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FACULDADE 7 DE SETEMBRO - FA7 CURSO GRADUAÇÃO EM DIREITO YAN SOARES DE SOUZA 1 A FINALIDADE EXISTENCIAL DO DIREITO PENAL E DO SEU CARÁTER SANCIONADOR. 1 Graduando em Direito pela Faculdade 7 de Setembro; Estagiário do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará; Monitor da disciplina de Direito Penal IV; [email protected]; 1

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FACULDADE 7 DE SETEMBRO - FA7CURSO GRADUAÇÃO EM DIREITO

YAN SOARES DE SOUZA1

A FINALIDADE EXISTENCIAL DO DIREITO PENAL E DO

SEU CARÁTER SANCIONADOR.

FORTALEZA2014

1 Graduando em Direito pela Faculdade 7 de Setembro; Estagiário do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará; Monitor da disciplina de Direito Penal IV; [email protected];

1

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Resumo: Vivemos em uma sociedade na qual o direito está inserido nas mais diversas

atividades exercidas, seja entre particulares, ou em decorrência da imposição estatal ao aplicar

sanções que se tornaram parte do cotidiano social, de forma que hoje essas intervenções

passaram a ser extremamente comuns.

Entretanto, nem sempre foi assim, motivo pelo qual refletir sobre a origem de todos

esses aspectos é fundamental para melhor compreende-los de forma mais clara.

Esse artigo irá fazer com que o leitor analise desde os primórdios de nossa sociedade,

buscando estabelecer a necessidade da presença do direito nas relações sociais. Nesse sentido,

observa-se a figura do direito penal como meio sancionador de condutas contrárias às normas

vigentes.

Dessa forma, é extremamente fundamental que se explique a finalidade das sanções

aplicadas aos infratores, destacando as principais ideias e correntes doutrinárias que buscam

justificar a aplicação da pena pelo Estado, sendo elas divididas em teorias absolutas, relativas

e mistas.

Considerando que a pena deve ter um fim específico além de encarcerar o

condenado, o operador do direito deverá analisar tais correntes, pois ao identificar qual teoria

está norteando determinada punição, indicará para si e para a sociedade qual a finalidade a ser

almejada, servindo portanto, como parâmetro para a acertada aplicação da pena.

Palavras-chave: Sociedade e direito. Sanção penal. Finalidade das penas. Teorias

das penas.

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SUMÁRIO1. INTRODUÇÃO.................................................................................................04

1.1.Direito e sociedade...........................................................................................04

1.2.Direito penal como uma vertente do direito..................................................05

2. SANÇÃO PENAL..............................................................................................06

2.1. Conceito............................................................................................................07

3. FINALIDADE DA PENA..................................................................................09

3.1.Teoria Absoluta.................................................................................................11

3.2 Teoria Relativa..................................................................................................13

3.3 Teoria Mista.......................................................................................................16

4. CONCLUSÃO.....................................................................................................19

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................20

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1) Introdução.O ser humano nem sempre viveu em sociedade, visto que nos primórdios eram

apenas animais agindo em virtude de seu instinto. Entretanto, com a sua evolução, os níveis

de interação social passam a atingir patamares de convívio e cooperação até então

inexistentes, motivo pelo qual as condutas começam a ser observadas e regidas pelo corpo

social.

1.1) Direito e sociedade.Para que possa existir uma sociedade é preciso que haja nela a pluralidade, a

interação, a finalidade e o poder social. A sua origem é defendida por duas linhas de

pensamento, a primeira teoria é a Naturalista que defende a existência natural e harmônica das

relações humanas; a segunda teoria é a Contratualista que argumenta pela criação de um

contrato social visando a convivência saudável e próspera do homem, na qual cada um abre

mão de parte de sua liberdade para viver em sociedade.

Segundo Thomas Hobbes (1588 – 1679 d.C.) o homem pré-contratual era pobre,

solitário, ambicioso, desconfiado e feroz, como um lobo, precisando viver constantemente em

guerra, favorecendo, dessa forma, os mais fortes em detrimento dos mais fracos. Contudo,

segundo Aristóteles (384 - 322 a.C.), o homem é um animal político, favorecendo dessa

forma, a sua organização social e política. Por isso a dificuldade de imaginar uma sociedade

sem normas que regem a conduta dos homens e que asseguram a ordem social.

Ressalta Émile Durkheim2 (1858-1917 d.C.) que “a sociedade sem o direito não

resistiria, seria anárquica, teria o seu fim. O direito é a grande coluna que sustenta a

sociedade. Criado pelo homem, para corrigir a sua imperfeição, o direito representa um

grande esforço para adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida.”

Segundo o jurista romano Ulpiano (170 – 228 d.C.), “Ubi homo ibi societas;

ubi societas, ibi jus.”, ou seja, “onde está o homem, há sociedade; onde há sociedade, há

direito”. Isso ocorre, pois a sociedade precisa do direito para regular suas relações, e o direito,

por sua vez, não teria razão de existir se não houvesse a sociedade. Além disso, é a sociedade

com sua dinâmica evolutiva que impulsiona o desenvolvimento do direito, adaptando-se

constantemente para a manutenção das relações humanas.

