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XI Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia: Filosofia e Psicologia “Homenagem à Profª Carmen Beatriz Milidoni” ISSN: 2317-5877 Resumos Educação como desbarbarização: a crítica ao fascismo nas reflexões filosófico- educacionais de Theodor W. Adorno Amanda Forner [email protected] Resumo: Durante a fase norte-americana do Instituto de Pesquisas Sociais, o filósofo alemão Theodor W. Adorno, no contexto da pesquisa de natureza interdisciplinar sobre o fenômeno da personalidade autoritária, escreveu um importante artigo empregando conceitos da psicanálise freudiana para refletir sobre o fascismo em solo norte-americano. Nessa reflexão, Adorno propôs, como implicação do envolvimento emocional das massas com o líder, certo tipo de envolvimento farsesco, denominado como impostura, que teria um papel fundamental para explicar a adesão a movimentos de massa. Alguns anos depois, em seus escritos no campo educacional, o filósofo enfatizou a necessidade de desbarbarização no campo educativo, entendida como dissolução dos elementos de frieza subjetiva. Considerando esses dois campos de estudo, o presente Projeto pretende articular o conceito de impostura, originado da crítica de Adorno ao fascismo, ao imperativo de desbarbarização no campo educacional, com o objetivo de explicitar a relevância de uma autorreflexão crítica de natureza subjetiva na área da educação. Palavras-chave: Fascismo; Semiformação; Teoria Crítica. Nietzsche: o Conceito de Vida e seu elo com a História na Segunda Consideração Intempestiva Ana Carolina Oliveira [email protected] [email protected] Resumo: Na Segunda Consideração Intempestiva, Nietzsche expõe a desvantagem e a utilidade da história para a vida, identificando, em seu tempo a “doença histórica” e preconizando soluções. A partir da inquirição entre as relações da história com a vida o filósofo propõe fornecer um diagnóstico através de três elementos; a Vontade de Poder afirmativo/negativo, em segundo a Força ativa/reativa, em consequência das combinações do poder negativo/força reativa surge, o terceiro elemento, o niilismo, a vontade de nada, sendo intermediada pelo devir reativo no âmbito da história. Neste quadro encontramos a vida como sinônimo de Vontade de Poder, que remete a sua primeira fase de produção, 1870-1876. Perante as definições do conceito de vida, qual é seu elo com a história? O que causa a “doença histórica” e qual é estritamente seu remédio? A resposta será lograda pelo viés da relação intrínseca entre vida e história. Palavras-chave: Conceito de Vida; história; Nietzsche.

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Page 1: XI Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia ... · Considerando esses dois campos de estudo, o ... do retorno obrigatório da disciplina de filosofia ... Destacando que o

XI Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia: Filosofia e Psicologia

“Homenagem à Profª Carmen Beatriz Milidoni”

ISSN: 2317-5877

Resumos

Educação como desbarbarização: a crítica ao fascismo nas reflexões filosófico-

educacionais de Theodor W. Adorno

Amanda Forner [email protected]

Resumo: Durante a fase norte-americana do Instituto de Pesquisas Sociais, o filósofo

alemão Theodor W. Adorno, no contexto da pesquisa de natureza interdisciplinar sobre o

fenômeno da personalidade autoritária, escreveu um importante artigo empregando

conceitos da psicanálise freudiana para refletir sobre o fascismo em solo norte-americano.

Nessa reflexão, Adorno propôs, como implicação do envolvimento emocional das massas

com o líder, certo tipo de envolvimento farsesco, denominado como impostura, que teria

um papel fundamental para explicar a adesão a movimentos de massa. Alguns anos

depois, em seus escritos no campo educacional, o filósofo enfatizou a necessidade de

desbarbarização no campo educativo, entendida como dissolução dos elementos de frieza

subjetiva. Considerando esses dois campos de estudo, o presente Projeto pretende

articular o conceito de impostura, originado da crítica de Adorno ao fascismo, ao

imperativo de desbarbarização no campo educacional, com o objetivo de explicitar a

relevância de uma autorreflexão crítica de natureza subjetiva na área da educação.

Palavras-chave: Fascismo; Semiformação; Teoria Crítica.

Nietzsche: o Conceito de Vida e seu elo com a História na Segunda Consideração

Intempestiva

Ana Carolina Oliveira [email protected]

[email protected]

Resumo: Na Segunda Consideração Intempestiva, Nietzsche expõe a desvantagem e a

utilidade da história para a vida, identificando, em seu tempo a “doença histórica” e

preconizando soluções. A partir da inquirição entre as relações da história com a vida o

filósofo propõe fornecer um diagnóstico através de três elementos; a Vontade de Poder

afirmativo/negativo, em segundo a Força ativa/reativa, em consequência das

combinações do poder negativo/força reativa surge, o terceiro elemento, o niilismo, a

vontade de nada, sendo intermediada pelo devir reativo no âmbito da história. Neste

quadro encontramos a vida como sinônimo de Vontade de Poder, que remete a sua

primeira fase de produção, 1870-1876. Perante as definições do conceito de vida, qual é

seu elo com a história? O que causa a “doença histórica” e qual é estritamente seu

remédio? A resposta será lograda pelo viés da relação intrínseca entre vida e história.

Palavras-chave: Conceito de Vida; história; Nietzsche.

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Análise: as implicações da licenciatura e da produção do ensino de filosofia na

atividade do professor, no ensino e na aprendizagem filosófica.

Augusto Rodrigues [email protected]

Resumo: Nesta comunicação, analisaremos como a formação nos cursos de licenciatura

em filosofia, aliada com a produção teórica que alicerça as práticas do professor,

influenciam diretamente na construção conceitual, quase que infundamentada

filosoficamente, do ensino, da imagem do professor e do processo de aprendizagem em

filosofia no Ensino Básico. Para tanto, nos fundamentaremos nos resultados obtidos por

meio de nossa pesquisa de três anos financiada pela PIBIC/CNPq, a partir da qual

realizamos vasto levantamento bibliográfico nos periódicos de filosofia e educação,

inseridos no período de 1932, data de criação do curso de filosofia na USP, e 2008, ano

do retorno obrigatório da disciplina de filosofia ao Ensino Básico. Em nossas

investigações percebemos que, desde a estrutura epistemológica que alicerça a formação

do professor de filosofia, até o modo como é construída a produção teórica do ensino de

filosofia no Brasil, o ensino de filosofia e suas múltiplas possibilidades problemáticas são

compreendidos como um problema de ordem educacional e não filosófica. Por assim ser,

o licenciado é formado estritamente em aspectos metodológicos e didático-pedagógicos,

resultando na criação da imagem de um professor como transmissor de conhecimentos

que, por consequência, influencia diretamente na emersão de um conceito de

aprendizagem filosófica como um processo com ênfase na compreensão, assimilação e

repetição do conhecimento filosófico- este, usualmente, entendido como um saber sobre

a história da filosofia, traduzido em sistemas e conceitos filosóficos.

Palavras-chave: Ensino de Filosofia; Ensino e aprendizagem filosófica; Professor de

Filosofia.

A problemática do sublime em Friedrich Schiller

Bárbara Ferrario Lulli [email protected]

Resumo: Este trabalho tem como principal objetivo a compreensão do conceito de

sublime nos textos Do sublime e Sobre o sublime, na filosofia estética de Friedrich

Schiller. No que tange à arte trágica e seu papel à cultura, Schiller atribuiu grande

importância ao sublime por ela desencadeado. Assim, segundo o filósofo, o sublime é

capaz de elevar o homem sobre o antagonismo que lhe é imposto durante a modernidade.

Este tema é apresentado primeiramente por Schiller em Do sublime, escrito em 1793,

onde o autor dialoga com Kant a fim de explicar tal fruição estética. Contudo, em 1801,

ao reunir suas obras em uma única edição, Schiller pública Sobre o sublime, uma possível

reformulação do mesmo texto, porém, com uma abordagem diferenciada. Neste último,

Schiller enfatiza preferencialmente as condições humanas diante da cisão causada pela

modernidade e atribui ao ensaio o caráter neohumanista idealizado pelo Classicismo de

Weimar. Apresentaremos, portanto, algumas das principais distinções entre ambos os

textos e sua problemática, de modo a discorrer sobre este conceito em ambos os textos

sob o contexto da arte trágica e da cultura que, segundo o filósofo, seria capaz de elevar

o homem acima deste antagonismo da modernidade e torna-lo livre por meio da cultura

[Bildung].

Palavras-chave: “Do sublime”; Schiller; “Sobre o sublime”.

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Moral e Ética: Arendt, Bourdieu e Mannheim frente a ludicidade.

Clayton Alexandre Zocarato [email protected]

Resumo: O seguinte trabalho tem como uma de suas temáticas, fazer uma análise acerca

das diversas faces a discussão acerca de uma emancipação de pensamento subjetivita,

diante dos complexos entraves de suas ações perante a sociedade de massas e o "outro"

pós o surgimento de Regimes Totalitários como o Nazismo e o Bolchevismo, exaurindo

diferentes estágios de aniquilação de princípios para um humanismo ético e de respeito

pelo próximo. Contendo como bases, o pensamento moral de Hannah Arendt, Pierre

Bourdieu e Karl Mannheim, a “moral de respeito pelos direitos humanos” é deixada de

lado, em torno de uma condição humana nefasta, outorgada ao terror de Estado, levando

à alienação de uma cidadania consistente, ficando atrelada a práticas discursivas, não

contendo convergências reais a realizações de tributos comportamentais valorizando uma

emancipação ética que abarque magnitudes de amplos setores sociais e cívicos.

Mannheim outorga “vivemos nos interstícios das ideias sem uma construção de

“práxis” sólida de transparência de compaixão pelo outro” (SP, 1970), essa afirmação

se adapta de forma cíclica, ao contexto historiográfico, da “banalização do mal”, de

Hannah Arendt (1993), onde tudo é permitido, construindo um nefasto bojo de violências

e desrespeitos a integridade humana, já Bourdieu dentro de suas concepções do “poder

simbólico” (1980), outorga a necessidade em se criar signos de identidade que

representem uma subjetividade que seja consciente e leve à emancipação humana. A

“moral e ética” é um ponto em comum entre esses pensadores de suas análises em torno

a comunicação de massa, que levem a uma coisificação de uma subjetividade de respeito

pelo próximo.

Palavras-Chave: Emancipação; Ética; Moral.

Direito natural x direito positivo na perspectiva de Hegel

Cristiane Moreira de Lima [email protected]

Resumo: O presente trabalho possui como finalidade demonstrar características e pontos

que auxiliarão a identificar a distinção existente entre o Direito Natural e o Direito

Positivo na visão de Hegel. Para Hegel “Naturrechet é um Recht, direito, que prevalece

num estado de natureza. vindo posteriormente a sociedade exigir restrições destes direitos

naturais. No entanto, salienta Hegel que os direitos só prevalecem em sociedade e “que

um estado de natureza é um estado de violência e injustiça”. (M. Inwood, 1997, pg. 105).

