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Yolanda Pereira Morel Educação e Ludicidade

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Yolanda Pereira Morel

Educação e Ludicidade

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Sumário

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CAPÍTULO 2 – Brincar Aprendendo ou Aprender Brincando? ..............................................05

Introdução ....................................................................................................................05

2.1 O lúdico e a aprendizagem .......................................................................................05

2.1.1 Quem disse que eu não posso brincar? .............................................................05

2.1.2 A escola é um lugar para ser feliz ......................................................................08

2.1.3 Planejando a brincadeira do aprender/aprendizagem do brincar .........................08

2.2 Metodologia de aprendizagem ..................................................................................09

2.2.1 O que se entende por metodologia? .................................................................09

2.2.2 Metodologia da pesquisa científica ....................................................................10

2.2.3 Pequenos grandes pesquisadores ......................................................................11

2.3 Pedagogia de Projetos na Educação Infantil ................................................................12

2.3.1 Gestão de projetos ..........................................................................................12

2.3.2 Construindo projetos .......................................................................................14

2.3.3 A avaliação na pedagogia de projetos ...............................................................17

2.4 O que diz a Lei? ......................................................................................................17

2.4.1 Constituição Federal ........................................................................................17

2.4.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional .................................................18

2.4.3 Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA.......................................................19

Síntese ..........................................................................................................................21

Referências Bibliográficas ................................................................................................22

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Capítulo 2 IntroduçãoQuando crianças, brincávamos de tudo com nossos irmãos, primos, pais e amigos, certo? Com certeza, você deve ter lembranças deste tempo. Inventávamos brincadeiras das mais variadas formas: pega-pega, esconde-esconde, cabana, bicicleta, descer ladeira baixo numa folha de papelão e muitas outras.

Você já percebeu que não são vistas brincadeiras como as que acabamos de citar, atualmente? Será que podemos associar as mudanças nas maneiras de brincas à influência da tecnologia (computadores, smartphones, tablets, videogames etc.)? Com certeza, de alguma forma as crian-ças continuam brincando, pois brincar faz parte da vida saudável. É brincando que a criança explora, descobre e aprende de forma natural. Desta maneira é possível afirmar que brincando se aprende e se aprende brincando (MAURICIO, 2015).

Então perguntamos: qual a contribuição que a ludicidade traz para a educação infantil? Que posição a ludicidade ocupa e qual é o papel do educador infantil?

Ao longo deste capítulo, buscaremos as respostas a esses questionamentos. Vamos tratar so-bre a importância da ludicidade na aprendizagem tanto na escola como na vida, veremos que a utilização de uma metodologia relacionada às características das crianças facilitará muito a aprendizagem e o trabalho do educador, o qual deve sempre pautar suas atitudes pela legislação pertinente à educação infantil.

2.1 O lúdico e a aprendizagemDevido à globalização, a evolução acelerada da tecnologia e ao contexto social, não vemos as crianças brincarem como brincávamos no século XX. Algumas crianças até deixam uma parte de sua infância passar despercebida em meio às atividades que constituem sua rotina: aula de línguas, balé, natação, futebol, artes marciais etc.

Saiba que tais atividades, ao mesmo tempo em que desenvolvem muitas habilidades nas crian-ças, não dão o devido espaço à imaginação. Veremos, nas próximas páginas, que criança pre-cisa ser criança, isto é, brincar ao ar livre, sonhar, imaginar, inventar, fazer de conta, passar da fase simbólica para a realidade e vice-versa.

2.1.1 Quem disse que eu não posso brincar?

Enquanto a criança brinca, ela está aproximando o seu mundo real das normas do seu dia a dia, conforme indica Oliveira (2010). Ela brinca de corrida, de foguete, de escritório, ela monta enredos mirabolantes, ela dá comida às bonecas, ela fala como se fosse a mãe ou a professora: “Você tem que escovar os dentes!” e “Vamos lá, agora faça sua lição de casa!”.

Brincar Aprendendo ou Aprender Brincando?

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Educação e Ludicidade

Figura 1 – As crianças imitam os adultos. Quando estão com suas bonecas, as alimentam também.

Fonte: Shutterstock, 2015.

A criança precisa fazer o que gosta enquanto identifica e comprova seus limites, controlando seus ímpetos instantâneos, se regrando socialmente pelas normas pré-estabelecidas. Considere o seguinte exemplo: Luana tem apenas 1 ano de idade, mas sabe demonstrar o que quer e o que não quer. Quando ela ganha uma boneca de presente, ela deixa a boneca de lado e senta dentro da caixa, fingindo estar em um carro, em um barco, em um berço ou em um foguete. Quem sabe dizer exatamente o que a caixa representa para ela?

Figura 2 – Às vezes acreditamos que o que pensamos é o mesmo que as crianças pensam. As caixas dos brinquedos, muitas vezes, são mais interessantes que o próprio brinquedo.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Desta forma, observamos o quanto é importante oportunizar situações novas para a criança de maneira que ela possa explorar os espaços abrindo caminhos para a criatividade, para a fantasia e para a aventura. Ações que envolvam a motricidade ampla oportuniza o contato com o mundo que a cerca (subir em árvores, por exemplo) e a percepção do que ela é capaz de realizar dentro do contexto em que vive.

