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Águas ácidas na ribeira de São Domingos. Aldeia mineira, o testemunho de um povo trabalhador A referência mais antiga sobre o sítio de São Domingos é indicada nas Memórias Paroquiais de 1758 “Meya legoa distante desta aldeia está hum pego cujas agoas curão os enfermos da sarna. Chamace o tal pego de São Dominguos”. Depois da descoberta do jazigo num lugar quase desértico, a empresa mineira construiu todo um conjunto de infra-estruturas como a aldeia de São Domingos e os lugares da Achada do Gamo, Pomarão, Telheiro e Moitinha. O caminho-de-ferro ligou a mina ao porto do Pomarão em 1862. Paralelamente foram instalados equipamentos colectivos como hospital, telégrafos, escolas, igreja, mercado, sociedades recreativas, campo de futebol e jardim com coreto, tornando a mina numa das áreas mais desenvolvidas no sul de Portugal, no séc. XIX. A aldeia de São Domingos apresenta ainda a arquitectura dos lugares mineiros dessa época, testemunhada pelos bairros operários de construção em banda e pela zona nobre do palacete (Hotel São Domingos), vivendas e jardim próximo. A barragem de águas limpas da Tapada Grande, que servia de apoio à mina, possui actualmente uma praia fluvial para actividades de lazer. Uma paisagem singular com ecossistemas próprios O ecossistema do vale da ribeira de São Domingos encontra-se muito afectado pela presença de efluentes ácidos mineiros, verificando-se a presença de grandes áreas não vegetadas, resultantes da deposição de escombreiras, escavações e lixiviação do minério com águas ácidas. Este panorama traduz-se também num factor de biodiversidade, favorecendo espécies compatíveis com ambientes muito ácidos, por vezes com pH <2. São Domingos reuniu as condições para o povoamento de uma espécie, identificada pela primeira vez na região de Rio Tinto (Endevalo, Andalusia), a urze Erica adevalensis que aqui se implantou junto aos planos de água. Muitos micro-vertebrados e micro- organismos conseguem sobreviver nas águas de São Domingos, adaptando-se à adversidade do meio. A mina está inserida num programa de reabilitação ambiental que diminuirá o passivo ambiental, preservando porém a paisagem mineira. Textos: J. Matos, Z.Pereira, M. Batista (LNEG), J. Serrão, G. Machado, R. Guita (CM Mértola) Fotos: J. Matos (LNEG) Design gráfico + 3D: Filipe Barreira (LNEG) www.lneg.pt | www.adral.pt | www.cm-mertola.pt | www.roteirodeminas.pt CONTACTOS ÚTEIS Fundação Serrão Martins, Casa do Mineiro Rua de Santa Isabel nº 30/31 7750-146 Corte Pinto T 286 647 534 ([email protected]) GPS: Lat. 37,67323; Long. -7,49703 Posto de Turismo de Mértola Tel. 286 610 109 Financiamento: Projecto Atlanterra – Interreg Espaço Atlântico FAIXA PIRITOSA IBÉRICA A Faixa Piritosa Ibérica é uma das principais regiões mineiras da Europa, sendo caracterizada por mais de 90 depósitos de sulfuretos maciços polimetálicos e centenas de jazigos de manganês e de filões de cobre, de chumbo, de bário e antimónio. A pirite é o mineral mais comum, ocorrendo em jazigos com mais de 200 milhões de toneladas de sulfuretos, como Rio Tinto, Neves Corvo e Aljustrel. As mineralizações de sulfuretos formaram-se no Devónico superior – Carbónico inferior (tempo geológico entre 362 e 346 milhões de anos) em ambiente vulcânico e sedimentar submarino. Inserida na Zona Sul Portuguesa a Faixa Piritosa caracteriza-se por um vasto património geológico patente nas suas minas principais (em Portugal, Neves Corvo, São Domingos, Aljustrel, Lousal e Caveira) e em estruturas geológicas como Pomarão, Ourique, Castro Verde, Cercal, Serra Branca e Albernôa e nos vales dos rios Guadiana e Sado, ou das ribeiras de Barrigão, Foupana e Odeleite. Percorra as minas da Faixa Piritosa onde poderá encontrar um património mineiro muito rico e diversificado. Aconselha-se a visita ao Museu de Aljustrel e ao Centro Ciência Viva do Lousal, bem como o percurso nas vilas e aldeias mineiras. LNEG Laboratório Nacional deEnergia eGeologia, I. P. European Union European Regional Development Fund • Corta da mina • Tapada Grande/Praia Fluvial • Oficinas ferroviárias • Fábricas do enxofre da Achada do Gamo • Porto mineiro do Pomarão (rio Guadiana) 5 locais a não perder! No concelho de Mértola, a mina de São Domingos foi explorada entre 1854 e 1966 para produção de concentrados de cobre, pirite e enxofre. O caminho-de-ferro entre a antiga corta e o porto do Pomarão permite uma viagem por uma paisagem mineira marcada pela história industrial, por escombreiras e águas ácidas... ARQUEOLOGIA MINEIRA Visita à antiga mina de sulfuretos FAIXA PIRITOSA IBÉRICA, UMA REGIÃO MINEIRA EUROPEIA! Guadiana Sado M M M IC27 IP2 IC1 IC27 IP8 IP8 A2 IC4 ZONA DE OSSA MORENA ANTIFORMA DO PULO DO LOBO BACIA DE ALVALADE (minas de Rio Tinto, Tharsis, La Zarza, Sotiel, Aznalcollar, Las Cruces) ESPANHA Rota da Pirite na Faixa Piritosa OCEANO ATLÂNTICO Cercal Neves Corvo Pomarão São Domingos Chança Aljustrel Lousal Caveira Odeceixe Odemira Vila Nova de Milfontes São Luís Sines Santo André Santiago do Cacém Melides Grândola Alvalade Ferreira do Alentejo Almodôvar Castro Verde Serpa Mértola Alcoutim Martinlongo Rosário Ourique Ficalho São Francisco da Serra Porto Covo Albernoa BEJA ESPANHA PORTUGAL Faixa Piritosa Ibérica 0 5km Mapa adaptado de cartografia geológica LNEG Antiforma do Pulo do Lobo Faixa Piritosa Ibérica Grupo Filito-Quartzítico Complexo Vulcano-sedimentar Fe-Mn - Filoniano e estratiforme Cu - Filoniano Ba - Filoniano Pb (Ba) - Filoniano Sb (Au) - Filoniano Principais Jazigos Sulfuretos maciços Falha Estradas nacionais Caminho de ferro M Museu Auto-estrada Povoação Sedimentos Cenozóicos Maciço Mesozóico de Sines Mesozóico indiferenciado Grupo do Flysch do Baixo Alentejo Geologia

