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COMPLEXO EDUCACIONAL – FMU

CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Serviço Social

Organização e Gestão de Políticas Sociais

Juventudes e funk: composições entre identidades atribuídas e

constituídas

Vinnícius Pereira de Almeida

Orientadora: Profª Ms. Stela Ferreira

São Paulo 2012

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Juventudes e funk: composições entre identidades atribuídas e

constituídas

Vinnícius Pereira de Almeida1

Resumo

O presente artigo se propõe a discutir o funk e as identidades atribuídas e

constituídas a este gênero musical enquanto manifestação cultural. Para tanto,

procura analisar por meio da metodologia de Grupo Focal, o que as

experiências juvenis contribuem na escolha destes jovens em seu cotidiano.

Almeja dialogar com os depoimentos coletados, verificando se as práticas

culturais deste gênero musical e as redes de sociabilidade deste grupo juvenil

são apenas dispositivos reprodutores do discurso ideológico presente na mídia

e no senso comum ou se para além de práticas alienantes e alienadoras

possibilitam a construção de sujeitos, mesmo em suas identidades escolhidas.

Palavras- chave: juventude, cultura, funk, identidade

1

Assistente Social graduado pelo Centro Universitário Assunção – UNIFAI, em julho do ano 2010. Pós-graduando do Centro de Pesquisas e Pós Graduação – FMU, Curso de Especialização em Organização e Gestão de Políticas Sociais. E-mail: [email protected]

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1. Trajetória histórica do Funk: juventude, música e classe social

Compreender a mídia, suas influências exercidas sobre a compreensão

dos diversos fenômenos culturais e sociais emergentes, é ter claro que as

interpretações do funk e de suas facetas, não estão imunes dos interesses

almejados por aqueles que detêm os meios midiáticos sob seu poder.

A partir daí, as abordagens que caracterizam o funk num primeiro

momento como “baderna e ameaça à ordem” são em seguida, vistas como

fruto de interesse lucrativo, por razões do Funk se tornar mais um ramo da

indústria cultural. A mesma mídia que demoniza, é aquela que também abre

espaços nos programas de televisão e noticiários. A produção jornalística

implica diversos modos específicos de ver e relatar o “real”, os quais diferem de

um veículo para o outro. Tais fenômenos configuram a trajetória do funk na

mídia com ambos os discursos: ora o que aponta, ora o que acolhe.

Por parte da imprensa há um movimento de geração que impacta na

opinião pública uma imagem homogeneizadora, na qual identifica o fenômeno

musical funk como elemento articulador de uma mesma e única faceta da

questão urbana: a violência. Isto vem sendo tratado pela imprensa, seja esta

televisiva e/ou escrita desde a década de 1990, e mantém-se com ênfase até a

conjuntura contemporânea. Embora no corpo das matérias essa identidade por

vezes se dilua, as manchetes jornalísticas, que têm maior impacto sobre a

opinião pública, insistiram e insistem em chamadas como:

“Funk carioca mistura música e violência” (O Estado de São Paulo,

26/10/92).

“Arrastão: o mais novo pesadelo carioca nasce nos bailes ‘funk’” (O

Globo, 23/02/92).

“DJ’: traficantes pagam bailes ‘funk’” (O Globo, 20/06/95).

“Funks voltam aos bailes e às brigas” (O Dia, 15/02/93)2.

Ou ainda:

2 In Guimarães, 1997, do artigo: “Juventude(s) e Periferia(s) Urbanas”. Disponível no endereço eletrônico

da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED:

http://www.anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE05_6/RBDE05_6_17_ELOISA_GUIMARAES.pdf .

Acesso em 08/04/12 às 16h25.

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“Polícia apreende adolescentes e recolhe carros em baile funk em

SP” (G1, 23/01/2012)3

Polícia detém 22 adolescentes em baile funk na zona sul de SP”

(Folha de São Paulo, 04/02/2012)4

PM faz blitz para acabar com pancadão na periferia de São Paulo

(Folha de São Paulo, 26/03/2012)5

Em estudos que buscam tematizar a questão dos movimentos juvenis e

em sua conexão com os movimentos urbanos relacionados à violência, esse

aspecto também nem sempre é claramente estabelecido. Ocorrem processos

de criminalização dos agentes e grupos envolvidos em tais atos, a

institucionalização de um lócus no qual se expressariam diferenças capazes de

configurar novos territórios e espaços sociais.

Em uma dessas análises VENTURA (1995), em trabalho jornalístico

desenvolvido a partir da convivência com populações da periferia, aborda o

aspecto da violência relacionada a esses grupos - que se manifesta, sobretudo

nos bailes — sem, no entanto, estabelecer diferenças entre eles, de forma

clara. Pode-se encontrar, contudo, diferentes inflexões em sua narrativa onde

transparecem certas distinções: quando suas análises se relacionam ao funk a

associação é com o fenômeno musical e com as festas (os bailes), enquanto

as referências à violência, no contexto do mundo funk são sempre pontuadas

pela menção às galeras (VENTURA, 1995).