2 DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico, São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1960, p.17.

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Nesse sentido, define Paulo Nader3 que o “direito é um conjunto de normas de

conduta social, imposto coercitivamente pelo Estado, para a realização da segurança,

segundo os critérios de justiça”.

Apesar de não haver uma definição consensual e inequívoca do conceito de

Direito, haja vista a diversidade das interpretações diante da pluralidade de entendimentos que

não exaurem por completo este fenômeno jurídico, podemos extrair, dos diversos conceitos,

que ele busca harmonizar as relações sociais, e, para isso dispõe de sua dúplice natureza, a

protetora e a obrigatória.

Portanto, cabe ao Estado determinar o direito, estabelecendo as normas e condutas

que, em decorrência de sua impositividade, coercitividade e imperatividade, devem ser

seguidas e respeitadas pela sociedade. Logo, quem realiza atos em desacordo com o

ordenamento jurídico vigente poderá e deverá ser submetido a uma punição, para que, dessa

forma, seja garantida e mantida a estabilidade das relações entre os indivíduos da sociedade.

1.2) Direito penal como uma vertente do direito.

É de extrema importância a existência do Direito, pois “visa garantir as

condições indispensáveis à coexistência dos elementos que compõem o grupo social.”4.

Entretanto, para a sua melhor eficácia e eficiência, a especificidade se vê necessária,

dividindo-o em áreas especializadas de atuação.

Logo, é nesse contexto que surgem os diversos ramos do Direito, cada um com

sua natureza específica, regulamentando e protegendo a mais vasta gama de bens jurídicos

existentes em nossa sociedade.

Com o Direito Penal não é diferente, pois nasce como uma parte específica do

ordenamento que integra, almejando a proteção fiel de seus objetos tutelados. Francisco de

Assis Toledo5 entende como sendo “aquela parte do ordenamento jurídico que estabelece e

define o fato-crime, dispõe sobre quem deva por ele responder e, por fim, fixa as penas e

medidas de segurança a serem aplicadas”.

No mesmo sentido temos o conceito de José Frederico Marques, acolhido por

Damásio de Jesus, em sua obra, ad litteram:3 NADER, Paulo. Introdução ao estudo do direito, 28ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 76.

4 Mirabete, 2003, p.225 FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO, Princípios básicos de direito penal. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 1.

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“É o conjunto de normas que ligam ao crime, como fato, a pena como

consequência, e disciplinam também as relações jurídicas daí derivadas, para estabelecer a

aplicabilidade das medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do poder

de punir do Estado”6.

O Direito Penal deverá agir quando os controles sociais não tiverem obtido êxito,

seja de forma normativa, através dos outros ramos do direito, ou por meio do controle e da

coerção social. É por isso que para Luiz Flávio Gomes7, “O Direito penal, em suma, é a

ultima ratio, isto é, o último instrumento que deve ter incidência para sancionar o fato

desviado (em outras palavras: só deve atuar subsidiariamente).”

Por ser tido como o último recurso estatal para a sanção daquela conduta, visto

que os outros meios de controle não obtiveram sucesso, não deve ser banalizado, pois “detém

a função de selecionar os comportamentos humanos mais graves e perniciosos à

coletividade, capazes de colocar em risco valores fundamentais para a convivência social, e

descrevê-los como infrações penais, cominando-lhes, em consequência, as respectivas

sanções, além de estabelecer todas as regras complementares e gerais necessárias à sua

correta e justa aplicação.”8.

Portanto, o Direito Penal faz parte de forma efetiva do ordenamento jurídico,

tratando dos crimes e imputando, aos autores dessas condutas criminosas, penas e medidas de

segurança previstas por lei. Por isso, em caso de transgressão das normas penais, a liberdade

do indivíduo poderá ser restringida através da coerção estatal, entretanto sempre nos moldes

legais, ou seja, a mesma norma que apresenta um caráter sancionador, também traz a

segurança jurídica almejada para aqueles que sofrem a sua incidência.

2) Sanção penal.

A sanção penal está intimamente ligada à punição estabelecida por lei para aqueles que

as infringem, seja praticando ou deixando de praticar as condutas previstas, e é a partir desse

momento, com base nessas regras, que o Estado irá exercer o seu poder punitivo, sancionando

os infratores de suas normas penais.

6 DAMÁSIO E. DE JESUS, Direito penal: parte geral. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 5. 1 Op. cit. p. 2.

7 GOMES, Luiz Flávio; MOLINA, Antonio García-Pablos; BIANCHINI, Alice. Direito Penal – Introdução e Princípios Fundamentais. São Paulo: RT, v. 1, 2007.

8 Capez, Fernando, Curso de Direto Penal, Saraiva, 10ª ed., 2006

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Para Cleber Masson9 “Sanção penal é a resposta estatal, no exercício do ius puniendi

e após o devido processo legal, ao responsável pela prática de um crime ou de uma

contravenção penal”, dividindo-se em duas espécies: penas e medidas de segurança.

