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OS CERAMISTAS TUPIGUARANI

Volume I Sinteses Regionais

André Prous & Tania Andrade Lima (editores)

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OS CERAMISTAS TUPIGUARANI

André Prous & Tania Andrade Lima (editores)

Volume 1

ApresentaçãoAndré Prous

José Proença Brochado, vida e obraFrancisco da Silva Noelli

Os ceramistas tupiguarani: sínteses regionais

· AtradiçãotupiguaraninaAmazôniaEdithePereira,MauraImaziodaSilveira,MariaChristinaLealF.Rodrigues,CintiaJallesdeC.deAraújoCosta,Christiane Lopes Machado

· Recipientescerâmicosdegrupostupi,nonordestebrasileiroMarcos Albuquerque

· CaracterísticasdatradiçãotupiguaraninosudestedoBrasilOndemar Dias e Lílian Panachuk

· Consideraçõessobreadistribuiçãodassociedadestribaisdefiliaçãolingüísticatupi-guaraninoEstadodeSãoPaulo Maria Cristina Mineiro Scatamacchia

· AproblemáticaarqueológicadatradiçãocerâmicatupiguaraniemMatoGrossodoSulEmíliaMarikoKashimoto&GilsonRodolfoMartins

· AtradiçãoceramistatupiguaraninosuldoBrasilPedroAugustoMentzRibeiro

· Estadoactualyperspectivasdelaarqueologiadela“TradiciónTupiguarani”emArgentinaDanielLaponte&AlejandroAcosta

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APRESENTAÇÃO

Estaobracoletivanasceuquasedeumacaso.Em1998,estavaterminandoumlongociclodepesquisasdecamponoValedoRioPeruaçu.Depoisdetrabalharmuitosanospreferencialmentesítiosemabrigos,mergulhadonosvestígiosdeixadospelaspopulaçõesmaisantigasdoBrasilcentral,analisandotecnologialíticaearterupestre,sentiodesejodeiniciaroestudodenovosgrupos,abordarumpassadomenosremoto,enfim,descobriroutroshorizontes.Estavanahoradeapresentarnovosprojetosdepesquisaaagênciasdefomento,queraoCNPq,noBrasil,queraoMinistèredesAffairesEtrangères,naFrançae,destaforma,abrirumanovafrenteemminhavidaprofissional.FoinestemomentoqueAleniceBaeta,minhacolaboradoradelongadata,encarregou-sedosalvamentodaáreaaserinundadapelausinahidroelétricadeAimorés,nobaixoValedoRioDoce.Asprimeirasprospecçõeslocalizaramquaseexclusivamentesítiostupiguarani.

A.BaetapropôsentãoumaparceriaentresuaequipeeoSetordeArqueologiadaUFMG.Destaforma,enquantoela se responsabilizaria particularmente pelas áreas que seriam inundadas, os pesquisadores daUFMG poderiamestudar os sítios damesma região que não se encontravamdiretamente ameaçados.Um intercâmbio permanentedeinformações,depessoasnasescavaçõesedepesquisadoresemlaboratóriotornariapossívelumestudoregionalintegrado,cujosresultadospoderiamsermaisabrangentesqueosdeum“salvamento”dazonaameaçada.

Desta proposta nasceu a idéia de elaborar um projeto (submetido ao CNPq e ao Ministério des AffairesEtrangères)paraestudarosTupiguaraninoestadodeMinasGerais,ondeestaculturapré-históricatinhasidoquasequecompletamentedeixadadeladonaspesquisasdepoisdaspesquisaspioneirasdoIABnoiníciodosanos1970(apartealgunstrabalhosrápidos,comoosdeL.Kneip,interrompidospelofalecimentosdestapesquisadora).Aomesmotempo,aequipedearqueologiadaUFJFiniciavapesquisasemsítiosdestatradiçãonaregiãodeJuizdeFora,oquenoslevouapreverumacolaboraçãoentrenossasduasInstituições.

OprimeirotrabalhodecampodaequipedaUFMGfoirealizadonomunicípiodeConceiçãodosOuros,emdezembrode2001,aconvitedaPrefeituraMunicipal,atravésdePauloAraújodeAlmeida.AoanalisaromaterialdeumenterramentojáescavadoanteriormentenestacidadeporF.LopesdePaula(IEPHA–MG),tivemosasurpresadeobservardesenhos-deumacomplexidadeedeumaqualidadeabsolutamenteinesperadas-quedecoravamumadasvasilhadaestruturafunerária.Passamosmuitotempotentandocopiarosgrafismosefiqueipersuadidodeque,encontrando-se,entreoshabitantesdestaregiãoisoladadoepicentrotupiguarani,umapintoradetamanhacapacidade,deveriahavermuitasoutrasnorestodopaís.VoltaramàminhamemóriaaspalavrasdeJeandeLéry,louvandonoséculoXVIasdesenhistas tupinambáedecidiempenhar-meemresgatareste tesourodecujaexistêncianãopodiaduvidar.

Pouco depois, tendo sido convidado por Tania Andrade Lima para compor uma banca no Museu Nacional, converseicomestapesquisadoraarespeitodomeuprojeto.Comsuagenerosacolaboração,pudeaproveitarosintervalosentreassessõesdabancaparaanalisaralgumasdasvasilhasentãoemexposição.Minhassuposiçõesrevelaram-secertas:aosededicarpreferencialmenteaestudarosfragmentosprovenientesdeescavações,osarqueólogostinhamdeixadoemsegundoplanoariquezadecomposiçãodosdesenhostupiguarani.Nãoqueospesquisadoresgaúchos(particularmenteP. I. Schmitz, F. La Salvia e J. J. Brochado) não tivessem já observadoos desenhospresentes nosnumerososcambuchidoBrasilmeridional,masaquelesdolitoralcariocaqueeuestavadecifrandoapresentavamumacomplexidadeeumaqualidadebemsuperior.Maistarde,soubequeM.C.Scamattachiatambémtinha-seinteressadoemanalisarestesgrafismos,massuatentativanãotinhaidoadiante.

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Não me parecia haver sentido em estudar a pintura independentemente dos outros vestígios; eu não tinha, porém,competênciaemuitomenosrecursosparaestudaraculturatupiguaraniemtodosseusaspectoseemtodasuaextensãogeográfica.Destaforma,umprojetocomeçouatomarformaduranteminhasconversascomaDra.AndradeLima:porquenãotentarcongregartodososestudiososdaculturatupiguaranieelaborarconjuntamenteumaobraquepermitisseaummesmotempofazerumbalançodosconhecimentosatuaiseabrirnovasperspectivas?

Nomêsdejunhoseguinte,aproveitandooconvitefeitopeloProf.AlexandreFelizolaDinizparaministrarumcursoemAracaju,estudeiascerâmicaseosfragmentospintadosdeváriascoleçõesnordestinasdeSergipe,doRioGrandedoNorteedaBahia.Ointeresseeaboavontadedosresponsáveispelosacervos,assimcomoacertezadequeeunãoconseguirialevantartodasascoleçõesdopaíslevaram-meapensarnaelaboraçãodeumcatálogocoletivodasvasilhaspintadas–e,namedidadopossível,dosfragmentosmaiscaracterísticos–comaparticipaçãodoscuradoresdascoleçõesoudepessoasdesignadasporeles.Asminhasviagens(aoMARSUL–RS,emdezembrode2002eaoRiodeJaneiro,ondepudeteracessoirrestritoàscoleçõesdoIAB,doMuseuNacional–inclusiveaomaterialinéditoescavadoporA.Buarque -edaminhacolaboradoraL.Panachuk (quevisitouváriascoleçõesdoestadodeSantaCatarina)permitiramamadurecerosprocedimentoseelaborarumroteirodescritivo.T.AndradeLimaproporcionouolevantamentodacoleçãotupiguaraniearealizaçãoporF.eW.CranciodedecalquesdaspeçaspintadasdoMuseuNacional.Acolaboraçãodecisivade todososquecontatamosevidenciouapossibilidadede se levar adianteumprojetocoletivo,atravésdoqualpensamoshomenagearograndeespecialistadaculturatupiguarani:JoséProenzaBrochado.

TendoaceitoT.AndradeLimameuconviteparaumacolaboraçãoquelevariaàco-ediçãodeumlivrosobreosceramistasTupiguarani,formalizamosapropostadeumapublicaçãoconjunta,convidandoumgrandenúmerodepesquisadores–inicialmentebrasileirose,maistarde,uruguaioseargentinos.Unsforamencarregadosdeapresentarumasínteseregionaldacerâmicatupiguarani;outros,detratartãosomenteaspectosespecíficosdestacultura,enquantooutros,ainda,foramencarregadosdeprepararumcatálogodomaterialsobsuaguardaoufacilmenteacessível.

No XII Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, realizado em São Paulo em setembro de 2003,coordenamosambosumsimpósio,duranteoqualumgrandenúmerodecomunicaçõessobreacerâmicatupiguaranifoiapresentadopelosnossosprimeiroscolaboradores;outroscolegasofereceramsuaprópriaparticipação,reforçandoogrupooriginal.Destaforma,apesardealgunssub-projetosiniciaisnãoteremsidorealizados,outrosforamacrescentados,levandoaoresultadoqueoraapresentamosaopúblico.

Alémdasatisfaçãodetercontribuídoparaexpandirosconhecimentossobreospossíveisancestraisdiretosdosindígenas que receberam os europeus na orla da Terra Brasilis e de ter aberto novas sendas de investigação, temos a felicidadedeterreencontradonossoscolegasdelongadata,desfrutadodasuaconfiançaedasuagenerosidade;deterencontrado,também,arqueólogosmaisjovensque,esperamos,levarãoadianteotrabalhoqueiniciamos.EsperoqueestestrêsvolumescujaaberturaéfeitapormimeofechamentoT.AndradeLima,possammostrarànovalevadepesquisadoresqueépossívelefrutíferotrabalharemconjunto,apesardasdistâncias–sejamelasgeográficas,deorientaçãoteóricaoudegeração.

Atodaseatodos,meusmaissincerosagradecimentos.

André Prous.

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Homenagem a um mestre , vida e obraOs editores dedicam esta obra a José Proença Justiniano Brochado, pela sua inestimávelcontribuiçãoaoestudodosceramistastupiguarani

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José Proenza Brochado: vida acadêmica a Arquelogia TupiFrancisco Silva Noelli

UniversidadeEstadualdeMaringáLaboratóriodeArqueologia,EtnologiaeEtno-História

Asdisciplinascientíficassãoconstruídasgraçasàsidéiaseaotrabalhodemuitosindivíduos.Alguns,porsuaspeculiaridades e feitos, têm suabiografia acadêmica investigada e divulgada, comoaqui é o casodo arqueólogobrasileiro José Joaquim Justiniano Proenza Brochado, autor de uma obra relevante e de uma excelente síntese,recentementeconsideradacomoa“maisgenial”sobreaArqueologiaBrasileira,“capazdeproverquadrosorgânicos,mesmoqueprovisórios,dahistóriapré-colonial”(Funari,NevesePodgorny,1999:1).

Apesardeinúmerasrazõesparafalardapessoaantesdocientista,dequemsouamigoecolaboradorhámaisdequinzeanos,fareidessacurtabiografiaumresumodasuavidaprofissional,visando,comosugereEricHobsbawn(1991:41),um“meiodeesclarecer algumaquestãomais abrangente,quevaimuitoalémdaestóriaparticular”.Aquestão escolhidapara esclarecer aqui é adiferença fundamental da abordagemqueBrochadodesenvolveuparapesquisaropassadodaculturamaterialdospovosTupi,incluindoseusprocessosdedispersãogeográfica,distintadaabordagemempregadanafamosaTradiçãoTupiguarani,temacentraldestelivro.

Iniciareicomumasíntesedos40anosdavidaacadêmicadeBrochado.DepoiscomentareisuasprincipaisidéiasdedicadasàdispersãogeográficaeàculturamaterialdospovosTupi.Afontedabiografiaéessencialmenteaobradohomenageado,mastambémaproveiteiinúmerasinformaçõesedeclaraçõesouvidasdiretamentedele.

Síntese da trajetória acadêmica: 40 anos de trabalho

BrochadonasceunacidadedeRioGrande,estadodoRioGrandedoSul,em7demarçode1936.IniciounaArqueologiaporacaso,em1958,comoamador, integrandooCentroExcursionistaRondon, fundadoem1942porjovensestudantesdoColégioEstadualLemosJr.paraexplorarabelaearenosaregiãodeRioGrande(Brochado,1962,1969c;Almeida,1993).Alémdetercompanheirosinteressadosnopassadoindígenaedevivernummunicípiocomricopatrimônioarqueológico(atualmentecom105sítiosregistrados),BrochadofrequentavaassiduamenteaBibliotecaRiograndense,instituiçãocomgrandeacervodelivroseperiódicossobreArqueologiaeEtnologiapublicadosdofinaldoséculo19aosmeadosdoséculo20(ondetambémleuLiteraturaeHistóriaGregaeRomanaeminglês,francês,espanholeitalianodesdejovem).

Aoingressarnauniversidade,Brochadojáeraservidorpúblicofederal,datilógrafodoDepartamentoNacionaldePortoseViasNavegáveis(DNPV),ondetrabalhoudos20aos29anos.Nesseperíodo,comoautodidataembuscadesubsídioscientíficosparasuasatividadesamadoras,leunaBibliotecaRiograndenseobrasdeArqueologiaeEtnologiasobreoBrasil,ArgentinaeUruguaieoutroslugares,comfocodirecionadoparaaRegiãoSuldoBrasil.Oresultadodas leiturasapareceunamonografiaArqueologia descritiva das jazidas páleo-etnográficas da Região Sul do Brasil, concluídaem1961e impressanoanoseguinte,emediçãolimitada,pelaFaculdadeCatólicaSul-RiograndensedePelotas,atualPUCdePelotas(Brochado,1962).

Em1960,ingressounocursodeHistóriadaFaculdadeCatólicadePelotas,mantendoseutrabalhonoDNPVe

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viajando100kmdiariamenteparaestudar.Noiníciode1962foiparaPortoAlegre,ingressandonaUniversidadedoRioGrandedoSul,atualUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,paracontinuaragraduação,etransferindo-separaoescritóriodoDNPVnacapitalgaúcha,ondetrabalhouaté1967.Aexperiênciadecampoeoconhecimentodabibliografia,aliadasaumaeloquênciaeruditaedescontraída,atraíramaatençãodojovemcatedrático,entãoumarqueólogoamadoremviadeprofissionalização,PedroInácioSchmitz,quepromoveuBrochado,aindagraduando,ainstrutordeensinodacátedradeEtnologia.

Apósa formaturaem1963, foicontratadocomoauxiliardeensinodacátedradeEtnologia,comdedicaçãoparcial(12horas/semanais)paralecionarEtnologiaIndígenaeAntropologiaCultural,incluindotemasdeArqueologia(Brochado,com.pessoal;Lewgoy,1997:247;Teixeira,1997:281).EmparaleloàsaulasnaURGS,devidoaobaixosaláriodocargo,BrochadoacumulououtrosempregoscomodocenteenoDNPV.Entre1966e1967estevevinculadoaoMuseuEstadualdeCiênciasNaturaisdoRioGrandedoSul,paradesenvolverpesquisas.Entre1964e1968,lecionounoensinosecundário,noColégioEstadualJúliodeCastilhos,amelhorescolapúblicadePortoAlegrenaépoca.De1965 a 1971 lecionou em faculdades privadas.Coma reformado ensino em1971 e coma expansãodas vagasdocentes,Brochadopassouterapenasumemprego,comoprofessorassistentenoregimedededicaçãoexclusivanoDepartamentodeCiênciasSociaisdaUniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,paralecionarnocursodeCiênciasSociaise,após1985,noProgramadePós-GraduaçãoemAntropologiaSocial,atéaposentar-seem1991comoprofessoradjunto.Em1992,ingressounocorpodocentedoDepartamentodeHistóriadaPontíficiaUniversidadeCatólicadoRioGrandedoSul(PUCRS),paralecionarArqueologia,Pré-HistóriaGeral,daAméricaedoBrasilnagraduaçãoenapós-graduaçãoemHistória,atéretirar-sedomagistérioem1999,após36anosdededicação.SuarelaçãocomaPUCRScomeçouantesde1992,particularmentecomoCentrodeEstudosePesquisasArqueológicas(CEPA),entãocoordenadopeloarqueólogoeirmãomarista,prof.GuilhermeNaue.Ali,semvínculoempregatício,foiconsultorereponsávelpelotrabalhodelaboratóriodeprojetosisoladosdearqueologiaporcontratode1985a1991.

Seutreinamentoformalocorreunasdécadasde1960e1970,emdiversoscursos,sobaorientaçãopesquisadoresrenomadose,namaioriadasvezes,foicolegadeváriospersonagensquesedestacaramnaArqueologiaBrasileiraeSulAmericana.Em1962foiconvidadoporJoséLoureiroFernandes,daUniversidadedoParaná(atualUFPR),paraocursodeextensão“ArqueologiaPré-Histórica”,ministradoporAnnetteLaming-Emperaire,seuprimeirotreinamentocientíficoem técnicasdecampoeescavação,nosambaquidoToralenoabrigosob rochaWobetonoEstadodoParaná(Meneses,1970;Chmyz,2000).Apartirde1965(até1970),recebeuoutrotreinamentodetécnicasdecampoelaboratórionoProgramaNacionaldePesquisasArqueológicas–PRONAPA,coordenadoporCliffordEvanseBettyMeggers.Entre1966e1969participoudedoiscursosdeespecialização,paraformaçãocomplementaremArqueologiaeAntropologia,ministradosporPedroI.Schmitz,naFaculdadedeFilosofiadeSãoLeopoldo,RioGrandedoSul(atualUNISINOS),complementadosporpesquisasdecampo.Entre1972e1973,cursououtraespecialização,orientadoporEduardoMárioCigliano,naUniversidadNacionaldeLaPlata,naArgentina.Finalmente,entre1977e1981,soborientaçãodeDonaldW.Lathrap, fezodoutoradonaUniversityof IllinoisatUrbana-Champaign,EstadosUnidos,estando entre os primeiros brasileiros com o título de doutor em Arqueologia (Ph.D. in Anthropology).

Suacarreiradepesquisadoruniversitárioteveprogressãoacelerada.Seusprimeirospassosforamem1962,sobaorientaçãodeSchmitz,emboratambémumarqueólogoamadorembuscadeformaçãoprofissional,entãoautordetrêsartigos(Schmitz,1957,1958,1959),queaquelemomentotinhasuaeducaçãoformalemArqueologiarestritaaumcursodecurtaduraçãonaUniversidaddeCórdoba,Argentina.Juntos,entre1964e1975,realizarampesquisas

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emsítiosisoladoseprojetosdemaiorenvergaduraemdiversasáreasdoRioGrandedoSuleGoiás:1)litoralnortedoRioGrandedoSul(1965-1967);2)RioGrandeePelotas(1966);3)médiorioJacuí(1973);4)sudoestedeGoiás(1974).Dacolaboraçãoresultaramapresentaçõesemcongressosepublicações(BrochadoeSchmitz,1976;SchmitzeBrochado1971-1972,[1972]1981a,1981b,1982;Schmitz,BrochadoeBarth,1973;Schmitzetal,1967,1970a,1970b).Brochadorecordaqueem1962-63,acompanhouSchmitzematividadesdecamponomunicípiodeNovoHamburgo.

Brochado integrou,entreo finalde1965e1970oPRONAPA,ondeavançoucomopesquisador, recebendobolsadoCNPq,equipamentos,veículoecusteiosanuaisparaexecutarprojetosexploratóriosnoRioGrandedoSul:1)valedorioIjuí;2)valedomédioJacuí;3)valedorioIbicuíMirim;4)banhadodoColégio,rioCamaquã.Entre1973e1974,apósretornardaArgentina,voltouaomédiorioJacuíjuntocomSchmitz,parcialmentefinanciadospeloCNPqeIPHAN.Osresultadosdestasatividadestambémforamlevadosacongressosepublicados(Brochado,1969a,1969b,1969c,1971,1972,1973,1974,1975;Brochadoetal,1969;PRONAPA,1970;Brochado,LazzarotoeSteinmetz,1969;Schmitz,RoggeeArnt,2000).

Aelaboraçãodaspublicações também resultoudos seusestudoscomplementaresde formaçãoacadêmicaedoscontatosnoscongressos,nosquaisteveaoportunidadedetrocarinformaçõesedebaterdiversostemas.DuranteoPRONAPAparticipoudesemináriosnacionaiseinternacionais,comdestaqueparaosocorridosemBuenosAires(1966),Belém(1968),Lima(1970)eWashington(1973),ondeaprofundouatrocadeinformaçõeserealizouestudoscomparadosdosmateriaisarqueológicosdediversas regiõesdoBrasil,daArgentinaedoUruguai,principalmentesobrecerâmica.Tambémcolaborounaelaboraçãoda“Terminologiaarqueológicabrasileiraparaacerâmica”(Chmyz,1976:120),queestabeleceulinguagemeconceitospadronizadosparadescrevercerâmicasarqueológicasnoBrasil,sobretudoasindígenas,quesãousadosatéhoje.

Suatrajetóriacientíficamudouapartirde1973,apósaconclusãodaespecializaçãonaArgentinaeocontatocomasidéiasdeDonaldLathrap(figura1),distanciando-semomentaneamentedapráticadecampoevoltando-separaabuscadeumanovainterpretaçãoparaasquestõesquemaislheinteressavam,poisBrochadoentendiaqueeraprecisolevantarnovosproblemas.Seuprojetoseguintefoibibliográficoeiniciouem1974,comoobjetivodeinvestigaraadaptaçãoecológicadosGuaraninoRioGrandedoSuleoconsumodamandiocanaaméricadoSul(Brochado,1977, [1975]1981c).Merecedestaque seu livroAlimentação na floresta tropical, cujaanálise sistemática sobreaagricultura,osequipamentoseosmodosdeconsumiramandiocanocontinenteinfluencioudiversasinterpretaçõessobre a subsistência dos povos agricultores estudados pelos arqueólogos brasileiros na década de 1980. Tambéminteressava-sepelabuscadenovasexplicaçõessobreadistribuiçãodospovosceramistasnolestedaAméricadoSul,sobretudoosTupi(Brochado,1975,1980a).Em1975,Brochadocomeçouaelaboraroprojetodedoutorado,iniciadoem1977,comumabolsadaOrganizaçãodosEstadosAmericanos(OEA)e,posteriormente,daCAPES.

Como veremos adiante, essa nova fase desencadeoumudanças importantes em Brochado, ampliando seusconhecimentoserenovandosuasinterpretaçõessobreosprocessosdecriaçãoculturalrelacionadoscomacerâmicae, secundariamente,comaagriculturano lestedaAméricadoSul.Dasnovaspesquisas resultaramváriosestudosrelevantes de impacto teórico e empírico em nível internacional (Brochado, 1980b, 1984, 1989, 1991a, 1991b;BrochadoeLathrap,1980).Seumestradofoiconcluíndoem1980,comadissertaçãoSocial ecology of the Marajoara Culture;eodoutoradofoiconcluídoem1984,comateseAn Ecological Model of the Spread of Pottery and Agriculture into Eastern South America.

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José Brochado (esquerda) e Donald Lathrap (c. 1980)

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DevoltaaoBrasil,Brochado iniciouumapesquisaparaampliaroconhecimentosobreacerâmicaGuarani,queseestendeatéopresente.Aprimeiraetapadosestudos(1985-1989)foidesenvolvidaemparceriacomFernandoLaSalvia,entãovinculadoàPUCRS,eincluiualunosdegraduação.Estetrabalhoresultoudoprojetodearqueologiapor contrato no alto rio Uruguai, coordenado por La Salvia e Guilherme Naue, onde Brochado atuou no Rio Grande doSuleSantaCatarina(sobacoordenaçãodeMarilandiGoulart,daUFSC).Encarregadodolaboratório,Brochadoprocuravanovoscritériosparaaanálisemorfológicadasvasilhas,apartirdemedidasencontradasemcoleçõesdevasilhas inteiras (La Salvia e Brochado, 1986).O objetivo era verificar se havia padrões nas formas das vasilhas,abandonarométodoFordeaanálisecentradaapenasnadescriçãodeantiplástico,detratamentodesuperfícieeoutrosaspectosmensuráveisnofragmentocerâmico.OprincipalresultadofoiolivroCerâmica Guarani (La Salvia e Brochado, 1989),comumaabordagemvoltadaparaacompreensãodaformaedosaspectosfuncionaisdasvasilhasdentrodeumaperspectivahistóricaeetnográfica,quetrouxeavançosrelevantesàcompreensãodoscontextosarqueológicoseculturaisGuarani.

ComadescobertadasinformaçõestaxonômicasefuncionaissobreasvasilhasGuaraninodicionárioseiscentistadeAntonioRuizdeMontoya(1639)1,Brochadoencontrouachaveparaacompreensãodefinitivadamorfologiaedospadrõesconstrutivosdasvasilhas.Foiopassodecisivoparainiciaroestudodosaspectosfuncionais(atéentãoignorados)edecategoriasêmicas(atéentãodesconhecidas),dandocontinuidadeàssuaspesquisassobreaalimentaçãoeusodasvasilhas.Otrabalhoincluiulevantamentonasfonteshistóricasparabuscardadossobreoscontextosemqueasvasilhaseramproduzidaseusadas,edeuespaçoparaotreinamentodeestudantesquesomaramaosprojetosemdesenvolvimento, com destaque para Gislene Monticelli, a aluna (depois colega e colaboradora) mais importante nessa etapadavidaacadêmicadeBrochado.EstapesquisalevouBrochadoaidentificar:1)tipologiadeformas;2)classesfuncionaisdevasilhas;3)padrõesnasregrasdeconstrução;4)proporçõesdetamanhoemcadaclasse;5)relaçõesentreclassesetratamentosdesuperfície(Brochado,MonticellieNeumann,1990;BrochadoeMonticelli,1994;Monticelli,1996).Emquepeseoavançodestaabordagem,amaioriadostrabalhospublicadosnoBrasilapós1989,relacionadoscomacerâmicaGuarani,prosseguiramcomométodoFord.

Em1986BrochadocontinuouaorientaralunosdeiniciaçãocientíficaeespecializaçãocombolsasdoCNPqe FAPERGS, tanto para integrar partes de suas pesquisas com La Salvia, quanto para acolher interesses diversos dos alunosque lheprocuravamcomoorientador.Antesde1986,especialmenteentre1967e1976, tambémorientouiniciaçãocientífica,masapenasumtornou-searqueólogo,SérgioLeite,técnicoepesquisadordoMuseuAntropológicodoRioGrandedoSul.Dentreosquetiveramseusinteressespessoaiscontemplados,possocitareumesmoeváriosoutros, comdestaque para aqueles que acabaramproduzindo publicações emparceria comBrochado (BrochadoeNoelli,1992,2002;NoellieBrochado,1998;BrochadoeLima,1994).Nomeucaso,entre1987-1990 (estágiovoluntárioeiniciaçãocientífica)e1993-1994(bolsarecém-mestre),semprecomobolsadaFAPERGS,fuiorientadoporBrochadoempesquisassobreocontextodasatividadescotidianasdosGuarani,comobjetivodeestudarafunçãodasvasilhascerâmicaseoutrosartefatos,aproduçãodealimentos,especialmenteosagrícolas,aprofundandoastemáticaspesquisadasporBrochadoapós1975(Noelli,1992a,1992b,1993,1994,1995,1996a,1996b,1997,1998a,1998b,1998c,1999a,1999b,2000a,2000b,2000c,2001;NoellieLanda,1991,1993,NoellieDias,1995;NoellieSoares,1997a,1997b,MontardoeNoelli,1995;LandaeNoelli,1997;NoellieSilva,1997;NoellieBrochado,1998;Noelli,TrindadeeSimão,2001;Noellietal,2002;Noellietal,2003).

1DeacordocomBrochado, foiMariaCristinaMineiroScatamacchia,doMAE-USP,quemgentilmente lheapresentouaquelas informaçõeshistóricas.Contudo,Brochadoteveoméritoeapercepçãoímpardereconhecernaquelafonteoselementosetnográficosquelevariamaocon-textoculturaldaelaboraçãoedousodasvasilhas,quepassaramdespercebidosporgeraçõesdepesquisadoresqueleramMontoya.

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ApósingressarnoProgramadePós-GraduaçãoemAntropologiaSocialdaUFRGS(1985)enoCursodeMestradoeDoutoradoemHistóriaIbero-AmericanadaPUCRS(1992),Brochadoorientoudiversasdissertações(Côrrea,1989;Monticelli,1995;Montardo,1995;Peixoto,1995;Landa,1995; Jacobus,1996;Schaan,1996;Assis,1996;Soares,1996;Reis,1996;Barbosa,1999).NãofuiorientadoporBrochado1,porqueingresseinocursoantesdaPUCRScontratá-lo,masdiscutiintensamenteotrabalhocomele(Noelli,1993).Váriosalunosdemestradoedoutoradoquenãoeramseusorientandostambémrecorreramintensamenteaosseusconselhos.Comasuaaposentadoriainvoluntária,váriasorientaçõesdemestradoedoutoradoemandamentoforamtransferidasparaoutrosprofessoresnofinalde1999.

Entre1997e2001,principalmenteemparceriacomGisleneMonticelli,BrochadofoiconsultordeprojetosdearqueologiaporcontratonoRioGrandedoSul,produzindorelatórioseabrindoespaçoparaainiciaçãocientífica.Em todososprojetos foi consultorou responsávelpelo laboratório, especialmentepelaanálisedacerâmica,ondedesenvolveu,testoueaperfeiçouoseumétododeanálise(verrelatóriosnasreferênciasbibliográficas).SuapublicaçãomaisrecentefoiumlongoverbetesobreospovosTupi,novolume7daEncyclopedia of Prehistory (Brochado e Noelli, 2002).Atualmentehádoistrabalhosemfasedeelaboração,umlivrosobreaalimentaçãoGuarani(NoellieBrochado,m.s.)eumaatualizaçãodametodologiadeanálisedacerâmicaGuarani(Brochado,MonticellieNoelli,m.s.).

A pesquisa sobre os povos Tupi

Conheceraorigem,osprocessoshistóricoseculturaisdoHomo sapiens edassuaspopulaçõesespecíficaséobjetivocomumdaArqueologiaemtodoomundo.NoBrasilaprimeirapesquisarelevantedestatemáticafoinadécadade1830,quandoKarlvonMartiusformulousuahipótesesobreaorigemeadispersãogeográficadosTupi,atraindogeraçõesdeestudiososqueampliaramerevisaramatemática,comdestaqueparaKarlvondenSteinen,LadislauNeto,HermannvonIhering,ErlandNordenskjöld,AlfredMétraux,AryonRodrigues,CliffordEvans,BettyMeggerseDonaldLathrap.Brochadoencerraaeminentelista,impondo-secomoodivisordeáguasparaacompreensãodaexpansãoTupi(cf.históriadaspesquisasemNoelli,1996a,1998a).OresultadodestesestudosmostraqueagêneseculturalTupiconstitui-sedeelementosAmazônicos,conservadosnadispersãopelolestedaAméricadoSul.

ConsideroqueahistóriadapesquisasobreaorigemeaexpansãoTupidivide-seemcincopartes2até1984.AprimeirafoiapercepçãodaunidadelingüísticadospovosTupi,descobertaporMartius([1839]1867),delineadaporvondenSteinen(1886)esistematizadaporRivet([1924]1952)eLoukotka(1935,1939,1950).AsegundafoiaabordagemetnológicadaculturamaterialdeErlandNordenskjöld (1924,1930)e,principalmente,AlfredMétraux(1928),quederammassaàestruturareconhecidana1ªetapaeintroduziramateoriadodifusionismoedohistórico-culturalismoparaexplicarassemelhançasentreospovosTupi.AterceirafoiarevisãolingüísticadeAryonRodrigues(1958,1964,1984-85),quedemonstrouasrelaçõesgenéticasentreaslínguasdafamíliaTupi-guaraniedasdemaisfamíliasTupi,quesãoaperfeiçoadasatéopresente(MooreeStorto,2002).Aquarta,iniciadanofinaldoséculo19,éaincorporaçãodasinformaçõesarqueológicasporLadislauNetoeHermanvonIhering.Maistardefoiintroduzidaaabordagemdifusionista,comoobjetivodemarcaredatarospontosgeográficosdas“rotasdemigração”,estabelecer

1Fuiorientado(agostode1990afevereirode1993),comobolsistadoCNPq,pelaProfa.Dra.PaulaCaleffiGiorgis,quemedeuinteiraliberdadeparadesenvolverapesquisademestrado.2Brochadonãoincluiuestudosdeorganizaçãosocial,emboratenhausadocomoinspiraçãoasidéiasdeBranislavaSusnik(1975)sobreosprocessossociaisepolíticosnaexpansãodosTupi-guarani.Ainclusãodestesestudosserãonecessáriosemfuturopróximo,poisarenovaçãodegrandeimpactolideradaporEduardoViveirosdeCastroecolegas(1986,2002;ViveirosdeCastroeCunha,1993;Fausto,2001)éindispensávelparaintroduziraquestãodasdiferençasentreosTupi.RecentementeaobradeSusnikfoianalisadaemdetalheporOliveira(2002).

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conjuntosregionaisehorizontesarqueológicos,inicialmentelideradaporCliffordEvanseBettyMeggers,extendendo-seatéopresentesobaperspectivadaTradiçãoTupiguarani(incluidadosanterioresa1965).AquintaéahipótesedeLathrap(1970a,1970b)sobreapressãodemográficacomorazãodasaídadaAmazônia,principalpontodepartidadeBrochado.

A tese de doutorado de Brochado é marcada por uma preocupação distinta daquela que moveu Meggers, Evans e seus discípulos brasileiros, sendoo trabalho emque reuniu/repensou/recolocou as explicações das cincopartesenumeradasacima,ecriouumaproposiçãoeumaabordagemdistintadomodelodaTradiçãoTupiguarani.Explicarestadistinçãoéfundamentalnestelivro,aproveitandoaoportunidadeparademarcarclaramenteasdiferençascientíficas.

A Tradição Tupiguarani

OprincípionorteadordaTradiçãoTupiguaraninãotemporobjetivoestabeleceracontinuidadeentrecontextosarqueológicoseculturais,seguindoopressuposto“trataraculturadeumamaneiraartificialmenteseparadadossereshumanos”,enunciadoporMeggers(1955:129).Comoutraperspectivaenadireçãooposta,Brochado(1984:1)começasua tese de doutorado coma antítese deMeggers, escrevendo que “se não forem estabelecidas relações entre asmanifestaçõesarqueológicaseaspopulaçõesqueasproduziram,omaisimportanteteráseperdido”.

Brochadopropôsseumodeloapartirda:1)distribuiçãogeográficahistóricadosfalantesTupi;2)relaçãogenéticaentreaslínguasdotroncoTupi;3)distribuiçãogeográficadascerâmicasarqueológicasdaTradiçãoPolicromaAmazônica(TPA);4)distribuiçãogeográficaetemporaldasdataçõesdascerâmicasdaTPA.Distanciou-sedaposturaadotadapelosidealizadoresdoPRONAPAnamedidaemquenãorestringiuseushorizontesaumaanálisedosdadosarqueológicospropositalmentedissociadosdoscontextosculturais.Agindoaocontrário,embuscadaassociação,ofocodeBrochadoeraprocurarestabeleceracontinuidadeentreocontextoarqueológicoeocontextocultural.

Seguindoapropostahistórico-culturaldeWilleyePhillips (1958),aestratégiaoperacionaldoPRONAPA foipragmáticaem1965,paracontornarainsipiênciadospesquisadoresbrasileiroseoescassoconhecimentoarqueológicodoBrasil.OPRONAPAformouumcampocientífico (Funari,1994;Roosevelt,1995)e implantounovascategoriasexplicativas, livresdaarraigadatradiçãodepartirdeaspectosetnográficosparaabordarosregistrosarqueológicos.Reduziroescopodametodologiaeadotarumaabordagemexploratóriasumária,foiaalternativadeEvanseMeggersparaevitarcomplicaçõesecumpriroobjetivode revelar rotasdedifusãodacerâmicaem5anos (1965-1970).Opragmatismomostrou-seacertado,permitindorápidacoberturadevastaregião,localizandoepesquisandomaisde1.500sítiossobúnicocritério.Oresultadodaexploraçãofoipositivo,comoreconhecimentodeconjuntosderegistrosarqueológicos chamados de tradição e das articulações espaço-temporais que revelaram a existência de distintoshorizontesarqueológicos.Simpatizantesprontamenteadotaramométodoeampliaramaáreaexplorada,numapráticaempregadaatéhojenoBrasilepaísessul-americanos.

OusodoconceitodetradiçãofoiestratégicoetraziaametodologiadavanguardadaArqueologianorte-americana,poucoantesdesersuplantadapelaNovaArqueologia(quelevoucercade15anosparachegaraoBrasil).Ametaerarevelar a extensão geográfica, a profundidade temporal e o desenvolvimento cultural das tradições, configurandoumperíodo que na história daArqueologiaAmericana ficou conhecido como “histórico-classificatório” (Willey eSabloff,1980).OembasamentoteóricodoPRONAPAfoiodifusionismoeuropeu,commaiorvisibilidadequeoneo-evolucionismonorte-americano,doqualapropriou-seapenasdeconceitoschaves(horizonte,tradiçãoefase)paraorientaraspesquisas,deixandodeladoaênfasenaclassificaçãoevolutivadassociedades.

ParaoPRONAPA,tradiçãoeraum“grupodeelementosoutécnicas,compersistênciastemporal”(Terminologia,1966,1976:145),umaadaptaçãosimplificadadoconceitooriginaldeWilleyePhillips(1958:37):“tradiçãoarqueológica

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éumacontinuidadetemporal,representadaporconfiguraçõescontinuadasdetecnologiasindividuaisououtrossistemasdeformasrelacionadas”.

Tradiçãoreúneunidadesmenores,locaisouregionais,chamadasdefase.ParaoPRONAPA,faseé“qualquercomplexodecerâmica, lítico,padrõesdehabitação,etc., relacionadonotempoenoespaço,numoumaissítios”(Terminologia, 1966, 1976:131). Também foi uma simplificação de Willey e Phillips (1958:22), para quem faseconfiguravacomo:

“umaunidadearqueológica,quepossui traçossuficientementecaracterísticosparadistinguí-ladetodas as outras unidades concebidas do mesmo modo, quer da mesma, quer de outras culturas ou civilização(outradições),limitadaespacialmenteàordemdegrandezadeumalocalidadeouregiãocronologicamentelimitadaaumespaçodetemporelativamentebreve”.

PararotularosregistrosarqueológicosdosTupi,masevitandoqualquerrelaçãocomaetnologiaealingüística(Brochadoetal,1969e:10),oProgramacriouem1969oconceito“tradiçãoTupiguarani”,semohífenquecaracterizaoconceitoetnológicoTupi-guaranitradicionalmenteusadonomeioamericanistadesdesuaproposiçãoem1886porKarlvondenSteinen(Noelli,1996a:12).“TradiçãoTupiguarani”foiumaferramentadefácilaplicação,especialmenteprojetadaparaclassificarfragmentoscerâmicos,sendoumíconedoPRONAPA:

“TradiçãoTupiguarani.Umatradiçãoculturalcaracterizadaprincipalmenteporcerâmicapolicrômica(vermelho e ou preto sobre engobo branco e ou vermelho), corrugada e escovada, por enterramentos secundáriosemurnas,machadosdepedrapolida,e,pelousodetembetás”.(Terminologia,1969:8,1976:146)

Considerandoa variaçãona freqüênciados registros arqueológicosdas fases, “baseadaprimariamente sobreevidência cerâmica” (Brochado et al, 1969e:20), em1969 a tradição Tupiguarani foi dividida em3 subtradições:pintada,corrugadaeescovada.Porexemplo:

“Subtradição Pintada. Uma variedade da Tradição Tupiguarani, caracterizada, no seu conjuntocerâmico,pelapredominânciadadecoraçãopintadasobreasdecoraçõescorrugadaeescovada.(Terminologia,1969:7)”.

Asdemaissubtradiçõestiveramdefiniçãoidêntica,considerandoopredomíniodocorrugadooudoescovado.EstasclassificaçõeseadescriçãodacerâmicaaindasãopraticadassobaformaoriginaldaTerminologia arqueológica brasileira para a cerâmica, mas, eventualmente, como se pode ver em alguns capítulos deste livro, são acrescentadas novasdefiniçõesepropostasdeanálise.

Está claroquea funçãoda tradiçãoTupiguarani édescrever, datar, posicionarnoespaçoe classificar certosregistrosarqueológicos,caracterizando-secomoumaclássicaabordagemexploratória(Neves,1988).Seumaiormérito,noespíritohistórico-cultural, foi contribuirnadefiniçãodas rotasdedifusãodacerâmicae identificaros tiposdeambientesocupados(Evans,1967;EvanseMeggers,1965;MeggerseEvans,1973,1978),semopropósitoderesgatarosprocessoshistóricosesociológicosdassociedades.Aimportânciadestaabordagemfoidemonstrarquenoimensoterritório,“apesardasfasescomponentesdestatradição[Tupiguarani]divergiremnapresença,freqüênciarelativaecombinaçãodetraços[dacerâmica],todasmostramamesmaculturageral”(Brochadoetal,1969e:18).Tãoimportantequantoaunificaçãometodológica, foi acomparação sistemáticados registrosarqueológicosde regiõesdiferentes,incluindooutrospaísesdaAméricadoSulondeEvans,Meggersecolaboradorestrabalhavam(Meggers,1985,1992).A largaescaladaáreaestudadaeacomparaçãorevelaramqueaextensãogeográficadaTradiçãoTupiguaranieramaiorqueaimaginadaantesde1965(Outes,1917;Lothrop,1932;Howard,1947,1948;Watson,1947;Willey,1949;Menghín,1957;SilvaeMeggers,1963;Meggers,1963;EvanseMeggers,1965).

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Os dados rotulados como Tradição Tupiguarani, embora necessitem de relativização e calibrações diversas,sempreservirãocomopontodepartidaparapesquisascomoutrasabordagens.MesmoqueaabordagemdoPRONAPAnãopossibilitecomtodaaplenitudeumainterpretaçãoprocessual,pós-processualoudeoutravertentemaisrecente,constituiumlegadoquenãopodeserignoradoequeservecomoreferênciaempíricasobreosconjuntosderegistrosarqueológicosdeampladistribuiçãogeográfica.Creioqueéantropologicamentecorretoteràdisposiçãomapasdesítios Tupiguarani, ao invés de apenas registros sem rótulo que não se pode analisar e interpretar, a exemplo doschamados sítios cerâmicos ou lito-cerâmicos,comoseconstataatualmenteemmuitaspublicações,dissertações,teses, relatóriosenobancodedadosdo IPHAN,amaioriadadécadade1990,que impedemdeseestabelecerarelação,mesmoqueprovisória,decontinuidadeentrecontextoarqueológicoecultural.

EmquepeseofatodeBrochado(1984:29)terpassadoaopor-seametologiadoPRONAPA,elesempredefendeuanecessidadedeaproveitarosdadosgeradossobainterpretaçãopronapiana.Éprecisolembrarqueantesdereverseusconceitoseposiçõesemmeadosdadécadade1970,BrochadoseguiuoProgramademododiligenteeexemplarentre1966e1973,sendoumdosmembrosmaisdestacadoscientificamente.Tanto,quehápoucotempofoiconsideradoporPedroI.Schmitz,comooautorda“melhorsíntesedosresultados”doPRONAPA(Silvaetal.,2002:293).Estasíntesefoipublicadaemduaspartes,originalmenteintegrantesdotrabalhodeconclusãodaespecializaçãodeLaPlata.Umaparte é o artigo Migraciones que difundieron la Tradición Tupiguarani(Brochado,1973b),aprimeirapublicaçãodoProgramaacumprirametadedefinirasrotasdedifusãodacerâmicaTupiguarani.ElamostraadistribuiçãogeográficadaTradiçãoTupiguaraniedemarcarotasdadifusãocerâmica(figura2),numaversãoutilizadaatéhojeporalgunsarqueólogosquetrabalhamcomosconceitosdesubtradiçãopintada,corrugadaeescovada.Aoutraparteestánoartigo Desarrollo de la tradición cerámica Tupiguarani (A.D. 500-1800) (Brochado1973c,1981a),quecumpriucomdiligênciaooutroobjetivopronapiano,decompreenderaescolhadosambientespelaTradiçãoTupiguarani.

Apesardeter feitoamelhorsíntesedoPRONAPAeterdedicadosuateseaCliffordEvans,aquemdevotagrandeadmiração,osnovosrumosintelectuaisdeBrochadodepoisde1973resultaramemdiferençasqueafastaramospronapianos.O fatodele ter idoparaodoutoradocomDonaldLathrapacrescentou ingredientespolíticosàsdiferençascientíficas,poisLathraperaogranderivaldeMeggerseEvans,cujosduelosacadêmicosforamnotóriosnadécadade1970econtribuíramparapolarizargruposnacomunidadeamericanista.

A mudança de Brochado surgiu da necessidade de alcançar uma teoria mais ampla, que considerasse elementos antropológicos,históricos, sociológicosebiológicos, indoalémdaabordagemexploratória limitadaà localização,descrição,classificaçãodefragmentosedareproduçãodasteoriasdodeterminismoecológico.NadireçãodosavançosdaArqueologia Internacional,Brochadoqueriaconhecerosprocessoshistóricoseculturaisdas sociedadese suasestratégiaseconômicaseecológicas,deumaformaqueoprojetodeMeggerseEvansnãopretendeualcançar.

Mudança de rumo: a influência de Donald Lathrap Brochado teve em Donald Lathrap o incentivo para investigar e desenvolver modelos de continuidade entre

oscontextosarqueológicoseculturaisdosTupi,depoisextendidosparaoutrasculturas.Eleconheceuas idéiasdeLathrapem1973,nolivroThe Upper Amazon,achandoexemploeinspiraçãoparamergulhardefinitivamentenoricoecontroversoambienteamericanista.Distanciando-sedabonomiaedaempiriapronapiana,Brochadofoiàsfontesprimáriasdaarqueologia,daetnologia,dahistóriaedalingüísticahistóricacomparada,crendoqueodebatesobreasdiferençasfariamaArqueologiabrasileiraavançar(com.pes.Brochado).

Apartirdaqui,emrazãodoespaço,centrareianarrativaemduasdaslinhasdepesquisadeBrochado,sobre

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aorigemeosprocessosdedispersãogeográficadosTupiearelaçãoentreaformaeafuncionalidadedacerâmicaGuaranieTupinambá.

A origem dos Tupi

ForamasteoriasdeLathrapsobreaorigemdacerâmicaTupiqueatraíramBrochado,porrepresentaremumaperspectivaopostaemváriosaspectosàsteoriasdeMeggers(cf.relatodeCarneiro,1995,sobreascríticasàMeggersnasdécadasde1960e1970).LathrappropunhaaAmazôniacentralcomo“berçodesocidadescomplexasefocodadifusãocultural”(ViveirosdeCastro,2002:329).OpilardateoriadeLathrapéahipótesedequeoaumentocontínuodapressãodemográficanocentrodaAmazôniaresultounumpermanenteecentrífugoexôdopopulacionalemváriasdireções,atingindoáreasdistantesedispersandoartefatosepráticasagrícolascriadosnointeriordaAmazônia(figura3).Ainspiraçãodifusionistaénotórianestateoria,especialmenteporconsiderarousodorioAmazonasedosseusafluentesevárzeascomocaminhoprincipaldadifusãodacerâmicaecomofornecedordosuportealimentícioquepossibilitouocrescimentodemográfico.

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Modelo das expansões, conforme Lathrap (1970) LathrapbuscavaumaalternativahumanistaaomodelopadrãododeterminismoecológicodeJulianSteward,

quenaversãodeMeggers(1954,1971)propunhaaslimitaçõesambientaiscomomotordasmigrações(posteriormenteelaagregouosefeitosclimáticos [seca] sobreavegetaçãocomomotordadispersãoTupi-guarani:Meggers,1975,1977,1979,1994;MeggerseEvans,1973,1978).EnquantoLathrapacreditavaqueasrelaçõessociaiseacriatividadehumanaparaadaptar-seaoambientegeraramadiferenciaçãocultural,Meggersapostavaqueadiferenciaçãoresultoudoempobrecimentoculturalimpostopelaflorestatropical.Meggersdesenvolveuomodelopadrãoeaindadefendeaorigemextra-continentaleandinadaculturaedacomplexidadesocial(Meggers,2000),considerandoqueoingressona floresta tropical simplificougradativamenteas características andinasatéatingirníveismaisbaixos, tal comoahipótesedegeneracionistadeMartiusemmeadosdoséculo19(Noelli,1996a,1998a).

AinterpretaçãodeLathrapsobreasseqüênciasdedesenvolvimentodacerâmicasulamericanaeasuabuscapormodelosdecontinuidadeentrecontextoarqueológicoecultural,forammotivosadicionaisqueatraíramBrochado,quesetornouumparceiroimportantedeLathrapnapesquisasobreacriaçãoedifusãodacerâmicanaAméricadoSul.Emúltimainstância,ambosprocuravamatrajetóriadodesenvolvimentotecnólogicoeartístico,da“sucessivacriação,separação,evoluçãoeramificaçãodeestilosetradiçõescerâmicas”(Brochado,1989:69).Esteobjetivofoicumprido

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em parceira na síntese Amazonia (BrochadoeLathrap,1980),monografiaaindainédita1de131laudasdatilografadas,ondeapresentamumainterpretaçãodareferidatrajetória.Poroutrolado,natese,BrochadodesenvolveuomodelodecontinuidadeentreocontextoarqueológicoeculturalTupisugeridoporLathrap(1968,1970a,1970b),demonstrandooselementosnecessáriospararelacionaraTradiçãoTupiguaranicomaspopulaçõesGuaranieTupinambá,econsolidarnovasrotasdeexpansão.

A colaboração entre Brochado e Lathrap também privilegiou dois aspectos que não integravam a perspectiva doPRONAPA. Primeiro, a verificação da continuidade entre o contexto arqueológico e o cultural, especialmenteforadaAmazônia.Segundo,acriaçãodeumaexplicaçãoarqueológicamaiscompletaparaaorigemeaexpansãoTupi,orientadapormodeloslingüísticos,consideradosamelhoralternativafaceàslacunasdaArqueologiabrasileira.Aocontráriodamaioriadosarqueólogosbrasileiros,queraramenteutilizaramdadoslingüísticosemsuaspesquisas,Brochado atribui grande peso a estas informações, sempre que possível considerando-os simétricos aos registrosarqueológicos,fortementeinspiradoporLathrap.

ÉimportantecomentarasidéiasdeLathrapqueinfluenciaramBrochado,quenãofoiumsimplesreprodutor,masumparceiroquecontribuiudemodorelevanteparadesenvolvê-las.

A análise comparada das evidências cerâmicas arqueológicas da América do Sul conhecidas até 1969,especialmentenaregiãoamazônica,edasinformaçõesbotânicasrelativasàagricultura,levouLathrapàespeculaçãodequeaTradiçãoPolicromaAmazônica(TPA)foicriadapelosproto-Tupi,tambémresponsáveispelasuadifusãoapartirdomédioAmazonas(queentãochamoudeTupi-guarani,baseadoemAryonRodrigues,1958).ConsiderandoaAmazôniaCentrala“terranatal”daTPA,LathrapsugeriuahipótesedequealiasdataçõeserammaisantigasqueoutrasregiõesdaAméricadoSul(Lathrap,1970a).Poroutrolado,procurandoasrelaçõesentreastradiçõeseestiloscerâmicos,LathrapsugeriuqueaTPAseriaumaderivação/transformaçãorecentedeumramodaTradiçãoBarrancóide(TB ou Tradição Incisa e Modelada), representada pela subtradição Guarita, com a substituição gradual dos modelados edas incisões em linha largaporpinturapolicroma,mantendo inicialmenteosmotivosdecorativos típicosdaTBtardiaeassuasformasmaissimples.Depoisapinturaapareceprogressivamentediferenciadanoscamposdecorativos,retendoacaracterísticadosmotivosemvoluta(Lathrap,1970a:156;Brochado,1984:319-320;BrochadoeLathrap,1980).Posteriormente,desenvolvendoestashipóteses,BrochadosugeriuqueasvariaçõesdaTPAocorreramjuntocomasderivaçõesgenéticasqueresultaramnasdiferenteslínguasdotroncoTupi.

OmodelocomparativodeLathrapestabeleceuparâmetrosparaareferidaseqüência“criação,separação,evoluçãoeramificaçãodeestilosetradiçõescerâmicas”,partindodopressupostodaorigemunilineardacerâmicasulamericana.Lathrapbaseou-se emexemplosdeoutros continentes, considerandonecessário equalizar omodelo arqueológicocomolingüísticoparaampliaracompreensãodasseqüênciasquecorresponderiamàsmudançasculturais.ComestasoluçãoLathrapexplicouaseqüênciaqueresultounadiferenciaçãodaTBparaaTPAe,posteriormente,daTPAparaa subtradiçãoGuarita, sugerindoqueasmudançasarqueológicas teriamparalelocomaderivagenéticada línguaancestralqueteriageradooproto-Aruákeoproto-Tupi(Lathrapsupôsqueosproto-AruákcriaramaTB).Amparou-seemNoble(1965),sobreaorigemcomumproto-Aruákeproto-Tupi,eemRodrigues(1958),sobreasderivaçõesgenéticasda famíliaTupi-guarani,concluindoser“provávelqueoproto-aruák-tupi-guarani sejamaparentados,eécertoqueerampelomenosmuitoafins,emépocaimediatamenteanterioràsuadispersão”(Lathrap,1970a:76)2.

1Apesardeaindanãotersidopublicada,aversãodatilografadadeAmazoniasemprecirculouefoimuitocitadapelosespecialistasdaquelaregião.2QuinzeanosapósapublicaçãodeThe Upper AmazoneumanoapósBrochadodefendersuatese,Rodrigues(1985)invalidouahipótesedeNobleedemonstrouqueoproto-Karibseriaaproto-línguageneticamentemaispróximodoproto-Tupi.DeacordocomRodrigues,oproto-Aruaknãoapresentaparentescogenéticocomoproto-Tupi.

