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outubro de 2014
Ana Cristina Leite Gonçalves
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Universidade do MinhoInstituto de Educação
Violência no namoro: uma investigação com alunos/as do 9º ano de escolaridade
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Dissertação de MestradoMestrado em Estudos da CriançaÁrea de Especialização em IntervençãoPsicossocial com Crianças, Jovens e Famílias
Trabalho realizado sob a orientação da
Doutora Maria Teresa Machado Vilaça
Universidade do MinhoInstituto de Educação
outubro de 2014
Ana Cristina Leite Gonçalves
Violência no namoro: uma investigação com alunos/as do 9º ano de escolaridade
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AGRADECIMENTOS
Os meus agradecimentos vão desde já para os meus pais que me possibilitaram a
frequência deste Mestrado. Agradeço muito à minha mãe por me oferecer sempre o seu apoio e
carinho para que eu pudesse desenvolver este projeto, dando força para que eu nunca desistisse
em momentos mais difíceis e a quem desde já dedico esta dissertação de mestrado. Agradeço
também ao meu sobrinho pelos momentos de alegria ao querer ajudar-me a elaborar o material
para o projeto educativo e ao meu namorado por me apoiar e ajudar em muitas das situações
em que lhe pedi ajuda. Agradeço ainda aos meus familiares pelo apoio ao longo deste percurso.
Agradeço muito à minha orientadora, a Doutora Teresa Vilaça, pelo acompanhamento e
pela ajuda que me deu ao longo da realização deste trabalho, depositando em mim confiança e
coragem para o realizar.
Agradeço à Tânia pelo seu apoio e aos meus amigos pelos momentos de descontração.
Agradeço desde já todas aquelas pessoas que me ajudaram na realização do meu projeto
conseguindo a concretização desta dissertação de mestrado, nomeadamente, aqueles que me
apoiaram e deram força para a concretizar.
Também agradeço à orientadora da escola onde realizei o meu estágio e dissertação,
que não nomeio para manter o anonimato da instituição, pela disponibilidade e ajuda durante
todo o processo e, especialmente, por me ter feito sentir sempre à-vontade na instituição.
Agradeço também à direção da escola, à Doutora Isabel e aos/às alunos/as que contribuíram
para o meu crescimento pessoal e profissional e que colaboraram na realização do meu
trabalho. Um muito obrigada especial às duas docentes que me acompanharam nas sessões
com os/as alunos/as na escola, pela generosidade com que colaboraram neste projeto.
Obrigada também às professoras das turmas que disponibilizaram alguns grupos para
vir terminar numa das suas aulas a entrevista e a outros/as professores/as que os deixavam
ultrapassar os timings de modo a conseguirem estarem presentes até ao final da discussão.
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Violência no namoro: uma investigação com alunos/as do 9º ano de escolaridade
Resumo
Este estudo foi realizado numa escola EB 2 e 3 de Braga onde planifiquei, implementei e
avaliei, em quatro turmas do 9º ano de escolaridade, um projeto educativo designado: “Agir para
prevenir: Diz não à violência no namoro!”. O objetivo foi avaliar o impacto de um projeto
educativo orientado para a ação de alunos/as do 9º ano de escolaridade na prevenção da
violência no namoro. Este projeto de intervenção e investigação teve como objetivos i) identificar
os tipos de violência entre adolescentes no recreio na escola; ii) caraterizar como evoluiu o
conhecimento orientado para a ação de alunos/as do 9º ano na prevenção da violência no
namoro durante o desenvolvimento de um projeto educativo orientado para a ação; iii)
caraterizar o tipo de ações desenvolvidas por alunos/as do 9º ano na prevenção da violência no
namoro durante o desenvolvimento de um projeto educativo orientado para a ação na prevenção
da violência no namoro; iv) caraterizar a opinião dos/as alunos/as do 9º ano sobre o projeto
educativo orientado para a ação na prevenção da violência no namoro.
Os participantes neste estudo foram alunos/as do 9º ano de escolaridade (N=91), com
idades compreendidas entre os 13 e os 17 anos. As técnicas de recolha de dados utilizadas
foram a observação participante e não participante, os diários de aula e a entrevista de grupo
focal.
Esta investigação começou com um diagnóstico inicial de necessidades observando os
recreios na escola e entrevistando professoras para identificar os tipos de violência entre
adolescentes. O projeto educativo, baseado na metodologia IVAM (Investigação, Visão, Ação e
Mudança), foi desenvolvido com o objetivo de desenvolver a competência para a ação dos/as
alunos/as na prevenção da violência no namoro. O projeto foi implementado durante cinco
meses em nove/dez sessões de 45 minutos nas aulas de SAE (Saúde, Ambiente e
Empreendorismo), utilizando material didático, tal como panfletos, notícias, powerpoint, vídeos,
fotos, estudos de caso, marcador de pesquisa e entrevista de grupo focal.
Os primeiros resultados, baseados na observação nos recreios, apontam para a
existência de violência física e verbal. Relativamente à violência física foram observados
empurrões, bofetadas e pontapés. Quanto à violência verbal foram observados insultos,
pressões, gozo, inferiorização e chantagem.
Durante o projeto houve um aumento do conhecimento dos/as alunos/as sobre as
consequências e as causas da violência no namoro bem como sobre as estratégias de mudança.
Os/as alunos/as também foram capazes de realizar ações de educação pelos pares para
prevenir a violência no namoro. No geral quer as sessões desenvolvidas no projeto, quer a ação
de formação pelos pares tiveram uma avaliação positiva pelos/as alunos/as.
Os resultados deste estudo mostram como é importante a implementação de projetos
educativos na prevenção da violência no namoro orientadas para a ação, como uma das áreas
prioritárias da intervenção psicossocial com crianças, jovens e famílias.
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Violence in dating: a research with ninth grade students
Abstract
This study was conducted in a Middle School in Braga where I planned, implemented and assessed, in four ninth grade classes, an educational project with the name: "Act to Prevent: Say no to violence in dating!" The purpose was to assess the impact of an action-oriented educational project to ninth grade students on preventing violence in dating. The purposes of this intervention and research project were: i) to identify the types of violence between teens in the school's playground; ii) to characterise how the ninth grade students action-oriented knowledge evolved towards preventing violence in dating throughout the development of an action-oriented educational project; iii) to characterise the kind of actions developed by ninth grade students towards preventing violence in dating during the development an action-oriented educational project towards preventing violence in dating; iv) to characterise the view of ninth grade students on the action-oriented educational project towards preventing violence in dating. The participants in this study were ninth grade students (N=91) aged between 13 and 17. The data collection techniques used were participant and non-participant observation, class diaries and a focus group interview. This research began with an initial diagnosis of needs by observing the school playgrounds and interviewing teachers to identify the types of violence among teenagers. The educational project, based on the IVAC methodology (Research, Vision, Action and Change) was developed with the purpose of building on the students' ability to act towards the prevention of violence in dating. The project was implemented throughout a period of five months, in nine/ten sessions of 45 minutes each, in the SAE (Health, Environment and Entrepreneurship) classes through the use of teaching materials such as brochures, news, PowerPoint, videos, photos, case studies, marker research and focus group interview. The first results, based on the playground observation, point towards the existence of physical and verbal violence. With regard to physical violence, pushing, slaps and kicks were observed. As to verbal violence, insults, pressures, mockery, belittlement and blackmail were observed. During the project there has been an increase in the students' knowledge with respect to the consequences and causes of violence in dating as well as on the strategies for change. The students were also able to provide training sessions to their peers in order to prevent violence in dating. Overall, both the sessions carried out in the project and the training sessions to the peers, were assessed positively by the students.
The results of this study show how important it is to implement action-oriented educational projects towards the prevention of violence in dating, as one of the priority areas of psychosocial intervention with children, youth and families.
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ÍNDICE
Agradecimentos
Resumo
Abstract
Lista de Tabelas
Lista de Figuras
Lista de Quadros
Lista de Siglas
Capítulo I – Contextualização do Estudo
1.1. Introdução
1.2. Contextualização geral da investigação
1.3. Problema e objetivos da investigação
1.4. Relevância do tema
1.5. Razões pessoais que conduziram à seleção do tema
1.6. Limitações da investigação
1.7. Organização geral da investigação
Capítulo II – Enquadramento Teórico
2.1. Introdução
2.2. Adolescência e violência no namoro
2.3. A violência no namoro e a influência dos pares, pais e normais sociais
2.4. Prevenção da violência no namoro
Capítulo III – Metodologia
3.1. Introdução
3.2. Descrição geral do estudo
3.3. Projeto educativo orientado para a ação na prevenção da violência no namoro
3.4. Seleção e caracterização dos/as participantes
3.5. Seleção da técnica e instrumentos de recolha de dados
3.6. Elaboração e validação dos instrumentos de investigação
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3.7. Recolha de dados
3.8. Estratégias utilizadas para os/as motivar
3.9. Cuidados éticos ou sua salvaguarda
3.10. Tratamento e plano de análise de dados
Capítulo IV – Apresentação e discussão dos resultados
4.1. Introdução
4.2. Diagnóstico de necessidades
4.2.1. Violência nos recreios no recinto escolar
4.2.2. Conceções iniciais sobre a violência no namoro
4.3. Evolução do conhecimento orientado para ação na prevenção da violência no
namoro de alunos/as do 9º ano de escolaridade
4.3.1. O que é o namoro e a violência no namoro
4.3.2. Consequências da violência no namoro
4.3.3. Causas da violência no namoro
4.3.4. Gravidade da violência no namoro e estratégias para eliminar o problema
4.3.5. Visões para o futuro sobre a violência no namoro
4.4. Ações e Mudança
4.5. Avaliação do projeto pelos/as participantes
4.5.1. Avaliação das sessões
4.5.2. Opinião final sobre o projeto
Capítulo V – Conclusões e implicações
5.1. Introdução
5.2. Conclusão da investigação
5.3. Impacto da investigação
5.3.1. Impacto da investigação a nível pessoal
5.3.2. Impacto da investigação a nível institucional
5.3.3. Impacto no conhecimento da área de especialização do mestrado
5.4. Implicações para o futuro
Referências bibliográficas
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Apêndices
1. Planificação do projeto educativo
2. Material didático
3. Diários de aula
4. Protocolo da entrevista e exemplo de uma entrevista
5. Pedido formal na escola
6. Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma A)
7. Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma B)
8. Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma C)
9. Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma D)
10. O que gostaram mais no projeto
11. O que gostaram menos no projeto
12. O que mudariam no projeto
Anexos
1. Fichas de avaliação elaboradas pelos/as alunos/as
2. Contrato
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LISTA DE TABELAS
1. Caracterização dos alunos e alunas que participaram no estudo
2. Tipos de violência entre adolescentes no recreio na escola
3. Conceções iniciais dos/as alunos/as sobre a violência no namoro
4. Conceções iniciais dos grupos sobre as consequências da violência no namoro
5. Conceções iniciais dos/as alunos/as individualmente sobre as consequências da
violência no namoro
6. Conceções iniciais dos grupos sobre as causas da violência no namoro
7. Conceções iniciais dos/as alunos/as individualmente sobre as causas da violência no
namoro
8. O que é o namoro
9. Já ouviram falar sobre diferentes orientações sexuais no namoro
10. O que é o namoro homossexual masculino
11. O que é o namoro homossexual feminino
12. O que é o namoro heterossexual
13. Diferenças entre o namoro homo e heterossexual
14. O que é a violência no namoro
15. Situações de violência no namoro entre gays ou lésbicas que conhece
16. Diferenças na violência no namoro entre homossexuais e heterossexuais
17. Casos de violência física, verbal e social entre namorados que conhecem
18. O que aconteceu na violência física que observaram entre namorados
19. O que aconteceu na violência verbal que observaram entre namorados
20. Casos que conhecem em que o rapaz ameaça contar coisas íntimas da rapariga
21. Casos que conhecem em que a rapariga ameaça contar coisas íntimas do rapaz
22. Adolescentes que conhecem que foram pressionados para terem relações sexuais
23. Situações que viram uma pessoa aproveitar-se do facto de outra estar sobre o uso de
álcool ou drogas para ter relações sexuais
24. Casos em que um/a dos/as namorados/as foi vítima de agressão verbal e
humilhação através da internet
25. O que faz um rapaz para pressionar a rapariga a ter relações sexuais
26. O que faz uma rapariga para pressionar o rapaz a ter relações sexuais
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27. Possibilidade de haver casos em que uma pessoa obriga a outra a ter relações sexuais
contra a sua vontade
28. Possibilidades de acontecer a uma pessoa da escola alguém aproveitar-se dela por
estar sobre o uso de álcool ou drogas para ter relações sexuais
29. Possibilidades de acontecer a pessoas que conhecem no local onde vivem alguém
aproveitar-se dela por estar sobre o uso de álcool ou drogas para ter relações sexuais
30. Consequências da violência física entre namorados
31. Consequências da violência verbal entre namorados
32. Consequências para a rapariga por ter relações sexuais forçadas
33. Consequências para o rapaz por ter relações sexuais forçadas
34. Consequências para a pessoa que é ameaçada que vão contar aos outros coisas sobre
a sua intimidade
35. O que costuma fazer a pessoa que é ameaçada que vão contar aos outros coisas
sobre a sua intimidade
36. Consequências para a pessoa que teve relações sexuais porque a outra se aproveitou
do facto de ela estar sobre o efeito do álcool ou de drogas
37. Consequências para uma pessoa que foi vítima de agressões verbais e humilhação
através da internet ou de sms no telemóvel
38. O que leva um dos/as namorados/as a ser fisicamente violento com o/a outro/a
39. Causas da violência verbal
40. O que leva o rapaz a pressionar a rapariga para terem relações sexuais
41. O que leva a rapariga a pressionar o rapaz para terem relações sexuais
42. O que pode levar alguém a abusar sexualmente de outra pessoa
43. O que pode levar alguém a abusar sexualmente de pessoas que estão drogadas ou
bêbadas
44. Razões porque existe violência no namoro entre os jovens heterossexuais
45. Razões porque existe violência no namoro entre jovens homossexuais
46. Gravidade de casos de violência no namoro na escola
47. Gravidade de casos de violência no namoro no local onde vive
48. Se tivessem um/a amigo/a nestas situações o que faziam para o/a ajudar
49. A quem recorriam para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no
namoro
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50. Razões porque recorriam às diferentes pessoas para pedir ajuda se estivessem numa
situação de violência no namoro
51. Onde se dirigiam na escola para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência
no namoro
52. Razões porque não se dirigiam a ninguém na escola para pedir ajuda se estivessem
numa situação de violência no namoro
53. Razões porque se dirigiam na escola a pessoas diferentes para pedir ajuda se
estivessem numa situação de violência no namoro
54. Razões porque falavam, ou não, com os pais para pedir ajuda se estivessem numa
situação de violência no namoro
55. Razões porque falavam com os amigos para pedir ajuda se estivessem numa situação
de violência no namoro
56. Caraterização das estratégias a usar na escola para prevenir a violência física no
namoro adolescente
57. Caraterização das estratégias a usar na escola para prevenir a violência verbal no
namoro adolescente
58. Caraterização das estratégias a usar na escola para acabar com a humilhação através
da internet ou sms no telemóvel na escola
59. O que podemos fazer para prevenir a violência no namoro no local onde vivemos
60. O que podemos fazer para não haver violência na nossa relação de namoro
61. O que gostaram mais sobre o projeto: "Agir para prevenir: diz não à violência no
namoro"
62. O que gostaram menos sobre o projeto: "Agir para prevenir: diz não à violência no
namoro"
63. O que gostavam de mudar no projeto "Agir para prevenir: diz não à violência no
namoro"
64. Opinião sobre a continuidade do projeto na escola
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LISTA DE FIGURAS
1. Metodologia IVAM: perspetivas a trabalhar dentro dos projetos de educação em
sexualidade
2. Visão geral do estudo
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LISTA DE QUADROS
1. Valores nucleares da Rede Europeia de Escolas para a Saúde na Europa
2. Pilares da Rede Europeia de Escolas para a Saúde na Europa
3. Matriz das dimensões, objetivos e questões da entrevista
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LISTA DE SIGLAS APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vitima
CDC – Centro de Controlo de Doenças
E.U.A – Estados Unidos da América
GAAF – Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família
GAPAE – Gabinete de Apoio à Promoção do Ambiente Escolar
GIAA – Gabinete de Informação e Apoio ao Aluno
IPJ – Instituto Português da Juventude
IVAM – Investigação, Visão, Ação e Mudança
LNES – Linha Nacional de Emergência Social
OMS – Organização Mundial de Saúde
PPOA – Plano de Ocupação de Alunos no Período Escolar
RNEPS – Rede Europeia de Escolas Promotoras de Saúde
SAE – Saúde, Ambiente e Empreendorismo
SHE – Schools for Health in Europe (Escolas para a Saúde na Europa)
VIH – Vírus de Imunodeficiência Humano
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
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CAPÍTULO I
CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
1.1. Introdução
Neste primeiro capítulo, depois desta breve introdução (1.1), faz-se uma
contextualização geral da investigação (1.2). Em seguida, apresenta-se o problema e os objetivos
de investigação (1.3), a relevância do tema (1.4), as razões pessoais que conduziram à seleção
do tema (1.5) e as limitações da investigação (1.6). Para terminar, descreve-se a organização
geral desta dissertação (1.7).
1.2. Contextualização geral da investigação
No âmbito da saúde mental, os estudos têm vindo a mostrar que existe violência no
namoro na faixa etária correspondente ao 3º ciclo do ensino básico e também no 11º ano
(Giordano, Soto, Manning, & Longmore, 2010), começando frequentemente os relacionamentos
de namoro no início da adolescência, normalmente entre os 13 e 15 anos (Leen, Sorbring,
Mawer, Holdsworth, Helsing, & Bowen, 2013; Bonomi, Anderson, Nemeth, Bartle-Haring,
Buettner, & Schipper, 2012), no grupo de pares (Connolly, Craig, Goldberg, & Pepler, 2004;
Leen et al., 2013). O estudo de Bonomi et al. (2012) mostra que 64.7% das mulheres e 61.7%
dos homens referiram ter sido vítimas de alguma forma de violência no namoro, sendo que
alguns tipos de violência no namoro acontecem mais cedo do que outros.
De acordo com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) (s.d.), a violência no
namoro é definida como um acontecimento que ocorre no contexto das relações de namoro na
adolescência, em que um/a dos/as parceiros/as, ou ambos/as, recorrem à violência com o
objetivo de exercer poder ou controlo sobre o/a outro/a parceiro/a, podendo esta violência ser
exercida através da violência física, verbal, emocional/psicológica, sexual, social e financeira.
Segundo Mpiana (2011), a violência praticada pelo/a parceiro/a na adolescência não
tem sido muito levado em conta pela literatura e pelos adultos em geral. Contudo, os efeitos
dessa violência são catastróficos e prejudiciais para as vítimas, pois os resultados da violência
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sexual nos/nas jovens podem ser a gravidez indesejada, a infeção pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV) e outras doenças sexualmente transmissíveis (Mirsky, 2003; Ohnishi, Nakao,
Shibayama, Matsuyama, Oishi, & Miyahara, 2011; Population Council, 2004; Sinclair, Sinclair,
Otieno, Mulinge, Kapphahn, & Golden, 2013; United Nations Population Fund, 2005), o aborto
(Mirsky, 2003; Sinclair et al., 2013), podendo estes ser precoces e repetidos (United Nations
Population Fund, 2005), o abandono escolar precoce (Mirsky, 2003; Sinclair et al., 2013), a
idealização do suicídio (Chiodo, Wolf, Crooks, Hughes, & Jaffe 2009; Sinclair et al., 2013), a
pobreza, disfunções emocionais ao longo da vida, complicações interpessoais, salário reduzido e
desemprego (Sinclair et al., 2013). Além das consequências referidas anteriormente, a violação
não só tem como consequências as doenças sexualmente transmissíveis para a vítima como
também pode ter consequências para o bebé podendo ser transmitidas essas doenças ao feto
em caso de gravidez (Sinclair et al., 2013).
De acordo com O´Keefe (2005) é provável que o uso de violência física e emocional
tenha implicações nas relações íntimas dos/as adolescentes no futuro, em adultos/as. Além
disso, é particularmente importante ter em atenção que as influências, o observar violência em
casa quando eram crianças e o consumo de álcool agravam o risco de violência sendo que a
exposição ou o ser vítima de violência sexual põem em causa o bem-estar psicológico dos/as
adolescentes em idade escolar, a curto e longo prazo, e pode resultar na perda de autoestima,
depressão, medo, raiva e um maior risco de suicídio (Mirsky, 2003), desenvolvendo um maior
risco de ter problemas de saúde (Organização Mundial de Saúde, 1997). Também devido à
violência sexual, ao assédio ou à coerção os/as jovens evitam a escola, não conversam nas
aulas, têm problemas de concentração, não confiam nos/as funcionários/as da escola, isolam-
se, têm um baixo rendimento escolar e provavelmente acabam por abdicar dos estudos (Mirsky,
2003).
Esta investigação vai ao encontro do o objetivo das escolas promotoras de saúde. O seu
objetivo é promover a saúde e o bem-estar de toda a comunidade escolar com o intuito de
acabar com as desigualdades na saúde. Para tal, é necessário o desenvolvimento de planos
educativos que permitam o desenvolvimento social na promoção da saúde de toda a
comunidade escolar e não escolar (Schools for Health in Europe, 2009).
Para permitir atingir os objetivos da educação para a saúde na comunidade escolar, a
Direção Executiva de cada agrupamento/escola designa um/a docente dos 2.º ou 3.º ciclos do
ensino básico para exercer as funções de coordenador/a da educação para a saúde (Despacho
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nº 2506/2007, de 20 de fevereiro). O/A diretor/a de turma, o/a professor/a responsável pela
educação para a saúde e educação em sexualidade, bem como outros professores envolvidos na
educação sexual possuem a responsabilidade de elaborar, no início do ano escolar, o projeto de
educação em sexualidade da turma, devendo as escolas disponibilizar aos/às alunos/as um
gabinete de informação e apoio no âmbito da educação para a saúde e educação em
sexualidade, que deverão ser assegurados por profissionais com formação nestas áreas e
funcionar, obrigatoriamente, pelo menos uma manhã e uma tarde por semana (Lei nº 60/2009
de 6 de Agosto).
No âmbito da legislação nacional sobre a Rede de Escolas para a Saúde na Europa, as
escolas devem ter em funcionamento um Gabinete de Informação e Apoio ao Aluno (GIAA)
(Decreto-lei nº 60/2009, de 6 de Agosto, artigo nº 14) que no âmbito da educação para a saúde
e educação sexual deve organizar-se de acordo com os normativos legais seguintes:
1 -Os agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas do 2.º e 3.ºciclos do ensino básico e do ensino
secundário devem disponibilizar aos alunos um gabinete de informação e apoio no âmbito da educação
para a saúde e educação sexual;
2 -O atendimento e funcionamento do respetivo gabinete de informação e apoio são assegurados por
profissionais com formação nas áreas da educação para a saúde e educação sexual;
3 -O gabinete de informação e apoio articula a sua atividade com as respetivas unidades de saúde da
comunidade local ou outros organismos do Estado, nomeadamente o Instituto Português da Juventude;
4 -O gabinete de informação e apoio funciona obrigatoriamente pelo menos uma manhã e uma tarde por
semana;
5 -O gabinete de informação e apoio deve garantir um espaço na Internet com informação que assegure,
prontamente, resposta às questões colocadas pelos alunos;
6 -As escolas disponibilizam um espaço condigno para funcionamento do gabinete, organizado com a
participação dos alunos, que garanta a confidencialidade aos seus utilizadores;
7 -Os gabinetes de informação e apoio devem estar integrados nos projetos educativos dos agrupamentos de
escolas e escolas não agrupadas, envolvendo especialmente os alunos na definição dos seus objetivos;
8 -O gabinete de informação e apoio, em articulação com as unidades de saúde, assegura aos alunos o
acesso aos meios contraceptivos adequados. (Art.10º)
O mesmo decreto-lei enumera quais são as competências e habilitações que devem ser
asseguradas pela equipa que coordena os GIAA, nomeadamente:
a) Gerir o gabinete de informação e apoio ao aluno;
b) Assegurar a aplicação dos conteúdos curriculares;
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c) Promover o envolvimento da comunidade educativa;
d) Organizar iniciativas de complemento curricular que julgar adequadas. (Art.8º)
Para um melhor funcionamento destes gabinetes é fundamental o apoio e participação
ativa dos encarregados de educação da população estudantil.
Neste contexto, esta investigação visou avaliar o impacto de um projeto educativo no
GIAA orientado para a ação de alunos/as do 9º ano de escolaridade na prevenção da violência
no namoro.
1.3. Problema e objetivos da investigação
Tendo em atenção que a problemática da violência no namoro nos/as adolescentes tem
surgido, cada vez mais, como uma preocupação na promoção da saúde nesta faixa etária, e,
simultaneamente, é pouco reconhecida por eles/as, sendo estes/as, por vezes, vítimas de
violência e não a reconhecem como tal, este estudo visa “avaliar o impacto de um projeto
educativo no GIAA orientado para a ação de alunos/as do 9º ano de escolaridade na prevenção
da violência no namoro”.
Neste sentido, os objetivos desta intervenção/investigação foram os seguintes:
1. Identificar os tipos de violência entre adolescentes no recreio na escola;
2. Caraterizar como evoluiu o conhecimento orientado para a ação de alunos/as do 9º
ano na prevenção da violência no namoro durante o desenvolvimento de um projeto
educativo orientado para a ação;
3. Caraterizar o tipo de ações desenvolvidas por alunos/as do 9º ano na prevenção da
violência no namoro durante o desenvolvimento de um projeto educativo orientado
para a ação;
4. Caraterizar a opinião de alunos/as do 9º ano sobre o projeto educativo orientado para
a ação na prevenção da violência no namoro.
1.4. Relevância do tema
O tema desta investigação é muito atual e de grande pertinência para a promoção da
saúde na sociedade, em geral, e na escola, em particular. A adolescência é o período de
desenvolvimento oportuno para intervir, para educar e informar, por isso, as intervenções de
prevenção da violência no namoro devem ser adequadas às necessidades de desenvolvimento
5
de cada pessoa (Mpiana, 2011) e grupo. Neste sentido, é necessário uma prevenção e
intervenção nesta faixa etária, que tenha em consideração que neste grupo etário é difícil intervir
no que concerne à violência no namoro (Martin, Houston, Mmari, & Decker, 2012) pois,
constata-se que os/as adolescentes que sofrem de violência no namoro aceitam essa violência,
tendem a permitir comportamentos violentos no contexto de outras relações e utilizam esses
mesmos comportamentos nos seus relacionamentos (McDonell, Ott, & Mitchell, 2010).
Para tal, é necessário que haja o desenvolvimento e a implementação de projetos
educativos em contextos escolares e não escolares que promovam a aquisição de conhecimento
sobre este problema social, não só nos/as adolescentes mas também na sociedade em geral.
1.5. Razões pessoais que conduziram à seleção do tema
As razões que me levaram à elaboração desta dissertação partem de um interesse
pessoal sobre o tema da violência no namoro nestas idades, pois fala-se com mais frequência na
violência doméstica, não dando tanta atenção a este problema social que, por vezes, não é
denunciado e nem levado em conta, tornando-se desconhecido pela sociedade e pelos/as
próprios/as adolescentes, tal como se verificou na revisão de literatura. Além disso, os fatores de
risco e de proteção associados à violência no namoro também são geralmente desconhecidos,
que, por um lado, põe em risco os/as adolescentes e, por outro lado, pode impedir a prevenção
deste problema social.
Segundo Ohnishi et al. (2011) os/as jovens não reconhecem alguns atos de violência
como sendo violência, por exemplo, não reconhecem o assédio verbal como assédio, tal como,
não reconhecem como violência o controlar as atividades ou comportamentos do/a
namorado/a, o forçar a ter relações sexuais desprotegidas contra a sua vontade e o mexer nos
objetos do/a parceiro/a como a bolsa ou carteira ou verificar os registos do seu telemóvel sem
permissão. Apoiando estes dados deste mesmo estudo, aproximadamente metade dos
participantes masculinos não identificou a falta de uso do contracetivo para prevenir a gravidez,
as doenças sexualmente transmissíveis e pegar em dinheiro da sua namorada como forma de
violência.
De acordo com o Centro de Controlo de Doenças (CDC, 2014; CDC, s.d) as relações
com violência podem começar muito cedo e muitas das vezes os/as adolescentes julgam que
alguns comportamentos, como provocar ou chamar nomes, são comportamentos “normais”
num relacionamento e fazem parte da relação. Contudo, estes comportamentos nas relações de
6
namoro podem transformar-se em abusivos e progredir para outras formas de violência mais
graves, tal como a violação e a violência física (CDC, s.d). Além disso, têm efeitos graves a longo
e a curto prazo tendo um efeito negativo na saúde dos/as adolescentes ao longo do seu
percurso de vida (CDC, 2014) e no seu desenvolvimento emocional (CDC, s.d). Muitas vezes
os/as adolescentes e adultos não têm conhecimento que há violência no namoro entre os/as
adolescentes (CDC, s.d).
É necessário demonstrar aos/às adolescentes e adultos em geral que devem denunciar
a violência e não terem medo de o fazer pois, como é verificado na literatura, as mulheres
consideram que a violência é normal e não a denunciam por vergonha, porque pensam que se
irão prejudicar ou por não estarem preparadas para falar sobre o assunto (Mirsky, 2003).
Também muitos/as adolescentes não acusam os casos de violência por terem medo de contar à
família e aos amigos (CDC, 2014).
Matos, Negreiros, Simões e Gaspar (2009), explicaram que o consumo de tabaco,
álcool ou outras drogas antes dos 12 anos, bem como o historial de agressão precoce, o
insucesso escolar precoce, o reduzido envolvimento familiar, a criminalidade parental e a débil
supervisão parental, encontram-se entre os fatores de risco que conseguirão predeterminar o
envolvimento de crianças e jovens em atos violentos, quer como vítimas, quer como agressores.
Por me estar a especializar numa área de Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e
Famílias todos estes fatores permitiram que desenvolvesse um projeto educativo que capacitasse
os/as jovens para que estes/as pudessem identificar os fatores de risco e de proteção de modo
a prevenir a violência no namoro. Estes projetos deveriam ser implementados em todas as
escolas para controlarem estes determinantes da violência, alguns deles tão frequentes nas
escolas.
A minha motivação para esta investigação foi ainda reforçada pela minha reflexão sobre
a categorização dos fatores de risco para a violência no namoro referidos pelos vários autores
revistos. Os fatores de risco associados à violência no namoro são: os fatores sociodemográficos,
tal como a idade, etnia, área onde vivem e religião (Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997; Vézina
& Hébert, 2007); os fatores individuais, como a depressão, comportamentos antissociais (Vézina
& Hébert, 2007); baixa autoestima (Ali & Naylor, 2013; Vézina & Hébert, 2007);
comportamentos ou pensamentos suicidas (Chiodo et al., 2009; Vézina & Hébert, 2007); uso de
álcool (Alleyne, Coleman-Cowger, Crown, Gibbons, & Vines, 2011; CDC, s.d; Mirsky, 2003;
Matos et al., 2009; McDonell, Ott, & Mitchell, 2010; Vézina & Hébert, 2007) e drogas (Ali &
7
Naylor, 2013; Alleyne et al., 2011; CDC, s.d; Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997; McDonell,
Ott, & Mitchell, 2010; Vézina & Hébert, 2007); os fatores ambientais ligados à família ou à
sociedade que incluem, nomeadamente, abuso sexual na infância (Vézina & Hébert, 2007);
observar violência interparental (Caridade, 2008; CDC, s.d; Franklin & Kercher, 2012; Malik,
Sorenson, & Aneshensel, 1997; Mirsky, 2003; Olsen, Parra, & Bennett, 2010; Oliveira & Sani,
2009; Vézina & Hébert, 2007); observar violência na comunidade (CDC, s.d; Malik, Sorenson, &
Aneshensel, 1997; O´Keefe, 2005; OMS, 1997; Vézina & Hébert, 2007), sendo que a exposição
à violência na comunidade pode intensificar a prática de violência nos relacionamentos íntimos e
além disso haver uma maior aceitação dessa violência (O`Keefe, 2005). Ainda acrescentam as
características dos pares (Vézina & Hébert, 2007), ou influência dos pares (Caridade, 2008;
Leen et al., 2013).
Este tipo de fatores pode ter influência no relacionamento, podendo a vítima de agressão
num relacionamento amoroso não dar significado algum às agressões que sofre e considerá-los
irrelevantes e os agressores desconsiderarem a alteração do seu comportamento agressivo
(Caridade, 2008).
Segundo Caridade (2008), “A violência no contexto familiar tem sido um dos elementos
mais referenciados pela literatura enquanto fator de risco para a violência intima” (p. 85).
Estes fatores mostram a importância de implementar e desenvolver projetos educativos
nas escolas que capacitem os/as jovens para os identificar e controlar uma vez que, por vezes,
estes fatores estão presentes no seu dia-a-dia na escola e na comunidade.
O contato com um contexto muito diversificado que esta investigação com intervenção
psicossocial na escola me proporcionou, permitiu-me ter novas oportunidades de aprendizagem,
que proporcionaram novas aquisições de conhecimentos na área de intervenção psicossocial
com jovens, como a seguir se explica.
Em primeiro lugar, permitiu-me conhecer as suas características individuais, as suas
relações de apoio emocional, os seus recursos e qualidades. Em segundo lugar, esta
investigação com intervenção psicossocial na escola foi muito importante para mim pois adquiri
mais conhecimentos e competências para elaborar um projeto educativo para jovens com idades
compreendidas entre os 13-17 anos e fiquei a conhecer um pouco mais sobre o seu dia-a-dia
nos recreios da escola e o seu envolvimento neste tipo de projetos de intervenção, o que me
ajudou a compreender melhor a minha identidade profissional nesta especialização de mestrado.
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1.6. Limitações da investigação
Foram alguns os obstáculos que existiram durante a elaboração deste estudo. Em
primeiro lugar, o tempo disponível para a realização das entrevistas, que era de 45 minutos, não
foi suficiente pois com os atrasos dos/as alunos/as a entrevista durava apenas cerca de 30
minutos. Também a nível da transcrição dos resultados tive alguma dificuldade na transcrição
das discussões em grupo focal pois, como foi um estudo com um período de tempo curto de
relacionamento com os/as participantes, na transcrição dessas discussões em áudio, por vezes,
falavam ao mesmo tempo e não identificava a voz da pessoa que estava a falar, o que dificultou
a sua transcrição, tal como também é identificado por investigadores que mencionam que “Um
dos aspectos que torna a transcrição difícil é o reconhecimento de quem fala, quando existem
várias pessoas a falar ao mesmo tempo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 138). Uma alternativa para
ultrapassar este obstáculo seria fazer a gravação vídeo da discussão de grupo focal para que se
conseguisse identificar mais facilmente a voz dos/as participantes.
Em segundo lugar, um outro obstáculo foi o imenso barulho e as brincadeiras de
alguns/mas colegas durante a discussão em grupo focal o que dificultava a sua audição, tal
como o desinteresse por parte de alguns/mas participantes. Não sei se seria devido ao facto de
certos grupos serem maiores do que outros, mas como refere Morgan (1997), os grupos com
menos participantes têm um melhor funcionamento quando os/as participantes se interessam
no tema e respeitam os/as restantes participantes. Segundo o mesmo autor os grupos maiores
podem ter alguma dificuldade no que respeita às discussões, pois pode ser difícil orientá-las e
além disso, corre-se o risco de todos falarem ao mesmo tempo, sendo difícil apanhar dados
importantes da conversa. Outro obstáculo é relativamente aos gravadores, pelo facto de eles
apanharem alguns ruídos de fundo (Krueger, 1998).
Quanto às sessões que foram realizadas foram todas marcadas pelo constante barulho
em sala de aula que demonstrava que os/as alunos/as iam para as aulas de Saúde, Ambiente e
Empreendorismo (SAE) com a predisposição para a brincadeira e a conversa, uma vez que esta
disciplina, é de avaliação qualitativa e não quantitativa e, por isso, talvez, os/as alunos/as
reagissem assim.
1.7. Organização Geral da Dissertação
Esta dissertação está organizada em cinco capítulos. O primeiro capítulo
(Contextualização do Estudo) depois de uma breve introdução (1.1), faz uma contextualização
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geral da investigação (1.2), descreve o problema e objetivos da investigação (1.3), a relevância
do tema (1.4), as razões pessoais que conduziram à seleção do tema (1.5), as limitações da
investigação (1.6) e, por fim, a organização geral da dissertação (1.7).
