[vitor borges] desafiar o futuro da segurança na construção e não só!

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SafeMed – O Blog de Segurança e Saúde no Trabalho 1 Desafiar o futuro da Segurança na Construção e não só! Passou mais uma Segurex e o 8° Encontro Nacional de Técnicos de Segurança. De novo renovam-se discussões, quezílias e vontades acerca das competências, associativismo e rumo a dar a esta actividade, ao seu enquadramento e aos seus profissionais. Tenho lido e até participado em discussões pós-eventos, tem sido possível entender o sentimento de algumas correntes que se vão desenvolvendo. Tenho a minha opinião pessoal, e vou tentar deixar aqui à discussão alguns temas que considero relevantes, usando para tal a segurança na construção que conheço bem. Esta escolha tem por base o facto de ser uma actividade que encerra nela um vasto conjunto de assuntos e que podem ser, penso, um bom ponto de análise de toda a Higiene e Segurança no Trabalho num âmbito mais lato. A segurança na construção, ou num âmbito mais formal a actividade que se enquadra na directiva estaleiros temporários ou móveis, continua a ser uma área da higiene e segurança no trabalho com absoluta tendência bipolar e em alguns casos multipolar.

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Page 1: [Vitor Borges] desafiar o futuro da segurança na construção e não só!

SafeMed – O Blog de Segurança e Saúde no Trabalho 1

Desafiar o futuro da Segurança na Construção e não só!

Passou mais uma Segurex e o 8° Encontro Nacional de Técnicos de Segurança. De novo

renovam-se discussões, quezílias e vontades acerca das competências, associativismo e

rumo a dar a esta actividade, ao seu enquadramento e aos seus profissionais.

Tenho lido e até participado em discussões pós-eventos, tem sido possível entender o

sentimento de algumas correntes que se vão desenvolvendo. Tenho a minha opinião pessoal,

e vou tentar deixar aqui à discussão alguns temas que considero relevantes, usando para tal

a segurança na construção que conheço bem. Esta escolha tem por base o facto de ser uma

actividade que encerra nela um vasto conjunto de assuntos e que podem ser, penso, um

bom ponto de análise de toda a Higiene e Segurança no Trabalho num âmbito mais lato.

A segurança na construção, ou num âmbito mais formal a actividade que se enquadra na

directiva estaleiros temporários ou móveis, continua a ser uma área da higiene e segurança

no trabalho com absoluta tendência bipolar e em alguns casos multipolar.

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SafeMed – O Blog de Segurança e Saúde no Trabalho 2

Desafiar o futuro da Segurança na Construção e não só!

A construção civil e obras públicas, embora sendo uma das áreas com mais legislação

aplicável, porque a ela estão associadas um elevado número de subactividades de elevada

especificidade e também de tarefas com enquadramento legal especifico, apresenta o

panorama atípico de ter um regulamento geral que tem meio século de existência, que está

no geral obsoleto, muitas vezes esquecido e apresenta demasiadas incoerências e omissões

quando comparado com elementos legais recentes como a directiva equipamentos de

trabalho, por exemplo.

Faz mais de 5 anos que um projecto de lei se encontra em discussão pública, ou melhor se

encontrou em discussão pública, pois desse assunto nem se fala actualmente. A quem

interessa este silêncio? A quem interessa a falta de clareza na legislação, as suas

incongruências ou as suas omissões? Como é que existe uma lei de bases da prevenção que

nos obriga a todos a ter em conta o estado de evolução técnica e da boa arte, e essa

evolução não é tida em conta no quadro legal em vigor?

No que diz respeito especificamente à transposição da directiva estaleiros temporários ou

móveis, o Decreto-Lei 273/2003, o caso é semelhante, sendo até caricato em alguns pontos

específicos. Na minha modesta opinião, como ferramenta estruturante de uma actividade

tao importante e relevante para a economia, mesmo a actual, está ferido de morte há perto

de uma década.