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Ainfluênciadoslingüístasénotória,masexisteumgap entreoscentrosdeorigemTupideLathrapedeRodrigues.OúltimosugeriuosudoestedaAmazônia,atualEstadodeRondônia,baseadonoprincípiodalingüísticahistóricadequeaáreadeconcentraçãodomaiornúmerodefamíliaslingüísticasfiliadasaumtroncolingüísticotemmaischancedeseraregiãodeorigem.Lathrap,imaginandoqueocentrodaAmazôniareuniaascondiçõesmaisfavoráveisparaacriaçãotecnológica,paraasdescobertasbotânicasequeseriaumcaminhonaturaldedifusão,levantouahipótesedequearegiãodafozdorioMadeiraseriaa“terranataldosTupi”.Todavia,ahipótesedeRodriguescontinuaatuale,talvez,amaiscorreta,poisagoraentende-secomomaisprovávelqueasfamíliaslingüísticasdeforadeRondôniasaíram,aoinvésdassituadasdentroseremdeoutraregião(MooreeStorto,2002:80).Emquepeseanecessidadedetestes,ajustesepesquisas,estahipótesepossuimaisconsistênciaqueahipóteseoriginaldeMartius([1839]1867)sobreaorigemTupinoParaguai,tambémpensadocomoaregiãoporondeosancestraisdosTupivieramdosAndes.Contudo,oParaguaieaBolívianãoapresentamasseqüênciasarqueológicascomosatributosquecompõemacerâmicaTupi,nemaslínguasdafamíliaTupi-guaranideorigemàsdemaislínguasTupi(Rodrigues,1964,1984-85,2000).

ÉimportanteressaltarqueorecursoàlingüísticahistóricaparapensaraorigemTupifoiaalternativaencontradapor Lathrap para superar as lacunas arqueológicas na Amazônia central (que ainda persistem, apesar dos lentosavançosnaquela imensidãogeográfica). Independentementedamargemdeerro,opapeldahipótese lingüísticaéapontarbalizasconsistentesnaausênciadosdadosarqueológicos,necessáriasparacalibrarumaaproximação“maiscorreta”daáreadeorigem.Ahipótesequeestasevidênciassugerem,indicacomomuitoprovávelqueaorigemfoiemalgumlugardoquadrantesudoestedaAmazôniameridional.AosugeriromédioAmazonaseafozdoMadeira,Lathraptinhaconsciênciadocaráterprovisóriodasuahipótese,passíveldetesteecorreção(Brochado,com.pessoal,1987).AsprimeiraspesquisasdealtonívelnomédioAmazonas(Hackenberger,NevesePetersen,1998),mostramqueaseqüênciapensadaporLathrapeBrochadoémaisrecente(ca.900D.C.)epossuicortesabruptosaoinvésdodesenvolvimento gradual TB → TPA → Guarita → Miracangüera.Éprovávelqueaseqüênciacerâmicasejadiferentedaoriginalmenteproposta,estandoemabertoarelaçãoproto-Tupi→ TPAeaseqüênciaqueresultounasvariaçõesdaTPA,cujoselosremotosdeligaçãocomasseqüênciasquelhederamorigemaindasãoprecariamenteconhecidos.ÉprovávelqueaorigemsejaemoutrapartedaAmazônia,masonde?AhipótesedequeaTPAfoiconcebidapelosproto-Tupiaindanãofoitestada/comprovadaecarecedebaseempírica,emquepeseascerâmicasGuaranieTupinambáteremelementosdecorativosquesãoevidênciaconcretadasualigaçãocomaTPA.Contudo,restaesperarporumapesquisadecomparaçãoestatísticadosatributosdascerâmicaspolicromasdolestedaAméricadoSul,paraverificara(s)seqüência(s)dedesenvolvimentoedispersãogeográficaeaperfeiçoaromodelopropostoporBrochadoeLathrapnamonografiaAmazonia.

Aquestãodaantigüidadedaorigemdoproto-TupinãofoiresolvidaarqueologicamenteporLathrapeBrochado,maselesapontaramumcaminhoconsistentepararefletirsobreotema.AfaltadeinformaçõesdaAmazôniacentralreduziuaprecisãodesteaspectodapesquisadeles,levando-osausarassugestõesdoslingüístascomoumaalternativaàs tradicionais especulações deterministas despidas de dados. Eles passaram a usar como referência a seqüênciacronológica,osprocessosdeformaçãodaslínguascomoindicadordosurgimentosdaspopulaçõeseasreconstruçõesdevocabuláriosdasproto-línguasqueeram índicepositivodapresençade traçosculturais,comoacerâmica,asplantaseoutrositensdaculturamaterial.

Rodrigues (1964) sugeriu que a origem do proto-Tupi foi 5.000 A.P. e que, um dos seus desdobramentosoriginouoproto-Tupi-Guaraniaoredorde2.500A.P.EstasdatassugeriramaLathrapeBrochadoqueasseqüênciasdedesenvolvimentodacerâmicaseriammaisantigasqueaspoucasdataçõesconhecidasparaaTPAnomédioAmazonasnofinaldadécadade1970.Emtodocaso,elesrestringiram-seasugerirqueaorigemocorreuapartirde500A.C.

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(Lathrap,1970a:156;Brochado,1984:319-320,1989:73),correspondendoaos2.500A.P.estabelecidosporRodrigues.Contudo, asdataçõesobtidas foradaAmazônia,maisosavançosda lingüísticaedaetnobiologiamostramqueaorigem dos Tupi é tão antiga3comosugeriuRodrigues,bemcomoacerâmicaeaagriculturaosacompanhoudesdeoprincípio.

Poroutrolado,MeggerseEvans(1973:57)eaquelesquelhesseguiram,defenderamaposiçãodequeosfalantesdoproto-Tupi não eramagricultores, sugerindoque a antigüidadeda separaçãoproposta porRodrigues começou“quandoos falanteseramaindapré-agricultoreseaindanão fabricavamcerâmica”.Contudo,amanutençãodestaposiçãoéumageneralizaçãoquenãoconsideraocontextodetodososdadosehipótesesconhecidossobreosTupiatéopresente.

Asdescobertasposterioresa1973confirmaramateoriadeLathrapeBrochadoedebelaramateoriadeMeggerseEvans.AsdataçõesrecuaramparaorigemdacerâmicanaAmazôniapara8.000A.P.(Rooseveltetal,1992).Paraaagriculturaexistemdataçõespróximasde10.000A.P.(PipernoePearshall,1998;Stothertetal.,2003),aexemplodocaeté,dasabóboras,dacabaça,daararutaedabatata-doce.Amandiocaeoamendoimjáalcançam8.400A.P.;asfavaschegama5.000A.P.eomilhodeveráalcançar5.300A.P.naAmazônia(comváriasdatasapartirde7.000A.P.nacostadoEquador).EstasdecobertastornamacertadasasreconstruçõesdeRodrigues(1988),tantoparaasplantasdeagriculturaquantoparaacerâmica(ovocábulopanelaatestaqueacerâmicaintegraatralhadomésticadesdeoproto-Tupi).UmaamostragemparcialdemonstraqueataxonomiaeafunçãodasvasilhassãoconstantesemváriaslínguasTupi (Tabela 1):

Língua Região Panela Talha Prato Copo

Guarani antigo Brasil Meridional Yapepó Cambuchi Ñaé, ñaembé Cambuchi caguabãChiriguano Bolívia Yapepó Cambuchi Ñae CaguaTupi antigo (Tupinambá)

Litoral brasileiro, Maranhão até São Paulo

Nhaêpepô Kamuci Nhaen Caguaba

Língua geral amazônica

Médio-baixoAmazonas Yapepu Camusî Nhaen, nhaembé

Tembé Maranhão Zapêpo KamutiKayabí Xingu IapepóAsuriní, Xingu Xingu JapepaíParintintin Tapajós Nhapepo Kamambuí Nhaetingy’a Y’gwavApiaká Tapajós NhepepoKa’apor Maranhão KamuxiWirafed Madeira Yapepoí

Tabela1:Taxonomia/funçãodacerâmicaTupihistórica(séculosXVIaXX)

3OconjuntodetodososdadosconhecidospelaArqueologiaeporoutrasdisciplinassugeremqueaorigemdosTupiedosTupi-GuaranipodeseraindamaisantigaqueahipótesedeAryonRodrigues.

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Os dados desta tabela, por mais incompleta que se encontre, mostram padrões inquívocos de semelhançaquereforçamreconstruçõescomoadeAryonRodrigueseosprincípiosdalingüísticahistórica,indicandoqueestefenômenoexplica-sepela antigüidadedapresençadacerâmicanoproto-Tupi, ao invésdadifusão tardia. E se asvasilhas jáexistiamcomestas funções,comoéprovável,aagricultura jáestavapresente,umavezqueasvasilhasforamprojetadasparacumprirfunçõesespecíficas,especialmenteatalhaeocopousadosparaoconsumodocauim.Adesconfiançacomumentedemonstradapelosarqueólogosdiantedestesdadosdeveriaserarrrefecida,poiselessãoumpontodepartidamuitomaisconsistentequeas tradicionaisconcepçõesbrasileiraarraigadasapenasemidéiasdespidasdefundamentaçãoempírica.

Outra frente de trabalho reforça a teoria de Rodrigues e abre umnovo leque de possibilidades. A ecologiahistóricadospovosTupi-guarani,nalinhadepesquisados“aspectosculturalmenteconstruídosdaecologia”realizadaporWilliamBalée(1995,2000;BaléeeMoore,1991,1999),comdensosestudoscomparados,revelaapersistênciaeamanutençãodoconhecimentoetnobotânicotradicionaldesde,pelomenos,oproto-Tupi-guarani.

Asdataçõesarqueológicasde foradaAmazôniacontribuempara reforçaras teoriasdeLathrapeRodrigues,indicandoquedentrodaAmazôniaserãoencontradasdatasmaisantigas.Deve-sepensarque“dentrodaAmazônia”nãosignificasomenteocentroe,deixandodeladoosdeterminismos,tampoucoapenasjuntoàsvárzeasegrandesrios.Outrasáreaseambientesprecisamseranalisadosnofuturo.Emtodocaso,aposiçãodasevidênciasarqueológicas,lingüísticasehistóricas,predominantementeencontradasaosuldorioAmazonas,tornamestaimensaáreaaprincipalcandidataondeselocalizaráumdiaa“terranatal”dosproto-Tupi.

OPRONAPAeoutrosprojetos revelaramumdensomapaarqueológicoTupi foradaAmazônia,nasRegiõesNordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, incluindo o nordeste da Argentina, ParaguaiOriental, partes doUruguai ePeruOriental. Estas regiões incluemos extremosdaexpansãoTupi ediversasdatações confirmamqueantigüidadedoproto-TupiedoprotoTupi-guaraniéumfato,nãoapenasumahipótese.Oconjuntodedatas(Brochado,1984;Buarque,1995;Martín,1997;Etchevarne,2000;OliveiraeViana,2000;Morais,2000;Noelli,2000;Pärssinen,2003),mostraqueáreaspróximasdosextremosdaexpansãoestavamocupadasporfalantesdaslínguasTupi-guarani(GuaranieTupinambá)hápelomenos1.000A.P.(p.ex.:Piauí,RiodeJaneiro,médiorioUruguai,médiorioParaná)e,emalgunspontos,hámaisde1.500A.P.(RiodeJaneiro,Paraná,RioGrandedoSul,DepartamentodeChuquisaca,Bolívia).Estehorizontemostraqueahipótesedos2.500anosdeantigüidadedoproto-Tupi-guaranisãocorretos,masindicaquepodemsermaisantigos.Omesmoprincípioserveàantigüidadedoproto-Tupi,estimadaem5.000anos.SeosTupilevaramacerâmicapolicromaaosextremosdasuaexpansãohá1.500anos,tambémémuitoprovávelqueelapossuidatasmaisantigasquandoseaproximadapossívelzonadeorigem,nãosendodescabidosos4ou5.000anos.Então,alémdanecessidadedeseobtermaisdatações,outroproblemaestácompletamenteemaberto,queéavelocidadedaexpansãodosTupi.

A expansão dos Tupi

AexplicaçãodadistribuçãogeográficadospovosTupiébaseada,apartirdeMartius,noprincípiodequeelesse irradiaramapartirdeumaregiãodeorigemcomum.Desdeentão,ograndedesafiofoidescobrirasrotasdessairradição,explicadascomofenômenosdemigração,difusãoeexpansão(CfhistóriadaspesquisasIn:Noelli,1996a,1998a,1999b).

A primeira contribuição de Brochado nesta temática foi a sínteseMigraciones que difundieron la Tradición Tupiguarani(Brochado,1973b),umacomplexaanálisedescritivaquecumpriucomexcelênciaoobjetivodoPRONAPAdeconheceras“rotasmigratórias”dacerâmicadosTupi.AimportânciadestetrabalhoedosresultadosdoPRONAPA

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parahistóriadapesquisasobreosTupi,residenofatodequepelaprimeiravezseapresentouumabasearqueológica,incluindo a cronologia com 14C,paraumcampoondehaviapredominadoainformaçãohistóricaeetnológica.

AbasedotrabalhofoiaelaboraçãodomapadadistribuiçãodossítioscomasfasesTupiguarani,interpretadoapartirdométododeseriação(Ford,1962;MeggerseEvans,1970).Comaanálisedadistribuiçãode52dataspor14C e outrasportermoluminescência,foipossívelestabelecerosentidodas“rotasmigratórias”.Alémdisso,Brochadoincluiuumaanálisecomparadadotratamentodasuperfíciedascerâmicas,paradescrevercommaiorprecisãoa“evoluçãodatradiçãoceramistaTupiguarani”.Brochado(1973b:10)seguiuMétraux(1927,1928),considerandoqueele“descreveurotasmuitosemelhantesàsquepropomosaquipartindodosdadosarqueológicos”(figura3).Emparte,istoexplicaousodoParaguaicomoaregiãoondepartiramasmigrações:

“Umadasmigrações dirigiu-se primeiramente ao leste, até a costa atlântica, de ondeumapartesubiuparaonorteatéadesembocaduradoAmazonas, remontandoeste rioe seus tributários, eoutradesceuatéosulpelacosta.OutrarotahaviadescidopeloParanáatéoriodaPrata.(Brochado,1973b:10)”

Emboranãocitenoartigo,BrochadotambémseguiuomodelodeMeggers(1963),emquearotadedifusãodacerâmicapolicromatinhaquaseomesmosentidosugeridoporMétraux,saindodoParaguaiemdireçãoaolitoralsul-brasileiro,deondeiaparaonorte.Afigura4ilustraosentidodarotadedifusãopropostoporMeggers,erepresentaomodeloclássicodadifusãodascerâmicasapartirdosAndes.

Valeapenadestacardoisaspectosdomodelo.Primeiro,queelefoiconcebidosemconsiderarrelaçõescomoutrastradiçõesceramistasequesuainterpretaçãoestavadeacordocomaconcepçãoarraigadadaorigemandinaeparaguaiadosTupi.Segundo,queasuainterpretaçãoestavaimplicitamentealinhadacomasidéiasdegeneracionistasdequeaculturaentravaemdecadênciaeficavagradativamentemaissimplesdentrodaflorestatropical.Ainterpretaçãode uma contínua transição dos tratamentos Pintado → Corrugado → Escovado,deacordocomaclássicateoriadeJulianSteward(viaBettyMeggers),imaginavaqueocorreuumprocessodesimplificaçãodecerâmicasoriginalmentesofisticadas(pintadas)queforamintroduzidasnoParaguaiatravésdosAndesbolivianos.

ConsiderandoacronologiadasfasesqueconstituíamassubtradiçõesPintada,CorrugadaeEscovada,BrochadosugeriuquehouveumainvoluçãodentrodaTradiçãoTupiguarani(defato,usooconceito“evolução”).AsubtradiçãoPintadaseriaamaisantiga,seguidadaCorrugadaedaEscovada,quesepropagariampor“ondasmigratórias”.Asdataçõesmaisantigasestavamnosul,easmaisrecentesaonorte,concordandocomomodelooriginaldeMeggerseMétraux.Alémdisso,oresultadodaseriaçãotambémconcordavacomasdatas(Brochado,1973b:14-15).AsdataslevaramBrochadoainterpretarquehouveram“distintasvelocidadesdedispersãoedistintosmomentosdepartida”desde“umcentrocomum”.Asdataslhepermitiraminterpretarqueointervaloentreaspartidasnãofoimuitograndee,paraexplicaradispersãoporumaáreatãovasta,proporquea“velocidadedepropagaçãotevedesermuitoalta”.Na subtradiçãoPintadao intervalo seria “mais lento”,de300e400anos, enquantoquenasdemais subtradiçõeso intervalo seriamenor, comcercade200anos, “sugerindoumamigraçãoexplosiva”. É interessantemostrarqueBrochado(1973b:15)procurou,aocontráriodosdemaispronapianos,explicarque;

“a transmissão de uma tradição ceramista através deste espaço imenso, sem a intervenção deportadoreshumanos,istoé,semahipótesedeumamigração,implicariaforçozamentenaexistência,aolongodetodoopercorrido,depovosaindasemcerâmicaou,comumacerâmicarudimentar,masnumníveltecnológicosuficentepararecebê-laequeestivessemdispostosaaceitá-laimediatamenteeatransmití-lasemdemoraaogruposseguintes,semprecopiando-aomaisfielmentepossível.Nãohánenhumfundamentoparasustentarestahipótese,postoqueoímpetomigratóriodosgruposdefalaTupi-Guarani[...]”ébastanteconhecido”.

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Figura 3: Mapa das “migrações Tupiguarani”

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Esta citação resume uma idéia que seria desenvolvida mais tarde por Brochado, quando repensou osmodelosdifusionistastradicionaisedistanciou-sedoideáriodoPRONAPA.Combasenasfonteshistóricasenadensidaderegionaldesítiosarqueológicos,Brochado(1989:80) sugeriu que o processo de colonizaçãodos Tupi seria como um “enxameamento”, onde osmovimentos “não eram exatamente migrações, nosentidodequeasregiõesdeondesaíramnãoficaramvazias, pelo contrário, as populações continuavamcrescendo até o ponto de obrigar a saída de novas vagas humanas”. Estava se baseandonoprincípiodequeosistemasocialdosTupi,especialmentedospovosTupi-guarani,“sóeramefetivosparamanteracoesãoatéumcerto tamanhodapopulação,oque facilitavaa saídadefamíliasextensas,asquaisseafastavamparaformarnovosgruposlocais”.

Oconhecimento sistemáticoe aprofundadodasfontescoloniaisabriuumnovohorizonteparaBrochado,que percebeu a extensão geográfica e demográficadosGuarani e Tupinambá ao tempo da chegada doseuropeus.Deformaquepôdesuperaromodelopadrãododeterminismoecológico,queconsideravaapenasaexistênciadepopulaçõesisoladasepequenasvivendonos ambientes ecologicamente limitados da florestatropical. Com a percepção do padrão Tupi-guaranide colonização e de grande densidades espalhadasem redes regionais, distingüindo-se da hipótese damigração,BrochadofoiumdospioneirosdarevisãodaHistória Indígenaque floresceunadécadade1990 e

quehojeestáemfrancodesenvolvimentoemtodoocontinente.Estasidéiaspropostasnatesededoutoradocontribuíramdecisivamenteparaarevisãodomodelode1973.Aredefinição

daregiãodeorigemfoifundamentalparaoestabelecimentodasrotasdeexpansão.VimosqueaproposiçãodaAmazôniacomo“terranatal”foibaseadaemelementosarqueológicoselingüísticosconsistentes,aopassoqueaproposiçãodoParaguainãopossuíanenhumdadoempiricamentedemonstrável,salvoaopiniãodeMartiusedaquelesquelheseguiram.

As subtradições também foramdescartadasporBrochado,quedemonstrouqueos tratamentosde superfícieda cerâmicaGuarani são, de fato, relativos a funcionalidade ou, eventualmente, devidos a ausência dematérias-primas(LaSalviaeBrochado,1989;Brochado,MonticellieNeuman,1990;BrochadoeMonticelli,1996;Brochado,comunicaçãopessoal,1990).Aprincipal justificativaquemotivouBrochadoadesenvolverumanovaabordagem,deve-seaofatodequeométodoFordestárestritoapenasaumaavaliaçãoserializadadaausênciaoudapresençadostratamentosdesuperfícieedoantiplástico,semterinteressepelarelaçãoqueestestratamentostemcomaformaecomafunçãodasvasilhasesemteroobjetivodeinvestigarocontextoarqueológico.

Figura 4: Rotas de difusão da cerâmica policroma, segundo Meggers (1963)

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Aconsideraçãodafuncionalidadeedocontextocultural,comoveremosadiante,levaramBrochadoàpercepçãodequediferentes tratamentosdesuperfíciedacerâmicaeramvariantesdoestilo tecnológicoede funcionalidadesdiferenciadas,longederesultaremdeprocessosdeevolução[ouinvolução]noâmbitodaculturaTupicomosugeriamosmodelosgeraisdeseriaçãodeFord(1962)eMeggerseEvans(1970).AsconclusõesdeBrochadoresultaramde20anosdeestudossobreafunçãodasvasilhascerâmicas,associadosaousodasplantasdeagriculturaeaosseuscontextos culturais, enquanto que a maioria dos que trabalhavam com a Tradição Tupiguarani passaram este mesmo tempoapenasreproduzindoométodoFord.TalcomodemonstramoslingüístaseosestudiososdaecologiahistóricanoâmbitodafamíliaTupi-guarani,Brochadosugerequesedevetestarahipótesedequeasvasilhaspossuemomesmoestilotecnológicoeservemàsmesmasfunçõesdesdepelomenosoproto-Tupi-guarani.Tambémsugere,detalhandoeaperfeiçoandoasidéiasdeLathrap,queodesenvolvimentotecnológicodaTPAteriaocorridonoproto-Tupiou,mesmoantes,emrazãodanecessidadedecriarosartefatosnecessáriosparaprocessaralimentosoriundosdaagriculturaededefinirocardápiopadrãodosTupi(Brochado,comunicaçãopessoal,1990).

AproposiçãodonovomodelodasrotasdeexpansãodoTupitemcomopontodepartidaosudoestedaAmazônia(Brochado,1984).Omapadedistribuiçãodos sítios arqueológicos estavamontadodesde1973,mas foi revisto eatualizadopelasnovasperspectivasecomosdadosdisponíveisaté1983.Oestabelecimentodacontinuidadeentreoscontextosarqueológicoseculturais,relacionandoesobrepondocriteriosamentemapasarqueológicosehistóricos,resultouemduasdireçõesprincipaisapartirdaregiãodeorigemamazônica(figura5).

UmafoirelativaaosfalantesdalínguaGuarani,situadosnoBrasilmeridional,EstadosdeMatoGrossodoSul,oestedeSãoPaulo,Paraná,SantaCatarinaeRioGrandedoSul;noParaguaioriental,nonordestedaArgentinaeempartesdoUruguai.Afaltadepesquisasimpôsumalacunaconsiderável,relativaaoMatoGrosso,GoiáseRondônia.Ocaminho principal da rota de expansão em direção ao sul teria começo na bacia do rio Madeira, descendo pela bacia dorioParaguai,passandoparaabaciadoParanánoMatoGrossodoSul,deondeiriaparaaRegiãodoSuldoBrasil,ArgentinaeUruguai.

AoutrafoirelativaaofalantesdalínguaTupinambá,situadosaolongodacostaatlânticaedasbaciasdosriosquedesaguamnooceano,sobretudonasregiõesNordesteeSudestedoBrasil.Agrandelacunasitua-senaregiãodobaixoAmazonas,edasuafozatéolitoralpiauiense.Emtodocaso,BrochadoconsiderouasevidênciasregistradasnabaciadoXingu,nointeriordoPiauí,deoutrosestadosnordestinosedeMinasGerais.

Brochadonãorealizou,porfaltadedados,aanálisedasrotasdeexpansãodospovosfalantesdasdemaislínguasdotroncoTupi,numtotalde58,deixandoparaofuturoaintegralizaçãoerevisãodomodelodaexpansãodosTupi.

Finalmente,umaoutracontribuiçãorelevantedeBrochado(1984,1989)equeprecisasertestada,éanoçãoderedesregionais.TantoosGuaraniquantoosTupinambá,comoseconstatanasfontescoloniais,formavamredesregionaisinterligandoosassentamentosemlargaescalageográfica.Avizinhançadestasredesligava,noscasosGuaranieTupinambá,lugarestãolongínquosquantoafozdoRiodaPrata,olitoraldoRioGrandedoSul,olitoraldoRioGrandedoSul,ointeriordeMinasGerais,deGoiáseSãoPaulo(Noelli,2004).Émuitoprovávelqueofluxodepessoas,coisaseidéiasnointeriordasredesfoiajustificativaprincipaldassemelhançasdosregistrosarqueológicos,dosistematecnológicodacerâmicae,conformeoscronistaseburocratascoloniais,dassociedades,dalínguaedacultura.

As cerâmicas Guarani e Tupinambá

AcontribuiçãodeBrochadonestetemaérelevante.EleabandonouométodoFordeospressupostosdeMeggerseEvans,valorizandoaforma,ostratamentosdesuperfície,afuncionalidade,oscontextosarqueológicoecultural,asinformaçõeshistóricas,etnográficaselingüísticasdisponíveis.Inicialmentepesquisouastécnicaseutensíliosusados

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Figura 5: Rotas de expansão dos povos Tupi, conforme Brochado (1984)

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noprocessamentodamandioca,emtermoscontinentais(Brochado,1977).DepoispesquisounasfonteshistóricasafunçãodasvasilhasentreosTupinambá(Brochado,[1980]1991).Porfim,realizouumasériedeestudosnasfonteshistóricassobreosGuarani,percebendocommaisclarezaedetalhe,emrazãodassemelhançascomosTupinambá,umpadrãoculturalcomum.Asimilaridadelevou-oàpesquisasobreasvasilhasinteiraseàconstataçãodaexistênciadeumsistematecnológicoqueditavaopadrãodasformas(LaSalviaeBrochado,1986,1989;Brochado,MonticellieNeuman,1990;BrochadoeMonticelli,1996;BrochadoeNoelli,1998).AmetodologiacriadaporBrochadoapareceuno livro Cerâmica Guarani,escritoemparceriacomFernandoLaSalviaem1989.

OPRONAPA,comovimosacima,haviaconcluídoqueacerâmicaTupidemonstravaserconfeccionadasob“umaculturageral”.Maslimitou-seàdescriçãodotratamentodesuperfícieeàseriaçãodasporcentagensencontradasnasamostrassemterinteressenocontextoculturalenasvasilhasinteiras,salvoalgunspesquisadoresquefizeramumaclassificaçãopréviadetiposdeformasinteiras,comoChmyz(1977)eSchmitz(p.ex.:Schmitzetal.,1990).

NocasoGuarani,Brochadoconseguiurevelarumcomplexoconjuntodenormasqueorientavamaelaboraçãodasvasilhasedemonstrarquehaviaclassesespecíficasparafunçõesdeterminadas.Tiveaoportunidadedemostrar(Noelli,2000a)queestasclasses,aomenosemtermostaxonômicos-funcionais,estãoordenadassobumpadrãocomumparaaslínguasdafamíliaTupi-guarani(cf.acimaatabela1).

BrochadoabriuumanovaperspectivaparacompreendereexplicarofatodeacerâmicaGuaranipossuirumestilotecnológicopadronizadosobregrasrigorosas,reproduzidasaolongodequase2milanosemumaáreatãovasta.SuaperspectivaésimilaràquelaqueencontramosemDobresyHoffman(1994:211),queentendemquetecnologiasignificanão“apenasomeiomaterialdefazerartefatos,maséumfenômenoculturaldinâmicodevidoàaçãosocial,àvisãodemundoeàreproduçãosocial”.BrochadoeLaSalvia(1989:165),sugeriramqueoestudodacerâmica“devepreocupar-secomocontextocultural.Emborapartindodefragmentos,nãodevemosencará-lossomentecomotal,mascomodocumentosexplícitosdeumtipodecomportamentoemfunçãodediversasvariáveis”.

Alémdisso,outramensagemde“Cerâmica Guarani”épioneiranaarqueologiabrasileira.Éaidéiadacontínuatransmissãodeinformaçõesecomunicaçãoentreaspessoascomofatorqueexplicaasemelhançaeapadronizaçãoda cerâmica, tal como sugeriram Schiffer e Skibo (1987:595), como “um corpus de artefatos, comportamentos econhecimentostransmitidosdegeraçãoageração,eutilizadosnosprocessosdetransformaçãoeutilizaçãodomundomaterial”.Estanoçãoéde fundamental importânciaparaacompreensãodoestilo tecnológicodacerâmicaeparaabrirocaminhoparaoempregodedadoslingüísticosehistóricosnasanalogiasemrelaçãoaocontextoarqueológico.Nesteaspecto,BrochadopensavacomoReedyeReedy(1994:304),queoestilotecnológicoé“amaneirapeloqualos indivíduos fazemoseu trabalho, incluindoasescolhas feitasporelesnoquerefereaosmateriaise técnicasdeprodução”.Tambémseriabomrecordar,comHegmon(1992),queestilorefere-seaumdeterminadomododefazeralgooualgumacoisa,equeestemododefazerencerraescolhasdeterminadasentreváriasalternativas.

AcompreensãodospadrõesquedãoformaàsvasilhasGuaranifoipercebidaatravésdaformadossegmentos,observando-sedabaseparaaborda,quecompõemsuasparedes.SegundoBrochadoeLaSalvia(1989:116),

“Tem-seaimpressãoqueasceramistasGuaraniconcebiamasvasilhascomoumempilhamentodezonasousegmentoshorizontaisbemdemarcados.Apartirdessaidentificaçãoéquedesenvolvemosumsistemaparaadescriçãodasvasilhas,baseadosnadivisãodesegmentosideais”

Dessaformaelesestabeleceramumcritériomensurável,baseadonageometria,afastando-sedassimplificaçõesusuais(eaindavigentes)quelevamareducionismoeerrosignificativonareconstruçãodasformasapartirdefragmentosdeborda.Forammedidascercade150vasilhasinteirasemilharesdefragmentos,permitindoaconclusãodequeastentativastradicionaisdedescreveracerâmicacomparando-adiretamentecomsólidosgeométricosnãoeraamaisapropriada,excetoastigelasemformadecalotadeesfera.BrochadoeLaSalvia(1989:166),concluíramque“não

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existemvasilhascuja formaseaproximesequersuficientementedeesferas,cones,elipsóides,etc.,para justificaracomparação”.Para superarestadeficiênciapropuseramummétodoparaadescriçãoeanálisedos“segmentosdeformasdasvasilhasGuarani”(BrochadoeLaSalvia,1989:117-119),devendo-se:

“considerarqueaproduçãoGuaraniestádentrodeumapossibilidadedearranjosde segmentosconhecidose,umavezidentificadoseisolados,poderemos,talvez,estabelecera‘a lei da produção das vasilhas’:oqueerapossíveleoquenãoerapermitido(grifomeu)”

Considerando as formas das vasilhas e a taxonomiaGuarani, Brochado reconheceu 6 classes principais: 1)yapepó(panela);2)cambuchi(cántarooutalha);3)ñaetá(caçarola);4)ñaé (prato);5)cambuchí caguabã (copo ou taça);6)ñamopyú(torrador).Aformadestasclassespossuivariaçõessegundoumaordemdecombinaçõesdesegmentos(“unidades padrão de formas definidas que sobrepostas, darão o contorno da vasilha”, Cf. La Salvia e Brochado,1989:116).Paraanomenclatura,BrochadoeLaSalviaseguiramSheppard(1956),definindotrêsclassesestruturaiscomonzedivisõesdeformas:

1. não restringidas,asquaispodemapresentarcontornos:1)simples;2)compostos;3)infletidos;4)complexos;2. restringidas:5)simples;edependentes,comcontorno:6)infletido;7)composto;8)complexo;3. restringidas independentes com contorno:9)infletido;10)composto;11)complexo.

Ospratos,copos/taças,caçarolasetorradoressãomaisfreqüentesnaclasse1easpanelasetalhaspertencemasclasses2e3.Abasedasvasilhaséprincipalmentecônica,arredondadaouplana,ocorrendoemtodasasclasses.O tratamentodasuperfícieédivididoemcinco técnicasprincipais,queàsvezesestãocombinadas:1)alisado;2)corrugado;3)ungulado;4)pintado;5)escovado.Oalisadoémaiscomumnasvasilhasquenãovãodiretamenteaofogo,comoospratos,coposetalhas.Ocorrugadoémaiscomumnasvasilhasquevãoaofogo,comoaspanelas,caçarolasetorradores,mastambémocorremnastalhasepratos.Ounguladoémaiscomumnasvasilhasdetamanhomenor,especialmentenospratos(eventualmenteestãomisturadasaosoutrostiposdetratamentos).Opintado(pretooumarromevermelhosobreengobobranco)écomumnasvasilhasquenãovãoaofogo,comoastalhaseoscopos,usadas para servir e tomar as bebidas fermentadas alcoólicas.O escovado é usado como o corrugado. Ainda seconheceaincisão,osestampados,osacanalados,osnoduladoseosroletados.Éprovávelque,algumasvezes,afaltadematériascorantesparaopintadoobrigouàopçãoporoutrostratamentosdesuperfície,comoemcertasamostrasdetalhascorrugadas,alisadasouescovadas.

Asclassespossuemtamanhosdistintos,preliminarmentedivididosemgrandes,médiosepequenos,masfeitossemprecomumaregradeproporçãoparaaformadocorpo.Aspanelasetalhaspodemteratéummetrodealturaeconteratécercade100litros,sendoasmaioresvasilhasGuarani.Ascaçarolastambémchegamadiâmetrosde60/70cmpor25cmdealtura,econtêmaté10/12litros.Umapanelapodeconter10ou100litros,masasuaformaaltera-seapenasnaproporçãomaioroumenor(Brochado,NeumanneMonticelli,1990).Parecequeotamanhodavasilhavariacomocontextoecomseudono:1)apanelamaiorseusavaparafazerocozidodafamíliaextensa;amenorparaafamílianuclear;2)opratopequenoseriaindividualeogrande,coletivo;3)ocopopequenoseriaindividuale

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ogrande,umaparatodeprestígiopessoal(osGuaranivalorizavamograndebebedor,queàsvezespoderiaserchefe,líderreligioso,conselheiro,guerreiro,etc).

Aindanãosãoconhecidastodasasfunçõesdasvasilhasenemsecompletouosistemadeclassificação,quenecesitadenovosestudosestatísticosecomplementodaanálisequímicadosrestosorgánicosencontradosnosfragmentosenasvasilhasinteiras.Ostamanhosmédios,asminiaturas,asformasintermediáriaseostiposforadocomumaindanãopossuemclassificaçõesefunçõesseguramentedefinidas,queaguardamacontinuidadedaspesquisas.

Considerações finais

AvidaacadêmicadeBrochadotevetrêsfasesimportantes.Primeirotemosatransiçãodapráticaamadoraparaaformaçãoacadêmica.Oamadorautodidataqueelaborouumamonografiasupreendente,secomparadaaostextosbrasileirospublicadosnocomeçodadécadade1960,quemudoudecidadeembuscadeumaformaçãomelhoreacabaaceitopelojovemcatedráticoepassaalecionarnamelhorinstituiçãodasuaregião.Aseguirapossibilidadedeirmaisadiante,comaofertadeumaposiçãocomopesquisadordeumgrandeprojetolideradopordoiseminentesarqueólogos, na melhor oportunidade de pesquisa da época. Depois, mudando novamente o rumo, passando apesquisaremilitarnocampodo“adversário”,emummomentoemqueapolarizaçãomarcavaavidaacadêmicaepolíticanoBrasil.

Asmudançasintelectuais,totalmentegravadasnassuaspublicações,sãoademonstraçãodamaisgenuínavocaçãocientífica,dacontínuabuscapeloaperfeiçoamento,damarcaindeléveldeumpesquisadordeponta.Oseumaiorfeitofoitranscenderocontextoparoquialquedominavaomeioacadêmicobrasileironasdécadasde70e80,deixandofluirparaotextoumasériedehipóteseseteoriasàfrentedoseutempo,àmargemdasperspectivasdominantes.Brochadoteveoméritodereverereordenaroquejáexistia,deproporumnovoquadroorgânicoparaosprocessosqueresultaramnassociedadesceramistasdolestedaAméricadoSul,edeintroduzirumaperspectivaqueprocuravaosmeiosparaestabeleceracontinuidadeentreoscontextosarqueológicoseculturais.Mesmoquenovaspesquisasmodifiquemprofundamentesuasproposições,comrequeroavançodaCiência,BrochadoentraparaaHistóriadaArqueologiacomoumapersonagemqueelaborouumasólidateoriado processo de ocupação do leste da América do Sul pelas sociedades ceramistas, e que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento de métodos para a compreensão dos estilos tecnológicos e da funcionalidade dascerâmicasGuaranieTupinambá.Estesdoisfeitos,dentreosváriostemasqueelepesquisoueobteveresultadosemsualongacarreira,deixariamqualquerarqueólogoprofissionalcomosentimentododevercumprido.

Agradecimentos:AAndréProuseTaniaAndradeLimapeloconvitepararedigirabiografia,pelaleituraatentaesugestões.GisleneMonticelli,FabíolaAndréaSilva,JorgeEremitesOliveira,LúcioMenezesFerreira,PedroPauloFunari,JoséHenriqueRolloGonçalves,AnaPaulaSimão,AmílcarD’áviladeMello,EuridesRoquedeOliveiraeJaneAparecidaTrindade,contribuíramgenerosamenteparaoaperfeiçoamentodotexto.Oconteúdo,evidentemente,édeinteiraresponsabilidadedoautor.

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Referências bibliográficas

Obras publicadas por José Brochado

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Referências citadas no texto

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A TRADIÇÃO TUPIGUARANI NA AMAZÔNIAEdithe Pereira1

MauraImaziodaSilveira2 MariaChristinaLealF.Rodrigues3CíntiaJallesdeC.deAraújoCosta4

Christiane Lopes Machado5

ApresençadaTradiçãoTupiguaraninaAmazôniafoiidentificadainicialmenteapartirdoestudodecoleçõesarqueológicasprovenientesdealgumas regiõesno sul e sudestedoParáe confirmada,posteriormente, atravésdepesquisassistemáticasnaregiãodeCarajás.

As coleções que possibilitaram a identificação da Tradição Tupiguarani na Amazônia foram formadas porpesquisadoresduranteviagenscujosobjetivosnãoestavamrelacionadosdiretamentecomainvestigaçãoarqueológica.Naturalmente,estaformadecoletaimplicouemalgumasrestriçõesnoplanointerpretativo,maspermitiu,poroutrolado,aprimeiraidentificaçãodestatradiçãoceramistanaAmazônia.

AcoleçãoformadaporProtásioFrikelem1963correspondea3.749fragmentoscerâmicosealgunsartefatoslíticos coletados emdiversos locais com terra preta na região do alto Itacaiúnas, na região sudeste do Pará. EssematerialfoianalisadoporFigueiredo(1965)queidentificoutrêstiposcerâmicos-Itacaiúnas Simples, Caiteté Simples e Itacaiúnas Corrugado. Estestiposcompartilhavamomesmotempero-areiafinamisturadacomfragmentosderocha(quartzoe feldespato) - e amesma técnicademanufatura,o enroscamento (acordelamento).Avariaçãodos tipossimplesestavarelacionadacomaespessuradacerâmica.Entreosartefatoslíticosquecompõeestacoleçãodestaca-selâminademachado,raspadorequebra-coco.

Figueiredo(id.ibid.)apoiadonosrelatosdecronistas,eminformaçõeshistóricasedopróprioProtásioFrikelsobreosocupantesdaregião,considerouqueosfabricantesdacerâmicaanalisadaerampossivelmentedeorigemTupiequeocuparamaregiãodoaltoItacaiúnasapós1500emconseqüênciadaexpansãoportuguesa.Eleconsiderouaindaqueoslocaisondeacerâmicafoicoletadadeveriamseráreasdemoradiacujaocupaçãosedeu,possivelmente,umaúnicavez.

Simões(1972),baseadonoestudodeFigueiredo(1965)incluinoseuÍndice das Fases Arqueológicas Brasileiras aFaseItacaiúnascomopertencenteaTradiçãoceramistaTupiguarani.

Em1969,umaoutracoleçãodeartefatosarqueológicosfoiformadaporumaequipedegeólogosdoInstitutodeDesenvolvimentoEconômicoeSocialdoPará(IDESP)duranteumaviagemparapesquisarcarvãomineralnaáreadorioFresco,nosuldoPará.Estacoleção,provenientedosítioPA-RF-1:Mangueirasécompostapor250fragmentoscerâmicos,umpequenovaso,dozeartefatoslíticosealgumaslascasemrochaefoianalisadaporSimões,CorrêaeMachado(1973)queclassificaramomaterialcomopertencenteafaseCarapanã.Segundoestesautores,estafasepossuiumasériedesemelhançastécnicasedecorativascomafaseItacaiúnaspertencenteàtradiçãoceramistaTupiguarani.Noentanto,essafaseapresentatambém,emboraemmenorquantidade,algumascaracterísticasdatradiçãoIncisaPonteada.

1MuseuParaenseEmílioGoeldi(MCT-MPEG)eBolsistadoCNPq.2MuseuParaenseEmílioGoeldi(MCT-MPEG)3Arqueóloga4MuseudeAstronomiaeCiênciasAfins(MCT-MAST)5RheaEstudoseProjetos

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Simõesetal.(id.ibid)mencionamaindatrêscoleçõesarqueológicascujascaracterísticasapresentamafinidadescomatradiçãoTupiguarani.Duasforamformadasem1959porMoreiraNettoesãoprovenientesdaregiãodeSãoFélixdoXinguedorioFresco,enquantoaterceiraéresultadodeumacoletadesuperfícienoCastanhaldoCumaru,norioPaud’Arco(afluentedorioAraguaiapelamargemesquerda).Estaúltima,segundoSimõesetal.(id.Ibid),apresentacaracterísticasquelhepermitemvinculá-lasemdúvidaàtradiçãoTupiguarani.OmesmonãoocorrendocomasfasesItacaiúnaseCarapanãqueapresentamcaracterísticasdatradiçãoTupiguarani,mastambémalgumascaracterísticasdatradiçãoIncisaPonteada.

AsprimeiraspesquisassistemáticasnaregiãosudestedoPará–ondeapresençadatradiçãoTupiguaranijáeraconhecida–foramrealizadasinicialmenteentreosanosde1976-1978noâmbitodoProgramaNacionaldePesquisasArqueológicasnaBaciaAmazônica(PRONAPABA)eapartirde1977oapoioveioporpartedasCentraisElétricasdoNorte(ELETRONORTE)vistoqueostrabalhosforamdirecionadosparaosalvamentodesítiosarqueológicoslocalizadosnaáreadeinundaçãodaUHE-Tucuruí(AraújoCosta,1983;SimõeseAraújoCosta,1987).

OsresultadosdestapesquisaforamdivulgadosinicialmenteatravésdadissertaçãodemestradodeAraújoCosta(1983)sobreosalvamentoarqueológiconaáreadaUHE-Tucuruí,nobaixorioTocantins.Em1986,SimõespublicouosprimeirosresultadosdapesquisarealizadanabaciadorioItacaiúnas(afluentedorioTocantinspelamargemesquerda)noâmbitodoprojetodesalvamentodesítiosarqueológicosameaçadosdedestruiçãopelasatividadesdemineraçãodaCompanhiaValedoRioDocenaregiãodeCarajás,nosudestedoPará.

DeacordocomAraújoCosta(id.ibid),acerâmicadaregiãodobaixoTocantinsapresentacertascaracterísticasquesãotípicastantodatradiçãoTupiguaranicomodastradiçõesamazônicas,particularmente,aIncisaPonteadaeaPolicroma.Noentanto,aautorasalientaqueopequenonúmerodeatributosamazônicosreconhecidosnomaterialanalisadodificultouidentificaraqualdessas tradiçõesomaterialdobaixoTocantinsestaria filiado.Aidentificaçãodomaterial relacionadoà tradiçãoTupiguaraniparecesermaisclaraeseuenquadramentonasubtradiçãoPintadadecorre,segundoaautora,pelopredomínio,entreosfragmentosdecorados,dapintura(vermelhaepinturapolicroma),dadataçãoemtornode1.000A.D.edabaixafreqüênciadedecoraçãocorrugada.

Em1987,SimõeseAraújoCostapublicamnovosresultadosdapesquisanobaixorioTocantinsdestavezparaotrechoentreascidadesdeMarabáeNazarédosPatos.Foramtrintaesetesítiospesquisadosqueevidenciaramummaterialcerâmicocujascaracterísticaspermitiramagrupá-loemtrêsfases,Tauari,TucuruíeTauá.Destafeita,omaterialaparecerelacionadoastradiçõesIncisaPonteadaeTupiguarani.Nestaárea,ossítioslocalizadosmaisaosulapresentamcerâmicacomalgunstraçosdatradiçãoTupiguaranienquantoaqueles,situadosmaisaonorte,acerâmicaapresentaalgunstraçostípicosdatradiçãoIncisaPonteada(ibid.).Segundoosautores,estasituaçãopoderiarefletir“apossibilidadedeterservidoestaáreageográficacomoumcentroaculturativooudemiscigenaçãodeinfluênciase/outécnicasceramistasoriundasdeleste,suleoestedoBrasil”.ApesquisarealizadaporMárioSimõeseFernandaAraújoCostaregiãodeTucuruí,foisintetizadaeapresentadacommuitasilustraçõesem1992porEuricoMiller(Eletronorte,1992).

Nabaciado rio Itacaiúnasasprimeiraspesquisasarqueológicas sistemáticas tiveram inícioem1983atravésdoProjetoCarajás/Arqueologia.Entreosanosde1983e1986foramcadastrados38sítioscerâmicosnobaixocursodosriosParauapebaseItacaiúnasque,deacordocomSimões(1986),correspondemalocaisdemoradia.Estessítiosestãosituadospróximosaosriosemáreascujaterrapretaapresentavaespessuramédia30cmoquesugeriaumacertapermanêncianolocal.Ascaracterísticasconsideradasparaacerâmicadessessítios–notadamenteoantiplásticoeadecoração–apresentamtraçoscomunsàfaseItacaiúnasque,porsuavez,apresentaumasériedecaracterísticascomunscomaTradiçãoTupiguarani.DeacordocomSimões(id.Ibid.)asdataçõesobtidasparaossítiosdorioItacaiúnaspodem

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seragrupadasem3períodos:omaisantigocorrespondeasdataçõesdeA.D.280±80eA.D.390±85,ointermediárioapresenta4dataçõesquevãodeAD.1025±55aA.D.1170±60;omaisrecentecomdataçõesdeA.D.1420±55eA.D.1510±60.

Nofinaldadécadade1980apesquisaarqueológicanaregiãodeCarajásseestendeparaalémdaárearibeirinha,ondeatradiçãoTupiguaraniestápresente-ealcançaasencostasdasSerrasdeCarajásemcujasgrutassepreservaramvestígiosdapresençahumanademaisde8.000B.P.(Lopes,1988;Silveira,1994;Magalhães,1994,1998).AregiãodeCarajáspassaaserconhecidaentãoporapresentardoisperíodosculturaisdistintosdaocupaçãohumanapré-histórica,umpré-cerâmicoeoutrocerâmico.

Estudos preliminares realizados em quatro sítios arqueológicos na região da Serra das Andorinhas no baixorioAraguaiapermitiramcaracterizar a cerâmicaencontradacomopertencenteà tradiçãoTupiguarani (Kernet al.,1992).Foramanalisados169fragmentoscerâmicosdosquaisamaioria–128–nãoapresentadecoração,estasófoiidentificadaem41fragmentosondeseobservaocorrugado,overmelho,odigitado,oentalhadoeopintado(preto,brancoevermelho).Oantiplásticoutilizadofoi fundamentalmenteaareia(comgrãosdequartzoleitosoehialino)apresentandotambémlamínulasdemica(muscovita).

Em2000,Pereira(2001)realizaprospecçãoarqueológicanaregiãodeConceiçãodoAraguaianosuldoParáeidentificaoitosítioscerâmicos.Foicoletadaumapequenaamostradomaterialarqueológicoencontradonasuperfíciede cada sítio e totalizando65 fragmentos cerâmicos.Amaioria domaterial corresponde à cerâmica simples e ospoucos fragmentos decorados apresentam corrugado, ponteado, escovado e inciso ponteado. Apesar da pequenaamostracoletadafoipossívelidentificarapresençadetraçostípicosdacerâmicaTupiguaraninestaregião.

Apartirde2000,umasériedeempreendimentosminerárioscomeçaaserdesenvolvidonaregiãosudestedoParáe,emconseqüência,levantamentosesalvamentosdesítiosarqueológicossãorealizadosparafinsdelicenciamentoambiental conforme estabelecido por lei. Estes estudos têm permitido ampliar o número de sítios arqueológicosconhecidosnaregiãobemcomotrazeraluznovasinformaçõessobreaocupaçãopré-históricadestapartedaAmazôniamarcada,comovistonosparágrafosanteriores,pelapresençadaTradiçãoceramistaTupiguarani(Figura1).

Neste contexto, o Museu Paraense Emílio Goeldi é responsável atualmente pelas pesquisas arqueológicasdesenvolvidasemduasáreaslocalizadasnosudestedoPará–aSerradoSossegoeaFlorestaNacionalTapirapé-Aquiri,queintegramaregiãodeCarajás(Figura2).Estaspesquisasaindaestãoemandamento,masseusprimeirosresultadosoferecemnovasinformaçõessobreapresençadaTradiçãoTupiguaraninaAmazônia.

A presença da Tradição Tupiguarani na região da Serra do Sossego, Canaã dos Carajás (PA)

OsestudosarqueológicosnaregiãodaSerradoSossegotiveraminícioem2000atravésdolevantamentodopotencialarqueológicodaregiãoqueseriaafetadapelaexploraçãodeminériodecobre(Magalhães,2001).OProjetoSossego–nomepeloqualesteempreendimentoficouconhecido–estálocalizadonomunicípiodeCanaãdosCarajás,nosudestedoPará.

AsjazidasmineraisdoProjetoSossegoestãoinseridasnocontextodaProvínciaMineraldeCarajásquecompõe,deacordocomaclassificaçãodosGrandesDomíniosPaisagísticosBrasileirospropostaporAb’Saber(1977),oDomíniodasTerrasBaixas FlorestadasdaAmazônia,nasproximidadesda faixade transiçãoparaoDomíniodosCerrados(Brandt,2000).Naáreadeinfluênciadoempreendimento,osprincipaiscursosd’águasãoosrioParauapebas(afluentepelamargemdireitadorioItacaiúnas)eseusafluentesSossegoeSequeirinho.

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NaáreadeinfluênciadiretadoProjetoSossegoforamidentificadosseissítiosarqueológicoseseteocorrências6.Amaioriadossítiosdocumentadosrevelouumaltograudeinterferênciahumanarecente(cultivo,gado,garimpo)oqueacabouporlimitaraobtençãodedeterminadasinformações,comoporexemplo,aestratigrafiadossítios.Nestessítios,cujaconservaçãoestavacomprometida,omaterialarqueológicocoletado–notadamentefragmentoscerâmicos,totalizouumaamostrademaisdeseismilfragmentoscujaanálisepermitiuidentificarascaracterísticasdacerâmicaarqueológicadaquelaárea.

A maioria dos fragmentos cerâmicos coletados nestes sítios não possui decoração (92,3%). Os fragmentosdecoradoscorrespondema7,6%dototal(513fragmentos)enelesasdecoraçõespredominantessãoovermelho(48%),ocorrugado(32%)eoinciso(8.2%).Outrasdecoraçõescomoaplicado,raspado,acanalado,unguladoeassociaçãodestasdecoraçõescomvermelhoocorrememquantidadepoucoexpressiva.Osantiplásticospredominantessãoaareiaearochatriturada,outrosantiplásticosforamregistrados,masemquantidadepoucosignificativa(Pereira,2003).

Apartirdareconstituiçãodasbordasfoipossível identificarnossítiosdaregiãoapresençadetigelas,pratos,vasos,panelasealguidares.NosítioPA-AT-274:Estradaforamidentificadosdiversosvasilhamesconformeseobservanafigura3.Destesítiotambémsãoprovenientesumalâminademachadopolidaeumvasilhamecujosfragmentospermitiramasuarestauração(figura4).

Dentreossítios identificadosnaáreade influênciadiretadoProjetoSossegoapenasumsedestacaporestarparcialmente em ótimo estado de conservação. Trata-se do sítio PA-AT-247: Domingos, cuja extremidade sul foiatingidapelaconstruçãodeumaestradadestinadaaligaraáreadoempreendimentoàsededomunicípiodeCanaãdosCarajás.Apesquisadesalvamentoteveinícioem2003eaindaestáemandamentosendo,portantopreliminaresosresultadosaquiapresentados.

OsítioPA-AT-247:DomingosestálocalizadomargemdireitadorioParauapebasemáreaplanaesuavementeelevadaemrelaçãoaorio,comterrapretaabrangendoumaextensãodecercade400x300metros.Aáreaconservadaemboascondiçõesenaqualapesquisavemsendodesenvolvidacorrespondeapartecentro-nortedosítioequeocupacercade50%daáreatotal.Nestaáreaobservou-seaexistênciadeváriasmanchasdeterraescurasemquefossepossíveldelimitá-lascomprecisão.Nestasmanchasacamadadeterrapretanãoultrapassa35cmdeespessuraeomaterialarqueológico(cerâmicoelítico)encontra-senormalmenteassociadoaela.

Aexceçãoficaporcontadosvasilhamescerâmicosinteirosqueseencontram,viaderegra,enterradossempreabaixodacamadadeterrapreta.Osolomisturado,claramenteobservadonoperfildasescavações(figura5)evidenciaa remoção intencionalde terraparaqueoobjetopudesseserenterradoabaixodaáreadeocupaçãodosítio.Atéomomentoforamencontradostrezevasilhamesinteirosousemi-inteiros7.Dentreelesapenasum,atéomomento,correspondecomprovadamenteaurna funerária.Nela foramencontrados restos esqueletaisdeum indivíduocomidadeaproximadadetrêsanos8.Apeçaapresentavaumatampacomdiâmetromenorqueaurnaparecendotersidoreaproveitadaparaestefim.Umapequenalâminademachadopolidafoiencontradaaoladodaossadaconfigurandoacompanhamentofunerário(Pereira,2003a).

Atéomomento já foramencontradas in situquatro lâminasdemachado inteiraseduas fragmentadas.Doisalmofarizesforamencontrados,umestavanasuperfíciequebradoaomeioenquantoooutrofoievidenciadodurantesasescavações.Associadoaesseúltimoestavaumamão-de-pilãoeumagrandequantidadedesementes.

6Considera-seOcorrênciaoslocaisondeomaterialarqueológicoocorreempoucaquantidadeesemevidênciaclaradecontextoarqueológi-co.7PartedestesvasilhamesfoiencontradaapartirdolevantamentogeofísicocommagnetômetrorealizadonaáreadosítiosobaresponsabilidadedoDr.JoséGouvêaLuizdoDepartamentodeGeofísicadaUniversidadeFederaldoPará.8AanálisedosrestosesqueletaisfoifeitapelaDra.SheilaMariaFerrazMendonçadeSouzadaFIOCRUZ/EscolanacionaldeSaúdePública.

