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PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS da Defensoria pública

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SUMÁRIO

1. Acesso à justiça..........................................................................................................................................3

1.1. Ondas renovatórias de acesso à justiça...................................................................................................4

1.2. Modelos de assistência jurídica gratuita..................................................................................................8

2. Histórico da gratuidade de justiça e da assistência jurídica gratuita no Brasil............................................11

DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO................................................................................................19

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA.............................................................................................................................19

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ATUALIZADO EM 19/08/20201

ACESSO À JUSTIÇA E HISTÓRICO DA ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA2

1. Acesso à justiça

O acesso à justiça constitui fundamento de um sistema jurídico que pretenda garantir, de forma justa

e igualitária, o direito de todos. É por meio do acesso à justiça que diversos direitos fundamentais são

concretizados e, por isso, constitui ele mesmo um direito fundamental autônomo:

Art. 5º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Este dispositivo constitucional consagra o princípio da inafastabilidade da apreciação jurisdicional

(chamado por alguns de princípio do acesso à justiça), segundo o qual todo àquele que tem um direito

lesionado ou ameaçado possui o direito de recorrer ao Poder Judiciário. Mas, não basta garantir o acesso à

justiça. É preciso atribuir efetividade a este direito e garantir que, além da proibição de qualquer mecanismo

ou barreira que impeça o exercício do direito de ação, o Estado assegure que todos tenham condições efetivas

de postular e defender seus direitos perante o sistema de justiça, independentemente de suas situação

econômica.

Lembre-se que o reconhecimento formal de direitos não garante a sua efetividade e, assim, aquele

que não consegue acesso ao sistema de justiça é impedido de exercer os próprios direitos que lhe são

atribuídos pelo ordenamento jurídico.

A temática do acesso à justiça há muito vem ganhando importância, dada sua relevância para a

conquista de todos os outros direitos em que haja omissão ou violação por parte dos Estados ou demais

particulares que possuem o dever de respeito aos mesmos.

1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo ([email protected]) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. 2 Por Fernanda Pereira Barboza.

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Como garantir o acesso à justiça aos hipossuficientes econômicos? Como o Estado pode assegurar

que aqueles que não possuem recursos financeiros possam buscar a defesa de seus direitos, de forma efetiva,

com garantia de ampla defesa e contraditório?

1.1. Ondas renovatórias de acesso à justiça

Na década de 1970, o jurista italiano Mauro Cappelletti pesquisou a questão do acesso à justiça, na

pesquisa denominada de “Projeto Florença”. Como resultado de seu estudo, publicou a sua obra clássica

“Acesso à Justiça”, em coautoria com Bryant Garth. Nas palavras de Diogo Esteves e Franklyn Roger3:

#SELIGA: “O denominado “Projeto Florença de Acesso à Justiça” (Florence Access-to-Justice Project) teve

como objetivo principal a análise dos obstáculos jurídicos, econômicos, político-sociais, culturais e

psicológicos, que tornavam difícil ou impossível, para muitos, o acesso e o uso do sistema jurídico; outrossim,

tinha como propósito realizar o levantamento de informações e críticas sobre esforços empreendidos em

vários países para superar e atenuar os referidos obstáculos.

Em linhas gerais, a estrutura analítica da evolução do movimento mundial de acesso à justiça

delineada pelo Projeto Florença foi desenvolvida em torno da metáfora de três ondas: (i) a primeira referente

à assistência jurídica; (ii) a segunda traduzida pela tutela de interesses metaindividuais, com a articulação da

representação de direitos coletivos mediante ações de classe e de interesse público; (iii) e, por fim, a terceira

onda abordando os procedimentos judiciais, seus custos e o tempo de duração.

Com o benefício da análise retrospectiva, podemos identificar ao longo do desenvolvimento dessas

ondas renovatórias diversos movimentos (ou sub-movimentos) distintos, que conformam a clivagem de sub-

ondas alternadas. Além disso, passados quase 40 anos desde o início do Projeto Florença, podemos detectar

diversas transformações no movimento mundial de acesso à justiça, que acabaram colmatando o surgimento

de novas ondas renovatórias.”.

Mauro Cappelletti e Bryant Garth dividiram em três ondas os principais movimentos renovatórios do

acesso à justiça. Vejamos:

1ª ONDA

RENOVATÓRIA

A primeira onda renovatória guarda referência com a assistência jurídica aos pobres,

revelando a necessidade de órgãos encarregados de prestar assistência aos menos

3 Diogo, E., Alves, S. R. (2018). Princípios Institucionais da Defensoria Pública, 3ª edição, p. 22.

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afortunados, patrocinando os direitos desta parcela humilde da população.

2ª ONDA

RENOVATÓRIA

Relaciona-se com a superação dos problemas inerentes à representação e defesa

dos direitos “difusos” em juízo, especialmente nas áreas da proteção ambiental e do

consumidor. Há o estabelecimento de legitimados para a tutela dos direitos

transindividuais, com o objetivo de garantir o direito de acesso e propiciar a

repressão de condutas lesivas aos mencionados direitos.

