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2 Wilquerson Felizardo Sandes

BLAIRBLAIRBLAIRBLAIRBLAIRO BORGES MAO BORGES MAO BORGES MAO BORGES MAO BORGES MAGGIGGIGGIGGIGGIGovernador do Estado de Mato Grosso

GERALDO GERALDO GERALDO GERALDO GERALDO A.A.A.A.A. DE DE DE DE DE VITTVITTVITTVITTVITTO JÚNIORO JÚNIORO JÚNIORO JÚNIORO JÚNIORSecretário de Estado de Administração

ALMIR BALIEIROALMIR BALIEIROALMIR BALIEIROALMIR BALIEIROALMIR BALIEIROPresidente da Escola de Governo

MOEMA DE FIGUEIREDO LEITEMOEMA DE FIGUEIREDO LEITEMOEMA DE FIGUEIREDO LEITEMOEMA DE FIGUEIREDO LEITEMOEMA DE FIGUEIREDO LEITEDiretoria de Laboratório de Administração Pública

REGINREGINREGINREGINREGINA LÚCIA BORGES A LÚCIA BORGES A LÚCIA BORGES A LÚCIA BORGES A LÚCIA BORGES ARAÚJOARAÚJOARAÚJOARAÚJOARAÚJODiretoria de Educação Superior e Profissional

TTTTTOSHIKOSHIKOSHIKOSHIKOSHIKO ELZA RIOSO ELZA RIOSO ELZA RIOSO ELZA RIOSO ELZA RIOSDiretoria de Educação Continuada

CÉLIA REGINCÉLIA REGINCÉLIA REGINCÉLIA REGINCÉLIA REGINA A A A A ARRAIS DARRAIS DARRAIS DARRAIS DARRAIS DA COSTA COSTA COSTA COSTA COSTAAAAACoordenação do Projeto

Comitê de Comitê de Comitê de Comitê de Comitê de AnáliseAnáliseAnáliseAnáliseAnáliseADRYANA CRISTHINE DA SILVA PEREIRACÉLIA REGINA ARRAIS DA COSTAENEIDA FALCÃO DEMIDOFFFERNANDO TADEU DE MIRANDA BORGESJACIRA APARECIDA DE ANUNCIAÇÃONIVANDA FRANÇA ARAÚJOOLINDINA MARTINS BEZERRAVERA FERREIRA ARRUDA ORMOND

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Coordenação EditorialProjeto GráficoCapa/Arte FinalDiagramaçãoRevisão

Marilda Fátima DiasUnemat DesignValter Gustavo DanzerEdgar Bortoleto FerreiraEquipe Editora Unemat

Copyright © 2008 / Editora Unemat

Impresso no Brasil - 2008

Ficha Catalográfica elaborada pelaBiblioteca Central / UNEMAT - Cáceres

UNEMAT EDITORAAv. Tancredo Neves, 1095 - Cavalhada - Cáceres - MT - Brasil - 78200000Fone/Fax 65 3221 0080 - www.unemat.br/editora - [email protected]

TTTTTodos os Dirodos os Dirodos os Dirodos os Dirodos os Direitos Resereitos Resereitos Resereitos Resereitos Reservvvvvados.ados.ados.ados.ados. É pr É pr É pr É pr É proibida a roibida a roibida a roibida a roibida a reprepreprepreprodução total ou parodução total ou parodução total ou parodução total ou parodução total ou parcial,cial,cial,cial,cial, de qualquer f de qualquer f de qualquer f de qualquer f de qualquer forororororma ou por qualquerma ou por qualquerma ou por qualquerma ou por qualquerma ou por qualquermeio.meio.meio.meio.meio. A violação dos dirA violação dos dirA violação dos dirA violação dos dirA violação dos direitos de autor (Lei n° 5610/98) é creitos de autor (Lei n° 5610/98) é creitos de autor (Lei n° 5610/98) é creitos de autor (Lei n° 5610/98) é creitos de autor (Lei n° 5610/98) é crime estaime estaime estaime estaime estabelecido pelo arbelecido pelo arbelecido pelo arbelecido pelo arbelecido pelo artigtigtigtigtigo 184 do Código 184 do Código 184 do Código 184 do Código 184 do Código Po Po Po Po Penal.enal.enal.enal.enal.

Editora UnematEditora UnematEditora UnematEditora UnematEditora Unemat

Sandes, Wilquerson Felizardo.

O uso legal da força na formação de jovens tenentes:um desafio para a atuação democrática na Polícia Militar /Wilquerson Felizardo Sandes. Cáceres [MT]: Editora

Unemat, 2008.103p.

1. Polícia Militar 2. Formação profissional 3. Mato GrossoI. Autor II. Título

ISBN 8589898-70-6 CDU 37.018.4 (817.2)

S216u

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HOMENHOMENHOMENHOMENHOMENAAAAAGEADOS (AS)GEADOS (AS)GEADOS (AS)GEADOS (AS)GEADOS (AS)

- Rendo agradecimentos ao Grande Arquiteto doUniverso por iluminar e livrar o meu caminho.

- A minha esposa Nice por caminhar comigo demãos dadas, com muito amor e dedicação.

- Aos meus filhos Gabriel, Gustavo e Clara poremocionar e alegrar a caminhada.

- Aos meus pais William, Lasara e avó Gerônimapor me ensinar como dar os primeiros e decisivos passos.

- A minha orientadora professora Morgado, que, alémde ensinar, mostrou caminhos alternativos e me estendeu a mão amiga.

- Ao coronel Adaildon, amigo, irmão e mestre, poracreditar e abrir o meu caminho.

- Aos professores, colaboradores e colegas daUFMT por pavimentar o caminho.

- Aos amigos, superiores e subordinados da Polí-cia Militar, por ajudar manter a cadência firme.

- À você leitor que me homenageia com uma bre-ve parada para ref lexão.

- À Escola de Governo pela oportunidade de mos-trar à comunidade os resultados de minha pesquisa.

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A Escola de Governo criada através da Lei Complementar nº156, de 19de janeiro de 2004 tem a finalidade de formular as políticas de formação ecapacitação dos servidores públicos civis e militares do Estado de Mato Gros-so, bem como produzir e divulgar conhecimentos em políticas públicas.

Nesta segunda edição do projeto “Pub“Pub“Pub“Pub“Publicação de licação de licação de licação de licação de TTTTTrrrrraaaaabalhos Científbalhos Científbalhos Científbalhos Científbalhos Científi -i -i -i -i -cos” cos” cos” cos” cos” o Governo do Estado de Mato Grosso, por intermédio desta institui-ção, dá continuidade à produção e à disseminação de conhecimento emPolíticas Públicas, contribuindo, desta forma, para a melhoria da gestãopública do nosso Estado, um dos grandes objetivos estratégicos do Gover-Gover-Gover-Gover-Gover-no Blairo Maggino Blairo Maggino Blairo Maggino Blairo Maggino Blairo Maggi.

Acreditamos que este projeto, mais que contribuir para a melhoriada gestão pública, incentiva e reconhece a condição de protagonista doservidor público do estado na busca incessante de prestar mais e melhoresserviços à sociedade mato-grossensse.

O servidor público do Estado de Mato Grosso assume este compro-misso junto ao governo e à sociedade, o qual é evidenciado pela publica-ção desta segunda edição de obras.

Almir BalieiroPresidente da Escola de Governo

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APRESENTAÇÃO ............................................................................... 13

INTRODUÇÃO .................................................................................. 15

PARTE 1ESTADO, DEMOCRATIZAÇÃO POLICIAL MILITAR E USO LEGAL DAFORÇACapítulo 1 - O Estado e a Construção do Monopólio de Força –Polícia ............................................................................................... 25Capítulo 2 - Esforços Governamentais para a Democratização daAtuação Policial Militar ..................................................................... 32Capítulo 3 - Poder de Polícia e Uso Legal da Força ...................... 38

PARTE IIO SISTEMA DE ENSINO DA PMMT E AS BASES CURRICULARES DOBACHARELADO EM SEGURANÇA PÚBLICACapítulo 4 - Trajetória do Sistema de Ensino da PMMT .................... 49Capítulo 5 - Bases Curriculares Nacionais e o Bacharelado emSegurança Pública na PMMT ............................................................. 53

PARTE IIIJOVENS EGRESSOS DO BACHARELADO EM SEGURANÇA PÚBLICAE O USO LEGAL DA FORÇA (2001-2003)Capítulo 6 - Perfil da Juventude no Brasil e no CFO ........................ 67Capítulo 7 - A Formação e Atuação dos Tenentes sobre o Uso Legalda Força ............................................................................................ 72Capítulo 8 - Apresentação dos Resultados ........................................ 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 93

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 99

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“Ensina-me, Senhor, teu caminho, e andarei em tua verda-de, dedicando meu coração para temer Teu nome.Eu te louvarei, meu Senhor Deus, com todo meu coração,e glorificarei teu nome eternamente” (Salmos 86: 12-13).

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O Uso Legal da FO Uso Legal da FO Uso Legal da FO Uso Legal da FO Uso Legal da Força na Força na Força na Força na Força na Fororororormação de Jmação de Jmação de Jmação de Jmação de Jooooovvvvvens ens ens ens ens TTTTTenentes enentes enentes enentes enentes inaugurauma importante e urgente ref lexão sobre a formação e o exercício da fun-ção policial: como podem fazer os tenentes da Polícia Militar para que seussubordinados exerçam o poder de polícia dentro dos limites da legalidadedemocrática e, ao mesmo tempo, sigam os parâmetros nacionais e interna-cionais convencionados nos Princípios Básicos do Uso da Força e Armasde Fogo? Dito de outro modo, como a formação recebida pelos tenentesegressos do Bacharelado em Segurança Pública pode ser transposta para aatuação desses oficiais que comandam os praças no serviço de policiamen-to ostensivo e preventivo da sociedade?

Essa problemática, agora apresentada no formato de livro, é abordadapor Wilquerson Felizardo Sandes na dissertação de Mestrado concluída em2007 no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federalde Mato Grosso. Para isso, o autor, oficial da Polícia Militar de Mato Grosso,empreende um criterioso estudo que articula as bases legais do monopólioestatal da força à adequação ocorrida em 2001 na matriz curricular do Bacha-relado em Segurança Pública após a implementação das Bases CurricularesNacionais pelo Ministério da Justiça. Mas, como saber se a mudança no currí-culo do Bacharelado resultou em mudança da atuação policial?

Aos tenentes egressos que cursaram o Bacharelado em Segurançapública entre 2001 e 2003, primeira turma formada após a mudança da ma-triz curricular, é dirigida a pergunta. Depois de ter comparado a matrizcurricular anterior e nova matriz e de ter entrevistado os principais respon-sáveis pela mudança, o autor toma alguns dos egressos como sujeitos desua pesquisa. Da cuidadosa análise das entrevistas realizadas vê-se que es-ses jovens tenentes incorporam em sua atuação no comando dos praças osPrincípios Básicos do Uso da Força e Armas de Fogo. Ao mesmo tempo, vê-se que também se deparam com dificuldades para fazer cumpri-los inte-gralmente: seja pelos limites que suas condições de trabalho impõem àoperacionalização daquilo que aprenderam, seja pela resistência que en-frentam por parte de alguns subordinados.

Este livro nos mostra claramente avanços e limitações quanto ao UsoLegal da Força na atuação policial focalizada. Alguns poderiam argumentar,então, que tudo o que foi empreendido para melhorar a formação e o traba-lho dos tenentes não obteve resultados satisfatórios. Não vejo assim. É evi-dente que as expectativas daqueles que conceberam e implementaram a

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nova matriz curricular do Bacharelado não se cumpriram integralmente.Mas também é evidente que o fato de haver integrantes da Polícia Militarempenhados em realizar mudanças que repercutam numa atuação policialcalcada na legalidade democrática é um importante começo e um avanço. Emais: o fato dessa experiência ter sido focalizada em uma pesquisa acadê-mica mostra que a Instituição policial está avaliando criticamente sua pró-pria atuação, o que seria impensável anos atrás.

Crítica dos elevados índices de letalidade das polícias militares edos aspectos constitucionais que, segundo meu ponto de vista, concorrempara favorecê-la, enfrentei um dilema quando tive diante de mim o autordeste livro como candidato a orientando no Mestrado. De um lado, eleapresentava em seu ante-projeto um tema educacional relevante e, de ou-tro, sua pesquisa focalizaria a formação superior empreendida na Institui-ção que vejo com reservas devido a critica mencionada. Mas eu não pode-ria, como pesquisadora, deixar de enfrentar uma questão relevante mesmosabendo que a Educação não contempla todos os requisitos necessáriosreduzir a letalidade policial. Para minha sorte, tive como parceiro na entre-vista o Professor Doutor Manoel Francisco de Vasconcelos Motta, um gran-de intelectual e um grande negociador. Com a ajuda desse parceiro, definium foco comum com o candidato: o trabalho de orientação ficaria circuns-crito ao tema e ao campo problemático da sua pesquisa e nossos respectivospontos de vista sobre a Polícia Militar não entrariam em questão. Senti, naque-le momento, que eu e Wilquerson estávamos sendo sinceros em nossasintenções e essa foi para mim uma grande experiência de democracia.

Talvez por isso, além das qualidades do autor, nosso empreendimen-to ao longo de dois anos transcorreu muito bem. Tive um orientando inte-ressado, assíduo, disciplinado, dedicado à sua pesquisa e muito compro-metido com a função social de sua atuação na segurança pública. O resulta-do foi uma convivência amigável, respeitosa e generosa em que ele e eurealmente nos tornamos parceiros de trabalho. Enquanto orientadora, con-segui que o pesquisador produzisse um estudo cuja qualidade superouminhas expectativas e tenho, neste momento, o privilégio de apresentá-lo.

Estou certa de que o tema e a problemática deste livro interessamnão somente à Instituição Militar e demais setores estatais da segurança,como a todos aqueles leitores interessados em debater os impactos positi-vos que uma atuação policial cada vez mais ref letida e profissionalizadapodem trazer para a sociedade brasileira. Como a leitura evidencia, o cená-rio da pesquisa está situado em Mato Grosso e também poderia estar situa-do em qualquer outro estado brasileiro: mais uma qualidade deste livroque mostra o quanto a legalidade no uso da força representa um desafioum desafioum desafioum desafioum desafioparparparparpara a atuação democrática da Pa a atuação democrática da Pa a atuação democrática da Pa a atuação democrática da Pa a atuação democrática da Polícia Militarolícia Militarolícia Militarolícia Militarolícia Militar.

PrPrPrPrProfofofofofa.a.a.a.a. Dr Dr Dr Dr Dra.a.a.a.a. Mar Mar Mar Mar Maria ia ia ia ia AAAAAparparparparparecida Morecida Morecida Morecida Morecida MorgadogadogadogadogadoDepartamento de Psicologia – Universidade Federal de Mato Grosso

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No período de 1997 a 2004, este pesquisador exercia ativamente afunção de professor nas áreas de educação física e administração dos diver-sos cursos de formação profissional da Polícia Militar e Polícia JudiciáriaCivil em Mato Grosso. No ano de 2000 a direção da Academia de PolíciaMilitar Costa Verde (APMCV) convidou-me a participar da construção deum novo currículo para o Curso de Formação de Oficiais (CFO). Na época,a reforma curricular era presidida pelo o coronel Almir Balieiro (estudante deMestrado em Educação e Comandante da APMCV) e coordenada pela profes-sora Regina Lúcia Borges Araújo (orientadora educacional da academia).

A coordenação dos trabalhos orientou o corpo docente por meio depalestras e documentos que o Ministério da Justiça, via Secretaria Nacionalde Segurança Pública, criara um programa denominado “Bases Curricularespara Formação dos Profissionais de Segurança do Cidadão”, visandohomogeneizar os cursos de formação e planejamento curricular e assegu-rar o princípio de eqüidade no processo de formação, unidade de pensa-mento e ações adequadas às necessidades sociais. A iniciativa do GovernoFederal em rever a formação policial relacionava-se ao aumento dacriminalidade, falta de integração entre as diversas polícias, formação comenfoque no militarismo de guerra e abusos nas práticas policiais. A tentati-va seria romper com o modelo de formação do regime militar que aindaemitia sinais de vigor dezesseis anos após as retomada do Estado democrá-tico de direito no Brasil.

Em Mato Grosso, a revisão do currículo do CFO seguiu as basescurriculares nacionais. Professores e instrutores, por meio de diversos gru-pos de trabalho, mapearam habilidades e competências, resultando, ao fi-nal, na implementação do “Projeto Político Pedagógico da Academia dePolícia Militar”. Na revisão curricular buscou-se desenvolver ainterdisciplinaridade e transversalidade entre os conteúdos, distribuídosem uma carga horária de 4.780/h/a, com 06 áreas de estudo — missão, técni-ca, cultura jurídica, saúde, eficácia, linguagem e informação. O conteúdo dabase comum possuía 11,30% voltado para missão policial (filosofia, política,sociologia, ética e cidadania, psicologia); 17%, para técnica policial (tiro, defe-sa pessoal, operações policiais, técnicas gerais de policiamento); 23,22%, paracultura jurídica; 3,77%, para saúde física e mental; 9,41%, para eficácia pessoal(gestão, relações inter-pessoais); 16,11%, para linguagem e informação (didáti-

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ca, estatística, idiomas, pesquisa, informática); 5,54%, para estágio e 11,40%,para atividades complementares. As áreas temáticas englobaram cultura, soci-edade, ética, cidadania, direitos humanos e controle de drogas.

A primeira turma submetida à revisão curricular ingressou em 2001no CFO, via concurso conveniado com a Universidade Federal de MatoGrosso (UFMT), um grupo composto por vinte alunos, sendo dezoito ho-mens e duas mulheres. Esta foi a primeira turma formada, após três anosconsecutivos, em conformidade com o novo currículo do Bacharelado emSegurança Pública.

Em 2001, a direção da APM promoveu um curso de extensão emMetodologia do Ensino Superior, onde possibilitou-nos operacionalizar aaplicação das Bases Curriculares no CFO, principalmente com práticas pe-dagógicas norteadas pelo construtivismo. No curso participou, como pro-fessora, a pedagoga Bernadete Cordeiro, Ela contribuiu com sua experiên-cia educacional na elaboração das Bases Curriculares em âmbito nacional.Deste curso, iniciou-se o interesse pelo tema da pesquisa relacionado àformação policial.

Já com um olhar diferente sobre o processo educacional adquiridopelo exercício da docência e as novas concepções de ensino apreendidas,atuei com o instrutor no Curso de Formação de Soldados da PMMT, no anode 2003.

Uma turma, em particular, (composta por cerca de cinqüenta alunos,a maioria de jovens civis e alguns que passaram algum tempo servindo oExército), despertou-me para uma questão que inicialmente delineou a ela-boração do anteprojeto desta pesquisa em educação.

Recordo que durante as atividades físicas acontecia corridas em gru-po, usando o mesmo ritmo, cadência e canções. Ao pedir para um alunoiniciar uma canção durante a corrida para que todos repetissem, ele cantouum exórdio de guerra, talvez aprendido durante o serviço militar. Ao finalda aula, após uma reflexão em grupo sobre o papel constitucional da Polí-cia Militar, recomendei que fossem abolidas as canções ou exórdios deguerra e substituídas por canções mais apropriadas ao tema policial servire proteger. Durante as aulas, na companhia do instrutor, as canções obede-ciam ao preconizado. Entretanto, em um dos horários de aula ocorreu umimprevisto, liguei para a organização da escola de formação informandopossível atraso ou falta, passando assim uma atividade física para ocupar otempo de aula. Sanado o motivo da ausência, desloquei-me para escola,quando me deparo com aquela turma correndo e um dos alunos destaca-dos puxava uma canção de guerra.

Em virtude do episódio acima citado, surgiu uma indagação: Por que,longe das vistas do instrutor, os policiais optaram por uma canção de guer-ra? Foi ao acaso que optaram em reproduzir a prática antiga ou estes jovensjá se identificavam com o modelo mesmo antes de ingressar na PMMT? O

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que isso teria a dizer em termos de pesquisa?Isto posto, este estudo foca o seguinte problema: Com o novo siste-

ma de ensino na Academia de Polícia Militar, ocorreram mudanças na for-mação e atuação democrática dos tenentes a partir de 2003 em relação aouso da força e armas de fogo?

Assim sendo, a pesquisa investiga os ref lexos do processo formativona atuação profissional dos jovens egressos do Curso de Formação de Ofi-ciais (CFO) após a reforma das bases curriculares em nível regional.

Preliminarmente, foram elaboradas duas hipóteses a partir do pro-blema central:

- Hipótese 1: O novo sistema de ensino da Academia de Polícia Mili-tar não promoveu mudanças na atuação democrática dos tenentes a partirde 2003 em relação ao uso da força e armas de fogo, pois a cultura vigenteainda tem grande influência na postura profissional dos egressos, princi-palmente quando em contato direto com policiais que mantêm uma con-cepção de formação voltada para a defesa do Estado.

- Hipótese 2: O novo sistema de ensino da Academia de Polícia Mili-tar possibilitou mudanças parciais na atuação democrática dos tenentes apartir de 2003 em relação ao uso da força e armas de fogo, pois os jovensegressos entendem a necessidade de melhoria da atuação policial, todaviaavaliam que a nova base curricular tem alguns focos de resistência culturalno processo formativo, principalmente quando se depararam com a neces-sidade de realizar atividades e estágios nos batalhões. Ocorrem dificulda-des de decidir, na prática, o que foi estudado na formação. Nota-se, em geral,uma distância dos discursos policiais relacionados ao que aprenderam nobacharelado e suas práticas correspondentes, oscilando entre posiçõesconservadoras e posições inovadoras.

Quanto aos sujeitos da pesquisa, estes possuem o cargo de TTTTTenen-enen-enen-enen-enen-tes da Ptes da Ptes da Ptes da Ptes da Polícia Militarolícia Militarolícia Militarolícia Militarolícia Militar. Assim, visando descrever e delimitar os sujeitos,recorro ao Código Brasileiro de Ocupações (CBO) elaborado em 2002 comodocumento normalizador do reconhecimento, da nomeação e da codificaçãodos títulos e conteúdos das ocupações do mercado de trabalho brasileiro.O Mistério do Trabalho e Emprego, em parceria com a FIPE e especialistasdas instituições policiais militares de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarinae Paraná, catalogaram no Código Brasileiro de Ocupações (CBO) os cargosde Primeiros Tenentes (código 020305) e Segundos Tenentes (código 020310)da Polícia Militar que possuem as seguintes ocupações:

Comandam pelotão, coordenam policiamento ostensi-vo, reservado e velado; assessoram comando, gerenciamrecursos humanos e logísticos, participam do planeja-mento de ações e operações, desenvolvem processos eprocedimentos administrativos militares, atuam na co-

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ordenação da comunicação social; promovem estudostécnicos e capacitação profissional. [...] Trabalham napolícia militar, no comando de pelotões, comoestatutários. Trabalham em equipe, sob supervisão. Atu-am em ambiente de trabalho que pode ser fechado, acéu aberto ou em veículos, em horários diversos: diurno,noturno e em rodízio de turnos. Atuam sob pressão, po-dendo levá-los à situação de estresse; correm risco deperder a vida em sua rotina de trabalho. [...] Para o exer-cício dessas ocupações requer-se Curso de Formação deOficiais em Academia da Polícia Militar (Ministério doTrabalho e Emprego -CBO, 2002).

Pela descrição do CBO (2002) a função de tenente exige as seguintescompetências pessoais: prestar assistência jurídica e religiosa; manter dis-crição e reserva; liderar equipes; trabalhar em equipe; manter equilíbrioemocional; manter condicionamento físico; atuar com ética profissional;exercer tolerância; comprometer-se com a legalidade; agir com humanida-de; tomar decisões rápidas e coerentes; desenvolver relacionamento inter-pessoal; manter-se atualizado; demonstrar flexibilidade; suportar situaçõesde estresse. O tenente necessita de recursos de trabalho, dos quais desta-cam-se: viatura; uniforme; armas de fogo; rádio intercomunicador; algemas;detector de metais; armas não letais; equipamentos de proteção individual.

