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WERNER R. VOIGT O caminho de um apaixonado pela eletricidade.

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WERNER R. VOIGT

O caminho de um apaixonado pela eletricidade.

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WERNER R. VOIGT

O caminho de um apaixonado pela eletricidade.

João Chiodini

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Copyright © 2010 by João Chiodini

Coordenação Editorial Carlos Henrique Schroeder

CapaDesign Editora sobre arquivos do autor

Projeto gráfico e editoração eletrônicaDesign Editora e Renato Schroeder Junior

RevisãoInacio Carreira

------------------------------------------------------------------------------------------------ Chiodini, João WERNER R. VOIGT/O caminho trilhado por um apaixonado pela eletricidade/João Chiodini

121 p.

ISBN

1.Biografia. I. Título.

CDD 869.9108-5256 CDU 821.134.3 (81)-1------------------------------------------------------------------------------------------------

[2010]DESIGN EDITORA LTDA.Caixa Postal 1.310CEP 89251-600Jaraguá do Sul, SC(47) 3372 [email protected]

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Sumario

Um caminho a ser trilhado, 7Origens, 81930. Lembranças da infância, 17 1944. Começando a mexer com eletricidade, 26 1949. Cumprimento do Serviço Militar, 321950. Dedicação na busca do conhecimento técnico, 36 1953. Tornei-me um empreendedor eletrotécnico, 431961. Nascimento da Eletromotores Jaraguá, 611963. Saweg e Máquinas de Lavar Nina, 761964. WEG com sede própria, 781965. Fundição WEG, 801965. Projetando a ARWEG, 841965. Abertura do capital da WEG, 861966. Buscando oportunidades de vendas, 87 1966. Interesse pelas novidades eletrônicas, 901967. Primeira ferramenta progressiva, 931967. Substituição das chapas de silício, 97 1968. Primeira compra de tecnologia da WEG, 1001968. Criação do Centroweg, 105 1968. Primeiro engenheiro da WEG, 109 1969. BNDE aprova o financiamento da WEG, 1111970. Prensa Weingarten, 1121970. Usando a honestidade como arma de venda,1131970. Padronização da unidade de medida dos motores elétricos,1161977. Início da trefilação do cobre na WEG, 1181979. WEG Máquinas e WEG Automação, 1211988. Conselho de Administração, 124 Desde 1961. A sociedade Werner, Eggon e Geraldo, 127 O convívio familiar, 132 O caminho trilhado por um apaixonado pela eletricidade, 141

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Um caminho a ser trilhado

Quando o senhor Werner Voigt me confiou a missão de escrever a história de sua vida, exigiu apenas duas coisas: a primeira, o uso de linguagem de fácil entendimento, direta e sintetizada. E a segunda, contar apenas a verdade, não escrever nada que não seja absoluta-mente a verdade. Todos os dias, enquanto este livro foi construído, ele reforçava a importância de descrever os fatos fielmente, para não distorcer os acontecimentos. Comprometido com a verdade e com a simplicidade, iniciei um trabalho de redescobrir essa história, organi-zá-la e escrevê-la.

Durante alguns meses sentei diante do senhor Werner para co-nhecer sua história, o que resultou na gravação de mais de 180 horas de conversas, quando ele contou os fatos de sua vida. Também mos-trou centenas de fotografias de seu arquivo pessoal e muitos docu-mentos que colaboraram na fixação das datas e outros dados existen-tes no livro.

Além desse material, também tive a oportunidade de conversar com mais 41 pessoas, as quais deram seus depoimentos, falando de suas relações com o senhor Werner e o que puderam aprender com esse eletrotécnico, inclusive confirmando fatos e datas,

Assim, eis a história que o senhor Werner Voigt relatou...

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Origens

A história da minha vida começa bem antes do meu nascimen-to, quando as famílias Voigt e Schultz decidiram imigrar da Alema-nha para o Brasil.

Brasão da Família Voigt

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As duas famílias — Voigt, do meu pai e Schultz, da minha mãe — trouxeram para o Brasil a tradição cultivada durante muitas déca-das, na Alemanha, por meus antepassados que com muito trabalho fizeram com que esses nomes chegassem aos dias atuais.

Meu avô paterno, Carl Wilhelm Voigt, morava em Hamburgo e, mais ou menos com dez anos, veio com seus pais para o Brasil, entre 1860 e 1870, junto das campanhas de imigração do doutor Blumenau. Morou em Badenfurt - Blumenau até casar com minha avó, Emilie Caroline Albertine Fritzke Voigt, em 1884. Depois de casados, mudaram para Luiz Alves. Meus avós geraram onze filhos: sete meninas e quatro meninos.

Emilie Fritzke Voigt e Carl Voigt

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10 Certificado da história do sobrenome da família Voigt

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Em 1890 meu avô materno, Leo Schultz, com 18 anos, saiu de Düssendorf, na Alemanha e veio com outros imigrantes para o Bra-sil, instalando-se em Joinville. Em seguida, foi para Brüdertal, onde conheceu minha avó, Paulina Randun. Depois de casados foram mo-rar em Schroeder. Meu avô montou sua marcenaria, onde construía rodas d’água, serrarias, móveis, enfim, fazia todo trabalho de marce-neiro. Ele já veio da Alemanha com a profissão de marceneiro. Meus avós maternos geraram dez filhos: cinco meninas e cinco meninos.

Paulina Randun Schultz e Leo Schultz

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Brasão da Familia Schulz

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14Certificado da história do sobrenome da família Schultz

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Quando meu pai, Ricardo Voigt, tinha mais ou menos 22 anos, saiu de Luiz Alves e foi para Schroeder, pois tinha a ideia de montar uma serraria. Ele se embrenhou no mato por quilômetros, até achar, em Duas Mamas, uma boa queda d’água para fazer funcionar a ser-

Casamento Alma Schultz e Ricardo Voigt

raria. Meu avô Leo foi quem a cons-truiu para meu pai, e foi nessas conver-sas, contato pra lá e pra cá, que meu pai começou a namorar minha mãe: Alma Schultz. Meus pais se casaram em 1926 e tiveram quatro fi-lhos: Wally, 1927; Werner (eu), 1930; Egon, 1933 e Udo, 1945.

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Egon, Udo, Werner e Wally

Foto Duas Mamas

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1930Lembranças da infância

Nasci no dia oito de setembro de 1930, na casa de meus pais, pelas mãos de uma parteira da região.

Foto de Werner no colo da mãe, antes de completar um ano de idade

Uma das primeiras histórias da minha vida, que tenho recorda-ção, aconteceu nos meus três anos de idade. Eu via os empregados do meu pai pulando sobre um córrego de concreto, que levava água até a serraria dele, uns 20 metros abaixo. Certo dia, enquanto meu pai estava serrando e minha mãe lavando roupas nesse mesmo riacho, eu quis pular por cima dele, igual aos adultos. Era um canal de mais ou menos um metro por um e, obviamente, eu não consegui. Caí na

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água e a correnteza me levou até o lugar em que minha mãe estava trabalhando. Ela, rapidamente me puxou para fora e gritou para meu pai vir socorrer. Eles me deitaram de bruços e fizeram massagem, para eu expelir a água engolida. Meus pais me reavivaram, pois eu estava afogado.

A partir desse dia fiquei com um trauma muito grande. No pri-meiro ano depois do acidente, todas as noites na hora de dormir, quando eu deitava na cama, sentia aquela mesma sensação de estar embaixo da água, me afogando. Esse trauma me acompanhou, pra-ticamente, a vida inteira. Hoje eu sei nadar, mas só entro em águas onde meus pés alcançam o chão.

Escola de Schroeder

O ano de 1935 me marcou com ou-tra lembrança dolo-rosa. Numa manhã, na serraria do meu pai, ele pediu para que eu colocasse um calço sob uma tora de madeira que ele iria serrar. A tora estava suspensa por uma alavanca de ferro e, quando eu esta-va ajeitando o pedaço de madeira, a alavanca sob a tora escorregou, derrubando-a sobre minha mão. Eu gritava e chorava de tanta dor. Minha mão tinha sido esmagada, a pele das costas e da palma da mão se rasgou. Meu pai pegou a carroça e me levou para ser atendido em Jaraguá do Sul, com o doutor Batalha. Demoramos três horas para chegar. O doutor colocou os ossos no lugar e costurou toda a minha mão, sem anestesia alguma. Eu quase desmaiei de tanta dor. Como era muito novo, a mão acabou ficando perfeita, com poucas marcas desse acidente.

Em janeiro de 1937, aos seis anos e quatros meses, não estava

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Werner sentado: Quarto aluno da esquerda para a direita

completando o número mínimo de alunos na escola de Duas Mamas e meu pai me matriculou, para fechar os 25 estudantes necessários para que o Governo mandasse um professor. Eu estava contente por começar a estudar. Porém, justamente naquele ano, foi proibido o uso do alemão em sala de aula. Dentro da classe os alunos e o professor só podiam falar em português. Já no recreio, todos conversavam em ale-mão. Foi um desafio e tanto, porque além de ter que aprender a falar, ler e escrever em português, nós usávamos um quadro de pedra-lousa. Cada aluno tinha o seu e, depois de escrever, tentava decorar, apagava e continuava escrevendo. Nesse primeiro ano de aula meu professor, Hans Schmidt, faltava com muita frequência e meu pai achou que seria melhor eu continuar meus estudos em Schroeder. Então, fui morar com meu avô Leo e estudar numa escola que ficava uns 200 metros da casa dele, com o professor Frederico Schultz. Do segundo ano em diante já era bem melhor, pois eu estava mais acostumado com a língua portuguesa e já possuía cadernos para escrever.

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Nos dois anos que morei com meu avô, aprendi coisas interes-santes. Eu fazia rodas d’água em miniatura, na marcenaria dele. Tinha um torno movido por um pedal, e eu o assistia trabalhando, fazendo móveis, cantos de guarda-roupa e todo tipo de móvel. Depois eu tor-neava rodas para carrinhos e piões para meus amigos. Eu me divertia na marcenaria, mas, a maior lembrança que tenho do avô Leo é da biblioteca dele, em casa. Meu avô gosta-va muito de ler. Tinha muitos livros e revis-tas que ele lia todas as noites. Como não ha-via luz elétrica, acen-dia uma lamparina de querosene e ficava len-do por horas.

Nessa bibliote-ca, havia dois livros que chamavam minha atenção. Um de elétri-ca e um de eletrônica, os dois em alemão. Eu lia e ficava olhando os gráficos, as figuras des-

Livros de eletricidade que Werner lia quando criança

ses livros. E foi aí, com oito anos, que eu comecei a gostar de eletrici-dade e soube qual era a profissão a seguir.

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Cadernos utilizados na escola

Em 1940 voltei para a casa dos meus pais, pois o estudo já havia melhorado na escola de Duas Mamas. Como eu estava no último ano, meu pai falava que logo eu iria começar a trabalhar na serraria, mas eu dizia que não, que eu iria trabalhar com ele-tricidade.

Em dezembro, conclui meus estudos e ganhei um Certificado de Conclusão do Ensino Fundamental, feito à mão, da minha última profes-sora, Badur Kalef.

Certificado de conclusão do ensino fundamental

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Nessa mesma época, a fiscalização florestal começou a inspe-cionar as serrarias da região, exigindo o reflorestamento nativo. Os madeireiros tinham que plantar duas novas mudas para cada árvore cortada e meu pai, como era um homem muito correto, sabendo que não iria conseguir cumprir com essa lei, decidiu vender a serraria. Ele a vendeu para o senhor Paulo Jahn, que negociou com meu pai para que ele continuasse a administrar a empresa. A família Jahn morava bem perto de nossa casa e tínhamos tanto contato que acabei criando uma amizade muito forte com os filhos do Paulo. Até hoje, quando os encontro, nos tratamos como irmãos.

Miniatura de roda d’água similar a construída por Werner na sua infância.

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1944Começando a mexer com eletricidade

Desde muito novo eu gostava de tocar gaita de boca, flautas e outros instrumentos musicais. Então, em 1944, com 14 anos, ganhei um clarinete do meu pai. Eu já tocava algumas músicas de ouvido, mas queria aprender a ler partituras, aprender as técnicas musicais e só achei um professor em Jaraguá do Sul: o senhor Purnhagen.

Hermann Purnhagen era músico e tinha uma banda, chamada Banda Purnhagen, de muito prestígio na época. A banda tocava em vários eventos, inclusive tocou na marcha de posse do prefeito José Bauer.

Durante um ano eu ia de Schroeder até a casa do professor, de bicicleta, uma vez por semana, para aprender música e, nesse período, descobri que ele mexia com motores elétricos. Aquilo me interessou muito e, como eu morava muito longe, acabei morando durante um ano na casa dele, para aprender a lidar com motores e com eletricida-de. O senhor Purnhagen veio, da Alemanha, aposentado do Exérci-to. Ele mancava de uma perna, resultado das batalhas que nas quais participou na Primeira Guerra e mantinha uma pequena oficina de motores, apenas por hobby.

Partituras copiadas à mão, nas aulas de clarinete

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Porém, como eu queria estudar elétrica com maior intensidade e desejava trabalhar na área, percebi que precisava ir buscar esse co-nhecimento em Joinville. Assim, pedi para um vizinho de meu pai, o meu amigo Leopoldo Koch, que já trabalhava em Joinville, para que conseguisse um emprego para mim, na parte elétrica. Ele disse: “Olha, eu sou mecânico. E, se você quiser, tem uma vaga lá na oficina mecânica”.

Eu aceitei e em 1947 mudei para Joinville e trabalhei durante dois meses como aprendiz de mecânico, até conhecer o senhor Wer-ner Strohmeyer, dono de uma oficina de rebobinamento de motores elétricos e auto-elétrica, onde consegui emprego no ramo que sempre desejei. Como eu era o único funcionário, aprendi muito com o se-nhor Strohmeyer que, além de ser o dono da oficina, era um ótimo eletrotécnico. O melhor técnico em elétrica de Joinville, naquele tem-po. Na medida em que iam passando os meses, fui fazendo amizade com outras pessoas da redondeza e acabei conhecendo o senhor Gun-ther Pfuetzenreuter, que tinha uma oficina de eletrônica na mesma rua. Assim, todos os dias, depois do meu expediente, eu ia para essa eletrônica aprender a lidar e consertar outros componentes eletrôni-cos.

Foto com Werner Strohmeyer

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Nessa época, eu tinha que usar o salário recebido na oficina do senhor Strohmeyer para me alimentar e pagar a pensão e, como não era contratado na eletrônica do Gunther, não recebia ordenado. Eu ia para a oficina dele apenas para aprender. Dessa forma, sobrava pouco

dinheiro. Para visitar minha família, pelo menos uma vez por mês eu ia de Joinville para Schroeder de bicicleta. Fiz aquele caminho três ou quatro vezes, mas era muito cansativo. Eu levava, mais ou menos, três horas de boas pedaladas para ir e mais três para voltar. Foi então que resolvi falar com meu primo, Oscar Baggenstoss, dono de um ônibus que fazia a rota Joinville — Schroeder. Expliquei que queria visitar meus pais, mas não tinha dinheiro, e ele aceitou me dar carona, sob uma condição: se o ônibus lotasse eu deveria viajar no guarda-baga-gens, em cima da condução. Já na primeira vez que peguei carona tive ir para cima do ônibus e depois, nas outras vezes em que viajei com ele, eu ia direto para o bagageiro, pois achei muito gostoso viajar no guarda-bagagens. Afinal, dava para ver tudo lá de cima e, naquela época, o ônibus deveria andar numa média de 20 quilômetros por hora.

Expresso Jaraguaense

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1949Cumprimento do Serviço Militar

Em janeiro de 1949, tive que sair da oficina do Strohmeyer para cumprir o Serviço Militar obrigatório. Quando cheguei ao Batalhão, informaram que os que entendessem de elétrica e eletrônica pode-riam se inscrever para uma seleção, onde escolheriam duas pessoas para ir ao Batalhão de Curitiba, Paraná, aprender radiotelegrafia, na Escola Técnica.