Entenda que a ludicidade estimula a criatividade: a criança que brinca é o adulto livre e cons-ciente da necessidade de valorizar o ambiente ao seu redor. Ao oportunizar que a criança brin-

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que, seus responsáveis estarão favorecendo a construção da personalidade, de novas apren-dizagens e interações com significados essenciais para o seu desenvolvimento, pois “brincar com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo. Se é triste ver crianças sem escola, mais triste, ainda, é vê-las sentadas, enfileiradas em salas com pouco ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem” (ANDRADE, 2010, p. 01).

É preciso defender o ato de brincar no ambiente escolar, mantendo a responsabilidade sobre o ensinar, o aprender e o desenvolvimento das habilidades e competências das crianças. “A brin-cadeira fornece uma organização para a iniciação das relações emocionais e, assim, propicia o desenvolvimento de contatos sociais” (WINNICOTT, 1982, p. 163).

VOCÊ QUER VER?

O filme “A vida é bela” (1997), dirigido e estrelado por Roberto Begnini. Observa-se que no roteiro a atividade lúdica está a serviço da alienação dos fatos reais, uma vez que o pai convence o filho de que tudo é mera brincadeira, utilizando a imaginação para que o menino não sofresse com os horrores da guerra.

É importante observar que a ludicidade tem forte oposição à escola tradicional.

Ludicidade Escola

É livre e espontânea

Valores inovadores

Sujeito ativo

A criança brinca e supera a infância

Transforma a angústia em prazer

Atividade dirigida

Valores retrógrados

Sujeito passivo

A criança aprende temas sem significação

Transforma o prazer em angústia

Figura 3 – Quadro comparativo entre os benefícios da ludicidade e os malefícios da escola tradicional.

Fonte: Elaborado pela autora, 2015.

Horn (2011, p. 24) cita que:

[...] enquanto a aprendizagem é a apropriação e a internalização de signos e instrumentos num contexto de interação, o brincar é a apropriação ativa da realidade por meio da representação. A brincadeira é, por conseguinte, uma atividade análoga à aprendizagem.

Saiba que não é possível disfarçar a aprendizagem com a ludicidade. Isto seria enganar a crian-ça, e o que deveria ser prazeroso e espontâneo acaba ficando sério, acabando com a brinca-deira (OLIVEIRA, 1984). A ludicidade é caracterizada pela espontaneidade, livre trânsito entre as realidades interna e externa, interatividade, simbolismo reconstruído, desafio e provocação, mistério, imponderabilidade e surpresa. Grave bem: é necessário que os educadores se recon-ciliem com a criança que habita em seu ser para compreender a importância da ludicidade na educação e atuar sob uma ótica criativa.

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Educação e Ludicidade

2.1.2 A escola é um lugar para ser feliz

Se o educador conciliar os objetivos educacionais planejados com os sonhos das crianças, a escola se tornará num lugar mais feliz, você não concorda? Se houver equilíbrio entre o cum-primento dos fazeres pedagógicos (competências e habilidades) com os fazeres psicológicos (construção de um indivíduo autônomo e criativo) de maneira a formar cidadãos que buscam a justiça social e respeitam as diferenças, aí teremos uma educação de qualidade na qual a crian-ça demonstra uma postura ativa nas situações de aprendizagem. Assim, a escola que assume o brincar como uma atividade livre, ou seja, não centrada na produtividade, é uma escola lúdica. Nesta ótica Horn (2014, p. 30) reitera que

[...] a contribuição da ludicidade para a educação ultrapassa o ensino de conteúdos de forma lúdica, sem que as crianças nem percebam que estão aprendendo [...] o mais prolífico efeito da atividade lúdica é indireta: desenvolve os mecanismos indispensáveis à aprendizagem em geral, inclusive de conteúdos. É mais amplo do que ensinar conteúdos, com a vantagem de oportunizar o desenvolvimento intelectual e afetivo por meio da ação e da imaginação de modo a criticar, selecionar e mesmo construir os próprios conteúdos.

Os educadores sabem e reconhecem que o lúdico é importante para o desenvolvimento infantil, para a construção da personalidade da criança nas relações estabelecidas. Mas, na prática, nem sempre é possível aplicar este conhecimento. Quando os educadores resolvem dar uma utilidade para a brincadeira, atrelando-a rigorosamente ao ensino de conteúdos da escola ou aos saberes globais, estão impedindo as crianças de brincarem, pois nestas condições a ludicidade desaparece.

Podemos concluir, portanto, que o educador infantil precisa se apropriar da ludicidade, ade-quando as brincadeiras à faixa etária de cada criança. Acima de tudo, ele deve inserir a ludi-cidade em um projeto educativo, com objetivos claros, salientando a importância da ação em relação ao desenvolvimento humano e à aprendizagem, conforme nos aponta Kishimoto (1994), Moyles (2002) e Pinto (1997).

2.1.3 Planejando a brincadeira do aprender/aprendizagem do brincar

Você já deve ter percebido que estamos vivendo um momento de grande crise social, política e econômica no Brasil, mas não é por isso que deixamos de acreditar na educação infantil, na res-significação do mundo de forma a tornar os saberes em sabores. Como aponta Duarte Jr (1981), devemos lançar mão de todos os recursos para sermos capazes de não nos assombrarmos com o cotidiano e visualizar saídas que possibilitarão o encontro sensível com o mundo.