No segundo capítulo (Enquadramento Teórico), depois de uma breve introdução (2.1),
apresenta-se o referencial teórico acerca da adolescência e violência no namoro (2.2), a violência
no namoro e a influência dos pares, pais e normas sociais (2.3) e, por fim, a prevenção da
violência no namoro (2.4).
No terceiro capítulo (Metodologia) após uma introdução (3.1), faz-se uma descrição geral
do estudo (3.2), apresenta-se o projeto educativo orientado para a ação na prevenção da
violência no namoro (3.3) e justifica-se como foi feita a seleção dos participantes no estudo e faz-
se a sua caracterização (3.4). Posteriormente, justifica-se a opção pela técnica e instrumentos de
recolha de dados selecionados (3.5), a forma como foram elaborados e validados os
instrumentos de investigação (3.6), descreve-se como se procedeu à recolha de dados e os
obstáculos encontrados (3.7), as estratégias utilizadas para motivar os/as participantes (3.8), os
cuidados éticos ou sua salvaguarda (3.9) e, para terminar, o tratamento e plano de análise de
dados (3.10).
No quarto capítulo (Apresentação e discussão dos resultados), após uma breve
introdução (4.1), faz-se a apresentação e discussão dos resultados do diagnóstico de
necessidades (4.2), que incluiu a violência nos recreios no recinto escolar (4.2.1) e as conceções
iniciais sobre a violência no namoro (4.2.2). Em seguida apresentam-se os resultados obtidos
durante o projecto educativo relacionados com a evolução do conhecimento orientado para a
ação na prevenção da violência no namoro de alunos/as do 9º ano de escolaridade (4.3),
nomeadamente, os resultados acerca do que é o namoro e a violência no namoro (4.3.1), as
consequências da violência no namoro (4.3.2), as causas da violência no namoro (4.3.3), a
gravidade da violência no namoro e as estratégias para eliminar o problema (4.3.4). Também se
descrevem as visões dos/as alunos/as para o futuro que desejam em relação à violência no
namoro (4.3.5). Posteriormente, descrevem-se as ações realizadas pelos/as alunos/as (4.4) e
as mudanças que ocorreram produzidas por essas ações evidenciadas na avaliação do projeto
pelos/as participantes (4.5), nomeadamente, a avaliação das sessões (4.5.1) e a opinião final
sobre o projeto (4.5.2).
No quinto capítulo (Conclusões e Implicações) faz-se uma breve introdução (5.1) e
descrevem-se as principais conclusões do estudo (5.2). Seguidamente, é analisado o impacto
10
desta investigação (5.3), tanto a nível pessoal (5.3.1), como a nível da instituição em que se
realizou (5.3.2), e, também, é feita uma análise do impacto deste estudo ao nível do
conhecimento na área de especialização do mestrado (5.3.3). Por último, descrevem-se as
implicações para o futuro (5.4).
11
CAPÍTULO II
ENQUADRAMENTO TEÓRICO
2.1. Introdução
Neste segundo capítulo, faz-se uma breve introdução onde se descreve os objetivos da
revisão teórica, a sua sequência, as opções na seleção da informação e conteúdos, bem como a
organização do capítulo. Esta revisão teórica tem como objetivo o aprofundamento de saberes
teóricos acerca do tema da violência no namoro, e tudo aquilo que o envolve, tais como, as suas
causas e fatores de risco associados e as suas consequências. Também se procura apresentar
uma visão internacional e nacional do que se tem vindo a investigar relativamente ao tema (2.1),
adolescência e violência no namoro (2.2), a violência no namoro e a influência dos pares, pais e
normas sociais (2.3), prevenção da violência no namoro (2.4).
2.2. Adolescência e violência no namoro
É difícil dar uma definição de adolescência, uma vez que cada indivíduo a vive de
diversas formas, dependendo da sua maturidade física, emocional e cognitiva (UNICEF, 2011).
A adolescência é um período de passagem da infância para a vida adulta caracterizado
pelo desenvolvimento físico, emocional, mental e social do/a adolescente (OMS, 1986), sendo
também descrita como um período de transformações e de transição (Alleyne et al., 2011).
A Organização Mundial de Saúde define a adolescência como o período entre os 10 e os
19 anos, e a Organização das Nações Unidas como o período dos 15 aos 24 anos de idade
(OMS, 1986).
A adolescência é um período marcado pela instabilidade e por conflitos e é,
simultaneamente, o período onde se iniciam as relações de namoro caracterizados pela violência
(Caridade, 2008).
A violência no namoro nos/as adolescentes pode ocorrer em qualquer idade, não
importa o sexo, a raça, a etnia ou a religião. Além disso, também pode ocorrer em
relacionamentos do mesmo sexo (Stader, 2011). Segundo Olsen, Parra e Bennett (2010), “(…) a
violência é um aspeto comum nas relações de namoro adolescente” (p. 414), sendo que muitos
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jovens adultos são ao mesmo tempo vítimas e agressores (Olsen, Parra, & Bennett, 2010; Malik,
Sorenson, & Aneshensel, 1997).
Segundo a United Nations Population Fund (2005) a violência de género é talvez a
violência mais permitida socialmente no que diz respeito à violação dos direitos humanos, sendo
esta violência aplicada por homens nas mulheres e raparigas. Esta violência de género, pode
incluir parceiros íntimos, familiares, conhecidos ou estranhos.
A violência de género é um problema social muito grave que ultrapassa a etnia, o nível
económico, social e regional podendo ter consequências a nível do crescimento,
desenvolvimento e saúde das adolescentes (Sinclair et al., 2013).
A violência pelo parceiro íntimo (VPI) ou a violência no namoro é um problema social e
de saúde pública (Ali & Naylor, 2013; Franklin & Kercher, 2012; Howard, Qi Wang, & Yan, 2007;
Malik, Sorenson, & Aneshensel, 1997; Martin et al., 2012; O`Keefe, 2005), que atinge os
homens e mulheres de todo o mundo apesar da sua cultura, religião ou quaisquer outras
características demográficas (Ali & Naylor, 2013). As estimativas revelam que 25% das mulheres
são vítimas de abuso por uma pessoa íntima que conhecem (Franklin & Kercher, 2012). Num
estudo verificou-se que a maioria dos agressores (90%) eram conhecidos da vítima, dos quais
52% eram namorados (Sinclair et al., 2013).
Segundo a OMS (2002) as mulheres podem ser violentas com os seus parceiros do sexo
masculino, também podendo ocorrer violência em parceiros do mesmo sexo, sendo que a
violência cometida pelos homens nas mulheres é superior. Assim, a violência nas relações de
intimidade tanto pode ser cometida por homens como por mulheres.
Segundo Ferreira (2011) os/as adolescentes estão num período de desenvolvimento que
os/as insere num risco maior de abuso físico e emocional, comparativamente com os adultos. A
violência no namoro é uma realidade na qual se deve intervir e prevenir a sua desvalorização
nos/nas adolescentes, pois os/as jovens tem-se oposto em falar sobre os casos pela qual
passam, não dando a conhecer à sociedade a violência que sofrem (Ferreira, 2011).
O conceito de violência é um conceito muito complexo e em constantes mudanças,
sendo que o termo “abuso” e “violência” têm sido, por vezes, vistos como sinónimos (Machado,
2010), não havendo uma definição óbvia de violência sendo um fenómeno complexo (OMS,
2002). Noções do que é admissível ou não, são influenciadas pela cultura (OMS, 2002). A
“agressão”, não é sinónimo de violência não sendo a sua única explicação. Contudo, a violência
no namoro surge como um trajeto para a violência conjugal (Machado, 2010).
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A palavra violência provém do latim vis, que representa o uso da força e superioridade
física contra outra pessoa, referindo-se também às noções de constrangimento. Esta violência
pode ser influenciada pelos contextos, pelos locais e realidades (Casique & Furegato, 2006).
Segundo Saltzman, Fanslow, McMahon e Shelley (2002), é considerado vítima a pessoa
que é alvo de violência e agressor a pessoa que exerce ou causa violência ou abuso à vítima.
O Centro de Controlo de Doenças (CDC, 2014) refere que a violência no namoro
acontece entre duas pessoas num relacionamento íntimo podendo ser descrita por outros
termos tais como: abuso no relacionamento, relacionamento violento, abuso no namoro, abuso
doméstico e violência doméstica (CDC, s.d). Segundo Saltzman et al. (2002) na violência
pelos/as parceiros/as íntimos/as também é incluído ou usado o termo violência no namoro,
violência praticada pelo ex-marido, entre outros. No/a parceiro/a íntimo/a estão incluídos os/as
namorados/as quer sejam hetero ou homossexuais, os cônjuges, parceiros/as íntimos/as não
casados, ex-namorados/as, entre outros (Saltzman et al., 2002). Atualmente, a violência pelo
parceiro íntimo adquiriu o termo popular “violência doméstica”, sendo estes dois termos usados
como sinónimos (Ali & Naylor, 2013).
Segundo Caridade (2008) a violência na intimidade não é um problema recente mas há
uma escassez de estudos em Portugal sobre a violência no namoro nos jovens. O estudo da
violência no namoro começou por surguir na América do Norte, nos E.U.A e Reino Unido
havendo uma grande investigação nesta área. Já no nosso país é mais recente e em
desenvolvimento começando com a violência entre casais e depois nos jovens. De acordo com a
mesma autora, a violência no namoro começou a ter mais importância quando foi incluída a
violência entre namorados na Lei nº152 do código Penal. Este artigo inclui o infligir maus tratos
físicos ou psíquicos, incluindo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais a
uma pessoa de outro ou do mesmo sexo com quem tem ou tem mantido uma relação de
namoro (Art. 152º do Código Penal).
Para Saltzman et al. (2002) e para o Centro de Controlo de Doenças (2014), as formas
de violência podem organizar-se em três categorias, nomeadamente, a violência física, a
violência sexual e a violência psicológica e emocional. Sendo referido/a uma quarta por
Saltzman et al. (2002) a ameaça de violência física ou sexual, e pelo CDC (2014) o Stalking -
perseguição. O Stalking é um padrão de assédio ou ameaças de táticas que não são pretendidas
provocando medo à vítima (CDC, 2014).
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Na perspetiva de Saltzman et al. (2002) a “violência física” é caracterizada como o uso
propositado da força física com o objetivo de causar morte, incapacidade, lesões ou danos em
outra pessoa. São exemplos da violência física o empurrar (Caridade, 2008; CDC, 2014;
Ferreira, 2011; Saltzman et al., 2002), bofetadas (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011;
Franklin & Kercher, 2012; Howard et al., 2007; Martin et al., 2012; Saltzman et al., 2002),
murros (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Martin et al., 2012; Saltzman et al., 2002),
o queimar (Saltzman et al., 2002), o uso de objetos (facas, pistolas) (Ferreira, 2011; Saltzman et
al., 2002) ou atirar com objetos à outra pessoa (Ferreira, 2011; Martin et al., 2012). A violência
física também acontece quando o/a parceiro/a é apertado/a (Caridade, 2008; CDC, 2014) ou
beliscado/a (CDC, 2014), lhe batem (CDC, 2014; Ferreira, 2011; Howard et al., 2007; Martin et
al., 2012; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), dão pontapés (Caridade, 2008; CDC, 2014;
Ferreira, 2011; OMS, 2002), puxões (Caridade, 2008), puxam os cabelos (Ferreira, 2011), dão
cabeçadas (Ferreira, 2011), fazem arranhões (Martin et al., 2012) e causam ferimentos
(Ferreira, 2011; Howard et al., 2007).
No estudo de Franklin e Kercher (2012), verificou-se que existe um consentimento
relativo à violência nas relações interpessoais, onde os participantes concordaram que há
situações em que é adequado levar um estalo. Assim admitir a violência traduz-se num aumento
da possibilidade de cometer violência física nos relacionamentos.
A “violência sexual” consiste no uso da força física para obrigar uma pessoa a ter
relações sexuais contra a sua vontade (APAV, s.d; Saltzman et al., 2002) ou, simplesmente em
obrigar o/a companheiro/a a ter atos sexuais quando não podem ou não aprovam (Caridade,
2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; OMS, 2002); contacto sexual abusivo; a tentativa ou
realização do próprio ato sexual com uma pessoa que não tem consciência de tal ato e não
consegue recusar a participação devido, por exemplo, ao efeito do álcool ou de drogas ou
deficiência (Saltzman et al., 2002). Também podem recorrer à intimidação ou à pressão (APAV,
s.d; Saltzman et al., 2002), através de ameaças, humilhações, chantagem e, também, podem
drogar ou alcoolizar a vítima de forma a que esta não consiga resistir (APAV, s.d). Outros termos
estão relacionados com violência sexual tais como a violação (Caridade, 2008; CDC, s.d; Martin
et al., 2012; OMS, 1997); a violência sexual (OMS, 1997), assédio sexual, contacto indesejado,
esfregar-se noutra pessoa, puxar a roupa e beliscar (Chiodo et al., 2009).
Para Ferreira (2011) a prostituição ou comportamentos sadomasoquistas também são
exemplos de abusos sexuais. A violência sexual pode ser física ou não, são exemplos, o ameaçar
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divulgar boatos se o/a parceiro/a rejeitar ter relações sexuais (CDC, 2014). Também para
Caridade (2008) e Chiodo et al. (2009), na violência sexual, pode ser usada também a violência
física e verbal. Tais atos a nível verbal são os comentários sexuais, gozar ou piadas sexuais
(Chiodo et al., 2009).
De acordo com a OMS (1997), uma em cada cinco pessoas do sexo feminino, incluindo
adolescentes, têm sido abusadas sexualmente ou fisicamente por um homem na sua vida.
Quanto à “ameaça de violência física ou sexual”, de acordo com Saltzman et al. (2002)
é definida pela utilização de palavras, gestos ou armas para transmitir o propósito de causar a
morte, incapacidade, lesão ou dano físico a outra pessoa. Igual acontece para transmitir a
intenção de obrigar uma pessoa a envolver-se em atos sexuais quando esta não quer ou é
incapaz de concordar. Segundo estes autores são exemplo deste tipo de violência ameaçar bater
se não tiver relações sexuais.
Por último, a “violência psicológica ou emocional” abrange o trauma causado pelos atos
ou ameaça de atos e táticas coercivas (Saltzman et al., 2002), podendo tais atos ser controlar
(Caridade, 2008; Saltzman et al., 2002), ocultar informações acerca da vítima, irritar-se porque
a vítima não concorda com alguma coisa, negar-lhe o acesso a telefones e transportes (Saltzman
et al., 2002), as proibições (Caridade, 2008), o controlar ou impedir de usar dinheiro (Martin et
al., 2012; Saltzman et al., 2002) ou outros recursos básicos como o limitar o acesso à
informação e assistência (OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), isto é, a privação a recursos
físicos, financeiros e pessoais (OMS, 1997). Ou seja, a violência emocional acontece quando o/a
parceiro/a ameaça o/a outro/a ou afeta a sua autoestima tal como ser intimidado e
humilhado/a (CDC, 2014; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), inferiorizado e ignorado
(Caridade, 2008). São também exemplos de violência psicológica, isolar ou manter isolada a
vítima dos familiares e amigos (CDC, 2014; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002) ou seja, impedir
o contacto com outras pessoas (Ferreira, 2011), divulgar informações que põe em causa a sua
reputação (Saltzman et al., 2002), embaraçando-a de propósito (CDC, 2014), chamar
nomes/insultos (Caridade, 2008; CDC 2014; Ferreira, 2011), o desrespeito (Martin et al.,
2012), o bullying (CDC 2014), os ciúmes, a obsessão, a chantagem (Caridade, 2008), difamar
ou fazer afirmações graves para humilhar ou “ferir” a pessoa, gritar, ameaçar ou perseguir para
meter medo (Ferreira, 2011), e, também, o abuso verbal e o assédio (OMS, 1997). A
Organização Mundial de Saúde ainda acrescenta o abuso psicológico (OMS, 2002).
16
A violência pode acontecer pessoalmente ou eletronicamente através de mensagens de
texto ou de colocar fotos sexuais do/a parceiro/a online (CDC, 2014). De acordo com Stader
(2011), a escassa investigação sobre esta problemática também contribui para a sua falta de
reconhecimento. O uso de telefones e das redes sociais para controlar e ameaçar é denominado
de cyberbullying. Há pouca investigação sobre a violência no namoro através de meios
eletrónicos mas, como refere Stader (2011) “ (…) o cyberbullying pode ser mais comum do que
se pensa” (p. 141).
Também para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (s.d) a violência social
acontece quando a vítima é envergonhada em público e quando proíbe-o/a de conviver com
os/as amigos/as ou familiares. Além disso, também acontece quando o/a namorado/a mexe no
seu telemóvel, contas de correio eletrónico ou redes sociais sem o seu consentimento.
Em síntese, a violência abrange os comportamentos físicos, emocionais e sexuais
abusivos (Ferreira, 2011).
Para demonstrar algumas das opiniões dos/as jovens acerca da violência no namoro, no
estudo qualitativo de Martin et al. (2012) foram constituídos quatro grupos focais (n=32) com
adolescentes com idades entre os 13 e os 24 anos, em situação de risco de violência no
namoro. Os/as adolescentes descreveram a “relação de drama” como diversas formas de
abuso, tais como abuso verbal, emocional, físico e sexual, e o “desrespeito”. Eles/as identificam
o “desrespeito” como sendo uma forma de abuso emocional e verbal. Quando questionados/as
acerca do que é o abuso sexual e físico os/as adolescentes deram exemplos como bater, socos,
estalos, arranhões, atirar com coisas e violação. Também referiram como abuso o controlo de
dinheiro e a estragos de propriedade.
Segundo a OMS (1997), a violência cometida em mulheres e raparigas pode ter como
consequências as lesões, o homicídio, o trauma mental, a incapacidade crónica. Além disso, as
vítimas de violência no namoro estão mais propensas a ter um rendimento escolar mais baixo, a
consumir mais álcool, a envolver-se em lutas físicas (CDC, s.d) e a suicidar-se (CDC, s.d; OMS,
1997).
Como foi referido no capítulo um a propósito das razões que conduziram à seleção do
tema foi mencionado o consumo de substâncias como fator de risco da violência no namoro.
Segundo McDonell, Ott e Mitchell (2010) o descontrolo pelo consumo de substâncias pode levar
a que os/as jovens não controlem aquilo que dizem e o que fazem, originando conflitos, não
tendo muita consciência dos efeitos que isso tem no seu relacionamento com outras pessoas.
17
O`Keefe (2005) além dos conflitos ainda acrescenta que é possível que o uso de argumentos
possam originar o uso de violência entre os/as adolescentes.
Além dos fatores de risco referidos no capítulo um, também a mudança frequente de
parceiro ou ter diversos parceiros sexuais (Alleyne et al., 2011; CDC, s.d; McDonell, Ott &
Mitchell, 2010) e o conhecimento de quem é vítima e agressor nas redes de pares que
experienciaram a violência no namoro é um fator de risco para a violência no namoro (McDonell,
Ott, & Mitchell, 2010). Além destas, a idade da primeira relação sexual, a redução do uso de
preservativo, o ter relações sexuais forçadas e consequentes fatores psicossociais que
demonstram sentimentos de tristeza e de desespero, demonstram que a violência no namoro e
as relações sexuais forçadas estão relacionadas com estes comportamentos sexuais de risco e
que esses comportamentos variam conforme o sexo (Alleyne et al., 2011).
Outros fatores de risco são descritos pelo Centro de Controlo de Doenças (CDC, s.d) tais
como: considerar que é correto o uso de ameaças ou de violência para conquistar o que querem
para exprimir a frustração ou a raiva; ser impossível controlar a raiva ou frustração; sair com
colegas violentos; ter um amigo que está numa relação de namoro violenta; estar deprimido ou
ansioso; ter problemas de aprendizagem ou outros problemas na escola; não ter o controlo e
apoio dos pais e ter um historial de comportamento agressivo ou bullying.
Howard et al. (2007) referem que ser vítima de violência física no namoro foi associada
a descrições de sentimentos tristes e sem esperança, ao stress emocional, a múltiplos episódios
de luta física, a tentativa de suicídio e, em práticas sexuais recentes de alto risco com vários
parceiros num curto período de tempo e desprotegidas. Neste estudo com adolescentes
femininas que frequentavam o 9º e 12º ano, cerca de uma em cada dez raparigas referiram que
foram vítimas de violência física no namoro e que o/a namorado/a a feriu, bateu ou deu uma
chapada propositadamente. Os resultados deste estudo também mostraram que 10,3% de
raparigas referiu ter sido vítima de violência física no namoro. As adolescentes neste estudo que
tinham sido feridas fisicamente pelo seu/sua namorado/a tendiam mais a ter sofrimento
emocional, a ter comportamentos relacionados com a violência, uso de substâncias e a envolver-
se em comportamentos sexuais de risco. Além disso, as raparigas negras tinham 50% mais de
probabilidade de relatar violência no namoro do que as raparigas brancas. O estudo mostrou que
é possível que as raparigas que se envolvem em lutas físicas possam também usar esse
comportamento nos seus relacionamentos de namoro (Howard et al., 2007).
18
Caridade (2008) implementou dois estudos, um quantitativo e um qualitativo com jovens
do ensino universitário, secundário e de cursos profissionais. No estudo quantitativo, há um
número significativo de jovens que praticam atos violentos ou são violentos nas suas relações
íntimas. Com uma amostra de 4667 sujeitos, com idades compreendidas entre os 13 e os 29
anos, sendo 42.2% rapazes e 57.7% raparigas, verificou que existe 30% de perpetração global,
18% de violência física e 23% de violência emocional. Para esta investigadora, os “(…) agressores
e vítimas situam-se maioritariamente nas faixas etárias mais velhas e os estudantes inseridos em
contextos de maior formação académica (ensino universitário) assumem mais frequentemente o
recurso a condutas violentas na sua intimidade relacional (…)” (p.157).
No segundo estudo de investigação qualitativa, Caridade (2008) procurou investigar as
crenças, atitudes e a posição dos jovens face aos diversos tipos de violência (física, psicológica e
sexual). Neste estudo, tal como no projeto educativo que implementei, a investigadora utilizou o
focus group, técnica de pesquisa através da interação entre o grupo sobre um determinado tema
proposto pelo investigador permitindo observar a interação dos/as participantes sobre esse tema
(Morgan, 1997).
Neste estudo qualitativo, foram investigados três tipos de grupos formativos: jovens
universitários, jovens do secundário e jovens que já não estudam. Foram constituídos nove
grupos de discussão onde participaram 49 sujeitos com média de idade de 19.7 anos, nos
quais, 51% eram do sexo feminino e 49% do sexo masculino. Os resultados indicaram que os/as
jovens em geral reconhecem o tema da violência no namoro como muito pertinente e
compreendido como uma realidade cada vez mais comum no namoro jovem.
Quanto às causas que levam à violência no namoro, os/as jovens, apontam para a
exposição à violência familiar, a interação com pares violentos, a dimensão cultural e
educacional e fatores intrapessoais dos agressores, como por exemplo, o ciúme exagerado, a
falta de confiança, impulsividade e a obsessão.
Neste estudo, os/as jovens consideram que as condutas violentas que são praticadas no
namoro, tender-se-ão a repetir no casamento e os atos a serem mais intensos quando o
agressor se sentir mais seguro e com um maior controlo sobre a vítima.
Para os/as jovens deste estudo, a violência física envolve bofetadas, empurrões, puxões,
apertões, socos e pontapés. No que diz respeito à violência psicológica, mencionam o controlo e
as proibições, os insultos, os ciúmes, a chantagem, a obsessão e o ignorar e inferiorizar o/a
companheiro/a. Para estes/as jovens, a violência psicológica tem um maior impacto pelos
19
danos que causam no dia-à-dia à vítima, considerando-a a mais frequente, sendo os ciúmes e as
discussões entendidos como idênticos. No que diz respeito, à violência física esta será mais fácil
de identificar pela visibilidade do abuso. Por fim, quanto à violência sexual, para estes/as jovens,
consiste na prática de atos sexuais não desejados e violação, podendo ser usada também a
violência física e verbal. Os/as jovens relativamente à violência sexual pouco se pronunciaram e
mostraram algum constrangimento no debate do tema, remetendo-se, por vezes, ao silêncio.
Quanto às causas que levam a este tipo de violência os jovens mencionam a pressão dos pares
como sendo importante, explicações de natureza psicológica ou desenvolvimental.
Os/as jovens neste estudo entendem que as vítimas tendem a não denunciar a violência
de que são vítimas, principalmente porque têm vergonha. Também não abandonam a relação
devido ao demasiado envolvimento emocional que lhes impossibilita identificar os
comportamentos violentos do parceiro.
Neste estudo, as respostas dos/as jovens consoante o género foram diferentes. No que
diz respeito à frequência da violência física, os rapazes referem os empurrões, puxões, abanões,
socos e pontapés e as raparigas estalos e agarrar os braços. Quanto à frequência da violência
psicológica, os rapazes referem os insultos e chantagem e as raparigas referem o controlo,
proibições, os ciúmes e a obsessão pela relação. Por fim, quanto à frequência da violência
sexual, os rapazes referem a violação e forçar o parceiro ao ato sexual, as raparigas referem os
toques indesejáveis e também o forçar o parceiro a atos sexuais. Para terminar, os ciúmes são
vistos pelos/as jovens em geral como válidos quando existem situações de infidelidade,
desculpando a agressão.
Num outro estudo nacional de Ferreira (2011) participaram 668 estudantes do ensino
secundário no qual foram excluídos 495 por não terem tido qualquer tipo de violência no namoro
e 3 por terem preenchido incorretamente o questionário que foi aplicado para realizar a sua
investigação. As idades dos sujeitos eram entre os 15 e 19 anos dos quais 62.9% eram
raparigas e 37.1% rapazes. 170 indivíduos considera que na sua relação de intimidade já teve
algum tipo de violência verificando-se que 51.8% dos inquiridos são ao mesmo tempo vítimas e
agressores, 30% são agressores e 18.2% são vítimas.
Quanto aos diferentes tipos de violência a violência com maior percentagem é a violência
emocional (vítima 57.6% e agressor 60.6%), de seguida a violência física (vítima 33.6%, agressor
48.2%) e em último a violência sexual (vítima 4.8%, agressor 1.8%).
20
Na violência física, os comportamentos tais como puxar os cabelos (6.5%), dar bofetadas
(14.1%), ameaçar com armas ou uso da força física (1.8%), dar um murro (5.9%), atirar com
objetos à outra pessoa (5.9%), dar pontapés ou cabeçadas (4.1%), empurrões violentos (11.8%),
dar uma sova (1.8%), causar ferimentos sem assistência médica (9.4%) entre outros foram
indicados pelos/as jovens vítimas como exemplos de agressão física.
Quanto à violência emocional, comportamentos como insultar, difamar ou fazer
afirmações graves para humilhar ou “ferir” (21.2%), impedir o contacto com outras pessoas
(44.1%), partir ou danificar coisas (5.3%), gritar ou ameaçar para meter medo (14.7%), perseguir
na rua ou em local de estudo para causar medo (1.2%) entre outros foram identificados pelas
vítimas como exemplos de agressão emocional. Por fim, na violência sexual o comportamento
identificado pelas vítimas foi o forçar a outra pessoa a manter atos sexuais contra a sua vontade
(4.1%) como exemplo de agressão sexual. Neste sentido, o comportamento “impedir o contacto
com outras pessoas” (44.1%) foi o mais referido pelos/as participantes.
Numa outra fase do inquérito ao qual responderam apenas 33% dos/as participantes
(n=56 dos N=170) às reações em relação à violência na intimidade, o tentar conversar/dialogar
com o/a companheiro/a foi o mais referido pelos/as participantes (22.4%) como forma de
resolver o problema entre eles/as. As pessoas a quem recorrem foram identificadas com
preferência os amigos/as (11.8%).
Os/as participantes (n=49), quando questionados/as acerca do motivo da situação pela
qual houve violência, referiram os ciúmes (38.8%) e as discussões (16.3%). Quanto à solução
para resolver o problema de violência no namoro os/as alunos/as referiram o diálogo (22.4%), o
fim à relação (16.3%) e voltar ao relacionamento (4.1%).
Segundo a mesma autora, a violência na intimidade é um acontecimento muito presente
nos/as jovens adolescentes portugueses pelo facto de uma percentagem significativa de
intervenientes ter-se envolvido em situações de violência, sendo os abusos emocionais os mais
comuns.
Neste estudo, é possível ter havido uma banalização da violência pela parte dos/as
participantes devido à “(…) possível dificuldade que os adolescentes, por vezes, apresentam na
identificação de comportamentos violentos” (Ferreira, 2011, p. 42).
O estudo de Ohnishi et al. (2011) mostrou que apesar de haver pouca percentagem de
violência no namoro no Japão, há um aumento da iniciação sexual precoce nos/as alunos/as do
ensino médio e um maior predomínio de infeções sexualmente transmissíveis e de abortos
21
induzidos entre as adolescentes. Estes autores alertam ainda para o facto de que embora no
Japão haja uma pequena percentagem de violência na intimidade, existe, por outro lado, uma
grande preocupação em perceber como os/as adolescentes determinam e mantêm as relações
com os/as seus parceiros íntimos.
Existem poucos estudos sobre as formas de assédio sexual vivenciadas pelos
adolescentes ou como é que pode afetá-los ao longo do tempo. O estudo realizado por Chiodo et
al. (2009) foi realizado a alunos do 9º ano porque é nesta faixa etária que muitos dos/as
estudantes são vítimas de provocações verbais e físicas por parte dos/as seus/suas colegas ou
de alunos/as mais velhos/as. Os autores referiram o assédio sexual como um fator de risco no
desenvolvimento dos/as adolescentes e para tal investigaram quais os tipos e o predomínio de
assédio sexual vivida pelos rapazes e pelas raparigas.
Neste estudo, 44.1% das raparigas e 42.4% dos rapazes admitiram terem sido
assediados/as sexualmente sendo que as raparigas sofriam mais piadas sexuais, comentários e
contacto indesejado do que os rapazes que estavam mais sujeitos a insultos homossexuais,
mensagens e fotos de cariz sexual. As raparigas apresentaram mais fatores de risco do que os
rapazes, tais como pensamentos suicidas, automutilação, dietas, namoro precoce, uso de
substâncias e escola sem segurança associado à vitimização de assédio sexual. Já os rapazes
apresentaram pensamentos suicidas, namoro precoce, uso de substâncias e escola sem
segurança sendo o impacto inferior nos rapazes.
Os mesmos rapazes e raparigas que tinham referido que eram vítimas de assédio sexual
no 11º ano tinham de dois e meio a três vezes mais possibilidade de ser vítimas novamente dois
anos e meio depois do estudo, o que mostra que estas experiências têm tendência a prolongar-
se. Além disso, o assédio verificado no 9º ano foi associado com uma maior probabilidade de
acontecer outro tipo de formas de violência nos relacionamentos no 11º ano.
Nesta investigação verificou-se que o assédio sexual tem um impacto negativo para
ambos os sexos sendo que para as raparigas é maior. Ser vítima de assédio sexual foi associado
a um risco maior de ter dificuldades de ajustamento psicológico e de outras formas de abuso,
tais como, a violência física entre pares e ser vítima de assédio sexual para ambos os sexos no
9º ano e violência no namoro e agressão entre pares.
Também se verificou neste estudo que a vitimização por assédio sexual no 9º ano teve
efeitos contribuindo para o risco de stress emocional, consumo de substâncias e delinquência
nos dois anos e meios posteriores. Tais comportamentos causam danos psicológicos e físicos
22
nos/as jovens ao longo dos anos no ensino médio. As raparigas são muitas vezes vítimas dos
rapazes enquanto os rapazes são vítimas também por rapazes (por exemplo, insultos
homofóbicos).
Num outro estudo foi verificado que a automutilação também é uma consequência do
assédio sexual, podendo ser também um fator de risco (Marshall, Faaborg-Andersen, Tilton-
Weaver, & Stattin, 2013).
Tem-se vindo a demonstrar que as mulheres jovens que são vítimas de coerção sexual
tendem a experimentar mais sexo forçado e estão mais vulneráveis a envolverem-se em
comportamentos sexuais de risco, tais como, práticas sexuais com vários parceiros e não usar
preservativos, além disso, estão em maior risco de não terem uma boa saúde mental, um maior
consumo de álcool e abuso de substâncias (Population Council, 2004).
Mpiana (2011) explicou que a violência sofrida pelas adolescentes do Sul de África
decorre da experiência de uma história violenta, de posições sociais baseadas em ideologias
respeitáveis e relações de poder diferentes. Este autor defende que no que concerne às relações
de poder baseadas no género, as adolescentes raparigas têm menos poder devido às
oportunidades e ao seu desenvolvimento e independência serem restritos. Segundo United
Nations Population Fund (2005) o status das mulheres e das raparigas na sociedade, a sua
dependência financeira e a falta de direitos negam o acesso à sua proteção colocando-as em
maior risco de abuso. Consequentemente, as mulheres que foram abusadas tendem a isolar-se
e são impedidas de relacionar-se socialmente ou em atividades como o trabalho.
No estudo de Giordano et al. (2010) os índices de violência mútua nos relacionamentos
de namoro são muito idênticos para ambos os sexos (47% nos rapazes e 52% nas raparigas).
Apesar de a violência nas relações ser muito comum para os/as entrevistados/as deste estudo,
as entrevistadas do sexo feminino referem ser com mais frequência as autoras da violência,
enquanto os entrevistados do sexo masculino tendem a ser o alvo de violência. Pelo contrário, no
estudo de Mpiana (2011) as raparigas adolescentes são mais vulneráveis à violência sexual e ao
assédio, e estes abusos têm impactos severos na sua saúde física e mental, bem como no
desempenho académico das raparigas.
Giordano et al. (2010) referem que o conflito verbal, os ciúmes, a falta de apoio e a
infidelidade pela parte do/a companheiro/a estão relacionados com o uso da violência. Além
disso, receberem recompensas instrumentais na sua relação de namoro pode levar a uma maior
tendência para serem vítimas de violência. Também as relações de namoro com maior
23
durabilidade estão relacionadas com uma maior possibilidade de haver violência. Estes autores
ainda referem que no que diz respeito à interação entre sexo e conflito verbal, existe uma forte
ligação entre o conflito verbal e a prática da violência nas pessoas do sexo feminino. No entanto,
demonstraram que o conflito verbal continua a ser um preditor significativo tanto para as
pessoas do sexo masculino como feminino.
No estudo de McDonell, Ott e Mitchell (2010), a taxa de perpetração no namoro é
superior nas mulheres do que nos homens, ao contrário de muitas crenças que referem que o
homem tende a exercer mais violência do que as mulheres.
Em síntese, os/as adolescentes mesmo na presença de fatores de risco evidentes não
experienciam inevitavelmente violência nas relações de namoro (Giordano et al., 2010). Assim,
se os adolescentes identificarem a presença de fatores de risco para a violência no namoro,
podem proteger-se e, nesse sentido, a experiência da violência no contexto de namoro pode ser
evitável.
2.3. A violência no namoro e a influência dos pares, pais e normas sociais
influência dos pares
Segundo Giordano et al. (2010), os estudos que se têm focado na violência no namoro
focam-se com mais ênfase na família e nos colegas, mas pouco se referem aos locais/contextos
em que a violência ocorre.
A violência entre os pares acontece com mais frequência na adolescência do que nas
restantes etapas de vida de um individuo (UNICEF, 2011). Segundo Connolly et al. (2004),
os/as adolescentes unem-se a grupos de sexo misto, criando grupos de pares que namoram,
fazendo o namoro parte das atividades de grupo. Ao juntarem-se a esses grupos, a hipótese de
haver relacionamentos amorosos é aumentada pela exposição e observação desses
relacionamentos. Assim, além de observarem o contexto, o grupo de pares também pode ter
influência na sucessão das primeiras fases românticas. Neste seguimento, as atividades
românticas no início da adolescência são integradas nas atividades do grupo, podendo o grupo
de pares influenciar o tempo da relação. Além dos pares, também as relações de namoro
precoces podem ser influenciadas pelo contexto sociocultural das famílias dos/as adolescentes
(Connolly et al., 2004).
No estudo de Connolly et al. (2004), participaram alunos/as com idade média de 12.28
anos (9-14 anos). Neste estudo, os relacionamentos amorosos no grupo de pares no início da
24
adolescência foram evidentes no surgimento de relacionamentos amorosos. Além disso, tiveram
influência na estimulação do interesse romântico nos/as adolescentes bem como no
envolvimento em relacionamentos amorosos. Os resultados revelam que a participação em
atividades românticas aumenta o interesse em ter também um relacionamento.
