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X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação SEPesq – 20 a 24 de outubro de 2014 Puerto Madero – reflexões sobre a intervenção Vivian K.Levy Mestranda em Arquitetura e Urbanismo Unirriter [email protected] Resumo: Este artigo traz reflexões sobre a intervenção feita em Puerto Madero ao longo de 20 anos de sua existência. Busca olhar o impacto que um projeto desta grandeza e com tantos matizes arquitetônicos traz para a cidade de Buenos Aires. Nas duas últimas décadas do século XX, em várias cidades do mundo, foram desencadeados processos de revitalização de áreas urbanas degradadas promovendo reutilizações do patrimônio cultural. Estas experiências resgatam os símbolos representativos do início da formação das cidades, de práticas ligadas à tradição e a memória coletiva. Antigos trechos portuários, centros históricos são exemplos disso. Projetos que procuram novos usos para espaços na tentativa de viabilizar o sistema econômico utilizando como recurso o dinamismo cultural e turístico destes sítios históricos. A metodologia utilizada foi a leitura de artigos sobre o assunto produzidos durante esse espaço de tempo. O estudo demonstra que o projeto de Puerto Madero cumpriu, em grande parte, a proposta que aspirava de restaurar uma marca para se recuperar de demandas urbanas e capitalizar demandas de novos equipamentos, valorizando as preexistências. Constata-se que Porto Madero já leva duas décadas tentando integrar-se a cidade. No entanto, algumas decisões sustentadas ao longo do tempo fazem pairar algumas nebulosidades. Palavras – chaves – intervenção, revitalização portuária, Puerto Madero, memória

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X Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação SEPesq – 20 a 24 de outubro de 2014

Puerto Madero – reflexões sobre a intervenção Vivian K.Levy Mestranda em Arquitetura e Urbanismo Unirriter [email protected] Resumo: Este artigo traz reflexões sobre a intervenção feita em Puerto Madero ao

longo de 20 anos de sua existência. Busca olhar o impacto que um projeto desta grandeza e com tantos matizes arquitetônicos traz para a cidade de Buenos Aires. Nas duas últimas décadas do século XX, em várias cidades do mundo, foram desencadeados processos de revitalização de áreas urbanas degradadas promovendo reutilizações do patrimônio cultural. Estas experiências resgatam os símbolos representativos do início da formação das cidades, de práticas ligadas à tradição e a memória coletiva. Antigos trechos portuários, centros históricos são exemplos disso. Projetos que procuram novos usos para espaços na tentativa de viabilizar o sistema econômico utilizando como recurso o dinamismo cultural e turístico destes sítios históricos. A metodologia utilizada foi a leitura de artigos sobre o assunto produzidos durante esse espaço de tempo. O estudo demonstra que o projeto de Puerto Madero cumpriu, em grande parte, a proposta que aspirava de restaurar uma marca para se recuperar de demandas urbanas e capitalizar demandas de novos equipamentos, valorizando as preexistências. Constata-se que Porto Madero já leva duas décadas tentando integrar-se a cidade. No entanto, algumas decisões sustentadas ao longo do tempo fazem pairar algumas nebulosidades.

Palavras – chaves – intervenção, revitalização portuária, Puerto Madero, memória

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“Toda a obra de revitalização consciente e produtora de arquitetura deve permitir à cidade refazer-se a si mesma. Congelar a cidade em estado de ‘museu urbano’ é, sem dúvida, o oposto à arte de reconversão, porque nada cria.”

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1 Introdução Nas duas últimas décadas do século XX, em várias cidades do mundo, foram desencadeados processos de revitalização de áreas urbanas degradadas promovendo reutilizações do patrimônio cultural . Os antigos trechos portuários são primórdios da formação das cidades e a reciclagem das áreas de frente-água adquiriu conotação internacional, tornando-se um fenômeno mundial, no qual as cidades reivindicam suas fronteiras aquáticas. A redescoberta dos recursos de water front rompe com as barreiras entre o porto e a cidade, formando novas paisagens na borda aquática. O urbanismo contemporâneo, dentro das políticas metropolitanas mais avançadas de cidades portuarias tem, como um dos seus principais temas, a reciclagem de antigos espaços portuários deteriorados. É um fenômeno global, presente em diversas cidades do mundo, tendo como seu primeiro exemplo a cidade de Baltimore, com intervenções realizadas em 1966. Os problemas e razões da revitalização de portos são similares em muitas cidades, mas os objetivos, sistemas de planejamento, financiamentos e escalas do projeto, costumam ser bastante diferentes. Os êxitos ou equívocos atingidos pela requalificação dos waterfronts são produtos do próprio contexto cultural em que a cidade está inserida.

