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ANTOLOGIA (S eleeção e tradução de Cláudio RevelJ A minha música C uma rwcla- ,;-,„ maia "llu «iic " ria « <i»c «"«/a a /«..«o/w. .««"*- le «MP cheptie a compreender o sentido rfa iiiiii/i-n se-d Urre doa «o/rtineiiri.» </ue W °"%™ovYv Assim com/J a •escultura foi uma condição da optimista civili- zação grcco-romana e a P>'ii"ri uma condição da pessimista Idade Média, também a música e umi. condição da nova civilização que se inicia: o racionalismo. De ma- nelra que não foi uma «implc» ex- pressão de senUmcntallsm:. retó- rico, mas uma profunda verdade, a famosa fiase de Nietzsche: « S e m a música a vida seria insu- portável». E ' c e r t o q u e som ela puderam existir outras civiliza- ções antigas; mas para i BOM* a música c uma condição sino ft.ua non. A música c a mais recente ok todas as artes; culminou em prin- cípios do século X I X com Beetho- ven, «o supremo medianeiro entre os homens c o céu, criando uma nova linguagem para falir .1 Di- vindade». Assim Emil Uidwig soube sintetizar maravilhosamen- te o mais conspícuo representante daquela forma artística que «ala directamente conduz à redenção humana e que melhor exprcisa o conceito da civilização futura: ..Pelo menos, no que se refere ao mundo artístico—observa Wagner —ai nossa civilização nao pode ser reanimada senão com a musica que Beethoven libertou das ca- deias da antiga escola». Ao invés das outras artos, a música nâo expressa a Ideia con- tida no fenómeno: ela própria cm s l é u m a I d e i a d o m u n d o . P o r Isso não só é a mais sublime d a s a r t e s mas também a mais universal dc todas. E ' m a i s simétrica, mística e imponente que a a r q u i t e c t u r a ; oxpressa melhor a d o r e o senti- mento que a pintura; eleva-nos a uma a l t u r a a que nunca chegou a elevar-nos a escultura; produz mais comoção, tem mais graça c é mais profunda que a poesia. Fala em todos os idiomas, c, por ser mais flexível e expressiva que a literatura, utilizou-* Beethoven para relatar-nos os dramas, triun- fos, paixões, poemas, diálogos c factos históricos com mais exac- tidão e eloquência do que o pu- dera e x p r e s s a r a pena dum hábil estilista. Essa música conduz os homens à s m a i s fundas profundi- dades da filosofia; como que nos leva à compreensão do destino... Por Isso é «uma revelação inaiis alta que toda a filosofia», desti- nada a redimir a humanidade. Quando com a sua surdez ficou Beethoven a f a s t a d o d o mundo, os seus sentimentos, convertidos em música, revelaram-se com mais precisão que nunca, podendo al- cançar maior clareza que os de nenhum outro mortal. Segundo Schopenhauer, a mú- s i c a e n c e r r a e m s i t o d a s a s o u t r a s artes juntas, p o r s e r a que mais directamente vai ao espirito; de modo que, ouvindo música, a ima- ginação descansa; n ã o é obrigada a fazer esforço, ao invés do que se p a s s a c o m a s o u t r a s artes, com a música o nosso espirito recebe a mensagem do génio directamen- te, e como a dita arte evoca ao mesmo tempo o presente, o pas- sado e o f u t u r o , a b r a n g e a s s i m a quarta dimensão: o t e m p o . Liber- tando-nos do presente, isto é, da nossa imaginária escravidão, a música induz-nos à Uberdade. Não arte complexa e pro- funda, a n t e a pena do critico, co- mo a música, e, segundo disse- mos, isso é devido a e s t a abarcar a história da civilização, incluin- do o futuro. Os críticos distin- guem duas classes de música: a que fala aos sentidos e a q u e fala â alma. Ou como dizem alguns: a música clássica e a romântica. Essa classificação, tão arbitrária, serve apenas para aumentar a confusão que existe entre os crí- ticos musicais. De a c o r d o c o m o principio ternário da natureza humana: os sentidos, os sentimen- tos c o intelecto, e que represen- tam, tanto na filosofia como na escala biológica, respectivamente, o preasnte, o passado e o futuro, prefiro dividir a música nos três estilos seguintes: O primeiro estilo musical é o decorativo; o seu principal dis- tintivo é o ritmo; é caracterizado pela graça; fala mais aos senti- dos; entuslasma-nos e, convidan- do-nos a bailar (ainda que por vezes mentalmente), põo-nos cm relação imediata com o presente. O segundo estilo musical é o sentimental, comocional ou ro- mântico; o seu principal distin- tivo é a melodia; é caracterizado pela dor; fala m a i s a o s sentimen- tos e, evocando o passado, causa- -nos tristeza. O terceiro esUlo musical é o in- telectual, místico ou contemplati- vo; o seu principal distintivo é a harmonia; é caracterizado pola equanimidade; fala m a l a à imagi- nação, a o p e n s a m e n t o e , evocando o futuro, llbcrta-nos do presente e do passado, dando-nos assim uma prova da nossa redenção fu- tura, ou seja de que somos eter- nos. Talvez não compreendam bem êste último os que não aprofun- daram bastante a filosofia pun- teísta de Spinoza e a música de Beethoven (uma é o complemento da outra); mas p o r a g o r a adian- taremos que o primeiro estilo, ou seja o rítmico, é o que nos ale- gra, entusiasma c p õ e e m relação imediata com o presente, sendo o que mais Influe nos sentidos, o que a c t u a s o b r e as funções fisio- lógicas. O s e g u n d o estilo, o meló- dico, é o quo nos entristece, o que lembra o passado o que mais In- flue nos sentimentos, o q u e actua sôbie as funções morais. O ter- ceiro estilo, o harmónico, o que n o s l e v a c o m a i m a g i n a ç ã o a o fu- turo, libertando-nos da alegria e da tristeza, conduz-nos à beatltil- de ou à equanimidade. E ' o estilo que mais Influe no pensamento, o quo actua sobre as funções inte- lectuais e que, aperfeiçoando-noa o Intelecto, nos conduzirá ã com- preensão do destino. Um modelo do primeiro estilo, isto é, do rítmi- co, temo-lo na música de Tschai- kovskl, que foi um dos que le- varam o referido estilo à sua maloi- expressão o que mais ex- clusivamente o c u l t i v a r a m . O C a s - canuez, que foi a obra que Ini- ciou a sua fama, é pura música de baile (Haller iiiuslk), e, e m ge- ral, assim é toda a sua música, in- cluindo a Quinta Sinfonia que tem tem em vez de Soherzo uma valsa. A Sinfonia Patétca (6."), não obstante um final, no qual m u l t o b e m faz uso do terceiío es- tilo, e da conhecida melodia do primeiro andamento, é quási toda música de baile, isto é, primeiro estilo. O mesmo podemos dizer da sua Sinfonia Característica (4."), qus é quásl toda música de baile. Foi Tschalkovskl pouco feUz sem- pro q u e t r a t o u d e e m p r e g a r o se- gundo estilo, o sentimental, nas suas sinfonias. Temos um exem- plo disso na citada Sinfonia Paté- tica-. Ai, o compositor russo, ficou multo longe dc atingir a sublimi- dade dum Brahms ou a do seu modelo Schumann. ou ainda a do seu mestre Rubinstein. Mas, co- mo dissemos, no primeiro estilo, ou seja no rítmico, toailável, Ts- chaikovski impera: foi esse o seu elemento. O referido primeiro es- tilo, ou seja o ritmlco, é o que terceiro estilo, que e r a o q u e cul- tivava. W a g n e r é p o r t a n t o o me- lhor exemplo que [iodemos dar como cultor do terceiro estilo mu- sical. Não obstante, de certo mo- do, todos os compositores cultiva- ram os três estilos ao mesmo tempo, ritmo, melodia e harmo- nia, e, portanto, os três estilos musicais não podem ser sepnra- dos em absoluto. Antes sucede que, de acordo c o m o t e m p e r a m e n t o d e c a d a um, os diversos compositores empre- gam geralmente um daqueles três estilos, de preferência aos outros dois. A Tschalkovski, por exem- plo, classiflco-o como compositor O s três mais distingue todos os compo- sitores modernos, especialmente os russos. Ainda que me arrisque a escandalizar os críticos musi- cais apegados à tradição, acres- centarei que, em Itália, o princi- pal expoente do mesmo estilo foi Rossini; c c o m isso quero signifi- car que os Italianos quási não cultivam o estilo e m q u e s t ã o que, em França, teve os seus princi- pais expoentes em Blset e Saint- Saens. Oa iniciadores do primeiro es- tilo f o r a m H a y d n e Mozart. Entre os seus principais cultores men- cionaremos também Rlmskl-Ko- churk, Borodlnc, Ivanoff, etc. Devo fazer constar que, ao tra- tar no presente trabalho do se- gundo estilo, ou seja do meló- dico, do sentimental, não mc re- firo ao bel CantO, isto é. a esse es- tilo simples cm que se distingui- ram principalmente Verdi, Bellini, Donizettl, etc. O bel canto é in- dubitavelmente melódico; m a s r e - corde-se que tkda a música é de certo modo melodia, nsslm como o jazz, ou seja o s o m a que bai- l a m o s a m e r i c a n o s e o s q u e o não são, é rítmico: mas nem o gros- seiro ritmo do Jazz n e m a melodia Insulsa do liei ranto podem entrar para nada em uma critica que, como a presente, tende a investi- gar o sentido profundamente filo- sófico da música. Assim, quem nos um exem- plo do segundq estilo musical, isto é, d o r o m â n t i c o o u sentimen- tal, é Chopin, pois foi êle quem mais exclusivamente o cultivou. Românticos foram também Schu- bert, Schumann, Mendelssohn, Llszt, Rubinstein, Wioniawski, Bmhms e W e b e r , q u e podem ser considerados representantes deste estilo. Em Itália os seus princi- pais cultores foram Lconcavallo, Puccini e Mascagni c em França Massenet e Gounod. Mas, como dissemos, o que melhor nos ser- virá de modelo, como cultor do dito estilo, é Chopin. Um exemplo do terceiro estilo musical, ou seja do intelectual místico, temo-lo no 1'iirslfal e cm Tristão e Isolda, pois foi Wagner o q u e mais se dedicou a este es- tilo, c a quem, por tal motivo, de- vemos considerar representante do misticismo musical, ou seja do terceiro estilo. Dissemos que os três referidos estilos musicais re- presentam, respectivamente, o presente, o passado e o futuro. Recordemos que quando Wagner, falava da cmúsica do futuro», er- radamente Interpretado pelos seus críticos, estes supunham ou fa- ziam supor que o compositor se referia à sua música particular. A verdade é q u e aquilo a que se referia era ao estilo, isto é, ao do primeiro estilo; mas isso não quere dizer que a sua música não contenha vestígios dos outros dois estilos. O mesmo poderíamos di- zer de Chopin a respeito do se- gundo estilo e de W a g n e r a res- peito do terceiro. Sem embargo, houve um com- positor que se distinguiu, não por haver culminado nos três ci- tadoB estilos musicais, mas tam- bém por ter sabido combiná-los entre sl t ã o a d m i r a v e l m e n t e que as suas obras aumentam dia a dia de Importância. Esse compo- sitor é Beethoven, cuja música que r e p r e s e n t a o presente, o pas- sado e o futuro da humanidade, porá o homem em condições de c o m p r e e n d e r o destino e, portan- to, de entrar na eternidade... E' no seu estilo musical que melhor se manifesta Beethoven como um doa maiores apóstolos do panteísmo. Para Pitágoras, ho- mem perfeito era aquele que ti- nha equitativamente desenvolvi- dos os três princípios espirituais: sentidos, sentimento e Intelecto, o que correspondem á saúde física, â bondade e à sabedoria. Do mes- mo modo, a música mais perfeita è a quo saiba p r o m o v e r o u favo- recer com Igual Intensidade aque- les três princípios da natureza hu- mana: a essa circunstância 6 pre- cisamente o q u e mais distingue a música de Beethoven. D o s e u pri- meiro trio ao último quarteto êste compositor cultivou por igual os três referidos estilos, ainda que cm cada andamento cJgum dos três prevalecesse sobre os outros dois. Na s o n a t a a q u e d e r a m e m cha- mar I.uar (op. 27), no primeiro andamento predomina o segundo estilo ( r o m â n t i c o ) , a o passo que no segundo andamento predomina o primeiro estilo (rítmico) e no terceiro andamento o terceiro es- tilo (Intelectual). Na Sonata Pa- tética (op. 13) todos os três anda- mentos são dominados pelo pri- meiro esUlo, não obstante o se- gundo andamento ser romântico. O t e r c e i r o a n d a m e n t o é um dos mais felizes exemplos que o com- positor deu do primeiro estilo. A Sonata com variações, da marcha fúnebre (op. 26) tem no primeiro andamento um tema completamente intelectual ou seja terceiro estilo. O terceiro anda- mento é a comoclonante marcha fúnebre em que os três estilos se manifestam e m c o m b i n a ç ã o admi- rável. A S0n.1ta apasslonata (op. 67) tem a particularidade de, em cada um dos trés andamentos, es- tarem equitativamente represen- tados 0 8 t r ê s estilos. E ' a sonata que Beethoven considerava a mais perfeita de todas e, inques- tionavelmente, é 'o incomparável beleza. M a s u m a d a s m a i s esplên- didas sonatas é a Sonata em menor (op. 31 »<." 