walby. a mulher e a nação

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A MULHER E A NAÇÃO Sylvia Walby INTRODUÇÃO A literatura sobre as nações e o nacionalismo raramente aborda a questão do sexo, a despeito do interesse geral na participação diferencial dos vários grupos sociais nos projetos nacionalistas. Um ponto-chave na análise da nação tem sido as condições em que um grupo étnico é capaz de reivindicar e, possivelmente, obter o status de nação e, mais tarde, o de Estado nacionaL1. Os movimentos nacionalistas recorrem de maneiras desiguais à sua clientela relevante. Tem havido muitas análises das diferentes composições de classe desses movimentos, de seus níveis de instrução e de muitas outras variáveis socioeconômicas e culturais. Entretanto, esse corpus bibliográfico pouco se tem interessado pela integração diferencial de mulheres e homens no projeto nacional. A maioria dos textos sobre o nacionalismo não leva em conta o sexo como uma questão de peso.2 Raras e, portanto, importantes exceções a essa ausência são Enloe, Jayawardena e Yuval-Davis e Anthias.3 Ressurgiu o interesse no conceito correlato de cidadania, que, historicamente, estabeleceu um vínculo entre "nação" e "Estado". A "cidadania" foi introduzida no contexto de comparações macrossociais, para facilitar as discussões sobre as condições sociais em que se atingiram diferentes formas de democracia.4 Ela tem interesse aqui por seu vínculo com a "nação" e pela possibilidade de que o conceito ofereça algum auxílio para lidarmos com graus de integração no projeto nacional. Apesar desse potencial, a bibliografia existente não versa sobre o sexo nem tampouco, o que talvez seja ainda mais surpreendente, sobre a etnia e a "raça". Há cinco posturas principais quanto à questão da intersecção do sexo com a cidadania, a etnia, a nação e a "raça". Primeiro, existe a tese de que o sexo, embora exista, não afeta a natureza das relações entre cidadania, etnia, nação e "raça".5 Às vezes isso se expressa através de uma sugestão de que existe ou não existe um patriarcado, havendo poucas tentativas de usar ou construir os conceitos necessários a uma afirmação mais sofisticada.6 Segundo, existe o argumento simétrico de que cidadania, etnia, nação e "raça" não afetam significativamente a natureza das relações entre os sexos.7 A desigualdade sexual tem características comuns em todas as sociedades e todos os períodos históricos. e as mulheres compartilhariam uma opressão comum, apesar de suas comprovadas diferenças de etnia, nacionalidade e "raça". Essa postura não deve ser confundida com a idéia de que a etnia é irrelevante para a análise das relações sociais. Em terceiro lugar, existe a tese de que esses sistemas de relações sociais devem ser reunidos, de modo a falarmos, por exemplo, do duplo fardo carregado pelas mulheres negras, em decorrência do racismo e do sexismo. Isso também sugere que o racismo é uma camada extra de opressão que algumas mulheres têm de suportar, e que produz diferenças e desigualdades entre as mulheres. Quarto, existe o argumento de que as diferenças étnicas, nacionais e "raciais" significam que as instituições que são centrais para a opressão das mulheres brancas não o são para as

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Silvia Walby, a mulher e a nação

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A MULHER E A NAÇÃO Sylvia Walby INTRODUÇÃO A literatura sobre as nações e o nacionalismo raramente aborda a questão do sexo, a despeito do interesse geral na participação diferencial dos vários grupos sociais nos projetos nacionalistas. Um ponto-chave na análise da nação tem sido as condições em que um grupo étnico é capaz de reivindicar e, possivelmente, obter o status de nação e, mais tarde, o de Estado nacionaL1. Os movimentos nacionalistas recorrem de maneiras desiguais à sua clientela relevante. Tem havido muitas análises das diferentes composições de classe desses movimentos, de seus níveis de instrução e de muitas outras variáveis socioeconômicas e culturais. Entretanto, esse corpus bibliográfico pouco se tem interessado pela integração diferencial de mulheres e homens no projeto nacional. A maioria dos textos sobre o nacionalismo não leva em conta o sexo como uma questão de peso.2 Raras e, portanto, importantes exceções a essa ausência são Enloe, Jayawardena e Yuval-Davis e Anthias.3 Ressurgiu o interesse no conceito correlato de cidadania, que, historicamente, estabeleceu um vínculo entre "nação" e "Estado". A "cidadania" foi introduzida no contexto de comparações macrossociais, para facilitar as discussões sobre as condições sociais em que se atingiram diferentes formas de democracia.4 Ela tem interesse aqui por seu vínculo com a "nação" e pela possibilidade de que o conceito ofereça algum auxílio para lidarmos com graus de integração no projeto nacional. Apesar desse potencial, a bibliografia existente não versa sobre o sexo nem tampouco, o que talvez seja ainda mais surpreendente, sobre a etnia e a "raça". Há cinco posturas principais quanto à questão da intersecção do sexo com a cidadania, a etnia, a nação e a "raça". Primeiro, existe a tese de que o sexo, embora exista, não afeta a natureza das relações entre cidadania, etnia, nação e "raça".5 Às vezes isso se expressa através de uma sugestão de que existe ou não existe um patriarcado, havendo poucas tentativas de usar ou construir os conceitos necessários a uma afirmação mais sofisticada.6 Segundo, existe o argumento simétrico de que cidadania, etnia, nação e "raça" não afetam significativamente a natureza das relações entre os sexos.7 A desigualdade sexual tem características comuns em todas as sociedades e todos os períodos históricos. e as mulheres compartilhariam uma opressão comum, apesar de suas comprovadas diferenças de etnia, nacionalidade e "raça". Essa postura não deve ser confundida com a idéia de que a etnia é irrelevante para a análise das relações sociais. Em terceiro lugar, existe a tese de que esses sistemas de relações sociais devem ser reunidos, de modo a falarmos, por exemplo, do duplo fardo carregado pelas mulheres negras, em decorrência do racismo e do sexismo. Isso também sugere que o racismo é uma camada extra de opressão que algumas mulheres têm de suportar, e que produz diferenças e desigualdades entre as mulheres. Quarto, existe o argumento de que as diferenças étnicas, nacionais e "raciais" significam que as instituições que são centrais para a opressão das mulheres brancas não o são para as