Em VIANNA (1996), estudioso do fenômeno funk desde os anos 80, se

encontra a distinção mais enfática, ao negar a idéia da música e bailes funk

como essencialmente violentos. Reafirma, como já fizera em trabalhos

anteriores, seu caráter de festa e de diversão. O problema da discriminação do

funk (e dos bailes) se relacionaria, segundo o Vianna, a outros processos que

existiram na história da cidade, caracterizados pela recusa a prática culturais

desenvolvidas e/ou adotadas pelas populações do subúrbio. Assim, o samba e

a capoeira, inicialmente discriminadas e condenados foram, posteriormente,

3 Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2012/01/policia-apreende-adolescentes-e-recolhe-

carros-em-baile-funk-em-sp.html . Acesso em 08/04/12 às 15h53. 4 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1043978-policia-detem-22-adolescentes-em-

baile-funk-na-zona-sul-de-sp.shtml . Acesso em 07/04/2012 às 18h12. 5 Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1067221-pm-faz-blitz-para-acabar-com-

pancadao-na-periferia-de-sao-paulo.shtml . Acesso em 07/04/2012 às 18h40.

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através de diferentes mediações, aceitos e incorporadas à vida urbana6. Outro

estudo que tem importância para a questão levantada é o de HERSCHMANN

(1994:95), pouco voltado para os subgrupos galeras e funkeiros, que aborda o

problema do ponto de vista da cultura hip-hop (ou culturas das ruas, em seus

próprios termos) e suas relações com a cultura da violência que toma corpo

nos últimos anos no meio urbano. As referências para o autor são, então, as

práticas culturais e os estilos musicais que mobilizam parcela expressiva dos

jovens atuais, aí incluídos o funk, o rap, as galeras funk, entre outros. Assim,

HERSCHMANN (1995), introduz outra perspectiva que não está presente nas

colocações anteriores e que possivelmente representa o ponto de interseção

entre os diferentes universos juvenis atualmente presentes na cena urbana.

1.1 Tendências históricas do “Estigma Juvenil”

Adolescentes e jovens foram tradicionalmente compreendidos pela

posição que ocupam no sistema de classes. No Brasil, até a década de 1980

havia clara distinção entre os filhos de camadas populares e os segmentos

socioeconômicos mais elevados. Estes últimos, quase nunca eram

denominados “menores”, termo que praticamente se restringia à juventude

pobre – composta por negros/índios, assim como por famílias pobres, e sim

“crianças”, “adolescentes” e “jovens”. Ou seja, aos pobres, deveres, repressão,

contenção social e os estigmas de “delinqüência” e da “selvageria”. Aos mais

favorecidos: direitos, acesso a recursos e bens sociais, compreensão, apoio

psicológico e tolerância. Na década de 1990, as diferenças de tratamento

começaram a ser criticadas, em parte na esteira das discussões em torno da

Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA).

Segundo CATANI:

6 No contexto “pós-abolição inacabado” – expressão esta, proferida com veemência pelos Movimentos

Sociais em defesa dos direitos do Negro e Afro-Brasileiros, em 1890, fora instituído no Código Penal

uma lei conhecida como “Lei da vadiagem”, que tornava crimes passíveis de prisão a capoeira, a

mendicância, a vadiagem e a prática de curandeirismo, além de permitir que indivíduos a partir de 9 anos

de idade fossem condenados (GUIMARÃES, 2012: 307; BERNAL, 2004).

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O estigma da delinquência atribuído ao “menor” pobre

configurou-se, não por acaso, logo após o fim do regime

escravista (1888) e a subsequente proclamação da

república (1889). Desde a primeira década do regime

republicano brasileiro, crianças, adolescentes e jovens

pobres começaram a ser rotulados como “criminosos,

mendigos e desocupados”. Pouco tempo antes, esses

jovens eram os filhos e as filhas de escravos ou de

trabalhadores que viviam em regime de semi-escravidão,

entre os quais os miscigenados e os índios – todos estes

entendidos como “inferiores”, de uma perspectiva racista

(2004).

Já na década de 1920 a cultura discriminatória que associava jovens

pobres à criminalidade e a delinquência foi sistematizada pela criação do

primeiro Código de Menores (1927) e do primeiro juizado para menores,

quando se estabeleceu a correspondência entre “menor” (pobre) e “infrator”.

Nessa época, crianças e “jovens órfãos, abandonados e infratores” foram

equiparados em uma mesma categoria. Catalogados como “perigo social”,

podiam ser detidos e confinados com presos adultos. Tal modelo permaneceu

na legislação até o final dos anos 80. É sabido que a preocupação era com a

defesa da sociedade e não exatamente da criança, adolescente ou jovem.

Se até a década de 1980 a invisibilidade dos direitos do adolescente e

do jovem encontrara-se coberta pelos estigmas atribuídos, sobretudo, àqueles

que pertenciam às camadas populares, não seria diferente com as

manifestações culturais deste grupo. Assim, o funk quando visto pelo outro, ou

seja, na leitura de outra classe social, pode-se perceber a inferioridade que o

fenômeno é interpretado, talvez, por pertencer a um universo de uma “baixa

cultura”, não erudita, de produção independente, incompatível com os padrões

culturais hegemônicos orquestrados pela burguesia.

A violência no funk parte de interpretações, relatos vistos, quase

sempre, de um ângulo midiático que o visualizam como uma fotografia,

estática, pois, narram, descrevem e caracterizam, com valores moralistas,

disciplinatórios, policialescos e ainda patológicos. Essa interpretação tem como

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matriz, a leitura positivista da sociedade, tal como analisam Behring e

Boschetti:

[o positivismo é] Teoria baseada no pressuposto segundo

o qual a sociedade funciona como um ser biológico.

