 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2)60

. Neste acordo, cada

tonelada de CO2 não emitida valia US$ 5.

A verba proveniente do Banco KfW tem origem no imposto chamado de

“Assigned Amount Units” do governo Alemão. Esse imposto é aplicado às transações

realizadas dentro do sistema de troca de emissões (ETS) da União Europeia, sendo que

parte dele deve ser destinada aos países em desenvolvimento para reduzir suas emissões

de gases de efeito estufa (WWF, 2013).

No Programa ISA Carbono os benefícios são repassados através de convênios

assinados entre o Fundo Estadual de Florestas, SEDENS/FEF ou SEMA/FEF e outras

entidades / associações provedoras de serviços ambientais relacionados com REDD+

para atividades que contribuam com a redução do desmatamento. De acordo com o

Governo Acreano, 70% do valor total recebido do KfW são investidos nas cadeias

produtivas, beneficiando diretamente os provedores de serviços ambientais, como

extrativistas, indígenas e produtores rurais familiares. Contudo, esse pagamento não é

feito por produtor, mas sim é destinado para atividades especificas das comunidades,

60

http://www.wwf.org.br/?33524/Acre--primeiro-estado-a-realizar-transaes-com-REDD.

Page 338: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

338

não sendo possível quantificar o valor do benefício por família ou hectare. Os outros

30% são destinados para operacionalização, gerenciamento institucional, subprogramas

e parcerias, normatização, registro, monitoramento, formação de atores, divulgação e

intercâmbio de experiências no âmbito do Sisa.

Até o presente (janeiro 2016) o ISA Carbono conta com aproximadamente 6.000

beneficiários, que continuam implementando as atividades previstas nos convênios61

.

A fiscalização dos programas ligados ao ISA Carbono se dá por meio de

imagens de satélites, especificamente os dados oficiais do PRODES (INPE). Contudo,

também são realizadas verificação in loco e acompanhamento através de

geoprocessamento ligado ao Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Informações do Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços

Ambientais62

, apontam que não é possível identificar a quantidade de hectares

reflorestados com os programas ligados ao ISA Carbono, mas sim é possível estimar o

desmatamento evitado. Neste caso, tendo como referência a taxa média de

desmatamento entre 2001 e 2010 (496 km²), acredita-se que a área desmatada

anualmente diminuiu em média em 46% entre 2006 e 2015. Já entre 2014 e 2015 o

desmatamento evitado corresponde a uma redução em 30 km² ou 10%.

Dado a ambição do ISA Carbono de atuar por meio de subprogramas e projetos,

com públicos bem distintos, atingindo todo o estado do Acre, entende-se que é

necessário contabilizar uma série de custos gerenciais que vão muito além dos

pagamentos diretos aos provedores de serviços ambientais. Assim, as instituições do

SISA contam com aproximadamente 50 funcionários e dispõem de orçamento anual

próprio do Estado de aproximadamente R$ 4.000.000,0063

.

O Estudo da WWF (2013) sobre o “Sistema de incentivos por serviços

ambientais do estado do Acre” celebrou a descentralização das políticas ambientais e de

PSA promovidas pelo Estado. Contudo em 2015 a lei complementar N°. 300, de 9 de

julho de 201564

definiu por concentrar a gestão das políticas florestais sob a

responsabilidade da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), não estando mais

vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do

61

Informação fornecida por e-mail por Pavel Jezek, funcionário do Instituto de Mudanças Climáticas e

Regulação de Serviços Ambientais, em 18 de janeiro de 2016. 62

Informação fornecida por e-mail por Pavel Jezek, funcionário do Instituto de Mudanças Climáticas e

Regulação de Serviços Ambientais, em 18 de janeiro de 2016. 63

Informação fornecida por e-mail por Pavel Jezek, funcionário do Instituto de Mudanças Climáticas e

Regulação de Serviços Ambientais, em 18 de janeiro de 2016. 64

http://www.al.ac.leg.br/leis/wp-content/uploads/2015/07/LeiComp300.pdf

Page 339: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

339

Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens)65

. A SEMA será ainda responsável pelo

Instituto de Mudança Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais – IMC; e pela

Companhia de Desenvolvimento de Serviços Ambientais – CDSA.

No entanto, até o final de 2015, as instituições que fazem parte do ISA ainda não

atingiram o pleno funcionamento. Além disso, ainda é necessária a regulamentação do

ISA Carbono e de outros programas ligados ao SISA.

1.6.2. Amazonas

O estado do Amazonas possui uma área de 1.577.820,2 km², que contém a maior

cobertura florestal preservada e um dos menores índices de desmatamento do Brasil. No

entanto a região vem sofrendo uma série de pressões relacionadas à extração de

madeiras ilegais, às queimadas, à expansão do cultivo de oleaginosas, da pecuária e à

mineração, que fazem com que seja difícil a manutenção desses níveis de desmatamento

(FERREIRA, 2014).

Para dar conta deste desafio e das pressões sentidas pelo Estado frente às

mudanças climáticas, foi criada em 2007 a Lei N.º 3.135, com a contribuição da

sociedade civil organizada.

A mencionada Lei instituiu a Política Estadual sobre Mudanças Climáticas,

Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas, que tem entre

seus principais objetivos o fomento e a criação de instrumentos de mercado que

viabilizem a execução de projetos de energia limpa (EL), a redução de emissões do

desmatamento (RED) e de emissões líquidas de gases de efeito estufa.

A Lei N.º 3.135, em seu art. 5, também previu a criação de sete Programas com

vistas a auxiliar o Estado do Amazonas a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.

Entre eles estava o Programa Bolsa Floresta, com o objetivo de instituir o pagamento

por serviços e produtos ambientais às comunidades tradicionais pelo uso sustentável dos

recursos naturais, conservação, proteção ambiental e incentivo às políticas voluntárias

de redução de desmatamento.

Essa lei ainda criou um Fundo Estadual de Mudanças Climáticas, Conservação

Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, responsável por financiar as atividades de

65

http://www.jornalatribuna.com.br/?p=26559

Page 340: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

340

cada programa previsto. Contudo, ainda em 2007, ocorreu uma alteração neste item,

averbada pela lei N.º 3.184. Através desta última o fundo foi extinto e o poder executivo

estadual ficou autorizado a apoiar uma Fundação Privada, sem fins lucrativos, de

utilidade pública estadual e federal (Portaria MJ nº 3.098 de 26/09/2013) que deveria

desenvolver e administrar os Programas previstos na Lei N.º 3.135/2007.

Para a criação e funcionamento desta Fundação o Poder Executivo Estadual

realizou uma doação no valor de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões de reais), valor que

foi também doado pelo Banco Bradesco. O recurso monetário (Total de 40 milhões de

reais) foi aplicado em um fundo permanente gerenciado pela então criada Fundação

Amazonas Sustentável (FAS), de modo que apenas os rendimentos são utilizados para o

pagamento das ações do programa Bolsa Floresta, garantindo sua sustentabilidade.

A partir de sua criação, a FAS obteve diferentes financiamento de organizações

públicas e privadas, como da Coca-Cola Brasil (2009), do Fundo Amazônia/BNDES

(2010) e da Samsung (2010), além de outras parcerias em programas e projetos

desenvolvidos66

.

Atualmente a FAS é responsável por gerenciar e implementar o Programa de

Educação e Saúde (PES), o Programa de Soluções Inovadoras (PSI) e o Programa Bolsa

Floresta (PBF). Esse último programa de pagamentos por serviços ambientais foi

regulamentado pelo Decreto n.º 26.958 de 04 de setembro de 2007 e será objeto de

análise.

Programa Bolsa Floresta

Origem do programa

O programa Bolsa Floresta concede benefícios aos residentes de Unidades de

Conservação estadual com finalidade de incentivar a conservação dos recursos naturais

através da manutenção das Florestas.

Etapas do programa

A partir de 2008 o programa passou a ser implementado pela FAS, que decidiu

por dividi-lo em quatro componentes: Renda, Social, Familiar e Associação.

66

Fundação Amazonas Sustentável (FAS). A FAS. Disponível em: http://fas-amazonas.org/a-fas/?lang=pt

Page 341: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

341

O Bolsa Floresta Renda (BFR) investe na capacidade dos próprios beneficiários

desenvolverem atividades econômicas, com respeito ao meio ambiente. Nesse caso, são

desenvolvidos projetos, com o aval e participação da comunidade beneficiária, com

vistas a dinamizar as cadeias produtivas já existentes ou criar arranjos produtivos locais

sustentáveis. Os recursos deste componente são provenientes do Fundo Amazônia e

podem ser aplicados de forma ampla, abrangendo obras de infraestrutura, equipamentos,

serviços e capacitações. De acordo com dados da FAS, anualmente é investido o

equivalente a R$ 395,80 por família neste componente, o equivalente a 58% dos

recursos anuais totais do projeto.

O Bolsa Floresta Associação tem como objetivo fortalecer a participação

comunitária e as associações de moradores das Unidades de Conservação do Estado.

Esse componente permite que os recursos sejam entregues às associações que devem

decidir onde serão aplicados. O Bolsa Floresta Associação, assim como o Bolsa Floresta

Renda, recebe recursos do Fundo Amazônia, que já disponibilizou para ambos R$

19.169.087,00 entre os anos de 2010 e 201467

. De acordo com a Fundação Amazonas

Sustentável, são atendidas 15 associações com o programa68

, que despende 10% de seus

recursos totais com esse componente, o que significa uma média anual de R$ 67,20 por

família (MAMED, 2014).

O Bolsa Floresta Social deve apoiar ações de educação, saúde, comunicação e

transporte das comunidades que fazem parte do programa. Ele deve primar pelo

desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida destas comunidades e, portanto, os

recursos são gastos respeitando a demanda e interesse das próprias. De acordo com a

FAS as principais demandas de 2014 foram ambulanchas e voadeiras para transporte

comunitário, rádios para comunicação, construção e reforma de escolas, entre outros. O

investimento médio anual por família neste componente é de R$ 278,64.

Por fim, o Bolsa Floresta Familiar se refere ao pagamento direto de recursos

monetários para as famílias que participam do programa. Trata-se de um complemento

de renda no valor de R$ 50,00 por mês por família (independentemente do seu número

de hectares) que participa do programa.

67

Fundo Amazônia. Bolsa Floresta. Disponível em:

http://www.fundoamazonia.gov.br/FundoAmazonia/fam/site_pt/Esquerdo/Projetos_Apoiados/Lista_Proje

tos/FAS 68

Fundação Amazonas Sustentável. Bolsa Floresta Associação. Disponível em: http://fas-

amazonas.org/bolsa-floresta-associacao/

Page 342: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

342

Todas os componentes do Bolsa Floresta demandam participação voluntária das

comunidades, cujos membros devem assinar um termo de compromisso. Os pagamentos

também exigem determinadas contrapartidas dos envolvidos, como que a comunidade

que se encarregue da implementação dos projetos (no caso do Bolsa Floresta Renda),

que a comunidade faça uso racional e conserve os bens adquiridos pelo Bolsa Renda

Social, que ocorra a participação ativa dos moradores nas atividades e decisões das

associações e que o desmatamento seja zero.

Serviços ambientais

O foco do Programa Bolsa Floresta é a contenção do desmatamento nas

Unidades de Conservação do Estado Amazonas. Acredita-se que desta maneira, seria

possível reduzir as emissões de gases de efeito estufa, bem como controlar os efeitos

das mudanças climáticas. A política Estadual sobre Mudanças Climáticas, Conservação

Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas ainda tem o combate à

pobreza e o desenvolvimento sustentável do Estado entre suas diretrizes69, o que

deflagra uma preocupação com a questão ambiental aliada à justiça social. O modelo de

PSA utilizado pelo programa Bolsa Floresta é do produtor recebedor.

Agentes envolvidos

O Governo do Estado do Amazonas é responsável pela política Estadual de

Mudanças Climáticas, Conservação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável através

da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do

Amazonas. O programa Bolsa Floresta está dentro desta política e é implementado pela

Fundação Amazonas Sustentável. Essa Fundação, pessoa jurídica de Direito Privado,

fechou um acordo com o Governo do Estado do Amazonas justamente com a intenção

de gerenciar e implantar os programas ligados à política ambiental do Estado. Além

desses agentes, estão envolvidos no programa Bolsa floresta os residentes de Unidades

de Conservação estadual, como os possíveis beneficiários.

Arranjos Institucionais

A Fundação Amazonas Sustentável é a gestora do Programa Bolsa Floresta, com

o aval do Governo do Estado. Essa fundação tem ampla competência sobre as ações

69

Lei N.º 3.135, DE 05 DE JUNHO DE 2.007, Art. 3°. II.

Page 343: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

343

empreendidas no programa, sendo também responsável por captar recursos para o

mesmo.

O Fundo com os recursos para o programa Bolsa Floresta é gerenciado pela

FAS, que também define as linhas de base do programa, suas prioridades e ações.

Apesar desta parceria entre Governo do Estado do Amazonas e a FAS ser exaltada por

diferentes autores70

, Mamed (2014) aponta que não há divulgação de como exatamente

se dá esta parceria e que, na prática, tendo sido observado pouco contato entre as duas

esferas (Fundação Amazonas Sustentável e Governo do Estado do Amazonas).

Fontes de recursos

O Programa Bolsa Floresta tem o montante a ser gasto anualmente definido de

acordo com a quantidade de rendimentos do fundo gerenciado pela FAS. Isso o

diferencia de outros Programas de Pagamentos por Serviços Ambientais que se baseiam

na quantidade de hectares preservados ou reflorestados, além de critérios como a

existência de nascentes, de matas nativas, e outros. Em outras palavras, não há fórmulas

matemáticas que visem medir numericamente o nível de preservação ambiental, mas de

valores fixos destinados às comunidades participantes de acordo com os recursos

disponíveis (Mamed, 2014).

Nos últimos 6 anos foi destinado um total de R$ 48.562.000,00 para o Bolsa

Floresta, o que coloca o programa entre os mais bem-sucedidos de PSA no país. A

tabela 71 abaixo aponta os montantes disponibilizados para os componentes do Bolsa

Floresta entre os anos de 2009 e 2014.

Tabela 71: Montante destinado aos componentes do Bolsa

Floresta, em unidades de real, entre os anos 2009 e 2014.

2014 2013 2012 2011 2010 2009

Bolsa Floresta Familiar 4.780.000 4.558.000 4.400.000 4.357.000 4.068.000 3.480.000

Bolsa Floresta Renda,

Associação e Social 3.502.000 5.408.000 6.041.000 3.635.000 2.730.000 1.603.000

TOTAL 8.282.000 9.966.000 10.441.000 7.992.000 6.798.000 5.083.000

Fonte: http://fas-amazonas.org/transparencia/

É possível verificar que os valores totais dedicados às ações do programa vêm

crescendo ano a ano. Acredita-se que isso seja possível, não apenas pelo crescimento

dos rendimentos, devido às altas taxas de juros do período em destaque, como também

70

VIANA, 2008; VIANA et. al., 2012

Page 344: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

344

devido à competência da FAS em obter novos financiamentos e parceiros. Deve-se

enfatizar também que aproximadamente 75% dos recursos são utilizados em atividade-

fim, enquanto 25% é utilizado para a operacionalização do Programa.

Deve-se destacar ainda a evolução do número de famílias beneficiadas, que

passou de 4.969 em 2008 para 7.640 em junho de 2013 e atualmente (dezembro de

2015) está em 9.421. Contudo, o estudo realizado por Ferreira (2014), aponta que ainda

existem várias famílias que não participam do programa devido à falta de seu Cadastro

de Pessoas Físicas (CPF). A autora apontou 113 famílias nesta situação.

No que se refere à média de investimento no programa, chama a atenção os

valores investidos nas Unidades de Conservação do Estado. A tabela 72 abaixo aponta

que em 2015 foi investido em média por UC estadual R$ 684.000,00.

Tabela 72: Média de investimento anual nas Unidades de

Conservação Florestal e nas Famílias beneficiadas com o

programa Bolsa Floresta, 2015.

Bolsa Floresta

Investimento

anual/UC

(média)

Investimento

anual/família

(média)

Renda R$ 190.000 R$ 380

Social R$ 171.000 R$ 350

Associação R$ 33.000 R$ 65

Familiar R$ 290.000 R$ 600

TOTAL R$ 684.000 R$ 1.395

Fonte: FAS. Plataforma Bolsa Floresta, 2015.

Como é possível observar na tabela 72 anualmente cada família recebe pelo

programa R$ 1.395,00, sendo o item familiar aquele que oferece o maior montante.

Entretanto, Ferreira (2014) chama atenção ao papel do apoio à geração de renda (Bolsa

Floresta Renda), que transformou as atividades produtivas na região, com o

estabelecimento de diferentes cadeias produtivas. A capacitação dos produtores, a

instalação de infraestruturas, os investimentos em equipamentos, e o desenvolvimento

de derivados do produto primário, provenientes deste subprograma, fizeram com que

resultados positivos fossem obtidos em culturas como o cacau, açaí, pirarucu e a

castanha da Amazônia.

Por fim, vale enfatizar que no caso do Bolsa Floresta não se aplica a medida de

hectares preservados no programa, pois ele é realizado com residentes de Unidades de

Conservação (UCs). As Unidades de Conservação são espaços territoriais, legalmente

Page 345: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

345

instituídos pelo Poder Público brasileiro, que não devem ser desmatados, apesar de, em

alguns casos, admitirem o uso sustentável dos recursos, conciliando a presença humana

nas áreas protegidas. Desta maneira, não seria adequado falar de hectares preservados,

pois toda Unidade de Conservação, na qual os beneficiários dos programas residem,

deve ser preservada. A despeito desta ressalva, Ferreira (2014) destaca que, em 2012,

enquanto as UCs sem o Bolsa Floresta registraram 0,030% de desmatamento, aquelas

com o programa registraram 0,008%, ou seja, o desmatamento foi mais evitado em

áreas onde existe o programa.

Beneficiários

O Decreto n.º 26.958 de 04 de setembro de 2007 define as regras relacionadas ao

Programa Bolsa Floresta. Ele estabelece que os principais beneficiários do programa

sejam os residentes de Unidades de Conservação Estadual, por mais de dois anos. Além

disso, os beneficiários precisam:

a) Possuir Registro Geral;

b) manter os filhos matriculados e frequentando escola (exceto se não houver

disponibilidade na região);

c) Participar da Oficina de Formação sobre o Programa (Art.2º. Decreto n.º

26.958).

Uma vez participando do programa, os beneficiários devem cumprir as regras do

Plano de Gestão da UC; estar associado e adimplente com a Associação de Moradores

da UC, sendo que caso não exista uma associação na comunidade, eles devem procurar

uma próxima; manter suas roças com tamanho não superior àquele do ano da

implementação da UC, sem avançar na mata primária, com exceção de casos com

desmembramentos de famílias (quando os filhos se casam e saem da casa dos pais)71

.

Atualmente (janeiro de 2016) o programa está ativo em 15 das 33 Unidades de

Conservação do Estado e beneficia 9.421 famílias, o que se refere a 40.106 pessoas72

.

Parece contraditório o fato do programa possuir como beneficiários os

moradores de Unidades de Conservação que, como foi mencionado anteriormente, não

podem ser desmatadas. Entretanto, essa escolha foi tomada pois entendeu-se que a

simples instituição de espaços protegidos não garante a preservação. A Fundação

71

Decreto n.º 26.958 de 04 de setembro de 2007. Art. 4°. 72

Fundação Amazonas Sustentável. Transparência. 2015. Disponível em: http://fas-

amazonas.org/transparencia/

Page 346: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

346

Amazonas Sustentável considera igualmente necessário o estabelecimento de políticas

públicas integradas, que estejam destinadas a apoiar aqueles que residem nas Unidades

de Conservação, com vistas a garantir sua existência (MAMED, 2014).

O cadastramento e pagamento dos beneficiários, por outro lado, tem sido um

desafio para a FAS. Isso porque o art. 3º do Decreto n.º 26.958 define que os cadastros

devem ser realizados in loco, ou seja, nas residências dos possíveis beneficiários. Isso

deflagra uma necessidade considerável de tempo e recursos para os gestores do

programa dado as dimensões e condições geográficas do Amazonas.

Outra dificuldade se refere aos pagamentos diretos às famílias, que precisam

abrir uma conta bancária e pegar o dinheiro depositado mensalmente em sua conta. Esse

procedimento, que parece simples ao primeiro olhar, se revela um problema para os

moradores de Unidades de Conservação, que estão em núcleos populacionais de

considerável distância da sede dos Municípios. Sendo assim, os beneficiários também

precisam gastar tempo e recursos para se deslocar até onde há rede bancária para

retirada dos benefícios.

Metas

Entre as metas do programa é possível destacar aquela que se refere à

fiscalização e monitoramento dos beneficiados pela Bolsa Floresta. Atualmente a

fiscalização é feita apenas por imagens de satélite. Contudo, o trabalho de Mamed

(2014) chama atenção para o fato de que os beneficiários se sentem “abandonados” pela

falta de acompanhamento de suas atividades. Esse mesmo autor sugere que seja

realizada uma maior integração entre FAS e Governo do Estado, ao passo que este

último gerencia programas que fazem o monitoramento constante das Unidades de

Conservação, podendo auxiliar a Fundação a acompanhar os beneficiários do bolsa

floresta, verificando o cumprimento dos termos ajustados para participação do

Programa.

Por outro lado, um ponto exaltado por esse autor é o estímulo ao associativismo

e a possibilidade na participação das decisões pelas populações que vivem nas Unidades

de conservação. As formas democráticas de decisão comunitária e empoderamento das

comunidades através da escolha de subsídios materiais que poderão significar uma

melhora na qualidade de vida das populações é um dos ganhos do programa Bolsa

Floresta que pode ser replicada em outras experiências de PSA no Brasil (Mamed,

2014).

Page 347: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

347

1.6.3. Espírito Santo

O Pagamento por Serviços Ambientais foi instituído no Estado do Espírito Santo

pela Lei nº 8.995/200873

, tendo como beneficiário o proprietário de área rural que

destinar parte de sua propriedade para a preservação e conservação da cobertura

florestal.

Em 2012, foram promulgadas normas (a Lei n. 9.86474

e o Decreto n. 3.182-

R75

) que reformularam o programa de pagamento por serviços ambientais no Estado,

revogando, por conseguinte, a Lei de 2008.

Na vigência da Lei de 2008, foi instituído o programa de PSA Produtores de

Água que atuou nas bacias hidrográficas do Rio Benevente (município de Alfredo

Chaves), São José (municípios de Alto Rio Novo e Mantenópolis) e Guandú

(municípios de Afonso Cláudio e Brejetuba)76

. Segundo a Secretaria do Meio Ambiente

e Recursos Hídricos do Espírito Santo77

, esse programa beneficiou 450 produtores entre

os anos de 2009 e 2011.

Entretanto, atualmente (Janeiro 2016) o programa de PSA vigente no Estado é o

Reflorestar. O Programa Reflorestar, por sua vez, possui aproximadamente 1.840

produtores rurais cadastrados

A nova lei (n. 9.864/12) estabelece que os beneficiários do Programa de

Pagamento por Serviços Ambientais serão os proprietários de área rural e/ou outros

facilitadores na promoção de serviços ambientais (provedores), que destinarem parte de

sua propriedade para fins de preservação, conservação e recuperação do meio ambiente

e recursos hídricos. Define que serviços ambientais são os serviços de suporte, de

provisão e de regulação das funções hídricas, ambientais e/ou ecossistêmicas cuja

73

Lei nº 8.995/2008 institui o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais - PSA e dá outras

providências. 74

Lei n. 9.864/2012 institui o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais PSA e dá outras

providências. 75

Decreto Estadual nº 3182-R de 20/12/2012 aprova o regulamento da Lei 9.864/2012, no Estado do

Espírito Santo, que dispõe sobre o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais – PSA. 76

A regiões apontadas foram escolhidas por apresentarem diferentes cenários socioeconômicos, de uso do

solo e grau de conservação (LAVRATTI, TEJEIRO, STANTON, 2014). 77

Coleta de dados obtidos junto ao Gerente do Programa Reflorestar, Marcos Franklin Sossai, por meio de

perguntas estruturadas realizadas por e-mail no dia 30/09/2015.

Page 348: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

348

finalidade seja colaborar para conservação e recuperação dos serviços prestados pela

natureza.

Assim, é possível verificar que a lei promulgada em 2012 amplia aspectos da lei

anterior, pois enquanto esta última se referia apenas aos serviços de conservação da

cobertura florestal e apontava como possíveis beneficiários os proprietários das terras

conservadas, a lei vigente amplia os serviços ecossistêmicos passíveis de serem pagos, e

permite aos provedores dos serviços ambientais em geral se tornarem beneficiários –

independentemente da posse legal da terra ou da sua localização em zona rural.

Na prática, as mudanças ocorridas podem ser visualizadas através do aumento

expressivo no contingente de produtores beneficiados pelo Programa Reflorestar (como

mencionado 1.840 beneficiários até final de 2015) em relação ao Programa Produtores

de Água (apenas 450 beneficiários). Isso porque o Programa Produtores de Água era

restrito aos serviços ecossistêmicos objeto da conservação e melhoria da qualidade e

disponibilidade hídrica, bem como era específico para determinadas bacias

hidrográficas. Já o Programa Reflorestar tem como finalidade a geração de renda para

os proprietários de área rural e/ou outros facilitadores em contrapartida da adoção de

práticas sustentáveis em todo Estado, tendo como objetivo aumentar a cobertura

florestal no Espírito Santo em 80 mil hectares até 2018.

De qualquer modo, tanto a lei antiga quanto a lei n. 9.864, possibilitam aos

órgãos estatais recompensarem financeiramente o proprietário rural e/ou facilitador,

bem como dar suporte ao provedor dos serviços ambientais para elaboração de projetos

técnicos e aquisição dos insumos.

Cabe destacar que as regras quanto aos pagamentos dos insumos78

necessários à

manutenção/recuperação dos serviços ambientais serão definidas por regulamentação

específica e dimensionadas com base no projeto técnico elaborado por profissional

devidamente habilitado. Já o aporte financeiro para a elaboração de projetos técnicos

não poderá ultrapassar 10% (dez por cento) do valor total do projeto orçado,

permanecendo a cargo de norma específica a definição da forma do repasse.

O Decreto n. 3.182- R/2012, cuja finalidade é regulamentar a lei n. 9.864,

estabelece que seja possível realizar pagamentos por serviços ambientais para aqueles

que realizarem a (i) conservação da floresta em pé, (ii) recuperação com plantio de

mudas, (iii) regeneração natural, (iv) sistemas agroflorestais, (v) sistemas silvipastoris e

78

Os insumos citados pela Lei 9.864/2012 poderão ser: mudas de essências florestais e agronômicas;

material para cercamento de áreas; hidrogel; adubo; formicida; herbicida (Art.8, Decreto n. 3.182- R/ 12).

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349

(vi) floresta manejada. Por sua vez, a metodologia para delimitar as áreas passiveis de

beneficiamento do PSA e os critérios para concessão de benefício serão definidos em

Portaria da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEAMA79

.

A antiga lei (nº 8.995/2008) também estipulava que o valor máximo para

pagamento pela conservação e melhoria da qualidade e da disponibilidade hídrica, da

biodiversidade e da redução dos processos erosivos era de 510 (quinhentos e dez)80

Valores de Referência do Tesouro Estadual (VRTE) por hectare ano, sendo que este

valor era variável conforme as características da propriedade81

.

Já a nova lei determina um valor fixo de até 3.200 (três mil e duzentos) VRTE82

por pagamento por serviço ambiental prestado83

, sem o desconto do imposto de renda84

.

Quanto a incidência do imposto de renda, este deverá ser apurado e retido na fonte no

ato dos pagamentos das parcelas de PSA, devendo, por conseguinte, ser inserido no

cálculo do valor total do contrato.

É importante destacar que apesar das mudanças advindas da nova legislação, os

contratos firmados sob a égide da antiga lei foram respeitados, devendo, os novos

contratos serem firmados nos moldes da Lei n. 9.864 e do Decreto n. 3.182- R/2012.

Do Programa Reflorestar

Origem do Projeto

O Programa Reflorestar foi iniciado em 2011, fruto da ação conjunta das

Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e de Agricultura,

Aquicultura e Pesca (SEAG), com objetivo de manter, recuperar e ampliar a cobertura

florestal no Espirito Santo, com geração de renda para os proprietários de área rural e/ou

outros facilitadores em contrapartida da adoção de práticas sustentáveis.

79

Ao longo desse subitem serão apresentadas as características do programa de PSA vigente no Espírito

Santo e sua área de abrangência. 80

Art. 3º, Lei nº 8.995/2008.

81

O cálculo era aferido mediante a utilização da equação estabelecida no art. 13 do Decreto n.

2.182-R/2008. 82

Valor de Referência do Tesouro Estadual (VRTE) para o exercício de 2015 é de R$2,6871. 83

Art. 4º, Lei 9.864/2012. 84

Os valores referentes a cada modalidade de PSA descrita na nova lei serão abordados no próximo item,

quando será analisado o Programa Reflorestar.

Page 350: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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350

Etapas do Projeto

Para execução do programa foram delimitadas oito etapas de atuação85

, sendo:

(i) Mapeamento das áreas de atuação do programa;

(ii) Priorização das áreas de abrangência;

(iii) Articulação com os agentes locais envolvidos;

(iv) Mobilização e cadastramento das propriedades elegíveis;

(v) Elaboração de projeto técnico para as propriedades selecionadas;

(vi) Realização dos pagamentos dos serviços ambientais prestados e

execução dos projetos;

(vii) Monitoramento dos projetos em execução;

(viii) Informação dos resultados e troca de experiências.

Serviços Ambientais

O programa Reflorestar estabelece como serviços ambientais as ações que dão

suporte, provisão e regulação às funções hídricas, ambientais e/ou ecossistêmicas.

Como modelo de PSA, o programa adota o beneficiário-pagador, através de contrato

celebrado entre o Estado e o proprietário de área rural e/ou outros facilitadores que, por

meio de adesão voluntária86

, destinem parte de sua propriedade para preservação.

Agentes Envolvidos

Os agentes envolvidos no Programa Reflorestar são o poder público estadual,

através das Secretarias Estaduais de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) e

de Agricultura, Aquicultura e Pesca (SEAG). Podem participar também agentes

privados nacionais ou internacionais (através de doações e financiamentos) e os

proprietários de área rural e/ou outros facilitadores na promoção de serviços ambientais.

Arranjos Institucionais

Para consecução das metas estabelecidas pelo programa se faz necessário criar

arranjos institucionais para gestão e monitoramento do projeto, assistência técnica para

suporte e viabilização das modalidades de recuperação ou uso amigável do solo, criação

de programa de treinamento e capacitação dos agentes de campo, bem como apoio a

entidades de pesquisa com o objetivo de ampliar o conhecimento em técnicas de cultivo

florestal, viabilizando o aumento da produtividade.