2). O primeiro andamento 6 completamente Inte- lectual, assim como o segundo, não obstante êste último ser mui- to comoclonante. O terceiro an- damento é uma espécie de prelú- dio em que um jogo de quatro notas passa por todos os tons. Nâo obstante o ritmo que o ca- racteriza é completamente inte- lectual. Os primeiros quartetos de Be- ethoven fotam no estilo de Hay- dln, Isto é, rítmicos, primeiro esti- lo. Um dos seus mais notáveis quar- tetos é o chamado Quarteto da» sinfonias; mas nõo são menos 03 que entendem que ésso lugar pertiMics á sexta ou Pastoral, na qual Beethoven «imortaliza os elementos do céu c da terra». A Sétima Sinfonia, com excepção do seu romântico allegreto, está composta no primeiro estilo. O poeta Nicolau Lcnau considera- va-a a mais bela de todas. Mas o próprio Beethoven preferia a Oitava Sinfonia e o místico e intelectual Wagner reconhece nn Nona Sinfonia não a melhor de todas mas sim a cúspide de toda a produção artística em ge- ral; porque esta sinfonia está composta no terceiío estilo. Tu- Mas o que sustentamos é q u e es- ses três estilos estiveram sem- pre combinados em todas as suas composições e que Julgai um superior ao o u t r o é uma ar- bitrariedade. O final do quarteto op. 130, que foi realmente o úl- timo que Beethoven compôs na sua vida, é rítmico, ou seja pri- meiro estilo. Também o é o fi- nil da Sonata Patética (op. 13). Nenhum desses finais vai perder por isso o seu mérito. A citada Sonata s e r á s e m p r e o que é, e o Septeto, a-peaar-de tudo, é uma das melhores obras musicais compostas por Beethoven. E' bem sabido que a música, ge com uma mão a natureza e com a outra o homem... O seu grande c o r a ç ã o a b r a ç a v a toda a humanidade; com admirável In- tuição penetrava Intelectualmen- te através de tõilaa us falsida- des até chegar à verdade, e na sua obra artística bosquejava as aspirações religiosas, humn- nas e dcmocrátlois, o amor, a camaradagem, os caracteres e todos os sentimentos elevados e profundos que pressagiam os al- vores duma nova sociedade. Foi um verdadeiro homem e deu também origem a um novo tipo do homens. Quão tremenda devo ter sido a luta que sustentou en- estilos musicais POR CARLOS BRANDI Ilarpis (op. »4) pois t e m a curio- sidade de c o m e ç a r a l i a predomi- nar o terceiro estilo, que foi quási exclusivamente aquele em que compôs os cinco últimos quarte- tos chamados Os gigantes. Des- tes o mais notável é o op. 131 que Wagner não se cansa de elogiar. Das suas sinfonias, a quinta, em dó menor, chamada a Sinfonia do Destino, c a mais célebre de to- das. «Assim bate o Destino à mi- nha porta», diz o compositor ao descrever as oito primeiras pan- cadas da Introdução. O primeiro andamento desta sinfonia é rítmi- ca, primeiro estilo, o é a parte que m a i s a d m i r a v a G o e t h e . O se- gundo andamento é a parte sen- timental, segundo estilo, e o fi- nal, terceiro estilo, é a parte mais intelectual. Observar-se-á que a estrutura desta sinfonia é a mais perfeita, pois os seus três andamentos representam sucessivamente o presente, o passado e o futuro, ou seja o primeiro estilo, o segundo e o terceiro. A Primeira Sinfonia em maior é, de toda n músi- ca dc Beethoven, a que mais se ajusta ao primeiro estilo cm ca- da uma das suas partes. E' por- tanto mais admirada pelos clássicos, pois está em confor- midade com o estilo de Haydln e de M o z a r t . N a Segunda Sinfo- nia em r é m a i o r (op. 21) Já co- meça a romper os moldes do classicismo O praieiro anda- mento é ritmlco. ou seja primei- ro estilo, mas extraordinaria- mente original. «Os mais admi- ráveis e estranhos efeitos sc su- cedem ali uns aos outros tão fluente como Inesperadamente». M a s o mais notável é o segundo andamento, composto no segundo estilo, isto é, no r o m â n t i c o , e no qual a melodia chegou á sua maior sublimidade. Nem Schu- bert nem Chopin nem nenhum outro compositor romântico che- garam jamais a • tingir a sen- timentalidade deste segundo an- damento. Schubert reputava-a a melhor sinfonia do Beethoven. O BChorzo, o t r i o o o terceiro an- damento desta sinfonia são to- dos rítmicos, primeiro estilo. A Quarta Sinfonia (op. 60) tem passagens modernistas, verdadei- ros <iestados de nlma» que não foram Igualados por nenhum ou- tro compositor moderno. Nessa sinfonia começam a manifes- tar-se os trés estilos maravilho- samente combinados. Heitor Berlloz diz que foi com a tercei- la sinfonia, a Heróica, que Be- ethoven fez a s u a entiada no es- tilo místico Intelectual, no ter- ceiro estilo. Muitos críticos con- sideram-na a melhor das suas do é questão de gosto. Ao clás- sico Lesueur é lógico que lhe agradasse mais a Primeira Sin- fonia (primeiro estilo), como ao :omâ,ntlco Schubert, a Segunda Sinfonia (segundo estilo) e ao místico W a g n e r a Nona Sinfonia (terceiro estilo). Mas é precisa- mente a habilidade de Beetho- ven cm combinar conveniente- mente esses três estilos, em to- das as suas composições, que mais contribuiu para a superio- ridade da sua música, pois, co- mo J á t e m o s dito, o objectivo da arte é interpretar a evolução nos seus três aspectos: físico, moral o Intelectual. Entes três aspectos estão representados no primeiro estilo musical, no segundo e no terceiro e correspondem ao pre- sente, ao passado e no futuro. Assim, a música resolve o pro- blema da quarta dimensão, o tempo, ensinandu-nos a compre- ender o destino e iniclando-nos na eternidade... Vários críticos ompenharam-se em apresentar os três estilos de Beethoven—como sucedo com os trés estilos pictóricos de Rubens c de Rafael em escala ascendente, querendo significar com isso que o primeiro estilo eia o menos belo e o último o mais belo de todos, sendo Wagner o primeiro a proclamá-lo assim. Sem em- bargo, esse empenho é arbitrá- rio pois, como dissemos, tudo 6 questão de gosto, ainda que o próprio Beethoven, implicitamen- te, tivesse parte nesse empenho, falando depreciativamente de Adelaide, do Spte.to e das Va- riações para piano (op. 34), por julgar quo toda essa música era apenas bagatela, ensaio da Ju- ventude. Que o predomínio do cada um dos três estilos musicais, cm uida uma das suas composições, variava com a Idade do compo- sitor é çolsa que não admito discussão. O primeiro estilo : Primeira Sinfonia (op. 21), o Sepleto (op. 2 0 ) , a Sonutn Paté- tica (op. 1 3 ) o o s primeiros trios e quartetos representam a Ju- ventude do músico. O segundo estilo: Segunda Sinfonia (op. 36) e as a b e r t u r a s d c Coriolano (op. 62) e de E g m o n t (op. 84) repre- sentam o outono, emquanto a madurez da sua vida está repre- sentada pela Missa Sole,unis (op. 123). pela Sinfonia Coral (op. 12S), pela abertura Icanor (op. 138) e pelos cinco Quarteto» Gi- gantes (op. 127. 130, 131, 132 c 135). De modo que no começo du sua carreira o estilo que mais cultivou foi o primeiro, depois o segundo, c por fim o terceiro. ainda que n ã o s e haja descober- to o motivo, tem valor terapêu- tico. Referem que Pitágoras, cu- rava afecções físicas por meio da música e, de então até hoje, médicos eminentes chamam dc vez em quando a atenção para alguma cura efectuada peta mú- sica. Classificados os diversos es- tilos musicais da forma por que acabo de o fazer, creio que se abre um novo campo à ciência Investigando o efeito que o pri- meiro estilo musical, isto é, o que fala aos sentidos, o que re- presenta o presente, possa exer- cer nas pessoas enfermas Quan- to ao segundo estilo musica], o sentimental, o que fala ao passa- do, sei por experiência própria que exerce grande influência no mo- ral. Recordo-me dc que. uma vez, tendo 3Ído vitima du perfí- dia de certo companhelio, ao re- gressar a caso, molestado, parei a ouvir uma sinfonia de Beetho- ven que e s t a v a a s e r tocada; dai a trés minutos o meu espirito tinha perdoado ao pérfido e, al- guns minutos mais tarde, o meu intelecto tinha compreendi- do a causa fatal e inevitável da perfídia. Não é isto compreender o destino? Pouco entende dc música beethoveninna quem não ee inteire dc que enta nos puri- f i c a o espírito e aperfeiçoa o en- tendimento, condiizlndio-nos as- sim directamente à sabedoria. Romaln Rolland, na sua famosa obra sobre Beethoven, chama a atenção para o facto de a sua música favorecer a virtude, o que implica ser de grande im- portância como factor do pro- gresso intelectual e moral da humanidade. Aquela obna traz um magnifico prólogo do E. Carpenter, do qual r e c o r t o o pa- rágrafo que vai a seguir pois condiz de c e r t o m o d o com a mi- nha tese aacrea da lmpoi tancla panteísta da música do grande compositor. «Beethoven é o pro- feta duma nova era que se ini- cia no século XIX... Do mesmo modo que as coisas se pressen- tem antes de se manifestarem, t a m b é m é possível expressá-las nas Indefinidas formns comoclonais di música, antes de se poderem manifestar ou imaginar com su- ficiente clareza para poder ser representadas pela palavra ou pela tela. Beethoven foi o pre- cursor do Sholley o do Whltman entre os poetas e de J . M. Tur- nure e d e F. Millet entre os pin- tores. E ' o g r a n d e poeta que cin- tre as condições Internas e ex- ternas—entre a sua verdadeira alma e o Isolamento do grossei- ro meio em que viveu—sabemo- -lo unicamente pela música. Sem- pre que a ouvimos intciramo-noB da antiga tradição religiosa se- gundo a qual de vez em quando, duiante a existência humana so- bre a terra, aparece um ser di- vino que, vindo dos infinitos ecus, toma forma mortal e *e submete ao sacrifício paia poder abraçar e redimir a humanida- de...» Ouçamos agora como se ex- pressa Wagner: «A música, que havia sido aviltada relativamen- te à sua própria natureza até fi- car convertida cm objecto de di- versão, foi elevada por Beetho- ven á maior altura e sublimida- de. Ele iniciou-nos na compreen- são desca arte, por meio da qual o mundo (destino) fica explica- do mais claramente do que a mais profunda filosofia o pode- ria fazer...» Imaginai um pintor completa- mente cego, pintando quadros magníficos do paisagens que não e empregando cores que não tampouco, mas que nem por isso deixa de combinar com ar- tística habilidade, para aplicar as cores exactas e piuduzlr os maiores efeito- pictóricos. Pois •bem, esse pintor é Beethoven compondo. As «uas maiores obras compô-las quando tinha perdido por completo a faculda- de auditiva, o que se explica pe- la circunstancia de o maestro compor unicamente por intui- ção... Não se tornou a, vèr no mundo exemplo semelhante. Objectar-se-á que, a-pesar-dc es- tar surdo, o maestro podia re- cordar, de quando o não era, o efeito que produziam as diversas combinações: os acordes. Ainda que o suponhamos. E os disso- nâncias? Conheci-aa todas? Co- imo podia êste surdo combinar com precisão as mais ínfimas mlnudéncias musicais até produ- zir os mais sublimes acordes? Além disso, recorde-se que até para os que ouvem bem, até pa- ra muitos músicos, grande par- te das composições de Beetho- ven foram consideradas disso- nantes, extravagantes, c foi cem anos depois da sua morte que se veio a admitir em geral que ó uma m a r a v i l h a o que an- tes se julgava ser dissonância. Nao quere dizer tudo Isto que ( Continua nn página imediata)