Quando se fala em prática pedagógica se fala no tempo/espaço em que nos deparamos com a sala de aula, isto é, quando estamos frente a frente com a infância, antes abstrata, conceitual, pensada e discutida durante a formação do educador, agora materializada num tempo lugar. Olhos brilhantes, inquietos, risos e choros, cheiros e sabores, jeitos de fazer as coisas, inúmeros porquês, silêncios, histórias para contar, colos, fraldas, medos, dúvidas. As crianças são de soar e sabem de sabor (REDIN, 2014, P. 21).

Isto significa que sempre deveremos acreditar na criança, seja a circunstância que for respeitan-do suas características, atendendo aos seus anseios e expectativas. Devemos desajustar paradig-mas, quebrar barreiras para testar novas alternativas.

Para podermos atender as demandas da educação infantil, ajustar os paradigmas, ultrapassar barreiras, é necessário que haja planejamento. E por que é preciso planejar? Para ampliar hori-zontes, ter uma fundamentação sólida e não basear uma proposta no espontaneísmo, supondo que a criança aprende sozinha e naturalmente. Serve para situar o educador como um mediador do processo de ensino aprendizagem, o qual só se efetiva num tempo e espaço também mediado pelas crianças e suas culturas.

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O planejamento também serve para fazermos investigações sobre as maneiras de a criança co-nhecer e ressignificar os saberes, não permitindo que o caráter lúdico, imaginativo, criativo do aprender seja abandonado. É preciso planejar para alimentar a ludicidade, a imaginação e a criação, organizar e alimentar o espaço e o tempo das crianças, porém sem perder suas carac-terísticas: espaço lúdico, criativo, imaginante, poético, barulhento (PINTO & SARMENTO, 1997).

Figura 4 – O planejamento é momento essencial para alimentar a ludicidade e a organização de tempos e espaços dos pequenos respeitando suas características e desenvolvimento.

Fonte: Shutterstock, 2015.

2.2 Metodologia de aprendizagemEntenda que entre o lúdico e a prática docente existe um vínculo sustentável que só traz bene-fícios. Brincar e aprender são atividades que também ensinam o educador infantil a conhecer melhor seus alunos. A ludicidade “permite o desenvolvimento das significações da aprendizagem e, quando o professor o instrumentaliza, intervém no aprender” (HORN, 2014, p. 43).

Mas você já percebeu que não se ensina a criança a brincar? Isto ocorre porque brincar já lhe é inerente. Oportunizar a imaginação e o raciocínio, possibilitando o exercício da função representativa, do conhecimento como um todo é essencial. Se você prestar atenção, a ludici-dade dá dicas de como a criança aprende, criando situações e propondo problemas para a sua interação, seu comprometimento na construção do conhecimento seja ele cognitivo, psicomotor ou psicossocial.

2.2.1 O que se entende por metodologia?

Quando a escola segue princípios inovadores, oportunamente direciona os métodos de ensino e aprendizagem para que os conteúdos tenham significados diversos. Ensinar é a tarefa inicial do educador. Cabe a ele a orientação na aquisição do saber e na sua transformação através dos mais diversificados meios. O aluno deve ser o centro da aprendizagem, de um trabalho plane-jado com dinâmicas para que interaja em todas as dinâmicas, como protagonista no processo de sua formação.

Observe que é fundamental renovar e inovar a metodologia de ensinar para evitar que haja um desentendimento tanto por parte do educador quanto do educando. A criança deve ser tratada como agente ativo que só aprenderá pesquisando, estando atenta a tudo que a cerca, buscando

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Educação e Ludicidade

seu caminho próprio e construindo seu próprio saber. Entenda desta forma: ela não deve ser apenas uma expectadora.

Uma metodologia adequada afasta o tédio pela falta de dinamismo, o desinteresse na aprendiza-gem, o estresse e a animosidade. Com metodologias adequadas é possível “programar oportunida-des para estimular nos alunos a criatividade e a imaginação, que fazem surgir iniciativas individuais e inéditas com as quais eles poderão se tornar agentes ativos e coparticipantes de sua formação pessoal e do crescimento de seus conhecimentos” (MARTINS, 2007, p. 66). Para isso é preciso eficiência e eficácia nos procedimentos pedagógicos/didáticos, novos jeitos de trabalhar e estudar.

Mas, afinal, o que é metodologia? Martins (2007) diz que metodologia é qualquer mecanismo utilizado para se atingir um melhor aproveitamento. Um conjunto de técnicas, ações e métodos usados nas atividades que dizem respeito à produção do saber científico ou não, assim como a organização de todo trabalho com o objetivo de atingir a excelência.

É preciso, portanto, tomar muito cuidado para não transformar a ludicidade em um corpo en-gessado de conteúdos escolares, cerceando o tempo e o espaço da brincadeira infantil. Desta maneira, quando uma aula que se utiliza do lúdico, isto transparece em cada atividade, na meto-dologia adotada pelo educador, sua organização dos conteúdos e nas atribuições das crianças. Em suma: a aula fica parecida com o brincar, com “atividade livre, criativa, imprevisível, capaz de envolver por inteiro a criança e não fica centrada na produtividade. Uma aula desafiante, que faz desejar saber e sentir prazer” (MARTINS, 2007, p. 164).

Em muitas escolas, a adoção de metodologias diferenciadas encontram barreiras como a falta de recursos e espaços adequados, pois “a organização de espaços adequados para estimular brincadeiras constitui hoje uma das preocupações da maioria dos educadores da Educação Infantil” (KISHIMOTO, 1994, p. 20). O aluno deve ter a oportunidade de manipular materiais alternativos, de acessar espaços que favoreçam seu desenvolvimento pleno, de forma que “consi-ga utilizar a variedade de experiências que traz de fora para aprender mais no contexto escolar” (MOYLES, 2002, p. 42).