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Page 1: Visita à antiga mina de sulfuretos - lneg.pt20S%C3O%20DOMINGOS%20%28PT%29.pdf · Pomarão, localizado no rio Guadiana. A escavação da corta da mina iniciou-se em 1867, atingindo

Águas ácidas na ribeira de São Domingos.

Aldeia mineira, o testemunho de um povo trabalhadorA referência mais antiga sobre o sítio de São Domingos é indicada nas Memórias Paroquiais de 1758 “Meya legoa distante desta aldeia está hum pego cujas agoas curão os enfermos da sarna. Chamace o tal pego de São Dominguos”. Depois da descoberta do jazigo num lugar quase desértico, a empresa mineira construiu todo um conjunto de infra-estruturas como a aldeia de São Domingos e os lugares da Achada do Gamo, Pomarão, Telheiro e Moitinha. O caminho-de-ferro ligou a mina ao porto do Pomarão em 1862. Paralelamente foram instalados equipamentos colectivos como hospital, telégrafos, escolas, igreja, mercado, sociedades recreativas, campo de futebol e jardim com coreto, tornando a mina numa das áreas mais desenvolvidas no sul de Portugal, no séc. XIX. A aldeia de São Domingos apresenta ainda a arquitectura dos lugares mineiros dessa época, testemunhada pelos bairros operários de construção em banda e pela zona nobre do palacete (Hotel São Domingos), vivendas e jardim próximo. A barragem de águas limpas da Tapada Grande, que servia de apoio à mina, possui actualmente uma praia fluvial para actividades de lazer.

