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BOTTOMORE, Tom14. OS TRS TIPOS PUROS DE DOMINAO LEGTIMA1 Reproduzido de WEBER, M. Die drei reinen Typpen der legitimem Herrschaft. In: Wirtschaft und Gesellschaft, 4 edio, organizada e revisada por Johannes Winkelmann. Tubingen, J.C. B. Mohr (Paul Siebeck), 1956. v. II, p.551-58. Trd. Por Gabriel Cohn. In WEBER, Max. Sociologia. Coleo grandes cientistas sociais, n. 13. So Paulo: tica, 1979.A dominao, ou seja, a probabilidade de encontrar obedincia a um determinado mandato, pode fundar-se em diversos motivos de submisso. Pode depender diretamente de uma constelao de interesses, ou seja, de consideraes utilitrias de vantagens e inconvenientes por parte daquele que obedece. Pode tambm depender de mero costume, do hbito cego de um comportamento inveterado. Ou pode fundar-se, finalmente, no puro afeto, na mera inclinao pessoal do sdito. No obstante, a dominao que repousasse apenas nesses fundamentos seria relativamente instvel. Nas relaes entre dominantes e dominados, por outro lado, a dominao costuma apoiar-se internamente em bases jurdicas, nas quais se funda a legitimidade, e o abalo dessa crena na legitimidade costuma acarretar conseqncias de grande alcance. Em forma totalmente pura, as bases de legitimidade da dominao so somente trs, cada uma das quais se acha entrelaada no tipo puro com uma estrutura sociolgica fundamentalmente diversa do quadro e dos meios administrativos.4.1. Dominao legal Dominao legal em virtude do estatuto. Seu tipo mais puro a dominao burocrtica. Sua idia bsica : qualquer direito pode ser criado e modificado mediante um estatuto sancionado corretamente quanto forma. A associao dominante eleita e nomeada, e ela prpria e todas as suas partes so empresas. Designa-se como servio uma empresa, ou parte dela, heternoma e heterocfala [isto , cujos regulamentos e rgos executivos no so definidos apenas internamente a ela mas pela sua participao em formas de associao mais amplas: portanto no autnoma nem autocfala]. O quadro administrativo consiste de funcionrios nomeados pelo senhor, e os subordinados so membros da associao (cidados, camaradas).Obedece-se no pessoa em virtude de seu prprio direito, mas a rega estatuda, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer. Tambm quem ordena obedece, ao emitir uma ordem, a uma regra; lei ou regulamento de uma norma formalmente abstrata. O tipo daquele que ordena o superior, cujo direito de mando est legitimado por uma regra estatuda, no mbito de uma competncia concreta, cuja delimitao e especializao se baseiam na utilidade objetiva e nas suas exigncias profissionais estipuladas para a atividade do funcionrio. O tipo do funcionrio aquele de formao profissional, cujas condies de servio se baseiam num contrato, com pagamento fixo, graduado segundo a hierarquia do cargo e no do volume de trabalho, e direito de ascenso conforme regras fixas. Sua administrao trabalho profissional em virtude do dever objetivo do cargo. Seu ideal proceder sine ira et studio, ou seja, sem a menor influncia de motivos pessoais e sem influncias sentimentais de espcie alguma, livre de arbtrio e capricho e, particularmente, sem considerao de pessoa, de modo estritamente formal segundo regras racionais ou, quando elas falham, segundo pontos de vista de convenincia objetiva. O dever de obedincia est graduado numa hierarquia de cargos, com subordinao dos inferiores aos superiores, e dispe de um direito de queixa regulamento. A base do funcionamento tcnico a disciplina do servio.1) Correspondem naturalmente ao tipo de dominao legal no apenas a estrutura moderna do estado e do municpio, mas tambm a relao do domnio numa empresa capitalista privada, numa associao com fins utilitrios ou numa unio de qualquer outra natureza que disponha de um quadro administrativo numeroso e hierarquicamente articulado. As associaes polticas modernas constituem os representantes