Outro fator importante é não dividir as atividades da sala de aula em dois momentos: o de estu-dar e o de brincar, sendo destinado um maior tempo ao estudar e um menor ao brincar, desva-lorizando este segundo. Isso acontece muito devido à pressão dos pais e da própria escola. Mas na proposta político pedagógica escolar o foco central tem que ser o ensinar e aprender através do lúdico, como nos apontam Fortuna (1994), Pinto (1997) e Redin (2014).

Os profissionais da educação infantil devem se utilizar de objetivos claros, de uma metodologia adequada baseada em parâmetros coerentes para que a criança desenvolva sua autonomia, seja agente de seu próprio caminho, construtora de sua própria identidade. Desta forma, a criança terá potencial para se transformar num cidadão autônomo, responsável, crítico e seguro no con-vívio em sociedade.

2.2.2 Metodologia da pesquisa científica

Há quem duvide, mas é possível utilizar nas atividades escolares os mesmos mecanismos que asseguram o rigor científico nos laboratórios de pesquisa. Quando as crianças se apropriam dos métodos de experimentação, se sentem atraídas pelo universo científico e sua formação educa-cional fica mais rica, isto porque “a aprendizagem mais sólida é construída através da experiên-cia e da vivência” (AZEVEDO, 2008, p. 15).

O gosto pela ciência se dá por meio de metodologias simples, implementadas na educação infan-til. Isso não significa que se queira transformar as crianças em pequenos cientistas, mas incentivar, através do lúdico, a observação, a reflexão, a investigação de dados, a dinâmica do raciocínio.

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Entenda que, para a criança, a ciência é mais uma forma de entender o mundo, de compatibi-lizá-lo com sua curiosidade natural. Quanto mais cedo for introduzida a pesquisa, melhores e maiores chances teremos de formar pessoas cientificamente alfabetizadas e capazes de racioci-nar, de enxergar alternativas em situações adversas.

Figura 5 – As crianças são naturalmente curiosas e estão sempre buscando o “porquê”. Este é o primeiro passo para uma criança investigadora.

Fonte: Shutterstock, 2015.

Como as crianças podem desenvolver pesquisas construindo sua capacidade de in-vestigação? Confira as inúmeras possibilidades de trabalho com iniciação científica em diferentes disciplinas na plataforma Portal do Professor, do MEC. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaColecaoAula.html?id=821>

VOCÊ QUER LER?

2.2.3 Pequenos grandes pesquisadores

Vários pesquisadores começam seus experimentos desde a mais tenra idade. As crianças, por natureza, já são muito curiosas e querem saber os “por quês” de tudo. Ao ganharem brinque-dos, muitas delas os desmontam para saber como foram montados. Muitas delas se interessam pelas questões da vida e da natureza, tais como: como as plantas nascem e crescem, como as formigas podem carregar folhas maiores do que elas, como é construído um formigueiro, como é feita a chuva.

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Educação e Ludicidade

Muitos adultos pensam que as crianças não tem capacidade de fazerem pesquisas, muito menos científicas, e não se dão conta de que se forem instrumentalizadas (ensinadas), numa linguagem acessível, elas podem aprender a questionar, a planejar perguntas, coletar dados, analisar pro-vas e tornar os resultados públicos. Pode acreditar: as crianças são provavelmente muito mais interessadas que os adultos pelo desenvolvimento de cada estágio da pesquisa.

Não há nada com o que se espantar se de repente nos depararmos com crianças pesquisando da mesma maneira e seriedade que os alunos de ensino superior, pois, “as crianças são perfei-tamente capazes de observar um fenômeno, fazer experiências e construir seu próprio conheci-mento, desenvolvendo a capacidade de observar, pensar, argumentar, experimentar e concluir” (CELICINA apud CASTRO, 2015). Questões simples podem gerar projetos científicos de muita seriedade, como a germinação de um feijão no algodão, por exemplo.

Quais os procedimentos que uma criança de 4 anos de idade consegue realizar num laboratório para desenvolver experimentações de acordo com a metodologia científica? A resposta é: observar um fenômeno; listar o que sabe sobre o assunto;criar hipóteses sobre o porque do fenômeno;experimentar;registrar com desenhos ou modelagem ou recortes ou outra atividade lúdica;analisar o resultado comparando com as hipóteses; etirar as suas conclusões.

VOCÊ SABIA?

2.3 Pedagogia de Projetos na Educação InfantilA Pedagogia de Projetos é uma metodologia que enriquece o trabalho nas instituições escolares de maneira que a aprendizagem aconteça de forma prazerosa e envolva a participação de to-dos os agentes da educação interna e externa à escola.

Saiba, desde já, que tal metodologia traz mudanças significativas no fazer pedagógico, como, por exemplo, a quebra de modelos mentais enraizados; o aumento do comprometimento com o processo e não com os resultados; a minimização da burocracia, o incentivo a iniciativas criati-vas. As pessoas passam a comportarem-se como membros de uma equipe de trabalho que cria, planeja, faz acontecer e avalia a prática educativa. Com relação às crianças, instiga a esponta-neidade, a criatividade, as relações inter e intrapessoais, além de ser um excelente mecanismo para trabalhar com a ludicidade.

