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Visões sobre o futuro da indústria automobilística brasileira José Roberto Ferro e Alexandre Cruci

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Visões sobre o futuro da indústria automobilística brasileira José Roberto Ferro e Alexandre Cruci

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Aumento de produção e vendascom aumento de produtividade

A possibilidade de incremento de vendas deveículos no mercado interno nos próximos anos ébastante elevada. O Brasil reúne condições para,num curto espaço de tempo, ocupar uma posiçãono topo do ranking mundial de produtores deveículos. Na opinião de Paulo Sotero, daANFAVEA, "em contínua evolução, o mercadobrasileiro pode chegar ao ano 2000 com capaci-dade de absorver 2,5 milhões de veículos novos,dos quais 2 milhões de produção local e 500 milimportados". Para que isto possa ocorrer, serãonecessárias, segundo Sotero, permanente estabili-dade econômica e disponibilidade de crédito, que'ampliarão os investimentos e o nível de emprego."Bem-sucedido o mercado interno, paulatina-mente ganha-se escala para consolidar e ampliarespaços nos mercados externos ", acrescenta.

Sotero estima que as regras de estímulo àexportação da Medida Provisória 1073/95podem permitir que o país venha a exportar, porvolta do ano 2000, cerca de 500 mil veículos/ano, quantidade semelhante à que provavelmen-te será importada. Prova desta potencialidade é aalta densidade habitantes por veículo, de 11,5,quando comparada, por exemplo, com a daArgentina, de 6,9.

Paulo Sotero Piresda Costa, daANFAVEA, otimistacom a perspectivade produção de 2,5milhões de veículospor volta do ano2000.

Para atingir um volume maior de produção eatender aos mercados interno e externo, a

ANFAVEA estima aportessignificativos de capitalpara o período 1995-2000:em tomo de US$ 9 a 12bilhões. Segundo Sotero,"...estes aportes - quenão consideram outrosinvestimentos demontadoras ainda nãoinstaladas no país, e quecertamente estão acaminho - encontramsua razão de ser na francaexpectati va de que aprodução rumeinapelavelmente para 2,5milhões de veículos porvolta do ano 2000".

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Este cenário empurra o segmento de autopeçasnacional em direção a um aumento do volume deseus investimentos se quiser acompanhar o ritmo deprodução das montadoras. Comenta Paulo Butori,do SINDIPEÇAS, que nos últimos quatro anos amédia do volume de investimentos aumentou, mas,mesmo assim, as empresas não conseguiramacompanhar o nível de operação das montadoras,ficando 30% abaixo deste no período (ver gráfico1). "Isto mostra úma deficiência de capital e umadificuldade de acompanhamento do processo deinvestimento das montadoras, em razão das altastaxas de juros ", afirma Butori. E continua: "em1994 o segmento investiu cerca de US$l bilhão epara 1995 estimamos, conforme pesquisa internacom cerca de 250 empresas, US$1,5 bilhão, o quedemonstra uma vontade de superar estes proble-mas. A maior parte deste valor virá das empresasde autopeças de capital estrangeiro". Conformelembra Sotero da ANFAVEA, as empresas deautopeças, componentes e insumos deverãoacompanhar as montadoras em seu esforço, pois"cada unidade de in.vestimento aportada no setormontador exige 1,3 unidade nos demais elos dacadeia produtiva", enfatiza

GWflCOl

INVESTIMENTOS REALIZADOS PELAS MONTADORASE SETOR DE AUTOPEÇA

uss milhões

1.200

600

400

200

oMontadoras Autopeças

Desta forma, "épossível vislumbrar melhoresperspectivas para a indústria automobilísticabrasileira: mais globalizada, competitiva e comqualidade crescente - fundamentos da sobrevi-vência e do êxito", conclui o diretor daANFAVEA. Todavia, no cenário do SlNDIPEÇASpara o ano 2000, por exemplo, mesmo com ocrescimento da produção de veículos - em atécerca de 2 milhões de unidades - e das vendas daprodução local- de 1,5 milhão -, haveria umaqueda no nível de emprego. "Estaremos produzin-do, no ano 2000,30% acima de 1994, com um

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nível de emprego 15% menor, refletindo os ganhosde produtividade estimados para o período 1995-2000", comenta Butori do SINDIPEÇAS (verquadro abaixo).

