nazi-fascismo_uma dominação burguesa

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    MNEMOSINE REVISTA. Programa de Ps-graduao em Histria/UFCG

    Vol. 5 n 1 Jan/Jun 2014.

    Campina Grande: PPGH, 2014.

    Semestral.

    ISSN: 2237-3217.

    Universidade Federal de Campina Grande. Programa de Ps-graduao em Histria.

    Programa de Ps-graduao em Histria

    Endereo: Rua Aprgio Veloso, n 882 Bodocong

    Campina Grande Paraba

    BRASIL CEP:58.429-140

    Telefone: 2101-1742

    E-mail: [email protected]

    Site:http://www.ufcg.edu.br/~historia/ppgh/

    Equipe de Realizao:

    Edio de Texto: Alisson Pereira Silva

    Arte: Lays Anorina Barbosa de Carvalho

    http://www.ufcg.edu.br/~historia/ppgh/http://www.ufcg.edu.br/~historia/ppgh/
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    MNEMOSINE REVISTANmero 1 - Volume 5 Jan/Jun 2014

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDEReitor: Prof. Dr. Jos Edilson de Amorim

    DEPARTMENTO DE HISTRIACoordenadora Administrativa: Prof. Dr. Marinalva Vilar de Lima

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM HISTRIACoordenador: Prof. Dr. Iranilson Buriti de Oliveira

    COMIT EDITORIALProf. Dr. Joo Marcos Leito Santos - Editor

    Prof. Michelly Pereira de Sousa Cordo

    CONSELHO EDITORIAL

    Alarcon Agra do (UFCG)Antnio Clarindo Barbosa de Souza (UFCG)

    Elizabeth Christina de Andrade Lima (UFCG)Gervcio Batista Aranha (UFCG)Iranilson Buritide Oliveria (UFCG)

    Joo Marcos Leito Santos - Editor Chefe (UFCG)Juciene Ricarte Apolinrio (UFCG)

    Keila Queirs (UFCG)Luciano Mendona de Lima (UFCG)Maria Lucinete Fortunato (UFCG)

    Marilda Aparecida de Menezes (UFCG)

    Marinalva Vilar de Lima (UFCG)Osmar Luiz da Silva Filho (UFCG)

    Regina Coelli (UFCG)Roberval da Silva Santiago (UFCG)

    Rodrigo Ceballos (UFCG)Rosilene Dias Montenegro (UFCG)

    Severino Cabral Filho (UFCG)

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    Sumrio

    ApresentaoAndr Figueiredo Rodrigues______________________________________________ 05

    DOSSI AFRICANIDADES

    OS ESCRAVOS NAS PROPRIEDADES DOS INCONFIDENTES DACOMARCA DO RIO DAS MORTES (MINAS GERAIS, 1789-1791)Andr Figueiredo Rodrigues _____________________________________________ 08

    COMPORTAMIENTOS SOCIO-DEMOGRFICOS DEESCLAVOS EN UNA HACIENDA RURAL JESUTICO-FRANCISCANAEN CRDOBA, ARGENTINA (1752-1799)Dora Celton / Mnica Ghirardi / Federico Sartori______________________________ 20

    CULTURA, RELAES DE PODER E FESTAS DEVOCIONAISNAS IRMANDADES RELIGIOSAS EM MINAS GERAIS NA POCA DA COLNIAAlisson Eugnio _______________________________________________________ 34

    IMAGENS AMBGUAS: A ESCRAVIDO E O CIVILIZATRIONO BRASIL IMPERIALMarcelo Eduardo Leite __________________________________________________ 48

    APRENDIZADO DA LIBERDADE: ESTRATGIAS DE MULHERESESCRAVIZADAS NA LUTA PELA EMANCIPAOLucia Helena Oliveira Silva ____________ __________________________________ 66

    ENTRE POESIAS E CRNICAS: FALAS SOBRE ESCRAVIDOE ABOLIO NO MARANHO NA SEGUNDA METADE DO SCULO XIXRgia Agostinho da Silva _______________________________________________ 83