Entende que, se um ou alguns grupos sociais se

“desviaram” das funções a que seriam supostamente

destinados, a sociedade em seu conjunto (ou seu corpo)

terá problemas. Consequentemente, defende que os

grupos devem agir sempre de acordo com as normas

sociais para o funcionamento “saudável” e “harmônico” da

sociedade; por sua vez, os comportamentos

“anormativos” ou “desviantes” devem ser punidos

(BEHRING ; BOSCHETTI, 2008:26).

Com isso, não se pretende afirmar aqui que os frequentadores dos

bailes funk não estejam inseridos em expressões da violência social7 ou que

alguns não possuam envolvimento em práticas de conflito com a Lei.

Entretanto, é necessário repensar de que maneira este discurso, falas e

atitudes se diferenciam daquelas produzidas por outros jovens aparentemente

mais integrados em outras camadas sociais. Além disso, é de extrema

importância indagar que nem todas as juventudes do território nacional

usufruem da mesma “condição juvenil”. Ao caracterizar o perfil de uma

juventude periférica, logo, se tem uma juventude composta por jovens negros e

afro-descendentes. É sabido que a exposição da juventude negra à violência

tem raízes históricas e envolve complexidades que transcendem a temática

desta pesquisa. No entanto, o resgate de sua historicidade, possibilita

fundamentar que os olhares negativos que criminalizam o funk como

manifestação cultural, têm na verdade, um pano de fundo costurado por

retalhos, que permanecem em seus bordados, as questões ideológicas, de

classe social, racial e de gênero.

7 A categoria violência social envolve questões como a desigualdade, o desemprego, a

precarização do trabalho, a degradação das condições de vida, a incivilidade, a alienação do

trabalho e nas relações, o menosprezo de valores e normas em função do lucro, o

consumismo, o culto à força e o machismo, dentre outras (MINAYO, 1994; TELLES, 2001b;

apud SALES, 2007:22)

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2. A construção da Identidade: juventudes em movimento

É preciso saber de onde venho, onde estou e para onde vou,

para ter certeza de quem sou. (Provérbio africano)

O mundo da cultura emerge como um espaço de práticas,

representações, símbolos e rituais, no qual os jovens buscam afirmar uma

identidade juvenil. Distante dos olhares de figuras como os responsáveis (pais,

mães e outros), professores ou patrões, os jovens, assumem um papel de

protagonistas, atuando de alguma forma sobre o meio em que vivem,

constituindo determinados olhares sobre si mesmos e sobre o mundo que os

cerca. Neste contexto, o funk é uma atividade e/ou produção cultural (dentre

tantas) que mais os envolve na cena contemporânea.

Ao contrário da imagem criada e socialmente sustentada pelo discurso

midiático a respeito dos jovens pobres, que quase sempre é associada á

violência e à marginalidade, vale destacar, que eles também se posicionam

como produtores culturais. Muitos deles deixam de ser simples ouvintes e em

algumas situações, tornam-se produtores, formando grupos musicais das mais

diversas tendências, compondo, apresentando-se em festas, bailes e eventos,

criando novas formas e espaços caracterizados como manifestações culturais

da sociedade, que de certa forma, estão além da lógica estreita do mercado da

indústria cultural.

Esse processo encontra-se nos diferentes segmentos juvenis inseridos

entre as camadas sociais. No entanto, nas periferias que o fenômeno passa a

reunir tantos jovens na efervescência dos bailes funks e dos bondes. Nesses

espaços essa juventude vivencia, estabelece trocas, sonham, produzem,

divertem-se, experimentam. São nestes espaços, em momentos como estes,

que ocorre a socialização entre estes jovens.

A palavra identidade incorpora em seu conceito a noção de

perfeitamente igual ou semelhante8. No entanto, ao se agregar o termo

“identidade” partindo de uma perspectiva dialética, seu conceito adquire

amplitude, pois constitui significados que superam a dimensão expressa na

8 Dicionário Melhoramentos, 2000:540.

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singularidade da palavra identidade, impossibilitando unificar categorias ou

tipificar ideais que a definam. É necessário travar um diálogo que permeie o as

relações sociais de cada indivíduo, reconhecendo suas subjetividades, mas

considerando os movimentos históricos, o palco social, cultural e político que

configura a sociedade na contemporaneidade e assim, forma a identidade

social.

Em nenhuma conjuntura sociocultural, seja de realidades locais e/ou

globais, a juventude representa um bloco homogêneo capaz de responder por

um conjunto de categorias fixas. Os jovens trabalham, vão à escola, abraçam

algumas causas, mas os referenciais identitários não passam pela fábrica, pela

escola, pelo partido. A identidade está em outra parte9 (BORELLI, 2008;

DAYRELL, 2009; ABRAMOVAY, 1999; ABRAMO, 2002). São identidades em

movimento, efêmeras, híbridas, capazes de respostas ágeis e, por vezes,

surpreendentemente comprometidas (BORELLI, 2008:52).