2.3.1 Gestão de projetos

Não há o que discutir quando se diz que existem muitas maneiras de ensinar e aprender com variados recursos didáticos, os quais facilitam o processo de ensino aprendizagem. A pedagogia tem evoluído muito e continua procurando e descobrindo estratégias novas para se conseguir estimular e motivar a criança a aprender o que lhe é ofertado em sala de aula.

Saiba que na etimologia, a palavra projeto vem do vocábulo “projetar” que significa (neste caso) planejar, delinear um sonho, um ideal de vida, um trabalho, algo que alguém deseja realizar (MARTINS, 2007). Projeto é o caminho que se planeja fazer para minimizar a distância entre o ideal do real ou vice-versa.

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Sabemos que um projeto sempre surge de uma ideia para atingir uma finalidade, certo? Esta finalidade pode ser: aprofundar os conhecimentos conceituais, ampliar o saber sobre algum assunto específico, procurar a solução de algum problema, encontrar uma saída para alguma dificuldade, dizimar alguma preocupação, atender alguma necessidade, inventar algum pro-duto, realizar um desejo ou um sonho, cumprir com alguma obrigação (DUARTE, 1981). No projeto, portanto, deve constar sempre:

O motivoA intenção Por quê?

A realização O quê?

Os meios Como?

O resultado Para quê?

Uma causa motivadora

Poder ser:

Gera intenção em alguém

Pode ser:

De realizar alguma coisa

Pode ser:

Utilizando certos meios

Pode ser:

Para atingir a finalidade

Pode ser:

Um interesse

Uma necessi-dade

Uma dificuldade

Uma preocupa-ção

Um problema

Um assunto/tema

Conhecer/saber

Solucionar

Esclarecer

Resolver

Determinar

Produzir algo

Um trabalho

Um estudo

Uma obra

Uma pesquisa

Formal/informal

Uma atividade

Métodos

Técnicas

Estratégias

Hipóteses

Análise

Procedimentos

Aprendizagem

Soluções

Conhecimentos

Explicação

Bem material

Um serviço

Figura 6 – Quadro da organização de um projeto.

Fonte: Martins, 2007.

Trabalhar com projetos desde os primeiros anos escolares, oportunizará formar nos alunos uma mentalidade científica para que possam conhecer, questionar e sistematizar suas produções, ter uma outra visão dos fatos, questionando, levantando hipóteses e buscando soluções para os problemas (AZEVEDO, 2008). Quando o educador trabalha com projetos, oportuniza que o aluno demonstre seus conhecimentos prévios, que se mobilize na busca e na construção de saberes novos.

De acordo com esta lógica, o educador precisa deixar de ser mero transmissor de informações em sala de aula ou mero executor de tarefas para se tornar incentivador do conhecimento, fa-cilitador do processo de aprendizagem, estimulando-lhes a curiosidade pelo questionamento e ensinando-as a pensar e refletir sobre o que aprendem.

O trabalho de produção coletiva promove e explora oportunidades de reflexão sobre conceitos e valores a partir de situações concretas e de experiências vividas pelos alunos, tanto dentro como fora da escola. Desta forma, envolver as crianças em atividades de projetos é educá-los para o futuro, é possibilitar-lhes enfrentar momentos de ‘aprender a aprender’ pelo ‘aprender a fazer, a ser e a viver junto’, porque os projetos estão relacionados aos seus interesses, às suas motivações e a seus saberes prévios (MARTINS, 2007, p. 40).

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Educação e Ludicidade

CASO

Na hora do recreio, crianças pegaram gravetos no pátio da escola para cutucar um lagarto que tomava sol. Para reflexão: o que fazer quando uma ou mais crianças apresentam um com-portamento um pouco inadequado e, às vezes, até perigoso, na escola? Devemos chamar sua atenção? Chamar os pais ou responsáveis? Fazer uma ocorrência? Suspendê-las das aulas? Expulsá-las da escola? É claro que nenhuma destas opções.

O educador Paulo tomou a seguinte atitude: perguntou aos alunos se o lagarto é um animal que deve ser cutucado enquanto toma banho de sol. Perguntou ainda: “De onde ele vem?”; “Porque ele toma banho de sol?”; e “Como se chama isso que ele faz?” Quando quase ninguém respon-dou, o educador pediu para perguntarem em casa e trazerem as respostas no dia seguinte. No decorrer da semana, ela leu estórias sobre lagartos, assistiram a filmes, manusearam massinhas de modelar, argila, pintaram desenhos de lagartos, tiraram fotos com o lagarto, montaram um painel com as produções, brincaram de roda, jogaram ‘cada lagarto no seu banhado’ entre outras atividades. Assim, note que foi construído um projeto a partir de uma preocupação com a intenção de esclarecer fatos às crianças.

2.3.2 Construindo projetos

A pedagogia de projetos que é uma valiosa estratégia pedagógica de educação de caráter inter-disciplinar, já que é por meio dela que se constrói a capacidade das crianças para desenvolve-rem suas competências e habilidades de investigação. Entenda que através desse instrumento é possível criar um elo entre as mais diversas áreas do conhecimento, um caminho para provocar a mudança na escola do século XXI.

John Dewey foi o grande mentor da pedagogia de projetos, mas Kilpatrick foi quem re-almente encaminhou a popularização desta estratégia/metodologia. Ele afirma que exis-tem quatro tipos de projetos: projetos para incorporar ideias, projetos para experimen-tar, projetos para organizar dificuldades intelectuais e projetos para obter informações.

VOCÊ O CONHECE?