As influências dos pares na adolescência são contrastadas pelas influências parentais,
sendo a influência dos pares um fator de risco (Leen et al., 2013). As experiências no grupo de
pares também são influenciadas pelos fatores da família de origem (Olsen et al., 2010). Quanto
ao comportamento dos pares face aos seus/suas amigos/as vítimas ou agressores/as, o estudo
de Leen et al. (2013) mostrou que as raparigas têm mais comportamentos violentos nas
relações de namoro quando têm amigos/as que são vítimas ou autores/as de agressão nas
relações de namoro. No entanto, embora as raparigas sejam mais capazes de ser influenciadas
pelos/as amigos/as, no geral, tanto os rapazes como as raparigas são influenciados/as pelos
grupos de pares no que diz respeito aos comportamentos agressivos no namoro.
Além disso, possivelmente os/as adolescentes tendem a escolher grupos de pares com
origens idênticas às suas, podendo escolher grupos de pares violentos e posteriormente podem
ter mais tendência para ser violentos nos seus relacionamentos amorosos (Olsen et al., 2010).
Segundo Connolly et al. (2004), as escolas que restringem o acesso de pares de outro
sexo pode adiar a sua relação em atividades românticas no começo da adolescência.
Influência dos pais. A família e os pares são influências relevantes na violência no namoro
entre os/as adolescentes (Giordano et al., 2010). Segundo Malik et al. (1997) além da violência
a que estão sujeitos na comunidade, os/as jovens, também se confrontam com a violência em
casa e nas relações íntimas. Assim, para diminuir a violência entre os/as adolescentes é
necessário identificar os fatores de risco nos diversos contextos (Malik et al., 1997). Contudo,
nem todas as crianças ou adolescentes que são expostos/as à violência (Malik et al., 1997;
Franklin & Kercher, 2012) e que são fisicamente castigados/as (Franklin & Kercher, 2012) são
posteriormente violentos/as ou vítimas.
Segundo a OMS (1997), a violência cometida nas mulheres pode ter consequências de
geração em geração. Os rapazes que observam as mães a ser vítimas de violência pelo seu
parceiro têm maior probabilidade de na sua vida adulta também serem violentos. Já as raparigas
que testemunham essa violência têm maior probabilidade que os seus parceiros abusem delas
nos seus relacionamentos. Assim, a violência tende a passar de geração em geração.
25
Também para Oliveira e Sani (2009), a observação de comportamentos violentos está
relacionada com a transmissão desses comportamentos, havendo uma herança de violência.
Logo, os indivíduos que experienciam comportamentos violentos podem vir a ser indivíduos
violentos. Por exemplo, na família, local onde as crianças aprendem os papéis dos pais, se
viverem num ambiente violento as crianças vão assimilar esses comportamentos, havendo uma
modelação de comportamentos. Segundo estas autoras, a forma como vão expressar os
comportamentos observados não é necessariamente tal como foram observados, isto é, podem
usar os mesmos comportamentos, modificá-los, usar diferentes modelos ou até replicar. Assim,
os comportamentos violentos aprendidos no seio familiar são reproduzidos pelos/as
adolescentes nas suas relações de intimidade. Segundo as mesmas autoras, “Os adolescentes
tornam-se, assim, transmissores culturais dessa conduta, que gera para si mesmos, conflitos
interpessoais e risco de se tornarem tanto agressores quanto vítimas, com a possibilidade de
perpetuar a violência intergeracional” (Oliveira & Sani, 2009, p. 164).
O estudo de Malik et al. (1997) baseia-se na teoria de aprendizagem social, onde se
explica que os comportamentos são vistos como uma aprendizagem feita através do
comportamento das outras pessoas, através das pessoas mais próximas, podendo ser a família,
o grupo de pares ou gangues. Assim, segundo os autores, a exposição à violência familiar, o
abuso a crianças e a violência entre os pais propícia aos/às adolescentes comportamentos que
podem imitar. Da mesma forma, os autores explicam que a exposição à violência na
comunidade também lhes dá a entender que são formas legítimas para solucionar conflitos.
Assim, a exposição à violência pode originar vários resultados podendo tornar os/as
adolescentes em vítimas ou agressores, dependendo dos mediadores que os/as encaminham
para uma destas vertentes. As características sociodemográficas também são identificadas neste
estudo como fatores que influenciam a exposição à violência.
Neste mesmo estudo, mais de metade da amostra revelou ter observado violência entre
os pais, sendo que a exposição à violência na comunidade é superior. Assim, a exposição a
diversas formas de violência é um grande fator de risco para os adolescentes quer na
comunidade quer nas relações de namoro, tanto como vítimas como agressores. Também se
verificou neste estudo que estar exposto à violência familiar está ligada à violência na
comunidade e no namoro. Pelo que, o estar exposto a um contexto de violência parece
influenciar outros contextos, quer seja para as vítimas quer para os agressores. Neste estudo,
também a exposição a armas e os ferimentos na comunidade são os principais fatores comuns
26
na violência quer para a vítima quer para o/a agressor/a. Segundo os autores deste estudo, os
rapazes adolescentes tendiam a ser os agressores e vítimas de violência na comunidade e, por
outro lado, as raparigas adolescentes tendiam a cometer mais violência no namoro do que os
rapazes adolescentes. No que diz respeito à exposição à violência familiar, os rapazes eram mais
afetados do que as raparigas e estas, eram mais afetadas pelo próprio abuso.
Olsen et al. (2010) também fazem referência à Teoria de Aprendizagem Social de
Bandura, para explicar que a aprendizagem das crianças pode acontecer devido às observações
que fazem dos seus pais, como é que eles se tratam e como tratam as crianças. Nesta
perspetiva defende que os relacionamentos amorosos podem derivar do resultado do
comportamento antissocial que é adquirido no início da vida através dos pais, sendo provável
que alguns fatores dos ambientes familiares possam ter maior ou menor influência, enquanto
outros podem ter uma influência mais estável ao longo do tempo.
Mpiana (2011) verificou que a forma como as adolescentes veem a violência é
influenciada pela família, amigos, comunidade, escola e media. Se estes grupos incutirem na
rapariga a ideia de que a violência praticada contra as raparigas é normal, então ela é aceite
pelas raparigas. Portanto, é necessário capacitar as adolescentes e educá-las para os seus
direitos, revelando relacionamentos violentos e denunciando-os (Mpiana, 2011).
No estudo de Franklin e Kercher (2012), verificou-se que presenciar a violência entre os
pais na infância tem maior probabilidade de em adulto exercer violência psicológica e ser vítima
de castigos físicos na infância aumenta a probabilidade de contar que sofre de abuso
psicológico.
Segundo estes mesmos autores, “(…) as crianças que experimentam formas de castigo
físico podem ser especialmente vulneráveis a internalizar a eficácia da violência como meio de
influência e gestão de conflitos nos relacionamentos íntimos” (Franklin & Kercher, 2012, p.
197).
Influência das normais sociais. As normas sociais também influenciam os comportamentos
nas relações de namoro, havendo situações de violência que são aceites e justificadas, sendo
também consideradas um fator de risco (Leen et al., 2013).
De acordo com Malik et al. (1997) as normas pessoais de cada um também têm um
papel muito importante quando se fala em violência pois, se a violência for aceite como uma
norma pessoal que é aceitável, então a violência é tida como normal, podendo os/as
27
adolescentes ser agressivos/as. Por outro lado, uma pessoa ao aceitar a violência no seu
relacionamento pode levar essa pessoa a aceitar um relacionamento abusivo, correndo o risco
de se tornar vítima.
O estudo de Machado (2010) mostrou que muitos dos atos violentos que são
legitimados são provenientes de questões sociais, culturais, individuais e da educação. Neste
estudo (N=522) foram caracterizadas as crenças que os/as jovens de Escolas Secundárias e
Profissionais do Porto com idades entre os 15 e os 19 anos, têm acerca da violência. Os/as
alunos/as referiram que a violência acontece quando há razão para que tal aconteça e por que a
vítima fez algo de errado (64.9%). Não defenderam que quem se droga tem motivo para ser
violento, mas 81.2% considerou que o álcool é o responsável pela violência das pessoas e que a
violência tem a ver com o poder de exercer o controlo.
A escola como potencial contexto de risco. O bullying, o cyber-bullying, o lutar, o
desrespeito a professores, o abuso verbal, o chamar nomes, os insultos raciais, entre outros são
de longe os tipos de violência mais predominantes nas escolas, havendo outros tais como, o uso
de armas, tentativa de violação ou violação, roubos, uso de álcool ou drogas, assédio sexual, uso
de explosivos entre outros (Dinkes, Kemp, & Baum, 2009).
Segundo Mirsky (2003) as escolas também podem ser locais de risco para os/as jovens
no que diz respeito às relações de namoro violentas pois, se a própria escola ou universidade
permitir a violência, o assédio sexual ou qualquer outra forma de coerção, esta pode ser uma
forma de aprendizagem que os/as jovens adquirem e que se reflete em casa ou no trabalho.
Assim, segundo o autor, as escolas que permitem a violência sexual ensinam aos/às
adolescentes que a violência é admissível. Na sua perspetiva quando o assédio sexual ou a
violência é desconsiderada nas escolas, os/as jovens como não foram educados/as a identificar
a violência nos seus relacionamentos, estes/as podem estar em maior risco de ter problemas de
saúde sexual e contrair o HIV. Assim, um ambiente escolar que permite a violência sexual nas
escolas pode originar efeitos graves nas relações dos/as jovens na vida adulta.
Segundo o Human Rights Watch (2001) o abuso sexual e o assédio a raparigas por parte
dos professores e outros alunos são muito frequentes na África do Sul. As raparigas, no geral,
são atingidas pela violência sexual na escola. As escolas têm sido locais violentos para as
crianças estando mal equipadas para combater a violência, e não têm um papel eficaz no
combate à violência contra as mulheres devido ao fracasso do Governo em proteger as raparigas
28
e em responder à violência tendo efeitos no seu desempenho escolar (Human Rights Watch,
2001). Em estudos realizados em África, a agressão sexual passa impune e os constantes
comportamentos masculinos por parte dos alunos e professores não são contestados, dando, a
conhecer aos alunos que os comportamentos violentos são tolerados e vistos assim como
“normais” (Leach, Fiscian, Kadzamira, Lemani, & Machakanja, 2003).
Também no estudo de Mpiana (2011), as raparigas adolescentes aparentam ser física e
sexualmente vítimas dentro e fora da escola. Embora este estudo não se foque só na violência
na escola, para as raparigas envolvidas a escola não é um local seguro, pelo contrário, é
considerado um local privilegiado para a violência sexual. Neste estudo, constata-se que as
meninas do Sul de África são expostas a comentários degradantes, ao toque indesejado, sujeitas
a ameaças de violência e também à violência real. Por outro lado, os meninos através da
violência intimidam e controlam as atividades das meninas, deixando-as com uma autoestima
baixa, com medo e impotentes devido à imagem que transmitem acerca das raparigas.
Neste estudo é referido que 80% das raparigas, do 12º ano, estavam envolvidas em
relacionamentos abusivos, 8 em cada 10 meninas, do 11º ano, foram abusadas no
relacionamento, e muitas jovens, do 12º ano, tentavam encobrir que foram abusadas nos
relacionamentos pois têm consciência de que se o fizerem são outra vez abusadas. As meninas
quando tentavam explicar a violência no seu relacionamento as suas respostas variavam pois
tanto se sentiam responsáveis como não assumiam a culpa. Muitas delas assumem os
comportamentos abusivos como reflexo do amor, como comportamentos normais não refletindo
o quanto perigoso é, enquanto outras meninas o tentam esconder. Para elas a única forma de
acabar com a violência exercida pelos rapazes é ser também violentos com eles.
2.4. Prevenção da violência no namoro
Como tem vindo a ser demonstrado a violência no namoro é um problema social com
variadas consequências e bastante prejudicial na vida dos/as adolescentes. Portanto, projetos de
prevenção e intervenção nesta faixa etária são essenciais para que os/as adolescentes
combatam os fatores de risco associados a esta problemática e assim possam ter um estilo de
vida saudável.
A quem recorriam para pedir ajuda. No estudo de Ohnishi et al. (2011) no que diz respeito
aos pedidos de ajuda, alguns adolescentes referiram que recorriam aos amigos, algumas
29
raparigas recorreram à mãe, e à irmã ou a profissionais de saúde. Apenas dois estudantes do
sexo masculino recorreram aos irmãos e nenhum recorreu aos pais. Dos participantes neste
estudo nenhum pediu ajuda aos professores ou enfermeiras da escola. No entanto, alguns dos
participantes não procuram qualquer tipo de ajuda após terem sido assediados. Além disso,
mais de 80% dos rapazes e de 50% das raparigas referiram não terminar as relações de namoro
apesar da violência que existe, o que demonstra que cada vez mais tem de incentivar-se os/as
adolescentes e adultos em geral a procurar ajuda e tentar fazê-los/as perceber que a violência
não é uma demonstração de amor e preocupação e sobretudo, que não deveria sequer
acontecer.
De acordo com Martin et al. (2012), no que diz respeito à preferência de ajuda que os
adolescentes procuram, estes elegem os amigos, familiares e serviços mais formais. As
raparigas deste estudo revelaram ter dificuldade em confiar nos amigos e familiares com medo
de voltarem a sofrer violência ou por vergonha, ou pelo motivo de as amigas também poderem
estar a passar pelo mesmo e não poderem ajudar. Nesta investigação as raparigas referem que
por vezes tem alguma preferência pelos serviços formais, já os rapazes opõe-se aos serviços
formais, fundamentados de que procurar ajuda nesses serviços pode ser uma ameaça à sua
masculinidade pondo em causa a sua reputação. Quanto aos rapazes eles preferem os
familiares e amigos como fontes de apoio.
Quando questionados acerca de como gostariam que fossem os serviços de apoio,
os/as adolescentes referiram que deviam ser serviços onde se possa falar livremente, sem ser
julgados, e onde haja segurança e confidencialidade. Além disso, também falar com alguém que
se sintam confortáveis ou com alguém que já tenha passado pela mesma situação e que assim
os/as possa compreender. O papel dos pares na divulgação dos serviços formais também foi
referido pelos/as adolescentes neste estudo. Eles/as referiram a distribuição de panfletos como
forma de divulgação, dizendo que embora rasguem os panfletos estes dão a conhecer às
pessoas o tema. Isto significa que a família e os pares deverão ser envolvidos, obrigatoriamente,
nos projetos educativos de prevenção da violência no namoro.
Também no estudo de Caridade (2008) os/as jovens referiram os/as amigos/as ou
pessoas de confiança, os pais e os/as profissionais, tais como médicos/as ou psicólogos/as.
Quando os/as jovens são questionados/as acerca da razão porque que se mantém a vítima
numa relação violenta, eles/as referem o facto de a vítima ter medo de sofrer represálias, o facto
de acreditarem que o comportamento do/a agressor/a vai mudar, a esperança de que foi um
30
único ato de violência que não voltará a repetir, a dependência psicológica e/ou económica, o
facto de haver um ciclo de violência onde o/a agressor/a é violento/a e depois pede desculpa,
volta a ser violento/a e pede novamente desculpa, e por fim, o envolvimento em demasia na
relação.
Metodologias de prevenção da violência no namoro. No estudo de Mpiana (2011), as
adolescentes quando questionadas acerca das formas de intervenção que gostariam que fossem
implementadas para prevenção da violência, referiram as intervenções interativas como dramas,
peças ou informações fornecidas por pessoas com vivências pessoais no assunto, envolvendo
ambos os sexos, rapazes e raparigas. Também referiram que a autoridade, os funcionários das
escolas e a escola em geral deveriam fazer mais para proteger as alunas. Referiram ainda os
meios de comunicação, como tendo um papel muito importante para transmitir informação
acerca da violência sexual e os direitos das mulheres.
No estudo Ohnishi et al. (2011) verificou-se que o número de programas de educação
sobre a violência e o assédio no Japão tem aumentado, mas ainda é necessário uma maior
compreensão e consciência sobre estes temas e programas relacionados com a adolescência
que procurem ajudar a lidar com este e outros tipos de violência, tais como, violência sexual,
psicológica, económica e, para além disso, medidas de proteção à vitima. Além dos programas
educacionais específicos para este tipo de casos, estes autores ainda defendem que também é
importante a implementação de programas gerais nas escolas e universidades para melhorar as
habilidades, a saúde e a alfabetização de forma a proteger e promover a saúde dos jovens.
Uma das formas de ter um relacionamento saudável é dialogar com o parceiro sobre
emoções desagradáveis que surjam, tais como ciúme e raiva, e respeitarem-se, sendo que a
violência nunca é aceitável (CDC, s.d).
As etapas propostas pelo Centro de Controlo de Doenças (2014) para resolver os
problemas de saúde, tais como a violência no namoro, são etapas, a meu ver, bem definidas e
que requerem atenção, pois encaixam-se perfeitamente na área de intervenção que este
mestrado proporciona. Essas etapas são: definir o problema; identificar os fatores de risco e de
proteção; desenvolver e testar estratégias de prevenção; garantir uma adoção generalizada para
que a comunidade depois possa utilizar essas estratégias. Assim, a violência no namoro pode
ser prevenida pelos/as próprios/as adolescentes, familiares, organizações e comunidades, de
forma a prevenir este tipo de violência de forma eficaz (CDC, s.d), apesar que, para diminuir a
31
violência nos/as adolescentes deverá diminuir-se a sua exposição à violência quer na família
quer na comunidade (Malik et al., 1997).
O´Keefe (2005) defende que os programas de prevenção da violência no namoro
deveriam ser implementados em instituições que lidam com jovens tais como escolas, nas
atividades recreativas, nos programas de justiça juvenil e nos sistemas de assistência social
entre outros. Além disso, na sua perspetiva nos programas escolares e de prevenção também se
deveria envolver toda a comunidade, dando apoio às vítimas e tratamento de ajuda aos
agressores. Assim, os programas de educação e formação devem ser adequados às
necessidades de cada grupo e não devem ser realizados só para os/as alunos/as como também
para todo o grupo escolar, incluindo professores/as, funcionários/as, e principalmente para os
próprios pais.
Para O´Keefe (2005) deveria ser desenvolvida uma política que definisse que o bullying,
o assédio sexual e a violência no namoro não são permitidos e que demonstrasse aos
agressores quais as consequências se o fizerem. Exemplos dessas consequências são as ações
disciplinares e serviços de aconselhamento com obrigatoriedade. No que diz respeito às vítimas
deveria haver um grupo de apoio e, programas de grupo para os indivíduos que estão em risco
de ser violentos.
Na escola, algumas normas que podem ser inseridas no contexto escolar para promover
competências saudáveis e reduzir a violência são: o uso de currículo e atividades
extracurriculares; ligações com pessoas e recursos externos e outras organizações; políticas
institucionais e estratégias de apoio; desenvolvimento pessoal e formação inicial de professores;
legislação sobre o sector da educação e disponibilidade de sistemas de referência para todos,
incluindo alunos/as, professores/as e comunidade (Mirsky, 2003).
Programas de legítima defesa também são eficazes na diminuição e prevenção do abuso
sexual podendo reduzir as infeções sexualmente transmissíveis, o número de gravidezes não
desejadas, o abandono escolar e o sofrimento psicológico das vítimas ao longo da sua vida
(Sinclair et al., 2013). O programa de autodefesa de Sinclair et al. (2013) aplicado no Quénia,
pretendeu capacitar as adolescentes raparigas a defenderem-se em situações de risco,
protegendo-se utilizando estratégias de autoproteção verbais e físicas, pretendendo desenvolver a
autoeficácia na resposta a casos de violência sexual e também reduzir nas vítimas o sentimento
de culpa. Assim, o objetivo destes programas é diminuir a incidência do abuso sexual nas
raparigas. Este programa foi eficiente na prevenção da violência sexual através das suas
32
habilidades de autodefesa que adquiriram no programa. Além disso, as adolescentes sentiram-se
mais confiantes para confidenciar e denunciar agressões sexuais o que tornou mais fácil um
possível apoio.
Por fim, é necessária a implementação de estratégias de prevenção ao assédio sexual
tais como políticas eficazes, estratégias de prevenção nas escolas que permitam educar os/as
jovens sobre os efeitos do assédio sexual e comportamentos a eles relacionados, tais como a
violência no namoro, para que haja relacionamentos saudáveis (Chiodo et al., 2009).
Metodologia IVAM na educação em sexualidade em escolas promotoras de saúde. A
abordagem da promoção da saúde na Rede das Escolas para a Saúde na Europa (SHE), baseia-
se em cinco valores nucleares (Quadro 1).
Quadro 1
Valores nucleares da Rede Europeia de Escolas para a Saúde na Europa
Equidade
As escolas promotoras de saúde asseguram a igualdade de oportunidade no acesso a recursos educativos e a recursos de saúde. A longo prazo, a escola promotora de saúde tem um impacto significativo na redução de desigualdades na saúde e no aumento da qualidade da formação ao longo da vida.
Sustentabilidade As escolas promotoras de saúde reconhecem que a saúde, a educação e desenvolvimento estão estritamente ligados. As escolas atuam como centros de aprendizagem académica. Apoiam e desenvolvem uma visão positiva e responsável do papel dos alunos no futuro da sociedade. As escolas promotoras de saúde desenvolvem-se quando os esforços e as ações são implementados de forma sistémica e por um certo período de tempo, pelo menos 5-7 anos. Os resultados (tanto na saúde como na educação) normalmente ocorrem a médio ou longo prazo.
Inclusão As escolas promotoras de saúde promovem a diversidade e garantem que as escolas são comunidades de aprendizagem, onde todos são valorizados e respeitados. É importante um bom relacionamento entre os alunos, entre estes e o pessoal docente e não docente da escola, entre as escolas, os pais e a comunidade educativa.
Competência para a ação e empowerment [capacitação] As escolas promotoras de saúde capacitam as crianças e os jovens, o pessoal docente e não docente da escola e de toda a comunidade educativa para se envolverem na fixação de objetivos relacionados com a promoção da saúde, levando a cabo ações na escola e na comunidade de forma a atingir esses mesmos objetivos.
Democracia As escolas promotoras de saúde estão assentes em valores e práticas democráticas no exercício dos direitos e na tomada de responsabilidade.
Fonte: Schools for Health in Europe (2009, p. 4)
Esses valores são considerados metas essenciais nas escolas promotoras de saúde que
baseiam o seu trabalho na educação e promoção da saúde na comunidade escolar nos cinco
pilares da Rede de Escolas para a Saúde na Europa (Quadro 2).
33
Quadro 2
Pilares da Rede Europeia de Escolas para a Saúde na Europa
Abordagem da saúde em toda a escola. Há uma coerência entre as políticas e as práticas das escolas em áreas que são reconhecidas por toda a comunidade educativa. Esta abordagem envolve: - Promover a educação para a saúde orientada para a ação e fazendo parte do currículo; - Considerar o próprio conceito de promoção da saúde e bem-estar dos alunos; - Desenvolver políticas de saúde na escola; - Desenvolver o ambiente físico e social da escola; - Desenvolver competências para a vida; - Fortalecer os laços entre a família e a comunidade; - Fortalecer a parceria com os serviços de saúde. Participação. Os alunos, professores e pais devem promover uma cultura de escola, através da participação e envolvimento significativos, os quais são um pré-requisito para uma efetiva promoção da educação para a saúde na escola. Qualidade da escola. As escolas promotoras de saúde contribuem para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Alunos/as saudáveis aprendem melhor, pessoal docente e não docente saudáveis trabalham melhor e têm uma maior satisfação profissional. O trabalho principal da escola é maximizar os resultados escolares. Evidência. A escola promotora de saúde deve ser informada sobre investigações recentes que comprovem a evidência científica da mais valia de uma intervenção prática e dinâmica, nomeadamente em assuntos da área da promoção da saúde: por exemplo, saúde mental, alimentação saudável, prevenção de consumos. Escola e Comunidade. As escolas promotoras de saúde têm uma relação de compromisso com a comunidade mais alargada. Apoiam a colaboração entre a escola e a comunidade e são agentes ativos no fortalecimento do capital social e da literacia na saúde.
Fonte: Schools for Health in Europe, (2009, p. 5-6)
O instrumento utilizado na planificação do meu projeto foi a metodologia IVAM –
Investigação, Visão, Ação e Mudança (Figura 1) da autoria de Bjarne Bruun Jensen (Vilaça,
2012), que, com base na sua experiência no âmbito das escolas promotoras de saúde,
desenvolveu,
“(…) um instrumento prático que pode ser usado nas escolas para estruturar as atividades de promoção
da saúde e facilitar a participação dos/as alunos/as, com o objetivo de desenvolver a sua “competência
para a ação”, isto é, a habilidade dos alunos para, a nível da educação em sexualidade, realizarem ações
reflexivas, individual ou coletivamente, e provocarem mudanças positivas nos estilos de vida (…)” (p. 98).
De acordo com Vilaça e Jensen (2010), este instrumento apresenta um conjunto de
perspetivas que podem ser tratadas num projeto de educação em sexualidade. O modelo IVAM
representado na figura 1, está dividido em três fases: a investigação do tema, o desenvolvimento
de visões e a ação e mudança.
Primeiro, os/as alunos/as devem escolher o problema de saúde que querem ajudar a
resolver e analisar o quanto o problema é importante para eles/as e para os/as outros/as.
34
Fonte: Vilaça (2012, p. 98)
Figura 1
Metodologia IVAM: Perspetivas a trabalhar dentro dos Projetos de Educação em Sexualidade
Posteriormente, devem planificar, por si próprios/as, com a ajuda do/a formador/a, o
seu projeto de trabalho para investigar o conhecimento necessário para agirem no sentido de
controlar as causas do problema e, assim, contribuírem para a sua resolução. Isto consegue-se
seguindo a metodologia IVAM.
Explicado mais pormenorizadamente, a primeira fase da metodologia IVAM –
Investigação – consiste na organização pelos/as alunos/as de um conjunto de atividades que
lhes permitam compreender quais são as consequências do problema, as suas causas e as
estratégias que poderão ser usadas para eliminar essas causas e resolver, ou contribuir para
resolver, o problema (Vilaça, 2012).
Na segunda fase do modelo IVAM – Visão – os/as alunos/as devem pensar
criativamente para desenvolverem as suas ideias, perceções e visões sobre aquilo que
ambicionam para o seu futuro e o da sociedade em relação ao problema em estudo (Vilaça &
Jensen, 2010). Por exemplo, devem imaginar como gostariam que fosse a sua vida, a escola e a
comunidade para que não existisse violência no namoro.
Na terceira fase do modelo IVAM – Ação e Mudança – o objetivo é que que os/as
alunos/as usem a sua imaginação e planifiquem ações relacionadas com as visões que tinham
idealizado na segunda fase (Jensen, 2000; Vilaça & Jensen, 2010; Vilaça, 2012). Estas ações
poderão ser orientadas pelos/as próprios/as alunos/as, ou pelos/as alunos/as com a
colaboração de formadores/as, pais ou peritos da comunidade. Por fim, estas ações devem ser
35
avaliadas e os resultados devem ser analisados, comparando-os com as mudanças de vida que
desejariam atingir (Vilaça, 2012).
Assim, para Jensen (2002), “(…) as instituições de ensino geral e as escolas têm a
responsabilidade de ajudar a equipar os membros da sociedade a seu cargo e os seus alunos,
com o conhecimento necessário e o compromisso de tomarem decisões pessoalmente
significativas para enfrentar os desafios colocados quer pelos estilos de vida quer pelas
condições sociais” (p. 332).
De acordo com Vilaça (2012) os projetos de educação em sexualidade que utilizam esta
metodologia têm efeitos positivos contribuindo na capacitação e desenvolvimento da
competência para ação dos/as alunos/as.
36
37
CAPÍTULO III
METODOLOGIA
3.1. Introdução
Neste capítulo faz-se a descrição geral do estudo (3.2), apresenta-se o projeto educativo
orientado para a ação na prevenção da violência no namoro (3.3) e justifica-se como foi feita a
seleção dos/as participantes no estudo e faz-se a sua apresentação (3.4). Posteriormente,
justifica-se a opção pela técnica e instrumentos de recolha de dados selecionados (3.5), a forma
como foram elaborados e validados os instrumentos de recolha de dados (3.6), descreve-se
como se procedeu à recolha de dados e os obstáculos encontrados (3.7), as estratégias
utilizadas para motivar os/as participantes (3.8), os cuidados éticos ou sua salvaguarda (3.9) e,
para terminar, o tratamento e plano de análise de dados (3.10).
3.2. Descrição geral do estudo
O presente estudo começou com o meu interesse em investigar sobre a violência no
namoro principalmente na idade da adolescência. Para tal, tive a contribuição de alguns temas
que foram abordados nas diferentes Unidades Curriculares do Mestrado que me fizeram
debruçar sobre este tema. Após a definição do tema foi feita uma revisão de literatura sobre o
mesmo. Posteriormente selecionou-se uma escola para averiguar se o meu interesse estava de
acordo com um diagnóstico inicial feito pelas docentes da escola.
Antes da primeira deslocação à escola, foi feita uma análise da documentação que
caracterizava a instituição e o website da escola. Posteriormente foram realizadas algumas
reuniões com informantes-chave na instituição, para que fosse possível fazer a caracterização e
o diagnóstico das necessidades da escola. Depois de estar enquadrada nas necessidades da
escola foi feita a caraterização do público-alvo que faria parte deste estudo (Figura 2).
O projeto de investigação foi organizado em quatro fases: 1) diagnóstico das
necessidades em educação para a saúde dos/as alunos/as no tema inicialmente selecionado;
2) elaboração e validação de instrumentos de recolha de dados e da metodologia de formação;
38
3) aplicação do projeto educativo; 4) avaliação dos resultados de aprendizagem no final do
projeto educativo.
1ª Fase: Seleção inicial sobre o tema a investigar
- Reflexão sobre as motivações e expectativas para a investigação/intervenção - Revisão de literatura sobre o tema
2ª Fase: Contato inicial com a escola e diagnóstico preliminar de necessidades
- Análise do website e documentos estruturantes da escola lá publicados - Contato com a instituição como local de realização do estágio - Reuniões com informantes-chave da escola para apresentar as motivações
para o estágio e fazer o diagnóstico preliminar de necessidades
3ª Fase: Diagnóstico das necessidades de educação para a saúde dentro do tema violência na escola e elaboração do Projeto de Intervenção
- Observação da violência no recreio (Novembro a Dezembro) - Análise dos resultados obtidos e formulação da situação problemática de
partida - Elaboração do projeto de intervenção (Outubro a Março)
4ª Fase: Elaboração e validação da metodologia de formação e dos instrumentos de recolha de dados
Planificação do projeto orientado para a ação dos/as alunos/as de 9º ano na prevenção da violência do namoro na adolescência
- Planificação do projeto educativo (Apêndice 1) - Produção de material didático para apoiar as várias fases de
desenvolvimento do projeto (Apêndice 2) - Validação do material didático
Elaboração e validação dos instrumentos de recolha de dados
- Diários de aula: Elaboração e validação do roteiro do diário de aula do/a aluno/a (Apêndice 3)
- Exemplo de um diário de aula de um grupo de alunos/as e de um diário da investigadora (Apêndice 3)
- Entrevista semiestruturada de grupo focal: elaboração e validação da entrevista sobre o conhecimento orientado para a ação na prevenção da violência no namoro, para aplicar no final do projeto educativo
- Protocolo da entrevista e exemplo de uma entrevista (Apêndice 4) Pedido de autorização na escola para aplicação do projeto de intervenção/ investigação em quatro turmas de 9º ano
5ª Fase: Implementação do projeto “Agir para prevenir: Diz não à violência no namoro!” (Janeiro a Maio)
6ª Fase: Implementação da entrevista de grupo focal no final do projeto educativo
7ª Fase: Conclusão da elaboração da Dissertação
Figura 2 Visão geral do estudo
39
O diagnóstico de necessidades de educação para a saúde dentro da temática da
violência no namoro, ocorreu ao longo de 2 meses com observações no recreio realizadas
durante toda a semana, exceto às quintas-feiras, das 9h50 às 10h10 da manhã. Durante estas
observações foram registadas, como notas de campo, as ocorrências de violência observadas,
sem nunca intervir ou fazer perguntas aos/às intervenientes na situação. Esta decisão foi
tomada por ser a minha entrada na instituição e não haver possibilidade de incluir todos/as
os/as alunos/as envolvidos/as no projeto educativo. Esta decisão teve a desvantagem de não se
conseguirem recolher dados sobre o contexto que levou às situações de violência. Nunca houve
nenhuma reação negativa dos/as alunos/as da escola à minha presença nos recreios.
Na quarta fase desta investigação, foi planificado o projeto educativo e produzido todo o
material didático necessário para apoiar as várias fases de desenvolvimento do projeto. Quer o
projeto quer o material produzido foram validados por dois especialistas em Educação. Este
projeto foi desenvolvido em aproximadamente nove/dez sessões de SAE, com duração de 45
minutos cada.
Nesta fase, ainda foi elaborada uma entrevista semiestruturada de grupo focal sobre a
violência no namoro, para analisar o que sabem, pensam e sentem os/as alunos/as sobre o
assunto no final do projeto educativo orientado para a ação na prevenção da violência no
namoro. Esta entrevista, depois de validada por dois especialistas em Educação e ser testada
num grupo focal com seis alunos/as de uma turma do 9º ano, foi enviada para o Ministério de
Educação, para que autorizasse a sua aplicação na comunidade escola (Processo
nº0408800001).
Por exigência do Ministério da Educação, teve que ser pedida autorização à Comissão
Nacional de Proteção de Dados para aplicação das respetivas entrevistas, o que exigia um
pagamento à priori de 150 euros. Face a esta despesa acrescida, foi decidido não aplicar a
entrevista e transformá-la em material didático para discussão em trabalho de grupo sobre os
tópicos lá propostos, no final do projeto. Nesta fase, foi pedido aos/às alunos/as para gravar as
suas discussões em grupo.
Para terminar esta fase, foi feito um pedido formal na escola para autorizar a
implementação deste projeto de investigação em quatro turmas do 9º ano de escolaridade e
posterior recolha de dados. O pedido formal foi feito através de uma carta escrita ao diretor da
escola e, posteriormente, fui informada pela minha acompanhante na instituição que foi aceite
em Conselho Pedagógico e integrado nas atividades da escola (Apêndice 5). Também foi
40
entregue na escola através da acompanhante de estágio uma declaração de consentimento
informado para os pais (Apêndice 5) dando conhecimento do projeto.
A quinta fase do projeto consistiu no desenvolvimento do projeto educativo “Agir para
prevenir: Diz não à violência no namoro!”. Por fim, na sexta fase implementou-se as discussões
em grupo focal no final do projeto educativo.
3.3. Projeto educativo orientado para a ação na prevenção da violência no namoro
Diagnóstico de necessidades inicial. Nas reuniões iniciais com a professora acompanhante
e com a professora informante-chave para perceber a pertinência da implementação do projeto
educativo no âmbito da prevenção da violência no namoro, foi referido pelas professoras como
bastante pertinente e necessária a sua implementação na escola.
A professora acompanhante mencionou que já tinha observado uma situação de
violência entre namorados nas imediações da escola, contando o seguinte episódio:
Eu vinha na rua distraída a pensar na minha vida. De repente vi um rapaz a dar um empurrão a uma
rapariga, a insultá-la e a fazer-lhe ameaças. O curioso é que em seguida a abraçou e começou a acariciar!
Percebi que eram namorados! (Professora acompanhante do estágio).
Nestas reuniões também foram contados vários episódios de violência entre os/as
colegas nos intervalos, nomeadamente, foram-me aconselhados alguns locais em que deveria
fazer preferencialmente as minhas observações, por serem locais mais escondidos e se verificar
lá frequentemente episódios de violência entre colegas, quando não estavam a ser vigiados pelos
profissionais da escola.
O projeto Educativo. O projeto educativo “Agir para prevenir: diz não à violência no namoro”,
foi baseado na metodologia IVAM (Investigação – Visão – Ação e Mudança) (Vilaça & Jensen,
2009, 2010), que tem como objetivo desenvolver a competência para a ação dos/as alunos/as
na prevenção da violência no namoro. Metodologicamente, os/as alunos/as investigaram e
refletiram em grupo sobre o problema da violência no namoro, para agirem no sentido de
contribuir para eliminar as causas do problema, tal como defendido pela Rede de Escolas para a
Saúde na Europa (Vilaça, 2012) (ver secção 2.4.).
41
Este projeto foi desenvolvido durante três meses em nove/dez sessões de 45 minutos.
