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JUÍZO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE PRAIA GRANDE URGENTE – SAÚDE PÚBLICA A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, pelo Defensor Público que esta subscreve, vem a presença de Vossa Excelência, com fundamento nos arts. 6º, 134 e 196 da CF, nas Leis nº 7.347/85 (LACP), 8.078/90 (CDC), 8.080/90 (SUS) e 13.105/15 (CPC), propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER com pedido de antecipação de tutela contra o MUNICÍPIO DE PRAIA GRANDE, pessoa jurídica de direito público interno, localizada na Avenida Presidente Kennedy, 9000, Vila Mirim, CPNJ 46.177.531/0001-55 representado pelo Prefeito Municipal Alberto Mourão, pelas razões de fato e de direito adiante articulados. DOS FATOS Unidade de Praia Grande - Rua Apolônio Dias da Silva, nº 51, Vila Mirim, CEP 11705-067

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JUÍZO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE PRAIA GRANDE

URGENTE – SAÚDE PÚBLICA

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, pelo

Defensor Público que esta subscreve, vem a presença de Vossa Excelência, com

fundamento nos arts. 6º, 134 e 196 da CF, nas Leis nº 7.347/85 (LACP), 8.078/90

(CDC), 8.080/90 (SUS) e 13.105/15 (CPC), propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER

com pedido de antecipação de tutela

contra o MUNICÍPIO DE PRAIA GRANDE, pessoa jurídica de direito público

interno, localizada na Avenida Presidente Kennedy, 9000, Vila Mirim, CPNJ

46.177.531/0001-55 representado pelo Prefeito Municipal Alberto Mourão, pelas

razões de fato e de direito adiante articulados.

DOS FATOS

A humanidade passa por um de seus maiores desafios: o

enfrentamento do “novo coronavírus”, mais especificamente o vírus denominado

SARS-CoV-2, causador da doença COVID-19, desde o final do ano passado, quando

houve as primeiras contaminações na China.

Sem demora, com uma dinâmica jamais vista em um vírus, a

contaminação espalhou-se pelo mundo. No último dia 11 de março, a Organização

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Mundial de Saúde (OMS) classificou como pandemia a disseminação da

contaminação.

No Brasil, foi declarada Emergência em Saúde Pública de

Importância Nacional (ESPIN), materializada na Portaria nº 188/2020 do Ministro

de Estado da Saúde.

Os Decretos Estaduais paulistas nº 64.862, 64.881 e 64.946,

este último de 17 de abril de 2020, do Governador João Doria, reconheceram tal

situação e adotaram medidas temporárias e emergenciais de prevenção de

contágio, dentre elas suspensão de aulas e eventos, bem como quarentena em

todos os municípios, evitando-se a aglomeração de pessoas, definindo as

atividades consideradas essenciais, no âmbito Estadual.

A preocupação mundial decorre do potencial de

contaminação e dos complexos tratamentos que a doença exige em casos mais

graves. De fato, em algumas pessoas, esse novo vírus ataca os sistemas respiratório

e cardíaco do paciente com Covid-19.

Não por outro motivo, a Organização Mundial da Saúde

(OMS) publicou o documento “Tratamento clínico da infecção respiratória aguda

grave (SARI) quando houver suspeita de doença de COVID-19”1. A Observação 1 do

referido documento salienta que:

Embora a maioria das pessoas com COVID-19 tenha doença leve ou sem complicações (81%), algumas desenvolverão doenças graves que requerem oxigenoterapia (14%) e aproximadamente 5% exigirão tratamento em unidade de terapia intensiva (UTI). Daqueles em estado crítico, a maioria exigirá ventilação mecânica (2, 10). O diagnóstico

1 Disponível em: https://www.who.int/publications-detail/clinical-management-of-severe-acute-respiratory-infection-when-novel-coronavirus-(ncov)-infection-is-suspected. Acesso em: 02. Abr. 2020. Tradução livre. Original em inglês: “Clinical management of severe acute respiratory infection (SARI) when COVID-19 disease is suspected”.

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mais comum em pacientes graves com COVID-19 é pneumonia grave.2”

Ademais, no mesmo documento, a OMS, na Observação 2,

assevera a importância do diagnóstico precoce e do início das medidas

apropriadas:

O reconhecimento precoce de pacientes suspeitos permite o início oportuno das medidas apropriadas do IPC (consulte a Tabela 3). A identificação precoce de pessoas com doenças graves, como pneumonia grave (consulte a Tabela 2), permite suporte otimizado tratamentos e encaminhamento seguro e rápido e admissão na enfermaria do hospital ou unidade de terapia intensiva de acordo com protocolos institucionais ou nacionais.3

Assim, no mesmo documento, a OMS destaca que um

número considerável de pessoas com COVID-19 necessitará de tratamento em UTI

e de ventilação mecânica, bem como a necessidade de protocolos pré-estabelecidos

para admissão em enfermaria ou em UTI.

Ocorre que, no mundo todo, há limitações estruturais,

materiais e pessoais nos sistemas de saúde pública e privada para enfrentar

um eventual contexto de contaminação em massa.

Nenhum sistema de saúde está preparado para enfrentar o

vírus tão agressivo e que gera graves complicações nos pacientes, sendo as

internações de médio prazo (14 a 25 dias).

Sabe-se ainda que a pandemia ainda está em estágio de

evolução no Brasil, no Estado de São Paulo e nas cidades do Interior Paulista,

2 Tradução livre. Original em inglês: “Remark 1: While the majority of people with COVID-19 have uncomplicated or mild illness (81%), some will develop severe illness requiring oxygen therapy (14%) and approximately 5% will require intensive care unit treatment. Of those critically ill, most will require mechanical ventilation (2, 10). The most common diagnosis in severe COVID-19 patients is severe pneumonia”. 3 Tradução livre. Original em inglês: “Remark 2: Early recognition of suspected patients allows for timely initiation of appropriate IPC measures (see Table 3). Early identification of those with severe illness, such as severe pneumonia (see Table 2), allows for optimized supportive care treatments and safe, rapid referral and admission to designated hospital ward or intensive care unit according to institutional or national protocols”.

