volume 02 - 61

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61 INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO _____________________________ 61.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO CRIME O art. 174 do Código Penal contém o seguinte tipo: “Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa.” A pena é reclusão, de um a três anos, e multa. O bem jurídico protegido é o patrimônio da pessoa inexperiente ou simples, de menor capacidade mental. Sujeito ativo é qualquer pessoa, aquela que realiza a conduta. Sujeito passivo é a pessoa inexperiente, simples ou de menor capacidade mental. 61.2 TIPICIDADE 61.2.1 Conduta A conduta é semelhante à do crime de abuso de incapazes. O agente, abusando da condição pessoal da vítima – nesse caso, pessoa inexperiente, simples ou de menor capacidade mental –, leva-a, por induzimento, à prática de ato de jogo ou aposta ou à especulação com títulos ou mercadorias. O agente convence a vítima a realizar comportamento que pode render-lhe, ou à terceira pessoa, um proveito.

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especulação com títulos ou mercadorias. O agente convence a vítima a realizar especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a menor capacidade mental. condição pessoal da vítima – nesse caso, pessoa inexperiente, simples ou de menor A conduta é semelhante à do crime de abuso de incapazes. O agente, abusando da O bem jurídico protegido é o patrimônio da pessoa inexperiente ou simples, de pessoa inexperiente, simples ou de menor capacidade mental.

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Page 1: VOLUME 02 - 61

61

INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO

_____________________________

61.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO

CRIME

O art. 174 do Código Penal contém o seguinte tipo:

“Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou

inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à

especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a

operação é ruinosa.”

A pena é reclusão, de um a três anos, e multa.

O bem jurídico protegido é o patrimônio da pessoa inexperiente ou simples, de

menor capacidade mental.

Sujeito ativo é qualquer pessoa, aquela que realiza a conduta. Sujeito passivo é a

pessoa inexperiente, simples ou de menor capacidade mental.

61.2 TIPICIDADE

61.2.1 Conduta

A conduta é semelhante à do crime de abuso de incapazes. O agente, abusando da

condição pessoal da vítima – nesse caso, pessoa inexperiente, simples ou de menor

capacidade mental –, leva-a, por induzimento, à prática de ato de jogo ou aposta ou à

especulação com títulos ou mercadorias. O agente convence a vítima a realizar

comportamento que pode render-lhe, ou à terceira pessoa, um proveito.

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2 – Direito Penal II – Ney Moura Teles

61.2.2 Elementos objetivos e normativos

A lei civil estabelece que “as dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a

pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se

foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito” (art. 814, CC), ainda quando se

tratar de jogo não proibido, ressalvando apenas os casos de jogos e apostas legalmente

permitidos.

Assim, com exceção dos jogos e apostas permitidos e regulamentados por lei (sena,

mega-sena, loteria esportiva etc.), o Direito não confere proteção ao que celebra essa

espécie de contrato, em que a possibilidade de ganho depende da sorte ou de um evento

futuro incerto e independe da ação dos contratantes.

A norma penal protege a pessoa inexperiente ou simples e também a deficiente

mental, incriminando a conduta de quem a induz, de modo abusivo, ao jogo e à aposta,

para obter vantagem, em detrimento de seu patrimônio. Não importa que o jogo não seja

proibido. O que a norma quer é proteger o patrimônio de quem não tem a capacidade

necessária para discernir sobre os riscos do jogo e da aposta. Iludida pelo induzimento

abusivo, a vítima é convencida a investir algum valor patrimonial, dinheiro ou objetos

valiosos, num contrato em que, muito provavelmente, vai sair lesada.

O novo Código Civil em vigor, no art. 816, deixou de equiparar ao jogo e à aposta

“os contratos sobre títulos de bolsa, mercadorias ou valores, em que se estipulem a

liquidação exclusivamente pela diferença entre o preço ajustado e a cotação que

eles tiverem no vencimento do ajuste”.

Ainda assim, a norma penal protege a pessoa inexperiente, simples ou deficiente

mental quando induzimento praticado pelo agente é no sentido de que ela realize

especulação com títulos ou mercadorias, desde que ele saiba ou deva saber que a operação

é ruinosa, isto é, necessariamente prejudicial ao especulador.

61.2.3 Elementos subjetivos

O agente deve agir com dolo, devendo sua consciência alcançar a situação do sujeito

passivo, sabendo que está abusando dessa condição. E com vontade livre de induzir a

vítima à prática do jogo, aposta ou especulação, com o fim de obter, para si ou para

outrem, uma vantagem ilícita.

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Induzimento à Especulação - 3

Na especulação, o dolo será direto quando o sujeito sabe que a operação será

ruinosa e eventual quando, não sabendo, deveria saber, pelas circunstâncias que a

envolvem.

O erro sobre elemento do tipo excluirá a tipicidade.

61.2.4 Consumação e tentativa

É crime formal, de consumação antecipada, que acontece quando o sujeito passivo

pratica o jogo, a aposta ou a especulação, não sendo, portanto, necessária a obtenção do

proveito para o agente ou para outrem. Este será o exaurimento do crime. A tentativa é

possível.

61.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. É condicionada à representação

do ofendido que seja o cônjuge judicialmente separado, irmão, tio ou sobrinho com quem o

agente coabita (art. 182, I a III, CP). Possível a suspensão condicional do processo penal,

nos termos do que dispõe o art. 89 da Lei nº 9.099/95.