Nesses projetos, há uma profunda necessidade de preservar-se a individualidade do lugar e de inserir-se no caráter da localidade, que na maior parte das vezes tem uma relação histórica com a cidade. O tema da renovação das antigas estruturas arquitetônicas tornou-se o eixo principal de argumentação em favor da identidade das cidades e da permanência dos significados urbanos. Neste contexto vamos investigar Puerto Madero.

1 Glusberg, Jorge. Anotaciones sobre la revitalizacion de edificios. Revista Arquis no 4, Metamorfose – O valor do tempo na arquitetura. Revista do Centro de Investigação em Arquitetura, Universidade de Palermo, Editorial CP67, 1994, p. 69.

 

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Capítulo 1

Breve histórico de Puerto Madero

Buenos Aires, a primeira cidade estabelecida no estuário do Plata, não poderia sustentar sua primazia comercial com a Europa sem realizar uma revisão em seu porto. Sobre o crescente fluxo comercial, o governo nacional teve de aceitar a ineficácia de seus métodos e tecnologias portuárias, e iniciou esforços para dotar a cidade de um novo porto. Em meados do século XIX, a cidade de Buenos Aires havia dividido suas instalações portuárias entre os dois rios: uma doca na Boca Del Riachuelo e outra sob o Rio de La Plata.Em 1881, duas circunstâncias convergiram para produzir uma mudança no direcionamento da discussão sobre a localização do porto de Buenos Aires: primeiro, a decisão do governo nacional de alistar o país na divisão internacional do trabalho como produtor e exportador de produtos primários; e segundo, a designação da cidade de Buenos Aires como capital federal do país.

Eduardo Madero, um empresário vinculado ao comércio internacional, encomendou um projeto ao escritório dos engenheiros britânicos Hawkshaw, Son e Hayter (HSH), os quais, por sua vez, conseguiram para a operação o apoio financeiro do Banco Baring. O porto de HSH/Madero desenvolveu um projeto em que não se constituia de uma única grande baía, mas de uma seqüência de recintos, sendo que as obras se desenvolveram em etapas, de 1889 até 1897.

Apenas duas décadas após ter sido criado foi afetado pela revolução dos transportes marítimos que converteu em obsoletos a maioria dos portos do mundo, Porto Madero já não era capaz de absorver o comércio que por ali passava.

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Centro Universitário Ritter dos Reis No começo do século XX começaram a ser projetadas, mais ao norte da cidade, novas instalações portuárias – o chamado Porto Novo –, de modo que a área criada por inspiração de Madero foi paulatinamente abrigando outras funções urbanas e convertendo-se graças à sua proximidade com o centro da cidade e à existência de amplas zonas não ocupadas por edifícios e à presença do rio, no local preferido pelas famílias mais modestas para passear e descansar aos domingos. Em 1923 surgiu a primeira proposta de remodelação da área central da cidade, a abertura da Praça de Maio até o rio, a construção de altos arranha-céus em ambos os lados como se fosse um portal e a expansão de um grande parque na área do porto. Outra proposta surgiria em 1927. Em 1929 Le Corbusier,durante sua visita a Buenos Aires, desenhou sua proposta em forma de croquis, com os arranha-céus sobre o rio passando por cima do porto, interpretando a seu modo um conjunto de idéias que estavam sendo consideradas anteriormente.

Figura 1: Esboços de Le Corbusier (de cima para baixo): mapa do continente americano, no qual compara Nova York a Buenos Aires; corte transversal da América do Sul: desde a cordilheira dos Andes até o Rio da Prata. Fonte: Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. Editora Cosac & Naify, São Paulo, 2004. Página 202.

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Figura 2. Croqui de Le Corbusier retratando a imagem da cidade de negócios sobre o rio.

Fonte: Le Corbusier y Buenos Aires – O plano Regulador, 1938-40. Buenos Aires, Centro de Arte e Comunicação (CAYC).