3ª ONDA

RENOVATÓRIA

Expõe o problema dos procedimentos judiciais, seus custos e seu tempo de duração,

sendo formuladas propostas alternativas, como a prevalência da oralidade e a

concentração dos ritos processuais; a redução dos custos do processo, seja pela

supressão das custas processuais e da taxa judiciária ou pela instituição de órgãos

jurisdicionais autônomos que possam solucionar questões de pequenas causas de

modo gratuito; a adoção de métodos alternativos de solução de conflitos como a

arbitragem, a conciliação e a mediação.

#SELIGA: Em qual onda renovatória está situada a criação da Defensoria Pública? Na PRIMEIRA onda

renovatória! É nessa onda que há o surgimento da assistência jurídica/judiciária aos pobres, com a superação

de óbices econômicos e culturais do acesso à justiça.

Diogo Esteves e Franlyn Roger apontam que o desenvolvimento da assistência jurídica se deu de

forma gradativa, com o surgimento de diversos movimentos (ou submovimentos):4

1) DA CARIDADE AO RECONHECIMENTO COMO DIREITO PELO ORDENAMENTO JURÍDICO:

Inicialmente, houve a prestação de assistência legal aos pobres por advogados privados, como ato de caridade

decorrente de dever ético-moral. A partir da segunda metade do século XIX, o direito à assistência legal por

advogado em causas cíveis e criminais começou a ser gradualmente reconhecido por documentos legislativos

na Europa. No final do século XIX, grande parte dos países que integram o continente europeu já havia

reconhecido legalmente o direito à assistência jurídica, como forma de viabilizar o acesso à justiça. Nesse

momento, o direito à assistência legal não representava qualquer custo para o Estado, sendo a atividade

desempenhada por advogados em caráter pro bono.

2) O Welfare State E A ASCENSÃO DO SISTEMA judicare NA EUROPA : O colapso do livre mercado e

do liberalismo levou à crise do sistema vigente e aprofundou a desigualdade econômica. Essas circunstâncias

econômicas e sociais determinaram a emergência do Welfare State, como forma de impedir a redução do

4 Diogo, E., Alves, S. R. (2018). Princípios Institucionais da Defensoria Pública, 3ª edição, p. 22 a 35.

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social à lógica do mercado econômico. Esse movimento gerou a ampliação dos serviços assistenciais públicos e

o Estado passou a intervir fortemente na economia. Durante todo o período de evolução do Welfare State na

Europa, houve o progressivo alargamento das políticas públicas na área da assistência jurídica e a consequente

assunção estatal do dever de custear o serviço jurídico-assistencial. Como decorrência natural desse processo,

o serviço de assistência jurídica, que vinha sendo prestado gratuitamente pelos advogados como dever de

ofício, passou gradativamente a ser remunerado pelo Estado, tendo o continente europeu observado a

paulatina migração do modelo pro bono para o sistema judicare.

3) A CRISE DO Welfare State E O DECLÍNIO DO SISTEMA JUDICARE NA EUROPA : Em razão da

insuficiência de fundos para acompanhar o crescimento da demanda pelo serviço jurídico-assistencial, um

novo movimento acabou sendo desencadeado, tendo como foco a otimização de recursos e o aumento da

eficiência do serviço jurídico-assistencial público. Para tanto, foram instituídos programas de garantia de

qualidade e aperfeiçoados os testes de meio. Além disso, foram adotadas medidas de rigor orçamentário, com

a redução do campo de elegibilidade da assistência jurídica, redução do escopo de atuação e encolhimento da

remuneração dos advogados.

4) O INCREMENTO DA REDE DE AMPARO SOCIAL E O FORTALECIMENTO DOS SERVIÇOS DE

ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO LESTE DA ÁSIA: Na década de 1970, como decorrência direta do processo de

globalização, a fuga de capital acabou paralisando o crescimento vertiginoso que o Japão vinha

experimentando desde o final da segunda guerra mundial. Além disso, com a crise econômica experimentada

pelos países do leste asiático a partir de 1997, uma massiva onda de desemprego atingiu a região,

aumentando significativamente os níveis de pobreza. Com tudo isso, houve a necessidade de fortalecimento

das redes de amparo social no leste asiático, desencadeando políticas de suporte aos desempregados,

atendimento médico, estruturação de abrigos, dentre outros serviços subsidiados. Esse processo de

desenvolvimento de welfare institutions acabou impactando diretamente na ampliação da provisão dos

serviços de assistência jurídica gratuita aos necessitados, especialmente no Japão, Coreia, China e Taiwan.