85

SEAMA; IEMA, s/d. 86

O cadastro no programa pode ser realizado em <www.programareflorestar.com.br>.

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351

A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEAMA) é o órgão

responsável pela implementação, execução e monitoramento do programa. O requerente

ao aderir ao Reflorestar deverá firmar contrato com essa secretaria para o recebimento

do pagamento pela geração de serviços ambientais87

.

Fonte de Recursos

As fontes de recursos destinadas ao programa são oriundas do Fundo Estadual

de Recursos Hídricos do Espírito Santo (FUNDÁGUA); de transferências ou doações

de pessoas físicas e/ou jurídicas de direito público e/ou privado; de agentes

financiadores nacionais e internacionais; entre outras88

.

O FUNDÁGUA está vinculado à SEAMA, a quem compete definir, por

exemplo, os controles necessários à execução orçamentária do fundo e as

demonstrações de receitas e despesas. Esse Fundo tem ainda seus recursos destinados

à implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos e à viabilização da

manutenção/ recuperação da cobertura florestal do Estado, através de ações, programas

e projetos que instituam o pagamento por serviços ambientais.

Os recursos com destinação para “cobertura florestal”, são originários, dentre

outras fontes, de 2,5% da arrecadação proveniente dos royalties do petróleo e do gás

natural, contabilizados pelo Estado89

. Tal fato, segundo informações do Gerente do

Programa Reflorestar90

, permite viabilizar um aporte anual considerável. Além disso, no

ano de 2015 o FUNDÁGUA contou, dentre outras fontes, com apoio financeiro

proveniente do empréstimo junto ao Banco Mundial91

.

No ano de 2015, o valor total empenhado pelo fundo para o programa de PSA no

Estado foi R$ 5.241.607,1792

e o valor efetivamente gasto foi de R$ 3.930.682,39.

Como é possível observar na tabela 73 abaixo93

, o Estado tem investido no programa de

PSA de forma significativa nos últimos 3 (três) anos, tendo aumentado

consideravelmente o valor investido em 2015.

87

Art. 7º, Lei n. 9.864/2012. 88

Art. 9, Lei n. 9.864/2012. 89

Art. 2, II, Lei 9.866/12. 90

Informações obtidas por e-mail no dia 30/09/2015 junto ao Gerente do Programa Reflorestar Marcos

Franklin Sossai. 91

Dados informados por e-mail pelo Gerente do Programa Reflorestar Marcos Franklin Sossai, em

30/09/2015. 92

Tais valores foram obtidos no portal de transparência do Estado do Espírito Santo, disponível em

<www.transparência.es.gov.br>. Acesso em 15/12/2015. 93

Os valores apresentados no quadro foram obtidos no portal transparência do Estado do Espírito Santo,

disponível em <www.transparência.es.gov.br >. Acesso em 07/01/2015.

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352

Tabela 73: Valores empenhados, liquidados e pagos no programa

reflorestar entre 2013 e 2015

Ano Valor Empenhado

(em reais) Valor Liquidado

(em reais) Valor Pago (em reais)

2013 368.039,04 325.015,71 290.432,41

2014 1.089.600,97 1.079.756,80 1.030.081,79

2015 5.241.607,17 4.358.490,38 3.930.682,39

Agregado 6.699.247,18 5.763.262,89 5.251.196,59

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do portal da transparência do Estado

do Espirito Santo, em jan. 2016.

Apesar do Portal de transparência do Estado do Espírito indicar que foi gasto

com o programa Reflorestar, entre 2013 e 2015, o total de R$

5.251.196,59, informações obtidas junto à SEAMA asseveram que o valor investido no

pagamento de 1.840 beneficiários, até 2015, está em torno de R$ 30.000.000,00,

somando-se todos os gastos (administrativos, de monitoramento e fiscalização)94

.

De qualquer maneira, verifica-se na tabela 73 um crescimento expressivo nos

valores investidos em PSA no Estado e, consequentemente, no aumento do número de

beneficiários do programa.

Pagamento aos beneficiários

O pagamento pelos serviços ambientais é realizado por meio de contrato

pactuado entre o Estado e o proprietário de área rural e/ou facilitadores, podendo ser de

recuperação (PSA de curto prazo) ou manutenção (PSA de longo prazo). O PSA de

longo prazo se refere aos serviços ambientais de conservação de floresta em pé,

condução de regeneração natural e recuperação com plantio de mudas. Já o PSA de

curto prazo se refere ao pagamento efetuado pelo fornecimento de insumos, como por

exemplo, mudas, cercas, adubo, etc.

Em 2015, o valor máximo pago para modalidade de PSA manutenção foi de R$

241 por hectare/ano, enquanto o valor do pagamento para o PSA de recuperação chegou

até R$ 2.866,24 por hectare por ano, com cada VRTE valendo R$ 2,6871. Neste último

caso, a verba serviu para custear a compra de insumos necessários para a recuperação

florestal e como se tratou de um investimento, o produtor deve prestar contas95

.

94

Informações coletas por e-mail no dia 21/10/2016, através de perguntas estruturadas ao Gerente do

Programa Reflorestar Marcos Franklin Sossai. 95

Dados coletados por e-mail no dia 11/12/2015 junto ao Gerente do Programa Reflorestar Marcos

Franklin Sossai.

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353

Os contratos de PSA de manutenção dos serviços ambientais possuem duração

de 5 anos e os de recuperação possuem duração de 3 anos, com pagamentos anuais.

Esses contratos podem ser renovados indefinidamente desde que o Estado possua

recursos orçamentários e interesse na remuneração dos serviços ambientais gerados96

.

No Decreto nº 3182- R / 2012, estão descritos os valores a serem pagos aos

beneficiários do programa em cada modalidade. Entretanto, o montante está indicado

em Valor de Referência do Tesouro Estadual (VRTE). Logo, o mencionado decreto

aponta que o total pago para o PSA de manutenção da floresta em pé deve ser de 450

VRTE por hectare, 400 VRTE por hectare para recuperação com plantio de mudas e

380 VRTE por hectare para regeneração natural97

.

Para o PSA de recuperação98

, os valores totais a serem pagos são: 3.040 VRTE

por hectare para a modalidade de recuperação com plantio de mudas, 980 VRTE por

hectare para regeneração natural, 3.200 VRTE para sistema agroflorestal, 1.350 VRTE

para sistema silvipastoril e 2.120 VRTE por hectare para floresta manejada. Os

contratos, como mencionado anteriormente, são de 3 anos, devendo ser pago 50% do

valor total no 1º ano de contrato, 30% no 2º ano e 20% no 3º ano.

No site do programa Reflorestar é possível visualizar o resumo das contratações

de PSA realizadas, com os nomes dos beneficiários, o número do processo e do

contrato, bem como o valor total em VRTE devido99

.

Os 1.840 produtores que participavam em 2015 do programa Reflorestar

provisionaram a conservação de aproximadamente 6.000 hectares de florestas e a

recuperação de mais 6.000 hectares100

. Dentre esses beneficiários, cerca de 1/3 já

recebeu a primeira parcela do pagamento e os demais deverão receber até março de

2018, conforme informações do Gerente do Programa Reflorestar101

.

Áreas de abrangência do Programa

O Gerente do Programa Reflorestar102, Marcos Sossai, destacou que a ideia

inicial era atender os proprietários rurais que se encontrassem em áreas prioritárias,

delimitadas pela SEAMA. No entanto, com objetivo de atingir todo o Estado optou-se

96

Art. 7, § 1, da Lei 9.864/2012. 97

Art. 4º, Decreto nº 3182- R / 2012. 98

Art. 5º, Decreto nº 3182- R / 2012. 99

Disponível em <www.programareflorestar.com.br>. Acesso em 13/10/2015. 100

Contato realizado por e-mail através de perguntas estruturadas, nos dias 09 e 11/12/2015. 101

Informações obtidas por e-mail no dia 08/01/2015. 102

Contato realizado por e-mail através de perguntas estruturadas no dia 11/12/2015.

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354

por não vincular a área de abrangência do programa às áreas prioritárias. Sendo assim, o

programa atende, em 2015, 73 municípios dos 78 existentes no Estado.

Metas

O programa possui como meta a ampliação da área de cobertura florestal da

Mata Atlântica no estado do Espírito Santo em 80.000 hectares no período de 2015 a

2018. Segundo informações da SEAMA, o programa pretende atender, a cada ano,

1.000 novos produtores103

.

Além disso, cabe destacar que o governo Estadual aderiu ao Desafio 20x20,

proposto na Conferência das Partes (COP 20)104

por países da América Latina e Caribe

(LAC). Assim, o Estado deve recuperar e/ou evitar o desmatamento em 20 milhões de

hectares até 2020.

1.6.4. Minas Gerais

No caso de Minas Gerais, não há uma lei especifica sobre o PSA. Essa temática

está contida na Lei nº 20.922, de 16 de outubro de 2013 que dispõe sobre as políticas

florestal e de proteção à biodiversidade no Estado. Essa é uma lei de amplo espectro que

apresenta desde as regras para a manutenção de áreas para preservação permanente até

as sanções para aqueles que consumirem produto ou subproduto da flora nativa acima

dos limites estabelecidos.

Em seu Art. 5º, inciso XI, a Lei 20.922, aponta que um dos objetivos das

políticas florestal e de proteção à biodiversidade é desenvolver estratégias que efetivem

a conservação da biodiversidade, entre elas, o pagamento de serviços ambientais.

Esse pagamento ainda é previsto no Art. 45 desta lei, que versa sobre Unidades

de Conservação. No parágrafo 4º, aponta que o PSA pode estimular os proprietários ou

posseiros a adotarem voluntariamente medidas de redução dos impactos ambientais nas

Unidades de Conservação.

103

Dados coletados por e-mail, no dia 30/09/2015 junto ao Gerente do Programa Reflorestar Marcos

Franklin Sossai. 104

A 20ª Conferência das Partes da Convenção Marco das nações Unidas (COP 20), ocorreu em 2014 no

Peru, como o objetivo de firmar um acordo provisional global para as emissões dos gases de efeito estufa.

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355

Sobre o financiamento, a Lei mencionada define105

que 50% do valor arrecadado

com a aplicação de penalidades administrativas deverão ser utilizados para as ações de

pagamentos por serviços ambientais.

Contudo, anos antes de sua promulgação, foi editada a Lei 17.727, de 13 de

agosto de 2008, regulamentada pelo Decreto 45.113, de 05 de junho de 2009, com

objetivo de criar uma permissão jurídica para que o Estado oferecesse incentivos

financeiros aos proprietários e posseiros de terras, através do que foi denominado Bolsa

Verde, programa que será analisado a seguir. As ações ligadas a essa legislação foram

iniciadas em 2010 sob a batuta do Instituto Estadual de Florestas – IEF.

Bolsa Verde

Origem do Programa

A Bolsa Verde não foi a primeira iniciativa de pagamentos por serviços

ambientais de Minas Gerais. Autores como Pagiola et. al (2013) e Lavratti et. al. (2014)

apontam a importância do Projeto de Proteção à Mata Atlântica (Promata), para o início

das propostas e discussões relacionadas ao PSA no Estado.

O Promata foi inaugurado em 2003 a partir de um acordo de cooperação

financeira firmado entre o governo mineiro e o Banco Alemão de Desenvolvimento

(KfW), com o objetivo de apoiar o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF)

na proteção, recuperação e no uso sustentável da região da Mata Atlântica em Minas

Gerais106

.

A partir dessa experiência, já em 2007, o Deputado Roberto Carvalho apresentou

à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, um projeto de lei que versava sobre PSA.

Após tramite na casa Legislativa, o projeto foi aprovado se transformando na Lei

17.727, de 13 de agosto de 2008, que institui a Bolsa Verde.

Etapas do Projeto

Após a aprovação da Lei 17.727/2008 o IEF mobilizou representantes de

instituições governamentais e da sociedade civil organizada para a elaboração do

decreto regulamentador. O Decreto 45.113, foi promulgado em 05 de junho de 2009,

constituindo o Comitê Executivo do Programa. Esse Comitê tinha como membros os

105

Art. 85; Parágrafo único da Lei nº 20.922, de 16 de outubro de 2013. 106

Instituto Estadual de Florestas, s/d.

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356

representantes do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), da Empresa de

Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), da Federação da Agricultura e Pecuária

de Minas Gerais (Faemg), da Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Estado de

Minas Gerais (Fetaemg), da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), além de

funcionários do próprio IEF.

Uma das atividades realizadas pelo Comitê Executivo do Programa Bolsa Verde

(CEBV) foi a elaboração do documento “Bolsa Verde – Manual de Princípios, critérios

e procedimentos para a implementação da Lei 17.727, de 13 de agosto de 2008”. Esse

Manual é muito significativo pois define os critérios utilizados para a seleção de

beneficiários, bem como o passo-a-passo que os interessados devem seguir para

participar do Programa.

Serviços Ambientais

A Lei 17.727, de 13 de agosto de 2008 não define claramente os serviços

ambientais protegidos. Aponta apenas que o objetivo é a identificação, recuperação,

preservação e conservação de áreas necessárias à proteção das formações ciliares e à

recarga de aquíferos; e as áreas necessárias à proteção da biodiversidade e ecossistemas

especialmente sensíveis.

Agentes Envolvidos

De acordo com a Lei 17.727 e o seu Decreto 45.113, os agentes prioritários na

concessão do benefício são agricultores familiares; produtores rurais cuja propriedade

ou posse tenha até quatro módulos fiscais; produtores rurais cujas propriedades estejam

localizadas em Unidades de Conservação de categorias de manejo; demais produtores

rurais e proprietários de áreas urbanas que preservem áreas e ecossistemas

especialmente sensíveis (esses últimos a depender da disponibilidade financeira).

De acordo com o Decreto 45.113, poderão ser agraciados com o benefício tanto

produtores que estejam em áreas que necessitem de adequação aos critérios de

regularização da Reserva Legal e de proteção das Áreas de Preservação Permanente,

quanto àqueles que conservem ou preservem áreas acima do limite estabelecido pela

legislação, sendo que os maiores valores serão oferecidos aos beneficiários que se

enquadrem neste último caso. Essas duas situações produzem diferentes formas de

apoio ao produtor rural e, portanto, são definidas a partir de metodologias de pagamento

específicas dentro do programa Bolsa verde. Os beneficiários que necessitam adequar

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357

suas áreas à legislação ambiental, por exemplo, deverão receber, além do incentivo

financeiro, insumos para apoiar a recuperação florestal necessária à regularização da

Reserva Legal e das Áreas de Preservação Permanente - após terem aprovado uma

proposta técnica para esta recuperação.

O Comitê Executivo do Programa Bolsa Verde (criado pelo Art. 13 do Decreto

45.113) é aquele que regulamenta as formas de cadastramento, o formato das propostas,

realiza o acompanhamento, monitoria e avaliação dos projetos em andamento, bem

como as atribuições e competências da Secretaria Executiva do Programa Bolsa Verde.

Essa Secretaria fica alocada no IEF.

Como mencionado anteriormente, o Comitê Executivo do Programa Bolsa

Verde é composto por diferentes órgãos governamentais e representantes da sociedade

civil, e suas atividades, bem como o programa anual de execução da Bolsa Verde,

deverão ser analisados e aprovados pelo o Conselho Estadual de Política Ambiental

(COPAM).

Arranjos Institucionais

A autarquia estadual poderá celebrar Termos de Cooperação Técnica com

diferentes instituições a fim de ampliar a operacionalização do Programa. Era objetivo

buscar a cooperação de outras organizações (que não apenas o poder público do Estado)

que pudessem colaborar através de apoio técnico, recursos humanos e estruturais para

que a capilaridade e controle do Bolsa Verde fosse estabelecido. Contudo, a Portaria

IEF 132, de 16 de julho de 2010 proibiu o repasse de recursos financeiros para as

entidades parceiras. Essa definição, dificultou o estabelecimento das cooperações, que

não tiveram o resultado esperado pelo IEF.

Desta maneira, o único implementador do programa era o poder público

estadual, que ficou responsável pelo gerenciamento, fiscalização, controle e pagamento

dos beneficiários. Esses últimos, como mencionado anteriormente, caso precisassem

adequar suas áreas à legislação ambiental, necessitariam ainda contar com assistência

técnica para a elaboração da proposta de adequação e realização desta atividade. Tudo

isso gera um custo alto para o governo estadual, que também arca com o pagamento

direto aos proprietários rurais pelo serviço ambiental. Os procedimentos para participar

do programa e as ações desempenhadas pelo poder público estão resumidas na Figura

69.

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IEI-18958

358

Figura 67: Procedimentos para participação e realização do Bolsa Verde

Fonte: Elaboração própria a partir de Campos, 2014.

Fontes de Recurso

No que se referem aos recursos para a Bolsa Verde, sua procedência foi

estabelecida no Art. 5º da Lei 17.727 e no Art. 10° do Decreto 45.113. Esses podem ser

provenientes do orçamento estadual; de 10% (dez por cento) dos recursos do Fundo de

Recuperação, Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável das Bacias

Hidrográficas do Estado de Minas Gerais - FHIDRO; da conta Recursos Especiais a

Aplicar; da compensação pela utilização dos recursos naturais; de convênios celebrados

pelo Poder Executivo; e doações, contribuições ou legados de pessoas físicas e

jurídicas, públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras.

No que se refere ao Fundo de Recuperação, Proteção Ambiental e

Desenvolvimento Sustentável das Bacias Hidrográficas do Estado de Minas Gerais –

Preenchimento do Formulário do Cadastro

encaminhamento da documentação - documentos de propriedade ou posse

e elaboração de uma proposta de adequação ambiental de sua área.

Encaminhamento para aprovação do Conselho Municipal de

Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) de cada município; em sua

ausência , as propostas devem ser validadas pelas unidades locais das

instituições responsáveis

Secretaria Executiva do Bolsa Vede efetuará a análise técnica da proposta,

a partirdas informações do SISMAF, dos dados georreferenciados enviados

e fará a análise e a pontuação dos critérios

Caso a proposta seja aprovada serão recolhidos dos proprietários ou

posseiros os Termos de Adesão ao Bolsa Verde e os Termos de

Cooperação Mútua assinados, para

que seja dada a devida publicidade.

O acompanhamento das áreas dos proprietários ou posseiros contemplados com os recursos do programa Bolsa Verde deverá ocorrer pelo menos 1 vez ao ano, a fim de aferir se foram mantidas as

condições que levaram à deliberação favorável

Após a comprovação da posse e condições adequadas de presenrvação

ambiental os pagamentos serão efetuados aos beneficiários todo o

final do ano durante cinco anos. Cinco parcelas de R$ 200,00/ ha.

Page 359: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

359

FHIDRO, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável -

SEMAD exerce as funções de gestor e agente executor (MINAS GERAIS, 2005).

O fundo atualmente está em funcionamento, tendo os seguintes gastos apontados

pelo Portal de Transparência de Minas Gerais:

Tabela 74: Despesas do Fundo de Recuperação, Proteção

Ambiental e Desenvolvimento Sustentável das Bacias

Hidrográficas do Estado de Minas Gerais – FHIDRO, de 2012 a

2015, em unidade de R$

Ano Valor Inscrito

Processado Valor pago no ano Valor a pagar

2010 2.618.670,00 3.624.531,41 79.134,29

2011 147.571,88 2.021.784,32 2.491,50

2012 314.068,92 1.282.508,50 771,12

2013 36.109,00 3.946.586,44 1.810.698,12

2014 805.670,71 331.537,17 474.133,54

2015 632.362,22 443.282,00 189.233,81

Fonte: Elaboração própria a partir do portal da transparência de Minas Gerais.

O FHIDRO é constituído por verbas provenientes de 50% da cota destinada ao

Estado como compensação financeira pela inundação de áreas por reservatórios para a

geração de energia elétrica, dotações consignadas no orçamento do Estado e os créditos

adicionais, 10% (dez por cento) dos retornos relativos e encargos de financiamentos

concedidos pelo Fundo de Saneamento Ambiental das Bacias dos Ribeirões Arrudas e

Onça - PROSAM, transferências de fundos federais, entre outros (MINAS GERAIS,

2005).

Os recursos do FHIDRO são aplicados na modalidade reembolsável, para

realização de investimentos fixos e aquisição de equipamentos, em projetos ou

empreendimentos de proteção e melhoria dos recursos hídricos de comprovada

viabilidade técnica, social e ambiental e também na modalidade não-reembolsável para

pagamento de despesas com consultoria, custeio de ações de estruturação física e

operacional dos comitês, entre outros. Os recursos são aplicados na proporção de até

30% (trinta por cento) sob a forma reembolsável e de, no mínimo, 70% (setenta por

cento) para a modalidade não-reembolsável. Além disso, é previsto que 10% (dez por

cento) dos recursos do FHIDRO deverão ser aplicados no “Bolsa Verde” (MINAS

GERAIS, 2008).

Page 360: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

360

Pagamento aos beneficiários

A lei 17.727 define em seu Art. 2º que o benefício será concedido anualmente,

por propriedade (somente para pessoa física), em forma de auxílio pecuniário, podendo

ter duração de cinco anos consecutivos, sendo que as condições e critérios para tal são

definidos pelo Comitê Executivo do Bolsa Verde.

A lei 17.727, estabelece ainda em seu Art. 4º que o Poder Executivo poderá

efetuar parte do pagamento do benefício utilizando-se de créditos inscritos em dívida

ativa do Estado, convertidos em títulos ao portador emitidos pelo Tesouro Estadual107

.

Já o Decreto 45.113 define que o valor a ser pago para cada beneficiário será calculado

de forma proporcional às dimensões da área protegida.

O valor a ser pago aos beneficiários foi definido, em 2010, pelo Comitê

Executivo do Bolsa Verde. Atualmente (outubro de 2015) o valor continua sendo R$

200,00 por hectare, sem que ocorra qualquer discriminação entre aqueles que receberão

a Bolsa Verde. Ou seja, independentemente das características das propriedades (se

contêm nascentes, se o terreno é inclinado, etc.), todos os agentes receberão o mesmo

valor. Por outro lado, o Comitê Executivo do Programa Bolsa Verde estabeleceu

critérios108

que definem aqueles que serão prioritariamente beneficiados.

O estabelecimento do valor de R$ 200,00 por hectare de área conservada por

ano, deveu-se ao levantamento do rendimento médio alcançado na pecuária de leite

semi-intensiva e extensiva, sendo estabelecido a partir do custo de oportunidade do uso

da terra na região.

Em 2010 foi lançado o primeiro edital do Programa Bolsa Verde no Estado de

Minas Gerais enfocando a modalidade de manutenção da cobertura vegetal nativa. Os

interessados poderiam encaminhar propostas de preservação ambiental, individuais ou

coletivas, destacando as características de sua propriedade - que deveria conter uma área

mínima de cobertura vegetal.

Ainda em 2010 foi disponibilizado para o programa o montante total de R$

7.172.461,00, provenientes unicamente do Fhidro, entretanto, apenas R$ 5.020.722,70

foram destinados aos pagamentos diretos aos beneficiários, enquanto os demais R$

2.151.738,30 foram alocados em ações de capacitação e promoção do Programa Bolsa

107

De acordo com o § 2º do Art. 4º da Lei 17.727, de 13 de agosto de 2008, “os créditos de que trata o

caput deste artigo poderão ser utilizados para pagamento de: I - tributos estaduais; II - dívida ativa com o

governo estadual; III - lance em leilão de bens do Estado; e IV - serviços prestados pelo Estado”. 108

Os critérios estão apresentados em detalhes no documento “Bolsa Verde: Manual de princípios,

critérios e procedimentos para a implantação da lei n.17.727 de agosto de 2008”.

Page 361: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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361

Verde (IEF, 2012). Porém, devido aos ajustes necessários à implantação do programa, o

orçamento de 2010 foi executado até o primeiro quadrimestre de 2012.

De acordo com o relatório anual de atividades 2010/2011 do Programa Bolsa

Verde, foram recebidas em 2010, 871 propostas (coletivas e individuais) de 2.587

possíveis beneficiários (individuais). Dessas, 325 foram aprovadas, representando 1.023

beneficiários. A fase de análise das propostas começou em 22 de novembro de 2010 e

estendeu-se até julho de 2011, quando foram definidos os beneficiários. Em adição,

1.859 pessoas em todo o Estado de Minas Gerais foram capacitadas para a implantação

do programa.

Em 2011, foi lançado um mais um edital, quando foram recebidas 3.500 novas

propostas coletivas e individuais, sendo aprovados 1.951 beneficiários, com uma área

correspondente a 62.564,48 ha109

. Aqui vale ressaltar que as propostas do edital de 2011

com um parecer desfavorável, não tiveram suas solicitações de recursos analisadas até

2013.

Os beneficiários dos editais lançados em 2010 e 2011 (únicos editais lançados

até outubro de 2015) poderiam receber a Bolsa Verde durante cinco anos, com parcelas

de pagamentos anuais, contanto que mantivessem a sua área nas mesmas condições (ou

em melhores condições) do momento em que o benefício lhes foi concedido. Entretanto,

ao longo do funcionamento do programa Bolsa Verde, alguns imprevistos dificultaram

o pagamento aos beneficiários. Conforme é possível verificar na tabela 75 abaixo a

execução financeira do Programa Bolsa Verde em Minas Gerais está consideravelmente

atrasada.

Tabela 75: Resumo do Cronograma de execução financeira do

programa Bolsa Verde entre 2010 e 2014.

Edital Total de

aprovados

Receberam

só uma

parcela

Receberam

duas parcelas

Receberam

três parcelas

Não

receberam

2010 924 277 548 1 98

2011 1791 177 0 0 1594

Fonte: Elaboração Própria a partir de Instituto Estadual de Florestas – IEF, 2014.

É possível observar que o total de beneficiários que deveriam receber as parcelas

da Bolsa Verde, apontados na tabela 75, era menor que o número previamente aprovado

109

LAVRATTI et. al, 2014.

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362

(1.023 em 2010 e 1.951 em 2011). Isso ocorre devido à desistência ou incapacidade dos

proprietários ou posseiros comprovarem parcial ou totalmente o domínio legal das áreas

apresentadas para pleitear o benefício. Além disso, alguns recursos não foram pagos,

pois os beneficiários não tinham conta bancária adequada para recebê-lo. Era necessária

uma conta corrente no Branco do Brasil em nome do beneficiário, mas alguns

apresentaram contas poupança, contas conjuntas, contas para o recebimento de

benefício de seguridade social, entre outras. Devido a essa circunstância, o IEF vinha

tentando, desde 2012, estabelecer um acordo com o Banco do Brasil para que fosse

criado um cartão exclusivo da Bolsa Verde, evitando que os beneficiários fossem

cobrados por serviços de manutenção de conta bancária. Contudo, até outubro de 2015,

esse acordo não foi fechado, sendo ainda necessário ao beneficiário abrir uma conta

corrente em dita instituição financeira.

Em adição, ocorreram contingências de ordem administrativas e burocráticas.

Dado que o IEF (que abriga a Secretaria Executiva do programa Bolsa Verde) está

vinculado à SEMAD, houve a necessidade de harmonizar os procedimentos internos

destas entidades para a realização dos pagamentos. A SEMAD, portanto, recomendou

ao IEF algumas mudanças no controle dos processos administrativos, que o obrigou a

rever todos os procedimentos da Bolsa Verde, atrasando ainda mais a liberação dos

pagamentos.

Além da revisão dos processos, ficou definido que o IEF deverá realizar a

vistorias de todas as áreas que vierem a participar do programa. Desde o momento da

confirmação das inscrições para pleitear o benefício, até durante o período de renovação

dos contratos anuais. A princípio, foi vislumbrada a possibilidade de essas vistorias

serem realizadas por imagens de satélite, sendo a visita em loco apenas amostral.

Contudo, a recomendação da SEMAD foi para que todas as vistorias fossem realizadas

in loco, a fim de verificar tanto as obrigações determinadas nos Termos de Cooperação

Mútua (TCM) bem como a titularidade da terra, gerando a necessidade de mais tempo e

recursos para a implantação do programa Bolsa Verde.

Entretanto, em 2014, por consequência do Decreto Estadual 46.289, de 31 de

agosto de 2013, que estabeleceu diretrizes para a contenção de despesas no âmbito das

autarquias, as atividades relativas à administração financeira do Programa Bolsa Verde

tiveram de ser novamente reelaboradas. As despesas com diárias e passagens para a

realização de vistorias das áreas que fazem parte do programa foram suspensas, assim

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IEI-18958

363

como a previsão de pagamentos de benefícios. Atualmente110

, as visitas em loco

voltaram a acontecer, mas dependem de um novo fluxo administrativo para sua

aprovação.

Todos esses gargalos contribuíram para o atraso no pagamento das parcelas dos

beneficiados pelo programa Bolsa Verde. A tabela 76 abaixo aponta o valor total

executado, o número de beneficiários que receberam suas parcelas e a área conservada

com o programa, entre os anos de 2011 e 2014. É importante mencionar que até o

momento (outubro de 2015) nenhuma outra parcela foi liberada.

Tabela 76: Montante da execução financeira do Bolsa Verde,

quantitativo de benefícios pagos e extensão da área conservada e m

função dos pagamentos.

Ano Valor executado (R$) Número de benefícios Área Conservada (ha)

2011 5.585.804,07 751 27.929,020

2012 1.288.768,68 287 6.443,843

2013 4.353.236,05 768 21.766,180

2014 187.740,93 54 938,705

Total 11.415.549,73 1.860 57.077,749

Fonte: Instituto Estadual de Florestas – IEF, 2014.

A tabela 76 aponta que nos quase cinco anos de existência do Programa Bolsa

Verde no Estado de Minas Gerais já foram beneficiados 1.860 proprietários e ou

posseiros, que garantiram a preservação de aproximadamente 57 mil hectares. Essa

preservação custou aos cofres públicos pouco mais de R$ 11,4 milhões, sem considerar

as despesas administrativas, de capacitação e divulgação do programa Bolsa Verde.

Metas

A meta atual dos implementadores do programa é definir o destino da Bolsa

Verde. Esse programa está relativamente parado desde 2014, com dificuldades de obter

recursos, não apenas para efetuar o pagamento das parcelas que estão faltando, como

também para a realização das visitas in loco nas propriedades.

No que se refere a essas visitas, Campos (2014) destaca que são interessantes já

que permitem o contato direto com a área ambiental e fortalecem os laços entre o órgão

ambiental e a população. Entretanto, a própria autora destaca que a escassez de recursos

110

Conforme informação telefônica concedida por Manuela Cardoso Stein, funcionária do Instituto

Estadual de Florestas – IEF, em 19 de outubro de 2015.

