volume da gota dos colírios comerciais nacionais · volume da gota dos colírios comerciais...

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Volume da g ota dos colíri os comer ciais nacionais Eyedrops' size in Brazil Fabiano Anselmo Hueb de Menesl ll Fernando nci Guimal'l Habib Nahmatalah O beidl 'l Jacob Moyses hen I II Antônio Augusto Velasco e Cruz l ( I ) P-gddos do Depnlo de Oftalmologia e Otoinolaringologia da Faculdade de Medicina de Riirão Prelo - USP. (2) f. Doutor Depamenlo de Oſtalmologia e oolaringolog da Faculdade de Medicina de Rio pretUSP E� :.FAn H de Mene - Hil da Faculdade de Medicina de Rio Pto - USP - Depento de Oſtalmologia e Ol laringologia - 1 2· d - . mpus USP de Rio Preto - Monte Aleg - ÎP 1 4$9 - Riirão Preto - Paulo - il 34 RUMO o volume da gota de oito classes de colírios disponíveis no mercado nacional, foi aferido, com uma precisão de 0 ,5 "I , e, paralelamente, compa- rado com o padrão volumét rico de quatro cl asses de colírios americanos. Em relação aos colí rios nacionais anal isados, seis deles apresentaram volu- mes de gotas estatisticamente iguais entre si e aos d as got as americanas, isto é, 20 a 25 "I, ao passo que, dois deles, mostr aram gotas com o dobro do volume consid erado necessário e ideal. Es ses achados são di scutidos e, suas impl icações médicas e econômicas, são abord adas. Palavrashave: colírio, volume, gota. INTRODUÇÃO Até 1985, O volume da gota dos colírios comerciais americanos era de 50 a 70 "I (1,2). Após essa data, com o intuito de mi nimizar efeitos col aterais, Brown & cols.6 introduziram modifi- cações nos conta-gotas dos frcos e reduziram o vole das gotas para cer- ca de 20-25 1. Como a literata nacio- nal a este respeito é nula, e o assto além impocia médica tem, para o paciente oſtalmológico, impl icações econômicas, deci�imos medir o vo- lume go de algs colírios usa- dos comercialmente no Brasil. Espe- cificente, procos verificar se, no Brasil, existe uma padronização volétrica como a existente no mer- cado americ ano. · Nossos resultados indicam que, se por um lado a maioria dos colírios estudados resentou uma constância volumétrica da gota com- pavel à existente nos E.U.A., r ou- tro algum mcas apresen gotas com volumes até 1 00% maiores do que o desejável. MATERIAL E MODOS A fim de se medirem volumes da ordem de microlitros, confeccionou-se um cone de vidro com 8 cm de com- primento, diâmetro exteo superior de 13mm e diâmetro exteo inferior de 5 mm. A graduaç deste cone foi feita de 0,5 em 0,5 �l até 0,1 mI,; posterioente de 10 em l O �I até, 0,3 mI. O volume da go foi medido di- retamente após sua stil ação no - terior do tubo. Foi aferido o volume da gota de oito colírios dis tintos (A, B , C, D, E, F, a, . Para cada colírio, mediu-se uma got a de 1 0 frascos diferentes. Os colírios eram f abricados por 3 labora- tórios (A, B, C = laboratório I ; D, E = laboratório 2, e F,a,H = laboratório 3). Paralelamente, mediu-s e, a título de controle, o volume da go de 4 colírios uti lizados comerc ialmente nos E.U.A, peencentes a um mes mo laboratório. Em três dest es, mediu-se 6 frascos e, no último , 4 ascos_ ARQ. BS. OAL. 57(1), FEVEREIRO/I994 http://dx.doi.org/10.5935/0004-2749.19940072

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Page 1: Volume da gota dos colírios comerciais nacionais · Volume da gota dos colírios comerciais nacionais Eyedrops' size in Brazil Fabiano Anselmo Hueb de Menezeslll Fernando Cenci Guimarãesl'l

Volume da gota dos colírios comerciais nacionais

Eyedrops' size in Brazil

Fabiano Anselmo Hueb de Menezeslll Fernando Cenci Guimarães l'l Habib Nahmatalah Obeid l'l Jacob Moyses Cohen III Antônio Augusto Velasco e Cruz l'"

( I ) Pós-graduandos do Departamenlo de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Prelo - USP.

(2) Prof. Doutor do Departamenlo de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão preto-USP

Ender� para correspondêncla:Dr.Fabiano AnsekllO Hueb de Menezes - Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP -Departamento de Oftalmologia e Olorrinolaringologia - 1 2· andar -

. Campus da. USP de Ribeirão Preto - Monte Alegre -CEP 1 4049 - Ribeirão Preto - São Paulo - Brasil

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RESUMO

o volume da gota de oito classes de colírios disponíveis no mercadonacional, foi aferido, com uma precisão de 0,5 "I, e, paralelamente, compa­rado com o padrão volumétrico de quatro classes de colírios americanos. Em relação aos colírios nacionais analisados, seis deles apresentaram volu­mes de gotas estatisticamente iguais entre si e aos das gotas americanas,isto é, 20 a 25 "I, ao passo que, dois deles, m ostraram gotas com o dobro do volume considerado necessário e ideal. Esses achados são discutidos e, suas im plicações médicas e econôm icas, são abordadas.

Palavras-<:have: colírio, volume, gota.

