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Programa para a Orla Costeira Odeceixe-Vilamoura (POC-OV) Resposta à Consulta Pública Eu, ___________________________________________________________ , portador do BI_______________, NIF ________________, e residente em ___________________________________________________________ ____, venho por este meio apresentar a minha resposta à consulta pública referente ao Programa acima referido. No que diz respeito ao Plano de Praia do Monte Clérigo , considero-o incoerente, obscuro e reprovável, exigindo que o mesmo seja revisto de forma a salvaguardar o valor intrínseco e identitário da Praia do Monte Clérigo, tomando em consideração a opinião dos vários actores locais, e preservando os valores naturais, patrimoniais e históricos do aglomerado urbano existente. 1. Demolições Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública

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Programa para a Orla Costeira Odeceixe-Vilamoura (POC-OV)

Resposta à Consulta Pública

Eu, ___________________________________________________________,

portador do BI_______________, NIF ________________, e residente em

_______________________________________________________________,

venho por este meio apresentar a minha resposta à consulta pública referente

ao Programa acima referido.

No que diz respeito ao Plano de Praia do Monte Clérigo, considero-o

incoerente, obscuro e reprovável, exigindo que o mesmo seja revisto de forma

a salvaguardar o valor intrínseco e identitário da Praia do Monte Clérigo,

tomando em consideração a opinião dos vários actores locais, e preservando

os valores naturais, patrimoniais e históricos do aglomerado urbano existente.

1. Demolições

O Plano de Praia do Monte Clérigo prevê a demolição de 38 estruturas, das quais 35 habitações, 1 garagem, 1 estabelecimento comercial

encerrado, (Restaurante “O Sargo”), e 1 WC público, distribuídas no Plano

de Praia da seguinte forma:

4 habitações encontram-se total ou maioritariamente em zona

considerada “Faixa de Salvaguarda para Terra - Nível I”;

4 habitações e 1 estabelecimento comercial encerrado (“O Sargo”)

encontram-se total ou maioritariamente em zona considerada “Faixa de

Salvaguarda para Terra - Nível II”;

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6 habitações e 1 WC público (este último funcional e recentemente

renovado) encontram-se total ou maioritariamente em zona considerada

”Faixa de Salvaguarda em Litoral Arenoso - Nível I“;

1 habitação encontra-se única e parcialmente em zona considerada

”Faixa de Salvaguarda em Litoral Arenoso - Nível I“;

10 habitações e 1 garagem encontram-se total ou maioritariamente em

zona considerada ”Faixa de Salvaguarda em Litoral Arenoso - Nível II“;

2 habitações encontram-se única e parcialmente em zona considerada

”Faixa de Salvaguarda em Litoral Arenoso - Nível II“;

8 habitações encontram-se totalmente fora de qualquer faixa de

salvaguarda teórica definida no Plano de Praia, e 5 destas fora da

jurisdição da A.N.A (Autoridade Nacional da Água) - incluída na APA. 

Venho por este meio manifestar e fundamentar a minha indignação e objecção

relativas às demolições em causa, e expor as várias incoerências registadas no

POC-OV no que diz respeito à definição das mesmas: 

1.1 Dentro do próprio Plano de Praia:

Existem habitações previstas para demolição que se encontram fora de qualquer faixa de salvaguarda traçada no âmbito do POC-OV,

pelo que não se entende o critério utilizado para prever a sua

demolição. 

Existem várias habitações em zona considerada como “Faixa de

Salvaguarda em Litoral Arenoso – Nível II” que não se encontram alvo

de demolição, pelo que não se compreende o critério seguido para demolição de outras habitações que se encontram abrangidas pela

mesma faixa.

Existe no Próprio Plano de Praia uma habitação localizada em área

considerada como “Faixa de Salvaguarda para Terra - Nível II” cuja

demolição não está prevista, não se compreende o critério seguido

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para demolição de outras habitações que se encontram abrangidas

pela mesma faixa.