2.1 A Identidade Atribuída ao funk: aspectos constitutivos da

identidade sociocultural

Maria Lúcia Martinelli (2009) realiza em seus estudos orientados por

referenciais da teoria marxiana, a questão da identidade profissional, pensada

de forma dialética. A autora sustenta que o Serviço Social não possui uma

identidade profissional, e observa que “[...] a ausência de identidade

profissional fragiliza a consciência social da categoria profissional,

determinando um percurso alienado, alienante e alienador de prática

profissional (MARTINELLI, 2009: 17). Assim, destaca que:

Fetichizando misticamente como uma prática a serviço da

classe trabalhadora, o Serviço Social era, pois, na

verdade, um importante instrumento da classe burguesia,

que tratou de imediato de consolidar sua identidade

atribuída, afastando-a da trama das relações sociais, do

9 Esclarece-se que o conceito de identidade acionado neste artigo, não supõe, de forma

alguma, qualquer conotação de homogeneidade; pelo contrário, reforça a heterogeneidade, a diversidade cultural e a existência de múltiplas juventudes e suas especificidades inseridas em cada singularidade manifesta no cotidiano.

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espaço social mais amplo da luta de classes e das

contradições que as engendram e são por ela

engendradas (MARTINELLI, 2009: 67).

A abordagem histórica tem como resultado a confirmação da hipótese de

que o Serviço Social já surge num cenário histórico que possuíra uma:

[...] identidade atribuída, que expressava uma síntese de

práticas pré-capitalistas – repressoras e controlistas – e

dos mecanismos e estratégias produzidos pela classe

dominante para garantir a marcha expansionista e a

definitiva consolidação do sistema capitalista

(MARTINELLI, 2009: 58).

A autora aponta na direção de uma prática profissional alienada, que

ainda não foi totalmente superada, refletindo uma identidade atribuída, na qual

propicia uma prática social reprodutora e conveniente para com o projeto

hegemônico burguês. De semelhante modo, tomaremos como empréstimo o

termo “identidade atribuída10” utilizado nos estudos de Martinelli, para

seguirmos na reflexão sobre o funk, enquanto manifestação cultural, que

também possui uma identidade atribuída.

Dado que o capitalismo contemporâneo é caracterizado pela inserção

através do consumo, e não mais apenas pelo lugar ocupado na produção,

estas juventudes, com seus atributos de fluidez, inconstância e múltiplas

10

Em “Serviço Social: Identidade e Alienação”, MARTINELLI (2009), traz o nascimento do capitalismo

na Inglaterra, seu modo de produção suas relações sociais, tendo como objetivo final desvendar ou

compreender o que vincula ou unifica o Serviço Social ao capitalismo. Ao mergulhar na história, a autora

destaca importantes acontecimentos como as Revoluções na França e Inglaterra. Tendo por base a

reconstrução da história da formação do movimento operário no contexto europeu, o texto apresenta a

trajetória da racionalização da assistência social e das origens do desenvolvimento do Serviço Social nos

âmbitos – europeu, estadunidense e brasileiro, sob a “ilusão de servir”, parte das iniciativas burguesas, da

Igreja, do Estado para o controle social da classe operária e enfrentamento da acumulação da pobreza. O

propósito, é identificar as nuances e possibilidades para o desenvolvimento da identidade profissional e da

consciência social dos assistentes sociais. Contudo, a conexão entre a análise de Martinelli e este trabalho

se dá pela proximidade teórica, pois, a mesma argumenta que a teoria marxiana é a que possui

completude e maior rigorosidade para explicar o capitalismo, o modo de produção e a reprodução das

relações sociais, pela compra e venda da força de trabalho, bem como a história das classes sociais e o

conceito de categorias como: Identidade, Alienação e Consciência.

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vulnerabilidades, terminam por ser uma figura ideológica, muito mais funcional

para o capital. Conforme Chauí:

Desde que passemos da noção de falso para a de ilusão

necessária à reprodução de uma ordem social

determinada, o conceito de alienação vai gradativamente

perdendo sua conotação imediatamente subjetiva, para

emergir como determinação objetiva da cultura dominante

quanto da dominada, pois ainda que seu conteúdo e

finalidade sejam diversos nos dois casos, sua forma é

idêntica em ambos (CHAUÍ, 1982:64).

Para MELUCCI (2004), ser jovem não se trata de viver o destino, mas

ter a escolha de transformar e conduzir a própria existência. Se os jovens

possuem um campo maior de autonomia diante das esferas do “universo

adulto” para construir seus próprios acervos e identidades culturais, o Funk se

coloca como um dos poucos meios pelos quais os jovens podem exercer o

direito às escolhas, tecendo diferentes modos de vida e ampliando

experiências de e na vida. Estas escolhas permeiam entre a tensão de uma

identidade atribuída, na qual permanece o olhar, valores, fluxos e tendências

da sociedade capitalista sobre o fenômeno, pois, ao mesmo tempo (e em

constante movimento) que ocorrem tais escolhas, protagonizadas pelas

próprias juventudes, estas emergem numa dimensão cultural11 e ideológica12.

Na perspectiva gramsciana, o popular na cultura significa, portanto, a

transfiguração expressiva de realiades vividas, conhecidas, reconhecíveis e

identificáveis (CHAUÍ, 2006: 20).