    IMAGENS DA ESCRAVIDO, TORTURAS E RESISTNCIAS NO CONTOPAI CONTRA ME DE MACHADO DE ASSIS

    Ariosvalber de Souza Oliveira ____________________________________________ 100

    JOAQUIM NABUCO, A POLTICA ESCRAVISTA E O ABOLICIONISMOMilton Carlos Costa____________________________________________________ 113

    A ABOLIO NAS AMRICAS E A SUPRESSO DOCAPITAL ESCRAVISTA-MERCANTILIraci del Nero da Costa / Julio Manuel Pires__________________________________ 133

    GUIN EQUATORIAL NA HISTRIA DO ATLNTICO:O TERRITRIO BRASILEIRO E A MANUTENO ESCRAVISTA EM CUBA

    Pedro Acosta-Leyva____________________________________________________ 150

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    DOUARD GLISSANT: NOVELSTICA DE ESCLAVITUD Y ERRANCIAMargarita Aurora Vargas Canales _________________________________________ 163

    VIVNCIAS DE AFRO-BRASILEIROS NOS MUNDOSDO TRABALHO EM CAMPINA GRANDE-PB (1945-1964)Francisca Pereira Arajo ________________________________________________172

    ARTIGOS DE FLUXO

    A TRANSFORMAO NA PERCEPO DO HERIDA ANTIGUIDADE AO SCULO XVIII: UMA ANLISE CRTICAFrancisco Eduardo Alves de Almeida _______________________________________ 185

    UM BISPO AMIGO DOS JESUTAS: CONSIDERAES ACERCADO BISPADO DE DOM FREI MANUEL DA CRUZ EM MINAS GERAIS (1749-1763)Leandro Pena Cato ___________________________________________________ 205

    COMISSRIOS DO SANTO OFCIO NO BRASIL COLONIAL:CRONOLOGIA, GEOGRAFIA E DINMICAS DA FORMAODA REDE (SCULO XVIII)Aldair Carlos Rodrigues _________________________________________________ 224

    UMA ANLISE SOBRE OS CONCEITOS DE CULTURA,CULTURA-POPULAR, ETNOGRAFIA E FOLCLORENA OBRA CIVILIZAO E CULTURA DE LUS DA CMARA CASCUDOGiuseppe Roncalli Ponce Leon de Oliveira ___________________________________ 242

    NAZI-FASCISMO: UMA DOMINAO BURGUESAJorge Miklos _________________________________________________________ 255

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    NAZI-FASCISMO: UMADOMINAO BURGUESA

    Jorge Miklos1

    ResumoEste artigo tem por objetivo apresentar

    os principais fatores que promoveram a

    ascenso do nazi-fascismo no sculo XX,

    suas caractersticas, bem como procurar

    articular tais eventos com os

    desdobramentos do desenvolvimento do

    capitalismo. O nazi-fascismo muitas

    vezes interpretado pelo senso comumcomo apenas um inimigo das formas

    democrticas e liberais e que foi vencido

    pelo bloco aliado na Segunda Guerra em

    1945. O intuito demonstrar que o nazi-

    fascismo uma forma autoritria de

    dominao capitalista e foi resposta

    poltica para manter a dominao

    burguesa na Europa bem como uma

    reao ao crescimento e expanso do

    socialismo.

    Palavras-chaveCapitalismo; Dominao burguesa; Nazi-Fascismo.

    AbstractThis paper aims at presenting the main

    factors that promoted the rise of nazi-

    fascism in the twentieth century, its

    features, and strive to coordinate such

    events with the unfolding development of

    capitalism. The nazi-fascism is often

    interpreted by common sense as just an

    enemyof liberal and democratic forms,

    and which was won by the block ally in

    the War in 1945. The intention is that the

    nazi-fascism is an authoritarian form of

    capitalist domination and the political

    response was to maintain the domination

    of the bourgeoisie in Europe as well as a

    reaction to the growth and expansion of

    socialism.

    KeywordsCapitalism; Bourgeois domination; Nazi-

    Fascism.

