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FRAUDE E DISSIMULAÇÃO: O BRASIL NA CRIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (1919) Poderia ser o centenário de uma revolução. Talvez fosse mais justo. Afinal estamos no Brasil, um país a necessitar de esperanças. Mas não é. Na verdade deveria comemorar-se o centenário de algo que nunca foi desejado pelas nossas retrógradas e autointituladas elites, cujas qualificações, como é fácil constatar, chocam-se com toda definição de qualquer verbete “elite”. Estas, como evento preparatório para este centenário, no dia 11 de julho de 2017, fizeram aprovar no Congresso Nacional o Projeto de Lei número 4302, de 1998, e que se tornaria a Lei número 13.467, de 2017, e ali renovaram e ratificaram seu secular desprezo ao mundo do trabalho. Seu ato foi concretizado através de seus desqualificados e dispendiosos despachantes, conhecidos como parlamentares ou “representantes do povo” . Seus cães de guarda se apressaram em anunciar aos quatro ventos que a nova lei significou o fim da Consolidação das Leis do Trabalho de Getulio Vargas e que ela fora aprovada pelos congressistas para combater o desemprego e a crise econômica no país. Desnecessário dizer, mesmo em dias de pandemia e mesmo sem ela , que esta não era nem de longe a preocupação desses milicianos do neoliberalismo. Este desprezo pelo mundo do trabalho por parte dos dirigentes políticos e econômicos do Brasil vem desde os tempos coloniais. No entanto, eles se viram forçados a lidar com ele quando pretenderam ingressar na comunidade internacional quando da I Guerra Mundial. Ao final de uma guerra qualquer, antes de 1918 e mesmo depois, com o final da I Guerra Mundial, se esperava, ao menos nas conversações realizadas entre as partes beligerantes, que houvesse discussões sobre fronteiras, territórios, prisioneiros e indenizações. Mas não foi o que ocorreu exatamente na Conferência de Paz da I Guerra. Realizada em Paris a partir de 18 de janeiro de 1919, contou com a presença de 70 delegados, representando apenas a coligação dos 27 países vitoriosos na Primeira Guerra Mundial, incluído o Brasil, o qual integrava o grupo dos países cuja participação na I Guerra havia sido negligenciada ou nula 1 e que também eram chamados de “potências de interesses limitados” 2 . Em 28 de junho de 1919 os delegados assinaram o Tratado de Versalhes, que selou a paz com a Alemanha. A Conferência prosseguiu seus trabalhos, com a assinatura de outros acordos, que ficaram conhecidos como os tratados da periferia parisiense, em razão da localização das cidades onde foram assinados. Eram 1 BECKER, Jean-Jacques. O Tratado de Versalhes. São Paulo: Editora Unesp, 2012, p. 32. 2 VINHOSA, Francisco Luiz Teixeira. O Brasil e a Primeira Guerra Mundial (A diplomacia brasileira e as grandes potências). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2015, p. 226.

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Page 1: XXV Encontro Estadual de História da ANPUH-São Paulo - … · 2020. 10. 28. · Tratado de Versalhes, que selou a paz com a Alemanha. A Conferência prosseguiu seus trabalhos, com

FRAUDE E DISSIMULAÇÃO: O BRASIL NA

CRIAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL DO TRABALHO (1919)

Poderia ser o centenário de uma revolução. Talvez fosse mais justo. Afinal

estamos no Brasil, um país a necessitar de esperanças. Mas não é. Na verdade deveria

comemorar-se o centenário de algo que nunca foi desejado pelas nossas retrógradas e

autointituladas “elites”, cujas qualificações, como é fácil constatar, chocam-se com toda

definição de qualquer verbete “elite”. Estas, como evento preparatório para este

centenário, no dia 11 de julho de 2017, fizeram aprovar no Congresso Nacional o

Projeto de Lei número 4302, de 1998, e que se tornaria a Lei número 13.467, de 2017, e

ali renovaram e ratificaram seu secular desprezo ao mundo do trabalho. Seu ato foi

concretizado através de seus desqualificados e dispendiosos despachantes, conhecidos

como parlamentares ou “representantes do povo”. Seus cães de guarda se apressaram

em anunciar aos quatro ventos que a nova lei significou o fim da Consolidação das Leis

do Trabalho de Getulio Vargas e que ela fora aprovada pelos congressistas para

combater o desemprego e a crise econômica no país. Desnecessário dizer, mesmo em

dias de pandemia – e mesmo sem ela –, que esta não era nem de longe a preocupação

desses milicianos do neoliberalismo.

Este desprezo pelo mundo do trabalho por parte dos dirigentes políticos e

econômicos do Brasil vem desde os tempos coloniais. No entanto, eles se viram

forçados a lidar com ele quando pretenderam ingressar na comunidade internacional

quando da I Guerra Mundial.

Ao final de uma guerra qualquer, antes de 1918 e mesmo depois, com o final da I

Guerra Mundial, se esperava, ao menos nas conversações realizadas entre as partes

beligerantes, que houvesse discussões sobre fronteiras, territórios, prisioneiros e

indenizações. Mas não foi o que ocorreu exatamente na Conferência de Paz da I Guerra.

Realizada em Paris a partir de 18 de janeiro de 1919, contou com a presença de 70

delegados, representando apenas a coligação dos 27 países vitoriosos na Primeira

Guerra Mundial, incluído o Brasil, o qual integrava o grupo dos países cuja participação

na I Guerra havia sido negligenciada ou nula 1 e que também eram chamados de

“potências de interesses limitados” 2. Em 28 de junho de 1919 os delegados assinaram o

Tratado de Versalhes, que selou a paz com a Alemanha. A Conferência prosseguiu seus

trabalhos, com a assinatura de outros acordos, que ficaram conhecidos como os tratados

da periferia parisiense, em razão da localização das cidades onde foram assinados. Eram

1 BECKER, Jean-Jacques. O Tratado de Versalhes. São Paulo: Editora Unesp, 2012, p. 32. 2 VINHOSA, Francisco Luiz Teixeira. O Brasil e a Primeira Guerra Mundial (A diplomacia brasileira e

as grandes potências). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2015, p. 226.

Page 2: XXV Encontro Estadual de História da ANPUH-São Paulo - … · 2020. 10. 28. · Tratado de Versalhes, que selou a paz com a Alemanha. A Conferência prosseguiu seus trabalhos, com

eles o Tratado de Saint Germain-en-Laye, que concorreu para a paz com a Áustria, no

qual foi dada a independência à Hungria, Tchecoslováquia e Iugoslávia; o Tratado de

Neuilly, assinado com a Bulgária; o Tratado de Trianon, celebrado com a Hungria; e o

Tratado de Sèvres, estabelecido com a Turquia. A Conferência de Paris encerrou-se em

20 de janeiro de 1920. Da Conferência de Paz resultou a criação da Liga das Nações,

porém suas deliberações, mais que paz, acabaram se tornando fonte de ressentimento

por parte dos derrotados, especialmente da Alemanha, e que serviriam de combustível

para o desencadeamento da II Guerra Mundial.

Num barco tomado pelo Brasil à Alemanha durante a I Guerra Mundial, o

Bremen, renomeado Curvelo, Epitácio Pessoa, Raul Fernandes, Rodrigo Octávio, Hélio

Lobo, Armando Burlamaqui, Malam D’Angrogne, além de secretários, adidos e

jornalistas partiu no dia 2 de janeiro de 1919. Era a delegação brasileira designada para

tomar parte da Conferência de Paz em Paris 3. Em honra às “tradições republicanas” à

brasileira, quase todos os membros foram ao convescote parisiense acompanhados pelas

respectivas famílias 4.

A Delegação brasileira praticamente ocupava todo o navio. Foi uma viagem feliz. As

acomodações não seriam de primeira ordem, mas o passadio era excelente e o asseio

primoroso. Corria a lenda de que o Comandante do Curvelo, Reis Júnior, português

naturalizado, costumava pôr à prova a eficiência e capricho dos faxineiros de bordo,

deitando-se no soalho, após a limpeza diária, com o seu dólmã branco imaculado. E ai

dos faxineiros, se alguma poeira mal removida viesse a manchar a brancura daquele

dólmã! No salão de fumar, transformado em gabinete de estudos, o Chefe da Delegação

preparava-se para os trabalhos da Conferência, em companhia de Raul Fernandes,

3 “A delegação brasileira partiu a 2 de janeiro de 1919. Não iam no Curvelo todos os seus componentes,

pois alguns já se encontravam na Europa [além do embaixador brasileiro na França, também lá estava

Pandiá Calógeras, que partira em 11 de dezembro de 1918, dk]. Além de Epitácio [Pessoa, dk], como

chefe, havia três delegados, Olinto de Magalhães, ministro do Brasil em Paris e antigo titular das

Relações Exteriores; o deputado fluminense Raul Fernandes e o deputado mineiro Pandiá Calógeras, ex-

ministro da Agricultura e da Fazenda de Wenceslau [Braz Pereira Gomes, dk]. Iam como consultor

jurídico Rodrigo Otávio, como consultor naval o capitão de fragata Armando Burlamaqui e como

consultor militar o major Malan d’Angrogne. Os secretários eram: Hélio Lobo, cônsul-geral em Londres,

como chefe, e os primeiros-secretários de legação Joaquim Moniz de Aragão, Pedro Leão Veloso, o

cônsul-geral na Romênia, Francisco Pessoas de Queiroz, e os 2ª. s secretários Carlos Celso de Ouro Preto,

Fernando de Souza Dantas, Lauro de Andrade Müller e o 2º oficial da secretaria de Estado Maurício

Nabuco. Os adidos eram Luís Silveira, Gustavo Barroso [tradutor da primeira versão brasileira publicada

do Tratado de Versalhes e futuro chefe do integralismo brasileiro, além de ardoroso defensor da ideologia

nazista, dk], Paulo Bittencourt, Paulo de Castro Maia, Fernando Mendes de Almeida Júnior, Rafael de

Holanda, Ascendino Carneiro da Cunha e Eugênio Cata Preta. Seguiram também os jornalistas Horácio

Cartier, Afonso Lopes de Almeida, Otto Prazeres e José Maria Belo.” (MAGALHÃES, Júnior, R. A vida

vertiginosa de João do Rio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978, p. 309.). Aos jornalistas deve se

acrescer João do Rio [pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto], enviado

de O Paiz, do Rio de Janeiro, que reuniu seus textos sobre a Conferência de Paris e os publicou em três

volumes [Na Conferência da Paz: I – Do armistício de Foch à paz de guerra – A nova ação do Brasil; II

- Aspectos de alguns países; III – Algumas figuras do momento. Rio de Janeiro: Villas-Boas, 1919-1920]. 4 GABAGLIA, Laurita Pessôa Raja. Epitácio Pessoa (1865-1942). Vol. 1. Rio de Janeiro: José Olympio,

1951, p. 277.

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Rodrigo Otávio, do consultor naval Armando Burlamaqui, de um ou outro secretário.

Enquanto isso, os demais passageiros ocupavam o tempo organizando charadas e quadros

vivos e compondo dois jornaizinhos rivais que se afixavam diariamente no tombadilho, a

‘Sardinha’ e o ‘Tubarão’. 5

A única queixa dos alegres e asseados tripulantes foi com a morosidade da viagem

– em uma característica postura nacional de quem sempre culpa o atraso pelo meio de

transporte e não pela escolha da data de partida -, que terminou em 28 de janeiro, com a

chegada ao porto de Havre. Poucos dias antes do desembarque em terras francesas, a

delegação foi informada do falecimento do presidente do Brasil, Francisco de Paula

Rodrigues Alves, vitimado pela pandemia da gripe espanhola e ocorrido em 16 de

janeiro de 1919.

Na Conferência de Paz, nas diversas comissões em que ela se dividiu, havia cinco

que eram consideradas as mais significativas e importantes: Reparações de Danos,

Fiscalização Internacional dos Portos, Vias Férreas e Fluviais, Legislação Internacional

do Trabalho, Responsabilidades dos Autores da Guerra e Criação da Sociedade das

Nações. No entanto, dados a pequena composição da delegação brasileira à qual teve

direito na Conferência, com três delegados, e os interesses do governo, o Brasil cedeu

lugares à delegação belga em várias delas, pedindo o auxílio de delegados portugueses

(na Comissão de Reparação de Danos), cubanos (na Comissão de Legislação

Internacional do Trabalho) e uruguaios (na Comissão de Reparações de Danos, de

Fiscalização Internacional dos Portos, Vias Férreas e Fluviais) para a defesa de seus

interesses 6. A delegação brasileira atuou apenas nas Comissões de Responsabilidades

dos Autores da Guerra e na de Criação da Sociedade das Nações. Nesta última

empenhou-se ardorosamente e com sucesso para obter um lugar no Conselho da Liga

das Nações, valendo-se, sobretudo nos bastidores, das relações pessoais do ministro das

Relações Internacionais do Brasil, Domício da Gama, com os Estados Unidos, onde fora

embaixador brasileiro entre 1911 e 1918. No entanto, foi no âmbito de uma comissão, à

qual a delegação brasileira não tinha acesso e não integrava, a Comissão Financeira, que

se trataram as duas únicas questões que interessavam a Delegação do Brasil: a do café

do Estado de São Paulo e a dos navios mercantes que foram tomados pelos brasileiros

aos alemães.