O que se propõe é transformar a aprendizagem numa etapa de investigação onde possa acon-tecer, de fato, o crescimento autêntico das crianças pelo governo de seu saber. Desta maneira,

[...] a criança examinará as experiências, conhecerá seu ambiente e recuperará sua história, todo este contato direto com o ambiente social das crianças e dos adultos; um ambiente que, ainda que vivido, necessita comunicar-se. Nesse sentido e dentro desse processo, as diversas linguagens se usam, por assim dizer, para verificar técnicas para apropriar-se da realidade, para dar-lhe a conhecer aos demais e reconhecer-se com os outros (TONUCCI , 1986, p. 51).

Na prática dos projetos parte-se de uma situação-problema fictício ou real, considerando os vín-culos e as conexões dos saberes. Segundo Martins (2014), de um modo geral, os projetos desen-volvidos com crianças se caracterizam por momentos de “exploração, investigação, previsão e planejamento, coleta de informações, definição, decisão, realização, comunicação e avaliação” (MARTINS, 2014, p. 52).

Um projeto começa pela iniciação, certo? Nela, temos a identificação, a análise e a autorização para se dar início aos esforços (a ideia inicial alinhada aos objetivos propostos). O projeto deve conter a justificativa, o objetivo, o investimento (se houver), os sujeitos envolvidos. Basicamente responde: o quê? Por quê? Depois, passamos para o planejamento, onde se faz o desenho do

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escopo, se define responsabilidades, bem como a sua gestão, se constrói um cronograma, se analisa os riscos e os recursos que serão necessários.

Na hora da execução o projeto poderá sofrer ajustes, já que, como qualquer planejamento, ele não pode ser engessado. Temos que estar atentos para as influências do meio, das pessoas e do contexto em que estamos inseridos. Durante a execução, faz-se necessário haver um controle para dar segurança na execução e replanejamento do projeto. Quando falamos em controle, estamos nos referindo às ferramentas utilizadas para acompanhar a execução do projeto.

Por fim, chegamos ao encerramento. É como organizar uma festa: houve o planejamento de como iria ser feita, a festa aconteceu, os convidados foram embora e agora? É preciso saber quem vai arrumar tudo, quem vai limpar, quanto foi gasto no total, se as pessoas saíram satisfei-tas, o que deu errado? Surgiu algum problema? Como foi resolvido? Entenda que projetos preci-sam de finalização, isto é, de avaliação de tudo o que aconteceu e da produção de um relatório (quem sabe) para servir de referência e embasamento para futuras tentativas. Aqui, o que funcio-na muito bem é o feedback, um parâmetro indispensável para a aprendizagem (FÁBIO, 2015).

Para aprofundar seus conhecimentos sobre projetos, leia Projetos para escolas na práti-ca de Rafael Faermann Korman, Editora Autonomia, 2013. É impressionante como um engenheiro de produção conseguiu captar a essência e provar que a pedagogia de projetos impulsiona e potencializa a criatividade.

VOCÊ QUER LER?

Trazemos, a seguir, uma sugestão de planilha de projeto. Acompanhe!

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Educação e Ludicidade

PLANILHA DE PROJETO

1. Tema do ProjetoOs modos diversos de caminhar

2. Justificativa do projetoOs pés são membros muito importantes e precisam estar saudáveis para que todo corpo esteja bem e possa realizar as atividades com alegria e bem estar.

3. Objetivo(s) do projetoIdentificar os diversos modos de utilizar os pés para se ter uma vida saudável.Investimento: transporte; alimentação; material; vestuário.

4. População Alvo (sujeitos envolvidos)Serão trabalhadas um total de 20 crianças de 4 e 5 anos

5. Problema elencadoO uso equivocado de modelos de calçados prejudicam os pés e, por consequência, prejudicam a saúde do corpo?

6. HipótesesOs calçados da moda nem sempre são os mais adequados para nossos pés: todas as crianças precisam usar botas corretivas até certa idade; os melhores calçados são os de couro; podemos usar qualquer calçado para brincar.

7. Estratégias a utilizarOrganização de situações de levantamento de propostas: listas sobre o que já sabem e o que desejam saber; elaboração das responsabilidades; busca de informações no mundo externo em diversas fontes; convite aos pais e familiares para participar do projeto; organização de espaços na escola (laboratórios, biblioteca, sala de multimídia, etc.); atividades lúdicas com couro, com plásticos, com tecidos, com juta, etc.; contação de estórias; brincadeiras no túnel de tecido, amarelinha, perna de pau, cantiga de roda, pega-pega, corrida do saco, pés de lata, futebolinho; entrevistas em casa, com familiares; visita a uma fábrica de calçados.

8. Tratamento e discussão dos dadosAs crianças apresentam os materiais coletados, fazem comparações, relações entre as informações, interpretam a realidade. Surgem novas perguntas e caminhos a seguir. A educadora faz todos os registros: dos jogos, das atividades dramáticas, das experiências científicas trazidas pelas crianças, desenhos, esculturas, música, vocabulários e outros que vão surgindo durante a execução do projeto.

9. Conclusão/encerramentoDepois de tudo organizado, as crianças poderão expor recontando e/ou narrando através de diferentes linguagens. É interessante salientar que a conclusão de cada projeto sugere novas questões que poderão servir para desencadear outros projetos.

Quadro 1 – Planilha para ser utilizada na criação de projetos.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2015.