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Page 1: W °%™ovYv O s três estilos musicais · ram os três estilos ao mesmo tempo, ritmo, melodia e harmo nia, e, portanto, os três estilos musicais não podem ser sepnra-dos em absoluto

A N T O L O G I A (S e l e e ç ã o e tradução de Cláudio RevelJ

A minha música C uma rwcla-,;-,„ maia "llu «iic " r i a « <i»c «"«/a a / « . . « o / w . .««"*-le «MP cheptie a c o m p r e e n d e r o sent ido rfa iiiiii/i-n se-d U r r e doa « o / r t i n e i i r i . » </ue

W o í °"%™ovYv A s s i m c o m / J a • e s c u l t u r a foi

u m a c o n d i ç ã o d a o p t i m i s t a c iv i l i ­z a ç ã o g r c c o - r o m a n a e a P > ' i i " r i u m a c o n d i ç ã o d a p e s s i m i s t a I d a d e M é d i a , t a m b é m a m ú s i c a e u m i . c o n d i ç ã o d a n o v a c i v i l i z a ç ã o q u e s e i n i c i a : o r a c i o n a l i s m o . D e m a -n e l r a q u e n ã o foi u m a « i m p l c » e x ­p r e s s ã o d e s e n U m c n t a l l s m : . r e t ó ­r i c o , m a s u m a p r o f u n d a v e r d a d e , a f a m o s a f i a s e d e N i e t z s c h e : « S e m a m ú s i c a a v i d a s e r i a i n s u ­p o r t á v e l » . E ' c e r t o q u e s o m e l a p u d e r a m e x i s t i r o u t r a s c i v i l i z a ­ç õ e s a n t i g a s ; m a s p a r a i B O M * a

m ú s i c a c u m a c o n d i ç ã o s i n o ft.ua n o n .