Com respeito à questão do café, na biografia de seu pai, a filha do chefe da

delegação brasileira assim a sintetiza:

Ao rebentar a guerra de 1914, o Estado de S. Paulo tinha nos portos de Antuérpia,

Bremen, Hamburgo e Trieste cerca de 1.850.000 sacas de café, em garantia de dois

empréstimos contraídos na Europa por aquele estado, por intermédio de casas bancárias

5 GABAGLIA, L. P. R.. Op cit., Vol. 1, p. 277-278. 6 CALÓGERAS, Pandiá. Conferência de Paz: Diário. In: SIMONSEN, Roberto; CARVALHO, Antônio

Gontijo de; e OLIVEIRA, Francisco de Salles (Orgs.). Pandiá Calógeras na opinião de seus

contemporâneos. São Paulo: Tipografia Siqueira, 1934, p. 74-75.

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de Londres, Berlim e Paris. Declarada a guerra, manifestou o Governo alemão o

pensamento de confiscar aquele depósito. A isto opôs-se o Governo brasileiro e o Estado

de S. Paulo ordenou a venda do café, cujo produto, em valor superior a 125 milhões de

marcos, foi depositado na Casa Bleischroeder de Berlim, de acordo com uma cláusula do

contrato de venda. Quis depois o Estado de S. Paulo retirar esta soma para resgatar os

títulos do empréstimo. A Alemanha opôs-se e, após discussão com o Governo brasileiro,

comprometeu-se a que o produto da venda do café depositado na Casa Bleischroeder

ficaria intacto até depois da assinatura da paz, à disposição do Governo do Brasil. 7

Ressalte-se, neste caso, que, inicialmente, a Comissão Financeira considerava a

questão como um caso particular a ser tratado entre o Estado de São Paulo e a Casa

Bleischroeder, mas tal entendimento acabou sendo contornado por tratativas feitas nos

bastidores e foi incluída como cláusula específica referente ao Brasil no Tratado de

Versalhes 8. Esta questão recebeu bastante empenho pessoal por parte do chefe da

delegação brasileira, o qual, quando ocupou a presidência da República, fez aprovar

uma cláusula em um acordo firmado entre o Brasil e a Alemanha em 1922 na qual

“ajustou que o saldo do preço dos navios apreendidos, porventura verificado depois de

pagos os créditos da União, pudesse ser aplicado à satisfação do que São Paulo tinha

ainda que haver em pagamento do café” 9. Tal dívida, no entanto, nunca foi paga em sua

integralidade, ao menos na forma ambicionada pelos cafeicultores de São Paulo 10.

Já a questão dos navios apreendidos envolvia questões mais complexas,

apontando para ilegalidades cometidas pelo Brasil, colidindo os atos de apreensão dos

navios alemães com princípios do direito internacional estabelecidos para casos

análogos, pois a apreensão foi feita quando o Brasil ainda se declarava em estado de

neutralidade frente à I Guerra e seus contendores, ou seja, antes de 26 de outubro de

1917, quando foi declarada guerra à Alemanha 11. Os 46 navios mercantes alemães

foram apreendidos em 13 de abril de 1917, com a solene promessa do governo

brasileiro de que não iria confiscá-los sem indenização, mantendo sua suposta posição

7 GABAGLIA, L. P. R. Op cit. Vol. 1, p. 279-280. Para maiores detalhes, ver também PESSOA, Epitácio.

Pela verdade. In: _____. Obras Completas. Vol. XXI: Pela Verdade. Tomo I. Rio de Janeiro: Instituto

Nacional do Livro, 1957. 8 Art. 263 – A Alemanha garante ao Governo brasileiro o reembolso com juro à taxa ou às taxas que

foram convencionadas, de todas as quantias que foram convencionadas, de todas as quantias depositadas

no banco Bleischroeder em Berlim, provenientes da venda de cafés pertencentes ao Estado de S. Paulo

nos portos de Hamburgo, Bremen, Anvers e Trieste. A Alemanha, visto que se opôs à transferência em

tempo útil das referidas quantias para o Estado de S. Paulo, garante igualmente que o reembolso se

efetuará à taxa do câmbio do marco no dia do depósito. (CASELLA, Paulo Borba. Tratado de Versalhes

na história do direito internacional. São Paulo: Editora Quartier Latin do Brasil, 2007, p. 190). 9 PESSOA, Epitácio. Pela verdade. In: _____. Obras Completas. Vol. XXI: Pela Verdade. Tomo I. Rio de

Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1957, p. 7. 10 GARCIA, Eugênio Vargas. Entre América e Europa: A política externa brasileira na década de 1920.

Brasília: Ed. UnB; Fundação Alexandre de Gusmão, 2006, p. 75. 11 VINHOSA, F. L. T.. Op. cit., p. 209. Sobre a declaração de guerra à Alemanha ver também

PRAZERES, Otto. O Brasil na guerra (Algumas notas para a história). Rio de Janeiro: Imprensa

Nacional. 1918.

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de “indefectível respeito à propriedade privada” 12. No entanto, com o passar do tempo,

o governo brasileiro acabou nuançando tal posicionamento. Em particular por conta de,

como afirmou posteriormente o chefe da delegação brasileira, considerar a possibilidade

que ali se colocara de por “nas mãos do Governo Brasileiro, em troca de um sacrifício já

feito, um patrimônio considerável que direta ou indiretamente poderia servir ao nosso

desenvolvimento econômico” 13. Afinal, eles equivaliam a 25% da marinha mercante

brasileira! Além disso, durante a Conferência de Paris as grandes potências formaram o

entendimento pelo qual a Alemanha cederia aos “governos aliados e associados a

propriedade de todos os navios mercantes de 1.600 ou mais toneladas brutas

pertencentes a seus nacionais”, o que deu ao Brasil a posse desses navios, os quais, no

entanto, teriam de ser partilhados entre os aliados, em especial a França, que pressionou

em seu favor a divisão, em especial de 30 navios que o Brasil lhe afretara já em

dezembro de 1917. Apesar disso, no início de maio de 1919, acabou prevalecendo na

Conferência a posição que deu às “nações aliadas a propriedade dos navios, mediante

indenização a ser paga por encontro de contas... entre o valor dos navios e todas as

responsabilidades da Alemanha, a título de reparações” 14 e assim as embarcações

deveriam ficar com o Brasil e mesmo os navios que estavam com a França acabaram

restituídos.

É importante ressaltar que tanto na questão dos cafeicultores de São Paulo como

na dos navios mercantes alemães, bem como na da obtenção do assento brasileiro no

Conselho na Liga das Nações, a delegação do Brasil conseguiu impor suas

reivindicações com o decidido apoio dos estadunidenses. Estes assim buscavam reforçar

o apoio dos brasileiros para os interesses estadunidenses nas questões continentais

americanas.

Com a morte de Rodrigues Alves, as forças políticas dominantes do Brasil

convocaram o que chamaram de “Convenção Nacional” para decidir a questão da

sucessão presidencial, pois as circunstâncias do evento – não havia decorrido prazo

legal para que a cadeia sucessória presidencial fosse posta em execução – exigiam a

realização de novas eleições presidenciais. A “Convenção Nacional” acabou instalada

no dia 23 de fevereiro de 1919 na capital do país com a presença de 203 “delegados” de

todos os Estados da federação brasileira. Após intensos debates, frente aos dois nomes

apresentados (Epitácio Pessoa e Ruy Barbosa) decidiu-se a “Convenção Nacional” pelo

nome do chefe da delegação brasileira à Conferência de Paz de Paris. Entre os eleitores

de Epitácio na “Convenção Nacional” já é importante destacar o nome de um deputado

federal por Minas Gerais, Fausto Ferraz, com quem nos encontraremos mais adiante. No

mesmo dia Epitácio Pessoa foi comunicado da decisão e aceitou a candidatura. O nome

de Ruy Barbosa – que havia sido inicialmente escolhido para dirigir a delegação

brasileira, mas recusara o convite, abrindo o caminha para Pessoa assumir a função – foi

12 GABAGLIA, L. P. R.. Op cit., Vol. 1, p. 282. 13 PESSOA, E. Op. cit., p. 11. 14 GABAGLIA, L. P. R.. Op cit., Vol. 1, p. 286. Grifos do original.

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lançado pela oposição para a disputa presidencial nas urnas, cujas eleições ocorreram no

dia 13 de abril de 1919.

No período em que ainda se apresentava como candidato, Epitácio Pessoa deu

entrevistas e declarações. Em uma delas, concedida ao jornalista João do Rio

[pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto], que cobria a

Conferência de Paz, Epitácio Pessoa falou sobre seu programa de governo, o qual, dadas

as peculiares condições de sua candidatura e para lhe dar ares concretos, remeteu a um

discurso que fizera por ocasião da leitura da plataforma do falecido presidente

Rodrigues Alves, feito em 7 de junho de 1917. Além das tradicionais e seculares

platitudes emitidas pela esmagadora maioria dos candidatos brasileiros, como ”O meu

programa é Trabalho”, ou copiar o estilo estadunidense e exaltar sua simpatia pelas

estradas de rodagem, Epitácio Pessoa também emitiu banalidades sobre os

trabalhadores:

A Conferência de Paz preocupa-se com o magno problema, que tenho acompanhado com

o maior interesse. Parece, infelizmente, que as deliberações serão adiadas para outubro. A

minha opinião é que o governo deve agir entre capital-dinheiro e capital-homem, com a

equidade que garanta a prosperidade da fortuna pública e defenda o futuro da raça. Como

tal, há reivindicações operárias justas. E, principalmente, quanto à proteção dos velhos,

das mulheres e das crianças, quanto à higiene das habitações e das fábricas, quanto a

acidentes do trabalho e outras reclamações, não há mesmo a possibilidade de discussão. È

uma coisa a fazer urgentemente. 15

Neste texto o entrevistado ao longo dela reitera várias vezes a questão da nação e

da raça, das quais tinha uma peculiar visão, tão características dos estratos a que

pertencia. A determinada altura, quando falava de imigração, afirmava que era preciso

facilitar a entrada no Brasil “das raças que nos formaram e tantos serviços têm prestado

à nacionalidade: os portugueses, os italianos”. Mais tarde, durante o seu governo, deu

uma reveladora contribuição no sentido da melhor compreensão disso, quando exigiu da

Confederação Brasileira de Desportos, em contrapartida pelos recursos que a ela

destinara, que não incluísse negros da seleção brasileira de futebol por ocasião da

disputa da Copa Sul-Americana de 1921 em Buenos Aires 16.

O censo de 1920 contabilizou uma população de 30.605.635 habitantes. Para

aquela eleição de abril de 1919 havia, dadas as restritivas regras eleitorais daquela

quadra de nossa história – analfabetos, mulheres e desempregados não votavam e o

alistamento eleitoral era voluntário – o número de eleitores em 1919 era de cerca de 1,7

15 RIO, João do [pseudônimo de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto]. O programa do

Sr. Epitácio Pessoa, novo presidente da República. In: _____. Na Conferência da Paz. Vol. III. Algumas

figuras do momento. Rio de Janeiro: Villas-Boas, 1920, p. 249-250. Embora realizada em março de 1919,

esta entrevista só acabou publicada algum tempo depois em decorrência das dificuldades de comunicação

[O Paiz. Rio de Janeiro, 07/05/1919, p. 3]. 16 Para o Campeonato Sul-Americano o presidente da República não quer “homens de cor” no nosso

“scratch”. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 17/09/1921, p. 5.