Trinta candidatos se apresentaram para a vaga e, depois de alguns testes, um rapaz chama-do Wolfgang May e eu fomos escolhidos para as vagas. Nós passamos seis meses no Paraná, para es-tudar na Escola Técnica e aprender radiotelegrafia, código Morse — que era a forma de transmitir as mensagens de longa dis-tância na época —, inter-ceptação de mensagens e localização de transmis-sores inimigos. No exame final tínhamos um teste de velocidade, onde deve-ríamos captar uma men-sagem codificada. Para ser

Werner e Wolfgang retornando de Curitiba para Joinville

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aprovado era necessário captar a quantia de 20 palavras por minuto. Lembro que eu captei 23 palavras por minuto.

Em agosto de 1949, voltamos para Joinville e assumimos o co-mando de radiotelegrafia do nosso Batalhão e, três ou quatro vezes por dia, recebíamos as mensagens transmitidas por Curitiba e pelo Rio de Janeiro. Certa vez, num sábado, eu estava pronto para sair do quartel e ir ao casamento de uma prima, mas, antes de sair, tive que receber uma transmissão. A mensagem dizia que o Batalhão deveria entrar em prontidão. Ao entregar a mensagem para o Comandante eu disse: “Senhor, eu sei o que está escrito, mas hoje sou convidado num casamento e estou pronto para ir. Como vou fazer?” E ele respondeu: “Saia do Batalhão o mais rápido possível, porque em cinco minutos darei a ordem para fecharem os portões. E não ande pelas ruas prin-cipais, pois a Patrulha vai passar para recolher todos os soldados que encontrar”.

Werner no Batalhão de Joinville

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Naquele ano, começaram a aparecer as radiolas de long-play. Esse tipo de aparelho tocava discos de vinil numa velocidade de 33 rotações por minuto. Antes disso, os aparelhos tocavam discos de 78 rotações por minuto. Assim, o long-play era novidade na época e o Comandante — e todos os oficiais — queriam ter uma. Então, nas nossas horas de folga, Wolfgang e eu montávamos radiolas para os oficiais.

Werner Voigt aos 18 anos.

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1950A dedicação na busca do conhecimento técnico

Em dezembro, concluí o Serviço Militar obrigatório e continuei morando em Joinville. Fui morar na pensão de um colega que serviu o Exército comigo, Adolar Linzmeyer. No início de 1950 comecei a trabalhar na Empresul, contratado pelo senhor Henry Schmaltz e fui registrado com o cargo de Enrolador, com o salário de três cruzeiros e cinquenta centavos por hora. Minha função era rebobinar motores. Eu era o chefe do setor e tinha dois auxiliares para executar a função de enrolar os motores.

Carteira de trabalho

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Enquanto eu estava trabalhando na Empresul, procurei conhe-cer mais sobre motores elétricos e resolvi matricular-me no SENAI — Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial — para aprender mais sobre a teoria e tecnologia de motores elétricos. Porém, lá só estudávamos cálculos de transformadores e esse não era meu maior interesse. Em menos de um ano parei de frequentar o SENAI. Percebi que não havia nenhum curso na região que abordasse os assuntos que me interessavam, vendo que teria que buscar na prática o conheci-mento técnico dos motores. Assim, esbocei uma ficha de descrição técnica e mandei uma gráfica imprimir em blocos de notas, onde eu anotava as informações, as características, todos os dados do núcleo de cada motor que eu rebobinava. Em três anos, cataloguei mais de 300 motores, excluindo aqueles com potência de um quarto e de um terço de HP, pois eram tão frequentes nas oficinas que eu já conhecia todos eles de cor.

Foto com Henry Schmaltz

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Depois do meu expediente eu fazia bicos em quase todas as ou-tras oficinas de motores de Joinville. Meu acordo com eles era mais ou menos assim: eles deveriam deixar o motor limpo, tudo certinho para eu chegar e rebobiná-lo: antes das 23 horas, deixava o motor pronto. Tinha muita prática nesse ofício. Dessa forma, eu ganhava um dinheiro extra e fazia amizade com todos os donos de oficina da cidade.

Bloco de anotações

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Tabela com alguns dos motores rebobinados por Werner, que foram listados em seu bloco de anotações.

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Na Empresul tinha um colega que rebobinava transformadores, o senhor Weber que, junto de outro amigo chamado Kanning, que trabalhava na parte de telefonia (setor que também era responsabili-dade da Empresul), resolveu abrir uma oficina de instalação de tele-fone e conserto de motores e transformadores. Como eu tinha mais experiência que eles na área de motores elétricos, recebi proposta para trabalhar na oficina deles. Aceitei e, em junho de 1952, fui trabalhar na Kanning e Weber, ganhando o dobro do que ganhava na Empre-sul. Passei de três cruzeiros e cinquenta centavos para sete cruzeiros por hora trabalhada. Nessa empresa, eu trabalhava fixo na oficina, enquanto o Weber e o Kanning saíam para fazer instalações elétricas, geralmente em empresas.

Percebi que tinha experiência e segurança suficientes para ter minha própria oficina. Era hora de abrir meu próprio negócio, mas, como eu prezava muito minhas amizades e tinha muito respeito pelo trabalho deles, decidi que abriria minha elétrica em Jaraguá do Sul, para não ser concorrente das oficinas de Joinville e não tirar os clien-tes deles.

Já tinha atendido algumas pessoas de Jaraguá do Sul e só teria um concorrente na cidade. Assim, cheguei à conclusão de que seria o lugar ideal para o meu negócio.

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1953Tornei-me um empreendedor

eletrotécnico

Em julho de 1953, comecei a visitar Jaraguá do Sul nos finais de semana, para conhecer melhor a cidade e encontrar local ideal, estrategicamente, para montar minha oficina. Estudando a região, cheguei à conclusão de que o melhor lugar da cidade seria um esta-belecimento na rua Marechal Floriano, pois todos os carros, ônibus e caminhões que vinham de Porto Alegre sentido Curitiba, São Paulo e todas as demais localidades do país tinham que passar por ali. Era a única estrada que possibilitava o tráfego de veículos do Rio Grande do Sul para as cidades acima de Jaraguá do Sul. Até os ônibus argen-tinos passavam por ali e, como eu possuía uma boa experiência em auto-elétrica, sabia que aquela era uma decisão muito inteligente.

Rua Marechal, em destaque a antiga oficina de Werner

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Comecei a procurar um local, naquela rua, para abrir minha oficina e, entre uma conversa e outra, conheci o senhor Romeu Bas-tos. Expliquei minha ideia e ele aceitou alugar parte da casa dele para abrir a oficina, com a condição de que fizéssemos uma sociedade. Ele cuidaria da parte de eletrônica e eu da elétrica. Aceitei a sociedade e, dia 24 de setembro de 1953, me mudei, definitivamente, de Joinville para Jaraguá do Sul.

Banda Municipal homenageando o Jazz Elite Corupá, 1954

Na primeira semana em que eu estava morando na cidade, sentei-me na frente da oficina, no final da tarde, e vi um homem passando com um instrumento musical. Parei-o e disse que também era músico, que tocava clarinete e pedi que ele conversasse com o regente da banda, perguntando se tinha uma vaga para mim. Já no dia seguinte comecei a tocar na Banda Municipal, regida pelo senhor França Vosgerau. A banda ensaiava num espaço cedido pelo Clube Atlético Baependi e esse rapaz acabou sendo meu primeiro grande amigo em Jaraguá do Sul, chamado Pedro Donini.

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Na medida em que a oficina ia prosperando, fui percebendo que Romeu não entendia muito de eletrônica e vi que aquela sociedade não iria dar certo. Dessa forma, decidi fazer uma proposta: ele pode-ria me vender a parte dele na sociedade ou comprar a minha parte, por uma quantia de trinta mil cruzeiros, divididos em três pagamen-tos. Pedi que ele pensasse e escolhesse o que iria querer. Ele refletiu e achou que seria melhor ele comprar a minha parte.

Todos os dias eu almoçava no restaurante do Ricardo Harnack, que também ficava na rua Marechal Floriano Peixoto. Ao lado desse restaurante, uma senhora chamada Hiendlmeyer tinha um casarão de dois andares, alugado para fins comerciais. Aquele ponto me in-teressou muito e, assim que vagou o imóvel, fiz negócio com ela e finalmente abri minha própria oficina: Werner Voigt — Conserto de dínamos, geradores, motores e aparelhos elétricos em geral, na parte de baixo, e usei o segundo andar como residência.

Foto da fachada da antiga oficina de Werner.

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Minha oficina estava prosperando e eu estava me fortalecendo na região e conquistando cada vez mais clientes. Inclusive os clien-tes do meu único concorrente. Eu já tinha uma grande quantidade de trabalhos para fazer, então contratei o meu primeiro funcionário: Allan Sasse, pelo salário de seis mil e quatrocentos cruzeiros.

Logo precisei comprar um automóvel, pois minha oficina era indicada para pessoas de toda a região. Eu buscava, levava e instala-va motores e dínamos para empresas e residências, muitas vezes em locais mais afastados: Corupá, Vila Itoupava (Blumenau), Schroeder, Joinville, Rio Cerro (Jaraguá do Sul), Massaranduba e Luiz Alves, en-tre outros lugares que atendia. Comprei então minha caminhonete, uma Austin — A40.

Recibo de salário de Allan Sasse

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Werner Voigt entregando sua caminhonete para o Museu WEG.

Continuei tocando clarinete na Banda Municipal do França Vosgerau e, ao mesmo tempo, tocava numa orquestra regida pelo se-nhor Francisco Fischer e sua esposa, Adélia. Em 1956, essa orquestra deu origem à SCAR — Sociedade Cultura Artística.

Orquestra da Scar.Em pé: Joaquim Piazera, Werner R. Voigt, Fernando A. Springmann, Yara F.

Springmann, Inge M. Hasse, Walter C. Hertel e Romeu Bastos.Sentados: Jorge R. Bornschein, Francisco Fischer, Adélia P. Fischer, Geraldo Har-

nack, João S. Amaral e Emílio da Silva.

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No mesmo ano (1956), o senhor Schneider, que eu já conhecia da época em que trabalhava na Kanning e Weber, começou a fabri-car motores elétricos e, na minha oficina, comecei a comercializar alguns dos seus motores. Além de negociar os motores do Schneider e executar todos os tipos de consertos que eu já fazia, eu também fa-bricava dínamos. Eu possuía um pequeno torno que atendia à minha necessidade para a fabricação de dínamos: porém, quando precisava tornear carcaças de dínamos maiores, eu levava as peças para o tor-neiro Arthur Rode.

Depoimento de Arthur Rode:

“Conheci o Werner no início da década de cinquenta. Na época, eu trabalhava na Automóveis Jordan e ele, na Empresul. Logo depois que Werner abriu a oficina dele, eu — coincidentemente — também mudei para Jaraguá do Sul. Torneei algumas carcaças dos dínamos que ele fa-bricava na oficina e lembro bem de uma história — um tanto quanto pitoresca — que passamos juntos em 1957: um cliente de Luiz Alves havia solicitado a fabricação de um dínamo para iluminar seu sítio. Ele encomendou o equipamento na quarta-feira e queria sua casa iluminada até o sábado à noite. Em dois dias fabricamos o dínamo. No sábado ao meio-dia pegamos a caminhonete do meu irmão e fomos para Luiz Alves fazer a instalação. O italiano morava numa vila chamada Braço Fran-cês. Era preciso descer por uma estradinha íngreme de, mais ou menos, um quilômetro.

Enquanto instalávamos o dínamo e as lâmpadas, o céu começou a escurecer, indicando a aproximação de uma forte chuva. O dono do sítio disse que se não nos apressássemos e começasse a chover, só conseguiría-mos subir o morro do Braço Francês puxados por uma junta de bois, ou teríamos que passar a noite lá mesmo. Fizemos o trabalho o mais rápido

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possível, ligamos o dínamo e, quando as luzes acenderam, o italiano cor-reu para buscar nosso pagamento. O Werner guardou o dinheiro no bolso, embarcamos na caminhonete e corremos para fugir da chuva. Quando chegamos ao finalzinho da subida despencou uma tempestade e, por pou-co, não ficamos atolados em Luiz Alves. Foi uma aventura e tanto”.

Werner e Arthur Rode em frente de um gerador WEG. Na montagem, o dínamo construído em 1957.

Após alguns anos de estabelecer minha oficina em Jaraguá do Sul, adquirira alguns dos hábitos dos moradores ali da redondeza. Um deles era tomar banho de rio, nos finais de tarde de verão, no final da rua Marechal Floriano Peixoto. Eu gostava tanto daquilo que despertou em mim a vontade de construir minha casa ali, na beira rio. Então, em 1957, eu comprei — de um homem chamado Vitor Zimmermann — dois lotes de terra ali perto, na margem do mesmo rio. Alguns anos depois construí a minha casa e moro ali até hoje.

Em 1958, muitos dos moradores da região, para ter luz elétrica em casa, usavam os dínamos que eu fabricava (energia de corren-

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te contínua) e eu já contava com mais dois funcionários na oficina. Também em 1958, a televisão chegou a Blumenau. Porém, os televi-sores só funcionavam com energia de geradores (energia de corrente alternada) e quem quisesse ter o aparelho funcionando precisava ins-talar um gerador em casa (nas regiões onde a Empresul não atendia).

Assim, um cliente da Vila Itoupava, chamado Rudibert Manske, fez a encomenda do primeiro gerador que fabriquei. Esse gerador era acionado por uma roda d’água, que gerava 1 KVA em corrente alter-nada. Demorei três meses para entregar o pedido e cobrei doze mil cruzeiros pelo equipamento.

Resumo da carta de Rudibert Manske exposta no Museu WEG (1986)

“Em 1957, a Empresul não levava energia até as proximidades de onde eu morava, então resolvi construir minha própria usina elétrica de corrente contínua. Mas, não dava para ligar aparelhos elétricos com a energia gerada. Assim, em 1958, o Werner me prometeu fabricar um ge-rador de 1 KVA em corrente alternada. Ele instalou o gerador para mim, e paguei pelo equipamento doze mil cruzeiros. O gerador que Werner fez para mim trabalhava 24 horas por dia, e funcionou até o ano de 1974, ano que a Celesc instalou a eletricidade na minha casa. Porém, o gerador ficou guardado por muito tempo e nos socorria quando faltava energia.”

Depoimento de Rudibert Manske

“Eu tinha uma pequena oficina onde fazia consertos de rádios e ia muito para Jaraguá do Sul, levar dínamos para o Werner rebobinar. Um dia, ele disse que me ensinaria a fazer o serviço, para que eu pudesse fazê-lo na minha oficina. Assim, começamos a trabalhar em parceria, ele me vendia os fios e peças para os dínamos e rebobinava os motores maiores que apareciam na minha oficina. As minhas visitas à oficina do Werner

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eram constantes, pois na vila onde eu morava existiam 32 pequenas usi-nas iguais à minha, a grande maioria delas feitas pelo próprio Werner Voigt.”

Foto com Rudibert Manske e o gerador construído em 1958.

Com muito trabalho e contando com a ajuda de alguns repre-sentantes em lugares distantes, como o Rudibert Manske, minha car-teira de clientes foi aumentando e criou-se o hábito dos clientes pa-garem alguns dias ou semanas depois do trabalho executado. Como eu tinha muito trabalho na oficina, não tinha tempo de ir cobrar os clientes. Assim, contratei os serviços de um cobrador, chamado Edmundo Barbi. Ele fazia trabalhos de cobrança para mim e para ou-

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tros comerciantes, porém, ele só visitava os clientes da área central da cidade. Foi então que pedi para o Pedro Donini organizar um Livro Caixa para mim, listando meus clientes e suas contas e, em junho de 1960, ele catalogou 202 clientes da minha oficina.

Carta de um cliente comentando sobre o pagamento de um dínamo

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Werner segurando o Livro de contas correntes usado em sua oficina

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1961Nascimento da Eletromotores

Jaraguá

Em maio de 1961, num sábado à tarde, enquanto eu trabalhava na oficina, Eggon João da Silva bateu na minha porta, dizendo que Pedro Donini havia comentado que eu tinha vontade de fabricar mo-tores elétricos e ele estava interessado em saber um pouco mais sobre aquilo.

Depoimento de Pedro Donini

“Antigamente não havia muitas opções de diversão. Como músicos, tocávamos na Banda Municipal, na orquestra da SCAR, em circos que passavam pela cidade, ou então costumávamos sentar no final do dia para conversar e planejar nosso futuro, pensando em possíveis oportunidades de iniciar um negócio. E nessas conversas, por diversas vezes, Werner me dizia: Pedro, um negócio que pode dar dinheiro é fabricar motores elétri-cos e geradores, porém, precisa de um bom capital para começar.