A m ú s i c a c a m a i s r e c e n t e ok t o d a s a s a r t e s ; c u l m i n o u e m p r i n ­c í p i o s d o s é c u l o X I X c o m B e e t h o ­v e n , « o s u p r e m o m e d i a n e i r o e n t r e o s h o m e n s c o c é u , c r i a n d o u m a n o v a l i n g u a g e m p a r a f a l i r .1 Di­v i n d a d e » . A s s i m E m i l U i d w i g s o u b e s i n t e t i z a r m a r a v i l h o s a m e n ­t e o m a i s c o n s p í c u o r e p r e s e n t a n t e d a q u e l a f o r m a a r t í s t i c a q u e « a l a d i r e c t a m e n t e c o n d u z à r e d e n ç ã o h u m a n a e q u e m e l h o r e x p r c i s a o c o n c e i t o d a c i v i l i z a ç ã o f u t u r a : . . P e l o m e n o s , n o q u e s e r e f e r e a o m u n d o a r t í s t i c o — o b s e r v a W a g n e r —ai n o s s a c i v i l i z a ç ã o n a o p o d e s e r r e a n i m a d a s e n ã o c o m a m u s i c a q u e B e e t h o v e n l i b e r t o u d a s c a ­d e i a s d a a n t i g a e s c o l a » .

A o i n v é s d a s o u t r a s a r t o s , a m ú s i c a n â o e x p r e s s a a Ideia c o n ­t i d a n o f e n ó m e n o : e l a p r ó p r i a c m sl é u m a Ide ia d o m u n d o . P o r I s so n ã o s ó é a m a i s s u b l i m e d a s a r t e s m a s t a m b é m a m a i s u n i v e r s a l d c t o d a s . E ' m a i s s i m é t r i c a , m í s t i c a e i m p o n e n t e q u e a a r q u i t e c t u r a ; o x p r e s s a m e l h o r a d o r e o s e n t i ­m e n t o q u e a p i n t u r a ; e l e v a - n o s a u m a a l t u r a a q u e n u n c a c h e g o u a e l e v a r - n o s a e s c u l t u r a ; p r o d u z m a i s c o m o ç ã o , t e m m a i s g r a ç a c é m a i s p r o f u n d a q u e a p o e s i a . F a l a e m t o d o s o s i d i o m a s , c , p o r s e r m a i s f l e x í v e l e e x p r e s s i v a q u e a l i t e r a t u r a , u t i l i z o u - * B e e t h o v e n p a r a r e l a t a r - n o s o s d r a m a s , t r i u n ­fos , p a i x õ e s , p o e m a s , d i á l o g o s c f a c t o s h i s t ó r i c o s c o m m a i s e x a c ­t i d ã o e e l o q u ê n c i a d o q u e o pu­d e r a e x p r e s s a r a p e n a d u m h á b i l e s t i l i s t a . E s s a m ú s i c a c o n d u z o s h o m e n s à s m a i s f u n d a s p r o f u n d i ­d a d e s d a f i l o s o f i a ; c o m o q u e n o s l e v a à c o m p r e e n s ã o d o d e s t i n o . . . P o r I s so é « u m a r e v e l a ç ã o inaiis a l t a q u e t o d a a f i l o so f ia» , d e s t i ­n a d a a r e d i m i r a h u m a n i d a d e . Q u a n d o c o m a s u a s u r d e z f i cou B e e t h o v e n a f a s t a d o d o m u n d o , o s s e u s s e n t i m e n t o s , c o n v e r t i d o s e m m ú s i c a , r e v e l a r a m - s e c o m m a i s p r e c i s ã o q u e n u n c a , p o d e n d o a l ­c a n ç a r m a i o r c l a r e z a q u e o s d e n e n h u m o u t r o m o r t a l .

S e g u n d o S c h o p e n h a u e r , a m ú ­s i c a e n c e r r a e m si t o d a s a s o u t r a s a r t e s j u n t a s , p o r s e r a q u e m a i s d i r e c t a m e n t e v a i a o e s p i r i t o ; d e m o d o q u e , o u v i n d o m ú s i c a , a i m a ­g i n a ç ã o d e s c a n s a ; n ã o é o b r i g a d a a f a z e r e s f o r ç o , ao i n v é s d o q u e s e p a s s a c o m a s o u t r a s a r t e s , c o m a m ú s i c a o n o s s o e s p i r i t o r e c e b e a m e n s a g e m d o g é n i o d i r e c t a m e n ­t e , e c o m o a d i t a a r t e e v o c a a o m e s m o t e m p o o p r e s e n t e , o p a s ­s a d o e o f u t u r o , a b r a n g e a s s i m a q u a r t a d i m e n s ã o : o t e m p o . L i b e r -t a n d o - n o s d o p r e s e n t e , i s t o é, d a

n o s s a i m a g i n á r i a e s c r a v i d ã o , a m ú s i c a i n d u z - n o s à U b e r d a d e .

N ã o h á a r t e c o m p l e x a e p r o ­f u n d a , a n t e a p e n a d o c r i t i c o , c o ­m o a m ú s i c a , e, s e g u n d o d i s s e ­m o s , i s s o é d e v i d o a e s t a a b a r c a r a h i s t ó r i a d a c i v i l i z a ç ã o , i n c l u i n ­d o o f u t u r o . O s c r í t i c o s d i s t i n ­g u e m d u a s c l a s s e s d e m ú s i c a : a q u e f a l a a o s s e n t i d o s e a q u e f a l a â a l m a . O u c o m o d i z e m a l g u n s : a m ú s i c a c l á s s i c a e a r o m â n t i c a . E s s a c l a s s i f i c a ç ã o , t ã o a r b i t r á r i a , s e r v e a p e n a s p a r a a u m e n t a r a c o n f u s ã o q u e e x i s t e e n t r e o s c r í ­t i c o s m u s i c a i s . D e a c o r d o c o m o p r i n c i p i o t e r n á r i o d a n a t u r e z a h u m a n a : o s s e n t i d o s , o s s e n t i m e n ­t o s c o i n t e l e c t o , e q u e r e p r e s e n ­t a m , t a n t o n a f i l o so f ia c o m o n a e s c a l a b i o l ó g i c a , r e s p e c t i v a m e n t e , o p r e a s n t e , o p a s s a d o e o f u t u r o , p r e f i r o d i v i d i r a m ú s i c a n o s t r ê s e s t i l o s s e g u i n t e s :

O p r i m e i r o e s t i l o m u s i c a l é o d e c o r a t i v o ; o s e u p r i n c i p a l d i s ­t i n t i v o é o r i t m o ; é c a r a c t e r i z a d o p e l a g r a ç a ; f a l a m a i s a o s s e n t i ­d o s ; e n t u s l a s m a - n o s e, c o n v i d a n -d o - n o s a b a i l a r ( a i n d a q u e p o r v e z e s m e n t a l m e n t e ) , p õ o - n o s c m r e l a ç ã o i m e d i a t a c o m o p r e s e n t e .

O s e g u n d o e s t i l o m u s i c a l é o s e n t i m e n t a l , c o m o c i o n a l o u r o ­m â n t i c o ; o s e u p r i n c i p a l d i s t i n ­t i v o é a m e l o d i a ; é c a r a c t e r i z a d o p e l a d o r ; f a l a m a i s a o s s e n t i m e n ­t o s e, e v o c a n d o o p a s s a d o , c a u s a -- n o s t r i s t e z a .

O t e r c e i r o e s U l o m u s i c a l é o in­t e l e c t u a l , m í s t i c o o u c o n t e m p l a t i ­v o ; o s e u p r i n c i p a l d i s t i n t i v o é a h a r m o n i a ; é c a r a c t e r i z a d o p o l a e q u a n i m i d a d e ; f a l a m a l a à i m a g i ­n a ç ã o , a o p e n s a m e n t o e, e v o c a n d o o f u t u r o , l l b c r t a - n o s d o p r e s e n t e e d o p a s s a d o , d a n d o - n o s a s s i m u m a p r o v a d a n o s s a r e d e n ç ã o fu­t u r a , o u s e j a d e q u e s o m o s e t e r ­n o s .

T a l v e z n ã o c o m p r e e n d a m b e m ê s t e ú l t i m o o s q u e n ã o a p r o f u n ­d a r a m b a s t a n t e a f i l o s o f i a p u n -t e í s t a d e S p i n o z a e a m ú s i c a d e B e e t h o v e n ( u m a é o c o m p l e m e n t o d a o u t r a ) ; m a s p o r a g o r a a d i a n ­t a r e m o s q u e o p r i m e i r o e s t i l o , o u s e j a o r í t m i c o , é o q u e n o s a l e ­g r a , e n t u s i a s m a c p õ e e m r e l a ç ã o i m e d i a t a c o m o p r e s e n t e , s e n d o o q u e m a i s Inf lue n o s s e n t i d o s , o q u e a c t u a s o b r e a s f u n ç õ e s f i s io ­l ó g i c a s . O s e g u n d o e s t i l o , o m e l ó ­d i c o , é o q u o n o s e n t r i s t e c e , o q u e l e m b r a o p a s s a d o o q u e m a i s In­f lue n o s s e n t i m e n t o s , o q u e a c t u a s ô b i e a s f u n ç õ e s m o r a i s . O t e r ­c e i r o e s t i l o , o h a r m ó n i c o , o q u e n o s l e v a c o m a i m a g i n a ç ã o a o fu­t u r o , l i b e r t a n d o - n o s d a a l e g r i a e d a t r i s t e z a , c o n d u z - n o s à b e a t l t i l ­d e o u à e q u a n i m i d a d e . E ' o e s t i l o q u e m a i s Inf lue n o p e n s a m e n t o , o q u o a c t u a s o b r e a s f u n ç õ e s i n t e ­l e c t u a i s e q u e , a p e r f e i ç o a n d o - n o a o I n t e l e c t o , n o s c o n d u z i r á ã c o m ­p r e e n s ã o d o d e s t i n o . U m m o d e l o d o p r i m e i r o e s t i l o , i s t o é, d o r í t m i ­c o , t e m o - l o n a m ú s i c a d e T s c h a i -k o v s k l , q u e foi u m d o s q u e l e ­v a r a m o r e f e r i d o e s t i l o à s u a m a l o i - e x p r e s s ã o o q u e m a i s e x ­c l u s i v a m e n t e o c u l t i v a r a m . O C a s -c a n u e z , q u e foi a o b r a q u e Ini­c i o u a s u a f a m a , é p u r a m ú s i c a d e b a i l e ( H a l l e r i i i u s l k ) , e, e m g e ­r a l , a s s i m é t o d a a s u a m ú s i c a , in­c l u i n d o a Q u i n t a S i n f o n i a q u e t e m t e m e m v e z d e S o h e r z o u m a v a l s a . A S i n f o n i a P a t é t c a (6 . " ) , n ã o o b s t a n t e u m f ina l , n o q u a l m u l t o b e m f a z u s o d o t e r c e i í o e s ­t i lo , e d a c o n h e c i d a m e l o d i a d o p r i m e i r o a n d a m e n t o , é q u á s i t o d a m ú s i c a d e ba i l e , i s to é, p r i m e i r o