1.2 Em comparação com outros Planos de Praia

1.2.1 No que diz respeito às Faixas de Salvaguarda em Terra

Em 49 das 93 Praias consideradas no POC-OV (cerca de 53%), existem

habitações e estabelecimentos comerciais dentro de zonas

consideradas “Faixa de Salvaguarda para Terra - Níveis I e II”.

No entanto, e excluindo as 8 habitações e 1 estabelecimento comercial

marcados na Praia do Monte Clérigo, na totalidade das restantes 48 praias com

estruturas na situação acima indicada, apenas se encontram previstas para

demolição:

2 estruturas devolutas (Praias de Vale Figueiras e Mareta);

O corpo Nascente do Edifício Montana (Praia Dona Ana);

1 Snack-Bar (Praia do Vau);

2 habitações (Praia da Galé Oeste).

Um total de 6 estruturas em 5 Praias.

Resumindo, seguindo ambas as “Faixas de Salvaguarda para Terra”, existem mais construções para demolir na Praia do Monte Clérigo do que em toda a costa entre Odeceixe e Vilamoura. Tal facto pode ser considerado

no mínimo como caricato.

Existem centenas de habitações particulares, alguns estabelecimentos

hoteleiros, e dezenas de estabelecimentos comerciais dentro destas faixas e

que são ignorados pelo POC-OV. Só no concelho de Albufeira, existem

certamente mais de um milhar de estruturas, estando previstas apenas a

demolição de 2 habitações. Por estas faixas são abrangidas ruas inteiras nas

Praias de Armação de Pera, Carvoeiro ou Pescadores em Albufeira, sem que

nada esteja previsto a nível de intervenção. A grande maioria destas casas são

luxuosas vivendas com piscina (sendo a possibilidade de rupturas e infiltrações

um dos factores que mais influência têm na precipitação da erosão costeira),

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em comparação com as humildes casas de habitação existentes na Praia do

Monte Clérigo.

Mais uma vez é de repudiar a falta de critério e a incoerência patentes.

1.2.2 Em relação às “Faixas de Salvaguarda em Litoral Arenoso”

Em 14 das 93 Praias consideradas no POC-OV (cerca de 15%), existem

habitações e estabelecimentos comerciais dentro de zonas consideradas

“Faixa de Salvaguarda em Litoral Arenoso - Níveis I e II”.

No entanto, e excluindo as 19 habitações, 1 garagem e 1 WC público marcados

na Praia do Monte Clérigo, na totalidade das restantes 13 praias com

estruturas na situação acima indicada, apenas se encontram previstas para

demolição:

1 Snack-Bar (Praia dos Pescadores em Armação de Pera)

1 Instalação da Cruz Vermelha Portuguesa (Praia dos Pescadores em

Armação de Pera).

Um total de 2 construções numa única Praia, ambas literalmente em cima da

areia da mesma. Resumindo, seguindo ambas as “Faixas de Salvaguarda para Litoral Arenoso”, existem 10 vezes mais construções para demolir na Praia do Monte Clérigo do que em toda a costa entre Odeceixe e Vilamoura. Caricato, novamente, ou mesmo obscuro.

Em Praias como Alvor, Torralta, Três Irmãos, Rocha, Marina de Portimão ou

Armação de Pera, ruas inteiras abrangendo algumas centenas de casas

encontram-se dentro destas “Faixas de Salvaguarda para Litoral Arenoso”, sem

que haja intervenções previstas.

Não se compreende assim o critério utilizado para justificar a potencial

demolição de habitações na Praia do Monte Clérigo devido a estas faixas de

salvaguarda.

De referir ainda que a parte Nascente da Praia dos Pescadores de Armação de

Pera, incluindo estes equipamentos a demolir, foi adquirida recentemente por

um grupo Alemão, também dono de um resort de 5 estrelas em Lagoa, em

plenas “Faixa de Salvaguarda para Terra – Níveis I e II” e “Faixa de risco

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associada ao Endocarso”. E também, claro está, ignorado e salvaguardado

pelo POC-OV.

