volta ao mundo - setembro 2015

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VOLTA AO MUNDO BRISTOL - UGANDA - ESPECIAL CUBA - CABO VERDE - ITÁLIA - BRASIL N.º 251 SETEMBRO 2015 MENSAL, ANO 21, N.º 251, SETEMBRO2015 €4,90 N.º 251 | SETEMBRO 2015 | MENSAL | ANO 21 NO UGANDA COM O JORNALISTA PAULO SALVADOR CUBA LIBRE O que muda, o que fica, o que visitar em Cuba depois do fim do embargo O Rio de Janeiro Ilha da Boavista CONTINUA LINDO. E ANGRA DOS REIS TAMBÉM PRAIA COM SABOR A LITERATURA Nem só de música vive BRISTOL, cidade verde da Europa

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MENSAL, ANO 21, N.º 251, SETEMBRO2015 €4,90

N . º 2 5 1 | S E T E M B R O 2 0 1 5 | M E N S A L | A N O 2 1

NO UGANDA COM O JORNALISTA PAULO SALVADOR

CUBALIBRE

O que muda, o que fica, o que visitar em Cuba depois do fim do embargo

O Rio de Janeiro

Ilha da Boavista

CONTINUA LINDO. E ANGRA DOS REIS TAMBÉM

PRAIA COM SABOR A LITERATURA

Nem só de música vive BRISTOL, cidade verde da Europa

Page 2: Volta ao Mundo - Setembro 2015

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3VOLTA AO MUNDO

28O jornalista da TVI Paulo Salvador foi ao Uganda em busca de primatas. E conta-nos tudo.

Ponto de Vista

72Na Lapa e em Santa Teresa e ainda com tempo para uns mergulhos em Angra dos Reis.

Rio de Janeiro

de embarquePorta

N.º 251 | SETEMBRO 2015 | MENSAL | ANO 21

Terminal especialde aeroporto a pensar nos animais.Página 20

14Passeios em BTT na Europa, os novos locais Património da Humanidade e outras novidades.

Em Alta98Carla Mota e Rui Pinto correm o mundo. Dois professores com muito para nos ensinar.

Viajantes52Uma viagem em tempo de mudança. Havana, o Hotel Nacional e tudo o que não pode perder na ilha.

Cuba

BoavistaCabo Verde

com inspiração literária de Germano Almeida.

36

88Um pai e dois filhos percorreram Itália em automóvel. Roteiro para umas férias especiais em família.

Itália94A cidade inglesa tem o carimbo verde da ecologia. E tem design e música a rodos. E Bansky também.

Bristol

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Page 4: Volta ao Mundo - Setembro 2015

4 VOLTA AO MUNDO

Quando viajamos não ape-tece ter barreiras. Faz parte da nossa essên-cia. Era assim há cem

mil anos quando começaram as migrações dos nossos antepassa-dos. O homem saiu de África para todos os continentes. Primeiro a pé, depois por mar, hoje de todas as formas. É por isso que a limita-ção de movimentos é contranatura. Geopolítica à parte, o planeta é de todos e limitar a circulação dos seus habitantes é um contrassenso.Poderia isto vir a propósito dos migrantes ou dos muros (de Berlim e os atuais), mas não só. Em 1962, com as relações entre si completamente deterioradas, os EUA decretaram um embar-go comercial e financeiro a Cuba. Durou até este ano, impedin-do os cidadãos de cada um des-tes países de visitar o vizinho. Neste mês, voltamos a Cuba para mostrar o que está a mudar e aqui-

lo que continua a valer a pena. Há praia, cultura, natureza e esperan-ça. Nas ruas sente-se a crença na transição pacífica e na abertura da ilha aos yankees. Cuba está mais livre: há mais acesso a novas tec-nologias, a produtos da moda ou a bens essenciais. Os EUA aceita-ram a diferença dos seus vizinhos. Nenhum venceu o braço-de-ferro, nenhum perdeu. Ganhamos todos porque vamos poder ver como se comporta a ilha dos irmãos Castro sem um embargo de mais de meio século. Se, com a torneira norte- -americana fechada, foi o que vimos – turismo, educação, cultura, saúde e desporto em alta –, com a tran-sição a que se assiste há fé (o Papa Francisco visita a ilha neste mês de setembro...) em que a política, a liberdade de expressão e a econo-mia possam seguir o mesmo curso.Para já, voltou a liberdade de movi-mentos. Mais um pequeno passo para o homem.

CUBA

A revolução cubana do século xxi está em curso. Não fique para trás.

Liberdade de movimentos

diário de bordo

Jorge Amaral fotógrafo

Faz parte da Global Imagens, coletivo que está em destaque nesta edição com três reportagens de alto nível. Orlando Almeida foi a Cabo Verde, Leonardo Negrão ao Brasil e Jorge Amaral percorreu Cuba para este especial de 20 páginas sobre a ilha das Caraíbas. Retratos, paisagens, momentos fugidios, Amaral não perde pitada.

Valentina Marcelinojornalista

É um dos valores seguros do Diário de Notícias e mostra-nos toda a sua versatilidade com uma reportagem em que não falta a sensibilidade e o gosto pela literatura. Estreia-se nas páginas da Volta ao Mundo e acertou na mouche. Faz-nos viajar até à ilha da Boavista, ouvir as mornas, provar a cozinha cabo- -verdiana, sentir o calor no corpo e ficar a sonhar com muito mais.

Neste mês connosco

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Redaçã[email protected]

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JAPÃO

Sonhos a néonO BAIRRO DE DOTONBORI, JUNTO AO CANAL COM O MESMO NOME, É UM DOS LOCAIS MAIS VISITADOS DA CIDADE DE OSAKA. ANIMAÇÃO NOTURNA, RESTAURANTES E LOJAS NÃO FALTAM POR AQUI. FOTOGRAFIA DE THOMAS HAUPT/WESTEND61/CORBIS

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AUSTRÁLIA

Património mundialO PARQUE NACIONAL DE ULURU--KATA TJUTA FOI DISTINGUIDO PELA UNESCO. TEM MAIS DE 1300 QUILÓMETROS QUADRADOS DE ÁREA E LOCALIZA-SE NA ZONA NORTE DA AUSTRÁLIA. É LÁ QUE ENCONTRAMOS A AYERS ROCK.

FOTOGRAFIA DE MARC DOZIER/CORBIS

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112 VOLTA AO MUNDO

PASSATEMPOMEGA

20ANOS

LIGUE E GANHE FANTÁSTICAS VIAGENS A Volta ao Mundo celebra 20 anos e os leitores estão de parabéns. Ao longo do próximo ano, habilite-se a ganhar uma das inesquecíveis viagens que temos para si. Esteja atento às próximas edições e escolha onde serão as suas próximas férias de sonho. Ligue, ganhe e faça as malas. Boa sorte e boas viagens!

Na cidade da Horta, Faial, o Hotel do Canal é a primeira escolha de quem quer conhecer esta ilha e as outras que compõem o Grupo Central do Arquipélago dos Açores. A Ilha do Faial é um ponto de passagem entre dois continentes, um destino de nave-gadores em busca de um porto seguro e o Hotel do Canal personifica esses princípios, sendo uma referência de conforto e tranquilidade no meio do Atlântico.Situado a poucos metros da Marina, do cais de passageiros da Horta e a apenas 10 minutos do aeroporto da Horta, o Hotel do Canal está situado numa zona central, que permite facilmente explorar a cidade, o Peter’s Café Sport, ou chegar à Praia de Porto Pim, conhecida pelas suas águas mornas e areal extenso.

1.400 eurosCOMO PARTICIPAR Ligue para o número de telefone indicado e saiba quantas chamadas faltam para ganhar. O custo por chamada é de 0,60€ + IVA. Este passatempo decorre até às 24h da data indicada, salvo atribuição do prémio antes da data final prevista. Valor do prémio aproximado. Imagens não vin-culativas. Consulte regulamento em www.ligaeganha.pt. Contacto: [email protected]. Estes passatempos são da exclusiva responsabilidade do Liga e Ganha/Global Media Group. * Atribuído à chamada 1300.CONDIÇÕES Inclui 2 bilhetes de avião em classe turística para duas pessoas, acomodação em Hotel de 4 Estrelas, em quarto duplo com pequeno almoço durante 4 noites. O leitor vencedor e acompanhante deverão pagar diretamente à SATA o valor das respetivas taxas, que estão dependentes da data de partida. O prémio está dependente de disponibilidade do voo/hotel e deverá ser usufruído até 30 setembro de 2016, excluindo as datas de 15 dezembro 2015 a 10 janeiro de 2016, Carnaval 2016, Páscoa 2016 e de 15 julho 2016 a 15 setembro 2016. O prémio é pessoal e intransmissível.

Ganhe uma viageme estada de 4 noites para duas pessoas no valor de

LIGUE* DE 1 A 30 SETEMBRO PARA O NÚMERO: 760 308 309

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112 VOLTA AO MUNDO

PASSATEMPOMEGA

20ANOS

LIGUE E GANHE FANTÁSTICAS VIAGENS A Volta ao Mundo celebra 20 anos e os leitores estão de parabéns. Ao longo do próximo ano, habilite-se a ganhar uma das inesquecíveis viagens que temos para si. Esteja atento às próximas edições e escolha onde serão as suas próximas férias de sonho. Ligue, ganhe e faça as malas. Boa sorte e boas viagens!

Na cidade da Horta, Faial, o Hotel do Canal é a primeira escolha de quem quer conhecer esta ilha e as outras que compõem o Grupo Central do Arquipélago dos Açores. A Ilha do Faial é um ponto de passagem entre dois continentes, um destino de nave-gadores em busca de um porto seguro e o Hotel do Canal personifica esses princípios, sendo uma referência de conforto e tranquilidade no meio do Atlântico.Situado a poucos metros da Marina, do cais de passageiros da Horta e a apenas 10 minutos do aeroporto da Horta, o Hotel do Canal está situado numa zona central, que permite facilmente explorar a cidade, o Peter’s Café Sport, ou chegar à Praia de Porto Pim, conhecida pelas suas águas mornas e areal extenso.

1.400 eurosCOMO PARTICIPAR Ligue para o número de telefone indicado e saiba quantas chamadas faltam para ganhar. O custo por chamada é de 0,60€ + IVA. Este passatempo decorre até às 24h da data indicada, salvo atribuição do prémio antes da data final prevista. Valor do prémio aproximado. Imagens não vin-culativas. Consulte regulamento em www.ligaeganha.pt. Contacto: [email protected]. Estes passatempos são da exclusiva responsabilidade do Liga e Ganha/Global Media Group. * Atribuído à chamada 1300.CONDIÇÕES Inclui 2 bilhetes de avião em classe turística para duas pessoas, acomodação em Hotel de 4 Estrelas, em quarto duplo com pequeno almoço durante 4 noites. O leitor vencedor e acompanhante deverão pagar diretamente à SATA o valor das respetivas taxas, que estão dependentes da data de partida. O prémio está dependente de disponibilidade do voo/hotel e deverá ser usufruído até 30 setembro de 2016, excluindo as datas de 15 dezembro 2015 a 10 janeiro de 2016, Carnaval 2016, Páscoa 2016 e de 15 julho 2016 a 15 setembro 2016. O prémio é pessoal e intransmissível.

Ganhe uma viageme estada de 4 noites para duas pessoas no valor de

LIGUE* DE 1 A 30 SETEMBRO PARA O NÚMERO: 760 308 309

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Em AltaUm terminal de aeroporto para animais na página

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{ Dubai pela mão do chef Pedro Barroso na página 22}

O hotel fica a cerca de 12 quilómetros do aeroporto internacional de Antalya e a 17 do centro da cidade, na praia de Lara.

hotel

No meio da montanha, no País de Gales, há um parque de surf. Descubra os 24 novos locais distinguidos pela UNESCO como Património da Humanidade e hotéis recentes,

percursos de bicicleta e uma entrevista com a embaixadora britânica em Portugal.

Titanic, o hotelTem nome de acidente, mas a seguran-ça está garantida. Numa das zonas mais turísticas da Turquia foi construído um hotel inspirado no filme que conquistou Hollywood e o mundo. Suba a bordo!

Há quartos duplos, com vista de jardim, a partir de 135 euros por noite. Têm 32 metros quadrados de área, televisão e internet.

VOLTA AO MUNDO

Antalya, na Turquia, acaba de inaugurar um hotel em forma de Titanic. A história é trágica, mas pouco mais de um século depois

do mediático naufrágio já é possível criar um hotel inspirado neste navio transatlântico sem que os hóspedes tenham pesadelos. Loca-lizado em Antalya, uma das mais famosas estâncias balneares da Turquia, o Titanic Beach Lara é na verdade um resort em regime tudo incluído com vista direta para o Mediterrâneo. São 550 quartos e uma decoração que mistura elementos modernos com pormenores da época, em grande parte inspirados no célebre filme de James Came-ron. O ambiente vivido «a bordo» fica algures entre o do resort e de um navio de cruzeiro. Quem sabe se Leonardo di Caprio e Kate Wins-let ficarão por ali alojados...titanic.com.tr

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16 VOLTA AO MUNDO

Em Alta Segurança reforçada e tranquilidade. É assim que a Autoridade do Turismo da Tailândia está a lidar com a situação

decorrente do atentado em Banguecoque em meados de agosto. A Tailândia recebe anualmente cerca de 25 milhões de turistas.

Macedónia e Eslovénia em duas rodas

O BTT é muito mais do que um desporto ou um passatempo. É também uma excelente forma de viajar. Eis dois programas de eleição em território europeu.

O que é que sabe sobre a Macedónia? Por muito que se diga que já não há segredos para des-

cobrir no Velho Continente, este país balcânico que faz fronteira com Kosovo, Sérvia, Bulgária, Grécia e Albânia é ainda relativamente desconhe-cido em termos turísticos. É verdade que não tem mar, mas possui uma história e paisagens muito ricas e diversificadas. Mais de 50 lagos, 16 monta-nhas com altitude superior a dois mil metros e milhares de quilómetros de estradas rurais são alguns dos seus encantos. É precisamente para desbravar estes terrenos que o operador Bike Tours criou um programa de nove dias. O nível de difi-culdade é médio e estão também incluídas algumas caminhadas. Já a H+1 Adventures propõe uma viagem por um país que, tal como a Macedónia, também fez parte da Jugoslávia, mas está turisticamente mais desen-

volvido – em grande parte devido à sua localização, a dois passos da Europa Central, entre os Alpes Julianos e o mar Adriático. Trilhos que os partici-pantes irão percorrer durante uma semana, num pacote que tem uma etapa muito especial: a pos-sibilidade de pedalar em três países no mesmo dia, que é como quem diz tomar o pequeno-almoço na Eslovénia, almoçar na Áustria e lanchar em Itália.

ESLOVÉNIAPreço: 1320 euros por pessoa

mountainbikeworldwide.com/bike-tours/slovenia

MACEDÓNIAPreço: 1278 euros por pessoa

biketours.com/Macedonia/discover-macedonia

+

Um terminal de luxo só

para animais

No aeroporto John F. Kennedy, em Nova

Iorque, está a ser construído um terminal exclusivo para animais.

Vai ser concluído em 2016 mas já dá que falar.

ar livre

Depois de o abate ilegal de

alguns animais selvagens

ter centrado as atenções, esta

notícia deixou muita gente

particularmente satisfeita. Ca-

valos, pássaros, cães, gatos e

todos os animais que estive-

rem em trânsito no aeroporto

JFK, em Nova Iorque, serão

tratados como verdadeiros reis

a partir de meados do próximo

ano, altura em que está pre-

vista a abertura deste novo

terminal. É um espaço de

178 metros quadrados (que

representa um investimento

de cerca de 50 milhões de eu-

ros) que terá vários veteriná-

rios à disposição, piscina, suites

privadas e climatizadas e ser-

viço de massagens. Também

haverá ginásio para cães e,

imagine-se, televisão, para que

não percam as suas séries

favoritas enquanto estiverem

em trânsito.

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17VOLTA AO MUNDO

Chegou, para já, ao fim, aventura lusita-na de Vincent Farges, chef que esteve

durante uma década à frente do restauran-te da Fortaleza do Guincho, em Cascais - espaço que há mais tempo ostenta uma estrela Michelin em Portugal. O francês quis abraçar um novo projeto, mais liberto de pressões, e dificilmente poderia ter encon-trado melhor destino do que o Sandy Lane, nos Barbados. Um resort de luxo inaugura-do em 1961 (sofreu uma reconstrução com-pleta em 2011) e que ao longo da sua já lon-ga história chegou a ser considerado como o melhor alojamento das Caraíbas. Os por-tugueses que por lá passarem terão assim uma ligação direta ao nosso país, até porque Vincent Farges já é também um pouco por-tuguês. De tal forma que promete voltar um dia, a tempo inteiro, para abrir um restau-rante seu. www.sandylane.com

hotel

De Portugal para os Barbados

Vincent Farges troca Cascais pelas Caraíbas e leva pratos portugueses na bagagem. Até já, chef!

A água do mar é mais quente, os dias de calor mais frequentes, o vento sopra menos do que no Guincho, mas a saudade fica.

Sandy Lane Resort, o local para onde foi trabalhar Vincent Farges, o até há bem pouco tempo responsável pelo restaurante da Fortaleza do Guincho.

Page 18: Volta ao Mundo - Setembro 2015

18 VOLTA AO MUNDO

Em AltaCrise é oportunidade, mas não deixa de ser curioso que 14 aeroportos regionais da Grécia, por exemplo em Corfú, Mikonos ou Santorini, tenham passado a ser geridos pelo grupo alemão Fraport em troca de 1230 milhões de euros.

Património da UNESCO

continua a aumentar São 24 e à espera de ser descobertos. Enquanto noutras paragens se destrói a herança

da Humanidade, ainda há esperança para o património de todos nós.

Se é daqueles viajantes para quem a lista dos locais distinguidos como Património da

Humanidade pela UNESCO é uma verdadeira instituição, tem a partir de agora 24 novos destinos para visitar. De igrejas sicilianas às encostas, caves e lojas de Champagne, passando pelas montanhas jamaicanas até cidades históricas iranianas, há monumentos e paisagens um pouco por todo

o mundo. E para todos os gostos. Além destas entradas, houve também três extensões de sítios já classificados, nomeadamente as áreas protegidas da região de Cape Floral, na África do Sul, o parque natural vietnamita de Phong Nha-Ke Bang e os Caminhos de Santiago, que têm mais quatro rotas com o selo de qualidade da UNESCO. São agora 1031 os locais classifi-cados, distribuídos por 163 países.

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Áreas históricas de Baekje, Coreia do Sul Grande Montanha Burkhan Khaldun, Mongólia

Susa, Irão Aqueduto do Padre Tembleque, México

Sítios da revolução industrial japonesa do período Meiji, Japão

Climats de Borgonha, França

Éfeso, Turquia

Speicherstadt, Kontorhausviertel e Chilehaus, Hamburgo, Alemanha

herança

Page 19: Volta ao Mundo - Setembro 2015

Desde

€ 2.555por pessoa em duplo

SAFARI KONGONI | QuéniaPartidas de Lisboa de 29 ago. a 8 dez.’15

6 noites | APA + 9 refeições

Inclui: avião + transfers + hotéis de turística superior e 4 estrelas + circuito em van com guia/motorista em espanhol + safaris mencionados no itinerário + entradas nos parques + taxas de aeroporto, segurança e combustível (€ 443) + Seguro Multiviagens.

NA SUA LOJA ABREU | ABREU DIRETO Telef.: 707 20 1840 | Web: www.abreu.pt

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SEGURANÇA E COMPETÊNCIA

A Agência em que os portugueses mais confiam para viajar.

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ESCOLHADO CONSUMIDOR

A Agência de Viagensescolhida pelos portugueses.

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€ 3.907por pessoa em duplo

ZIMBABWÉ E BOTSWANA | Surpresa no Sul de ÁfricaPartidas de Lisboa de 29 ago. a 23 nov.’15

7 noites | APA + 4 refeições

Inclui: avião + transfers + hotéis de categoria turística superior e 4 estrelas + 1 dia de autocarro turístico Hop On / Hop Off em Cape Town + dia de visita à ponta do Cabo com guia em inglês + cruzeiro no rio Zambezi (snacks e bebidas incluídos) + visita guiada às Cataratas de Victoria + 4 safaris no Botswana + entradas nos parques e jardins mencionados no itinerário + taxas de aeroporto, segurança e combustível (€ 713) + Seguro Multiviagens.

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€ 1.670por pessoa em duplo

SAFARI CLÁSSICO | África do SulPartidas de Lisboa de 30 ago. a 22 nov.’15

7 noites | APA + 2 refeições

Inclui: avião + transfers + hotéis de turística superior e 4 estrelas + circuito em van com guia/motorista em espanhol + safari fotográ co no ruger Park + visitas panor micas em Mpumalanga e Pretória + entradas nos parques + taxas de aeroporto, segurança e combustível (€ 549) + Seguro Multiviagens.

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Inclui: avião + transfers + 3 noites no hotel Vila Galé Rio de Janeiro | 4 estrelas + 4 noites no hotel Vila Galé Eco Resort de Angra | 5 estrelas + taxas de aeroporto, segurança e combustível (€ 384) + Seguro Multiviagens.

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Faça já as malas A empresa Very First To (veryfirstto.com) tem um pacote para conhecer todos os locais Património da Humanidade. Basta ter dois anos para viajar e cerca de um milhão e meio de euros no bolso. Faça-se à estrada para os descobrir.

Climats de Borgonha, FrançaEncostas, caves e lojas de

Champagne, FrançaPonte de Forth, Escócia,

Reino UnidoSpeicherstadt, Kontorhaus-

viertel e Chilehaus, Hamburgo, Alemanha

Christiansfeld, colónia da igreja moraviana, Dinamarca

Paisagem de caça par force no Norte da Zelândia, Dinamarca

Complexo Industrial de Rjukan-Notodden, região de Telemark, Noruega

Palermo árabe-normanda e as Catedrais de Cefalù e Monreale, Sicília, Itália

Éfeso, TurquiaPaisagem cultural das

muralhas de Diarbaquir e dos jardins de Hevsel, Turquia

Necrópole de Bet She’arim, Israel

Betânia do Além-Jordão, Jordânia

Arte rupestre na região de Ha’il, Arábia Saudita

Susa, IrãoPaisagem cultural

de Maymand, IrãoGrande Montanha Burkhan

Khaldun, MongóliaSítios Tusi, ChinaJardim Botânico de

Singapura, SingapuraSítios da revolução

industrial japonesa do período Meiji, Japão

Áreas históricas de Baekje, Coreia do Sul

Missões de San Antonio no Texas, Estados Unidos

Aqueduto do Padre Tembleque, México

Paisagem cultural e industrial de Fray Bentos, Uruguai

Montanhas Blue e John Crow, Jamaica

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Éfeso, Turquia

Speicherstadt, Kontorhausviertel e Chilehaus, Hamburgo, Alemanha

Montanhas Blue e John Crow, Jamaica

Ponte de Forth, Escócia, Reino Unido

Page 20: Volta ao Mundo - Setembro 2015

20 VOLTA AO MUNDO

Em AltaJon Krakauer não tem dúvidas: «Subir ao Evereste foi o maior erro da minha

vida.» O autor de Into Thin Air - No Ar Rarefeito afirmou ao Huff Post que a escalada de 1996 (resultou na morte de quatro membros da sua

expedição) deixou marcas de stress pós-traumático que nunca irá esquecer.

desporto

Já se sabe que há vários locais longe do oceano onde é possível surfar – o rio

Eisbach, em plena cidade de Munique, ou mesmo o rio Tejo, nas ondas dos ca-tamarãs, são apenas dois dos exemplos – mas os galeses decidiram ir mais lon-ge e criaram um parque de surf em plena montanha: Surf Snowdonia. Fica preci-samente nas montanhas de Snowdonia, uma área protegida no Norte do país. O parque é, na verdade, um grande lago artificial do tamanho de seis campos de futebol e que já foi considerado como o maior do mundo. As ondas, essas, não

são gigantes, mas ainda assim podem chegar aos dois metros de altura. Aberto a praticantes de todas as idades e espe-cialmente vocacionado para famílias, disponibiliza material para aluguer e au-las para os mais inexperientes. Para que todos possam desfrutar da região sem pressas, têm também café, restau-rante e uma espécie de parque glamping à disposição, com capacidade para alojar até 144 pessoas. Cabanas ecológicas com capacidade para três pessoas e que podem ser alugadas por cem euros por noite.www.surfsnowdonia.co.uk

A lição de surf para principiantes fica por 27 euros. Mais 14 para praticantes médios e de nível avançado.