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AidentificaçãodealgumascaracterísticasrecorrentesnosítioPA-AT-247:Domingosconfiguram-secomobastantesignificativasparaoentendimentodaocupaçãodoespaçointra-sítio.Destacam-seentreelasasmarcasdeesteio,asconcentraçõesdefragmentoscerâmicossituadasnormalmentepróximasaos limitesdosítio (possíveis lixeiras)easáreasonde,apesardaausênciadeterrapretaedefragmentoscerâmicos,encontram-seconcentraçõesdevasilhamesinteirosenterrados(Figura6).Atéomomento,asdataçõesobtidasatravésdetermoluminescênciaparaosítioDomingospermitemsituá-loentre1.300±130e530±55A.P.

As características da cerâmica arqueológica da região da Serra do Sossego, particularmente nos aspectosrelacionadasàsuamanufatura(acordelamento),antiplástico(areiaerochatriturada),decoração(corrugado,ungulado,vermelho,inciso)eformadosvasilhames(Figuras4e7)permitemconsiderá-lacomopertencenteàTradiçãoceramistaTupiguarani.CorroboramparaestarelaçãoàsdataçõesobtidasatéomomentoatravésdetermoluminescênciatantoparaosítioDomingoscomoparaoutrossítiosdaregiãocomoporexemplooPA-AT-244:PistadePouso(710+-70e590+-60A.P),PA-AT-274:Estrada(540+-55e260+-25A.P.)ePA-AT-252:Sequeirinho(670+-70e520+-55A.P)quepermitemencaixá-losnamesmafaixatemporaldossítiosdoperíodocerâmicodaregiãodeCarajás(Lopesetal.1988)equeestãoassociadosaTradiçãoTupiguaraniatravésdafaseItacaiúnas.

As pesquisas arqueológicas na Serra do Sossego estão concentradas atualmente no salvamento do sítio PA-AT-247:Domingos e contamcoma colaboraçãode especialistas empalinologia, botânica, geofísica, pedologia eantropologiafísica.Situadoemumaregiãoque,nosúltimosvinteanos,foiintensamenteocupadaeondeatividadesagrícolas,pecuáriasedegarimpoprovocaramadestruiçãodeumaparteimportantedopatrimônioarqueológico,osítioDomingossurgecomoumlugarprivilegiadoparaoestudointra-sítiodeumaaldeiapré-históricarelacionadacomaTradiçãoTupiguaraninosuldoPará. Apesquisanestesítioaindaestáemandamento.

A presença da Tradição Tupiguarani na região da Floresta Nacional Tapirapé-Aquiri, Parauapebas (PA)

Em2003 tiveram início aspesquisas arqueológicasna regiãoda FlorestaNacional Tapirapé-Aquieri, situadanomunicípiodeMarabá,nosudestedoPará.Alémdoobjetivodegerarconhecimentosestaspesquisas9 estão sendo desenvolvidas em virtude da necessidade de obtenção das licenças ambientais para a exploração de minério de cobre realizadaatravésdoProjetoSalobo.Apresentaremosaseguirosresultadospreliminaresdaspesquisasrealizadasnessaárea.

AáreadoProjetoSaloboestáinseridanaFlorestaNacionalTapirapé-Aquiri(FLONATA)distanteaproximadamente600kmaosuldeBelém(capitaldoEstadodoPará) eintegra,porextensão,achamada“regiãodeCarajás”(figura2).AmaiorpartedessaregiãoédrenadapelaredehidrográficadorioItacaiúnas,quedesembocanamargemesquerdadorioTocantins,emMarabá,equetemnorioParauapebasumdosseusprincipaisafluentes.NaáreadoprojetoSalobodestacam-seosigarapésSalobo,MirimeCinzento(Silveiraetal.,2003).

Sãomarcantesduasestaçõesdistintas:umachuvosaeoutraseca.Osmesesmaissecossãodejulhoasetembro,eosdemaiorpluviosidadededezembroamarço.Entreosmesesdenovembroejulhooníveldaságuasdosrioseleva-se,permitindoanavegaçãodepequenasembarcações,entreagostoeoutubroosriosbaixam,expondoextensasvárzeasutilizadasparacultivopelapopulaçãoribeirinhaquehabitaaregião.Aprincipalcoberturadaregiãoédotipoflorestatropicalpluvial,comvariaçõeslocais,amaioriaobedecendoaorelevoacidentado(Silveiraetal.,2003).

Asáreasinvestigadasatéomomentoresultaramnadescobertadequatorzelocaiscomvestígiosarqueológicos,

9PesquisarealizadapelosProjetosdeLevantamentoeSalvamentoArqueológiconaáreadoProjetoSalobo,iniciadosem2003e2004respecti-vamente–atravésdeconvêniosentreoMuseuParaenseEmílioGoeldi,aSaloboMetaiseaFundaçãoparaoDesenvolvimentodaAmazônia.

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sendo nove sítios e cinco ocorrências, estando todos relacionados ao período cerâmico. As ocorrências, apósinvestigaçõesadicionais,poderãoserdefinidascomosítiosarqueológicos.Ossítiosarqueológicosestãosituadosaolongo dos igarapés Salobo eMirim, preferencialmente nosmeandros dos igarapés e/ou entre grotas.Observou-seainda,aocorrênciadesítiospróximosunsaosoutros,localizadosemmargensopostasdoscursosd´águaconstituindo-se,possivelmente,emumpadrãodeocupação.

Atéomomentoforamidentificadosdoistiposdesítiosarqueológicos:a)sítioscerâmicosdepequenasdimensões,poucaprofundidadeebaixadensidadedematerialarqueológico,

podendoserconsideradoscomosítiosacampamentooudehabitaçãotemporária;b) sítios cerâmicoscomgrandequantidadedematerial cerâmico, sendo tambémencontradosmaterial lítico

lascadoepolido,everificadaaocorrênciadediversospolidoresàsmargensdosigarapés.Foramidentificadoscomosítiosdehabitação,comterrapretae/ousolomarromescurocomaté60cmdeprofundidade.Algunsdelesapresentammanchasdeterrapretaarqueológica(TPA)quecorrespondem,provavelmente,àsáreasdecabanas.

Nomaterialcerâmicoanalisadoidentificou-seoacordelamentocomoprincipalmétododemanufatura.Apastautilizadaparasuaconfecçãoapresenta,predominantemente,arochatrituradacomoantiplástico.Adecoração,muitomais plástica do que pintada, apresenta características tipicamente Tupiguarani tais como: corrugado, espatulado,inciso,escovado,raspado,unguladoponteado,roletadoeimpresso(SilveiraeJalles,2004).Foramencontrados,ainda,durante as escavações dois apliques cerâmicos zoomorfos (figuras 8 e 9), umem sítio habitação e outro em sítioacampamento.

Nosdoistiposdesítiosfoiregistradaapresençadeestruturas,taiscomoburacosdeesteioeestacaefogueiras.O materiallíticolascadoéconstituídodemodogeral,porlascaseraspadoresdequartzo,quartzitoesilexito.Omateriallíticopolidoestárepresentadopordiversaslâminasdemachados(formasetamanhosvariados)ecavadores.Foramcoletadosaindaadornoslíticosinteiros(figura10)eemfasedeprodução(figura11).

Omaterial coletado até omomento, pelas características apresentadas, está relacionado à tradição culturalarqueológica Tupiguarani. As pesquisas nesta área foram iniciadas há pouco tempo e certamente trarão novasinformaçõesquecontribuirãoparaampliaroconhecimentosobreapresençadaTradiçãoTupiguaraninaAmazônia.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Figura 1 – Área de ocorrência da Tradição Tupiguarani na Amazônia.

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Figura 2 – Localização da área dos projetos Serra do Sossego e Salobo.

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Figura 3 – Tipos de vasilhames identificados no sítio PA-AT-274: Estrada a partir do estudo de fragmentos de bordas.

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Figura 4 – Peça restaurada proveniente do sítio PA-AT-274: Estrada.

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Figura 5 – Os vasilhames cerâmicos inteiros são encontrados abaixo da camada de ocupação (terra preta)no sítio PA-AT-247: Domingos.

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Figura 6 – Conjunto de vasilhames cerâmicos detectados através de prospecção geofísica em área de solo clarono sítio PA-AT-247: Domingos.

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Figura 7 – Vasilhame cerâmico com decoração corrugada encontrado no sítio PA-AT-247: Domingos.

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Figura 8 – Aplique zoomorfo encontrado em um sítio habitação

fotos:JoãoAires

Figura 9 – Aplique zoomorfo encontrado em um sítio acampamento

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Figura 10 - Pingente lítico Figura 11 - Contas líticas

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Recipientes cerâmicos de grupos Tupi, no Nordeste Brasileiro.Marcos Albuquerque1

Coord.doLab.deArqueologiadaUFPEPesquisador do CNPq

Depois de atravessarem dois terços da cidade e seguir por uma estrada que subia e descia o terreno ondulado que outrora fora coberto de mata, o professor de Arqueologia acompanhado de três estagiários finalmente chega a um pequeno sítio na periferia da cidade. O que os trouxera ali foi a curiosidade do proprietário do sítio que soubera que ao se cavar o solo para implantar as estacas de uma cerca os trabalhadores haviam se deparado com o inusitado; o instrumento batera em um material mais sólido, mas que cedera às investidas da enxada. Haviam encontrado um grande pote de barro, que se espatifara. No primeiro momento, a grande esperança, seria uma botija? Desânimo! Apenas terra escura e um outro potezinho, também sem ‘nada’, e que fora jogado longe, quebrando-se. “ Parece que havia também alguns fragmentos de ossos, mas nada importante, nada que valesse a pena.” Travava-se de mais uma ‘urna’ tupiguarani, encontrada e destituída de seu contexto.

Temos aí uma situação por demais repetida em todo o Brasil, e possivelmente mais além. Serve como exemplo para se assinalar que esta tem sido o modo mais comum como foram conhecidas as formas inteiras ou reconstituíveis dos recipientes cerâmicos: achados fortuitos.

Comocaracterizar,comoapresentarumasíntesedosrecipientesdestacerâmica,queaosolhostreinadospodeserreconhecidaàdistância?Peladecoração,emboramuitosrecipientesnãomostremdecoração?Pelaforma?Pelatecnologiausadanofabrico?

Muito provavelmente seja a forma o primeiro elemento que chama a atenção, seguindo-se de imediato adecoração, a técnicaque se espelhaatravésda textura, da coloração. Seriao conjuntode tais característicasquelevariamaseidentificaraquelacerâmica.Masofundamentalseriacaracterizar-sequemasfabricou,quemasusou,comoasusou.

Qualquerquesejaa tendência teóricaoumetodológicadopesquisadoremarqueologia,a identificaçãodosartefatostemsidoopontodepartidabuscado.Identificaçãoquepassa,dafunção,aousoàdadistribuição.

Muitosdosaspectos teóricosque tratamdeumacorrelaçãoentrea formaea funçãonestacerâmica, foramtratadospordiferentesautoresesistematizadosporBrochado,2 Scatamachia3eoutros.

1Opresenteestudofoipossívelgraçasacolaboraçãodecolegasqueselecionaramefotografaramomaterialemsuasregiõesdeatuação:Luiz Dutra Souza Neto,queselecionouefotografoupeçasdoMuseuCâmaraCascudo,noRioGrandedoNorte;Deusdédit Leite Filho, que selecionou,descreveuefotografoupeçasdoMaranhão;Francisco Veloso,arquitetoda4ªSRIPHAN,queselecionouefotografoupeçasdoCeará;eCláudia AlvesqueselecionoupeçasdoNEA.OProf.Vicente Alves,conhecedordaHistóriadoAraripe,foioresponsávelpeloapoiologísticodenossaequipeecolaboradorincansávelnalocalizaçãodossítiosnaRegião.Atodosagradeçopelainestimávelcolaboração.

�BROCHADO,JoseProenza.Alimentação na Floresta Tropical. PortoAlegre,InstitutodeFilosofiaeCiênciasHumanas,UniversidadeFederaldoRioGrandedoSul,197,103p.,il.3SCATAMACCHIA,MariaCristinaMineiro.TentativadecaracterizaçãodaTradiçãoTupiguarani.SãoPaulo,DissertaçãoapresentadaaoCursodeMestradoAntropologiaSocialdaFaculdadedeFilosofia,LetraeCiênciasHumanasdaUniversidadedeSãoPaulo,1981,301p,il.

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Domesmomodoqueaavaliaçãoinicialdesuadistribuição,daocorrênciaatéentãoconhecidadaquelacerâmicalevouacorrelacioná-lainicialmentecomoqueSteward4caracterizoucomo‘cultivadoresdeflorestatropical’.

AmplamentedispersanoSul,SudesteeNordestedoBrasil,foiaindaidentificadanoNorteemaisrecentementenoCentro-OestedoPaís.

NoNordeste,ondeecossistemasextremos(sobocontroledaumidade)coexistemcomfronteirasmuitopróximas,adispersãoTupiguarani,comcomplexasaldeiaslocalizadasemmeioaosemi-árido,levouAlbuquerqueeLucena5 a questionaremaestritaassociaçãocomomodelodos‘cultivadoresdeflorestatropical’.

AconvergênciadealgumascaracterísticasmaisfreqüentesemdeterminadasregiõesconduziuScatamacchia6 a proporumasubdivisãodaquelatradiçãoculturalTupiguarani,emGuarani,maisaosul,eTupinambá,maisanorte.

Embora os sítios arqueológicos compresença de cerâmica conhecida inicialmente comoTupiguarani sejamreferidoshámaisde40anos,emváriospontosoNordeste,certamenteaindanãofoipossívelconstruir-seumasínteseregional relacionada àquelas ocupações. Algumas tentativas têm abordado a questão por vieses que privilegiamenfoques ou aspectos específicos, constituindo-se nos alicerces da construção do conhecimento acerca daquelesgruposquecertamentechegaramacontactarcomoscolonizadoreseuropeus.

Poroutrolado,atarefadeelaborarumasínteseabrangendooconjuntodasformasdosrecipientesTupiguaranique ocorrem no Nordeste, a nosso ver, vai bem mais além do que um trabalho de compilação, de mapear a distribuição geográficadaocorrênciadeformasoucomentarcadaumadelasesuasvariações. Oestadoatualdosestudosjádesenvolvidosacercadacerâmicatupiguaraniexigeumaabordagemmaisdetalhada,queleveemconsideraçãonãoapenasquestõesdedistribuiçãogeográficamassobretudodedistribuiçãoespaço/temporal.Estaobservação,queaprimeiravistapodeparecerdesprovidademaiorimportância,atéporqueéumaabordageminerenteàArqueologia,no caso específico dos sítios da tradição Tupiguarani se reveste de uma certa peculiaridade. O posicionamentoproto-históricodatradição,ecertamentehistóricodealgunsdeseussítios,impõeanecessidadedeumrefinamentocronológicoquepermitadiscernirentreatradiçãonativaemsieasresultantesdaaculturaçãodecorrentedocontato.Poroutrolado,aprópriadistribuiçãoespacialdossítiospode,noscasosdosassentamentosdoperíodohistórico,serfrutodocontatointerculturalcomoscolonizadores.Ospadresmissionáriosnãoapenasinterferiamnoqueconcerneàescolhadolocalparaasaldeias,comofreqüentementepromoviamajunçãodemaisdeumgrupoemummesmolocal.Tais‘aldeias’,constituídaspordiferentesgrupostribais,sobaorientaçãodepadres,nemsempreapresentavamumaorganizaçãoespacialfundamentalmentedistintadealdeiasnativas.Mantinham-seosmateriaiseastécnicasdeconstrução,assim,nocontextoarqueológicobempoderiamseridentificadascomoaldeiasnativas.

A identificaçãoarqueológica, sejadeumgrupo, sejadeuma tradiçãocultural se faz,emprimeira instância,atravésdaidentificaçãodeseussítios,doselementosmateriaisproduzidosouutilizados.

NoNordestedoBrasilapresençadecerâmicatupiguaranitemsidoidentificadaemassentamentoslocalizadosemdistintosecossistemas.Emborasetenhainsistentementebuscado,nãofoipossível,atéomomento,reunircaracterísticaspeculiaresquepossamserassociadasaumdeterminadoecossistemadefinido.Característicascomunsqueserestrinjamaumadeterminadaregiãofisiográfica.Naregião,ossítiosarqueológicosqueapresentamestetipodecerâmicase

4LOWlE,RobertH..TheTropicalForest;Anintroduction.HandbooksofSouthAmericanIndians,JulianH.Steward,ed.,v.3,p.1-56.Smith-sonianInstitution,Bul.143.Washington:BureauofAmericanEthnology,1948.5ALBUQUERQUE,Marcos;LUCENA,Veleda.AgriculturaTropicalPré-histórica(umsistemadeflorestaúmidaouqueintegraosemi-árido?).RevistaCiênciaeTrópico.Recife,19(1):7-33,1990.6SCATAMACCHIA,MariaCristinaMineiro.AtradiçãopolicrômicanolestedaAméricadoSulevidenciadapelaocupaçãoGuaranieTupi-nambá:fontesarqueológicaseetno-históricasTesedeDoutoramentoemAntropologiaSocial(arqueologia)apresentadoaoDepartamentodeAntropologiadaFaculdadedeFilosofia,LetraseCiênciasHumanasdaUniversidadedeSãoPaulo,USP,SP,310p,1990.

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distribuememáreasquerefletemdistintosecossistemas.Sãoconhecidossítiosarqueológicosrelacionadosa:a) Comunidadesqueviveramemregiõesalagadiçasbempróximasaomar,cercadaspelosmanguezais,próximo

àsrestingas;b) Comunidadesqueseassentaram(aindaquetemporariamente)entreasdunaslitorâneas,móveis,desprovidas

devegetaçãoarbórea,aindaquepontilhadasadistânciasporpequenaslagoasdeáguadoce;c) Gruposquehabitavamasmataslitorâneas,muitopróximasaomar;d) Grupossediadosnasmatasúmidasinterioranas,distantescentenasdequilômetrosdomar;e) Grupos que habitavam as matas secas;f) Gruposquehabitavamterrassemi-áridasdosertão;g) Grupos que habitavam as ilhas do São Francisco;h) Grupos que habitavam a vertente mais seca da Chapada do Araripe;i) E ainda os que habitavam as altas serras que se destacam da paisagem plana e rebaixada, onde domina o

semi-árido.Ali,abruscamudançadealtitudetrazconsigo(oupreservaconsigo)asdensasmatas.Sãoosbrejosdealtitude,quenarealidaderepresentam‘ilhas’devegetaçãoflorestalemmeioàcaatinga.

Taldiversidadedeambientes levou,como foimencionadoanteriormente, aquestionamentos relacionadosàassociaçãoinicialdatradiçãoculturalTupiguaraniaos‘cultivadoresdeflorestatropical’descritosporStweard7.

Umoutroaspectotambémconsideradoparaentender-setalamplitudedeambientes,foiapossívelrelaçãocomapressãoexercidapeloscolonizadores(guerras,apresamentos)sobreosgruposqueosteriacompelidoadeixarasmataslitorâneas,fugindoparaosertão.Ébemverdadequetaisfatosestãorelatadosnadocumentaçãohistórica.Mas,acomplexidadedossítiosarqueológicosidentificadosemáreasquenãosãode‘florestatropical’parecenãorefletirumasociedadesobimpacto,dizimadapelasguerrasoudeumapopulação‘corrida’parafugiraoapresamento.Aocontrário,ossítioslocalizadosnosemi-áridorefletemumasociedadenumerosa,complexa,comumatralhaabundante.

Umoutroaspectoquetemsidoconsideradoquantoàdistribuição,noNordeste,dossítiosarqueológicosemqueseapresentaacerâmicaTupiguarani,éaamplitudetemporaldaquelasocorrências.Aextensãoterritorialdaquelasocupações,acomplexidadeeelaboraçãodesuacerâmica,apelomenosaparenteuniformidadedemuitasdesuascaracterísticas,nãoparecempoderseassociaraumcurtoespaçodetempo. Otamanhodasaldeias, refletindoadensidadedemográfica,tambémsinalizanosentidodeumasociedadeestabilizadaemtermosdesuaeconomia.

Mas,umasériaquestãosepõe,emtermosdoresgatearqueológico:apardecasospunctuais,emqueforamlocalizadosrecipientesemprofundidade,viaderegradecorrentesdeachadosfortuitos,agrandemaioriadossítiosarqueológicoscomcerâmicatupiguaraniésuperficial.

Talsituaçãotrazrepercussõesnoserefereàestratigrafia,àidentificaçãodacronologiadomaterialintra-sítio.Ainda, grandepartedos sítios está localizada emumposicionamento topográfico favorável à erosão, oque

contribui para expor à superfície os fragmentos cerâmicos, para colocá-los em um contexto onde as chances demascaramentodasdataçõessãoevidentes,tantoparaasdataçõescombasenoC14,quantonaquelasfundamentadaspela fotoluminescência. Esta exposição prejudica ainda mesmo as datações por termoluminescência, uma vezquearegião,devidoaosistemaglobaldecirculaçãoatmosféricatende,naatualidade,arecebercargasradioativasprovenientesdeeventosdistantes.

Eventuaissepultamentosem‘urnasfunerárias’,quepoderiampermitirdataçõesmaisconfiáveis,comofoireferido,emsuamaioria,decorredeachadosfortuitos,quasesemprenãorelacionadoscomsítiosdehabitaçãodogrupo(oucujorelacionamentocomsítios-habitaçãonãoéconhecido).

7Op.Cit.

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Assim,umgrandeproblemaquesetemenfrentadonoestudo,nasistematizaçãodotupiguaraniéaquestãodadataçãodossítios.Problemasquedecorremde:

a) Afaltadeestratigrafiaparaumadataçãorelativadasformas.b) A intensaoxidaçãodamatériaorgânica (paraoC14.)associadaà superficialidadedegrandepartedos

sítiosrelatados.c) A prática cultural (até os dias atuais) das queimadas para o cultivo que mascaram datações por

termoluminescênciaeporC14.d) Ausênciaderestoshumanosemmuitasdas ‘urnas’ relatadas,oumesmoaperdade taisvestígios faceo

caráterfortuitodegrandepartedosachados.A maior parte das datações obtidas (um número reduzido, considerando-se a quantidade de ocorrências

registradas)situam-seentre700e300anosantesdopresente,umafaixaemtornodaproto-história.Amaisantigadataçãoobtida,muitodistanciadadamédiadasdataçõesdaárea,foitemporariamentedesconsiderada,atéqueoutrosdadosvenhamaconfirmá-laounegá-ladefinitivamente.

Do mesmo modo que as características do assentamento não permitem estabelecer-se padrões de aldeiasassociadosaecossistemas,tampoucoasdataçõesinformamquantoaumapossívelassociaçãoentretempoeespaçoocupado.Oquadroabaixoexemplificaaquestão.

Ambiente Datação Variação Min Média Max.  

Mata úmida (<40km do litoral) PE 94-Cm �130 +/- 400 -580 -180 ��0 AC (temporariamente desconsiderada)

Mata úmida (<40km do litoral) PE 95-Cm 785 +/- 150 1015 1165 1315 Certamente antes do contato

Mata úmida (<40km do litoral) PE 93-Cm 510 +/- 150 1�90 1440 1590 Possivelmente antes, mas talvez pós-contato.

Brejo de altitude PE 1�3-Pja 510 +/- 150 1�90 1440 1590 Possivelmente antes, mas talvez pós-contato.

Mata úmida litorânea (junto à praia) PE 13-Ln 1516 Contato inicial com portugueses

Vertente  mais  seca  da  Chapada  do  Araripe (cerca de 700km do litoral) PE 137-Bga 340 +/- 150 1460 1610 1760 Possivelmente antes, mas talvez pós-contato.

Mata úmida (<40km do litoral) PE 86-Cm ��5 +/- 150 1575 17�5 1875 Pós-contato.

Mata úmida (<40km do litoral) PE 107-Cm 150 +/- 150 1650 1800 1950 Pós-contato.

Por outro lado, em um sítio litorâneo do período histórico, foi possível constatar o contato interculturalabrangendocolonoseuropeusdoséculoXVI(datadoatravésdotipodefaiançaencontrada)enativosqueseutilizavamdachamadacerâmicatupiguarani8.Tem-sedestemodoregistradaapresençanoNordestedosportadoresdaquela

8ALBUQUERQUE,Marcos.SubsídiosaoestudoarqueológicodosprimeiroscontatosentreosportugueseseosindígenasdaTradiçãoTupigua-raninoNordestedoBrasil.CLIO, Revista do Curso de Mestrado em História, Recife,(5):105-116,1982.

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tradição,duranteoperíodoinicialdocontatocomoscolonizadoreseuropeus.Grupoestabelecidonolitoralantesdocontato.

Porquantotempomaisteriaatradiçãosemantido,oumesmoresistidoaocontato.Noestudodasformasdesítiosdesteperíodoemdiante,háqueseconsiderarapossibilidadedeinfluênciasculturaisdecorrentesdocontatocomcolonizadores.Portuguesesemsuamaioria,masaindafrancesesetambémholandeses.Aexceçãodosfrancesesqueparece,atéentãopoucoteriambuscadointerferirnosistemareligioso,portugueseseholandesesatuaramfortementenosentidocatequético.Aspectoquegerariaumaamplagamadealteraçõesnoconjuntodosistemanativo.Aaçãoreligiosaquedesdecedopermeouocontatointerétnico,comseusrituaismísticos,possivelmenteexerciaumaforteatraçãoentreosnativos.

Durante uma forte seca havida em 1583,muitos grupos nativos aproximaram-se, ‘desceram’ até á Vila deOlinda.Passadaaseca,amaioriadosnativosretornouàssuasaldeias,outros,noentantopermaneceriamentreoscolonizadores.Haviaentreelesum,Mitagaia,degrandenomeentreosíndios,queconfiouumdeseusfilhosaoPadreReitordoColégiodosJesuítas,“quelogoaprendeuafalarportuguês,eajudaràmissaealer,escreverecontar”9.

Oscontatosinterculturaispromoveram,muitasvezes,acooptaçãodenativosoracomportugueses,oracomholandeses;cooptaçãoqueosconduziaaguerrasentregruposnativos,aparticipardasguerrasdosbrancoscontraosnativosedasguerrasentreosbrancos.

Naconvivênciacomosbrancos,segundoosrelatos,grandesaldeiasconhecidasdoscolonizadoresquecomelesnegociavam,participavamdeguerras,atendiamachamadosparadestruiroutrasaldeias.Muitosmesmotrabalhavamemengenhosdeaçúcar,nasminasdesalitre,noscurraisdegado,eaindapromovendoapesca,sejaemrios,sejanos‘currais’naspraiasrasas.

AiconografiarelativaaoNordeste,daprimeirametadedoséculoXVII,éricaemmuitosdetalhesqueenvolvema participação dos indígenas na sociedade colonial, tanto urbana quanto rural; nas atividades produtivas e na participaçãobélica.Aanálisedosdetalhesdasiluminuraséparticularmentericoemmostrarasrelaçõesculturaisinterétnicas.

Aassociaçãoentreospoderestemporaisereligiososnãoestápresenteapenasnacolonizaçãoportuguesa.Aassociaçãoentrereligiososemilitaressemostratambémnasmissõesqueosholandesescalvinistasadministravam,eestábemrepresentadaemumadasiluminurasdaplantadascapitaniasdaParaíbaeRioGrandedoNorte.

Emboraosdetalhesreproduzidospeloautorpermitamidentificarem-seetnias,sexo,status,tiposdearmaseatémesmotiposdevegetaiscomoabananeira,nãoexistesequerumarepresentaçãoespecíficadatralhadoméstica.Osrecipientescerâmicosnãoestãoalirepresentadoseosvolumestransportadospelasmulheresindígenasapresentamoaspectocomumcomosãorepresentadososfardosemoutrasdiferentessituaçõesepordiferentesetnias.Poroutrolado,omododetransporte(sobreacabeça),semossuportestrançados,diferedasexpectativas.Taissuportes,sãofreqüentementereferidosnosrelatos,esuapersistênciatemporalchegaaosdiasatuais.

Estaiconografiaapresentandoasmulheresacompanhandoseusfamiliaresnaguerratrazàluzumelementopossivelmente fundamental para a longa participação indígena no conflito entre os brancos (luso-brasileiros eholandeses).Segundoadocumentaçãohistórica,natradiçãodosnativosdolitoral,cabiaàsmulheresotransporteda tralha, dos suprimentos secos. Embora coubesse aos homens provir de carne o grupo, com a caça, nãotransportavam,comoossoldadosdosbrancos,seusprópriossuprimentos. Destemodoaestruturaçãosocialsemantinha,aocontráriodaexperiênciaquesetentounaimplantaçãodasoficinasdesalitre.

9CARDIN,Fernão.Tratado da Terra e Gente do Brasil.RiodeJaneiro:1925.

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No início do século XVIII recomen-dava-se que “a oficina não deve ser comíndios, porque a lembrança da ociosidade com que todos vivem nas suas aldeias dos filhos,mulhereseparentesquenelasdeixaramos incapacita para qualquer trabalho, nem seachameioparaimpedircomeficáciaasausências que ordinariamente fazem dasminas,retirando-setãoocultos...”10.

Tambémoshábitosalimentareseramumfatorquesealegavadificultaroempregode mão e obra indígena nas minas do sertão: “... no distrito das minas em que não selogramasplantasdemandioca,produzemcom fertilidade milho, feijão e abóbora,com estes mantimentos que era bom para os negrosnãopodempassar,nemacomodar-se os índios que se criaram, e sustentaram sempre com farinhas.”11. Se o sertão dasminas de salitre não se mostrava propício aocultivodamandiocaparaa farinha, talcondição não pode ser estendida a todo o semi-árido. Domesmomodoquenãosepode atribuir uma incompatibilidade entre osTupieascondiçõesdesemi-aridez.

Uma outra iluminura mostra a participação indígena no transporte fluviale marítimo de cabotagem. Suas canoasa remo atendiam tanto à pesca quanto aotransporte.

Também ali estão representados os ‘volumes’ transportados sobre as cabeçasdasmulheres.

É interessante ainda se observar asatividades em um engenho de açúcar, emPernambuco do século XVII, em uma iluminura deummapaholandês(Ilustração3).

10CartadeInáciodeMoraisSarmento,OuvidorGeral,eProvedordaFazendaReal,edoSalitre,datadade2deoutubrode1702.AHU-PECaixa11pág75/7811Idem.

Ilustração 2 - Holandeses e índios no Rio Grande do Norte. Detalhe do Forte dos Reis Magos pelos holandeses denominados de Von Ceulen, no Rio Grande do Norte. Desenho Franz Post. Inserto na obra História dos Feitos Recentemente Praticados Durante Oito Anos no Brasil, de Gaspar Barleus. Ed. Fund. Cult. Cidade do Recife. Recife 1980. Rep. Fac-similar das gravuras que ilustram a 1ª edição de 1647.

Ilustração 1 - Detalhe da ilusivação de Franz Post no mapa da Paraíba e Rio Grande do Norte do conjunto cartográfico de George Marcgrave 1634. Inserto na obra “História dos Feitos Recentes Praticados Durante 8 anos no Brasil”, Gaspar Barleus. Ed. Fundação Cultural da Cidade de Recife 1980, reprodução Facisimilar das gravuras que ilustram a 1ª edição. 1647.

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Alibemsepodeobservaradivisãoétnicadotrabalho.Divisãoétnica,massobretudorelacionadaàshabilidadesassociadasàexperiênciaculturaletambémàsegurança,noqueconcerneaossegredosdofabricodoaçúcar.

Estão retratadasatividades ligadasao fabricodoaçúcar,como ‘mestredeaçúcar’,umbranco;osnegrosnoserviçodopreparoecozimentodocaldoeplantiodacana.

Acima,vê-seoplantiodamandioca,osraladoreseaprensa,atividadesnitidamenteexercidaspornativosdoBrasil. Observa-seaindaaausênciademulheresnestarepresentação,aindaqueasatividadesdeplantioentreosíndiosdacosta,tenhamsempresidoreferidascomoatividadesfemininas.Poroutrolado,associadoaosraladores,observa-seumpote,provavelmenteumavasilhacerâmica,cujaformasugereserdatradiçãotupiguarani.

Ainda nesta iluminura há a representação derecipientes,associadosàsatividadesdofabricodoaçúcar.

Poderia se tratar de recipientes cerâmicos, mas,as proporções do recipiente deixam dúvidas quanto àcompatibilidadeergométricaparaumelementocerâmico.

Entretanto, bem se pode observar o uso de um suporte, provavelmente um trançado que parte de um apoio na base esobecingindoorecipiente.

Asalças,casoassociadasàvasilhaenãoaotrançado,serviriam de guia para manter a posição do trançado, e não desuporteemsi.

O peso que se pode inferir, transportado em taisrecipientes (o caldo para cozimento), e a oscilaçãoproduzidapelocaminharcertamentedeixariamsuasmarcasnacerâmica,oquepoderiaviraserobservadonaanálisearqueológica.

Embora não conheçamos na região formas inteirasda cerâmica Tupiguarani que possam ser associadas aotrabalho nos engenhos de açúcar, sabe-se do empenhodospadres em redirecionaro conhecimento tecnológiconativo, no sentido de utilizar aquela mão de obra nasolarias.

Por outro lado, em meio aos fragmentos coletadosem sítio Tupiguarani, um fragmento chama a atençãoneste sentido. As características da pasta, do cozimento,do tratamento das superfícies, permitem caracterizá-locomoTupiguarani.A forma, reconstituídahipoteticamente(Ilustração5)combaseemfragmentosdebaseedebojodascercanias,podenãorepresentarasuaverdadeiraforma,masnãodifeririadeoutrasformasconhecidasatravésdetécnicasemelhante. A forma reconstituída mostra semelhançascom as formas representadas na iconografia. Também asproporções sãocomparáveis,emboraacapacidadedifira.Outrosusos,talvez.Valesalientarquenofragmentocoletado

Ilustração 3 – Detalhe de uma ilustração acerca das atividades em um engenho de açúcar. Do plantio de cana ao fabrico e transporte do açúcar.

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nãoforamidentificadasmarcasquepudessemserassociadasaoatritocontínuodeumsuporte.

Poroutrolado,aindaocontatointerculturalconduziuváriosnativosàEuropa,àscortesdaEuropa,àscidades,aosluxosdasgrandesfestasemqueeramapresentados.Muitosnãovoltaram,outrosretornaramàssuasaldeiasparacontaraosseusacercadopoderiodosbrancos.

A influência dos contatos se fazia sentirentre os índios mesmo no modo de vestir pois, “QuandoCristóvãodeGouveiachegou,ochefe(indígena)Mitagaiavisitou-ovestidodedamasco,compassamanesdeoiroesuaespadanacinta.”Nistoseguiamnafaltadesensoalgunseuropeusparacomousodevestimentastãodesconfortáveissobosoldostrópicos.

Na Paraíba os holandeses que haviam conquistado a simpatia dos nativos, “... chegaram

mesmo a levar da Paraíba, um pequeno grupo de índiosbrasileirosparaaHolanda:Paraupaba,AndréFrancisco,PedroPotyeoutrosmais.AviagemcomoholandêsBondewingHendrikszon,representouparaessesindígenasumverdadeiropactodehonra.

No retorno ao Brasil, aqueles nativos que haviamestadonaHolanda,passaramacomandartropas de indígenas, ainda que sob a supervisão deholandeses.”12.Eforamtaistropasqueencetaramem1645oataqueaCunhaú,noRioGrandedoNorte.Aliapopulaçãolusobrasileira,quecorreraaesconder-senaigreja,foiimpiedosamentemassacrada,mutilada.

Taisobservaçõestêmporobjetivoreforçaraintensaparticipaçãodenativosnoconjuntodasociedadequeseforjavanosdoisprimeirosséculosdacolonizaçãoeaconseqüenteaculturação.

Sabe-se,poroutroladoqueosnativosqueestabeleceramosprimeiroscontatoscomo colonizador no litoral de Pernambuco (Feitoria deCristóvão Jaques – 1516)

faziamusodecerâmica,conhecidaarqueologicamentecomodatradiçãoculturalTupiguarani.Cerâmicaquedurantealgumtempo foiabundantenoassentamentocolonial,possivelmente tendoservidode recipiente,decontentordealimentosusadosnastrocas.Emboranãosedisponhadeelementosquesugiramalteraçõesnaformadacerâmicaemdecorrênciadestecontato,umelementodadecoraçãopoderiarevelarainfluenciadocontatonaproduçãooleira.

12AntônioParaupaba,queacabavadevoltardaHolanda,assegurouaosSupremosConselheirosqueopensamentodoConselhodosXIXeraque“holandêsalgumosgovernasse,masqueviessemaescolherentreosseusumchefe”;oconselhocomhabilidadeobtevequeescolhessemnãoumchefeúnico,mastrêsregentes,umparacadacapitania,paragoverná-los,osquaisdeliberariamcomaassistênciado“commandeur”Listry:Gen.MissiveaoConselhodosXIX,datadadoRecife,27dejunhode1645.MELLO,JoséAntonioGonsalvesde.Tempo dos Flamen-gos:influênciadaocupaçãoholandesanavidaena culturadoNortedoBrasil,Recife,ColeçãoPernambucana,vol.XV,2a.edição,Secreta-riadeEducaçãoeCulturadePernambuco,1978.

Ilustração 4 - Porção conhecida da peça, a partir da qual se procedeu a reconstituição virtual. Ilustração 5 - Reconstituição da for-

ma a partir do fragmento. A linha que cinge a peça demarca o limite entre a porção conhecida (junto a borda) e a parte hipotetizada.

Ilustração 6 - Detalhe de imagem anterior, focando a forma da vasilia

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Ébemverdadequepodesetratardemeroparalelismocultural,afinalsetratadeumconjuntosimplesdehemicircunferências.Mas,naverdade,talmotivonãosemostroufreqüenteemoutrossítiosdaRegião,comoacontececomgrandepartedosmotivosconhecidos.

Certamente,excetoporquestõesritualísticas,adecoraçãoseconstituiem um elemento dentro da tecnologia ceramista, dos que permitem mais facilmentealterações.Alteraçõesnasformasdasvasilhas,requerem,muitasvezes, um conjunto de ajustes na técnica de fabrico, o que não se dá naalteraçãodemotivosdecorativos.

Mas o sincretismo não se deu apenas com a adoção de padrõesdecorativos europeus pela cerâmicanativa.Cerâmicastecnologicamente associadas aospadrões coloniais foramdecoradas com motivos nitidamente relacionados àcerâmicatupiguarani.

Tem-se deste modoque a cerâmica chamadaTupiguarani apresenta no Nordeste um posicionamento cronológico proto-históricoe histórico. Entretanto, asdificuldades decorrentesda falta dedatações pareceter prejudicado uma maiorênfasenaavaliaçãodetaisrelacionamentosculturaisnosentidodesuainfluênciasobreasformaseadecoraçãodaquelacerâmicanosdiferentessítios.

No litoral do Nordeste a ocupação agrícola das terras começou muito cedo, ainda na primeira metade do século inicialdacolonização.Odesmatamentoextensivo,ocultivointensivodasterras,ouso,anoapósano,séculoapósséculo de arados e enxadas, nomínimo contribuiu para a quebra de recipientes, para a intensa fragmentaçãodacerâmicaindígena.Coincidentementeounão,sítioslitorâneos,nasrestingaseemilhascercadaspormanguezais,onde praticamente não se plantou cana, ali foram encontrados fragmentos maiores, que permitem tentar-se areconstituição.

Emlocaisondeaocupaçãocolonial foibemmais tardia,ecujaexploraçãoeconômicahistóricaconduziuabaixos índices dedensidadedemográfica, à exploraçãomais pecuária que agrícola, ali também foram registradosfragmentosdemaiortamanho,aindaqueemsítiossuperficiais.

Noconjunto,tem-sequeumnúmerorelativamentereduzidodepeçasinteirasfoiatéomomentoresgatada.Grandepartedomaterialarqueológicoresgatadocorrespondeafragmentosdepeças.A ‘colagem’de fragmentos tempermitidoalgumas reconstituições,mascertamenteamaiorpartedas formas

Ilustração 7 - Acima, fragmentos de cerâmica Tupiguarani com pintura vermelha sobre engobe branco. Abai-xo fragmento de faiança grossa, por-tuguesa, comum em sítios históricos do Nordeste, do século XVI em diante. Foto Maricélia Milanês.

Ilustração 8 – Proveniência: aterro do Recife Antigo (Av. Alfredo Lisboa). Foto Maricélia Milanês.

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conhecidas foi virtualmentereconstituída.Certamenteaassociaçãodas duas técnicas torna confiável areconstituição emais confortável suautilizaçãopelopesquisadorparaefeitoscomparativos. Sua visualização,quando associada à peça originalpermite ao leitor ‘não iniciado’, umamelhor compreensão sem perda do ‘encanto’darelíquia.

Considerando que a grande maioria do material coletado estáconstituído de fragmentos quenão oferecem a possibilidade dereconstituição por colagem das partes, outros recursos tem sido buscados de modo a tornar a reconstituição virtual maisconfiável.

A reconstituição virtual de formasderecipientes,apartirdoperfilda vasilha, com o uso de programas gráficos,setornacadadiamaisfácilemaisrápidososcálculosdecapacidadede contenção de cada uma das peças. Soma-se a tais facilidades, acapacidade dos programas disponíveis

emapresentarumavisãodosdiferentesângulosquesepretendaanalisar.Entretanto,umproblemaqueseapresenta,equeindependedousoounãodareconstituiçãocomputadorizada,éaquestãodotamanhodosfragmentosencontrados.Têmsidorecuperados fragmentosqueabrangempartedabordaedobojo;mais raramenteaquelesquechegamainsinuaraformadabase.Certamenteoconjuntodosfragmentosdebasequeintegramaamostra,permiteconhecer-seagamadevariaçãodosvasilhamesdosítio.Entretantoumadascaracterísticasdacerâmicatupiguarani,suasformasmultiflexionadasemultiangulares,representaumfatorquedificultamuitasvezesumareconstituiçãomaisacurada,maisfidedigna.

Um outro aspecto que tem sido mencionado por Albuquerque13,quantoàsdificuldadesparaareconstituiçãovirtual (mormentequando relacionadaapequenos fragmentosdecerâmica),éocontornodaaberturadealgumasformasfreqüentesnoNordeste.Grandepartedasreconstituiçõestêmsidopossíveisquandoaaberturadorecipienteédeformacircular.Nestescasosépossívelrecuperar-sematemáticaougraficamenteodiâmetrodapeça.

Entretanto,noscasosdas formasquadrangulareseelípticas,amaiorpartedos fragmentosnãopermite,atéomomento,sejaatravésdecálculos,sejaatravésdeábacos,recompor-seasproporções,asdimensõesdaabertura.

13 ALBUQUERQUE,Marcos.RecomposiçãodaformaemcerâmicaTupiguarani.CLIO - Série Arqueológica, Revista do Curso de Mestrado em História da UFPE,númeroextraordináriodedicadoaosAnaisdoISimpósiodePré-históriadoNordesteBrasileiro,Recife,(4);121-122,1991.

Ilustração 9 - Fragmentos colados permitem uma segura reconstituição virtual da peça. O uso da reconstituição virtual permite uma leitura mais fácil aos interessados no assunto, além dos especialistas.

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A variação da curvatura ao longo da borda nos recipientes quadrangulareseelípticos,associadaàirregularidadeinerenteà técnica de modelamento manual, pode, eventualmente,duranteareconstituiçãodaforma,induzirafalsosvaloresdeaberturadovasilhame.

Taiserrospodemsertãomaisfreqüentesquantomenoresforemosfragmentosdaamostra.

Um outro aspecto a ser considerado são as irregularidades naparededovasilhameque,aindanosfragmentosdemenortamanho, pode induzir a enganos. Nos casos onde arecuperaçãodacurvaturasemostraprejudicadapelotamanhodofragmento,ainformaçãoquesepodeobterficarestritaaoperfilparcialdorecipiente.Esteéocasodomaterialprovenientedemuitosdossítiosarqueológicos.Enquadram-senestetipodeapresentaçãodeformas,asrepresentaçõesderecipientescujocontornoda‘boca’équadrangulareelíptico.EtaisformassãoefetivamentemuitocomunsentreacerâmicaTupiguaranidosgruposdoNordeste,podendoserobservadastantoapartirdasformasinteirasresgatadas,quantodosfragmentosquesebuscareconstituir.

Mas,paraareconstituiçãovirtualdasformasoutrosfatoressãodefundamentalimportância:aprofundidadedavasilha,aalturadopontodeinflexãodobojo.

Certamenteorecursodaassociaçãocomformasconhecidas,temorientadomuitasdasreconstituiçõesapartirde fragmentos.Outro recursobuscadocomsucesso foioestabelecimentodaalturadavasilhaapartirdecálculosmatemáticos14. A fórmulaaque sechegoupermite,comumalto índicedecorrelação (correlação linearde0,9,paraumvalormáximode1,0)conhecer-seopontodeinflexãodobojoparaabasedasvasilhascirculares,debordasreforçadas.

14Albuquerque,Marcos.Op.Cit.1991.

Ilustração 10 - Reconstituição hipotética de diferen-tes aberturas de recipientes elípticos e circulares, com trechos coincidentes da curvatura.

Ilustração 11 - Reconstituição hipotética de diferentes aberturas de recipientes quadrangulares, com uma mesma abertura angular.

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Quandosetentabuscarassociaçõesentreasformasdacerâmicaeáreasfisiográficas,considerandoapossibilidadedevariaçõesalimentares,dehábitosenecessidadesdeconservaçãodealimentos,aprincípiopareceserpossívelsetecertaisassociações.Entretanto,ouniversoconhecidodecadaárea,asdificuldadesdeassociaçõescomacronologia,sugeremquetalvezsejaaindaincipienteoconjuntodasinformaçõesdisponíveis.

Destemodo seriamaiscorretodopontodevistacientíficoapenasapresentar algumasdasdiferentes formasconhecidas,informandoseuslocaisdeocorrência.

As tigelas quadrangulares parecem ser mais freqüentes que as elípticas e as circulares; aquelas com bases

Ilustração 12 - Formas reconstituídas a partir de fragmentos, proveniente de sítio na Chapada do Araripe (PE).

Ilustração 13- Formas reconstituídas a partir de fragmentos. Origem Chapada do Araripe (PE).

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praticamente planas, em sua maioria apresentam bordas reforçadasexternamente. Ocorreainda,commenor freqüência,bordas reforçadasexternaeinternamente.

Por outro lado, as tigelas de borda simples, diretas, em sua maioria apresentam base arredondada e mostram uma ampla gama de variação de tamanho.

Formas simples, comuns em diferentes culturas, inclusive entre acerâmicadoscolonizadores,seapresentamemdiferentestamanhos,sendofreqüentesaquelascom10a12centímetrosdediâmetro.Seriamdeusoindividual, como as tigelinhas de mingau ou de açaí, ou serviriam para o preparodemeizinhas,chás,infusões?

Algumaspeças inteiras,oupelomenoscujos fragmentospermitemumareconstituiçãoseguradoconjunto,sãoconhecidasnaRegião.

Aspeçasinteiras,comofoimencionado,emsuamaioria,nãoresultamdeuma escavação arqueológica,mas são fruto de achados fortuitos. E,ao contrário do que aconteceu no caso relatado no início, nem sempreum arqueólogo é chamado para avaliar o achado in loco. Em grandepartedoscasos,sequertemsidopossívelaosarqueólogosrevisitaraáreadetaisachados. Osachadossederamemdesmontesdebarreiras,emconstruções de estradas, ações que alteraram inteiramente o local, quedestruíramquaisqueroutrosindíciosqueporventurapudessemestarassociados.

Entretanto,taisachadosfortuitos,viaderegra,têmentresiumdenominadorcomum:provavelmenteamaioriadetaisachadosseencontravamabaixodasuperfíciedosolo,aocontráriodosincontáveisfragmentosquerestaramàsuperfície.Certamenteofatodeestaremàsubsuperfíciecontribuiuparaqueaspeçassemantivesseminteiras.Outraspeçasinteiraspoderiamtersidodeixadasàsuperfícieàépocadaocupaçãoeteremsidoquebradas,intencionalmenteounão,pelassucessivasocupaçõesdoterrenoaolongodosséculos. Masasquestõesquesepõemsão:porquealgumaspeçasseencontravamsobasuperfície?Seriadecorrentedeumasobreposiçãonaturaldesedimento?Teriamsidoenterradas?Porque?Quaisformassãomaisfreqüentesentreaspeçasinteiras(enterradas),porque?Ondeteriamsidodeixadasouescondidas(enterradas)emrelaçãoàhabitação?

Dois tipos funcionais parecem predominar entre as formas resgatadas inteiras e que se encontravam nasubsuperfície:potesintrovertidos(comumenteassociadosaurnasfunerárias)etigelas.Emborasejammaiscomunsas referênciasàpresençade restoshumanosem recipientescapazesapenasdeconter sepultamentos secundários,existemregistrosdapresençaderestoshumanosemgrandesrecipientescapazesporsuasdimensõesdeteremservidoainumaçãoprimária.Poroutrolado,comochamouatençãoAlbuquerque15,recipientescerâmicosdetaisdimensõescertamentenãoforamelaboradosemumdia.Suamanufatura,queimaeresfriamentoteriaocupadováriosdias.Umtempotalvezmaiorqueaquelepossíveldesermantidoexpostoumcadáver,sobretudoemumclimatropical.Pelomenosmuitoinconveniente,adespeitodepossíveiseelaboradosrituaisfunerárioscomoaqueledescrito,noqualomorto,besuntadodemel,eracobertoporplumas.

É possível que o uso do sepultamento primário em urnas estivesse restrito a eventuais circunstâncias oupersonalidades,equeenvolvesseumapréviapreparaçãodosobjetosrituais.

15Opcit.

Ilustração 14 - Forma reconstituída a partir de fragmentos. Origem Chapada do Araripe (PE).

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Ilustração 15 – Observe-se que os bordos da vasilha foram removidos. Foto Francisco Veloso

Ilustração 16 - Duas peças da Tradição Tupiguarani encontradas na Serra do Teixeira, Paraíba. Trata-se de um achado fortuito de mora-dores locais, que informaram da presença de ossos em seu interior. Origem PB 0001 Acervo Laboratório de Arqueologia da UFPE. Foto Doris Walmsley.

Talhipóteseentretanto,nãosecoadunacomaobservaçãodequetais‘urnas’,sistematicamente,semostramquebradasabaixodabordaouàalturadoombro.

Estamesmaobservaçãoéfreqüenteem‘urnas’associadasasepultamentossecundários.Estapráticatalvez sejadecorrentedanecessidadedeampliar aaberturadorecipienteparaadeposiçãodosdespojos.Umrecipientejáexistente,possivelmenteemusoemoutra função.Narealidade tais formasassociadasasepultamentos não divergem daquelas reconstituídas apartirdeseusfragmentos,cujafunçãoéatribuídaàcontençãodelíquidos.

Um outro aspecto a ser ainda considerado é a presençafreqüentedeumaoutravasilhacobrindoaaberturada‘urna’.Asdimensõesdestasegundapeçanãosugeremquetenhasidoespecialmentefabricadacomo opérculo da primeira. Antes representa umatigela,semelhanteatantasoutrasreconstituídas,seja

naforma,nadimensãoounadecoração.Por outro lado, algumas destas ‘urnas’ não

apresentavam restos humanos16. Pelo menosum caso nos foi possível constatar que apesarde coberta pelo segundo recipiente, a ‘urna’,fora preenchida por sedimento, que se infiltraratalvez,atravésderachaduras.Depermeiocomomaterial que se assentara em seu interior não havia vestígios de ossos humanos, ou mesmo dentes bem mais resistentes à decomposição. Nestes casos,provavelmente o enterramento da vasilha não estaria associado a práticas rituais de contençãodosdespojosdomorto.Guardariaoutrosvaloresmais perecíveis ou simplesmente representa uma técnica de preparo de alimento? Decorreria, porexemplo, do processo de preparação de uma bebida fermentada,circunstancialmenteabandonada?

16ALBUQUERQUE,Marcos;LUCENA,Veleda;SANTOS,

Claristella.AusênciadeSepultamentoemUrnaOperculada.Programa e Resumos da VII Reunião Científica da Sociedade de Arqueologia Brasileira.JoãoPessoa,p.39,1993.

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1. Recipiente sem decora-ção medindo 56cm de di-âmetro por 22cm de altura (utilizado como receptácu-lo das três vasilhas, descri-tas abaixo, encontradas em seu interior). 2. Recipiente medindo 46cm de diâmetro por 17,5cm de altura, com engobo vermelho externo e pintura policrômica in-terna (faixas vermelhas e desenhos retilíneos e cur-vilíneos no interior da peça com preenchimento de pontilhados interno). 3. Recipiente medindo 42cm de diâmetro por 16cm de altura (engobo vermelho interno, faixas marrons e vermelhas inter-nas e desenhos retilíneos geométricos com preen-chimento de pontilhados internos). 4. Recipiente medindo 19cm de circunferência por 6cm de altura (engobo branco com motivo floral em expansão na parte in-terna intercalando vazios e cheios com pontilhados vermelhos).5. Recipiente medindo 12cm de diâmetro por 7cm de altura sem decoração em associação com o con-junto descrito acima.6. Peça em forma de “cáli-ce” sem decoração medin-do 9,5cm de diâmetro por 13cm de altura. Também associado ao conjunto des-crito acima.

Ilustração 17 – Conjunto selecionado e fotografado por Deusdédit Leite Filho.

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Umoutro tipodeconjunto temsidoaindareferido,queparecenãoenvolverpráticas funerárias. EntreeleschamaespecialatençãoaquelelocalizadonoMaranhão.Oconjuntoenvolvendo6peças,incluiumaforma,aoquepareceatéentãonãodescritanaregião.

“Trata-sedeumachadofortuitoefetuadoporoperáriosemumaáreadeocupaçãodemoradiapopular.Avasilhamaior,quecontinhaasoutrastrês,foidanificadaenãoapresentavadecoração.”17

Umoutro tipodeassociaçãoobservadadiz respeitoàs formasquadrangulareseasbasesaplanadas.Grandepartedasformasinteirasobservadasrevelaqueasformasquadrangularesapresentam-seproporcionalmentecomalturamenorqueasformascirculares,suasbasestendemaserplanas,comosepodeobservarnoconjuntodailustração18.

Naqueleconjuntoacimasetemumavistadetopo(quemostraoperímetroquadrangular)eabaixoamesmapeçavistalateralmente,quandosepodeobservarabaseaplanada.

DamesmacoleçãodoCeará,tem-seformasquetendemàcircular,proporcionalmentemaisprofundas,cujasbasesnãosemostramaplanadas(figura19).

17DeusdéditFilho,informaçãopessoal.

Ilustração 18 - Conjunto vasilhas do acervo do Museu do Ceará. Fotos de Francisco Veloso

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Ilustração 19 - Peças fotografadas por Francisco Veloso

Como na montagem do conjunto anterior, nesteconjuntotem-seacimacadaumadaspeçasvistadetopoeabaixoasmesmaspeçasvistasnalateral.Observe-seaindaqueasegundapeçanãoécircular,maselíptica.