1.3 Casos particulares

O caso do “Plano de Praia da Prainha” é interessante. Cerca de 20

habitações encontram-se em zonas consideradas “Faixa de Salvaguarda

para Terra - Níveis I e II”. No entanto a única estrutura a demolir

(Restaurante “Caniço”) encontra-se em “Faixas de Salvaguarda para o

Mar - Níveis I e II”. Aqui o critério parece ser o de considerar como “para

demolir” o que se encontra nestas últimas faixas de protecção, pois

estão mais perto da linha de água.

No entanto na Praia do Monte Clérigo não existem casas em “Faixas de Salvaguarda para o Mar”, encontrando-se todas mais recuadas. Mais uma

vez, o critério é incoerente e parece enviesado no que diz respeito ao Monte

Clérigo. Basta aliás consultar o Plano de Praia da vizinha Praia da Arrifana para

encontrar um conjunto de casas de génese idêntica às do Monte Clérigo, em

“Faixa de Salvaguarda para o Mar” e impunes a demolições.

O caso do “Plano de Praia do Pintadinho” é igualmente interessante.

Existem cerca de 10 habitações em “Faixa de Salvaguarda para Terra -

Níveis I e II”, e outras cerca de 10 em “Faixa de Salvaguarda associada

ao Endocarso”. No entanto a única estrutura “a demolir” é um edifício

inacabado e devoluto, nesta última faixa de salvaguarda. Aqui o critério

parece ser o de demolir o que se encontra devoluto nestas referidas

faixas.

Acontece que nenhuma das 35 habitações marcadas para demolição na Praia do Monte Clérigo se encontra devoluta. São casas de habitação onde

mora gente, inclusive gente que não tem outra habitação. Mais uma vez, não

se compreende o critério utilizado.

2. Exposição ao Mar

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Quanto ao perigo de exposição ao mar, nem a tempestade “Hércules“ de

Janeiro de 2014, a pior das últimas décadas, conseguiu chegar às casas do Monte Clérigo. A própria orografia da praia encaminha o mar ribeira dentro,

sendo que as mesmas ondas gigantes que arrancaram pela raiz casas, carros

e bares de praia um pouco por toda a costa ocidental, não chegaram a

nenhuma das casas ditas ”em risco“, ficando bem longe da maioria delas.

Tal não é de estranhar, pois como foi já referido, não existem casas no Monte Clérigo em “Faixas de Salvaguarda para o Mar”.

Nunca houve inundações no Monte Clérigo, ao contrário de alguns

núcleos urbanos conquistados a praias, castrando ribeiras, e que

escapam às cruzes do POC-OV.

Mas para saber isto é preciso estar no terreno, é preciso falar com as pessoas. Não se confirma por modelação informática, nem se prevê em

sistemas de informação geográfica.

3. Valores identitários e humanos

O núcleo urbano do Monte Clérigo existe há mais de 80 anos, com

as primeiras casas em pedra a terem sido edificadas nos anos 20.

Foram estas famílias que hoje vão na 4ª geração de Monte Clérigo que

lançaram as bases para o que é hoje a Praia do Monte Clérigo como a

conhecemos. Nos anos 30 e 40 construíram as suas casas, e

construíram também estradas, escadas, acessos, dando forma ao

núcleo urbano que hoje existe, tudo com devida autorização por parte do

proprietário dos terrenos.

São as casas destas famílias que o POC-OV pretende demolir. Não são estruturas devolutas ou inacabadas, apoios de praia clandestinos ou armazéns de pescadores. São simples casas de habitação, cuja

história se confunde com a evolução do próprio concelho de Aljezur no

último século. 

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A maioria destas habitações encontra-se em “Aglomerado Urbano” definido pelo PDM de Aljezur1 em vigor, com Matriz Predial Urbana,

registadas na Conservatória do Registo Predial e pagam Imposto

Municipal sobre Imóveis. Algumas delas são primeiras habitações de

gente que aqui vive todo o ano.

Entende-se assim o Plano de Praia do Monte Clérigo, o POC-OV e a sua falta

de coerência, como um ataque pessoal (porque é da vida das pessoas que

estamos a falar) a estes habitantes e aos seus antecessores. 