Dependendo do tipo de ações1 que os/as alunos/as em conjunto com o professor/a desejaram
realizar, o projeto teve mais ou menos horas por turma.
No final deste projeto, pretendeu-se que os/as alunos/as fossem capazes de:
i) compreender o que é a violência no namoro e quais as suas consequências;
ii) compreender quais são as causas da violência no namoro na adolescência;
iii) conhecer estratégias para eliminar as causas da violência no namoro;
iv) conhecer os recursos da comunidade aos quais as vítimas e os/as agressores/as
podem recorrer;
v) saber planificar, implementar e avaliar estratégias de mudança dos estilos de vida
e/ou condições de vida para eliminar as causas da violência no namoro;
vi) estar comprometidos como cidadãos ativos na prevenção da violência no namoro no
futuro.
As atividades apresentadas aos/às alunos/as para eles/as, em pequenos grupos,
decidirem as que queriam realizar (ou escolherem outras) para investigar o problema da
violência no namoro incluíram:
- a visualização de filmes seguidos de debate e análise de folhetos, notícias de jornal,
pesquisa orientada na Internet (sugestão para casa ou na escola), ou outro material
informativo, e/ou elaboração e aplicação de entrevistas ou questionários para
investigarem o que é a violência no namoro e quais as suas consequências e causas;
- estudos de caso para aprenderem estratégias para eliminar as causas da violência no
namoro, nomeadamente demonstrar que podem existir consequências negativas
resultantes da desigualdade de género dentro das relações de namoro; demonstrar
soluções não violentas para a resolução de conflitos nas relações; desenvolver
comportamentos pro-sociais; desenvolver competências de comunicação que podem
prevenir comportamentos violentos; dar a conhecer os recursos da comunidade aos
quais as vítimas e os agressores podem recorrer.
No final da fase de investigação, cada grupo divulgou à turma o que aprendeu com a
sua investigação através das apresentações dos seus trabalhos. Em seguida, os/as alunos/as
descreveram as visões que tinham para o seu futuro, e o da sua comunidade, em relação ao
1 Atividade realizada, que foi decidida pelos/as alunos/as sozinhos/as ou em conjunto com o professor/a, para
contribuir para eliminar uma ou mais causas do problema.
42
problema da violência no namoro. Isto é, disseram como gostariam de se comportar e como
gostariam que fosse a sua relação de namoro no futuro para não haver violência no namoro.
Posteriormente, planearam, implementaram e avaliaram a/s ação/ões para prevenir a violência
no namoro.
A/s ação/ões foram realizadas pelos/as alunos/as para a sua própria turma e para
outra/s turma/s, tendo sido sugeridas pelos/as alunos/as e professora. As turmas foram
selecionadas pelos/as alunos/as em conjunto com a professora tendo em conta a
disponibilidade das outras turmas.
Neste projeto, os/as alunos/as de todas as turmas optaram por fazer educação dos
pares selecionando uma turma, tendo em conta a disponibilidade dessa turma e do/a
professor/a que a lecionava, onde apresentaram os seus trabalhos e passaram pelas turmas um
contrato de prevenção da violência no namoro de modo a que todos/as cumprissem para que
não haja violência no namoro nos seus relacionamentos.
É importante referir que se refletiu com os/as alunos/as sobre as barreiras que podiam
encontrar para a realização de cada ação e as barreiras que poderiam impedir que as ações
resultassem nas mudanças desejadas (Vilaça, 2006, 2012).
Na planificação da ação, os/as alunos/as tiveram de pensar numa forma de avaliar a
ação e se essa ação estava de acordo com o que desejaram, para no final da ação fazerem a
sua avaliação (Vilaça, 2006). A planificação das sessões que conduziram o desenvolvimento do
projeto educativo foram as seguintes (Apêndice 1):
1ª Sessão. Teve como objetivo levar os/as alunos/as a compreender a metodologia de
trabalho do projeto “Agir para prevenir: Diz não à violência no namoro”. Primeiro, foi feita a
minha apresentação e a apresentação do projeto e da metodologia a seguir com a distribuição
de um folheto aos/às alunos/as (Folheto nº1). Seguidamente, foi explicado aos/às alunos/as o
número de sessões que iriam ser feitas durante o projeto e a partir daí formou-se grupos, dando
a oportunidade aos/às alunos/as de escolherem com quem queriam trabalhar. Depois, foi
entregue uma ficha de avaliação da sessão aos/às alunos/as onde foi feita a avaliação da
sessão pelos/as alunos/as num diário (Tarefa nº1). Para a elaboração deste diário pediu-se
aos/às alunos/as para responderem oralmente em grupo, no final da aula, a três perguntas que
estavam no Diário das Sessões: 1) O que gostaram mais na sessão? Porquê?; 2) O que gostaram
menos na sessão? Porquê?; 3) O que gostariam de mudar na sessão para gostarem mais dela?
Um dos elementos do grupo levava o diário para casa para fazer o registo das respostas dadas
43
oralmente na aula pelos/as colegas, em alguns grupos escreveram na própria aula. Esta
avaliação repetiu-se no final de todas as sessões, embora houvesse grupos que não respondiam
nessa sessão e acabaram por escrever no final do projeto.
2ª Sessão. Os objetivos desta sessão foram: compreender o que é a “violência no
namoro”; conhecer as consequências da violência no namoro; aprender a comunicar mais
abertamente no grupo; obter do grupo informação relevante para planificar as atividades
seguintes. Foram visualizados três dos quatro vídeos sobre a violência no namoro da APAV e de
outros autores e, seguidamente, os grupos escreveram numa folha de papel distribuída (Tarefa
nº 2) todas as “palavras” que conheciam sobre a “violência no namoro”. Em seguida, fez-se
uma “Chuva de ideias em Post-it”, isto é distribuiu-se a cada aluno/a duas folhas de “post-it” e
quando lhes fiz uma pergunta tiveram dois minutos para responder. Responderam a cada
pergunta numa folha de “post-it” diferente. As questões foram as seguintes: 1ª - Quais são as
consequências da violência no namoro?; 2ª O que faz com que as pessoas sejam violentas no
namoro? Numa turma não foi possível realizar a atividade dos “post-its”. Para terminar, fizeram
a avaliação da sessão.
3ª Sessão. Esta sessão teve como objetivos compreender a metodologia de trabalho do
projeto “Agir para prevenir: Diz não à violência no namoro”; compreender o que é a “violência no
namoro”; conhecer as consequências e causas da violência no namoro indicadas pela turma;
conhecer as estratégias para prevenir a violência no namoro indicadas pela turma; conhecer os
recursos onde recorrer quando há violência no namoro indicados pela turma; aprender a
planificar a investigação a realizar pela turma e grupos para adquirir o conhecimento orientado
para agir na prevenção da violência no namoro (consequências e causas da violência no namoro
e estratégias de mudança); aprender a regular a sua autoaprendizagem e, por último,
desenvolver competências de seleção das fontes de investigação. Na turma que não foi possível
na sessão anterior realizar a atividade “Chuva de ideias em post-it” foi realizada nesta sessão.
Em primeiro lugar, foi apresentado aos/às alunos/as em powerpoint uma breve definição do que
é a violência no namoro e os tipos de violência no namoro que existem. Seguidamente, foram
apresentadas em powerpoint as respostas à Tarefa nº 2 realizadas na sessão anterior, onde se
demonstrou o que é a violência no namoro e os tipos de violência identificados pela turma,
dando-lhes a conhecer os tipos de violência no namoro que existem e em que tipos de violência
se encaixaram as respostas deles/as. Após este diálogo, foi entregue e lido em conjunto o
folheto nº 2 – O que é a violência no namoro. Em segundo lugar, foi mencionado novamente o
44
folheto nº 1 para explicar o que iríamos fazer a seguir. De seguida, foi colocado no quadro da
sala de aula as questões de investigação para os/as alunos/as escolherem em grupo o que
investigar (Questão 1 - Quais são as consequências para a vítima da violência no namoro?;
Questão 2 - Porque se mantém uma relação de namoro violenta? Questão nº 3 - A quem recorrer
quando há violência no namoro? Questão 4 – Quais são as causas da violência no namoro?;
Questão 5 – Como se pode prevenir a violência no namoro? Após a escolha foi entregue a Tarefa
nº 3 – Planificação da investigação do grupo juntamente com um envelope com o material
seguinte: a) folhetos: nº 3 – Consequências para as vítimas da violência no namoro; nº 4 –
Porque se mantém uma relação de namoro violenta?; nº 5 – A quem recorrer quando há
violência no namoro; nº 6 – Quais são as causas da violência no namoro?; nº 7 – Como se pode
prevenir a violência no namoro?; b) notícias de jornal sobre a violência no namoro; e c) estudos
de casos para prevenir a violência no namoro. Para terminar, em três turmas também foi lida
uma notícia, por falta de tempo em uma turma, a notícia foi lida numa outra sessão. No final,
preencheram o diário da sessão.
4ª e 5ª Sessão. Estas sessões tiveram como objetivos desenvolver as competências de
investigação dos/as alunos/as; (re)construir conhecimento orientado para a ação na prevenção
da violência no namoro; aprender a trabalhar colaborativamente em grupo e aprender a resumir
os dados de investigação para divulgar o que aprenderam. Na quarta sessão, foi entregue
aos/às alunos/as um marcador de pesquisa que continha sites relacionados com o tema da
“Violência no namoro”. De seguida, preencheram a tarefa nº3 e os/as alunos/as começaram a
fazer a investigação em grupo e elaboração do material para posteriormente apresentarem a
investigação à turma ou a outras turmas. Nestas sessões alguns grupos ficavam na sala de aula
a pesquisar informação no computador e outros iam para a biblioteca fazer a pesquisa acerca do
seu tema. No final, fizeram a avaliação da sessão.
6ª e 7ª Sessão. Os objetivos desta sessão foram: desenvolver competências de
comunicação verbal e não verbal e (re)construir o conhecimento orientado para a ação na
prevenção da violência no namoro. Nestas sessões deu-se início às apresentações dos trabalhos
de grupo dos/as alunos/as, sendo que numa turma não houve a sexta sessão, tendo sido
realizada na sétima sessão. Alguns grupos nomearam um porta-voz, em outros grupos
apresentaram vários elementos do grupo. Os trabalhos foram apresentados em formato de
cartolina, vídeos, powerpoints e em powtoon. Numa turma apresentei um dos temas que não
foram trabalhados. Em três turmas foi iniciada a primeira atividade da sessão seguinte baseada
45
no desenvolvimento de visões dos/as alunos/as e apresentei um powerpoint com a explicação
da planificação da ação. Estas três turmas iniciaram a decisão sobre as ações que queriam fazer
ou sobre o público-alvo. No final, preencheram o diário da sessão.
8ª Sessão. Esta sessão teve como objetivos: desenvolver a criatividade; desenvolver
competências de planificação de ações para resolver problemas; desenvolver competências de
planificação da avaliação de ações. Na maioria das turmas já tinham iniciado na sessão anterior
a partilha em turma sobre o que gostariam que acontecesse no futuro no namoro entre
adolescentes. Nesta sessão uma turma apresentou as suas visões para o futuro no namoro entre
adolescentes. Também foi apresentado aos/às alunos/as um powerpoint com a explicação da
planificação da ação. Seguidamente, nesta sessão, também se deu continuidade à escolha do
público-alvo. Iniciou-se a planificação da ação e a planificação da avaliação da ação. Além disso,
em algumas turmas explicou-se algumas barreiras no que diz respeito à apresentação da ação,
tais como, não poderem elaborar material novo para apresentar devido à falta de tempo e, não
poderem apresentar a ação à turma escolhida por incompatibilidade de horários. Numa turma
foi lida a notícia que não foi lida em outra sessão. Em duas turmas foram apresentados os
temas que não foram trabalhos e entrega de material sobre o mesmo. Também nesta sessão foi
entregue o material do tema em falta apresentado na sessão anterior a uma turma. Numa turma
foi possível apresentar as visões idealizadas na sessão anterior questionando-os/as se que
queriam acrescentar mais alguma visão. A planificação da ação poderá ser a discussão em
turma sobre o que querem fazer a seguir para contribuir para eliminar o problema da violência
no namoro entre os/as adolescentes e como podem avaliar se essa ação resultou nas
mudanças desejadas; a/s ação/ões a realizar pelos/as alunos/as para a sua própria turma,
para outra/s turma/s ou para a escola inteira, deverão ser sugeridas pelos/as alunos/as e
professor/a, mas têm que ser obrigatoriamente selecionadas pelos/as alunos/as sozinhos/as
ou em conjunto com o/a professor/a. Para terminar, fizeram a avaliação da sessão.
9ª e 10ª Sessão. Tiveram como objetivos desenvolver a capacidade de implementação
de ações para eliminar as causas da violência no namoro; desenvolver competências de
comunicação verbal e não verbal; aumentar a autoconfiança na sua capacidade de resolução de
problemas e desenvolver as competências de avaliação de ações. Em algumas turmas
continuaram a sessão anterior e prepararam a ação a apresentar ao seu público-alvo. Nesta
sessão foram novamente refletidas as barreiras sobre a apresentação da ação com os/as
alunos/as. Em duas turmas foi possível apresentar as visões idealizadas nas sessões anteriores
46
questionando-os/as se que queriam acrescentar mais alguma visão. Entretanto li-lhes o contrato
para que todos/as se comprometessem a segui-lo para não haver violência no namoro. Na 10ª
sessão as turmas apresentaram a sua ação. Os/as alunos/as optaram por fazer a educação dos
pares e, no fim da ação, passaram pela turma o contrato para que eles/as e a turma a quem
foram apresentar se comprometessem a seguir o que lá foi escrito e uma ficha para avaliar a
ação. Por fim, fez-se a avaliação do projeto educativo.
3.4. Seleção e caraterização dos/as participantes
Caraterização da instituição. A escola EB 2 e 3 em que foi realizada esta investigação é
uma escola pública do Concelho de Braga que pertence a um agrupamento de escolas
constituído por sete escolas. Segundo os dados do ano letivo 2013/2014, o agrupamento tem
1957 alunos/as, sendo, “uma unidade organizacional que integra uma escola com 2.º e 3.º
ciclos, um estabelecimento com pré-escolar e cinco escolas com 1.º ciclo, das quais três
possuem também educação pré-escolar, todas situadas na zona urbana de Braga.”2
A área de influência do presente agrupamento abrange diferentes bairros sociais,
diversas culturas e etnias que caraterizam a heterogeneidade dos/as alunos/as que o
frequentam. Estes bairros são caraterizados por diversos problemas, tais como:
toxicodependência, alcoolismo, desemprego, baixa escolarização, entre outros, o que contribui
para que a população estudantil seja diversificada. De acordo com o projeto educativo e com a
observação realizada no recreio, verificou-se que esta instituição é multicultural.
A escola EB 2 e 3 do agrupamento onde se realizou esta investigação tem 1019 (ou 965
sem contar com o vocacional e PIEF, até ao 9º ano normal) alunos/as, distribuídos por turmas
do 5º ao 9º anos de escolaridade do ensino básico. Embora atualmente esteja em reconstrução,
a escola tem ocupado um edifício antigo, com três pisos. A escola possui, para além de salas,
dois ginásios, dois balneários femininos, uma videoteca/mediateca, uma ludoteca, uma
biblioteca e um centro de informática. No exterior da escola existem dois campos para a prática
da disciplina de Educação Física. A instituição disponibiliza ainda uma papelaria, secretaria,
reprografia, bar-bufete e refeitório.
Esta escola oferece os seguintes recursos à comunidade escolar: biblioteca/centros de
recursos; Rádio FS/Mediateca, Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família (GAAF), Gabinete de
2 Projeto Educativo da Escola
47
Apoio à Promoção do Ambiente Escolar (GAPAE), Gabinete de Informação e Apoio ao Aluno
(GIAA) e Plena Ocupação de Alunos no Período Escolar (PPOA).
O Gabinete de Informação e Apoio ao Aluno (GIAA) é o gabinete onde se inseriu este
projeto de investigação. O GIAA é constituído por uma equipa multidisciplinar de Promoção e
Educação para a Saúde que organizou o gabinete de forma a permitir que os/as alunos/as
possam refletir sobre: comportamentos de risco; a adolescência; a contraceção; infeções
sexualmente transmissíveis; a sexualidade; afetos; namoro; hábitos de vida saudáveis;
alimentação saudável, entre outros temas relacionados com a Educação para a Saúde.
Entre os vários temas trabalhados no GIAA, o tema escolhido para esta investigação,
como já referido, foi o namoro. As atividades planificadas no âmbito do namoro, organizadas no
projeto educativo “Agir para Prevenir: Diz Não à Violência no Namoro!”, inserido na temática
“Educação Sexual” que foi abordada no 2º período deste ano letivo, foram realizadas nas
sessões de “Saúde, Ambiente e Empreendedorismo (SAE)” disponibilizadas pela escola.
Esta escola tem sido muito dinâmica e um exemplo de boas práticas dentro da Rede
Europeia de Escolas para a Saúde na Europa (Schools for Health in Europe – SHE),
anteriormente designada como Rede Europeia de Escolas Promotoras de Saúde (RNEPS), criada
pelo Gabinete Regional para a Europa, da Organização Mundial de Saúde, a que Portugal aderiu
em 1995.
Caracterização dos/as participantes. Foi selecionada a faixa etária do 9º ano de
escolaridade por ser uma idade de risco para a iniciação de comportamentos de violência no
namoro, bem como por ser uma idade em que os/as alunos/as, têm uma maior capacidade em
desenvolver e envolver-se em projetos que envolvam os/as amigos/as, família e comunidade.
Os critérios utilizados na seleção dos/as participantes decorreram de conversas
informais com professoras responsáveis da escola e com as professoras que lecionavam essas
turmas. Em primeiro lugar, foram recolhidos todos os horários das turmas do 9º ano de
escolaridade e juntamente com a professora informante-chave seleccionou-se quatro turmas em
função da compatibilidade de horários. Assim, conciliámos os horários de modo a que fossem
mais ou menos seguidos uns dos outros facilitando assim a implementação do projeto.
Três das quatro turmas onde foi realizado o projeto, eram lecionadas pela mesma
professora o que facilitava muito o desenvolvimento do mesmo. Em duas delas as duas
professoras que me acompanharam durante as sessões do projeto educativo eram as diretoras
48
de turma, o que possibilitou um conhecimento mais profundo de alguns comportamentos
dos/as alunos/as e uma melhor disponibilização dos/as alunos/as em termos de horários, por
exemplo, quando os grupos tinham de participar na discussão de grupo focal, elas dispensavam-
nos/as nas suas aulas para poderem participar na discussão em grupo.
As turmas são mistas com um total de 91 alunos/as e as atividades foram
desenvolvidas com a colaboração da professora da turma. Estes alunos/as tinham entre os 13 e
17 anos, sendo que a maioria tem 14 anos de idade e em média existem no total 53 raparigas
(58.2%) e 38 rapazes (41.8%) (Tabela 1).
Tabela 1
Caraterização dos alunos e alunas que participaram no estudo (N=91)
Turmas TOTAL
A (n=25) B (n=19) C (n=21) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Idade 13 anos 3 15.8 2 9.5 7 26.9 12 13.2 14 anos 20 80 13 68.4 12 57.1 16 61.5 61 67 15 anos 4 16 3 15.8 2 9.5 2 7.7 11 12.1 16 anos 1 4 4 19.1 1 3.9 6 6.6 >17 anos 1 4.8 1 1.1
Sexo Masculino 10 40 7 36.8 8 38.1 13 50 38 41.8 Feminino 15 60 12 63.2 13 61.9 13 50 53 58.2 Número do agregado familiar
2 2 8 1 3.9 3 3.3 3 7 28 4 21.1 5 23.8 9 34.6 25 27.5 4 9 36 14 73.7 10 47.6 8 30.8 41 45.1 5 3 12 1 5.3 6 28.6 4 15.4 14 15.4 6 2 8 1 3.9 3 3.3 No colégio de acolhimento 2 8 2 7.7 4 4.4 Não refere 1 3.9 1 1.1
Grau de escolaridade do pai ou padrasto
3º ano de escolaridade 2 8 2 2.2 4º ano de escolaridade 3 12 1 5.3 3 14.3 7 26.9 14 15.4 6º ano de escolaridade 5 20 2 10.5 4 19 2 7.7 13 14.3 9º ano de escolaridade 7 28 3 15.8 1 4.8 7 26.9 18 19.8 12º ano de escolaridade 1 4 4 21.1 2 9.5 4 15.4 11 12.1 Bacharelato 1 5.3 1 4.8 2 2.2 Licenciatura 2 10.5 1 4.8 3 3.3 Mestrado 1 5.3 1 1.1 Não é referido 7 28 4 21.1 9 42.9 5 19.2 25 27.5 Falecido 1 5.3 1 3.9 2 2.2
Grau de escolaridade da mãe 4º ano de escolaridade 8 32 2 10.5 3 14.3 6 23.1 19 20.9 6º ano de escolaridade 4 16 1 5.3 5 23.8 2 7.7 12 13.2 9º ano de escolaridade 7 28 3 15.8 3 14.3 7 26.9 20 22 12º ano de escolaridade 3 12 6 31.6 4 19 6 23.1 19 20.9 Licenciatura 1 4 6 31.6 3 14.3 10 11 Doutoramento 1 5.3 1 1.1 Não é referido 2 8 3 14.3 5 19.2 10 11
49
Quanto ao número de elementos no agregado familiar, em quase metade da amostra o
seu agregado familiar era constituído por quatro elementos (45.1%), 27.5% era constituído por
três elementos, havendo também agregados familiares constituídos por dois elementos (3.3%),
cinco elementos (15.4%) e seis elementos (3.3%). Outros/as alunos/as estavam num lar ou
família de acolhimento (4.4%) e 1.1% não referiu o número de elementos do agregado familiar.
Quanto ao grau de escolaridade dos pais/mães dos/as alunos/as verifica-se que a
escolaridade dos pais/mães é mais predominante entre o 4º ano e o 12º ano de escolaridade,
havendo também pais/mães que frequentaram o ensino superior, sendo que as mães têm
habilitações académicas superiores aos pais (11% têm Licenciatura).
3.5. Seleção da técnica e instrumentos de recolha de dados
Esta investigação é uma investigação qualitativa, onde se pretende recolher dados através
dos fenómenos que ocorrem, da história individual e do contexto de cada sujeito, no qual se vai
conhecer a perspetiva dos sujeitos, os seus conhecimentos, as suas crenças, valores e a forma
como se relacionam e comunicam (Almeida & Freire, 2007), por essa razão a investigação
qualitativa foi considerada como a mais adequada para este projeto de intervenção e
investigação.
Observação participante. A observação requer atenção, sendo a atenção um dos sentidos
mais frequentemente utilizados na observação. Na observação como investigadora colhi as
informações importantes a partir de uma larga série de informações possíveis. A minha
observação foi um processo guiado para um objetivo com o propósito de observar um fenómeno
no maior número de aspetos possíveis, neste caso o comportamento e atitudes dos/as
alunos/as ao longo do projeto educativo (De Ketele & Roegiers, 1991). Neste sentido, como
investigadora pude compreender o mundo social do interior do sujeito, pois partilhei a condição
humana dos indivíduos que observei (Lessard-Hébert, Goyette & Boutin, 2008) e fui capaz de
observar os acontecimentos como ocorreram ou funcionaram (Flick, 2005).
Na observação participante, o investigador tem de tentar envolver-se, tornando-se um
participante e ganhando o acesso aos indivíduos e ao terreno em que vai observar, tentando
centrar a observação nos aspetos mais concretos e fundamentais para a investigação (Flick,
2005). Uma das limitações da observação é que não é possível que o investigador capte e
registe todos os momentos da observação, pois, tal como refere Quivy e Campenhoudt (2008)
“(…) a memória é selectiva e eliminaria uma grande variedade de comportamentos (…). Como
50
nem sempre é possível, nem desejável, tomar notas no próprio momento, a única solução
consiste em transcrever os comportamentos observados imediatamente após a observação” (p.
199).
Nesta investigação também foi realizada observação não participante, quando foi feito o
diagnóstico de necessidades nos recreios.
Diário de aula reflexivos. Nesta investigação foram utilizados os diários de aula com o
objetivo de refletir sobre o processo de ensino e melhorar continuamente as minhas práticas.
Como referem Alarcão e Tavares (2003), “Enquanto adultos, as situações por nós vividas
constituem-se normalmente como pontos de partida para a reflexão” (p. 104). Os diários
seguiram a estrutura proposta por Smyth (1989, cit. por Alarcão & Tavares, 2003) que levam a
descrição a distintos níveis de reflexão, são elas a descrição das práticas e dos sentimentos; a
interpretação (das práticas ou dos sentimentos envolvidos); o confronto (com outras perspetivas
e opções) e a reconstrução (mudança).
Assim, nos diários de aula pretende-se investigar aquilo que o observador nele escreve
sobre a observação e a perspetiva que ele tem sobre o que vê, portanto, o facto de escrever o
quotidiano permite que se aprenda através daquilo que se escreve sobre as práticas do dia-à-dia
levando à reflexão, sendo a reflexão “ (…) condição inerente e necessária à redacção do diário”
(Zabalza, 1994, p. 95).
Por fim, o diário como um documento pessoal, onde a sua história pode ser feita num
período de atividades continuadas, possibilita observar como é que os acontecimentos vão
progredindo, ou através da descrição em cada dia sobre o que se observa (Zabalza, 1994).
A avaliação de cada sessão realizada com os/as alunos/as das quatro turmas do 9º ano
onde foi implementado o projeto educativo “Agir para prevenir: diz não à violência no namoro”,
também foi feita através de um diário de aula elaborado pelo grupo. Nestas sessões, foi entregue
um “Diário das sessões” a cada grupo, onde se pretendeu que os/as alunos/as do grupo
respondessem oralmente às três questões seguintes que avaliam a sessão que foi realizada: 1)
O que gostaram mais na sessão? Porquê? 2) O que gostaram menos na sessão? Porquê? 3) O
que gostariam de mudar na sessão para gostarem mais dela?
Em seguida, pediu-se aos/às alunos/as para escreverem no diário no final de cada aula
de SAE as respostas dadas pelo grupo a essas questões, o levarem para casa e o trazerem em
todas as aulas de SAE. A grande maioria foi responsável e levava e trazia os diários das sessões,
um grupo ou dois pediu para que eu os guardasse. Optou-se por esta metodologia de escrita do
51
diário para se promover a interação entre os/as alunos/as do grupo e a responsabilização pela
organização de mais uma tarefa colaborativa.
Entrevista de grupo focal. Morgan (1997) definiu os grupos focais como uma técnica de
pesquisa através da interação entre o grupo sobre um determinado tema proposto pelo
investigador permitindo observar a interação dos participantes sobre esse tema, demonstrando
as diversas e idênticas opiniões e experiências dos/as participantes permitindo que os/as
participantes partilhem e comparem as suas ideias e experiências com os/as outros/as
participantes. Segundo o mesmo autor os/as participantes devem-se sentir responsáveis pela
discussão e o local onde as entrevistas são realizadas devem ser locais onde os/as participantes
e moderador se sintam confortáveis. Segundo Krueger (1994) esta técnica permite que o
investigador descubra o que pensam os/as jovens acerca de determinadas questões. Segundo o
mesmo autor, os/as participantes nos grupos focais podem influenciar os/as outros/as podendo
ser influenciados também, influenciando assim a discussão também pela forma como se
relacionam entre eles. Assim, os/as jovens são influenciados/as pelo ambiente e pela pressão
que os pares exercem sobre eles podendo originar várias opiniões (Krueger, 1994).
As entrevistas em grupo podem conduzir o entrevistador para o mundo dos/as
participantes, ao refletir sobre um tema os sujeitos podem incentivar os outros e adquirir novas
ideias (Bogdan & Biklen, 1994).
A entrevista de grupo focal quando comparada com outros métodos, facilitam mais a
participação do público no desenvolvimento da investigação porque permite que haja um
ambiente cativante à participação do público, uma vez que são reuniões sociais, de tempo
limitado e não exigem capacidades técnicas dos participantes (Bloor, Frankland, Thomas, &
Robson, 2001). Assim, segundo Bloor et al. (2001):
“(…) os grupos focais são por vezes ambientes ideais para a pesquisa de temas sensíveis. Os
participantes podem sentir-se mais relaxados e menos inibidos na copresença de amigos e colegas. E eles
podem sentir-se mais capacitados e apoiados na copresença daqueles com situação semelhante a si
mesmos”. (p.16)
Os grupos focais são grupos socialmente dinâmicos e o seu tamanho é idealmente entre
seis a oito elementos por grupo de discussão, embora a decisão do tamanho dos elementos por
grupo seja decidido no contexto em que é aplicado (Bloor et al., 2001).
Também é importante realçar que os participantes devem sentir-se confortáveis com o
moderador e que este é a pessoa adequada para colocar as questões e as suas respostas
52
podem ser abertamente discutidas. O moderador, por outro lado, deve estar concentrado a ouvir
atentamente o grupo dando-lhes a máxima atenção (Krueger, 1998) e estimular a participação
dos/as entrevistados/as mais reservados para participarem mais e expressarem os seus pontos
de vista, de forma a conseguir ter as respostas de todos os elementos do grupo (Flick, 2005).
Nestas entrevistas, geralmente utiliza-se uma entrevista semiestruturada, onde se pretende
que o/a entrevistado/a fale abertamente (Quivy & Campenhoudt, 2008), conhecendo assim o
seu ponto de vista em relação ao problema em questão. O que se pretende, é que o indivíduo
responda livremente às questões da entrevista (Flick, 2005).
3.6. Elaboração e validação dos instrumentos de investigação
Neste estudo, construiu-se um protocolo de entrevista com questões orientadoras para
se atingir os objetivos inicialmente formulados. O quadro 3, descreve as dimensões investigadas
e os objetivos e questões que lhe correspondem.
Quadro 3
Matriz das dimensões, objetivos e questões da entrevista
Dimensões Objetivos Número questão
I - Tipos de violência no namoro e suas consequências
Caraterizar a conceção sobre o namoro 1
Caraterizar as conceções sobre as diferenças entre o namoro homo e heterossexual
10, 10.1, 10.2
Caraterizar a conceção sobre o que é a violência no namoro 2
Caraterizar os tipos de violência no namoro que conhecem 2.1, 3, 4, 5, 6, 7, 7.1, 8, 8.1, 9
Descrever as consequências da violência no namoro para a vítima
3.1, 4.1, 5.1, 6.1, 8.2, 9.1
Caraterizar a perceção sobre as diferenças entre a violência no namoro entre homossexuais e heterossexuais
10.3
II – Causas da violência no namoro
Descrever as causas da violência física no namoro 11
Descrever as causas da violência emocional no namoro 11.1
Descrever as causas da violência sexual no namoro 12, 13
Comparar as causas associadas à violência no namoro heterossexual e homossexual
14
III – Importância do problema e formas de resolução
Descrever a perceção sobre a gravidade de casos de violência no namoro na escola e na comunidade
15
Caraterizar as estratégias a usar para resolver um problema de violência no namoro já existente nos/as amigos/as ou consigo próprio/a
16, 17, 18, 19, 20
Caraterizar as estratégias a usar na escola, na comunidade e em si próprios/as para eliminar as causas da violência no namoro identificadas
21,22,23
IV – Opinião sobre o projeto
Descrever a opinião dos/as alunos/as acerca do projeto que foi implementado e o que gostariam de mudar
24, 25, 26, 27
Feedback Identificar aspetos da violência no namoro que não emergiram na entrevista e consideram importantes abordar
28
53
O primeiro protocolo da entrevista foi validado por duas especialistas em educação sexual,
que sugeriram a clarificação de alguns objetivos da entrevista face aos objetivos do projeto de
intervenção/investigação, a introdução de algumas questões e a reformulação de outras. O
protocolo final encontra-se no apêndice 4.
3.7. Recolha de dados
Primeiramente, é de referir que a recolha de dados foi preferencialmente em grupo e
feita pela investigadora, tendo a primeira fase sido feita no recreio da escola. A segunda fase
ocorreu durante o desenvolvimento do projeto educativo e consistiu na escrita de diários de aula
pela investigadora e pelos/as alunos/as em grupo, bem como pela análise documental de todo
o material produzido pelos/as alunos/as, nomeadamente na chuva de ideias em papel e em
“post-it”, numa ficha de planificação da investigação pelos/as alunos/as em grupo e posterior
elaboração dos trabalhos que também me foram entregues. A terceira fase de recolha de dados
foi feita numa sala, através de uma discussão de grupo focal orientada pelos tópicos sugeridos
por uma entrevista de grupo focal.
Seguidamente, descrevo sucintamente como foi feita a recolha de dados e os obstáculos
que foram encontrados. Na primeira sessão, após a apresentação, foi pedido às professoras de
SAE/Diretora de Turma para aceder à ficha de registo de dados biográficos dos/as alunos/as
para fazer a sua caraterização pessoal. Na segunda sessão, foram recolhidos os dados das
chuvas de ideias em papel e em “post-it” para ficar a conhecer as conceções iniciais dos/as
alunos/as sobre o tema. Nas sessões seguintes foi recolhida a ficha de planificação da
investigação e todo o material elaborado pelos/as alunos/as. Em todas as sessões os/as
alunos/as elaboraram o diário da sessão. Por fim, a última recolha de dados foi feita através da
discussão de grupo focal com alunos/as em grupo de 4 a 7 elementos (n=16).
Houve algumas limitações. Em primeiro lugar, foi uma limitação o constante barulho e
desinteresse por parte de alguns/mas alunos/as que interrompia o decorrer das sessões e
consequentemente atrasava o prosseguimento das atividades. Para demonstrar este
desinteresse, havia alunos que desde que entravam na aula mantinham a mochila às costas até
ao final da mesma.
Em segundo lugar, quando foram planificadas as ações surgiu outra limitação. Houve
grupos que escolheram determinadas turmas e público-alvo onde não puderam ser realizadas as
ações devido à incompatibilidade nos horários, pois tinham de coincidir com as aulas de SAE
54
dos/as participantes. Então, foram escolhidas outras turmas e informou-se os/as alunos/as
acerca dessas limitações e, no geral, todos compreenderam esta situação. Também foi explicado
aos/às alunos/as que não podiam elaborar material novo para apresentar a ação, por falta de
tempo.
Em terceiro lugar, quando foram realizadas as discussões de grupo focal surgiu uma nova
limitação. Estava previsto para cada grupo 45 minutos, correspondente à duração das aulas de
SAE. Pelo facto de termos de nos deslocar para outra sala, a discussão do grupo focal começava
com um atraso de cerca de dez minutos, o que dificultou em grande parte a recolha de dados
devido ao tempo limite que havia para realizá-las. Em alguns casos não foi possível explorar as
respostas dos/as alunos/as.
Um outro obstáculo na realização das entrevistas de grupo focal foi o facto de estarem a
ser realizadas numa época um pouco conturbada para os/as alunos/as (Abril e Maio), marcada
pela realização de testes e preparação para os exames e, também, pelo apoio à orientação
escolar da psicóloga que começara em Maio nas aulas de SAE. Portanto, devido a estes
obstáculos, tive de conciliar a disponibilidade das professoras e dos/as alunos/as em outras
aulas que me foram dispensadas pelas professoras que acompanharam o projeto e por
outros/as professores/as.
3.8. Estratégias utilizadas para os/as motivar
Ao longo do projeto educativo verifiquei que existia em alguns grupos alguns/mas
alunos/as que estavam um pouco desinteressados/as e outros/as alunos/as que estavam
motivados/as e com bastante interesse em participar e que se sentiam chateados/as pelo
constante barulho que se sentia na sala, pois nem eu conseguia comunicar, nem os/as
alunos/as interessados/as conseguiam ouvir e participar.
De modo a contornar este obstáculo, na primeira e terceira sessão quando entreguei o
primeiro e segundo panfleto onde explicava a metodologia de investigação do projeto e o que é a
violência no namoro, resolvi pedir a um/a aluno/a que fosse lendo e trocavam ideias após eu ter
explicado cada tópico. Esta estratégia funcionou bem melhor do que se fosse só eu a ler e a
explicar os panfletos pois assim, cativou o interesse de todos/as os/as alunos/as e além disso
apelou à sua participação.
Na segunda sessão, foram apresentados vídeos demonstrando a problemática da
violência no namoro aos/às alunos/as, pois é uma boa forma de criar impacto chamando a sua
55
atenção. Desde logo os/as alunos/as demonstraram estar motivados/as e interessados/as.
