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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Educação
A inclusão na Educação Infantil em uma escola da Rede de Ensino da
Prefeitura de Belo Horizonte vista pelos seus protagonistas
“ - Você sabe o que é Criança Deficiente?
- É criança, professora!”
GRAZIELLE VIEIRA MAIA DE CASTRO
Belo Horizonte 2011
GRAZIELLE VIEIRA MAIA DE CASTRO
A inclusão na Educação Infantil em uma escola da Rede de Ensino da
Prefeitura de Belo Horizonte vista pelos seus protagonistas
“ - Você sabe o que é Criança Deficiente?
- É criança, professora!”
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC Minas, como exigência parcial para a obtenção de título de Mestre em Educação.
Orientadora: Prof. Dra. Magali Reis
Belo Horizonte
2011
FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Castro, Grazielle Vieira Maia de C355i A inclusão na Educação Infantil em uma escola da Rede de
Ensino da Prefeitura de Belo Horizonte vista pelos seus protagonistas: “- Você sabe o que é criança deficiente? – É criança professora!” / Grazielle Vieira Maia de Castro. Belo Horizonte, 2011.
144f.: il. Orientadora: Magali Reis Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Educação. 1. Educação de Crianças. 2. Educação especial. 3. Educação
Inclusiva. I. Reis, Magali. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Educação. III. Título.
CDU: 376(815.11)
Grazielle Vieira Maia de Castro
A inclusão na Educação Infantil em uma escola da Rede de Ensino da Prefeitura de Belo Horizonte vista pelos seus protagonistas
“ - Você sabe o que é Criança Deficiente? - É criança, professora!”
Dissertação apresentada como exigência parcial para a obtenção de título de Mestre em Educação, pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da PUC Minas.
Prof. Dr. Magali Reis – PUC Minas Orientadora
_______________________________________________________________
Carlos Roberto Jamil Cury – PUC Minas _______________________________________________________________
Maria Isabel de Oliveira e Silva – UFMG
Belo Horizonte, 09 de junho de 2011.
Este trabalho se estabeleceu em defesa de uma educação de qualidade para todas as crianças.
AGRADECIMENTOS
Em primeiríssimo lugar, agradeço a todas as crianças que passaram em minha
trajetória profissional e, em especial, agradeço às crianças da EMPJB que me receberam
com tanta afetuosidade. Todas contribuíram de alguma forma para alimentar meu desejo
por reflexões e uma postura cada vez mais a favor de uma educação de qualidade para
elas.
Agradeço à professora Magali, que tão pacientemente, didaticamente e
profissionalmente conduziu meus passos por uma caminhada dialógica com as
infâncias. Agradeço por cada aula participada e por cada orientação recebida, pelo
exemplo profissional e pela ética com que tratou todas as questões e implicações por
nós vivenciadas.
Aos demais professores da PUC-Minas, da UFMG, do CEFET e da UEMG
pelos conhecimentos possibilitados! Às professoras Isabel de Oliveira e Silva e Iza
Rodrigues da Luz, assim como à professora Maria do Carmo Xavier, pelas
considerações específicas sobre minha pesquisa. E ao professor Carlos Roberto Jamil
Cury, que aceitou participar de minha banca de defesa desta dissertação, além de
possibilitar muitos saberes ao longo do trajeto do mestrado!
Agradeço ao meu esposo, Fernando de Castro, que companheiramente esteve
nas trilhas deste investimento intelectual, sempre com motivação, compreensão, amor e
considerações que ampliavam minhas reflexões.
Agradeço aos meus familiares: meu pai, que me apoia e investe nos meus
desejos; minha mãe, educadora que me influenciou desde a gestação pelos campos da
educação; minha avó Maria, educadora Mor! Minhas irmãs, Jaqueline e Patrícia, pelo
companheirismo e escuta, acolhendo minhas angústias e renovando minhas energias
para a continuidade; minha mãezinha Lulu, pelo colo sempre disponível. Aos meus
sogros, cunhados, tias, primas e primos pela compreensão e apoio nas minhas escolhas.
Agradeço também aos profissionais da Escola Municipal Professor José Braz
que acolheram minha proposta de pesquisa com imediata abertura, favorecendo meu
crescimento profissional através das reflexões permitidas e pelas oportunidades de
convivência sincera com todos os desafios do contexto educacional da instituição.
Agradeço a minha amiga Nagibe, seu esposo e filha – Rivero e Ana Laura, pela
plena parceria para com todos os meus sonhos. Sem Nagibe, este momento seria
impossível.
À minha grande referência profissional Beth Accioly, educadora comprometida
com a qualidade do ensino e desafiadora dos comodismos! Profissional que acreditou
em meu potencial e possibilitou meu crescimento.
Aos meus amigos Jéferson e Rachel, que me escutam, acolhem e apontam luzes
na escuridão dos conflitos que me assolam.
Aos colegas do mestrado que muito contribuíram para minha formação com suas
participações, tolerâncias, posicionamentos e reflexões. Obrigada, principalmente,
Ângela, Maria Célia, Joaquim, Pollyanna, Juliana, Geraldo, Dudu e Marco Aurélio!
Aos colegas de trabalho da Jasmim, que continuam a acreditar no meu trabalho,
apesar de tantas ausências. E aos colegas da Unipac, pela parceria!
O Que É, O Que É? Composição e Interpretação: Gonzaguinha
Eu fico Com a pureza Da resposta das crianças É a vida, é bonita E é bonita... Viver! E não ter a vergonha De ser feliz Cantar e cantar e cantar A beleza de ser Um eterno aprendiz... Ah meu Deus! Eu sei, eu sei Que a vida devia ser Bem melhor e será Mas isso não impede Que eu repita É bonita, é bonita E é bonita... E a vida! E a vida o que é? Diga lá, meu irmão Ela é a batida De um coração Ela é uma doce ilusão Hê! Hô!... E a vida Ela é maravilha Ou é sofrimento? Ela é alegria Ou lamento? O que é? O que é? Meu irmão... Há quem fale Que a vida da gente É um nada no mundo É uma gota, é um tempo Que nem dá um segundo... Há quem fale Que é um divino Mistério profundo É o sopro do criador Numa atitude repleta de amor...
Você diz que é luxo e prazer Ele diz que a vida é viver Ela diz que melhor é morrer Pois amada não é E o verbo é sofrer... Eu só sei que confio na moça E na moça eu ponho a força da fé Somos nós que fazemos a vida Como der, ou puder, ou quiser... Sempre desejada Por mais que esteja errada Ninguém quer a morte Só saúde e sorte... E a pergunta roda E a cabeça agita Eu fico com a pureza Da resposta das crianças É a vida, é bonita E é bonita...
RESUMO
Nesta pesquisa investigamos o trato com as diferenças a partir do ponto de vista das crianças e
professores de uma escola municipal de educação infantil de Belo Horizonte. Buscamos
compreender como se estabelece a inclusão em função da política governamental que garante
vagas a todos os sujeitos com necessidades educacionais especiais de forma compulsória nas
escolas. Abordamos as concepções de infâncias e socialização para entender as dinâmicas que
se apresentaram no ambiente escolar, compreendendo as questões sobre a inclusão nas
relações escolares da etapa da Educação Infantil. Analisamos o contexto da Educação Infantil
e da Educação Especial historicamente, de forma a compreender a construção do direito à
escolarização dos sujeitos menores de sete anos de idade. Descrevemos aspectos do convívio
e do confronto das diferenças na rede de ensino do município de Belo Horizonte. Destacamos
a percepção das crianças e dos adultos de uma escola da rede municipal de ensino selecionada
para as observações de campo. Refletimos sobre a percepção distinta de crianças e adultos,
porém, enfocamos as vozes das crianças, colocando em evidência sua facilidade para lidar
com as diferenças, na contrapartida de professores e profissionais que, além de permanecerem
alheios às visões das próprias crianças, apresentaram conflitos pessoais frente à
impossibilidade de obter resultados mais significativos nos procedimentos educacionais com
todas as crianças. Optamos pela etnografia como metodologia de trabalho, de forma a permitir
uma abordagem qualitativa para se compreender o contexto proposto de forma plena,
favorecendo a participação das crianças e não realizando apenas uma pesquisa sobre as
crianças. A partir de roteiros de entrevistas, ouvimos crianças, professores, demais
profissionais da escola e do Núcleo de Inclusão da Secretaria de Educação do município.
Consideramos que, apesar do dilema da inclusão permanecer complexo, colocamos em
destaque a resposta das crianças para que haja efetivamente a garantia de uma escola para
todos.
Palavras chaves: Infâncias. Inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais.
Educação infantil. Sociologia da infância.
ABSTRACT
In this interview, we have investigated how to deal with differences from the point of view of
children and teachers in a children’s education municipal school located in Belo Horizonte.
We have made an effort to understand how to establish the inclusion, from the government
politics, to guarantee places in these institutions for children bearing educational especial
needs, in a compulsory way. We have approached the conceptions of childhood and
socialization to better understand the dynamics we had to face for the comprehension of
questions concerning the inclusion of school relationships in the various phases of children’s
education. We have historically analysed the context of Children’s Education and of the
Especial Education so as to understand the construction of the right to study, especially for
children under seven years of age. We have described the school children’s sharing of
experiences and the facing of differences, including the municipal schools of Belo Horizonte.
We have paid especial attention to the perception of children and adults in a municipal school
specifically selected for camp observation. We have reflected upon the distinct perception of
children in relation to the adults’: mainly the way children spoke, showing their natural
capacity of dealing with differences, whereas teachers and other professionals, who seemed
not to have been touched by the visions of the children themselves, showed internal conflicts,
when confronted with the impossibility of obtaining more significant results from their
educational procedures from all the children. We have decided for the ethnography as a work
methodology in order to produce a more qualitative approach when seeking to fully
understand the proposed context, making it easier for the children to participate actively in our
project, instead of simply being the subjects of our investigation. From our set of interviews,
we have had the opportunity to hear children, teachers and other school professionals, as well
as those from the Center of Inclusion of the City’s Educations Department. We consider that,
although the dilemma of inclusion seems to remain complex, we have highlighted the
children’s response so that we can really make sure there is a school for all.
Key-words: Childhoods. Inclusion of subjects with especial educational needs. children’s
education. Childhood sociology.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Francesco Tonucci – Qual deles é surdo?...................................................12
Figura 2 Francesco Tonucci – Quando eu for grande................................................19
Figura 3 Francesco Tonucci – (1980) Uma Creche para estar juntos........................30
Figura 4 Francesco Tonucci – A criança tem um corpo e uma história.....................49
Figura 5 Vista da região onde a escola está situada.................................................70
Figura 6 Vista da entrada da escola..........................................................................71
Figura 7 Francesco Tonucci – (1976) É necessário determinar aqueles que são diferentes...................................................................................................................74
Figura 8 Pátio da escola............................................................................................78
Figura 9 A casinha.....................................................................................................78
Figura 10 O piso emborrachado no pátio...................................................................79
Figura 11 O pátio depois da reforma..........................................................................79
Figura 12 Francesco Tonucci – A creche não é um cabideiro...................................89
Figura 13 Francesco Tonucci – (1974) A avaliação (1)............................................100
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AEE – Atendimento Educacional Especializado
AEEL – Auxílio Extra Escolar com Libras para estudantes surdos
BH – Belo Horizonte
CAPE – Centro de Apoio Pedagógico Especializado
CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação
CONSED – Conselho Nacional de Secretários de Educação
CONTEE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino
EMPJB - Escola Municipal Professor José Braz
FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná
FNCEE – Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação
GERED Barreiro - Gerência Regional de Educação do Barreiro
GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
MIEIB – Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil
OMEP – Organização Mundial para Educação Pré-Escolar
PBH - Prefeitura de Belo Horizonte
SEED – Secretaria de Estado da Educação
SEESP – Secretaria de Educação do Estado de São Paulo
SESU – Secretaria de Educação Superior (MEC)
SETEC – Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (MEC)
SMED/BH – Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte
UMEI’s – Unidades Municipais de Educação Infantil
UNCME – União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação
Undime – União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
Figura 1
Fonte: Tonucci, 1997.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13
2 PESQUISA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A PARTICIPAÇÃO DA S CRIANÇAS: A
METODOLOGIA DESTA PESQUISA...............................................................................
200
3 AS INFÂNCIAS E A SOCIALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS ...... .....................................31
3.1 A infância: um conceito em permanente transformação .............................................31
3.2 Contribuições da Sociologia da Infância ........................................................................ 37
3.3 A criança participativa: a socialização na escola da infância....................................... 42
4 CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL E DA EDUCAÇÃO ESPEC IAL ............. 50
4.1 A construção social da infância: do direito à Educação Infantil.................................. 50
4.2 O convívio e confronto das diferenças ............................................................................ 63
4.3 A Escola Municipal Professor José Braz........................................................................ 69
5 E A VIDA, ELA É MARAVILHA OU É SOFRIMENTO?....... ..................................... 75
5.1 “A gente dá a mão a ele, aí ele vai”: a perspectiva da criança ..................................... 75
5.2 “A gente não é preparado para receber esses alunos”: a perspectiva dos adultos..... 82
6 EU FICO COM A RESPOSTA DAS CRIANÇAS........................................................... 90
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 101
ANEXOS ............................................................................................................................... 113
13
1 INTRODUÇÃO
Atuar na Educação Infantil se apresenta no Brasil contemporâneo como um
compromisso com a gênese da escolarização das crianças enquanto sujeitos de direitos.
Reconhecer a relevância desta etapa da formação básica passou a exigir profunda reflexão no
sentido de garantir cuidado e educação na infância. A possibilidade de construções
significativas e ativas de conhecimentos e socializações foi a marca impressa pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9394/96. Esta Lei assegurou inclusive à
nossa realidade escolar o direito das crianças com necessidades educacionais especiais
conviverem e ampliarem seus níveis cognitivos e sócio-afetivos, uma vez que as vagas foram
garantidas nas escolas públicas.
Ao longo de nossa trajetória profissional como docente na Educação Infantil das redes
particular e pública, a nova legislação representou grande avanço social para a população
brasileira, mas não descrevia naquele momento de implementação, nem regularizava, a
estrutura da educação a ser ofertada às crianças com necessidades educacionais especiais.
Durante esse percurso, pudemos observar, como professoras, que crianças foram recusadas
nas escolas públicas por falta de rampas e elevadores. Nesse sentido, também, não foi menos
decepcionante presenciar cadeirantes, crianças com microcefalia ou com Síndrome de Down
serem discriminadas do trabalho docente por serem “deficientes”.
Já em outro contexto, atuando como docente e coordenadora na Educação Infantil da
rede particular, esta realidade despertou em nós uma curiosidade intelectual para entender por
que alguns professores recusavam-se a trabalhar com crianças com necessidades educacionais
especiais de um lado e, de outro, o engajamento de diretores com quem convivia na busca por
uma educação de qualidade e significativa, para todas as crianças, segundo a qual todos
tivessem a oportunidade de desenvolvimento pleno. Essa experiência vivenciada engrandeceu
o desejo pela pesquisa em outras realidades a fim de verificar como o projeto governamental
de inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais estava acontecendo na
educação infantil1. Compreendemos que, apesar da escola e do Estado adotarem ações
políticas na construção de uma educação de qualidade para todos, o sucesso da inclusão
depende do vínculo estabelecido com a família e com as demais instituições que acompanham
1 Trataremos a política governamental de inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais no sistema de ensino, e na escola comum, doravante apenas como inclusão.
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as crianças com necessidades educacionais especiais. Porém, com o desenvolvimento desta
pesquisa observamos que nem sempre as relações se constituem de forma a facilitar este
processo em benefício da criança.
Adotamos em nossa trajetória profissional como filosofia de trabalho uma atenção
àqueles que apresentam dificuldades no contexto escolar e limitações físicas, neurológicas ou
outras. Assim, sempre procuramos favorecer com mais empenho e mais ações àqueles que
mais apresentavam dificuldades. Essa atitude para nós era um desafio! Começamos a indagar
como estava acontecendo a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais na
educação infantil, na rede pública de Belo Horizonte. Cidade que apresentava importantes
projetos educativos, como a Escola Plural2, que é uma experiência da década de 1990 que
favorecia o trabalho escolar em ciclos de aprendizagem, superando a lógica da seriação com
aprovação por nota e de total responsabilidade pedagógica sobre o aluno, bem como
centrando-se na aprendizagem, nas experiências dos discentes e na formação integral dos
estudantes e profissionais. Belo Horizonte (BH) apresenta uma Secretaria Municipal de
Educação (SMED) estruturada3 para dar atenção à sua população e tem condições financeiras
e recursos humanos para oferecer uma educação pública de qualidade.
Outras indagações foram sendo delineadas: existiam formas diferentes de relações, de
experiências pedagógicas ocorrendo? Como a inclusão estava realmente acontecendo em uma
rede pública de ensino, que atende grande parte da população infantil da cidade –
praticamente 11,5% das 33,8% crianças matriculadas na pré-escola4? Como esta rede, que já
implementou e garante a matrícula das crianças com necessidades educativas especiais na
escola pública, faz para promover o ensino a esta população específica? Há encontros entre
membros da secretaria, professores e pais para refletir sobre a aprendizagem das crianças?
Como, de fato, tem ocorrido a inclusão? E, por fim, sendo a criança um sujeito com direitos5
reconhecidos, como ela própria pensa a inclusão? O que manifesta sentir, o que considera de
positivo e negativo neste novo desafio do processo de escolarização?
2 Apesar da inovadora proposta de trabalho pedagógico em ciclos, a Escola Plural não perdurou, conforme apontou Miranda (2007), sendo considerada por muitos como polêmica por ter procurado romper com a cultura tradicional da escola pública, implementando uma concepção de educação mais ampla, democrática, inclusiva, plural, que levasse “em conta múltiplas dimensões da formação da pessoa humana e na qual as crianças das classes populares tivessem condições de ser bem-sucedidas. Buscava-se responder aos desafios presentes nas políticas públicas para expandir o Ensino Fundamental e, especialmente, melhorar a qualidade da escola pública”, porém as práticas tradicionais já estavam arraigadas e o temor dos professores pela não reprovação prejudicaram a implantação do programa. 3Conforme pode ser verificado na estrutura do funcionamento da Secretaria, nos anexos. 4 A Prefeitura de Belo Horizonte pretende atender 59.192 crianças de 0 a 5 anos e 6 meses, em rede própria, até 2012, ampliando esse percentual de 11,5% para 44,4%. Dados disponíveis em Belo Horizonte, 2011 e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2011. 5 Constituição Federal de 1988, Art.227 e ECA de 1990.
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Estabelecemos, portanto, como objetivo geral investigar o trato com as diferenças a
partir do ponto de vista das crianças e dos professores, em uma escola municipal de educação
infantil de Belo Horizonte e, especificamente, desejávamos:
a) Identificar se as crianças percebiam as diferenças presentes na sala de aula, e se
percebiam, como percebiam;
b) Observar e caracterizar as práticas educativas dos professores, ditas inclusivas,
indagando sobre: suas posturas pedagógicas com relação às crianças com necessidades
educacionais especiais; os problemas e dificuldades encontrados; e como suas ações
eram articuladas em relação a todas as crianças;
c) Caracterizar os possíveis vínculos sociais, culturais e afetivos estabelecidos,
nas relações criança-criança, adulto-criança, adulto-adulto.
Ressaltamos que inicialmente investigamos sobre pesquisas acadêmicas já realizadas
com o tema da inclusão na Educação Infantil e localizamos apenas um professor brasileiro
que tem feito investimentos sobre esta questão. Contudo, seus trabalhos condensam a
Educação Infantil junto aos anos iniciais do Ensino Fundamental e envolve todos os níveis de
ensino da educação brasileira. O professor José Geraldo Silveira Bueno é professor na
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e desde 2006 participa do grupo de pesquisas
da pós-graduação dessa instituição cuja linha é a Inclusão/exclusão escolar e desigualdades
sociais.
Na procura de uma metodologia que pudesse dar visibilidade a perspectiva dos
incluídos e seus pares, optamos pela etnografia com as crianças e não sobre as crianças,
conforme autores como Fernandes (1979), Martins (1993), Corsaro (2005) e Montandon
(2001; 2005), entre outros, já vêm fazendo. O nosso nível de participação plena no campo só
foi possível pela aceitação dos professores da escola, assim como dos demais profissionais,
das famílias e das próprias crianças que me tiveram como uma adulta diferente, por ficar
direto com elas nos recreios, no lanche, nos momentos de pátio pelo chão, na sala, isto é, em
todos os espaços onde as crianças estavam. Os resultados deste estudo serão analisados nesta
dissertação, organizada em cinco capítulos.
No capítulo seguinte a esta introdução, apresentamos a metodologia do trabalho,
destacando a pesquisa etnográfica com suas características. Apresentamos também os
trabalhos de Montandon (2001; 2005), de Corsaro (2005), de Sirota (2001; 2005) como
embasamento para a ação enquanto pesquisadores das infâncias, pois neles se escutou as
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crianças, possibilitando que suas vozes fossem de fato ouvidas. Suas contribuições na
perspectiva de ouvir o que as crianças tinham a dizer influenciou consideravelmente os
estudos realizados por nós. Ainda nesta parte do trabalho, destacamos a busca pelo campo
para a pesquisa prática, sua organização e desenvolvimento embasadas pelas contribuições de
Qvortrup (2010), Reis (2007; 2009), Plaisance (2004; 2005), Rayou (2005), Rockwell (1990),
Cruz (2008), Gullestad (2005), Javeau (2005), Mollo-Bouvier (2005), Tosta (2007), Caldeira
(1998), Fazzi (2000), além das observações registradas no caderno de campo.
No terceiro capítulo, abordamos os conhecimentos teóricos que fundamentaram esse
investimento intelectual, apresentando as concepções sobre Infâncias e Socialização e a
complexidade da permanente transformação destes conceitos. Destacamos as contribuições de
Rousseau (2004) e Durkheim (2001) para esta construção teórica. Abordamos também as
elaborações teóricas contemporâneas de Ghiraldelli Jr. (2000), Reis (2007), Cambi (1999),
Sarmento (2005), Montandon (2001; 2005), Belloni (2007; 2009), Goulart (2008), Plaisance
(2005), Mollo-Bouvier (2005), Ariès (1986), Kramer (2006) e Silva (2010) para compreender
as dinâmicas que corroboraram na construção do protagonismo das crianças e suas infâncias.
O quarto capítulo contemplou o contexto da Educação Infantil e da Educação
Especial. Descrevemos sobre a construção social do direito a esta etapa da formação, hoje
considerada obrigatória e gratuita no ciclo básico de estudos dos brasileiros. Descrevemos
sobre o convívio e o confronto das diferenças, inclusive na rede municipal de BH. E
apontamos, por fim, as complexidades sociais, políticas, pedagógicas envolvidas na escola
que se prontificou a participar desta pesquisa – Escola Municipal Professor José Braz, que
será chamada daqui em diante por EMPJB. Neste capítulo, nos embasamos nas reflexões de
Bujes (2003), Bobbio (1992), Telles (1999), Rosemberg (1995), Scherer (2009), Cerisara
(1999), Faria e Palhares (1999), Godoy (1997), Santos e Vieira (2006), Kramer (1984) e
Khulmann Jr. (2000). Analisamos os documentos da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
(PBH, 2009) e o Projeto Político Pedagógico da Escola (PPP, 2006) para perceber a
construção do direito à Educação da Infância na cidade de Belo
Horizonte. Assim como, resgatamos as considerações de Rousseau (2004) para compreender a
percepção histórica de construção do direito à educação.
No quinto capítulo, destacamos primeiramente a percepção das crianças, para em
seguida ouvir os adultos envolvidos na escolarização daquele contexto pesquisado –
professoras, equipe administrativa, demais funcionários da escola e da rede, pais.
Apresentamos suas considerações sobre a diferença, a convivência, a aprendizagem e
especialmente sobre a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais na escola
17
comum. Recorremos às contribuições de Corsaro (2005), Fernandes (1979), Montandon
(2001; 2005), Kramer (1984), Rosemberg, Campos e Ferreira (1995) e Khulmann Jr (2000)
como suporte teórico para nossas reflexões.
Finalmente, nas considerações finais, destacamos a completa abertura das crianças
para a convivência, a partir de suas próprias falas e ações, independente dos desafios
apresentados, mas permeadas das concepções, dos anseios e das imposições dos adultos,
principalmente das suas professoras. As professoras, por sua vez, apresentaram alta
especialização, analisada através da pesquisa documental e dos depoimentos delas próprias,
quando pudemos verificar que um número significativo de professoras possui várias pós-
graduações lato-sensu. Porém, através de análise mais detida dos documentos pudemos
constatar que, a despeito da alta especialização, há ainda falta de sintonia com os desafios do
seu cotidiano e da inclusão, como será analisado mais adiante.
Pudemos destacar a complexidade em que se encontra o processo de inclusão na rede
de educação da PBH: ações ainda desarticuladas de seus profissionais, assistindo-se, de um
lado, a defesa por parte do Núcleo de Inclusão6 do acolhimento de crianças com necessidades
educacionais especiais a partir de um trabalho pedagógico direcionado tanto a elas como às
demais crianças de cada turma. E do outro lado, professoras que não sabem como conduzir a
dinâmica da sala de aula com as diferenças a serem consideradas e a equipe técnica da escola
que tem encontrado sérias dificuldades para incorporar na dinâmica de seu trabalho a
perspectiva de um trabalho inclusivo.
Surgiram novos questionamentos que foram se constituindo durante o processo
investigativo: Como as crianças agem em relação aos diferentes? Estão abertas, são
acolhedoras e ativas, ou não? Existem no âmbito do trabalho pedagógico práticas educativas
inclusivas? Se existem estas práticas são construídas pelas singularidades de seus agentes?
Como uma rede pública de ensino poderia realmente contemplar a perspectiva formativa de
sua equipe profissional em prol de sistemas eficientes de ensino/aprendizagem, valorizando a
todos sem distinção?
Ao buscar respostas a estas e outras questões, novas descoberta puderam ser feitas,
embora nem todas as indagações iniciais tenham sido respondidas. O acúmulo do
conhecimento sobre a infância e sua educação indica que há perspectivas teórico-
6 O Núcleo de Inclusão foi criado pela PBH para apoiar as pessoas com necessidades educacionais especiais, assim como aos professores que atenderiam as esses sujeitos, num acompanhamento sistemático às escolas por regional. Esse Núcleo é composto de 3 profissionais da educação por regional aproximadamente – como no Bairro do Barreiro, regional oeste – e cada regional atende em torno de 12 escolas, pretendendo ajudar o professor, planejar ações e fortalecer os processos de ensino e aprendizagem.
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metodológicas muito distintas coexistindo na Educação Infantil, assim como há pontos de
vista e referenciais por vezes antagônicos no trato com as crianças. Porém, logo que iniciamos
nossa pesquisa um fato chamou a atenção e possibilitou que redimensionássemos nossas
observações. Ao ser apresentada a primeira turma, a professora assim se dirige às crianças: -
Crianças! Esta é a Grazielle, ela está estudando as crianças com deficiência e vai ficar aqui na
sala com a gente. Vocês sabem o que é criança com deficiência? As crianças neste momento
não hesitam e respondem em coro: - É uma criança, professora!
A percepção das crianças de imediato se mostrou tão distinta daquela cristalizada
pelos adultos que passamos a observá-las com mais intensidade, registramos suas ações e
reações frente aos seus pares com necessidades educacionais especiais, suas formas de
acolhimento, seu jeito de lidar com as diferenças. Ao final do estudo, chamamos atenção para
estas especificidades do ponto de vista da criança e embora estejamos solidárias com as
professoras e seus conflitos pessoais frente à impossibilidade de obter resultados mais
significativos nos procedimentos educacionais com todas as crianças, pudemos perceber que,
de modo geral, os adultos ainda permanecem alheios à visão da própria criança e é sobre esta
perspectiva que este estudo se debruça. Assim, destacamos as vozes das crianças a partir do
próprio título deste estudo, procurando colocá-las em evidência, assim como nos apoiamos no
campo de estudos emergente que diz respeito à intersecção entre sociologia e infância.
19
Figura 2 – Quando eu for grande Fonte: Tonucci, 1997
20
2 PESQUISA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A PARTICIPAÇÃO DA S CRIANÇAS: A
METODOLOGIA DESTA PESQUISA
As várias concepções de infância, como representações sociais de determinada idade
em seus contextos, revelam a dinâmica cultural, econômica e política do ocidente. As
dificuldades que os adultos têm sobre a representação e o trato dispensado às crianças foram
marcas do processo educativo que historicamente submeteu as crianças às imposições dos
adultos. Como nos apresenta Qvortrup (2010), falar de infâncias não é apontar para os seres
em “potência” 7 ou as pessoas que serão ou que devem ser integradas à sociedade. Ao se falar
de infâncias, segundo este autor, teremos que retratar, de forma coletiva, questões essenciais à
categoria, enquanto um grupo geracional. Porém, diante do eixo específico de cada
pesquisador, é fundamental adotar o ponto de vista das crianças, recorrendo a mecanismos de
observação e coleta de dados que serão desenvolvidos de acordo com cada finalidade da
pesquisa.
