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1 APOSTILA ACAEPANA DE INFORMAÇÃO SOBRE O AUTISMO SUMÁRIO 01- O QUE É AUTISMO? ______________________________________________ 02 02- QUAIS OS PRINCIPAIS SINAIS DE AUTISMO? _________________________ 04 03- PAIS! APRENDAM A LIDAR COM A TEIMOSIA DO SEU FILHO. _________ 05 04- AUTISMO TEM CURA? QUAL O TIPO DE TRATAMENTO? ______________ 06 05- ENTENDENDO O PROCESSAMENTO SENSORIAL AUTISTA___________ 09 06- EDUCADORES! COMO ENSINAR O AUTISTA. _______________________ 12 07- QUAL A CAUSA DO AUTISMO? ___________________________________ 13 08- CONCLUSÃO. __________________________________________________ 13

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01 - O QUE É AUTISMO?Autismo é um TRANSTORNO que tem como características fundamentais

déficits significativos na: COMUNICAÇÃO. INTERAÇÃO SOCIAL. COMPORTAMENTO.

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APOSTILA ACAEPANA DE INFORMAÇÃO

SOBRE O AUTISMO E OUTROS

TRANSTORNOS.SUMÁRIO

01- O QUE É AUTISMO? ______________________________________________ 02

02- QUAIS OS PRINCIPAIS SINAIS DE AUTISMO? _________________________ 04

03- PAIS! APRENDAM A LIDAR COM A TEIMOSIA DO SEU FILHO. _________ 05

04- AUTISMO TEM CURA? QUAL O TIPO DE TRATAMENTO? ______________ 06 05- ENTENDENDO O PROCESSAMENTO SENSORIAL AUTISTA___________ 0906- EDUCADORES! COMO ENSINAR O AUTISTA. _______________________ 12 07- QUAL A CAUSA DO AUTISMO? ___________________________________

13 VITÓRIA DA CONQUISTA- BA, NOVEMBRO DE 2018

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Esses déficits levam a dificuldades relevantes dos autistas ao convívio familiar e social. Alguns sinais são observados, geralmente, antes dos 03 primeiros anos de idade, sendo que em alguns casos tornam-se perceptíveis nos primeiros meses de vida. Existem ainda os casos onde a criança apresenta desenvolvimento dentro do esperado para a idade e após 2 ou 3 anos de idade, as características do autismo passam a ficar evidentes e nota-se a perda de habilidades já adquiridas como a fala, por exemplo.

Nas últimas décadas, a incidência de casos de autismo tem crescido de forma significativa em todo o mundo. Considerando-se as taxas de 60/10.000 ou a mais recente taxa de 1% se pode estimar, que entre 1 a 2 milhões de brasileiros preencham critério para o espectro autista, sendo de 400 a 600 mil com menos de 20 anos, e entre 120 e 200 mil menores de cinco anos (IBGE, 2000).

O autismo é definido como um transtorno complexo do desenvolvimento, do ponto de vista comportamental, com diferentes etiologias que se manifesta em graus de gravidade variados (GADIA, 2006). De acordo com Oliveira (2009), “autos” significa “próprio” e “ismo” traduz um estado ou uma orientação, isto é, uma pessoa fechada, reclusa em si. Assim, o autismo é compreendido como um estado ou uma condição, que parece estar recluso em si próprio.

O termo “autismo” perpassou por diversas alterações ao longo do tempo, e atualmente é chamado de Transtorno do Espectro Autista (TEA) pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) (APA, 2014). As características do espectro são prejuízos persistentes na comunicação e interação social, bem como nos comportamentos que podem incluir os interesses e os padrões de atividades, sintomas que estão presentes desde a infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário do indivíduo (APA, 2014). As subcategorias fazem parte do TEA, e o comprometimento pode ocorrer em três níveis de gravidade.

O diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) vem acompanhado de muitas dúvidas. Os pais se questionam após a confirmação: “Existem graus de autismo? ”. Antes de responder vou explicar, de modo resumido, as principais mudanças que ocorreram após a publicação do DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders).

Para quem ainda não conhece o DSM-V é uma publicação da Associação Psiquiátrica Americana que está em sua quinta edição. Trata-se de um manual usado por médicos com objetivo de fornecer critérios precisos na elaboração diagnostica no campo da saúde mental. A primeira mudança se refere à nomenclatura, ou seja, o Autismo até o DSM-IV fazia parte de um grande grupo chamado Transtornos Globais do Desenvolvimento, haviam os subgrupos Transtorno Autista, Transtorno de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância, entre outros.

De acordo com a nova revisão, o DSM-V, a classificação Transtornos Globais do Desenvolvimento foi substituída pelo novo termo Transtorno do Espectro Autista (TEA), recebendo o nome de espectro (spectrum), porque envolve situações e apresentações muito diferentes umas das outras, numa gradação que vai da mais leves à mais graves. Todas, porém, em menor ou maior grau estão relacionadas, com as dificuldades qualitativas de comunicação e relacionamento social. O objetivo foi acabar com as inúmeras subdivisões existentes e inclui-las dentro de um único grupo. Na prática clínica muitos profissionais não se baseavam nas diferenças entre os vários subtipos, mas sim utilizavam os graus de severidade do transtorno como principal critério. Agora, segundo o DSM-V, o TEA pode ser classificado em:

Grau leve (Nível 1). Grau moderado (Nível 2).

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Grau severo (Nível 3).Você pode estar se questionando: esses níveis de gravidade estão

baseados em quais critérios? A resposta está relacionada a quantidade de apoio necessária para contemplar as necessidades de cada um, considerando as dificuldades na comunicação, nos interesses restritos e comportamentos repetitivos. Assim, como foi apresentado existem graus e quando o diagnóstico é confirmado com Transtorno do Espectro Autista a criança pode estar no Nível 1, 2 ou 3.No nível um, o indivíduo exige apoio; no nível dois, exige apoio substancial; e no nível três exige muito apoio substancial (APA, 2014). O TEA é considerado um transtorno que vai além da sua complexidade, distante de ser definido com exatidão, pois não existem meios pelos quais se possa testá-lo, muito menos medi-lo. Em outras palavras, as pesquisas realizadas atualmente estão distantes no sentido de apresentarem a “cura” para o autismo, acompanhando o indivíduo por todo seu ciclo vital.

O autismo foi cunhado na literatura médica por Eugen Bleuler em 1911, para classificar pessoas que apresentavam dificuldades na comunicação e interação social com tendência ao isolamento, resultando em um importante e categórico trabalho sobre esquizofrenia do adulto e adolescente. Hewitt (2006) e Leo Kanner (1943), após descreverem casos de 11 crianças com comportamentos diferentes, observaram características especiais no que se referia à capacidade de se relacionar com o outro, utilizando-se da palavra autismo para caracterizar as pessoas que apresentavam determinados distúrbios. Essa foi sua primeira tentativa de definição sobre o autismo.

Após um ano, o pediatra Hans Asperger (1944), como descreve Stelzer (2010), realizou experiência semelhante com a de Kanner (1943). Asperger popularizou. A terceira edição do DSM foi publicada em 1980, listando o autismo infantil em uma categoria denominada Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Em 1987, em sua revisão denominada DSM-III-R, foi abordado o termo Transtorno Autista. Critérios e diagnósticos específicos foram implementados e divididos em categorias, em que o sujeito deveria se enquadrar para obter o diagnóstico.

Já o DSM-IV-TR (APA, 2002) descreve que os TGD se caracterizam pelo comprometimento severo e invasivo em três áreas do desenvolvimento, sendo elas: habilidades de comunicação; presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipadas, e habilidades de interação social recíproca.

02 - QUAIS OS PRINCIPAIS SINAIS DE AUTISMO?

Cada autista é único, exatamente por isso que se trata de um espectro, pois embora existam similaridades, cada indivíduo irá se comportar de uma forma diferente e apresentar características de forma diferente uns dos outros. Entre as características mais comuns estão:

Aparente falta de interesse em interagir com outras pessoas; Não responder quando chamado, como se não estivesse ouvindo; Problemas na comunicação (para o autista verbal, a fala pode apresentar

dificuldades ou ser descontextualizada, pedante ou com um vocabulário mais formal que o esperado para a idade, existem ainda os autistas não-oralizados, onde a fala não ocorre);

Dificuldade em compreender o que é dito e também de se fazer entender, pois sua compreensão da linguagem é literal, a compreensão de metáforas é

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aprendida ao longo do tempo, ironias e sarcasmos são de difícil identificação e compreensão;

Podem apresentar ecolalia, ou seja, repetem palavras e frases que escutam ao invés de utilizar a linguagem comum;

Podem apresentar estereotipias, movimentando-se de forma repetida (mexendo as mãos, se balançando, girando, pulando ou mesmo fazendo sons com a boca, entre outros movimentos);

Costumam se expressar fazendo gestos e apontando, as vezes conduzindo as pessoas pela mão para alcançar o que querem);

Podem não demonstrar envolvimento afetivo com outras pessoas (evitam colo, afagos ou outros tipos de contato físico);

Apego a rotina, imprevistos ou mudanças na rotina podem afetá-los e causar estresse e desorganização;

Aparentam desinteresse pelo que acontece a sua volta, preferindo ficar sozinhos;

Podem apresentar crises e colapsos nervosos pela sobrecarga sensorial que podem ser confundidas com birras, em alguns casos, durante as crises, podem apresentar episódios de agressividade e até mesmo de autoagressão;

Podem apresentar Transtornos do Processamento Sensorial com hipersensibilidade (Ex: sensibilidade a determinados sons ou cheiro) ou hiposensibilidade (Ex: alta tolerância à dor física);

Podem apresentar seletividade alimentar, recusando-se a experimentar novos alimentos quer seja pela cor, formato, textura ou odor;

03 - PAIS! APRENDAM A LIDAR COM A IRRITAÇÃO DO SEU FILHO. A irritação pode surgir por conta de problemas físicos e emocionais ou por assuntos externos. Seu filho pode estar agindo com agressividade por estar se sentindo impotente, cansado, com fome, frustrado ou com dor. É uma boa ideia simplesmente parar de perguntar o que está acontecendo. Ouça seu filho com atenção e leve os pontos a seguir em consideração: A fase de crescimento pode ser uma experiência desconfortável. O nascimento dos dentes pode ser doloroso para crianças pequenas, assim como dores nas pernas, estômago ou na cabeça dos adolescentes durante a fase de crescimento. As crianças normalmente dormem menos do que deveriam. Diversas pesquisas indicam que a regulação emocional pode ser afetada até mesmo por uma única noite ruim de sono. As necessidades físicas, como a sede e a fome podem desencadear a irritação em qualquer idade, pois o corpo e a mente precisam de combustível. Às vezes, as crianças podem ficar irritada caso suas necessidades emocionais não sejam alcançadas ou caso estejam frustradas por não saberem se expressar. Ajude seu filho (a) a identificar o que está se passando com ele. Ajude seu filho (a) a regular sua emoção. Respire profundamente com ele (a), sugira-lhe que corra, faça riscos numa folha, bata numa almofada... qualquer coisa que ajude a libertar a tensão acumulada pela irritação. Ofereça sua ajuda para resolver o que possa está a causar esta irritação. Não resolva tudo pelo seu filho (a), mas ofereça-se para refletir com ele(a) e para ouvir as suas soluções.

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Se a reação do seu filho também causar irritação em si, ou se a sua irritação vier de um conflito entre os dois, espere até está mais tranquilo para lhe explicar os seus motivos. Os primeiros três anos da vida são um período crítico de desenvolvimento, pois o cérebro está em crescimento e aprendizado constante, armazenando informações que serão utilizadas pelo resto da vida. O comportamento das crianças pode parecer agressivo, mas costuma ser um processo natural de aprender mais sobre causa e efeito. Poe exemplo, se você costuma dizer não e fazer careta sempre que a criança faz algo indesejado, ela pode continuar repetindo o comportamento para ver se a reação é sempre a mesma. Ao variar a sua resposta, a criança perceberá que nem sempre receberá o que quer e experimentará outros comportamentos. Observação: não se pode confundir birra com crise de transtorno. A birra geralmente é direcionada a um grupo de pessoas ou a um adulto. Na a intenção é chamar a atenção para uma demanda não atendida prontamente por seus pais ou demais responsáveis, alguma frustação. Normalmente, tem um objeto envolvido: brinquedo, comida, peça de roupa, DVD, objetos em geral. E como qualquer criança típica a criança autista precisa de disciplina e limites. A crise de transtorno pode acontecer até mesmo quando a criança estiver sozinha em seu quarto ou em algum outro lugar, independentemente se houver mais pessoas por perto ou não. No momento de crise, a criança não quer chamar a atenção para nada, é uma forma de expressar algo que ela não consegue lidar, exemplo; quando sua sensibilidade é exposta a estímulos sonoros, afetivos, toque, etc. O aconselhável é confortar e levar a criança para longe do estímulo que motivou a crise.

04 - AUTISMO TEM CURA? QUAL O TIPO DE TRATAMENTO? O uso de medicamentos prescritos por neurologistas ou psiquiatras só se fazem necessário quando existe uma ou mais condições neurológicas coexistentes (Transtornos de ansiedade, TOC, TDAH, depressão, insônia, dentre outras) que acabam por interferir na qualidade de vida do autista e na sua adaptação ao meio. Ressalta-se aqui a importância do diálogo com o profissional, para que, a família ou o autista, seja informado sobre os efeitos esperados do medicamento, assim como os efeitos colaterais que o mesmo pode provocar.

O autismo é uma condição, tal como cor dos olhos ou cor da pele, sendo assim, não há cura, pois não se trata de uma doença. Os tratamentos voltados à pessoa autista visam tratar condições coexistentes que impedem sua adaptação ao ambiente. Estes tratamentos podem e devem ser realizados por equipe multiprofissional e devem atender as necessidades específicas de cada autista. A precocidade do diagnóstico e efetividade das intervenções com alguns os especialistas a seguir é necessária para o desenvolvimento do autista.

Psicólogo – Avaliar o comportamento da pessoa autista oferecendo as coordenadas necessárias com estratégias eficazes a cada caso. O psicólogo tem um papel importante no tratamento do TEA, pois visa melhorar as habilidades linguísticas, sociais e cognitivas. Responsável por oferecer as coordenadas necessárias para o autista. O acompanhamento psicológico é responsável por atender as demandas de cada caso especifico. Tudo isso, obviamente, depois de uma análise minuciosa acerca da situação do autista.