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mulheres de outras etnias.8 Por exemplo pode-se considerar que a família tem uma importância diferente para as relações entre os sexos em diferentes grupos étnicos. Isso quer dizer que não há uma forma comum de diferenciação e desigualdade sexuais nos diferentes grupos étnicos. Em quinto lugar, existe a tese de que as relações entre os sexos e as relações étnicas, nacionais e "raciais" afetam- se mutuamente, levando a análises dinâmicas das formas cambiantes do sexo e das relações étnicas, nacionais e raciais.9 Isso acarreta uma análise das interligações causais entre o sexo e a diferenciação e desigualdade étnicas/nacionais/"raciais". Superpondo-se a essas cinco posturas há uma outra variável, sobre a importância diferenciada da classe e das relações capitalistas em cada uma dessas análises. Isso varia independentemente das cinco perspectivas. SEXO, NAÇÃO E NACIONALISMO Embora muitos textos sobre a nação tenham ignorado o sexo, diversas contribuições importantíssimas abordaram essa questão, como Yuval- Davis e Anthias. Jayawardena e Enloe.10 Na introdução de seu livro,ll Yuval-Davis e Anthias sugerem que há cinco grandes maneiras de as mulheres se envolverem nos processos étnicos e nacionais: (a) como reprodutoras biológicas dos membros de coletividades étnicas; (b) como reprodutoras das fronteiras dos grupos étnicos ou nacionais; (c) como tendo uma participação central na reprodução ideológica da coletividade e como transmissoras de sua cultura; (d) como significantes de diferenças étnicas/nacionais, um foco e um símbolo dos discursos ideológicos usados na construção, reprodução e transformação das categorias étnicas/nacionais; (e) como participantes das lutas nacionais, econômicas, políticas e militares. 12 Os artigos dessa coletânea são uma excelente ilustração desses temas. Fornecem provas de que as mulheres e as relações entre os sexos são efetivamente usadas das maneiras como sugerem os organizadores. Eles mostram que o sexo é importante para as práticas étnicas/nacionais e que estas são importantes para as relações entre os sexos. O livro mostra a importância de fatores demográficos, como a taxa de natalidade, para alguns projetos étnicos/nacionais, do que decorre a pressão exercida sobre as mulheres, em momentos historicamente específicos, para que tenham ou não tenham filhos para o bem da nação ou da "raça". Klug ilustra de maneira convincente essas duas pressões em seu estudo sobre a Grã-Bretanha,13 como faz Lepervanche em seu estudo sobre a Austrália, onde as brancas foram incentivadas a gerar mais filhos e as negras, a não gerá-Ios;14 e Yuval-Davis mostra questões similares nos projetos dos nacionalistas israelenses e palestinos. A flexibilidade do discurso sobre a maternidade, em vez de sua fixidez biológica, é o tema da comparação de Gaitskell e Unterhalter sobre as mudanças ocorridas na idéia de maternidade no nacionalismo sul-africano e no Congresso Nacional Africano ao longo do século XX.15 Anthias sugere que as mulheres foram usadas como símbolos de identidade nacional no caso do nacionalismo greco-cipriota. Esse tema é levado adiante por Kandyoti, escrevendo sobre o caso da

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Turquia, embora essa autora também levante o problema de saber se as mulheres sempre serão símbolos passivos, em vez de se engajarem ativamente na "questão da mulher".16 Nesse ponto, ela indaga em que medida uma certa idéia do sexo é usada pelo nacionalismo e até onde a questão da mulher tem uma dinâmica que molda a própria história. No artigo de Obbo sobre Uganda, as mulheres parecem ter interesse como mulheres atacadas, e não apenas como peões em um projeto nacionalista. 17 Isso, por sua vez, sugere que não basta pensar no nacionalismo como algo que afeta o sexo numa relação unidirecional. Por fim, no artigo de Afshar, as mulheres deixam o mundo dos símbolos e aparecem lutando por seus interesses sexualizados, no contexto do ressurgimento do islamismo no Irã.18 Portanto, os cinco papéis principais que Yuval-Davis e Anthias atribuem às mulheres nos processos étnicos/nacionais encontram apoio empírico nos artigos do livro. Contudo, há que saber se esses cinco papéis abarcam todas as principais maneiras pelas quais o sexo e as relações étnicas/nacionais se entrecruzam. Embora eles sejam importantes, é preciso fazer alguns acréscimos. Primeiro, esse esquema privilegia o nível ideológico ou cultural em três das cinco práticas; das outras duas, uma é biológica e a outra é a "luta nacional econômica, política e militar". Curiosamente, a divisão do trabalho encontra -se ausente da lista, a menos que seja considerada incluída na biologia ou na cultura. Será que a especificidade da divisão sexual do trabalho nos diferentes grupos étnicos/nacionais só é considerada importante para as divisões étnicas nacionais no nível simbólico? Ou será que a categoria de "reprodutoras biológicas" destina-se a fazer uma análise da mão- de-obra feminina? Isso é difícil, já que dar à luz é apenas uma parte da função feminina, mesmo que seja uma parte significativa. Há um segundo ponto correlato que é subenfatizado nesse resumo: o conflito - e a manutenção das fronteiras - entre os grupos étnicos/nacionais é também um conflito entre diferentes formas de hierarquias sociais, não apenas entre culturas diferentes. Mesmo o grupo étnico/nacional mais coeso quase sempre convive com um sistema de desigualdade social, no qual o(s) grupos,dominante(s) tipicamente exerce(m) um controle hegemônico sobre a "cultura" e o projeto político da "coletividade". É uma ortodoxia sociológica constatar que, tipicamente, as sociedades têm um sistema de desigualdade social e o grupo dominante tenta exercer um controle hegemônico sobre as idéias vigentes nelas. Assim, pode-se esperar que os conflitos étnicos/nacionais beneficiem diferencialmente os interesses dos membros desse grupo. Os diferentes sexos (e classes), por conseguinte, podem ter um entusiasmo diferenciado em relação a "o" projeto étnico/nacional declarado, dependendo do grau em que concordem com as prioridades dos "líderes" políticos desse projeto. Pode ser que haja unanimidade quanto a "o" projeto étnico/nacional entre os membros de ambos os sexos e de todas as classes sociais, mas isso é improvável e, no mínimo, é uma questão a ser investigada. O próprio livro contém indicações do compromisso variável das mulheres e, a rigor, de diferentes grupos de mulheres, distinguidos por classe, educação, residência urbana/rural etc., com o projeto étnico/nacional de "seus" líderes comunitários. Alguns dos artigos mais fortes discorrem sobre essa tensão entre os grupos sexuais

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(altamente diferenciados) e o projeto étnico/nacional, como no caso de Ashfar escrevendo sobre o Irã. Por vezes, o discurso sexual se modifica à medida que os movimentos nacionalistas mudam de terreno (como no caso da análise de Gaitskell e Unterhalter sobre as mudanças no nacionalismo sul-africano e no Congresso Nacional Africano). Enquanto Yuval-Davis e Anthias enfatizam a participação das mulheres no projeto étnico/nacional, embora de maneiras diferentes, sugeri enfatizar a questão do envolvimento feminino diferenciado. O projeto nacional pode afetar diversamente mulheres e homens (bem como subgrupos deles) e, desse modo, gerar diferentes graus de entusiasmo. Jayawardena discute a importância das demandas feministas na moldagem das demandas nacionalistas.19 Ela afirma que as feministas tiveram um papel ativo na pressão pela emancipação das mulheres nos movimentos nacionalistas do Terceiro Mundo no fim do século XIX e início do século xx. A autora mostra que houve importantes componentes feministas nos movimentos nacionalistas dos países do Terceiro Mundo nesse período. Discute também dados das interligações entre o feminismo e o nacionalismo no Egito, Irã, Afeganistão, Índia, Sri Lanka, Indonésia, Filipinas, China, Vietnam, Coréia e Japão. Todos esses países tinham estado submetidos ao imperialismo, e o feminismo que ela constata está ligado aos movimentos nacionalistas e antiimperialistas. Jayawardena discute as sugestões de autores do Terceiro Mundo de que o feminismo é apenas ocidental, decadente e estrangeiro, adequado à burguesia, e de que constitui um desvio da luta pela libertação nacional e pelo socialismo. Ela examina também a visão ocidental de que o feminismo é um produto da Europa e da América do Norte, sendo encontrado em outros lugares apenas como imitação. Contrariando essas duas colocações, Jayawardena argumenta que o feminismo tem raízes endógenas nos países do Terceiro Mundo e não é imposto pelo Ocidente. Entretanto, ela não pretende negar que o impacto do Ocidente foi importante para criar mudanças sociais que levaram indiretamente ao feminismo: O feminismo não foi imposto ao Terceiro Mundo pelo Ocidente, mas, antes, (...) circunstâncias históricas produziram importantes mudanças materiais e ideológicas que afetam as mulheres, embora admitamos que o impacto do imperialismo e do pensamento ocidental esteve entre os elementos significativos dessas circunstâncias históricas. Realizaram-se debates sobre os direitos e a educação das mulheres na China do século XVIII, e houve movimentos em prol da emancipação social da mulher na Índia no início do século XIX; estudos sobre outros países mostram que as lutas feministas originaram-se entre sessenta e oitenta anos atrás em muitos países da Ásia.20 Jayawardena pretende argumentar que o feminismo não deve ser reduzido à ocidentalização, embora isso não signifique que a ocidentalização não tenha sido relevante. Ela declara ainda que os movimentos de emancipação das mulheres foram conduzidos no contexto de lutas nacionalistas. Eles foram