No mesmo sentido, leciona Luiz Regis Prado10 ao defender que “insere-se a medida de

segurança no gênero sanção penal, no qual figura como espécie, ao lado da pena”.

Em consonância com a doutrina é o entendimento adotado pela jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça decidindo que, conforme as palavras da Ministra Laurita Vaz

proferidas no julgamento do HC 41744 SP 2005/0021556-7, “A medida de segurança se

insere gênero sanção penal, do qual figura como espécie, ao lado da pena.” 11

Portanto, o Estado exercerá o jus puniendi através de dois tipos de meios

sancionatórios a depender do caso em análise, dispondo tanto da medida de segurança, quanto

das penas restritivas de direito.

Apesar da grande importância do instituto da medida de segurança, realizaremos o seu

estudo em outra oportunidade, motivo pelo qual passaremos a discorrer a seguir sobre a pena,

espécie de sanção penal, conceituando-a e apresentando as suas finalidades.

2.1) Conceito.

A vida em sociedade faz com que o homem se preocupe em criar meios para controlar

essa convivência, principalmente impondo limites às atitudes mais violentas. É nesse sentido

que surge a pena, objetivando dar uma resposta às essas atitudes nocivas e reprimidas pelo

corpo social.

Para que possamos conceituar e determinar a sua aplicação, faz-se fundamental e

necessário observar o contexto histórico, assim como o cenário econômico e social no qual a

sociedade e os indivíduos estão inseridos, havendo portanto, divergências conceituais e

práticas.

Os valores, costumes e ideais dominantes de um povo ou de uma sociedade sofrem

constantes modificações, variando de região para região e sendo readaptado de acordo com o

andar histórico, motivo pelo qual a pena veio sofrendo, ao longo dos séculos, grandes

modificações.9 Cleber Masson - Direito Penal - Volume 1 - Parte Geral - Esquematizado - 4º Edição - Ano 2011, p 537

10 Luiz Regis Prado - Curso de Direito Penal Brasileiro - Volume 1 - Parte Geral - 12º Edição - Ano 2013, p 786 ,

11 http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/19288433/habeas-corpus-hc-41744-sp-2005-0021556-7-stj

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Nos primórdios, indicam os estudos, que as punições estavam diretamente associadas

às vinganças privadas, servindo como reação a uma agressão sofrida, porém não havia limites

para essa contrapartida, motivo pelo qual tinha um caráter muito cruel para os padrões aceitos

atualmente.

Utilizava-se a pena, também, como forma de culto e respeito aos deuses, ou seja, os

seres superiores, ao observar que aquela conduta rejeitável foi compactuada e aceita pela

comunidade, expressaria a sua fúria através dos fenômenos naturais como forma de punição a

todos, visto que esses mortais tiveram a oportunidade de sancionar o infrator, porém, não o

fizeram, motivo pelo qual merecem ser castigados.

Posteriormente, com o advento da Lei de Talião, começa a ser imposto limites a essas

práticas vingativas, estabelecendo critérios de proporcionalidade entre a agressão sofrida e a

pena a ser aplicada, determinando que a sanção deveria ser tal como qual a agressão sofrida,

ensinamento eternizado pelo famoso mandamento “olho por olho, dente por dente’’. Em

decorrência dessa paridade vê-se a necessidade de um terceiro intervindo para que seja

averiguada e constatada a proporção dessa agressão.

Mesmo com certas limitações, período em que o Estado já começa a interferir nessa

esfera, as penas quando não levavam à morte deixavam marcas para o resto da vida do

infrator, destacando-o fisicamente independentemente da comunidade que vivera, pois aonde

fosse as marcas de seu passado o acompanhavam na pele.

Além disso, durante muito tempo, as punições eram tidas como espetáculos sociais, no

qual a crueldade era o destaque do “show”, levando ao delírio o público que se reunia com um

só objetivo, ver aquele infrator se cruelmente punido pelo Estado através do suplício a ele

incumbido.

Com os novos contextos histórico-sociais, impulsionados pelas correntes ideológicas

revolucionárias, a pena passa a ter um caráter moderno em decorrência da nova visão

atribuída, passa a respeitar uma série de premissas e princípios éticos e fundamentais, tanto

relacionados à previsão em códigos escritos, como no momento de sua aplicação e execução.

Hoje a pena é uma sanção penal imposta pelo Estado que só poderá ser aplicada após a

sentença condenatória transitar em julgado, tendo réu o direito a mais ampla defesa na fase

processual, e o assegurado o respeito aos seus direitos fundamentais na fase da execução

penal.

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A partir de uma breve análise histórica, conclui-se que os castigos e as penas aplicadas

aos transgressores das normas foram evoluindo e ficando cada vez mais humanitárias. A partir

das lições de Beccaria12, observa-se claramente que as penas desumanas adotadas no sistema

punitivo primitivo evoluem e são substituídas por outras mais dignas, ou seja, deixa de ter

como objeto o corpo do transgressor e passam a atuar na restrição de sua liberdade, tendência

que se faz presente até hoje.