Hoje, dado o apelo legal para a inclusão das diferenças nas instituições de ensino,
várias questões podem ser levantadas quanto à temática:
a) Como as crianças agem em relação aos diferentes?
b) Estão abertas, são acolhedoras e ativas, ou não?
c) Existem no âmbito do trabalho pedagógico práticas educativas inclusivas? E se
existem, estas práticas são construídas pelas singularidades de seus agentes?
d) Há problemas em relação às diferenças no âmbito escolar? Se sim, observa-se a
busca de caminhos significativos para as problemáticas que envolvem as diferenças?
e) Como se articulam os vínculos familiares com a escola?
f) Como as crianças detectam os diferentes em seus pares escolares?
g) Como reagem nesta situação?
h) As crianças detectam desafios na interação social? E se detectam, como são
incentivadas a superar esses desafios?
i) Como é possível perceber a intensidade afetiva nestes contextos?
7 Para Qvortrup, a infância é a potência que permite a renúncia do previsível e ilumina aquilo que não se revela de imediato; é a descontinuidade que permite modificar o cotidiano. A infância coloca o sujeito no lugar de produtor da cultura e, com outros interlocutores, ela acrescenta sentido ao mundo através das suas práticas e falas, conforme analisou GOMES (2010).
21
O advento da escolaridade obrigatória coincide com o desenvolvimento da
preocupação e observação científica em relação à criança de forma orientada
metodologicamente, estabelecendo representações importantes sobre as infâncias
contemporâneas e destacando complexidades particulares no âmago das construções sobre as
realidades sociais. Dessa forma descreve Montandon (2001) em seus estudos, afirmando que é
significativo destacar as modificações das relações estabelecidas com as crianças, pelas
crianças e aquelas estabelecidas a partir delas.
As transformações dos conhecimentos sobre as infâncias provocaram mudanças de
representações da sociedade. Analisando esse processo também como uma construção
histórica e social, buscamos o entendimento sobre como o grupo discente e docente, daquela
instituição acompanhada, percebiam a questão da inclusão, considerando este espaço um local
importante de socialização na infância.
Compreendemos que a concepção de inclusão se apresenta como um desafio à
valorização das diferenças, ao pensamento emancipado do discurso racional e ao universo de
valores que permeiam as reflexões acerca do universo infantil escolar. Com base nesta linha
de pensamento, investigamos o trato com as diferenças a partir do ponto de vista das crianças
e das professoras em uma escola municipal de educação infantil de Belo Horizonte.
Nessa opção metodológica, enfatizamos o encontro com a criança, protagonista deste
estudo. Assim, a investigação utilizou-se de múltiplos referenciais teórico-metodológicos:
ciências sociais, sociologia da infância, história da criança, política para a infância,
antropologia da criança, geografia da infância, filosofia da infância. Buscamos estabelecer
estratégias para ouvir as crianças, que já se apresentam em vários outros estudos: Reis (2009),
Montandon (2001 e 2005), Corsaro (2005), Gullestad (2005), Javeau (2005), Mollo-Bouvier
(2005), Plaisance (2004 e 2005), Rayou (2005), Sirota (2001 e 2005).
Estes autores ouviram as crianças em seus variados investimentos intelectuais
relacionados às infâncias: pesquisa sobre a qualidade da educação, o que as crianças
esperavam de seus pais, das festas de aniversário, dentre outros. Tais investimentos
enfatizaram sujeitos localizados num determinado tempo/espaço/cultura/sociedade/grupo
social que precisavam manifestar seus pontos de vista para que a compreensão do assunto
fosse completa. Assim, ouvir os sujeitos foi o destaque deste estudo etnográfico, que envolveu
22
ao todo aproximadamente8 240 crianças, matriculadas na EMPJB e adultos, a elas vinculados:
os profissionais e os pais/responsáveis pelas crianças.
A escolha desta escola se deu em razão das características de sua localização: região
do Barreiro. Esta regional, segundo a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, em 2006,
contava com cerca de 300 mil habitantes, 9.747 atividades comerciais e de serviços, 355
indústrias e 573 profissionais autônomos, ou seja, é um território com elevada urbanização,
movimentando 40% dos recursos financeiros do município, mas oferecendo apenas 7
Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEIs), 1 escola municipal para a Educação
Infantil e 25 creches conveniadas que atendem crianças na faixa etária dos 0 aos 5 anos de
idade9. O Barreiro pode ser caracterizado, então, por sua imensa extensão urbana, como maior
regional de Belo Horizonte, pelas desigualdades sociais que a compõem e por contemplar
uma Escola Municipal que ainda não fazia parte dos projetos de UMEIs. Portanto, esta
instituição escolar não oferecia as mesmas condições de ensino daquelas UMEIs, conforme o
trecho abaixo ilustra.
As UMEIS foram concebidas, a partir de 2004, com a proposta de construção de
espaço que foi pensado para uma aprendizagem infantil lúdica, interativa e criativa,
possibilitando uma configuração do processo de escolarização distante da perspectiva
tradicional de ensino:
Móveis são projetados para oferecer o melhor desempenho pedagógico. As salas de aulas, amplas e bem ventiladas, são equipadas com armário e pia. O número reduzido de alunos nas turmas facilita a interação e aprendizagem. Todo material é identificado individualmente e, por meio de uma agenda, pais e educadores trocam informações sobre qualquer alteração no dia a dia das crianças... Isso garante aos pequenos oportunidades de vida muito melhores do que as que seus pais tiveram. (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2011).
A partir, então, do objetivo posto de se investigar a inclusão do ponto de vista das
crianças, e em seguida do das professoras, delimitou-se o campo de pesquisa a uma escola de
Educação Infantil Pública de Belo Horizonte. Assim, é relevante destacar a escolha por uma
abordagem qualitativa de pesquisa, pois, a partir desta opção definimos como metodologia de
investigação a etnografia, tendo como procedimentos a observação participante e entrevistas.
A pesquisa etnográfica tem como preocupação revelar elementos que caracterizam as
interações, que possibilitam aprendizagens, que configuram identidades na realidade
8 Aproximadamente porque a escola tinha 6 salas de aulas com 20 crianças cada, funcionando de manhã e à tarde, porém houve transferências de discentes ao longo de todo o ano escolar, tanto saindo como entrando na escola. 9 Mais informações em (BELO HORIZONTE, 2011).
23
estudada. “Pesquisar sobre a educação requer entendê-la como fenômeno dinâmico, complexo
e mutável além de datado historicamente”. (TOSTA, 2007).
Como primeiro ensejo, esta investigação sistemática e específica se estabeleceu a
partir da necessidade de acompanhar todos os momentos do ambiente escolar, observando não
apenas as atitudes, atividades e comentários explícitos, como também as formas menos
explícitas do processo escolar, que possibilitasse o elo afetivo fundamental entre a
pesquisadora e o ambiente social da pesquisa. Foi essencial conquistar a confiança dos
sujeitos envolvidos neste trabalho.
Esta conquista de confiança foi importante, primeiro, porque se trabalhou com
diferentes faixas etárias, crianças e adultos, com peculiaridades diferentes: jeitos de entender
as tarefas escolares, as relações estabelecidas nesta instituição, os usos dos espaços, a
distribuição dos tempos. Segundo porque cada momento do processo escolar poderia
apresentar dados para o problema de interesse apontado: fosse o período de acolhimento,
fosse a fase de avaliações diagnósticas, fossem os recreios, as atividades em sala e nos demais
espaços que se apresentariam, fossem nas reuniões de equipes, com os pais, fossem nas
problemáticas que poderiam surgir. Assim, todas as situações poderiam revelar elementos
para uma possível análise sobre a percepção da inclusão das diferenças na Educação Infantil,
sob a perspectiva de seus protagonistas: as crianças e os professores.
Outra razão para esta estratégia metodológica se fez pela possibilidade de produzir um
trabalho de reflexão conceitual, cujo legado favorecesse a relação entre as teorias e as
descrições acumuladas a partir da observação e interação com o contexto da prática local.
Rockwell (1990) e Qvortrup (2010) afirmam que por não haver uma norma metodológica que
indique quais as técnicas específicas para a investigação, a etnografia exige que se definam os
meios apropriados a partir de cada objeto de pesquisa e campo selecionado, destacando assim
melhores situações de coleta das informações relevantes.
É significativo apontar que todos os dados recolhidos como novos elementos da
investigação tiveram o caráter de favorecer o entendimento da investigação social, buscando
nossa inserção no contexto das relações dos sujeitos, seus comportamentos e suas escolhas no
dia-a-dia da instituição. Ou seja, considerando a situação nos âmbitos interativos da natureza
histórico-sociológica, foi de grande relevância apontar todos os elementos da diversidade que
envolvessem o campo pesquisado.
Fazer pesquisa etnográfica exige estudar o cotidiano – entendido como lugar
privilegiado para a análise social de forma interdisciplinar ou em fronteiras de alguns campos
de conhecimentos em suas múltiplas e complexas dimensões. (CALDEIRA, 1998). Isto é,
24
apreender pessoas, grupos e comportamentos, desenvolvendo um trabalho de campo
sistemático e prolongado, o que é inerente à abordagem de uma vivência densa a qual se
pretende aproximar, interpretar e desnaturalizar.
A pesquisa etnográfica favorece essa interpretação particular e geral (micro e macro;
explícita e implícita) dos elementos do cotidiano no processo real, com procedimentos que
permitem compreender o geral pelo aprofundamento particular de cada caso investigado em
descrições sucessivas e interpretativas, reconstrutoras das redes de relações e tramas das
histórias. Assim, a etnografia tem objetivos científicos bem definidos para favorecer o
mergulho no campo de pesquisa e possibilitar o registro das regularidades que regem sua
constituição social e cultural. Além disso, é plenamente contextualizada e beneficia as
explicitações e comparações para a apreensão de constantes e variáveis que envolvem o
objeto, neste caso, a inclusão na perspectiva de seus protagonistas.
O plano de ação envolveu, primeiramente, a conquista de confiança dos sujeitos desta
investigação, como já foi explicitado anteriormente. Em relação aos adultos, profissionais e
pais/responsáveis, conversamos desde janeiro de 2010 para lhes explicar sobre os interesses e
objetivos, recebendo apoio geral para o desenvolvimento do trabalho. Com as crianças,
seguimos algumas orientações de Corsaro (2005) sobre como aproximarmos delas:
participávamos das brincadeiras que elas construíam no recreio, no pátio e na sala, estávamos
sempre no chão ou em cadeiras iguais as delas para mantermos as suas alturas, lanchávamos
juntas, ou seja, durante todo o horário da aula estávamos juntas. Isso possibilitou que as
crianças nos identificassem como pessoas que queriam estar com elas e não somente com os
adultos, como os demais que visitavam a escola (a representante do Núcleo de Inclusão, a
representante da Coordenação Pedagógica da Regional, a Nutricionista, os Pais, entre outros).
Outro fator de aproximação com as crianças foi nossa facilidade de guardar os nomes
de todas e nos dirigirmos de forma pessoal a elas, o que favoreceu o contato intenso durante
as semanas. Pudemos, então, promover o reconhecimento e a caracterização da unidade
escolhida; caracterizar os sujeitos pesquisados; e elaborar os roteiros10das entrevistas
estruturadas e semi-estruturadas, que foram desenvolvidas para ouvir as crianças, os
representantes das professoras, da diretoria, da secretaria, da vigilância, da cantina, da
limpeza, estagiárias, do Núcleo de Inclusão da PBH. Além destes, escutamos outros sujeitos
10 Cf. Anexo
25
relacionados à escola como os responsáveis pelas crianças que tiveram as vagas garantidas de
forma compulsória11 devido à alguma necessidade educacional especial.
As entrevistas com as crianças foram realizadas ao longo de algumas semanas, de
manhã e à tarde, em alguma sala disponível na escola naquele dia – houve entrevista na
biblioteca, na sala da coordenação e na sala dos professores. Dentre as crianças que não eram
da inclusão, foram selecionadas aquelas cujas famílias assinaram a autorização de
participação, totalizando duas de cada turma, sendo um menino e uma menina, a fim de obter
diferentes pontos de vista. Num momento determinado pela professora, de forma a não
atrapalhar o desenvolvimento das atividades com a turma, as crianças eram convidadas a
conversarem comigo. Todas aceitaram prontamente. Seguimos então com a conversa a partir
do roteiro. Houve casos em que a criança se sentiu tão à vontade que até iniciou uma
brincadeira “Repete, tá?! Paca, tatu; cutia, não!”
As crianças com necessidades educacionais especiais também foram ouvidas, mesmo
aquelas que ainda não se comunicavam pela linguagem oral, normalmente recorriam aos
gestos para complementar suas comunicações e demonstraram muito mais receptividade e
segurança quando estavam com seu grupo etário. No caso dessas crianças, pensamos em uma
metodologia complementar para a obtenção de dados da pesquisa, houve situações no
cotidiano em que recorremos inclusive a outras estratégias lúdicas para alcançar as
informações necessárias – como o uso de alguns brinquedos da sala de aula e da escola,
músicas cantadas por elas, a fim de alcançar a comunicação daquelas que ainda não falavam,
o que não significava que não se expressassem ou se comunicassem, conforme descrevem
Reis (2007) e Cruz (2008).
Nesses momentos, dirigíamos questões sobre a convivência com os colegas e
professores na escola, as aprendizagens já alcançadas e a rotina de cada criança. A partir da
manifestação satisfatória ou não das crianças da inclusão, registrávamos suas considerações
no caderno de campo. Houve criança que ria compulsivamente, demonstrando total vínculo
com os colegas. Houve criança que buscava algum material (folha de trabalhinho e brinquedo
preferido) para demonstrar sua participação nas tarefas propostas. E houve criança que ficava
atenta aos colegas, depois pegava algum objeto para observar mais detalhadamente, indicando 11 Há casos em que a vaga é garantida por determinação da Secretaria de Educação: qualquer família que lá chegue com um laudo médico da criança procurando vaga, os profissionais devem procurar a escola mais próxima à residência da família e emitir um documento para a escola estabelecendo a obrigatoriedade de se efetivar a matrícula daquela criança. Sendo a escolarização em instituições regulares de ensino um direito público subjetivo, as famílias já saem orientadas pelo hospital que atende às suas crianças a procurarem à Secretaria de Educação. Ou seja, as famílias não precisam interceder por seus direitos em instâncias jurídicas, a própria prefeitura garante o direito através da matrícula compulsória.
26
sua curiosidade e inserção nas conversas propostas ou imitava os comportamentos de alguns
de seus pares.
Em relação aos adultos, as entrevistas realizaram-se nos mesmos espaços (sala de
professores, biblioteca e sala da coordenação) e dependo da disponibilidade do sujeito no dia,
as mesmas se estenderam por mais algumas semanas. Procuramos flexibilizar os horários de
acordo com as particularidades de cada um que se prontificava a concedê-la. Porém, nem
sempre a maleabilidade resultava em um retorno positivo, como por exemplo um pai que
pediu para enviar a entrevista por e-mail, mas não quis responder depois. Em relação aos pais
das crianças da inclusão, seis foram convidados, correspondendo ao total de crianças
matriculadas naquele ano compulsoriamente sob o critério da inclusão. Desses, quatro
participaram da entrevista e dois não quiseram ser entrevistados, e não externaram as suas
motivações para a recusa.
Destacamos que conforme Kramer (2002) descreveu que em pesquisas feitas com
crianças numa abordagem qualitativa, a questão dos nomes se tornou uma dificuldade: devia-
se apresentar os nomes verdadeiros e expor as crianças – contrário ao que impõe o Estatuto da
Criança e do Adolescente – mas garantindo a autoria em uma pesquisa que almejou dar voz
aos sujeitos pesquisados? Segundo a autora, de antemão deve se recusar alternativas tais como
usar números, mencionar as crianças pelas iniciais ou as primeiras letras do seu nome, pois
isso negava a sua condição de sujeitos, desconsiderava a sua identidade, simplesmente
apagava quem eram e as relegava a um anonimato. Para não comprometer a forma da escrita
do nosso trabalho e prejudicar a narração dos fatos e sem revelar a identidade das crianças,
seguimos a orientação de Kramer (2002) e decidimos pedir para as crianças escolherem os
nomes com que queriam aparecer na versão oficial do trabalho. E, para aquelas que ainda não
falavam ou quiseram manter seus nomes, optamos por citar nomes que apareceram nas suas
brincadeiras ao longo da observação de campo. Permanece assim o anonimato das crianças,
positivo pela proteção e negativo pela omissão de quem contou suas histórias, riu e se
emocionou ao revelar segredos. Com os adultos que participaram desta pesquisa e que
aparecerão neste registro, a identificação se fará com nomes fictícios, escolhidos por eles
mesmos, seguida da sua função social para melhor orientação do leitor, como professora,
profissional de determinada área ou mãe. Assim, também há a preservação de suas
identidades.
A investigação também se processou intensamente pela observação e registro dos
detalhes diários, rotineiros, dos fragmentos dispersos de informações apresentados por várias
pessoas que compunham o contexto escolar, das diferentes situações e momentos que
27
possibilitaram a compreensão do funcionamento das múltiplas articulações e relações,
explícitas, ocultas e até reprodutoras no processo escolar. Contudo, cabe destacar que as
habilidades das crianças não podem ser corrigidas como certas e/ou erradas e tabuladas
conforme critérios dos adultos. Deste modo, fez-se necessário deixar a criança explicar seu
raciocínio de decisão para não distorcer a complexidade de suas respostas. (FAZZI, 2000).
Então, para se realizar tal proposição, foi necessário estabelecer uma metodologia que
permitisse a observação e interação direta com as crianças em ação, apontando o que aquela
realidade apresentava em si mesma e o que tornava viável para aqueles que a ela pertenciam.
Destaca-se que houve um momento anterior à observação do campo e à coleta dos dados, no
qual explicamos minuciosamente à equipe profissional da instituição e famílias, apresentando
detalhadamente a pesquisa e coletando a autorização por escrito através do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido12, conforme aprovação do Comitê de Ética da PUC
Minas que concedeu aval para os procedimentos do estudo.
Tivemos, então, o estudo aprofundado de uma escola infantil de Belo Horizonte – a
EMPJB. “Rompendo de vez com a premissa positivista da neutralidade científica e de um
certo projeto de ciência moderna”, (TOSTA, 2007), empregamos como procedimento
metodológico, entrevistas às crianças com roteiros semi-estruturados13 a fim de direcionar o
foco de interesse, mas permitindo-se que os entrevistados se sentissem acolhidos para
relatarem suas crenças, valores e ações. Pretendeu-se, portanto, observar, de forma ampla e
sistemática através da ida ao campo – durante quatro meses, nos dois turnos (manhã e tarde),
chegando no início do horário escolar e saindo com o seu término –, a rotina escolar em seus
diferentes momentos pedagógicos, tendo em vista, a escuta dos ‘sentimentos’14 e pensamentos
das crianças sobre a inclusão – a partir de suas manifestações na rotina escolar e nas nossas
entrevistas. Com este intuito, também, observou-se como as crianças se inseriam no fluxo
constante e espontâneo da vida social e não somente os explicitados nas normas legais, nos
encontros oficiais – aulas e atividades direcionadas, por exemplo.
A partir das informações coletadas, propusemo-nos a realizar a análise das entrevistas
e das ações, evidenciando os significados da vivência da inclusão nos processos de
socialização. Realizamos, na sequência, agrupamentos de falas e atitudes em categorias à
medida que indicaram características semelhantes em relação às interpretações pessoais.
12 Cf. Anexo. 13 Cf. Anexo. 14 O termo sentimento assim colocado não indica um apego afetivo, ou amoroso, mas um distanciamento que permite ver o outro nas suas diferenças, reconhecendo, contudo, suas semelhanças ou, dito de outro modo, é compreender os outros como iguais em suas diferenças.
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Desta forma, almejávamos apresentar similaridades e diferenças das posturas das crianças e
adultos entre si que ordenavam o universo cultural investigado e possibilitavam a apreensão
da totalidade.
Deste modo, permaneceu todo o trabalho laborioso de coleta de dados, interpretação e
integração à vivência empírica, uma vez que esse se associa a objetividade de observação
específica, que a etnografia exige, para a caracterização das estruturas e processos que nela
ocorrem, com a sua reconstrução complexa através das interrelações e interações.
Pretendíamos desde o início da pesquisa, em observar o cotidiano de uma experiência
de educação infantil inclusiva, procurando compreender se valores, atitudes, comportamentos,
crenças, noções e preconceitos se evidenciavam ou se dissimulavam em relação às diferenças,
ou se as crianças os traziam de suas vivências pessoais e se os testavam neste espaço. E,
ainda, como o/as educadores mediavam, agiam diante destas situações. Portanto, a intenção
foi deslindar como os sujeitos sociais no espaço escolar, especialmente na voz das próprias
crianças, se manifestavam frente às diferenças.
Este foco de observação se estabeleceu na tentativa de interpretar as falas e práticas
das crianças a fim de constatar o que significava para elas e como aprendiam, através do
convívio e do confronto com as diferenças, a própria ideia não relativamente ao que é
diferente, mas como percebiam a inclusão. Nesta perspectiva, as interações sociais que as
crianças estabeleceram entre si foram tão importantes quanto as suas relações com os demais
agentes de socialização escolares. Dito de outro modo, a preocupação deste estudo foi
observar a dinâmica da vida social, uma vez que as crianças agem, resistem, reelaboram,
criam e influenciam adultos tanto quanto são influenciadas por eles Num primeiro momento, entramos em contato com a Secretaria de Educação de Belo
Horizonte solicitando informações referentes à Inclusão por regional, conforme organização
interna do município, para selecionar uma realidade específica a partir da análise destes
dados. Contudo, este material não foi fornecido pela Secretaria, que alegou pouco pessoal em
serviço e muito trabalho a ser executado, o que a impossibilitou o oferecimento das
informações solicitadas para os fins de uma pesquisa acadêmica. Apesar disso, houve a
sugestão deste setor público de que procurasse qualquer escola, uma vez que todas
participavam da inclusão. Diante deste fato, selecionamos uma Escola de Educação Infantil da
região do Barreiro, conforme explicitado no início deste capítulo, cujos profissionais
acolheram e aceitaram participar da pesquisa proposta. Esta escola funcionava em dois turnos e tinha, no início do ano letivo de 2010, quatro
crianças na inclusão à tarde e três pela manhã, mas durante o ano uma criança saiu do turno da
29
manhã, totalizando as seis mencionadas anteriormente. A pesquisa de campo mais densa se
estendeu de janeiro a junho, de três a quatro vezes na semana, e depois em julho, setembro,
novembro e dezembro. Em janeiro, aconteceram as intervenções com a Secretaria de
Educação de Belo Horizonte e depois a articulação direta com a Escola selecionada. Em
fevereiro e março a pesquisa de campo se deu à tarde. Em abril, maio e junho se deu pela
manhã, inclusive porque a partir de março o turno da tarde entrou em greve, só retornando às
aulas em maio. E em julho, setembro, novembro e dezembro, retornamos à escola nos dois
turnos para a realização das entrevistas e coletas de dados complementares à pesquisa inicial.
A finalidade desta organização se fez de forma a observar e participar do cotidiano da escola,
inicialmente para a coleta de dados gerais, seguida pelas entrevistas e ações lúdicas para
coleta de dados específicos. Depois, retornamos ao campo sempre que necessário, inclusive,
após o período de frequência mais sistemática (fevereiro a junho), à medida que surgiam
necessidades de complementação das informações para os registros da pesquisa.
Outro compromisso assumido com a instituição que se dispôs a participar desta
pesquisa foi de retorno dos resultados desta pesquisa após sua conclusão, inclusive após o
momento da defesa, de forma a contribuir para as reflexões do grupo sobre questões do seu
fazer pedagógico.
Neste sentido, este estudo abrangeu as relações entre as várias partes que compõem
este objeto de interesse em seu contexto de forma a abordar as crianças com a sua própria
ação e intervenção e não simplesmente de uma fala das/sobre crianças. Aqui, o ponto de vista
de crianças e professores foi o caminho para se compreender a inclusão escolar.
30
Figura 3– (1980) Uma Creche para estar juntos Fonte: Tonucci, 1997
31
3 AS INFÂNCIAS E A SOCIALIZAÇÃO DAS CRIANÇAS
Somos nós que fazemos a vida Como der, ou puder, ou quiser...
(GONZAGUINHA, 1982)
3.1 A infância: um conceito em permanente transformação
A infância pode ser concebida ou representada pelos adultos como o período inicial da
vida e a criança é o sujeito real que vive este momento. (KRAMER, 2009). A história
ocidental da infância está relacionada aos adultos, à sociedade, à cultura, aos elementos
econômicos, políticos, significando uma categoria social do tipo geracional, e a criança é o
sujeito concreto, o ator principal em sua relação com outras crianças, com adultos, com a
cultura e a sociedade. (SARMENTO, 2005). Esses termos adquirem relevância na história
ocidental à medida que as pesquisas das ciências sociais apontam para a importância do
pertencimento etário na produção de identidades sociais.
Tem-se, então, a infância15 como um termo derivado da forma latina In fans, que
designa aquele que ainda não fala. Conforme interpreta Sarmento (2005), com esta etimologia
o sujeito sumariza um processo de distinção, de separação, de exclusão do mundo de forma
negativa, pois é detentor de um discurso inarticulado, desarranjado, ilegítimo e, juridicamente,
inimputável – incompetente. Aparece a partir do século XIX associado ao termo juvenil, ou
seja, infanto-juvenil, e ganha limites mais precisos no século XX. Este vocábulo e seus
derivados designam criança e tudo que lhe diz respeito em senso estrito16. A criança, por sua
vez, está em processo de criação, de dependência, de interdições em prol de sua proteção, que
é um fator histórico de considerável relevância civilizatória. É possível verificar a
15 Segundo Lauand (2011), nas Etimologias de Isidoro de Sevilha, o Livro XI, capítulo 2 - as idades do homem, apresenta as divisões de idade (do homem) sendo seis: a infância (infantia), meninice (pueritia), adolescência (adolescentia), juventude (iuventus), maturidade (gravitas), e velhice (senectus). E, em relação a primeira idade indo desde o nascimento até os 7 anos - "o homem na primeira idade é chamado infante (infans) porque não é capaz de falar (in-fans). Não tendo ainda os dentes bem arranjados, menos ainda é capaz da linguagem". 16 Curiosamente, também diz respeito ao soldado a pé – àquele que serve os demais na hierarquia e, ainda, aos filhos excluídos da herança da sucessão dos reis de Portugal e da Espanha – ou seja, aqueles que são caracterizados pela submissão.
32
complexidade em que se insere a adoção destes termos, numa orientação contrária ao senso
comum aglutinante, permeada pela distinção semântica e conceitual. (SARMENTO, 2005).
O termo aluno, por seu turno, deriva da forma latina alumnus, e significa a criança
dada para criar, pupilo, discípulo. Com o nascimento das escolas, passou a indicar quem lá era
entregue para ser educado. Foi aplicado às crianças na fase de amamentação, ao escravo
nascido em casa e à criança recolhida nas ruas e tornada cativa pelos que a alimentavam e
educavam.
A escola observada ressalta esses conceitos de forma intensa ainda no tempo atual. A
criança é percebida como um sujeito que não tem o direito de se manifestar, algumas até
falam, mas não são ouvidas. Como manifesta Branquinha em sua entrevista: “Quando a
professora fica brava, né (...) Porque tem uns meninos bobos, como o Ícaro, que
desobedecem. Ai ela fala: ‘abaixa a cabeça!”
A partir das relações estabelecidas na sala de aula entre alguns professores e as
crianças, também é possível perceber que impera o poder disciplinador das primeiras sobre as
segundas, como quando a professora Maria, do turno da manhã, estava em sala orientando o
grupo de alunos a colorir um desenho levado por ela e algumas crianças começaram a
conversar. Ela fez as crianças que conversavam levantar e as expõem ao grupo, chamando-
lhes a atenção pela conversa, de forma impositiva e desrespeitosa, chegando inclusive a
“cuspir” em uma das crianças pela forma nervosa e autoritária que adotou. As crianças
quiseram chorar, mas ela não lhes permitiu. Nunca saberá o que aquelas crianças tinham a
dizer .
Na história do pensamento ocidental, destacam-se as concepções sobre a infância
vindas de Santo Agostinho17 e de Descartes18. No Século V, Santo Agostinho concebia a
criança imersa no pecado, na medida em que, não possuindo a linguagem (infans: o que não
fala), mostrava-se desprovida de razão, exatamente o que seria o reflexo da condição divina
nos adultos. Séculos se passaram e a mentalidade Agostiniana encontrou eco em Descartes, no
século XVII. O filósofo francês concebia a criança como alguém que vive uma época do
predomínio da imaginação, dos sentidos e sensações sobre a razão, e mais, uma época da
17 Nasceu em 354, numa província do norte da África, hoje a Argélia, onde estudou gramática e retórica, sendo professor, posteriormente. Seu pensamento se destaca pelo aspecto pedagógico religioso no qual os cristãos deveriam adquirir conhecimentos universais e eternos para superarem o próprio indivíduo e se colocarem além da linguagem – esta considerada como instrumento, segundo Cambi (1999). 18 René Descartes nasceu em 1596 na França, cuja linha pedagógica era de orientação racionalista – valorização do raciocínio, da operação mental lógica e discursiva, opondo-se à jesuítica. Nas escolas da linha racionalista, o método ressalta a língua nacional, a matemática, ciências naturais, história e geografia, afirmando um programa de instrução mais aderente à experiência histórico-cultural da época e à psicologia da criança, conforme descreveu Cambi (1999).