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sendo crescente os dados de contaminações e de óbitos por conta do novo

coronavírus.

Pelas notícias de hoje, o país tem 127.655 infecções

confirmadas, segundo dados do Ministério da Saúde desta quinta-feira, dia 07.05. Em

uma semana, houve um aumento de 30 mil casos (em 30 de abril de o número de

infectados era de 85.000, aproximadamente)4. A disparada no número de infectados

tem relação com uma maior testagem da população, que em uma semana saltou de

250 a cada um milhão de habitantes para 1,3 mil por milhão, bem como por conta do

avanço na velocidade de contaminação. As novas mortes confirmadas pela covid-19

subiram em mais de 600 por dia. Agora o país tem 8536 óbitos. A taxa de

letalidade está em 6,9%. São Paulo, o epicentro da pandemia, superou os 30 mil

casos confirmados, o que representa 30% do total de pessoas infectadas pela doença

no país. O número de mortes no estado chega a 3.0455.

Aliás, a imprensa oficial do Estado de São Paulo divulgou, na

data de 23/04/2020, que o número de contaminados e mortos tem crescido no

Interior e no Litoral de São Paulo:

Mortes por coronavírus crescem 21 vezes no interior, litoral e

Grande SP em abril. O Estado de São Paulo registra, nesta

quinta-feira (23), 1.345 mortes por coronavírus. Desse total,

433 mortes ocorreram nessas regiões. No dia 1º de abril, eram

apenas 20 mortes fora da cidade de São Paulo. Embora esta

ainda concentre a maior parte dos óbitos, esse percentual caiu

de 87% para 67% neste mês. Depois da Grande São Paulo, a

região com maior mortalidade é a do Departamento Regional

de Saúde (DRS) de Campinas, com 45 óbitos. Na sequência, a

Baixada Santista, com 31. Em Bauru, são 18. Ribeirão Preto e

Sorocaba têm 16 óbitos cada. No Vale do Paraíba, são 13. Em

4 https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-05/covid-19-brasil-bate-recorde-de-mortes-e-casos-confirmados-notificados5 https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/07/casos-de-coronavirus-e-numero-de-mortes-no-brasil-em-7-de-maio.ghtml.

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São José do Rio Preto, 11. Há dez ou menos mortes em

Presidente Prudente (10); Piracicaba (9); Araraquara (6);

Registro (5); São João da Boa Vista (5); Marília (4); Barretos

(2) e Araçatuba (1). Apenas a região de Franca segue sem

mortes pela doença. Em todo o Estado, houve aumento de

211 óbitos nas últimas 24h. Esse é o maior número já

confirmado nesse intervalo de tempo, sendo mais de oito

vítimas da doença por hora, desde ontem. Hoje, são 114

cidades com pelo menos uma vítima fatal da COVID-19. SP

tem ainda 16.740 casos confirmados da doença, distribuídos

em 256 municípios.

Ademais, especialistas em infectologia têm indicado um

contexto oficial de subnotificação, especialmente por conta dos baixos índices de

testagem, o que agrava a situação já que as pessoas assintomáticas são

responsáveis por dois terços da transmissão do vírus (estudo da Universidade

Columbia).

Enfim, as autoridades médicas e sanitárias indicam, a partir

de estudos técnicos e científicos, que um número elevado de pessoas com

complicações causados pela doença pode levar o sistema de saúde ao colapso.

Diante disso, também com base em estudos científicos e em

experiências anteriores de pandemias pelo mundo, conclui-se de forma

incontestável que somente o isolamento social horizontal é, hoje, o

mecanismo mais eficiente de combate à contaminação em massa da

população, especialmente aquela mais vulnerável.

Sobre a questão econômica, que não ignoramos, vale

lembrar que um cenário crítico de extensa contaminação populacional, além das

milhares de mortes e da degradação da saúde pública e privada, terá impacto

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muito mais grave sobre a economia que as medidas de isolamento e

distanciamento sociais.

Contudo, mesmo diante desse quadro, o Município de Praia

Grande publicou o Decreto nº 6955/2020, de 29 de abril de 2020, no qual

está prevista a flexibilização das regras de isolamento social para prática de

esportes no mar e frequência a templos religiosos. Nesse sentido, destacam-

se os dispositivos:

Art. 3º Enquanto perdurar a situação de emergência e o

estado de calamidade pública reconhecidos pelo Decretos nº

6.922 de 16 de março de 2020 e nº 6.928 de 20 de março de

2020, os templos de qualquer culto deverão observar as

seguintes instruções e procedimentos para realização de

qualquer ato religioso em seus espaços:

I – reuniões com duração máxima de 1:30h, às terças-feiras e

aos domingos;

II – lotação limitada 30% da capacidade do espaço;

III – não poderão frequentar as reuniões pessoas consideradas

do grupo de risco pelo Ministério da Saúde, especialmente:

a) idosos com 60 anos de idade ou mais;

b) pessoas de qualquer idade que tenham comobirdades, como

cardiopatia, diabetes, pneumopatia, doença neurológica ou

renal, imunodepressão, obesidade, asma e puérperas, entre

outras;

c) gestantes;

d) pessoas que a apresentem qualquer dos sintomas: febre,

tosse, dificuldade para respirar e produção de escarro.