Surfarem plena montanha

Tem o tamanho de seis campos de futebol e é o maior parque artificial de surf do mundo. Fica no meio da montanha, no País de Gales.

Page 21: Volta ao Mundo - Setembro 2015

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Valletta também tem charme A capital de Malta tem um novo hotel boutique. Porque nem tudo

na ilha é turismo de massa. E ainda bem.

Malta costuma aparecer como uma das opções mais em conta quando se procuram viagens e pacotes em regime tudo incluí-do, mas esta pequena ilha do Mediterrâneo é muito mais do que isso. O novo Ursulino Valletta está aí para prová-lo. Um pequeno hotel de charme situado no coração da cidade, com apenas seis quartos, uma decoração moderna e uma vista privilegiada para o porto. No terraço, no quinto piso, a vista é mesmo de 360 graus. Esta antiga casa de família mantém a traça original e tem essência e espírito italianos. Todas as tar-des é oferecido um aperitivo e uma seleção de queijos. Afinal, Itália fica mesmo ali ao lado. ursulinovalletta.com

ESTE B&B TEM UM

TERRAÇO COM UMA VISTA ÚNICA SOBRE

VALLETTA

hotel

Page 22: Volta ao Mundo - Setembro 2015

22 VOLTA AO MUNDO

Em Alta

Era o rapaz traquina que não largava a bola em criança, em Carvide, arredores de Leiria, e cujo comportamento levava

o pai a ser chamado uma vez por mês à escola. Na gastronomia, viu a receita para se endireitar. Começou a cozinhar aos 10 anos em casa, por obrigação, para o pai e para o irmão, uma vez que a mãe estava fora durante o dia a trabalhar. Nunca mais parou.Aos 34 anos, é o sous chef executivo dos cinco restaurantes do Hotel Armani, situado na torre mais alta do mundo, Burj Kha-lifa, no Dubai, para onde se mudou há cinco anos. Pelo caminho trabalhou no Hotel Penha Longa, em Sintra, e em restaurantes nos EUA, França, Espanha e Turquia.Com 16 anos de carreira, cozinhou para Cristiano Ronaldo, Will Smith, Janet Jackson e Georgio Armani na maior cidade dos Emirados Árabes Unidos, onde gosta de viver e onde conheceu a namorada, a ucraniana Olya. Passa os tempos livres entre a praia e a piscina de casa, apesar das 13 horas diárias de trabalho. E também gosta de fumar uma shisha entre amigos à noite. As saudades dos pais e do irmão são atenuadas pelo Skype e pelos pastéis de nata que lhe enviam por avião. Texto de Nuno Cardoso

DubaiDE PEDRO BARROSO

1. Armani Hotel«Pela sua localização, na torre mais alta do mundo. A marca à qual está asso‑ciado, claro que ajuda, mas o edifício em si é tanto de espetacular como de alto. É o primeiro sítio onde se deve ir no Dubai.»dubai.armanihotels.com

cicerone

2. Zuma«Se pudesse escolher só um restau‑rante, seria este japonês. Tem visual contemporâneo e elegante, a comida é muito boa, digna de pelo menos uma estrela Michelin. Existe também em Londres e noutras cidades.»zumarestaurant.com

3. Barasti Bar«É um beach club onde toda a gente se encontra nas folgas para conversar. Excelente escolha para relaxar e beber um copo durante o dia. E com a praia ao lado. Gosto de lá ir.»barastibeach.com

4. Dubai Creek«Um sítio ideal para passear este calçadão ao lado do rio Creek, que divide a cidade ao meio. Antigamente era a zona portuária onde chegavam os barcos com mercadorias para distribuir para o Dubai.»

5. Cavalli Club«Uma das minhas discotecas prefe-ridas, local interessante só com gente gira, zonas de mesas mais descontraí‑ das e pistas de dança. A decoração é diferente do que se vê em Portugal.»dubai.cavalliclub.com

6. JBR Beach«Junto ao Jumeira Beach Resort está a praia JBR, que é pública. É capaz de ser o sítio onde se vê mais turistas na praia e também um local de encontro para muitas pessoas que cá vivem. E é uma zona onde se pode andar, tem um calçadão.»

8. Mercados«Os souks são sítios onde toda a gente vai, estão todos juntos na mesma zona. Existe o mercado das especiarias, o do ouro e o dos tecidos. Gosto daquele cenário das ruas muito estreias, onde se está sempre a regatear preços.»

7. Burj Al Arab«A Torre das Arábias simboliza o Dubai. Dizem ser o hotel sete estrelas, apesar de isso não existir oficialmente. É um sítio emblemático onde toda a gente vai, pelo menos uma vez.»jumeirah.com

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24 VOLTA AO MUNDO

Kirsty Hayes nasceu em 1977 em Aberdeen. Antes de ser embaixadora britânica em Lisboa, foi diplomata em Hong Kong e em Washington

Na sala da residência lisboeta da embaixadora britânica, perto de Belém, destaca-

-se a pintura de uma infanta por-tuguesa. É a formosa Catarina de Bragança, por casamento com Carlos II rainha de Inglaterra e ain-da hoje recordada por ter introdu-zido o hábito do chá nas Ilhas Bri-tânicas em meados do século xvii. Mas é de outra bebida também muito apreciada no Reino Unido - e cada vez mais popular por cá - que fala Kirsty Hayes. «Gosto muito de gin. Aprecio em especial o Tanque-ray, apesar de o Gordon’s ser mais famoso. Mas confesso que não sou uma grande consumidora. Para se apreciar bem não se deve beber todos os dias», diz a embaixadora, de 38 anos, desde o verão do ano passado colocada em Lisboa.

Casada com outro diplomata de carreira, de quem tem dois filhos, Kirsty Hayes chegou a viver no Sri Lanka. O antigo Ceilão era um da-queles territórios onde nos tempos coloniais o gin fazia figura de rei, pois tomado com água tónica, com a dose certa de quinino, tinha o combate à malária como álibi para ser consumido a qualquer hora, explica sorridente a embaixadora britânica, sem confirmar se a tra-dição se mantém entre os euro-peus que passam uma temporada na Ásia do Sul.

Embora quente, Portugal não ostenta um clima tropical, mas nem por isso o gin tem deixado de ga-nhar adeptos no país. «Há bons bares para se beber um gin em Lis-boa. E os portugueses adoram os cocktails», comenta Kirsty Hayes.

Para promover o consumo desta bebida tipicamente britânica e, cla-ro, das marcas produzidas no Reino Unido, a embaixada até se associou a uma campanha dos armazéns El Corte Inglés que ensina a tirar o máximo proveito daquilo que a di-plomata descreve como a «grande versatilidade do gin».

Sobre se Isabel II, que também tem direito a quadro na residência, é apreciadora de gin, a diplomata diz não ter conhecimento, mas relembra que a rainha mãe (a viú-va de Jorge VI) era famosa pelo seu gosto por esta bebida forte que no processo de destilação é enrique-cida com zimbro. E viveu mais de 100 anos, como gostam de lembrar os amantes do gin.

«Temos muito orgulho da nossa tradição. E isso tem que ver tam-bém com os nossos produtos, seja o gin, o Aston Martin ou o James Bond», salienta a diplomata. E não por acaso os filmes do famoso agente 007 ajudam a divulgar este glamour britânico, pois Bond tan-to surge a beber um cocktail Ves-per Martini como a conduzir um dos bólides da marca emblemáti-ca nascida em vésperas da Primei-ra Guerra Mundial. «Os filmes de James Bond procuram sempre promover o que é britânico. Adele interpretou o tema de Skyfall», nota ainda Kirsty Hayes.

Bond também é fã de whisky, outra bebida bem britânica, ainda que muito associada à Escócia, de onde é originária a diplomata. Já o chá nada diz ao agente secreto. Que diria Catarina de Bragança?

Mala Diplomática

TESOUROS DOS PAÍSES VISTOS PELOS EMBAIXADORES POR LEONÍDIO PAULO FERREIRA

«GIN, UMA BEBIDA REFRESCANTE PARA CLIMAS TROPICAIS»

Kirsty Hayes

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«TEMOS MUITO ORGULHO DA NOSSA TRADIÇÃO. E ISSO TEM QUE VER TAMBÉM COM OS NOSSOS PRODUTOS, SEJA O GIN, O ASTON MARTIN OU O JAMES BOND.»

Reino Unido

HÁ COISAS QUE NÃO VÃO MUDAR.

A TUA MÃE VAI CONTINUARA DIZER PARA LEVARES

O CASAQUINHO.

A criar excêntricos de um dia para o outro

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HÁ COISAS QUE NÃO VÃO MUDAR.

A TUA MÃE VAI CONTINUARA DIZER PARA LEVARES

O CASAQUINHO.

A criar excêntricos de um dia para o outro

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26 VOLTA AO MUNDO

O ANIVERSÁRIO DE BJÖRNopenhaga deve ser uma cidade lindíssima. Ouvi dizer, nunca lá estive. De Copenhaga, conheci o aeroporto e o comboio rápido até Malmö, no Sul da Suécia. Cheguei à tarde e atribuí o pouco movimen-to à tranquilidade que existe, mundialmente, nas quintas-feiras. Mas, depois de um jantar de salmão e de uma noite de sono, chegou a sexta-feira. Na paisagem da janela do hotel, havia longos passeios

de bicicleta à beira do mar Báltico, gelado, a queimar a pele do rosto. Havia também repartições públicas que funcionavam, ruas limpas e pessoas à procura de um sorriso. Sábado. Almocei salmão. Estava a aproximar-se a hora do debate em que ia participar na Biblioteca Mu-nicipal de Malmö. Cheguei antes da hora. Também a biblioteca era Suécia: um edifício incrível, mistu-ra de antigo bem preservado e de moderno com bom gosto. Milhares de livros em sueco, cestas de maçãs vermelhas disponíveis para quem quisesse. O debate começou. Eu e a tradutora dos livros do Lobo Antunes falámos baixinho sobre literatura portuguesa contemporânea. O público era composto quase exclusivamente por maiores de 70, que, no final, vieram falar connosco. Havia, no entanto, uma exceção. Sentada na última fila estava uma rapariga de cabelos vermelhos. Comecei a chamá-la por telepatia. Funcionou. Esperou pelo momento certo e aproximou-se. Conver-sámos. Contou-me que trabalhava no Ikea (juro) e explicou-me que Malmö é uma cidade bastante pacata, onde o tempo passa devagar. Veio jantar connosco. Nessa refeição (salmão), fiquei a saber que o bibliotecário fazia windsurf no Báltico e que já tinha

ouvido falar do Guincho. Depois da sobremesa, era sábado à noite. A rapariga de cabelos vermelhos disse que não havia grandes opções e perguntou-me se queria ir com ela à festa de aniversário de um amigo. Claro que queria. No táxi, houve aquele momento tradicional em que ela falou em sueco com o taxista e eu vi a paisagem: prédios. A campainha, o elevador e chegámos à porta. Deixámos os sapatos num enorme monte de calçado. Felizmente, tinha trocado de meias. Ajudei-a a descalçar as botas. A rapariga de cabelos vermelhos apresentou-me a duas ou três pes-

soas. Sim, sou de Portugal, etc. Cada uma delas contou-me as suas rela-ções, por mais ínfimas, com Portu-gal e, quando essa conversa se es-gotou, convidaram-me para beber qualquer coisa. Na cozinha, abri o frigorífico cheio e percebi que havia um frasco onde se colocava o di-nheiro de cada bebida consumida e, sendo caso disso, de onde se re-tirava o troco. Olhei para trás e, nas nossas costas, estava uma fila de rapazes e raparigas à espera para se

servirem, cada um com a respetiva nota na mão. Antes da meia-noite, cantaram-se os Parabéns ao aniversariante (Björn). O bolo era grátis. Comemos. Passavam uns 15 minutos da meia-noite e já quase toda a gente tinha saído. A rapariga de cabe-los vermelhos estava na varanda a ter uma conversa séria com uma amiga. Não as quis perturbar. Tinha o nome do hotel escrito num papel e aproveitei um táxi que ia para os meus lados. Partilhei-o com dois rapazes que não abriram a boca durante todo o caminho. À chegada, com a calculadora do telemóvel, dividimos um núme-ro qualquer por três.

Uma crónica de José Luís Peixoto

A campainha, o elevador e chegámos à porta. Deixámos os sapatos num enorme monte de

calçado. Felizmente, tinha trocado de meias. Ajudei-a a descalçar

as botas.

C

Passageiro Frequente

ESTE VERÃO, VOCÊ VAI DE FÉRIAS

MAS O MUNDO NÃO.

SAIBA O QUE ACONTECE NO PAÍS

E NO MUNDO COM O DN.

Há coisa melhor do que aproveitar o Verão para ler?

Na praia, numa esplanada, na piscina é sempre

bom abrir um jornal para, calmamente, ver o que

está a acontecer no mundo, ler artigos de opinião,

reportagens, entrevistas. Tudo isto você encontra no

Diário de Notícias. Trata-se de um jornal renovado,

com um painel de líderes de opinião de primeira e

textos que vão fazer diferença nas suas conversas.

Um jornal bom para esta estação e para o ano

inteiro. Mudámos para continuar a fazer o mesmo

que há 150 anos: ser o diário de notícias de todos

os portugueses.

Já leu o seu Diário de Notícias hoje?

Page 27: Volta ao Mundo - Setembro 2015

ESTE VERÃO, VOCÊ VAI DE FÉRIAS

MAS O MUNDO NÃO.

SAIBA O QUE ACONTECE NO PAÍS

E NO MUNDO COM O DN.

Há coisa melhor do que aproveitar o Verão para ler?

Na praia, numa esplanada, na piscina é sempre

bom abrir um jornal para, calmamente, ver o que

está a acontecer no mundo, ler artigos de opinião,

reportagens, entrevistas. Tudo isto você encontra no

Diário de Notícias. Trata-se de um jornal renovado,

com um painel de líderes de opinião de primeira e

textos que vão fazer diferença nas suas conversas.

Um jornal bom para esta estação e para o ano

inteiro. Mudámos para continuar a fazer o mesmo

que há 150 anos: ser o diário de notícias de todos

os portugueses.

Já leu o seu Diário de Notícias hoje?

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28 VOLTA AO MUNDO

Uganda GORILAS E BRUMA

O jornalista Paulo Salvador trouxe-nos palavras e fotografias para contar uma viagem especial. Viajou até África em busca de gorilas e chimpanzés. Encontrou os primatas

e carregou na bagagem histórias para contar. De gente, de animais e de sobrevivência.

m riacho de águas frescas e cristalinas desce a mon-tanha. Serpenteia por entre o verde rasteiro de musgos e fetos, as folhas

das bananeiras, a verticalidade das árvores de teca, a elegância das acácias e as longas lianas que pendem sobre o solo. Um cenário idílico, pintado com todas as tonalidades de verde conhecidas pelo olho humano.

Um grupo de crianças brinca numa das margens. Galgam as águas, ao meu encon-tro, num equilíbrio instável sobre pedras que se esticam à superfície.

Trazem na mão pequenas folhas, gastas e sujas. São desenhos com cores desbotadas. Exibem-nas com orgulho na esperança de um interesse estrangeiro. Rasgam-me sor-risos de um branco absoluto, e olhares tão luminosos quanto os reflexos do sol na cor-rente. Mostram-me as obras. São desenhos do animal que ali atrai milhares de pessoas, vindas de todo o mundo. Representações das criaturas das montanhas, os gorilas da Floresta Impenetrável de Bwindi.

Uma das muitas surpresas do Uganda. Um país de sorrisos, simpatia e uma auten-ticidade rara.

Trinta e seis anos após o fim do regime de terror do general Idi Amin Dada, o Ugan-da de hoje é um país em acelerado cresci-mento populacional e apostado em entrar no circuito mundial do turismo de vida sel-vagem. Numa era em que a defesa da vida

animal se tornou uma questão não só polí-tica como também económica, a possibili-dade de oferecer ao turismo uma das espé-cies mais ameaçadas do planeta é uma vantagem que nenhum país deve menos-prezar, sobretudo se esse país tem metade de toda a população de gorilas do mundo.

Quando se aterra em Entebbe, aeroporto que serve a capital do país, Kampala, sente--se de imediato algo que se vai tornando cada

vez mais raro, e por isso precioso, para quem viaja: a sensação de segurança. Seja nas ruas das cidades, nos parques, ou nas aldeias por onde se passa a caminho das zonas turísticas, sentimo-nos seguros. Fechar o carro deixa de ser uma preocupação. Este é um valor essencial para qualquer turista.

Uma outra caraterística surpreendente, num continente que vive grandes dificul-dades de infraestruturas básicas, é a higiene. Até nos locais mais remotos a limpeza é um valor constante e que impressiona qualquer

viajante atento. Sobretudo comparando com outros países africanos e até alguns europeus.

Hoje, o Uganda promove a sua imagem sustentada na enorme biodiversidade. O turismo representa 10 por cento do pro-duto interno bruto. É a principal fonte de exportação de divisas. A estratégia passa por apresentar preços 30 por cento abaixo dos valores de referência. A Lonely Planet em 2011, e a National Geographic Traveler em 2012, atribuíram distinções de qualida-de ao Uganda enquanto destino turístico. Um estudo de 2013, sobre as motivações e os gastos dos turistas no país, atesta que cada dólar gasto pelos visitantes gera ganhos de 2,5 dólares para a riqueza da nação.

Neste Centro de África, há muito de tudo. Muitos animais, muito verde, muitas crian-ças e uma das maiores taxas de fertilidade do mundo (6,7%). O Uganda tem 35 milhões de habitantes. O dobro do que tinha em 1990. É uma das populações mais jovens do pla-neta (48,7% têm menos de 15 anos).

O crescimento económico tem rondado 5 por cento ao ano. Toda a estratégia nacio-nal está orientada para atrair mais turismo.

As mais de mil espécies, algumas delas autóctones, fazem do país simbolizado pelo grou-coroado-austral o mais importante ponto de observação de aves de toda a Áfri-ca. As montanhas Rwenzory, as míticas montanhas da Lua descritas por Ptolomeu há mais de 2200 anos, foram declaradas património da Humanidade pela UNESCO

A floresta de Kibale tem a maior concentração de primatas da África Oriental. Ali vivem 13

tipos de primatas e uma comunidade de perto de

1500 chimpanzés.

Ponto de vista

U

Page 29: Volta ao Mundo - Setembro 2015

29

As planícies de Kasenyi vistas do balão de ar quente. Uma viagem inesquecível onde se pode ver a península Mweya e o lago George. Ao fundo, a cordilheira das montanhas Rwenzori.

Os meninos de Bwindi orgulhosos dos desenhos dos gorilas-da- -montanha.

Page 30: Volta ao Mundo - Setembro 2015

Em cima, à esquerda, preparativos para o voo de balão sobre as planícies. O preço médio é de 350 dólares por pessoa (cerca de 312 euros).

O Parque Nacional Queen Elizabeth tem todos os big five (leões, leopardos, rinocerontes, búfalos e elefantes)

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em 1994 e atraem caminhantes e monta-nhistas, ansiosos por escalarem um dos pi-cos mais altos de todo o continente, com 5109 metros. De norte a sul, há trinta parques florestais, dez nacionais, sete reservas e in-vestimentos em produtos de qualidade.

O maior parque nacional é o das Catara-tas de Murchinson, no Noroeste. Imponen-te e luxuriante. Centenas de hipopótamos, crocodilos, antílopes e elefantes vagueiam junto ao delta do rio Nilo. A norte, junto ao Sudão, o vale de Kidepo e as savanas com leões, chitas, elefantes e leopardos. A sul, integrado no Parque Nacional Queen Eliza-beth, é possível fazer um safari de barco nas tranquilas águas do canal Kazinga, que une os lagos Edward e George.

Ainda no perímetro do parque, na zona de Ishasha, os famosos leões-das-árvores. Devido à altura da vegetação, os felinos adaptaram-se ao habitat trepando às arvo-res, para melhor verem as presas. Um pou-co mais a noroeste, junto às imponentes montanhas Rwenzori, a floresta de Kibale, com a maior diversidade e concentração de primatas da África Oriental. Ali vivem mais de 350 espécies de aves e 13 tipos de prima-tas, em que se inclui uma grande comuni-dade de chimpanzés. São perto de 1500 indivíduos. Espalham-se por uma floresta tropical de cortar a respiração. Para os ver, as caminhadas duram em média duas horas, mas por vezes, como foi o meu caso, demo-rou seis penosas horas, num ambiente de grande desgaste físico, apenas compensado pelos momentos em que estamos junto dos nossos ascendentes. Tal como com os gori-las, estar junto a uma família de chimpanzés remete-nos invariavelmente para reflexões sobre a nossa origem. O que de nós há na-queles olhos, naqueles gestos, naquela sel-vagem familiaridade.

Mas o que realmente mais distingue o Uganda e o projeta no mundo são os gorilas--da-montanha. Aqui vive quase metade de toda a população mundial, 408 animais. Os restantes dividem-se entre o Ruanda, com mais de 450, e uma população residual na República Democrática do Congo. Uma ri-queza nacional que está a ser explorada e protegida pelo próprio fluxo turístico.

Gerir todo este potencial tem sido uma tarefa não isenta de dificuldades para a Au-toridade Nacional de Vida Selvagem do Uganda (UWA). O tracking dos gorilas é a principal fonte de receitas do turismo ugan-dês. Bwindi é por isso uma história de su-cesso. É um dos parques nacionais mais protegidos, onde a caça furtiva tem vindo a diminuir à medida que as populações sentem as vantagens de receber turistas. Um gorila vivo gera mais dinheiro para o país, e para as comunidades, do que os troféus de outros tempos. A estimativa é a de que, por cada um destes primatas de pelo negro e olhar

âmbar, o país ganha um milhão de euros de receita anual.

Na pequena aldeia junto a uma das en-tradas para a floresta tropical a noite cai, fresca - estamos a 1500 metros de altitude. A Lua mostra-se tarde, atrás da encosta ín-greme que se ergue à minha frente. Ador-meço a pensar no dia seguinte, na ida aos gorilas. Manhã cedo somos transportados do lodge para o centro de acolhimento do Parque Nacional de Bwindi, na chamada Floresta Impenetrável.

Os caminhantes são divididos em grupos com o máximo de oito pessoas. Cada turis-ta paga 650 dólares (cerca de 585 euros) para ir ao encontro dos gorilas e com eles estar não mais do que uma hora. A distribuição tem em conta a aparente condição física dos participantes. Estas caminhadas são muito exigentes. Podem ultrapassar as oito horas de marcha, numa densa floresta de monta-nha, húmida, íngreme e lamacenta.

São 08h30. Uns equipados até aos den-tes, outros imprudentemente descuidados. Juntamo-nos à volta da guia que nos foi

atribuída. Sinto que alguns dos meus com-panheiros de aventura não estão verdadei-ramente preparados ou conscientes do que é caminhar neste tipo de vegetação tropical.

Todas as madrugadas, um grupo de ba-tedores da UWA (Uganda Wildlife Autho-rity) parte para a montanha, para os locais onde no dia anterior estavam as famílias de gorilas. Estes primatas são muito territoriais e movimentam-se num raio de três quiló-metros ao redor do local de alimentação. Ainda assim, a cada dia é preciso verificar onde se encontram.