mais conspcuos do tipo. Sem dvida a dominao da empresa capitalista moderna uma parte heternoma: sua ordenao acha-se parcialmente prescrita pelo estado. E, no que se refere ao quadro coercitivo, totalmente heterocfala: so os quadros judicial e policial estatais que (normalmente) executam essas funes. Mas autocfala no tocante organizao administrativa, cada vez mais burocrtica que lhe prpria. O fato de o ingresso na associao dominante ter-se dado de modo formalmente voluntrio nada muda no carter do domnio, posto que a exonerao e a renncia so igualmente livres, o que normalmente submete os dominados s normas da empresa, devido s condies de mercado de trabalho. O parentesco sociolgico da dominao legal com o moderno domnio estatal manifestar-se- ainda mais claramente ao se examinarem os seus fundamentos econmicos. A vigncia do contrato como base na empresa capitalista impe-lhe o timbre de um tipo eminente da relao de dominao legal. 2) A burocracia constitui o tipo tecnicamente mais puro da dominao legal. Nenhuma dominao, todavia, exclusivamente burocrtica, j que nenhuma exercida unicamente por funcionrios contratados. Isto totalmente impossvel. Com efeito, os cargos mais altos das associaes polticas ou so monarcas (soberanos carismticos hereditrios) ou presidentes eleitos pelo povo (ou seja, senhores carismticos-plebiscitrios) ou so eleitos por um colegiado parlamentar cujos senhores de fato no soa propriamente os seus membros mas os chefes, seja carismticos, seja de carter dignitrio (honoratiores), dos partidos majoritrios. Tampouco possvel encontrar um quadro administrativo que seja de fato puramente burocrtico. Costumam participar na administrao, sob as formas mais diversas, dignitrios (honoratiores) de um lado e representantes de interesses por outro (sobretudo na chamada administrao autnoma). decisivo todavia que o trabalho rotineiro esteja entregue, de maneira predominante e progressiva, ao elemento burocrtico. Toda a histria do desenvolvimento do Estado moderno, particularmente, identifica-se com a da moderna burocracia e da empresa burocrtica, da mesma forma que toda a evoluo do grande capitalismo moderno se identifica com a burocratizao crescente das empresas econmicas. As formas de dominao burocrtica esto ascenso em todas as partes.3) A burocracia no o nico tipo de dominao legal. Os funcionrios designados por turno, por sorte ou eleio, a administrao pelos parlamentos e pelos comits, assim como todas as modalidades de corpos colegiados de governo e administrao correspondem a esse conceito, sempre que sua competncia esteja fundada sobre regras estatudas e que o exerccio do direito do domnio seja congruente com o tipo de administrao legal. Na poca da fundao do Estado moderno, as corporaes colegiadas contriburam de maneira decisiva para o desenvolvimento da forma de dominao legal, e o conceito de servio, em particular, deve-lhes a sua existncia. Por outro lado, a burocracia eletiva desempenha papel importante na histria anterior administrao burocrtica moderna (e tambm hoje nas democracias).4.2. Dominao tradicionalDominao tradicional em virtude da crena na santidade das ordenaes e dos poderes senhoriais de h muito existentes. Seu tipo mais puro o da dominao patriarcal. A associao dominante o de carter comunitrio. O tipo daquele que ordena o senhor, e os que obedecem so sditos, enquanto que o quadro administrativo formado por servidores. Obedece-se pessoa em virtude de sua dignidade prpria, santificada pela tradio: por fidelidade. O contedo das ordens est fixado pela tradio, cuja violao desconsiderada por parte do senhor poria em perigo a legitimidade do seu prprio domnio, que repousa exclusivamente na santidade delas.Em princpio, considera-se impossvel criar novo direito diante das normas e da tradio. Por conseguinte isso se d, de fato, atravs do reconhecimento de um estatuto como vlido para sempre (por sabedoria). Por outro lado, fora