4. Valores naturais

Os trabalhos de demolição previstos no Plano de Praia do Monte

Clérigo, por si só iriam causar uma maior instabilidade de arribas e areias consolidadas, pela trepidação e movimento de maquinaria

pesada que implicam. Estas não são casas de madeira em areia plana.

São estruturas sólidas, muitas delas renovadas, encontrando-se

algumas em zonas de declive rochoso ou arenoso, sem acesso sem ser

pedonal.

Os trabalhos de demolição iriam inevitavelmente destruir vegetação autóctone em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. A vegetação autóctone neste tipo de habitats costeiros

modelados pelo vento, exposição solar e movimento dos solos, sofreu

adaptações ao nível das suas raízes. Estas são profundas para captar

água em profundidade, ou superficiais de forma a recolher de imediato a

água que chega ao solo e a condensação do vapor de água durante as

épocas de maior secura (Costa, 2011). Estas características da

vegetação local são um factor fundamental na estabilização das arribas

e dunas, pelo que a sua remoção irá precipitar desagregação destas áreas, acelerando os processos naturais de erosão costeira.

1 Resolução do Concelho de Ministros nº 142/95, de 21 de Novembro

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A área a intervencionar encontra-se parcialmente coberta por Chorão-

das-praias Carpobrotus edulis. Trata-se de uma espécie invasora

originária da América do Sul, cujo controlo é recomendável (como aliás

proposto pela Câmara Municipal de Aljezur), no entanto este deve ser

realizado com critério, pois trata-se de uma operação delicada e

complexa. A espécie tem uma elevada capacidade de fixar areias pelo

que contribui para a estabilização de comunidades dunares de forma não-natural (Di Tomaso et al. 2013). A sua remoção na área de intervenção pode mesmo revelar-se contra-producente, precipitando

a degradação das arribas e sistemas dunares.

5. A especulação imobiliária e o perigo do efeito percursor

Com a ocupação desregrada de grande extensão da costa Sul do Algarve, que

maioritariamente sucumbiu à especulação imobiliária (especulação essa

totalmente ignorada no âmbito do POC-OV), a Costa Vicentina afigura-se hoje

como um dos últimos bastiões de faixa costeira maioritariamente preservada no Sudoeste Europeu.

Tal é fruto da protecção legal conferida Pelo Parque Natural do Sudoeste

Alentejano e Costa Vicentina, e das características naturais que ditam que

durante os meses de Verão se registem: ventos dominantes moderados do

quadrante Norte/Noroeste; fenómenos de afloramento costeiro que cobrem as

praias de bruma; alguma agitação do estado do mar; temperaturas

relativamente baixas quer da água quer do ar; e humidade relativa elevada. 

Nos últimos anos, o Turismo de Natureza tem-se afirmado na região como

uma alternativa ao “Sol e Praia”, e uma arma forte e com provas dadas no

combate à sazonalidade. Tal deve-se à aceitação das condicionantes acima

mencionadas, e no empenho e visão dos actores locais, como a Câmara

Municipal de Aljezur e alguns empreendedores no âmbito da Animação

Turística e Turismo Rural. Surgiram igualmente projectos de elevada exposição

internacional, como a Rota Vicentina. Tudo isto levou à afirmação de nichos de

mercado como o surf, caminhadas, cicloturismo e observação de fauna e flora.

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A Costa Vicentina, e Aljezur em particular, deve aproveitas as sinergias criadas neste sentido, com o intuito de se diferenciar e afirmar numa área sensível e com uma elevadíssima margem de

progressão. Esta é a vontade da população e actores locais.

A intervenção prevista na Praia do Monte Clérigo, além de desgarrada e

desprovida de sentido práctico directo, é altamente perigosa na

perspetiva de abrir um precedente gravíssimo e no que este pode

desencadear.

É facilmente inferível que demolindo as casas mais perto do mar, a faixa

costeira de frente marítima (a mais apetecível ao nível imobiliário),

ficando livre de construções, fica também mais próxima de se encontrar

sujeita a interesses imobiliários que em nada se identificam com os

valores da zona.