Senão vejamos:

• Regulamentação da coordenação de segurança – é para mim a situação mais grave e

incompreensível deste regulamento. Como é possível que passados 12 anos da sua

publicação, a regulamentação da figura chave que é o coordenador de segurança ainda

não exista? E com esta inacção fica ao livre arbítrio de cada um a atribuição da

competência para a função, formação académica ou profissional para ingresso na

profissão, ratio de afectação a projectos, entre outros aspectos. As ordens profissionais

não se entendem, os sindicatos querem ter uma palavra a dizer, que vai mudando

consoante as tonalidades políticas, os técnicos de segurança vão continuando a fazer

encontros nacionais em que vão prestando de certa forma vassalagem a todas estas

entidades, e tudo vai continuando na mesma.

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SafeMed – O Blog de Segurança e Saúde no Trabalho

• Coordenação de segurança em projecto – excepção feita aos grandes projectos, de

grandes donos de obra, a coordenação de segurança em projecto é algo de que já se

ouviu falar, que produz umas assinaturas e em alguns casos até dá direito a emissão de

umas facturas ou recibos verdes, mas pouco mais. Quantas acções de inspecção

incidiram sobre a fase de projecto? Quantas destas pediram evidências de acções de

coordenação de segurança em projecto, como pedidos de fundamentação de opções

arquitectónicas ou recomendação de alterações por forma a tornar o processo

construtivo mais seguro para os trabalhadores?

• Compilação técnica – passados todos estes anos ainda há na produção e nos donos de

obra a associação imediata ao termo “telas finais”. E na maior parte das vezes a

compilação técnica pouco mais é do que isso, um conjunto de desenhos, manuais

técnicos de materiais (muitas vezes nem das Fichas de Dados de Segurança se trata),

equipamentos ou produtos, e muito pouco de avaliação de riscos ou descrição técnica

dos trabalhos a desenvolver no objecto construído ao longo do seu ciclo de vida útil.

Porquê? Talvez porque o DL 273/2003 apresenta a compilação técnica como um

conjunto de títulos e subtítulos pomposos, e que o legislador na sua superioridade

entende que a legislação deve deixar espaço ao papel dos técnicos e especialistas.

Pois…mas isto era se estes se entendessem e usassem este poder para se unirem em

torno da melhoria das condições de trabalho, da saúde dos trabalhadores e de terceiros

afectados.

Estes são no meu entender os pontos mais relevantes na demonstração de que algo vai mal,

há muito tempo, nesta área. Continua toda a gente muito preocupada em discutir o

equilíbrio de forças entre técnicos nível IV, VI, VII, VIII e continua a morrer gente no sector

da construção, e os trabalhadores continuam a ser submetidos a condições inseguras nos

seus postos de trabalho.

Desafiar o futuro da Segurança na Construção e não só!

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Page 4: [Vitor Borges] desafiar o futuro da segurança na construção e não só!

SafeMed – O Blog de Segurança e Saúde no Trabalho

Vítor Borges

O meu nome é Vitor Borges, sou QHSE Manager na SIMI – Soc. Int. De

Montagens Industriais.

A minha experiência profissional está intimamente ligada à gestão da

prevenção, higiene e segurança no trabalho e certificações, principalmente

nas áreas de actividade da construção civil e obras públicas e montagens

industriais. Paralelamente, o meu percurso profissional tem sido acompanhado

por uma actividade académica relevante na área da docência, em matérias

ligadas à minha formação em eng.a química e HST.

http://blog.safemed.pt/desafiar-o-futuro-da-seguranca-na-construcao-e-nao-so/

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Desafiar o futuro da Segurança na Construção e não só!

Estamos numa fase em que a indústria da construção civil, industrial e obras públicas se encontra

em estagnação ou na melhor das hipóteses começa a dar alguns sinais de reanimação, será que

não estamos a perder uma boa oportunidade de preparar o futuro? Não seria esta a melhor altura

para os técnicos da higiene e segurança no trabalho se unirem e liderarem um processo de

consolidação e adequação de toda a legislação?

Urge a tomada de acções estruturantes a vários níveis e em todas as áreas de actividade, todas!

Urge tomar em mão os assuntos aqui abordados e trazê-los para a ordem do dia, da forma mais

técnica possível! Sejam eles políticos, sociais, de ordens profissionais, de falta de consolidação e

clareza da legislação, de formação ou de competência profissional para o desempenho de funções.