Neste contexto um novo plano surgiu em 1938:

“Neste Plano, Le Corbusier e seus colaboradores manteriam o núcleo de arranha-céus – a cidade dos negócios – implantados sobre amplas ilhas artificiais no rio. A área do velho porto de Madero era concebida agora como uma zona recreativa e desportiva. Nos anos seguintes os urbanistas não abandonaram a idéia de expandir o centro da cidade até o rio. Tanto para a organização do “Plano Regulador de Buenos Aires”, de 1958, como para o “Plano Regional Metropolitano para o ano 2000”, de 1969, Porto Madero foi pensado em distintas escalas e com diferentes funções, como área de ampliação do centro. Em 1972, a equipe URBIS desenvolveu um novo plano no qual os terrenos eram empregados para a construção de habitações e se criava um “arquipélago” de funções desportivas e de lazer. O último dos projetos, apresentado durante a ditadura militar (1976-1983), adotou explicitamente o nome de “Ampliação da Área Central”.” Buenos Aires e seu rio: de porto de barro ao bairro globalizado Jorge Francisco Liernur

Capítulo 2

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Depois deste pequeno histórico, nos encaminhamos aos anos oitenta quando área de Porto Madero começou a interessar a duas das novas forças culturais que se expandiam nesse momento por todo o planeta: a da revalorização, recuperação e reciclagem do patrimônio histórico urbano, e a da ecologia. A ação de ambas as forças recuperou para esta zona a visibilidade pública que sua degradação havia perdido. Foram promovidos debates e um concurso “20 idéias para Buenos Aires”, neste momento o país havia recuperado a democracia. Mas a situação econômica dos anos oitenta não possibilitava a previsão de nenhuma transformação efetiva. A iniciativa do “modelo Barcelona” - que surgiu no período do urbanismo da Vila Olímpica de 1992, propondo intervenções desenvolvidas em curto prazo, apoiadas economicamente pela prefeitura e pela iniciativa privada – serviu como modelo para proposta semelhante em Buenos Aires.

“Nas reflexões dos organizadores, as Vinte Idéias se apresentam como a materialização de um ‘urbanismo alternativo’ frente ao modelo esgotado dos grandes planos urbano-regionais, ‘da abstração do zonning quantitativo que relegou a consideração da construção real da cidade, de seus agentes econômicos, de sua morfologia edilícia e que desatendeu por sua vez a conformação arquitetônica de seu espaço público’. A convocatória esteve destinada aos arquitetos, ‘ao talento e às inquietudes de quem tem sido preparado para a estimulante tarefa de (dar) forma à cidade.” Novick, Alicia2

Figura 3

Situação do Puerto Madero em 1989

Fonte: material cedido pela Corporação Antigo Puerto Madero.

2 dg Novick, Alicia. Espaços públicos e projetos urbanos. Oposições, hegemonias e questões Disponível em http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq054/arq054_01.asp

 

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Figura 4 Implantação do projeto de urbanização para o Puerto Madero.

O acordo realizado entre a Municipalidade de Buenos Aires e a Junta de Barcelona, em 1985, conduziu posteriormente, em 1990, à formulação do Plano Estratégico para o Antigo Puerto Madero. A reconversão da zona tinha por finalidade interromper o avanço da decadência e da deterioração das instalações costeiras, propondo, para isso, a recomposição do setor através da preservação da relação cidade-porto. Mostravam-se como principais objetivos para a área o assentamento de atividades terciárias e a valorização da costa portenha, como forma de reaproximar-se da borda do rio. O projeto de Puerto Madero pretendia absorver a demanda de escritórios da nova geração, cuja eficácia de funcionamento demandava plantas flexíveis de grandes dimensões e com capacidade de adaptação rápida a mudanças. A concepção geral do projeto era a de centralizar novamente a cidade, dotando o empreendimento de alta conotação simbólica. O plano tinha bastante semelhança com o que foi apresentado, em 1981, projeto para a Ampliação da Área Central, mas não adotando nenhuma posição radical, como o tomado pelo Concurso Vinte Idéias para Buenos Aires, de 1986.

A preservação e a recuperação dos antigos depósitos portuários foram de suma importância no contexto do projeto, por o seu valor histórico e arquitetônico, que simboliza a identidade portuária por excelência. A revitalização dos antigos edifícios, acrescida das novas intervenções, propiciou a efetivação de um novo pólo gastronômico, comercial e empresarial, contribuindo, inclusive, para a valorização e reconversão das velhas e degradadas áreas circundantes.

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figura 5 figura 6 figura 7

Figura 5: intervenção contemporânea no Galpão 5, Dique 3 fachada: oeste e sul. Fonte: arquivos cedidos pela Corporação Antigo Puerto Madero S.A. Figura 6: intervenção contemporânea no Galpão 5, Dique 3, fachada leste e norte. Fonte: Arquitectos Dujovne – Hirsch & Asociados. Figura 7: vista pátio interno do Galpão 5, após a revitalização. Fonte: Arquitectos Dujovne – Hirsch & Asociados.