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364

humanos e financeiros vem tornando essa prática inviável. Desta maneira, Campos

(2014) sugere a utilização da tecnologia (por exemplo, servindo-se de imagens de

satélite para monitorar as áreas) como uma saída para enfrentar a restrição orçamentária.

Além disso, o IEF ainda tem a ambição de implementar a modalidade de

recuperação da vegetação nativa do programa Bolsa Verde. Até outubro de 2015,

apenas a modalidade de manutenção das áreas foi implantada, não sendo possível

auxiliar aqueles que estão com passivo ambiental111

.

1.6.5. Rio de Janeiro

O mecanismo de Pagamento por Serviços Ambientais foi instituído no Estado do

Rio de Janeiro pelo Decreto Estadual 42.029/2011112

, como um subprograma

denominado PRO-PSA - Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais. O

PRO-PSA é subordinado ao Programa Estadual de Conservação e Revitalização de

Recursos Hídricos (PROHIDRO), sendo coordenado pelo Instituto Estadual do

Ambiente (INEA).

No âmbito do Decreto, são considerados pagamentos por serviços ambientais as

práticas e iniciativas de possuidores, a qualquer título, de área rural situada no Estado do

Rio de Janeiro, que favoreçam a conservação, manutenção, ampliação ou recuperação

de benefícios ao meio ambiente. Tais práticas e iniciativas devem se enquadrar em uma

das seguintes modalidades: (i) a qualidade e a disponibilidade das águas, (ii) a

preservação da biodiversidade, (iii) das faixas marginais de proteção, além do sequestro

de carbono de reflorestamento das matas ciliares, nascentes e olhos d´água para fins de

minimização dos efeitos das mudanças do clima113

.

O PRO-PSA tem como prioridade investir nas áreas rurais e mananciais de

abastecimento público, respeitando os critérios determinados pelo Conselho Estadual de

Recursos Hídricos - CERHI.

Conforme estipulado no decreto supracitado, os recursos financeiros para a

implementação e a manutenção do PRO-PSA poderão advir do Fundo Estadual de

111

Conforme informação telefônica concedida por Manuela Cardoso Stein, funcionária do Instituto

Estadual de Florestas – IEF, em 19 de outubro de 2015. 112

O Decreto Estadual 42.029/2011 regulamenta o Programa Estadual de Conservação e Revitalização de

Recursos Hídricos - PROHIDRO, previsto nos artigos 5º e 11 da lei nº 3.239, de 02 de agosto de 1999,

que institui a política estadual de recursos hídricos, e dá outras providências. 113

Art. 2°, Decreto Estadual 42.029/2011.

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365

Recursos Hídricos - FUNDRHI; das doações e transferências de pessoas físicas ou

instituições, nacionais/internacionais, públicas/privadas; das remunerações oriundas de

projetos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo; dos recursos oriundos

do Fundo Estadual de Conservação Ambiental - FECAM; e outras receitas.

Para execução do PRO-PSA foi instituído o Cadastro Estadual de Pagamento por

Serviços Ambientais, composto por dados e informações acerca das áreas contempladas,

dos serviços ambientais realizados e dos beneficiários do programa.

Entretanto, desde 2008, havia um programa de PSA no Estado, denominado

Produtor de Água e Floresta (PAF) na Bacia do Rio das Pedras. Esse mesmo programa,

em 2011, passou a atender todo município de Rio Claro/RJ e eu sucesso resultou na

reformulação do projeto e na troca de seu nome por PRO-PSA Guandu, que também

contou com uma nova ampliação da sua área de abrangência, conforme será abordado a

seguir.

Programa de Pagamento por Serviços Ambientais na Região Hidrográfica

II – Guandu (PRO-PSA GUANDU)

Origem do Programa

O Produtor de Água e Floresta (PAF) foi um programa piloto, implementado em

2008, com objetivo de incentivar práticas de conservação e recuperação ambiental para

a manutenção da quantidade e qualidade da água na micro bacia do Rio das Pedras,

localizada na região do Alto Rio Piraí. Em 2011, como mencionado anteriormente, o

PAF passou a abranger também todo município de Rio Claro/RJ.

A partir da experiência de Rio Claro, o programa sofreu diversas alterações que

culminaram na sua expansão para outros municípios e sub-bacias da Região

Hidrográfica do Rio Guandu, passando a ser chamado PRO-PSA Guandu, definido pela

Resolução N. 85/ 2012. O Mapa 71 abaixo aponta o local de implementação do

programa:

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366

Mapa 71: Área de implementação do Programa de Pagamento por Serviços

Ambientais na Região Hidrográfica II – Guandu (PRO-PSA GUANDU)

Fonte: TNC, 2013.

Diante da ampliação do programa, foi elaborado um estudo de sua viabilidade

com o propósito de criar um instrumento que contribuísse para definição de áreas

prioritárias (sub-bacias), identificando os serviços ambientais passíveis de gerar maiores

benefícios. Esse estudo foi elaborado por representantes da sociedade civil que integram

o Comitê da Bacia do Rio Guandu, sendo: The Nature Conservancy (TNC), Instituto

Terra de Preservação Ambiental (ITPA), e Conservação Internacional (CI-Brasil).

O estudo de viabilidade serviu como base para a elaboração do manual do PRO-

PSA GUANDU, que tem a finalidade de instruir os atores envolvidos na gestão do

programa e os interessados na sua adesão.

Etapas do Programa

O PRO-PSA foi proposto em duas etapas, a primeira se refere à sua implantação

e compreende o período de 2014 a 2016. A segunda, com início previsto para 2017, tem

o objetivo de consolidá-lo.

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367

Serviços Ambientais

O programa considera como serviços ambientais prioritários aqueles que

regulam as condições ambientais, tais como a purificação do ar, a regulação dos ciclos

das águas e do clima, o controle de enchentes e de erosão. O modelo de PSA adotado é

o usuário-pagador, aonde os consumidores de água pagam aos proprietários rurais um

incentivo para que adotem práticas de conservação e recuperação de remanescentes

florestais.

Agentes Envolvidos

Os principais agentes envolvidos no programa são: o Comitê Guandu, a Unidade

Gestora do Projeto (UGP), a Agência de Bacia do Comitê Guandu (AGEVAP), as

Prefeituras, as instituições executoras de projetos de PSA – que podem ser públicas ou

privadas, selecionadas a partir de editais -, proprietários rurais, beneficiários dos

serviços ambientais e parceiros114

.

A unidade gestora do Programa de Pagamento por Serviços Ambientais na

Região Hidrográfica II – Guandu (UGP) possui como atribuição gerenciar o arranjo

institucional de execução do projeto; dirimir conflitos existentes; propor ações para a

conservação e recuperação do solo, florestas e recursos hídricos. A UGP é composta

pelo Comitê de Bacia Hidrográfica dos rios Guandu, da Guarda e Guandu-mirim,

Prefeitura Municipal de Rio Claro, Instituto Estadual do Ambiente, Instituto Terra de

Preservação Ambiental (ITPA) e The Nature Conservancy115

.

Arranjos Institucionais

O documento elaborado pelo Comitê de bacia Hidrográfica Guandu e Agência

da Bacia do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP), considerado o manual do programa116

aponta que para a execução do projeto se faz necessário à articulação e cooperação

técnica entre o setor público e privado, com o objetivo de fomentar a elaboração de

projetos de PSA e de programas de recuperação de áreas degradadas, de extensão rural,

educação ambiental, dentre outros.

114

O Manual do programa define como parceiros, aqueles que colaboram, financeiramente ou não, com a

implantação dos projetos de PSA, podendo ser órgãos dos governos estaduais e federal, prefeituras,

ONGs, empresas, usuários de água, comitê de bacia, dentre outros. Manual do programa PRO-PSA

Guandu, rev. Fevereiro de 2015. 115

Vale ressaltar que as responsabilidades e contrapartidas das instituições parceiras foram estabelecidas

por meio da celebração de Termo de Cooperação Técnica. 116

Comitê de bacia Hidrográfica Guandu; AGEVAP, Fevereiro de 2015.

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368

Nesse contexto, foi assinado termo de cooperação técnica entre Comitê da Bacia

Hidrográfica do Guandu, Instituto Estadual do Ambiente, Prefeitura Municipal de Rio

Claro, TNC e ITPA com o intuito de criar a UGP e definir suas responsabilidades. Além

do termo, foram assinados contratos bilaterais entre TNC e ITPA e contratos com os

beneficiários do PSA117

. A Figura 68 apresenta um esquema de organização de

parcerias do projeto.

Figura 68: Esquema de organização de parcerias do projeto Produtores

de Água e Floresta

Fonte: Castello Branco, 2015.

Fonte de Recursos

Os recursos financeiros para pagamento dos serviços ambientais referentes à

primeira fase do programa (2014 a 2016) são oriundos da cobrança pelo uso dos

recursos hídricos na Região Hidrográfica do Rio Guandu, definidos no Plano de

Aplicação Plurianual do Comitê Guandu através da Resolução nº 106/2014.

Além disso, como mencionado anteriormente, os recursos financeiros para

programa de PSA poderão advir de outras fontes desde que respeitados seus

regulamentos, sendo: (i) recursos provenientes do Fundo Estadual de Recursos Hídricos

– FUNDRHI, (ii) doações e transferências; (iii) remunerações oriundas de projetos no

117

CASTELLO BRANCO, 2015.

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369

âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL, (iii) recursos provenientes

do Fundo Estadual de Conservação Ambiental - FECAM, mediante a apresentação de

projetos específicos e (iv) quaisquer outras receitas, eventuais ou permanentes, desde

que vinculadas aos objetivos do PROPSA118

.

Os recursos que constituem o FUNDRHI são originários da cobrança pela

outorga sobre o direito de uso de recursos hídricos, multas arrecadadas decorrentes de

ações sobre uso dos recursos hídricos, o produto da arrecadação da dívida ativa

decorrente de débitos com a cobrança pelo uso de recursos hídricos, as dotações

consignadas no Orçamento Geral do Estado e em créditos adicionais, dentre outras (RIO

DE JANEIRO, 1999).

Adicionalmente, a lei estadual N° 5.234/2008, que trata da cobrança pelo uso

dos recursos hídricos define que do montante de recursos arrecadados, 90% (noventa

por cento) deve ser aplicado na bacia hidrográfica que o arrecada, em ações e projetos

constantes no Plano de Investimentos aprovado pelo respectivo Comitê de Bacia; e o

percentual restante deve ser aplicado no órgão gestor do Estado (INEA). No caso das

Regiões do Guandu e do Paraíba do Sul, há ainda a obrigatoriedade de 15% dos valores

arrecadados serem aplicados no Paraíba do Sul, em virtude da transposição para

abastecimento da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (INEA, 2015).

Analisando o detalhamento das contas do FUNDRHI é possível verificar que até

setembro de 2015 foi arrecadado com a cobrança pelo uso da água, somando-se todas as

Regiões Hidrográficas, um total de R$40.465.823,04. Apenas a Região Hidrográfica do

Guandu, recebeu neste mesmo ano R$ 27.304.855,86, um valor superior ao dos três

anos anteriores – conforme é possível observar na tabela 77, abaixo.

Tabela 77: Valores arrecadados com a cobrança pelo uso da

água na Região Hidrográfica do Guandu

Ano Montante Arrecadado

2011 R$18.060.273,01

2012 R$16.781.352,60

2013 R$12.082.013,21

2014 R$7.107.605,66

2015 R$27.304.855,86

Fonte: INEA, 2015.

118

Art. 6º, Decreto Estadual 42.029 de 2011.

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370

Contudo, não necessariamente 90% do valor arrecadado com a cobrança pelo

uso da água na bacia hidrográfica vai para projetos ou programas de PSA. O Comitê da

bacia hidrográfica Guandu utiliza a verba arrecada com uma série de projetos, como por

exemplo, Projetos de Esgotamento sanitário, Agenda Água na Escola, cursos de

capacitação, entre outros. Porém, é possível apontar as verbas destinadas ao Projeto

Produtores de Água e Floresta, definidas na resolução CERHI-RJ Nº 43/ 2010. De

acordo com essa resolução, o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, aprova a

aplicação de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) por ano, no período de 2010-2014,

aprovou ainda o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) para o primeiro ano do

projeto (2008).

Em adição, a resolução CERHI-RJ nº 83, de maio de 2012, aprovou o valor de

R$1.905.763,64 para a ação de pagamento por serviços ambientais. A tabela 78 aponta

os montantes a serem aplicados nos projetos de PSA na bacia do rio Guandu e as

respectivas resoluções.

Tabela 78: Projetos de PSA realizados com recursos FUNDRHI,

gastos apontados pelo Comitê de Bacia Hidrográfica Guandu,

2015.

Projeto Situação Resolução Montante

Produtores de Águas Liquidado CERHI nº 33/ 2008 R$ 35.000,00

Produtores de Águas

e Florestas (2010)

Repassado para

Delegatária

CERHI-RJ nº 43/

2010 R$ 200.000,00

Produtores de Águas

e Florestas (2011)

Repassado para

Delegatária

CERHI-RJ nº 43/

2010 R$ 200.000,00

Produtores de Águas

e Florestas (2013)

Repassado para

Delegatária

CERHI-RJ nº 43/

2010 R$ 200.000,00

Pagamento por

Serviços Ambientais

Repassado para

Delegatária

CERHI-RJ nº 83/

2012 R$ 1.905.763,64

Projeto pagamento

por serviços

ambientais

Repassado para

Delegatária

CERHI-RJ nº 126/

2014 R$ 2.742.958,63

Total R$ 5.283.722,27

Fonte: INEA, 2015

Como é possível observar na tabela 78, foi realizado um gasto total de R$

5.283.722,27 com os projetos de PSA na bacia do rio Guandu entre 2008 e 2015. Esse

valor, entretanto, é inferior ao montante apontado pelas resoluções do CERHI-RJ, que

definiram, por exemplo, 5 parcelas no valor de R$ 200.000,00 para o Programa

Page 371: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

371

Produtores de Águas e Florestas, mas na tabela 16 verifica-se que só foram feitos 3

pagamentos.

Deve-se ainda destacar que além desses valores estabelecidos e alocados pelo

Comitê de Bacia Hidrográfica do Guandu, o Projeto Produtor de Água e Florestas

contou com o aporte financeiro de alguns parceiros institucionais como a The Nature

Conservancy - TNC, o Instituto Terra de Preservação Ambiental – ITPA, a Conservação

Internacional e o INEA (compensações ambientais de empreendimentos privados)

(TNC; ITPA; CI, 2013).

De qualquer maneira, deve-se notar que a previsão de gastos do Comitê de Bacia

Hidrográfica do Guandu com os programas de PSA no Estado vem crescendo e podem

abranger cada vez mais beneficiários.

Pagamento aos beneficiários

Os valores adotados para o pagamento de serviços ambientais são estabelecidos

de acordo com o custo de oportunidade local da terra por hectare ao ano119

, nível de

prioridade para a produção de água na bacia, o estágio de sucessão dos remanescentes

florestais (avançado, médio ou inicial), proximidade ou inclusão da área conservada/

recuperada em Unidade de Conservação120

.

O valor atual pago121

para o PSA de recuperação florestal122

é R$ 50,00 por

hectare se for área “bem cuidada” e R$ 30,00 por hectare se for área “médio cuidada”.

Já para o PSA de conservação123

o valor máximo pago é de R$ 60,00 para Áreas de

Preservação Permanente (APPs) situadas no entorno de Unidades de Conservação (APA

/ RPPN). Para os demais estágios de sucessão há valores diferenciados a serem pagos

considerando o percentual de área restaurada e o contexto geográfico, conforme

demonstra a tabela 79, abaixo.

Tabela 79: Valores de Pagamento para PSA na Modalidade

Conservação Florestal por hectares

119

O custo de oportunidade local da terra foi calculado através do potencial de geração de riqueza por

área, sendo fixado com base nos principais usos e índices de produção seguidos pela EMATER-RJ

(AGEVAP, 2015b). 120

AGEVAP, 2015b (Edital AGEVAP N° 012/2015). 121

Valores informados no Edital AGEVAP 004/2015 e Edital AGEVAP 012/2015. 122

Para o cálculo do valor a ser pago para o PSA de recuperação considerar-se-á a situação da área no que

tange ao seu estado de conservação – “bem cuidada” e “médio cuidada”. 123

Para o cálculo do valor a ser pago para o PSA de conservação considerar-se-ão: (i) contexto geográfico;

(ii) estágio de sucessão da área a ser conservada e (iii) percentual das Áreas de Preservação Permanente

(APP) da propriedade incluídas no projeto para recuperação florestal.

Page 372: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

372

CONTEXTO GEOGRÁFICO ESTÁGIO DE

SUCESSÃO

PERCENTUAL DE ÁREAS DE

RESTAURAÇÃO

25-50% 51-75% 76-100%

Sem contexto de proximidade ou

inclusão em Unidades de

Conservação

APPs (Vegetação estágio

médio/ avançado) R$ 30,00 R$ 40,00 R$ 50,00

APPs (Vegetação estágio

inicial) R$ 20,00 R$ 30,00 R$ 40,00

Outras áreas com floresta

(estágio médio/ avançado) R$ 20,00 R$ 30,00 R$ 40,00

Outras áreas com floresta

(estágio inicial) R$ 10,00 R$ 20,00 R$ 30,00

Entorno de Unidades de

Conservação – APA/ RPPN

APPs (Vegetação estágio

médio/ avançado) R$ 36,00 R$ 48,00 R$ 60,00

APPs (Vegetação estágio

inicial) R$ 24,00 R$ 36,00 R$ 48,00

Outras áreas com floresta

(estágio médio/ avançado) R$ 24,00 R$ 36,00 R$ 48,00

Outras áreas com floresta

(estágio inicial) R$ 12,00 R$ 24,00 R$ 36,00

Fonte: Edital AGEVAP 012/2015

Cabe destacar que posteriormente à valoração do PSA deverá ser aplicado um

fator de correção por módulos fiscais124

, seguindo os índices especificados no Edital

AGEVAP 012/2015. No referido edital as áreas prioritárias do programa são as APPs

situadas às margens de cursos d’água, de nascentes e lagos, conforme o estabelecido

pela Lei Federal nº 12.651/2012.

Para entrar no programa, o proprietário de terra deve descrever quais serão as

ações de conservação e recuperação a serem realizadas, observados as exigências

apresentadas no edital, bem como disponibilizar no mínimo 25% do total de área

prioritária (matas ciliares) sem cobertura florestal como meta para recuperação. Por

outro lado, as propriedades que apresentarem toda a cobertura vegetal exigida por lei

não terão meta mínima de recuperação, sendo a valoração dos serviços ambientais

prestados realizada a partir do maior montante125

.

Atualmente (janeiro de 2016), o programa PRO-PSA Guandu conta com 70

proprietários rurais como beneficiários que conservam 4.562 hectares, além de

recuperar 564 hectares. Segundo Caroline Lopes Santos, Especialista em Recursos

Hídricos da AGEVAP, o valor pago de PSA aos beneficiários do programa, no

124

Módulo fiscal refere-se a unidade de medida agrária estabelecida pela Instrução Especial nº 20, de 28

de maio de 1980, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, definida em

hectares (ha) e fixada de forma diversa para cada município. Edital AGEVAP 012/2015. 125

Edital AGEVAP 012/2015.

Page 373: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

373

município de Rio Claro, acumulados até 2015, totalizam R$ 839.204,69126

. Esse último

valor é inferior aos gastos acumulados com os projetos de PSA na Bacia do Guandu,

apontados pelo INEP em 2015 (ver tabela 16). Porém, deve-se enfatizar que o montante

apontado pela entrevistada se referia ao pagamento direto aos beneficiários apenas no

município de Rio Claro, e não considerava os gastos com a gestão e implementação do

projeto.

Com efeito, o “Estudo de viabilidade de implantação do programa PRO-PSA na

região hidrográfica do Guandu – Rio de Janeiro” realizado pela TNC, ITPA e CI (2013)

apontou os custos de implantação e operação do Produtor de Água e Floresta entre

2008-2012 (posteriormente transformado no PRO-PSA Guandu). Conforme é possível

ver na tabela 80, o pagamento direto aos produtores representou apenas 7% dos gastos

totais do Programa.

Tabela 80: Custos de implantação e operação do Produtor de

Água e Floresta 2008-2012

Atividade Total (R$) Porcentagem

Diagnóstico e prospecção R$ 178.806 3%

Conservação R$ 480.192 9%

Recuperação R$ 2.742.877 52%

Saneamento R$ 67.000 1%

PSA R$ 368.417 7%

Comunicação R$ 119.900 2%

Capacitação R$ 13.000 1%

Gestão R$ 1.266.813 24%

Monitoramento Hidrológico R$ 72.750 1%

Total R$ 5.309.755 100%

Fonte: TNC, ITPA e CI, 2013.

Deve ficar claro que o montante total apontado na tabela 18 se refere ao aporte

financeiro de diferentes entidades, a saber: The Nature Conservancy - TNC, o Instituto

Terra de Preservação Ambiental – ITPA, o Comitê Guandu, a Conservação

Internacional e o INEA (já mencionados anteriormente). O que não invalida o valor

gasto entre 2008-2015 pelo Comitê de Bacia Hidrográfica Guandu através do

FUNDRHI com os projetos de PSA, que totalizaram R$ 5.283.722,27 (tabela 16).

126

Informações obtidas por e-mail no dia 20/01/2016.

Page 374: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

374

Áreas de abrangência do Programa

No âmbito do programa PRO-PSA Guandu, são consideradas áreas prioritárias

as sub-bacias do Alto Piraí, Médio Piraí, Represa de Ribeirão das Lajes, Represa do

Santana, Sacra Família, Rio Santana, que abrangem 9 (nove) municípios, sendo tais:

Rio Claro, Piraí, Barra do Piraí, Mendes, Eng. Paulo de Frontin, Paracambi, Vassouras,

Miguel Pereira e Japeri. Além das áreas citadas, também poderão ser consideradas áreas

prioritárias aquelas indicadas no Plano de Recurso Hídrico da Região e/ou estudos

referendados pela AGEVAP.

Com fulcro no novo Código Florestal127

, o programa considera como área

prioritária para recuperação florestal as margens de rios e riachos em largura variável,

bem como o entorno de nascentes que estão sem vegetação nativa.

Metas

O projeto possui como meta para a primeira fase do programa (2014 a 2016) a

implantação de ao menos um projeto de PSA em uma nova sub bacia prioritária na

Região Hidrográfica II - Guandu. Além disso, dentre as demais metas existentes, cabe

destacar: (i) a elaboração do cadastro ambiental rural em 240.000 ha; (ii) a recuperação

de 600 ha de floresta; (iii) a conservação 3.000 ha de floresta; (iv) a contratação de 90

proprietários rurais e (v) a destinação de R$ 13.900.000,00 no PRO-PSA Guandu128

.

Cabe ressaltar também a projeção dos custos e benefícios do PRO-PSA

recuperação realizadas pelo estudo de viabilidade do programa, entre 2014 e 2030129

.

De acordo com esse estudo, após 5 (cinco) anos da implantação do PRO-PSA

recuperação, seria possível reduzir consideravelmente os custos anuais com o

tratamento de água e o custo da ampliação do PRO-PSA, conforme é possível observar

na tabela 81, abaixo.

Tabela 81: Estimativas de Custos e benefícios advindos do

Programa PRO-PSA, após sua implantação

127

O Novo Código Florestal brasileiro foi instituído pela Lei 12.651/2012, que dispõe sobre a proteção da

vegetação nativa; altera as Leis no 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e

11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos

4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14

de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.

128 Comitê de bacia Hidrográfica Guandu; AGEVAP, 2015.

129 TNC, ITPA, Conservação Internacional Brasil. Estudo de Viabilidade de Implantação do programa

PRO-PSA na Região Hidrográfica do Guandu. Rio de Janeiro, 2013.

Page 375: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

375

Ano

(A)*

Área restaurada

acumulada prestando

serviços ambientais

após

5 anos da implantação

da

recuperação (ha) /ano

(B)

Redução dos

custos de

tratamento de

água (R$) /ano

(R$ 1931/ha)

(C)

Custo da

ampliação do

PRO-PSA

(R$)/ano

(D=B-C)

Saldo (R$)/ano

Saldo

Acumulado

(R$)/ano

2014 0 - 4.981.565 -4.981.565 -4.981.565

2015 0 - 5.661.191 -5.661.191 -10.642.756

2016 0 - 6.722.549 -6.722.549 -17.365.304

2017 0 - 8.780.834 -8.780.834 -26.146.138

2018 0 - 9.355.176 -9.355.176 -35.501.314

2019 200 386,200 10.040.740 -9.654.540 -45.155.854

2020 500 965,500 10.542.777 -9.577.277 -54.733.132

2021 900 1.737.900 1.737.900 -52.995.232

2022 1,400 2.703.400 2.703.400 -50.291.832

2023 1,900 3.668.900 3.668.900 -46.622.932

2024 2,400 4.634.400 4.634.400 -41.988.532

2025 2,900 5.599.900 5.599.900 -36.388.632

2026 2,900 5.599.900 5.599.900 -30.788.732

2027 2900 5.599.900 5.599.900 -25.188.832

2028 2900 5.599.900 5.599.900 -19.588.932

2029 2900 5.599.900 5.599.900 -13.989.032

2030 2900 5.599.900 5.599.900 -8.389.132

2031 2900 5.599.900 5.599.900 -2.789.232

2032 2900 5.599.900 5.599.900 2.810.668

Total 58.895.500 56.084.832 2.810.668

Fonte: TNC, ITPA, Conservação Internacional Brasil, 2013

A tabela 19 demonstra que caso o projeto PRO-PSA Guandu seja implementado

e realizado conforme planejado, haverá uma considerável redução no valor anual dos

custos de tratamento de água Guandu (em torno de R$ 5,6 milhões), bem como uma

recuperação aproximada de 2.900 hectares de floresta e consequentemente, uma

economia de R$1.931,00 por hectare.

Por fim, cabe destacar que atualmente o INEA130

reconhece que o PSA

implementado no Estado tem possibilitado a melhoria nos processos de gestão dos

recursos naturais, da qualidade de vida e na renda dos agricultores familiares.

130

INEA, s/d.

Page 376: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

376

1.6.6. São Paulo

A Lei nº 13.798/2009 que, dispõe sobre a Política Estadual de Mudanças

Climáticas – PEMC - estabelece que o Governo do Estado de São Paulo instituirá, por

meio de decreto, o Programa de Remanescentes Florestais, a ser coordenado pela

Secretaria do Meio Ambiente. O programa tem como objetivo promover a delimitação,

demarcação e recuperação de matas ciliares e outros tipos de fragmentos florestais,

podendo tanto dispor de pagamento por serviços ambientais aos proprietários rurais

conservacionistas, como de incentivos econômicos para a redução de desmatamento e

proteção do meio ambiente.

Em 24 de Junho de 2010, foi sancionado o Decreto nº 55.947 regulamentando a

Lei nº 13.798/2009. No âmbito do Decreto, os pagamentos por serviços ambientais

foram definidos como uma transação voluntária remunerada em contrapartida às

práticas de conservação ou recuperação ambiental, mediante a comprovação do

atendimento das exigências legais estabelecidas.

Os programas de PSA no Estado serão coordenados pela Secretaria do Meio

Ambiente, com apoio do Comando de Policiamento Ambiental, da Polícia Militar, da

Secretaria da Segurança Pública, e da Companhia de Tecnologia de Saneamento

Ambiental (CETESB), da Fundação Florestal, da Secretaria da Segurança Pública, e da

Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Cabe a Secretaria do Meio Ambiente definir, por meio de norma própria, os

Projetos de Pagamento por Serviços Ambientais, observando os tipos e características

dos serviços ambientais; as áreas prioritárias para a execução; critérios de elegibilidade

e priorização dos projetos elegíveis; critérios para a aferição dos serviços; critérios para

o cálculo dos valores e prazos dos contratos.

Os projetos elegíveis poderão incluir as ações de conservação de remanescentes

florestais; recuperação de matas ciliares e implantação de vegetação nativa para a

proteção de nascentes; plantio de mudas de espécies nativas e/ou execução de práticas

que favoreçam a regeneração natural para a formação de corredores de biodiversidade;

dentre outras.

A legislação em tela estipula o valor máximo de pagamento aos provedores de

serviços ambientais de 100 Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (UFESP) por

hectare/ano e 5.000 UFESP’s por participante/ano, sendo que esses pagamentos deverão

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IEI-18958

377

ser proporcionais aos serviços prestados, considerando a extensão e características da

área envolvida, os custos de oportunidade e as ações realizadas.

Atualmente (janeiro 2016), existem dois projetos estaduais de PSA em

funcionamento, o PSA Mina D´Água, regulamentado pela Resolução SMA 123/2010, e

o PSA Reservas Particulares do Patrimônio Natural- RPPN, regulamentado por meio da

Resolução SMA 89/2013. Ademais, existem outros dois projetos para serem

implementados, o PSA Mata Ciliar voltado à recuperação de matas ciliares por

agricultores familiares, regulamentado pela Resolução SMA 19/2015, e o projeto GEF

Mata Atlântica que contará com a participação dos estados de Minas Gerais e Rio de

Janeiro131

.

Para melhor elaboração do presente trabalho, serão abordados apenas os projetos

de PSA que se encontram em andamento, uma vez que os demais não possuem dados

substanciais para análise e resultados.

Projeto de Pagamento por Serviços Ambientais para as Reservas

Particulares do Patrimônio Natural - RPPN

Origem do Projeto

Em 2013, a Secretaria de Estado do Ambiente, com o intuito de estimular a

criação de RPPNs, a conservação da biodiversidade e a produção hídrica, aprovou a

Resolução SMA 89/2013 que, estabelece diretrizes para a execução do Projeto de

Pagamento por Serviços Ambientais para as Reservas Particulares do Patrimônio

Natural, no âmbito do Programa de Remanescentes Florestais.

O projeto de PSA para as RPPN foi denominado de Crédito Ambiental

Paulista/RPPN (CAP/RPPN), cujo objetivo é a promoção da conservação e recuperação,

quando necessária, de processos ecológicos em áreas privadas.

Serviços Ambientais

Os serviços ambientais compreendidos no projeto CAP/RPPN contemplam as

práticas voltadas para a conservação de remanescentes florestais e/ou para

favorecimento da formação de corredores de biodiversidade.

131

Coleta de dados obtida por meio de perguntas estruturadas realizadas por e-mail com Helena

Carrascosa, em 19/10/2015.