IV – o ingresso em espaços com tamanho igual ou superior a

100m2 dependerá da medição da temperatura corporal,

ficando impedidas de frequentar o local pessoas com

temperatura acima de 37ºC;

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V- os frequentadores deverão ficar sentados durante a

reunião, guardando a distância de dois assentos vazios para

um ocupado;

VI - as fileiras de assentos dos frequentadores devem ser

intercaladas entre vazias e ocupadas, na frente e atrás,

consideradas horizontalmente, observado o inciso V deste

artigo;

VII – é obrigatório o uso de máscara por todos, inclusive

funcionários e líderes e nas eventuais filas externas para

aferição de temperatura corporal;

VIII - deverão ser disponibilizados meios adequados para

higienização das mãos com álcool em gel ou água e sabão na

entrada e saída do espaço, bem como no interior do espaço

para uso dos frequentadores;

IX – zelar pela rigorosa higienização do espaço, cadeiras,

mesas, bancos, microfones, púlpitos e qualquer outro móvel,

antes e depois do uso.

Art. 4º Enquanto perdurar a situação de emergência e o

estado de calamidade pública reconhecidos pelo Decretos nº

6.922 de 16 de março de 2020 e nº 6.928 de 20 de março de

2020, a prática de esportes individuais no mar será permitida

entre às 5 às 8h, vedado uso da faixa de areia para qualquer

atividade que não seja a de simples passagem no início e no

fim da atividade.

Sobre os dados locais, a Prefeitura de Praia Grande tem

elaborado diariamente Boletim da situação dos casos de coronavírus, sendo que,

até a presente data há 558 confirmados, 33 óbitos e 37 pacientes internados, sendo

05 (cinco) em UTI.

Vale ressaltar que, diante dessa situação, a Defensoria

Pública oficiou a Prefeitura de Praia Grande, a fim de obter informações sobre a

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existência de leitos na cidade, inclusive, de Unidades de Terapia Intensiva, assim

como a quantidade de casos.

A Prefeitura de Praia Grande informou que há apenas 30

(trinta) leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) disponíveis, além de

leitos somente para atendimento clínico (sem suporte, portanto, para casos

graves), tanto no Hospital Irmã Dulce quanto em Hospitais de Campanha,

sendo que apenas um já está em funcionamento (anexo).

Segundo a última estimativa populacional do IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística), referente ao ano de 2019, Praia Grande tem

população estimada de 325.073 pessoas6.

A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB),

considerando os dados dos locais que foram epicentros da pandemia de

coronavírus antes do Brasil, indicou que a demanda por leitos de UTI chegou a 2,4

para cada 10 mil habitantes. Fora do pico pandêmico, a necessidade seria de 2 UTIs

para cada 10 mil habitantes7.

Considerando os dados do IBGE e da AMIB, tem-se, portanto,

que Praia Grande deve ter, ao menos, 78,01 leitos de UTI para o pico

pandêmico e 65,01 UTIs para o restante da pandemia.

Pesquisados os dados de disponibilidade de UTIs no

Município no Data SUS8, assim como os dados enviados pela Prefeitura em resposta

a ofício da Defensoria Pública, Praia Grande conta com 40 leitos complementares

do SUS, e nenhum leito complementar não-SUS. Estratificados os dados, temos:

• 20 UTIs adulto II;6 https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9103-estimativas-de-populacao.html?edicao=25272&t=resultados. 7 http://www.somiti.org.br/arquivos/site/comunicacao/noticias/2020/covid-19/comunicado-da-amib-sobre-o-avanco-do-covid-19-e-a-necessidade-de-leitos-em-utis-no-futuro.pdf. 8 http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0204&id=1479586&VObj=http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?cnes/cnv/leiuti.

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• 10 UTIs pediátricas II;

• 10 UTIs neonatais II.

Note-se que, dos 40 leitos de UTI, 10 são neonatais e 10

são pediátricas. Ainda que as UTIs pediátricas possam ser adaptadas para o uso

adulto em meio à pandemia, o mesmo não acontece com UTIs neonatais

(incubadoras). Estatisticamente, a maioria absoluta das pessoas que necessita de

UTIs na pandemia é de adultos.

Segundo noticiado na imprensa local, Praia Grande

providenciou a instalação de dois hospitais de campanha9, assim como de uma

“unidade anexa ao pronto-socorro Quietude, que contaria uma estrutura

diferenciada para o tratamento de doenças respiratórias”10. Tais locais, todavia,

oferecem somente leitos clínicos, informação que se confirma na resposta enviada

pela Prefeitura ao ofício da Defensoria Pública:

• 95 leitos clínicos no Ginásio Falcão;

• 88 leitos clínicos no Ginásio Rodrigão;

• 7 leitos clínicos no anexo ao pronto-socorro Quietude.

Diante disso, é fato notório que o afrouxamento é precoce e

pode gerar efeitos sem precedentes na saúde pública e privada do Município e da

Região, uma vez que NÃO há leitos suficientes sequer para enfrentamento do

quadro pandêmico. A flexibilização do isolamento social horizontal, que

notoriamente aumenta o número de casos de infecção, tem forte tendência de

indução de pico pandêmico no Município, sem suporte hospitalar para tanto.

No mais, a frequência a cultos religiosos e a prática esportiva

no mar não configuram atividades essenciais, uma vez que não se referem a

atividades e serviços essenciais relacionadas à manutenção do mínimo existencial.

9 https://www.atribuna.com.br/cidades/praiagrande/praia-grande-finaliza-os-hospitais-de-campanha-nos-gin%C3%A1sios-falc%C3%A3o-e-rodrig%C3%A3o-1.97651.10 https://d.costanorte.com.br/saude/47346/praia-grande-entrega-hospital-de-campanha-com-188-leitos.

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Apesar da prática esportiva ser altamente recomendada

para a saúde, e a liberdade religiosa ser direito que se deve zelar, a atual situação

pandêmica exige a ponderação entre os valores constitucionais que se mostram em

jogo.