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Fonoaudiólogo - A comunicação é uma das áreas mais afetada na maioria das pessoas com autismo, o maior objetivo desse profissional no tratamento autista, é o desenvolvimento e o melhoramento dos sintomas comportamentais, linguagem, comunicação verbal e não verbal. A intervenção precoce e contínua do fonoaudiólogo é de extrema importância para que o quadro evolua satisfatoriamente no que envolve sua comunicação geral e em especial para o desenvolvimento de sua linguagem receptiva e expressiva, gestual, oral e escrita, capacitando-o para compreender, realizar atividades e agir sobre o ambiente que o cerca. Sendo de competência deste profissional a remediação, prevenção e estimulação dos aspectos relacionados à linguagem.

Algumas crianças autistas apresentam um esboço de linguagem, que surge entre 4 e 5 anos que, mais frequentemente, e é reduzido a algumas palavras deformadas. Depende também do tipo de estímulo/fonoterapia que essa criança tem e/ou teve. Mesmo adquirindo a linguagem verbal, ela é marcada por algumas anomalias, então o importante é fazer com que esse indivíduo se comunique, seja por meio da fala, gestos, seja por outra forma de comunicação.

Assistente Social – é responsável por promover o bem-estar físico, psicológico e social, desenvolvendo projeto voltado para pessoa autista e sua família. “O Serviço Social atua como mediador na ressocialização de pessoas com necessidades especiais”. Intervenção do profissional da Assistência Social em prol da conquista da autonomia, da emancipação dos indivíduos, da equidade, da integralidade, na luta pela efetivação dos seus direitos e a inserção dos autistas e seus familiares na vida em sociedade, podendo assim usufruir dos seus direitos enquanto cidadãos

Educador físico -O autismo é uma deficiência que em alguns indivíduos dificulta a criação de vínculos de relacionamento com os demais e qualquer tipo de interação social. As atividades físicas e práticas esportivas além de ajudar na interação social também colaboram com o desenvolvimento de diversas funções cognitivas, tais como: memória, atenção, auxilia no desenvolvimento de habilidades, as atividades contribuem para o aumento significativo nos níveis de aptidão, equilíbrio, flexibilidade, resistência, força e redução do comportamento repetitivo. Por meio dos exercícios é possível identificar um melhor desempenho social e redução de episódios de agressão, isso, porque o exercício estimula o desenvolvimento de novas células cerebrais influenciando a empatia, controle de impulsos e atenção.

“Para uma criança autista, o corpo pode ser um objeto de angústia e de pânico, sobretudo se ele não é bem estimulado e compreendido. Por isso, é necessário que ele se torne um polo de segurança e estabilidade” (FERNADES, 2008, p. 114).

Geralmente os autistas não sentem interesse em executar atividades físicas, apresentando assim uma inaptidão para participar de brincadeiras em grupo ou para estabelecer relações de amizade ocasionada muitas vezes pela falta de interação social e ao meio em que vivem. Deste modo, raramente participam de jogos cooperativos, quase não demonstram emoção ou empatia com outras pessoas. O educador físico é o profissional qualificado que poderá oferecer o suporte necessário para que haja o melhor aproveitamento possível de cada atividade.

Psicopedagogo – Avalia e elabora estratégias de ensino para o estimulo, buscando uma forma alternativa de comunicação para que a pessoa autista possa desenvolver sua autonomia e participar do contexto escolar. A intervenção psicopedagógica é extremamente importante para o desenvolvimento intelectual, social, afetivo e corporal.

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O psicopedagogo é um profissional indispensável, na atuação da vida da criança com TEA. Sem a participação desse profissional, provavelmente estaremos bloqueando a possibilidade de essas crianças terem assegurado um processo de aprendizagem mais significativo e lúdico. Seu desempenho cognitivo reabilitado e a descoberta de seus estímulos assegurada com resultados extraordinários. Esse profissional otimiza todo processo da aprendizagem e de desenvolvimento do indivíduo.

Nutricionista – Normalmente nos primeiros dois anos de vida a criança experimenta uma gama de alimentos, texturas e sabores diferenciados. Já as crianças autistas são muito mais seletivas e resistentes ao novo e costumam criar um bloqueio a essas novas experiências alimentares. Acredita-se que o comportamento repetitivo e o interesse restrito tenham um papel importante na seletividade dietética. Uma pesquisa feita na Escandinávia demonstrou que 90% de todas as células e todo o material genético em um corpo humano são compostos pela flora intestinal, sendo uma parte muito importante da fisiologia humana. Dessa forma, o sistema digestivo da criança autista, ao invés de ser uma fonte de alimento, torna-se uma importante fonte de toxicidade. A questão alimentar afeta o autista de forma crucial devido aos fatores sensoriais de cada um, por isso á necessidade desse profissional para avaliar como o organismo do autista reage a determinados alimentos, se existe alguma alergia ou intolerância ou se algum alimento provoca agitação ou irritabilidade

Neuropediatra – A Neuropediatra é a subespecialidade médica que avalia, detecta e trata as doenças e condições relacionadas ao sistema nervoso central e periférico de crianças e adolescentes. É recomendado em casos de dores de cabeça e problemas sem origem definida que levem a dificuldade de caminhar ou movimentar-se, tremores, convulsões, transtornos da memória e raciocínio. “As manifestações de doenças neurológicas são claramente físicas: dor de cabeça, paralisias, perda de força muscular, tontura, dificuldades repentinas na fala e na visão, etc.

O Neuropediatra também atua em problemas como dificuldades escolares, alteração do tamanho e formato da cabeça, distúrbios do sono, síndromes genéticas, erros inatos do metabolismo e outras condições relacionadas ao sistema nervoso. Quando não encontra causas físicas, o neurologista encaminha para o psiquiatra, pois pode se tratar de um transtorno de só matização, por exemplo. Por só matização se entende doenças de origem psicológica, aquelas em que as emoções alteram o estado físico.

Homeopata – É um tipo de tratamento que utiliza as mesmas substâncias que provocam os sintomas para tratar ou aliviar vários tipos de patologia. A homeopatia atua no tratamento a pessoa autista de dentro para fora, trocando medicamentos convencionais por substâncias naturais, livrando assim de qualquer efeito colateral, fazendo com que o próprio corpo seja capaz de curar.

Professor de línguas - Desenvolver e mediar o conhecimento em determinadas áreas em que a pessoa autista tenha mais aptidão descobrindo assim a sua caracteriza e aptidão profissional. Mostrar que, devido à plasticidade cerebral, é possível que crianças autistas aprendam uma segunda língua. Crianças autistas bilíngues aumentaram a flexibilidade cognitiva, se comparado àquelas que sabiam falar apenas um idioma.

Musicoterapia - por meio da musicoterapia o autista participa passivamente ou ativamente, se comunicando de forma verbal e não verbal, demonstrando seus sentimentos e desenvolvendo a autoestima. Sabendo que muitas vezes a linguagem é

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bloqueada, a musicoterapia surge como um método alternativo de tratamento, pois tem como objetivo envolver o autista em uma atividade onde o foco é exclusivamente ele, sem nenhuma cobrança de rendimento, qualquer tipo de participação é respeita. O intuito é estimular os movimentos, organizar o pensamento e propor atividades em grupo ou individuais, desde que favoreçam a comunicação.Benefícios da Musicoterapia para Autismo Mais facilidade de comunicação verbal e não verbal, induzindo também o contato

visual e tátil; Diminuição dos movimentos estereotipados; Estímulo de criatividade; Satisfação emocional; Facilidade para organização do pensamento; Contribuição para o desenvolvimento social; Interação com a sociedade; Diminuição da hiperatividade; Melhora da qualidade de vida do autista e de sua família.

Terapeuta ocupacional – Ajuda na intervenção que auxilia e incentiva nas atividades da vida diária para que a pessoa autista possa fazer parte da sociedade e se tornar independente. O objetivo global da terapia ocupacional ajudando a pessoa com autismo a melhorar a qualidade de vida em casa e na escola. O terapeuta ajuda a introduzir, manter e melhorar as habilidades para que as pessoas com autismo possam chegar à independência. Ao trabalhar sobre essas habilidades durante a terapia ocupacional, uma criança com autismo pode ser capaz de: •. Desenvolver relacionamentos com seus pares e adultos.• Independência.• Aprendizagem;• Autoconfiança.

Psiquiatra- O psiquiatra é um médico especializado na prevenção, diagnóstico e tratamento da doença mental. Um psiquiatra deve receber treinamento adicional e servir uma residência supervisionada em sua especialidade. É o médico indicado para diagnosticar e tratar doenças emocionais e comportamentais.  Deve ser procurado para avaliação de doenças mais comuns na psiquiatria como depressão, ansiedade e dependência química. Outras doenças afetivas com alterações comportamentais e que devem ser abordadas pelo psiquiatra são esquizofrenia, bulimia, transtorno obsessivo compulsivo ou bipolar.

Geralmente esses transtornos têm gravidade o suficiente para impactar a vida social da pessoa, levando a perda de produtividade e sofrimento. Por isso, é importante dizer que, principalmente nesses casos, o profissional pode receitar medicamentos. Além de ter formação psicopatológica, o psiquiatra sabe diagnosticar o que é fundamental para o tratamento e iniciar com segurança.

O psiquiatra comumente trabalha com outros profissionais da área de saúde, a fim de melhorar o desempenho do tratamento que ele está ou será submetido. Sendo assim, outros profissionais como Neurologistas, Psicólogos e Psicanalistas podem ajudar na avaliação e no tratamento. É muito comum encontrarmos casos de pacientes que fazem tratamento Psicoterapêutico juntamente com um tratamento Psiquiátrico. 

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05 – ENTEDENDO O PROCESSAMENTO SENSORIAL AUTISTA.

HIPERSINSÍVEIS: MUITA SENSIBILIDADE. HIPOSENSÍVEIS: ALTA TOLERÂNCIA.

SISTEMA VISUAL (VISÃO).HIPERSINSÍVEIS:

Evitam a luz solar e brilhos; Dores de cabeça, tonturas e enjoos quando usam a visão; Medo de objetos em movimento; Não gostam de contato ocular direto; Dificuldades de separar tons/contrastes; Dificuldades para determinar distância; Esfregam os olhos; Tampam os olhos, olham de esguio.

HIPOSENSÍVEIS: Olham fixamente para a luzes/ sol; Olham fixamente para objetos em movimento; Seguram objetos próximos de si para olhar; Não percebem a presença de novas pessoas ou objetos no ambiente; Se perdem na leitura; Procuram estímulos visuais como ventiladores, peões, cores, texturas.

SISTEMA AUDITIVO (AUDIÇÃO).HIPERSENSÍVEIS:

Choram, gritam ou ficam irritados com barulhos inesperados; Tampam os ouvidos ou se escondem em eventos sociais; Evitam barulhos de descargas de vasos sanitários e água corrente; Ficam incomodados com sons agudos como apito, violino ou giz de quadro; Ficam angustiados com sons metálicos como talheres batendo ou xilofone; Não gostam de sons altos.

HIPOSENSÍVEIS: Falam alto; Colocam instrumentos musicais perto dos ouvidos; Fazem sons altos em ambientes calmos; Gostam de barulhos como ventiladores, ar condicionado, água corrente; Preferem música ou barulhos altos.

SISTEMA TÁTIL (TATO).HIPERSINSÍVEIS:

Medo de multidão;

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Ficam agoniados com calças apertadas vestir meias/calçados e algumas texturas;

Evitam brincadeiras que sujam/lambuzam; Não gostam de serem levados, penteados e secados; Extremamente sensíveis a cócegas; Evitam abraço/contato físico; Andam na ponta dos pés.

HIPOSENSÍVEIS: Preferem roupas justas; Necessidade de estar em constante movimento (girando, balançando, etc); Constantemente estão sujos/bagunçados; Alta tolerância a dor; Tocam em tudo e colocam na boca; Adoram vibrações; Beliscam, batem e empurram; Adoram ficar de cabeça para baixo ou ficar pendurados em sofás/cadeiras.

SISTEMA OLFATIVO (OFATO).HIPERSINSÍVEIS:

Evitam alguns tipos de cheiro; Ficam agoniados/agitados com alguns tipos de cheiros; Engasgam com certos cheiros/comidas; Falam para as outras pessoas que elas estão cheirando mal; Comidas não são atraentes para eles; Evitam alguns alimentos devido ao cheiro; Evitam locais públicos; Não gostam de serem abraçadas ou ficar perto de pessoas.

HIPOSENSÍVEIS: Gostam de cheiros fortes; Cheiram objetos que parecem estranhos para os outros; Preferem comidas com cheiros fortes; Frequentemente cheiram pessoas; Dificuldade de identificar cheiros; Não identificam cheiros perigosos; Tomar cuidado com essas pessoas não comerem/beberem remédio/veneno.

SISTEMA VESTIBULAR (EQUILÍBRIO/ HABILIDADES MOTORAS)HIPERSINSÍVEIS:

Medo de atividades em movimento; Medo de parques: brinquedos que giram (carrossel), escadas. Balanço; Medo de elevador; Não gostam de serem virados de cabeça para baixo; Parecem ser desajeitados/descoordenados; Podem parecer teimosos; Evitam escadas ou seguram no corrimão fortemente com as duas mãos.

HIPOSENSÍVEIS: Não conseguem ficar parados; Necessidade de estar em constante movimento (girando, balançando, etc.); Podem ser muito impulsivos;

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Correm em todos os lugares (ao invés de andar); Se colocam em risco dentro e fora de casa; Adoram ficar de cabeça para baixo ou ficar pendurados em sofás/cadeiras.

06 – EDUCADORES! COMO ENSINAR O AUTISTA.