Possuindo os indivíduos na modernidade direitos que constituem a sua personalidade, os

quais são inalienáveis e imprescritíveis. Para Hegel o direito natural (lei da natureza) são

fatos objetivos, que podemos nos deparar e cujos limites não podemos transmitir ou

ultrapassar não se tratando, portanto de proposições formuladas por nós. O Direito

Positivo também se refere a fatos objetivos, os quais precisam ser descobertos, e o estudo

positivo estabelece uma descrição objetiva destes, salientando que o direito positivo, digo,

as leis são formuladas pela sociedade. Para ciência positiva do direito, ou seja, para o

direito positivo o que lhe importa especificadamente é estabelecer e decretar o que é de

direito, ou seja, as disposições legais. O Direito natural refere-se a um direito genuíno do

indivíduo, estando de certa forma, relacionado aos sentimentos e desejos, possuindo a

característica da informalidade. Já o que caracteriza o direito positivo seria seu caráter

formal que lhe proporciona validade, obtendo seu conteúdo um elemento positivo.

Destacando que o direito enquanto lei trata-se do direito positivado, ou seja, que se tornou

objetivo, conhecido e determinado, dando validade ao direito abstrato (subjetivo).

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Embora existam diferenças entre o direito natural e o direito positivo; seria um equivoco

se em razão destas diferenças concluíssemos que estes se contradizem ou se opõem, estes

se encontram correlacionados com outras deliberações que instituem o caráter de um povo

e de uma época. Concluímos que o direito natural seria aquele imanente a todo individuo

em sua origem e particularidade, em contrassenso direito positivo é aquele constituído

pela sociedade, caracterizado pela formalidade, instituição das leis e universalidade, ou

seja, aplicável a todos indistintamente. E por fim, não podemos ignorar que as vantagens

e os remédios proporcionados pelas leis modificam-se e alteram-se conforme os

costumes, os tempos, segundo as razões da necessidade e da amplitude dos vícios a serem

supridos. Não podendo as leis conservar-se inalteradas no decurso do tempo, devendo a

mesma adaptar-se e acomodarem-se às transformações ocorridas no mundo.

Palavras-chave: Direito Natural; Direito Positivo; Hegel.

Filosofia como disciplina curricular: institucionalização e desafios

Fábio José dos Santos [email protected]

Resumo: O presente trabalho tem como tema discutir a realidade da Filosofia inserida na

estrutura escolar a partir de sua institucionalização como disciplina na grade curricular

das escolas de nível médio. A grande preocupação é se a Filosofia que hodiernamente se

apresenta nos currículos escolares está fazendo seu papel de instrumento do pensar,

refletir e dialogar com a sociedade contemporânea em busca de soluções para seus

problemas, ou se devido à institucionalização passou a se adequar à ideologia estatal e

servir a outros interesses. Ou seja, será que realmente da forma em que está estruturada

podemos afirmar que a Filosofia com “F” maiúsculo está presente na educação básica?

Podemos enfatizar que a disciplina Filosofia realmente é a Filosofia que move e

transforma? Poderia a institucionalização da disciplina ter retirado mesmo que de forma

parcial o caráter liberto que a Filosofia possui?

Palavras-chave: Educação Básica; Filosofia; transformação.

Perspectivas histórico-filosóficas sobre o espaço e o tempo segundo as faculdades

de conhecimento de Kant: os pressupostos para a teoria da realidade

Fábio Matos Rodrigues [email protected]

Resumo: As contribuições de Immanuel Kant (1724-1804) um filósofo do conhecimento

que teve uma participação ímpar na construção do pensamento científico, influenciou a

percepção de muitos dos seus contemporâneos. Tal influência na filosofia do

conhecimento ou epistemologia trouxe um caráter expositivo sobre a qual a mesma tem

por finalidade estabelecer a relação de que todo o conhecimento é produzido pelo sujeito,

e, portanto, passa a ser um fruto de sua razão, ou seja, o conhecimento é compreendido

como subjetivo e por isso relativo e inerente à percepção humana. Como filósofo

moderno, seus argumentos sobre a impossibilidade de conhecer a “coisa em si (ou

numeno)” no sentido de não se poder conhecer a “essência das coisas” está balizada sobre

as condições perceptivas do fenômeno, por meio de uma racionalidade organizada. Para

Kant, a experiência passa a ter um papel importante, mas não definitivo, no processo de

conhecer o fenômeno, pois atribui-se à razão ou à mente, a faculdade de organizar tal

experiência. Nesse sentido, a razão, para Kant, constrói uma relação entre o sujeito e o

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universo, onde existe uma interioridade constitutiva do mundo. O sujeito, portanto, é o

construtor do próprio conhecimento e toda a percepção adquire formas inatas ao que Kant

chama de imaginação, sendo essas formas de sensibilidade atribuídas ao espaço e ao

tempo e o entendimento, ou formas de entendimento ou categorias. Logo, o espaço

(sensibilidade interna) e o tempo (sensibilidade externa) passam a ser independentes entre

si e não são propriedades do objeto, mas sim do próprio sujeito como fruto de nossa mente

e não em aspectos da natureza. Ao longo da história, tais influências foram compreendidas

como aspectos norteadores da própria Ciência e o modo de como refletir sobre a mesma.

Admitindo como verdade tal concepção, também socializada por Isaac Newton (1642 –

1727) ao promover a sua compreensão sobre as leis que governam a cinemática e a

dinâmica dos corpos por meio dos fenômenos físicos na natureza, também comungou da

mesma perspectiva ao anunciar que o espaço e o tempo são absolutos no sentido de que

existem independentes da consciência humana e do mundo material. Tal pensamento

permeou o contexto científico até meados de 1915, quando Albert Einstein subverteu o

quadro ao anunciar e demonstrar suas concepções sobre o espaço e o tempo (ou como a

previsão teórica diz: o espaço-tempo) de modo unívoco e, portanto, uma quarta dimensão,

onde a matéria sofre variações em suas constituições como a dimensão e a massa, ao ser

considerados movimentos próximos da velocidade da luz, que até então era considerada

infinita. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é apresentar de forma sucinta uma reflexão

acerca do percurso histórico do pensamento filosófico promovido através dos séculos

XVIII e XIX sobre os aspectos norteadores da Ciência e o modo de realizá-la, tendo como

parâmetro as concepções do espaço e o tempo admitidas na constituição da própria

Ciência promovida no período histórico supracitado.

Palavras-chave: Espaço-tempo; Epistemologia; Teoria do Conhecimento.

Anaximandro: a teleologia e a história

Felipe Luiz [email protected]

Resumo: De Anaximandro de Mileto restou-nos não mais que uma sentença, aliás, a

primeira sentença filosófica completa que subsiste. Em termos gerais, nela, cujo

significado e cuja tradução são polêmicos conforme abordaremos, Anaximandro

determina o princípio e o fim das coisas, postulando também os meandros de seu devir.

Anaximandro é geralmente entendido nos marcos da Escola Jônica, a primeira da

filosofia, cujas preocupações teriam se centrado em determinar o princípio do cosmos.

Assim, entretendo discussões com seu precursor, Tales de Mileto, Anaximandro teria

afirmado o ápeiron (traduzido geralmente como ilimitado ou indeterminado, mas de

significado polêmico) como arché (geralmente vertido como princípio, mas cujo

significado é múltiplo) da physis (natureza, termo também controverso), conforme nos

lega a doxografia. Ademais, segundo ele em sua sentença, as coisas estariam

encaminhadas para o mesmo princípio — assim tornado fim— de onde se originaram, de

modo que, em sua existência histórica, relacionar-se-iam segundo a justiça e a injustiça.

De todo modo, para nós cumpre marcar esta visão de história, ou de existência das coisas

no tempo, como determinada por um fim, visão esta que, se bem já aparecia em aedos

anteriores, é renovada e desmitificada por Anaximandro, que a desenvolve unicamente a

partir de princípios não míticos. O objetivo de nossa comunicação é analisar a proposição

de Anaximandro nos marcos de uma filosofia da história, discutindo, de um lado, com as

posições de Nietzsche, cuja interpretação assemelha-se àquela geralmente aceita, de

modo que se pode entendê-la como tradicional; e a de Heidegger, o qual considera

equivocada a forma pela qual geralmente se traduz a sentença solitária de Anaximandro,

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e, deste modo, discutir as proposições gregas em seu próprio universo de significado, quer

dizer, à moda genealógica, intenta estabelecer o que foi dito nos limites do horizonte

cultural e filosófico de quem disse, estabelecendo outros sentidos, de modo mesmo a

alterar as traduções normalmente aceitas, como aquela do próprio Nietzsche. De mais a

mais, buscaremos cotejar a noção teleológica da história em Anaximandro com um

exemplo majorado desta, tais sejam as asserções histórico-teleológicas de Hegel, o qual

considera o desenrolar da história em um estrito marco de finalidade, explicando de tal

feita os acontecimentos históricos.

Palavras-chave: Anaximandro; filosofia da história; teleologia.

A liberdade do indivíduo na teoria política de Locke

Flávio Gabriel Capinzaiki Ottonicar [email protected]

Resumo: Ao fundamentar o direito à propriedade no direito natural, John Locke faz surgir

uma justificação moral para um tipo de sociedade baseada no desejo e na necessidade de

possuir cada vez mais. O poder político instituído neste contexto tem sua principal

finalidade expressa na proteção da propriedade e na garantia do direito à aquisição

ilimitada. Assim o Estado não é necessário, mas apenas conveniente para servir ao homem

ambicioso em possuir cada vez mais. No presente trabalho, pretende-se analisar a peculiar

posição de Locke, manifesta no Segundo Tratado Sobre o Governo, sobre a relação entre

o indivíduo livre e desejoso de aumentar suas posses e o Estado enquanto manifestação

de um conjunto articulado políticamente.

Palavras-chave: direito natural; Liberdade; Locke.