De início, cabe destacar que ambos os direitos não se

encontram cerceados totalmente, uma vez que se pode acessar cultos pelos

diversos meios de comunicação (TV, rádio, transmissões online), assim como é

possível a prática esportiva em casa. Em segundo lugar, como ocorrer com outros

direitos constitucionais que se travestem de princípios, nesse momento os direitos

à vida e à saúde de toda a coletividade evidentemente preponderam.

Por fim, e não menos importante, o Decreto Municipal ora

impugnado carece de fundamentação técnica adequada, que indique claramente a

essencialidade dos serviços e atividades que se pretende liberar, a estimativa do

aumento de casos em razão da flexibilização e, por consequência, a capacidade da

rede de saúde de absorção desses novos casos.

DA LEGITIMIDADE E DO INTERESSE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA

PROPOSITURA DA PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo tem

legitimidade ativa para propor a presente ação, eis que, como instituição essencial

à função jurisdicional, à qual incumbe a defesa dos necessitados (art. 134 da CF/88

e art. 103 da CESP/89) é órgão da administração pública, pelo qual se concretizam

objetivos fundamentais da república, como o de construir uma sociedade livre,

justa e solidária, e mais especialmente o de erradicar a pobreza e a marginalidade,

reduzindo as desigualdades sociais e regionais (art. 3º, incs. I e III da CF/88 c/c art.

3º da Lei Complementar Estadual 988/06).

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Com efeito, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo é

órgão estatal, que representa adequadamente, haja vista suas próprias funções

institucionais, os interesses dos necessitados no âmbito do processo coletivo.

É que constitui atribuição institucional da Defensoria Pública

promover ação civil pública para a tutela de qualquer interesse difuso, coletivo e

individual (art. 5º, inc. VI, alínea ‘g’ da Lei Complementar Estadual 988/06), sendo

que a qualquer Defensor Público cumpre executar as atribuições institucionais da

Defensoria Pública, na defesa judicial, no âmbito coletivo, dos necessitados (Lei

Complementar Estadual 988/06).

Assim, a Defensoria Pública se afirma como instituição

dotada de legitimidade autônoma, para a condução do processo, no que disser

respeito ao interesse coletivo dos necessitados.

Decerto, no presente caso, há pertinência temática entre a

defesa da saúde pública já que sua degradação atingirá de forma mais grave e

intensa a população mais carente.

Aliás, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada -

IPEA 11 divulgou estudo recente que indica que a população mais pobre e

marginalizada tem muito mais dificuldade de acesso aos leitos que integrantes de

outras classes. De fato, no estudo, o IPEA indica as dificuldades de acesso ao SUS

por grupos mais vulneráveis, o que legitima ainda mais a atuação da Defensoria

Pública na contenção da pandemia.

Enfim, trata-se de interesse difuso, de interesse de toda a

sociedade, das camadas mais carentes inclusive.

11 https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=35446https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/04/22/16-milhao-de-pessoas-vulneraveis-ao-novo-coronavirus-vivem-longe-de-hospitais-com-uti-segundo-estudo-do-ipea.ghtml

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E tanto é assim que, finalmente, após longo processo

político, foi conferida, finalmente, legitimidade à Defensoria Pública para a

propositura da ação civil pública, nos termos da Lei 11.448/07, que acrescentou a

Lei 7.347/85, renumerando os demais, o inciso II.

Após, foi editada a Emenda Constitucional nº 80/2014, que

alterou o art. 134 da CF. É que ela positivou, em nível constitucional, a função

institucional da Defensoria Pública de “promover direitos humanos”, que assume

inegavelmente o caráter difuso.

Assim, restou pacificado, seja a partir da interpretação de

dispositivos legais e constitucionais, seja diante de variados julgados

jurisprudenciais, que a legitimidade ativa da Defensoria Pública para propor ações

coletivas também contempla a tutela de direitos difusos, de interesses

indeterminados e indivisíveis.

DO DIREITO

Para a Constituição Federal, a saúde é um direito

fundamental de natureza social, é direito de todos (universal) e de natureza

pública (que obriga especialmente o Poder Público), sendo absolutamente

destacadas as medidas e políticas de prevenção (arts. 6º, 196 e 198, CF).

Segundo a Lei nº 8.080/90 (SUS):

Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano,

devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu

pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na

formulação e execução de políticas econômicas e sociais que

visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no

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estabelecimento de condições que assegurem acesso universal

e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção,

proteção e recuperação.

§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família,

das empresas e da sociedade.

(...)

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços

privados contratados ou conveniados que integram o Sistema

Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as

diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal,

obedecendo ainda aos seguintes princípios:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os

níveis de assistência;

II - integralidade de assistência, entendida como conjunto

articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e

curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em

todos os níveis de complexidade do sistema;

Assim, para evitar o maior número de infecção pelo vírus e o

colapso do sistema de saúde no Brasil, foi editada pelo Governo Federal a Lei nº

13.979/2020, que dispõe sobre as medidas para enfrentamento da emergência de

saúde pública de importância internacional decorrente do novo coronavírus,

permitindo o isolamento e a quarentena a serem decretados pelas autoridades

administrativas competentes.

A Portaria do Ministério da Saúde nº 356 de 11.03.2020,

estabelece que cabe ao Secretário de Estado e ao Município, por meio de ato

formal, dispor a respeito da quarentena.