Portanto, ela irá restringir ou privar bens jurídicos do condenado com a finalidade de

retribuir o mal injusto causado, readaptá-lo à vida em sociedade e/ou intimidar os outros

indivíduos evitando que pratiquem o ato repudiado.

Para justificar os fins e os fundamentos da pena há diversas teorias e pensamentos que

são reunidas em três grandes grupos. Passaremos a uma análise detalhadas dessas correntes de

pensamentos.

3) Finalidade da pena.

Como visto, a pena é consequência de uma conduta ilícita, antijurídica e culpável,

direcionada a todos os transgressores da legislação penal, sendo assim, uma forma do Estado

exercer a sua jurisdição, aplicando a norma abstrata ao caso concreto.

Como veremos a seguir, objetivando esclarecer a finalidade da pena, a doutrina divide

os pensamentos em três grandes grupos: a teoria absoluta, a teoria relativa, e a teoria mista,

cada qual com seus posicionamentos e ideais que influenciam diretamente no grau de punição

ao qual o infrator da norma estará sujeito.

Conforme as lições de Haroldo Caetano da Silva “há basicamente três teorias que

buscam justificar a cominação e a aplicação da pena: a absoluta ou retributiva, a relativa ou

preventiva e a teoria mista ou eclética”13.

No mesmo sentido leciona Luiz Regis Prado, ad litteram:

12 BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e Das Penas13 SILVA, Haroldo Caetano da, Manual de Execução Penal, 2º edição, Ed. Bookseller, Campinas, 2002: P. 35.

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“A pena é a mais importante das consequências jurídicas do delito. Consiste na

privação ou restrição de bens jurídicos, com lastro na lei, imposta pelos órgãos

jurisdicionais competentes ao agente de uma infração penal. São inúmeras as teorias que

buscam justificar seus fins e fundamentos, reunidas de modo didático em três grandes

grupos: (...)”14.

Neste prisma, Bitencourt enaltece a necessidade da distinção das três teorias em

nossos estudos, senão vejamos:

“Interessa-nos destacar, principalmente, alguns aspectos da passagem de uma

concepção retributiva da pena a uma formulação preventiva da mesma. Justifica-se, por isso,

um exame das diversas teorias que explicam o sentido, função e finalidade das penas, pelo

menos das três mais importantes: teorias absolutas, teorias relativas (prevenção geral e

prevenção especial) e teorias unificadoras ou ecléticas. Analisaremos também outras

modernas teorias da pena, como as da prevenção geral positiva, em seu duplo aspecto,

limitadora e fundamentadora”15.

Por fim, para corroborar o entendimento doutrinário acerca da divisão e do estudo das

teorias, colacionamos os ensinamentos de Magalhaes Noronha:

"Ao abordarmos as correntes doutrinárias do direito penal, tivemos ocasião de dizer

que o estudo da pena (fundamentos e fins) é feito por três grupos que compreendem as

teorias absolutas, as relativas e as mistas"16,

Além disso, as teorias são necessárias pois servem como um norte para a aplicação

penal, visto que a pena deve ser aplicada de forma individualizada, e a depender da visão

acolhida, essa individualização poderá seguir por trilhas e caminhos diferentes, influenciando

diretamente na sanção aplicada ao indivíduo. Vejamos as sábias palavras de Paulo S. Xavier

de Souza sobre o tema:

14 PRADO, Luiz Regis Prado, Curso de Direito Penal Brasileiro, Volume 1, 5º edição, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, P. 553.

15 BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, Parte Geral, volume 1, 9º edição, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 72.

16 NORONHA, M. Magalhães, Direito Penal, volume 1, 35º edição, São Paulo: Saraiva, 2000, p. 223.

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“Por interferir diretamente, como pressuposto inicial, a análise das teorias que

pretendem justificar a pena estatal não deve ser dissociada da atividade judicial de

individualização da pena, pois, de acordo com a concepção de cada uma das teorias, a

individualização judicial poderá seguir caminhos diferentes, segundo as opções escolhidas

pelo legislador penal”17.

Considerando que a pena deve ter um fim específico além de encarcerar o condenado,

o julgador deve analisar tais correntes, pois ao observar qual teoria está norteando

determinada punição, indicará para si e para a sociedade qual a sua finalidade, servindo

portanto, como parâmetro para a sua acertada aplicação.

Portanto, após breves considerações, concluímos por essencial o estudo e a análise

dessas teorias, observando as suas peculiaridades e suas principais características.

3.1) Teoria absoluta.

Para as teorias absolutas, também conhecidas como retributivas, a pena atuaria como

uma forma de retribuição ao criminoso pela sua conduta ilícita praticada contra particulares

ou contra à própria sociedade, ou seja, o Estado estaria aplicando a pena com o simples

objetivo de punir o condenado.