***

Nesta pesquisa em educação, adotou-se metodologia com aborda-gem qualitativa, pela análise documental, pesquisa bibliográfica e entrevis-tas. Estes métodos, após análise e interpretação, tendem a contribuir paraavaliar as hipóteses sobre os efeitos ao novo sistema de ensino no Cursode Bacharelado em Segurança Pública e na formação e atuação democráticados tenentes em relação ao uso legal da força.

Segundo Ludke e André (1986, p.11) esta pesquisa qualitativa supõeo contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situaçãoque está sendo investigada, ocorrem detalhes de descrição, identifica-secomo um problema se manifesta como processo, são capturadas perspecti-vas dos entrevistados e a análise dos dados segue um processo que vai seafunilando.

Portanto, tendo em vista a amplitude da base curricular em seus con-teúdos, os níveis de atribuições exercidas pelos tenentes, o objeto foi sendoafunilado para um campo pontual da ação policial: O Uso Legal da Força.

Para abordar o Uso Legal da Força, recorro à resolução do “OitavoCongresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamentodos Infratores”, realizado em Cuba, no período de 27 de agosto a 07 de

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setembro de 1990. Constam, no documento, normas orientadoras aos Esta-dos-membros na tarefa de assegurar e promover o papel adequado dosencarregados da aplicação da lei, com princípios levados em consideraçãoe respeitados pelos governos no contexto da legislação e da prática nacio-nal, e levados ao conhecimento dos encarregados da aplicação da lei, assimcomo de magistrados, promotores, advogados, membros do executivo elegislativo e do público em geral.

No documento da ONU, em particular, destacam-se os PrincípiosBásicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo (PBUFAF) que recomendaaos Governos e aos organismos de aplicação da lei a adoção e a aplicaçãode regras sobre a utilização da força e de armas de fogo contra as pessoas,por parte dos policiais.

Considerações MetodológicasConsiderações MetodológicasConsiderações MetodológicasConsiderações MetodológicasConsiderações Metodológicas

Durante a pesquisa explorou-se documentos existentes na Acade-mia de Polícia Militar (livros, legislações, revistas). Visando o reforço à aná-lise, realizou-se pesquisa bibliográfica antes e após a interpretação das en-trevistas. “[...] a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que foidito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sobnovo enfoque ou abordagem, [...]” (MARCONI, LAKATOS, 2002, p.71).

A análise de dados resulta do cruzamento de dados das duasprimeiras partes com as informações sistematizadas nas entrevistas comos egressos sobre a formação e atuação policial em relação ao uso da força.As tendências e padrões, identificados e avaliados, buscam relações einferências num nível de abstração mais elevado, conforme preceituamLudke e André (1986, p.45).

As entrevistas ocorreram em duas fases distintas, a primeira realizadade forma semi-estruturada com três profissionais da educação (um coronele duas pedagogas), que contribuíram em âmbito nacional e estadual paraformulação das bases curriculares; a segunda fase e principal, de formaestruturada, com cinco tenentes que concluíram o curso de 2003.

Em relação aos especialistas entrevistados, sendo o objetivo explo-rar como foi construída a base curricular nacional, adotou-se uma entrevis-ta semi-estruturada com perguntas amplas visando sondar razões e motivosda instituição de um novo modelo de ensino policial.

Além da percepção dos especialistas entrevistados, verifiquei, emdocumentos, a percepção dos alunos da CFO em 2003. As bases curricularesantes e após 2001 sobre os conteúdos em geral e específicos sobre usolegal da força foram comparadas.

Quanto às entrevistas com os tenentes, em virtude de se obter res-postas para as mesmas perguntas e posterior comparação para ref letir dife-

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renças entre os respondentes, adotou-se um roteiro de entrevista de caráterestruturado com perguntas abertas. Conforme Marconi e Lakatos (2002, p.93-95), na entrevista estruturada as perguntas feitas ao indivíduo são predeter-minadas. Do universo de vinte sujeitos, foram entrevistados cinco egressos(quatro homens e uma mulher) da Academia de Polícia Militar Costa Verdeem Várzea Grande-MT que iniciaram o curso em 2001 e concluíram em2003, tendo em vista que, após 2003, ocorreram mudanças políticas nasbases curriculares. Selecionou-se aqueles que atuam profissionalmente emCuiabá na área de policiamento ostensivo no dia-a-dia. A amostra se restrin-ge aos que atuam em Cuiabá em virtude de aspectos de dificuldade logísticana realização das entrevistas. Dentre os recursos utilizados, optou-se pelasentrevistas estruturadas com os egressos através de anotações digitadas,principalmente pelo fato de alguns dos sujeitos da pesquisa se manifesta-rem pouco a vontade e naturais ao ter suas falas gravadas.“[...] as notas járepresentam um trabalho inicial de seleção e interpretação das informa-ções obtidas”(LUDKE, ANDRÉ, 1986, p.37).

Nas entrevistas estruturadas com os egressos, adotou-se o seguinteroteiro: perfil do entrevistado; conhecimentos adquiridos no Curso de For-mação de Oficiais (CFO) a respeito de Princípios Básicos sobre o Uso daForça e Armas de Fogo (PBUFAF); disciplinas do curso que abordam otema; conhecimento sobre o modelo de uso da força; desdobramento doníveis de força e relatos; procedimentos em caso de confronto letal; atua-ção como comandante em relação aos subordinados; entre outros assuntoscom maior flexibilidade.

Os cinco egressos entrevistados foram submetidos ao mesmo rotei-ro estruturado de perguntas, todavia suas respostas foram livres. A análisedas entrevistas, foi realizada através do cruzamento das entrevistas indivi-duais, sendo que cada pergunta foi transformada em um tópico, constam asrespostas uma a uma dos entrevistados dentro de cada tópico, com citaçãodiretas e indiretas. Cada entrevistado foi denominado de “Tenente” acresci-do uma letra do Código Fonético Internacional de Comunicação, usadocostumeiramente no âmbito das instituições militares ao citar letras doAlfabeto a fim de se evitar ruídos de comunicações de rádio. Exemplo: AAAAAlfa,BBBBBravo, CCCCCharlie, DDDDDelta, EEEEEcho, FFFFFox, GGGGGolf.

A análise da atuação democrática dos tenentes se operacionaliza emrelação aos princípios básicos de uso da força e armas de fogo, isto porqueimplica diretamente nas vidas das pessoas que o estado em tese deveriadefender. Assim foram verificados tratados internacionais sobre ação depoliciais, principalmente resoluções da Organização das Nações Unidas.

Para compreender melhor a questão do Uso Legal da Força, este pes-quisador realizou em outubro de 2006, um curso a distância com uma

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carga horária de 60h/a sobre o tema Uso Legal da Força, promovido pelaSecretaria Nacional de Segurança Pública e tutoria da Secretaria de Estadode Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso. O curso contribuiu emalguns aspectos sobre o tema, com informações mais detalhadas sobre aconduta do profissional de segurança pública ao se deparar com uma situ-ação de emprego de força e arma de fogo.

Esta obra está estruturada da seguinte forma: A primeira parte abordao tema Estado, democratização da polícia militar e uso legal da força;contextualiza o Estado e a construção do monopólio de força; versa sobreos esforços governamentais para a democratização da atuação policial mi-litar e enfoca o poder de polícia e o uso legal da força. A segunda parteaborda o sistema de ensino da PMMT e as bases curriculares do bacharela-do em segurança pública; descreve a trajetória do sistema de ensino daPMMT e analisa as bases curriculares nacionais e o bacharelado em segu-rança pública na PMMT. A terceira parte desdobra-se na análise e interpreta-ção das entrevistas com os jovens egressos e o uso legal da força (2001-2003); relata o perfil da juventude no Brasil e no bacharelado (CFO); analisaa formação e atuação dos tenentes em relação ao uso legal da força e apre-senta os resultados da entrevistas. Ao final são realizadas consideraçõessobre os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo, aspossibilidades e limitações na atuação democrática dos jovens tenentes daPMMT.

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Este capítulo contextualiza o Estado e a construção do monopólio daforça e o surgimento histórico da polícia como instrumento de controlesocial. Inicialmente recorro a Norbert Elias sobre o processo civilizatório emonopólio de força. Para construir uma linha de pensamento, com diver-sos olhares que descrevessem como se dá a manutenção da força estatal eo controle, constam breves contribuições teóricas de Foucault, Arendt,Goffman, Althusser e Bourdieu. Ao final apresento um recorte históricosobre a origem de uma instituição estatal que atua com instrumento domonopólio de força do Estado: a polícia em geral e a Polícia Militar de MatoGrosso em particular.

Conforme Elias (1994, p.193) o processo civilizador tem muitas vari-áveis, entre elas a mudança na conduta e sentimentos humanos rumo auma direção muito específica, apesar das mudanças não terem sido anteri-ormente planejadas ao longo do tempo, e posteriormente, questiona ainexistência da racionalidade de planejamento a longo prazo da civilizaçãoe depois argumenta que, apesar do não planejamento, ocorreu um tipoespecífico de ordem, com instrumentos de controle, tais como: autocontrole;e o sentimento de vergonha como regulação de toda a vida instintiva eafetiva em caráter estável, uniforme e generalizada.

Assim o processo civilizador surge ao longo do tempo. A civilizaçãoé posta em movimento pela dinâmica rede de relacionamentos, por mu-danças específicas na maneira como as pessoas se vêem obrigadas a convi-ver, desempenhando uma específica função social. Pelas mudanças psico-lógicas, molda-se um comportamento socialmente aceito mediante umainfinidade de medos. Quanto mais baixa a divisão de funções, mais instávelé a sociedade, enquanto mais complexa nas suas divisões tendem a mono-polização da força e isso influencia o autocontrole, tornando o meio socialpacificado e livre de atos de violência.

Segundo Elias a necessidade de uma sociedade constituir instrumen-tos de controle para sua proteção conduz à construção de um monopóliode força centrado na figura o Estado, que conduz o indivíduo a regular aconduta de maneira uniforme e estável. Vejamos:

Ao se criar monopólio de força, criam-se espaços pacifi-cados, que normalmente estão livres de atos de violência

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[...] Nelas o indivíduo é protegido principalmente con-tra ataques súbitos, contra a violência física em sua vida.Mas, ao mesmo tempo, é forçado a reprimir em si mes-mo qualquer impulso emocional para atacar fisicamen-te outra pessoa. (ELIAS, 1994, p. 198).

O Estado, por meio de mecanismos legais, tem como atributo co-mum a vigilância da conduta dos indivíduos e da massa, onde, paradoxal-mente, o medo assegura a conduta socialmente correta, “a monopolizaçãoda força física reduz o medo e o pavor que um homem sente do outro, masao mesmo tempo , limita a possibilidade de causar terror, medo ou tormen-to em outros.” (ELIAS,1994, p.201).

Em um outro contexto teórico, a disciplina passa a ser um instru-mento para adestrar e uniformizar as massas, na perspectiva de Foucault(1991, p.157), a disciplina tem como objetivo adestrar os indivíduos e, con-seqüentemente, retirar e se apropriar deles. Os instrumentos utilizados pelopoder disciplinador são: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e oexame. A vigilância hierárquica cria observatórios como nos acampamen-tos militares, desenhando uma rede de olhares que se controlam uns aosoutros. “A vigilância torna-se um operador econômico decisivo, na medidaem que é ao mesmo tempo uma peça interna no aparelho de produção euma engrenagem específica do poder disciplinar [...]” (FOUCAULT, 1991,p.157). A sanção normalizadora funciona como um mecanismo penal ondese qualificam e reprimem desvios de comportamento por meio de meca-nismos de macro e micro penalidades, de pequenas humilhações a casti-gos físicos. Tem um sistema duplo: gratificação-sanção, classificação ehierarquização de bons e maus indivíduos. A punição ocorre por opera-ções distintas tais como: relacionar os atos, os desempenhos, os comporta-mentos singulares a um conjunto, diferenciação e princípios de regras aseguir. A normalização ocorre através da comparação, diferenciação,hierarquização, homogeneização e exclusão. Aparece o poder da norma: onormal se estabelece como princípio de coerção. O poder de regulamenta-ção obriga a homogeneidade, permite individualizar desvios e prevê o ajus-tamento. O exame combina técnicas de hierarquia e sanção e o seu usopermite qualificar, classificar e punir. O exame fornece informações sobreas pessoas que indicam lugar e tempo, tornando-os descritivos, analisáveise identifica as suas singularidades, permitindo a comparação de resultados.

Ao mesmo tempo em que se criam monopólios de força e sãoconstruídos instrumentos de controle, surgem desvios e, a partir daí, oEstado exerce o seu poder. Neste contexto pode-se recorrer ao olhar deArendt (1994), sobre a distinção entre o binômio poder – violência, tãofreqüentemente confundidos por uma tradição do pensamento político,geralmente relacionado a mando e obediência. Para a autora a questão em

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quem domina quem: poder, vigor, força, autoridade e violência. “A formaextrema do poder e o todos contra um, a forma extrema da violência e oum contra todos. [...] o poder nunca é propriedade de um individuo; per-tence a um grupo e permanece em existência apenas na medida em que ogrupo conserva-se unido [...] a violência pode ser justificada mas nuncalegitimada [...]” (p. 35-36).

Todavia, este tecido social, para se livrar dos desvios de comportamen-to que possam causar riscos, criam instituições fechadas para abrigar aque-les que, em virtude de uma atividade ou comportamento, precisam ser isola-dos em manicômios e prisões, definidas como instituições totais. Vejamos:

Uma instituição total pode ser definida como um localde residência e trabalho onde um grande número deindivíduos com situação semelhante, separados da so-ciedade mais ampla por considerável período de tempo,levam uma vida fechada e formalmente administrada(GOFFMAN, 2005, p.11).

Goffman (2005, p.16-17) discorre que uma instituição total possuibarreiras do mundo externo, proibições à saída, portas fechadas, paredesaltas, arames, fossos. O autor enumera cinco agrupamentos de instituiçõesfechadas, aquelas que cuidam de pessoas incapazes e inofensivas comocrianças e idosos, em segundo lugar as incapazes que podem ameaçar acomunidade de modo não intencional como os que possuem doençascontagiosas e mentais. O terceiro tipo trata de ambientes para perigososintencionais como prisões. Já o quarto agrupamento são aquelas que reali-zam algum tipo de trabalho realizados em navios, quartéis, escolas internas.E finalmente Goffman cita o agrupamento destinado a refúgio do mundo,como mosteiros e conventos.

À medida que o Estado possui o monopólio da força, conforme pre-ceitua Norbert Elias, cria mecanismos de controle e disciplina dos indiví-duos conforme abordagem de Michel Foucault, e opera no binômio po-der-violência, conforme Hannah Arendt, estabelece instituições fechadasconforme estudo de Erving Goffman, ocorre então, a necessidade de criarmecanismos de sujeição, onde cada indivíduo reconhece o seu lugar den-tro de um contexto social e um conjunto de práticas reproduzidas ao lon-go do tempo: a ideologia.

Althusser (1985, p.7-9) define que a formação social é resultado deum modo de produção dominante. Inicialmente com a reprodução dosmeios de produção, tais como instrumentos de produção, relações entredemanda e oferta em todos os níveis, com uma relação de interdependênciade matéria prima e máquinas definidos como “uma espécie de fio sem fim”de reprodução das condições da própria produção e das relações de pro-

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dução existentes. O autor busca se apoiar teoricamente nas concepçõesmarxistas que têm posição de que o Estado é um aparelho repressivo doEstado, o poder de Estado é o que se busca, e aparelho de estado é instru-mento de manutenção da hegemonia. É a partir dessa posição marxista queAlthusser propõe um avanço na definição do aparelho de Estado, dividin-do-o em repressivo e ideológico. O aparelho repressivo de Estado (ARE)compreende as instituições puramente do Estado e “funciona através daviolência — ao menos em situações limites (pois a repressão administrati-va, por exemplo, pode revestir-se de formas não físicas)” (ALTHUSSER, 1985,p. 67-68). Os aparelhos ideológicos de Estado (AIE) se apresentam atravésde instituições distintas (públicas e privadas) e especializadas, tais como:igrejas; escolas; família; sistemas jurídico e político; sindicatos; veículos decomunicação; cultura. Os ARE e os AIE tendem a serem ambigüidade efuncionarem através da violência e de ideologia, distinguindo-se pelo mai-or ou menor grau de aplicação. Exemplo: “o Exército e a Polícia funcionamtambém através da ideologia, tanto para garantir sua própria coesão e repro-dução, como para divulgar os valores por eles propostos” (ALTHUSSER,1985, p.70).

Todo o processo formativo da ideologia perpassa distintos gruposcom ideologias sob medida, vejamos:

Cada grupo dispõe da ideologia que convém ao papelque ele deve preencher na sociedade de classe; papel deexplorado (a consciência “profissional”, “moral”, “cívica”,“nacional” e apolítica altamente “desenvolvida”); papelde agente de exploração (saber comandar e dirigir-seaos operár ios: as “relações humanas”); de agentes de re-pressão (saber comandar, fazer-se obedecer “sem dis-cussão” ou saber manipular a demagogia da retórica dosdirigentes políticos); ou de profissionais de ideologia (sa-ber tratar as consciências com o respeito, ou seja, o des-prezo, a chantagem, a demagogia que convém, com asênfases na Moral, na Virtude, na “transcendência”, nanação...).(ALTHUSSER, 1985, p. 79-80).

A ideologia só pode operar a partir de um sistema de pensamento,disseminando uma cultura por meio da escola, família e outras instituições.Bourdieu (1992, p.206-206) ao discorrer sobre sistemas de pensamento,entende que os autores primitivos não perceberam, quando dos escritossobre educação que, do mesmo modo que a religião, a cultura escolarpropicia aos indivíduos um corpo comum de categorias de pensamentoque tornam possível a comunicação. Os indivíduos são programados parauma pensar e agir e partilham de um certo “espírito”, moldados segundo omesmo modelo. Surgem os códigos comuns que permitem a comunicação

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entre pessoas e a escola é responsável pela transmissão da cultura e dosenso comum, da mesma forma que os fósseis permitem datar uma espé-cie antiga, vestígios cristalizados de debates indicam o pensamento de umaépoca. Os automatismos verbais e os hábitos de pensamento têm por fun-ção sustentar o pensamento, mas também podem, nos momentos de baixatensão intelectual, dispensar de pensar.

Em síntese, as contribuições dos autores mencionados neste capítu-lo, indicam que o Estado constrói o monopólio de força pelas diversaspráticas no contexto social ao longo da história; reafirma-se como ente deproteção da coletividade contra o indivíduo; age com legitimidade decor-rente do próprio indivíduo que receia ser alvo da violência, assim tambémlegitima o Poder do Estado, permitindo a criação de mecanismos de con-trole, espaços de exclusão, reprodução do cotidiano e sistemas de pensa-mento. Nota-se, então, uma representação imaginária dos indivíduos comas suas condições de existência e do imaginário surge a legalidade atribuí-da ao Estado, ou seja o seu monopólio de força. “[...] se ele crê na justiça,ele se submeterá sem discussão às regras do direito, e poderá mesmo pro-testar quando elas são violadas, assinar petições, tomar parte em uma mani-festação, etc.” (ALTHUSSER, 1985, p.90).

***

Ao longo da história da civilização, para coibir o fenômeno da violên-cia, a sociedade buscou soluções de controle social e autocontrole em diver-sos âmbitos. Instituições surgiram para proteger o indivíduo contra ataquesviolentos. Entre as organizações de controle surgiu a polícia. Este vocábulo,segundo Le Clere (1965) é de origem grega politeia, e passou para o latinpolitia, com o mesmo sentido: governo de uma cidade, administração.

A origem da polícia contada por Monteiro (1985, p.11-12), remontaao aparecimento do homem e da formação de clãs, como moradores decavernas e palafitas, quando a vigilância já era mantida, principalmente ànoite. É um princípio natural na história das civilizações, para manter asegurança para sobreviver. Para o autor a polícia é uma necessidade queatravessou séculos, percorrendo todos os espaços ocupados pelo homem,como corpo organizado ou simples vigilante, na formação das primeirasmilícias.

No antigo Egito verificou-se a figura do inspetor de quarteirão, queexercia a função de segurança nas ruas e praças. Na China antiga era desti-nado um funcionário de polícia para cada uma das cidades importantes,sob ordem de um magistrado. Em Roma a.C. existiam os questores quevelavam pela manutenção da ordem, sob o comando de um chefe de polí-cia e magistrado denominado E Dil . A França foi o primeiro país a instituir

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em sua linguagem jurídica a expressão “polícia”, com a função de precedera justiça, tendo a vigilância o seu principal caráter (LE CLERE, 1965).

No Brasil, em 13 de maio de 1809, D. João VI criou a Divisão Militar daGuarda Real de Polícia da Corte, a milícia era formada por 218 guardas comarmas e trajes idênticos aos da guarda portuguesa. Em 1989, com a procla-mação da República, o primeiro ato legislativo do Marechal Deodoro daFonseca foi autorizar os governadores dos Estados a legislar sobre as ati-vidades policiais. 1

Em 1969, pelo Decreto-lei n. 667/68, as Polícias Militares dos Estadosforam reestruturadas, com organização em conformidade com as normasexpedidas pelo Exército. Com o advento da Constituição Federal de 1988,as Polícias Militares receberam a atribuição de polícia ostensiva e a preser-vação da ordem pública, continuando como forças auxiliares e reserva doExército, porém com a função de atuar em um Estado democrático de Di-reito.

Após apresentar uma visão ampla sobre a construção do monopóliode força e o surgimento das polícias, abordarei em particular a origem daPolícia Militar do Estado de Mato Grosso, objeto desta pesquisa.

Origem da Polícia Militar de Mato GrossoOrigem da Polícia Militar de Mato GrossoOrigem da Polícia Militar de Mato GrossoOrigem da Polícia Militar de Mato GrossoOrigem da Polícia Militar de Mato Grosso

Conforme Monteiro (1985), com a criação da Capitania de Mato Gros-so em 1748, e com a vinda do seu primeiro governador, Dom AntonioRolim de Moura, em 1752, surgiu a necessidade de garantia organizada, poisfundaram a cidade de Vila Bela, que seria a Capital, e a primeira políciaapareceu. Verifica-se através da história, mormente nos arquivos de Estevãode Mendonça, que a polícia de Mato Grosso já teve vários nomes, tendosurgido como a tropa mista, com o nome de Companhia de Ordenanças de“homens pardos” em 1753, com um efetivo de 80 praças. Esta surgiu emvirtude da criação da Capitania de Mato Grosso em 1748. Quanto à dataexata de sua fundação sempre pairou dúvidas para Monteiro, porque pri-meiro se descobriu Cuiabá e só mais tarde as regiões de Mato Grosso, ondese implantou a primeira cidade (Vila Bela), com segurança própria, destina-da à sobrevivência de seus habitantes naqueles remotos tempos.

Em 1835 surge a Assembléia Legislativa Provincial, e que oficializou apolícia de Província de Mato Grosso, com a criação de um Corpo Policialcom a denominação de Homens do Mato, em substituição a Guarda Muni-cipal existente em Cuiabá desde 1831. Todavia, do que se verifica nos “fastos”de Mato Grosso, é que a segurança na região já existia 82 anos antes da data

1 Documentação registrada no Museu Nacional do Rio de Janeiro, 2005.

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de sua oficialização, que hoje se comemora a 5 de setembro de 1835.Em 1902, embora ainda tensa a situação, o então Corpo de Polícia do

Estado, quase sempre comandando por um Major ou Capitão, é reorganiza-do e passa então a ser Batalhão de Polícia Militar. (MONTEIRO, 1985, p.41).