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Pois bem. Baseado em normativa Federal, o Governador do

Estado de São Paulo editou o Decreto nº 64.881 de 22.03.2020, com as seguintes

disposições:

"Considerando a Portaria MS nº 188, de 3 de fevereiro de 2020,

por meio da qual o Ministro de Estado da Saúde declarou

Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional

(ESPIN) em decorrência da Infecção Humana pelo Novo

Coronavírus;

Considerando que a Lei federal nº 13.979, de 6 de fevereiro de

2020, ao dispor sobre medidas para o enfrentamento da citada

emergência, incluiu a quarentena (art. 2º, II), a qual abrange a

“restrição de atividades [...] de maneira a evitar possível

contaminação ou propagação do coronavírus”;

Considerando que, nos termos do artigo 3º, § 7º, inciso II, da

aludida lei federal, o gestor local de saúde, autorizado pelo

Ministério da Saúde, pode adotar a medida da quarentena;

Considerando que nos termos do artigo 4º, §§ 1º e 2º, da

Portaria MS nº 356, de 11 de março de 2020, o Secretário de

Saúde do Estado ou seu superior está autorizado a determinar

a medida de quarentena, pelo prazo de 40 (quarenta) dias;

Considerando o disposto no Decreto Federal nº 10.282, de 20 de

março de 2020, em especial o rol de serviços públicos e

atividades essenciais de saúde, alimentação, abastecimento e

segurança;

Considerando a recomendação do Centro de Contingência do

Coronavírus, instituído pela Resolução nº 27, de 13 de março de

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Page 15:  · Web viewA Defensoria Pública do Estado de São Paulo tem legitimidade ativa para propor a presente ação, eis que, como instituição essencial à função jurisdicional, à

2020, do Secretário de Estado da Saúde, que aponta a

crescente propagação do coronavírus no Estado de São Paulo,

bem assim a necessidade de promover e preservar a saúde

pública;

Considerando a conveniência de conferir tratamento uniforme

às medidas restritivas que vêm sendo adotadas por diferentes

Municípios,

Decreta:

Artigo 1º - Fica decretada medida de quarentena no Estado de

São Paulo, consistente em restrição de atividades de maneira a

evitar a possível contaminação ou propagação do coronavírus,

nos termos deste decreto.

Parágrafo único – A medida a que alude o “caput” deste artigo

vigorará de 24 de março a 7 de abril de 2020.

Artigo 2º - Para o fim de que cuida o artigo 1º deste decreto,

fica suspenso:

I - o atendimento presencial ao público em estabelecimentos

comerciais e prestadores de serviços, especialmente em casas

noturnas, “shopping centers”, galerias e estabelecimentos

congêneres, academias e centros de ginástica, ressalvadas as

atividades internas;

II – o consumo local em bares, restaurantes, padarias e

supermercados, sem prejuízo dos serviços de entrega

(“delivery”) e “drive thru”.

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§ 1º - O disposto no “caput” deste artigo não se aplica a

estabelecimentos que tenham por objeto atividades

essenciais, na seguinte conformidade:

1. saúde: hospitais, clínicas, farmácias, lavanderias e serviços

de limpeza e hotéis;

2. alimentação: supermercados e congêneres, bem como os

serviços de entrega (“delivery”) e “drive thru” de bares,

restaurantes e padarias;

3. abastecimento: transportadoras, postos de combustíveis e

derivados, armazéns, oficinas de veículos automotores e bancas

de jornal;

4. segurança: serviços de segurança privada;

5. demais atividades relacionadas no § 1º do artigo 3º do

Decreto federal nº 10.282, de 20 de março de 2020.

§ 2º - O Comitê Administrativo Extraordinário COVID-19,

instituído pelo Decreto nº 64.864, de 16 de março de 2020,

deliberará sobre casos adicionais abrangidos pela medida de

quarentena de que trata este decreto.

Artigo 3º - A Secretaria da Segurança Pública atentará, em

caso de descumprimento deste decreto, ao disposto nos artigos

268 e 330 do Código Penal, se a infração não constituir crime

mais grave.

Artigo 4º - Fica recomendado que a circulação de pessoas no

âmbito do Estado de São Paulo se limite às necessidades

imediatas de alimentação, cuidados de saúde e exercícios de

atividades essenciais.

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Artigo 5º - Este decreto entra em vigor em 24 de março de

2020, ficando revogadas as disposições em contrário, em

especial:

I – o inciso II do artigo 4º do Decreto nº 64.862, de 13 de março

de 2020;

II – o artigo 6º do Decreto nº 64.864, de 16 de março de 2020,

salvo na parte em que dá nova redação ao inciso II do artigo 1º

do Decreto nº 64.862, de 13 de março de 2020;

III – o Decreto nº 64.865, de 18 de março de 2020.

No dia 6 de abril, o Governo Estadual editou o Decreto nº

64.920, estendendo até 22 de abril de 2020 o período de quarentena de que trata

o parágrafo único do artigo 1º Decreto nº 64.881, de 22 de março de 2020, como

medida necessária ao enfrentamento da pandemia da COVID-19 (Novo

Coronavírus), no Estado de São Paulo.

Mais uma vez, o Decreto nº 64.946, de 17 de abril,

prorrogou as medidas de isolamento até 10 de maio. O Governo do Estado de São

Paulo já anunciou que editará nova extensão do decreto que determina o

isolamento social em 8 de maio de 2020.

Ocorre que, conforme acima citado, o Município de Praia

Grande, ora Requerido, editou o Decreto nº 6955/2020, de 29 de abril de 2020,

com a flexibilização das regras de isolamento social para autorizar a prática

de esportes no mar, assim como a abertura de templos religiosos em

horários pré-determinados.

Ora, não se desconhece que a população está cansada de

permanecer em casa e, certamente, revela-se válida a busca por atividades

esportivas e conforto espiritual. Entretanto, estas medidas não podem ser

adotadas em detrimento dos demais Munícipes que cumprem rigorosamente

a quarentena e permanecem em suas casas, sem poder ir até a Praia ou, até

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mesmo, buscando apoio espiritual por outros mecanismos, que não seja ir no

templo religioso, mantendo a sanidade física do corpo.