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milhão, dos quais apenas cerca de 420 mil compareceram às urnas. Deles, 286.373

(70,96%) votaram em Pessoa e outros 116.414 (28,85%) sufragaram Barbosa, além de

14.440 votos brancos e nulos e quase 800 votos dados a outros candidatos. Como

sempre ocorreu na chamada República Velha, o candidato oficial, neste caso, Epitácio

Pessoa, venceu o pleito. E, caso único daquele período, sem fazer campanha no Brasil,

já que se encontrava em Paris. Evidentemente as fraudulentas e corruptas práticas

eleitorais daquele período ajudam a explicar em muito o resultado de uma eleição sem a

participação de um dos candidatos.

Depois de eleito, rumo ao Brasil, Epitácio Pessoa alinhavou, provavelmente em

conjunto com a delegação que o acompanhava, algumas “ideias” para seu governo.

Mesmo ciente das resoluções que seriam tomadas em Paris sobre a questão do trabalho,

com a criação da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil seria membro

nato, Pessoa mostrou a sua alma e a de seus patrocinadores e colaboradores enquanto

rascunhava ideias programáticas na volta ao Brasil para assumir a cadeira presidencial:

Reformar a organização do operariado nos arsenais e fábricas das pastas militares: não

trabalha, não tem disciplina, vence salários exagerados. [...] Pagar aos operários da

Central os domingos e feriados é um absurdo. Pagar a quem não trabalha! Criar na classe

do operariado uma aristocracia coberta de vantagens e privilégios! 17

Embora ainda retido em Paris até fins de maio por conta das questões que

envolviam os interesses do Brasil, Epitácio Pessoa, em 7 de maio, começou a realizar

seu “tour” como presidente eleito pela Europa com uma visita oficial à Bélgica. Em 11

de maio retornou a Paris para receber novas homenagens e no dia 19 de maio foi à Itália

e no dia seguinte ao Vaticano. No dia 23 de maio retornou a Paris, onde ficou até partir

para a Inglaterra, para onde foi em 3 de junho. No dia 7 de junho chegou a Lisboa. Dois

dias depois, inicialmente em um vaso de guerra francês e depois em um estadunidense,

partiu para os Estados Unidos, em onde chegou dia 21 de junho. Partiu para o Brasil em

um encouraçado da marinha estadunidense no dia 6 de julho de 1919: “A 21 de julho de

1919, escoltado por navios de guerra brasileiros, o Idaho entrou na Guanabara cheia de

embarcações embandeiradas e, pouco depois, no meio de aclamações vinda do mar e de

terra, o novo Presidente da República pisou o solo brasileiro” 18.

Em 25 de janeiro de 1919, três dias antes da chegada do grosso da delegação

brasileira à Conferência de Paz de Paris, ocorreu a sessão plenária em que se constituiu

a Comissão de Legislação Internacional do Trabalho composta de dois delegados, além

de suplentes, de cada uma das chamadas grandes potências (Estados Unidos, França,

Grã-Bretanha, e Itália) e seis representantes de outros países (Bélgica, Cuba [que

também representava o Brasil], Japão, Polônia e Tchecoslováquia), composta de 25

membros, entre titulares e suplentes. Em grande parte seus componentes pertenciam aos

17 PESSOA, Epitácio. Algumas ideias reunidas a bordo para o Governo (Ideias gerais). In: _____. Obras

Completas. Vol. XIX: Defesas diversas. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1965, p. 71 e 73. 18 GABAGLIA, L. P. R.. Op cit., Vol. 1, p. 317.

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governos que representavam. Somente três deles tinham vínculos com o mundo do

trabalho: Samuel Gompers (presidente de Federação Americana do Trabalho), Léon

Johaux (secretário geral da Confederação Geral do Trabalho francesa) e Émile

Vandervelde (socialdemocrata belga que na ocasião ocupava o posto de ministro da

Justiça em seu país).

Esta Comissão, nas tradições diplomáticas até então existentes, pode-se dizer que

era um ponto fora da curva. Até então tratados de paz, como dissemos mais acima,

cuidavam apenas de questões relativas a fronteiras, territórios, prisioneiros e

indenizações entre os beligerantes. A conjuntura mundial no final da I Guerra Mundial

havia introduzido novas questões e a mais relevante delas foi a percepção de que o

discurso de defesa de nação e de pátria que galvanizou as grandes massas dos países

envolvidos naquela ocasião – obviamente visando obscurecer os reais interesses

imperialistas que levaram à conflagração – as havia levado a um inimaginável estado de

precariedade e miséria. Isto, além de revoltas militares, as levou às ruas reivindicando o

que julgavam ser de seu direito. Isto produziu rebeliões, greves, insurreições e, no caso

da Rússia, a deposição da monarquia, num primeiro momento, e a tomada do poder por

um partido socialdemocrata. O planeta todo passou a vivenciar estas agitações em maior

ou menor intensidade: Rússia, Alemanha, Hungria, Estados Unidos e muitos outros,

inclusive o Brasil. O jornalista brasileiro João do Rio, cobrindo a Conferência de Paris e

refletindo o ambiente naquele momento, para explicar o que fez com que se incluísse a

questão da legislação internacional de trabalho no temário da reunião e a votação da

criação da Organização Internacional do Trabalho antes da aprovação do próprio tratado

de paz, afirmava que isto

tem a sua razão de ser exclusivamente no pavor que, de súbito, toda a Europa está no

bolchevismo. Ninguém tem ilusões, como forma de governo, no bolchevismo, a começar

por Lenine. Apenas, o bolchevismo aparece e se mantém, fazendo tábua rasa de todos os

princípios, num momento em que as classes pobres sofrem todas as desgraças da guerra. 19

Enfim, espartaquismo e bolchevismo eram as materializações desse pavor das

classes dirigentes mundiais assinalado por João do Rio e que as levaram à percepção da

necessidade de concessões àquelas enormes massas que as seguiram na trágica aventura

que resultou na I Guerra Mundial. Ou como assinala Garcia:

O preâmbulo da Constituição da OIT [Organização Internacional do Trabalho, dk] dizia

textualmente que a injustiça engendrava “um descontentamento tão grande que a paz e a

harmonia universais eram colocadas em perigo”. Do ponto de vista da Internacional

Comunista, a OIT teria siso uma resposta conservadora e burguesa ao avanço do

19 RIO, João do. O terror do bolchevismo e o “Bureau” do Trabalho. In: _____. Na Conferência da Paz.

Vol. I. Do armistício de Foch à paz de guerra – A nova ação do Brasil. Rio de Janeiro: Villas-Boas,

1919, p. 91. [Este texto foi originalmente publicado no diário carioca O Paiz em 09/09/1919, à página 3,

mas tinha como data de redação a de abril de 1919].

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comunismo, cujo principal objetivo era o esvaziamento da revolução mundial via

concessões ao operariado. [...] Tudo isso era sintomático do temor que a propagação das

ideias revolucionárias socialistas despertava entre as potências ocidentais. 20

Os trabalhos da Comissão de Legislação Internacional do Trabalho, desenvolvidos

ao longo de durante 35 sessões, ocorreram entre 1º de fevereiro e 24 de março de 1919

com a conclusão do relatório. Este, em seguida, foi apresentado à Conferência e aí

acabou aprovado na sua 4º sessão de 11 de abril de 1919 e incorporado como a Parte

XIII do texto final do Tratado de Versalhes. Foi nesta sessão que se decidiu que a

Conferência Internacional do Trabalho seria realizada nos Estados Unidos. Esta parte,

em decisão tomada em sua sessão de 5 de fevereiro, teve como texto-base o projeto

apresentado pelos delegados da Grã-Bretanha. A este texto-base foram apresentadas

propostas de acréscimo e modificações feitas pelas delegações alemã (as quais foram

rejeitas in totum) e italiana, Federação Americana do Trabalho, Conselho Internacional

das Mulheres, Conferência das Mulheres Sufragistas Aliadas, Liga Francesa do Direito

das Mulheres, Agência dos Interesses Femininos 21, e Confederação Geral do Trabalho

francesa.

A Parte XIII estava dividida em duas seções. A primeira delas, que era dedicada à

Organização Internacional do Trabalho, onde se estabelecia a sua organização, seu

funcionamento, suas prescrições gerais, abria com uma introdução na qual se expunha

“seus princípios sociais e uma enumeração das reformas a serem feitas nas condições de

trabalho” 22:

Considerando que a Sociedade das Nações tem por fim estabelecer a paz universal, e que

esta só pode subsistir tendo por base a justiça social;

Considerando que existem condições de trabalho que constituem para um grande número

de pessoas a injustiça, a miséria e as privações, e que origina um estado tal de

descontentamento que põe em perigo a paz e a harmonia universais, e visto ser urgente

melhorar essas condições: por exemplo, o que respeita à regulamentação das horas de

trabalho, à fixação da duração máxima do dia e da semana de trabalho, ao recrutamento

da mão de obra, à luta contra a falta de trabalho, à garantia de um salário que assegure

condições de existência aceitáveis, à proteção dos trabalhadores contra as doenças gerais

ou profissionais e acidentes resultantes do trabalho, à proteção da infância, dos

adolescentes e das mulheres, às pensões na velhice e na invalidez, à defesa dos interesses

dos trabalhadores residentes no estrangeiro, à afirmação do princípio de liberdade

sindical, à organização do ensino profissional e técnico e outras medidas análogas;

Considerando que a não adoção, por uma nação qualquer, de um regime de trabalho

realmente humano, constitui um obstáculo aos esforços das outras nações desejosas de

melhorar a situação dos trabalhadores nos seus próprios países;

20 GARCIA, E. V. Op. cit., p. 495-496. 21 As associações femininas tiveram uma sessão, em 18 de março de 1919, dedicada à apresentação de

suas reivindicações e observações sobre as questões do trabalho, e nela compareceram representantes da

França, Itália, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Bélgica. 22 GODART, Justin. Les clauses du travail dans le Traité de Versailles (28 Juin 1919); Les décisions de

la Conférence de Washington (Novembre 1919). Paris: Denod, Éditeur, 1920, p. 133.

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As Altas Partes Contratantes, movidas por sentimentos de justiça e humanidade, bem

como pelo desejo de assegurar uma paz mundial duradoura, convém no seguinte... 23

Embora sem aí listá-los, o documento de fundação da Organização Internacional

do Trabalho, no artigo 387 do Tratado de Versalhes, declara que “os membros natos da

Sociedade das Nações serão Membros natos desta organização, e de futuro, a qualidade

de Membro da Sociedade das Nações envolverá, como consequência, a de Membro da

mencionada organização” 24. Ou seja, o Brasil foi considerado membro nato da

Organização Internacional do Trabalho.

A segunda seção, sob o título de “Princípios gerais”, listava-se o que chamou de

“métodos e princípios” para a regulamentação das condições de trabalho, que na

verdade eram mais propriamente itens de um programa de legislação trabalhista:

Entre esses métodos e princípios parecem às Altas Partes Contratantes ser de uma

particular e urgente importância:

1º O princípio dirigente, acima enunciado, de que o trabalho não deve ser considerado

simplesmente como mercadoria ou artigo de comércio.

2º O direito de associação tendente a quaisquer propósitos não contrários às leis, tanto

para os salariados como para os patrões.

3º O pagamento, aos trabalhadores, de um salário que lhes assegure condições de vida

razoáveis, tais como elas se compreendem no seu tempo e no seu país.

4º A adoção do dia de oito horas ou da semana de quarenta e oito horas como objetivo a

atingir em toda a parte onde ainda não foi alcançado.

5º A adoção de um repouso hebdomadário mínimo, de vinte e quatro horas, que deverá

compreender o domingo sempre que fosse possível.

6º A supressão do trabalho das crianças e a obrigação de impor ao trabalho da mocidade

de ambos os sexos os limites necessários para lhes permitir que continuem a sua educação

e lhes assegurar o desenvolvimento físico.

7º O princípio da igualdade do salário, sem distinção de sexo, para um trabalho de igual

valor.

8º A legislação publicada em cada país a respeito das condições de trabalho deverá

assegurar um tratamento econômico equitativo para todos os trabalhadores que residam

legalmente no país.

9º Cada Estado deverá organizar um serviço de inspeção, que compreenderá mulheres, a

fim de assegurar a aplicação das leis e regulamentos para a proteção dos trabalhadores.

À primeira seção foi adicionado um anexo no qual se definia a data e a ordem do

dia da primeira conferência internacional da Organização Internacional do Trabalho a

ser realizada nos Estados Unidos ainda naquele mesmo ano de 1919. Tal evento deveria

ser dirigido por um Comitê Internacional de Organização de sete pessoas designadas

pelos governos dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, da França, da Itália, do Japão, da

23 CASELLA, P. B. Op. cit., p. 257-258. 24 CASELLA, P. B. Op. cit., p. 258.

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Bélgica e da Suíça 25. A ordem do dia estabelecida na Parte XIII para a Conferência de

Washington, reiterando e detalhando pontos dos “métodos e princípios”, era a seguinte:

1º Aplicação do princípio do dia de trabalho de 8 horas ou da semana de 48 horas.