5) O SOCIAL LIBERALISMO E O DESENVOLVIMENTO DO salaried staff model NA AMÉRICA LATINA :

Após longos períodos de ditadura, começa a ganhar força na América Latina um movimento de busca por uma

nova ordem política e jurídica, de cunho verdadeiramente democrático e comprometida com a efetivação dos

direitos humanos. Após o processo de redemocratização emerge na região um movimento de afloramento e

consolidação dos modelos jurídico-assistenciais públicos, com a nítida preocupação de evitar que as conquistas

normativas ficassem apenas no campo das abstrações jurídicas e de conferir efetividade aos direitos

fundamentais, especialmente em relação à população historicamente marginalizada e excluída. Nessa nova

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arquitetura democrática, restou ao Poder Judiciário deixar de lado a postura de distanciamento técnico-

jurídico e assumir posição central na ordem social e política. Todavia, em razão da própria inércia da jurisdição,

surge a necessidade de criação e desenvolvimento de mecanismos capazes de deflagrar a atuação do sistema

de justiça, garantindo o amplo e irrestrito acesso à ordem jurídica. Diante desse cenário político e social, os

serviços de assistência jurídica gratuita assumem gradativamente o protagonismo necessário na consolidação

do regime democrático latino-americano.

6) O INTERVENCIONISMO ESTATAL E A AUTONOMIA DOS salaried staffs LATINO-AMERICANOS :

Como não poderia ser diferente, as raízes históricas fortemente fincadas no autoritarismo militar produzem

efeitos até os dias atuais, influenciando a postura das mais diversas esferas de poder estatal e estimulando a

adoção de práticas antidemocráticas por inúmeras autoridades públicas. Para garantir o respeito irrestrito aos

direitos fundamentais e a perpetuidade incondicional do Estado Democrático de Direito, diversos países da

América Latina passaram a prever mecanismos de salvaguarda da livre atuação dos serviços jurídico-

assistenciais públicos, prevenindo o retorno de práticas estatais intervencionistas que poderiam

potencialmente impedir ou prejudicar a plena proteção dos direitos dos cidadãos. Com isso, surge na América

Latina um movimento (ou sub-movimento) de consolidação da autonomia dos serviços jurídico-assistenciais

públicos, iniciado a partir da década de 1990.

7) TECNOLOGIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA JURÍDICA: Atualmente, os serviços de call center são

utilizados por grande parte dos modelos de assistência jurídica no mundo, como etapa preliminar para o

atendimento presencial ou como forma de prestar orientação jurídica extrajudicial. Essa ferramenta tem

possibilitado a redução do custo inerente ao deslocamento físico dos advogados e a maximização do tempo

gasto na prestação de orientações jurídicas, além de facilitar a superação de obstáculos geográficos que

poderiam dificultar o acesso das classes mais pobres à justiça. A crescente difusão do acesso à internet tem

possibilitado, também, o fornecimento de assistência jurídica on-line, seja por intermédio de chats ou, até

mesmo, por videoconferência.5

#OLHAOGANCHO:

Quarta Onda Renovatória: A dimensão ética e política do direito. Elaborada pelo professor KIM ECONOMIDES.

Para ele, os problemas de acesso à Justiça vão desde a capacitação dos atores jurídicos (sistema educacional)

até os valores éticos, morais e políticos que embasam os operadores do Direito.

5 #OLHAOGANCHO: Esse submovimento não tem tudo a ver com o momento de pandemia em que estamos vivendo? Várias Defensorias Públicas suspenderam o atendimento presencial, mas mantiveram a prestação da assistência jurídica utilizando da tecnologia!

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Quinta Onda Renovatória: A internacionalização da proteção dos Direitos Humanos. Está relacionado ao

papel da Defensoria Pública no plano internacional.

1.2. Modelos de assistência jurídica gratuita

A Constituição Federal assegura em seu artigo 5º, inciso LXXIV, que “o Estado prestará assistência

jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”. #PISANOFREIO: Você, futur@

Defens@r Públic@, sabe o que é a assistência jurídica integral e gratuita?

#SAIBADIFERENCIAR:

GRATUIDADE DE JUSTIÇARefere-se à isenção do pagamento das custas, taxas, emolumentos e

despesas processuais.

ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA

Refere-se ao patrocínio da causa por advogado, que pode ser

prestado tanto por órgãos estatais, quanto por entidades não estatais.

Ocorre somente dentro do processo.

ASSISTÊNCIA JURÍDICA

O conceito de assistência jurídica é mais amplo do que assistência

judiciária, pois compreende a assessoria dentro e fora do Poder

Judiciário. A atuação da Defensoria aqui se encontra.

Quatro modelos de prestação de assistência judiciária gratuita são vislumbrados. Vejamos suas

principais características:

#NÃOCAIDESPENCA

MODELO

CARITATIVO

(HONORÍFICO)

É pro bono. Passa a ideia de que a prestação de assistência judiciária é caridade,

demonstração de solidariedade, tendo em vista que neste um advogado particular

aceita, por altruísmo, prestar seus serviços gratuitamente.