Na memória de todos está uma publicação no sítio da internet da imobiliária

MediPred, anunciando a venda de um terreno por 10 milhões de €. Tal terreno

engloba todo o núcleo urbano da Praia do Monte Clérigo, com 311 ha, 3 km de

frente de mar, com projecto para três hotéis, cerca de 200 moradias, 200

apartamentos, heliporto e golfe com 18 buracos. Tal ocorrência potenciou

inclusive um pedido de esclarecimentos junto da Assembleia da República, e

uma tomada de posição clara por parte do Presidente da Câmara de Aljezur,

que garantiu que com o seu executivo, nunca tal acontecerá.

No entanto, e tendo em consta episódios passados noutros locais da

costa Portuguesa (e mesmo recentemente na vizinha urbanização do

Espartal com a edificação e posterior abandono de edifícios de

características inenarráveis), e as brutais discrepâncias entre o Plano

de Praia do Monte Clérigo e os 92 restantes, teme-se que esta

decisão possa vir a ser aproveitada no futuro por projectos imobiliários

que apenas beneficiam os envolvidos na sua implementação.

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A verdade é que o anúncio continua disponível online2, o que por si só

é no mínimo suspeito, perturbador, difícil de interpretar e impossível de

ignorar. O referido anúncio foi mesmo actualizado no sítio do BPI

Expresso Imobiliário a 20.06.20163.

6 . Valor cénico, ecológico e intrínseco

O Monte Clérigo é bem mais que uma praia para ir no Verão.

O núcleo urbano potencialmente delapidado de forma irremediável pelo

POC-OV é um dos postais de Algarve e um dos estandartes de Aljezur e da Costa Vicentina.

Está rodeado de vegetação autóctone protegida no âmbito da Rede

Natura 2000

As suas falésias e zona intertidal albergam espécies-bandeira da Costa

Vicentina.

Estudos científicos apontam-na como um local estratégico e privilegiado para a educação ambiental.

É considerado um dos ex-líbris da Turismo de Natureza na região.

É para muitos um local de reflexão e introspecção, um local de encontro.

Resumindo, é um laboratório vivo das gentes, fauna e flora desta costa.

Em relação à área do Monte Clérigo, Castro (1996) defende que é uma

área “em termos gerais muito produtiva ao nível dos recursos vivos”, o

que conjugado com a sua acessibilidade poderia resultar numa “área

para a educação ambiental e divulgação científica, possibilitando acções

de sensibilização” assim como uma área privilegiada para “desenvolver

o Turismo de Natureza” e o “desenvolvimento de estudos científicos”.

2 http://medipred.pt/imovel/terreno-venda-aljezur/3 http://bpiexpressoimobiliario.pt/Terreno/Aljezur/Aljezur/a7263249

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Esta visão é integralmente partilhada pela maioria dos Aljezurenses, os

mesmos que temem que a intervenção na Praia do Monte Clérigo seja o

princípio de fim da mesma. 

Estas demolições iriam descaracterizar irremediavelmente a praia. Seriam

mais um passo para uma Costa Vicentina sem aquilo que a torna especial, sem

aquilo pelo qual as pessoas se apaixonam, aproximando-a de uma realidade

cada vez mais uniformizada, em nome da ordem, segurança e de um

urbanismo gelado, sob a sombra d uma hipotética especulação imobiliária.

Porque nem tudo nesta vida pode ser medida a régua e esquadro.

Quem vem para a Costa Vicentina, fá-lo porque não quer “o outro Algarve”.

Procura aqui um refúgio temporário, vem em busca de algo único, que muitas

vezes não se explica mas se sente, mesmo sem se saber. Se a Costa Vicentina deixar de ser única, quem lá vai, passará a ir para outro lado (se

ainda existirem lugares únicos), e ter-se-á perdido mais uma oportunidade de fazer diferente.

7. Desertificação e mais-valias

Num concelho com problemas de desertificação e sazonalidade como é

Aljezur, problemas contra os quais luta activamente, considera-se que destruir

casas históricas que constituem uma imagem de marca da Costa Vicentina,

algumas delas classificadas como “Alojamento Local”, é de todo

desaconselhável, e apenas prejudica a economia local. É um passo atrás, e

não uma melhoria.

