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Vozes discursivas As contribuições advindas das teorias do discurso têm permitido entender que, no processo de produção, um texto não é o produto acidental da expressão individual de ideias. Ele é resultado da seleção de dados e fatos que passam ao status de versão a partir do momento que são organizados pelo autor. Trata-se de versão uma vez que esse sujeito responsável pela produção, interfere, altera os fatos sobre os quais escreve, pois aciona, ainda que inconscientemente, seus conhecimentos, valores e crenças na arquitetura de sua redação. Muitas vezes, ainda que ele tente apagar, deixa pistas a partir das quais se podem desvelar aspectos subjetivos aparentemente ausentes em determinados textos. Dessas marcas, afloram os imaginários coletivos, uma vez que um indivíduo é sobre determinado pela coletividade na qual se insere. Imaginário coletivo é aqui entendido como conjunto de símbolos, conceitos, memória e imaginação, valores compartilhados pelos indivíduos pertencentes a uma comunidade específica e que reforça o sentido de comunidade. Em decorrência desse imaginário, cada membro de uma comunidade tem uma identidade coletiva, pela qual é afetado e da qual é porta-voz. Assim, quando se ouve, por exemplo, “Ele é um preto de alma branca”, infere -se não somente uma percepção individual de quem atrela caráter à cor da pele, mas a voz daqueles que são preconceituosos quanto à cor, a voz de todos aqueles para os quais pessoas brancas são melhores que as pretas, a voz daqueles que, embora preconceituosos, admitem que negros podem ser boas pessoas. Essa voz contrapõe-se à daqueles segundo os quais negros são sempre piores que os brancos e que se fazem representar em frases como “Negro quando não apronta na entrada, apronta na saída”. Contrapõe-se também à voz dos que defendem que as pessoas não são boas ou ruins, melhores ou piores, em decorrência da cor da pele. Essa voz pode ser inferida de frases como “Quem vê cara não vê coração” ou “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”, uma vez que uma voz é enunciada em função da existência de outras que se tenta silenciar. Ressalta-se que a concepção de voz que aqui é explorada extrapola o limite da fala e da citação. Trata-se de um posicionamento ideológico, que decorre de um conjunto articulado de ideias, valores, opiniões, crenças... que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa, etc.) seja qual for o grau de consciência que disso tenham seus portadores. Algumas vezes essas vozes aparecem explicitamente, nas formas de citação, de referência, de retomada; em outras, são percebidas a partir de modalizadores, de marcas de subjetividade. A consciência de que um discurso é perpassado por diferentes vozes é indispensável no processo de letramento uma vez que instrumentaliza os sujeitos envolvidos na enunciação tanto para a produção quanto para a recepção, já que apontam possibilidades para desvelamento dos meandros da linguagem. É, portanto, indispensável ao leitor que identifique, infira quem fala no texto; se o que se diz representa o posicionamento de uma parcela da sociedade. Em caso afirmativo, que parcela seria essa e em quais vozes o texto se apoia para sua constituição. É indispensável que entenda que o sujeito, ao produzir um texto, não é portador de sua única voz, pois cada indivíduo é clivado por inúmeras outras vozes que circulam socialmente.