Page 378: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

378

O CAP/RPPN adota o modelo de PSA provedor-pagador, por meio de contrato

de adesão voluntário, celebrado entre o proprietário da RPPN e o Fundo Estadual de

Prevenção e Controle da Poluição – FECOP. Este contrato contém as obrigações

assumidas, os prazos e os percentuais do valor total devido pela realização de cada

atividade prevista no Plano de Ação – cujo modelo consta nos editais de chamada

pública. Por sua vez, o contrato terá prazo de vigência mínima de um ano e máxima de

cinco anos132

.

Agentes Envolvidos

O projeto é coordenado pela Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos

Naturais - CBRN, e executado pela Fundação para a Conservação e a Produção

Florestal do Estado de São Paulo – Fundação Florestal (FF), vinculada à Secretaria de

Estado de Meio Ambiente. Os possíveis beneficiários são os proprietários de imóveis

que estejam adequados à legislação ambiental ou estejam em processo de adequação.

Esses imóveis precisam estar em uso e devem estar devidamente averbados como

Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPNs. A seleção dos beneficiários é

realizada por meio de Edital Público contendo os requisitos necessários para

participação, os critérios de elegibilidade e seleção133

.

Arranjos Institucionais

Para execução do CAP/RPPN o CBRN deve manifestar-se acerca da adequação

ambiental dos imóveis interessados em participar do projeto e acompanhar e monitorar

o desenvolvimento dos trabalhos. Já a FF, o órgão executor da política, tem a função de

estabelecer os critérios de prioridade de aplicação dos recursos (conforme indicado na

Resolução SEMA nº 89/2013), monitorar a execução do Plano de Ação de cada RPPN,

com a realização de vistorias em campo e é responsável por prestar informações sobre o

projeto134

.

Fonte de Recursos

O CAP/RPPN é financiado pelo Fundo Estadual de Prevenção e Controle da

Poluição – FECOP, que foi instituído pela Lei nº 11.160 de 18 de junho de 2002. Esse

132

Art. 9º, § 2º Resolução SEMA nº 89/2013. 133

Os critérios de seleção para chamada pública do CPA/RPPN estão descritos no artigo 2º da Resolução

SMA nº 89/2013. 134

Art. 1º, § 3º, Resolução SEMA nº 89/2013.

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IEI-18958

379

fundo tem o objetivo de apoiar, incentivar e financiar projetos relacionados ao controle,

preservação e melhoria das condições ambientais no Estado.

As receitas financeiras do FECOP poderão advir de diversas fontes, dentre as

quais encontram-se: (i) dotações ou créditos específicos, consignados no orçamento

Estatal; (ii) transferências dos saldos e aplicações de outros fundos estaduais/ subcontas;

(iii) retorno de operações de crédito contratadas com órgãos ou entidades da

administração direta ou indireta, consórcios intermunicipais, concessionários de

serviços públicos e empresas privadas135

.

É possível verificar o montante previsto para o financiamento dos projetos

ambientais do Fundo Estadual de Prevenção Controle da Poluição (FECOP) entre os

exercícios de 2013 e 2015, através da análise das Leis Orçamentárias Anuais do Estado

de São Paulo, conforme tabela 82 a seguir.

Tabela 82: Montantes previstos para o Financiamento de projetos

Ambientais do Fundo Estadual de Prevenção Controle da Poluição

(FECOP) constantes nas Leis orçamentárias anuais do Estado de

São Paulo, 2013 a 2015.

Ano Montante (em R$)

2013 10,00

2014 21.000.000,00

2015 10,00

2016 3.099.990,00

Fonte: Elaboração própria a partir da LOA 2012; LOA 2013; LOA 2014; LOA 2015.

A tabela 82 aponta que a previsão de disponibilização de recursos provenientes

do FECOP, destinados aos projetos ambientais, caíram consideravelmente, entre 2014 e

2016. Essa redução pode deflagrar o desprestigio da temática no planejamento

governamental ou ainda uma situação de baixa capacidade orçamentaria do Estado em

meio à crise fiscal que assolou o país em 2015.

De qualquer modo, é sabido que nem todo recurso do FECOP é utilizado para as

ações de pagamentos por serviços ambientais. Até o momento (janeiro 2015) está sendo

executado o primeiro edital de seleção para os proprietários de RPPN com interesse em

participar do projeto, com o montante total de R$ 1.900.000,00. Entretanto, neste valor

não estão incluídos os custos com a administração, implementação e monitoramento do

projeto, mas apenas o benefício a ser pago para os participantes.

135

Art. 2º, Lei nº 11.160 de 18 de junho de 2002.

Page 380: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

380

Pagamento aos beneficiários

O valor do pagamento por serviço ambiental para cada beneficiário será

calculado considerando a extensão e as características ambientais das áreas e as ações

realizadas pelos proprietários, tendo como referência a equação 19 abaixo, definida no

anexo da Resolução 89/2013:

Equação 19.

PSA (RPPN) = VRA (ha) x [CLASSE(a) x Ca(a) + CLASSE(b) x Ca(b)...]

Onde:

PSA (RPPN) é o Valor do Pagamento por Serviço Ambiental para cada Reserva

Particular do Patrimônio Natural.

VRA (ha) é o Valor de Referência Anual por hectare, calculado considerando a

importância da área para a conservação e as ameaças a que está exposta.

CLASSE é a área total da RPPN dividida por classes de tamanho. O limite

máximo da CLASSE será definido em edital. Cada CLASSE é multiplicada pelo

respectivo Ca.

Ca é o Coeficiente de Área, a ser definido nos editais de chamada pública. Cada

CLASSE tem um coeficiente de área (Ca).

De acordo com informações da Fundação Florestal136

, no que se refere ao

Coeficiente de área (Ca) quanto maior a área, menor é o valor do hectare e vice-versa.

Essa decisão foi considerada importante para que fosse possível otimizar os recursos e

considerar o ganho de escala de áreas maiores.

Por sua vez, O cálculo do VRA (ha) é a primeira etapa para definir o valor a ser

pago por RPPN. Esse fator é estabelecido da seguinte maneira:

Equação 20.

VRA (ha) = Cv x UFESP x Fator RPPN

136

Entrevista por telefone com Oswaldo Bruno, coordenador do Programa RPPN Paulistas, em

20/01/2016.

Page 381: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

381

Onde:

Cv é o Coeficiente de valoração a ser definido nos editais de chamada pública;

tem a finalidade de ajustar o valor e a distribuição dos recursos.

UFESP é a Unidade Fiscal do Estado de São Paulo do ano em questão.

Fator RPPN é o Fator de importância que varia de 0,2 (RPPN com conectividade

baixa, classes 1 a 3, e vegetação secundária) a 1 (RPPN localizada no bioma cerrado).

Segundo fórmula a seguir:

Equação 21.

Fator RPPN = [(F imp) + (F am) / 4] + 1

Onde:

F imp é fator importância ou grau de importância para a conservação da

biodiversidade, obtido pelo enquadramento da RPPN, através de perguntas e respostas,

em uma característica ambiental determinada.

F am é fator ameaça, que quantifica o esforço do proprietário em proteger e/ou

mitigar danos aos serviços ambientais prestados pela RRPN. Varia de 0 (nenhuma

ameaça) a 1 (todas as ameaças).

A partir da observação dos cálculos acima, é possível afirmar que não há um

valor fixo a ser pago por proprietário. O valor vai depender de todos os resultados das

equações apontadas, bem como do montante total a ser disponibilizado pelo Edital para

a implementação da política pública.

Cabe destacar que os valores a serem pagos no último ano de execução do

projeto poderão ser majorados em 20% (vinte por cento) caso o proprietário, além de

cumprir as obrigações descritas no contrato, execute pelo menos uma das seguintes

ações:

(i) homologue a RPPN como Área de Soltura e Monitoramento de Animais

Silvestres nos termos da lei e/ou;

(ii) construa um Plano de Manejo da RPPN aprovado pelo órgão competente.

Page 382: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

382

Em outubro de 2013 foi publicado o primeiro edital de seleção de Reservas

Particulares do Patrimônio Natural do Projeto CAP RPPN137

. Neste edital, como já

mencionado, foi destinado um montante total de R$ 1.900.000,00, para ser utilizado em

cinco anos para o pagamento por serviços ambientais aos proprietários de RPPN

selecionados. Assim, foram contratadas 11 RPPNs, perfazendo uma área total de

1.859,94 ha.

De acordo com os cálculos estabelecidos, a menor parcela paga para um

proprietário de RPPN por ano é de R$ 8.000,00 e a maior parcela é de R$ 40.000,00 a

R$ 60.000,00 por ano. Ou seja, para as menores RPPNs que foram selecionadas para

participar do primeiro Edital (com 25 hectares) o valor anual do pagamento será de

aproximadamente R$ 300,00 por hectare. Nas maiores propriedades que fazem parte do

CAP/ RPPN, com cerca de 600 hectares, o valor por hectare é de R$ 90,00 por ano.

Esses resultados apontam para o pagamento de aproximadamente R$200,00 por hectare

por ano.

De acordo com informações da Fundação Florestal138

, em janeiro de 2016 o

projeto já estava na segunda parcela do pagamento para os proprietários das RPPNs

selecionados pelo primeiro edital, lembrando que o contrato estabelecido foi de cinco

anos (com cinco parcelas a serem pagas no total).

Em novembro de 2015 foi lançado o segundo edital do projeto139

que até janeiro

de 2016 estava em fase de análise das propostas recebidas. A Fundação Florestal140

informou que foram recebidas oito propostas para este edital, que tem um montante

total de R$ 880.000,00, a ser dividido em cinco anos pelos proprietários de RPPNs que

serão selecionados. A tabela 83 abaixo aponta quanto o Estado empenhou até início de

2016 com o projeto CAP/ RPPN:

Tabela 83: Montante empenhado pelo Estado de São Paulo para a

realização do Projeto CAP/RPPN, janeiro 2016.

Edital Ano Prazo do programa Valor a empenhado

EDITAL nº

01/2013/CAP/RPPN

Outubro de 2013 5 anos R$ 1.900.000,00

EDITAL nº

02/2015/CAP/RPPN

Novembro de 2015 5 anos R$ 880.000,00

137

Governo do Estado de São Paulo. Edital nº 01/2013/CAP/RPPN. 138

Entrevista por telefone com Oswaldo Bruno, coordenador do Programa RPPN Paulistas, em

20/01/2016. 139

Governo do Estado de São Paulo. EDITAL nº 02/2015/CAP/RPPN 140

Entrevista por telefone com Oswaldo Bruno, coordenador do Programa RPPN Paulistas, em

20/01/2016.

Page 383: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

383

Total R$ 2.780.000,00

Fonte: Elaboração própria.

A tabela 83 aponta que foram empenhados pelo Governo de São Paulo R$

2.780.000,00 para o pagamento por serviços ambientais provenientes de RPPNs no

Estado. Esse montante é significativo e pode garantir ao todo 7 anos de proteção dessas

áreas. Entretanto, deve-se enfatizar a queda de aproximadamente 53% nos recursos

empenhados para o projeto, entre 2013 e 2015, sendo que o segundo edital só enfocava

as propriedades localizadas em 4 Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos

(UGRHI)141

, enquanto o primeiro edital abrangia todo o Estado.

Programa Mina D´Água I.

Origem do Projeto

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente estabeleceu por intermédio da

Resolução SMA Nº 123/2010, as diretrizes para a execução do Projeto Mina D’água -

Projeto de Pagamento por Serviços Ambientais, na modalidade proteção de nascentes,

no âmbito do Programa de Remanescentes Florestais. Esse projeto tem como objetivo

remunerar os produtores rurais que preservarem nascentes existentes dentro de suas

propriedades.

Etapas do Projeto

O projeto será implementado em etapas, sendo a primeira (chamada aqui de

Mina D’Água I) destinada à aferição das metodologias e estratégias de implementação.

Essa etapa foi iniciada em 2010, com o estabelecimento da Resolução Nº 123/2010, e

tem a previsão de se encarrar em 2016. Desta maneiram o projeto Mina d’Água II vem

sendo desenvolvido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente, com vistas a começar

em breve.

Serviços Ambientais

Para o projeto Mina D’Água I são serviços ambientais as ações voltadas à

proteção de nascentes localizadas em mananciais de abastecimento público. São

141

UGRHI 01 – Mantiqueira; UGRHI 02 - Paraíba do Sul; UGRHI 05 - Piracicaba, Capivarí e Jundiaí;

UGRHI 06 - Alto Tietê (Edital nº 02/2015/CAP/RPPN).

Page 384: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

384

incluídos ainda os serviços de eliminação de fatores de degradação ambiental e a

eliminação de espécies competidoras. Espera-se que o projeto possa estimular o plantio

de mudas de espécies nativas e monitorar as nascentes e suas áreas florestadas

(Resolução SMA Nº 123/2010).

O modelo de PSA adotado é o provedor-pagador, sendo beneficiários do

pagamento os produtores rurais familiares provedores de serviços ambientais residentes

nas áreas prioritárias.

Agentes Envolvidos

A execução do projeto é de responsabilidade da Coordenadoria de

Biodiversidade e Recursos Naturais (CBRN), com o apoio da Coordenadoria de

Recursos Hídricos (CRHi) e do Gabinete da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de

São Paulo (SMA). Além disso, participam prioritariamente os Municípios vinculados

aos projetos “Município Verde Azul142

” e “Pacto das Águas143

”.

Os provedores de serviços ambientais serão selecionados pelas Prefeituras

Municipais, sendo preferencialmente produtores rurais familiares, contendo entre 1e 4

nascentes em sua propriedade (Resolução SMA Nº 123/2010).

Arranjos Institucionais

O Projeto Mina D’água I é executado por meio de arranjos institucionais de

cooperação entre os governos Estadual e Municipal, em conformidade com o Decreto nº

55.947/2010 e demais normas regulamentadoras. Na fase piloto do projeto estavam

previstos convênios com 21 municípios, ou seja, um por Unidade de Gerenciamento de

Recursos Hídricos – UGRHI. Entretanto, em janeiro de 2016, apenas 5 municípios

continuavam com os contratos ativos (essa informação será retomada à frente).

De acordo com o § 1º da Resolução SMA Nº 123/2010, os Municípios devem

atender uma série de requisitos para realizar o Convênio com o Governo do Estado para

a execução do Projeto Mina d’água I. Entre os requisitos, faz-se necessário:

142

O Programa Município VerdeAzul (PMVA) tem o intuito de estimular e auxiliar as prefeituras

paulistas na elaboração e execução de suas políticas públicas de desenvolvimento sustentável, para que

seja possível medir a eficiência da gestão ambiental com a valorização da agenda ambiental nos

municípios (Governo do Estado de São Paulo, s/d (a)). 143

Pacto das Águas é um Programa integrado ao Município VerdeAzul, que busca fomentar uma agenda

voltada à recuperação e conservação da qualidade das águas nos municípios do Estado de São Paulo

(Governo do Estado de São Paulo, s/d (b)).

Page 385: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

385

I - Uma lei municipal que autorize o Poder Público a realizar pagamentos por

Serviços Ambientais - PSA;

II – A existência de Conselho Municipal de Meio Ambiente, com participação

da sociedade civil;

III – A existência de profissionais qualificados nos Municípios para a realização

de assistência técnica e monitoramento das ações do projeto.

Cabe destacar que na fase de preparação do projeto, a SMA poderá apoiar os

Municípios tecnicamente, sem necessariamente realizar transferência monetárias. Além

disso, os Centros Regionais da CBRN fornecerão apoio técnico aos produtores

interessados em firmar Termos de Compromisso de Adequação Ambiental para

Participar do Projeto Mina D’água I (Resolução SMA Nº 123/2010).

Fonte de Recursos

A Resolução SMA Nº 123/2010 define que os municípios conveniados com o

Estado poderão obter recursos do Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição

– FECOP para a execução do programa de PSA.

Entretanto, informações da SMA144

, apontam que os recursos destinados ao

projeto Mina D’água I são provenientes do orçamento do Estado, como uma

contrapartida do Projeto Desenvolvimento Rural Sustentável (PDRS)145

, financiado pelo

Banco Mundial. Nesse caso, o FECOP faz apenas a gestão financeira da verba oferecida

pelo Estado.

Pagamento aos beneficiários

No projeto Mina D’água I o pagamento pelos serviços ambientais ocorre por

meio de contrato voluntário entre o provedor de serviços ambientais e a Prefeitura

Municipal, contendo os compromissos assumidos e demais condições exigidas para o

efetivo pagamento pelos serviços prestados. Os prazos dos contratos devem ser de no

mínimo dois e no máximo cinco anos.

144

Informações oferecidas por telefone por Tais Forte Garms, membro do Centro de Projetos de Uso

Sustentável DDS/CBRN da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em 20/01/2016. 145

O PDRS tem o objetivo de aumentar a competitividade da agricultura familiar em São Paulo,

melhorando simultaneamente sua sustentabilidade ambiental (Decreto 56.449 de 29 de novembro de

2010).

Page 386: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

386

Os valores a serem pagos no Mina D’água I pelos serviços ambientais são

calculados segundo a fórmula definida na Resolução nº SMA 123/2010, no seu Anexo

II:

Equação 22.

Valor do pagamento pelo serviço ambiental = V Ref x (F Prot + F Imp) x 0,2.

Onde:

V Ref é o valor de referência

F Prot é o fator de proteção da nascente, que varia entre 1 e 4 pontos, conforme o

estágio de regeneração da sua vegetação. Somente serão aceitas nascentes que se

encontrem protegidas.

F Imp é o fator de importância da nascente, que varia de 1,5 a 6, sendo a

pontuação obtida pela soma de três sub-fatores:

Equação 23.

F Imp = Sub-fator uso + Sub-fator vazão + Sub-fator localização

Onde:

Sub-fator uso, varia entre 0,5 e 2 pontos, conforme a capacidade de

abastecimento do manancial alimentado pela nascente.

Sub-fator vazão, varia entre 0,5 e 2 pontos, conforme a vazão observada na

microbacia abastecida pela nascente

Sub-fator localização, varia entre 0,5 e 2 pontos, conforme a localização da

nascente à montante ou à jusante da captação.

O Relatório Anual do Governo do Estado de São Paulo, referente ao exercício de

2014, apontou que até sua publicação haviam sido assinados 34 contratos de PSA entre

as prefeituras parceiras da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e os

provedores do Projeto Mina d’Água I, totalizando aproximadamente 917 hectares

beneficiados pelo programa.

Page 387: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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387

Entretanto, informações oferecidas pela SMA146

apontam que até final de 2015

foram assinados 51 contratos em cinco municípios, a saber: Guapiara, Ibiúna, Piracaia,

São Luiz de Paraitinga e Votuporanga. Esses contratos se referem à proteção de 118

nascentes, 88 hectares de área de conservação e 30 hectares de área de recuperação.

As parcelas dos contratos vão de R$ 300,00 a R$ 90,00 por hectare por ano,

sendo que nesses casos as propriedades devem ter ao menos uma nascente. Já os valores

totais dos contratos variam entre R$ 2.170,00 e R$ 210,00 a serem pagos entre 2 e 5

anos. A tabela 84 abaixo mostra o montante empenhado pela Secretaria do Estado do

Meio Ambiente a ser gasto com o projeto Mina D’água I, em cada Município.

Tabela 84: Valores empenhados pela Secretaria do Estado do

Meio Ambiente no projeto Mina D’água I, em cada Município,

2010-2015

Município

Número de

Contratos

(unidade)

Número

de

Nascentes

(Unidade)

Número de

Hectares de

recuperação e

conservação (ha)

Montante

empenhado

(em R$)

Valores já

pagos até

2015

(em R$)

Guapiara 12 31 31 15.000,00 0,0

Ibiúna 08 25 25 10.440,00 2.610,00

Piracaia 09 18 18 8.250,00 8.250,00

São Luiz do

Paraitinga 05 12 12 4.200,00 0,0

Votuporanga 17 32 32 15.120,00 3.780,00

Total 51 118 118 53.010,00 14.640,00

Fonte: Elaboração própria

A tabela 84 aponta que com o projeto Mina D’água I foi empenhado pelo

Governo do Estado um total de R$ 53.010,00, entre 2010 e 2015, sendo efetivamente

gasto R$14.640,00. Entretanto, deve-se enfatizar que esses montantes se referem apenas

ao pagamento direto realizado para o produtor, não sendo contabilizados os gastos

administrativos, de implementação e monitoramento das ações, que de acordo com

técnicos da SMA147

, excederam esse valor.

Além disso, esses mesmos técnicos enfatizaram que mais importante que o

montante aplicado nesta primeira fase, é o teste da metodologia de sua implantação,

para que as dificuldades possam ser evitadas e os acertos replicados no Projeto Mina

D’água II, em elaboração.

146

Informações oferecidas por email por Tais Forte Garms, membro do Centro de Projetos de Uso

Sustentável DDS/CBRN da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em 21/01/2016. 147

Informações oferecidas por email por Tais Forte Garms, membro do Centro de Projetos de Uso

Sustentável DDS/CBRN da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em 21/01/2016.

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IEI-18958

388

Dentre as principais dificuldades apontadas, está a relação institucional com os

municípios. Foi destacado que as mudanças políticas municipais, com a equipe sendo

desmontada a cada troca de governo, bem como o despreparo desses servidores, fazem

com que ocorram descontinuidades nos acordos estabelecidos entre os entes federativos.

Outra situação apontada, é que no Mina D’água I não existiu um edital de

seleção de propostas, mas sim foram os técnicos da Secretaria do Meio Ambiente do

Estado de São Paulo que escreveram os projetos para os beneficiários que lhes

interessavam. A proposta é que no Mina D’água II isso não ocorra e que os participantes

do novo programa sejam selecionados a partir de editais.

Por outro lado, entre os acertos mencionados estavam os vários cursos de

capacitação oferecidos pela SMA aos servidores dos municípios integrantes do Mina

D’água I. Esses cursos são relevantes para auxiliar o poder público municipal a

construir projetos de conservação e recuperação ambiental que atendam aos seus

interesses e estejam de acordo com sua capacidade.

A realização desses cursos de capacitação foi tão promissora que a SMA tem

considerado que mais relevante que estar na linha de frente dos projetos é preparar o

poder público municipal para desenvolvê-los e executá-los, criando novos arranjos e

competências institucionais.

A partir desses aprendizados, a equipe da Secretaria do Meio Ambiente do

Estado de São Paulo148

está elaborando o Projeto Mina d’água II. Para essa segunda

etapa devem ser modificados: a forma de calcular o PSA, com a revisão dos seus

valores; o escopo do projeto, não apenas com vistas a preservar as nascentes, mas

também os cursos de água; e as parcerias com as prefeituras, buscando evitar as

constantes descontinuidades dos projetos. A proposta é que no Mina D’água II o Estado

de São Paulo se posicione mais como fomentador do que executor das ações, inspirando

pelo projeto produtor de água da Agência Nacional de Águas (projeto que será apontado

à frente).

1.6.7. Santa Catarina

148

Informações oferecidas por telefone por Tais Forte Garms, membro do Centro de Projetos de Uso

Sustentável DDS/CBRN da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo em 20/01/2016.

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389

A Lei nº 14.675/2009, que dispõe sobre o Código Estadual do Meio Ambiente e

estabelece outras providências, institui o pagamento por serviços ambientais como

instrumento econômico da Política Estadual de Meio Ambiente de Santa Catarina,

devendo os critérios específicos do PSA serem definidos em norma legal149

.

Por conseguinte, em 2010 foi sancionada a Lei nº 15.133/2010, que institui a

Política Estadual de Serviços Ambientais e regulamenta o Programa Estadual de

Pagamento por Serviços Ambientais nas modalidades (I) unidade de conversação, (II)

formação vegetal e (III) água, ficando proibida a vinculação de uma mesma área de

prestação de serviços ambientais a mais de uma modalidade150

.

Cada modalidade, também chamada de subprograma, prevê beneficiários

distintos que deverão ser previamente cadastrados. Entre os possíveis beneficiários

estão os residentes de Unidades de Conservação de uso sustentável e de proteção

integral, pessoas físicas ou jurídicas proprietárias de Reservas Particulares do

Patrimônio Natural, agricultores familiares, comunidades tradicionais, povos indígenas,

assentados de reforma agrária e/ ou ocupantes de áreas situadas em bacias

hidrográficas151

.

Os pagamentos por serviços ambientais prestados serão feitos com base na

análise das condições do bem ambiental (a sua essencialidade dentro do bioma em que

está inserido), do prestador do serviço e a sua condição social e do ganho ambiental

efetivo auferido com o serviço ambiental152

. A análise destes itens e sua devida

classificação estabelecerá o enquadramento dos serviços nas Classes I, II e III. A classe

I recebe 100% do Valor da Unidade de Referência. A Classe II recebe 50% do Valor da

Unidade de Referência. A Classe III recebe 20% do Valor da Unidade de Referência. A

Unidade de Referência adotada corresponderá ao valor pecuniário equivalente a 30

sacas de milho para cada hectare/ano da propriedade, fixado conforme avaliação de

preço mínimo estabelecido pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), do

Governo Federal. Nas Classes I e II será dada prioridade aos produtores e

empreendimentos da agricultura familiar.

O programa definido na Lei nº 15.133/2010 é gerido pelo Comitê Gestor do

Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais, composto por

149

Art. 201, IV, Lei nº 14.675/2009. 150

Art. 6º, Lei nº 15.133/2010. 151

Art. 10º, 11º e 12º, Lei nº 15.133/2010. 152

Lei Nº 15.133/2010.

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390

representantes de instituições e empresas públicas do Estado de Santa Catarina e da

sociedade civil organizada, além dos beneficiários especificados.

Segundo informações153

da Secretaria de Estado do Desenvolvimento

Econômico Sustentável (SDS), atualmente a legislação em pauta está sendo analisada

para que possa sofrer alterações, sendo que uma das mudanças mais significativas

ocorrerá na forma de atuação do Estado. Este último passará a ter atribuição de

fomentar os programas de PSA em Santa Catarina por meio de parcerias público-

privado e público-público, e não mais será responsável por executá-los.

Em 2010, foi implementando um programa estadual de PSA pelo órgão

ambiental estadual licenciador, a Fundação de Meio Ambiente (FATMA). O projeto

denominado “Corredores Ecológicos de Timbó e Chapecó”, foi desenvolvido em

parceria com a Secretaria do Estado de Agricultura e Extensão Rural de Santa Catarina

(EPAGRI) e a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS),

conforme será abordado no próximo item.

Corredores Ecológicos (CEs)

Origem

Os Corredores Ecológicos (CEs) Chapecó e Timbó foram implementados em

2010, por meio dos Decretos Estaduais nº 2.956 e nº 2.957 de 2010, totalizando uma

área de 10.167,95 mil km² em 34 municípios. Tais áreas conectam fragmentos de

extrema relevância ecológica da Floresta Ombrófila Mista e Campos Sulinos

localizados em áreas de preservação permanente, reservas legais e unidades de

conservação154

.

O Decreto nº 2.956/2010 especificadamente, definiu como Corredor Ecológico

Timbó (CET) a região da Bacia Hidrográfica do Rio Timbó, região hidrográfica RH5 do

Estado de Santa Catarina - Planalto de Canoinhas, que possui 4.997,48 Km² de

extensão155

. Enquanto o Decreto 2.957/2010 deliberou como Corredor Ecológico

Chapecó a região da Sub-Bacia a montante da confluência dos Rios Chapecó e

Chapecozinho, chamada Sub-Bacia do Rio Chapecó, região hidrográfica RH2 - Meio

153

Coleta de dados obtidos por meio de perguntas estruturadas realizadas por e-mail nas datas de

01/10/2015 e 19/10/2015. 154

Art. 1º, Decreto 2.956/2010 e art.1º, Decreto 2.957/2010. 155

Art. 1º, Decreto 2.956/2010.

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391

Oeste do Estado de Santa Catarina, com 5.170,47 Km² de extensão. O mapa 72, abaixo,

aponta a localização dos dois Corredores no Estado de Santa Catarina.

Mapa 72: Localização dos Corredores Ecológicos (CEs) Chapecó e Timbó no

Estado de Santa Catarina

Fonte: Secretaria Executiva Estadual do SC Rural, 2015.

Dentre os objetivos dos CEs destacam-se (i) a valoração econômica dos

remanescentes florestais a partir da regulamentação de mecanismo econômico de

créditos de conservação; (ii) aumento da permeabilidade da paisagem entre as Unidades

de Conservação do Oeste de Santa Catarina e as Unidades de Conservação da Região

Sul do Estado do Paraná e (iii) conservação e recuperação das áreas de preservação

permanente da região156

.

Etapas do Projeto

O processo de construção do programa CEs Chapecó e Timbó ocorreu em dois

momentos distintos, sendo o primeiro o processo de elaboração do Plano de Gestão e o

segundo, a implementação efetiva do programa de PSA157

.

Para a elaboração do Plano de Gestão dos CEs foram realizadas 5 oficinas de

trabalho e 18 reuniões setoriais tanto no CE Timbó quanto no Chapecó.

156

Art. 2º, Decreto 2.956/2010 e art.2º, Decreto 2.957/2010. 157

SILVA et al, 2015.

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392

Durante a elaboração do Plano de Gestão do CE Chapecó, a Fundação do Meio

Ambiente (FATMA) - órgão gestor dos CEs - propôs a criação de um Sistema de

Créditos de Conservação (SICC). Por sua vez, essa proposta foi integrada ao Programa

Santa Catarina Rural, devendo ser implementada entre 2012 e 2016158

.

Segundo Alarcon (2014) os créditos de conservação poderão ser

comercializados, sendo estes títulos lastreados em áreas públicas e privadas de florestas

conservadas, florestas em processo de recuperação ou ainda em mudanças de atividades

agrícolas para ações menos danosas ao meio ambiente. Cabe destacar que a estrutura

jurídica, bem como o modelo de gestão do SICC ainda não foram definidos.

Na segunda etapa, foram realizadas oficinas técnicas com os representantes das

instituições parceiras e outras interessadas nos seguintes temas: (i) conservação da

biodiversidade, (ii) definição de Corredores Ecológicos desenvolvidos no Estado e (iii)

alternativas para a implementação dos CEs Chapecó e Timbó. Essas oficinas tinham

como objetivo capacitar e sensibilizar diferentes atores para a formação de

multiplicadores locais. Adicionalmente, também foram realizadas reuniões com diversas

comunidades inseridas nas zonas prioritárias do programa de PSA.

Em suma, para implementação dos CEs Timbó e Chapecó como um todo foram

desenvolvidas nove estratégias operacionais, a saber:

(i) Desenvolvimento e estruturação do Cadastro de Áreas de Estoque

Incremental Florestal (CADEF);

(ii) Definição do modelo de gestão e governança do sistema de créditos de

conservação;

(iii) Criação da Gestão administrativa e técnica dos corredores;

(iv) Formação do capital semente;

(v) Estruturação e implantação de sistemas de integração econômica-

ecológica (SIEE);

(vi) Averbação de Reservas legais, recomposição de Matas Ciliares e APPs;

(vii) Estruturação dos conselhos gestores;

(viii) Monitoramento da implantação dos corredores,

(ix) Difusão e capacitação159.