Ditos e não ditos da normalidade: a urgência de a loucura ser incorporada pela

tradição filosófico-literária

Franciele Vaz [email protected]

Resumo: A presente pesquisa de cunho teórico, em processo, procura ter enfoque na

investigação da Loucura, tendo como base principal a História da Loucura, de Michel

Foucault. O recorte será a forma como lidavam com a Loucura no período da Renascença,

onde a Loucura era inserida em muitas obras, principalmente pinturas, bem como em

poemas, teatros, literatura. O cogito ergo sum, de René Descartes foi um momento crucial

para se instituir que é necessário que se pense, de forma clara e distinta, para ser. O louco,

não concebendo o mundo de forma clara e distinta, deixa de ser. A forma de se investigar

a ontologia da Loucura deverá, num primeiro passo, retomar a importância de inseri-la

nos meios artísticos e filosóficos; sem colocar no rigor científico. Há discussões acerca

da doença mental, em excesso, mas todas com intuito de categorizar, visando atender o

ego do pesquisador e o lucro. O objetivo de retomar o estágio anterior ao momento

cartesiano, ou seja, de resgatar um terreno propriamente fértil sobre o tema supracitado

está em, primeiramente, fazer entender à sociedade o papel que o louco poderia ter. Para

tal, serão coletados filósofos, escritores, pensadores, que fomentaram discussão sobre,

como Erasmo de Rotterdam, Machado de Assis, Friedrich Nietzsche, Marquês de Sade,

Clarice Lispector. São momentos raros, que, no curso do pensamento, foram apenas

centelhas fugazes, e, por vezes, mal interpretadas pelos intelectuais entusiastas da razão,

que, sequer consideraram que, se não fosse pela loucura, a razão – sem ter um estado

mental para equiparar-se ou destoar-se – não existiria.

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Palavras-chave: Isolamento; Loucura; Poder.

Genealogia e crítica dos valores em Nietzsche

Francisco Alvarenga Junnior Neto [email protected]

Resumo: Na construção de seu pensamento filosófico, Nietzsche tem como objetivo

precípuo questionar o valor dos valores. Para tal, o filósofo discuti a validade da tradição

greco-medieval, remontando às suas origens, visando fundamentar a crítica por ele

elaborada em relação à moral vigente. A esse respeito, Nietzsche defende que a tradição

que se consolidou, permeando toda a história da humanidade ocidental, caracteriza-se

pela desvalorização da vida presente em nome de ideais póstumos que acabam por nos

afastar do nosso “eu” real. Neste artigo procuramos demonstrar como sua análise crítica

da moral ocidental é válida e possibilita, por meio do ato genealógico, uma mudança na

concepção do que é o homem e com isso, uma nova valoração da vida.

Palavras-chave: genealogia; Nietzsche; valores.

Mídia de massa e a volta da linguagem de ação

Gabriel Engel Ducatti [email protected]

Resumo: O presente trabalho busca refletir o impacto das mídias de massa no pensamento

da sociedade contemporânea e, analogamente, um eventual retorno à antiga Linguagem

de Ação grega. Tal concepção é anterior ao surgimento e adoção do alfabeto e possuía

como principal característica a oralidade na transmissão do conhecimento. A partir de

uma breve explanação história da linguagem, definindo alguns acontecimentos como

essenciais, tenta-se demonstrar que a grande mídia vem adquirindo peculiaridades

comuns aos antigos poetas gregos; como, por exemplo, o expoente Homero, que através

de seus contos traçava aspectos culturais e educacionais; bem como a Linguagem de

Reflexão, com todo avanço das tecnologias comunicacionais, continua sendo o meio de

se opor a tal “orador”.

Palavras-chave: Linguagem de Ação; Mídia de Massa; Sociedade Contemporânea.

Fenomenologia da Intersubjetividade e Teoria da Mente: discussões da alteridade

Gabriel Pavani Brandino [email protected]

Resumo: No presente trabalho, discutimos a intersubjetividade no campo do

desenvolvimento infantil. Voltamo-nos ao campo da cognição social, especialmente ao

conceito de atenção conjunta, que é analisado à luz da fenomenologia da

intersubjetividade. Nosso objetivo geral é realizar um reconhecimento do espaço do

problema referente às relações que vêm sendo operadas entre teorias fenomenológicas da

percepção e abordagens científicas contemporâneas da percepção. Por meio da

comparação entre as teorias, construímos um pensamento crítico frente aos novos achados

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da psicologia do desenvolvimento infantil. Na área da cognição social, a percepção do

outro é embasada na teoria da mente. Ver a coisa e compartilhá-la só é possível quando

percebo o outro como um ser intencional igual a mim. No âmbito da teoria

fenomenológica, retira-se o outro da posição de objeto de conhecimento, contrapondo-se

ao exercício que nos propõe a teoria da mente. “O outro está aí, dado, [...] tão

imediatamente quanto eu sou dado a mim mesmo” a distância entre mim e o outro que

nos é apresentada pela teoria da mente não existe na análise fenomenológica. No presente

trabalho, os preceitos da atenção conjunta, tal como são apresentados no campo da

cognição social, são redefinidos no âmbito da fenomenologia da intersubjetividade.

Palavras- Chave: Atenção Conjunta; Fenomenologia da Intersubjetividade; Percepção.

Übermensch e a Individuação: relação possível entre a psicoterapia Junguiana e a

filosofia de Nietzsche.

Geisa E. Caccere; Maria Luiza R. F. da Silva [email protected]

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo identificar a presença de Nietzsche na

Psicologia Analítica Junguiana. Jung, ao compor os Seminários sobre Zaratustra, relata a

filosofia de Nietzsche como uma influência espiritual, constituindo, assim, uma das bases

epistemológicas de sua teoria. Mesmo havendo diferenças significativas entre os autores,

destaca-se conexões, tais como o conceito Übermensch, que se refere ao processo do

homem de tornar-se “Além do Homem” em uma constante superação de si, ou seja, a

busca de sua singularidade. Se faz evidente a semelhança com o principal conceito da

Psicologia Junguiana, a individuação, no qual, assim como Nietzsche, Jung o descreve

como uma realização plena do indivíduo enquanto ser singular. Portanto, é relevante a

relação do conceito Übermensch para a prática da Psicologia Analítica Junguiana, já que

o processo de individuação consiste no propósito final da psicoterapia. Tal relação, entre

ambos autores, contribui para um melhor entendimento a respeito do conceito de homem,

que, consequentemente, proporcionará maior compreensão no que se refere ao processo

de individuação.

Palavras-chave: Übermensch; Processo de individuação; Psicoterapia Junguiana.

Atividade coletiva como trabalho criativo

Gustavo Hipolito Giaquinto [email protected]

Resumo: Na presente apresentação me proponho expressar reflexões relativas ao conflito

da prática de ensino nas aulas de sociologia. Temos como problemática inicial a

"indisciplina" escolar e a falta de valorização dos conteúdos científicos escolares por parte

dos jovens. Pretendo aqui colocar em questão as disputas de sentidos no ambiente

escolar, compreendendo-as como conflito de valores que tem sua origem na discrepante

diferença que há no modo de vida dos alunos para com o formato disciplinar, aplicado

em sala de aula. Tal reflexão tem seu esboço a partir da leitura do livro "Nietzsche e a

filosofia" escrito por Deleuze, junto à minha prática como bolsista de iniciação à docência

em ensino de Sociologia. Tal reflexão toma melhor articulação na atividade coletiva

interdisciplinar elaborada com alunos do primeiro ano do Ensino Médio da escola pública

de Marília. Apropriando-se inicialmente das tipologias das forças, apresentada por

Deleuze, são através das categorias de força ativa e força reativa que compreendemos o

processo criativo destes jovens. Sendo este um trabalho conjunto aos alunos que ao se

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apropriarem do conceito de identidade nas ciências sociais, subvertem a ideia corrente e

imediata de esporte exaltando o seu lazer e valorizando sua cultura.

Plavras-Chave: Educação; Forças; Indisciplina.

O papel dos qualia na produção do conhecimento

Gustavo Negreiro Almeida [email protected]

Resumo: Este trabalho versa sobre a análise de argumentos sobre a natureza e o papel

dos qualia na produção do conhecimento e na vida mental em geral. As sensações

qualitativas da experiência, ou qualia, supostamente teriam um papel significativo na

produção do conhecimento. Eles comporiam parte do experienciar não reduzido a mera

informação física sobre o mundo. Portanto, sem ter acesso aos qualia, o conhecimento

sobre o mundo seria incompleto, como sugere Frank Jackson (1982) em seu artigo

Epiphenomenal Qualia. Também investigaremos a visão de Thomas Nagel (1974) em seu

célebre artigo What is it like to be a bat? onde discorre sobre o caráter subjetivo da

experiência. Para ele, cada organismo tem seu ponto de vista em relação ao mundo e têm

características físicas únicas que os permitem ter uma experiência sobre o mundo também

única. As sensações qualitativas da experiência teriam um caráter estritamente subjetivo,

relacionado ao ponto de vista de cada organismo. O suposto dos qualia segue-se como

uma proposta não reducionista do nosso conhecimento sobre o mundo e que nos leva a

questionar se aquilo que é experienciado por um organismo, ou seja, suas sensações

qualitativas da experiência, são passíveis de entendimento por outros organismos.

Palavras-chave: experiência; qualia; subjetivo.

Uma análise das críticas de Bertrand Russell às teorias sobre a relação

pensamento/objeto

Jefferson Torres Velozo [email protected]

Resumo: Em suas investigações acerca da mente, Bertrand Russell retoma as teorias das

principais perspectivas filosóficas que abordaram a natureza da consciência até o início

do século XX. Ao analisar o conceito de consciência e a relação deste conceito com a

mente humana, o autor expõe algumas teses de Franz Brentano e de um de seus

sucessores, Alexius Meinong. Brentano foi um grande e influente psicólogo austríaco que

escreveu uma obra intitulada Psicologia do Ponto de Vista Empírico que foi muito

influente dentro da psicologia e da teoria do conhecimento e foi uma obra que deu início

a uma série de trabalhos relevantes, especialmente sobre a intencionalidade como

propriedade intrínseca da consciência. De acordo com Russell, esses estudos tinham

como proposta investigar a relação entre a consciência e o objeto e se essa relação produz

o conhecimento. A proposta de Brentano, segundo Russell, é a de que “a relação com um

objeto é uma característica suprema irredutível dos fenômenos mentais”, tese esta que

Russell tentará refutar. Meinong, por sua vez, defendia que existiam três elementos

implicados no pensamento sobre um objeto: Ato, Conteúdo e Objeto. Russell fez uma

crítica às teorias desses dois autores devido à simplicidade com a qual tratavam o conceito

de consciência. Para Russell, a discussão a respeito da consciência não pode ser tratada

como uma discussão simples. Contudo, o autor reconhece a importância desses autores e

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de seus respectivos estudos para a psicologia. Russell faz reparos críticos a respeito dos

três elementos necessários para o pensamento de um objeto da teoria de Meinong. Através

dessa tríplice abordagem da relação pensamento/objeto que Meinong propôs foi possível

que diversas outras teorias fossem enunciadas, até mesmo a teoria que Russell vai propor.

Na apresentação, será analisada criticamente a teoria de Meinong no viés de Russell,

procurando ressaltar que o conceito de ato proposto por Meinong não é necessário para

explicar a natureza da relação entre pensamento e objeto e que a relação entre conteúdo e

objeto não é tão simples quanto ele propõe.