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Vozes discursivas As contribuições advindas das teorias do discurso têm permitido entender que, no processo de produção, um texto não é o produto acidental da expressão individual de ideias. Ele é resultado da seleção de dados e fatos que passam ao status de versão a partir do momento que são organizados pelo autor. Trata-se de versão uma vez que esse sujeito responsável pela produção, interfere, altera os fatos sobre os quais escreve, pois aciona, ainda que inconscientemente, seus conhecimentos, valores e crenças na arquitetura de sua redação. Muitas vezes, ainda que ele tente apagar, deixa pistas a partir das quais se podem desvelar aspectos subjetivos aparentemente ausentes em determinados textos. Dessas marcas, afloram os imaginários coletivos, uma vez que um indivíduo é sobre determinado pela coletividade na qual se insere. Imaginário coletivo é aqui entendido como conjunto de símbolos, conceitos, memória e imaginação, valores compartilhados pelos indivíduos pertencentes a uma comunidade específica e que reforça o sentido de comunidade. Em decorrência desse imaginário, cada membro de uma comunidade tem uma identidade coletiva, pela qual é afetado e da qual é porta-voz. Assim, quando se ouve, por exemplo, “Ele é um preto de alma branca”, infere-se não somente uma percepção individual de quem atrela caráter à cor da pele, mas a voz daqueles que são preconceituosos quanto à cor, a voz de todos aqueles para os quais pessoas brancas são melhores que as pretas, a voz daqueles que, embora preconceituosos, admitem que negros podem ser boas pessoas. Essa voz contrapõe-se à daqueles segundo os quais negros são sempre piores que os brancos e que se fazem representar em frases como “Negro quando não apronta na entrada, apronta na saída”. Contrapõe-se também à voz dos que defendem que as pessoas não são boas ou ruins, melhores ou piores, em decorrência da cor da pele. Essa voz pode ser inferida de frases como “Quem vê cara não vê coração” ou “por fora bela viola, por dentro pão bolorento”, uma vez que uma voz é enunciada em função da existência de outras que se tenta silenciar. Ressalta-se que a concepção de voz que aqui é explorada extrapola o limite da fala e da citação. Trata-se de um posicionamento ideológico, que decorre de um conjunto articulado de ideias, valores, opiniões, crenças... que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa, etc.) seja qual for o grau de consciência que disso tenham seus portadores. Algumas vezes essas vozes aparecem explicitamente, nas formas de citação, de referência, de retomada; em outras, são percebidas a partir de modalizadores, de marcas de subjetividade. A consciência de que um discurso é perpassado por diferentes vozes é indispensável no processo de letramento uma vez que instrumentaliza os sujeitos envolvidos na enunciação tanto para a produção quanto para a recepção, já que apontam possibilidades para desvelamento dos meandros da linguagem. É, portanto, indispensável ao leitor que identifique, infira quem fala no texto; se o que se diz representa o posicionamento de uma parcela da sociedade. Em caso afirmativo, que parcela seria essa e em quais vozes o texto se apoia para sua constituição. É indispensável que entenda que o sujeito, ao produzir um texto, não é portador de sua única voz, pois cada indivíduo é clivado por inúmeras outras vozes que circulam socialmente.

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Neste material, essas noções serão exploradas nos textos que se seguem, os quais se prestarão também à sistematização de outros conteúdos.

TEXTO I Quem são os Dalits? Existem 300 milhões de Dalits ou “intocáveis” na Índia. Por 3.000 anos eles têm vivido num ciclo de discriminação e desespero sem esperança!!!

O sistema de casta, que existe por mais de 3.000 anos, foi

desenvolvido pela casta dos Brahmin (sacerdotes) a fim

manter sua superioridade. Eventualmente, o sistema de

casta tornou-se formalizado em quatro classes distintas

chamadas Varna.

Os Brahmins são o Varna mais elevado e são os

sacerdotes e os árbitros do que é certo e errado nas

matérias da religião e da sociedade. Abaixo deles vêm os

Kshatriyas, que seriam os soldados e administradores.

Depois os Vaisyas, que são os artesãos e a classe

comercial, e os Sudras seriam os fazendeiros e os

camponeses. Isso é baseado na figura do deus Brahma .

Os Dalits (Intocáveis) não são considerados parte da sociedade humana. Eles não fazem parte de nenhuma casta, não são considerados seres humanos, e são o que as escrituras Hindus chamam de “unborn” –traduzido: seria melhor que nunca tivessem nascido!

Os Dalits, geralmente, executam os piores e

mais degradantes serviços. As leis da casta

sustentam que os Dalits contaminam as pessoas

das castas elevadas com sua presença. Se

alguém das castas elevadas tocar ou mesmo

beber no mesmo copo de um Dalit, devem

submeter-se a uma série rigorosa de rituais de

purificação.

Embora a constituição indiana garanta direitos

fundamentais e liberdades de todos os indianos,

os Dalits são abusados sistematicamente. A negação sistemática de seus direitos humanos básicos conduz a uma falta de instrução, alimentos, escolas, cuidados médicos, e da oportunidade econômica, mantendo os Dalits na sujeição perpétua às castas superiores. Setenta por cento dos Dalits vivem abaixo da linha de pobreza. Somente 10% de mulheres Dalit podem ler e escrever, e elas são frequentemente vendidas como escravas da prostituição.