O mais importante é não ter medo de errar, pois o aprendizado sobre o autismo só ocorre com a rica experiência do convívio com as pessoas que tem essa condição. Preste a atenção pois o próprio autista vai fornecendo pista de como realizar um trabalho eficaz. Recorra a família para ajudar, pois a parceria com a família é essencial para o aprendizado da pessoa autista. Linguagem clara, com sentenças curtas e objetivas, pois o autista entende o sentido

literal das palavras, não assimila conotações; Em vez de fazer perguntas abertas, ofereça duas alternativas e deixe que o aluno

autista escolha a que deseja, isso usando linguagem clara e direta, sem rodeios; Posicionar-se sempre na direção do olhar para conversação; Conversa com o aluno sempre de frente; Estimular a comunicação com estratégias diversas, principalmente dando

alternativas para aumentar o repertorio de comunicação; Utilizar gravuras para comunicação; Quando o aluno colocar as mãos nas orelhas é sinal de que o barulho ou o que está

sendo falado está o incomodando, mudar o que está sendo falado, não force; Usar sempre reforço positivo (no lugar de dizer: - NÃO pode ficar em pé, dizer: -

Vamos sentar? No lugar de dizer: - Agora NÃO, dizer: Depois vamos fazer!); Às vezes é necessário adaptar as avaliações; Descobrir o item ao qual tem predisposição e explorar essa habilidade do aluno

autista; Propor atividades relacionadas ao interesse do aluno autista, depois acrescentar

gradativamente as outras atividades; Estimular o aluno com tarefas mais simples, mas que possa mostrar a sua

capacidade; Dispor o material para o seu uso aos poucos, pois quando depara com muito

material ou atividades costuma ficar irritado; Utilizar jogos para ensinar os conteúdos; O tempo do autista é diferente do tempo das outras crianças. Desse modo, evitar

atividades longas; Quando o autista tiver dificuldade em interagir com outras crianças, não forçar a

interação e propor gradativamente essa interação com ou dois alunos com os quais ele se identificar;

Privilegiar os vínculos afetivos entre o aluno autista, os colegas e o professor; O desempenho do aluno autista, ainda que mínimo deve ser reconhecido, o

incentivo deve estar presente; Utilizar quadros de rotina visuais para marcar o tempo de execução de uma tarefa e

antecipar as posteriores; Sempre que for usar outro espaço ou realizar uma atividade diferente do habitual,

antecipar para o aluno com explicações claras; Observar se há ocorrência de sobrecarga sensorial. Caso ocorra, oferecer ao aluno

autista objetos de conforto ou fazer massagens ou afagos, com antecipação das ações para o aluno autista.

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07 - QUAL A CAUSA DO AUTISMO?Estudos recentes baseados em evidências científicas apontam que a

origem do autismo é predominantemente genética, através de herança poligênica, uma junção específica de vários genes. Sabe-se ainda que o autismo afeta 4 vezes mais pessoas do sexo masculino que do feminino e independe de etnia, origem geográfica ou situação socioeconômica.

08 - CONCLUSÃO: A família representa a primeira instituição a qual a criança tem acesso ao

meio social, constituindo um importante espaço de socialização. Por isso é importante todo empenho da família junto a todos os profissionais, pôde-se perceber que é necessário que família estejam sempre presente no cuidado da pessoa autista, participando de forma assídua nos acompanhamentos numa constante parceria com todos os profissionais que acompanha a pessoa autista. Entendemos, assim, que para garantir a qualidade de vida para a pessoa autista, o Estado, a sociedade e a família, devem garantir: O acesso a terapias necessárias com profissionais adequado, respeito, dignidade, integridade física, atenção, paciência e AMOR, MUITO AMOR.

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10 - CONHECENDO A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL / MENTAL E OUTROS TRANSTORNOS: SÍNDROME DO X FRÁGIL

A Síndrome do X frágil (FRA-XA) é responsável pela maioria das causas de retardo mental (RM) herdado, ocorrendo um caso em cada 1250 homens. Apesar de ser ligada a alterações no cromossomo X, algumas características fogem às regras habituais de herança mendeliana, já que acomete ambos os sexos, sendo, porém, a expressão fenotípica menos comum, e mais branda, em indivíduos do sexo feminino.

As características físicas mais proeminentes da síndrome incluem: Face mais alongada; Testa larga; Orelhas grandes e salientes; Palatino mais arqueado; Pele mais sensível; Articulações mais flexíveis; Testículos grandes pós-puberdade (macroorquidismo); Menos tônus muscular; Pés chatos. Há um maior risco de desenvolver convulsões, tremores e estrabismo .

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COMPORTAMENTAISObserva-se: Ansiedade social; Evitar contato visual; Atraso

para aprender a engatinhar, andar e dar volta; Atraso em aprender a falar e escrever; Dificuldade para se expressar bem; Memória ruim; Bater muitas palmas, ou morder a mão; Impulsividade, impaciência e irritabilidade; Maior vulnerabilidade a transtornos do humor e transtornos de ansiedade.

Costumam levar em média 50% mais para aprender conhecimentos escolares como matemática e linguística. O autismo ocorre em 5% desses indivíduos, o que já é responsável por cerca de 15 a 60% do espectro autista dependendo dos critérios diagnósticos usados.

A principal forma de diagnóstico, padrão-ouro, é através do exame do DNA (sangue periférico ou saliva) [análise molecular para a síndrome do X frágil].  A análise do marcador citogenético através do cariótipo, hoje não é utilizada porque tem alto nível de falso positivo e falso negativo. Atualmente já é possível a realização do diagnóstico pré-natal através das vilosidades coriônicas (entre 9 e 11 semanas de gestação) ou pelas células fetais contidas no líquido amniótico (15a semana de gestação). É viável também o diagnóstico pré-implantacional.

Não há cura para síndromes genéticas, sendo o tratamento apenas para sintomas, comportamentos inadequados e problemas educacionais. A família deve passar por aconselhamento genético para entender melhor como é a hereditariedade dessa síndrome.

Entre tratamentos não farmacológicos estão: Terapia comportamental; Terapia cognitiva; Terapia da fala; Educação especial; Terapia ocupacional; Psicomotricidade.

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO (TDA) OU TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE (TDAH)

A combinação entre Déficit de Atenção e Hiperatividade é de fato bastante comum. Apesar disto, em vários casos, a Hiperatividade não está presente. Ou seja, a hiperatividade e a impulsividade podem acompanhar o TDAH – Déficit de Atenção, contudo não é obrigatório. De fato, quando o TDA é bem provável ser acompanhado por lentificação (dificuldade em fazer as coisas em velocidade normal), que pode chegar a ser bem intensa. As crianças e adolescentes com TDAH têm dificuldade em manter sua atenção e dificuldade no controle ou inibição dos impulsos.

Uma característica de quem tem TDAH é o hiperfoco, que é a capacidade de se concentrar em algo e permanecer horas hiperconcentrada em determinada atividade; por esse motivo parece mais adequado usar o termo instabilidade de atenção ao invés de déficit de atenção. É preciso, no entanto, observar melhor e questionar a desatenção

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nas crianças, no sentido de verificar se, de fato, trata-se de crianças desatentas ou desatendidas, pois a sociedade atual desatende as crianças, e a inquietude e falta de atenção nelas, observadas muitas vezes, são consideradas como doença e as crianças acabam sendo medicadas.

Uma característica marcante de quem tem TDAH é a hiperatividade, que pode manifestar-se como inquietação, impaciência, atividade motora excessiva, e, também, como conversa excessiva. A hiperatividade física é facilmente percebida nas crianças, no entanto, a hiperatividade mental ou psíquica apresenta-se de forma mais sutil, o que não diminui o sofrimento de quem a vivencia. A impulsividade é outra característica de quem tem TDAH, que faz com que ocorra a ação sem que esta seja precedida do pensamento. A impulsividade observada em quem tem TDAH parece não se limitar somente às ações, estendendo-se também para os pensamentos, o que pode explicar a dificuldade em concentrar-se no trabalho e inibir os pensamentos que não se relacionam com a tarefa a ser executada no momento.

O diagnóstico do TDAH deve incluir os seguintes aspectos: histórico familiar e do desenvolvimento da criança; consulta médica; avaliação do nível de inteligência; personalidade; desempenho escolar; relações com os amigos; disciplina e comportamento em casa; comportamento em sala de aula. O diagnóstico do TDAH é realizado mediante os critérios estabelecidos pelo DSM-IV.

É na vida escolar da criança que os problemas decorrentes do TDAH ficam mais evidentes. O desempenho escolar da criança com TDAH é instável, em alguns momentos, a criança realiza uma excelente atividade, enquanto em outros realiza um trabalho com baixa qualidade; e isso ocorre em períodos de tempo muito próximos. O TDAH não é considerado necessariamente uma dificuldade de aprendizagem, trata-se de um transtorno de atenção e comportamento que pode ou não gerar uma dificuldade de aprendizagem. É necessário um trabalho multidisciplinar, envolvendo pais, professores e terapeutas, para que se definam as estratégias de intervenção para ajudar a criança com TDAH. Essas intervenções podem incluir: adaptação do currículo, modificação do ambiente, flexibilidade na realização e apresentação de tarefas, adequação do tempo de atividade, administração e acompanhamento de medicação, quando necessário8. A escola deve buscar alternativas e recursos que minimizem as consequências do TDAH, garantindo, assim, a todos os alunos o acesso ao conhecimento.

DISLEXIAA palavra dislexia é derivada de dis= distúrbio e lexia que, em

grego, quer dizer linguagem e, em latim, leitura, portanto, dislexia é um distúrbio de linguagem e/ou leitura.

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Crianças disléxicas têm uma baixa capacidade ao nível da ortografia e dificuldade em ler fluentemente, mostram progresso na alfabetização surpreendentemente mais lento do que o de seus colegas da mesma idade e do mesmo nível intelectual, associam-se frequentemente problemas de memória e tendem a ser mais lentos e imprecisos a nomear figuras. A avaliação é o primeiro passo para se descobrir uma estratégia de intervenção junto ao disléxico e pode ser feita em qualquer idade. Não existe um teste único que possa ser usado para avaliar a dislexia, devendo ser realizados testes que avaliem as competências fonológicas, a linguagem compreensiva e expressiva (a nível oral e escrito), o funcionamento intelectual, o processamento cognitivo e as aquisições escolares. O diagnóstico da dislexia é de exclusão, pois é feito por uma equipe multidisciplinar. A identificação e intervenção precoce são o segredo do sucesso na aprendizagem da leitura. ALGUNS SINTOMAS QUE CARACTERIZAM A DISLEXIA- Dificuldade na aquisição e desenvolvimento das habilidades linguísticas. - Dificuldade em aprender as sequências diárias. - Dificuldade com análise e síntese do som de uma palavra. - Desorganização geral: nos trabalhos escolares (lição de casa etc.), no tempo etc. - Dificuldades visuais: postura da cabeça, desorganização na folha. - Confusão entre direita e esquerda (lateralidade), com mapas, dicionários etc. - Dificuldade com memória imediata: instruções, dígitos, tabuadas, sons de fonemas etc. - Dificuldade na matemática (discalculia) e desenho geométrico. - Problemas de conduta na sala de aula: é “exibicionista” ou tímido. - Desempenha-se muito bem nas provas orais, contradizendo os resultados das provas escritas.

O problema nem sempre está na criança e sim nos processos educacionais, e além dos problemas de ensino há também a alfabetização precoce, onde cada vez mais as crianças estão menos prontas para iniciar o processo e são identificadas dificuldades de aprendizagem que, na realidade não existem, por isso o diagnóstico é essencial.

Muitas pessoas veem a dislexia como uma doença, mas isso é um mito, a dislexia não é uma doença, e sim, um distúrbio específico de aprendizagem na área da leitura e escrita, que melhora quando há um acompanhamento especializado. Pensar que a dislexia pode ser curada, é outro engano. A dislexia não tem cura, pode melhorar com o apoio e o ensino adequado.

Assegurar a criança disléxica um sistema educacional de qualidade é muito importante, e para que isso aconteça é indispensável à colaboração de pais e educadores na tarefa de ajudar essas crianças, encorajando-as; compreendendo-as; tendo muita paciência, pois o disléxico leva mais tempo para realizar suas tarefas; lembrar sempre que ele é capaz e criativo; saber a forma apropriada para ensinar a criança;

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não exercer pressão sobre ela; não fazer comparações com outros membros da família ou da escola; motive-a; incentive-a, essas são apenas algumas das dicas que irão ajudar você a lidar com o disléxico, portanto é necessário procurar sempre se informar sobre o melhor a fazer em cada situação, tendo consciência de que é necessário que cada um faça sua parte e assim com certeza ficará muito mais fácil se relacionar com as crianças que sofrem desse distúrbio.

DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEMNa idade escolar, o processo de alfabetização passa a ser a

área de manifestação dos mesmos desvios já existentes, acrescidos dos específicos deste processo, que podem vir a se manifestar de forma evidente na idade escolar, embora tenham ocorrido em estágios anteriores do seu desenvolvimento, em função da maior solicitação exigida dos processos psicomotores, intelectuais e afetivos nesta idade.

O problema de aprendizagem é considerado como o sintoma que expressa algo e possui uma mensagem. Assim, o não aprender tem uma função tão integradora quanto o aprender. Distúrbio de Aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de desordens, manifestadas por dificuldades na aquisição e no uso da audição, fala, escrita e raciocínio matemático (TULESKI e EIDT, 2007).

Uma outra situação pedagógica a ser considerada são os distúrbios reativos de aprendizagem, isto é, são aqueles que surgem no decorrer de crises situacionais: o nascimento de um irmão, a perda de um ente querido, separação dos pais, a troca de uma professora, a mudança de cidade, de escola, entre outras situações.

Foi em 1963 que o termo Distúrbios de Aprendizagem foi utilizado pela primeira vez. Até então, as terminologias “prejuízo cerebral mínimo”, “baixa aprendizagem”, “dislexia” e “incapacidades perceptivas” eram utilizadas para se referirem às crianças com tais características. Embora esses termos tenham sido utilizados para identificar e descrever os indivíduos que apresentavam Distúrbios de Aprendizagem, possuíam definições imprecisas e com algumas especificidades que não contemplavam o que realmente eram os Distúrbios.

De acordo com a CID, os Distúrbios de Aprendizagem estão dentro da categoria de Transtornos do desenvolvimento psicológico, mais especificamente, como Transtornos Específicos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares e dentro dessa categoria estão a dislexia, a disgrafia, a discalculia e a dificuldade em soletração. De acordo com o DSM-V (2014), os transtornos específicos de aprendizagem não são mais subdivididos em transtorno de leitura (dislexia), transtornos de cálculo (discalculia), transtornos de expressão escrita (disgrafia), entre outros

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transtornos, como eram classificados no DSM-IV (2000), com a justificativa de que os indivíduos que apresentam esses transtornos podem ter déficits em mais de uma área de aprendizagem.

Um ponto importante a ser destacado é a diferença existente entre transtorno de aprendizagem e dificuldade escolar. O primeiro relaciona-se com problemas na aquisição e desenvolvimento de funções cerebrais envolvidas no ato de aprender, enquanto que a dificuldade escolar varia desde a adaptação escolar ao plano pedagógico adotado por determinada instituição de ensino até o ambiente sociocultural que a criança está inserida. Em relação a essa questão, ainda é importante frisar que uma criança que apresenta dificuldade escolar não apresenta, necessariamente, algum transtorno de aprendizagem.

