wanderby braga de medeiros toda … · wanderby braga de medeiros ... e farto material para embalar...
TRANSCRIPT
WANDERBY BRAGA DE MEDEIROS
TODA OCORRÊNCIA TERMINA NA DP.
Infrações penais de menor potencial ofensivo. Ilustres desconhecidas.
Trabalho monográfico de conclusão do curso
de pós-graduação de especialização em
políticas públicas de justiça criminal e
segurança pública da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Especialista.
Orientadora: Drª Ana Paula Mendes de Miranda
Niterói
2005
2
WANDERBY BRAGA DE MEDEIROS
TODA OCORRÊNCIA TERMINA NA DP.
Infrações penais de menor potencial ofensivo. Ilustres desconhecidas.
Trabalho monográfico de conclusão do curso
de pós-graduação de especialização em
políticas públicas de justiça criminal e
segurança pública da Universidade Federal
Fluminense, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Especialista.
___________________________
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________________
Drª Ana Paula Mendes de Miranda - Orientadora
_____________________________________________________________________
Niterói
2005
3
À Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), querida
Corporação, pela freqüente oferta de desafios e de oportunidades de vencê-los.
Ao meu avô, pai e irmão, respectivamente, 1º Ten, Cel e Cap da PMERJ,
pelo incentivo nos momentos bons e ruins de minha carreira.
A toda minha família, pela compreensão presente nos momentos de
privação.
4
AGRADECIMENTOS
Aos Corpos Docente e Discente do curso de especialização em
políticas públicas de justiça criminal e segurança pública pelo
conhecimento ofertado.
À Dra Ana Paula - minha orientadora, pela boa vontade e
imprescindível auxílio.
Ao Maj Marcus Ferreira - colega de curso, pelo incentivo e auxílio
para a elaboração deste trabalho.
Ao então Cap da ativa e hoje Delegado de Polícia Civil André Carlos
- colega de curso na Polícia Militar do Ceará (PMCE) em 1998, pelo
grande conhecimento jurídico, do qual, mais uma vez, me utilizei.
5
"O policial desenvolvia suas habilidades a partir de seu cotidiano, e
mesmo que pudesse se deparar eventualmente com acontecimentos os
mais inesperados, a grande maioria dos casos era previsível, e sua
expertise se baseava na maior parte em lidar com a rotina. Os valores do
policial eram criados ou elaborados a partir dos limites que lhe eram
dados pelos eventos mais comuns, e se tornariam mais bem delineados
ao verificar que tipo de resposta obtinha a seus procedimentos. As
experiências que vivenciava e os resultados que obtinha dos possíveis
cursos de ação era como ele aprendia seu trabalho..." (BRETAS, Marcos
Luiz. Ordem na Cidade. O exercício da autoridade policial no Rio de
Janeiro: 1907-1930. Rio de Janeiro: Rocco. 1997, p. 145).
6
RESUMO
Após a realização do curso de pós-graduação de especialização em
políticas públicas de justiça criminal e segurança pública da Universidade Federal
Fluminense, desenvolveu-se trabalho de pesquisa voltado à verificação das rotinas
policiais fluminenses e sua adequação (ou não) à sistemática inaugurada pela Lei n.º
9.099/95, com o advento das infrações penais de menor potencial ofensivo. Detectou-
se que tais rotinas não logravam perfeita adequação aos critérios estabelecidos pela
referida Lei, nem tampouco aos ditames constitucionais vigentes, resultando em
organismos policiais que não elucidam satisfatoriamente delitos (Polícia Civil), nem
preservam adequadamente a ordem pública (Polícia Militar), tendo como ethos o
caráter belicista de sua atuação, voltada ao desenfreado "combate ao crime", com
prejuízo freqüente de vidas (inclusive, de inocentes).
7
ABSTRACT
After the accomplishment of the course of specialization degree in public
politics of criminal justice and public safety of the Fluminense Federal University,
research work was developed returned to the verification of the routines policemen (in
State of Rio de Janeiro) and its adaptation (or not) to the systematic inaugurated by the
Law n.º 9.099/95, with to coming of offensive potential minor penal infractions. It was
detected that such routines didn't achieve perfect adaptation to the approaches
established by the referred Law, nor either to the effective constitutional norms, resulting
in organisms policemen that don't elucidate crimes satisfactorily (civil police), nor they
preserve the public order appropriately (military police), tends as main aspect the
warlike character of its performance, returned to the wild "combat to the crime", with
frequent damage of lives (besides, of innocent).
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................11
2. TODA OCORRÊNCIA TERMINA NA DP........................................................13
3. "DR" DEL POL, ÚNICA E SOBERANA AUTORIDADE POLICIAL? ...............20
3.1 O QUE É AUTORIDADE?.................................................................................22
3.2 AUTORIDADE ADMINISTRATIVA.....................................................................23
3.3 AUTORIDADE POLICIAL (LATO SENSU)..........................................................24
4. E NOSSA POLÍCIA CIVIL, PARA QUE (NÃO) TEM SERVIDO?....................26
4.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA POLÍCIA CIVIL FLUMINENSE ................................. 26
4.3 BREVE INCURSÃO NAS ATIVIDADES DE NOSSA POLÍCIA CIVIL...................... 30
4.4 COMO VÃO NOSSAS INVESTIGAÇÕES?............................................................. 32
5. DELEGACIAS LEGAIS ...................................................................................35
5.1 PROPAGANDA OFICIAL........................................................................................ 36
5.2 LEVANTAMENTO DE DADOS JUNTO À 6ª DP LEGAL........................................ 39
5.3 O REGISTRO DE UMA OCORRÊNCIA JUNTO À 24ª DP LEGAL ......................... 41
6. DETENÇÃO PARA AVERIGUAÇÃO, ELEMENTO SUSPEITO E VPI. DO QUE
SE TRATA?..........................................................................................................45
9
7. INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO ........................49
7.1 ANTECEDENTES................................................................................................... 49
7.2 COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS.................................... 51
7.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES............................................................................... 52
7.4 OBJETIVOS............................................................................................................ 55
8. ROTINAS POLICIAIS COMPATÍVEIS COM INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO .....................................................................................59
8.1 AUTORIDADE POLICIAL (STRICTO SENSU) ....................................................... 59
8.2 O TERMO CIRCUNSTANCIADO............................................................................ 63
8.3 EXAMES PERICIAIS .............................................................................................. 65
8.4 O TERMO DE COMPROMISSO............................................................................. 67
8.5 PRISÃO EM FLAGRANTE...................................................................................... 68
9. A EXPERIÊNCIA DO BATALHÃO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA......................70
9.1 O PROBLEMA ........................................................................................................ 70
9.2 EM BUSCA DE SOLUÇÕES................................................................................... 72
9.3 MAPEANDO A SOLUÇÃO...................................................................................... 74
9.4 CONSEQUÊNCIAS................................................................................................. 77
10. ALGUMAS EXPERIÊNCIAS DE OUTROS ESTADOS.................................81
11. PARA ONDE ESTAMOS CAMINHANDO? ...................................................84
12. PARA ONDE PODEMOS CAMINHAR?........................................................89
13. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................92
10
14. OBRAS CONSULTADAS..............................................................................100
15. ANEXOS .......................................................................................................104
15.1 CURSOS OFERECIDOS PELA ACADEPOL......................................................... 105
15.2 RELEASES DA ATUAÇÃO DA POLÍCIA CIVIL FLUMINENSE.............................. 107
15.3 RJ - DISTRIB. GEOGRÁFICA DE DELEGACIAS E BTL DA PM (POR AISP) ....... 109
15.4 DEMONSTRATIVO DO TEMPO CONSUMIDO EM DP -1º BPM/PMERJ.............. 111
15.5 REGISTRO DE OCORRÊNCIA N.º 024-04051/2003 - 24ª DP (LEGAL) ............... 113
15.6 LEI FEDERAL 9.099/95 ........................................................................................ 115
15.7 LEI FEDERAL 10.259/01 ...................................................................................... 123
15.8 LEI ESTADUAL 2.556/96....................................................................................... 126
15.9 OFÍCIO DO 1º JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL-CAMPOS-RIO DE JANEIRO ..... 132
15.10 PROVIMENTO N.º 758/2001-09-14, DO CONSELHO DE MAGISTRATURA DO
ESTADO DE SÃO PAULO.......................................................................................... 133
15.11 INSTRUÇÃO N.º 05/2004, DO CONSELHO DE SUPERVISÃO DOS JUIZADOS
ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DO ESTADO DO MS ........................................... 135
15.12 PORTARIA N.º 172/00, DA SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA SEGURANÇA DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ............................................................................ 138
15.13 RESPOSTA DA BRIGADA MILITAR À CONSULTA EM FACE DA EXPERIÊNCIA
DA CORPORAÇÃO NA LAVRATURA DE TERMOS CIRCUNSTANCIADOS ............ 141
11
1. INTRODUÇÃO
As rotinas policiais fluminenses, tanto no que concerne à polícia judiciária
(civil), quanto à polícia ostensiva (militar), parecem desempenhar importante papel nas
interações com a população, marcadamente no que concerne ao atendimento (ou não)
das demandas formuladas.
Por outro lado, sem perder de vista a necessidade de leitura das
demandas sociais alusivas às questões policiais (bem como da busca de mecanismos
confiáveis de aferição quanto ao seu atendimento), não há como se negar a influência
(positiva ou não) de tais rotinas para maior celeridade e mesmo efetividade da
prestação jurisdicional - resposta estatal - frente aos delitos.
A edição da Lei n.º 9.099/95 implantou sistemática diferenciada (inclusive
policial) em relação ao que denominou infrações penais de menor potencial ofensivo,
ou seja, aquelas condutas que, embora delituosas, mereceriam, na ótica do legislador,
reprimenda menor, mais célere e mais centrada na necessidade de reparação voltada
para o ofendido, do que na mera imposição de "castigo" estatal.
A delimitação objetiva de tais condutas delituosas foi levada a efeito com
base na pena, merecendo, inclusive, alargamento, com a edição da Lei n.º 10.259/01.
No presente trabalho, que, certamente, não se apresenta como algo
inédito no cenário fluminense e, nem tampouco, nacional, buscaremos discutir
resumidamente questões alusivas à cultura institucional e às rotinas adotadas pelas
12
polícias estaduais do Rio de Janeiro, algumas de suas conseqüências e mesmo sua
adequação (ou não) aos critérios estabelecidos pelos diplomas legais supra1.
Teceremos considerações sobre eventuais rotinas que poderiam ser
implementadas com vistas à otimização do trabalho policial fluminense, não apenas em
face das infrações penais de menor potencial ofensivo, mas, por conseqüência, das
infrações penais ordinárias, sob o ponto de vista da atuação específica da polícia
judiciária.
Talvez nosso trabalho se preste mais à oferta de questionamentos do que
à busca de respostas, mas, de qualquer forma, tentaremos apontar, inclusive com
exemplos práticos, alternativas válidas à eventual mudança de rumos e mesmo à
quebra de determinados paradigmas, vigentes no cenário policial fluminense.
Pedimos, dede já, escusas pelo caráter talvez excessivamente emocional
de nossas considerações, fruto de experiências profissionais e pessoais por nós
vividas, a serem mencionadas, oportunamente, no presente.
1 Os diplomas legais mencionados constam de anexos 15.5 e 15.6.
13
2. TODA OCORRÊNCIA TERMINA NA DP
Autoridade policial é o Delegado de Polícia; nós outros, do Soldado ao Coronel, somos meros agentes da autoridade, subordinados aquela para fins de elucidação de delitos comuns (e, em algumas vezes, até militares). Assim sendo, temos que ter em mente que toda ocorrência termina na Delegacia Polícia.
Naturalmente há ressalvas, para tal temos o código de ocorrência 'encerrado no local', mas temos que utilizá-lo com cuidado, pois, afinal de contas, é de bom alvitre que nossa atuação seja alvo (ou não) de validação por parte da autoridade policial, o 'Dr' Delegado de Polícia.
Procuramos registrar, nos dois parágrafos antecedentes, "ensinamentos"
entranhados na cultura corporativa de nossa Polícia Militar, ainda norteadores da
atuação de seus milicianos. Mas por que tais ensinamentos ainda prosperam?
Por absurdo que possa parecer, ainda há jurisprudência (rara, é verdade)
no sentido de conferir aos policiais militares a condição de meros agentes da
autoridade policial (Delegado de Polícia), senão vejamos a hermenêutica do Egrégio
Tribunal de Alçada Criminal paulista, por sua 9ª Câmara, amparada na equivocada e
superdimensionada leitura do modelo organizacional da Polícia Militar, mais parecendo
haver sido exarada nos idos da Guerra do Paraguai:
A vocação, a formação e o treinamento, inclusive sob o prisma psicossocial, são hoje, ainda, totalmente diferentes. Os policiais civis (Delegados, Escrivães, investigadores, etc), são e quem sabe deveriam ser até mais, a antítese do posicionamento, preparo e orientação dos militares. Estes são preparados para o confronto, para situações limites e onde o extermínio ou a subjugação total do inimigo é a glória da vitória, enquanto que aqueles, em especial os Delegados de Polícia, têm formação jurídica e, por isso, se constituem na autoridade policial...2
2 TACRIMSP, 9ª Câmara, Recurso em sentido Estrito nº 1.333.219/3 – Relator Samuel Júnior.
14
Em sentido similar, quase no rastro do entendimento supra, outro
Magistrado decide:
...são agentes da autoridade policial judiciária, que é o Delegado de Polícia, toda a Polícia Militar, desde seu Comandante Geral até o mais novo praça e todo o segmento da organização da Polícia Civil, bem assim o I.M.L., I.P.T etc... e nenhuma dessas categorias podendo influenciar os atos da autoridade policial, enquanto "atos de polícia judiciária" sujeitos a avaliação jurídico-subjetiva.3
O paradigma policial segundo o qual toda ocorrência termina na
Delegacia Policial (DP) tem reflexos bastante profundos na atuação de nossas polícias.
Reflexo freqüente de tal concepção pode ser representado através das
conduções coercitivas às Delegacias Policiais (travestidas de "detenção de suspeitos
para averiguação"), algo bastante usual no proceder de nossa Polícia Militar (e mesmo
civil), noticiado com freqüência na mídia; vejamos alguns exemplos:
PM apreende cocaína no Rio de Janeiro Através de informações passadas pelo Disque-Denúncia (2253-1177), policiais do Batalhão do Estácio (1° BPM) apreenderam cerca de 60 sacolés de cocaína e farto material para embalar a droga em Santa Teresa, Centro do Rio. Foram detidos Felipe da Silva Machado, Gilberto de Almeida, Eduardo Pereira Passos, Cleber Pereira do Nascimento, Rafael Conrado de Magalhães, Simone Oliveira de Almeida e Geovana Ferreira Lima. Os suspeitos e o material apreendido foram encaminhados à 7ª DP para averiguação. 4 Rio Seguro: cinco traficantes são mortos A Polícia Civil divulgou o balanço do segundo dia de Operação Rio Seguro. Cinco traficantes, quatro homens e uma mulher, ligados ao traficante por Paulo César Silva dos Santos, o Linho, morreram durante troca de tiros com agentes da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE). Equipes de policiais civis e militares ocupam, desde o início da tarde de hoje, os morros da Mineira, Fallet e Fogueteiro, que compreendem as regiões do Estácio e Rio Comprido, no centro, onde já foram apreendidos dois fuzis e uma carabina Super 12, de alto poder de destruição. ... Quatro pessoas foram detidas e estão prestando depoimento. Apreensões contabilizadas em delegacias ... Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas Cinco detidos para averiguação, sendo três maiores e dois menores.5
3 Proc. nº 253/2002, Sentença, Vara das Execuções Penais – Comarca de Rio Claro. 4 VIOLÊNCIA no Rio de Janeiro. Jornal do Terra, Rio de Janeiro, 16 set. 2002. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0%2C5580%2COI50864-EI316%2C00.html>. Acesso em: 12 set. 2004. 5 Ibid., 2002. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0%2C5580%2COI50864-EI316%2C00.html>. Acesso em: 12 set. 2004.
15
Segundo nossa mídia revela, tal prática não é exclusiva das polícias
fluminenses:
Jones dribla mais uma vez megaoperação da PM A Polícia Militar realizou uma operação gigante, na madrugada de ontem, na Favela dos Milagres, no Ibura, para tentar prender o acusado de seqüestros, assassinatos e estupros John Caetano Rodrigues, conhecido como Jones. A PM tinha informações de que o suspeito estava escondido na favela, mas mesmo com um efetivo de 52 homens e 13 viaturas, não conseguiu prendê-lo. Seis acusados de terem ligação com o bandido foram detidos para averiguação. Shirley Nascimento dos Santos, 19 anos, Maria Fernanda Liberato da Silva, 18, Ednaldo de Lima, 21, Reginaldo Lourenço da Silva, 19, Sérgio dos Santos Rodrigues, 25, e a menor P.B.F.S., 15, foram encaminhados à Delegacia de Boa Viagem. Segundo a PM, Fernanda é mulher de Jones e a menor, amante. De acordo com o comandante da operação, major Eduardo Fonseca, a polícia recebeu vários informes de que Jones estaria escondido na Favela dos Milagres. A informação teria sido confirmada pela menor P.B.F.S., que revelou ter andado de moto pela comunidade com o acusado na noite anterior. “Estamos cada vez mais perto de prender Jones. Dessa vez ele escapou por muito pouco”, comentou o major. Ontem à tarde, a assessoria jurídica da Legião Assistencial do Recife (LAR) esteve na Delegacia de Boa Viagem para dar assistência às pessoas detidas na operação. Segundo o advogado da LAR, Alan Kardec da Silva, a polícia agiu de forma truculenta durante a operação. “Três das pessoas que eles prenderam como marginais, inclusive a adolescente, fazem parte dos programas profissionalizantes da instituição. Elas estudam e têm residência fixa. Além disso, outros nove moradores foram espancados pela PM”, denunciou o advogado. 6
Mas, qual seria a motivação legal para a existência do citado Paradigma?
Não nos resta dúvida de que é fundado na concepção de que na DP está
a autoridade competente para aferir (ratificando-os ou não) a validade dos atos
praticados por seus agentes.
Daí surge a necessidade de que mesmo a simples suspeita do envolvido
de determinado cidadão com práticas delituosas, motive sua condução à presença da
autoridade policial (na DP), para que seja aprofundada tal verificação.
Os reflexos do paradigma em comento não cessam com as "detenções
para averiguação", permeando a atuação da Polícia Militar em face de todo um
conjunto de ocorrências policiais (e, por vezes, até assistenciais7), equiparando-se do
ponto de vista do mesmo um homicídio doloso a simples perturbação da tranqüilidade
alheia (tudo termina na DP).
6 JONES dribla mais uma vez megaoperação da PM. Jornal do Commercio, Recife, 23 ago. 2001. Disponível em: < http://www2.uol.com.br/JC/_2001/2308/cd2308_6.htm>. Acesso em: 12 set. 2004. 7 Há casos em que, ainda que ausentes quaisquer elementos caracterizadores de ilícito penal - ou mesmo de suspeita sobre a pessoa envolvida - a dúvida quanto ao que deve ser feito recomenda aos policiais militares que, para se resguardarem, busquem orientações junto à autoridade de polícia judiciária, fazendo constar em seus relatos que sua atuação foi calcada em "determinação do Dr Del Pol" (Delegado de Polícia).
16
A concepção de que toda ocorrência termina na DP parece ter duplo
impacto sobre a Polícia Militar e seus integrantes: se, por um lado, representa
verdadeira depreciação de autoridade, conferindo aos policiais militares - meros
"agentes da autoridade policial", proceder quase mecânico diante da prática (ou não -
bastando também mera suspeita) de quaisquer infrações penais, por outro, retira de
seus ombros grande parcela de responsabilidade sobre o rumo a ser tomado diante dos
indícios verificados no local dos fatos, uma vez que devem ser carreados à presença do
"Dr" Delegado, autoridade policial competente para deliberar sobre as medidas a serem
tomadas.
Mas, em verdade, quem é (ou o que é) autoridade policial?
Buscando respostas, temos acerca do termo autoridade, segundo o nosso
vernáculo e com o concurso do finado Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, o
seguinte:8
Verbete: autoridade [Do lat. auctoritate.] S. f. 1. Direito ou poder de se fazer obedecer, de dar ordens, de tomar decisões, de agir, etc. 2. Aquele que tem tal direito ou poder. 3. Os órgãos do poder público. 4. Aquele que tem por encargo fazer respeitar as leis; representante do poder público. 5. Domínio, jurisdição. 6. Influência, prestígio; crédito. 7. Indivíduo de competência indiscutível em determinado assunto: 8. Permissão, autorização.
No momento em que adjetivamos o substantivo com a qualificação
"policial",9 necessário é o entendimento de que por "autoridade policial" temos aqueles
que, investidos de funções policiais, têm o poder/dever de ordenar, consentir, fiscalizar
e sancionar.
Mas de que funções policiais estamos falando?
Não é por acaso que ao aclarar o significado do termo "polícia", Aurélio
Buarque de Holanda assim estabelece:
Verbete: polícia
8 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. In: Dicionário Aurélio Eletrônico, v. 1.4., 1994, Rio de janeiro: AEWIN, 1994. 1 CR-ROM. 9 Relativo a, ou próprio da polícia, ou que serve aos seus fins.
17
[Do gr. politéia, pelo lat. politia.] S. f. 1. Conjunto de leis ou regras impostas ao cidadão com o fito de assegurar a moral, a ordem e a segurança públicas. 2. A corporação que engloba os órgãos e instituições incumbidos de fazer respeitar essas leis ou regras, e de reprimir e perseguir o crime. 3. Os membros de tal corporação. 4. Boa ordem; disciplina, ordem. 5. Ant. Civilização; cultura. 6. Biol. Fiscalização, inspeção, profilaxia. 7. Tip. Lista em que o fundidor estabelece a proporção de letras e sinais que devem constituir uma fonte de tipos, para composição em determinada língua. S. m. 8. Policial (2). [Cf. policia, do v. policiar.] Polícia aduaneira. 1. Polícia encarregada de vigiar os portos, aeroportos, e a costa, a fim de evitar que entrem ou saiam do país mercadorias contrabandeadas. Polícia militar. Bras. 1. Corporação policial dos Estados, dos Territórios e do Distrito Federal, cuja atribuição é manter a segurança e a ordem internas, e que é organizada e armada nos moldes do Exército nacional, do qual é força auxiliar e reserva. Polícia naval. Bras. Mar. 1. Fiscalização exercida pelas capitanias de portos sobre as embarcações mercantes, o pessoal marítimo e as construções efetuadas em terrenos de marinha, no sentido de obrigá-los ao cumprimento das normas legais referentes à segurança das embarcações e à segurança da navegação. Polícia política. 1. Órgão policial encarregado da defesa ou preservação do regime político vigente num Estado. Polícia rodoviária. 1. Polícia que patrulha ou vigia as estradas.10
Mas quais seriam os fundamentos do exercício da autoridade policial?
Concordando com lição do Desembargador Álvaro Lazzarini, então
Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, é importante buscarmos o
“...entendimento filosófico (...), antes de adentrarmos no jurídico.”.11
A autoridade apresenta-se, de acordo com Nicola Abbagnano, como
“...qualquer poder de controle das opiniões e dos comportamentos individuais ou
coletivos, a que pertença esse poder...”.12
Nos socorrendo da teoria da burocracia13, podemos dizer que tal forma de
organização humana, baseada na racionalidade (adequação dos meios aos objetivos
10 Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, op cit, 1994. 11 LAZZARINI, Álvaro apud Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Aditamento ao Boletim da Polícia Militar. Rio de Janeiro, nº 64, 1996, p.6. 12 ABBAGNANO, Nicola apud Álvaro Lazzarini et al. Aditamento ao Boletim da Polícia Militar. Rio de Janeiro, nº 64, 1996, p. 6.
18
pretendidos), é consubstanciada no aparato administrativo correspondente à
dominação legal estatal (governamental) pretendida.
A posição dos funcionários (burocratas) e suas relações com o
governante, os governados e seus próprios colegas burocratas seriam estritamente
definidas por regras impessoais e escritas, que delineariam a hierarquia do aparato
administrativo, os direitos e deveres inerentes a cada posição e, dentre outras
minúcias, os métodos de recrutamento e seleção.
Ainda na esteira dos argumentos de Max Weber, a autoridade - poder de
controle resultante de posição reconhecida – desempenharia importante função na
relação burocrática, advindo do papel oficial atribuído ao indivíduo. O escalonamento
da autoridade no âmbito do sistema estatal teria por objeto minimizar o eventual atrito,
por via do contato (oficial) amplamente restritivo, em relação à necessidade de
acatamento dos regramentos previamente determinados.
Assim sendo, parece que a autoridade (e sua hierarquização) constitui
pilar fundamental na teoria da burocracia, como instrumento de que dispõe a
organização em face da necessidade de padronização e, em conseqüência,
previsibilidade de comportamento por parte dos administrados, em prol da eficiência do
sistema.
Mas o que dizer em relação à autoridade atribuída à polícia?
Para Bayley14, a polícia tem como competência exclusiva o uso da força
física (real ou por ameaça), para afetar o comportamento da sociedade. "A polícia se
distingue, não pelo uso real da força, mas por possuir autorização para usá-la". Neste
sentido, ela poderia ser pública ou privada.
Para o autor, cujos conceitos - é oportuno frisar - tem por foco a
sociedade norte-americana, as comunidades podem autorizar o uso da força para
regular seus assuntos, criar instituições formais de lei e governo sem, no entanto,
desenvolver uma força policial pública. A transição da proteção privada para instituições
13 Concebida pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920). 14 BAYLEY, David. apud RIBEIRO, Iselda Correa. Polícia tem futuro? Polícia e Sociedade em David Bayley. Sociologias, Porto Alegre, n. 8, jul. 2002.
19
policiais mantidas e dirigidas pelo governo não teria ocorrido da noite para o dia. Nos
Estados Unidos da América, o fator que leva à mudança do policiamento privado para o
policiamento público estaria ligado ao crescimento da insegurança, ao declínio da
eficácia da proteção estabelecida e ao aumento de violência devido a não-aceitação da
ordem estabelecida.
Destarte, as noções de autoridade e polícia não parecem apenas
próximas, sendo lícita a conclusão de que, se a autoridade é um instrumento da
administração para a garantia da previsibilidade de comportamentos, seu
escalonamento em funções ditas policiais tem por foco a criação de mecanismos
práticos destinados a fazer com que os administrados acatem os mecanismos de
previsibilidade estatuídos, externados nos ditames legais e nas ordens estatais em
geral.
A seguir, continuaremos nossa abordagem do tema, buscando o enfoque
essencialmente jurídico da expressão "autoridade policial".
20
3. "DR" DEL POL15, ÚNICA E SOBERANA AUTORIDADE POLICIAL?
Do ponto de vista legal, quem é (ou o que é) autoridade policial?
Seriam nossos Delegados de Polícia as únicas autoridades?
Vejamos, de pronto, o que nossos Delegados têm a dizer a respeito.
De acordo com o Delegado de Polícia Nestor Sampaio Penteado Filho, o
conceito de autoridade policial:
... deve ser interpretado de acordo com a sistemática processual penal e pelos cânones constitucionais. Nesse sentido, autoridade policial é apenas o Delegado de Polícia. Não são autoridades aqueles funcionários que não detêm o poder legal de mando, a eles (escrivães, agentes, soldados, cabos, capitães, coronéis, atendentes de necrotério, etc ); a lei não delegou o poder de polícia judiciária, tampouco a direção da apuração de infracionais comuns!16
Na ótica do Delegado de Polícia Maurício de Brito Todeschini, ao abordar
a questão (tendo por foco a atuação do Ministério Público - MP, bem como a
necessidade de fortalecimento das funções exercidas pelos Delegados de Polícia):
...o legislador do CPP somente denominou como autoridades a policial (delegados) e a judicial (juízes), e em qualquer espécie de interpretação que se faça - seja ela literal, sistemática ou teleológica -, não existe razão alguma para que um órgão, a qual não foi atribuída tal terminologia, "mande" em autoridades, como querem proferir. O pedestal que alguns membros do Parquet pensam estar, há tempos vem passando dos limites e fazendo com
15 Conforme citado em nota anterior, "Del Pol" é expressão utilizada com freqüência no jargão policial para ilustrar a figura do Delegado de Polícia. 16 PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Da inconstitucionalidade do Provimento nº 758/2001 do Conselho
Superior da Magistratura de São Paulo (conceito de autoridade policial na Lei nº 9.099/95). Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 56, abr. 2002. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2824>. Acesso em: 17 jan. 2005.
21
que esqueçam-se das reais atribuições que lhe foram conferidas pelo direito pátrio.
... a sociedade precisa de um Delegado de Polícia seguro para atuar com a maestria e serenidade que este cargo tão atípico exige, 24 horas por dia. Uma função que requer seja ele ao mesmo tempo um homem de letras e um homem de armas; que exige conhecimentos dos mais diversos, como Direito, Filosofia, Psicologia, gerenciamento administrativo, táticas policiais, criminalística, armamento e tiro, defesa pessoal, dentre outras, para ser breve. Sem uma estrutura adequada em volta, fica difícil a conciliação de todas estas qualidades harmonicamente por uma só pessoa. Ainda mais diante das pressões políticas e corporativas da qual está constantemente sujeito, tanto quanto um juiz ou um promotor, mas sem contar, no entanto, com as prerrogativas da independência funcional, da inamovibilidade e do julgamento em instância superior, que espera-se sejam também conferidos àquele, por terem o mesmo grau de imprescindibilidade que o cargo necessita17 (grifos do autor).
De acordo com o Delegado de Polícia Luis Carlos Couto, da Polícia Civil
do Paraná, ao tentar afastar a possibilidade de lavratura de termos circunstanciados18
por integrantes da Polícia Militar:
... a Polícia Militar, através de seus agentes, em termos de Polícia Judiciária Comum, pode apenas praticar e participar de atos preliminares, tais como preservação de local de delito, arrecadação e exibição de objetos relacionados com o delito, disse arrecadação e não apreensão, pois este ato é exclusivo das autoridades policiais e judiciárias, prisão-captura ou em flagrante delito, ser ouvido como testemunha, condutor e indiciado.