Em 17 de janeiro de 1936, foi criada a lei n. 192 que reorganizou asPolícias Militares nos Estados sendo consideradas reserva do Exército. “Art.1- As Polícias Militares serão reorganizadas pelos Estados e pela União, naconformidade desta Lei, e são consideradas reserva do Exército,nos termosdo art 167 da Constituição Federal. [1935]” (p. 85).

Em 11 de julho de 1947, foi promulgada a Constituição do Estado deMato Grosso:

Art. 136 – A Polícia Militar, instituída para manter a segu-rança interna e assegurar a ordem do Estado, é conside-rada força auxiliar do Exército Nacional, nos termos daConstituição Federal (p. 107).

Em 25 de julho de 1947, o governador do Estado de Mato Grosso,através do Decreto n. 337 a Força Pública passa a denominar Polícia Militar.“ Art. Único – a Força Policial do Estado passa a denominar-se POLÍCIAMILITAR, revogadas as disposições em contrário.” (p. 105).

Atualmente, a Polícia Militar de Mato Grosso (PMMT) é uma institui-ção organizada com base na hierarquia e disciplina que possui como mis-são constitucional à polícia ostensiva e preservação da ordem pública, sen-do considerada, para fins de mobilização nacional, força auxiliar do Exérci-to Brasileiro. Os policiais militares são tratados como “militares estaduais” epossuem estabilidade de pública. A PMMT se subordina hierarquicamentee administrativamente ao Governador do Estado, sob a direção unificada evinculada à Secretária de Justiça e Segurança Pública. (Constituição Federal,1988).

Uma constituição desgarrada do costume democráticopermanece letra morta: é uma máscara de paz que es-conde uma face de rancores, de paixões tumultuadas(BOBBIO apud ZAVERUCHA, 2002, p.79).

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Neste capítulo, reporto ao esforço governamental de democratizaçãoda polícia militar pelos de mecanismos ideológicos e operacionais que,fundamentalmente, atuam com hierarquia e disciplina para garantir o con-trole interno e, conseqüentemente, agir como instrumento de Estado noregime democrático. Após a queda do regime militar no Brasil em 1984,buscou-se mudanças do modelo de polícia do regime autoritário (políciapolítica) para o regime democrático (polícia cidadã).

Inicialmente, o Estado Democrático de Direito no Brasil foi instituídocom a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, sendo:

[...] um Estado Democrático, destinado a assegurar oexercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, asegurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade ea justiça como valores supremos de uma sociedade fra-terna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmo-nia social e comprometida, na ordem interna e internaci-onal, com a solução pacífica das controvérsias [...](CF,1988)

São princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito: so-berania, cidadania, dignidade da pessoa humana, valores sociais do trabalhoe da livre iniciativa, pluralismo político. O poder emana do povo, que oexerce por meio de representantes eleitos ou diretamente. (CF, 1988).

Quanto às polícias militares, a atuação democrática está prevista noart. 144 que trata que segurança pública, dever do Estado, direito e respon-sabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e daincolumidade das pessoas e do patrimônio. Entre os órgão que exercem opapel de segurança pública, constam as polícias militares, que abrange apolícia ostensiva e a preservação da ordem pública, subordinando-se aosgovernadores do exército e sendo denominada forças auxiliares e reservado Exército. As instituições policiais militares, conforme a Carta Magna, sãoregidas por dois fundamentos básicos: hierarquia e disciplina. (CF, 1988).

Para garantir a hierarquia e disciplina, são instituídas, na mente dopolicial militar, uma formação ideológica meio policial, meio militar. O no-vato já se afastara de seu mundo doméstico e, no processo de admissão,uniformes são distribuídos, movimentos são padronizados para garantir

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uma unidade de pensamento. Surgem os primeiros testes de obediência, umexemplo é o juramento de defender a sociedade com risco da própria vida:

Art. 35 Ao ingressar na Polícia Militar do Estado de MatoGrosso, prometo regular a minha conduta pelos precei-tos da moral, cumprir rigorosamente as ordens das au-toridades que estiver subordinado e dedicar-me inteira-mente ao serviço policial militar, à manutenção da or-dem pública e à segurança da comunidade, mesmo como risco da própria vida. (Estatuto da PMMT, 1993).

Paradoxalmente, para cumprir os princípios fundamentais do Esta-do Democrático de Direito, é necessário que o policial militar abdique dealguns direitos individuais e sociais, inclusive do direito a vida. Na citaçãoanterior fica evidente a ação ideológica do aparelho de Estado e conse-qüente sujeição do indivíduo em arriscar a sua vida pelo dever profissio-nal. Segundo Muniz (1999), no dia-a-dia, os PMs são chamados a intervir emqualquer evento sempre que ocorre “[...] algo-que-não-devia-estar-aconte-cendo-e-sobre-o-qual-alguém-tem-que-fazer-alguma-coisa-agora-e-bem [...]”.

A sujeição se estabelece logo após o ingresso na vida militar. Segun-do Goffman (2005, p. 22) as instituições totais são estufas para mudar pesso-as através o mundo do internato :

O novato chega ao estabelecimento com uma concep-ção de si mesmo que se tornou possível por algumasdisposições sociais estáveis no seu mundo doméstico.[...] O seu eu é sistematicamente, mortificado. Começa apassar por algumas mudanças radicais eu sua carreiramoral.[...] Uma descrição de vida de um cadete numaacademia militar dá exemplo disso: a ruptura nítida como passado precisa ser efetivada em tempo relativamentecurto [...] ajuda a criar um grupo unificado de calouros,e não uma coleção heterogênea de pessoas com alto ebaixo status. Os uniformes são distribuídos na primeirodia [...] o papel de cadete deve sobrepor-se a outrospapeis que o indivíduo estava habituado a desempenhar.Restam poucas indicações que revelam o status socialcom o mundo externo.

Reforço ainda essa evidência à luz da interpretação Althusser porAlbuquerque (1985), ele afirma que as ideologias possuem existência emum campo da realidade e visam à reprodução continuada do modelo domi-nante de sociedade, criando divisão de trabalho em um mecanismo onde aideologia leva o sujeito — neste caso o policial militar — a reconhecer

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onde é o seu lugar no contexto social através da sujeição (grifei), que nãoestá presente somente nas idéias, mas também em um conjunto de práti-cas, de rituais situados em um rol de instituições concretas, constituindo oque é denominado de Aparelho Ideológico de Estado (AIE).

Como já abordamos no capítulo 1, os Aparelhos Ideológicos de Esta-do (AIE) se apresentam através de instituições distintas (públicas e priva-das) e especializadas, tais como: igrejas, escolas, família, sistemas jurídico epolítico, sindicatos, veículos de comunicação, cultura. Outra modalidadede aparelho, denominada de Aparelho Repressivo de Estado (ARE), compre-ende as instituições puramente do Estado e, que “funciona através da vio-lência — ao menos em situações limites (pois a repressão administrativa,por exemplo, pode revestir-se de formas não físicas)” (ALBUQUERQUE, In:ALTHUSSER, 1985, p. 67-68). Os ARE e os AIE tendem a ambigüidade e searticulam através da força e da ideologia, se distinguindo pelo maior oumenor grau de aplicação.

A trajetória histórica das polícias segue um processo civilizador nosentido de regular a conduta do indivíduo no contexto social pelos instru-mentos disciplinadores, operando com o uso da repressão e da ideologia.

A partir de 1984, com a advento da democracia brasileira e queda daditadura militar, surge um novo esforço ideológico na construção do papeldas polícias militares: de órgão de defesa do Estado para órgão de defesa doCidadão.

Para Guimarães (2002) ocorre uma migração de uma polícia de Esta-do — antes voltada para proteção de um governo e determinados gruposou classes — para a polícia de proteção a cidadania, esta, em tese, reconhe-ce a diversidade social, o respeito ao indivíduo e a coletividade em todosos seus segmentos. Cidadania pressupõe o equilíbrio entre os interessesdo indivíduo e da coletividade.

A polícia cidadã deve ser imparcial, reconhecer os movi-mentos de garantia das diferenças e das divergências,respeitar todos os seguimentos e garantir os espaçoslegítimos de manifestação. A mediação constitui-se suaprimeira e principal metodologia de ação e a repressãopolicial, a excepcionalidade. (p. 121-122).

A transformação da polícia de defesa do Estado para defesa da cida-dania ganha maior materialidade a partir de 2001, após diversos episódiosveiculados sobre o despreparo profissional e a violência policial. O Gover-no Federal, por meio do Ministério da Justiça passou a exigir dos estadosbrasileiros uma profunda reforma nas bases curriculares das escolas deformação de policiais. A reforma ocorreu por um programa denominado“Bases Curriculares para Formação dos Profissionais de Segurança do Cida-

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dão”, visando homogeneizar os cursos de formação, planejamento curricular,assegurar o princípio de eqüidade no processo de formação, a unidade depensamento e ações adequadas às necessidades sociais.

Nota-se que o “Poder de Estado”— representado por um segmentopoliticamente institucionalizado a quem se delega a faculdade de instituir eexecutar o processo político-jurídico, bem como a coordenação da vonta-de coletiva (ESG, 2000, p.51) — mesmo com o monopólio dos meios legí-timos de coerção, resolve contribuir com as mudanças dos aparelhos derepressão estaduais, com um foco na cidadania e a partir disso impõe umanova concepção ideológica denominada “polícia cidadã” e aos órgãos deformação policial lançam a tarefa de destruir uma ideologia repressiva ereconstruir uma ideologia cidadã. Na fundamentação teórica deAlthusser a escola possui papel fundamental como mecanismo ideológicona formação das diversas classes para reprodução dos meios de produção.Sobre o referencial althusseriano, a escola é considerada:

O aparelho ideológico escolar, como outros Aparelhosideológicos do Estado, não se reduz à existência de idéiassem suporte mater ial. No AIE escolar também é realiza-da a Ideologia de estado em sua totalidade, ou em parte,garantindo unidade de sistema “ancorada” em funçõesmateriais, que lhe são próprias e não redutíveis à ideolo-gia de Estado, mas que lhe servem de suporte. (CASSIN,2003 p.331).

Teoricamente a mudança ideológica deveria ocorrer na estrutura e fun-cionamento das instituições policiais militares, pois, pela análise de empregodos AIE e ARE, para garantir a reprodução do modo de produção é necessárioter o poder de Estado, deter o aparelho de Estado e seus ARE e AIE.

Assim sendo, o governo democrático brasileiro possui o poder legí-timo, detém o controle das instituições policiais militares, estabelece umnovo enfoque de funcionamento ideológico pautado na cidadania. Obser-vo uma relação paradoxal do Poder de Estado representado politicamentepor um governo e as suas imposições sobre os Aparelhos de Estado, repre-sentado pelas instituições. É possível perceber que o Poder de Estado, emquestões mais profundas, mantém uma certa inércia em relação aos Apare-lhos de Estado, estes aparentam possuir uma outra ideologia de resistênciae com “blindagem” contra qualquer postura ideológica contrária aos inte-resses orgânicos institucionalizados, como se possuíssem vidas autôno-mas e paralelas dentro do Estado.

Para Zaverucha (2002) a democracia tutelada é uma situação interme-diária entre um regime autoritário e um regime democrático, já que combi-na elementos democráticos com traços autoritários:

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Se quisermos reformular o atual modelo de policiamen-to, será necessário da um salto de qualidade em nossademocracia. Poderíamos começas seguindo as constitui-ções democráticas. Em nenhuma delas admite-se [...] quepolícia esteja sob controle do Exército.(p.94).

A Escola Superior de Guerra (ESG, 2000) em seus fundamentos dou-trinários, a ideologia é descrita como imprescindível à compreensão deum cenário social, porém quando se tornam dogmáticas, passam a geraruma ideologia dominante e outras concorrentes.

[...] será possível distinguir-se, além da ideologia domi-nante, alguma doutrina de ideologia concorrente. Identi-ficar a natureza das principais correntes ideológicas oudoutrinárias, e, entre elas, as dominantes e subdominantes,é imprescindível para a compreensão das atitudes dosatores políticos, em profundidade e alcance, e para adeterminação dos cenários prospectivos possíveis naevolução de um Sistema Político, [...] O que empresta àsideologias sua conotação negativa é o seu sentido acríticoe dogmático, sua tendência a constituir-se como umacosmovisão, tudo explicado, justificado ou rejeitado sobum único ponto de vista. [...] nem sempre o conseguem,pode-se mesmo dizer que geralmente não o conseguem,embora imponham muitos sacrifícios à sociedade natentativa.” (ESG, 2000, p.71).

Entendo que uma via única com duplo sentido se estabelece quan-do é exigido do sujeito uma atitude policial (crítica e direcionada para acriação, mediação de conflitos comunitários) e, ao mesmo tempo, umaatitude militar com foco em regulamentos rígidos e atitudes uniformes. Oparadoxo se estabelece, ora o sujeito caminha sobre os “trilhos”, ora identi-ficando e percorrendo novas “trilhas”. O que de fato o poder de Estadodeseja como uma polícia cidadã? Estar próxima da comunidade? Sabe-seque os membros da instituição policial militar se portam como ARE atravésde ações legitimadas pelo “poder de polícia” — mito ideológico do deveragir em nome da sociedade — efetuando prisões, reintegrações de posses,controles de manifestações, serviços de guarda de órgãos públicos, entreoutros. Assim, “o ofício de polícia sempre foi considerado um mecanismomeramente de contenção dos maus cidadãos (numerosas classes domina-das) na proteção dos bons cidadãos (classes dominantes)” (GUIMARAES,2002, p.127).

Todavia, as mudanças nas bases curriculares, até onde é possívelobservar, tem mais foco na melhoria da capacitação dos policiais, no esfor-

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ço de torná-los melhores cidadãos, do que expressamente na mudança dofuncionamento das instituições. O incremento de disciplinas e temas glo-bais, indicam melhorias na qualificação ideológica dos sujeitos, o quetorna mais eficiente o uso do aparelho policial pelo Poder de Estado pelasua reprodução.

Pela doutrina nacional vigente, em suas normas e princípios legais,“o Bem Comum” continua sendo o alvo do Poder do Estado, o que legitimao agir dos aparelhos em nome da coletividade e conseqüente manutençãodo monopólio da força. Assim me parece que a polícia com enfoque nocidadão(ã), a denominada “polícia cidadã”, atua em um segundo nível deprioridade e, no conflito de interesses entre Estado e Cidadão, as institui-ções do ARE tendem a sua posição ideologicamente definida, ou seja, adefesa do Poder de Estado.

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Poder de PolíciaPoder de PolíciaPoder de PolíciaPoder de PolíciaPoder de Polícia

Segundo De Freitas (1987, p.77-89) o termo polícia abrange a ativida-de estatal voltada para a defesa dos interesses da coletividade concernentesa tranqüilidade, segurança e salubridade pública. É o poder assegurado porlei ao Estado para a defesa do interesse coletivo, condicionando ou restrin-gindo o uso e gozo de direitos individuais que afetem o bem estar socialem um sentido mais amplo. No Brasil a expressão PODER DE POLÍCIA teveseu primeiro conceito no Código Tributário Nacional, art. 78:

[...] considera-se poder de polícia a atividade da Admi-nistração Pública que, limitando ou disciplinando o direi-to, interesse ou liberdade, regula a prática de ato e abs-tenção de fato, em razão de interesse público concernenteà segurança , à higiene, à ordem, aos costumes, à discipli-na de produção e do mercado, ao exercício de atividadeseconômicas dependentes de autorização do Poder Pú-blico, á tranqüilidade pública ou ao respeito à proprie-dade e aos direitos individuais e coletivos.(p.80).

A cidadania, disciplinada por princípios jurídicos, expressa vinculoentre Estado e seus membros, que por um lado implica em submissão àsautoridades que exercem atividades de administração pública e, por outrolado, o exercício de direito do cidadão.

O ramo do direito que disciplina a administração pública é o direitoadministrativo, o seus poderes instrumentais são os seguintes: poder vin-culado, poder discricionário, poder hierárquico, poder disciplinar, poderregulamentar e poder de polícia.

O direito administrativo proclama a superioridade do interesse dacoletividade, f irmando a prevalência dele sobre o do particular. Especifica-mente, entre os poderes instrumentais, o Poder de Polícia dá o poder dapolícia em agir e é a razão de sua existência como força pública do Estado.

O Poder de Polícia autoriza a administração pública a exercer os atoscoercitivos necessários a fazer, quando colidentes o interesse geral prevale-

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ce sobre os interesse individual, todavia, tem barreiras que caso sejam ul-trapassadas levam à arbitrariedade, ao abuso de poder, ao abuso de autorida-de, sujeitando o agente público responsável às sanções legais de naturezaadministrativa, criminal e cível. (LAZZARINI, 2001, p.07-30).

Jose Cretelha Junior apud Lazzarini (2001) conceitua polícia comoalgo concreto em um conjunto de;

[...] atividades coercitivas exercidas na prática dentrode um grupo social, o poder de polícia é uma faculdade, uma possibilidade, um direito que o Estado tem de, atra-vés da polícia, que é uma força organizada, limitar asatividades nefastas dos cidadãos [...] O Poder de Polícialegitima a ação da polícia e a sua própria existência [...]”( p. 20).

Lazzarini conceitua o poder de polícia como sendo:

Como poder administrativo, o Poder de Polícia, que legi-tima o poder da polícia e a própria razão dela existir, éum conjunto de atribuições da Administração Pública,como poder público , indelegáveis aos entes particula-res, embora possam estar a ela ligados, tendentes ao con-trole dos direitos e liberdades das pessoas, naturais oujurídicas, incidentes não só sobre elas, como também emseus bens e atividades, tudo a ser inspirado nos ideais dobem comum.” (p. 21).

Seguindo a linha do autor, o Poder de Polícia possui atri-butos específicos: Discricionariedade, auto-executoriedade e coercibilidade. A discricionariedade,exercida dentro dos limites impostos pela lei, é o uso daliberdade legal de valoração das atividades policiadas,não podendo ser confundida com arbitrariedade, deven-do ser observada o que a lei impõe, como são as hipóte-ses do artigo quinto da Constituição da República. Aauto-executoriedade do ato da polícia diz respeito auma decisão e sua execução direta, como decorrênciado próprio poder de polícia, salvo casos em que a nor-ma constitucional imponha a prévia manifestação doPoder Judiciário. A coercibilidade do ato de polícia é aimposição coativa das medidas adotadas pela Adminis-tração no exercício do Poder de Polícia, sendo um atoimperativo, obrigatório ao seu destinatário e quando esteopõe resistência admite-se até o uso da força públicapara o seu cumprimento, inclusive aplicando as medi-das punitivas que a lei indique.

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Aos atributos citados cabem as recomendações do Co-mitê Internacional da Cruz Vermelha quanto a legalida-de, necessidade e proporcionalidade da decisão a sertomada pelo encarregado da aplicação da lei. Todavia, oPoder de Polícia não é ilimitado, suas barreiras e limitessão entre outros, os direitos dos cidadãos no regime de-mocrático (civis, políticos, econômicos, sociais, culturaise ambientais), as prerrogativas individuais e as liberda-des públicas garantidas pelas Constituições e pelas leis.

Abusos policiais relacionados ao poder de políciaAbusos policiais relacionados ao poder de políciaAbusos policiais relacionados ao poder de políciaAbusos policiais relacionados ao poder de políciaAbusos policiais relacionados ao poder de polícia

Conforme o sociólogo Túlio Kahn (2002, p.84-85) a democratizaçãodo país ocorrida na última década e o intercâmbio de experiências compolícias de outros países têm contribuído para a melhora da situação, espe-cialmente no que tange à violência. Conforme o autor, inúmeros fatorespodem ser elencados para explicar a diminuição relativa da violência poli-cial, num contexto de aumento da criminalidade: criação de Ouvidorias depolícia nos diversos Estados; julgamento em tribunais civis dos crimes dehomicídio cometidos por policiais militares; a introdução da filosofia depoliciamento comunitário; cursos de direitos fundamentais ministrados apolícias nas academias em conjunto com organizações não-governamen-tais; utilização de armamento alternativo para a repressão de conflitos; mu-dança de alvo nas academias de polícia; a exigência de segundo grau para oingresso na carreira policial em alguns Estados; a divulgação pública peri-ódica das estatísticas envolvendo a morte de policiais e civis em confron-tos; elaboração dos planos nacional, estadual e municipal de direitos huma-nos; entre outras.

Lemgruber (2003, p. 212) em pesquisa realizada com policiais da re-gião sudeste, sobre desvios de conduta, concluiu que:

[...] os policiais tendem a atribuir gravidade maior aosdesvios com motivações econômicas, e relativamentemenor àqueles associados à violência arbitrária ou aouso excessivo da força contra a população civil – suge-rindo uma internalização dos valores corporativos e doscódigos disciplinares, que geralmente colocam em pri-meiro lugar a garantia da ordem institucional interna eem plano secundário a proteção da vida e da segurançados cidadãos.

Morgado (2001) se referindo a crimes de policiais contra civis, enten-de que:

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Fatores como descontrole emocional e despreparo téc-nico parecem ser, neste contexto, os que menos contampara explicar o fenômeno. Não se desconsidera que es-ses funcionários da Segurança possam agir impulsiva-mente. Entretanto, há muitos outros fatores que antece-dem essa possível manifestação de subjetividade de umpolicial, ou do grupo deles, no momento da ação crimi-nosa [...] há de se considerar, portanto, que, desde a suacriação, a polícia política foi treinada para, nos momen-tos de suspensão dos direitos políticos, combater uminimigo representado pelos opositores internos. Portan-to o descontrole emocional e despreparo técnico nãodevem ser supervalorizados (p.39-41).

Vários movimentos nacionais e internacionais tentam reduzir a práti-ca arbitrária nas ações policiais, são resoluções internacionais, tratados, pro-jetos de reforma das polícias no Congresso Nacional, modificaçõescurriculares. Dentre os diversos encaminhamentos sobre o tema, desta-cam-se normas e tratados internacionais adotados no Brasil parainstrumentalizar o uso legal da força através de princípios e modelos.

Uso Legal da FUso Legal da FUso Legal da FUso Legal da FUso Legal da Força:orça:orça:orça:orça: Instr Instr Instr Instr Instrumentos parumentos parumentos parumentos parumentos para uma a uma a uma a uma a uma Atuação DemocráticaAtuação DemocráticaAtuação DemocráticaAtuação DemocráticaAtuação Democráticada Políciasda Políciasda Políciasda Políciasda Polícias

Neste sub-tema apresento instrumentos legais que visam democrati-zar a atuação das polícias em relação ao emprego da força e armas de fogo.Inicialmente com a Declaração Universal dos Direitos Humanos; em segui-da com o Código de Conduta para Funcionários Encarregados de FazerCumprir a Lei; a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou PenasCruéis, Desumanos ou Degradantes; a Resolução do Oitavo Congresso dasNações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Infratorescom destaque aos Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas deFogo. O embasamento jurídico sobre o uso da força é apontado através doCódigo Penal e Código Processo Penal Brasileiro. Ao final segue o Modelode Uso da Força, uma pirâmide de uso de força crescente, adotado noscursos policiais no âmbito nacional e internacional.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assem-bléia Geral das Nações Unidas, por meio da Resolução n. 217 de 10 dedezembro de 1948, e assinada pelo Brasil, definiu princípios morais e éti-cos que devem orientar os povos das Nações Unidas. Dos 30 artigos, comfoco nesta pesquisa, destacam:

[...]Artigo III – Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e

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à segurança pessoal.Artigo V – Ninguém será submetido a tortura, nem atratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.Artigo IX – Ninguém será arbitrariamente preso, detidoou exilado. (CEPIA, 2001, p. 12-13).