Em Bwindi existem 35 famílias, das quais apenas 14 estão acostumadas à presença humana, são chamados os «habituados», sem que isso lhes retire o seu caráter total-mente selvagem. Apenas quer dizer que normalmente não são agressivos, pois ao longo de anos têm sido confrontados com a presença de guias e guardas. Os restantes gorilas, isolados, vivem em zonas muito remotas e quase inacessíveis. Apenas os cientistas podem visitá-los.

A nossa guia fala de forma pausada e sempre com um sorriso. Chama-se Ny Niyi-bizi Goreth, é uma jovem ugandesa. Traba-lha no parque há seis anos e confessa nunca ter visto um português, muito menos jorna-lista. Sinto-me privilegiado.

Aspeto cuidado, farda militar e um cui-dado penteado de tranças finas, com termi-nações douradas, dão-lhe um ar inespera-damente afro chic.

Exibe um poster com fotos e nomes de todos os gorilas da família que vamos pro-curar. É a família Rushegura, composta por 13 indivíduos. Goreth explica-nos as regras de conduta na selva e a distância a manter dos gorilas: sete metros. Um princípio ao qual só o primata pode desobedecer e, nes-se caso, os humanos ou ficam quietos ou se desviam. Sobretudo nada de correrias. Até porque é quase impossível dada a densida-de da vegetação.

Feitas todas as recomendações, partimos para a dita floresta impenetrável. Para ajudar a carregar sacos, mochilas e comidas, os vi-sitantes podem contratar carregadores, por 15 dólares (aproximadamente 13,5 euros). Dinheiro muito bem aplicado se por acaso a

Ponto de vista

31VOLTA AO MUNDO

O Mihingo Lodge, no Parque Nacional do Lago Mburo, é um

local único, construído por um casal europeu que se apaixonou pelo

Uganda.

Page 32: Volta ao Mundo - Setembro 2015

32 VOLTA AO MUNDO

caminhada se prolongar ao longo de horas. Ao grupo juntam-se também um batedor, que abre caminho com uma espécie de foice para cortar mato, e um guarda armado. Um elemento dissuasor para um eventual encon-tro com os búfalos e elefantes que partilham a montanha com os gorilas. Sendo animais potencialmente perigosos, só um disparo para o ar poderá evitar situações bastante perigo-sas. Claro que também acalma os nervos aos visitantes menos confortáveis com a ideia de estar num meio inóspito como este, no meio de animais selvagens.

Partimos em caravana, coração ao saltos, quais exploradores em busca do grande King Kong. Luvas para nos podermos agarrar a qualquer superfície sem recear insetos ou espinhos, meias subidas para desencorajar as formigas-safari e botas para ultrapassar lamas, pedras e galhos.

Uma parede verde ergue-se à nossa fren-te. Um muro de lianas, raízes, espinheiras, fetos, líquenes e musgos. De quando em vez uma árvore, escondida por entre folhas gi-gantes e troncos esguios e escorregadios. Avançamos a passo, lentamente, ao ritmo dos cortes que rasgam o emaranhado que nos cerca. Seguimos as palavras e os passos de Niyibizi, a guia do cabelo de pontas dou-radas. Walkie talkie em punho, ela vai rece-bendo constantes dicas de batedores e de outros guias que se possam cruzar com a «nossa» família Rushegura.

Foi a primatologista norte-americana Dian Fossey quem nos ensinou a olhar para os gorilas e que alertou o mundo para a ne-cessidade da proteção destes primatas. Se nos anos 1960 e 70 os gorilas estavam amea-çados de extinção, hoje estão quase a atingir o ponto de sobrevivência sustentada. Nestas montanhas a população não para de crescer.

Estava eu embrenhado nestes pensamentos, quando o líder da caravana para de cortar mato. Começa a falar com a guia. Percebo que algo está a acontecer. Goreth faz-me sinal para avançar, aponta para o verde: «Estão ali!»

Surgidos do nada, ali estavam, a poucos metros, sem qualquer sinal de incómodo pela invasão humana. Na floresta, os gorilas são sombras. Um olho menos treinado não os vê de imediato. São negros como as som-bras. São parte do verde que os esconde.

No solo, por entre ramagens e folhas, um macho adulto trinca delicadamente peque-

nos caules, cujo interior esconde uma deli-ciosa seiva doce. Olha para o pisteiro. Este emite um som parecido com um ronronar, que presumo seja uma sinal tranquilizador e de reconhecimento entre espécies.

No cimo de uma árvore que ameaça cair, dez metros acima do solo, um gorila jovem tenta fazer uma cama para se deitar. Ouve--se apenas os galhos, que se partem às mãos poderosas e negras, o suave rasgar das folhas, o mastigar dos rebentos.

Olhos esbugalhados, coração acelerado, inebriados pela paz que nos rodeia e pe lo equilíbrio entre homens e gorilas, ali ficamos, em silêncio. O tempo parece que congela. Subitamente, emerge do verde o

patriarca da família, o macho dominante. Um exemplar impressionante, de costas largas e dorso prateado. Caminha tranqui-lamente, como se ali não houvesse nin-guém. Não se desvia. À passagem roça na perna de um dos meus companheiros de viagem. Surpreendentemente, nenhum destes animais mostra qualquer stress com a nossa presença. Agem com uma tranqui-lidade desarmante. Apenas quando os pis-teiros cortam mato demasiado próximo, eles fazem sentir a sua autoridade. Ensaiam uma carga, emitem um pequeno rugido –que nos assusta – e tudo volta ao lugar.

Seguimos caminho, para tentar descobrir o resto da família Rushegura, que é conhe-cida por se aventurar para locais muito pró-ximos da ocupação humana. Dez minutos mais tarde, novo sinal da Goreth. Desta vez damos de caras com um gorila que se diver-te junto de uma tenda do lodge de montanha. Os ocupantes estão no exterior, junto a uma mesa, imóveis. Desfrutam da cena inespe-rada. O gorila está a três metros. Talvez tenha sentido o cheiro de comida. Só nós nos me-xemos, para ver melhor a cena. Vêm-me à memória as imagens de Dian Fossey e dos seus gorilas na bruma.

Durante quase meia hora, o bom gigan-te parece exibir os seus dotes dramáticos para as nossas câmaras. Deita-se de barri-ga para o ar, roça-se no tecido da tenda, lança breves olhares para a assistência, fecha os olhos, cruza os braços com ar me-lancólico. O olhar é perturbadoramente familiar. O tempo, que pensávamos parado, voa num piscar de olhos. A hora a que temos direito acaba. É tempo de regressar ao cam-po-base.

Antes desta viagem, interrogava-me o que sentiria quando estivesse junto destes

Ponto de vista

Paulo Salvador nasceu no Lubango, Angola, em 1965. Passou grande par-te da infância em Luanda (chegou a Portugal em setembro de 1975) e África continua a correr-lhe nas veias. É um dos rostos mais conhecidos do jornalismo televisivo português.

Começou a trabalhar na RTP e está de pedra e cal na TVI desde 1994. Faz parte da Direção de Informação da estação de Queluz, do Observatório de Imprensa e é um apreciador da boa comida. Sobre essa matéria são co-nhecidas as suas reportagens feitas

bem perto dos principais chefs que trabalham em Portugal. É autor dos livros Recordar Angola (quatro volu-mes), em que faz uma viagem às memórias pessoais e coletivas de um povo com fortes ligações ao conti-nente africano.

Neste trabalho que agora é publicado na Volta ao Mundo, Paulo Salvador mostra-nos também o seu olhar fo-tográfico num dos cenários mais impressionantes e exigentes do pla-neta. Ficamos à espera do próximo destino deste viajante.

Á FR I CA D E LE

Durante meia hora, a fêmea da família

Rushegura sentou-se junto a uma tenda,

o que nos deixou prisioneiros da sua paz

e tranquilidade.

Page 33: Volta ao Mundo - Setembro 2015

33VOLTA AO MUNDO

animais imponentes, com a força de dez homens, que alimentam fantasias e mitos. Depois desta aventura, sei que os milha-res de anos de evolução que nos separam são também os que nos unem. Por isso deixam este desejo. Este querer voltar. Esta urgência de um novo, tranquilo e inesquecível encontro com os gentis gi-gantes.

Goreth despede-se com mais um sorriso, e um recado: «Vão, regressem aos vossos países, mas mostrem e falem do que aqui viram, é importante para nós, e para eles», aponta para a floresta.

Junto ao riacho, os meninos do rio ainda correm e brincam com as folhas que guardam os seus gorilas rabiscados. Mas num piscar de olhos também eles desaparecem na lu-xúria verdejante das encostas impenetráveis da floresta de Bwindi.

Niyibizi Goreth, a guia das tranças douradas, faz a apresentação da família de gorilas a localizar, os Rushegura.

Macho adulto delicia-se com a seiva das plantas da Floresta Impenetrável. Estava a pouco mais de três metros da objetiva.

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34 VOLTA AO MUNDO

IRA KLM (klm.com) voa diariamente para Entebbe via Amesterdão, Holanda. Ida e volta a partir de 870 euros. A Top Atlântico (topatlantico.pt) tem um pro-gra ma especializado para esta viagem - À Descoberta do Uganda - com visita às montanhas e observação de primatas. O preço por pessoa em quarto duplo é a partir de 3100 euros. Inclui passagem aérea em classe económica pela KLM no percursoLisboa-Entebbe-Lisboa; transfers de e para o aeroporto Entebbe; taxas aeroportuárias; transporte em veículo 4x4; guia/motorista; águas minerais; alojamento de acordo com o tipo de lodge escolhido (standard);refeições indicadas no itinerário detalhado; entradas nos parques nacionais; passe para entrada na floresta dos gorilas e chimpanzés; atividades detalhadas; seguro de viagem; taxas de estada.

INFOSPara além do passaporte, válido pelo menos por mais seis meses depois do regresso, é necessário obter um visto de turismo. Pode ser tirado à chegada ao aeroporto de Entebbe. Custa 100 dólares americanos (pouco menos de 90 euros) e o pagamento é em dinheiro vivo. Dólares e euros podem ser trocados em bancos ou casas de câmbio. Pode fazê-lo no aeroporto. Levantamentos de dinheiro em ATM só em alguns bancos. Cartões de crédito Visa são aceites em alguns locais e nos hotéis.Quanto a cuidados de saúde, recomenda-se a Consulta do Viajante. Prepare-se para a vacina da febre amarela (obrigatória) e para uma muito provável profilaxia da malária. É conveniente beber somente água mineral engarrafada. No que respeita à segurança, o Uganda é um dos países mais amistosos e seguros de África. Todos os parques nacionais são supervisionados e protegidos pelas autoridades.

DORMIRNos dez parques naturais, em acampamentos ou lodges.

Primate Lodge KibaleTendas de qualidade e equipadas que garantem privacidade e sensação de comunhão com a floresta. Pessoal muito afável e eficiente.UGANDALODGES.COM/PRIMATE

Muyea Safari LodgeNo Parque Nacional Queen Elizabeth, é um local de eleição. Grande qualidade, charme, estilo e conforto com uma vista deslumbrante sobre o rio. Das mesas de almoço ou da piscina podemos estar a ver elefantes e hipopótamos com todas as mordomias e em segurança.MWEYALODGE.COM

Mihindo LodgePerto do lago Mburo, outro local muito especial. Um boutique resort de grande qualidade e decoração irrepreensível. É o projeto de vida de um casal que um dia se apaixonou pelo Uganda e construiu um hotel no cimo de uma formação rochosa. Feito a pensar em todos os detalhes de proteção e conjugação com o meio ambiente em que se insere, oferece a possibilidade de safaris a pé, a cavalo e até em bicicleta.

Gorilla Forest CampEm Bwindi, é uma opção para quem quer correr o risco, e a sensação única, de acordar e ter uma família de gorilas na varanda. Fica dentro do parque e frequentemente alguns gorilas aventuram-se a visitar as instalações dos turistas, conforme, aliás, pôde testemunhar o jornalista Paulo Salvador.SANCTUARYRETREATS.COM/UGANDA-

-CAMPS-GORILLA-FOREST-PRICE

A NÃO PERDERParque Nacional de BwindiTracking (ir a pé ao encontro de) de gorilas-da-montanha - é a experiência de uma vida e

aconselhável a quem goste de estar na natureza e tenha essa capacidade fisica e emocional. Os trilhos podem ser muito duros e longos e sempre feitos por entre mato cerrado com tudo o que isso implica de vida animal.

Kibale ForestTracking de chimpanzés - estar junto de uma família de chimpazés em liberdade, numa região com a maior concentração de primatas de todo o continente africano é outra das oportunidades a não perder. Mesmo que os guias digam que a caminhada vai ser curta, leve sempre água a mais e barras energéticas. Nunca se sabe quando a fome e a sede apertam. Além disso, os animais nem sempre respeitam os nossos timings.

Balão de ar quentePlanície do Parque Nacional Queen Elizabeth. Uma nova experiência no Uganda é o voo de balão de ar quente. Neste momento é um piloto egípcio que explora este target de negócio. Os voos acontecem ao nascer do dia, o que implica acordar de noite e esperar que o clima ajude. Ver a planície africana a 500 metros de altitude, olhar o horizonte e ver as montanhas da Lua, olhar para baixo e ver os animais ou fazer um voo a baixa altiude são momentos únicos. Aconselha-se muitos cartões de memória porque não se para de fotografar. Irresistível.

Murchison FallsQuedas de água, o delta do rio Nilo e rica vida animal. Um dos parques nacionais mais procurados e com alojamentos de luxo.

Observação de aveso Uganda já foi eleito um dos melhores locais do mundo para este tipo de atividade. Ali vivem milhares de espécies, muitas delas endémicas.

DOCUMENTOS: PASSAPORTE

VÁLIDO E VISTO À CHEGADA

FUSO HORÁRIO: GMT -2H

IDIOMA: INGLÊS E SUAÍLI

CÂMBIO: 1 EURO EQUIVALE A

2 XELINS DO UGANDA (UGX)

QUANDO IR: DUAS ESTAÇÕES:

A SECA (DEZEMBRO A MARÇO

E JUNHO A SETEMBRO) E A

CHUVOSA, EM ABRIL E MAIO

E OUTUBRO E NOVEMBRO.

JULHO E AGOSTO SÃO OS

MESES DE MAIOR AFLUÊNCIA

DE TURISTAS. TEMPERATURA

ENTRE 23ºC E 27ªC, EXCETO

NAS MONTANHAS, ONDE SE

SENTE MAIS FRIO.

KAMPALAParque Nacional Queen Elizabeth

Parque Nacional da Floresta de Kibale

Parque Nacional de Murchison Falls

Parque Nacional de Bwindi

Ponto de vistaGuia Uganda

RECORTE E LEVENA SUA VIAGEM

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Fomos à terra do escritor Germano de Almeida em busca da morabeza que ele receia ter-se perdido. Descanse o homem das letras - e todos os viajantes apaixonados pelo arquipélago africano. A Boa Vista continua especial.

TEXTO DE VALENTINA MARCELINO I FOTOGRAFIAS DE ORLANDO ALMEIDA

Boa Vista CABO VERDE

A ilha perdida de um escritor

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enho medo de voltar, receio de se ter per-dido a morabeza que lá deixei. Quero ficar com essa memória. Prefiro guardá-la assim. Perfeita.» Há emoção na voz de Germano Almeida, o premiado escritor que nasceu na Boa Vista, em Cabo Verde, quando lhe liga-mos da sua terra, no último dia de viagem. Queríamos que nos desvendasse alguns dos mistérios da ilha que já inspirou dois dos seus livros e é palco de um terceiro, que está agora a escrever. Germano deixou a Boa Vista aos 18 anos (tem agora 70) e voltou lá apenas em 2005.

Contamos-lhe o que fizemos nos últimos dias, os lugares que visitámos, avivamos- -lhe as imagens de contraste entre o agreste

das colinas secas e as dunas aveludadas, as praias desertas, as comidas que prová-mos, a música, uma morna suave para nos embalar como um mar terno, outras vezes um funaná tão intenso como ondas altas a explodirem na areia. Mas, principalmente, falamos-lhe das pessoas. Das gentes das terras, das suas histórias, dos seus sorrisos, da forma como nos acolheram, enfim, a tal morabeza que Germano teme ter-se sumido. Do outro lado do telefone sente-se o seu sorriso aberto. «Na última vez que aí fui fiquei triste. A ilha estava muito descarate-rizada, com o turismo de massas. Senti que tinha perdido aquilo que me está a dizer que encontrou. Se calhar ainda volto.»

T

Areais macios como veludo e mar cristalino são a «boa vista» que deu nome à ilha. Esta é a bela vista da esplanada do hotel Iberostar.

«

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Venha daí Germano Almeida, venha daí. Pode começar por visitar a sua velha aldeia, João Galego, lá no Norte, onde as casas pin-tadas de cores garridas contrariam descon-traidamente a aridez castanha e pedregosa da paisagem. Antes, ainda parámos em Bofareira, na Mercearia do Elvis a beber uma Strela, a cerveja de Cabo Verde, quase gelada (ainda só há luz metade do dia) e a ouvir as piadas do Luís Morais («Sim, tenho o nome do grande saxofonista da Cesária Évora», disse com orgulho), com um inesperado cap de pequenas lantejoulas prateadas. Em João Galego, as mulheres vão duas vezes por semana à capital, Sal Rei, vender a sua fruta, legumes e, claro, o inesquecível queijo de

No interior da ilha a paisagem é agreste, seca, pedregosa. Passeios de jipe são opção a ter em conta.

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Festa e Cabo Verde parecem andar sempre em sintonia. Este é um arquipélago de música e sorrisos.

Nas pequenas localidades, as casas de cores garridas contrastam com a aridez castanha.

cabra. Estes resistentes animais são uma constante no cenário, com os seus perfis a recortarem-se em cada monte, à procura de alguma erva entre as pedras. Não chove há um ano, está tudo muito seco, terras greta-das a gemer por água, mas ainda há onde fazer pequenas plantações para delas tirar o sustento. A água para rega vem do mar, é dessalinizada e tratada para consumo.

Ah! Quer saber a melhor? Uma das excursões que organizam no hotel onde ficámos chama-se A Ilha Fantástica. Sim, o nome de um dos seus livros sobre a Boa Vista, aquele das histórias do nhô David, neto do judeu Ben’oliel que ali desembarcou

fugido de Marrocos, em 1800, da Ti Júlia, da Ti Maia e tantos outros. Aquele onde eu dei o primeiro mergulho da viagem, antes sequer de ter chegado. «Temos praias de areia grossa e branca, onde o mar é fundo, manso e límpido; praias de cascalho ligeiro e ondas fortes e também praias paradas como se fossem lagos ou simples poças d'água.»

A praia de nhô David também está lá, a norte de Sal Rei. É a praia de David e está tal e qual como a descreveu – «Aconchegada e recatada, uma espécie de língua sensual de mar em eterna e fascinada carícia sobre corpo adormecido da terra». É verdade que para lá chegar «é preciso descer-se por uma

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espécie de escada escavada entre as rochas e este simples acidente natural confere-lhe a intimidade e a quietude de um templo cujo suave vazio, que o preguiçoso ondular não chega a perturbar».

De João Galego descemos ao Fundo das Figueiras. São cinco minutos. É outra aldeia com uns 150 habitantes, as ruas muito limpas e as casas, também, colo-ridas e bem dispostas como os habitan-tes. Como a D. Tina (não gosta do nome Constantina), a proprietária e cozinheira do restaurante Reencontro. Do calor seco da rua entramos numa aragem fresca que

corre na sala das refeições, uma espécie de ar condicionado ao natural, provocado pelas portas abertas.

As paredes estão forradas com cestos de vime e redes de pesca, o teto são ramos de tamareira apertados. A mesa, com uma toalha de cores vistosas, enche-se: cabrito guisado, legumes de toda a espécie, be-ringela, aboborinha, cenouras, lentilhas. Como tempera estes filetes de atum, D. Tina? «É muito simples, alhinho, limãozinho, sal e coentrinho», responde, numa voz doce embalada por um sorriso terno, enquanto volta a prender uma madeixa do cabelo que lhe fugiu da touca de cozinha.

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No pequeno porto de Sal Rei, capital da Boa Vista, o fresco da água convida a um mergulho do cais. Todos os dias o ritual repete-se.

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Ao final do primeiro dia, a música cabo--verdiana passou a estar na nossa cabeça, no nosso corpo. Quando regressarmos, sentire-mos que também invadiu o nosso coração. Não fosse a Boa Vista a terra onde nasceu a morna, um doce canto triste, sentido, de saudade. Na procura da morabeza a Linda Araújo, uma encantadora cabo-verdiana,

com um sorriso de olhos radioso, «imi-grante» de São Vicente, que teve a ousadia de se apaixonar por aquela ilha, abriu-nos a porta da casa de Celeste Almeida. Sua prima, Germano, sim. O mundo é pequeno, a Boa Vista é uma grande casa de família. Foi ela que nos disse que o seu sítio favorito em Sal Rei, quando era miúdo, era numas

rochas negras, banhadas pelo mar, onde se sentava a ler e a escrever.

Celeste, 61 anos, aqueceu primeiro os nossos estômagos com uma cachupa rica. «Esta é diferente dos restaurantes, onde servem tudo misturado», começou por explicar. O tudo são as carnes e enchidos di-versos, o filete de atum fresco estufado com

As praias desertas de águas cristalinas convidam a dias sem fim nesta ilha. Não admira a procura turística.

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O mar limpo abastece de bom peixe e marisco os habitantes da Boa Vista e os turistas que a visitam todos os anos.

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O velho navio está encalhado nesta praia da Boa Esperança, a norte da ilha, há 46 anos. É atração turística.

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cebola, as couves, as cenouras, a batata- -doce, a mandioca e a cachupa propria-mente dita, com o milho, o feijão-pedra e sapatinha (família do feijão). «Gosto de servir tudo separado e cada um põe a ri-queza que quer no seu prato», acrescentou. A conversa flui, tão amena como a brisa que entra pela janela aberta sobre o mar. «Boa Vista é uma ilha sem vaidade, ampla. A vaidade cresce no mar. Olhando para ele a nossa alma fica limpa. Se tivesse de nascer outra vez, escolhia este sítio», diz firme-mente Celeste, que voltou no ano passado de 30 anos fora do país como emigrante, na Suécia.

Há raras famílias na ilha que não têm emigrantes. Muitas mornas se inspiraram nesta fatalidade, para expressar as saudades da ilha. «Quando estamos lá fora, a música

da terra é a nossa alimentação da alma», conta Celeste. Levanta-se e, de repente, a sala foi invadida pela sua voz, a fazer arre-piar os pelos dos braços. «Parti p’a terra longe / Foi sempre nha ilusão / E ali ja’m esta / Di sorriso falso / Margurado e triste / Ta vaga de mar em mar / Ta corre de vento em vento / Em busca de um futuro / Entre sombras di distino», canta, a morna de Ildo Lobo, um histórico músico de Cabo Verde, dos Tubarões. No seu rosto, em cada linha, nos seus olhos molhados, passa a sua vida como num filme, dura, sofrida, mas sempre, sempre determinada a voltar à sua ilha. «Fiz uma promessa ao meu chão. No dia que saí, fui beijar o chão da minha igreja e jurei que regressaria», lembra.

Agarra-nos pela mão e leva-nos porta fora. Andamos uns metros pela rua poeirenta

Na praia de Santa Mónica, uma das sugestões para passar o dia são champanhe e morangos ao pôr do Sol.

Quem está no Iberostar tem diversas atividades à disposição para passar o tempo. Como o kitesurf.

São praias para todos os gostos: areia grossa, branca, mar fundo ou manso, com cascalho ou ondas fortes, mas todas elas inesquecíveis.