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Eles estão presos a um sistema de castas que nega a eles educação adequada, água potável, empregos com salários decentes e o direito a terra ou à casa própria. Discriminados e oprimidos, os Dalits são frequentemente vítimas de violentos crimes. Em 15 de outubro no Estado de Haryana, cinco jovens Dalits foram linchados por uma multidão por tirarem a pele de uma vaca morta, o que eles tinham direito legal para fazer. A Polícia, segundo consta, ficou parada sem fazer nada e permitiu que a violência continuasse. Em 1999, vinte e três trabalhadores agrícolas entre os Dalits (incluindo mulheres e crianças) foram assassinados por seguranças particulares de um fazendeiro de alta-casta. Apesar de leis contra a descriminação de castas terem sido aprovadas, a discriminação continua e pouco é feito para processar os acusados. Dados:

a cada dia, três mulheres Dalits são estupradas;

crianças Dalits são frequentemente forçadas a sentarem de costas nas suas salas de aula,

ou mesmo a ficarem fora da sala;

a cada hora, duas casas de Dalits são queimadas;

a maioria das pessoas de castas altas evitam ter Dalits preparando a sua comida, por

medo de se tornarem imundos;

a cada hora, dois Dalits são assaltados;

em muitas partes da Índia, os Dalits não são permitidos entrar nos templos e outros

lugares religiosos;

66% são analfabetos;

a taxa de mortalidade infantil é perto de 10%;

a 70% são negado o direito de adorarem em templos locais;

57% das crianças Dalit abaixo da idade de quatro anos estão muito abaixo do peso;

300 milhões de Dalits vivem na Índia;

60 milhões de Dalits são explorados por meio do trabalho forçado;

a maioria dos Dalits são proibidos de beber da mesma água que os de castas mais altas.

http://pesformosos.com/quem-sao-os-dalits/ Acesso em 20 de maio 2014.

1ª questão PRODUZA um PARÁGRAFO ARGUMENTATIVO em que se apresente a tipologia predominante no TEXTO I. 2ª questão RELEIA o subtítulo com atenção aos efeitos que decorrem da pontuação. Existem 300 milhões de Dalits ou “intocáveis” na Índia. Por 3.000 anos eles têm vivido num ciclo de discriminação e desespero sem esperança!!! EXPLIQUE por que se pode afirmar que a pontuação presente no subtítulo, aspas e exclamação, pode ser tomada como marcas a partir das quais se infere algumas das vozes que determinam a redação do texto em análise.

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3ª questão A- EXPLICITE a informação que decorre da presença na vírgula no excerto reproduzido a seguir.

“O sistema de casta, que existe por mais de 3.000 anos, foi desenvolvido pela casta dos Brahmin

(sacerdotes) a fim manter sua superioridade.”

B- EXPLIQUE por que a oração adjetiva em destaque pode ser considerada marca de

subjetividade, no contexto enunciativo que se insere.

C- INDIQUE a voz que se infere a partir da presença da oração adjetiva destacada.

D- EXPLIQUE por que se pode afirmar que a oração sublinhada constitui marca a partir da qual

se infere a voz daqueles segundo os quais a criação do sistema de castas não está vinculada a

questões religiosas.

4ª questão COMPARE a ação dos Brahmins, que criaram os Varnas, à dos senadores e deputados federais, responsáveis pela aprovação de leis em nosso país. 5ª questão EXPLIQUE se o conhecimento sobre a criação das castas na Índia pode interferir na escolha de seus representantes pelos eleitores brasileiros. 6ª questão RELACIONE a existência de Dalits ao trabalho escravo. 7ª questão A- INDIQUE o valor semântico da palavra em destaque no excerto a seguir.

Embora a constituição indiana garanta direitos fundamentais e liberdades de todos os

indianos, os Dalits são abusados sistematicamente. B- EXPLICITE a voz que se infere a partir da presença do elemento destacado. 8ª questão RESTRUTURE o período transcrito a seguir, de modo que seja EXPLICITADA, por meio de uma conjunção, a relação de fato/consequência que nele se percebe. FAÇA somente os ajustes indispensáveis

A negação sistemática de seus direitos humanos básicos conduz a uma falta de instrução, alimentos, escolas, cuidados médicos, e da oportunidade econômica, mantendo os Dalits na sujeição perpétua às castas superiores.