Nasfotos,otamanhorelativoentreaspeçasnãodeveserconsideradopois,noconjuntosebuscaobservararelaçãoentreodiâmetroeaalturadecadapeça.

ÉaindadoCeará,apeçacarenada(Ilustração20)cujosbordosforamremovidos,emboraderestosemostreíntegra.

A semelhança do que se observa nesta peça, também avasilhaprovenientedasmatas litorâneasdePernambuco(Ilustração 21) teve os bordos removidos. Trata-se de umrecipiente de cerâmica tupiguarani fragmentado, emforma ovalar, carenada, com base arredondada. Apresentadecoraçãopintada.Sobreela,haviaumaoutravasilhaquecobriaaabertura(informaçãopessoaldetrabalhadoresquea encontraram). Omaterial resgatado em seu interior nãoapresentou vestígios que pudessem sugerir tratar-se de umconjuntofunerário.

Ilustração 20 –Peça do acervo do Ceará. Foto Francisco Veloso

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Recipientedecerâmicatupiguaranifragmentado,emformaovalada,carenada,combasearredondada.Apresentadecoraçãopintada.Nãoapresentaborda,quepoderiatersidoremovidaparafacilitaroencaixedeoutrorecipientecomoopérculo.Acreditou-se tratar,oconjunto,deumaurna funeráriacoberta,porémnãoapresentouvestígiosdeconteúdo.Medidasaproximadas(internas):eixomaior=58cm;eixomenor=45,5cm;profundidade=>66cm(incompleta).OrigemPE0159Jb(achadofortuito).

Recipiente de cerâmica tupiguarani em fragmentos(praticamente completo), em forma retangular, borda reforçadaexternamente, base semi-plana. Apresenta decoração pintada nasuperfícieinternaebordaexterna.Foiutilizadocomoopérculoparaoutro recipiente (foto acima). Acreditou-se tratar, o conjunto, deumaurnafuneráriacomcobertura,porémnãoapresentouvestígiosdeconteúdo.Medidasaproximadas(internas):eixomaior=54cm;eixomenor=44cm;profundidade=15cm.

Ilustração 21 – Origem: PE 0159 Jb. Acervo Laboratório de Arqueologia da UFPE. Foto Doris Walmsley.

Ilustração 22 - Origem: PE 0159 Jb. Acervo Laboratório de Arqueologia da UFPE. Foto Doris Walmsley.

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As tigelas quadrangulares, de base aplanada parecem constituir o grupo demaior incidência, pelomenos entre as peças inteiras que foramresgatadas.

Recipientedecerâmicatupiguaranicompleto,emformaretangular,bordalevementereforçadaexternamente,basesemi-plana (tigela). Apresenta decoração pintada policromática nasuperfície interna e borda externa, e monocromática no bojoexterno.Apresentamarcadeuso:fogonabaseexterna.Medidasaproximadas(internas):eixomaior=41cm;eixomenor=34cm;profundidade=17cm.

Ilustração 23 – Peça do acerco do Núcleo de Estudos Arqueológicos – NEA UFPE. Foto Doris Walmsley.

Ilustração 24 –Origem Serra de Triunfo, PE 0123 PJa. Acervo Laboratório de Arqueologia da UFPE. Foto Doris Walmsley.

Recipiente de cerâmica tupiguaranifragmentado (23 fragmentos colados),em forma quadrangular, borda reforçadaexternamente, base semi-plana (tigela).Apresentadecoraçãopintadanasuperfícieinterna e borda externa. Medidasaproximadas(internas):eixomaior=66cm;eixo menor = 62cm; profundidade = >20cm(incompleta).

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Ilustração 26 - Peças da coleção do Rio Grande do Norte. Foto Luis Dutra.

Ilustração 25 - Origem Araripina, Pernambuco sítio PE 0111 BGa. Acervo Laboratório de Arqueologia da UFPE. Foto Doris Walmsley.

Fragmento de panela de cerâmica tupiguarani (8fragmentoscolados) semdecoração,comborda reforçada,nãocircular.Aporçãoresgatadanãoapresentabase.

Entretanto, as formas de perfil mais complexonão são incomuns na Região. Infelizmente de taispeçassãoconhecidossobretudofragmentos;aspeçasinteirassãomenosfreqüentes.

A cerâmica Tupiguarani no Rio Grande doNorte, gentilmente levantada por Luiz Dutra, refletetambémascaracterísticasdasformasquadrangulares.O conjunto das formas inteiras, entretanto, não nospermite tecer maiores comentários, pois, certamentesãoinsuficientespararepresentarouniversodasformasaliutilizadas.

Vales alientar ainda a observação de que o universo da cerâmica Tupiguarani no Nordesteprovavelmente vai além das peças utilitáriasrelacionadasàalimentaçãoeasepultamentos.

Certamente as dificuldades encontradas emtermos de estratigrafia, já discutidas, têm dificultadoumadataçãomaisprecisaparataisocorrências.

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Ilustração 27 - Fragmento de peça não identi-ficada; constitui-se em uma cabeça zoomorfa, modelada, encontrada em sítio superficial, com cerâmica Tupiguarani. Origem: PE 0141 BGa, Araripina. Acervo Laboratório de Arqueologia da UFPE.Foto Maricélia Milanês.

Ilustração 28 - Fuso em cerâmica tupiguarani, en-contrado em sítio superficial, com cerâmica Tupi-guarani. Origem: PE 0137 BGa, Araripina. Acervo Laboratório de Arqueologia da UFPE. Foto

Tem-se observado em sítios arqueológicosda Tradição Tupiguarani formas figurativas,provavelmenterepresentaçõesdequelônios.

São ainda freqüentes as peças que funcionamcomo ‘volantes’,especialmenteconfeccionadascomotais.Deinícioforamregistradasvárias peças deste tipo elaboradas por desbaste de fragmentoscerâmicos. Entretanto as peças resgatadas na Chapada do Araripeforamconfeccionadosespecificamenteparaestafunção.

Tais‘volantes’servemparaestabilizarogirodeumeixodemadeira,podendo serusadas sejaparaaobtençãodefogo,sejaparafiar(fuso).

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Ilustração 29 - Fragmento possivelmente de vasilha de bojo duplo. Ori-gem Araripina, PE. Acervo Laboratório de Arqueologia da UFPE.Foto Maricélia Milanês.

Fragmento de peça não identificada. Trata-se,provavelmente,devasilhageminadaoudebojoduplo,de características tupiguarani, com decoração pintada, em vermelho sobre branco, na superfície interna evestígiodovermelhoedobranconaexterna.Apresentavestígiodeborda.

UmoutrotipodepeçafoiaindaregistradoemsítioarqueológicosuperficialnaChapadadoAraripe.Trata-sedeumfragmentodevasilhaprovavelmentedebojoduplo.

Ofatodesetratardeumsítioondeomaterialarqueológicoseencontraexpostoàsuperfície,emais,aáreatersidocultivada,permitelevantar-sealgumasdúvidasquantoarealassociaçãodepeçasquepoderiamserconsideradasintrusivas.Entretantoascaracterísticasdepastaedecozimentodapeçapermitemassociá-laaomaterialarqueológicoTupiguaranidosítio.

Um outro aspecto, que no caso é relevante considerar, é a característica peculiar da vegetação florestalremanescentenasescarpasdosanfiteatrosescavadospelaerosãoregressivaqueseimpõenaárea.AndradeLima18, queteveaoportunidadedeestudaracomposiçãoflorísticadasmatasremanescentes(meadosdoséculoXX)naSerrada Ibiapaba,observouumnotávelparalelismoentreasespéciesdaquelasmataseasespéciescomunsnaFlorestaAmazônica.Segundoateoriaentãodesenvolvidadosmovimentosdeavançoerecuodasáreasnucleares,durante

18LIMA,DardanodeA..Contribuiçãoaoestudodoparalelismodafloraamazônico-nordestina.Boletim Técnico n.19.Recife,InstitutodePesquisasAgronômicasdePernambuco,1966,30p.

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oaltitermal(ca5.000BP)19umagrandeáreaflorestadaseestendiadaAmazôniaàcostaLeste.Uniam-seasFlorestasAmazônicaeAtlântica,principalmenteaolongodolitoral,mascomumsignificativoavançoparaointerior,atravésdaSerradaIbiapaba.Alteraçõesclimáticasposterioresteriampromovidoorecuodasáreasflorestadas,eaIbiapabateriaseconstituídoemumremanescenteflorestal,uma‘ilha’vegetacional,umbrejodealtitude.

ASerradaIbiapabaaolongodoslimitesdosEstadosdoPiauíeCeará,comonomedeSerraGrande,continuaaté a Chapada doAraripe, fronteira comPernambuco. Omovimento tectônico (muito anterior ao altitermal de5.000BP)quepromoveuaelevaçãodoAraripe,direcionouatravésdainclinaçãodascamadas,aságuasquecaemsobreaChapadaparaasterrasdoJuazeirodoNorte(Ceará).Assim,afacepernambucanadaChapadaébemmaissecaqueadoCeará.Taisobservaçõessãomostradasnosentidodelembrarapossibilidadedequeo‘corredor’devegetaçãopoderáter-semantidoatéperíodosmuitomaisrecenteseterservidodeviadecontatoentregruposdoNorteedoNordeste.Saliente-seaindaossucessivosesforçosfeitospeloscolonizadoreseuropeusparaassenhorear-se da SerraGrande, para submeter o grande contingente das populações nativas daquela área. Forammuitas astentativas mal sucedidas, experimentadas por padres e leigos, por soldados e aventureiros que buscaram submeter aquelaspopulações,noséculoXVI.

As terras da vertente pernambucana da Chapada do Araripe, tiveram uma ocupação colonial também tardia, apartirdoscurraisdoSãoFrancisco. Aquelas terras são freqüentemente referidascomoocupadaspelos tapuias,denominaçãogenéricadegruposdeumtroncolingüísticonãotupi.AindanascercaniasdaquelachapadaasterrassãodesignadaspelonomedeCariri. OsCariri (incluídosentre tapuias)no iníciodocontatocomosportuguesesocupavamumagrandeextensãoterritorialdaBahiaparaonorte;posteriormenteteriamseconcentradonossertõesdePernambucoemaistardeocupadopartedossertõesdaParaíba,doRioGrandedoNorteedoCeará.Taisinformaçõesetnográficastrazemnovasquestõesquantoàpresençadesítiosarqueológicostupiguaraninaárea.Adataçãode340+- 150BPposicionaemumafaixacronológicaentreoperíodoimediatamenteanterioraocontatocomoscolonizadoreseuropeus,operíododosintensosconflitosedizimações,atéaépocadaretomadadasgrandesmissõesreligiosas(apósaexpulsãodosholandeses)esuatransformaçãoemvilasnoperíodopombalino.Foramanosdegrandesatribulações,demudançasintensasqueenvolveramnãoapenasalteraçõesnomododevidadosgruposcomodizimações, sucessões,coalescência forçadadegrupos, imigrações. Nestequadro,onde seposicionamosgrandessítiosarqueológicostupiguaranidatadosnesteperíodo?ComoconciliarasinformaçõesdadocumentaçãohistóricacomosgrandessítiosarqueológicoscomcerâmicatupiguaranilocalizadosnaChapadadoAraripe?Estassãoquestõesqueoestudodasformasdosvasilhamestupiguaraninosdiferentesfáciesfisiográficospodeviracontribuirparamelhorelucidar.

Por suanaturezadecaracterísticaessencial20na feituradacerâmica,as formasdosvasilhamesassumemumcaráterdemaiorpermanêncianotempoenoespaço.Assim,asvariaçõesemtermosderecursosdisponíveis,bempodemserefletirnousodosrecipientes,naproporçãoentreasformasdavasilhame.Poroutrolado,seuestudoemdetalhepoderáviracontribuirnotraçadodoscontatosedesuasinfluiências,sejamcontatosintertribaissejamcontatosinterétnicos.

19DeacordocomacurvaapresentadaparaosetoraonortedeSalvador(BA),tem-sequeentre7.100BPeaproximadamente4.000BP,oníveldomarmanteve-seacimadoatual.Cf.SUGUIU,Kenitiroetalii1985–FlutuaçõesdoNívelRelativodoMarDuranteoQuaternárioSuperioraoLongodoLitoralBrasileiroesuasimplicaçõesnaSedimentaçãoCosteira.Ver.BrasileiradeGeociência, 15(4):273-28620SHEPARD,AnnaO.Ceramics for the archaeologist.Washington,CarnegieInstitutionofWashington,1963,414p.,il.

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Características da Tradição Tupiguarani no Sudeste do Brasil

Ondemar Dias (*) Lílian Panachuk (**)

Introdução

PodeparecerdesnecessáriaumareabordagemdaTradiçãoTupiguarani, temaaparentementeesgotadodetãoconhecidoemotivodealgumasdezenasdepublicaçõesaolongodosanos.Ostrabalhosdaúltimadécadasomenteteriamacrescentadonovosdetalhes,semquefossemmodificadas,noentanto,assualinhasmestras.Aprópriaevoluçãodesses estudos, no entanto, permitiu que fossem elaboradas novas questões que enriqueceram o conhecimento eesclarecerampeculiaridadesdestecomplexocultural.

Acontece,porém,queapenetraçãomaisprofundaepontualemdiversosaspectosdaquelavastaTradiçãoacaboupordemonstrarqueotemaestámuitolongedoseuesgotamentoequeaaceitaçãodealgumasperspectivasgeneralizadasnãosesustentammaisemfunçãodoavançodapesquisa.Torna-senecessário,então,repensar-seoassuntodeformaacontextualizá-lo frenteaosnovospostulados.Parece-nossemdúvidaqueéde todoútil,comoprimeiropasso,aorganizaçãode sínteses que focalizemaqueles aspectos comprovadospelas pesquisas e que sumarizamos traçosculturaisdominantesemcadaregião,aosquaissesomamasnovasperspectivas,constituindoplataformasdemanejoutilizáveispelosinteressadosesobreasquaissepossaconstruirumnovoesboço.Éevidente,noentanto,queeste“novoesboço”representarásomenteumaoutraperspectivaperiódicadarealidade,quesóteráaceitaçãoenquantoumadeterminadamaioriadepesquisadoresconcordarcomasuavalidade,aliáscomotudoomaisnasciênciassociais.

Nossacontribuiçãoparaesteestudosecentralizanaabordagemdaquelestraçosqueemergiramcomoosmaiscomuns,ourepetidos,eque,comotal,podemnestemomentorepresentarastendênciasidentificáveisdecomportamentoque,afinal,caracterizamaquelaTradiçãonoSudestebrasileiro,ondeesteautore suacompanheiradepublicaçãoatuammais decididamente e onde, portanto, se encontrammais capacitados para colaborar na formulação destequadrogeral,comaexperiênciaadquiridaemmuitosanosdepesquisas.

Colocações iniciais

Nãovamosdiscutiraquiprofundamenteaquestão,aindafocal,dasorigensdestegrupohumanoqueamaioriadosarqueólogosconsideravinculadoaumúnicoegranderamocultural,denominado,desdeadécadadesessentadoséculopassadocomo“Tupiguarani”,neologismoqueatraiuaoposiçãodediversospesquisadoresaocorrerdotempo,masquefoipropostopelosseuscriadoressomentecomoumreferencial(videBrochadoetalii,1969).Considerava-se,então,quetaltradição(exclusivamentearqueológica)deveriaenglobarospovosdominantesencontradosaolongodolitoralbrasileironaépocadodescobrimentopelosportugueses,povosestesqueapesardeapresentaremdiferenciaçõesdialetaisedeseestenderemdoriodaPrataaoAmazonas,podiamsecomunicarverbalmenteentresi,compreendendo-se

(*) Diretor Presidente do Instituto de Arqueologia Brasileira(**)ColoboradoradoSetordeArqueologiadoMuseudeHistóriaNaturaleJardimBotânico/UniversidadeFederaldeMinasGeraiseMestrandada Universidade de São Paulo

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mutuamente.Compartilhavamalémdisso,umaorganizaçãosocialpróxima,umartesanatoassemelhadoemsuasformasedecorações-noqualsedestacavaacerâmica,umaricatradiçãooralmalconservadapeloseuropeus,conhecimentosagrícolascompartilhados,alémdeusosdiversosemcomum,comomitosefestividades,entreelesaquelesrelativosaotratamentodosmortos,estes,osmaisimportantesparaosarqueólogos,porseconservaremmaterialmente,enquantoamaioriadosdemaisoufoiassimiladooudesapareceu.

Dentrodetalgrupo,aguerrafuncionavacomoumelementofundamentalparaalocalizaçãodohomemnoseu“status”socialecomoelemento incentivadordedisputa territorial,possedeprisioneirosepráticadecanibalismo.Sendocadagrupoorganizadoemtornodealdeiasauto-suficientes,cercadasporumagrandeáreavital,praticavamaagriculturadederrubadaequeima,ocultivodediversos tubérculose folhas,complementando suadietacomacaça, a pesca e a coleta.Guerreiros e expansionistas, encontravam-se em plena fase de conquista da terra, numprocessoiniciadocentenasdeanosantes.Emdiversospontosdoterritório,comonolitoralSudeste,povosmaisantigosconseguiramoportenazresistência,preservandobolsõesdetradiçõesdiferentesemplenodomínioTupiguarani,como,porexemplo,os“Goitacá”noEstadodoRiodeJaneiro.Alémdisso,certossetoresoucompartimentosgeográficos-ambientaispareceramnãoatrairasuaatenção,sendoestegruporaronasregiõesdasserrasmaisaltas,ounoslocaisondeocultivodamandiocaseriadificultadoporfatoresnaturais.

Aceita-secomomaisviávelsuaorigemamazônica,sobretudoemfunçãodosestudosdegrotocronologialevadosaefeitonoséculofindo,masnãoháigualunanimidadequantoaosseuscaminhosdedifusão.

Umahipótesemaisantigapropõeoqueodeslocamento tenhaocorridopelo interiordopaís,porpequenosgruposquesubiramosriostributáriosdorioAmazonas,deondeteriamacessadoosformadoresdabaciaplatinaealcançadoolitoral,noslimitesentreasregiõesfisiográficasatuaisdoSulcomoSudeste,emespecialnasalturasdabaciadorioTietê.Aliteriamsedivididoemdoisramos,umsedirigindoparaoSuleoutroparaoNorte.

Discordandoparcialmentedesta rota,Brochadopropôsumaalternativa, sugerindoqueuma levapoderia terseguidoaquelecaminho,originandoospovosGuaranisdoSul,enquantooutra,emseparado,atingiaafozdoAmazonas,deondeteriasedeslocadopelolitoralemsentidoNorte-Sul,dandoorigemaosTupis(1984).EstaposiçãoédefendidatambémporSchmitz,paraexplicaropovoamentodoBrasilmeridional (1999:288).Posteriormente,desprezandoaprimeiraleva,emudandoonomedaTradiçãopara“Pintada”ou“Policroma”,Brochadopropôsquetodoomovimentoter-se-iaprocedidopelarotalitorâneaNorte-Sul(1991).

Osdefensoresdaprimeirahipótese costumam identificar tais povos comovinculados àumaúnicaTradiçãooriginal,quesedividiuemduassub-tradições:aquelaqueviajouemdireçãoaoSul,seriadenominadade“Corrugada”,enquantoqueaoutra,queviajouparaoNorte,seriaidentificadacomo“Pintada”,enfatizandoopadrãodecorativomaiscomumemcadaramo.Podemtambém,considerandotersidoaunidadepropostamuitoantiga(a“Tupiguarani”),entendê-loscomoformadoresdeduasTradiçõesespecíficas,a“Guarani”aoSulea“Tupi”aoNorte.Nestecaso,aênfasesefezsobreaversãohistóricae/ouantropológica,debaselingüísticaeseaproximando,portanto,daprimeirapropostadeBrochado(1984).Mantém,noentanto,aidéiadeumaorigemúnica,umaespéciede“Macro-Tradição”quesemanteveunificadaatéaregiãodorioTietê.

Osdefensoresdasegundahipótese,estruturadaapartirdapropostamaisrecentedeBrochado,preferemdestacaradecoraçãopolicromaoupintada,rastreando-adesdeaAmazôniaatéoriodaPrata,comoseuelementoidentificadorou diagnóstico.Neste caso, onde quer que grupos humanos praticassem este tipo de decoração, teriam sido elesvinculados àumaúnica e àmesmaTradiçãodaqual, na verdade, os “Tupi”, “Guarani” ou “Tupiguarani” seriam,somente,gruposintegrados.

A este respeito já expressamos nosso ponto de vista anteriormente (Dias Junior, 1994/5) considerando tal

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perspectivaextraordinariamentedifusionista,porsebasearemumúnicotraço(aindaquedeimportânciacultural),desprezandoinúmerosoutrosdeigualoumaiorrelevância,entreelesatémesmoamorfologiadovasilhame,asdemaisdecorações,aspráticasfunerárias,ospadrõesdeadaptação,autensilagempreservada,etc.

NaquelaoportunidadeapresentamosumalistagemdedataçõespublicadasvinculadasàTradiçãoTupi(TupinambáouSub-tradiçãoPintada),queapontamclaramentesuamaiorantiguidadenoSul,sendocadavezmaisrecentesparaoNorte,mastambémestefator,ocronológico,parecenãotersidoconsideradocomoderelevânciapelosdefensoresdaquelaposição,quecontinuampreferindosimplificaroprocessoeseagruparememtornodeumúnicoedominantetraçomorfológico.Diríamos,realmentecomcertoexagero,queéquasequea“tiraniadapintura”,edabelezadapolicromia,queenfeitiçouseusfiéisseguidores.

Na verdade, apesar de entendermos como umúnicomacro-grupo, e neste caso, na nossa área de estudos,vinculadosejaàSub-tradiçãoPintada,ouàTradiçãoTupiou,ainda“Tupinambá”,nãoimportandomuitooapelido,ofatoéquenemmesmodoissítiosapresentammateriaisiguais.Cadagruposocial,mesmoaquelesqueconstituíamumaúnicaaldeia,possuielementospeculiares,próprios,manifestaçõesindividualizadas,sejaemnívelpessoal,sejaem nível grupal.O que os une são as tendências repetidas, os percentuais de ocorrências deste ou daquele tipo-sejadedecoração,deforma,deritual,delocalizaçãodascasasealdeiasoudoaproveitamentodoespaço-,quenormalmentesópodemservisualizadoseentendidosseestudadosemsuasmicro-diferenciaçõeseobservadossobocritériocomparativo,comadevidaênfasenassemelhançasenasdiferençasdecadaumemseucontextoglobal.Umconjuntodeelementosqueobviamentevariamnotempoenoespaço,masquetemparauni-losdiversospadrõesqueserepetemesemanifestamoradeformasutil,orabemexplícita.

Nossosestudos,iniciadosem1961equeseestendematéopresente,semprepartiramdaanálisecomparadadetodoomaterialrecolhidoemcadasítio,sejainternamente,sejaentreossítiosdeumamesmaregiãofisiográfica.Foi esteestudocomparadoentre sítiosqueproporcionouumavisãoabrangente,ondepudemos identificar gruposqueseaproximavampelassuassemelhançaseonde,obviamente,asdiferençaserammenossignificativas,formandounidadesmédiasquedenominamos“fases”.Estassedistinguiamdeoutrosgrupos,oudeoutrasfases,pelasdiferençasnotadasentreelas,apesardosfatoressemelhantesqueasvinculamaumamesmaTradição,equepodiam,mesmo,ocuparáreascontíguaseatéhabitarantigossítiosabandonadosporseusantecessores.

Aindaque,paramuitos,asfasessejamsomenteunidadesclassificatórias,entendemo-lascomorepresentaçõesarqueológicas de sociedades - no caso dos Tupiguarani, tribais -, que ocuparam espaços próximos, durante umtempo nãomuito longo e que se relacionaram comomeio, e entre si, de forma culturalmente compartilhada, equesãomaterializadaspeloselementosmateriaispreservados.Nestecaso,as fases tantopodemresultardosrestosculturaisdeixadospormaisdeumgrupohumanoquecompartilhousistemas,usosecostumescomunsequeinterferiutecnologicamente no meio segundo conceitos, comportamentos ou modos de longa duração transmitidos através de gerações (aTradição),comoatémesmoumúnicogrupo tribal sedeslocandoatravésdo tempoemumaáreavitalampla e que tanto pode reocupar sítios anteriormente habitados por eles, quanto outros pontos ocupados por povos diferentes.Estuda-se,mesmo,hoje,quaisoselementosquepodemserdetetadosnosdadosanalisados,esobretudonasmicro-diferenciaçõesculturais,quepermitamdiferenciarumtipodefasedooutro.

Nestemomento,edeixandoestadiscussãodelado,pormaisinstigantequesejaela,vamossumarizaroquadrodaocupaçãoTupiguaranidoSudeste,nasáreasocupadaspelosterritóriosdoRiodeJaneiroeMinasGerais.

Ostextosqueseseguem,aindaquedeautoresdiferentes,erespeitando,inclusiveabordagensdiferenciadas,secomplementamefornecemaointeressado,umquadroatualizadodoqueseconheceatualmentesobreestaimportantetradiçãoculturalnanossaregião.

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Figura 1, feita por A. Carvalho, do MHNJB/UFMG

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O Litoral Sudeste (Rio de Janeiro)

Caracterização Regional

Oprimeirogrupodesítiosquepesquisamos(1964/5),apresentandosimilaridadessuficientesparaidentifica-loscomopertencentesaumaúnicafase,ocupavaterrenosbaixoslocalizadosnaorladosriosquedeságuamnasbaíasdaGuanabaraounadeSepetiba.Amaioriadelesassentadossobrepequenostesos,ilhadosno“apicum”,numaárearicaemrecursosmarinhos,próximaaoOceanoeaoscursosdáguaorladosdemangues.Asdataçõesmaisantigasos encaixaramemumpassado relativamente remoto, em termos desta Tradição. Trata-se da faseGuaratiba, (Dias Junior,1967)cujasdataçõesvariamde1.650a800anospassados.AsdatasmaisantigasforamobtidasporCrâncio(1987:173)paraosítiodoZéEspinho,nãopesquisadopornós (umsambaqui reocupadopelosTupis).AlgunsdossítiosdolugarforamescavadosporBeltrão,queosentendiacomoacampamentossazonaisparaacoletademariscos,propostaperfeitamenteviável,aliás.Aquelaautoratambémassociouàfase,sítiosdaIlhadoGovernador,lugarque,comsuaspraiasdebaía,águasmornaseorlamarítimacommanguezais,possuimeioambientecoerentecomaqueleemqueselocalizamosprimeirossítiosdafase(Beltrão1969).Umsítioabordadopornós,naquelamesmailha,sobreoqualseergueuo“engenhoVelho”,umdosmaisantigosdoRio,jáfuncionalnosanosfinaisdoséculoXVI,forneceuanossadatamaisantiga,emtornodoséculononodanossaEra.

Ossítiosdesta fasesãopeculiaresenãomuitoextensos,poisemboravariem,suasdimensõessão inferiores,nogeral,aosmilmetrosquadrados.Aparentemente,nuncaseestendeumuitonoespaço,aindaqueosseuspontosextremos,entreGuaratibaePacobaíbaultrapassemos50quilômetrosemlinhareta.

ÉpossívelqueumsepultamentoemurnalocalizadoporSallesCunha,nailhadoGovernadorsevinculeaestamesmafase,derestopobreemevidênciasdotipo(1960).Emrelaçãoàdecoraçãopredominantenacerâmica,hácertoequilíbrioentreaspeçaspintadas,bioupolicromas,decoradascomosmotivosquesetornariampadrõesparaaregiãoeocorrugado, tambémnoestilo regionalpróprio, istoé,comvariaçãonamesmapeça,conformedescreveremosadiantecommaisdetalhes.

Segue-se-lheafaseSernambitiba(DiasJunior,1968),estaaparentementeamaisextensaedeintensaocupaçãodaTradiçãoemnossaárea.DominoupartedoespaçodafaseGuaratiba,masdiferentementedaanterior,seussítiosestãolocalizadospreferencialmenteemterrenosarenosos,desdeaspraiasdemarabertooulagunares,aosterrenosemmeiaencosta,sobreascolinas“em meia laranja”daBaixadadaGuanabara.Suaáreadedispersãoultrapassaadaanterior,desdearegiãodeSepetibaatéabaíaFormosa,emRiodasOstras,sempreocupandoterrenosareno-argilososcolinares,próximosapequenoscórregoseexcelentesparaocultivodoaipim,doamendoim,etc.

Éa fasemaisconhecida,cujossítios,emespecialnaregiãodosLagos fluminenses,vemsendointensamentepesquisadosaolongodosanos,pornós,naBaseAéreaNavaldeSãoPedrodaAldeia,porKneip(1978)na“VendaGrande”ouporBuarque(1996e1999)no“MorroGrande”,ambosemAraruama.

Seus sepultamentos caracterizam os padrões regionais e a eles retornaremos adiante. Ainda que os motivosdecorativosseaproximemmuitodafaseanterior,háumligeiropredomíniodapinturasobreocorrugado.Sítiosgrandes,podemalcançarmaisde3.000m.2deextensão.AcreditávamosfossemaisrecentedoqueafaseGuaratiba,poisdelapossuímosumadataçãoqueasituanoséculoXIV,masumaoutramaisrecenterecuouem1.100anosasuaduração(Buarque,1999).AvastidãocronológicadestaedafaseGuaratibaremete,semdúvida,ànecessidadedenovosestudos.

DocentroaoNortedoEstadoselocalizamasdemaisfasesreconhecidaspornós.Sítiosisolados(camposdeurnas)foramencontradosemMacaé,masnãoconhecemosqualquerdescriçãoparaosmesmos,anãosernotíciasesparsasenãopublicadascientificamente.

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Figura 2, feita por A. Carvalho, do MHNJB/UFMG

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DoissítioslocalizadosnasproximidadesdaLagoaFeia,emseuextremomeridionaleoutrosdoissituadosnamargemdireitadorioItabapoana.constituíramafasequerecebeuonomedaquelerio(DiasJunior:1969).Sãosítiossuperficiais,deacampamento,emterrenosdeantigafloresta,sobreoimensomardemorrosdointerior(masaindaassim,bemdistantesdaSerradoMar)ounasproximidadesdafozdaqueleriodivisordosEstadosdoRiodeJaneiroeEspíritoSanto.Sãodereduzidasdimensões,semestratigrafia,emtornodos300metrosquadrados,masumdelesatingemarcasbemmaiores(cercade3.000m2).Omaterialrecolhidoédeconfecçãopoucocuidada,alémdomaismuitoerodido,onde(talvezporistomesmo)adecoraçãopintadaéreduzidaeoescovado,juntocomoungulado,tornam-setãopopularesquantoocorrugado.Nãopossuímosdataçãoparaela,masaparentaserrecenteepodeatémesmosevincularaosgruposque,derrotadosnolitoral,seinternarampelaregiãoapósaconquistaeuropéia.

A fase Itaocara, composta por cinco sítios pequenos, que é aindamenos rica emmaterial pintado, tambémocupaamorrariadointerior,normalmentesobreelevaçõesdecotaemtornodos50metros,sobretudonasvertentesmaisprotegidasdosventosdominanteselocalizadasnasproximidadesdorioParaíba,emseumédiocurso.Ossítiosseassentamnascercaniasdasmargens,nasfraldasdosmorrosvizinhoseatésobreumapedreiradegneis,emSãoSebastiãodoParaíba.Sãoaldeiasdeocupação reduzida, semestratigrafia, sobre terrenosposteriormente reviradospelosarados.Predominaadecoraçãoplásticae,nela,aspeçascomcorrugaçõessimples,ungulações,acanalado,etc.Comofatordiferencial,érelativamentegrandeonúmerodepeçascarimbadas(DiasJunior:1969).

AfaseIpuca,comquatrosítios,étambémmuitointeressante,porocuparumaáreaextensaemSãoFidélis,comcercade7.000m2,pornósregistradacomo“sítiodoHorto”(Dias Junior:1969).Este local foipesquisadotambémpelaequipedoCentroBrasileirodeArqueologia (CBA)queodenominou“SítiodosCoroados”, istoporqueocupaoespaçodeumaantigareduçãojesuíticaquedeuorigemàcidade.Apesardasdivergências,entreoshistoriadores,aparentementeos“Coroados”nãoeramTupis,contrariandoofartomaterialquealiexumamos.Olocalatestaumaocupaçãointensa,comumacamadaespessaqueforneceuricomaterialcomcaracterísticaspeculiares.

Osdemaissítiosseencontrammuitoespalhados.DoisdelesemilhasdorioeumúltimonabaciadorioMuriaé.AfasesecaracterizaporpossuirdecoraçãotipicamenteTupiguarani,aoladodopolido-estriado,masaplicadasobrevasilhamecuja tecnologiade fabrico, tipodequeima,espessuradasparedeseatémorfologia,osaproximamuitomaisdomaterialcaracterísticodaTradiçãoUna,emespecialdavizinhafaseMucuri.Semdúvida,tecnologicamenterepresentaumafusãodetraçosdeorigenstradicionaisdiferentes.

Apinturaémuitorestrita(cercade1%domaterial),predominandoaspeçascomdecoraçãoplástica,comoopolido-estriado,oungulado,ocorrugadocomplicado,etc.

Característica Geraisa Tradição Tupiguarani no Rio de Janeiro

Alguns traços emergem destes estudos, muitos deles reforçados pelos elementos publicados por outrospesquisadores. Ainda que nem sempre figuremna bibliografia os dados quantitativos necessários para um estudocomparativoseguro,pode-segarimparinformeseestabelecercorrelaçõesqueseguirãoválidas,pelomenosenquantonovosinformesnãoasdesmentirem.

Entenda-se,pois,queestacaracterização,apesardevirsendoconstituídaaolongodosúltimosquarentaanos,ésemprerelativaaosdadosdisponibilizadoseacessíveis,sendopassíveldereformulaçãoemfunçãodoavançodapesquisa.

Umprimeiroelementosecolocaemdestaque.Pelomenosnoquetangeàsnossasobservações,osartesãosdestaTradição,nestetrechodopaís,apesardedaremumaênfaseespecialàdecoraçãopintadadovasilhame,nãoaaplicou

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Figura 3, feita por A. Carvalho, do MHNJB/UFMG

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emmaiorquantidadedepeçasdoqueumaoutraqualquerdecoraçãoplástica“concorrente”.Estatantopodiaserocorrugado,comooescovadoeatémesmoopolidoestriado.Paranóséaênfase,atipologiaeasfunçõesdovasilhamepintadoqueacaracteriza,assimcomoosseusintricadospadrõesdecorativos,motivosdeestudoprofundodecolegasquedeverãosertambémdivulgadosnesteVolume.

Segundo:Observamostambémqueapinturafoi,namaioriaesmagadoradasvezes,aplicadanafaceinternadetigelas,pratos,assadoreseatémesmodevasosdebocaampliada,atingindo,nomáximo,comolimite,aregiãosub-labialouparteexternadaborda.Muitorecentementelocalizamosumconjuntodepeçasnoqualtrêsurnas,comombroslargos,forampintadasnafaceexterna.Tratava-se,noentantodeumsítiohistóricoocupadoapartirdofinaldoséculoXVI,ondeforamreunidosíndiosarrebanhadosapósaconquista,inclusivecomavindade“Carijós”doSul.

Aspeçasfragmentadasforamenterradasnoiníciodaocupaçãodosítio,deformaquepodemsetratardepeçasproduzidasporpovosalógenos,destoando,inclusivedasdemaisdeproduçãolocal(verDiasJunior,2003).

Apesardetermosinterpretado,inicialmente,quetalconjuntoseriaexóticoàregião,umavezconcluídososestudosdelaboratórioeorganizadoográficodasuaseqüênciaseriada,umanovahipóteseestáseconfigurando,ouseja,dequesetratarealmentedeumare-ocupaçãodositio“AldeiaVelhaIII”,emItaboraí.EstematerialindicariaaexistênciadeumgrupohumanodaTradiçãoTupi(Tupinambáousub-TradiçãoPintada),comcaracterísticasmaispróximasdosGuaranidoSul(sub-TradiçãoCorrugada),quealifixousuaaldeiaantesdachegadadoscolonizadoreseuropeus.Senovaspesquisas,sobretudoacompanhadasdedataçõesabsolutas,confirmaremahipótese,teríamosaliaconfirmaçãodeummomento,muitoantigo,emqueascaracterísticasdasduasTradiçõesaindaseencontravamassociadas.

Terceiro:Emrelaçãoàspeçascorrugadas tambémháumaconstante.Normalmenteocorrugadocomplicadofoiaplicadoempeçasgrandes,ouurnasperiformes(ouhiperbólicascomcarena).Suaevoluçãonumamesmapeçatambémserepete,quasequecomoumamarcaregistrada.Começandobemmarcadonaborda, torna-secadavezmaisbaixo(ouplano),menosonduladoemdireçãoaocorpodapeçaeproduzidopelousodeespátulas.Emgeral,domeioparaofundodovasilhame,transforma-senummeroraspado,comtraçoslongos,verticalizados.Nofundorestamresquíciosquesomentelembramocorrugado.Normalmente,noentanto,sãoeleslisos.

Aliás,deumamaneirageral,aspeçascorrugadassãoproduzidaspelousoconstantedeespátulas,sendorarososcorrugadosdigitados,bemdiferentes,portanto,dasespeciaispeçasdotipocomunsnoSuldopaís.

Quarto:Mesmoquenãopossamosestenderestaobservaçãopara todosossítiospesquisadospor terceiros,ebaseados,portantoeemespecial,nasnossasprópriasobservações,constatamosqueopercentualdepeçasdecoradaséaquinormalmenteinferiora30%dototaldomaterialrecolhido,sendomuitorarasasexceções(considerando-sequeascoletasdecampotenhamsidocompletasenãoselecionadas).

Aocorrênciacitada,dosítioAldeiaVelhaIIIdeItaboraí,apresentapredomíniodapinturasobretodooresto,daínossatendênciaaaproximá-la,pelomenosnesteponto,daTradiçãodoSul.Aquela,noentanto,nãoapresentaariqueza,nemodetalhamentopictórico,dapinturaaquiregistrada.

Quinto:Noquedizrespeitoàsformas,podemelasapresentarousopeculiardevasoscombordascambadas,ouduplamentecambadas,comoapeçasímbolodoIAB,menoresdoqueasurnasperiformes,sendopoucasaspeçascomombrosbemmarcados.Asurnascomombroepescoço,comunsnoSuldopaíssempreforammuitorarasnaregião.Maisumavez,omaterialdosítiodeItaboraíseconstituiexceção,compeçasexibindoombroombroseombrosduplos.

Sexto:TalvezamaisvisívelpeculiaridadedestaTradiçãonoSudeste(algoqueparecetambémseestenderparaoNordeste)sejaavariabilidadedodesenhodasbocasdasvasilhasproduzidas.Aindaqueasurnasgrandeseaspeçaspequenassejambasicamentecirculares,fartomaterialdedimensõesmedianaspodeapresentá-laselípticas,ovóides,retangularesouquadrangulares (sempre comos ângulos suavizados, arredondados). Tem-se a impressãodequeagrandeinventividadenaproduçãodeperfisdeformasencontradasnogrupoSuldestaTradição,foiaquisubstituída

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pelavariaçãonestetópicoespecíficodamorfologia.Tambémarepetidaaplicaçãodereforçosexternosnasbordas,ouousoconstantedebordasexpandidasencontradosnastigelas(circulares,elípticasoudequalquerformadeboca)podeconstituirumtraçodiagnósticoamais.

Sétimo:Osenterramentos.NósexumamospertodemeiadúziadelesemsítiosvinculadosàfaseSernambitiba,omaispreservadono“sítioD.Laura”emBelfordRoxo.Outrosmenoscompletosforamescavadosno“sítiodaBaixada”,tambémnaquelemunicípio;naBaseAéreaNavaldeSãoPedrodaAldeiaeno“sítiodoMarco”,noPiaí,periferiadacidadedoRiodeJaneiro.Buarque(op.cit.)descrevemaistrêsdeles,escavadonosítioMorroGrande,deformaqueépossíveldetectarmosumpadrãorepetido.

Aurnaprincipal(urna1),ondejaziamosossos,énormalmentedeformatoperiforme,corrugadaespatuladaepodeassumirumconsideráveltamanho(asmaioresdaTradiçãonaárea),combocascirculares,variandode42a65cmdediâmetro(normalmentecercademetadedaalturadapeça,maspodendochegara95%dela).Sobreelaeradepositadaumagrandetigelarasa,profusamentedecoradanafaceinterna,bordareforçadaouexpandida,fechandoabocadaprincipaletendoumdiâmetrocoincidentecomaquela,ouligeiramentemaior.Éoqueamaioriadosautoreschamade“tampa”(urna2),cujaproporçãoaumentabastante,combocasqueultrapassamaalturadavasilhaematé275%.Algumasvezes(comonosítioD.Laura)elaeraprotegidaporoutratigela,estamaisfunda,que,namaiorpartedasvezes,possuiumacarenanaborda,sendotambémcorrugada(urna3).Estapeçapodeenvolverinteiramenteapeçapintada.Ambascombocascirculares.Nestaúltima,comoémaisfunda,aproporçãodiâmetrodeboca/alturacostumanãoultrapassaros135%. Sobreelaeramcolocadas tigelasmenores,combocaselípticas,ououtras,emnúmerovariado;trêsnosítioD.Laura,duasnaBaseAéreaeatéquatronoMorroGrande.Comosãoasmaisrasas,aquelaproporçãopodechegara450%.

Provavelmentetaispeçasfizessempartedoritual,desdeomomentodosepultamentoprimário,sendobempossívelfossemproduzidasespecialmenteparaoenterramento(vertestemunhodopadreManoeldaNóbrega,ed.1931).

Em outras oportunidades, em especial quando da deposição de jovens, usava-se vasilhame utilitário ou atémesmoparcialmente fragmentado,comoobservamosemsepultamentonointeriordeMinasGerais,nosítio“MatadasGarças”, onde, apesar disso, duas tigelas pintadas foramcolocadas sobre a pequena peça principal.Naquelaregiãoobservamostambém,emdoisenterramentosexumadosna“FazendadosÓleos”,nomunicípiodeTrêsPontas,queosacompanhamentosdetigelaspintadasforamcolocadosaoredordaurnaprincipal,aparentementeemcovaespecialmenteabertapara isto.Estes traçosse referem,noentanto,à faseBelvedere, localizadapornósemMinasGeraisequenãoincluímosnesteestudo,anãoserparacomparação(ver,Dias&Carvalho,1975).

Outroselementos,demenormonta,eaindaemanálisepoderãovir tambémumdiaacaracterizarmelhoraTradiçãoTupiemnossaregião.Porhora,estessetefatorespeculiares,sobreosquaisarepetiçãodaocorrênciapermiteentendercomodiagnósticosidentificadores,servemparaopropósitodotexto,conformandoumesboçoválido,cujasegurançaderivadasomadetrabalhosdecampoelaboratório,nossosedecolegas,quepermitiramsuadefinição.

Conclusão

Uma das críticas que recebemos ao estabelecer as fases citadas é de que acabaríamos identificando maisunidadesarqueológicasdoque sociedades tribaisna região.Nadamais fácilde refutar.Bastaqueconsultemosostextoscontemporâneosdaconquista,paraconstatarmosaintensidadedopovoamentoTupinaárea,commuitomaisaldeias identificadasdoque sítiospesquisados,ou fases reconhecidas. JeandeLéry,porexemplo, inventariadozedelasemtornodaGuanabara,maisseisparaointerior(ed.1960:99).Anchieta,nos“AutosdeSãoLourenço”serefereaoutrasdezoito,númerosemdúvidamuitoinferioràsmaisde160delasdevastadasporMemdeSánaBahia,segundo

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sua“DeGestisMendideSaa” (ed.,1906:34).MuitasoutrasaparecemnascrônicasdaconquistadeCaboFrio;nasperegrinaçõesdeKnivet,aoterminaroséculoXVI,nacorrespondênciadosjesuítasounosinúmerosdocumentosdedemarcaçõesdeterrasdesesmarias.

Frente a este quadro, voltamos à questão inicial, concluindo que ainda estamos longe do dia em que ospesquisadorespoderão,defato,consideraresteassuntoesgotado.Malpodemosdelimitar,porexemplo,ecomalgumasegurança,oterritóriodedomíniodestaTradiçãoporaqui.Deumladoobservamosqueadentrou,noNorte,áreatidacomoGoitacá-emtermosarqueológicos,zonadaTradiçãoUna,emCampos-,alcançandoaregiãodeVitória,noEspíritoSanto;deoutronossurpreendeofatodenuncatermosregistradotraçosdesuapresençanoSuldoEstado,estasimáreahistoricamentereconhecidacomoTupi,apesardosanosdepesquisaalidesenvolvidos.OrioParaíbasegueaceitocomolimitedasuaexpansãointeriorana,pelafaltadedescobertassimilaresnasuamargemmineira.

Considerando,ainda,queostestemunhoshistóricosacimacitadossereferemadezenasdealdeias,equetodoseles a uma estreita faixa de tempo, nomáximo recuando aos inícios do século do descobrimento; que povos daTradiçãojáseencontravamporaquiháquasedoismilênios,eque,portanto,apresençadestagenteforçosamentedeixoudisseminadospelocampomilharesdeevidênciassequerconhecidas,quantomaispesquisadas,concluímosque,semdúvida,faltaaindamuito,masmuitomesmo,paraquepossamosparardenospreocuparemconstruirumquadroválidodestariquíssimacultura,parteintegranteefundamentaldanossaetnia.

Entendamos,pois,queestasíntesenãoalmejanadaalémdopropósitoparaoqualsedestina,istoé,odeservircomoelementobase,comosimplesalicerceoucomoaplataformademanejoquenosreferimosnoinício,sobreaqualdadosmaisprofundoseidéiasmaiscomplexaspossamserlançados.

O Interior do Sudeste (Minas Gerais)Caracterização regional

No territóriodoatualestadodeMinasGeraisaatençãodadaaos sítiosTupiguarani sempre foimenorqueaqueladispensadaàsdemaistradiçõesceramistas,UnaeSapucaí.

Os poucos sítios TupiguaraniconhecidosestãodispersosemumgrandeespaçoterritorialqueincluiáreaspontuaisnabaciadoRioGrande,Paranaíba,SãoFrancisco,Velhas,Jequitinhonha,Mucuri,DoceeParnaíbadoSul(Figura5).Comoiníciodaspesquisasnestasregiões,atéentãopoucoexploradas,opapeldaspopulaçõesceramistasTupiguarani napré-históriarecentevemsendoreconhecido.

Pretendemos apresentar uma compilação do material Tupiguarani situado em Minas Gerais marcando suas particularidadesesemelhançasdentrodocenáriodaregiãosudeste.Paratanto,utilizaremos,comoguia,osvalesdosrios, começando no sul do estado, na bacia do rio Grande, para prosseguirmos desde o interior, na bacia do Parnaíba, até nos aproximarmos do litoral, passando pelo rio São Francisco, das Velhas, Jequitinhonha, Mucuri, Doce e Paraíba doSul.

I - Vale do Rio GrandeABaciadoRioGrande,naregiãosuldeMinasGerais,foiobjetodepesquisasarqueológicasemduasoportunidades,

nosanos1970e2000.

Vale do SapucaíEntre 1970 e 1975 a equipe do Instituto de Arqueologia Brasileira identificou um conjunto de quatro sítios

localizadosnosmunicípiosdeAlfenaseSantaRitadoSapucaí.Estessítiosestãosituadosemelevaçõessuaves(cota

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Figura 4, feita por A. Carvalho, do MHNJB/UFMG

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de50metros),distantes,nomáximo,250mdasmargensdoRioSapucaíeseusafluentes(Dias:1974;Dias,Cheuiche&Carvalho:1975).Emgeralossítiosapresentamextensãovariandoentre5.000e10.000m2 e pacote ocupacional superficial(tendo,emmédia,30cmdeprofundidadee,emcasosdeenterramento,80cm).

Omaterialsoma1.233cacoscerâmicos,dentreosquais66%nãoapresentadecoração,12%apresentadecoraçãopintada(incluicacoscombanhovermelho,ecomengobobrancocompadrõespintadosemvermelhooupreto)e22%temalgumtipodedecoraçãoplástica.Ospadrõesdecorativosplásticosmaiscomunssãoasvariaçõesdecorrugadoseoungulado(7%e6%,respectivamente),oescovadoeoincisoaparecemcommenorforça(4e2%)eoutrasexpressõesdedecoraçõesplásticassãoaindamaisraras,comoodigitado,entalhado,polido-estriado,ponteadoeraspado(menosde1%).

AanálisedaseriaçãofeitaporDias,Cheuiche&Carvalho(1975)indica,entreosfragmentossemdecoração,umatendênciadeaumentodotemperocomgrãosfinosdequartzo,aomesmotempoemqueháumdecréscimodotemperocomgrãosgrossosdequartzoedotemperoargiloso.Entreosfragmentosdecorados,oscorrugadosapresentamumacurvadepopularidade‘naviforme’maisnítida,ocorrendoomesmocomosungulados,deformamaistímida.Adecoraçãoescovadatendeaaumentarnamedidaemqueosdemaistiposplásticosdiminuem.Osfragmentospintadosaparecemdeformairregularnaseriação,emboraestamodalidadedecorativasejapopular.EsteconjuntomaterialfoireunidonafaseBelvedere eatribuída,pelosautorescitados,dentrodocontextodosanos70,àSubtradiçãoCorrugada.Asduasdataçõesdisponíveissãode520+- 90A.P.e720+- 150A.P.

Ainda no final dos anos 70, outros dez sítios foram identificados pela equipe do IAB, nos municípios de Paraguaçu,FamaeCarmodoRioClaro,eforamanalisadospeloinstituto(Comunicaçãopessoal,Dias:2003).EsteconjuntodesítiosapresentacaracterísticassemelhantesàfaseBelvederenoquetocasualocalizaçãoeosaspectostécnico-morfológicosdacerâmica.Dototaldomaterialcerâmico(1.079cacos),60%nãoapresentadecoração,24%apresentadecoraçãoplásticae16%pintada.Entreototaldecacosdecorados(423cacos),40%apresentadecoraçãopintada,20%decoraçãoungulada,14%corrugada,outrasdecoraçõesplásticasnãoatingem1% (inciso,digitado,acanalado,ponteado).Aseriaçãomostraumacurvadepopularidade‘naviforme’expressivaparaoscacospintados.Afreqüênciadefragmentoscorrugadosaumentanamedidaemqueháumadiminuiçãodosdemaistiposplásticosmenosexpressivos,citadosanteriormente(inciso,acanalado,digitado,ponteado).Adecoraçãounguladaéconstanteeexpressivanográfico,emboranãoapresenteumacurvadepopularidadeclara.

Alémdestematerialcerâmico,doissepultamentossecundários,ambosemurnacarenadacorrugada-espatulada,foramexumadosnosmunicípiosdeSantaRitadoSacupaíeAlfenasdentrodocontextodafase Belvedere.Umdelessemacompanhamentoecomossoscompletamentedeteriorados,outrocontendofragmentosesqueletaisdecriançacomcercade7anos.Esteúltimotrazalgumasparticularidades:aurnaestavaquebradaehaviafragmentosdeoutropoteque“preenchiam”ovaziodaquebra,protegendoointeriordaurna;umatigelapintadafoiemborcadanabocadaurna,servindocomotampa(Dias,Cheuiche&Carvalho,1975:9-10).

Na mesma região do vale do Rio Sapucaí, no município de Conceição dos Ouros, foram exumadas duasestruturasfuneráriasnodecêniode90pelaequipedoInstituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em uma das estruturas apareceramduas urnas piriformes comdecoraçãoplástica; umadelas comdecoração espatulada eincisa,aoutracomdecoraçãocorrugadaeespatulada.Outrasduastigelas,umacombelíssimadecoraçãopintadanafaceinterna,eoutracomlábioserrilhado,completavamosepultamento.Aoutraestruturafuneráriaenvolviaumaurnapiriformecomdecoraçãoplásticazonadaentreoespatulado,odigitadoeoungulado;eumatigelacomdecoraçãoincisa,queserviadetampaàurna.

Vale do Rio TurvoEm2002aequipedoSetor de Arqueologia do Museu de História Natural e Jardim Botânico/UFMG investiu em

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Figura 5, feita por A. Carvalho, do MHNJB/UFMG

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umaescavaçãodeamplasuperfícieemumsítioTupiguarani,nomunicípiodeAndrelândia.Osítioencontra-seemelevaçãosuavedistante,cercade100metrosdasmargensdoRioTurvo,emáreapoucomaiorque10.000m².

Osfragmentoscerâmicossomam9.624cacos,dentreosquais78%nãoapresentadecoração,15%comdecoraçãoplásticae7%comdecoraçãopintada.Dentreoscacosdecorados(1.409fragmentos)aprimaziaédostiposcorrugados(33%),seguidospelosdiversospadrõespintados(31%).Osfragmentosunguladosestãobemrepresentados(18%),sendomaisrarososdemaistiposcomdecoraçãoplástica,comooinciso,digitado,acanaladoeponteado(entre7e2%,cadaum).Outrasexpressõesdecorativassãoaindamenosfreqüentes,comoodigitungulado,escovado,unguladocomengobobrancoe inciso comengobobranco (nãoatingem1%do total).Alémdepoucos fragmentos comdecoraçãomista,umfatordiferencialnestesítiofoiapresençademodelagensfigurativaseoutrosutensíliosmodeladoscomotrempesecontadecolar(videartigonestevolume,Panachuk&Carvalho).Ascaracterísticastécnicaseasporcentagensdostiposdecoradosnãosediferenciamdaquelasexpostasparaafase Belvedere.Asdataçõesobtidasportermoluminescênciaparaestesítioforamde480APe700A.P.(InstitutodeFísica/USP)esãocoerentescomasdemaisdatasdaregião.

Omaterialdestesítiofoitratadodeformaapodersercomparadocomosdemais,analisadosduranteoPRONAPA.Nestesentidooscacosforamclassificadosemtiposeapresentadoscomamesmadisposiçãográficadeumaseriação.Aporcentagemdediversostiposdecoradosnãoevidenciounenhumamodificaçãodeumnívelartificialparaoutro.Porfim,inspirando-nosnotrabalhodeMeggers&Maranca(1980),cruzamosostiposdefragmentoscomadisposiçãoespacialdo material in loco. OresultadoindicaumaoposiçãoentreossetoresLesteeOestedosítio.Ametadeorientalapresentamaioriaabsolutadostipospintados(40%),enquantoametadeocidentaltemdominânciadostiposcorrugadosemsuasdiversasvariações(36%),eumamaiorrepresentaçãodosdemaistiposplásticos,comooinciso,digitado,acanaladoeponteado(esteaumentoédecercade5%emcadatipo).Adecoraçãounguladamantém-seestável,aparecendocomexatos18%emcadaumadestasregiõesdosítio.