2º Questões relativas aos meios de evitar a falta de trabalho e remediar as suas

consequências.

3º Emprego das mulheres:

a) Antes ou depois do parto (incluindo a questão da indenização de maternidade);

b) Durante a noite;

c) Nos trabalhos insalubres.

4º Emprego das crianças

a) Idade de admissão ao trabalho;

b) Trabalhos de noite;

c) Trabalhos insalubres.

5º Ampliação e aplicação das convenções internacionais adotadas em Berna em 1906

sobre a interdição do trabalho de noite das mulheres empregadas na indústria e a

proibição do emprego do fósforo branco (amarelo) na indústria dos fósforos. 26

Embora o Congresso estadunidense não tenha ratificado o Tratado de Versalhes, o

que lhe produziu a curiosa condição de propositores de criação da Sociedade das

Nações e a de não aderentes a ela, os Estados Unidos mantiveram a realização da

Conferência Internacional do Trabalho. Em agosto de 1919, o presidente Woodrow

Wilson marcou para 29 de outubro daquele ano a abertura da Conferência, encarregando

seu secretário do Trabalho, William Banchop Wilson, para organizar o evento 27. Logo

no mesmo dia do anúncio da confirmação da Conferência, 12 de agosto, foram iniciados

os contatos com os países participantes e o embaixador estadunidense no Brasil

imediatamente entrou em contato com o ministro das Relações Exteriores comunicando

o fato, convidando-o a participar do evento e solicitando ao Brasil o envio dos seus

delegados 28.

O governo brasileiro decidiu participar da Conferência, como era de seu dever, já

que era seu membro fundador. O artigo 389 da Parte XIII do Tratado de Versalhes

estabelecia que as delegações de cada país deveriam ser compostas por quatro

delegados, dos quais “dois serão os Delegados do Governo, e os outros dois

representarão respectivamente, de uma parte, os patrões, e, de outra parte, os

trabalhadores”. Além disso, estabelecia-se que

25 Godart observa que a Suíça, apesar de não ser signatária do Tratado de Versalhes, foi designada para

fazer parte do Comitê de Organização da Conferência Internacional do Trabalho como reconhecimento

“ao país que tomou as primeiras iniciativas em matéria de legislação internacional do trabalho e que

constantemente interveio para reunir conferências diplomáticas tendentes a alcançar convenções do

trabalho” (GODART, J. Op. cit., p. 182). 26 CASELLA, P. B. Op. cit., p. 269. 27 A conferência internacional do trabalho. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 13/08/1919, p. 1. 28 A Conferência Internacional do Trabalho: O governo brasileiro convidado para assisti-la. A Época. Rio

de Janeiro, 28/0819191, p. 6.

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cada Delegado poderá ser acompanhado por Conselheiros técnicos, cujo número máximo

será de dois para cada uma das matérias distintas inscritas na ordem do dia da sessão.

Quando questões que mais especialmente interessem às mulheres estiverem para ser

discutidas na Conferência, uma, pelo menos, das pessoas designadas como Conselheiros

técnicos, deverá ser uma mulher. 29

Para tanto o governo brasileiro incumbiu o Ministério da Agricultura, Indústria e

Comércio para organizar a escolha dos delegados representantes dos operários e dos

patrões. O Ministério resolveu fazer isso de uma maneira bastante questionável: pediu

aos governos estaduais que lhe enviassem uma relação das entidades de cada estado

para que ele pedisse às entidades arroladas a indicação do delegado. Foram formuladas

críticas razoáveis para tal procedimento, focadas na existência de possíveis critérios

ideológicos para a seleção das entidades que iriam integrar tais relações 30. Além disso,

no caso das entidades operárias em particular, manifestou-se também outra tendência de

restrição ideológica, com a formação de uma coalizão de caráter confessional católico.

A primeira candidatura a ser lançado no Distrito Federal deu-se em torno do nome

de um histórico militante operário, o torneiro mecânico e armeiro Francisco Juvêncio

Saddock de Sá, mestre da 3ª Divisão do Arsenal de Guerra 31. Em um comunicado do

Círculo dos Operários da União é possível ver como funcionava o processo de escolha

nas entidades

Conforme fora anunciado realizou-se, na sede do Círculo dos Operários da União, no dia

22 do corrente, a reunião preparatória para a indicação do operário do Estado que possas

ser o representante da classe na Conferência Anual do Trabalho, de acordo com o convite

recebido pelo governo.

Compareceram dezoito delegados de operários de diversas oficinas da União e

registraram-se cerca de 511 assinaturas desses operários, manifestando a sua

solidariedade às resoluções do Círculo.

A reunião começou às 20 horas e terminou às 22 e meia, sendo marcada outra e

definitiva, para hoje, às 20 horas, na Associação Gráfica do Rio de Janeiro, à Avenida

Passos n. 91, cedida para esse fim pela sua digna diretoria.

Os diretores do Círculo pedem o comparecimento dos confrades. – Pelos diretores,

Saddock de Sá, diretor-secretário. 32

A articulação em torno de seu nome, desenvolvida através da Corporação dos

Trabalhadores Católicos, revelou-se bem organizada, além de apresentar uma “chapa”

29 CASELLA, P. B.. Op. cit., p. 258-259. 30 A nossa representação na Conferência Anual do Trabalho: Porque o operariado não se deve abster. A

Razão. Rio de Janeiro, 16/09/1919, p. 5. 31 Sobre Saddock de Sá ver BATALHA, Claudio. Dicionário do movimento operário: Rio de Janeiro do

século XIX aos anos 1920, militantes e organizações. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2009,

p. 143-144. 32 Representação Operária na Conferência Trabalhista de Washington. A Razão. Rio de Janeiro,

24/09/1919, p. 2.

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completa, com o nome do candidato bem como os dos Conselheiros técnicos 33. No

entanto, esta articulação dos católicos acabou provocando uma crise no campo dos

trabalhadores marítimos, o que levou a que 19 entidades lançassem outro nome, no

entanto, de antemão fadado ao fracasso, o do comandante da marinha Müller dos Reis,

pois dificilmente sua condição de “operário” poderia ser aceita 34.

O processo de formação da delegação foi concluído no início de outubro de 1919.

No dia 2 de outubro o governo nomeou por decreto os seus dois representantes: Afrânio

de Mello Franco e Carlos César de Oliveira Sampaio 35. No dia 4 o presidente da

República Epitácio Pessoa foi comunicado pelo seu ministro da Agricultura, Ildefonso

Simões Lopes, a conclusão do processo de indicação dos representantes dos operários e

dos patrões por suas respectivas entidades 36. Depois de o Ministério da Agricultura

haver recebido dos governos estaduais relações de entidades representativas de

trabalhadores e de patrões, publicou um edital de convocação a todas as 378 entidades

arroladas 37, enviando-lhes também telegramas. O edital, datado de 24 de setembro,

pedia que as entidades ali indicadas apresentassem as suas indicações até o dia 30

daquele mesmo mês.

Apenas 175 delas responderam pelos trabalhadores e outras 15 pelos patrões. Por

estes últimos, foi escolhido o industrial paulista Jorge Street, presidente do Centro

Industrial do Brasil, seguindo-se a ele as indicações de Roberto Simonsen, Andrade

Bezerra, Eduardo Gumercindo Fonseca, Gonçalves da Silva Pinto, Julio Ottoni e

Trajano de Medeiros. Quanto aos trabalhadores, o nome escolhido foi o de Saddock de

Sá.

Ao se examinar a relação das entidades votantes e os candidatos indicados pelos

trabalhadores observa-se que houve 7 indicações de votações que acabaram não se

concretizando: 21 entidades indicaram que não pretendiam participar, sob a indicação

de “não concorre”, 12 votos manifestando a intenção de votar no nome que fosse

indicado pelo ministro da Agricultura; 11 votos indicando que as entidades indicadas

acompanhariam as suas respectivas federações ou outra entidade sindical, as quais, no

entanto, não votaram; duas entidades que aderiam, mas não iriam votar; além de 4 votos

de entidades que curiosamente manifestaram sua intenção de votar com a “maioria”.

Assim, ocorreram 65 indicações nominais, das quais, pela ordem e com votação

superior a dois votos, seguiram-se ao histórico militante Saddock de Sá, pela ordem de

33 Os que representarão o nosso operariado no Congresso Trabalhista de Washington. Correio da Manhã.

Rio de Janeiro, 29/09/1919, p. 3. 34 A representação do nosso operariado na Conferência de Washington: Significativa repulsa ao

clericalismo. A Razão. Rio de Janeiro, 02/10/1919, p. 5. 35 FRANCO, Afonso Arinos de Melo Franco. Um estadista da República (Afrânio de Melo Franco e seu

tempo). Rio de Janeiro: Nova Aguilar; Instituto Nacional do Livro, 1976, p. 842. 36 A Conferência Trabalhista de Washington: As associações operárias e patronais indicam seus

representantes. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 05/10/1919, p. 6. 37 Ministério da Agricultura: Edital. A Razão. Rio de Janeiro, 25/09/1919, p. 7.

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decrescente de votação, os seguintes nomes: Müller dos Reis, Maurício de Lacerda,

Andrade Bezerra e Fausto Ferraz 38.

No dia 6 de outubro os dois delegados do governo partiram rumo à Conferência.

Conforme os usos e costumes nacionais partiram com assessores e familiares 39. Um

deles, Afrânio de Mello Franco assim definiu a sua missão:

Afirmo-lhe que não trataremos de adotar opiniões, de filiar-nos a partidos estrangeiros.

Vamos esforçar-nos, a fim de resolver os problemas contidos na ordem do dia assentada

em Versalhes e que está consignada no tratado de paz, de acordo com a situação político-

econômica do Brasil. Aceitaremos em parte as disposições, tratando de adaptá-las ao

nosso meio. 40

Já no que se refere ao delegado dos trabalhadores as coisas tomaram um rumo

diverso do esperado. Logo após ser eleito, Saddock de Sá procurou o ministro da

Agricultura, Simões Lopes, e buscou discutir com ele a questão da viagem dele e de

seus Conselheiros, inclusive, como indicava a Parte XII do Tratado de Versalhes, de

uma mulher, Amélia Rodrigues 41. A resposta de Simões Lopes deixou Saddock de Sá

desconcertado: devido à crise que o país atravessava não seria possível ao Governo

custear a viagem de Saddock de Sá e de seus conselheiros, embora o tenha

aparentemente feito com relação aos seus delegados. Simões Lopes sugeriu que os

operários deviam cotizar-se para pagar a viagem de Saddock e de seus Conselheiros.

Embora Saddock de Sá tenha recordado ao ministro que o artigo 399 da Parte XIII do

Tratado de Versalhes 42 deixava claro que a responsabilidades dos custos de viagem era

de responsabilidade exclusiva do Governo. Simões Lopes, depois de confabular com o

próprio presidente Epitácio Pessoa, acenou com a vaga promessa de “arranjar um

auxílio pequeno para a embaixada operária”. Saddock de Sá, no entanto, se manteve

irredutível e afirmou que somente iria se o governo o auxiliasse “com a cota que exige

sua representação a Washington” 43.

Enquanto aguardava a resposta do governo Saddock de Sá deu uma entrevista

onde, ressalvando que sua ida dependia de “circunstâncias posteriores, como: a

representação, o prestígio que o governo dê à minha pessoa como representante dos

38 Cf. A Conferência de Washington: Uma estatística das associações operárias e patronais do Brasil.

Jornal do Commercio. Rio de Janeiro, 08/10/1919, p. 5; e O Congresso Trabalhista de Washington e o

Ministério da Agricultura. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 09/10/1919, p. 4. 39 Partida de dois delegados. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 07/10/1919, p. 6; FRANCO, A. A. de M.

Op cit., p. 720. 40 O Congresso Trabalhista de Washington: O embarque da nossa delegação. O que nos disse o Sr. Mello

Franco. O Imparcial. Rio de Janeiro, 07/10/1919, p. 3. 41 O Congresso Trabalhista e o operariado brasileiro: Porque o Sr. Saddock não quer seguir para

Washington. O Imparcial. Rio de Janeiro, 18/10/1919, p. 12. 42 “Art. 399 – Cada um dos Membros pagará as despesas de viagem e de residência dos seus Delegados e

respectivos Conselheiros técnicos, assim como dos seus representantes que tomam parte nas sessões da

Conferência e do Conselho de administração, segundo os casos” (f. CASELLA, P. B.. Op. cit., p. 261). 43 O Congresso de Washington: Os operários brasileiros serão ou não ali representados? Complicações de

última hora. O Imparcial. Rio de Janeiro, 08/10/1919, p. 12.