INTRODUÇÃO

Até 1 985 , O volume da gota dos colírios comerciais americanos era de 50 a 70 "I ( 1 ,2). Após essa data, com o intuito de minimizar efeitos colaterais, Brown & cols .6 introduziram modifi­cações nos conta-gotas dos frascos e reduziram o volume das gotas para cer­ca de 20-25 ,,1 . Como a literatura nacio­nal a este respeito é nula, e o assunto além da importância médica tem, para o paciente oftalmológico, implicaçõeseconômicas, deci�imos medir o vo­lume das gotas de alguns colírios usa­dos comercialmente no Brasil. Espe­cificamente, procuramos verificar se, no Brasil , existe uma padronização volumétrica como a existente no mer­cado americano .

· Nossos resultados

indicam que, se por um lado a maioria dos colírios estudados apresentou uma constância volumétrica da gota com­parável à existente nos E .U.A., por ou­tro algumas marcas apresentaram gotas com volumes até 1 00% maiores do que o desejável .

MATERIAL E MÉTODOS

A fim de se medirem volumes da ordem de microlitros, confeccionou-se um cone de vidro com 8 cm de com­primento, diâmetro externo superior de 1 3 mm e diâmetro externo inferior de 5 mm. A graduação deste cone foi feita de 0,5 em 0,5 �l até 0 , 1 mI,; posteriormente de 10 em l O �I até, 0,3 mI. O volume da gota foi medido di­retamente após sua instilação no in­terior do tubo.

Foi aferido o volume da gota de oito colírios distintos (A, B, C, D, E, F, a, H). Para cada colírio, mediu-seuma gota de 1 0 frascos diferentes . Os colírios eram fabricados por 3 labora­tórios (A, B, C = laboratório I ; D, E =

laboratório 2, e F,a,H = laboratório 3) . Paralelamente, mediu-se, a título de controle, o volume da gota de 4 colírios util izados comercialmente nos E.U.A, pertencentes a um mesmo laboratório. Em três destes, mediu-se 6 frascos e, no último, 4 frascos_

ARQ. BRAS. OFfAL. 57(1), FEVEREIRO/I994 http://dx.doi.org/10.5935/0004-2749.19940072

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RESULTADOS

A figura I mostra os volumes mé­dios e intervalo de confiança encontra­dos para as gotas dos oito col irios estu­dados. Anál ise de variância unifa­torial , com medidas repetidas, mostrou diferenças significativas entre as gotas dos colirios (F = 60.413, p< 0.0000 1). Anál ises Post-Hock pelo teste de Tukey indicaram que as gotas dos colírios G e H eram diferentes entre si e também dos demais, os quais não diferiram significativamente entre si. As gotas dos colírios americanos não eram significativamente diferentes en­tre si . Na figura I , o intervalo de con­fiança da média das gotas destes colirios é representado pelas duas li­nhas pontilhadas.

55 50

3 45 !! 40 o Q

Labor.tOrlo 0 · 1 c • 2 .. . 3

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Figura 1

DISCUSSÃO

Estudos farmacocinéticos têm mos� trado que o aproveitamento máximo das drogas, ve iculadas por colírios, ocorre quando o volume da gota é de cerca de 20 �l (3). Ou seja, aumentando­se o volume da gota ou o número de instilações, não se obtém maior con-

ARQ. BRAS. OITAL. 57( 1 ), FEVEREIRO/1994

Volume da gota dos colírios

comerciais nacionais

centração da droga no filme lacrimal. Portanto, a redução do volume de uma gota de 50-70 para 20�1 não diminui sua eficácia (3,4). Além da virtual inutili­dade terapêutica, gotas de grande volu­me, excedendo sobremaneira a capaci­dade volumétrica da fenda palpebral, induzem a maior toxicidade, uma vez que grande quantidade de fármaco é perdida. As perdas ocorrem devido ao extravasamento da medicação e\ou dre­nagem pelas vias lacrimais e posterior absorção pela mucosa nasal. Essa ab­sorção nasal é possivelmente , a princi­pal fonte de efeitos colaterais ( I ). O re­gistro norte americano de efeitos cola­terais , induzidos por drogas topica­mente usadas , documentou mais de 1 500 casos de toxicidade sistêmica por colírios de fi-bloqueadores (3). Nestes dados estão incluídas 1 3 mortes por es­tado asmático, algumas vezes logo após a instilação do colírio no consultório do oftalmologista. Recentemente, caso se­melhante ocorreu no sul do Brasil . Em relação aos colírios nacionais analisa­dos, a maioria (A a F) apresentou volu­me das gotas estatisticamente igual ao das gotas americanas, isto é 20 a 25 �l (notar a superposição dos intervalos de confiança) . Já os colírios G e especial­mente o H mostraram gotas com o do­bro do volume considerado ideal. A importância médica da falta de padro­nização, verificada nesse tipo de coli­rio, não é clara. Em relação à toxi­cidade supramencionada, pode-se obje­tar que se trata de reações idiossin­cráticas e, portanto, imprevisíveis qual­quer que seja o volume das gotas. En­tretanto a implicação econômica é indiscutível. Colírios cujas gotas sejam o dobro do ideal acabam na metade do tempo do que os padronizados. Esse fato é ainda mais importante quando a droga a ser instilada é de uso crônico,

coincidentemente ou não, como no caso do colirio H, que é usado no trata­mento do glaucoma. Como se essa dis­crepância na padronização dos col írios não bastasse , as bulas de col írios e os catálogos de laboratórios orientam a instilação de 2 gotas de colirio em cada olho por vez, fazendo duplicar novamente os gastos financeiros do paciente .

SUMMARY

The size of eight commercial brazilians eyedrops was measured and comparade with the size of four americans eyedrops. Measurements \Vere calibrated in steps of O. 5 pI. The size of six brazilians eyedrops \Vere significantly different between then and from americans eyedrops (2 0-25 pI). The size of the two remaining brazilians eyedrops were mllch larger (45-50 pi ) . The medical and socio-economic importance of these findings were discussed. KeyK'ords: eyedrops, siza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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