você sabe com quem está falando?

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Artigo de minha autoria publicado na edição de Julho-Agosto de 2011 da revista Super Sul, especializada no varejo da região Sul.

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Page 1: Você sabe com quem está falando?

Revista Super Sul {Jul/Ago de 2011}

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COMUNICAÇÃO

CORPORATIVA Você sabe com

quem está falando?em lá no início do curso de Comunicação So-cial, aprendemos que o emissor, o meio, a men-sagem e o receptor são elementos fundamen-tais da comunicação. Sem um deles, o pro-

cesso não se estabelece. Na prática, já no mercado,passei a compreender como funcionam os três primei-ros dentro da área de Comunicação Interna de umaempresa. Embora se exercite diariamente técnicas quequalifiquem o emissor, o meio e a mensagem, nestamesma prática, há pouco tempo para pensar sobre oúltimo elemento, o funcionário da sua empresa.

Quem é ele? O que o motiva? Que dúvidas ele tema respeito da sua atividade? Essas são questões pri-mordiais para o sucesso da comunicação interna emqualquer empresa do mundo. No Brasil, especialmente,o tema ganha mais um ingrediente: a qualidade daeducação e a baixa escolaridade. Quanto tempo estu-dou? Qual seu nível de compreensão? Quantos livros lêpor ano? Este é, portanto, o novo paradigma.

Ouso dizer que, neste período de grande pre-ocupação com a diversidade dentro do quadro defuncionários das organizações, além de todo in-vestimento na valorização de negros, homossexu-ais e funcionários com deficiência, por exemplo,os empresários precisarão aplicar parte de seus es-forços na comunicação com analfabetos funcionais.Aliás, você sabe o que é isso?

Segundo a Unesco (organizaçãodas Nações Unidas para a educação, aciência e a cultura), analfabeto funci-onal é toda pessoa que sabe escreverseu próprio nome, lê e escreve frasessimples, efetua cálculos básicos, mas éincapaz de interpretar o que lê e de usara leitura e a escrita em atividades coti-dianas. E você sabia que, sendo a suaempresa uma empresa que recruta bra-sileiros, se ela tiver cinco mil funcio-nários, 1.400 deles podem ser classifi-cados neste grupo? O dado é da ediçãode 2009 do Indicador de Analfabetis-mo Funcional, o Inaf, que retrata a si-tuação de brasileiros com idade entre15 e 64 anos, estudantes ou não. Se-gundo o Inaf 2009, 28% dos brasilei-ros são analfabetos funcionais.

Por Juliano Rigatti

B

FABR

ÍCIO

BA

RRET

O

A grande preocupação que precisa surgir a par-tir desta realidade da nossa alfabetização é a se-guinte: qual o nível de compreensão dos funcioná-rios da sua organização às informações que sãocomunicadas diariamente dentro da empresa?

Suponhamos que o seu supermercado ou a suaindústria tenham um mural e uma revista. Certamen-te, a alta direção nutre a expectativa de que os seusfuncionários se movimentem motivados pelas infor-mações obtidas por meio dessas ferramentas. Nadamais natural depois do investimento aplicado. Mas,repito o questionamento: este receptor está prepa-rado para responder como o seu líder espera?

Embora tenhamos assistido entusiasmados o fe-nômeno da emersão de milhões de brasileiros, quepassaram a compor a classe C, ainda há estatísticasrelacionadas à educação brasileira que nos enver-gonham – e prejudicam os negócios. Para se teruma ideia, de acordo com o Relatório de Desenvol-vimento Humano da ONU, a Organização das NaçõesUnidas, publicado no final do ano passado, o Brasiltem a média do Zimbábue no quesito educação. Nadacontra o país africano, a não ser o fato de ele figu-rar na 169º posição do IDH (Índice de Desenvolvi-mento Humano), enquanto o Brasil está no 73º lu-gar. Os brasileiros estudam, em média, apenas 7 anos.O mesmo tempo que no Zimbábue. A ONU recomendaque o nosso país quase dobre o tempo de perma-nência da população dentro das salas de aula, ele-vando-o para 13 anos.

E o futuro não parece nada promissor. O Brasilestá apenas na 53ª posição do Programa Interna-cional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla eminglês), divulgado em dezembro de 2010 pela Or-ganização para a Cooperação e o DesenvolvimentoEconômico (OCDE). O estudo fez um raio-x da situ-ação da educação (leitura, matemática e ciência)de cerca de três mil adolescentes brasileiros, todosna faixa dos 15 anos. A China foi a grande vence-dora, com 1.731 pontos. O Brasil acumulou 1.203e ficou atrás de nações como Chile, Trinidad eTobago, Colômbia, México e Uruguai. Em se tra-tando de leitura, especificamente, nosso índiceficou abaixo da média. A pesquisa é produzida acada três anos e reúne 65 países, entre membros eparceiros da organização.

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Revista Super Sul {Jul/Ago de 2011}

Levando em conta que a maioria das ferramen-tas de Comunicação Interna utilizam a palavra es-crita, e que o varejo e a indústria acumulam umgrande número de funcionários com o perfil daspesquisas acima, entendo que o processo precisaser repensado. E aqui, outro elemento da comunica-ção, o meio, passa a ser decisivo.

Vejamos o exemplo da AGCO, eleita em 2010 aempresa do ano na categoria Comunicação e Rela-cionamento com o Público Interno na região Sulpela Associação Brasileira de Comunicação Empre-sarial (Aberje). Ela é fabricante e distribuidora glo-bal de equipamentos agrícolas, produz para marcascomo Massey Ferguson, Fendt, Challenger e Valtrae está em 140 países de cinco continentes. Embo-ra não tenha relação direta com o setor varejista,que lição ela tem a nos ensinar?

A criação do Sistema AGCO de Comunicação In-terna buscou solucionar reclamações comuns entreos funcionários, que alegavam não ficar sabendo datroca de diretores e de outras decisões corporativasenviadas apenas por e-mail. Para complicar, a empre-sa passou por um processo de integração em 2007,após adquirir a Valtra, uma companhia de Mogi dasCruzes (SP). Que solução foi encontrada? Além deoutras medidas, a valorização da comunicação face a

face. A AGCO implementou reuniões chamadas “Bomdia” e “Boa Noite”, e o criou o encontro “Tá na Mesa”.Em cada um deles, funcionários e suas lideranças têma oportunidade de conversar sobre a pauta semanal eintegrar-se. Resultado: 79% de aprovação interna parao novo modelo de comunicação.

Comunicação face a face, olho no olho, cara acara. Seja qual for o nome do método, ele já provouser eficaz em processos nos quais é necessário o con-vencimento, a abertura para perguntas e respostas. Nopaís em que trabalhamos, sua aplicação é ainda maisnecessária. Mesmo em plena era da informação e apopularização de sites, blogs e redes sociais, o conta-to pessoal virou prioridade a partir dos problemas daeducação brasileira e dos reflexos dela na capacitaçãode nossos funcionários. Intranet, emails, cartas, bole-tins, murais e revistas continuam tendo papel impor-tantíssimo na disseminação da cultura e das mensa-gens da companhia. Mas em grande escala, podem nãoser eles os responsáveis por despertar motivação eengajamento, dois grandes objetivos de uma comuni-cação eficaz.

Juliano Rigatti é jornalista, possui MBA emGestão Empresarial e trabalha com varejohá 10 anos. E-mail: [email protected]