... a Autoridade Policial, mencionada no Código de Processo Penal Brasileiro, ordenamento legal para instrução do Processo Penal, fase inquisitória e contraditória, de há muito, é o Delegado de Polícia. A Lei 9099/95, veio agilizar este, nos delitos de menor insignificância penal ou potencial, como queira, portanto não caberia nenhuma polêmica, de quem seria responsável pelo Termo Circunstanciado, pois se nos atermos ao in fine do Artigo 69, da mencionada Lei, verificaremos que só a Autoridade Policial (Delegado de Polícia), Membro do Ministério Público (Promotor de Justiça), e Membro do Poder Judiciário (Juiz de Direito), é que podem, em termos de CPP, requisitar exames periciais, portanto a Autoridade Policial ali mencionada é o Delegado de Polícia, mais ninguém, nem seus agentes e auxiliares, quiçá qualquer membro da Polícia Militar, que até poderá requisitar perícia, mas o fará dentro das previsões do CPPM e não do CPP, apurando infração penal militar e, como Oficial Encarregado de IPM, mas nunca como apenas um membro da Polícia Militar e em delito de natureza comum. Tanta polêmica, que fez levar um Senador e Delegado de Polícia, a elaborar um Projeto de Lei, para explicar quem era a Autoridade Policial mencionada na Lei 9099/95, o Delegado de Polícia19.
17 TODESCHINI, Maurício de Brito. Investigação criminal: presidência exclusiva da autoridade policial. Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3426>. Acesso em: 17 jan. 2005. 18 A ser abordada mais amiúde, oportunamente, no presente trabalho, no contexto da Lei n.º 9.099/95, criadora dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 19 COUTO, Luiz Carlos. Termo circunstanciado. Autoridade policial. Delegado de polícia . Jus Navigandi, Teresina, a. 2, n. 24, abr. 1998. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=1132>. Acesso em: 17 jan. 2005.
22
Ora, na ótica de nossos Delegados de Polícia, não parece restar dúvida
alguma de que autoridade policial somente é o próprio Delegado; todavia, nos parece
que a questão não restou satisfatoriamente respondida.
3.1 O QUE É AUTORIDADE?
Aprofundando-nos um pouco mais, antes de retornarmos à questão
inicialmente proposta, julgamos oportuno discorrer, desta feita sob o ponto de vista
legal, sobre o termo "autoridade", observando inicialmente a lição exata de Goffredo da
Silva Telles Júnior:
...Nos domínios do direito, as capacidades especiais são os fundamentos da autoridade. Autoridade, para o direito, é o poder pelo qual uma pessoa se impõe às outras em virtude de sua especial capacidade de fato. (...)Em razão de seu estado ou de sua situação - em razão de suas especiais capacidades de fato - pode uma pessoa ter o poder de se impor a outros, nos termos da lei. Esse poder é que, nos domínios do direito, se denomina autoridade.”20
Observe-se que, do ponto de vista do direito, a autoridade fundamenta-se
no “arcabouço” legal propiciador de seu exercício, através do estabelecimento das
“especiais capacidades de fato”.
Convém salientar que o conceito jurídico de autoridade estabelece como
fundamental para o seu exercício a fiel observância aos preceitos legais vigentes.
Não basta a simples detenção da autoridade para o exercício do poder de
impor a outrem a vontade própria; tal vontade há que estar devidamente inserida no
contexto legal, a fim de representar (em uma perspectiva ideal, é verdade) a
predominância dos interesses da coletividade sobre os interesses individuais.
É oportuno citar o posicionamento do ilustre processualista brasileiro Hélio
Tornaghi, a respeito da matéria:
O conceito de autoridade está diretamente ligado ao do poder do Estado. Os juristas alemães, que mais profundamente do que quaisquer outros estudaram o assunto, consideram autoridade (...) todo aquele que com fundamento em lei (...) é órgão do poder público (...), instituído especialmente para alcançar os fins do Estado (...), agindo por iniciativa própria, mercê de ordens e normas expedidas segundo sua discrição (...). Daí se vê (...) que a autoridade: a) é
20 JÚNIOR TELLES, Goffredo da Silva apud Álvaro Lazzarini et al. Direito administrativo da ordem pública. 2 ed. Rio de Janeiro:Forense, 1987, p. 55.
23
órgão do Estado; b) exerce o poder público; c) age motu proprio; d) guia-se por sua prudência, dentro dos limites da lei; e) pode ordenar e traçar normas; f) e sua atividade não visa apenas aos meios, mas aos próprios fins do Estado...21
Nos são fornecidos pelo eminente processualista critérios nítidos ao
estabelecimento da autoridade inerente ao exercício do poder estatal.
3.2 AUTORIDADE ADMINISTRATIVA
Vistas as noções necessárias à compreensão da abrangência do termo
"autoridade", busquemos agora situá-lo no terreno da administração pública.
Expressão derivada do conceito de autoridade, a autoridade
administrativa representa o exercício do poder legal na esfera administrativa estatal,
sem conotações políticas de qualquer natureza.
No dizer de José Cretella Júnior, a autoridade administrativa encarna na
“...pessoa física que age em nome da pessoa jurídico-administrativa, editando atos
administrativos...”22
É de grande valia para a compreensão da noção de autoridade
administrativa, o estabelecimento do conceito de agentes administrativos que, conforme
lição de Hely Lopes Meirelles:
...não são membros de Poder de Estado, nem o representam, nem exercem atribuições políticas ou governamentais; são unicamente servidores públicos, com maior ou menor hierarquia, encargos e responsabilidades profissionais dentro do órgão ou da entidade a que servem, conforme o cargo ou a função em que estejam investidos. De acordo com a posição hierárquica que ocupam e as funções que lhes são cometidas recebem a correspondente parcela de autoridade pública para o desempenho no plano administrativo, sem qualquer poder político. Suas atribuições, de chefia, planejamento, assessoramento ou execução, permanecem no âmbito das habilitações profissionais postos remuneradamente a serviço da Administração.. ”23
Dos conceitos supra, emerge a conclusão de que autoridade
administrativa, espécie do gênero "autoridade", é todo aquele agente administrativo
capaz de, no âmbito de suas atribuições específicas, praticar atos em nome a pessoa
jurídico-administrativa que representa.
21 Hélio Tornaghi apud Álvaro Lazzarini et al, op. cit., 1987, p. 56. 22 José Cretela Júnior apud Álvaro Lazzarini et al., op. cit., 1987, p.53. 23 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 20 ed. São Paulo:Malheiros, 1995, p. 74-75.
24
3.3 AUTORIDADE POLICIAL (LATO SENSU)
Entendemos que autoridade policial constitui-se em ramificação da
autoridade administrativa. Abarca o exercício do poder emanado da administração,
porém relativamente a aspectos específicos, no contexto do convívio social.
Sinteticamente, podemos dizer que a autoridade policial é espécie do
gênero “autoridade administrativa”.
Ao discorrer sobre o conceito de autoridade policial à luz do Direito
Administrativo, Damásio E. de Jesus afirma que:
Considerando que autoridade é qualquer agente público com poder legal para influir na vida de outrem, o qualificativo ‘policial’ serve para designar os agentes públicos encarregados do policiamento, seja preventivo, seja repressivo. Assim, podemos, lato sensu, conceituar autoridade policial como todo servidor público dotado do poder legal de submeter pessoas ao exercício da atividade de policiamento.24
Podemos observar que o autor, ao conceituar autoridade policial, ratificou
o caráter de especificidade anteriormente atribuído ao exercício da autoridade
administrativa, focando seu poder na submissão da vontade dos administrados às
“atividades de policiamento”, sem estabelecer restrições relativas aos órgãos
incumbidos de tal mister.
Há que se ressaltar que o referido autor oferece conceituação diversa ao
tema, quando o aborda no contexto do Código de Processo Penal vigente.
Entende que a análise conjunta do artigo 4º do CPP, ao estatuir que “A
polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais, e terá por fim a apuração das
infrações penais e de sua autoria”, e do artigo 144, parágrafo 4º, da atual Constituição
Federal, ao dispor que “Às polícias civis, dirigidas por delegados de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto os militares”, conduz à conclusão de que “... em sentido estrito,
24 JESUS, Damásio E. de. Lei dos juizados especiais criminais anotada. 3 ed. rev. e ampl. São Paulo:Saraiva, 1996, p. 55.
25
autoridade policial compreende somente os Delegados de Polícia de carreira, a quem
compete a presidência do inquérito policial.”25
Sob a ótica do Desembargador Álvaro Lazzarini, não há que se
estabelecer tal restrição à abrangência da conceituação do tema.26
Entende o renomado jurista que,
... sem nenhuma dúvida podemos afirmar que, o policial militar é autoridade policial, porque, variando a sua posição conforme o grau hierárquico que ocupe e as funções que a ele sejam cometidas em razão de suas atribuições constitucionais (...) é o titular e portador dos direitos e deveres do Estado, não tendo personalidade, mas fazendo parte da pessoa jurídica do Estado. (grifos do autor).
E continua em sua conclusão:
Daí não mais poder aceitar-se afirmações de que policial-militar não é autoridade policial. Ao contrário, (...) o policial militar é autoridade policial, ou seja, é autoridade administrativa policial, pois, como bem esclarece o douto Conselho de Redação da ‘Enciclopédia Saraiva do Direito’ (...), Autoridade Policial ‘indica a pessoa que ocupa cargo e exerce funções policiais, como agente do Poder Executivo’, tendo ‘tais agentes o poder de zelar pela ordem e segurança públicas, reprimir atentados à lei, ao direito, aos bons costumes’... (grifos do autor).
Sustenta, por fim, que:
“A autoridade do policial-militar deriva da norma maior, a norma
constitucional, que, como cediço, deve prevalecer sobre a infra-constitucional”.
Ora, sendo os policiais militares agentes da administração estatal indireta,
incumbidos, por força de ditame constitucional, da prática de atos derivados do
exercício da polícia ostensiva, como poderíamos contestar sua investidura como
autoridades policiais?
25 Ibid., 1996, p. 55. 26 Álvaro Lazzarini apud Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, op. cit., 1996, p. 12-13.
26
4. E NOSSA POLÍCIA CIVIL, PARA QUE (NÃO) TEM SERVIDO?
Para que possamos aclarar o foco da atuação da Polícia Civil Fluminense,
julgamos oportuna a realização de breve apanhado histórico, o qual poderá auxiliar na
compreensão - e reflexos - de seu caráter "judiciário", bem como nas interfaces entre
evolução histórica e atuação contemporânea, inclusive no que concerne à divisão de
espaço com a Polícia Militar.
4.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA POLÍCIA CIVIL FLUMINENSE
Aludindo às suas missões contemporâneas formais, e partindo da leitura
de nossos ditames constitucionais, temos a Polícia Civil com incumbência do exercício
das funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais (ressalvadas as
militares).27
Buscando descer às origens da atribuição de tais funções à polícia, e
valendo-nos, para tal, de considerações de oficial da polícia paulista:
... vê-se que a origem "judiciária" da polícia se deve ao fato de, ab initio, as funções de Chefe de Polícia, desde a vinda da família real portuguesa para o "Reino Unido" (1808), ficarem a cargo de um Intendente Geral, ao qual se exigia não mais que "notável saber jurídico".28
Traçando breve histórico sobre a atribuição de funções judiciárias à
polícia, Roberto Kant de Lima pontua que na década de 1840, diante de modificações
levadas a efeito na legislação processual brasileira:
27 Conforme art 144, § 4º da Constituição Federal. 28 JÚNIOR, Azor Lopes da Silva. Direito à segurança e o direito processual penal constitucional. Disponível em: <http/www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=4925>. Acesso em: 04 set. 2004.
27
...foram atribuídas (...) à polícia funções judiciais, que incluíam o encargo de obrigar pessoas que perturbavam o sossego público, tais como vadios, pedintes prostitutas e bêbados, a assinarem um 'termo de bem viver'. Tais funções eram exercidas anteriormente pelo juiz de paz, eleito pelo voto popular.29
A Lei n.º 3, de 1841, regulamentada pelo Dec n.º 120, de 1842, trouxe,
em síntese e na ótica de João Mendes de Almeida Júnior, as seguintes modificações,
grafadas pelo autor em 1920:
-Creou, no município da Côrte e em cada provincia, um Chefe de Polícia, com os delegados e subdelegados, os quaes, sob proposta, seriam nomeados pelo Imperador, ou pelos presidentes; os Chefes de Polícia seriam escolhidos dentre os desembargadores e Juizes de direito e os delegados e subdelegados dentre quaesquer juizes e cidadãos: seriam todos amoviveis e obrigados a aceitar. -Restringiu todas as atribuições dos Juizes de Paz conferindo ás autoridades policiaes funcções não só policiaes, como judiciarias. -Alterou a forma de nomeação dos Juizes de Paz conferindo ás autoridades policiaes funcções não só policiaes, como judiciárias. -Aboliu as Juntas de Paz e o primeiro Conselho de Jurados ou Jury de accusação.30
Em 1870, em face da "divergência entre a polícia, de um lado, e a
instituição do júri e os magistrados eleitos, de outro"31 tem lugar no cenário processual
brasileiro o sistema do duplo inquérito, constando de inquérito policial preliminar,
seguido da instrução judicial propriamente dita, sistema vigente até os dias de hoje,
consagrado no atual Código de Processo Penal.
Com a queda do Império tivemos o advento da Lei n.º 947, de 29 de
dezembro de 1902, que reformou a organização policial. O Chefe de Polícia tinha de
ser formado em Direito, obrigatoriedade extinta no governo de Artur Bernardes.
A lei autorizou o poder executivo a reorganizar a polícia do Distrito
Federal, dividindo-a em civil e militar. Essa mesma lei subordinou a Polícia Civil
diretamente ao Chefe de Polícia e determinou fosse ela exercida pelos delegados
auxiliares; pelos delegados de circunscrições urbanas e suburbanas e seus suplentes;
inspetores seccionais agentes de segurança e pela Guarda Civil, integrada por 1500
policiais.
29 LIMA, Roberto Kant de. A polícia da cidade do Rio de Janeiro: seus dilemas e paradoxos. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 1995. 164p. p. 30. 30 JUNIOR, João Mendes de Almeida. O Processo Criminal Brazileiro. 3. ed. Rio de janeiro: Typ. Batista de Souza, 1920. p. 208. 31 Roberto Kant de Lima, op. cit. p. 31.
28
Em 1907, sob a chefia de Alfredo Pinto, a polícia sofreu nova modificação
em sua organização. A Lei n.º 1.631 dividiu as oito circunscrições policiais em
entrâncias: 8 de primeira, 10 de segunda e 10 de terceira. A organização policial era
constituída de um chefe de polícia, três delegados auxiliares, 28 delegados distritais, de
1ª, 2ª e 3ª entrância, 30 comissários de polícia de 1ª classe e 100 de 2ª classe.
Conforme acentua Bretas32, embora a figura do detetive de polícia tenha
origem em 1892 (sendo posta de lado logo em seguida, devido a restrições
orçamentárias), foi em 1907 que retomada, com Alfredo Pinto, através da criação corpo
de investigação, composto de 80 agentes.
Parece bastante elucidativa a citação de Bretas, quanto às primeiras
impressões do responsável pela "polícia secreta" (antecessora do corpo de
investigação) ao assumir o cargo (paralelamente à assunção da chefia de polícia por
Alfredo Pinto), em novembro de 1906:
Não é possível esconder a má impressão que tive ao assumir minhas funções. A divisão estava acéfala, uma vez que seu antigo chefe abandonara o posto. O pessoal, com raras exceções, vinha de um passado de que não tinha nada de que se orgulhar. A população ficava horrorizada quando se dizia que a proteção de seus direitos estava confiada à polícia secreta (...) Tudo isso foi reconhecido pelo ex-Chefe de Polícia, Dr. Cardoso de Castro, que se referiu ao Corpo no seu relatório de 1904 nestes termos: 'Nosso agente de polícia é o tipo clássico do funcionário canhestro que compromete tudo, desacreditando a administração, fazendo da força bruta e das más maneiras sua principal característica...33
De acordo com informações mencionadas no site da Polícia Civil
Fluminense34, temos que no ano de 1920, através do Decreto n.º 14.079, foi dado novo
regulamento à Inspetoria de Investigações e Segurança Pública, sendo aventada a
criação de uma escola de investigação criminal, parte, porém, não cumprida. Essa
reforma tinha por foco dar maior amplitude ao serviço de investigação policial e
estabelecer uma polícia técnica.
Em 1932, o projeto Batista Luzardo propunha uma reforma geral na polícia,
pretendendo modernizá-la e atualizá-la, para transformá-la efetivamente em uma 32 BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na Cidade. O exercício da autoridade policial no Rio de Janeiro: 1907-1930. Rio de Janeiro: Rocco. 1997, p. 57-58 33 Ibid., 1997, pp. 58-59. 34 policiacivil.rj.gov.br.
29
polícia técnica. O projeto não foi posto em execução, mas seu espírito reformista foi
adquirindo força e provocou modificações posteriores. Nesse ano, foi criada por João
Alberto a Policia Especial, extinta em 1960.
O Governo provisório reajustou o organismo policial, fornecendo às
autoridades mais amplos recursos para o desempenho de suas funções. A organização
policial permaneceu sendo regida pelo Decreto n.º 22.631, de 1933, que reestruturou o
serviço policial do Distrito Federal.
Em 1944, a polícia sofreu nova reforma, sob a chefia do Coronel Nelson de
Mello. Com a edição do Decreto-Lei n.º 6.378, de 28 de março de 1944, a Polícia Civil
do Distrito Federal foi transformada em Departamento Federal de Segurança Pública,
diretamente subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Nessa época,
foram extintas as delegacias auxiliares, a Inspetoria Geral de Polícia e a Diretoria Geral
de Investigações.
Em 1955, o Coronel Menezes Cortes levou a efeito reforma geral do
organismo policial, criando várias Divisões, como a Divisão de Administração, a de
Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras, e várias delegacias especializadas; reformulou
o serviço de rádio-patrulha criado em 1948 e instalou a rede de telex, que enormes
vantagens trouxe aos serviços policiais.
Com a transferência da Capital para Brasília em 1960, a Lei Federal n.º
3.752 de 14 de abril de 1960– Lei San Thiago Dantas – transferiu os órgãos e serviços
policiais de caráter local para o Estado da Guanabara.
Após a posse do primeiro governador eleito do novo Estado da Guanabara,
assumiu a chefatura de polícia o General Sizeno Sarmento, logo afastado do posto por
motivo de saúde. Foi, então, nomeado chefe de polícia o procurador Nilton Marques
Cruz, oriundo dos quadros do Ministério Público Estadual.
Pela Lei n.º 263, de 1962, foi criada a Secretaria de Segurança do Estado,
sendo nomeado para cargo de Secretário de Segurança o Coronel Gustavo Borges.
Durante a sua administração, através de sucessivos decretos do Governador Carlos
Lacerda, a organização policial sofreu, mais uma vez, novas alterações em sua
30
estrutura. Foram criadas a Superintendência de Administração e Serviços, a de Polícia
Judiciária e a Executiva.
A nova estrutura da Secretaria de Segurança – estabelecida pelo Decreto
“N” n.º 253, de 8 de julho de 1964 complementou as modificações anteriormente
iniciadas, criando novas delegacias especializadas e extinguindo outras. A Polícia
Militar, o Corpo de Bombeiros e o Corpo Marítimo de Salvamento, passaram a compor
a estrutura da Secretaria de Segurança Pública.
A Lei n.º 689, de 29 de novembro de 1983, criou a Secretaria de Estado da
Polícia Civil, conferindo autonomia administrativa e financeira à instituição policial. Seu
primeiro Secretário foi o Delegado de Polícia Arnaldo de Poli Campana. No quadriênio
1987/1990, o órgão passou por uma fase de grande progresso administrativo e policial.
Uma estrutura organizativa modelar lhe foi atribuída por Decreto governamental,
seguindo-se o reequipamento geral que abrangeu armamento, viaturas, comunicações
e reformas de delegacias. Concursos públicos para diversos cargos policiais foram
abertos com a admissão de cerca de quatro mil servidores.
Após doze anos de existência, a Secretaria de Estado da Polícia Civil deu
lugar, em 1995, à Secretaria de Estado de Segurança Pública.
4.2 BREVE INCURSÃO NAS ATIVIDADES DE NOSSA POLÍCIA CIVIL
Iniciamos nossa incursão pela leitura da propaganda oficial da própria
Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) acerca de cursos oferecidos e dos
destaques de sua atuação, reproduzidos, na íntegra, nos anexos 15.1 e 15.2 do
presente trabalho (oriundos do site policiacivil.rj.gov.br).
Para nossa surpresa - embora não total - observamos destaque para os
seguintes cursos oferecidos na Academia de Polícia Civil (ACADEPOL):
_ Progressão em área de risco
_ Curso técnico vertical em corda
31
Analisando questões estruturais relacionadas aos referidos cursos,
observamos tópicos cuja menção julgamos oportuna:
Temos a certeza que precisamos de um treinamento específico de guerrilha urbana pra enfrentar toda esta violência em local hostil. O policial sem treinamento específico fica inviável para todo este confronto. Sabemos que todo este treinamento visa principalmente a segurança do policial que vem enfrentando em locais carentes verdadeiras quadrilhas para este combate.35 Preparar o policial para o II Curso de Técnica Vertical em Corda, onde o aluno estará apto para realizar missões especializadas de intervenção em tomadas de edificações nos casos envolvendo resgate de reféns Utilizando técnicas de descida vertical em cordas (rappel), de natureza não convencional, que exijam habilidade específica e trabalho em equipe, nunca deixando de lado a segurança dos policiais e dos reféns.36
Salvo melhor juízo, não está nada clara a relação entre os citados cursos
e as atividades constitucionalmente atribuídas as Polícias Civis, quais sejam: exercício
de funções de polícia judiciária e apuração de infrações penais, exceto as militares37.
A fim de aclarar tais atribuições, parece oportuno citarmos o Delegado de
Polícia Alberto Calvano, em palestra proferida tendo por foco as atribuições do
Ministério Público e o exercício de funções investigatórias, sob a égide de preceitos
estatuídos no Código de Processo Penal:
Todos recordam a prescrição do artigo 4º do C.P.P., onde se define que a polícia judiciária será exercida pelas Autoridades Policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e de sua autoria. Inquestionavelmente é exclusivo da polícia judiciária a apuração das infrações penais, através de instrumento específico formal – o inquérito policial. Nele se realiza a função investigatória, “munus” indelegável das Polícias Civis Estaduais e Federal. É o exercício daquilo que se convencionou chamar de “investigatio”, procedimento preliminar e preparatório da ação penal pública incondicionada38.
35 Nota explicativa do treinamento específico, alusivo aos "procedimentos profissionais básicos em âmbito policial", relativo ao Curso de Progressão em Área de Risco - vide anexo 15.1. 36 Menções constantes do currículo do II Curso Técnico Vertical em Corda - vide anexo 15.1. 37 De acordo com o preceituado no art. 144, § 4º, da Constituição Federal. 38 CALVANO, Alberto. Amplitude das atribuições do Ministério Público e da Polícia Judiciária na investigação
criminal. Síntese da palestra proferida no VII Seminário sobre a Criminalidade e o Sistema Penal Brasileiro, realizado na Procuradoria-Geral da Justiça em 17 de maio de 2000, presentes Wladimir Sergio Reale, Ricardo Ribeiro Martins, Afrânio Silva Jardim e Jose Carlos Tórtima. Disponível em: <http://www.policiacivil.rj.gov.br/ /corregedoria/pareceres_corregedoria/amplitude_das_atribuicoes.htm>. Acesso em: 17 jan. 2005.
32
Ora, se as atribuições precípuas de polícia judiciária são aquelas
desenvolvidas com o mister de elucidar ilícitos penais, qual a validade de dotarmos
investigadores de táticas originariamente militares e essencialmente ostensivas?
Talvez ao menos parte da resposta possa ser descortinada em face da
leitura dos releases em destaque no site da PCERJ, mencionados no anexo 15.2 ao
presente.
Da leitura de tais reportagens, intituladas "notícias do dia-a-dia", fica
evidente o ethos militarista da PCERJ, voltado essencialmente ao "combate à
criminalidade" (redundando, inclusive - tal qual ocorre com a Polícia Militar - na
imposição de prisões em flagrante delito39) e de sua prevalência sobre o caráter
essencialmente investigativo da Corporação, com a utilização, inclusive, de "tropa de
elite"40 para tal mister.
Mas será que os cursos oferecidos pela PCERJ (e mesmo seu dia-a-dia)
guardam coerência com seu mister constitucional?
4.2 COMO VÃO NOSSAS INVESTIGAÇÕES?
Sem sombra de dúvidas, a impressão despertada pela mídia é no sentido
de que nossa polícia judiciária não se presta de forma eficaz ao seu mister principal, ou
seja, a elucidação de delitos.
De qualquer forma, julgamos conveniente a realização de verificação um
pouco mais aprofundada acerca do tema e, para tal, utilizamos dados estatísticos
acerca dos índices de elucidação de delitos do que há de melhor na polícia judiciária
fluminense (de acordo com a propaganda oficial - como se verá mais adiante), ou seja,
39 Carecedoras mais da oportunidade do que de investigações para sua imposição, uma vez que, conforme preceitua o Código de Processo Penal, em seu art. 302, abarcam as situações em que a pessoa é surpreendida cometendo a infração penal, tendo acabado de cometê-la, é perseguida, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração, ou é encontrada, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. 40 Vide matéria sobre a Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) mencionada no anexo 15.2.
33
nossas "Delegacias Legais", divulgados em julho de 2003, pelo Instituto de Segurança
Pública 41. Vejamos o que os números nos dizem:
Taxas médias de apuração de ilícitos das Delegacias Legais
Roubos de carga - 5,4%
Roubos a bancos - 2%
Roubos a pedestres - 3%
Roubos a residências - 4,5%
Roubos a estabelecimentos comerciais - 3,7%
Roubos em ônibus - 3,9 %
Parece pouco? Pois, em verdade, os números são ainda menores. As
taxas de elucidação supra abarcam as prisões em flagrante delito, efetuadas, em
grande parte (até mesmo em razão do maior efetivo e da atribuição constitucional de
polícia ostensiva), pela Polícia Militar.
Não parece sem razão a conclusão de que, à luz dos dados citados, a
Polícia Militar (ostensiva) "elucida" mais delitos que a Polícia Civil (investigativa).
Mas o que nosso Chefe de Polícia Civil tem a dizer a respeito das
investigações?
É importante lembrar que até 2001 os crimes com pena de até dois anos, como acidentes de trânsito, geravam a instauração de inquérito. Esses crimes correspondiam a 60% dos crimes ocorridos. Por isso, as estatísticas mostravam um baixo índice de casos investigados no País.42 (grifos nosso)
País à parte, qual lógica presidiu tal conclusão?
As taxas de elucidação de delitos de nossa PCERJ aumentaram após o
advento das infrações penais de menor potencial ofensivo? Elas já foram piores?
41 Constantes do Boletim Mensal de Monitoramento e Análise (ano 1, n.º 2, julho 2003). Disponível em: <http://www.isp.rj.gov.br >. Acesso em: 25 jan. 2005. Ressalte-se que o referido boletim foi o único que disponibilizou tal estatística. 42 Declarações publicadas no "Jornal da Polícia" (Secretaria de Estado de Segurança Pública - n.º 3, setembro de 2003).
34
A que se deve o fato de que, em cada 100 (cem) roubos a residências,
nossas Delegacias - ou melhor, o melhor de nossas Delegacias, as Delegacias Legais -
somente conseguem chegar à autoria de menos de 05 (cinco), incluídas as prisões em
flagrante?
E o que dizer em relação às taxas alusivas aos outros crimes citados?
E o que diríamos dos índices de elucidação de delitos de nossas
Delegacias convencionais? E de nossa PCERJ como um todo?
Será que aqui, contraditoriamente ao velho adágio, o crime compensa?
35
5 DELEGACIAS LEGAIS
Com o objeto de colher maiores subsídios para o presente trabalho e
tendo por objeto o (possível) impacto do programa "Delegacia Legal" para o incremento
de eficácia no exercício das atividades de polícia judiciária, marcadamente no que
respeita aos índices de elucidação de delitos, nos permitimos encaminhar
questionamentos simples à Chefia de Polícia Civil e à gerência do próprio programa,
buscando, em resumo, mensurar o referido impacto, traçando, inclusive, parâmetros
comparativos entre Delegacias ditas legais e convencionais; bem como obter
informações outras, sobre os procedimentos adotados nas Delegacias Legais com
vistas às infrações penais de menor potencial ofensivo43 (verificando, inclusive, sua
adequação aos ditames da Lei que estabeleceu tal qualidade de infrações penais),
sobre o percentual de tais infrações em relação às demais e, por fim, sobre a
possibilidade de facilitação ao cumprimento dos misteres constitucionais da PCERJ
através da inauguração de nova sistemática, com a lavratura de termos
circunstanciados pela PMERJ.
Infelizmente, a despeito da atenção dispensada, as respostas não
supriram nenhum dos quesitos formulados, sendo atribuído às mesmas, inclusive, o
caráter confidencial, com a advertência de que sua utilização é "expressamente
proibida".
Destarte, vamos iniciar nossa busca de respostas verificando o que
consta da propaganda oficial.
43 Acerca das quais teceremos novos comentários mais à frente.
36
5.1 A PROPAGANDA OFICIAL44
Delegacia Legal
O Programa Delegacia Legal foi concebido
para modificar radicalmente a forma como a
Polícia Civil vem desenvolvendo suas
atividades através da transformação de todas
as delegacias em Delegacias Legais. É uma
verdadeira revolução na vida de uma
delegacia e, conseqüentemente, do próprio trabalho policial. As modificações
implantadas nas Delegacias Legais envolvem desde a divisão do espaço físico até as
rotinas da unidade policial internas
O Ambiente
O projeto arquitetônico das Delegacias Legais foi criado para dar um conforto ao
cidadão e melhores condições de trabalho aos policiais com um mobiliário padrão,
moderno e funcional. Além disso, a tecnologia implantada envolve o uso de softwares,
computadores, impressoras, scanners, fotos digitalizadas, ligações em rede, ligações
com outros bancos de dados, intranet e internet.
Balcão de Atendimento
Balcão de Atendimento com universitários da área de ciências humanas, como
psicologia, serviço social e comunicação, especialmente treinados e em regime de
estágio profissional, liberando os policiais para as tarefas específicas de policial.
Telefones
Também são disponíveis para o uso do cidadão telefones públicos instalados na área
de recepção da Delegacia Legal, separando os telefones da polícia e da população.
Foram instalados também aparelhos para deficientes físicos, além da criação de
44 Reprodução na íntegra (exceto no que concerne às demais fotografias, protegidas contra cópia) das informações disponibilizadas no site <http://www.delegacialegal.rj.gov.br>.
37
acessos na unidade policial através de rampas e banheiros adequados para usuário de
cadeira de rodas.
Identificação Criminal
Em todas as Delegacias Legais os presos em flagrante são identificados criminalmente
através de equipamentos de imagem digital, associando sempre a imagem com
impressões digitais, permitindo a consulta ao arquivo criminal quando necessário.
Síndico
Para reduzir o envolvimento dos policiais em atividades de natureza administrativa foi
criada a função de "síndico de delegacia", um técnico não policial, para cuidar da
manutenção predial, do estoque de materiais e de funcionamento de equipamentos.