Seguidamente, depois de preencherem a chuva de ideias em papel, pedi a cada porta-voz do
grupo que ditasse as palavras que escreveram e reescrevi-as no quadro o que permitiu que
todos/as estivessem envolvidos/as e participassem. Na terceira sessão, quando apresentei em
powerpoint as respostas dos/as alunos/as da sessão anterior, eles/as ficaram motivados/as ao
demonstrar-lhes aquilo que disseram e onde se encaixaram as suas respostas. Esta estratégia
teve resultados positivos cativando o interesse dos/as alunos/as e, além disso, demonstrou-se-
lhes que eles/as têm alguma ideia sobre o que é a violência no namoro e, por outro lado, serviu
para mostrar outras formas de violência que eles/as desconheciam.
Numa outra sessão, resolvi ler uma notícia atual sobre a problemática da violência no
namoro, em algumas turmas, por falta de tempo tive de a ler eu. Em outras turmas pedi aos/às
alunos/as para serem eles/as a lerem, tal como, aconteceu com os panfletos que referi
anteriormente.
Uma outra estratégia foi a formação de grupos, onde dei a oportunidade aos/às
alunos/as de escolherem eles/as próprios/as com quem gostariam de trabalhar, não impondo
grupos de trabalho que posteriormente não funcionavam. No entanto, houve um grupo que
inicialmente se juntou para formar um grupo e como não deu resultado disse-lhes para se
separarem e realizarem os trabalhos sozinhos. Foram então divididos em dois grupos e, mesmo
assim, num desses grupos os elementos não gostavam de trabalhar em grupo nem se davam
bem entre eles.
Por fim, a apresentação dos trabalhos à turma foi escolhida pelos próprios grupos e
quem a ia apresentar também, dando autonomia ao grupo para fazer as suas próprias escolhas.
Em suma, toda a planificação do projeto foi pensada para cativar os/as alunos/as.
3.9. Cuidados éticos ou sua salvaguarda
Antes de se iniciar o projeto, como já foi referido, foi pedida autorização à Direção da
escola. Ao longo de toda a investigação os/as alunos/as foram informados/as que o material
realizado por eles/as e a entrevista que foi transformada em material didático para discussão
em grupo, seriam anónimos, por isso nunca seriam identificados/as. Quanto aos/às alunos/as
que fizeram vídeos foi-lhes informado que era necessária uma autorização dos pais para divulgar
os seus vídeos apenas para fins académicos nesta dissertação. Além disso, pediu-se aos/às
56
alunos/as para que retirassem os seus nomes dos vídeos ou em material de modo a não os/as
identificar.
3.10. Tratamento e plano de análise de dados
Um investigador quando regressa de qualquer tipo de investigação retira notas sobre o
que aconteceu, dando uma descrição do que observa, tais como as pessoas, dos objetos, locais,
ocorrências, atividades e diálogos (Bogdan & Biklen, 1994). Além destas notas, o investigador
“(…) registará ideias, estratégias, reflexões e palpites, bem como os padrões que emergem”
(Bogdan & Biklen, 1994, p.150). Ao organizar os dados, há dados que se repetem, e como tal
tem de criar-se um sistema de categorização, criando categorias de codificação, classificando os
dados recolhidos em categorias para posteriormente os organizar e compreender (Bogdan &
Biklen, 1994). Assim, os resultados descritivos obtidos foram analisados recorrendo à análise de
conteúdo.
A discussão dos/as alunos/as em grupo dos tópicos da entrevista semiestruturada,
foram transcritas na íntegra, e, analisados os seus pontos em comum, tal como refere Bardin
(1995), “Clarificar elementos em categorias, impõe a investigação do que cada um deles tem
em comum com outros. O que vai permitir o seu agrupamento, é a parte comum existente entre
eles” (p.118), assim, através da análise de conteúdo criou-se categorias e subcategorias de
resposta onde se verificou os pontos comuns entre eles.
As categorias e subcategorias identificadas foram resumidas comparativamente por
turma, indicando-se a frequência e percentagem com que emergiram. A análise foi feita por
aluno/a, não por grupo, como defendem alguns autores que trabalham nesta área (Vilaça,
2006). Quando os/as alunos/as foram mudando ou aprofundando a sua opinião durante a
discussão de grupo focal, foi analisada a ideia final do/a aluno/a. Para clarificar essas
categorias, foram selecionados alguns extratos da discussão.
Os documentos produzidos pelos/as alunos/as, bem como os diários de bordo que
elaboraram, também foram submetidos a uma análise de conteúdo seguindo os mesmos
pressupostos. Da mesma maneira, as notas de campo resultantes da observação dos recreios
pela investigadora, bem como a análise dos seus diários de aula, também seguiram o mesmo
tipo de tratamento de dados.
57
CAPÍTULO IV
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1. Introdução
Neste capítulo faz-se a apresentação e discussão dos resultados desta investigação em
três secções. A segunda secção, diagnóstico de necessidades (4.2), refere a violência nos
recreios no recinto escolar (4.2.1) e as conceções iniciais sobre a violência no namoro (4.2.2). A
terceira secção, a evolução do conhecimento orientado para a ação na prevenção da violência no
namoro de alunos/as do 9º ano (4.3), inclui como evoluiu o conhecimento sobre o que é o
namoro e a violência no namoro (4.3.1), as consequências da violência no namoro (4.3.2), as
causas da violência no namoro (4.3.3), a gravidade da violência no namoro e estratégias para
eliminar o problema (4.3.4) e visões para o futuro sobre a violência no namoro (4.3.5). Por fim,
são apresentadas as ações desenvolvidas pelos/as alunos/as (4.4). Para terminar é referida a
avaliação do projeto pelos/as participantes (4.5), a nível de avaliação das sessões (4.5.1) e da
sua opinião sobre o projeto (4.5.2).
4.2. Diagnóstico de necessidades
4.2.1. Violência nos recreios no recinto escolar
No recreio da escola onde foi realizado o estágio foram observadas 38 situações de
violência no período de Novembro a Dezembro. A tabela 2 sintetiza os tipos de violência que
foram identificados.
Tabela 2 Tipos de violência entre adolescentes no recreio na escola (N=38)
Tipo de violência f f
Preferencialmente física Preferencialmente verbal Empurrões 9 Insultos 11 Bofetadas 3 Gozar 3 Pontapés 6 Inferiorizar 2
Chantagear 3 Pressionar 1
58
Num conjunto de 38 ocorrências, a violência foi preferencialmente física (n=18), e verbal
(n=20) e não foi observado qualquer tipo de violência sexual.
As situações de violência física observadas incluíram empurrões (n=9), bofetadas (n=3)
e pontapés (n=6). Observei, por exemplo, as seguintes situações:
Num grupo de rapazes no recreio, o João, Ricardo e Fernando começaram aos empurrões e xutos ao Luís
que não reagia. O Luís dizia “Parem! Parem com isso! (Diário de Bordo, dia 13 de Novembro)
A Joana e o Flávio estavam aos chutos. Chega a Catarina que os separa e diz-lhes: “Parem quietos! Parem
com isso!” Separou os amigos. (Diário de Bordo, dia 3 de Dezembro)
Quando estava a fazer observações no corredor, observei um conjunto de rapazes de
cada lado do corredor em fila. Sempre que algum miúdo passava davam-lhe uma bofetada no
pescoço, um “cachaço", como eles diziam. Então, passou um rapaz, o Fernando, e também
levou um “cachaço”. O Fernando enervado disse: “Pára! Pára quieto pá!” (Diário de Bordo, dia 4
de Dezembro)
Muitas vezes quando há violência física também há em conjunto insultos, tal como
aconteceu num outro grupo de três rapazes que observei:
O Miguel e o Luís estavam aos chutos. O Luís diz: “Pára quieto!” O Miguel responde-lhe: “Repete lá o que
disseste!” Diz o Luís: “O Miguel é uma mulher, e é!” Continuaram aos chutos. O Miguel fugiu e o Luís foi
atrás dele. (Diário de Bordo, dia 10 de Dezembro)
Num outro grupo, observei uma cena semelhante à anterior:
Três raparigas, a Joana, a Luísa e a Filipa estavam no recreio quando a Filipa dá um estalo com força à
Joana. A Joana aos berros diz: “Porca, badalhoca!”. A Filipa responde: “Ora repete lá outra vez?”. A Joana
foge e a Filipa vai a correr atrás dela. (Diário de Bordo, dia 10 de Dezembro)
Num casal de namorados observei uma situação em que a namorada não queria ser
abraçada e o rapaz insistia em abraçar:
Um casal de namorados, o Ricardo e a Elsa estavam no recreio abraçados. O Ricardo abraçava-a e a Elsa
dizia “Pára! Deixa-me!” Ela saía da beira dele e ele voltava a aproximar-se e abraçava-a e ela voltava a
dizer “Estou farta! Deixa-me, a sério! Pára! Ricardo pára! Vais parar?” (Diário de Bordo, dia 2 de
Dezembro)
59
As situações de violência verbal observadas foram baseadas em insultos (n= 11), gozar
(n=3), inferiorizar (n=2), chantagear (n=3), e em pressionar (n=1) os colegas, tal como se pode
observar também nas situações abaixo:
Num grupo de rapazes, o Fábio insulta o Luís e diz-lhe: “Dá a bola oh camelo! (Diário de Bordo, dia 2 de
Dezembro)
Estou a observar um grupo de três rapazes: o Carlos, o Miguel, e o Alexandre. Outros dois rapazes, o
Nuno e o Fernando, passaram pelo grupo. O Nuno, ao passar, vira-se para o Alexandre e diz: “Estás a
olhar para onde corno?” Vira costas e vai se embora. (Diário de Bordo, dia 2 de Dezembro)
Também foram observados alguns tipos de violência verbal e psicológica, como descrevi
nos seguintes Diários de Bordo:
No recreio o João e o Rómulo ameaçavam-se mutuamente. O João diz: “Bater o quê? Parto-te a boca
toda!” O Rómulo responde: “Pára!”. (Diário de Bordo, dia 26 de Novembro)
O Rafael, Bruno, Carlos e Alexandre estavam a conversar num grupo. De repente, o Alexandre chama
mentiroso ao Carlos e pressiona-o sobre qualquer assunto. Chega a Catarina que diz: “Afastem-se!” E vira-
se para o Carlos: “Sai daí! Daqui a pouco estás a chorar!”. (Diário de Bordo, dia 13 de Novembro)
Nas trinta e oito cenas de violência no recreio observadas, o tipo de violência foi muito
semelhante aos exemplos descritos. Estes resultados mostram como é importante identificar
os/as mediadores/as de pares que surgem das interações na escola para que estes/as possam
ajudar na resolução de conflitos.
4.2.2. Conceções iniciais sobre a violência no namoro
O que é o namoro e a violência no namoro. No início do projeto pediu-se aos/às
alunos/as para escrevem numa folha de papel “Todas as palavras relacionadas com a violência
no namoro”. Os resultados que a seguir se apresentam resultam da análise desses trabalhos de
grupo (N=16) nas quatro turmas que participaram neste projeto. A análise de conteúdo feita a
essas palavras, fez emergir três categorias: tipos de violência no namoro; consequências da
violência no namoro e causas da violência no namoro. A tabela 3 mostra as conceções iniciais
dos/as alunos/as sobre os tipos de violência no namoro.
Observou-se que os/as alunos/as identificaram quatro tipos de violência no namoro
distintas: violência física (n=28), violência verbal (n=15), violência psicológica (n=29) e a
violência sexual (n=7).
60
Tabela 3
Conceções iniciais dos/as alunos/as sobre a violência no namoro
(N=16)
Na violência física identificaram principalmente a “porrada” (n=5), as agressões físicas
(n=5) e os estalos (n=4). Na violência verbal, identificaram principalmente as discussões (n= 5),
os insultos (n=5) e a agressão verbal (n=5). Na violência psicológica, a maior parte utilizou a
expressão “violência psicológica” (n=6) e ainda falaram da perseguição (n=3), chantagem (n=3)
e ameaças (n=3). Para terminar, na violência sexual referiram a violação (n=5) e o abuso sexual
(n=2). Como respostas ambíguas foram referidas a violência (n=5), a agressão (n=3), o abuso
(n=2), os riscos (n=2), o facebook (n=1) e a violência sexual (n=1).
Consequências da violência no namoro. A tabela 4, descreve as consequências da
violência no namoro que foram identificadas na chuva de ideias feita pelos/as alunos/as nos
grupos.
Tabela 4
Conceções iniciais dos grupos sobre as consequências da violência no namoro
(N=16)
Tipos de violência f Tipos de violência f Violência física 28 Violência psicológica 29
Porrada 5 Violência psicológica 6 Agressão física 5 Perseguição 3 Estalos 4 Ameaças 3 Socos 2 Chantagem 3 Facadas 2 Bullying 2 Pontapés 2 Invasão de privacidade 2 Outras 8 Tortura 2
Violência verbal 15 Discriminação 2 Discussões 5 Outras 6 Insultos 5 Violência sexual 7 Agressão verbal 5 Violação 5
Abuso sexual 2 Respostas ambíguas 14
Consequências da violência no namoro f Consequências da violência no namoro f
Físicas Psicológicas Ferimentos 1 Perdão 2 Suicídio 2 Perda 2 Morte 2 Frustração 1 Gravidez indesejada 3 Culpa 1
Psicológicas Sociais Depressões 3 Solidão 6 Insegurança 4 Pedir ajuda 2 Vergonha 2 Outras 1 Sofrimento 2 Respostas ambíguas 5 Medo 3
61
As principais consequências para a vítima da violência no namoro identificadas pelos
grupos de alunos/as a nível físico foram: a gravidez indesejada (n=3), o suicídio (n=2) e a morte
(n=2). A nível psicológico: a insegurança (n=4), as depressões (n=3), o medo (n=3), a vergonha
(n=2), o sofrimento (n=2), o perdão (n=2) e os sentimentos de perda (n=2). A nível social a
solidão (n=6) e os pedidos de ajuda (n=2).
A tabela 5 descreve as conceções iniciais dos/as alunos/as sobre as consequências da
violência no namoro que foram identificadas na chuva de ideias em “post-its” feita pelos/as
alunos/as individualmente.
Tabela 5 Conceções iniciais dos/as alunos/as individualmente sobre as consequências da violência no namoro
(N=169)
Consequências f Consequências f
Consequências para a vítima Psicológicas Físicas Sentir medo 10
Marcas físicas 25 Baixa autoestima 5 Facadas e baleamentos 1 Desejo de vingança 5 Suicídio 20 Sente ódio 4 Homicídio 8 Sentir-se discriminada/o 2 Morte 21 Sentir-se frágil/desconfortável 3 Hospitalização da vítima 4 Sociais Gravidez indesejada 5 Isolamento /solidão 9 Asfixia 1 Discussões 3
Psicológicas Querer controlar o/a namorado/a 2 Trauma Psicológico 6 Há mau estar na relação 2 Perturbações psicológicas 9 Terminar o namoro 19 Depressão 27 Bullying 2 Falta de confiança noutras pessoas e em si
próprios/as 7 Receio em desabafar com outras pessoas 1
Insegurança 13 Sexual Consumo de drogas 5 Violação 5 Vergonha 2 Consequência para o/a agressor/a Tristeza 29 Pode ser preso 7 Receio de namorar outra vez ou não conseguir
outro relacionamento 4 Ambíguas 12
Os resultados indicam que os/as alunos/as referiram as seguintes consequências para
a vítima a nível físico: marcas físicas (n=25); facadas e baleamentos (n=1); suicídio (n=20);
homicídio (n=8); morte (n=21); hospitalização da vítima (n=4); gravidez indesejada (n=5) e a
asfixia (n=1).
A nível psicológico identificaram: o trauma psicológico (n=6); perturbações psicológicas
(n=9); a depressão (n=27); falta de confiança noutras pessoas e em si próprios/as (n=7); a
insegurança (n=13); vergonha (n=2); tristeza (n=29); sentir medo (n=10); baixa autoestima
(n=5); receio de namorar outra vez ou não conseguir outro relacionamento (n=4), entre outras.
62
A nível social as consequências identificadas pelos/as alunos/as da violência no namoro
foram: isolamento/solidão (n=9) e terminar o namoro (n=19), entre outras. Por fim, a nível
sexual identificaram a violação (n=5).
Causas da violência no namoro. A tabela 6 descreve as conceções iniciais dos/as
alunos/as sobre as causas no namoro em grupo.
Tabela 6
Conceções iniciais dos grupos sobre as causas da violência no namoro
(N=16)
As principais causas da violência no namoro identificadas na chuva de ideias em grupo
foram a nível psicológico os ciúmes (n=15), a desconfiança (n=9), as drogas (n=4), o álcool
(n=3), a mentira (n=7), a obsessão do agressor (n=4), a vingança (n=4) e a raiva (n=4). A nível
social a traição (n=7) e a falta de respeito (n=6). Tendo sido referido por um grupo a falta de
afeto (n=1), a frieza (n=1), o recusar a ter relações sexuais (n=1) e os desentendimentos (n=1).
Estes resultados mostram que os/as alunos/as antes de qualquer investigação sobre o
tema, já trouxeram para a sala de aula muitos dos conceitos que foram trabalhados mais tarde
no projeto educativo.
Da atividade “chuva de ideias em post-its” os resultados à questão “O que faz com que
as pessoas sejam violentas no namoro?” estão apresentadas na tabela 7.
A tabela 7 mostra as conceções iniciais dos/as alunos/as sobre as causas da violência
no namoro individualmente.
Os resultados indicam que os/as alunos/as referiram que as principais causas em geral
a nível psicológico são os ciúmes (n=76), seguido da desconfiança (n=35), insegurança (n=28),
o consumo de álcool (n=24) ou drogas (n=23) e a mentira (n=15).
Causas f Causas f
Psicológicas Psicológicas
Ciúmes 15 Raiva 4 Desconfiança 9 Egoísmo 2 Drogas 4 Incompreensão 2 Álcool 3 Sociais Mentira 7 Falta de respeito 6 Obsessão 4 Traição 7 Inveja 2 Outras 4 Vingança 4 Respostas ambíguas 9
63
Tabela 7 Conceções iniciais dos/as alunos/as individualmente sobre as causas da violência no namoro
(N=169)
Causas f Causas f
Psicológicas Psicológicas
Ciúme 76 Mágoas 1 Desconfiança 35 Má educação 3 Insegurança 28 Sente-se incompreendido 3 Consumo de drogas 23 Sente prazer em ser violento/a 2 Consumo de álcool 24 Ser independente 1 Mentira 15 Mudanças de humor 1 Baixa autoestima 1 Sente-se discriminado/a 1 Perturbações psicológicas 10 Invasão de privacidade 2 Inveja 6 Pouca atenção à relação 2 Raiva 1 Querer romper a relação 2 Vingança 5 Medo de perder a pessoa de quem gosta 4 Sociais Egoísmo 4 Sente-se traído 19 Chantagem 3 Insultos 12 O/a namorado/a não quer ter relações sexuais 4 Querer controlar o/a namorado/a 2 É violento/a pelo/a namorado/a sair à noite 2 Discussões 3 Sente-se culpada pelo que está a acontecer 1 Ser antissocial 1 Imaginar que aconteceu algo que não gostam 1 Más influências dos pares e família 4 Falta de comunicação entre os namorados 1 Problemas em casa 1 Passar mais tempo com os amigos do que com o
namorado/a 1 Ambíguas 23
A nível social as principais causas mencionadas foram a traição (n=19), os insultos
(n=12), as discussões (n=3), as más influências dos pares e da família (n=4) e o querer
controlar o/a namorado/a (n=2).
É importante assinalar que algumas das causas identificadas pelos/as alunos/as têm
um significado ambíguo.
4.3. Evolução do conhecimento orientado para a ação na prevenção da violência no
namoro de alunos/as do 9º ano de escolaridade
Nesta secção, apresenta-se a evolução do conhecimento orientado para a ação durante
a fase de investigação realizada pelos/as alunos/as sobre o que é o namoro, tipos de violência
no namoro, consequências e causas da violência no namoro e estratégias para eliminar as
causas dessa violência. Em cada um desses tipos de conhecimento é apresentado também o
conhecimento que os/as alunos/as evidenciaram no final do projeto na discussão de grupo
focal. O objetivo é mostrar a evolução desde as ideias iniciais até às finais, compreendendo
como foram reconstruídas durante o processo de aprendizagem.
64
4.3.1. O que é o namoro e a violência no namoro
O que é o namoro. Durante as suas investigações em grupo os/as alunos/as
referiram que um namoro saudável é quando existe confiança, respeito (TCG1; TBG4), conquista e
carinho (TBG2), partilha, igualdade, responsabilidade, diálogo/comunicação (TCG1), sendo que
nenhum dos namorados manda no outro e ambos mostram afetos e apoio mútuo (TBG4), ou seja,
namorar ou gostar da pessoa não é controlar (TBG4; TDG2). Namorar é andar de mão dada, contar
tudo um ao outro, gostar de sair juntos e partilhar todas as alegrias e tristezas (TBG3). Por fim, o
namoro não implica violência (TAG3).
No final do projeto, também começou por perguntar-se aos/às alunos/as o que era para
eles/as namorar (N= 86). A tabela 8 sintetiza os resultados obtidos.
Tabela 8
O que é o namoro (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Comportamentos no namoro Dar beijinho 5 21.7 3 15.8 8 9.3 Ter relações sexuais 2 8.7 3 11.5 5 5.8 Partilhar sentimentos 13 56.5 11 61.1 11 57.9 13 50 48 55.8 Desabafar sobre os problemas 4 17.4 5 26.3 9 10.5 Ajudar a pensar 4 21.1 4 4.7 Tratar bem 2 8.7 4 21.1 6 7 Ser fiel/lealdade 4 17.4 4 4.7 Ter respeito um pelo outro no namoro 12 52.2 4 21.1 8 30.8 24 27.9 Estar sempre disponível quando o/a outro/a
precisa 4 22.2 5 26.3 7 26.9 16 18.6
Partilhar o que lhes acontece no dia a dia 6 33.3 6 7 Andar juntos 1 5.3 3 11.5 4 4.7 Aproveitar o tempo/a vida 4 15.4 4 4.7
Sentimentos no namoro É gostar um do outro 10 43.5 8 44.4 5 26.3 17 65.4 40 46.5 É estar apaixonado 3 13 3 3.5 É ser feliz 10 43.5 2 10.5 7 26.9 19 22.1 É ter momentos de tristeza 4 15.4 4 4.7 É ter algumas desilusões 3 11.5 3 3.5 É confiar no/a namorado/a 14 60.9 7 38.9 9 47.4 8 30.8 38 44.2 É compreender o namorado/a 5 19.2 5 5.8 Companheirismo 3 15.8 3 11.5 6 7 É ter cumplicidade com o namorado/a 4 15.4 4 4.7 É querer estar juntos até ao fim da vida 1 3.8 1 1.2 Uma preparação para o casamento 3 16.7 3 3.5
Orientação sexual dos namorados Heterossexual 5 21.7 5 5.8 Homossexual 4 17.4 4 4.7 Bissexual 3 13 3 3.5
Não sei 1 5.3 1 1.2 Não responde 3 13 3 16.7 3 15.8 8 30.8 17 19.8 Resposta ambígua 10 43.5 17 94.4 5 26.3 10 38.5 42 48.8
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Na análise feita às respostas dos/as alunos/as (N=86) distinguem-se três tipos de
categorias que são: os comportamentos no namoro, os sentimentos no namoro e a orientação
sexual dos/as namorados/as.
Quanto aos comportamentos no namoro mais de metade dos/as alunos/as referiu que
o namoro é uma partilha de sentimentos (55.8%), e uma percentagem menor afirmou que é ter
respeito um pelo outro (27.9%), é estar sempre disponível quando o/a outro/a precisa (18.6%), e
poder desabafar sobre os problemas (10.5%). Quanto aos sentimentos no namoro quase metade
mencionou que namorar é gostar um do outro (46.5%), é ter confiança no/a namorado/a
(44.2%), tendo sido também referido que é ser feliz (22.1%). No que diz respeito à orientação
sexual dos/as namorados/as, apenas foi mencionada por uma turma referindo que a orientação
sexual pode ser heterossexual (5.8%), homossexual (4.7%) e bissexual (3.5%). A esta questão não
responderam cerca de 19.8% dos/as alunos/as, sendo que 48.8% as suas respostas tinham
significado ambíguo.
Para aprofundar esta resposta, perguntou-se aos/às alunos/as se já tinham ouvido falar
sobre diferentes orientações sexuais no namoro (Tabela 9).
Tabela 9 Já ouviram falar sobre diferentes orientações sexuais no namoro
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Sim 14 60.9 12 66.7 11 57.9 16 61.5 53 61.6 Não responde 9 39.1 6 33.3 8 42.1 10 38.5 33 38.4
Cerca de 60% dos/as alunos/as das quatro turmas, afirmou que já tinham ouvido falar
sobre isso. Posteriormente, os/as alunos/as foram questionados/as acerca do namoro
homossexual masculino (Tabela 10).
Em relação ao namoro homossexual masculino os/as alunos/as consideraram que é
um homem sentir-se atraído por uma pessoa do mesmo sexo (47.7%), que tem uma orientação
sexual normal (22.1%) e têm sentimentos e gostos diferentes da maioria das pessoas na atração
sexual (19.8%).
66
Tabela 10 O que é o namoro homossexual masculino
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
O que é uma pessoa homossexual masculina
É um homem que se sente atraído por uma pessoa do mesmo sexo
6 26.1 12 66.7 9 47.4 14 53.8 41 47.7
É um homem que tem uma opção sexual diferente
4 17.4 5 19.2 9 10.5
É ter sentimentos e gostos diferentes da maioria das pessoas na atração sexual
5 21.7 4 22.2 3 15.8 5 19.2 17 19.8
É assumir-se como homossexual 6 23.1 6 7 Perceções sobre a homossexualidade masculina
É uma orientação sexual normal 9 39.1 2 11.1 2 10.5 6 23.1 19 22.1 É uma orientação sexual normal embora
impressione 1 5.3 1 1.2
É uma orientação sexual anormal 2 8.7 1 5.6 3 15.8 6 7 Respeita mas não gosta de ver
homossexuais 4 21.1 4 4.7
Respeita mas é contra a homossexualidade
1 5.3 1 3.8 2 2.3
Odeia ou não gosta de homossexuais 2 10.5 2 2.3 Têm um comportamento nojento 1 3.8 1 1.2
Comportamento Gosta de ter relações sexuais anais 5 21.7 5 5.8 Não gosta de mamas 2 8.7 2 2.3 São melhor companhia que os
heterossexuais 2 8.7 2 2.3
Os homens são “machos” 5 19.2 5 5.8 Ambígua 1 4.3 1 1.2 Não responde 5 21.7 5 27.8 5 26.3 12 46.2 27 31.4
Na tabela 11 são apresentadas as respostas dos/as alunos/as relativamente ao namoro
homossexual feminino.
No que diz respeito ao namoro homossexual feminino consideraram que é uma mulher
que se sente atraída por uma pessoa do mesmo sexo (47.7%), com orientação sexual normal
(20.9%) e têm sentimentos e gostos diferentes da maioria das pessoas na atração sexual
(17.4%), tal como mencionaram para o namoro homossexual masculino (Tabela 10).
67
Tabela 11
O que é o namoro homossexual feminino (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
O que é uma pessoa homossexual feminina É uma mulher que se sente atraída por
uma pessoa do mesmo sexo 10 43.5 7 38.9 9 47.4 15 57.7 41 47.7
É uma mulher que tem uma opção sexual diferente
3 13 6 23.1 9 10.5
É ter sentimentos ou gostos diferentes da maioria das pessoas na atração sexual
9 39.1 6 23.1 15 17.4
Perceções sobre homossexualidade feminina
É uma orientação sexual normal 12 52.2 6 23.1 18 20.9 É uma orientação sexual anormal 2 10.5 2 2.3 É um casal igual aos heterossexuais 3 13 3 3.5 Respeita mas não gosta de ver
homossexuais 1 4.3 3 15.8 4 4.7
É contra a homossexualidade 2 10.5 1 3.8 3 3.5 Têm um comportamento nojento 2 8.7 2 2.3 É menos comum que o namoro
homossexual masculino 5 19.2 5 5.8
É igual ao namoro homossexual masculino
1 3.8 1 1.2
Os homossexuais masculinos são mais discriminados que as lésbicas
7 26.9 7 8.1
Os homossexuais masculinos são mais maltratados que as lésbicas e os heterossexuais
2 7.7 2 2.3
Os homossexuais masculinos são mais fáceis de reconhecer que as lésbicas
5 19.2 5 5.8
Comportamento Tem ar de homem 2 8.7 2 2.3 Tem gestos masculinos 1 4.3 1 1.2 Gosta de mamas 2 8.7 2 2.3 São melhor companhia que os
heterossexuais 2 8.7 2 2.3
Não responde 8 34.8 11 61.1 7 36.8 11 42.3 37 43
Na tabela 12 são apresentadas as respostas dos/as alunos/as quando lhes foi
questionado o que é o namoro heterossexual.
Para os/as alunos/as ser heterossexual é uma pessoa que gosta de outra do sexo
oposto (41.9%), com orientação sexual normal (19.8%), sendo também mencionado que pode
gostar de outra pessoa do sexo oposto ou do mesmo sexo (14%).
68
Tabela 12 O que é o namoro heterossexual
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
O que é uma pessoa heterossexual É uma pessoa que gosta de outra do
sexo oposto 8 34.8 7 38.9 7 36.8 14 53.8 36 41.9
É uma pessoa que pode gostar de outra do sexo oposto ou do mesmo sexo
4 17.4 4 22.2 2 10.5 2 7.7 12 14
Perceções sobre a heterossexualidade Tem uma orientação sexual normal 10 43.5 7 36.8 17 19.8 É ter sentimentos/gostos diferentes dos
homossexuais 1 4.3 1 1.2
Comportamento sexual Gosta de órgãos sexuais do sexo oposto 2 10.5 2 2.3 É ser “macho” 3 15.8 3 3.5
Ambígua 1 5.3 1 1.2 Não responde 6 26.1 7 38.9 5 26.3 10 38.5 28 32.6
Seguidamente, questionou-se quais são as diferenças que existem para eles/as no
namoro entre homossexuais e heterossexuais (Tabela 13).
Mais de metade dos/as alunos/as referiu que há diferenças entre o namoro
homossexual e heterossexual, havendo uma minoria de 7% que disse que não há diferenças,
sendo que 20.9% não respondeu a esta questão. As diferenças foram categorizadas no
comportamento sexual, comportamento interpessoal e em perceções sociais sobre os gays e
lésbicas. Quanto ao comportamento, quase metade dos/as alunos/as mencionaram que as
relações sexuais são diferentes (44.2%), tendo sido referido que os/as homossexuais não podem
ter filhos próprios (22.1%).
No que diz respeito ao comportamento interpessoal cada turma tem uma opinião
diferente dizendo a turma D que as diferenças entre os homo e os heterossexuais são
psicológicas (4.7%), sendo que na turma A disseram que os homossexuais têm uma maneira de
andar (4.7%) e de falar (2.3%) diferente, além de que têm gestos afeminados e usam roupa
afeminada (4.7%). Na turma B, referiram que os homossexuais têm vergonha em mostrar os
seus sentimentos (3.5%). Para terminar, a turma C mencionou que tanto os heterossexuais
(3.5%) como os homossexuais (2.3%) são mais carinhosos, sensíveis, frágeis e pode-se confiar
neles no seu apoio. Por último, nas perceções sociais sobre os/as homossexuais, 20.9% dos/as
alunos/as referiram que os/as homossexuais são vistos pelas pessoas de maneira negativa.
69
Tabela 13 Diferenças entre o namoro homo e heterossexual
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Há diferenças Sim 18 78.3 15 83.3 14 73.7 14 53.8 61 70.9 Não 2 8.7 1 5.3 3 11.5 6 7 Não sabe 1 3.8 1 1.2 Não responde 3 13 3 16.7 4 21.1 8 30.8 18 20.9
Tipo de diferenças Comportamento sexual
As relações sexuais são diferentes 14 60.9 6 33.3 8 42.1 10 38.5 38 44.2 Os homossexuais masculinos têm relações
sexuais anais 4 17.4 4 4.7
As homossexuais femininas usam pénis artificiais nas relações sexuais
4 17.4 2 7.7 6 7
As homossexuais femininas usam os dedos nas relações sexuais
8 34.8 8 9.3
Os sentimentos no amor são diferentes 2 11.1 3 15.8 5 5.8 Os homossexuais não podem ter filhos
próprios 12 52.2 3 16.7 2 10.5 2 7.7 19 22.1
As homossexuais femininas podem fazer inseminação artificial
3 11.5 3 3.5
Comportamento interpessoal Há diferenças psicológicas entre os homo
e heterossexuais 4 15.4 4 4.7
Os homossexuais são mais carinhosos, sensíveis, frágeis, confiança, apoio
2 10.5 2 2.3
Os heterossexuais são mais carinhosos, sensíveis, frágeis, confiança, apoio
3 15.8 3 3.5
Os homossexuais têm vergonha de mostrar os seus sentimentos
3 16.7 3 3.5
Homossexuais têm uma maneira de falar diferente
2 8.7 2 2.3
Homossexuais têm uma forma de andar diferente
4 17.4 4 4.7
Os homossexuais masculinos têm gestos afeminados
4 17.4 4 4.7
Homossexuais masculinos usam roupa afeminada
4 17.4 4 4.7
As homossexuais femininas têm a casa mais arrumada e valorizam mais as crianças
2 8.7 2 2.3
Perceções sociais sobre os/as homossexuais
São vistos pelas pessoas de maneira negativa
10 55.6 8 30.8 18 20.9
Os homossexuais são gozados 2 10.5 2 2.3 Os homossexuais não têm as mesmas
regalias sociais que os heterossexuais 2 8.7 2 2.3
A família aceita menos os/as homossexuais
3 11.5 3 3.5
Resposta ambígua 2 8.7 3 15.8 4 15.4 9 10.5
70
Discussão. Quando os/as alunos/as realizaram as suas investigações, referiram que o
namoro saudável é quando existe confiança, respeito, carinho, apoio mútuo e a partilha de
alegrias e tristezas, entre outras. Na discussão em grupo focal, no final do projeto, as ideias que
adquiram na sua investigação mantiveram-se. As ideias adquiridas neste estudo estão de acordo
com o que a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (s.d) considera o que é uma relação
saudável. Alguns/mas alunos/as de uma turma também mencionaram as diferentes orientações
sexuais que podem existir num relacionamento de namoro, descrevendo quais as suas
perceções sobre o que é um namoro homossexual masculino e feminino, dizendo que são
pessoas que se sentem atraídas por outra pessoa do mesmo sexo, com uma orientação sexual
normal mas com sentimentos e gostos diferentes da maioria na atração sexual. Também
descreveram o que é o namoro heterossexual, dizendo que é uma pessoa que tem uma
orientação sexual normal e que gosta de outra do sexo oposto, tendo sido referido por
alguns/mas alunos/as que também pode gostar de pessoas do mesmo sexo.
No final do projeto também descreveram quais as diferenças que existem no namoro
entre homossexuais e heterossexuais, tendo sido referido que as relações sexuais são diferentes
e que existem diferenças psicológicas entre os homo e os heterossexuais, acrescentando que os
homossexuais não podem ter filhos e que são vistos pelas pessoas de maneira negativa.
O que é a violência no namoro. Durante as suas investigações em grupo os/as
alunos/as referiram que a violência no namoro é um ato de violência, pontual ou contínua,
cometida por um dos parceiros ou por ambos, numa relação de namoro, com o objetivo de
controlar, dominar e ter mais poder que o outro (TA G1; TB G1; TB G2; TB G4; TC G2; TC G3; TD G1; TD G4),
não respeitando as suas ideias e opiniões (TB G4). Além disso, acontece quando isola, fragiliza e
causa insegurança à vítima, causando malefícios à outra pessoa devido a estes
comportamentos, negando-lhe a autonomia e colocando em risco a integridade física ou
psicológica do/a parceiro/a (TD G4). A violência no namoro pode ser física, verbal, sexual,
psicológica/emocional e social (TBG4; TD G1; TD G4) e económica (TD G4) e, acontece quando o rapaz
acha que tem o poder de tomar decisões pela namorada, que ela tem de o respeitar e, como é
homem tem de agir de forma agressiva e usar a sua força física (TB G2).
A violência no namoro é considerada um crime público punível por lei (TA G1; TA G4) e
integra-se no quadro legal da violência doméstica, sendo identificada através dos maus-tratos
físicos e psicológicos, abusos e violência sexual, intimidações e humilhações (TA G1).