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e quente e chegamos perto de uma pequena casa de portas abertas. «Mulheres Ativas», anuncia uma tábua pintada de azul na pare-de. Lá dentro, mulheres, umas mais novas outras mais velhas do que Celeste, costuram em máquinas antigas, recortam pedaços de tecido coloridos que cosem uns aos outros até formar colchas alegres e festivas. Joana, Valentina, Filomena, Dazinha, Paulete, Amorina e Marcelina passam ali muitas da suas tardes. Quase todas estiveram fora da sua ilha, emigradas, mas a saudade não as deixou ficar. «Organizei aqui este espaço e quero que todas se juntem a conversar, a costurar. Vamos começar a vender coisas, mas o importante é estarmos distraídas», sublinha Celeste, levando-nos de volta para

o prometido «lanche cabo-verdiano»: bolo de cuscuz de mandioca e milho, barrado com mel de cana ou manteiga, queijo fresco de cabra e «sucrinha» (quadradinhos de doce de leite). A acompanhar um aromático chá de hortelã fresca.

Na Boa Vista não faltam iguarias, para apre-ciar com tempo e estômago preparado. Alguns restaurantes são de ex-emigrantes que aprenderam no estrangeiro e regres-saram para ficar e partilhar sabores. Como Armando Marques, que esteve 18 anos em Basileia, Suíça, e aprendeu a cozinhar num navio. «Nunca tinha entrado numa cozi-nha», conta, «fui aprendendo e trabalhei nos melhores restaurantes.» O nome que

deu ao seu restaurante diz tudo sobre o que o puxou de volta: «Sôdade di nha terra».

Nasceu ali no Rabil, perto da capital da ilha, e foi ao lado da antiga casa da família que comprou o terreno e ergueu o estabe-lecimento. Nas paredes estão fotografias suas ao lado de verdadeiras obras de arte culinária, bolos principescos, cascatas de fruta. «Trouxe mais de mil receitas, mas aqui não tenho tido muitas oportunidades de as cozinhar», afirma com uma certa nostalgia. Ainda assim, faz questão de, em cada por-menor, dar um toque de chef e colocar um pequeno adorno, como flores recortadas de uma cenoura e pétalas de vegetais.

Conta que várias figuras políticas já por ali passaram, desde Aristides Pereira, o

Sim, é ilusão de ótica: a piscina do hotel Iberostar está alguns metros acima da praia, mas não deixa de ser irresistível.

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Armando Marques, outro emigrante, aprendeu a cozinhar na Suiça e mistura sabores cabo--verdianos nos seus pratos.

primeiro presidente de Cabo Verde, natural da Boa Vista, ao próprio António Costa, atual secretário-geral do PS português. Certa-mente provaram a sua especialidade, uma salada de couve ripada com uma vinagreta especial, a acompanhar os peixes sempre frescos. «Tenho um pescador que me liga uma hora antes de chegar a terra a dizer o que tem», afiança.

Mais a sul, há um outro espaço tam-bém animado – e de que maneira – por uma emigrante. O Fon’Banana. Cristina Brito esteve 20 anos na Alemanha e voltou há cinco para Povoação Velha, a primeira localidade da ilha povoada e uma das atra-ções turísticas mais visitadas. Restaurou a casa dos pais, forrou o terraço com canas

Cristina Brito emigrou e voltou à sua ilha para recuperar a casa de família e abrir o Fon'Banana, em Povoação Velha. Aqui serve comida e música típica.

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e vime, decorou-a com cestos coloridos e ali criou uma sala de refeições fresca e aconchegada. Ainda se provam as entra-das quando se começa a ouvir o som dos acordes de ensaio de um violão. Depois um cavaquinho, um reco-reco e uma viola. O grupo, Frank, Arikson, Aguinaldo, Marlo, Manel e Ailton, têm idades entre os 17 e os 63 anos e são todos de Povoação Velha. Frank, o mais velho, toca «há muitos anos, com amigos», mas tem ensinado os mais novos «numa espécie de escola de música», ao ar livre na pracinha da povoação. Três vezes por semana animam e enchem de mornas e coladeras o Fon’Banana.

A surpresa da noite é quando Cristina, que recebe os convidados com um sorriso quente e vai depois para a cozinha apurar

o gosto às comidas (um cabrito que se des-faz na boca, galinha tenra guisada, lagosta grelhada...), entra na sala e canta, acom-panhada pelos músicos. A sua voz invade a noite lá fora e junta-se às outras estrelas, as do céu. «É de família, a sua mãe tinha uma voz do outro mundo, era incrível», revela-nos Frank, mais tarde, quando lhe confessamos a nossa emoção.

Enquanto os cabo-verdianos emigrados ainda não voltavam à ilha, outros, estrangeiros, aportaram a ela, à procura da sua morabeza, da história, de um lugar de gentes afetuosas. O italiano Toni Libardoni está em Sal Rei há 15 anos e escolheu a Boa Vista depois de visitar todas as outras ilhas do arquipéla-go cabo-verdiano. «Sol e praia, era o que

O italiano Toni Libardoni restaurou a casa da família judaica Ben'oliel.

A Migrante Guest House também serve produtos da terra, além de ser porto de abrigo.

Frank toca mornas no Fon'Banana. Além de cantá-las no restaurante, também dá aulas a crianças, ao ar livre, na pracinha de Povoação Velha.

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As estradas de pedra e terra obrigam a circular devagar. No fim da viagem ainda se vai sentir a vibração do empedrado.

GERMANO ALMEIDANasceu em 1945 na ilha da Boa Vista, licenciou-se em Direito em Lisboa e exerce advocacia no Mindelo. Foi Procurador-Geral da República de Cabo Verde e, em 1991, publicou o seu livro mais mediático - O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo.

procurava. E está tudo aqui. Foi simples», justifica. Porém, foi mais profundo do que isso. A guest house que dirige nasceu do restauro total da casa de uma família ju-daica, os Ben’oliel.

Esses mesmo, Germano, a família do nhô David. «Estava em ruínas e recuperei tudo mantendo a estrutura original, as cores, os espaços», conta. Em baixo, onde era a loja da família judaica, é agora a receção, onde serve iguarias da terra e feitas ali em casa, como o doce de papaia, o grogue (aguarden-te) e o ponche (grogue com mel e limão). Lá dentro é um terraço interior, em quadrado, cercado na parte superior por uma balaus-trada, que protege os quatro quartos, a que deu nomes de descobridores (Cadamosto, que chegou primeiro à Boa Vista, Magalhães e Vasco da Gama) e Ben’oliel, o patriarca

judeu. Paredes amarelo-torradas, portadas azuis e brancas.

Foram só três dias de viagens de norte a sul, por estradas a rasgar colinas de pedras, caminhos de terra batida, desde a praia da Boa Esperança, onde ainda está aquele navio italiano encalhado (desde 1968), já só um esqueleto disforme de ferros ferrugentos, até ao sul, às paradisíacas praias de Santa Mónica e Varandinha. Estas têm mais de 18 quilómetros de areais brancos e macios que massajam os nossos pés quando caminhamos, águas mornas de um turquesa translúcido.

Como dizia Juan Pujol, um catalão que dirige um hotel onde ficámos, «é pegar num cesto de morangos e champanhe e sentar--nos na areia a olhar o pôr do Sol naquelas praias desertas. Um entardecer perfeito».

É esta a sua ilha perdida, Germano?

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AGRADECIMENTOS:

Guia da Boa Vista

RECORTE E LEVENA SUA VIAGEM

MOEDA: ESCUDO CABO-

-VERDIANO. O CÂMBIO OFICIAL

É 1 EURO = 110 ESCUDOS, MAS

NA MAIOR PARTE DO COMÉRCIO

ARREDONDAM PARA 1=100.

FUSO HORÁRIO: - 2 HORAS DE

ABRIL A OUTUBRO; - 1 HORA

DE NOVEMBRO A MARÇO

IDIOMA: PORTUGUÊS E CRIOULO

QUANDO IR: OS MESES DE

VERÃO EM PORTUGAL SÃO

OS MAIS QUENTES, EMBORA A

TEMPERATURA NUNCA CHEGUE

AOS 30 GRAUS. O RESTO DO ANO

RONDAM OS 25 GRAUS E POR VEZES

É UM POUCO VENTOSO.

IRA Soltrópico (soltropico.pt) sugere oito dias em quarto duplo, com passagem aérea e regime de tudo incluído (refeições buffet sempre disponíveis), a partir de 837 euros por pessoa.Há dois voos diretos para a a Boa Vista todo o ano aos sábados, um da TAP (flytap.pt) outro da TACV (flytacv.com). Pode conhecer a ilha nas variadíssimas excursões organizadas a partir dos hotéis, em jipes ou motoquatro, ou alugar um carro se quiser ir à descoberta ao seu próprio ritmo. Não se perde, mas se tiver um guia, melhor. Custam o dia inteiro cerca de 45 euros. Os trilhos nas estradas de terra batida são por vezes quase invisíveis.

DORMIRIberostar Club Boa VistaNa sedutora praia de Chaves, com o seu areal branco e macio e águas turquesa. São férias de cinco estrelas, como o hotel (276 quartos), até com espaços e atividades para os mais pequenos. As piscinas têm vista para o mar e são sempre uma boa opção, se se quiser ficar resguardado. A animação é intensa, tanto de dia como à noite. Se pensa que tem dois pés esquerdos a dançar, é quase garantido que uma das dançarinas cabo-verdianas, da equipa de animação do hotel, o vai fazer gingar o corpo ao som do funaná. À noite há quase sempre espetáculos protagonizados pelos incansáveis dançarinos ou na discoteca do hotel. Os dias intensos valem a pena, nem que seja para, no final da tarde, deixar-se relaxar nas mãos mágicas da massagista Irene.PRAIA DE CHAVES, BOA VISTA

(3 KM DO AEROPORTO)

TEL: +238 2512170

IBEROSTAR.COM

COMERPrepare-se para o deleite. No hotel o buffet é internacional, mas não deixe de sair e provar as

comidas típicas. Não se preocupe com a linha, pois o peixe (atum, serra, garoupa, moreia) é rei nos pratos, sempre com muitos legumes. Claro que não pode perder a cachupa (género cozido à portuguesa, mas também com feijão, milho, mandioca e batata- -doce) nem as lagostas grelhadas ou cozidas em água do mar. O cabrito assado ou guisado é outra especialidade. O bolo de cuscuz de mandioca e milho, com mel de cana e queijo de cabra, é um lanche do outro mundo.

Restaurante ReencontroPerguntem pela D. Tina e encomendem cabrito. Tem outros pratos, mas este é garantido que não se vão arrepender. O pudim de queijo e o de coco são divinos. PREÇO MÉDIO: 13 EUROS

FUNDO DAS FIGUEIRAS

TEL:+238 2521259; + 238 9929556

Sôdade di nha TerraArmando Almeida Marques aprendeu centenas de receitas na Suíça, onde esteve emigrado, mas é aqui que os seus sabores mais encantam. O peixe é sempre fresco e a lagosta cozida em água do mar. PREÇO MÉDIO: 10 EUROS

RABIL

TEL: +238 251048

Fon’bananaCristina Brito é a anfitriã deste espaço exótico, acolhedor e fresco na localidade mais antiga de Boa Vista. Às terças, quintas e sábados tem noites cabo-verdianas típicas, com músicos locais a tocarem mornas, coladeras e funaná, enquanto degusta o menu: aperitivo com ponche, sopa de lagosta. Lagosta grelhada, cabrito, peixe, galinha guisada à cabo-verdiana, trio

de sobremesas (pudins de queijo e coco, doce de bolacha) PREÇO MÉDIO: 35 EUROS.

POVOAÇÃO VELHA

TEL: + 238 9824213 (MÓVEL); + 238 2511871

Migrante GuestHouseO italiano Toni Libardoni recuperou a casa histórica da família Ben’oliel, os judeus que chegaram à Boa Vista em 1860, e transformou-a numa acolhedora guest house, mantendo toda a arquitetura original. Aqui pode provar-se alguns produtos locais, como o queijo de cabra, o doce de papaia ou salgadinhos de atum. AVENIDA AMÍLCAR CABRAL, SAL REI

TEL.: + 238 251 11 43

FAZERAs excursões de dia inteiro ou meio dia permitem conhecer bem a ilha. As opções são muitas, desde os percursos culturais/ /históricos às praias e dunas.Nos meses de verão também poderá observar as tartarugas que acorrem aos areais da Boa Vista para desovar. Alguns trajetos podem ser feitos em motoquatro. Os preços são em média 40 euros.

Também pode, simplesmente, passear pelo centro da cidade e entrar no ritmo cabo-verdiano. A música é constante e há esplanadas junto às praias, mais pequenas, da capital Sal Rei, que vale a pena desfrutar. Por exemplo, na praia do Estoril, o bar Alísios (como os ventos que assolam por vezes aquela ilha), tem um soufflé de chocolate com gelado, que vale a pena. Não é cabo-verdiano, mas a nossa guia Linda Araújo garante que é magnífico.

PRAIA

DEIXE-SE LEVAR PELA TRANQUILIDADE.

JIPE OU MOTOQUATRO, AGORA ESCOLHA.

Ilha da Boa Vista

Sal Rei

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CUBA

TEXTO DE JOÃO FERREIRA OLIVEIRA | FOTOGRAFIAS DE JORGE AMARAL/GLOBAL IMAGENS

A Volta ao Mundo testemunhou os ventos de mudança na ilha caribenha. Com ou sem norte-americanos, com ou sem os irmãos Castro, Cuba será sempre muito mais do que um ensolarado resort socialista para estrangeiro ver. Há vida e paisagem para além do regime, para lá de Havana e de Varadero. Prepare a viagem e faça as malas antes que a realidade de mais de cinquenta anos de embargo desapareça. Assista ao vivo e a cores à transformação.

A revolução do século xxi

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H avana não tem, por norma, um trânsito caótico, mas hoje é um dia especial. François Hollande está na cidade, a primeira visita de um chefe de Estado gaulês a Cuba. Há ruas cortadas, ouvem-se algumas buzinadelas, sobretudo vindas do nosso taxista. «Um rei dentro do carro e mesmo assim não nos deixam passar?» atira Juan Carlos.

A capital está momentaneamente sitia-da porque Cuba está em movimento. Já o Presidente francês tinha levantado voo em direção à ilha e ainda Raúl Castro andava a espalhar charme por esse mundo fora. Juan Carlos vai ao tablier buscar um exemplar do jornal Granma, órgão oficial do comi-té central do Partico Comunista de Cuba,

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para que fiquemos a par das notícias. Dois exemplares. Num deles Raúl aparece a cum-primentar o líder da Igreja Ortodoxa russa, lado a lado com presidente da Sérvia e ainda com um alto represente do regime norte-coreano. Encontros mantidos durante uma visita à Rússia, onde também se reuniu com Vladimir Putin. No outro exemplar está já em Itália, primeiro com Matteo Renzi, líder do executivo transalpino, depois a apertar a mão ao camarada Francisco. «Se ele conti-nuar assim voltarei a rezar e retorno à Igre-ja», afirmou após o encontro com o Papa. Agradeceu-lhe pessoalmente o apoio dado na aproximação com os Estados Unidos e acertaram pormenores referentes à visita do Sumo Pontífice ao país, que se realiza

este mês de setembro. Visita que passará posteriormente por Washington, Nova Ior-que e Filadélfia. «Isto está mesmo a mudar, não está?», pergunto a Juan Carlos. «Está, mas não há nada a temer. Somos um povo abençoado», responde-me de imediato, humor cubano na ponta da língua.

Havana está diferente, Cuba está dife-rente, mesmo para quem, como eu,

nunca tenha cá estado. Há qualquer coisa no ar, um futuro que ainda ninguém con-segue agarrar e definir. Será o fim de uma era? A queda do regime? Ou «apenas» o progresso? A capital parada no tempo, cidade Património Mundial da Mundial pela UNESCO, museu a céu aberto com

«Se ele continuar assim voltarei a rezar e retorno à Igreja», disse Raúl Castro sobre o Papa Francisco. O chefe de Estado do Vaticano visita Cuba de 19 a 22 de setembro.

Ao lado, a Catedral de Havana. Estima--se que 60% da população cubana seja católica.

Automóveis de época enchem as ruas de Havana. A necessidade aguçou o engenho.

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Cuba é a maior ilha das Caraíbas e está apenas a 150 quilómetros de distância dos EUA. Havana, a capital, tem uma população de pouco mais de dois milhões de pessoas.

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hoje existem foi por necessidade e não por prazer.» Automóveis que apesar de não possuírem os motores originais – na sua maioria substituídos por motorizações Kia ou Hyundai a gasóleo – podem chegar aos 25 mil dólares. «Somos tão bons mecânicos como dançarinos», diz, antes de inventar um buraco no trânsito que nos levaria ao coração da cidade.

Volta a Cuba em oito dias. Pouco mais de 24 horas foi o tempo que estivemos em

Havana, quase sempre guiados por Juan Carlos.

tanto de belo como de decadente, começa, pouco a pouco, a recuperar o tempo per-dido; veem-se edifícios a ser reabilitados, ruas repavimentadas, o parque automóvel moderniza-se, a língua dos cubanos solta--se. Pelo menos a de Juan Carlos. «O mun-do mudou, temos de mudar também. Não podes abrir a iniciativa privada (o governo permitiu a criação de negócios próprios no final de 2010) e depois proibir que comprem um carro ou um telemóvel melhor».

Ele que trabalhou década e meia na Força Aérea – se bem que nunca tenha conseguido ser piloto de aviões, tal como sonhara – até ter percebido que ser taxista era o caminho mais direto para a felicidade. Está a juntar dinheiro para um táxi novo, um daqueles Chevrolet dos anos 1950 que fazem as delí-cias dos turistas. Um clássico, digo. «Não, não, não», corrige-me. «Para vocês são clássicos, para nós são velhos. Não é que não tenhamos orgulho neles, mas se ainda

Colombo chegou a Cuba em 1492. Reclamou o território para o reino de Espanha e assim foi até 1898.

O Capitólio Nacional, em Havana, foi sede do governo cubano após a Revolução de 1959. Hoje alberga a Academia de Ciências.

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Uma semana, o tempo total que estivemos em território cubano. Sete dias passados dentro de um autocarro, integrados na FITCUBA (Feira Internacional de Turismo de Cuba), junta-mente com 137 jornalistas oriundos de trinta países, que este ano se realizou em Cayo Coco. Tempo manifestamente curto para fazermos um retrato fiel de Cuba, sobretudo num mo-mento histórico como este que se vive, ainda assim mais do que suficiente para perceber a real dimensão deste país.

A feira cumpriu a sua 35ª edição, mas nunca a aposta no turismo terá sido tão forte

como agora. Se o mundo está curioso com o que se passa em Cuba, as autoridades querem aproveitar a oportunidade para dar a conhe-cer as diferentes Cubas ao mundo. Mostrar que o país não é só Havana e Varadero, po-lítica e praia, ditadura ou democracia, uma espécie de resort socialista que todos querem ver antes que acabe. Afinal trata-se da maior ilha do Caribe, a décima sétima maior do planeta, com 110 861 km2, à frente da Islândia ou da Irlanda. Um país maior que Portugal.

Daí terem «metido» os jornalistas em vários autocarros, uma bus trip de norte a sul

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O Memorial José Martí tem 109 metros de altura e está na Praça da Revolução. É dedicado ao herói nacional da independência cubana.

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Ao lado, a fachada do edifício do Ministério do Interior (antes da Indústria) com a figura de Che Guevara.

do território. Uma viagem de Havana a Cayo Coco, ilha ligada ao continente por uma estrada de 27 km e parte integrante do arquipélago de Jardines del Rey, imortalizado na literatura por Ernest Hemingway no seu romance Ilhas na Corrente; de Cayo Coco a Santa Lucía, na província de Camagüey, praia com 21 km, areia branca e águas azul-turquesa protegidas por um longo recife de coral; de Santa Lucía a Guardalavaca, já no Sul da ilha, na província de Holguín, mais uma zona com vários resorts all inclusive que tenta também o seu lugar ao sol; pelo meio, uma antiga exploração de café e dois passeios de barco – um deles de cata-marã, no mar, com direito a lagosta, música e animação quanto baste, o outro a bordo de uma lancha rápida, na Laguna La Redonda, a abrir caminho por entre fauna e flora tropical ao melhor estilo da Jamaica.

O turismo de natureza e náutico são duas das novas apostas. Há oito marinas interna-cionais, 40 centros de mergulho, 200 baías, 600 quilómetros de praias, 850 de barreiras de coral e, e, e... toda uma riqueza que os números dificilmente conseguirão mostrar. Nem numa viagem de autocarro.

Aqui e ali houve jornalistas incomo-dados, «não é assim, que se conhece um país» protestavam alguns, protestávamos também nós, perante os milhares de qui-lómetros realizados em tão poucos dias. Mais do que o cansaço acumulado era a impossibilidade de agarrar tantas paisa-gens, tantas histórias, que nos acicatava a curiosidade e alimentava o mau humor. Mais histórias como a de Juan Carlos e a de Reinier (Negro para os amigos e para os negócios), um agora pequeno empresário que conhecemos na praia de Guardalavaca, na província de Holguín. Ele que passou de táxi para cavalo. Assim que o país se abriu à iniciativa privada abandonou as bandei-radas e começou a dar aulas de equitação e a fazer passeios pela região. Também ele não se esquiva ao assunto do ano. «Ainda há pouco tive aqui um casal suíço que estava muito preocupado com o nosso futuro. Como vai ser quando os americanos chega-rem? perguntavam-me. Vocês ainda estão mais ansiosos do que nós. Vamos recebê--los como recebemos toda a gente. Com um sorriso. E muita música», conclui.

A independência de Cuba deu-se em 1902. Meio século depois começou o período de ditadura com Fulgencio Batista.

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Há muitas cápsulas de tempo em Havana. Os bólides americanos dos anos 1950, as fachadas dos prédios, o sorriso das pessoas.

Mas a maior delas é a própria cidade em si. Mesmo quem nunca viajou até à capital cuba-na, sabe que o passado aqui não é passado – é presente. Depois, há ainda uma experiência mais intemporal: o Hotel Nacional, um sump-tuoso cinco estrelas, propriedade do governo, e que tem o título de monumento nacional. Aconteça o que acontecer – e muita coisa vai acontecer a este país nos próximos meses –, o tempo não passa por aqui. Essa é a ideia de um hotel impecavelmente conservado e que poderá igualmente ser uma pista de uma atitude cubana para o futuro: o orgulho.

Olhar para este edifício e absorver os seus valores simbólicos tem de ser cuidadosamente contextualizado. A melhor notícia é que já não é o recreio dos ricos em Havana, a sua aura vai muito para além disso. Talvez seja antes uma

HOTEL NACIONAL

TEXTO DE RUI PEDRO TENDINHA

Um hotel que é um marco em Havana e que mantém impecavelmente o charme dos hotéis idosos. Ter uma chave de um quarto é uma experiência que nos faz sentir uma outra Havana, mesmo esta que está em plena mudança.

Quarto com vista sobre a nova Havana

espécie de sala de visitas pública. Um local onde a tradição cubana encontra uma espécie de El Dorado não cumprido. O efeito pode ser desconcertante, um pouco como paradoxo de dois tempos que se cruzam, mas acaba por fazer sentido, não é ficção científica nem um grão na engrenagem do cosmos. Basta chegar à entrada e ser bem recebido pelos porteiros, tão cavalheiros como castiços, e percebemos que a partir desse momento o clima é outro. Entramos numa outra dimensão.