O Estatuto da OAB de 1963 previa a obrigação de o advogado atuar gratuitamente em

prol de pessoas carentes.

MODELO

JUDICARE

Modelo Anglo-Saxão, adotado pelos EUA, Alemanha e Inglaterra.

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Trata-se de modelo privado remunerado pelo Estado, onde o advogado atua

pontualmente e depois é remunerado pelos cofres públicos. Figura do advogado dativo.6

MODELO

PÚBLICO

(SALARIED

STAFF OU

STAFF MODEL)

Pode ser considerado como o modelo oposto ao judicare, e isso porque, nele, os

advogados integram uma carreira pública (não são profissionais liberais), recebem uma

remuneração fixa independentemente da quantidade de casos que assumem (o

pagamento não é feito, portanto, para cada caso concreto) e são designados para atuar

com base em critérios objetivos (não há liberdade de escolha para a pessoa

necessitada).

Esse modelo divide-se em três submodalidades:

a) salaried staff model direto : o próprio poder público opta pela criação de organismos

estatais destinados à prestação direta dos serviços de assistência judiciária (e

eventualmente também de assistência jurídica extrajudicial), contratando para tanto

advogados que, neste caso, manterão vínculo funcional com o próprio ente público.

Como exemplo, podemos citar a Defensoria Pública brasileira e o Ministério Público de

la Defensa argentino;

b) salaried staff model indireto : os serviços podem ser prestados por entidades não

estatais, via de regra sem fins lucrativos, que recebem subsídios dos cofres públicos para

custeio de suas despesas, inclusive para o pagamento dos advogados contratados cujo

vínculo empregatício será estabelecido com essas respectivas entidades e não com o

Estado. Como exemplo, podemos citar os Neighborhood Law Offices, implementados

nos Estados Unidos na década de 1960;

c) salaried staff model universitário : a assistência jurídica é prestada por advogados

vinculados a universidades públicas, que supervisionam o trabalho dos estudantes nos

escritórios modelos. Não obstante o serviço jurídico-assistencial seja prestado de forma

gratuita à população, o advogado supervisor recebe remuneração fixa proveniente dos

cofres públicos, pelo exercício da atividade de docência universitária. Como exemplo,

podemos citar o Escritório Modelo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

.

MODELO Reúne características dos modelos judicare e salaried staff, havendo tanto a

6 É inconstitucional lei estadual que preveja que o serviço de “assistência jurídica gratuita” será feito primordialmente por advogados dativos e não pela Defensoria Pública. É possível a realização de convênio com a OAB para que esta desenvolva serviço de assistência jurídica gratuita por meio de defensoria dativa, desde que como forma de suplementar a Defensoria Pública ou de suprir eventuais carências desta. STF. Plenário. ADI 3892/SC, ADI 4270/SC, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 14/3/2012 (Info 658).

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MISTO OU

HÍBRIDO

estruturação de uma carreira pública para prestar o serviço de assistência jurídica

gratuita às pessoas necessitadas, quanto o pagamento para advogados atuarem em

determinadas causas.

A nossa ordem constitucional, embora adote o modelo público para a

prestação de assistência judiciária gratuita, na prática privilegia um modelo híbrido,

segundo o qual, quando não for possível a atuação da Defensoria Pública (modelo

público), poderá haver a nomeação de advogados privados custeados pelo estado

(modelo judicare). De acordo com o STF, não há obrigatoriedade de convênios com

instituições privadas ou com a OAB para essa prestação em sistema misto, mas esses

convênios não são vedados, pois as Defensorias Públicas ainda gozam de estrutura

insuficiente e precisam dessa complementação (ADI 4164).

A Defensoria Pública é a instituição pública destinada a promover a assistência jurídica integral e

gratuita e o acesso à justiça dos direitos individuais e coletivos violados da parcela da população mais

vulnerável. Assim, a redução da pobreza através do empoderamento dessa classe sem capacidade de

autodeterminação social constitui uma das poucas saídas para a crise do sistema democrático contemporâneo.

Mas, como o ordenamento jurídico brasileiro chegou ao sistema que vigora hoje, com a garantia

constitucional de assistência jurídica integral e gratuita? É o que vamos estudar agora!

2. Histórico da gratuidade de justiça e da assistência jurídica gratuita no Brasil

#TABELALOVERS:

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO BRASIL

Brasil Colônia A justiça gratuita no Brasil surgiu com as Ordenações Afonsinas, em

que foi prevista isenção das custas do agravo. Não obstante, a maioria

dos estudiosos sobre o assunto atestam como primeiras manifestações

sobre assistência jurídica, em nosso país, as ordenações Filipinas,

promulgadas em 1603, que regulava a matéria de forma secundária e

assumia a condição de beneplácito régio dirigido aos miseráveis e às

vítimas de pobreza extrema, como decorrência da influência vertida

pelas tradições canônicas. Embora não tratasse da questão da

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gratuidade de justiça de maneira sistemática, as ordenações previam o

direito à isenção de custas para a impetração de aggravo (Livro III,

Título LXXXIV, Parágrafo 10)3 e livravam os presos pobres do

pagamento dos feitos em que fossem condenados (Livro I, Título XXIV,

Parágrafo 43).