CENÁRIO DE PERSPECTIVAS DECRESCIMENTO DAINDÚSTRIA

Ano Produção Vendas de Nível deprodução local empregos"

1994 1.586 1.207 341.200

1995 1.629 1.228 334.500

1996 1.776 1.351 347.300

1997 1.729 1.279 322.100

1998 1.828 1.351 324.600

1999 1.932 1.427 326.400

2000 2.042 1.507 328.700* Montadoras e autopeças.Nota: trata-se de um exercício de cenários e não de previsões.

CENÁRIO DE CRESCIMENTO

Estrutura de IPI.

Carro popular = 8%

Carro com motor até 2.21 = 20%

Carro com motor acima de 2.2 = 25%

Imposto de importação.

70% até novembrol1995

62% de dezembro/1995 até março/1996

30% a partir de abril/1996

INDÚSTRIA AUTOMOBILíSTICA

Emílio lulianelli - seu presidente -, a provadisto está na evolução no volume de produçãoque saiu da faixa de 700 mil veículos/ano nadécada de 80 para, em 1994, alcançar 1,5milhão. Segundo Julianelli, apesar daquantidade modesta do veículo importado emrelação ao que era produzido localmente, apresença do veículo importado na década de 90promoveu uma reação positiva do setorinstalado, responsável pela redução voluntáriados preços praticados pelas montadoras, pelaincorporação de novas tecnologias e pelolançamento de novos modelos, o que raramenteaconteceu ao longo dos anos 80.lulianelli considera que a atividade das empresasimportadoras também é um termômetro que indicaàs montadoras a viabilidade de investimento nopaís. "Éfundamental que fabricantes com planosde instalação no Brasil conheçam o mercado

PREMISSAS

• crescimento do PIB: 4,5% ao ano;• reposição de frota: 4% ao ano (desempenho

histórico);• correlação crescente entre o PIB e o crescimento

de frota: 70% (desempenho histórico);• crescimento de exportação: 6% ao ano;• ganho de produtividade (tanto para montadoras

como para autopeças): 5% ao ano;

• redução de preço de veículos e peças: 3% ao ano;• aumento real de salários: correspondente a 20%

do ganho efetivo de produtividade.

A visão dos importadores edistribuidores

A ABEIVA espera exercer no futuro um papelregulador da oferta de produtos no mercadointerno e de estimulador da competitividade nasmontadoras instaladas no país. De acordo com

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através da importação de veículos, como ocorreucom as montadoras instaladas no país", afirmaPorém, entende que algumas associadas àABENA suspenderam temporariamente seusestudos devido a mudanças nas regras. "Temosinsistentemente avisado ao Governo que esteretomo ao patamar de 70% de alíquota deimposto de importação e afalta de instrumentosde financiamento para o consumidor brasileirosignificam 'cercas de arame farpado' aoinvestimento produtivo no país. O Brasil não é oúnico país no âmbito do MERCOSUL capaz deatrair investimentos. Os vultosos investimentos demontadoras não instaladas, que fatalmente virão,poderão ser canalizados para vizinhos nossos,como a Argentina".

A FENABRAVE avalia que as metas doSINDIPEÇAS e da ANFAVEA, quanto à produ-ção e a vendas para o ano 2000, podem ser

"Os vultososinvestimentos demontadoras nãoinstaladas poderãoser canalizados paravizinhos nossos,como a Argentina",alerta EmllioJulianelli, daABEIVA.