Num sábado à tarde, eu estava com o Eggon Silva, tomando uma cerveja no bar do Harnack e ele comentou que estava vendendo sua parti-cipação societária numa metalúrgica local e deveria pensar noutro empre-endimento próprio. Foi então que eu lembrei as conversas com o Werner Voigt e comentei, com o Eggon, que Werner dizia que fabricar motores elétricos seria um bom negócio. Eggon ficou interessado e quis conversar com Werner. Falei que ele deveria estar na oficina, pois ele trabalhava todos os sábados. Imediatamente, Eggon foi para a oficina conversar com Werner. Duas horas depois, Eggon retornou ao bar.”

Começamos a conversar e mostrei como funcionava a oficina, os consertos em geral — que era minha fonte principal de renda —, os dínamos e os geradores — que eu fabricava esporadicamente — e

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os motores elétricos, que eu vendia na oficina. Pensamos em possibi-lidades de ampliar o meu negócio e, depois de muita conversa, che-gamos à conclusão que motor elétrico seria o ideal para ser fabricado em grande escala.

Mostrei para ele, detalhadamente, como funcionava o motor elétrico e listamos as coisas que seriam necessárias para começar o negócio. Disse que precisaríamos de muitas chapas de aço silício es-tampadas e para isso teríamos que ter um bom ferramenteiro, que faria as ferramentas de estampar essas peças metálicas.

Como eu já conhecia muito bem as peças dos motores e sabia que uma ferramenta de estampar chapas era muito cara, peguei um modelo de chapa que pudesse ser usado para fabricar alguns tipos diferentes de motor: motores trifásicos de 4, 6 e 8 pólos e motores monofásicos de 1/3 e ¼, de 4 pólos. Até hoje, o motor de ¼ é o modelo mais produzido na WEG. Em fevereiro de 2010, registramos uma produção de 27.500 motores por dia.

Combinamos ir para Joinville, conversar com o Geraldo Wer-ninghaus, um ferramenteiro que Eggon conhecia do tempo que tra-balhava na Wiest. Geraldo trabalhava na ferramentaria de seu pai, em Joinville. Explicamos nossa ideia para ele e propomos sociedade. Ele ficou interessado na proposta e, depois vir até minha oficina alguns sábados para conhecer mais sobre o funcionamento dos motores e do trabalho que deveria fazer, ele topou a sociedade.

Buscando conhecer mais sobre o funcionamento de uma fábrica de motores elétricos, Eggon e eu fomos para Joinville visitar a fábrica do senhor Schneider — a Hidramat Schneider, que já fabricava mo-tores há mais de cincos anos, os quais eu comercializava na minha oficina. Depois de algum tempo, voltei na fábrica do Schneider para comunicá-lo que iríamos começar a fabricar motores elétricos em Ja-raguá do Sul. Como eu era conhecido dele e respeitava seu trabalho, não queria que ele ficasse sabendo por outras pessoas que nós sería-

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mos concorrentes. Schneider ainda desdenhou de nós, dizendo que não era tão simples abrir uma fábrica de motores.

Eu nunca gostei da parte contábil e burocrática dos negócios, assunto que era a especialidade de Eggon. Eu era — e sou — técnico. Entendia de motores e queria vê-los funcionando. Como já mencio-nei, estudava as marcas existentes no mercado há mais de dez anos e catalogava-os em meus blocos de notas. Sabia o que era preciso para fazer um bom motor, compatível com os motores existentes no mercado. Principalmente relacionado às características físicas, para encaixar o nosso produto em outras máquinas.

Depois de prever os equipamentos necessários para iniciar o ne-gócio e estipular o capital de cada sócio, Eggon me ajudou a cobrar alguns dos clientes que tinham pendências na oficina. Porém, muitas contas, por motivos diversos, acabaram ficando em aberto, registra-das no livro de contas correntes.

Certa tarde, Eggon e eu fomos até o Garibaldi, cobrar a dívida de Cr$ 12.000,00, referente à venda de um gerador. Quando chega-mos ao local onde o cliente morava, descobrimos que tinha mudado para as proximidades de Benedito Novo, e havia levado o gerador com ele. Pegamos seu novo endereço e decidimos subir a serra do Ga-ribaldi, rumo a Benedito Novo; porém, quando estávamos subindo, minha caminhonete começou a patinar e não saía do lugar. Eggon desceu do carro para empurrá-lo — sem sucesso —, depois eu calcei o acelerador e também ajudei a empurrar a caminhonete, mas não teve jeito, tivemos que descer a serra e acabamos deixando essa co-brança para trás.

Ficou combinado que cada um de nós entraria na sociedade com o valor de Cr$ 1.200.000,00 (um milhão e duzentos mil cru-zeiros). Capital que equivalia a, mais ou menos, US$ 3.909,00 (três mil, novecentos e nove dólares), o suficiente para comprar um Fusca

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naquele ano. Quantia que eu poderia facilmente dobrar, se tivesse ido atrás de todos os meus devedores.

Depois de definidas as responsabilidades de cada um, Eggon e eu viajamos para São Paulo, para que eu pudesse mostrar-lhe os for-necedores de matérias primas para a fabricação dos motores elétricos. Levei-o nos vendedores de verniz, rolamentos, fios de cobre, chapas siliciosas, enfim, em todos os fornecedores que vendiam os materiais que eu usava na oficina, para a fabricação de dínamos e consertos de motores. Expliquei detalhadamente para o Eggon todos os materiais necessários e onde encontrá-los, pois ele ficaria responsável pela parte de compras, enquanto eu ficaria dentro da fábrica, responsável pela parte técnica e o Geraldo cuidaria da ferramentaria e a produção me-cânica.

Quando a sociedade estava confirmada, comecei a planejar a su-cessão da minha oficina. Dividi meu antigo negócio em três segmen-tos: Autoelétrica, que passei para meu antigo funcionário Allan Sasse e os consertos de motores ficaram sob responsabilidade de Heinz Leit-zke, que não foi meu funcionário, mas tinha uma oficina em Guara-mirim. Eu estava iniciando uma sociedade com duas pessoas que pa-reciam ser muito esforçadas, porém, eu já tinha a experiência de uma sociedade que não havia dado certo, com o Romeu Bastos. Assim, antes de abandonar totalmente a oficina, eu tinha que ter certeza do sucesso dessa nova empresa. Por isso, deixei Heinz Leitzke cuidando da oficina por um ano, período que eu imaginava ser suficiente para me certificar do futuro da Eletromotores Jaraguá e, caso não desse certo, voltaria para minha oficina. Afinal, eu não estava mudando de ramo, só estava deixando de consertar motores e fabricar dínamos para produzir motores elétricos em larga escala.

Já os clientes da parte de eletrônica ficaram sob a responsabili-dade de outro ex-funcionário, Adolfo Reimer, que já trabalhava nessa área dentro da oficina.

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Depoimento de Adolfo Reimer

“Comecei minha vida profissional como ajustador de máquinas de beneficiamento de madeira e depois passei a trabalhar como soldador elé-trico. Porém, meu grande interesse era, na realidade, por rádio-técnica. Fiz um curso por correspondência e, mais tarde, me indicaram para Wer-ner e, como ele tinha uma grande demanda para atender na parte de consertos de dínamos, fiquei responsável pelos consertos eletrônicos de rá-dios e de outros aparelhos que aparecessem para ser consertados na oficina. Depois, quando surgiu a conversa de que eles: Werner, Eggon e Geraldo iam começar uma fábrica, ele conversou comigo e com Allan Sasse, expli-cou a situação e deixou a oficina sob nossa responsabilidade, conforme a área que cada um trabalhava. O Sasse com a parte de auto-elétrica e eu eletrônica. Dia 31 de agosto foi o último dia que Werner Voigt trabalhou na oficina.”

Werner Voigt, Adolfo Reimer e Allan Sasse

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Com todo o planejamento executado, havia chegado a hora de fazer as instalações físicas. Para isso, alugamos um galpão na avenida Getúlio Vargas, onde iríamos estabelecer a empresa. Dia 1° de setem-bro começamos a instalar as máquinas, organizar a estrutura da em-presa e fazer a instalação elétrica do galpão e, para realizar essa tarefa, contratamos o eletricista instalador Hilário Bertoldi. Enquanto eu instalava os equipamentos com Hilário, Geraldo — ainda em Join-ville — fabricava algumas ferramentas necessárias para a fábrica e, na medida em que ele ia estampando chapas para testar as prensas, eu já ia utilizando aquele material para fazer os modelos dos motores.

Werner Voigt e Hilário Bertoldi

À medida que o galpão ia sendo equipado, vi que para a fábrica funcionar corretamente iríamos ter um consumo de 16 HP. Porém, naquele ano, a Empresul só permitia a utilização de até 1 HP por endereço e, para obter a liberação da energia necessária, fui conver-sar com Alfredo Krause — chefe da Empresul de Jaraguá do Sul —, que era meu conhecido. Pela nossa amizade e pelos vários serviços

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de bobinagem de transformadores que fiz para eles, foi muito difícil ele negar aquele meu pedido. Assim, conseguimos a liberação dos 16 HP que precisávamos para dar início ao funcionamento de nossas máquinas.

No dia 16 de setembro a fábrica estava pronta para funcionar, equipada com dois tornos e quatro prensas — duas dessas construídas pelo Geraldo na ferramentaria do pai dele, em Joinville. Na segunda-feira, dia 18 de setembro, às 7h30 da manhã, Geraldo, Eggon e eu iniciamos a fabricação de motores elétricos na Eletromotores Jaraguá, junto do nosso funcionário número um, Honório Pradi e, na mesma semana, outros três funcionários: Waldir Lessmann, Adalbergio Elí-sio e meu irmão Udo.

Depoimento de Honório Pradi

“Fazia dois anos e meio que eu trabalhava na Wiest quando, numa sexta-feira, Eggon veio me convidar para trabalhar de torneiro numa fábrica de motores que ele estava abrindo em sociedade com o Werner e o Geraldo. Eu nunca tinha trabalhado com motores, mas aceitei o desafio e, no dia 18 de setembro comecei na Eletromotores Jaraguá (WEG). Depois de mim, na mesma semana, mais três funcionários também começaram na fábrica: Waldir Lessmann, Adalbergio Elísi e o irmão mais novo do Werner, Udo Voigt, como aprendiz.

No primeiro dia de trabalho, Werner, Geraldo, Eggon e eu ain-da montamos algumas bancadas na fábrica. Nesse episódio, lembro que Eggon estava manuseando uma furadeira elétrica, que tinha um fio des-cascado, e ele tomou um choque com aquele equipamento e acabou cain-do sentado. O Werner olhou para ele, lá no chão e disse: ‘É, precisamos passar uma fita isolante no fio’.

Werner sempre foi assim, calmo e falava conosco com muita edu-cação. Nunca vi ou ouvi Werner sendo ríspido com ninguém. Ele sempre teve muita paciência para falar e explicar as coisas para as pessoas.”

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Depoimento de Udo Voigt

“Em 1960, terminei meus estudos e, com 13 anos, comecei a fre-quentar a oficina do Werner, meu irmão. Em janeiro de 1961, mudei definitivamente para Jaraguá do Sul, para morar com Werner e traba-lhar na oficina dele. Eu fazia a tarefa de ajudante, aprendiz, limpava a oficina e realizava alguns serviços mais simples, como trocar escovas de dínamos, consertar buzinas, coisas assim.

No mesmo ano, quando Werner, Eggon e Geraldo decidiram abrir a fábrica de motores, meu irmão me perguntou se eu queria continuar trabalhando na oficina ou se eu gostaria de ir com ele, trabalhar na nova empresa, e eu achei muito mais interessante fazer coisas novas, ao invés de consertar coisas velhas. Então, em setembro de 1961 comecei a trabalhar na WEG, bobinando motores e, em todos os anos que trabalhei na empre-sa, fui designado a enfrentar desafios diferentes junto de Werner — um grande entusiasta.”

Werner Voigt e Udo Voigt

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Quando começamos a fabricação dos motores, vi que os tornei-ros, enquanto estavam fazendo o primeiro eixo do motor, queriam fa-zer o acento do rolamento tirando a medida daquela peça com o uso de um paquímetro. Interferi e disse que não podia ser assim, pois o motor elétrico precisa de uma tolerância muito pequena e, para isso, a medida tinha que ser feita com um micrômetro. Como eu já fazia esse tipo de trabalho na minha oficina, dei meu micrômetro para eles e disse que deveriam ter uma tolerância de meio centésimo acima da nominal, da mesma forma que eu já fazia nos dínamos e geradores que fabricava, e que sempre deu certo. Mais tarde fui descobrir que existia uma norma internacional de medidas e que a tolerância indicada era bem similar àquela que eu executava e ensinei para a equipe.

Frühstück: Eggon da Silva, Werner Voigt, Vicente Donini, Eugênio da Silva e Geraldo Werninghaus.

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Com, mais ou menos, cinco motores prontos na nossa primei-ra semana de trabalho, Eggon saiu para vendê-los. Nossa primeira nota fiscal tirada sob a razão social da Eletromotores Jaraguá Ltda., correspondente à venda de um motor monofásico de 1/4 HP, para a Werninghaus e Filhos — de Joinville, com o valor total da nota de Cr$ 6.340,00, no dia de seis de novembro de 1961. De setembro a dezembro daquele ano fabricamos um total de 146 motores.

Desde o início da empresa, todos tinham muitas funções para executar e, dessa forma, Eggon, Geraldo e eu ficávamos em setores diferentes. O único momento que estávamos os três reunidos era du-rante o horário do lanche, o nosso frühstück. Durante esse café apro-veitávamos para discutir os assuntos gerais da empresa, o que cada um estava fazendo em seu setor, os tipos de motores que estavam sendo produzidos, as necessidades de peças, melhores pontos de venda para Eggon, enfim, todo tipo de assunto que precisava ser tratado. Essa pequena reunião matinal acabou tornado-se uma tradição entre nós.

Agora que estávamos no ramo de motores elétricos, a Hidra-mat Schneider — que fabricava motobombas com motores de 1/3 e 1/4 HP — passava a ser nossa maior concorrente da região e, para a Eletromotores Jaraguá ter condições de competir com a Hidramat, procuramos uma fabricante de bombas d’água que vendia as bombas sem motor, para fazer uma parceria. Assim, fizemos parceria com a Aloma, fabricante de bombas de água de Joinville, e começamos a introduzir os produtos WEG nesse mercado.

Com menos de um ano de funcionamento, 16 HP de potência já não atendiam as necessidades da fábrica e, para aumentar a capaci-dade da empresa, compramos um transformador e fui conversar no-vamente com o chefe da Empresul, Alfredo Krause, solicitando uma carga de energia de 45 KVA, em alta tensão. Essa segunda negociação foi bem mais fácil, pois era mais simples de obter a liberação de ener-gia em alta tensão da Empresul.

Os motores que nós fabricávamos iam para o mercado com uma

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Primeira nota fiscal da Eletromotores Jaraguá

etiqueta metálica, que trazia o nome da empresa: Eletromotores Ja-raguá, formando um semicírculo e abaixo tinha a gravação WEG, iniciais de nossos nomes. Os clientes começaram a se referir à nossa empresa apenas como WEG. Então, vimos que esse nome estava pe-gando e que Eletromotores Jaraguá era realmente muito extenso. As-sim, mudamos a marca de nossos motores para Eletromotores WEG e, em seguida, mudamos para WEG.

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1963Saweg e Máquinas de

Lavar Roupa Nina

Em janeiro de 1963, com a intenção de reaproveitar as sobras das chapas siliciosas, iniciamos uma fábrica de reatores e transforma-dores para geladeira, pois na época as geladeiras vinham seladas para uso em 110 volts. Fundou-se assim a Saweg, em sociedade com Samir Mattar.