das normas tradicionais, a vontade do senhor somente se acha fixada pelos limites que em cada caso lhe Poe o sentimento de eqidade, ou seja, de forma sumamente elstica. Da a diviso do seu domnio numa rea estritamente firmada pela tradio e, em outra, da graa e do arbtrio livres, onde age conforme seu prazer, sua simpatia ou antipatia e de acordo com pontos de vista puramente pessoais, sobretudo suscetveis de se deixarem influenciar por preferncias tambm pessoais. No obstante, na medida em que na base da administrao e da composio dos litgios existem princpios, estes so os da eqidade tica material, da justia ou da utilidade prtica, mas no, por outro lado, os de carter formal, como o caso na dominao legal.No quadro administrativo, as coisas ocorrem exatamente da mesma forma. Ele consta de dependentes pessoais do senhor (familiares ou funcionrios domsticos) ou de parentes, ou de amigos pessoais (favoritos), ou de pessoas que lhe estejam ligadas por um vnculo de fidelidade (vassalos, prncipes tributrios). Falta aqui o conceito burocrtico de competncia como esfera de jurisdio objetivamente delimitada. A extenso do poder legtimo de mando do servidor particular em cada regulado pela discrio do senhor, da qual ele tambm completamente dependente no exerccio desse poder nos cargos importantes ou mais alto. De fato, rege-se em grande parte pelo que os servidores podem-se permitir frente docilidade dos sditos. Dominam as relaes do quadro administrativo no o dever ou a disciplina objetivamente ligados ao cargo mas a fidelidade pessoal do servidor.Conforme a modalidade de posio desse quadro administrativo possvel observar, contudo, duas formas distintas em suas caractersticas:1) A estrutura puramente patriarcal de administrao: os servidores so recrutados em completa dependncia pessoal do senhor, seja sob a forma puramente patrimonial (escravos, servos, eunucos) ou extrapatrimonial, de camadas no totalmente desprovidas de direitos (favoritos e plebeus). Sua administrao totalmente heternoma e heterocfala: no existe direito prprio algum do administrador sobre o cargo, mas tampouco existem seleo profissional nem honra estamental para o funcionrio; os meios materiais da administrao so aplicados em nome do senhor e por sua conta. Sendo o quadro administrativo inteiramente dependente dele, no existe nenhuma garantia contra o seu arbtrio, cuja extenso possvel , por conseguinte, maior aqui do que me qualquer outra parte. O tipo mais puro dessa dominao o sultanato. Todos os verdadeiros despotismos tiveram esse carter, segundo o qual o domnio tratado como um direito concorrente de exerccio do senhor.2) A estrutura estamental: os servidores no o so pessoalmente do senhor, e sim pessoas independentes, de posio prpria que lhes angaria permanncia social. Esto investidos em seus cargos (de modo efetivo ou conforme a fico de legitimidade) por privilgio ou concesso do senhor, ou possuem, em virtude de um negcio jurdico (compra, penhora ou arrendamento) um direito prprio do cargo, do qual no se pode despoj-los sem mais. Assim, sua administrao, ainda que limitada, autocfala e autnoma, exercendo-se por conta prpria e no por conta do senhor. a dominao estamental. A competio dos titulares dos cargos e relao ao mbito dos mesmos (e de suas rendas) determina a delimitao recproca dos sues contedos administrativos e figura no lugar da competncia. A articulao hierrquica freqentemente ferida pelo privilgio (...).Falta a categoria de disciplina. As relaes gerais so reguladas pela tradio, pelo privilgio, pelas relaes de fidelidade feudais ou patrimoniais, pela honra estamental e pela boa vontade. O poder senhorial acha-se pois repartido entre o senhor e o quadro administrativo com titulo de propriedade e de privilgios, e esta diviso de poderes estamental imprime um carter altamente estereotipado ao tipo de administrao.A dominao patriarcal (do pai de famlia, do chefe da parentela ou do