As causas dos Distúrbios de Aprendizagem são desconhecidas, entretanto, discorre que existem algumas suspeitas sobre os fatores causais, sendo estas atribuídas ao dano cerebral, hereditariedade, desequilíbrio bioquímico e fatores ambientais. É importante a realização de programas de prevenção aos Distúrbios de Aprendizagem, uma vez que essa condição pode persistir até a vida adulta, podendo afetar o desempenho escolar da criança e ter como consequências agravos emocionais e sociais. Em relação ao diagnóstico, torna-se primordial destacar que a avaliação deve ser realizada por uma equipe multiprofissional: médica, pedagógica, fonoaudiólogos e psicólogos. Cada profissional, em sua respectiva área, é respaldado por instrumentos e métodos de avaliação adequados, que subsidiem, de maneira eficaz, sua atuação, para que juntos consigam alcançar o diagnóstico que atenda à melhor qualidade de vida do indivíduo.Disgrafia: o que é?

Crianças disgráficas são aquelas que apresentam dificuldades no ato motor da escrita, tornando a grafia praticamente indecifrável; sendo assim, disgrafia é a perturbação da escrita no que diz respeito ao traçado das letras e à disposição dos conjuntos gráficos no espaço utilizado. Relaciona-se, portanto, está às dificuldades motoras e espaciais.

Quando a criança apresenta esse distúrbio, são comuns características como: letra excessivamente grande ou excessivamente pequena – macrografia e micrografia, respectivamente; forma das letras irreconhecível; traçado exagerado e grosso ou demasiadamente suave; grafismo trêmulo ou com irregularidade; escrita demasiadamente rápida ou lenta; espaçamento irregular das letras ou palavras; erros e borrões que podem impossibilitar a leitura da escrita; desorganização geral no texto e utilização incorreta do instrumento com que escrevem. Cinel (2003) traz como prováveis causas para o desenvolvimento da disgrafia os distúrbios da motricidade fina e da motricidade ampla, distúrbios de coordenação

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visomotora, deficiência da organização têmporo-espacial, os problemas de lateralidade e de direcionalidade e, por fim, o erro pedagógico.

A intervenção com a criança disgráfica são a avaliação do desenvolvimento da linguagem em todos os seus níveis, orientação para a família e a escola, e a terapia, sendo que, para o distúrbio em questão, destaca-se a terapia de linguagem escrita. A principal maneira de intervenção é a realizada de forma direta nas habilidades de leitura, com associação às atividades relacionadas ao processamento fonológico da linguagem; orientam ainda que as intervenções devem ser realizadas de maneira lúdica, para que a criança sinta prazer em ler e escrever.Discalculia: o que é?

O aprendizado da leitura e da matemática têm se tornado cada vez mais imprescindíveis no atual e competitivo mercado de trabalho. Tal a importância que pesquisas sobre os distúrbios de aprendizagem têm crescido consideravelmente. Entretanto, apresentar dificuldade em matemática parece “incomodar” menos que dificuldades em leitura e escrita, talvez por ser considerada uma área difícil e privilégio de poucos. O transtorno relacionado às habilidades matemáticas é conhecido como discalculia. No entanto, as inabilidades matemáticas podem ser conhecidas por duas terminologias: Discalculia ou Discalculia do Desenvolvimento e Acalculia. A primeira, quando forem constitucionais, e a segunda, quando forem adquiridas após doenças neurológicas, doenças cérebro vasculares e demências, podendo ocorrer em crianças, adolescentes e adultos, posterior aquisição da função, quando já havia se consolidado a habilidade.

A etiologia da discalculia do desenvolvimento é considerada multifatorial e envolve alterações genéticas que interagem de forma complexa com o ambiente. Trata-se de um transtorno persistente e, muitas vezes, pode estar associado a prejuízos emocionais, atencionais, comportamentais e de desenvolvimento da linguagem. Pesquisas apontam a incidência de síndromes neurodesenvolvimentais de origem genética, como a Síndrome de Turner, a Síndrome do Sítio Frágil do Cromossoma X em meninas, a Síndrome Velocardiofacial, e a Síndrome de Williams e de origem ambiental como a Síndrome fetal alcoólica.

Há carência de estudos sobre estratégias adequadas e efetivas na superação da discalculia. Comorbidades devem ser consideradas no planejamento de intervenções educativas e em contribuições que almejem melhor qualidade de vida para o indivíduo. Por se tratar de um assunto em que os estudos ainda são recentes, o desconhecimento sobre a presença da discalculia ainda comparece na rotina dos professores, o que pode dificultar na realização de planejamentos educativos eficientes. A identificação do distúrbio é altamente relevante para o crescimento didático

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do aluno, pois quanto mais precocemente for o diagnóstico, melhor para ajudá-lo a evoluir no aprendizado.

É importante destacar que o diagnóstico deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, para que o aluno seja devidamente avaliado nas suas peculiaridades e possa ser direcionado às intervenções efetivas que atendam às necessidades particulares de cada criança.

TDO – TRANSTORNO DESAFIADOR DE OPOSIÇÃO

A característica essencial do TDO consiste em “um padrão frequente e persistente de humor raivoso/irritável, de comportamento questionador/desafiante ou de índole vingativa” (DSM-5, 2014, p. 463).

A apresentação dos sintomas, segundo o DSM-5, manifesta-se geralmente em casa, limitando-se a apenas um ambiente, sendo que, em casos mais graves, os sintomas podem se apresentar em ambientes diversos. Diferentes comportamentos caracterizam o TDO, principalmente aqueles no sentido de agir contrariamente ao que se solicita ou se espera do indivíduo. As crianças com TDO apresentam-se frequentemente irritadas. Elas são também rancorosas e se aborrecem facilmente, apresentando descontrole emocional e teimosia persistente. Os autores afirmam ainda que, geralmente, essas crianças desafiam solicitações ou regras impostas por adultos, com uma tendência acentuada a discutir com eles, além de deliberadamente perturbar as pessoas do seu convívio social.

Nas crianças em que os sintomas do TDO se manifestam de forma precoce, ou seja, antes dos oito anos de idade, será maior o risco de evolução para o TC. Quando o indivíduo não recebe tratamento adequado, o risco de evolução para o TC poderá acontecer em até 75% dos casos. O TDO é também altamente comórbido com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), estando presente em cerca de 50% desses pacientes.

Apesar de serem muito complexas e serem múltiplos os fatores de risco que se encontram relacionados ao surgimento do transtorno, é fundamental que se tente o entendimento dessas causas para que sejam feitas intervenções precoces. Os autores assinalam que as variáveis observadas nos pais, como a imaturidade, a hostilidade, a labilidade emocional e a inexperiência na educação dos filhos, encontram-se presentes em famílias de crianças portadoras do TDO. Outro fator de risco consiste na existência de problemas conjugais e psicopatologias parentais, como, por exemplo, a depressão materna.

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É necessária uma avaliação criteriosa por parte do terapeuta e para que essa avaliação adequada aconteça, é necessário se estar atento a determinados comportamentos, como, por exemplo, à mentira em seus vários aspectos. Por um lado, ela pode sinalizar uma conduta normal no desenvolvimento infantil e de adolescentes; por outro, pode ser indício de transtornos.

A psicoterapia infantil é uma forma de intervenção, cuja finalidade é o atendimento aos mais variados problemas que se repercutem no cotidiano da criança, causando prejuízos significativos em sua vida familiar, acadêmica e social.

Como a desestruturação familiar se encontra intimamente relacionada com o desenvolvimento e a manutenção do TDO, é imprescindível que sejam realizadas, nesses casos, a terapia familiar. O autor enfatiza que o objetivo da terapia é dar um suporte à família no sentido de melhorar o estilo de interação e de funcionamento social dela, a fim de promover uma modificação no sistema familiar, uma vez que, em tal contexto, os sintomas opositivos da criança são estimulados.

É importante também ressaltar que, como os comportamentos de oposição encontram-se geralmente associados ao curso do desenvolvimento normal da criança, é necessária a efetivação de uma avaliação minuciosa e diagnóstico diferencial, para fins da aplicação de intervenções adequadas.

TC – TRANSTORNO DE CONDUTAO transtorno de conduta corresponde a um conjunto de

comportamentos que violam normas e direitos básicos dos outros de forma persistente e repetitiva podendo causar danos físicos a pessoas e animais. Estudos apontam que na infância, quando se tem o diagnóstico de TC os comportamentos são bastante parecidos com os de crianças que apresentam Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), normalmente apresentam comportamentos imprudentes, impulsividade e até mesmo dificuldade em tomar uma decisão.

Crianças diagnosticadas com TC podem produzir fatores problemáticos de personalidade, mas dependendo do ambiente que estão expostas é que se pode dizer se terão ou não um direcionamento para a criminalidade. Caso o ambiente seja favorável para a criança desenvolver comportamentos agressivos, ela irá apresentar condutas infracionais, inserindo-se facilmente em um contexto violento estando mais vulnerável ao uso de substâncias ilícitas na adolescência.

De acordo com o Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), da American Psychiatric Association - DSM-5

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(2015), o transtorno de conduta, como a agressividade contra pessoas e animais, apresentam como influência principal o ambiente em que a criança/adolescente está inserida. É na fase da infância e da adolescência que se forma a ideia de interação grupal, e o jovem busca inserção em um grupo com o qual se identifica, este grupo terá capacidade de influenciar em suas ações, personalidade e temperamento em formação.

É válido ressaltar que a família é a base da construção psicossocial do indivíduo, pois quando o indivíduo convive com uma família negligente é provável que gere bastante instabilidade e insegurança ao menor, produzindo consequências negativas em sua conduta. Por isso é de grande importância que a família contribua de maneira positiva no desenvolvimento da criança, para que a mesma se torne um ser humano apto à convivência pacífica com todos que o rodeiam.

A agressividade apresentada pelas crianças ocorre devido ao processo de modelação, onde as mesmas, ao serem punidas, tende a imitar esses modelos agressivos e repetem esses comportamentos para satisfazer suas vontades. Faz-se de suma importância a psicoterapia para colaborar com o processo de intervenção para beneficiar o tratamento do transtorno de conduta e prevenção do mesmo ao ser identificado alguns sintomas.

Na faixa etária dos três aos oito anos, alguns sintomas do transtorno desafiador de oposição (por exemplo, irrita-se com facilidade, recusa-se a cumprir regras ou atender solicitações dos adultos, perturba as pessoas deliberadamente) ou do transtorno da conduta (por exemplo, fere animais, furta) costumam ser identificados, merecendo ações preventivas junto à criança e aos seus pais e professores. Muitas vezes, o foco do problema está no conflito entre pais e filhos. Outras vezes, os pais estão demasiadamente envolvidos com problemas pessoais e necessitam de apoio. Alguns pais precisam de ajuda para estabelecer limites e escolher métodos mais apropriados para educar os filhos. O contato com a escola também pode ser útil para resolver conflitos entre professores e alunos e ajudar os professores a encontrar maneiras mais adequadas de lidar com as dificuldades da criança.

O tratamento com medicamentos faz-se necessário em algumas situações. O tratamento mais efetivo envolve a combinação de diferentes condutas junto à criança/adolescente, à família e à escola. Quando não é possível o acesso a intervenções complementares, o profissional de saúde mental deve identificar a conduta terapêutica prioritária em cada caso específico.

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TRANSTORNO DE HUMOR BIPOLAR (THB) / TH – TRANSTORNO DE HUMOR/ TRANSTORNO BIPOLAR (TBP), O transtorno de humor bipolar (THB) é descrito desde meados do século XIX, porém na última década recebeu maior atenção da comunidade científica, sendo reconhecido como patologia presente na população mais jovem. A apresentação clínica do THB na infância e adolescência é diferente da manifestação na vida adulta. A criança é ativa e impulsiva, explosiva e irritada, fala em excesso, muda rapidamente de assunto, tem pouca necessidade de sono. Acredita ter habilidades especiais e/ou poder fazer coisas irreais10,11. As crianças em idade escolar e os adolescentes em geral apresentam humor irritável, mania mista, ciclagem rápida, delírios de grandeza, labilidade emocional e explosões de raiva.

No Transtorno de Humor os acontecimentos estressantes da vida, entre eles, o estresse e o trauma contribuem grandemente para o desencadeamento do transtorno de humor. É importante identificar os aspectos psicossociais que antecederam o quadro clinico como: o contexto, o sentido e o significado que o paciente atribui ao momento. Isso é importante, pois as situações estressantes, como a perda do emprego, não é aspecto suficiente para provocar sintomas depressivos. Basear-se em explicações isoladas acerca dos Transtornos do Humor não justifica o surgimento da doença. É necessário perceber como se integram as dimensões biológicas, físicas e socioculturais para a compreensão das causas e o desencadeamento do transtorno de humor.

O transtorno de humor segundo o DSM IV constitui-se do agrupamento daquilo que é chamado de transtornos depressivos, transtornos afetivos ou neuroses depressivas. Os transtornos severos podem ou não ser acompanhados de delírios, de alucinações e de alterações da consciência do eu. Os indivíduos que apresentam depressão ou mania sofrem de Transtornos do Humor unipolar, pois a alteração de humor fica apenas em um polo. Há aqueles que o humor varia entre a depressão e a mania, nesse caso são chamados de transtorno bipolar.

O Transtorno bipolar é caracterizado pela oscilação extrema do humor entre uma fase maníaca caracterizada por sintomas de hiperatividade física e mental ou fase hipomaníaca constituída por sintomas de depressão, inibição, lentidão para conceber e realizar ideias, ansiedade ou tristeza. Na maioria dos casos, o transtorno bipolar é um transtorno recorrente e comumente ocorre a cada 2 anos, quando há a suspensão da medicação. O suicídio é uma consequência comum no transtorno bipolar e quase sempre na fase depressiva. Além de sugerirem a presença de um componente genético para o TBP, os estudos de

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famílias também indicam a possibilidade de outras condições psiquiátricas fazerem parte de um mesmo espectro fenotípico. Em outras palavras, essas condições podem ser todas manifestações diversas de uma mesma predisposição genética.

A avaliação diagnóstica é fundamental e a utilização de questionários de auto avaliação e escalas de avaliação de mudanças circadianas de humor, além de afetivogramas, têm sido úteis na prática clínica. A psicoeducacão do paciente e do familiar ou cuidador é fundamental e tem por objetivo oferecer informações sobre a doença, seu prognóstico e tratamento, propiciando maior entendimento do processo terapêutico e, consequentemente, levando a melhor adesão ao tratamento. Trabalhar junto com o paciente e seu familiar/cuidador na identificação precoce de sinais e sintomas de recaída auxilia numa intervenção rápida e incisiva, e pode evitar a progressão de um episódio.

TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO O transtorno de ansiedade de separação é caracterizado pelo aparecimento de ansiedade excessiva e inapropriada frente à separação de familiares ou daqueles que a criança é apegada. Com frequência apresentam preocupação excessivas de que acidentes possam ocorrer a seus pais e que isso causaria sua separação deles. O medo de perder ou ser separados de seus pais está, na maioria das vezes, ligado a preocupações de que a perda ocorrerá como resultado de um evento catastrófico, como morte, sequestro ou grave acidente, por exemplo.

