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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO CAMPUS DE DOIS IRMÃOS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS _________________________________________________________________________ ______________ RESÍDUOS SÓLIDOS E RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA: PERSPECTIVAS A PARTIR DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Wagner José de Aguiar 1 O presente texto tem por objetivo abordar a responsabilidade compartilhada enquanto um dos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), à luz da Educação Ambiental (EA) enquanto um dos instrumentos da referida política. Tal abordagem é uma síntese da apresentação feita durante a 2ª Oficina sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, promovida no âmbito do Projeto “Prêmio Reciclando Saberes”. Para melhor orientar a leitura e reflexão em torno do tema proposto, o texto é norteado por três perguntas fundamentais: o que define a responsabilidade compartilhada? Quais os atributos da sociedade no papel de consumidor? E, qual o função da EA face aos anseios da PNRS no tocante à responsabilidade compartilhada? Segundo o Art.3º e inciso XVII da PNRS, entende-se por responsabilidade compartilhada o: “Conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei.” (BRASIL, 2010). 1 Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e membro do Núcleo Multidisciplinar de Pesquisa em Direito e Sociedade (NPD/CNPq/UFRPE). E-mail: [email protected] .

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCOCAMPUS DE DOIS IRMÃOS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS_______________________________________________________________________________________

RESÍDUOS SÓLIDOS E RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA: PERSPECTIVAS A PARTIR DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Wagner José de Aguiar1

O presente texto tem por objetivo abordar a responsabilidade compartilhada enquanto um dos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), à luz da Educação Ambiental (EA) enquanto um dos instrumentos da referida política. Tal abordagem é uma síntese da apresentação feita durante a 2ª Oficina sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos, promovida no âmbito do Projeto “Prêmio Reciclando Saberes”. Para melhor orientar a leitura e reflexão em torno do tema proposto, o texto é norteado por três perguntas fundamentais: o que define a responsabilidade compartilhada? Quais os atributos da sociedade no papel de consumidor? E, qual o função da EA face aos anseios da PNRS no tocante à responsabilidade compartilhada?

Segundo o Art.3º e inciso XVII da PNRS, entende-se por responsabilidade compartilhada o:“Conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei.” (BRASIL, 2010).

Ao trazer uma perspectiva de conjunto de atribuições individualizadas, percebe-se que a responsabilidade não é dirigida somente ao Estado, ou à sociedade ou às empresas fornecedoras dos bens de consumo, mas ela é efetivamente compartilhada entre diferentes atores sociais que, por sua vez, assumem papeis sociais distintos. Logo, não pode haver uma sobreposição de atribuições, visto que a responsabilidade atribuída é inerente ao papel desempenhando pelo ator social específico. Desse modo, a responsabilidade pela minimização do volume de resíduos e rejeitos gerados e pela redução dos impactos causados sobre a saúde e a qualidade ambiental é divida entre os diferentes atores, assumindo uma dimensão concreta na medida em que os esforços são sinérgicos.

Em meio aos objetivos da responsabilidade compartilhada, trazidos no Art. 30º da PNRS, um aspecto relevante para a sua efetivação implica em considerar a categoria de ator social a qual esses objetivos se destinam, visto que eles expressam atribuições diversificadas. No caso da categoria de consumidor, na qual, de um modo geral, a sociedade civil se insere (incluindo os membros de uma comunidade escolar), a PNRS prevê atribuições específicas, como:

1 Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e membro do Núcleo Multidisciplinar de Pesquisa em Direito e Sociedade (NPD/CNPq/UFRPE). E-mail: [email protected].

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Art.33. Os consumidores deverão efetuar a devolução após o uso, aos comerciantes ou distribuidores, dos produtos e das embalagens a que se referem os incisos I a VI do caput, e de outros produtos ou embalagens objeto de logística reversa.Art. 35.  Sempre que estabelecido sistema de coleta seletiva pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos e na aplicação do art. 33, os consumidores são obrigados a: I - acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados; II - disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução. 

Percebe-se que o atributo da sociedade na figura de consumidor abrange apenas a etapa do descarte dos resíduos, sem atingir o âmago do problema, que está relacionado à lógica do consumo e da descartabilidade desenfreados (BERNARDES, 2013). Frente a essa leitura, a função da EA enquanto instrumento da PNRS aparenta ser mais voltada a “uma mudança comportamental sobre a técnica da disposição domiciliar do lixo do que com a reflexão sobre a mudança dos valores culturais que sustentam o estilo de produção e consumo da sociedade moderna” (LAYRARGUES, 2000, p. 179). Tal função merece ser (re)pensanda nos coletivos sociais em que a EA é promovida, a fim de que a PNRS possa ser interpretada e compreendida pelos sujeitos, e conduzida de modo a atender efetivamente o seu papel na garantia de um ambiente saudável para todos.

No caso das escolas, a EA pode ser vivenciada tanto no âmbito das atividades disciplinares, bem como promovida a partir de projetos pedagógicos multi e/ou interdisciplinares. Logo, o trabalho com a questão ambiental não pode caber exclusivamente ao professor de Ciências, Biologia ou Geografia, mas buscar subsídio nos diferentes conteúdos disciplinares dentro das necessidades que possam surgir na concretização de um projeto. Sob a motivação da PNRS, práticas diversas poderiam ser desenvolvidas, desde trabalhos de intervenção comunitária até pesquisas dirigidas em torno de questões previamente formuladas, buscando abranger, além da etapa do descarte, a etapa de aquisição e consumo dos produtos, dando assim um tratamento mais global à problemática, e mais efetivo do ponto de vista da formação de valores e atitudes para uma responsabilidade ativa na gestão compartilhada dos resíduos. É nessa perspectiva que o Prêmio Reciclando Saberes abre suas portas para acolher e apoiar os projetos escolares.

Referências citadas

BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 02 set. 2012.BERNARDES, Márcio de Souza. Os desafios para efetivação da política nacional de resíduos sólidos frente a figura do consumidor-gerador. Revista Eletrônica do Curso de Direito – UFSM, v.8, p. 195-207, 2013.LAYRARGUES, Philippe Pomier. O cinismo da reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental. LOUREIRO, F.; LAYRARGUES, P.; CASTRO, R. (Orgs.) Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. São Paulo: Cortez, 2002, 179-220.