Antes da visita ou do check-in, o melhor é seguir em frente para o pátio. Aí está um pedaço de paraíso. Paraíso eterno para os que não estão com horas contadas e podem espojar-se naqueles sofás a céu descoberto e olhar para a baía. Lá à frente, à direita, está o Malecón, a marginal, e Havana Vieja. O tal paraíso eterno também reivindica um rum velho, apenas com duas pedras de gelo. Só isso e o mar à frente. Não vale fechar os olhos nem olhar para o lado, onde está sempre uma banda de salsa com uma menina ao lado a cantar o Guantanamera. Isso são distrações…Como também o gringo de charuto na boca que está no sofá ao lado e mete conversa com teorias acerca do estado de Fidel Castro. Nessa altura, os olhos fechados podem resultar. No break musical da banda residente avançamos até à falésia chamada Monte Vedado, onde se estendem os limites do hotel, mesmo por cima do paredão junto ao mar. É daqueles lugares que parecem feitos para um suspiro forte ou um acentuado respirar fundo. Ao fim da tarde, com aquele sorriso malandro do sol a pôr-se, a paisagem de Havana a falar com o mar deixa-nos a pensar numa beleza de um outro tempo, mas nesta altura já se percebeu que o tempo é equação irresolúvel. Nessa pequena ravina há uma tabuleta a avisar de perigo para o hóspede que queira testar os limites íngremes. Por acaso, é daqueles locais que nos faz pensar que nada ali é perigoso. Perder o medo com o fôlego da paisagem.

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O mar, do outro lado da rua, faz salpicar a estrada com as suas ondas. Havana, à nossa frente, não pode estar a cair aos bocados e em ruínas. Não se acredita nisso, não se acredita em evidências.

Estar hospedado neste hotel de luxo não causa problemas de culpa na consciência, mesmo quando no quarteirão ao lado vemos a miséria de um país que terá falhado a sua resistência ao imperialismo. Não ficamos a ruminar culpa nem complexos burgueses porque o luxo do Nacional é sem pieguices tontas ou requintes arábicos. O hotel, se al-

gum luxo tem, deve-o à sua beleza arquite-tónica e ao seu património. Sejamos claros, é um hotel histórico. A sua classificação como monumento nacional também não é truque para as estadas encarecerem. Ficar no Nacio-nal é uma experiência em si. Uma experiência de reviver memórias que conhecíamos da literatura e dos relatos da Cuba antes e depois da Revolução.

Inaugurado em 1930 sob um pequeno morro onde estão os canhões históricos dos tempos coloniais, cedo se tornou num sím-bolo para a cidade e para o país. Quando

apanhamos o tour histórico diário, feito por uma senhora reformada, percebemos que a própria imunidade do hotel é feita de camadas de histórias e mais histórias. Apetece dizer que é um hotel com muitas vidas. Algumas delas são do foro mais trivial, como por exemplo, a tentativa desesperada de Francis Ford Coppola em filmar lá O Padrinho 2 para respeitar o livro de Mario Puzzo. A cena em que vemos a personagem de Al Pacino no Hotel Nacional a negociar com mafiosos é mentira do cinema, mas com um rigor no decalque absoluta-mente impressionante. Nas últimas décadas,

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Cuba nunca deixou nenhuma produção de Hollywood filmar lá. Quando vemos Cuba num filme americano é sempre truque. Ainda assim, as suites 213 e 211 são atração nacional. Foram lá as reuniões da máfia americana quando tentou em 1946 fazer de Havana um centro de jogos, à semelhança de Las Vegas. Há fotos dos grandes mafiosos numa con-venção que trouxe a Cuba Meyer Lansky e Lucky Luciano, um encontro chamado muito pragmaticamente a Convenção da Máfia. O quarto está, garantem, como estava nos anos 1940, apenas a televisão é um pouco mais

Cliché ou não, a experiência de saborear o peso histórico do hotel é sabermos ser turistas. Mesmo o viajante que aqui venha parar tem de ficar um bocado turista. Esse é o espírito de um hotel que tem uma das melhores lojas em Cuba para comprar charutos, um restaurante aber-to 24 horas com um mojito que Hemingway não desdenharia, murais com fotografias da Revolução, placards a explicar com ligeireza o episódio da crise dos mísseis da Baía dos Porcos (o hotel nesses dias acabou por ser o

moderna. E a verdade é que o conforto não ganhou rugas e também não não há ali cheiro a naftalina. Nessas tours matinais percebemos que o hotel tem várias faces. Há pisos com chão de mármore, outros com alcatifa. Há quartos com requinte histórico e fotografia dos famosos que lá ficaram, com grande destaque para a suite de Frank Sinatra (do jovem Sinatra). Como se a imponência do hotel fosse tam-bém uma questão de altivez. São 362 quartos divididos em suites, singles, duplos e triplos.

Fidel Castro chegou ao poder em 1959 e lá se manteve até 2008. Desde então, o presidente é Raúl Castro, seu irmão.

O charme do Hotel Nacional vê-se nas pequenas grandes coisas. Como no mojito que se pode beber na esplanada sobre o Malecón.

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quartel-general de onde Fidel supervisionou os acontecimentos, tendo mesmo instalado no terraço equipamento militar antiaéreo) e até um cabaret chamado Le Parisien (inaugu-rado em 1956 por Eartha Kitt) que semanal-mente alberga um show Buena Vista Social Club (com bebidas e comida incluída mas que não é nada em conta).

O nosso lado de turista embasbacado vem ao de cima quando ficamos muito tempo a olhar para o teto da receção, que sintetiza na perfeição os dois estilos arquitetónicos do hotel: a tendência hispânico-mourisca com a art déco, não faltando elementos da escola caribeña cruzada com uma estética dourada

ainda têm aquele cloro que cheira mesmo a cloro e onde não existem bares com balcões a entrar água dentro nem tão-pouco adoles-centes de roda do telemóvel no Facebook – a internet é lenta, como em qualquer lugar de Cuba. Aqui é conveniente ser lenta, faz-nos ficar mais à beira do real, faz-nos ficar mais atentos à mistura de pessoas que dão vida ao hotel. Até os seguranças de fato escuro não têm ar de rufias, falam connosco e são cice-rones se for preciso. Para quem aprecie um certo rebuliço multicultural, há duas alturas ideais para ter a experiência nacional, o Fes-tival do Charuto, o Habanos Festival, sempre em fevereiro, e o Festival de Cinema, o Nuevo

do estilo californiano. Uma mistura de talha dourada com madeira e pedra esculpida. Depois, nos diversos salões e bares, fotografias de celebridades. Fotografias essas quase a ficar sem cor e com péssima qualidade (faz parte do charme). E a mistura de personalidades deixa--nos agradavelmente tontos. Tanto podemos ver a Gloria Pires das novelas da Globo como Hugo Chávez ou Steven Spielberg. De alguma forma, quem é quem fica aqui na decoração das paredes, mais ou menos esbatido.

Quem não tem o culto pela celebridade e quer antes o conforto do refúgio, o hotel tem duas piscinas com suavidade rétro e espla-nadas recatadas. Piscinas à moda antiga que

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Cinema Latinoamericano, em dezembro, ambos com o epicentro no hotel. Em 2014, Matt Dilon, Bruna Lombardi e Benicio del Toro foram hóspedes que cirandaram nos corre-dores para espanto dos mais desprevenidos.

Às 06h30, ao nascer do Sol, não há ima-gens de postais românticos, mas há uma azáfama controlada com os empregados do majestoso salão do pequeno-almoço. O se-nhor que faz as omeletas, o senhor dos cafés, a senhora dos talheres e até o moço que à entrada pergunta o número da «habitación». Todos têm uma educação e uma solenidade que parecem de outra era. E, ao mesmo tem-po, não são figuras de cera. Conversam, riem, queixam-se. São Cuba. O nosso preferido é um dos senhores que gere os belíssimos elevadores antigos e de ponteiro pendular. É ele quem conta que, quando o hotel estava sob alçada de uma administração americana, Josephine Baker e Nat King Cole foram proi-bidos de dormir lá por serem negros.

Fazemos check-out e voltamos ao aero-porto guardando para sempre a arte hospi-taleira de um hotel único. Quem não seguir a máxima de nunca voltar onde foi feliz irá regressar ao Nacional e perceber que isto da tradição de não mexer com o tempo é coisa da ordem do divino.

Hotel NacionalCalle 21 y O, Vedado, PlazaTel.: +53 7836 3564Quarto duplo a partir de 150 euroswww.hotelnacionaldecuba.com

O Hotel Nacional abriu em 1930 e durante a Crise dos Mísseis de 1962 serviu de quartel-general a Fidel e Che Guevara. É monumento nacional.

O cinema é parte fulcral da cultura cubana. Em dezembro há festival.

Josephine Baker e Nat King Cole não puderam dormir no hotel Nacional.

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EUA vs. CUBA

TEXTO DE NUNO MOTA GOMES

Depois de mais de cinquenta anos de embargo económico, EUA e Cuba voltaram a relacionar-se. Fala-se na mudança que, aos poucos, já está a abrir portas para ambos os lados. Saiba o que pode mudar e o que se vai manter em Cuba. Escolha o que visitar na ilha que aposta quase tudo no turismo.

Uma nova oportunidade

Desde que Barack Obama, presidente dos EUA, anunciou uma mudança na política de relações diplomáticas

com Cuba, os operadores turísticos registaram quatro vezes mais procura por este destino das Caraíbas. Os 45 minutos ao telefone com Raúl Castro, presidente de Cuba, foram suficientes para fechar um acordo. Houve vontade de normalizar a ligação que estava interrompida.

Obama já o tinha manifestado – «Há mui-to tempo que estou preparado para mudar de políticas» –, no entanto havia um entrave, en-tretanto resolvido: meia hora antes do discurso que se tornou histórico, aterrou numa base em Washington, Alan Gross, norte-americano preso desde 2009 em Cuba, acusado de «ações contra a integridade territorial do Estado».

Inimigos desde o período da Guerra Fria e separados por um embargo económico que bloqueava todo o comércio, as relações di-plomáticas estavam suspensas desde 1961. Foi decisão do presidente John F. Kennedy, na sequência da aproximação dos revolu-cionários castristas à União Soviética e da confiscação de bens norte-americanos. Num Estado onde não há estabelecimentos de fast food em cada esquina, vários promotores reforçam uma idea: quem quiser conhecer a Cuba dos Castro tem de se apressar. É esperado um crescimento exponencial do turismo e 2015 é o ano da mudança.

Com a situação devidamente regularizada, os mais de noventa mil norte-americanos que todos os anos visitam Cuba vão passar a poder utilizar cartões de crédito, já que, por enquan-to, apenas podiam viajar com dinheiro no bol-so. Outra mudança passa pela possibilidade de instituições norte-americanas poderem abrir contas bancárias em instituições financeiras de Cuba. As restrições económicas, que Barack Obama tenta aliviar, podem abrir a oferta das empresas norte-americanas aos onze milhões de consumidores cubanos. Além disto, é es-perada uma melhoria das infraestruturas de

telecomunicações (melhor acesso à internet é uma das vantagens apontadas), bem como o surgimento de outros possíveis investidores ligados à área da construção.

No passado 20 de julho, EUA e Cuba rea-briram as respetivas embaixadas em Havana e Washington, reatando relações diplomáticas sete meses depois do início do processo de rea-proximação (dezembro de 2014). O presidente cubano, Raúl Castro, frisou que as relações bilaterais só serão normalizadas quando o seu homólogo norte-americano utilizar os poderes executivos para pôr fim ao embargo. Outras exigências de Cuba são a devolução do território «ilegalmente ocupado» da base

naval de Guantánamo, o fim das «transmissões de rádio e televisão ilegais», a eliminação de programas que promovam a «subversão e desestabilização internas» e uma compen-sação «pelos danos humanos e económicos» causados pelos anos de bloqueio.

Para já, Washington retirou Cuba da «lis-ta negra» norte-americana de Estados que apoiam o terrorismo. E a 14 de agosto, o secre-tário de Estado norte-americano John Kerry tornou-se o primeiro chefe da diplomacia dos EUA a visitar Cuba desde 1945. Kerry presidiu à cerimónia do hastear da bandeira das riscas e das estrelas na embaixada norte-americana em Havana.

Até ao final deste ano está previsto o reatar das ligações aéreas comerciais regulares entre os EUA e Cuba.

Raúl e Barack, de inimigos a simplesmente vizinhos.

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IREntre julho e meados de setembro são efetuados voos charter desde Portugal para Cayo Coco e Varadero. Uma operação levada a cabo pela Agência Sonhado. Em 2016, e tendo em conta a procura, tudo indica que os mesmos voltarão a realizar-se. Há uma ligação diária durante todo o ano desde Madrid para a capital Havana, através da Air Europa (www.aireuropa.com). O voo tem a duração de cerca de nove horas.

DORMIROs hotéis em regime all inclusive ainda são a imagem de marca do país, se bem que comecem agora a aparecer alguns hotéis mais pequenos, de charme, e casas privadas para alugar, sobretudo nas cidades. O H10 Panorama, com vista para o mar, é uma boa solução para quem ficar em Havana (h10hotels.com), este apenas com pequeno almoço incluído. Nos resorts junto à praia, destaque para o Melia Jardines del Rey (meliacuba.com/cuba-hotels/hotel-melia-jardinesdelrey), localizado em Cayo Coco. Um espaço de luxo, composto por apartamentos.

onde nada falta. Destaque também para o Brisas de Santa Lucía (hotelescubanacan.com), na província de Camagüey e para o Brisas Guardalavaca (brisasguardalavaca.com) e o Hotel Playa Pesquero (hotelplayapesquero.info), ambos na província de Holguín.

COMER E BEBERCOMERA gastronomia cubana não será, certamente, o ponto forte da ilha, até pela relativa escassez de produtos próprios – se bem que o camarão e a lagosta sejam

duas das especialidades locais. É uma cozinha relativamente pobre (com forte influência espanhola e africana) à base de arroz, feijão, batata, yuca e muita carne, sobretudo porco. Não quer isso dizer que não valha a pena experimentar os pratos típicos locais. Bem pelo contrário. Em Havana, por exemplo, há vários restaurantes de comida crioula bem no centro da cidade. Experimente os mais caraterísticos (quase frequentados só por cubanos) e onde é possível comer por menos de cinco euros. Sim, porque a vida em Cuba não é tão barata como se possa pensar, mesmo para os turistas. Quem quiser jogar pelo seguro pode estar descansado, pois são muitos os restaurantes de comida internacional, com especial destaque para as cozinhas espanhola e italiana.

BEBER Em Cuba a bebida não é um simples acompanhamento da comida e merece destaque por si só. Não tivesse este país um cocktail com o seu nome conhecido em todo o mundo: Cuba Livre - rum, refrigerante de cola e limão. Mas há muitos outros cocktails famosos tais como mojito, daiquiri (herdou

MOEDA: HÁ DUAS MOEDAS.

O PESO CUBANO (CUP) E OS

PESOS CONVERSÍVEIS (CUC),

A MOEDA DO TURISTA. UM CUC

REPRESENTA SENSIVELMENTE

UM EURO.

FUSO HORÁRIO: GMT - 5 HORAS

IDIOMA: ESPANHOL

DOCUMENTOS: PASSAPORTE

COM VALIDADE MÍNIMA DE SEIS

MESES E VISTO OBRIGATÓRIO

(NORMALMENTE É TRATADO

PELAS AGENCIAS DE VIAGEM E

INCLUÍDO NO PREÇO)

À SAÍDA DO PAÍS É NECESSÁRIO

PAGAR 25 CUC, RELATIVO A

TAXAS LOCAIS.

QUANDO IR: QUASE TODAS

AS ÉPOCAS SÃO BOAS.

ATÉ NOVEMBRO CONVÉM

ESTAR PREPARADO PARA

A POSSIBILIDADE DE

AGUACEIROS DIÁRIOS.

A PARTIR DAÍ COMEÇA A

ESTAÇÃO SECA. COM OU SEM

CHUVA, A TEMPERATURA

É QUASE SEMPRE ALTA E A

HUMIDADE ELEVADA.

Guia de Cuba

RECORTE E LEVENA SUA VIAGEM

HAVANA

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o nome de uma praia próxima de Santiago de Cuba) e piña colada. A canchánchara (rum, mel e limão) é outra das combinações mais tradicionais, embora menos conhecida além-fronteiras. O rum, a bebida nacional, é omnipresente.

A NÃO PERDERCuba é um dos países mais procurados por turistas de todo

o mundo. Com algum receio do que possa vir a acontecer, vários operadores turísticos passaram a ter à venda pacotes especiais para «conhecer o país do regime castrista». Com o turismo em massa que se espera é inevitável que alguns dos locais mais procurados comecem a transformar-se para dar resposta à procura. E isso tem aspetos positivos e negativos, como a melhoria das infraestruturas ou a perda de identidade.

SUGESTÕES» Na província Cidade de Havana, uma das 15 que formam Cuba, encontramos a capital deste país: Havana. É no centro histórico e cultural, com arquitetura colonial e por onde circulam os emblemáticos carros dos anos 1950, que se descobrem os ritmos quentes da música em cada esquina.» A visita a uma fábrica de charutos cubanos faz parte de qualquer itinerário. Região importante é Pinar del Rio, única na ilha a produzir charutos Havanos, considerados por muitos os

melhores do mundo.» Passagem pela cidade colonial mais bem preservada das Caraíbas » Trinidad. Acaba de celebrar o 500.º aniversário e, a 12 quilómetros, tem o Valle de los Ingenios, centro de produção de açúcar que fez história entre o fim do século xviii e meados do século xix. Por ali passaram mais de trinta mil escravos e é hoje classificado como Património Mundial pela UNESCO.» Se a vontade de seguir os passos de Fidel Castro e Che Guevara for muita, nada como subir ao Pico Turquino, o ponto mais alto de Cuba (1974 metros). Fica a sudeste da ilha, no Gran Parque Nacional Sierra Maestra, o local onde o Movimiento 26 de julio (M-26-7) se expandiu durante a Revolução Cubana que culminou com a deposição de Fulgencio Batista em 1959. Um desafio que exige um moderado esforço físico, rodeado de pontos de interesse e muita natureza.» Se perguntar pelo lugar preferido de Fidel Castro, a resposta é Viñales. É um dos locais mais procurados em Cuba pela sua beleza natural e rural, mas com atividades para todos os gostos. Os agricultores a trabalharem a terra, plantações de tabaco, a técnica de fabrico de charutos, passeios a cavalo ou trilhos

pedestres são algumas das opções neste vale classificado como Património Mundial pela UNESCO.» Virado para as águas do Atlântico, Baracoa continua a ser um dos destinos de viagem mais encantadores do país. É uma cidade ainda muito isolada mas cheia de vida, graças à cultura e à diversidade da paisagem, composta por montanhas, rios e praias impressionantes. Para os amantes de música, aqui ouve-se o tradicional estilo changüí. Destacam-se também as florestas tropicais que abrigam milhares de espécies de fauna e flora, muitas das quais raras ou em extinção. É um paraíso à beira-mar entre zonas áridas ou de plantações férteis. Não perca também os 17 metros de queda de água de Saltadero. » Música é uma palavra muito forte em Cuba. Salsa é o estilo de dança cubano. É obrigatório ver dançar quem sabe, mas ainda mais importante é dar um passinho em compasso de quatro tempos. Este estilo nasceu de influências da Europa com a chegada de milhares de escravos africanos à ilha. Foi o ponto de partida para vários ritmos, influenciando até hoje a dança a nível mundial em estilos como a rumba ou o cha-cha-cha.NMG

LOCAIS CLASSIFICADOS COMO PATRIMÓNIO MUNDIAL PELA UNESCOVelha Havana e suas fortificações; Trinidad e o Valle de los Ingenios;Castelo San Pedro de la Roca, Santiago de Cuba;Parque Nacional Desembarco del Granma;Vale Viñales;Local Arqueológico das Primeiras Plantações de Café no Sudeste de Cuba;Parque Nacional Alejandro de Humboldt;Centro Urbano Histórico de Cienfuegos;Centro Histórico de Camagüey;

Mais informações em: autenticacuba.comturismodecuba.info

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Visitar o Rio de Janeiro é subir ao Cristo Redentor e sentir vertigens enquanto o bonde desliza do morro da Urca até ao Pão de Açúcar. É sentir um frio na barriga quando se está no centro histórico, é subir às alturas de Santa Teresa, descer à boémia Lapa e tomar um banho de mar em Angra dos Reis, onde há uma ilha para cada dia do ano.

TEXTO DE MARLENE RENDEIRO I FOTOGRAFIAS DE LEONARDO NEGRÃO/GLOBAL IMAGENS

BRASIL

Rio de Janeiro & Angra

dos Reis

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É um pouco como a subida do Chiado, em Lisboa», diz-nos, de sorriso aber-to. Estamos no centro do Rio de Ja-

neiro, a mais de treze quilómetros de Ipa-nema, Léblon e Copacabana. E as recentes férias em Portugal de Sandra Farias, guia turística, ainda estão bem frescas na me-mória. Talvez por isso, a habitual conversa com os turistas – «Cá é assim. Como é no vosso país?» – seja feita com constantes comparações a Portugal. O que não é sur-preendente, se pensarmos na história co-mum. Mas já lá vamos.

Antes, importa saber que estamos em Santa Teresa, um bairro vizinho da Lapa, na zona central da cidade. Não acabámos de descobrir nenhum destino secreto. Do alto de uma serra, Santa Teresa tem

testemunhado a história do Rio de Janeiro há pelo menos quatro séculos, depois de herdar o seu nome do primeiro claustro feminino do Brasil. Há cinco anos tinha apenas cerca de 40 mil habitantes e os tu-ristas, por aqui, continuam a contar-se pelos dedos das mãos. «Não é uma rota muito requisitada», confessa Sandra Farias.

É verdade, Santa Teresa é uma escolha improvável, com as suas pequenas casas de cores vivas, as moradias silenciosas e o vi-brante verde do Brasil na paisagem. Quase parece uma parede de cortiça numa cidade com mais de seis milhões de habitantes, onde o ruído é uma constante. O glamour das festas do Copacabana Palace, a popula-ridade do Léblon e o areal de Ipanema ga-nhariam, certamente, muitos braços de

Rio DE EMOÇÕES«

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ferro. Mas, como se precisasse de mais pon-tos a favor do que ser morada do Cristo Redentor, esta ganha quando se fala de tranquilidade e de vistas panorâmicas. Um dos símbolo deste bairro é o bonde (nome dado ao elétrico), que voltou a fazer soar os trilhos de ferro há dois meses. Es-teve inativo durante quatro anos, depois de um descarrilamento no Largo do Curvelo provocar a morte de seis pessoas. Aliás, é aqui que agora termina a nova rota, tendo início no Largo da Carioca. O que não re-presenta nem 20% do percurso original. É apenas um trecho, já que o elétrico está em fase de testes até ao fim de setembro e as obras só têm conclusão prevista para 2017.

Nem só de vistas panorâmicas do Cor-covado e do Redentor se faz Santa, como é

carinhosamente apelidada pelos cariocas. A primeira paragem é o Largo das Neves. À primeira vista, esta praça parece ter pouco mais para oferecer aos turistas do que uma pequena capela. Basta contorná-la para perceber o motivo da pausa. Atrás do edi-fício, encontra-se um miradouro que des-cortina grande parte da cidade. Em Santa Teresa, não é difícil encontrá-los. Metros acima, novo mirante, como por aqui são chamados. Desta vez, apontam-nos para uma favela, ao longe. É lá que fica o Morro dos Prazeres, que foi cenário dos filmes Tropa de Elite e Velocidade Furiosa 5.

Talvez o melhor e mais famoso mirante de Santa Teresa seja o do Parque das Ruínas. O antigo palacete de Laurinda Santos Lobo foi deixado ao abandono após a morte da

O Rio de Janeiro é a segunda MAIOR CIDADE BRASILEIRA QUANTO A NÚMERO DE HABITANTES, MAS A PRIMEIRA EM TERMOS DE NOTORIEDADE INTERNACIONAL. CRISTO, CARNAVAL E MUITO MAIS.

A escadaria do Convento de Santa Teresa, autoria de Jorge Selarón, é de visita obrigatória. O artista chileno foi encontrado morto em 2013.