71
Na discussão em grupo focal, questionados/as sobre o que é a violência no namoro,
identificaram, tal como no início do projeto (ver Tabela 3), quatro tipos de violência: física, verbal,
psicológica e sexual (Tabela 14).
Tabela 14 O que é a violência no namoro
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Tipos de violência Violência física
Agressão física 12 52.2 3 16.7 7 36.8 10 38.5 32 37.2 Pancadaria 8 34.8 7 36.8 4 15.4 19 22.1 Estalos 7 30.4 11 57.9 18 20.9
Violência verbal Agressão verbal 6 26.1 3 16.7 6 31.6 6 23.1 21 24.4 Discussões 3 13 3 3.5 Insultos 5 21.7 3 16.7 4 21.1 1 3.8 13 15.1
Violência psicológica Agressão psicológica 7 30.4 4 22.2 5 26.3 10 38.5 26 30.2 Desconfianças 9 39.1 4 22.2 4 15.4 17 19.8 Ter ciúmes 6 33.3 6 31.6 6 23.1 18 20.9 Não gostar do/a namorado/a 4 21.1 4 4.7 Não apoiar o/a namorado/a 3 15.8 3 3.5 Chantagem 4 22.2 4 4.7 Invasão de privacidade 4 17.4 4 22.2 7 26.9 15 17.4 Controlar o que o/a namorado/a
faz 1 5.6 2 10.5 3 3.5
Obrigar o/a outro/a a fazer o que não quer
3 13 9 50 4 21.1 16 18.6
Humilhar o/a namorado/a 4 21.1 3 11.5 7 8.1 Desrespeitar o/a namorado/a 4 17.4 3 16.7 5 26.3 3 11.5 15 17.4 É sentir medo do/a namorado/a 4 17.4 4 4.7
Violência sexual Obrigar o/a namorado/a ter/fazer
relações 2 10.5 2 2.3
Resposta ambígua 5 21.7 8 44.4 13 15.1 Não responde 6 26.1 3 16.7 3 15.8 11 42.3 23 26.7
Os/as alunos/as identificaram como violência física a agressão física (37.2%), a
pancadaria (22.1%) e os estalos (20.9%). No que diz respeito à violência verbal, a agressão
verbal (24.4%), os insultos (15.1%) e as discussões (3.5%). Na violência psicológica referiram a
agressão psicológica (30.2%), os ciúmes (20.9%), as desconfianças (19.8%) e obrigar o/a
outro/a a fazer o que não quer (18.6%).
Quanto à violência sexual, acontece quando obriga o/a namorado/a a ter/fazer relações
sexuais (2.3%).
72
Sobre as situações de violência no namoro entre gays ou lésbicas e as diferenças na
violência no namoro entre gays ou lésbicas e heterossexuais os resultados obtidos encontram-se
na tabela 15.
Tabela 15 Situações de violência no namoro entre gays ou lésbicas que conhece (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Onde viu as situações de violência Já viu na vida real 1 5.6 1 3.8 2 2.3 Já viu em filmes/séries ou novelas 1 4.3 3 15.8 3 11.5 7 8.1 Já viu em familiares ou vizinhos 1 4.3 1 1.2 Viu mas não refere onde 2 8.7 2 2.3 Nunca viu 10 43.5 9 50 9 47.4 10 38.5 38 44.2 Não responde 9 39.1 8 44.4 7 36.8 12 46.2 36 41.9
Diferenças na violência no namoro entre gays ou lésbicas e heterossexuais
Há diferenças 11 47.8 5 27.8 15 78.9 3 11.5 34 39.5 Não há diferenças 6 26.1 5 27.8 1 5.3 10 38.5 22 25.6 Não sabe 1 5.6 1 1.2 Não responde 6 26.1 7 38.9 3 15.8 13 50 29 33.7
Tipo de diferenças Há mais violência/força física nos gays
do que nas lésbicas 1 4.3 4 21.1 5 5.8
Há mais violência nos gays com aparência masculina do que afeminada
4 17.4 4 4.7
Há a mesma força física entre gays e lésbicas
1 4.3 2 11.1 3 3.5
Não há a mesma força física entre gays e lésbicas
1 4.3 1 1.2
Ambígua 2 8.7 2 2.3
Apenas doze alunos/as viram situações de violência no namoro entre gays e/ou
lésbicas, sendo que, dois destes/as alunos/as não referiram onde viram, 39.5% disseram que
há diferenças na violência no namoro entre gays ou lésbicas e heterossexuais e 25.6% disseram
que não há diferenças. As diferenças no namoro entre gays e lésbicas são baseadas na força,
sendo referido pelos/as alunos/as que há mais violência/força física nos gays do que nas
lésbicas (5.8%) e que existe mais violência entre gays com aparência masculina do que
afeminada (4.7%), sendo que alguns/mas alunos/as disseram que há a mesma força física
entre gays e lésbicas (3.5%).
Para demonstrar alguns casos que os/as alunos/as conhecem seguem-se alguns
extratos da discussão em grupo focal:
73
Cristiano – eu já vi no Inspetor Max. Luísa – ah eah tipo eu vejo. Ent – então diz lá Cristiano. Cristiano – uma lésbica mantéu outra gaja em cativeiro e depois bateu-lhe.
(Turma C)
Segue-se um outro extrato de outra turma.
Cátia – ele não aceitava que era, um não aceitava que era gay e outro queria que o outro aceitasse. Daniel – que ele era. Rosa – que ele era. Cátia – exato, porque se senão não podiam continuar a relação mas eles gostavam um do outro. Então. Daniel – ou seja aceitaram-se. Cátia - depois agrediram-se, separaram-se e depois um deles suicidou-se.
(Turma D)
Também foram identificadas as diferenças na violência no namoro entre homossexuais e
heterossexuais (Tabela 16).
Tabela 16 Diferenças na violência no namoro entre homossexuais e heterossexuais (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Diferenças entre homossexuais e heterossexuais
Os homossexuais são menos violentos que os heterossexuais
2 8.7 3 16.7 9 47.4 14 16.3
Os gays têm mais força física que os heterossexuais
3 11.5 3 3.5
O homem heterossexual e o que faz o papel de homem na relação gay têm mais força física que o/a parceiro/a
4 17.4 3 15.8 7 8.1
Ambígua 2 10.5 2 2.3
Os/as alunos/as mencionaram que os homossexuais são menos violentos que os hétero
(16.3%) e que o homem heterossexual e o que faz o papel de homem na relação gay têm mais
força física que o/a parceiro/a (8.1%).
Casos que conhecem de violência no namoro. A maior parte destes/as alunos e
alunas não conhece casos de violência no namoro (Tabela 17).
Apenas 16.3% dos/as alunos/as referiram que conhecem casos de violência no namoro
na vida real ou nos mass media. Os casos que contaram são casos preferencialmente físicos e
consistiam num rapaz a bater na namorada (10.5%) e verbais onde o namorado chamou nomes
à namorada (1.2%). Duas alunas da amostra não quiseram contar os casos que conheciam.
74
Tabela 17
Casos de violência física, verbal e social entre namorados que conhecem
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Conhece casos de violência no namoro Sim 7 30.4 2 11.1 3 15.8 2 7.7 14 16.3 Não 7 30.4 12 66.7 11 57.9 10 38.5 40 46.5 Não responde 9 39.1 4 22.2 5 26.3 14 53.8 32 37.2
Onde viu as situações de violência Já viu na vida real (inclui famosos) 6 26.1 1 5.6 1 3.8 8 9.3 Já viu em filmes ou séries ou novelas 2 8.7 1 3.8 3 3.5 Já viu na televisão (notícias ou casos) 1 5.3 1 1.2 Não quer contar 2 10.5 2 2.3 Não responde 1 5.6 1 1.2
Casos que conhece Um rapaz bate na namorada 7 30.4 1 5.6 1 5.3 9 10.5 O namorado chamou nomes à
namorada 1 3.8 1 1.2
Não se lembra 1 3.8 1 1.2
Posteriormente questionou-se os/as alunos/as se presenciaram violência física e o que
observaram (Tabela 18).
Tabela 18
O que aconteceu na violência física que observaram entre namorados (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Já presenciaram violência física Sim 3 15.8 3 11.5 6 7 Não 14 60.9 11 61.1 10 52.6 14 53.8 49 57 Não responde 9 39.1 7 38.9 6 31.6 9 34.6 31 36
O que aconteceu Viu o rapaz a dar estalos à namorada 2 7.7 2 2.3 Viu o rapaz a puxar o cabelo à namorada 1 5.3 1 3.8 2 2.3 Viu o rapaz a dar com uma garrafa na
namorada 1 5.3 1 1.2
Não conta o que viu 1 5.3 1 3.8 2 2.3 Ambígua 1 3.8 1 1.2
Que idade tinham os namorados 13-15 1 3.8 1 1.2 16-18 1 5.3 1 3.8 2 2.3 Mais de 18 1 5.3 1 3.8 2 2.3 Não refere a idade 1 5.3 1 3.8 2 2.3
De onde eram os namorados Escola 1 3.8 1 1.2 Conhecidos – amigos/colegas 1 5.3 1 1.2 Rua (inclui centros comerciais) 1 5.3 2 7.7 3 3.5 Local onde vivem 1 5.3 1 3.8 2 2.3
75
Mais de metade dos/as alunos/as não presenciou violência física, apenas seis
alunos/as presenciaram. A violência física observada consistiu no rapaz a dar estalos à
namorada (2.3%), em puxar o cabelo à namorada (2.3%), e viram um rapaz a dar com uma
garrafa na namorada (1.2%). Dois/duas alunos/as não contaram o que viram.
Os namorados tinham idades entre os 13-15 anos (1.2%), 16-18 anos (2.3%) e mais de
18 anos (2.3%), sendo que dois/duas alunos/as não referiram a idade. Para ilustrar estes casos
segue-se um extrato da discussão:
Ent – queres contar Helena? Helena – foi no meio da rua ele devia ter 21, ela devia ter 18 ou 19, não tenho a certeza, ela, eles tavam a discutir no meio da rua ela começou a berrar, a certa altura ela começou a afastar-se da beira dele e ele puxou-lhe os cabelos, puxou-a pa trás e ela caiu de cú no chão. Depois nós fomos embora não íamos tar a olhar. Flávio – eu já vi também, foi aqui na escola. A rapariga, a irmã duma rapariga daqui da escola. A irmã da [nome]. Helena – sim. Flávio – que namorava com um cigano no bairro. Prontos, o rapaz fazia tudo o que queria com ela. Ela queria ir embora, ele não deixava, dava-lhe cada chapadão, só que ninguém podia-se meter porque ele era cigano. (Turma D)
Também se questionou os/as alunos/as se presenciaram violência verbal entre
namorados e o que observaram (Tabela 19).
Tabela 19
O que aconteceu na violência verbal que observaram entre namorados (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Violência verbal Sim 11 47.8 6 33.3 9 47.4 5 19.2 31 36 Não 3 13 6 33.3 8 42.1 9 34.6 26 30.2 Não responde 8 34.8 6 33.3 2 10.5 12 46.2 28 32.6 Não sabe 1 4.3 1 1.2
O que aconteceu Viu um casal de namorados a insultar-se 5 21.7 3 16.7 6 31.6 4 15.4 18 20.9 Viu um casal de namorados a discutir 4 17.4 5 27.8 6 31.6 1 3.8 16 18.6 Não quer contar 3 13 3 3.5
Que idade tinham os namorados Menos de 13 anos 1 5.3 1 1.2 13-15 anos 1 4.3 4 22.2 2 10.5 3 11.5 10 11.6 16-18 anos 1 4.3 1 5.6 1 5.3 2 7.7 5 5.8 Mais de 18 anos 3 13 2 10.5 5 5.8 Não se lembra 1 5.6 1 1.2 Não refere a idade 7 30.4 4 21.1 2 7.7 13 15.1
De onde eram os namorados Escola 1 5.6 2 10.5 4 15.4 7 8.1 Rua/arredores (outra escola) 5 21.7 1 5.6 3 15.8 1 3.8 10 11.6 Eles próprios 3 16.7 1 3.8 4 4.7 Local onde vivem/Vizinhos 2 8.7 2 10.5 4 4.7 Não referem o local onde viram 4 17.4 1 5.6 2 10.5 1 3.8 8 9.3
76
Verifica-se que 36% dos/as alunos/as presenciaram violência verbal. Os casos que
conheciam basearam-se em ter observado insultos (20.9%) e discussões (18.6%), sendo que três
alunos/as não quiseram contar o que viram. As idades com mais ênfase foram entre os 13-15
anos (11.6%), sendo que 15.1% não referiu a idade. O local onde viram foi, preferencialmente,
na rua ou arredores (11.6%).
Segue-se um extrato para comprovar os casos que conhecem.
Helena – aqui na escola acontece muitas vezes. Eles chateiam-se depois é “meu burra! Minha esta!” é o normal. O verbal é o que acontece todos os dias praticamente. Flávio – é. Quanto mais me bates mais eu gosto de ti. Ent – e vocês querem referir algum? Helena – “és uma criança! Imatura! Infantil!” essas é com as que eu levo, mas pronto, não interessa. Ent – o que é que sente a vítima. Não queres contar isso? Helena – não! [risos] Helena – não vale apena. Flávio – como é que te sentes a ti própria? Helena – eu? Sinto-me muito bem!
(Turma D)
Neste seguimento, questionou-se os/as alunos/as se conheciam casos em que o rapaz
ameaça contar coisas íntimas da rapariga (Tabela 20).
Alguns/mas alunos/as conheciam casos em que o rapaz ameaçou contar coisas íntimas
da rapariga (24.4%), sendo que 32.6% não conheciam.
Os casos que conheciam basearam-se na rapariga a enviar fotos nuas para o namorado
ou a tirar fotos íntimas e quando terminam o namoro ou não faz o que ele quer, o namorado
publica-as na internet ou mostra a outras pessoas (12.8%). Também conheciam casos que
ameaçam que se não casar ou não ficar com ele que ele divulga segredos íntimos dela (3.5%) e,
também, caso ela não faça o que ele quer divulga coisas que ela não quer que se saiba (3.5%).
Segue-se um extrato da discussão que mostra um dos casos.
Raquel – havia um casal não é? Que namorava e eles depois acabaram e enquanto namoravam ela
enviava-lhe fotos nuas pelo telemóvel e quando eles acabaram o rapaz ficou furioso e era estúpido e pôs
as fotografias no facebook e ela suicidou-se.
(Turma A)
77
Tabela 20
Casos que conhecem em que o rapaz ameaça contar coisas íntimas da rapariga
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Conhece casos Sim 5 21.7 3 16.7 4 21.1 9 34.6 21 24.4 Não 10 43.5 8 44.4 7 36.8 3 11.5 28 32.6 Não responde 7 30.4 7 38.9 8 42.1 14 53.8 36 41.9 Não sabe 1 4.3 1 1.2
Tipo de ameaça Ameaça que se não casar ou ficar com ele
divulgava segredos íntimos dela 1 4.3 2 11.1 3 3.5
A namorada envia fotos nuas para o namorado ou tiram fotos íntimas. Quando acabam, ou não faz o que ele quer, o namorado publica-as na Internet ou mostra a outras pessoas
4 17.4 3 15.8 4 15.4 11 12.8
A rapariga envia vídeos íntimos para conhecido que a seduz na Internet. Posteriormente, por ela não continuar a fazer o que ele quer, ele pública o vídeo na Internet
1 3.8 1 1.2
Conta aos amigos que a namorada tem mau desempenho sexual para ela se sentir rebaixada
1 5.6 1 1.2
A rapaz ameaça que se ela não fizer o que ele quer divulga coisas que ela não quer que se saiba
3 11.5 3 3.5
Ameaça a namorada de mandar fotos íntimas deles à mãe dela, por ter ciúmes por ela se dar bem com toda a gente e vestir bem
1 5.3 1 1.2
Resposta ambígua 2 7.7 2 2.3 Onde viram
Séries/TV/Novelas/Filmes/notícias de famosos
2 11.1 2 10.5 4 4.7
Local onde vive 2 8.7 2 2.3 Escola 5 19.2 5 5.8 Internet/redes sociais 2 8.7 1 5.3 3 3.5 Vídeos 1 5.6 1 1.2 Outra localidade 1 4.3 1 1.2 Em conhecidos 1 5.3 1 1.2 Não refere o local 2 7.7 2 2.3 Falam de si próprios 1 3.8 1 1.2
Na tabela 21 apresentam-se os casos que conheciam em que a rapariga ameaça contar
coisas íntimas do rapaz.
Metade dos/as participantes conhecia casos em que a rapariga ameaça contar coisas
íntimas do rapaz. Contudo, 41.9% das suas respostas foram ambíguas.
78
Tabela 21
Casos que conhecem em que a rapariga ameaça contar coisas íntimas do rapaz
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Casos que conhece Sim 15 65.2 8 44.4 13 68.4 7 26.9 43 50 Não 2 11.1 2 2.3 Não sei 2 8.7 2 2.3 Não responde 6 26.1 8 44.4 6 31.6 19 73.1 39 45.3
Tipo de ameaça Ameaça o rapaz que se ele não fizer o que
ela quer diz aos amigos que ele é impotente 1 4.3 1 1.2
A rapariga ameaça que se ele não fizer o que ela quer divulga coisas que ele não quer que se saiba
2 7.7 2 2.3
A rapariga descobre o rapaz a filmar as suas relações sexuais, agride-o e publica no Youtube o momento da agressão para divulgar o que ele queria fazer
4 21.1 4 4.7
Resposta ambígua 14 60.9 8 44.4 9 47.4 5 19.2 36 41.9 Local onde viram
Filmes 1 4.3 1 1.2 Falam de si próprios 1 3.8 1 1.2 Internet - youtube 4 21.1 4 4.7 Não referem onde viram 1 3.8 1 1.2
Quatro alunos/as descreveram que conheciam um caso em a rapariga descobre o rapaz
a filmar as suas relações sexuais, posteriormente agride-o e publica no Youtube o momento da
agressão para divulgar o que ele queria fazer (4.7%). Dois/duas alunos/as contaram que
rapariga ameaça que se ele não fizer o que ela quer divulga coisas que ele não quer que se
saiba, sendo que um/a destes/as alunos/as falaram de si próprios/as, tal como se pode
perceber no extrato que se segue:
Flávio – ah. Como é que elas ameaçam? Ameaçam.
Helena – “se não fazemos isso eu mostro isto. Ou vou contar que fizemos isto”.
Flávio – eah! já me aconteceu isso.
Helena – “se não vens comigo ali eu conto a toda a gente”.
Flávio – pois é! É mesmo assim!
Ent – queres contar Flávio?
Flávio – tive umas conversas, prontos, se eu contasse ela também ia contar, tipo se eu contasse umas
cenas que eu soubesse ela ia contar de mim. E eu ia enterrar a ela e ela ia enterrar-me a mim. E prontos.
(Turma D)
Também perguntou-se aos/às alunos/as se conheciam alguém que foi pressionado/a
para ter relações sexuais (Tabela 22).
79
Tabela 22 Adolescentes que conhecem que foram pressionados para terem relações sexuais
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Casos que conhece Sim 1 4.3 1 5.6 1 5.3 1 3.8 4 4.7 Não 8 34.8 12 66.7 9 47.4 13 50 42 48.8 Não responde 14 60.9 5 27.8 9 47.4 12 46.2 40 46.5
O que aconteceu Obrigou a namorada a ter relações sexuais 1 4.3 1 5.6 1 5.3 3 3.5 O rapaz ameaçou contar coisas sobre ela
que ela não quer que se saiba para ter relações sexuais. Depois do ato sexual contou a toda a gente os pormenores.
1 3.8 1 1.2
Que idade tinham 13-15anos 1 4.3 1 5.6 2 2.3 16-18 anos 1 4.3 1 5.6 1 5.3 3 3.5 Mais de 18 anos 1 3.8 1 1.2
De onde eram Outra localidade 1 4.3 1 1.2 Outra escola 1 5.6 1 1.2 Local onde vive 1 5.3 1 1.2 Não refere o local 1 3.8 1 1.2
Somente quatro alunos/as conheciam alguém que foi pressionado/a para ter relações
sexuais. Três desses/as alunos/as contaram que um rapaz obrigou a namorada a ter relações
sexuais e um/a outro/a aluno/a conhecia um caso em que o rapaz ameaçou contar coisas
sobre uma rapariga, que ela não queria que se soubesse, para ter relações sexuais e depois do
ato sexual contou a toda a gente os pormenores. Para demonstrar o seu conhecimento sobre um
dos casos segue-se um extrato da discussão.
Helena – conheço. Cala-te! [mandou calar o Hugo] Conheço uma rapariga que pressionou e uma rapariga que foi pressionada, por isso. Ent – e queres contar? Helena – eles tavam, tavam sempre a discutir e ele acho que sabia coisas da vida dela que mais ninguém sabia ou muita pouca gente sabia, e ele tava, tava sempre a insistir com ela pa fazerem e ameaçou contar tudo o que ele sabia se eles não fizessem e eles depois coisa. E ele depois andou a contar os pormenores todos a toda a gente.
(Turma D)
Seguidamente, perguntou-se-lhes se tinham conhecimento de uma pessoa se aproveitar
do facto da outra estar sobre o uso de álcool ou drogas para ter relações sexuais (Tabela 23).
Metade dos/as alunos/as disseram que tinham visto casos destes, contudo, vinte e nove
desses/as casos eram casos ambíguos. A maior parte dos casos que conheciam foram
observados em novelas ou filmes sendo que três viram na vida real.
80
Tabela 23
Situações que viram uma pessoa aproveitar-se do facto da outra estar sobre o uso de álcool ou drogas para ter relações sexuais
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Casos que conhece Sim 12 52.2 8 44.4 11 57.9 12 46.2 43 50 Não 1 4.3 4 22.2 3 11.5 8 9.3 Não responde 9 39.1 6 33.3 8 42.1 10 38.5 33 38.4 Não se lembra 1 4.3 1 3.8 2 2.3
Viram em novelas ou filmes Um rapaz colocou droga na bebida ou
drogou uma rapariga e tiveram relações sexuais/ violou
2 8.7 1 5.3 2 7.7 5 5.8
Um rapaz colocou droga na bebida de uma rapariga e houve uma violação em grupo
1 5.6 1 1.2
Um homem/rapaz embebedou uma mulher/rapariga e tiveram relações sexuais/ violou
1 5.3 1 3.8 2 2.3
Uma rapariga/mulher drogou ou colocou droga na bebida de um rapaz/homem e tiveram relações sexuais
1 4.3 3 11.5 4 4.7
Aproveitou-se do facto da rapariga estar bêbada para ter relações sexuais
3 15.8 3 3.5
Aproveitou-se do facto do rapaz estar bêbado ou drogado para ter relações sexuais
1 4.3 1 3.8 2 2.3
Viram na vida real Um homem mais velho meteu os dedos na
vagina de uma rapariga alcoolizada em público
1 4.3 1 1.2
Uma rapariga estava sob o efeito de álcool e drogas e foi violada
1 5.3 1 1.2
Uma rapariga/mulher colocou droga na bebida de um rapaz/homem e tiveram relações sexuais
1 3.8 1 1.2
Ambíguas 8 34.8 7 38.9 7 36.8 7 26.9 29 33.7
Das situações observadas em novelas ou filmes, consistiam num rapaz a colocar droga
na bebida de uma rapariga ou drogou-a e tiveram relações sexuais/violou-a (5.8%), uma
mulher/rapariga drogou ou colocou droga na bebida de um rapaz/homem e tiveram relações
sexuais (4.7%) e aproveitaram-se do facto da rapariga estar bêbada para terem relações sexuais
(3.5%). Na vida real, sabiam de casos em que um homem mais velho meteu os dedos na vagina
de uma rapariga alcoolizada em público (1.2%), de uma rapariga que estava sob o efeito de
álcool e drogas e foi violada (1.2%) e de uma rapariga/mulher que colocou droga na bebida de
um rapaz/homem e tiveram relações sexuais (1.2%). Seguidamente, apresenta-se um extrato da
discussão sobre um dos casos que conheciam.
81
Cátia – eu vi mas foi na vida real. Eu saio à noite e sei lá talvez em bares e discotecas e vejo várias
raparigas, os rapazes chegam oferecem uma bebida, oferecem duas, oferecem três e quando ela já tá
naquele estado dizem “eu vou-te levar a casa ou levo-te para minha casa” e levam. Eu não! sou uma boa
menina mas, mas já vi vários, vários, vários mesmo. E tenho uma, uma pessoa próxima de mim que tem
uma irmã nesta escola, por acaso, que ela estava muito bêbada e tava sob o efeito de droga também e
eles tavam pois, em vez de irem para casa foram fazer uma paragem. Tava ela, três rapazes e mais uma
rapariga e eles pararam não sei onde e depois saiu toda a gente e ficou só essa rapariga que eu conheço
e um rapaz. E eu, ela diz que não se lembra bem mas que sentiu dores, porque ela era virgem e quando
acordou tava cheia de dores, tinha sangue, tinha prontos, ficou super mal e ela não se lembra, que é pior.
Para além de ela ter sofrido a humilhação de provavelmente ser violada, ela não se lembra, tem dores e
ela nem o conhecia. Não se lembra, normalmente a primeira vez as pessoas querem que seja uma coisa
especial. E, nem sequer saber o nome dele é um bocado. Deu para ela aprender acho eu.
(Turma C)
Na tabela 24 são descritos casos que os/as participantes conheciam em que um/a
dos/as namorados/as foi vítima de agressão verbal e humilhação através da internet.
Tabela 24
Casos em que um/a dos/as namorados/as foi vítima de agressão verbal e humilhação através da Internet
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Conhece casos Sim 11 47.8 3 16.7 5 26.3 2 7.7 21 24.4 Não 5 21.7 6 33.3 7 36.8 10 38.5 28 32.6 Não responde 7 30.4 9 50 7 36.8 14 53.8 37 43
O que se passou O rapaz insulta a rapariga através das
redes sociais ou da internet ou em público
6 26.1 2 11.1 2 10.5 10 11.6
O rapaz postou uma foto íntima da rapariga nas redes sociais (facebook) e telemóvel
1 4.3 1 5.6 1 3.8 3 3.5
A rapariga mostrava-se no skype e depois o namorado postou no facebook
3 13 2 10.5 5 5.8
A rapariga quis acabar com o namorado e ele insultou-a nas redes sociais
1 5.3 1 1.2
O rapaz e a rapariga discutiram e insultaram-se mutuamente através das redes sociais ou em público
2 8.7 2 2.3
Ambíguas 1 3.8 1 1.2 Não responde 12 52.2 15 83.3 14 73.7 24 92.3 65 75.6
Vinte e um/a alunos/as conheciam casos. Dos casos que conheciam contaram que
viram o rapaz a insultar a rapariga através das redes sociais, da internet ou em público (11.6%),
que uma rapariga mostrava-se no skype e depois o namorado postou no facebook, imprimiu e
82
partilhou para toda a gente ver (5.8%), que postaram uma foto íntima de uma rapariga nas redes
sociais e telemóvel (3.5%) e que observaram o rapaz e a rapariga a discutir e a insultarem-se
mutuamente através das redes sociais ou em público (2.3%). Por fim, um/a aluno/a contou que
uma rapariga quis acabar com o namorado e ele insultou-a nas redes sociais.
Como é exercida a violência no namoro. Durante as suas investigações os/as
alunos/as demonstraram que a violência no namoro é exercida através do controlo (TAG3; TBG2;
TCG1; TCG4), agressão física (estalos, beliscões, empurrões, arranhões) (TAG3; TBG2;TCG4) e
perseguição (TBG2), proibindo ou não querendo que saia com os/as amigos/as (TBG2; TCG1; TCG4).
Também, demonstraram que recorrem à agressão física pelo facto do/a namorado/a ter
recusado ter relações sexuais, insultando e humilhando-o/a à frente das outras pessoas (TBG3).
Um outro grupo refere que numa relação de namoro violenta o/a namorado/a dá ordens ou
toma as decisões pelo outro; não valoriza as suas opiniões; humilha-o/a através de insultos; fica
com medo da reação do/a namorado/a; culpabiliza-o/a pelos comportamentos violentos dele/a;
pressiona para terem relações sexuais sem proteção (TCG1; TCG4) e pressiona a consumir álcool ou
drogas de forma a desinibir o/a outro/a sexualmente (TCG1). A violência também é exercida
quando o/a agressor/a assusta, causa medo (TCG1; TCG3; TCG4) ou isola a vítima (TCG3). Além disso,
dizem que os rapazes recorrem mais à força física e as raparigas ao abuso psicológico (TDG2).
No final do projeto, perguntou-se aos/às alunos/as o que faz um rapaz para pressionar
a rapariga para ter relações sexuais (Tabela 25).
Tabela 25
O que faz um rapaz para pressionar a rapariga a ter relações sexuais
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Batem ou ameaçam bater para ter relações sexuais com ele
3 13 3 16.7 2 10.5 8 9.3
Diminuem a autoestima da rapariga para ela querer ter relações sexuais
3 13 3 16.7 5 19.2 11 12.8
É romântico, dizendo-lhe o que ela quer ouvir para a convencer a ter rel. sexuais
1 5.3 1 1.2
Ameaça contar coisas íntimas reais ou inventadas da namorada
3 16.7 2 7.7 5 5.8
Ameaça acabar o namoro se ela não tiver relações sexuais com ele
2 8.7 8 44.4 9 47.4 14 53.8 33 38.4
Diz que se não tem relações sexuais é porque não gosta dele
5 21.7 6 33.3 5 26.3 3 11.5 19 22.1
Diz-lhe que já todas as raparigas da idade dela já teve relações sexuais
3 16.7 4 15.4 7 8.1
Não a deixa falar ao telemóvel com as amigas para ela se sentir isolada
3 16.7 3 3.5
83
Tabela 25
O que faz um rapaz para pressionar a rapariga a ter relações sexuais (cont.)
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Oferece dinheiro ou prendas para ela querer ter relações sexuais
4 17.4 1 5.3 5 5.8
Faz chantagem ou ameaça-a de que se ela não tiver relações sexuais com ele lhe acontece algo
4 17.4 4 4.7
O rapaz diz na escola que ela é virgem para ela se sentir pressionada e ter relações sexuais
5 19.2 5 5.8
Ambígua 2 8.7 1 5.6 4 21.1 2 7.7 9 10.5 Não sabe 1 5.6 1 1.2 Não responde 10 43.5 3 16.7 8 42.1 10 38.5 31 36
O rapaz pressiona ameaçando acabar o namoro se a namorada não tiver relações
sexuais com ele (38.4%), dizendo-lhe que se ela não tiver relações sexuais com ele é porque não
gosta dele (22.1%) e diminui a sua autoestima para ela ter relações sexuais com ele (12.8%).
Na tabela 26 está a opinião dos/as alunos/as acerca do que faz a rapariga para
pressionar o rapaz para ter relações sexuais.
Tabela 26
O que faz uma rapariga para pressionar o rapaz a ter relações sexuais
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Bate ao rapaz para ter relações sexuais 4 22.2 2 10.5 6 7 Diz ao rapaz que se não tiver rel. sexuais
com ela diz aos amigos que é impotente 3 13 3 16.7 6 7
Ameaça acabar o namoro se ele não quiser ter relações sexuais
3 13 8 30.8 11 12.8
Seduzem o rapaz para terem rel. sexuais 5 21.7 2 11.1 7 36.8 3 11.5 17 19.8 Diz que se não tem relações sexuais é
porque não gosta dela 2 11.1 2 7.7 4 4.7
Diminuem a autoestima do rapaz para ele querer ter relações sexuais
7 26.9 7 8.1
A rapariga ameaça contar que é virgem para humilhar o rapaz
3 11.5 3 3.5
Diz-lhe que já todos os rapazes da idade dele ou toda a gente já teve rel. sexuais
1 3.8 1 1.2
Ambígua 8 34.8 3 16.7 3 11.5 14 16.3 Não responde 11 47.8 7 38.9 12 63.2 15 57.7 45 52.3
A rapariga para conseguir ter relações sexuais seduz o rapaz (19.8%) e também ameaça
acabar o namoro se ele não quiser ter relações sexuais com ela (12.8%), tal como os rapazes
fazem.
84
Posteriormente, perguntou-se se é possível haver casos em que uma pessoa obrigue a
outra a ter relações sexuais contra a sua vontade e como é que isso pode acontecer (Tabela 27).
Tabela 27 Possibilidade de haver casos em que uma pessoa obriga a outra a ter relações sexuais contra a sua vontade
(N=86) Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
É possível haver casos Sim 17 73.9 10 55.6 13 68.4 14 53.8 54 62.8 Não sei 3 15.8 3 3.5 Não responde 6 26.1 8 44.4 3 15.8 12 46.2 29 33.7
Como pode acontecer Recorrem à agressão física para terem
relações sexuais 16 69.6 7 38.9 15 78.9 11 42.3 49 57
Drogam-nos/nas/alcoolizam-nos/nas para terem rel. sexuais inconscientemente
9 39.1 8 42.1 5 19.2 22 25.6
Ambígua 11 47.8 15 83.3 12 63.2 11 42.3 49 57 Não responde 3 13 3 16.7 3 15.8 8 30.8 17 19.8
Mais de metade dos/as alunos/as responderam que é possível haver casos recorrendo
à agressão física para terem relações sexuais (57%) ou drogando ou alcoolizando a pessoa para
terem relações sexuais inconscientemente (25.6%).
Também lhes foi perguntado se poderia acontecer a pessoas que conhecem na sua
escola se aproveitarem de uma pessoa pelo facto de ele/a estar sob o efeito de álcool ou drogas
para ter relações sexuais (Tabela 28).
Tabela 28
Possibilidades de acontecer a uma pessoa da escola alguém aproveitar-se dela por estar sobre o uso de álcool ou drogas para ter relações sexuais
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Sim 12 52.2 12 66.7 9 47.4 9 34.6 42 48.8 Não 3 13 1 5.3 1 3.8 5 5.8 Não sei 1 5.6 1 5.3 1 3.8 3 3.5 Não responde 8 34.8 5 27.8 8 42.1 15 57.7 36 41.9
Razões por que pode acontecer (causas) Porque pode acontecer em qualquer lado 5 21.7 5 27.8 7 36.8 7 26.9 24 27.9 Porque há ciganos 1 4.3 1 1.2 Porque na adolescência os jovens podem
beber e drogar-se e depois aproveitam-se da sua inconsciência para ter rel. sexuais
1 4.3 9 50 1 3.8 11 12.8
Devido às influências dos amigos 3 16.7 3 3.5 Porque não estão informados dos perigos
não tendo cuidados com o que bebem e a quem pedem a bebida
5 19.2 5 5.8
Porque na escola não há segurança 2 10.5 2 2.3 Ambíguas 12 52.2 2 7.7 14 16.3
85
Para os/as alunos/as é possível acontecer casos desses (48.8%), pois pode acontecer
em qualquer lado a qualquer pessoa (27.9%), também porque na adolescência os/as jovens
podem beber e drogar-se e depois aproveitam-se da sua inconsciência para ter relações sexuais
(12.8%). Uma minoria referiu que pode acontecer devido às influências dos/as amigos/as
(3.5%).
Também se perguntou se pode acontecer a pessoas que conhecem no local onde vivem
(Tabela 29).
Tabela 29
Possibilidades de acontecer a pessoas que conhecem no local onde vivem alguém aproveitar-se dela por estar sobre o uso de álcool ou drogas para ter relações sexuais (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Sim 7 30.4 5 27.8 6 31.6 11 42.3 29 33.7 Não 3 13 5 27.8 1 5.3 2 7.7 11 12.8 Não sei 1 4.3 1 5.3 2 2.3 Não responde 12 52.2 8 44.4 11 57.9 13 50 44 51.2
Razões por que pode acontecer (causas) Porque há ciganos 1 4.3 1 5.3 2 2.3 Porque há drogados ou bêbados 2 8.7 2 2.3 Porque havia traficantes 1 4.3 1 1.2 Porque pode acontecer a toda a gente em
qualquer lado 1 4.3 1 5.6 4 21.1 8 30.8 14 16.3
Porque vive num bairro e são pessoas perigosas em quem não se pode confiar
1 4.3 1 1.2
Porque conheço um rapaz que por estar bêbado se aproveitou de uma rapariga
1 5.6 1 1.2
Porque conhece um vizinho que violou a mulher
1 3.8 1 1.2
Porque não conhece as pessoas 3 16.7 1 5.3 4 4.7 Porque na adolescência os jovens podem
beber e drogar-se e depois aproveitam-se da sua inconsciência para ter relações sexuais
1 5.6 1 3.8 2 2.3
Porque não estão informados não têm cuidado com o que bebem e a quem pedem a bebida
5 19.2 5 5.8
Ambíguas 3 13 1 3.8 4 4.7
Alguns/mas alunos/as disseram que pode acontecer no local onde vivem (33.7%).