Uma paisagem singular com ecossistemas própriosO ecossistema do vale da ribeira de São Domingos encontra-se muito afectado pela presença de efluentes ácidos mineiros, verificando-se a presença de grandes áreas não vegetadas, resultantes da deposição de escombreiras, escavações e lixiviação do minério com águas ácidas. Este panorama traduz-se também num factor de biodiversidade, favorecendo espécies compatíveis com ambientes muito ácidos, por vezes com pH <2. São Domingos reuniu as condições para o povoamento de uma espécie, identificada pela primeira vez na região de Rio Tinto (Endevalo, Andalusia), a urze Erica adevalensis que aqui se implantou junto aos planos de água. Muitos micro-vertebrados e micro-organismos conseguem sobreviver nas águas de São Domingos, adaptando-se à adversidade do meio. A mina está inserida num programa de reabilitação ambiental que diminuirá o passivo ambiental, preservando porém a paisagem mineira.

Textos: J. Matos, Z.Pereira, M. Batista (LNEG), J. Serrão, G. Machado, R. Guita (CM Mértola) Fotos: J. Matos (LNEG)Design gráfico + 3D: Filipe Barreira (LNEG)

www.lneg.pt | www.adral.pt | www.cm-mertola.pt | www.roteirodeminas.pt

CONTACTOS ÚTEISFundação Serrão Martins, Casa do MineiroRua de Santa Isabel nº 30/317750-146 Corte PintoT 286 647 534 ([email protected])GPS: Lat. 37,67323; Long. -7,49703

Posto de Turismo de MértolaTel. 286 610 109

Financiamento: Projecto Atlanterra – Interreg Espaço Atlântico

FAIXA PIRITOSA IBÉRICAA Faixa Piritosa Ibérica é uma das principais regiões mineiras da Europa, sendo caracterizada por mais de 90 depósitos de sulfuretos maciços polimetálicos e centenas de jazigos de manganês e de filões de cobre, de chumbo, de bário e antimónio. A pirite é o mineral mais comum, ocorrendo em jazigos com mais de 200 milhões de toneladas de sulfuretos, como Rio Tinto, Neves Corvo e Aljustrel. As mineralizações de sulfuretos formaram-se no Devónico superior – Carbónico inferior (tempo geológico entre 362 e 346 milhões de anos) em ambiente vulcânico e sedimentar submarino. Inserida na Zona Sul Portuguesa a Faixa Piritosa caracteriza-se por um vasto património geológico patente nas suas minas principais (em Portugal, Neves Corvo, São Domingos, Aljustrel, Lousal e Caveira) e em estruturas geológicas como Pomarão, Ourique, Castro Verde, Cercal, Serra Branca e Albernôa e nos vales dos rios Guadiana e Sado, ou das ribeiras de Barrigão, Foupana e Odeleite. Percorra as minas da Faixa Piritosa onde poderá encontrar um património mineiro muito rico e diversificado. Aconselha-se a visita ao Museu de Aljustrel e ao Centro Ciência Viva do Lousal, bem como o percurso nas vilas e aldeias mineiras.

LNEGLaboratório Nacional de E nergia e G eologia, I . P.

European Union

European RegionalDevelopment Fund

• Corta da mina• Tapada Grande/Praia Fluvial• Oficinas ferroviárias• Fábricas do enxofre da Achada do Gamo• Porto mineiro do Pomarão (rio Guadiana)

5 locais a não perder!

No concelho de Mértola, a mina de São Domingos foi explorada entre 1854 e 1966 para produção de concentrados de cobre, pirite e enxofre. O caminho-de-ferro entre a antiga corta e o porto do Pomarão permite uma viagem por uma paisagem mineira marcada pela história industrial, por escombreiras e águas ácidas...

ARQUEOLOGIA MINEIRA

Visita à antigamina de sulfuretos

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Rota da Pirite na Faixa Piritosa

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Rosário

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Ficalho

São Francisco da Serra

Porto Covo

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Faixa Piritosa Ibérica

0 5km

Mapa adaptado de cartografia geológica LNEG

Antiforma do Pulo do Lobo

Faixa Piritosa Ibérica

Grupo Filito-Quartzítico Complexo Vulcano-sedimentar

Fe-Mn - Filoniano e estratiformeCu - Filoniano Ba - Filoniano Pb (Ba) - Filoniano Sb (Au) - Filoniano

Principais JazigosSulfuretos maciços Falha

Estradas nacionaisCaminho de ferro

M Museu

Auto-estradaPovoação

Sedimentos CenozóicosMaciço Mesozóico de SinesMesozóico indiferenciadoGrupo do Flysch do Baixo Alentejo

Geologia

Page 2: Visita à antiga mina de sulfuretos - lneg.pt20S%C3O%20DOMINGOS%20%28PT%29.pdf · Pomarão, localizado no rio Guadiana. A escavação da corta da mina iniciou-se em 1867, atingindo

PERCURSO (aconselhado)

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1. CIRCULE apenas nos TRILHOS PRINCIPAIS;2. NÃO DANIFIQUE as infra-estruturas ;3. NÃO TOQUE NAS ÁGUAS ÁCIDAS de cor avermelhada;4. NÃO faça LIXO ;5. Se pretender apanhar ROCHAS E MINERAIS, faça-o APENAS NAS ESCOMBREIRAS.