Nesse sentido, a finalidade da pena é apenas punir o autor de uma infração penal. A

pena não seria nada além de um mal aplicado pelo Estado, tendo como objetivo dar uma

resposta ao mal cometido pelo agente do delito, punindo-o e castigando-o.

Portanto, para essas correntes, a resposta estatal a um mal deverá ser outro mal, porém

ao aplicar este estará respeitando e atuando conforme os moldes legais, no sentido de que o

Estado só estaria autorizado a praticar um mal ao indivíduo, se este o praticou primeiro.

17 SOUZA, Paulo S. Xavier, Individualização da Penal: no estado democrático de direito, porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006, p. 70.

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As ideias absolutas originam-se a partir do idealismo alemão, tendo como principais

filósofos Immanuel Kant, através da sua teoria da retribuição ética ou moral, e Friedrich

Hegel com a sua teoria da retribuição lógico-jurídica

Nesse sentido leciona Inácio de Carvalho Neto, senão vejamos:

“Pela teoria absoluta, a pena tem uma finalidade retribucionista, visando à

restauração da ordem atingida. HEGEL assinalava que a pena era a negação da negação do

direito. Já KANT disse que, caso um estado fosse dissolvido voluntariamente, necessário

seria antes executar o último assassino, a fim de que sua culpabilidade não recaísse sobre

todo o povo. Para esta teoria, todos os demais efeitos da pena (intimidação, correção,

supressão do meio social) nada têm a ver com a sua natureza. O importante é retribuir com o

mal, o mal praticado. Como afirma FERNANDO FUKUSSANA, a culpabilidade do autor é

compensada pela imposição de um mal penal. Conseqüência dessa teoria é que somente

dentro dos limites da justa retribuição é que se justifica a sanção penal”18.

Mirabete defende que o castigo compensaria o mal, ou seja, o fundamento da teoria

seria a justiça:

“As teorias absolutas (de retribuição ou retribucionista) têm como fundamentos da

sanção penal a exigência da justiça: pune-se o agente porque cometeu o crime (punitur quia

pecatum est). Dizia Kant que a pena é um imperativo categórico, consequência natural do

delito, uma retribuição jurídica, pois ao mal do crime impõe-se o mal da pena, do que resulta

a igualdade e só esta igualdade traz a justiça. O castigo compensa o mal e dá reparação à

moral”19.

No estudo direcionado à individualização da pena, Paulo S. Xavier de Souza20, afirma

que “as teorias retributivas são absolutas, porque não se vinculam a nenhum fim,

concebendo a pena como um fundamento em si mesmo”. No mesmo sentido completa que

18 CARVALHO NETO, Inacio, Aplicação da Pena, Rio de Janeiro: Editora Forense, 1999, p. 15.

19 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de Direto Penal, Parte Geral, 22º edição, São Paulo, editora Atlas, 2005, p. 244.

20 SOUZA, Paulo S. Xavier, Individualização da Penal: no estado democrático de direito, porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006, p. 70.

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“como castigo, compensação, reação ou retribuição pelo delito, justificada por seu valor

axiológico intrínseco; portanto, não é um meio, mas um dever ser metajurídico”

Por fim, conclui que: “Em síntese, para a teoria retributiva, a pena assume aspecto de

castigo talionalmente vinculado com a magnitude do injusto e reprovação da culpabilidade

do delinqüente, retribuindo a culpa do homem que atuou livremente (imputáveis), ao

contrário das medidas aplicadas contra aqueles que não agiram (inimputáveis), que não

podem ser reprovados”.

Portanto, o único objetivo é punir o transgressor da norma, causando-lhe um prejuízo

decorrente de sua própria conduta. Não se fala em ressocialização ou reeducação do

condenado, muito menos em reparar o dano causado pelo delito, tendo apenas o intuito de

punir, castigar, retribuindo, de certa forma, o mal por ele causado.

É nesse sentido que observamos uma certa semelhança com o princípio contido na Lei

de Talião, encontrado no Código de Hamurabi, por volta de 1780 a.C, retratando através da

frase “olho por olho, dente por dente”, uma espécie de castigo-espelho, ou seja, se alguém

cometer um mal, do mesmo mal deverá sofrer.

Atualmente, essa ideia de retribuição ganha um caráter mais humanitário, no sentido

de que não corresponde mais a pena a um motivo de vingança social, no qual o transgressor

deverá sofrer pelas suas condutas, mas sim atua como um limitador da aplicação da pena,

devendo continuar retribuindo o mal causado pelo transgressor, porém de forma proporcional

à magnitude do injusto e nos termos de sua culpabilidade.

3.2) Teoria relativa.

As teorias relativas da pena, também conhecidas como finalistas, utilitárias ou da

prevenção, possuem um objetivo diferenciado da anterior, pois visa a prevenção de novos

delitos, ou seja, não defende a finalidade da pena como uma revolta social àquele mal

cometido, e sim como um meio de prevenção, evitando que novos delitos sejam cometidos.