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A Catedral do Rio de Janeiro FOI INAUGURADA EM 1979 E É DA AUTORIA DO ARQUITETO EDGAR DE OLIVEIRA DA FONSECA. TEM CAPACIDADE PARA 20 MIL PESSOAS EM PÉ.

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herdeira da empresa Matte Laranjeira, co-nhecida por organizar glamourosas festas, às quais não faltavam artistas brasileiros e personalidades internacionais. No último andar deste recuperado edifício, que agora é um centro cultural, tem-se vista de 360.º para o Rio de Janeiro. Ao longe, distingue--se facilmente o Pão de Açúcar. O final do dia neste famoso morro, com o sol a desa-parecer nas montanhas ao longe, a vista para o oceano e a cidade de Niterói por baixo, é de gravar-se na memória.

Não é por acaso que Santa Teresa é tam-bém referida como a Montmartre carioca. Por aqui já passaram artistas como Carmen Miranda e Jorge Selarón, o chileno que se apaixonou pelo Brasil e pela escadaria do antigo convento, que batizou com o seu nome. Começou a decorar cada um dos lances de escada nos anos 1990, mas foi graças às peças vindas de todas as partes do mundo que conseguiu terminar a obra, no início do novo milénio. São mais de dois mil azulejos diferentes que figuram, em mosaico, nesta colorida escadaria. Mas a

A atividade física faz parte dos hábitos dos cariocas. Correr ou andar de bicicleta junto ao mar são duas opções.

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«Minha alma canta Vejo o Rio de Janeiro

ESTOU MORRENDO DE SAUDADESRIO, SEU MAR

PRAIA SEM FIMRIO, VOCÊ FOI FEITO PRÁ MIM»

TOM JOBIM, SAMBA DO AVIÃO

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história de dedicação de Selarón não tem final feliz. O corpo do artista foi encontra-do na escadaria do Convento de Santa Te-resa em janeiro de 2013. Estava carboniza-do. A investigação continua a decorrer. As suas palavras ficaram gravadas nos últimos degraus: «Só acabarei este sonho louco e inédito no último dia da minha vida.»

Lapa, a boémia. Mais uma comparação com a capital portuguesa: «É um pouco como o Bairro Alto», diz Sandra. Por aqui, chamam-lhe o bairro boémio, dos artistas e das festas. Há trinta anos, a Lapa estava abandonada, não havia investimento, con-tam-nos. Mas, pouco a pouco, vai sendo recuperada. Este bairro é vizinho de Santa

Teresa, mas os poucos metros que os sepa-ram deixam margem para uma grande di-ferença. Se Santa é tranquilidade, Lapa é agitação. Na primeira noite, percebemos o motivo da comparação inicial, mas na ver-dade, a Lapa tem poucas semelhanças fí-sicas com o Bairro Alto. Só a tradição é a mesma: em vez de um bar, entra-se num boteco para pedir uma bebida. Em vez de se ficar nas ruas de Lisboa, vai-se beberi-cando em pleno centro do Rio de Janeiro. Mas os amigos estão lá, a música também, bem como o espírito descontraído, tão ca-racterístico do povo brasileiro.

Numa cidade em que o clima é convi-dativo, independentemente da estação do

ano, é natural ver as ruas encher pela noi-te dentro. E a Lapa é a prova que a festa faz-se quando um homem quiser. Há as baladas mais improvisadas, os botecos, os bares mais antigos e os mais icónicos, como o Rio Scenarium, ao lado da Praça Tiraden-tes, onde se encontra a estátua de D. Pedro IV de Portugal (I do Brasil). Ou, ainda, perdoe-se a referência, o bar das Quengas – assim chamado pela decoração (roupa interior pendurada no teto). Desfilar pelas ruas da Lapa à noite é uma viagem pelos vários ritmos brasileiros. «Ir para a balada», como se diz por aqui, não é exclusivo da sexta e do sábado. Durante a semana, bares e boîtes fazem parte do itinerário de turistas

O Rio Scenarium foi considerado um dos dez melhores bares do mundo. Lá dentro percebe-se porquê.

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e locais. Já lá dentro, poucos são os que ficam encostados ao balcão e as letras das música sabem-se na ponta da língua.

Por baixo daquele que é um dos sím-bolos deste bairro agrupam-se, todas as noites, jovens. Mesmo à noite, os arcos não passam despercebidos. Hoje não há muito mais para ver do que a construção em pe-dra branca mas, durante o dia, o antigo bonde voltou a circular no seu topo, ainda que por algumas horas (encontra-se tam-bém em fase de testes). Mas já se celebra o regresso do bondinho de Santa Teresa aos 42 arcos duplos, construídos em 1723, como um aqueduto para trazer água do rio Ca-rioca para o centro.

Mesmo quando a noite acaba tarde, o dia começa cedo na Lapa. A um sábado de manhã testemunha-se a azáfama de deze-nas de comerciantes, que vão compondo as suas bancas. As frutas exóticas e as ervas aromáticas convivem ao lado dos mais variados tipos de malaguetas. Há as ama-relas, as laranjas, as verdes e as vermelhas e um prato chega a custar apenas três reais (o equivalente a 75 cêntimos). No ar, os cheiros misturam-se e os olhos não sabem o que focar, com tanta cor. «Ananás tem de ter massa amarela», vai cantarolando um dos comerciantes. E, por falar em ama-relo, não se esqueça que pedir um limão no Brasil - é o equivalente a pedir uma lima.

As feiras e os mercados abundam no centro da cidade. Uma das mais conhecidas é a do Lavradio, que se realiza todos os sábados, com peças de artesanato, escul-turas, mas também velharias, malas anti-gas, discos de vinil e até máquinas de es-crever. É também na Rua do Lavradio, mais afastada dos botecos, que se encontram alguns dos melhores restaurantes da Lapa. Pastéis de carne, bolinhos de bacalhau, feijoada ou aipim frito são alguns dos pe-tiscos a provar. Apesar da proximidade dos cariocas ao mar, a carne continua a ser uma preferência. Ainda assim, junto ao forte de Copacabana, encontra-se uma alternativa para os amantes de peixe. É aqui que se

Santa Teresa é um bairro TRANQUILO. JÁ NA VIZINHA LAPA, QUASE TUDO É SINÓNIMO DE ANIMAÇÃO. AS DUAS ÁREAS DA CIDADE ACABAM POR SE COMPLEMENTAR DA MELHOR FORMA.

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localiza uma das muitas colónias de pesca-dores do Rio de Janeiro. As vantagens? O peixe salta diretamente do mar para o mer-cado, sem passar pelo gelo. Corvina, an-chova, robalo, pescada, camarão, garoupa... «É só chegar cedo e escolher. Um quilo a 10 reais» – pouco mais de 2,50 euros –, diz-nos um dos pescadores.

A cinco minutos a pé da Rua do Lavra-dio fica a catedral São Sebastião do Rio de Janeiro. Com 75 metros de altura, o edifício é um ponto incontornável. Inaugurada em 1976, a construção foge ao estilo de uma

catedral católica, falando esteticamente. Foi inspirada na pirâmide que os Maias construíram no Iucatão, México, e tem ca-pacidade para cinco mil lugares sentados e 20 mil de pé. No interior, quatro vitrais cruzam-se para formar uma cruz no teto e, ao fundo do presbitério, avista-se a figura de São Sebastião, padroeiro da cidade.

A poucos metros da Praça Compositor Braguinha fica também a nova unidade do grupo hoteleiro português Vila Galé no Bra-sil, inaugurada em dezembro de 2014, no centro da Lapa. Ali próxima está a Igreja de

As baías e lagoas do Rio ANDAM NAS BOCAS DO MUNDO. GUANABARA E LIMA DE FREITAS, EM ESPECIAL. PELA BELEZA, MAS TAMBÉM PELOS JOGOS OLÍMPICOS DE 2016 E PELA QUESTÃO DA POLUIÇÃO.

Do Corcovado ou do Pão de Açúcar, as hipóteses para selfies são mais que muitas.

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Nossa Senhora do Carmo, cuja capela foi convertida em capela real, por ser próxima da residência de D. João VI e sua família, no edifício do Paço Imperial. Este localiza-va-se na ainda existente Praça XV, que du-rante a época colonial foi apelidada de «centro da cidade». Foi daqui que a famí-lia real embarcou para o exílio em 1889. Quando nos dizem «esta praça é tão his-tórica quanto a do Terreiro do Paço», já não estranhamos. Quase 200 anos após a independência do Brasil, ainda se sente Portugal no centro do Rio.

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A história divide-se quanto ao nome do navegador a quem foi atribuída a sua descoberta, mas concorda no

mesmo ponto: era português e integrava a expedição lusitana, que a 6 de janeiro de 1502 desembarcou nesta enseada. Era Dia de Reis e assim ficou decidido o nome de Angra (que significa baía). Precisões his-tóricas à parte, a nossa reação não terá sido muito diferente da dos navegadores portugueses quando aqui amanheceu no primeiro dia da viagem.

Chegámos já quase de noite ao eco resort Vila Galé e, para além do som das ondas,

pouco mais se distinguia do que as sombras das palmeiras. O jetlag já há muito que tinha diminuído os seus efeitos, mas a di-ferença horária de Portugal para o Brasil continuava a ter as suas consequências. Talvez por isso, tivemos oportunidade para ver os primeiros raios de sol atingir o mu-nicípio brasileiro. Ao longe, as montanhas de Angra dos Reis, mais perto os ilhéus e, ainda mais próximo, o oceano ia ficando mais azul à medida que o sol ia nascendo. De dia, com o verde da relva – aqui é grama – e das folhas das palmeiras, os guarda--sóis e as espreguiçadeiras amarelas, junto ao

areal da praia privada deste hotel, era um cenário totalmente diferente.

Poucas horas depois, o cantar das aves e das espécies exóticas que habitam a mata atlântica davam lugar ao som de um motor. Ainda não era meio-dia, mas à praia pri-vada chegava já a lancha Raposo 250, com um guia pronto para uma viagem pelas ilhas que se prolongaria até ao pôr do Sol. Os barcos da Angra Way, um dos parceiros da Vila Galé, têm a capacidade para trans-portar até 16 pessoas. Se o grupo for gran-de, vale a pena perder a vergonha e ensaiar uma corrida até à proa do barco, onde pode

O PARAÍSO DE Angra dos Reis

O Vila Galé Eco Resort fica apenas a 15 minutos de distância da cidade de Angra dos Reis.

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ir sentado. Descrever esta viagem não é fácil. Falar na transparência do mar, talvez seja pouco, do desenho das montanhas ou do horizonte, onde o azul do oceano e do céu se confundem, igualmente. Por isso falamos em paraíso.

«Não se avista vivalma», como refere a expressão. Em pleno oceano Atlântico, a 150 quilómetros do Rio de Janeiro, e entre os ilhéus de Angra, vamos-nos cruzando com outras lanchas. Vale a pena prestar atenção quando o barulho de outros motores dá lu-gar ao dos remos. É este o meio de transpor-te dos habitantes locais: pequenos barcos de

Das 365 ilhas de Angra dos Reis, APENAS 97 O SÃO NA REALIDADE. AS RESTANTES PORÇÕES DE TERRA RODEADAS POR MAR SÃO ILHÉUS. EM QUALQUER DOS CASOS, A BELEZA NATURAL É SURPREENDENTE.

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Ao longe, as montanhas de Angra dos Reis, MAIS PERTO

OS ILHÉUS E, AINDA MAIS PRÓXIMO, O OCEANO IA FICANDO MAIS AZUL À

MEDIDA QUE O SOL IA NASCENDO.

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madeira, pintados de cores coloridas. Das 365 ilhas (uma para cada dia do ano) que integram este arquipélago, algumas são públicas, outras propriedade de celebridades ou de anónimos. A mais conhecida de todas é a ilha Grande, a maior deste arquipélago, tal como o nome indica, mas o nosso percurso continha outras paragens.

«Essa é a ilha da Xuxa, a apresentadora», diz-nos o condutor da lancha, ao passarmos por outro ilhéu, onde se avista apenas uma casa e dois cães a ladrar. A lancha prossegue caminho, deixando para trás a ilha da Gipóia, onde voltaríamos mais tarde, para provar a moqueca, especialidade do restaurante Can-to das Canoas. No passadiço de madeira, onde o barco ficaria atracado, crianças ensaiam mortais para a água. Mais tarde, repetiam os saltos para a câmara fotográfica, confessando que estavam de férias e que só existe escola no continente, em Angra dos Reis.

Entre o itinerário traçado, há ainda tempo para parar nas ilhas e mergulhar

junto à Josefa ou da Piedade, também conhecida como a antiga ilha da Caras. Era na ilha da Piedade que decorriam, em tempos, as badaladas festas que juntavam a nata dos artistas e políticos brasileiros. Esta abre ao público, todos os anos, durante o mês de julho, mas pode ser alugada durante o resto do ano. São cer-ca de 10 a 17 mil reais por um dia neste paraíso.

Para o fim, fica um mergulho, em ple-no oceano, junto às botinas, os ilhéus de rocha. O mar está tão límpido a esta hora que conseguimos avistar cardumes de pei-xe antes de regressarmos ao continente. Os golfinhos não apareceram, mas há quem tenha a sorte de os ver passar junto às lan-chas. Já com o sol junto à linha do hori-zonte, passamos por eco resorts e condo-mínios privados, na periferia de Angra dos Reis. Contrastam com as favelas no centro da cidade. Ou não fosse o Brasil também um país de contrastes.

O futebolista Neymar, O CANTOR RICKY MARTIN OU A APRESENTADORA DE TELEVISÃO XUXA SÃO APENAS TRÊS DOS MUITOS FAMOSOS PROPRIETÁRIOS DE ILHAS EM ANGRA DOS REIS.ELES LÁ SABEM...

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Casa Momus Abriu em março de 2014, fica na movimentada Rua do Lavradio, num antigo casarão do século xix. Funciona como restaurante e bar boémio de cozinha mediterrânica. Tábua de tapas e ceviche de salmão, carpaccio de filé mignon e especialidades italianas. RUA DO LAVRÁDIO, 11 – CENTRO

TEL:: (+55) 213852-8250

CASAMOMUS.COM.BR

ANGRA DOS REIS Canto das Canoas Navegue por entre os ilhéus de Angra dos Reis para chegar a este restaurante, cujo acesso é apenas feito de barco. Famoso pelas moquecas de peixe e marisco e por petiscos como casquinha

de siri (caranguejo), bolinho de feijoada ou catupiry e ceviche. Preço médio de 64 euros por pessoa. ILHA DA GIPÓIA, ANGRA DOS REIS

TEL.: (+ 24)3365-5151

SAIR Rio Scenarium«Um dos melhores dez bares do mundo», escreveu o jornal The Guardian. Também conhecido por Pavilhão da Cultura, resulta da combinação improvável de um antiquário, casa de espetáculos e restaurante. Três andares decorados com mais de dez mil peças de objetos antigos. Tem palco no piso térreo, graças a uma espécie de varandim. Preço de entrada a rondar os 10 euros, dependente do dia da semana. Encerra ao domingo e segunda.R. DO LAVRADIO, 20 - CENTRO

TEL.: 213147-9000

RIOSCENARIUM.COM.BR

A NÃO PERDERReal Gabinete de Leitura Português O gigantesco lustre que pende do teto e a claraboia de vitrais atraem o olhar assim que se entra na sala principal. Mas são os mais de 350 mil livros que prendem a atenção dos visitantes. Construído entre 1880 e 1887, o edifício de estilo neomanuelino foi criado para acolher uma das associações mais antigas do Brasil, criada por um grupo de imigrantes portugueses após ser decretada a independência. RUA LUÍS DE CAMÕES, 30

TEL.: (+55) 212221-3138

DE SEGUNDA À SEXTA, 09H00 ÀS 18H00.

REALGABINETE.COM.BR

Lagoa Rodrigo de FreitasLigada ao mar pelo canal do Jardim de Alá, esta lagoa recebe todos os verões aquela que é considerada a maior árvore de natal do mundo. Em 2014 tinha 85 metros de altura, mas o tamanho aumenta de ano para ano. Na lagoa também se pratica remo e estão previstas realizar-se aqui essas provas nos Jogos Olímpicos de 2016.

Parque Nacional da TijucaA estátua do Cristo Redentor é a primeira atração turística do Parque Nacional da Tijuca. Mas há muito mais para descobrir: tem maior floresta urbana do mundo replantada pelo homem, circuito do Vale Histórico, dos Picos, o Mirante Dona Marta, o Lago das Fadas, a gruta ou o Bico do Papagaio, um dos picos mais populares.ESTRADA DA CASCATINHA, 850

TEL.: (+55) 212492-2252

PREÇO VARIA CONSOANTE O PERCURSO

Passeio de Barco Angraway Navegar junto às ilhas de Angra dos Reis, com um guia, é uma das atividades que a Angraway proporciona. Viagem de seis horas (sem almoço incluído) a partir de 410 euros por barco (lotação máxima de 16 pessoas). Esta empresa, parceira do Vila Galé, organiza ainda outras atividades: mergulho, um tour pela Ilha Grande ou por Paraty. RUA DO COMÉRCIO, 314

TEL.: (+55) 2433650232

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DORMIRVila Galé Rio de Janeiro Juntou-se à rede Vila Galé no Brasil em dezembro de 2014. Localizada no centro histórico da Lapa, esta sétima unidade do grupo português foi em tempos um antigo palacete de 1886. Nos blocos mais antigos pode ainda observar-se os preservados mosaicos hidráulicos no chão, mas a decoração, essa é moderna e inspirada no samba. A piscina está no centro do empreendimento, junto ao bar Vinícius de Moraes e restaurante Inevitável, onde a cozinha é de inspiração mediterrânica. Conta ainda com spa, ginásio, sala de massagens e centro de convenções.R. RIACHUELO, 124 - LAPA, RIO DE JANEIRO

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Vila Galé Eco Resort de AngraA 15 minutos do centro da cidade de Angra dos Reis e a 150 quilómetros do Rio de Janeiro, encontra-se este eco resort. Distingue-se pelas práticas ambientais sustentáveis e quase parece fundir-se com a mata atlântica, que o rodeia. Com quatro restaurantes, quatro bares, spa com sauna, jacuzzi e banho turco e ainda várias salas de massagens e tratamentos, este resort é também orientado para as famílias. Para além de um restaurante infantil, tem também um espaço lúdico para crianças. Polidesportivos, academia de fitness, salão de jogos ou o conjunto de piscinas são outros espaços deste hotel all inclusive. Destaque para a sossegada praia privada. AV. VEREADOR BENEDITO ADELINO, 8413 -

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COMERRIO DE JANEIRO Confeitaria ColomboUma das mais famosas cafetarias da cidade. Fundada em 1894 por portugueses tem decoração majestosa com grandes espelhos belgas, vitrais no teto e mobiliário em jacarandá. Lugar com história para tomar café, chá ou provar os populares biscoitos da casa.RUA GONÇALVES DIAS, 32 - CENTRO,

TEL.: (+55) 212505-1500

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Santo ScenariumO nome faz jus à decoração, com figuras e artigos religiosos a preencher o espaço. Pode pecar--se à refeição: pastéis de brie com geleia de laranja ou de catupiry, sanduíches, saladas e pratos principais. Encerra ao domingo. RUA DO LAVRÁDIO, 36 – CENTRO

TEL.: (+55) 213147-9007

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AGRADECIMENTOS:

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Sempre me disse-ram que Itália é que era. E quem mo di-zia não se enganava. O país dos Césares e dos impérios, da arte e da política, dos príncipes e dos heróis, de todos os anjos e santos, fonte de

toda a história e galeria de todas as artes do Ocidente, é um lugar esmagador.

Os dez dias em que os viajantes andaram pelas estradas, escolheram ementas, esbuga-lharam os olhos e dormiram em quartos com três camas foram uma experiência inesquecí-vel. Dessas que ficam do «outro lado da vida» como dizia o escritor francês Louis Ferdinand Celine citando Litré que, como todos sabem, nunca se engana: viajar é do outro lado da vida.

Nesta viagem ninguém conseguiu ficar indiferente. Nem o pai de quarenta e muitos anos, que não conhecia o Norte de Itália, nem os seus dois filhos, o Diogo de 15 e a Carolina, com 11 (havia de fazer 12 anos em Veneza), que nunca tinham estado na maior península do Adriático. A Carolina, mais pequena, mas mais viajada (os filhos mais novos nunca são

poupados pelas preocupações gregárias com que os pais demonstram incompreensível afe-to aos primogénitos), escrevia assim a última entrada no seu diário de bordo, dez dias depois de terem aterrado às 23h55 no aeroporto de Milão, Malpensa: «Esta foi a melhor viagem!»

Foram muito felizes os viajantes na Itália do Norte. Na terra dos Medici, dos Sforza e dos doges de Veneza; na utopia de Gabrie-le d’Annunzio; no sonho rico da indústria automóvel de Turim e do turismo arco-íris de Rapallo e Portofino; na terra das vinhas perfeitas e girassóis que é a Toscana; na Itália burguesa das praias urbanizadas de Rimini e, claro, das vielas líquidas de Veneza, que são o maior parque de diversões adulto do universo. Mesmo sem contar com as extraordinárias experiências que seriam a Expo em Milão e a Bienal em Veneza.

Fazer as malas. A decisão parecia fácil. Afinal a Itália é muito perto. Duas horas e meia de avião. O voo relativamente barato: três pessoas ir e vir, 508,35 euros já com lugar marcado, check in feito, à ida e à volta, e uma mala extra. O suficiente para estar sempre fresco e asseado durante os dias de viagem. Com uma oferta de hotéis das mais

extensas do universo, mais de 90 mil diz o site booking.com, exatamente o dobro de Espanha e nove vezes mais que Portugal.

Para os colecionadores de estatísticas aqui vai outra: em 2013 Itália foi o quinto maior destino mundial de turismo com quase 48 milhões de visitantes. O Banco Mundial diz que, maiores, só a França, os EUA, a Espanha e a China. E se não era César a atravessar o Rubicão, era, como disse o Diogo, «o pai de telemóvel na mão a reservar o avião»– es-távamos lá.

Depois do avião, indispensável para poupar no tempo da viagem (se fosse feita por terra seriam 20 ho-ras e 2130 km agarrados ao volan-

te), o que os viajantes precisam é de um carro. Una macchina, como se diz no vale do Pó. No capítulo motorizado as hipóteses são muitas: comprar de avanço pela internet, alugar no aeroporto ou ir alugando, à medida dos des-tinos que o destino nos reserva.

O capítulo automóvel foi pautado pela simplicidade. Não foi a solução mais econó-mica mas sim a mais confortável. Primeiro: os carros agora vêm com internet. Um router

UM ADULTO, DUAS CRIANÇAS, UM PAÍS HISTÓRICO. DE AVIÃO ATÉ LÁ, DE AUTOMÓVEL DURANTE DEZ DIAS. DE MILÃO A MILÃO, COM PASSAGENS POR GÉNOVA, FLORENÇA, SIENA, RIMINI, BOLONHA E PARMA.

UMA EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL.

em família

TEXTO E FOTOGRAFIA DE JOSÉ MANUEL DIOGO

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sem limite de tráfego de dados que, por apenas mais nove euros por dia, nos poupa centenas de euros em roaming. Enquanto esperamos por 2016 e pela abolição das taxas na UE é o dinheiro mais bem gasto que se pode ima-ginar. Serve de telefone, internet, GPS, guia Michelin e até de movie center.

Podemos alugar antes de partir num dos muitos sites que prometem carros baratos na internet. No nosso caso era

um Citroën Cactus que, na altura do contrato, se transformou num Fiat 500L — batizámo-lo de Capuleto porque era um menino com formas de menina e tinha um ronronar de Julieta. Mas cuidado, as compras na internet não mostram os extras que depois sempre se acrescentam: seguros, taxas de circulação, condutores extra, taxas de lavagem, identi-ficadores de portagens e outros impostos que podem facilmente atirar um bom negócio para o dobro do inicial. Neste caso, dez dias de aluguer prometidos pela rentalcars.com a 450 euros, feitas todas as contas, ficaram a 900.