e s t i l o . O m e s m o p o d e m o s d i z e r d a s u a S i n f o n i a C a r a c t e r í s t i c a ( 4 . " ) , q u s é q u á s l t o d a m ú s i c a d e b a i l e . F o i T s c h a l k o v s k l p o u c o feUz s e m -p r o q u e t r a t o u d e e m p r e g a r o s e ­g u n d o e s t i l o , o s e n t i m e n t a l , n a s s u a s s i n f o n i a s . T e m o s u m e x e m ­plo d i s s o n a c i t a d a S i n f o n i a P a t é ­tica-. Ai , o c o m p o s i t o r r u s s o , f i cou m u l t o l o n g e d c a t i n g i r a s u b l i m i ­d a d e d u m B r a h m s o u a d o s e u m o d e l o S c h u m a n n . o u a i n d a a d o s e u m e s t r e R u b i n s t e i n . M a s , c o ­m o d i s s e m o s , n o p r i m e i r o e s t i l o , o u s e j a n o r í t m i c o , toailável, T s -c h a i k o v s k i i m p e r a : foi e s s e o s e u e l e m e n t o . O r e f e r i d o p r i m e i r o e s ­t i lo , o u s e j a o r i t m l c o , é o q u e

t e r c e i r o e s t i l o , q u e e r a o q u e c u l ­t i v a v a . W a g n e r é p o r t a n t o o m e ­l h o r e x e m p l o q u e [ i o d e m o s d a r c o m o c u l t o r d o t e r c e i r o e s t i l o m u ­s i c a l . N ã o o b s t a n t e , d e c e r t o m o ­d o , t o d o s o s c o m p o s i t o r e s c u l t i v a ­ram o s t r ê s e s t i l o s a o m e s m o t e m p o , r i t m o , m e l o d i a e h a r m o ­n i a , e, p o r t a n t o , o s t r ê s e s t i l o s m u s i c a i s n ã o p o d e m s e r s e p n r a -d o s e m a b s o l u t o .

A n t e s s u c e d e q u e , d e a c o r d o c o m o t e m p e r a m e n t o d e c a d a u m , o s d i v e r s o s c o m p o s i t o r e s e m p r e ­g a m g e r a l m e n t e u m d a q u e l e s t r ê s e s t i l o s , d e p r e f e r ê n c i a a o s o u t r o s do i s . A T s c h a l k o v s k i , p o r e x e m ­plo , c l a s s i f l c o - o c o m o c o m p o s i t o r

O s t r ê s m a i s d i s t i n g u e t o d o s o s c o m p o ­s i t o r e s m o d e r n o s , e s p e c i a l m e n t e o s r u s s o s . A i n d a q u e m e a r r i s q u e a e s c a n d a l i z a r o s c r í t i c o s m u s i ­c a i s a p e g a d o s à t r a d i ç ã o , a c r e s ­c e n t a r e i q u e , e m I t á l i a , o p r i n c i ­p a l e x p o e n t e d o m e s m o e s t i l o foi R o s s i n i ; c c o m i s s o q u e r o s i g n i f i ­c a r q u e o s I t a l i a n o s q u á s i n ã o c u l t i v a m o e s t i l o e m q u e s t ã o q u e , e m F r a n ç a , t e v e o s s e u s p r i n c i ­p a i s e x p o e n t e s e m B l s e t e S a i n t -S a e n s .

O a i n i c i a d o r e s d o p r i m e i r o e s ­t i l o f o r a m H a y d n e M o z a r t . E n t r e o s s e u s p r i n c i p a i s c u l t o r e s m e n ­c i o n a r e m o s t a m b é m R l m s k l - K o -c h u r k , B o r o d l n c , I v a n o f f , e t c .

D e v o f a z e r c o n s t a r q u e , a o t r a ­t a r n o p r e s e n t e t r a b a l h o d o s e ­g u n d o e s t i l o , o u s e j a d o m e l ó ­d i c o , d o s e n t i m e n t a l , n ã o m c r e ­f i r o a o b e l CantO, i s t o é. a e s s e e s ­t i l o s i m p l e s c m q u e s e d i s t i n g u i ­r a m p r i n c i p a l m e n t e V e r d i , B e l l i n i , D o n i z e t t l , e t c . O bel c a n t o é in ­d u b i t a v e l m e n t e m e l ó d i c o ; m a s r e -c o r d e - s e q u e t k d a a m ú s i c a é d e c e r t o m o d o m e l o d i a , n s s l m c o m o o j a z z , o u s e j a o s o m a q u e b a i ­l a m os a m e r i c a n o s e o s q u e o n ã o s ã o , é r í t m i c o : m a s n e m o g r o s ­s e i r o r i t m o d o J a z z n e m a m e l o d i a I n s u l s a d o liei r a n t o p o d e m e n t r a r p a r a n a d a e m u m a c r i t i c a q u e , c o m o a p r e s e n t e , t e n d e a i n v e s t i ­g a r o s e n t i d o p r o f u n d a m e n t e fi lo­s ó f i c o d a m ú s i c a .

A s s i m , q u e m n o s d á u m e x e m ­plo d o s e g u n d q e s t i l o m u s i c a l , i s t o é, d o r o m â n t i c o o u s e n t i m e n ­t a l , é C h o p i n , p o i s foi ê le q u e m m a i s e x c l u s i v a m e n t e o c u l t i v o u . R o m â n t i c o s f o r a m t a m b é m S c h u -b e r t , S c h u m a n n , M e n d e l s s o h n , L l s z t , R u b i n s t e i n , W i o n i a w s k i , B m h m s e W e b e r , q u e p o d e m s e r c o n s i d e r a d o s r e p r e s e n t a n t e s d e s t e e s t i l o . E m I t á l i a o s s e u s p r i n c i ­p a i s c u l t o r e s f o r a m L c o n c a v a l l o , P u c c i n i e M a s c a g n i c e m F r a n ç a M a s s e n e t e G o u n o d . M a s , c o m o d i s s e m o s , o q u e m e l h o r n o s s e r ­v i r á d e m o d e l o , c o m o c u l t o r d o d i t o e s t i l o , é C h o p i n .

U m e x e m p l o d o t e r c e i r o e s t i l o m u s i c a l , o u s e j a d o i n t e l e c t u a l m í s t i c o , t e m o - l o n o 1' i irs l fal e c m T r i s t ã o e I s o l d a , pois foi W a g n e r o q u e m a i s s e d e d i c o u a e s t e e s ­t i lo , c a q u e m , p o r ta l m o t i v o , d e ­v e m o s c o n s i d e r a r r e p r e s e n t a n t e d o m i s t i c i s m o m u s i c a l , o u s e j a d o t e r c e i r o e s t i l o . D i s s e m o s q u e o s t r ê s r e f e r i d o s e s t i l o s m u s i c a i s r e ­p r e s e n t a m , r e s p e c t i v a m e n t e , o p r e s e n t e , o p a s s a d o e o f u t u r o . R e c o r d e m o s q u e q u a n d o W a g n e r , f a l a v a d a c m ú s i c a d o f u t u r o » , e r ­r a d a m e n t e I n t e r p r e t a d o p e l o s s e u s c r í t i c o s , e s t e s s u p u n h a m o u f a ­z i a m s u p o r q u e o c o m p o s i t o r s e r e f e r i a à s u a m ú s i c a p a r t i c u l a r . A v e r d a d e é q u e a q u i l o a q u e s e r e f e r i a e r a a o e s t i l o , i s t o é, a o

d o p r i m e i r o e s t i l o ; m a s i s s o n ã o q u e r e d i z e r q u e a s u a m ú s i c a n ã o c o n t e n h a v e s t í g i o s d o s o u t r o s d o i s e s t i l o s . O m e s m o p o d e r í a m o s di­z e r d e C h o p i n a r e s p e i t o d o s e ­g u n d o e s t i l o e d e W a g n e r a r e s ­p e i t o d o t e r c e i r o .