Nesse sentido defende Paulo S. Xavier de Souza que a teoria relativa da pena diverge

totalmente da teoria absoluta da pena, destacando sua utilidade preventiva, vejamos:

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“De acordo com as teorias preventivas da pena, diferentemente da teoria retributiva

que visa basicamente, retribuir o fato criminoso e realizar a justiça, a pena serviria como um

meio de prevenção da prática do delito, inibindo tanto quanto possível a prática de novos

crimes, sentido preventivo (ou utilitarista) que projeta seus efeitos para o futuro (ne

peccetur)”21.

Para os seus defensores, os indivíduos irão sempre cometer os delitos, motivo pelo

qual se faz necessária a aplicação da pena para que essa conduta seja desestimulada. Portanto,

é uma forma de estabelecer o equilíbrio e a paz social, pois atingida a sua finalidade, evita-se

a ocorrência futura da pratica delituosa.

Corroborando com entendimento são as palavras de Francesco Carnelutti acerca da

finalidade do direito penal, destacando o objetivo de evitar a proliferação das condutas

criminosas:

“Para tanto serve, em primeiro lugar, o castigo que, provocando o sofrimento de

quem cometeu o delito, cria um contra-estimulo ao cometimento de outros; por isso punitur

ne peccetur, isto é, a fim de tentar dissuadir o condenado a pôr-se em condições de ter de ser

punido novamente. Sob este aspecto, o Direito Penal opera sobre a necessidade, constituindo

um vinculum quo necessitate adstringimur alicuius... rei faciendae vel non faciendade; a

obrigação penal, da qual se ocupa a ciência do Direito Penal material, é a expressão da

finalidade preventiva do Direito Penal”22. 

Para Luiz Régis Prado a pena tem um caráter peculiarmente preventivo, pois, objetiva

reduzir a incidência das condutas criminosas, sancionando o condenado e enaltecendo a figura

estatal, no sentido de que quem infringir as normas será severamente punido pelo Estado,

porém em conformidade com o grau da conduta praticada, vejamos:

21 SOUZA, Paulo S. Xavier, Individualização da Penal: no estado democrático de direito, porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006, p. 75.

22 CARNELUTTI, Francesco, Lições Sobre o Processo Penal, volume 1, 1º edição, Campinas: Bookseller, 2004, P. 73.

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“A justificativa da pena envolve a prevenção geral e especial, bem como a

reafirmação da ordem jurídica, sem exclusivismos. Não importa exatamente a ordem de

sucessão ou de importância. O que se deve ficar patente é que a pena é uma necessidade

social - ultima ratio legis, mas também indispensável para a real proteção de bens jurídicos,

missão primordial do Direito Penal. De igual modo, deve ser a pena, sobre tudo em um

Estado constitucional e democrático, sempre justa, inarredavelmente adstrita à culpabilidade

(princípio e categoria dogmática) do autor do fato punível. (...) O que resta claramente

evidenciado numa análise sobre a teoria da pena é que sua essência não pode ser reduzida a

um único ponto de vista, com exclusão pura e simples dos outros, ou seja, seu fundamento

contém realidade altamente complexa”23

Entretanto, as teorias preventivas da pena podem subdividir-se em teoria preventiva

especial, sendo direcionada ao infrator e, em teoria preventiva geral, destinada à sociedade.

Basileu Garcia, conivente com tal entendimento afirma que:

“Embora o direito penal não tenha conseguido eximir a pena da eiva de castigo, não

inegáveis as suas múltiplas utilidades. Nestas duas formulas - prevenção geral e prevenção

especial - cabem as vantagens da pena. Sob o lema da prevenção especial, tem-se em apreço

a pessoa do delinquente, sobre a qual se exerce a medida repressiva. Conquanto destinada à

repressão, a pena realiza uma função preventiva, quando afasta o indivíduo do meio social,

impedindo-o de delinquir, e quando visa criar estímulos para que não torne a pratica de

crimes, infundindo-lhe o temor do castigo, quer procurando corrigi-lo, para que ele,

melhorando moralmente, se sinta propenso a uma conduta compatível com a vida em

sociedade”.24

A prevenção geral está diretamente ligada com a intimidação estatal exercida aos

indivíduos da sociedade, empregando um temor aos possíveis transgressores das normas,

capaz de afasta-los da pratica delitiva. Ela desempenha uma função pedagógica, uma vez que

demonstra claramente a conduta exemplar almejada, e o faz de forma genérica, geral, sem

destinatário específico, pois qualquer um está propício ao cometimento de ilícitos

23 PRADO, Luiz Regis Prado, Curso de Direito Penal Brasileiro, Volume 1, 5º edição, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 567.24 GARCIA, Basileu, Instituições de Direito Penal, vol. I, Tomo II, 1º edição, São Paulo: Max Lumonad editor de livros de direito, 1952, p. 412.  