33
aceitação acrítica das tradições, impostas pelos preceptores – tudo o que macularia nosso
pensamento, conduzindo-nos mais tarde, uma vez adultos, à dificuldade no uso da razão e,
portanto, ao erro. Tanto para Santo Agostinho quanto para Descartes, quanto mais cedo se
saísse da condição de criança, melhor!
No século XVII, Jean Jacques Rousseau19 propôs uma concepção de infância muito
diferente da visão agostiniana e de Descartes, na medida em que colocou o erro, a mentira e a
corrupção como sendo frutos da incapacidade de julgar de quem não pode mais beneficiar-se,
nos seus julgamentos, do crivo de um “coração sincero” e puro, próprio da condição infantil.
No Emílio, Rousseau afirmou que a criança expressa a condição do “bom selvagem”. A
infância, até então, inimiga número um da filosofia e, portanto, da verdade e do bem, agora,
inversamente, seria a própria condição para a filosofia. Nela estariam a inocência e a pureza
necessárias para o acolhimento da verdade e para a participação no que é moralmente correto.
(CAMBI, 1999; ROUSSEAU, 2004)
A percepção moderna de infância contrasta com a concepção medieval que afirmava
que a infância não seria inocente, mas nem por isso cumpriria o destino posto por sua
natureza, pois é a educação que irá corrigi-la.
Sentimentos distintos, na cultura ocidental nos séculos XIX e XX, foram associados a
essa nova forma de falar sobre o que fazer com as crianças em favor da adultez e da vida
social. A infância já aparece como algo obtido por construção. Inclusive, uma construção de
valores e regras que se entrelaçam com a cidade e com a escola, sendo que esta última deveria
transformar a criança em Homem a partir de valores e regras. O conto As Aventuras de
Pinóquio, de Carlo Collodi, é uma narrativa desse tipo. O autor descreve a infância como
natural, segundo um recorte que se pretendia único. A infância é qualquer coisa recortada de
modo menos rígido, pois é vista como dependente de construção histórica e surge numa
constituição em que concorrem várias forças culturais, completamente contingentes, entre as
quais a cidade e a escola se tornaram muito importantes, assim como Rousseau (2004) ilustra:
O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular já não se julgue como tal, mas sim como uma parte da unidade, e só seja perceptível no todo. (ROUSSEAU, 2004, p. 11).
19 Rousseau (1712-1778) é um dos autores precursores do iluminismo - conceito que envolve tradições filosóficas, sociais, políticas, correntes intelectuais e atitudes religiosas. Em sua obra Emilio, Rousseau aborda a decadência do ensino dos colégios, afirmando uma educação com currículo de formação moral e social. (CAMBI, 1999).
34
Ariès (1986) descreve a infância como uma fase dos seres humanos, construída
histórica e socialmente. Ele trata a noção de infância como um conceito modificado a partir de
novas formas de falar e sentir dos adultos em relação ao que fazer com as crianças. A escola e
a cidade são elementos que concorrem para que a criança se torne um “menino de verdade”.
Ou seja, são as forças culturais, completamente contingentes, que estão presentes e que forjam
a infância. As próprias noções que diferenciam um menino de um adulto aparecem como
criação – criação prática a partir da conversação e dos afetos que os grupos urbanos
desenvolvem a respeito de seus filhos. A partir dos estudos de Ariès, conforme descrevem
Ghiraldelli Jr (2000) e Kohan (2003), é possível admitir que a ideia de infância moderna é
uma invenção, seja ela posta pela ciência, pela filosofia, pela literatura e pelas artes em geral.
Para Reis (2007), contudo, as infâncias são construções permeadas de ambiguidades,
contradições de caráter social e sentidos conflitantes com a infância imaginária, demonstrando
que ser criança não garante a vivência da infância idealizada pelo romantismo. Ideia
reforçada, inclusive, pelo advento dos longos anos de escolarização com o “governamento dos
corpos infantis” 20 (REIS, 2007, p. 74). Montandon (2001) registra que a preocupação com a
criança se intensifica na sociedade industrial:
Por volta do final do século XIX, no contexto de industrialização intensa, urbanização, imigração, explosão demográfica e expansão da instrução pública, emergiu um interesse pelos problemas da infância, particularmente pelo trabalho das crianças, pela deficiência mental e delinquência juvenil. (MONTANDON, 2001, p. 34).
O século XX se constitui de um novo e radical horizonte antropológico-social, no qual
o mundo burguês e o popular aparecem substancialmente desagregados. (CAMBI, 1999). A
massificação da vida social fixa uma prática educativa com ênfase no papel das ciências para
o desenvolvimento da vida humana e renova a ação educativa e pedagógica, propostas cada
vez mais ricas, incisivas e sofisticadas. A partir dos estudos sociológicos da década de 20 do
século passado, observa-se o impulso das pesquisas interacionistas, fenomenológicas e
interpretativas nos estudos dirigidos à construção da infância. A criança com suas
necessidades e capacidades passa a ser observada como o centro do processo educacional.
20 Reinaldo de Souza Marchesi esclarecerá o termo como “ato, ação ou efeito de governar” que Michel Foucault cria, em 1978. Assim, ao titular o uso governamento em relação às técnicas, táticas e modos de governo com relação aos corpos escolares. Deste modo, a educação produz corpos escolarizados, via um conjunto de práticas de governamento, que são ao mesmo tempo: sociais, econômicas, religiosas, culturais e psicológicas, que não são neutras e que podem ser observadas através da instituição, através das pedagogias, das arquiteturas, dos currículos, dos tempos, espaços, em suas lógicas e usos (BUJES, 2003).
35
Contudo, na chave das pedagogias não diretivas, o fazer irá preceder o conhecer, numa
perspectiva operatória piagetiana, rompendo radicalmente com as ideias formalistas,
disciplinares e verbalista no trato escolar da criança. Nossa pedagogia contemporânea é,
portanto, permeada pelos cânones da pedagogia moderna: centrada na valorização da ação do
professor, detentor de saberes que deveriam ser memorizados pelos alunos, estes por sua vez
eram os responsáveis por seu sucesso ou fracasso na carreira escolar e podiam receber
punições severas por estarem se saindo mal nas tarefas e posturas na escola.
Houve uma cena ilustrativa na pesquisa de campo na qual a professora Lúcia propõe
uma atividade de classificação às crianças. Para executarem, ela tira um balde de seu armário,
com grande quantidade de vasinhos de diferentes flores de plástico de diferentes cores. Ela
permite às crianças explorarem suas hipóteses sobre como agrupar aqueles materiais. Ela
estimula que colegas se ajudem, que conversem entre si. Durante a execução da proposta, ela
fez perguntas breves às crianças que lhes indicavam possíveis alternativas de agrupamentos:
“Por que vocês misturaram as cores? Vocês acham que estas flores se parecem?”
As “escolas novas”, advindas desse processo de expansão na Europa e nos Estados
Unidos da América, vão favorecer uma concepção de infância como período de vida pré-
intelectual e pré-moral, na qual os processos cognitivos se entrelaçariam estritamente com a
ação e o dinamismo motor e psíquico. Com isso, aborda-se a criança como espontaneamente
ativa e interessada, cujas faculdades intelectuais precisam ser desenvolvidas harmonicamente,
a partir de uma escola que deve se tornar um pequeno mundo real-prático. Assim, coliga-se,
sistematicamente, a inteligência, a energia, a vontade, a força física, a habilidade manual, a
agilidade infantil num sistema que valoriza a característica de autogoverno e que atinge plena
felicidade a partir dos centros de interesses para inspiração de uma educação ligada ao ideal
libertário, em que cada sujeito assume com responsabilidade suas tarefas.
Na década de 50 do século XX, destaca-se a pedagogia de projetos desenvolvida por
Dewey21 nos sistemas escolares, motivando de forma prática o momento intelectual infantil,
valorizado pelo interesse das crianças e atribuindo importância às experiências concretas e
problemáticas. A racionalização do trabalho escolar, nessa perspectiva, irá favorecer a visão
eurocêntrica da infância ativa e produtiva, ou seja, as escolas precisavam criar estratégias de
ensino que valorizassem a ação curiosa da criança, principalmente partindo de áreas de
interesses dos sujeitos infantis que compunham o grupo em cada ano letivo, de forma a
21 John Dewey foi filósofo no século XX, cujo modelo propunha uma educação nova, ligada à ideia de razão aberta, como instrumento na complexa dinâmica da experiência individual e histórica. (CAMBI, 1999)
36
favorecer a permanência ativa das crianças no espaço institucionalizado para o atendimento às
crianças.
Contudo, nos anos 70, as questões relativas à criança enfatizam a relação ator-
estruturas, ou seja, uma relação micro-macro que valoriza a implicação recíproca, a ação
criada conjuntamente. Houve uma multiplicação dos saberes sobre a infância, renovando a
abordagem do processo de socialização para uma produção da vida social pelos próprios
indivíduos, numa variedade de formas de engajamentos e estratégias de ligação direta à
problematização com o tempo e espaço das estruturas sociais nas quais se inseriam.
Nas décadas que se seguem, conforme nos aponta Sarmento (2008, p. 30),
especificamente nos anos 80 e 90, iniciará um campo empírico distinto: uma arrumação
teórica pouco fiel a apenas uma realidade teórica, a apenas um paradigma. Os estilos de
investigação e as diferenciadas temáticas recorrerão à etnografia – estudos interpretativos, à
sociologia desconstrucionista (trabalhando sobre as imagens e normas sociais da infância a
partir do construcionismo social, análise discursiva e desconstrucionismo) – estudos
estruturais – e ao trabalho investigativo e analítico de caráter participativo – estudos de
intervenção. Neste período, então, haverá processos teóricos e de análise sobre as infâncias de
forma a também conhecer a sociedade a partir desta via.
Assim, podemos refletir que, na primeira década do século XXI, apesar da maioria dos
profissionais da escola pesquisada ainda manter uma postura em relação à criança como o in
fans, a contemporaneidade traz a implicação de um histórico sócio-econômico-afetivo-
cultural de trajetórias das infâncias que considere a participação infantil no âmbito social,
conforme analisa Gomes (2011), ou seja, ainda para esta autora, a complexidade das infâncias
e a atuação das crianças não mais permitem pensar apenas por um caminho. Há interações,
tensões, dominações, exclusões e resistências que configuram significados socialmente
construídos por adultos, velhos e crianças.
O Brasil acompanhou esse processo de percepção da criança, principalmente a partir
do século XIX, com as mudanças políticas/econômicas e sociais mundiais, constituindo uma
colônia cada vez mais atrelada aos interesses da burguesia industrial urbana. Nosso país
forneceu mão de obra, serviços, matérias-primas e materiais a partir da demanda europeia. E
as crianças foram deixando de ser força produtiva para se constituir numa categoria geracional
à medida que as perspectivas políticas redimensionam a posição do Brasil nas relações
econômicas internacionais, elaborando uma concepção de infância que precisava ser protegida
e educada para garantir o futuro da nação brasileira, que se configurava.
37
Especificamente em Belo Horizonte, é possível apontar que práticas diferenciadas do
modelo tradicional aconteciam. Uma das professoras entrevistadas descreve sua primeira
experiência escolar de forma muito lúdica e significativa, cuja influência decorre dessas novas
perspectivas de educação:
...teve uma ex-diretora aqui que foi a minha primeira professora. Mas como ela foi a minha primeira professora? Ela pegava a meninada da rua e levava pra pracinha, pra brincar, pra brincar de roda, ela juntava os meninos e ensaiava peça de teatro, aí no final do mês a gente apresentava pros pais. Tudo ali na rua, ela morava ali, na minha rua. (Professora Janete, entrevistada em 07/06/2010) 22.
3.2 Contribuições da Sociologia da Infância
É significativo destacar que a expressão “sociologia da infância” se encontrava
formulada desde a década de 30 do século XX, porém havia uma perspectiva de geração sobre
a qual os adultos realizavam ações culturais transmissivas, como apontou Mauss (2010) “é na
educação que a ação da sociedade sobre o indivíduo se observa melhor. Quem diz de
formação de uma geração por outra, diz de, adestramento da criança pelo adulto”. Neste texto
de Marcel Mauss (idem), também destacamos outras preocupações sobre uma sociologia da
infância em três observações, como o sociólogo francês formulou: a infância, enquanto
substrato social de entendimento sobre as crianças está localizada num meio (localização
espacial e relações estabelecidas) “de certo modo historicamente determinado”. Há problemas
entre gerações, pois os interesses variam quando se agrupam as pessoas por idade assim como
por sexo; e, o uso de técnicas do corpo de forma a “ensinar a moral e os usos que se quer que
a criança adquira” (MAUSS, 2010, p. 244). Nesta perspectiva, destacamos que já em 1934 a
sociologia geral manifestava suas significativas considerações sobre a importância de se
pesquisar sobre as crianças.
Contudo, vimos que as pesquisas sobre crianças só tiveram novos investimentos no
final do século XX. Durante algumas décadas, as infâncias sofreram ações econômicas,
políticas, sociais, culturais, mas não foram diretamente registradas por estudiosos das ciências
sociais. (GOMES, 2011).
22 Esta professora se refere ao início da década de 1960.
38
Atualmente, a Sociologia da Infância se insere na construção da complexidade
contemporânea sobre a realidade social da criança. Este campo específico de pesquisa veio se
desenvolvendo pela necessidade de compreensão do paradoxo: parte das crianças hoje é
intensamente cuidada e atendida, mas todas elas continuam dependentes dos adultos, assim
como a infância se apresenta como um grupo geracional que acumula indicadores de
conquistas legais – creches e escolas públicas, direitos sociais indicados pela legislação
vigente23, mas nem sempre garantidos na prática –, assim como também submisso aos efeitos
da regulação das relações sociais e funcionamento das instituições conforme afirma Sarmento
(2005). Para este pesquisador português também em assuntos de criança, a Sociologia da
Infância assinala a variação de intragerações, recusando a concepção uniformizadora de
infância por considerar os fatores sociais, de classe, de gênero, de etnia, de raça, de espaço
geográfico como condições de efeitos e consequências do plano analítico.
A ideia da uniformidade está intimamente relacionada a processos de formação.
Podemos destacar, nesta chave, o conceito de socialização, objeto importante para a relação
Sociologia e Infância, cujo início do pensamento sociológico se estabeleceu com Durkheim
(2001), remetendo às crianças as condições subordinadas para o controle social. Porém, a
Sociologia da Infância alerta para a necessidade da desconstrução do conceito de socialização
inerente à emancipação da infância cuja interpretação visava o devir adulto. A criança precisa
ser considerada como sujeito teórico socialmente pleno, dotada de capacidade de ação e
culturalmente ativa. (SARMENTO, 2005; PLAISANCE, 2005). Na pesquisa de campo, a
maioria das professoras ainda percebe as crianças como sujeitos que precisam de controle
para se adequarem às regras sociais, às quais elas, sem a intervenção dos adultos não
respondem, como a professora Janete que diz: “[...] igual, eu falo, eu xingo às vezes, mas eu
brigo com aquela criança que tá saindo do padrão, tá extrapolando nas atitudes. Então eu
brigo, eu ponho de castigo [...]”
Neste trecho, a professora demonstra como intervém nos processos de socialização,
destacando seu ponto de vista de controle social a partir de valores sociais que considera
significativos e que, segundo ela, devem ser muito bem apreendidos pelas crianças. Isso se
procede, na maioria extrema das vezes nesta instituição pesquisada, sem a consideração da
perspectiva das crianças enquanto sujeitos ativos no processo social. Podemos destacar com
este exemplo que o conceito de socialização ainda é aquele enfatizado do século XIX até
aproximadamente os anos de 1970, no qual Durkheim (2001, p.12 e 82) afirma que “educação
23 No caso do Brasil podemos citar o ECA, os Conselhos de Direitos, entre outros.
39
é processo social [...] consiste pois, sob qualquer de seus aspectos, numa socialização
metódica de cada nova geração”.
Destacamos, contudo, a infância como um período da vida que historicamente
desperta interesse de diferentes áreas do como a Filosofia, a Medicina, o Direito, a Psicologia,
a Pedagogia e a História, por exemplo. No entanto, os estudos sociológicos sobre a infância
passam a reunir-se sob a chave da Sociologia da Infância somente na segunda metade do
Século XX. Montandon (2001) analisa a produção inscrita na Sociologia da Infância a partir
de trabalhos acadêmicos de língua inglesa, constatando nos últimos anos do Século XX a
predominância de estudos empíricos sobre a infância e a grande diversidade de questões
exploradas. De forma sistemática, podemos agrupar esses estudos em quatro blocos para
compreender a trajetória das concepções de infância neste período:
a) As relações entre gerações: crianças não mais como objetos dos adultos, mas
como sujeitos nos processos de socialização, no processo disciplinar na interação pai-
filho, adulto-criança; o desenvolvimento da criança de pais divorciados, demonstrando
que elas aprendem a superar o problema e se reajustar positivamente no âmbito da
escola, da família e dos colegas; mudança de atitudes e valores dos pais, tendo uma
crescente preferência à independência e autonomia frente à obediência e resignação
diante da autoridade; a não diferença mais sobre a preferência entre filhos e filhas
pelos pais; na cultura japonesa a criança pequena é considerada como essencialmente
boa: atividades físicas e barulhos são naturais e não incomodam os adultos, que
contudo, não dispensam repressões nestes casos. É interessante destacar que nestes
estudos houve longas entrevistas com as crianças de maneira a ter boa compreensão de
seus pontos de vistas, não limitando aos discursos e práticas dos pais unicamente.
b) As relações entre as crianças: brincadeiras e relações das crianças entre si se
tornaram elementos essenciais da relação pai-filho a partir dos valores –
independência e autonomia – reforçados como boas qualidades aprendidas.
c) Crianças como um grupo de idade: continuam sendo escolares, evidenciando
questões relativas aos limites da infância. Do ponto de vista econômico, mas também
social e cultural, a utilidade deste grupo no uso do tempo e do espaço como ações de
produtividade escolar pela oferta de empregos variados a adultos, com trabalhos
marginais e diretos à criança – professores, lazeres. As tarefas domésticas a elas
destinadas também foram percebidas como elementos limitadores da infância, assim
como percepções de que a criança se torna força futura à sociedade.
40
d) Os diferentes dispositivos institucionais dirigidos às crianças: instituições que
se ocupam das crianças – escola, creche, lazer e mídia – influenciam e organizam a
vida cotidiana, assim como formam um campo inspirador de vários trabalhos sociais –
oficina de balões, recreadores e outros. Estes estudos apontaram para o papel
desempenhado pelas crianças nestas instituições, cuja ordem se tornou negociada nas
relações, não mais aparecendo de forma rígida e apenas impostas pelos adultos.
Montandon (2001) apontou, então, as várias facetas e aspectos que envolvem o mundo
da infância na contemporaneidade. A construção de abordagens teóricas na perspectiva
sociológica sobre a criança demonstra preocupações originais no conjunto de produções que
datam dos anos 1990, possibilitando constatar a superação da concepção psicologizada da
criança e de sua socialização; um modelo de infância como grupo de determinada idade com
sua própria cultura, com traços específicos, ritualização e sistemas de trocas próprios de
sujeitos em seu contexto particular. Nessa relação direta, as crianças às vezes controladas, às
vezes controladoras, estão sob o efeito das estruturas e, às vezes, “são produtoras das
estruturas” (MONTANDON, 2001, p. 53).
Neste percurso, a infância não deveria ser percebida como única, mas sim por suas
múltiplas dimensões, como afirmou Sarmento (2005), ora vista pelo seu aspecto psicológico,
ora sociológico, ora histórico, ora socioeconômico. Contudo, na observação efetuada em
campo e pela maioria das entrevistas concedidas, é possível analisar que nesta escola infantil
da rede pública de ensino de Belo Horizonte, apesar da formação dos educadores (todos
graduados, a maioria com Pós-Graduação lato-sensu e alguns com até 4 ou 5 destas pós
graduações), essa formação não está diretamente relacionada ao trabalho docente24, o que não
garante que o trabalho pedagógico destes adultos contemple a perspectiva das crianças como
sujeitos daquela estrutura. As professoras entrevistadas e profissionais demonstraram visões
diversas sobre seus alunos, seja pelo contexto social de suas origens, sejam pelos aspectos
psicológicos individuais ou do grupo, sejam pelas características econômicas e históricas, mas
todos – sem exceção – demonstram insegurança sobre suas ações, principalmente no que diz
respeito à inclusão. Quando lhes perguntamos sobre o que acham de mais positivo ou
negativo da educação inclusiva e sobre como têm tido acompanhamento e apoio didático-
pedagógico para este trabalho, afirmaram:
24 Havia pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior, Gestão Administrativa, por exemplo.
41
Eles [legislação e equipe da prefeitura] falam que não pode [ter] o preconceito, que não pode ter a exclusão... Mas da forma que vem... a gente não é preparado pra receber esses alunos... a gente não sabe como agir... (Professora Janete, entrevistada em 07/06/2010). Faço tudo por tentativa e erro... Falta de conhecimento do professor para �tende-la melhor [a educação inclusiva]. Conhecer mais a situação das crianças, seria mais fácil para mim e para elas. (Professora Isabele, entrevistada em 10/05/2010). Fiz a inscrição da prefeitura com um questionário sobre o curso e área de interesse. Fui chamada para um curso que esclareceu sobre questões administrativas – horas de trabalho, valor do salário, benefícios, obrigações, telefones úteis. É um curso para todos os estagiários da prefeitura. Ele ocorre numa manhã, no dia seguinte você já vai para a escola. Não há preparação específica para o tipo de trabalho. Não há nada relacionado à questão da inclusão. (Estagiária Sônia, entrevistada em 24/05/2010). Escola inclui, mas muitas vezes não tem como assistir. Não tem condições para acompanhar. Professores que vêem os deficientes e minimizam estas crianças, não oferecendo algo a mais para elas se desenvolverem. Tem professores que deixam só por conta da estagiária... (Professora Lice, entrevistada em 07/06/2010).
Analisando-se as relações entre gerações nesta escola, crianças continuam como
objetos das intervenções dos adultos, sendo percebidos como sujeitos menos significativos
nos processos de socialização. Houve situação em que uma criança com necessidades
educacionais especiais ainda estava sem estagiária25 no segundo trimestre e a sua mãe a
acompanhava na escola, a pedido da professora. Ao fazer uma birra, a mãe lhe aplica algumas
chineladas, na frente dos demais colegas. De fato, as crianças demonstram que aprendem a
superar problemas e se reajustar positivamente no âmbito da escola (MONTANDON, 2005),
mas alguns estigmas permanecem: essa criança que apanhou era recorrentemente adjetivada
pelos colegas como ‘levado’ e sempre afirmavam que ela precisava apanhar para entender.
Durante a observação foi possível analisar que essa criança tentava se comunicar, estabelecer
vínculos com os colegas, participar das brincadeiras, num contínuo rearranjo de suas ações
sociais, repetidas vezes sem sucesso.
Quando havia estímulos em relação à construção da independência e autonomia frente à
obediência e resignação diante da autoridade as crianças participavam bem, mas por pouco
tempo, logo chamavam algum adulto para lhes auxiliar na resolução dos conflitos. Num
determinado dia, no momento do recreio, por exemplo, 120 crianças receberam uma bola.
Depois de a disputarem por quase 15 minutos, sugerimos uma brincadeira de acertar um alvo
25 Funcionário contratado pela PBH, devendo ser estudante do Ensino Superior, para atender às turmas com crianças na inclusão, auxiliando no processo de aprendizagem seguindo orientações da professora regente, conforme expôs a profissional 4. Contudo, este funcionário não recebe capacitação pela prefeitura, cujo curso é de ½ turno para tratar de questões administrativas da contratação: salário, horas de trabalho, benefícios, obrigações, telefones úteis – conforme entrevista com profissional 8. Verificamos também a falta de encontros entre professoras, coordenação e direção com este funcionário para orientações a respeito do serviço de acompanhamento aos casos de inclusão. No caso excepcional a mãe substituiu a figura do estagiário, algo que não é recomendado pela Secretaria de Educação.
42
na parede. Poucas crianças participaram da elaboração das regras do jogo. À medida que
outras chegaram para participar, as primeiras não conseguiram compartilhar as regras e a
brincadeira foi reorientada pelas professoras que acompanhavam o recreio, tirando totalmente
a oportunidade das próprias crianças reverem as regras que haviam construído. Ou seja,
crianças são vistas como um grupo de idade, continuam escolarizadas, moralizadas,
evidenciando as questões relativas à imposição de limites por vezes desnecessários.
Do ponto de vista econômico, a utilidade deste grupo etário se torna impulsionadora
da força produtiva com oferta de empregos variados a adultos, numa relação direta com a
criança como professores e estagiárias, e indiretos como as cantineiras, faxineiras, guarda
municipal, bibliotecárias, secretárias, entre outros.
A escola como dispositivo institucional dirigido à criança reafirma a sua necessidade
social para a organização da vida cotidiana das famílias que dela usufruem. Todas as
representantes das famílias entrevistadas apontaram a importância daquela escola nas suas
vidas. Quando questionadas sobre o que consideram mais importante na escola, dizem:
Ah, eu gosto de tudo aqui. Para mim, tinha só que vim a pessoa mais rápido para ajudar a professora. Igual, aqui para mim e para meu marido, aqui é uma família. (Mãe Graça, entrevistada em 06/05/2010) Levantamos às 5:20h da manhã e saímos para a escola... (Mãe Palmira, entrevistada em 05/05/2010).
Todavia, nenhuma família, como apontaram as entrevistas, percebia a escola como um
direito da criança, mas como um espaço essencialmente voltado à sua socialização.
3.3 A criança participativa: a socialização na escola da infância
O termo socialização descreve um processo caracterizado como um espaço
privilegiado da transmissão social dos sistemas de valores, dos modos de vida, das crenças e
das representações, dos papeis sociais e dos modelos de comportamento. (BELLONI, 2007 e
2009). Este processo de aprendizagem varia de acordo com o universo de socialização,
diferente segundo a origem social da criança, definida pela sociedade onde ela vive, pela
classe social a que pertence e por seu grupo familiar.
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O ser humano não se torna espontaneamente um ser social com competências sociais
efetivas. Este processo, extremamente complexo e dinâmico, integra a influência de todos os
elementos presentes no meio ambiente e exige a participação ativa da criança. Nas sociedades
contemporâneas, caracterizadas pela globalização econômica e cultural e, sobretudo, pela
presença crescente de poderosas mídias eletrônicas e novos objetos técnicos, a socialização se
torna um processo essencialmente ativo que se desenrola durante toda a infância e
adolescência por meio das práticas e das experiências vividas, não se limitando de modo
algum a um simples treinamento realizado pela família, escola e outras instituições
especializadas. Conforme Reis (2007):
A burguesia, deslumbrada pelo entusiasmo romântico, começa a encarar a infância como um estado natural e indestrutivelmente genuíno e autêntico. (...) às crianças das famílias abastadas, a infância era o período no qual deveriam aprender os signos de comportamento que a sociedade esperava de sua futura posição social, estas famílias supunham que só tardiamente seus filhos deveriam assumir responsabilidades, diferente do que ocorria com os filhos dos operários. Porém, ainda que sua infância não possuísse conexões com o mundo do trabalho, ela se subordinava também à transição para a fase adulta. Este mesmo grupo social considerava a infância, das crianças pobres, alheia e ameaçadora, e não era pequeno seu esforço em mantê-la afastada de seu círculo mais próximo. (REIS, 2007, p.74-75).
Corsaro (2003), abordando as crianças a partir da apropriação criativa da informação
vinda do adulto para produzir suas próprias culturas de pares propõe o conceito de
“reprodução interpretativa”26. Esta reinterpretação dos conteúdos culturais constitui o núcleo
central do processo de desenvolvimento da criança, concebido como a construção de uma
cultura específica, sendo o foco da Sociologia da Infância. Cabe lembrar que, embora a
criança seja, sem dúvida, um sujeito ativo e criativo em seu processo de socialização, não se
pode minimizar ou ignorar a ação sistemática e objetiva das instâncias de socialização,
institucionais ou não.
Pensando a modernidade, o exercício de ministrar aulas se tornou desafiante pela
busca da compreensão sobre a relação da criança com o conhecimento, numa aproximação e
escuta do universo infantil. A partir da revolução industrial, como afirma Goulart (2008), é
que se observa a mudança no papel social da criança burguesa. De um caráter produtivo nas
26 Corsaro (2005) aborda a socialização na infância como Reprodução Interpretativa, ou seja, interpretativa porque captura os aspectos inovadores da participação das crianças na sociedade, indicando o fato de que as crianças criam e participam de suas culturas de pares singulares por meio da apropriação de informações do mundo adulto de forma a atender aos seus interesses próprios enquanto crianças e reprodutiva porque as crianças não apenas internalizam a cultura, mas contribuem ativamente para a produção e a mudança cultural. Para o autor, significa também que as crianças são afetadas pela reprodução cultural, de acordo com as sociedades e culturas das quais são membros.
44
sociedades feudais, com aprendizagem dos conhecimentos no mesmo espaço social que os
adultos, que tem como centro a família, com controle autoritário dos sujeitos diante de seus
papeis na sociedade (CAMBI, 1999, p.176), para um caráter passivo de ser cuidado,
escolarizado, preparado para o futuro, tendo em vista a sociedade de grandes organismos
coletivos (Igreja, Império, economia, família e comunidade) cuja ordem social e cultural é
estática, autoritária, religiosa e política, para um estado laico, republicano, de organização
familiar nuclear.