Depoimento de Samir Mattar:

“Em 1963, Werner, Eggon e Geraldo me procuraram, oferecendo sociedade para abrir uma empresa de reatores e transformadores para geladeiras, a Saweg (Samir e WEG). Eu aceitei a proposta e começamos a produzir as peças. Logo depois, comecei também a vender os motores WEG como vendedor autônomo. Uns dois anos depois, como eu já pos-suía uma grande amizade e uma forte confiança dos três, Werner e Eggon vieram conversar comigo para fazer uma pesquisa de mercado em São Paulo, pois eles não estavam tendo sucesso em vender os motores por lá. Eu fui com o plano de ficar três meses na capital paulista, fazendo a pesquisa e, depois desse período, decidi ficar em São Paulo. Voltei para Jaraguá do Sul para conversar com os três e, em 1965, vendi minha parte da Saweg e fui morar em São Paulo, onde trabalhei como representante da WEG.”

Para buscar novas oportunidades de negócios, mais formas de vender motores, também tivemos a idéia de montar uma fábrica de máquinas de lavar roupas. Antigamente, as lavadoras de roupa eram bem simples, constituídas apenas por um barril de madeira, as pás de bater as roupas e um motor. Seria uma maneira a mais de vender motores elétricos. Assim, abrimos esse novo negócio em sociedade

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com o irmão do Eggon, Eugênio José da Silva. A esposa do Eugênio havia falecido alguns meses antes e, homenageando-a, batizamos as máquinas de lavar com seu nome: Nina.

Buscamos sociedade nesses dois novos empreendimentos, por-que Eggon, Geraldo e eu nos dedicávamos integralmente à WEG e nosso cotidiano era voltado em conquistar, cada vez mais, o mercado de motores elétricos.

Em 1967, decidimos fechar a SAWEG, pois as geladeiras come-çaram a ser fabricadas com bi-voltagem (110 e 220 volts). No mesmo ano a Máquinas de Lavar Roupa Nina foi desativada e Eugênio José da Silva veio trabalhar conosco, na WEG.

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1964WEG com sede própria

Com muito trabalho a WEG foi progredindo, crescendo no mercado e começamos a sentir necessidade de aumentar a capacidade da fábrica. Já nos primeiros anos o local onde demos início à empresa foi ficando pequeno. Chegamos a construir um pequeno anexo, atrás do galpão, mas não havia mais condições de continuar ali. Tínhamos que ir atrás de melhores condições estruturais para continuar nosso progresso. Estava na hora da WEG ter seu espaço próprio. Compra-mos um terreno de 40 metros de frente por 40 metros de fundo, na rua Venâncio da Silva Porto (endereço onde está instalada a WEG 1).

Quando fechamos o negócio, estávamos certos de que aquele local seria suficiente para expandir a empresa e que seria o bastante até para nossos filhos trabalharem conosco. Mas, com a necessidade de ampliar a estrutura constantemente, fomos adquirindo os terre-nos vizinhos e totalizamos uma área de 7.800 m2. Chegamos a ter um via pública cruzando nossas instalações, mas como a WEG tinha comprado todos os terrenos da redondeza, entramos com um pedido para o fechamento da rua e a Câmara de Vereadores aceitou nosso pedido.

Mais uma vez necessitávamos aumentar nossa carga de ener-gia. Precisávamos da disponibilidade de 150 KVA de eletricidade: fui até a Empresul solicitar a nova carga elétrica para a WEG. Des-sa vez foi uma negociação mais tranquila, pois nesse mesmo ano a alta tensão passou de 6.000 volts para 13.800 volts (em fevereiro de 2010 a WEG estava recebendo uma carga elétrica de 43.000 KVA em 138.000 V).

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1965Fundição WEG

Depoimento de Egon Voigt:

“Aos sábados eu sempre saía da casa dos meus pais, em Duas Ma-mas, para ir conversar com o Werner, antes mesmo da fundação da WEG. Assim, como ele sempre se interessou por eletricidade, eu comentava que tinha interesse em caminhões, e queria ter meu próprio veículo. E o meu irmão Werner me ajudou a procurar um caminhão no modelo que eu queria: Ford A. Procuramos em vários lugares, mas estava muito difícil achar um caminhão daqueles. Foi aí que o senhor Batista, dono de uma oficina, disse ao Werner que ele iria juntar um caminhão para mim. Ele literalmente juntou, porque o motor e a frente eram de um modelo 39, a carroceria de um 42 e o resto de outro ano ainda. Dessa forma, tive meu primeiro caminhão com o qual fazia a feira em Joinville e, na volta, tra-zia ferro fundido, cobre e outros materiais para a WEG. Eu trazia 500 quilos de carga por semana, porém, não era compensatório para mim, pois meu caminhão tinha capacidade de 1.500 quilos e a minha casa ficava no meio do caminho entre Joinville e Jaraguá. Eu comentei isso com o Werner e ele me pediu para ter paciência, pois a fábrica deles iria dar certo e logo a carga iria aumentar.

Duas semanas depois, o pedido passou para 600 quilos, depois 700 e logo eu já tinha a carga completa, 1.500 quilos. Os pedidos da WEG não pararam de aumentar, e eu cheguei a carregar 3.000 quilos de ferro fundido de Joinville a Jaraguá do Sul. Transitando com o dobro da capa-cidade, em estradas precárias, eu demorava seis horas para fazer o trecho Joinville-Jaraguá. E foi assim até 1965, quando a WEG começou a fun-dir o próprio ferro, em sua fundição no terreno do Parque Fabril I.”

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Para dar mais agilidade e autonomia à nossa produção, perce-bemos que ter nossa própria fundição traria uma grande vantagem. Dessa forma, podíamos programar a quantidade num dia e ter o ma-terial pronto para uso no dia seguinte. No início o processo foi bas-tante complicado, pois não tínhamos pleno conhecimento de como funcionava uma fundição. Nossa primeira tentativa foi com o uso de forno com queimador a óleo, mas não conseguíamos derreter o ferro com ele. Aquele tipo de forno não alcançava a temperatura que preci-sávamos. Depois desse forno, compramos um forno cubilô , que fun-cionava com combustão de carvão mineral e chegava à temperatura de 1.300 graus centígrados. Nesse forno, que inclusive muitas fundi-ções usam até hoje, conseguimos obter ferro derretido. Porém, havia um problema: o ferro deveria ser usado imediatamente, quando saía do forno. Não tínhamos como fazer correções no ferro e precisava ter muito cuidado para não sair refugo no coletor de ferro derretido. A WEG precisava de alguém com experiência em fundição. Contrata-mos, então, o fundidor Mário Krieger, uma pessoa muito importante para a melhoria do processo de fundição da WEG.

Hoje, utilizamos fornos elétricos por indução, o que melhorou muito o trabalho da fundição. Atualmente, o ferro não é aquecido a 1.300 graus, como no cubilô, a temperatura é elevada até 1.500 graus, o que deixa o ferro muito melhor de ser trabalhado na usinagem.

Além disso, com o auxílio de computadores, sabemos se o ferro tem deficiência de alguma substância, e podemos fazer correções do produto, melhorando muito a liga do metal e obtendo um ferro com ótima qualidade.

Certa ocasião, também na fundição, teve falta de alumínio (usa-do para injetar nos motores) e, por causa disso a fábrica pararia. Não tínhamos como contatar os fornecedores paulistas e não havia outra empresa onde pudéssemos comprar o alumínio. Dessa forma, para

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não parar a fábrica, peguei meu carro (um DKW) e fui até São Paulo buscar o material. Saí de Jaraguá do Sul ao meio-dia, cheguei ao meu destino à noite, no outro dia pela manhã fui até o fornecedor, enchi meu carro com alumínio o máximo possível, deixando apenas lugar para dirigir e voltei para Jaraguá do Sul. No outro dia, pela manhã a fundição pôde continuar trabalhando.

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1965Projetando a ARWEG

No ano de 1965 começamos a pensar na possibilidade da WEG ter sua própria recreativa e, então, surgiu a oportunidade de comprar-mos o terreno onde a ARWEG está instalada.

Lembro que a negociação desse terreno foi muito vantajosa para nós, pois o antigo dono trocou todo o morro da ARWEG por 35 mo-tores de 1/4 HP. Antigamente as terras custavam muito menos — e os motores elétricos custavam bem mais caro. Quando começamos a WEG, uma moto-bomba custava duas vezes o salário de um torneiro e, atualmente, um torneiro consegue comprar cinco motos-bomba com um ordenado.

Filhas de Werner nas obras de terraplenagem no terreno da ARWEG.

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Quando estávamos construindo a recreativa, vimos que iríamos precisar terraplenar uma parte do terreno, para construir o campo de futebol. Na mesma época, uma empresa de fora da cidade estava trabalhando na rua Waldemar Grubba, atual rua Joinville, e perce-bemos que as máquinas estavam paradas por algumas semanas. Des-cobrimos que eles aguardavam algum tipo de liberação — ou verba — para começar a trabalhar. Conversamos com o encarregado da empresa e conseguimos que eles fizessem a terraplenagem do terreno da ARWEG — e também o terreno da WEG 2 —, pagando apenas o diesel da máquina e a mão-de-obra dos maquinistas. Assim, em se-tembro de 1966 inauguramos a ARWEG e, no mesmo mês, foi eleita a primeira diretoria da Associação Recreativa WEG.

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1965Abertura do capital da WEG

Em junho de 1965, decidimos abrir o capital da empresa, trans-formando a WEG em Sociedade Anônima. Com essa transformação, nosso capital chegou à quantia de Cr$ 81.000.000,00 (oitenta e um milhões de cruzeiros) e ainda, no mesmo ano, saltamos para um capi-tal de Cr$ 111.000.000,00 (cento e onze milhões de cruzeiros).

A WEG começou a ter grande significância na região e começa-mos a receber frequentes visitas de fornecedores, clientes, autoridades e da imprensa. Todos queriam saber sobre os projetos da empresa e faziam inúmeras perguntas para Eggon, Geraldo, para mim e tam-bém para os diretores. Percebemos que os dados transmitidos estavam conflitando e as informações acabavam saindo da empresa de forma não satisfatória. Assim, num de nossos frühstücks, Geraldo, Eggon e eu decidimos que deveríamos eleger apenas uma pessoa para falar em nome da WEG e coordenar as visitas, para que a comunicação fosse sempre bem compreendida pelos visitantes e não houvesse mais divergências na comunicação. Como Geraldo e eu passávamos muito tempo na parte produtiva e técnica, nós três decidimos que Eggon – Diretor-Presidente – ficaria responsável por fazer os comunicados, entrevistas e toda a vida pública em nome da WEG.

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1966Buscando oportunidades

de vendas

Nos primeiros anos de trabalho na WEG, tínhamos que nos es-forçar para provar aos clientes que nosso produto era realmente bom. Nosso objetivo maior, na época, era atender ao mercado paulista, po-rém os clientes não confiavam numa marca desconhecida, do interior de Santa Catarina. Eles preferiam as grandes marcas do mercado. As-sim, nossa equipe de vendas tinha que ir para o interior do estado de São Paulo, vender diretamente para o consumidor final. Da mesma forma estávamos fazendo no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e eu, muitas vezes, acompanhei vendedores, para conversar com clientes e donos de empresas e convencê-los que tínhamos um bom produto, que atenderia às necessidades deles.

Em março de 1966, contratamos um de nossos primeiros ven-dedores registrados, chamado Rodolfo Piaz, que entrou para atender a região de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Quando estava explicando para ele detalhes técnicos dos motores, sugeri uma forma para Rodolfo conseguir vender mais. Disse para ele: “Quando você passar por uma fábrica de médio ou grande porte, entre e veja quais são os motores que movem as máquinas”. Geralmente as fábri-cas tinham um motor grande, que se conectava em todas as máquinas da empresa através de correias. Era uma forma ruim de trabalhar, pois existia um eixo comprido, que movia as correias e mancais de óleo, para lubrificação, que gotejava óleo por toda a fábrica. Quando uma dessas correias pulava ou arrebentava, era preciso parar toda a fábrica, para fazer o conserto. Disse para o vendedor que uma dessas empresas era a Haco Etiquetas, localizada na Vila Itoupava, em Blumenau. Ele foi até lá e viu que a fábrica era movida por um motor de 50 HP, com centenas de correias que moviam pequenas máquinas de mesa.

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De acordo com a carcaça que tínhamos, poderíamos fazer um motor elétrico de, no mínimo, 900 RPM, e sabia que seria ideal para aquela empresa. Fiz dois motores de teste e fui com Rodolfo apresen-tar o produto. Por coincidência, quando nos encaminharam para o chefe de manutenção, vi que o encarregado era o filho de um primo, chamado Schwanke. Instalei os dois motores e ele concordou que era uma forma muito melhor de trabalhar, pois eliminaria aquele monte de correias, o ambiente ficaria muito mais limpo e, principalmente, aumentaria a produtividade. Imediatamente ele encomendou 20 mo-tores, depois mais 20, e assim foi fazendo até não ter mais nenhuma correia atravessando a empresa.

Antigo modelo de fábrica Utilizando um único motor, um eixo e centenas de correias.

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1966Interesse pelas novidades

eletrônicas

Sabendo que a televisão já estava funcionando em Joinville, fi-quei curioso com a novidade e fui conversar com meu velho amigo Gunther Pfuetzenreuter. Na oficina dele, vi que era verdade. Ele mes-mo tinha instalado a repetidora. Instalaram retransmissores, desde a serra de Curitiba até chegar a Joinville. Perguntei se ele conseguia fazer o sinal chegar até Jaraguá do Sul, e Gunther disse que sim, caso houvesse algum lugar na cidade que desse para avistar Joinville. Vol-tei para Jaraguá do Sul e fui até o Morro da Boa Vista, subi por uma trilha que existia entre um bananal e, da metade do morro, vi que dava para ver Joinville lá de cima. Num outro dia voltei na oficina dele e confirmei que havia um morro que tinha vista para Joinville, quando o tempo estava limpo. Ele veio comigo até Jaraguá, trouxe uma televisão, eu peguei emprestado do Alfredo Krause um gerador movido a gasolina e subimos o morro. Ele olhou lá de cima e disse: “Vai dar”. Gunther ligou a televisão, alinhou a antena e conseguimos captar o sinal.

Com a certeza de que dava para colocar uma repetidora em Ja-raguá do Sul, restava saber como se pagaria a instalação do equipa-mento para o Pfuetzenreuter. Então, pensei numa forma de motivar as pessoas da região a comprarem a ideia: num sábado, teria um jogo de futebol importante, no Maracanã. Perguntei para alguns amigos se eles gostariam de assistir o jogo, ao vivo na televisão: todos ficaram muito curiosos com a ideia e então combinamos de subir o Morro da Boa Vista no sábado, no horário do jogo. Ajeitamos o lugar no alto do morro, levamos a televisão e o gerador e, quando ligamos e eles vi-ram a televisão funcionando, ficaram muito empolgados. Explicamos

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que seria possível ter a transmissão em Jaraguá do Sul, se encontrásse-mos uma forma de bancar a instalação da repetidora e, nessa peque-na reunião, Gunther comentou que em Joinville a loja Douat havia conseguindo a verba para pagar a instalação. Daquele momento em diante vi que não precisava mais correr atrás do processo de instalação do transmissor, pois as pessoas que estavam lá se organizaram e deci-diram ir conversar com o gerente da filial da loja Douat de Jaraguá do Sul, Aldo Piazera.

Depoimento de Aldo Piazera

“Para bancar a instalação da repetidora em Jaraguá do Sul, a loja Douat entrou em contato com a General Eletric, que concordou em pagar os custos do transmissor, se a Douat comprasse certa quantia de televisores. Então, fui atrás de possíveis compradores e fiz uma lista de comprome-timento de compra onde estavam, inclusive, Geraldo, Eggon e Werner. Werner era um dos grandes interessados no sucesso desse trabalho, pois, semanas antes, ele andava para lá e para cá com um senhor de Joinville, medindo os sinais para a transmissão, com ajuda de um aparelho. Depois que a GE bancou a instalação, a repetidora ainda funcionou por mais ou menos 15 dias com um gerador a gasolina, que o chefe da Empresul havia emprestado, na condição de que Werner ficasse responsável por ele.”

Como a energia elétrica não chegava até o alto do morro, dei-xamos o gerador lá para fazer o transmissor funcionar. Esse gerador tinha um tanque com capacidade para dois litros de gasolina e, todos os dias, ele precisava ser reabastecido. Elegemos um homem que mo-rava próximo do morro para abastecê-lo, diariamente. Ele enchia o tanque do gerador perto das cinco horas da tarde e o aparelho funcio-nava até a gasolina acabar. Não tardou, a Empresul levou energia até o transmissor. Assim se deu a entrada da televisão em Jaraguá do Sul.