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postos em prática tendo por pano de fundo lutas nacionalistas que almejavam conquistar a independência política, afirmar uma identidade nacional e modernizar a sociedade.21 (...)as lutas pela emancipação das mulheres foram uma parte essencial e integrante dos movimentos de resistência nacionais.22 A organização das mulheres em torno de suas próprias demandas esteve intimamente relacionada com os movimentos nacionalistas. Elas raramente se organizaram em caráter autônomo, tendo sido, mais comumente, facções ou correntes subsidiárias de grupos nacionalistas dominados por homens.23 De modo similar, Jayawardena afirma que a expansão do capitalismo foi um fator importante para criar as circunstâncias materiais que levaram ao movimento das mulheres na esfera pública e ao feminismo, mas que essa expansão não foi a causa do feminismo. Antes, ela criou as condições em que as demandas feministas se tornaram possíveis. As reformas básicas que implicaram a libertação das mulheres de vários tipos de restrições sociais pré-capitalistas, dando-lhes a liberdade de ir e vir, retirando-as do isolamento e facilitando seu trabalho fora de casa, foram compatíveis com as estratégias das formas capitalistas de produção econômica e com a ideologia capitalista. Em muitos países, os períodos de reforma coincidiram com tentativas de desenvolver o capitalismo e de aproveitar a oferta de mão-de-obra feminina barata na produção fabril e no setor de serviços da economia.24 Jayawardena deixa claro que houve variações significativas de classe na maneira como essas mudanças econômicas e sociais afetaram as mulheres. As mulheres da burguesia e da pequena burguesia beneficiaram-se mais do desenvolvimento do ensino e do acesso que lhes foi dado às profissões liberais. Portanto, Jayawardena afirma não só que os movimentos feministas e nacionalistas estiveram intimamente interligados, mas que não podem ser entendidos fora de uma compreensão do imperialismo e do capitalismo local e internacional. É interessante notar, embora Jayawardena não frise esse aspecto, que muitos países do Terceiro Mundo, por ocasião da independência nacional, concederam o direito de voto às mulheres ao mesmo tempo que aos homens. Portanto, as histórias das práticas democráticas do Terceiro Mundo são muito diferentes das do Primeiro Mundo, onde, tipicamente, o sufrágio masculino e o feminino foram separados por várias décadas. A cidadania, o nacionalismo e o sexo estão estreitamente ligados. Enquanto Jayawardena e Yuval-Davis e Anthias concentram-se na relação das mulheres com a nação, Enloe aborda a importância do sexo para as relações entre as nações. Ela examina a ordem internacional e as entidades transnacionais e demonstra que elas não podem ser plenamente entendidas fora de uma análise das relações entre os sexos. Enloe desenvolve sua tese examinando a natureza sexualizada das instituições que compõem a ordem internacional. Ela examina o sexo e o comércio turístico internacional,

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argumentando que as formas de desenvolvimento do turismo não podem ser entendidas sem as várias interpretações do sexo e da sexualidade, que afetam práticas que vão desde pacotes de viagem para "a mulher respeitável" até o turismo sexual masculino.25 Enloe investiga a maneira como as relações hierárquicas entre as nações e a construção de formas culturais sexualizadas afetam-se mutuamente. Por exemplo, a imagem das mulheres dos países colonizados foi comumente construída e fornecida de um modo que ao mesmo tempo as erotizava e tornava exóticas, enquanto justificava a dominação imperialista em nome da "civilização". As mulheres "orientais" "precisavam" da "proteção" européia masculina. o «orientalismo" europeu alimentou um fascínio apreciativo por essas culturas, enquanto justificava a dominação européia em nome da «civilização". A imagem da muçulmana, tentadoramente envolta em véus, foi uma pedra angular dessa ideologia orientalista e da estrutura imperial que ela sustentava.26 Enloe argumenta que "o apoio a um tipo particular de relações entre os sexos foi usado como justificativa para a dominação colonial. A noção de «civilização" estava saturada de idéias sobre as relações corretas entre os sexos e as formas de relações sexuais. o comportamento feminino senhoril foi um esteio da civilização imperialista. Tal como o saneamento e o cristianismo, a respeitabilidade feminina almejava convencer os colonizadores e os povos colonizados de que a conquista estrangeira era correta e necessária.27 Além da feminilidade, também a masculinidade era uma questão imperial. Enloe sugere que os líderes britânicos preocupavam-se em assegurar formas apropriadas de masculinidade para sustentar o império. Em particular, ela sugere que as guerras da Criméia e dos bôeres geraram iniciativas destinadas a «melhorar" as formas de masculinidade. A fundação do escotismo por Robert Baden-Powell, em 1908, serviu para sustar a disseminação das doenças venéreas, conter o casamento inter-racial e deter as taxas de natalidade decrescentes, que se alegava estarem levando ao decIínio do império britânico. 28 "Baden-Powell e outros imperialistas britânicos consideravam o esporte, com¬binado com o respeito pela mulher respeitável, o esteio do sucesso imperial britânico. "29 Enloe mostra que, muitas vezes, os movimentos nacionalistas brotaram mais das experiências dos homens que das experiências femininas: «Tipicamente, o nacionalismo nasceu da memória masculinizada, da humilhação masculinizada e da esperança masculinizada."30 Ela sugere que os nacionalismos seriam diferentes se as experiências das mulheres fossem colocadas em primeiro plano na construção dessas culturas e projetos. Sugere ainda que, se isso acontecesse, a natureza das relações entre os Estados e a própria ordem internacional poderiam ser diferentes: «Se mais Estados nacionais brotassem de idéias e experiências nacionalistas feministas, as identidades comunitárias no sistema político internacional poderiam ser temperadas por identidades