8. Capacidade de carga

Em relação à capacidade de carga, o POC-OV considera que a Praia do

Monte Clérigo tenha capacidade de suportar 2351 “utentes”, face aos

770 do POOC em vigor – um aumento de 300%.

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Ou seja, a Praia é a mesma; tem inclusivamente menos lugares de

estacionamento disponíveis; segundo o POC-OV encontra-se sujeita a

galgamentos, derrocadas, e elevação do nível do mar, pelo que é necessário

demolir 36 habitações ocupadas e com história, sem critério aparente;

Mas sugere-se que esta albergue um máximo de 3 vezes mais “utentes”.

Ainda que puramente teórico, este número aparentemente aleatório representa

cerca de metade da população do concelho de Aljezur, e é um manifesto

disparate, totalmente desprovido de conhecimento da realidade local.

Aliás o próprio POC-OV efectuou um levantamento de oferta de alojamento

turístico por concelho na área de estudo (Relatório Ambiental, pp. 99-103),

tendo chegado à conclusão que no concelho de Aljezur a oferta existente

consiste em 379 estabelecimentos de Alojamento Local4, que acolhem um total

de 2291 utentes. Números que continuam a ser inferiores à capacidade de

carga sugerida para a Praia do Monte Clérigo.

Por estas contas, a Praia do Monte Clérigo é aliás, considerada como a 4ª praia com maior capacidade de carga em todo o Barlavento Algarvio, sendo apenas ultrapassada pela Meia-Praia, Praia da Rocha, e Praia da Luz - todas elas altamente urbanizadas, sem protecção legal, e fora da Costa

Vicentina – sendo realidades impossíveis de comparar.

Por estas contas considera-se também que o Monte Clérigo pode albergar quase 4 vezes mais “utentes“ que a Praia da Bordeira.

São números que mais uma vez não se entendem, que transformam a Praia do

Monte Clérigo numa espécie de ”potencial paraíso balnear de massas“ utópico,

inexistente e perigoso, e que urgem ser revistos.

Pelo Princípio da Precaução, e no sentido de minimizar a pressão humana sobre as falésias e dunas existentes, a imposição de uma capacidade de carga real e aplicada na práctica, seria ela própria

4 https://rnt.turismodeportugal.pt/RNT/ConsultaRegisto.aspx

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uma medida mais inteligente e eficaz do que a demolição sumária de habitações legalizadas que existem há 4 gerações.

Para albergar estes escassos milhares de pessoas, O POC-OV sugere ainda uma área de estacionamento de 8,396 km2 - cerca de 4 vezes superior à existente.

Este é mais um número na mesma ordem de pensamento desgarrado.

Neste momento existem menos de 100 lugares de estacionamento

devidamente delineados na Praia do Monte Clérigo, e apesar do

estacionamento caótico e incontrolável em Julho e Agosto, quanto mais lugares existirem, mais serão ocupados, o que irá sempre aumentar a pressão a que esta área sensível se encontrará invariavelmente sujeita durante os meses de Verão.

Contrariamente ao sugerido pelo POC-OV, o Princípio da Precaução recomendaria até que se limitassem os lugares disponíveis, no intuito de

controlar uma capacidade de carga real, bastante inferior à proposta, e que

proteja a Praia do Monte Clérigo de uma pressão de visitação excessiva.

Na mesma lógica, não se compreende a necessidade de requalificar o estacionamento existente no largo central. O mesmo foi

requalificado há muito pouco tempo, encontra-se claramente bem

delineado, e não apresenta espaço para albergar mais viaturas.

8. Considerações finais1. Parece existir um padrão de enviesamento, transversal a todo o

documento, de desrespeito pela Praia do Monte Clérigo, seus habitantes

e utentes, que em última análise e por tudo o que foi acima mencionado,

prejudica a preservação dos seus valores naturais e identitários.

Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública

2. À medida que nos embrenhamos na leitura do POC-OV, este

enviesamento torna-se progressivamente mais claro em relação ao

tratamento diferencial dado à Praia do Monte Clérigo, pelo que se teme

pela integridade futura da Praia do Monte Clérigo.