Em 1979 foi criado o Código de Conduta para Funcionários Encarre-gados de Fazer Cumprir a Lei, adotado pela Assembléia Geral das naçõesUnidas em 17 de dezembro de 1979, através da Resolução 36/169. Esta reso-lução é recomendada tendo em vista o respeito aos direitos humanos e agarantia das liberdades fundamentais de todos os cidadãos. Dos oito arti-gos, destacam:

Artigo 1 – Os funcionários encarregados de fazer cum-prir a lei deverão cumprir em todo momento os deveresque lhes impõem a lei, servindo a sua comunidade e prote-gendo a todas as pessoas contra atos ilegais, em conso-nância com o alto grau de responsabilidade exigido porsua profissão.Artigo 2 – No desempenho de suas tarefas, os funcioná-rios encarregados de fazer cumprir a lei devem respei-tar e proteger a dignidade humana e manter e defenderos direitos humanos de todas as pessoas.Artigo 3 – os funcionários encarregados de fazer cum-prir a lei poderão usar a força apenas quando estrita-mente necessário e na medida em que seja exigida parao desempenho de suas tarefas.[...] (CEPIA, 2001, p. 121- 126).

Para reforçar o artigo V da Declaração de Direitos Humanos foiestabelecida a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou PenasCruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembléia Geral dasNações Unidas, através da Resolução n. 34/46, em 10 de dezembro de 1984e ratificada no artigo 5 da Constituição Federal Brasileira de 1988. CadaEstado-Parte ficou incumbido de apresentar um relatório de quatro emquatro anos ao Comitê Contra Tortura da ONU. Entre 33 artigos destacam-seos seguintes:

[...] Para fins da presente Convenção, o termo “tortura”designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentosagudos, físicos e mentais, são inf ligidos intencionalmen-te a uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pes-soa, informações ou confissões; [...] quando tais dores ousofr imentos são infligidos por um funcionário público

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[...]. Não se considerará como tortura as dores ou sofri-mentos que seja conseqüência unicamente de sançõeslegítimas, ou que sejam inerentes a tais funções ou delasdecorram [...] (p.55-59).

Segundo Rover (1998), em 27 de agosto a 07 de setembro de 1990, foirealizado em Cuba o Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Preven-ção do Crime e o Tratamento dos Infratores, tendo como objetivo proporci-onar normas orientadoras aos Estados-membros na tarefa de assegurar epromover o papel adequado dos encarregados da aplicação da lei, comprincípios levados em consideração e respeitados pelos governos no con-texto da legislação e da prática nacional, e levados ao conhecimento dosencarregados da aplicação da lei assim como de magistrados, promotores,advogados, membros do executivo e legislativo e do público em geral.

O instrumento acima reconhece importância e a complexidade dotrabalho dos encarregados da aplicação da lei, reconhecendo também oseu papel de vital importância na proteção da vida, liberdade e segurançade todas as pessoas. Este tratado internacional encoraja os governos a man-ter sob constante escrutínio as questões éticas associadas ao uso da força earmas de fogo.....

No congresso da ONU em 1990, foram apresentados os PrincípiosBásicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo. Segue alguns trechos:

1. Os Governos e os organismos de aplicação da lei devemadotar e aplicar regras sobre a utilização da força e dearmas de fogo contra as pessoas, por parte dos policiais.[...]2. Os Governos e os organismos de aplicação da lei de-vem desenvolver um leque de meios tão amplo quantopossível e habilitar os policiais com diversos tipos dearmas e de munições, que permitam uma utilização dife-renciada da força e das armas de fogo.[...]4. Os policiais, no exercício das suas funções, devem, namedida do possível, recorrer a meios não violentos antesde utilizarem a força ou armas de fogo. Só poderão re-correr à força ou a armas de fogo se outros meios semostrarem ineficazes ou não permitirem alcançar o re-sultado desejado.5. Sempre que o uso legítimo da força ou de armas defogo seja indispensável, os policiais devem:a) Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser pro-porcional à gravidade da infração e ao objetivo legítimoa alcançar;b) Esforçar-se por reduzirem ao mínimo os danos e le-sões e respeitarem e preservarem a vida humana;

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c) Assegurar a prestação de assistência e socorros médi-cos às pessoas feridas ou afetadas, tão rapidamente quan-to possível;d) Assegurar a comunicação da ocorrência à família oupessoas próximas da pessoa ferida ou afetada, tão rapi-damente quanto possível.[...]9º - Policiais não devem usar armas contra pessoas, excetopara se defender ou defender terceiros contra iminenteameaça de morte ou lesão grave, para evitar a perpetra-ção de um crime envolvendo grave ameaça à vida, paraprender pessoa que represente tal perigo e que resista àautoridade, ou para evitar sua fuga, e apenas quandomeios menos extremos forem insuficientes para atingirtais objetivos. Nesses casos, o uso intencionalmente letalde arma só poderá ser feito quando estritamente neces-sário para proteger a vida.10. Nas circunstâncias referidas no princípio 9, os polici-ais devem identificar-se como tal e fazer uma advertên-cia clara da sua intenção de utilizarem armas de fogo,deixando um prazo suficiente para que o aviso possaser respeitado, exceto se esse modo de proceder colocarindevidamente em risco a segurança daqueles responsá-veis, implicar um perigo de morte ou lesão grave paraoutras pessoas ou se se mostrar manifestamente inade-quado ou inútil, tendo em conta as circunstâncias do caso.[...] 26. A obediência a ordens superiores não pode serinvocada como meio de defesa se os policiais sabiamque a ordem de utilização da força ou de armas de fogode que resultaram a morte ou lesões graves era manifes-tamente ilegal e se tinham uma possibilidade razoávelde recusar-se a cumpri-la. Em qualquer caso, tambémserá responsabilizado o superior que proferiu a ordemilegal.

Quanto a legislação brasileira, destacam-se as seguintes leis:

Código Penal Brasileiro:[...]Art. 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato:I – em estado de necessidade.II – em legítima defesaIII – em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular

do direito.Código Processo Penal Brasileiro:

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[...]Art. 284 – Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensá-

vel no caso de resistência ou tentativa de fuga de presos.

Modelo de Uso da Força PolicialModelo de Uso da Força PolicialModelo de Uso da Força PolicialModelo de Uso da Força PolicialModelo de Uso da Força Policial

O Modelo de Uso Legal da Força visa orientar a ação a ser tomadapelo policial frente a uma reação de uma pessoa cometendo delito ou emsituação de fundada suspeita. “Força é toda intervenção compulsória sobreum indivíduo ou grupo de indivíduos reduzindo ou eliminando sua capa-cidade de auto decisão” (SENASP, 2006, p.39).

Sobre o Uso Legal da Força, a Secretaria Nacional de Segurança Públi-ca- SENASP (2006), apresenta diversos modelos sobre o uso progressivo daforça nos cursos sobre o tema: FLETC, GILLESPIE e REMSBERG, PHOENIX,NASHVILLE e CANADENSE. Os modelos variam no nível de força, avaliaçãoda atitude do suspeito e percepção de risco, variam seus formatos em grá-ficos, círculos, tabelas e gráficos. No Brasil o modelo mais utilizado é oFLETC adaptado.

O FLETC, segundo Leão (2001), surgiu em 1992 nos Estados Unidos,o Instituto de Treinamento Policial da Universidade de Ilinois desenvolveuuma pirâmide de uso de força crescente, chamada de “Modelo de Uso deForça” adotado nos cursos policiais. Este modelo envolve a percepção dopolicial quanto ao agressor em cinco níveis: submissão, resistência passiva,resistência ativa, agressão física não letal e agressão física letal; para cadagrau corresponde a ação de resposta do policial contra o agressor na mes-ma ordem: controle verbal, controle de contato, controle físico, táticas de-fensivas não letais e força letal. Segundo Leão, apesar de bem aceito entreos norte-americanos, esse quadro ainda deixa dúvidas quanto à percepçãodo policial em relação á atitude do suspeito.

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O Sistema de Ensino da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso,conforme a Lei de Diretrizes Básicas da Educação Nacional, possui sistemapróprio de ensino, com a finalidade de proporcionar ao respectivo pessoal acapacitação para o exercício dos cargos e funções previstos em sua organiza-ção, bem como, proporcionar assistência educacional aos seus dependentes.

O Ensino Profissional na Polícia Militar é ministrado pela Academiade Polícia Militar aos oficiais (tenente, capitão, major, tenente coronel ecoronel), pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (soldado,cabo, sargento e sub tenente).

O Ensino Fundamental compreende o Ensino de Pré-Formação, cons-tituindo o ensino do Pré-Escolar, 1º e 2º graus, ministrados nos ColégiosTiradentes, visando assegurar assistência educacional permanente aos ser-vidores da Corporação, bem como aos seus dependentes e aos dependen-tes dos civis, segundo o que estabelecem os dispositivos regulamentares.

A supervisão, orientação e inspeção do ensino da Polícia Militar sãoexercidas pelo Centro de Capacitação Desenvolvimento e Pesquisa (CCDP),que expede normas, diretrizes e demais instruções para o cumprimento dalegislação vigente.

O Ensino Profissional da PMMT compreende três graus: Fundamen-tal, Médio e o Superior. O Ensino Fundamental constitui-se dos cursos deformação, de especialização e extensão de cabos e soldados. O Ensino Médioconstitui-se dos cursos de formação, de aperfeiçoamento, de especializa-ção e de extensão de sargentos. O Ensino Superior, com três ciclos, abran-ge: o primeiro ciclo, os cursos de formação e especialização, que capacitamao exercício de funções privativas de oficial subalterno (tenente) e inter-mediário (capitão); o segundo ciclo, o Curso de Aperfeiçoamento de Ofici-ais, que propicia condições de desempenho de funções de Estado-Maiorde nível operacional e de funções próprias de oficial superior (major etenentes-coronel); o terceiro ciclo, o Curso Superior de Polícia, que preparao oficial para o exercício de funções de alto executivo da Polícia Militar(coronel).

A Polícia Militar mantêm os seguintes cursos: Curso Superior de Po-lícia (CSP), visando à atualização e à ampliação de conhecimentos de ofici-ais superiores, habilitando-os ao exercício de comandos e para os cargos efunções de Coronel da Polícia Militar, com uma carga horária de 780 horas-

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aula; Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), visando ao preparo parao exercício de funções de Oficial do Estado-Maior, com um carga horáriode 780 horas-aula; Curso de Adaptação para Oficiais, visando ao preparofuncional de candidatos selecionados para o ingresso no posto inicial doQuadro de Oficiais de Saúde, com uma carga horária de 780 horas-aula;Curso de Habilitação de Oficiais aos Quadros de Administração e de Espe-cialistas, visando ao preparo funcional de candidatos selecionados paraingresso no posto inicial dos Quadros, com uma carga horária de 1.400horas-aula; Curso de Formação de Oficiais (CFO), de grau superior, visandoà formação técnico-profissional e humanística necessária ao exercício defunções inerentes ao Quadro de Oficiais Policiais Militares (QOPM), comuma carga-horária de 4.410 horas-aula, divididas eqüitativamente em 1.470para cada um dos três anos do Curso de Formação de Oficiais; Curso deAperfeiçoamento de Sargentos (CAS), visando à ampliação e atualização deconhecimentos técnico-profissionais de sargentos, com uma carga-horáriade 780 horas-aula; Curso de Formação de Sargentos (CFS), visando à forma-ção básica técnico-profissional, necessária ao exercício das diversas fun-ções e atividades inerentes às graduações de sargentos, com uma cargahorária de 1.400 horas-aula; Curso de Formação de Cabos (CFC), visando àformação básica técnico-profissional, necessária ao exercício das diversasfunções e atividades inerentes às graduações de cabos, com uma cargahorária de 800 horas-aula; Curso de Formação de Soldados, visando à forma-ção básica técnico-profissional, necessária ao exercício das diversas fun-ções e atividades inerentes à graduação de soldado, com uma carga horáriade 400 horas-aula.

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A Polícia Militar de Mato Grosso não contava com oficiais diplomados,em 1943 chegaram os primeiros oficiais diplomados nas escolas militaresdo Rio de Janeiro e São Paulo. (Projeto Político Pedagógico da Academia dePolícia Militar, 2003).

O primeiro Curso de Formação de Oficiais ocorreu em 1952 emCuiabá, no Centro de Instrução Militar (CIM). Este Centro dispunha de 03cursos: Curso de Oficiais Combatentes; Curso de Candidatos a Sargentos eCurso de Candidatos a Cabo. (Associação de Oficiais da Polícia Militar deMato Grosso, 2004).

Até 1960, ano de extinção do CIM, foram formadas 06 turmas, totalizando52 oficiais. A partir de 1967 foram retomados os quadros de oficiais daPMMT com formação nas academias de São Paulo, Rio de Janeiro e MinasGerais. Devido a falta de efetivo, e amparado por legislação específica — oDecreto-Lei nº 667/69 — foram admitidos vários oficiais oriundos dos Ór-

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gãos de Formação de Oficiais da Reserva do Exército Brasileiro. (ProjetoPolítico Pedagógico da Academia de Polícia Militar, 2003).

Em 1987, por meio da Lei nº 5.177/87, foi criada a Academia de Polí-cia Militar, que só passou a operar no ensino de oficiais em 1993. Neste ano,devido à necessidade de suprir o efetivo, o governo estadual realizou con-curso para seleção de oficiais — oriundos dos Órgãos de Formação deOficias da Reserva do Exército, porém com a exigência de possuírem expe-riência de comando ou função militar — pelo curso denominado CursoIntensivo de Habilitação de Oficiais, com duração de um ano e carga horá-ria de 1.262h/a. No mesmo período, vários oficiais continuavam a freqüen-tar academias de outros estados nos cursos regulares de três a quatro anos.

Na tentativa de gerar uma forma de ingresso único e com a ativaçãoda APM em 1993, foi firmado o primeiro convênio entre Polícia Militar e aFundação Universidade Federal de Mato Grosso (FUFMT), objetivando aelaboração e execução de projetos nas áreas sociais, de pesquisa, da educa-ção e da cultura, tendo como cláusulas principais: o compromisso entre ospartícipes na elaboração e execução conjunta de projetos no campo soci-al, da pesquisa, da educação e da cultura; elaboração de termos aditivos naexecução dos projetos detalhando obrigações; compromisso das partesem ceder pessoal (policiais militares, professores, técnicos), respeitandoos vínculos e regimes trabalhistas, para participar de projetos e atividadesdo convênio; autorização da PMMT para que a FUFMT tenha acesso àsinformações necessárias ao desenvolvimento das ações; ônus para a PMMTreferente ao custeio das despesas com a elaboração e execução dos proje-tos; autorização da PMMT referente a publicação e divulgação dos resulta-dos alcançados; autorização da FUFM para que a PMMT tenha acesso nasinstalações. (Convênio n.º 042/2003 - FUFMT)

Em 1994, por ato governamental — Decreto Estadual nº 3.144/93 —foi inaugurado o Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar do Esta-do de Mato Grosso (CFO), destinado a formação, em nível superior, detenentes durante três anos. O ingresso foi por concurso vestibular promo-vido pela Universidade Federal de Mato Grosso, mediante Termo Aditivo aoConvênio nº 042/2003 - FUFMT.

Em 1996, por resolução estadual, foi declarada a equivalência do CFOao nível superior (Resolução n.º 253/96 do Conselho Estadual de Educaçãode Mato Grosso). O Parecer nº 75/93, do Conselho Federal de Educação, aodeclarar “equivalência” de cursos militares, que esses cursos tem igual va-lor acadêmico ao de determinados cursos civis, o que possibilita aos gra-duados de estabelecimentos militares certas facilidades de acesso e deaproveitamento de estudos nas unidades de ensino civil.

Em 2001, pelo Parecer do Conselho Nacional de Educação, 1.295/01colocou as ciências militares no rol das ciências estudadas no Brasil.

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Em 2003, Parecer do Conselho Estadual de Educação de Mato Gros-so, mediante análise do Projeto Polícia Pedagógico, passou a ser conferidoao aluno do CFO o título de Bacharel em Segurança Pública. Até o ano de2004, a Academia de Polícia Militar formou 09 turmas do Curso de Forma-ção de Oficiais (Parecer nº 428/2003 – CEE/MT).

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Espera-se que os encarregados da aplicação da lei te-nham a capacidade de distinguir entre as inúmeras tona-lidades de cinza, ao invés de somente fazer a distinçãoentre o preto e o branco, certo ou errado (Comitê Inter-nacional da Cruz Vermelha, 1998).

Inicialmente neste capítulo se analisa, comparativamente, os currícu-los antes e após a implementação das bases curriculares nacionais. É reali-zado um recorte sobre a aplicação dos PBUFAF nas disciplinas do bachare-lado. Posteriormente são analisadas as percepções de alunos e educadoressobre o novo modelo curricular proposto.

Partindo do modelo curricular antigo, os alunos da primeira turmado CFO, denominada “Turma Pioneira”, ingressaram em 1994 e foram decla-rados aspirantes em 1996, cumpriram uma carga horária de 4.410h/a. Segueno Quadro 1 a grade curricular no período entre 1994 a 2000.

QuadrQuadrQuadrQuadrQuadro 1 – Gro 1 – Gro 1 – Gro 1 – Gro 1 – Grade Curade Curade Curade Curade Currrrrricular da icular da icular da icular da icular da Academia de PAcademia de PAcademia de PAcademia de PAcademia de Polícia Militar-MTolícia Militar-MTolícia Militar-MTolícia Militar-MTolícia Militar-MT- P- P- P- P- Períodoeríodoeríodoeríodoeríodode 1994 -2000de 1994 -2000de 1994 -2000de 1994 -2000de 1994 -2000

1. Administração de Recursos Humanos2. Administração Financeira e Orçamentária3. Armamento Munição e Explosivos4. Atividade de Bombeiro5. Cerimonial e Protocolo6. Comunicações7. Correspondência Militar8. Criminalística9. Criminologia10. Defesa Civil11. Defesa Pessoal *12. Deontologia13. Didática14. Direito Administrativo15. Direito Ambiental16. Direito Civil17. Direito Comercial e do Consumidor18. Direito Constitucional19. Direito da Criança e Adolescente

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20. Direito Penal *21. Direito Penal Militar22. Direito processual penal23. Direito Processual Penal Militar24. Economia Geral25. Economia Política26. Educação Física Desportiva27. Educação Física Militar *28. Emergências e Traumas29. Estágio Supervisionado *30. Estatística31. História da Polícia Militar32. Informática33. Inglês34. Instrução Técnica e Tática de Combate35. Inteligência Policial36. Introdução a Administração37. Introdução a Comunicação Social38. Introdução ao Estudo de Direito39. Língua Portuguesa40. Medicina Legal41. Metodologia Científica42. Natação43. Noções de Serviço Social44. Noções de Topografia Militar45. Operações de Polícia de Choque46. Operações Especiais Repressiva47. Oratória48. Ordem Unida49. Organização e Métodos50. Policiamento Florestal51. Policiamento Montado52. Policiamento Ostensivo de Trânsito e Rodoviário53. Prática Forense54. Processo Decisório55. Prova Forense56. Psicologia Social57. Regulamento e Normas58. Repressão às Drogas59. Segurança Física de Instalações e Dignitários60. Sociologia61. Técnicas Gerais de Policiamento Ostensivo *62. Teoria e Prática de Redação63. Tiro Policial

*Fonte: Plano Geral de Ensino da APMMT, 1995. (*) Maior carga horár ia.

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No quadro 1, somam-se 63 disciplinas, com destaque em termos decarga horária as seguintes disciplinas: Técnica Policial, Disciplinas Jurídi-cas. As disciplinas mais abordadas durante os três anos foram: TécnicaGeral de Policiamento; Ordem Unida; Tiro Policial; Educação Física; DefesaPessoal; Direito Penal.

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Conforme documentos oficiais do Ministério da Justiça, a área desegurança pública vislumbrou um aumento dos índices de violência e ape-lo da população. Na época foi desenvolvido um projeto focado no treina-mento para profissionais da área de segurança, integrado ao Subprogramade Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos no Programa de Mo-dernização do Poder Executivo Federal, realizado entre o Ministério doPlanejamento, Orçamento e Gestão - MP e o Banco Interamericano de De-senvolvimento - BID. O projeto foi implementado pelo Ministério da Justi-ça - MJ, apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Controle Interna-cional de Drogas - UNDCP, que diagnosticou a necessidade de formação,aperfeiçoamento e especialização de pessoal das polícias federais e estadu-ais; desenvolvimento de propostas de compatibilização curricular para ga-rantir o princípio de eqüidade dos conhecimentos e a modernização doensino policial.

Consta que o primeiro diagnóstico foi desenvolvido em 1998 e reto-mado em 1999, que consistiu na análise externa e interna das organizaçõespoliciais. O trabalho apontou para a redefinição de um perfil desejado paraa orientar a formação do profissional da área de segurança do cidadão;delineamento dos cursos, composição de grades curriculares; novos con-teúdos abrangendo policiamento voltado para a relação polícia/comunida-de, o exercício de valores morais e éticos e o fortalecimento dos DireitosHumanos; novas tecnologias em educação.

Após o diagnóstico, buscou-se uma homogeneização dos cursos deformação e o planejamento curricular, com o propósito de assegurar oprincípio de eqüidade no processo de formação, garantindo unidade depensamento e ações adequadas às necessidades sociais vigentes.

Competências básicas foram estabelecidas aos profissionais de segu-rança pública, tais como:

- facilidade de apreensão;- f lexibilidade de raciocínio;- objetividade;- método/senso de organização;- espírito de observação;

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- faculdade de expressão oral e escrita;- capacidade de interpretação;- caráter responsável;- capacidade para prevenir e adaptar - se a novas situações;- percepção discriminativa e diferencial;- reação rápida a estímulos;- estabilidade emocional;- capacidade de direção / espírito de coordenação;- iniciativa;- sociabilidade;- memória associativa de nomes, fatos e fisionomias;-discrição acentuada em assuntos confidenciais;- vigor físico;-eficiência sob esforço físico intenso e prolongado;- entusiasmo profissional;- lealdade;- devotamento;-capacidade de compartilhar informações;-capacidade de trabalhar em equipe;- capacidade de resolver conflitos.

A base curricular foi composta por uma base comum e umadiversificada. A base comum para todos os cursos de formação, constituídade disciplinas que congreguem conteúdos conceituais, procedimentais eatitudinais, inerentes ao perfil desejado do profissional da área de seguran-ça do cidadão, reunidas em seis áreas de estudos: missão do policial, técni-ca policial, cultura jurídica, saúde do policial, eficácia pessoal, linguagem einformação, norteadas por seis temáticas centrais: cultura - sociedade - ética- cidadania - Direitos Humanos - controle das drogas, que deverão perpassaras teorias e práticas a serem trabalhadas, bem como, o processo de ensinoe de aprendizagem dos cursos de formação. A base diversif icada seriaformulada por cada centro de ensino com o objetivo de reunir disciplinasque atendam as características específicas de cada curso de formação e aspeculiaridades regionais.

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Por conta das Bases Curriculares Nacionais, em 2001, a Academia dePolícia Militar de Mato Grosso realizou uma revisão na matriz curricularcom a presença de professores e instrutores, buscou-se desenvolver ainterdisciplinariedade e transversalidade entre os conteúdos, distribuídosem uma carga horária de 4.780h/a, conforme Quadro 2.

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Foram criadas seis áreas de estudo: missão, técnica, cultura jurídica,saúde, eficácia, linguagem e informação. O conteúdo da base comum pos-sui 11,30% voltada para missão policial (Filosofia, Política, Sociologia, Éticae Cidadania, Psicologia), 17% para écnica policial (Tiro, Defesa Pessoal,Operações Policiais, Técnicas Gerais de Policiamento), 23,22% de culturajurídica, 3,77% de saúde física e mental, 9,41% para eficácia pessoal (Gestão,Relações Inter-pessoais), 16,11% para linguagem e informação (Didática,Estatística, Idiomas, Pesquisa, Informática), 5,54% para estágio e 11,40% paraatividades complementares. As áreas temáticas englobam cultura, socieda-de, ética, cidadania, direitos humanos e controle de drogas.