A função gerencial do Delegado
O Delegado, além de suas atribuições específicas como autoridade de polícia judiciária,
passa a ter com os recursos tecnológicos das Delegacias Legais, melhores condições
para coordenar as atividades de investigação criminal e supervisionar a sua equipe.
Sala de reconhecimento
Ambiente adequado para a identificação de autores de crimes, com painel de vidro
espelhado, que garante total segurança às vítimas.
Entrada de ocorrências graves
As pessoas presas em flagrante delito são trazidas por uma entrada exclusiva para
esse tipo de ocorrência, não passando pelo balcão de atendimento, portanto, evitando
constrangimento do contato entre vítimas e autores na recepção da delegacia.
Eliminação da Carceragem
Para viabilizar o Programa Delegacia Legal foi indispensável a retirada dos presos em
delegacias, que foram remanejados para as onze casas de custódia já implantadas,
sendo quatro no Governo Anthony Garotinho (três no complexo penitenciário de Bangu
38
e uma em Campos) e sete no Governo Rosinha Garotinho (duas em Bangu, Magé,
Japeri, Itaperuna, Volta Redonda e Benfica).
Foram transferidos mais de seis mil presos de delegacias e está prevista a construção
de mais cinco casas de custódia em várias regiões do Estado45. Para dar continuidade
ao Programa Delegacia Legal é indispensável a retirada dos presos das delegacias,
que são remanejados para uma casa de custódia; o Estado não pode fugir de sua
responsabilidade constitucional pelo destino e a guarda dos presos em condições
adequadas.
Salas de custódia
Apenas duas Salas, sendo uma masculina e outra feminina, de aproximadamente 4m2,
para as pessoas que são presas em flagrante delito, que são imediatamente
encaminhados para uma Casa de Custódia, tão logo seja realizado o Registro de
Ocorrência. A eliminação das carceragens das delegacias, além de acabar com uma
ilegalidade, melhorou o ambiente de trabalho e reduziu as tensões e eliminou as
atividades de alimentação, transporte e guarda de presos, liberando mais policiais civis
para a atividade de investigação criminal.
Treinamento
Para trabalhar nas Delegacias Legais os policiais são treinados previamente em
informática, instrução de tiro, Código de Processo Penal, direitos humanos (sic), noções
de psicologia, redação policial, entre outros cursos. Após a formação básica, os
policiais têm direito a uma gratificação mensal de R$ 500,00, desde que se submetam a
cursos de 12 horas mensais para dar continuidade ao seu aperfeiçoamento.
Responsabilidade na investigação
Com a nova organização do trabalho dentro das Delegacias Legais, tornou-se possível
que o policial fique automaticamente responsável pela investigação criminal das
ocorrências policiais que tenha registrado, estimulando maior produtividade no trabalho
policial e identificando cada responsabilidade pelas investigações e inquéritos policiais. 45 Vide distribuição geográfica de AISP (áreas integradas de segurança pública - divisão levada a efeito pela Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro, congregando, na mesma área de atuação, Delegacias de Polícia e Batalhões da PM) constante do anexo 15.2.
39
Informatização dos serviços policiais
Com a nova organização do trabalho policial, os computadores substituíram as
máquinas de escrever e os livros, que antes eram 66 e agora são somente seis. Os
softwares uniformizaram as informações, os procedimentos e a terminologia policial,
tornando mais seguras as informações e permitirão que as estatísticas sobre a
criminalidade sejam apuradas a qualquer tempo.
Banco de Dados
A informatização permite um aumento na produtividade e mais agilidade nos inquéritos
policiais. Todas as delegacias legais são conectadas a uma central de dados que
guarda todas as ocorrências policiais. As informações sobre investigações e inquéritos
os criminosos passam a circular entre as delegacias, através da Central de Dados por
meios eletrônicos e não por meio de papéis.
Juizados Especiais Criminais
Em convênio com o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro serão instalados
Juizados Especiais Criminais regionalmente, cobrindo a circunscrição de quatro ou
cinco Delegacias Legais, para atender melhor a população vítima de crimes de menor
poder ofensivo, definidos pela Lei 9099/95.
5.2 LEVANTAMENTO DE DADOS JUNTO À 6ª DP LEGAL
Antes de tudo, é necessário pontuarmos que os dados aqui reproduzidos
foram alvo de coleta junto à 6ª DP Legal (Estácio) nos anos de 2000/2001, quando
éramos responsáveis pelo setor de planejamento (terceira seção do estado-maior) do
1º BPM, localizado no Estácio, Rio de Janeiro (com responsabilidade sobre os Bairros
do Catumbi, Rio Comprido e Santa Teresa - além do próprio Estácio).
Nossas funções nos propiciaram maior interação com as autoridade de
polícia judiciária daquela circunscricional, com a vênia das quais (após certa relutância,
é verdade), logramos obter cópias de todos os Registros de Ocorrências (RO) ali
lavrados.
40
Naturalmente que nosso mister principal era colher subsídios para melhor
alocação dos policiais militares na área de policiamento, visando, sobretudo, prevenir
determinadas práticas delituosas (ainda que, talvez, pelo mero deslocamento das
práticas delituosas), mas, tendo os dados em mãos, não pudemos deixar de verificar os
despachos exarados nos citados documentos, a partir dos quais nos foi possível chegar
às constatações que se seguem.
No mês de agosto de 2000, 38,5 % dos roubos praticados em coletivos
(registrados) não foram investigados (5 de um total de 13), merecendo o despacho de
suspensão até "...o surgimento de fatos novos.".
Em setembro do mesmo ano, dos 18 (dezoito) roubos a transeuntes
registrados, somente 10 (dez) mereceram investigação (55,6%).
Em janeiro de 2001, dos 08 (oito) furtos a transeuntes registrados, 07
(sete) não lograram investigação (87,5%); dos 04 (quatro) furtos em estabelecimentos
comerciais, somente 02 (dois) foram investigados; apenas 01 (um) dos 03 (três) roubos
em estabelecimentos comerciais registrados foi investigado. A suspensão de
investigações foi o remédio também para 46,6 % dos veículos roubados, 57,14% dos
roubos a transeuntes, 100% dos furtos praticados no interior de coletivos, 78,5% dos
roubos também praticados em coletivos e 62,5% dos furtos praticados em residências.
É importante ressaltar que não estamos falando de percentuais de
elucidação de delitos, mas, tão somente, de investigação (ou não) de fatos delituosos
oficialmente relatados às autoridades de polícia judiciária.
Cruzando os dados constantes dos Registros das circunscricionais que
atuavam junto ao 1º BPM (6ª e 7ª DP - Santa Teresa) com aqueles lavrados pelos
policiais militares em documento próprio da PMERJ46, foi possível verificar que no mês
de março de 2001 o tempo médio de duração de uma ocorrência na 6ª DP Legal foi de
três horas e vinte e um minutos, enquanto na 7ª DP (não abarcada, à época, pelo
programa Delegacia Legal), foi de duas horas e doze minutos; somente na 6ª DP Legal,
46 Nos seus Talões de Registro de Ocorrências (TRO).
41
foram consumidas mais de 253 (duzentos e cinqüenta e três) horas na condução de
ocorrências, representando aproximadamente 1/3 do mês47.
O cruzamento de dados em tela, motivado por sucessivos reclames dos
policiais militares "de rua" revelou que a despeito de consumir tempo médio muito maior
do que aquele alusivo à Delegacia Policial "comum", nem por isso a 6ª DP Legal se
dignava a investigar todos os feitos delituosos ali registrados pela PMERJ.
Os dados descortinaram alguns questionamentos, os quais, acreditamos,
não são menos atuais e, tampouco, exclusivos da mencionada DP Legal.
Afinal de contas, eventuais dificuldades de efetivo à parte, além de servir
como ótima coletora de dados estatísticos (muito úteis ao planejamento da aplicação de
efetivo realizado, à época, pelo 1º BPM), para que servia a 6ª DP Legal?
Para o que serviu todo o tempo consumido pelas guarnições do 1º BPM
junto à 6ª DP Legal quando do registro de ocorrências?
5.3 O REGISTRO DE UMA OCORRÊNCIA JUNTO À 24ª DP (LEGAL)
Vejamos agora um exemplo prático (e real) do registro de simples
contravenção penal junto à outra Delegacia de Polícia, desta feita, a 24ª DP, também
Delegacia Legal.
Não vamos discorrer ainda (ao menos em pormenores) sobre o
procedimento cabível ante aos preceitos estatuídos pela Lei dos Juizados Especiais,
mas cremos que, mesmo assim, ficarão patentes os equívocos e as barreiras impostas
pelos procedimentos cartorários adotados por nossa polícia judiciária em razão da
pratica de infrações penais de menor potencial ofensivo, no caso, a prevista do art. 42
da Lei de Contravenções Penais:
Art 42. Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheios: I - com gritaria ou algazarra; II - exercendo profissão incômoda ou ruídos, em desacordo com as prescrições legais; III - abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; IV - provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem guarda:
47 Conforme tabela detalhada constante do anexo 15.3.
42
Pena - prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa (grifos nossos).
Na data de 03/09/2003 (e não pela primeira vez), fui vítima, no período
compreendido entre 2100 h e 2400 h, da conduta acima descrita, advinda de
apartamento vizinho, gerando o firme propósito de dar cabo, pelas vias legais
disponíveis, de tal situação.
Desta feita, na manhã do dia seguinte, cientes do fato de residir na
circunscrição da 24ª DP Legal, lá compareci a fim de registrar o ocorrido, provendo
condições ao seu encaminhamento ao Juizado Especial Criminal competente.
Após fornecer dados pessoais à atendente e aguardar por cerca de 40
min (a despeito de não haver muitas pessoas em situação similar, nem tampouco
ocorrência de origem policial militar em andamento), fui atendido (no balcão) por
integrante da Polícia Civil que, após ouvir a narrativa dos fatos, informou que não seria
possível fazer registro por não estar configurado qualquer ilícito.
Retruquei, cientificando o policial de que estávamos diante de uma
infração de menor potencial ofensivo e que, para que lograsse adoção de medidas
judiciais pertinentes (em face da atual - e infeliz - sistemática adotada), se fazia
necessária a lavratura do registro policial civil.
Diante de nova negativa em fazê-lo, busquei manter contato diretamente
com a autoridade de polícia judiciária a qual, segundo fui informado, não estava
presente ainda naquela circunscricional.
Aguardei por mais duas horas e, diante da informação de que a citada
autoridade ainda não se fazia presente, cientifiquei a funcionária plantonista de que
adotaria as medidas cabíveis a fim de que o registro fosse efetuado conforme
determina a lei.
Segui para a Corregedoria da Polícia Civil Fluminense, forneci meus
dados na recepção e, após aguardar por cerca de três horas, fui encaminhado à
presença de jovem Delegado, o qual, ao ouvir parte de minha narrativa (a qual procurei
revestir de embasamento jurídico), questionou, com perspicácia ímpar: "o Sr é
43
advogado?", ao que foi informado de minha condição de Major da PMERJ e Bacharel
em Direito.
Fui informado de que o problema seria prontamente resolvido e que meu
pretendido registro seria efetuado sem a necessidade de que formulasse queixa a
respeito da conduta do policial civil, já que, na visão do colocutor, era algo "pequeno
para se levar à frente".48
Em minha presença, o Delegado manteve contato com a autoridade
responsável pela 24ª DP, cientificando-a de que a conduta do policial civil lograva
enquadramento em prevaricação, solicitando da citada fosse determinada a lavratura
do competente registro alusivo aos fatos por mim narrados, naquela manhã, junto
aquela Delegacia Policial.
Retornando à 24ª DP Legal, onde fui atendido, com extrema falta de
cortesia (e por razões óbvias), por parte do mesmo policial civil do qual me queixei, foi
lavrado, finalmente, o Registro de Ocorrência n.º 024-04051/200349.
Por absurdo que possa parecer, ao término de sua lavratura, o policial
civil questionou os policiais civis que estavam próximos (em minha presença e sem
êxito na resposta), qual enquadramento deveria dar aos fatos, os quais, após consulta
efetuada pelo mesmo junto à autoridade de polícia judiciária, mereceram a seguinte
rubrica:
Perturbação da Tranqüilidade (Decreto-Lei n.º 3.688/41)
Perturbação da Tranqüilidade
Art 65 da LCP
Art 65 da Lei de Contravenções Penais? Vejamos:
Art 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranqüilidade, por acinte ou por motivo reprovável: Pena - prisão simples, de quinze dias a dois meses, ou multa (grifos nossos).
48 Em verdade, fomos desestimulados em formalizar qualquer queixa, sob o compromisso de que o problema seria prontamente sanado, uma vez que a Delegada daquela circunscricional era uma "ótima profissional". 49 Vide anexo 15.4 (onde foram omitidos, propositadamente, referências a endereços e telefones).
44
Embora não parecesse que a perturbação de que fui vítima tenha sido
algo premeditado com tal intuito, nem tampouco tenha revelado fatos que pudessem
conduzir a tal conclusão, me dei por satisfeito e, as 1800 h, após cerca de 08 (oito)
horas de "batalha", retornei à minha residência ciente de que, independentemente do
enquadramento dado aos fatos (no âmbito da Lei de Contravenções Penais), a Justiça
se pronunciaria a respeito.
Em 24 de setembro de 2004, após as "investigações" realizadas pelo
policial civil que me atendeu, compareci à presença de conciliador do V Juizado
Especial Criminal, onde, após entendimentos com os envolvidos (meus vizinhos)
renunciei ao "direito de representação"50, acarretando, após vistas do Ministério
Público, a solução de continuidade do feito (bem como da perturbação do sossego).
50 Apesar de se tratar de delito de ação penal pública incondicionada, independendo, destarte, de representação.
45
6. DETENÇÃO PARA AVERIGUAÇÃO, ELEMENTO SUSPEITO E VPI. DO QUE SE
TRATA?
O que as pessoas esperam ao procurar a polícia para relatar uma
ocorrência? Nossa opinião pessoal, fundada em na experiência relatada no tópico
anterior, é de que estão menos preocupadas com os termos e procedimentos
utilizados do que com o resultado final alcançado, tanto quando o pleito se refere à
apuração (ou encaminhamento devido) de prática delituosa de pequena monta,
quando, por oposição, respeita a crimes graves, quando o clamor por "justiça"
(representada, em geral, pela identificação e "punição" do criminoso) aflora com maior
veemência.
Mas, há alguma relação entre os termos citados?
Começando pelo final, as detenções para averiguação, ainda usuais por
nossa polícia ostensiva (e mesmo por nossa polícia judiciária), têm até codificação
específica em seu ordenamento interno51, "permitindo" que "elementos suspeitos"
sejam conduzidos às circunscricionais para fins de "sarqueamento", ou seja,
verificação de seus antecedentes criminais.
Louvável tal iniciativa? Até poderia ser, caso não estivessem em vigor
ditames constitucionais que vedam tal prática. Afinal, quem nunca ouviu dizer que
ninguém será preso, senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente52? Certamente muitos daqueles que são alvo das
detenções para averiguação (ou "sarqueamento") devem ter ao menos vago
51 "Elemento suspeito" - código de ocorrência merecedor de campo específico no TRO 52 Conforme disposto no art 5º, inciso LXI, da Carta Constitucional Federal.
46
conhecimento de tal preceito, mas, a quem reclamar, uma vez que as próprias forças
policiais naturalizam tal prática, normalmente revestida (quando necessário, diante de
eventuais questionamentos) de um mero convite?
Quem não se recorda de manchetes na mídia dando conta, ao citar os
resultados de grandes operações (merecedoras de denominações diversas, fruto do
momento político vivenciado quando de sua deflagração), da detenção de suspeitos
para averiguação.53
Interessa ainda o fato de que, conforme Zaverucha, a prática em tela não
é privilégio do Rio de Janeiro; ao citar a mesma questão em obra versando sobre a
Polícia Civil de Pernambuco, pontua que:
Os repórteres de rádio são, geralmente, os primeiros que, fora da polícia, tomam conhecimento das prisões para averiguação, noticiando-as diuturnamente. (...) Freqüentemente esses repórteres, que chamam esses presos de 'almas sebosas', elogiam policiais por essas ações de prisão e fazem críticas à Justiça... 54
Abordada (e, certamente, não esgotada) a questão das detenções de
elementos suspeitos, prática que acreditamos ainda usual em nossa Polícia Militar
(embora contrária aos ditames constitucionais vigentes55), passemos a verificar a
questão das VPI, alusiva à nossa Polícia Civil. Mas, afinal de contas, o que é VPI? Do
que se trata? De que estamos falando (ou - talvez mais precisamente - do que estamos
deixando de falar)?
Da análise do Título II, do Livro I do Código de Processo Penal, verifica-se
que o inquérito policial é o instrumento através do qual a polícia judiciária promove a
apuração das infrações penais, provendo (ou não) ao Ministério Público elementos para
o oferecimento de Ação Penal.
A despeito de imposição legal acerca de sua instauração, de ofício,
quando da ocorrência de infrações penais cuja ação seja pública incondicionada56
(ressalvadas aquelas de menor potencial ofensivo, instituídas pela Lei n.º 9.099/95, as 53 Vide manchetes reproduzidas no capítulo 2. 54 ZAVERUCHA, Jorge. Polícia Civil de Pernambuco: O Desafio da Reforma. 2 ed. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2004. 197 p. p. 46 55 Conforme preceitua o art. 5º, LXI, ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. 56 Diz-se daquelas infrações em que o estado é obrigado a atuar, independentemente da vontade da vítima.
47
de competência da Polícia federal, bem como as militares) e não bastasse sua
constituição como instrumento excessivamente formal e cartorário, o inquérito policial
(IP), de origens eclesiásticas e fundado em instrumentos oriundos da Inquisição
católica, pode ser precedido ainda de outro procedimento administrativo cartorário
(porém, do ponto de vista legal, informal e, cartorariamente falando, menos formal) no
âmbito de nossa Polícia Civil, a Verificação Preliminar de Inquérito (VPI).
As VPI, embora não preconizadas em nosso ordenamento processual
penal, acabam se constituindo em mecanismo informal de triagem acerca da
necessidade ou não de instauração de IP. Se por um lado o IP, independentemente da
conclusão a que cheque a autoridade responsável por sua condução, é objeto de
encaminhamento e apreciação pelo representante do Ministério Público, o Promotor de
Justiça, por outro, tal não se aplica quando os procedimentos de polícia judiciária são
materializados na VPI.
Ora, se a VPI não goza de previsão legal, por que é utilizada por nossa
polícia judiciária em lugar do IP?
Ocorrida a infração penal, não deveria ser instaurado o competente IP?
Por contraditório que possa pareça, o advento das VPI (providas de
menor formalidade, marcadamente no que concerne a prazo, arquivamento, ciência do
Ministério Público, etc) tem seus argumentos fundados na formalidade cartorária de
nossa polícia judiciária, com (alegada) fundamentação no art 5º, II, § 3º do Código de
Processo Penal:
Art. 5º - Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. ... § 3º - Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. (grifos nossos).
Parece muito duvidosa a interpretação segundo a qual a VPI tem sua
fundamentação legal consubstanciada na segunda parte do parágrafo supra. Afinal, o
48
mesmo art. 5º não reza, em seu inciso I, que nos crimes de ação penal pública
incondicionada o IP deve ser iniciado de ofício?
Ainda que acolhêssemos os argumentos de que, em determinadas
ocasiões especiais, fatos pudessem merecer verificação prévia à instauração de IP,
onde se explica a necessidade de que tal tenha que resultar em peça procedimental,
materializada (a exemplo do próprio IP) na tomada de oitivas, intimações e em outros
procedimentos eminentemente cartorários e de celeridade duvidosa (ainda que menos
formais que os adotados no curso do IP)? Tal verificação não deveria resultar de mera
apreciação dos fatos pela autoridade de polícia judiciária? Um mero despacho de
instauração (ou não) de IP não seria suficiente? Por outro lado, não seria oportuno que
tal juízo do Delegado de Polícia fosse objeto de valoração pelo Promotor de Justiça, no
exercício de sua competência como "fiscal da lei"?
Do exposto, somos levados à conclusão de que a atuação policial
fundada em concepções derivadas das expressões em comento tem como real
propósito prover maior discricionariedade (acompanhada, na hipótese, de certa dose de
arbitrariedade) à polícia, com prejuízo, inclusive, do acatamento de ditames legais
vigentes; de sorte que o organismo policial parece encontrar mecanismos próprios à
burla de aspectos legais, construindo, em determinados casos, verdadeiro "poder
paralelo" aquele que deveria regê-lo.
Destarte, julgamos oportuno que o poder público adote os mecanismos
que se fizerem necessários, a fim de que seu "braço armado" atue em estrita
conformidade com os ditames legais vigentes, com prejuízo, naturalmente, das práticas
policiais citadas.
49
7. INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO
7.1 ANTECEDENTES
É pensamento comum e praticamente unânime entre estudiosos do
Direito que a pena de prisão está “falida” como forma de ressocializar o indivíduo que,
por um ou outro motivo, tenha cometido um delito. Chegou-se mesmo à conclusão de
que os males da prisão tornam o apenado irrecuperável. Vários motivos funcionam
como verdadeiro “combustível” para a manutenção deste lamentável quadro no Brasil:
a falta de política penitenciária adequada, a superpopulação carcerária, a corrupção,
promiscuidade, tentativas de evasão, assassinatos, etc; as legislações penal e
processual penal ultrapassadas; a falsa crença de que o problema da criminalidade no
país será resolvido a partir da cominação de penas cada vez mais severas; o próprio
quadro conjuntural atravessado pelo Brasil, de magnânima desigualdade social; as
deficiências dos órgãos do aparelho criminal, dentre outros.
Este “estado de coisas” fez surgir a necessidade de revisão da efetiva
capacidade das penas de prisão e detenção para “ressocializar” o delinqüente. Assim, o
legislador constituinte inseriu no art. 98, I, da Carta Magna de 1988, a obrigatoriedade
de criação dos Juizados Especiais Criminais para a conciliação, o julgamento e a
execução de infrações penais de menor potencial ofensivo.
Antes da entrada em vigor da Lei nº 9.099/95, aqueles que praticavam
pequenas infrações penais dificilmente recebiam a devida resposta estatal. Muitas das
infrações sequer chegavam ao conhecimento do Ministério Público e do Poder
50
Judiciário. Aquelas condutas típicas de pequena monta que eram conduzidas às
Delegacias pareciam tender, por diversos motivos (corrupção, “arquivamentos”
indevidos de inquéritos policiais, através das já abordadas verificações preliminares de
inquérito; prescrição e decadência57, etc.), a raramente ter seu curso normal (e legal)
fielmente observado.
Conforme assegura Thales Nilo Trein, Promotor de Justiça no Estado do
Rio Grande do Sul,
...Tal realidade desencadeava dois males a uma só vez. Primeiro, a sensação de impunidade que tomava conta desses pequenos infratores, encorajando-os à reincidência e à escalada dos demais degraus da criminalidade. (...) Em segundo plano, verifica-se uma completa desconsideração do Estado para com a posição das pessoas diretamente atingidas pelos delitos..”58
Seguindo o mesmo raciocínio, ilustrativas são as palavras do
Desembargador Weber Martins Batista:
... os Juizados surgem para atuar sobre essa gama de conflitos até então ignorada pelo Estado, oferecendo uma possibilidade de mitigação pelo Poder Judiciário, sem que com isso tenha que submetê-los ao sistema processual vigente que, como é notório, não tem capacidade para absorvê-los, uma vez que impor a essas pessoas o modo tradicional de solução dos conflitos é o mesmo que negar a elas o direito de exigir do Estado que lhes preste jurisdição”59
Este panorama parece ter provocado a promulgação da Lei nº 9.099, de
26 de setembro de 1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais). A partir deste
momento, as vítimas dos ilícitos de “bagatela” passaram a contar com legislação
extremamente célere, capaz de lhes proporcionar a justa reparação pelo dano sofrido,
reduzindo a desconfiança dessas pessoas em relação à Justiça e atacando o
sentimento de impunidade que envolvia o ofensor.
57 Em matéria penal, prescrição e decadência são causas de extinção da punibilidade previstas no Código Penal Brasileiro, art. 107, IV. Por prescrição tem-se a perda do direito de ação pelo decurso do tempo, tendo em vista a inércia do seu titular. Já na decadência ocorre o não - exercício do direito de representação ou de queixa (nos casos de ação penal pública condicionada ou de ação penal privada, respectivamente). 58 TREIN, Thales Nilo. As polícias militares à porta dos juizados especiais. In: REVISTA UNIDADE, Porto Alegre, Ano XIV, nº 26, abr./jun. 96, p. 7. 59 BATISTA, Weber Martins et al. Juizados especiais cíveis e criminais e suspensão condicional do processo penal. Rio de Janeiro:Forense, 1996, pp. 8-9.
51
A nova sistemática introduzida pelo mencionado texto legal tem por
objetivo reduzir a burocracia e racionalizar a Justiça Penal (especialmente no caso dos
Juizados Especiais Criminais), tornando o procedimento mais ágil.
Relativamente às Polícias Militares, inúmeras mudanças foram inseridas e
serão merecedoras de destaque, já que seus integrantes são, na grande maioria das
vezes, as primeiros a tomar conhecimento da ocorrência de infrações penais de menor
potencial ofensivo.
7.2 COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
O artigo 98, I, da Constituição Federal de 1988 determinou a criação de
Juizados Especiais Criminais para o julgamento de infrações penais de menor potencial
ofensivo, permitindo a conciliação pela reparação do dano e a transação penal.
Coube à Lei definir a expressão “infração de menor potencial ofensivo”
consagrada no dispositivo acima mencionado. Deste modo, o artigo 61 da Lei nº
9.099/95 assim procedeu, in verbis:
Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial.
Com a edição da Lei n.º 10259/01, a qual criou os Juizados Especiais
Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal, o rol das infrações penais de menor
potencial ofensivo foi alargado, passando a compreender os delitos cuja pena máxima
não seja superior a dois anos, ou multa; vejamos o que dispõe o art. 2º, parágrafo-único
do citado diploma:
"Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos
desta Lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou
multa.".
Como podemos observar, a Lei estabelece como parâmetro para a
fixação da competência dos Juizados Especiais Criminais a quantidade da pena
máxima in abstrato cominada à infração.
52
A conclusão oitava da Comissão Nacional de Interpretação da Lei n.º
9.099/95 (a qual, embora anterior à edição da Lei n.º 10.259/01, a nosso ver ainda se
mostra pertinente), assim estabelece:
“As contravenções penais são sempre da competência do juizado
especial criminal, mesmo que a infração esteja submetida a procedimento especial.”.
Embora ainda haja controvérsia a respeito, julgamos que da análise das
disposições em comento, descortina-se que mesmo as infrações penais submetidas a
procedimento especial (desde que enquadradas nos critérios de pena alusivos à sua
qualificação como de menor potencial ofensivo) passaram, com a edição da Lei n.º
10.259/01, mais benéfica, a lograr enquadramento no rito preconizado na Lei n.º
9.099/95.
Assim sendo, ressalvadas as infrações penais militares (Lei n.º 9.099/95 -
art. 90-A), são infrações penais de menor potencial ofensivo aquelas em que a lei
comine pena máxima não superior a dois anos ou multa; bem como os crimes previstos
na Lei n.º 10.741, de 01 de outubro de 2003 (Estatuto do Idoso), aos quais seja
atribuída pena máxima não superior a quatro anos60.
7.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES
O legislador expressamente enunciou no artigo 62 da Lei nº 9.099/95 os
princípios que orientam o processo nos Juizados Especiais Criminais. São eles os
seguintes:
Princípio da Oralidade
Este princípio consiste na prevalência de procedimentos orais, inclusive
no que concerne às declarações feitas perante o juiz. Analisando o texto legal,
observamos diversos dispositivos que expressam a vontade do legislador neste
sentido. Dentre eles, podemos citar:
60 Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos,
aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.
53
- O artigo 75, ao estabelecer que o direito de representação poderá ser
exercido verbalmente, não requerendo maiores formalidades;
- O artigo 77, possibilitando que o Ministério Público possa oferecer
denúncia oral;
- O artigo 77, parágrafo 3º, consagrando que o ofendido, no caso de ação
penal privada, poderá oferecer queixa oral, “... cabendo ao juiz verificar se a
complexidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências
previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei”; quer dizer, se as peças existentes
devem ser encaminhadas ao juízo comum para adoção do procedimento previsto em
lei;
- O artigo 81, também fiel ao princípio da oralidade, informa que a defesa,
as alegações das partes, os debates e a sentença serão orais.
Princípio da Economia Processual
Trata-se de princípio consagrado no Direito Processual pátrio, segundo o
qual o ato eventualmente praticado em desacordo com o rito estabelecido será válido,
desde que não fira os fins da justiça. Deste modo, não haverá anulação inútil de atos
que não tenham causado prejuízo às partes.
Constatamos que este princípio também informa o processo nos Juizados
Especiais, já que o espírito da lei é produzir “o máximo de resultado com o mínimo de
esforço”.61 Na verdade, é somente através do processo que o Estado-Juiz aplicará o
direito ao caso em concreto. Para isto, deverá lançar mão de todos os meios possíveis
para alcançar este objetivo.
A Lei nº 9.099/95 consagra este princípio no seu artigo 65, in verbis:
“Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as
finalidades para as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62
desta Lei.”
61 GRINOVER, Ada Pellegrini. As nulidades do processo penal. São Paulo:Malheiros, 1994, p. 28.
54
Complementando, dispõe o parágrafo 1º do mesmo artigo, in verbis:
“Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.”
Princípio da Celeridade
Conforme nos ensina Mirabete,
A referência ao princípio da celeridade diz respeito à necessidade de rapidez e agilidade no processo, com o fim de buscar a prestação jurisdicional no menor tempo possível. No caso dos Juizados Especiais Criminais, buscando-se reduzir o tempo entre a prática da infração penal e a solução jurisdicional, evita-se a impunidade pela porta da prescrição e se dá uma resposta rápida à sociedade na realização da Justiça Penal...62
A nova Lei inovou através da criação de diversos institutos que permitem
a agilização do processo e uma solução mais rápida para o conflito de interesses
apresentado ao Poder Judiciário. A suspensão condicional do processo, incluída nesta
Lei, é um dos mais notáveis institutos inseridos no Direito Processual brasileiro. O
chamado “sursis processual” proporciona a extinção do processo e grande economia
da "máquina" judiciária.