3. Apesar de os modelos inerentes à definição das diferentes “Faixas de

Salvaguarda” se encontrarem expostos (ainda que de forma

extremamente pouco clara) no Relatório do Programa, não é de todo

claro o porquê de umas “Faixas de Salvaguarda” definirem demolições

numa praia e não em outras. Resumindo, não são explícitas as razões

que estão na base das demolições na Praia do Monte Clérigo, nem na

base das gritantes e inúmeras incongruências nesta matéria ao longo

dos vários Planos de Praia.

4. Não é de todo perceptível quem suportaria o custo das intervenções, o

que estaria previsto a nível de renaturalização das áreas

intervencionadas.

5. Teme-se que a redefinição da capacidade de carga da Praia do Monte

Clérigo para um valor quase 70% superior ao do POOC em vigor, possa

vir a ser utilizada como tentativa de sustentar futuros episódios de

especulação imobiliária.

Por todas as razões acima referidas, venho por este meio propor e defender de forma firme que:

As demolições previstas na Praia do Monte Clérigo sejam de imediato

retiradas do POC-OV.

Seja equacionada uma alternativa ao nível do suporte e estabilização de

arribas e dunas, que de facto retarde a erosão costeira e não a acelere.

Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública

Seja revista em baixa a Capacidade de Carga proposta para a Praia do

Monte Clérigo, assim como a área de estacionamento recomendada. 

Seja manifestamente claro no POC-OV que não poderão ser construídos

novos empreendimentos turísticos ou outras construções de índole

equivalente dentro da área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e

Costa Vicentina abrangida pelo POC-OV, e de acordo com o Plano de

Ordenamento do PNSACV em vigor. Que seja igualmente claro, que

também esta orientação deve ser transversal e mandatória para os PDM

e Planos de Pormenor respectivos.

9. Conclusão

É de minha vontade que o POC-OV possa no futuro ser lembrado como um documento que define uma lógica de conservação da Costa Vicentina em geral e da Praia do Monte Clérigo em particular, e não como um documento que abre uma a porta à sua descaracterização.

Possa o POC-OV respeitar e salvaguardar a Costa Vicentina, tanto a nível das suas características naturais como identitárias, tendo por base a potenciação do Turismo de Natureza, sensibilização, informação, e monitorização ambientais, assim como a salvaguarda da pressão turística, urbanística e de visitação. 

Sem mais assunto, peço a imediata revogação e revisão do Plano de Praia do Monte Clérigo proposto pelo POC-OV, segundo as premissas acima referidas.

Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública

_____________________________________________

(Assinatura)

ANEXO I

Bibliografia

Castro J (1996). Selecção e Gestão de Áreas Marinhas Protegidas no Parque

Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Laboratório de Ciências do

Mar, Pólo de Sines. Universidade de Évora.

Costa JC (2001). Tipos de vegetação e adaptações das plantas do litoral de

Portugal continental. In Albergaria Moreira, M.E., A. Casal Moura, H.M. Granja

& F. Noronha (ed.) Homenagem (in honorio) Professor Doutor Soares de

Carvalho: 283- 299. Braga. Universidade do Minho.

Di Tomaso JM, Kyser GB et al. (2013). Weed control in natural areas of the

Western United Sates. Weed Research and Information Centre. University of

California. 544 pp.

Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública

ANEXO II

Praias que figuram nos Planos de Praia no âmbito do POC-OV como tendo estruturas abrangidas por “Faixas de Salvaguarda para Terra – Níveis I e II”.