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transnacionais. "31 Enloe discute a divisão internacional do trabalho, na qual a mão-de- obra feminina do Terceiro Mundo é considerada barata. Ela examina as várias práticas patriarcais que tornam "barata" essa mão-de-obra, tais como a manutenção de relações «familiares" e a supressão de sindicatos femininos. A importância internacional disso é demonstrada por um exame dos usos que as empresas multinacionais fazem dessa mão-de-obra. As fronteiras nacionais vão-se tornando menos importantes para o capital multinacional e, por conseguinte, para as mulheres como trabalhadoras. A argumentação de Enloe sobre a significação do sexo para as questões da nação e do sistema internacional é freqüentemente conduzida através de uma análise da sexualidade. É o que acontece quando ela discute a indústria internacional do turismo, o cinema hollywoodiano, o papel das mulheres nas bases militares, trabalhando como prostitutas, e as mulheres que são esposas de diplomatas. Porém, nem sempre é esse o caso, como mostra sua discussão sobre as operárias das fábricas mundiais da Ásia e sobre as empregadas domésticas. Sua conclusão é de que o dado pessoal não é apenas político, mas também internacional. O pessoal e o sexual estão em toda parte, inclusive na ordem internacional. A afirmação de Enloe, de que o sexo é pertinente às nações e à ordem internacional, é convincente no nível teórico e no empírico. Ela consegue mostrar como os tijolos que constroem a ordem internacional são sexualizados e como isso afeta as relações internacionais. Implícitas em sua análise estão teorias sobre a ordem internacional e sobre o sexo. Em sua exposição, Enloe parece privilegiar os planos sexual e cultural, dando um nível de importância mais baixo à divisão sexual do trabalho. Na medida em que ela inclui todo o trabalho remunerado, o trabalho doméstico, a sexualidade, a cultura, a violência e o Estado em sua análise das mulheres e da ordem internacional, estou de acordo com sua posição. Hesito, porém, diante do aparente privilégio aos planos sexual e cultural, em vez do econômico. Uma exposição mais completa também teria discutido a estruturação sexualizada das próprias instituições internacionais. Estas ficaram curiosamente ausentes, afora uma ou outra referência ocasional ao FMI. ATÉ QUE PONTO AS MULHERES COMPARTILHAM OS MESMOS PROJETOS NACIONAIS QUE OS HOMENS? Na segunda metade deste ensaio, discutirei em que medida as mulheres compartilham a mesma identidade grupal dos homens e, em especial, o mesmo projeto nacional. Por projeto nacional refiro-me a um conjunto de estratégias coletivas, voltadas para as necessidades percebidas de uma nação, que incluem o nacionalismo, mas podem incluir outras. Argumentarei que, muitas vezes, há diferenças entre homens e mulheres quanto a essas questões, e pretendo sugerir algumas razões para isso. Em primeiro lugar, farei algumas sugestões de desenvolvimento conceitual, para facilitar a comparação das relações entre os sexos em diferentes nações e grupos étnicos. Os debates nessa área têm sido retardados pela falta de macroconceitos simples, que apreendam

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as distinções significativas entre os padrões de relações entre os sexos no plano societário. Em segundo lugar, discutirei as razões por que homens e mulheres têm identificações diferentes com os projetos nacionais e podem ter compromissos diferentes com diferentes tipos de grupos no nível macrossocial. Isso será abordado em três etapas. Primeiro, através de uma discussão da medida e das condições em que os projetos nacionais são, simultaneamente, projetos sexuais. Segundo, através de uma discussão sobre as interligações e distinções entre nacionalismo, militarismo e sexo. Terceiro, através de uma discussão para determinar se as relações entre os sexos partilham da mesma ordenação espacial das relações étnicas e de classe, e se as mulheres e homens têm compromissos com fenômenos sociais de diferentes escalas espaciais. Discutirei este último aspecto com a ajuda de dois exemplos: sexo, nação e Comunidade Econômica Européia; feminismo, nacionalismo e ocidentalização. CONCEITOS PARA ANALISAR DIFERENTES FORMAS DE RELAÇÕES ENTRE OS SEXOS Precisamos poder conceituar e teorizar diferentes formas de relações entre os sexos. No momento, a maioria dos autores defende uma de três posições: primeiro, que há apenas uma forma principal de relações entre os sexos, e que as diferenças são banais;32 segundo, que é tão grande a gama de práticas diferentes que cada exemplo é único, de modo que não podemos teorizar o sexo (posição pós- moderna); terceiro, que existe (ou não existe) um patriarcado.33 A primeira é empiricamente incorreta; a segunda é derrotista e abandona por completo o projeto da ciência social; a terceira é pouco sofisticada e incorreta. Adoto uma posição intermediária, a de que a elaboração de conceitos de alcance médio é parte importante da iniciativa sociológica. Afirmo que existem diferenças nas formas de relação entre os sexos, e que essas diferenças podem ser agrupadas em dois tipos principais. Um dos grandes problemas de muitas teorias do patriarcado é que elas sugerem haver uma única base para as relações patriarcais, e que esta determina outros aspectos do sexo. A base em si varia entre os diferentes teóricos, mas o modelo base-superestrutura é comum. Isso torna estática a análise das relações entre os sexos e dificulta analisar as mudanças, a não ser saindo do quadro de referência.34 A solução desse problema consiste em teorizar as relações entre os sexos como compostas de estruturas analiticamente separáveis. Existem seis delas: produção doméstica, emprego, Estado, violência, sexualidade e cultura. Essas estruturas podem articular-se de maneiras variadas, criando diferentes formas de patriarcado. Podem- se distinguir duas formas principais dele: o privado e o público. O patriarcado privado caracteriza-se pela dominação das relações patriarcais dentro de casa. O patriarcado público é dominado pelo emprego e o Estado. No patriarcado privado, o modo de expropriação da mulher é individual, por seu marido ou seu pai. No patriarcado público, ele é coletivo, através de muitos homens agindo em comum. No patriarcado privado, a estratégia predominante pode ser caracterizada como excludente, já que as mulheres são excluídas das atividades no domínio público e, com isso, restringidas ao

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doméstico. No patriarcado público, a estratégia dominante é segregacionista, permitindo que as mulheres entrem em todas as esferas, mas segregando-as e subordinando-as ali. 35 A forma do patriarcado é distinta do grau de desigualdade sexual. Esse é um ponto importante, pois nos permite tecer comparações sobre a forma das relações entre os sexos, sem presumir automaticamente que a diferença se relacione com a desigualdade. Essa é outra questão importante. O ingresso na esfera pública pode acarretar maior liberdade para as mulheres, como a liberdade de ganhar uma remuneração independente e desfazer um casamento infeliz; entretanto, alternativamente, ele pode significar apenas um trabalho a mais, além do trabalho doméstico, e a possibilidade de abandono segundo os caprichos do marido. A Grã-Bretanha oitocentista baseou-se largamente no modelo privado, enquanto a da década de 1990 deslocou-se para a forma pública. Mas existem divisões entre os grupos étnicos na Grã-Bretanha. Os afro- caribenhos têm a forma mais pública, os asiáticos, a mais privada, e os brancos ficam num meio¬termo. Pode-se considerar que o Irã passou temporariamente de uma forma privada para uma forma pública, no governo do xá, e está de volta à forma privada, regida pelo fundamentalismo islâmico. Existem subtipos dessas formas de patriarcado, dependendo da relação das outras estruturas com a estrutura dominante. O patriarcado público pode ser dividido numa forma orientada pelo mercado e numa forma orientada pelo Estado. Os Estados Unidos são uma forma de patriarcado público orientado pelo mercado, enquanto a ex-União Soviética era uma forma de patriarcado orientado pelo Estado, ficando a Europa Ocidental entre os dois. Com esses conceitos, podemos empreender uma análise comparativa. As análises que se seguem baseiam-se neles. NACIONALISMO E AS MULHERES Estão as mulheres tão comprometidas com os projetos nacionalistas/étnicos/ "raciais" quanto os homens? São seus projetos idênticos aos deles? Será que os projetos nacionalistas/étnicos/"raciais" e outros projetos sociais das mulheres têm fronteiras iguais, mais globais ou mais localizadas que os dos homens? Yuval-Davis e Anthias interessam-se pelo modo como as mulheres participam do projeto nacional, e sobretudo pelo modo como se empenham de manéira diferente, mas com intensidade igual, nesse projeto: ora voluntariamente, ora ansiosamente envolvidas na luta (papel n° 5, ver a discussão de Yuval-Davis e Anthias, supra), ora coagidas, como às vezes acontece quando elas são consideradas as geradoras da "raça" (papel n° 1), quase sempre de maneira cotidiana, como reprodutoras da cultura através da socialização dos filhos (números 2-3), ora, enfim, como símbolos passivos (número 4). Yuval- Davis e Anthias parecem afirmar que as mulheres comprometem-se tanto com o projeto nacional/étnico quanto os homens, mas às vezes o fazem de maneiras diferentes. Questionei isso. Talvez isso aconteça às vezes, mas outras vezes não