Palavras-chave: objeto; pensamento; Russell.

Esboço de uma reestruturação e sistematização contemporânea da tese proto-

enativista de Guyau: a cognição motora e a dinâmica afetiva engendram o tempo

psíquico

Johnny Marques de Jesus [email protected]

Resumo: Os debates contemporâneos filosóficos e científicos sobre tempo psíquico

(Gallagher 1998; Dainton 2000 ; Lee 2014; Wittman 2009; Grondin 2012; Treisman

2013; Warren H. Meck et al 2014; Richard Block 2014) se articulam, segundo tendências

diversas, a partir de uma matriz não homogênea de tradições que inclui Lotze, Willam

James, Brentano, Broad, Husserl, Bergson, Wundt, Fechner, Vierordt, Skinner, Gibbon,

Treisman. Embora os modelos científicos e filosóficos atuais sobre a percepção do tempo

sejam diversificados, eles possuem um princípio comum: todos, com poucas exceções,

fundamentam suas análises nas condições subjetivas (neurais, comportamentais,

cognitivas, informacionais) de apreensão cognitiva e perceptual de propriedades

temporais objetivas instanciadas em eventos externos. Há um princípio exteroceptivo,

cognitivo-representacional nessas abordagens, mesmo as de cunho fenomenológico.

Curiosamente, a teoria do tempo psíquico de Guyau (1854-1888) foi largamente ignorada

como parâmetro possível para discussões científico-filosóficas. É de se notar que o

psicólogo cognitivo do tempo Michon (1988) reconhece sua importância central para o

desenvolvimento de modelos cognitivo informacionais do tempo; no entanto, este

reconhecimento ressalta certas analogias em que não se sobressai a inovadora proposta

contida na doutrina de Guyau, a saber, uma concepção pragmático-afetiva da experiência

do tempo. Este aspecto pragmático e afetivo implica uma noção não puramente

exteroceptiva, nem puramente cognitivo-representacional do tempo psíquico. P.ex. diz

Guyau que “... a sucessão é um abstrato do esforço motor exercido no espaço. Esforço

que, tornado consciente, é a intenção” (2010, p.72) e que “O verdadeiro ponto de partida

da evolução [do tempo] não é, portanto, a ideia do presente, assim como a do passado ou

a do futuro. É o agir e o sofrer. É o movimento sucedendo a uma sensação” (2010, p.68).

Wundt chegou a aventar uma hipótese semelhante, mas apenas de passagem. É curioso

notar que as novas tendências enativistas, corporificadas e situadas das ciências

cognitivas, críticas dos modelos representacionalistas e cognitivistas da mente, não

tenham sistematizado devidamente esta noção básica proposta por Guyau.

Apresentaremos neste trabalho justamente um esboço desta sistematização, partindo

justamente dos princípios fundamentais das ciências cognitivas corporificadas, quais

sejam: o princípio sistêmico-dinâmico complexo não-linear, o princípio da auto-

organização e o princípio ecológico-enativista, a fim de reestruturar a ideia de Guyau com

a tese de que o tempo neuropsíquico/comportamental, enquanto duração corpórea auto-

organizada em instantes rítmicos, apresenta um aspecto qualitativo multidimensional

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emergente (aspecto sistêmico de múltiplas variáveis dinamicamente interdependentes não

restrito à cognição epistêmica, mas abrangendo também a cognição motora, a afetiva e a

proprioceptiva – inclui-se aqui, portanto, sínteses temporais não-transitivas do corpo

próprio, ou, sínteses temporais próprio-específicas) e um aspecto situacionista ou

ecológico emergente pelo qual ele (o sistema do tempo psíquico) é visto como parte

integrante da dinâmica informacional do sistema animal-ambiente.

Palavras-chave: cognição motora; dinâmica afetiva; tempo psíquico.

Andarilhos de estrada e questões de gênero

Júlia Esteves Bicalho de Almeida [email protected]

Resumo: A presente pesquisa aborda a realidade dos "andarilhos de estrada" como um

espelho radical dos modos de subjetivação calcados nas condições atuais de intensa

mobilidade psicossocial, decorrentes da compressão tempo-espaço. É trabalhado também

o fato de que, apesar do trânsito constante ser uma característica da pós-modernidade, ele

não abrange ambos os sexos de forma igualitária e, assim como na sociedade os homens

transitam mais do que as mulheres (em todas as áreas da vida), as estradas também são

caracterizadas por esse maior trânsito masculino ilustrado pela figura do andarilho. Tendo

isso em mente, a pesquisa focaliza a questão da baixa presença feminina entre os

andarilhos, bem como os aspectos existenciais das poucas mulheres que habitam esse

não-lugar. Para tanto, estão sendo realizadas entrevistas nas rodovias por onde transitam

os andarilhos e nas instituições que os acolhem. O método utilizado é a pesquisa

qualitativa fundamentada na premissa de que os conhecimentos sobre os indivíduos só

são possíveis com a descrição da experiência humana tal como ela é vivida pelos seus

próprios atores. Como a pesquisa está em andamento, ainda não se tem resultados

concretos, porém, entrevistas já realizadas despertam reflexões a respeito do ser mulher

na estrada e na sociedade atual, entre elas, reflexões acerca da socialização feminina e

como esta é responsável pelo aprisionamento da potência de vida até mesmo de mulheres

que vivem em situação de intensa mobilidade, rompendo parcialmente com os discursos

de verdade proferidos no decorrer dessa socialização.

Palavras-chave: andarilhos(as); gênero; mobilidade psicossocial.

A influência de conceitos evolucionários na Filosofia segundo John Dewey

Jurandir Gelmi Júnior [email protected]

Resumo: Neste trabalho pretendo analisar teses e argumentos apresentados por John

Dewey a respeito da influência e os impactos que a teoria evolucionista proposta por

Charles Darwin acarretou na ciência e na filosofia, especialmente no âmbito da moral e

da política. Dewey (1909) ressalta que todo o trabalho, teórico e experimental, realizado

por Darwin e as considerações de seu modelo explicativo da origem e evolução dos seres

vivos propostos sem um designer refutava o dogma criacionista aceito até então e permitia

uma nova compreensão dos seres vivos e suas relações com o ambiente. Primeiramente

destacamos a relevância que Dewey atribui à combinação das palavras “origem” e

“espécie” no próprio título da obra de Darwin. Essas duas palavras combinadas

incorporam uma revolução, não na Biologia, mas para o pensamento científico em geral.

Segundo Dewey (1909), por dois mil anos, pensadores e cientistas consideravam que as

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espécies eram universais, permanentes e imutáveis. Por espécie, a tradição grega entende,

grosso modo, uma forma imutável que estabelece uma constância no ser natural das

coisas, podendo ser alcançada e estudada pelo conhecimento cientifico. Essa noção de

eidos (ideia), utilizada pelos escolásticos para designar o conceito de espécie, tinha como

pressuposto que as formas ou ideias possuíam uma realidade imutável, fixa, perfeita,

eterna. Dewey ressalta que Darwin não foi o primeiro a questionar a filosofia clássica da

natureza (os fenômenos naturais) e que sem os trabalhos e descobertas de Copérnico,

Kepler, Galileu, Boyle e seus sucessores em astronomia, física e química, possivelmente

Darwin não teria desenvolvido essa revolução nas ciências biológicas. A obra de Darwin

possibilita o estudo da vida sem um criador, focalizando a adaptação bem-sucedida ao

ambiente sem um molde, implicando que diferentes espécies surgiram e desapareceram

em diferentes épocas sem finalidade explicita ou prévia. A importância da publicação da

Origem das espécies reside em ter defendido a ideia de que os seres vivos não são

conduzidos em razão de uma finalidade prévia. Desta forma, os princípios darwinistas

possibilitaram repercussões marcantes para encerrar uma etapa na história das ciências

biológicas e também na filosofia com o desenvolvimento da discussão da noção de acaso

como princípio da natureza e da vida como um todo. Considerando que muitos cientistas

já haviam adotado a perspectiva evolucionista, Dewey ressalta que foi a partir da obra de

Darwin que se consolidou esse processo quando expôs que as adaptações orgânicas não

são atribuídas, planejadas ou determinadas, mas decorrem da dinâmica adaptativa dos

organismos ao acaso das circunstâncias ambientais. Procuraremos mostrar que a

influência da perspectiva evolucionista no campo da filosofia se deu ao compreender que

não existiam origem e finalidades absolutas nas mudanças das espécies, aniquilando

crenças que sugeriam que a natureza não faz nada ao acaso, que tudo tem um propósito e

que existe uma vontade divina na determinação das mudanças.

Palavras-chave: ciência; darwinismo; filosofia.

Ruptura na modernidade: Francis Bacon e René Descartes contra Aristóteles

Kailani Amim Postilhoni Ferreira [email protected]

Resumo: Muito se fala dos filósofos Francis Bacon e René Descartes como precursores

do que hoje chamamos “método científico”, mas pouco é aclarado sobre o quadro de

problemas filosóficos que suscitaram debates para que eles pudessem legar suas

contribuições. Essa comunicação possui como foco apresentar um apanhado dos

problemas que tanto Bacon quanto Descartes lidaram em suas filosofias; os dois

criticando o status da filosofia da natureza em seu tempo, calcada em uma não mais

sustentável base na silogística de Aristóteles, filósofo até então paradigmático na filosofia

natural.

Palavras-chave: Bacon; Descartes; método científico.

Diálogos entre emoções e epistemologia: revisão de literatura

Katiúcia Q. Q D. Marquezin [email protected]

Resumo: As ciências têm buscado pela compreensão das emoções humanas, e esta tem

sido uma das tarefas da filosofia e da psicologia. Conhecê-las instigou no homem

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perguntar e discutir nas mais diversas teorias, num caminho para a construção do

conhecimento. Emoções que de suas reações corporais, regulam desde os

comportamentos, estados fisiológicos, cognitivos e emocionais, que alteram e manejam

subjetividades influenciando a cultura e a forma como o homem compartilha o afeto.

Vindo de encontro às indagações do homem, a epistemologia alia o estudo e reflexão dos

saberes e seus produtos, através do estudo do conhecimento. Dessa maneira,

apresentamos esta pesquisa, cujo objetivo é verificar as temáticas associadas às emoções

e epistemologia apresentadas no universo de publicações. Esta revisão de literatura,

realizada na base de dados de Periódicos CAPES, utilizando os seguintes descritores no

idioma português: emoções e epistemologia; emoção e epistemologia. Os critérios para

inclusão dos artigos foram: ano de publicação a partir do ano de 2005 a 2016, artigo

completo disponível na base de dados consultada; artigos científicos publicados em

periódicos indexados e com acesso disponível; artigos teóricos, de revisão de literatura e

de intervenção. Incluem-se 15 artigos para discussão, dos quais aplicam e retratam as

emoções em pesquisas sobre aspectos interacionais, teóricos e metodológicos descritos

nesta revisão.