Fundamentaram a sua resposta afirmando que pode acontecer a toda a gente em qualquer lado
(16.3%) e porque as pessoas não estão informadas não tendo cuidado com o que bebem e a
quem pedem a bebida (5.8%).
Discussão. Tendo em conta as conceções iniciais, a investigação que os/as alunos/as
fizeram e os resultados da discussão em grupo focal, verificou-se uma evolução no
86
conhecimento sobre os tipos de violência no namoro que existem, tendo atingido as conceções
veiculadas pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (s.d.). Também referiram que na
violência no namoro estão incluídos os/as namorados/as heterossexuais e homossexuais tal
como defendido noutros estudos (Costa, Machado, & Antunes, 2009; Saltzman et al., 2002;
Stader, 2011).
Os/as alunos/as nas suas investigações e na discussão em grupo focal referiram que a
violência no namoro pode ser física, sexual, psicológica/emocional tal como referem vários
autores (APAV, s.d; CDC, 2014; Saltzman et al., 2002) e verbal (APAV, s.d). Nas suas
investigações em grupo acrescentaram a violência social e financeira (APAV, s.d).
Os tipos de violência física descritas pelos/as alunos/as neste estudo foram os mesmos
no início e no fim do projeto (estalos ou bofetadas, socos e pontapés), tal como foi referido nos
estudos de Caridade (2008) e Ferreira (2011). Também mencionaram a agressão física, tal
como defende a OMS (2002) e a porrada, tal como em alguns estudos (Ferreira, 2012; Martin et
al., 2012; Howard et al., 2007).
Na violência verbal, os/as alunos/as no início do projeto e no final do projeto
identificaram os insultos tal como se verifica no estudo de Caridade (2008) e Ferreira (2011).
Ainda mantiveram as suas ideias iniciais ao mencionar as discussões, que são descritas também
em outros estudos (Caridade, 2008; Giordano et al., 2010). Também mencionaram a agressão
verbal, podendo os insultos e as discussões estar relacionados com a agressão verbal.
No que diz respeito à violência psicológica, nas conceções iniciais e no final do projeto
mencionaram a chantagem tal como no estudo de Caridade (2008). Nas ideias iniciais ainda
acrescentaram a perseguição e as ameaças como se pode verificar no estudo de Ferreira
(2011). Também identificaram a violência psicológica (OMS, 2002), tendo esta sido mantida no
final do projeto. Contudo, o conhecimento dos/as alunos/as evoluiu surgindo novos tipos de
violência nomeadamente, os ciúmes e as desconfianças que vão ao encontro dos resultados do
estudo de Caridade (2008). Também o desrespeitar o/a outro/a tal como refere a APAV (s.d) e
obrigar o/a outro/a a fazer o que não quer, não gostar e não apoiar foram identificados.
Nas suas investigações em grupo e no final do projeto mencionaram o controlo sobre o
outro/a, sendo isso referido também por outros investigadores (Caridade, 2008). Ainda
refereriram o sentir medo do/a namorado/a assim como, na investigação é defendido o sentir
medo como consequência da violência sexual (Mirsky, 2003) e também a humilhação como a
investigação indica que acontece (CDC, 2014; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), mantendo
87
assim a sua aprendizagem no final do projeto. Os/as alunos/as na sua investigação ainda
acrescentaram que a violência no namoro também pode ser exercida através da imposição de
ordens, da tomada decisões pelo/a outro/a não valorizando as suas opiniões, assustando e
culpando a vítima pelos seus comportamentos violentos. Além disso isolam-na, proibindo-a de
relacionar-se com os/as amigos/as, tal como verificado na literatura (APAV, s.d; CDC, 2014;
Ferreira, 2011; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002).
Por fim, quanto à violência sexual, no início do projeto disseram a violação como é
descrito na literatura (Caridade, 2008; CDC, 2014; Martin et al., 2012; OMS, 1997) e o abuso
sexual como dizem outras investigações (OMS, 1997), tendo a sua resposta evoluído na
discussão em grupo focal onde os/as alunos/as deram uma definição mais específica, dizendo
que acontece quando o/a namorado/a obriga o/a outro/a a ter relações sexuais, assim como
se pode verificar em vários estudos (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; OMS, 2002).
Os/as alunos na discussão em grupo focal descreveram que existe mais violência física
nos gays do que nas lésbicas e outros/as disseram que têm a mesma força física.
Acrescentaram ainda que há mais violência nos gays com aparência masculina do que
afeminada. Além disso, disseram que o homem heterossexual e o que faz de homem na relação
gay são os que têm mais força física na relação. No entanto, disseram que os homossexuais são
menos violentos que os heterossexuais o que não é verificado no estudo de Costa, Machado e
Antunes (2009).
Os/as alunos/as nas suas investigações, bem como no final do projeto descreveram
casos de violência física no namoro baseados em estalos, resultado este que vai ao encontro da
literatura (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Franklin & Kercher, 2012; Howard et al.,
2007; Martin et al., 2012; Saltzman et al., 2002). Os casos que descreveram no final do
projecto também eram baseados no bater, como se verifica noutros estudos (CDC, 2014;
Ferreira, 2011; Howard et al., 2007; Martin et al., 2012; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002), e
em puxar o cabelo à namorada.
Os casos de violência verbal relatados pelos/as participantes basearam-se em insultos,
como referem alguns autores acerca da violência emocional/psicológica (Caridade, 2008; CDC,
2014; Ferreira, 2011), e em discussões tal como é identificado por alguns investigadores
(Caridade, 2008; Giordano et al., 2010).
Os/as alunos/as contaram casos em que o rapaz ou a rapariga ameaçaram contar
coisas sobre a sua intimidade. Contaram que o namorado possuía fotos íntimas da namorada e
88
publicou-as na internet ou telemóvel mostrando a outras pessoas. Também contaram situações
que viram o rapaz a ameaçar se ela não casasse, não ficasse com ele ou que se não fizesse o
que ele queria divulgava segredos íntimos que ela não queria que se soubesse. Além disso,
descreveram situações em que o namorado insultou a namorada através das redes sociais ou
em público ou ambos discutiram e insultaram-se mutuamente nas redes sociais ou em público.
Contudo, houve uma situação em que a rapariga descobriu o rapaz a filmar a intimidade deles e
assim que descobriu agrediu o rapaz e publicou no youtube o momento da agressão. Estas
situações são enquadradas na violência social tal como descrevem vários investigadores (APAV,
s.d; CDC, 2014; Stader, 2011).
Nos casos de violência sexual que contaram, o namorado obrigou a namorada a ter
relações sexuais, tal como aprenderam nas suas investigações em grupo e identificadas na
literatura como forma de exercer a violência sexual (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira,
2011). Também mencionaram casos em que o rapaz ameaçou contar coisas sobre a namorada
que ela não queria que se soubesse para conseguir ter relações sexuais e após o ato contou a
toda a gente os pormenores, estratégia que a APAV (s.d) e o CDC (s.d) consideram como forma
de conseguir ter relações sexuais.
Nas suas investigações também aprenderam que os/as agressores/as recorrem aos
insultos ou humilham o/a namorado/a se ele/a se recusar a ter relações sexuais, tal como é
referido pela APAV (s.d) como estratégia para conseguir ter relações sexuais. Além disso, pode
ser também usada a força física (APAV, s.d; Saltzman et al., 2002). Também aprenderam que o
álcool ou as drogas podem ser usadas de forma a desinibir o/a outro/a sexualmente, tal como
aconteceu nas situações que viram em filmes ou novelas ou na vida real, onde se aproveitaram
do facto da rapariga estar bêbada ou drogada para terem relações sexuais/violar ou para tocar-
lhe, sendo também referido que o rapaz ou rapariga colocou droga na bebida ou drogou a outra
pessoa para terem relações sexuais ou para violar. Estas situações são descritas como forma de
exercer a violência sexual tal como refere a literatura (APAV, s.d; Saltzman et al., 2002).
Numa outra dimensão dos resultados, na discussão em grupo focal, disseram que o
rapaz para pressionar a rapariga a ter relações sexuais diminui a autoestima da rapariga ou diz-
lhe que ela não gosta dele. Já a rapariga seduz o rapaz, contudo, ambos ameaçam acabar o
namoro se não tiverem relações sexuais, tal como a APAV (s.d) indica que recorrem às ameaças,
sendo mencionado em alguns estudos que as raparigas têm relações sexuais para não perder o
namorado (Vilaça, 2007). Acrescentaram ainda que para obrigar uma pessoa a ter relações
89
sexuais podem recorrer à agressão física ou drogam ou alcoolizam a pessoa, tal como refere a
APAV (s.d) e Saltzman et al. (2002).
Os/as alunos/as mencionaram as razões pela qual o/a agressor/a pode aproveitar-se
do facto de uma pessoa estar sobre o efeito de álcool ou drogas para ter relações sexuais na
escola ou no local onde vivem, dizendo que pode acontecer em qualquer lado e porque não
estão informados não tendo cuidado com o que bebem e a quem pedem a bebida. Além disso,
os/as jovens na adolescência podem beber e drogar-se e depois aproveitam-se da sua
inconsciência para terem relações sexuais, tal como no estudo de Vilaça (2007) sobre as causas
da gravidez na adolescência. Uma minoria acrescentou ainda que pode ser devido às influências
dos/as amigos/as assim como estudos indicam que podem ter efeito nos comportamentos
dos/as jovens (Connolly et al., 2004; Leen et al., 2013; Vilaça, 2007).
4.3.2. Consequências da violência no namoro
Quais as consequências da violência no namoro. Nas investigações em grupo
realizadas pelos/as alunos/as, um grupo referiu que as consequências da violência no namoro
podem ser físicas, psicológicas, emocionais e estas consequências podem afetar direta ou
indiretamente a sociedade (TBG1). As consequências mencionadas pelos vários grupos foram:
perda de apetite; nervosismo; gravidez indesejada; doenças sexualmente transmissíveis (TAG1;
TBG1); baixa autoestima; baixo rendimento ou abandono escolar (TAG1; TBG1; TCG3); suicídio;
depressão (TAG1; TAG3; TBG1; TCG3; TDG4); tristeza (TAG1; TAG3; TAG4; TBG1; TCG3); isolamento ou sentir-se
sozinho/a (TAG1; TAG4; TBG1; TCG3; TDG4); sentimentos de culpa (TAG1; TAG4; TBG1; TCG3; TDG3); ansiedade
(TAG1; TAG4; TBG1; TDG4); a agressão física (estalos); mudanças no comportamento (TAG3); traumas ou
perturbações (TAG3; TCG3); sentir-se assustado/a (TAG4); confuso/a (TAG4; TCG3); vergonha (TAG4;
TDG3); desconfiança; insegurança; (TAG4; TCG3); confusão mental; paranoia; fobias; tensão; sente-
se deslocada (TCG3); distúrbios alimentares; raiva (TCG3; TDG4); marcas físicas (TAG1; TBG1; TCG3;
TDG4;); medo (TCG3; TDG3; TDG4) e baixa qualidade de vida (TDG4).
Ao longo da discussão em grupo focal os/as alunos/as foram questionados/as acerca
dos diferentes tipos de consequências da violência no namoro, sendo categorizadas dentro de
cada tipo de violência em consequências de nível físico, psicológico e social.
90
Consequências da violência física. As consequências da violência física estão
descritas na tabela 30.
Tabela 30
Consequências da violência física entre namorados (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Consequências Físicas Marcas físicas (inclui maus tratos, nódoas
negras, ferimentos, hematomas) 14 60.9 12 66.7 6 31.6 8 30.8 40 46.5
Facadas 5 21.7 5 5.8 Suicídio 14 60.9 4 22.2 8 42.1 26 30.2 Homicídio 3 13 4 21.1 20 23.3 Morte 5 21.7 3 16.7 3 15.8 11 12.8 Ida ao hospital/vai parar ao hospital 6 26.1 6 33.3 12 14 Hemorragias internas 6 26.1 6 7 Gravidez indesejada 3 13 3 3.5 Abortos 3 13 3 3.5
Consequências psicológicas Trauma psicológico 11 47.8 7 38.9 8 42.1 4 15.4 30 34.9 Pode ficar com a vida estragada 4 17.4 4 4.7 Perturbações psicológicas 6 26.1 9 50 11 57.9 3 11.5 29 33.7 Depressão 18 78.3 4 22.2 8 42.1 30 34.9 Falta de confiança noutras pessoas e em
si própria 3 13 3 16.7 4 21.1 10 11.6
Sente vergonha 6 26.1 3 11.5 9 10.5 Sente-se triste 1 5.6 1 1.2 Sente-se humilhado/a 2 11.1 2 2.3 Sente medo do/a agressor/a 7 30.4 3 16.7 4 21.1 4 15.4 18 20.9 Baixa autoestima 9 39.1 4 21.1 6 23.1 19 22.1 Sente-se culpado/a 4 21.1 4 4.7 Receio de namorar outra vez ou não
conseguir outro relacionamento 2 8.7 3 16.7 4 21.1 7 26.9 16 18.6
Consequências sociais Solidão/isolamento 1 4.3 3 15.8 4 15.4 8 9.3 Continua a deixar-se ser agredido/a por
medo de terminar a relação 3 13 3 11.5 6 7
Termina o namoro 8 34.8 8 9.3 Receio em pedir ajuda e desabafar com
outras pessoas 3 11.5 3 3.5
Não responde 2 8.7 3 16.7 4 21.1 12 46.2 21 24.4
Os/as alunos/as identificaram como consequências da violência física a nível físico,
preferencialmente as marcas físicas (46.5%), o suicídio (30.2%) e o homicídio (23.3%). A nível
psicológico, o trauma psicológico (34.9%), a depressão (34.9%), as perturbações psicológicas
(33.7%) e a baixa autoestima (22.1%), entre outras. A nível social referiram o terminar o namoro
e a vítima isolar-se (9.3%).
91
Consequências da violência verbal. A tabela 31 mostra as consequências da
violência verbal referidas pelos/as alunos/as.
Tabela 31 Consequências da violência verbal entre namorados (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Consequências Físicas Sente náuseas 1 4.3 1 1.2 Sentimento de querer matar o outro ou de
se matar a ele/a próprio/a 4 21.1 4 4.7
Homicídio 1 5.3 1 1.2 Consequências psicológicas
Trauma psicológico 3 16.7 3 3.5 Depressão 3 16.7 3 3.5 Insegurança 4 17.4 4 4.7 Sente vergonha 12 52.2 8 42.1 20 23.2 Sente-se triste 14 60.9 12 66.7 10 52.6 11 42.3 47 54.7 Sente-se humilhado/a 3 16.7 10 52.6 3 11.5 16 18.6 Sente medo do agressor/a 5 21.7 4 21.1 7 26.9 16 18.6 Baixa autoestima 2 11.1 2 10.5 4 15.4 8 9.3 Sente-se culpado/a 3 13 4 22.2 4 21.1 11 12.8 Sente-se ofendida 5 21.7 3 16.7 5 19.2 13 15.1 Sente-se desiludido/a com o agressor/a 3 16.7 3 11.5 6 7 Sente ódio 4 17.4 3 16.7 6 31.6 13 15.1 Não consegue ter relações sexuais com
o/a parceiro/a nem com outra pessoa 3 16.7 3 3.5
Consequências sociais Solidão/ isolamento 3 13 4 22.2 4 15.4 11 12.8 Sente-se traído/a 3 11.5 3 3.5 Receio de pedir ajuda e de desabafar com
outras pessoas 2 8.7 2 2.3
Não responde 6 26.1 3 16.7 5 26.3 12 46.2 26 30.2
A consequência da violência verbal mais destacada nível físico foi o sentimento de
querer matar o outro ou de se matar a ele/a próprio/a (4.7%), tendo sido referido também o
homicídio e as náuseas (1.2%). A nível psicológico, as consequências identificadas
preferencialmente, foram a vítima sentir-se triste (54.7%), com vergonha (23.2%) e sentir-se
humilhada ou com medo do/a agressor/a (18.6%). Por fim, a nível social, identificaram a solidão
e o isolamento (12.8%), o sentimento de traição (3.5%) e o receio em procurar ajuda e de
desabafar com outras pessoas (2.3%).
Consequências da violência sexual. A tabela 32 mostra as consequências da
violência sexual para a rapariga.
92
Tabela 32 Consequências para a rapariga por ter relações sexuais forçadas (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Consequências Físicas Suicídio 6 26.1 4 21.1 10 11.6 Homicídio 4 21.1 4 4.7 Gravidez indesejada 17 73.9 16 88.9 16 84.2 9 34.6 58 67.4 Aborto 4 17.4 5 27.8 4 21.1 13 15.1 Infeções sexualmente transmissíveis 15 65.2 16 88.9 6 23.1 37 43 Perde a virgindade 3 15.8 3 3.5
Consequências psicológicas Trauma psicológico 5 21.7 3 16.7 9 47.4 8 30.8 25 29.1 Perturbações psicológicas 3 15.8 3 3.5 Depressão 3 13 3 3.5 Sente vergonha 4 17.4 2 11.1 4 21.1 6 23.1 16 18.6 Sente-se triste 3 13 3 3.5 Sente medo do agressor 7 30.4 7 26.9 14 16.3 Baixa autoestima 2 10.5 4 15.4 6 7 Receia namorar outra vez 4 21.1 4 15.4 8 9.3 Sente-se “suja” 5 27.8 9 34.6 14 16.3 Sente-se violada 5 19.2 5 5.8 Não quer ter mais relações sexuais 1 4.3 5 27.8 2 10.5 4 15.4 12 14
Consequências sociais Solidão/ isolamento 4 21.1 4 4.7 Os pais deixam de a respeitar 2 11.1 2 2.3 Sofre pressão psicológica por parte da
família 2 11.1 2 2.3
Os pais põe-na fora de casa se estiver grávida
4 22.2 4 4.7
É mal vista pela sociedade 3 16.7 3 3.5 Não responde 6 26.1 2 11.1 3 15.8 7 26.9 18 20.9
A nível físico, cerca de mais de metade dos/as alunos/as referiu a gravidez indesejada
(67.4%). Também mencionaram as infeções sexualmente transmissíveis (43%), o aborto (15.1%)
e o suicídio (11.6%). A nível psicológico, disseram que as vítimas ficam com trauma psicológico
(29.1%) e sentem vergonha (18.6%). A nível social, referiram que a vítima isola-se (4.7%), que os
pais quando sabem do que lhes aconteceu expulsam-nas de casa se estiverem grávidas (4.7%) e
que, após de terem sido forçadas a ter relações sexuais, são mal vistas pela sociedade (3.5%).
Consequências por terem relações sexuais forçadas. Seguidamente,
apresentam-se as consequências para os rapazes por ter relações sexuais forçadas (Tabela 33).
A nível físico, os/as alunos/as identificaram as infeções sexualmente transmissíveis
(32.6%) e o ser pais sem querer (7%). A nível psicológico, as consequências mais evidenciadas
foram o trauma psicológico (24.4%) e o medo de ter relações sexuais (7%). A nível social, os/as
93
alunos/as referiram que a vítima isola-se (4.7%) e, tal como para as raparigas, são mal vistos
pela sociedade (3.5%).
Tabela 33 Consequências para os rapazes por ter relações sexuais forçadas (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Consequências Físicas Suicídio 2 8.7 3 15.8 5 5.8 Morte 3 15.8 3 3.5 Ser pais sem querer 3 15.8 3 11.5 6 7 Infeções sexualmente transmissíveis 12 52.2 13 72.2 3 11.5 28 32.6
Consequências Psicológicas Trauma psicológico 5 21.7 3 16.7 3 15.8 10 38.5 21 24.4 Perturbações psicológicas 2 10.5 2 2.3 Depressão 3 16.7 3 3.5 Vergonha de admitir que foram forçados 4 15.4 4 4.7 Sente-se triste 3 11.5 3 3.5 Sente medo da agressora 3 15.8 3 3.5 Receia namorar outra vez 3 11.5 3 3.5 Medo de ter relações sexuais 3 13 3 11.5 6 7 Não quer ter mais relações sexuais 1 5.6 1 1.2 Gosta de ter relações sexuais de qualquer
forma 2 8.7 3 15.8 5 5.8
Não se sente tão pressionado como a rapariga, porque não tem a mesma responsabilidade
4 22.2 4 4.7
Pode ser rebaixado pelos colegas 1 3.8 1 1.2 Consequências Sociais
Solidão/ isolamento 4 15.4 4 4.7 É mal visto pela sociedade 3 16.7 3 3.5
Não há consequências 1 5.3 1 1.2 Não sei 1 4.3 1 1.2 Não responde 6 26.1 4 22.2 6 31.6 12 46.2 28 32.6
Consequências para a pessoa que é ameaçada. Na tabela 34 estão descritas as
consequências para uma pessoa que foi ameaçada de contar aos outros coisas sobre a sua
intimidade.
Apenas foi identificada uma consequência a nível físico, as insónias (2.3%). A nível
psicológico, as mais evidenciadas foram o ter medo (59.3%), a vergonha (32.6%), sentir-se na
obrigação de ceder à chantagem, tendo de fazer o que o/a namorada quer (20.9%), e a tristeza
(17.4%). A nível social, a solidão/isolamento (3.5%) e o medo de socializar e de se aproximar de
alguém (3.5%).
94
Tabela 34
Consequências para a pessoa que é ameaçada que vão contar aos outros coisas sobre a sua intimidade (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Consequências Físicas Insónias 2 8.7 2 2.3
Consequências Psicológicas Depressão 3 16.7 3 3.5 Falta de confiança em si própria 3 13 3 3.5 Sente-se insegura 1 4.3 2 7.7 3 3.5 Sente vergonha 8 34.8 6 33.3 9 47.4 5 19.2 28 32.6 Sente-se triste 8 34.8 3 15.8 4 15.4 15 17.4 Sente-se humilhada 5 26.3 5 5.8 Sente medo 15 65.2 12 66.7 10 52.6 14 53.8 51 59.3 Baixa autoestima 4 15.4 4 4.7 Sente-se culpado/a 1 4.3 3 16.7 4 4.7 Receio de namorar outra vez 2 8.7 2 2.3 Sente-se desiludida 4 17.4 4 4.7 Sente-se traída/o 3 13 3 16.7 6 7 Sente-se mais tímida 3 13 3 3.5 Sente-se na obrigação de ceder à
chantagem 7 38.9 1 5.3 10 38.5 18 20.9
Sente-se arrependida por ter divulgado a sua intimidade
1 3.8 1 1.2
Sente-se com raiva 2 10.5 2 7.7 4 4.7 Sente-se que não pode fazer nada para
impedir a chantagem 2 7.7 2 2.3
Consequências Sociais Solidão/ isolamento 3 15.8 3 3.5 Medo de socializar e de se aproximar de
alguém 3 13 3 3.5
Não sabe 1 5.3 Não responde 6 26.1 4 22.2 8 42.1 11 42.3 29 33.7
Na tabela 35 estão as opiniões dos/as alunos/as sobre o que é que costuma fazer a
pessoa que é ameaçada de contar coisas sobre a sua intimidade.
Analisadas as suas respostas verifica-se que a nível físico, o suicídio (30.2%) foi o mais
evidenciado, seguindo-se o magoar-se a si próprio/a, cortando-se ou automutilando-se (14%). A
nível psicológico, referiram que a pessoa que é ameaçada sente-se na obrigação de ceder à
chantagem, ou seja, faz o que o/ameaçador/a quer (33.7%). Além disso, também sente medo
(16.3%). A nível social, pode isolar-se (36%), ou vai falar com os pais ou polícia, amigos ou com
outra pessoa (24.4%).
95
Tabela 35
O que costuma fazer a pessoa que é ameaçada que vão contar aos outros coisas sobre a sua intimidade (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Dimensão Física Magoa-se a si próprio/a, corta os pulsos,
automutilação 9 39.1 3 16.7 12 14
Deixam de comer, distúrbios alimentares 4 17.4 4 4.7 Suicídio 14 60.9 3 16.7 9 47.4 26 30.2
Dimensão psicológica Tenta ir a um psicólogo 4 17.4 3 16.7 7 8.1 Depressão 1 5.3 1 1.2 Falta de confiança noutras pessoas 7 30.4 7 8.1 Sente vergonha 5 21.7 2 7.7 7 8.1 Sente medo 6 33.3 3 15.8 5 19.2 14 16.3 Sente-se na obrigação de ceder à
chantagem 8 34.8 8 44.4 7 36.8 6 23.1 29 33.7
Dimensão social Solidão/ isolamento 15 65.2 8 44.4 4 21.1 4 15.4 31 36 Faz de tudo para resolver o problema 1 5.3 1 1.2 Fala com os pais ou polícia, amigos ou
outra pessoa 4 17.4 11 61.1 2 10.5 4 15.4 21 24.4
Termina o namoro 1 5.6 1 1.2 Foge 4 21.1 4 4.7
Não responde 5 21.7 2 11.1 5 26.3 13 50 25 29.1
Consequências das relações sexuais forçadas sob o efeito do álcool ou
drogas. A tabela 36 descreve as consequências para uma pessoa que teve relações sexuais
porque se aproveitaram do facto de ela estar sobre o efeito do álcool ou de drogas.
Verifica-se que a nível físico a gravidez indesejada e ser pai sem querer foi a mais
apresentada pelos/as alunos/as (34.9%), seguindo-se as infeções sexualmente transmissíveis
(23.3%). A nível psicológico, o trauma psicológico (25.6%) foi o mais referido, seguindo-se a
tristeza (22.1%), a vergonha (15.1%) e as perturbações psicológicas (14%) que a vítima adquire.
A nível social, referiam o facto de a vítima isolar-se (7%) e ficar com medo de sair à noite (4.7%).
96
Tabela 36
Consequências para uma pessoa que teve relações sexuais porque a outra se aproveitou do facto de ela estar sobre o efeito do álcool ou de drogas
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Consequências Físicas Suicídio 4 17.4 3 15.8 7 8.1 Homicídio 2 8.7 3 15.8 5 5.8 Morte 3 15.8 3 3.5 Gravidez indesejada / Ser pai sem querer 8 34.8 8 44.4 6 31.6 8 30.8 30 34.9 Aborto 2 8.7 4 21.1 6 7 Infeções sexualmente transmissíveis 4 17.4 11 61.1 5 19.2 20 23.3 Perde a virgindade 2 10.5 1 3.8 3 3.5
Consequências Psicológicas Trauma psicológico 4 17.4 4 22.2 7 36.8 7 26.9 22 25.6 Perturbações psicológicas 5 21.7 2 11.1 5 19.2 12 14 Depressão 7 36.8 7 8.1 Falta de confiança noutras pessoas 4 17.4 4 4.7 Sente vergonha 5 21.7 2 11.1 4 21.1 2 7.7 13 15.1 Sente-se triste 8 34.8 5 27.8 3 15.8 3 11.5 19 22.1 Remorsos por se ter alcoolizado ou
drogado 4 17.4 2 11.1 3 11.5 9 10.5
Medo 1 4.3 3 15.8 5 19.2 9 10.5 Receia namorar outra vez 4 15.4 4 4.7 Sente-se violada/o 3 16.7 3 11.5 6 7 Evita contacto físico e sexual 1 5.3 1 1.2 Continua a consumir drogas 4 17.4 4 4.7 Deixa de consumir bebidas alcoólicas 3 11.5 3 3.5 Sentem culpa mútua 1 5.6 1 1.2 Sente-se nervoso/a 2 11.1 2 2.3 Ameaça o/ a agressor/a 2 11.1 2 2.3 Não se lembra de nada/Perde os sentidos 7 38.9 2 10.5 3 11.5 12 14 Sente ódio 2 7.7 2 2.3
Consequências Sociais Solidão/ isolamento 1 4.3 5 26.3 6 7 Tem medo de sair à noite 4 15.4 4 4.7
Não responde 5 21.7 4 22.2 4 21.1 9 34.6 22 25.6
Consequências para as vítimas de agressões através da internet e telemóvel.
As consequências para uma pessoa que foi vítima de agressões verbais e humilhação através da
internet ou se sms no telemóvel são apresentadas na tabela 37.
A nível físico, o suicídio ou tentativa de suicídio (17.4%) e a morte (3.5%) foram as únicas
consequências identificadas. A nível psicológico mencionaram a tristeza (32.6%), a vergonha
(26.7%) e a humilhação (23.3%) que a vítima sente. A nível social, a vítima isola-se (20.9%) e
quando sofre de violência através das redes sociais apaga ou desativa a conta do facebook
(11.6%).
97
Tabela 37
Consequências para uma pessoa que foi vítima de agressões verbais e humilhação através da internet ou de sms no telemóvel (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Não há consequências 1 4.3 1 1.2 Consequências Físicas
Suicídio ou tentativa 7 30.4 4 22.2 4 21.1 15 17.4 Morte 3 15.8 3 3.5
Consequências Psicológicas Perturbações psicológicas 1 4.3 4 21.1 2 7.7 7 8.1 Depressão 13 56.5 2 7.7 15 17.4 Falta de confiança noutras pessoas 6 26.1 6 7 Sente vergonha 7 30.4 3 16.7 9 47.4 4 15.4 23 26.7 Sente-se triste 15 65.2 8 44.4 5 19.2 28 32.6 Sente-se humilhado/a 5 21.7 10 55.6 1 5.3 4 15.4 20 23.3 Sente medo do agressor 2 11.1 4 21.1 6 7 Sente ódio 1 3.8 1 1.2 Receia namorar outra vez 2 10.5 4 15.4 6 7 Deseja vingar-se 5 27.8 5 5.8 Sair do país 1 5.3 1 1.2 Começar a consumir álcool ou drogas 4 21.1 4 4.7 Sente-se arrependido/a por ter divulgado a
sua intimidade 1 3.8 1 1.2
Sente-se desiludido/a com o agressor/a 4 15.4 4 4.7 Consequências Sociais
Solidão/ isolamento 6 26.1 4 22.2 6 31.6 2 7.7 18 20.9 Os pais quando sabem batem 4 21.1 4 4.7 Toda a gente fica a saber sobre a vida
dele/a 3 15.8 1 3.8 4 4.7
É mal visto/a pela sociedade 2 8.7 3 16.7 5 5.8 Apaga/desativa a conta do Facebook ou
outras redes sociais 6 26.1 2 10.5 2 7.7 10 11.6
Termina o namoro 2 7.7 2 2.3 Baixa o rendimento escolar 4 17.4 4 4.7
Não sabe 1 4.3 1 1.2 Não responde 3 13 6 33.3 4 21.1 14 53.8 27 31.4
Discussão. Na análise feita aos resultados das conceções iniciais, das investigações
realizadas pelos/as alunos/as e na discussão em grupo focal pode verificar-se que os/as
alunos/as nas suas ideias iniciais já tinham algum conhecimento sobre o tema dando a
conhecer que sabiam muitas das consequências derivadas da violência no namoro. Contudo, ao
longo da discussão em grupo focal e nas suas investigações acrescentaram mais algumas.
Nas conceções iniciais, nas suas investigações, e na discussão em grupo focal, as
consequências a nível físico mais evidenciadas pelos/as alunos/as foram as marcas físicas tal
como o estudo de Chiodo et al. (2009) e a OMS (1997) indicam, a gravidez indesejada também
mencionada na literatura (Mirsky, 2003; Ohnishi et al., 2011; Population Council, 2004; Sinclair
98
et al., 2013; United Nations Population Fund, 2005) e o suicídio, tal como alguns investigadores
também referem, incluindo os pensamentos e tentativa de suicídio (CDC, s.d; Chiodo et al.,
2009; Howard et al., 2007; Mirsky, 2003; OMS, 1997; Sinclair et al., 2013), mantendo-se estas
ideias desde o início até ao fim do projeto.
Nas ideias iniciais e no final do projeto as suas ideias mantiveram-se, mencionando
novamente o homicídio como a OMS (1997) também assinala. Mencionaram também as
facadas podendo estas estar relacionadas com uso de armas para ameaçar a outra pessoa
como é referido no estudo de Ferreira (2011) e, também, a hospitalização da vítima e a morte,
podendo esta estar relacionada com o homicídio e suicídio anteriormente referidos, tal como o
sentimento de querer matar o/a outro/a ou a ele/a próprio/a que surgiu como ideia nova na
discussão em grupo.
Nas investigações realizadas aprenderam que são consequências da violência no
namoro os distúrbios alimentares que podem estar relacionados com as dietas, identificadas
como fatores de risco no estudo de Chiodo et al. (2009) e, também, as doenças sexualmente
transmissíveis, tal como, referido em várias investigações (Mirsky, 2003; Ohnishi et al., 2011;
Population Council, 2004; Sinclair et al., 2013; United Nations Population Fund, 2005). Esta
aprendizagem manteve-se no final do projeto.
No final do projeto ainda mencionaram o ser pais sem querer, que pode estar
relacionado com a gravidez indesejada (Mirsky, 2003; Ohnishi et al., 2011; Population Council,
2004; Sinclair et al., 2013; United Nations Population Fund, 2005). Acrescentaram ainda a
automutilação, indicada também em alguns estudos (Chiodo et al., 2009; Marshall et al., 2013),
as insónias, que podem estar relacionadas com as disfunções emocionais ao longo da vida
referidas por Sinclair et al. (2013). Por fim, ainda acrescentaram mais algumas, tais como as
náuseas e as hemorragias internas originando o desenvolvimento de problemas de saúde (OMS,
1997), o aborto, também identificado por Mirsky (2003), Sinclair et al. (2013) e pela United
Nations Population Fund (2005), e ainda a perda da virgindade, podendo estar ligada à violação
indicada pelos/as alunos/as nas conceções iniciais.
A nível psicológico, nas ideias iniciais, nas investigações feitas em grupo e na discussão
em grupo as suas ideias mantiveram-se, voltando a referir no final do projeto os traumas
psicológicos tal como refere a OMS (1997), as perturbações psicológicas como é identificado no
estudo de Chiodo et al. (2009), a baixa autoestima como é indicado na literatura (Mpiana,
2011), a tristeza ou sofrimento tal como indicam alguns estudos (Alleyne, et al., 2011; APAV,
99
s.d; Howard et al., 2007) e a depressão. Também referiram o sentimento de culpa como é
referido por Mpiana (2011); a vergonha tal como refere a APAV (s.d); o sentir medo incluindo
do/a agressor que pode estar relacionado também com o medo em geral, indicado no estudo de
Mpiana (2011), além disso, também pode estar incluído o medo de ter relações sexuais e o
medo em relacionar-se outra vez, como indicaram os/as alunos/as nas ideias iniciais e no final
do projeto. Por fim, indicaram a falta de confiança nas outras pessoas tal como referido pela
APAV (s.d).
Também resultaram das suas aprendizagens o sentir-se nervoso/a e com raiva, ideias
que se mantiveram na discussão em grupo, sendo que a raiva também pode estar relacionada
com o ódio identificado nas suas ideias iniciais. Na discussão em grupo ainda acrescentaram o
facto de a vítima sentir-se na obrigação de ceder à chantagem e a humilhação podendo esta
afetar a autoestima da vítima (CDC, 2014).
A nível social, nas ideias, no processo de aprendizagem e no final do projeto
mencionaram o isolamento tal como refere Mirsky (2003) a propósito das consequências da
violência sexual. Nas ideias iniciais também referiram que a relação de namoro pode terminar,
tal como aconteceu em Ferreira (2011), e a vítima pode ter receio em pedir ajuda e desabafar
com outras pessoas, podendo com o medo não acusar os casos de violência e não contar à
família e amigos/as (CDC, 2014). Estas ideias mantiveram-se no final do projeto.
Durante a investigação em grupo e na discussão em grupo focal referiram que a vítima
pode baixar o seu rendimento escolar, tal como indica CDC (s.d). No final do projeto
acrescentaram que a vítima tem medo de socializar com alguém e tem medo de sair à noite. Tal
como referido anteriormente, pode enquadrar-se no medo referido por Mpiana (2011). Também
acrescentaram que as vítimas sentem-se traídas, que são mal vistas pela sociedade e, no caso
da rapariga, se os pais descobrem que ela está grávida põe-na fora de casa. Contudo, disseram
que podem falar ou fazer queixa aos pais, à policia, aos/às amigos/as ou a outra pessoa e, se
estiverem a sofrer de violência através das redes sociais eliminam a sua conta na rede social.
Estes resultados mostram que os/as alunos/as adquiriram mais conhecimento acerca
das consequências da violência no namoro após a implementação do projeto educativo “Agir
para prevenir: diz não à violência no namoro”.