Em 1996, através da venda de terrenos de maiores dimensões e com distintas possibilidades construtivas, iniciou-se a segunda etapa do plano de urbanização. Esta fase tratava do desenvolvimento de aproximadamente 150 hectares do setor Leste da linha de diques. Em contraposição à margem oeste, que consolidou o projeto pela qualidade de preservação do patrimônio instalado, o lado leste caracterizou-se pelo predomínio de construções modernas, apresentando alguns casos isolados de antigas construções a serem revitalizadas. O fato de o setor leste ser uma área totalmente nova e de ser constituída por uma superfície três vezes maior que o lado anterior, fez com que, antes da efetiva construção das edificações, a Corporação realizasse os trabalhos de infra-estrutura e de abertura das ruas. Gradativamente o setor Leste foi-se configurando pela presença de distintas tipologias edificatórias, de variados parques públicos e de um novo traçado urbano, que se integram com a já configurada costa ribeira. A operação Puerto Madero propôs um novo modelo de gestão territorial no ambiente local que permitiu requalificar as terras portuárias inutilizadas para usos urbanos de qualidade.

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Foi o Estado Nacional que forneceu terras do governo local, os indicadores urbanísticos; e um concurso nacional que ofereceu idéias gerais para desenvolver o Plano Diretor. A Corporação Antiga Puerto Madero proporcionou a infraestrutura e convocou a iniciativa privada para intervir sobre os lotes resultantes em função do plano setorial. Estado criou a marca do projeto, nos fornecendo um bom exemplo de gestão urbana. A operação Puerto Madero propôs um novo modelo de gestão territorial no ambiente local que permitiu requalificar as terras portuárias inutilizadas para usos urbanos de qualidade.

“É importante destacar a relação do Puerto Madero com o centro cívico de Buenos Aires, localizado no alinhamento do Dique 3. A continuidade do eixo da Avenida de Mayo constitui um caso particular, pois, apesar de não apresentar acesso direto ao porto, conforma um espaço que se abre para ele através da amplitude visual gerada pela Praça Colon. Aliado a isso, no caso exclusivo do Dique 3, há a interrupção do ritmo homogêneo entre os galpões, proporcionando a formação de uma praça entre os depósitos 6 e 7 e assinalando a relação do dique com o centro cívico. Em uma linha contínua, implanta- se a Avenida de Mayo, seguida pela Casa do Governo, Praça Colon e Dique 3 do Puerto Madero. Ainda no mesmo alinhamento, já a leste das águas do dique, localizam-se os antigos Silos da Junta Nacional de Grãos, o que demonstra que o projeto Puerto Madero mantém estreitas vinculações físicas e históricas com os elementos do seu entorno.” Giacomet, Luciane3

Capitulo 3

Os equipamentos emblemáticos

3  Giacomet, Luciane Revitalização Portuária: caso Puerto Madero, dissertação Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre 2008  

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Ponte de la Mujer, Santiago Calatrava

Está localizada sobre o canal do Dique 3, e é destinada ao trânsito de pedestres, fazendo a união das praças abertas dos dois lados da água . Representa a única passagem exclusivamente de pedestres do projeto Puerto Madero, as outras pontes existentes aceitam o tráfego de veiculos. Posicionada para destacar o eixo de Mayo, a ponte enfatiza a conexão leste-oeste do setor e incentiva a ligação entre as atividades terciárias e comerciais de ambas as margens do dique. O projeto para a ponte teve como objetivo fundamental a definição de um elemento emblemático que acentuasse o desenvolvimento urbanístico moderno da capital Argentina e contribuísse para divulgar o projeto de revitalização do Puerto Madero internacionalmente. Além de representar a continuidade virtual do eixo cívico portenho, que se estende do Congresso Nacional à Casa Rosada, a Ponte de la Mujer é também o primeiro projeto de Santiago Calatrava na América Latina.

figura 8 simulação da ponte aberta. Fonte: Architectural Record 06.

Torres El Faro, Dujovne-Hirsch Associados

“Este tipo de edifício não está caracterizado somente por seu tamanho, senão também por seu valor significativo, por sua capacidade para gerar uma imagem e um valor plástico e simbólico que, como um farol, anuncia a nova localização.”

Ao mesmo tempo em que se situam em frente ao rio da Prata e soltas em uma ampla

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Centro Universitário Ritter dos Reis área verde, as Torres El Faro, também, estão localizadas nas proximidades do microcentro portenho. Posicionadas na esquina da Rua Azucena Villaflor – prolongamento da Avenida Bel- grano – com a Costanera Sul, no Dique 2, as torres representam o primeiro arranha-céu implantado no Puerto Madero. Os arquitetos utilizaram-se da localização privilegiada do terreno para aproveitar as visuais do entorno ribeiro e da Reserva Ecológica. Além de se destacarem pela mais elevada altura de torres do setor, esses prédios também se caracterizam por estarem posicionados no lote edificado mais próximo à Lagoa dos Coypos, justificando, por isso, a possibilidade de obtenção de vistas panorâmicas nos andares mais altos. Apesar de estarem im- plantadas nas proximidades das áreas verdes, as torres estabelecem pouca relação com o entorno, em virtude de suas atividades térreas estarem bastante voltadas para o interior da edificação.