Palavras chave: Emoções; epistemologia; revisão de literatura.

Os dualismos e seus problemas ontológicos, epistemológicos e semânticos

Leonardo Queiroz Assis Poletto [email protected]

Resumo: Um dos primeiros filósofos modernos a realizar uma investigação a respeito da

natureza da mente foi René Descartes. Em linhas gerais, Descartes afirmava que a mente

é uma substância imaterial, distinta da substância extensa, não estando sujeita a nenhuma

lei natural como é o caso das propriedades físicas. De acordo com essa abordagem, o

sujeito é uma “coisa pensante” separada do mundo externo e que conhece apenas na

medida em que os elementos constituintes de um conhecimento possível passam pelo

crivo da razão. Nesse sentido, o conhecimento é fundamentado em leis lógicas e

princípios metafísicos supostamente inquestionáveis. No entanto, há diferentes

perspectivas dentro da corrente dualista como: o dualismo da substância, dualismo

popular, dualismo da propriedade, epifenomenalismo e dualismo interacionista da

propriedade, por exemplo. Desse modo, o objetivo do presente trabalho é analisar as

principais características de algumas perspectivas do dualismo, ressaltando suas

semelhanças, diferenças e problemas. Para tanto, nos basearemos na obra de Paul M.

Churchland, Matéria e consciência e nas obras as Meditações metafísicas e o Discurso

do Método de René Descartes para efetuarmos nossa análise.

Palavras-chave: Dualismo; Filosofia da Mente; René Descartes.

O conceito de contingência no romance A Náusea de J.P Sartre

Lucas Bezerra da Silva [email protected]

Resumo: A contingência, como marca da existência, faz-se presente na obra A náusea,

de Jean-Paul Sartre, como seu tema filosófico central. Com o objetivo de analisar os

processos por meio dos quais Sartre constrói o personagem Roquentin __ desde sua

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caracterização mais romanesca até o sentimento da náusea, exprimindo a descoberta da

existência e sua radical contingência __, pretende-se determinar aqui o teor filosófico da

obra literária de Sartre. É notável o quanto a contingência e a instabilidade do sujeito e

das coisas influenciaram o desenvolvimento do romance, tornando pertinente uma análise

de sua dimensão filosófica.

Palavras-chave: contingência; existência; náusea.

O conceito de gênio em Nietzsche no filme “Amadeus” de Milos Forman

Lucas Gabriel Saconato Maldonado [email protected]

Resumo: Este trabalho tende a explicar o conceito de gênio a partir da filosofia de

Nietzsche, relacionando com alguns dos principais conceitos dentro da obra do filósofo e

a partir disso apontar como se aplicam ao filme Amadeus de Milos Forman. Como ponto

de partida, fundamenta-se o significado de gênio e posteriormente foi feita uma análise

do filme. Depois disso foi possível perceber como se aplicaria a uma obra de arte o

conceito de gênio e também aprofundar-se no filme em si, notando uma série de aspectos

que ressaltam não só a genialidade do indivíduo mas também o conflito como superação

em contraponto à mediocridade.

Palavras-chave: arte; gênio; Nietzsche.

O olhar de Benedito Nunes sobre a obra Perto do coração selvagem, de Clarice

Lispector

Maria Caroline Belfanteve [email protected]

Resumo: Clarice Lispector, escritora brasileira, ingressa no cenário da literatura por meio

do romance Perto do coração selvagem. A novidade de seu estilo faz com que muitos a

comparem com James Joyce e Virginia Woolf devido à densidade psicológica presente

em sua obra. Benedito Nunes, filósofo, escritor e crítico literário, lança seu olhar à jovem

escritora e produz uma série de trabalhos sobre suas obras. Ele a descreve como uma

escritora que valoriza os incidentes separados, que torna sua narrativa uma convergência

de vários momentos de vida dispersos. Os estados subjetivos substituem os estados reais

e que de fato acontecem, há uma cisão com a ordem do tempo externo, característica que

marca os romances modernos. A experiência interior é o foco na criação literária, o que

leva a autora a enxergar algumas situações como se pudesse vê-las por meio de um

microscópio, gerando um horizonte reflexivo e especulativo a respeito da própria

existência. Este trabalho terá por objetivo apresentar os principais pontos trabalhados por

Benedito Nunes em seu livro O drama da linguagem e O mundo de Clarice Lispector,

sobre o livro Perto do coração Selvagem, de Clarice Lispector.

Palavras-chave: Benedito Nunes; Clarice Lispector; literatura.

A concepção de espaço-tempo proposta por Einstein como quebra de paradigma

na perspectiva de Kuhn.

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Máximo Gustavo Rodríguez de Melo [email protected]

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo expor e discutir a abordagem de espaço-

tempo tomadas para fundamentar a teoria da relatividade restrita. Tal concepção se

popularizou por teóricos como Einstein e, posteriormente, Minkowski. A fracassada

tentativa de Michelson-Morley de provar a existência do éter (espaço absoluto), que por

sua vez, se acaso existisse manteria as concepções da física moderna aliada às novas

descobertas de Maxwell sobre o eletromagnetismo, foi fundamental para as propostas de

Einstein. Essa mudança de concepção pode caracterizar o que Kuhn chamaria de quebra

de paradigma, gerando uma “revolução cientifica”. A metodologia é baseada em revisão

bibliográfica de textos primários e secundários, em que serão analisados os escritos do

filósofo Lawrence Sklar em Filosofia da Física, e as concepções de Thomas Kuhn em A

estrutura das revoluções cientificas, bem como teremos o auxílio de literatura secundária

sobre o tema. O presente trabalho fará uma análise conceitual e não recorrerá ao

formalismo matemático.

Palavras-chave: Kuhn; paradigma; relatividade.

Relações teoria e prática: a produção do conhecimento sobre gestão

democrática em teses e dissertações (2005 - 2014).

Mônica Gomes de Carvalho [email protected]

Resumo: Entre os pesquisadores da área da administração escolar circula a afirmação de

que o conhecimento teórico passou por duas mudanças: uma de paradigma e outra de

postura teórico metodológica. A primeira mudança se refere à passagem do paradigma da

Teoria Geral da Administração para o paradigma da especificidade da escola, nos anos

1980. A outra mudança é constatada por Maia e Russo (2009, p. 538-539) no qual as

pesquisas deixam de ser estritamente teóricas e a escola passa a ser o “[...]objeto de estudo

considerando que, no período dos anos 2000-2005, [...] os livros eram, em sua maioria,

resultados de pesquisas empíricas, abordando pesquisa-ação, estudo de caso e resultado

de projeto de extensão, em detrimento de estudos restritos ao nível teórico.”.Apesar de

tais mudanças Souza (2006, p. 122) constata uma continuidade no modo de pensar dos

pesquisadores que se refere à “ênfase por vezes um tanto normativa de vários trabalhos

sobre gestão escolar” [...] que, com modelos teóricos, se dedicam à dizer a escola o que

ela deve ou não fazer.Considerando a teoria do discurso (LACLAU; MOUFFE, 2015) e

seu questionamento à possibilidade de fechamento de identidades com um significado

fixo questionamos como a gestão democrática tem sido entendida na produção da área?

E quais as possibilidades de (re) pensar a área pelos conceitos de hegemonia, discurso e

articulação da teoria do discurso?

Palavras-chave: Teoria do discurso. Gestão democrática. Teses e dissertações.

A diferença na história do conhecimento em administração escolar no Brasil

Paulo Henrique Costa Nascimento [email protected]

Resumo: O resgate da trajetória da Teoria em Administração escolar no Brasil demonstra

uma fixidez nas maneiras de construção do seu conhecimento. Tanto pela insistência nos

mesmos referenciais teórico-metodológicos quanto pelos constantes resultados de

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pesquisa com soluções para os problemas educacionais: os resultados constituem ou um

receituário indicando o que os profissionais da educação devem fazer ou um diagnóstico

das tarefas que os profissionais da educação não fazem para realizar os propósitos

teóricos. O problema desta situação é que os propósitos teóricos não se realizam e os

problemas educacionais não são solucionados. Não teria o próprio conhecimento em

Administração escolar no Brasil problemas de análise, construção e práticas de pesquisa?

Como pensá-lo de maneira diferente? Será que existiram outras formas de pensá-lo? Pois

bem, este trabalho tem o intuito de apresentar resultados parciais de pesquisa que buscou

na história do conhecimento em Administração escolar no Brasil – através do pensamento

de Foucault, Deleuze e Guattari – seus diferentes referenciais teórico-metodológicos. A

hipótese da pesquisa era que o conhecimento na área estava preso em relações de saber-

poder que o impediam de diferenciar-se e, também, impediam a identificação das

diferenças já existentes. Conclui-se, parcialmente, que existem diferentes referenciais

teórico-metodológicos e a fixidez impediu que esta diferença fosse situada na história do

conhecimento em Administração escolar.

Palavras-chave: Administração escolar; Diferença; Saber-Poder.

O Impulso Criativo em Paulo Freire

Pedro Henrique Ciucci da Silva [email protected]

Resumo: Paulo Freire nunca escreveu uma obra específica sobre estética, mas deixou

uma leitura sobre a noção desse tema. A arte, para Freire, tem um aspecto fundamental

para o processo de emancipação ideológico. Fazendo uma leitura para o impulso criativo,

segundo Paulo Freire, ainda existe um espaço para tal leitura, pois a classe oprimida ainda

encontra nas artes um motivo para romper com o opressor. A abstração da arte torna-se

realidade quando a mesma trabalha para um impulso criativo do sujeito, para Freire, a

arte também é uma arma para a educação libertária contra a educação bancária. O impulso

criativo freireano também é fundamental para a classe trabalhadora se lançar em uma

amostragem no mundo. A estética para Freire tem também uma relação com a ética, ou

seja, está relacionada com a responsabilidade do sujeito na construção com o mundo.

Portanto, a construção do mundo enquanto arte é feita pelo impulso criativo da pessoa,

nunca deixando de lado a sua humanização para a construção desse mundo. O mundo é o

resultado de nosso impulso criativo, com isso, Freire argumenta que tendo uma

abordagem ética sobre os impulsos criativos, a estética pode emancipar o indivíduo para

uma realidade de leitura crítica. É esta leitura crítica que Paulo Freire chama de aspecto

estético do mundo, dessa maneira, fundamenta a necessidade de um impulso criativo. A

necessidade de uma ação de liberdade está contra a burocratização da mente, pois é uma

das mais trágicas doenças de nossa sociedade. Longe de pensar numa ação alienada e

alienante, a perspectiva freireana concebe a estética como liberdade de escolha, de

intervenção crítica e consciente de homens e mulheres no mundo, ações calcadas na

capacidade da valorização de intervenção, de decisão e rompimento de tudo o que não

favoreça a humanização. Portanto, a estética, como forma sensível de estar no mundo,

implica o envolvimento consciente com a realidade, na presença humanizante em todos

os espaços que favoreçam a vida.