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é assim. Algumas vezes, as mulheres podem apoiar um projeto nacional diferente do projeto dos homens. Há uma luta para definir o que constitui o projeto nacional e, quase sempre, as mulheres são menos ouvidas do que os homens a esse respeito. Assim, as relações entre os sexos são importantes para determinar o que é o projeto nacional. Quando este inclui interesses femininos, as mulheres tendem mais a apoiá-lo. O trabalho de Jayawardena sobre o feminismo e o nacionalismo no Terceiro Mundo, no início do século xx, mostra quão integrados podem ser esses projetos, ainda que apenas como resultado das lutas femininas. Haverá um impacto recíproco entre o sexo e a etnia/naçãol"raça"? Embora Yuval-Davis e Anthias tenham mostrado com clareza o impacto da nação sobre o sexo, creio haver uma influência mútua (ver a discussão do militarismo e do nacionalismo, mais adiante). Além disso, o compromisso diferenciado das mulheres com o projeto étnico/nacional afeta o projeto em si, bem como suas relações com outros grupos étnicos/nacionais. A questão "projeto nacional de quem" já foi discutida a propósito do trabalho de Enloe. No exemplo que se segue, defendo que se reformule a maneira de teorizar a "formação da nação", a fim de levar em conta esse aspecto. PERÍODO CRÍTICO DE FORMAÇÃO DO ESTADO OU RODADAS DE REESTRUTURAÇÃO? Um dos pressupostos por trás dos trabalhos de Mann36 e de Turner37 é a existência de um período crítico de formação da nação (ou formação do Estado nacional). Esse é um ponto central da discussão de Mann sobre as variações societárias no desenvolvimento do que ele considera serem as principais instituições políticas que constituem a democracia. É também um pressuposto fundamental na discussão de Turner sobre os momentos de formação das diferentes formas de cidadania. O que argumento é que, muitas vezes, não há um período-chave de formação da nação. Em muitos países, a cidadania não chegou num só momento para todas as pessoas; diferentes grupos conquistaram aspectos diferentes dela em diferentes períodos. Os países variam quanto a haverem os brancos, as brancas e os homens e mulheres de grupos étnicos minoritários obtido ou não a cidadania ao mesmo tempo. Mann e Turner fazem uma falsa universalização a partir das experiências de cidadania dos homens brancos. Como mostrou Smith, há um período muito longo de formação dos grupos étnicos que entram na composição de uma nação.38 Turner parece sugerir que, nos Estados Unidos, quando os homens brancos conquistaram o direito de voto, na década de 1840, a cidadania e a democracia foram conquistadas. Todavia, os homens negros só obtiveram tecnicamente esse direito na década de 1880 e, na prática, dadas as leis segregacionistas, só o fizeram depois do movimento pelos direitos civis da década de 1960. As mulheres brancas só obtiveram o sufrágio em 1920, e as negras, embora o obtivessem tecnicamente no mesmo ano, tiveram de esperar que outras rodadas da luta lhes trouxessem esse direito na prática, na década de 1960, junto com os homens negros. A história dos índios norte-

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americanos, por sua vez, é uma história de perda de cidadania depois da conquista. Assim, há cinco datas significativas: o período da conquista, as décadas de 1840 e 1880, o ano de 1920 e o fim da década de 1960, cada qual associada a um período de luta social. Será que temos diversos estágios na construção nacional? Continua a ser verdade, é claro, que a estrutura institucional formal que compõe o aparelho da democracia nos Estados Unidos foi instaurada na segunda leva da luta, mas instituições vazias não constituem uma democracia. Na maioria dos países desenvolvidos, há um período de várias décadas entre a concessão da cidadania política a homens e a mulheres. Isso difere da situação de muitos países do Terceiro Mundo em que as mulheres conquistaram a liberdade ao mesmo tempo que os homens, por ocasião da independência nacional. A conquista da cidadania civil, embora concluída para a maioria dos homens do Primeiro Mundo antes da obtenção da cidadania política, mal se concluiu para as mulheres desses países, já que só recentemente as mulheres obtiveram o controle de seu próprio corpo, a possibilidade de desfazer o casamento e o direito de procurar todas as formas de emprego. Ou seja, para as mulheres do Primeiro Mundo, a cidadania política foi conseguida antes da cidadania civil, o que é o inverso da ordem concernente aos homens. Isso está em contradição direta com a tese de Marshall. Em vez dessa noção de um período crítico de "formação da nação", é mais apropriado falar de "rodadas de reestruturação" do Estado nacional. Tomo esse termo emprestado do livro de Massey sobre a reestruturação econômica.39 Ele é útil para transmitir a idéia' da mudança construída sobre fundações que permanecem e a idéia de que pode haver uma camada após outra de mudanças, cada qual deixando seu sedimento, que afeta expressivamente as práticas futuras. É importante saber se a "cidadanização" da sociedade implica todos os adultos ao mesmo tempo, ou apenas uma parcela deles de cada vez. Nos Estados Unidos, o hiato cobre bem mais de cem anos, de 1840 até o fim da década de 1960. Na Grã-Bretanha, o intervalo foi mais curto: poucas décadas separaram o sufrágio dos homens adultos do de todas as mulheres, em 1928. Em muitas sociedades africanas e asiáticas, esses direitos foram simultaneamente concedidos na época da Independência, nas décadas de 1950 e 1960. Talvez seja salutar lembrar que, no início da década de 1960, alguns Estados africanos e asiáticos tinham o sufrágio universal pleno, enquanto o dos Estados Unidos era apenas parcial. Aliás, a concessão da plena cidadania a todos foi um dos modos pelos quais as colônias puderam reivindicar a nacionalidade. A reestruturação dos Estados em termos dos graus de democracia tem alguns padrões globais interessantes. A maioria dos Estados europeus e norte¬americanos concedeu gradativamente a cidadania a diferentes camadas da população entre o século XVIII e meados do século xx. A maioria dos Estados pós-coloniais concedeu plena cidadania de uma só vez, em meados do século xx. Alguns países perderam a democracia. Isso costuma acontecer de uma vez só, como quando ocorre um golpe militar em que todas as pessoas perdem simultaneamente o direito de voto. Entretanto, desde 1979, houve uma grave exceção a essa situação, com a perda dos direitos civis e políticos apenas das