Deste modo, no dizer de Luiz Flávio Gomes,
A suspensão do processo, reivindicada há anos pela doutrina nacional tem por base o princípio da oportunidade (...). É indiscutivelmente a via mais promissora da tão esperada desburocratização da Justiça Criminal (grande parte do movimento forense poderá ser reduzido), ao mesmo tempo em que permite a pronta resposta estatal ao delito, a imediata, na medida do possível, reparação dos danos à vítima, o fim das prescrições (essa não ocorre durante a suspensão), a ressocialização do autor dos fatos, sua não reincidência, uma fenomenal economia de papéis, horas de trabalho etc. Além de tudo, é instituto que será aplicado imediatamente por todos os juízes (não só os do juizado), não requer absolutamente nenhuma estrutura nova e permitirá que a Justiça Criminal finalmente conte com tempo disponível para cuidar com maior atenção da criminalidade grave, reduzindo-se sua escandalosa impunidade.63
Além deste, a composição civil é outro importantíssimo instituto
introduzido pela Lei nº 9.099/95 que proporciona celeridade. Conforme dispõe o seu
artigo 74, parágrafo único, “Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação
62 Julio Fabbrini Mirabete, op. cit., 1998, p. 26. 63 GOMES, Luiz Flávio. O modelo consensual brasileiro de justiça criminal: notas aproximativas. In: REVISTA DO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL, Brasília, vol 1, nº 8, jul./dez. 1996, p. 99.
55
penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia
ao direito de queixa ou representação.”
Princípio da Informalidade
No dizer de Damásio Evangelista de Jesus, este princípio “Imprime ao
processo um ritmo sem formalidades inúteis.”64 Como se observa, a informalidade está
intimamente ligada aos demais princípios norteadores do processo de competência dos
Juizados Especiais Criminais. Na realidade, cada um deles vem reforçar e
complementar o outro. Através do princípio da informalidade alcançamos, por exemplo,
incalculável economia da máquina judiciária.
Conforme leciona Thales Nilo Trein, “...A informalidade obriga-nos a fugir dos
procedimentos preestabelecidos, fórmulas, termos e ritos mais rígidos do processo tradicional.
Nenhum ato desnecessário, nenhuma formalidade inútil...”65
À propósito, ilustrativas são as palavras do Desembargador Weber
Martins Batista:
A forma é essencial. O formalismo exagerado, no entanto, é sempre prejudicial. Com esse pensamento, o legislador dotou a Lei nº 9.099/95 de elogiável informalidade. O que se observa com a simples leitura das normas que tratam dos atos de comunicação, bem como dos que disciplinam a audiência preliminar e de instrução e julgamento, é que a forma exigida em cada caso representa o mínimo necessário para que o ato atinja sua finalidade. O que, afinal, é o escopo da lei.”66
7.4 OBJETIVOS
Da análise do texto da Lei nº 9.099/95, extraímos os objetivos delineados
pelo legislador, que estão em perfeita consonância com o mandamento previsto no
artigo 98, I, da nossa Lei Maior.
Assim, o artigo 62 daquele diploma legal dispõe que:
O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando,
64 Damásio E. de Jesus, op. cit., 1996, p. 45. 65 Thales Nilo Trein, op. cit., 1996, p. 10. 66 Weber Martins Batista et al., op. cit., 1996, p.305.
56
sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade. (grifo nosso).
O processo nos Juizados Especiais, como podemos depreender, busca
prioritariamente a solução do conflito com um mínimo de formalidade. Para isto, lança
mão de dois institutos do Direito Processual: a composição civil e a transação penal.
Convém ressaltar que até a entrada em vigor da atual Carta Magna, tais medidas
tinham a sua aplicação vedada quando se tratasse de delito cuja natureza da ação
penal fosse pública67. Isto ocorria porque,
... vigorava, até então, de acordo com as normas do Código de Processo Penal, o princípio da obrigatoriedade absoluta. Mesmo quando o fato era de pequena importância, se se tratasse de ação penal pública, o Ministério Público não tinha outra alternativa senão oferecer a denúncia.68
Entretanto, nas palavras de Luiz Flávio Gomes, “...coube à Lei nº 9.099/95
quebrar a rigidez deste tradicional princípio entre nós...”69
A Composição Civil
De acordo com o texto do artigo 74, parágrafo único, da Lei, o acordo a
respeito do valor da indenização acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação. Trata-se de uma medida que visa proteger a vítima, sendo conduzida
pelo juiz ou por conciliador sob sua orientação.
A Transação Penal
Não sendo atingido o primeiro dos seus objetivos, isto é, a reparação dos
danos através da composição civil, a Lei indica o próximo passo a ser tomado com a
finalidade de evitar a aplicação de pena privativa de liberdade: a transação penal.
Como ficou salientado anteriormente, a Lei nº 9.099/95 apenas tornou menos rígido o
princípio da obrigatoriedade da ação penal pública,
...ao permitir que, nos ilícitos abrangidos por ela, possa haver transação, ou seja, possa o órgão do Ministério Público, na audiência preliminar, em vez de
67 Ação penal pública é aquela cuja titularidade pertence ao Estado, que a exerce através do Ministério Público. 68 Ibid., 1996, p. 318. 69 Luiz Flávio Gomes, op. cit., 1996, p. 88.
57
denunciar o autor do fato pelo ilícito praticado, propor-lhe a aplicação de uma pena menos severa, não-privativa de liberdade.70
Deste modo, reza o artigo 76, da Lei dos Juizados Especiais Criminais
estabelece que:
Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
Sendo a proposta acolhida pelo autor da infração e seu defensor, o
magistrado aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não terá o poder de forjar
a reincidência71 e não constará como antecedente criminal. Entretanto, por
determinação do artigo 76, parágrafo 2º, II, da Lei, esta sentença impedirá que, no
prazo de cinco anos, o mesmo benefício seja concedido ao agente novamente.
Como acentuamos no início, a Lei objetiva a reparação do dano causado
à vítima e a aplicação de pena não privativa da liberdade, já que a pena de prisão, da
forma como vem sendo executada no nosso sistema penitenciário, está fracassada,
funcionando a cadeia como verdadeira “escola do crime”.
Mas será que a Lei citada realmente alcançou seus objetivos?
Embora não tenhamos a pretensão de buscar - ao menos no presente
trabalho - respostas profundas à questão, é importante citar parte das conclusões a que
chegou Marcelo Burgos em sua pesquisa levada a efeito junto aos Juizados Especiais
Criminais das cidades de São Gonçalo e Nova Iguaçu, no estado do Rio de Janeiro.
Segundo o pesquisador:
O retrato extraído dos dois juizados analisados (...) não deixa dúvidas de que estamos diante de uma instituição estratégica para o tratamento de uma patologia que aflige boa parte das sociedades modernas desde o início do século... Não é óbvio, contudo, que os juizados já estejam desempenhando esse papel para o qual estariam vocacionados. Nossas pesquisas têm identificado problemas importantes em seu funcionamento, que, no limite, cancelam a
70 Weber Martins Batista et al, op. cit., 1996, p. 319. 71 Conforme estabelece o art. 63 do Código Penal Brasileiro, “verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.”
58
própria potencialidade do microsistema. Problemas envolvendo as instituições jurídicas, como a promotoria e a delegacia são importantes: nem sempre essas instituições têm compreendido o sentido da Lei n.º 9.099, e nossas pesquisas qualitativas têm constatado que esses operadores do direito não raramente percebem o juizado como um competidor frente a outras formas de resolução de conflito mais punitivas, que, de algum modo, lhes conferiam mais poderes.72
Destarte, parece certo que, por melhores que tenham sido as intenções
do legislador, a prática cotidiana dos operadores do Direito é tão (ou mais) importante
do que os próprios objetivos determinados no texto da Lei, sob pena de torná-la "letra
morta", já que, como reza o jargão - ou talvez seja melhor dizer a sabedoria - popular,
vivemos em um país em que algumas leis "pegam" e outras não.
72 AMORIM, Maria Stella et al (organizadores). Juizados Especiais Criminais, sistema judicial e sociedade no
Brasil: ensaios interdisciplinares. Niterói: Intertexto, 2003, p. 172-173.
59
8. ROTINAS POLICIAIS COMPATÍVEIS COM INFRAÇÕES PENAIS DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO
Para falarmos das rotinas policiais compatíveis com infrações penais de
menor potencial ofensivo, é necessário que façamos uma análise do dispositivo legal
estatuído no art 69 da Lei n.º 9.099/95, o qual, segundo cremos, é claro acerca da
definição de tais rotinas.
8.1 AUTORIDADE POLICIAL (STRICTO SENSU)
Embora já tenhamos discorrido a respeito do tema, neste ponto a análise
far-se-á sob o enfoque específico da Lei nº 9.099/95.
Apesar de haver posicionamentos diversos a respeito da matéria, a nosso
ver, o que mais condiz com a hermenêutica, refere-se ao fato de a expressão abranger
todas as autoridades administrativas investidas da função policial, ou seja, conforme
estabelece o Conselho de Redação da “Enciclopédia Saraiva de Direito”, “ ‘...indica a
pessoa que ocupa cargo e exerce funções policiais, como agente do Poder Executivo...’
”73
Vistos posicionamentos diversos sobre o conceito e abrangência da
autoridade policial (lato sensu), passaremos a analisá-los sob o ponto de vista estrito do
art. 69 do diploma legal objeto do presente trabalho:
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o
73 R. Limongi França apud Álvaro Lazzarini, op. cit., 1996, p. 13.
60
autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Citando-se Julio Fabbrini Mirabete74:
“As autoridades policiais são as que exercem a polícia judiciária que tem o
fim de apuração das infrações penais e da sua autoria (art. 4º, CPP)...”
E o autor continua mais adiante, procurando demonstrar a improcedência
de afirmar-se que “... qualquer agente público investido da função policial...” pode ser
entendido como autoridade policial para fins de atuação no que concerne às infrações
de menor potencial ofensivo.
...O conceito de ‘autoridade policial’ tem seus limites fixados no léxico e na própria legislação processual. ‘Autoridade’ significa poder, comando, direito e jurisdição, sendo largamente aplicada na terminologia jurídica a expressão como o ‘poder de comando de uma pessoa’, o ‘poder de jurisdição’ ou ‘o direito que se assegura a outrem para praticar determinados atos relativos a pessoas, coisas ou atos’. É o servidor que exerce em nome próprio o poder do Estado...
Entende o autor que em face de tal fundamentação, “...os agentes
públicos que são investigadores, escrivães, policiais militares...” não são autoridades
policiais, uma vez que são subordinados às autoridades respectivas.
Damásio Evangelista de Jesus75 tem entendimento diverso. Para ele:
O art. 69 da Lei nº 9.099, ao dispor que ‘a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários’, busca agilizar o procedimento inquisitivo e, com isso, a prestação jurisdicional final...
Entende o autor que o conceito de autoridade policial, para fins da Lei em
estudo, é diverso do constante do Código de Processo Penal, afirmando que:
É inequívoco que o legislador, ao tratar do inquérito policial no Código de Processo, empregou a expressão ‘autoridade policial’ para designar os agentes públicos com poderes administrativos para a presidência do inquérito, lavratura de auto de prisão em flagrante...
E prossegue o penalista:
74 Julio Fabbrini Mirabete, op. cit., 1998, pp. 60-61. 75 Damásio Evangelista de Jesus, op. cit., 1996, p. 58.
61
“A função de polícia judiciária, que compreende toda a investigação e
produção extrajudicial de provas, é conduzida por Delegados de Polícia de carreira e
não policial militar.”
Afora questionamentos referentes à autoridade policial restrita aos
Delegados de Polícia, para fins do art. 4º do Código de Processo Penal, parece-nos
esclarecedora a menção a tal expressão no contexto das infrações penais de menor
potencial ofensivo.
A questão motivou a discussão e emissão de pareceres por parte de
colegiados nacionais, a saber: Comissão Nacional de Interpretação da Lei nº 9.099,
Confederação Nacional do Ministério Público e Colégio Permanente de Presidentes dos
Tribunais de Justiça do Brasil.
A Comissão Nacional de Interpretação da Lei em estudo, sob
coordenação da Escola Nacional de Magistratura e presidida pelo Ministro do Superior
Tribunal de Justiça, Sálvio de Figueiredo Teixeira, assim dispôs em sua nona
conclusão:
“A expressão ‘autoridade policial’ referida no art. 69 compreende quem se
encontra investido em função policial...”.76
No mesmo sentido estabeleceu a Confederação Nacional do Ministério
Público, em sua primeira conclusão:
A expressão ‘autoridade policial’, prevista no art. 69 da Lei 9.099/95, abrange qualquer autoridade pública que tome conhecimento da infração penal no exercício do poder de polícia.77
No que concerne à conclusão do Colégio Permanente de Presidentes dos
Tribunais de Justiça do Brasil, reunido em Vitória, ES, de 19 a 20 de outubro de 1995,
observamos o seguinte: “...pela expressão autoridade policial se entende qualquer
agente policial, sem prejuízo da parte ou ofendido levar o fato diretamente a
conhecimento do Juízo Especial.”78
76 Ibid., 1996, p. 60. 77 Julio Fabbrini Mirabete, op. cit., 1998, p. 60. 78 Damásio Evangelista de Jesus, op. cit., 1996, p. 60.
62
Reconhecendo a competência dos policiais militares para a lavratura de
termos circunstanciados, veio à lume a "carta de Cuiabá", oriunda do XVII Encontro
Nacional dos Corregedores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União, a
qual julgamos oportuno reproduzir:
CARTA DE CUIABÁ Os Corregedores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União, reunidos em Cuiabá, MT, nos dias 25 a 28 de agosto de 1999, por ocasião do XVII Encontro Nacional, considerando que o conceito de autoridade policial aludido pelo art. 69, da Lei nº 9.099/95, não deve ser interpretado restritivamente; considerando os princípios da simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, previstos nos artigos 2º e 62, da Lei nº 9.099/95, e considerando que a atuação ministerial, pautada pelos cânones do interesse público, independe da origem do comunicado do ilícito criminal para adoção das providências pertinentes; concluem pela oportunidade da edição de recomendação aos integrantes do Ministério Público dos Estados e da União, observado o seguinte: a) o reconhecimento da plena legalidade dos termos circunstanciados lavrados por agentes públicos regularmente investidos nas funções de policiamento; b) a possibilidade da requisição direta de informações, documentos, diligências, laudos, perícias, etc, quando necessárias à elucidação dos fatos, não importando a origem do correspondente termo circunstanciado; c) a faculdade de remessa das peças ao juízo comum quando a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, nos termos do § 2º, art. 77, da Lei 9099/95 . Cuiabá, MT, 28 de agosto de 1999 (grifos nossos).
Mas o que diz a respeito do tema o Superior Tribunal de Justiça? Ao que
parece, embora por caminho inverso, firmou a competência dos policiais militares para
a lavratura de termos circunstanciados; vejamos:
Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, estabeleceu que “... nos casos de prática de infração penal de menor potencial ofensivo, a providência prevista no artigo 69 da Lei nº 9.099/95 é da competência da autoridade policial, não consubstanciando, todavia, ilegalidade a circunstância de utilizar o Estado o contingente da Polícia Militar” (HC 1998/0019625-0);
Diante do exposto, não parece restar dúvida de que o policial militar está
abarcado pelo raio de abrangência estabelecido pelo art. 69 da Lei n.º 9.099/95, em sua
menção a “autoridade policial”.
Logo, entendemos não ser prudente (e legal) o estabelecimento de
restrições de competência aos “...agentes públicos encarregados do policiamento...”79
(em vista da posição hierárquica, função exercida e órgão a que pertencem) para
79 Ibid., 1996, p. 55.
63
adoção dos procedimentos policiais preconizados pelo artigo supra, sob pena de
ferirmos, não apenas a hermenêutica, mas, sobretudo, os critérios previstos no art. 62
da Lei em estudo80, obstando o que, no dizer de Damásio Evangelista de Jesus81,
representa a finalidade básica do art. 69: a agilização da “prestação jurisdicional final”.
8.2 O TERMO CIRCUNSTANCIADO
Dispõe o artigo 69 da Lei em exame que “A autoridade policial que tomar
conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado...” (grifo nosso).
Trata-se de mais uma das tantas inovações produzidas pela Lei nº
9.099/95 no nosso ordenamento jurídico. Cumprindo o propósito de agilizar o processo
de competência dos Juizados Especiais Criminais, tendo em vista os princípios
abordados no capítulo II deste trabalho, o legislador substituiu os já conhecidos
inquérito policial e auto de prisão em flagrante pelo que denominou de termo
circunstanciado. Este nada mais é do que uma autuação sumária onde o fato é
narrado com todos os seus detalhes (autor, ofendido, testemunhas, local etc.), sem,
contudo, prender-se ao formalismo verificado, e. g., na peça inquisitorial.
Elementos do termo circunstanciado
Conforme nos ensina Weber Martins Batista,
... Ao tomar conhecimento do fato, a autoridade lavrará um termo, no qual fará constar tudo o que for importante para a apuração do fato: como e por quem recebeu a notícia da infração; como estava o ofendido; no caso de lesão, que tipo de lesão apresentava; o que declarou ele; que versão deram ao fato a pessoa apontada como autora e as testemunhas (se compareceram e prestaram informações). Tudo isso, é evidente, da forma mais sucinta possível.82
Obedecendo aos propósitos da Lei, o termo circunstanciado deverá conter
somente dados indispensáveis.
A lavratura do termo
80 Vide capítulo II, p. 32 e segs.: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade. 81 Damásio Evangelista de Jesus, op. cit., 1996, p. 34. 82 Weber Martins Batista et al., op. cit., 1996, pp. 307-308.
64
Este assunto é extremamente importante para as Polícias Militares. Como
visto, parte considerável da doutrina tem firmado posicionamento favorável à
possibilidade deste termo ser lavrado pelo próprio policial militar. Isto ocorreria tendo
em vista a própria intenção do legislador em substituir o inquérito policial por tal
instrumento, tornando dispensável a atuação do Delegado de Polícia.
Esta é a opinião de vários juristas renomados, como, por exemplo,
Rogério Lauria Tucci, Professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo:
Ora, não atenderia, de nenhuma maneira, a mens legislatoris, que, com a edição da lei, transformou-se na mens legis, solicitar essa providência ao delegado de polícia (ou, como acontece na quase totalidade dos casos, a um de seus mais atuantes agentes, o escrivão, encarregado - isso, sim, quando factível - da formalização do informatio delicti em autos de inquérito policial...) que, nada tendo a fazer, limitar-se-ia a repristiná-la, sem possibilidade, de qualquer adição ou inovação...83
O referido autor cita ainda Ada Pelegrini Grinover, Antônio Carlos
Magalhães Filho e Luiz Flávio Gomes como partidários desta mesma opinião.
Damásio E. de Jesus, também fiel a este entendimento, proclama que:
“Um simples boletim de ocorrência circunstanciado substitui o inquérito policial. Deve
ser sucinto e conter poucas peças, garantindo o exercício do princípio da oralidade.”.84
Mirabete, por seu turno, analisando a Carta Magna e a Lei nº 9.099/95,
estabelece que:
“... à luz da Constituição Federal e da sistemática jurídica brasileira,
autoridade policial é apenas o delegado de polícia, e só ele poder elaborar o termo
circunstanciado referido no art. 69...”.85
Com a devida permissão do jurista que entende contrariamente, somos de
opinião que o policial militar tem um importante papel no processo célere que a Lei visa
alcançar, sendo perfeitamente cabível e, mais importante, necessário, atribuir tal mister
ao miliciano.
83 TUCCI, Rogério Lauria. A lei dos juizados especiais criminais e a polícia militar. In: REVISTA UNIDADE, Porto Alegre, ano XIV, nº 27, jul./set. 1996, p. 15. 84 Damásio Evangelista de Jesus, op. cit., 1996, p. 50. 85 Julio Fabbrini Mirabete, op. cit., 1998, p.61.
65
Providos de adequada instrução sobre a matéria em questão, os policiais
militares têm condições para a realização de tais tarefas. Por outro lado, é a própria
vontade da Lei que nos impele a acreditar piamente que a sociedade seria
extremamente beneficiada se a ocorrência fosse encaminhada diretamente ao Juizado,
sem a desnecessária intermediação da Delegacia Policial.
Eventuais dificuldades iniciais à parte, os benefícios seriam incontáveis: o
cidadão (autor e vítima) teria um pronto atendimento, permanecendo apenas o mínimo
de tempo necessário, sem a tradicional demora atualmente verificada; os recursos
materiais e humanos também seriam economizados, possibilitando o atendimento a
novas solicitações da comunidade; as Delegacias Policiais poderiam se dedicar mais
aos delitos de maior complexidade, proporcionando melhor serviço à população e,
quiçá, redução da impunidade.
8.3 EXAMES PERICIAIS
Tratando-se de Lei dos Juizados Especiais Criminais, esta matéria é
igualmente controvertida. Respeita à discussão sobre quem seria a autoridade
competente para requisitar os exames periciais necessários, mencionados no artigo 69,
caput, in fine.
Damásio de Jesus afirma que cabe ao Juizado Especial Criminal
providenciar os exames periciais necessários.86
Nereu José Giacomolli acolhe opinião de que “a autoridade policial deverá
requisitar os exames imprescindíveis. Entretanto, poderá enviar o termo
circunstanciado sem o resultado dos mesmos a fim de que se possa realizar a
audiência preliminar.”87 Autoridade policial, no entendimento deste autor, “...abrange
tanto a atividade policial de investigação (Polícia Civil), quanto a preventiva (Brigada
Militar).”88
Poderíamos sanar a questão nos limitando a dizer que as infrações
penais que necessitarem de exame pericial poderão ser conduzidas à sede do Juizado, 86 Damásio Evangelista de Jesus, op. cit., 1996, p. 59. 87 GIACOMOLLI, Nereu José. Juizado especial criminal. In: REVISTA UNIDADE, Porto Alegre, ano XIV, nº 26, abr./jun. 1996, p. 25. 88 Ibid., 1996, p. 26.
66
onde se fará a requisição. Chegamos a tal conclusão a partir do estudo de dispositivos
da Lei que, em nenhum momento, atribuem exclusividade desta função ao Delegado
de Polícia. Se o objetivo primeiro da Lei é a obtenção do acordo entre as partes, por
que não buscá-lo de imediato? E, não sendo possível realizar a audiência preliminar no
mesmo dia, tendo em vista o grande número de conflitos levados aos Juizados
Criminais, maior razão teríamos para nos posicionarmos desta forma, já que haveria
tempo hábil para este órgão requisitar a perícia. Mas, se a própria Lei não estabelece
restrições às autoridades competentes para requisições periciais, por que nós
haveríamos de fazê-lo?
Entendemos que as autoridades competentes para a requisição de
exames são as autoridades policiais. Quais? Aquelas compreendidas no rol estatuído
pelo art. 69 da Lei n.º 9.099/95.
Lembremos o que disse o Ministério Público, através da já citada "Carta
de Cuiabá":
CARTA DE CUIABÁ Os Corregedores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União, reunidos em Cuiabá, MT, nos dias 25 a 28 de agosto de 1999, por ocasião do XVII Encontro Nacional, considerando ...; (...) concluem pela oportunidade da edição de recomendação aos integrantes do Ministério Público dos Estados e da União, observado o seguinte: (...) b) a possibilidade da requisição direta de informações, documentos, diligências, laudos, perícias, etc, quando necessárias à elucidação dos fatos, não importando a origem do correspondente termo circunstanciado; c) a faculdade de remessa das peças ao juízo comum quando a complexidade (...) Cuiabá, MT, 28 de agosto de 1999 (grifos nossos).
Ressalte-se que o MP reconheceu a competência de policiais militares
não apenas para a requisição direta de laudos e perícias, como também de
"informações, documentos, diligências" e etc.
Aqueles que alegam a complexidade da infração como justificativa para
não se atribuir ao Juizado ou aos policiais militares a competência para requisitar o
exame pericial, se esquecem do disposto no artigo 77, parágrafo 2º, da Lei, que
estabelece:
67
Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
Assim, pode ocorrer que o fato, embora de menor potencial ofensivo, seja
de extrema complexidade, requerendo, na ótica do MP e da autoridade judiciária
competente, mais que a lavratura de mero termo circunstanciado (e eventual requisição
de exames periciais), ensejando a deflagração de procedimentos investigativos de
polícia judiciária. A solução apontada pelo legislador é lógica: as peças serão
encaminhadas ao Juízo Comum para adoção dos procedimentos cabíveis.
Entendemos, ainda, que a vontade do legislador é evitar todo e qualquer
ato desnecessário e prejudicial aos princípios orientadores do processo no Juizado.
Outra conclusão não é possível se analisarmos o parágrafo 1º, do artigo 77, da Lei, in
verbis:
Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente (grifo nosso).
8.4 O TERMO DE COMPROMISSO
Reza o artigo 69, parágrafo único, da Lei dos Juizados Especiais
Criminais, que:
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. (grifos nossos).
Mais uma vez, esquecendo os princípios norteadores deste diploma legal,
tem sido discutido se o policial militar possui o devido respaldo legal para lavrar o
denominado termo de compromisso, isto é, formulário no qual o autor do fato declara
que comparecerá à sede do Juizado Especial Criminal competente para apreciar a
infração. Não conseguimos compreender aqueles que manifestam posicionamento
contrário à possibilidade de se atribuir ao policial militar tal mister.
Não aceitamos a idéia de que o autor do fato deva ser conduzido à
presença do Delegado de Polícia para assumir o compromisso de comparecer ao
68
Juizado Especial Criminal. Questionamos o que será feito na delegacia, que não
poderá ser realizado pelo próprio policial militar. Por que não conduzi-lo diretamente ao
Juizado e com toda documentação devidamente formalizada? De lá, as partes já
sairiam com todas as informações pertinentes à audiência preliminar, sendo, inclusive,
intimadas para tal.
Quanto ao conteúdo do termo, deverá constar a possibilidade de se fazer
acompanhar de advogado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á nomeado
defensor público (art. 68).
8.5 PRISÃO EM FLAGRANTE
Como dito, caso o autor do fato tenha sido encaminhado diretamente ao
Juizado, ou assumido o compromisso de a ele comparecer, o artigo 69, parágrafo
único, da Lei, veda a imposição de prisão em flagrante, bem como a exigência de
fiança.
Entretanto, estando o autor do fato em estado de flagrância, isto é, em
conformidade com o estabelecido no artigo 302 do Código de Processo Penal e,
havendo a sua recusa em assumir o compromisso de comparecer ao Juizado Criminal,
o policial militar terá a obrigação de dar-lhe voz de prisão e conduzi-lo à Delegacia
Policial para que seja lavrado o auto de prisão em flagrante delito.
Luiz Flávio Gomes entende que encontramos aqui uma medida
claramente descarcerizadora.89
Weber Martins Batista, analisando esta inovação da Lei, assegura que:
A solução adotada na Lei em exame é lógica. Não há por que prender em flagrante o agente que não se rebela contra a idéia de comparecer a juízo, sobretudo quando o faz por força de lei que busca exatamente o contrário, ou seja, impedir que, mesmo admitida sua culpa, venha ele a ser preso.90
Neste caso, convém que o policial militar relacione testemunhas que
presenciaram a negativa do autor, a fim de não pairar dúvidas sobre a legalidade do
seu comportamento. Da mesma forma, deve o policial militar fazer constar no seu talão 89 GOMES, Luiz Flávio. Suspensão condicional do processo. São Paulo:Revista dos Tribunais, 1995, pp. 88, 89 e 102. 90 Weber Martins Batista et al., op. cit., 1996, p. 311.
69
de registro de ocorrência que o infrator não quis assumir o compromisso de comparecer
ao Juizado.
70
9. A EXPERIÊNCIA DO BATALHÃO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA
Embora nossa Polícia Militar possa ter se olvidado de tal fato (não tendo
tirado proveito da oportunidade que lhe foi descortinada), podemos dizer que goza de
certo pioneirismo na lavratura de termos circunstanciados por parte de policiais
militares, através do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv).
Para externarmos o processo através do qual foi desencadeado tal
pioneirismo, utilizaremos entrevistas e dados coletados por ocasião de trabalho
monográfico realizado em 1998, sob o título: "A autoridade Policial do policial militar no
contexto da lei n.º 9.099/95 e o estabelecimento de rotinas para o seu exercício".91
Cabe ressaltar que, segundo soubemos já há longa data, a experiência
em questão deixou de ser aplicada, retornando o efetivo do BPRv ao lugar comum de
encaminhar todas as ocorrências policiais às Delegacias de Polícia.
9.1 O PROBLEMA
O BPRv da PMERJ tem por missão específica o provimento de
policiamento à malha rodoviária sob administração estadual.
91 SILVA, André Carlos da, MEDEIROS, Wanderby Braga de. A autoridade policial do policial militar no contexto
do art. 69 da Lei n.º 9.099/95 e o estabelecimento de rotinas para o seu exercício. Monografia de conclusão do curso de aperfeiçoamento de oficiais. Academia de Polícia Militar Edgard Facó, Fortaleza: 1998.
71
No ano de 1997, predominavam, dentre as flagrâncias, a relativa, na
época, à conduta tipificada no art. 32 (falta de habilitação para dirigir veículo) do
Decreto - Lei nº 3.688, de 03 de outubro de 1941 (Lei das Contravenções Penais)92.
As ocorrências relativas a tal conduta típica de menor potencial ofensivo
geraram, somente no ano em lide (1997), 5.020 (cinco mil e vinte) autuações sumárias,
atingindo-se a média mensal de 418 (quatrocentos e dezoito) autuações.
No mês de setembro de 1997, foram relatados ao Comando do Batalhão
problemas relativos à condução de inabilitados por parte do Posto de Policiamento
Rodoviário nº 19 (Campos dos Goytacazes) à 134ª Delegacia Policial.
Tais relatos davam conta de entraves administrativo-operacionais gerados
pela exigência da autoridade de polícia judiciária titular daquela delegacia, a respeito da
necessidade de condução, não apenas dos infratores, mas também dos veículos
aquela circunscricional, para que fosse verificada a "materialidade do delito" (falta de
habilitação) e, somente então, lavrado o termo circunstanciado.
Apesar dos esforços empreendidos a fim de demonstrar à autoridade de
polícia judiciária que, além do problema operacional acarretado para a satisfação de
suas exigências, tratava-se, no caso dos veículos, de infração administrativa relativa,
na época, ao Código Nacional de Trânsito e seu Regulamento, residindo a competência
para apreensão dos mesmos no Batalhão de Polícia Rodoviária e não na delegacia
circunscricional, a mesma se mostrou irredutível em suas convicções.
Diante de tal situação, o Comando da Unidade recorreu ao Ministério
Público, informando quanto às exigências da autoridade e as conseqüências advindas
daquele posicionamento, importando, inclusive, para o descrédito da atividade jurisdicional
do Estado, na medida em que tendia a gerar sentimento de impunidade diante da inércia
da autoridade de polícia judiciária frente à conduta típica exposta, sempre que havia a
impossibilidade de condução dos veículos à delegacia.
92 Na época não vigorava o dispositivo constante do art. 309 da Lei nº 9.503/97 (“dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida permissão para dirigir ou habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir , gerando perigo de dano” - Código de Trânsito Brasileiro).