    Introduo

    A histria do breve Sculo XX nopode ser entendida sem a RevoluoRussa e seus efeitos indiretos ediretos. No menos porque se reveloua salvadora do capitalismo liberal,tanto possibilitando ao Ocidenteganhar a Segunda Guerra Mundialcontra a Alemanha de Hitler quantofornecendo incentivo par o capitalismose reformar, e tambm paradoxalmente graas aparenteimunidade da Unio Sovitica Grande Depresso, o incentivo a

    abandonar a crena na ortodoxia dolivre mercado. (HOBSBAWM, 1995, p.84)

    O historiador britnico

    Christopher Hill, refletindo acerca do

    carter social do Estado Absolutista

    na Europa Moderna, considera que:

    A monarquia absoluta foi uma formade monarquia feudal diferente damonarquia dos Estados medievais quea precedera, mas a classe dominante

    permaneceu a mesma, tal como umarepblica, uma monarquiaconstitucional e uma ditadura fascistapodem ser todas formas dedominao burguesa. (HILL, 1987, p.87)

    O Estado uma das mais

    complexas instituies sociais criadas

    pelo homem ao longo da histria.

    Este artigo procura adotar uma

    perspectiva terico-epistemolgica

    marxista para quem o Estado umainstituio poltica inserida em um

    contexto social de lutas de classes e

    sua funo interferir nessa luta

    tomando o partido das classes sociais

    dominantes. Dessa forma a funo

    do Estado garantir o domnio da

    classe.

    Assim, a explicao das

    formas jurdicas, polticas, espirituais

    e de conscincia encontra-se na base

    econmica e material da sociedade,no modo como os homens esto

    1 Graduado em Histria

    pelo Centro

    Universitrio Assuno

    (UNIFAI). Graduado em

    Cincias Sociais pela

    Universidade Metodista

    de So Paulo (UMESP).

    Mestre em Cincias da

    Religio e Doutor em

    Comunicao e

    Semitica pela Pontifcia

    Universidade Catlica

    de So Paulo (PUC-SP).

    Ps-Doutorando emComunicao pela

    Universidade Federal do

    Rio de Janeiro (UFRJ).

    Bolsista Jnior do

    Conselho Nacional de

    Desenvolvimento

    Cientfico e Tecnolgico

    (CNPq). Professor de

    Histria nas Faculdades

    de Integradas de

    Cincias Humanas,

    Sade e Educao de

    Guarulhos. ProfessorTitular do Programa de

    Ps-Graduao em

    Comunicao da

    Universidade Paulista

    (UNIP). Email:

    [email protected]

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    organizados no processo produtivo.

    No caso das sociedades onde se d a

    apropriao privada dos meios para

    produzir, esta base relaciona-se

    diretamente forma adotada por

    suas instituies.

    Na relao imediata entre oproprietrio dos meios de produo eo produtor direto h que se buscar osegredo mais profundo, o cimentooculto de todo o edifcio social, e, porconseguinte da forma poltica que a

    relao de soberania e dependnciaadota; em uma palavra, a base daforma especfica que o Estado adotaem um perodo dado. Isto no impedeque a mesma base econmicaapresente, sob a influncia deinumerveis condies empricasdistintas, de condies naturais, derelaes sociais, influncias histricasexteriores, infinitas variaes ematizes, que s podero seresclarecidos por uma anlise dessascircunstncias empricas. (MARX,1985, p. 75-76)

    Nessa perspectiva, o Estado uma instituio detentora do poder

    poltico (monoplio da fora) cuja

    finalidade ltima garantir de

    maneira legal e jurdica o domnio da

    classe dominante. O aparato legal e

    jurdico apenas dissimula o essencial:

    que o poder poltico existe como

    poderio dos economicamente

    poderosos, para servir seus

    interesses e privilgios e garantir-

    lhes a dominao social.

    A partir desse pressuposto

    terico perguntamos: Sendo o Estado

    um aparelho jurdico que garante a

    dominao social de um grupo. Qual

    a base social do Estado nazi-fascista?

    Para examinarmos essa

    questo preciso considerar que o

    nazi-fascismo resultado de um

    conjunto de mutaes que se

    processaram no incio do sculo XXquando por fora da nova realidade

    econmica do capitalismo

    imperialista em crise foi preciso

    alterar o modelo poltico como

    estratgia de garantir a hegemonia

    burguesa no ocidente.

    O chamado perodo entre

    guerras (1919-1939) foi marcado por

    dois processos interligados: a crise

    econmica do mundo capitalista, cujo

    auge se verifica no ano de 1929, e a

    ascenso do nazi-fascismo como

    resposta tanto a essa crise quanto aofortalecimento do movimento

    socialista europeu.