Palavras-chave: estética; impulso criativo; Paulo Freire.

O contingente a priori e os indexicais

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Rafael Albiero Vieira [email protected]

Resumo: Na história da Filosofia, a discussão sobre proposições que representam

verdades as quais podem ser conhecidas de maneira contingente a priori ganhou destaque

com o trabalho Naming and Necessity (1980) de Saul Kripke. Kripke acredita que uma

consequência quase que natural de certas propriedades semânticas dos nomes próprios, a

saber, serem diretamente referenciais, é a capacidade de se gerar conhecimento de

verdades contingentes de maneira a priori. Sendo assim, Kripke defendeu que, contra o

que era aceito pela grande maioria da tradição filosófica, existem proposições que

expressam verdades contingentes mas que podem ser conhecidas de maneira a priori.

David Kaplan, em seu ensaio “Demonstratives” (1989), tem conclusões intuitivamente

anormais, semelhantes às de Kripke, quanto a possibilidade de termos conhecimento a

priori de proposições contingentes. O interesse de Kaplan era estudar o funcionamento e

implicações dos indexicais: expressões que não tem o referente fixo (i.e. podem designar

diferentes objetos em diferentes contextos), como as expressões “aqui”, “ele”, “agora”,

“hoje”, etc. Ele percebeu que em certos casos, sentenças formadas por indexicais

causavam fenômenos estranhos, a saber: sentenças que são verdadeiras sempre que

proferidas, sem no entanto expressarem verdades necessárias. Por exemplo, sentenças

formadas por indexicais, como “Eu estou aqui agora” ou “Eu existo”, são verdadeiras

sempre que proferidas, sem, no entanto, expressarem verdades necessárias. Kaplan

acredita que a explicação para este interessante fenômeno está no fato de que as noções

de necessidade e aprioricidade se relacionam com diferentes valores semânticos das

expressões (valores os quais ele chama de caráter e conteúdo). Com isto em mente, esta

breve apresentação tem o objetivo de expor o problema do contingente a priori, a teoria

dos indexicais de Kaplan, sua relação com nomes e descrições, e a maneira com que ele

lida com casos anormais de sentenças que parecem ser verdadeiras de maneira a priori e,

no entanto, expressam verdades contingentes.

Palavras-chave: contingentes a priori; indexicais; proposição.

Notas sobre o conflito entre a Pólis e o filósofo no pensamento de Hannah Arendt:

o caso Sócrates

Renato de Oliveira Pereira [email protected]

Resumo: Neste trabalho, pretendemos examinar alguns aspectos acerca do início da

relação conflituosa entre a pólis e o filósofo – ou, se quiser, entre filosofia e política,

teoria e prática, pensamento e ação – sob a ótica de Hannah Arendt, para quem tal conflito

caracteriza a nossa tradição de pensamento político. De acordo com Arendt, a cisão entre

filosofia e política foi realizada em um momento bem específico, a saber, no julgamento

e condenação de Sócrates em Atenas: como Sócrates, um homem cuja inocência e valor

eram reconhecidos pelos melhores entre os jovens atenienses, pudera ser condenado a

beber cicuta? Arendt acredita que Platão teria se desencantado com a vida na pólis após

a morte de seu mestre, uma vez que a pólis deixara de ser um lugar seguro tanto para a

vida do filósofo quanto para a preservação de sua memória. Além disso, o fato de Sócrates

não ter conseguido persuadir os cidadãos atenienses de que sempre agia para bem da polis

fez Platão duvidar da validade da persuasão (peithein), de modo a colocar em xeque a

maneira pela qual os cidadãos atenienses tratavam os assuntos públicos e a tentar impor

na esfera dos assuntos humanos padrões transcendentes e absolutos que pudessem ser

confiáveis e aceitos sem a necessidade de persuasão. Desta maneira, Platão abriu o

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caminho para uma cisão entre a pólis e o filósofo que, para Arendt, o próprio Sócrates

acreditava não existir. Arendt pensa que Sócrates dedicava sua vida para fazer nascer, em

cada homem, a verdade inerente a sua própria opinião (doxa). Ao agir assim, ele rompia

com os limites que a pólis estabelecia para o sábio, o qual deveria se preocupar apenas

com questões eternas e abstratas, inúteis do ponto de vista político. A pólis via Sócrates

como um sábio. Sócrates, no entanto, via-se como filósofo e, enquanto tal, não tinha

nenhuma verdade para revelar aos homens.

Palavras-chave: Arendt; Política e filosofia; Sócrates.

O egoísmo lógico e o socialismo lógico: reflexões em torno do pensamento de Peirce

e Arendt

Ricardo Gião Bortolotti [email protected]

Resumo: Este artigo procura discutir dois pensadores, cujos trajetos são distintos, mas

que, a nosso ver, apresentam certas coincidências em aspectos de seu pensamento. Não

se trata de estabelecer correspondência biunívoca, o que consistiria tarefa desmesurada.

Procuramos somente enfatizar o que ambos os pensadores caracterizam como “egoísmo

lógico”, no sentido de pensar isoladamente, na solidão, diria Arendt. Para Peirce, essa

atitude seria ilógica, uma vez que o indivíduo isolado não passaria, para o autor, da fonte

do erro e da ignorância. Assim, cada autor na sua seara, ocupa-se de questões distintas,

mas que coincidem no modo de conceber o status do indivíduo e sua participação diante

de certa concepção de comunidade. Peirce, de seu lado, preocupado com a ciência;

Arendt, com a política. O que significa, para Peirce, abandonar o egoísmo em prol da

opinião da comunidade? O autor procura solucionar o problema kantiano a partir de sua

teoria da cognição e da realidade, e que remete à última opinião. Não há possibilidade de

abordar os resultados científicos como fenômenos naturalizados, mas como resultados

falíveis, e que estão à mercê de modificações conforme a investigação e a opinião da

comunidade. Embora não aceite bem o pragmatismo, Arendt, por seu turno, não defende

o egoísmo lógico, ou seja, a opinião absoluta, imposta de cima para baixo. Defende, sim,

a comunicação que perfaz o espaço público. Parte da formulação de juízos a partir do

senso comum, e que são referentes à vivência mundana. Não se coaduna, portanto, com

modos de definir comportamentos cristalizados. Com efeito, a recusa de fórmulas

científicas tem uma razão de ser: a autora recusa tais fórmulas no espaço político, no qual

importa a opinião, elaborada a partir do dia a dia, sem qualquer prognóstico de seus

resultados.

Palavras-chave: comunidade; dialogismo; opinião.

Educação e cuidado de si: possíveis encontros afetivos entre professores e alunos

de uma escola pública

Ricardo Leonel Ferreira [email protected]

Resumo: Segundo Foucault, a pedagogia que tradicionalmente é empregada nas

instituições de ensino coloca a educação sob uma ótica disciplinar, sendo conduzida

segundo os parâmetros de um determinado roteiro disciplinar e que visa a

disciplinarização dos corpos e a manutenção de uma suposta ordem social. Nesse sentido,

ele alerta para a relevância de um compromisso para com o “cuidado de si” diante de uma

formação que seja engajada com questões éticas e políticas. Para tanto, Foucault se

apropria do conceito de psicagogia, o qual se refere a uma maneira de relação afetuosa e

poética entre mestre-discípulo, possibilitando uma produção de conhecimento que seja

capaz de provocar mudanças no êthos, ou seja, na própria natureza do aluno. Como

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objetivo, procurou-se identificar e compreender os agenciamentos e as linhas de forças

que possibilitam o pensamento e a disposição de se colocar em prática o cuidado afetivo

entre professor e aluno, tendo em vista a relação psicagógica. Em uma reunião com um

grupo de quatro professores que lecionam no ensino infantil, foi transmitido o filme “A

língua das mariposas” e, posteriormente, houve uma roda de conversa sobre a relação

entre o filme e a psicagogia. Os resultados mostraram que a psicagogia se fazia presente

nessas brechas em que se escapava da dureza e do enrijecimento das já tradicionais

relações estabelecidas nas salas de aula, mas que ainda se fazia ver discursos de caráter

de afetação dinâmica, ora tendendo às linhas duras, outrora às flexíveis e de fuga.

Palavras-chave: ; Cuidado de si; Educação; Psicagogia.

Diderot e a Imitação na Pintura

Rinaiana Maria Silva Batista [email protected]

Resumo: A arte imita a natureza ou a natureza imita a arte? Para o filósofo enciclopedista

a ideia de que a arte é uma imitação da natureza sempre esteve presente em sua filosofia.

Publicado em 1766 na Correpondance Litteraire, Diderot escreveu um tratado de pintura

que, acrescido de novos capítulos em 1795, é intitulado Ensaio Sobre a Pintura e

impresso para acompanhar o Salão de 1765, a obra traz a forte crítica do filosofo de

Langres ao ensino academicista e a forma de fazer pintura. Segundo o filósofo francês, a

beleza da arte se encontra na imitação da natureza, mas de uma natureza específica, da

bela natureza. O maneirismo acadêmico e a prática demasiada do écorche inviabiliza a

verdadeira observação da natureza, que é onde o artista encontra sua cópia da natureza

segundo a própria natureza. Para ele, o artista deve deixar a academia e lançar-se à

natureza para encontrar a verdade. Diderot propõe aos artistas maior liberdade e

fidelidade à natureza verdadeira, que é o que encanta e faz com que o púbico capte a

realidade da obra. É por meio de uma nova abordagem do belo e da pintura que a crítica

de Diderot se faz tão viva e autêntica no Iluminismo e tão atual nos dias de hoje. Essa

apresentação se propõe a mostrar como a filosofia de Diderot relaciona arte e natureza

pelo olhar da obra Ensaio Sobre a Pintura e amparada pelos verbetes Cópia e Imitação

da Encyclopédie, bem como o processo de imitação da natureza realizado pela arte.

Palavras-chave: estética; imitação; pintura.