72
O Ministério Público convocou o Comando da Unidade e a Autoridade de
Polícia Judiciária para uma reunião, a fim de promover o necessário esclarecimento dos
fatos.
Na reunião realizada em 10 de outubro de 1997, presentes o Promotor da
mesma Comarca, Marcelo Sena Bastos, o Comandante do Batalhão de Polícia Rodoviária,
Ten Cel PMERJ Hamilton Leandro Saldanha e o Delegado Titular da 134ª Delegacia
Policial, João Custódio Rajão; ficou devidamente estabelecido que os veículos somente
seriam conduzidos à delegacia quando não houvesse a hipótese de infração
administrativa, desde que houvesse policial militar habilitado a fazê-lo.
A despeito do acordo firmado, o problema não foi solucionado, persistindo
a autoridade de polícia judiciária em criar óbices diversos à lavratura de simples termo
circunstanciado, em desacordo com o que havia sido ajustado na reunião.
9.2 EM BUSCA DE SOLUÇÕES
Diante de tal situação, o Comando da Unidade, imbuído dos princípios
norteadores da Lei nº 9.099/95 e valendo-se das posições doutrinárias da lavra de
Damásio Evangelista de Jesus,93 passou a vislumbrar a oportunidade de realizar a
condução dos infratores diretamente à sede do 1º Juizado Especial Criminal, sem a
efetivação de qualquer procedimento oriundo de encaminhamento à 134ª Delegacia
Policial.
Adotando-se tal posicionamento, além de serem sanados os problemas
ocasionados pelas exigências da autoridade de polícia judiciária, seria propiciada nova
dinâmica de atuação do efetivo, com a realização de todos os procedimentos
preliminares preconizados na Lei nº 9.099/95, proporcionando à Justiça os subsídios
necessários ao exercício do poder jurisdicional do Estado com vistas à conduta típica
objeto da presente explanação.
93 Damásio E de Jesus, op. cit., 1996, pp. 60-61
73
É natural que, juntamente com a hipótese levantada, tenham sido
observadas demandas administrativo-operacionais a serem supridas em face de sua
concretização.
Foi observada, por exemplo, a necessidade de se inserir na nova
dinâmica de atuação mecanismos de acompanhamento e controle, de forma a permitir
à sede da Unidade o necessário “feed back” operacional, fundamental ao
desencadeamento de processos avaliativos e à implementação de eventuais medidas
de reformulação de procedimentos.
Neste contexto, foi evidenciada a importância do desenvolvimento de
novos procedimentos instrucionais, com o fito de dotar a tropa do necessário
conhecimento, do ponto de vista legal e administrativo, com vistas ao exercício de
atribuições ligadas ao registro dos procedimentos policiais militares adotados.
Como aperfeiçoamento natural da hipótese elencada para a solução do
problema, foi aludida, ainda, a possibilidade de assunção de compromisso de
comparecimento ao Juizado Especial Criminal, com fulcro no art. 69, parágrafo único,
da Lei, perante o próprio policial militar.
Destarte, a solução inicialmente pensada passou a constituir-se,
sinteticamente, na eliminação dos trâmites cartorários da 134ª Delegacia Policial
oriundos do encaminhamento de cidadãos flagrados pelo efetivo do BPRv na condução
de veículos automotores sem a devida habilitação, no município de Campos dos
Goytacazes.
Em outras palavras, teríamos o nivelamento dos procedimentos
preliminares dos policiais militares aos adotados na Delegacia Policial, suprimindo-se
um “degrau” nos procedimentos preliminares destinados ao fornecimento de subsídios
ao Juizado Especial Criminal para o desenvolvimento de suas atribuições.
74
9.3 MAPEANDO A SOLUÇÃO
A partir da delimitação da solução a ser buscada, passou-se ao
estabelecimento do modus operandi para sua concretização.
Inicialmente, buscou-se visualizar os obstáculos à obtenção dos fins
colimados.
Em tal perspectiva, além da barreira modelar relativa à matéria, externada
no paradigma exposto e em outros, como, e. g., o que afirma que o policial militar é
mero agente da autoridade policial e, como tal, não pode exercer a autoridade policial,
ainda que no enfoque específico das condutas típicas de menor potencial ofensivo, foi
observado o entrave normativo interna corporis, materializado pela Nota de Instrução nº
004/97.94
Tal Nota de Instrução, referenciada, dentre outros dispositivos, na
Resolução Conjunta PGJ/SSP nº 002, de 10 de junho de 1996, tem por finalidade
regular “... os procedimentos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro por ocasião
das ocorrências policiais que envolvam prisão”. (grifo nosso).
Note-se que a despeito desta finalidade, se inserem nos procedimentos
regulados a conduta dos policiais militares frente à flagrância de condutas típicas de
menor potencial ofensivo.
O entrave normativo deste dispositivo é representado pelo fato de
apregoar que nesta situação o policial militar deve convidar o infrator a acompanhá-lo à
delegacia policial a fim “... de assumir o compromisso, perante a Autoridade de Polícia
Judiciária, de comparecer ao Juizado Especial Criminal, beneficiando-se, assim, do
previsto na Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995”.
Deste modo, foram articuladas pelo Comando do BPRv duas alternativas:
1) Empreender esforços junto ao Comando da Corporação no sentido de
que fossem efetivadas modificações na Nota de Instrução nº 004/97, modificações
94 Publicada no aditamento ao boletim da PMERJ nº 94, de 27 de maio 1997, p. 1.
75
estas já solicitadas pelo Comando do BPRv (ofício nº 1883/2597/97) ao cientificá-lo dos
problemas gerados pelas exigências da autoridade de polícia judiciária da 134ª D. P.
2) Buscar, em contato direto com o 1º Juizado Especial Criminal da
Comarca de Campos dos Goytacazes, autorização para o encaminhamento direto dos
infratores da conduta tipificada no art. 32 da Lei das Contravenções Penais, bem como
para a lavratura de termo de compromisso por parte dos militares da Unidade.
A escolha da primeira alternativa parecia ter como conseqüência a não
solução, em curto prazo, do problema que se apresentava, face ao trâmite
administrativo interno a ser desencadeado, tendo em vista o fato de o dispositivo objeto
de tal alternativa basear-se, no tocante ao procedimento operacional frente às condutas
típicas de menor potencial ofensivo, em “norma maior”, ou seja, na Resolução Conjunta
da Procuradoria Geral de Justiça e da Secretaria de Segurança Pública nº 002, de 10
de junho de 1996, a qual preconiza, em seu art. 1º, anexo I, que: "O Policial Civil ou
Militar que tomar conhecimento da prática de infração penal deverá comunicá-la,
incontinenti, ao Delegado de Polícia da Unidade de Polícia Administrativa e Judiciária
da respectiva circunscrição”.95
Em outras palavras, para efetivar modificações na Nota de Instrução nº
004/97, o Comando da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro deveria buscar
através da Secretaria de Segurança Pública o desenvolvimento dos esforços
necessários junto à Procuradoria Geral de Justiça, a fim de que fosse alterada a
Resolução referente à matéria.
Ressalte-se ainda a vigência da Lei Estadual n.º 2556, de 21 de maio de
1996, a qual, a despeito de se prestar à criação dos Juizados Especiais na Justiça de
Estado do Rio de Janeiro, fez breve incursão em matéria processual ao delimitar, em
seu art 24, que: "A autoridade policial a que se refere o art. 69 da Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995, é o Delegado de Polícia, de que trata o art. 144 § 4º da Constituição
Federal". 95 Resolução conjunta PGJ/SSP nº 002, de 10 de junho de 1996. Aditamento ao Boletim da Polícia Militar nº 112. Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1996, p.2.
76
Optou o Comando pela segunda alternativa, julgando que, de tal maneira,
a solução do problema poderia ser alcançada em curto prazo, iniciando-se, tão logo
houvesse autorização judicial, a lavratura de termos circunstanciados e de termos de
compromisso pelos militares do BPRv.
Note-se que nenhuma das duas alternativas visava a suspensão dos
procedimentos de polícia judiciária inerentes à autoridade policial exercida pelo
Delegado de Polícia na hipótese de lavratura de auto de prisão em flagrante, uma vez
que, não havendo aceitação de condução ao 1º Juizado Especial Criminal de Campos
dos Goytacazes ou a assunção do compromisso de a ele comparecer, continuaria
sendo imposta aos infratores, nos termos da Lei, a prisão em flagrante delito, com a
necessária condução à 134ª Delegacia Policial.
A partir de então, foram mantidos os necessários contatos com o Juiz de
Direito e o representante do Ministério Público do 1º Juizado Especial Criminal, onde
foram expostos os necessários argumentos doutrinários, sendo demonstrada pelo
Comando da Unidade a viabilidade prática de utilização do próprio talão de registro de
ocorrência da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro como termo circunstanciado
de ocorrência, já que possibilita a coleta dos dados necessários à qualificação do
infrator, vítima e testemunhas, bem como a descrição do fato delituoso.
Sinteticamente, procurou o Comando do BPRv demonstrar que, havendo
o acolhimento por parte do Juizado das ocorrências oriundas de encaminhamento
realizado pelos policiais militares da Unidade, a população do município de Campos
dos Goytacazes seria quem mais benefícios alcançaria, uma vez que, com a otimização
do poder jurisdicional do Estado, atingida pela aquisição de maior agilidade no
processo interativo entre Polícia e Justiça, maior credibilidade seria depositada nos
órgãos responsáveis por tal mister.
Juízo e Ministério Público demonstraram-se extremamente sensíveis aos
argumentos elencados, resolvendo atender às pretensões do Batalhão de Polícia
Rodoviária.
Em expediente endereçado ao Comandante da Unidade, o Juiz de Direito
Ronaldo Assed Machado, “... orientando-se pelo ideal de informalidade, economia
77
processual, celeridade e efetividade dos atos processuais...”, resolveu acolher os
procedimentos encaminhados diretamente pelos militares do Batalhão de Polícia
Rodoviária, enquadrando-os no rol de autoridades policiais por considerar como tal “...
todo agente público que se encontra investido da função policial, ou seja, de poder de
polícia...”.96
Observe-se que tal expediente não apenas atendeu às pretensões
expostas, como estendeu, sobremaneira, o leque de possibilidades de
encaminhamento direto, por não fazer referência específica a qualquer prática
delituosa, mas sim, a todas as infrações de menor potencial ofensivo.
9.4 CONSEQUÊNCIAS
Como conseqüências práticas da decisão do 1º Juizado Especial Criminal,
podemos destacar os pontos relacionados às medidas desencadeadas para a
efetivação do processo interativo, dotando-se a tropa do BPRv dos mecanismos
necessários para alcançá-lo.
Para a compreensão de tais conseqüências, é esclarecedora a entrevista
realizada em setembro deste ano com o então Ten Cel PMERJ Hamilton Leandro
Saldanha, Comandante do Batalhão de Polícia Rodoviária (hoje, Cel inativo), que
fornece panorama fiel neste sentido, fruto das observações da autoridade que
vislumbrou, buscou e logrou êxito em alcançar tão nova dinâmica de atuação policial.
Questionado como estava se processando a interação entre o Batalhão
de Polícia Rodoviária e o 1º Juizado Especial Criminal da Comarca de Campos dos
Goytacazes, foi informado que ocorria de forma extremamente satisfatória, tendo
sofrido “grande amadurecimento” nas relações entre os dois órgãos, que se refletia “na
segurança apresentada pelo policial militar frente à adoção dos procedimentos policiais
pertinentes, face à certeza de que os fatos serão, em curto prazo, apreciados pela
Justiça.”
Ao ser questionado quanto à aceitação, por parte do Juizado, em relação
aos documentos produzidos pela Unidade por ocasião do encaminhamento dos 96 Vide ofício nº 202/97 constante do anexo 15.8.
78
infratores, quais sejam, o termo circunstanciado de ocorrência e o termo de
compromisso, o entrevistado informou que os referidos procedimentos estavam sendo
bem aceitos, ressaltando a orientação fornecida à tropa no sentido de que o talão de
registro de ocorrência, utilizado como termo circunstanciado, “contivesse histórico
detalhado dos fatos ocorridos, de forma a proporcionar os necessários subsídios ao
Juizado para o exercício de suas atribuições.”
No que diz respeito à repercussão da experiência na melhoria dos
serviços prestados pelo Batalhão de Polícia Rodoviária à população de Campos dos
Goytacazes, o entrevistado afirmou que:
Anteriormente, chegava-se a perder até dez horas na Delegacia Policial para confecção de registros de ocorrência de inabilitados, implicando em constrangimento para os infratores e para os próprios policiais militares e na retirada de viaturas da atividade-fim de prover policiamento às rodovias estaduais.
Afirmou, ainda, que:
Face a interação com o Juizado, foi propiciada a otimização dos procedimentos policiais militares frente à infração penal de falta de habilitação para dirigir, refletindo-se na liberação rápida dos infratores e do próprio policiamento, a fim de prosseguir em sua missão de proteção à população Campista, representando elevação nos índices de operacionalidade da Unidade.
Por derradeiro, foi feito questionamento acerca da viabilidade de extensão
da experiência do BPRv às outras Unidades da PMERJ e Polícias Militares, sendo
respondido que sim, acrescentando o entrevistado que:
A Lei é bem clara, basta que seja cumprida, (...) tendo-se a coragem de propor ao Poder Judiciário o acolhimento direto, buscando-se a sensibilização deste no sentido de que compreenda que, em assentindo, estará beneficiando a própria sociedade e aumentado, em última análise, a eficácia do próprio poder jurisdicional do Estado.
É oportuno citar também a entrevista realizada, na mesma época, com o
então Maj PMERJ Ronaldo Antônio de Menezes, Chefe da Terceira Seção do Estado -
Maior do Batalhão de Polícia Rodoviária na época da implantação da experiência (hoje,
Ten Cel PM lotado na Diretoria Geral de Pessoal - tempos atrás à frente da Secretaria de
Segurança do Município de Niterói).
79
Inicialmente, o referido Oficial Superior foi questionado a respeito de como
se processou o desencadeamento de ações instrucionais relativas à interação da tropa
com o 1º Juizado Especial Criminal da Comarca de Campos dos Goytacazes, sendo
informado que foram facilitadas pelo “processo de instrução de manutenção
desenvolvido pela Unidade”, através do qual todos os sargentos comandantes de
postos são dotados, semanalmente, dos subsídios necessários à reprodução dos
conhecimentos adquiridos, junto ao escalão subordinado.
Ainda segundo o Oficial Superior, na época da vigência inicial da Lei nº
9.099/95, a instrução da tropa foi focada nos preceitos por ela estatuídos, “dissecando-
se” o referido diploma legal, o que forneceu o necessário embasamento para a adoção
das medidas relativas ao encaminhamento direto das ocorrências.
É oportuno ressaltar que, conforme informações do entrevistado, este
processo instrucional voltou a enfocar a Lei nº 9.099/95 quando da fase pré-inicial da
experiência, a fim de que fosse efetivado o reforço da aprendizagem anterior e,
fundamentalmente, ocorresse a absorção de conhecimentos específicos, não apenas
do ponto de vista legal, mas também do ponto de vista doutrinário, relacionados ao seu
art. 69.
Em um segundo momento, foram alvo de questionamento os mecanismos
estabelecidos para o planejamento, acompanhamento e controle das ações da tropa no
contexto da nova dinâmica de atuação, sendo obtida a informação de que, além da
elaboração de um modelo de termo de compromisso, “numerado e em quatro vias,
tendo como destinação o 1º Juizado Especial Criminal, o infrator, o posto de
policiamento rodoviário nº 19 e a Terceira Seção da Unidade, de forma a possibilitar o
necessário feed back das ações”, foi determinado o registro, em livro próprio, de todos
os encaminhamentos ocorridos, com a devida identificação do infrator, o
correspondente número do termo de compromisso lavrado, a data do fato e da
apresentação ao Juizado e o número da autuação sumária, com o registro geral do
militar que o lavrou.
80
O terceiro questionamento, já situado nas conseqüências posteriores à
implementação das ações práticas interativas, versou sobre as implicações da nova
dinâmica de atuação na melhoria de qualidade dos serviços prestados pela Unidade à
população do município de Campos dos Goytacazes.
Diante deste, o entrevistado afirmou que tais implicações foram
visíveis com certeza, pois foi constatada maior rapidez na condução das ocorrências, trazendo sensíveis melhorias para a população em geral, face à otimização dos procedimentos de polícia ostensiva e, em particular, para os próprios infratores
O quarto questionamento referiu-se ao “balanço” que se pode fazer sobre
a conduta dos policiais militares do posto de policiamento rodoviário nº 19 durante o
exercício da autoridade policial, no contexto do art. 69 da Lei mencionada.
Foi constatado pelo entrevistado que a partir do momento em que o militar
passou a exercer, na íntegra, a sua autoridade policial consagrada no referido
dispositivo, “... tornou-se mais cauteloso em suas atitudes, buscando, inclusive, o auto -
aperfeiçoamento, através de estudos e questionamentos inerentes à matéria, face ao grau
de responsabilidade do qual se viu investido”.
Como último questionamento, foi verificada junto ao entrevistado a
possibilidade de extensão da experiência às outras Unidades da PMERJ e, em
perspectiva mais abrangente, às outras Polícias Militares, sendo assentida esta
viabilidade, aventando-se, porém, a necessidade do desenvolvimento de processo de
informatização, a fim de tomar mais célere a interação das diversas Unidades com as
respectivas comarcas.
81
10. ALGUMAS EXPERIÊNCIAS DE OUTROS ESTADOS
Citaremos alguns casos, mencionando os dispositivos estatuídos no
âmbito das Unidades Federativas, em que já se dá, de forma institucionalizada, a
lavratura de termos circunstanciados por parte de suas milícias.
Temos certeza de que, a exemplo do que já ocorreu em nosso próprio
estado (conforme experiência descrita, colocada em prática em 1997 pelo
BPRv/PMERJ), tal modalidade de atuação também se dá em outros estados além dos
que mencionaremos, embora, talvez e, ao menos por ora, de forma mais "tímida" (ou
mesmo, dissimulada) e menos institucionalizada.
O exemplo da Polícia Militar de São Paulo é emblemático, uma vez que
não aguardou que a solução "caísse do céu", tendo suscitado formalmente a questão
através de seu Comandante Geral, logrando do Conselho Superior de Magistratura
daquele Estado entendimento favorável à lavratura de termos circunstanciados por
seus integrantes, conforme consta do Provimento n.º 758/2001-09-1497.
E o que dizer do Estado do Mato Grosso do Sul que, experimentalmente,
é verdade (e em caráter piloto), também implantou, através de ato do Poder Judiciário
(a exemplo de São Paulo) tal sistemática de atuação, elegendo, através da Instrução
n.º 5/04, de 02 de abril de 2004, do Conselho de Supervisão dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Estado, as Comarcas de Campo Grande, Dourados, Corumbá e
Três Lagoas a aceitação dos termos circunstanciados lavrados por policiais militares98.
97 Vide íntegra do Provimento no anexo n.º 15.10. 98 Íntegra da Instrução constante do anexo 15.11.
82
Em Santa Catarina, a Corregedoria-Geral da Justiça resolveu a questão
ao editar o Provimento n.º 04/99, esclarecendo que autoridade, nos termos do art. 69
da Lei n.º 9.099/95, é o agente do Poder Público com possibilidade de interferir na vida
da pessoa natural, enquanto o qualitativo policial é utilizado para designar o servidor
encarregado do policiamento preventivo ou repressivo (art. 1º); e ainda que,
ressalvando o parágrafo único do art. 4º do Código de Processo Penal99, a atividade
investigatória de outras autoridades administrativas, ex vi do art. 144, parágrafo 5º, da
Constituição da República100, nada obsta, sob o ângulo correicional, que os Exmos.
Srs. Drs. Juízes de Direito ou Substitutos conheçam de 'termos circunstanciados'
realizados, cujo trabalho tem também caráter preventivo, visando assegurar ,a ordem
pública e impedir a prática de ilícitos penais (art. 2º).
Um pouco mais ao Sul, chama a atenção o exemplo da Brigada Militar
(Polícia Militar do Rio Grande do Sul), que já no ano de 1996 (antes mesmo do Rio de
Janeiro - experiência já citada) lavrava termos circunstanciados, prática que logrou
solução de continuidade mais de uma ano após, por ato da Portaria da mesma
Secretaria da Justiça e da Segurança (SJS).
No ano de dois mil, através da edição da Portaria n.º 172/00, da
Secretaria da Justiça e da Cidadania101, a Brigada Militar mereceu reconhecimento por
parte do Poder Executivo acerca de sua competência para lavrar termos
circunstanciados, voltando a fazê-lo.
99 In verbis: Art. 4º - A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. Parágrafo único - A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função. 100 O qual estabelece a competência das polícias militares para o exercício da polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. 101 Constante do anexo 15.12.
83
A experiência da Brigada Militar foi externada em detalhes no ofício n.º
0205/PM-3/2004102, formulado em atenção à consulta efetuada no curso do presente.
É interessante notar que os pontos negativos relatados em face da
dinâmica implementada pela Brigada Militar, representados pela dificuldade inicial de
aprendizagem do efetivo policial militar e mesmo por barreiras derivadas de
resistências (internas e externas), foram superados, permitindo aquela Corporação
promover a otimização das atividades de polícia ostensiva e a simplificação do acesso
da comunidade ao sistema de segurança pública, provendo incremento de credibilidade
ao mesmo103.
102 Reproduzido no anexo 15.13, versando sobre os seguintes quesitos: 1º Quesito: A Brigada Militar realiza a lavratura de termos circunstanciados? 2º Quesito: Em caso afirmativo, como se deu o processo que culminou tal em tal dinâmica de atuação? 3º Quesito: Qual a base legal utilizada para a lavratura do termo circunstanciado pela Brigada Militar? 4º Quesito: Quais os aspectos positivos e negativos observados em face da lavratura de termos circunstanciados pela Brigada Militar?. 103 Para maiores dados sobre a experiência da Brigada Militar, consultar BEILFUSS, Helena. O Termo
Circunstanciado na Brigada Militar. Trabalho de conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais. Porto Alegre: Revista de Assuntos Técnicos da Polícia Militar - Unidade, ano XXI, n.º 56, 2003.
84
11. PARA ONDE ESTAMOS CAMINHANDO?
Talvez seja mais fácil dizermos para onde não estamos caminhando.
Certamente, não estamos caminhando em direção à excelência de nossa
Polícia Civil, no que concerne à elucidação de delitos, uma vez que quase nada é
elucidado em matéria de infrações penais.
Por outro lado, estamos sobrecarregando nossa Polícia Civil com a
adoção de procedimentos cartorários e mesmo investigatórios em face da prática de
infrações penais de menor potencial ofensivo, onde, por paradoxal que pareça (e,
acreditamos, realmente é), não há que se falar em adoção de medidas de polícia
judiciária, bastando a lavratura de mero termo circunstanciado e remessa à autoridade
judiciária competente, atendendo aos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade,
economia processual e celeridade104.
Ora, se nossa Polícia Civil não está conseguindo apurar, ao menos
razoavelmente, os crimes de maior monta, por qual motivo insiste na "reserva de
mercado" em relação à lavratura de meros termos circunstanciados?
Por que motivo nossas autoridades insistem em preservar (ainda que,
acreditamos, artificialmente) tal reserva de mercado, com a edição da Lei n.º 2556/96 e
da Res. Conj. PGJ/SSP-RJ nº 002, de 10 de junho de 1996, reconhecendo os
Delegados de Polícia como únicas autoridades policiais para fins de lavratura de termos
circunstanciados?
104 Conforme art 2º da Lei n.º 9099/95.
85
Por que tais dispositivos subsistem (repetimos, artificialmente) apesar de
frontalmente contrários aos critérios estabelecidos pela Lei Federal? Por que subsistem
apesar de, salvo melhor juízo, fazerem incursão indevida à matéria processual penal,
apesar da vedação do texto constitucional105?
Ainda que almejasse tratar apenas de matéria procedimental, como
poderia o legislador estadual estabelecer rotina frontalmente contrária aos ritos
estatuídos em Lei Complementar Federal?
A propósito, por que motivo não há mais publicidade em relação às taxas
de elucidação de delitos de nossa Polícia Civil e mesmo em relação às ocorrências
atendidas por nossa Polícia Militar106?
Subtraídas as ocorrências policiais militares de natureza não penal
(incluídas aquelas de cunho assistencial107), as lesões corporais, infrações que, tendo
natureza leve, são de menor potencial ofensivo, foram, no ano de 2003, as com que
mais se deparou a PMERJ, seguidas de outras infrações também compreendidas pelo
rito estabelecido na Lei n.º 9.099/95, a saber: rixa e ameaça. À luz dos preceitos legais
já explorados no curso deste, quantas pessoas teriam sido conduzidas (sem
necessidade) às delegacias de polícia em face de tais condutas de menor potencial (os
delitos citados somaram mais de 50000 ocorrências no ano de 2003)? Quanto tempo a
polícia ostensiva teria dispensado à adoção de procedimentos cartorários nas
delegacias de polícia em face das condutas citadas? Qual parcela de policiamento
ostensivo foi subtraída das Ruas em face de tais conduções?
Embora a busca de respostas às questões propostas não tenha sido o
objeto principal do presente trabalho, a interface entre os preceitos legais estudados e a
atuação de nossa Polícia Militar demonstra que também não estamos trilhando
caminho seguro com vistas à prestação de serviços de polícia ostensiva
qualitativamente adequados às demandas de nossa sociedade.
105 De acordo com o art. 22 da Carta Constitucional, compete privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário. 106 De acordo com dados da Assessoria de planejamento, orçamento e modernização da PMERJ (APOM), cerca de 20% das ocorrências assumidas pela PMERJ no ano de 2003 resultaram no código 912 - nada constatado. O segundo código de ocorrência mais verificado pela PMERJ em 2003 foi o código 920 - encerrado no local. 107 Que, notificações de trânsito à parte, representaram valores próximos a 10% do total computado no ano de 2003.
86
Discursos à parte, é certo que o foco principal da atuação de nossa
Polícia Militar não tem sido o bem estar da sociedade, mas sim a responsabilização
penal de marginais.
Mas a que preço a escolha de tal foco tem se dado?
Acreditamos que as estatísticas, mesmo as oficiais (e com as devidas
ressalvas, as matérias jornalísticas) têm revelado que nossa "guerra contra o crime"
tem acarretado muitas vítimas fatais (policiais em geral e civis - criminosos ou não).
E ainda há quem defenda a adoção da pena capital no Brasil! Ela já
existe.
E há quem diga, inclusive em programas "jornalísticos" de caráter
duvidoso, que a polícia tem que "partir para o confronto". Mas, se não é isso, o que é
que estamos fazendo? Por que estamos matando (e morrendo)? Qual o impacto de
nossas ações para o provimento da preservação da ordem pública e para a garantia de
tranqüilidade à população fluminense?
Qual a contribuição das ações de nossas polícias para o bem estar de
nossa população?
Por que quando instadas a respeito da ocorrência de práticas delituosas
diversas, nossas autoridades policiais tendem à utilização de respostas prontas e, em
geral, não dignas de credibilidade para tentar se eximir do problema, tais como:
_ Vamos remeter as informações para a Unidade da PM da área, para
que o policiamento possa ser intensificado, com o fim de que os delitos sejam
reduzidos (Delegados).
_ Vamos prover a intensificação do policiamento no local, com a
implantação de modalidade específica de policiamento, a fim de inibir a prática de
delitos e prover a necessária sensação de segurança aos cidadãos (Comandantes).
87
E o que dizer da ostensividade de nossa polícia judiciária, com a
utilização, cada vez maior, de efetivos "fardados" e caracterizados como "tropa de elite"
(a exemplo da Coordenadoria de Recursos Especiais-CORE)?
No momento em que escrevo estas linhas, ouço, e não consigo deixar de
mencionar, entrevista ao vivo concedida na TV pelo Secretário de Segurança Pública108
do Rio de Janeiro. A autoridade narra, acreditamos, com boas intenções, que o Rio de
Janeiro tem as melhores e mais combativas polícias do Brasil; que nossas polícias vão
continuar combatendo a criminalidade e que a força de elite da Polícia Civil, CORE,
estará ao lado da Polícia Militar na "linha de frente" do combate ao crime, na defesa de
da sociedade. Ao término, o entrevistador (e apresentador do programa) narra, com
entusiasmo, que a polícia tem que "partir pra dentro deles...".
Mencionando, ainda, o programa televisivo que ora é transmitido, logo
após o término da entrevista ao Delegado de Polícia Marcelo Itagiba, surge a chamada
para nova matéria, na qual é exibida, no colo da mãe, Caroline, criança pequena,
portadora de expressiva cicatriz no abdome, derivada de "bala perdida", fruto de
confronto ocorrido há cerca de um ano.
E quantas outras Carolines foram alvo das chamadas "balas perdidas"
enquanto nossas autoridades (e membros da mídia) incentivavam o "combate à
criminalidade"? Quantas não sobreviveram? E o que falar das outras tantas vítimas
inocentes de tal "política" de atuação, inclusive, nossos próprios policiais (civis e
militares)? Mesmo assim, vamos insistir nas mesmas práticas e discursos? Afinal de
contas, onde queremos chegar?
Será que já não adotamos fórmulas semelhantes antes?
Citando matéria jornalística veiculada no Jornal do Commercio em 1917,
Marcos Luiz Bretas nos revela a seguinte experiência policial carioca:
Não faz muito tempo, houve, no centro da cidade, um grupo de agentes de polícia improvisados constituídos por praças da polícia militar à paisana. Esse grupo foi criado pela polícia para prender ladrões e criminosos. Andava pelas ruas em bandos, especialmente no 4º DP, armados com grossos cassetetes, agarrando e revistando pacíficos transeuntes, pois não se atreveriam a interpelar qualquer arruaceiro ou criminoso que certamente reagiria a tamanha
108 Realizada, em 25Jan05, 1900h, no programa "Cidade Alerta Rio", da Rede Record.
88
violência. Suas muitas façanhas tornaram-nos conhecidos pelo nome pitoresco de "turma do pega-boi" Mais tarde, muitos desses grupos se espalharam pela cidade, atacando os passantes, revistando-os e aliviando-os das mercadorias ou armas que estivessem carregando. Esses novos grupos, conhecendo as atividades dos "pega-bois", eram formados por audaciosos ladrões, e no fim das contas a polícia ficava sem saber se as reclamações das vítimas se referiam aos verdadeiros ou aos falsos "pega-bois"109.
Guardadas as devidas proporções, será que poderíamos traçar algum
paralelo entre as atividades dos "pega bois" e dos grupos especiais e "incursões" de
nossas polícias? De quem seriam as "balas perdidas"?
109 Marcos Luiz Bretas, op cit, 1997, p. 119.
89
12. PARA ONDE PODEMOS CAMINHAR?
Podemos caminhar para polícias melhores?