Sintomas importantes incluem: pesadelos relacionados com o tema da separação, relutância de se separar dos pais para ir para a escola, para dormir sozinhos em seus quartos, ou dormir na casa de colegas. Queixas somáticas, como dores estomacais e dores de cabeça são muito comuns e o objetivo das crianças é receber atenção parental e justificar as queixas para ficar em casa e não ir para a escola ou não permitir que seus pais saiam para trabalhar.

Na escola, além das faltas e dos atrasos para entrarem em sala de aula, essas crianças evitam participar de atividades extracurriculares como atividades esportivas ou grupos de estudo, pois sentem grande dificuldade de se distanciar de suas figuras afetivas, como pais ou familiares íntimos.

Como resultado essa criança apresentará prejuízo acadêmico, vínculos de amizade restritos a poucas crianças ou a nenhuma e comprometimento de sua autoestima e sua maturidade.

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DEPRESSÃO INFANTIL Durante muito tempo acreditou-se que crianças e adolescentes não eram afetados pela depressão, entretanto, sabemos que hoje estes são tão suscetíveis ao transtorno quanto adultos e tal diagnóstico interfere de maneira importante em sua vida diárias e suas relações sociais e acadêmicas.

Crianças e adolescentes com depressão apresentam-se frequentemente com tristeza, falta de motivação, solidão e humor deprimido, entretanto comumente é observado um humor irritável ou instável. Esses jovens podem apresentar mudanças súbitas de comportamento com explosões descontroladas de raiva, mostrando-se irritados e podem envolvem-se em brigas corporais no ambiente escolar ou durante a prática desportiva.

Essas crianças e adolescentes podem apresentar dificuldade em divertir-se, queixando-se de estar entediada ou “sem nada para fazer” e podem rejeitar o envolvimento com outras crianças, dando preferência por atividades solitárias. Dentro de sala de aula ou no recreio escolar, pode ser sinal de alerta a professores a mudança comportamental de uma criança anteriormente bem socializada e entrosada com o grupo e que passa a isolar-se. A queda do desempenho acadêmico quase sempre acompanha o transtorno, isto porque crianças ou adolescentes com depressão não conseguem concentra-se em sala de aula, há perda do interesse pelas atividades, falta de motivação, pensamento lentificado e o resultado disso tudo é observado no boletim escolar.

Queixas físicas como cansaço, falta de energia, dores de cabeça ou dores de barriga são comuns, insônia, preocupações, sentimento de culpa, baixa autoestima, choro excessivo, hipoatividade, fala em ritmo devagar e de forma monótona e monossilábica também ocorrem em grande número de casos. Pensamentos recorrentes de morte, ideias e planejamento de suicídio podem estar presentes em todas as idades e os atos suicidas tendem a ocorrer com maior frequência na adolescência. Comportamentos de risco durante a adolescência são comuns, entretanto estes podem se acentuar durante episódios depressivos como a prática sexual promíscua e o uso e abuso de álcool ou outras drogas.

ESQUIZOFRENIA DE INÍCIO PRECOCE.A esquizofrenia precoce representa uma patologia do

comportamento da infância e adolescência de grande gravidade. Por definição, a esquizofrenia de início precoce é uma condição comportamental de início antes dos 18 anos de idade em que o estudante

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apresenta sintomas psicóticos, com prejuízos importantes na cognição, no afeto e na habilidade de se relacionar socialmente com outras pessoas.

A esquizofrenia de início precoce é uma condição comportamental rara, afetando cerca de uma ou duas crianças para cada 1.000 estudantes, sendo os meninos duas vezes mais acometidos que as meninas. Essa condição comportamental irá lhe prejudicar muito o desempenho acadêmico da criança, pois a doença irá interferir na capacidade em adquirir novas habilidades e novos conhecimentos.

Uma das características fundamentais da esquizofrenia é a presença de sintomas psicóticos. Caracteristicamente, psicose é a manifestação de delírios e alucinações. Delírio é uma alteração do conteúdo do pensamento, o jovem perde o juízo de realidade e sua capacidade de distinguir o falso do verdadeiro. A presença desses pensamentos irreais compromete a compreensão dos fatos e estas alterações terminam por comprometer a interação do estudante com outras pessoas. Nesse caso, a criança pode apresentar pensamentos bizarros, como: acreditar que alguém a está perseguindo ou tentando ler sua mente; pode acreditar que se comunica por telepatia ou que a televisão envia informações codificadas para ela.

A alucinação é uma alteração da senso-percepção, isto é, a percepção real de algo inexistente. Tudo que pode ser percebido pelos cinco sentidos (audição, visão, tato, olfato e gustação) pode também ser alucinado, sendo as alucinações auditivas e visuais as mais frequentes. Nesses casos, a criança escuta ou vê algo que não existe, que não é real.

A esquizofrenia é uma condição médica importante e tem uma origem neurobiológica. Isso significa que as causas do problema estão relacionadas com alterações cerebrais. O tratamento da esquizofrenia de início precoce deve envolver a psicoeducação sobre a doença, medicamentos, psicoterapia familiar e a psicoterapia cognitivo-comportamental.

FOBIA ESPECÍFICAA fobia específica é um transtorno ansioso caracterizado por

um medo persistente e exagerado na presença ou antecipação de situações ou objetos específicos como animais, insetos, sangue, altura, lugares fechados, voar de avião, dentre outros. A exposição da criança ou adolescente à situação temida (estimulação fóbica) é capaz de desencadear resposta ansiosa imediata. Essa resposta está frequentemente associada através de sintomas somáticos como nervosismo, choro, ataques de pânico e irritabilidade.

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O comportamento evitativo e a ansiedade antecipatória causadas pelo medo de enfrentar situações temidas interfere significativamente na rotina acadêmica, ocupacional e nas relações da criança com seus amigos e colegas de sala de aula.

FOBIA SOCIALA fobia social ou timidez patológica é uma condição

comportamental onde a pessoa apresenta medo, ansiedade e grande timidez de se expor em situações sociais.

Na escola, crianças e adolescentes com quadro de fobia social apresentam comportamento evitativo, dificilmente pedem ajuda aos professores quando apresentam dúvidas, negam-se a apresentar trabalhos na frente da sala de aula, não participam de trabalhos em grupo, atividades esportivas e evitam de comparecer a festas de aniversário. Comumente evitam conversar com jovens do sexo oposto.

Crianças pequenas podem chorar ou se esconder atrás de suas mães quando confrontadas com situações sociais que causem medo ou insegurança e podem apresentar dificuldade em frequentar a escola. Adolescentes com fobia social apresentam grande dificuldade de se “enturmar” ou de formar vínculos de amizade, principalmente com jovens do sexo oposto. Jovens com quadros de fobia social podem iniciar o uso abusivo de bebidas alcoólicas, pois percebem que quando bebem tornam-se menos ansiosos e inseguros. Esse uso de álcool pode tornar-se frequente, como se fosse uma tentativa de “automedicação” contra os sintomas do transtorno e isso pode se tornar uma armadilha sem volta, podendo o jovem vir a se tornar um alcoólatra.

MUTISMO SELETIVOO mutismo seletivo consiste na incapacidade da criança em

falar e se comunicar verbalmente em determinadas situações e que acaba por interferir em seu funcionamento acadêmico e social. São crianças que apresentam sintomas de ansiedade na presença de pessoas de fora de seu círculo de confiança. São capazes de conversar normalmente com pais ou professores, entretanto na presença de visitas ou de novos colegas e pessoas desconhecidas, por exemplo, tornam-se mudos, incapazes de responder a perguntas propostas. Algumas crianças com mutismo seletivo podem se comunicar nessas situações fazendo-se da utilização de gestos, movimento da cabeça ou sussurrando no ouvido de sua mãe que serviria como interlocutor.

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PÂNICO O transtorno do pânico é caracterizado por ataques de pânico recorrentes e inesperados, que são períodos de intenso medo ou desconforto acompanhado de sintomas somático como palpitações, sudorese, tremor de mãos, dor no peito, dores de barriga, medo de enlouquecer ou de morrer. Outra característica que pode acompanhar o transtorno de pânico é a presença ou não de agorafobia, que é a ansiedade ou medo de estar em lugares abertos ou cheios de gente. O jovem tem medo de vir a passar mal e não ter ninguém para socorrê-lo e pode passar a apresentar um comportamento evitativo dessas situações, por exemplo.

TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA

O transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por grande e excessiva preocupação ou ansiedade e apresenta dificuldade para controla-la. Essas preocupações causam dificuldade no funcionamento social, acadêmico e ocupacional dessas crianças e adolescentes e o transtorno está relacionado com sentimentos de apreensão e dúvida, cansaço, fadiga, tensão muscular, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e irritabilidade.

Crianças com o transtorno de ansiedade generalizada apresentam grande preocupação frente a eventos futuros, relacionamentos com colegas e aceitação pelo grupo escolar, por exemplo. Essas crianças encontram-se frequentemente preocupados com múltiplos assuntos, como se o mundo fosse repleto de perigos e problemas, superestimam situações problemáticas, são negativistas e sempre aguardam por eventos catastróficos.

TRANSTORNO DE TIQUESOs tiques são movimentos ou vocalizações que ocorrem

subitamente, de maneira rápida, recorrente, não-rítmica, estereotipada, são involuntários e podem ser classificados como tiques motores e vocais. Os tiques motores normalmente são representados por contrações repetitivas e rápidas de grupamentos musculares como piscar os olhos, encolher os ombros, espasmos de pescoço e “fazer caretas”. Formas mais graves do transtorno de tiques incluem tiques motores complexos em que ocorre comportamento de cheiras objetos, saltar, tocar ou até a exibição de gestos obscenos.

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Os tiques vocais mais comuns são de tossir, pigarrear, roncar e fungar. Tiques vocais complexos incluem a repetição de palavras, frases ou até o disparo de palavras obscenas fora de contexto.

Tiques esporádicos são comuns de ocorrer com toda criança e frequentemente estão associados ao estresse e crianças tímidas ou ansiosas são mais propensas a apresentar tiques. Esses tiques transitórios desaparecem com o tempo diferentemente dos transtornos de tiques, condições mais graves e que necessitam de auxílio médico.

O tipo mais comum de tiques é o transtorno de tique transitório, que afeta até 10% das crianças em idade escolar. Tiques que duram mais de um ano são chamados de transtorno de tiques crônico e afetam em torno de 1% da população infantil.

TRANSTORNO DE TOURETTEO transtorno de Tourette foi inicialmente descrito pelo médico

francês Gilles de la Tourette em uma criança francesa em 1885 e é considerado o principal transtorno de tique. Os sintomas têm início entre os 6 e 10 anos de idade, sendo os tiques motores faciais como piscar de olhos e movimentos do pescoço as principais manifestações inicialmente observadas. Posteriormente esses tiques tendem progressivamente a acometer membros, tronco, até a apresentação de tiques vocais.

TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO O transtorno obsessivo compulsivo é um transtorno

comportamental caracterizado pela presença de obsessões e compulsões. Obsessões são pensamentos persistentes, repetitivos, intrusivos e sem sentido que “invadem a cabeça” e que a pessoa reconhece como sem sentido, inadequado ou desnecessário, entretanto não consegue controla-los. Pode apresentar-se sob a forma de repetição de palavras, pensamentos, medos, números, fotos ou cenas e normalmente estão relacionadas com ideias de limpeza, contaminação, segurança, agressão ou sexo. Compulsões são comportamentos repetitivos (lavar mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (rezar, contar, repetir palavras, frases, números) que a pessoa se sente obrigada a executar em resposta a uma obsessão. Os comportamentos compulsivos visam prevenir ou reduzir o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida e causam sofrimento, consomem tempo (mais de 1 hora por dia), interfere significativamente na rotina, no funcionamento social, ocupacional e acadêmico da criança e do adolescente. O transtorno pode afetar seu rendimento escolar e sua vida social familiar; limita suas atividades e interfere em sua rotina diária.

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A criança normalmente entende que suas compulsões são desnecessárias e sem sentido, entretanto apresentam dificuldade em resistir ao comportamento. No caso de crianças pequenas, comumente pode ser observado compulsões sem obsessões e estas podem não reconhecer suas compulsões como sendo excessivas e sem sentido. Essas crianças geralmente se escondem seus rituais até estes se tornarem tão intensos ao ponto de ser descoberto. Esses sintomas tendem a mudar no decorrer do tempo: algumas crianças podem apresentar rituais até estes se tornarem tão intensos ao ponto de ser descoberto. Esses sintomas tendem a mudar no decorrer do tempo: algumas crianças podem apresentar rituais de checagem ou verificação e no decorrer dos meses evoluir para rituais de simetria, por exemplo.

DEFICIÊNCIA INTELECTUAL – (DI) x DEFICIÊNCIA MENTAL (DM)

A Organização Mundial de Saúde (OMS -1980) propôs três níveis para esclarecer as deficiências, a saber: deficiência, incapacidade e desvantagem social. Já em 2001, esta proposta foi revista e a pessoa com deficiência passou a ser vista com funcionalidade global, com relação aos fatores contextuais e do meio, representando assim um rompimento com o isolamento, pois, essa pessoa sendo capaz de se relacionar com fatores externos e consigo também, se relaciona com as demais pessoas.

Na definição médica, deficiência mental envolve, além dos componentes genéticos, os fatores ambientais, preservando o conceito de QI. Assim: “O conceito de deficiência mental é fundamentado no déficit de inteligência, abrangendo variadas causas pré, peri e pós-natais. Entretanto, a variação da inteligência entre os componentes de uma população não depende somente de seu genótipo, mas também das diferenças ambientais”.

Em 2002, a Confederação Espanhola para Pessoas com Deficiência Mental aprovou por unanimidade uma resolução substituindo a expressão “deficiência mental” por “deficiência intelectual”.

Após longos debates em prol da mudança do termo e do nome, a deficiência mental passou a ser designada de deficiência intelectual. Sassaki (2003) registra que a Psicologia, a Medicina e a Neurociência abriram as fronteiras do conhecimento sobre o fenômeno do déficit cognitivo, possibilitando que profissionais e os familiares mais bem informados passassem a recomendar a adoção do termo ‘deficiência intelectual’, entendendo que o déficit cognitivo não está na mente como um todo e sim numa parte dela, o intelecto. Assim, segundo o autor o termo Deficiência mental precisa ser eliminado das salas de aula, dos

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consultórios médicos, dos registros de caso, e eventualmente, do vocabulário do povo nas ruas.