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mulheres, com a ascensão do fundamentalismo islâmico onde os aiatolás tomaram o poder, como no Irã. MULHER, O MILITARISMO E O NACIONALISMO As relações entre o sexo e o nacionalismo podem ser mediadas pelas relações diferenciadas de mulheres e homens com o militarismo. A mais famosa vinculação desses temas é de Virginia Woolf, em Three Guineas, onde uma pacifista diz: "Como mulher, não tenho pátria. Como mulher, não quero uma pátria. Como mulher, minha pátria é o mundo inteiro."40 Freqüentemente, embora de modo algum em caráter universal, considera-se que as mulheres são mais pacíficas e menos militaristas que os' homens.41 Alguns autores afirmaram que o maior pacifismo das mulheres resulta de um aspecto específico da ideologia sexual.42 Se essa é ou não a explicação, persiste o fato empírico de que há uma diferença no grau em que homens e mullheres pegam em armas em favor de projetos nacionalistas, defendem movimentos pela paz e apóiam políticos que favorecem a escalada militar43 A questão aqui é se há uma ligação entre esse militarismo mais reduzido e o apoio ao nacionalismo. Será que a maior não violência da mulher surte um efeito em sua visão do projeto "nacional", na medida em que ela está menos disposta do que o homem a buscar as metas nacionalistas pela força? E será que isso a faz parecer menos nacionalista, por ela estar menos disposta a usar determinado meio de atingir esse fim, e significa que ela é menos nacionalista? Em outras palavras, o menor militarismo das mulheres causa menor nacionalismo? Ou isso quer dizer que as mulheres defendem um nacionalismo diferente? Ou que tendem a defender projetos transnacionais? Um grande exemplo que sugere uma ligação entre a não-violência da mulher e o maior internacionalismo é o do campo de mulheres pacifistas de Greenham Common, na década de 1980, que fez parte de uma coligação internacional de campos pacifistas de mulheres que se opunham às armas nucleares, à guerra e aos sistemas que fomentavam o militarismo. Nisso se vê que as iniciativas de paz das mulheres afetam a natureza do projeto nacional. Outro exemplo contemporâneo de um grupo que liga o antimilitarismo ao internacionalismo é o movimento dos Verdes. Esse é um grupo político que encontra expressão na arena parlamentar e em outras arenas políticas, comprometido com medidas ecologicamente sadias, e que inclui um projeto feminista como parte integrante de sua política. Ele tem uma orientação seriamente internacionalista, encontrando expressão tanto no Terceiro Mundo44 quanto no Primeiro - nas eleições para a Comunidade Econômica Européia, o Partido Verde comportou-se como partido europeu, mais vigorosamente do que qualquer outro grupo político. Nele, a política ecológica, o feminismo e o internacionalismo convergem para um projeto político unitário. Outras provas do vínculo entre as mulheres e o pacifismo encontram- se nas pesquisas de opinião, que mostram sistematicamente, pelo menos na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, que as mulheres são menos propensas a apoiar as atitudes militaristas.45 Outra possibilidade é que o elo entre o nacionalismo e o militarismo

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funcione no sentido inverso. Nesse caso, poder-se-ia supor que o maior compromisso das mulheres com a paz e sua oposição ao militarismo estão ligados a um menor compromisso com "sua" nação. Será que as mulheres consideram com menos freqüência que a guerra por razões nacionalistas vale a. pena, pelo fato de terem menos interesses reais no desfecho "vitorioso", já que ele faria menos diferença para seu lugar na sociedade do que para o dos homens? Enquanto alguns homens podem passar de governantes a subalternos, é provável que isso não se aplique a quase nenhuma mulher. Inversamente, será a diferença entre o militarismo das mulheres e o dos homens menos acentuada nas sociedades em que elas têm mais coisas em jogo, em função de uma menor desigualdade sexual? Há várias maneiras pelas quais o sexo e o nacionalismo são mediados pelo menor apoio feminino ao militarismo. Vemos aqui o maior compromisso das mulheres com a paz e a cooperação internacionais do que com o nacionalismo militarista. O lema verde "pense globalmente, aja localmente" é muito próximo da prática feminista e feminina típica. As atividades políticas das mulheres, portanto, podem estar numa escala espacial diferente das dos homens. Sugiro que aquelas atividades são tipicamente mais locais e menos nacionalistas que as dos homens. A fim de discutir melhor a questão, examinarei a importância diferenciada de algumas entidades políticas para mulheres e homens. É menos freqüente encontrar mulheres do que homens na política eleitoral formal. As mulheres tendem mais a ser encontradas nas assembléias eleitas de governos locais do que do governo nacional. Na Grã-Bretanha, elas somaram 6,6% dos membros da Câmara dos Comuns depois da eleição de 1987, ao passo que corresponderam a 19% dos vereadores municipais depois das eleições de 1985. Aliás, é comum a crença em que as mulheres não se filiam a organizações nacionais. Entretanto, tais organizações femininas existem. São organizações nacionais de massa, como os Institutos da Mulher, as Guildas de Cidadãs e as Uniões de Mães. Assim, a tese das diferentes escalas espaciais das organizações políticas de homens e mulheres não deve ser exagerada. Não obstante, costuma-se considerar que as mulheres são mais atuantes numa escala territorial menor que a dos homens. Venho usando uma diversidade de conceitos e categorias para distinguir diferentes padrões e grupos sociais - as idéias de grupo étnico, "raça" e nação. Há também outros, como religião, dominação e língua comum. Assim, logicamente, a pergunta referente ao sexo é: os conceitos que denotam diferenças entre os homens são idênticos aos conceitos que denotam proveitosamente diferenças entre as mulheres? Homens e mulheres dividem-se de maneiras iguais ou diferentes? São as mulheres tão ligadas a "seus" grupos étnicos ou outros e tão defensoras deles quanto os homens? Há várias respostas possíveis. Primeiro, afirma-se que homens e mulheres têm interesses idênticos e, sendo assim, haveria pouca possibilidade de separação. Trata-se, no entanto, de uma idéia largamente desacreditada. Homens e mulheres de fato ocupam posições sociais diferentes e, portanto, têm interesses diferentes. Mas, será que essas diferenças respondem por diferenças no plano da etnia/nação/"raça"? Segundo, se as mulheres sofrem uma dominação