Precisaríamos, também, de um Poder Judiciário melhor? De um sistema
carcerário melhor? De uma sociedade melhor?
Conforme diz o ditado grego, qualquer caminho serve para aquele que
não sabe onde quer ir!
Onde queremos chegar?
Queremos acabar com a "doença" do crime, passando a viver em uma
sociedade perfeita, livre de violência?
Deveríamos ignorar que, a despeito das definições formais, o crime, antes
de sê-lo, é um ato social e que, como tal, é imanente à convivência humana?
Talvez seja razoável se pretendermos conviver de forma menos destrutiva
com a violência inerente à convivência social, com índices mais razoáveis de práticas
delituosas e, principalmente, menos mortes, sejam elas quais forem.
Se desejarmos o estabelecimento de prestação jurisdicional mais efetiva,
talvez seja importante a busca de meios, por parte do próprio Poder Judiciário, de arcar
com a demanda que lhe compete, atuando, inclusive, em período de tempo mais
elástico e de forma mais célere.
90
Se nossa intenção for a de termos polícias mais críveis (ou, talvez, menos
desacreditadas), devemos definir foco de atuação voltado para os interesses da
sociedade, nossa real clientela.
E o que dizer da avaliação quanto à atuação de nossas polícias? Quais
princípios devem nortear tal juízo de valor?
Além de definirmos novo foco de atuação, não podemos nos furtar à
busca de critérios objetivos de avaliação, não do ponto de vista de nossas autoridades
policiais (ou governamentais), mas da sociedade, destinatária dos serviços de nossas
polícias.
Não nos parece que o caminho ideal em prol da busca de melhores
condições de convivência social, passando, inclusive, pelo incremento de credibilidade
do aparato policial (além de outros tantos fatores que poderiam ser aqui aduzidos),
sejam a união, extinção ou criação de novos organismos policiais.
Partindo do modelo (organizacional) atual, podemos caminhar para uma
polícia judiciária competente naquilo que faz (e que, por força de ditame constitucional,
deve fazer), menos ostensiva e mais investigativa, retirando de sua égide a prática de
rotinas de polícia ostensiva, bem como a exclusividade na lavratura de termos
circunstanciados, propiciando que possa congregar suas forças no sentido de elucidar
mais delitos, com o fito de reduzir a impunidade.
Podemos caminhar para uma Polícia Militar provida de maior identidade,
menos preocupada em "combater os criminosos" do que em bem atender aos
destinatários de seus serviços, cidadãos fluminenses; preocupada em dotar sua "ponta
da linha" de maior poder decisório, provendo incremento de sua autoridade e, em
contrapartida, responsabilidade.
Nossa Polícia Militar pode "virar o jogo", matar, morrer e ferir menos;
destinar suas energias (que não são poucas) para o melhor atendimento das demandas
fruto das interações sociais, mais preocupada em terminar bem suas ocorrências,
frustrando menos as expectativas em relação às atitudes de seus integrantes, do que
terminar suas ocorrência na DP.
91
A propósito, diante do que foi dito e mesmo das Leis federais
mencionadas sobre o tema, qual o amparo legal para que um cidadão, surpreendido na
prática de infração penal de menor potencial ofensiva, ciente de seus direitos e disposto
a comparecer voluntariamente em Juízo, seja conduzido à sede de uma Delegacia de
Polícia?
Não nos recordamos de qualquer menção nos textos legais citados sobre
a necessidade de condução de infratores de tais condutas (nas circunstâncias supra)
às nossas Delegacias de Polícia (e, convenhamos, o texto legal não poderia fazer
menção a tal necessidade, sob pena de ir de encontro aos critérios norteadores
estabelecidos: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade).
92
13. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Lei nº 9.099/95 (alterada pela Lei n.º 10.259/01) inaugurou nova
sistemática processual relativa às denominadas infrações penais de menor potencial
ofensivo, isto é, as infrações penais sancionados com pena privativa de liberdade não
superior a 02 (um) anos.
A Lei trouxe profundas mudanças no cenário jurídico brasileiro,
requerendo o seu conhecimento por todos e, sobretudo, por aqueles órgãos integrantes
do Sistema Criminal, dentre os quais, as polícias militares.
Adentrando ao cenário fluminense, não podemos admitir que a PMERJ
deixe de adotar novas rotinas administrativas, fruto dos ditames legais citados.
Afinal, conforme citou o Ten Cel PM Luiz Fernando Santos de Azevedo:110
A sociedade hoje sofre transformações (...) numa rapidez tal, que muitas vezes se vê surpreendida com tais mudanças ou então empurrada para elas. E assim também acontece com as instituições: ou elas procuram o despertar de uma nova era, ou então, também serão surpreendidas ao serem empurradas na direção do processo desenvolvimentista.
Conforme lição de Anthony Garotinho, ex-governador e secretário de
estado de segurança pública do Rio de Janeiro, acerca da matéria111:
Com o advento da Lei 9.099/95 (Juizados especiais) já se dispensa o inquérito (Art. 77, § 1º) para as infrações penais de menor potencial ofensivo, bastando
110 AZEVEDO, Luiz Fernando dos Santos. Ensaios. Comunicação Social: Efeitos Psicológicos no Controle da Criminalidade. Cidadania em Revista, ano I, ed.1, p.13,dez. 1998. 111 GAROTINO, Anthony et al. Brasil segurança máxima - por um governo de ação. Rio de Janeiro: Hana, 2002. p. 137.
93
um "termo circunstanciado" (Art. 69), podendo servir como "termo" o registro de ocorrência (RO) da PM...
Entretanto, ao tentar fazê-lo (se é que, em verdade, tem tentado), a
Corporação se depara com antigos paradigmas que procuram diminuir o alcance da
norma, desvirtuando o real propósito do legislador, ou seja, o de proporcionar
celeridade ao processo de competência do Juizado Especial Criminal e, acima de tudo,
garantir a reparação do dano causado à vítima, evitando-se, ao máximo, a imposição
de pena privativa de liberdade.
A principal barreira que se impõe é a referente à compreensão da
expressão “autoridade policial” prevista no caput do art. 69 da Lei.
Neste sentido, conforme exaustivamente demonstrado, encontramos não
apenas fundamentação meramente legal para que passemos a adotar a sistemática ora
proposta, mas também legitimidade (expressa na correta e aprofundada leitura das
missões constitucionalmente atribuídas à nossa Instituição), bem como, se não
bastasse, entendimentos favoráveis expressos em doutrina e na jurisprudência pátria.
Deste modo, apesar de eventuais posicionamentos doutrinários
desfavoráveis (convenientes à manutenção das resistências por parte das autoridades
de polícia judiciária), o policial militar é autoridade policial, sendo-lhe reservado
importante espaço na nova ordem estabelecida pela dita legislação.
Mas e o que dizer dos "entraves legais" (no âmbito estadual) para a
exteriorização prática de tal compreensão?
Ora, tais entraves desempenham papel meramente artificial. Fato é que,
apesar da Lei n.º 2556/96 e da Res. Conj. PGJ/SSP-RJ nº 002/96, conforme restou
demonstrado, o efetivo Batalhão de Polícia Rodoviária da PMERJ lavrou, em momento
posterior, termos circunstanciados, logrando perfeita aceitação junto à autoridade
judiciária competente.
A propósito, se já havia uma lei regulando a matéria, por qual motivo
nossas autoridades tiveram a preocupação de repetir os mesmos termos em uma
resolução administrativa? Seria com o fito de reforçar a necessidade de preservação da
"reserva de mercado" de nossa Polícia Judiciária? Ou mesmo de suprir a lacuna
94
deixada pelo veto governamental em relação à "reserva de mercado" inserida no citado
diploma?
Ressalte-se que, conforme se depreende da leitura atenta do texto da Lei
n.º 2556/96, ela se prestou a disciplinar unicamente a organização e distribuição dos
Juizados Especiais no âmbito do estado. A alusão à figura dos Delegados de Polícia
como autoridades policiais para os fins da Lei n.º 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais) mereceu referência díspar ao verdadeiro animus da lei, sendo
inserida, certamente, em face de lobby de nossos Delegados de Polícia, tanto que foi
objeto de veto por parte do Governador da época (embora, em face do mencionado
lobby, tenha logrado promulgação por parte da Assembléia Legislativa112, quinze dias
após a edição da Resolução conjunta mencionada).
Acreditamos que o fato de os policiais militares serem autoridades
policiais (não confundamos com autoridades de polícia judiciária - não mencionadas
nos diplomas legais em comento), enseja a necessidade de que passem o mais rápido
possível a lavrar o termos circunstanciados de Ocorrência (peça criada pelo legislador
em lugar dos conhecidos instrumentos de polícia judiciária representados pelo inquérito
policial e pelo auto de prisão em flagrante) e o termos de compromisso (permitindo que
o autor do fato delituoso assuma o compromisso legal de comparecer à sede do
Juizado, na data a ser designada).
Acreditamos ainda que, em havendo necessidade, é lícito a PMERJ
buscar até mesmo breve aprofundamento de informações transmitidas por seus
clientes, através de investigação preliminar, destinada à lavratura do termo
circunstanciado de ocorrência.
Certamente, em muito breve, a questão constitucional acerca da
compreensão do termo "autoridade policial" logrará pronunciamento por parte do
Supremo Tribunal Federal, em face da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) n.º
2862/2003, movida, não por coincidência, pela Associação de Delegados de Polícia,
em face do entendimento do Conselho de Magistratura de São Paulo, o qual, como
demonstrado anteriormente, foi motivado por iniciativa do Comandante Geral da milícia
estadual e propiciou a pacificação acerca da lavratura de termos circunstanciados pelos 112 Vide anexo 15.7, onde, além da referida lei, consta a promulgação do art vetado.
95
integrantes da Polícia Militar de São Paulo (embora não tenha sido ainda julgada, já
logrou parecer desfavorável da Procuradoria Geral da República, no que concerne à
"reserva de mercado" dos Delegados de Polícia para a lavratura dos termos citados).
Temos certeza ainda de que, por antagônico que pareça, graças aos
esforços contrários de nossos Delegados de Polícia, teremos a competência das
policiais militares para a lavratura de termos circunstanciados reconhecida pela corte
suprema brasileira113.
Mas e o que dizer daqueles que afirmam que os integrantes de nossa
PMERJ não estariam preparados para arcar com a incumbência derivada da Lei n.º
9.099/95?
Ora, então de onde vem que policiais militares avaliem e, sendo o caso,
efetuem prisões em flagrante delito? Poder-se-ia dizer que em tal caso não há
problema, uma vez que o ato é submetido, em seguida, à apreciação da autoridade de
polícia judiciária. Mas, se assim o é, tal argumento é tão ou mais válido para a lavratura
de termos circunstanciados, já que na hipótese a postura adotada também é alvo de
apreciação ulterior e, melhor ainda, diretamente pela autoridade judiciária.
Ressalvemos que a hipótese supra não contempla sequer cerceamento de liberdade,
uma vez que o infrator tem a faculdade de assumir o compromisso de comparecimento
ao Juizado especial Criminal.
E o que dizer dos procedimentos de natureza administrativa, alusivos à
imposição de autos de infração de trânsito, atualmente adotados pelos policiais
militares? Além de envolverem codificações e decodificações, com a aplicação de
ditames legais a casos concretos, chegam mesmo à imposição medidas diversas, tais
como retenção e remoção de veículos, recolhimento de documentos, etc (além da
própria autuação administrativa).
Utilizando ainda o argumento da falta de preparo dos policiais militares
para a lavratura de termos circunstanciados, motivo pelo qual tal somente poderia ser
feito pelos Delegados de Polícia (em face do conhecimento legal pelos mesmos
possuído), o que dizer da recepção de tais feitos nas Delegacias de Polícia? Em
113 Supremo Tribunal Federal.
96
verdade (e, em geral) são os Delegados de Polícia que recebem tais ocorrências e
determinam as medidas a serem adotadas (ou tal conduta cairia no terreno das
exceções)? Se for verdade que os Registros levados a efeito em sede de polícia
judiciária (por funcionários menos graduados na hierarquia da PCERJ) logram
despachos das autoridades policiais (civis), tal mecanismo também não poderia ser
adotado no âmbito da PMERJ? E, mesmo que não fosse, o ato não seria alvo de
apreciação da autoridade judiciária competente?
Sinceramente, não parece que o argumento da falta de preparo
profissional deva prosperar, uma vez que, não bastasse a procedência das
considerações supra, ainda teríamos à disposição da milícia estadual o instituto da
instrução da tropa e mesmo do ensino ainda no âmbito da formação policial, embora
não devamos nos olvidar de que, se a Polícia Civil tem (em uma perspectiva ideal)
conhecimento para operar o direito, fruto de sua competência constitucional, a Polícia
Militar se enquadra na mesma regra, já que tem como incumbência o exercício da
polícia judiciária militar.
Talvez possamos dizer sim que falta conhecimento (e mesmo aptidão
profissional) à Polícia Civil para a prática de atos de polícia ostensiva, mas, como vimos
anteriormente, parece que a instituição vem lhe dando bem com a questão, buscando
suprir suas deficiências com os cursos ofertados pela ACADEPOL (progressão em
áreas de alto risco e curso técnico vertical de corda).
A lavratura de termo circunstanciado (e, por conseqüência, de termo de
compromisso) por parte da PMERJ é urgente para o incremento de sua identidade
corporativa, com a concepção de uma polícia ostensiva mais técnica e profissional, de
forma a melhor atender à sua clientela.
Mas, afinal, qual é o cliente principal da Polícia Militar?
Afirmamos, sem medo de erro, que de acordo com a sistemática de
atuação vigente, nosso principal cliente é o criminoso.
Não estaria na hora de adotarmos o cidadão como nosso cliente?
97
Embora não sejamos os primeiros crentes de tal abordagem (talvez o
finado Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira114 tenha chegado - e partido -cedo
demais), temos esperança de que estamos entre os últimos a buscarem respostas aos
questionamentos propostos.
Como é possível que, passados quase dez anos do advento das infrações
penais de menor potencial ofensivo, nossa Polícia Militar permaneça realizando
terapias ocupacionais (expressas na busca, desenfreada e, com escusas ao termo,
estúpida, de números "frios" de apreensão de drogas, armas e de prisões efetuadas)?
Como é possível que nos permitamos a crença de que somos meros
agentes da autoridade policial (leia-se, dos Delegados de Polícia) e que nossas
ocorrência devem, necessariamente, terminar nas Delegacias de Polícia?
Por que, mesmo diante da potencial facilitação da elevação das taxas de
elucidação de ilícitos penais a ser propiciada com a lavratura de TCO e TC por parte da
PMERJ (fruto da possibilidade de maior otimização dos meios disponíveis na PCERJ)
nossos Delegados de Polícia continuam a resistir à idéia, sob a desgastada
argumentação de que isto seria inconstitucional?
Seria inconstitucional? Então como se explica o fato de que estados
federados (Rio Grande Sul, São Paulo e outros) já adotam a sistemática ora proposta?
Mas que isso, como se explicam os pronunciamentos jurisprudenciais favoráveis a tal
mister? De onde advém o interesse de nossos Delegados de Polícia em preservarem o
falso status quo de superiores hierárquicos (do ponto de vista dos procedimentos de
polícia judiciária) dos integrantes da polícia ostensiva? O que nos leva a aceitarmos
passivamente tal concepção? O que nos leva a reforçarmos esta concepção?
Que padrões culturais tão fortes são esses que, a despeito da realidade
fática e de nossa potencialidade institucional (e histórica), fazem com que ajamos como
crianças tímidas frente ao poder artificialmente ostentado pela PCERJ?
Apesar da ênfase (reconhecemos, um tanto emocional) de nossos
questionamentos, buscando a retomada do império de critérios eminentemente
114 Por duas vezes Cmt Geral da PMERJ e responsável, já na década de 80, pela tentativa de desencadeamento de mudanças na cultura organizacional da Corporação.
98
racionais, desejamos frisar que não é nossa intenção deflagrar conflitos de
competência entre PMERJ e PCERJ, muito menos diminuir a autoridade dos
Delegados de Polícia, mas não podemos deixar de encarar os fatos à luz de
parâmetros legais, legítimos, doutrinários e jurisprudenciais vigentes, os quais nos
levam à conclusão de que algo está errado (e, segundo acreditamos, muito errado).
Temos certeza de que a adoção da sistemática ora exposta (ou outra
similar - sem fugir à essência dos princípios elencados) pode ter o condão de prover
não apenas a mudança de foco de atuação por parte da PMERJ, mas também (embora
não tenha sido oficialmente o objeto do presente) da própria PCERJ, na medida em que
esta poderá exercer com excelência (a exemplo do que poderá ocorrer com a PMERJ)
o mister constitucional que lhe foi atribuído.
Uma PMERJ essencialmente belicista e militarista (ideologicamente
falando) poderia dar lugar a uma Corporação afinada com as necessidades de sua
clientela, os cidadão fluminenses, fruto da adoção de ótica de atuação eminentemente
técnica e preventiva.
Por outro lado (sob uma perspectiva também ideal, reconhecemos),
poderíamos passar a ter uma PCERJ menos cartorária e mais científica, menos
preocupada com a reprodução de fórmulas descritivas de ocorrências do que com a
apuração propriamente dita de delitos de maior relevância. Menos preocupada com o
criminoso e mais diligente em relação ao crime e a seus indícios técnicos.
É bem verdade que, conforme artigo redigido pelos Delegados de Polícia
Zaqueu Teixeira e Vinícius George, "... historicamente, a polícia, assim como os outros
órgãos do sistema, foi idealizada e estruturada dentro da lógica de um Estado
autoritário e excludente para fazer controle sociopolítico, e não para apurar infrações
penais"115.
Mas não estaria na hora de buscarmos, através de atos concretos e
objetivos, o rompimento da lógica exposta ?
115 TEIXEIRA, Zaqueu e George, Vinícius. A culpa é do vizinho. O Globo, Rio de janeiro, 14 de maio de 2003.
99
Até quando nossas autoridades permanecerão de olhos vendados às
evidências que se apresentam quanto à necessidade de alteração da sistemática ora
adotada, seja por parte da PCERJ, seja por parte da PMERJ?
Até quando nossas polícias e, principalmente, nossa Polícia Militar
permanecerá refém desse círculo vicioso de matar, morrer, matar...
Será que já não perdemos tempo (e vidas) demais?
100
14. OBRAS CONSULTADAS
ABBAGNANO, Nicola apud Álvaro Lazzarini et al. Aditamento ao Boletim da Polícia
Militar. Rio de Janeiro, nº 64, 1996.
ALBUQUERQUE, Joaidson Torres et al. Elaboração de Política Pública destinada ao
exercício de atividades de polícia completa pela Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro, com esteio na Lei n.º 9.099/95. Trabalho acadêmico do curso de Pós-
graduação de especialização em políticas públicas de justiça criminal e segurança
pública. Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2003.
AMORIM, Maria Stella et al (organizadores). Juizados Especiais Criminais, sistema
judicial e sociedade no Brasil: ensaios interdisciplinares. Niterói: Intertexto, 2003.
AZEVEDO, Luiz Fernando dos Santos. Ensaios. Comunicação Social: Efeitos
Psicológicos no Controle da Criminalidade. Cidadania em Revista, ano I, ed.1, p.13,dez.
1998
BEILFUSS, Helena. O Termo Circunstanciado na Brigada Militar. Trabalho de
conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais. Porto Alegre:
Revista de Assuntos Técnicos da Polícia Militar - Unidade, ano XXI, n.º 56, 2003.
BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na Cidade. O exercício da autoridade policial no Rio de
Janeiro: 1907-1930. Rio de Janeiro: Rocco, 1997
101
CALVANO, Alberto. Amplitude das atribuições do Ministério Público e da Polícia
Judiciária na investigação criminal. Síntese da palestra proferida no VII Seminário sobre
a Criminalidade e o Sistema Penal Brasileiro, realizado na Procuradoria-Geral da
Justiça em 17 de maio de 2000, presentes Wladimir Sergio Reale, Ricardo Ribeiro
Martins, Afrânio Silva Jardim e Jose Carlos Tórtima. Disponível em:
<http://www.policiacivil.rj.gov.br//corregedoria/pareceres_corregedoria/amplitude_das_a
tribuicoes.htm>. Acesso em: 17 jan. 2005.
COUTO, Luiz Carlos. Termo circunstanciado. Autoridade policial. Delegado de polícia.
Jus Navigandi, Teresina, a. 2, n. 24, abr. 1998. Disponível em:
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=1132>. Acesso em: 17 jan. 2005.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. In:
Dicionário Aurélio Eletrônico, v. 1.4., 1994, Rio de janeiro: AEWIN, 1994. 1 CR-ROM.
GAROTINHO, Anthony et al. Brasil segurança máxima - por um governo de ação. Rio
de Janeiro: Hana, 2002
GUALAZZI, Ilacyr Luiz. Teoria da Burocracia. Disponível em:
<http://www.unimep.br/~gualazzi/ADMII/AdmII02-TeoriaBurocracia>. Acesso em: 07 fev
05.
JESUS, Damásio E. de. Lei dos juizados especiais criminais anotada. 3 ed. rev. e ampl.
São Paulo:Saraiva, 1996.
JÚNIOR TELLES, Goffredo da Silva apud Álvaro Lazzarini et al. Direito administrativo
da ordem pública. 2 ed. Rio de Janeiro:Forense, 1987.
JÚNIOR, Azor Lopes da Silva. Direito à segurança e o direito processual penal
constitucional. Disponível em: <http/www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=4925>.
Acesso em: 04 set. 2004.
JUNIOR, João Mendes de Almeida. O Processo Criminal Brazileiro. 3. ed. Rio de
janeiro: Typ. Batista de Souza, 1920.
102
LAZZARINI, Álvaro apud Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Aditamento ao
Boletim da Polícia Militar. Rio de Janeiro, nº 64, 1996.
_________, Álvaro et al. Direito administrativo da ordem pública. 2 ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1987.
LOUREIRO, Jair da Silva, FILHO, Lair da Silva Loureiro. Constituição da República
Anotada. São Paulo: Oliveira Mendes, 1998.
LIMA, Roberto Kant de. A polícia da cidade do Rio de Janeiro: seus dilemas e
paradoxos. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
MARRA, Lívia. Polícia realiza megaoperação no litoral norte de São Paulo. Folha
online, São Paulo, 13 mar. 2003. Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/
folha/cotidiano/ult95u71111.shtml >. Acesso em 12 set. 2004.
PENTEADO FILHO, Nestor Sampaio. Da inconstitucionalidade do Provimento nº
758/2001 do Conselho Superior da Magistratura de São Paulo (conceito de autoridade
policial na Lei nº 9.099/95). Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 56, abr. 2002. Disponível
em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2824>. Acesso em: 17 jan. 2005.
PROGRAMA Delegacia Legal. Disponível em <http://www.delegacialegal.rj.gov.br>.
Acesso em: 20 nov. 2004
RIBEIRO, Iselda Correa. Polícia tem futuro? Polícia e Sociedade em David Bayley.
Sociologias, Porto Alegre, n. 8, jul. 2002.
SILVA, André Carlos da, MEDEIROS, Wanderby Braga de. A autoridade policial do
policial militar no contexto do art. 69 da Lei n.º 9.099/95 e o estabelecimento de rotinas
para o seu exercício. Monografia de conclusão do curso de aperfeiçoamento de oficiais.
Academia de Polícia Militar Edgard Facó, Fortaleza: 1998.
SILVA, Jorge da. Controle da Criminalidade e Segurança Pública na nova Ordem
Constitucional. 1ed. Rio de Janeiro:Forense,1990.
103
SILVA, Jorge da. Segurança Pública e Polícia. 1ed. Rio de Janeiro:Forense, 2003.
TEIXEIRA, Zaqueu, GEORGE, Vinícius. A culpa é do vizinho. O Globo, Rio de janeiro,
14 de maio de 2003.
TODESCHINI, Maurício de Brito. Investigação criminal: presidência exclusiva da
autoridade policial Jus Navigandi, Teresina, a. 7, n. 60, nov. 2002. Disponível em:
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3426>. Acesso em: 17 jan. 2005.
VIOLÊNCIA no Rio de Janeiro. Jornal do Terra, Rio de Janeiro, 27 fev. 2003. Disponível
em <http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0%2C5580%2C0I90516EI3
16%2C00.html>. Acesso em: 12 set. 2004.
Apresentação de trabalhos monográficos de conclusão de curso Universidade Federal
Fluminense, Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação. 6 ed. rev. ampl. por Estela dos
Santos Abreu e José Carlos Abreu Teixeira. Niterói: EdUFF, 2003. 86 p.
Boletim Mensal de Monitoramento e Análise (ano 1, n.º 2, julho 2003). Disponível em:
<http://www.isp.rj.gov.br >. Acesso em: 25 jan. 2005.
Código Penal. 10. ed. Rio de Janeiro: Rev. dos Tribunais, 2004.
Código de Processo Penal. 10. ed. Rio de Janeiro: Rev. dos Tribunais, 2004.
Jornal do Terra, Rio de Janeiro, 16 set. 2002. Disponível em: <c>. Acesso em: 12 set.
2004.
Resolução Conjunta PGJ/SSP-RJ nº 002, de 10 de junho de 1996.
ZAVERUCHA, Jorge. Polícia Civil de Pernambuco: O Desafio da Reforma. 2 ed. Recife:
Ed. Universitária da UFPE, 2004.
105
15.1 CURSOS OFERECIDOS PELA ACADEPOL
Progressão em Área de Risco
Procedimentos profissionais básicos em âmbito policial
Organização e adaptação:
O presente trabalho tem como finalidade auxiliar policiais, sugerindo como proceder em âmbito profissional em regra, os procedimentos policiais devem ser simples, seguros e eficientes.
Mesmo não sendo um policial inclinado ao trabalho operacional, o servidor público que atua na polícia precisa ter o mínimo de conhecimento de como se comportar em certos ambientes tendo recurso e não precisar usá-lo, do que precisar e não tê-lo.
Treinamento específico
Temos a certeza que precisamos de um treinamento específico de guerrilha urbana pra enfrentar toda esta violência em local hostil. O policial sem treinamento específico fica inviável para todo este confronto Sabemos que todo este treinamento visa principalmente a segurança do policial que vem enfrentando em locais carentes verdadeiras quadrilhas para este combate. A realização de cursos no exterior não supre nossas necessidades onde padrões e comportamentos são completamente diversos à nossa realidade. Precisamos de policiais cursados em operações especiais que tenham experiência de, no mínimo, 15 anos de combate em guerrilha urbana. Hoje não basta ser um bom policial precisa ter um treinamento voltado para nossa realidade assim é o curso de Progressão em Área de Risco.
Programação Currículo do Curso - Procedimento em área de risco com patrulha urbana - Técnica de procedimento em patrulha em área aberta e fechada - Técnica de conduta em local sobre fogo - Técnica de procedimento em área de segurança - Procedimento em abordagem de veículos - Serão internos e externos os treinamentos - O curso terá no mínimo de 10 e no máximo de 30 alunos Carga horária - aproximadamente 60 horas As aulas serão ministradas diariamente, das 8:00 às 12:00, de acordo com o rendimento do
turno.
106
II Curso Técnico Vertical em Corda
Regras do Curso
Serão feitas avaliações técnicas eliminatórias em todas as aulas do curso; Os quesitos como pontualidade, assiduidade, disciplina, aproveitamento e desempenho serão levados em conta na avaliação do aluno.
Rappel CURRÍCULO
1. Duração do curso: 2 semanas 2. Carga horária: aproximadamente 60 horas 3. As aulas serão ministradas em dias alternados, num período 08:00 ás 12:00 horas 4. Objetivos Gerais do Curso
Preparar o policial para o II Curso de Técnica Vertical em Corda, onde o aluno estará apto para realizar missões especializadas de intervenção em tomadas de edificações nos casos envolvendo resgate de reféns.
Utilizando técnicas de descida vertical em cordas (rappel), de natureza não convencional, que exijam habilidade específica e trabalho em equipe tática, nunca deixando de lado a segurança dos policiais e dos reféns.
Técnica vertical em corda, conhecida como rapel,
com utilização de arma de fogo
Atividades das matérias
- Segurança; - parte demonstrativa de Áudio-visual, e slide; - tipos de cordas: estática e dinâmica; - nós e ancoragens; - conhecimento de equipamentos e suas utilizações; - cuidados preliminares e manutenção de materiais; - aplicação das técnicas em descida vertical em corda; - conduta de patrulha para o procedimento nas técnicas verticais em corda; - primeiros socorros.
Objetivos particulares de cada matéria
Parte teórica
- Comentar os cuidados necessários de segurança e aplicação do material, bem como fazer ancoragens e suas proteções; - os tipos de cordas: estática, semi-estática e dinâmica; - luvas que deverão ser usadas; - utilização de todos os materiais para cada tipo de situação e terreno; - aplicação das travas usadas em intervenção e salvamento.
107
15.2 RELEASES DA ATUAÇÃO DA POLÍCIA CIVIL FLUMINENSE
Core forma instrutores para cursos de operações especiais
18/1/2005 - ASCOM/PCERJ
A Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) formou a sua primeira turma de instrutores. Na noite desta terça-feira (dia 18), 14 policiais receberam seus diplomas de conclusão do 1º Curso de Operações Especiais Policiais, em cerimônia realizada na Academia de Polícia Sylvio Terra (Acadepol). Eles, agora, serão os responsáveis pela condução de novos cursos de aperfeiçoamento para os 250 policiais que compõem o efetivo da Core.
O curso teve duração de nove meses, com 800 horas/aula, e visou ao treinamento, aperfeiçoamento e conhecimento avançado de técnicas de recursos especiais, para tornar mais segura e padronizada a atividade policial. Para fazer este curso, os 24 candidatos inscritos passaram por um rigoroso processo de seleção, no qual foram avaliadas as condições técnicas, físicas, de aptidão e comportamento, além de terem de preencher requisitos mínimos, como estarem na polícia há mais de três anos e terem concluído os cursos de operações aéreas e marítimas, estágios em explosivos, tiro tático especial, estágio de inteligência e rapel policial.
Nesses nove meses, foram dadas aulas sobre antiterrorismo, anti-seqüestro, artefatos explosivos, direitos humanos e ética policial, gerenciamento de crises, inteligência, defesa pessoal, mergulho, montanhismo, operações aéreas, operações policiais no mar e na selva, resgate de reféns, proteção de autoridades e rapel. As aulas foram ministradas nas dependências da Acadepol, do Exército, da Marinha, sediadas no Rio de Janeiro, e em outros estados do Brasil. Ao fim do curso, somente 14 policiais dos 24 inscritos foram aprovados.
Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei, campeão olímpica no ano passado, em Atenas, fez uma palestra sobre o trabalho em equipe e motivação na abertura da solenidade de formatura da primeira turma do Curso de Operações Especiais Policiais. Em seguida, os policiais receberam do secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, o diploma de conclusão do curso.
Core e 6 DP enfrentam traficantes no alto do Morro da Coroa
27/12/2004 - ASCOM/PCERJ
Um bandido morreu e quatro comparsas foram presos na operação desencadeada na tarde desta segunda-feira (dia 27), no Morro da Coroa, no Catumbi, e que ainda não terminou, por policiais da 6 DP (Cidade Nova) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), que estão recebendo o apoio helicóptero da unidade. A operação foi desencadeada a partir de uma informação recebida pelo Disque-Denúncia de que traficantes fortemente armados estavam reunidos no alto do morro. Um bandido, que portava um fuzil AR-15, foi morto em confronto com os policiais. Quatro comparsas foram presos. Com eles foram apreendidos um fuzil, uma granada, uma pistola e um rádio-transmissor. Oito suspeitos foram detidos no local.
108
Quatro traficantes morrem em confronto com a polícia no Morro dos Macacos
29/11/2004 - ASCOM/PCERJ
Quatro traficantes morreram em confronto com policiais civis e militares da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e do 6 BPM (Tijuca), no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, na tarde desta sexta-feira (dia 26). Com os bandidos foram apreendidos um fuzil calibre 7.62, uma granada, duas pistolas nove milímetros, uma carabina calibre 22, um rádio-transmissor, duas bombas de fabricação caseira e aproximadamente 300 gramas de cocaína e 300 gramas de maconha. As armas serão apresentadas na sede da DRE, em Vila Isabel. As Polícias Civil e Militar estão realizando operações desde a madrugada desta sexta-feira (dia 26) nos Morros do Vidigal e da Rocinha, em São Conrado e no Leblon, e dos Macacos, em Vila Isabel. Um bandido que portava uma pistola israelense foi morto em confronto com a PM, na madrugada desta sexta-feira (dia 26), no Morro do Vidigal, no local que, na véspera, traficantes foram filmados portando armas de guerra.
Quadrilha de traficantes armada com fuzil e revólver é presa em Duque de Caxias
19/11/2004 - ASCOM/PCERJ
Em operação realizada na madrugada desta sexta-feira (dia 19), no Bairro Santa Lúcia, policiais da 62ª DP (Imbariê) e do 15º BPM (Duque de Caxias) prenderam cinco traficantes e apreenderam dois adolescentes, um fuzil 7.62, um revólver calibre 38, um radiotransmissor e 93 sacolés de cocaína.
Os presos são Wanderley Peres Henriques, de 36 anos, Carlos Eduardo da Silva, 35, Vítor Camilo de Brito, 22, Ademir dos Santos da Silva e Daniel de Farias dos Santos, ambos de 20. Por volta das 3 horas, os policiais surpreenderam os bandidos armados na Rua Francisco de Assis, altura do número 77, naquele bairro. Wanderley estava com o fuzil e um dos menores, com o revólver. Houve troca de tiros, mas ninguém ficou ferido.
109
15.3 RJ -DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE DELEGACIAS E BTL DA PM (POR *AISP)
AISP07
AISP10
AISP12
AISP20
AISP24
AISP26
AISP29
AISP32
AISP34
AISP36
AISP38
AISP01
AISP03
AISP05
AISP09
AISP14
AISP17
AISP19
AISP23
AISP31
AISP02
AISP04 AISP06 AISP13 AISP16 AISP18 AISP22 AISP27 AISP39
AISP08 AISP11 AISP15 AISP21 AISP25 AISP28 AISP30 AISP33 AISP35 AISP37
Rio
FONTE: INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA/RJ
FONTE: INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA/RJ
(*) Áreas Integradas de Segurança Pública
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CIDADE DO RIO DE JANEIRO
CIDADE DO RIO DE JANEIRO
110
AISP DELEGACIAS POLICIAIS BTL DA PM
1 6ª e 7ª 1º BPM 2 9ª 2º BPM 3 23ª, 24ª, 25ª e 44ª 3º BPM 4 17ª 4º BPM 5 1ª e 4ª 5º BPM 6 18ª, 19ª e 20ª 6º BPM 7 72ª, 73ª, 74ª e 75ª 7º BPM 8 134ª, 141ª, 145ª, 146ª e 147ª 8º BPM 9 27ª, 28ª, 29ª, 30ª, 39ª e 40ª 9º BPM
10 88ª, 91ª, 92ª, 94ª, 95ª, 96ª, 97ª, 98ª, 101ª e 168ª 10º BPM 11 111ª, 112ª, 151ª, 152ª, 153ª, 154ª, 156ª, 157ª e 158ª 11º BPM 12 76ª, 77ª, 78ª, 79ª, 81ª e 82ª 12º BPM 13 5ª 13º BPM 14 33ª e 34ª 14º BPM 15 59ª, 60ª, 61ª e 62ª 15º BPM 16 22ª e 38ª 16º BPM 17 37ª 17º BPM 18 32ª e 41ª 18º BPM 19 12ª e 13ª 19º BPM 20 52ª, 53ª, 54ª, 56ª, 57ª e 58ª 20º BPM 21 64ª 21º BPM 22 21ª 22º BPM 23 14ª e 15ª 23º BPM 24 48ª, 50ª, 51ª, 55ª e 63ª 24º BPM 25 118ª, 124ª, 125ª, 126ª, 127ª e 129ª 25º BPM 26 105ª e 106ª 26º BPM 27 36ª 27º BPM 28 90 e 93ª 28º BPM 29 138ª, 139ª, 140ª, 143ª e 144ª 29º BPM 30 104 e 110ª 30º BPM 31 16ª 31º BPM 32 121ª, 122ª, 123ª e 128ª 32º BPM 33 165ª, 166 e 167ª 33º BPM 34 65 e 66ª 34º BPM 35 71ª, 119ª, 120ª e 159ª 35º BPM 36 135ª, 136ª, 137ª, 142ª e 155ª 36º BPM 37 89 e 99ª 37º BPM 38 107ª, 108ª e 109ª 38º BPM 39 35ª e 43ª RCECS
FONTE: INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA/RJ
111
15.4 DEMONSTRATIVO DO TEMPO CONSUMIDO EM DP -1º BPM/PMERJ
CÓDIGO DATA DP TRO INÍCIO TÉRMINO TEMPO NATUREZA 853 1/3/2001 6ª 37674 17:15 19:00 01:45 MAL SÚBITO 217 2/3/2001 6ª 404027 15:40 19:40 04:00 FURTO/RESIDÊNCIA 513 2/3/2001 6ª 37677 22:08 0:06 01:58 ENTORPECENTES 903 2/3/2001 6ª 37814 10:50 13:00 02:10 APREENSÃO ARMA FOGO 513 3/3/2001 6ª 16584 10:55 15:00 04:05 ENTORPECENTES 903 3/3/2001 6ª 202929 11:00 17:30 06:30 APREENSÃO ARMA FOGO 714 4/3/2001 6ª 46499 17:26 20:08 02:42 ATROPELAMENTO 120 5/3/2001 6ª 65102 10:57 12:05 01:08 LESÕES CORPORAIS 704 5/3/2001 6ª 65481 8:50 13:12 04:22 RECUPERAÇÃO/AUTO 810 5/3/2001 6ª 65403 15:50 17:15 01:25 AUXÍLIO CBMERJ 903 6/3/2001 6ª 51275 19:00 23:10 04:10 APREENSÃO ARMA FOGO 704 7/3/2001 6ª 37598 6:40 9:20 02:40 RECUPERAÇÃO/AUTO 800 8/3/2001 6ª 46015 18:05 20:00 01:55 AUXILO AO PM 111 9/3/2001 6ª 65322 2:00 4:25 02:25 HOMICÍDIO 270 9/3/2001 6ª 65491 10:34 16:36 06:02 RECEPTAÇÃO 704 9/3/2001 6ª 65407 9:55 11:25 01:30 RECUPERAÇÃO/AUTO 932 9/3/2001 6ª 65128 9:00 14:18 05:18 ENCONTRO/CADÁVER 212 10/3/2001 6ª 46029 12:03 13:25 01:22 FURTO EM AUTO 704 10/3/2001 6ª 429529 8:15 10:15 02:00 RECUPERAÇÃO/AUTO 704 10/3/2001 6ª 65227 12:47 17:36 04:49 RECUPERAÇÃO/AUTO 714 10/3/2001 6ª 429531 12:51 15:05 02:14 ATROPELAMENTO 120 11/3/2001 6ª 65412 5:57 7:35 01:38 LESÕES CORPORAIS 217 11/3/2001 6ª 46030 19:20 23:06 03:46 FURTO/RESIDÊNCIA 704 11/3/2001 6ª 65161 11:55 19:55 08:00 RECUPERAÇÃO/AUTO 906 11/3/2001 6ª 65420 5:00 8:00 03:00 PM FERIDO 932 11/3/2001 6ª 16811 9:00 14:15 05:15 ENCONTRO/CADÁVER 721 13/3/2001 6ª 65132 8:38 13:52 05:14 ACIDENTE 901 13/3/2001 6ª 65268 0:47 5:30 04:43 ELEMENTO SUSPEITO 905 13/3/2001 6ª 75878 15:30 18:30 03:00 APREENSÃO TÓXICOS 704 14/3/2001 6ª 65231 15:44 20:39 04:55 RECUPERAÇÃO/AUTO 711 15/3/2001 6ª 46110 15:48 19:55 04:07 ACIDENTE C/ VÍTIMA 903 15/3/2001 6ª 466223 15:00 17:30 02:30 APREENSÃO ARMA FOGO 932 15/3/2001 6ª 65325 8:46 15:30 06:44 ENCONTRO/CADÁVER 120 16/3/2001 6ª 65141 23:57 2:40 02:43 LESÕES CORPORAIS 704 16/3/2001 6ª 46154 8:52 13:40 04:48 RECUPERAÇÃO/AUTO 853 16/3/2001 6ª 46063 2:50 7:05 04:15 MAL SÚBITO 932 16/3/2001 6ª 65142 6:11 9:30 03:19 ENCONTRO/CADÁVER 120 17/3/2001 6ª 65139 16:30 19:30 03:00 LESÕES CORPORAIS 711 17/3/2001 6ª 65250 16:00 21:23 05:23 ACIDENTE C/ VÍTIMA 711 17/3/2001 6ª 65136 15:03 18:20 03:17 ACIDENTE C/ VÍTIMA 901 17/3/2001 6ª 65413 11:26 18:00 06:34 ELEMENTO SUSPEITO 513 18/3/2001 6ª 65144 17:10 20:50 03:40 ENTORPECENTES 711 18/3/2001 6ª 46251 13:44 16:20 02:36 ACIDENTE C/ VÍTIMA 704 20/3/2001 6ª 46342 22:28 0:50 02:22 RECUPERAÇÃO/AUTO 714 20/3/2001 6ª 65279 16:42 19:55 03:13 ATROPELAMENTO 704 21/3/2001 6ª 65257 17:17 19:27 02:10 RECUPERAÇÃO/AUTO 711 21/3/2001 6ª 65087 21:35 5:15 07:40 ACIDENTE C/ VÍTIMA 240 22/3/2001 6ª 46186 20:35 21:40 01:05 DANO 704 22/3/2001 6ª 84542 14:22 18:29 04:07 RECUPERAÇÃO/AUTO
112
CÓDIGO DATA DP TRO INÍCIO TÉRMINO TEMPO NATUREZA
704 22/3/2001 6ª 46255 8:55 12:30 03:35 RECUPERAÇÃO/AUTO 111 23/3/2001 6ª 37694 22:00 1:10 03:10 HOMICÍDIO 901 23/3/2001 6ª 373311 20:30 0:56 04:26 ELEMNTO SUSPEITO 711 24/3/2001 6ª 84525 5:20 10:00 04:40 ACIDENTE C/ VÍTIMA 511 25/3/2001 6ª 84686 3:14 8:30 05:16 INCÊNDIO 704 25/3/2001 6ª 84533 23:16 4:13 04:57 RECUPARAÇÃO/AUTO 704 25/3/2001 6ª 37699 16:20 17:40 01:20 RECUPARAÇÃO/AUTO 219 26/3/2001 6ª 84551 15:30 16:52 01:22 ROUBO 511 26/3/2001 6ª 488513 14:55 17:20 02:25 INCÊNDIO 932 26/3/2001 6ª 46262 2:15 3:40 01:25 ENCONTRO/CADÁVER 223 27/3/2001 6ª 46371 13:55 16:35 02:40 ROUBO/EST. COMERCIAL 240 27/3/2001 6ª 65155 20:30 23:24 02:54 DANO 704 27/3/2001 6ª 84552 20:14 0:58 04:44 RECUPARAÇÃO/AUTO 800 27/3/2001 6ª 84613 3:55 6:46 02:51 AUXÍLIO AO PM 120 28/3/2001 6ª 46354 23:10 1:30 02:20 LESÕES CORPORAIS 932 28/3/2001 6ª 65318 3:05 6:20 03:15 ENCONTRO/CADÁVER 223 29/3/2001 6ª 84721 12:23 12:50 00:27 ROUBO/EST. COMERCIAL 714 29/3/2001 6ª 65386 18:20 20:40 02:20 ATROPELAMENTO 223 30/3/2001 6ª 46282 16:57 18:40 01:43 ROUBO/EST. COMERCIAL 704 30/3/2001 6ª 46330 22:05 2:15 04:10 RECUPERAÇÃO/AUTO 704 30/3/2001 6ª 84554 7:31 14:14 06:43 RECUPERAÇÃO/AUTO 704 30/3/2001 6ª 46283 19:30 21:05 01:35 RECUPERAÇÃO/AUTO 904 30/3/2001 6ª 51276 11:20 13:00 01:40 APREENSÃO/MATERIAL 120 31/3/2001 6ª 65004 2:35 4:35 02:00 LESÕES CORPORAIS 704 31/3/2001 6ª 46356 9:44 13:30 03:46 RECUPARAÇÃO/AUTO 704 1/3/2001 7ª 46127 15:20 19:40 04:20 RECUPERAÇÃO/AUTO 903 2/3/2001 7ª 37659 21:25 22:52 01:27 APREENSÃO ARMA FOGO 120 10/3/2001 7ª 46243 15:15 16:50 01:35 LESÕES CORPORAIS 120 11/3/2001 7ª 373310 13:40 16:30 02:50 LESÕES CORPORAIS 704 12/3/2001 7ª 233860 21:30 22:40 01:10 RECUPERAÇÃO/AUTO 223 15/3/2001 7ª 65133 8:49 9:30 00:41 ROUBO/EST. COMERCIAL 217 16/3/2001 7ª 284732 11:09 12:00 00:51 FURTO/RESIDÊNCIA 219 18/3/2001 7ª 65201 0:30 7:00 06:30 ROUBO 120 19/3/2001 7ª 46184 1:51 3:36 01:45 LESÕES CORPORAIS 160 23/3/2001 7ª 46188 2:53 6:43 03:50 VIOLAÇÃO/DOMICÍLIO 219 24/3/2001 7ª 84545 0:40 1:41 01:01 ROUBO 111 25/3/2001 7ª 46191 16:12 17:25 01:13 HOMICÍDIO 704 25/3/2001 7ª 65091 23:29 1:59 02:30 RECUPERAÇÃO/AUTO 932 28/3/2001 7ª 65318 3:05 6:20 03:15 ENCONTRO/CADÁVER 120 29/3/2001 7ª 46200 19:35 20:27 00:52 LESÕES CORPORAIS 120 29/3/2001 7ª 84722 16:31 19:30 02:59 LESÕES CORPORAIS 219 29/3/2001 7ª 46198 16:10 16:57 00:47 ROUBO
TEMPO CONSUMIDO NA APRESENTAÇÃO DE OCORRÊNCIAS - CONSOLIDAÇÃO - MARÇO 2001 TEMPO TOTAL MENSAL TEMPO MÉDIO POR OCORRÊNCIA
TEMPO/DP 6ª DP (Legal) 7ª DP TEMPO/DP 6ª DP (Legal) 7ª DP MIN 15198 2256 MIN 192 103
HORAS 253,3 37,6 HORAS 3,21 1,71
DIAS 10,6 1,6 DIAS 0,13 0,07
FONTE: 1º BPM/P-3
115
15.6 LEI FEDERAL 9.099/95
Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 1º Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, órgãos da Justiça Ordinária, serão criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência.
Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.
Capítulo II
Dos Juizados Especiais Cíveis
Seção I
Da Competência
Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
.........................................................................................................
Dos Juizados Especiais Criminais
Disposições Gerais
Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por Juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo.
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial.
Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre
116
que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade.
Seção I
Da Competência e dos Atos Processuais
Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.
Art. 64. Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em horário noturno e em qualquer dia da semana, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.
Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.
§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação.
§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente.
Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.
Art. 67. A intimação far-se-á por correspondência, com aviso de recebimento pessoal ou, tratando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado, ou, sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória, ou ainda por qualquer meio idôneo de comunicação.
Parágrafo único. Dos atos praticados em audiência considerar-se-ão desde logo cientes as partes, os interessados e defensores.
Art. 68. Do ato de intimação do autor do fato e do mandado de citação do acusado, constará a necessidade de seu comparecimento acompanhado de advogado, com a advertência de que, na sua falta, ser-lhe-á designado defensor público.
Seção II
Da Fase Preliminar
117
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002))
Art. 70. Comparecendo o autor do fato e a vítima, e não sendo possível a realização imediata da audiência preliminar, será designada data próxima, da qual ambos sairão cientes.
Art. 71. Na falta do comparecimento de qualquer dos envolvidos, a Secretaria providenciará sua intimação e, se for o caso, a do responsável civil, na forma dos arts. 67 e 68 desta Lei.
Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.
Art. 73. A conciliação será conduzida pelo Juiz ou por conciliador sob sua orientação.
Parágrafo único. Os conciliadores são auxiliares da Justiça, recrutados, na forma da lei local, preferentemente entre bacharéis em Direito, excluídos os que exerçam funções na administração da Justiça Criminal.
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.
Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo.
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.
118
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz.
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos.
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei.
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível.
Seção III
Do Procedimento Sumaríssimo
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.
119
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral, cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam a adoção das providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.
Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-se cópia ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.
§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e 68 desta Lei e cientificado da data da audiência de instrução e julgamento, devendo a ela trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no mínimo cinco dias antes de sua realização.
§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e julgamento.
§ 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no art. 67 desta Lei.
Art. 79. No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento, se na fase preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de oferecimento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á nos termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.
Art. 80. Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz, quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva comparecer.
Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença.
§ 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias.
§ 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença.
§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz.
120
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei.
§ 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa.
§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.
Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida.
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.
§ 2º Quando opostos contra sentença, os embargos de declaração suspenderão o prazo para o recurso.
§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.
Seção IV
Da Execução
Art. 84. Aplicada exclusivamente pena de multa, seu cumprimento far-se-á mediante pagamento na Secretaria do Juizado.
Parágrafo único. Efetuado o pagamento, o Juiz declarará extinta a punibilidade, determinando que a condenação não fique constando dos registros criminais, exceto para fins de requisição judicial.
Art. 85. Não efetuado o pagamento de multa, será feita a conversão em pena privativa da liberdade, ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei.
Art. 86. A execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, ou de multa cumulada com estas, será processada perante o órgão competente, nos termos da lei.
Seção V
Das Despesas Processuais
121
Art. 87. Nos casos de homologação do acordo civil e aplicação de pena restritiva de direitos ou multa (arts. 74 e 76, § 4º), as despesas processuais serão reduzidas, conforme dispuser lei estadual.
Seção VI
Disposições Finais
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
122
Art. 90. As disposições desta Lei não se aplicam aos processos penais cuja instrução já estiver iniciada.
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar. (Artigo incluído pela Lei nº 9.839, de 27.9.1999)
Art. 91. Nos casos em que esta Lei passa a exigir representação para a propositura da ação penal pública, o ofendido ou seu representante legal será intimado para oferecê-la no prazo de trinta dias, sob pena de decadência.
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.
Capítulo IV
Disposições Finais Comuns
Art. 93. Lei Estadual disporá sobre o Sistema de Juizados Especiais Cíveis e Criminais, sua organização, composição e competência.
Art. 94. Os serviços de cartório poderão ser prestados, e as audiências realizadas fora da sede da Comarca, em bairros ou cidades a ela pertencentes, ocupando instalações de prédios públicos, de acordo com audiências previamente anunciadas.
Art. 95. Os Estados, Distrito Federal e Territórios criarão e instalarão os Juizados Especiais no prazo de seis meses, a contar da vigência desta Lei.
Art. 96. Esta Lei entra em vigor no prazo de sessenta dias após a sua publicação.
Art. 97. Ficam revogadas a Lei nº 4.611, de 2 de abril de 1965 e a Lei nº 7.244, de 7 de novembro de 1984.
Brasília, 26 de setembro de 1995; 174º da Independência e 107º da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
123
15.7 LEI FEDERAL 10259/01
Dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o São instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.
Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo.
Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, ou multa.
Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.
§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:
I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;
II - sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;
III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;
IV - que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares.
§ 2o Quando a pretensão versar sobre obrigações vincendas, para fins de competência do Juizado Especial, a soma de doze parcelas não poderá exceder o valor referido no art. 3o, caput.
§ 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta.
124
Art. 4o O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil reparação.
Art. 5o Exceto nos casos do art. 4o, somente será admitido recurso de sentença definitiva.
Art. 6o Podem ser partes no Juizado Especial Federal Cível:
.........................................................................................................
Art. 18. Os Juizados Especiais serão instalados por decisão do Tribunal Regional Federal. O Juiz presidente do Juizado designará os conciliadores pelo período de dois anos, admitida a recondução. O exercício dessas funções será gratuito, assegurados os direitos e prerrogativas do jurado (art. 437 do Código de Processo Penal).
Parágrafo único. Serão instalados Juizados Especiais Adjuntos nas localidades cujo movimento forense não justifique a existência de Juizado Especial, cabendo ao Tribunal designar a Vara onde funcionará.
Art. 19. No prazo de seis meses, a contar da publicação desta Lei, deverão ser instalados os Juizados Especiais nas capitais dos Estados e no Distrito Federal.
Parágrafo único. Na capital dos Estados, no Distrito Federal e em outras cidades onde for necessário, neste último caso, por decisão do Tribunal Regional Federal, serão instalados Juizados com competência exclusiva para ações previdenciárias.
Art. 20. Onde não houver Vara Federal, a causa poderá ser proposta no Juizado Especial Federal mais próximo do foro definido no art. 4o da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual.
Art. 21. As Turmas Recursais serão instituídas por decisão do Tribunal Regional Federal, que definirá sua composição e área de competência, podendo abranger mais de uma seção.
§ 1o Não será permitida a recondução, salvo quando não houver outro juiz na sede da Turma Recursal ou na Região.
§ 2o A designação dos juízes das Turmas Recursais obedecerá aos critérios de antigüidade e merecimento.
Art. 22. Os Juizados Especiais serão coordenados por Juiz do respectivo Tribunal Regional, escolhido por seus pares, com mandato de dois anos.
Parágrafo único. O Juiz Federal, quando o exigirem as circunstâncias, poderá determinar o funcionamento do Juizado Especial em caráter itinerante, mediante autorização prévia do Tribunal Regional Federal, com antecedência de dez dias.
Art. 23. O Conselho da Justiça Federal poderá limitar, por até três anos, contados a partir da publicação desta Lei, a competência dos Juizados Especiais Cíveis, atendendo à necessidade da organização dos serviços judiciários ou administrativos.
125
Art. 24. O Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal e as Escolas de Magistratura dos Tribunais Regionais Federais criarão programas de informática necessários para subsidiar a instrução das causas submetidas aos Juizados e promoverão cursos de aperfeiçoamento destinados aos seus magistrados e servidores.
Art. 25. Não serão remetidas aos Juizados Especiais as demandas ajuizadas até a data de sua instalação.
Art. 26. Competirá aos Tribunais Regionais Federais prestar o suporte administrativo necessário ao funcionamento dos Juizados Especiais.
Art. 27. Esta Lei entra em vigor seis meses após a data de sua publicação.
Brasília, 12 de julho de 2001; 180o da Independência e 113o da República.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo de Tarso Tamos Ribeiro Roberto Brant Gilmar Ferreira Mendes
126
15.8 LEI ESTADUAL 2556/96
CRIA OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS NA JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, DISPÕE SOBRE SUA ORGANIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
O Governador do Estado do Rio de Janeiro, Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I DA CRIAÇÃO E DA ESTRUTURA
Art. 1º - Fica criado, no âmbito do Poder Judiciário, o Sistema Estadual de Juizados Especiais Cíveis e Criminais para a conciliação, julgamento e execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo pelo Poder Judiciário.
Parágrafo único - O processo orientar-se-á pelos critérios de oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou transação.
Art. 2º - Integram o Sistema de Juizados Especiais:
I - os Juizados Especiais Cíveis;
II - os Juizados Especiais Criminais;
III - os Juizados Especiais Adjuntos Cíveis;
IV - os Juizados Especiais Adjuntos criminais;
V - as Turmas Recursais Cíveis
VI - as Turmas Recursais Criminais
Art. 3º - O Órgão Especial do Tribunal de Justiça poderá, por proposta do Conselho da Magistratura, transformar Juízos Cíveis e Criminais em Juizados Especiais, assim como Juizados Especiais e Juizados Adjuntos Cíveis em Criminais, bem como os Criminais em Cíveis, a instalação de novos Juizados Especiais e Adjuntos, além da instalação de Juizados em substituição aos Adjuntos, de acordo com necessidade do serviço. Art. 4º - O acesso ao Juizado Especial independerá, em primeiro grau de Jurisdição do pagamento de taxas ou despesas.
127
CAPÍTULO II DOS JUIZADOS CÍVEIS E CRIMINAIS E
JUIZADOS ADJUNTOS
Art. 5º - Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais são unidades Jurisdicionais autônomas, presididas por Juiz de Direito e servidas por cartório judiciais oficializados com servidores próprios, e terão a competência prevista no Capítulo II, seção I e Capítulo III, Lei nº 9.099/95.
Parágrafo único - Nos Juizados, conforme a necessidade do serviço, poderão ser designados pelo Presidente do Tribunal de Justiça outros Juízes de Direito, titulares ou não, ou Juizes Substitutos.
Art. 6º - Os serviços de cartório poderão ser prestados, e as audiências realizadas fora da sede do Juizado, em bairros ou cidades circunvizinhas, ocupando instalações do Foro ou de outros.
Art. 7º - Os Juizados Especiais Adjuntos Cíveis e Criminais terão a mesma composição e competência das unidades jurisdicionais cíveis e criminais previstas no artigo 5º, e funcionarão em anexo a determinadas varas judiciais das comarcas de primeiras e algumas de segunda entrâncias, atuando, preferencialmente, o respectivo Juiz Titular, podendo o Presidente do Tribunal de Justiça designar outros Juizes de Direito, titulares ou não ou Juizes Substitutos, para auxilio.
Art. 8º - A Jurisdição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais se estenderá pela áreas das regiões administrativas a eles vinculadas nesta Lei e pelos seguintes comarcas de segunda entrânçia: Barra Mansa, Belford Roxo, Campos dos Goytacazes, Duque de Caxias, Nilópolis, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Petrópolis, São Gonçalo, São João de Meriti e Volta Redonda.
* Art. 8º - A jurisdição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais se estenderá pelas áreas das regiões administrativas a eles vinculados nesta Lei e pelas seguintes Comarcas: Angra dos Reis, Araruama, Barra do Piraí, Barra Mansa, Belford Roxo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Duque de Caxias, Itaboraí, Itaguaí, Itaperuna, Macaé, Magé, Maricá, Nilópolis, Niterói, Nova Friburgo, Nova Iguaçu, Petrópolis, Queimados, Resende, São Gonçalo, São João de Meriti, Teresópolis, Três Rios, Valença e Volta Redonda.
* Nova redação dada pela Lei nº 3812/2002.
Art. 9º - A Jurisdição dos Juizados Adjuntos Cíveis e Criminais será a da respectiva comarca de primeira ou de segunda entrância onde estiverem situados, ressalvado o disposto no artigo anterior.
Art. 10 - Os Juizados Especiais Cíveis, além da competência prevista no artigo 3º da Lei nº 9.099/95 deverão conciliar os litígios regulados pela Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), que versem sobre matéria cível.
128
Art. 11 - Os Juizados Especiais Adjunto Cíveis e Criminais utilizarão o mesmo de servidores lotados nas varas a que estiverem anexados, podendo o Corregedor-Geral da Justiça designar aqueles que atuarão exclusivamente nos feitos que ali tramitam. Art. 12 - Os Conciliadores e árbitros serão recrutados por concurso Público, os primeiros preferencialmente entre bacharéis e bacharelandos em Direito e os segundos entre advogados, com mais de Cinco anos de experiência, ficando estes impedidos de exerce a advocacia perante os Juizados Especiais, enquanto no desempenho de suas funções § 1º - O Presidente do Tribunal de Justiça disporá sobre as regras do concurso. § 2º - São requisitos para ambas as funções:
I - idade superior a 18 (dezoito) anos;
II - profissão e disponibilidade de horário compatíveis;
III - residência na comarca há mais de 5 (cinco) anos do recrutamento;
IV - bons antecedentes, demostrados por certidões dos distribuidores locais, as quais serão requisitadas independente do pagamento de emolumentos;
V - indoneidade moral reconhecida;
VI - apresentação de atestado de sanidade física e mental
§ 3º - Os conciliadores e árbitros exercerão suas funções pelo prazo de 02 (dois) anos e poderão ser dispensados a qualquer momento, pelo Presidente do Tribunal de Justiça, atendendo à conveniência do serviço.
§ 4º - Quando não houver número suficiente de inscritos, fica autorizada a dispensa do concurso Público para recrutamento dos conciliadores a árbitros dos juizados Especiais e Adjuntos Cíveis e Criminais, os quais serão designados pelo Presidente do Tribunal de Justiça, por indicação do Juiz em exercício no Juizado respectivo, observados os requisitos acima definidos.
§ 5º - As funções de conciliador ou árbitro não serão remuneradas, mas o exercício por período superior a um ano será considerado como título em concurso Público para a Magistratura de carreira do Estado do Rio de Janeiro.
§ 6º - Por bacharelando deve-se entender que sejam os estudantes regulamente matriculados e cursando os dois últimos anos de Faculdade de Direito.
§ 7º - Os árbitros referidos ao caput e aos parágrafos 3º, 4º e 5º deste artigo correspondem ao cargo de juiz leigo referido no artigo 7º e parágrafo único da Lei Federal nº 9.099/95.
Art. 13 - a nomeação dos conciliadores e árbitros é da competência do Presidente do Tribunal de Justiça.