Por outro lado, segundo OMS – CID.10 (1995), a classificação da OMS – CID.10 (Organização Mundial da Saúde), é baseada ainda no critério quantitativo. Por essa classificação, a gravidade da deficiência intelectual ou mental está relacionada às nomenclaturas: Profundo, Severo, Moderado, Leve. Nesse intuito, de acordo com a OMS, em sua denominação desde 1976, as pessoas com deficiência são classificadas como portadoras de Deficiência Mental leve, moderada, severa e profunda. Essa classificação por graus de deficiência deixava claro que as pessoas não são afetadas da mesma maneira. Contudo, nos dias atuais tende-se a não enquadrar previamente as pessoas com deficiência intelectual em uma categoria baseada em generalizações ou comparações, mas sim considerando a pessoa de acordo com as relações estabelecidas socialmente, por exemplo, seu convívio familiar, os estímulos recebidos, etc.

A deficiência intelectual é um quadro psicopatológico que se refere, de maneira especial, às funções cognitivas. O que caracteriza a deficiência intelectual são defasagens e alterações nas estruturas mentais para o conhecimento. No entanto, ainda de acordo com o documento acima apresentado, o fato de a criança ter uma deficiência intelectual não diz respeito ao modo como sua estruturação subjetiva está se processando, o que remete a possibilidade desta criança se constituir como um sujeito possuidor de desejos, vontades e sonhos. Porém, o que determina as diferentes estruturas são as experiências e formas de relações que a mesma estabelece, a partir do lugar que ocupa em sua cultura de origem.

Embora as dificuldades resultem dos prejuízos cognitivos, é evidente que são fortemente influenciadas por fatores ambientais, como precocidade do diagnóstico, preconceitos, qualidade dos serviços de apoio, inclusão familiar, entre outros. Desde já é importante deixar assinalado que, apesar da utilização de protocolos de investigação bastante abrangentes, em número significativo de casos não conseguiremos identificar a causa. Estima-se que isso ocorra em cerca de 50% dos casos.

Os tratamentos a serem propostos para pessoas com DI deverão ser planejados caso a caso, uma vez que cada indivíduo apresenta peculiaridades únicas. Nesse planejamento deverão ser considerados o grau de DI, o grau de comprometimento nas várias áreas adaptativas, outras características presentes, eventuais comorbidades, características das famílias, os recursos comunitários entre outros. O fato é que devemos identificar a deficiência o mais cedo possível, a fim de poder tentar minimizar os efeitos do insulto sobre o sistema nervoso. O tratamento das condições que cursam com DI é, em geral, caro,

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prolongado e com resultados, habitualmente, apenas sofríveis. O indivíduo terá que ser diagnosticado e tratado por uma equipe multidisciplinar e, em alguns casos, terá que frequentar uma escola especializada.

DEFICIÊNCIA MENTAL X DOENÇA MENTAL

Doença mental e deficiência mental são fenômenos distintos, embora haja muita confusão no uso e no entendimento desses dois termos. Esta é, certamente, a questão mais frequente que se encontra em pessoas com responsabilidades nas mais diferentes áreas da vida social e política. Importa, portanto, esclarecer que a doença mental ocorre em pessoas com os graus mais variados de inteligência. A doença mental não é uma condição inerente às pessoas com deficiência mental mais do que o é às pessoas com inteligência média ou acima da média. O deficiente mental, embora tenha problemas de comportamento, não tem como causa da sua deficiência esses problemas. O doente mental é aquele que rompe com sua estrutura de vida através de uma doença geralmente de ordem psíquica, como as neuroses, psicopatias, transtornos e esquizofrenia. Nesses casos, a percepção que tem de si mesmo e da realidade encontra-se alterada.

Deve-se enfatizar que o portador de deficiência mental não tem alterada a percepção de si mesmo e da realidade e é, portanto, capaz e tem o direito de decidir o que é melhor para ele. Apesar do fato de que 20 a 30% dos deficientes mentais apresentem associação com algum tipo de doença mental, como a síndrome do pânico, depressão, esquizofrenia, entre outras, isso não significa que deficiência e doença mental seja fenômenos dependentes ou mesmo semelhantes. As doenças mentais, podem e devem ser tratadas, pois afetam o desempenho dos indivíduos, prejudicando primariamente, outras áreas do funcionamento que não a inteligência, como, por exemplo, a capacidade de concentração, o humor, o pensamento e o bom senso. 

Conceito de Doença Mental

Nada é mais incerto do que a definição de doença mental. Por não existir uma definição universalmente aceita existem várias correntes teóricas sobre o assunto, que se contrapõem. Isso pode ser ilustrado por um livro de Szas que fez um certo sucesso, no qual o autor coloca em dúvida a existência da doença mental. Existiriam, sem dúvida, algumas doenças do cérebro, verdadeiras lesões orgânicas das células nervosas. Em todos os outros casos, porém, tratar-se-ia de atitudes do indivíduo sem qualquer base de critérios éticos e psicossociais, e vividas pela pessoa como uma linguagem, a única a que "o solitário, o rejeitado, o pobre e o

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não instruído podem recorrer na esperança de obter o que não puderam obter por outras vias", isto é, "sua porção de amor humano".

Entretanto, essa teoria é vista pela sociedade médica e científica, como uma proposta radical e infundada, já que também não há uma definição universalmente aceita de saúde cardíaca, mas ninguém nega as doenças do coração. Os critérios de diagnóstico preconizados pela Organização Mundial de Saúde para se reconhecer uma determinada doença mental estão disponíveis para consulta. É com base nesses critérios que os médicos psiquiatras decidem se uma pessoa tem esquizofrenia, transtorno bipolar (psicose maníaco-depressiva), depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, etc. 

De acordo com uma definição legal estabelecida pela Lei de Higiene Mental de Nova York, em 1992, a doença mental é uma "condição mental que é manifestada por um distúrbio no comportamento, sentimento, pensamento, ou julgamento de tal forma extenso, que a pessoa requer tratamento e reabilitação".

Segundo Rey, Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde (1999), doença mental é um termo geral para os distúrbios da mente, afetividade, percepção e comportamento, com manifesta incapacidade resultante dessas perturbações percebidas tanto pelo paciente como pelos seus próximos. Alguns exemplos de doenças mentais podem ser destacados, como:

Neurose - termo geral para transtornos psíquicos, sem grave ruptura com a realidade, em que não se evidenciam lesões orgânicas. A neurose é caracterizada por um comportamento anormal, podendo revestir formas múltiplas. Os pacientes neuróticos têm consciência desses transtornos, mas não têm o poder de controlá-los (contrariamente ao que ocorre nas psicoses, em que os doentes não têm consciência de seu estado). A neurose perturba a afetividade, mas não a atividade intelectual.

Psicose - Termo geral para transtornos mentais graves, marcados por flagrante ruptura com a realidade, alterando a percepção e a compreensão da realidade, desorganizando o comportamento afetivo e social, sem que os pacientes tenham em geral consciência do caráter patológico de tais fatos. Entre suas manifestações encontram-se delírios, alucinações, discurso marcadamente incoerente e conduta desregrada ou agitada. O termo é usado também em sentido mais amplo para referir desordens mentais em que o funcionamento da mente se encontra alterado a ponto de interferir grosseiramente com a capacidade do paciente para resolver os problemas comuns da vida cotidiana.

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Esquizofrenia - Grupo de afecções mentais crônicas, de causa desconhecida, que constituem o tipo mais freqüente de psicose e cujo quadro clínico é marcado por distorções características do pensamento (delírios) e da percepção (alucinações), assim como por afetos inapropriados ou embotados. A consciência e a capacidade mental permanecem claras, ainda que certos déficits cognitivos possam evoluir com o tempo. Os fenômenos patológicos mais importantes incluem: o eco do pensamento, a importância ou roubo do pensamento, a percepção delirante, as idéias delirantes de controle, de influência ou de passividade, vozes alucinatórias que comentam ou discutem com o paciente, transtornos de pensamentos e sintomas negativos. A evolução desses transtornos pode ser contínua, episódica, com ocorrência de um déficit progressivo ou estável, ou comportar um ou vários episódios seguidos de remissão completa ou incompleta.

Transtornos: psicose-maníaco-depressiva (transtorno afetivo bipolar), transtorno depressivo, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros. 

A historicidade das doenças mentais.

O aparecimento, a evolução e o diagnóstico da psicopatia estão ligados às condições histórico-sociais, e também à cultura que prevalece em um dado ambiente. A incerteza existente sobre o conceito, o diagnóstico e a evolução das doenças mentais decorre da sua historicidade, das mutáveis relações sociais que influenciam o fenômeno. Mas deriva também do fato de que as lesões orgânicas e as anomalias funcionais do cérebro são numerosas e muito diversas entre si. Do recém-nascido que sofre uma lesão cerebral durante o trabalho de parto a um velho atingido pela doença senil, de um alcoólatra a um neurótico, de um epilético a um esquizofrênico, há em comum apenas o rotulo de "doente mental". Mas as causas, os sintomas, a evolução, os prognósticos, têm uma grande diversidade.

Qualquer tentativa de explicar com uma só raiz comum, de fundar uma teoria etiopatogênica única das doenças mentais, ainda que se parta de uma base científica real, corre por essa razão o risco de cair em generalizações arbitrárias. Pode ser útil, contudo, fazer uma rápida resenha de alguns fatores que podem influir nas psicopatias, causando-as ou favorecendo seu agravamento.

  As fábricas de doentes: um dos méritos principais do movimento de "negação institucional", daqueles que denunciaram e abriram os manicômios foi o de haver feito, finalmente, uma profunda reviravolta no conceito do doente mental como perigoso para si e para os

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outros, como ameaça para a sociedade; como um perigo para os sadios e como um fator de agravamento para os doentes.

Tornou-se uma consciência difundida, a opinião que as instituições repressivas, e também aquelas que declaram ter finalidades cientificas, na realidade selecionam, fixam e agravam os desvios do comportamento e são, por isso, fábricas de doentes. As causas hereditárias: Para algumas doenças uma causa hereditária foi demonstrada com segurança. As generalizações tornaram-se arbitrárias quando a sintomatologia não consiste, por exemplo, em um déficit mental grave, ou em movimentos incessantes, desordenados e repentinos, mas em um temperamento violento e agressivo, cuja origem e valorização dependem dos tempos e das pessoas.

Parece bastante ociosa, e sem dúvida estéril, a contra-posição entre biogênese, psicogênese e sociogênese das doenças mentais. Enquanto pode ser mais útil ver por que hoje, nestas condições histórico-sociais, as predisposições tornam-se mais facilmente doenças, os casos duvidosos são mais amiúde rotulados como desvios irremediáveis, os doentes são mais freqüentemente segregados e seus distúrbios agravados. 

A Doença Mental Segundo Vygotsky

Para Vygotsky, o conceito de comportamento normal está entre aquelas concepções científicas mais difíceis e indefinidas. Na realidade não existe nenhuma norma, mas se verifica uma multiplicidade infinita de variações, de desvios da norma, e freqüentemente é muito difícil dizer onde o desvio ultrapassa aqueles limites além dos quais já começa o campo do normal. Tais limites não existem em lugar nenhum e, neste sentido, a norma é um conceito puramente abstrato e, na prática, não é encontrada em forma pura mas sempre em certa mistura de formas anormais. Por isso não existem fronteiras bem delimitadas entre o comportamento normal e o anormal.

Entretanto, os desvios às vezes atingem dimensões quantitativamente tão consideráveis que possibilitam falar em comportamento anormal. Formas desses comportamentos podem ser encontradas também em pessoas normais, representando um comportamento provisório e passageiro; mas podem ser encontradas também em pessoas como formas mais duradouras e inclusive constantes do seu comportamento. Desse ponto de vista, todas as formas anormais de comportamento podem ser divididas nos seguintes grupos:

a. Formas breves e casuais – lapsos, omissões, esquecimentos, delírios, embriaguez, etc.;

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b. Estados duradouros e estáveis – neuroses, psicoses, algumas formas de doenças mentais;

c. Falhas de comportamento constantes e vitalícios.

É importante ressaltar que é incorreta uma antiga concepção segundo a qual as formas anormais de comportamento são algo absolutamente diferente das formas de comportamento normal. As fronteiras que separam o normal do anormal são tênues. O doente mental não difere do indivíduo são, seja organicamente ou em capacidade intelectual. Os processos apresentados por um doente mental (delírios, paranóias, etc) também são comuns e estão presentes no individuo são. A diferença entre o doente e o são é o papel que esses processos representam para cada um deles.

Abordagens em saúde mental

O problema da saúde mental pode ser abordado sob dois aspectos: o científico e o social. Os organicistas alegam que a doença vem, primariamente, do organismo. Quer dizer, o organismo adoece. Isso é verdadeiro e serve, não só para as doenças mentais, como para as orgânicas. Entretanto, um outro fator, é a cura da causa desencadeante, passando a ser fundamental a preocupação com as causas sociais. Na formação da personalidade, normal ou patológica, predomina um fator: o homem é forjado pelo social. A dinâmica diretamente geradora e formadora da pessoa humana não está fundamentalmente centrada no indivíduo biológico (no seu potencial para o sentir, o pensar e o agir), mas, sim, em suas relações com o mundo. O social tem uma abrangência muito grande, e não é só a miséria material, apesar de estar intimamente relacionada a ela, mas, também, a miséria humana, como frustrações, amarguras e insucessos.

Os fatores orgânicos - predisposições hereditárias, congenitismo, lesões ou disfunções -, têm imensa importância para a doença mental, mas, fundamentalmente, o homem adoece socialmente, como consequência direta ou indireta da exploração do homem pelo homem. Na verdade, nem todos que enfrentem sérios problemas sócio familiares adoecem mentalmente. Entretanto, vimos constatando que é muito mais difícil o adoecer psíquico sem tais problemas.

Nem todo adoecer mental vem sendo — social e cientificamente — considerado loucura, pois que o conceito oficial da loucura está intimamente ligado ao estado da consciência, exigindo alguns importantes requisitos para poder ser definida, como o imperfeito funcionamento da consciência, no que diz respeito ao conhecimento, o justo reflexo do mundo objetivo no subjetivo humano. É a perda do

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equilíbrio, do "senso da realidade", a "perda do juízo". Deverá estar o paciente inconsciente, isto é, fora do mundo real. Terá que estar vivendo e vivenciando um mundo de fantasia, irreal, imaginário, alucinado e delirante. Evidentemente que tal estado — o da loucura — implica, inclusive, profundas alterações do afetivo, o que inclui, além do amor e do ódio, o humor. Para o médico e psiquiatra social Eros Sucena Martins Teixeira, "a sociedade esquizofrênica pode levar um indivíduo à loucura".O médico carioca há três décadas cuida das questões da psicossíntese, um processo de conscientização da realidade global do indivíduo, um processo de desalienação mental e social.