A utilização de filmes como mecanismo importante para a interpretação nas aulas

de filosofia no Ensino Médio

Rodinei Silva [email protected]

Resumo: Sendo a disciplina de filosofia discriminada por diversos motivos e desta forma

com uma resistência por parte dos discentes, o projeto intitulado “A utilização de filmes

como mecanismo importante para a interpretação de Filosofia no Ensino Médio” tem por

objetivo oferecer um mecanismo a mais para ganhar a atenção do jovem aluno. Será

realizada pesquisa de coleta de dados em escolas do ensino médio de forma dedutiva e

quantitativa para descobrir a quantidade de filmes exibidos, quais os filmes e os resultados

das exibições. O tema escolhido demonstra a importância para o corpo docente que, ao

fazer uso deste mecanismo, possa detalhar a dificuldade na interpretação dos discentes de

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textos usados em sala de aula. Mesmo ao utilizar texto de autores contemporâneos,

percebe-se ainda a mesma dificuldade na leitura. Neste sentido, o uso de filmes seria uma

ferramenta a ser acrescida para facilitar a interpretação da matéria. O que se deseja, a

princípio, é que as aulas sejam dinâmicas e atraentes para os estudantes. Para que isso

ocorra é necessário que se organizem atividades que façam com que o professor participe

ativamente dos procedimentos.

Palavras-chave: Filmes; Ensino Médio; Filosofia.

Os estudos de tempo-movimento do casal Gilbreth e Taylor: psicofísica e

instrumentalização da “mente”.

Rodrigo Moreira Vieira [email protected]

Resumo: O trabalho tem como objetivo analisar a influência dos estudos de tempo-

movimento do casal Gilbreth e Taylor no processo de instrumentalização da capacidade

psicofísica dos sujeitos que trabalham no início do século XX. Tal contexto foi marcado

pelo avanço das forças produtivas nos EUA. O caráter da colonização, o pragmatismo

herdado pela cultura e economia inglesas, bem como a influência dos ideais liberais do

século XVIII e XIX são alguns elementos que permitem compreender o desenvolvimento

mencionado. Diante do avanço das forças produtivas, houve um acelerado processo de

industrialização nos EUA entre a segunda metade do século XIX e início do século XX,

estendendo-se no decorrer deste último século. Para alavancar o processo de consolidação

de uma economia industrial que passaria a ocupar o epicentro do capitalismo mundial,

um dos elementos que impulsionaram tal empreita foi a apropriação de saberes científicos

nas relações sociais de produção e nas forças produtivas. Dentre os campos científicos

que se destacaram pode-se mencionar: as engenharias, as ciências gerenciais e as ciências

comportamentais. Neste último grupo destaca-se a Psicologia. Neste período, em terreno

estadunidense destacou-se o desenvolvimento de técnicas psicofísicas apropriadas no

campo industrial interpelando os trabalhadores como sujeitos-psicofísicos. O fundamento

dessa interpelação era instrumentalizar e gerenciar a capacidade motora dos trabalhadores

para maior aproveitamento produtivo de suas capacidades psicomotoras. Dentre os

estudos que permitiram tal fenômeno encontram-se os estudos de tempo-movimento do

casal Gilbreth e Taylor.

Palavras-chave: mente; psicofísica; relações sociais de produção.

As contribuições de Walter Benjamin para a pesquisa em História da educação

Rony Rei do Nascimento Silva [email protected]

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo compreender as contribuições do filósofo

Walter Benjamin para o campo de pesquisa da História da Educação, sobretudo, com o

uso de fontes orais. Deste modo, para além de uma versão do passado buscamos

narrativas, no sentido benjaminiano do termo. Tal definição destaca a inserção do

narrador e do ouvinte dentro de um fluxo narrativo comum e vivido. “Aquele que conta

transmite um saber, uma sapiência, que os ouvintes podem receber com proveito”.

(GAGNEBIN, 1999). Por certo, ouvintes e narradores se unem no objetivo comum de

conservar o que foi narrado. De modo que: “O narrador retira o que ele conta da

experiência: da sua própria experiência ou da relatada por outros. E incorpora, por sua

vez, as coisas narradas à experiência dos seus ouvintes”. (BENJAMIN, 2012, p. 217).

Contudo, na sociedade capitalista se produz um aglomerado de informações que são

consumidas velozmente e, assim, as narrativas tradicionais beiram o declínio. Sobre a

diferença entre informação e narrativa. Fomos movidos pela experiência de ouvir as

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narrativas dos(as) 22 professores(as) aposentados(as) do estado de Sergipe, que

recorreram ao acervo de toda uma vida, que não incluiu apenas a própria experiência, mas

em grande parte a experiência do outro e do ouvinte. Walter Benjamin faz uma reflexão

sobre a decadência das experiências, evidenciada na modernidade com o fim da narração

tradicional e, de maneira mais ampla, a nossa crescente incapacidade de contar/ouvir.

Benjamin não escapa, às vezes, a um tom nostálgico, tom comum, aliás, à maioria dos

teóricos do “desencantamento do mundo”, quando evoca as “comunidades” de outrora

nas quais a memória, palavras e práticas sociais eram compartilhadas por todos.

Palavras-chave: História da Educação; Memória; Walter Benjamin.

Um estudo sobre a relação entre emoção e ação na perspectiva cartesiana

Soane Paz Landim [email protected]

Resumo: O trabalho em questão tem a intenção de apresentar a perspectiva dualista

cartesiana, em particular, da relação entre mente e corpo, da relação entre ação e emoção.

Para Descartes (1596-1650), o corpo (res extensa) e a alma (res cogitans), ambos

essenciais para a existência de um ser humano, são substancialmente distintos entre si. O

corpo é material, ocupa lugar no espaço, pode ser medido. A alma (ou mente), é imaterial,

incorruptível, imortal e, portanto, imensurável. Essas substâncias têm diferentes funções

no ser humano, funções essas que se complementam – basicamente, o sentir, refletir,

conhecer, desejar cabe à alma; os movimentos, questões fisiológicas, são características

do corpo. Apresentamos também a resposta dada pelo filósofo para a interação entre

corpo e alma: a glândula pineal, “uma pequena glândula localizada no meio do cérebro,

é a principal sede da mente” Quando se fala na relação entre as duas substâncias e a ação

permitida pela glândula, têm-se, então, a paixão, que de acordo com Descartes é aquilo

que a alma sofre pela ação do corpo. Tais paixões, como amor, ódio, querer, também

podem exercer, ainda que indiretamente, influência sobre o corpo e seus movimentos.

Apresentamos, ainda, como Descartes explica a causa das paixões da alma, ou seja, das

emoções. Elas são aquilo que ela sofre devido a ação dos espíritos animais (partes muito

tênues do sangue, capaz de passar através da glândula pineal) sobre ela e aponta formas

de não se “dominar” pelas paixões. Dado isso, este trabalho busca também entender os

efeitos dessas paixões na ação do indivíduo – até mesmo nos movimentos voluntários

deste, e se há formas de dominá-las. É trabalhado como hipótese que a resposta do filósofo

para a conexão entre o material e imaterial (corpo versus mente) é insuficiente, pois a

glândula pineal, como se sabe, é algo material e, portanto, o problema da explicação das

relações entre a mente e o corpo (conhecido como “problema da relação mente/corpo) e,

em particular, entre emoções e ação, ainda carece de explicação.

Palavras-chave: Descartes; dualismo; mente.

Interpretação de Salmon acerca do referencialismo kripkiano: uma crítica a

redução do essencialismo à um cientificismo

Thainá Coltro Demartini [email protected]

Resumo: Em Naming and Necessity, Kripke defende a tese da referência direta em

oposição ao descritivismo de Frege e Russell. Para tanto, Kripke desenvolve o conhecido

Argumento Modal, em sua primeira lecture, que depõe contra a ideia de que nomes e

descrições são sinônimos. E, para além disso, ele também (i) questiona a noção de

definição proposta pelos descritivistas (Argumento Semântico), alegando que ela não é

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unívoca; (ii) pontua que mesmo com a distinção dos sentidos em que podemos definir um

nome, não há garantias de que descrições necessariamente cumpram um papel na

definição do nome (Argumento Epistemológico). Estes três principais argumentos de

Kripke levam, consequentemente, a uma dissociação dos conceitos, a priori e necessário,

e a posteriori e contingente. E é essa separação dos conceitos de caráter metafísico

(necessário e contingente) dos conceitos epistemológicos (a priori e a posteriori) que

possibilita uma abordagem, por parte de Kripke, das propriedades identificadoras de um

objeto como distintas das propriedades essenciais do mesmo. O projeto kripkiano de se

opor ao descritivismo aparentemente se coloca como ferramenta para questionar a

maneira standard de olharmos para o conhecimento a priori, esperando reconhecer nele

o significado dos nomes e a essência dos objetos, posto que a partir da teoria de Kripke é

possível conceber proposições necessárias a posteriori. E, assim sendo, o projeto de

Naming and Necesity, que se inicia como uma proposta semântica, parece adentrar o

domínio da metafísica e alcançar as noções de propriedades, essências e essência. Kripke

explora esse domínio principalmente em sua terceira lecture, na qual argumenta em favor

de propriedades descobertas pela ciência e propriedades originárias como propriedades

essenciais de um objeto. Isso porque, ao entender que descrições fixam a referência com

informações contingentes a respeito do referente e ao estabelecer um vínculo direto do

nome com o objeto ao qual se refere, Kripke defende que as identidades são relações de

um objeto consigo mesmo e, portanto, necessárias. Nathan Salmon, por sua vez, em seu

livro Reference & Essence, contesta que alguma forma de essencialismo não trivial se

siga da teoria semântica dos nomes próprios de Kripke. Para Salmon, apenas uma forma

trivial do essencialismo pode ser derivada de tal teoria, a saber: a identidade de um objeto

consigo mesmo, de modo que todo objeto é tal que não poderia falhar em ser ele mesmo.

Salmon aponta para o fato de que a investigação empírica fundamenta conhecimento

apenas acerca do que é o caso e não sobre aquilo que é necessariamente o caso e, levando

isso em consideração, argumenta em favor da importância de uma análise filosófica a

priori. Sendo assim, Salmon defende que a questão acerca da essência não é redutível às

questões da filosofia da linguagem, nem à ciência. O presente trabalho almeja clarificar

quais são de fato as consequências da teoria referencialista de Kripke, buscando para isso

recursos na interpretação de Salmon e sua crítica ao reducionismo da metafísica à ciência.

Palavras-chave: cientificismo; essencialismo; referencialismo.

Algumas considerações sobre a Filosofia de Sartre Thiago de Souza Salvio [email protected]

Resumo: O objetivo da seguinte exposição proposta é apresentar nestas breves linhas o

desenvolvimento ontofenomenológico no pensamento sartreano, levando em

consideração a gênese transcendental do método descritivo do legado de Edmund

Husserl. Assim, introduziremos as fontes fundamentais que acabam culminado numa

nova ideia de filosofia, deslindada pelos caminhos incertos de sua própria história.

Palavras-chave: Fenomenologia transcendental; Ontologia; Sartre.