158

ALARCON, 2014. 159

Secretaria Executiva Estadual do SC Rural/Microbacias 3. Manual Operativo do SC Rural – Gestão de

Ecossistemas (Corredores Ecológicos), 2011. Disponível em:

<http://www.microbacias.sc.gov.br/visualizarNoticia.do?entity.noticiaPK.cdNoticia=5251>. Acesso em:

22/01/2016.

Page 393: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

393

Segundo a FATMA, as ações de implementação do programa de PSA tiveram

seu início efetivo no segundo semestre de 2014, sendo os primeiros pagamentos

realizados em dezembro de 2014160

.

Serviços Ambientais

São considerados serviços ambientais no regime da Lei N° 15.133/2010, as

funções ecossistêmicas desempenhadas pelos sistemas naturais que resultam em

condições adequadas à sadia qualidade de vida, constituindo serviços de

aprovisionamento e/ou serviços de suporte e regulação.

O modelo de PSA adotado é o usuário-pagador, por meio de adesão voluntária,

incentivando, através de um sistema de créditos de conservação, aqueles que praticarem

ações de preservação conservação, manutenção e melhoraria dos ecossistemas que

geram serviços ambientais ligadas aos CEs Timbó e Chapecó, seguindo-se critérios de

elegibilidade.

Para habilitação ao programa os interessados deverão encaminhar Manifestação

de Interesse para a Secretaria Executiva Regional SER do Programa SC Rural. Silva et

al. (2015) destacam que esse documento deverá conter os dados do proprietário e das

áreas naturais, com identificação de pelo menos um ponto de coordenada da área natural

conservada e/ou da APP de mata ciliar que será recuperada, para conferência via

Cadastro de Área de estoque Incremental Florestal.

Considerando os critérios de priorização de seleção das propriedades

proponentes serão considerados elegíveis: (i) proprietários rurais que possuem estoque

incremental florestal (áreas fora de APP e RL); (ii) proprietários rurais que possuem

áreas naturais conservadas relevantes para conectividade mesmo que em áreas de APP;

(iii) proprietários rurais que se propõe a recuperar APP de mata ciliar em áreas

consideradas relevantes para conectividade de áreas naturais; (iv) proprietários rurais

possuidores de RPPN ou residentes em área de amortecimento de UC; (v) agricultores

familiares participantes do Sistema de Integração Econômico Ecológico - SIEE.

160

Informações obtidas por e-mail, em 05/02/2016, junto a Coordenadora do Subcomponente Gestão de

Ecossistemas SC Rural – FATMA, Shigueko T. Ishiy.

Page 394: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

394

Agentes Envolvidos

Dentre os agentes envolvidos, além dos proprietários rurais, destacam-se o poder

público estadual e agentes privados por meio de parcerias público-privada.

Quanto ao Poder Público, enfatiza-se que o programa é coordenado pela

Fundação do Meio Ambiente (FATMA) em parceria com a Secretaria do Estado de

Agricultura e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) e Secretaria de Estado do

Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDS).

A EPAGRI possui extensionistas rurais em 34 municípios dos Corredores

Ecológicos, o que torna a parceria um facilitador na promoção e controle do programa.

Em contrapartida, no que tange a parceria público-privada, foi realizado um

convênio técnico um a Fundação Grupo o Boticário de Proteção à Natureza que apoiou

tecnicamente os gestores estaduais e disponibilizou a metodologia Oásis.

Arranjos Institucionais

Para consecução do programa se faz necessário a criação de normas e parcerias

institucionais, devendo a política de gestão dos CEs Timbó e Chapecó serem

estabelecidas através de estatuto próprio e criação do seu plano de gestão.

Quanto as parcerias institucionais a FATMA poderá firmar termo de cooperação

técnica com organismos governamentais e não-governamentais para fins de promoção

do programa de PSA.

Fonte de Recursos

Considerando a necessidade de financiamento das ações do Programa Estadual

de Serviço Ambiental (PEPSA) foi criado o Fundo Estadual de Pagamento por Serviços

Ambientais (FEPSA), por meio da Lei 15.133/2010.

Dentre as fontes de recursos para a constituição do FEPSA estão: (i) mínimo de

30% dos recursos oriundos da Taxa de Fiscalização Ambiental do Estado de Santa

Catarina devidos à FATMA; (ii) doações; (iii) 2% dos recursos oriundos do Fundo

Especial do Petróleo; e (iv) mínimo de 30% da parcela destinada à SDS dos recursos

oriundos da cota parte da compensação financeira dos recursos minerais.

No entanto, atualmente (Fevereiro de 2016) para o programa de PSA CEs Timbó

e Chapecó estão sendo utilizados recursos financeiros aportados pelo Banco Mundial no

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IEI-18958

395

Fundo de Investimentos Sustentáveis (FIS) locado no Fundo de Desenvolvimento Rural

FDR. Tais recursos denominados de capital semente totalizam o montante US$

500.000,00 e, possuem o objetivo de iniciar o mercado dos créditos de conservação no

Estado161

.

Alarcon (2014) destaca que a ideia inicial é que o capital semente seja precursor

no desenvolvimento do mercado dos créditos de conservação para, posteriormente, os

pagamentos dos beneficiários do programa de PSA serem realizados pelo Sistema de

Créditos de Conservação (SICC), a partir de recursos financeiros arrecadados no

mercado.

Os recursos do capital semente serão administrados pelo Fundo de

Desenvolvimento Rural (FDR), no âmbito do Programa SC Rural, cujo objetivo seja o

pagamento dos (i) agricultores familiares; (ii) agricultores familiares que estejam

participando de grupo de projeto estruturante; (iii) aqueles agricultores familiares que

integrem organizações de produtores; (iv) agricultores familiares residentes em área de

amortecimento de UCs; (v) propostas feitos em grupo pelos agricultores familiares162

.

Conforme se verifica na tabela 85, abaixo, foi investido no programa CEs Timbó

e Chapecó, entre 2011 e 2015, um montante de R$ 466.075,59163

, sendo que o maior

valor foi pago em 2011.

Tabela 85: Valores investidos no Programa CEs Timbó e Chapecó

entre 2011 e 2015

Ano Agrupamento

Dotação

Inicial

Dotação

Atualizada Empenhado Pago

2011 Consolidado 477.882,00 173.167,16 124.022,16 124.022,16

2012 Consolidado 323.760,00 323.760,00 21.593,50 21.593,50

2013 Consolidado 301.300,00 88.828,79 82.323,79 82.323,79

2014 Consolidado 349.300,00 165.370,00 163.945,00 115.795,00

2015 Consolidado 307.229,00 215.893,88 201.041,14 122.341,14

Total:

1.759.471,00 967.019,83 592.925,59 466.075,59

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do portal da transparência do Estado

de Santa Catarina, em 07/01/2015.

161

ALARCON, 2014. 162

Secretaria Executiva Estadual do SC Rural/Microbacias 3, 2011. 163

Valores obtidos através da análise do Portal Transparência. Disponível em:

<www.sc.transparecnai.gov.br/tem> Acesso em: 07/01/2016.

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IEI-18958

396

Pagamento aos beneficiários

Os pagamentos aos beneficiários acontecem por meio do enquadramento dos

serviços ambientais prestados em duas modalidades específicas, sendo elas: (i)

Recuperação de Mata Ciliar, que apoia pequenos proprietários rurais que possuem Área

de Preservação Permanente (APP) de mata ciliar a ser recuperada; (ii) Premiação por

Conservação, que compensa financeiramente por áreas naturais na pequena propriedade

rural164

.

Os proprietários que possuem mata Ciliar em sua propriedade a ser recuperada

podem fazer jus as duas modalidades de PSA no primeiro ano.

Silva et al (2015) mostra que no PSA de Recuperação de Mata Ciliar, os

produtores rurais podem receber até R$ 1.200,00 de recursos para adequação ambiental,

em uma única vez, para realização de ações específicas de recuperação da mata ciliar

(p.ex. construção de cercas, compras de mudas), com exigência de uma contrapartida de

20% do Proprietário. Cabe destacar que haverá o monitoramento das áreas de APP de

mata ciliar inseridas no processo de recuperação.

Em contrapartida, na modalidade de Premiação por Conservação os pagamentos

acontecem através da celebração de contrato específico, sendo que em 2015 os valores

pagos pela preservação das áreas ficaram entre R$ 87,50 e R$ 350,00 por hectare/ano,

em conformidade com a qualidade ambiental da área. Os beneficiários podem ter uma

área d até 3 hectares, e o contrato pode ser renovado por até três anos.

Para a elaboração da base de cálculo dessa modalidade de PSA, houve uma

adaptação da metodologia do Programa Oásis, desenvolvida pela Fundação Grupo

Boticário de Proteção da Natureza. Essa metodologia leva em consideração a qualidade

ambiental das áreas naturais, além dos aspectos relacionados com o uso e gestão da

propriedade rural.

Assim, para o cálculo do valor de PSA a ser pago é utilizado como referência à

equação 24, abaixo 165

:

Equação 24.

Valor PSA = X* 1 + (N1 + N2 + N3)*Z

164

SILVA et al., 2015. 165

SILVA et al., 2015.

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397

Onde:

X = valor base da fórmula, o qual considera o percentual de 25% do valor

máximo a ser pago por hectare ano. Considerando que o valor máximo a ser pago

estipulado no Manual Operativo do Programa é de R$ 350,00, o X será igual a R$

87,50.

N = valor da nota atribuída a cada propriedade em função da pontuação dos itens

da tábua de cálculo. Essa nota faz é considerada uma forma de compensação pelos

serviços ambientais e uma bonificação para os proprietários com práticas agrícolas

adequadas.

Z = área natural da propriedade (em hectare).

O pagamento da parcela inicial somente será liberado para o beneficiário após a

emissão do: (i) Laudo Técnico de vistoria inicial; (ii) Termo de subvenção firmado entre

o proprietário e Fundo Estadual de Desenvolvimento Rural - FDR ; e (iii) Proposta de

Apoio devidamente assinada.

Vale destacar que para a elaboração e assinatura do Termo de Subvenção os

proprietários rurais devem apresentar a matrícula do imóvel, CPF e conta bancária.

Os pagamentos posteriores serão realizados anualmente após a emissão da

declaração de conformidade contratual pelo proprietário (auto declaratória) e do Laudo

Técnico de Monitoramento das propriedades participantes, sendo que as propriedades

declaradas em conformidade contratual poderão ser vistoriadas por amostragem.

Para a continuidade no recebimento do pagamento o proprietário deverá manter

as áreas naturais conservadas na íntegra, devendo tais áreas serem vistoriadas

anualmente.

Segundo informações obtidas junto a FATMA, até fevereiro de 2016 foram

beneficiados pelo programa 55 proprietários rurais e preservados 168,73 hectares. Até a

presente data (fevereiro de 2016), os valores pagos pelo Estado de Santa Catarina aos

beneficiários dos CEs Timbó e Chapecó totalizam R$ 52.128,33. Vale destacar que este

montante refere-se apenas aos gastos com os valores efetivamente pagos, não

considerando, portanto, os custos com a implementação e monitoramento do

programa166

.

166

Dados coletados por e-mail no dia 05/02/2016.

Page 398: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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398

Metas

O programa foi criado com a meta de recuperar aproximadamente 1.000 ha, de

áreas naturais distribuídos entres os CEs de Chapecó e Timbó167

.

1.6.8. Sobre os Projetos Estaduais

Dada a abrangência das legislações estaduais, foram pesquisados e analisados os

projetos até então executados por esses entes federativos. Como mencionado

anteriormente, apenas três dos dez estados que já possuem leis que tratam de PSA no

Brasil não possuem projetos em andamento: Bahia, Paraíba e Paraná. Nesse último

estado, porém, em janeiro de 2015, foi publicada uma resolução da Secretaria Estadual

do Meio Ambiente que estabelece as normas para os projetos de Pagamentos Por

Serviços Ambientais relacionados às Reservas Particulares do Patrimônio Natural

(RPPNs). Apesar da resolução publicada o projeto ainda não foi iniciado. A perspectiva

é que seu primeiro edital seja divulgado em março de 2016168

.

Os outros sete estados que já possuem legislações sobre o PSA têm projetos

ativos. Esses projetos foram analisados individualmente e agora são relacionados, com

vistas a apontar suas características, problemas e similaridades. Buscou-se enfocar,

principalmente, o seu funcionamento, as formas de financiamento, beneficiários e a área

preservada. Acredita-se que com essa pesquisa seja possível ter um melhor panorama

das ações de PSA realizadas atualmente no Brasil, dimensionado os recursos aplicados

em cada estado, os benefícios estabelecidos e o alcance do programa. A tabela 86

aponta o resultado da análise dos programas estaduais.

Tabela 86: Resultado da análise dos programas estaduais, Brasil,

valores acumulados.

167

Informações extraídas do portal eletrônico da FATMA. Disponível em: <www.fatma.sc.gov.br>.

Acesso em: 05/01/2016. 168

Agência de Notícias do Paraná. Governo edita regras para Pagamento Por Serviços Ambientais. Paraná

05/01/2016. Disponível em:

http://www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=87422&tit=Governo-edita-regras-para-

Pagamento-Por-Servicos-Ambientais&ordem=1000. Acessado em fev. 2016.

Page 399: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

399

Estado Programa/Projeto Período

analisado Serviços Ambientais Pagamento aos Beneficiários

Beneficiários

(Unidade)

Montante gasto

(Unidade R$)

Hectares

preservados

Acre169

Certificação de

Unidades Produtivas

Familiares

2009 -2014

Uso sustentável dos

recursos naturais -

florestas

Varia entre R$500 e R$600 por

ano por propriedade,

independentemente do número

de hectares.

4.019

(Indivíduos) 2.021.050,00 Não se aplica

Amazonas Bolsa Floresta 2009 -2015

Uso sustentável dos

recursos naturais -

florestas

R$ 50,00 por mês por família

(independentemente do seu

número de hectares) e outros

benefícios para a comunidade e

associações.

40.106

(Indivíduos) 38.596.000,00 Não se aplica

Espirito

Santo Reflorestar

2011

(Início dos

pagamentos

2013) - 2015

Uso sustentável dos

recursos naturais -

florestas

Varia entre R$ 340,00 e R$

2.866,24 por ano por hectare.

1.840

(Proprietários) 30.000.000,00

170 12.000

Minas

Gerais Bolsa Verde 2011 -2014

Uso sustentável dos

recursos naturais -

florestas

R$ 200,00 por hectare por ano. 1.860

(Proprietários) 11.415.549,73 57.078

Rio de

Janeiro PRO-PSA GUANDU 2008-2015

Preservação dos

recursos hídricos

Varia entre R$ 10,00 e R$

60,00 por hectare por ano

70

(Proprietários) 5.283.722,27

171 5.126

São Paulo

CAP-RPPN

172 2013-2015

Conservação de

remanescentes

florestais

Em média R$ 200,00 por

hectare ao ano. 11 (RPPNs) 1.900.000,00 1.860

169

Optou-se por trazer apenas os dados do programa Certificação de Unidades Produtivas Familiares, pois as informações do ISA Carbono ainda são incipientes, não sendo

capazes de estabelecer uma comparação adequada. 170

De acordo com o Portal de transparência do Espirito Santo, o valor gasto com o programa, entre 2013 e 2015 foi de R$ 5.251.196,59. Contudo, aqui optou-se por trazer a

informação obtida com a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídrico do Estado, de que os custos com o programa no período chegaram a 30 milhões de reais. 171

Optou-se por apontar nesta tabela o valor acumulado informado pelo INEA, 2015 (ver tabela 15). 172

Nesta tabela está indicado apenas o edital em execução.

Page 400: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

400

Mina D'água 2013-2015 Proteção de nascentes Varia entre R$ 90,00 e R$

300,00 por hectare por ano

51

(propriedades) 53.010,00

118

nascentes;

110 hectares

Santa

Catarina Corredores Ecológicos 2011-2015

Uso sustentável dos

recursos naturais -

florestas

Varia entre R$ 87,50 até R$

350 por hectare/ano

55

(propriedades)

466.075,59 169 hectares

Total 8 programas 2008-

atualidade

Recursos florestais e

hídricos

Varia entre R$ 10,00 e R$

2.866,24 por ano por hectare

47.895

beneficiários e

117

propriedades

89.735.407,59 76.343

hectares

Fonte: Elaboração Própria

Page 401: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

401

Como é possível observar na tabela 86, os programas estaduais de PSA são

recentes no país, tendo se iniciado entre 2008 e 2013. É possível afirmar que atualmente

(fevereiro de 2015) novos projetos estão sendo iniciados, mas como ainda não foram

obtidos dados e resultados concretos relacionados à sua implementação, eles não foram

abordados neste trabalho.

Sendo experiências recentes, esses programas trazem uma série de problemas e

aprendizados que, se compartilhados, podem auxiliar outros estados e municípios no

país que queiram atuar nesta área, bem como podem trazer questões que devem ser

levadas em conta no momento da construção da política nacional.

Sobre os serviços ambientais, verifica-se que o uso sustentável dos recursos

naturais, com a conservação das florestas e seus remanescentes, é a preocupação da

maioria dos programas ativos de PSA no país. Entretanto, dois Estados estão

especificamente preocupados com a proteção das nascentes e a preservação dos recursos

hídricos, respectivamente, São Paulo e Rio de Janeiro. Em São Paulo a preocupação

com o abastecimento de água se tornou frequente após as crises hídricas. Nos anos

recentes a quantidade de chuvas vem declinando e os reservatórios estão com níveis de

água abaixo do recomendado. Desta maneira, ações governamentais para preservar as

nascentes e garantir o abastecimento de água da população não são apenas bem vistas,

como são consideradas imprescindíveis, fortalecendo o PSA no Estado. Já o Rio de

Janeiro, apesar de não ter sofrido tanto quanto seu vizinho (estado de São Paulo) com a

crise hídrica, utiliza os recursos advindos da cobrança pela água para investir na própria

bacia. Essa iniciativa busca preservar os rios, evitar seu assoreamento e a falta d’água

para a população.

O valor mínimo pago por hectare ao ano é R$ 10,00 no Rio de Janeiro (PSA de

conservação) e o valor máximo é de R$ 2.866,24 no Espirito Santo (PSA Recuperação).

Contudo, nem todos os programas pagam por hectare. Existem aqueles que pagam por

produtor, nesse caso, os valores ficam entre R$ 500,00 e R$ 600,00 ao ano,

independentemente do número de hectares. Esse tipo de pagamento é encontrado

principalmente nas iniciativas existentes no Acre e Amazonas. Isso porque as

características geográficas e socioeconômicas destes estados impelem para o pagamento

às famílias que protegem os serviços ambientais. Nestes municípios o módulo fiscal173

173

Os módulos fiscais são unidades de medida de área (expressas em hectares), fixadas diferentemente

para cada município no Brasil, tendo em conta as particularidades locais (Art. 50, Lei 6746/79).

Page 402: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

402

varia entre 80 e 100 hectares, ou seja, caso fosse realizado o pagamento por hectares e

não por família, o custo do programa seria muito mais alto.

O número de provedores de serviços ambientais beneficiados pelos programas

estaduais é apresentado de maneira distinta por cada projeto. Há alguns programas que

apontam o número de indivíduos favorecidos com os projetos de PSA, outros apontam o

número de propriedades (como é o caso dos Estados de São Paulo e Santa Catarina).

Mas independentemente do número de beneficiados pelo programa é importante

conhecer a quantidade de hectares preservados. Ao todo, com os programas estaduais

foram preservados ou restaurados mais de 76 mil hectares.

O estado que conseguiu preservar mais hectares com o seu programa de PSA foi

Minas Gerais, que garantiu a manutenção de 57.078 hectares. Já o estado que, até o

momento, obteve menores resultados com relação aos hectares preservados foi Santa

Catarina. Contudo, o programa de Santa Catarina ainda está sendo implementado e tem

uma expectativa de preservar 950 hectares até o final de 2016.

Nos casos do Acre e Amazonas a medida de hectares preservados por programa

não se aplica, pois eles são realizados com residentes de Unidades de Conservação. As

unidades de conservação são espaços territoriais, legalmente instituídos pelo Poder

Público brasileiro, que não devem ser desmatadas, mas que em alguns casos admitem o

uso sustentável dos recursos, conciliando a presença humana nas áreas protegidas.

Desta maneira, não seria adequado falar de hectares preservados, pois toda a unidade de

Conservação, na qual os beneficiários dos programas residem, devem ser preservadas.

A maioria dos projetos tem foco nos agricultores familiares, porém existem

várias dificuldades para efetuar os pagamentos a esses produtores. Muitos agricultores

no país não possuem o título de propriedade da terra – vivem na mesma, mas não tem

como comprovar a sua posse. Essa é uma das grandes dificuldades do programa, pois

sem um documento que comprove a propriedade oficial da terra, o Estado não tem

segurança jurídica para estabelecer um acordo com os provedores dos serviços

ambientais. Alguns programas vêm tentando flexibilizar essa exigência, aceitando

documentos dos mais distintos (como declaração de posse mansa e pacífica, declaração

de vizinhança, entre outros), dado que os agricultores familiares, principalmente aqueles

residentes das regiões mais pobres do país, não possuem a propriedade de fato da terra.

Essa adaptação das exigências se faz necessária, pois assim os programas de PSA

estariam contribuindo para a melhoria socioambiental das regiões, como também

atenderiam a determinação do § 7° do artigo 41 do código florestal (Lei nº 12.651, de

Page 403: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

403

2012), de que os pagamentos por serviços ambientais devem ser prioritariamente

destinados aos agricultores familiares.

Em adição, alguns desses agricultores, não possuem documentos como registro

civil, cadastro de pessoa física, entre outros, o que dificulta a abertura de contas em

bancos para que eles recebam os pagamentos por serviços ambientais. Essas situações

precisam ser consideradas pelos gestores dos programas, principalmente das regiões

mais pobres, pois como se tratam de programas estaduais que implicam em pagamento

governamental a particulares por um serviço, devem atender as normas da

administração pública e os requisitos de accountability e transparência.

Na experiência de Santa Catarina, o órgão gestor do programa - FATMA -

constatou que um dos maiores obstáculos à sua implementação se refere ao temor dos

proprietários sobre as vistorias nas propriedades, uma vez que muitas não estão

adequadas ambientalmente.

Esse temor é oriundo da confusão existente entre a vistoria para habilitação no

programa de PSA e a fiscalização ambiental, o que é compreensível dado ao Poder de

Polícia do Estado174

e as consequentes penalizações relacionadas á inadequação

ambiental.

Dessa forma, na elaboração das diretrizes e normas que regem o programa de

PSA devem ser levados em consideração prazos para adequação das propriedades que

estão em processo de análise e habilitação nos programas. Esses prazos devem ser

elaborados em consonância com o ordenamento jurídico vigente. Nesse contexto, a

política nacional de PSA terá um papel fundamental na salvaguarda desses proprietários

e na atuação do Poder Público como agente fiscalizador.

No que se refere à gestão dos programas, em geral, os custos de monitoramento

e fiscalização das áreas são altos, até mais caros que o pagamento direto aos provedores

dos serviços ambientais. Isso porque todos os anos, antes do pagamento referente ao

número de hectares preservados ou restaurados, os funcionários do governo estadual

precisam fiscalizar se as atividades acordadas foram realizadas. O monitoramento e

fiscalização são custosos, sendo necessário contabilizar o valor do transporte até as

propriedades, o tempo para a entrega e registro dos documentos, o trâmite burocrático

174

O conceito de polícia na esfera ambiental é, essencialmente, um conceito jurídico-administrativo que

faz referência à atuação dos órgãos ambientais e a sua função fiscalizadora e controladora. (ANTUNES,

2012) Ademais esse Poder de Polícia é inerente à Administração Pública, sendo segundo Carvalho Filho

(2013) “a prerrogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza a Administração Pública a

restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em favor do interesse coletivo”.

Page 404: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

404

para a validação dos resultados, além da relação institucional entre os diferentes órgãos

envolvidos no programa.

Ademais todos os programas exigem a elaboração de projetos de recuperação ou

manutenção das áreas que participarão dos mesmos, o que demanda um grande volume

de recursos com assistência técnica. Isso porque, como os programas em geral buscam

privilegiar a participação dos agricultores familiares que possuem poucos recursos para

a construção dos projetos, é necessária a interferência de técnicos, pagos pelo poder

público estadual, que possam auxiliá-los.

Visto as dificuldades por que passam os estados e as responsabilidade que

recaem sob suas secretarias e recursos humanos na gestão dos projetos, dois estados já

estão repensando a sua atuação nos Programas de PSA. Santa Catarina e São Paulo

estudam maneiras de alterar as regras dos programas para que eles desempenhem mais

um papel de fomentador do que de executor. Os casos desses estados alertam para a

importância dos municípios na realização de políticas localizadas. Esse último ente

federativo tem um papel fundamental na ponta dos programas, informando os possíveis

beneficiários, prestando assistência técnica e colaborando com o monitoramento e

fiscalização - o que mostra a necessidade de uma articulação e cooperação entre estados

e municípios para a implementação e o sucesso do PSA.

Contudo, os próprios casos mostraram que há uma dificuldade em fechar tais

acordos, dado as mudanças políticas nos municípios que provocam uma

descontinuidade dos programas e o pouco preparo dos funcionários municipais. Além

disso, não é possível deixar de mencionar as dificuldades relacionadas a um país

federalista, com entes autônomos e conflitos políticos advindos das disputas partidárias.

O próximo item irá apresentar os principais projetos municipais relacionados ao

pagamento por serviços ambientais realizados no Brasil. Entende-se que o país tenha

mais de 5.500 municípios, com legislações, orçamentos e administrações próprias e isso

dificulta o levantamento de todas as iniciativas.

Além disso, sabe-se que os projetos de PSA são muito dinâmicos, com alteração

constante nas leis, órgãos e atores envolvidos, montante dedicado, entre outros fatores

passíveis de mudanças. Desta forma, optou-se por enfocar duas grandes propostas de

ação que estão presentes em vários municípios, e cujas experiências vêm sendo bem-

sucedidas. São eles o Oásis, idealizado pela Fundação Boticário, e o Programa Produtor

de Água, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas.

Page 405: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

405

1.7.Projetos Municipais de Pagamentos por Serviços Ambientais

Existem atualmente (fevereiro de 2016) no Brasil inúmeros projetos municipais

de pagamento por serviços ambientais, implementados e em fase de implementação.

Essas iniciativas possuem arranjos institucionais distintos, dado as peculiaridades e

necessidades de cada região. Contudo, dois programas têm se destacado e difundido sua

metodologia por várias cidades: o Oasis, da Fundação Grupo Boticário de Proteção à

Natureza (FGBPN), e o Produtor a Água, da Agencia Nacional de Água (ANA).

Esses programas já estão em prática há 10 anos, sendo aprimorados e

disseminados em todas as regiões do país. No caso do Oásis são 09 iniciativas que estão

em distintas fases de implementação, enquanto os projetos engendrados pela ANA

chegam atualmente a 38 municípios.

Os próximos itens irão apresentar a metodologia e os resultados da implantação

destes projetos, com o objetivo de identificar, principalmente a origem de seus

financiamentos.

4.3.1. Projeto Oásis

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza (FGBPN) é uma instituição

privada, sem fins lucrativos, criada na década de 1990, que tem como objetivo a

promoção e realização de ações de conservação da natureza no Brasil.

Dentre suas ações destaca-se o Oásis, uma iniciativa que visa estimular a

conservação da natureza através de pagamentos por serviços ambientais gerados pelos

proprietários de terra que conservem áreas naturais e de mananciais, além da adoção de

boas práticas de uso do solo.

Para tanto, a FGBPN desenvolveu uma metodologia própria capaz de atender

diferentes realidades sociais, econômicas e ambientais. A fórmula padrão de cálculo dessa

metodologia poderá ser adaptada de acordo as características de cada região e demais fatores

que contribuam para o fornecimento dos serviços ambientais definidos em cada projeto.

Agentes Envolvidos e Arranjos Organizacionais

Dentre os agentes envolvidos para implantação do projeto destacam-se as

entidades executoras (parceiros locais) e pagadoras, além dos proprietários rurais

beneficiários dos serviços ambientais prestados.

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406

O papel da Fundação na implantação do Oásis é acompanhar o processo de

implantação e desenvolvimento do projeto de PSA, auxiliando a entidade executora na

definição das áreas prioritárias, elaboração do marco legal, valoração ambiental e

articulação institucional.

As entidades parceiras executoras do programa possuem a responsabilidade de

buscar as fontes de financiamento, realizar o gerenciamento do programa, cadastrar e

efetuar o pagamento dos proprietários rurais, além de monitorar as propriedades

beneficiárias. Essas entidades podem ser Prefeituras, Comitês de Bacias Hidrográficas,

Consórcios, empresas ou qualquer outro interessado na execução do projeto, devendo

assinar um Termo de Cooperação Técnica com a FGBPN.

Para a FGBN (s/d) é importante que a companhia de abastecimento de água local

atue de alguma forma na execução do projeto de PSA, seja na condição de beneficiária,

parceira técnica ou de agente financiador. A Figura 69 apresenta o arranjo institucional

do Oásis.

Figura 69: Organograma do Arranjo Institucional do Oásis

Fonte: Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, s/d.

O arranjo institucional apresentado pode sofrer adaptações de acordo com as

peculiaridades de cada projeto e seus atores locais.

O Oásis possui as seguintes etapas de implantação:

(i) formalização do Termo de Cooperação Técnica;

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407

(ii) definição do arranjo institucional;

(iii) diagnóstico ambiental e socioeconômico local;

(iv) definição da área prioritária;

(v) definição dos marcos legais;

(vi) cadastramento das propriedades;

(vii) definição dos requisitos de elegibilidade do programa;

(viii) estabelecimento de critérios de priorização de propriedades;

(ix) valoração ambiental e mapeamento das propriedades;

(x) contratação, pagamento e monitoramento dos beneficiários;

(xi) Implementação do SISOASIS (sistema de gerenciamento do Oásis);

O SISOASIS é um sistema de gerenciamento online cujo objetivo é auxiliar os

atores parceiros a planejar e estruturar seus projetos, a definir a metodologia de cálculo

de valoração ambiental, a selecionar e monitor os provedores dos serviços ambientais,

bem como avaliar resultados e angariar fonte de recursos.

Fontes de Financiamento

Young & Bakker (2015) destacam que o projeto Oásis possui diferentes fontes

de financiamento, visto que busca identificar as motivações de cada comprador de

serviço ambiental visando alcançar a sustentabilidade financeira para a implantação do

projeto.