S e m e m b a r g o , h o u v e u m c o m ­p o s i t o r q u e s e d i s t i n g u i u , n ã o s ó p o r h a v e r c u l m i n a d o n o s t r ê s c i -t a d o B e s t i l o s m u s i c a i s , m a s t a m ­b é m p o r t e r s a b i d o c o m b i n á - l o s e n t r e sl t ã o a d m i r a v e l m e n t e q u e a s s u a s o b r a s a u m e n t a m d i a a d i a d e I m p o r t â n c i a . E s s e c o m p o ­s i t o r é B e e t h o v e n , c u j a m ú s i c a q u e r e p r e s e n t a o p r e s e n t e , o p a s ­s a d o e o f u t u r o d a h u m a n i d a d e , p o r á o h o m e m e m c o n d i ç õ e s d e c o m p r e e n d e r o d e s t i n o e, p o r t a n ­t o , d e e n t r a r n a e t e r n i d a d e . . .

E ' n o s e u e s t i l o m u s i c a l q u e m e l h o r s e m a n i f e s t a B e e t h o v e n c o m o u m d o a m a i o r e s a p ó s t o l o s d o p a n t e í s m o . P a r a P i t á g o r a s , h o ­m e m p e r f e i t o e r a a q u e l e q u e t i ­n h a e q u i t a t i v a m e n t e d e s e n v o l v i ­d o s o s t r ê s p r i n c í p i o s e s p i r i t u a i s : s e n t i d o s , s e n t i m e n t o e I n t e l e c t o , o q u e c o r r e s p o n d e m á s a ú d e f í s i c a , â b o n d a d e e à s a b e d o r i a . D o m e s ­m o m o d o , a m ú s i c a m a i s p e r f e i t a è a q u o s a i b a p r o m o v e r o u f a v o ­r e c e r c o m I g u a l I n t e n s i d a d e a q u e ­l e s t r ê s p r i n c í p i o s d a n a t u r e z a h u ­m a n a : a e s s a c i r c u n s t â n c i a 6 p r e ­c i s a m e n t e o q u e m a i s d i s t i n g u e a m ú s i c a d e B e e t h o v e n . D o s e u p r i ­m e i r o t r i o a o ú l t i m o q u a r t e t o ê s t e c o m p o s i t o r c u l t i v o u p o r i g u a l o s t r ê s r e f e r i d o s e s t i l o s , a i n d a q u e c m c a d a a n d a m e n t o c J g u m d o s t r ê s p r e v a l e c e s s e s o b r e o s o u t r o s do i s .

N a s o n a t a a q u e d e r a m e m c h a ­m a r I . u a r ( o p . 2 7 ) , n o p r i m e i r o a n d a m e n t o p r e d o m i n a o s e g u n d o e s t i l o ( r o m â n t i c o ) , a o p a s s o q u e n o s e g u n d o a n d a m e n t o p r e d o m i n a o p r i m e i r o e s t i l o ( r í t m i c o ) e n o t e r c e i r o a n d a m e n t o o t e r c e i r o e s ­t i lo ( I n t e l e c t u a l ) . N a S o n a t a P a ­t é t i c a ( o p . 1 3 ) t o d o s o s t r ê s a n d a ­m e n t o s s ã o d o m i n a d o s pe lo p r i ­m e i r o e s U l o , n ã o o b s t a n t e o s e ­g u n d o a n d a m e n t o s e r r o m â n t i c o . O t e r c e i r o a n d a m e n t o é u m d o s m a i s fe l i zes e x e m p l o s q u e o c o m ­p o s i t o r d e u d o p r i m e i r o e s t i l o .

A S o n a t a c o m v a r i a ç õ e s , d a m a r c h a f ú n e b r e ( o p . 2 6 ) t e m n o p r i m e i r o a n d a m e n t o u m t e m a c o m p l e t a m e n t e i n t e l e c t u a l o u s e j a t e r c e i r o e s t i l o . O t e r c e i r o a n d a ­m e n t o é a c o m o c l o n a n t e m a r c h a f ú n e b r e e m q u e o s t r ê s e s t i l o s s e m a n i f e s t a m e m c o m b i n a ç ã o a d m i ­r á v e l . A S 0 n . 1 t a a p a s s l o n a t a ( o p . 6 7 ) t e m a p a r t i c u l a r i d a d e d e , e m c a d a u m d o s t r é s a n d a m e n t o s , e s ­t a r e m e q u i t a t i v a m e n t e r e p r e s e n ­t a d o s 0 8 t r ê s e s t i l o s . E ' a s o n a t a q u e B e e t h o v e n c o n s i d e r a v a a m a i s p e r f e i t a d e t o d a s e, i n q u e s ­t i o n a v e l m e n t e , é 'o i n c o m p a r á v e l

b e l e z a . M a s u m a d a s m a i s e s p l ê n ­d i d a s s o n a t a s é a S o n a t a e m r é m e n o r ( o p . 31 »<." 2 ) . O p r i m e i r o a n d a m e n t o 6 c o m p l e t a m e n t e I n t e -l e c t u a l , a s s i m c o m o o s e g u n d o , n ã o o b s t a n t e ê s t e ú l t i m o s e r m u i ­t o c o m o c l o n a n t e . O t e r c e i r o a n ­d a m e n t o é u m a e s p é c i e d e p r e l ú ­dio e m q u e u m j o g o d e q u a t r o n o t a s p a s s a p o r t o d o s o s t o n s . N â o o b s t a n t e o r i t m o q u e o c a ­r a c t e r i z a é c o m p l e t a m e n t e i n t e ­l e c t u a l .

O s p r i m e i r o s q u a r t e t o s d e B e ­e t h o v e n f o t a m no e s t i l o d e H a y -d ln , I s t o é, r í t m i c o s , p r i m e i r o e s t i ­lo . U m d o s s e u s m a i s n o t á v e i s q u a r ­t e t o s é o c h a m a d o Q u a r t e t o d a »

s i n f o n i a s ; m a s n õ o s ã o m e n o s 0 3 q u e e n t e n d e m q u e é s s o l u g a r pertiMics á s e x t a o u P a s t o r a l , n a q u a l B e e t h o v e n « i m o r t a l i z a os e l e m e n t o s d o c é u c d a t e r r a » . A S é t i m a S i n f o n i a , c o m e x c e p ç ã o d o s e u r o m â n t i c o a l l e g r e t o , e s t á c o m p o s t a n o p r i m e i r o e s t i l o . O p o e t a N i c o l a u L c n a u c o n s i d e r a -v a - a a m a i s b e l a d e t o d a s . M a s o p r ó p r i o B e e t h o v e n p r e f e r i a a O i t a v a S i n f o n i a e o m í s t i c o e i n t e l e c t u a l W a g n e r r e c o n h e c e nn N o n a S i n f o n i a n ã o j á a m e l h o r d e t o d a s m a s s i m a c ú s p i d e d e t o d a a p r o d u ç ã o a r t í s t i c a e m g e ­r a l ; p o r q u e e s t a s i n f o n i a e s t á c o m p o s t a n o t e r c e i í o e s t i l o . T u -

M a s o q u e s u s t e n t a m o s é q u e e s ­s e s t r ê s e s t i l o s e s t i v e r a m s e m ­p r e c o m b i n a d o s e m t o d a s a s s u a s c o m p o s i ç õ e s e q u e J u l g a i u m s u p e r i o r a o o u t r o é u m a a r ­b i t r a r i e d a d e . O f ina l d o q u a r t e t o o p . 130 , q u e foi r e a l m e n t e o úl­t i m o q u e B e e t h o v e n c o m p ô s n a s u a v i d a , é r í t m i c o , o u s e j a p r i ­m e i r o e s t i l o . T a m b é m o é o fi-n i l d a S o n a t a P a t é t i c a ( o p . 1 3 ) . N e n h u m d e s s e s f i n a i s v a i p e r d e r p o r i s s o o s e u m é r i t o . A c i t a d a S o n a t a s e r á s e m p r e o q u e é, e o S e p t e t o , a - p e a a r - d e t u d o , é u m a d a s m e l h o r e s o b r a s m u s i c a i s c o m p o s t a s p o r B e e t h o v e n .