QuadrQuadrQuadrQuadrQuadro 2 - Matro 2 - Matro 2 - Matro 2 - Matro 2 - Matriz Curiz Curiz Curiz Curiz Currrrrricular da icular da icular da icular da icular da Academia de PAcademia de PAcademia de PAcademia de PAcademia de Polícia Militar –MTolícia Militar –MTolícia Militar –MTolícia Militar –MTolícia Militar –MT- 2001- 2001- 2001- 2001- 2001

Disciplinas: Missão Policial - 540h/a - 11,30%1. Fundamentos: Estado, Política de Segurança *2. Ciência Política *3. Filosofia *4. Sociologia Geral5. Psicologia Social da Violência6. Noções de Serviço Social7. Sociologia do Crime e da Violência8. Ética e Cidadania9. Fundamentos da Polícia Comunitária *10. Gestão de Qualidade *

Disciplinas: Técnica Policial - 860h/a - 17,99%1. Arma de Fogo, Munição e Explosivo2. Bombeiro Militar e Defesa Civil3. Defesa Pessoal4. Emergências e Traumas5. Técnicas Gerais de Policiamento6. Tiro Policial7. Criminalística8. Instrução Tática de Combate e Topografia9. Natação Utilitária10. Medicina Legal11. Policiamento de Trânsito12. Drogas e Entorpecentes13. Segurança Física de Instalações e Dignitários14. Inteligência Policial15. Operações de Alta Complexidade16. Polícia Judiciária e Prática Forense17. Polícia Ambiental

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Disciplinas: Cultura Jurídica - 1.110h/a - 23,22%1. Introdução ao Estudo de Direito2. Direito Constitucional3. Direitos Humanos e Cidadania *4. Regulamento e Normas5. Criminologia6. Direito Administrativo7. Direito Civil8. Direito Penal9. Direito Processual Penal10. Direito Ambiental11. Direito da Criança e do Adolescente12. Direito Penal Militar13. Direito Processual Militar

Disciplinas: Saúde Policial - 180h/a – 3,77%1. Educação Física Militar2. Saúde Física3. Natação4. Saúde Psicológica

Disciplinas: Eficácia Pessoal - 450h/a - 9,41%1. Introdução à Administração2. Organização, Sistemas e Métodos3. Relações Interpessoais *4. Gestão de Logística5. Planejamento e Gestão6. Gestão de Pessoas7. Gestão de Recursos Públicos8. Processo Decisório9. Gerenciamento de Crises *

Disciplinas: Linguagem e Informação - 770h/a - 16,11%1. Didática2. Estatística3. Informática4. Língua Espanhola *5. Língua Portuguesa6. Metodologia Científica7. Correspondência PM8. Comunicação Social9. Língua Inglesa

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10. Pesquisa (Prática)11. Telecomunicação12. Monografia

Estágio - 265h/a - 5,54%1. Planejamento e Coordenação2. Execução de Estágio3. Análise de Resultados

Atividades Curriculares - 545c/h - 11,401. Disposição da Direção2. Atividades de Ensino3. Orientação Educacional e Psicológica4. Cerimonial e Protocolo5. Saúde: Jogos Acadêmicos6. Ordem Unida7. Visita e Viagem de Estudo

Fonte: Plano Político Pedagógico da APMMT, 2003; * novas disciplinas curriculares.

Analisando o novo currículo em relação ao anterior, foram acrescen-tadas onze disciplinas, as principais inovações foram na inclusão de Funda-mentos: Estado, Política de Segurança; Ciência Política; Filosofia; DireitosHumanos e Cidadania; Relações Interpessoais; Língua Espanhola; eMonografia. Isso indica que do antigo currículo mais se acrescentou doque supriu, pois só ficaram ausentes as seguintes disciplinas: História daPolícia Militar; Economia; Oratória e Direito Comercial e do Consumidor.

Enquanto o currículo velho enfatizava técnicas policiais e culturajurídica, o novo currículo enfatizou cultura jurídica e linguagem e informa-ção. A área denominada missão policial se preocupou em situar os alunosem aspectos filosóficos, sociais, políticos, psicológicos e assistenciais. Aárea técnica policial manteve- se com as mesmas as disciplinas do antigocurrículo, apesar de menor ênfase em carga horária.

***

Em relação aos PBUFAF foram contemplados nas disciplinas: Armade Fogo; Defesa Pessoal; Direitos Humanos; Ética e Cidadania. Tais discipli-nas abordam métodos e técnicas utilizadas pelos profissionais da área desegurança do cidadão, bem como a integração entre as diversas áreas deconhecimento e as especificidades presentes, dentro do pressuposto daatuação destes profissionais de forma integrada e eficiente, além de suaadequação aos requisitos colocados pelo Estado de Direito democrático.

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A disciplina ArArArArArma de Fma de Fma de Fma de Fma de Fogogogogogooooo capacita os discentes a recorrer ao uso daarma de fogo dentro dos princípios da legalidade, segurança - própria e deterceiros - e da proporcionalidade; e desenvolver habilidades para montar,desmontar, manejar e utilizar o armamento convencional disponibilizadopela força policial. As armas de fogo devem ser usadas somente comoúltimo recurso, depois que outros meios forem tentados e falharem, ouquando, em razão de circunstâncias, o recurso aos referidos meios nãodeixa entrever qualquer possibilidade de êxito, garantindo assim justificati-va legal para seu emprego. A bibliografia sugerida aponta para os Princípi-os Básicos sobre a Utilização da Força e Armas de Fogo pelos funcionáriosresponsáveis pela aplicação da lei.

A disciplina Defesa PessoalDefesa PessoalDefesa PessoalDefesa PessoalDefesa Pessoal desenvolve técnicas não letais de defe-sa, controle e imobilização, segundo o princípio da proporcionalidade. Astécnicas e táticas de defesa pessoal, quando possível, devem ser emprega-das após o uso de outros meios e instrumentos mais brandos de formahaver proporcionalidade entre a situação real e os meios disponíveis parafazer com que a lei seja cumprida. Toda a ação policial deve ser permeadapelo princípio da legalidade e moralidade.

DirDirDirDirDireitos Humanoseitos Humanoseitos Humanoseitos Humanoseitos Humanos, outra disciplina da Base Curricular, também abor-da que os profissionais da área de segurança do cidadão devem ter comopano de fundo de suas ações a Declaração Universal dos Direitos Huma-nos, Código de Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação daLei, Princípios Básicos Sobre o Uso da Força e Armas de Fogo, Pacto Inter-nacional pelos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e o Pacto Internaci-onal pelos Direitos Civis e Políticos, possibilitando assim que seus atospossam corresponder aos princípios ético, legal e técnico na promoção eproteção dos direitos fundamentais do cidadão (vida, integridade física e adignidade), mediante alternativas que busquem a negociação, mediação,persuasão e resolução de conflitos, sem a extrema necessidade do uso daforça ou de armas de fogo.

Na disciplina Ética e CidadaniaÉtica e CidadaniaÉtica e CidadaniaÉtica e CidadaniaÉtica e Cidadania, em uma percepção mais filosófica,consta apontamentos sobre o uso da força e arma de fogo, de forma ética elegal. O código de conduta para funcionários encarregados de fazer cum-prir a lei. Consta nas referências bibliográficas sobre as resoluções da Orga-nização das nações Unidas e Cruz Vermelha Internacional. Na disciplinaética e cidadania os apontamentos bibliográficos foram superiores as de-mais disciplinas.

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Para identificar a percepção dos educadores, realizei um entrevistasemi-estruturada com profissionais que atuaram em nível nacional e regio-

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nal na elaboração e implementação das bases curriculares no âmbito daAPM. Os entrevistados responderam sobre o processo de criação da basecurricular nacional e seus avanços na Academia de Polícia Militar CostaVerde, a partir do ano de 2001.

Visando entender a concepção original da Base Curricular Nacional,em entrevista com Bernadete Cordeiro - pedagoga e consultoraorganizacional da Secretaria Nacional de Segurança Pública, que coorde-nou o projeto de elaboração da Base Curricular Nacional para os Profissio-nais de Segurança Pública - recortamos os seguintes posicionamentos:

[...] As bases buscavam a criação de um currículo co-mum e que pudesse trazer uma unidade de pensamentodas diversas polícias brasileiras [...].

[...] O estudo tinha como base conceitual uma linhafilosófica educacional pautada em alguns eixos de cons-trução do conhecimento com autores conhecidos comoPiaget e o brasileiro Libaneo, este também fala do pro-cesso de apreensão e aplicação do conhecimento. Naépoca tínhamos também o relatório da UNESCO sobreas dimensões do aprender: saber, saber fazer e quererfazer [...].

[...] Quanto ao currículo elaborado, uma das coisas quepodemos contar como avanço foi a inclusão da discipli-na de direitos humanos e uma outra disciplina que é aabordagem sociológica e psicológica da violência, visan-do estudar violência de forma mais ampla e não apenasa violência do ponto de vista de escolas forense [...].

[...] Ocorreram modificações nas bases após 2003, maspor mudança de governo em virtude do novo PlanoNacional de Segurança Pública, com novas percepçõesideológicas sendo que as bases foram substituídas pelaMatriz Curricular Nacional, que a partir de 2003 serve dediretrizes, referencial, norteadores para a formação dosprofissionais de segurança pública nos Estados da Fede-ração [...].

O entrevistado Almir Balieiro - coronel aposentado da Polícia Militarde Mato Grosso, mestre em Educação, foi o comandante da Academia dePolícia Militar Costa Verde no período de 2000 até o primeiro bimestre de2003 ¯ contribuiu com alguns relatos sobre a formação:

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[...] O governo federal apresentou uma proposta dife-rente onde se buscava novas competências que permi-tissem uma interlocução maior com a sociedade e assimbuscou-se em Mato Grosso, um modelo pedagógico paracontemplar novas competências [...].

[...] A proposta era desviar o foco das ações militares,como enfoque de guerra, de combater o inimigo, tantoque se referia ao policial como guerreiro [...].

[...] Os novos oficiais precisavam ser levados a refletir, apensar, pesquisar e poder argumentar as suas falas, oaluno deveria produzir conhecimento [...].

[...] O perfil do aluno passou a ser mais crítico eparticipativo, isso era algo positivo, passou-se a ter maisliberdade, algumas aulas eram desenvolvidas dentro daUniversidade Federal de Mato Grosso, isso foi polêmico,muito diziam que os alunos estavam sendo apaisanados[...].

Sobre a nova formação dos oficiais, a educadora Regina Lúcia Borgesde Araújo - pedagoga, foi coordenadora pedagógica da Academia de PolíciaMilitar Costa Verde durante nove anos, no período de 1995 até o primeirobimestre de 2003 - proporcionou as seguintes contribuições:

[...] O foco era aproximar o policial da sociedade dentrode um novo perfil, diferente do exército, sem o preparode guerra, pois isso fazia com que o policial tivesse umavisão de combater o inimigo [...].

[...] O Ministério da Justiça fazia parcerias com institui-ções internacionais e nacionais para realizar pesquisasna área educacional, e essas pesquisas citam que o mo-delo de polícia já não servia mais [...].

[...] Trabalhamos na academia com a questão do ser,aprender a ser e agir, as vezes você até sabe o que é ocerto, mas não tem a atitude correta, e isso não se dásimplesmente uma mudança de currículo, mas de atitu-de [...].

[...] A questão curricular não é suficiente, pode-se for-mar ótimos alunos, se cair na mão de profissionais quetem outro tipo de comportamento não adianta, é preci-so acompanhamento [...].

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[...] O currículo levou em conta a construção do conhe-cimento, e não apenas a reprodução do conhecimento, oaluno precisa ser crítico [...].

Quanto à percepção dos alunos durante o processo de forma-ção, recorro à monografia elaborada por cinco formandos da turma de 2003,também sujeitos desta pesquisa, estes apontam disparidades entre o quepropunha a base curricular da SENASP e o currículo da academia. O grupode trabalho percebeu desequilíbrio entre as disciplinas ministradas, e ob-servaram que disciplinas com foco nas atividades do policial militar nãoforam priorizadas. Vejamos:

[...] a grade curricular da APMCV direciona apenas 17%de sua carga horária para as disciplinas na área técnicapolicial, ao passo que direciona 23% do total da cargahorária para as disciplinas jurídicas, isto traduz em ummaior preparo jurídico em detrimento do técnico poli-cial, o que é o maior ofício do policial militar [...]. Há quese priorizar a área técnica policial em detrimento àque-las relativas à atividade policial. Desta forma, o currículoformará policiais mais preparados dentro das técnicaspoliciais, o que se traduziria em uma maior qualidade naprestação de serviços à sociedade. (CABELHO, G. P. et al.,2003).

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Analisando as informações curriculares do antigo modelo emrelação ao novo currículo do curso de Bacharelado em Segurança Pública,e considerando também as contribuições dos sujeitos e as entrevistas comos educadores já apontados, visualizo um grande esforço na tentativa demelhorias na formação por meio das novas bases curriculares.

Porém, nota-se contradições de percepções entre educadorese alunos, por um ângulo os educadores dando mais ênfase ao ser humanomais crítico e participativo através da inclusão de disciplinas humanizantes,e, por outro ângulo, os sujeitos apontando disparidades e desequilíbrioentre as disciplinas ministradas, dada a ênfase ao conhecimento jurídico epouca prioridade as disciplinas do ofício de polícia.

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Neste capítulo abordo alguns conceitos sobre a condição juvenil erelaciono o perfil do jovem em geral ao jovem que ingressa no Curso deFormação de Oficiais.

O primeiro desafio é categorizar juventude, segundo Abramo (2005)juventude é um desses termos que parecem óbvios, dessas palavras que seexplicam por si mesmas. Todavia, vários autores conceituam juventude emdimensões legal, cultural e histórica. Abramo relativiza o conceito atravésde um recorte sociológico e cronológico. Em sua concepção:

[...] muitos dos estudos recentes têm sido feitos sobre osmodos de transição para a vida adulta, cuja finalização,classicamente, guarda os seguintes marcos: deixar a es-cola; começar a trabalhar; sair da família de origem; casare formar um novo lar (e ter filhos). Contudo, tais estudostêm mostrado modificações nestes processos, trazidasem grande parte pelas mudanças no mundo do traba-lho e nas possibilidades e padrões de inserção no mun-do adulto. (ABRAMO, 2005, p. 44).

O grupo de idade tomado na pesquisa, de 15 a 24 anos,é que vem se tornando convenção, no Brasil, para abor-dagem demográfica sobre juventude, pois correspondeao arco de tempo em que, de modo geral, ocorre o pro-cesso relacionado à vida adulta.(p. 45).

Para Morgado (2007, p.38) a juventude é uma categoria universal,mas não é homogênea “considerar suas peculiaridades regionais,comportamentais, culturais e políticas é condição fundamental no desem-penho das ações voltadas para esse segmento populacional”.

Em uma pesquisa nacional com o tema Perfil da Juventude Brasileira,realizada em 1999 e publicada por Abrama e Branco (2005) revela a percep-ção da juventude entre 15 a 24 anos. Em síntese, dos jovens brasileiros umaminoria possui curso superior; apenas 36% estão inseridos no mercado detrabalho e, por necessidade; a maioria possui renda familiar abaixo de 10salários mínimos; vivem em cidades; tendem ao catolicismo; 69% se consi-deram brancos ou pardos; 78% são solteiros e não possuem filhos; 48%

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moram com os pais; preocupam-se com a segurança e o emprego; as me-lhores amizades foram formadas na escola ou no bairro; a maioria estudaem escola pública; não costumam participar de grupos de jovens; 40% con-sideram que os direitos dos presos e bandidos devem ser respeitados; ametade considera a política importante; a maioria nunca fumou e nuncausou drogas como maconha e cocaína; mais da metade costuma tomarbebida alcoólica; 75% apóiam a redução da maioridade penal; 80% nuncaforam vítimas de assalto, mas 77% já tiveram algum contato com arma defogo. Quanto aos direitos de cidadania, 34% já foram humilhados ou discri-minados; 7% já sofreram violência familiar. Quanto ao lazer nos finais desemana costumam encontrar amigos, ouvir rádio, assistir televisão e namo-rar. Os tipos musicais favoritos são sertanejo, rock, pagode e axé. Quanto asexualidade 63% possuem parceiros sexuais estáveis, sendo que 59% usamcamisinha para evitar doenças ou gravidez.

***

Isto posto, o universo de jovens brasileiros, mato-grossenses em par-ticular, acreditam que a vida melhorará, principalmente em virtude doestudo e do trabalho. Uma das opções de melhoria de vida é a opção deingresso na vida pública, o que corresponde a 3% dos jovens que com-põem a população economicamente ativa. Na capital de Mato Grosso, muitosjovens civis, com idade requisitada entre 17 a 24 anos, das diversas regiõesdo Estado, almejam ingressar na carreira policial militar como oficiais. Toda-via esbarram no processo seletivo que, além da alta concorrência, estabelececritérios rigorosos no sentido de selecionar 20 candidatos, anualmente.

[...] o CFO incorporará jovens selecionados com apti-dões policiais militares, e continuará a selecioná-los em03 (três) anos [...] através de aprimorada educação [...]visa escolher os melhores, entre os pretendentes e englo-ba os aspectos intelectual, físico, médico/odontológico epsicológico. (Decreto Estadual n. 3.144 de 06 de julho de1993).

Quanto ao perfil sócio-econômico dos alunos aprovados no CFO(UFMT, 2006), a maioria é cuiabana; brancos e pardos; solteiros; freqüenta-ram escola particular em Cuiabá e Várzea Grande em ensino regular; alunosem cursos matutinos; realizaram curso pré-vestibular; buscam formaçãoprofissional voltada para o trabalho devido suas aptidões pessoais e ocupa-ção do mercado de trabalho; a maioria nunca trabalhou; procuram atendi-mento médico na rede particular; usam micro computadores; residem emcasa própria com uma renda familiar entre 5 a 15 salários mínimos; nãofumam, mas bebem eventualmente.

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No quadro, a seguir, comparo alguns aspectos do perfil da juventudebrasileira aos jovens que ingressam no CFO. Nota-se que as idades se apro-ximam quando comparadas, porém os jovens do CFO possuem vantagenssociais e econômicas, principalmente em relação a escola, trabalho, rendafamiliar e acesso tecnológico.

A carreira via CFO enquadra-se em uma busca de melhor perspectivafuncional, mas que também esbarra na competitividade, sobressaindo aquelesque jovens que tiveram mais oportunidade de estudar e não foram empre-gados precocemente no mercado de trabalho.

O painel apresentado se enquadra na pesquisa de Branco (2005) querevela que os jovens, em sua maioria, são indivíduos relegados ao preen-chimento de posições ocupacionais de baixa qualidade, ostentando víncu-los precários e de menos remuneração, situados na camada inferior dosetor informal, há evidências de uma procura de ocupações pelos jovens,prejudicada pelo pouco preparo educacional e profissional em um merca-do cada vez mais excludente e competitivo.

Sobre o mercado de trabalho e alta taxas de desemprego juvenil,Morgado e Sanches (2006) entendem:

São muitas as razões que dificultam ao jovem a conquis-ta de um emprego, entre os quais sobressaem as dificul-dades estruturais impostas pelo padrão de crescimentoeconômico pouco generoso na geração de oportunida-

QQQQQUUUUUADRADRADRADRADRO:O:O:O:O: Compar Compar Compar Compar Comparação entração entração entração entração entre os perfe os perfe os perfe os perfe os perfis dos jois dos jois dos jois dos jois dos jovvvvvens do Brens do Brens do Brens do Brens do Brasil e joasil e joasil e joasil e joasil e jovvvvvens do CFOens do CFOens do CFOens do CFOens do CFO

Fonte: Abramo, Branco (2005); UFMT (2006).

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des, principalmente para aqueles que possuem escassaexperiência profissional e, muitas vezes, com escolarida-de inferior à requerida, pois o processo de formação foiinterrompido sem que tivessem completado o ciclo es-colar compatível à sua faixa etária. (MORGADO eSANCHES, 2006, p. 12).

À luz das evidências acima, entendo que os jovens do CFO são oriun-dos da classe média e ingressaram na carreira policial militar devido a basede apoio familiar em relação aos estudos e ao trabalho. Conforme Bourdieu(1992, p. 218 ) “o ensino superior tende a ser reservado as classes maisfavorecidas economicamente, estabelecendo e reconstruindo uma hierar-quia social”.

Conforme a Fundação Perseu Abramo – FPA (2006), um aspecto ide-ológico comum a qualquer classe média é a idéia de que os filhos possamter uma vida melhor que seus pais. Essa esperança de que o futuro possaser melhor que o presente ou o passado é considerada por alguns autoresa sua principal marca.

No Atlas da Nova Estratificação Social no Brasil organizado porPochmann (2006), a classe média:

[...] destaca-se por posições altas e intermediárias tantona estrutura sócio-ocupacional como na distribuiçãopessoal da renda e riqueza. Por conseqüência, a classemédia termina sendo compreendida como portadorade autoridade e status social reconhecidos, bem comoavantajado padrão de consumo [...] Em valores de 2005,o piso e o teto da renda mensal das famílias de classemédia equivaleria a R$ 1.556,00 e R$ 17.351,00 res-pectivamente. (POCHMANN, 2006, apud FPA, 2006).

Do ponto de vista econômico (poder de compra e renda familiar), aAssociação Brasileira de Empresas de Pesquisa – ABEP elaborou um estudodenominado Critérios de Classificação Econômica no Brasil (2003), queestratifica a população brasileira em sete classes econômicas: A1A1A1A1A1 (acima de32,47 salários mínimos); A2A2A2A2A2 (acima de 19,36 salários mínimos), B1B1B1B1B1 (acimade 11,68 salários mínimos), B2B2B2B2B2 (acima de 6,95 salários mínimos), C C C C C (acimade 3,86 salários mínimos), DDDDD (acima de 1,76 salários mínimos) e EEEEE (acimade 0,86 salários mínimos). As classes A1 e A2 são consideradas elite eclasse alta. As classes B1, B2 e C integram as classes média-alta, média emédia-baixa. As classes D e E compõem a classe baixa à linha da pobreza.

Considerando que os jovens que ingressam no CFO possuem rendafamiliar entre 5 e 15 salários mínimos, já se enquadravam economicamenteentre as classes B1, B2 e C. Ao que tudo indica, a carreira de oficial tende a

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aumentar o horizonte social dos jovens tenentes, sendo que estes poderãoconquistar autoridade e status social e, ao longo da vida profissional, atingira classe A2, com renda acima de 20 salários mínimos.

Após análise dos dados deste capítulo, concluo que os jovens tenen-tes cuiabanos e interioranos, filhos da classe média, que migrou para MatoGrosso , tendem a ingressar no CFO atendendo uma expectativa pessoal efamiliar de boa ocupação no mercado de trabalho, apostando num futuropromissor.

A historiadora mato-grossense Elizabeth Madureira Siqueira, retrata ojovem mato-grossense do século XIX, quando retornavam dos estudos rea-lizados nas parcas faculdades do sudeste do império:

[...] de lá cada qual rumava para o seu destino. Anos sepassavam e os jovens poucas vezes retornavam à suaterra natal durante o período de estudo, preferindo re-gressar definitivamente quando formados. Novamentese reproduzia a emocionante cena no Porto de Cuiabá,agora com familiares e amigos despojados de lenços,mas de braços abertos para recepcioná-los. (SIQUEIRA,2006, p. 8).