Brasil Império

Permanência da advocacia pro bono, mas sem preocupação com a

qualidade e continuidade do atendimento dos pobres em juízo. No

final do Império, concebeu-se o cargo de “advogado dos pobres” pela

Câmara Municipal da Corte, remunerado pelos cofres públicos e

designado para atuar em processos criminais em prol de réus

miseráveis. Segundo Cléber Francisco Alves, “esse teria sido o primeiro

Defensor Público da história do Brasil”, porém, o cargo foi extinto em

1884.

CF de 1891

Não previu a assistência jurídica gratuita.

1897 – Primeiro órgão de assistência judiciária é criado no Brasil, na

cidade do Rio de Janeiro, por meio do Decreto nº 2457 (Assistência

Judiciária do Distrito Federal – época em que o RJ era a capital).

CF de 1934

Primeira a positivar constitucionalmente o direito à assistência

judiciária dos necessitados, prevendo ainda a criação de órgãos

especiais para esse feito. #SEMPRECAI #COLANARETINA

CF de 1937Não previu assistência judiciária gratuita, o que veio a ser feito no

CPC/1939 e no CPP, ainda por meio da advocacia pro bono.

CF de 1946

O direito à assistência judiciária voltou ao status constitucional, mas

não se previu a criação de um órgão estatal para cumprir tal

incumbência, o que motivou alguns Estados-membros a instituir seus

próprios órgãos de assistência jurídica aos pobres.

Lei 1.060/50

Regulamentou o direito à gratuidade de justiça e à assistência jurídica

gratuita, adotando um modelo misto de assistência judiciária, pois seu

art. 1º estabelecia que União e Estados criariam um órgão para prestá-

la, permitindo a nomeação de advogados pelo juízo de comarcas sem

esses órgãos instalados (realidade presente até hoje).

CF de 1967/69Previu a assistência jurídica aos necessitados, mas como norma de

eficácia limitada (art. 153, §32, com a redação dada pela EC 1/1969).

CF de 1988 Prevaleceu na Assembleia Nacional Constituinte o modelo de

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Defensoria Pública como órgão incumbido de orientar e defender, em

todos os graus, os necessitados, nos termos do art. 5º, LXXIV. #SELIGA:

A Defensoria Pública só foi criada no Brasil pela CF/88!

LC 80/94

Lei Orgânica Nacional da Defensoria Pública, organizando a Defensoria

Pública da União e estabelecendo regras gerais para as Defensorias

Públicas Estaduais.

EC 45/2004

Assegurou às Defensorias Públicas ESTADUAIS autonomia funcional e

administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos

limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação

ao disposto no art. 99, § 2º (legitimidade da DPE de enviar a proposta

de orçamento ao Chefe do Executivo).

Lei 11.448/2007Conferiu legitimidade à Defensoria Pública para propor ação civil

pública (art. 5º, II, Lei 7347/85).

LC 132/2009

Alterou profunda e positivamente a LC 80/94, consolidando não só o

papel da DP de prestação de assistência judiciária, mas jurídica (endo e

extrajudicial) de forma individual e coletiva. Criou a figura do ouvidor-

geral.

EC 69/2012

Transferiu da União ao governo do Distrito Federal a organização e a

manutenção de sua própria Defensoria Pública.

Garantiu autonomia funcional e administrativa, bem como a iniciativa

de proposta orçamentária à Defensoria Pública do DISTRITO FEDERAL

de maneira implícita.7

EC 74/2013Estendeu expressamente à DPU e à DPDF a autonomia administrativa,

funcional e financeira concedida às DPEs pela EC 45/2004.

EC 80/2014 Alterou o art. 134 da CRFB e incluiu o art. 98 no ADCT para prever:

a) Defensoria Pública como instituição permanente, expressão e

instrumento do regime democrático, promotora de direitos humanos e

defensora dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, de

forma integral e gratuita, judicial ou extrajudicialmente;

b) separação da DP em relação à Advocacia, ambas separadas por

seções distintas do Capítulo sobre Funções Essenciais à Justiça;

c) inclusão dos princípios institucionais de unidade, indivisibilidade e 7 O art. 2º da EC 69/2012 estabelece que: “Sem prejuízo dos preceitos estabelecidos na Lei Orgânica do Distrito Federal, aplicam-se à Defensoria Pública do Distrito Federal os mesmos princípios e regras que, nos termos da Constituição Federal, regem as Defensorias Públicas dos Estados”.