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étnica ou se beneficiam da dominância étnica na .mesma medida que os homens, é possível que elas tenham interesses étnicos/nacionais/"raciais" similares. Terceiro, as diferentes etnias/nações/"raças" têm padrões diferentes de relações entre os sexos, alguns dos quais podem ser considerados preferíveis a outros. Isso tende a dar origem a diferentes opiniões dos dois sexos quanto aos méritos de determinado projeto étnico/nacional/"racial". Isso continua a depender das mesmas fronteiras de etnia/nação/"raça" experimentadas pelos homens, mas pode acarretar uma avaliação diferencial dos projetos étnicos/nacionais/"raciais" por parte de homens e mulheres (ou, mais provavelmente, de alguns homens e algumas mulheres). Quarto, dado que a etnia, nação, "raça", religião, língua e outros significantes de fronteiras entre os grupos sociais freqüentemente se superpõem, mas não costumam ser coincidentes, existe a possibilidade de que algumas dessas fronteiras tenham maior significado para as mulheres, e algumas, maior para os homens. Um exemplo disso é que um significante religioso pode ser mais importante para as mulheres do que um significante "nacional", mas não para os homens; se esses dois sistemas entrarem em conflito, homens e mulheres poderão divergir. As questões do militarismo e do nacionalismo podem ser afetadas por esse aspecto. Quinto, os diferentes discursos sexualizados podem representar um compromisso maior ou menor com pequenos ou grandes grupos. (Gilligan sugeriu que as mulheres têm critérios diferentes de avaliação moral.)46 AS MULHERES, A NAÇÃO E A EUROPA As relações mutáveis entre um Estado, o Reino Unido, e um órgão supranacional, a Comunidade Econômica Européia (CEE), ilustram a questão das unidades com fronteiras diferentes que têm relações variáveis entre os sexos. Elas demonstram também a importância de não considerarmos que um Estado tem apenas um período crítico de formação, como já vimos. O sexo, a etnia e a classe têm relações diferentes com a "nação", o Estado e as instituições supranacionais semelhantes a Estados. Isso se deve a que os determinantes do sexo, classe e etnia são diferentes. Podemos ver um exemplo disso no desenvolvimento da CEE. Faz muito tempo que as instituições centrais da CEE apóiam a prática das "oportunidades iguais".47 Elas foram formalmente incorporadas à CEE pelo Tratado de Roma, que funciona eficazmente como uma constituição da CEE supranacional. Essas regras formais foram postas em prática, em parte, através da ação de alguns dos funcionários da CEE. Também sucede, obviamente, que não é do interesse dos países que institucionalizaram práticas de igualdade de oportunidades permitir que outros continuem a empregar uma mão-de-obra feminina subalterna, que poderia prejudicar suas indústrias. Alguns Estados nacionais recalcitrantes foram chamados à ordem pelo uso de sentenças do Tribunal Europeu e por diretrizes de comissões da CEE, com conseqüentes alterações em sua legislação nacional. O Reino Unido não aceitou passivamente essas mudanças; tem uma longa e complexa história, que mistura resistência e aceitação. Por

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exemplo, tipicamente, os representantes do governo do Reino Unido nos órgãos da CEE têm resistido à expansão da política da igualdade de oportunidades. Usaram seu direito de veto para impedir que a CEE estendesse uma política de oportunidades iguais às licenças de maternidade e paternidade e aos trabalhadores que não têm horário integral . Portanto, as medidas políticas do governo do Reino Unido quanto ao sexo têm afetado o funcionamento da CEE. Não obstante, impuseram-se muitas medidas a esse governo relutante. Uma das mais importantes foi a emenda do "valor igual" na legislação sobre a igualdade de remuneração. Ela ampliou os modos pelos quais a mulher pode reivindicar remuneração igual. As mulheres deixaram de ter que encontrar homens que fizessem um trabalho "idêntico ou similar", o que era muito difícil, por ser muito extensa a segregação ocupacional. Passaram a poder reivindicar uma remuneração igual à dos homens cujo trabalho tivesse o mesmo valor que o delas (geralmente determinado por algum método de avaliação funcional). Nos Estados Unidos, nos locais em que essa política foi introduzida, não raro ela levou a aumentos de 20% na remuneração feminina. Dezenas de milhares desses casos estão hoje tramitando na justiça trabalhista britânica. Vemos aí um órgão supranacional contestando e modificando as relações entre os sexos dentro de um Estado nacional. Há dois elementos fundamentais na explicação disso. Primeiro, a representação diferenciada dos interesses das mulheres no órgão supranacional, a CEE, comparada à nacional, por exemplo, no Estado britânico. Segundo, as relações entre a CEE e o Estado britânico. As relações entre os sexos na Grã-Bretanha de hoje não podem ser plenamente entendidas fora de uma análise das relações entre o Estado britânico e a CEE, ou seja, as questões da "nação" e do "Estado" são determinantes significativos das mudanças nas relações britânicas contemporâneas entre os sexos. Quanto maior a perda da independência do Estado britânico perante a CEE, maior tem sido e tende a ser o fortalecimento da legislação e das práticas da igualdade de oportunidades. Nesse aspecto, as mulheres têm interesse na diminuição da soberania britânica. FEMINISMO, NACIONALISMO E OCIDENTALIZAÇÃO Outro exemplo de uma categoria transnacional relevante para as relações entre os sexos é o da "ocidentalização". A existência ou inexistência de um vínculo entre feminismo e ocidentalização é importante para as questões da mobilização política em torno de projetos nacionalistas e feministas ou antifeministas.48 O feminismo é transnacional, ou é nacional ou etnicamente específico? Os críticos do feminismo no Terceiro Mundo têm sugerido, primeiro, que ele é de origem ocidental e, segundo, que isso o torna menos importante do que se ele fosse nacionalmente endógeno. Na verdade, há duas outras questões aqui. O feminismo é um movimento político transnacional? Sua origem é ocidental? Os tipos de exigências feitos pelas feministas não são especificamente nacionais. Além disso, tipicamente, as feministas lêem o trabalho das feministas de outros países. E boa parte dos textos feministas originaram-se no Ocidente.

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Contudo, isso não quer dizer que o feminismo não seja gerado por condições locais. De fato, Jayawardena sustenta vigorosamente que os movimentos feministas do Terceiro Mundo foram gerados por mulheres do Terceiro Mundo, em defesa de seus próprios interesses, como já discutimos.49 Evans mostra que a primeira onda de feminismo não ocorreu apenas em países europeus, inclusive a Rússia, e também na Austrália e na América do Norte; houve organizações feministas internacionais.50 A questão, é claro, é se as mulheres compartilham formas similares de subordinação nos diferentes países. Se for assim, é provável que as mulheres de muitos países articulem exigências semelhantes. Nesse caso, é lógico que a literatura escrita e as táticas geradas num país sejam pertinentes em outros. Ou seja, existem formas internacionalmente válidas de feminismo. Os dados de autoras como Jayawardena e Evans indicam que as feministas do mundo inteiro têm acreditado na existência desses traços comuns. Em outras palavras, o feminismo e os padrões de relações entre os sexos têm aspectos transnacionais significativos. Entretanto, a "acusação" de que o feminismo e o movimento das mulheres na esfera pública são ocidentais não deve ser subestimada. Saber se ela é verdadeira ou falsa não reduz, necessariamente, o peso dessa afirmação no contexto das lutas nacionais. Se as elites masculinas têm ou não a possibilidade de caracterizar a presença pública das mulheres como uma característica ocidental constitui, muitas vezes, uma questão da luta local. Além disso, o sentido de "ocidental" é variável. Às vezes, esse epíteto é fundido com o de "moderno" (como no caso da Turquia no governo de Ataturk e no do Irã sob o governo do xá), situação na qual ele contribui para implementar medidas políticas que tendem a aumentar a presença pública das mulheres. Noutras ocasiões, o epíteto "ocidental" combina-se com o de "opressor estrangeiro e imperialista", caso em que contribui para medidas políticas que tendem a inibir a presença das mulheres na vida pública (por exemplo, no Irã de Khomeini). Assim, a combinação do feminismo ou da presença pública das mulheres com o "ocidental" pode ajudar ou prejudicar essa mudança, dependendo de outras circunstâncias. Uma análise das condições que conduzem a uma ou outra direção precisa ser não apenas uma análise do sexo, mas também da etnia/ nação/"raça" e da ordem internacional. CONCLUSÕES O sexo não pode ser analisado fora das relações étnicas, nacionais e "raciais", nem tampouco podem estes últimos fenômenos ser analisados sem o sexo. Não se trata simplesmente de adicionar esses dois conjuntos de análises, mas do fato de que eles se afetam mutuamente numa relação dinâmica. Os padrões das relações entre os sexos às vezes assumem as mesmas unidades espaciais da classe e da etnia, da nação e da "raça", porém com freqüência não o fazem. Pelos dados disponíveis, parece que as atividades políticas das mulheres tendem a ser mais globais e mais locais que as dos homens, proporcionalmente à sua atividade política total. Entretanto, essa conclusão deve continuar provisória, à luz da insuficiência de dados. As mulheres têm-se engajado com menos