É preciso deixar claro que, quanto antes adotarmos

medidas mais efetivas de isolamento social – que infelizmente vêm sendo

cada vez menores, inclusive, na Baixada Santista – maiores as possibilidades

da população manter-se sã e sem a necessidade de ocupar leitos

hospitalares, que, como visto, são extremamente insuficientes nesta cidade.

Contudo, é ilegal o Decreto municipal, pois contraria o

Decreto estadual, mais restritivo e rigoroso.

É que o sistema federativo exige a harmonização dos atos e

das normas.

Ora, como pode uma norma local contrariar uma norma

estadual, se o Município está inserido no Estado, ainda mais sem que adequada e

tecnicamente a decisão e demonstre que a sua situação fática não se enquadra com

os dados científicos que embasaram a decisão do Estado?

Não faz nenhum sentido. Poderia o Município complementar

a norma estadual, sendo mais restritivo e rigoroso, não o inverso, ainda mais

considerando que não demonstrou cientificamente que a situação da Praia Grande

difere da observada no restante do Estado.

É o que estabelecem as regras da competência concorrente:

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:(...)

XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;

§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

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§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados.

§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

Aliás, esse modelo de complementação normativa também

se aplica entre as regras estaduais e municipais.

A esse propósito, ensina HELY LOPES MEIRELLES que: “Ao

Município sobram poderes para editar normas de preservação da saúde pública nos

limites de seu território, uma vez que, como entidade estatal que é, está investido de

suficiente poder de polícia inerente a toda a Administração Pública pra a defesa da

saúde e do bem-estar dos munícipes. Claro é que o Município não pode legislar e agir

contra normas gerais estabelecidas pela União e pelo Estado-membro ou além delas,

mas pode supri-las na ausência, ou complementá-las em sua lacunas, em tudo o que

disser respeito a saúde pública local (CF, arts. 24, XII, e 30, I, II e VII). Aliás, já

dissemos – e convém seja repetido -, EM MATÉRIA DE SAÚDE PÚBLICA PREDOMINA

O INTERESSE NACIONAL, porque em nossos dias não há doença ou moléstia que se

circunscreva unicamente a determinado município ou região, em face dos rápidos

meios de transporte, que se condizem com presteza os homens, agem também como

fator contaminante de todo o País” Direito Municipal Brasileiro, 17ª ed., 2013,

Malheiros Editores, p. 478 – grifos nossos).

Ademais, como gestor e maior autoridade no âmbito do

município na área do comando do SUS, não podia o Prefeito dispor de forma

contrária, ou seja, não podia comandar, explicitar, informar e deliberar pelo

retorno de atividades suspensas por ato do Governador do Estado, por uma

simples questão de hierarquização existente na legitimação concorrente das

unidades Federativas.

Assim, dentro da unidade federativa do Estado de São Paulo

caberá ao gestor municipal (art. 3º, § 7º da Lei 13.979/20), na vigência do Decreto

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do Governador cumprir as suas disposições, sob pena de responsabilidade, por

violação às regras de enfrentamento da emergência de saúde pública de

importância internacional decorrente do coronavírus, como as medidas de

quarentena.

De outro lado, como bem anotou o Ministro Alexandre de

Moraes, na Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 672: “A

gravidade da emergência causada pela pandemia do coronavírus (COVID-19) exige

das autoridades brasileiras, em todos os níveis de governo, a efetivação concreta

da proteção à saúde pública, com a adoção de todas as medidas possíveis e

tecnicamente sustentáveis para o apoio e manutenção das atividades do Sistema

Único de Saúde”.

Ora, se nem mesmo a União, pode revogar atos do Governo

Estadual em defesa da saúde pública, conforme recentemente decidiu o eminente

Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, o que dizer do

Município que somente possui competência legislativa residual e, ainda assim, para

agir de forma mais rigorosa e não de forma mais liberal como ocorreu no presente

caso ao afrouxar as regras da quarentena. A respeito, confira-se o seguinte trecho

da r. decisão proferida como medida cautelar, no âmbito da ADPF 672:

“Em relação à saúde e assistência pública, inclusive no tocante

à organização do abastecimento alimentar, a Constituição

Federal consagra, nos termos dos incisos II e IX, do artigo 23,

a existência de competência administrativa comum entre

União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Igualmente, nos

termos do artigo 24, XII, O texto constitucional prevê

competência concorrente entre União e Estados/Distrito

Federal para legislar sobre proteção e defesa da saúde;

permitindo, ainda, aos Municípios, nos termos do artigo 30,

inciso II, a possibilidade de suplementar a legislação federal e

a estadual no que couber, desde que haja interesse local;

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devendo, ainda, ser considerada a descentralização político-

administrativa do Sistema de Saúde (art. 198, CF, e art. 79 da

Lei 8.080/1990), com a consequente descentralização da

execução de serviços e distribuição dos encargos financeiros

entre os entes federativos, inclusive no que diz respeito às

atividades de vigilância sanitária e epidemiológica (art. 69, I,

da Lei 8.080/1990)...

Dessa maneira, não compete ao Poder Executivo federal

afastar, unilateralmente, as decisões dos governos estaduais,

distrital e municipais que, no exercício de suas competências

constitucionais, adotaram ou venham a adotar, no âmbito de

seus respectivos territórios, importantes medidas restritivas

como a imposição de distanciamento/isolamento social,

quarentena, suspensão de atividades de ensino, restrições de

comércio, atividades culturais e à circulação de pessoas, entre

outros mecanismos reconhecidamente eficazes para a

redução do número de infectados e de óbitos, COMO

DEMONSTRAM A RECOMENDAÇÃO DA OMS (ORGANIZAÇÃO

MUNDIAL DE SAÚDE) E VÁRIOS ESTUDOS TÉCNICOS

CIENTÍFICOS, como por exemplo, os estudos realizados pelo

Imperial College of London, a partir de modelos matemáticos

(The Global Impact of COVID-19 and Strategies for Mitigation

and Suppression, vários autores; Impact of non-

pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID- 19

mortality and healthcare demand, vários autores).”