Filosofia e psicologia da moralidade: a produção científica sobre Habermas e

Kohlberg no Brasil em questão

Vinícius Bozzano Nunes [email protected]

Resumo: O encontro entre Jürgen Habermas – filósofo identificado com a chamada

segunda geração da Teoria Crítica – e Lawrence Kohlberg – filiado à psicologia da

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moralidade com viés evolutivo-cognitivista – rendeu proveito mútuo às suas teorizações.

Nas obras em que suas ideias estão postas em diálogo, fica evidente seu caráter

complementar. Os escritos de Kohlberg sobre a interpretação da entrevista de julgamento

moral como tarefa hermenêutica, assim como o sétimo estágio de desenvolvimento moral

elaborado por Habermas são exemplos de interferências que denotam o quão frutíferos

foram seus diálogos. Neste trabalho, investigou-se como a produção acadêmica brasileira

dos últimos dez anos reproduziu a relação entre esses autores. Para isso foi feita análise

de conteúdo temático-categorial de 122 artigos científicos encontrados com auxílio do

“Google Scholar”. Das inferências possíveis, observou-se que a quase totalidade dos

autores aborda as implicações de uma teoria à outra com pouca profundidade. A ênfase

predominante nos textos repousa sobre como a psicologia de base piagetiana – que

inspirou a elaboração dos estágios da moral cognitivista de Kohlberg – subsidiou a

construção da filosofia moral habermasiana. A ampliação da difusão dos estudos

kohlberguianos parece ser fator decisivo para a ampliação da qualidade das abordagens

que se propõem a discutir a relação entre os autores em questão.

Palavras-chave: Análise de Conteúdo; Habermas; Kohlberg.

A noção de perversão na obra Três ensaios da teoria da sexualidade de Freud

Vinícius Marangoni [email protected]

Resumo: Conforme é possível constatar principalmente por meio das obras do período

pré-psicanalítico, praticamente toda a extensão de anos que antecederam a descoberta da

psicanálise é marcada pela tentativa de decifrar o enigma da histeria, em particular, e da

neurose, em geral. O exercício clínico insistente, isto é, a valorização dos fatos clínicos

em detrimento das teorias neuropatológicas explicativas das neuroses e o interesse

genuíno em encontrar um procedimento médico habilitado a produzir efeitos

verdadeiramente terapêuticos, encaminharam Freud a percorrer a longa trajetória que

culminou na descoberta da psicanálise. Todavia, mesmo após o nascimento do método

psicanalítico, emplacado com a publicação de A interpretação dos sonhos, somente em

1905, com a publicação dos Três ensaios da teoria da sexualidade, veio à luz uma teoria

que deu conta de explicar minimamente a constituição e desenvolvimento psíquico na

patologia e na normalidade. Sumariamente, mediante o lançamento das noções de

disposição originária bissexual, perverso-polimorfa e a de desenvolvimento psicossexual

viabilizou-se um entendimento inédito acerca do psiquismo, com ênfase às formações

psicopatológicas, sobretudo as neuroses e as perversões. Assim, com a finalidade de

alicerçar uma compreensão sólida sobre o processo de constituição psíquica, com ênfase

às formações e manifestações perversas, se propõe uma investigação minuciosa da obra

Três ensaios da teoria da sexualidade, cujo esqueleto teórico ainda hoje é aceito e atual.

Palavras-chave: perversão; psicanálise; Três ensaios da teoria da sexualidade.

A potencialidade da alma em Santo Agostinho

Vitória Cirino [email protected]

Resumo: O presente texto possui o objetivo de apresentar algumas características da

alma, segundo Santo Agostinho, tendo como base o livro Sobre a potencialidade da alma.

Para esse intento se faz necessário mostrar as cinco perguntas que o interlocutor Evódio

dirige para Agostinho no livro e, então, demonstrar como esse responde às questões de

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forma a caracterizar a alma em todas as suas perspectivas, mas com enfoque em sua

potencialidade. As cinco perguntas de Evódio são: qual a origem da alma, qual sua

natureza (qualis sit), sua potencialidade (quanta sit), por que foi unida ao corpo, como

atua unida ao corpo e quando está separada desse corpo? O tema da alma é recorrente nos

escritos do filósofo e nessa obra ele busca mostrar que ela possui uma potência infinita,

uma vez que é criada pelo poder divino, mas tem substância própria. Ademais, ela é

imaterial, não podendo ser reduzida ao espaço-tempo e sua natureza consiste em sua

semelhança a Deus. Isso a torna superior ao corpo e a todas as coisas materiais e faz com

que possua uma potencialidade infinita.

Palavras-chave: Alma; Potencialidade; Santo Agostinho.

Gestão democrática: sentidos construídos na escola pública estadual paulista

Viviane Izaias de Carvalho [email protected]

Resumo: Este projeto de pesquisa apresenta como objetivo investigar quais são os

sentidos construídos sobre gestão democrática por diferentes integrantes de escolas

públicas pertencentes à rede estadual paulista. A proposta é parte de uma pesquisa

integrada intitulada “A (re) configuração da Gestão educacional/escolar após período

crítico dos anos 1980”, cujo objetivo é analisar a (re) configuração da área da

Administração educacional/escolar no Brasil, após período crítico dos anos 1980,

cotejando o desenvolvimento teórico e os desdobramentos práticos na gestão dos sistemas

e unidades escolares. A pesquisa parte de algumas constatações que justificam sua

realização, entre elas, duas merecem destaque: o levantamento que realizamos indicou

que poucas pesquisas se desenvolvem tendo como foco todos os integrantes da escola,

uma vez que priorizam professores e gestores; há predomínio de pesquisas prescritivas à

realidade escolar. O material de análise serão entrevistas semi-estruturadas transcritas

com todos os diferentes integrantes de duas escolas públicas da rede estadual paulista,

localizadas em bairro periférico do município de Marília e região central,

respectivamente, com baixo e alto Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de

São Paulo (IDESP) – dois gestores(as), dois professores(as), dois responsáveis, dois

funcionários(as), dois estudantes. Para a análise do material coletado será utilizada a

teoria do discurso (LACLAU; MOUFFE, 2015).

Palavras-chave: Escola pública estadual paulista; Gestão democrática; Teoria do

discurso.

Habermas: o conceito de “esfera pública” no livro Direito e democracia.

Wellington Anselmo Martins [email protected]

Resumo: Na obra Direito e Democracia: Entre facticidade e validade, publicada

originalmente em 1992 sob o título Faktizität und Geltung, o filósofo contemporâneo

alemão Jürgen Habermas dedica o capítulo VIII para tratar do papel da sociedade civil e

da esfera pública. Mais especificamente, no primeiro item do tópico três, Habermas

apresenta uma conceituação de “esfera pública” (öffentlichkeit). O objetivo de pesquisa

delimitado para o presente trabalho é resumir esse conceito habermasiano dentro do

contexto do referido livro. Habermas diz o que é e o que não é “öffentlichkeit” nesse

texto. Ela não é um sistema, regulado e organizado; não deve, por isso, ser entendida

como uma instituição com algum tipo de estrutura normativa. “Öffentlichkeit” é um

fenômeno social que pode ser descrito como uma rede de comunicações; de tal fluxo de

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interação comunicacional, apesar de não-sistemático, emergem desde opiniões até

tomadas públicas de decisão, ou seja, é onde os discursos são filtrados e sintetizados. Há,

por isso, uma relação direta entre os meios assistemáticos do espaço público e os seus

desfechos ordenados, coletivos e, até possivelmente, consensuais. Enfim, tal como em

Habermas o “mundo da vida” (lebenswelt) se cria humanamente através do agir

comunicativo, assim também a “öffentlichkeit” se produz socialmente, por meio da

interação discursiva dos diversos atores e partícipes que nela argumentam e deliberam.

Palavras-chave: Esfera pública; Faktizität und Geltung; Habermas.

Da crítica à psicofísica para a redefinição da consciência: breves

considerações segundo a filosofia de Bergson

Yago Antonio de Oliveira Morais [email protected]

Resumo: O Ensaio sobre os dados imediatos da consciência, primeira obra de Henri

Bergson, tem como questão fundamental, a saber, qual é a natureza da consciência?

Diante disso, Bergson investiga a psicologia de sua época. Mais exatamente, elabora uma

crítica à psicofísica, visando recuperar o alcance metafísico que possuía a psicologia antes

de pretender tornar-se científica, resgatando a principal noção metafísica de sua filosofia:

o tempo ou duração (durée). Para tanto, ele rebate as teses dos psicofísicos – naturalização

da consciência e quantificação das intensidades psicológicas –, bem como sustenta uma

concepção qualitativa da consciência. A forma de justaposição que define o espaço –

maneira como a psicofísica procede –, quando aplicada aos estados psicológicos, deforma

a realidade psíquica, vendo nela apenas variações de grau e não diferenças qualitativas.

Isto significa que os estados psicológicos, em Bergson, não podem ser confundidos com

a quantidade da causa física, pois, eles são qualidades puras. A psicofísica, segundo

Bergson, se esquece de olhar as vivências qualitativas que constituem a verdadeira

natureza do psíquico, caracterizando assim a insuficiência desta disciplina ao tentar

descrever a consciência. No Ensaio, a consciência é entendida como “progresso

qualitativo”, implicando em uma consciência que não é bloco onde são agregadas as

partes exteriores entre si. Ao contrário, existe uma solidariedade entre as partes que

caracterizam uma totalidade. Em outras palavras, tal solidariedade caracteriza a duração

bergsoniana, a sucessão temporal da consciência.

Palavras-chave: consciência; duração; psicofísica.

O discurso da autoajuda no processo de subjetivação: análise genealógica das

práticas de si atuais

Yasmin Aparecida Cassetari da Silva [email protected]

Resumo: Este trabalho foi desenvolvido em meio à experiência de estágio realizado no

grupo de estudos nietzschianos no Instituto de Filosofia da Universidade Nova de Lisboa

– IFILNOVA – PT no ano de 2015. Tem por objetivo buscar a interface entre Psicologia

e Filosofia em relação à análise dos processos de subjetivação atuais. Isto por intermédio

da composição de uma crítica aos ideais de saúde e felicidade propagados na

contemporaneidade, demonstrando como tais práticas possuem por finalidade o controle,

delimitação e domínio dos prazeres e por consequência limitação da própria vida.

Apresenta por método um estudo inspirado na análise genealógica das práticas de si,

presente nas considerações dos filósofos Friedrich Nietzsche e Michel Foucault, e das

análises do psiquiatra Wilhelm Reich. Deste modo, percorremos a construção dos

sentidos de saúde, prazer e felicidade estabelecidos nos ideais de comportamento

pertencentes aos direcionamentos da autoajuda, pontuando a necessidade de se averiguar

os intuitos alocados numa visão reducionista e hegemônica de constituição de si.

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Palavras-chave: autoajuda; práticas de si; subjetivação.