    A crise de 1929 foi uma

    herana legada pela Primeira Grande

    Guerra (1914-1918), devido

    devastao provocada pelo conflito, e

    representou o primeiro

    questionamento de peso

    capacidade ilimitada de reproduo

    do modo de produo capitalista. O

    centro da crise foram os EstadosUnidos, mas, pela dependncia

    econmica de outros pases em

    relao aos americanos, a crise

    acabou se alastrando por imensas

    regies do planeta.

    Os resultados mais

    expressivos dessa crise foram

    expanso do iderio socialista (num

    momento em que se consolidava o

    comunismo sovitico) e a

    consequente expanso do nazi-

    fascismo, enquanto resposta tanto

    incapacidade do liberalismo em dar

    solues eficientes aos problemas

    gerados pela crise, quanto pela

    expanso do socialismo dela

    decorrente. Alm disso, promove um

    revigoramento do intervencionismo

    estatal na economia.

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    O Nazi-facismo

    Denomina-se por nazi-

    fascismo o modelo de dominao

    poltica e os regimes totalitrios que

    a seguiram, marcada por seu carter

    nacionalista, antidemocrtico,

    antioperrio, antiliberal e

    antissocialista. O nazi-fascismo

    emergiu com resultado poltico da

    Primeira Guerra Mundial e expandiu-

    se pela Europa como reao ao

    avano do movimento operrio-socialista, amparado pela instaurao

    do comunismo na Unio Sovitica.

    Alm disso, apresentava-se como

    alternativa ao liberalismo poltico e

    econmico, tpico do sculo XIX, num

    perodo em que o liberalismo j no

    conseguia dar mostras de eficincia,

    como revelou a crise de 1929. Nesse

    sentido, propunha o autoritarismo

    poltico e o intervencionismo

    econmico.Dentre as principais

    caractersticas dessa ideologia,

    podemos mencionar as seguintes,

    lembrando, porm, que algumas

    delas emergem com maior

    intensidade em determinados pases

    e em outros, s vezes, pouco se

    manifestaram:

    Totalitarismo:

    subordinao dos interesses

    individuais aos do Estado;

    Nacionalismo: tudo pela

    nao, cuja grandeza deve

    ser buscada pela totalidade

    da sociedade;

    Militarismo: a guerra

    permite um aprimoramento

    individual e nacional;

    Expansionismo: expanso

    territorial uma necessidade sobrevivncia da nao; no

    caso nazista defendia-se a

    ideia do espao vital;

    Corporativismo: o Estado

    totalitrio aparece como

    rbitro de todos os conflitos

    no interior da sociedade;

    Anticomunismo: defesa do

    combate ao comunismo

    tanto dentro do pas

    (perseguies) quanto no

    mbito internacional

    (aniquilao da UnioSovitica);

    Racismo: crena na

    superioridade racial dos

    brancos sobre os no

    brancos (arianismo); este

    aspecto foi particularmente

    importante no caso nazista.

    A crise de 1929 afetou

    profundamente a vida econmica de

    algumas naes europeias, gerandodesemprego e misria. Muitos

    trabalhadores, inspirados pelo

    exemplo sovitico, aderem ao

    socialismo, ameaando a ordem

    burguesa. Simultaneamente, o

    pensamento liberal no oferece

    solues para os problemas

    econmicos que o mundo ocidental

    deve enfrentar. O nazi-fascismo,

    portanto, surge num contexto de

    crise do liberalismo e de ameaa de

    avano comunista. Os pases em que

    mais se desenvolve so Itlia e

    Alemanha, coincidentemente os mais

    duramente atingidos pela crise de

    1929.

    O Fascismo italiano

    A palavra fascismo deriva de

    fasces lictoris (latim) ou de fasciolittorio (italiano). Trata-se de uma

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    espcie de cilindro, composto de umfeixe de varas ligadas volta de ummachado. Simboliza a fora da unioem torno do chefe. Era usado naRoma Antiga, associado ao poder e autoridade, em cerimnias oficiais -jurdicas, militares e outras. Nadcada de 1920, foi adotado comosmbolo do Fascismo, em Itlia. Nose deve confundir com facho, que

    se usa como equivalente de chama

    em facho olmpico, por exemplo, eque um dos smbolos dasOlimpadas.