Emboraaquantidadede fragmentoscerâmicospareçaexpressivaoaltograude fragmentaçãodospotesnosimpossibilitoureconstituirqualquerforma.Cabedizerqueopesodomaterialémínimo,soma80kg.

No município de Andrelândia a única estrutura funerária conhecida conta com uma vasilha elíptica comdecoraçãounguladaduplamentecambada,cujabase,quebrada,eraprotegidaporgrandesfragmentosdeumpotepiriforme.Haviaaindaumatigelaemborcadanaaberturada‘urna’,quelheserviadetampa.Adataçãodisponíveléde610+- 15A.P.(InstitutodeFísica/USP).

NestasduasregiõesdabaciadorioGrande,novaledorioSapucaíenovaledorioTurvo,ossítiosdaTradição Tupiguarani são menos expressivos e numerosos que os da Tradição Sapucaí,emboratenhaexercidomaiorinfluêncianoconjuntoartefatualcerâmicosdestatradição.Hápossibilidadedeocupaçãodoespaçoporambasastradiçõesemarcasdeinfluênciamaterialdeumapelaoutra.

Dias(1971)apontanadireçãodeumaaculturação,uma“tupinização”dasfases Itaci e Sapucaí, da Tradição Sapucaí. Segundo o autor a variação dos padrõesmorfológicos e a diversidade dos padrões decorativos (engobovermelho, inciso, estriado, escovado, acanalado, engobo branco, ungulado, digitado, entalhado, corrugado simples e corrugado-espatulado),atestamocontatoentreasfasesdestesdoisgruposceramistas,Sapucaí e Tupiguarani.

II - Vale do Rio Paranaíba NoextremoOestedeMinasGerais (Triângulomineiro), foramidentificadossetesítiosatribuídosàTradição

Tupiguarani (Junqueira,1995,Chmyz,1995), localizadosduranteoprocessode licenciamentoambientaldaUHENovaPonte.

OsdoissítioslocalizadosporChmyzestãosituadosemmeiaencostadecolinasuave,próximosaoRioQuebraAnzol;eocupamumaáreade10.000ede20.000m².Emgeralapresentamcomotécnicaprincipaloacordelado,havendo

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casosdeapliquesmodeladoscomoalçasnosvasilhamesenumerosasmodelagensnãodescritas.Omaterialcerâmicocontamcom2.444cacos,dentreosquais54%nãoapresentadecoração,easvariedadesdedecoraçõesplásticasepintadasaparececomexatos23%cada.Entreoscacossemdecoraçãootemperoécompostoporquartzofino(<1mm)eporgrãosgrossosdequartzo(>1mm).Entreosfragmentosdecorados(1.140cacos)otipopintadoéexpressivo(atinge50%),seguidodotipocorrugadoemsuasdiversasvariações(30%)edoscacosungulados(15%).Menosrepresentativossãoosfragmentoscomdecoraçãoentalhada,ponteada,acanalada,nodulada,serrungulada,digitungulada,pinçadaemarcadacomtecido(quenãoatingem1%).Valenotarqueháfragmentoscomdecoraçãomistaconjugandocorrugadoeengobovermelho,corrugadoeungulado,corrugadoeescovado,corrugadoelábioentalhado.

Chmyz (1995) salientaadiferençade temperoepadrõesdecorativosaplicados.Emumdossítioso temperoutilizadoemprimaziaéotipofinoquetendeaaumentarnosníveissuperiores.Enquantonooutrosítioamaioriaédotipogrossoquetendeaaumentarnamedidaqueotemperofinodiminui.Osfragmentoscomengobovermelhoeaquelescompinturasãopopulareseapresentamamesmatendênciaemambosossítios,diminuindonotopodográfico.Ocorrugadoapresentaumatendênciaaaumentarnotopodográfico,aomesmotempo,háumadiminuiçãodostiposunguladosemumdossítios(Macaúba).Nooutrosítio(Andorinha)háumatendênciadocorrugadoemdiminuirnotopodográfico,enquantoounguladosemantémestável.Osdemaistiposdecoradossãopoucoexpressivose,comoapontaChmyz(1995:291),mantiveram-seregularesemambasascoleções.

OssítiosabordadosporJunqueiraapresentamlocalizaçãotopográficaecaracterísticastécnicassemelhanteaosdemaisanteriormentedescritos.Há,noentanto,doisfatoresdistintivosentreomaterial,umdecunhotécnicoeoutroestilístico.

O aspecto técnico diferencial apontado por Junqueira está no uso de barbotina, que descreve como uma“coberturaporumapastadebarrodiferentedaargilaconstituintedacerâmica”(Junqueira,1995:71).Emboraoautornãoassocieestatécnicaaalgumdostiposenumeradosporele,podemossuporquetaltratamentodesuperfícieestejarelacionado aos vasilhames com decoração pintada (para uma discussão mais detalhada ver neste volume: Panachuk &alii,bemcomoCarvalho,Panachuk&Jácome).

Acaracterísticaestilísticadestematerial inclui,entreos fragmentosdecorados,apredominânciaabsolutadasvariaçõesdotipocorrugado(81%),seguidodopintado(7,8%)edoungulado(6,7%).Outrasmodalidadesdedecoraçãoplásticatambémocorremcomooescovado,bordaincisa,incisoeoutrosmenosexpressivos(Menosde5%dototal).Cabenotarqueesteautornãoapresentaosdadosquantitativosdomaterial,enemmesmoincluiosfragmentosnãodecoradosemsuaanálise.Oargumentoédequehaviaumamisturamuitograndedemateriaisdedistintasocupaçõesqueimpossibilitaramumaseparaçãodoscacos.

ChmyzeJunqueiraenfatizamapresençadematerialintrusivodaTradiçãoAratu-Sapucaínospacotesocupacionaissuperiores.Nestesentidotambémnestaregiãopareceterhavidocontatoentreestasdiferentespopulaçõesceramistas,sejanaescolhadoespaçoaserocupado,sejanocontatoquotidianocomadivisãodoespaço.Noentantoaausênciadedataçõeseasperturbaçõesestratigráficasdecorrentesdoplantiolimitamovalordestassuposições.

III - Vale do Rio São FranciscoNoalto-médiocursodoRioSãoFrancisco(extremoNortedeMinasGerais)oIABidentificou,emmeadosdos

anos70, sete sítiosque foramatribuídosaduas fases1 da Tradição Tupiguarani: Cochá e Catuni. A quantidade de materialcerâmicodasduasfaseséde633cacosparaambasasfases.

1Naspublicações(Dias,1975;Carvalho&Cheuiche,1975)oconjuntomaterialditoCocháédefinidocomofase e o outro, Catuni¸ como sua subfase.Noentanto,emdecorrênciadasdiferençastécnicas,morfológicasegeográficasentretaisconjuntos,Dias(comunicaçãopessoal:2003)levantaapossibilidadedeserementendidascomoduasfasesdistintas.Assimserãotratadasnestetexto,comoduasfasesdistintas,parareforçarasdiferençasmateriaisexistentesentreosconjuntos,paraalémdassuassemelhanças.

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Ossítiosestãosituadostantoemáreasacéuabertoemmeiaencostadeelevaçõessuaves,apresentandoextensõesvariadas(de200m2²a18.000m2²),quantoemabrigosecavernascalcáriasdediferentesdimensões.Sãocincoossítiosatribuídos à fase Cochá, concentrados namicrobacia do rio homônimo, que distam cerca de 400 kmdos outrosdois sítios da fase Catuni,estesnamicrobaciadorioSãoDomingos(Carvalho&Cheuiche,1975).Aúnicadataçãodisponíveléde1.200A.P.paraafase Cochá. 1

Emgeralacerâmicaatribuídaàfase Cocháapresentapreferencialmentetemperodegrãosgrossos(>2mm)dehematita,quartzoefeldspato.Adecoraçãopintadaapareceemprimazia,seguidadoescovado,polido,unguladoecorrugado.Asoutrasfórmulasdecorativasmaisrarassãooraspado,inciso,ponteadoeacanalado.Nafase Catuni o temperoutilizadoconsisteemgrãosfinos(<2mm)dehematitaeargila.Eospadrõesdecorativosmaisexpressivossãoopintado,ocorrugado,oungulado;emaisrarooescovadoeoentalhado.

Noiníciodadécadade80,JunqueiraeMalta(1981)mencionamomaterialcerâmicoencontradoemcoletasdesuperfícieesondagensrealizadasnosmunicípiosdeJanuáriaeMontalvânia/MG.EstaregiãosesobrepõeàáreadefinidapeloIAB como fase Cocháhavendojustaposiçãodealgunsdossítiosestudados.Asvasilhasecacosanalisadossãopouconumerososeapresentampredominânciadepadrõesungulados.NestapublicaçãoháregistrodedoispotesinteirosnaLapadoÍndio:umaminiatura(8cmdeaberturanaboca),globular,comdecoraçãoincisaeumpoteelípticoduplamentecambadocomdecoraçãoungulada.

A publicação mais recente (Prous, Brito & Alonso, 1994) apresenta quatro potes em excelente estado deconservação, umproveniente da Lapado Índio, outro do sítioVirgulino e os dois potes da LapadasAbelhinhas,também com decoração ungulada em pote elíptico duplamente cambado.Os autores reforçam a análise técnicafeitaanteriormenteparaovaleepropõemumarelaçãoentreamorfologiadospoteseasualocalizaçãonosabrigoscársticos.Omaterialencontradoenterradonosabrigosseriapredominantementecompostoporcacosdepotesabertos,enquantoosvasilhameselípticos,duplamentecambadossemiinteiros,foramencontradoscomoqueescondidosnasfendasenichoscalcários,talvezcomumaconotaçãoritual.Nasáreasacéuabertoforadocanyonháregistrodesítios-habitaçãocomumamaiorquantidadedepotesfechados,comoigaçabasepotespiriformes(1994:77).OsautoreschamamaatençãoparaatendênciadaTradiçãoTupiguaraniemocupararegiãodasveredaseplaníciesdovaledoPeruaçu, evitando o canyon, reduto da Tradição Una,eovaledoSãoFrancisco.

No alto curso do Rio São Francisco a fase Piumhí (definida pelo IAB no final de 1970) daTradição Una apresenta, em alguns sítios, material intrusivo da Tradição Tupiguarani(Dias,1982).Umadasmorfologiasfreqüentesédefragmentosdepoteelípticoduplamentecambadocomdecoraçãoungulada.Noentanto,nostrabalhosrecentesquevemsendodesenvolvidosnestaregiãoaindanãoháregistrodesítiocommaterialTupiguarani.

IV - Vale do Rio JequitinhonhaNo Nordeste do estado de Minas Gerias, não houve ainda estudos sistemáticos de sítios Tupiguarani. As

informaçõesquedispomossãodomunicípiodeSalinas,ondeforamencontradosdoispotesinfletidos,umdelescomdecoraçãopintadaeumatinaovalpintadaexternaeinternamente.Estamosemcontatocomoproprietáriodospotesparaumafuturavisitaedispomos,somente,deregistrosfotográficos.

InformaçõesrecentesestãosendolevantadaspeloarqueólogoCarlosMagnoGuimarãesatravésdetrabalhosdeconsultorianaregiãoeindicamaexistênciadeoutrossítiosTupiguaraninestaregião.

V – Vale do MucuriParaesta regiãonãodispomosdedadosbibliográficos,noentanto foramlocalizadas,noacervodoMHNJB/

UFMG,duaspeçasprovenientesdosmunicípiosdeCarlosChagaseTeófiloOtoni.

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DoprimeiroconhecemosumamodelagemfigurativaassociadaasítioTupiguaranie,dosegundoumavasilhaelípticaduplamentecambadacomdecoraçãoungulada.

VI - Vale do Rio das VelhasNaBaciadoRiodasVelhas,naregiãocentraldeMinasGerais,foramapontadosalgunssítioscommaterialcerâmico

Tupiguaranidesdeosanos60porHaroldWalter(1958),Hurt&Blasi(1969)eLaming-Emperaire&alii(1974).ForamfeitascoletassuperficiaisesondagensemquatrosítiosacéuabertoenoAbrigodoSumidouro,descritoporWalter,enaLapinhaIV,porLaming-Emperaire.EsteconjuntodesítiosfoireabordadonapublicaçãodeJunqueira&Malta(1978),ondeforamapresentadososdadosdecincosítioscerâmicosdamesmaregiãocárstica,nosmunicípiosdeJaboticatubas,MatozinhosePedroLeopoldo.Emgeralossítiosapresentamdiâmetrode20a200meselocalizamemencostassuaves,próximasàfonted’água.Atécnicademanufaturadacerâmicaéporacordelamento.Otratamentodesuperfícieéalisadocomestriaseaqueimaéreduzidanaporçãocentralemcercade80%.Otemperoutilizadoécompostopreferencialmenteporquartzohialinoeleitoso,filito;maisraro,ocarvão,mica,hematitaemanganês(1978:168).Dentreostemperosfoicitadonestapublicaçãooamianto (identificadoporR.Teixeira),emborapareça tratar-sedecariapé (Comunicaçãopessoal,Prous:2004).Entreospadrõesdecorativosmaiscomunsaparecemasmodalidadespintadasediversasformasdepadrõesungulados.Osautoresnãoconseguiramreconstituirasformasdosvasilhamesdevidoàgrandefragmentaçãodoscacos.

EmpublicaçãorecenteProus,Baeta&Rubiolli (2003)mencionamos fragmentosencontradosnaregiãodeLagoaSanta,apontandoatendênciadestegrupoemevitarazonacárstica,limitandosuapenetraçãoàproximidadedocursodoRiodasVelhas.TodosossítiosdaTradiçãoTupiguaraniestavamcircundadosporoutrosbemmaisnumerosos,atribuídosàTradiçãoSapucaí.Osautores, retomandouma idéiaanteriormentepropostapor Junqueira,aventamapossibilidadedospoucosfragmentosTupiguaraniencontradosnaregiãocalcáriateremvindodefora.

Nesta região foi evidenciadouma estrutura funerária, o vasilhamede ombro escalonadopintado continhaalgunsdentesefragmentosdocrâniodeumjovemadulto,eaindapotesmenores,colardecontasdepequenosseixos,boladeargilabranca(talvezcaulinita),plaquetasdexistoehematitatrabalhadas,alémdeduaslâminasdemachadospolidos,completavamoenxovalfúnebre(Prous,Baeta,Rubiolli:2003:98).

VI - Vale do Rio DoceMédio curso do rio DoceNaregiãoLestedeMinasGerais,naBaciadoRioDoce,aequipedoMHNJB/UFMGemparceriacomaUHE/

Aimorés identificouquaseduasdezenasde sítios Tupiguarani, localizadosnosmunicípiosde Ituêta,Resplendor eAimorés(Baeta&Alonso,2004).Dentreossítios,dezesseteestãosituadosemmeiaencostadecolinasuavepróximosacursosd’água,havendo,noentanto,doissítiossituadosemtopodemorrosdeencostaabrupta(videartigonestevolume,Panachuk&alii),localincomumdeocupaçãodestesceramistas.

Entreossítioslocalizadosemmeiaencostadecolinasuaveforamexumados5.265cacos,dosquais80%nãoapresentadecoração,11%comdecoraçãoplásticae9%comdecoraçãopintada.Osfragmentosdecoradossomam860cacos,destetotalapredominânciaédostiposcorrugado(40%),seguidodemodalidadespintadas(25%)eunguladas(14%),sendoescassosospadrõesestriados,escovados,acanalados, incisos,digitados,ponteados,digitunguladosemarcadoscomcestaria(entre1e2%,cadaum).

Emrelaçãoaossítiossituadosemtopodeelevaçãoomaterialcerâmicosoma1.932cacosdosquais70%semdecoração,11%comdecoraçãoplásticae19%comdecoraçãopintada.Apredominânciaédefragmentospintados(63%),seguidosdospadrõesacanalados(17%),corrugados(10%)eungulados(8%);fragmentoscomdecoraçãoincisa,ponteada,escovadaedigitadasãomaisraros(nãochegamaatingir1%cadaum).

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Osfragmentossemdecoraçãoapresentam,nasduasformasdeocupaçãodapaisagem,predominânciadetemperodegrãosfinos(<1mm)dequartzo.

A técnica utilizada para a manufatura dos potes foi o acordelado havendo também a presença de objetosconstruídospelatécnicadamodelagem.

Foramexumadastrêsestruturasfunerárias.Aprimeiradelasenvolviadoispotes,umpiriformecomdecoraçãocorrugadautilizadacomournae,outroelípticoduplamentecambadocomdecoraçãoungulada,queserviadetampa,somentealgunsdentesforamencontradosnaurna.Asegundaoutraestruturacontavaexclusivamentecomumpoteelíptico,duplamentecambado,comdecoraçãoungulada,inteira,semnenhumoutrovestígioarqueológicoassociado.Eaterceiraenvolviasomenteumatigelapintadanafaceinterna.

VIIAlto curso do Rio DoceNomunicípiodeMutum(altocursodoRioDoce)foramlocalizados4sítiosTupiguaraniacéuabertodurante

processoinicialdeprospecção.Trêsdelesestãolocalizadosemmeiaencostadecolinasuave,oquartoaparecendoemtopodemorroabrupto.Ossítiosocupamáreasquevariamentre200m²ecercade44.000m²,estãosituadospróximosaosafluentesdo rioDocecomooRioSãoManoele ribeirõesmenores.Umdos sítiosapresentaumamanchade‘terrapreta’eduaspossíveisestruturasfuneráriasforamlocalizadasemdoisdestessítios.Omaterialcerâmicodestemunicípioaindanãofoianalisado,masgostaríamosdechamaraatençãoparaapresençadeumapliqueantropomorfolocalizadonestemunicípio(videartigonestevolume,Panachuk&Carvalho).

VII - Vale do Paraíba do SulNaBaciadoRioParaíbadoSul(ZonadaMata),aspesquisasforaminiciadasrecentemente,estandosuaanálise

aindaemcurso.AnaPauladePaulaeÂngeloAlvesCôrreaapresentaram,duranteoXIICongressodaSociedadedeArqueologiaBrasileira(2003),osprimeirosresultadosobtidoscomaanálisede1sítio,localizadonomunicípiodeSãoJoãoNepomuceno.OsítioestálocalizadoemtopodemorroabruptoefoiatribuídoàTradiçãoTupiguarani.Omaterialcerâmicoincluifragmentospintados(engobobranco/linhasepontospretos)comdiversospadrõesaindabemconservadosefragmentoscomdecoraçãoplástica(corrugado,ungulado,inciso,escovado).Alémdestematerialfoievidenciadamodelagemzoomorfa,bordacomapliqueealças.Segundoosautores,ossítiosapresentam‘terrapreta’e uma possível estrutura de queima de instrumentos cerâmicos composta por “lítico, cerâmica, restos de argila efragmentosdevasilhamesnãoqueimados,podendotratar-sedeumespaçodeproduçãodecerâmica”(2003:118).

Kneip&Crancio(2003)apresentaramosresultadosobtidosnaanálisedeumsítioacéuabertolocalizadonomunicípiodeLeopoldina,emtrabalhodesenvolvidoem1997.Osítio,FazendaVargemLinda,estásituadoemtopodecolinadeelevaçãosuave,próximoàmargemdoRioPardoeapresentamanchadeterraescura, tratando-sedeumaunidadehabitacionalcom24m2²(6x4m).A“casa”teriaformatoovalecomportaria,emsuaextensão,umfogão(30x40cm)comargilacompactada.Osfragmentossão,emsuagrandemaioria,corrugados,e,menosabundantessãooscacospintados,entalhados,unguladosedigitungulados.Somenteumavasilhapintadafoireconstituídanestesítio;asoutrasmorfologiasnãoforamidentificadasdevidoàgrandefragmentaçãodoscacos.

Características gerais:a Tradição Tupiguarani em Minas Gerais NoatualestadodeMinasGeraisforamlocalizados,atéopresentemomento,maisde50sítiosarqueológicos

atribuídosàTradiçãoTupiguarani, commaterialcerâmicocomputadoemmaisde24milcacoscerâmicosanalisados.

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Aextensãomédiadossítiosestáentre5e15.000m2²eopacoteocupacionalgiraemtornode20cm,e,emcasodeenterramentopodechegara1mdeprofundidade.Amaioriadossítiosconhecidosestãolocalizadosemmeiaencosta de colina suave, havendo casos de ocupação de topos de morros abruptos (Bacia do Rio Doce, Parnaíba do Sul)emesmodecavernaseabrigosnasregiõescásrticasocupadas(BaciadoRioSãoFranciscoeRiodasVelhas).

Emrelaçãoaomaterialcerâmicoatécnicademanufaturautilizadafoioacordeladoparaaconstruçãodopote.Encontramos casospontuais deutilizaçãoda técnicadamodelagememapliques figurativos, alças e instrumentosdiversoscomotrempesecontasdecolar.EstasmodelagensocorremnabaciadorioGrande(municípiodeAndrelândia),ParnaíbadoSul(SãoJoãoNepomuceno),Doce(ItuêtaeMutum)enoMucuri(CarlosChagas).

Atexturageraldomaterialéregular,comdurezavariandoentre3e3,5naescalaMohsequeimaredutoracentral.Otratamentodesuperfícievariaemrelaçãoàmorfologiaeaotratamentodecorativoqueserádadoaovasilhame.Notamosquehámaiorinvestimentoderegularizaçãoeacabamentodasuperfíciequandoopoteiráreceberpadrõespintados.Istopodeculminarcomapreparaçãosuperficialatravésdabarbotina(BaciadoRioParanaíbaeRioDoce).

Emtermosquantitativosparecehaverumaconstânciapercentualentreostiposnasdiversasregiõesanalisadas(Figura6).EmrelaçãoàbaciadoRioDoce (Fig.6a)apequenadiferençaquantitativamarca tambémumagrandediferençanaocupaçãodapaisagem,sítiosdetopodemorroeemmeiaencostadecolinasuave.JánaBaciadoRioGrandeparecehaverumacontinuidadeentreumgrupodesítioseoutro(Fig.6b).QuandoàBaciadoRioParanaíbaedoSãoFranciscoháumamaiorquantidadedefragmentoscerâmicosdecorados(Fig.6c/6d).Seriafrutosomentedeumamaiorpreservação?

QuandoanalisamosomaterialporregiãonotamosquenasregiõesOesteeNortedoestadodeMinasGerais,ondeaocupaçãoTupiguaraniparecetersidorápida,omaterialdecoradoémaisabundantequenasregiõesSuleLeste,ondeteriamtidoumaestadiamaisestáveleduradoura(Figura7).

Acreditamosqueestaocupação se relacioneaoqueconhecemoscomoTupinambá, vistoqueémuitomaissemelhanteàsformasedecoraçãotípicasdolitoral,emboratenha,emalgunscasos,elementosGuarani.Aimplantaçãode forma tão esparsa e rara neste território tão amplo nos leva a aventar a possibilidade de que tal grupo tenhaencontradocertadificuldadeemocuparoespaço, talcomo foi sugeridoporSchmitz&BarbosaparaaocupaçãodoestadodeGoiás.Emgeralaocupaçãodestaáreapareceserelacionaraumaocupaçãomaisrecente,decontatoindiretocomocolonizadorbranco.

Parece ter havido pouca implantação deste grupo ceramista na região do vale do rio São Francisco e do rio das Velhas,emumaevitaçãodeáreascársticasemgeral.OmesmoocorrenaregiãodorioAraguarinoTriângulomineiro(valedoParanaíba).

As regiõesgraníticascomresíduosdeMataAtlânticacomonovaledo rioGrandeeRioDoceparece teremsidoalvodeocupaçõesmaisestáveiseintensas,éjustamentenestasregiõesondeapareceomaiornúmerodesítiosconhecidos.AregiãodorioDoce,inclusive,guardacertassemelhançascomafase Cricaré da Tradição Tupiguarani definidaporPerotaparaonortedoEspíritoSanto,novaledomesmorio.Nossítiosdestasduasregiõesaparecemblocosdepedraeasbolasdeargilamodeladasqueoautorassociaaoprocessodequeimadacerâmica.Nestaregião,emboranãocontemoscomdataçõessuficientes,adiferençade localizaçãodossítios (emmeiaencostae topodemorro)podeimplicaremdoismomentosdistintosdeocupação.Nestesentidoossítiosdemeiaencostadecolinasuavepoderiamestarrelacionadosaumaocupaçãomaisantiga,anterioraocolonizadoreuropeu.Enquantoossítiosdetopopodemterligaçãocomumprocessomigratóriodiferenciadopreocupadoemevitarocontatocomobranco.Mas,aausênciadedataçõeseadegradaçãodeváriossítiosnosimpededeinferiralgomaispreciso.

Na região da Zona da Mata, na bacia do rio Parnaíba do Sul os sítios, em geral, apresentam mancha de terra preta epossíveisestruturasdequeimadecerâmica,oquenosremeteaoqueconhecemosnaregiãodoRiodeJaneiro.

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Figura 6, feita por A. Carvalho, do MHNJB/UFMG

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A região Nordeste de Minas Gerais, nas bacias do rio Jequitinhonha e Mucuri, é pouco conhecida até o presente momentoparainferirmosqualquerocupaçãopoisnossasinformaçõessãoesparsas.

Conclusão Geral

OtextoaquiapresentadodeveserentendidocomoumacontribuiçãodosautoresàtarefademelhorcaracterizaraTradiçãoTupiguaraninaRegiãoSudestedoBrasilefornecersubsídiosparaqueamesmasetornecadavezmelhordefinidaemterritórionacional.

ExisteumafalsasegurançaemrelaçãoaestaTradição,oquelevamuitosautoresasimplesmenteidentificarcomovinculadosaela,sítiosemquefaltamelementosdiagnósticosbásicos.Paratantosevalemdaocorrênciadedecoraçõesque, apesar de típicas, não são exclusivas da Tradição, como a pintura, o corrugado ou mesmo o escovado, técnicas oupadrõescomunsaoacervodemuitasoutrasTradições.Poroutrolado,tambémamorfologiadoseuvasilhame,detãotípicos,jáserviramparaidentificarcomoTupiguarani,sítioscomcerâmicaexclusivamentesimples,semqualquertipodedecoração.

TaiserrossãomaisrarosquandosetratadematerialvinculadoaqualqueroutradasgrandesTradiçõesArqueológicasBrasileiras,que–paraseremdevidamenteidentificadas–exigemdetalhamentosmuitomaisprofundos,comoaclaraidentificaçãodatecnologiadefabrico,morfologiadovasilhame,decoraçõesdominantese–numnívelmaisamplo–a

Figura 7, feita por A. Carvalho, do MHNJB/UFMG

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inserçãoespecialeorelacionamentocomomeioambientecircundante.É,pois,deseesperar,quetaiscuidadossejamomínimoexigidoparaotratodestematerialquerepresentao

testemunhodeumpovoquecolonizounossoterritórioemtalextensãogeográfica,queseconstituiumadasmaioressagashumanas,comparáveisàsgrandesmigraçõeshistoriadasnoVelhomundo.Acrescente-sequeporondepassaramdeixaramvestígiosidentificadores,tantonoacervomaterializado,quantonadifusãodeidéiasetécnicasque–depovoparapovo,edegeraçãoparageração–chegaramaonossocotidianoepersistemaindahojeentrenós.

E, também,queestevolume,emseu todo,contribuasignificativamentenosentidodeaprofundarosestudossobreosTupiguarani,colocando-osnumpatamardeexcelênciaque,porsisó,afastedesiaselucubraçõesfantasiosaseosdevaneiosdeterministas,difusionistasoudequaisquercategoriasquetantooconfundiramnasúltimasdécadasdoséculopassado.

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Bibliografia citada (Rio de Janeiro) Beltrão,M.C.C.&Kneip,L.M.1969–EscavaçõesEstratigráficasnoEstadodaGuanabaraAnaisdoTerceiroSimpósiodeArqueologiadoRiodaPrataesquisas,Inst.Anch.Pesquisas,SãoLeopoldo,Antrop.20:101-112Brochado, José Proença1984–Anecologicalmodelof thespreadofpotteryandagricultureintoeasternSouthAmericaPf.D.Dissertation.UniversidadedeIllinois,Dept.deAntropologia.Urbana-Champagne1989–AexpansãodosTupiedacerâmicapolicrômicaamazônicaDédalo,SãoPaulo,27:65-821991–UmmodeloecológicodedifusãodecerâmicaedaagriculturanolestedaAméricaLatina.Clio,SérieArqueológica,Recife,UFPr.NºExtraord.4:85-88Brochado,J.P.etalii1969–ArqueologiaBrasileiraem1968Pub.Av.MuseuParaenseEmílioGoeldi,Belém,Pará,Buarque,Ângela1996–AculturaTupinambánoEstadodoRiodeJaneiroIn:MariaCristinaTenório,organizadora.“PréHistóriadaTerraBrasilis”EditoraUFRJ,RiodeJaneiro,307-320.1999–UmaAldeiaTupinambáemMorroGrandeSociedadedeArqueologiaBrasileira,SAB.AnaisdaVIIIReuniãoCientíficaCol.Arqueologia.EDIPUCRS,Volume2:207-220,Crâncio,Filomena1987–OcorrênciadecerâmicanacamadasuperiordosambaquiZéEspinhoIn:LinaKneip,coordenadora:“ColetoresePescadoresPré-históricosdeGuaratiba”.RiodeJaneiro.Ed.UFRJ&EDUFF,RiodeJaneiroDiasJunior,O.F.1967–NotasPréviassobrepesquisasarqueológicasnoEstadodaGuanabaraeRiodeJaneiro.PRONAPA,ResultadosPreliminaresdoPrimeiroAno,1965-66.Pub.Av.Mus.ParaenseEmílioGoeldi,6:89-100.1968–OGB-3Gentio:umsítiocariocaBoletimdoServiçodeMuseus,DPHA-GB,1:5-121969–ResultadospreliminaresdosegundoanodepesquisasnoEstadodoRiodeJaneiro.PRONAPA,ResultadosPreliminaresdoSegundoAno,1966-67.Pub.Av.Mus.ParaenseEmílioGoeldi,10:119-129.1969–ConsideraçõesiniciaissobreoterceiroanodepesquisasnoEstadodoRiodeJaneiro.PRONAPA,ResultadosPreliminaresdoTerceiroAno,1967-68.Pub.Av.Mus.ParaenseEmílioGoeldi,13:143-159.1994/95–ConsideraçõesarespeitodosmodelosdedifusãodacerâmicaTupi-GuaraninoBrasil.SociedadedeArqueologiaBrasileira,SAB.AnaisdaVIIReuniãoCientíficaRevistadeArqueologia.Volume8:113-1322003–ITABORAÍ–PesquisasArqueológicasdeSalvamentoeseuContextoHistórico.ProjetoSAGÁSBoletimdoIAB,SérieMonografias,número3.DiasJunior,O.F.&CarvalhoE.T.1975–FaseBelvedere:umafaseTupiguaranidoEstadodeMinasGeraisBoletimdoInstitutodeArqueologiaBrasileira,RiodeJaneiro.Vol.7:5-17Kneip,LinaM.1978–ProjetoarqueológicosítiodeTrêsVendas,Araruama,EstadodoRiodeJaneiro.ColeçãodoMuseuPaulista,SérieEnsaios,SãoPaulo,USP,2:145-169Nóbrega,Pe.Manoel,S.J1931–CartasdoBrasil,1549-1560PublicaçõesdaAcademiaBrasileira,II-História,CartasJesuíticasI.Rio.SallesCunha,Ernesto1960-Afecçõesalvéolo-dentáriasemmandíbuladeaborígenedaIlhadoGovernador.RevistadoSindicatodeOdontologia,RJ,V.6,Nº7:13-18.Schmitz,P.Ignácio,SJ1999–OGuarani.HistóriaePré-HistóriaIn:MariaCristinaTenório,organizadora.“PréHistóriadaTerraBrasilis”EditoraUFRJ,RiodeJaneiro,285-291.

Bibliografia citada (Minas Gerais)BAETA,Alenice&PILÓ,Henrique.2003–ApresençaTupiguaraninomédiovaledoRioDoce -aspectospreliminaressobresuacerâmica. In:XIICongressodaSociedadedeArqueologiaBrasileira.(noprelo)CARVALHO,Eliana&CHEUICHE,Lílian.1975–PesquisasarqueológicasnaregiãodoMédioSãoFrancisco.In:BoletimdoInstitutodeArqueologiaBrasileira.RiodeJaneiro,v.7:21-52.CHYMZ,Igor.1995–ProgramadeSalvamentoArqueológico-AtividadesdoCentrodeEstudosePesquisasArqueológicasdaUniversidadeFederaldoParaná.Relatóriofinal-EstudosAmbientaisDIAS,Ondemar.1974–NotaspréviassobreaspesquisasarqueológicasemMinasGerais.In:PRONAPA,ResultadosPreliminaresdo5ºAno,1969-1970.Belém,MuseuParaenseEmílioGoeldi,PublicaçõesAvulsas,nº26,pp.105-116.1975–Pesquisasarqueológicasnosudestebrasileiro. In:BoletimdoInstitutodeArqueologiaBrasileira,SérieEspecial.RiodeJaneiro,v.1,pp.3-21.DIAS,Ondemar&CARVALHO,Eliana.

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1982–AfasePiumhí:seureconhecimentoarqueológicoesuasrelaçõesculturais.In:CLIO.Recife,UniversidadeFederaldePernambuco,v.5,pp.5-43.DIAS,Ondemar;CHEUICHE,Lilian&CARVALHO,Eliana.1975–FaseBelvedere:umafaseTupiguaranidoEstadodeMinasGerais.In:BoletimdoInstitutodeArqueologiaBrasileira.RiodeJaneiro,v.7:5-17.HURT&BLASI.1969–OprojetoarqueológicoLagoaSanta,MinasGerais,Brasil.In:ArquivosdoMuseuParaense,N.S.Arqueologia.Curitiba,v.4,pp.1-63.JUNQUEIRA,Paulo&MALTA,Ione.1981–Horticultoreseceramistaspré-históricosnonoroestedeMinasGerais.In:ArquivosdoMuseudeHistóriaNaturaldaUniversidadeFederaldeMinasGerais.BeloHorizonte,v.6/7,pp.275-287.(Atasda1ªReuniãoCientíficadaSociedadedeArqueologiaBrasileira)KNEIP,Lina&CRANCIO,Filomena.2003–OsítiocerâmicodaFazendaVargemLinda-Leopoldina/MG.In:RevistadaSociedadedeArqueologiaBrasileira, v.12/13:93-102.MEGGERS,Betty&MARANCA,Sílvia.1980–UmareconstituiçãoexperimentaldeorganizaçãosocialbaseadanadistribuiçãodetiposdecerâmicanumsítiohabitaçãodatradiçãoTupiguarani. In:Pesquisas,SérieAntropologia.SãoLeopoldoEditoraInstitutoAnchietanodePesquisas,v.31,pp.227-247.LAMING-EMPERAIRE,PROUS,MORAES&BELTRÃO.1974–GrottesetabrisdelaregióndeLagoaSanta,MinasGerais,Brésil.Cahiersd’Archéologied’AmeriqueduSud.Paris,nº1.PANACHUK,Lílian.2004–FragmentosdaTradiçãoTupiguarani(MinasGerais/Brasil)MonografiadebachareladoapresentadanocursodeCiênciasSociais/FaculdadedeFilosofiaeCiênciasHumanas/UFMG.2003–TradiçãoTupiguaraniemMinasGerais.PainelapresentadoduranteoXIICongressodaSAB.PEROTA,Celso.1969/70–ResultadospreliminaressobreaarqueologiadaregiãocentraldoestadodoEspíritoSanto.In:PRONAPA,ResultadosPreliminaresdo5ºano,1969-1970.Belém,MuseuParaenseEmílioGoeldi,PublicaçõesAvulsas,n.º26:127-140.1971–Dadosparciaissobreaarqueologianorteespírito-santense. In:PRONAPA,ResultadosPreliminaresdo4ºano,1968-1969.Belém,MuseuParaenseEmílioGoeldi,PublicaçõesAvulsas,n.º15,pp.149-162.PROUS,Andre,BAETA,Alenice,PANACHUK,Lílian,ALONSO,Márcio.2003–Os sítios Tupiguarani “Florestal” I e II (Ituêta, Vale do Rio Doce, MG).In:XIICongressodaSociedadedeArqueologiaBrasileira.(noprelo)PROUS,André;BAETA,Alenice&RUBIOLLI.2003–OpatrimônioarqueológicodaregiãodeMatozinhos.Conhecerparaproteger.PROUS,Andre;BRITO,Marcos&ALONSO,Márcio.1994–AsocupaçõesceramistasnoValedoRioPeruaçu.In:RevistadoMuseudeArqueologiaeEtnologia.SãoPaulo,UniversidadedeSãoPaulo,v.4,pp.71-94.PAULA,Ana&PESSOA,Ângelo.2003 – A cerâmica do Sítio Primavera - São JoãoNepomuceno/MG In: Resumos doXII Congresso da SAB. SCHMITZ, Ignácio&BARBOSA. S/d.–Horticultorespré-históricosdoEstadodeGoiás.UNISINOS.SãoLeopoldo,RS.Estetextointegrariao7ºvolumedaSUMAETNOGRÁFICA.WALTER,Harold.1958–Apré-históriadaregiãodeLagoaSanta(MinasGerais).BeloHorizonte:OficinasGráficasdaPapelariaeTipografiaBrasilVelloso&ciaLtda(ediçãobilingüe-português/inglês)

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Considerações sobre a distribuição das sociedades tribais de filiação lingüística tupi-guarani no Estado de São Paulo

Maria Cristina Mineiro Scatamacchia1

IntroduçãoApropostadesteartigoéfazeralgumasconsideraçõessobreaposiçãoqueocupaoterritórioqueconstituihojeo

estadodeSãoPaulo,nadistribuiçãoespacialdassociedadestribaisdefiliaçãolingüísticatupi-guaranieportadoresdatradiçãoceramistahomônima2.EstaremosconsiderandodentrodatradiçãoceramistaadivisãoentreGuaranieTupi,identificadatantonocontextohistóricocomonoarqueológico.Estesgrupos,quedominavamacostadoBrasilnomomentodachegadadoseuropeus,tiveramosseushábitosecostumesdescritosdesdeoprimeirodocumentooficial,quefoiacartadePeroVazdeCaminha.3TodasascrônicaserelatosdeviagemdoséculoXVIdescrevemecomentamsobreeles,demaneiramaisgenéricaoudetalhada,sendoqueestasinformaçõesserviramdebaseparaaelaboraçãodaimagemsobreestespovoadores.SãoexatamenteestesrelatosquemencionampelaprimeiravezadiferençaobservadaentreaspopulaçõessituadasentreonorteeosuldoatualEstadodeSãoPaulo.

Apesquisaarqueológicarealizadacomumaperspectivacientificaesistemáticaidentificounadécadade60apresençadeumatradiçãocerâmicacomocorrênciaespacialsemelhanteàqueladescritanadocumentaçãotextual,iniciando assim as primeiras considerações sobre a distribuição espacial e cronológica destes grupos (PRONAPA,1969)

Odesenvolvimentodeestudossobreotemalevouaumamelhoridentificaçãodasdiferençasexistentesdentrodoquadroquefoiinicialmentedefinidodemaneirahomogênea(Brochado,1984;Scatamacchia,1981,1990),comapropostadeuma terminologia funcionalbaseadanas informações etnológicas (Noelli,1993; Soares,1997).Nestesentido,iniciamosumprogramadepesquisaarqueológicanolitoralsuldeSãoPaulo,tendocomohipótesedetrabalhoaregiãotersidoumaáreadefronteiraentreTupieGuarani(Scatamacchia,1990)4.

Acompreensãodesteproblemaaindaestálongedetersidoatingida,maspareceimportantenomomentoanalisaralgunsdadosexistentesquepermitem,inclusiveumareflexãosobreapróprianoçãodeáreadefronteira.

Asistematizaçãoeaapresentaçãodosdadosetno-históricosearqueológicossobreaquestãopretendemcontribuirparaummelhorequacionamentodoproblemaeparaumaavaliaçãodadocumentaçãodisponível.

1 Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, Bolsista do CNPq2NãoestaremosentrandonestemomentoemmaioresconsideraçõessobreaterminologiadatradiçãoceramistadefinidanoâmbitodoProgra-maNacionaldePesquisaArqueológica(PRONAPA)em1969eostrabalhosposterioresqueprocuraramestabelecerasdiferençasdentrodestaprimeiravisãohomogênea(Brochado,1984;Scatamacchia,1981,1990)3AcartadePeroVazdeCaminhaconstituiumdocumentobásicodereferenciapoisasdescriçõessobreosindígenassãoanterioresaocontatocomoelementoeuropeuefornecemumquadroinformativopreciso,quepodeserusadocomoparâmetroparaassituaçõesposteriores.4OPrograma Arqueológico do Baixo Vale do Ribeira estásendorealizadocomoapoiodaFundaçãodeAmparoàPesquisadoEstadodeSãoPaulo(FAPESP).Ahipótesedeárealimiteoudefronteiraseestendetambémaoperíododacolonização,poisestandoaregiãonomarcodalinhadeTordesilhas,constituíaoquedeveriaseradivisãoentreoterritórioportuguêseoespanhol.

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Oenfoqueapresentadoaindaédescritivoeclassificatório,masconstituiabaseparaa interpretaçãoe futuraexplicaçãodadinâmicasocialdestesgrupos.Aaplicaçãodeumcritériode referênciaobjetivoparaadescriçãoeclassificaçãocerâmicapretendecriarumquadrodevariáveisquepoderádeterminarosignificadodefronteiracultural,como de ruptura entre determinados traços culturais ou de mescla entre eles5.

A existência de uma área de fronteira: informações etno-históricas

OlitoraldeSãoPaulopossuiinformaçõestextuaiscontidasemobrasgeraiseemalgumasespecíficas,sendoqueemquasetodaselasascitaçõessãocoincidentes.

Orelatomaissignificativo,referenteaolitoralnortedeSãoPaulo,foifeitoporHansStaden,queaprisionadopelosTupinambá,porvoltade1554,permaneceentreelespornovemesesemeio,podendoacompanharumamplociclodeatividadesdogrupo.Éaprimeiradescriçãodetalhadadosusosecostumesdealguémqueconviveudiaadiacomosindígenas.

Ocomentáriofeitonotextosobreopovoamentomencionaafronteiraculturaquepodeserobservada:“Os portugueses que aí moram são amigos de uma tribu de selvagens brasileiros, os tupiniquins, cuja região se

estende em oitenta milhas para o interior da terra e quarenta ao longo da costa. Ao norte e ao sul habitavam inimigos desta tribu. Os inimigos ao sul são os carijós, os do norte chamam-se de tupinambás” (Staden,1972:.72).

Gabriel Soares de Souza, no TratadoDescritivo do Brasil , de 1587, dá uma descrição semelhante sobre opovoamentodacosta:“Já fica dito como os tamoios são fronteiros de outro gentil, que se chamam guaianeses, os quais tem sua demarcação ao longo da costa por Angra dos Reis, e daí até o rio de Cananéia, onde ficam vizinhando com outra casta de gentios, que se chamam carijós. Estes guaianases têm continuamente guerra com os tamoios, de uma banda, e com os carijós de outra, e matam-se uns aos outros cruelmente....”(1587,1971:115)

InformaçãosemelhantepodeserencontradanaobradeFernãoCardim: “outra nação se chama carijó; habitam além de San Vicente como oitenta leguas, contrário aos tupiniquins de

San Vicente.....”( 1601,1978:123)Outrasfontespoderiamsermencionadascomprovandoumaposiçãoqueparececlara:deCananéiaparaosul

estavamlocalizadososcarijós,edeAngradosReisparaonorte,ostupinambásetamoios.Entreestasduasnaçõesestavamostupiniquins,cujoslimitesnãoestãobemdefinidosemvirtudedapoucainformaçãoexistentesobreestaárea,principalmenteparaaquelaquevaideItanhaenatéCananéia.6

AprovávelexistênciadeumlimiteentreTupieGuaraniapareceemoutrasobras,sendoquealgumasregiõessãoapontadascomoárealimítrofe.ParaMetraux(1949),“The Guarani were especially munerous in the Paraná and in the Province of Guairá. There were also countless settlements along the tributaries of Paraná river, the boudary between the Tupanakin and Guarani being approximately the Tiete river. The Guarani extend south to the province of Tape” (op.cit:70).

EstemesmoaspectoémencionadoporAyrosa(1967)quandoserefereàhipótesedeRecalde.“Traçando uma linha reta, diz este ilustre autor, entre Iquitos, do rio Maranhão, no Peru e a cidade de São Paulo, teremos ao sul a “ raça” Guarani, que preferiu a zona temperada e, ao norte , a “ raça” Tupi, que preferiu a zona tórrida”.

OpadreAnchieta,queportantotempoestevejuntocomosTupideSãoPaulo,comentaestadistinção.‘Alem

5Estamosdesenvolvendoalgunstrabalhosquevisamauniformizaçãodadescrição,análiseeclassificaçãocerâmica,tantonoqueserefereàdecoração(Marois,ScatamacchiaeDuran,1994)comoáforma(Scatamacchia,FonsecaePilon,2003).6Estanoçãodedivisãoentreosgruposindígenasquehabitavamacostaestápresenteemquasetodososautoresquedescrevemaregião.AlgunsautoresmencionamorioTiêteeoParanapanemacomolimites.OqueparecerelevanteéqueestafronteiraculturalestariasituadaemSãoPaulo,eorioRibeiraseriaalinhadivisórianolitoral.

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destes, há outra casta de índios grandemente disseminada por toda parte (a qual chamam carijós) em nada diferente destes no alimento, no modo de viver e na língua, todavia muito mais mansos e mais propensos às cousas divinas...” (1954:48).

ExaminadoestascolocaçõespodemosobservarqueaposiçãodoEstadodeSãoPaulosemprefoiapontadacomosendoaáreadelimite.Vamosverificardopontodevistaarqueológicoquaissãoosachadosecomoaregiãopodesercaracterizada.

O contexto arqueológico

Em um trabalho anterior ( Scatamacchia,1984), pudemos caracterizar as publicações arqueológicas sobre aocupação dos grupos portadores da tradição ceramista Tupiguarani noestadodeSãoPaulo,cujasituaçãoprocuramosatualizar neste artigo. Naquela ocasião procuramos sistematizar as publicações segundo três preocupaçõesfundamentais: trabalhosdescritivosdeachados isolados, relatosdeescavações sistemáticaseaquelesquebuscamumainterpretaçãomaisamplaerespostasparaproblemasteóricos.Aatualizaçãodosdadosmostrouumaumentodepublicaçõesrelacionadascomaarqueologiadesalvamentooucontrato,comausênciadetrabalhosdesíntesequealterassemdealgumaformaopanoramaconhecidosobreoestado.

Ostrabalhosmaisantigosreferem-seàachadoscasuaiscomoodeKrone(1914)paraovaledoRibeiraedePereiraJr(1965)paraolitoraldePeruíbeecapital.Entretanto,estaspublicaçõesaindaconstituemumareferênciaimportante,poisestãorelacionadasàáreasqueatualmenteestãointensamenteurbanizadas,sendoimportantestambémnoqueserefereaoestudodeformasedecoraçõespoisapresentampeçascompletas,quepoucasvezestemsidoencontradasemescavações.Outraspesquisasrealizadasnolitoraldoestadotiveramocaráterdesalvamento(Myasaki,1976;Uchoa,ScatamacchiaeGarcia,1984),sendoqueumtrabalhocomparativosobreossítiosdecontatoprocuroucaracterizarasituaçãodossítioslitorâneos(ScatamacchiaeUchoa,1993).

QuasetodaazonalitorâneadeSãoPauloestáintensamenteimpactadapelaurbanizaçãoecomexceçãodolitoralsul,poucoslocaisoferecemalgumpotencialparaapesquisaarqueológica.OPrograma Arqueológico do Baixo Vale do Ribeira,queestamos realizando, tementreos seusobjetivoso levantamentodos sítioseacaracterizaçãoculturaldassociedades tribaisdehorticultoresceramistas.Comoatéomomentoaspesquisasseconcentraramnasáreasquecorriammaiorriscosdedestruição,porseremasmaispovoadasecomprojetosdeimplantaçãoimobiliária,ossítiosidentificadosseencontramtotalouparcialmentedestruídos.

Valeapenafazerumpequenocomentáriosobreafragilidadedestesregistrosarqueológicosemáreaslitorâneas.Ossítiosestãosobresoloarenoso,possuindoumacamadadeocupaçãoquenãoultrapassaos40cm,oquesignificaquequalquerinterferêncianasuperfícieacabadestruindoamaiorpartedasevidências,nãoapenasdeartefatos,mastambémdasmarcaseoutrasintervençõesnoambientequepodemajudarainferiraestruturadaaldeia.

Comoamaiorpartedomaterialencontradoequeconstituiodiagnósticoculturaldestesgruposéacerâmica,énelaquevamosconcentraracaracterizaçãodaocupaçãonoestado.Estaremosapresentandoasformascompletasrecuperadas7 eospadrõesdecorativospintados,umavezqueasoutrastécnicasdecorativasacromáticas,comoocorrugado,unguladoeescovadonãosãoexclusivasdestesgrupos.Apostamosnapossibilidadedeidentificaçãodeaspectosregionaisrelacionadosaosdesenhos.Oprincípioderelacionamentodoselementosgráficosentresiéumdadoparticularepodeservirdeparâmetroparacomparaçõesedivisõesentreosgruposfalantesdafamílialingüísticatupi-guarani.

7Asformasreconstituídasapartirdefragmentosnãoforamconsideradas.Aquelesfragmentoscujotamanhopermitevisualizaraformadoobjeto,foramcomputadosnocontextogeral.

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No litoral sul, nobaixo valedo rioRibeira,Krone (1914) já tinhamencionadoachados casuais dematerialcerâmico,assimcomournascomenterramento.AprópriacidadedeIguapefoiconstruídosobreumaantigaaldeiaindígena, fatocomprovadopelaocorrênciaemvárias ruasdoperímetrourbanode fragmentoscerâmicoseoutrosartefatosdeorigemindígena.EmtodobaixocursodorioRibeirafoipossívelidentificarsítioscerâmicos,juntoaosprincipaisafluentes.8OssítiosrelacionadosaestesgrupospodemserencontradosdacidadedeEldorado,rioabaixo.

OssítiosestãolocalizadosempequenaselevaçõesjuntoaosafluentesprincipaisequandoestãoaolongodoMarPequeno,situam-sepróximosàsformaçõescristalinasdobaixovale.Comoaindanãoforamrealizadasescavaçõesextensivasnaárea,eemapenasumdossítiosfoipossíveldetectarasmanchasdeantigashabitações,deformaelípticaecom9mnoseudiâmetromaior.Nosoutros,omaterialfoievidenciadocomoconseqüênciadeatividadesantrópicaseotrabalhofoirealizadoemcondiçõesdesalvamento.

OssítioslocalizadosaolongodoMarPequenoapresentamevidênciasdecontatocomoeuropeu,pelapresençademetal,contasdevidroalémdetraçosdeaculturaçãonacerâmica.

ApresençadestesgruposnolitoralcentralémarcadaporvestígiosisoladosemPeruíbe(PereiraJr,1968)eporumsítiosobredunasemPraiagrande(Myasaki,1977).

Nolitoralnorte,osítioItaguá(Uchoa,ScatamacchiaeGarcia,1984)foiumsítioescavadodemaneiraextensivaeapresentacaracterísticasdeassentamentosemelhantesàquelasmencionadasanteriormente.Possuiumcomponentedeocupação,tendomaterialeuropeuassociado.

Podemos colocar como uma característica do litoral paulista a presença de grandes pratos e tigelas, com pintura internaempretoevermelhosobreengobiobranco,combocaredondaovalequadrangular.Osgrandesvasos,comevidênciadere-utilizaçãocomournastambémestãopresentes,comdecoraçãopintadaecorrugada.

Asdatasobtidasparaolitoral foramrealizadasemdoissítios,queindicamumaocupaçãocontemporâneaàchegadadoelementoeuropeu.Estefatopodeserconfirmadopelaexistênciademateriaisestranhosàculturaindígena,comocontasdevidroepeçasmetálicas.

Estascolocaçõessãoapenasconsideraçõessobreomaterialqueexistepublicado,mastemosconsciênciaqueestequadroapresentadoestá longedecorresponderà realidade.Umabuscasistemáticadeacervodepositadoempequenasinstituiçõesecomparticulareséumatarefaquenecessitaserfeitacomurgênciaparaaformulaçãodeumpanoramamaispróximodarealidade.9

OsentidodefronteiraentreassociedadestribaisA análise da cerâmica como um meio de identificar as diferenças regionaisCulturamaterial-linguaeetniaO panorama no interior pode ser visto examinando os principais rios que cortam o estado e sobre os quais

existeminformaçõesmaisconsistentes:oParaíba,oParanapanema,oTietêeoMogi-Guaçu.Emrelaçãoaoutrosrios,comoAguapeíeoFeio,existeminformaçõespontuais(Miller,1972).OsriosParanáeGrandecujasbaciaslimitamooesteenortedoestadotambémnãoapresentamumacorrelaçãoculturalclaraentreasocorrênciasevidenciadaseoseupapeldedivisordeáguasedepopulações.

OrioParaíbaconstituiumcorredornaturaldecomunicaçãoentrediferentesregiõese foiutilizadocomotalemváriosmomentoshistóricos.AinformaçãomaisantigasobreapresençadegruposTupinestaregiãoéorelatodeKnivet,quecomentanestaáreaapresençadostamoiosrefugiadosdolitoraldepoisdaslutasqueculminaramcomaexpulsãodefinitivadosfrancesesdoRiodeJaneiro.ExaminandoomapaelaboradoporReis(1974),construídoapartir

8Forampesquisadosprincipalmenteosafluentesdamargemdireita,sendoqueapenasumsítiofoinamargemesquerda,apenasnalocalidadedoJipovuraforamrealizadasprospecções.9Estamostrabalhandonestadireçãomaisaindanãotemosaavaliaçãoeasíntesedasanálisesrealizadas.Ac

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Exemplo de formas cerâmicas identificadas no litoral de São Paulo

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Padrões decorativos pintados identificados no litoral de São Paulo

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dasfontestextuaisdoséc.XVI,asposiçõesocupadasporgrupostupisnofinaldesteséculolimitavam-seàscabeceirasdorioParaíba,ondeestariamostamoiose,aindanoaltocurso,osMaramomis,antigoshabitantesdeSãoSebastião.Estesgrupos foramcontatosporKnivetem1597,naviagemque fez saindodeUbatubaeatravessandoovaledoParaíbaemdireçãoàserradaMantiqueira.