É bem verdade que o artigo 30 da Constituição permite que

os Municípios legislem sobre assuntos de interesse local e suplementem a

legislação estadual. Ocorre que, em uma leitura sistemática do texto constitucional,

vê-se que ao Município não é franqueado legislar sem dados e sem fundamentação

quanto a suas decisões, ainda mais considerando questões que extrapolam o mero

interesse local – como é o caso de uma pandemia.

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Na situação em tela, conforme se demonstrou com DADOS

CIENTÍFICOS na presente ação, Praia Grande NÃO tem capacidade instalada para

aumentar os casos de pessoas contaminadas com COVID-19.

Além disso, o Município não fundamentou a sua decisão, ao

editar o Decreto em questão, demonstrando tecnicamente como a situação da

Praia Grande difere da situação dos demais Municípios do Estado e dos dados

científicos que fundamentaram o Decreto Estadual.

Conforme leciona HELY LOPES MEIRELLES, “denomina-se

motivação a exposição ou a indicação por escrito dos fatos e dos fundamentos

jurídicos do ato”.

O dever de motivação dos atos administrativos decorre dos

princípios administrativos previstos no artigo 37 da Constituição Federal. Na

legislação infraconstitucional, a Lei 9.784/1999, em seu artigo 50, explicita o dever

de motivação dos atos administrativos:

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com

indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;

II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

(...)

VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a

questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e

relatórios oficiais;

VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou

convalidação de ato administrativo.

§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente,

podendo consistir em declaração de concordância com

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fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões

ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.

No que tange especificamente aos templos religiosos, é

preciso ressaltar que no âmbito da cidade de São Paulo, em caso similar, o

Ministério Público do Estado de São Paulo ingressou com ação civil pública,

1015344-44.2020.8.26.0053, em que foi concedida liminar, justamente, para

impedir, cuja cópia ora anexa, no seguinte teor:

(iv) determinar que se adotem medidas em âmbitos

administrativo e sanitário destinadas à suspensão e

proibição de realização de missas, cultos ou quaisquer

atos religiosos, em âmbito estadual e, por corolário, no

âmbito de cada município integrante do Estado de São

Paulo, que impliquem reunião de fiéis e seguidores em

qualquer número em igrejas, templos e casas religiosas

de qualquer credo, adotando, ainda, providências

cabíveis nos âmbitos administrativo, sanitário e penal

quanto a quaisquer líderes e/ou responsáveis por igrejas,

templos e casas religiosas de qualquer credo que façam

convocações para realização dos atos religiosos ora

proibidos e, portanto, contrárias a esta liminar, pena de

multa diária no valor de R$ 10.000,00 para cada réu;”

A realização de cultos, ainda que observadas as regras

conditas no decreto municipal de Praia Grande, irá gerar desnecessária

quebra de isolamento social, sem falar que não há qualquer possibilidade de,

neste momento, a Prefeitura fiscalizar todos os templos religiosos existentes

na Comarca, a fim de verificar se as regras estabelecidas no Decreto

Municipal estão sendo efetivamente cumpridas.

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Ora, basta que um templo religioso não cumpra as

regras para que o vírus dissemine por toda uma comunidade. Não bastasse

isso, são justamente em templos religiosos que frequentam pessoas de idade

mais avançada, contribuindo, deste modo, para que haja um crescimento

ainda maior dos infectados e, por consequência, a ocupação de leitos.

Enfim, pelo afrontamento público da autoridade municipal

ao cumprimento da ordem do governo estadual, busca-se a tutela jurisdicional

de obrigação de fazer, consistente em prevenir e determinar que o Município

de Praia Grande cumpra as exigências sanitárias e de quarentena contida em

todos os dispositivos do Decreto Estadual nº 64.881, de 22.03.2020, e

seguintes que o prorrogaram, sob pena de reponsabilidade, enquanto durar

os seus efeitos, quer seja nesse ordenamento jurídico, quer seja em eventual

ato a ser editado pelas autoridades estaduais competentes.

DA TUTELA ANTECIPADA EM CARÁTER LIMINAR

Conforme já foi dito acima, a OMS destacou que um número

considerável de pessoas com COVID-19 necessitará de tratamento em UTI e de

ventilação mecânica, bem como a necessidade de protocolos pré-estabelecidos

para admissão em enfermaria ou em UTI.

Ocorre que, no mundo todo, há limitações estruturais,

materiais e pessoais nos sistemas de saúde pública e privada para enfrentar um

eventual contexto de contaminação em massa.

Nenhum sistema de saúde está preparado para enfrentar o

vírus tão agressivo e que gera graves complicações nos pacientes, sendo as

internações de médio e longo prazo (14 a 25 dias).

Sabe-se ainda que a pandemia ainda está em estágio de

evolução no Brasil, no Estado de São Paulo e nas cidades do Interior Paulista,

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sendo crescente os dados de contaminações e de óbitos por conta do novo

coronavírus.

Aliás, é diário o crescimento de casos no Estado de São

Paulo, em especial na região da Baixada Santista, uma das mais atingidas, em razão

do grande fluxo de pessoas existentes.

Evidente o risco de forma difusa para toda a coletividade no

enfrentamento da pandemia do novo coronavírus (COVID 19), na medida que a

autoridade municipal descumpre as regras gerais ditadas pelo Governo do Estado,

por meio de Decreto que está em plena vigência, decorrendo a presunção de que os

atos ali elencados são os que protegem a população em geral.