9ª questão Releia o fragmento a seguir com atenção ao que se enuncia.

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A negação sistemática de seus direitos humanos básicos conduz a uma falta de instrução, alimentos, escolas, cuidados médicos, e da oportunidade econômica, mantendo os Dalits na sujeição perpétua às castas superiores.

EXPLIQUE por que se pode dizer que os que poderiam promover o acesso dos Dalits aos direitos humanos são os mesmos que lhes negam essa possibilidade. 10ª questão EXPLICITE a voz que se infere a partir de cada um dos fragmentos sublinhados a seguir.

Em 15 de outubro no Estado de Haryana, cinco jovens Dalits foram linchados por uma multidão por tirarem a pele de uma vaca morta, da qual eles tinham direito legal para fazer. A Polícia, segundo consta, ficou parada sem fazer nada e permitiu que a violência continuasse. Em 1999, vinte e três trabalhadores agrícolas entre os Dalits (incluindo mulheres e crianças) foram assassinados por seguranças particulares de um fazendeiro de alta-casta.

11ª questão A- INDIQUE o valor semântico da locução conjuntiva em destaque.

Apesar de leis contra a descriminação de castas terem sido aprovadas, a discriminação

continua e pouco é feito para processar os acusados. B- EXPLICITE a expectativa do enunciador, tendo em vista a presença da locução conjuntiva destacada, no contexto enunciativo em que se encontra. 12ª questão AVALIE se os verbos em destaque foram flexionados em conformidade com o registro padrão.

Se alguém das castas elevadas tocar ou mesmo beber no mesmo copo de um Dalit,

devem submeter-se a uma série rigorosa de rituais de purificação.

Setenta por cento dos Dalits vivem abaixo da linha de pobreza. Somente 10% de mulheres

Dalit podem ler e escrever, e elas são frequentemente vendidas como escravas da prostituição.

TEXTO II

Trabalho sujo

Índia ainda tem 1,3 milhão de catadores de excrementos, responsáveis por limpar as fezes de 15 milhões de pessoas

Patrícia Campos Mello enviada especial a FarrukhNagar (Índia)

Quando completou 13 anos, a indiana Sudhira, 60, casou-se em seu vilarejo. De sua sogra, recebeu uma "herança" em vida: uma cesta de bambu, uma pá, uma vassoura e 60 casas para limpar. A partir daquele momento, o emprego de Sudhira seria limpar o excremento das pessoas

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do vilarejo, todos os dias. "Na primeira vez que tive de tirar o cocô com a mãos, o cheiro era tão horrível, que eu vomitei", contou à Folha.

Quarenta e sete anos depois, Sudhira continua limpando excrementos. Acorda às 7h e começa sua ronda. Na primeira casa, vai até o fundo do terreno, onde fica o "banheiro” – um buraco raso no chão, cercado por uma parede baixa de tijolos.Cheira muito mal. Em meio a uma nuvem de moscas, Sudhira se agacha, retira os excrementos com uma pá, que segura na mão sem luva. Junta um pouco de folhas, terra e cinzas e põe em cima das fezes. Recolhe esse bolo de excrementos com a pá e põe na cesta que leva sobre a cabeça. Às vezes, escorre.

Sudhira recebe 20 rúpias (US$ 0,30) e um pão roti de cada casa. Limpa quatro latrinas por dia e, em outras 10 casas, retira o lixo e os excrementos de animais. Ninguém encosta emSudhira, porque ela é considerada "poluída".

Há 1,3 milhão de pessoas na Índia que são "catadores de excrementos", como Sudhira. Elas pertencem a uma casta de intocáveis.

Nesse país que é uma potência e já mandou um foguete para Marte, cerca de 600 milhões de pessoas fazem suas necessidades ao ar livre, no mato. Outras 15 milhões usam as chamadas "latrinas secas", que nada mais são do que buracos no chão usados por toda a família para fazer suas necessidades. São limpos por pessoas da casta dos intocáveis, os Dalits. As mulheres são 98% dos catadores de excrementos.