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operários”, deixou expostas as ideias que pretendia defender em Washington. Defendeu

as 8 horas de trabalho e para as mulheres 7 horas (em razão da “necessidade de atender

os afazeres do seu lar e as exigências da família”); a licença maternidade (ou assistência

“à mulher em estado interessante”, como dizia); o salário mínimo. Além disso, numa

espécie de programa com laivos do que se chamou mais tarde de “keynesianismo”,

acreditava ser necessário propiciar meios para que os trabalhadores pudessem melhorar

o seu padrão de vida através de medidas que garantissem um barateamento de seu custo

de vida:

Esses meios são: habitação proletária; ampliação de favores às instituições profissionais,

como sejam: sindicatos e cooperativas; estabelecimento das grandes fábricas, oficinas e

usinas, nas proximidades dos campos de cultura, não só para quando houvesse falta de

trabalho se transformarem de operários industriais em operários rurais, como porque

diminuiria, por essa forma, as populações que se acumulam nas capitais, obrigação do

Estado empregar em serviços públicos, operários desocupados, finalmente, instituição de

mercados livres, onde os trabalhadores possam adquirir, quase pelo preço do custo, de 1ª

mão, as mercadorias de que necessitam.

Além disso, defendeu o seguro-desemprego, ao qual denominou de Seguro

Nacional, e as leis de acidentes do trabalho. Ao final da entrevista, embora sem maior

aprofundamento, Saddock de Sá, a propósito das questões evocadas pelos acidentes de

trabalho, deixa sob a mesa a proposta de criação do que ele chamou de “Carteira de

Previdência”, “para a qual concorreriam como contribuintes o capital, o trabalho e o

Estado” 44. Ou seja, já falava do que conheceríamos mais tarde como Previdência

Social. Enfim, Saddock de Sá, em que pesem suas idiossincrasias confessionais, seria

um promissor delegado brasileiro em Washington. No entanto, no dia seguinte Saddock

de Sá anunciou que abriria mão da incumbência que recebera 45. Para ele era

imprescindível que a sua delegação tivesse o mínimo de condições para a sua

consecução e os Conselheiros Técnicos eram essenciais para tanto. O governo ofereceu

apenas recursos a Saddock de Sá, com o que ele não concordou. Posteriormente, por se

sentir desprestigiado pelo governo brasileiro, Saddock de Sá em protesto renunciou à

patente de 2º tenente honorário 46.

Quase no mesmo momento a situação se repetiu com respeito ao delegado dos

patrões. No entanto ela ocorreu sem polêmicas públicas que permitissem evidenciar as

razões para a recusa de Jorge Street, embora não se possa negligenciar que um apelo

44 A delegação do Brasil ao Congresso Trabalhista de Washington: Palavras do delegado operário. O

Jornal. Rio de Janeiro, 09/10/1919, p. 3. 45 O Brasil no Congresso Trabalhista: O delegado dos operários não irá. O Jornal. Rio de Janeiro,

10/10/1919, p. 3; Congresso Trabalhista: O delegado dos operários brasileiros não tomará parte por falta

de recursos. A Época. Rio de Janeiro, 10/10/1919, p. 1; A representação operária do Brasil no Congresso

de Washington: O sr. Saddock de Sá declinou do convite. A Razão. Rio de Janeiro, 17/10/1919, p. 2; O

Congresso Trabalhista e o operariado brasileiro: Porque o Sr. Saddock não quer seguir para Washington.

O Imparcial. Rio de Janeiro, 18/10/1919, p. 12. 46 BATALHA, C. Op. cit., p. 144.

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lançado nas páginas da imprensa carioca a que aceitasse a delegação a Washington

prenunciasse sua disposição à renúncia 47. O governo tentou convidar o segundo

colocado, Roberto Simonsen, o qual, por sua vez, encontrando-se em Paris, também

recusou. Houve uma última tentativa com Júlio Ottoni, que na época se encontrava nos

Estados Unidos, mas a iniciativa se revelou infrutífera e a delegação do Brasil acabou

sem o delegado dos patrões em Washington 48.

O mesmo roteiro ocorrido com os patrões parecia repetir-se entre os

trabalhadores, com a recusa sistemática dos demais suplentes de Saddock de Sá. No

entanto, os meios trabalhistas acabaram surpreendidos com a aceitação do deputado

federal por Minas Gerais, Fausto Dias Ferraz, ao convite que lhe havia sido feito pelo

ministro da Agricultura para que aceitasse a participação em Washington como

delegado dos operários brasileiros 49.

Confirmava-se, por vias transversas, não exatamente pelos caminhos apontados na

denúncia, o vaticínio formulado pelo jornal O Imparcial. Este afirmara que “o governo

fez esguichos para contar com 4 votos certos quando devia ter apenas dois: Os operários

não têm representante” 50. Embora a matéria tratasse da eleição de Saddock de Sá, não

se pode dizer que não fosse o propósito do governo de enviar uma delegação de sua

absoluta confiança. O abalo causado pela matéria fez com que o ministério da

Agricultura divulgasse um desmentido em vários jornais da Capital, mas que

aparentemente não conseguiu desfazer a má impressão deixada com a denúncia de O

Imparcial 51. Já de acordo com um jornal de São Paulo teria havido uma manobra para a

escolha de Fausto Ferraz. Como o ministério da Agricultura, como vimos, recebeu uma

série de votos nas indicações que recebera para a escolha do delegado dos operários (os

12 votos identificados como “Indicação Ministério ou Ministro”) ele resolveu destiná-

los a Fausto Ferraz, que assim se transformou em delegado 52.

47 A representação do operariado e patronato brasileiros na Conferência de Washington. A Razão. Rio de

Janeiro, 08/10/1919, p. 1. O mesmo texto foi republicado como matéria paga, chamadas de “Publicações

a Pedido”, na edição de 09 de outubro do mais importante jornal econômico da Capital, o Jornal do

Commercio, à sua página 6. 48 A delegação do Brasil ao Congresso Trabalhista de Washington: Foi substituído o representante das

classes patronais. O Jornal. Rio de Janeiro, 12/10/1919, p. 2; O Brasil na Conferência Trabalhista de

Washington. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 23/10/1919, p. 10. 49 O Sr. Fausto Ferraz delegado dos operários. O Imparcial. Rio de Janeiro, 23/10/1919, p. 3; O Brasil no

Congresso Trabalhista de Washington: O representante dos operários será o sr. Fausto Ferraz. O Jornal.

Rio de Janeiro, 23/10/1919, p. 3; O Brasil na Conferência Trabalhista de Washington. Jornal do Brasil.

Rio de Janeiro, 23/10/1919, p. 8. 50 Como foi organizada a representação do Brasil à Conferência Geral do Trabalho – O governo fez

esguichos para contar com 4 votos certos quando devia ter apenas dois: Os operários não têm

representante. O Imparcial. Rio de Janeiro, 09/10/1919, p. 12. “Esguicho” era uma palavra utilizada para

descrever um processo de fraude existente nas viciadas e corruptas eleições brasileiras. Se o resultado

eleitoral não fosse o esperado, aplicava-se o “esguicho”, que designava a complementação fraudulenta da

votação faltante. 51 Conferência Internacional do Trabalho. O Paiz. Rio de Janeiro, 10/10/1919, p. 4. Ela também foi

reproduzida no Jornal do Commercio e no próprio O Imparcial, todas no mesmo dia. 52 O mandato do sr. Fausto Ferraz à Conferência de Washington. O Combate. São Paulo, 10/11/19191, p.

3.

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A imprensa não conseguiu disfarçar o mal-estar provocado nos meios políticos e

sindicais com a indicação de Fausto Ferraz. Nestes, por ocasião do 15º aniversário da

entidade e posse da nova diretoria da Associação dos Marinheiros e Remadores, o

deputado federal pelo Distrito Federal, Nicanor do Nascimento, então considerado um

defensor dos interesses dos trabalhadores, em seu discurso de saudação à nova diretoria

fez questão de recordar o papel de Fausto Ferraz em uma recente greve da categoria. Ali

Ferraz tentou apresentar-se como um mediador frente ao governo, mostrando-se, na

verdade, como alguém que “não é nem conhece nada do que aspiram os trabalhadores” 53. O escritor e jornalista Lima Barreto, em uma de suas crônicas publicadas na ocasião,

ironizou assim a indicação:

Não há homem mais trabalhista do que ele, sobretudo da língua; e, em tudo e por tudo,

essa escolha é acertadíssima. Na Conferência da América do Norte, o jovem operário

Fausto Ferraz, há bem pouco tempo iniciado em qualquer ofício manual, será o expoente,

como se diz na Academia, das nossas classes trabalhadoras. O que era preciso, era darem-

lhe um companheiro. Lembramos o banqueiro João Ribeiro. 54

Efetivamente as suas ligações com os interesses dos trabalhadores são nulas.

Quando se examina a sua trajetória, o que ressalta são a defesa de seus interesses

pessoais e a ânsia por manter-se sempre ao lado do poder constituído. Assim, o seu

nome é menção constante em audiências com presidente da república e ministros, em

especial o da Agricultura, pois era membro da Comissão de Agricultura e Indústria da

Câmara dos Deputados. Os seus negócios envolviam a criação de escolas de agricultura,

como a de Passa Quatro em seu estado de origem, Minas Gerais - vinculada ao

Patronato Agrícola Campos Salles - e o seu escritório de advocacia 55. Além de ser

conhecido pelas suas declarações grandiloquentes e vazias e manifestar pendores de

poeta, chegou a propor, por conta de críticas que lhe foram feitas por suas declarações

em favor do candidato eleito Epitácio Pessoa, a realização de um duelo com um redator

do Jornal do Brasil. Evidentemente, como se diz, tudo acabou em “pizza”. Isto sem

falar no fato de que seu nome também frequentava as páginas policiais, com denúncias

de achaque 56. Além disso, no mundo institucional era ex-presidente e sócio benemérito

da Liga do Comércio do Rio de Janeiro 57 e colaborador da revista Indústria e

Comércio. Enfim, era realmente um nome inapropriado para se apresentar como um

representante dos trabalhadores.

53 Tomou posse solenemente a nova diretoria da Associação dos Marinheiros e Remadores. A Razão. Rio

de Janeiro, 24/10/1919, p. 5. 54 BARRETO, Lima. Verdadeiro expoente. Careta. Rio de Janeiro, ano XII, nº 593, 01/11/1919, p. 17. 55 Escolas de Agricultura: Uma obra do deputado Fausto Ferraz. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro,

07/03/1919, p. 2; Uma propriedade adquirida para o Patronato de Passa Quatro. A Noite. Rio de Janeiro,

20/09/1919, p. 3; O assassínio de Belfort Duarte: Julgamento perante o Júri de Resende. Absolvição do

acusado. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 07/03/1919, p. 2; 56 O fim de um duelo. O Jornal. São Luiz, 27/05/1919, p. 1; Seduziu uma menor sua empregada: O

acusado diz estar sendo vítima de exploração. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 29/10/1919, p. 4. 57 Liga do Comércio. O Paiz. Rio de Janeiro, 19/06/1919, p. 5.