Assim, na forma do art. 300, § 2º do CPC, estando presentes

os requisitos do “fumus boni iuris” e do “periculum in mora”, REQUER-SE A

TUTELA DE URGÊNCIA, sem audiência da parte contrária, pois está evidente a

probabilidade do direito e o perigo de dano, concedendo a LIMINAR para

DETERMINAR A OBRIGAÇÃO DE FAZER AO REQUERIDO CONSISTENTE EM

ATENDER A TODAS AS NORMAS DO DECRETO ESTADUAL Nº 64.881, DE

22/3/2020, E DO DECRETO Nº 64.946, que prorroga a medida até 10 de maio, e

de demais Decretos Estaduais que venham a prorrogar o Decreto Estadual Nº

64.881, DE 22/3/2020, para os efeitos de suspender o Decreto nº 6955/2020, de

29 de abril de 2020 do Município de Praia Grande, nos pontos que relaxa ou

flexibiliza as regras de isolamento social (art. 3º e 4º ), ou, em outros termos,

de suspender o Decreto nº 6955/2020, de 29 de abril de 2020, em todos os

pontos que contrariar os Decretos Estaduais vigentes (DECRETO Nº 64.881,

DE 22/3/2020, c.c. DECRETO Nº 64.946, de 17 de abril, prorroga a medida até

10 de maio), bem como determinando que proceda a orientação à população,

fiscalização, execução e cumprimento das determinações legais vigentes no

tocante à vigilância epidemiológica, na forma do art. 18, IV “a” da Lei 8.080/90,

sob pena de multa diária de R$ 100.000,00, a ser destinada ao Fundo Estadual de

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Reparação de Interesses Difusos Lesados - de que tratam a Lei Federal nº

7.347/85.

DO PEDIDO

Diante de tudo o que foi exposto, requer-se a esse Egrégio

Juízo:

a) que determine a citação do requerido, para que,

querendo, responda à presente ação, sob pena de revelia;

b) a intimação do I. Representante do Ministério Público,

nos termos do art. 5º, § 1º, da Lei 7.347/85;

c) a concessão da tutela de urgência antecipada e em

caráter liminar, DA OBRIGAÇÃO DE FAZER DO REQUERIDO CONSISTENTE EM

ATENDER A TODAS AS NORMAS DO DECRETO ESTADUAL Nº 64.881, DE

22/3/2020, E DO DECRETO Nº 64.946, que prorroga a medida até 10 de maio, e

de demais Decretos Estaduais que venham a prorrogar o Decreto Estadual Nº

64.881, DE 22/3/2020, para os efeitos de suspender o Decreto nº 6955/2020, de

29 de abril de 2020 do Município de Praia Grande, nos pontos que relaxa ou

flexibiliza as regras de isolamento social (art. 3º e 4º ), ou, em outros termos,

de suspender o Decreto nº 6955/2020, de 29 de abril de 2020, em todos os

pontos que contrariar os Decretos Estaduais vigentes (DECRETO Nº 64.881,

DE 22/3/2020, c.c. DECRETO Nº 64.946, de 17 de abril, prorroga a medida até

10 de maio e demais Decretos Estaduais que venham a prorrogar o Decreto

Estadual Nº 64.881, DE 22/3/2020), bem como determinando que proceda a

orientação à população, fiscalização, execução e cumprimento das

determinações legais vigentes no tocante à vigilância epidemiológica , na

forma do art. 18, IV “a” da Lei 8.080/90, sob pena de multa diária de R$

100.000,00, a ser destinada ao Fundo Estadual de Reparação de Interesses Difusos

Lesados - de que tratam a Lei Federal nº 7.347/85;

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d) que, ao final, JULGUE PROCEDENTE A AÇÃO,

condenando a parte requerida na OBRIGAÇÃO DE FAZER CONSISTENTE EM

ATENDER A TODAS AS NORMAS DO DECRETO ESTADUAL Nº 64.881, DE

22/3/2020, E DO DECRETO Nº 64.946, que prorroga a medida até 10 de maio, e

de demais Decretos Estaduais que venham a prorrogar o Decreto Estadual Nº

64.881, DE 22/3/2020, para os efeitos de suspender o Decreto nº 6955/2020, de

29 de abril de 2020 do Município de Praia Grande, nos pontos que relaxa ou

flexibiliza as regras de isolamento social (art. 3º e 4º ), ou, em outros termos,

de suspender o Decreto nº 6955/2020, de 29 de abril de 2020, em todos os

pontos que contrariar os Decretos Estaduais vigentes (DECRETO Nº 64.881,

DE 22/3/2020, c.c. DECRETO Nº 64.946, de 17 de abril, prorroga a medida até

10 de maio e demais Decretos Estaduais que venham a prorrogar o Decreto

Estadual Nº 64.881, DE 22/3/2020), bem como determinando que proceda a

orientação à população, fiscalização, execução e cumprimento das

determinações legais vigentes no tocante à vigilância epidemiológica.

Protesta-se provar o alegado por todos os meios de prova em

direito admitidos.

Por oportuno, salientam-se as prerrogativas dos membros da

Defensoria Pública do Estado de contagem em dobro de todos os prazos

processuais, bem como de intimação pessoal de todos os atos e termos do

processo, nos termos do no artigo 128, inciso I, da Lei Complementar nº 80/94.

Embora de valor inestimável, para fins do disposto no art. 292 do

CPC/15, dá-se à causa o valor de R$100.000,000 (cem mil reais).

Por fim, em cumprimento ao previsto no inciso VII, do art. 319 do

CPC vigente, informa-se que a natureza do direito discutido nesta ação não

comporta audiência de conciliação.

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Praia Grande, 07 de maio de 2020.

Rafael Lessa Vieira de Sá MenezesDefensor Público Coordenador

Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos

Davi Quintanilha Failde de AzevedoDefensor Público Coordenador Auxiliar

Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos

Daniela Batalha TrettelDefensora Pública Coordenadora AuxiliarNúcleo de Cidadania e Direitos Humanos

Gustavo GoldzveigDefensor Público

Coordenador-auxiliar de Praia Grande

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