E ' b e m s a b i d o q u e a m ú s i c a ,

g e c o m u m a m ã o a n a t u r e z a e c o m a o u t r a o h o m e m . . . O s e u g r a n d e c o r a ç ã o a b r a ç a v a t o d a a h u m a n i d a d e ; c o m a d m i r á v e l In­t u i ç ã o p e n e t r a v a I n t e l e c t u a l m e n ­t e a t r a v é s d e t õ i l a a u s f a l s i d a ­d e s a t é c h e g a r à v e r d a d e , e j á n a s u a o b r a a r t í s t i c a b o s q u e j a v a a s a s p i r a ç õ e s r e l i g i o s a s , h u m n -n a s e d c m o c r á t l o i s , o a m o r , a c a m a r a d a g e m , o s c a r a c t e r e s e t o d o s o s s e n t i m e n t o s e l e v a d o s e p r o f u n d o s q u e p r e s s a g i a m o s a l ­v o r e s d u m a n o v a s o c i e d a d e . F o i u m v e r d a d e i r o h o m e m e d e u t a m b é m o r i g e m a u m n o v o t i p o do h o m e n s . Q u ã o t r e m e n d a d e v o t e r s i d o a l u t a q u e s u s t e n t o u e n -

e s t i l o s m u s i c a i s POR C A R L O S B R A N D I

I l a r p i s ( o p . » 4 ) p o i s t e m a c u r i o ­s i d a d e d e c o m e ç a r a l i a p r e d o m i ­n a r o t e r c e i r o e s t i l o , q u e foi q u á s i e x c l u s i v a m e n t e a q u e l e e m q u e c o m p ô s os c i n c o ú l t i m o s q u a r t e ­t o s c h a m a d o s O s g i g a n t e s . D e s ­t e s o m a i s n o t á v e l é o o p . 131 q u e W a g n e r n ã o s e c a n s a d e e l o g i a r . D a s s u a s s i n f o n i a s , a q u i n t a , e m d ó m e n o r , c h a m a d a a S i n f o n i a d o D e s t i n o , c a m a i s c é l e b r e d e t o ­d a s . « A s s i m b a t e o D e s t i n o à m i ­n h a p o r t a » , diz o c o m p o s i t o r a o d e s c r e v e r a s o i t o p r i m e i r a s p a n ­c a d a s d a I n t r o d u ç ã o . O p r i m e i r o a n d a m e n t o d e s t a s i n f o n i a é r í t m i ­c a , p r i m e i r o e s t i l o , o é a p a r t e q u e m a i s a d m i r a v a G o e t h e . O s e ­g u n d o a n d a m e n t o é a p a r t e s e n ­t i m e n t a l , s e g u n d o e s t i l o , e o fi­na l , t e r c e i r o e s t i l o , é a p a r t e m a i s i n t e l e c t u a l . O b s e r v a r - s e - á q u e a e s t r u t u r a d e s t a s i n f o n i a é a m a i s p e r f e i t a , pois o s s e u s t r ê s a n d a m e n t o s r e p r e s e n t a m s u c e s s i v a m e n t e o p r e s e n t e , o p a s s a d o e o f u t u r o , o u s e j a o p r i m e i r o e s t i l o , o s e g u n d o e o t e r c e i r o . A P r i m e i r a S i n f o n i a e m d ó m a i o r é, d e t o d a n m ú s i ­c a d c B e e t h o v e n , a q u e m a i s s e a j u s t a a o p r i m e i r o e s t i l o c m c a ­d a u m a d a s s u a s p a r t e s . E ' p o r ­t a n t o • m a i s a d m i r a d a p e l o s c l á s s i c o s , p o i s e s t á e m c o n f o r ­m i d a d e c o m o e s t i l o d e H a y d l n e d e M o z a r t . N a S e g u n d a S i n f o ­n i a e m r é m a i o r ( o p . 2 1 ) J á c o ­m e ç a a r o m p e r o s m o l d e s d o c l a s s i c i s m o O p r a i e i r o a n d a ­m e n t o é r i t m l c o . ou s e j a p r i m e i ­r o e s t i l o , m a s e x t r a o r d i n a r i a ­m e n t e o r i g i n a l . « O s m a i s a d m i ­r á v e i s e e s t r a n h o s e f e i t o s s c su ­c e d e m a l i u n s a o s o u t r o s t ã o f l u e n t e c o m o I n e s p e r a d a m e n t e » . M a s o m a i s n o t á v e l é o s e g u n d o a n d a m e n t o , c o m p o s t o n o s e g u n d o e s t i l o , i s to é, n o r o m â n t i c o , e n o q u a l a m e l o d i a c h e g o u á s u a m a i o r s u b l i m i d a d e . N e m S c h u -b e r t n e m C h o p i n n e m n e n h u m o u t r o c o m p o s i t o r r o m â n t i c o c h e ­g a r a m j a m a i s a • t i n g i r a s e n ­t i m e n t a l i d a d e d e s t e s e g u n d o a n ­d a m e n t o . S c h u b e r t r e p u t a v a - a a m e l h o r s i n f o n i a do B e e t h o v e n . O BChorzo, o t r i o o o t e r c e i r o a n ­d a m e n t o d e s t a s i n f o n i a s ã o t o ­d o s r í t m i c o s , p r i m e i r o e s t i l o . A Q u a r t a S i n f o n i a ( o p . 6 0 ) t e m p a s s a g e n s m o d e r n i s t a s , v e r d a d e i ­r o s < i e s t a d o s d e n l m a » q u e n ã o f o r a m I g u a l a d o s p o r n e n h u m o u ­t r o c o m p o s i t o r m o d e r n o . N e s s a s i n f o n i a c o m e ç a m j á a m a n i f e s -t a r - s e o s t r é s e s t i l o s m a r a v i l h o ­s a m e n t e c o m b i n a d o s . H e i t o r B e r l l o z d i z q u e foi c o m a t e r c e i -l a s i n f o n i a , a H e r ó i c a , q u e B e ­e t h o v e n f e z a s u a e n t i a d a n o e s ­t i l o m í s t i c o I n t e l e c t u a l , n o t e r ­c e i r o e s t i l o . M u i t o s c r í t i c o s c o n -s i d e r a m - n a a m e l h o r d a s s u a s

d o é q u e s t ã o d e g o s t o . A o c l á s ­s i c o L e s u e u r é l ó g i c o q u e l h e a g r a d a s s e m a i s a P r i m e i r a S in­f o n i a ( p r i m e i r o e s t i l o ) , c o m o a o : o m â , n t l c o S c h u b e r t , a S e g u n d a S i n f o n i a ( s e g u n d o e s t i l o ) e a o m í s t i c o W a g n e r a N o n a S i n f o n i a ( t e r c e i r o e s t i l o ) . M a s é p r e c i s a ­m e n t e a h a b i l i d a d e d e B e e t h o ­v e n c m c o m b i n a r c o n v e n i e n t e ­m e n t e e s s e s t r ê s e s t i l o s , e m t o ­d a s a s s u a s c o m p o s i ç õ e s , q u e m a i s c o n t r i b u i u p a r a a s u p e r i o ­r i d a d e d a s u a m ú s i c a , po i s , c o ­m o J á t e m o s d i t o , o o b j e c t i v o d a a r t e é i n t e r p r e t a r a e v o l u ç ã o n o s s e u s t r ê s a s p e c t o s : f í s i co , m o r a l o I n t e l e c t u a l . E n t e s t r ê s a s p e c t o s e s t ã o r e p r e s e n t a d o s n o p r i m e i r o e s t i l o m u s i c a l , n o s e g u n d o e n o t e r c e i r o e c o r r e s p o n d e m a o p r e ­s e n t e , a o p a s s a d o e n o f u t u r o . A s s i m , a m ú s i c a r e s o l v e o p r o ­b l e m a d a q u a r t a d i m e n s ã o , o t e m p o , e n s i n a n d u - n o s a c o m p r e ­e n d e r o d e s t i n o e i n i c l a n d o - n o s n a e t e r n i d a d e . . .

V á r i o s c r í t i c o s o m p e n h a r a m - s e e m a p r e s e n t a r o s t r ê s e s t i l o s d e B e e t h o v e n — c o m o s u c e d o c o m o s t r é s e s t i l o s p i c t ó r i c o s d e R u b e n s c d e R a f a e l e m e s c a l a a s c e n d e n t e , q u e r e n d o s i g n i f i c a r c o m i s s o q u e o p r i m e i r o e s t i l o e i a o m e n o s b e l o e o ú l t i m o o m a i s b e l o d e t o d o s , s e n d o W a g n e r o p r i m e i r o a p r o c l a m á - l o a s s i m . S e m e m ­b a r g o , e s s e e m p e n h o é a r b i t r á ­r i o po i s , c o m o d i s s e m o s , t u d o 6 q u e s t ã o d e g o s t o , a i n d a q u e o p r ó p r i o B e e t h o v e n , i m p l i c i t a m e n ­te, t i v e s s e p a r t e n e s s e e m p e n h o , f a l a n d o d e p r e c i a t i v a m e n t e d e A d e l a i d e , d o Spte . to e d a s V a ­r i a ç õ e s p a r a p i a n o ( o p . 3 4 ) , p o r j u l g a r q u o t o d a e s s a m ú s i c a e r a a p e n a s b a g a t e l a , e n s a i o d a J u ­v e n t u d e .