O especialista afirma que a loucura pode ser causada, além do fator orgânico, pelo aspecto social, sendo este de suma importância, já que, em quase cem por cento dos casos, o social aparece como agente desencadeante, ao passo que o orgânico nem sempre está presente. Envolvidos nesta questão, estão a fome, o crime e a auto-realização. Todos derivados de uma sociedade de capitalismo alucinante, que fala em patriotismo, social, comunidades, mas o que realmente ensina é o individualismo e a competição exacerbada, inserindo e cobrando metas e realizações impossíveis, como levar vantagem em tudo e ser o melhor, principalmente através dos programas de televisão e propagandas veiculadas nos principais meios de comunicação. Ao mesmo tempo não garantem tais realizações, causando, com isso, frustrações e amarguras profundas, que podem levar à loucura.

 Deficiência Mental

As contribuições relevantes sobre a definição de deficiência mental são numerosas, incluindo enfoques variados. O significado do termo é frequentemente impreciso e muitas vezes seu emprego é incorreto. As ideias de que se reveste dependem, sobretudo, da formação profissional de quem o emprega e dos propósitos de sua utilização. Especialistas em medicina, interessados na etiologia da deficiência, definem o termo do ponto de vista de suas causas determinantes, colocando em evidência fatores como os transtornos metabólicos e as disfunções neurológicas. Profissionais de psicologia, motivados com o estudo do comportamento humano, destacam a importância do desenvolvimento intelectual e social, com suas mensurações pertinentes. Conselheiros de reabilitação, orientados para o treinamento profissional, acentuam aspectos relacionados com habilidades vocacionais e nível de adaptação `a situação de trabalho. Pedagogos, considerando o grau de educabilidade do indivíduo, relacionam o conceito de deficiência mental com dificuldades de aprendizagem e com deficiências no acompanhamento dos programas escolares. Essas posições demonstram que o conceito varia conforme a perspectiva do profissional que o define,

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deixando entrever tendências parcializantes advindas da própria formação do seu autor.

Há que se considerar, no entanto, que o conceito em discussão é complexo para ser definido, por tratar-se de uma designação que abrange causas diversas e aspectos múltiplos, dos quais constituem denominadores comuns a capacidade intelectual insuficientemente desenvolvida e as dificuldades de adaptação social.

Com a intenção de buscar uma conceituação de maior abrangência, será analisada uma definição amplamente aceita na atualidade e que parece incluir os aspectos mais importantes da deficiência mental. Trata-se da elaborada por Heber e aprovada pela AAMD (American Association of Mental Deficiency) que vigora como princípio orientador das organizações internacionais e da maioria dos trabalhos mais importantes no campo.

Segundo a AAMD e DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), por deficiência mental entende-se o estado de redução notável do funcionamento intelectual significativamente inferior à média, que dá lugar a deficiências no comportamento adaptativo e que tem origem no período de desenvolvimento. O rebaixamento intelectual está associado a limitações pelo menos em dois aspectos do funcionamento adaptativo, tais como: comunicação, cuidados pessoais, competência domésticas, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, saúde e segurança, aptidões escolares, lazer e trabalho.

Entende-se por funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, em termos quantitativos o desempenho intelectual menor do que um desvio padrão abaixo da média, relativo à população geral. A deficiência mental pode ser caracterizada por um quociente de inteligência (QI) inferior a 70, média apresentada pela população, conforme padronizado em testes psicométricos ou por uma defasagem cognitiva em relação às respostas esperadas para a idade e realidade sociocultural, segundo provas, roteiros e escalas.

Por deficiências no comportamento adaptativo são entendidos os déficits apresentados nos componentes básicos da personalidade, quais sejam: maturação, aprendizagem e ajustamento social.É importante considerar que cada um destes fatores adquire maior ou menor relevância, dependendo da fase do desenvolvimento humano com a qual mais se identificam: o primeiro (maturação), com a idade pré-escolar; o segundo (aprendizagem), com a idade escolar e o terceiro (ajustamento social), com a idade adulta. Por período do desenvolvimento compreende-se os primeiros anos de vida da criança.

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Todos os aspectos citados anteriormente devem ocorrer durante o desenvolvimento infantil para que um indivíduo seja diagnosticado como sendo portador de deficiência mental. Percebe-se que o enfoque da AAMD é integrativo e está ligado ao desenvolvimento, distinguindo-se dos que consideram os padrões relacionados ao comportamento adulto. Por esse ponto de vista, a pessoa portadora de retardo é analisada em termos de seu desempenho nas tarefas apropriadas à sua fase de vida, como qualquer ser humano. Além disso, nessa abordagem, o conceito inter-relaciona-se com a consideração global relativa aos diferentes tipos de deficiência (tendência dos estudos mais recentes). Os mesmos são integrados em um contexto abrangente, referido aos chamados distúrbios do desenvolvimento ou necessidades especiais, presentes no processo de aprendizagem.

A definição adotada confere importância à coexistência dos dois aspectos da deficiência, quer no funcionamento intelectual, quer no comportamento adaptativo, ambos tomados em um processo evolutivo. Nas definições anteriores, esses dois fatores eram considerados de forma independente ou aceitos como unidades isoladas. De acordo com a tendência atual, o importante é o equilíbrio de funcionamento entre os dois elementos. Se um indivíduo situa-se abaixo da média em nível mental e acima dela em conduta adaptativa, a conclusão a que se pode chegar é a de que se colocam em dúvida os resultados da avaliação de suas capacidades mentais. Se, ao contrário, um indivíduo apresenta Q. I acima da média e comportamento adaptativo baixo, a conclusão decorrente é a de que outros fatores, fora da capacidade intelectual, incidem no referido comportamento.

A definição aceita proporciona uma dupla comprovação do funcionamento inteligente. Além disso, as medidas das capacidades intelectuais estão sujeitas a flutuações que atendem à mobilidade do desenvolvimento. O mesmo acontece com a variável "competência social", apesar de basear-se nas influências do meio ambiente, do viver independentemente e do adaptar-se aos padrões socialmente aceitos.

O conceito em pauta atribui importância relativa aos fatores causais e também a apreciações prognósticas do retardo mental. No que se refere à etiologia, esta é, frequentemente, de difícil determinação. São inúmeros as causas e os fatores de risco que podem levar à instalação da deficiência mental (causas pré-natais, tais como alterações genéticas e malformações cerebrais, causas perinatais, tais como anóxia, prematuridade, infecções e causas pós-natais, tais como infecções do sistema nervoso central, traumas cranianos, subnutrição, entre outras). É importante ressaltar, entretanto, que muitas vezes, mesmo utilizando

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sofisticados recursos diagnósticos, não se chega a definir com clareza a causa da deficiência mental.

O conceito chama a atenção para o emprego de vários critérios a serem utilizados na identificação da deficiência mental, fato que torna o processo cuidadoso e preciso, tendo em mira importantes medidas educacionais e de reabilitação propícias.

Infere-se desse conceito a idéia fundamental de que a DM não é uma entidade nosológica, nem uma síndrome, nem um sintoma, mas sim um complexo sintomatológico, cuja única unidade reside na deficiência intelectual.

Essas considerações levam à conclusão de que a definição de retardo mental é complexa, incluindo várias abordagens por vezes conflitantes. Nessas contribuições está implícita a tendência integradora, até mesmo de natureza interdisciplinar, que procura conjugar diferentes posições e interligar critérios diversos para analisar o conceito, ao invés de adotar apenas uma variável do comportamento para sua identificação. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 10% da população em países em desenvolvimento, são portadores de algum tipo de deficiência, sendo que metade destes são portadores de deficiência mental. 

É importante ressaltar que a deficiência mental não implica, necessariamente, lesão cerebral. Enquanto que em alguns casos se sabe ou se suspeita de lesão cerebral, a grande maioria tem causas sócio-afetivo-culturais ou causa desconhecida. Além disso, diferentemente do que se pensa a deficiência mental não implica aspecto físico diferente; alguns casos mais graves são acompanhados de defeitos físicos evidentes e nos casos de Síndrome de Down ou Mongolismo as características físicas são peculiares, porém a grande maioria apresenta o mesmo aspecto físico de qualquer outra pessoa. 

3 - Um breve histórico sobre a Deficiência Mental

Sabe-se que o forte preconceito e discriminação que enfrentam os portadores de deficiências atualmente são decorrentes de um processo histórico. Partindo desse pressuposto, a fim de compreender um pouco melhor este processo, o grupo optou por fazer um breve histórico da Deficiência Mental no mundo. Os registros mais antigos referentes ao tema são da Grécia Antiga. Como é sabido, neste período, o ideal de homem atlético era o que se reverenciava nesta cultura. Esculturas e pinturas da época comprovam esse fato. Nesse quadro, o portador de deficiência não era considerado humano. Era legítimo o abandono, ou a morte deste, uma vez que fugia dos padrões de normalidade da época.

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Esse tipo de tratamento dado aos deficientes foi socialmente naturalizado em todas as regiões até o surgimento do Cristianismo na Europa. A partir de então, eles ganham alma, passando inaceitável o abandono. Passam, por volta do século IV, a receberem abrigo e proteção, além de tolerância, sem que isso signifique serem aceitos como cidadãos. No século XIII, na Bélgica, surge a primeira instituição para abrigar os deficientes mentais. Em um tempo posterior, surge uma Lei defendendo direito à sobrevivência dos deficientes mentais, capazes de contribuir financeiramente com a Coroa. Nessa mesma época surge uma diferenciação jurídica entre deficientes mentais e doentes mentais.

Além do direito à alma, surgem com o cristianismo, interpretações diversas acerca da natureza das deficiências. "Será assim, ‘I’enfant du bom Dieu’, mas portador de misteriosos desígnios da divindade". (PESSOTTI, pg 5) Interpretações diferentes ocorrem a partir desse mesmo princípio, gerando diferentes formas de tratamento. Por um lado, há quem conceba a deficiência como uma escolha divina aos abençoados responsáveis por pagar pelos males da humanidade, dignos de caridade. Por outro, há os que compreendem a deficiência como um castigo a ser pago por alguns, e, por isso, nada mais justo que o isolamento. Assim, os deficientes em ambos os casos, têm direito ao asilo e alimentação, mas são isolados, para que a sociedade não precise conviver com as condutas dos deficientes. Nesse sentido, a diferença está em palavras apenas. Tanto em caso de caridade, quanto castigo, o deficiente é isolado da sociedade.

Durante a inquisição, os deficientes mentais, portadores de linguagem eram torturados e queimados. Os bens destes eram confiscados em benefício do inquisidor. Em um documento com regras precisas acerca dos casos de heresia, uma definição clara da compreensão do deficiente como presa de entidades malignas: "nigromantes: podem conhecer-se pelos sinais seguintes: têm vista torta, por causa das visões, aparições e conversas com os espíritos maus..." (PESSOTTI, pg 9). Assim, o Santo Ofício definia os dementes como seres diabólicos.

Durante a Reforma Protestante, o mesmo tratamento era dado. "A rigidez ética carregada da noção de culpa e responsabilidade pessoal conduziu a uma marcada intolerância cuja explicação reside na visão pessimista do homem, entendido como uma besta demoníaca quando lhe venham a faltar a razão ou a ajuda divina." (PESSOTTI, pg 12) Lutero considerava os deficientes como seres tomados pelo demônio, indicando dois caminhos possíveis: que se afoguem os deficientes, ou se reze até que o demônio abandone seu corpo.

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A partir de 1526, uma nova visão acerca da deficiência mental começa a surgir, com Paracelso, médico e alquimista que pensa , pela primeira vez, a deficiência como um problema médico e não teológico ou moral. Define então o deficiente mental como doente ou vítima de forças sobre-humanas, ambos merecedores de atenção médica. Nesta mesma época, Cardano – filósofo e médico- desenvolve idéias semelhantes, no sentido de defender os deficientes como merecedores de cuidados médicos. O grande diferencial de Cardano é a preocupação com cuidados pedagógicos aos deficientes. Ele acredita na instrução destes, algo extremamente inovador.

Por mais que inovem sobre o conceito de deficiência, Paracelso e Cardano conservam ainda pensamentos supersticiosos, pois ambos enxergam os deficientes mentais como seres dotados de poderes especiais, sobre-humanos. Em 1534, uma Lei define loucura e idiotia como enfermidades, com intuito de assegurar o direito à herança. Assim, define-se o idiota e o louco:

"Esse chamará bobo ou idiota de nascimento à pessoa que não pode contar até vinte moedas nem nos dizer quem era seu pai ou mãe, quantos anos tem, etc.... de forma que parece não haver possuído conhecimento de qualquer razão da qual se pudesse beneficiar ou que pudesse perder. Mas se tem um conhecimento tal que conhece e compreende suas letras e lê mediante ensino ou informação de outro homem, então não se deve considerar-se bobo ou idiota natural." (PESSOTTI, pg. 17) A boa administração da herança é a preocupação central.

Em 1664, com Thomas Willis, ocorre um grande avanço na compreensão da Deficiência Mental. A partir de um estudo neurofisológico, ele considera a deficiência como produto de estruturas ou eventos neurais. Assim, o louco ou o idiota é caracterizado pela ausência de imaginação e memória, que têm sede no cérebro.

Apesar de revolucionários, os pensamentos acerca da origem da D.M. são pouco disseminados, ficando restritos à uma pequena comunidade de médicos e juristas.

Com John Locke, em 1690, ocorre uma grande revolução. Ele desenvolve uma teoria pedagógica para o atendimento do deficiente, até então visto como quase incapaz. Considero o deficiente mental como carente de experiências sensoriais e/ou reflexões sobre as idéias geradas pelas sensações. Considera o deficiente mental, assim como o recém-nascido, uma "Tabula Rasa", valorizando uma didática especial para o atendimento das deficiências. Nessa teoria, considera a capacidade cognitiva de aprendizagem do homem, que nasce vazio e vai se

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desenvolvendo à medida em que tem contato com as informações. Desse modo, tem-se a primeira consideração do caráter cognitivo do D.M., nunca antes considerado. Antes disso, os deficientes eram mantidos em abrigos isolados, livrando família e poder político do incômodo da presença destes, que se abstinham da tarefa de educá-los.