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A prevenção geral pode ser negativa ou positiva. Esta última tem por objetivo

demonstrar a todos que a lei penal está vigente e que está de prontidão para atuar e incidir

diante do caso e da situação concreta, ou seja, é o instrumento social à conscientização do

direito.25

Nesse sentido produz três efeitos principais. O primeiro é o da aprendizagem que visa

sempre estar lembrando os indivíduos de que determinada conduta não é aceita e tolerada pelo

direito penal; o segundo, é o da confiança, e demonstra-se quando é possível ver o direito

sendo aplicado e consolidado; e por fim, o da pacificação social, pois, reestabelece a paz

jurídica através da atuação e mediação estatal.

Enquanto isso, a prevenção geral negativa irá atuar diretamente no psicológico do

agente, desestimulando-o através da coação psicológica, de realizar a pratica de condutas

delituosas, atingido diretamente o seu animus delitivo.

Em contrapartida, a prevenção especial incide sobre a pessoa do infrator condenado,

objetivando evitar a sua volta à prática delitiva no futuro, ou seja, destina-se diretamente ao

infrator, entretanto visando a coletividade. Portanto, nessa visão, é fundamental a análise das

circunstâncias individuais de cada indivíduo, com o fim de aferir o seu grau de

periculosidade, buscando que seja reduzido ou extinto.

Porém esses ideais devem ser analisados com cuidado, haja vista que podem ser

desvirtuados, pois, ao tentar eliminar ao máximo a periculosidade do criminoso, há brechas

para que se utilize de todos os meios, independentemente dos limites fixados para que se

atinja esse fim.

Tal pensamento nos faz lembrar da frase “Os fins justificam os meios”, atribuída a

Nicolau Maquiavel (1501 – 1527 d.C.). Entretanto, os fins da pena não podem justificar os

seus meios, ou seja, deverá objetivar alcançar os seus fins, porém, sempre assegurando a

integridade do ordenamento jurídico e do indivíduo.

A crítica dos adeptos da teoria absolutista é no sentido de que dessa forma o Estado

não teria o seu poder limitado, visto que ao objetivar a intimidação em massa através das

penas, as aplicaria de forma severa e dura, atuando o direito penal como um tipo de direito

penal do medo ou do terror.

3.3) Teoria mista.25 (MASSON, 2009)

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A teoria mista, também conhecida como eclética ou unificadora, foi desenvolvida por

Merkel e compõe o terceiro grupo de teorias que buscam atribuir a finalidade almejada pela

pena. Trata-se de uma combinação das teorias explanadas anteriormente, agregando valores

tanto da absoluta como aspectos da relativa, pois, para ela a pena deverá retribuir ao

criminoso o mal por ele praticado, entretanto, objetivando ao mesmo tempo desestimular a

prática de novas condutas delituosas.

Surge como uma forma de unificação das ideias anteriores, conciliando-as e

adaptando-as de forma integradora, sendo o fruto das críticas direcionadas às teorias absolutas

e relativas, conforme afirma Inácio Carvalho Neto ao lecionar que "Das críticas opostas a

estas teorias surgiram às chamadas teorias mistas ou ecléticas, que tentam fundi-las,

mesclando-se os conceitos preventivos com os retributivas"26.

A pena tem a finalidade de retribuir ao condenado o mal decorrente da pratica

delituosa (teoria absoluta), entretanto como forma de prevenção da realização de novos crimes

(teoria relativa), servindo uma como complemento da outra, caminhando lado a lado e não de

forma que uma anule ou exista independentemente da outra. Nesse sentido afirma Haroldo

Caetano e Silva que “Da combinação entre as duas primeiras teorias, surge a terceira: a

teoria mista ou eclética. Para esta teoria, a prevenção não exclui a retributividade da pena,

mas se completam (...)”27.

Já Bitencourt defende que as teorias mistas vieram como elementos unificadores,

buscando um único conceito de pena que mescla tanto a retribuição como a prevenção, senão

vejamos:

“As teorias mistas ou unificadoras tentam agrupar em um conceito único os fins da

pena. Esta corrente tenta escolher os aspectos mais destacados das teorias absolutas e

relativas. Merkel foi, no começa do século, o iniciador desta teoria eclética na Alemanha, e,

desde então, é a opinião mais ou menos dominante. No dizer de Mir Puig, entende-se que a

retribuição, a prevenção geral e a prevenção especial são distintos aspectos de um mesmo e

complexo fenômeno que é a pena”28.26 CARVALHO NETO, Inacio, Aplicação da Pena, Rio de Janeiro: Editora Forense, 1999, p. 16.

27 SILVA, Haroldo Caetano da, Manual de Execução Penal, 2º edição, Campinas: Ed. Bookseller, 2002: P. 36.

28 BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, Parte Geral, volume 1, 9º edição, São Paulo: Saraiva, 2004, p. 88.

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Mirabete refere-se à terceira teoria dizendo que: "Já para as teorias mistas (ecléticas)

fundiram-se as duas correntes. Passou-se a entender a pena, por sua natureza, é retributiva,

tem seu aspecto moral, mas sua finalidade é não só a prevenção, mas também um misto de

educação e correção"  29.