Entretanto, o vale do Paraíba não foi objeto de pesquisa arqueológica ampla e sistemática. As primeirasinformações se referemaachadoscasuais emSão JosédosCampos (Tibiriçá,1935,1939)enasproximidadesdeAparecidadoNorte,ondefoiregistradaumagrandequantidadedematerial,entreeles20urnas(César,1979).Maranca(1969)tambémidentificouapresençadestesgruposnasproximidadesdeAparecida.OsprimeirosvestígiosapareceramcomconstruçãodaEstradadeFerroCentraldoBrasil.AindanestemunicípioforamrealizadaspesquisasporScheuer(1957)10

As pesquisasmais recentes que identificaram a presença destes grupos estão relacionadas à arqueologia desalvamento e contrato, concentradas nomunicípiode Jacareí, sítio Pedregulho ( Scatamacchia, 1998) sitio SantaMarina(Robrahn-GonzalezeZanettini,1999).Nesteúltimotrabalho,foirealizadaumapropostadereconstituiçãodaaldeia.

Asdataçõesobtidasparaa região indicamaocupação no séculoXV (1400a1475 ) (Robrahn-GonzalezeZanettini,1999;Scatamacchia,1998)

No vale do Paraíba, a presença destes grupos não está definida,com evidências concentradas emalgunspontos,ondeforamrealizadaspesquisas. Foi identificada no vale,apresençadecerâmica da tradiçãoarqueológica Aratu, marcandono Estado a existência de gruposceramistas diferentes( Caldarelli,2001/2002).Oregistrodestatradiçãojá tinha sido feito no extremo norte( Pereira Jr.,1957), onde ela coexistetambém com a tradição dos grupos Tupi,assimentreabaciadoTietêedorioGrande(Maranca,1994).

Dopontodevistaarqueológicoa via fluvialmais conhecida é o rioParanapanema, que tem sido objetodeumamploprogramaarqueológico( Pallestrini, 1968,1969,1973,1974,1977,1979,1981-82;Vilhena,1975;Morais,1978, 1979,1981 ). Sãoprodutodesteprogramaarqueológicoalgumas das plantas de aldeias conhecidas no estado, decorrente das

10Apud.Bornal,W,IntroduçãoinRobrahn-GonzálezeZanettini,1999.

Formas do vale do Paraíba ( Tibiriçá,1935; César,1969; Scatmacchia,1998; Robrahn-Gonzalez e Zenettini, 1999)

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escavaçõesextensivasrealizadasnosprimeirosanosdesuaimplantação.

OrioParanapanemaestásendoconsideradocomodeocupaçãoGuaraninasuamargemparanaense,fatoatestado na documentação textual sobre a presença de comunidadesespanholasereduçõesaolongodesterio.AcontinuidadedosvestígiosarqueológicosfoiatestadaporChmyz(1977),quandocorrelacionaafaseCambarácom o material proveniente dos sítios escavados por Pallestrini(1968/69)eMaranca(1968)noladopaulista,alem de outras evidências isoladas como aquelasmencionadasporBaldus(1951)nafazendaIberaedosítioConceiçãonomédioTibagi(Nigro,1970).

Morais (1999/2000), querendo fugir do rotulo datradiçãotupiguarani,propôsoconceitode“sistemaregionalguarani” , pensando em uma análise regional e em umsistemadeocupaçãodosolorealizadoporestesgrupos.

Deste modo, o rio Paranapanema no sudoeste do estado de São Paulo pode constituir o limite norte da ocupaçãoguarani.

OpadrãodeestabelecimentoidentificadopodesercaracterizadoporumacitaçãodePallestrini(1978:16):

“Aldeias pré-históricas em ápices de colinas de suaves altitudes, correspondentes a comunidades que habitavam a região a 1.000 anos. Estas aldeias do Paranapanema ocupavam áreas de 150 x 150 m em média, com 8 a 10 choupanas de 10 a 12 m de diâmetro aproximadamente, estando os sepultamentos em urnas situadas entre as choupanas”

Em vários sítios puderam ser recuperadasmanchas de terra mais escura correspondentes àsantigashabitações.NosítioNunes (Pallestrini,1988),porexemplofoirecuperadaumaplantaparcialcomtrêsmanchasde15x12m,comcontornoovalado.

Ainda relacionada à ocupação da área doParanapanema, podemos mencionar as informaçõessobre estes sítios nas proximidades de Presidente Prudente(Kunzli,1987).

A situação de sítio com um único componentenão é o padrão que tem sido encontrado no âmbitodo Programa Arqueológico do Paranapanema. Nestesentido, podemos mencionar o sítio Lagoa São Paulo

Padrões decorativos pintados identificados no vale do Paraíba (Tibiriçá,1935; César,1969; Scatmacchia,1998; Robrahn-Gonzalez e Zenettini, 1999)

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(Palletrini,1974),quemostrouaconfiguraçãodeumaaldeiacom 13 manchas, posicionada entre dois níveis líticos.Outros sítios, como o Almeida e o Camargo (Pallestrini, 1976,1988) também são constituídos por mais de umaocupação.

OconjuntodealdeiasceramistaslocalizadasaolongodabaciadoParanapanemapodeserinseridoemumafaixatemporalemtornode1000antesdopresente.

NoplanaltodePiratininga,naatualzonaurbanadacapital foramevidenciadosvestígioscerâmicosemalgunsbairros , como Morumbi e Brás ( Pereira Jr., 1964,1967). Por se tratar de áreas intensamente urbanizadas osvestígios materiais recuperados não puderam ser associados

Padrões decorativos pintados identificados na região do médio Paranapanema (Chmyz e outros, 1968; Chmyz 1977; Palestrini, 1969, 1975; Nigro, 1970)

Formas identificadas na região do Paranapanema (aranca, 1968/69; lestrini,1969,1975,1976)

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Formas identificadas na região do médio Paranapanema (Chmyz e outros, 1968; Chmyz,1977; Pallestrini, 1969, 1975;Nigro, 1970)

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Padrões decorativos pintados identificados na região do médio Paranapanema (Chmyz e outros, 1968; Chmyz 1977; Palestrini, 1969, 1975; Nigro, 1970)

Formas identificadas na região da foz do rio Paranapanema (Chmyz, 1974, 1984; Blasi, 1961)

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Padrões decorativos pintados identificados na região da foz do Paranapanema (Chmyz, 1984)

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com as aldeias e aldeamentos existentes na região e relatados nos documentos do séc XVI ( Machado de Oliveira, 1846Drumond,1973)

Asinformaçõessãogenéricasesemilustraçãodomaterialencontrado11.

As referências publicadas, onde aparecem informaçõessobreacerâmicaencontradaestãorelacionadasàcidadedeSãoPaulo,especificamenteaobairrodoMorumbi (Pereira Jr.,1967).As pesquisas que estamos realizando no antigo aldeamentojesuítico de Barueri evidenciaram alguns fragmentos cerâmicoscomdecoraçãopintadaquepodemos associar comos padrõesencontrados no litoral, confirmando a origem dos indígenas aíaldeados12(ScatamacchiaeFranchi,2001/2002).

OrioTietê,querepresentaumadasmaisimportantesviasde comunicação do estado, saindo das proximidades da serra do Mar e atravessando todo o estado de São Paulo para ir desaguar norioParaná,nãotemaindatodooseucursoestudado.

No alto Tietê, a presença destes grupos foi registrada nabaciadorioCapivari,nosítioTapajós,emMonteMor(MyasaieAydai,1974)edeoutrosachadosnaregião(PereiraePazinatto,1982;Pazzinato,1983,1984).AindanaregiãodoCapivarioutrasevidênciasforamregistradas,nasfazendasGuarapirangaeBomRetiro,emMatão(Pallestrini,1975).

Na bacia do rio Piracicaba (Silva, 1967) identificou apresençadecerâmicadestatradiçãoemSâoCarlos,Piracicaba,ItirapinaeRioClaro.Comonestas localidades foramrealizadasescavaçõesparciais,nãoseconheceamorfologiadossítiosenãoforamdivulgadososdados sobreadescriçãoeclassificaçãodomaterialcerâmicoresgatado.

ParaomédioebaixovaledoTietêestáemdesenvolvimentoo Projeto Oeste Paulista de Arqueologia (Maranca 1994). Aspesquisasarqueológicastiveraminícionobaixovale,nadécadade70,emdecorrênciadaconstruçãodaUsinaHidroelétricadeIlhaSolteiranorioParaná.Nosanos80,aspesquisascontinuaramgraçasaoconvênioassinadoentreaCESPeaUniversidadedeSãoPaulo ( primeiro com o Museu Paulista e depois com o Museu

11Existeummaterialdispersoqueaindanãofoipossívelreunir,emdecorrên-ciadaperdadedocumentação,mudançadeinstituiçãoedificuldadedeacessodentrodosprópriosestabelecimentos12Deacordocomadocumentaçãotextual,estealdeamentoteriasidoconsoli-dadocomachegadade1500indiosvindodeCananéia,conduzidospelopadreJoãodeAlmeidaem1609.

Formas identificadas na cidade de São Paulo (Pereira Jr ,1967)

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Padrões decorativos pintados identificados na capital e entorno ( Pereira Jr.,1967; Scatamacchia e Franchi, 2004)

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de Arqueologia e Etnologia). Esta autora menciona algumas características dos sítios encontrados, sendo queaqueleslocalizadosnobaixovaledoTietê,entreosriosParaná,TietêeSãoJosédosDouradosapresentamgrandehomogeneidadenoqueconcerneaomateriallíticoecerâmico.Aqueleslocalizadosnamesmaáreadobaixovale,mais a leste apresentam características distintas, como por exemplo, uma maior variedade de técnicas de decoração domaterialcerâmico.

Aidentificaçãodeumaoutratradiçãoceramista,Aratu-Sapucaí,entreorioTietêeorioGrande,constituiumfatorimportanteparaoentendimentodadistribuiçãoerelaçãodestasculturas.

Asdatasobtidasnoâmbitodesteprojeto sãoasmaisantigasdesta tradiçãoparaoestado, sendoqueexisteumade232AC,quenomomentoédifícildiscutir,devidoàescassezdeinformaçõessobreosítioeomaterial,comotambémpelaausênciadeoutraspesquisasnasproximidades.

NovaledorioMogi-Guaçu,asevidênciassãoabundantes,sendodeGodoy(1946)asprimeirasinformaçõessobreossítioslocalizadospertodaCachoeiradasEmas,nomunicípiodePirassununga.Esteautordocumentoucomprecisãoospadrõesdecorativosencontradosnacerâmica,tantonaspeçascompletascomonosfragmentos.

OsítioCachoeiradeCima(FrancodeGodoy),situadonestevale,forneceuumadataçãodeC14de1550BP,o

Formas e padrões decorativos pintados identificados no vale do alto Tietê, rio Capivari (Pazinatto, 1982, 1984; Pereira e outros, 1982)

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queocolocariaemtornode400danossaera,fazendodestaocupaçãoestaocupaçãoumadasmaisantigasparaoestadodeSãoPaulo(Pallestrini,1981/82,1983)

Caldarelli(1983)indicaapresençadequatrosítioslocalizadosnomédioMogi-Guaçu,comomesmopadrãoverificadoemoutrasregiões,istoé,emvertentesdecolinassuaves,tendoobtidoparaosítioBomRetiroadatade924BP.

NovaledorioPardoforamidentificadas,juntamentecomasevidênciasTupi,outrasrelacionadascomatradiçãoAratu(CaldarellieNeves,1981).

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Formas identificadas no médio rio Grande/ rio Mogi-Guaçu ( Godoy,1946,1952;Tibiriçá,1935; Caldarelli, 1983;Pallestrini, 1983)

Padrões decorativos pintados encontrados na região do vale do médio rio Grande/ rio Mogi-Guaçu(Godoy,1946;Caldarelli, 1983)

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Formas e padrões decorativos pintados da região do rio Grande /rio Pardo (Pereira Jr.,1957; Dias e outros, 1975)

Mapa com as áreas de evidência de cerâmica relacionada às sub-tradições Tupi e Guarani

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Avaliando o conhecimento sobre o Estado de São Paulo

Analisandoomapacomadistribuiçãodapresençadegruposdefiliaçãolingüísticatupi-guaranieportadoresdatradiçãoceramistahomônima,podemosperceberinformaçõespontuaisepoucasáreascomextensacoberturadepesquisa.Apesardisto,algumasconsideraçõespodemserfeitasnosentidodecontribuirparaacompreenssãodesteestadocomosendoumaáreadefronteiraentretradiçõesculturais.

Vários projetos de enfoque acadêmico e outros relacionados à arqueologia de contrato e salvamento foramdesenvolvidosnestaúltimadécada,alterandoumpoucoopanoramalevantadoanteriormente(Scatamacchia,1990).

A presença de outras tradições ceramistas desconhecidas ou pouco percebidas no estado, começa a seresboçada dentro de um quadro mais claro sobre o processo de ocupação destes grupos e a sua relação com os Tupi eGuarani.

Nolitoral,ondeasinformaçõesetno-históricassãoabundantesericasparaoséculoXVI,oregistroarqueológicosofreuumaintensadestruição,cujadimensãonãotemoscondiçõesdeprecisarnomomento.Asinformaçõesexistentespara toda a costa paulista são pontuais, com um sítio estudado no litoral norte, achado isolado ou proveniente de intervençõesdesalvamentonocentro.Nolitoralsul,estasituaçãoestásendoalterada,comodesenvolvimentodoProgramaArqueológicodoBaixoValedoRibeira,decaráterregionalemultidisciplinar,queenglobaapesquisadassociedades tribais13.

Anossaproposta(Scatamacchia,1990)deexaminaradistribuiçãodacerâmicadetradiçãotupiguarani,pensandoemduassubtradições :TupieGuarani, sistematizandoos traçoscaracterísticosdecadaregiãoparaestabeleceroselementosdiagnósticosdediferenciação,nãopodeaindasercompletada.Mas,istonãosignificaquenãohouveumavançonaquestão.

Oconhecimentosobreoprocessodeocupaçãodolitoralcontinuaaindabaseadonas fontesetno-históricas,sendoqueosdadosarqueológicosestãosendoampliadoslentamente.AsinformaçõesdadasporCmyz(2002)reforçaumaposiçãoqueestamoscomeçandoadefinirno litoral sul. Istoé,umaampliaçãoparao litoraldosparâmetrosmencionados,comumadelimitaçãoquevaialémdolitoralsuldeSãoPaulo,eumareflexãosobreoconceitodeáreadefronteiraedelimite.

Nointeriordoestado,algumasregiões,comoovaledoParanapanema,aspesquisasrealizadasidentificamatradiçãoceramistaevidenciadacomosGuarani,definindoaposiçãodabaciadesterionoquadrodadistribuiçãodestesgruposnolesteamericano.Entretanto,aausênciadeconhecimentodeumaamplaregião,entreacalhadesterioeadorioTietê,impedemqueoParanapanemapossaserindicadocomsegurança,comoolimitenortedasubtradiçãoGuarani.

AdiferenciaçãoapontadaparaorioTietê entreomédioebaixocurso,aindanãopodemser tomadacomodefinitivaparaindicaresteriocomoograndedivisornointerior.

Apresençadeoutrastradiçõesceramistas,ItararénomédioealtoRibeira,AratunovaledoParaíbaenonortepaulista,precisasermelhorcaracterizada,assimcomoacorrelaçãotemporaleespacialdestesgruposcomosportadoresdatradiçãotupiguarani.

Asdataçõesabsolutasexistentes,nãosãoseqüênciasenãopossibilitamaconstruçãodeumquadrocronológicoeoestabelecimentodamovimentaçãodestesgrupos.

Estamosconscientesqueasinformaçõesaquiapresentadasnãorepresentamatotalidadedosdadosexistentes,

13Entretanto,apropostainicialdecaracterizaçãodaregiãocomofronteiraculturalentreTupieGuarani,nãopodeseraindaconcluída,poisasituaçãoderiscoqueseencontravaopatrimônioarqueológico,impôsaimplantaçãodeumprogramadeextensãoparagarantirasconservaçãodossítios.

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mas são os disponíveis e representam uma situação que pode ser tomada como representativa do conhecimento atual sobreotema.

São Paulo como fronteira cultural

A conceituação de área de fronteira ou de limite, pode apresentar uma caracterização particular para cadaregião, fatoquepode serconfirmadopelaanálisedeváriosestudosdecasoondediferentesgruposcompartilhamumterritório(GreenePerlman,1985).Nonossocaso,estamosnaverdadeprocurandocompreenderecaracterizarumasituaçãoquetemsidoapontadatantonadocumentaçãotextual,comonaarqueológica.Quandopensamosemfronteirapodemostercomoregistromaterialamudançabruscadetraçosculturaisouamescladeles.Nesteúltimocasoasituaçãoseriadeumaáreaatípicaemrelaçãoàcaracterizaçãodosgruposenvolvidos.

Oproblemadefronteiraemarqueologiaenvolveedefiniçãodetipoepadrão, istoé tipologiadeartefatosepadrãodeassentamento.Nomomento,os tiposdeartefatos estão definidosdemaneiramaisprecisado queosassentamentos,sobreosquaispossuímosapenasaspectosreferentesaoaspectomacro.

Asnoçõesdefronteiraelimitesãousadasparaestudarprocessosculturaisqueenvolvemocompartilhamentodeterritóriopordiferentesgrupossociais,istoé,amaneiraeporqueassociedadesentramemcontato.

Osestudosdefronteira14estãorelacionadoscomasáreasperiféricasdesociedadesparticulares,eascaracterísticasdosgruposqueocuparamoespaço,sendoqueoestudodelimiteexaminaasinteraçõesqueocorremnestassociedadesperiféricas(GreenePerlman,1985).Istoquerdizerqueestaremosconsiderandonãotodoocontingentedasub-tradiçãoGuaranicomodasub-tradiçãoTupi,masapenasaquelesgrupossituadosnaperiferiadasduasáreasdedistribuição.

No nosso caso o estudo de fronteiras está intimamente relacionado com as causas de expansão política eeconômicaanovosambienteseoefeitoemrelaçãoaossistemasecológicos.Adelimitaçãoeorespeitodasáreasdefronteirasdevetercomosuporteasregrasdoprópriosistematribal,assimcomoalimitaçãodosistematecnológico.

Pensandonasáreaslimites,atrocaéumfatordeanálisedograudeinteração,quepodeserobservadanocontextoarqueológicoatravésdapresençadetraçosculturaisestranhosaopadrãolocalouevidênciasdeaculturação.

NocasodosTupi,aguerra,asfestaseoritualantropofágico,relatadasnascrônicas,permitemalgumasinferênciassobreaexistênciademecanismosdemanutençãodosistematribal,demarcaçãodeterritórioesuamanutenção.

Aheterogeneidadedossítioseafaltadeumacronologiaabrangentemostramadificuldadenademarcaçãodasáreasnointerior.Masoquepareceimportantesãoasdiferençasapontadas,tantoemrelaçãoàssub-tradiçõesTupieGuarani,comoemrelaçãoàsoutrastradiçõesceramistas,queconfirmamSãoPaulocomoáreadefronteiracultural.

Acho que nestemomento podemos propor algumas reflexões sobre as possíveis fronteiras.A primeira delasserefereaumamudançanoolharparaestasdivisórias,quesempreforamcolocadascomolinhasretasseparandoterritórios.Asegunda,anecessidadedeumaidentificaçãoculturalecronológicadosgruposqueestavamnaperiferiadestasáreasdefronteiraeotipodeinteração.

Para o litoral, podemos propor uma mudança no panorama tradicionalmente aceito, de Cananéia ser o limite sul dosTupiniquim,sendoentendidoquenelaestavamosCarijós.Tendocomobaseinformaçõesetno-históricosde1555edadosarqueológicosprovenientesdabaíadeParanaguá,podemosfazerumanovaleitura,dequeoscarijósestavamaosuldeCananéia,pelomenosnestadata.

AdescriçãofeitanacartadeJoãoSanches,piloto-mordaarmadadeSanabrianesteperíodoaoreidaEspanha:....Na altura de vinte e cinco graus, trinta léguas da vila de São Vicente, está um bom que se chama Cananéia; está 14DopontodevistateóricoestamosdesenvolvendoalgumasconsideraçõessobreotemaparaservirdesuporteparaoprojetoqueestamosdesenvolvendonobaixovaledoRibeira,cujadiscussãonãocabenesteartigo.

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Mapa de distribuição das evidências relacionadas à ocupação dos grupos portadores das sub-tradições Tupi e Guarani. Em laranja as áreas relacionadas à ocupação dos grupos portadores da sub-tradição Tupi e em amarelo os da sub-tradição Guarani. A falta de informação sobre a área entre a bacia do Paranapanema e Tiete, não permite estabelecer o limite entre estas duas tradições. É importante salientar o aspecto hipotético deste mapa, baseado em alguns pontos e estendendo para a região a mesma ocupação. Este panorama deverá mudar com a inserção das outras tradições ceramistas que foram identificadas no estado, mas que ainda estão restritas a poucos pontos.

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povoado de índios que se chamam tupis, amigos dos portugueses. Si Vossa Alteza vier a estabelecer limites com os portugueses, que seja pelo dito porto de Cananéia...15.

OpróprioHansStaden(1971:56)confirmaestaposiçãomaisao suldosTupiniquins,quandodescrevea suachegada no porto de Superagui:

..Pelo escurecer veiu uma grande canoa cheia de selvagens ao nosso navio. Queriam falor-nos , mas nenhum de nós podia entender bem a sua língua. Demo-lhes algumas facas e anzóis, e eles se retiraram. Durante a noite aproximou-se de novo uma canoa repleta de homens, dentre os quase estavam dois portugueses, que nos perguntaram de onde vínhamos. Como lhes dissemos que vínhamos da Espanha, foram de opinião que devíamos ter um piloto hábil para assim termos chegado ao porto.........

O porto no qual nos achávamos, chamava-se Superaguí e devia ficar a cerca de 18 milhas distante da ilha de São Vicente, que pertencia ao rei de Portugal. Lá moravam eles, e a gente que nós tínhamos visto com o pequeno navio, fugira porque nos haviam tomado por franceses.

Perguntamo-lhes então a que distância ficava a ilha de Santa Catarina para a qual queríamos velejar. Responderam que poderia ficar a umas 30 milhas ao sul. La morava uma tribo de índios, que se chamavam carijós. Devíamos nos acautelar bem deles. Porém os selvagens da região de Speragui, onde nos achávamos, os tupiniquins, eram amigos, e deles nada tínhamos que recear.

AcolocaçãodeChmyz(2202),deestenderaáreadefronteiraparaParanaguá,combasenaanálisedomaterialarqueológicodaregião,confirmaadocumentaçãotextual.OmaterialdestaregiãopossuicaracterísticassemelhantesàquelesobservadosnolitoralsuldeSãoPauloenacapital.EsteautortambémchamaaatençãoparaalgumasdiferençasquepodemserobservadasentreomaterialencontradonoEstadodoParanáedealgunssítiosdeSãoPaulo.Resumindo,ascorrelaçõespropostasmostramanecessidadedeumarevisãodomaterialdisponível,frenteanovosdadosenovosenfoques.Conjuntoseregiõesclassificadosdemaneirahomogênea,talveznãoapresentemnarealidadeumafórmulatãosimplista.

Umalinhadefronteiraentregruposcomtradiçõesousub-tradiçõesceramistasquepodemseridentificadasporcercade2000anos,nãopodeserpensadadeumamaneiraestável,masdevesertratadadentrodeumprocessodemobilidadeaolongodotempo.

Acronologiaestabelecidaatéomomentoparaoestadoindicaumadataçãomaisantiganoanode250ac,sendoqueosdemaissítiosocorremapartirde400dc,comdatasquevãoatéoperíododecontato16.Duranteesteperíodoasmudançasocorridasdevemestarrelacionadascomanecessidadedemobilidadeeinteração,cujacompreensãopodeserprocuradanoestudodosistematribalenasinferênciasquepossuímossobreosdadosdeixadosnoregistroarqueológicosobreaorganizaçãodestesgrupos.

SãoPauloésemdúvidanenhumaumaáreadefronteiracultural,cujoslimitesestamosaindatentandodelimitarecujopanoramavaicomeçaraficarmaisclarocomavisualizaçãodaposiçãodeoutrastradiçõesceramistasesuarelaçãocomassub-tradiçõesTupieGuarani.Pensandonosgruposqueproduziramacerâmicaquetemsidoutilizadacomobaseparatodaadiscussão,estadeveserampliadaparaaanálisedosprocessosculturaisparticulares17decaráterregional.Neste sentido, começaremos a ter identificadoos grupos reais emcontraposição à abstraçãodequandofalamosdetradiçãoousub-tradição,sendoquenossapreocupaçãodeverásercomosgruposqueestiveramvivendoemalgummomentodasuahistórianaproximidadedosterritórioscompartilhados.

15Apud.IntroduçãoinStaden,Hans1974:1416Asdataçõesexistentessãodedifícilcorrelação,poisforamrealizadascommétodosdiferentes,constituemumparâmetroparaodireciona-mentodasreflexõeseorientaçãodenovaspesquisas.17Estamosnosreferindoàquelestraçoscomosquaisassociedadespodemsercaracterizadaspelamaneiraparticularcomodefinemoseumododevida(Bate,1998)

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AproblemáticaarqueológicadatradiçaocerâmicaTupiguarani em Mato Grosso do Sul

Emília Mariko Kashimoto1

GilsonRodolfoMartins2

PartedosambientesquecaracterizamaregiãoCentro-Oeste,comcoberturasresiduaisdeflorestasoudematasciliares em contato com o Cerrado, embora intensamente alterados pelo modelo de ocupação extensiva determinada pela agropecuária, constitui-se na área onde estão os territórios atuais de populações indígenas filiadas à famílialingüísticaTupi-Guarani.AmaiorconcentraçãodessassociedadesocorrenaporçãomeridionaldeMatoGrossodoSule,emmenorescala,emMatoGrossoeGoiás.

Aspaisagensdosul-amazônicoedoBrasilCentral sofreramsignificativas transformaçõesemdecorrênciadoperíododearidezefetivadoentre3.500e1.500anosA.P.(identificadonoAltoParaná,porStevaux,SouzaFilho&Jabur:1997).Nessequadronatural,ascondiçõespaleoambientaisadversas,parapovoscujaeconomiadependiadomanejovegetal,provavelmenteinfluenciaramnaexpansãodepartedospovosdessafamílialingüísticadosudoesteamazônicoparaocentro-sulbrasileiro,issonabuscapormelhoresterrasparaapráticaagrícola.

Findoesseperíododearidez,oretornoàscondiçõesdebiostasiafavoreceuapedogêneseeaefetivaocupaçãohumanaindígenadosdistintosambientesfluviaisquepermeavamosinterflúvioscobertosporcerradosecerradõeseacimadetudoasáreasrevestidaspeladaFlorestaEstacionalSemidecidual.

A complexidade dos processos culturais pretéritos que se desenvolveram nos ambientes de mata contígua ao CerradoeCerradão,nosEstadosdeMatoGrossoeGoiás,podeserilustradaaosereferenciaraocorrênciadecerâmicapolicrômicaoucorrugada,emquantidaderestrita,emsítiosquecontinhamvestígiosdastradiçõescerâmicasUruouAratu.

Nopresente,aetnografiaregistra,nosEstadosdoCentro-Oeste,apresençadasseguintescomunidadesindígenasfalantesdelínguasdafamíliaTupi-Guarani:Guarani,emMatoGrossodoSul;Apiaká,Kamayurá,KayabieTapirapé,emMatoGrossoeAva-canoeiro,novaledorioTocantins,emGoiás.OutrasfamíliasdotroncoTupiencontradasemMatoGrossosãoJuruna,Cinta-Larga,ZoróeAweti.

Ahistóriadaarqueografiasobreoorientesul-americanoregistraeassociamilharesdesítiosarqueológicos,queapresentamvestígioscerâmicoscomdeterminadascaracterísticascomunsàscomunidadesindígenasque,emgeral,noperíodopré-colonial,teriamsidofalantesdelínguasvinculadasaotroncoTupi.Opressupostodessepensamentofoi produtodeumaassociaçãodireta entre a geografia etnográfica/lingüísticadessa região após a localização e a plotagemdesses sítios.Descrições etnográficas resgatadas indiretamente pela Etno-história,mesmo sem teremsidosubmetidasaumacríticacriteriosa,tambémforneceramfortessubsídiosaessemodeloclassificatóriodesítiosarqueológicos, que terminou por englobar todos esses sítios em uma única tradição arqueológica, denominadaTupiguarani(Prous,1992).Algunsautoresestenderamessaclassificaçãoparaunidadessocioculturaiscomoumtodo,indoalémdaanálisedaculturamaterial,istoé,vendoacerâmicaarqueológicacomoumelementodemarcadordefronteirasetno-lingüísticas.

No Brasil Central, os dados arqueológicos demonstram claramente a presença de vestígios cerâmicos

1UniversidadeFederaldeMatoGrossodoSul/DHD/CCHS-MuseudeArqueologia-PesquisadoradoMCT/CNPq.2UniversidadeFederaldeMatoGrossodoSul/CPAQ/DHI/LPA-MuseudeArqueologia-ProfessorTitularemArqueologiaPré-Histórica/Pes-quisadordoMCT/CNPq.

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com características da chamada tradição Tupiguarani entre os séculos XIV e XV, quando já estava configurado orestabelecimentodascondiçõesambientaistropicaise,conseqüentemente,amultiplicaçãodosrecursosalimentares.EssareferênciacronológicafoiregistradaemGoiás,MatoGrosso(SchmitzeBarbosa,1985;Wust,1983)eemMatoGrossodoSul(Chmyz,1974;KashimotoeMartins,2000).

Essemododeolharopassadoindígenapré-colonial,porserdemasiadamentegeneralizante,geroucontrovérsiasnacomunidadecientífica,oque resultouemcríticasecorreçõesdessemodelo.Algunsautores,apósumaanálisemaisexigente,perceberamasvariaçõesexistentesnascaracterísticasdefinidorasdessatradiçãocerâmicacomo,porexemplo,ofundocônicoquereproduzaformadacuiautilizadaparatomaromate,hábitotípicoeexclusivodosíndiosdabaciaplatina,equepoderiamserdeterminadaspordistintasconjunturasespaciaise/outemporais.Natentativadeexplicareadotarprocedimentosclassificatóriosmaisprecisos,oscríticossugeriramumasubdivisãodesseuniversoempíricoemduassubtradições:aTupinambáeaGuarani.

AdivisãodatradiçãoPolicrômicaAmazônicaemsubtradiçõesGuaranieTupinambáfoielaboradaporBrochado(1984), naqualos sítios guaranis apresentamapredominânciade recipientesdecerâmicacoma superfície externacorrugada,comvasilhas(tigelasdebeber,tigelas,panelasetalhas)comfundopredominantementecônico;poroutrolado,entreasvasilhastupinambás,predominamascomformatoesféricoouemmeiacalota,sendorarasascomfundocônico.Astigelasparabeber,encontradasnossítiosguaranisetupinambás,sediferenciamainda,respectivamente,porpossuírempinturaexterna,bocaredondaefundocônicooupinturainterna,bocaquadrangulóideefundosemi-esférico.

Cabeobservarque,conformeLaSalviaeBrochado(1989)eNoelli(1999/2000),asvasilhasguaranis(combasenasdoGuairádescritasporMontoya,1875)possuíam,comofunçõesprincipais,prepararouserviralimentos,podendotambémserempregadascomournasfunerárias:yapepó (panelas), cambuchí(talhaparafermentarbebidasalcoólicas,armazenare servir),cambuchí caguaba (copo para caium), ñaé e ñaembé (pratos).Asvasilhascom tratamentodesuperfíciedigitaleramlevadasaofogo,oquenãoaconteciacomaspeçascompinturanasuperfícieexterna.

Nessaperspectiva,narevisãocríticaelaboradaporSoares(2001/2002),aArqueologiaGuaraniécaracterizada,basicamente,emfunçãodosseguinteselementos:vasilhascerâmicascombocasdecontornoredondoouarredondado,comformaspredominantementefundas;asbasessão,emgeral,cônicasnasvasilhasmédias/grandes,ouarredondadasnas vasilhas pequenas: os cambuchí caguaba e os cambuchí possuem bordas com delineamento extrovertido e com ombros,compinturaexterna,acimadodiâmetromáximo;osñaembé ou ñaembiru podem apresentar pinturas internas; poucospratosrasoseassadores(rasosouplanos);ausênciadeumpadrãogeomorfológicodeimplantação.

Nesseaspecto,háqueseconsiderarque,apesardavisívelpreferênciaqueospovosdasubtradiçãoGuaranitinhampelosambientesflorestados,detopografiaelevadaepróximosdecorposd’águaperenes,aampladispersãodessasubtradiçãoemsentido latitudinal,paraosdistintosambientessubtropicais,deve ter implicadodiferenciadasadaptaçõesnotocanteàseleçãodelocaisdeestabelecimento,deacordocomasvariaçõesencontradasnacoberturavegetalegeomorfologialocais,oquenãoimplicaainexistênciadeumpadrão,massimaflexibilidadedessepadrão.AsobservaçõesrealizadasemMatoGrossodoSulindicamamanutençãodeumaopçãodaspopulaçõesdasubtradiçãoGuaraniporassentamentosemambientesflorestadosoudematadeencosta,comsolosférteisepróximosacanaisfluviais.

ApartirdaretrocitadacaracterizaçãodaArqueologiaGuarani,Soares (2001-2002),comrazão,afirmaqueoGuaranilingüísticopodenãocorrespondernecessariamenteaoGuaraniétnicoouaindaaoprodutordacerâmicadasubtradiçãoGuarani,poisasfontesqueinspiraramessepensamentoforamosdicionáriosetnográficos,produzidosporcronistastaiscomoodopadrejesuítaMontoya(1876)-(Arte, bocabulário, Tesoro y Catecismo de la Lengva Guarani) - nosséculoscoloniais.Nãoqueessasfontessejamdispensáveis,aocontrário,porém,semasdevidasressalvasimpostasporumarigorosacríticaetno-histórica,corre-seoriscodeexportaregeneralizarcaracterísticasqueseriamespecíficas,

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nocasoasdescritasnodicionáriodeMontoya,dosíndiosdoGuairáparatodaagrandeáreadedispersãodossítioscomcerâmicadasubtradiçãoGuarani,nabaciaPlatina,escondendoassimasparcialidadesétnicaseascomunidadesindígenas guaranizadas. Esse enfoque acabou levando também aArqueologia a cometer um grande equívoco aoatribuir a designação subtradição Guaranipara todaacerâmicaencontradanabaciaPlatinae litoralsuldoBrasil,comosetodosessessítiosintegrassemumaúnicarealidadesociocultural.

Todavia,mesmocomasrestriçõesapontadasporSoares(op.cit),istoé,asfontesdaEtno-históriasãopontuais,aleatórias, não necessariamente válidas e são ideológicas as fontes produzidas por jesuítas coloniais (veja-se, porexemplo, a documentação apresentada nos volumes da Coleção de Angelis, Bandeirantes e Jesuítas noGuairá eBandeiranteseJesuítasnoItatim,ouaindanasCartasÂnuas),bemcomoasfontesprimáriasproduzidasporcronistascoloniaiscomoCabeçadeVaca,UlrichSchmideleoutros,sãoliteralmenteindispensáveisparaacompreensãodoscontextosarqueológicosdecontato,pois,seessasfontessãoimprecisaseincompletas,comoaliásnãopoderiadeixardeser,oqueédedutível,considerando-seasrestriçõeselencadasacimapelacríticaexternaàsfontesprimárias,nãoseránenhumsítioouconjuntodesítiosarqueológicosqueapresentaráumpotencialempíricomaioremaisprecisoqueasfontesprimáriasmanipuladaspelaEtno-história.ÉmuitopoucoprovávelqueaArqueologiadoscontextosindígenaspré-coloniais venha, algum dia, a produzir análises e explicações com amesma abrangência que a Etno-históriaconsegueparaoshorizontesdecontatoeparaoqueissoilumina,indiretamente,nossítiosdosséculosimediatamenteanterioresa1500.

Osmapeamentosetno-lingüísticosatuaispermitemidentificardiversosdialetosassociadosasubdivisõesétnicasentreosíndiosfalantesdoGuarani,nopresenteenopassadopós-descobrimento,taiscomoosPãyTaviterã,Ñuara,Kaiowá,Kário,Ñandeva,Mbyáentreoutros.Considerando-sequeisso indicaumpassadomultiétnico, talomissãoclassificatórialevariaàconstruçãoarqueológicadeumGuaranifrankenstein(Soares,op.cit),comofoiexposto,umasimplificaçãogeneralizantequetambémaEtno-história,muitasvezes,reproduz.Porém,acartografiahistórica,apósadevidacríticacientífica,quandomapeiaospovosindígenasdabaciaPlatina,nosprimeirosséculosdoperíodocolonial,demonstra uma quase exata superposição entre as áreas etno-lingüísticas e os locais de ocorrências da cerâmicaarqueológicadasubtradiçãoGuarani,comoéevidente,porexemplo,noqueseobservouemMatoGrossodoSuleconformedemonstramosdadosarqueológicosapresentadosnestetexto.

Maisrecentemente,ambososmodelos(TradiçãoTupiguaraniesubtradições)foramcolocadosemchequeporuma formadepensardenominadana literaturacientíficadesconstruçãodaArqueologiaTupiguarani,TupinambáeGuarani(Soares,2001/2002;Funari,1999;Schiavetto,2003).Essenovoolharparaopassadoarqueológico,aofornecercríticasàsfonteseàsmetodologiasdepesquisaempregadaspelasvertentesapontadasnosparágrafosacima,mostroua fragilidadeexplicativae interpretativadessesmodelose rejeitouos resultadosconclusivosporelesapresentados.Paraessavertentecrítica,aproduçãodecerâmicaéumelemento(dadocientífico)circunscritoapenasaocampodaanálisedaculturamaterial,eque,portanto,deveservistaapenasenquantoumcomportamentotecnológico,nãosendonecessariamenteumreferencial identitário,comportamentoquepodesercompartilhadoporcomunidadesétnicaelingüisticamentedistintas.Nessesentido,asvariaçõestecnológicasparciaisdacerâmicadasubtradiçãoGuaraniseriamexplicadasdessaforma.Ouseja,paraessemodelodeanálise,ahistóriadatecnologiadacerâmicaarqueológicanãodeveserconfundidaobrigatoriamentecomahistóriaetno-cultural-lingüística,semconsiderarqueéoqueemcertoscasosocorre.Mesmoadotando-seopontodevistadadesconstrução,aindapermaneceriasemrespostaquemforamentãoosprodutoresdessesvestígiosarqueológicos.Quemseriamentão,seéqueexistiram,osGuaraniarqueológicos?Seestesnãoexistiram,quemproduziuessacerâmica?Quemseriamedeondeteriamvindoosantepassadosdosíndiosobservadosnosprimeirosanosdocontatocolonial?Senãohá,emvárioscasos,umvínculodiretoentreacerâmica,alínguaeaetnia,comoexplicarquegrandepartedoshorizontesindígenasetnograficamentereconhecidos,costuma

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nãoapresentardiscordâncias?Porexemplo,acerâmicaTerena,emMatoGrossodoSul, sóé feitapelosTerena,eassimpordianteem relaçãoàgrandepartedasetnias indígenas,mesmoque sejamvizinhasemuitopróximas. Éverdadequenemsempretraçosdaculturamaterialsãomarcadoresdeidentidadeétnica,masissonãoquerdizerquese deva, a priori,refugaressesindícios,poisemvárioscasoselessãoestesmarcadores.Enfim,comonãoháverdadeabsoluta, tambémnãohámodeloabsoluto.TemrazãoSoares(op.cit.)aoafirmarqueaquestãoestáabertaesóoaprofundamentodapesquisaarqueológicaajudaráaencontrarmelhoresrespostas.

Discutir qual desses enfoquesmelhor se adapta à compreensão, parcial que seja, da realidade empírica dadistribuiçãoespacialdacerâmicadasubtradiçãoGuarani,coletadaemalgumasáreasdeMatoGrossodoSul,éoquesepretende,sepossívelnomomento,pormeiodaanálisedosdadosatéagoradisponibilizadospelasescavaçõesarqueológicasaírealizadas.

Arigor,nosentidoétnico,nuncaexistiuumaunidadeétnicaautodenominadaGuarani.Essetermoéprópriodalinguagemtécnico-científicaparadesignarumalínguaindígenaenãoumoumaispovosindígenas.

MatoGrossodoSuléoEstadobrasileiroquesediaomaiorcontingentepopulacionaldeindígenasfalantesdedialetosintegrantesdalínguaGuarani.Estima-seque,somados,hoje,osíndiosKaiowá,ÑandevaeMbyasejammaisdevinteecincomilpessoas.InformaçõesfornecidaspelaEtno-históriapermitemestimarque,noséculoXVI,osíndiosfalantesdoGuarani,emMatoGrossodoSul,eramalgumascentenasdemilhares.Essesíndiosestavamagrupadosempelomenosdoisgrandesguarás:odoGuairá,nosudestedoEstado,sobretudonasmargensdoaltocursodorioParanáeemsuassub-bacias,destacando-seadorioIvinhema;eoguarádosItatim,compreendidonamesopotâmiaentreosriosMirandaeAquidauana,nasáreasnão-inundáveisdoPantanal.

ApartirdasegundametadedoséculoXVI,o recrutamentocompulsóriodemão-de-obra indígena,pormeiodo sistema das encomiendas, impostopelos colonos castelhano-paraguaios instalados emCiudad Real deGuairá,OntiveroseSantiagodeXerez,cidadescoloniaisespanholas,fundadasnoséculoXVI,nabaciadoaltocursodorioParaná,entreosatuaisEstadosdeMatoGrossodoSuleParaná,provocaramoprimeirograndeimpactodemográficosobreapopulaçãoGuaranisul-mato-grossensedoGuairá.

As sucessivas investidas bandeirantes luso-paulistas, na primeira metade do século XVII, concomitante àaçãomissionária jesuíta na zonameridional doPantanal, provocaramumgrande êxododos índiosGuarani doguará do Itatim, expulsando-os para o sul do rio Apa. Após esses eventos, os Guarani do Itatim abandonaramdefinitivamente o Pantanal deMatoGrosso do Sul e instalaram-se, namaioria, no norte do Paraguai. Aquelesíndiosquenãoquiseramsesubmeteràsdeterminaçõesdosmissionários,bemcomonãoaceitaramsubjugar-seaosistema encomenderoassuncenho,procuraramrefúgiosambientaisterritorializandoasáreasdeflorestasúmidasquecobriamasescarpasdaserraedoplanaltodeMaracaju.Segundoalgunsautores,essasmigraçõesprovocaramumfenômenodeetnogênesedoqualteriamseoriginadoasatuaiscomunidadesKaiowáinstaladasnosmunicípiossul-mato-grossensesdeDourados,Maracaju,Caarapó,PontaPorã,entreoutros,fatoque,porenquantonãoencontrouembasamentonaArqueologia,poisasfontesetno-históricasindicamqueessaáreajáeraocupadaporíndiosfalantesdoGuarani, pelomenos desde o final do século XVI.Hoje, em todo o Pantanal sul-mato-grossense não existenenhumacomunidadedeíndiosGuarani.

Afirmarque,emummesmoespaçooupaisagem,umaassociaçãohistórico/culturalentrealgumassociedadesarqueológicaspré-coloniaisdesaparecidas,comoasobservadaseregistradaspelaEtno-históriaemMatoGrossodoSul,easatuaiscomunidadesindígenasocupantesdomesmoespaçopretérito,emalgunscasos,éperfeitamentepossível,tendoemvistaqueasevidênciasempíricascoletadasnesteEstadoconfirmam.DeumamaneirageraléoquesepodeafirmarsobreaimemorialidadeespacialdealgumascomunidadesindígenasGuaranideMatoGrossodoSul,comoéocasodascomunidades instaladasnovaledorio Iguatemi,porexemplo.Porém, issoéapenasumaabordagem

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generalizante,poispoucoexplicasobreosprocessosetno-históricos,endógenoseexógenos,vividosporessesindígenasaolongodosúltimosséculos.

Assim,dopontodevistadaArqueologiaedaEtno-história,entreoutras,umagrandequestãoficasemrespostaeexigequesejapesquisada,istoé,quandoeporqueosatuaisíndiosGuaranideMatoGrossodoSuldeixaramdeconfeccionarcerâmica?

Dataçõesarqueológicasobtidasapartirdeamostrascoletadasnamargemsul-mato-grossensedo rioParaná,nobaixocursodoIvinhema,naatualreservadosíndiosKadiwéu,ouaindanamargemdocórregoLalima,pequenoafluentedorioMiranda,sãoevidênciasincontestesdaproduçãodecerâmicaarqueológica,TupiguaraniouGuaraniemMatoGrossodoSul,nosséculosXVI,XVIIeXVIII,asquais,estratigraficamente,atestamasseqüênciasocupacionaisapartirdehorizontesdeposicionaispré-coloniais.Veja-se,porexemplo,ocasodo sítioLagoadoCustódio1,emAnaurilândia.Nessesítio,asdataçõesdeamostrasdecerâmicadasubtradiçãoGuaranievidenciamqueasprimeirasocupaçõesvêmdesde1200anosatráseseguemconsecutivamenteaté350anosA.P.Nessesítio,algumasdataçõesradiocarbônicasconfirmamessacronologia.

Duranteasescavaçõesrealizadasemvinteequatrosítios,noâmbitodoProjeto Arqueológico Porto Primavera/MS3,sobretudonotrechodorioParanácompreendidoentreosriosIvinhemaePardo,nospacotescrono-estratigráficosanalisadosnãoocorreramvestígiosmateriaisqueindicassemoutropadrãotecnotipológico/decorativoalémdoGuarani(só foramregistradasocorrênciasde fragmentoscerâmicoscomcaracterísticas tecnológicas/tipológicas/decorativasdasubtradição Guarani), isso compreendendo um intervalo de, aproximadamente oitocentos anos antes do século XVIII, quandooassédiobandeiranteprovocouodesaparecimentoquasecompletodeíndiosfalantesdoGuaranidasmargensdorioParanáedobaixocursodeseusafluentes.EssequadroébemdemonstradopelaEtno-históriaepelaArqueologia,asquaisnãosebaseiamapenasnacerâmica,mastambémemoutrosindíciosculturaistaiscomotembetá, machados polidos, mitos,plumária,cestariaetc,reencontrados,comsimilitudenoscontextosindígenasGuaranicoloniaisdosEstadosdosuldoBrasil,aliás,inconfundíveiscomosvestígiosdeculturamaterialdeoutrosgruposétnico-lingüísticoslimítrofescomoosJê(Kaingang,Xokleng,Kaiapó-meridional,OtieOfaié),ouainda,noPantanalsul-mato-grossense,GuanáeGuaikuru.

Tendo-seemvistaafragilidadedeumaautomáticacorrelaçãoentreaculturamaterialesociedadesindígenas,Soares (op. cit.) lembra que os dados arqueológicos ainda são as principais fontes para a Arqueologia Guarani,necessitando-se,nasuainterpretação,aconjugaçãodosdadosrelativosàsmudançasambientais,variaçõesespaciaisecronológicas.Dessaforma,permanecemaspossibilidadesdeanálisesacercadacontemporaneidadedasvasilhasdasubtradiçãoGuarani,troca/comércio,etc.

Cabemaindaalgumasobservaçõesgeraisacercadasmanifestações,nosEstadosdeMatoGrossoeGoiás,decerâmicapolicrômicaecorrugada,tradicionalmentedenominadaTupiguarani.

ApresençadecerâmicaTupiguarani,intrusivanossítiosUrueAratudosséculosXIVeXVfoiregistradanosvalesdosriosAraguaiaeParanaíba(SchmitzeBarbosa,1985)etambémnossítiosAratu/SapucaídosriosClaroeVerdinho(Wust,1983).OssítiosacéuabertolocalizadosnasbaciasdoAraguaiaeParanaíbaapresentavamcerâmicatemperadacomcacosmoídosou,emmenorquantidade,mineraisoucariapé;assuperfíciesdasvasilhas–pratos,tigelas,panelasejarros–eramlisasoueramdecoradascompinturavermelhae/oupretasobreengobobranco.Fragmentoscerâmicoscom pintura vermelha sobre engobo branco ou decoração incisa também foram coletados em uma estrutura desepultamento de sítio da tradição Uru, do século VIII, implantado na média vertente do vale do ribeirão Sangradouro, afluentedoriodasMortes/baciadoAraguaia(Kashimoto,2003).

3PesquisadesalvamentoarqueológicorealizadanamargemdireitadoreservatóriodaUsinaHidrelétricaEng.SérgioMotta(contratosCESP/FAPEC).

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EmGoiás e no alto cursodo rioVermelho foram identificadas (segundoRobrahn, 1996) vasilhas rasas combordas reforçadas,vasosglobularesegrandes jarroscomombros;aspeçaspossuíambasesconvexasouplanas.Apinturadecorativaeraemvermelho,marromoupretosobreengobobranco.Algumaspeçasapresentavamsuperfíciesincisasouemrestritaquantidadeecorrugadas.Enfim,nenhumadessasrealidadesarqueológicaspodeseratribuídaaíndiosfalantesdoGuaraniouseusantepassadospré-coloniais.

Aseguir,apresentam-seosdadosrelativosàspesquisasemsítioscomcerâmicadatradiçãoTupiguaraniemMatoGrossodoSulesuainterfacecommanifestaçõesarqueológicasdiversificadasnosentidolatitudinal.

A diversidade da cerâmica Tupiguarani em Mato Grosso do Sul

Na porção meridional de Mato Grosso do Sul, tanto no contexto da outrora região do Itatim, na bacia do Paraguai, quantonoplanaltodeMaracajuenovaledoParaná localizam-se sítios arqueológicoscomcerâmicada tradiçãoTupiguarani(mapa1).Taissítiossãoportadoresdefragmentosderecipientescerâmicos,compinturapolicrômicae/ouimpressãodigital/unguealecorrugada.AEtno-históriadesseslocaiseoutrosvestígios,taiscomotembetá,lâminasdemachadopolidas,artefatoslíticoslascadosepolidoresdesulcosomam-separacaracterizar,nasuamaiorparte,essasocupaçõescomosendofiliadasàsubtradiçãoGuarani.

Uma estrutura funerária, por exemplo, foi localizada em um sítio na área da Reserva Kadiwéu, a qual eracomposta por um yapepócomsuperfícieexternaescovada,bordaemombrocorrugada;umcambuchí e dois cambuchí caguaba (prancha1;a,b,c,d).Ostrêsrecipientespossuíamasbordasemombro,commarcasresiduaisdedecoraçãopolicrômica.Amostrasdessacerâmicaforamdatadasem,aproximadamente,520anosA.P.evidenciando,portanto,apresençadeíndiosItatimnessaporçãodoPantanal,anteriormenteàchegadadosKadiwéunoséculoXVIII.

AocorrênciadevestígioscerâmicosdasubtradiçãoGuarani,noPantanal,naáreanortedoguarádosItatim,seestendeuaossítiosimplantadosnasproximidadesdenascentesfluviais,naregiãodomaciçodoUrucum,emCorumbá(Peixoto, 1998). As peças cerâmicas desses sítios foram confeccionadas com argila temperada com antiplásticocomposto por areia e cerâmicamoída, confeccionadas empregando-se a técnica acordelada, cuja queima estavaincompleta,sendoassuperfíciescomdecoraçãopintadaouplástica.

Fragmentoscompinturapolicrômica também foram localizadosnoplanaltomaracajuano,naporçãomesialdeMatoGrosso do Sul, especificamente em um abrigo sob rocha registrado como sítioMaracaju 1 (21º46’27”S55º23’22”W),cujonívelcerâmicofoidatadoem610+- 50anosA.P.(C14;GIF-8330)e830+- 80anosA.P.(TL/Institutode Física da USP) (Martins,2003).Essesítioinsere-senoconjuntodosrelevosescarpadosdabordaoestedaBaciaSedimentardoParanáonde,atualmentenasproximidades,estãoinstaladasalgumascomunidadesdeíndiosKaiowá.

OvaledorioParaná,nosudestedeMatoGrossodoSul,foiintensamenteocupadopelosGuaraniceramistasetno-históricosdoGuairá.OpovoamentoarqueológicodorioSamambaia,tributáriodessecanalprincipal,foiinicialmenteregistrado por Chmyz(1974).NosítioMS-IV-01,esseautorevidencioutrintaurnasfunerárias,váriasdelascomossose alguns tembetádecristalderochaouderesina,tampadascomrecipientescerâmicos.Asdataçõesporeleobtidasforam:475+- 45(SI1017),260+- 70(SI1016),180+- 60(SI1018),110+- 60(SI1019).Adecoraçãocerâmicadosquatrosítioslocalizadosnesserio,poresseautor,apresentavadecoraçãopintada(vermelho,vermelhoepreto,vermelhoemarrom, ou preto sobre engobo branco), corrugada, escovada, incisa, ponteada, entalhada, marcada com malha, bem comoungulada,serrunguladaeroletada.

No trechodamargemdireitado rioParanábalizadopelasdesembocadurasdos riosParanapanemaeTietê,afluentesdamargemopostadesserioprincipal,foramidentificados26sítios,nosquaisforamlocalizadosfragmentosde cerâmica com decoração predominantemente policrômica e/ou corrugada (mapa 2); as datações desses sítios

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Mapa 1: Tradição Tupiguarani em Mato Grosso do Sul.

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Mapa 2: Sítios Tupiguarani na margem direita do rio Paraná, entre Três Lagoas e Anaurilândia/MS.

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Prancha 1: Urna funerária evidenciada na área da Reserva Kadiwéu, tampada por cambuchí (a). O destaque refere-se à superfície escovada e corrugada na borda (b). O conjunto funerário também incluía dois Cambuchí caguaba (c, d).

c

a

b

d

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referenciaramo intervalo entreos séculosVIII eXVII (KashimotoeMartins, 2004). É sobre essa áreadabaciadoaltoParaná,quealgunspesquisadoresopinamseraáreaprováveldetransiçãoentreosterritóriosarqueológicosdasubtradiçãocerâmicaGuarani,aosul,eTupi,portantonãopertencenteàsubtradiçãoGuarani,aonorte:afronteiradessas ocupações, no sentido latitudinal, seria o curso do rio Paranapanema, segundo Schmitz (1997), enquantoMétraux(1949,apud.Scatamacchia,1990)conferiuessafronteiraàlatitudedorioTietê.Brochado(1989)considerouque,depoisdequasemilanos,osmovimentosmigratóriosTupinambáeGuarani,noentornodoplanaltocentraledomeridional,convergiramnumafronteiraativasituada,emparte,aolongodorioTietê.

Nesseaspecto,oquepareceseromaisprovável,pelasevidênciasarqueológicascoletadasduranteostrabalhosdo Projeto Arqueológico Porto Primavera/MS,équeessaáreadetransiçãoestende-sepelointervaloentreosriosTietêePardo,aqualétambémumanítidazonadetensãoecológicaentreoCerradoeaFlorestaEstacionalSemidecidualaluvial.