Figura 9: fachada oeste da torre El Faro. Fonte: Case: Puerto Madero Waterfront. Figura 10: fachada norte e oeste. Fonte: Revista Summa+ 77

Os Parques

O Parque Central, situado no eixo da Avenida de Mayo e centralizado entre os conjuntos de torres, é concebido como um vazio no skyline costeiro, adquirindo características de parque metropolitano. Como diretriz principal, consideraram-se a integração e entrecruzamento entre as distintas geometrias do Eixo de Mayo e da Costanera Sul. Dessa forma, o eixo histórico da cidade é reafirmado pelo posicionamento de um espelho da água que corta linearmente o parque de leste a oeste.

Já o parque do Velho Moinho foi proposto como uma área de escala de bairro e tem

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Centro Universitário Ritter dos Reis maior autonomia em relação à estrutura do seu entorno urbano. O setor plano é localizado próximo ao eixo costeiro e as pequenas colinas são pensadas para estarem vinculadas ao traçado do bairro a seu redor.Passando a Costanera Sul e Lagoa dos Coypos , peça de valor histórico e seguindo a norma que a considera área de proteção histórica, a Costanera Sul foi concebida como área de restauração e requalificação.O Parque Micaela Bastidas, apesar da preocupação em integrá-lo ao entorno circundante, foi projetado para integrar-se ao sistema verde de toda Buenos Aires. Este parque representa a criação de 7,2 hectares de espaço público para a cidade e um importante fator de reconexão de parte da capital argentina com seu waterfront.

Conclusão

O artigo busca no estudo do projeto arquitetônico e urbanístico de revitalização do Puerto Madero, compreender, em relação a um contexto que, a partir dos anos 80, revaloriza as áreas marginais e sub utilizadas das cidades para convertê-las em partes integrantes da vida e do cotidiano metropolitano. Desse modo, surgiram novos enfoques urbanos e novos temas culturais que delinearam uma perspectiva peculiar sobre o porto de Buenos Aires e seu ressurgimento no debate urbano. A recuperação dessa área trouxe à cidade o somatório de diversos espaços de uso terciário, comercial, residencial, educacional e recreativo, permitindo ainda o acesso da população ao rio da Prata, até então afastado por barreiras artificiais.

É a intervenção urbana mais importante das últimas décadas na capital argentina, e representa um exemplo bem sucedido de revitalização de uma grande área portuária considerando sua modalidade de gestão e seu real impacto. O projeto voltou-se para o reforço da centralidade portenha, tentando produzir uma extensão da cidade através do porto, como forma a de continuidade entre a grelha quadricular urbana e a nova área. Mas embora a intenção tenha sido de prolongar a malha da cidade, a proposta apresentou estreita aderência com o traçado existente. . Ao mesmo tempo em que constitui um local privilegiado da cidade, por ter recebido fortes investimentos e gerado lucros imobiliários, representa um espaço de corte com o tecido adjacente, principalmente em relação ao sul da cidade, caracterizada pela falta de recursos e investimentos. Caracteriza-se como um lugar de limites bem acentuados, a região também é marcada pelos contrastes entre o antigo e o contemporâneo ou entre o novo e o preservado. A costura entre o antigo e o novo O tema da renovação das antigas estruturas arquitetônicas tornou-se o eixo principal de argumentação em favor da identidade das cidades e da permanência dos significados urbanos.

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Referências Bibliográficas

https://raquelrolnik.wordpress.com/tag/puerto-madero/

http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/137/urbanismo-22206-1.aspx

http://www.cicopar.com.ar/ponencias/17.pdf

http://www.anparq.org.br/dvd-enanparq/simposios/129/129-639-2-SP.pdf

http://www.cadernosmetropole.net/download/cm_artigos/cm26_222.pdf

http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.046/601

http://www.pasosonline.org/Publicados/2204/PS080204.pdf

http://www.docomomo.org.br

http://www.forumpatrimonio.com.br/

http://www.archdaily.com.br/

Giacomet, Luciane Revitalização Portuária: caso Puerto Madero, dissertação Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre 2008  

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