Com a ascensão definitiva da burguesia ativa e industrial, o centro da vida se torna a
cidade. A nova ordem cultural e econômica em expansão proporciona a descoberta de um
novo sentimento27 de infância, de brincadeiras pela preservação da pureza original e da
inocência, já abordadas. A exigência era organizar o trabalho doméstico por idade, evitando a
promiscuidade moral com condições de aprendizagem e ensino adequadas à nova realidade. A
socialização infantil estava associada diretamente à atividade educativa que iria instruir os
cidadãos para a administração das cidades, sendo dever da autoridade temporal exigir dos
súditos a manutenção dos filhos na escola (CAMBI,1999, p. 248).
Segundo Goulart (2008), Marx descreve a infância no início do século XIX como
resultado da negociação crua entre o capital, o Estado e os interesses dos trabalhadores. A
infância das classes dominantes sofre pressão social quanto às expectativas de sucesso,
fazendo as crianças se sentirem responsáveis a dar uma resposta positiva ao apelo dos pais.
Para a autora, a criança negra no Brasil do Século XX tem de lidar com preconceitos
camuflados. Deste modo, as infâncias vão sendo socialmente construídas a partir de
interações combinadas por conflitos econômicos, familiares, estatais e profissionais. Portanto,
para cada concepção de infância há um projeto social de atendimento e de educação.
A autora prossegue afirmando que no Brasil, e mais especificamente na cidade de São
Paulo, o atendimento às crianças em instituições educativas data do final do século XIX a
favor das elites, cujo objetivo era a socialização das artes, da literatura, do jogo e da
brincadeira, importando o contato com valores e produções culturais sofisticadas produzidas
para a preservação da própria classe social. Ou seja, a preocupação maior era a difusão dos
valores burgueses já na infância. No decorrer do século XX, tem-se a disseminação da escola
27 Reis (2007) analisa a partir dos estudos de Golden e Kohan que que a infância como categoria social está presente no pensamento de diferentes grupos sociais desde a antiguidade, indicando que o ‘sentimento’ de infância enquanto percepção diferenciada da criança relativamente ao adulto sempre existiu, porém transforma-se de acordo com o grupo social, o momento histórico e a cultura. Transformações na base de produção material de um modelo social podem alterar sobremaneira o papel da criança na sociedade. Deste modo, com a ascensão da burguesia uma profunda mudança no papel social da criança se faz sentir de maneira indelével estendendo-se no imaginário ocidental como um ideal de infância até a contemporaneidade.
45
pública para as camadas populares. Com raízes prováveis no processo de colonização
portuguesa, (GOULART, 2008, p. 120), cuja tendência era o ensino propedêutico e
acadêmico, tem-se a expansão das escolas infantis com caráter escolarizador a partir dos
fatores social, econômico, cultural e político. Nesta perspectiva, a organização das propostas
pedagógicas nos jardins de infância particulares leva em conta o universo cultural de suas
crianças enquanto as instituições públicas voltam-se para a criança pobre, prevalecendo a
guarda de caráter assistencial, com um projeto educativo baseado na submissão.
Assim, as diversas concepções de infância convivem simultaneamente e revelam sua
pedagogia: há aquelas que favorecem à criança, reconhecendo a infância como um tempo
próprio e há as que as vêem como tempo de preparação ou espera para o mercado de trabalho.
Como afirmou a coordenadora Juliana na entrevista: “Nesta escola acho a qualidade bacana,
há resistência de alguns professores em relação ao brincar, ao lúdico. Acreditam que tem que
trabalhar com papel e preparar para o ensino fundamental”. Nesta encruzilhada, as crianças se
inserem no mundo dependentes dos adultos, os quais lhes atribuem um significado prévio
produzido socialmente e de acordo com o ideal de homem e sociedade definido de antemão.
Deste modo, pensar a socialização nos tempos atuais requer uma preocupação com as
infâncias, suas implicações na relação direta com objetos e demais pessoas, bem como com
um grupo ou vários, sendo um processo recíproco de trocas na produção da vida social e dos
comportamentos para as estruturas, cuja interação depende das próprias pessoas, das
instituições, do lugar que ocupam, de seu entorno, reações, negociações e redefinições desta
realidade social. Reconhecer a criança como sujeito pleno, cujo direito à infância deve ser
garantido pelas instituições que a atendam, conforme rege na Constituição Federal brasileira,
deve provocar uma postura de promoção de sua participação ativa na busca da compreensão
de mundo, na construção de esquemas que lhe permita “ler” a realidade e as dinâmicas que
possibilitem o aprender participando – ativamente!
Estudos recentes concebem as crianças como sujeitos históricos e sociais, sendo
consideradas em suas dimensões física, afetiva, intelectual, social e moral, propondo
conceitos de desenvolvimento e aprendizagens situados nas práticas sociais concretas, cujo
envolvimento no processo parte do ambiente frequentado por elas.
Nesta visão, a tarefa das instituições escolares é desafiar seus membros em atividades
diversificadas mais significativas que favoreçam o poder de ação das crianças, ainda que
simbólico, destacando as suas contribuições importantes e criticando os discursos autoritários
em prol de diálogos verdadeiros. À escola cabe, enfim, um conjunto de atividades, rotinas,
artefatos, valores e preocupações para que todas as crianças produzam e partilhem interações
46
com seus pares apropriando, reinventando, reproduzindo e produzindo o mundo que as
rodeiam, além das possibilidades de oportunidades para desenvolver suas próprias
potencialidades (SILVA, 2010, p. 26).
A realidade investigada aponta alguns rumos. Os profissionais, todos eles – desde o
auxiliar de serviços gerais à direção da escola – revelam a necessidade de serviços integrados
para atender às crianças atualmente. Quando questionados sobre se recebem apoio para seu
trabalho inclusivo, dizem:
Falta estrutura pedagógica e física. A PBH precisa avançar. A gente precisaria contar com equipe da própria prefeitura. Há contato com as equipes de atendimento das crianças, mas ainda é muito distante. Neste ano, só a equipe de uma criança nos procurou... Os demais apresentaram relatórios escritos trazidos pelos pais. (Coordenadora Juliana, entrevistada em 07/06/2010). Falta apoio às vezes, de trocas. (Professora Rita, entrevistada em 07/06/2010).
As crianças estão na escola, favorecidas pela expansão da oferta de vagas, resultantes
de projetos políticos conquistados pela própria sociedade civil organizada, mas a escola
sozinha nesse atendimento à criança enquanto sujeito histórico-social-econômico-psicológico-
cognitivo está longe de ser qualitativamente reconhecida, ouvida e participativa nas decisões
que afetam suas vidas e dizem respeito aos seus direitos. Quando pergunto às crianças se elas
ajudam aos colegas com necessidades educacionais especiais, respondem:
Eu não! É a professora. Mas outro dia eu ajudei ele, porque a professora deixou. (Patrick, entrevistado em 16/06/2010).
Quando as pergunto sobre como esses colegas reagem, dizem:
É, de vez em quando ela puxa o cabelo. Ela tem problemas mesmo! Deixo, né! (Branquinha, entrevistada em 10/05/2010).
Quando pergunto sobre a postura da professora em relação a essa ajuda entre colegas, pontuam:
Se for aquela professora brava, não deixa a gente ficar perto dela! (Branquinha, entrevistada em 10/05/2010).
E quando pergunto sobre o significado da escola para elas, afirmam:
A escola é boa, é para brincar. (Gabriela, entrevistada em 28/05/2010).
47
A educação contemporânea, então, pode finalmente fazer educação sem ter de
perguntar se Pinóquio, por ter cabeça de pau, deve ou não estar na escola, mesmo que
amparado pelas legislações atuais sobre o direito à escolarização e, e, ainda que, os debates
sobre a educabilidade na perspectiva da integração escolar se enraizaram no século XVIII
para crianças com deficiências sensoriais (surdas e cegas), conforme destaca Plaisance (2005,
p. 411): “escolarização é um direito; acolher é um dever”. Neste aspecto, muitas pessoas já
exprimem a importância das diferenças no seio das instituições sociais.
Quando questionamos sobre o que entendem sobre educação inclusiva, afirmam:
[Inclusão implica em] Oportunidade e respeito à criança, uma vez que todos têm direito... desde 1987/88, nesta época crianças diferentes eram meninos com dificuldades, levados, alguns até babavam. A prefeitura nem reconhecia ainda a inclusão, mas eles já eram incluídos na Prefeitura. (Professora Isabele, entrevistada em 10/05/2010). Educação inclusiva é a inclusão de todos: pobres, ricos, falando socialmente, deficientes mentais, físicos... (Coordenadora Juliana, entrevistada em 07/06/2010). Vejo [a inclusão] de forma distorcida. Fala-se muito em inclusão, mas há necessidade de buscar proporcionar a esta criança algo mais. Tenho preocupação em relação à minha formação para fazer realmente a inclusão. As crianças estão integradas. É colocar uma pessoa no meio e buscar formas para que ela interaja. (Professora Lice, entrevistada em 07/06/2010). Acho que [com a inclusão] fica bem melhor para ela. Aqui todo mundo tem o mesmo carinho, a mesma atenção (...) às vezes, pode-se tirar a criança da escola, botar numa particular e não vai ser a mesma coisa. Cada escola vai ter um atendimento, um jeito de lidar com esse tipo de criança. E pelo visto, desde o dia em que eu comecei a trabalhar aqui, mãe nenhuma reclamou não! (Auxiliar da limpeza Davi Vilas, entrevistada em 28/06/2010).
Em outra perspectiva, pode-se destacar a socialização da criança também a partir das
suas relações familiares, além da própria história da família, seu funcionamento, sua
participação na comunidade. Os estudos de Norbert Elias (1993 apud MONTANDON, 2005,
p. 488) apontaram que a mudança dos modelos familiares, cujos pais têm uma visão menos
persuasiva da educação, alteraram os estilos de autoridades, com práticas e atitudes educativas
remodelando as regras e proibições e ensinando as crianças que algumas coisas podem ser
negociadas, outras não. Numa concepção de infância plena e de reconhecimento da criança
como sujeito de direitos, as práticas educativas familiares pesquisadas fixam outras vertentes,
ressaltando os pontos de referência para a criança e lhes permitindo apenas se apropriar da
ordem moral social e, no caso das crianças com necessidades educacionais especiais, as
famílias utilizam todos os meios que lhes são acessíveis para que a criança possa se integrar e
48
ser aceita socialmente. Por exemplo, perguntamos às famílias sobre como é a rotina da criança
fora da escola, disseram:
Eu e minha mãe ficamos com a criança. Ela fica conosco e nos acompanha em tudo que fazemos, às vezes ficamos na porta da rua olhando o movimento, às vezes vamos à pracinha para brincar no chão. Algumas crianças lhe emprestam uma moto elétrica. Minha sobrinha de 15 anos também fica com ela, assistem TV juntas e vão à praça também. Todas terças-feiras tem APAE de 13:30 às 14h com Fisioterapia, depois tem de 14 às 14:30h Terapia ocupacional e Fonoaudiologia. Nestes dias eu não a trago à escola, porque não dá tempo de chegar lá e a criança fica muito cansada. (Mãe Palmira, entrevistada em 05/05/2010). Começamos o acompanhamento com Psicóloga... Quando ela vem para a escola e vai para a APAE é uma maravilha, porque ela faz muita coisa que agrada. (Mãe Graça, entrevistada em 06/05/2010).
A noção de socialização, conforme propõe Mollo-Bouvier (2005, p. 391), dispõe
exatamente sobre a banalização do sentido de assimilação dos indivíduos aos grupos sociais.
A partir das dinâmicas de interações na aquisição de know-hows e vínculos de construção de
si e do outro, as atividades socializadoras podem ser descritas como um contínuo, embora
não-linear de ajustes constantes de um sujeito em relação a si, aos outros e ao seu ambiente
social, ou seja, “socialização compõe-se de dessocializações e ressocializações sucessivas”.
(MOLLO-BOUVIER, 2005, p. 393). Mais detalhadamente, socialização será uma conquista
nunca alcançada de um equilíbrio cuja concepção implica num olhar sobre a criança enquanto
sujeito social que participa, produz, reproduz e transforma a sociedade.
Do ponto de vista das crianças, conforme Montandon (2005) descreveu, há uma visão
informada do papel e das qualidades que lhes são atribuídas pela educação seja parental, seja
institucional. Em pesquisas realizadas pela autora em Genebra, as crianças apontaram suas
convicções: esperam de seus pais apoio, amor, escuta, compreensão, consolo, ensinando-lhes
uma boa educação – ou seja, como se comportar/controlar. Nestas entrevistas, as crianças
mostraram que algumas se sentem mais espreitadas que escutadas, na verdade. Demonstraram
também que elas têm menos consciência dos desejos de seus pais. Em relação ao seu futuro,
levaram em conta a realidade social a que pertencem, considerando inclusive seus resultados
escolares. Perceberam, ainda, a complexa influência de sua educação nas relações que
estabelecem com seus pares nos vários agentes de socialização. Por fim, mesmo diante das
diferentes práticas educacionais, influenciadas por diversos fatores em um complexo quadro
de interações, os efeitos da socialização são percebidos e participados pelas crianças.
Enfim, nesta construção teórica e prática sobre as infâncias, evidenciamos os
processos de socialização contemporâneos constituindo, construindo e desconstruindo
49
perspectivas, caracterizando a sociologia da infância. Conforme Gomes (2011): “a ordem da
vida social já posta, organizada a partir de práticas e posições, repete-se quotidianamente e
está pautada por relações de poder e dominação, mas é sobretudo sobre essa rotina que as
crianças agem.” Pensar espaços de socialização, neste momento, significa oferta de espaço
para diálogos, ações, participações e interpretações com o mundo.
Figura 4 – A criança tem um corpo e uma história
Fonte: Tonucci, 1997
50
4 CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL E DA EDUCAÇÃO ESPEC IAL
...eu sei Que a vida devia ser
Bem melhor e será (GONZAGUINHA, 1982).
4.1 A construção social da infância: do direito à Educação Infantil
A ideia de infância que temos hoje decorre de uma construção social, histórica e
cultural, o que equivale afirmar que as noções e concepções de infâncias modificam com o
tempo, o espaço e lugar social que cada sujeito ocupa. Ao recuperarmos a ideia de infância,
numa perspectiva histórica, podemos compreender melhor a distância que tal conceito adquire
em cada momento.
Assim, é possível apontar, de acordo com Kramer (1984), que na idade média as
crianças tinham papel ativo, junto aos adultos, inseridas em todas as situações e
acontecimentos sociais. A partir das mudanças socioeconômicas, caracterizando o fim deste
período, assistiu-se o surgimento da sociedade capitalista, configurando gradativamente um
espaço mais urbano-industrial. Neste novo contexto, as crianças passam a ser separadas da
sociedade, a ser cuidadas, escolarizadas e preparadas para uma vida futura. Divulga-se uma
ideia de infância baseada no modelo idealizado pela sociedade burguesa, sob critérios de
idade e de dependência do adulto. No século XVIII, parte da Europa assiste a emergência de
uma ciência política liberal, a partir da qual os sujeitos passam a ter mais importância para o
Estado. A arte de governar irá se direcionar à preocupação com o bem-estar e a felicidade
social, a fim de alcançar uma segurança nacional pela autoregulação. A criança pequena,
neste contexto, era concebida como futuro da nação.
Com a autoregulação do estado liberal europeu, os sujeitos se tornam objetos de
interesses públicos para controle dos direcionamentos econômicos e dos sujeitos de direitos,
envolvidos pela tríade “mercado, sociedade civil, cidadania” (BOBBIO,1992, p. 2) Ainda
segundo este autor, John Locke e Jean J. Rousseau destacam bem as orientações para a época,
nas quais respectivamente destacamos: “os homens são livres e iguais” e “deixar a ignorância
51
e apropriar-se de si inclusive para celebrar contratos”. (BOBBIO,1992, p. 19). A criança,
nesta perspectiva, é tida pelo adulto como um ser economicamente não produtivo que deve ser
alimentada e protegida. Seria pela aspiração educacional, conforme Kramer (1984) refletiu,
que este pequeno sujeito poderia representar maiores ganhos para a sociedade. A educação
torna-se um valor de investimento a médio e longo prazo, contribuindo para aumentar o
capital familiar, com variações dependendo do grupo social que a família ocupa.
Assim, a concepção de criança foi sendo constituída pelo campo político e discursivo
do liberalismo. Verifica-se no século XIX, na Europa, a proliferação de disciplinas a fim de
ajustar os indivíduos à sociedade em aparelhos de produção e reprodução que se
complexificam – censos, estatísticas, controle de doenças, índices de natalidade (BUJES,
2003). Tais procedimentos, caracterizados pela racionalidade política irão se estender à
infância para suprir as deficiências da saúde e da nutrição, na direção do modelo capitalista
cuja organização depende de uma estrutura de classes. A expansão do discurso oficial de
proteção e favorecimento aos desfavorecidos, explorados, marginalizados, de baixa renda,
carentes, deficientes, inferiores se direcionou também com medidas de implementação de uma
escola compensatória – inclusive uma pré-escola compensatória. Crianças pequenas, nesse
modelo, também precisam superar suas privações culturais e financeiras. Kramer (1984)
reporta-se ao pensamento de Froebel 28 e depois Montessori29 – do século XIX e início do
XX, apontando a contribuição de cada autor para a constituição do direito à educação de
crianças pequenas. A autora, desenvolvendo trabalhos em favelas da cidade do Rio de Janeiro,
com crianças pobres, enfatizou a estimulação cognitiva para sanar suas supostas deficiências
assim como a necessidade da assistência médica e odontológica, podendo ser caracterizados
como antídotos às condições em as crianças pobres estavam sujeitas no sistema capitalista.
Kramer (1984) pontuou ainda que somente após a Segunda Guerra Mundial, uma série de
fatores contribuiu para valorizar a expansão mundial de pré-escolas, mesmo que de caráter
compensatório: necessidades das mulheres saírem para o trabalho para aumentarem as rendas
familiares e até mesmo manter a família na ausência do homem no pós-guerra; garantia de
28 O alemão Friedrich Froebel (1782-1852) foi um dos primeiros educadores a considerar o início da infância como uma fase de importância decisiva para a formação. Froebel viveu em uma época de mudança de concepções sobre as crianças e fundou os jardins-de-infância, destinado aos menores de 8 anos. Para ele, as brincadeiras são o primeiro recurso no caminho da aprendizagem; não são apenas diversão, mas um modo de criar representações do mundo concreto com a finalidade de entendê-lo. 29 Maria Montessori (1870-1952) foi uma educadora italiana. Doutorou-se em medicina pela Universidade de Roma. Aos 25 anos começou a dedicar-se às crianças anormais, na clínica da universidade, mudando os rumos da educação tradicional, que dava maior privilégio à formação intelectual. O método Montessori era ativo quanto à criação e aplicação, cujo objetivo principal era o desenvolvimento de atividades motoras e sensoriais visando, especialmente, à educação pré-escolar.
52
emprego a professoras, enfermeiras e outros profissionais; além de “fornecer um ambiente,
que pretendia ser, saudável e emocionalmente estável para crianças carentes de dois a cinco
anos de idade” (KRAMER, 1984, p. 27). Muito embora, as primeiras experiências Europeias
de educação coletiva de crianças pequenas – as creches – datem do século XVII, desde o
século XIX havia os jardins de infância, voltados às crianças da elite a partir dos 4 anos de
idade.
Em nosso país, durante os anos de colonização – principalmente a partir do século
XVIII – podemos destacar as rodas dos expostos, instituições de cunho religioso que acolhiam
as crianças abandonadas nas primeiras idades e a Escola de Aprendizes Marinheiros, para os
meninos maiores de 12 anos. A partir dos estudos de Moncorvo Filho30 sobre a proteção da
infância no Brasil, da época da colonização até os anos de 1920, aproximadamente, Kramer
(1984) destacou a pouca ênfase em projetos voltados para as crianças. Somente aparecendo
projetos isolados, elaborados de forma particular e principalmente de médicos. De meados do
século XVIII ao XIX – o Código Civil vigente no regime do Império se referia ao menor
desvalido como delinquente ou criminoso, apresentando medidas repressivas para solucionar
os problemas ‘daquele menor’. A autora verificou que faltava interesse da administração
pública pelas condições da criança brasileira.
Kuhlmann Jr (2000) descreveu que as concepções de uma educação compensatória,
com assistência nutricional, médica e odontológica, chegaram ao Brasil no período do
Império, na década de 1870, mas somente na República – a partir do início do século XX –
criaram as primeiras instituições para atender às crianças. Neste momento, ainda intensamente
se pensava na “infância desamparada”, cujas proposições visavam promover a organização
familiar. “De certo modo, isso expressa a tradição colonizadora da catequese jesuítica que
previa o recrutamento dos pequenos curumins como forma de interferir nas culturas nativas”
(KUHLMANN JR, 2000). As proposições de creches e jardins às crianças pequenas também
estavam associadas às ideias de eugenia e higienização a favor da construção de uma raça
civilizada e do bem-estar geral da nação. Segundo o autor, a educação nesta época pode ser
vista como fonte de “revigoramento da raça”. A formação do cidadão passava pelo cultivo da
polidez, ordem e senso estético em exercícios regrados e conduzidos por uma mestra.
Para Kramer (1984), a partir do século XX, a situação começou a alterar com a ideia
de proteção da infância despertando, mas permanece o atendimento restrito e iniciativas
isoladas/localizadas. “Em 1908, teve início a primeira creche popular cientificamente dirigida
30 Sobre a situação do Médico Arthur Moncorvo Filho ver Wadsworth (1999).
53
a filhos de operários até dois anos e, em 1909, foi inaugurado o Jardim de Infância Campos
Salles, no Rio de Janeiro”. (KRAMER, 1984, p. 54). No país, assistiu-se a intensificação de
programas de higiene infantil – médica e escolar. Nas primeiras décadas do século passado,
teve-se a inauguração de órgãos públicos voltados para o atendimento e discussão de questões
relativas às crianças, como: Departamento da Criança no Brasil – 1919; Departamento
Nacional da Criança (DNCr)– 1940; Serviço de Assistência a Menores – 1941; Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF) – 1946; Organização Mundial de Educação Pré-
Escolar (OMEP) – 1948. A finalidade de cada órgão era específica, mas no geral fomentavam
iniciativas de amparo à criança e à mulher grávida pobre, publicação de boletins, divulgação
de conhecimentos relativos às crianças, promoção de congressos, proclamando a necessidade
de atendimento à infância brasileira. Nessas publicações e ações, segundo Kramer (1984), foi
possível constatar a necessidade de preparação das crianças para se tornarem os adultos
desejados socialmente para o amanhã e a necessidade do fortalecimento do Estado brasileiro.
Contudo, os problemas relacionados às crianças eram tratados de forma homogênea, não os
analisando na lógica imposta pelo modo de produção capitalista, especialmente no que diz
respeito às desigualdades sociais, responsabilizando, via de regra, às próprias crianças e suas
famílias, por suas condições de vida degradadas:
A dissolução atual da família, a dissociação de seus elementos pelo enfraquecimento da autoridade paterna, pela ausência diária da mulher do recinto do lar, pela guarda dos menores em mãos mercenárias dão à família moderna uma estrutura frágil e inconsciente. (KRAMER, 1984, p.62).
Educação tornou-se possibilidade de ascensão social e passou a ser defendida, a partir
de 1930, como direito de todas as crianças, consideradas como iguais – numa organização
social que se estabelecia como padrão para a “nova burguesia urbano-industrial”. (KRAMER,
1984). Essa ideia foi reforçada pela articulação do Movimento Escolanovista, que se
despontava e crescia nos Estados Unidos e Europa, influenciando os intelectuais brasileiros. O
reforço ao patriotismo e as medidas de conciliações políticas nacionais - com o fim da
estratégia do café-com-leite31 – influenciaram a conjuntura administrativa educacional para
com a infância brasileira. Os programas de atendimento à criança estavam relacionados à
assistência médico-pedagógica para o desenvolvimento da nação, para a formação de uma
raça forte e sadia. A partir de 1930, o Estado convocava associações particulares para
31 Política de revezamento do poder nacional executada na República Velha entre 1898 e 1930, por presidentes influenciados pelo setor agrário do café do estado de São Paulo – o mais poderoso economicamente - e Minas Gerais - maior polo eleitoral do país da época e produtor de leite.
54
colaborarem com a proteção à infância. Nessa ação, o governo demonstrava a importância dos
assuntos relativos à infância ao mesmo tempo em que decretava sua impossibilidade de
resolvê-lo. Assim, os atendimentos prestados neste período podem ser caracterizados como
assistencialistas. Durante as décadas de 1940 e 1950, intensificam-se estudos e pesquisas
sobre as crianças e suas condições no Brasil pelo Departamento Nacional da Criança e pelo
Serviço de Assistência a Menores. Porém, Kramer (1984) verificou que o conceito de infância
permanecia único, apoiado na idealização da classe burguesa. Os programas e campanhas
anunciavam medidas de combate à desnutrição, vacinações, entre outras pesquisas de cunho
médico, fornecimento de auxílio técnico em hospitais e maternidades, permanecendo a
tendência individual-assistencialista, inclusive com programas de fortalecimento da família e
educação sanitária. Kulhmann Jr (2000) destacou que na década de 1950, houve movimentos
localizados de escolas em defesa de uma educação que superasse as concepções
compensatórias por uma educação com atividades artísticas e intelectuais criadoras para as
crianças, como o Colégio Bennett de formação de professoras no Rio e Janeiro e a Sociedade
Pestalozzi em Belo Horizonte, por exemplo. A partir da década de 1960, Kramer (1984)
analisou que a expansão das pré-escolas estava diretamente relacionada às pesquisas sobre o
pensamento da criança e a influência da linguagem no rendimento escolar. Desta forma,
aquelas crianças que estavam “privadas” tanto educacional quanto culturalmente chegariam à
escola elementar32 já caracterizadas pelo fracasso, necessitando de uma educação pré-escolar
como medida preventiva, numa “guerra contra a pobreza”, conforme descreveu em seus
estudos do Projeto Head Start nos Estados Unidos em 1965. Esse projeto redundava, segundo
a autora, no interesse por ‘melhorias sociais’ advindas do sentimento de culpa pelo fosso entre
ricos e pobres naquele país. Aprofundando esses aspectos Kramer (1984) apontou ainda que
desde a implementação das políticas de favorecimento à expansão de pré-escolas de caráter
compensatório várias modificações gradativas aconteceram, diversificando os modelos de
compensação. Seu alerta foi uma chamada a todos os estudiosos e interessados na educação
infantil, pois as políticas compensatórias estavam apenas se tornando diferentes, mas suas
tendências permaneciam claramente com as mesmas fundamentações teóricas de intervenção
precoce em favorecimento à eliminação das desvantagens educacionais. Somente na década
de 1960 foram instituídas medidas legais relativas ao direito à educação das crianças menores
de sete anos de idade, principalmente pela promulgação em 1961 da Lei n.4024, que
determina as Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, que destinava dois artigos para a pré-
32 De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 5692/71, a escola elementar era obrigatória dos 7 aos 14 anos de idade, caracterizando o ensino de 1º grau.
55
escola. Essa garantia legal oferecia à geração da infância o local adequado à educação, mesmo
que na superficialidade, pois o atendimento escolar era principalmente para filhos de mães
trabalhadoras:
TÍTULO VI Da Educação de Grau Primário CAPÍTULO I Da Educação Pré-Primária Art. 23. A educação pré-primária destina-se aos menores até sete anos, e será ministrada em escolas maternais ou jardins-de-infância. (BRASIL, 1961).
Na década de 1970, tem-se um retrocesso legal, pois a Lei nacional n.5692 de 1971,
que fixou diretrizes e bases para a educação de 1º e 2º graus, referiu apenas aos locais de
ensino antes dos sete anos de idade sem determinar financiamento, organização e atribuições,
além de ter revogado os artigos da legislação anterior – 4024/61. A legislação, então, pode ser
considerada ambígua e omissa quanto a medidas de viabilização para a maioria da população:
CAPÍTULO II Do Ensino de 1º Grau Art. 19. § 2º Os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade inferior a sete anos recebam conveniente educação em escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes. (BRASIL, 1971).
Ainda na década de 1970, aconteceram seminários que reuniram profissionais e
pesquisadores da infância visando a definição de bases teóricas e projetos para a pré-escola,
assim como o estabelecimento de normas técnicas buscando caracterizar esta etapa do ensino
além analisar perspectivas de programas já realizados até aquele momento. Desta forma, os
seminários organizados pretendiam treinar e atualizar os participantes nos aspectos de
planejamento da educação escolar. Apesar dessas discussões, ainda permaneceram sugestões
compensatórias de alguns órgãos de governo. Kramer (1984).
Contudo, na mesma década também verificamos que o Projeto Casulo da Legião
Brasileira de Assistência (LBA), implementado em todo o território brasileiro a partir da
solicitação dos municípios e estados, foi o único programa, segundo Kramer (1984), até então,
que visava o atendimento nutricional associado a atividades recreativas. Por outro lado,
Campos, Rosemberg e Ferreira (1995) descreveram que a experiência da LBA, mesmo sendo
o único com abrangência nacional e tendo um alto índice de funcionários, permanecia com
caráter emergencial e assistencialista devido à diversidade na qualidade do atendimento às
crianças: insuficiência per capta para a manutenção das crianças, a falta de uma única gestão
com os vários convênios estabelecidos, a ausência de recursos humanos para supervisão
sistemática e treinamento das equipes, instalações procurando aproveitar espaços ociosos da
56
comunidade, com equipamentos simples. Estas características se apresentaram como
elementos dificultadores de um trabalho pelas crianças.