Em consonância com os demais entendimentos, Romeu Falconi destaca que esta teoria

possui dupla finalidade, aderindo à retribuição prevista na teoria absoluta e, na reeducação

defendida pela teoria relativa:

“Os adeptos das teorias denominadas UNITÁRIAS utilizam-se de alguns dos

pressupostos de cada uma das Escolas anteriormente referidas. Para estes, o ideal é a pena

de duplo escopo, visando ao reaproveitamento social daquele que um dia delinqüiu. A isso

chamamos de “teorias mistas”. Aceitam a pena como “retribuição”, pois o criminoso

praticou ato lesivo; não citam a pena apenas como “prevenção”, mas como meio próprio de

reeducação do criminoso”30.

Por ter nascido observando as críticas e objetivando solucioná-las, a teoria mista é a

mais abrangente e mais aceita, motivo pelo qual tem sido a mais adotada atualmente. Nesse

sentido leciona José da Costa Jr, senão vejamos:

“Modernamente, adotou-se um posicionamento eclético quanto às funções e natureza

da pena. É o que se convencionou chamar de pluridimencionalismo, ou mixtum compositum.

Assim, as funções retributiva e intimidativa da pena procuram conciliar-se com a função

ressocializante da sanção. Passou-se a aplicar a penaquia pecatum est et ut ne peccetur”31.

Nesse prisma, Paulo S. Xavier de Souza relata que a teoria atua como a forma mais

ampla e completa para a orientação dos fins da pena, afirmando ainda que “A teoria mista

permitiria orientar, sucessivamente, os fins da pena estatal para a proteção da sociedade,

fidelidade ao direito, retribuição da pena como um mal moral em resposta à violação do

preceito normativo, proteção de bens jurídicos, intimidação dos potenciais infratores, bem

29 MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de Direto Penal, Parte Geral, 22º edição, São Paulo, editra Atlas, 2005, p. 245.

30 FALCONI, Romeu, Lineamentos de Direito Penal, 3º edição, São Paulo: editora Ícone, 2002, p. 250.

31 COSTA JR, Paulo José da, Direito Penal Curso Completo, 7º edição, São Paulo: Saraiva, 2000, p. 119.

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como a ressocialização do delinquente. Esta concepção aceita a retribuição e o princípio da

culpabilidade como critério limitadores da intervenção penal e da sanção jurídico-penal,

onde a punição não deve ultrapassar a responsabilidade pelo fato criminoso, devendo-se

também alcançar os fins preventivos especiais e gerais”32.

Analisando o Código Penal Brasileiro, mais especificamente o seu artigo 59, caput,

verificamos que o legislador pátrio optou por aderir a esta terceira corrente, pois como visto

trata-se da mais ampla e mais completa ao lecionar sobre as finalidades a serem atingidas pela

pena. Vejamos:

“Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à

personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem

como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para

reprovação e prevenção do crime”33

Por fim, constata-se claramente que a teoria mista, ou eclética, tem por fundamento a

miscigenação da teoria absoluta, na qual o intuito é devolver ao infrator o mal por ele

causado, com a teoria relativa, pois visa evitar novas condutas delituosas tanto do condenado

como de outras pessoas da sociedade. Portanto, observamos a sua tríplice finalidade,

englobando a ressocialização, a prevenção e a retribuição, ou seja, busca a recuperação do

indivíduo, a proteção dos bens jurídicos e, como consequência, a paz e o equilíbrio jurídico

social.

4) Conclusão.

Diante do exposto e das reflexões realizadas, concluímos que o Direito surgiu como

meio de controle social necessário para que fosse assegurada a estabilidade das relações

sociais, no intuito de estabelecer normas e condutas a serem seguidas.

32 SOUZA, Paulo S. Xavier, Individualização da Penal: no estado democrático de direito, porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2006, p. 85.

33 BRASIL. Código Penal. Decreto-lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

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Nesse contexto surge o direito penal, como a arma estatal utilizada somente em último

caso, visto que deve ser utilizado apenas para defender os bens jurídicos mais importantes,

utilizando-se de sua coerção para que suas normas sejam respeitadas.

Em caso de transgressão normativa a sanção será aplicada utilizando-se das penas, que

variam de acordo com o contexto histórico e social de determinado povo, porém sempre

buscando atingir determinados fins.

As penas passaram por um longo caminho histórico, assim como a legislação penal,

evoluindo ao longo dos anos, deixando de utilizar medidas cruéis e bárbaras para a punição do

criminoso, e passando a adotar penas mais humanizadas.

Com isso surge o estudo da finalidade da pena, cujo objetivo era fundamentar e

justificar a aplicação daquelas sanções, desdobrando-se em três grandes correntes de

pensadores: a teoria absoluta, a relativa e a mista. Atualmente, esta última é a predominante e

vigente em nosso país, que nasceu adotando as principais ideias anteriores.

Por fim, chegamos à conclusão de que a pena tem por objetivo punir o condenado,

retribuindo-lhe o mal por ele cometido, e simultaneamente, busca a prevenção de novas

condutas delituosas agregada, atuando de forma ressocializadora e preventiva, pois, visa tanto

o criminoso como os outros indivíduos da sociedade.

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