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1967Primeira ferramenta

progressiva

Para fabricar um motor é necessário fazer um bloco de chapas estampadas. Até 1967, essas chapas passavam por quatro prensas di-ferentes, onde cada uma fazia um determinado tipo de corte. Cada prensa era operada por um funcionário distinto, ou seja, as chapas tinham que passar na mão de quatro pessoas, só no processo de es-tampo. Eu, sendo responsável por toda a parte de desenvolvimento, estava sempre pesquisando e me inteirando das novidades do mer-cado nacional e internacional. Tomei conhecimento de que existiam máquinas que faziam esse processo de forma sequencial, as chamadas ferramentas progressivas. Uma ferramenta progressiva faz os quatro estágios de estampa na mesma prensa. A prensa puxa a chapa de um lado da ferramenta, faz os quatro recortes diferentes utilizados naque-le processo e a chapa sai pronta, no último estágio. Com essa inova-ção, iríamos ganhar agilidade na produção e também reduziríamos o custo de mão-de-obra, pois, no processo de estamparia, reduziríamos um quarto dos funcionários do setor de estampos.

Convicto da praticidade, agilidade e economia que essa ferra-menta traria para a WEG, expliquei seu funcionamento para Geral-do, pedindo que ele construísse uma peça para testarmos. Entretanto, ele achava que não havia condições de fazê-la ali, pois não tínhamos prensa própria para fazer aquele tipo de ferramenta.

Algum tempo depois dessa conversa, Geraldo não estava satis-feito com o departamento de vendas, afirmando que nossos pedidos estavam contendo uma porcentagem muito grande de motores com características especiais, uma média de 30%, e ele queria aumentar a quantidade de vendas dos motores standard (modelo de produção

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padrão). Assim, ele assumiu a diretoria de vendas, trocando de função com Vicente Donini. Ali começou o rodízio de diretores na WEG, objetivando que todos entendessem um pouco de cada área e com-preendessem melhor o trabalho executado pelos outros setores. Vi-cente, então, assumiu a diretoria de produção e eu, além de tomar conta da área elétrica e de desenvolvimento, passei a supervisionar a ferramentaria. Aproveitei aquela oportunidade para tentar cons-truir um modelo de ferramenta progressiva. Chamei nosso projetista, Américo Witashik, e o encarregado da ferramentaria, Reiner Modro. Nós discutimos uma maneira de conseguir fazer essa ferramenta e disse que daria uma bonificação para os dois, se eles me ajudassem a construí-la. Todos os dias nós discutíamos as melhorias no projeto, até acertarmos todos os cálculos e os detalhes para construir a ferra-menta. Quando concluímos o projeto e colocamos a ferramenta para trabalhar, paguei a bonificação prometida e chamei o Geraldo para ver a máquina funcionando. Essa primeira ferramenta progressiva, que fazia o trabalho de quatro prensas, trabalhava na velocidade de 50 batidas por minuto, uma grande melhoria na produção, naquele tempo.

Resumo de uma carta de Reiner Modro

“Em 1962 eu não queria mais trabalhar na lavoura e, como meu pai conhecida muito bem o senhor Werner Voigt, ele foi até a WEG pedir um emprego para mim. Comecei montando eixo de rotor nas prensas e, dali em diante fui adquirindo conhecimento na parte mecânica da fer-ramentaria.

Em 1968, junto de Werner Voigt e Américo Witashik, discutimos a construção de uma ferramenta que, segundo Werner, melhoraria muito a produtividade da WEG. O projetista Américo forneceu o esquema de

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corte, as medidas das lâminas do rotor e do estator e Werner coordenava todo o processo produtivo.

No mês em que conclui a construção daquela máquina, Werner Voigt mandou acrescentar uma bonificação ao meu holerite, equivalente a dois salários, pela construção da ferramenta progressiva.”

Werner e Reiner Modro na frente de uma ferramenta progressiva similar a construída em 1967

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1967Substituição das chapas

de silício

Na fabricação de um motor elétrico, as chapas utilizadas em seu núcleo compõem uma grande parte do custo. Até 1967, todas as fábricas usavam chapas de silício, estampadas, para fazer o núcleo dos motores. Desde o tempo em que eu era aprendiz, na oficina do Strohmeyer, já via o silício sendo usado em motores elétricos.

As chapas siliciosas eram comercializadas em folhas, no tama-nho de dois metros por um, e era necessário recortar as folhas na lar-gura ideal para utilizá-las nas prensas. Ou seja, além do custo elevado do material, tinha um índice de perda elevado e era muito trabalhoso manuseá-las.

Insatisfeito com essas chapas, eu queria encontrar outro mate-rial para usar. Fazendo muitos testes, estudos e pesquisas, descobri que existia uma forma de usar o aço comum: retirar o carbono do aço, através do recozimento do metal. Fiz mais alguns testes e real-mente funcionou.

Compramos um forno elétrico de um metro por um, e insta-lamos esse forno embutido no solo da fábrica, com um metro de profundidade. O forno tinha que ser embutido porque precisava ter a atmosfera controlada e, na ocasião, era a melhor forma de obter esse controle. Este forno tinha que aquecer através de energia elétrica, pois no recozimento do aço, para descarbonetá-lo, é preciso garantir a ausência do oxigênio na queima e a energia elétrica é a única forma de se conseguir isto.

Poder usar aço comum no lugar do aço silício significava uma economia muito grande na produção dos motores, pois o aço comum custava, na época, um terço do valor das chapas siliciosas e, além do custo mais baixo, o aço comum era possível de ser comprado em

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bobinas de fitas contínuas. As empresas vendiam essas bobinas com largura personalizadas, de acordo com as necessidades dos clientes. Colocávamos o início das fitas nas ferramentas progressivas e a fer-ramenta ia se alimentando automaticamente, até acabarem os rolos de aço. Depois das chapas estampadas elas iam para o forno, recozer durante oito horas seguidas.

Utilizando essas bobinas e as ferramentas progressivas, demos um grande passo no processo produtivo da WEG e reduzimos consi-deravelmente o custo na fabricação dos nossos motores.

Estávamos tendo um grande sucesso no uso das chapas de aço comum, pois podíamos produzir um bom motor com um custo bem mais baixo. E, para tirar mais vantagem desse diferencial, não deixa-mos essa notícia vazar para fora da empresa. Cuidávamos para quem a gente passava essa informação. Depois de dois anos utilizando o aço comum em bobinas, na WEG, recebemos a visita de um grupo de estudantes de uma faculdade de engenharia elétrica e, um dos alunos pegou um pedaço da chapa dos estatores e levou embora. Algumas se-manas depois, engenheiros dessa faculdade entraram em contato co-nosco dizendo que a chapa que estávamos usando não era apropriada, não era chapa de silício. Eu confirmei a análise, disse que a chapa era de aço comum, porém, que eles não sabiam como era o tratamento desse material para poder ser usado em motores elétricos.

Esses técnicos até tentaram projetar um motor com custo mais baixo que o nosso, porém, não conseguiram. Provei que o nosso mo-tor era mais barato. Contrariados com minha afirmação, eles disse-ram que não era possível, que se o motor tivesse um custo mais baixo que aquele projetado por eles, o motor não atenderia às normas téc-nicas obrigatórias. Para acabar com aquela discussão, mandei alguns motores para que eles testassem, e só assim eles se convenceram que nossa tecnologia estava bem à frente da deles.

Sempre trabalhamos buscando soluções para reduzir o custo de nosso produto, para aumentar nossa rentabilidade e, com certeza, a utilização das chapas comuns em bobinas ajudaram bastante. Na

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época, elas custavam um terço do valor da chapa siliciosa, o que ga-rantiu uma bela margem para nossa empresa.

Atualmente, em 2010, a WEG utiliza mais de 500 toneladas de chapa por dia, isso gera uma grande economia para a empresa. Mui-tas pessoas pensam que é só na venda que se ganha dinheiro, mas na verdade, a venda é o fim de todo um processo. Tem muita coisa que pode ser melhorada para aumentar a rentabilidade de uma empresa.

Werner segurando fragmento de fita de aço estampado

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1968Primeira compra de tecnologia

da WEG

Em 1968, entre reuniões, demonstrativos de vendas e planeja-mentos, percebemos que era hora de ampliar nosso negócio. Na oca-sião, as oito fabricantes de motores elétricos de São Paulo — nossas concorrentes — estavam todas associadas com algum grupo interna-cional e achamos que uma sociedade seria o melhor caminho. Nesse período, estávamos negociando máquinas alemãs e constatamos que nenhuma fábrica brasileira tinha parceria com uma indústria alemã. Um representante da empresa alemã Weingarten, chamado Mikas, nos incentivou a ir para a Alemanha, conhecer as fábricas alemãs e buscar uma possível sociedade.

Em setembro de 1968 decidimos embarcar para a Alemanha. Primeiro fomos Geraldo e eu, e Eggon embarcou no dia seguinte. Viajamos em dias diferentes porque, se um avião caísse, a empresa ainda teria alguém para comandar. Ao chegar à Alemanha, fomos primeiramente à Weingarten, ver uma prensa que já estávamos nego-ciando no Brasil e, em seguida, começamos a procurar alguém que estivesse interessado numa possível sociedade. Visitando algumas in-dústrias de motores elétricos, ficamos sabendo que havia, mais ou menos, uns 50 pequenos fabricantes que compravam os projetos dos motores de um mesmo escritório de engenharia, na cidade de Bibera-ch, que pertencia ao engenheiro Ing Ernst Braun.

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Fomos até o escritório do doutor Braun, nos apresentamos como fabricantes de motores elétricos brasileiros e dissemos que tínhamos interesse de nos associar com uma empresa alemã, buscando novas tecnologias para nossa fábrica. Todos os projetos desse escritório de engenharia obedeciam às normas técnicas estabelecidas pelo Instituto Alemão de Normalização (DIN — Deutsches Institut für Normung). Essas normas enquadravam o motor elétrico em padrões como uni-dade de medida (sistema métrico), com roscas, parafusos e dimensões padronizadas. Além disso, a tecnologia dos motores era bem mais avançada e os produtos eram mais duradouros, por serem motores fechados (blindados).

Geraldo, Eggon e eu nos reuníamos todas as noites no hotel que estávamos hospedados, para fazer relatórios de nossas visitas e discutir as possíveis sociedades, e se realmente firmaríamos um contrato com alguma fábrica alemã. Numa de nossas conversas, pensei bem e disse que se eu — que era responsável pelo desenvolvimento técnico da WEG — tivesse aces-so àqueles projetos, não haveria necessidade de as-sociar-me com outra em-

Werner e Geraldo embarcando para a alemanha

presa. Eu conseguiria entender os detalhes que se diferenciavam dos meus projetos. Geraldo, por sua vez, comentou que se tivesse acesso ao tipo de maquinário que as fábricas usavam, ele também não pre-

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cisaria de sociedade. Diante de nossas afirmações, Eggon disse que, se conseguíssemos fazer um projeto realmente bom, ele buscaria um financiamento que o BNDE - Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico —, associado com o GEINEE — Grupo Executivo das Indústrias Elétrica e Eletrônica —, estava fazendo para empresas na-cionais em crescimento, chamado Aliança para o Progresso.

Decidimos então que, ao invés de buscar uma sociedade, com-praríamos os projetos do doutor Braun. Depois de quase um mês visi-tando fábricas e conhecendo mais sobre a tecnologia alemã, voltamos para o Brasil e começamos a trabalhar no aperfeiçoamento de nossos projetos. Quando a minha parte e a do Geraldo estavam concluídas, Eggon foi negociar nosso empréstimo.

Depois da aquisição dos projetos do doutor Braun, fui muitas vezes para a Alemanha, negociar — e aprender — com Ing Braun, assim como ele também esteve algumas vezes na WEG, para dar pa-lestras e cursos para nossos técnicos.

Werner e família de Dr. Braun na Alemanha

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1968Criação do Centroweg

No início das atividades da WEG, sofríamos muito com a fal-ta de mão-de-obra qualificada. A WEG foi o primeiro emprego de muitas pessoas que deixaram a lavoura, essa era a realidade de nossa região. Por muito tempo, grande parte do trabalho era feito manu-almente e tínhamos que ensinar todo o processo, passo a passo. Eu estava constantemente ensinando e supervisionando o trabalho dos colaboradores, principalmente no setor de bobinagem.

Percebemos que a WEG precisava aprimorar-se no treinamento dos colaboradores. Dessa forma, em outubro de 1965, demos início a esse processo. Primeiramente contratamos o professor Serrano de La Peña, um professor natural de Madri — Espanha, que já ministrava em várias empresas catarinenses. Esse professor fez um diagnóstico geral da empresa e criou um programa de treinamento com duração de, mais ou menos, cinco meses. Seu plano de treinamento consistia em melhorar a organização da produção, a qualidade do produto e fazer também um trabalho motivacional com os colaboradores.

Ivo Schultz, Reiner Modro, Geraldo Werninghaus, Juarez Farias, Maria Silva, Paulo dos Reis, Vicente Donini, Antônio Silva, Honório Pradi,

Werner Voigt e Walmor Pereira

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Em seguida, contratamos o professor Paulo dos Reis, que minis-trava cursos através do SENAI de Joinville. Esse professor foi trazido para a empresa para “ensinar a ensinar”. O trabalho dele consistia em capacitar os chefes de setores e diretores em treinar o colaborador corretamente, com métodos mais eficazes de um funcionário com-preender sua função e executá-la com maior perfeição.

Primeira turma do Centroweg

O professor Paulo sabia interagir muito bem com os alunos, estava sempre atento, percebendo se todos estavam concentrados nas explicações. Quando ele via que alguém estava com o pensamento longe, dava um susto na classe de alguma forma, às vezes batendo com força na mesa ou no quadro, para trazer a atenção novamente para a aula. Eu achava aquilo muito engraçado, mas, de fato funcio-nava.

Naquelas semanas que passamos na Alemanha, soubemos que

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todas as fábricas que visitamos, e todos os ofícios do país, ofereciam cursos profissionalizantes para os jovens.

Quando voltamos para o Brasil, vimos que seria uma ótima ma-neira de conseguir melhorar nossa mão-de-obra, e decidimos criar o nosso próprio centro de treinamento. Para que o Centroweg funcio-nasse da maneira que desejávamos, contratamos professores de cursos técnicos alemães e, no período de férias da Alemanha, eles vinham para o Brasil dar consultoria para nossa empresa, ajudando a formatar o método de ensino que utilizaríamos.

Foto de alguns dos diplomas de cursos de aperfeiçoamento profissional de Werner Voigt.

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1968: Primeiro engenheiro da WEG

Depois que compramos a tecnologia do escritório do doutor Braun, decidimos contratar um engenheiro para a WEG. Assim, Eggon foi até a Universidade Federal de Santa Catarina e, recomenda-do pelo reitor da universidade, chamou um jovem chamado Moacyr Sens para estagiar na empresa. Ele veio para a WEG, para fazer um estágio no período das férias de julho. Durante essa fase, eu acom-panhei grande parte de seu trabalho e de seu aprendizado dentro da fábrica.

Depoimento de Moacyr Sens

“No período do meu estágio na WEG, eu fazia muitos projetos soli-citados pelo Werner e alguns pelo Geraldo. O primeiro projeto que Wer-ner me pediu foi um sistema de carregamento para o forno cubilô. Na época, abastecer o forno era o pior trabalho que existia dentro da fábrica. O funcionário carregava um cesto cheio de ferro nas costas e subia por uma escadinha até a boca do forno, para despejar o material.

Assim que eu comecei a projetar o sistema, vi que precisava de algu-mas peças para o equipamento, e comecei a procurar pela fábrica. O Wer-ner, que acompanhava o meu trabalho, resolveu me ajudar e me levou a um ferro-velho. Foi ali que eu comecei a aprender muitas coisas práticas com ele. Ao invés de construir ou projetar novas peças, pegávamos coisas que pudéssemos reaproveitar e, dessa forma, economizar tempo e dinhei-ro. Brincávamos que, sempre que o Werner projetava alguma coisa, com certeza haveria alguma parte de um automóvel nesse equipamento.

Em dezembro de 1969, quando acabei meu curso de engenharia, fui contratado para ser engenheiro efetivo da WEG.”