No entanto, para Kramer (1984) o projeto da LBA foi a quebra do paradigma de uma
educação inicial não-escolarizada com vistas a resolver por si as problemáticas da infância.
Uma concepção que introduziu o oposto das concepções até o momento exaltadas de processo
de mudança nas estruturas básicas da sociedade, na qual as crianças da classe desfavorecida
nada traziam de suas casas e famílias, necessitando ser preparadas para ingressarem na escola
elementar. Porém, para Campos, Rosemberg e Ferreira (1995), Santos e Vieira (2006) e
Kuhlmann Jr (2000), o Projeto Casulo mantém as mesmas posturas governamentais de caráter
assistencial, mesmo que tendo sobrevivido às mudanças políticas no país de 1977 a 1987 e
oferecendo atendimento em nível nacional, pois tratava-se mais de evitar que as crianças
morressem de fome do que o desenvolvimento de critérios de qualidade para a educação de
crianças pequenas.
Kuhlmann Jr (2000) também analisou o Movimento de Lutas Por Creches (MLPC) em
1979 como reivindicações que contribuíram para imprimir ritmo à expansão do atendimento
às crianças. Segundo o autor, a ampliação do trabalho feminino nos setores médios levou a
classe média a buscar instituições educativas para deixarem seus filhos. As instituições de
educação infantil, ainda de acordo com Kuhlmann Jr (2000), neste momento da história
brasileira33 representaram a possibilidade para as mulheres se “ libertarem do jugo das
obrigações domésticas”, superando os limites da estrutura familiar e apaziguando os conflitos
sociais por serem vistas como meio para uma sociedade igualitária. Nesta perspectiva, a luta
pela educação pré-escolar pública, popular “se confundia com a luta pela transformação
política e social mais ampla”. (KUHLMANN JR, 2000, p. 11).
O atendimento às crianças foi estabelecido de forma barata pelo governo, inclusive em
classes anexas nas escolas primárias, tendendo mais a contribuir para solucionar os problemas
da pobreza – fome, promiscuidade e marginalidade – e as altas taxas de reprovação no ensino
de 1º grau. De toda forma, o Movimento de Luta por Creches legitimou o atendimento das
crianças de forma geral e não mais como uma destinação exclusiva aos filhos dos pobres.
A professora Silva (2008) apontou que as lutas pró-creches das classes populares nas
décadas de 1970 e 1980 representaram uma tentativa de responder às suas necessidades
passando de um discurso pessoal para um discurso coletivo. Esse movimento resultou na
assimilação pelas autoridades políticas de discursos e ações que enfatizavam a importância do
33 Momento no qual alguns setores da sociedade brasileira muito questionavam o regime militar, como os movimentos sindicais, populares, feministas e estudantis, generalizando os conflitos sociais no país.
57
desenvolvimento das crianças, incrementando o atendimento à criança pequena. Apesar da
complexidade do campo de relações a este respeito – participação popular/ autonomia
institucional/ crescimento da sociedade e da pobreza no Brasil – Silva (2008) ponderou que a
participação do MLPC constituiu uma referência para a legitimação do atendimento
educacional regular público à infância menor de sete anos.
Ao recuperarmos esta trajetória, pudemos perceber o caráter burocrático e
fragmentado de atendimento às crianças pequenas pela tentativa de superação dos problemas
da nação de um sistema social estratificado e, portanto, desigual, enfatizando a assistência à
saúde e ao bem-estar da família para depois se atingir programas de educação. O direito à
educação das crianças com menos de sete anos de idade começou a despontar, no entanto,
apenas uma minoria desta população foi contemplada, revelando que o setor educacional não
estava dentre as prioridades básicas da política nacional. A criança era vista como culpada
pelo seu fracasso, a família era considerada doente, o meio inadequado e a cultura popular
inferior, sem questionamento mais direto aos próprios processos de escolarização e das raízes
socioeconômicas dos problemas analisados. Os planos de atendimento pré-escolar
incorporavam concepções compensatórias. Todavia, a educação pré-escolar passava a ser
gradativamente reconhecida como fator de superação das desigualdades de oportunidades e
libertação da dependência sociocultural (KRAMER, 1984). Segundo Silva (2008), a luta
social pela democracia e cidadania mesmo envolvendo as ambivalências teóricas, históricas e
políticas da sociedade ocidental, também constituiu a legitimação dos direitos para a criança
pequena.
Belo Horizonte também participou da construção do direito à escolarização para as
crianças pequenas. Alguns estudos, como o de Filgueiras (1994) e Veiga (2001), abordaram
sobre a participação das mulheres dos bairros de periferia pela criação e implementação de
creches comunitárias para que pudessem trabalhar e sustentar suas famílias. Os movimentos
na capital mineira, segundo estas pesquisadoras, estavam ligados tanto à Igreja Católica
quanto aos movimentos feministas, sendo ambos importantes no processo por possibilitar
visibilidade às reivindicações de construção, substituição e ampliação das referências de
atendimento às crianças. As intervenções da Associação de Apoio à Creche Comunitária Casa
da Vovó (AACC) e a Associação Movimento de Educação Popular Integral Paulo Englert
(Ameppe) também foram agentes externos do MLPC que influenciaram a construção dos
ideários e das práticas com propostas de princípios e organizações das estruturas de
atendimento às crianças além dos projetos de formação dos educadores, inclusive com
publicações sistemáticas de experiências, que muito contribuíram para as propostas nacionais
58
e de Belo Horizonte. A Ameppe, por exemplo, organizava-se para estruturar Programas de
Educação Infantil, Programa de Políticas Públicas, Programa de Documentação, Publicação e
Produção do Conhecimento, Programa de Educação e Escolarização Popular que foram
influenciadores das ações de reivindicações. Conforme Filgueiras (1994) e Faria Filho (1993)
analisaram, em Belo Horizonte o destaque das lutas sociais prevaleceu pela conquista de
creches conveniadas (e não de creches públicas) acompanhadas da gestão dos seus
equipamentos pela comunidade, não conferindo ao Estado a atribuição de gerir a educação à
infância de forma afastada da intervenção popular. As reivindicações, então, formulavam-se
muito mais no sentido de exigir do Estado a contrapartida social pelos impostos pagos em
ações que melhorassem as condições de vida dos grupos articulados aos movimentos social,
neste caso principalmente de mulheres e mães. Silva (2008) disse inclusive que o MLPC
fortaleceu a perspectiva “preventiva” arrolando às creches comunitárias os argumentos de que
tirariam as crianças da rua e possibilitariam a diminuição da delinquência e do preconceito
social à marginalização devido a pobreza crônica de certos grupos atendidos.
A partir da década de 1980, com o fim do regime ditatorial, pudemos perceber várias
reivindicações sociais. O ressurgimento dos movimentos sociais pós-regime militar
possibilitou dar maior visibilidade para a educação das crianças pequenas, pelo direito à
educação em todos os níveis e pela qualidade da educação integral dos sujeitos.
Manifestações e exigências sociais intensificaram no sentido de regulamentação e diretrizes
para uma educação mais igualitária. A participação de diferentes entidades e organizações foi
fundamental à elaboração de documentos que buscavam a superação das desigualdades e
defendiam a atenção à criança. Destacamos, dentre elas: Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação - CNTE, Conselho Nacional de Secretários de Educação -
CONSED, Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino -
CONTEE, Federação das Indústrias do Estado do Paraná - FIEP, Fórum Nacional dos
Conselhos Estaduais de Educação - FNCEE, Grupo de Institutos - GIFE, Fundações e
Empresas, Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura UNESCO,
Organização Mundial para Educação Pré-Escolar - OMEP, Movimento Interfóruns de
Educação Infantil do Brasil MIEIB, União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação
UNCME, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação - UNDIME, Secretaria de
Educação Superior (SESU – MEC), Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
(SETEC – MEC), Secretaria de Educação do Estado de São Paulo SEESP, Secretaria de
Estado da Educação SEED, Secretaria de Atenção à Saúde e Secretaria de Política de
Assistência Social sobre questões relacionadas à infância e à educação infantil.
59
Contudo, Campos, Rosemberg e Ferreira (1995), alertaram que o atendimento às
crianças nos anos de 1980 ainda era feito por órgãos com autonomia administrativa, técnica e
financeira – Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) e Secretaria Especial
de Ação Comunitária (SEAC), tendo como finalidade uma política de bem-estar e não o
engajamento educacional enquanto direito das crianças. O Ministério da Educação (MEC)
apresentava pequeno interesse em relação às pré-escolas, criando, extinguindo e modificando
diferentes órgãos gestores da educação pré-escolar, não ultrapassando o seu nível de atuação
como “Coordenadoria”. Campos, Rosemberg e Ferreira (1995) apresentaram que em 1984 as
despesas do MEC com as pré-escolas foram de 4% de seu orçamento e em 1987 foram apenas
de 2,89%.
A promulgação da Carta Magna de 1988, segundo Campos, Rosemberg e Ferreira
(1995), marcou profundamente a década por reconhecer o direito à educação das crianças
pequenas. A Constituição de 1988 34 possibilitou ações, pesquisas e movimentos organizados
em prol da educação de crianças pequenas, pela mudança na legislação educacional vigente,
entre outras. Desta lei podemos destacar a regulamentação da educação, incluindo o nível da
educação infantil como obrigatória e gratuita:
CAPÍTULO III DA EDUCAÇÃO, DA CULTURA E DO DESPORTO Seção I DA EDUCAÇÃO Art. 208 IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade. (BRASIL, 1988).
Em Belo Horizonte a Lei Orgânica Municipal também expôs sobre a garantia do
direito à Educação Infantil e à Educação Especial Regular:
Art. 157- DA EDUCAÇÃO § 1º II - atendimento obrigatório e gratuito em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade, em horário integral, bem como acesso automático ao ensino de primeiro grau; V - atendimento à criança em creche, pré-escola e no ensino de primeiro grau, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, de assistência à saúde e de alimentação, inclusive, para a carente, nos períodos não-letivos; VIII - atendimento educacional especializado ao portador de deficiência, sem limite de idade, na rede regular de ensino, bem como vaga em escola próxima a sua residência; Art. 158 – Dispõe da promoção da educação pré-escolar e do ensino de primeiro e segundo graus com 11 princípios;
34 Alterada pela Redação da Emenda Constitucional n.53, de 2006. Então, atualmente é oferecida até os 5 anos de idade, mas em 1988 era até os 6 anos de idade.
60
Art. 159 - Para o atendimento de crianças de zero a seis anos de idade, o Município deverá: II - atender, por meio de equipe multidisciplinar, composta por professor, pedagogo, psicólogo, assistente social, enfermeiro e nutricionista, às necessidades da rede municipal de creches; Art. 161 - Fica assegurada a cada unidade do sistema municipal de ensino, inclusive às creches, a destinação de recursos necessários à sua conservação, manutenção e vigilância e à aquisição de equipamentos e materiais didático-pedagógicos, conforme dispuser a lei orçamentária. Art. 162 - O Município elaborará plano bienal de educação, visando à ampliação e à melhoria do atendimento de sua obrigação de oferta de ensino público e gratuito. (BELO HORIZONTE, 1990).
A década de 1990 culminou com reivindicações sociais, encontros de pesquisadores,
profissionais e interessados na educação infantil propondo estratégias específicas para a
educação escolar das crianças, assim como na efetivação legal de diretrizes, normas e
financiamentos para este nível de ensino, principalmente com a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação n.9394 de 1996 e o Referencial Curricular para a Educação Infantil (RCNEI) em
1998.
Faria e Palhares (1999) abordaram as várias propostas oficiais em favor da educação
infantil brasileira. Elas destacaram que a equipe da Coordenação Geral da Educação Infantil -
COEDI35 - produziu ao longo da década de 1990 documentos ímpares para a história das
crianças brasileiras, reconhecidas pelas suas características sociais, regionais, culturais e
econômicas. Destacamos: “Política de Educação Infantil” de 1993; “Por uma Política de
Formação do Profissional de Educação Infantil” de 1994; “Educação Infantil no Brasil:
situação atual” também de 1994; “Critérios para um atendimento em Creches e Pré-Escolas
que respeite os Direitos Fundamentais das Crianças” de 1995; “Proposta Pedagógica e
Currículo para a Educação Infantil: um diagnóstico e a Construção de uma Metodologia de
Análise” de 1996 e “Subsídios para Elaboração de Diretrizes e normas para a Educação
Infantil” de 1998. Faria e Palhares (1999) apontaram que esses documentos representaram um
significativo avanço nas relações entre representantes dos centros de produção de
conhecimentos sobre as infâncias brasileiras e o encaminhamento de Políticas Nacionais para
a Educação Infantil.
Na LDB, a Educação Infantil passa a compor a primeira etapa da Educação Básica
obrigatória a todos os brasileiros, assim como a organização para seu funcionamento,
35 Coordenação Geral da Educação Infantil, órgão direto da Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC.
61
caracterizando definitivamente a conquista do Direito à Educação das crianças com menos de
sete anos36:
Seção II Da Educação Infantil Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30. A educação infantil será oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. (BRASIL, 1996).
Outro grande avanço para a conquista do direito à educação das crianças foi a
elaboração dos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (RCNEI),
mesmo que caracterizado pelas consideráveis críticas à sua concepção de criança/infância
completamente oposta àquelas construídas nos documentos do COEDI ao longo da década de
1990. Cerisara (1999), apresentou críticas ao RCNEI, caracterizando a ruptura com o
reconhecimento das diversas realidades e contextos nacional que envolvem as crianças
brasileiras, assim como as suas especificidades, demonstrando total falta de maturidade do
sistema político em organizar um referencial único a todas as instituições de educação Infantil
do país.
Ainda na década de 1990, tivemos a promulgação da Lei n.8069 de 1990 – Estatuto
da Criança e do Adolescente, cujo enfoque à educação da criança e do adolescente se
caracterizou no Capítulo IV - Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, que
em seu Art. 53. definiu:
A criança e o adolescente têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho assegurando-lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. (BRASIL,1990).
Podemos evidenciar também, como base legal do direito das crianças pequenas, as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil sob a Resolução nº 5 de 17 de
dezembro de 2009 que institui propostas pedagógicas e orienta políticas públicas na área,
elaboração, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares,
assim como dispõe sobre a organização do trabalho, do tempo, do espaço para este
atendimento nesta etapa da formação. Conforme destaca:
36 Naquele momento, a Educação Infantil seria para crianças de 0 a 6 anos de idade. Somente em 2005 com a Lei Nacional n.11.114 é que se altera a idade de atendimento do Ensino Fundamental no nosso país, passando consequentemente a Educação Infantil atender às crianças de 0 a 5 anos de idade.
62
Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. Art. 4º As propostas pedagógicas da Educação Infantil deverão considerar que a criança, centro do planejamento curricular, é sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2009).
Deste modo, nas décadas de 1980 e 1990, as pressões foram fortes em busca da
legitimação jurídica à Educação Infantil, assim como os movimentos para sua expansão e
institucionalização qualificada37.
A partir dos anos 2000, mais pesquisas acadêmicas e a participação da sociedade
civil estão presentes nos movimentos relacionados à educação infantil. Contudo, é necessário
destacar ainda alguns paradigmas em conflito. Saber e poder estão conectados a formas de
governamento. Contradições são dificilmente superadas pelas formas sutis como se
apresentam, polemizam e aprisionam algumas “verdades acabadas”. (BUJES, 2003). O efeito
normalizador das práticas educativas voltadas às crianças pequenas é excludente e precisa ser
desnaturalizado para que se percebam as dinâmicas de poder em construção. A maquinaria
governamental em ação conecta o saber e o poder. Coloca o sujeito na ordem da moralidade,
mas ordena e orienta maneiras de entender o mundo. Uma análise minuciosa ainda se faz
essencial ao perscrutar as formas de governamento da infância, seja pela sua variação, sejam
pelas suas ações: fertilização assistida, testes ecográficos, gravidez monitorada, contracepção,
estímulo à maternidade, aleitamento, vacinas, escolhas de brinquedos, modelação de gostos
musicais, preferências de consumo, escolha de escolas pelos seus projetos político
pedagógicos, escolha das atividades extra-escolares, o estímulo à vigilância dos pais, às
programações de TV, os espaços da e na escola, os espaços de lazer, as revistas destinadas a
estes sujeitos e uso dos templos de consumo! Estes são temas que demandam novos estudos.
Deste modo, a expansão da Educação Infantil no Brasil se apresenta hoje crescente e
garantida legalmente, seja pela participação mais consistente da sociedade, seja pelas
profundas mudanças ocorridas – intensificação da urbanização, participação da mulher no
37 São observadas na legislação específica da educação infantil: qualidade do terreno e da construção. Adaptação dos equipamentos e materiais pedagógicos; clima afetivo; jornada e custo de pessoal. Facilidade de acesso à população definida como prioritária e o perfil profissional necessário ao desempenho das tarefas que compõem um serviço integral de atendimento às crianças pequenas: elaboração pedagógica, alimentação e higiene. Conferir em ROSEMBERG, 1995.
63
mercado de trabalho, alteração da organização e estrutura familiar, reconfiguração do sistema
capitalista e, assim, as experiências da infância vão se constituindo.
Diante deste contexto de construção de direitos, precisamos compreender como se deu
também o cenário do direito à educação daqueles que são hoje considerados como sujeitos
com necessidades educacionais especiais.
4.2 O convívio e confronto das diferenças
Em todas as sociedades existem pessoas com algum tipo de deficiência física,
sensorial ou mental, cujas causas e consequências costumam ser agravadas em decorrência de
cada cultura. No entanto, deficiência alguma poderia ser motivo de discriminação, pois
pertencemos a um mesmo grupo de seres vivos, único, mas diverso!
O tratamento dispensado às pessoas com necessidades educacionais especiais evoluiu
dos cuidados primários e do confinamento em instituições asilares ao reconhecimento do
direito à educação, reabilitação, seguridade social, trabalho, transporte, lazer e cultura.
Analisando a trajetória da educação especial a partir de Bautista (1997), podemos
afirmar que as primeiras experiências positivas aconteceram na Europa, expandiram para os
Estados Unidos, Canadá e outros países, inclusive o Brasil. A primeira impressão sobre
educação de deficientes foi na França em 1620 –‘Redação das letras e a arte de ensinar os
mudos a falar’ de Jean Paul Bonet. Em 1770, Charles M. Eppée fundou a primeira instituição
especializada na educação de surdos-mudos em Paris, inventando o ‘método oral’. Em 1784, a
fundação do Instituto Nacional dos Jovens Cegos inspirou o surgimento de instituições
similares em toda Europa. O Instituto, criado por Valdin Hauy, ensinava leitura tátil com
letras em relevo. Charles Barbier em 1819 apresentou ao Instituto o sistema de escrita
codificada e expressa por pontos salientes a candidatos militares. Em 1829, o jovem cego
Louis Braile adaptou o código militar às necessidades dos cegos, transformando-o no
conhecido sistema que recebeu seu nome.
Jean Marc Itard, médico francês, no século XIX, sistematizou os primeiros métodos
para o ensino de crianças com deficiência mental, elaborando o primeiro manual de educação
de ‘retardados’, através do estudo de caso de uma criança ‘idiota’, cuja regra básica de
aprendizagem era a repetição de experiências de sucesso. O médico Edward Seguin fundou o
primeiro internato público para crianças ‘retardadas mentais’ na França, a partir dos estudos
64
de Itard. Seguin criou um currículo baseado em neurofisiologia, utilizando material didático
com cores e músicas para motivar as crianças, orientando por um treinamento sistemático os
professores.
Escolas para cegos, surdos e retardados proliferaram de 1817 a 1850. Entre 1850 e
1920, houve um crescimento de escolas residenciais nos Estados Unidos sob influência do
modelo europeu. Tais escolas passaram a ser concebidas como instituições tutelares para
crianças e adultos sem esperança de vida independente e sem os programas de externato.
Maria Montessori, médica e educadora italiana, aprimorou os estudos desenvolvendo uma
metodologia com ênfase na ‘auto-educação’, empregando uma grande variedade de materiais
didáticos - blocos, encaixes, recortes, objetos coloridos, letras em relevo e outros. Seu método
mostrou-se eficiente, sendo difundido para as crianças na idade escolar.
As pessoas com deficiências tornaram-se cada vez mais ativas, constituindo
organizações próprias, integradas por seus familiares em defesa de melhores condições de
vida. Em 1940, nos Estados Unidos, surgiu a primeira associação organizada por pais de
crianças com Paralisia Cerebral, visando angariar fundos para centros de tratamentos,
pesquisas e treinamento de pessoal. Em 1950, os pais das crianças com deficiência mental
criaram a National Association for Retarded Children – NARC, que exerceu grande influência
mundial.
Então, o período anterior ao século XIX foi caracterizado pela total exclusão social.
Ao final do século XIX e até meados do século XX, verifica-se uma segregação social. A
partir da década de 1960, assiste-se a um processo de integração social. No tempo atual,
vivencia-se um processo de adequação da sociedade às necessidades de seus membros:
Inclusão Social.
No Brasil esse processo acompanha as tendências mundiais. E, enfatizando a
perspectiva da inclusão, alguns documentos têm sido de fundamental importância para a
construção de uma nova concepção de mundo, sociedade e de ser humano, que garantam os
seus direitos e que possa romper com a ética escolar clássica. Dentre eles, é importante
destacar:
a) A Constituição Brasileira de 1988 que garante a todos o acesso à escola:
• ... a construção de uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o
desenvolvimento nacional; reduzir as desigualdades sociais; promover o bem de
todos, sem preconceitos. (BRASIL, 1988, art 3º).
65
b) A Declaração de Salamanca: Conferência Mundial sobre necessidades
educativas especiais: acesso e qualidade, na Espanha de 7 a 10 de junho de 1994:
• [...] as escolas devem acolher todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outros. Devem acolher crianças com deficiências e bem dotados; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas. (UNESCO, 1994; p.18).
c) A LDB n.9394 de 1996, que garantiu o acesso de qualquer criança à escola
regular preferencialmente:
• Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. (BRASIL,1996).
d) A Convenção de Guatemala de 2001 que reafirma às pessoas com deficiências
os mesmos direitos e liberdades que as demais pessoas.
e) As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica que
determinam sobre os princípios, a operacionalização dos sistemas de ensino, o
currículo, a questão da terminalidade específica para o atendimento aos educandos
com necessidades educacionais especiais, iniciando pela primeira etapa da educação
básica – nosso foco em evidência:
• Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos terá início na educação infantil, nas creches e pré-escolas, assegurando-lhes os serviços de educação especial sempre que se evidencie, mediante avaliação e mediação com a família e a comunidade, a necessidade do atendimento educacional especializado. (BRASIL, 2001).
f) Outras Resoluções e Pareceres Nacionais, a partir de 2001, que foram
regulamentando a Educação Especial – Lei n.10.172/01 (Plano Nacional de
Educação), Lei n.853/89 (Apoio às pessoas com deficiências), Lei n.8069/90 (Estatuto
da Criança e do Adolescente, com os artigos 2º e 5º), Decreto n.3.298/99 (Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência), Portaria MEC
66
n.679/99 (Requisitos de Acessibilidade), Lei n.10.098/00 (Normas e critérios de
acessibilidade).
• [...] estamos trabalhando para ter toda criança na escola e para
assegurar uma boa escola para todos. Integrando-se a esse processo, as
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica,
instituídas pela Resolução n.02/2001, da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação, vem representar ao mesmo tempo um
avanço na perspectiva da universalização do ensino e um marco fundacional
quanto à diversidade na educação brasileira. (BRASIL, 2001, p.6)
A inclusão postula uma reestruturação do sistema de ensino, com o objetivo de fazer
com que a escola se torne aberta às diferenças e trabalhe com a diversidade da condição
humana em suas singularidades. E, por fim, Godoy (2001) alerta: “a educação inclusiva não
ocorrerá por decreto, mas por mudanças estruturais”, (GODOY, 2001) que se caracterizam
por atividades escolares, por encontros de equipe para discussão de propostas específicas para
turmas nessa perspectiva.
Como se constituiu essa mudança sobre a inclusão na realidade escolar de ensino de
Belo Horizonte? A Prefeitura de Belo Horizonte de 1957 a 2003, conforme o documento
oficial de Proposições Curriculares (2009), atendia crianças de quatro a seis anos de idade em
horário parcial em 13 Pólos de Educação Infantil e em creches conveniadas. Porém, a
Prefeitura reconheceu desde 1983 a crescente demanda populacional em relação ao
atendimento às crianças pequenas, inclusive pela multiplicação das creches conveniadas.
Reconheceu também o importante papel do Movimento de Lutas Pró-Creches que desde essa
época atuou na garantia da continuidade do direito à educação da infância.
Em 1995, com a Escola Plural, proposta de organização das escolas da rede municipal
de Belo Horizonte em ciclos de idade, as crianças de 6 anos foram incluídas ao ensino
fundamental, sendo universalizado o seu atendimento em 1998. Com isso, as crianças de três
anos passaram a ser atendidas nos pólos e creches. E, em 2004 acontece a ampliação da
Educação Infantil para as crianças de zero a três e com jornada de tempo integral. Atualmente
e após vários “exercícios e propostas elaboradas” pela prefeitura, cria-se o cargo de educador
infantil e as Unidades Municipais de Educação Infantil – UMEI’s, vinculadas a uma escola
municipal já existente. Contudo, o governo municipal reconhece que não há, ainda, o
atendimento universal em relação à demanda. Inclusive, aponta a diversidade de formas de
atendimento na tentativa de garantia do direito das crianças: há escolas municipais de
67
Educação Infantil, há turmas da Educação Infantil em escolas de Ensino Fundamental e há as
UMEI’s (BELO HORIZONTE, 2009, p.16). Em 2004, a PBH atendia 2.400 crianças de três a
seis anos de idade e em 2008 passou a atender 14.800 crianças de zero a cinco anos.
A prefeitura declara que as muitas mudanças no cenário social e político promoveram
forte interferência na realidade da Educação Infantil (BELO HORIZONTE, 2009, p.16;
BELO HORIZONTE, 2009, p. 9), dentre elas a reformulação do conceito de “infância ou
infâncias” a partir dos estudos advindos da pedagogia e da sociologia. Expõe sobre o papel da
escola como espaço educativo que deve possibilitar vivências e experiências, organizadas
conscientemente e de maneira intencional, garantindo o desenvolvimento integral da criança.
E, ainda, há o compromisso da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte
(SMED/BH) para com a criança com necessidades educacionais especiais. Atender a esta
criança significa para o órgão público da capital mineira reconhecê-la como um cidadão de
direitos. Para contemplar a ação educativa comprometida com a cidadania e a formação
democrática, toda criança com necessidade educacional especial tem vaga compulsória
garantida pela SMED nas unidades de atendimento às crianças. O que se confirma pela
exposição de Lila, da direção da escola observada, quando questionada sobre se já tinha
alguma experiência com a educação inclusiva:
[...] em toda minha experiência sempre teve crianças especiais pelas escolas que passei. Tanto particulares como públicas: síndrome de Down, cadeirantes, dificuldades com fala, hiperativos. Todas as crianças sempre tiveram garantia de participação. (Entrevista, abr.2010).
Mas, apesar de reconhecer a diversidade de infâncias, a PBH estabelece como
atendimento prioritário àquela população infantil em situação de vulnerabilidade social,
situação de risco ou sem atendimento às suas necessidades básicas com 70% das vagas sendo
destinadas a esse grupo. Estabelece que 20% das vagas sejam por sorteio para os inscritos e
10% delas sejam para famílias que residam até 1Km de distância da unidade de educação
infantil. Segundo o documento, a intenção é de oferecer prioridade de oportunidade para
aqueles que se encontram em situação de desigualdade, conforme propõe o ECA.
Tais critérios de seleção nos levam a indagar sobre as reais formas de acolhimento às
infâncias: se a prioridade garante aos que estão em situação de risco a participação na escola,
os demais podem ficar de fora, que direito é esse que seleciona quem dele pode desfrutar?
68
As Proposições Curriculares38 da Prefeitura de Belo Horizonte (2009), também
apontam que além da construção das UMEI’s, foram projetadas para atender às necessidades
da criança pequena, houve implementações de acompanhamento e aprimoramento das
práticas pedagógicas nas instituições. A direção e coordenação apontaram para esse fato
quando interrogadas sobre qual o apoio oferecido pela SMED para o trabalho inclusivo:
[A SMED] Encaminhou estagiárias para atender as crianças. A acompanhante do Núcleo de Inclusão (Lauzir), a acompanhante Pedagógica (Tânia) e a acompanhante da Merenda (Lourdes), sempre nos ajudam a pensar estratégias de ação. (Vice Diretora Lila, entrevistada em 23/06/2010). A PBH oferece uma educação de qualidade porque é rica em materiais, recursos, estrutura financeira para excursões. Professores que não trabalham, é porque não querem. Na inclusão, há mais qualidade porque a criança está ganhando, mas faltava melhorar o atendimento. (Coordenadora Juliana, entrevistada em 07/06/2010).
As professoras, de um modo geral, reconhecem as Proposições Curriculares, mas são
bastante críticas com relação aos resultados práticos delas. Quando as dirigimos a mesma
interrogação de apoio da SMED, disseram:
Escola inclui, mas muitas vezes não tem como assistir. Não tem condições para acompanhar. (...) Vejo que a lei determina. Por parte dos órgãos públicos não vejo empenho. O estagiário, atualmente, para dar suporte, precisaria conhecer os casos com quais irá lidar e ter treinamento. Secretaria de Educação precisa investir mais e ter o olhar diferenciado. (Professora Lice, entrevistada em 07/06/2010).