Áreas de abrangência do Programa

Segundo a FGBN (s/d), a área de abrangência do programa deverá ser dividida

em sub-bacias hidrográficas, respeitando-se os seguintes critérios: áreas prioritárias para

a conservação da natureza; áreas de mananciais de abastecimento público; entorno de

Unidades de Conservação de proteção integral e interior de UCs de uso sustentável;

áreas que possibilitem a formação de corredores de biodiversidade entre UCs ou

grandes remanescentes de vegetação nativa relevantes para a região; áreas com maior

densidade de rios e nascentes; áreas com maior cobertura florestal nativa; áreas com

menores índices de urbanização; áreas de recarga hídrica; áreas íngremes; e bacias

hidrográficas com comitês de bacias estabelecidos.

Ademais, tais áreas poderão ser enquadradas em diferentes níveis de prioridade,

sendo tais:

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408

1. bacias ou sub-bacias abastecedoras de sistemas públicos de fornecimento de

água públicos ou contribuintes de reservatórios;

2. melhoria na qualidade do solo e da água;

3. bacias com déficit de cobertura vegetal em APPP;

4. bacias hidrográficas que possuam sistema de gestão implementado.

Projetos Oásis implementados e em fase de implementação

Em 2006, foi implementado o primeiro projeto Oásis no Brasil como foco na

Região Metropolitana de São Paulo, em especial as bacias hidrográficas das represas de

Guarapiranga e Billings, e as AAPs do Capivari-Monos e Bororé-Colônia, abrangendo

uma região de aproximadamente 82 mil hectares.

Esse projeto piloto tinha o objetivo desenvolver um modelo de PSA no Brasil

que remunerasse os proprietários rurais que conservassem florestas e nascentes das suas

propriedades.

A principal finalidade do projeto era servir de exemplo para outros municípios e

estados buscando incentivar as organizações e o poder público a adotarem o PSA como

uma ferramenta viável para a conservação de áreas naturais (Nunes et ali., 2012).

Entre 2009 e 2012 o projeto possuía 14 beneficiários, totalizando 747,7 hectares

protegidos e 101 nascentes, sendo que a menor propriedade contratada possuía 4,6 ha e

a maior 269 ha (Nunes et ali., 2012).

Inicialmente o Oásis contou com recursos oriundos da doação da Mitsubishi

Corporation Foundation for the Americas, que segundo a FGBPN totalizaram um

montante de aproximadamente R$ 1.200.000,00. Esses recursos foram utilizados na

gestão administrativa e técnica do projeto.

Considerando a experiência da Região Metropolitana de São Paulo,

sequencialmente o Oásis foi implementado em Apucarana (Paraná), São Bento do Sul

(Santa Catarina), São José dos Campos (São Paulo) e Brumadinho (Minas Gerais).

A partir da experiência de São Bento do Sul, o Projeto Oásis passou a adotar um

procedimento homogêneo para o cálculo do pagamento ao proprietário rural

participante. Isso aconteceu porque as fórmulas de cálculo para pagamentos aos

proprietários rurais iniciais (São Paulo e Apucarana) eram bastante complexas e

desenvolvidas caso a caso, com pouca similaridade entre si. Além disso, o pagamento

não se baseava no custo de oportunidade da terra, contrariando a tendência apresentada

na literatura.

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409

Para homogeneizar os procedimentos de cálculo do valor do pagamento, foi

elaborada uma nova metodologia de cálculo do pagamento a ser efetuado ao

proprietário rural (Young & Bakker, 2014). A fórmula descrita em Young & Bakker

(2014) simplificou os procedimentos de cálculo, premissa necessária para sua ampla

difusão, considerando três componentes para o cálculo: (i) um fator de remuneração

baseado no custo de oportunidade da terra (usualmente adotando uma proporção do

valor anual do arrendamento para pecuária na região do projeto), (ii) a área natural a ser

conservada ou restaurada pela adesão ao projeto, e (iii) um conjunto de “notas” em

função da qualidade da conservação ecológica efetuada na propriedade, sua importância

para garantir a conservação dos recursos hídricos e uma avaliação das práticas agrícolas

adotadas em termos de sustentabilidade. A Equação 25 apresenta a fórmula sugerida em

Young & Bakker (2014):

Equação 25.

Valor PSA = x* [(1+ƩN1+N2+N3+N4)*Z]

Onde,

X= Valor base da fórmula para o qual é considerado um percentual do custo de

oportunidade na região.

N1= Nota de Qualidade de Conservação da propriedade

N2= Nota de Qualidade Hídrica da propriedade.

N3= Nota para práticas agrícolas adequadas ambientalmente.

N4= Nota de Gestão da propriedade.

Z= área natural (ou em recuperação) a ser contratada pelo projeto, devendo ser medida

em hectares.

Esta fórmula tem como vantagem a possibilidade de atribuir pesos distintos para

cada N, sendo que esses podem variar de acordo com o interesse dos gestores do

projeto. Por exemplo, em determinada região pode ser considerado mais importante

garantir práticas agrícolas mais adequadas ambientalmente, do que o tipo de gestão que

é utilizado na propriedade. Além disso, é possível incluir ou excluir outras “notas”

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410

(variáveis “N”) na fórmula, como por exemplo critérios sociais (agricultura familiar,

tamanho da propriedade, etc.) bem como decidir atribuir diferentes importâncias (pesos)

para cada uma delas. Desde então, todas as iniciativas do Projeto Oásis foram

enquadradas nessa fórmula geral, mas com pesos para os parâmetros definidos

localmente.

Como em outras iniciativas de PSA no Brasil, ocorreram problemas de

continuidade dos projetos. Desde 2014 o projeto na região de Guarapiranga e Billings, e

nas AAPs do Capivari-Monos e Bororé-Colônia (São Paulo) encontra-se paralisado. A

FGBN destacou que atualmente o município de São Paulo vem discutindo a

reformulação do projeto175

.

Cabe destacar, ainda que o projeto de Apucarana implementado em 2012, por

meio da Lei Municipal nº 058/2009, foi interrompido em 2013 por razões políticas. A

FGBPN ponderou em entrevista que permanece em contato com o município visando a

retomada do projeto176

.

Segundo a FGBPN, o Projeto em São José dos Campos deverá efetuar até Julho

de 2016 os primeiros pagamentos por serviços ambientais. Destaca-se que através do

Edital nº 01/SEMEA/2015 foram selecionadas 04 propriedades que celebraram contrato

por 2 anos. Os valores anuais a serem pagos variam entre R$ 1.794,42 e R$9.420, 00.

Em São José dos Campos, o Oásis foi denominado como “Programa Mais

Água”, implementado pela Lei Municipal N°. 8703/2012. Ele tem como objetivo

incentivar a preservação das áreas de vegetação nativa do município e a adoção de

práticas sustentáveis na zona rural com foco na preservação dos mananciais da região.

Os recursos para financiamento do Mais Água poderão advir das seguintes

fontes: cobrança pelo uso da água destinada pelo Comitê de Bacia Hidrográfica; multas

de origem ambiental; doações, empréstimos e transferências; sequestro de carbono em

projetos desenvolvidos no âmbito dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL);

dotações orçamentárias estadual ou municipal; do FECOP; do Fundo Municipal de

Serviços Ecossistêmicos (FMSE), entre de outros fundos.177

175

Entrevista realizada por telefone com Renato Atanazio, do setor de Estratégias de Conservação da

FGBPN, em 03/03/2016. 176

Entrevista realizada por telefone com Renato Atanazio, do setor de Estratégias de Conservação da

FGBPN, em 03/03/2016. 177

Art. 9º, da Lei 8703/12 e art. 1º, da Lei 8.905/13.

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411

Os pagamentos dos beneficiários da primeira fase do programa são oriundos do

FMSE, de dotação orçamentária municipal e recursos advindos de convênio de repasse

com a Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul (AGEVAP)178

.

Além dos projetos municipais citados, cabe destacar que a FGBPN ainda apoia a

implementação de projetos e PSA em Palmas (TO), Bonito (MS) e Curitiba (SC).

Para melhor compreensão do Oásis, serão analisadas as experiências municipais

de Apucarana (PR), São Bento do Sul (SC) e Brumadinho (MG). Para tanto, buscou-se

analisar a origem dos projetos, os atores envolvidos na sua coordenação, a forma de

pagamento, a habilitação dos interessados, as fontes de financiamento e as áreas de

abrangência do projeto.

Apucarana (PR): O Projeto e seus Atores

O PSA foi instituído no município de Apucarana por meio da Lei Municipal nº

058/2009, que dispõe sobre a criação do Projeto Oásis e autoriza o poder público a

prestar apoio técnico e financeiro aos proprietários rurais.

O Projeto Oásis Apucarana tem como objetivo implantar ações que aumentem a

quantidade das águas por meio de pagamentos aos provedores que reflorestarem as

áreas de nascentes existentes em suas propriedades, tendo prioridade os produtores

localizados nas bacias dos rios Pirapó, Tibagi e Ivai179

.

No âmbito da Lei Municipal nº 058/2009, deverá ser concedido apoio técnico

aos proprietários habilitados no projeto. Este apoio técnico poderá ser fornecido por

diferentes entidades, estabelecidas a partir de convênios firmados com a prefeitura.

A Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Apucarana (SEMATUR) e o

Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMMAP) com o apoio técnico da Fundação

Grupo Boticário serão os responsáveis pela implantação do projeto.

Os Beneficiários e a Forma de Pagamento

O pagamento dos serviços ambientais prestados será de no mínimo 04 anos,

conforme definido nos termos de compromisso celebrados entre os beneficiários e o

município, podendo ser prorrogado por igual período a critério da prefeitura.

178

Edital nº 01/SEMEA/2015. 179

Art. 1º e 5º, da Lei Municipal n. 58/2009.

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412

Para habilitação no projeto o interessado deverá protocolar requerimento de

intenção junto ao município, contendo seus dados pessoais e os dados de sua

propriedade. O requerimento será encaminhado para a SEMATUR que irá realizar a

vistoria na propriedade e emitirá um relatório, que será encaminhado ao Conselho

Municipal de Meio Ambiente, para aprovação. Após aprovação será elaborado o Laudo

de Vistoria Técnica, que será encaminhado para a Procuradoria Jurídica do Município

para análise e elaboração de parecer. Cumpridas tais formalidades, encaminhar-se-ão os

respetivos documentos para a Fazenda Municipal para formalização dos pagamentos180

.

Os proprietários rurais elegíveis são todos aqueles que tiverem a sua

propriedade na sub-bacia hidrográfica pré-estabelecida, com área igual ou superior a

dois hectares, e que desenvolvam atividades agrícolas com fins econômicos.

Além dos proprietários rurais, em 2010, o município inovou ao incluir como

possíveis beneficiários os proprietários de imóveis urbanos que possuam lotes de até

48.400 m² e que não sejam explorados como área de lazer. Esses proprietários estão,

inclusive, dispensados da apresentação da Certidão do Instituto Ambiental do Paraná

(IAP)181

.

O Decreto Municipal nº 107/2009 que Regulamenta a Lei Municipal nº

058/2009, determina que para recebimento do pagamento os beneficiários deverão

cumprir as seguintes ações:

(i) averbação da reserva legal reflorestada ou em processo de reflorestamento;

(ii) possuir as matas ciliares reflorestadas com 30 m (trinta metros) de largura

para cada margem, de qualquer curso d´água até 10 m de largura;

(iii) reflorestamento da área do entorno da nascente num raio de 50 m;

(iv) construção de curvas de níveis e caixas de contensão da água da chuva para

controle das erosões;

(v) acatar e executar todas as considerações feitas pelos técnicos da SEMATUR

quanto ao processo de reflorestamento;

(vi) realizar o cadastramento anual da propriedade junto a SEMATUR no prazo

estipulado;

(vii) permitir a vistoria regular dos técnicos responsáveis pelo projeto182

.

180

Instrução Técnica nº 01/09 da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo. 181

Art. 8º, da Lei nº 058/2009 alterado pela Lei Municipal nº 241/2009. 182

Art. 2º, do Decreto Municipal nº 107/2009.

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413

Os valores para pagamento aos beneficiários eram calculados por fórmula

própria, não seguindo a fórmula geral (Young & Bakker, 2014) mas sim por meio de

pontuações obtidas pelo preenchimento de diversos quesitos de preservação e

recuperação das nascentes. A pontuação era calculada a partir das Unidades Fiscais do

Município (UFM) e o pagamento era realizado mensalmente para os proprietários183

,

considerando a técnica de preservação e recuperação utilizada184

.

A metodologia de cálculo de valoração dos serviços ambientais foi adaptada

contemplando, no cálculo, critérios como a conectividade entre a reserva legal de

propriedades vizinhas, a existência de RPPN e de nascentes.

Young (2012) destaca dois fatores importantes na metodologia de cálculo do

projeto Oásis Apucarana: a ausência do custo de oportunidade e a realização do

pagamento por propriedade, devido à inexistência da proporcionalidade no cálculo.

As Fontes de Financiamento do Projeto

As fontes de financiamento do projeto poderão ser provenientes do Fundo

Municipal de Meio Ambiente (FMMA); do ICMs Ecológico das unidades de

Conservação; das RPPNs; de parte das multas ambientais aplicadas pelo Ministério

Público e ou órgãos competentes, além de convênios firmados com ONGs e outras

instituições185

.

Por sua vez, os recursos do FMMA, determinados pela Lei Municipal nº 68/2005

serão oriundos:

(i) valor das infrações ambientais;

(ii) doações de pessoas físicas/ jurídicas ou de organismos públicos/ privados,

nacionais e internacionais;

(iii) rendimentos de qualquer natureza, que venha a auferir como remuneração

proveniente de aplicação de seu patrimônio;

(iv) rendimentos e indenizações de ações judiciais e ajustes de conduta, de

natureza ambiental, promovidos pelo Ministério Público;

(v) repasses mensais da Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR),

0,8% (zero vírgula oito por cento) do seu faturamento no município;

183

Art. 4º, da Lei nº 058/2009 alterado pela Lei nº 241/2009. 184

O Decreto nº 076/2010 estabelece os valores a serem pagos aos proprietários dos imóveis rurais e

urbanos que se enquadrem no Programa do Projeto Oásis no Município de Apucarana. 185

Art. 7º, da Lei nº 058/2009.

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414

(vi) outros recursos186

.

Desta maneira, observa-se uma diversidade de fontes de financiamento,

destacando o papel do ICMS ecológico, que no município de Apucarana foi de R$

631.026,98 em 2013187

. Além disso, deve-se enfatizar a participação dos recursos da

Companhia de Saneamento do Paraná, que deve ser uma das beneficiárias pela melhoria

da qualidade da água.

São Bento do Sul (SC)

Em São Bento do Sul, o pagamento pelos serviços ambientais foi implementado

pela Lei nº 2.677/2010 que instituiu a Política Municipal de PSA (PMPSA), o programa

de PSA, além de estabelecer formas de controle e financiamento desse programa.

A Política Municipal dos Serviços Ambientais tem o objetivo de promover o

desenvolvimento sustentável e o aumento da provisão desses serviços no município,

através do pagamento para os agricultores familiares que garantem seu fornecimento188

.

Na lei em questão os serviços ambientais são definidos como sendo aqueles

desempenhados pelo meio ambiente e que proporcionam condições adequadas à sadia

qualidade de vida. Tais serviços constituem as seguintes modalidades: (i)

aprovisionamento, oriundos dos bens ou produtos ambientais com valor econômico,

obtidos diretamente pelo uso e manejo sustentável dos ecossistemas; (ii) suporte e

regulação, serviços que mantêm os processos ecossistêmicos e as condições dos

recursos ambientais naturais; (iii) culturais, associados aos valores e manifestações

culturais de preservação ou conservação dos recursos naturais189

.

As ações da PMPSA devem ser geridas por um Comitê Gestor composto por

representantes governamentais e da sociedade civil, cujo objetivo é acompanhar a

implementação do PMPSA, propor aperfeiçoamentos, bem como avaliar o cumprimento

das metas estabelecidas. Para tanto, foi elaborado um regulamento próprio que define a

composição, organização e funcionamento do respectivo Comitê.

186

Art. 2º, da Lei nº 68/2005. 187

Jornal Tribuna do Norte, 2014. 188

Art. 7º, da Lei 2777/2010. 189

Art. 2º, da Lei 2677/2010.

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415

A execução dos projetos relacionados à PMPSA é de responsabilidade do

Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto de São Bento do Sul (SAMAE) e do

Departamento de Meio Ambiente do Município.

Os recursos de financiamento do programa serão oriundos do Fundo Municipal

de Pagamento por Serviços Ambientais (FMPSA), não podendo os gastos com

planejamento, acompanhamento, avaliação e divulgação do projeto exceder o montante

correspondente a cinco por cento das disponibilidades do fundo. No entanto, caso seja

necessário, as referidas despesas poderão ser custeadas pelos recursos orçamentários

destinados ao SAMAE.

O FMPSA é composto pelos recursos provenientes de dotações orçamentárias

municipais, doações, rendimentos, acordos, convênios ou outros instrumentos

congêneres celebrados com a administração pública federal, estadual ou de outros

municípios.

Além dos recursos citados, também poderão ser fontes de financiamento do

PMPSA as receitas oriundas da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, desde que

observadas as prioridades estabelecidas pelo comitê de bacias.

Em 2011, a partir da estruturação da PMPSA, foi implementado em São Bento

do Sul, através do Decreto nº 634/2011, o projeto Produtor de Água do Rio Vermelho.

Esse projeto busca incentivar financeiramente os provedores de serviços ambientais que

possuam propriedades nas margens do Rio Vermelho, na Área de Proteção Ambiental

Rio Vermelho/Humbold e do ponto de captação de água até o limite com o município

de Campo Alegre190

.

Projeto Produtor de Água do Rio Vermelho: Os Beneficiários e a Forma de

pagamento

Os interessados poderão participar do projeto mediante adesão voluntária por

meio de cadastramento e celebração de contrato com o SAMAE. Caberá à Secretaria de

Planejamento e Urbanismo e à Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, em conjunto

com o SAMAE, realizarem a análise da documentação e aprovarem sua conformidade.

São considerados provedores de serviços ambientais os agricultores,

arrendatários ou detentores a qualquer título do domínio legal da propriedade, que

estejam localizadas nas áreas prioritárias do projeto.

190

Art. 4º, do Decreto nº 634/2011.

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416

Os pagamentos aos beneficiários serão efetuados em parcela única anual pelo

SAMAE, com reajuste anual regulado pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGPM).

Esses pagamentos devem ser acompanhados por atores que integram o projeto, sendo

obrigatória a participação de ao menos um membro da Secretaria de Agricultura e Meio

Ambiente, da SAMAE de São Bento do Sul, do Consórcio Intermunicipal Quiriri e do

Conselho Municipal de Defesa do meio Ambiente (COMDEMA).

Young & Bakker (2015) destacam que até 2013 o programa contava com 18

propriedades beneficiárias e um total de 45 hectares de áreas naturais protegidas

Os valores dos pagamentos variam entre 125 Unidades Fiscais do Município

(UFM) por propriedade e 122,5 UFM por hectare de APP do Rio Vermelho. O valor

mínimo é pago à propriedade que não contar com um hectare de APP e não conseguir

atingir as pontuações do projeto devido às características da propriedade191

.

A metodologia de valoração ambiental é definida com base no cálculo de

pontuação de ações ambientais. Dentre tais ações ambientais, destacam-se a preservação

ou recuperação da APP, a conservação da mata ciliar, a promoção do turismo ecológico,

a prática da agricultura orgânica, se apresenta área de APP superior a 30 metros do rio e

50 metros da nascente, entre outros192

.

As fontes de financiamento do projeto

O projeto será executado com recursos oriundos da SAMAE. Entretanto, caso

seja necessário, também poderá fazer uso das seguintes fontes de financiamento:

transferências ou doações; recursos do Fundo Municipal de Meio Ambiente; multas

ambientais; convênios; agentes financiadores nacionais e internacionais; dentre outros.

Brumadinho (MG)

O município de Brumadinho, diferentemente dos já citados, não possui

legislação municipal sobre PSA. O projeto Oásis Brumadinho foi implementado por

meio de uma parceria entre o Ministério Público de Mina Gerais, a Associação Mineira

de Defesa do Ambiente e a FGBPN, com o intuito de utilizar os recursos provenientes

191

Art. 4º, do Decreto nº 634/2011. 192

Prefeitura Municipal de São Bento do Sul, 2015. Acesso em 05/03/2016. Disponível em:

<http://www.saobentodosul.sc.gov.br/noticia/12617/preservacao-do-meio-ambiente-e-

recompensada#.Vtb-HPkrLIV>

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417

da celebração de um Termo de Ajustamento de Conduta, oriundo de infração ambiental,

no pagamento por serviços ambientais

Segundo a Associação Mineira de Defesa do Ambiente, o projeto possui as

seguintes etapas: diagnóstico ambiental e socioeconômico da área prioritária;

cadastramento inicial das propriedades; análise da situação fundiária; seleção das

propriedades habilitadas com base nos critérios ambientais e fundiários; visita técnica às

propriedades; seleção dos beneficiários; celebração do Termo de Compromisso e

contratação193

.

Um dos fatores mais interessante relacionados à experiência de Brumadinho

refere-se ao fato dos recursos do projeto serem oriundos da celebração de um Termo de

Ajustamento de Conduta junto ao Ministério Público de Minas Gerais. Como

mencionado anteriormente, esta é uma ótima iniciativa para iniciar um projeto de PSA,

bem como para mobilizar os atores e consolidar a sua importância na preservação

ambiental. Contudo, sabe-se que a utilização dos TACs e multas como as principais

fontes de recursos para o PSA é uma estratégia limitada, pois é necessária a constante

realização de infrações ambientais, para que seja possível obter recursos para a

preservação ambiental. Desta maneira, acredita-se que devem ser apontadas novas

fontes de recursos para que o projeto não se encerre assim que o montante obtido pelo

TAC seja extinto.

A tabela 87 abaixo apresenta o número de propriedades beneficiados pelo

projeto até Março de 2016, o valor de área natural preservada, o tempo de duração do

contrato, os valores contratados, bem como o valor pago por ha/ano.

Tabela 87: Informações sobre o projeto Oásis Brumadinho (MG),

março 2016.

Propriedade

Área

Natural

(há)

Prazo do

contrato

(ano)

Total

Contrato Total/ano Ha/ano

1 1,50 5 R$ 3.670,75 R$ 734,15 R$ 489,43

2 3,98 5 R$ 16.754,24 R$ 3.350,85 R$ 841,92

3 3,05 5 R$ 7.168,91 R$ 1.433,78 R$ 470,09

4 2,88 5 R$ 7.514,44 R$ 1.502,89 R$ 521,84

5 18,94 5 R$ 43.773,00 R$ 8.754,60 R$ 462,23

6 84,23 5 R$ 216.760,64 R$ 43.352,13 R$ 514,69

7 50,60 5 R$ 116.403,10 R$ 23.280,62 R$ 460,09

193

Associação Mineira de Defesa do Ambiente. Acesso em 08/03/2016. Disponível em

<http://www.amda.org.br/?string=interna-projetos&cod=32>.

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418

8 105,68 5 R$ 235.849,47 R$ 47.169,89 R$ 471,70

9 18,84 5 R$ 40.819,25 R$ 8.163,85 R$ 433,33

10 18,75 5 R$ 44.546,20 R$ 8.909,24 R$ 475,16

11 4,82 5 R$ 14.057,83 R$ 2.811,57 R$ 583,31

12 4,10 5 R$ 10.269,73 R$ 2.053,95 R$ 500,96

13 139,69 5 R$ 288.020,39 R$ 57.604,08 R$ 576,04

Fonte: FGBPN, 2016.

Nota-se que o projeto possui hoje 13 propriedades contratadas por cinco anos e

457,06 hectares de área natural protegida. Os valores contratados variam entre R$ 841,

92 e R$ 433, 33 por hectare por ano.

Segundo informações da FGBN, foi protocolado este ano um projeto de lei

específico de PSA na Câmara Municipal de Vereadores de Brumadinho com objetivo de

regularizar e regulamentar o PSA no município.

Considerações sobre o Projeto Oasis

Com base nas experiências oriundas da implantação dos projetos Oásis,

representantes da FGBPN194

ponderaram que os principais entraves para concretização

de um projeto de PSA hoje no Brasil referem-se à gestão territorial da área, à

disponibilidade de assistência técnica, à dificuldade de transformação no

comportamento dos proprietários, à continuidade do monitoramento das propriedades e

à ausência de normas municipais. Esse último entrave, inclusive, tem sido um obstáculo

à atração de novos parceiros interessados em financiar o projeto. Desta forma, a

FGBPN, considera importante a elaboração de um ordenamento jurídico federal sobre o

tema. Esse ordenamento dará segurança aos atores que realizam os projetos de PSA em

qualquer ente federativo.

Nota-se, portanto, que as experiências do projeto Oásis da FGBPN tem sido

importantes na criação de iniciativas de PSA municipais, incentivando, a elaboração de

políticas públicas locais de proteção ambiental.

4.3.2. Programa Produtor de Água

194

Entrevista realizada por telefone com Renato Atanazio, do setor de Estratégias de Conservação da

FGBPN, em 03/03/2016.

Page 419: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

419

A Agência Nacional de Águas (ANA) é o órgão responsável por acompanhar a

utilização dos recursos hídricos no Brasil, desenvolvendo programas, projetos e ações

gerencias que possam garantir a implementação da Política Nacional de Recursos

Hídricos, bem como o uso eficiente da água195

.

Entre os programas que esse órgão desenvolve para garantir a oferta de água

com qualidade, está o “Produtor de Água” que tem como princípio a utilização dos

Pagamentos por Serviços Ambientais. Nesse Programa a ANA concretiza parceria com

diferentes agentes, em distintas regiões do país, com vistas a desenvolver projetos de

PSA que promovam a redução da erosão e do assoreamento em mananciais e bacias

hidrográficas. Em geral, a ANA oferece aos parceiros sua metodologia e apoio técnico e

financeiro, enquanto os parceiros se comprometem a disponibilizar os recursos

monetários para os pagamentos por serviços ambientais.

Entre as realizações da Ana, é possível mencionar a construção de terraços e

bacias de infiltração, a readequação de estradas vicinais, a recuperação e proteção de

nascentes, o reflorestamento de áreas de proteção permanente e reserva legal, o

saneamento ambiental, etc.196

.

Já os recursos pagos aos beneficiários podem vir de diferentes fontes, desde

fundos municipais, termos de ajustamento de condutas, multas, recursos privados, como

doações de empresas, e principalmente, de companhias de abastecimento de água e

geração de energia, entre outros.

Os serviços ambientais são pagos aos beneficiários (em geral, produtores rurais)

que, voluntariamente, adotem práticas que possam garantir a conservação de solo e

água. A concessão dos incentivos ocorre somente após a implantação, parcial ou total,

das ações e práticas conservacionistas previamente contratadas. Os valores a serem

pagos para cada beneficiário dependem da região em que residem e das características

da sua propriedade 197

.

Entre os parceiros é possível encontrar a gestão pública Estadual, Municipal,

comitês de bacia, companhias de abastecimento de água e geração de energia,

organizações não governamentais, empresas e outras instituições públicas ou privadas.

A primeira inciativa do programa Produtores de Água foi realizada em 2006, na

bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), nas cidades de Extrema (MG),

195

Agência Nacional de Águas, 2012. 196

Portal Agência Nacional de Águas (Brasil), s/d. 197

Agência Nacional de Águas (Brasil), 2012.

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IEI-18958

420

Joanópolis (SP) e Nazaré Paulista (SP). Com o projeto empreendido foi possível realizar

a preservação de florestas, seu cercamento, plantar mudas de árvores nativas, obras

(como a construção de barraginhas) e promover ações de educação ambiental. Nesse

caso a remuneração dos produtores rurais pelos serviços ambientais foi possível devido

às verbas provenientes da cobrança pelo uso de água, recursos orçamentários

municipais, além de recursos provenientes de doações privadas198

. Em 2015, o

programa já tinha cultivado mais de 1 milhão de árvores.

Contudo, logo no inicio do projeto Produtores de Água na bacia dos Rios

Piracicaba, Capivari e Jundiaí (em 2006), foi impetrada uma consulta à procuradoria

geral da União acerca dos argumentos contrários apontados pelo Consórcio PCJ para

sua implantação. O consórcio questionava a possibilidade de aplicar recursos oriundos

da cobrança pelo uso da água no pagamento por serviços ambientais. Ele acreditava que

o projeto Produtor de Água teria natureza assistencialista, o que o sujeitaria à Lei

federal Complementar nº 101/ 2000, que estabelece normas de finanças públicas

voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Essa lei em

seu artigo 26 determina que os recursos destinados a cobrir necessidades de pessoas

físicas ou déficits de pessoas jurídicas deverão ser autorizados por lei específica, atender

às condições estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias e estar previstos no

orçamento ou em seus créditos adicionais199

.

Em resposta, o Parecer PGE/AMC N°. 352/2007200

apontou que o Programa

Produtor de Água, e os seus projetos, não possuíam natureza assistencialista, pois o seu

objetivo não é cobrir necessidades dos beneficiários, mas sim a proteção dos recursos

hídricos e da respectiva bacia hidrográfica. O fato do pagamento por serviços

ambientais só ser realizado após a confirmação do atendimento, por parte do

beneficiário, aos critérios objetivos de preservação ambiental, definidos nos projetos

individuais das propriedades reforçam esse argumento. A partir de então abriu-se a

jurisprudência de que os pagamentos por serviços ambientais são realizados como uma

contrapartida do beneficiário aos objetivos de proteção ambiental do poder público.

Com o sucesso do projeto Produtor de Água na Bacia do PCJ e em Extrema

(MG), ocorreu sua expansão por todo o país, sendo que em 2012 existiam 16 iniciativas

em funcionamento.

198

Agência Nacional de Águas (Brasil), s/d. 199

Lei complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. 200

Advocacia Geral da União, 2007.

Page 421: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

421

Metodologia de execução do programa produtor de água

O Programa Produtor de Água se inicia a partir da integração das ações da ANA

com os interessados em desenvolver parcerias em projetos de pagamento por serviços

ambientais de proteção hídrica.

Como já foi dito, a ANA não contribui com recursos financeiros para o

pagamento por serviços ambientais. Esses recursos devem ser previstos e angariados

por seus parceiros. A Agência contribui financeiramente apenas para a conservação de

solo e água, através da realização de práticas mecânicas, recuperação florestal e

atividades de educação ambiental. Anualmente a ANA propõe no Orçamento Geral da

União, a disponibilização de recursos necessários à execução do Programa Produtor de

Água. Esses recursos são oferecidos diretamente aos parceiros que procuram à Agência

ou são distribuídos através de editais de chamamento público.