129
Parágrafo único - Para efeitos disciplinares, aplicam-se aos árbitros e conciliadores as normas reguladoras dos setores da Justiça de primeiro grau.
Art. 14 - Os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se na parte da manhã e em horário noturno.
Art. 15 - Nos casos de homologação de acordo cível e aplicação de pena restritiva de direitos ou multa, as despesas processuais serão reduzidas de metade.
CAPÍTULO III. DAS TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS
Art. 16 - Cada Turma Recursal, Cível e Criminal será composta de 03 (três) Juízes Titulares e 03 (três) suplentes, todos togados e em exercício no primeiro grau de jurisdição. § 1º - O Presidente do Tribunal de Justiça definirá, por ato, o número, a composição e horário de funcionamento, bem como designará os Juizes das Turmas Recursais. § 2º - A Turma Recursal será presidida pelo Juiz mais antigo dentre os seus integrantes. § 3º - Resolução do Conselho da Magistratura disporá sobre Regimento Interno das Turmas Recursais Cíveis e Criminais.
CAPÍTULO IV DOS CARGOS E FUNÇÕES
Art. 17 - Ficam criados 46 (quarenta e seis) Juizados Especiais, com comparência para os feitos cíveis e 46 (quarenta e seis) Juizados Especiais com competência para os feitos criminais, previstos na Lei nº 9.099/95, assim discriminados: * Art. 17 – Ficam criados 59 Juizados Especiais com competência para os feitos cíveis e 53 Juizados Especiais com competência para os feitos criminais, previstos na Lei nº 9.099/95, assim discriminados:
* Nova redação dada pela Lei nº 3812/2002.
1) - I Juizado Especial Cível - I Região Administrativa;
2) - II Juizado Especial Cível - II Região Administrativa;
.........................................................................................................
111) – 1 Juizado Especial Criminal de Três Rios;
112) – 1 Juizado Especial Cível de Valença.
* ítens 93 ao 112, acrescentados pela Lei nº 3812/2002.
130
Art. 18 - Ficam criados os cargos de provimento efetivo:
I - 60 (sessenta) cargos de Juiz de Direito de entrância especial e 32 cargos de Juizes de Direito de entrância do interior;
II - 92 (noventa e dois) cargos de Titular;
III - 184 (cento e oitenta e quatro) cargos de Oficiais de Justiça Avaliador;
IV - 276 (duzentos e setenta e quatro) cargos de Técnico Judiciário Juramentado;
V - 184 (cento e oitenta e quatro) cargos de Auxiliar Judiciário
VI - 184 (cento e oitenta e quatro) cargos de Auxiliar de Cartório.
Art. 19 - Uma vez instalada os Juizados e as Turmas Recursais, serão a eles distribuídos os feitos de sua competência, vedada a redistribuirão dos processos em andamento.
Parágrafo único - Aos atuais ofícios de registro de distribuição competirá o respectivo registro dos feitos, mediante listagens pelo serviço competente.
Art. 20 - O Órgão Especial determinará a instalação progressiva dos Juizados Especiais
§ 1º - O provimento dos cargos criados nesta Lei será efetuado da seguinte forma:
I - No primeiro ano de vigência desta Lei, serão providos 30 (trinta) cargos de Juiz de Direito, 30 (trinta) cargos de Titular, 60 (sessenta) cargos de Oficial de Justiça, 90 (noventa) cargos de Técnico Judiciário Juramentado, 60 (sessenta) cargos de Auxiliar de Cartório;
II - No segundo ano de vigência desta Lei, serão providos 30 (trinta) cargos de Juiz de Direito, 30 (trinta) cargos de Titular, 60 (sessenta) cargos de Oficial de Justiça, 90 (noventa) cargos de Técnico Judiciário Juramentado, 60 (sessenta) cargos de Auxiliar Judiciário e 60 (sessenta) cargos de Auxiliar de Cartório;
III - No terceiro ano da vigência desta Lei, serão providos os cargos restantes necessários à estruturação total dos Juizados Especiais, na forma estabelecida no Artigo 18 desta Lei.
§ 2º - Enquanto não instalados todos os Juizados Especiais previstos nesta Lei por força da regra estabelecidas no caput deste artigo, a competência territorial de cada órgão será fixada por ato do Presidente do Tribunal de Justiça.
CAPÍTULO V DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
131
Art. 21 - Enquanto não instalados os Juizados Especiais, compete aos Juízes Cíveis e Criminais, nas respectivas áreas de atuação, segundo designação da Presidência do Tribunal, processar e julgar as matérias de sua competência.
Art. 22 - as instalações, móveis e materiais dos atuais Juizados de pequenas causas serão aproveitados pelos Juizados Especiais e Adjuntos Cíveis e Criminais.
Art. 23 - As despesas decorrentes da presente Lei correrão à conta da dotação orçamentária consignadas no programa de Trabalho 03.01.02.04.0131.750.
Parágrafo único - Esta dotação não poderá ser suplementada com base nas autorizações contidas nos artigos 5º, 6º, e 7º da Lei nº 2.521, de 18 de janeiro de 1996.
Art. 24 - VETADO
Art. 25 - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 21 de maio de 1996.
MARCELLO ALENCAR Governador
LEI Nº 2.556, DE 21 DE MAIO DE 1996.
Parte vetada pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro e mantida pela Assembléia Legislativa, do Projeto que se transformou na Lei nº 2.556, de 21 de maio de 1996, QUE “CRIA OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS NA JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,DISPÕE SOBRE SUA ORGANIZAÇÃO, COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIA E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS”. Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, manteve, e eu, Presidente, nos termos do § 7º do Art. 115 da Constituição Estadual, promulgo a seguinte parte da Lei nº 2.556, de 21 de maio de 1996.
Art. 23 -..........................................................
Parágrafo único -............................................
Art. 24 - A autoridade policial a que se refere o art. 69 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, é o Delegado de Polícia, de que trata o art. 144 § 4º da Constituição Federal.
Art. 25 -...........................................................
Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 25 de junho de 1996.
DEPUTADO IVANIR DE MELLO 1º Vice Presidente no Exercício da Presidência
132
15.9 OFÍCIO DO 1º JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL-CAMPOS-RIO DE JANEIRO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PODER JUDICIÁRIO Juizado Especial Criminal da Comarca de Campos dos Goytacazes.
Av. Alberto Torres, 334 - Centro - Cep 28022-000 Tel (0247) 33 1655 r. 227
Ofício nº.: 202/97 Campos, 29 de outubro de 1997. Assunto: Acolhimento de solicitação Referência: Of. nº 1880/2595/97
Ilmo Sr Ten Cel PM Cmt Int do Batalhão de Polícia Rodoviária Em atenção aos termos do ofício em referência, orientando-se pelo ideal de
informalidade, economia processual, celeridade e efetividade dos atos processuais e considerando autoridade policial todo agente público que se encontra investido da função policial, ou seja, de poder de polícia, resolve acolher os Procedimentos encaminhados diretamente pelos policiais-militares do Batalhão de Polícia Rodoviária da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Batalhão de Polícia Rodoviária - Rua Mackenzie s/nº, Fonseca, Niterói, RJ
133
15.10 PROVIMENTO N.º 758/2001-09-14, DO CONSELHO DE MAGISTRATURA DO
ESTADO DE SÃO PAULO
Provimento nº 758/2001-09-14
Regulamenta a fase preliminar do procedimento dos Juizados Especiais Criminais.
O CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA, no uso de suas atribuições legais,
CONSIDERANDO o decidido no Processo CG-8511/00;
CONSIDERANDO os princípios orientadores do procedimento do Juizado Especial
Criminal, que são a oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia processual e
a celeridade,
RESOLVE
Artigo 1º - Para os fins previstos no art. 69, da Lei 9.099/96, entende-se por autoridade
policial, apta a tomar conhecimento da ocorrência, lavrando o termo circunstanciado,
encaminhando-o, imediatamente, ao Poder Judiciário, o agente do Poder Público
investido legalmente para intervir na vida da pessoa natural, atuando no policiamento
ostensivo ou investigatório.
Artigo 2º - O Juiz de Direito, responsável pelas atividades do Juizado, é autorizado a
tomar conhecimento dos termos circunstanciados elaborados pelos policiais militares,
desde que assinados concomitantemente por Oficial da Polícia Militar.
Artigo 3º - Havendo necessidade da realização de exame pericial urgente, o policial
militar deverá encaminhar a autor do fato ou a vítima ao órgão competente da Polícia
Técnico-Científica, que o providenciará, remetendo o resultado ao distribuidor do foro
local da infração.
Artigo 4º - O encaminhamento dos termos circunstanciados respeitará a disciplina
elaborada pelo Juízo responsável pelas atividades do Juizado Especial Criminal da
área onde ocorreu a infração penal.
Artigo 5º - Este provimento entrará em vigor na data de sua publicação.
134
São Paulo, 23 de agosto de 2001.
Márcio Martins Bonilha Presidente do Tribunal de Justiça Álvaro Lazzarini Vice-presidente do Tribunal de Justiça Luís de Macedo Corregedor Geral da Justiça
135
15.11 INSTRUÇÃO N.º 05/2004, DO CONSELHO DE SUPERVISÃO DOS JUIZADOS
ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DO ESTADO DO MS
Instrução nº 5/04, de 2 de abril de 2004.
Implementa, em caráter de experiência-piloto, nas Comarcas de Campo Grande,
Dourados, Corumbá e Três Lagoas, a sistematização dos Termos Circunstanciados
lavrados por policiais militares a serem encaminhados aos Juizados Especiais
Criminais.
O CONSELHO DE SUPERVISÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS
DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, no uso das atribuições que lhe conferem o
inciso VIII, do parágrafo único, do art. 5° da Lei n° 1.071, de 11 de julho de 1990,
CONSIDERANDO que, na fase preliminar dos processos criminais de competência dos
Juizados Especiais, a autoridade policial, ao tomar conhecimento da ocorrência, lavra o
termo circunstanciado dos fatos e o encaminha ao Juizado, juntamente com o autor do
fato e a vítima, consoante o disposto no artigo 69 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de
1995;
CONSIDERANDO o Enunciado nº 34, editado no VII Encontro Nacional de
Coordenadores de Juizados Especiais, que firmou o entendimento de que “Atendidas
as peculiaridades locais, o termo circunstanciado poderá ser lavrado pela Polícia Civil
ou Militar”;
CONSIDERANDO que o Colégio dos Desembargadores Corregedores Gerais de
Justiça do Brasil, reunidos no XVII Encontro Nacional, realizado em São Luiz/MA, em
04 e 05 de março de 1999, editou a “Carta de São Luís do Maranhão”, consignando,
num de seus itens, que “Autoridade policial, na melhor interpretação do art. 69 da Lei nº
9.099/95, é também o policial de rua, o policial militar, não constituindo, portanto,
atribuição exclusiva da polícia judiciária a lavratura de Termos Circunstanciados. O
combate à criminalidade e a impunidade exigem atuação dinâmica de todos os Órgãos
da Segurança Pública.”;
CONSIDERANDO a decisão do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, que “...
nos casos de prática de infração penal de menor potencial ofensivo, a providência
136
prevista no artigo 69 da Lei nº 9.099/95 é da competência da autoridade policial, não
consubstanciando, todavia, ilegalidade a circunstância de utilizar o Estado o
contingente da Polícia Militar” (HC 1998/0019625-0);
CONSIDERANDO que, em razão do Plano Estadual de Segurança Pública do Estado
de Mato Grosso do Sul, as Polícias Civil e Militar atuam de forma integrada, formando a
força policial do Estado.
RESOLVE
Art. 1º. Para efeito do disposto no artigo 69 da Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1995,
e nos artigos nº 72 e 73 da Lei nº 1.071, de 11 de julho de 1990, entende-se por
“autoridade policial”, o agente dos Órgãos da Segurança Pública do Estado, policial civil
ou militar, que atua no policiamento ostensivo ou investigatório.
Art. 2º. Nas Comarcas de Campo Grande, Dourados, Corumbá e Três Lagoas, o Termo
Circunstanciado de que trata o artigo 69 da Lei 9.099/95 será elaborado pelo policial
civil ou militar que primeiro tomar conhecimento da ocorrência.
Art. 3°. Quando produzido pela Polícia Militar, o Termo Circunstanciado será remetido
ao Juizado Especial Criminal da área onde ocorreu a infração penal imediatamente, se
estiver em funcionamento o Juizado de Plantão ou, não instalado este, nos termos
acordados com a respectiva autoridade judiciária. No caso de inexistência do Juizado
de Plantão, os objetos apreendidos fora do horário do expediente forense ficarão
temporariamente depositados em unidade da Polícia Militar, até o início do primeiro
expediente do Juizado respectivo.
Parágrafo único. Cópia do Termo será encaminhada à Delegacia de Polícia da
circunscrição territorial em que se deu a infração penal para a manutenção da unidade
de registros estatísticos.
Art. 4°. Recusando-se o autor do fato a assinar o compromisso de comparecer ao
Juizado a ele será imposta, pelo policial militar, prisão em flagrante, caso em que será
conduzido à Delegacia de Polícia para a lavratura do auto respectivo e arbitramento de
fiança, quando cabível.
137
Art. 5º. O policial militar, ao atender ocorrência de autoria desconhecida, lavrará o termo
circunstanciado e o encaminhará, juntamente com os objetos apreendidos, se houver, à
Delegacia de Polícia para que esta providencie as requisições de exames periciais, se
for o caso, bem como a coleta de provas e a execução dos demais atos necessários ao
esclarecimento da infração.
Art. 6°. Os Juizes de Direito que atuam nos Juizados Especiais nas Comarcas
especificadas no art. 2° ficam autorizados a tomar conhecimento dos atos e dos termos
tanto dos policiais civis como dos militares realizados na fase preliminar dos
procedimentos referentes às infrações penais de menor potencial ofensivo.
Art. 7°. O prazo de execução da experiência-piloto de que trata a presente Instrução
será de 180 (cento e oitenta) dias, podendo ser prorrogado por igual período.
Art. 8°. Esta Instrução entrará em vigor na data de sua publicação.
Campo Grande, MS, 02 de abril de 2004
Des. Rêmolo Letteriello Pres. do Conselho de Supervisão
138
15.12 PORTARIA N.º 172/00, DA SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA SEGURANÇA DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PORTARIA SJS N° 172, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2000
Regula os procedimentos a serem adotados para lavratura do termo circunstanciado
previsto no artigo 69 da lei n° 9099, de setembro de 1995.
O SECRETÁRIO DE ESTADO DA JUSTIÇA E DA SEGURANÇA, no uso de suas
atribuições legais, em especial as constantes no art. 2° da Lei n° 10.356, de 10 de
janeiro de 1995,
CONSIDERANDO que a Constituição Federal, ao determinar, em seu artigo 98, inciso I,
à União e aos Estados a criação de Juizados Especiais cíveis e criminais, estabeleceu
para o processo perante estes um novo sistema processual penal que inaugura a
mediação prévia como condição da ação:
CONSIDERANDO que a Lei n° 9099, de 26 de setembro de 14995, que dispõe sobre
os Juizados Especiais Cíveis e Criminais, estabelece que o processo perante estes
Juizados se orientará pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade,
economia processual e celeridade (artigo 2° e 62), e determina que se deverá buscar,
nestes processos, a conciliação e a transação (art. 2°), bem como a reparação dos
danos sofridos pela vítima (art. 62);
CONSIDERANDO que a mesma Lei n° 9099/95, coerente com os princípios por ela
explicitados e com o estabelecido no artigo 98, inciso I, da Constituição Federal,
dispensou expressamente (artigo 77 §1° ) a elaboração de inquérito policial para a
apuração das infrações de menor potencial ofensivo, assim consideradas aquelas
abrangidas pela definição contida no artigo 61 da mesma lei, e substituiu esta peça pelo
Termo Circunstanciado, que deverá ser encaminhado imediatamente ao Juizado (artigo
69);
CONSIDERANDO que a competência coextensiva das polícias ostensiva e repressiva
para a lavratura do Termo Circunstanciado é objeto de doutrina e jurisprudência
controversas entendendo que a Lei n° 9099/95 perde praticamente a sua efetividade e
desaparece como inovação de sistema se predominar o ponto de vista restritivo:
139
CONSIDERANDO que àquele cidadão a quem se imputa o cometimento de um delito
de menor potencial ofensivo, caso seja imediatamente encaminhado ao Juizado ou
assuma o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem
se exigirá fiança (art. 69, parágrafo único);
CONSIDERANDO a necessidade de o cidadão receber atendimento rápido, eficiente,
eficaz e cômodo por parte da Polícia Estadual;
CONSIDERANDO que a lavratura do Termo Circunstanciado, no local de ocorrência,
pelo policial que atender, seja ele civil ou militar, proporcionará economia de recursos
humanos e materiais e principalmente, uma prestação mais eficaz e célebre deste
serviço público;
CONSIDERANDO que a extensão aos policiais militares da competência para a
lavratura do Termo Circunstanciado proporciona maior disponibilidade aos servidores
da Polícia Civil para a investigação de delitos de maior potencial ofensivo, busca e
captura de foragidos e outras atividades de polícia repressiva;
CONSIDERANDO que o reconhecimento por esta Secretaria da existência de uma
competência coextensiva das policias civil de militar para a lavratura do Termo
Circunstanciado, e a real atuação de ambas as Polícias em conjunto para a realização
desta atividade, auxiliando o Poder Judiciário a atingir o objetivo de oferecer ao cidadão
uma prestação jurisdicional mais célere e, por conseqüência, mais efetiva;
CONSIDERANDO por fim, que a atuação conjunta de policias civis e militares na
realização desta atividade constituirá mais uma etapa no processo de integração de
ambas as policias, tendo sempre por objetivo uma Polícia Estadual unida, internamente
coesa e harmônica, eficiente e orientada pelo respeito aos direitos humanos,
Resolve:
I – Todo policial, civil ou militar, é competente para lavrar o Termo Circunstanciado
previsto no artigo 69 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.
140
II – A lavratura do Termo Circunstanciado por policiais militares somente ocorrerá nas
Comarcas em que houver acordo sobre o tema entre a Polícia Estadual e o(s)
representante(s) do Ministério Público.
III – O Termo Circunstanciado deverá ser lavrado no próprio local da ocorrência, pelo
policial que a atender, e encaminhado no mesmo dia ao juizado Especial.
IV – A Polícia Civil e a Brigada Militar elaborarão conjuntamente, no prazo de 90 dias,
modelo a ser utilizado pelos policiais na lavratura dos Termos Circunstanciado.
V – Do modelo a que se refere o item anterior deverão constar obrigatoriamente: um
campo destinado à identificação daquele que é apontado como autor do suposto fato
delituoso; um campo destinado à identificação da suposta vítima, ou vítimas; um campo
destinado à identificação das testemunhas, se houver, um campo destinado ao relatório
sucinto da ocorrência, do qual deverão constar, sempre que possível, as versões para o
fato apresentadas pela suposta vítima, ou vítimas, e do(s) suposto(s) autor(s) do fato
delituoso: um campo destinado à descrição dos documentos ou exames periciais
solicitados ou juntados; um campo destinado à descrição dos objetos coletados ou
aprendidos; um campo destinado ao registro da representação da vítima, e um campo
destinado ao termo de compromisso de comparecimento ao Juizado Especial por parte
do(s) apontado(s) como autor(es) do fato delituoso.
VI – Esta Portaria entrará em vigor na data de sua publicação.
VII – Revogam-se as disposições em contrários, em especial a Portaria nº 39/SJS-97.
José Paulo Bisol Secretário de Estado Da Justiça e da segurança Luiz Marcelo Espinosa Diretor-Geral
141
15.13 RESPOSTA DA BRIGADA MILITAR À CONSULTA EM FACE DA
EXPERIÊNCIA DA CORPORAÇÃO NA LAVRATURA DE TERMOS
CIRCUNSTANCIADOS
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA SEGURANÇA
BRIGADA MILITAR ESTADO MAIOR
Porto Alegre, RS, 14 de fevereiro de 2005.
Oficio n. º 0205/PM-3/2004.
Do Ch EMBM-PM3
Ao Sr Maj Wanderby Braga de Medeiros
Assunto: Lavratura de Termo Circunstanciado
Atendendo a consulta realizada por vossa senhoria e em razão dos quesitos
formulados informo-lhe o seguinte:
1º e 2º Quesitos: A Brigada Militar realiza a lavratura do Termo
Circunstanciado no Estado do Rio Grande do Sul.
Histórico:
Em janeiro de 1996, a Brigada Militar teve a sua primeira experiência na
lavratura do Termo Circunstanciado no município de Rio Grande, tendo sido o 6º
Batalhão de Polícia Militar, o primeiro OPM da Brigada Militar a elaborar os Termos
Circunstanciados. A lavratura do Termo Circunstanciado, no mesmo ano, passou a ser
realizada no município de Uruguaiana. No entanto, em 1997, após o transcurso de
mais de um ano de lavratura de Termos Circunstanciados pela Brigada Militar, pratica
que já estava disseminada em vários municípios do estado, foi determinada pela
Secretaria da Justiça e da Segurança do Estado do Rio Grande do Sul a suspensão da
sua elaboração pela Brigada Militar, através da Portaria nº 39 da Secretaria da Justiça e
da Segurança.
142
Em novembro de 2000, com a Portaria 172, da Secretaria da Justiça e da
Segurança, e o Termo de Cooperação 03, de 22 de janeiro de 2001, formalizado entre
o Governo do Estado e o Ministério Público, foi viabilizado a elaboração de Termos
Circunstanciados e Comunicação de Ocorrências Policiais pelas policias estaduais,
Brigada Militar (Policia Militar) e pela Policia Civil.
Consolidada a posição da Brigada Militar na analise da inteligência da lei nº
9099/95, estabeleceu, a Secretaria de Justiça e Segurança, um projeto piloto no
município de Caxias do Sul, no dia 16 de maio de 2001, passando a realizar tanto BO-
TC (Boletim de Ocorrência Policial – Termo Circunstanciado) quanto o BO-COP
(Boletim de Ocorrência Policial – Comunicação de Ocorrência Policial), em plena
consonância com os princípios estabelecidos na Lei 9.099/95, proporcionando assim a
economia de recursos humanos e materiais e, principalmente, uma prestação mais
eficaz e célere deste serviço público.
Os Comandante Geral da Brigada Militar e o Chefe da Polícia Civil, no uso de suas atribuições legais, CONSIDERANDO as disposições da Portaria SJS Nr. 172, de 16 de novembro de 2000; (...) RESOLVEM: 1. Instituir, no âmbito da Brigada Militar e da Polícia Civil, o Boletim de Ocorrência, conforme anexo, destinado ao registro dos Termos Circunstanciados e das Comunicações de Ocorrências Policiais; 2. Os delitos de menor potencial ofensivo de que trata a Lei nr. 9.099/95, merecerão registro nos Boletins de Ocorrência na forma de Termos Circunstanciados, os quais serão lavrados pelo Servidor Policial, militar ou civil, que primeiro atender a ocorrência e encaminhados ao Poder Judiciário; 3. As comunicações de Infrações Penais, que não se enquadrem nas circunstâncias do flagrante delito, e/ou não comportem o seu registro na forma de TC, serão registradas no Boletim de Ocorrência na forma de Comunicação de Ocorrência Policial, pelo Servidor Policial, militar ou civil, que primeiro dela tiver conhecimento, com o encaminhamento à Delegacia de Polícia da circunscrição. 4. A Polícia Civil e a Brigada Militar implantarão um sistema padrão de informatização operacional, no qual os procedimentos decorrentes da presente Instrução Normativa merecerão registro por parte da instituição que lavrar o Boletim de Ocorrência, com a conseqüente disponibilização de consultas para ambos os órgãos policiais. (...)”.
Dessa forma, coube ao Comando Regional da Serra, através do 12º
Batalhão de Polícia Militar (BPM) e da Delegacia Regional de Polícia, através de suas
Delegacias subordinadas, implementarem o projeto conjunto, com o objetivo de
melhorar a prestação do serviço policial, tornando mais fácil e ágil o acesso da
comunidade à polícia.
143
Em Porto Alegre, capital do estado, o BOTC e BOCOP começa a ser
lavrado em 23 de setembro de 2002, após estar consolidada a lavratura em 38
municípios Gaúchos, sendo que neste mesmo ano o Termo Circunstanciado passou a
ser lavrado pela Brigada Militar em todo o Estado.
3º Quesito: A lavratura do Termo Circunstanciado tem como base legal as
leis federais nº 9.099/95 e 10.259/01. Além da legislação citada foi regulado pela
Secretaria da Justiça e da Segurança através da Portaria nº 172 de 16 de novembro de
2000, os procedimentos a serem adotados pela Polícia Civil e pela Brigada Militar para
a lavratura do Termo Circunstanciado prevista no artigo 69 da Lei 9.099/95.
Os procedimentos realizados pelas duas corporações vem sendo moldados
através de Instruções Normativas Conjuntas. Em 07 de dezembro de 2001, foi regulado
pela Portaria 196 da Secretaria da Justiça e da Segurança, os procedimentos a serem
adotados na implantação do Sistema Único dos Registro de Ocorrências, significando,
então, que tanto a Polícia Civil, quanto a Brigada Militar, podem cadastrar os Termos
Circunstanciados no mesmo sistema informatizado.
4º Quesito: Em relação aos aspectos positivos, verifica-se que a lavratura
do Termo Circunstanciado pela Brigada Militar trouxe vantagens à sociedade, à
própria Polícia Civil e à Brigada Militar.
Dentre outros, a sociedade é beneficiada pelo maior tempo de permanência
do policial no posto de serviço, uma vez que este realiza o Termo Circunstanciado no
local do fato, não perdendo horas em uma Delegacia de Polícia, evita a duplicidade de
comunicação uma vez que se comunicava a Policia Militar a ocorrência de um
determinado delito, tendo o cidadão que deslocar até a delegacia de policia para
registrar a “notitia criminis”.
Analisando a prestatividade dos órgãos integrantes do Sistema de
Segurança Pública em relação ao número de Delegacias e de Órgãos Policiais Militares
instalados em todo Estado, constatamos que existem 220 municípios no Estado sem
Delegacia ou Posto de Polícia instalado efetivamente em sua circunscrição (não é
Jurisdição), possuindo plantões em regime de 24 horas em todo Estado, num total de
40, sendo 20 na Capital e 20 no interior enquanto que a Brigada Militar possui 2.200
144
plantões em regime de 24 horas em todo Estado e desta forma por estar presente em
todos os municípios do Estado a Brigada Militar proporcionou a melhora da prestação
de serviço a comunidade Gaúcha, acelerando o processo de atendimento a ocorrências
policiais.
A confecção do Termo Circunstanciado pelo Policial Militar no local do fato
faz com que este não deixe descoberta sua área de atuação com um deslocamento
que demanda tempo e evita que a vítima, já abalada com o fato delituoso, sofra mais
um desgaste, ao se deslocar até uma Delegacia de Polícia, muitas vezes distante, para
registrar a ocorrência já narrada a uma policia estadual.
Ademais, antes da implantação do Boletim de Ocorrência, o policial militar
estadual atendia o cidadão no local do crime e após ouvi-lo atentamente, consignava
tudo em Ficha de Ocorrência, o que não era útil como instrumento persecutório penal,
uma vez que este era encaminhado a Delegacia para o efetivo registro de ocorrência
policial. Com o advento do Boletim de Ocorrência, tanto o BO-TC quanto o BO-COP, o
Policial Militar evita ao cidadão o encargo, suplementar ao de vítima, de ter de se
deslocar até uma Delegacia e repetir o procedimento burocrático (vitimização
secundária), melhorando a prestação do serviço policial, tornando mais fácil e ágil o
acesso da comunidade à polícia, além de representar uma economia de recursos
humanos e materiais para o estado. Houve também um aumento da prestação de
serviço policial para a comunidade, facilitando o cotidiano do cidadão que muitas vezes
deixava de comunicar um crime por achar que o deslocamento a delegacia seria inútil,
senão oneroso.
Salientamos que em algumas comarcas o Policial Militar durante o
atendimento da ocorrência marca a audiência de conciliação para as partes e desta
forma já saem sabendo o dia e a hora que serão ouvidas pelo Poder Judiciário. Fato
que gera credibilidade da vítima na eficácia do sistema de Segurança Publica (Policial,
Judicial e Penitenciário).
O judiciário tem se manifestado de forma favorável a imediata intervenção da
Brigada Militar, evita-se que fatos mais graves ocorram em desdobramento daquele
fato tido como de pequeno potencial ofensivo.
145
Outra vantagem, avaliada que é motivo de manifestos por parte da
comunidade é a redução da sensação de impunidade, uma vez que a vítima obtém
uma resposta rápida do Poder Judiciário, pois entre a lavratura do BO-TC pelo policial
militar e a audiência preliminar do JECrim tem em media um prazo de 30 dias.
O fato de o Policial Militar ter seu BO-TC encaminhado diretamente ao
JECrim valoriza o trabalho da Policia Militar junto a comunidade, passando a ser visto
como o representante do estado que resolve uma determinada lide e não como um
encaminhador de ocorrências.
É fator motivador para o policial verificar que o resultado do seu trabalho é
eficaz, logo passando a ter um interesse maior pela profissão que exerce.
Em nossa inteligência a Polícia Civil ficou com maior liberdade de tempo
para o exercício de sua função precípua que é a investigação e dedicando-se com
maiores recursos a solução dos crimes de maior potencial ofensivo.
A experiência prática mostrou o acerto do procedimento, atendendo
plenamente a expectativa dos operadores do Direito e, principalmente, do público
atingido com este novo sistema.
O Poder Judiciário, em vários momentos, tem elogiado o trabalho da
Brigada Militar, principalmente no tocante ao histórico (relatório) do Boletim de
Ocorrência – Termo Circunstanciado que os policiais conseguem produzir
concisamente sem prejudicar a clareza e os detalhes do fato.
Dos aspectos negativos, observamos que no início houve resistência do
publico interno, medo do desconhecido, e do publico externo, Polícia Civil. No primeiro
caso, as instruções, os resultados coletados, e a própria experiência do policial quanto
a agilidade do processo e a presteza do serviço, sem contarmos a valorização do
Policial Militar junto a sociedade fez com que esta resistência fosse logo superada.
Quanto a Polícia Civil enfrentamos algumas adversidades principalmente pelo fato da
mesma não aceitar a lavratura do Termo Circunstanciado pela Polícia Militar, entretanto
mesmo com alguns problemas pontuais, existe hoje uma integração do serviço
prestado.
146
Da aprendizagem do efetivo policial, houve necessidade de instruções
específicas sobre o assunto e apesar da dificuldade inicial, principalmente com relação
à tipificação de delitos, conhecimento de ação penal, este fato foi superado e hoje são
poucos os casos de erro cometidos pelos policiais militares
No impedimento de
DINOH RAMOS ARAUJO
Maj QOEM – Resp. p/ Chefe PM3