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Naturalmente as suas atribuições de delegado dos trabalhadores em Washington o

obrigaram a buscar criar um verniz para tanto. Para isso, às vésperas de sua partida para

Washington, em 31 de outubro de 1919, promoveu uma reunião na sede do Centro

União dos Calafates para ministrar uma “palestra sobre assuntos trabalhistas”. Ali

estavam presentes representantes do Grêmio dos Alfaiates Contramestres, Centro

Brasileiro dos Operários Municipais, Centro dos Calafates, Associação dos Cocheiros,

Carroceiros e Classes Anexa, União Culinária e Panificação Marítima, União dos

Operários Municipais, União dos Operários Ferradores e Sindicato Profissional

Operário do Meyer e Engenho Novo. Depois de repetir a ordem do dia da Conferência

de Washington, declarou que ali iria “casar o trabalho com o capital”, e coroou sua

palestra com a afirmativa de que não iria declinar os pontos principais do seu programa,

pois a “escassez do tempo lhe não permitiu ainda traçar, todavia procurará agir de

acordo com as necessidades dos trabalhadores”. Concluiu Fausto Ferraz sua palestra de

forma eleitoreira, afirmando que “se todos os operários soubessem ler e escrever e

fossem eleitores poderiam facilmente ter seus representantes nas corporações

legislativas e, assim, aplainado o terreno que solucionaria as suas questões” 58. No dia

seguinte Ferraz foi ao Palácio do Governo para despedir-se do presente Epitácio Pessoa 59. Para dar um ar triunfal à sua partida, Fausto Ferraz concedeu uma entrevista ao diário

A Razão, a qual fez traduzir para o francês e o inglês e a distribuiu na Conferência de

Washington e publicar nos anais da reunião. Ali qualificou suas próprias declarações

como sendo as “ideias que os trabalhadores do Brasil gostariam de ver publicadas nos

papéis da Conferência” 60. Espantado com o gesto do delegado brasileiro, na ocasião o

presidente da sessão afirmou não ver pertinência naquilo com as questões ali eram

tratadas, mas como não houve oposição do plenário ele permitiu a sua publicação.

Nessa entrevista Ferraz desenvolveu sua peculiar e vazia retórica. Iniciou-as afirmando

que considerava a sua missão em Washington

A mais árdua e difícil da minha vida, por isso que, após a hecatombe da guerra, que tudo

revolveu e atordoou na vida material dos povos e no domínio das ideias, a organização

que se deseja criar para estabelecer normas de pacificação e ordem do trabalho, abre um

horizonte tão vasto para as nações, que não é dado senão à inteligência privilegiada

divisá-lo até o fundo e compenetrar-se do seu papel e bem cumprir a sua missão.

Animado mais pela minha boa vontade, do que mesmo pelo pouco saber que tenho sobre

os assuntos que vão ser tratados naquela assembleia universal, onde, certamente, a

humanidade comparecerá pelos órgãos mais representativos da sociologia moderna,

58 O delegado dos operários à Conferência de Washington palestra com representantes de algumas classes

proletárias. A Razão. Rio de Janeiro, 01/11/1919, p. 5. 59 O sr. Fausto Ferraz no Catete. A Razão. Rio de Janeiro, 02/11/1919, p. 2. 60 O Brasil na Conferência de Washington: A Paz universal deve ter por base a justiça social, diz-nos o dr.

Fausto Ferraz. A Razão. Rio de Janeiro, 03/11/1919, p. 1-2; LEAGUE OF NATIONS. International

Labor Conference: First Annual Meeting, October 29, 1919 – November 29, 1919. Washington:

Government Printing Office, 1920, p. 193.

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entretanto o que me faltar em competência será suprido pelo amor e carinho com que sigo

em defesa de direitos e reivindicações que o trabalho da paz pôs em foco. 61

Após esse formidável compêndio de platitudes, Ferraz passou a discorrer sobre o

trabalho. Concedendo que existissem condições de trabalho “draconianas e lesivas à

dignidade humana” que produziam misérias e privações a milhões, o delegado dos

trabalhadores brasileiros reiterou a sua máxima de “casar o Capital e o Trabalho” para

fazer frente “às ideias subversivas que tentam arrancar o eixo do mundo dos gonzos da

paz e da ordem, para atirá-lo ao desconhecido, ao abismo insondável da guerra social, à

luta de extermínio entre o Capital e o Trabalho”. Em seguida Ferraz repetiu ao jornalista

trechos da Parte XIII do Tratado de Versalhes e afirmou a importância dos sindicatos,

repetindo mais uma vez o seu bordão preferido:

Peço vênia para declarar que a fórmula mais humanitária e pacificadora que eu conheço

seria aquela que interessasse o trabalho nos lucros do capital, mesmo porque o tratado de

paz, com alta sabedoria, proclama que o trabalho não deve ser considerado como uma

mercadoria ou um artigo de comércio.

E concluiu sua arenga vazia, despedindo-se como um verdadeiro mitômano:

Tive a ventura de trocar ideias com representantes de mais de 30 mil operários nesta

capital, mandei cartão de despedida a todas as associações conhecidas de nosso país e,

assim, em contato direto com as classes proletárias e auxiliado pelo seu jornal, que se bate

por elas, poderei ir com o ânimo formado pela investidura da honrosa delegação. Desejo

ardentemente acertar e cumprirei lealmente o meu dever. 62

No dia seguinte à publicação da entrevista em A Razão, em 04 de novembro,

Fausto Ferraz partiu rumo a Washington. Seguindo os usos e os costumes nacionais foi

também acompanhado de familiares 63.

Com a ida do parlamentar mineiro, completou-se a delegação brasileira à

Conferência Internacional do Trabalho: dois delegados do governo (Afrânio de Mello

Franco e Carlos César de Oliveira Sampaio) e um delegado dos trabalhadores (Fausto

Dias Ferraz), ficando o país sem o delegado dos patrões. Esta formação incompleta

fazia com que o delegado dos trabalhadores tivesse direito a voz, mas não o direito de

voto 64. Muitos anos depois, um biógrafo de um dos delegados, assim se referiu à

delegação brasileira a Washington: “A delegação era política e não técnica. O único

61 O Brasil na Conferência de Washington: A Paz universal deve ter por base a justiça social, diz-nos o dr.

Fausto Ferraz. A Razão. Rio de Janeiro, 03/11/1919, p. 1. 62 O Brasil na Conferência de Washington: A Paz universal deve ter por base a justiça social, diz-nos o dr.

Fausto Ferraz. A Razão. Rio de Janeiro, 03/11/1919, p. 2. 63 Viajantes. O Paiz. Rio de Janeiro, 03/11/1919, p. 4. 64 O primeiro parágrafo do artigo 390 da Parte XIII do Tratado de Versalhes estabelecia o seguinte:

“Quando um dos Membros não tenha indicado um dos Delegados não governamentais a que tem direito,

o outro Delegado não governamental poderá tomar parte nas discussões da Conferência, mas não terá o

direito de votar” (cf. CASELLA, P. B.. Op. cit., p. 258).

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delegado compatível com as suas funções era Mello Franco. Carlos Sampaio poderia ser

melhor considerado representante do patronato, e Fausto Ferraz não o era dos operários” 65.

Apesar de terem saído bem antes da Conferência, os dois delegados do governo

enfrentaram dificuldades no deslocamento e acabaram chegando um pouco antes de

Ferraz, que saiu do Brasil depois de já iniciada a reunião de Washington. A Conferência

iniciara seus trabalhos no dia 29 de outubro, na sede da União Pan-Americana, e os seus

trabalhos se desenrolaram por praticamente até um mês, até 25 de novembro. Ao longo

desse prazo se desenrolaram 25 sessões, além das reuniões de trabalho das onze

comissões especiais 66, nas quais o Brasil não tomou parte por não estar presente nem na

abertura da Conferência do Trabalho, nem na ocasião de sua formação e tampouco no

desenrolar de seus trabalhos. A delegação brasileira, enfim, somente teve registrada pela

primeira sua presença em plenário na 17º sessão, em 24 de novembro de 1919, no caso

dos delegados do governo 67, e na 20ª sessão, e em 26 de novembro de 1919, no caso do

delegado dos trabalhadores 68. De todo o modo, não é de todo ocioso interrogar-se por

quais razões as delegações de países como a Argentina e o Uruguai conseguiram chegar

a Washington para a abertura dos trabalhos.

Pode-se dizer que indubitavelmente a delegação teve uma atuação pífia. Além de

tudo, de acordo com o biógrafo de um deles, a delegação fez um acordo: “Os três

delegados brasileiros intervieram poucas vezes nos debates, havendo combinado –

segundo declarou Carlos Sampaio – que só falariam quando fosse indispensável, para

não prejudicarem o andamento dos trabalhos” 69. As poucas intervenções feitas pela

delegação não foram no sentido de defender interesses dos trabalhadores brasileiros.

Carlos Sampaio, na questão da jornada de 8 horas, tentou sem sucesso adiar a discussão

da questão para outra reunião da OIT e incluir o Brasil entre os chamados países

especiais. Estes eram países “onde as condições climatéricas ou o incompleto

desenvolvimento industrial tornassem particularmente onerosa a aplicação” 70 da

jornada de 8 horas, e sob seu abrigo foram colocados Japão, Índia, China, Pérsia, Sião e

65 FRANCO, A. A. de M. Op cit., p. 720. 66 Projetos, Verificação de Poderes, Pedidos de Admissão, Regimento Interno, Redação, Horas de

Trabalho, Países Especiais, Desemprego, Trabalho de Mulheres, Trabalho de Crianças e Trabalhos

Insalubres (Cf. BEZERRA, Andrade. O Tratado de Versalhes e a Questão Social. In: BRASIL. Câmara

dos Deputados. Documentos Parlamentares: Legislação social – Vol. 3. Trabalhos da Comissão Especial

de Legislação Social (1919-1921). Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal do Commercio, 1922, p. 524). 67 Sobre as razões do atraso de Franco e Sampaio, ver LOPES, Ildefonso Simões. Conferência

Internacional do Trabalho e acidentes do trabalho. In: _____. Relatório apresentado ao Presidente da

República pelo ministro de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio. Rio de Janeiro:

papelaria e Tipografia Villas-Boas, 1920, p. 350. 68 De acordo com declarações dadas à imprensa Fausto Ferraz - além do fato de ter saído do Brasil depois

de a Conferência já ter sido iniciada em Washington, como vimos acima - teria se atrasado, “devido à

moléstia de meu filho, fui obrigado a ficar em Nova York alguns dias”, cf. A Conferência Anual do

Trabalho vista de perto: O que nos manda dizer o delegado dos operários brasileiros – Uma sessão do

solene congresso. A Razão. Rio de Janeiro, 27/121919, p. 1. 69 FRANCO, A. A. de M. Op cit., p. 722. 70 BEZERRA, A. Op. cit., p. 568.

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África do Sul. Evidentemente as pretensões de Sampaio simplesmente buscavam burlar

a diretiva, mas, no entanto, pelo fato de a delegação não ter participado das discussões e

de consequentemente não ter inscrito o Brasil entre eles, a tentativa fracassou e o país

acabou não sendo incluídos entre os chamados países especiais.

Já Afrânio de Mello Franco interveio para questionar um ponto que se levantara

na discussão do desemprego. Depois de garantir que no Brasil havia “perfeita

igualdade” entre os trabalhadores brasileiros e estrangeiros, Franco manifestou sua

discordância com respeito à formação de um organismo que ali se propunha para a

defesa dos trabalhadores imigrantes desempregados, que interpretava como sendo uma

interferência estrangeira nos interesses de seu país. Como observaria tempos depois

Maurício de Lacerda a propósito da afirmação de Franco, ele buscava encobrir as

medidas repressivas, de caráter ideológico, voltadas contra os trabalhadores estrangeiros

e que resultavam em severa repressão e em massivas expulsões 71. Além disso, em sua

intervenção, Franco parecia também preocupado com certos interesses comerciais:

No entanto, não vejo como se pode proibir a indivíduos ou empresas o exercício do

direito de manter e exercer comercialmente uma agência de emprego para qualquer

propósito honesto e lícito, uma vez que esta liberdade lhes é concedida integralmente por

cláusulas explícitas em nossa constituição. 72

Por fim, Franco fez questão de deixar claro o que ele pensava sobre a jornada de

oito horas, realçando o seu ponto de vista liberal: “Quanto à jornada de trabalho

masculina, penso que devemos respeitar a liberdade contratual e a independência dos

trabalhadores que desejam contratar os seus serviços por uma jornada mais longa e com

mais lucro” 73.

Ferraz, por sua parte, além da embaraçosa questão da inserção nos anais da

Conferência de sua entrevista dada pouco antes de sua partida, e acima já referida,

simplesmente mentiu a todos os presentes na Conferência ao afirmar que “a jornada de

oito horas já foi oficialmente conquistada no Brasil”. Algo efetivamente comprometedor

para uma pessoa que ostentava o título de representante dos trabalhadores do Brasil.

Além disso, nas votações das convenções e recomendações discutidas na Conferência,

como vimos acima, Ferraz não pôde votar em razão da não presença do delegado dos

patrões brasileiros, não havendo, portanto, registro de voto seu nos anais da Conferência 74. Nas 22 votações das quais a delegação brasileira governamental tomou parte,

aprovando todas as convenções e recomendações da Conferência, em sua maioria

71 LACERDA, Maurício de. A evolução legislativa do direito social brasileiro. 3ª ed. Rio de Janeiro:

Nova Fronteira, 1980, p. 231. 72 LEAGUE OF NATIONS. Op. cit., p. 192. 73 Ibidem. 74 A Conferência Anual do Trabalho vista de perto: O que nos manda dizer o delegado dos operários

brasileiros – Uma sessão do solene congresso. A Razão. Rio de Janeiro, 27/121919, p. 1.