11

Segundo IAMAMOTO (2007:403), em sua análise de cultura popular, Gramsci parte da ideia de que na

“filosofia espontânea” do povo estão contidas “concepções de mundo” que se expressam nas crenças, nas

supertições, nas opiniões, na linguagem, no senso comum, enfim, nos “modos de ver e agir”. Tais

concepções de mundo são indicativas do pertencimento a determinadas classes, elos de união com todos

aqueles que partilham de um mesmo modo de pensar e agir. 12

Conforme IAMAMOTO (2007:402), para Gramsci, a ideologia é um tipo de conhecimento próprio da

práxis interativa, a qual não mobiliza apenas conhecimentos, mas um conjunto de normas e valores para

dirigir a ação aos fins pretendidos. Envolve a capacidade de convencimento, de influir no comportamento

dos demais, mesmo que seja necessária, como último recurso, a coerção , tendo em vista a constituição de

um sujeito coletivo: atores que partilhem um conjunto de noções, valores e crenças subjetivas igualmente

comuns ou que sejam movidos por uma vontade coletiva (IAMAMOTO, 2007 apud COUTINHO,

1989:67).

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2.2 O percurso pela via da(s) sociabilidade(s): a cultura como

mediação

Eu só quero é ser feliz/Andar tranquilamente

Na favela onde eu nasci/É.../E poder me orgulhar E ter a consciência/que o pobre tem o seu lugar

13

As relações de sociabilidade, as manifestações culturais e a produção

inserida na dinâmica desencadeada pelas juventudes, configura

especificidades existentes entre as múltiplas realidades juvenis na

contemporaneidade.

Ao analisar os coletivos juvenis em suas manifestações culturais,

observa-se que alguns adolescentes/jovens, articulam-se preferencialmente em

“redes de socialidades”, buscando formas mais autônomas, de “estar juntos”.

Ao formarem estes coletivos, as juventudes objetivam questionar relações

sociais institucionalmente constituídas e imprimir uma imagem que expresse

independência em relação às organizações formais da sociedade.

Nesse sentido, as alternativas propostas – jovens e juventudes ao

mesmo tempo como referências singulares e universais – devem dialogar entre

si de forma a se evitar a exclusão ou correr-se o risco de compreender a

juventude apenas como “etapa, ponte, momento sem consistência ou

identidade reduzido a uma mera transição entre grupos de idade” (BARBERO

1998, apud BORELLI, 2008:31).

Por meio das redes de socialidade (e nem sempre articulados a projetos

institucionais), algumas juventudes se tornam protagonistas, participam e

intervêm em processos dentro de suas próprias comunidades, assim como nos

espaços públicos das cidades em que residem. Alteram e transformam as

estruturas e características originais dos cenários urbanos pela ação da

música, do teatro, de leituras e narrativas, da dança e arte popular urbana,

entre elas: grafites, pichações, tags, stickers. Segundo Gramsci (1989:36), os

questionamentos filosóficos e os problemas, assim como a busca de suas

soluções intelectuais e práticas passam pela linguagem, que não deve ser

entendida de maneira restrita, uma vez que...

13

Letra “Rap da Felicidade”, cantado pelos MCs Cidinho e Doca nos anos 1990, considerada como o

hino funkeiro, fazendo referência às intenções da juventude funkeira da época, mas reconhecida até os

presentes dias.

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[...] linguagem é essencialmente um nome coletivo: ela

não pressupõe uma coisa ‘única’, nem no tempo nem no

espaço. Linguagem significa também cultura e filosofia

(ainda que no nível do senso comum) e, portanto, o fato

‘linguagem’ é, na realidade, uma multiplicidade de fatos

mais ou menos organicamente, coerentes e coordenados:

no extremo limite, pode-se dizer que todo ser falante tem

uma linguagem pessoal e própria, isto é, um modo

pessoal de pensar e sentir.

Essa dimensão se torna mais importante quando levamos em conta que

é o exercício da escolha, junto com o processo das decisões a serem tomadas,

que contribuem na construção de linguagem. Se a escolha e a autonomia,

constituem uma linguagem, pode-se indagar:

Quais os questionamentos e os problemas, esses adolescentes/jovens

encontram em seu cotidiano? E nesta linguagem? Há expressões que buscam

soluções intelectuais por meio de suas práticas culturais?

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3.1 O funk visto do lado de cá. O que pensam, como interpretam,

porque expressam...

Tempo... Sabes como te aprecio.

Tento: Usar-te de alivio.

Penso: Ausentar-me do fim.

Invento: Meios para afins...

Tenso: Encontrar-me assim.

Fomento: Ter você para mim...

Talento? Improviso, Sim!

Atento: Oi!

14

Porque a escolha da Metodologia de Grupo Focal

Na perspectiva de apreender o real com maior propriedade, partindo do

campo das experiências proferidas pela singularidade de quem a vivencia

cotidianamente, e, para fugir da sensação de adesão ao todo, cristalizada por

uma lente generalizadora, com riscos de reproduzir as práticas do senso

comum, ou ainda, carregadas de preconceitos e de um discurso alheio ao da

realidade, optamos pela metodologia de Grupo Focal, na qual encontramos

uma melhor acolhida e a aderência necessária para o desenvolvimento deste

trabalho na pesquisa qualitativa.