    A economia italiana, frgil na vsperado conflito [Primeira Guerra], sofreuperdas considerveis, mormente noNordeste: estradas, ferrovias,fbricas, edifcios diversos destrudos;as matrias-primas e os capitais, emconjunto, fizeram muita falta, comofez falta a mo-de-obra, em virtudeda mobilizao dos homens tanto nosetor industrial quanto no setor

    agrcola, onde se empregarammulheres, crianas, prisioneiros. Naagricultura a produo diminuiusensivelmente (por falta de adubos emquinas agrcolas) ao mesmo tempoque os preos se estagnavam,bloqueados por uma medidagovernamental, para evitar a elevaodo custo de vida, geradora deagitao social. No plano financeiro, obalano desastroso: balanacomercial em dficit, evaso dedivisas em razo das importaesindispensveis e, para cobrir o esforode guerra, majorao dos impostos,

    endividamento pblico atravs deemprstimos sucessivos e inflao,que provoca a depreciao da lira evigorosa elevao dos preos. (...) no seio das classes laboriosas que aagitao aparece primeiro. Ostrabalhadores da indstria e daagricultura conhecem a parteessencial que lhes cabe na vitria daqual pensam poder tirar algumproveito imediato; ora, o seu nvel devida est deteriorado (alta dos preosmais rpida que a dos salrios) e odesemprego uma consequncia dacrise econmica; nos campos, no secumprem as promessas feitas depoisde Caporetto relativas s soluesque devero ser dadas aos problemas

    da distribuio das terras; finalmente,

    a revoluo russa de 1917 aparececomo um modelo interessante emmais de um sentido. Desde aprimavera de 1919, a agitao sedesenvolve: onda de greves contra avida cara, amide seguidas de motinsnas cidades e atividades maispolitizadas. (NR, 1981, p. 410-412)

    O texto acima revela asituao na Itlia aps o trmino daPrimeira Guerra Mundial: acentuada

    crise econmica, acompanhada deagitao social. Nesse contexto, emque a ordem liberal-burguesa pareceameaada, nasceu o Partido Fascista,fundado por Benito Mussolini. Em seuinterior, organizaram-se asesquadras - tambm conhecidascomo camisas negras - milciaarmada que espalhava o terror entreos adversrios do fascismo:perseguiam comunistas, sindicalistasde esquerda, adeptos em geral dosocialismo, praticavam atentadoscontra jornais de esquerda esindicatos, dispersavam, comviolncia, comcios e manifestaes.

    Em 1921, favorecidos pelacrise instaurada na Itlia ps-guerrae apoiados pela burguesia que temiao avano socialista no pas, osfascistas obtiveram expressiva vitria

    eleitoral para o Parlamento,conquistando a maioria das cadeiras.Tal vitria, associada ao terrorismopraticado pelas esquadras, contribuiupara fortalecer o partido.

    Em um discurso, pronunciadoem outubro de 1922, o lder doPartido Fascista, Benito Mussolini,assim criticava o regimedemocrtico:

    O fascismo italiano representa umareao contra os democratas que

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    tornaram tudo medocre e uniforme e

    tentaram sufocar e tornar transitriaa autoridade do Estado. (...) Ademocracia tirou a elegncia da vidadas pessoas, mas o fascismo a traz devolta, isto , traz de volta cor, afora, o pitoresco, o inesperado, omisticismo, enfim, tudo o que falta salmas da multido. (REMOND, 1995,p. 47)

    Nesse mesmo ano, amparado

    pelo crescimento e fortalecimento do

    partido, Mussolini promoveu,

    juntamente com as esquadras, aMarcha sobre Roma, tomando de

    assalto o poder. O rei Vtor Emanuel

    III no reagiu contra o golpe fascista,

    acreditando que, Mussolini e seus

    adeptos neutralizariam os socialistas

    e, a seguir, seriam derrotados pelos

    liberais dos quais o rei era

    representante. Nesse contexto,

    Mussolini tornou-se o primeiro-

    ministro italiano e passou a adotar

    uma srie de medidas autoritriasque escapavam do controle da

    monarquia.