Tapada Grande. (1)

Uma mina com mais de 2000 anosDurante o Império Romano e na época Islâmica a parte superficial da massa de S. Domingos (gossan ou chapéu de ferro) foi explorada para cobre através de poços e galerias. Redescoberta em 1854 por Biava, a mina foi explorada entre 1857 e 1966 pela empresa britânica Mason & Barry. Neste período foram extraídas cerca de 25 milhões de toneladas de minério, escoado por via-férrea para o porto do Pomarão, localizado no rio Guadiana. A escavação da corta da mina iniciou-se em 1867, atingindo 120 m de fundo. O malacate nº 6 assegurava a drenagem das águas, permitindo aos mineiros trabalharem em poços e galerias até à profundidade de 420 m. Ao longo da vida da mina foi produzido um grande volume de escombreiras dispostas entre a corta e a Achada do Gamo, local onde o minério de pirite era queimado para obtenção de enxofre em duas fábricas construídas em 1935 e 1943 . Aqui ainda se observam os antigos planaltos de lixiviação de minério e os campos de cementação para obtenção de cobre.

Malacate nº 6 e central eléctrica.

Rochas e minérios de São DomingosO jazigo de S. Domingos é formado por uma única massa de pirite vertical, de direcção E-W, com cerca de 537 m de extensão e 70 m de largura. Os teores médios do minério eram de 1,25% de cobre, 2-3% de zinco e 45-48% de enxofre, sendo este formado por pirite, blenda, calcopirite, galena, arsenopirite e sulfossais. No lado norte da corta observa-se uma rede entrançada de veios de pirite denominada stockwork. Esta estrutura mineralizada representa o sistema hidrotermal associado à génese do jazigo, caracterizado por fluidos ricos em sílica e sulfuretos. As rochas encaixantes da mineralização são vulcânicas, de tipo riólito, do Complexo Vulcano-Sedimentar da Faixa Piritosa (de idade geológica Devónico superior). O jazigo de São Domingos apresenta um forte controle estrutural, sendo limitado por falhas e cavalgamentos, a sul contacta com xistos da Formação Filito-Quartzítica (idade geológica Famenniano-Estruniano, o que corresponde a cerca de 364-360 milhões de anos).

Stockwork (veios de pirite). (5)

Tapada Grande PalaceteCasa do MineiroOficinas ferroviárias Corta da minaMoinhos britadores de MoitinhaFábricas de enxofre da Achada do GamoBarragem do Telheiro Monumento em Santana de Cambas Estação dos Salgueiros Porto mineiro do Pomarão

Mapa adaptado de cartografia geológica LNEG

Corta da mina inundada por águas ácidas. (5)

Oficinas ferroviárias na década de 60 (arquivo LNEG). (4) Porto Mineiro do Pomarão. (11)Fábricas de enxofre da

Achada do Gamo. (7)

Bairro Alto

Malacate nº6

Tapada Grande

Aldeia

CasaLa Sabina

Telheiro

Rib. de S. Domingos

Oficinasferroviárias

Fábricas do enxofre da Achada do Gamo

Palacete

Moitinha

Tapadinha

Praia Fluvial

TapadaPequena

Portela de S. Bento

Cementação de cobre

Corta de São Domingos

Rib. do Mosteirão

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Poarão

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! ATENÇÃO!

Faixa Piritosa Ibérica

Grupo Filito-Quartzítico

Complexo Vulcano-sedimentar

Flysch do Baixo Alentejo (indif.)

Geologia

Caminho de ferro (percurso aconselhado)

Chaminé

Galeria

Poço mineiro

Poço principal (Malacate)

EscombreirasEscórias

Drenagem ácidaÁguas ácidasÁguas claras, linhas de água

Mapa geológico e mineiro ad. Matos 2004.