Pode-se definir Grupo Focal como “uma técnica de coletar dados

diretamente das falas de um grupo, que relata suas experiências e percepções em

torno de um tema de interesse coletivo”. Pode-se ainda considerá-lo uma técnica

específica de coleta de dados qualitativos por meio de entrevistas grupais,

caracterizada pelo uso explícito da interação grupal para a produção de dados e

insights que seriam menos acessíveis fora do contexto interacional. Assim, o GF

permite que se obtenha, para análise, um material que não surgiria em uma

conversação casual, nem em resposta a perguntas previamente formuladas pelo

investigador. Dessa forma:

14

ALMEIDA, Vinnícius. Suspiro de Segundo, 2009.

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[...] o trabalho com Grupo Focal permite compreender

processos de construção da realidade por determinados

grupos sociais, entender práticas cotidianas, ações e

reações a fenômenos sociais, comportamentos e atitudes.

Constitui-se em importante técnica para o conhecimento das

representações, percepções, crenças, hábitos, valores,

restrições, preconceitos, linguagens e simbologias

prevalentes no trato de uma dada questão por pessoas que

partilham traços comuns e relevantes para o estudo do

problema em foco (GOMES, TELLES & ROBALLO, 2009).

É inegável a importância do GF para compreender processos de construção

da realidade, práticas cotidianas, ações e reações aos fenômenos sociais e às

manifestações culturais, os comportamentos e atitudes frente aos tais, as

representações, percepções, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos,

linguagens e simbologias, considerando as expressões da questão social e os

impactos provocados nos contextos socioeconômico e sociocultural, bem como

uma conjuntura sociopolítica de vulnerabilidades conjunturais, mas também,

composta por subjetividades das juventudes.

3.2 Sobre os eixos norteadores do Grupo Focal

Para a elaboração do Grupo Focal, foram definidas as seguintes

estratégias, que serviram como roteiro, dependendo de como o grupo focal se

desenvolvesse:

Primeira estratégia: duas perguntas com foco na busca e o que se

encontra, quando se começa a participar, produzir ou frequentar os espaços de

funk.

A seguir, todas as ideias do questionário, contidas nas perguntas e na

formulação das perguntas estimuladoras para o grupo focal, foram elaboradas

em linguagem coloquial:

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1 - O que você busca no funk?

- O que o funk tem a ver com você?

- Que ligação o funk tem com sua vida?

- O que te levou ao funk: A batida? A letra? A galera?

2 - O que você encontra no funk?

- O que o funk te trouxe?

- Depois que você passou a curtir funk, o que mudou?

Segunda estratégia: entrada pela negativa. Perguntas com foco no

discurso que a mídia e senso comum disseminam sobre o funk. Neste bloco,

objetiva-se captar nos depoimentos, a identidade atribuída ao fenômeno e se

tais ideias, permanecem alienantes e alienadores frente a estas questões:

3 - Dizem por aí que no funk tem violência/baderna/baixaria... Vocês

concordam com isso?

- Acontecem situações que vocês consideram violência /baderna/

baixaria?

- Aonde rolam? Como acontece? Por que acontece?

Terceira estratégia: entrada pela afirmativa. Uma pergunta para o grupo

comentar livremente algumas afirmações que traduzem em opiniões sobre o

que pensam, no que se refere à identidade construída de Ser funkeiro:

4 - O que é Ser funkeiro pra você?

As três estratégias supracitadas, foram utilizadas na realização do grupo

focal e o roteiro de perguntas também seguiu conforme a sequencia

apresentada.

3.3 Do perfil dos entrevistados e o caminho para encontrá-los

Para localizarmos os entrevistados, inicialmente, estabelecemos contato

com duas referências culturais da comunidade local, onde a entrevista foi

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realizada. O primeiro é Danilo Barreto (conhecido como Mano Zóio). Zóio, é

militante nas áreas de cultura juvenil urbana e locutor do Programa Revolução

Rap da Rádio comunitária de Heliópolis. O segundo contato foi com Bruno

Augusto (U-China). U-China é ativista do Movimento Hip Hop, integrante do

grupo de RAP “Avante o Coletivo” e atua como oficineiro de hip hop em alguns

serviços da rede socioassistencial de Heliópolis. O terceiro contato foi com

Regiane, gestora do Centro de Crianças e Adolescentes – CCA Heliópolis.

Regiane autorizou que o grupo focal fosse realizado numa das salas de aula.

Conforme a própria metodologia de GF, o espaço físico do local possibilitou

que as gravações obtivessem maior qualidade de áudio.

A partir destes contatos iniciais com Zóio e U-China, localizamos o

adolescente Mc Leo, que canta/produz letras de funk. Havíamos programado

para que 10 adolescentes e/ou jovens compareceriam, sendo 05 do sexo

masculino e 05 do sexo feminino. No entanto, no dia da entrevista, somente o

Mc Leo compareceu.

Assim, trilhamos o percurso possível naquele momento e articulamos

com Regiane, a possibilidade de convidar alguns adolescentes para

contribuírem voluntariamente, uma vez que estávamos inseridos num local com

a presença de outros adolescentes. Desse modo, além do Mc Leo, outros sete

adolescentes, decidiram de imediato cooperar e participaram do grupo, que

passara a ser recomposto por 05 adolescentes do sexo masculino e 03 do sexo

feminino, com o total de 08 integrantes. Com isso, o grupo tornou-se

heterogêneo e apresentou divergência de opiniões no decorrer da entrevista.

Vale ressaltar que os comentários dos(as) adolescentes serão identificados por

pseudônimos.