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apenas Carlos Sampaio votava solitariamente, tendo Franco votado em companhia de

Sampaio em 6 ocasiões, e em apenas uma ele mesmo votou isoladamente.

Ao final dos trabalhos, com os votos brasileiros, foram aprovadas 6 convenções e

6 recomendações 75. No proceder institucional com respeito às conclusões da

Conferência de Washington elas deveriam ser levadas ao Congresso Nacional para

serem sancionadas para que entrassem em vigor, garantindo a possibilidade de atuação

da OIT em questões relativas ao conteúdo dessas medidas. No entanto, como se sabe,

somente muito mais tarde foram aprovadas no Brasil decisões da Organização

Internacional do Trabalho. Foi somente em 1935 que pela primeira vez se aprovaram no

parlamento brasileiro medidas da OIT na Brasil e eram elas quatro das convenções

aprovadas em 1919: Convenção concernente ao emprego de mulheres antes e depois do

parto; Convenção concernente ao trabalho noturno das mulheres; Convenção fixando a

idade mínima de admissão das crianças nos trabalhos industriais; e a Convenção

concernente ao trabalho noturno das crianças nas indústrias.

Poucos anos depois o ministro das Relações Exteriores do Brasil externava um

comentário em que deixava clara a irrelevância da OIT para o país, restringindo-se ela,

eventualmente, apenas como um local de ocupação de cargos e vantagens necessários

aos miúdos interesses da política, como assinala Garcia:

Ao ser informado pela delegação do Brasil em Genebra de que uma vaga havia sido

aberta para o Conselho administrativo do Bureau Internacional do Trabalho, o ministro da

Relações Exteriores, Félix Pacheco, descartou desde o princípio a hipótese de candidatura

do Brasil por entender que as questões de trabalho não eram tão graves no país que

exigissem “atenção mais desvelada” que aquela já dispensada internamente pelo

Congresso Nacional, criando a Comissão de Legislação Social, ou pelo governo federal,

com a instituição do Conselho Nacional do Trabalho. “Precisamos não criar, por

divertimento teórico, problemas que aqui não existem, ou que apenas mal se esboçam por

enquanto em nosso meio”, assinalou Pacheco. Evidência disso seria a maneira irregular

com que o Brasil comparecia às conferências internacionais do trabalho, revelou o

chanceler brasileiro, sem nunca haver feito “distinção adequada” entre os delegados

oficiais, patronais e operários. 76

75 Convenção limitando o trabalho nas indústrias a oito horas por dia e a quarenta e oito horas por

semana; Convenção sobre o desemprego; Convenção concernente ao emprego de mulheres antes e depois

do parto; Convenção concernente ao trabalho noturno das mulheres; Convenção fixando a idade mínima

de admissão das crianças nos trabalhos industriais; Convenção concernente ao trabalho noturno das

crianças nas indústrias; Recomendação sobre o desemprego; Recomendação concernente à reciprocidade

de tratamento dos trabalhadores estrangeiros; Recomendação à criação de um serviço público de higiene;

Recomendação concernente à proteção das mulheres e dos menores contra o saturnismo; Recomendação

concernente à prevenção do carbúnculo; Recomendação concernente à aplicação da Convenção

Internacional adotada em Berna, em 1906, sobre a proibição do emprego do fósforo branco na indústria

dos fósforos. 76 GARCIA, E. V. Op. cit., p. 501.

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Na volta ao Brasil a delegação se separou. Enquanto Afrânio chegou ao Brasil em

meados de janeiro de 1920 77, Carlos Sampaio ainda permaneceu nos Estados Unidos

para representar o Brasil na 2ª Conferência Financeira Pan-Americana em fins de

janeiro de 1920, retornando ao Rio de Janeiro nos últimas dias de fevereiro 78. Ao final

da Conferência Fausto Ferraz se desfez da sua fantasia de representante dos

trabalhadores brasileiros. Depois de estabelecer conversações com “notáveis homens

políticos, industriais e comerciantes americanos”, lastimou que não fosse possível

encontrar em Washington mostruários das riquezas naturais do Brasil “para o oportuno

desenvolvimento do intercâmbio entre o Brasil e os Estados Unidos”. Além disso, como

resultados destas “conversações”, Ferraz recomendou ao ministério da Agricultura que

publicasse no boletim da União Pan-Americana informações detalhadas sobre as

possibilidades de aquisição de terras no Brasil 79. Logo depois Fausto Ferraz manifestou

sua indignação com o desperdício de um milhão de dólares na propaganda do café

brasileiro que não mencionava a origem do produto e que iria, após sua volta ao país,

“discutir no Parlamento essa situação, em defesa dos interesses do Brasil” 80. Em

seguida realizou uma “excursão pelo interior do Estado de Nova York, em propaganda

dos interesses brasileiros na América do Norte” 81. Por fim, participou de um banquete

de homenagem, ao lado de Afrânio de Mello Franco, com empresários e banqueiros

estadunidenses, no qual “pronunciou um eloquente discurso, em inglês, fazendo brinde

de honra aos chefes das duas nações amigas” 82. Fausto Ferraz prosseguiu em viagem

particular à Europa, retornando ao Brasil em fins de março de 1920 83.

À época houve algumas poucas críticas nas páginas de nossa imprensa sobre a

atuação da delegação brasileira na Conferência do Trabalho em Washington. Em uma

dela, feita em editorial em um jornal que estava muito longe de ser um defensor

ardoroso de questões trabalhistas, em suas indagações acabava realçada a indiferença

dos governantes do país em relação à Conferência do Trabalho:

Ninguém sabe ao certo o que fizeram os nossos delegados. Nem a mais vaga notícia da

sua ação na América do Norte chegou até nós, constando até que um deles, o Sr. Fausto

Ferraz, aliás, de duvidosas credenciais para falar em nome do proletariado brasileiro, nem

mais em função encontrou a Conferência.

77 No Ministério da Viação: Várias notícias. O Jornal. Rio de Janeiro, 17/01/1920, p. 7; Notas mundanas.

O Jornal. Rio de Janeiro, 17/01/1920, p. 9. 78 Notas mundanas: Hóspedes e viajantes. O Jornal. Rio de Janeiro, 26/02/1920, p. 9. 79 O Brasil na Conferência do Trabalho. O Jornal. Rio de Janeiro, 09/12/1919, p. 5. 80 Que bela propaganda! Gastos inúteis do Brasil. O Jornal. Rio de Janeiro, 16/12/1919, p. 5. 81 A Conferência Internacional do Trabalho: A propaganda do Brasil. O Jornal. Rio de Janeiro,

28/1219191, p. 6. 82 Um banquete, em Washington, ao Dr. Fausto Ferraz. O Imparcial. Rio de Janeiro, 21/12/1919, p. 16;

Industriais norte-americanos prestam homenagem ao Brasil na pessoa do dr. Fausto Ferraz. A Razão. Rio

de Janeiro, 21/12/1919, p. 5; Em homenagem ao Brasil: Um banquete oferecido ao Sr. Fausto Ferraz. O

Jornal. Rio de Janeiro, 21/12/19191, p. 16. 83 O Sr. Deputado Fausto Ferraz chegou da Itália: Uma mensagem aos estudantes brasileiros. A Noite. Rio

de Janeiro, 24/03/1924, p. 2.

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Não nos parece que esses fatos possam ficar em silêncio. O Tesouro pagou uma espécie

de embaixador para representar o Brasil num determinado Congresso, onde iam ser

debatidos assuntos de interesse vital para todo o país. Esses homens criaram obrigações

iniludíveis para com a nação, à qual deveriam informar constantemente dos seus gestos e

palavras, para que aqui fossem discutidos. Por que não o fizeram? Que houve, afinal, na

Conferência de Washington? Que interesses nacionais advogaram os nossos

representantes? O governo bem poderia satisfazer a justa curiosidade pública, dando-lhe

informações e explicações sinceras sobre o estranho caso. 84

Já com relação ao delegado dos operários brasileiros as críticas foram mais

acerbas:

Agora, após a partida do deputado mineiro, as referidas sociedades protestam contra a

utilização legal dada aos seus votos e afirmam não reconhecer o mandato conferido ao dr.

Fausto Ferraz. E, assim, unindo-se às 205 que se abstiveram, formando um total de 310

associações, promovem, em sinal de protesto coletivo, a reunião, em dezembro próximo,

do 3º Congresso Operário Brasileiro. 85

Reveladora do desinteresse a que os detentores do trabalho votavam às questões

do trabalho e sociais, a atuação dos representantes do Brasil na primeira conferência

internacional do trabalho iluminou os seus compromissos apenas com os pequenos

interesses do cotidiano de miseráveis e ínfimas disputas levadas a cabo até os nossos

dias. Em uma reunião atemporal para comentar a Conferência de Washington

certamente Epitácio Pessoa, Ildefonso Simões Lopes, os cafeicultores paulistas, Michel

Temer e Paulo Guedes estariam às gargalhadas e diriam: “Esse delegado dos

trabalhadores do Brazil é uótimo, primo! E nem vota!”.

RESUMO

No ano de 1919, finda a I Guerra Mundial, o Brasil enviou delegações tanto à Conferência de

Paz de Paris, onde foi criada a Organização Internacional do Trabalho - OIT, como à Primeira

Conferência Internacional da OIT, ocorrida em Washington. Em ambos os eventos, nas questões

relativas ao mundo do trabalho, a participação das delegações brasileiras beirou a nulidade, seja

nas intervenções, seja nas propostas. Em Paris, a delegação brasileira, tutelada pela chamada

doutrina Monroe, voltou suas atenções apenas à busca de ressarcimento de dívidas do governo

alemão com os cafeicultores paulistas e à incorporação de navios tomados fraudulentamente à

Alemanha pela marinha brasileira. Já em Washington, depois de interditar a presença do

representante dos trabalhadores brasileiros - o qual foi substituído por um obscuro parlamentar

sem quaisquer vínculos com entidades classistas -, a delegação brasileira atuou no sentido de

apoiar propostas que obstaculizavam a organização dos trabalhadores e a defesa de seus direitos,

ocultando-se em alegada defasagem do Brasil em relação aos países mais desenvolvidos. Diante

desse quadro ressalta o precário compromisso - atestado ao longo da centenária existência da

OIT - que o Brasil teve em relação à questão da estruturação do mundo do trabalho frente à

ordem capitalista.

84 Conferência Trabalhista de Washington. O Jornal. Rio de Janeiro, 05/12/1919, p. 1. 85 O mandato do Sr. Fausto Ferraz à Conferência de Washington. O Combate. São Paulo, 10/11/1919, p.

3. [O referido congresso realizou-se em abril de 1920, dk.].

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ABSTRACT

In 1919, after the end of the First World War, Brazil sent delegations both to the Paris Peace

Conference, where the International Labor Organization - ILO was created, and to the First

International ILO Conference, held in Washington. In both events, in matters relating to the

world of work, the participation of Brazilian delegations was on the verge of nullity, either in

the interventions or in the proposals. In Paris, the Brazilian delegation, protected by the so-

called Monroe doctrine, turned its attention only to the search for repayment of debts of the

German government with coffee growers from São Paulo and to the incorporation of ships taken

fraudulently to Germany by the Brazilian navy. In Washington, after banning the presence of

the representative of Brazilian workers - who was replaced by an obscure parliamentarian

without any ties to class entities -, the Brazilian delegation acted to support proposals that

hindered the organization of workers and the defense of their rights, concealing themselves in

an alleged lag of Brazil in relation to the more developed countries. In view of this situation, it

underscores the precarious commitment - attested throughout the centenary existence of the ILO

-, which Brazil had in relation to the question of structuring the world of work in the face of the

capitalist order.