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2.3.3 A avaliação na pedagogia de projetos

Tudo o que se discute dentro da educação ou que se faz não escapa da grande discussão sobre avaliação. Incansavelmente é necessário estar retomando a questão dos conceitos toda vez que se fala em avaliação. Parece um tema já batido, mas, neste universo, ainda encontramos mui-tas controvérsias e contraditórias concepções defendidas por alguns e rechaçadas por outros. Hoffmann (2015) defende que avaliação é o conjunto de ações didáticas efetivadas num tempo longo nos mais diversos espaços escolares de maneira processual, objetivando a melhoria do desempenho do aluno (objeto avaliado).

Para que o processo avaliativo aconteça é necessário haver uma ação pedagógica de ação--reflexão-ação, estar fundamentado em sentimentos e percepções do educador (uma vez que o que ele faz é interpretar o que observa na criança) e não se restringir à burocracia e formalidade escolar ao término dos períodos letivos. A avaliação na educação infantil deve ter o caráter in-vestigativo e mediador, de forma que o educador se mantenha curioso com relação às crianças sem formar julgamento de valor.

Quais as representações construídas pelos educadores infantis sobre as crianças? Exis-tem imagens muito idealizadas. Os educadores relatam histórias engraçadas a respeito das travessuras infantis, manifestações de carinho que não demonstram a realidade apresentada, na qual se mostram completamente autoritários, utilizando-se de repres-são o tempo todo. Por vezes parece que falam de realidades diferentes.

VOCÊ SABIA?

Todo e qualquer projeto desenvolvido com as crianças deve partir do interesse delas e do que já sabem (conhecimento prévio). O projeto deve ensiná-las a buscar mais informações, a respeitar as diferenças, oportunizando abertura para atividades diversificadas. Estimular a participação, co-operação e criatividade de forma a enriquecer os procedimentos e estabelecer relações humanas.

2.4 O que diz a Lei?Sabemos que a educação passa, constantemente, por novas estruturações. servem para direcio-nar os fazeres dos poderes públicos, das políticas públicas educacionais e nortear as ações dos sujeitos que atuam com destaque na área educacional.

Como todo e qualquer direito humano, o direito à educação é uma das conquistas que marca-ram a trajetória histórica do homem e foi reconhecido através de conflitos, lutas e acordos, sendo institucionalizado num processo gradual conforme as características de cada nação. Assim, foi criado um rol de atos legais, tais como: a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, o Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, que são os atos mais recentes para estarmos refletindo e discutindo.

2.4.1 Constituição Federal

Não faz muito tempo que a educação das crianças de zero a cinco anos não fazia parte das preocupações do poder público, portanto, não era parte integrante das políticas públicas edu-cacionais. Houve muitas lutas por parte dos movimentos sociais para que parlamentares dessem mais atenção a esta questão. Ne século XX, os movimentos populares e feministas provocaram a ampliação das creches, instigados pela inserção da mulher no mercado do trabalho.

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Educação e Ludicidade

O artigo 208 da Constituição Federal (CF), de 1988, legitimou o direito a educação da seguinte forma:

O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I – Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurando inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria (Emenda Constitucional nº 59, de 2009).

IV – Educação Infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5(cinco) anos de idade (Emenda Constitucional nº 53, de 2006).

VII – Atendimento ao educando, em todas as etapas da Educação Básica, por meio de programas suplementares de material escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde (Emenda Constitucional nº 59, de 2009).

§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou sua oferta irregular, imposta responsabilidade da autoridade competente.

Apesar de estar determinada na CF, a política nacional só foi implementada após 1994, quando foram traçadas diretrizes pedagógicas e de recursos humanos para o pleno atendimento a esta etapa.

Saiba que a CF está cheia de intenções e, uma delas, é o reconhecimento da educação infantil como a primeira etapa educacional e precisa ter qualidade, pois este é o primeiro contato das crianças com o ensino formal que complementa a educação familiar. Desta maneira, é necessá-rio que seja atendida por profissionais com competência e habilidades satisfatórias e imprescin-díveis para o trabalho a ser desenvolvido com seres humanos desta faixa etária.

Que a educação tem um papel importante na modificação dos acontecimentos com-plicados que impedem a inclusão social? A educação tem a obrigação de ofertar ele-mentos de transformação da sociedade banindo a discriminação e as desigualdades. Criar uma cultura receptiva e consciente sobre os direitos de todos os cidadãos para construir uma sociedade mais justa.

VOCÊ SABIA?

2.4.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

A legislação brasileira está constantemente sendo atualizada e reorganizada conforme vão sur-gindo as necessidades para tais procedimentos. Foi o caso da lei de Diretrizes e Bases da Educa-ção Nacional (LDBEN – Lei nº 9394/96) aprovada e promulgada em 20 de dezembro de 1996. A LDBEN contempla a Educação Básica e o Ensino Superior.

Na Educação Básica estão contempladas várias etapas e as modalidades. Dentre as etapas te-mos a educação infantil, a qual deve fazer parte de uma educação mais humanizada em sua estrutura, reconhecendo as relações sociais e culturais. É na LDBEN que se encontram princípios gerais, finalidades, recursos, formação e diretrizes para os profissionais da educação. Assim, a educação nacional tem como princípios:

Artigo 3º, inciso I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; VI – gratuidade do ensino público em estabelecimento oficiais; XII – consideração com a diversidade étnico-racial.