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alcançadas dentro de dois anos. Segundo seupresidente, Antônio Sérgio Reze, estava estabele-cido pela Terceira Câmara Setorial que seriaatingido um volume de produção de 2 milhões deunidades no ano 2000. "Acreditamos que essevolume possa ser alcançado já em 1996",comenta Sérgio Reze, e acrescenta: "em 1995,vamos fechar as vendas no varejo com cerca de1,9 milhão unidades. incluídas aí motocicletas.Este número representa 1,2% da populaçãobrasileira com poder aquisitivo para comprarveículos. Se a estabilidade monetária e as refor-mas forem bem-sucedidas, no futuro a parcela dosque poderão adquirir veículos crescerá de 1,2para 2% - o que representa um consumo daordem de 3milhões de unidades/ano".Sérgio Reze aponta também para a necessidadede modernização dos distribuidores, para queseja dada vazão ao aumento do volume deprodução e, ainda, sejam atendidos osconsumidores no tocante às novas tecnologias emodelos que vêm surgindo no mercado. "Preci-samo1 de um novo modelo de concessionário, deacordo com estes tempos de abertura demercado, que trouxeram uma evolução qualita-tiva no consumo e na engenharia de produtos.Quem não estiver, no seusetor de vendas, aparelhadocom as últimas novidadestecnológicas, não terá comoabsorver a crescente produ-ção e atender às exigênciasdo consumidor em relação aoproduto ", pondera o presi-dente da FENABRAVE.

A crescente necessidade demudança nos produtosnacionais para acompanhar aevolução do produtoimportado tem obrigado a

informática foi investido uma média de US$ 100mil por concessionária nos últimos anos. Issosem falar de show rooms e treinamento defuncionários ", conclui Reze.

As questões de curto prazo

As questões de curto prazo esbarram nas taxasde financiamento praticadas no Brasil. Em maiode 1995, por exemplo, enquanto a inflaçãogirava em torno de 0,4% ao mês, a taxa de jurosera de 7,5% no mesmo período (ver gráfico 2),dificultando toda e qualquer captação derecursos para capital de giro. "E o problema seagrava quando você tem um oligopólio fornece-dor de matérias-primas e um oligopóliocomprador de produtos", afirma Paulo Butori."Você tem que pagar taxa de financiamento aoseu fornecedor, caso contrário não lhe vendem.Na outra ponta, quando você vai faturar, nãopode cobrar; porque a montadora faz o globalsourcing e consegue taxas menores se comprarno exterior, muitas vezes com taxas iguais a zeroe faturamento em 180 dias", acrescenta.

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JUROS DE CAPTAÇÃO A CURTO PRAZO E TAXAS DE INFLAÇÃO

...7.''.05,0

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severos investimentos porparte não apenas de Fonte: Pesqulsa Conjuntural SINDIPEÇAS (Juros) e Conjuntura Er:onón1lca. Rio de Janeiro FGV. (lGP-DI--Co!.2) (tnnação).

montadoras como de fabricantes de autopeças edistribuidores de veículos, Lembra Sérgio Rezeque há quatro anos ainda se trabalhava comcanos que utilizavam carburação, substituídalogo em seguida pela injeção eletrônica, foraoutros componentes de eletrônica embarcada,"Tivemos que nos adequar para atender aoconsumidor no pós-venda e na assistênciatécnica, pois cada modelo novo é uma massa denovas peças e componentes - só em

Quanto a fmanciamentos de longo prazo parainvestimentos, Butori descreve um quadro poucoanimador: "Se formos falar de taxas parainvestimento, elas são menores que as de capitalde giro, mas são quatro ou cinco vezes maioresdo que as do mercado internacional. A TILP(taxa de juro de longo prazo) mais a taxa deintermediação está por volta de 30 a 35% ao anopelo BNDES. Certa vez, num jantar de negócios

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A instabilidade das políticas governamentaistem sido fator de perturbação e desestímulo às 15atividades empresariais e ao investimento.Emílio Julianelli, presidente da ABEIVA 10lembra: "começamos a vender importados emdezembro de ]990, com uma alíquota deimposto de importação de 85%; essa alíquotachegou a cair para 20% em setembro do anopassado e hoje temos um patamar de 70%. Alémdisso, o Governo, pressionado pelos déficits nabalança comercial e pelas montadoras aquiinstaladas, também estabeleceu cotas de

com um grupo automobilístico japonês, foi citadoque um dos problemas do setor de autopeçasbrasileiro era de que havia pouco capital parafinanciamento de terceiros. Pedi ao intérpreteque perguntasse ao presidente da empresa qualera a taxa que eles tinham para investimento, noJapão. Disseram que era de 3% ao ano. Emseguida perguntei qual era a inflação anual e meinformaram que era de 4% . Fiz a seguinteconsideração: sua taxa é negativa em 1%; aquiela é positiva em J 5% ao ano. É por isso que nãopodemos captar, investir e modificar acomposição do capital em comparação com umaindústria japonesa ", comenta Paulo Butori.