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3.4 O Funk na voz de quem curte ou escuta (ainda que não

queira)15:

Para esses adolescentes, a aderência ao funk conota uma escolha, na

qual tem suas decisões, partindo da própria condição da adolescência e o

campo de possibilidades existentes no cotidiano. Os fatores iniciais, da busca

pelo estilo musical estão na atração pelo ritmo, caracterizado pelas fortes

batidas e a busca pela dança:

“Pra mim, escutar funk, dá vontade de dançar! E eu busco só curtição!”

(Natasha, 16 anos).

“Tem uns funk que dá pra curtir, mas eu gosto mesmo é da batida”.

(Vanessa, 15 anos)

“Eu gosto de funk! Mas eu só gosto de alguns, porque tem muito palavrão nos funk”.

(Ícaro, 14 anos)

No entanto, há o discurso de adolescentes que não se identificam com o

estilo musical:

“A metade desses funk, só fala de maconha”.

(Jean, 14 anos).

“É... E faz apologia as droga!”

(Mauro, 15 anos)

“Eu não gosto nem da batida e nem da letra”.

(Derick, 16 anos)

15

Como fruto do próprio grupo focal, coletamos que o excesso de barulho passa a incomodar muitas

vezes, até mesmo os adolescentes que gostam do estilo musical funk. As próprias configurações do

território e as dificuldades existentes, são condensadas num espaço que, por vezes, é o local de lazer, do

entretenimento, do sagrado, do diálogo, também das festas, do bonde e do baile funk. Tudo isso ocorre

numa mesma malha periférica, inserido no local da própria moratória social. Numa mesma rua e ao

mesmo tempo, pode ocorrer de moradores se reunirem para uma conversa informal no portão casa,

enquanto acontece um culto pentecostal e, ainda, os carros que tocam funk no volume mais alto. Deste

anseio apresentado pelos adolescentes, intitulamos o tema mencionado acima.

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Os temas compõem aspectos da vivência juvenil e não deixam de ser

formas de reflexão sobre si mesmos:

“Eu busco passar um conteúdo né? Tipo, eu não faço funk pra ganhar fama, ser

reconhecido. Eu faço funk gospel pra pessoa refletir o que ela tá fazendo, porque esses funk

por aí (não to criticando), mas eles só falam do que é do mal. Eu faço funk pra ganhar almas

para o reino de Deus”.

(Rafael, 16 anos)

O estilo se constrói em torno dos bailes ou dos bondes. Estes compõem

os itens centrais que compõem a identidade construída no funk. É partir deles

que são desencadeados os outros elementos: o gosto pela música funk, o

encontro com os amigos e a coesão de novas redes de sociabilidade por meio

de estilo, a opção pela dança e a oportunidade de se apresentar como Mc:

“Quando eu comecei a gostar de funk, eu tinha 10 anos. Eu fui no show de um MC que

tava cantando lá e pensei: eu quero ser igual a esse cara! Aí passou uns quatro anos, aí eu

comecei a cantar. Eu fiz minha primeira música e começou várias exibição no Youtube né?”.

(Rafael, 16 anos)

“Quando você começa a curtir funk, o que você encontra é que às vezes polui a mente.

Tem músicas que é apologia as drogas, apologia a prostituição. É isso que eu acho”.

(Jean, 14 anos)

Em resposta ao comentário de Jean, Ícaro, diz:

“É, mas esse negócio de droga é não só no funk não! Vários roqueiros aí morreram por

causa de droga”.

Sobre a identidade atribuída ao funk, pulverizada pelo discurso midiático

e pela fala do senso comum, captou-se a sintonia entre as opiniões dos

entrevistados, no que se refere a práticas alienantes e alienadoras. Seja em

relação ao estilo musical ou em suas expressões culturais:

“Acho que todos os funk são violentos. Sempre tem xingamento! Tem putaria, palavrão,

tem droga não sei aonde, tem novinha... O funk tava dizendo: agora, os bonitinho tão

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virando viadinho”.

(Derick, 16 anos)

“Violência, putaria, baixaria... Se você colocar no youtube mostra tudo. Por causa

desses ritmos, tem menina de 12 anos que fica grávida...”

(Jéssica, 15 anos)

Jean complementa o comentário de Jéssica, e diz:

“Com certeza! Tem uma menina de 13 anos mano... vocês não acreditam: ela tá

grávida! Dentro da minha escola”.

“Tem música que fala pra os caras pegarem as novinhas. É... Aí a menina não quer dá

uma de criança. Mas, se ela vai, é porque ela quer. Eu lembro de ver várias camisinha

no chão na escola. Dentro do banheiro”.

(Vanessa, 15 anos)

“É. As músicas ensinam que tem que pegar todas e que cada cara deve ter pelo menos

03 mulher”.

(Ícaro, 14 anos)

Mesmo o funk sendo uma via que possibilita o acesso as redes de

sociabilidade e práticas muito mais próximas do lazer e de encontros

promovidos por grupos de amigos nos bailes, bondes e festas, deve-se

desmistificar a ideia da “neutralidade” nestas ações, pois, há um discurso

ideológico que também sustenta práticas sexistas, homofóbicas e até mesmo

de apologia às drogas e manifestações da violência.