    J em 1923, o primeiro-

    ministro determinou a alterao da

    legislao eleitoral: a partir de ento,

    o partido que obtivesse 1/3 dos votos

    nas eleies parlamentares ocuparia

    2/3 das cadeiras da Assembleia, isto

    , assumiria o controle do

    Parlamento. Com isso, o partido

    fascista conquistou a hegemonia no

    legislativo, aprovando todas as

    medidas de exceo que se

    seguiram. Ao mesmo tempo, a ao

    terrorista das esquadras continuava,

    fortalecendo ainda mais o poder dos

    fascistas.

    No ano seguinte, o lder da

    oposio ao fascismo no Parlamento

    italiano, o socialista Matteotti, foi

    cruelmente assassinado, aps terdenunciado irregularidades no pleito

    que deu aos fascistas a maioria

    parlamentar. O primeiro-ministro

    nada fez para apurar em que

    circunstncias e quem foram os

    responsveis por sua morte.

    Finalmente, em 1926, o Duce

    (o guia, ttulo atribudo a Mussolini)

    decretou o unipartidarismo na Itlia,

    suprimindo todos os partidos polticos

    e rgos de imprensa oposicionistas.

    Institua-se, assim, o Estado

    totalitrio na Itlia. A oposiosempre foi reprimida atravs de

    perseguies, prises arbitrrias e

    at execues sumrias.

    Mussolini, em 1929, conseguiu

    o apoio do clero para a causa fascista

    ao assinar o Tratado de Latro, que

    criou o Estado do Vaticano,

    resolvendo assim a questo surgida

    na poca da unificao em que a

    autoridade administrativa do papa

    sobre a cidade de Roma ficousubordinada do rei.

    Nesse mesmo ano, a crise econmica

    atingiu violentamente os Estados

    Unidos e irradiou-se pelo mundo

    capitalista. A Itlia foi duramente

    atingida e o governo fascista passou

    a defender mais intensamente o ideal

    expansionista, alm de intensificar a

    produo blica do pas: os italianos

    invadiram a Abissnia e a Albnia,

    dominando seus territrios.

    O Nazismo alemo

    Ao final da Primeira Guerra, a

    Alemanha, que no perdera no

    campo de batalha, acabou sendo

    trada pelas potncias ocidentais

    com a imposio do Tratado de

    Versalhes. Alm da humilhao, uma

    violenta crise econmica atingiu aeconomia alem no incio dos anos

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    1920, crise essa que a Repblica de

    Weimar, recm-instituda, no

    conseguiu solucionar.

    A crise econmica gerou

    inflao (em 1923, o ndice foi de 32

    400% ao ms) e desemprego,

    acarretando misria e, sobretudo,

    descontentamento entre os

    trabalhadores alemes. Ao mesmo

    tempo em que estes desacreditavam

    do regime liberal, aproximavam-se

    dos pressupostos socialistas,amplamente difundidos na Europa

    ocidental depois da Revoluo Russa

    de 1917.

    Em resposta ao avano socialista e a

    ineficincia liberal, nasceu na

    Alemanha o Partido Nacional

    Socialista dos Trabalhadores Alemes

    ou Partido Nazista, de cuja fundao

    participou um ex-cabo do exrcito

    alemo que lutara na Primeira

    Guerra, Adolf Hitler. Em poucotempo, o novo partido conquistou

    milhares de adeptos, recrutados,

    sobretudo entre a burguesia,

    descontentes com a crise, mas

    temerosa com a o avano socialista,

    e tambm entre os setores populares

    que respondiam ao apelo

    nacionalista.

    No interior do Partido Nazista,

    a exemplo do que se verificou no

    Partido Fascista Italiano, surgiram

    milcias cuja atividade principal era

    reprimir com violncia as

    manifestaes de oposio ao

    nazismo. Essas milcias chamavam-

    se SA (Sees de Assalto) e seus

    integrantes eram conhecidos como

    camisas pardas.