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Eu acompanhei o início da carreira de muitos engenheiros, em todos esses anos de trabalho, e percebi que o conhecimento da grande maioria deles é integralmente teórico. Muitos deles entram na em-presa sem ter uma percepção de grandezas físicas. Não conseguem ter noção de quanto é um milímetro, um metro, entre outros co-nhecimentos práticos. Para um engenheiro trabalhar com bastante segurança na WEG, é preciso que ele tenha — no mínimo — cinco anos de experiências, para aí sim ser um engenheiro completo, com a competência que a WEG precisa.

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1969BNDE aprova o financiamento

da WEG

Em outubro de 1969, o BNDE aprovou o financiamento plei-teado pela WEG, no valor de NCr$ 2.200.000,00 (dois milhões e duzentos mil cruzeiros novos).

Em 1967, a moeda nacional mudou do Cruzeiro para Cruzeiro Novo, e o cálculo utilizado para a conversão dos valores monetários era de 1.000 cruzeiros para um cruzeiro novo, ou seja, o capital ini-cial de quando fundáramos a Eletromotores Jaraguá, passara de Cr$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil cruzeiros), para NCr$ 3.600,00 (três mil e seiscentos cruzeiros novos).

Na ocasião em que Eggon foi tentar o empréstimo, nossa em-presa tinha prosperado de tal maneira que o nosso patrimônio líqui-do, em 1969, estava avaliado em NCr$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil cruzeiros novos).

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1970Prensa Weingarten

Quando o financiamento proveniente dos fundos da Aliança para o Progresso foi liberado para a WEG, uma de nossas primeiras aquisições foi a prensa Weingarten. Ela foi a primeira grande máquina adquirida pela WEG, com um poder de corte de duzentas toneladas e um ritmo de trabalho de 60 até 150 batidas por minuto — três vezes mais rápido que a ferramenta construída por nós em 1967. Pesando um total de 30 toneladas, a Weingarten foi montada no Parque Fa-bril, a céu aberto, e só depois o prédio foi construído ao redor dela.

Prensa Weingarten

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1970Usando a honestidade como

arma de venda

Em toda a nossa vida pessoal e profissional, Eggon, Geraldo e eu sempre primamos pela honestidade. Jamais tentamos lucrar pre-judicando alguém. Quando eu conversava com nossos vendedores, sempre os orientava a oferecer o equipamento ideal para o cliente, fazendo o melhor para eles, sem nunca querer tirar vantagem de nin-guém. Porém, eu sabia que muitos de nossos concorrentes não faziam isso.

Eu estava constantemente me inteirando dos assuntos de mo-tores elétricos e tinha muita experiência no ramo, conforme as coisas que aprendi com as anotações feitas em meus blocos de notas. Eu sabia se um motor era ideal (ou não) para sua aplicação. Se ele tra-balhava com sua capacidade máxima ou se ele tinha muita potência sobrando. Esse conhecimento foi muito importante para o sucesso em algumas vendas da época, pois só podíamos produzir motores de — no máximo — 25 HP. Dessa forma, orientava os vendedores a perceberem situações onde clientes adquiriam motores mais po-tentes, para executar tarefas que poderiam ser feitas com motores de menor potência. Um motor mais potente requer uma instalação um pouco mais complexa para o cliente como, por exemplo, a utilização de fios mais grossos, o que encarecia todo o processo de instalação de um equipamento.

A honestidade e o trabalho feito, visando oferecer uma vanta-gem para o cliente, foram ferramentas que usei junto do vendedor Rodolfo Piaz (o primeiro vendedor efetivo da WEG) e junto a outros vendedores. Um exemplo dessa forma de trabalho é a negociação feita com empresas de serra-fita, aqui na região. Todas as serras-fita eram

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movidas por motores de 50 HP, e eu sabia que não era necessário ser usado um motor daquela potência. Então, quando fiquei sabendo que um conhecido, chamado Tomazzelli, iria instalar uma serra-fita em Schroeder, pensei: “Vou provar que nosso motor é ideal para esse equipamento”. Instalei um motor de 25 HP e pedi que ele cortasse a madeira mais pesada que tivesse. Ele cortou algumas toras e viu que o motor tinha capacidade de trabalhar na serraria. Depois de ter ti-rado a prova, fui com nosso representante até Ponta Grossa, Paraná, onde estava estabelecida uma fábrica de serras-fita, chamada Schiffer. Fizemos uma visita para a empresa e deixamos alguns motores para eles testarem. Afirmei que eu já havia testado, e disse que garantia o funcionamento dos motores. O dono da fábrica fez dois testes com os motores e, por fim, se convenceu e acabamos virando fornecedores exclusivos da Schiffer, pois todos os fornecedores vendiam motores de 50 HP para eles.

Depois que fechamos esse contrato com a Schiffer, o diretor de outra empresa de motores, quando ficou sabendo que tinha perdi-do esse cliente, veio até a WEG falar diretamente comigo, dizendo que nós não sabíamos ganhar dinheiro, que nós deveríamos oferecer motores mais potentes aos clientes, pois eram os motores que mais davam lucratividade para as empresas do ramo.

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1970Padronização da unidade de medida

dos motores elétricos

Entre 1969 e 1970, teve início um movimento em prol da pa-dronização da unidade de medida dos motores elétricos. Até o mo-mento, cada fabricante fazia seu produto da maneira que achasse con-veniente, o que não era muito interessante para o consumidor final, pois sempre que precisava mudar um motor, e fosse de outra marca, com certeza se depararia com uma furação, tamanho e características diferentes.

Dessa forma, um homem chamado Walter Ferreira conduziu esse processo junto a ABNT — Associação Brasileira de Normas Téc-nicas —, buscando concluir esse processo. Durante esse período, foi realizada uma pré-conferência onde as empresas — fabricantes de motores — levaram a sua sugestão para a unidade de medida a ser adotada, e fizemos uma pré-votação. Eu participei em nome da WEG e fui para a pré-conferência defendendo a padronização pelas medi-das métricas, de acordo com a IEC — International Electrotechnical Comission (Comissão Eletro-técnica Internacional), o que seria muito importante para a WEG, pois todos os projetos negociados com o escritório do doutor Braun seguiam esse padrão, assim como todos os fabricantes alemães (DIN) e demais europeus.

Já as grandes empresas paulistas defendiam o padrão da NEMA — National Electrical Manufacturers Association (Associação Nacional dos Fabricantes Elétricos), instituto que havia definido o padrão das normas norte-americanas, pois muitas daquelas indústrias tinham parcerias com fabricantes americanos. Realizou-se a pré-votação e percebi que perderíamos por um voto para o padrão NEMA. Ao vol-tar para Jaraguá do Sul, pensei em alguma maneira de reverter aquele

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resultado e resolvi visitar o fabricante de motos-bomba de Joinville e também outro concorrente jaraguaense, pois ambos haviam deixado de ir à reunião. Convenci os dois a participarem da votação e votarem pela unidade de padrão IEC.

Algum tempo depois, quando foi realizada a reunião oficial, os dois compareceram e, por um voto, conseguimos oficializar a unida-de métrica de medidas como padrão – acordo com as normas da IEC, para a indústria brasileira.

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1977Início da trefilação do

cobre na WEG

No ano de 1977 começamos, na WEG, o procedimento de tre-filar e esmaltar o cobre usado em nossos motores elétricos, e eu era o responsável por essa área. Tivemos muito trabalho no início do processo, pois não éramos especialistas na área e estávamos com fre-quentes problemas, como bolhas nos fios e aspereza.

Na época, começamos a utilizar um novo verniz para esmaltar os fios, que era um ótimo isolante, porém, com um cheiro muito for-te, o Cresol. O odor do solvente daquele produto impregnava toda a vizinhança da WEG. Até mesmo na casa em que Geraldo Wernin-ghaus morava, num morro mais afastado da fábrica, reclamava-se do cheiro do solvente, quando o vento soprava naquela direção. Nós tí-nhamos que resolver esses problemas: a qualidade do tratamento dos fios e o problema do mau cheiro que assolava a comunidade vizinha da fábrica.

Foi então que solicitei para o responsável pelo Departamento de Recursos Humanos, Euclides Emmerdoerfer, que procurasse um engenheiro químico para trabalhar conosco e resolver esses proble-mas. Ele começou a procurar e informou que não havia faculdade de engenharia química em Santa Catarina, somente em Curitiba. Ele entrou em contato com a universidade e encontrou um estudante, natural de Joinville, que se formaria no fim daquele ano, chamado Jaime Richter.

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Cópia do fax do primeiro contato de Werner Voigt com Jaime Richter.

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Depoimento de Jaime Richter

“Em abril de 1977 recebi uma carta da WEG, solicitando que eu fosse para Jaraguá do Sul conversar com o senhor Werner, sobre uma proposta de emprego. Quando cheguei à empresa, percebi vários processos e produtos de natureza química que estavam com problemas. Eu sabia resolvê-los, a começar pela fábrica de fios. Por exemplo: a temperatura muito elevada na cura do verniz dos fios fazia a camada externa do esmalte secar mais rápido que a interna, impedindo a evaporação do solvente contido no produto.

Conversamos e fui contratado para começar na WEG assim que me formasse, no final daquele ano. Quando comecei efetivamente na empre-sa, fui ajudando a melhorar os processos que envolviam a parte química, inclusive solucionando o problema do cheiro do solvente. Compramos uma máquina que reaproveitava o solvente que evaporava, para ser usa-do como combustível nesse próprio forno.

Hoje, lembrando de como minha contratação aconteceu, vejo que a grande percepção que o senhor Werner teve, foi entender que os problemas que a WEG estava tendo, no processo de produção, eram de natureza química, e sua grande sacada foi mandar contratar um profissional nessa área.”

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1979WEG Máquinas e WEG Automação

Em 1979, nós tínhamos começado a fabricar motores de cor-rente contínua, com potência de 50 a 500 KW, utilizando tecnologia comprada da AEG — Telefunken.

Depoimento de Sinésio Tenfen

“Comecei a trabalhar na WEG em 1979, em aplicações de motores de corrente contínua e, desde o dia da minha entrevista, estive em contato com o senhor Werner, pois ele era o responsável pela área técnica. Quando comecei, efetivamente, na WEG, a empresa estava iniciando no ramo de corrente contínua, ainda não existia a WEG Máquinas e nós pegamos uma pequena área da fábrica III para começar a montar esses motores.

Para a produção desses motores especiais, buscamos tecnologia ale-mã (AEG Telefunken) para a WEG, e no início, sem computador, tí-nhamos que calcular e projetar esses motores tudo à mão e, muitas vezes, nos testes desses motores, poderiam ocorrer alguns pequenos problemas, como faiscamento das escovas, e o Werner, coordenava e auxiliava na solução desses problemas com a experiência que ele tinha de consertos de dínamos de caminhão, em sua oficina (antes de fundar a WEG), pois esses dínamos também eram máquinas de corrente contínua. E, muitas vezes esses detalhes, essas opiniões dele, ajudavam bastante.

Werner Voigt é um homem simples e prático, e buscava passar isso para os colaboradores. Tinha muito cuidado com ações de economia, mui-tas vezes ele passava em alguns setores para ver se as luzes estavam apaga-das quando os funcionários saíam para o almoço. Caso alguém esquecesse, após o almoço ele já vinha no setor conversar e pedir mais atenção com esses detalhes.”

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Ainda em 1979, nós queríamos começar a produzir motores de alta tensão, e começamos a negociar tecnologia com uma empresa da Suécia, chamada ASEA. Nesse período de consultoria com a ASEA, surgiu a oportunidade de fazer uma parceria entre as empresas WEG e ASEA.

Essa sociedade resultou na criação da WEG/ASEA Industrial, localizada em Itapecerica da Serra — São Paulo. Nessa fábrica seriam feitos motores de alta tensão e painéis, componentes eletrônicos, con-versores e inversores de frequência.

No período de um ano a sociedade entre as duas empresas tinha sido desfeita. As filosofias de trabalho não eram compatíveis. Nós queríamos aprender sobre a fabricação dos componentes eletrônicos e fazê-los aqui no Brasil, e a ASEA dificultava nosso acesso a essas informações, e insistia em importar as peças da Suécia, alegando que não tínhamos condições de executar esse tipo de trabalho.

Quando rompemos a sociedade, trouxemos para Jaraguá do Sul, mais ou menos dez técnicos que já trabalhavam com motores de alta tensão e, então, fundamos a WEG Máquinas.

Logo em seguida, decidimos começar a trabalhar também no ramo de automação — como já estávamos tentando fazer em parceria com a ASEA. Conversamos com alguns professores da Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, buscando técnicos para criar essa fábrica e eles acabaram convencendo-nos a montar a WEG Automação em Florianópolis. Assim fizemos, contando com a ajuda deles, porém a fábrica não estava funcionando da maneira que a gente queria e, dois anos e meio depois de criada, a WEG Automação veio para o Parque Fabril II, em Jaraguá do Sul.

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1988Conselho de Administração

A WEG, cuja ideia havia surgido numa conversa entre Eggon e eu, em 1961, dentro da minha oficina, num sábado à tarde, se con-cretizou de forma gigantesca e milionária, trabalhada dia após dia, batalhada em cada venda, na redução do custo de cada peça, na busca de melhores tecnologias para cada novo passo e conquistando a con-fiança do mercado em cada motor vendido.

Sem dúvida, Geraldo, Eggon e eu havíamos feito um ótimo trabalho, cercados de pessoas competentes, que acreditaram naquele nosso sonho desde o primeiro dia e vestiram a camisa WEG conos-co.

Durante algum tempo já estávamos conversando, para definir como iríamos assegurar que a WEG continuaria em seu caminho de crescimento e sucesso. Era a hora de pensar na sucessão da presidên-cia da empresa. Listamos os possíveis nomes para a presidência exe-cutiva da empresa e analisamos durante algum tempo os concorrentes e, em outubro de 1988, elegemos Décio da Silva — filho do Eggon — como o novo presidente da WEG. Desde o início do processo de seleção, deixamos claro que não iríamos escolher alguém só por ser filho de um de nós, pois a empresa precisava de alguém realmente competente para o cargo, e Décio mostrou-se digno de assumir a empresa.

Quando ele tomou posse da presidência, Eggon, Geraldo e eu, saímos em férias, juntamente de nossas esposas, e passamos um perí-odo de duas semanas na Europa, para que Décio tomasse de fato as rédeas da WEG e começasse a tomar as decisões pela empresa. Aquela teria sido a primeira vez em vinte e sete anos de WEG que os três fundadores saíram de férias juntos.

Assim que voltamos para o Brasil, nós três, junto com Gerd Edgar Baumer — vice-presidente da empresa — passamos a ocupar

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os cargos de conselheiros administrativos da WEG, criando-se um conselho administrativo independente, ou seja, seus membros não exerciam funções executivas dentro das empresas WEG.

Depoimento de Décio da Silva

“Uma faceta do senhor Werner — talvez a mais importante de sua personalidade — é sua capacidade de análise e entendimento dos proces-sos físicos e elétricos. Ele é um verdadeiro autodidata. O senhor Werner tem uma grande sensibilidade e capacidade de compreensão física e de grandezas, que se tornou muito perceptível a partir do momento que os processos de cálculos começaram a ser executados com ajuda de computa-dores e máquinas. Exemplo: se alguém inserisse um cálculo, uma fórmula e por acaso colocasse uma vírgula num lugar errado, afetando o resultado final, o senhor Werner sabia que havia algo errado apenas olhando o re-sultado no papel, sem precisar ter aquele projeto executado.

Entre os fatores do sucesso da WEG, um deles é a tecnologia. E o se-nhor Werner teve um papel muito importante na história tecnológica da empresa. Hoje a WEG tem mais de mil engenheiros para dar continui-dade nos processos que os três sócios e mais alguns colaboradores faziam, quando começaram a fabricar motores elétricos. Desse ponto de vista, pode-se ter uma ideia da dimensão do desenvolvimento tecnológico da WEG, e o senhor Werner acompanhou todo esse processo evolutivo.”

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Desde 1961A sociedade Werner, Eggon

e Geraldo

Muitas vezes me perguntavam sobre o sucesso de nossa socieda-de, e sempre respondi fazendo analogia com uma mesa de três pernas. Uma mesa de três pernas pode ser colocada em qualquer tipo de ter-reno, pois ela fica firme, com seu peso distribuído em partes iguais, o que não acontece com uma mesa de quatro pernas. Muitas vezes a quarta perna fica suspensa, sendo carregada pelas outras três.