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independência funcional;

d) aplicação do regime jurídico do Poder Judiciário ao seu,

notadamente quanto à iniciativa de lei;

e) a expansão e a interiorização da Defensoria Pública no prazo de oito

anos contados da aprovação da EC 80/14 para todas as unidades

jurisdicionais, priorizando, ao longo desse prazo, a sua instalação nas

“regiões com maiores índices de exclusão social e adensamento

populacional”.

CPC de 2015

Destinou um título específico à DP (arts. 185 a 187), prevendo-a em

quase 60 artigos do CPC, tratando em pormenores sobre o benefício da

justiça gratuita, bem como prestigiando a atuação da DP como

curadora especial (art. 72) e guardiã dos vulneráveis (art. 554), dentre

outras inovações.

Lei 13.300/2016

Lei do Mandado de Injunção previu legitimidade ativa da Defensoria

Pública para impetrar mandado de injunção coletivo “quando a tutela

requerida for especialmente relevante para a promoção dos direitos

humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos

necessitados” (art. 12, IV).

Vamos aprofundar um pouquinho?

Quais as principais inovações implementadas pela Emenda Constitucional nº 80/14 no panorama

jurídico das Defensorias Públicas?

Podem ser identificadas 4 (quatro) inovações trazidas pela aprovação da Emenda Constitucional nº

80/14, a saber:

Primeiramente, promoveu-se a reestruturação do Título IV, Capítulo IV, da Constituição Federal,

nomeado: “Das Funções Essenciais à Justiça”. Preteritamente à aprovação da Emenda Constitucional,

Advocacia e Defensoria Pública compunham a estrutura da Seção III (“Da Advocacia e Da Defensoria Pública”),

do referido capítulo. Após a reforma constitucional, as funções foram segmentadas, passando a compor,

respectivamente, as Seções III e IV (“Da Advocacia” e “Da Defensoria Pública”). Embora pareça simples, tal

segmentação das funções reforça o entendimento de que a Defensoria Pública compõe juntamente com o

Ministério Público e a Advocacia (Pública e Privada) as Funções Essenciais à Justiça, mas com nenhuma delas

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se confunde. Essa ideia corrobora, por exemplo, a conclusão abraçada pelo Superior Tribunal de Justiça por

ocasião do julgamento do REsp 1.710.155, quando decidiram os Ministros que, não obstante guardem certa

semelhança com o exercício da advocacia, o Defensor Público não pode ser submetido a inscrever-se nos

quadro da Ordem dos Advogados do Brasil.

#DEOLHONAJURIS: ADMINISTRATIVO. CARREIRA DA DEFENSORIA PÚBLICA. DESNECESSIDADE DE INSCRIÇÃO

NA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO DO ART. 3º, § 1º, DA

LEI 8.906/1994. APLICAÇÃO DO ART. 4º, § 6º, DA LEI COMPLEMENTAR 80/1994.

1. Inicialmente, verifica-se que a argumentação em torno da condenação em honorários veio

desacompanhada da indicação de qual dispositivo de lei federal teria sido violado, o que impede impossibilita

o exame do recurso interposto com base na alínea "a" do art. 105, III, da Constituição.

2. O mérito do recurso gira em torno da necessidade de inscrição dos Defensores Públicos na Ordem dos

Advogados do Brasil, questão notoriamente controversa nos Tribunais locais do País.

3. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, no RHC 61.848/PA, assentou que "os defensores não são

advogados públicos, possuem regime disciplinar próprio e têm sua capacidade postulatória decorrente

diretamente da Constituição Federal".

4. A Constituição de 1988 abordou expressamente a Defensoria Pública dentro das funções essenciais à

Justiça, ao lado do Ministério Público, da Advocacia e da Advocacia Pública, com as quais não se confunde.

5. Defensores Públicos exercem atividades de representação judicial e extrajudicial, de advocacia

contenciosa e consultiva, o que se assemelha bastante à Advocacia, tratada em Seção à parte no texto

constitucional. Ao lado de tal semelhança, há inúmeras diferenças, pois a carreira está sujeita a regime

próprio e a estatutos específicos; submetem-se à fiscalização disciplinar por órgãos próprios, e não pela

OAB; necessitam aprovação prévia em concurso público, sem a qual, ainda que se possua inscrição na

Ordem, não é possível exercer as funções do cargo, além de não haver necessidade da apresentação de

instrumento do mandato em sua atuação.

6. À vista dessas premissas, e promovendo o necessário diálogo das fontes, tem-se que o Estatuto da

Advocacia não é de todo inaplicável aos Defensores Públicos, dada a similitude com a advocacia privada das

atividades que realizam. Dessa forma, impensável afastar, por exemplo, a inviolabilidade por atos e

manifestações (art. 2º, § 3º, da Lei 8.906/1994) ou o sigilo da comunicação (art. 7º, III). Entretanto, por todas

as diferenças, aceita-se regime díspar previsto em legislação especial.