Q u e o p r e d o m í n i o do c a d a u m d o s t r ê s e s t i l o s m u s i c a i s , c m u i d a u m a d a s s u a s c o m p o s i ç õ e s , v a r i a v a c o m a I d a d e d o c o m p o ­s i t o r é ç o l s a q u e n ã o a d m i t o d i s c u s s ã o . O p r i m e i r o e s t i l o : P r i m e i r a S i n f o n i a ( o p . 2 1 ) , o S e p l e t o ( o p . 2 0 ) , a S o n u t n P a t é ­t i c a ( o p . 1 3 ) o o s p r i m e i r o s t r i o s e q u a r t e t o s r e p r e s e n t a m a J u ­v e n t u d e d o m ú s i c o . O s e g u n d o e s t i l o : S e g u n d a S i n f o n i a ( o p . 3 6 ) e a s a b e r t u r a s d c C o r i o l a n o ( o p . 6 2 ) e d e E g m o n t ( o p . 8 4 ) r e p r e ­s e n t a m o o u t o n o , e m q u a n t o a m a d u r e z d a s u a v i d a e s t á r e p r e ­s e n t a d a p e l a M i s s a S o l e , u n i s ( o p . 1 2 3 ) . p e l a S i n f o n i a C o r a l ( o p . 1 2 S ) , p e l a a b e r t u r a I c a n o r ( o p . 138) e p e l o s c i n c o Q u a r t e t o » Gi ­g a n t e s ( o p . 127 . 130, 131 , 132 c 1 3 5 ) . D e m o d o q u e n o c o m e ç o du s u a c a r r e i r a o e s t i l o q u e m a i s c u l t i v o u foi o p r i m e i r o , d e p o i s o s e g u n d o , c p o r f i m o t e r c e i r o .

a i n d a q u e n ã o s e h a j a d e s c o b e r ­t o o m o t i v o , t e m v a l o r t e r a p ê u ­t i c o . R e f e r e m q u e P i t á g o r a s , c u ­r a v a a f e c ç õ e s f í s i c a s p o r m e i o d a m ú s i c a e, d e e n t ã o a t é h o j e , m é d i c o s e m i n e n t e s c h a m a m d c v e z e m q u a n d o a a t e n ç ã o p a r a a l g u m a c u r a e f e c t u a d a p e t a m ú ­s i c a . C l a s s i f i c a d o s o s d i v e r s o s e s ­t i l o s m u s i c a i s d a f o r m a p o r q u e a c a b o d e o f a z e r , c r e i o q u e s e a b r e u m n o v o c a m p o à c i ê n c i a I n v e s t i g a n d o o e f e i t o q u e o p r i ­m e i r o e s t i l o m u s i c a l , i s t o é, o q u e f a l a a o s s e n t i d o s , o q u e r e ­p r e s e n t a o p r e s e n t e , p o s s a e x e r ­c e r n a s p e s s o a s e n f e r m a s Q u a n ­t o a o s e g u n d o e s t i l o m u s i c a ] , o s e n t i m e n t a l , o q u e f a l a a o p a s s a ­do, s e i p o r e x p e r i ê n c i a p r ó p r i a q u e e x e r c e g r a n d e i n f l u ê n c i a n o m o ­r a l . R e c o r d o - m e d c q u e . u m a vez , t e n d o 3 Í d o v i t i m a du p e r f í ­d i a d e c e r t o c o m p a n h e l i o , a o r e ­g r e s s a r a c a s o , m o l e s t a d o , p a r e i a o u v i r u m a s i n f o n i a d e B e e t h o ­v e n q u e e s t a v a a s e r t o c a d a ; d a i a t r é s m i n u t o s o m e u e s p i r i t o t i n h a p e r d o a d o a o p é r f i d o e, a l ­g u n s m i n u t o s m a i s t a r d e , j á o m e u i n t e l e c t o t i n h a c o m p r e e n d i ­d o a c a u s a f a t a l e i n e v i t á v e l d a p e r f í d i a . N ã o é i s t o c o m p r e e n d e r o d e s t i n o ? P o u c o e n t e n d e d c m ú s i c a b e e t h o v e n i n n a q u e m n ã o ee i n t e i r e d c q u e e n t a n o s p u r i ­f i c a o e s p í r i t o e a p e r f e i ç o a o e n ­t e n d i m e n t o , condi i z lnd io -nos a s ­s i m d i r e c t a m e n t e à s a b e d o r i a . R o m a l n R o l l a n d , n a s u a f a m o s a o b r a s o b r e B e e t h o v e n , c h a m a a a t e n ç ã o p a r a o f a c t o d e a s u a m ú s i c a f a v o r e c e r a v i r t u d e , o q u e i m p l i c a s e r d e g r a n d e i m ­p o r t â n c i a c o m o f a c t o r d o p r o ­g r e s s o i n t e l e c t u a l e m o r a l d a h u m a n i d a d e . A q u e l a o b n a t r a z u m m a g n i f i c o p r ó l o g o do E . C a r p e n t e r , d o q u a l r e c o r t o o p a ­r á g r a f o q u e v a i a s e g u i r p o i s c o n d i z d e c e r t o m o d o c o m a m i ­n h a t e s e a a c r e a d a l m p o i t a n c l a p a n t e í s t a d a m ú s i c a d o g r a n d e c o m p o s i t o r . « B e e t h o v e n é o p r o ­f e t a d u m a n o v a e r a q u e s e in i ­c i a n o s é c u l o X I X . . . D o m e s m o m o d o q u e a s c o i s a s s e p r e s s e n ­t e m a n t e s d e s e m a n i f e s t a r e m , t a m b é m é p o s s í v e l e x p r e s s á - l a s n a s I n d e f i n i d a s f o r m n s c o m o c l o n a i s d i m ú s i c a , a n t e s d e s e p o d e r e m m a n i f e s t a r o u i m a g i n a r c o m s u ­f i c i e n t e c l a r e z a p a r a p o d e r s e r r e p r e s e n t a d a s p e l a p a l a v r a o u p e l a t e l a . B e e t h o v e n foi o p r e ­c u r s o r do S h o l l e y o do W h l t m a n e n t r e o s p o e t a s e d e J . M. T u r -n u r e e d e F . Mi l le t e n t r e o s pin­t o r e s . E ' o g r a n d e p o e t a q u e c i n -

t r e a s c o n d i ç õ e s I n t e r n a s e e x ­t e r n a s — e n t r e a s u a v e r d a d e i r a a l m a e o I s o l a m e n t o d o g r o s s e i ­r o m e i o e m q u e v i v e u — s a b e m o -- lo u n i c a m e n t e p e l a m ú s i c a . S e m ­p r e q u e a o u v i m o s in tc i ramo-noB d a a n t i g a t r a d i ç ã o r e l i g i o s a s e ­g u n d o a q u a l d e v e z e m q u a n d o , d u i a n t e a e x i s t ê n c i a h u m a n a s o ­b r e a t e r r a , a p a r e c e u m s e r di ­v i n o q u e , v i n d o d o s i n f i n i t o s e c u s , t o m a f o r m a m o r t a l e *e s u b m e t e a o s a c r i f í c i o p a i a p o d e r

a b r a ç a r e r e d i m i r a h u m a n i d a ­d e . . . »

O u ç a m o s a g o r a c o m o s e e x ­p r e s s a W a g n e r : «A m ú s i c a , q u e h a v i a s i d o a v i l t a d a r e l a t i v a m e n ­te à s u a p r ó p r i a n a t u r e z a a t é fi­c a r c o n v e r t i d a c m o b j e c t o d e d i ­v e r s ã o , foi e l e v a d a p o r B e e t h o ­v e n á m a i o r a l t u r a e s u b l i m i d a ­d e . E l e i n i c i o u - n o s n a c o m p r e e n ­s ã o d e s c a a r t e , p o r m e i o d a q u a l o m u n d o ( d e s t i n o ) f i c a e x p l i c a ­d o m a i s c l a r a m e n t e d o q u e a m a i s p r o f u n d a f i l o so f ia o p o d e ­r i a f a z e r . . . »

I m a g i n a i u m p i n t o r c o m p l e t a ­m e n t e c e g o , p i n t a n d o q u a d r o s m a g n í f i c o s do p a i s a g e n s q u e n ã o v ê e e m p r e g a n d o c o r e s q u e n ã o v ê t a m p o u c o , m a s q u e n e m p o r i s s o d e i x a d e c o m b i n a r c o m a r ­t í s t i c a h a b i l i d a d e , p a r a a p l i c a r a s c o r e s e x a c t a s e p i u d u z l r o s m a i o r e s e f e i t o - p i c t ó r i c o s . P o i s •bem, e s s e p i n t o r é B e e t h o v e n c o m p o n d o . A s « u a s m a i o r e s o b r a s c o m p ô - l a s q u a n d o t i n h a p e r d i d o p o r c o m p l e t o a f a c u l d a ­d e a u d i t i v a , o q u e s e e x p l i c a pe­l a c i r c u n s t a n c i a d e o m a e s t r o c o m p o r u n i c a m e n t e p o r i n t u i ­ç ã o . . . N ã o s e t o r n o u a, v è r n o m u n d o e x e m p l o s e m e l h a n t e . O b j e c t a r - s e - á q u e , a - p e s a r - d c e s ­t a r s u r d o , o m a e s t r o p o d i a r e ­c o r d a r , d e q u a n d o o n ã o e r a , o e f e i t o q u e p r o d u z i a m a s d i v e r s a s c o m b i n a ç õ e s : o s a c o r d e s . A i n d a q u e o s u p o n h a m o s . E o s d i s s o ­n â n c i a s ? C o n h e c i - a a t o d a s ? C o ­imo p o d i a ê s t e s u r d o c o m b i n a r c o m p r e c i s ã o a s m a i s í n f i m a s m l n u d é n c i a s m u s i c a i s a t é p r o d u ­z i r os m a i s s u b l i m e s a c o r d e s ? A l é m d i s s o , r e c o r d e - s e q u e a t é p a r a os q u e o u v e m b e m , a t é pa­r a m u i t o s m ú s i c o s , g r a n d e p a r ­t e d a s c o m p o s i ç õ e s d e B e e t h o ­v e n f o r a m c o n s i d e r a d a s d i s s o ­n a n t e s , e x t r a v a g a n t e s , c foi s ó c e m a n o s d e p o i s d a s u a m o r t e q u e se v e i o a a d m i t i r e m g e r a l q u e ó u m a m a r a v i l h a o q u e a n ­t e s s e j u l g a v a s e r d i s s o n â n c i a . N a o q u e r e d i z e r t u d o I s t o q u e

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