soberano) no seno o tipo mais puro de dominao tradicional. Toda sorte chefe que assume a autoridade legitima com um xito que deriva simplesmente do hbito inveterado pertencente mesma categoria, ainda que no apresente uma caracterizao to clara. A fidelidade inculcada pela educao e pelo hbito nas relaes de criana com o chefe de famlia constitui o contraste mais tpico com a posio do trabalhador ligado por contato a um empresa, de um lado, e com a relao religiosa emocional do membro de uma comunidade com relao a um profeta, por outro. E efetivamente, a associao domstica constitui uma clula reprodutora das relaes tradicionais de domnio. Os funcionrios tpicos do Estado patrimonial e feudal so empregados domsticos inicialmente encarregados de tarefas afetas puramente administrao domstica (senescal, camareiro, escanso, mordomo).A coexistncia da esfera de atividade ligada tradio com a da atividade livre comum a todas as formas de dominao tradicional. No mbito dessa esfera livre de ao do senhor ou do seu quadro administrativo tem que ser comparada ou conquistada por meio de relaes pessoais. (O sistema de taxas tem nisso uma de suas origens). A falta de direito formal, que de importncia decisiva, e sua substituio pelo predomnio de princpios materiais [em contraste com os princpios formais] na administrao e na consolidao de litgios tambm comum a todas as formas de dominao tradicional e tem conseqncia de amplo alcance, em particular no que diz respeito relao com a economia. O patriarca, assim como o senhor patrimonial, rege e decide segundo princpios da justia do Cadi [islmico], ou seja: por um lado preso estritamente tradio, mas por outro e na medida que esse vnculo deixa liberdade, conforme pontos de vista juridicamente informais e irracionais de eqidade e justia em cada caso particular, e com considerao da pessoa. Todas as codificaes e leis da dominao patrimonial respiram o esprito do chamado Estado-providencia: predomina uma combinao de princpios tico-sociais e utilitrio-sociais que rompe toda a rigidez jurdica formal.A separao entre as estruturas patriarcal e estamental da dominao tradicional bsica para toda a sociologia do Estado da poca pr-burocrtica. Sem dvida o contraste somente se torna totalmente compreensvel quando associado ao seu aspecto econmico, de que se falar mais adiante: separao do quadro administrativo com relao aos meios materiais de administrao, ou expropriao desses meios por aquele quadro. Toda a questo por existncia de estamentos que tenham sido portadores de bens culturais ideais e sobre os quais teriam sido historicamente, em primeiro lugar, dessa separao. A administrao por meio de elementos patrimoniais dependentes (escravos e servos) tal como encontrada no Oriente Mdio e no Egito at a poca dos mamelucos, constitui o tipo mais extremo aparentemente (nem sempre na realidade) mais conseqente do domnio puramente patriarcal, absolutamente desprovido de estamentos. A administrao por meio de plebeus livres situa-se relativamente prxima do sistema burocrtico racional. A administrao por meio de letrados pode revestir, segundo o carter deles (contraste tpico: brmanes hindus de um lado e mandarins chineses de outro e, em confronto com ambos clrigos budistas e cristos) formas muito diferentes, aproximando-se sempre, porm, do tipo estamental. Este est representado na sua forma mais ntida na administrao pela nobreza e, na sua modalidade mais pura, pelo feudalismo, que coloca a relao de lealdade totalmente pessoal e o apelo honra estamental do cavaleiro investido no cargo no lugar da obrigao objetiva racional devida ao prprio cargo.Toda forma de dominao estamental baseada numa apropriao mais ou menos fixa do poder de administrao encontra-se, relativamente ao patriarcalismo, mais prxima da dominao legal, pois reveste, em virtude das garantias que cercam as competncias dos privilegiados, o carter de um feudalismo jurdico de tipo especial (conseqncia da diviso de poderes estamental), que faltas s configuraes de carter patriarcal, com suas administraes totalmente dependentes do arbtrio do senhor. Por outro lado, porm a disciplina rgida e a falta do direito prprio do quadro administrativo no patriarcalismo situam-se tecnicamente mais prximas da disciplina do cargo da dominao legal do que a administrao fragmentada pela apropriao e, por conseguinte, estereotipada das configuraes estamentais. E o emprego de plebeus (juristas) a servio do senhor praticamente constituiu na Europa o elemento precursor do Estado moderno.4.3. Dominao carismticaDominao carismtica em virtude de devoo afetiva pessoa do senhor e a seus dotes sobrenaturais (carisma) e, particularmente: a faculdades mgicas, revelaes ou herosmo, poder intelectual ou de oratria. O sempre novo, o extracotidiano, o inaudito e o arrebatamento emotivo que provocam constituem aqui a fora de devoo pessoal. Seus tipos mais puros so a dominao do profeta, do heri guerreiro e do grande demagogo. A associao dominante de carter comunitrio, na comunidade ou no squito. O tipo que manda o lder. O tipo que obedece o apstolo. Obedece-se exclusivamente pessoa do lder por suas qualidades excepcionais e no em virtude de sua posio estatuda ou de sua dignidade tradicional; e, portanto, tambm somente enquanto essas qualidades lhe so atribudas, ou seja, enquanto seu carisma subsiste. Por outro lado, quando abandonado pelo seu deus ou quando decaem a sua fora herica ou a f dos que crem em suas qualidades de lder, ento seu domnio tambm se torna caduco.O quadro administrativo escolhido segundo carisma e vocao pessoais, e no devido sua qualificao pessoal (como o funcionrio), sua posio (como no quadro administrativo estamental) ou sua dependncia pessoal, de carter domstico ou outro (como o caso do quadro administrativo patriarcal). Falta aqui o conceito racional de competncia, assim como o estamental de privilgio. So exclusivamente determinantes da extenso da legitimidade do sequaz designado ou do apstolo a misso do senhor e sua qualificao carismtica pessoal. A administrao na medida em que assim se possa dizer- carece de qualquer orientao dada por regras, sejam elas estatudas ou tradicionais. So caractersticas dela, sobretudo, a revelao ou a criao momentneas, a ao e o exemplo, as decises particulares, ou seja, em qualquer caso, -medido com a escala das ordenaes estatudas- o irracional. No est presa tradio: Est escrito, porm eu lhes digo... vale para o profeta, enquanto para o heri guerreiro as ordenaes legtimas desaparecem diante da nova criao pela fora da espada e, para o demagogo, em virtude do direito natural revolucionrio que ele proclama e sugere. A forma genuna da jurisdio e a conciliao de litgios carismticos a proclamao da sentena pelo senhor ou pelo sbio e sua aceitao pela comunidade (de defesa ou de crena) e esta sentena obrigatria, sempre que no se lhe oponha outra concorrente, de carter tambm carismtico. Neste caso, encontramo-nos diante de uma luta de lderes, que em ltima instncia somente pode ser resolvida pela confiana da comunidade e na qual o direito somente pode estar de um dos lados, ao passo que para o outro somente pode existir injustia merecedora de castigo.a)O tipo de dominao carismtica foi brilhantemente descrito pela primeira vez ainda que sem apreci-la como tipo- por R. Sohm em sua obra sobre Direito eclesistico para a antiga comunidade crist. A partir de ento, a expresso foi sendo reiteradamente utilizada, porm que sua extenso fosse apreciada por completo. O passado antigo somente conhece, ao lado de tentativas insignificantes de domnio estatudo, que sem dvida no faltam, totalmente, a diviso de conjunto de todas as relaes de dominao em tradio e carisma. Ao lado do chefe econmico (sachem) dos ndios [norte-americanos], tipo essencialmente tradicional, figura o prncipe guerreiro carismtico (que corresponde ao duque alemo) com seu