O fato de sermos três pessoas com capital igual ajudou muito nas tomadas de decisão, pois em número ímpar, não existe como dar impasse de decisão. Se um de nós tinha uma opinião e outro um pen-samento contraditório, sempre havia o terceiro para tirar a discussão do impasse.

Em todos os anos que trabalhamos juntos, nós três sempre fo-mos muito honestos e honramos nossa sociedade. Nunca nenhum dos três trabalhou em desacordo com uma decisão tomada. Se, por acaso, durante algum processo, um de nós percebia que havia melhor forma de fazer o trabalho ou se alguém achava que a decisão não estava dando o resultado esperado, conversávamos novamente e rede-finíamos as diretrizes de trabalho. Porém, nunca ninguém agiu sem o conhecimento dos outros sócios.

Fomos três personalidades distintas, cada um vestindo a cami-sa WEG à sua maneira. Eu, sempre empenhado em evoluir a parte técnica da empresa, Eggon com um talento administrativo essencial para a empresa. Desde o planejamento da WEG, quando eu ainda tinha minha oficina, Eggon me ajudou a cobrar dívidas pendentes de alguns clientes, até a vida social da empresa, uma de suas responsabi-lidades como diretor-presidente.

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Depoimento de Eggon João da Silva:

“Werner Voigt é um grande companheiro. Posso dizer que ele é um parceiro perfeito, um grande estudioso e entendedor da eletrotécnica. Quando nós dois conversamos sobre a ideia de criar uma fábrica de mo-tores elétricos e vimos a necessidade de ter um ferramenteiro, logo me veio à cabeça o nome de Geraldo Werninghaus, pois eu já conhecia o trabalho dele. Eu telefonei para ele, expliquei um pouco da ideia e marcamos um encontro numa lanchonete, em Joinville, para eu apresentá-los. Em pouco tempo percebi que Werner — que era o melhor eletricista de Jaraguá do Sul — e Geraldo, um hábil ferramenteiro, haviam se adaptado perfeita-mente e vi que nossa sociedade iria funcionar muito bem.”

Geraldo, além de ter uma grande habilidade na ferramentaria, sempre olhou a WEG como uma grande empresa. Geraldo falava frequentemente que seríamos a maior empresa de Jaraguá do Sul, depois afirmava que seríamos a maior da região, do estado, do país, da América Latina.

Depois que deixamos a direção da empresa e passamos a integrar o Conselho Administrativo, Geraldo se dedicou a outros projetos, até se tornar prefeito de Jaraguá do Sul.

Werner Voigt e Eggon João da Silva.

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Depoimento de Lílian Werninghaus

“Quando meu marido Geraldo faleceu, fui chamada para conver-sar com o Werner e com o Eggon, e fui convidada a assumir o lugar do Geraldo no Conselho. Desde o início da WEG, eles fizeram um acordo onde os três teriam exatamente a mesma participação na empresa e, o fato deles terem me convidado para participar do Conselho, atestou mais uma vez a palavra deles, mantendo as três famílias com a mesma participação na empresa.

No começo, como eu não entendia muito bem como funcionavam as coisas, o seu Werner e o senhor Eggon me apoiaram muito e, uma peculiaridade do Werner, é que ele sabe ser muito amigo, inclusive eu já o conhecia desde a adolescência, quando ele morava em Joinville. Ele é um homem quieto, mas sempre tem suas surpresas, por exemplo: todos os anos, no dia do meu aniversário, ele vem pelo corredor do Conselho tocando ‘Parabéns pra você’ com uma gaitinha de boca. Eu me emociono ouvindo-o tocar. Ele realmente sabe cativar as pessoas.”

Uma história em particular marcou minha memória com Geral-do Werninghaus. Quando assumiu a prefeitura, em 1997, ele acom-panhou a demonstração do funcionamento da primeira lombada ele-trônica da cidade, na rua Joinville. Enquanto ele assistia o radar sendo apresentado, um carro foi fotografado por estar passando acima da velocidade daquela rua e, por coincidência, era o meu carro.

Certa tarde, estávamos numa reunião entre amigos e ele apare-ceu com essa foto, para brincar comigo. Depois daquilo, ele mandou fazer uma cópia da foto com alguns dizeres para mim, porém Geraldo não chegou a me entregar. Na madrugada de 9 de fevereiro de 1999 ele havia sofrido um acidente de carro, que tirou sua vida. Telefona-ram para mim, logo depois do acidente e fui até o local e, dentro do carro encontrei a foto, que está até hoje guardada na minha sala.

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O convívio familiar

Quando comecei a consertar motores, na rua Marechal Floria-no, havia, na mesma rua, um salão de beleza onde trabalhava uma moça chamada Wally. Conhecemos-nos e começamos a namorar.

Em toda minha vida, como sempre busquei melhorar cada vez mais o meu lado profissional, nunca sentia, dentro de mim, seguran-ça suficiente para saber se já estava preparado para me casar. Assim, namorei a Wally por alguns anos até tomar tal decisão.

Quando Geraldo, Eggon e eu fundamos a WEG, vi que meus sócios já tinham suas famílias constituídas e percebi que já tinha mi-nha vida bem encaminhada, poderia enfim me casar. Assim, um mês após a fábrica estar funcionando, no dia 21 de outubro de 1961, me casei com a Wally.

Nossa comemoração não passou de um jantar para a família e alguns amigos, pois além de ter reformado a casa que tinha no terreno que comprei do Zimmermann, tinha também investido grande parte do meu dinheiro na WEG.

Depoimento de Wally S. Voigt

“Conheci o Werner desde o tempo que ele tinha a oficina junto com o Romeu Bastos. A oficina dele e o local onde eu trabalhava era separado apenas por um pequeno corredor. Ali começamos a namorar e, durante o namoro, ele sempre falava que só iríamos casar quando ele tivesse uma empresa própria e tivesse segurança e condições de sustentar uma família. Eu sempre respeitei essa decisão dele e um mês depois que Werner, Eggon e Geraldo abriram a WEG, então nos casamos.”

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Dia 20 de julho de 1962 — exatamente nove meses depois do dia que me casei — nasceu minha primeira filha, Miriam Voigt (Schwartz — sobrenome do marido).

Depoimento de Miriam Voigt Schwartz

O Werner sempre foi um pai muito presente. Era atencioso e par-ticipava da nossa vida. Olhava os cadernos e boletins escolares e estava presente nas apresentações do colégio e de qualquer outro evento que fosse importante para mim para minhas irmãs.

Uma das primeiras recordações da minha infância era da minha mãe nos arrumando para sairmos para passear de carro. Naquela época era um programa especial passear de carro e o Werner nos levava para comprar pipoca, sorvete e até mesmo para brincarmos num ribeirão em algum lugar mais afastado do centro.

Sempre que possível, nas férias de julho, íamos viajar com ele. Nossa primeira viagem foi em 1971, para São Paulo e Rio de Janeiro. Depois dessa viagem, houve vários roteiros em família. Conhecemos várias capi-tais brasileiras e países da América Latina. Uma das viagens, que marcou bastante na memória de meu pai, foi em 1980, no meu aniversário de 18 anos, em Manaus. Lá havia um restaurante com sua construção em formato de chapéu, onde comemoramos meu aniversário.

Raramente os pais que levavam os filhos como companhia em suas viagens, mas o Werner, sempre que podia, nos dava esse privilégio.

Ele sempre nos encorajou a enfrentar nossos medos, obstáculos e di-ficuldades, e nos incentivou a sermos mulheres independentes. Ele nunca quis que dependêssemos de ninguém para viver. Isso sempre foi algo que ele tentou me ensinar. Quando completei 20 anos, fui com ele na loja da Volkswagen, onde ganhei meu primeiro carro, um Voyage. Ele me levou na concessionária e já saí dirigindo o meu carro. Quando chegamos na

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garagem de casa, ele fez com que eu trocasse o pneu e assim, se numa emergência precisasse fazê-lo, poderia eu mesma trocá-lo.

E assim, sempre que a vida nos colocava algum desafio, lá estava o Werner para nos apoiar e estimular.

Com quase dois anos de diferença, no dia 4 de junho de 1964 nasceu minha segunda filha, a qual foi dada o nome Valsi Voigt.

Depoimento de Valsi Voigt

“Das inúmeras coisas que eu poderia falar sobre o meu pai, creio que a característica mais forte dele, em nossa relação, era a maneira como ele instigava nossa curiosidade, nosso senso investigativo, de buscar conhecer as coisas e também buscar o conhecimento para sermos independentes.

Miriam com a família na viagem para o Chile, 1979

“Restaurante Chapéu em Manaus”

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Um exemplo disto foi nós três aprendermos a dirigir muito cedo. Com 13 ou 14 anos nós já sabíamos dirigir. Ele dizia que isso era muito importante para a gente, para nunca precisarmos pegar carona com es-tranhos. Caso quiséssemos ir numa festinha ou na casa de alguma amiga, meu pai liberava o carro, mesmo antes de termos carteira, e antes da gente dirigir, ele fazia questão de levar e buscar a gente onde quer que fosse, independente do horário. Ele sempre foi um pai muito presente.

Nosso pai sempre incentivava e encorajava nossa independência e, quando minha irmã Miriam — com 17 anos e eu, com 15, fomos morar em Florianópolis para estudar, ele mesmo que fez nossa mudança. Ele colocou nossas coisas no caminhão e foi dirigindo até lá. Ele se divertiu e apoiou muito essa nova etapa de nossa vida.

Outro ponto latente na filosofia de ensino do meu pai, é que ele con-sidera necessário que passemos por alguma dificuldade, um desafio, para superar um medo ou para se aperfeiçoar. Um exemplo disso foi quando ele se prontificou a ensinar a minha madrinha a dirigir. Ela nunca ha-via aprendido, pois dizia que tinha medo de andar no meio dos carros. Enfim, ele começou a ensiná-la pacientemente e, em certa altura da aula, ele a levou numa estradinha íngreme, estreita e cheia de pedras e a fez subir aquele morro. Ela quase morreu de medo, porém, quando ela saiu daquele lugar, meu pai sorriu e disse: ‘Viu? Agora você não precisa ter medo de andar na cidade. Não é bem mais fácil que isto?’. Ele acredita que as pessoas podem buscar mais conhecimento e superar seus limites.”

Em 1968, no dia 13 de dezembro, Wally deu à luz mais uma menina, minha terceira filha, chamada Cladis Voigt, hoje conhecida por seu apelido: Clica.

Depoimento de Clica (Cladis Voigt)

“Nosso pai sempre foi um grande motivador para nós. Ele apoiava a gente em música, esporte, nos estudos, tudo em que pudéssemos apren-der algo a mais. E ele sempre estava presente nesses eventos. Lembro que,

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quando ainda era pequena, ia participar de uma competição de natação e não sabia sair da plataforma, pulando de cabeça. Então, um dia antes da competição, meu pai me levou na piscina de um clube para treinar. Lembro que nesse dia estava chovendo, mas ele ficou lá, de guarda-chuva, me ajudando a pular na piscina.

Ele se orgulhava desses nossos campeonatos, de nossas vitórias e, quando vinha algum representante da WEG para Jaraguá do Sul, geral-mente meu pai o trazia para jantar na nossa casa e, depois do jantar, ele pedia para a Valsi, a mais esportista de nós três, mostrar as medalhas ao representante.

Outra lembrança de infância que tenho, foi em uma das primeiras viagens que fizemos em família. Na época, tínhamos um Opala bran-co e, em fevereiro de 1973, viajamos para Brasília com o Opala, meu pai, minha mãe, a empregada, minhas irmãs e eu. Fomos parando na casa de parentes, representantes, conhecidos, pontos turísticos, enfim, foi um passeio. E na volta, quando passávamos por Goiás, meu pai resolveu comprar dois saguis para trazer para casa. Então viajamos em seis e mais dois macacos no Opala. Quando nós parávamos nos hotéis, para dormir, eles não deixavam a gente entrar com os macacos e acabamos tendo que dormir num motel, onde os macacos acabaram entrando escondidos, pela janela.”

Clica

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Valsi, Cladis e Miriam

Depois que minhas filhas foram morar em Florianópolis, apenas a mais velha — Miriam — voltou a morar em Jaraguá do Sul, pois seu marido era natural de Joinville e veio trabalhar conosco na WEG. Valsi e Cladis ficaram na capital. Hoje todas são casadas e com filhos. Tenho sete netos. Um menino e uma menina de Miriam, nascidos em 1986 e 1990, duas meninas de Valsi, nascidas em 1998 e 2004 e três filhos de Cladis, dois meninos, gêmeos, nascidos em 2002 e uma menina nascida em 2005.

Sempre que possível, ia com minha esposa e minhas filhas para Schroeder, almoçar com meus pais. Foi assim até 1973, quando meu pai veio a falecer. A partir dessa data, trouxe minha mãe para morar conosco, até o fim da vida dela, em 1988.

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Família Voigt

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O caminho trilhado por um apaixonado pela eletricidade

Não existe uma analogia mais propícia para a vida de Werner Voigt, sua história de vida foi realmente um caminho trilhado. Um caminho marcado a cada passo, que ele faz questão de relembrar e resgatar.

Relembrando a dificuldade que enfrentou em sua juventude na busca pelo conhecimento, em 2008 resolveu montar em Schroeder um Centro de Ensino Técnico e Educacional, para oferecer aos jovens de sua cidade natal um apoio maior nos estudos.

Nesse caminho, além de entender e nunca esquecer suas raízes, Werner também deixou marcas em muitas pessoas que estiveram jun-to a ele nessa trajetória. São eles, e seus respectivos depoimentos:

Foto Centro Educacional Schroeder

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Gerd Edgar Baumer. “O Werner é um ser humano curioso. Um homem que era um simples consertador, enrolador de motores, que a princípio não tinha nenhum projeto de fabricar motores, mas que se in-teressava em buscar aquele aprendizado.

Cada motor que ele abria e anotava sua marca, potência, como era feito, era como uma aula para ele. Talvez por não ter acesso a uma universidade, ele fazia de cada motor aberto uma aula para si, e ele tentava não só aprender ou repetir o que via, mas também registrar esses conhecimentos.”

Felipe Voigt. “O Werner é para mim um padrinho, quase um pai, que ajudou muito na minha formação pessoal, e também no meu lado profissional. Ele sempre foi um grande motivador na minha carreira, eu tenho muito orgulho de ter esse homem na minha vida, pela pessoa que ele é e por todo aprendizado que tive a oportunidade de adquirir com a ajuda que ele me deu. Inclusive na minha vida pública, ele foi o grande incentivador. Em 1992, quando eu iniciei a carreira política, ele sugeriu que eu me candidatasse para vereador, pois eu estava envolvido com lideranças de clubes e associações, e ele achava que seria uma ótima oportunidade de eu adquirir conhecimento, aprendizado e ver o mundo, a sociedade por uma outra ótica, pelo outro lado. E assim iniciei minha vida pública e acabei chegando ao cargo de prefeito de Schroeder” .

Sérgio Luiz da Silva Schwartz

Senhor Werner:Sogro — é mais que um amigo, é um conselheiro sempre atento e

presente, disposto a compartilhar seus conhecimentos e experiência.Profissional — determinado, com visão de futuro e habilidades sin-

gulares para gerar boas ideias e estimular seus colaboradores a fazerem sempre melhor e, assim, sentirem-se apoiados e valorizados. Comenta

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(sempre com orgulho) o fato de ter escolhido a profissão de eletricista e a vontade de ter seu negócio próprio desde que usava calças curtas.

Pessoa — de personalidade tranquila, que combina inteligência privilegiada com humildade, que no meio familiar sabe conciliar rigor com compreensão, encontrando maneiras de acomodar suas expectativas com a capacidade daqueles que o cercam. Mas talvez, poucas coisas sejam tão marcantes em suas características pessoais quanto seu raciocínio lógi-co, que beira o irritante, pois não permite explicações que não estejam, como regra, bem fundamentadas. Embromação não tem guarida.”

Roberto Bauer. “O senhor Werner, na época em que foi o diretor técnico da WEG Máquinas, foi um grande motivador da equipe e, como conselheiro, ele continuou a dar assistência e acompanhando os processos da WEG Máquinas, que acredito ser o xodó dele. Lá tem novidades todos os dias, e o senhor Werner se interessa muito por novidades. Ele adora isso e, até hoje ele passa quase que diariamente por lá.