Andando pelo vilarejo com a catadora Saraswati, 45, vê-se lixo por toda parte, amontoado em pilhas altas, com porcos e vacas "pastando" nos detritos. É lá que ela joga os excrementos que recolheu na bacia que leva na cabeça. Não há coleta de lixo.

Segundo dados do Banco Mundial, uma em cada dez mortes da Índia deve-se à falta de saneamento básico,ou seja, cerca de 780 mil indianos por ano.

Em junho de 2011, o primeiro-ministro, Manmohan Singh, disse que a atividade de catar excrementos manualmente era "uma das maiores manchas no processo de desenvolvimento da Índia" e prometeu eliminar a prática até o fim daquele ano.

O governo já aprovou duas leis que proíbem esse tipo de trabalho, em 1993 e 2013, mas os avanços são lentos.

"O governo deveria aumentar a fiscalização e impor punições mais severas para quem empregar catadores de excrementos", disse Bezwada Wilson, coordenador do SKA, um movimento nacional para a erradicação da coleta manual de excrementos.

VERGONHA

O maior empregador de catadores de excrementos da Índia é o sistema ferroviário.

São 178 mil vagões de trens, cada um com quatro banheiros. Não existe nenhum tratamento. A pessoa faz suas necessidades, e os excrementos caem sobre os trilhos. O catador de excrementos limpa.

"Meu irmão trabalhou nas ferrovias da Índia limpando cocô por 18 anos; ele tinha vergonha, dizia para a mulher dele que trabalhava nas minas de ouro", conta Wilson.

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"As ferrovias indianas são o maior esgoto a céu aberto do mundo", admite JairamRamesh, ministro do Desenvolvimento Rural da Índia. "Todos os trens comprados agora vêm equipados com banheiros químicos e estamos adaptando os antigos, mas leva tempo", diz.

O governo dá 10 mil rúpias (US$ 200) para famílias construírem privadas com fossa. Segundo Ramesh, foram construídos 6 milhões de privadas de 2013 para cá.

Trata-se de uma questão de segurança também. Segundo levantamento do Estado indiano de Bihar, 400 mulheres teriam escapado de ser estupradas em 2012 se houvesse privadas nas casas. Isso porque cerca de 40% dos estupros ocorreram quando as mulheres iam para o mato fazer suas necessidades.

Mas não basta melhorar o saneamento básico para eliminar a coleta manual de excrementos. É preciso treinar os catadores para que eles possam ter outra atividade.

A SulabhInternational, por exemplo, ensina 400 catadoras de excrementos do Rajastão e UttarPradesh a costurar, fazer bolsas, tapetes e bordados, além de lhes dar uma ajuda financeira.

"Quando comecei a trabalhar com os intocáveis, 40 anos atrás, foi uma revolução; na minha família, quem encostava emDalit tinha que tomar urina de vaca para se purificar", diz o fundador da Sulabh, BindeshwarPathak.

Ele é um Brahma, casta mais alta da Índia, e desenvolveu um vaso sanitário com fossa que pode ser construído por US$ 30. Mantém, ainda, um museu da privada em Nova Déli.

UshaChaumar, 35, foi "libertada" em 2003, quando se juntou ao programa. Hoje faz roupas para vender. "Agora pessoas de casta superior me chamam para conversar e até pegam na minha mão", disse ela, que catava excrementos desde os 7 anos. Mas o preconceito ainda está lá.

"As pessoas nunca vão contratar balmikis [casta inferior] para limpar a casa delas ou lhes fazer comida; por isso, nós damos treinamento", diz Wilson.

"O sistema de castas está lá, e se espera que eles cumpram esse que seria seu "karma" na vida: limpar a merda dos outros", afirma.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/166525-trabalho-sujo.shtml Acesso em 23 de maio de 2014.

13ª questão EXPLIQUE por que se pode afirmar que o TEXTO II foi estruturado no gênero “reportagem”, a partir da função referencial da linguagem. 14ª questão Releia o título do TEXTO II, considerando a figuratividade de que ele se reveste.