Outra questão recorrente - e intimamente ligadaà primeira - é a da falta de linhas de financia-mento tanto para o consumidor final quanto paraos integrantes do setor. Sérgio Reze queixa-se dafalta de apoio e de alternativas. "O segmentodistribuidor não tem nenhum tipo de suporteeconômico-financeiro, como linhas de crédito delongo prazo. Nos EUA e Europa, quem montauma concessionária entra com o terreno, e todasas obras civis são financiadas por 25 a 30 anos,a juros de 3 ou 4% ao ano. As instalações,prateleiras, ferramentas, móveis e equipamentosde informática também têm os mesmos prazos etaxas. Ao receber o produto da fábrica, oconcessionário passa a pagar uma taxa de 6% aoano enquanto mantiver o veículo em seu estoque.Quando vende o carro, o banco da montadorafinancia o cliente, em dez, doze anos. Sãosistemas que aqui não temos. O concessionáriotem que, com recursos próprios, comprar oterreno, fazer as obras civis e montar asinstalações. É, ainda, obrigado a pagar juros de6% ao mês à montadora até a venda do veículo.E não há nenhum instrumento de financiamentopara vender ao público", afirma Reze.

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INDÚSTRIA AUTOMOBILíSTICA

importação somente para osimportadores independentes.Ora, a maior parte doaumento das importaçõescoube às montadorasinstaladas, o que é umadistorção. Não háplanejamento possível queresista a esta instabilidade".

A tributação dos veículosaqui produzidos permaneceuma das preocupações dosetor. "A tributação doconsumo de automóveisdevia estar de acordo comníveis internacionais. Somosainda o país que mais tributao seu consumo ". observaPaulo Sotero. "Toda acadeia produtiva estáagravada e mais ainda osconsumidores ", reitera PauloButoei, acrescentando: "OBrasil tem em um veículo que não é popular34% do seu preço como carga tributária (vergráfico3). O carro popular, que todos dizem queé fantástico, com 8% de IPI, tem 23% de cargatributária. Já os EUA têm 6%, o Japão 9,5%, aArgentina 18% e a Europa, em média, 15,4%".

"Toda a cadeiaprodutiva estáagravada e maisainda osconsumidores ... ",afirma Paulo Butori,do SINDIPEÇAS.

GRPflC03

CARGA TRIBUTÁRIA NO VEíCULO% sobre o preço

do veiculo

35

30

25

20

5

oBRASIL BRASIL EUA JAPÃO ARGENTINA MÉDIA

"Popular" EUROPA

Fonte: ANFAVEA, EIU, ADEFA (dados de 1993).Impostos: IPI, PIS, COFINS E ICMS de 12%.

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Visão esmaecida

o que podemos esperar do futuro da indústriaautomobilística nacional? O que maisimpressiona nas colocações de seus membros é oretomo recorrente a questões cotidianas, queocupam a maior parte do tempo de discussão ereflexão. Há países onde o horizonte deplanejamento é mais longo. A indústria e oGoverno da Coréia, por exemplo, estão discutin-do os cenários para a indústria automobilística em2005, enquanto debatemos o que fazer com oestoque excessivo de veículos.

Assim, não é fácil tomar clara a visão de futuro.Temos alguns planos e metas genéricas, masparece que não temos idéia das ações paraalcançar esse futuro desejado. Quem sabe, com aestabilidade da economia possamos tomar maisviável o esforço para a reflexão e para oplanejamento de longo prazo .•

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