Falta apoio às vezes, trocas. (...) Há uma política de participação da criança diferente que é seguida. (Professora Rita, entrevistada em 07/06/2010). Eu vejo a falta de suporte ao profissional, à criança. Também vejo que deixa a desejar, a relação que eles tem com o grupo acho muito vago, o pessoal da inclusão da PBH vem muito pouco à escola, não traz um médico, não conversam com todos que lidam com as criança, desde o porteiro que eu acho que é importante também. É, acaba que o estagiário é meio que jogado, ele não é direcionado para o que ele pode ou não pode fazer, o que é melhor para a criança, o que não é. Nem o professor, no que a criança consegue avançar ou não. Acho que eles colocam a criança atualmente mais para cumprir a lei, não no bem estar da criança, para oferecer o melhor para ela, para ela progredir. (Professora Maria, entrevistada em 10/05/2010). [A Lauzir, Responsável pelo Núcleo de Inclusão] vem aqui. Mas, como são muitos casos, prioriza de acordo com as necessidades. (Professora Isabele, entrevistada em 10/05/2010).
38 Documento Específico da PBH, complementar aos RCNEI, que pretende constituir-se como material de apoio ao trabalho dos educadores com enfoque na discussão ampla e coletiva do currículo da rede municipal de ensino para a Educação Infantil.
69
Deste modo, as Proposições Curriculares da SMDE trazem, em seu texto preliminar,
um projeto de cultura comum que deve ser desenvolvido com as crianças em experiências
educativas de aprendizagem numa perspectiva de direito à formação integral. Ressalta ainda
que não pretende ser uma forma de condução dos trabalhos educativos por ser uma proposta
de construção coletiva em toda rede escolar, assim como na escola observada.
4.3 A Escola Municipal Professor José Braz39
A escola municipal que foi acompanhada nesta pesquisa localiza-se na região oeste de
Belo Horizonte, caracterizada como local de atuação de uma grande mineradora e empresas
multinacionais, rodeadas de residências dos seus trabalhadores diretos e indiretos, além do
intenso comércio. Situa-se próxima da linha férrea que separa o centro comercial do Barreiro
e a Avenida Tereza Cristina, no limite entre os municípios de Belo Horizonte e
Contagem. Por tratar-se de uma escola da rede municipal, recebe as crianças residentes na
cidade de Belo Horizonte, embora esteja localizada no limiar dos municípios. Este fator gera,
inclusive, questionamentos da comunidade que não entende o fato da escola atender crianças
que moram longe, porém em BH, e não contemplar vizinhos, por sua vez de Contagem. A
região também apresenta áreas de risco em decorrência de enchentes e inundações.
A escola ainda não foi transformada numa Unidade Municipal de Educação Infantil,
mas atende apenas crianças na idade 2 anos e 8 meses até 5 anos e 8 meses. Estas crianças
provêm, em sua maioria, de pais jovens – entre 21 e 40 anos de idade – com nível de instrução
correspondente ao ensino fundamental incompleto, que trabalham normalmente em atividades
informais: pedreiros, faxineiras, vendedores, eletricistas, conforme descreve o Projeto Político
39 O Professor José Braz (1924-1983) nasceu em Vargem Linda, Município de São Domingos do Prata (MG). Era filho de Arthur Braz e Alice de Assis Fraga e teve seis irmãos. Estudou no Colégio Arquidiocesano de Ouro Preto e foi Membro efetivo do Grêmio Literário Tristão de Athaíde, também daquela cidade. Trabalhou e lecionou durante mais de 10 anos no Colégio Anchieta, em B. H., onde prestou muita colaboração, dando vazão à sua forte inclinação para as Letras e o Magistério. Em reconhecimento à sua amizade e dedicação, recebeu da direção do Colégio Anchieta carinho e respeito, através da homenagem de colocar seu nome em uma das escolas da rede municipal, decretada pelo Dr. Newton de Paiva Ferreira Filho, quando Secretário Municipal de Educação da prefeitura de BH. Foi também, comerciante e industrial no ramo de panificação, com marcante passagem pelo sindicato. Prestou serviço à editora Delta, tendo ali sido premiado como um dos seus mais atuantes e dinâmicos promotores de vendas, o que demonstrou mais uma vez sua grande tendência para a divulgação das letras e da cultura.
70
Pedagógico (2006) da escola. Este documento aponta ainda que poucas famílias são atendidas
pelos programas assistenciais do governo.
Figura 5 - vista da região onde está situada a escola, sobre um viaduto de acesso ao local.
Fonte: Arquivo do autor
A primeira iniciativa de educação voltada para as crianças surgiu na sede da Associação do
Bairro que ficava atrás da linha de trem que atende à mineradora - que pode ser vista na
primeira foto, onde está a segunda passarela, de telhado amarelo. Destaca-se que o local havia
sido anteriormente um matadouro de animais, depois foi uma horta coletiva, em seguida foi
construído um prédio para o funcionamento da Associação do Bairro, que disponibilizava
seus espaços para favorecer às demandas da população, de encontro para reuniões e de espaço
para o cuidado das crianças enquanto as mães iam para o trabalho. Hoje este local foi
transformado em uma passarela de travessia de pedestres sobre a linha de trem, com uma
praça com brinquedos e entrada para o shopping da região. Conforme descreve Lima (1989):
“Nada é mais dinâmico do que o espaço por que ele vai sendo construído e destruído”.
(LIMA, 1989)
Com o passar dos anos, o tráfego aumentou consideravelmente e devido ao grande
risco de acidentes a Associação conseguiu em 1982 que a PBH adquirisse um terreno nas
proximidades. Contudo, pode-se perceber que após a aquisição, as famílias proprietárias do
lote não saíram totalmente do terreno, sendo a geometria da escola recortada por casas
residenciais, conforme descrevem a diretora e sua vice. Elas pontuam também que há três
mandatos existem projetos de uso desses espaços pela escola em parceria com a prefeitura,
mas as negociações não fluem e os moradores não saem do local, mesmo já tendo sido
indenizados.
71
Figura 6 – Vista da entrada da escola
Fonte: Arquivo do autor
É num espaço físico que a criança estabelece a relação com o mundo e com as pessoas, e ao fazê-lo esse espaço material se qualifica (...) o espaço em que se vive, ou o que a memória preserva, funde em si tanto o calor do ambiente e a cor das paredes quanto a alegria e a segurança que nele se sente. O espaço material é, pois, um pano de fundo, a moldura, sobre a qual as sensações se revelam e produzem marcas profundas que permanecem... (LIMA, 1989).
Assim, em 1993 a escola – nomeada de Jardim Municipal Professor José Braz, que
será referida a partir daqui com a sigla EMPJB, atuava em sua sede própria: “um prédio com
dois blocos”, conforme documenta o Projeto Político Pedagógico (PPP, 2006), atendendo um
universo de 236 crianças, distribuídas em 12 turmas, em dois turnos. É destaque no PPP que o
prédio construído inicialmente para o “Jardim” ainda não comporta a demanda de crianças da
comunidade nesta faixa etária na região.
A EMPJB traz como fins e objetivos para o seu trabalho os art.1º e 4º do Parecer do
Conselho Municipal de Educação:
A educação infantil... constitui um direito da criança de 0 a 6 anos, a que o Estado tem o dever de atender, complementando a ação da família e da comunidade. A educação infantil norteia-se pelos princípios da igualdade, liberdade, ideais de solidariedade, tendo por finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, afetivo, cognitivo, social, contribuindo para o exercício da cidadania e pautando-se: I- No respeito à dignidade e aos direitos das crianças em suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas, religiosas sem distinção; II- Numa concepção que faz do brincar a forma privilegiada de expressão, de pensamento e de interação da criança; III- Na garantia do acesso aos bens sócio-culturais e artísticos disponíveis. (CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÂO, 2006, p. 6).
Nesta perspectiva, a EMPJB almeja, conforme descrição em seu PPP (2006),
promover a inserção da criança no espaço da escola de forma agradável além de lhe
oportunizar desenvolvimento cognitivo de aquisição de autonomia, hábitos, habilidades e
72
atitudes positivas frente a um ambiente tranquilo e acolhedor. Assim, também há descrição de
seus objetivos no trabalho com as crianças: promover indiscriminadamente o seu
desenvolvimento integral, descritos acima, complementando a ação familiar e contribuindo
para a integração daqueles com necessidades especiais; ser fiel aos princípios da dignidade e
aos direitos das crianças; “trabalhar para elevar a autoestima individual e coletiva dos alunos”;
valorizar hábitos e cuidados com a saúde e bem estar; estimular a observação, fomentando a
curiosidade para contribuir com a conservação do ambiente; utilizar de diferentes linguagens
para enriquecer as formas significativas de expressão humanas (corporal, musical, plástica,
oral, escrita); “planejar a utilização do espaço garantindo condições de segurança”; organizar
o tempo com “possibilidades diversas de atividades nos diferentes eixos de trabalho (...) como
elemento facilitador das percepções infantis” para reconhecer a rotina; promover interação
geral dos membros do espaço escolar.
No documento desta instituição de educação infantil, a concepção de criança aparece
descrita como um sujeito social e histórico, cidadã, portadora e produtora de cultura,
demonstrando uma redação com avanço conceitual considerável em relação à criança
enquanto categoria etária inventada no século XVIII. (SCHERER, 2009). A infância é
considerada no PPP da escola como um tempo em si e não uma “preparação para”, um tempo
para brincar, jogar, sorrir, chorar, sonhar, desenvolver, interagir com o outro e com o mundo,
apresentando um sistema de infância conforme aquele instituído por Rousseau (2004), onde a
pedagogização integral da criança, passa a ocupar o centro das atenções a partir da Era das
Luzes e que precisa ser orientada para assegurar a coerência do campo social. A escola, apesar
de um discurso contemporâneo, cumpre atribuições da era moderna de “desnaturalizar o
homem”, de transferi-lo do seu eu para a unidade comum a partir daquilo que a criança traz
em sua essência: a ação! “Viver não é respirar, mas agir!” (ROUSSEAU, 2004).
Vale acrescentar que no PPP (2006) também tem a descrição das atribuições de cada
função existente na escola, assim como tem a relação das atribuições da família e do
colegiado, a organização da dinâmica cotidiana, dos eventos realizados anualmente, conforme
pode ser conferido nos anexos.
Em relação à questão da inclusão, o documento apresenta, inicialmente, uma breve
descrição identificando como projeto a busca profissional pela formação para “lidar com os
portadores de necessidades especiais”. Aponta a inquietação e o desafio causados na escola
com a normatização destes sujeitos nas classes regulares, uma vez que o que se espera não
mais é a adaptação do sujeito à escola, mas sim que esta se transforme de forma a possibilitar
a inserção daquele (PPP, 2006, p.26). À página 33, o capítulo XIII aborda sobre a legislação
73
vigente que garante às pessoas com necessidades especiais o direito de participarem da vida
social, sendo a escola um espaço privilegiado de convivência. Descreve que na maioria das
escolas, assim como nesta, não há qualificação profissional adequada e estrutura material
apropriada. “Outro problema” descrito é a falta de integração da escola com as instituições da
saúde. O documento elenca, ainda, os compromissos dos profissionais da escola: estudar as
deficiências; debater sobre o tema da inclusão; buscar alianças; promover a formação dos
pais; avaliar constantemente o trabalho. (PPP, 2006, p.34). No entanto, dados obtidos através
da observação permitem afirmar que essa formação não ocorre a contento na escola
pesquisada, uma vez que até maio, as reuniões pedagógicas que aconteceram foram apenas
discussão de eventos coletivos na escola: carnaval, aniversário da escola, páscoa e festa
junina.
74
Figura 7- É necessário determinar aqueles que são diferentes
Fonte: Tonucci, 1997
75
5 E A VIDA ELA É MARAVILHA OU É SOFRIMENTO?
E a vida Ela é maravilha
Ou é sofrimento? Ela é alegria Ou lamento?
O que é? O que é? Meu irmão... (GONZAGUINHA,1982)
5.1 “A gente dá a mão a ele, aí ele vai”: a perspectiva da criança
Eu gosto [dele]. Porque ele é especial. Porque ele ainda vai aprender.
O que pensam as crianças sobre a inclusão
Ao passar cinco meses acompanhando a rotina das crianças na Escola Municipal
Professor José Braz, verificamos que elas interagem reciprocamente com todos os colegas
desde que os combinados40 prevaleçam. No recreio, por exemplo, todos podem jogar futebol,
desde que ninguém pegue a bola só para si, como fez um dia Matteo41. Com a manifestação
da garotada, os adultos que acompanhavam este momento interferiram tomando a bola de
Matteo e devolvendo ao grupo. Diante desta atitude, Matteo começa a chorar (sem lágrimas) e
tira suas roupas. Sua mãe, que estava na escola, lhe aplica umas palmadas. Os demais colegas
continuam sua brincadeira, outras crianças param o que estão fazendo e olham para a cena,
Matteo chora mais, mas se veste. E tudo volta ao estágio anterior da brincadeira, até que o
recreio acaba e todos têm que mudar de espaço e atividade obrigatoriamente.
A rotina da escola está alterada em razão da presença da mãe de Matteo, que
permaneceu na escola como auxiliar de seu filho até chegar a estagiária – de abril a maio a
pedido da professora 2, sob a alegação de que precisava garantir a segurança da criança por 40 Regras construídas, às vezes com as crianças, às vezes somente pelos adultos de forma a garantir o desenvolvimento de ações, extraídas de processos de negociação entre os sujeitos, que respeitam a situação social e histórica e o sistema de práticas em que se inserem as atividades concretas. Nesta escola, houve situações em que as regras eram discutidas apenas entre os adultos, cabendo às crianças segui-las. 41 Os nomes das crianças foram escolhidos por elas na maioria dos casos, quando não podiam fazê-lo atribuímos nomes fictícios a fim de preservar suas identidades.
76
sair muito da sala sem autorização e de que precisava exercer com os outros o trabalho
pedagógico. Ao entrevistarmos as crianças sobre a ação da mãe, dizem que Matteo precisa de
alguém que possa bater nele porque tira a roupa. Elas dizem gostar dele, desde que não mexa
nas coisas delas e divida os materiais que a professora coloca na mesa no momento de
atividade de registro (os trabalhinhos).
Em uma turma de outro turno, todos interagem com coleguismo. Mesmo Sofia não se
expressando verbalmente, está sempre inserida nas atividades e brincadeiras das crianças.
Nesta mesma turma, todos querem transportar Marina. Ser cadeirante é um atrativo que
aproxima os colegas que buscam auxiliá-la. Levar até ela os materiais para a execução da
atividade pedagógica é sempre disputado pelos demais alunos da turma. Sofia, que em alguns
momentos precisa de apoio para dosar suas manifestações de carinho com os colegas, está
sempre a beijar Marina. Na entrevista com Alan e Valquíria, citaram que Marina deve gostar
muito dos colegas na escola porque está sempre feliz quando eles estão perto dela. Disseram
também que a Sofia deve gostar mais da professora porque fica muito feliz quando está em
sua companhia.
Em outra turma, as crianças entrevistadas, Chocolate e Branquinha, descrevem que a
colega tem problemas no pé e na boca porque não anda e não fala e já tem 5 anos de idade.
Dizem das várias formas que a ajudam em sala e nos demais espaços desde que permitido
pela professora: se for aquela professora Maria brava, não deixa a gente ficar perto dela e, em
seus relatos, compreendem as ações agressivas desta, como por exemplo, a prática de puxar o
cabelo das crianças como forma de repreensão.
Em outra turma ainda, as crianças Gabriela e Cauã apontam como aspectos negativos
na sala atitudes como bater, morder, chutar, referindo-se a colegas variados que tem esse tipo
de ações durante a aula sem mencionar a criança com síndrome. Apontaram que o problema
de Lucas é não saber desenhar, então eles ajudam: eu desenho para ele... Dando um beijinho,
mas bater não, né?! Ele é nosso amiguinho e temos que dar carinho e não bater. No recreio
apontaram que Lucas brinca de corre cutia direitinho: ele corre e a gente vai atrás, assim como
de bolinha de sabão.
Em mais uma turma deste turno, tem-se Luana e Patrick que também apontam as
necessidades específicas de um colega que apresenta dificuldades motoras e cognitivas leves.
Quando lhes perguntamos se algum colega precisava de ajuda, disseram:
O Murilo precisa de ajuda, porque a perninha dele não nasceu direito. A gente dá a mão a ele, aí ele fica só na pontinha do pé e vai. Ele faz um monte de coisas. Ele não aprendeu foi a ler, ele só rabisca. Mas a mão dele torta, né?! (...) Eu ajudo. Não, é a
77
professora! Mas outro dia eu ajudei ele, porque a professora 6 deixou... (Patrick, entrevistado em 16/06/2010)
A professora Cecília desta turma aprova as ações das crianças com os colegas com
necessidades educacionais especiais.
Descrevemos a seguir mais um episódio, ocorrido no recreio, para demonstrar a
cumplicidade que as crianças assumem ao se sentirem seguras quando ouvidas pelos adultos.
Um colega evacuou muito no escorregador. Eu estava dentro da casinha de bonecas,
brincando com outras as crianças. No pátio ainda havia duas professoras e uma auxiliar da
limpeza, observando o recreio. Algumas crianças eufóricas vieram até mim e solicitaram
ajuda, descrevendo o fato. Orientei-as a chamar as professoras ou a auxiliar. Passados dez
minutos, aproximadamente, as crianças retornaram ainda mais agitadas, pois o colega ainda
estava sujo ao lado do escorregador, sem nenhuma ajuda de adultos. Questionados sobre a
busca do apoio dos demais adultos que acompanhavam aquele momento, disseram que iriam
esperar a professora daquele colega chegar. Quando me dirigi imediatamente para auxiliar o
garotinho à higiene e ofereci minha mão para conduzi-lo ao banheiro – o que foi aceito
imediatamente, as demais crianças bateram palmas aos sons de várias risadas e gritos de
vitória! O episódio é emblemático da não escuta dos adultos às crianças. Elas continuam não
sendo ouvidas, permanecem sem voz e sem poder alterar as situações que lhes são impostas.
Quando verificam a ação de algum adulto na direção de seus apontamentos, elas se sentem
reconhecidas como sujeitos e comemoram como uma vitória.
Em outra turma, Carol e Artur descrevem que o colega com necessidades educacionais
especiais não participa das atividades porque bate. Então, ele está sempre afastado do grupo
ninguém não senta muito com ele não... Põem o carrinho dele afastado da gente... Ele não vai
para a rodinha não, porque ele fica no carrinho, porque se alguém senta perto dele, pode bater
ou morder. Todavia, dizem gostar dele: eu gosto. Porque ele é especial. Porque ele ainda vai
aprender. Porque a gente pode ensinar ao Carlos a aprender muitas coisas.
Nestes exemplos, percebe-se a espontaneidade com a qual as crianças se envolvem
com seus pares sem distinções, até que os adultos delimitem questões, promovam regras de
socialização e interação entre as crianças. Descrevendo ainda sobre o recreio, um intervalo de
20 minutos de encontro das seis turmas da escola no pátio de trás – que pode ser visualizado
nas fotos abaixo – todas as cento e vinte crianças do turno interagiam entre si, escolhendo
suas brincadeiras e estabelecendo suas regras. Apenas se percebem ações discriminatórias
quando há interferências dos adultos. Por exemplo, Carlos só se relacionava com a estagiária
que o acompanhava e outras crianças só se aproximavam dele quando ela permitia, o que para
78
ela era uma forma de protegê-lo para não se irritar e bater nas outras crianças. Esta estagiária
estava orientada pela professora a ficar sempre muito próxima ao Carlos para garantir sua
segurança e a dos colegas. No espaço do recreio, que atendia 120 crianças ao mesmo tempo,
tinham-se poucas opções de brinquedos, mas sempre criavam interações sobre os objetos,
sobre as plantas e os espaços.
Figura 8: Pátio de trás: do fundo para frente. Figura 8: Pátio de trás: da frente para o fundo.
Fonte: Arquivo do autor Fonte: Arquivo do autor
Figura 9: A casinha de bonecas, vista externa e interna.
Fonte: Arquivo do autor
O pátio estava com uma determinada área isolada para reforma. Esta área era
composta de areia e brinquedos de ferro, mas devido às chuvas no início e no final do ano
decidiu-se colocar um piso emborrachado e outros brinquedos mais seguros para as crianças
em qualquer estação do ano. Esta reforma, prevista para janeiro de 2010, só foi finalizada em
novembro de 2010, permanecendo o espaço com uma área isolada do acesso das crianças.
Nessas cenas, não aparecem as crianças, conforme propõe o Estatuto da Criança e do
Adolescente no artigo 17, de forma a respeitar a inviolabilidade de suas integridades, o que
abrange a preservação da imagem.
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Figura 10: Vista do piso de emborrachado aplicado no espaço que tinha areia.
Fonte: Arquivo do Autor
Figura 11: O pátio após a reforma de mudança, com os brinquedos de ferro isolados num pequeno espaço e o acréscimo dos brinquedos de plástico junto ao piso de emborrachado 42.
Fonte: Arquivo do Autor
As crianças entenderam rapidamente as intervenções dos adultos nas suas interações e
ajustaram suas condutas diante das normas impostas ou construídas com elas. Elas
demonstraram acolhimento a qualquer colega: menino, menina, mais velho, mais novo,
especial, mais agitado, mais quieto, desde que o sentimento de respeito, a elas e às regras,
fosse recíproco. Toda vez que alguém se manifestava com atitudes mais agressivas,
rapidamente os demais se afastavam e procuravam novas brincadeiras, novos colegas e, se os
adultos interviessem, esperavam para verificar a mudança de comportamento do colega que
incomodou a organização de pares estabelecida antes para retornarem às mesmas
brincadeiras. Nos espaços internos, sala de aula, principalmente, cantina e banheiro, crianças
demonstravam normalmente auxílio e cumplicidade para com todos os colegas, desde que
houvesse cumprimento das regras gerais ou, se em acordo, quisessem experimentar novas
possibilidades nesses espaços – como lanchar rapidinho para ir ao pátio e brincar enquanto os
outros colegas terminassem; disputar brinquedos nas salas; jogar água no espelho do banheiro
para ver as reações de outros colegas e efeitos da ação – foram alguns exemplos
42 Estas fotografias foram inseridas no trabalho a fim de facilitar o entendimento do leitor sobre o vínculo das crianças com espaço escolar, demonstrando concretamente quais brinquedos dispunham para conviver o tempo da escolarização.
80
acompanhados durante o período de permanência na instituição e anotados no caderno de
campo. As crianças também demonstram cumplicidade nas ações, independente do colega que
as acompanhavam.
Questionadas a respeito da importância da escola em suas vidas, todas as crianças
apontam o reconhecimento desta instituição enquanto local privilegiado de convivência e
aprendizagens, além da ludicidade:
A escola é legal para brincar... (Kaíque, entrevistado em 10/05/2010). É... faz pontinhos ai: primeira – quando a gente anda de velotrol; brinca no parquinho; traz brinquedo na segunda-feira (eu trouxe um cachorro e um boneco); a piscina. Só que a piscina está estragada. Os brinquedos de montar... (Branquinha, entrevistada em 10/05/2010). A gente tem que estudar muito e a escola vai ensinando, né Branquinha? É, eu já sei escrever uma receita! ( Chocolate, entrevistado em 10/05/2010). A escola é boa... é para brincar. Porque é boa... Brincadeiras, meus amigos brincam comigo. Todos eles. Tem muito brinquedo aqui que eu gosto. (Cauã, entrevistado em 28/05/2010). Eu venho para a escola porque eu acho legal! (Luana, entrevistada em 16/06/2010) Para aprender a ler, eu quero aprender a ler! (Patrick, entrevistado em 16/06/2010). Eu venho para a escola porque senão vou ficar trancado sozinho lá em casa. E eu, para não ficar burra! (Antônio, entrevistado em 16/06/2010). Porque aqui a gente faz muita coisa legal: aprender a desenhar, a colorir, a não bater, o alfabeto, as vogais. (Carol, entrevistada em 16/06/2010). Porque vai me fazer crescer. Porque estuda muito. Eu quero ajudar meu tio a construir uma casa para a minha prima. Eu carrego 1 ou 2 tijolos, sabia? (Kaíque, entrevistado em 10/05/2010).
Elas (as crianças) também apontam a importância deste espaço para os outros colegas:
A Marina vai aprender a pintar, andar, comer... Brincar sozinha... (Mara, entrevistada em 16/06/2010). Ele ainda vai aprender a ler. Ele não aprendeu a ler, ele só rabisca. (Luana, entrevistada em 16/06/2010). O Carlos vai aprender a colorir, fazer tudo. Fazer o para casa. Escrever. (Cauã, entrevistado em 28/05/2010).
Todas as crianças entrevistadas apontaram que a maioria dos colegas com
necessidades educacionais especiais são felizes e gostam da escola. As crianças detectam tal
sentimento pela satisfação dos colegas no período em que estão na escola. Eles riem, eles
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gostam de beijar, gostam quando recebem beijinhos. Apenas uma criança apareceu em
destaque negativo. Colegas disseram que Carlos não deve gostar da escola, como na
afirmação de Branquinha: “eu acho que não gosta muito, não, porque ele só fica chorando,
querendo a faxineira dele”. As crianças apontaram ainda que talvez o colega não seja feliz,
por não falar e só chorar, ‘toda hora’, além de Sérgio dizer: “Ah, mas também ele é
doentinho”! Carlos, apontado como uma criança triste pelos colegas é aquela que fica sempre
com a estagiária. Não participa dos desafios cognitivos junto com a turma, nestes momentos
ele e a estagiária saem da sala para dar uma volta, pois em razão de suas necessidades
educacionais especiais ele não conseguia desenvolver as atividades propostas para o grupo de
sua turma. Nos momentos de roda, ele ficava assentado em um carrinho de bebê afastado do
grupo. No recreio e demais momentos de brincadeiras, ele estava exclusivamente com a
estagiária.
As percepções das crianças eram críticas em certos casos e solidárias em outros, elas
tinham uma percepção muito precisa das posturas dos adultos e das atitudes das crianças. Elas
demonstraram parte daquilo que Montandon (2001) analisou e que descrevemos inicialmente.
De um lado, as crianças já são percebidas como um grupo de idade que recebe diferentes
dispositivos, porém que continua escolar e muitas vezes dependente das ordens e perspectivas
dos adultos. As relações entre gerações alteraram: as crianças sabem com quais pessoas –
sejam crianças ou adultos – podem negociar e sabem mais, com quais adultos tem que ter
postura completamente submissa em atos de disciplinamento exacerbados por esses.
São essas as percepções das crianças. Elas disseram dos colegas, dos adultos que
compartilhavam com elas de suas rotinas. Elas elaboravam sobre os espaços da escola, dos
tempos das atividades e da importância da socialização e das aprendizagens em suas vidas,
assim como em certos casos reproduziam o pensamento predominante da sociedade, sejam
através das ações dos adultos, sejam por suas falas, seus silêncios, suas posturas, mas de
forma interpretativa e não apenas reprodutivista como pudemos observar nos depoimentos e
como propõe. (CORSARO, 2005).
As crianças reconheceram as diferenças, compreenderam os desejos dos colegas,
comunicaram-se e se interagiam espontaneamente. Criaram e recriaram brincadeiras e ações
no sentido da aproximação com qualquer colega. Porém, quando percebiam que os adultos
têm outras perspectivas, alteravam suas posturas com os colegas para não serem punidas nos
espaços coletivos, pois a maioria delas reconhecia que suas vozes nem sempre são escutadas,
seus motivos considerados, seus desejos realizados. Mais uma vez, as constatações de
82
Montandon (2005) e Fernandes (1979) se evidenciavam, pois as crianças têm uma visão
informada de seus papeis e das qualidades que delas são esperadas.
5.2 “A gente não é preparado para receber esses alunos”: a perspectiva dos adultos
Os adultos – professoras, coordenadoras, direção, auxiliares da limpeza, porteiros,
secretária, representante do Núcleo de Inclusão da PBH, além de pais e familiares – também
foram ouvidos nesta pesquisa, uma vez que são tão protagonistas quanto as crianças no
ambiente escolar. Faremos aqui a sistematização de suas considerações e ações ao longo do
período de acompanhamento da instituição com a intenção de complementar a perspectiva das
crianças para a compreensão daquele espaço escolar em relação à inclusão, observado durante
o período da pesquisa.
Em uma das entrevistas, Lauzir, representante do núcleo de inclusão da Gerência
Regional de Educação do Barreiro (GERED), convidada a assumir esta função, após ter
desenvolvido projeto de matemática enquanto docente no 3º ciclo do Ensino Fundamental
(alunos de 12 a 14 anos de idade) que promoveu alto envolvimento dos alunos com
necessidades educacionais especiais de suas turmas e aprendizagens, segundo seu relato, nos
contou que a equipe da inclusão da regional Barreiro é formada por ela junto a mais três
professoras da rede de ensino de BH, cada uma acompanha em média 12 instituições, sendo o
número de UMEIs e escolas igual para todas. A distribuição do atendimento, segundo a
entrevistada, se deu sob o critério de proximidade com a região da residência de cada uma
delas.