“Trabalho sujo” INDIQUE a figura se linguagem a partir da qual se constrói o título. 15ª questão

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INDIQUE o duplo sentido que decorre do título e reescreva-o de modo que o sentido figurado seja o único. 16ª questão COMPARE os subtítulos dos dois textos e ANALISE se o advérbio presente no segundo confirma a voz que se infere do triplo sinal de exclamação no primeiro.

Existem 300 milhões de Dalits ou “intocáveis” na Índia. Por 3.000 anos eles têm vivido num ciclo de discriminação e desespero sem esperança!!!

Índia ainda tem 1,3 milhão de catadores de excrementos, responsáveis por limpar as fezes

de 15 milhões de pessoas 17ª questão JUSTIFIQUE o tempo em que o verbo em destaque foi flexionado, tendo em vista a trajetória de Sudhira.

"Da primeira vez que tive de tirar o cocô com a mãos, o cheiro era tão horrível, que eu

vomitei", contou à Folha. 18ª questão Releia o fragmento, com atenção ao uso das aspas.

Quando completou 13 anos, a indiana Sudhira, 60, casou-se em seu vilarejo. De sua sogra, recebeu uma "herança" em vida: uma cesta de bambu, uma pá, uma vassoura e 60 casas para limpar.

AVALIE se a “herança” a que se refere no texto tem valor pejorativo: - para Sudhira - para a jornalista 19ª questão EXPLICITE a voz que se infere a partir da presença das aspas na palavra “herança”. 20ª questão

EXPLIQUE o valor argumentativo que decorre da explicitação do valor pago a Sudhira. Sudhira recebe 20 rúpias (US$ 0,30) e um pão roti de cada casa.

21ª questão

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ANALISE a alteração que decorrerá da inserção de uma conjunção adversativa ao início do período e da substituição de 20 rúpias (US$ 0,30) por 200 000 rúpias (US$ 3000,00). Sudhira recebe 20 rúpias (US$ 0,30) e um pão roti de cada casa. Mas Sudhira recebe 200 000 rúpias (US$ 3000,00)e um pão roti de cada casa. 22ª questão Atenha-se à pontuação do fragmento abaixo e responda ao que se pede.

Quando completou 13 anos,1 a indiana Sudhira,2 60,3 casou-se em seu vilarejo. De sua sogra,4 recebeu uma "herança" em vida: uma cesta de bambu,5 uma pá,6 uma vassoura e 60 casas para limpar. A partir daquele momento,7 o emprego de Sudhira seria limpar o excremento das pessoas do vilarejo,8 todos os dias. "Na primeira vez que tive de tirar o cocô com a mãos,9 o cheiro era tão horrível,10 que eu vomitei",11 contou à Folha.

A- EXPLIQUE se a vírgulas de nº 1, 4 e 7 foram usadas em função de uma mesma regra; B- JUSTIFIQUE a inserção das de nº 2 e 3; C- REGISTRE a regra que fundamenta a presença das vírgulas de nº 5 e 6; D- A vírgula de nº 8 é facultativa. INDIQUE o efeito que decorre de sua presença; E- REESCREVA o último período de modo que a vírgula de nº 9 seja desnecessária; F- EXPLIQUE por que se pode afirmar que a vírgula de nº 10 subverte o registro padrão; G- ANALISE se se pode inserir uma vírgula onde se aponta com uma seta; H- EXPLIQUE se os dois-pontos presentes no excerto podem ser substituídos por vírgula. 23ª questão TRANCREVA uma sequência descritiva e INDIQUE o efeito que ela confere ao texto. 24ª questão EXPLIQUE por que a descrição do “banheiro” e do espaço no qual os dejetos são depositados pelos catadores, de certa forma, justificam a existência dessa profissão no século 21. 25ª questão A- EXPLICITE a voz que se infere do fragmento.

Neste país que é uma potência e já mandou um foguete para Marte, cerca de 600 milhões de pessoas fazem suas necessidades ao ar livre, no mato.

B- REESCREVA o fragmento de modo que se EXPLICITE a relação de adversidade nele presente. 26ª questão Por mais de uma vez, a jornalista faz referência à proibição do exercício da atividade de catar excrementos, como se comprova a seguir.