Em 2014, a Ana lançou um edital onde estava previsto o montante de R$ 5,6

milhões em recursos, a serem repassados a projetos (geralmente municipais) de no

máximo R$ 700 mil. As inscrições deveriam ser feitas no site do Sistema de Convênios

do Governo Federal (Sincov)201

.

Geralmente, as parcerias firmadas nos projetos são consolidadas por meio da

celebração de um Acordo de Cooperação Técnica, que deve prever a organização de

uma Unidade de Gestão do Projeto (UGP).

Arranjos Organizacionais

Existem sete atores comuns a todos os projetos originários do programa

produtores de água: a ANA, o agente proponente (que pode ser público ou privado), o

ente municipal ou estadual, o órgão de assistência técnica, os beneficiários, os agentes

financeiros e a unidade gestora do programa. Entretanto, é necessário enfatizar a

possibilidade de participação de outros atores que não os previamente mencionados.

Nesse caso, eles podem ter atribuições específicas para a execução das ações, sendo que

seu papel tem de estar apontado no Acordo de Cooperação Técnica.

A esse despeito, os atores comuns a todos os projetos têm funções específicas

designadas no Manual Operativo do Programa Produtores de Água (2012) e brevemente

sintetizadas abaixo:

201

ÁVILA, 2014.

Page 422: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

422

À ANA cabe analisar as propostas de inclusão dos projetos no Programa

Produtor de Água e apoiar tecnicamente sua execução.

O agente proponente é um órgão público ou privado que deve elaborar o

diagnóstico sócio ambiental e o projeto a ser implementado na sub-bacia. Deve

também apontar a origem e designar os recursos para o PSA, além de celebrar os

contratos com os produtores rurais, estabelecendo metas, monitoramento e

pagamentos das parcelas.

A entidade municipal ou estadual deve criar legislações que possibilitem ao

poder público pagar pelos serviços ambientais. Tem ainda a incumbência de

destinar recursos à execução do projeto, apoiar a elaboração dos Projetos

Individuais nas Propriedades Rurais (PIPs) e a sua implantação.

O órgão de assistência técnica precisa auxiliar os produtores rurais (futuros

beneficiários dos projetos) a construírem os PIPs e estabelecer o valor de

pagamento, de acordo com a metodologia prevista pela ANA.

O agente financeiro deve receber e administrar os recursos destinados à conta do

projeto, realizar a contratação dos serviços ambientais dos produtores rurais e

prestar contas da movimentação financeira.

A Unidade de Gestão do Projeto segue as orientações do Programa estabelecidas

pelo seu Manual Operativo e faz a gestão da implantação do projeto na bacia.

Obriga-se acompanhar os PIPs e informa aos participantes eventuais

irregularidades.

O beneficiário deve efetuar sua inscrição no projeto, apoiar a assistência técnica

na elaboração do PIP e executá-lo, de acordo com o estabelecido no contrato.

Todos os 16 projetos ativos em 2012 trabalhavam com arranjos institucionais

que contemplavam uma variedade de atores públicos e privados. A Tabela 88, abaixo

aponta os parceiros desses projetos.

Tabela 88: Projetos ativos em 2012 e parcerias engendradas para

sua realização.

Projeto/

Município

Ano de

início do

projeto

Parceiros

Projeto

Conservador de

Águas - Extrema/

2005 Prefeitura Municipal de Extrema, Instituto Estadual de

Florestas (IEF/MG), ANA, TNC, SOS Mata Atlântica,

Comitê PCJ, Bauduco, Acqualimp, Valor Natural

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IEI-18958

423

MG

Produtores de

Água e Floresta -

Bacia do Guandu

- Rio Claro/RJ

2007 TNC, ANA, Instituto Terra de Preservação Ambiental,

Comitê Guandu, Secretaria de Estado do Ambiente,

Instituto Estadual do Ambiente, Prefeitura Municipal

de Rio Claro

Produtor de Água

no PCJ -

Joanópolis e

Nazaré

Paulista/SP

2007 Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo;

Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo;

Comitê PCJ; Prefeitura Municipal de Extrema; ANA e

TNC.

ProdutorES de

Água - Alfredo

Chaves, Anchieta,

Guarapari e

Piúma/ ES

2008 Governo do Estado do Espírito Santo, Instituto

BioAtlântica, Banco de Desenvolvimento do Espírito

Santo, ANA, Secretaria de Estado da Agricultura

Projeto Pipiripau

– Brasília/ DF

2009 ANA, Agência Reguladora de Águas, Energia e

Saneamento do Distrito Federal, Companhia de

Saneamento Ambiental do Distrito Federal, TNC,

Banco do Brasil; Fundação Banco do Brasil; Instituto

do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do

Distrito Federal; Secretaria de Agricultura e

Desenvolvimento Rural; EMATER-DF; SESI; WWF.

Projeto Guariroba

– Campo Grande/

MS

2009 ANA, Prefeitura Municipal de Campo Grande, WWF,

Fundação Banco do Brasil, Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul, Ministério Público Estadual.

Produtor de Água

Bacia João Leite -

Goiânia/GO

2009 ANA, Saneamento de Goiás S/A, Ministério Público

de Goiás, IBAMA, Universidade Federal de Goiás,

EMATER, Municípios de Goiânia, Anápolis,

Nerópolis, Terezópolis de Goiás, Ouro Verde, Campo

Limpo de Goiás e Goianápolis.

Produtor de Água

no Córrego Feio -

Patrocínio/MG

2009 Emater-MG, Vale-Fosfertil, Departamento de Água e

Esgoto de Patrocínio, TNC, ANA, Instituto Estadual

de Florestas em Patrocínio, ONG Cerrado Vivo e

Fundação Banco do Brasil

Produtor de

Águas do Rio

Camboriú –

Camboriú/ SC

2009 ANA, Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão

Rural (EPAGRI), Agência de Regulação de Serviços

Públicos, Instituto Federal Catarinense, Prefeitura de

Camboriú e de Balneário Camboriú, Comitê de Bacia

Hidrográfica do Rio Camboriú, Empresa Municipal de

Água e Saneamento de Balneário Camboriú, TNC,

Instituto de Desenvolvimento e Integração Ambiental,

Bunge Natureza.

Produtor de Água

no Taquarussu –

Palmas/ TO

2010 ANA, Cia de Saneamento do Tocantins

(SANEATINS), Secretaria do Estado do Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Prefeitura

de Palmas, TNC, Fundação O Boticário, Secretaria de

Meio Ambiente e Serviços Públicos de Palmas,

Agência Tocantinense de Saneamento.

Produtor de Água

Vera Cruz - Vera

2010 Fundación Altadis da Espanha e Universal Leaf

Tabacos; Universidade de Santa Cruz do Sul;

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424

Cruz /RS Prefeitura de Vera Cruz, Sindicato das Indústrias de

Tabaco e o Comitê Bacia do Rio Pardo

Produtor de Água

Bacia do Rio

Macaé - Nova

Friburgo/ RJ

2011 ANA, Comitê Bacia Hidrográfica Macaé e Ostras,

Instituto Federal Fluminense, Prefeitura Municipal de

Nova Friburgo.

Produtor de Água

de Guaratinguetá

- Guaratinguetá/

SP

2011 ANA, Secretaria Municipal de Agricultura e Meio

Ambiente, Companhia de Serviço de Água, Esgoto e

Resíduos de Guaratinguetá, TNC, Coordenadoria de

Assistência Técnica Integral, Coordenadoria de

Biodiversidade e Recursos Naturais do Estado de São

Paulo, Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do

Rio Paraíba do Sul, BASF.

Produtor de Água

Oásis Apucarana

- Apucarana/ PR

2012 Universidade Tecnológica Federal do Paraná;

Conselho Municipal de Meio Ambiente; Instituto

Emater para o Planejamento, a Coordenação e a

Execução de Ações e Programas de Assistência

Técnica e Extensão Rural; Fundação Boticário de

Proteção à Natureza;

Produtor de água

Rio Branco - Rio

Branco/ AC

2012 Secretaria de Estado de Extensão e Produção

Agroflorestal Familiar; Secretaria de Estado e Meio

Ambiente; Instituto de Mudanças Climáticas;

Secretaria Municipal de Agricultura e Floresta

Produtor de Água

Votuporanga -

Votuporanga/ SP

2012 Centro Universitário de Votuporanga; Secretaria de

Educação Cultura e Turismo; SAEV Ambiental –

Superintendência de Água, Esgotos e Meio Ambiente;

Polícia Ambiental do Estado de São Paulo; Secretaria

Municipal de Desenvolvimento.

Fonte: Ana, 2016.

A tabela 88 ilustra a quantidade de atores necessários para a realização de um

projeto Municipal de pagamento por serviços ambientais. É possível verificar a

participação constante de organizações não governamentais, principalmente a TNC, que

vem trabalhando em conjunto com a ANA na implementação dos Projetos Produtores

de Água em diferentes regiões do Brasil. Porém, há ainda a participação de outras

organizações como WWF, SOS Mata Atlântica, ONG Cerrado Vivo, etc. Deve-se

destacar também a parceria da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza nos

projetos Produtores de Água. Apesar da ANA e da FGBPN possuírem metodologias

distintas de promoção dos pagamentos por serviços ambientais, possuem igualmente

similaridades importantes, bem como detêm anos de experiências nesses projetos. Desta

maneira, o trabalho em conjunto dessas últimas organizações gera expectativas muito

positivas de aprendizado e desenvolvimento de ações de proteção ambiental.

Page 425: YOUNG, C. E. F. (coord.)

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425

Além das organizações não governamentais, enfatiza-se a presença dos comitês

de bacia e das companhias de abastecimento de água entre os parceiros dos projetos

Produtores de Água. Esses são participantes cruciais e estratégicos para o bom

desenvolvimento dos projetos. No caso dos Comitês de bacia sua importância se dá com

a instituição da Lei Nº 9.433/ 1997, pois são os órgãos responsáveis não apenas por

estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos, como devem

aprovar e acompanhar a aplicação dos recursos arrecadados, com base nas orientações

dos Planos de Recursos Hídricos da bacia202

. Assim, os Comitês podem apoiar e

financiar uma série de projetos de PSA voltados à proteção da Bacia Hidrografia. O

mesmo ocorre com as companhias de abastecimento de água. Como elas são

favorecidas com os projetos de PSA, que garantem a disponibilidade de recursos

hídricos a partir da preservação de nascentes, bem como reduzem os custos com o

tratamento de água devido à proteção das matas ciliares, as Companhias de água, podem

estar dispostas a participar desses projetos.

As prefeituras e os governos do estado também estão presentes na totalidade dos

projetos Produtores de água aqui apresentados. Sua participação é fundamental dado à

necessidade de institucionalização dos projetos, que envolvem o pagamento de agentes

privados pelos serviços ambientais prestados. Inclusive, o Manual Operativo do

Programa Produtores de Água descreve como função do poder público municipal e/ou

estadual a elaboração de leis que normatizem a realização de tais pagamentos.

Entretanto, Devanir Garcia dos Santos203

, Coordenador de Implementação de Projetos

Indutores da ANA, afirmou em entrevista que nem todos os municípios que contêm

projetos Produtores de Água contam com legislações sobre PSA. O Entrevistado afirma

que há dificuldades para aprovar tais leis com celeridade em todos os entes

governamentais, assim, alguns projetos vêm prescindindo dessa construção e

estabelecendo as ações a partir dos Acordos de Cooperação Técnica e de editais,

capazes de selecionar os beneficiários. Devanir ainda defende que a aprovação de uma

lei federal sobre os pagamentos por serviços ambientais deve dar conta desta lacuna

institucional, libertando os municípios desta responsabilidade.

202

Agência Nacional de Águas (Brasil), 2011. 203

Devanir Garcia dos Santos, Coordenador de Implementação de Projetos Indutores da ANA, m

entrevista realizada pessoalmente em 03/09/2015 e por telefone em 11/03/2016.

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426

Pagamento aos produtores

Os projetos Produtores de Água possuem três modalidades distintas de

pagamentos pelos serviços ambientais aos beneficiários: Conservação de Solo;

Recuperação ou Conservação de APP e/ou Reserva Legal; Conservação de

remanescentes de vegetação nativa.

O montante a ser pago em cada uma dessas modalidades é definido a partir do

custo de oportunidade de uso de um hectare da área, apresentada como Valor de

Referência (VRE), em R$/hectare/ano. De acordo com o Manual Operativo do

programa Produtor de Água (2012), o VRE é obtido mediante o desenvolvimento de um

estudo econômico, considerando a atividade econômica e os ganhos obtidos na região.

A modalidade de Conservação de Solo tem como objetivo recompensar o

produtor rural que adote práticas de conservação do solo em sua propriedade sejam elas

a manutenção da cobertura vegetal, a construção de terraços, o plantio em nível, a

rotação de culturas, entre outros métodos determinado nos PIPs.

No caso das ações de conservação de solo o valor máximo a ser pago é 50% do

VRE, já que as áreas continuam disponíveis para a produção agropecuária. De qualquer

maneira este percentual varia proporcionalmente ao abatimento da erosão e há ganhos

ambientais consideráveis.

Já a modalidade Recuperação ou Conservação de APP e/ou Reserva Legal tem o

intuito de beneficiar o produtor rural que possua nascentes, cursos d’água, reservatórios,

lagos e lagoas naturais em suas terras e se proponha a recuperar ou conservar a

vegetação da Reserva Legal e da Área de Preservação Permanente. Caso a recuperação

dessas áreas seja realizada com vegetação nativa, o pagamento ao beneficiário é igual ao

VRE. Contudo, dependendo das práticas do produtor rural esse valor pode ser reduzido.

Por fim, a modalidade Conservação de Remanescentes de Vegetação nativa

propõe o pagamento ao produtor rural que proteger a vegetação nativa de sua

propriedade. O pagamento aos beneficiários por hectare ao ano possui o valor máximo

de 1,25 x VRE, uma vez que a área fica impedida de ser utilizada para atividades que

proporcionem renda ao produtor.

Alguns projetos municipais permitem que os produtores de serviços ambientais

sejam remunerados simultaneamente pela conservação de solo e água e recuperação

e/ou preservação da vegetação natural, como é o caso do Distrito Federal.

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IEI-18958

427

De qualquer maneira, a certificação de que as ações acordadas no contrato foram

realizadas na propriedade rural, é pré-requisito para os pagamentos por serviços

ambientais.

Fontes de Recursos

Para a ANA, a situação financeira e o porte da entidade que se propõe a

financiar o programa de PSA não são relevantes. É mais importante que seja possível a

manutenção e sustentabilidade dos repasses. Assim, entende-se que cada projeto deve

contar com uma gama de agentes financiadores, com o intuito de garantir a continuidade

dos projetos. As potenciais fontes de recursos apontados pela ANA são:

Orçamento da União, Estados e Municípios

Fundos Estaduais de Recursos Hídricos e Meio Ambiente;

Fundo Nacional de Meio Ambiente;

Bancos, Organismos Internacionais (ONG’s, GEF, BIRD etc);

Empresas de saneamento e fornecimento de água e de geração de energia

elétrica;

Recursos da cobrança pelo uso da água;

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (previsto no Protocolo de Kyoto).

Outros Fundos (Fundo Clima, Fundo Amazônia, etc.);

Organizações Não Governamentais;

Fundações;

Termos de Ajustes de Conduta, Compensação Financeira e Multas;

Compensação ambiental;

Empresas públicas e privadas.

A título de ilustração a tabela 89 abaixo apresenta as leis municipais e as

previsões de fontes de financiamentos dos projetos produtores de água de cinco

municípios.

Tabela 89: Leis municipais relacionadas aos projetos produtores

de águas e suas respectivas fontes de financiamento.

Projeto Lei Recursos Financeiros

Projeto Lei nº 2.100 de 21 Dotação orçamentária, consignada anualmente, no

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428

Conservador

de Águas -

Extrema/ MG

de dezembro de

2005.

Decreto nº 2.409

de 29 de

dezembro de

2010.

Lei nº 2.482 de 13

de fevereiro de

2009.

orçamento do Município de Extrema;

Transferência oriunda do orçamento da União e

do Estado de Minas Gerais.

Produto resultante da cobrança de taxas e/ou da

imposição de práticas pecuniárias, na forma da

legislação ambiental;

Recursos provenientes da cobrança pelo o uso da

água e fundo de recursos hídricos.

Ações, contribuições, subvenções, transferências

e doações de origem nacionais e internacionais,

público ou privados;

Recursos provenientes de convênios ou acordos,

contratos, consórcios e termos de cooperação com

entidades públicas e privadas;

Rendimentos e juros provenientes da aplicação

financeira de seu patrimônio;

Ressarcimento devido por força de Termos de

Ajustamento de Conduta - TAC e Termos de

Compromisso Ambiental - TCA, firmados com o

DSUMA;

Receitas advindas da venda, negociação ou

doações de créditos de carbono;

Outros recursos que lhe forem destinados.

Produtores de

Água e

Floresta -

Bacia do

Guandu - Rio

Claro/RJ

Lei Municipal N°.

514 de 29 de

dezembro de

2010. Decreto N°.

931 de 01 de

julho de 2011.

Verbas próprias consignadas no orçamento e

outros mecanismos de PSA não especificados.

Projeto

Guariroba –

Campo

Grande/MS

Decreto N°.

11.303 de 02 de

Setembro de

2010.

Empresas concessionarias dos serviços públicos,

principalmente aquelas responsáveis pelo

abastecimento de água e energia; de

empreendimentos instalados dentro das Unidades

de Conservação da Natureza e; outros recursos

destinados a este fim por meio de Lei ou contrato.

Projeto

Produtor de

Águas do Rio

Camboriú –

Camboriú/ SC

Lei N°. 3.026 de

26 de novembro

de 2009.

Verbas próprias consignadas no orçamento anual

da EMASA (investimento obrigatório de pelo

menos 1% da renda bruta anual em programas de

preservação e recuperação ambiental - lei N°.

2.498 de 31 de outubro de 2005).

Programa

Produtor de

Água Oásis Apucarana –

Apucarana/

PR

Lei Nº 058/09;

Lei Nº 68/2005.

Dotações próprias consignadas no orçamento

vigente e futuros provenientes de recursos do

Fundo Municipal de Meio Ambiente (FMMA); ICMs Ecológico das unidades de Conservação;

RPPNs – Reserva Permanente do Patrimônio

Natural;

Parte das multas ambientais aplicadas pelo

Ministério Público e ou órgãos competentes;

E outras entidades.

O FMMA é composto por: (i) valor das infrações

Page 429: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

429

ambientais; (ii) doações de pessoas físicas/

jurídicas ou de organismos públicos/ privados,

nacionais e internacionais; (iii) rendimentos de

qualquer natureza; (iv) rendimentos e

indenizações de ações judiciais e ajustes de

conduta, de natureza ambiental, promovidos pelo

Ministério Público; (v) repasses mensais da

Companhia de Saneamento do Paraná (0,8% do

seu faturamento no município); (vi) outros

recursos.

Fonte: Elaboração própria.

A tabela 89 exemplifica o esforço dos entes municipais para angariar recursos

para os projetos Produtores de Água. Dentre os casos apontados apenas o município de

Rio Claro (RJ) menciona em sua legislação principalmente verbas próprias consignadas

no orçamento. Os outros municípios buscam outras fontes de recursos, com destaque

para Extrema que indica mais de 10 possíveis origens de financiamento.

De qualquer maneira, nesta amostra, deve-se destacar o papel das companhias de

saneamento e abastecimento de água e a cobrança pelo seu uso, que são mencionadas

nas legislações de PSA de quatro dos cinco municípios analisados. Isso mostra que há

uma expectativa de que os projetos de proteção dos recursos hídricos sejam financiados

pelos seus usuários, sejam esses os consumidores finais ou as empresas concessionarias.

Considerações sobre os Projetos Produtores de Água.

De acordo com dados levantados no website da Agencia Nacional de Águas, em

2012 já era possível identificar uma série de resultados relacionados aos projetos

Produtores de Água. Esses resultados são apontados na tabela 90 abaixo, destacando a

quantidade de hectares protegidos e os montantes gastos.

Tabela 90: Resultados dos Projetos Produtores de Água, 2012.

Projeto

Número de

Contratos e

hectares

protegidos

Recurso

repassado pela

ANA

Valor Global do projeto Pagamento de PSA

Projeto

Conservador de

Águas - Extrema/

MG

144 contratos.

Área protegida

2.104,44 ha.

R$ 645.000,00

R$5.000.000,00

Em média

R$176,00/ha em

2010 - valor

atualizado

anualmente.

Page 430: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

430

Produtores de

Água e Floresta-

Bacia do Guandu -

Rio Claro/RJ

62 contratos.

Área protegida

3.118,82 ha.

Não ocorreu

repasse;

R$30.000 por hectare

para recuperação

florestal (em 3 anos);

Pagamento por Serviços

Ambientais R$200.000;

Gestão: R$300.000 por

ano.

Valores variam de

R$100,00 a

R$40.000,00 por

propriedade por

ano

Produtor de Água

no PCJ -

Joanópolis e

Nazaré

Paulista/SP

24 contratos.

Área protegida

219,3 ha.

Não ocorreu

repasse

R$800.000,00, sendo

investido até 2012

apenas R$ 68.565

comprometidos para 3

anos

Em média R$

125,00 ha/ano

Programa

Produtores de

Água - Alfredo

Chaves, Anchieta,

Guarapari e

Piúma/ ES

99 contratos.

Área

Protegida:

1.208,33 ha.

Não ocorreu

repasse R$ 169.220,12 anual

Valores variam

entre R$50,00 e

R$220,00 ha/ ano.

Projeto Pipiripau –

Brasília - DF

02 contratos.

Sem

informações

sobre área

protegida

R$2.000.000,00 R$40.000.000,00

Valores variam

entre R$ 30,00 e

R$ 160,00 ha/ano.

Projeto Guariroba

– Campo

Grande/MS

7 contratos.

Sem

informações

sobre área

protegida

R$2.038.000,00

R$ 4.836.000,00,

sendo R$ 700.000,00

para pagamento aos

provedores de serviços

ambientais (TAC

MPMS)

Valores variam

entre R$ 25,00 e

R$ 130,00 ha/ano

Produtor de Água

Bacia João Leite

Goiânia-GO

Sem

informações; R$ 530.320,00 R$ 24.000.000,00

Valor máximo de

R$ 216,00 ha/ano.

Produtor de Água

no Córrego Feio-

Patrocínio/MG

Área piloto

para proteção

9.409 ha.

R$600.000,00 R$ 667.000 Sem informações.

Produtor de Águas

do Rio Camboriú

– Camboriú/ SC

Área piloto

para proteção

4.000 ha.

Sem

informações;

Total estimado para 10

anos R$ 11.001.153,76

Valor 1,5 UFM

por ha/ano; (em

2012, 1 UFM =

R$ 184,18).

Produtor de Água

no Taquarussu –

Palmas -TO

Sem

informações;

Sem

informações; Sem informações;

Em média R$

67,70 ha/ano

Produtor de Água

Vera Cruz - Vera

Cruz/RS

62 contratos.

Área

Preservada

125,99 ha.

R$ 650.000,00 Sem informações;

R$ 350,00 ha/ ano,

mais um incentivo

anual de R$

200,00 por

proprietário.

Produtor de Água:

Bacia do Rio

Macaé - Nova

Friburgo/ RJ

Sem

informações; R$ 1.200,000 R$ 1.200.000,00 Sem informações;

Produtor de Água

de Guaratinguetá/

SP

23 contratos,

450 ha de áreas

protegidas.

R$ 543.000,00 Previsão de

R$10.000.000,00

Valores variam

entre R$ 360,00 e

R$ 576,00 ha/ ano.

Produtor de Água

Oásis Apucarana –

PR

180 contratos.

Sem

informações

sobre áreas

protegidas;

R$ 250.000,00 R$ 543.945,44

Valores variam

entre R$ 924 e R$

6.922 por

propriedade/ ano

(independente do

Page 431: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

431

número de

hectares).

Produtor de água

Rio Branco – AC

Sem

informações; R$ 238.047,00 R$ 496.442,00 Sem informações;

Produtor de Água

Votuporanga - SP

Área Prioritária

8.140 ha. R$ 428.000,00 R$ 476.715,20

Em média R$

300,00 ha/ano

Fonte: Elaboração própria.

A Tabela 90 mostra que em 2012 já existiam 16 projetos ligados ao Programa

Produtor de Água. Esses projetos possuíam valores diferenciados a serem pagos aos

beneficiários do programa, e que variaram entre R$ 25,00 e R$ 576,00 por hectare por

ano. Contudo, tal diversidade não significa que a metodologia de pagamentos proposta

pela ANA tenha sido inutilizada, mas sim que o custo de oportunidade da terra varia

consideravelmente entre as distintas regiões do país, o que é apresentado, inclusive, no

presente estudo. Em adição, entre 2007 e 2012, esses projetos já tinham mobilizado o

investimento de mais de 09 milhões de reais da ANA, que foram aplicados na sua

execução. Sem embrago, deve-se lembrar, mais uma vez, que os pagamentos pelos

serviços ambientais eram realizados pelas organizações parceiras, e tinham uma

perspectiva de gasto muito maior.

Em 2015 o programa Produtor de Água já contava com 38 projetos em

andamento, numa área de 45.000 ha, com mais de 1.200 produtores recebendo pelos

serviços ambientais204

. O Mapa 73 abaixo ilustra os municípios que estão

implementando o projeto produtor de água no ano de 2015.

204

Santos, Devanir Garcia dos. PROGRAMA PRODUTOR DE ÁGUA. Seminário do PPA, 2015.

Page 432: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

432

Mapa 73: Municípios que contêm projetos Produtores de Água, 2015.

Fonte: SANTOS, 2015.

Em poucos anos ocorreu um crescimento considerável no número de projetos

municipais produtores de água: entre 2006 e 2016, 38 projetos foram implementados,

enquanto outros 05 estão em fase preliminar. Essa expansão se deu principalmente na

região sudeste e centro oeste, justamente as regiões onde os custo de oportunidade das

Page 433: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

433

terras são mais altos. Essa situação leva a duas conclusões importantes: 1. A

metodologia implementado pela Ana é bem-sucedida; 2. Há um número significativo de

atores dispostos a pagar pelos serviços ambientais relacionados à conservação dos

recursos hídricos.

No que se refere à metodologia, realmente é necessário destacar o êxito do

programa na construção do arranho institucional para a implementação dos projetos

locais. Os projetos Produtores de Água tem sido vitoriosos em angariar parceiros para a

sua execução, não deixando a responsabilidade burocrática, financeira, administrativa,

fiscalizadora e técnica concentradas no poder público. A ideia da metodologia é que este

último seja um dos atores envolvidos na proteção dos recursos hídricos, mas não o

único. Esse envolvimento de vários atores, cada um encarregado por determinadas

tarefas, favorece a continuidade do programa (seja pela disponibilidade de recursos ou

pela independência das trocas de governo), gera uma sensação de comprometimento

com o projeto e responsabiliza a própria comunidade pela disponibilidade e qualidade

da água.

A segunda conclusão, ou seja, a impressão de que há um número significativo de

atores dispostos a pagar pelos serviços ambientais relacionados à conservação dos

recursos hídricos advém do fato de que a ANA só realiza o Acordo de Cooperação

Técnica para a implementação do Projeto Produtor de Água quando há fontes de

recursos para financiar o PSA.

Desta maneira, há 43 projetos com financiadores (temporários ou permanentes)

interessados em garantir o fornecimento dos recursos hídricos por meio do pagamento

para aqueles que os protegem. Esses projetos estão concentrados na região que possui

um maior custo de oportunidade da terra, mas é também uma das mais ricas do país, o

que facilita a disponibilidade de recursos. Por outro lado, foi a região que em anos

recentes mais sofreu com a crise hídrica, e nesse caso, os pagamentos pelos serviços

ambientais de conservação da água contêm menos resistência, sendo seu beneficio

percebido de uma maneira mais imediata pelo agente pagador.

4.3.3. Considerações sobre os projetos municipais.

Sabe-se que além dos projetos ligados ao Oásis ou ao Programa Produtor de

Água, existem outras inciativas locais, promovidas pelo poder público ou pela

sociedade civil, que utilizando os princípios de pagamentos por serviços ambientas, têm

Page 434: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

434

o objetivo de preservar o meio ambiente. Entre essas iniciativas, é possível citar o

Programa de Gestão Ambiental da Região dos Mananciais SOS Nascentes, de Joinville

(SC) e o Programa Ecocrédito de Montes Claros (Minas Gerais). Contudo, considerou-

se aqui ser mais adequado tratar das experiências mais difundidas e bem-sucedidas

existentes em diferentes municípios brasileiros, como são os casos do Oásis e do

Programa Produtor de Água.

Com o levantamento realizado, verificou-se que esses programas vêm sendo

replicados rapidamente, principalmente pela região sudeste, e contam com o apoio de

diferentes atores. Ambos trabalham com a proposta de parcerias e possuem uma

metodologia de estabelecimento dos pagamentos ambientais relativamente simples.

Essas metodologias se baseiam na utilização do custo de oportunidade da terra para

estabelecer um valor básico. Contudo, no caso da ANA, a fórmula está centrada nas

alterações do uso do solo, como uma derivação da equação universal do uso dos solos

(USLE). Enquanto a fórmula atual do Oásis utiliza critérios de qualificação ambiental,

dando pesos e importâncias diferenciadas para aspectos distintos das áreas selecionadas.

Não é possível deixar de mencionar que esses programas também enfrentam

problemas, como a dificuldade de estabelecer as parcerias; a fragilidade dos acordos

com o poder público municipal; a resistência de setores que consideram os pagamentos

pelos serviços ambientais como uma forma de privatizar a natureza; entre outros.

Apesar disso, a maioria dos projetos municipais mencionados está em funcionamento e

para isso contam com diferentes fontes de financiamento. A tabela 91 destaca as fontes

de financiamento de algum dos projetos analisados (por possuírem lei municipal sobre

PSA):

Tabela 91: Fonte de recursos de alguns dos projetos Municipais

Brasileiros

Tipos de recursos Apucarana

(FGBPN/(ANA)

São Bento

do Sul

(FGBPN)

Brumadinho

(FGBPN)

Extrema

(ANA)

Bacia do

Rio claro

(ANA)

Campo

grande

(ANA)

Camboriú

(ANA) Total

Recursos

orçamentários X X

X X

X 04

Doações/

transferências

(PF/PJ; Nac./Int.)

X X

X

03

Cobrança pelo Uso da

Água X X

X

X X 05

Recursos de Acordos

Bilaterais ou

Multilaterais

X X

X

X

04

Page 435: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

435

Taxa de origem

ambiental X

01

Fundos diversos X X

02

Termo de

Ajustamento de

conduta Ambiental

X

X X

X

04

Verbas não

especificadas em lei X 01

ICMS Ecológicos X 01

Outros Tipos de

Fontes X X

X

X

04

Fonte: Elaboração própria.