Quem entra na WEG Máquinas se depara com um grande cartaz com a foto dele, isso porque todos os engenheiros, chefes e colaboradores do setor têm um grande carinho por ele. Ele tem sempre algo para ensinar para todos os funcionários da fábrica como um todo, para a engenharia, processos, qualidade, ensaios elétricos, bobinagem, montagem, em qual-quer estágio da produção, e ele sabe fazer isso de um jeito muito cativan-te. Com certeza, ele foi um dos maiores e melhores tutores que tivemos na área elétrica, dentro da WEG.”

Siegfried Kreutzfeld. “O senhor Werner é um homem de muita experiência prática e uma sensibilidade física muito maior que qualquer engenheiro, eu diria até que muitos doutores e PHDs. A compreensão física dos assuntos ligados às tecnologias de motores parece ser algo natural nele. Ele é um homem prático e o conhecimento dele vem de uma vivên-cia experimental, e isso ele tenta sempre passar para as outras pessoas, os

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diretores, engenheiros e colaboradores. Ele sempre incentivou que, depois de fazer os cálculos e as simulações de um projeto, deveríamos ir para a fá-brica e fazer um protótipo para ver na prática se realmente funcionava.

Algo que posso dizer sobre o senhor Werner é que, quando ele fala alguma coisa, normalmente ele tem razão. Um exemplo: no começo da década de 80, nós estávamos atentando para a redução de custos. E posso dizer que o maior homem dentro da WEG, com um senso ecológico (no sentido de fazer mais, com menos), é o Werner Voigt e um dia ele veio falar comigo e disse: ‘Porque, ao invés de fazermos as lâminas do motor

No outro dia o senhor Wer-ner tinha ido até Curitiba, e de lá ele me ligou dizendo que o mo-tor não deveria ser despachado para o cliente sem que ele o visse. Quando voltou de Curitiba, os montadores haviam aberto o mo-tor para ajustar algumas peças e ele, analisando a placa ao redor do anel coletor, viu que na parte inferior da placa a pintura estava ressecada. Ele fez a equipe testar o anel novamente, e descobriu-se que a temperatura média do anel

Chapa com o corte econômico criado por Werner.

era, realmente, de 70°, porém na parte superior ele atingia 10, 20 graus e na inferior, 300 graus, ou seja, o motor iria trabalhar por dois dias, no máximo, e iria apresentar defeito.”arredondadas, não às fazemos com os cantos quadrados, para reduzir a quantidade de chapas?’ Eu fiquei pensando naquilo, fiz cálculos, simu-lações e fiz um relatório dizendo que não seria viável sem fazer a expe-riência. Mais ou menos duas semanas depois, um funcionário da ferra-mentaria ligou para mim, dizendo que o senhor Werner estava fazendo experiências. Fui até a fábrica e lá estava ele com um pacote de chapas,

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fresado da maneira que ele achava que deveria ser. E queria bobinar um motor daquele jeito para testar. Resultado: implementamos aquela ideia em quase todas as nossas chapas, com uma economia de centenas de tone-ladas por ano, e essa ideia permanece até hoje na WEG, sendo chamada de ‘corte econômico das chapas’.

O que quero dizer é que a sensibilidade que o senhor Werner tem no assunto de motores é muito grande e, como o exemplo citado, podemos lembrar de inúmeros outros, pois as opiniões, as sugestões do senhor Werner eram e são constantes. Um outro exemplo que posso citar foi na fabricação de um motor especial, o maior motor que a WEG Máquinas produziu, por volta de 2007, um motor de indução. E, enquanto esse motor estava na linha de montagem, o senhor Werner passou por esse equipamento e veio falar comigo, dizendo que achava que tinha algum problema com o anel coletor daquele motor, e ele achava que aquela peça iria esquentar demais. Eu conversei com o engenheiro da WEG Máquinas, explicando a conversa que tive com o senhor Werner, sobre o material que o anel coletor estava sendo feito, e o engenheiro explicou que tinha feito todos os testes necessários e o anel mantinha uma temperatura média dentro do desejado, 70° Celsius. Eu passei essa resposta ao senhor Werner, mas ele não se convenceu. Então, ele foi num ferro-velho e pegou uma barra do mesmo material do anel e foi para o laboratório passar a mesma densida-de de corrente elétrica que seria passada naquele motor e mandou medir a temperatura do aço, que chegou a quase 350°. Nós discutimos com o chefe de engenharia e ele refez os testes, mostrando que a temperatura era ideal, e continuou o processo de montagem daquele motor.

Roberto Krelling. “O senhor Werner é considerado, por muitos engenheiros aqui da WEG, como um projetista nato. Ele tem uma grande percepção do que pode dar certo e o que pode dar errado num projeto. Ele tem uma experiência muito apurada na eletromecânica.

Um homem muito simples que incentiva as pessoas a serem simples,

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inclusive na parte técnica. Ele sempre diz: ‘Se existe um problema que você acha que é grande, procure primeiro nas coisas bem simples, sempre diminuindo a complexidade, porque normalmente a solução reside em coisas simples’.

Diariamente ele circula pelas fábricas observando os trabalhos re-alizados pelos colaboradores, orientando quanto à maneira correta de se fazer as operações e aproveitando muitas das ideias sugeridas por eles, que mais tarde são implementadas nos projetos e processos produtivos.”

Celso Vili Siebert “No meu segundo ano de WEG me tornei co-ordenador da comissão de desenvolvimento e modificação de produtos. E, na época, essas comissões sempre eram apadrinhadas por um diretor, que nos orientava como fazer as atas, como descrever os assuntos. No caso da minha comissão, ao invés de um padrinho, tínhamos dois: Werner Voigt e Vicente Donini. Eu, como coordenador, tinha que fazer as atas e apresentar para ambos, para que eles dessem suas sugestões a respeito, e o senhor Vicente Donini gostava que fossem relatadas fielmente as razões técnicas dos motivos daquelas decisões terem sido tomadas e, por outro lado o senhor Werner gostava de concisão, ele gostava que as informações fossem transmitidas em poucas palavras, comunicando efetivamente a de-cisão tomada. E isso, para mim foi uma grande escola, pois, nesse processo, aprendi a dizer muita coisa, com poucas palavras.”

Harry Schmeltzer Jr. “Eu não tive a oportunidade de trabalhar no dia a dia, diretamente com o senhor Werner, porém, a presença dele sempre foi muito forte na minha carreira técnica, dentro da WEG. O que eu percebo do senhor Werner é que ele é um engenheiro eletricista por talento, isso é algo natural dentro dele e, além disso, ele tem um feeling muito aguçado, ele consegue ver coisas que poucos veem e sabe orientar muito bem as pessoas na área de desenvolvimento e fabricação de máqui-nas elétricas.

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Ele não acredita em problema sem solução. O senhor Werner sempre foi um grande incentivador dos colaboradores, para se aprofundarem nos conhecimentos e buscar uma solução para os problemas. Ele não acha correto tratar um problema ou defeito de forma superficial, ele acredita na existência de uma solução.”

Umberto Gobbato. “Sem dúvida, o senhor Werner é um grande observador e questionador. E essas características são muito bem percebi-das nos passeios dele, pela fábrica. Um exemplo disso aconteceu na época em que usávamos cabos flexíveis, para fazer as conexões dos painéis de acionamentos. O senhor Werner, andando pela fábrica e vendo aquele problema nos questionou, perguntando por que a gente não substituía aqueles cabos por barras sólidas. Só quando ele falou aquilo é que perce-bemos algo que, hoje, é óbvio, pois o sistema de barramento nos painéis nos economiza mão-de-obra, tempo de produção e tem – mais ou menos – 50% de economia, em comparação ao uso dos cabos que usávamos anteriormente. Tudo isso com uma pequena observação feita pelo senhor Werner, esse homem de grande compreensão e conhecimento técnico, que a WEG possui.”

Alidor Lueders. “Mesmo sendo um profissional de grande conhe-cimento técnico, o senhor Werner sempre teve a mente muito aberta. Ele não vai solucionar um problema com conceitos pré-concebidos. Ele tem a habilidade de enxergar o problema em cada caso isoladamente. O senhor Werner, podemos dizer, é um homem que conhece seu talento, ele entende daquilo que ele quer entender. Das coisas que são interessantes para ele. Exemplo: se ele precisa fazer uma declaração de imposto de renda, ele vai chamar alguém que entenda daquela área, por que ele dedica todo seu conhecimento para a parte de elétrica.”

Alfredo Moretti. “Marca muito forte da personalidade do senhor

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Werner é seu senso questionador. Ele sempre busca o porquê das coisas e essa característica eu sempre presenciei, durante minha carreira na WEG. Lembro que, quando íamos fazer uma nova instalação, ele acompanhava o processo e questionava o material usado, se os cabos utilizados eram compatíveis com a corrente elétrica. Um exemplo é a instalação da pri-meira subestação primeira subestação 138.000V da WEG, ele analisava o processo e perguntava sobre os cabos e suas funções e, quando ele trazia um visitante e passava pela subestação, ele sabia explicar exatamente o tipo de cabo e a quantidade que estava sendo usado ali. O senhor Werner sempre teve uma preocupação muito grande com a qualidade dos fios, pois como ele começou com bobinagem de motores, ele entende que a boa qualidade do fio e seu isolamento é a essência do motor.”

Carlos Diether Prinz “Eu não tive uma convivência muito pró-xima com o senhor Werner, até pela distância física entre Jaraguá do Sul e Blumenau, porém, as vezes que tive contato com ele sempre foram experiências muito agradáveis.

Primeiro pela confiança que ele depositou em mim e pelas palavras de motivação e estímulo que ele passava em suas visitas. Isso é uma grande honra, vindo de um dos fundadores da WEG.

Vejo na pessoa do senhor Werner, um homem de visão e um exemplo que retrata bem isso foi quando estávamos despachando um transforma-dor e ele estava presente.

Quando despachávamos uma máquina, colocávamos uma faixa no caminhão dizendo o tamanho do transformador, a tensão e a potência. Nós escrevíamos a potência utilizando a medida MVA, que significava mil vezes o KVA. E o senhor Werner, ao ver aquilo, me disse: ‘Não, Carlos, como marketing você não deve fazer isso, pois o transformador, passando pelas cidades, não irá atingir especialistas, e sim pessoas da comunidade, e você tem que mostrar a grandiosidade dessas máquinas: então, ao in-vés de colocar uma faixa escrita dez MVA, escreva dez mil KVA, vamos

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mostrar o tamanho desse equipamento para as pessoas’. E assim fizemos. Sempre que um transformador sai de nossa empresa vai uma faixa presa nele, com um monte de zeros impressos. Inclusive, já ouvi depoimentos de várias pessoas que ficavam admiradas, vendo máquinas tão potentes passando pelas ruas.”

Reinaldo Stuart. “Eu nunca trabalhei diretamente com o senhor Werner. Porém, percebe-se nele uma paixão muito latente pela elétrica e pela eletrônica. Ele gosta de novidades tecnológicas e gosta de comparti-lhar esse conhecimento com as pessoas. No lado pessoal do senhor Werner, posso dizer que ele é uma pessoa muito acessível. Amigo e aberto para novas amizades. Ele gosta muito de conversar, contar sua história, falar de tecnologias e conhecer coisas novas. É assim que vejo e conheço o senhor Werner.”

Ronaldo Klitzke. “O senhor Werner fez parte de um triângulo que deu certo, foram três cabeças que se uniram num certo momento e foi um casamento perfeito.

O senhor Werner tem um passado, uma história de vida incrível. Uma trajetória e uma experiência exemplar, dentro da evolução tecnoló-gica da WEG. Eu acredito que ele está deixando um legado fantástico na

Transformador WEG com a faixa de identificação de potência e destino.

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área de máquinas e motores elétricos. Com certeza, deveria haver uma comenda de mestre, para ele, nessa área.”

Antônio César da Silva “O senhor Werner é um homem que sem-pre esteve mais preocupado em resolver os problemas dos clientes, ao invés de discutir com as pessoas para achar culpados. Eu testemunhei essa ca-racterística dele, por volta de 1985, quando fui comandar uma unidade da WEG em Minas Gerais. Lá, tínhamos um cliente que comprava mo-tores verticais, relativamente grandes para a época, e esse cliente estava reclamando que os motores estavam vibrando. Ninguém havia achado o defeito dos motores e estávamos correndo o risco de deixar de negociar com essa empresa e, para resolver aquela situação, o senhor Werner foi à empresa desse cliente, para oferecer alguma solução, dar novos motores, tentar manter o cliente. Porém, quando ele chegou, não foi falar com os diretores da empresa, o senhor Werner foi direto onde estavam instalados os motores. No local, ele começou a conversar com um técnico da empresa e acabou descobrindo que os motores não tinham problema algum. Havia dutos de água naquelas instalações, e eles transferiam as vibrações para os motores. Em menos de hora o senhor Werner resolveu aquele problema e garantiu que a WEG não perdesse aquele cliente, que atendemos até hoje.”

Milton Oscar Castella “Experimentar é um palavra que pode ser bem destacada na personalidade do senhor Werner. Ele é uma pessoa que não se contenta com um ‘eu acho que não vai dar certo’. O senhor Werner sempre incentivou as pessoas a levarem a sério uma ideia, um projeto, uma experiência. Muitas vezes presenciei-o comentando uma ideia para a solução de um problema com alguém, pedindo que alguém testasse, ex-perimentasse. Depois que ele comentava alguma ideia, ele só perguntava uma vez se havia dado certo. Caso a pessoa não tivesse testado, ele não perguntava novamente, ele fazia a experiência pessoalmente. Ele sempre enfatizou a simplicidade da solução dos problemas. Basta prestar um pouco de atenção nos processos e fazer algumas experiências.”

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Luis Alberto Tiefensee. “O senhor Werner tem uma frase muito famosa, que provavelmente todos os engenheiros mecânicos da WEG já o ouviram falar. Ele costuma enfatizar a diferença entre o engenheiro elétrico e o engenheiro mecânico dizendo que o elétrico compreende as coisas na cabeça, pois trabalha com elementos invisíveis, e o engenheiro mecânico precisa de elementos concretos para entender as coisas. E, tendo essa filosofia, junto a uma intuição muito aguçada, o senhor Werner sem-pre lançou muitos desafios para nós, engenheiros mecânicos. Esses desafios, com certeza, proporcionaram muitos conhecimentos e evolução para a engenharia mecânica da WEG.”

Reinaldo Richter. “Ele é um ser humano muito simples e muito acessível. O senhor Werner cumprimenta todas as pessoas, desde o cola-borador mais humilde até a diretoria da empresa com o mesmo carinho, da mesma forma, e discute assuntos elétricos, seus conhecimentos eletro técnicos com qualquer pessoa, de qualquer nível. E, sempre que alguém conversa com o senhor Werner, pode aprender alguma coisa, que ele faz questão de passar, com toda a experiência de vida pessoal e profissional que ele tem.”

Rosa Kiatkowski. “Trabalho na WEG desde 1973 e tive o privi-légio de começar na empresa como secretária do senhor Werner, quando ele era diretor técnico. Foi uma experiência muito importante para mim, pois ele sempre me incentivou a estudar e me aperfeiçoar profissional-mente. O senhor Werner sempre foi uma pessoa calma e disciplinada e instigava as pessoas a buscarem o porquê das coisas.”

Elizete Teresinha Sbardelati. “Eu sou assistente do senhor Werner desde 1994 e o que consigo perceber no dia-a-dia dele, é que o senhor Werner é um empreendedor nato, um profissional ativo e comprometido, que está sempre presente nas atividades da empresa e interagindo com toda a diretoria da WEG, principalmente da WEG Máquinas.

Ele é um homem que gosta de conversar e se orgulha em contar sua

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experiência de vida. Mesmo com todo seu sucesso profissional, ele não perdeu sua simplicidade, sua humildade e tem a nobreza de tratar todas as pessoas com o mesmo respeito e educação.”

Margarete Mengarda Andrade. “Conviver com o senhor Werner é um privilégio. Desde 1994, nosso contato é diário e sempre o vejo com o mesmo entusiasmo e dedicação pela empresa, especialmente quando o as-sunto é elétrica. Ele sempre ouve a todos com atenção e expões sua opinião considerando sua experiência de vida.”

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