7. Em conclusão, o art. 3º, § 1º, da Lei 8.906/1994 merece interpretação conforme à Constituição para obstar a

necessidade de inscrição na OAB dos membros das carreiras da Defensoria Pública, não obstante se exija a

inscrição do candidato em concurso público. Ademais, a inscrição obrigatória não pode ter fundamento nesse

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comando em razão do posterior e específico dispositivo presente no art. 4º, § 6º, da Lei Complementar

80/1994.

8. Recurso Especial conhecido e provido, com inversão do ônus da sucumbência.

Uma segunda alteração de relevância advinda da Emenda Constitucional nº 80/14 foi o incremento

da regulamentação constitucional da Defensoria Pública. O caput do art. 134, da Constituição Federal passou a

viger com a seguinte redação: “A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função

jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático,

fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus,

judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na

forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.”

Referida alteração foi responsável pela inclusão no texto constitucional das chamadas atribuições

atípicas da Defensoria Pública. Destaque-se a elevação ao status de instituição permanente (o que denota sua

obrigatoriedade – modelo público) incumbida do dever de prestar orientação jurídica, promoção de direitos

humanos e defesa, judicial e extrajudicial de direitos individuais e coletivos da população submetida a

condições de vulnerabilidade.

É bem verdade que grande parte dessas atribuições já constava na legislação desde a edição da Lei

Complementar nº 132/09, porém, houve a constitucionalização da matéria, o que colaborou com o

recrudescimento da Instituição.

A terceira grande modificação proveniente da Emenda Constitucional nº 80/14 consiste na inclusão

do §4º, do art. 134, da Constituição Federal. Tal dispositivo promoveu a constitucionalização dos princípios

institucionais da Defensoria Pública (unidade, a indivisibilidade e a independência funcional) e determinou a

aplicação à Instituição, das normas constitucionais à Magistratura, inclusive com a reserva de iniciativa

legislativa.

#DEOLHONAJURIS: Em julgado veiculado no Informativo nº 611, a Segunda Turma do Superior Tribunal de

Justiça, interpretando o dispositivo constitucional associativo constante do art. 134, §4º, da Constituição

Federal, entendeu que os requisitos para o ingresso na carreira de Defensor Público da União estabelecidos

pelo art. 26 da Lei Complementar n. 80/1994 devem prevalecer mesmo após o advento da EC n. 80/2014, que

possibilitou a aplicação à instituição, no que couber, do disposto no art. 93 da CF/88 – que dispõe sobre o

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Estatuto da Magistratura (REsp 1.676.831-AL). A celeuma havia se instaurado em razão da discrepância quanto

ao tempo de atividade jurídica que deve ser comprovado para posse no cargo de Defensor Público, na medida

em que a Lei Complementar nº 80/94, exige experiência em prazo bienal ao passo que o comando

constitucional para posse em cargo da Magistratura demanda prática jurídica por pelo menos 3 (três) anos.

Por fim, a Emenda Constitucional nº 80/14 incluiu o art. 98, no Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias, norma programática que consubstancia o ousado objetivo de interiorizar a Defensoria Pública

em todo país, no prazo de 8 (oito) anos – que se finda em 2022 – por meio de comando normativo que

determina a instalação de Defensoria Pública em todas as unidades jurisdicionais, com prioridade às regiões

com maiores índices de exclusão social e adensamento populacional, compatibilizando-se, por fim, a

quantidade de Defensores Públicos e a demanda pelo serviço.

#SELIGA: A Defensoria Pública é “expressão e instrumento da democracia”, conforme se lê no art. 1º da Lei

Complementar nº 80/94 e no art. 134 da CF com a redação dada pela EC 80/14.

Na democracia o direito de participação é da essência do regime, restando inadmissível que parte dos

membros do corpo social seja alijada dos processos de construção dos sistemas que consubstanciam a

sociedade.

Cada integrante do grupo tem o direito inalienável de ser reconhecido como partícipe no processo de

concretização dos objetivos comuns, independentemente de sua condição social, cultural ou econômico-

financeira, o que se dá somente e na medida em que conhece e exerce seus direitos.

Daí a imprescindibilidade de uma Defensoria Pública estruturada e eficiente, que se desincumba de suas

funções institucionais, dentre as quais, a de “promover a difusão e a conscientização dos direitos humanos, da

cidadania e do ordenamento jurídico”, nos termos do art. 4º, III, de sua Lei Orgânica.

Por “expressão e instrumento da democracia” deve-se entender que a Defensoria Pública é, em muitos casos,

o meio pelo qual se alcançam os resultados pretendidos.

Um instrumento é, em regra, utilizado quando não se pode ou se mostra significativamente mais difícil obter

um resultado com esforço próprio, como ocorre com uma pessoa em situação de vulnerabilidade.