A tabela 91 mostra que diferentes fontes de financiamento de PSA são

mencionadas nas legislações municipais. Essas fontes são as mesmas existentes nas

legislações Estaduais, e também dependem da situação econômica e do interesse de

diferentes agentes, como é o caso das doações, transferências, recursos de acordos

bilaterais ou multilaterais, recursos orçamentários municipais e outros tipos de fontes.

As fontes que vêm sendo utilizadas com proveito por alguns munícipios são os

termos de ajustamento de condutas e as multas. Apesar de sua impossibilidade de

garantir a continuidade futura dos projetos de PSA, essas fontes vêm trazendo

resultados, pois são capazes de dar inicio a propostas dessas naturezas, como ocorreu,

por exemplo, em Brumadinho (MG) e Campo Grande (MS).

Com efeito, dentre os municípios analisados, considera-se como a principal

fonte de financiamento identificada , seja dos projetos Oásis ou dos Projetos Produtores

de Água, a cobrança pelo uso da água. Essa cobrança pode ser estabelecida pelos

Comitês de Bacia, ou pelas companhias de abastecimento de água. Seja como for, esta

tem sido uma maneira exitosa de empreender os projetos municipais de PSA por várias

razões, a saber: dado que se trata da preservação da água, é uma forma do usuário ver o

valor pago revertido diretamente em ações locais socioambientais.; a cobrança pelo uso

da água é uma fonte de recursos estável, o que garante a continuidade dos projetos; é

uma das poucas possibilidades de levantamento de recursos de alguns municípios

brasileiros, que contam com pouca autonomia financeira, ficando mais difícil para o

orçamento municipal assumir esta despesa.

Considerando a possibilidade de utilizar a cobrança pelo uso da água como

mecanismo para financiar o PSA, foi realizado um exercício com o intuito de

dimensionar esse potencial de arrecadação no Brasil como um todo. Desta forma, será

Page 436: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

436

possível vislumbrar a quantidade de recursos angariados com a cobrança pelo uso da

água que seriam encaminhados para os programas que utilizassem o pagamento por

serviços ambientais de conservação dos recursos hídricos. No próximo item tal

exercício será apresentado.

1.8. Exercício: utilização da cobrança pelo uso da água como fonte de

financiamento para PSA

Conforme enfatizado nos itens anteriores, um dos possíveis mecanismos de

captação de recursos para programas de pagamento por serviços ambientais é a

cobrança pelo uso da água. A partir da criação da Lei das Águas (Lei N°. 9.433) em

1997, a água passa a ter um preço atribuído à sua captação e disposição, que até então

não existia. Antes da Lei N°. 9.433, os únicos custos aplicados sobre a água eram as

taxas pelos serviços de sua distribuição e pela coleta e tratamento de esgoto, não

havendo uma cobrança do recurso hídrico per se.

O objetivo da cobrança pelo uso é transformar a água em um bem econômico,

dando ao usuário uma indicação de seu real valor social. A Lei das Águas estabelece

que a unidade de planejamento e gerenciamento de recursos hídricos é a bacia

hidrográfica, gerenciada por um Comitê de Bacia, constituído por usuários, governos,

setor privado e sociedade civil. O Comitê de Bacia tem a competência de estabelecer os

mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos e indicar os valores a serem

cobrados.

Neste item, foi realizado um panorama da cobrança pelo uso da água no Brasil e

também uma estimativa do quanto poderia ser arrecadado caso existisse a cobrança pelo

uso da água em todas as microbacias do país. Essa análise foi realizada a partir da

combinação de informações disponíveis sobre o volume de água demandado atualmente

no país, e experiências concretas de cobrança associada à tarifa da água como forma de

financiar o programa de pagamento por serviço ambiental. Nesse caso, destaca-se o

modelo adotado em Tangará da Serra (MT), onde um valor pré-determinado na tarifa de

água e esgoto (1,5% do valor da cobrança) foi explicitamente vinculado ao

financiamento de PSA no município. Com base nessa experiência, foi feita uma

projeção sobre o potencial de arrecadação que esse instrumento proporcionaria caso

fosse implementado em todo o país.

Page 437: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

437

1.8.1. Exercício 1: Arrecadação com a cobrança pelo uso da água em todas as

microbacias do país

Cobrar pelo uso da água pode gerar recursos significativos para contribuir com a

gestão ambiental. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), no Brasil foram

arrecadados R$237,4 milhões em 2014 com a cobrança pelo uso da água (o valor total

cobrado foi R$ 264,5 milhões). Contudo, na maioria das bacias hidrográficas a cobrança

ainda não é efetuada. Isso significa que existe um potencial significativo de expansão

dessa cobrança, e da possibilidade de destinar uma parcela da sua arrecadação para a

implementação de projetos de PSA. Como visto nos itens anteriores, essa proposta já

possui respaldo empírico e resultados positivos, pois projetos estaduais (como no Rio de

Janeiro), e municipais (como em Campo Grande - MS, Camboriú - SC, Pipiripau – DF e

outros) utilizam recursos provenientes da cobrança pela água nos pagamento aos

provedores de serviços ambientais. Assim, foi feito um exercício de simulação para

estimar quanto poderia ser arrecadado para esse fim.

Para esse exercício foram utilizadas os valores de cobrança pelo uso da água das

bacias interestaduais sob domínio da União, a saber, Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba

do Sul (CEIVAP); Bacia Hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ);

Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco; Bacia Hidrográfica do Rio Doce; e Bacia

Hidrográfica do Rio Verde Grande, conforme apresentados nas tabelas 92 a 96.

Tabela 92: Tarifas de cobrança pelo uso da água na Bacia

Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul - CEIVAP

CEIVAP

Tipo de Uso Unidade Valor (R$) Média

Captação de água bruta R$/m3 0,01

0,04 Consumo de água bruta R$/m3 0,02

Lançamento de efluentes R$/kg de DBO 0,08

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da Agência Nacional das Águas205

Tabela 93: Tarifas de cobrança pelo uso da água na Bacia

Hidrográfica dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí – PCJ.

PCJ

205

Agência Nacional de Águas. Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos de domínio da União na Bacia

Paraíba do Sul. s/d. Disponível em:

http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/cobrancaearrecadacao/BaciaPBS_Inicial.aspx

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438

Tipo de Uso Unidade 2014 2015 2016 Média (2015)

Captação de água bruta R$/m3 0,01 0,01 0,01

0,04 Consumo de água bruta R$/m3 0,02 0,02 0,03

Lançamento de efluentes R$/kg de DBO 0,11 0,12 0,13

Transposição de bacia R$/m3 0,02 0,02 0,02

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da Agência Nacional das Águas206

Tabela 94: Tarifas de cobrança pelo uso da água na Bac ia

Hidrográfica do Rio São Francisco

Bacia do São Francisco

Tipo de Uso Unidade Valor (R$) Média

Captação de água bruta R$/m3 0,01

0,03 Consumo de água bruta R$/m3 0,02

Lançamento de efluentes R$/kg de DBO 0,07

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da Agência Nacional das Águas207

Tabela 95: Tarifas de cobrança pelo uso da água na Bacia

Hidrográfica do Rio Doce

Bacia do Rio Doce

Tipo de Uso Unidade 2011/2012 2013 2014 2015 Média

Captação de água bruta R$/m3 0,02 0,02 0,02 0,03

0,08 Consumo de água bruta R$/m3 0,02 0,03 0,03 0,04

Lançamento de efluentes R$/kg de DBO 0,10 0,12 0,15 0,16

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da Agência Nacional das Águas208

Tabela 96: Tarifas de cobrança pelo uso da água na Bacia

Hidrográfica do Rio Verde Grande

Bacia Rio Verde Grande

Tipo de Uso Unidade Valor (R$) Média

206

Agência Nacional de Águas. Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos de domínio da União na Bacia

PCJ. s/d. Disponível em:

http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/cobrancaearrecadacao/BaciaPCJ_Inicial.aspx 207

Agência Nacional de Águas. Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos de domínio da União na Bacia

do São Francisco. s/d. Disponível em:

http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/cobrancaearrecadacao/BaciaSF_Inicial.aspx 208

Agência Nacional de Águas. Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos de domínio da União na Bacia

Hidrográfica do Rio Doce. s/d. Disponível em:

http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/cobrancaearrecadacao/BaciaDoce_Inicial.aspx

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439

Captação de água bruta R$/m3 0,01

0,03 Consumo de água bruta R$/m3 0,02

Lançamento de efluentes R$/kg de DBO 0,07

Fonte: Elaboração própria, a partir de dados da Agência Nacional das Águas209

As tarifas médias de cada uma das 05 bacias foram multiplicadas pela demanda

de água de todos os municípios brasileiros para se identificar valores que poderiam ser

arrecadados com a cobrança pelo uso da água. Obteve-se então a arrecadação média por

município para cada valor de tarifa, a arrecadação máxima por município e a

arrecadação total alcançada caso fosse cobrada a tarifa pelo uso da água em todos os

municípios do país, conforme mostra a tabela 97.

Tabela 97: Arrecadação média por município, arrecadação

máxima por município e arrecadação total com a cobrança pelo

uso da água.

Média Máximo TOTAL

São Francisco R$441.930,71 R$74.066.634,88 R$2.458.902.446,45

Rio Verde Grande R$441.930,71 R$74.066.634,88 R$2.458.902.446,45

CEIVAP R$481.704,47 R$80.732.632,02 R$2.680.203.666,63

PCJ R$564.787,44 R$94.657.159,38 R$3.142.477.326,56

Rio Doce R$1.016.440,62 R$170.353.260,22 R$5.655.475.626,83

Fonte: Elaboração própria

Os valores totais que poderiam ser arrecadados variaram entre 2,4 e 5,6 bilhões

de reais, valores estes que poderiam ser fonte financiadora em projetos de pagamento

por serviços ambientais.

1.8.2. Exercício 2: Cobrança pelo uso da água no Brasil, projeção a partir da

experiência de Tangará da Serra (MT)

Tangará da Serra é um dos municípios brasileiros que utiliza a cobrança pelo uso

da água como fonte de financiamento para seu projeto local de pagamento por serviço

209

Agencia Nacional de Águas. Cobrança pelo Uso de Recursos Hídricos de domínio da União na Bacia

Hidrográfica do Rio Verde Grande. s/d. Disponível em:

http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/cobrancaearrecadacao/BaciaVG_Inicial.aspx

Page 440: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

440

ambiental. A lei municipal N°. 198/ 2014 estabeleceu a criação de um fundo para a

recuperação das bacias hidrográficas no município através da utilização do PSA.

Dentre as fontes de recursos do fundo está a arrecadação aplicada sobre os

valores das tarifas de água e esgoto, arrecadadas mensalmente pelo Serviço Autônomo

Municipal de Água e Esgoto (SAMAE). De acordo com o art. 6° da lei, o SAMAE é

autorizado a acrescentar 1,5% do valor da cobrança nas tarifas de água e esgoto, para

custear o fundo.

Conforme a Prestação de Contas do Município de Tangará da Serra, disponível

no site da SAMAE, em 2015, a receita total obtida com a cobrança pelo consumo de

água foi de R$9.971.989,94, e R$1.613.335,26 foram cobrados pelos serviços de

esgotos sanitários. Aplicado o percentual de 1,5%, o valor a ser destinado para o fundo

de PSA foi de R$149.579,85 pela cobrança da água e R$24.200,03 pela cobrança de

esgoto, totalizando R$173.779,88. Entretanto, consta no relatório de prestação de contas

(2015) a informação de que foi destinado para o fundo de PSA um valor total de

R$136.808,02, tendo a arrecadação começada em março, com o valor de R$4.486,82.

A experiência de Tangará da Serra mostra, concretamente, que um fundo de

PSA pode contar com uma fonte permanente de arrecadação a partir da cobrança sobre

os usuários pela proteção dos serviços ecossistêmicos. Tomando como base os valores

cobrados na experiência de Tangará da Serra (1,5% do valor da cobrança sobre água e

esgoto sanitário), foram feitas projeções a nacionais sobre a potencial arrecadação

destinada à aplicação em programas de PSA, em dois cenários: a taxa aplicada apenas

sobre a tarifa de água; e a taxa aplicada tanto sobre a tarifa de água quanto sobre a tarifa

de esgoto.

O Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS) aponta as

receitas obtidas com a cobrança sobre água e esgoto no Brasil em 2013. A partir desses

dados foi calculado qual deveria ser a taxa de PSA a ser aplicada sobre a cobrança de

água e esgoto para se alcançar o valor de um bilhão de reais.

A Tabela 98 apresenta os resultados, que indicam que a aplicação do modelo

adotado para Tangará da Serra (1,5% adicionais sobre as contas de água e esgoto)

poderia gerar R$ 608 milhões anuais para a implementação de PSA no país. Caso a

cobrança da “taxa de PSA” fosse de 2,5% sobre as contas de água e esgoto, poderia ser

alcançada a meta de arrecadação de um bilhão de reais anuais para PSA, considerando

todo o território nacional.

Page 441: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

441

Tabela 98: Receita das empresas de saneamento no Brasil em

2013, valor arrecadado caso fosse aplicada uma taxa de 1,5%

sobre a receita e taxa necessária para arrecadar R$ 1 bilhão

(preços de 2013)

Fonte: Elaboração própria.

Com base nas informações do SNIS sobre a receita das empresas de saneamento,

calculou-se a taxa de crescimento da cobrança de água, esgoto e ambos, entre 2012 e

2013. Essas taxas cresceram respectivamente 8,19%, 9,49% e 8,62%. Com essa

informação é possível projetar as receitas estimadas para 2015, conforme apontado na

tabela 99.

Tabela 99: Valores projetados para as tarifas de água e esgoto,

Brasil, 2015

Água Esgoto Agregado

Receita R$31.771.908.833,25 R$16.114.393.620,43 R$47.881.712.836,66

Taxa de 1,5% R$476.578632,50 R$241.715.904,31 R$718.225.692,55

Meta da 1 bilhão de reais 3,15% 6,21% 2,09%

Fonte: Elaboração Própria

Na Tabela 99, acima percebe-se que o valor arrecado para o PSA seria de R$

718 milhões anuais caso o encargo de 1,5% recaísse sobre as contas de água e esgoto.

Se essa cobrança adicional fosse de 2,1% poderia ser garantido um bilhão de reais

anuais para PSA no país como um todo.

1.9. Considerações Finais

Este capítulo teve o objetivo de elaborar uma matriz de possíveis fontes de

financiamento para Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Brasil, identificando

diferentes possibilidades de origem dos recursos (público/privado,

Valores de 2013

Água Esgoto Agregado (água + esgoto)

Receita R$27.145.700,53 R$13.441.471.951,48 R$40.587.172.109,01

Taxa de 1,5% R$407.185.502,36 R$201.622.079,27 R$608.807.581,64

Meta de 1 bilhão de reais 3,68% 7,44% 2,46%

Page 442: YOUNG, C. E. F. (coord.)

IEI-18958

442

doméstico/internacional, nacional/subnacional, etc.), dimensionando o potencial de

arrecadação associado.

Essa análise foi construída a partir das experiências concretas que vêm

ocorrendo a nível subnacional. Assim, em primeiro lugar, foram identificados os

Estados que possuem leis que versam sobre PSA. Essas leis foram analisadas e

equiparadas, com vistas a conhecer, principalmente, as fontes de financiamento

apontadas. Em segundo lugar, foram identificados os Estados onde essas leis engendram

projetos de PSA. Cada um dos projetos foi pesquisado e todos foram comparados. A

comparação desses projetos buscou dimensionar os recursos aplicados em cada estado e

os benefícios estabelecidos, destacando aqueles que estão sendo mais bem sucedidos em

captar recursos e desenvolver ações de PSA. No âmbito dos municípios, foram

analisados o programa Oásis, idealizado pela Fundação Boticário, e o Programa

Produtor de Água, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas, que são as propostas

de PSA mais difundidas e utilizadas em nível municipal.

Com essas análises foi possível vislumbrar as principais fontes de financiamento

para Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) no Brasil, sendo que a partir da

experiência mais promissora foi realizado um exercício de simulação dimensionando o

potencial de arrecadação nacional, para o caso de sua utilização.

A matriz de possíveis fontes de financiamento é apontada abaixo (Tabela 100),

tendo sido construída a partir da tabela 67, que indicou as principais fontes de

financiamento dos projetos estaduais no país e da tabela 93, que indicou essas

informações em nível municipal.

Tabela 100: Matriz síntese das experiências observadas de

financiamento de PSA no Brasil, 2015

Número de Experiências Analisadas

TIPOS DE RECURSOS Estados Municípios Total

Recursos orçamentários do

Estado/ Município 10 4 14

Doações/ transferências

(PF/PJ; Nac./ Int.) 10 3 13

Multas por Infração 8 1 9

Cobrança pelo Uso da Água 4 5 9

Recursos de Acordos

Bilaterais ou Multilaterais 10 4 14

Taxa de Fiscalização

Ambiental 2 1 3

Oriundos de projetos no

âmbito do MDL 2 1 3

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Royalties do Petróleo/Gás

Natural 3 0 3

Termos de Ajustamento de

conduta Ambiental 0 4 4

ICMS Ecológicos 0 1 1

Outras fontes de

Financiamento 10 6 16

Total de Experiências

Analisadas 10 7

17

Fonte: Elaboração própria.

Verifica-se que os estados apostam em diversos canais de captação de recursos,

além daqueles menos comuns, como os créditos de carbono; recursos provenientes de

controle de poluição veicular; empréstimos; recursos oriundos de pagamentos por

serviços ambientais; receitas das unidades de conservação; etc. O mesmo ocorre com os

municípios que apesar de dependerem em grande medida da cobrança pelo uso da água,

utilizam outras fontes de recursos para financiar o PSA, entre elas o ICMS Ecológico,

os Termos de Ajustamento de conduta Ambiental, recursos de outros fundos, entre

outros. Considera-se essa diversidade adequada, ao passo que as ações de PSA

demandam recursos não apenas para o pagamento direto aos beneficiários, mas também

para a gestão e controle dos projetos.

Com efeito a tabela 88 indica que o valor gasto acumulado com os programas

Estaduais, de 2008 até 2015, foi de aproximadamente 89,8 milhões de reais, enquanto

estima-se que o gasto realizado com os projetos municipais, entre 2006 e 2013, tenha

sido de pelo menos 30 milhões de reais210

. Avalia-se que esses valores sejam baixos,

dado a necessidade de preservação de matas nativas, biodiversidade, manutenção da

qualidade da água, ar e a potencialidade de fornecimento de serviços ambientais do país.

No entanto, supõe-se que uma das razões que levam ao baixo valor gasto com essas

políticas é a escolha das suas fontes de financiamento.

Apesar da indicação de uma diversidade de fontes nas Leis Estaduais e

Municipais, ao analisar as experiências de projetos PSA apontadas no presente relatório,

não se verifica tal diversidade. No caso dos projetos Estaduais, nota-se que elas são

custeadas principalmente por duas fontes específicas: recursos orçamentários do estado

ou por doações. No caso dos projetos municipais, como mencionado anteriormente, a

principal fonte de financiamento do PSA são as cobranças pelo uso da água.

210

Essa estimativa foi realizada com base nas experiências analisadas.

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No que se refere aos recursos orçamentários do estado ou às doações sucede-se

que tendem a ser consideravelmente reduzidos em momentos de crise econômica, o que

pode inviabilizar a continuidade dos programas de PSA. Inclusive isso já vem

ocorrendo nos projetos estaduais no Acre, Minas Gerais, Espirito Santo (que estão com

as parcelas de pagamentos pelos serviços ambientais atrasadas), e em projetos

municipais como o Oásis na região de Guarapiranga e Billings (SP).

Entretanto, deve-se destacar que a política de PSA na Amazônia que depende

consideravelmente de doações, é, dentre as experiências analisadas, uma das mais bem-

sucedidas. O Bolsa Floresta é a política, sem interrupções, mais longeva, com maior

número de beneficiários e maior montante despendido. Acredita-se que isso ocorra

principalmente dado a sua gestão, que concentrada numa fundação privada de interesse

público (FAS), tem sido eficiente na busca de novas doações e fontes de

financiamentos, bem como tem utilizado com esmero os recursos aplicados. Entende-se

também que a região amazônica é aquela que mais recebe doações e financiamentos

privados para a proteção ambiental no Brasil, devido ao fato de abrigar a maior floresta

tropical do mundo, o que facilita o trabalho da FAS. Mas, mesmo a FAS, para a

implementação da Bolsa Floresta, dependeu de recursos públicos. Deve-se lembrar que

parte do seu capital semente foi doado pelo Governo do Amazonas e que o Fundo

Amazônia (responsável pela viabilização do Bolsa Floresta Renda e Associação) recebe

recursos públicos.

Assim, é possível afirmar que todos os projetos Estaduais analisados são

financiados com recursos estatais. Essa possibilidade inclusive foi vislumbrada pelos

dez estados onde há legislações que se referem ao PSA (ver tabela 100). Igualmente,

esses estados preveem em sua legislação a possibilidade das doações e acordos

multilaterais financiarem suas políticas do PSA. A existência dessas fontes entre os

possíveis mecanismos de financiamento de PSA é interessante, mas as doações e os

acordos multilaterais não podem ser as únicas opções, bem como os recursos

orçamentários. Como discutido anteriormente, as doações e os acordos multilaterais

mudam conforme os interesses e possibilidades daqueles que os efetuam, podendo

variar em frequência e constância. Já no caso dos recursos orçamentários estatais deve-

se enfatizar que são alterados conforme a situação econômica e as prioridades

estabelecidas pelos gestores públicos, o que pode prejudicar o andamento dos

programas.

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Alguns Munícipios analisados preveem em sua legislação essas duas maneiras

de financiar o PSA (recursos orçamentários e doações), no entanto, apenas Rio Claro

(RJ) tinha as provisões governamentais como o único aporte ao seu projeto de

pagamento por serviços ambientais. Mas o projeto de Rio Claro recentemente (2014) foi

assumido pelo Estado do Rio de Janeiro e vem sendo financiado com os recursos da

cobrança pelo uso da água.

Algumas legislações estaduais apontam mecanismos de financiamento que não

são empregados pelos Municípios. Espirito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, por

exemplo, destacam a possibilidade de utilizar recursos provenientes dos royalties de

petróleo e gás. Apesar disso, essas transferências só foram identificadas na prática no

projeto do primeiro. Gestores do Espirito Santo exaltaram o papel dessas transferências

para a ampliação da política de PSA no estado. Contudo, como petróleo e gás têm sua

cotação dada pelo mercado internacional (o que altera o montante de royalty destinado

aos Estados), essa fonte também se torna instável. O Espirito Santo vem sentindo as

consequências dessa situação: o preço do petróleo caiu consideravelmente (passou de

mais de 100 dólares em 2014, para um preço médio de 50 dólares o barril em 2015) o

que dificultou a manutenção da política, com o pagamento em dia das parcelas para os

beneficiários.

Outra fonte estadual de financiamento que merece destaque é o Sistema de

Crédito de Conservação (SICC) adotado por Santa Catarina nos projetos dos Corredores

Ecológicos de Timbó e Chapecó. Os créditos de conservação poderão ser

comercializados por meio de títulos lastreados em áreas públicas e privadas de florestas

conservadas, em processo de recuperação, ou ainda em mudanças de atividades

agrícolas, para ações que degradem menos o meio ambiente. Por ser uma fonte de

financiamento de PSA diferenciada, essa experiência, que ainda esta em estágio inicial,

deve ser acompanhada podendo seus resultados servir de base para a criação futura de

um mercado de SICC em outros entes da Federação.

É possível mencionar também as taxas e multas por infração ambiental. A

utilização das multas para bancar os programas de PSA é prevista em oito estados e por

01 município (ver tabela 100). Porém, nos projetos estudados não foi identificado se e

como esses recursos são utilizados. Não foram encontradas informações sobre o

encaminhamento dos pagamentos das multas para os fundos indicados, nem sobre a

transferência desses montantes dos fundos para os pagamentos por serviços ambientais.

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Quanto as multas por infrações ambientais torna-se temerário sua utilização

como única fonte de PSA, tanto pelo motivo desta decorrer de um suposta

irregularidade ambiental ou dano ambiental, como pela variabilidade da periodicidade

do pagamento efetivo da mesma.

Isso porque muita das vezes os autuados pela multa ambiental decidem discutir

judicialmente a anulação da multa ou o valor arbitrado pelos órgãos ambientais

competentes. Com isso, acaba sendo variável a periodicidade de quitação das multas

ambientais junto aos cofres públicos, o que é um fator preocupante quando os

programas de PSA dependem única e exclusivamente desse recurso para seu

financiamento.

No entanto, ainda assim Por outro lado, alguns projetos municipais têm se

utilizado dos recursos provenientes de Termos de Ajustamento de Conduta para

financiar programas/projetos de PSA. Esse é o caso de Brumadinho (MG) e Campo

Grade (MS). Mas esses recursos são finitos – após o TAC assinado, o poder público

recebe o montante que depois de utilizado, se encerra. Isso vem acontecendo no Projeto

Produtores de Água em Campo Grande, que até o momento só possui verba para o

projeto até agosto de 2016.

A despeito da finitude desses recursos, sua conversão para implementar sistemas

de PSA são, pelo menos, uma solução inicial, apesar de transitória, para o incentivo ar

dessas experiências, afinal esse recurso depende única e exclusivamente da ocorrência

de uma irregularidade ambiental ou dano ambiental.

Já as taxas de Fiscalização Ambiental, mencionadas nas legislações de PSA dos

Estados de Santa Catarina e Bahia e no município de Apucarana (PR) também não

foram vislumbradas nos projetos estudados (sendo que na Bahia inclusive não há

nenhum projeto ativo atualmente). Entretanto, considera-se que a cobrança de uma taxa

ambiental, não necessariamente de fiscalização, seja um meio eficiente de levantar

fundos para as políticas e projetos de PSA. Nessas propostas o usuário paga diretamente

pelo uso do serviço, gerando uma identificação entre o pagamento e o consumo,

diminuindo a resistência ao desembolso e reduzindo o problema de custear os

programas.

O mecanismo de financiamento vigente que segue o mesmo preceito é a

cobrança pelo uso da água. A utilização desse recurso é prevista por quatro estados e

por cinco municípios. Porém, dentre os estados, está ativa apenas no Rio de Janeiro.

Esse último gastou com a proteção e recuperação da bacia do Rio Guandu um montante

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de R$ 5,3 milhões ao longo de cinco anos. Esse valor é baixo se considerado o montante

arrecadado pela mesma bacia pela cobrança do uso da água – apenas em 2015 foi

angariado R$ 27,3 milhões. Ou seja, se fosse utilizado apenas 19% do montante

arrecadado em 2015 com a cobrança pelo uso da água na bacia do rio Guandu, seria

possível financiar os 7 anos de programa de PSA já realizados no Estado. Entende-se,

todavia, que o projeto PRO-PSA Guandu do Rio de Janeiro ainda não atingiu um

estágio de maturação. Ele vem sendo implementado aos poucos, buscando experimentar

metodologias e construir arranjos institucionais sólidos que possam não apenas ampliar

o número de beneficiários, mas também a quantidade de hectares efetivamente

protegidos ou restaurados.

Já dentre os municípios, como enfatizado antes, várias experiências têm sido

realizadas a partir da cobrança pelo uso da água, seja pela determinação do Comitê de

Bacia ou através da companhia de fornecimento de água. Essas experiências tem tido

continuidade e êxito em proteger os recursos hídricos, através da proteção de florestas e

boas práticas de utilização do solo, portanto, sua iniciativa deve ser constantemente

acompanhada e, se possível replicada, em outros projetos.

Aliás, acredita-se que além dos custos, esses projetos de PSA também geram

benefícios à própria sociedade que precisam ser contabilizados. No caso da água, esses

benefícios se referem principalmente à redução nas despesas com seu tratamento.

Pelo exposto, afere-se que existem diferentes formas de financiar um projeto de

PSA, mas poucos têm garantia de continuidade e frequência na disponibilização dos

recursos. A experiência do Amazonas é emblemática uma vez que foi possível captar

uma boa quantidade de recursos financeiros para um fundo, cujos rendimentos são

utilizados no programa. Essa estratégia tem garantido a preservação ambiental com a

inclusão social de um alto número de beneficiários. Mas, há dúvidas sobre a viabilidade

de replicar este modelo de forma indistinta em todo o país. Como são utilizados apenas

os rendimentos do fundo para o programa, têm-se dúvidas a respeito do seu alcance.

Isso porque o custo de oportunidade da terra varia consideravelmente, o que significa

que os valores para preservar um hectare de terra no Amazonas são diferentes dos

preços de se preservar a mesma área no Paraná. Além disso, o Bolsa Floresta é realizado

com residentes de Unidades de Conservação, que possuem expectativas, modos de

produção e de vida diferentes de um agricultor mais inserido no mercado, dificultando o

uso idêntico da metodologia.

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Já o modelo de cobrança pelo uso da água utilizado pelo Estado do Rio de

Janeiro e outros municípios parece garantir uma maior continuidade dos recursos, tendo

que enfrentar, no entanto, as dificuldades institucionais de um programa que envolve

governo do estado, municípios, comitês de bacias e organizações não governamentais.

Pelas experiências analisadas essas dificuldades devem ser enfrentadas antes mesmo de

se iniciarem os pagamentos por serviços ambientais, pois é necessário firmar as

parcerias com diferentes atores, estabelecendo suas funções no projeto.

Inclusive, por entender que esta é a maneira mais viável para garantir um

programa de PSA nacional, foi realizado um exercício para verificar o quanto seria

angariado de recursos ao se utilizar a cobrança pelo uso da água. Esse exercício aponta

que o valor arrecado para o PSA seria de R$ 718 milhões anuais caso o encargo de 1,5%

recaísse sobre as contas de água e esgoto de todas as bacias hidrográficas. Se essa

cobrança adicional fosse de 2,1% poderia ser garantido um bilhão de reais anuais para

PSA no país como um todo. De acordo com o estudo apresentado, caso estivesse

disponível 1 bilhão de reais por ano para o PSA, seria possível proteger uma área total

de aproximadamente 8,3 milhões de hectares. Para este valor, obteve-se um máximo

evitado de 2,89 bilhões de toneladas de CO2 por ano e de 118 milhões de toneladas por

ano de erosão evitada provocada pelo desmatamento. Alternativamente, estima-se que

com R$ 1 bilhão por anos recuperam-se 363 mil hectares, que equivalem a 2,1% da área

de déficit de reserva legal. Ainda são capturados 125 milhões toneladas de CO2, além de

3,7 milhões de toneladas por ano de erosão não realizadas.