Após perguntar, em quais espaços se reuniam para escutarem a música,

trocarem ideia e dançarem, uma adolescente respondeu:

“O bonde é um lugar onde fica um monte de menina com um shortinho curto, aí todo

mundo fica sentado em cima dos carros. É o maior barulho com os carros ligados. E

olha que eu moro perto de um”.

(Vanessa, 15 anos)

“Eu não concordo! É assim às vezes!”

(Ícaro, 14 anos)

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No caso do Bonde. A UNAS fez um projeto que chama “Balada Black16

”. Que não pode

entrar com droga e nada dessas coisas. Muita gente quer ir pra curtir e não pra usar

essas paradas.

(Rafael, 16 anos)

Na pergunta “O que significa ser funkeiro pra você?”, coletamos nos

depoimentos a seguir, que não implica um conjunto de normas e atitudes

homogêneas, mas constitui uma forma de vivenciar as demandas dessa fase

da vida:

“Funkeiro pra mim, são as pessoas que curtem o som, não são agressivas, não fazem

apologias”.

(Ícaro, 14 anos)

“Que gosta de funk e gosta da dança”.

(Vanessa, 15 anos)

“Funkeiro é requebrar até o chão, fumar droga, cachimbo, ter armas...”.

(Jean, 14 anos)

Pra mim, ser funkeiro é poder passar uma boa mensagem. Tipo, tem muitos amigos aí

que andavam comigo e tão perdido. Tipo, o meu DJ. Ele não é evangélico. Não precisa

virar evangélico, mas refletir, sobre o porquê das coisas né? Por exemplo, tem um

amigo aí que manda um conteúdo nas letras dele, que ensina a fazer o que não deve.

E ele foi preso esses dias aí. Eu fiquei mó triste. Tem muitos amigos meu, que, alguns,

viraram bandido. E também tem uns que passam um funk consciente, pra se pensar

mesmo no que está fazendo...

(Rafael, 16 anos)

Com estes depoimentos, parece esclarecer que a identidade construída

no funk é aquela oferecida pelo conjunto de possibilidades, no modo de viver e

expressar as necessidades, os desejos – objetivos e subjetivos, que constituem

a condição juvenil. Desse modo, não captamos nenhum requisito que exija

coerência entre o comportamento de quem ouve apenas a música e o

16

Segundo entrevista ao site Catraca Livre em 26 de janeiro de 2011, o Dj Reginaldo, integrante da Organização Social UNAS e mentor do projeto Balada Black, afirma que: “é uma balada educativa e, através dela, conseguimos conscientizar as pessoas. A gente não quer proibir a bebida, só mostramos que o jovem tem o poder de se divertir sem nenhum tipo de droga ou álcool”.

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comportamento de um Mc, que assume posicionamentos diferentes perante a

mesma manifestação cultural.

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4.1 Considerações Finais

Conheço a prova viva da poesia que existe no sonho real.

(Vinnícius Almeida)

No percurso trilhado durante esta trajetória, foi extremamente necessário

“transver o mundo”. Resiliência nas singularidades, resistência nas

particularidades e persistência na totalidade. Sintonizar estes elementos ao

projeto ético-político-profissional do Serviço Social e o “fazer por onde”

alcançar um outro modo de vida e sociedade, foram elementos que

fortaleceram a indagação e a busca de respostas ao longo deste trabalho.

Neste caminho foi possível constatar que o funk possui uma identidade

atribuída, na qual reproduz em seus aspectos ideológicos, dispositivos

alienantes e alienadores com práticas preconceituosas, sexistas, homofóbicas

e marcadas por valores legitimados às exigências do capitalismo, como a

exaltação do consumo, a ostentação de possuir roupas e artigos luxuosos,

parece possibilitar a ilusória ascensão do “Ter”, ao passo que enfatiza o

apagamento do “Ser Social”.

Tais considerações indicam que a identidade construída por estes

jovens como “funkeiros”, imbricam composições existentes nos valores morais,

familiares, religiosos e na cultura popular que, ao unirem-se com elementos da

indústria cultural, constituem uma simbiose do funk, na condição de

manifestação cultural. Esta identidade, formada em constante movimento,

oscila entre os objetivos e as subjetividades de cada jovem em suas múltiplas

vulnerabilidades sociais, mas também, pessoais, sentimentais, cognitivas,

familiares, escolares. Ao mesmo tempo, permite aos mesmos, que façam suas

próprias escolhas no que tange a questões relacionadas à formação de uma

identidade desses sujeitos como jovens.

Assim, é possível afirmar que o funk, dentre tantos estilos juvenis e

manifestações culturais na malha urbana e periférica, é uma das maneiras

possíveis para que estes jovens vivenciem, teçam suas redes de sociabilidade

e afirmem-se enquanto sujeitos, numa determinada fase da vida.

Concluo, enfatizando que se está em pauta o debate do “Serviço Social

na Educação”, e, considerando a total importância de nos engajarmos

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enquanto categoria profissional neste debate, faz-se imprescindível então,

conhecer, observar e aproximar todas as ferramentas teórico-metodológicas e

ético-políticas, bem como produções e pesquisas que permeiem o cotidiano

juvenil e o modo de como vivem. Garantindo assim, por meio de práticas

profissionais nos projetos e/ou programas sociais, experiências mais

igualitárias, nas relações de classe, de gênero, de raça/etnia, assim como

espaços para a manifestação de diversidades culturais, para crianças,

adolescentes e jovens.

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