A SMED tem ainda o Núcleo de Apoio, com mais três pessoas que recebem as
demandas do município e encaminham às regionais assim como promovem capacitações aos
docentes e aos membros dos núcleos de inclusão. O tema mais abordado nas capacitações está
relacionado às condições para a alfabetização, pois nas escolas de ensino fundamental,
aparecem problemas sérios no momento escolar no qual esta habilidade é uma exigência. A
filosofia do núcleo de inclusão é desenvolver a perspectiva de que todas as crianças são
especiais, principalmente para suas famílias, e que cabe à escola construir formas de trabalho
que atendam também às crianças com “deficiência”, uma vez que incluir é estender o
atendimento e o processo de ensino/aprendizagem independente de quem o procura, mas
buscando-se a excelência para todos.
83
Ela descreveu que as escolas de educação infantil e, principalmente, as UMEIs são as
meninas dos olhos da prefeitura, pois a PBH acredita que as crianças, todas elas – com ou sem
alguma “deficiência”, entrando na escola desde muito pequenas (1 ano) poderão obter muito
mais aprendizagens, uma vez que a escola, a família e a área da saúde terão mais
oportunidade de estarem em total parceria. Já vimos anteriormente, no item 4.1 (A construção
social da infância: do direito à Educação Infantil), que Kramer (1984), Rosemberg, Campos e
Ferreira (1995) e Kuhlmann Jr (2000) discordam plenamente desta questão, considerando esse
argumento como uma forma compensatória para o atendimento às crianças. E, ainda, em
relação a essa proposta de articulação entre as instituições que atendem às crianças, há uma
completa desarticulação: o Núcleo de Inclusão não consegue atender adequadamente à escola
e às professoras. A escola não consegue se reunir com as famílias, muito menos com as
equipes de saúde de cada criança, demonstrando que as propostas não estavam acontecendo
conforme sua proposição.
Lauzir afirmou, ainda, que a convivência de uma criança com “deficiência” junto às
demais promove um referencial de sociedade mais respeitosa garantindo inclusive o direito à
alfabetização às pessoas com alguma síndrome, autistas, com déficit de atenção e outros,
evitando o que se tem hoje na rede pública de BH: alunos com 14 anos de idade
encaminhando para o Ensino Médio sem saber ler e escrever. Ela apontou para a importância
e responsabilidade do papel pedagógico da equipe docente, que sempre a indica alunos com
problemas para aprender, solicitando dela análise dos casos para posteriores indicações de
ajudas extraescolares. Relatou que a postura da equipe de inclusão tem sido de abordagem à
equipe pedagógica para refletir sobre a própria prática para se evitar jogar o problema para
frente. Toda instituição deve criar proposta de trabalho que atenda a todos os seus alunos,
independente do tipo de dificuldade/necessidade que eles apresentem: O professor está sendo
formado e contratado para isso e não para passar por psicólogo, psicanalista ou que quer que
seja. Então a equipe da inclusão descreveu ter por tarefa auxiliar a escola a criar as
alternativas e possibilidades para favorecer a aprendizagem dos discentes.
A entrevistada descreveu as ações recentes da PBH para favorecer a aprendizagem de
todos: o primeiro foi garantir o acesso de todos na escola comum; o segundo foi a criação de
uma sala de recursos para o contraturno43 - que estava sendo revista pelas questões práticas e
43 Atividade pedagógica lúdica, exercida em espaços cedidos pela PBH, com os próprios professores da rede atuando, que deveria ser realizada em horário diferente ao da escola regular para ajudar alunos a superarem suas dificuldades.
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funcionais, pois esta sala era um ambiente de complemento e enriquecimento ao trabalho do
turno regular e estava sendo entendida como uma substituição deste; a terceira ação foi a
...contratação dos estagiários – estudantes de nível superior da área de educação – de apoio à inclusão para auxiliarem o professor no atendimento cada vez mais individualizado às crianças com deficiência no trabalho pedagógico e contribuir nas atividades cotidianas para o desenvolvimento da proposta pedagógica e da interação dos estudantes com agrupamentos de pares de idade, bem como nas atividades escolares gerais. (Lauzir, entrevistada em 30/09/2010).
As mais recentes ações foram: criação do Núcleo de Inclusão para assessorar no
trabalho, uma vez que os desafios do trabalho com as deficiências ainda estavam postos no
dia-a-dia escolar e adequação e construção de prédios acessíveis e disponibilidade de
materiais que favoreçam à inclusão até o final de 2011. Os projetos atuais para auxiliarem aos
educandos são: Auxílio Extra Escolar com Libras para estudantes surdos que se estende
também às famílias, Projeto de Alfabetização e Letramento para estudantes cegos com o
Atendimento Educacional Especializado para apoio a estudantes e professores, Projeto de
Socialização para alunos com Autismo, no qual um profissional do Núcleo de Inclusão vai à
escola acompanhar o desenvolvimento do processo da criança, o Centro de Apoio ao
Professor e ao Estudante (CAPE) que amplia materiais escritos como livros didáticos ou
outros solicitados pelos professores para alunos com baixa visão e o Programa Saúde na
Escola que iniciou em 2010 com a avaliação de especialistas, dentre eles psicólogo e
fonoaudiólogo, e posterior encaminhamento ao acompanhamento extra escolar. Segundo a
entrevistada, a articulação interssetorial da educação com a saúde deveria ser rotineira, no
entanto, este dado quando confrontado com outros depoimentos não se confirma, como
veremos mais adiante. Os desafios naquele momento em que acontecia a entrevista,
enfrentados pelo Núcleo de Inclusão diziam respeito às crianças com necessidades
educacionais especiais no ensino fundamental que foram para a rede após o fechamento das
escolas especiais e o boletim eletrônico44, que não expressa as peculiaridades e
especificidades de cada criança com deficiência com a intenção de não excluir, de não
discriminar.
Todas as professoras descreveram a regularização da inclusão como uma ação política
positiva para todas as crianças, mas “jogada”. Afirmaram ter pouca orientação sobre como
trabalhar com cada caso especial e ter raros momentos de encontros para reflexão do tema e
44 Documento emitido pelas escolas da rede de ensino municipal de Belo Horizonte no sistema on-line da prefeitura para que as famílias tenham mais acesso ao aproveitamento escolar de seus filhos. Contudo ele tem um padrão único, não permitindo à equipe pedagógica alterar os campos e alternativas conforme demandas específicas das crianças na Inclusão.
85
de estratégias, seja com a família, com demais profissionais que acompanham as crianças,
com os próprios funcionários da rede da PBH e muito menos com as estagiárias que as
acompanham. As professoras reconhecem apenas o esforço da direção da escola em apoiá-las
no trabalho, fornecendo os materiais solicitados ou algum suporte humano quando é possível
na dinâmica institucional.
A gente não é preparado para receber esses alunos. Tem hora, dia que fica sem saber que tipo de atividade, dependendo do caso... da necessidade da criança, a gente não sabe como agir... Não tem um especialista para dar uma noção para a gente de como trabalhar com esta criança. É... os outros ficam um pouco excluídos para que se haja a inclusão. (Professora Janete, entrevistada em 07/06/2010)
Algumas professoras não sabiam que as crianças da inclusão tinham suas matrículas
compulsórias com a exigência da entrega de laudos médicos na secretaria escolar sobre cada
caso. Algumas pontuaram que não tinham acesso ao laudo médico, contudo, para todas as
crianças os laudos estavam arquivados em suas pastas na secretaria desta escola, conforme
observado durante nosso levantamento documental. Outras professoras pontuaram que mesmo
tendo acesso ao laudo não conseguem sequer entender a letra do médico que o elaborou, o que
dificultava suas pesquisas a respeito das necessidades de cada caso especial que receberam.
Verificamos que a proposição do PPP (2006) da EMPJB de promover estudos e
debates sobre as deficiências e a própria inclusão, reforçada no Plano de Trabalho Pedagógico
para o mandato da atual direção na dimensão de gestão do processo ensino-aprendizagem de
qualidade para todos, foi considerado insatisfatório pela equipe docente principalmente
quando perguntado a elas sobre a oferta de condições para o trabalho inclusivo da escola:
A educação inclusiva veio para dar uma oportunidade para aquele que tem uma necessidade a mais que as pessoas ditas normais. Mas, na realidade não é sempre o que acontece por n motivos: falta de estrutura da escola, falta de acompanhamento clínico, porque o professor não é médico, por isso que ele não consegue estar avançando sozinho e falta de acompanhamento da escola, dos pais, turmas cheias, coisas que são comuns às crianças ditas normais. (Professora Maria, entrevistada em 10/05/2010)
Falta estrutura pedagógica e física. A PBH precisa avançar. A gente precisaria contar com equipe da própria prefeitura. Há contato com as equipes de atendimento das crianças, mas ainda é muito distante. Neste ano, só um atendimento da Marina nos procurou. Os demais apresentaram relatórios escritos trazidos pelos pais. (Coordenadora Juliana, entrevistada em 07/06/2010)
A equipe pedagógica sabe da necessidade dos professores de pesquisar mais, de se
instruir sobre os diferentes casos e desafios de cada ano letivo. Mas, a maioria dos
profissionais da área pedagógica se posiciona de maneira muito alheia às necessidades
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concretas do dia-a-dia escolar. Quando interrogados se havia discussões e capacitações para a
efetivação dos planejamentos, disseram:
Na educação também é necessário pesquisar, reunir, trocar ideias, construir sugestões e ações! Mas, a gente não pode ultrapassar até onde você pode ir. Eu estou numa fase... com a saúde frágil, sabe? (Professora Isabele, entrevistada em 10/05/2010). Eu não tenho muito conhecimento porque a gente tem aqui a acompanhante, que é a Lauzir. Com ela, eu sozinha, não encontrei nenhuma vez. Já teve assim, eu estava no pátio, ela chegou e falou que vinha a estagiária. Mas sozinha com ela eu ainda não tive nenhum encontro. Eu não sei o que está sendo feito. Talvez a direção da escola possa estar... Eu vejo que quando a Lauzir vem, como no ano passado, que eu era apoio, ela vinha e chamava as professoras que tinham portadores e conversava. Mas esse ano, eu ainda não fui chamada. O apoio mesmo é só a direção e coordenação da escola. Tanto que eu nem sei certinho qual o problema da Marta. Ai, um dia eu fui e pedi à coordenadora que tipo de doença, porque eu ia pesquisar. Aí com esse negócio de faltar professor, você fica sem horário de estudo. Mas vou tentar fazer isso... (Professora Janete, entrevistada em 07/06/2010).
Fica explícita, ainda, a falta do suporte físico:
[...] acho que falta muita coisa. Podia ter alguns equipamentos para a gente e a estagiária trabalharmos, igual quem tem dificuldade motora ... barras na sala e no banheiro, elevador, ser mais acessível. (Professora Maria, entrevistada em 10/05/2010).
A dificuldade de percepção sobre as atribuições docentes ficam ainda mais distantes
do trabalho pedagógico consistente quando os profissionais definem os obstáculos a serem
enfrentadas em cada ano escolar à questão do comportamento, da disciplina ou da
indisciplina, como apontou uma professora quando perguntamos sobre como organizava seu
trabalho a partir da perspectiva inclusiva:
Ao meu ver, o que faltava mais para ele era limite, no caso. E a gente não tinha o laudo, então fica difícil de estar falando. E eu tratava ele igual aos outros. E ele não tinha necessidade de ser tratado de outra forma. E é o que a maioria das crianças que não tem o neurológico tão comprometido precisam... (Professora Maria, entrevistada em 10/05/2010).
Outra questão demarcada pela equipe pedagógica é o fraco suporte direcionado ao
estagiário, quando este chega à instituição. Professores e coordenação apontam que eles
entendem pouco da inclusão, assim como os professores. Há alguns que chegam com
iniciativa, outros não (Coordenadora Juliana, entrevistado em 07/06/2010). E, como a própria
estagiária pontuou: não há preparação específica para o tipo de trabalho no curso da prefeitura
que acontece em uma manhã. Não há nada relacionado à questão da inclusão. E, ainda mais
87
sério, foi sua consideração para a dificuldade grande dos funcionários em tratar a criança,
referindo-se a ela como a criança do estagiário exclusivamente.
Tanto para os funcionários administrativos, como para os da secretaria, da cantina e
dos serviços gerais, que também tiveram representantes ouvidos neste estudo, a inclusão tem
acontecido de forma positiva. A despeito da falta de formação e atuação indireta nas funções
pedagógicas faz com que estes profissionais avaliem as experiências nesta escola como
importante e positiva para as crianças:
Aqui, todo mundo tem o mesmo carinho, a mesma atenção. Não vejo nada de ruim acontecendo aqui. Às vezes pode até ter coisa para melhorar, né? Como um projeto, um passeio, tem o parquinho aí... (Auxiliar da limpeza Davi Vilas, entrevistada em 23/06/2010).
As famílias da maioria das crianças especiais, que se dispuseram a ser entrevistadas
para esta pesquisa, também apresentaram satisfação para com a escola. Disseram da alegria de
suas crianças em ir para lá, da felicidade de reconhecer o prédio quando chegam. Disseram
ainda, da melhora em casa, depois que passaram a frequentar esta escola, comparativamente
às experiências negativas vivenciadas em outras instituições.
Ela adora vir. Ainda está se adaptando, tudo é novidade. Já vejo que vir para cá a ajuda muito. A escola irá ajudar no desenvolvimento psico e motor, além da fala. (Mãe Palmira, entrevistada em 05/05/2010). Ai, eu gosto de tudo aqui. Para mim, só tinha que vir a pessoa mais rápido para ajudar a professora. Igual, aqui, para mim e para Matteo, é uma família. (Mãe Graça, entrevistada em 06/05/2010).
Todas as famílias apontaram que tirariam suas crianças da escola se percebessem que
elas estivessem sendo tratadas de forma diferente, que estivessem sendo excluídas.
Como verificamos, as professoras demonstraram aquilo que Silva (2010) analisou
como problema para a dimensão do cuidado da Educação Infantil – a professora aborda a
questão na perspectiva de gênero – nós podemos dizer da inclusão: os profissionais
reconhecem a importância da convivência de todas as crianças no espaço escolar, mas
imprimem posturas ambivalentes: delimitam espaços e materiais para as crianças com
necessidades educacionais especiais diferenciados sem qualquer reflexão sobre a
intencionalidade e a repercussão de suas ações para todas as crianças. E quando as professoras
são questionadas se houve momentos de discussão sobre as situações por elas enfrentadas
com a inclusão, todas demonstraram a falta de diálogo e estudo sobre o assunto pelo coletivo
da escola e por parte da prefeitura do município de forma sistemática.
88
A maioria das professoras ainda não imprimiu aquilo que Montandon (2001) detectou
em sua pesquisa sobre trabalhos da língua inglesa, o reconhecimento das crianças como
sujeitos nas relações. Imprimem constantemente a postura de disciplinamento para que não se
perca o controle da turma e de cada situação, dispensando repressões constantes.
A almejada inclusão das diferenças ainda é parte utópica na realidade pesquisada. A
integração pode até ser evidenciada, como a recepção das crianças com necessidades
educacionais especiais na escola comum, mesmo assim sob a égide uma ação compulsória por
parte do poder público – a secretaria de educação do município. As posturas continuam na
linha pedagógica de que as crianças que se adaptem ao modelo de ensino abordado pela
professora. Efetivamente, não verificamos intervenções pedagógicas que articulassem ações
diferenciadas a fim de se promover a inclusão de todos aos desafios pedagógicos propostos.
Entendendo, entretanto, que as professoras e demais profissionais da escola necessitam de
maior suporte teórico-metodológico com cursos de formação permanente organizados pela
própria secretaria de educação, vinculados ao trabalho pedagógico em sala de aula,
necessitam também de profissionais de apoio do quadro efetivo.
A relação profissional estabelecida com o estagiário corresponde à precarização do
trabalho docente, tendendo à informalidade e à diminuição dos direitos trabalhistas. Estes são
apenas alguns dos graves problemas educacionais que impedem que todas as crianças de fato,
aprendam.
89
Figura 12 - A creche não é um cabideiro Fonte: Tonucci, 1997
90
6 EU FICO COM A RESPOSTA DAS CRIANÇAS
Ao final da pesquisa pudemos analisar dois pontos de vista distintos nos processos de
inclusão: o das crianças e o dos adultos. As crianças demonstraram intensamente a satisfação
de estar na escola. Elas afirmaram que aprendem algumas coisas: a colorir, as letras, a
escrever seus nomes, a ler, a conviver, mas, principalmente, todas apontaram que o mais
motivador em ir para a escola era poder brincar muito. Elas descreveram o espaço escolar
muito mais atrativo por seus brinquedos e espaços de socialização com as outras crianças do
que como espaço de aquisição de saberes formais. Apesar de não serem escutadas, pois a
maioria das decisões é tomada pelos adultos sem consulta às suas opiniões e pontos de vistas,
a maioria se sente bem e segura de participar das atividades propostas. Elas até compreendem
a postura mais severa dos professores autoritários, dizendo que é preciso manter a ordem na
sala senão fica tudo bagunçado, apesar deles serem “bravos”.
Nesta perspectiva, constatamos que as crianças confirmam as proposições de
Sarmento (2005) e Plaisance (2005) estando culturalmente ativas nos contextos a que
pertencem, demonstrando capacidade de ação social por conhecerem a dinâmica que as
envolvem. Assim como Corsaro (2005) propôs, as crianças não reproduzem simplesmente os
valores e atitudes que lhes são ensinados, mas os reproduz interpretando-os, ou seja, aqui
também nesta pesquisa os sujeitos infantis demonstraram em suas ações e em suas falas que
capturam os aspectos culturais dos grupos a que pertencem de forma associada aos aspectos
inovadores de criar ativamente novas formas de interações e participações nessas relações que
as envolvem, às vezes até transformando a produção material e simbólica quando ouvidas
pelos adultos daquele espaço escolar.
As crianças também demonstraram constantemente iniciativa de ajudar os colegas,
todos os colegas, independente de suas dificuldades. E dificuldades de aprendizagens eram
diversas. Mas, para as crianças, cada uma apresentava a sua em determinado elemento
escolar: fosse para segurar o lápis corretamente, fosse para saber as letras, fosse para colorir
dentro do desenho, fosse para seguir o desafio proposto pela professora. Elas tinham certeza:
cada um aprenderia a seu tempo o que lhes era apresentado. Dificuldades de aprendizagem
todos poderiam ter, segundo elas, ninguém precisava ser bom em tudo. Para isso, elas estavam
prontas para ajudar, a “ensinar” os outros. Conforme Mollo-Bouvier (2005), a atividade
dinâmica da socialização se constitui desses contínuos de interações e ajustes nada lineares.
Isso reforça a constatação do capítulo 3 desta dissertação, sobre uma Sociologia da Infância
91
preocupada e envolvida com as concepções e visões informadas desta categoria geracional
que reproduz, produz, transforma e participa ativamente da sociedade a que pertence. Cabem
aos adultos, também envolvidos nestas relações, alterarem suas considerações em relação a
esta categoria geracional, pensando de forma diferenciada sobre as ações das crianças, como
afirmou Gomes (2011). E, ainda como Reis (2007) e Goulart (2008) analisaram, o espaço
escolar pensado e construído pelos adultos precisa superar as concepções permeadas das
ambiguidades de guarda assistencial, caráter social e sentidos conflitantes por uma proposta
educativa que se processe para além do treinamento, inserindo as considerações da categoria
infantil na construção das novas culturas.
Contudo, para elas – as crianças, as atitudes de colegas que batiam, cuspiam,
chutavam eram negativas, independente dos colegas que as faziam – fossem ou não da
inclusão e, como foi registrado no período de observação, quem mais as faziam não eram os
colegas da inclusão. Estas crianças, quando adotavam esse comportamento, normalmente
eram estigmatizadas no grupo. Percebemos, inclusive, que algumas reações de colegas da
inclusão se faziam desta forma, principalmente pelo atraso no desenvolvimento da própria
fala. Verificamos que, até para alguns funcionários e mesmo professoras, a não compreensão
dessas atitudes implicou em posturas de isolamento daqueles que não respeitavam as regras de
convivência sem agressão, influenciando as outras crianças em agir conforme aquele modelo
para demonstrarem suas reprovações. As crianças às vezes entendiam porque determinado
colega agia batendo ou cuspindo, mas reagiam conforme as orientações dos adultos,
chamando-os para intervirem, ou não permitindo que brincassem junto, ou não lhes
emprestando materiais, ou simplesmente lhes entregando apenas aqueles materiais que já
eram reservados para eles.
Para as crianças, criança da inclusão é simplesmente criança! Como respondeu uma
turma ao questionamento da professora sobre o conhecimento deles a respeito da questão.
Para nós, essas crianças apontaram o direcionamento de toda e qualquer intervenção.
Conforme Kramer (1984), Rosemberg, Campos e Ferreira (1995), os sujeitos na infância
precisam de cuidados e educação de forma a considerar a afetividade, o desenvolvimento
físico, cognitivo independente de quaisquer elementos. Os desafios, os obstáculos, as
diferenças precisam ser realmente estudadas e discutidas coletivamente para que as
instituições escolares possam expandir sua atuação para além do controle comportamental
diante do direito daqueles sujeitos que delas participam. Novos arranjos escolares precisam
ser condescendidos a fim de se efetivar posturas mais políticas quanto ao que fazer e como
fazer diante dos desafios para não se ficar intuitivamente testando ações num momento
92
histórico em que a escola não é mais reconhecida como um espaço de compensar carências,
mas como um direito fundamental de todas as crianças. Tampouco a educação infantil se
constitui como espaço de preparação para que a criança continue no sistema formal de ensino.
Os profissionais da educação de hoje precisam atuar a partir dos conhecimentos acumulados
para além de um simples sanar certas “deficiências” que em verdade se constituem como
resultado das desigualdades sociais.
Retomando os capítulos 3 e 4 – sobre a Socialização e o Contexto da Educação
Infantil e da Educação Especial – a construção do direito à educação na sociedade ocidental,
tanto para as crianças quanto para um ensino regular também àquelas com necessidades
educacionais especiais, perpassou por todas as dinâmicas sociais, econômicas e politicas. Se
na Idade Média a criança era tida, conforme apresentou Santo Agostinho, como desprovida de
linguagem com a necessidade de superação desta condição a partir da educação para se
alcançar a maior aproximação com Deus, na Era das Luzes, Descartes irá ecoar essa proposta
no intuito de promover aos sujeitos infantis a superação da imaginação pelo uso da razão.
Rousseau, na Era Moderna, rompeu com esta visão propondo uma infância inocente e pura
capaz de acolher qualquer verdade, por isso precisaria ser conduzida por uma educação
moralmente correta. A partir das concepções indicadas por Cambi (1999), a educação da
infância foi se construindo na perspectiva das sociedades urbanas e industriais, elaborando-se
cada vez mais espaços e formando profissionais a fim de transformar os sujeitos infantis pelos
valores de condutas e regras socialmente construídas. O crescimento e o desenvolvimento da
dinâmica social urbana foram massificando a vida social e sofisticando os atendimentos à
criança com propostas educativas diversas: com ênfase no papel das ciências numa proposta
tradicional de ensino; com projetos de racionalização do trabalho intelectual escolar; com
oferta de conhecimentos e valores a partir dos padrões sociais enfatizando uma estimulação
cognitiva em prol da raça civilizada e do bem-estar geral da nação pela polidez da ordem e do
senso estético. Até alcançarmos a proposta de educação expressa na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional e no Plano Nacional de Educação enquanto direito social geral,
garantido legalmente como forma de desenvolvimento pessoal/individual diante das
potencialidades particulares de cada sujeito articuladas em processos de convivências
coletivas respeitosas. Contudo, esta proposta apresenta distância prática para o seu alcance
real, seja pela postura dos adultos ainda não conscientes dos direitos de todas as crianças,
sejam pelas próprias medidas políticas que não garantem o acesso e as condições favoráveis
de ensino a todos os sujeitos infantis brasileiros, seja porque em Belo Horizonte se tem a
93
contratação de dois tipos de profissionais para atender as crianças (professores e educadores
infantis), promovendo a falta de isonomia no trabalho equivalente de ambos.
Mesmo tendo conquistado a Constituição Federal (1988), o Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990), uma Lei Orgânica Municipal (1990), a Lei Nacional de Diretrizes
Curriculares para a Educação (1996), uma Lei Nacional de Diretrizes Curriculares para a
Educação Especial (2001) e uma Lei Nacional de Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (2009) a partir dos movimentos e lutas sociais, o direito à educação na
infância está longe de ser garantidos a todos, está distante, pelo que observamos na prática de
ser um direito e público. Os governantes municipais expõem a necessidade de se privilegiar o
atendimento àqueles sujeitos que estão em situação de risco porque ainda não é possível
atender a toda população infantil; não garantem também uma estrutura de trabalho que
favoreça a discussão coletiva sobre a atuação consciente e articulada dos educadores entre si,
com as famílias e com os demais órgãos que atendam às crianças; os profissionais do ensino
ainda não estão suficientemente preparados teórica e metodologicamente para lidar com um
ensino fora dos moldes tradicionais e muito menos que considere as individualidades de uma
educação especial no sistema regular.
Por outro lado, as famílias demonstram reconhecer a importância da escola na vida de
seus filhos. Sabem, inclusive que sem a matrícula na escola regular não recebem atendimento
nas clínicas de acompanhamento a crianças com alguma “deficiência” ou síndrome ou
problemas genéticos que comprometem o desenvolvimento. As famílias também revelaram a
satisfação da maioria das crianças em chegar à escola, expressando tranquilidade, alegria,
batendo palmas, demonstrando segurança de permanecerem naquele espaço. Apenas uma
criança chorava muito toda vez que tinha de se separar de sua babá, só acalmando quando a
estagiária chegava perto e deslocava sua atenção para uma atividade educativa.
Todas as famílias descreveram suas dificuldades de deslocamento com a criança até à
escola, mas o faziam com prazer porque sentiam que suas crianças ficavam bem e eram
tratadas como iguais no grupo e tinham que fazer tudo conforme os outros educandos. A
maioria das famílias descreveu inclusive que as suas crianças apresentavam mudança positiva
de comportamento em casa quando estavam frequentando regularmente a escola: seguiam
melhor a rotina de almoço, banho, hora de brincar, de arrumar seus brinquedos, de fazer suas
higienes e de se relacionar com a família em geral.
Se retornarmos as quatro categorias de Montandon (2001), veremos que alguns
profissionais já os partilham plenamente, outros ainda se apresentaram como desafios a serem
encarados:
94
a) As relações entre gerações estão compartilhadas: as famílias, Davi Vilas e a
professora Cecília conseguem, normalmente, escutar as crianças;
b) As relações entre as próprias crianças são essenciais para aquisição de
segurança e autonomia na perspectiva dos adultos;
c) As crianças são consideradas como um grupo de idade que precisa de
instituições, atividades, discussões específicas;
d) Porém, os diferentes dispositivos institucionais para as crianças, pesquisados e
registrados nesta dissertação, ainda não conseguem estabelecer relações
negociadas, ou seja, situações nas quais as crianças sejam realmente escutadas
para que as decisões sejam efetivadas.
Diante dos estudos realizados e da convivência na EMPJB, é possível desenvolver
algumas reflexões. Verificamos que apesar da Prefeitura de Belo Horizonte ter uma estrutura
política que exalta a importância da inclusão hoje no sistema de ensino – como as matrículas
compulsórias para os sujeitos com necessidades educacionais especiais e ter o Núcleo de
Inclusão, específico para auxiliar na formação permanente dos profissionais em cada regional
da cidade sobre efetivas ações educacionais nas instituições – suas intervenções ainda não
conseguem atingir os desafios do trabalho escolar cotidiano. O apoio do Núcleo de Inclusão
se faz de forma reduzida, pelo número insuficiente de funcionários diante das demandas e não
consegue manter uma periodicidade regular e pequena nas escolas para promover as
intervenções necessárias, conforme a maioria das professoras da escola observada descreveu
nas entrevistas e alguns dos pais entrevistados que também manifestaram carência em relação
à ação deste Núcleo diretamente com eles. Nos relatos e nas observações de campo, de
fevereiro a junho de 2010, havia acontecido apenas um encontro coletivo entre pais e
coordenação da escola com a representante do Núcleo e apenas para apresentar de forma geral
qual seria sua atuação naquela instituição. Durante todo o tempo de permanência sistemática
no campo da pesquisa, Lauzir não conseguiu visitar a escola nem uma vez por mês.
O dilema permanece complexo, pois numa rede de ensino municipal, as decisões não
podem ser localizadas apenas no âmbito da especificidade da cada instituição escolar.
Todavia, percebemos a lentidão com que os órgãos públicos promovem atendimento
satisfatório às suas demandas. Se pensarmos o atendimento da Lauzir (do Núcleo de
Inclusão), com 12 escolas para serem acompanhadas em apenas um turno de trabalho – quatro
horas e meia em cinco dias na semana, além da sua própria capacitação – seria o mesmo que
dizer que, num mês de 22 dias letivos, esse profissional poderia comparecer em cada uma das
95
suas 12 escolas, no máximo, duas vezes por mês. Isso se ele só ficar visitando escolas. Como
ele faria para atender as famílias e a equipe pedagógica das 6 crianças da inclusão da EMPJB
em 9 horas de trabalho mensal fragmentado? E, ainda, como os próprios profissionais da
escola poderiam se organizar para discutir alternativas se a SMED não os libera para reuniões
e capacitações devidamente remuneradas fora do horário de aula, uma vez que aos educandos
é garantido o direito de 22 horas e 30 minutos de atividades presenciais na escola? Diante da
proposta curricular que se tem na rede de ensino municipal para a Educação Infantil, como se
constitui o desenvolvimento das crianças, de todas as crianças? São questões que um estudo
desta natureza não pode responder, mas que abrem novas perspectivas analíticas para outros
estudos.