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ANEXO

CANDIDATOS OPERÁRIOS

NOME ENTIDADE VOTOS Saddock de Sá (1º) Grêmio dos Maquinistas do Maranhão – S. Luiz (MA)

União Empregados do Comércio do Rio de Janeiro (DF) – ou

Andrade Bezerra

Liga Operária Beneficente – Florianópolis (SC)

Caixa de Pensões dos Operários da Casa da Moeda (DF)

Círculo Operário União (DF)

Círculo dos Operários da União – Sucursal Cuiabá (MT)

Cooperativa Trabalhadores Católicos Brasileiros (DF)

Associação Operária de Iguape – Iguape (SP)

União Beneficente Fábrica de Cartuchos (DF)

Centro Beneficente Operários Municipais (DF)

Centro União Empregados da E.F.C.do Brasil (DF)

Club Operário S. José de Campinas (SP)

Sociedade União dos Artistas (DF)

Sociedade União dos Sapateiros (DF)

União dos Motoristas em Guindastes Elétricos (DF)

Caixa de Socorros 16 de Outubro (DF)

Liga Operária de Santa Catarina (SC)

Centro Artístico Cearense (CE)

Sociedade Artística e Beneficente – Crato (CE)

Sociedade Deus e Mar (CE)

Sociedade União dos Sapateiros (?)

Centro Operário da Gávea (DF)

Centro Nacional dos Empregados em Escritório (DF)

24

Não concorre (2º) Sociedade União Mecânicos de Itagipe (BA)

Operários de São João D’El Rey (MG)

Sociedade Operária Fiscal Humberto I (DF)

Centro dos Confeiteiros (DF)

Liga Operária Varginense (MG)

Sociedade dos Choferes (SP)

Societá Beneficente di Mutuo Socorro (SP)

Sociedade Marítima Beneficente (?)

Sindicato Profissional Operários da Gávea (DF)

Associação dos Operários América Fabril (DF)

Associação Geral de Auxílios Mútuos da E.F.C.do Brasil

Sociedade Corrigueiros – Curitiba (PR)

Associação Tipográfica Paulistana (SP)

Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas (SP)

Associação Protetora Homens do Mar (DF)

Associação Humanitária Operária Jundiaiense (SP)

Sociedade Operária Recreativa (?)

Sociedade Operária Beneficente – Passo Fundo (RS)

Centro dos Empregados em Ferrovias (DF)

Sociedade Aliança, União Mútua Copeiros, Cozinheiros etc. (SP)

Sociedade Beneficente Amparo Operário – Niterói (RJ)

21

Müller dos Reis (3º) Grêmio dos Maquinistas da Marinha Civil (DF)

Associação Cocheiros e Carroceiros Classes Anexas (DF)

Associações Marítimas e Anexas (DF)

13

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NOME ENTIDADE VOTOS Cooperativa Oficiais da Marinha Civil (DF)

Sociedade União dos Foguistas (DF)

União Operária de S. Francisco (SC)

Associação Marinheiros e Remadores (DF)

Centro Marítimo dos Empregados em Câmara (DF)

Associação dos Carpinteiros Navais (DF)

Sociedade H. E. T. Trapiche e Café (DF)

Centro União dos Calafates (DF)

União dos Trabalhadores Cais do Porto (DF)

União dos Trabalhadores Municipais (DF)

Ind. Ministério ou

Ministro (4º)

Centro Operário de Castro (PR)

União Operária de Santos (SP)

Sociedade Operária de Araras – Araras (SP)

Centro Operário do Rio Claro (SP)

Liga Operária de Ferros (MG)

Sociedade Empresa Bondes, Luz e Força Elétrica (BA)

Sociedade dos Cabeleireiros (BA)

Sociedade Victorio Emmanuele (DF)

Sociedade Operária Humanitária – Friburgo (RJ)

Associação Pátria – Vitória (ES)

Societá Operaia Tacio Italiano (SP)

Liga Operária Beneficente – Santa Rita de Sapucaí (MG)

12

Maurício de Lacerda

(5º)

Liga Protetora dos Empregados Trocadero (BA)

Centro Operário Beneficente (DF)

Sociedade Operária de Pindamonhangaba (SP)

Sociedade Internacional Operária – S. Roque (SP)

Liga Homens do Trabalho – Barbacena (MG)

Liga Operária Além-Paraíba (MG)

Sociedade União dos Pintores (BA)

União Artística de Iguatu (SP)

Centro Operário de Itabuna (BA)

Sociedade Operária de Iguape (SP)

União Operária dos Sapateiros – Maceió (AL)

11

Acompanha a

Federação (?) (6º)

Assembleia Empregados Comércio e Indústria (?)

Aliança dos Trabalhadores em Marcenaria e Classes Anexas (?)

Aliança L. Manjini (DF)

Grêmio dos Operários de Corumbá (MT)

Sociedade Artístico Beneficente – Crato (CE) – ver Andrade

Bezerra

Associação dos Maleiros e Artes do Couro (DF)

União dos Chapeleiros (DF)

União dos Operários em Fábricas de Tecidos (DF)

União Geral dos Metalúrgicos (?)

9

Andrade Bezerra (7º) Confederação S. Catarina Trabalho – BH (MG)

União Empregados do Comércio do Rio de Janeiro (DF) – ou

Saddock de Sá

Sociedade Artística e Beneficente – Crato (CE) – ver Acompanha a

Federação (?)

União Operária Católica de Belo Horizonte (MG)

União Artística do Crato (CE) ou Centro Operário Católico (?)

União Popular – Belo Horizonte (MG)

Liga dos Empregados do Comércio (DF)

7

Fausto Ferraz (8º) Federação Operária de Ouro Preto (MG)

Associação dos Empregados no Comércio de Minas Gerais – Belo

Horizonte (MG)

6

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NOME ENTIDADE VOTOS Confederação Operária de Belo Horizonte (MG)

Grêmio Espanhol de Socorros Operários – Belo Horizonte (MG)

Associação Beneficente Tipográfica – Belo Horizonte

Sociedade Italiana – Belo Horizonte (MG)

Maioria (9º) Centro Proletário Industrial – Garanhuns (PE)

União Operária de Bagé – (RS)

Junta Operária de Mariana – Marina (MG)

Sociedade Operária – Januária (MG)

4

Adere, não vota

(10º)

Sociedade Operária Jaguarense – Jaguarão (RS)

Sociedade Cooperadora Caruarieiense (RN)

2

Antônio José Dias

Carvalho (11º)

União dos Operários Municipais (DF)

União Operários Municipais (DF)

2

Costa Rego (12º) Montepio dos Artistas de Penedo (AL)

Montepio dos Artistas – S. Miguel (AL)

2

Francisco Neves de

Almeida (13º)

União Operários Estivadores (DF)

União dos Estivadores – Vitória (ES)

2

Otavio Mangabeira

(14º)

Sociedade 24 de Julho (BA)

União Beneficente dos Alfaiates (BA)

2

Paulo de Frontin

(15º)

União Operária de Mato Grosso e suas filiais (MT)

Sociedade Operária de Pirapora – Pirapora (MG)

2

Pedro Carlos da

Silva (16º)

Liga Operária Cataguense – Cataguases (MG)

Associação Operária do Juiz de Fora (MG)

2

Virgílio de Mattos

(17º)

Sociedade União dos Foguistas da E.F.C.do Brasil

Caixa dos Bagageiros da E.F.C.do Brasil (DF)

2

Abdias Neves (18º) União Força Trabalho (PI) 1

Abílio Guimarães

Santa Anna (19º)

Caixa de Pensões dos Operários da Casa da Moeda (DF) 1

Abreu Lopes de

Araújo (20º)

Centro Operário das Pedreiras (DF) 1

Acompanha União

Operária Fábrica de

tecidos (DF) (21º)

Associação Operários de Petrópolis – Petrópolis (RJ) 1

Adelino Miranda

(22º)

Sociedade dos Chapeleiros de Sorocaba (SP) 1

Alberto Konder (23º) Sociedade Operária 14 de Julho – Petrópolis (RJ) 1

Alcides Maia (24º) Sociedade Operária de Arroio Grande (RS) 1

Alfredo Braga de

Andrade (25º)

Sociedade dos Operários de Maragogipe (BA) 1

Alfredo Ismael Silva

(26º)

União Culinária Panificação (DF) 1

Álvaro Rodrigues

(27º)

Centro dos Choferes do Rio de Janeiro (DF) 1

Amantino Câmara

(28º)

Associação União dos Laboradores – Itajaí (SC) 1

Antônio Braga (29º) Sociedade Operária S. João da Barra (RJ) 1

Attila Neves (30º) Sociedade Operária de Itapira (SP) 1

Bernardino de

Oliveira (31º)

Sociedade Cooperativa Operária – Canasvieiras (BA) 1

Carlos Dias (32º) Associação Gráfica (DF) 1

Cooperativa

Trabalhadores

Católicos de S. Paulo

(33º)

Centro Operários Católicos Brasileiros (SP) 1

D. S. Jardim (34º) Sociedade Operária de Catalão (GO) 1

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NOME ENTIDADE VOTOS Deoclydes Baptista

de Carvalho (35º)

Caixa Auxiliar dos Guarda-Freios da E.F.C.do Brasil 1

Dias Martins (36º) Sociedade Piracicaba (SP) 1

Eduardo Guimarães

Fonseca (37º)

Centro de indústria de Calçado e Comércio de Couros (?) 1

Ernesto de Moraes

(38º)

Grêmio Operário Internacional Santa Rosa (SP) 1

Fernando Mendes de

Almeida (39º)

União Operária Maranhense (MA) 1

Fernando Rangel

(monsenhor) (40º)

Associação Católica Operária – São João D’El Rey (MG) 1

Flor Giglio (41º) Centro Operário de Iguape (SP) 1

Francisco Sá (42º) União Operária Beneficente – Diamantina (MG) 1

Francisco Valladares

(43º)

Liga Operária de Cataguases – Cataguases (MG) 1

Frederico José

Rodrigues (44º)

Protetora dos Cocheiros (DF) 1

Georgino Avelino

(45º)

Sociedade União Artística Operários – Canguretama (RN) 1

Guilherme Vassen

(padre) (46º)

Círculo Operário S. José – Fortaleza (CE) 1

Gustavo Braga (47º) Sindicato Profissional Artistas da Guerra (?) 1

J. Gonçalves Vieira

Cruz (48º)

União Proteção dos Catraieiros (?) 1

J. P. Fonseca (49º) Montepio dos Operários Civis – Bangu (DF) – e Luiz Gonzaga da

Silva França

1

João Lyrio (50º) Societá Nuova Italia (DF) 1

João T. Barbosa

(51º)

Centro dos Carteiros (DF) 1

José Barreto Costa

Rodrigues (52º)

Associação Tipográfica Maranhense (MA) 1

José Guedes de

Mello (53º)

Operários Imprensa Nacional (DF) 1

José Nieppe Silva

(54º)

Sociedade Protetora dos Operários de Curitiba (PR) 1

Leonardo M. da

Costa (55º)

Sociedade Animadora Cooperativa dos Ourives (DF) 1

Luiz de Corrêa de

Brito (56º)

Corporação Operária – Camaragibe (PE) 1

Luiz Domingues

(57º)

Centro Artístico Operário Maranhense (MA) 1

Luiz Gonzaga da

Silva França (58º)

Montepio dos Operários Civis – Bangu (DF) – e J. P. Fonseca 1

Manoel Abreu Moniz

(59º)

Montepio dos Artistas de Maceió (AL) 1

Mário Hermes (60º) Centro Operário da Bahia (BA) 1

Mello Franco (61º) Sociedade Pessoal da E.F. Baturité (CE) 1

Mendes de Almeida

(62º)

Centro dos Operários – Cachoeiro de Itapemirim (ES) 1

Miguel Calmon (63º) Sociedade Operária Curuçá (BA) 1

Mirandolino Farias

(64º)

Centro Artístico Ipuense – Ipu (CE) 1

Nicanor do

Nascimento (65º)

União dos Choferes – Belém (PA) 1

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NOME ENTIDADE VOTOS Oscar Soares (66º) Sociedade Artística Operária Mecânicos e Liberais (PB) 1

Pedro Costa (67º) Centro dos Operários Católicos (SP) 1

Rogaciano Teixeira

(68º)

União dos Operários de Caetité (BA) 1

Schmidt (senador)

(69º)

União Operária de S. Francisco (SC) 1

Simeão Leal (70º) Centro dos Artistas – Alagoa Grande (PB) 1

Souza Castro (71º) Sociedade União dos Foguistas – Belém (PA) 1

Túlio Jayme (72º) Sociedade S. Sebastião União dos Operários (GO) 1

Fontes: O Congresso Trabalhista de Washington e o Ministério da Agricultura. Correio da Manhã. Rio

de Janeiro, 09/10/1919, p. 4; A Conferência de Washington: Uma estatística das Associações operárias e

patronais do Brasil. Jornal do Commercio. Rio de Janeiro, 08/10/1919, p. 5.