Mais tarde, em 1746, essa teoria extremamente inovadora foi considerada e valorizada, quando estudada por Condillac. Ele desenvolve uma didática especial para atendimento dos deficientes a partir da didática da educação infantil. Trata-se de desenvolver melhor as idéias de Locke. Para formular sua teoria cria como símbolo a Estátua. Esta simboliza o ser Tabula rasa, capaz de ter sensações, mas ainda sem conhecimento do mundo. Define os conhecimentos como sensações, considerando a imaginação, a memória, o julgamento e o raciocínio como elaborações da mente. 

"Tomando-se como exemplo o sentido do olfato, como sensação primeira existe na consciência da estátua somente uma coisa, ou um objeto: o odor, de uma rosa, por exemplo, depois seguido por aroma de jasmim ou de cravo. Se, então, existir na consciência da estátua apenas uma dessas sensações, o odor de jasmim, por exemplo, com exclusão dos outros aromas, o que ocorre é a atenção. Se, afastado o jasmim, persistir a sensação de seu aroma, temos a memória como a impressão persistente de um objeto A estátua pode atentar simultaneamente para a sensação anterior ou para a impressão residual, atual, e assim exercerá a comparação; se nessa comparação percebe semelhanças ou diferenças, produz-se o juízo, ou julgamento (avaliação). As repetições da comparação e do juízo constituem a reflexão e se a estátua, diante de uma sensação desagradável, recorda uma sensação agradável, essa lembrança, mais forte, será a imaginação. Esse conjunto de faculdades, geradas pela percepção sensorial, é o entendimento." (PESSOTTI, pg. 27) 

Nessa teoria, a compreensão é de que o entendimento é anterior à linguagem, e o raciocínio elaborado é uma extensão deste. A percepção precede a elaboração de pensamentos. O exercício das funções intelectuais, a partir das oportunidades e experiências, é que determina a capacidade mental do indivíduo.

Em 1800, com Itard, surge uma experiência de educação especial para deficientes mentais. Trabalhando como reeducador de surdos-mudos, lhe é conferida a tarefa de educar o menino selvagem de Aveyron. Levando o menino ao psiquiatra, este considera-o retardado incurável. A partir da discordância desta opinião, Itard se anima a criar formas para educar o menino, considerando a doutrina da tabula rasa, da estátua e também do bom selvagem (Rousseau). Para ele, a deficiência

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mental é um processo cumulativo, no qual as ações têm relação com aquisições preliminares. Assim, desenvolve um modelo de educação para atender o deficiente. Utiliza a leitura labial e expressão oral , utilizados por ele na educação dos surdos-mudos. À medida em que observa a evolução do menino, ele vai desenvolvendo os aspectos da educação especial, adequando sua experiência anterior, com educação de surdos-mudos à educação dos deficientes mentais.

Historicamente, estes autores são os marcos do pensamento sobre a deficiência mental. A partir daí, certamente, ocorreu uma evolução, mas destacamos estes por serem os precursores. Assim, caminha-se ainda para uma visão cada vez menos preconceituosa da deficiência.

 4- O autoconceito, a autoestima e a autoimagem dentro do processo de desenvolvimento do indivíduo. 

Na vida do portador de Deficiência Mental, estão relacionados conceitos que podem definir um presente e futuro de melhor qualidade. O auto-conceito, a auto-estima e a auto-imagem podem e devem ser tomados como parte do processo de desenvolvimento do indivíduo. O portador de deficiência mental é visto, dependendo da cultura em que estiver inserido, como um "objeto" que tem possibilidade de levar uma vida aparentemente normal em relação às suas capacidades específicas. Note-se que, como Vygotsky afirmava, deve-se procurar observar e atuar junto ao indivíduo tido como especial de maneira que este possa ter uma capacidade de desenvolvimento a maior possível. Como isto é proposto se não se atentar para pontos relevantes como a percepção de si que as pessoas têm?

Na verdade, o que deve ser observado é que as pessoas com déficit de cognição ainda assim têm a sua rede de emoções/sentimentos em estado de normalidade, ou seja, sentem e com isso podem projetar metas para si mesmas e mesmo serem conduzidas para uma estagnação da capacidade de aprendizagem e desenvolvimento pessoal. Tomando-se a autoimagem como um retrato ou perfil psicológico de si mesmo em que a ação construtiva do sujeito reorganiza permanentemente e conservaria em sua memória como resultado das interações vividas no passado ao longo de sua história de vida, pode-se concluir que, se tal indivíduo guardar essas lembranças num nível que atinja uma carga emocional negativa (o que ele vê de si mesmo), virá a ser um ser com problemas de adaptação em circunstâncias que exigem uma postura de decisão.

O indivíduo torna-se então uma espécie de nulidade já que seu "ver-se" estará num nível não ideal. Outro ponto é o autoconceito, ou seja, o conhecimento de si mesmo que a ação construtiva do sujeito estrutura em sua inteligência e expressa como atitude positiva ou negativa diante de

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sua autoimagem. Sendo então relacionado de forma direta ao que o indivíduo já carrega em sua memória, podendo então ser fator de auxílio na capacidade de desenvolvimento do indivíduo. E, também, se a autoestima, que é a carga de afeto, positivo ou negativo, que acompanha o conhecimento e a visão que o sujeito expressa em relação a si mesmo for, na verdade de qualidade mais negativa que positiva é claro que o indivíduo terá seu progresso severamente debilitado.

Isto tudo mostra que as relações que determinada sociedade produz podem atingir as relações de uma pessoa portadora de Deficiência Mental de maneira decisiva já que pode fazer com que ela se sinta desamparada e menos confiante em si mesma. Deve-se sempre compreender que o sujeito com Deficiência Mental não é aquele ser insensível ao meio. É, na verdade, participante de todo o conjunto que forma uma personalidade determinada. Se o caso é de se ter uma atenção especial e também de certa forma mais atuante, é conveniente lembrar que, além desse tipo de compreensão pode-se conservar os níveis de aceitação do indivíduo para si mesmo e por outras pessoas que não apresentam déficit mental num patamar ótimo.

Para que isso ocorra é necessário tratar todo e qualquer indivíduo que apresente Deficiência Mental como sendo uma pessoa com capacidade de aprendizado e desenvolvimento abaixo do normal, mas que pode e deve ser estimulado para que sua possível inserção no meio social seja feita de maneira positiva. Não é o caso apenas do professor que terá atuação sobre as pessoas com necessidades especiais, é também o caso de familiares, por exemplo, já que o contexto familiar tem importância primordial.

Note-se o caso dos diferentes tipos de pais: alguns são autoritários e podem prejudicar os filhos ao tratarem de maneira aquém da capacidade que os filhos poderiam apresentar em relação ao desenvolvimento julgando-os, na verdade, como sendo capazes apenas de fazer determinadas práticas, em que não se exija uma interação com o meio abrangente; outros pais podem ser permissivos demais e prejudicar o desenvolvimento de seus filhos ao deixarem-nos sem uma estruturação necessária à compreensão de processos organizados; e, os pais que tem uma compreensão melhor da realidade de seu filho especial e conseguem produzir uma carga de afeto com uma comunicabilidade confiável e respeitável. Juntamente com os pais, o contexto social, ou do grupo, deve ser analisado e orientado para que se tenha uma real e significativa resposta.

Quando o ambiente é compreensivo e "exige" do portador de necessidades especiais uma qualidade de processamento de informações que produza um avanço de realizações, este indivíduo pode tornar-se apto

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a conviver na sociedade de maneira independente ou mesmo semi-independente. Já se a comunidade em que o deficiente mental estiver inserido for declaradamente individualista, tal sujeito será, quase certamente, segregado e não poderá desenvolver todo um potencial e acabará sendo definido dessa forma como alguém que não é útil. Vygotsky propunha que o deficiente mental tivesse estimuladas as funções psicológicas superiores e não somente os elementares. Procuraria se trabalhar com as características positivas, com as virtudes e não os defeitos de cada indivíduo. É papel da sociedade como um todo propor uma maneira de incluir o portador de Deficiência Mental num contexto de vivência que traga dignidade, não conformismo ou uma forma de compaixão simplesmente. O indivíduo quando estimulado corretamente pode contribuir com a sociedade.

Um exemplo de como pode-se conseguir progressos com portadores de Deficiência Mental é o caso de um ator belga Pascal Duquenne, que ganhou o prêmio de melhor ator, juntamente com seu parceiro de filme, o francês Daniel Auteil, em 1996, pelo filme Le Huitième Jour, de Jaco Van Dormael, em Cannes, França. O filme, traduzido como O Oitavo Dia mostra o encontro de pessoas normais com deficientes e além do fato tocante – é do gênero dramático – mostra os conflitos que podem surgir e até como superá-los numa vivência próxima ao ideal. Um exemplo prático obtido com a influência desse filme é o projeto Lês Coupais du 8ème Jour, em que pessoas portadoras de Síndrome de Down convivem numa espécie de república e são assessorados por voluntários "normais" com a proposta de viverem em comunicação e não isolados como se costuma ainda fazer em alguns lugares.

O papel que a sociedade e os profissionais que trabalham com Educação Especial deve ser revisto para se chegar a um posicionamento o melhor possível pois, se a inclusão é positiva deve-se levar em conta o fato de que deve ser feita o mais corretamente possível. E o que poderia ser considerado correto? É simplesmente se colocar todos os deficientes mentais em contato direto com os "normais" em todos os ambientes e, notadamente, na escola? Ou seria o caso de apenas procurar incluir o deficiente que apresente capacidade cognitiva não muito aquém de certo nível? E como medir tal nível de maneira que não prejudique tal indivíduo? Existem maneiras de se cuidar de pessoas com necessidades especiais diferenciadas. Essas maneiras podem tanto incluir como acabar segregando ainda mais o deficiente. É comum pensar em inclusão, mas como e para quem está deve ser feita é que é necessário ser analisado para não se obter justamente o que se procurar evitar: uma sociedade que, herdeira de uma visão individualizante possa servir apenas para prolongar a rejeição que alguns sentem e promovem para verem-se "livres" de algo "nocivo".

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As impossibilidades financeiras das famílias dos alunos com Deficiência Mental também se encarregam de barrar outros benefícios. Mas mesmo entre as famílias que possuem uma condição financeira melhor, há de se considerar a questão da não aceitação da pessoa com Deficiência Mental como membro da família. Isto é um dos fatores que impedem que as pessoas com Deficiência Mental se beneficiem do meio social em que vive.

O que se entende por deficiência mental?Segundo a AAMR (Associação Americana de Deficiência

Mental) e DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), pode-se definir deficiência mental como o estado de redução notável do funcionamento intelectual inferior à média, associado a limitações pelo menos em dois aspectos do funcionamento. A principal característica da deficiência mental é a redução da capacidade intelectual (QI), situada abaixo dos padrões considerados normais para idade, se criança, ou inferiores à média da população, quando adultas.

Antes de um indivíduo poder ser classificado como deficiente mental, deverá provar-se que tanto o seu funcionamento intelectual como o seu comportamento adaptativo estão afetados, avaliados segundo critérios objetivos de medição. Nem um nível baixo de inteligência nem um comportamento adaptativo afetado são, por si só, suficientes para este diagnóstico. A deficiência mental não é em si própria uma doença. Ela compreende uma vasta gama de condições que, apesar de serem muitas vezes causadas por infecções biológicas e afecções orgânicas, podem também ser devidas a causas sociais e psicológicas complexas. Em muitos casos, a causa específica duma deficiência mental é desconhecida.

O que é uma pessoa com deficiência intelectual?Deficiência intelectual é um transtorno de desenvolvimento que

faz com que o indivíduo tenha um nível cognitivo e comportamental muito abaixo do que é esperado para a sua idade cronológica. As pessoas com déficit intelectual apresentam limitações nas suas habilidades mentais.

A deficiência intelectual, antigamente chamada de deficiência mental, não representa apenas um QI baixo, como muitos acreditam. Ela envolve dificuldades para realizar atividades do dia-a-dia e interagir com o meio em que a pessoa vive.

DOENÇA MENTALAs doenças mentais são condições variadas que afetam o

humor, o bom senso, a concentração e o bom desempenho de uma pessoa na sociedade. Elas podem ser neuroses ou psicoses. As neuroses são características comuns encontradas em qualquer pessoa, como o medo e a ansiedade, porém exageradas. Já as psicoses são fenômenos psíquicos anormais, como delírios, confusão mental e perseguição.

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Exemplos comuns de doenças mentais são a depressão, o TOC e a esquizofrenia

RETARDO MENTALO retardo mental compreende um número importante de

pessoas que possuem habilidade intelectuais abaixo da média, sendo que esse déficit de inteligência deve ter início antes dos 18 anos de idade. Essas limitações de habilidades intelectivas causam diversos problemas no funcionamento diário, na comunicação, interação social, habilidades motoras, cuidados pessoais e na vida acadêmica da pessoa.

Estima-se que aproximadamente 1 a 2% da população mundial tenha o diagnóstico de retardo mental e a distribuição entre os sexos parece ser um pouco mais prevalente no sexo masculino do que no sexo feminino.

O diagnóstico de retardo mental envolve a entrevista e exame clínico da criança, detalhada entrevista dos pais com investigação cuidadosa da história gestacional da mãe, parto, período neonatal, história do desenvolvimento psicomotor da criança, seu acompanhamento pediátrico e a história familiar de retardo mental, anormalidades metabólicas ou cromossômicas na família. Quando ainda há dúvidas quanto ao diagnóstico, testes de inteligência padronizados podem ser aplicados aos pacientes. Temos quatro tipos de retardo mental: Leve, moderado, grave e profundo.

Crianças com retardo mental leve adquirem linguagem com algum atraso, entretanto conseguem comunicar-se e apresentam independência nos cuidados pessoais. Conseguem acompanhar os estudos até certo ponto e em alguns casos são capazes de concluir o ensino médio. São pacientes que com o devido acompanhamento médico e terapêutico conseguem viver vidas independentes, possuir trabalho, casar e administrar seu lar.

No retardo mental moderado a criança apresenta maior dificuldade na compreensão e no uso da linguagem. Cuidados pessoais e habilidades motoras são limitadas e esses pacientes podem precisar de auxilio durante toda a vida. Sua vida acadêmica é bem limitada, entretanto essas crianças podem beneficiar-se de turmas educacionais especiais, aprender habilidades básicas necessária para a leitura, escrita e cálculo. Suas habilidades sociais pobres podem melhorar consideravelmente no convício acadêmico diário com outras crianças com as mesmas necessidades especiais. O retardo mental grave e profundo compreende os pacientes com grau de maiores prejuízos intelectuais, funcionais e motores. Com frequência tais pacientes apresentam déficits visuais e auditivos indicando a presença de lesões orgânicas ou desenvolvimento inadequado do cérebro. São pacientes que necessitarão de atenção e cuidados especiais por toda a vida.

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11 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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