squito. A caa e as campanhas blicas, que requerem ambas um lder pessoal dotado de qualidades excepcionais, constituem a rea mundana da liderana carismtica, enquanto que a magia constitui seu mbito espiritual. A partir de ento, a dominao carismtica dos profetas e dos prncipes guerreiros estende-se sobre os homens, em todas as pocas, atravs dos sculos. O poltico carismtico o demagogo- um produto da cidade-estado ocidental. Na cidade-estado de Jerusalm somente aparecia com vestimenta religiosa, como profeta. J em Atenas, a partir das inovaes de Pricles e Efialtes [na reforma constitucional democrtica de 462 a.C] a constituio ajustava-se exatamente sua medida e a mquina estatal no teria podido funcionar sem ele.b)A autoridade carismtica baseia-se na crena no profeta ou no reconhecimento que encontram pessoalmente o heri guerreiro, o heri da rua e o demagogo, e com eles cai. E, todavia, sua autoridade no deriva de forma alguma desse reconhecimento por parte dos submetidos, mas ao contrrio: a f e o reconhecimento so considerados um dever, cujo cumprimento aquele que se apia na legitimidade carismtica exige para si, e cuja negligncia castiga. Sem dvida, a autoridade carismtica uma das grandes foras revolucionrias da Histria, porm em sua forma totalmente pura tem carter eminentemente autoritrio e dominador.c) evidente que a expresso carisma empregada aqui num sentido plenamente livre de juzos de valor. Para o socilogo, a clera manaca do homem-fera (berserker) nrdico, os milagres e as revelaes de qualquer profeta de esquina ou os dotes demaggicos de Cleonte [lder da faco oposicionista contra Pricles do partido democrtico em Atenas de 431 a 422 a.C] so carisma com o mesmo ttulo que as qualidades de um Napoleo, de um Jesus ou de um Pricles. Porque para ns o decisivo se foram considerados e se atuaram como tal, vale dizer, se encontraram ou no reconhecimento. O pressuposto indispensvel para isso fazer-se acreditar: o senhor carismtico tem de se fazer acreditar como senhor pela graa de Deus, por meio de milagres, xitos e prosperidade do squito e dos sditos. Se lhe falha o xito, seu domnio oscila. Esse conceito carismtico da graa divina teve conseqncias decisivas onde vigorou. O monarca chins via-se ameaado em sua posio to logo a seca, inundaes, perda de colheitas ou outras calamidades punham em tela de juzo se estava ou no sob a proteo do cu. Tinha de proceder auto-acusao pblica e de praticar penitncia e, se a calamidade persistia, ameaavam-no de queda do trono e ainda eventualmente de sacrifcio. O fazer-se acreditar por meio de milagres era exigido de todo profeta (como ainda fizeram com Lutero os fanticos de Zwickau).A subsistncia da grande maioria das relaes de domnio de carter fundamental legal repousa, na medida em que contribui para sua estabilidade a crena na legitimidade, sobre bases mistas: o hbito tradicional e o prestgio (carisma) figuram ao lado da crena igualmente inveterada, no final das contas- na importncia da legitimidade formal. A comoo de uma dessas bases por exigncias postas aos sditos de forma contrria ditada pela tradio, por uma adversidade aniquiladora do prestgio ou por violao da correo da forma legal usual abala igualmente a crena na legitimidade. Contudo, para a subsistncia continuada da submisso efetiva dos dominados, de suma importncia em todas as relaes de domnio o fato primordial da existncia do quadro administrativo e de sua atuao ininterrupta no sentido da execuo das ordenaes e de assegurar (direta ou indiretamente) a submisso a elas. A segurana dessa ao realizadora do domnio o que se designa pela expresso organizao. E para a lealdade do quadro administrativo perante o senhor, to importante segundo o que se acaba de ver, por sua vez decisiva a solidariedade tanto ideal quanto material- de interesses com relao a ele. No que diz respeito s relaes do senhor com o quadro administrativo, de aplicao geral a frase segundo a qual