Já neste século não temos a cena do Porto de Cuiabá, mas ao final docurso de formação de oficiais, os jovens agora chamados aspirantes, sãorecepcionados pela família e amigos em estilo festivo, com trajes de gala,espadas prateadas e ao som de valsa caminham singularmente. O territóriodo jovem oficial não é mais a Academia, mas sim o território mato-grossense,próximo de tudo e de todos.

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Egressos do Curso de Formação de OficiaisEgressos do Curso de Formação de OficiaisEgressos do Curso de Formação de OficiaisEgressos do Curso de Formação de OficiaisEgressos do Curso de Formação de Oficiais

Este capítulo é resultado das entrevistas realizadas com os egressosdo CFO sobre o uso legal da força, no período de formação e atuaçãopolicial. Os entrevistados são identificados por meio de uma letra do Códi-go Fonético Internacional de Comunicação, usado costumeiramente noâmbito das instituições militares ao citar letras do alfabeto, a fim de seevitar ruídos de comunicações de rádio, “AAAAAlfa, BBBBBravo, CCCCCharlie, DDDDDelta, EEEEEcho,FFFFFox, GGGGGolf [...]”.

O entrevistados já atuam nas ruas como comandantes de tropa, for-mados em 2003, possuem três anos de prática policial. São jovens comidade entre 22 a 27 anos, alguns já se casaram, apenas um entrevistadopossui filhos, a renda familiar daqueles que já se casaram varia entre atéR$5.000,00, aqueles que moram com os pais, a renda familiar chega aR$10.000,00.

A seguir consta a análise de vários trechos das entrevistas, sendo quecada pergunta foi transformada em um tópico, constam as respostas uma auma dos entrevistados dentro de cada tópico, com citação diretas e indiretas.

***

- Sobre o que o egresso aprendeu no Curso de Formação de Oficiais(CFO) sobre Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo(PBUFAF).

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa entende que a força tem que ser proporcional à ação do opo-nente e que o uso da arma de fogo emprega-se somente quando esgotadostodos os recursos de neutralização quer pela verbalização, quer pelas técni-cas de imobilização. BravoBravoBravoBravoBravo entende que ficou muito vago o contato com adoutrina e o uso do armamento, mas buscou pesquisar sobre o assunto,quanto ao uso de arma somente para defender a si e a terceiros, porém deforma proporcional a ação do agressor. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie aprendeu os conceitos so-

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bre uso da força e entende que mais importante que atirar é saber quandoatirar. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta aprendeu que o emprego da arma de fogo em uma abordagemdeve ser utilizada em ultimo caso visando defender a integridade físicaprópria ou de terceiros e discorreu sobre os diversos níveis de força.EchoEchoEchoEchoEcho aponta que o uso da força deve ser moderado e sempre proporcio-nal.

- Sobre onde e como surgiu os PBUFAF e se foram citados no curso.

AlfAlfAlfAlfAlfaaaaa não se recorda. BrBrBrBrBraaaaavvvvvooooo disse não saber. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie ouvir falar masnão se lembra onde surgiu, mas que havia aprendido nas aulas de direitoshumanos. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta não se recorda onde surgiu, no curso discutia-se muitosobre direitos humanos, mas já pesquisou sobre o assunto. EchoEchoEchoEchoEcho não selembra.

- Verifica em quais disciplinas do curso o egresso estudou PBUFAF equal foi o enfoque.

AlfAlfAlfAlfAlfaaaaa estudou na disciplina de Técnicas Gerais de Policiamento, com60h/a; Direitos Humanos, com 30h/a; Tiro Policial, com 90h/a. Na primeiradisciplina citada foi enfocado o uso da verbalização e técnicas de imobili-zação, na disciplina de Tiro Policial foi visto o momento do emprego daarma de fogo e em Direitos Humanos estudou tipos de abordagem policial.AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa entende que a carga horária das disciplinas citadas deveria ser a maiordo curso, aos invés de disciplinas como e Espanhol e Inglês, que possuíamcarga horária de 120 h/a cada, além disso a assimilação de conteúdos eradifícil pelo fato das disciplinas serem constantemente interrompidas emsua seqüência, tinha-se uma aula e depois de algum tempo, às vezes sema-nas, retomava-se ao conteúdo. BravoBravoBravoBravoBravo se recorda que estudou os princípiosnas disciplinas de Armamento e Explosivos e em Técnicas Gerais de Polici-amento. O enfoque foi em emprego da força proporcional, seguindo osprincípios da necessidade, legalidade e proporcionalidade. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie estu-dou nas disciplinas de Tiro, Técnicas Gerais de Policiamento, Direitos Hu-manos, Operações de Alta Complexidade, em Técnicas de Imobilização eUso de Tonfa (bastão policial). Na parte de tiro era comentado que o uso dearmamento letal teria que ocorrer somente quando sofresse uma agressãoinjusta. Na Técnica Geral de Policiamento o enfoque iniciava com a parteda abordagem com o uso da verbalização, emprego de força física e usoletal da força, CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie lembra também que muito se discutia sobre o uso degás, sobre sua proibição ou uso, porém o egresso entende que o uso do gásatende tratados internacionais de direitos humanos, que prevêem o uso deagentes químicos pelos agentes de segurança como alternativa não letal. Na

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disciplina Operações de Alta Complexidade, o enfoque foi o uso progressi-vo da força dentro das alternativas táticas de negociação e emprego deagentes menos que letal. Na disciplina Técnicas de Imobilização e Uso deTonfa, também se tocava no uso escalonado da força, iniciando naverbalização. Exceto a Disciplina de Imobilizações Táticas, todos os demaisinstrutores eram policiais militares. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta se recorda ter aprendido na disci-plina de Policiamento Ostensivo Geral durante os três anos, e que nessamatéria procurava conciliar-se legalidade pelo que se aprendia em DireitoPenal e Constitucional, quando estudava o uso da algema o instrutor ques-tionava sobre a legalidade na ação e as situações de emprego de força.Segundo Delta,Delta,Delta,Delta,Delta, o instrutor sempre colocava vários casos reais e a questãode que existem diversos níveis de abordar e dentro do policiamento osten-sivo geral, existe diferenciação entre uma abordagem no trânsito em rela-ção a uma abordagem de uma força tática, diferente da abordagem em rodo-vias e em policiamento ambiental. EchoEchoEchoEchoEcho se recorda que estudou os princí-pios nas aulas de Direito Penal, em virtude do instrutor ser militar, e nasaulas de Tiro. Que Direito Penal era mais voltado para o uso a força quantoa legalidade da ação policial e a disciplina de Tiro mais voltada para utiliza-ção da arma de fogo. Segundo EchoEchoEchoEchoEcho, nas matérias de Direito Penal semprese discutia o uso de algemas e imobilização e a utilização das armas de fogoeram mais abordadas nas aulas de Tiro.

- Conhecimento sobre o Modelo de Uso da Força.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa disse conhecer o modelo de uso da força, mas não se recordacategoricamente dos níveis. BravoBravoBravoBravoBravo disse ter aprendido, mas não se recordabem, justificou dizendo que esse assunto não foi muito difundido e que ascargas horárias de disciplinas como Espanhol e Inglês eram superiores asdisciplinas específicas de polícia, estas possuíam 90h/a enquanto aquelas120h/a. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie disse conhecer e citou a verbalização, uso de força física ebastão policial, uso de agentes menos que letal e uso da arma letal, sendoum total de quatro níveis. Que em uma especialização aprendeu o seguin-te modelo: verbalização, uso da força física, uso do bastão policial e outrosequipamentos (rede e espuma), uso de agentes químicos (gás), depois usode munições menos que letais (munição anti-motim, de impacto controla-do, pistola laser) e, por último, o emprego de arma com munição letal.DeltaDeltaDeltaDeltaDelta disse conhecer e discorreu sobre a verbalização, contato físico evisual, contato mais coercitivo pela força física. EchoEchoEchoEchoEcho disse que pode atéconhecer, mas não como apresentou o entrevistador, que estudou na aca-demia e posteriormente no manual de policiamento ostensivo de MinasGerais.

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- Em relação ao uso legal da força, verifica-se em que circunstânciaemprega-se a verbalização e possíveis exemplos.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa emprega em todas as circunstâncias de abordagem, o primeironível sempre deve ser tentado, para que a partir daí possa evoluir para osdemais níveis. Um exemplo vivenciado foi quando um homem tomou opróprio filho como refém e que, após três horas de abordagem verbal, foraresolvida a crise, sendo o filho entregue sem que fosse necessário o avan-ço aos demais níveis de força. Acrescenta que a maioria das ocorrênciasmal sucedidas por parte das guarnições policiais se dá em face ao mal usodesse primeiro nível de força. Na maioria das ocorrências de desacato, de-sobediência e resistência ouve falhas quanto a argüição da guarnição coma pessoa a ser abordada. AlfAlfAlfAlfAlfaaaaa afirma que a verbalização é o nível mais im-portante, pois evita conseqüências danosas durante as ocorrências. BravoBravoBravoBravoBravoverbaliza no momento de abordar o cidadão quando ele não oferece resis-tência nenhuma, optou por um exemplo genérico de quando um cidadãorecebe ordem do policial para levantar as mãos e colocá-las na parede enão tendo resistência procede uma revista. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie entende que tem diver-sas situações de verbalização, é a primeira ação policial, uma ação sempretem que passar pela verbalização em todas as situações. Também optou porum exemplo genérico, ao se cumprir um mandado de prisão, que apóslido, a pessoa não oferece resistência na condução. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta já partiu para umexemplo prático vivenciado, quando ele e sua equipe abordaram um veí-culo onde os ocupantes eram suspeitos de quebrar um bar e ameaçar umcomerciante e que estariam armados, na abordagem foi feita a verbalizaçãopara que eles fossem para parede, não ofereceram resistência, no veículoacharam uma pistola e, durante a ocorrência, descobriram que só ocorreuum desentendimento, um dos ocupantes do veículo era policial e a de-núncia era infundada sobre disparo de arma de fogo e agressão física. EchoEchoEchoEchoEchoentende que a verbalização é o mais comum em abordagens a suspeitos,tão comum que praticamente em todas as ocorrências é utilizado, citou umexemplo sobre a suspeita de um elemento armado, quando o primeirocontato é a verbalização. EchoEchoEchoEchoEcho comentou durante a sua fala que esta entre-vista causa a impressão de ser um teste sobre o que foi aprendido e o queé aplicado na prática.

- Em relação ao uso legal da força, verifica-se em que circunstânciaemprega-se a contato físico e como se procede e um exemplo.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa citou um exemplo genérico, uma situação da quebra da ordempública por uma pessoa que se encontra no estado de embriaguêz e semlucidez nas suas atitudes, verifica-se a ineficiência do uso do primeiro nível

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de força, restando avançar para o contato físico para que a ordem públicaseja restaurada. Para AlfAlfAlfAlfAlfaaaaa o contato físico e realizado com o objetivo deconter a ação de uma pessoa sem que seja necessário ainda o avanço aoterceiro nível, no contato físico a pessoa percebe a presença da autoridadepolicia. No contato físico a pessoa é segurada por um dos braços e tocadapelas costas para que entenda que esta sendo conduzida para a delegacia.BravoBravoBravoBravoBravo cita um exemplo vivenciado dentro de um presídio, ao dar umaordem para que os reeducandos saíssem da cela com as mãos na cabeçapara realização de uma revista de cela, ao sair a segunda ordem é para aretirada de todas as roupas para examinar as vestes e alguns se negam emficar nus e a passarem a roupa, sendo necessário algemá-los e pedir paraque o agente prisional retire as roupas e os reviste, fazendo uma buscapessoal nas roupas, onde costumam esconder drogas e celulares. O egres-so se justifica dizendo que é necessário que retirem a roupa por inteiropelo fato de alguns dos reeducandos costurarem celulares e drogas naparte interna da cueca. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie aponta um exemplo de contato físico emuma situação onde é dada uma ordem clara solicitando que alguém seencoste à parede para uma busca pessoal e, após verbalizar e ocorrendodesobediência, a pessoa é encostada na parede ou colocada de joelhos,pois existe uma suspeita ou fundada suspeita para a abordagem policial, jácabendo, se for o caso, a prisão do suspeito por desobediência devido aresistência. Para CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie a frase mais comum: “encosta na parede porque sevocê não encostar vai ser conduzida por desobediência!” Tal medida geral-mente evita o contato físico. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta cita uma abordagem que realizou emum pessoal que fez um assalto, recebeu uma informação que havia quatropessoas em um bar e que estariam comemorando um assalto em VárzeaGrande. Na abordagem foi verbalizado para irem para a parede, um dosmembros tentou sair do local e foi dada a ordem para que o policial nãodeixasse ele sair, eles foram segurados pelos braços e encontrado armas, eo contato físico ocorreu devido a resistência. EchoEchoEchoEchoEcho disse que o contatofísico é adotado quando apenas a verbalização não é suficiente, citou comoexemplo um local de grande aglomeração de pessoas, quando há a neces-sidade de abordar um suspeito, às vezes a simples verbalização não bastapara levá-lo para um local mais isolado para realizar uma revista, basta opolicial encostar a mão guiando-o, sem necessitar puxar pelo braço, umaforma de condução que a pessoa sente que o policial está junto mas semusar a força e, muitas vezes, isso basta para que o cidadão acate à ordem.

- Em relação ao uso legal da força, verifica-se em que circunstânciaemprega-se a imobilização, como se procede e um exemplo.

AlfAlfAlfAlfAlfaaaaa aproveita o exemplo anterior, se a pessoa oferecesse resistênciana sua condução para a delegacia, se faria necessário o uso de técnicas de

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imobilização, realizada pela torção dos braços até que se esgotem as possi-bilidades de resistência, normalmente quando se emprega o terceiro nívelde força, se faz necessário o emprego das algemas. BravoBravoBravoBravoBravo continua seguin-do o exemplo do presídio, quando se torna necessário realizar a imobiliza-ção de presos quando se negam a mudar de um raio para outro, principal-mente quando ele se nega a ser transferido para outro raio alegandodesafetos. O agente algema e, quando ocorre a resistência, o preso e pegopelos braços e levado quase que arrastado. O egresso complementa queum dia presenciou um dos reeducandos urinar de medo em virtude datransferência de raio, mas o local para onde ele seria levado era seguro.CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie cita que no momento em que é dada voz de prisão para a pessoa,independentemente do crime cometido, se ela oferece resistência para evitara condução, assim usa-se a imobilização e algema para a condução da pes-soa, acontece principalmente com pessoas sobre efeito do álcool ou entor-pecente. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta indica que a imobilização pode ocorrer ao abordar a umapessoa que cometeu um delito, nesse caso cabe a imobilização em virtudedo risco que pode ser oferecido à guarnição, usa-se as algemas como ex-tensão da imobilização, ocorrendo resistência pode acarretar em lesões esendo necessário redigir um auto de resistência. O Egresso complementaque a imobilização pode ser também sem contato físico, como em umaordem para não se mexer, através da intimidação do policial com uma armaempunhada, isso seria uma imobilização verbal. EchoEchoEchoEchoEcho também aproveita oexemplo anterior, havendo suspeita fundada que o elemento esteja armadoou com entorpecentes e ao se realizar uma revista mais minuciosa, ocorreresistência em acompanhar a guarnição, momento que se utiliza a imobili-zação e condução. EchoEchoEchoEchoEcho entende que a imobilização vai depender de comoa pessoa vai reagir, às vezes é necessário somente imobilizar o braço, outrasvezes usar algemas, às vezes usar dois ou mais policiais na condução.

- Em relação ao uso legal da força, verifica-se em que circunstânciaemprega-se a força não letal, como se procede e um exemplo.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa aponta que o uso de força não letal é mais empregado nos casosem que o número de pessoas a serem contidas é muito superior ao efetivopolicial de forma que os três primeiros níveis tornam-se ineficientes e atéperigoso para a segurança da guarnição, restando somente o avanço aoquarto nível de força pelas armas não letais que visam a dispersão dessaspessoas para tão somente se faça a contenção de grupos reduzidos. Paraque seja feita tal dispersão empregam-se bombas de efeito moral ou uso despray de gases de pimenta em meio a multidão ate que ocorra a dispersão.AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa complementa que, pela sua experiência policial, pouco se utiliza estequarto nível, pois as guarnições policiais dos batalhões não possuem aces-

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so a esse tipo de arma não letal, chegando até o terceiro nível com o uso dealgema, é o necessário para a condução individual. BravoBravoBravoBravoBravo cita que a forçanão letal seria no caso de um tumulto generalizado que para dispersar amultidão, por meio de agentes químicos ou numa rebelião os policias uti-lizam munições anti-motim de impacto controlado. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie cita que se usaa força não letal quando a imobilização se torna ineficaz, discorreu sobreum exemplo pessoal durante uma prisão, tentou fazer a imobilização e foiagredido, sendo necessário usar munição anti-motim na perna do agressor.Outro exemplo foi uma situação que empregou gás em um homem escon-dido dentro de uma sala com arma de fogo “[...] ele atirou contra a guarni-ção e nós usamos uma granada de gás lacrimogêneo e ele saiu voado edesarmado [...]”. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta entende que a força não letal pode ser empregadaem raros casos quando o abordado não oferece risco letal contra a guarni-ção. Cita um caso em que um cidadão não estava portando uma arma defogo, o uso da força não letal é interessante, a probabilidade de ocorrer algoerrado é ínfimo, mas questiona como saber se o cidadão não vai sacar umaarma de fogo, cita que é necessário uma verbalização bem imperialista, poismesmo que ele tenha uma arma de fogo, vai pensar de duas a três vezesantes de esboçar reação. Um tanto quanto confuso, entende que arma defogo é necessária como supremacia de força para suprir a supremacia nu-mérica, que a abordagem sempre deve ser de dois policiais para um suspei-to, mas na prática isso é difícil, devido a escassez de efetivo. Argumenta queo policial tem que estar armado e sempre verbalizar com a arma em punho,isso dá a vantagem contra qualquer surpresa do oponente. EchoEchoEchoEchoEcho emprega aforça não letal quando as alternativas de força mais brandas não são sufici-entes, um exemplo particular é o uso do gás de pimenta e, sempre quenecessário, ela usa em virtude de ser pequena e ser mulher, sente bastanteresistência principalmente dos homens nas abordagens. Desabafa que aoverbalizar tem a impressão, quase todas as vezes, de ser olhada diferente-mente, quase todas as vezes precisa verbalizar de duas a três vezes, princi-palmente em abordagens a bares.

- Procedimentos quando ocorre uma resistência ativa, momento emque o suspeito tenta agredir o policial de forma não letal.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa comenta que o terceiro nível de força sempre excluirá o uso daforça não letal, devendo ser esgotadas todas as técnicas de imobilização, anão ser nos casos em que o oponente apresentar o uso de arma letal ouobjetos que tragam risco a integridade física da guarnição, como faca oupedra, seria prudente a guarnição, antes de responder com o uso de armaletal, responder de forma não letal, como por exemplo o uso de muniçõesanti-motim para que o oponente cesse sua ação. BravoBravoBravoBravoBravo disse usar tonfas

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(bastão policial), cacetetes e empregar a defesa pessoal aprendidas nos cur-sos. Mas para que haja o desencorajamento de uma ação contra o policial énecessária a superioridade numérica e de força. Nos casos dos bastõespoliciais, os locais no corpo ideais para aplicação dos golpes, seriam bra-ços e pernas, mas, na prática, no momento da ocorrência, “no calor da refre-ga” [se referindo ao uma frase que ouviu de um juiz], no embate, as vezesacaba atingindo áreas sensíveis. Uma vez atingida, a pessoa é conduzidapara atendimento médico, depois é confeccionado auto de resistência àprisão e boletim de ocorrência policial. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie inicia com um exemplo deum homem que mantinha a filha como refém e portava dois facões. A me-nina escapou e veio correndo para o lado da guarnição, o pai partiu paracima dos policiais com os dois facões para o alto. Foi usada munição anti-motim, acertando a coxa e a cintura do agressor que largou os facões, nahora, e se sentou, depois foi algemado. Quando a menina correu, o egressoverbalizou para que o homem largasse a arma, mas como não foi obedeci-do, disparou em uma distância de seis metros. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta disse que dificilmenteo policial porta arma não letal, com exceção feita ao bastão policial que,sendo utilizado de forma negligente, poderá se tornar uma arma letal, poiso bastão policial exige treinamento e isso não ocorre com freqüência.EchoEchoEchoEchoEcho cita um caso que vivenciou, ao realizar um cordão de isolamento emuma manifestação. Um dos manifestantes tentou agredir um superior quese posicionou atrás da entrevistada, o manifestante foi empurrado, EchoEchoEchoEchoEchoseguiu junto com ele e caiu no meio do povo que estava partindo paracima da polícia, recebeu três murros no peito e teve que partir para oenfrentamento com aquela pessoa. Quando os policiais perceberam, apro-ximadamente cinco subordinados vieram em auxílio e a pessoa foi presa.EchoEchoEchoEchoEcho disse que os policiais foram até muito firmes no ato da prisão porcausa da agressão que a entrevistada sofreu, os policiais não toleram agres-são contra mulheres, querem proteger até demais.

- Em relação ao uso legal da força, verifica-se em que circunstânciaemprega-se a força letal e como se procede e exemplo.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa narra que o uso da força letal ocorrerá nos casos em que ooponente estará portando arma letal, porém antes de se fazer o uso da armaletal por parte da guarnição, essa deverá tentar a verbalização, isso nos ca-sos em que o oponente ainda não utilizou da arma letal, mas somenteportando-a. AlfAlfAlfAlfAlfaaaaa completa que já deparou com o oponente armado e este,quando avistou a presença da guarnição, efetuou disparos na direção daguarnição, restando à guarnição responder na mesma força do oponente,ou seja com uso da arma letal. Para Bravo, Bravo, Bravo, Bravo, Bravo, pelo que aprendeu, a força letalsó pode ocorrer para salvar a própria vida ou de terceiros. Cita um exemplo

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genérico, durante uma ocorrência de rotina na rua, ao abordar uma duplade rapazes, pedindo para que parassem, um deles saca de uma arma e atiracontra a guarnição, a guarnição responde com disparos e acaba atingindoum deles, levando-o a óbito. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie aponta uma situação em que o agressorutiliza-se da arma de fogo ou de uma nítida ameaça contra a vida da guarni-ção ou de terceiros. Um exemplo vivenciado foi um assalto, quando omeliante levou o veículo em um roubo a residência, depois assaltou umaloja e, durante a fuga, ocorreu o cerco policial, ele bateu o veículo e reagiuatirando na guarnição. Foi necessário o emprego de arma de fogo paraneutralizar aquela ação, ele foi conduzido para o pronto socorro, vindo,depois de algum tempo no hospital a óbito. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie explica que foi realiza-da uma sindicância pela Polícia Militar, além dessa medida, o processo tra-mitou em âmbito externo da justiça militar, mas não foi oferecida denúnciacontra a guarnição, por ter sido caracterizada legítima defesa. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta comen-ta que o emprego da arma de fogo passa por três vertentes do “triângulodo fogo” e, quando ele se fecha pode-se usar a arma de fogo em perigoeminente (saque de uma arma), oportunidade (destreza do policial no usoda arma e segurança) e habilidade (constante manutenção do armamento ecapacitação diária). Uma outra vertente que é a conveniência (verificar se éconveniente atirar em um local que cause risco a terceiros). EchoEchoEchoEchoEcho cita queo uso da força letal é empregado quando todas as alternativas não foremsuficientes. Comenta “[...] ainda não passei por isso, eu espero não passar,mas se acontecer, sei que em todas as abordagens eu já me preparo mental-mente para uma possível confronto armado[...]”.