Vongole, vongole, vongole. Uma das experiências mais notáveis em Itália é ir a restaurantes. Entre paste e pizze,

osterie e trattorie, a cada dia se experimentam coisas novas. A mais petiz da família ficou obcecada com um prato em especial – spa-ghetti al vongole (esparguete com amêijoas). Escolheu-o sempre que havia, várias vezes e à força da devoção, parecia nativa na altura do pedido. Prego signorina! – respondiam i camerieri encantados pelo sorriso da Carolina.

A oferta gastronómica nunca deixa crédi-tos por menus alheios. Das constantes amêi-joas já falámos, mas em nada elas perdem para a trattoria Galleone que, nas ruas estreitas do Porto de Génova, fora de horas e sem ar condicionado, nos serviu testaroli al pesto e fiore de zucca in pastella con burrata e acciughe acompanhados dos vinhos da casa da Tosca-na, da Ligúria e do Piemonte, todos baratos honestos e pouco alcoólicos mas com a acidez e a fruta que em Portugal só se consegue aos 14 graus. E por aí fora, de cidade em cidade, de ravioli de Rimini a javali de Siena. Se o seu pecado é a gula, a sua terra é Itália.

É tão vasta a criatividade que até o Dio-go, recente praticante de uma rigorosa dieta vegetariana que muitas vezes limita a criati-vidade gastronómica do melhor duas estrelas Michelin, se espantava com a quantidade e com a qualidade das escolhas em quase todos os lugares.

MilãoParma

Bolonha

RiminiFlorença

Siena

Génova

Pisa foi uma das passagens no itinerário. Ninguém resiste à foto da praxe.

Também de gastronomia se faz a viagem em família. E que melhor país que Itália nesta matéria?

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te nos fascina e admira, continua incólume. E a possibilidade de podermos presenciar tal maravilha, essa reside na globalização.

Com tudo visto e malas feitas, despedimo--nos da bela, mas cara, Florença, entrámos no nosso estimado Capuleto e rumámos a Siena, cidade famosa pelo pálio e pela sua medievalidade que o mais sénior dos três viajantes queria muito visitar. Um conselho do Afonso, amigo da família, muito dado às letras e à história. Depois de um excelente almoço na Praça do Mercado, feito de vegetais e ensopados medievais, decidimos visitar a insigne Piazza del Campo que foi imortalizada por James Bond numa intensa perseguição a pé. E foi aí, sentados à sombra, de telemóvel na mão a comparar o que víamos à nossa fren te com a cena do 007, que tivemos a ideia de que depois de tanta história e cultura não podíamos perder as praias italianas do mar Adriático. Tínhamos um novo destino, Rimini.

Não há nada igual: mais de mil hotéis ao longo de uma praia de 15 quilómetros que se divide em dezenas de secções correspon-dentes a determinados hotéis e milhares de guarda-sóis alinhados de forma a criar uma organização sensacional. Já a água, era calma e quase à temperatura de uma piscina aquecida. Rimini foi uma espécie de descanso para o que vinha a seguir, a intemporal Veneza.

Arrivederci Italia. Na primeira viagem a Itália escolhe-se não perder tempo. Que é como quem diz deixar o que

é muito turístico para ler nos guias. Por isso não ficámos nas filas para subir à torre de Pisa nem demos voltinhas aos duomi em Florença ou em Milão. Andámos de gôndola porque há centenas e só entrámos na Catedral de São Marcos porque aos 37 graus centígrados do meio-dia a fila tinha meia dúzia de pessoas. Escolhemos ficar na rua a ver as pessoas. Na estrada a ver vinhas e campos de girassóis. A perceber montanhas de mármore tão bem cortadas que parecia ter nevado no verão. Quisemos ir à praia ver o Adriático e sonhar com os barcos que construíram todos os diques de Veneza pagando imposto com a própria carga (30 por cento de pedra rija vinda da terra turca). Torrámos ao sol em Bolonha que estava em obras e saudámos em Parma um casamento que subia as escadarias da catedral. Chegámos a Milão a desejar que o tempo não passasse e não tivéssemos de rever aquele Airbus laranja que nos traria de volta a Lisboa. Viemos felizes e muito contrariados. Ainda neste outono havemos de lá voltar.

O que tornou esta viagem única e inesquecível foi a imprevisibilidade. Todos os dias ao acordar ainda não

sabíamos o que íamos visitar, onde íamos comer ou onde íamos dormir, partíamos em busca da aventura nas belas cidades italianas, uma por uma, dia após dia.

Como toda a viagem foi feita sem horário, e apenas o do avião de regresso era certo, nunca houve falta de tempo. Era assim como um ritual lânguido, lento e feliz – levantar, e no pequeno-almoço o plano para a manhã, passeio e olhos cheios, almoço coisas boas, wi-fi, e escolher a cidade e o hotel daquela noite, mais passeio de tarde e gelados italianos em toda a parte e fé infinita no Capuleto que com conforto e desembaraço nos entregou sempre no hotel de destino.

Para quem viaja em número ímpar, to-das as viagens trazem um problema extra: há sempre uma cama a menos. Nos hotéis escolhidos, com uma ou duas exceções, ape-sar de a reserva ser sempre feita para três, éramos sempre presenteados com quartos de apenas uma cama. É certo que era gigante e quadrada, capaz de acomodar uma meia dúzia de adolescentes em festa mas, neste caso, vinha sempre acrescentada de um duro e improvisado colchão (palavra do Diogo, a quem sempre coube em sorte) em cima de uma baixa estrutura metálica.

Feliz ou infelizmente, nesta família há um membro que gosta e desfruta da sua ocasional solidão: o Diogo, o mais velho dos mais peque-nos. Fazendo-se de voluntário, fechava-se à noite na sua pequena cama, refletia no dia que tinha passado, no que tinha visto e deixado para ver, no mais bonito e mais esquisito e, por fim, procurava na sua mente a melhor de todas as espetaculares possibilidades de coisas para fazer no dia que ainda havia de chegar. Com isto tudo na cabeça e sem nada partilhar adormecia finalmente sem nada ter decidido.

Renascença vs. globalização. Com a mudança e a modernização, o mun-do tornou-se um lugar muito mais

pequeno, mais acessível e mais aberto, tudo ficou a um clique de ser possível. É verdade que nem tudo é perfeito como já vimos, mas felizmente chegamos a um momento em que o antigo e o moderno coabitam em harmonia. Ao longo destes 400 anos a mudança passou por todo o país, mais notável em alguns sítios, me-nos noutros, permanecendo, mesmo assim, alguns sítios quase intocados, como Veneza por exemplo. Mas o essencial, o que realmen-

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ROTEIRO ∏ BRISTOL

Já tinha belos parques e muitas paredes a servir de tela à street art, agora ostenta o título de Cidade Verde da Europa. Eis um guia para não perder o essencial de uma das mais convidativas cidades inglesas.

VOLTA AO MUNDO

sta é uma iniciativa europeia que vale a pena acompanhar: todos os anos é eleita a Capital Verde, distinção atribuída com base nos esforços concretizados em prol do ambiente e do desenvolvi-mento sustentável. Criada em

2010, já premiou Hamburgo e Nantes, por exemplo, cidades que têm sabido renovar-se e, em simultâ-neo, são culturalmente dinâmicas e atrativas.

Este é, também, o caso de Bristol, por sinal berço do artista plástico Bansky e de bandas como Portis-head ou Massive Attack. Para além das estatísticas – que referem ser a cidade, entre as maiores do Reino Unido, que consome menos energia por habitação, que tem a maior taxa de utilização de bicicletas e que conseguiu reduzir a produção de lixo em cerca de 30%, por exemplo. Até possui a sua própria libra, a Bristol Pound, moeda de adesão voluntária que visa encorajar a população a gastar o seu dinheiro na cidade, estimulando o comércio independente

local. Não é caso único no país mas aquele que tem maior sucesso: são já quase 800 os estabelecimentos que a aceitam. Os visitantes também podem aderir à causa, trocando as suas esterlinas por estas libras friendly no posto de turismo.

Cidade portuária que, um dia, enriqueceu devido ao comércio de escravos, Bristol é hoje um exemplo daquilo que deve ser uma comunidade apostada no futuro. Visitá-la ao longo deste ano traduz-se numa oportunidade especial para (re)descobrir os recantos da cidade, dos lugares óbvios, como a Catedral 1 ou a Cabot Tower 2 , no parque de Brandon Hill 3 (um dos espaços preferidos para piqueniques), à rota da street art – que além de obras de Bansky inclui muitas outras – e aos bares com música ao vivo. Aqui, a cada noite, se a história se repetir, poderão atuar futuros grupos de renome mundial. De potencial «incubadora» de bandas a cidade deve, segundo os pressupostos da Capital Verde, tornar-se fonte de inspiração para outras urbes europeias.

E

TEXTO TERESA FREDERICO

Cada vez maisColorida

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5

84

Afastada do centro da cidade, mas digna de visita, esta é a ponte suspensa Clifton, sobre o rio Avon, obra de Isambard Brunel.

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atrações da cidade e, de fac-to, oferece uma interessante «viagem no tempo». Obra do engenheiro Isambard Kingdom Brunel, fez-se ao mar em 1843 e navegou até 1933, transportan-do desde viajantes abastados a emigrantes que partiram para a Austrália em busca de uma vida melhor e soldados para lutar na Guerra da Crimeia. A visita é bastante esclarecedora e inte-rativa: a maioria não resiste a fazer uma selfie com vestuário da época; menos são os que se atrevem a ver as vistas do topo do mastro.

Bairro com vistatheavongorge.com

Numa ponta da cidade mas a poucos minutos do centro, Clifton 7 é um bairro elegan-te, com casas históricas muito bem preservadas, lojas tenta-doras e cafés charmosos mas também espaços verdes como The Downs, que tanto inspira à atividade física como à ses-ta relaxante na relva. A Clifton Suspension Bridge sobre o rio Avon, outra obra de Isambard Brunel, mantém-se majestosa e um espetacular miradouro para quem a queira percorrer. Pode ser apreciada do Bridge Café do Avon Gorge Hotel (menu de almoço desde 18 euros) ou da soalheira esplanada vizinha (piza desde 12,5 euros).

A banhos na cidadelidobristol.com

Espaço criado para banhos pú-blicos que remonta a 1849, é hoje um spa com piscina e jacuzzi ex-

Quarto ou caravana?brooksguesthousebristol.com

A localização é perfeita para cal-correar a cidade, o atendimento impecável e o pequeno-almoço inclui uns memoráveis ovos Be-nedict. A Brooks Guesthouse 4

, onde é impossível não nos sen-tirmos em casa, proporciona duas experiências diferentes: dormir em quartos bastante acolhedores, embora não especialmente espa-çosos (desde 94 euros); ou numa caravana com vista, estacionada no topo deste antigo edifício de escritórios dos anos 1950. Com design inspirado no mesmo pe-ríodo, as Rocket Caravans são um sucesso, pelo que convém reservar com antecedência (des-

de 112 euros). Fica ao lado do St. Nicholas Market 5 , um dos mais antigos e apreciados mercados da cidade, bom sítio para almoçar e fazer compras, de produtos fres-cos a vestuário e artesanato.

Máquina do tempowww.ssgreatbritain.org

O SS Great Britain 6 , primeiro grande navio transatlântico do mundo, é uma das principais

Bansky, Portishead, Tricky e Massive Attack partiram daqui para conquistar o mundo da música e da arte. Este ano é o mundo a ser convidado a (re)descobrir esta cidade que é um exemplo no que toca ao ambiente e ao desenvolvimento sustentável.

VOLTA AO MUNDO

Rio Avon

Floating Harbour

SOUTHVILLE

MILLENNIUMSQUARE

QUEENSQUARE

HARBOURSIDE

CLIFTONWOOD

CASTLE PARK

TEMPLEQUAY

CLIFTON

KINGSDOWN

BRANDON HILLNATURE PARK Victoria St.

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Bristol

Marlborough St.

Baldewin St.

Redcliffe way

St. Nelson St.

Anchor Road

Park St.

Cols

ton

St.

Aven

ue Q

uay

ROTEIRO ∏ BRISTOL

REINO UNIDO

Bristol

6

7

Page 97: Volta ao Mundo - Setembro 2015

97

Comer e bebersource-food.co.ukfriskafood.com cosyclub.co.ukredlightbristol.xxx

A Capital Verde apadrinha a produção local e, por isso, re-comenda alguns restaurantes que a promovem. É o caso do Source Café 12 , no centro do St. Nicholas Market; mas tam-bém do Friska 13 , que serve refeições rápidas e foi recen-temente nomeado melhor res-taurante étnico. Há meia dúzia na cidade e também vende CD, vinis e roupa em segunda mão. Para beber um copo não faltam bares para todos os gostos, do Cosy Club 14 , a funcionar num espaço que já foi igreja, ao Red Light 15 , onde o porteiro foi substituído por um telefone e, à entrada, uma seta em néon a dizer sex indica o caminho para a cave… Afinal é um bar comum, no qual se destacam o atendimento simpático e a música, sobretudo dos anos 1950 e blues.

Mais informaçõesvisitbristol.co.ukbristol2015.co.uk

teriores bastante frequentados (mesmo no inverno) em Clifton. Esfoliações e massagens relaxan-tes fazem parte da oferta de The Lido 8 , que muitos residentes usam para se manter em forma através de braçadas interminá-veis. Curioso é observar esse esforço saudável e adelgaçante desde o primeiro piso, onde se situa o restaurante, a degustar um suculento peixe e, depois, uma «tábua» com meia dúzia de gelados deliciosos… Preços desde 49 quros (com refeição e acesso a piscina, sauna e jacuzzi).

Bansky e outras artesbristolmuseums.org.uk theklabristol.co.ukwww.arnolfini.org.uk

O mais conhecido street artist a nível mundial nasceu aqui em 1974 e usou algumas paredes da cidade como tela para as primei-ras obras. Há uma meia dúzia para ver (a lista está disponí-vel no site visitbristol.co.uk), encontrando-se uma no Bris-tol Museum & Art Gallery 9 e outra no M Shed (ambos gra-tuitos), museu que traça a his-tória da cidade. Neste último caso, trata-se de Grim Reaper, pintado no barco/sala de con-certos Thekla 10 , que agora decidiu convidar outro artista para ali exibir a sua arte, além de continuar a revelar novos músi-

cos e bandas. Já o Arnolfini 11 ,reconhecido centro de arte contemporânea, acolhe até no-vembro uma mostra dedicada à obra de outro nativo de Bristol, Richard Long, vencedor de um Turner Prize.

ROTEIRO ∏ BRISTOL

AGRADECIMENTOS

A EasyJet tem voos diretos de Lisboa para Bristol por tarifas desde 20,83 euros por trajeto.

8 514

Gorila, 2007. Uma das obras do street artist Banksy espalhadas pela cidade.

Page 98: Volta ao Mundo - Setembro 2015

98 VOLTA AO MUNDO

Ele quase não viajava, ela sempre o fez. Desde que estão juntos, há dez anos, já estiveram em quatro continentes e conseguiram a proeza de fazer por terra os caminhos das caravanas que

iam dar ao Oriente, da Turquia até à China.

HERÓIS DA ROTA DA SEDA

TEXTO DE BÁRBARA CRUZ

CARLA MOTA E RUI PINTO

Viajantes extraordinários

C arla Mota viaja desde sempre. Tem 40 anos, mas desde peque-na que está habituada a explorar o desconhecido. Com os pais, fazia campismo e montanhis-mo, mas assim que ganhou asas e se tornou independente o céu era o limite. Geógrafa, aprovei-tou até o ano em que fez inves-tigação nos Andes argentinos para calcorrear de mochila às costas a América do Sul, com-pletamente sozinha. Rui Pinto, de 38 anos, professor de Físico--Química, viajava sobretudo «no plano teórico» até conhecer Carla. «Lia muito, mas faltava-me o impulso inicial.» Quando se encontraram, e poucos meses depois de começarem a namo-rar, decidiram lançar-se num InterRail. Rui adorava comboios, Carla não gostava de estar quie-ta. Podia ter sido o fim de uma

curta relação, não tivessem des-coberto na altura que afinal eram mesmo compatíveis e que o que os fazia felizes era viajarem na companhia um do outro.

Passado o primeiro teste, vol-taram a casa, em Guimarães, já a pensar na viagem seguinte. Porque a Europa era «demasia-do próxima», escolheram um destino que lhes permitisse afastar-se de tudo quanto ti-nham como certo e seguro. No ano seguinte, foram para a Ín-dia. Gostaram tanto que, em 2016, se prepararam para repe-tir: o célebre festival das cores, uma antiga celebração hindu que acontece todos os anos em data diferente, vem-lhes mes-mo a calhar nas férias escolares da Páscoa.

Sendo ambos professores, explicam, têm a vantagem de

conhecer em setembro o calen-dário do ano letivo. Ao mesmo tempo que planificam as aulas, vão gerindo férias e feriados. Entre viagens mais curtas, na Páscoa ou no Natal, planeiam a mais comprida, que normal-mente lhes toma os dois meses das férias do verão. Neste ano, vão para África do Sul, Namíbia, Zimbabwe, Botswana. «A via-gem de verão é normalmente restrita a um tema», diz Rui. Existe sempre um fio condutor que liga os vários países do iti-nerário. No continente africano, a prioridade será a observação da vida animal.

Em 2012, foram conhecer mais de perto a civilização maia e passaram pelo México, Hon-duras, Guatemala. Antes, já ti-nham percorrido vários países do Médio Oriente e estiveram

Envie as suas histórias para:[email protected]

Page 99: Volta ao Mundo - Setembro 2015

Islândia, em cima, e

Gronelândia, em baixo, são dois

dos destinos mais a norte

onde estiveram.

Page 100: Volta ao Mundo - Setembro 2015

100 VOLTA AO MUNDO

GEOGRAFIA E FÍSICO- -QUÍMICA SÃO AS DUAS ÁREAS DE ENSINO DESTE CASAL DE PROFESSORES QUE NÃO CONSEGUE ESTAR QUIETO.

em Palmira, a cidade síria co-nhecida como a «Veneza das Areias» que agora está sob o domínio do Estado Islâmico. «Estivemos na Síria poucos me-ses antes do início da guerra civil. Um país que conhecemos como progressista, relativamen-te laico. É triste ver como se transformou», desabafa Carla.

São democráticos na escolha dos destinos: ela vai para qual-quer lado, garante, é raro bater o pé. Ambos vão fazendo su-gestões, mas como o interesse no conhecimento científico é comum, acabam muitas vezes em locais inóspitos, que pouco atraem o comum mortal à pro-cura de umas férias. Descanso, aliás, é coisa que não têm quan-do saem de Portugal à desco-berta, seja para ir ver as paisa-gens glaciares da Gronelândia

ou para fazer os oito mil quiló-metros da Rota da Seda, a via-gem que lhes tomou o verão de 2013. Orgulhosamente, suspei-tam de que mais nenhum por-tuguês conseguiu o mesmo feito: terão sido os únicos – «que nós saibamos!», dizem a rir – a atravessar Turquia, Irão, Turquemenistão, Usbequistão, Quirguistão e China, sempre por via terrestre, quais Marcos Polos do século xxi. «Em ter-mos físicos, foi uma viagem muito exigente, até porque coincidiu com o período do Ramadão. E andámos sempre em transportes públicos, a lín-gua também foi um obstácu-lo.» Mas sobreviveram para contar a história, felizes e com um sentimento de «missão cumprida» por, também eles, terem feito os passos dos mer-

cadores do mundo antigo que ligavam o Ocidente ao Oriente em busca do mais belo tecido de fabrico chinês. Estão até a trabalhar num livro sobre a via-gem, já que investiram em mui-tos meses de estudo e pesquisa antes de partir. «Ficou a sen-sação de que era só para nós, o que não é mau, mas tínhamos necessidade de o passar tam-bém a outros.» Por outros, diz Carla, entenda-se não só os interessados em conhecer a história desta rota como tam-bém os viajantes com quem contactam, sobretudo através das redes sociais e dos vários blogues que têm criado para cada itinerário.

Recentemente, decidiram aglutinar toda a informação na mesma plataforma – viajaren-treviagens.blogspot.pt – onde

Na Patagónia, Carla e Rui

renderam-se à natureza.

Page 101: Volta ao Mundo - Setembro 2015

101

publicam os seus relatos e, ao mesmo tempo, fazem divulga-ção científica, já que tantas ve-zes as viagens têm um «lado B» que interessa a quem estuda os fenómenos e os mistérios da natureza. Estão sempre em con-tacto com outros viajantes, para trocar histórias e informações pertinentes. «Temos todos a mesma doença», admite Carla, entre duas gargalhadas.

A patologia sai-lhes cara, mas para pagar as viagens vão abdi-cando do que podem ao longo do ano. «São escolhas», escla-rece Rui. Sem remorso. Dos cinco continentes, falta-lhes a Oceânia, onde ainda não esti-veram porque durante o verão europeu é inverno na Austrália e na Nova Zelândia.

À medida que vão desbra-vando países, trazem consigo

pequenas recordações que já lhes transformaram a casa num autêntico «museu etnográfi-co». Há peças para todos os gostos, desde o chapéu dos monges do Tibete aos trajes típicos da Mongólia e da Sibé-ria. O espaço já vai faltando, mas há sempre onde arrumar mais um instrumento musical ou a estátua de uma divindade desconhecida.

Turquia, Irão, Turquemenistão,

Usbequistão, Quirguistão e

China fazem parte da Rota

da Seda.

Em Samarcanda, no Usbequistão.

Uma viagem que o casal fez no

verão de 2013.

No deserto chinês de

Taklamakan, a vista

recompensa quem escala

a duna.

Page 102: Volta ao Mundo - Setembro 2015

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Page 103: Volta ao Mundo - Setembro 2015

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Passatempos

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Page 105: Volta ao Mundo - Setembro 2015

VOLTA AO MUNDO

CaudalíeA rainha das flores

MontraDuas fragrâncias e uma emulsão para encantar neste verão que se aproxima do fim. Caudalíe, Trussardi e Eisenberg porque só queremos o melhor para si.