normalmente o senhor, em virtude do isolamento dos membros desse quadro e da solidariedade de cada um deles para com ele mesmo, o mais forte diante de cada indivduo renitente, porm em todo caso o mais fraco se estes como tem ocorrido ocasionalmente, tanto no passado quanto no presente se associam entre si. Requer-se todavia um acordo cuidadosamente planejado entre os membros do quadro administrativo para bloquear, por meio da obstruo ou da reao deliberada, a influncia do senhor sobre a sua ao associada e, por essa via, paralisar o seu domnio. E isso requer, da mesma forma, a criao de um quadro administrativo prprio.d)A dominao carismtica uma relao social especificamente extracotidiana e puramente pessoal. E, caso de subsistncia continuada, o mais tardar com o desaparecimento do portador do carisma a relao de domnio- no ltimo caso citado quando no se extingue de imediato mas subsiste de alguma forma, passando a autoridade do senhor a seus sucessores - tende a tornar-se rotineira, cotidiana. Isso pode ocorrer:1)Por converso das ordenaes carismticas para o tipo tradicional. No lugar da reiterada recriao carismtica na jurisprudncia e na ordem administrativa pelo portador do carisma, ou pelo quadro administrativo carismaticamente qualificado, introduz-se a autoridade dos prejuzos e dos precedentes, que as protegem ou lhes so atribudos;2)pela passagem do quadro administrativo carismtico, isto , do apostolado ou do squito, a um quadro legal ou estamental mediante assuno de direitos de dominao interna ou apropriados por privilgio (feudos, prebendas);3)por transformao do sentido do prprio carisma. determinante para isso o tipo de soluo da questo palpitante, tanto por motivos ideais como materiais (sobremaneira freqentes) do problema da sucesso.A sucesso pode processar-se de diversas maneiras. A mera espera passiva do aparecimento de um novo senhor carismaticamente creditado ou qualificado costuma ser substituda sobretudo quando se prolonga e interesses poderosos de qualquer natureza acham-se ligados subsistncia da associao dominante pela atuao direta tendo em vista a sua obteno:a)Pela busca de indcios de qualificao carismtica. Um tipo bastante puro o da busca do novo Dalai Lama [no Tibete]. O carter estritamente pessoal e extraordinrio do carisma converte-se assim num atributo suscetvel de verificao conforme regras;b)Por meio do orculo, da sorte ou de outras tcnicas de designao. A crena na pessoa do qualificado converte-se assim em crena na tcnica correspondente;c)Por designao do qualificado carismaticamente, que por sua vez pode ocorrer de vrios modos:1)Pelo prprio portador do sistema. a designao do sucessor, forma muito freqente, tanto entre os profetas como entre os prncipes guerreiros. A crena na legitimidade prpria do carisma converte-se assim na crena da aquisio legtima do domnio em virtude de designao jurdica ou divina;2)por um apostolado ou um squito carismaticamente qualificado, ao qual se soma o reconhecimento pela comunidade religiosa ou militar, conforme o caso. A concepo deste procedimento como direito de eleio ou de pr-eleio secundria. Este conceito moderno deve ser inteiramente descartado. Com efeito, de acordo com a idia originria no se trata de uma votao referente a candidatos elegveis entre os quais se d uma eleio livre, mas da comprovao e do reconhecimento do senhor certo, daquele qualificado carismaticamente e chamado a assumir a sucesso. Uma eleio errnea constitua, por conseguinte, uma injustia a ser expiada. O postulado propriamente dito era: tinha que ser possvel conseguir unanimidade, j que o contrrio comportava erro e debilidade. Em todo caso, a crena j no era diretamente na pessoa como tal, mas no senhor correta e validamente designado (e eventualmente entronizado) ou instaurado de alguma forma no poder, como um objeto de posse;3)por carisma hereditrio, na idia de que a qualificao carismtica est no sangue. O pensamento, bvio