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O acesso aos direitos fundamentais, nesses casos, somente é garantido quando se propicia a educação em

direitos e, em um segundo momento, se disponibiliza ao hipossuficiente a assistência, em todos os graus, de

forma integral e gratuita, necessária para a satisfação destes.

Com isso, se promovem os direitos humanos, na acepção mais ampla do termo, ou seja, não somente como

materialização de um limite ao poder estatal, mas também como instrumento consubstanciador do princípio

da dignidade humana.

Com efeito, a primazia da dignidade da pessoa humana e a redução das desigualdades sociais, a afirmação

do Estado Democrático de Direito, bem como a prevalência e efetividade dos direitos humanos, integram o

rol de objetivos da Defensoria Pública, nos termos da art. 3º-A de sua Lei Orgânica, com a redação dada pela

Lei Complementar nº 132, de 2009.

O Estado de Direito pressupõe a observância e o respeito à lei, lato sensu, por todos os integrantes do corpo

social. Ser “de Direito” dá ao Estado o caráter de ordem. Ser “democrático” implica a atribuição do caráter de

“garantidor de Direitos”.

O fortalecimento da Defensoria Pública, ente concebido para a garantia dos direitos de ampla parcela da

população, é, portanto, condição para a efetivação de um verdadeiro Estado Democrático de Direito no Brasil.

A este respeito, vislumbra-se que mesmo antes da alteração da redação do artigo 134, a Defensoria Pública já

possuía um papel essencial na concretização do regime democrático, ao garantir o acesso universal dos

necessitados à Justiça e, portanto o exercício, tutela e efetividade dos direitos dos vulneráveis

economicamente e socialmente.

Assim, a EC 80/14 apenas expressou o papel precípuo da Defensoria de instrumento do regime democrático

e buscou garantir a ampliação da atuação institucional, ao inserir em nosso ordenamento jurídico o artigo 98

do ADCT, determinando a que a União, Estados e DF possuam, no prazo de oito anos, defensores públicos em

todas as unidades jurisdicionais.

#OLHAOGANCHO #RESUMINHOESPERTO:8

GÊNESE E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO MUNDO

8 Esse tema constou do Edital da DPE-SP/2019.

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Código de HamurabiAdmitiu um tratamento especial e um limite às cobranças por

empréstimos dados a quem tivesse insuficiência de recursos.

Atenas, na Grécia antiga

Eram designados anualmente dez advogados para defender esses

menos favorecidos contra os poderosos diante dos tribunais civis e

criminais.

Império Romano

Existiam diversos dispositivos legais que resguardavam os direitos dos

necessitados, e era uma questão de honra para os governantes

observar se seus governados mantinham entre si uma certa igualdade

perante a lei, cabendo a estes governantes sanar qualquer abuso.

França

Somente com a Revolução Francesa, em 1789 que o Estado passou a

organizar instituições oficiais a fim de prestar assistência judiciária aos

pobres. É que, junto com a Revolução Francesa, foi proclamado o

Princípio da Igualdade perante a lei, e com esta proclamação adveio a

necessidade clara de que ao Estado cabia responsabilizar-se, através de

instituições organizadas, pela minimização das desigualdades sociais

em favor de uma suposta igualdade jurídica. No entanto, apenas a

afirmação da igualdade era insuficiente. Editado na “era das

codificações”, em 1851, o Code de l’assistance judiciaire tornou-se o

primeiro Código de Assistência Judiciária da história.

Cristianismo. Europa, na Idade

Média.

Na Idade Média, os concílios da Igreja Católica autorizavam os monges

a prestar seu concurso gratuitamente aos pobres perante a jurisdição

civil e estimulavam os advogados a fazerem o mesmo (Santo Ivo da

Bretanha foi juiz advogado eclesiástico. Canonizado pela Igreja

Católica, é o santo patrono dos advogados. No Brasil, através da Lei

Federal nº 10.448, de 09 de maio de 2002, o Dia Nacional do Defensor

Público passou a ser comemorado no dia 19 de maio que é a data

dedicada a Santo Ivo no calendário litúrgico da Igreja Católica). Os reis

também incentivavam a defesa das pessoas mais pobres, sob o sentido

de caridade.

Portugal

Portugal, enquanto colonizador, aplicou seu regime jurídico ao Brasil

Colônia, vigorando aqui as ordenações Afonsinas (até 1521), as

Manuelinas (1521-1603) e as Filipinas (1603-1916). Pinto Ferreira

ensina-nos que já as ordenações Afonsinas amparavam aos miseráveis.

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DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO

Não se aplica.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

- Paiva, Caio. Fensterseifer, Tiago. COMENTÁRIOS À LEI NACIONAL DA DEFENSORIA PÚBLICA, 2019.

- Esteves, Diogo. Silva, Franklyn Roger Alves. PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DA DEFENSORIA PÚBLICA, 3ª edição.

- Informativos STF e STJ (Dizer o Direito).