A linha Pure White da Eisenberg tem ao seu dispor várias soluções cosméticas inovadoras para o tratamento da pele. Para além de proteger a epiderme e prevenir o aparecimento de manchas castanhas, a marca oferece uma ação anti-idade e antioxidante eficaz. A nova Emulsão Purificante diminui os poros e ajuda a reduzir as marcas inestéticas deixadas por borbulhas, enquanto desintoxica e equilibra os óleos da pele, deixando-a fresca, mais suave e luminosa. Apenas com duas utilizações diárias, de manhã e à noite, terá resultados rápidos, visíveis e duradouros, seja qual for o tipo de pele.eisenberg.com

105

EisenbergPara uma pele pura

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os J

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alho

A Caudalíe continua a inovar e lança agora a quinta fragrância da coleção Eau Fraîche. Lançada em 2002, a linha é uma ode às flores de perfume suave e conta com já com as essências Fleur de Vigne, Thé des Vignes, Zeste de Vigne e Figue de Vigne. Rose de Vigne é a mais recente essência da marca que desta vez apostou num misto de aromas entre as rosas e as uvas, simbolizando assim a beleza do mundo e a generosidade da terra. Algures pela região de Graves, na Gironde francesa, o perfume puro das rosas pela madrugada e o aroma dos cachos e das videiras aparecem reunidos numa simbiose mútua, dando vida a esta fragrância. Delicie-se com esta nova edição e leve consigo uma experiência frutada e floral para onde quer que vá.Rose de Vigne 50 ml: 24 euros (preço recomendado)caudalie.com

TrussardiIdeal para elaNão precisa de procurar mais por aquele perfume que a deixa radiante. My Scent, a nova fragrância da Trussardi, explora as áreas mais femininas e sensoriais do mundo desta marca, evocando a essência da mulher no seu estado mais puro. Um aroma juvenil e floral conjugado com uma essência fresca e almiscarada. Este é o presente perfeito para uma mulher dinâmica e cosmopolita que procure uma composição tão fresca e estimulante como o primeiro dia de primavera.Eau de toilette 30 ml Spray Natural: 42 eurostrussardiparfums.com

Page 106: Volta ao Mundo - Setembro 2015
Page 107: Volta ao Mundo - Setembro 2015

107VOLTA AO MUNDO

Cinco cuidados de saúde para uma viagem longa

T em pela frente mais de meia dúzia de horas num avião? Avie-se em terra. Tome

nota de alguns cuidados básicos para a sua saúde e bem-estar.

e Se tem medo de voar ou quer aproveitar a viagem para descan-sar, avie uma receita de compri-midos para dormir. Ou opte por

calmantes naturais e homeopáti-cos. Não se esqueça de os tomar antes de entrar no avião. E bons sonhos.r Evite beber café, comer pratos demasiado gordurosos e salgados no dia anterior à viagem. Beba muita água para que o corpo não desidrate. E mantenha esse há-bito durante todo o voo. Um

quarto de litro por hora é o reco-mendado.t Mude o relógio de pulso ou do telemóvel para o fuso horário do seu destino. Pode até parecer es-tranho, mas vai ver que a adapta-ção será muito mais fácil. u Saia de casa de cara lavada. Isto é, além do duche, opte por um hidratante com efeito antio-

xidante. Se o voo for de mais de oito horas, faça-se acompanhar de toalhetes refrescantes para usar a meio do caminho. Um óleo facial também não fica mal. i Antes de desembarcar, saque do batôn de cor garrida. Todas as atenções estarão nos lábios e não na face desidratada ou nas olhei-ras acentuadas.

Em ViagemDicas, curiosidades, informações, notícias, conselhos de viajantes

profissionais e tudo o que precisa de saber para que as suas viagens corram bem. Em viagem, informação é poder.

{ Castelos como na Guerra dos Tronos página 109 }

POR RICARDO SANTOS | [email protected]

mundoCO

RB

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Page 108: Volta ao Mundo - Setembro 2015

108 VOLTA AO MUNDO

Em ViagemDe 18 de setembro a 31 de

outubro, vai decorrer, em Inglaterra, o Mundial de Râguebi. A Nova Zelândia defende o título.

Canal abertoNo início de agosto, o

presidente egípcio Abdel Fattah El-Sisi inaugurou o novo canal de Suez. Foi a 6 de agosto e a cerimónia

contou com alguns dos principais líderes mundiais.

Na realidade é uma expansão da mediática via

que já existia. Levou um ano a ser terminado

e vai permitir pela primeira vez tráfego simultâneo,

nos dois sentidos, nesta via com cerca de 150 anos

de existência.A previsão de receitas é alta: 10,9 mil milhões de euros por ano em 2023.

O aumento de tráfego será de 50% nesse mesmo ano, passando o volume de 49 para 97 embarcações por dia. E quanto ao tempo de navegação na via sul, será reduzido para oito horas.Não foi fácil aqui chegar,

mas graças ao esforço de 43 mil trabalhadores, 250

milhões de metros cúbicos de solo foram escavados para a criação desta via com 35 quilómetros de

comprimento e 24 metros de profundidade. Agora é ainda mais fácil passar do Mediterrâneo para o mar Vermelho. E vice-versa.

Parceiro de viagemA Avis lançou o serviço Travel Partner. E a sua vida nunca

mais será a mesma.Todas as horas do dia, todos os dias da semana. É isso que promete a Avis com o seu novo serviço Travel Partner. Por 15 euros ao dia, as suas viagens ao Reino Unido, França, Alemanha e Itália têm tudo para correr ainda melhor - para já são estes os países abrangidos pela novidade. A ferramenta está disponível para reserva online, via app da Avis, através do call center da marca ou por intermédio do funcionário no ponto de recolha

do veículo. E quais as vantagens? Aqui vão elas:

b BAGAGEM PERDIDAUm problema que já bateu a muitas portas. A Avis dá-lhe assistência para reclamar e localizar a mala extraviada. E faz um ponto de si-tuação duas vezes por dia acerca do paradeiro.

b CARTÃO DE CRÉDITOFicou sem dinheiro de plástico? Seja por distração ou por furto, o Travel Partner ajuda a decidir o que fazer. Cancelar o cartão, por exem-plo, é a opção mais acertada. Fale com quem sabe do assunto.

b TELEMÓVEIS E TABLETSDeclare a perda e bloqueie o dis-positivo com um profissional por perto. De preferência pela net.

b PASSAPORTEÉ o documento mais importante em qualquer viagem e perdê-lo pode ser um revés bastante grave. A Avis providencia o contacto te-lefónico, morada e horários da embaixada ou consulado mais pró-ximo, bem como o apoio necessá-rio durante o processo de emissão do novo documento.

b INFORMAÇÕESContactos e moradas para que a sua viagem seja mais proveitosa.

b TRADUTORO Travel Partner providencia tra-dução para um considerável nú-mero de línguas a partir de inglês, francês, italiano e alemão.

b HORÁRIOSInformação na hora, com dicas de tempo disponível para compras até chegar à porta de embarque.Saiba mais em avis.com

CO

RB

IS

Page 109: Volta ao Mundo - Setembro 2015

109VOLTA AO MUNDO

Castelo em Malta M A LT Ahomeaway.pt/arrendamento-ferias/p402770Tem capacidade para 14 pessoas, uma piscina e está rodeado por um jardim de cinco hectares com pomares, hortas e plantas exóticas. A cidade de Zurrieq está a menos de um quilómetro. Preço sob consulta.

Castelo em IschiaI T Á L I A homeaway.pt/arrendamento-ferias/p2354303É conhecido como o antigo Castelo Aragonês e é considerado o mais impressionante monumento desta zona de Itália. Localiza-se numa ilha e no interior há igrejas, pátios, ruas antigas, terraços e arcadas com vista sobre o mar. A partir de 2200 euros por noite e capacidade para quatro pessoas.

Alugue um castelo e faça a festaA Guerra dos Tronos já vai na quarta temporada e o número de fãs não para de aumentar

em todo o mundo, Portugal incluído, claro. Por isso mesmo, a HomeAway, uma das principais empresas de arrendamento de alojamento online (homeaway.pt) escolheu quatro castelos que fazem lembrar as paisagens, as intrigas e a ação desta série premiada. Há luxo francês, uma ilha em Itália, uma torre na Irlanda ou uma fortaleza medieval em Malta. E estão todos

disponíveis para as suas próximas férias. A saber:

Castelo de Challain F R A N Ç Ahomeaway.pt/arrendamento-ferias/p230230A decoração é do século xix, mas não faltam as modernidades dos nossos dias. Pode alojar até 30 pessoas (2500 euros por noite) e cada suite é uma experiência memorável. O lago e os jardins ajudam à festa.

Castelo de BallyhannonI R L A N D A homeaway.pt/arrendamento-ferias/p425851vbConstruído no século xv, mantém a arquitetura e o encanto da herança celta. Pode receber até 25 hóspedes e tem todo o conforto do século xxi. A partir de 714 euros por noite.

Page 110: Volta ao Mundo - Setembro 2015

110

Já lhe passou pela ideia que um destes dias poderá

viajar de Londres para Nova Iorque de comboio?

E até de automóvel? Não é impossível e já há

projeto para esta ligação entre Europa

e América. A ideia foi apresentada pela

Trans-Eurasian Belt Development que planeia

construir uma autoestrada e ligação de comboio

de alta velocidade através da Sibéria, passando o

estreito de Bering para o Alasca. Claro que

o objetivo não é o transporte de passageiros, mas

sim de mercadorias e a instalação de gasodutos

e oleodutos entre os dois continentes e destes

para o resto do mundo.

O estado norte-americano do Alasca já está ligado

aos EUA através de uma autoestrada que atravessa

o Canadá, por isso parte do trabalho está feito.

E a União Europeia já tem planos para criar um

corredor de alta velocidade entre os estados do

Báltico e a Europa Ocidental e do Sul, passando

também pelo canal da Mancha. Se a isto juntarmos

a hipótese cada vez mais plausível de haver uma

ligação de comboio entre Moscovo e Pequim

também ela de alta velocidade, não faltará muito

até que América, Europa e Ásia estejam novamente

ligadas – um novo Pangeia mas já com a deriva

continental assumida.

Em ViagemA Mastercard e a Samsung criaram o

MasterCard Digital Enablement Service. Objetivo: disponibilizar o Samsung Pay na

Europa. Pague tudo sem preocupações.

Um supercomboio

CORPO SÃO Petiscos para quem viaja

Manter-se saudável com tanta viagem pelo meio nem sempre é fácil. Aqueles de nós que andam sempre de um lado para outro entre estações de comboio ou de autocarros, aeroportos ou autoestradas, já sabem que não é fácil encontrar o alimento correto para uma refeição rápida e ligeira. Esqueça as barras de chocolate e os pacotes de batata frita, as sanduíches embaladas e os refrigerantes carregados de açúcar. Ora tome nota:

OVOS COZIDOS „„„„„„„„„„„Têm proteína e nutrientes preciosos e servem de lanche entre viagens. Estão disponíveis em alguns snack bars, mas não perde nada se os levar de casa. Dão aquela energia suplementar de que vai precisar para chegar a horas ao embarque.

FRUTOS SECOS „„„„„„„„„„„É bom tê-los sempre à mão. Fornecem proteína e gorduras essenciais à sua dieta, além de darem uma mãozinha à atividade cerebral. Isto se não sofrer de alergia, claro.

FRUTA „„„„„„„„„„„Quando o cansaço chega e a falta de açúcar se faz sentir, recorra a uma peça de fruta e esqueça os bolos e guloseimas. Se a juntar aos frutos secos, os resultados serão ainda melhores.

CEREAIS OU MUESLI „„„„„„„Com canela, frutos secos e fruta. Hidratos de carbono, gordura e proteína para o dia inteiro. Aconselhável ao pequeno-almoço. E se beber um café acrescente também um pouco de canela para energia rápida.

CHÁS FRIOS „„„„„„„„„„„E sem açúcar. Têm poucas calorias, são excitantes naturais e refrescam. Se os preparar em casa ainda têm a vantagem de ser económicos.

SUMOS NATURAIS „„„„„„„„„„Vitaminas, minerais e antioxidantes, tudo na mesma dose. Ideais para o sistema imunitário e para reduzir os níveis de stress e ansiedade.

MUITA TERRA

LONDRES

MOSCOVO ESTREITO DE BERING

NOVA IORQUE

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VOLTA AO MUNDO

H á quem lhe chame trip hop, estilo eletrónico que, nos anos 1990, fundiu elementos de hip hop, jazz, funk e soul com ritmos down­

tempo e ambientes tórpidos. O som vinha de todos os lados - Islândia, Noruega, Reino Unido, EUA, Japão - mas nenhum outro sítio pode reclamar tamanha responsabilidade «parental» como Bristol. A cidade reunia forte cultura urbana underground, multiculturalida-de e espírito subversivo enraizado como reação a um passado escla-vagista. Massive Attack, Portishead e Tricky foram os porta-estan-dartes. O trip hop tornou-se banda sonora para públicos alternativos do post­grunge. Hoje é inegável inspiração para a pop. POR JOÃO MESTRE

Guia expresso de estilos musicais para destinos de viagem

PortisheadPORTISHEAD{ 1997 }No primeiro disco, usaram e abusaram da estética film noir, da voz de diva torturada de Beth Gibbons e dos ambientes que puxam o ouvinte para o abis-mo. Neste segundo capítulo, os Portishead (aviso à navegação: lê--se com espaço entre «Portis» e «head») cavou um abismo ainda mais fundo, mais envolvente. Cowboys e All Me Mine são duas das canções que re-sistem com distinção ao teste do tempo.

TRÊS DISCOS ESSENCIAIS

Blue LinesMASSIVE ATTACK{ 1991 }É unanimemente con-siderado a obra funda-dora do trip hop. Mui-to antes do sucesso à escala planetária do single Teardrop, o trio de Bristol pavi-mentava o caminho com um disco hipnó-tico, soturno, sensual. O cinematográfico One Love, na voz da lenda do reggae Ho-race Andy, é um dos pontos altos, assim como Unfinished Sympathy, hoje um clássico da música de dança.

MaxinquayeTRICKY{ 1995 }Após a colaboração nos primeiros dois álbuns dos Massive Attack, Adrian Tricky Thaws decidiu que es-tava na hora de trilhar o seu próprio caminho. O primeiro resultado traduziu-se num dis-co misterioso, intenso, desprendido, que se balança entre a elec-tronica, a pop e o rock alternativo, de onde salta à audição a voz da sua namorada de en-tão, uma muito jovem (e ainda desconhecida) Martina Topley-Bird.

viajar de ouvido

Propriedade da Global Notícias, Publicações, SARedação: Avenida da Liberdade, 266 (Ed. Diário de Notícias), 1250-149 Lisboa - Tel.: 213 187 500

Sede: Rua Gonçalo Cristóvão, 195 – 4049-011 Porto; Tel.: 222 096 111; Fax: 222 006 330

DIRETORA Catarina Carvalho

DIRETOR DE ARTE Rui Leitão

EDITOR Ricardo Santos

PRODUTORA Cláudia Carvalho

DESIGN Pedro Botelho, diretor adjunto, Miguel Vieira, coordenador,

Ana Faleiro, Carla Maria Oliveira e Rute Cruz.

FOTOGRAFIA Fernando Marques

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Bárbara Alves, João Ferreira Oliveira, João Mestre,

José Luís Peixoto, José Manuel Diogo,

Leonídio Paulo Ferreira, Nuno Mota Gomes,

Paulo Salvador, Valentina Marcelino (texto),

Jorge Amaral, Leonardo Negrão,

Orlando Almeida (fotografia), Lília Gomes (design)

Helena Ferreira e Rita Bento (copy desk).

ASSISTENTE EDITORIAL Madalena Marques Pinto

COPY DESK Elsa Rocha, coordenadora, Ângela Pereira

e Nuno Carvalho

DIREÇÃO DE QUALIDADE Diogo Gonçalves , diretor, Nuno Espada e Pedro Nunes.

DIREÇÃO DE PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO António Carvalho, diretor ([email protected])

Produção: Jaime Mota, João Pires, José Gonçalves

e Juvenal Carvalho

Distribuição: André Nunes, Martinho Ferreira,

Paula Guerreiro e Raul Tavares diretor adjunto

MARKETING E COMUNICAÇÃO Bruno Patrão, diretor

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DIRECTOR GERAL COMERCIAL Luís Ferreira

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PUBLICIDADE Lisboa:

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INTERDITA A REPRODUÇÃO DE TEXTOS E IMAGENS POR QUAISQUER MEIOS.TIRAGEM DESTE NÚMERO: 11.830

O som de

BRISTOL

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112 VOLTA AO MUNDO

Grémio Geográphico

É uma pequena ilha vulcâ-nica de aspeto paradisí-aco, dominada por uma

montanha rochosa. Encosta aci-ma, anicham-se vários edifícios retrofuturistas com amplas vistas para o mar. A localização é secre-ta; à partida, tudo leva a crer que fique no Pacífico Sul, mas isso é questionável – afinal, trata-se da sede ultrassecreta de uma for-ça internacional de combate ao terrorismo, pelo que essa noção geográfica pode servir apenas para despistar ataques traiçoei-ros. Há até fortes indícios nesse sentido. Desde logo, as palmeiras falsas, já que retraem para os la-dos, para revelar a pista secreta de descolagem do mega-avião de carga Thunderbird 2. Por outro lado, há uma apetecível piscina em forma de oito onde nunca se viu ninguém tomar banho –

talvez por se tratar de uma plata-forma deslizante que serve para esconder o silo de lançamento do avião-foguete Thunderbird 1; ou então, por a ilha não se situar na zona de clima tropical que nos querem fazer pensar, mas sim algures no Atlântico Nor-te. Até porque as missões que dali partem conseguem chegar a Inglaterra num par de horas, o que exigiria voar a 12 mil qui-lómetros/hora.

Esclareça-se, a bem da ficção, que nada disto ainda aconteceu: será só daqui por meio século que o astronauta-milionário- -bom-samaritano Jeff Tracy irá criar a International Rescue. E no ano 2065 tudo pode ser possível – incluindo aviões tri-pulados que atravessam meio planeta em pouco mais de uma hora.

Por essa altura, a ilha Tracy terá uma população de dez ha-bitantes e, apesar de não estar aberta a visitantes, terá um mo-nocarril que faz um tour dos hangares secretos esculpidos na rocha vulcânica, bem como quartos de hóspedes de arquite-tura hitech e mesa sempre farta, preparada pelas mãos de fada da avozinha Tracy. A política de vistos não é clara, mas sabe-se que crianças travessas são po-tenciais convidados. O nosso planeta estará em boas mãos.

Em 2015, a série de animação com

marionetas Thunderbirds cumpre

50 anos – o primeiro episódio foi

para o ar em setembro de 1965.

Para assinalar a data, o canal ITV

lançou o remake Thunderbirds Are Go, ainda sem data de estreia para

Portugal.

Ilha Tracyatlas imaginário

OCEANOATLÂNTICO

LE SAUGEAISMundos imaginários, bizarrias geográficas e outras curiosidades

de bolso. Por João [email protected]

Arquitetura hitech, cenário de postal, localização desconhecida, zero multidões. O sítio perfeito para umas férias no paraíso. Ou para o quartel-general de uma megaforça que quer salvar o mundo.

A anedota fundadoraLE SAUGEAIS46° 59’ 33.58”, 6° 27’ 42.35”

No Leste de França há uma república espe-

cial, Saugeais, fundada com base numa graçola. O responsável: Georges Pourchet, dono de um res-taurante na capital Mont-benoît. Em 1947 recebeu a visita do prefeito de Doubs e interrogou-o sobre o vis-to para entrar em Saugeais. O político alinhou na brin-cadeira e Pourchet, de tão convincente, foi declarado presidente da república.Saugeais existira no século xii, em terras doadas para construção de uma abadia. Vieram colonos da Saboia, com sua cultura, dialeto e tradições. Em 1199, uma bula papal reconheceu a independência do terri-tório. Daí até à piada fun-dadora não houve história. A abadia está lá, é um dos atrativos, a par das paisa-gens e dos queijos.Os 5 mil habitantes vi-vem em paz com o facto de serem franceses e não estão interessados na in-dependência. Orgulhosos da dupla nacionalidade e defensores da sua terra, referem no hino nacional que podem pegar fogo aos suecos (que invadiram em 1639) se estes lá voltarem a aparecer.

lupa geográphica

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113VOLTA AO MUNDO

r CEMITÉRIO DE AVIÕES, EUA

32°08’60”N 110°50’09”W

A Base da Força Aérea de Davis-Monthan, em

Tucson (Arizona), é um gigantesco cemitério de

aviões. São mais de quatro mil aeronaves

reformadas.

É TRUTA OU CHOCOLATE?

Limão, chocolate, morango. Dizem os entendidos que a qualidade de uma geladaria se mede por estes três sa-bores clássicos. Não faltarão, decerto, na carta da Geladaria Coromoto, mas não é a eles que a casa de Santiago de los Caballeros, na Venezuela, deve a fama internacional. O total de sabores difere consoante a fonte, mas a verdade andará algures entre os 600 e os 900, coisa para o Guinness certificar como a maior do mundo. Na hora de criar tantos gelados diferentes, o emigrante portu-guês Manuel da Silva Oliveira teve de inventar um pouco. Aliás, muito: truta fumada, salsicha, cerveja, alho, cou-rato e sardinha são algumas das variedades, disponíveis consoante a época. O maior sucesso? Há muitos, mas diz--se que o gelado de atum com pedaços é de comer e cho-rar – por mais ou por «nunca mais!», depende do cliente.

W illem Barentsz tentou três vezes e morreu a tentar.

Vitus Bering também se aven-turou e de igual modo ficou pelo caminho. O primeiro tem um mar batizado em sua honra. E o outro ficou com o nome perpetu-ado no estreito que separa a Ásia da América. A David Melgueiro restou-lhe uma rua secundária

em Lisboa. Quando ele, segun-do consta, tentou e conseguiu: em 1660, terá cruzado o oceano Ártico pela Passagem Nordeste, feito inédito por esses tempos. A primeira travessia documen-tada da rota que liga o Norte da Europa ao Pacífico foi feita pelo nórdico Adolf Nordeskiöld, em 1879. Sublinhe-se o pormenor «documentada»: é que sobre a viagem de Melgueiro (e sobre o próprio) pouco se sabe. Aquilo que circula foi transmitido por um marinheiro de Le Havre que o acompanhou até à morte. Este terá contado a aventura ao di-plomata francês Signeur de la Madelène, estacionado no Porto com o objetivo de espiar os avan-ços náuticos portugueses. E o diplomata terá sido assassinado quando regressava a França para entregar as novidades em mão.É certo que tudo tresanda a teoria da conspiração, mas a história

apresenta detalhes de plausi-bilidade, nomeadamente o se-cretismo que envolvia qualquer nova descoberta e o facto de se ter tratado de um ano anormalmente quente no Ártico. Diz a história (ou a lenda) que o capitão Melgueiro, ao serviço da marinha holandesa, terá saído do porto japonês de Kagoshima, ao comando do navio Padre Eterno, carregado de especiarias, riquezas e passageiros. Ciente dos perigos dos mares do Sul (piratas e arma-das inimigas), o português voltou costas à Rota do Cabo e navegou pelos mares nunca dantes nave-gados do Norte. Após a travessia do estreito de Bering, terá avista-do as ilhas Svalbard e daí descido para o Atlântico. Fez escala na Holanda e, noutro navio, seguiu para Portugal, tendo concluído a viagem no Porto, sua cidade natal e última morada. Um homem do Norte, só podia.

5 descobertas curiosas no Google Maps*E agora...

o mundo é um estranho lugar

para o esquecimento e mais além

!

David MelgueiroNavegador(?-1673?)

eA SUB-SUB-SUB--ILHA, CANADÁ

69°47’33”N 108°14’28”W

Uma ilha num lago, dentro de uma outra ilha, num outro lago, que por sua

vez fica na ártica Victoria Island - matrioska da

limnologia (ciência que estuda lagos).

t O COELHO GIGANTE, ITÁLIA

44°14’40”N 7°46’10”E

Media mais de 60 metros este coelho cor-de-rosa, obra do coletivo vienense Gelitin. Levou cinco anos a fazer nos arredores da

estância de esqui de Artesina. Já lá não está.

u UM BARCO NA CIDADE, HONG KONG

22°18’15”N 114°11’24”E

Foi construído para parecer um iate de 90

metros encalhado entre prédios. O The Whampoa

é um centro comercial de trezentas lojas em

Kowloon.

i POR FIM, O WALLY, BÉLGICA

51°13’57”N 4°24’42”E

Levou anos, mas cá está ele. A personagem criada

por Martin Handford foi replicada no pátio de uma escola de Antuérpia, por

iniciativa de uma professora e dos alunos.

* A

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Page 114: Volta ao Mundo - Setembro 2015

Última Chamada

RU

I OLI

VEI

RA

viajamos até ao futuro. Não são necessários anos-luz nem teletransporte. Basta uma curta viagem de avião para termos um vislumbre daquilo que nos espera. Venha connosco.

No próximo mês

Page 115: Volta ao Mundo - Setembro 2015

CORPORATE EXPERIENCEEm pleno campo Alentejano, perto das mais belas praias do país, são 81 hectares de Natureza na Rota Vicentina, próximo da Zambujeira do Mar e de Vila Nova de Milfontes, o local ideal para realizar todo o tipo de eventos de uma forma diferente e original.

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Page 116: Volta ao Mundo - Setembro 2015