Odeceixe;

Vale dos Homens;

Monte Clérigo

Arrifana;

Burgau;

Porto de Mós;

Dona Ana;

Batata;

Três Irmãos;

Praia da Rocha;

Marina de Portimão;

Angrinha; 

Praia Grande;

Barranco das Canas;

Vau;

Amado (Portimão);

Careanos;

Três Castelos;

Molhe (Ferragudo);

Carvoeiro;

Vale Centianes;

Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública

Benagil;

Marinha;

Praia Nova;

Senhora da Rocha;

Cova Redonda;

Tremoços;

Vale Olival;

Armação de Pera;

Galé;

Galé (Leste);

Manuel Lourenço;

Evaristo;

Castelo;

São Rafael;

Peneco;

Pescadores – Albufeira;

INATEL;

Alemães;

Forte de São João;

Aveiros;

Oura;

Oura Leste;

Santa Eulália;

Maria Luísa;

Olhos d’Água;

Belharucas;

Falésia (Açoiteias);

Falésia (Alfamar);

Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública

ANEXO III

Praias que figuram nos Planos de Praia no âmbito do POC-OV como tendo estruturas abrangidas por “Faixas de Salvaguarda para Litoral Arenoso – Níveis I e II”.

Martinhal;

Ingrina;

Salema;

Praia da Luz;

Meia-Praia;

Alvor;

Torralta;

Três Irmãos;

Praia da Rocha;

Marina de Portimão;

Armação de Pera;

Praia dos Pescadores – Armação de Pera;

Praia da Rocha Baixinha (Nascente);

Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública

ANEXO IV

Levantamento de estruturas previstas para demolição no âmbito do POC-OV

Praia Tipo de Estrutura Estado Número Faixa de SalvaguradaCarriagem Habitação Devoluto/Não ocupado 2 FS para o Mar – Níveis I e II

Vale dos Homens - Devoluto/Não ocupado 1 FS para Terra – Nível I

Monte Clérigo Habitação Ocupado 4 FS para Terra – Nível I

Monte Clérigo Habitação Ocupado 4 FS para Terra – Nível II

Monte Clérigo Restaurante Devoluto/Não Ocupado 1 FS para Terra – Nível II

Monte Clérigo Habitações Ocupado 7 FS para o Litoral Arenoso – Nível I

Monte Clérigo WC público Operacional e recuperado 1 FS para o Litoral Arenoso – Nível I

Monte Clérigo Habitação Ocupado 13 FS para o Litoral Arenoso – Nível II

Monte Clérigo Habitação Ocupado 8 Fora de Faixas de Segurança

Vale Figueira - Não ocupado 1 FS para Terra – Nível I

Amado Não é perceptível5 ? ? Fora de Faixas de Segurança

Beliche Bar de Praia Em funcionamento 1 FS para o Mar – Nível I

Mareta Casa Fundação “Oceanis” Devoluto 1 FS para Terra – Nível I

Mareta - Devoluto 1 Fora de Faixas de Segurança

5 Parece encontrar-se prevista a demolição de uma habitação privada, e das instalações da Algarve Surf School e algumas estruturas anexas, no entanto o Plano de Praia não é claro na representação das estruturas a demolir.

Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública

Mareta Rest. “Telheiro do Infante” Em funcionamento 1 FS para o Mar – Nível I

Furnas - Devoluta /Não ocupado 1 FS de Sopé

Dona Ana Ed. Montana (Nascente) Ocupado 1 FS para Terra – Nível I

Prainha Rest. “Caniço” Em funcionamento 1 FS para o Mar – Níveis I e II

Vau Snack-Bar “Pai Tomás” Em funcionamento 1 FS para Terra – Nível I

Pintadinho Edifício Inacabado/Devoluto 1 FS para o Endocarso

Pescadores (Pera) Bar “Pedro´s” Em funcionamento 1 FS para o Litoral Arenoso – Nível I

Pescadores (Pera) Cruz Vermelha Portuguesa Precário 1 FS para o Litoral Arenoso – Nível I

Galé Oeste Habitações Ocupado 2 FS para o Litoral Arenoso – Nível I

Concelho Número de estruturas a demolir

Número de habitações particulares ocupadas previstas para demolição

Percentagem de ocupação das estruturas a demolir

Aljezur 41 36 88%

Vila do Bispo 5 - 40%

Lagos 1 1 100%

Portimão 3 - 66%

Lagoa - - -

Silves 2 - 100%

Albufeira 2 2 100%

Programa para a Orla Costeira – Odeceixe – Vilamoura: Participação na Consulta Pública