em si, o primeiro de um direito de sucesso no domnio. Este pensamento somente se imps no Ocidente na Idade Mdia. Freqentemente o carisma est ligado famlia, e o novo portador efetivo tem de primeiro ser determinado especialmente, segundo uma das regras e mtodos mencionados sob os nmeros 1 a 3. Onde quer que existam regras fixas com relao pessoa, estas no so uniformes. Somente no Ocidente medieval e no Japo foi imposto sem exceo e de modo unvoco o direito hereditrio de primogenitura, com considervel reforo da dominao correspondente, j que todas as demais formas suscitavam conflitos. A crena no ento diretamente na pessoa como tal, mas no herdeiro legtimo da dinastia. O carter puramente atual e extracotidiano do carisma transforma-se numa via acentuadamente tradicional e tambm o conceito de graa divina modifica-se completamente em seu sentido (ou seja, senhor por pleno direito prprio e no em virtude de carisma pessoal reconhecido pelos sditos). A pretenso do domnio neste caso inteiramente independente das qualidades pessoais;4)por objetivao ritual do carisma, ou seja, na crena de que se trata de uma qualidade mgica transfervel ou suscetvel de ser produzida mediante uma determinada espcie de hierurgia [ao sacerdotal]: uno, imposio de mos ou outros atos sacramentais. Ento a crena j no est ligada pessoa portadora do carisma de cujas qualidades a pretenso de domnio antes absolutamente independente, como aparece de forma especialmente clara no princpio catlico do carter indelvel do sacerdote mas eficcia do ato sacramental em questo;5)O princpio carismtico de legitimidade, interpretado conforme seu significado primrio em sentido autoritrio, pode ser reinterpretado de forma anti-autoritria. A validade efetiva da dominao carismtica baseia-se no reconhecimento da pessoa concreta como carismaticamente qualificada e acreditada por parte dos sditos. Conforme a concepo genuna do carisma, este reconhecimento devido ao pretendente legtimo, enquanto qualificado. Esta relao, todavia, pode facilmente ser interpretada, por desvio, no sentido de que o reconhecimento, livre por parte dos sditos, seja por sua vez a suposio da legitimidade e seu fundamento (legitimidade democrtica). Nestas condies, o reconhecimento converte-se em eleio, e o senhor, legitimado em virtude do prprio carisma, converte-se em detentor de poder por graa dos sditos e em virtude de mandato. Tanto a designao pelo squito como a aclamao pela comunidade (militar ou religiosa), como o plebiscito adotaram freqentemente na Histria o carter de uma eleio efetuada por votao, convertendo deste modo o senhor, escolhido em virtude de suas pretenses carismticas, num funcionrio eleito pelos sditos conforme sua vontade livre.E de forma anloga converte-se facilmente o princpio carismtico, segundo o qual uma ordem jurdica carismtica deve ser anunciada comunidade (de defesa ou religiosa) e ser reconhecida por esta, de modo que a possibilidade de que concorram ordens diversas e opostas possa ser decidida por meios carismticos e, em ltima instncia, pela adeso da comunidade ordenao correta, na representao legal- segundo a qual os sditos decidem livremente mediante manifestao da sua vontade sobre o direito que prevalecer, sendo o cmputo das vozes o meio legtimo para isso (princpio majoritrio).A diferena entre um lder eleito e um funcionrio eleito j no passa, nessas condies, do sentido que o prprio eleito d sua atitude e conforme suas qualidades pessoais- tenha condies para imprimir ao quadro administrativo e aos sditos. O funcionrio comportar-se- em tudo como mandatrio do seu senhor aqui, pois, dos eleitores- e o lder, diversamente, agir como responsvel exclusivamente perante si prprio. Ou seja, enquanto aspire com xito confiana daqueles, agir estritamente segundo seu prprio arbtrio (democracia de caudilho) e no como funcionrio, consoante a vontade, expressa ou suposta (num mandato imperativo) dos eleitores.