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LÍNGUA PORTUGUESA – 9º ANO- ENSINO FUNDAMENTAL CONTO CONCEITO: O conto é um gênero caracterizado por ser uma narrativa literária curta, tendo começo, meio e fim da história narrados de maneira breve, porém o suficiente para contar a história completa. Possui elementos e estrutura bem marcados, sendo que o tipo de história pode indicar o tipo de conto que estamos lendo. Vamos aprender um pouco mais sobre esse gênero narrativo. Características do conto A atual variedade literária permite que um conto se apresente de diversas formas. Como dito acima, as únicas características absolutas do estilo é a escrita em prosa e a narrativa curta, portanto, um conto pode seguir qualquer gênero ou estrutura sem que isso implique na sua classificação. No entanto, como consequência natural da narrativa curta, os contos apresentam alguns elementos que, independente do gênero e estrutura escolhidos pelo autor, acabam sendo recorrentes: Enredo único: ao contrário de romances, os contos tendem a focar em um enredo que não se desdobra em tramas menores. Muitas vezes a história gira em torno de uma única situação. Simplicidade: devido ao enredo único, os contos não costumam exigir grandes interpretações por parte do leitor.

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Page 1: educanilopolis.com.br · Web viewComo dito acima, as únicas características absolutas do estilo é a escrita em prosa e a narrativa curta, portanto, um conto pode seguir qualquer

LÍNGUA PORTUGUESA – 9º ANO- ENSINO FUNDAMENTAL

CONTO

CONCEITO: O conto é um gênero caracterizado por ser uma narrativa literária curta, tendo começo, meio e fim da história narrados de maneira breve, porém o suficiente para contar a história completa.

Possui elementos e estrutura bem marcados, sendo que o tipo de história pode indicar o tipo de conto que estamos lendo. Vamos aprender um pouco mais sobre esse gênero narrativo.

Características do conto

A atual variedade literária permite que um conto se apresente de diversas formas. Como dito acima, as únicas características absolutas do estilo é a escrita em prosa e a narrativa curta, portanto, um conto pode seguir qualquer gênero ou estrutura sem que isso implique na sua classificação.

No entanto, como consequência natural da narrativa curta, os contos apresentam alguns elementos que, independente do gênero e estrutura escolhidos pelo autor, acabam sendo recorrentes:

Enredo único: ao contrário de romances, os contos tendem a focar em um enredo que não se desdobra em tramas menores. Muitas vezes a história gira em torno de uma única situação.

Simplicidade: devido ao enredo único, os contos não costumam exigir grandes interpretações por parte do leitor.

Curto espaço de tempo: os contos costumam apresentar tramas que não se estendem por longos períodos. É comum, por exemplo, que a história se passe em um só dia.

Início próximo ao fim: geralmente os contos não dedicam tempo na introdução do ambiente e dos personagens, por isso, a história se inicia próxima ao clímax e ao desfecho.

Poucos personagens: por serem mais objetivos, contos costumam apresentar um número bem reduzido de personagens.

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Final súbito: em contos, é normal que o fim aconteça imediatamente depois do clímax. Não há, portanto, uma fase da história em que podemos acompanhar as consequências da resolução do conflito.

Objetivo único: por não possuir desdobramentos, o conto busca causar um sentimento único no leitor (alegria, indignação, melancolia, etc) ou, simplesmente, contar uma história.

Um conto de uma grande mestra

Comemora-se em 2020 o centenário de Clarice Lispector. Além de romances, a escritora também foi uma grande autora de contos.

Leia o trecho do conto: UMA ESPERANÇA, de Clarice Lispector

Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto.

Houve um grito abafado de um de meus filhos:

−Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira!

Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser.

− Ela quase não tem corpo, queixei-me.

−Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças.

Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender.

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− Ela é burrinha, comentou o menino.

− Sei disso, respondi um pouco trágica.

− Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.

− Sei, é assim mesmo.

− Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.

− Sei, continuei mais infeliz ainda.

Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em Roma o começo de fogo do lar para que não se apagasse.

− Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar assim.

Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la.

Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: "e essa agora? que devo fazer?" Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada.

Clarice Lispector, Felicidade Clandestina

Analisando o conto ‘’ Uma Esperança’’ de Clarice Lispector

Uma Esperança é um conto de Clarice Lispector, escritora nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira. É reconhecida como uma das maiores escritoras do século XX. “A Hora da Estrela” foi seu último livro publicado enquanto ainda era viva. Clarice destaca-se pelo seu modo de escrever excêntrico e profundo.

O conto revela uma simples situação do cotidiano encorpada de sensações e pensamentos, o que é comum nas obras de Clarice. Na aparição de uma esperança, emerge um mar de diferentes visões. Da criança, sempre curiosa, querendo preservar e entender o pequeno inseto. Da mãe, surge uma indagação sobre as diferentes esperanças e suas surpreendentes semelhanças. Como a esperança inseto, a outra esperança pousa e por ali fica.

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A autora cita a todo tempo como essa esperança é secreta e silenciosa, muitas vezes ilusória.

Exercícios

TEXTO

Tentação

Clarice Lispector

Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.

Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.

Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.

Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro.

A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.

Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.

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Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.

Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento surpreendidos.

No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.

Mas ambos eram comprometidos.

Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.

A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-la dobrar a outra esquina.

Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.

LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

1– “Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava.” O que a menina suportava?

Indique a alternativa que melhor responde à questão:

(a) a pessoa que esperava o bonde

(b) a bolsa velha.

(c) o calor e a solidão

(d) sua mãe.

2 – “O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida .” Do que a bolsa a salvava?

(a) do calor excessivo

(b) da solidão, já que a bolsa era sua companhia.

(c) das brigas com a mãe

(d) do homem que esperava o bonde

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03 – No texto, quem é o narrador?

(a) a mãe

(b) alguém presente na história, mas sem participar muito

(c) alguém que não presente na história

(d) a menina ruiva.

4– Retire do texto um trecho em que se percebe a presença do narrador como personagem.

5- “Mas ambos eram comprometidos.” Segundo o texto, com o que eles eram comprometidos? O que isso pode significar?

Referências

http://www.semearedu.com.br/2020/03/conto-popular-narrativa-exercicios-6ano.html

https://www.significados.com.br/conto

https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Flunetas.com.br%2Fclarice-lispector%2F&psig=AOvVaw119W2zgtdzzPQ4pL-L0wKZ&ust=1596821558919000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCJDVyo2Oh-sCFQAAAAAdAAAAABAE

https://armazemdetexto.blogspot.com/2018/10/conto-uma-esperanca-clarice-lispector.html

https://leituradeemergencia.wordpress.com/2016/02/20/resenha-do-conto-uma-esperanca-clarice-lispector/#:~:text=%E2%80%9CN%C3%A3o%20havia%20d%C3%BAvida%3A%20a%20esperan%C3%A7a,Clarice%20

https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.diaadiaeducacao.pr.gov.br%2Fportals%2Fcadernospde%2Fpdebusca%2Fproducoes_pde%2F2016%2F2016_pdp_port_unespar-campomourao_suzimaradacunha.pdf&psig=AOvVaw3HzoqtXE3Sc4dXiyvGJngy&ust=1596822720253000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCICb2rGSh-sCFQAAAAAdAAAAABAD

https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fele-ha-dias.blogspot.com%2F2010%2F11%2Fuma-esperanca.html&psig=AOvVaw1M9tRVifVCP61zvL9Rihjx&ust=1596822901002000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCKiX0IKTh-sCFQAAAAAdAAAAABAD

https://armazemdetexto.blogspot.com/2018/05/conto-tentacao-clarice-lispector-com.html

GABARITO

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1 – C

2 – B

3- B

4-“Olhamo-nos sem palavras...”

5- Ela estava comprometida com sua infância e o cão, com sua natureza aprisionada. Isso significa que eles não podem ficar juntos, pois têm naturezas diferentes, não podem fazer companhia um ao outro.