- Verificação de qual o procedimento após o confronto letal.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa argumenta que ao perceber o cessar a ação do oponente e veri-ficando lesão à integridade física, a primeira preocupação e prestar o devi-do socorro ao oponente lesado de forma que garanta a sobrevivência dapessoa alvejada pelos disparos, tomando os procedimentos de acionar oatendimento médico no local ou deslocando para o pronto socorro. BravoBravoBravoBravoBravocita que a medida é verificar se o cidadão está com vida, caso não tenhamais pulso e nem respiração, isolar o local e informar a perícia e aguardaraté a chegada dos peritos; e estando com vida, prestar socorro imediato,levando até o hospital mais próximo. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie comenta que caso a pessoatenha sinais vitais deve ser encaminhada para pronto socorro, no local dofato realizar o isolamento, acionamento da perícia, confecção do auto deresistência a prisão e boletim de ocorrência. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta informa que o policialprimeiro se aproxima com segurança para verificar se a pessoa ainda temsinais vitais, o policial tem o dever de prestar os primeiros socorros nolocal, o maior bem é a vida. Na prática o policial a coloca na viatura policial

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e a leva para o hospital, a grande preocupação do policial é se naquele localterá outros comparsas ou pessoas afetas que poderiam causar retaliação.Quando ocorre supremacia, chama-se o resgate para prestar os socorros, nocaso da morte aquele local passa ser isolado para a perícia criminal. EchoEchoEchoEchoEchocita que em tese havendo o óbito, preserva-se o local e chama-se a perícia,se foi apenas ferimento, levar imediatamente para cuidados médicos.

- Verifica em qual situação o egresso aprendeu sobre o uso da força.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa cita que teoricamente aprendeu no Curso de Formação de Ofi-ciais, porém a afirmação dos conceitos, em sua prática, ocorreram somentena experiência operacional vivenciada após o curso, até porque o exercí-cio desse conteúdo durante o curso foi pouco praticado em virtude dopouco estágio operacional realizado, mas especificamente falando, tais está-gios eram realizados eventualmente quando acontecia policiamento emeventos periódicos. Também vale ressaltar que o domínio desse conteúdosó será obtido após algum tempo de prática. BravoBravoBravoBravoBravo cita que aprendeu naacademia e depois de formado no dia a dia do serviço. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie cita queaprendeu na academia e no curso de especialização e que esse assuntosempre é alvo de comentários e tem muitas literaturas. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta disse queaprendeu na academia e na vida prática, experiência de rua. EchoEchoEchoEchoEcho informaque a teoria aprendeu na academia, mas na prática que é possível visualizarcada nível de força.

- Verifica como o egresso avalia a sua atuação em relação ao uso legalda força e se sente insegurança na decisão quanto ao nível adequado a serempregado.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa disse que no início de sua vivencia operacional sentia dificulda-des devido a falta de prática, mas que hoje se sente melhor preparado eseguro em aplicá-los. Cada circunstância que depara é diferente, como porexemplo uma situação que se faça necessário o uso de arma letal, por maisque a prática lhe traga segurança, existem fatores fisiológicos, como aadrenalina, que pode causar instabilidade emocional, trazendo insegurançaque afete a decisão. Neste momento, de forma espontânea o egresso desa-bafa: “[...] nem sempre depende da gente, já passei por isso, em uma trocade tiro o meu estado emocional ficou bastante alterado e, naquele momen-to, eu não tinha nenhuma condição de tomar decisão, curiosamente eu fuiacalmado por um subordinado que possuía muitos anos de prática policial.Naquele momento fora ele quem gerenciou tal situação para que não ocor-resse erros que prejudicasse a guarnição e a minha pessoa, fui ajudado porum policial conhecido na gíria policial como um soldado antigão, com 42

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anos de idade, essa situação marcou minha vida, entendi que o ser humanonão é só razão, a emoção pode tomar conta do nosso corpo e não há nadaque se faça, e se pode cometer erros na decisão, a parte emocional tem queser muito exercitada, tem momento que temos que recuar, buscar a calmapara não errar, uma boa decisão hoje não significa uma boa decisão ama-nhã, e se tem que reconhecer quando e tomado pela emoção e isso e difícilde ser percebido no momento, só vai ser percebido depois de errar [...]”.BravoBravoBravoBravoBravo afirma que sente absoluta segurança e confiança no nível de força aser empregada em determinada ocorrência, nunca se viu em nenhumasituação em que exagerasse no uso da força ou deixasse de utilizá-la deforma necessária. BrBrBrBrBraaaaavvvvvooooo continua, dando sinais de angustia “[...] pode acon-tecer de amanha eu estar em uma ocorrência que eu não tenha segurança,que eu tenha medo. Tenho medo de utilizar força letal com pessoas desar-madas, isso pode ocorrer numa situação de risco e estresse, ou encurraladopor uma multidão furiosa, e sendo o único armamento ali disponível deuso letal. Esta pergunta me deixou confuso e suscitou várias dúvidas sobreo uso da força letal, é muito fácil aprender que se usa a força letal parasalvar a sua vida ou a de outro, mas o difícil é em uma situação real decidir,sobre a sua vida, a vida dos seus subordinados e a vida do oponente emfrações de segundos, e depois ser julgado por alguém que está sentado eapoio do em princípios jurídicos e doutrinários e dizer o que deveria serfeito ou não de certo ou errado [...].” CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie, emitindo sinais deautoconfiança, de forma curta avaliou a sua atuação como dentro da técnicae se algum dia deixou de escalonar a força foi por falta de meios e não porfalta de conhecimento, que sempre foi seguro nas suas ações. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta, des-confiado, disse que não se viu em uma situação que estivesse inseguroquanto ao uso da força, o que procura é cumprir e fazer cumprir a partelegal, adequando-a ao trabalho prático de rua. EchoEchoEchoEchoEcho inicia com a palavra“sinceramente”, segue com a palavra “na verdade”, tenta se mostrar segurano início, que sempre pensa bem antes de tomar uma atitude, evita usar aemoção, sente-se segura quando preciso utilizar mais a força. Cita que noinício do seu trabalho nas ruas ficava muito ansiosa, hoje em dia está maistranqüila. Continua dizendo que em todas as ocorrências tem receio de serexcessiva ou truculenta, por que pode errar e responder por isso, sempreos policiais são muito visados nas atitudes que tomam. EcEcEcEcEchohohohoho comenta: “[..]as experiências do dia a dia estão me trazendo mais segurança [...] pensoque no início eu precisava de auto afirmação e conquistar a tropa, princi-palmente pelo fato de ser mulher, mas isso também ocorre com os homensem busca de conseguir seu espaço [...]”.

Em outro momento da entrevista DeltaDeltaDeltaDeltaDelta se emociona e aborda estaquestão de forma espontânea, o qual passo a transcrever com detalhes: “[...]Acredito assim, a nossa vida profissional é regida por parâmetros, a nature-

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za humana do policial tende a se envolver emocionalmente, fundindo sen-timentos frente a uma situação real em relação ao que ele aprendeu. Umexemplo que vivenciei foi um homicídio em uma comunidade, onde opai atirou na esposa na frente de um filho de três anos e quando nós chega-mos para atender a ocorrência, a criança aproximou-se de mim e disse, “tiomeu pai matou minha mãe”, naquela situação, quando olhei para a criança,e tendo um filho na idade dele, eu imaginei o meu filho sofrendo comoaquela criança, só que nem por isso eu tinha que ter uma atitude não profis-sional caso encontrássemos o autor do homicídio, ou seja, muitas pessoasna sociedade falam que o policial é frio, mas na verdade a gente tem queser frio, não podemos tomar partido, tem que fazer cumprir o que determi-na a justiça, tem muita ocorrência que mexe com o lado emocional dopolicial, ao retornar para a base a gente procura ajudar o policial que àsvezes já carrega outro problema e uma ocorrência pode deixar ele maisconfuso e pode interferir na sua vida pessoal. Toda vez que passo naquelelocal, lembro do meu filho [...] isso me causa vontade de estar com o meufilho e tudo que eu faço na minha vida profissional e movida pelo senti-mento que eu tenho pelo meu filho[...] O sentimento que me veio agorafoi de frustração frente a tantas coisas que acontecem de ruim no dia-a-dia,vejo coisas horríveis no dia-a-dia e, mesmo assim, ter que se fazer de forteperante os subordinados e familiares, não posso fazer muito, mas tentofazer o meu melhor. Os meus subordinados tem muitos problemas famili-ares e de saúde e quando me procuram, na condição de oficial, de coman-dante, eu tenho que me fazer de forte, procuro trabalhar os problemas de-les e os meus [...]”.

- Verifica a atuação dos egressos como comandante na instrução aospoliciais sobre os PBUFAF.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa afirma que instrui os seus subordinados, apoiado por estudosde casos. BravoBravoBravoBravoBravo também comenta que instrui, mas não necessariamentesobre os princípios questionados. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie comenta que sempre instrui oscomandados e deixa claro que ele é que decide sobre qual nível de forçadeve ser usado no momento da ação. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta diz instruir exaustivamente,além das determinações corriqueiras, também instrui quanto a legalidadeno uso da arma de fogo e a apresenta muitos casos práticos para chamar aatenção. EchoEchoEchoEchoEcho costuma conversar sobre legalidade e ação moderada, sãotópicos que sempre faz questão de falar, evitar arbitrariedade, abuso depoder etc.

- Identifica se os subordinados acatam ou resistem e, em caso de resis-tência, como reagem os egresso no dia-a-dia e qual a sua atitude em caso deresistência do subordinado.

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AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa cita que Muitos subordinados resistem por já possuírem, interi-ormente, procedimentos que se tornaram vícios e não aceitam que suaforma de trabalhar seja mudada, mesmo sabendo que os seus vícios comrelação à abordagem policial são procedimentos incorretos. Os que possu-em resistência não assimilam o que é passado e verifica-se que tais polici-ais são os que apresentam mais queixas e denúncias quanto a forma detrabalho. Em casos de queixas ou denúncias, é instaurado um procedimen-to disciplinar para avaliar a conduta negativa e, se confirmado tal conduta opolicial é punido disciplinarmente, há casos de policiais que possuemdoenças relacionadas ao alcoolismo e dependência química, o que interfe-re diretamente em sua conduta, sendo que esse casos quando são constata-dos, após a apuração de procedimento disciplinar, são encaminhados paratratamento. Ocorre que na maioria dos casos de policiais que apresentamdistúrbios e, após tratamento e licença, ao retornarem à atividade fim, con-tinua a apresentar as mesmas condutas desviantes. BravoBravoBravoBravoBravo cita que ocorrecerta resistência de subordinados, alguns cumprem as ordens, mas rejei-tam a idéia, muitos, por uma questão cultural, não acreditam que deveriahaver uma gradação no uso da força. Muitos policiais culturalmente acredi-tam, isso já vem socialmente antes de ingressarem na polícia, que o infratordeve ser punido com tapas, agressões verbais e físicas, alguns policiaisacabam querendo tirar uma “casquinha”. No caso de descumprimento deabusos o policial pode ser sancionado com medidas administrativas e pe-nais. Da mesma forma o policial sofrerá uma gradação nos níveis de corre-ção, da advertência a prisão. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie, já demonstrando fadiga, entende queseus subordinados nunca resistiram e, caso acontecesse, seriam orienta-dos, dependendo do caso, se viesse a trazer algum resultado mais grave, oescalão superior seria informado, podendo, inclusive ser-lhe dada voz deprisão. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta entende que acatam parcialmente, que a resistência maior épassiva, principalmente em relação à segurança própria, como o uso decolete balístico e necessidade de segurança nas barreiras. EchoEchoEchoEchoEcho cita quequando fala os policiais concordam, mas na prática às vezes agem de formaexcessiva. Cita um caso em que estava instruindo os policiais sobre o usoda arma de fogo por ter sido questionada se ao perseguir um veículo opolicial poderia atirar para parar o veículo, ela disse que não, pois não sesabe o por quê da fuga, pode ser um adolescente fugindo por estar semdocumentos e essa coisa de tentar acertar o pneu pode acertar pessoas. Nomesmo dia um policial que estava na palestra saiu para o serviço e aoabordar dois elementos em uma moto, o piloto empreendeu fuga e o poli-cial ao encontrar com a entrevistada disse: “[...] que colocou a arma parafora e mirou na moto e naquele instante lembrou da minha fala sobre nãoatirar e decidiu não atirar e que depois conseguiu abordar o moto e eracoisa simples, ele me procurou e disse: “tenente eu só não atirei porque euestava ouvindo a voz da senhora dizendo não atira...não atira.” Eu achei isso

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bem interessante, me senti recompensada e com o sentimento que vale apena instruir os policiais”.

- Identifica a percepção dos egressos sobre as principais queixas edenuncias na ação policial.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa reclama da falta do exercício da verbalização quando por exem-plo uma pessoa abordada questiona sobre o motivo de estar sofrendo aabordagem e a guarnição ao invés de responder ao cidadão o motivo da-quele procedimento, avança para o segundo e terceiro nível, constatandodessa forma erros por parte da guarnição quanto ao procedimento de esgo-tar os argumentos para convencer o abordado. Outra queixa é em relação afalta de técnicas na imobilização, que seria executar procedimentos quelesionará a pessoa conduzida ao passo que se utilizassem as técnicas deimobilização já ensinadas não ocorreria lesão a integridade física da pessoaconduzida. Outra queixa é o uso de arma letal em situações desnecessárias,como, por exemplo, quando o suspeito tende a fugir durante a abordageme a guarnição, com a justificativa de fazer com que a pessoa pare, efetuadisparos para alto ou na direção dela para intimidar, sem antes conhecer omotivo pelo qual o suspeito esta fugindo. Outra queixa é o uso de armanão letal em situações de desnecessárias, como, por exemplo, o uso de gásde pimenta de forma inapropriada para o tipo de ocorrência. BravoBravoBravoBravoBravo enten-de que a principal queixa é que o policial foi truculento na ação. CharlieCharlieCharlieCharlieCharliecita pelo olhar dos policiais que também se queixam que, quando utilizama força, não possuem respaldo por parte da instituição, tipo amparo jurídi-co, independentemente de estar certo ou errado, o policial que arca com asdespesas de advogados. Complementa que suas equipes nunca foram de-nunciadas por exceder o uso da força, só se não chegou ao seu conheci-mento. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta reclama do desvio de conduta e que muitos desses casos sãoquestionáveis, porque há pessoas com interesse em desmerecer o policialem termos profissionais por não ter tido seus interesses individuais atendi-dos. Assim é muito importante saber de fato o que realmente aconteceuatravés de uma apuração imparcial. EcEcEcEcEchohohohoho cita “Bater demais, agressão numasimples abordagem, destrato às pessoas”.

- Verifica a percepção do egresso sobre a sua turma formada em 2003, emconformidade com as novas bases curriculares nacionais e se recebeu algumtipo de aprovação ou reprovação por parte dos membros da instituição.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa comenta que sentiu reprovação por parte de alguns oficiais queentendem que esse tipo de currículo nada tem a ver com a formação deoficiais da Polícia Militar, pois a apresentação de monografia esta mais para

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o mundo civil do que para quem quer ser um oficial. Foram rotulados de“turma de paisanos”, pela metodologia da grade curricular ser totalmentecontrária ao que a academia anteriormente pregava, quando, por exemplo,as nossas aulas ocorriam fora da estrutura física da academia, mas precisa-mente na universidade pública, o que acarretou um contato maior comestudantes universitários e daí a denominação de turma “paisana”. BrBrBrBrBraaaaavvvvvooooonarra que quando a turma já estava formando ouviam muitos comentáriostipo “a turma de almofadinhas” mas depois que formaram não notou maiscomentário. Quem comentava eram alguns instrutores sobre o que ouviamfora e também achavam. “Almofadinha”, “oficial de escritório”, “essa turmanão tinha ralado e sofrido fisicamente como outras turmas”. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie citaque teve aprovação e reprovação. A reprovação em sua maioria ocorreumais por parte dos oficiais mais antigos e aprovação maior por parte daspraças (sargentos, cabos e soldados). CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie sempre ouvia de alguns ofici-ais mais antigos que a sua formação era muito humanística e que na rua, naprática, a teoria era outra. Dos praças ouviam que os novos alunos davamoportunidade de ouvir e de conversar com os subordinados. Durante aformação e algum tempo após, era costumeiro ouvir “turma da mamãe”,pelo fato delas, as mães, participarem no processo de formação pelo co-mando da academia, isso fez com que elas se unissem e tomassem partidodiante de algumas situações consideradas injustas, tais como perseguição aalunos, privilégios de outros, tratamento diferenciado, questão da alimenta-ção, internato, entre outras questões. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta visualiza alguns casos isolados,entende que os oficiais da sua turma sempre sobressaíram, e com o dife-rencial de possuírem o título de bacharel. Comentários surgiram tais como:“vocês são a turma do Balieiro” no sentido que o curso não tinha tantapunição e mais acesso ao estudo, “ a academia está mais light!”, pelo fatode favorecer mais a formação do aluno no aspecto profissional. EchoEchoEchoEchoEcho citaque havia muitos comentários que a turma só era estudiosa, que tinha maisconhecimento teórico do que prático, a academia era chamada de “univer-sidade”, o refeitório era chamado de “restaurante universitário” (RU). Erauma brincadeira das outras turmas anteriores, isso foi no primeiro ano,quando foi divulgado o currículo novo.

- Verifica a impressão dos egressos sobre os estereótipos recebidospela turma de formação.

AlAlAlAlAlfafafafafa comenta que a nova metodologia possui vantagens e desvanta-gens. A vantagem é que ela tem uma visão moderna de ensino pedagógico,na medida em que se convivia com outros estudantes, porém no que dizrespeito a grade curricular possui falhas quanto a carga horária de discipli-nas e também possui desvantagens na formação militar pois realmente essaparte da formação militar era pouco exercitada. Porém em termos pedagó-

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gicos o excesso do militarismo atrapalha a assimilação da aprendizagem namedida que alguns procedimentos formais, característicos do militarismo,impossibilitam a apresentação de idéias e inovações para o crescimento dainstituição. BravoBravoBravoBravoBravo acredita que na formação policial ser submetido a situa-ção de estresse é importante, mas de forma pré-estabelecida didaticamente,sem necessidade de humilhação ou desmoralização. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie vê como fatoisolado e insignificante. Cada um iria mostrar o profissional que era, traba-lhando, que sempre acreditou no potencial de todos da turma. DeltaDeltaDeltaDeltaDelta co-menta que a sua formação foi voltada para o intelecto e estão mostrando naprática o que aprenderam, na turma até hoje não teve nenhum desvio deconduta, a moralidade é um ponto a ser ressaltado. EchoEchoEchoEchoEcho acredita que issoacontecia por que todas as atenções estavam voltadas para a sua turma eisso causava um certo ciúme.

- Verifica a percepção dos egressos em relação aos oficiais que foramformados no modelo curricular anterior.

AlfaAlfaAlfaAlfaAlfa possui dificuldades de adaptação, pois percebe que o sistema émuito rígido e mudou-se muito pouco, já que convive com oficiais forma-dos em outra metodologia, e isso gera frustração em saber que a novametodologia, que irá demorar uns vinte anos para ter efeito de mudança,entende que somente após o acesso da sua turma nos escalões superiorespoderá fazer com que algo mude, sente-se com a sensação de frustração,porque apesar das falhas na grade curricular a metodologia que os condu-zia gerou uma expectativa de que poderiam inovar através de conhecimen-tos científicos, mas no campo prático percebeu que é muito difícil aplicaras novas idéias. Hoje quase não existe rótulo, pois os integrantes da turmaestão em destaque e o que seria a turma de paisanos na verdade foi substi-tuído pelo destaque individual de cada membro da turma nas unidadesoperacionais, atualmente os tenentes mais elogiados não os sua turma, aTurma Milenium. AlfAlfAlfAlfAlfaaaaa finaliza com um desabafo particular: “Para encerrar,eu achei que nunca teria a oportunidade de falar sobre esse assunto, princi-palmente com um oficial superior, essa entrevista foi importante para mim,um desabafo, e que seja ref letido sobre o que eu falei e que contribua paraconstrução de uma doutrina científica na Polícia Militar de Mato Grosso”.BrBrBrBrBraaaaavvvvvooooo, um tanto indiferente, comenta: “Nem pior e nem melhor, porqueacredito que independentemente do currículo, em qualquer área para quetenhamos profissionais competentes é necessário que ele tenha força devontade, assiduidade, compromisso e inteligência, e isso não é o currículoque faz”. CharlieCharlieCharlieCharlieCharlie cita: “Nem melhor e nem pior. Não me sinto diferente.Tivemos a oportunidade talvez de ter uma carga maior de conhecimento”.DeltaDeltaDeltaDeltaDelta é ligeiro: “No mesmo patamar profissional dos outros”. E EcEcEcEcEchohohohoho finali-za dizendo que não vê diferenças.

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IInicialmente nas entrevistas constam as opiniões dos egressos du-

rante o processo de formação em relação aos Princípios Básicos sobre oUso da Força e Armas de Fogo (PBUFAF). Os sujeitos em sua maioria des-conheciam os documentos que originaram os PBUFAF. As opiniões de-monstraram que alguns dos conteúdos curriculares abordaram de formadireta e indireta os conceitos sobre os PBUFAF, porém foram vagos e compoucas aulas práticas em relação ao uso do armamento. A frase que maisresume a preocupação dos egressos sobre o uso da força no processo deformação narra que “mais importante que atirar é saber quando atirar”.

As disciplinas mais apontadas durante a formação que contribuíramcom o conhecimento sobre o uso legal da força foram: “técnicas gerais depoliciamento”, “direitos humanos”, “defesa pessoal” e “tiro policial”. O cur-rículo da academia possuía uma extensa carga horária, porém as discipli-nas genéricas, as vezes, superavam as disciplinas específicas, “a carga horá-ria das disciplinas citadas deveriam ser as maiores do curso, aos invés dedisciplinas como espanhol e inglês que possuíam carga horária de 120h/acada”. Conforme a base curricular do CFO apresentada no capítulo 4, estavisava o desenvolvimento humano do profissional e as habilidades e com-petências específicas para o exercício da profissão. O perfil para a forma-ção do profissional de segurança pública focaliza responsabilidade social,compreensão do meio sócio-político-econômico-cultural, formação huma-na e técnico-profissional, liderança, formação de caráter generalista eeclético.

Entendo que o paradoxo apresentado está associado ao conceitoamplo do que é “ser policial”. O sujeito deseja mais preparo técnico para oexercício da atividade policial devido o risco de vida, enquanto que osdiversos campos do saber exigem o policial generalista.

Em termos de avanços, no período compreendido entre 2003 a 2006ocorreram diversos ajustes pedagógicos e políticos nas bases curricularesem âmbito nacional e regional. A Base Curricular passou a ser denominadade Matriz Curricular. Todavia a mudança ocorrida não é objeto deste estudo.

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II

Conforme consta no capítulo 3, o modelo de uso de força possuicinco níveis de intervenção policial: verbalização, contato físico, imobiliza-ção, força não letal e força letal. Sobre estes níveis os egressos demonstra-ram pouco conhecimento teórico, sobressaindo o conhecimento práticoem função da atuação policial no dia-a-dia.

O modelo de uso da força foi abordado em algumas disciplinas du-rante o processo de formação do ponto de vista teórico conceitual comênfase na memorização, faltou relacionar melhor os conteúdos com a prá-tica. Sobre o ensino na academia, Balieiro (2003, p.99) reforça a falta designificado e sentido lógico do material a ser aprendido em relação aoconhecimento do aluno.

Sobre o nível de verbalização os entrevistados foram unânimes emafirmar que verbalizar é o ponto de partida para a ação policial, com usoinclusive em situações de negociação de crises com reféns, “verbalização éo mais comum em abordagens, tão comum que praticamente em todas asocorrências é utilizada”.