    Programa do Partido NazistaMunique, 24 de fevereiro de 1920

    O programa do Partidooperrio alemo um programa para

    a nossa poca. Os seus lderes

    recusam-se, uma vez alcanados osobjetivos nele inscritos, a formularoutros unicamente com a finalidadede possibilitar que se prolongue aexistncia do partido excitandoartificialmente o descontentamentodas massas.1. Exigimos a reunio de todosos alemes numa grande Alemanha,fundamentados no direito dos povosde dispor de si mesmos.2. Exigimos a igualdade dedireitos entre o povo alemo e asdemais naes, e a abolio dostratados de paz de Versalhes e de

    Saint-Germain.3. Exigimos terras (colnias)para alimentar o nosso povo e nelasinstalar a nossa populao excedente.4. Somente os membros dopovo podem ser cidados do Estado.S pode ser membro do povo aqueleque possui sangue alemo, semconsiderao de credo. Nenhumjudeu, portanto, pode ser membro dopovo.5. Quem no cidado s podeviver na Alemanha como hspede edeve submeter-se legislao relativaa estrangeiros.6. O direito de decidir sobre ogoverno e a legislao do Estado spode pertencer ao cidado. Porconseguinte, exigimos que todafuno pblica, seja ela qual for, tantoao nvel do Reich como do Land ou dacomuna, s possa ser ocupada porquem cidado.Combatemos o sistema parlamentarcorruptor por atribuir postosunicamente em virtude de um pontode vista de partido, sem consideraodo mrito nem da aptido.

    (...)24. Exigimos liberdade dentro doEstado para todos os credos

    religiosos, na medida em que noponham em risco a sua existncia eno contrariem o esprito doscostumes e da moral da raagermnica. Quanto ao partido,defende a ideia de um cristianismopositivo, sem, no entanto, vincular-sea um credo determinado. Combate oesprito judeu-materialista em ns eem torno de ns, e est convencidode que um saneamento duradouro donosso povo s pode realizar-seinternamente com base no seguinteprincpio: o interesse coletivoprevalece sobre o interesse individual.

    25. Para a realizao de todasessas reivindicaes, exigimos que se

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    constitua no Reich um poder central

    forte; a autoridade absoluta doParlamento central sobre todo o Reiche os seus organismos. A constituiode cmaras de ofcios e profissespara que se apliquem nos diferentesEstados federais leis de cunho geraleditadas pelo Reich. (THIERRY;GAUCHON, 1984, p. 87-91)

    Em 1923, ocorreu o Putsch de

    Munique, tentativa fracassada de

    golpe por parte de membros do

    partido nazista. Seus principais

    lderes, inclusive Hitler, foram presos,enfraquecendo temporariamente o

    ideal totalitrio na Alemanha. Na

    priso, Hitler escreveu um livro

    chamado Mein Kampf, onde

    desenvolve os principais elementos

    da ideologia nazista - arianismo,

    anticomunismo, antiliberalismo,

    antissemitismo, militarismo

    expansionista com vistas conquista

    do espao vital.

    A partir de 1929, com o

    agravamento da crise econmica na

    Europa e, sobretudo, na Alemanha, o

    desemprego e a inflao atingiram

    nveis insuportveis e a

    incompetncia da Repblica de

    Weimar em dar solues a ela

    manifestou-se com grande

    intensidade. Nesse contexto, o

    Partido Nazista e suas ideias

    ganharam fora, at porque a aodas SA tornava-se mais determinada

    e contnua. A adeso ao nazismo,

    que contava com eficiente

    propaganda, foi enorme na Alemanha

    e a oposio foi violentamente

    reprimida.

    Nas eleies parlamentares de

    1932, o Partido Nazista obteve

    expressiva vitria e Hitler foi

    nomeado primeiro-ministro pelo

    presidente Hindenburg. No anoseguinte, visando controlar de

    maneira absoluta o aparelho de

    Estado alemo e por fim Repblica

    de Weimar, os nazistas forjaram um

    plano de tomada do poder,

    incendiando o prdio onde funcionava

    o Reichstag (Parlamento alemo) e

    acusando os comunistas do ato: o

    Parlamento permaneceu fechado, os

    partidos polticos foram suprimidos,

    enquanto seus principais membros

    foram presos, jornais e sindicatos de

    oposio tambm foram extintos e,at mesmo, membros dissidentes das

    SA foram eliminados.