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Como o contexto da sociedade brasileira sofreu alterações, nada mais acertado do que ajustar a legislação que o acompanha. E foi o que aconteceu com alguns artigos e seus incisos e pará-grafos na LDBEN. Veja o que mudou na LDBEN/1996, através da 12.796/2013.

Artigo 4º

II – Educação infantil gratuita às crianças de até 5(cinco) anos de idade;

IV – acesso público e gratuito aos Ensino Fundamental e Ensino Médio para todos os que não concluíram na idade própria;

VIII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;

Artigo 31 – A Educação Infantil será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:

I – avaliação mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fundamental.

II – carga horária mínima anual de 800 horas distribuídas por um mínimo de 200 dias de trabalho educacional.

III – atendimento à criança de, no mínimo, 4 horas diárias para o turno parcial e de 7 horas para a jornada integral.

IV – controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% do total de horas.

V – expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança.

Como é possível verificar, a prática da educação infantil transitou por uma longa construção, verificação de concepções, realinhamento de diretrizes para a superação do assistencialismo. A preocupação vigente é a consolidação de uma educação calcada no binômio cuidar-educar, reconhecendo na criança um sujeito de direitos e capaz de interagir e produzir culturalmente.

2.4.3 Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA

Depois da Constituição Federal, foi sancionada em 13 de julho de 1990 o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com a Lei Federal nº 8.069/90, que estabelece e assegura o acesso à educação a crianças menores de seis anos. Em 1996, chega a LDBEN para sacramentar este di-reito. Até o ano de 2016 os municípios tem o grande desafio de implementar, obrigatoriamente, o atendimento das crianças de quatro a cinco anos na educação básica.

O ECA é uma leitura obrigatória. Com relação à educação infantil, a lei fortifica o que dita a CF. Vejamos:

Capítulo IV – Do direito à educação, cultura, ao esporte e ao lazer.

Artigo 53 – A criança e o adolescente tem direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – direito de ser respeitado por seus educadores;

V – acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Parágrafo único: é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.

Artigo 54 – É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade.

§ 2º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º - Compete ao poder público [...] e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.

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Educação e Ludicidade

Como podemos observar, as crianças estão sendo contempladas por diversas leis no seu direito à educação e no dever do poder público. Recentemente, no Rio Grande do Sul (G1, 2015), houve um caso inusitado. Uma família recorreu à justiça federal para ter o direito de aplicar ensino domiciliar à sua filha, isto é, de não colocar a menina na escola regular. Aos olhos da lei, este método não tem amparo legal, apesar de a criança ter os instrumentos necessários (livros, tecnologia, assessoramento de profissionais da educação). Esta prática é utilizada nos Estados Unidos por cerca de 2,5 mil famílias. Pode ser que decidam institucionalizar uma jurisprudência, isto é, se for dado ganho de causa, valerá para todas as situações equivalentes. A situação é a seguinte: a família está descontente com a escola regular e quer oferecer o melhor para seus filhos. E você, o que acha desta situação?

Muitas famílias já desenvolvem este tipo de iniciativa, mas evitam divulgar com receio de san-ções por parte do Conselho Tutelar e do Ministério Público, já que estão descumprindo com uma norma. De acordo com o ECA, ao não matricular e não manter a frequência escolar, a família estará cometendo crime de abandono intelectual, sujeito a multa ou detenção de 15 dias a um mês. Mas, há uma válvula de escape para este caso, porque, como argumento, o advogado da família Júlio César Tricot cita “o direito dos pais de educar os próprios filhos que está previsto na CF, quando diz ‘a educação é direito da criança e dever do Estado e da família’, ou seja, os pais não estão se isentando de cumprir com este dever” (LUIZ, 2015). Mas não podemos esque-cer que a cidadania perpassa a convivência entre as pessoas que, logiucamente, não acontece somente na escola.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9394/1996; Lei nº 12.796/2013 que altera artigos da LDB; Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/1990; Plano Nacional de Educação; Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infan-til – Resolução CEB nº 01/1999. Não precisamos decorar os dispositivos legais, mas não podemos ignorar sua existência e seu conteúdo que deverá ser sempre consultado para não termos problemas futuros.

VOCÊ QUER LER?

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SínteseAté aqui, percorremos um caminho muito importante no que tange a educação infantil. Aborda-mos grandes temas dentro deste capítulo, entre os quais:

• a importância da ludicidade na aprendizagem e na vida escolar, concluindo que a criança aprende brincando, desenvolvendo capacidades e habilidades importantes para a sua autonomia;

• que o lúdico pode ser tratado como uma estratégia metodológica trazendo grandes benefícios para a aprendizagem dos pequenos e para o trabalho pedagógico do educador;

• que através das reflexões a respeito da pedagogia de projetos é possível estruturar a construção de um projeto voltado para a confecção e utilização de jogos, brincadeiras e brinquedos;

• que é pela legislação que adquirimos confiança nas ações dos fazeres administrativos-pedagógicos evitando qualquer tipo de problema;

• que para cumprir o que dita a legislação, é necessária uma prática que respeite a infância efetivamente;

• que entre as políticas públicas e a prática pedagógica é necessário haver diálogo efetivo;

• que as crianças não podem ser privadas do brincar e vivenciar experiências que as possam desenvolver integralmente;

• que as crianças devem ser respeitadas como seres que necessitam de acolhimento adequado, de práticas desenvolvedoras da curiosidade e imaginação relacionada à sua prerrogativa de conhecer o mundo através do brincar.

Síntese

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