A escolha da PBH em atender à população em vulnerabilidade social ou em situação
de risco imprime o reforço aos valores de que o sistema capitalista necessita: oferecer
prioridade de oportunidade àqueles que se encontram em situação de desigualdade para
amenizar os conflitos sociais. Essa postura confirma a complexidade dos dilemas que
envolvem, no nosso caso, a questão da Inclusão na Educação Infantil na rede municipal de
ensino: um atendimento compulsório, mas precário pela falta de formação permanece dos
profissionais e a ausência de uma infraestrutura que permita de fato a inovação pedagógica45
no trato com todas as crianças. Esses, quando buscam por si mesmos algum complemento de
formação (pós-graduação, normalmente), não conseguem reverter os conhecimentos
adquiridos em benefício imediato àqueles que estão sob sua responsabilidade – os educandos.
Essa busca por titulação se converge muito mais pelo interesse na melhoria do salário
possibilitada pelo plano de carreira que pela motivação de reflexões e contribuições para a
prática docente.
A garantia legal do trabalho de Inclusão, por ser neste momento histórico inaugural,
tem promovido ainda espera por parte da instituição escolar pela ação e orientação do Núcleo
de Inclusão. Todas as atividades, discussões com as famílias das crianças, ficam aguardando a
posição e intervenção da Lauzir, mas o cotidiano escolar é muito dinâmico para ficar na
expectativa de tão poucos encontros.
Foi possível observar também que diante da organização dos horários de estudo para
os professores, a escola demonstra pouca participação na organização e condução destes
momentos. Primeiro, porque o nível de ausências de funcionários é alto, imprimindo a ação de
deslocar o professor apoio para a sala de aula sem professor, prejudicando os demais em seus
45 Resignificação de experiências educativa, rompendo com o modelo tradicional, num processo que favoreça interlocução dos sujeitos envolvidos, segundo Silva (2010).
96
horários de estudo, que aconteceriam exatamente quando o professor apoio assumisse a
turma. Segundo, porque não havia encontros periódicos das professoras com a coordenação
da escola, como observaram as professoras para tratarem dos assuntos específicos de suas
turmas, como a inclusão por exemplo. Terceiro, porque nas reuniões coletivas, que no
primeiro semestre aconteceram quase que uma por mês – num arranjo organizado pela direção
daquela escola e não por estrutura de trabalho da prefeitura até aquele momento – o tempo era
destinado para acordos sobre a organização dos eventos que envolveriam toda a escola
(Adaptação, Carnaval, Páscoa, Aniversário da Escola, Dia das Mães, Festa Junina). A partir
de final de maio, conforme registros do diário de campo, a prefeitura liberou verbas para que
a escola contratasse monitores para realizarem atividades com as crianças enquanto a equipe
pedagógica (professores, coordenação e direção) fizesse reunião de estudo sobre o documento
preliminar das “Proposições Curriculares para a Educação Infantil da Rede Municipal de
Educação e Creches Conveniadas com a PBH – Desafios da Formação”, a fim de coletar
sugestões de melhorias para o currículo para a educação infantil pública no município. Nestes
momentos, então, a equipe estudava e discutia o documento assim como se tomavam decisões
a respeito de questões gerais específicas da escola, como por exemplo, a mudança do recreio
de forma que cada duas turmas brincassem juntas e em horários diferentes das demais para se
possibilitar melhor atendimento às crianças neste momento. Mas nada se discutiu sobre
Inclusão, ou sobre cada uma das crianças na Inclusão matriculada na EMPJB.
Retornando ao PPP da escola, o compromisso de estudar as “deficiências”, o tema da
inclusão, a busca de parcerias, no ano de 2010 não se estabeleceu. A escola também não
conseguiu estabelecer parceria direta com os demais profissionais que atendiam as crianças da
inclusão. Sequer conseguiu até julho promover um encontro das professoras com as famílias
destas crianças. Enquanto pesquisadoras na instituição, tivemos muito mais contato com as
famílias pela nossa demanda de entrevistas que as próprias professoras das crianças. Apenas
uma professora da tarde conseguiu encontrar com a mãe de uma criança da inclusão, por
necessidade da família sobre alguns esclarecimentos a respeito dos procedimentos da escola.
Podemos avaliar também que o direito à escolarização em turmas regulares não tem
sido atingido na íntegra. Conforme as legislações estudadas, as crianças com necessidades
educacionais especiais, além de estarem na escola comum, deveriam participar de propostas
pedagógicas específicas para que adquirissem avanços em seus níveis cognitivos, se preciso,
até mesmo com a construção de um currículo funcional da instituição para elas. (BRASIL,
2001). Contudo, na escola acompanhada, assistimos muito mais o acolhimento pela obrigação
da inclusão do que o investimento pedagógico dirigidos a estes sujeitos de direitos.
97
Observamos a preocupação maior quanto à socialização e participação à rotina escolar do que
às atividades planejadas de forma a se levar em consideração os níveis de aprendizagem das
crianças incluídas. Algumas ficavam até isoladas das atividades do grupo, como por exemplo,
não participavam da roda de início do dia, permanecendo afastadas do grupo. Foi muito
marcante a fala das professoras, nas entrevistas e nos acompanhamentos do campo, de que
não tinham orientação para trabalhar com crianças com necessidades educacionais especiais
tão específicas, não dispondo de tempo nem de estudo ou momento de trocas de saberes e
conhecimentos sobre ações pedagógicas para as crianças da inclusão.
Outro aspecto a se considerar é a demora para chegada do estagiário que auxiliaria o
processo escolar. Com a chegada deste apoio às turmas da inclusão somente em maio,
verificamos a dificuldade das professoras em conduzir o trabalho pedagógico geral, fosse pela
mobilidade de algumas crianças, fosse pelo comportamento diferente, fosse pelo nível de
atenção que demandam durante o processo de construção de conhecimentos cognitivos, uma
vez que naquele ano se tinham necessidades educacionais muito diferentes: Autismo46,
Síndrome de Down47, Síndrome de Pallister Killian48, Paralisia Bilateral49, Déficit Intelectual
Moderado50. Quando, contudo, os estagiários chegaram não receberam orientações específicas
sobre como agir. Estes buscavam orientações em experiências particulares, em grupos de
estudantes nas faculdades que frequentavam, até conosco. Em várias de suas ações, também
percebemos a maneira intuitiva com que testavam as ações pedagógicas, agindo de forma a
atrasar e até comprometer ainda mais o avanço das crianças da inclusão, pois uma decisão
frequente era tirar a criança da atividade que os demais estavam realizando. Além, de se
tornar mais um fator de segregação das crianças, verificamos que não basta o governo
municipal disponibilizar funcionários, é necessário primeiramente formá-los, �repara-los
para o trabalho e acompanhar sua atuação, articular encontros destes com as professoras de
forma a se refletir sobre estratégias efetivas para o suporte pedagógico, pois da forma como se
tem articulado o seu apoio à inclusão apenas se reforça um sistema de ensino excludente.
Dificilmente verificamos práticas educativas inclusivas construídas pelas
singularidades dos sujeitos. A busca de caminhos alternativos ao ensino tradicional estava
lenta e dependente dos órgãos específicos da PBH para auxiliarem em quaisquer decisões. O
vínculo com a família era distante, quando se davam os encontros no início ou no final do
46 Cf. Anexo II 47 Cf. Anexo II 48 Cf. Anexo II 49 Cf. Anexo II 50 Cf. Anexo II
98
turno, normalmente se apontava algum elemento comportamental apenas. Torna-se urgente
um projeto de reflexão sobre o papel da instituição de Educação Infantil, para que crianças e
adultos não fiquem expostos a ambiguidades e repressões constantes na composição de seus
contextos de vidas.
Toda pesquisa teórica efetuada foi muito significativa para compreender a própria
escola acompanhada. Foi possível compreender as motivações para a alteração da
nomenclatura adotada para se referir à oferta de vagas na educação infantil, enquanto direito
conquistado. Deste modo, o antigo jardim de infância passa a denominar Escola de Educação
Infantil. O estudo também permitiu analisar as posturas dos profissionais, os investimentos da
PBH, pelo embasamento anteriormente discutido nesse documento. Efetuar uma pesquisa
participante foi a escolha mais acertada, pois ninguém está neutro diante dos acontecimentos
que se processam em suas experiências. Poder contribuir também para o próprio grupo refletir
sobre suas ações e intervenções na prática escolar cotidiana tem de ser uma responsabilidade
da parceria entre o pesquisador e o campo da pesquisa. Há situações em que é através dessa
parceria que acontecerão possibilidades de desconstrução dos preconceitos camuflados,
conforme Goulart (2008) analisou.
É importante destacar ainda que apesar de todas as considerações sobre o trabalho
pedagógico, as famílias demonstraram uma visão positiva da experiência escolar de seus
filhos naquela instituição. Poderíamos compreender tal perspectiva diante apenas dos laços
afetivos que a família espera das instituições que atendem suas crianças, seja pela dificuldade
que passam em criar uma criança com síndrome ou problemas de saúde para o
desenvolvimento, seja pela evidencia da total falta de instrução a respeito do direito de
educação que toda criança tem. Observamos, nesta pesquisa, que as famílias não participam
dos conflitos didáticos vivenciados pela equipe docente. Mesmo para mães, como aquela que
permaneceu na escola por um mês como estagiária de sua criança relatado no capítulo 5 desta
dissertação, a falta de compreensão sobre a proposta de uma educação de qualidade em
termos de oferta de oportunidades iguais para o desenvolvimento pleno de cada criança na sua
individualidade. A expectativa das famílias era apenas de acolhimento afetuoso. Em relação a
esse fator, elas se sentiam totalmente atendidas.
Ouvir o que as crianças pensavam sobre a inclusão foi a melhor aprendizagem para
nós, devido o compromisso profissional com estes sujeitos. Foi também a melhor alternativa
para se apresentar como resultado de um intenso investimento em benefício principalmente
desses próprios sujeitos, que tiveram oportunidade se manifestar e estão sendo ouvidas, agora.
Estamos passando por profundas transformações sociais que tem alterado consideravelmente
99
os sistemas de ensino brasileiro: a inclusão conquistou direitos políticos, direitos civis e tem
que ser garantida quanto aos direitos sociais. O direito à educação não pode caminhar nas
trilhas da utopia. E as escolas, seus profissionais, precisam dar conta dessas discussões, pois
do contrário, poderá ocorrer um esvaziamento do seu potencial formativo. Garantir
acessibilidade é fundamental, mas não é falar de uma escola para todos. Os discursos têm
realmente que se proceder sobre o que efetivamente está sendo ensinado.
Por fim, eu fico com a resposta das crianças que é considerar sempre que criança na
inclusão é criança!
100
Figura 13 -– (1974) A avaliação (1) Fonte: Tonucci, 1997
101
REFERÊNCIAS
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113
ANEXOS I Termo de Consentimento Livre e Esclarecido II Lista das Diferentes Necessidades Educacionais na EMPJB em 2010 III Roteiros das entrevistas IV Secretaria Municipal de Educação - Prefeitura de Belo Horizonte - Estrutura Organizacional V Parte do Projeto Político Pedagógico da escola VI Plano de Trabalho Pedagógico da Direção Eleita para o triênio 2009/11
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ANEXO I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título do Projeto: A diversidade na educação da infância: a perspectiva das crianças e de profissionais de uma Escola de Educação Infantil Pública de
Belo Horizonte Prezado Senhor (a),
Este Termo de Consentimento pode conter palavras que você não entenda. Peça ao
pesquisador que explique as palavras ou informações não compreendidas completamente.
1 ) Introdução
Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa que estudará o A DIVERSIDADE
NA EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA: A PERSPECTIVA DAS CRIANÇAS E DE
PROFESSORES. Você foi selecionado por possuir informações imprescindíveis à pesquisa e
sua participação não é obrigatória. O objetivo do projeto é estudar A INCLUSÃO DE
TODAS AS DIFERENÇAS A PARTIR DO PONTO DE VISTA DAS CRIANÇAS E
PROFESSORES.
2 ) Procedimentos do Estudo
Para participar deste estudo solicito a sua especial colaboração em conceder entrevista, que
será gravada, sobre a percepção que você tem DA DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO DA
INFÂNCIA.
3 ) Riscos e desconfortos
Gostaríamos que se sentisse à vontade para responder às perguntas que desejar.
4 ) Benefícios
Espera-se que, como resultado deste estudo, você e possa conhecer melhor A
DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA assim como poderá auxiliar na
elaboração de novas políticas de atendimento à criança pequena em espaços coletivos.
5) Custos e Reembolso
Você não terá nenhum gasto com a sua participação no estudo e também não receberá
pagamento pelo mesmo.
6) Caráter Confidencial dos Registros
A sua identidade será mantida em sigilo. Os resultados do estudo serão sempre apresentados
como o retrato de um grupo e não de uma pessoa. Dessa forma, você não será identificado
115
quando o material de seu registro for utilizado, seja para propósitos de publicação científica
ou educativa.
7) Participação
Sua participação neste estudo é muito importante e voluntária. Você tem o direito de não
querer participar ou de sair deste estudo a qualquer momento, sem penalidades. Em caso de
você decidir retirar-se do estudo, favor notificar o profissional e/ou pesquisador que esteja
desenvolvendo a pesquisa.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, coordenado pela Professora Maria Beatriz Rios Ricci, que poderá
ser contatada em caso de questões éticas, pelo telefone: 3319-4517 ou pelo email:
A pesquisadora responsável pelo estudo poderá fornecer qualquer esclarecimento sobre o
estudo, assim como tirar dúvidas, bastando contato no seguinte endereço e/ou telefone:
Nome do Pesquisador: GRAZIELLE VIEIRA MAIA
Endereço: Dom José Gaspar, 290, Belo Horizonte - MG, CEP 30535-610.
Telefone para contato: 34127269.
116
Declaração de Consentimento Li, ou alguém leu para mim, as informações contidas neste documento antes de assinar este
termo de consentimento. Declaro que toda a linguagem técnica utilizada na descrição deste
estudo de pesquisa foi satisfatoriamente explicada e que recebi respostas para todas as minhas
dúvidas. Confirmo também que recebi uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Compreendo que sou livre para me retirar do estudo em qualquer momento, sem
qualquer penalidade.
Dou meu consentimento de livre e espontânea vontade para participar deste estudo.
Nome do participante ______________________________________________________
Assinatura do participante __________________________________________________
Obrigado pela sua colaboração e por merecer sua confiança.
Nome e Assinatura do pesquisador
______________________________Data:____/____/2010
117
Declaração de Consentimento Li, ou alguém leu para mim, as informações contidas neste documento antes de assinar este
termo de consentimento. Declaro que toda a linguagem técnica utilizada na descrição deste
estudo de pesquisa foi satisfatoriamente explicada e que recebi respostas para todas as minhas
dúvidas. Confirmo também que recebi uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Compreendo que sou livre para me retirar do estudo em qualquer momento, sem
qualquer penalidade.
Dou meu consentimento de livre e espontânea vontade para participar deste estudo.
Nome do participante ______________________________________________________
Nome do responsável ______________________________________________________
Assinatura do responsável __________________________________________________
Obrigado pela sua colaboração e por merecer sua confiança.
Nome e Assinatura do pesquisador
______________________________Data:____/____/2010
118
ANEXO II
Lista das Diferentes Necessidades Educacionais Especiais na EMPJB em 2010
Autismo Descobertas recentes apontam a possibilidade de que o autismo possa ser causado por uma interação gene-ambiente. Caracteriza-se por um comprometimento grave e global em diversas áreas do desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, habilidades de comunicação ou presença de estereotipias de comportamento, interesses e atividades. Os prejuízos qualitativos que definem estas condições representam um desvio acentuado em relação ao nível de desenvolvimento ou idade mental do indivíduo. Disponível em http://www.autismo.com.br/site.htm consultado em 07/05/2011. Síndrome de Down A Síndrome de Down decorre de um acidente genético que ocorre em média em 1 a cada 800 nascimentos, aumentando a incidência com o aumento da idade materna. Atualmente, é considerada a alteração genética mais frequente. Acomete todas as etnias e grupos sócio-econômicos igualmente. É uma condição genética conhecida há mais de um século, descrita por John Langdon Down e que constitui uma das causas mais frequentes de deficiência mental (18%). No Brasil, de acordo com as estimativas do IBGE realizadas no censo 2000, existem 300 mil pessoas com Síndrome de Down. As pessoas com a síndrome apresentam, em consequência, retardo mental (de leve a moderado) e alguns problemas clínicos associados. Disponível em http://www.portalsindromededown.com/oqueesd.php consultado em 07/05/2011. Síndrome de Pallister Killian Fenótipo similar e mosaicismo para um cromossomo marcado e descrito por Pallister et al., em 1976, apresentando tetrassomia 12p, documentada através de fibroblastos da pele de indivíduos afetados, mas não no sangue periférico. Apresenta as seguintes anormalidades: crescimento - estatura, peso e circunferência cefálica normais ou aumentados ao nascimento com desaceleração do crescimento pós-natal da estatura e da circunferência cefálica, frequentemente há o desenvolvimento de obesidade; desempenho - deficiência mental profunda com desenvolvimento mínimo da linguagem; convulsões; hipotononia com desenvolvimento de contraturas com o avançar da idade; surdez; craniofaciais - cabelos esparsos na região anterior, sobretudo nas regiões temporais na infância, com sombrancelhas e cílios ralos, fronte proeminente, a face se torna mais grosseira no decorrer do tempo, fissuras palpebrais direcionadas para cima, hipertelorismo ocular, ptose palpebral, estrabismo, epicanto, base nasal larga e achatada e nariz curto com narinas antevertidas, bochechas rechonchudas, filtro longo com lábio superior fino e formato de "arco de cupido", lábio inferior protruso, erupção dentária retardada, orelhas largas com lóbulos espessos protrusos, pescoço curto; além de faixas de hiper ou hipopigmentação, mãos largas com dedos curtos e encurtamento desproporcional de braços e pernas. Disponível em http://www.professorjarbasbio.com.br/sindrome.htm consultado em 07/05/2011. Paralisia Espástica Bilateral Paralisia cerebral é uma dificuldade de controle neuromotor (nervo e músculo). É o resultado de um dano ao cérebro impossibilitando-o de amadurecer completamente, causando uma lesão fixa. A Paralisia Cerebral afeta os movimentos e a postura, não progressiva, que ocorre antes, durante, ou depois do nascimento. O dano cerebral numa Paralisia Cerebral não é reversível, produzindo incapacidade física pelo resto da vida. No caso da Espástica Bilateral, ocorre hipertonicidade, hiperreflexia e persistência anormal dos reflexos neonatais, pernas em
119
tesoura, posturas anormais dos membros e contraturas, dificuldade de deglutição e salivação excessiva. Disponível em http://www.wgate.com.br/conteudo/medicinaesaude/fisioterapia/neuro/hidroterapia_espastica.htm consultado em 07/05/2011. Déficit Intelectual Moderado A deficiência intelectual pode ter várias causas, entre as principais estão fatores genéticos, perinatais (ocorridos durante a gestação e o parto) e pós-natais. O diagnóstico correto dos fatores causais no momento do nascimento pode não só amenizar os sintomas mas até mesmo evitar o dano cerebral como por exemplo erros inatos do metabolismo que se não controlados, entre outros danos, serão causa de lesão cerebral. Entre suas características, destaca-se a diversidade de danos cerebrais, condições psicossociais capazes de afetar a função mental (QI), e/ou seus componentes como atenção, memória ou as diversas formas de raciocínio, intrinsecamente relacionados entre si. Quanto à avaliação da atividade intelectual, uma das fecundas abordagens dos últimos tempos foi a proposição de Inteligências múltiplas por Howard Gardner. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Defici%C3%AAncia_mental consultado em 07/05/2011.
120
ANEXO III
Entrevistas semi-estruturadas
ENTREVISTA: PAIS E/OU RESPONSÁVEIS DAS CRIANÇAS NA INCLUSÃO 1) Qual seu nome e sua idade?
2) Qual a sua formação?
3) Quantos filhos você tem?
4) Seu filho tem alguma necessidade educacional específica? Qual?
5) Qual a razão da escolha desta escola?
6) Como você vê a participação de seu filho nesta escola?
7) O que você espera da escola?
8) O que você considera mais importante na escola?
9) O que você não gosta na escola?
10)Há alguma iniciativa pública de apoio ao desenvolvimento integral para as
crianças? São gratuitos? Como são organizados?
11)O que seus filhos fazem quando não estão na escola?
12)Seus filhos brincam juntos? Com que brincam? Quais as brincadeiras que
mais gostam?
13)Brincam em locais abertos? Ao ar livre? Onde? De que brincam?
14)Como e o que seu filho fala sobre a escola?
15)O que fala sobre os colegas da escola? E sobre os adultos?
16)Com quem seus filhos ficam quando não estão na escola?
17)Gostaria de fornecer mais alguma informação que considera relevante para a
pesquisa?
18)Gostaria de receber mais alguma informação sobre a pesquisa?
121
ENTREVISTA: PROFESSORES E PROFISSIONAIS 1) Qual seu nome? Idade?
2) Qual a sua formação?
3) Há quanto tempo atua na educação?
4) O que você entende por educação inclusiva?
5) Já teve ou está tendo alguma experiência com a educação inclusiva?
6) O que você acha que é mais positivo na educação inclusiva?
7) O que você acha que é mais negativo na educação inclusiva?
8) A escola oferece condições estruturais e operacionais para a inclusão?
Quais?
9) Há alguma proposta da Secretaria com relação à educação inclusiva? Qual?
10)A Secretaria Municipal de Educação proporciona algum apoio ao seu
trabalho? Qual?
11)Você conta com profissionais de apoio? Há equipe multidisciplinar na escola?
Explique.
12)Você recebe estagiários em sua sala?
13)Como você percebe a atuação do estagiário em relação às crianças?
14)Você planeja as atividades educativas? O faz sozinho ou em equipe?
15)Há discussões coletivas sobre o planejamento?
16)Quem conduz as discussões?
17)Você recorre a produções teóricas como suporte ao seu planejamento? Como
o faz?
18)Como você avalia seu trabalho?
19)O que você considera mais positivo em seu trabalho?
20)O que considera negativo no seu trabalho?
21)Gostaria de fornecer mais alguma informação que considera relevante para a
pesquisa?
22)Gostaria de receber mais alguma informação sobre a pesquisa?
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ENTREVISTA: ESTAGIÁRIA
1) Qual o seu nome e sua idade?
2) Qual é seu curso de formação?
3) Você já trabalhou com educação inclusiva?
4) Como foi trabalhar com inclusão?
5) Você já possui alguma experiência profissional anterior ao estágio? Suas
experiências anteriores contribuíram para a sua atuação no estágio?
6) Como você considera a sua contribuição as crianças incluídas? Explique.
7) Você encontra alguma dificuldade no curso de seu estagio? Qual?
8) O que você considera mais positivo no estágio?
9) O que você considera mais negativo no estágio?
10) Você tem tido acompanhamento e apoio didático-pedagógico durante o
seu estágio? Explique.
11) Qual a contribuição do estágio para a sua formação?
12) Gostaria de fornecer mais alguma informação que considera relevante
para a pesquisa?
13) Gostaria de receber mais alguma informação sobre a pesquisa?
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ENTREVISTA: CRIANÇAS
1) Qual o seu nome?
2) Quantos anos você tem?
3) Há quanto tempo estuda nesta escola? (Quais foram as suas professoras?)
4) Seus colegas são os mesmos?
5) Você gosta da sua turma da escola? Por quê?
6) O que acontece de bom na sua turma?
7) O que acontece que não é legal na sua turma?
8) Como são seus colegas?
9) Algum deles precisa de ajuda? Como?
10) Você acha que seus colegas ajudam este colega? Como?
11) Como você brinca com este colega na sala (usar alguns dos materiais lúdicos deste
espaço)?
12) Ele já assentou perto de você na sala de aula?
13) O que você já aprendeu com este colega?
14) O que você já ensinou a este colega?
15) O que você já aprendeu este ano?
16) E seu colega, o que você acha que ele já aprendeu na escola?
17) De que você brinca no recreio? Com quem?
18) E seu colega? Com quem ele brinca? De quê?
124
ANEXO IV
Secretaria Municipal de Educação Prefeitura de Belo Horizonte Estrutura Organizacional
1)Gabinete Secretária Municipal de Educação - Macaé Maria Evaristo Secretário Municipal Adjunto de Educação - Afonso Celso Renan Barbosa Chefe de Gabinete - Luiz Henrique Borges RAMAIS 8606 - 8593 - 8594 2)Gerência de Articulação da Política Educacional - GAPE Rosavani & Fernanda Cecília Ávila Sala 728 - Ramal: 8594 3)Gerência de Articulação de Administração e Planejamento - GAAP 4)Gerência de Gestão Administrativa e Financeira - GGAF Edina Custódio Alves Sala 723 - Ramal: 8616 5)Gerência de Recursos Materiais da Educação - GERMA-ED Evandro Fagundes dos Santos - Sala 317 - Ramais: 8653 ou 8611 6)Gerência de Almoxarifado da Educação - GERALM Antônio Carlos de Noronha - Ramal : 6043 7)Gerência de Contratos e Convênios da Educação - GCCON-ED Maria Regina Dias Florêncio - Sala 725 - Ramal: 8619 8)Gerência de Controle e Prestação de Contas de Subvenções - GCPCS Nilton Pereira dos Santos - Sala 310 - Ramal: 8586 9)Gerência Administrativa - Financeira - GEAFI-ED Idê Maria de Nazaré - Sala 313 - Ramal: 8612 10)Gerência Orçamentário Financeira - GEOFIN Éder Franklin Gondim Arruda - Sala 315 - Ramal: 8831 11)Gerência de Transporte - GETRAN Rogério Luis Zanetti - Ramal:8620 12)Gerência de Organização Escolar - GEOE Helen Elenimar Faria 713 - Ramal 8626 13)Gerência de Planejamento Escolar - GEPES
125
Magda Lane de Araújo - Sala 710 - Ramais: 8630 ou 8631 14)Gerência de Pessoal-GERPES-ED Laura Araújo Henriques - Sala 714 - Ramal:8632 15)Gerência de Planejamento e Informação - GPLI Corina Giovanini Sala 726 - Ramal 8595 16)Gerência de Rede Física Escolar - GERFE José Aloísio Gomes F. de Castro - Sala 617 - Ramal 8856 17)Gerência de Informações Educacionais – GINED Eleonora Ferreira de Paula- Sala 615 - Ramal 8617 18)Gerência de Cadastro e Estatística Escolar - GECCE Denise Nascimento Souza - Sala 608 - Ramal 8602 19)Gerência de Avaliação de Políticas Educacionais - GAPED Eliani Maria de Brito - Sala 724 - Ramal 8633 20)Gerência de Funcionamento Escolar - GEFE Inêz Maria de M. Dolabela Sala 719 - Ramal: 8639 21)Gerência de Avaliação e Verificação do Funcionamento Escolar - GAVFE Elza Maria Maia O. Fernandes - Sala 720 - Ramal: 8599 22)Gerência de Autorização de Funcionamento Escolar - GAFESC Auréa Noá Lisboa Leão - Sala 708 - Ramal:8622 23)Gerência do Programa Bolsa-Escola - GEBE Flávia Julião Sala 607 - Ramal 8725 24)Gerência de Articulação do Programa Bolsa - Escola GEABE Alessandro Monteiro- Sala 728 - Ramal 8606 25)Gerência de Cadastro e Gestão Administrativa do Programa Bolsa-Escola - GECBE Margarida Mussi Coelho Rocha- Sala 604 - Ramal 8638 26)Gerência de Processamento do Benefício e Apoio Administrativo - GEBEBE Jacy Telma de Oliveira Rocha - Sala 601 - Ramal 8855 27)Gerência de Coordenação da Política Pedagógica e de Formação-GCPF Dagmá Brandão Silva Sala 816 - Ramal: 8613
126
28)Gerência de Coordenação da Educação Infantil - GECEDI Mayrce Terezinha da Silva Freitas - Sala 820 - Ramal: 8625 29)Gerência de Educação Básica e Inclusão - GEBAS Adriana Mota - Sala 820 - Ramal: 8643 30)Gerência de Coordenação do Centro de Apoio Pedagógico para o atendimento às pessoas com deficiência visual - GECCAP Elizabet Dias de Sá - Ramal: 4517 31)Gerência de Comunicação Social - GCOS Marcos André Ribeiro Costa sala 733 D - ramal 8600 ou 8601 32)Gerência de Relações com a Imprensa – GRIMP Magi Cristina Mappa sala 733 D - ramal 8600 ou 8601 33)Gerência de Ouvidoria da Educação - GEOUV-ED Clélia Márcia C. de Andrade sala 733 C - ramal: 8646/ 9905 34)Gerência de Eventos e Relações Públicas - GEEVRP sala 733 A/B - ramal: 9900/ 9901
127
ANEXO V Parte da Proposta Política Pedagógica da Escola
128
129
130
131
132
133
134
135
136
137
138
139
ANEXO VI
Plano de Trabalho Pedagógico da Direção Eleita para o triênio 2009-2011
140
141
142
143
144