    A represso aos opositores do

    nazismo - tanto comunistas quanto

    liberais-democratas - intensificou-se

    com a criao das SS (Sesses de

    Segurana, a polcia poltica do

    partido) e da Gestapo (polcia secreta

    do Estado).

    A morte do presidente

    Hindenburg, em maro de 1933, deua Hitler oportunidade de fortalecer

    seu poder: ao invs de convocar

    eleies presidenciais, o chanceler

    acumulou o cargo de presidente e

    primeiro-ministro, fundando o

    Terceiro Reich e adotando o ttulo de

    Fhrer (guia). Nascia assim o

    Estado totalitrio alemo que, nos

    anos seguintes, tendeu

    militarizao e ao expansionismo,

    desrespeitando, pouco a pouco, as

    determinaes do Tratado de

    Versalhes, numa clara atitude de

    agresso.

    Consideraes finais

    Para triunfar, o nazismo

    precisava combater seu principal

    concorrente ideolgico, o socialismo

    revolucionrio ou comunismo, com oqual teria de disputar a adeso

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    popular. Igualmente totalitrio, ocomunismo tambm se arvorava aconstruir uma sociedade perfeita, nos na Alemanha, mas no mundo.Entretanto, no lugar de uma raasuperior, colocava uma classe social -o proletariado - frente do processo.Por isso, o anticomunismo constituaum ponto central do pensamento deHitler.

    Muito embora o senso comum

    considere o nazi-fascismo como umafora antiliberal, percebe-se que elefoi antes de mais nada o caminhopoltico autoritrio e totalitrio deafirmao das formas burguesas dedominao. O nazi-fascismo era afora estratgia capaz de deter umapossvel expanso do socialismo naEuropa. Um argumento favorvel aessa tese aplica-se quando em 1938,em nome do arianismo defendido

    pelos nazistas, a Alemanha anexou austria (Anchluss) e os Sudetos,regio ocidental da ex-Tchecoslovquia, habitada pormaioria alem. A autorizao paraessa agresso foi concedida pelaspotncias ocidentais (Inglaterra eFrana) depois da Conferncia deMunique. Tais potncias, no entanto,exigiram que a Alemanha deixasseindependente o restante do territrioTcheco. Em 1939, desrespeitando taldeterminao, Hitler desmembrou aTchecoslovquia e dividiu seuterritrio entre a Polnia, a Hungria ea prpria Alemanha que assumiu ocontrole sobre a Bomia e a Morvia.

    Essa poltica foi batizada de Polticade Apaziguamento.

    Impressionados com oelevado custo em vidas humanas daPrimeira Guerra Mundial, grupospolticos europeus convenceram-sede que a paz com a Alemanhadeveria ser mantida a qualquercusto, mesmo que tivessem queignorar as constantes violaes deHitler a diversos tratados

    internacionais.Porm, a Poltica doApaziguamento tambm era umamaneira de fortalecer a Alemanha ecoloc-la em confronto com a URSS.

    Ficou clebre a frase de umpoltico pernambucano HolandaCavalcanti que teria afirmado: Nadamais se assemelha a um saquarema(conservador) do que um luzia(liberal) no poder.Essa frase revela

    a grande identidade entre Liberais eConservadores que juntos dominaroa cena poltica brasileira exercendo odomnio completo sobre asprovncias, restringindo e controlandoo nmero de eleitores no BrasilImprio. Parafraseando Cavalcanti,podemos dizer que nada maisparecido com um fascista do que umliberal no poder. O Capital no temptria, no tem tica, no temmodelo poltico. Uma democracia ouum fascismo servem para manter osinteresses do mercado superando ascrises arquitetadas pelo seuimperialismo.

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    Referncias:

    ECO, Umberto. O fascismo eterno. Disponvel em:

    . Acesso em: 5 abr. 2012.

    HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabea. So Paulo: Companhia das Letras,

    1987.

    HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve sculo XX, 1914-1991. So Paulo:

    Companhia da Letras, 1995.

    MARX, K. O capital. So Paulo: Abril, 1985.

    NR, Jacques. Histria contempornea. 2. ed. So Paulo: Difel, 1981.

    REMOND, Ren. O sculo XX: de 1914 aos nossos dias. So Paulo: Cultrix, 1995.

    THIERRY, Buron; GAUCHON, Pascal. Os fascismos. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.