Em junho de 2011, o primeiro-ministro, Manmohan Singh, disse que a atividade de catar excrementos manualmente era "uma das maiores manchas no processo de desenvolvimento da Índia" e prometeu eliminar a prática até o fim daquele ano.

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O governo já aprovou duas leis que proíbem esse tipo de trabalho, em 1993 e 2013, mas os avanços são lentos.

"O governo deveria aumentar a fiscalização e impor punições mais severas para quem empregar catadores de excrementos", disse Bezwada Wilson, coordenador do SKA, um movimento nacional para a erradicação da coleta manual de excrementos.

POCISIONE-se, em um parágrafo argumentativo, em relação à aprovação da lei que proíbe o a referida atividade. 27ª questão Embora alguns Dalits aceitem seu karma, alguns não se sentem à vontade com os espaços que ocupam fora das Varnas, como se percebe no seguinte depoimento:

"Meu irmão trabalhou nas ferrovias da Índia limpando cocô por 18 anos; ele tinha vergonha, dizia para a mulher dele que trabalhava nas minas de ouro", conta Wilson.

INDIQUE, segundo os TEXTOS I e II, duas hipóteses que justifiquem “a vergonha” do trabalhador sobre o qual se fala. 28ª questão Embora inseridos em uma mesma sociedade, alguns indianos dão indícios de que não são sobredeterminados pelos mesmos imaginários coletivos, como se comprova pelos excertos transcritos a seguir:

"Quando comecei a trabalhar com os intocáveis, 40 anos atrás, foi uma revolução; na minha família, quem encostava emDalit tinha que tomar urina de vaca para se purificar", diz o fundador da Sulabh, BindeshwarPathak.

Ele é um Brahma, casta mais alta da Índia, e desenvolveu um vaso sanitário com fossa que pode ser construído por US$ 30. Mantém, ainda, um museu da privada em Nova Déli.

UshaChaumar, 35, foi "libertada" em 2003, quando se juntou ao programa. Hoje faz roupas para vender. "Agora pessoas de casta superior me chamam para conversar e até pegam na minha mão", disse ela, que catava excrementos desde os 7 anos. Mas o preconceito ainda está lá.

COMPARE as atitudes de BindeshwarPathak e UshaChaumar no que concerne à existência das Varnas. 29ª questão Desigualdade social, explorados e exploradores não são exclusividade da Índia, como se destaca na imagem a seguir.

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http://www.vozdabahia.com.br/index.php?&cat=532 Acesso em 23 de maio de 2014.

INDIQUE uma hipótese de quem seriam os “miseráveis unidos”

30ª questão LEIA o texto a seguir que refere-se à imagem reproduzida na questão anterior.

S. A. de Jesus: Moradores do 'Minha Casa Minha Vida' fazem protesto silencioso na Praça Renato Machado

Postado por: Anacley Souza / 11:13h

Um protesto silencioso aconteceu na manhã deste domingo (18), na Praça Renato Machado em Santo Antônio de Jesus. Insatisfeitos com os últimos acontecimentos envolvendo o Programa „Minha Casa Minha Vida‟, moradores do conjunto habitacional se manifestaram com cartazes espalhados pelo local onde pediam segurança e assistência básica a saúde e melhoriasna infraestrutura dos imóveis e localidade. A

redação do Voz da Bahia conversou com algumas pessoas que estavam presentes na Praça na hora do manifesto e nos relataram que esta foi uma forma de chamar atenção das autoridades. Segundo os moradores, as residências não tem estrutura adequada e carecem modificações e que estão sendo ameaçadas de demolição junto ao MP (Ministério Público), “quando fomos sorteados, recebemos com toda a alegria, principalmente porque o poder público nos prometeu infraestrutura adequada, posto de saúde e segurança e não é o que vemos lá”, declarou um manifestante. Os cartazes explícitos em todo o território da Praça Renato Machado são compostos por palavras de ordem expondo a insatisfação de todos os residentes beneficiados pelo projeto.

http://www.vozdabahia.com.br/index.php?&cat=532. Acesso em 23 de maio de 2014.

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IMAGINE um outro contexto em que o cartaz fotografado tenha circulado e produza a notícia que o acompanharia.