Quanto ao uso da força no nível de contato físico, que em tese deve-ria se apenas um toque no ombro da pessoa abordada em caso de nãoatendimento da verbalização, os egressos entenderam por contato físico“segurar pelo braço e conduzir”, uma “revista pessoal”, “abordagem e revis-ta pessoal”, “encostar-se à parede”.

No caso de necessidade de imobilização, os egressos entendem como“imobilizar o braço”, “uso de algema”, “vai depender de como a pessoareagir”. A imobilização conforme o modelo de uso de força é uma alterna-tiva em caso de uma pessoa oferecer certa resistência em caso de umaprisão, geralmente resistência passiva, pois não agride o policial, somenteresiste a prisão.

Referente ao uso de força não letal, o quarto nível, os egressos possu-em uma concepção de uso mais voltada para controle de massa. Entendemque funciona quando os três primeiros níveis não são suficientes. Empre-gam “bombas de efeito moral ou uso de spray de pimenta em meio à mul-tidão até que ocorra a dispersão”, “quase não é preciso usar esse nível”,“usado em tumulto generalizado para dispersar multidões através de agen-tes químicos”, “quando o policial é agredido”, sobre um episódio de umapessoa escondida em uma casa com arma de fogo “ele atirou na guarniçãoe nós usamos granada de gás lacrimogêneo e ele saiu voado e desarmado”,existem dúvidas no nível a ser empregado “como saber se o cidadão nãovai sacar uma arma e atirar? É necessária uma verbalização bem imperialista,que mesmo armado vai pensar duas vezes”. Um constatação interessantefoi a forma com que as mulheres superam a força física masculina, “nestenível uso gás de pimenta”.

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Sendo necessário o uso de força física, os equipamentos mais utiliza-dos são gás lacrimogêneo, bastão, munição anti-motim, algema, técnicas dedefesa pessoal, os pontos do corpo mais atingidos são braços e pernas e“na hora do embate as vezes acaba atingindo pontos sensíveis do corpo dooponente”, “dificilmente o policial utiliza arma não letal, só possui o bastãoque pode ser uma arma letal em caso de mau uso”.

Em relação ao uso letal da força os egressos foram unânimes eminformar que só deve ser utilizado em caso de ameaça da própria vida oude terceiros. Sobre as situações mais freqüentes citaram “quando a genteaborda uma dupla armada eles atiram e a guarnição responde com tiros”,“quando acontece sempre gera um óbito”, “ainda não passei por isso, eunão quero passar, mas me preparo mentalmente”. Os caso de confrontosletais os policias são orientados a prestar os primeiros socorros e preen-cher um documento específico com testemunhas do fato.

III

Sobre o grau de autoconfiança dos egressos ao usar os níveis deforça: “nem sempre depende da gente, já passei por isso, em uma troca detiro meu estado emocional ficou bem alterado, quem me ajudou foi umpolicial antigão, isso marcou a minha vida, poderia ter cometido um erro”,“a emoção pode tomar conta do nosso corpo”, “tenho medo de atirar empessoas desarmadas”. Este questionamento deixou vários egressos confu-sos e angustiados sobre o próprio preparo, “esta pergunta me deixou con-fuso e suscitou duvidas, é muito fácil aprender, mas o difícil é em quesituação real decidir em fração de segundos”, “falam que policial é frio, masna verdade a gente tem que ser frio, não pode tomar partido”, um egressoao comentar uma ocorrência onde uma criança aproximou dele e disseque o pai matou a mãe, naquela situação “imaginei meu filho sofrendocomo aquela criança” quando passo naquele local lembro do meu filho edá vontade de voltar para casa e vê-lo, mas na condição de comandantetenho que me fazer forte”. Nota-se aqui um conflito do “eu”, que mediantetentativa de mutilação tendem a incluir aguda tensão psicológica para oindivíduo.

Ao falar de instituições totais, Goffman (1961, p.25) cita que o sujeitoafasta de sua identidade pessoal, qualquer que seja a maneira de ser chama-do, tende a ocorrer uma mutilação do eu, mudanças radicais nas crençasque têm a seu respeito, processos pelos quais o eu da pessoa é mortificadosão relativamente padronizados nas instituições totais. Um exemplo dessetipo de mortificação é “quando é obrigado a executar uma rotina diária devida que considera estranha a ele, aceitar um papel com a qual não seidentifica [...] deve-se apresentar uma renúncia a sua vontade (p. 31-46).

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IV

Em relação ao controle dos egressos sobre o comportamento dossubordinados quanto ao uso da força, geralmente aplicam instruções diári-as e, nos casos de transgressões, solicitam medidas punitivas, “muitos su-bordinados resistem e são cheios de vícios na abordagem policial, nessecaso se usa o regulamento disciplinar”, “alguns cumprem as ordens masrejeitam as idéias”, “muitos policiais querem punir e acabam tirando umacasquinha, mas podem ser punido”, “a resistência passiva é pior”, “um vezum policial me disse, tenente eu só não atirei porque eu estava ouvindo asua voz na minha cabeça dizendo não atira, não atira”. As principais queixascontra os policiais subordinados são relacionadas a abordagem errada, le-sões na hora de imobilização, exibição de armas sem necessidade, disparosde intimidação, ação truculenta, “bater demais”, “destrato e agressão numasimples abordagem”.

Apesar da tentativa de manter uma vigilância hierárquica e sujeiçãodos subordinados, conforme já foi visto no capítulo 1, ocorre também osajustamentos secundários, segundo Goffman (1961, p.57) este ajustamentoreflete muito claramente o processo de confraternização entre os subordi-nados e a rejeição aos dirigentes através de uma “gozação coletiva”. Emborao sistema de castigo-prêmio funcione, surgem gestos passageiros de desa-fio anônimo ou coletivo.

V

Sobre a formação dos egressos, estes comentaram que alguns ofici-ais mais antigos criticavam o novo modelo de formação. Muitos foram osapelidos pejorativos dados a turma de egressos durante o curso, tais como:“turma de paisanos”, pelo fato de estudarem na APM e na UFMT, “turma dealmofadinhas”, “oficial de escritório”, “essa turma não tinha ralado e sofridocomo as outras”, “a formação é muito humanística e que na rua a prática éoutra”. Pelo fato das mães terem acesso ao comando no período de forma-ção e se movimentarem socialmente contra atitudes que consideravaminjustas, foram rotulados também de “turma da mamãe”. As percepções dosegressos sobre os estereótipos divergiram, mas a maioria considerou resis-tências as inovações, “a turma tem potencial, não tem desvio de conduta, amoralidade é um ponto a ser ressaltado”, “as vezes isso acontecia por ciú-mes”. O estigma surge na tentativa de causar um efeito paralisante a fim deproteger uma antiga identidade grupal.

Segundo Goffman (1963, p.11) os gregos criaram o termo “estigma”para se referirem a sinais corporais com os quais se procuravam evidenciaralguma coisa de extraordinário ou ruim sobre o status moral de que os

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apresentava, um atributo profundamente depreciativo.A postura dos policiais mais antigos rotularem os novos pode ser

explicada a luz da sociologia das relações de poder em pequenas comuni-dades, segundo Elias (1994, p.7) na comunidade um grupo se autopercebecomo melhor, uma identidade social construída a partir de uma combina-ção singular de tradição, autoridade e influência. Mesmo que os indicado-res sociais sejam homogêneos, um grupo se estabelece como a “minoriados melhores”. A forma do “grupo de melhores” assumir a posição de mo-delo moral é estigmatizando o “grupo de piores” com atributos associadoscom anomalia, no caso dos policiais, uma postura mais civil que militar, “osde fora”, os mais antigos da comunidade, em suma, “tratavam os recém-chegados como pessoas que não se inseriram no grupo. Esses própriosrecém-chegados, depois de algum tempo, pareciam aceitar, como uma es-pécie de resignação e perplexidade” (ELIAS, 1994, p.20).

Elias (1994, p.55) reforça que com ou sem razão os grupos já estabe-lecidos sentem-se expostos a um ataque contra suas fontes de poder, comisso repelem os novatos excluindo-os e humilhando-os, já os novatos difi-cilmente teriam intenção de agredir os antigos, assim, “o drama todo foiencenado pelos dois lados como se fossem marionetes”.

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Limitações e PossibilidadesLimitações e PossibilidadesLimitações e PossibilidadesLimitações e PossibilidadesLimitações e Possibilidades

Na introdução deste estudo foi delimitado um problema que indaga-va se o novo sistema de ensino na Academia de Polícia Militar produziumudanças na formação e atuação dos tenentes em relação ao uso da forçae armas de fogo.

Aqui confirmo a segunda hipótese, pois o novo sistema de ensino daAcademia de Polícia Militar possibilitou mudanças parciais, na atuação de-mocrática dos tenentes, a partir de 2003, em relação ao uso da força e armasde fogo. A base curricular foi alterada em 2001 para melhor capacitar ospoliciais militares com habilidades específicas e genéricas, porém na per-cepção dos egressos, deixou-se de focalizar e priorizar as disciplinas pró-prias do ofício de polícia, talvez sem essa intenção ou devido às pressõessociais e políticas com discursos de mudança na atuação das polícias. Osconteúdos curriculares relacionados ao uso legal da força foram ministra-dos em algumas disciplinas, porém sem muita articulação. Em destaqueapareceram as disciplinas Técnicas de Policiamento, Direitos Humanos eTiro Policial. Neste contexto a inovação curricular foi a inclusão da disci-plina de Direitos Humanos na grade do CFO.

Do ponto de vista pedagógico, a relação dos conteúdos nas discipli-nas deixaram espaços abertos quanto a operacionalização da prática profis-sional, uma distância entre o conhecimento e a atitude, contraste percebi-do nos discursos policiais relacionados ao que aprenderam no bacharela-do e suas práticas correspondentes.

A função ocupacional do tenente exige competências pessoais noâmbito dos princípios democráticos, tais como ética profissional, agir comhumanidade, tolerância, comprometer-se com a legalidade. Entre suasferramentas de trabalho constam algemas, armas de fogo e armas não letais.Fica evidente que tal ocupação decorre da preservação da ordem públicapor meio da força. A questão chave é quando usar a força em nome daproteção da coletividade.

Ao tenente, quer queira ao não, é atribuído o poder de polícia, legiti-mado pelo Estado para manter o controle social, pois são deveres sociaisimpostos que funcionam independentemente de sua vontade e regula as

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condutas utilizando o poder imperativo e coercitivo.O poder de polícia é a imposição coativa das medidas adotadas pela

Administração do Estado, sendo um ato imperativo, obrigatório ao seu des-tinatário e, quando este opõe resistência, admite-se até o uso da forçapública para o seu cumprimento, inclusive aplicando as medidas punitivasque a lei indique. Mas não é ilimitado, suas barreiras e limites são, entreoutros, os direitos dos cidadãos no regime democrático, as prerrogativasindividuais e as liberdades públicas garantidas pelas Constituições e pelasleis. O Poder de Polícia, deixa de ser exercido com democracia quandoextrapola os limites impostos pela lei, tornando-se uma arbitrariedade. Comoo poder de polícia permite o uso da força física, há de ser revestido delegalidade, necessidade e proporcionalidade. O desafio está no equilíbriodo emprego legal da força.

Em âmbitos nacional e internacional várias publicações tentam esta-belecer parâmetros e princípios sobre o uso da força e armas de fogo pelaspolícias, com destaque aos Princípios Básicos sobre Uso da Força e Armasde Fogo. Pois os policiais, no exercício das suas funções, devem, na medi-da do possível, recorrer a meios não violentos antes de utilizarem a forçaou armas de fogo. Só poderão recorrer à força ou a armas de fogo se outrosmeios se mostrarem ineficazes ou não permitirem alcançar o resultadodesejado.

Paralelamente instrumentos de controle das polícias são instituídos, aexemplo de ouvidorias, julgamentos de policiais militares em tribunais civis,cursos de direitos humanos, empregos de armas não letais e reformascurriculares. O que se pretende com este esforço é a preservação do estadodemocrático de direito destinado a assegurar o exercício dos direitos sociaise individuais, a liberdade, segurança, bem-estar, igualdade e a justiça.

Os egressos do bacharelado em segurança pública são jovens daclasse média, com idades entre 22 a 27 anos, a maioria mato-grossenses queaspiram crescimento pessoal e profissional. As principais limitações apon-tadas por eles sobre a atuação democrática em relação ao uso legal da força,residem na pouca ênfase dada ao conteúdo, antes e após o processo deformação, pois entendem que mais importante que atirar é saber quandoatirar, isto não envolve somente mudança de currículo, mas mudança tam-bém de atitude.

Quanto à atitude do sujeito, este até deseja mais preparo técnico parao exercício da atividade policial devido ao risco de perder a vida, mesmosendo-lhe exigido ser um pouco de advogado, cientista político, assistentesocial, filósofo, gerente, poliglota, sociólogo, pedagogo, cientista, preparadorfísico e psicólogo. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que se exige umgeneralista, um faz tudo, exige-se um policial eficaz no emprego da força earma de fogo. Este por sua vez sente insegurança na hora de decidir entre

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manter a arma na cintura ou sacá-la e, ao sacá-la, se vai apertar o gatilho ounão, em instantes destinos dos envolvidos são lançados ao acaso, podendoo jovem tenente ter uma atitude aceitável ou reprovável e irreversível.

O uso legal da força exige muita prática, durante e após a formação,pois envolve aspectos fisiológicos e emocionais, um relato retrata bem aquestão “é muito fácil aprender que se usa a força letal para salvar vidas,mas o difícil é em que situação decidir sobre a sua vida, a dos subordina-dos e do oponente, tudo em fração de segundo”. Outro relato resume aangústia do sujeito “tenho medo de utilizar força letal”. Os sujeitos perce-bem muitas resistências comportamentais em relação aos seus subordina-dos e superiores, principalmente em função da idéia que o bom coman-dante é “valentão”, os tipos de abusos mais identificados se relacionam atruculência policial nas abordagens, exibição excessiva de armas de fogo,agressões desnecessárias.

Outro aspecto que dificulta a transição curricular na prática é o mo-mento em que os jovens oficiais são alvos de estereótipos por parte dosoficiais mais antigos, são chamados de “turma de almofadinhas”, “oficial deescritório”. O estigma surge na tentativa de causar um efeito paralisante afim de proteger uma antiga cultura, “pode-se formar ótimos alunos, se cairna mão de que tem outro tipo de comportamento não adianta”. Um contri-buição significativa extraída das entrevistas foi um depoimento sobre ouso da força na formação:

[...] eu entendo que quando você entra na academia oque se aprende parece ser algo muito abstrato, não temidéia de como isso acontece ou como se aplica, por maisque sejam dados exemplos, a gente escuta, assimila, massó vai compreender a importância depois que vai para arua, e lá mediante acertos e erros você aprende, porém oerro pode até tirar a vida [...].

Este depoimento singular evidencia que existe um distanciamentoentre a teoria aprendida na escola e a prática do serviço diário, talvez porfalta de experiência significativa sobre os conteúdos trabalhados que, apósa formação, cada um aprende por si só e isso é muito arriscado para a vidado policial e de terceiros. O que indica que, após o período de formação,nas ações práticas, o egresso é lançado à própria sorte de acertar ou errar.

No mesmo depoimento o egresso de forma lacônica diz “caso eufizesse o CFO hoje, com a minha experiência eu daria muito mais valor aosensinamentos e até aprofundaria mais”. Isso pode ser explicado pelo fatode o “hoje” do sujeito ser repleto de experiências e a existência de signifi-cados relevantes na sua estrutura cognitiva. Esta questão se relaciona com oprocesso de ensino-aprendizagem.

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Na Academia de Polícia Militar, a aprendizagem dos egressos, confor-me Balieiro (2003, p.40), teve um caráter mais decorativo para realização deprovas, diferente da teoria de Ausubel sobre aprendizagem significativa querelaciona a informação aos conceitos relevantes já existentes na estruturacognitiva do aprendiz. Assim, quando o conteúdo a ser aprendido não con-segue ligar-se a algo já conhecido, ocorre uma aprendizagem mecânica, apessoa memoriza formulas, leis e expressões e depois esquece.

Como sugestão entendo que duas disciplinas deveriam ser incluídasnas grades curriculares dos cursos de formação em ciclos de treinamentopolicial, a primeira referente aos princípios básicos sobre o uso legal daprincípios básicos sobre o uso legal daprincípios básicos sobre o uso legal daprincípios básicos sobre o uso legal daprincípios básicos sobre o uso legal daforçaforçaforçaforçaforça e a segunda sobre o modelo de uso progressivo da forçamodelo de uso progressivo da forçamodelo de uso progressivo da forçamodelo de uso progressivo da forçamodelo de uso progressivo da força, esta decaráter mais prático e focado em simulações e aquela, em caráter maisteórico. A inclusão de tais disciplinas não excluiria a abordagem transversaldo material, porém seria foco de atenção especial e com ferramentas peda-gógicas que pudessem reduzir a distância entre a teoria aprendida na esco-la e a prática do serviço diário sobre uso legal da força.

O desafio maior é estabelecer que o uso legal da força não resulteem sorte ou azar. As vidas não podem ser decididas como em um jogo de“cara ou coroa”. Instrumentos devem possibilitar a capacitação continuadae continuada, na formação e atuação democrática da polícia militar.

***

Para finalizar, apresento outros resultados decorrentes desta pesquisaque influenciaram algumas práticas no âmbito das intervenções policiais.

Paralelamente, durante o processo de construção desta pesquisa,busquei alguns encaminhamentos práticos com ênfase no objeto, o labora-tório utilizado foi o 5º Batalhão de Polícia Militar em Rondonópolis - MT, oqual tive a oportunidade de chefiar no período de 2006.

Soluções alternativas foram criadas para que os policiais militarestivessem uma postura mais democrática e, de perto, acompanhei e orienteia conduta dos diversos policiais, inclusive dos jovens tenentes formadosna academia. Para operacionalizar o discurso sobre a ação policial que re-sultasse no uso moderado da força, recorremos aos principais estudos na-cionais e internacionais sobre “modelos de uso progressivo da força”. Ado-tamos o modelo denominado FLETC, que opera em cinco níveis, adaptan-do-o a nossa linguagem e à realidade policial local. No uso destes níveis,cada situação tem características próprias e, às vezes, incomum, cabe aopolicial reagir com proporcionalidade e legalidade frente a cada situaçãoexigida.

Publicamos uma adaptação do modelo de uso progressivo da força

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na Revista Científica da PMMT, em 2006, conforme consta a seguir:

Nível 1 – Presença: presença física do policial como ati-tude preventiva que vise a inibir comportamentoincomum ou inadequado.Nível 2 – Verbalização: através do diálogo o policial inter-pela o cidadão em conduta inconveniente, buscando amudança de atitude a fim de evitar o afloramento deinfração. A mudança de comportamento encerra a açãodo policial.Nível 3 – Contato físico: em caso da verbalização nãosurtir o efeito desejado frente a uma conduta inconveni-ente, como medida de cautela e como demonstração deforça para dissuadir e desencorajar a ação, o policialverbaliza realizando contato físico (toque no ombro). Amudança de comportamento encerra a ação do policial.Nível 4 – Imobilização: em caso de resistência física ao seefetuar uma condução coercitiva. Caracterizada geral-mente pela recusa no cumprimento de ordem legal, agres-são não física ou tentativa de fuga. Para chegar nestenível, devem ser esgotados os níveis anteriores.Nível 5 – Força não letal: em caso de resistência ativa aose efetuar uma condução coercitiva. Caracterizada ge-ralmente pela agressão física contra o policial ou tercei-ros. É admissível que o policial empregue força física,sempre sem violência arbitrária ou abuso de poder. Averbalização deve se mantida sempre no sentido dedesencorajar o comportamento do agressor.Nível 6 – Força letal: só se justifica no caso de legitimadefesa e preferencialmente no estrito cumprimento dodever legal em inevitável risco de vida do policial ou deterceiros frente a uma ação deliberada do infrator. Averbalização deve se mantida sempre no sentido dedesencorajar o comportamento do agressor. (COSTA eSANDES, 2006, p. 18)

O modelo acima se tornou uma doutrina institucional, sendo sociali-zado em instruções e estudos de casos no dia-a-dia do serviço policialmilitar de Rondonópolis. No ano de 2006, em confrontos armados, os poli-ciais seguiram corretamente os níveis de força, não resultando em ferimentomortal. Sobre o que aconteceu na hora da troca de tiro, no chamado “calorda ocorrência”, tivemos os seguintes relatos: “ele atirou na gente, eu revidei,ele caiu da motocicleta, eu cheguei mais perto e antes de continuar atiran-do eu respirei e abaixei a arma, ele já não oferecia perigo”, o outro casoenvolveu um tenente egresso do CFO, “o suspeito apontou a arma e aper-

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tou o gatilho, mas a munição falhou, disparei na perna, ele soltou a arma eeu parei de atirar, não desejo essa experiência para ninguém, tudo aconte-ceu muito rápido, ele poderia ter acertado um de nós”.

No campo perceptivo, entendo que as instruções por meio de estu-dos de casos e simulações sobre o uso legal da força tenham contribuídopara se evitar o emprego letal da força. Noto alguns sinais de amadureci-mento sobre esta questão, como exemplo, em uma barreira policial, umjovem motociclista carregando a namorada na garupa foi abordado e fugiu,os policiais se entreolharam e um deles disse: “deixa ir, se a gente perseguirele pode cair se machucar e machucar a moça”. Entretanto, uma culturaainda enraizada e perigosa na rotina policial é a prática do tiro de intimida-ção, para o alto ou em pneus de veículos, que sempre são “justificados”para evitar a fuga.

Além das questões sobre uso legal da força, avançamos também emalgumas ref lexões democráticas sobre a atuação policial. Em função dasdiversas discussões e da troca de experiências em pesquisa, principalmen-te no âmbito do Grupo de Pesquisa Educação, Juventude e Democracia,ampliamos o olhar multidimensional sobre a realidade social.

Assim sendo, finalizo destacando algumas intervenções sociaisparticipativas realizadas pela Polícia Militar em Rondonópolis.

- Um grupo de jovens praticantes de skate solicitaram a presença dapolícia em um espaço público controlado por traficantes de drogas ilícitas,atendendo ao pedido, ocupamos estrategicamente o espaço, colocandojovens policiais uniformizados e com skate para realizar o policiamentointerativo, ocorreu uma troca de conhecimento, policiais aprendiam ma-nobras de skate ao mesmo tempo que estabeleciam de forma participativaregras e valores de convívio pacífico.

- Outro episódio marcante envolvendo jovens, surgiu de reclama-ções sobre veículos com alto volume de som em uma praça ao domingos,uma solução encontrada foi a definição com o poder público de um espa-ço jovem denominado “rua do som”, funcionando aos domingos duranteduas horas no início da noite. O local se transformou em um ponto deencontro de jovens, com o acompanhamento do poder público. Um dospoliciais possui um carro de som e ajuda a coordenar o evento.

- Em virtude de problemas que emergiam, o comando da instituiçãopolicial estabeleceu canais de comunicação e mediação social com diver-sos segmentos e grupos: movimento sem terra, f lanelinhas, grupos GLTs,profissionais do sexo, moto-táxi, lideranças de bairro, entidades de classe,grupos hip hop, skatistas, grafiteiros, diretores de escolas, vigilantes, comis-sões de presos, grupos de sem teto, grupos de pais, comunidades indíge-nas, entre outros.

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Dir Dir Dir Dir Direitos Humanos e Direitos Humanos e Direitos Humanos e Direitos Humanos e Direitos Humanos e Direito Intereito Intereito Intereito Intereito InternacionalnacionalnacionalnacionalnacionalHumanitário para Forças Policiais e de SegurançaHumanitário para Forças Policiais e de SegurançaHumanitário para Forças Policiais e de SegurançaHumanitário para Forças Policiais e de SegurançaHumanitário para Forças Policiais e de Segurança. Genebra: Comitê In-

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