Oconhecimentoetno-históricoregistraqueovaledoTietêeraterritórioKayapóe,maisaosul,situavam-seosKaingang,OtieosGuarani,segundoCurtNimuendaju(IBGE,1987).NovaspesquisasarqueológicasnaáreapoderãoampliaroentendimentodasocupaçõespretéritasnessesrelevoscolinaresdamargemesquerdadorioParaná.

Acercade130kmasudoestedorioTietê,especificamentenafaixalatitudinalde21º30”,abaciadorioPardoconstituía-senazonalimítrofeentreoMeridionalSetentrionaldaFlorestaEstacionalSemidecidualeoEcossistemadoCerrado.Essesambienteseramospreferenciais,respectivamente,dosGuaraniedosKayapóMeridionais(Martins,2002;Ataídes,1998).CurtNimuendaju(IBGE,1987)registrou,pontualmente,apresençaGuaraninamargemdireitadorioParanádefronteàfozdorioTietê,fatoqueampliaasperspectivasdeanálisedosvestígioscerâmicospolicrômicosencontradosnosítioCórregoMoeda1,situadonãomuitodistantedali,emTrêsLagoas/MS.NofinaldoséculoXIX,quandojánãomaisexistiamíndiosGuaraniceramistasouKayapóMeridionaisnavertenteoestedabaciadoParaná(MS),amargemdesseriofoiocupadapelosOfaié.Atéomomento,nãoforamidentificadosvestígiosarqueológicosreferentesaessesassentamentosdosOfaié,oque seexplicaem funçãodaaltamobilidadeembuscade refúgiosprovisóriosimpostapelasperseguiçõessistemáticasdosgenericamentedenominadosbugreiros.

Apresenta-seaseguirumaexposiçãogeraldosdadoscoletadosnoAltoParanáconformeavariaçãolatitudinaldasocorrênciasdecerâmicaTupiguarani,bemcomoàluzdacronologiadasdiferentescamadasdosolo,evidenciadasnasescavaçõesdoProjeto Arqueológico Porto Primavera/ MS.

Implantação de sítios Tupiguarani na bacia do rio Paraná/MS

AspesquisasrealizadasatéomomentoindicamqueopovoamentodoAltoParanáfoiiniciadoporbandosdecaçadores-coletores referenciados, atéomomento,pelasdatações6090+-60 (Beta218205),6020+-60 (Gif12019),5900+-70 (Beta236614),4230+-75 (Gif11218), respectivamentenossítios/profundidadesRioBaía1 (220cm), IlhaComprida10,Brasilândia8(260-270cm)eLagoadoCustódio1(135cm).

NessaáreamarginaldorioParaná,ageomorfologiacaracteriza-sepelaplaníciedeinundaçãoepor terraçosfluviais.Nospontosmaiselevadosdoterreno,tangenciadosporlagoasecursosfluviais,foramidentificadosdiversossítiosarqueológicoscomcerâmicaTupiguarani(mapa2).

Pelaáreadobaixocursodassub-baciasdoAmambaíeIvinhema,estendia-seoterritóriodoguarádoGuairá,posteriormentetransformadoemcenárioetno-históricocolonial,comoprovínciajesuítica.OguarádoGuairádevecorresponder às ocupações da subtradiçãoGuarani, datada entre os séculos XIV e o período de contato no XVI,contextoevidenciadopelaintensaocorrênciadecerâmicaarqueológicadasubtradiçãoGuarani(mapa/imagem3).Essapresençaédiagnosticadanaáreapelaocorrênciadoselementoscaracterísticosdessasubtradição:peçascerâmicas

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Mapa-imagem 3: Sítios da subtradição Guarani na margem direita do rio Paraná, entre Bataiporã e Itaquiraí/MS.

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Tabela 1: Sítios da subtradição Guarani e datações referenciais na margem direita do alto Paraná/sub-bacia do Pardo

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Tabela 2: Sítios da subtradição Guarani e datações referenciais na margem direita do alto Paraná/sub-bacias do Amambaí e Ivinhema

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comacabamentodesuperfíciecorrugado,ungulado,serrunguladoe/ouescovado,aoladodeoutrascomsuperfíciesdecoradascompinturapolicrômica– linhaspretase/ouvermelhas sobreengobobrancoouvermelho,compondorecipientes tais como os cambuchí, cambuchí caguaba e yapepó, comevidentepredominânciados recipentesdefundocônico,influênciatípicadasrepresentaçõessimbólicas/morfológicasdaculturamaterialdosconsumidoresdaervamate.Astabelas1e2relacionamossítiosdessasubtradiçãoidentificadosnamargemdireitadorioParaná.

Comparando-seomateriallíticolascadoencontradoemsítiosdasubtradiçãoGuarani,localizadosnamargemdireitadorioParaná,notrechobalizadopelassub-baciasdoPardo/VerdeedoAmambaí/Ivinhema,percebe-sequeaquantidadedelíticoslascadosébemmaiornoprimeirosegmento.Talfatotalvezsedevaàmaiorabundânciadosafloramentosdecascalheiraseconglomeradosdecalhauseseixosnamargemdesseprimeirotrechodorio,oqueimplicavafacilidadedecoletaeconseqüenteuso/consumo.Nesseslocais,escolhiam-seoscalhaus,preferencialmentedesilexito,arenitosilicificado,quartzoouquartzito,cujosformatosoriginaisfavoreciamapreensãodoinstrumentofinal nas açõesdebater de raspar, cortar e/ou furar. Essas atividadesde lascamento/talhede calhausocorriam, àsvezes,nasproximidadesdefogueiras,sendocomumoaquecimentodefragmentosdeconglomeradosparadaíextraircalhaus,aqueceralimentoseinclusiveparaliberarpigmentosvermelhoseamarelos–potenciaiscorantes.

Em parte desses sítios da sub-bacia do Pardo e especialmente do Verde, foram identificadas ocorrênciascerâmicasapenaspontuais,comalgunsfragmentoscomsuperfíciecorrugada,aoladodeoutrosdecoradoscompinturapolicrômica.SecomparadocomosegmentodorioParanáàjusante(sub-baciasdoAmambaíeIvinhema)apresençadecerâmicaéirrisória.Dessaforma,essessítiosnãoforamaquiconsideradoscomofiliadosàsubtradiçãoGuarani.Observa-senatabela3quealgunsdessessítiosapresentamcamadasarqueológicascomcerâmicaamaisdeummetrodeprofundidade,oquenãoocorrenosegmentoaosul,easdataçõesremontamatéhámaisdedoismilanos,podendosugeriraexistênciadeumhorizontecerâmicopré-Tupiguarani.

OsterraçosestruturaisdamargemesquerdadorioParaná,emSãoPauloenoParaná,alçadosemmaisde20msobreoleitofluvial,peloqueindicamaspesquisasatéagorarealizadas,foramhegemonicamenteocupadospelosintegrantesdasubtradiçãoGuarani,tantonosegmentoàjusantedafozdorioParanapanema(Chmyz,1974;Noellietal,2002),quantoàmontante(Kunzli,1987).SegundoKunzli(com.pes.)amargemesquerdadorioParaná,abrangidapeloEstadodeSãoPaulo,apresentanumerosossítioscomurnasfuneráriascerâmicastípicasdasubtradiçãoGuarani,observando-se,porém,queàmontantedoriodoPeixe(segmentodorioParanáaproximadamentefrontalàssub-baciasdoPardoeVerde)essasocorrênciassãoprogressivamenterarefeitas.TalfatosugereoingressonaáreadetransiçãodasubtradiçãoGuaraniparaaTupiguaraninão-Guarani.

Cronologia da ocupação da subtradição Guarani no Alto Paraná e afluentes

OpanoramadaocupaçãodepovosfiliadosàsubtradiçãoGuaraninoaltocursodorioParanáestende-seporcercade1300anos,certamentecomdistintasmanifestaçõessocioculturaisquedaídesapareceramfaceaoiníciodaocupaçãocolonial.

OsítioLagoadoCustódio1constituía-senumareferênciadessapaisagemculturalnasub-baciadobaixocursodoIvinhema:aaberturadeumatrincheira(T1)nessesítio,com50mdeextensão,mostrouasucessãocronológicadeocupaçõesdasubtradiçãoGuarani.Ascamadassuperficiaisforamparcialmenteafetadaspelaatividadedeextraçãodemadeiraqueaísedesenvolveunadécadade1970;entretanto,oconjuntodedataçõesde30amostrascerâmicascoletadasemdiversosníveis,entre00e50cmdeprofundidade,indicaumaseqüênciadeocupaçõesdatadasentre350+- 40anosA.P.(Fatec136)e1200+- 150anosA.P.(Fatec148).

OshorizontescerâmicosarqueológicosnosegmentodorioParaná,aquianalisados,apresentaramdatasmais

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Prancha 2: Vasilhas cerâmicas evidenciadas no sítio Brasilândia 3 (a, b) e no sítio Ribeirão Quiterói 1 (c – detalhe da superfície corrugada).

b

a

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Tabela 3: Sítios Tupiguarani não filiados à subtradição Guarani e datações referenciais na margem direita do alto Paraná/sub-bacia do Verde

Superfíce 00-10Córrego Moeda 1 - MD1 (�0º57’4�”S51º46’51”W) 350+- Fatec 87 430+- 64 Fatec 86 700+- 75 Fatec88

510+50Beta

218207

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recuadaseemmaioresprofundidades(até1,30m)nossolosdassub-baciasdoPardoeVerde.Partedessascamadastalvez testemunhemocupaçõesdeoutrospovosceramistas,anteriores,na região,àquelesportadoresdecerâmicaspolicrômicas.Ascondiçõesambientaisdofinaldoperíododearidez,hácercade2.000anos,podemterestimuladooiníciodaocupaçãonessaporçãosetentrionaldaáreaanalisada.

Assim,testemunhoscerâmicosdessecontextoindicamdiferenciadasmanifestaçõesdeculturamaterial,pois,alémdarestritaocorrênciadefragmentoscomsuperfíciescorrugadasoucompinturapolicrômica,tambémforamlocalizadasvasilhascomdistintosformatos,taiscomoapeçacombordacomformatoquadrangulóideesuperfíciedecoradacomungulações,evidenciadanosítioBrasilândia3(prancha2b).Essapeça,aprincípiopoderiaserassociadaàsubtradiçãoTupinambá, seguindo-seas referênciasdeBrochado (1984),porém,considerando-seocuidadonecessárioparaastentativasdeimediatacorrelaçãoentreetnicidadeevestígiosarqueológicos,cabemnovosestudosparaaprofundarotratamentodessatemática,inclusiveanalisando-seemconjuntoosoutrosvestígiosdosítio(prancha3:b).Dessaforma,taissítiosforamaquireferenciadoscomoTupiguaraninão-Guarani.

A vasilha cerâmica evidenciada no sítioQuiterói 1 (prancha 2 c) é um outro exemplo de peça cuja bordacomangularidadepoderiainclusiveindicar,tendo-seemvistaoconjuntodepeçascoletadasnestesítio,apenasumavariaçãoindividualdaceramista.

Atabela4indicaacronologiadeocupaçõesporpovosTupiguaraniregistradas,atéomomento,emMatoGrossodoSul,emespecialnorioParaná;osdadosemitálicoreferem-seasítiosnãointegrantesdoProjeto Arqueológico Porto Primavera, MS.OdestaquedascélulasemnegritoédadoàsocupaçõesTupiguaraninão-guarani,enquantoqueasdemaiscélulasreferenciamdataçõesdesítiosdasubtradiçãoGuarani.

Reprodução de formas, decoração e usos da cerâmica Guarani

AobservaçãodasvasilhascerâmicasarqueológicasidentificadasnabaciadoParanáeParanapanema(Laming&Emperaire,1959;Blasi,1967;Chmyz,1974,1976,1977,1980;Pallestrini,1978,1984,1988;Kunzli,1987;Faccio,1992;Kashimoto,1992,1997)convergeparaaperspectivaelaboradaporNoelli(1999-2000)que,apósanalisarascoleçõesdosuldoBrasil,Paraguai,UruguaieArgentina,concluiupelaprescritividadeGuarani:apesardaincorporaçãode comunidades indígenas guaranizadas e de novos elementos culturais exógenos nas sociedades da subtradiçãoGuarani, em geral, o conjunto característico da culturamaterial dosmesmos foimantido, compoucas variações,reproduzindoasuacerâmicacommanutençãodeseupadrãotecnológicoefuncional.

A reproduçãodo repertóriocerâmicodasubtradiçãoGuarani,mesmonoscontatos interculturais,nãoexcluiaexistênciadeeventuaisvariaçõesnoseuinterior.Acontinuidadedaspesquisasarqueológicaspoderávislumbrarapossibilidadedeidentificaçãodediferençasnointeriordessasubtradiçãoeproporcionarumamaioraproximaçãodainterpretaçãoarqueológicaàcomplexidadedoquadropaleoetnográfico.

As coletas extensivas e escavações sistemáticas realizadas na margem direita do Alto Paraná permitemtraçar considerações acercada culturamaterial dessas ocupações situadas entre 240 e1600 anosA.P.Observou-se a predominância, com freqüência superior a 90%, da técnica acordelada em relação àmodelada, da queimaincompletaedotratamentodesuperfícieporalisamento.Dentreoconjuntodefragmentoscoletados,destacaram-se,

4OtermoTupiguaraninão-guaraniéaquiaplicadoparadiferenciaressessítios,comrestritaocorrênciadecerâmicacorrugadaoupolicrômica,emambientesdetensãoentreaflorestaaluvialeoCerrado,comrelaçãoàquelesdasflorestasaluviaisdosambientesmeriodionais,portadoresdenumerosaspeçascerâmicastípicasdaquelasdescritasporMontoya,denominadoscomosubtradiçãoGuarani.Nãosepretendeproporumanomenclatura,massimfrisaradistinçãoentreossítiose,porcorrelação,dascaracterísticasdeocupação.

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numericamente,fragmentosdeparedecomespessurasentre6e15mm;fragmentosdebordacomformadiretaverticalelábiosarredondados;decoraçãopintadacomlinhasvermelhassobreengobobranco,oucorrugadae/ouungulada.

Cabesublinharaocorrênciadefragmentoscerâmicoscomdecoraçãocorrugadanossítiosdassub-baciasdoAmambaíeIvinhemaenasub-baciadoVerdecujaocorrênciaéquaseinexpressiva.Acerâmicapintadacomlinhasvermelhassobreengobobranco,aocontrário,ocorrenoconjuntodossítiosGuaranipesquisadosnessaárea,comdestaqueparaaexistênciadepeçascompinturasdelinhasangularesnafaceexterna,nassub-baciasdoAmambaíeIvinhema(prancha3ab),elinhascurvasnafaceinterna,noâmbitodassub-baciasdoPardoeVerde(prancha4),comrecipientescujosformatossugeremsetrataremdepratos.

Dessaforma,sãoapresentadas,aseguir,atítulodeilustração(pranchas5abc;6ab),algumasdasvasilhascerâmicascoletadasnas sub-baciasdoAmambaíe Ivinhema,asquais indicama reproduçãode formaseusosdacerâmicaGuaraninospadrõesanteriormentereferenciados.

O crescimento populacional e a pressão demográfica dos povos Tupi nas várzeas amazônicas impulsionouadivisãodeunidadesétnicas àprocuradenovas terrasparacultivonas várzeasdos riosprincipaisoudo litoral,namanifestaçãodoyvy maraney ou busca da “terra sem mal”, posteriormente associada àmotivaçãomessiânica(Brochado,1989,ScatamacchiaeMoscoso,1987/88/89).Dessaforma,aocupaçãodospovosfalantesTupiexpandiu-sedessaáreaamazônica,emmovimentoslinearesseguindoasvárzeaserios,ocupandodistintosecossistemas.

OecossistemadaflorestaEstacionalSemidecidualaluvialdorioParanátalveztenharepresentadoumafronteiraentre distintos povos da tradição Tupiguarani, conforme demonstram os testemunhos arqueológicos até agoralocalizados.Oconjuntode sítios ilustradosnomapa2emapa/imagem3 sugereperspectivasde interpretaçãodeáreasdeconcentraçãodasatividadesdasubtradiçãoGuarani,prováveistekohánamargemdireitadorioParaná,norioIvinhema,riosQuiterói/CaraguatáerioTaquaruçu/ribeirãoBoaEsperança.AcontinuidadedaspesquisasnaáreapoderálançarnovosdadosparaessequadrodeocupaçãodepovosceramistasemMatoGrossodoSul.

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Prancha 3: Fragmentos de cerâmica com pintura policrômica nas face interna (células em negrito) e externa dos sítios das sub-bacias do Amambaí/Ivinhema: Itaquiraí 1, Rio Ivinhema 1 e Lagoa do Custódio 1.

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Tabela 4: Datações de sítios Tupiguarani em Mato Grosso do Sul

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Prancha 4: Fragmentos de cerâmica com pintura policrômica nas face interna (células em negrito) e externa dos sítios das sub-bacias do Pardo e Verde: Santa Rita do Pardo 2, Alto Paraná 8, Brasilândia 11 e Córrego Moeda 2.

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Agradecimento

AgradecemosaoCNPq,FUNDECT-MS,CESP,bemcomoasdiversascolaboraçõesrecebidasparaaelaboraçãodopresentetrabalhoe,emespecial,adosProfessoresPauloRobsondeSouza(fotografias),NeliGuimarãesSilva(desenhos)eAyrTrevisanelliSalles(cartografia).

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A tradição ceramista tupiguarani no Sul do BrasilPedroAugustoMentzRibeiro1

1. Resumo

AtradiçãoceramistaTupiguarani temsuaorigemnaAmazônia.AlcançouosuldoBrasilnoprimeiroséculoapósonascimentodeCristoeresistiuatéoséculoXIX,nãosemantesentraremcontatocomculturasjáestabelecidasregionalmente e, finalmente, como europeu.No três estadosmeridionais doBrasil, Paraná, SantaCatarina eRioGrandedoSul,nãoocuparamoplanaltoacimade600me,noúltimodeles,oscamposdametadesul.Inicialmentehabitaramacalhaouvárzeadosgrandesrios,apósoslocaiselevadosmaispróximose,finalmente,afastaram-separajuntodepequenoscursosd’águaevertentes,sempreemáreasplanasondehaviafloresta(subtropical,atlântica,emgaleria)ouarbustivalitorânea.

Ossítiossãocaracterizadospormanchasdeterraescura,circularesouelípticas,omaiornúmeroeasmaioressãomaisantigas,variando,respectivamente,desdeoitoatéisoladas,de30ma4mdediâmetro,alinhadas,ocupandoáreasdesde250.000m2atémenosde10m2.

Aspectosgeraispredominantes:atécnicadeconfecçãoéoacordelado,antiplásticoarenoso(areiafinaegrossa-maldistribuídanapasta),argiloso(hematita)ecerâmicatriturada;apresentafendasnosroletes,bolhasdear,maucozimentoouincompleto;afraturaéirregulareadurezavariaentre3e4.

Otratamentodasuperfícieinternamostraumalisamentomediano.Asuperfícieexterna,alémdosimplescombomalisamento,possuiosváriostiposdecorativosplasticamente,destacando-seocorrugado,corrugado-ungulado,ungulado,escovado,engobevermelhoepintadodevermelhoe/oupretosobrebranconafaceexternaou/einternae,ainda,técnicasassociadas.Asformascaracterísticassãoasesféricas,semi-esféricas,meia-calota,elipsóideshorizontais,carenadas,cônicaseascompostas;contornossimples,inflectidos,compostosecomplexos;otamanhovariadesdepequeníssimasvasilhasde4cmatégrandesurnascom95cmdeboca,amédiagirandoentre16e32cm;aespessuradasparedesoscilaentre3e37mmcomamédiaentre8e12mm.Observa-seuma relaçãoentreaespessuradasparedeseotamanhodasvasilhas.Predominamasbaseselábiosarredondados.

Aindaemcerâmicaocorremcachimbosmodelados,afiadores-em-canaletasobrefragmentosdevasilhaseoutraspeças.

Omateriallíticoassociadoécompostodelâminasdemachadopolidas,afiadores-em-canaleta,lascas,batedores,polidores,matériacorante,talhadores,raspadores,tembetás,placaspeitorais,etc.Materialósseo:pontas,contas-de-colar,anzóis;dente:contas-de-colar;conchífero:contas-de-colarepingentes;tembetásderesina.

Osvestígiosfitofaunísticossãodemamíferos,aves,peixesemoluscosuniebivalves.Tambémforamregistradosossoshumanos.

Osenterramentossãoprimários,dentrodegrandesurnascomtampas,e,posteriormente,secundários, istoé,diretosnosolo,estendidos,e,após,retiradososossosecolocadosemvasilhascomtampaseenterradosnovamente.

Osdadosobtidos foramatravésdecoletas superficiais sistemáticas, cortesexperimentais, rarasescavaçõesecoleções.

1CoordenadordoLaboratóriodeEnsinoePesquisasemAntropologiaeArqueologia(LEPAN),doDepartamentodeBiblioteconomiaeHistória(DBH)daFundaçãoUniversidadeFederaldoRioGrande(FURG);ProfessorTitulardasdisciplinasdeHistóriaAntigaI,ArqueologiaGeraleHis-tóriaPré-ColonialdoRioGrandedoSul,doCursodeHistóriadaFURG.

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2. Introdução

Fomosconvidadosparaparticipar,juntamentecomoutroscolegas,deumtrabalhomaior,ouseja,apresentarumpanoramadatradiçãoceramistaTupiguaraninoterritóriobrasileiro.Coube-nosaregiãosuldoBrasil,osestadosdoRioGrandedoSul,SantaCatarinaeParaná.Paraalcançarosobjetivos,foramestudadascercade50cinqüentafasesdaTradiçãoceramistaTupiguarani,subtradiçõesPintada,CorrugadaeEscovada,utilizandoaspublicaçõesdoPRONAPA,ouaquelasdeautoresqueseguiramamesmametodologiaeobjetivosoque,aliás,representaagrandemaioria.Damesmaformarecorreu-seaoutrosartigossemaquelametodologia,referentesaprojetosouasítiosisolados,osquais,conseqüentemente,alcançaramoutrosresultados.Finalmente,analisamospublicaçõesrelativasàscoleçõesparticulareseinstitucionaisouasestudamosdiretamente.Afaltadeuniformidade,nãosódasdiferenteslinhasdepesquisaoudeobjetivos,refletidanosdiversosautores,dificultouatarefa.Porexemplo,poucospesquisadoresapresentamtodosositensdametodologiautilizadaparaaanálisecerâmica:manufatura,pasta,tratamentodasuperfícieeformas,cadaumcomassuasrespectivassubdivisões.Damesmaformanãosãoespecificadosostiposdesítiosousuaimplantaçãonapaisagemou,ainda,osmétodosetécnicasdarecuperaçãodasamostras.OstrabalhoserespectivosautoresutilizadosconstamnaBibliografia.

Outradificuldadequeencontramos,paraumaapresentaçãopadronizadadosresultados,sãoasgrandesmudançastemporaiseespaciaisqueatradiçãoTupiguaraniapresenta.Revelando-as,buscou-seoferecerainformaçãodisponívelalémdeumamelhorcompreensãodarealidade.

FoielaboradaumatabelacomtodasasdivisõesdesejadaspelacoordenaçãodoProjeto.Aordemrecorrida,comosrespectivositens,foramosseguintes:região,faseousítio(s)oucoleção,tipologiadosítio,implantaçãonapaisagem,métodos e técnicas utilizadas, cronologia, tecnologia de confecção, antiplástico, tratamento interno e externo dasuperfície,cozimento,pintura,formas(abertura,espessuradasparedes,relaçãoespessura-tamanhodavasilha,forma,contorno,borda,lábio,base,apêndice);outrosobjetosdecerâmica.Comocomplementofoiadicionadoomateriallítico,ósseo-dente,conchífero,resina,vestígiosfitofaunísticos,outrasocorrências,alémdasformasdeenterramento.

Aobtençãodasinformações,nocampo,foram,basicamente,atravésdecoletassuperficiaissistemáticasecortesexperimentaiseainda,embemmenorescala,deescavaçõesamplase,excepcionalmente,decoleções.Quandoestaúltimasituaçãoocorrerseráindicado.

3. Caracterização do perfil regional.

a) Os sítios -Ostiposdesítiossãodehabitação,cemitérioouacampamento.Osprimeiros,nasuagrandemaioria,sãocaracterizadospormanchasdeterraescuraquevariamdacoloraçãocinzaàpreta.Oscemitériosencontram-senointeriordoprópriosítio,apoucosmetrosdascasas(nestescasosseriahabitaçãoecemitério)ounasproximidades,nestaordemdeocorrência.NoParanáossítioshabitaçãoecemitériosãomaisfreqüentesdoquenosoutrosestados.Numafase,destaúltimoestado,tambéméregistradaaocorrênciadeurnascomossoshumanosnointeriordashabitações.Osenterramentos,emgeral,apresentamurnascomtampa,ossoseoferendasnoseuinterior–adianteserãoapresentadosmaisdetalhesdeformasdesepultamentos.Algunslocaisforamconsideradosacampamentosemvirtudedospoucosindíciosmateriaisencontrados,comoporexemplo,fragmentosdecerâmicaelítico.

Ossítiosmaisantigosestãolocalizadosnasvárzeasplanasdosgrandesriosouseusafluentesmaisimportantes(Paraná–Paranapanema(Tibagi,Pirapó),Ivaí,Piquiri,Iguaçu;Uruguai–Pelotas,PassoFundo,daVárzea,Ijuí,Ibicuí;Jacuí–Vacacaí,Pardo,Taquari,Caí,Sinos),emlocaisplanos,juntoaconfluênciadearroioseorioprincipal,próximodecorredeirase,inclusive,insulares.Nonordestededuasilhas,doJuncoeChicoManoel,noGuaíba,RioGrandedoSul,

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Prancha 6: Cambuchí (a) e cambuchí caguaba (b)

localizamosumsítioemcadaumadelas.Geralmentesãolugaresinatingíveispelascheias.Asáreasdeconcentraçãodossítioscorrespondemaomédiorio,ondeelecorremaisoumenosencaixadoeselocalizamasvárzeascommenorincidênciadecheias.Quandoestasocorrem,emgeralnoinverno,depositamumhúmusfertilizante,excelenteparao cultivo.A jusante são áreas baixas, facilmente inundáveis em larga faixa de ambas asmargens, impraticáveis àhorticultura.Amontanteasvárzeasvãoestreitando-secadavezmais,atéoseutotaldesaparecimento.Comopassardotempo,osgrupos,paulatinamente,vãoseafastandodestasvárzeasparaaproximidadedecursosd’águamenoresatéasvertentes,alémdelugaresmaiselevadosnasencostasetopodascoxilhas.Distanciam-seemmaisde10kmdorioprincipaloudeseusafluentes.Certascaracterísticaspermanecem,comoporexemplo,habitaráreasplanaseemambientesflorestais.Acimade600mdoníveldomar,noplanalto,eemregiãodecampos,noextremosul-sudeste-sudoeste,nãosãoencontradosvestígiosdatradiçãoTupiguarani.Naúltimaregiãoaexceçãosão:1.asmatas-em-galeriadorioUruguai,Camaquã,Jaguarão,ealgunslocaiselevadosdaserradosudeste;2.amataatlânticadolitoralmarinhonortedoRioGrandedeSulatéoParaná;3.avegetaçãoarbustivadaplaníciecosteiracentralelagunar(PatoseMirim)doRioGrandedoSul.Nesteúltimocasoaposiçãodossítiosénabarreira-lagunarIII,noseulimitecomaIV,esãodotipoerodidosobredunas.OsvestígiosdatradiçãoTupiguaranitambémocupamaspartesmaisaltasdossambaquis.Emperíodosmaisrecentesainda,passamaocuparabrigosecavernasnomédiorioPardoealtoCamaquã.

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Prancha 6: Cambuchí (a) e cambuchí caguaba (b)

Aquelasocupaçõesmaisantigas,nasvárzeas,apresentammaiornúmerodemanchasdeterraescura(habitações),até8,quealcançam30mdediâmetroou,aselípticasdeaté70x90m.Comopassardotempo,paulatinamente,vaidiminuindoonúmeroeotamanhodasmanchas,chegandoasomenteumacom4mdediâmetro.Adistânciaentreashabitaçõeséentre5e100m,aproximadamente.Aformadashabitaçõesécircularouelíptica.Otamanhodaaldeia,conseqüentemente,tambémdiminui,oscilandoentre100e30.000m2comcasosexcepcionaisde250.000m2no rio Uruguai,emSantaCatarina.Aformadasaldeiasécircular,semicircular,emlinhareta(alinhadas),em“T”ouem“L”.Asconstruçõesforamcommaterialperecívelmas,emalgunssítiosem3fasesnoParanáeumanoRioGrandedoSul,encontraramfragmentosouplacasdeargilacomimpressãodevegetais(taipa?).Aprofundidadedacamadadeocupaçãooscilouentrepoucoscentímetrosou superficiaisaté120cm.Asmedidasmaisprofundasemgeralestãorelacionadascomasvárzeasdosmaioresriosondeocorremaioremaisrápidadeposiçãodesedimentos.

EscavaçõesnorioIvaírevelaram,emáreasdeocupação,maisprecisamenteemfogueiras,sinaisdeestacasquepoderiamestarindicandoummoquém(mododeprepararacarneoupeixe).

Vestígios de ocupação da tradição ceramista Tupiguarani são encontrados nas camadas superiores de sambaquis marinhosdos3estados,sendoquenoRioGrandedoSulcorrespondeaolitoralnorteecentroe,ainda,emsambaquislacustres na borda oriental da Laguna dos Patos. No mesmo estado, sua presença também é constatada, porémraramente,notopodecerritos(aterros)daregiãodeRioGrandeeumcasonolitoralcentro.

Asdataçõesmaisantigasencontram-senonortedoParaná,valedoParanapanema,comaidadede80A.D.easmaisrecentes,tambémnaqueleestado,nosudoeste,rioParaná,com1925A.D.NoRioGrandedoSulasmaisantigasestãonocentroenortedoestado,valedosriosJacuíeUruguai,iniciandoem150e730D.C.atingindo1750e1725D.C.,respectivamente.Nasoutrasáreasdoestadomaismeridionalavariaçãoéentre880e1840D.C.EmSantaCatarinaasidadesobtidasoscilamentre880e1700A.D.

b) A cerâmica -Atécnicadeconfecçãodasvasilhaséoacordelado,utilizandoroletessobrepostos,comumabasediscoidalmodeladaouemespiraldesdeabase.Pode-seobservar,emváriosfragmentos,opositivoeonegativodosroletes.AtécnicadomodeladoémaisobservadanoParaná,normalmente,empequeninosrecipientes.Emalgunssítiosde3fasesdoParanáocorreousodotornodeoleiro(torneado),nítidocontatocomoeuropeu.

Produziamdesdegrandesurnasatédiminutasvasilhas.Afunçãomaiorerautilitária,seguidadafunerárianãodescartandoaritualística,especialmenteparaaspintadas.Aquelasmenores,próximasaolimiteinferior(4cmdebocaealtura),poderiamrepresentaratividadeslúdicasouaprendizadodasmeninas,futurasceramistas.

Osantiplásticos,normalmentemaldistribuídosnapasta,sãoarenosos,compostosporareiafina,areiamédiaegrossa,nestaordemde freqüência, formadaporgrãosarredondados, raramenteangulosos,dequartzo, sílex,emnúmerobemmenordecristal-de-rocha,oscilandoentre0,2e9,0mm.Amédiadosgrãosmaispresentessãoaquelescommenosde2,0mm, sendoesporádicososqueapresentammedidasmaiores.Acompanhamgrãosdehematita,especialmentenosantiplásticosargilo-arenososeargilosos,queatingem12,0mm,amaiorparteaoredorecommenosde4mm.Grãosdebasaltotambémocorrem,emduasfasesdorioUruguai,notipoareiagrossa.Outrosantiplásticossãoocerâmica trituradaoumoída,comgrãosangulososdeaté7,0mm,bolasdeargilacujo limitemáximoatingeaproximadamente3,0mm,carvãovegetalcomfragmentosdeaté4,0mmeapenasumafasecommica.Estes“outrosantiplásticos”sãocaracterísticosdoParaná.

A fraturaé irregularcomalgunscasosde regularidade.Sãoobservadasbolhasdeare fendasnos roletes.Ocozimentoéincompleto,ematmosferaoxidante(fogueiraaberta),apresentandoumnúcleoescuroentreparedesclarasdefinaespessura(0,4a3,0mm).Acontece,também,ocozimentoemapenasumadasparedes,externaouinterna.Emraroscasosacocçãochegaasermedianaeatéboaoucompleta.Estaúltimaocorrênciapoderiaestarindicando

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contatocomoeuropeu.Notam-semanchasdetonalidadesvariadasnaparedeexterna,desdeasescurasatéasclaras.Realizadoemfogueirasaoarlivre,estefatoéindicativodecozimentomalcontrolado,istoé,omaterialrecebendomaioroumenorincidênciadeoxigênioefumaça.

Tratamentodesuperfícieinternoapresentaumbom,medianoemaualisamento,nestaordemdefreqüência.Quandoéregistradadecoraçãopintadainternaela,alémdeocupartodaasuperfícieécompostaportraçoscurvilíneos.Apintura,aexemplodaquelaqueocorrenafaceexterna,éconstituídaporlinhasvermelhasoupretasou,ainda,tonalidadesdealaranjado,marrom,pardacentosobreumengobebrancoe,ainda,somenteumengobevermelho.

Externamente o alisamento é bom e denominado, quando sem decoração, de tipo simples, sempre presente em todosossítios, tambémquantitativamente.Ascincodecoraçõesplásticasmaisfreqüenteseemordemquantitativa,cobrindotodaasuperfíciedapeça,sãoacorrugada,corrugada-ungulada,ungulada,escovadaepintadaexternamente.Apintura se estende até a carena, seguindo-se semdecoração (simples). Também freqüentes,mas emquantidadelimitadadefragmentos,temosapintadainternamente(descritoacima),engobevermelhoemumaouemambasasfaceseastécnicasassociadas,emgeralumadasplásticasanterioresnafaceexternaeengobevermelhooupintadanainterna.Técnicasassociadasmaisraras:corrugada-unguladaeescovada,corrugadaeescovada,corrugadaeungulada,escovada e ungulada, roletada e ungulada, marcada com tecido e ungulada; pintada internamente e engobe vermelho externoevice-versa.Outrostiposdedecoração,pelaordemdeocorrência:incisa,serrungulada,ponteada,entalhada,nodulada,digitungulada,pinçada,roletada,unguladatangente,corrugada-espatulada,pintadacomosdedos(engobe

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vermelho),marcadacomtecido,marcadacommalha,cestariaimpressa,pintadaemambasasfaces,pintadadebrancoou preto sobre engobe vermelho, acanalada, canelada, raspada, digitada, perfurada, carimbada, lábio entalhado,estriada,gravada,aplicada,as trêsúltimasemapenasumafaseouárea.Observa-seumamaiorvariedadedetiposdecorativosnoParaná.NoRioGrandedoSul,estamaiordiversidadeéregistradaapenasnasregiõesdoAltoUruguaiedomédioJacuí,particularmenteváriosdosoutros tipos de decoração(acima).Estaconstataçãoreveste-se,também,deumaspectotemporal,istoé,acompanhamosperíodosmaisantigos.Daíseexplicaoparcialoutotaldesaparecimentodevários tiposdecorativosnasoutrasáreasdo leste, sule sudestedoestado,comoporexemplo,o serrungulado,brancosobrevermelho,roletado,digitungulado,nodulado,pinçado,inciso,ponteado.Nocorrugadosãoobservadas,igualmente,diferençastemporais.Omaisacentuadoouprofundoémaispopularnossítiosmaisantigos,aplanandoouficandomaistênuecomopassardotempochegando,inclusive,adificultarsuaclassificação.

Damesmaformaosurgimentodoescovadoésomenteemfasesmaisrecentesounofinaldasseriaçõesdefasesmaisantigas.Elepareceestarvinculadoaocontatocomoeuropeu,particularmenteaojesuítaespanhol.Lembramosqueadecoraçãoescovadaépopularnasmissõesjesuíticasdaprimeirafase,ampliandosuafreqüêncianasegundafasemissioneira(SetePovos).Milleratribuidatasmaisrecentesparaoengobevermelhoque,aexemplodoescovado,épopularnoperíodomissioneiro.

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As vasilhas pintadas evidenciam que o grupo atingiu ou praticava, além do simples domínio de uma tecnologia oumeiodesubsistência, tambémaarte. Atribuímosàsmesmas, funçãoritualísticaenãoutilitáriamúltipla,comoacontece com as demais, aproveitadas para cocção, depósito e consumo de alimentos ou d’água. São as razõesdestaconclusão:1.Nãohaversidoregistradaaocorrênciade fuligemouresíduoscarbonizados (infelizmentenãorecolhidosesubmetidosàanálise),tantonointeriorcomoexterior,particularmentedaspequenasemédias;2.Amaiorcomplexidadeparaconfeccioná-las, comoapreparaçãoeoempregodosengobesbrancoevermelhoe, ainda,aaplicaçãodosmotivosdedecoração;3.Tratam-sedaspeçascommelhoracabamento,desdeaescolhadoantiplástico,oquevairefletir-senotratamentodasuperfícieeascommaiorquantidadedeformascomplexas.Asgrandesurnaspoderiamapresentar,numprimeiromomento,funçãoutilitáriae/ouritualística,respectivamentecomodepósitod’águae/oupreparaçãodebebidasparaasgrandesfestas;numsegundomomento,ritualística,poiseramaquelasutilizadascomournasfunerárias.

Osmotivosdaspinturassãogeométricos,normalmenteretilíneosexternaecurvilíneosinternamente.Emtodaadobraduradavasilha,externamente,nota-seumarelativaestreitafaixadeengobevermelho,incluindoalinhalogoabaixodacarenaeolábio.Napartesuperiordeumavasilhacarenada,detamanhomédio,foilocalizadaumafiguraantropomórficaflectida,estilizada,emvermelhosobreengobebranconafaceexterna,acompanhandooutrosmotivostradicionais.Osítioencontra-senoaltovaleejuntoaorioTaquari.

Deve-seestaratentoparaapossibilidadedealgumtipodecontatoquandoapinturafogeao“padrão”,comoporexemplo:a)externamenteumalargafaixadeengobevermelhoseguidaouantecedidaporpintura;b)internamentepontosvermelhos(“petit-pois”),produzidospelaextremidadedodedo,sobreengobebranco,tendonapartecentral(fundo)umcírculocomengobevermelho,acrescidodofatodetratar-sedeumavasilhacomposta(funda)enãoemmeiacalota(rasa)-coleçãoColares,litoralcentrodoRioGrandedoSul.

Excetonasvasilhaspintadasexternamente,adecoraçãozonaléraríssimacomoregistrodeapenasumcasodevasilhacorrugadadabordaaté15cmantesdabase.

Adurezaseencontraentre2e5,comamplopredomíniode3a4(EscaladeMohs).Asformasdosrecipientessãoemmeiacalota,semi-esférica,esférica,elipsóidehorizontal,ovóide,cônica,eas

compostasbicônicas,cônica(partesuperior)emeiacalotaouovóide–asduasprimeirassãoasmaisfreqüentes.Oscontornossãosimples,inflectidos,compostos(cônicaemeiacalota;cônicaeovóide;bicônica;cônicaemeiacalota;bi-elipsóide–duplobojo)ecomplexos.Aspintadasexternamenteapresentamcarenanapartemaisoumenoscentraldavasilha.Diminutaéaocorrênciade“telhados”ouimbricações.Sãomuitorarosospratos(assadoroudiscos)debeiju,porémsãonotadosnos3estados.Aposiçãoqueseapresentamasbordas são:extrovertidas, introvertidaseverticais,comescassosregistrosdeinclinadaexternaeinternamente;quantoaformasãodiretasepoucoscasosdedobradasemaisaindadecontraídaseexpandidas;quantoàconfecçãoapresentam-secambadas,algumascomreforçoexternoouraramenteinterno.Observam-selábiosarredondados,representando,emgeral,maisde80%,apontados,aplanados e biselados – raramente foram constatadas ungulações, incisões ou entalhes sobre o lábio. Tratando-sederecipientespintados,sobreolábioéaplicadoengobevermelhoe,externamente,umafaixavermelhaemtodaadobraduraqueelesapresentarem.

Aaberturadasvasilhasvariaentre4e95cm(altura80cm),predominandoafaixaentre16e32cm;aespessuradasparedesoscilaentre0,3e3,7cm,comamaiorfreqüênciade0,7a1,2cm.Existeumarelaçãodiretaentreotamanhodavasilhaeaespessuradaparede.Arelaçãodaalturacomaaberturadavasilhaéemtornode1:1,dificilmenteumaatingindoodobrodaoutra,exceçãodastigelasemmeiacalotaouelipsóideshorizontais.Asbasessãoarredondadas,cônicasoulevementecônicas,raramenteplanas.UmafasedoParanáacusouapresençadebasesperfuradas.Asplanastornam-sepopularesnoperíodopós-contatocomoeuropeu,quandopassamaserconfeccionadas,também,basesempedestal.

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Perfurações, alças, asas ou outros apliques de suspensão externos, alguns centímetros abaixo da borda, sãobastante rarosnoperíodopré-colonial. Emapenasuma fasenoParaná localizaram-sebordas repuxadaspara forasemelhantesaasaseapliquescomobotões,algunsperfurados,próximosaolábio.Internamenteocorremsuportesdetampa,representadospor:a)apliquestriangularesdeconetruncado,cujabaseéfixadanaparededavasilha,quepodesercircundanteouintermitente;b)bemmaisrarassãoasalças.

NaregiãodeRioGrandeelitoralcentro,nosudeste-lestedoRioGrandedoSul,foramencontradasevidênciasdecontatoentreatradiçõesceramistasTupiguaranieaquelaquejáocupavaaárea,aVieira.Técnicadeconfecção,técnicasdecorativaseformasdaTupiguaranieantiplásticoVieirasãoasprovasobtidas.NoParanátambémocorremexemplosdecontato,comoaadoção,pelaTupiguarani,deformase/outiposdedecoraçãodatradiçãoItararé(Taquara).Pinçada, cestaria impressa, ungulada tangente, ponteada, incisa, digitada e carimbada, são decorações típicas daItararé(Taquara).

ConvémsalientaraexistênciadesobreposiçõesdatradiçãoTupiguaranicomaUmbu,emtodasasregiões;comaHumaitáeTaquara(Itararé),doParanapanemaàencostasuldoplanaltonoRioGrandedoSul,inclusiveolitoralmarinho norte; da encosta sul do planalto no Rio Grande do Sul até o extremo sudeste do mesmo estado, incluindo o litoralcentro,comaVieira.

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Prancha 5: Yapepó mírí (a) e yapepó (b, c)

c) Outros materiais cerâmicos

Sãorelativamentepopularesoscachimbos,confeccionadosutilizandoatécnicadomodelado.Amaioriaapareceem coleções particulares pois, a exemplo de outras peças, são facilmente identificados.Os tipos existentes são otubular,fornilho,angularemonitor(BasileBecker&Schmitz,1969).

Afiadores-em-canaleta sobre fragmentosdevasilhas apresentamumagrande freqüêncianos sítios litorâneos,motivado pela ausência de rochas. Nas outras áreas possuem uma pequeníssima popularidade, substituídos peloarenito (ver Material lítico).

Registradosemalgunslocaiseempequenaquantidadetemosascontas-de-colarmaisoumenosesféricas,comperfuração central; suportes de panelas emcerâmicamaciça, cônicos, cilíndricos ouplano-convexos, seme comdecoração acanalada ou serrungulada; roletes cilíndricos (pingente ?) ou cordéis de pasta compossibilidade dasextremidades seencontraremamassadasouapontadas;massasdeargila, forma irregular,algumascom impressõesdigitais ou vegetais, neste caso ramos, varas,madeira (taipa ? casas barreadas ?); discos perfurados; peças de usodesconhecido: cilindro com entalhe circundante e chocalho oumaracá(?), cada uma em fase distinta do Paraná.Cachimbo antropomorfo, telha goiva, colher, castiçal e carimbo, encontrados tambémno Paraná, estão a indicarcontatocomoeuropeu,osdoisprimeirosvinculadosàreduçãojesuíticadeLoretoeosegundoaosítiohistóricodeCiudadRealdoGuairá.

d) Material lítico –Abundante,variadoemaiselaboradonossítiosmaisantigosounaparteinferiordasseriações,vai,paulatinamente,desaparecendonosmaisrecentes.Espacialmentecorrespondeàsvárzeasdosmaioresrioseseusprincipaisafluentes–amesmaconstataçãoparaomaterialcerâmico.Entreaspeças líticasmaiscaracterísticasdatradiçãodestacamosas lâminasdemachadopolidas,petalóides,embasalto, raramentecomgargaloquepodeserpicoteado,osafiadores-em-canaletaemarenitoeaslascas,emcalcedôniaouquartzo,utilizadasparacortar,raspar,perfurar.Destacamos, também,osbatedores,polidores,alisadores, talhadores,objetosdeadorno (placaspeitorais,pingentes,contas-de-colar–numsítio,noaltorioUruguai,constataram360contasdecoloraçãoazul,verdeebranca),tembetásdecristalderochaouquartzoleitoso,cilíndricos,emformade“T”(foramencontradosaté8numlocalnoaltorioUruguai)e,maisraro,curvos.NovaledorioPardo,RioGrandedoSul,verificou-seumanarigüeira,emcristal-de-rocha,cilíndricaecurva.Outrosinstrumentos:percutores,pedrascomdepressãosemi-esféricapolida(“quebra-coco”),núcleose,numsegundoplano,polidas,asmãosdepilão,fragmentodemó,marteloscomentalheparaencabar,pontacilíndricadeusodesconhecido,disco (inconcluso?)e triturador(esférico);burilemapenasumsítionoParaná.EmfaseslocalizadasnocentroenosuldoRioGrandedoSule,portanto,contíguasasáreasdecampo,foramencontradasbolasdeboleadeiracomsulcocircundantee,emumsítioapenas,lenticularoupedradefunda.AdotadaspelatradiçãoTupiguarani,nasuaergologia,sãopeçasoriginalmentedastradiçõesUmbueVieira.Ocorrem,também,nasreduçõesjesuíticasespanholas.OutroinstrumentoobtidoemsítioTupiguarani,deumafasenocentrodoestado,éoitaizáouitaiçá.Alémdestaocorrência,foramencontrados15nareduçãojesuíticadeJesusMaria(1633-1636),novaledorioPardo,pertencenteàfaseReduções,transicionalentreastradiçõesTupiguaranieNeobrasileira(Iberoindígena).Estapeçaincaicafoiintroduzidapelospadresjesuítasespanhóisnoperíodomissioneirodaprimeirafasenoestado(1626-1641).

EmriachosafluentesdorioIvaílocalizaram-seblocosdediabásiocomsulcosalisadorese,norioParanapanema,blocosfixosdearenitometamorfizadocomsinaisdepolimento,cadaocorrênciaassociadaaumafase.

e) Material ósseo e dente -Osinstrumentosmaiscomunsemossosãoaspontas,seguindo-seascontas-de-colar,anzóisepeçasdeusodesconhecido;emdenteapenascontas-de-colar.

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f) Material conchífero -Contas-de-colarepingentes,algunsinconclusos,sãoasúnicaspeçasnestetipodematéria-prima.Sãoemgeralrecortadasnaformadiscoidal,retangular,triangularoupequenasunivalvesmarinhascomoápicerecortado.

g) Resina –Em4fasesnoParanáforamregistradostembetásinteirosefragmentadosderesina,umdelesemformade“T”,e,numadestas4fases,ainda,bolasdamesmamatéria-prima.

h) Vestígios fitofaunísticos -NasmanchasdeterraescuradesítiosdatradiçãoTupiguarani,especialmentenaqueleslocalizadosnasvárzeasdosgrandesemédiosrios,sãoabundantesosvestígiosfitofaunísticos.Observa-sevariação deste tipo de material na proporção da alteração do meio ambiente, como por exemplo, sítios do interior e do litoralmarinho.Damesmaformanota-sequeeramutilizadososrecursosoferecidosemmaioroumenorabundância.Sãorepresentadosporossosedentesdemamíferos(cervídeos,canídeos,marsupiais,tatus,porco-do-mato,roedores),lagartos,tartarugas,aves,peixeseconchas,particularmentegastrópodesebivalvesdeáguadoce,fluviaisoulacustres,emarinhos.

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i) Ossos humanos - Emdois sítiosnoRioGrandedoSul,umnovaledo rio JacuíeoutronoPardo, foramencontrados,no interiordeumamanchade terraescura, juntamentecomoutrosvestígios fitofaunísticos,alémdefragmentosdecerâmica,lítico,etc.,ossos(fêmures,costelas,maxilares,etc.)edenteshumanos.Estesfatosparecemnosindicarantropofagia,hábitopraticadopelosgrupostupieguarani.

j) Outras ocorrências -Nointeriordeurnas,relativamentegrandes,foramregistrados,alémdeossosedenteshumanosdeadultosedecrianças,asseguintespeças:isoladasou,commaiorfreqüência,associadasentresi:recipientesmenorescomtamanho,formaedecoraçãovariadas,lâminasdemachadopolidas,tembetás(até3)decristal-de-rochaeresina,afiador-em-canaleta,cachimbos(até3),polidores,discodepratacomperfuraçãoecontasdecolarcilíndricas(eesféricas?)devidro.Osdoisúltimosregistrosindicamcontatodiretoouindiretocomoeuropeu.Ocontatodiretoécomprovadoquandoconstatada,nasuperfíciedo(s)sítio(s),alémdomaterialcaracterísticoautóctone,algunsobjetosexóticosdemetal(pregos,cravos,cunhas,botões,etc.),vidro(contas-de-colar,garrafas),louça(faiança,vidradaouesmaltada),cerâmicacolonialdevasilhas,tijelas,cachimbos,telhas,etc.Estesmateriaisdevemestar,preferencialmente,acompanhadosdealgumtipoindicativodeumprocessodeaculturação,porexemplo,nacerâmica,formas(pratos,basesplanaseempedestal)e/outécnicas(usodotornoedoforno)exóticasedecoraçãoe/ouantiplásticolocal.Casoistonãoocorrapodemosestarlidandocomumsimplescasodesobreposição.

Osenterramentosemurnas(funerárias)foramprimáriosousecundários.Nosprimários,oindivíduologoaomorrereraflectidoecolocadonointeriordegrandesurnascomtampa.Estas,igualmentedecerâmica,eramemborcadassobreaurnaeapoiadasinternaouexternamente.NumafasedoParanáocorreuumcasodeindivíduoacocoradoe,sobreocrânio,umavasilharasaemborcada.Nomesmoestadoforamregistradas30urnasnumsítio.

Osepultamentoprimário,diretamenteemurnas,émaisantigo,daísomenteserencontradonorioParanáeseusgrandesafluentes,AltoUruguaiemédioJacuí.NoParanáapesquisaproporcionou:1.doisindivíduosnumaurna;2.umcrânionofundodeumaurnaeossoslongosaoredor;3.pequenosrecipientesnointerioreforadeumaurna;4.urnascomtampasrasas;5.algumasurnassemfundo.

Nasdemaisárease,portanto,comdataçõesmaisrecentes,acontecemosenterramentossecundários:oindivíduoeracolocadodiretamentenosoloe,comopassardotempo,exumavam-noedepositavamseusossosdentrodeumaurnacomtampa.Maisrecentemente,ainda,retiravamecolocavamsomentealgunsossosdentrodeumaurnacomtampa.Na planície costeira central realizaram, em três locais pelomenos, o enterramento secundário apenas docrânio.Devidoaestasmudanças,otamanhodasurnasvaidiminuindogradativamente.

Quandoencontradosenterramentosdiretamentenosolo,completos,sãoconsideradosprimários,umaveznãohavercertezade suaposterior inumação.Exemplosdestas formasde sepultamentos foramdescobertosnoParaná,istoé,diretosnosolo,semiflectidos,comgrandesfragmentosderecipientessobreacabeça,umtembetáaoladodamandíbulae,aospés,umalâminademachadopolida,afiadores-em-canaletaecorante.NolitoralnortedoRioGrandedoSul,EuricoMiller(informaçãopessoal)encontrouenterramentodiretonosolo,estendidoemdecúbitodorsal,comvasilhasoufragmentosdestassobreocrânioejuntoaospés.

A diminuição do tamanho das vasilhas, particularmente as utilizadas para enterramento (urnas), pode estarrelacionadaà reduçãodo tamanhodashabitaçõesealdeiase,conseqüentemente,dapopulação.Estedecréscimopopulacionalredundarianoequivalentetamanhodasvasilhasconfeccionadas,primordialmente,comafinalidadedepreparareconterbebidas(talhas)e,damesmaforma,nasfestasparaasbeberagensdogrupo.