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freqüência que os homens no plano da nação. Vez por outra, os aspectos comuns na natureza das relações entre os sexos transcendem as fronteiras nacionais e a especificidade étnica e "racial". Ao mesmo tempo, o que é da ordem "pessoal" continua mais político do que nunca. A relação entre o feminismo e o nacionalismo é crucialmente mediada pelo militarismo, já que, muitas vezes, mas nem sempre, os homens e mulheres têm uma relação diferenciada com a guerra. Isso pode significar que as mulheres são simultaneamente menos militaristas e menos nacionalistas, porque o militarismo é visto, com freqüência, como uma faceta integrante do projeto nacional. O projeto nacional ou étnico tem que ser disputado por forças sociais diferenciadas sob muitos aspectos, sobretudo pela classe e pelo sexo. Assim, as relações entre as nações são, em parte, o produto de muitas lutas sexuais específicas de um lugar. A luta pela cidadania é hoje um projeto democrático. No discurso político popular, ela implica a plena participação de todos os adultos, independentemente de "raça", etnia, sexo ou credo. Ela é também um projeto nacional e, a rigor, um projeto mediante o qual a "nação" procura obter legitimidade aos olhos dos habitantes do país e da "comunidade internacional". Os cientistas sociais devem prestar atenção ao novo sentido do termo cidadão, em vez de se aterem à restrita noção utilizada nas antigas cidades-Estado gregas, das quais as mulheres, os escravos e os "estrangeiros" eram excluídos. NOTAS 1. Ver Anthony D. Smith, Theories of Nationalism, Londres, 1971, e The Ethnic Origins of Na¬ tions,Oxford, 1986. 2. Ver Ernest Gellner, Nations and Nationalism, Oxford, 1983; Elie Kedourie, Nationalism, Lon¬ dres, 1966; Smith, Theories ofNationalism e Ethnic Origins ofNations. 3. Cynthia Enloe, Bananas, Beaches and Bases: Making Feminist Sense of International Politics, Londres, 1989; Kumari Jayawardena, Feminism and Nationalism in the Third World, Londres, 1986; Nira Yuval-Davis e Floya Anthias (orgs.), Woman-Nation- State, Londres, 1989. 4. Ver Micahel Mann, "Ruling Class Strategies and Citizenship", Sociology, v. 21, n° 3, 1987, p. 339-354; Brian Turner, Citizenship and Reformism: The Debate over Reformism, Londres, 1986, e "Outline of a Theory of Citizenship", Sociology, v. 24, n° 2, 1990, p. 189-217. 5. Por exemplo, Michael Mann, "A Crisis in Stratification Theory?, Persons, Households/Fami¬ lies/Lineages, Genders, Classes and Nations", in Rosemary Crompton e Michael Mann (orgs.), Gender and Stratification, Cambridge, 1986. 6. Cf. Michael Mann, Gender and Stratification, e A History of Powerfrom the Beginning to A.D. 1760, v. 1, The Sources ofSocial

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Power, Cambridge, 1986; Bryan Turner, The Body and Society, Cambridge, 1987. 7. Por exemplo, Mary Daly, Gyn/Ecology: The Metaethics ofRadical Feminism, Londres, 1978. 8. Por exemplo, as que estão à mercê da religião. 9. Por exemplo, Enloe, Bananas, Beaches and Bases; Jayawardena, Feminism and Nationalism; Floya Anthias e Nira Yuval-Davis, Woman-Nation-State. 10. Yuval-Davis e Anthias (orgs.), Woman-Nation-State; Jayawardena, Feminism and Nationalism; Enloe, Bananas, Beaches and Bases. 11. Yuval-Davis e Anthias, introdução, Woman-Nation-State. 12. Idem, p. 7. 13. Francesca Klug, '''Oh to be in England': The British Case Study", in Yuval-Davis e Anthias (orgs.), Woman-Nation-State. 14. Marie de Lepervanche, "Women, Nation and State in Australia", in Woman-Nation-State. 15. Deborah Gaitskell e Elaine Unterhalter, "Mothers of the Nation: A Comparative Analysis of Nation, Race and Motherhood in Afrikaner Nationalism and the African National Congress", in Woman-Nation-State. 16. Floya Anthias, "Women and Nationalism in Cyprus", in Woman- Nation-State; Deniz Kan¬ dyioti (org.), Women, Islam and the State, Londres, 1991. 17. Christine Obbo, "Sexuality and Domination in Uganda", in Woman- Nation-State. 18. Haleh Afshar, "Women and Reproduction in Iran", in Woman-Nation- State. 19. Feminism and Nationalism. 20. Idem, p. 2-3. 21. Ibid., p. 3. 22. Ibid., p. 8. 23. Ibid., p. 259. 24. Ibid., p. 256. 25. Cf. Swasti Mitter, Common Fate, Common Bond: Women in the Global Economy, Londres, 1986; John Urry, The Tourist Gaze, Londres, 1990. 26. Enloe, Bananas, Beaches and Bases, p. 44. 27. Idem, p. 48. 28. Ibid., p. 49-50. 29. Ibid., p. 49. 30. Ibid., p. 44. 31. Ibid., p. 64. 32. Por exemplo, Daly, Gyn/Ecology. 33. Cf. Mann, Gender and Stratification e Sources of Political Power; e Turner, Body and Society. 34. Ver a análise da Firestone in Sylvia Walby, Theorizing Patriarchy, Oxford, 1990. 35. Ver Walby, Theorizing Patriarchy, para uma exposição mais completa. 36. Mann, "Ruling Class Strategies". 37. Turner, "Theory of Citizenship". 38. Smith, Ethnic Origins ofNations. 39. Doreen Massey, Spatial Divisions of Labour: Social Structures and the Geography of Production, Londres, 1984.

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40.Virgina Woolf, Three Guineas, Londres 1938 41. Ver Erika Cudworth, "Feminism and Non-Violence: a relation in theory, in herstory and praxis" dissertação de mestrado não publicada, London School of Economics, 1988 42. Ver Sara Ruddick, Maternal Thinking, Boston, 1989 43.Beatrix Campbell, The Iron Ladies: Why do women vote Tory?, Londres, 1987; Hester Eisenstein, Contemporary Feminist Thought, Londres, 1984; Cynthia Enloe, Does Khaki become you? The militarization of woman´s lives, Londres, 1983 44.Ver Vandana Shiva, Staying Alive: women, ecology, development, Londres, 1989 45. Ver Zillah Eisenstein, Feminism and sexual equality: crisis in liberal America, Nova York, 1984 46. Carol Gilligan, In a different voice: psychological theoru and women´s development, Cambridge, Mass., 1982 47. Ver Jeanne Gregory, Sex, Race and Law: legislating for equality, Londres, 1987; Catherine Hoskyns, "Women´s equality and the European community", Feminist Review, 20. verão de 1985, p. 71-88 48Ver Jayawardena, Feminism and Nacinalism 49. Idem 50 Richard J. Evans, The Feminists: Women´s Emancipation Movements in Europe, America and Australasia 1840-1920, Londres, 1977.