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27. __________. (Coordenador)Projeto Arqueológico Itaipu: quarto relatóriodaspesquisas realizadasna áreade Itaipu (1978/79),Curitiba, (4): 109,1979.28. __________. (Coordenador)Projeto Arqueológico Itaipu: quinto relatóriodaspesquisas realizadasna áreade Itaipu (1979/80),Curitiba, (5): 102,1980.29. __________.(Coordenador)Projeto Arqueológico Itaipu: sextorelatóriodaspesquisasrealizadasnaáreadeItaipu(1980/81),Curitiba,(6):69,1981.30. __________.(Coordenador) Projeto Arqueológico Santiago: relatóriodaspesquisasrealizadasnaáreadausinahidrelétricadeSaltoSantiago(1979/80),Florianópolis-Curitiba,1981,101p.31. __________. (Coordenador) Projeto Arqueológico Itaipu: sétimo relatóriodaspesquisas realizadasna áreade Itaipu (1981/83),Curitiba, (7): 106,1983.32. __________.(Coordenador) Projeto Arqueológico Rosana-Taquaruçu. SãoPaulo:FundaçãodaUFPR-CESP,1984.80p.33. CHMYZ,Igor&SAUNER,ZulmaraC.NotapréviasobreaspesquisasarqueológicasnovaledorioPiquiri.Dédalo, Museu de Arqueologia e Etnologia daUSP,SãoPaulo,13:7-36,1971.34. FERRARI, Jussara Louzada.Opovoamento Tupiguarani no baixo Ijuí, RS, Brasil.Pesquisas, Antropologia. São Leopoldo, InstitutoAnchietano dePesquisas,(35):131,1983.(DissertaçãodeMestrado).35.KERN,ArnoA.(Org.)etal.Arqueologia Pré-histórica do Rio Grande do Sul;PortoAlegre,MercadoAberto,1991.356p.36. KLAMT,SergioCelio.LevantamentosarqueológicosnaregiãodeVilaMelos,GeneralCâmara,RS,Brasil.Revista do CEPA,SantaCruzdoSul,FISC,13(15):5-40,1986.37.LAMING,Annette&EMPERAIRE, José.A jazida JoséVieira,umsítioguaraniepré-cerâmicono interiordoParaná. Revista do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas,Arqueologia,Curitiba,UFPR,1:143,1959.38.LASALVIA,Fernando&BROCHADO,JoséJoaquimJustinianoProenza.Cerâmica Guarani. PortoAlegre;PosenatoArteeCultura,1989.175p.39.MEGGERS,BettyJ. Como interpretar a linguagem da cerâmica: manual para arqueólogos.Washington:SmithsonianInstitution,1970.111p.40. MENGHIN,OsvaldoF.A.ObservacionessobrelaarqueologíaguaranideArgentinayParaguay.In:Jornadas Internacionales de Arqueologia y Etnografia, 1,BuenosAires,1962,p.53-68.41. MENTZRIBEIRO,PedroAugusto.OssítiosarqueológicosdovaledorioCaí. Pesquisas,Antropologia,AnaisIISimpósiodeArqueologiadaáreadoPrata,SãoLeopoldo,InstitutoAnchietanodePesquisas,18:153-69,1968.42. __________.AcerâmicaTupiguaranidovaledorioPardoeareduçãojesuíticadeJesusMaria.In:CongresodeArqueologiadeChile,7,AltosdeVilches, Actas.p.637-47,1977.43. __________.CerâmicaTupiguaranidovaledorioPardo. Revista do CEPA, SantaCruzdoSul,FaculdadedeFilosofia,CiênciaseLetrasdeSantaCruzdoSul,(6):54,1978.44. __________.OTupiguaraninovaledorioPardoeareduçãojesuíticadeJesusMaria.Revista do CEPA,SantaCruzdoSul,FaculdadedeFilosofia,CiênciaseLetrasdeSantaCruzdoSul,10:172,1981.(DissertaçãodeMestrado).45. __________.OTupiguaraninovaledorioPardoeainfluênciamissioneira.In:Simpósio Nacional de Estudos Missioneiros,SantaRosa,Anais.FaculdadedeFilosofia,CiênciaseLetrasDomBosco,5:188-206,1983.46. MENTZRIBEIRO,PedroAugusto;MARTIN,HardyElmiro;STEINHAUS,Roberto;HEUSER,Lothar&BAUMHARDT,Gastão.AreduçãojesuíticadeJesusMaria,Candelária,RioGrandedoSul-NotaPrévia.Revista do CEPA, SantaCruzdoSul,FaculdadedeFilosofia,CiênciaseLetrasdeSantaCruzdoSul,(4):60p.,1976.47. MENTZRIBEIRO,PedroAugusto;MARTINS,AntôniodaSilva;RIBEIRO,CatharinaTorrano&SILVEIRA,Ítelada.AocupaçãodelocaiscobertospeloTupiguaraninovaledorioPardo.Revista do CEPA, SantaCruzdoSul,FISC,(11):7-31,1982.48.MENTZRIBEIRO,PedroAugusto;RIBEIRO,CatharinaTorrano;SILVEIRA,Ítelada&KLAMT,SergioCelio.LevantamentosarqueológicosnoaltovaledosriosCamaquãeIrapuá,RS,Brasil. Revista do CEPA,SantaCruzdoSul,FISC,(15):41-70,1986.49.____________.Arqueologia do Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, Brasil. PUCRS;PortoAlegre,1991. 654p.(TesedeDoutorado). 50.____________.ArqueologiadoValedoRioPardo,RioGrandedoSul,Brasil. BIBLOS:RevistadoDepartamentodeBiblioteconomiaeHistória,RioGrande:FURG,DepartamentodeBiblioteconomiaeHistória,(7):9-87,1995.51.MENTZRIBEIRO,PedroAugusto. LevantamentosArqueológicosnoMédioeAltoJacuí,RS,Brasil. BIBLOS: Revista do Departamento de Biblioteconomia eHistória,RioGrande:FURG,DepartamentodeBiblioteconomiaeHistória,(8):9-42,1996.52. MÉTRAUX,Alfred.Migrations historiques des tupi-guarani. Paris,Libr.OrientaleetAméricaine,1927,45p.53. __________.Theguarani;thetupinambá.Washington,Handbook of South American Indians, Bull. Bureau Amer. Ethnology, 3(143):69-133,1948.54-MILLER,EuricoTheófilo.PesquisasarqueológicasefetuadasnonordestedoRioGrandedoSul.Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém,6:15-38,1967.55. __________.PesquisasarqueológicasefetuadasnonoroestedoRioGrandedoSul (AltoUruguai).Publicações Avulsas do Museu Paraense Emílio Goeldi,Belém,10:33-46,1969.

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82. __________.Manuais de Arqueologia.Curitiba:CentrodeEnsinoePesquisasArqueológicas,UFPR,1969.8p.83. __________. Cadernos de Arqueologia,Paranaguá:MuseudeArqueologiaeArtesPopulares,UFPR,1976.p.119-48.

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Estado actual y perspectivas de la arqueologíade la “Tradición Tupiguaraní” en Argentina

Daniel Loponte1

AlejandroAcosta1

ResumenSe presenta un breve resumen de las investigaciones arqueológicas llevadas a cabo en Argentina, referidas a

la denominada “Tradición Tupiguaraní”; el estado actual de las mismas y las perspectivas para el futuro inmediato. Un rápido análisis de la bibliografía existente, revela que estos estudios tuvieron en términos generales un carácter esporádico y se concentraron básicamente en el estudio de la alfarería. En la última década del siglo pasado y en los primeros años del presente, nuevos estudios de campo emprendidos en las provincias argentinas de Misiones, Corrientes y Buenos Aires, han comenzado a aportar nuevos datos sobre la arqueología de estas poblaciones, con un renovado interés por los aspectos relacionados con el estilo de vida, el proceso de colonización de nuevos espacios, su relación con las poblaciones locales y el estudio de la variabilidad de esta gran unidad arqueológica.

Introducción

DesdequeMuñiz(1818)efectuaralaspionerasobservacionesarqueológicassobreuncementeriocompuestopor urnas funerarias “labradas como escama de pez” sobre el río Paycarabí en elDelta bonaerense, los estudiosarqueológicoscorrespondientesalamacrounidadarqueológica“TradiciónTupiguaraní”(queabreviaremosaquícomo“TTG”)o “Sub-TradiciónGuaraní” (Brochado1984,1989; Schmitzet al. 1990; Soares1998,1999), ha tenidoundesarrolloescasoydiscontinuoennuestropaís(Burmeister1872;Ambrosetti1895;Torres1911;Outes1917,1918;MaldonadoBruzzone1931;Lothrop1932;Vignati1941;Cigliano1968;Ciglianoet al.1971;CaggianoyPrado1991;Rodríguez1994,1996yenprensaayb;Sempé1999;SempéyCaggiano1995;RizzoyShimko2003;Caggianoet al.2003;LoponteyAcosta2003-2005,2005;Bogan2005;Capparelli2006;Mucciolo2005).Porotrolado,apesardequesuregistroseencuentraalolargodeaproximadamente1500kmdentrodelterritorioargentino,esnotablelaconcentracióndeobservacionesarqueológicasenlosextremosseptentrionalesymeridionalesdesudistribución,lascualesasuvez,enfatizaronlosanálisisestilísticosytipológicosdelaalfareríaysecundariamenteaspectosrelacionadosconlafunebria.Estohageneradoundesequilibrioevidenteentrelainformacióndisponiblesobrelaalfareríaguaraníyelestilodevidadelosgruposhumanosquelaprodujeron.

Apartirde2002,losestudiosarqueológicossereactivaronenelDeltadelParaná,graciasalareexcavaciónyanálisisdelosmaterialesprocedentesdelossitiosArroyoFredes(LoponteyAcosta2003-2005,2005;Mucciolo2005)yArenalCentral(Bogan2005;Capparelli2006).

Estetrabajopretende,precisamente,efectuarunapequeñarevisióndelagenéricamentedenominadaarqueologíaguaraníennuestropaís.Paraello,hemosestructuradoesteartículoentrespartes.LaprimeradeellasserefieremuysucintamentealosantecedentesdelasinvestigacionesenArgentina.Comosucedecontodoresumen,hayunaselecciónbibliográfica,yaqueexisteunagrancantidaddetrabajosqueabordanmarginalmentelacuestiónguaraní.Enfatizamos

1InstitutoNacionaldeAntropologíayPensamientoLatinoamericano-INAPL-,TresdeFebrero1370,[email protected],[email protected]

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aquí los resultados de las investigaciones en un sector del extremomeridional de la distribución de la TTG, quecorrespondealhumedaldelParanáinferior.Luegopresentamosunabrevereseñadelasinvestigacionesquesellevanacaboactualmenteenestaúltimaárea,para luegofinalmenteabordaralgunasperspectivasqueseabrenenestosestudios.Debemosaclararqueporrazonesdeespacio,hemosdejadodeladolasinvestigacionesreferentesalossitioshistóricos,quesellevanadelanteosehandesarrolladoendiferentespuntosdelnordesteargentino,particularmenteenlaprovinciadeMisiones.

Algunos antecedentes

Las excavaciones que Ambrosetti (1895) efectuara en Misiones permitieron detectar sin ambiguedad laexistenciadeinhumacionesenurnasdentrodelacuencaargentinadelParaná,adscriptasporaquelautor,alosgruposhistóricamentedenominadosGuaraníes.Unosañosdespués,Torres(1911)yOutes(1917,1918)identificaronalfareríasimilarendiferentespuntosdelDeltainferiordelParanáyenlaislaMartínGarcía,conectandodealgunamanera,elregistroentreestosdospuntosdelacuenca.Aprincipiosdelosaños’20,PabloGaggerollevóadelanteexcavacionesdeciertaextensiónenelsitioArroyoFredes(DeltainferiordelParaná).Enformaconsecutiva,en1925,excavóelsitio“ArroyoMalo”,aorillasdelArroyoGuayracá(oMalo),apocoskmdedistanciadelprimero.EnambossitiosrecuperóinhumacionesenurnasquefuerondepositadasenelMuseodeCienciasNaturalesdelaPlata.SibienGaggeronopublicólosresultadosdesusexcavaciones,estassentaronelprecedenteparalostrabajosqueSamuelLothrop(1932)efectuóenArroyoMalodurante1928,yqueconstituyeronlabasemássólidasobrelacualseasentóelconocimientodelaarqueologíaguaraníenelDeltadelParanápormásde70años.EnbasealosmaterialesrecuperadosenAo.Malo,LothropobservólasestrechassimilitudestecnológicasyestilísticasdelaalfareríaconaquellapublicadaporAmbrosetti(1895)ylarecuperadaporTorres(1911)yOutes(1917,1918)endiferentespuntosdelDelta,vinculándolosconlosgruposetnográficamenteconocidoscomoGuaraníes.Estaúltimarelaciónestabasustentada,segúnLothrop,porlasestrechasrelacionesestilísticasytipológicasdelaalfareríaconlasvasijasmanufacturadasporlosGuaraníeshistóricosycontemporáneosdeBrasilylosgruposChiriguanosdeprincipiosdelsigloXX,ademásdelaequivalenciaobservadaentre los patrones de inhumación del registro arqueológico y los grupos histórica o etnográficamente observados(Lothrop1932:127).

SegúnlasdescripcionesdeLothrop,esfactibleconsiderarquelasinhumacionesdeAo.Malo,todasdecaráctersecundario,estabanacompañadasporunpequeñoajuar,compuestodeotrasurnasmáspequeñasquecontendríanrestosdealimentos,pigmentosyartefactoslíticos.Lothroptambiéndescribióloquedenominó“entierrossobretiestos”,queprobablementecorrespondanaurnasfunerariascolapsadas,aunquedesestimaraexplícitamenteestaposibilidadenalgunoscasospuntuales.

ElacabadodelasuperficiedelaalfareríaenAo.Malotendríaunarelacióndirectaconlostamañosdelasvasijas.Enefecto,Lothropobservóquelacerámicacorrugadapertenecíamayoritariamenteagrandesvasijas,mientrasquelos fragmentosungiculadosprocedíande recipientesmáspequeños,aunqueconalgunasexcepciones.Laalfareríamonocromaroja,muyabundanteenelsitio,presentamayorvariabilidadtipológica.Entérminosgenerales,lasgrandesvasijasdeestavariedadhabríansidoempleadasfinalmentecomournasfunerarias,complementadasconunpequeño recipiente corrugado como tapa. Asimismo Lothrop menciona la relativa abundancia de fragmentos policromos,señalando la pérdidadel color negro en lamayoría de las piezas, debido a su propia inestabilidad. EnAo.Malotambiénserecuperaronfragmentosdebolasdeboleadora,lascassinformatizarquesegúnLothroppodríanprovenirdeguijarrosdelríoUruguay,ypequeñashachasconfeccionadassobrelosmismos.

EsimportanteconsignarqueelsectorexcavadodeAo.Malocorrespondemayoritariaototalmenteaunárea

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deenterratorios,yporlotanto,elregistroylastendenciasobservadassonaquellasvinculadasparticularmenteconactividadesespecíficasrelacionadasconeltratamientodelamuerte.Elhallazgodecuentasdevidrio,ubicóaestesitioenelperíododecontactohispano-indígena.

EnformacasicontemporáneaalostrabajosdeLothropenelDelta,MaldonadoBruzzone(1931)recolectóunagrancantidaddefragmentoscerámicosenlasinmediacionesdePuntaLara(cercadelaactualciudaddeLaPlata,sectormediodelRíodelaPlata).EsteautorobservólanotablesimilituddelaalfareríabicolorrecolectadaconlarecuperadaenlaislaMartínGarcía,atribuyendosuproducciónagruposdepertenenciaguaraní.PosteriormenteVignati(1941),dioaconocerconmayordetallelacomposiciónanatómicadedospaquetesfunerariosqueseencontrabanenurnasguaraníes,unadeellasrecuperadaenelsitioArroyoFredesylasegundaprovenientedeArroyoMalo,obtenidasenlas excavaciones efectuadas porGaggero. La selección de huesos observada en estos paquetes funerarios incluyetantohuesosdelesqueletoapendicularcomoaxial,aunqueseobservaunapreferenciaporestosúltimos.Enambospaqueteshayhuesosdepárvulosincluidosconaquellospertenecientesaadultos,deformaquedebenserconsideradasinhumacionessecundariasmúltiples,unaconductaquepareceobservarseendiferentespuntosdelacuenca(vermásabajo).

Aproximadamente treinta añosmás tarde,Cigliano (1968) publicó algunos resultados de sus investigacionesen la islaMartínGarcía, en el sitioquedenominó “ElArbolito”. Este autor efectuóuna someradescripciónde lacerámicarecuperada,ademásdeobtenerelprimerfechadosobreunsitiodeestetipo,correspondienteaunfogón,cuyaantigüedad fue fijadaen405±35años 14CAP (GrN5146).Ciglianoycolaboradoresadscribieronestesitio,comootroslocalizadosunpocomásalnorteenelríoUruguayinferiorydeloscualestambiénsedisponedepocainformación(“IsladelMedio”e“IsladeLosLobos),como“FaseGuaraníTardío”(Cigliano1968,Ciglianoet al.1971).ConlostrabajosdeCiglianoycolaboradores,secumplenlosprimeroscienañosdesdequeBurmeisterseñalaralaexistenciadeconjuntosalfarerostupiguaraníeseneláreadelParanámedio.Elresultadodeesesiglodeinvestigacionespermitieron determinar la presencia de estos grupos en diversos sectores del nordeste argentino, estableciendo el puntomásaustraldesuexpansiónenelsectormediodelRíodelaPlata.Asimismo,lanotablesimilitudestilísticadelaalfareríarecuperadaendistintospuntosdelnordestedeArgentinaydelsurdeBrasil,sugirióalosinvestigadoresel escaso desarrollo de conductas de innovación estilística.De igual forma, se documentaronprácticas funerariassimilaresatravésdeunvastoespaciodentrodelsub-continente.Lacronologíapost-hispánicadeAo.MaloyelfechadodelsitioElArbolito,llevaronaconsiderarentrelosarqueólogoslocales,queelarribodeestosgruposcanoerosdebíaubicarseenunperíodomuypróximoaldescubrimientodelRíodelaPlataporpartedeEuropa.

ConposterioridadalostrabajosdeCigliano,dosáreascomenzaronaserinvestigadasconciertasistematicidad:lasprovinciasdeMisionesyCorrientes.Losestudiosarqueológicosenlaprimeradeellashanenfatizadolosanálisisestilísticosdelaalfarería,lastécnicasdemanufacturaysecundariamente,lasprácticasmortuorias(Sempé1999,SempéyCaggiano1995,RizzoyShimko2003).EstasúltimasautorasobservaronenbasealosmaterialesrecuperadosenlossitiosdenominadosCorpusyPuertoVictoria,queeltratamientodelasuperficietendríaunasignificativacorrelaciónconeldiámetrodelosrecipientescerámicos.Losmáspequeñosestaríanconstituidosporvasijasquepresentandecoraciónungiculada, seguidos por unmayor tamaño de los recipientes pintados, siendo los corrugados los que poseen elmayordiámetrodeboca.EstasobservacionessoncoincidentesconaquellasefectuadasporLothrop(1932)enbaseamaterialesarqueológicosdeAo.Malo.Asimismo,lasautorasconsideranquegranpartedelaalfareríalisacorrespondeavasijasquepresentanpinturazonaladscriptaalborde,deformaquelaalfareríaenteramentelisanosuperaríael20%del totaldelconjunto recuperado.Lacerámicapintadamáscomúnposeebicromía (líneasgeométricas rojassobre fondo blanco zonal). La alfarería policroma ymonocolor esmás escasa (Rizzo y Shimko 2003: 124, 125).Lamentablementenohayenlamayoríadeestasinvestigaciones,unadescripcióndetalladadelacomposicióndelos

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paquetesfunerarios;sinembargoesinteresanteremarcarqueestasautorasseñalanlapresenciadeunapequeñaurnaqueconteníafragmentosdeuncráneo,adyacentealaurnafunerariaprincipal.Aúnnosehanpublicadofechadosdeestossitios,aunqueSempé(1996),mencionalaobtencióndeunfechadoradiocarbónico,correspondienteaunsitioeneláreadePanambí(Misiones),cuyaantigüedadfuefijadaen“1030AD”.

EnlaprovinciadeCorrientes,JorgeRodríguezexcavódiferentessitiosatribuidosaestamacrounidadarqueológica,ubicadosenelDpto.deItuzaingó(cuencadelríoParaná),quefuerondenominados“EntidadYaciretáIV”(Rodríguez1996).Enunbreveresumen,Rodríguezmencionalaexistenciadealmenossietediferentessitios“yvariosenlaislaApipé” (Rodríguez1996:45).Sibiennoexisteunanálisisdetalladodel registro recuperado,es interesanteseñalarla existencia de un enterratorio primario flexionado en urna (Rodríguez 1996: 45). Los fechados radiocarbónicosdisponiblesubicanalosdepósitosarqueológicosrespectivosentre330±50y684±170años14CAP.Unfechadode1261±140años14CAPesperaserconfirmadomedianteelanálisisdenuevasmuestras(Rodríguezcom.pers.).Sin embargo, esta fecha es empleada para determinar la posición cronológica de estamacrounidad en el Paranámedio-superior (Rodríguez, en prensa a).Otro sector investigado por este autor corresponde al área noroeste delsistemaIberá,tambiénenlaprovinciadeCorrientes.Aquílossitiospertenecientesala“TradiciónTupiguaraní”fueronenglobadoscomo“TipoCulturalTaraguíII”(Rodríguez,enprensab).Esteautormencionalaexistenciadecincositiosarqueológicos,cuyaextensiónmáximaesde7000m2.Elnivelarqueológicamentefértiloscilaentre20y80cm.Lasinhumaciones detectadas consisten en enterratorios secundarios en urnas, que pueden tener el esqueleto con cierto gradodecompletitud,osoloalgunoshuesos,incluyendoelcráneo.ComosucedeenelcasodelospaquetesfunerariosestudiadosporVignati (1941)procedentesdelDeltadelParaná, lasurnaspuedencontenerrestosóseosdemásdeun individuo, aunque no hay una descripción pormenorizada de los huesos seleccionados. Asimismo, Rodríguezmencionalaposibleexistenciadevasijasconajuar,adyacentesalaurnafuneraria.Losartefactoslíticossonescasosyprácticamentenoexisteninstrumentosretocados.Deigualmanera,losinstrumentosóseossonpoconumerosos.Losartefactosobtenidosmediantepicadoy/opulido,porelcontrario,sonabundantes(elementosdemolienda,hachas,tembetásycuentas)(Rodríguez,enprensab).Sibienlosanálisisfaunísticossehallanencurso(Rodríguez,com.pers.,2004),lasactividadesdecazahabríanincluidounagrandiversidaddeespecies,tantoterrestrescomoacuáticas.

Otralíneadeinvestigaciónqueactualmenteseencuentraendesarrollo,seconcentraenelanálisisdelacerámicaprocedentedeviejasexcavacionesy/odecoleccionesmuseísticas.Estostrabajosanalizanlosaspectostipológicosyestilísticos(CaggianoyPrado1991,SempéyCaggiano1995,Caggianoet al.2003),incluyendoenalgunoscasosvasijasprocedentesdediferentespartesdelterritorioargentino,surdeBrasilyParaguay.Elobjetivodelasmismas,entreotrosaspectos,esgenerarherramientasdeclasificaciónquepermitanalosinvestigadoresdeterminarlatipologíaoriginaldelasvasijasenfuncióndelosfragmentosrecuperadosenlasexcavacionesarqueológicas.Asimismo,estostrabajosestánorientados adeterminar la recurrenciao variabilidadde “los trazosmorfológicos ydecorativos, asociados adeterminadas regiones (Caggiano et al.2003:49).Dadoqueestosestudiosseencuentranactualmenteendesarrollo,esesperablequeenelfuturogenerenmásinformaciónquepermitamejorarnuestracomprensiónacercadelaestructuratipológicayestilísticadelaalfareríatupiguaraníysuvariaciónenlacuenca.

En términos generales, esta reciente etapa de investigaciones ha permitido ampliar el conocimiento sobre algunos aspectosreferidosa lamanufacturade laalfareríayunamejorcomprensiónde ladispersióndeestamacrounidadarqueológicadentrodelterritorioargentino.Enestesentido,unodelosaspectosmásnotorioseslaausenciadelregistrode la TTGexistente enun sector del Paranámedio, correspondiente principalmente a la provincia de EntreRíos,situaciónquehasidorelacionadaalacompetenciaporelespaciocongruposlocales(Rodríguez1994,2004).

Recientemente,CapparelliycolaboradoresharetomadolasinvestigacionesenlaIslaMartínGarcía,enelsitiodenominadoArenalcentral,unsitioubicadoenelsectorinternodelaislayquenocorrespondealsitiodenominado

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porCigliano(1968)comoElArbolito.Lostrabajosencursoidentificaronunampliosectordeocupaciónincluidodentrodeunhorizontedesuelodesarrolladoapartirdeunsustratoarenoso,correspondientealasdunaslocales.Ademásde abundantes restos de alfarería corrugada, ungiculada ymenor cantidad de cerámica policroma, se efectuaronhallazgosnotables,comocabezalesdehachasmanufacturadossobreguijarrosfluvialesyunanzueloconfeccionadoenhueso(Capparellims.).ElanálisisfaunísticoidentificólapresenciadeCharaciformes,Siluriformes,Hydrochaeris hydrochaeris, Myocastor coypus, Cavia aperea, Blastocerus dichotomusyOzotoceros bezoarticus.Lapresenciadeesteúltimopermitesostenerlaexistenciadeunrangodeacciónqueincluyóelsectorcontinental,probablementelacostadelRíodelaPlatadelaR.O.U,quedistaaproximadamente3,5kmdelaisla(Bogan2005).

El humedal del Paraná inferior

ElhumedaldelParanáinferior(HPI)estáintegradoporelDeltadelParaná(quecorrespondeaunsectorinsular)ydiferentessectorescontinentales,comoeláreadepraderasinundablesdelsudestedelaprovinciadeEntreRíosylosBajíosRibereños.ApesardequeseconsideraqueelHPIhabríasidounsectorconunadensapoblaciónguaraní(cf.Rodríguez2004),soloseconocenconcertezalaexistenciade5sitiosarqueológicosquepuedenrelacionarseconla

misma.EstossonArroyoMalo(Lothrop1932),ArroyoLargo(Torres1911ydatosinéditos),ArroyoFredes(Vignati1941;LoponteyAcosta2003-2005,2005),Kirpach(AcostayLoponte2006)yMartínGarcía2 (Outes1917,1918;Cigliano1968;Ciglianoet al.1971;Bogan2005;Capparelli2006)(verfigura1).

En2002comenzamoslostrabajosdecampodelsitioArroyoFredes,sobreelquesehancumplidodoscampañasdeexcavación.Sibienelmaterialseencuentraaúnbajoprocesodeanálisis,algunosresultados ya han sido dados a conocer (Loponte y Acosta 2003-2005;2005;Mucciolo2005).Elalbardón,queseconocehistóricaylocalmentecomo“losplátanos”,esexcepcionalenelárea,debidoa quemuy raramente es anegado por las inundaciones demayormagnitudqueafectanalcomplejodeltaico.

El depósito arqueológico que corresponde a la TTG, deaproximadamente10.000m2de superficie, se formó, tal vez, porunasolaocupaciónenloqueprobablementeeraunaislaarenosaenelespejodelRíodelaPlata,adyacentealfrentedeavancedelDelta, quehoyquedó integradadentrodel complejo insular3. Losmaterialesarqueológicosseencuentrandentrodelhorizontedesueloactual,quepresentaunpotenciaqueoscilaentre25y35cm,sinqueseobservenpicosdiferencialesdedensidaddehallazgosalolargodel espesor delmismo. Se han efectuado numerosos ensamblajes

2ElsitioElArblitoqueexcavaraCiglianoprobablementeesunsitiodiferentedelsitioArenalCentralreconocidoporCapparelli(Capparellicom.pers.).3Unpequeñosectordelalbardónfueutilizadoentiemposhistóricosparaefectuarinhumacionesdirectas,quenotienenrelaciónconlaocupa-ciónguaraní(verLoponteyAcosta2003-2005)

Fig. 1. Arroyo Fredes. Distribución porcentual de las técnicas de acabado de la superficieexterna de la alfarería.

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contiestosprocedentesdediferentesprofundidadesdeestesueloorgánico,sibienlastareasderemontajeaúnnohanconcluido.

Unfechado(AMS)realizadosobreunfragmentodeunadiáfisisdeunhuesolargo,pertenecienteaunodelosindividuos inhumadosenunaurna funeraria recuperadaporGaggero,arrojóunantigüedadde690±70años 14C AP[556-820añoscal.AP,(δ13C-16,72‰)(±2σ)](UGA10789);estefechadoradiocarbónicoconstituyeelsegundodisponibleparaestamacrounidadarqueológicaenelsectormásmeridionaldesudistribuciónyciertamenteelprimeroqueposeeun95%deprobabilidaddesituaraestosgruposenelDeltadelParanáenelperíodoprehispánico.Porotrolado,estotallaausenciadeelementoseuropeosyfaunaexóticaasociadosaldepósitodelaTTG.

Lacomposicióndelconjuntoalfarero,analizadounlote1858fragmentoscerámicosprocedentesdelasunidadesdeexcavación6y7(UE6yUE7)(verfigura2),muestraunadistribuciónrelativamentehomogéneaentretrestécnicasdeacabadoprincipalesdelasuperficie:corrugado(34%),pinturamonocromática(25%)(preferentementerojaaunqueescasoshayejemplaresblancos)ylisasindecoración(36%).

Laalfareríapolicromaesescasa(<2%).UnodelosaspectosmásnotablesdelamismaesquelospocosmotivosgeométricospresentesenArroyoFredessonidénticosalosreportadosenotrosconjuntosalfarerosatribuidosaestamacrounidad,recuperadosendistintaspartesdelsistemaParaná-PlataylacuencadelJacui(Ambrosetti1895,Badano1940,Brochado1989,Lothrop1932,MaldonadoBruzzone1931,Outes1918,RizzoyShimko2003,Schmitzet al. 1990,Serrano1939,Soarescom.pers.,Vignati1941;Capparellicom.pers.)(verfigs.3,4y5).

Fig. 2. Arroyo Fredes. Restos faunísticos identificados (Unidades de Excavación 6 y 7, tamaño de la muestra: 957 restos)

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Fig. 3. Valores isotópicos de humanos dispuestos en urnas de la “Tradición Tupiguaraní”. Delta del Paraná, Argentina.

Figura4.UbicacióndesitiosguaraníesenelDeltadelParaná(enrojo).EnlaIslaMartínGarcíahayvariossitiosdiferentes.Lospuntospequeñosenamarillocorrespondenasitiosdecazadores-recolectores.

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Lapastaempleadaparalamanufacturadealfareríamuestraagregadosdetiestosmolidoscondiferentegradodeselección,queraramentequedanexpuestosenlasuperficiedelostiestos.Loscortesdelgadosefectuadosentiestoscorrugados,pintados(rojo),policromosylisos,permitierondeterminarademáslapresenciadecuarzosubredondeado,mica,trizasyanfíboles,sinqueseobserveunadiferencianotoriaenelempleodepastasdistintassegúneltratamientofinaldelasuperficiedelosrecipientes,aunqueelniveldemuestreoalrespectoesaúnmuypequeño.Lothrop(1932),enbaseamuestrasdemano, tambiénconsignóelusodepastas similares independientementedel tipo recipienteconsiderado.

Contrariamente a lo observado enAo.Malo, los artefactos líticos son relativamente abundantes. Lamateriaprimalíticautilizadaconsisteprincipalmenteenrocassilíceas,provenientesmayoritariamentedeguijarrosfluvialesqueprobablementefueronobtenidosenelvalledelríoUruguay.Tambiénsedetectóelempleodearenitascuarzosas

Figura 5. Arroyo Fredes. Punta de proyectil

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delaFmIruzaingó.Eldesbastedelosnúcleosseprodujocondosytreselementos.Latallabipolarempleadabuscómaximizarlareduccióndelospequeñosnúcleos.Losartefactoslíticosrecuperadosconsistenenlascasdefilonatural,peculiaridadyaadvertidaporOutes(1918)yLothrop(1932).Tambiénserecuperóunapuntadeproyectil,delimbotriangularisóscelesydebaseligeramenteescotada,confeccionadasobreunarocadesíliceblancayopaca(figura6).

El conjunto faunístico se encuentra en un excelente estado de conservación, lo cual sugiere un proceso deenterramiento rápido. Aproximadamente el 80% delmismo presenta un estado demeteorización 0-1 y una bajaincidenciademarcasdecarnívorosyroedores.Lacorrelaciónentreladensidadmineralóseaylosvalores%MAUdeB. dichotomusnoessignificativa(rS=0.08,p>0.05)(Mucciolo2005),situaciónqueapuntaaunabuenaintegridadtafonómicadelconjuntoóseo.La recuperacióndeendocarposcompletosdeSyagrus romanzoffiana yabundantesrestosdevértebrasdeActinopterygii,queposeenbajadensidadmineralósea(Musali et al.2003),sontambiénbuenosindicadoresparcialesdeintegridadtafonómicadeldepósito.

Enunprimermomentoseanalizaron957restosprocedentesdealgunossectoresdelasUE6yUE7(Lopontey

Figura 6. Arroyo Fredes. Alfarería corrugada.

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Acosta2003-2005).Posteriormenteseprocesaron4654restosfaunísticos,procedentesdelossectoresA,B,D,E,FeIdelaUE6(Mucciolo2005),deloscualesseidentificaronaalgúnnivel2345especimenes,ycuyosresultadossonlosquesepresentanaquí(verfigura7),yaqueconstituyenanálisiscompletosdedichossectores.Entérminosnuméricos, M. coypus es la presamejor representada, seguida porB. dichotomus. Cabe consignar que es probable que unaimportantefraccióndelosrestosconsignadoscomoMammalia,pertenezcanadichocérvido,yaquecorrespondenafragmentosdegrandesmamíferos.Lospeces,particularmenteP. granulosustambiénseencuentranbienrepresentados.UngrannúmerodevértebrasdepecessolopuedenserclasificadascomoActinopterygii,dadoqueserequiereparaunamejoridentificación,ladeterminacióndesuspatronesdeosificación(cf.Musaliet al.2003;Loponte2006).Lanotablepresencia de H. hydrochaeris coninequívocasmarcasdedesarticulaciónyfracturasenestadofrescodesuselementosóseos, marcaunanotablediferencia respecto a las conductasdepredaciónde los cazadores-recolectores locales,quienes evitaron su consumo (Acosta 2005; Loponte 2006; Loponte y Acosta 2004). También se han recuperadoalgunosejemplaresdevalvasdeDiplodon sp.yfragmentoscarbonizadosdelendocarpodelfrutodelapalmeradepindó(S. romanzoffiana).

Elanálisisdelarepresentaciónanatómicadelasdiferentespresasaúnsehallaenprocesodeanálisis,peroesnotable la recuperacióndepartesesqueletariasdealtoybajo índicedeutilidadde losdosgrandesmamíferosdelconjunto(B. dichotomus e H. hydrochaeris),locualindicaqueloscadáveresdelaspresasingresaroncompletosalsitio.Enefecto,enelcasodeB. dichotomus,seidentificaronvaloreselevadosde%MAUdepelvis(66%),cráneo(83%)ydediferenteselementosanatómicoscorrespondientesaltarsoycarpo(100%)(Mucciolo2005).Elacarreocompleodepresasgrandes,señalaprobablementecapturasenlascercaníasdelossitiosy/oelempleodetransportefluvialenlasactividadescinegéticas.Enamboscasos,losignificativoesqueindicanlaexistenciadepartidasgrupalesdecaza,yprobablemente,ladistribucióndelaspresasobtenidasalmenosentrelosmiembrosdelgrupoforrajeador(cf.Binford

Figura 7. Arroyo Fredes. Alfarería Polícroma

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2001).Loselementosóseosdeestecérvidoseencuentranintensamentefragmentados.Lostamañosdimensionalesdelosespecimenesóseossugierenquefueronhervidosconelfindeextraerleslosnutrientes(Mucciolo2005),conelfindemaximizarlatasaderetorno.

Los análisis isotópicos efectuados sobre cuatro individuos inhumados enurnas (dos procedentes deArroyoFredesydos recuperadosenArroyoMalo)hancomenzadoaaportar informaciónsobre lasdietas isotópicasde lapoblaciónrespectiva(LoponteyAcosta2003-2005,2005).Losdatosδ13CmuestrandietasinfluenciadasporelconsumodegruposfuncionalesC4,quedadoelcontextoarqueológico,debecorresponderalaingestademaíz.Elpromediodeestos4individuosseñalaunvalordeδ13Cco-15,5±0,78‰,alejadodelpromediodeloscazadores-recolectoreslocales(δ13Cco-19,08±1,18‰;nc=7)(AcostayLoponte2002;Loponte2006)(verfigura8).

Delos4individuossepultadosenurnas,solosehapodidoobtenerelvalordelespaciamientodelasfuentesdecarbonoendosdeellos.Laslecturasobtenidassugierenunadietaconunimportantecontenidocarnívorodeladieta,sisetomanencuentalosvaloreslocalesdelacadenatrófica(elintervaloδ13Capatita-colágenoesdelordende5‰enlosdosindividuosprocedentesdeAo.Malo,frenteaunvalorcercanoa7‰deloscazadores-recolectoresy~9,5‰delaspresasherbívoraslocales)(verfigura9)4

4LamentablementelasmuestrasprocedentesdeAo.MalocarecendelosvaloresC/N,deformaqueestosdatosdebensertomadosprudente-mente.

Figura 8. Arroyo Fredes. Alfarería monocroma.

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AnálisisdelasinclusionespresentesenloscálculosdentalesdealgunosdientesprocedentesdeArroyoFredesyArroyoMalo,hanpermitidodeterminarlapresenciaderestostisularesconservadosyfitolitosdeafinidadgraminoideyarecoide(ZucolyLoponte2005).Sibienestosestudiosaúnrequierenvalidacióndelmétodo,particularmentedelosprocesosdecontaminacióndelamatrizdondeestánincluidoslosfitolitos(tártaro),loshallazgossoncoherentesconla presencia de S. romanzoffianayelconsumodemaíz.

Otroshallazgosinteresantesloconstituyenpequeñasláminasdemetal,unaposiblecuentacirculardelmismomaterialyunartefactodecobre,queposeeun10%deestañoyantimonio(Tulio2003).Estemuestraformatizaciónporfrotadoyrepujado.

Figura 9. Valores del espaciamiento de las fuentes de C en la cadena trófica local. Humedal del Paraná inferior (1100 -680 años 14C AP) (datos tomados de la figura 8 y de Loponte 2006).

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Discusión Esdifícilpresentaruncuadroquepermitasintetizarelestadoactualdela“arqueologíaguaraní”prehispánica,

ymásaún,puntualizarlostemasdediscusión,debidoprecisamente,alafaltadelosmismosdentrodelámbitodelaarqueologíaargentina.

UnodelosinconvenientesmásevidentesquehandetenidoestosestudiosenArgentina,esfaltadeequiposdeinvestigaciónqueseocuparandeestagranunidadarqueológica.Afortunadamente,hemosvistoqueenlaactualidadsellevanacaboinvestigacionesdecampoentresprovinciasdiferentes(Misiones,CorrientesyBuenosAires).Porlotanto,esprobablequeenlospróximosañossedispongadeunamayorcantidaddeinformaciónqueademásestimuleel intercambiode lamismadeuna formamásdinámica. También es esperableque se sumennuevos equiposdeinvestigaciónenunfuturopróximo,dadoqueelnordesteargentinoesunespacioextremadamenteextensoparalospocosinvestigadoresactivosqueseencuentrantrabajando.OtropuntoaúnpendienteeslaintegracióndeinformaciónydeproyectosdeinvestigaciónconjuntosconloscolegasdeBrasilyUruguay,quenecesariamentedinamizaránlacirculaciónde la informaciónyayudaráa tenerunaperspectivamacroregional, indispensableparacomprender ycaracterizarelprocesodeexpansióndeestosgrupos.

Aniveldelregistropuntual,unodelosaspectosmásnotablesdelaarqueologíaguaraníesel tamañodelosdepósitosarqueológicosinvolucrados.Enestesentido,larepresentatividaddelosconjuntosrecuperadosenpequeñasexcavaciones,muestreoslocalizadosorecoleccionesdesuperficie,puedesermuybajarespectoalregistropromediodel sitio.Sibienesto tambiénsucedeconsitiospequeñosde loscazadores-recolectores locales,elproblemaaquíesclaramentemásagudo.Comounejemploevidentedeestasituación,podemosseñalarlaimportantecantidaddealfareríapolicromaybajadensidaddeartefactoslíticosqueLothropmencionahaberrecuperadoenArroyoMalo,enunsectordeenterratorios,frenteafrecuenciasdiferentesdeambosrasgosenArroyoFredes.Sibienlosloci comparados implicandiferentesactividades,estonosiempreestenidoencuentacuandoseutilizaelregistrodeAo.Maloconfinescomparativos.LasdiscrepanciassugeridasporRodríguez(enprensab)entrelosdiferentesfechadosradiocarbónicosobtenidos en distintos locideunmismositio,podríandeberseaprocesosdeformacióncomplejos,quepuedensercomunesenestosgrandesdepósitos.UncasoquedealgunaformaesequivalentefueregistradoenAo.Fredes,dondeunsectordelalbardónseempleóen tiemposhistóricosparaefectuar inhumacionesprimariasdirectas (LoponteyAcosta2003-2005)5.Sibienaquíestosenterratoriospudieronserdiferenciadossininconvenientes,otrosrasgosdelregistro,integradosenlospalimpsestos,puedensermáscomplejosdeidentificar.

Otroaspecto relacionadocon la representatividadde lasmuestrasenAo.Fredes,puedeser la relativamenteescasacantidadderestosdepecesrecuperadosenlasUE6yUE7(LoponteyAcosta2003-2005;Mucciolo2005yestetrabajo).Aquísepuededescartarquesuausenciaserelacioneconlaconservacióndiferencial,yaqueporejemplo,lasvértebrasdelospeces,quetienenmuybajadensidadmineralósea(cf.Musaliet al.2003),constituyenelelementoanatómicomejorrepresentadodentrodelconjuntoictioarqueológico.

Desdeelpuntodevistadeladinámicadelpasado,lainteraccióndeestosgruposconlaspoblacionesaborígeneslocalesesunodelosaspectosmásinteresantesqueplanteaelestudiodeestametapoblación,aspectoquehasidopocoexploradodesdeelregistroarqueológicodelárea.EnelDeltadelParaná,losGuaraníesseestablecieronenunáreaqueposeíaprobablemente,unanumerosaydiversapoblacióndecazadores-recolectores,queenalgunoscasos,talvezpracticaranlahorticulturadepequeñaescalaodeunaformaesporádica(Loponte2006).Sinembargo,esnotable(conlostamañosdemuestradisponiblesactualmente)laausenciadeartefactospertenecientesalaTTGenlosdepósitos

5 Estasihumacionespresentabandiferenciassustancialesconlasinhumacionesguaraníes,yaqueconsistíanenentierrosprimariosdi-rectossinasociaciónalgunaconalfareríaguaraní.Tambiénsehabíaconsideradounvalordeδ13Ccomomarcadordietariodiferencial,peroestevalorcarecedevalidez,yaquenofueefectivamentemedido(verLoponteyAcosta2004).

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arqueológicamentecontemporáneosgeneradosporcazadores-recolectoresyviceversa.Tambiénesoportunoseñalardentrodeestecontextoeldesarrolloderedesdeabastecimientoderocasdefracturaconcoidaldistintas,yaqueloscazadores-recolectoresemplearonpreferentementecalizassilicificadas,cuarcitasycalcedonias(Loponte2006;Loponteet al.2006).Lasdiscontinuidadesdelregistrosugierenlainexistenciaobajaintensidaddeactividadesdeintercambioentreambaspoblaciones,debidoatalvezalímitessociales(cf.Lipoet al.1997).Apesardequelosnichosrespectivospudieronserparcialmentediferentes,probablementeseencontrabanenconflicto,yaquelosgruposlocalesparecenhaberdesarrolladoconductasdedefensaactivadelterritorioantesdeliniciodelafasedecolonizaciónguaranídelárea(~<1ka),porloquelaspoblacioneslocalesylasinmigrantes,sinrelacionesdeparentezcoydealianzasprevias,pudieronconstituirseencompetidoresabsolutos(cf.Hassell1988).Enestesentido,sonnotableslasreferenciasdeloscronistaseuropeosdelsigloXVIsobreelestadodebeligeranciaexistenteentrelosGuaraníesyelrestodelaspoblacioneslocalesenelhumedaldelParanáinferior(Loponte2006;Loponteet al.2006).Talvez,unefectodeestasituaciónhayasidoparcialmenteresponsabledelpatróndeasentamientobásicamenteinsularenelextremomeridionaldelHPIdelosgruposinmigrantes,aunqueaquítambiénpudieronhabergravitadoconcurrentementefactoresselectivos,relacionadosconlosrequerimientosdeloscultivosy/oconlaescasaprofundidadtemporaldelaocupaciónguaraní,aspectosqueaúnnohansidoadecuadamenteexplorados.Desdeelpuntodevistahistórico,hayclarasreferenciasalaexistenciadealgunasislasdelDeltaquellevannombresdejefesguaraníes,dondeseencontrabansuscamposdecultivoestivales(cf.FernándezdeOviedoyValdés1944).Estasituacióndehipotéticaadueñacióndelespacioproductivo,implicabaprobablementelaexclusióndesuusoparalaspoblacionesdecazadores-recolectoreslocales.

OtrodelosejestemáticosnodesarrolladosenArgentinaeselusodelaalfareríaysusignificadoenlaeconomíadeestamacrounidadarqueológica.Másalládelasinteresantesreferenciasetnográficassobrelosdiferentesusosdelosdistintostiposderecipientes(i.e.BordinToccheto1998),esnotablelaausenciadeanálisisisotópicosodelosácidosgrasosresidualesquepermitandiscutirelempleoefectivodelaalfareríaarqueológica(cf.Charterset al.1993,DuddyEvershed1999,MortonySchwarcz1988).EnelHPIexisteunsoloantecedentealrespecto,perorelacionadaconcerámicadecazadores-recolectores(PérezyCañardo2002),líneadetrabajoquesindudaseampliaráenelfuturo,yquepodráarticularseconlamásinformacióntipológicaytecnológicadelaalfareríaguaraní.

Si bien existe cierto consenso respecto a que la TTG se encuentra enmarcada dentro de determinados límites ecológicosenArgentina,particularmentealolargodeloscorredoresbiológicosdelosríosParanáyUruguay,estonoimplicaconsiderarquelavariabilidadarqueológicahayasidoinsignificante.Porejemplo,esnotablecomolasituacióninsulardelsitioArroyoFredesestácondicionando,enparte,lacomposiciónfaunísticadelamuestraobtenida.Enefecto,no se han recuperado especies propias del sector continental como venado de las pampas (Ozotoceros bezoarticus), ñandú(Rhea americana) o guanaco (Lama guanicoe),todasespeciesreconocidasenlossitioscontinentalesdelHPI(sectornorbonaerense)generadosporcazadores-recolectores.Porotrolado,dadoqueexisteunasignificativavariaciónclinalentrelafaunadeMisionesylaqueseencuentraenelRíodelaPlata(Ringuelet1961),esesperablereconocerunasustancialvariabilidadenlaspresasobtenidasalolargodelacuenca.Enestesentido,sibiennohayunanálisisdetallado, seobservannotablesdiferenciasentreelcontexto faunísticodeArroyoFredesy la fauna recuperadaensitiosubicadosenlaprovinciadeCorrientes(Rodríguezenprensab).Delamismaforma,existenreferenciashistóricasquesugierenlafaltadedeterminadoscultivosentrelosguaraníesdelDeltadelParaná,debidoaunclimamásfríoqueenlossectoresmásseptentrionales(FernándezdeOviedo1944).Esteaspecto,prácticamentenoexploradoenlaarqueologíalocal,pudohaberincentivadounaumentodelasactividadescinegéticasenelsectormásmeridionaldeladistribuciónsub-continentaldeestosgrupos.ExistenademásotraspropiedadesquecircunscribenlacapacidaddelDeltadelParanáparalaagricultura,referidosaladisponibilidadmuylimitadadesuperficiesemergidasnoanegablesysustratosadecuados(cf.Bonfils1962).Estasdiferenciasambientalesdebenestargenerandovariabilidadyanosoloenla

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subsistencia,sinoenelregistroarqueológicoengeneral,incluidalamanufacturadealfarería,lossistemasdearmasyelequipodeprocesamientodematerialesengeneral.Porello,algunasrecopilacionesdeinformaciónhistóricasobrelostiposdeplantascultivadasysilvestresconsumidasporlosgruposguaraníeshistóricosparasectoresmásseptentrionales(i.e.Noelli1993),notienenporahora,granutilidadenelextremomeridionaldeladistribucióndelaTTG.

Si bien es razonable considerar, como hipótesis, un esquema de organización equivalente constituido porjerarquíasorganizacionalesdiferentes(Guará–Tekohá–Teii)(Noelli1993;Soares1998;SchmidtDias2003),estamosmuylejosdecontrastararqueológicamentelamisma,comotambiénalgunosdelosvaloresdemográficosasociadosaesteesquemaorganizativo, indicadosparaelperíodohistóricoydescriptosparasectoresmásseptentrionales.Enconsecuencia,tampocopuedensertrasladadasdirectamentealhumedaldelParanáinferior,lasmagnitudesterritorialesasignadasalasdiferentesunidadesdeorganizaciónespacial(amundá, cog y caa),queconstituyenademás,conceptosantetododeutilidadetnográfica.Dadoquecarecemosaquídelaenormecantidaddeinformaciónhistóricaqueexistepara diferentes regiones deBrasil, nuestra aproximación es básicamente arqueológica, y solomuyprudentementepodemosgenerarhipótesisapartirdedatosetnográficosobtenidosenotrossectoresdeSudamérica,conambientessocialesyecológicosmuydiferentes.Unadelashipótesisquesegenerandesdeloetnográficoyquepodemosexplorarconelregistro,porejemplo,esquelaproduccióndecerámicapolicromatendríaciertarelaciónconlasactividadesdealianzaylasfrecuenciasdeloscontactosentrediferentesunidadesdeasentamientolocales(Soares,com.pers.).Siestofueraasí,ademásdelosfactoresestocásticosdelmuestreo,otrossucesoscomolafasedeocupacióndelespacio,eléxitoobtenidoenlacolonizaciónyladensidaddemográficaresultanteestaríancondicionandosuproducción.Desdeestaperspectiva,podríamoscomenzaradiscutirlasfrecuenciasdeestetipodealfareríaendiferentesescalasespacialessub-continentales y su relación con las fases de colonización yocupación efectivadel espacio (ver conceptos enBorrero1994-1995).

El reconocimiento de la existencia de la variabilidad multicausal tiene algunas consecuencias importantes para laprácticadelaarqueologíaguaraní.Unadeellasesqueelusode“fases”,comunesenlaarqueologíadellitoral,definidasademásconmuybajosnivelesdemuestreo,noexplicanelregistroarqueológico,introducenungrannúmerodeproblemas,ydecididamente,noparecenlamejorsoluciónparadescribirunregistroaúnpococonocido.

TambiénseignorasiladispersióndelaTTGesrelativamentecontinuaalolargodelríoUruguay.Siestefueraelcaso,esposiblepensarenunprocesodemigraciónmedianteunalentaocupacióndelespacio(cf.Brochado1984,1989);Estemecanismohabríageneradounamayorvariabilidadculturalentodalacuencafluvial,dadalaoportunidadparaeldesarrollodemecanismosdedivergenciaevolutiva.Sibienestoesposible,debemospensarquelascostasdelríoUruguaynoeranespaciosvacíosdurantelaúltimafasedelHolocenoreciente,sinotodolocontrario(Serrano1939;Rodríguezenprensaa),porlocual,esteprocesodeexpansiónnopareceserelmásapropiado.Deformainversa,otrosautoresplanteanuna“migraciónrápida”(Métraux1928;Serrano1939),pormediodelacual,estosgrupossolohabríanocupadoalgunospuntosdelacostaeislasdelríoUruguay,queamododecorredorfluvial(cf.RizzoyShimko2003),habríaconectadoladensapoblaciónguaranídeMisiones(colonizadaporestosgrupostalvezapartirde1500años 14CAP)conelDeltadelParaná,adondellegaronprobablementealrededorde800±100años14CAP,dejandovastossectoresintermediossincolonizar.Estatácticadeocupacióndelespacio,facilitaymantieneelconservadurismoestilísticoentredeterminadospuntosextremosdeunadistribución(cf.BoydyRicherson1985,Shenan2000)duranteunafasedeexpansiónycrecimiento(cf.Fix1999),comoparecequedebemossituaralaTTGdurantelafasefinaldelHolocenorecienteenlascuencasdelParanáyUruguay.Estonospermite,además,conceptualizaralosdiferentesgruposhumanos intervinientesenestosmovimientoscomounametapoblación (enel sentidodeLevins1969;vertambiénHanski1999).Estosgruposconciertoaislamientogeográfico,peroconalgúnniveldeflujogénicoentreellos,debieronestarluegosometidosaprocesosdiversificación,aunqueelcortoperíododeseparaciónnohabríafavorecido

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sustancialmentelosprocesosdeevolucióndivergente.Sinembargo,dadalaenormeextensiónsubcontinentaldelamisma,espocodefendiblesugerirlaexistenciadeunaevoluciónortogénicaentodasudistribución,sinoprecisamentetodolocontrario.Porello,elreconocimientodeestavariabilidadesunacuestióndeescala.Predictivamente,puedesostenerseelaumentode lavariabilidadestilísticay la importanciade losmecanismosdedivergenciaevolutivaamedidaqueaumentamoslaescalageográficadelacomparación,yesaquídondelosestudiosintegrados,aplicandoherramientasmetodológicasadecuadas,tienensindudaunaspectocentralenestadiscusión.Delamismamanera,dadoqueladispersióntupiguaraníhaciaelsectormeridionaldelsub-continenteimplicóelmovimientodeungrannúmerodeindividuos,yqueexisteunnumerosoregistrobioantropológicoasociado,disponemosdeunaposibilidadúnicaparaabordarcuestionesrelacionadasconelaportegénicodelaspoblacioneslocalesyaspectosmicroevolutivosycoevolutivosentrevariabilidadculturalygenética(BoydyRicherson1989,Cavalli-Sforzaet al.1982,Lalandet al.1995).

PerspectivasEstabrevereseña,queintentaabarcarcasi130añosdearqueologíaprehispánicatupiguaraníenArgentina,deja

unbalancenegativo.BastacompararelconocimientoalcanzadohoyendíadeotrasunidadesarqueológicasquefueroncontemporáneamenteidentificadasenelnoroestedeArgentinaparanotarelrelativoestancamientoquetuvieronestosestudios.Estasituación,quenosedebióalafaltadeunregistroarqueológicoadecuadoparasuestudio,noimplicadejardereconocerelesfuerzodelosinvestigadoresquetímidamenteduranteelsigloXIXysobretodo,duranteelsigloXX,comenzaronaestudiarlos“rastrosdelaculturaguaraní”ennuestropaís,enunambientenaturaldondeengeneral,sedebelucharcontralamalaaccesibilidaddelossitiosarqueológicos,dificultadqueafortunadamenteloshaconservadoengranpartehastanuestrosdías.Sinembargo,lasexpectativasparaelfuturoinmediatosonsustancialmentemejores.Lacapacidadanalíticadelaarqueologíahoysehaexpandidodeunaformanotableydisponemosdeunacrecientecantidaddearqueólogosqueseinteresanporestosestudios.Sicomparamoslaactividadqueseefectuóenestecampodetrabajoenlosúltimos50añosenArgentina,solopodemosseroptimistas.

Laarqueologíaguaraníconstituyeunadelasmejoresoportunidadesparaeldesarrollodeproyectosarqueológicossudamericanosdecarácterinternacional.Aquítambiénsomosoptimistas,dadoqueelritmodeintegracióneconómicayculturaldelosúltimosañosentrenuestrospaíseshasidonotablementeintenso,particularmentesicomparamoslaúltimadécadafrentealamayorpartedelsiglopasado.Estelibro,claramente,esunejemploello.

AgradecimientosQueremosagradeceraTaniaAndradeLimayAndréProussuinvitaciónaescribiresteartículo.Tambiénqueremos

hacerextensivoesteagradecimientoaAndréSoares,ungrancolegaysobretodo,ungranamigo,quenoshatenidounacomprensióninfinita.AntoniaRizzo,noshaproporcionadobibliografía,conocimientosyporsobretodaslascosas,ungranafecto.Estapequeñareseñaestadedicadaalosinvestigadoresquecomoella,hanhechoposiblequehoydíapodamosmirarhaciaatrásydiscutirunregistroarqueológicotupiguaraníenArgentina.

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