4.3.3. Causas da violência no namoro
Quais as causas da violência no namoro. Na investigação sobre o tema realizado
pelos/as alunos/as identificaram fatores de risco associados à violência no namoro tal como, o
100
uso de álcool ou drogas; ter um/a amigo/a envolvido numa relação de namoro violenta; ter
múltiplos parceiros sexuais e estar deprimido e ansioso (TDG1). Foram várias as causas indicadas
por eles/as, nomeadamente os ciúmes (TAG1; TAG3; TBG2; TCG1; TCG3; TCG4; TDG1; TDG2; TDG4); as
perturbações psicológicas; uso de álcool e drogas (TAG1; TBG2); a desconfiança (TAG3; TBG2; TDG2;
TDG4); as crianças crescerem a observar comportamentos de violência ou agressão através dos
pais (TBG2); um dos namorados pensar que tem o direito de decidir determinadas coisas pelo
outro; terem a perceção que o ser masculino é ser agressivo e usar força (TCG1; TCG3; TDG1);
sentimento de posse (TCG1; TCG3; TAG3; TBG2); pensarem que são os responsáveis pelos problemas
na relação; sentirem-se culpados (TCG1; TCG3; TBG2; TBG3; TCG3; TCG4); proteção (TCG3); medos (TCG3;
TDG1); medo de perder o/a namorado/a ou terminar a relação (TAG3; TBG4; TCG3; TCG4); insegurança
(TCG3; TDG4); não haver respeito na relação; acreditarem que é melhor estar numa relação de
namoro violenta do que estar sozinho/a; acreditar que uma bofetada ou um insulto não é
violência; acreditar que a agressão é uma demonstração de amor; o/a agressor/a ser violento é
normal; a pressão do grupo; contínua na relação violenta porque há um ciclo de violência que o
explica, constituído por três fases: acumulação de tensão; explosão violenta e “Lua-de-Mel”
(TDG1); a mentira (TDG2); controlo (TAG3; TDG2; TDG4); toleram a agressão (TBG4; TDG3); desculpabilizam
(TBG3; TBG4; TDG3); traumas do passado; poder (TDG4); acredita que o episódio de violência foi devido
a ter um “mau dia”, problemas com os pais ou na escola ou porque se descontrolou; acredita
em “crenças e mitos” que condicionam comportamentos; acredita que apesar do/a agressor/a
o/a tratar mal gosta dele/a (TBG4); escondem a violência, mentindo; invasão de privacidade
(TAG3); pensam que não podem recusar a ter relações sexuais (TBG2); o/a agressor/a dá
presentes, acaricia para a vítima se esquecer e perdoar; acredita que o/a agressor/a vai mudar;
tem medo de se relacionar outra vez; sente que não suscita interesse noutra pessoa (TBG3); o
respeito impõe-se (TCG1;TDG1); acha que foi um incidente e não haverá uma segunda vez; foi um
ato irracional (TCG3); para o/a agressor/a controlar é normal (TAG3); acredita que o amor muda o
caráter da outra pessoa (TCG4); acredita que se o/a fizer feliz não voltará a ser violento/a;
acredita que o amor ultrapassa tudo (TBG3; TCG4); sente vergonha (TBG3; TCG4; TDG1); gosta dele/a
(TBG3; TDG1); sente-se humilhado/a e não consegue partilhar o seu sentimento com outras
pessoas (TCG4); devido ao sentimento pelo/a agressor/a não o/a quer culpabilizar (TCG3); tem
medo do/a namorado/a; receio em ser julgado/a; estar apaixonado/a e o amor é cego; estar na
relação por obrigação (TAG2), por fim, não se apercebe da gravidade da situação não
reconhecendo a violência que está a sofrer (TAG2; TAG3).
101
No final, na discussão em grupo focal os/as alunos/as foram questionados/as acerca
dos diferentes tipos de causas da violência no namoro sendo categorizadas dentro de cada tipo
de violência em causas de nível psicológico e social, não sendo identificadas pelos/as alunos/as
causas de nível físico.
Causas da violência física. A tabela 38 mostra as causas da violência física
apresentadas pelos/as alunos/as.
Tabela 38
O que leva um dos/as namorados/as a ser fisicamente violento com o/a outro/a
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Causas psicológicas Ciúmes 14 60.9 9 50 14 73.7 7 26.9 44 51.2 Desconfiança 12 52.2 2 11.1 5 26.3 8 30.8 27 31.4 Insegurança 4 17.4 4 21.1 4 15.4 12 14 Consumo de drogas 4 17.4 3 15.8 7 8.1 Consumo de álcool 3 13 3 15.8 6 7 Mentira 3 13 3 3.5 Perturbações psicológicas 2 8.7 3 16.7 3 15.8 4 15.4 12 14 Medo 2 11.1 2 10.5 4 4.7 Medo de perder a pessoa de quem gosta 2 7.7 2 2.3 O/a namorado/a não quer ter rel. sexuais 5 21.7 5 26.3 10 11.6 Reproduzir a violência pela qual já passou 2 8.7 2 7.7 4 4.7 A vítima deixa-se ser agredida 3 16.7 3 3.5
Causas sociais Quer controlar o/a companheiro/a 6 33.3 5 26.3 3 11.5 14 16.3 Insultos 5 21.7 5 5.8 Sente-se traído/a 6 26.1 2 11.1 9 47.4 17 19.8 Discussões 8 34.8 1 5.6 9 10.5
Não responde 4 17.4 6 33.3 4 21.1 14 53.8 28 32.6
Analisadas as suas respostas conclui-se que a nível psicológico, as causas mais
evidentes são os ciúmes (51.2%), a desconfiança (31.4%), a insegurança (14%) e as
perturbações psicológicas (14%), tais como a obsessão ou o ter sido vítima de violência pelos
pais. A nível social, o sentimento de traição (19.8%) e o querer controlar o/a namorado/a
(16.3%) foram as principais causas da violência física ditas pelos/as alunos/as.
Causas da violência verbal. Como se pode verificar, as causas da violência verbal
comparativamente às causas da violência física, a nível psicológico voltaram a mencionar as
perturbações psicológicas (11.6%), a insegurança (10.5%) e os ciúmes (7%) (Tabela 39). A nível
social, os insultos (17.4%) e o controlar o/a namorado/a (15.1%).
102
Tabela 39
Causas da violência verbal (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Causas psicológicas Ciúmes 3 15.8 3 11.5 6 7 Desconfiança 2 7.7 2 2.3 Insegurança 9 34.6 9 10.5 Perturbações psicológicas 4 17.4 3 16.7 3 15.8 10 11.6 O namorado/a não quer ter rel. sexuais 4 17.4 4 4.7 Não ter bom desempenho sexual 1 4.3 1 1.2 Querer vingar-se do/a namorado/a 2 10.5 2 2.3 Reproduzir a violência pela qual já passou 3 15.8 3 3.5
Causas sociais Quer controlar o/a namorado/a 4 22.2 3 15.8 6 23.1 13 15.1 Insultos 5 21.7 7 38.9 3 11.5 15 17.4 Sente-se traído 3 15.8 3 3.5 Discussões 4 17.4 3 16.7 7 8.1 Falta de educação 4 17.4 5 27.8 9 10.5 Stress do trabalho 3 13 3 3.5 Querer terminar o namoro 3 11.5 3 3.5
Não sabe (não está por dentro do assunto) 1 4.3 1 3.8 2 2.3 Não responde 8 34.8 5 27.8 7 36.8 13 50 33 38.4
Causas da violência sexual. A tabela seguinte apresenta as causas da violência
sexual (Tabela 40).
Tabela 40
O que leva o rapaz a pressionar a rapariga para terem relações sexuais (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Causas psicológicas Querer ter prazer 13 56.5 6 23.1 19 22.1 Querer ter relações sexuais 11 47.8 7 38.9 11 57.9 6 23.1 35 40.7 Querer perder a virgindade 5 21.7 4 22.2 3 15.8 12 14
Causas sociais Querer exibir a sua “masculinidade”
perante os amigos 6 26.1 3 16.7 3 11.5 12 14
Por os amigos pressionarem para ele ter relações sexuais
3 16.7 1 3.8 4 4.7
Para ter a mesma experiência sexual dos amigos
3 16.7 2 10.5 6 23.1 11 12.8
Por já ter idade e um namoro “estável” 3 15.8 3 3.5 Humilhar a rapariga 1 4.3 1 1.2 Querer fixar a relação 4 22.2 5 19.2 9 10.5 Querer ter filhos 2 11.1 2 2.3
Não sabe 1 5.3 1 3.8 2 2.3 Não responde 5 21.7 7 38.9 7 36.8 12 46.2 31 36
103
Quando questionados/as sobre o que leva o rapaz a pressionar a rapariga para ter
relações sexuais, eles/as referiram, a nível psicológico, que o fazem porque querem ter relações
sexuais (40.7%), porque querem ter prazer (22.1%) ou porque querem perder a virgindade (14%).
A nível social, disseram que os rapazes fazem-no para exibir a sua “masculinidade” aos amigos
(14%) e para ter a mesma experiência que eles (12.8%).
A tabela 41 mostra os resultados face à mesma questão mas para as raparigas.
Tabela 41
O que leva a rapariga a pressionar o rapaz para terem relações sexuais (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Causas psicológicas Querer ter prazer 3 13 3 11.5 6 7 Querer ter relações sexuais 8 34.8 5 26.3 13 15.1 Perturbações psicológicas 4 17.4 2 10.5 6 7 Falta de carácter 4 17.4 4 4.7
Causas sociais Querer exibir a sua experiência sexual
perante os amigos 5 21.7 5 19.2 10 11.6
Humilhar o rapaz 3 13 3 3.5 Querer fixar a relação 3 16.7 1 5.3 4 4.7 Para ter a mesma experiência sexual das
amigas 4 22.2 8 30.8 12 14
Por os amigos pressionarem para ela ter relações sexuais
1 5.6 13 50 14 16.3
É menos usual a rapariga pressionar/não é tanto isso
7 38.9 7 8.1
A rapariga não pressiona 3 15.8 3 3.5 Não responde 8 34.8 7 38.9 8 42.1 13 50 36 41.9
A nível psicológico os/as alunos/as também mencionaram o querer ter relações sexuais
(15.1%), e o querer ter prazer (7%), acrescentando que pode ser devido a ter perturbações
psicológicas (7%). A nível social, referiram que a rapariga pressiona porque os/as amigos/as
pressionam para ela ter relações sexuais (16.3%), porque quer ter a mesma experiência sexual
das amigas (14%) ou porque quer exibir a sua experiência sexual aos/às amigos/as (11.6%), tal
como também identificaram para os rapazes que pressionam.
Seguidamente, foi-lhes perguntado o que leva alguém a abusar sexualmente de outra
pessoa (Tabela 42).
As respostas dos/as alunos/as, a nível psicológico, incidiram principalmente no facto de
querer ter relações sexuais (34.9%), seguido de sofrer de perturbações psicológicas (18.6%).
104
Tabela 42
O que pode levar alguém a abusar sexualmente de outra pessoa (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Causas psicológicas Querer ter relações sexuais 16 69.6 3 16.7 7 36.8 4 15.4 30 34.9 A rapariga ser atraente 2 7.7 2 2.3 Perturbações psicológicas 8 34.8 3 16.7 1 5.3 4 15.4 16 18.6 Falta de caráter 6 26.1 3 11.5 9 10.5 Ser pedófilo/violador 5 21.7 4 15.4 9 10.5 Estar drogado ou alcoolizado 3 13 3 11.5 6 7 Sentir raiva dessa pessoa 1 4.3 1 1.2 Não aceitar o facto da outra pessoa não
querer ter relações sexuais 3 15.8 3 3.5
Obrigar alguém a ter rel. sexuais por não conseguir ter um relacionamento
1 5.3 1 1.2
Causas sociais Violar um rapaz para se vingar do ex-
namorado/a provocando-lhe ciúmes 5 21.7 5 5.8
Querer fixar a relação 3 16.7 3 3.5 Por já ter idade para ter relações sexuais 3 16.7 3 3.5 Os amigos pressionam para ter rel. sexuais 3 16.7 3 3.5 Querer exibir a sua experiência sexual
perante os amigos 2 11.1 3 15.8 1 3.8 6 7
Não sabe 1 3.8 1 1.2 Não responde 7 30.4 7 38.9 8 42.1 12 46.2 34 39.5
A nível social, disseram que as pessoas o fazem por querer exibir a sua experiência
sexual aos/às amigos/as (7%) e cinco alunos/as afirmaram que violam um rapaz para se vingar
do/a ex-namorado/a provocando-lhe ciúmes.
Causas da violência sexual sob o efeito de álcool ou drogas. A tabela 43 revela
quais as causas da violência sexual em pessoas que estão drogadas ou bêbadas.
Tabela 43
O que pode levar alguém a abusar sexualmente de pessoas que estão drogadas ou bêbadas
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Causas psicológicas Querer ter prazer 3 11.5 3 3.5 Querer ter relações sexuais 6 26.1 4 22.2 5 26.3 1 3.8 16 18.6 A rapariga ser atraente 5 21.7 6 23.1 11 12.8 Perturbações psicológicas 6 26.1 3 16.7 1 3.8 10 11.6 Falta de carácter 11 47.8 3 16.7 14 16.3 Querer perder a virgindade 3 13 3 3.5 Obrigar alguém a ter rel. sexuais por não
conseguir ter um relacionamento 9 39.1 9 10.5
Não consegue convencer essa pessoa a ter rel. sexuais quando está consciente
12 52.2 10 55.6 7 36.8 6 23.1 35 40.7
Reproduzir a violência pela qual já passou 4 21.1 4 4.7
105
Tabela 43
O que pode levar alguém a abusar sexualmente de pessoas que estão drogadas ou bêbadas (cont.) (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Causas sociais Querer exibir a sua experiência sexual 4 15.4 4 4.7 Ninguém querer ter relações sexuais com
ele/a por ter SIDA 3 13 3 3.5
Considerar que depois a vítima não se vai lembrar
5 26.3 5 5.8
Não responde 6 26.1 8 44.4 8 42.1 15 57.7 37 43
A nível psicológico, acontece pelo facto da pessoa não conseguir convencer a outra a ter
relações quando ele/a está consciente (40.7%) e por querer ter relações sexuais (18.6%),
havendo uma minoria que disse que acontece devido à violência pela qual já passou e quer
reproduzir essa violência (4.7%). A nível social, as pessoas fazem-no porque consideram que a
vítima não se irá lembrar (5.8%) ou também o fazem para exibir a sua experiência sexual (4.7%).
Causas da violência no namoro entre jovens heterossexuais. A tabela seguinte
indica-nos quais as causas da violência no namoro entre os/as jovens heterossexuais (Tabela
44).
Tabela 44
Razões porque existe violência no namoro entre os jovens heterossexuais (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Causas psicológicas Ciúmes 7 30.4 8 44.4 3 15.8 5 19.2 23 26.7 Desconfiança 1 4.3 4 22.2 3 15.8 11 42.3 19 22.1 Insegurança 3 15.8 3 3.5 Mentiras 2 7.7 2 2.3 Raiva 3 15.8 3 3.5 Perturbações psicológicas 5 21.7 5 5.8 Baixa autoestima 2 8.7 2 2.3 Falta de carácter 3 13 1 3.8 4 4.7 Medo de perder o /a namorado/a 6 33.3 1 3.8 7 8.1 Reproduzir a violência pela qual já passou 3 16.7 3 3.5
Causas sociais Quer controlar o/a namorado/a 5 21.7 4 22.2 9 10.5 Desrespeito 4 22.2 7 36.8 11 12.8 Infidelidade 3 13 2 10.5 5 5.8 Discussões 4 17.4 7 36.8 6 23.1 17 19.8 Falta de comunicação 1 5.6 3 15.8 4 15.4 8 9.3 Falta de dinheiro 3 13 3 3.5 Não tem os mesmos sentimentos 3 13 2 11.1 2 10.5 7 8.1
Não responde 11 47.8 5 27.8 7 36.8 15 57.7 38 44.2
106
A nível psicológico, as principais causas da violência no namoro entre os/as jovens
heterossexuais são os ciúmes (26.7%) e a desconfiança (22.1%). A nível social, são as
discussões (19.8%), o desrespeito entre o casal (12.8%) e o querer controlar o/a namorado/a
(10.5%), exercendo controlo sobre ele/a. Ainda acrescentaram, também a falta de diálogo e
comunicação entre o casal (9.3%).
Causas da violência no namoro entre jovens homossexuais. Seguidamente,
questionou-se os/as alunos/as porquê que existe violência no namoro entre os/as jovens
homossexuais (Tabela 45).
Tabela 45
Razões porque existe violência no namoro entre os jovens homossexuais (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Causas psicológicas Ciúmes 6 26.1 8 44.4 2 10.5 3 11.5 19 22.1 Desconfiança 2 8.7 4 15.4 6 7 Mentira 2 7.7 2 2.3 Perturbações psicológicas 4 17.4 4 4.7 Raiva 2 10.5 2 2.3 Baixa autoestima 5 21.7 5 5.8 Não aceitar a sua orientação sexual 5 19.2 5 5.8 Falta de carácter 2 8.7 2 2.3 Medo de perder o/a namorado/a 3 15.8 2 7.7 5 5.8
Causas sociais Desentendimentos 5 21.7 2 10.5 7 8.1 Infidelidade 1 4.3 5 26.3 6 7 Vergonha de assumir a homossexualidade 1 5.6 2 7.7 3 3.5 Os amigos, família, sociedade não
aceitarem a sua orientação sexual 3 16.7 5 19.2 8 9.3
Falta de dinheiro 5 21.7 5 5.8 Querer controlar o/a namorado/a 4 17.4 5 19.2 9 10.5 Não tem os mesmos sentimentos 1 4.3 1 5.3 2 2.3
Não responde 12 52.2 7 38.9 9 47.4 16 61.5 44 51.2
Tal como para os/as jovens heterossexuais, também identificaram a nível psicológico, os
ciúmes (22.1%) e a desconfiança (7%). A nível social, assim como para os/as jovens hétero,
indicaram o querer controlar o/a namorado/a (10.5%) e os desentendimentos (8.1%).
Acrescentaram ainda o facto de os/as amigos/as, a família e a sociedade não aceitarem
a sua orientação sexual e eles/as ficam revoltados/as acabando por descarregar a sua revolta
no/a namorado/a (9.3%).
107
Discussão. Após a análise aos resultados das conceções iniciais, das suas
aprendizagens durante as investigações e na discussão em grupo focal, os/as alunos/as
mantiveram as suas ideias, identificando como principais causas da violência no namoro a nível
psicológico, os ciúmes como indica a investigação (APAV, s.d; Caridade, 2008; Ferreira, 2011;
Giordano et al., 2010), a desconfiança considerada no estudo de Caridade (2008) e a
insegurança. Também mencionaram o consumir álcool, tal como indicam vários estudos
(Alleyne, et al., 2011; Machado, 2010; McDonell et al., 2010; Mirsky, 2003; Matos et al., 2009).
O uso de drogas aqui referido também foi referido noutros estudos (Ali & Naylor, 2013; Alleyne,
et al., 2011; Matos et al., 2009; McDonell et al., 2010). As perturbações psicológicas, por
exemplo, a obsessão aqui referida, foi também identificada no estudo de Caridade (2008).
Nas suas investigações também aprenderam que a violência no namoro pode ser devida
à violência que observou na infância nos pais, tal como referido noutros estudos (Caridade,
2008; CDC, s.d; Franklin & Kercher, 2012; Malik et al., 1997; Mirsky, 2003; OMS, 1997;
Oliveira e Sani, 2009; Vézina & Hébert, 2007). Mantendo esta aprendizagem no final do projeto.
A nível social referiram controlar o/a namorado/a, tal como no estudo de Machado
(2010) e os insultos, podendo estes estarem relacionados com o conflito verbal (Giordano et al.,
2010). Contudo, na discussão em grupo focal mantiveram-se as suas ideias iniciais quando
referiram as discussões, tal como se encontrou no estudo de Ferreira (2011); o sentimento de
traição ou infidelidade, tal como no estudo de Giordano et al. (2010) e a falta de diálogo entre os
namorados.
No final do projeto também explicaram porque existe violência no namoro entre jovens
hétero, explicando que acontece porque não se respeitam, tal como refere a APAV (s.d). Nos
jovens homossexuais, existe violência no namoro pelo facto dos amigos, a família, e a sociedade
não aceitarem a sua orientação sexual.
No final do projeto, relativamente às razões porque pressionam as pessoas para terem
relações sexuais, acrescentaram algumas causas a nível psicológico, tais como o querer ter
prazer; querer ter relações sexuais; querer perder a virgindade; não convencer uma pessoa a ter
relações sexuais quando está consciente e aproveitam-se da sua inconsciência, entre outras,
podendo estas causas estar na base da pressão para iniciar a vida sexual (APAV, s.d) ou
acontecer devido a explicações de natureza psicológica ou desenvolvimental (Caridade, 2008). A
nível social, a violência acontece porque querem exibir a sua experiência sexual, querem ter a
mesma experiência sexual dos/as amigos/as ou porque os/as amigos/as pressionam para
108
terem relações sexuais. Isto vai ao encontro de estudos que indicam que a influência dos pares
pode ser um fator de risco para a violência no namoro (Giordano et al., 2010; Leen et al., 2013;
Vilaça, 2007), tal como a pressão dos pares (Caridade, 2008).
Os/as alunos/as também disseram quais as causas dos abusos sexuais em pessoas
conscientes e em pessoas sob o efeito do álcool ou drogas, dizendo que acontece porque
também querem exibir a sua experiência sexual, para se vingar do ex-namorado/a provocando-
lhe ciúmes ou porque consideram que a vítima não se vai lembrar do que aconteceu.
Como se verifica, o seu conhecimento sobre as causas da violência no namoro evoluiu
após a implementação do projeto educativo “Agir para prevenir: diz não à violência no namoro”,
pois identificaram causas novas no final do projeto.
4.3.4. Gravidade da violência no namoro e estratégias para eliminar o problema
Gravidade da violência. Nas investigações em grupo, alguns grupos referiram que
um em cada quatro jovens em Portugal é vítima de violência no namoro (TAG1; TAG3; TBG2; TDG2;
TDG3), tendo sido mencionado por outro grupo que uma em cada cinco pessoas já passou por
alguma forma de violência no namoro, e quando inclui o abuso verbal a estimativa sobe para
quatro em cada cinco pessoas sendo que nem todas as vítimas são mulheres (TDG2). Ao longo da
discussão em grupo focal os/as alunos/as foram questionados/as acerca da gravidade de
violência no namoro na escola (Tabela 46).
Tabela 46
Gravidade de casos de violência no namoro na escola (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Grau de gravidade da violência no namoro É pouco grave 2 8.7 2 11.1 4 21.1 6 23.1 14 16.3 Não há violência 14 60.9 6 33.3 8 42.1 4 15.4 32 37.2 Não responde 7 30.4 10 55.6 7 36.8 16 61.5 40 46.5
Razões por que há casos de violência grave no namoro na escola Porque as pessoas escondem 7 26.9 7 8.1 Porque já presenciou violência verbal 1 5.6 1 1.2
Razões por que não há casos de violência grave no namoro na escola Porque a escola é pacífica 3 13 3 3.5 Porque os adolescentes são sensatos 2 8.7 2 11.1 3 15.8 7 8.1 Porque há adultos que podem ajudar 2 11.1 1 5.3 3 3.5 Porque se tiverem que bater é fora da
escola 1 5.6 1 1.2
Porque há mais segurança 1 5.6 1 1.2 Porque pouca gente namora 1 5.3 7 26.9 8 9.3 Não têm idade para ser violentos 2 10.5 3 11.5 5 5.8
109
Cerca de 17% dos/as alunos/as referiram que a gravidade da violência no namoro na
escola é pouca, sendo que 37.2% disse que não há violência no namoro na escola. Dos/as que
disseram que há pouca gravidade, justificaram que pode existir porque as pessoas podem
esconder e não contar a violência que estão a sofrer (8.1%) e, um/a aluno/a disse que pode
acontecer porque já presenciou violência verbal (1.2%). Dos/as alunos/as que afirmaram que
não há violência no namoro, explicaram que é porque pouca gente namora na escola (9.3%), e
porque os/as adolescentes são sensatos/as (8.1%).
A tabela 47 demonstra a gravidade de violência no namoro no local onde vivem.
Tabela 47
Gravidade de casos de violência no namoro no local onde vive (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Grau de gravidade da violência no namoro É pouco grave 2 8.7 3 16.7 6 31.6 5 19.2 16 18.6 Gravidade média 2 8.7 3 16.7 2 10.5 7 8.1 Não há violência 6 26.1 2 11.1 1 5.3 3 11.5 12 14 Não sabe 3 15.8 1 3.8 4 4.7 Não responde 13 56.5 10 55.6 7 36.8 17 65.4 47 54.7
Razões por que há casos de violência grave no namoro no local onde vivem Porque há etnia cigana 1 4.3 1 5.6 1 5.3 3 3.5 Há mais pessoas na rua do que na escola 1 4.3 1 1.2 Porque há muitos bares 1 5.3 1 1.2 Porque as pessoas escondem 1 3.8 1 1.2 Porque já presenciou violência verbal 1 5.6 1 1.2
Mais de metade dos/as participantes não respondeu, 18.6% dos/as alunos/as referiu
que a gravidade é pouca, 8.1% disse que há muita gravidade, sendo que 14% disse que não há
violência no namoro no local onde vivem. Dos/as que referiram que existe violência no namoro,
explicaram que pode haver porque há etnia cigana (3.5%), porque há mais pessoas na rua do
que na escola (1.2%), porque é uma zona com muitos bares (1.2%) e porque as pessoas
também podem esconder a violência que sofrem (1.2%). Além destas justificações também
um/a aluno/a disse que já presenciou violência verbal.
Estratégias para eliminar a violência no namoro. No decorrer das investigações
em grupo os/as alunos/as indicaram algumas estratégias que podem ser utilizadas para
prevenir a violência no namoro, que podem ser: visualização de filmes; análise de folhetos;
debates sobre o tema; análise de notícias de jornal; pesquisas orientadas na internet; jogos de
factos e mitos ou outro material informativo; elaboração e aplicação de entrevistas ou
110
questionários para investigar o que é a violência no namoro e quais as suas causas e
consequências; estudos de caso para aprenderem estratégias para eliminar as causas do
problema; dar a conhecer os recursos da comunidade aos quais as vítimas e agressores podem
recorrer (TAG2); demonstrar soluções não violentas na resolução de conflitos desenvolvendo
comportamentos pro-sociais; desenvolver competências de comunicação (TAG2; TCG1); não deixar
que o/a namorado/a exerça poder, controle, isole, fragilize ou cause insegurança; não acreditar
que as crises de ciúmes e o sentimento de posse significa que ama; não se sentir
culpabilizado/a; recusar ter relações sexuais quando não quer; ter consciência de que a
violência física não é a única forma de violência num namoro (TBG2). Os conflitos resolvem-se
através do diálogo (TBG4; TDG2); e da procura em conjunto de soluções e, por isso, é importante
distinguir um conflito de uma situação de violência (TBG4). Também é necessário o respeito
mútuo e a ajuda dos familiares e de psicólogos (TDG2).
Além das estratégias referidas, investigaram a quem podiam recorrer para pedir ajuda.
Nos seus trabalhos de grupo referiram que pediam ajuda a psicólogos (TAG3; TCG4); APAV; polícia;
(TAG4; TBG4; TCG2; TDG3); adultos que confiem (TAG4; TCG2; TDG3); familiares (TAG4; TBG2; TCG4; TDG3);
amigos (TAG4; TBG2; TDG3); apoio e orientação psicológica; centros de saúde (TAG4); Instituto
Português da Juventude (TBG4; TDG3); Linha Nacional de Emergência Social (LNES) (TBG4); deve
falar com alguém que auxilie e informe tal como diretor/a de turma (TCG4);
associações/organizações de apoio (TAG4; TCG4; TDG3).
Para ajudar as vítimas de violência no namoro é necessário fazê-las sentirem-se
apoiadas e mostrar-lhes que não estão sós e que têm quem se preocupe com elas; mostrar-lhe
que não é responsável pela violência (TAG4; TDG3); os ciúmes não são justificação; encorajar a
denunciar o ato de violência (TAG4); deve ser respeitado/a (TAG4; TCG4; TDG3); para apoiar e
encorajar mostrar-lhe que a violência no namoro é um crime punível por lei; (TAG4; TCG4); deve-se
mostrar que está a viver uma relação de namoro violenta; tem o direito a viver sem violência e
sem medo; tem o direito à liberdade de escolha e de tomada de decisão, quer seja de
amigos/as, de como gastar o seu dinheiro, se quer ou não ter relações sexuais; tem direito a
exprimir as suas ideias, sentimentos, convicções, competências e talentos; de ter tempo para si;
de ser apoiado/a pela família e amigos/as; se a vítima não conseguir falar com ninguém
procura-se a ajuda de alguém de confiança; tem o direito a não ter namorado/a (TCG4); deve-se
mostrar-lhes que nada justifica o uso de violência e que é possível ultrapassar a situação de
violência (TAG4; TDG3); não deve viver o problema sozinho/a e em silêncio; a violência nunca é
111
uma forma de expressar o amor e a paixão (TDG3), ou seja, a violência não é um ato normal
(TBG2).
Ao longo da discussão em grupo focal os/as alunos/as foram questionados/as acerca
das estratégias que podem ser usadas para eliminar a violência no namoro.
Em primeiro lugar, perguntou-se-lhes o que faziam para ajudar um/a amigo/a que
estivesse numa situação de violência no namoro (Tabela 48).
Tabela 48
Se tivessem um/a amigo/a nestas situações o que faziam para o/a ajudar (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Ações diretas Falava com os pais para me dizerem como
agir para ajudar a vítima 1 4.3 1 5.3 2 2.3
Falava com os pais da vítima para a tentar ajudar
9 39.1 5 27.8 2 7.7 16 18.6
Falava com um professor ou alguém especializado para me dizerem como agir e para ajudar a vítima
3 16.7 4 15.4 7 8.1
Levava a vítima para um ginásio para aprender a defender-se
2 8.7 2 2.3
Dava conselhos e conversava com a vítima para ajudá-la a proteger-se
16 69.6 12 66.7 6 31.6 10 38.5 44 51.2
Convencia a vítima a ir ao psicólogo 4 17.4 1 3.8 5 5.8 Fazia queixa na polícia do/a agressor/a 12 52.2 12 63.2 4 15.4 28 32.6 Levava a vítima a fazer queixa na polícia
do/a agressor/a 6 33.3 6 7
Fazia queixa do/a agressor/a se a vítima aceitasse
4 15.4 4 4.7
Levava a vítima à APAV 3 16.7 3 3.5 Deixava de ser amigo do/a agressor/a 5 21.7 5 5.8 Esperava o/a agressor/a para falar com
ele/a 11 47.8 8 44.4 4 15.4 23 26.7
Batia no/a agressor/a 9 39.1 2 11.1 2 10.5 4 15.4 17 19.8 Ações indiretas
Palestras 5 21.7 5 5.8 Não me metia se não fosse meu/minha
amigo/a 3 15.8 3 3.5
Não responde 4 17.4 3 16.7 7 36.8 12 46.2 26 30.2
A nível das ações diretas, mais de metade dos/as alunos/as optavam por dar conselhos
e conversar com a vítima para ajudá-la a resolver o problema e a proteger-se (51.2%).
Seguidamente, faziam queixa na polícia do/a agressor/a (32.6%), e também falavam com o/a
agressor/a sobre o problema (26.7%). Já nas ações indiretas, mencionaram as palestras (5.8%),
112
enquanto três alunos/as afirmaram que se não fosse seu/sua amigo/a não se metiam para
resolver a situação.
Seguidamente, perguntou-se-lhes a quem recorriam se estivessem eles/as a passar por
essa situação (Tabela 49).
Tabela 49
A quem recorriam para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Melhor amigo/amigos 15 65.2 14 77.8 9 47.4 16 61.5 54 62.8 Pais 13 56.5 4 22.2 5 26.3 14 53.8 36 41.9 Pai 3 13 1 5.6 3 11.5 7 8.1 Mãe 3 13 4 22.2 7 36.8 4 15.4 18 20.9 Irmão 5 21.7 4 22.2 1 5.3 10 11.6 Familiares mais próximos e avós 3 13 3 16.7 2 10.5 7 26.9 15 17.4 Polícia 7 30.4 1 5.6 11 57.9 1 3.8 20 23.3 Instituições/associações (APAV) 3 13 4 22.2 3 11.5 10 11.6 Psicólogos 2 8.7 3 16.7 1 5.3 4 15.4 10 11.6 Pessoa mais velha/ mais experiente 3 11.5 3 3.5 Advogados 1 3.8 1 1.2 A ninguém (defendiam-se eles próprios -
rapazes) 1 4.3 1 1.2
Não responde 2 11.1 3 11.5 5 5.8
Mais de metade dos/as alunos/as recorriam aos/às melhores amigos/as e quase
metade deles/as aos pais (41.9%), havendo também alguma percentagem significativa de
alunos/as que pediam ajuda à policia (23.3%) e à mãe (20.9%).
Seguidamente justificam as razões porque pediam ajuda a essas pessoas (Tabela 50).
Os/as alunos/as explicaram que pediam ajuda ao pai porque protege (2.3%) e tem mais
poder (2.3%). À mãe porque tem mais experiência de vida, apoiam-nos/as e percebem-nos/as
(9.3%) e que podem confiar nela (7%). Aos pais, porque têm mais experiência de vida e podem
ajudá-los/as (5.8%) e porque estão mais informados e percebem melhor em como resolver o
assunto (3.5%). Além dos pais, os/as amigos são uma forte preferência de apoio, pois para
eles/as é mais fácil desabafar com os/as amigos/as do que com os pais (15.1%) e, também,
porque estão mais informados e podem ajudar (9.3%).
Os familiares também são eleitos, pois podem confiar neles (4.7%). A polícia, os
psicólogos e as instituições seriam um bom local onde podiam pedir ajuda pois estão mais
informados e podiam ajudar.
113
Tabela 50
Razões porque recorriam às diferentes pessoas para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Pai Protege 1 4.3 1 3.8 2 2.3 Porque têm mais poder 2 8.7 2 2.3 Dá-nos segurança 1 4.3 1 1.2
Mãe Pode-se confiar sempre 4 17.4 1 5.6 1 5.3 6 7 Porque tem mais experiência de vida e
ajudam/apoiam-nos mais e percebem-nos
3 13 1 5.6 2 10.5 2 7.7 8 9.3
Tem uma forte ligação emocional 2 10.5 2 2.3 Simultaneamente ao pai e à mãe Porque tem mais experiência de vida e
podem ajudar 2 11.1 3 11.5 5 5.8
São os melhores amigos e confidentes 2 10.5 2 2.3 São defensores e protetores dos filhos 1 3.8 1 1.2 Porque têm mais poder 1 4.3 1 1.2 Conhecem-nos bem 2 7.7 2 2.3 Iam-nos compreender 1 3.8 1 1.2 Estão mais informados e percebem melhor 1 4.3 2 11.1 3 3.5
Amigos Porque têm mais poder 1 4.3 1 1.2 Dá-nos segurança 1 4.3 1 1.2 Podemos confiar neles 3 16.7 4 15.4 7 8.1 Porque tem mais experiência de vida 1 5.6 1 1.2 Estão mais informados e podem ajudar 3 16.7 1 5.3 4 15.4 8 9.3 É mais fácil desabafar com eles do que
com os pais 3 16.7 3 15.8 7 26.9 13 15.1
Apoiam-nos sempre 1 3.8 1 1.2 Familiares
Porque têm mais poder 1 4.3 1 1.2 Podemos confiar neles 2 11.1 1 5.3 1 3.8 4 4.7 É mais fácil desabafar com eles 1 5.6 1 1.2 Estão mais informados e podem ajudar 1 5.6 2 7.7 3 3.5 Estão mais próximos e conhecem-nos bem 2 7.7 2 2.3
Polícia Têm poder judicial 2 10.5 2 2.3 Estão mais informados e podem ajudar 1 5.6 4 21.1 5 5.8 A polícia podia culpabilizar-nos 1 5.3 1 1.2 Como não nos conhecem temos mais à
vontade para falar com eles 2 10.5 2 2.3
Psicólogos Podemos confiar neles 1 4.3 1 1.2 Estão mais informados e podem ajudar 2 11.1 2 7.7 4 4.7 Porque tem mais experiência de vida 1 5.6 1 3.8 2 2.3 Porque têm mais poder 1 4.3 1 1.2 Estão mais próximos e conhecem-nos bem 2 7.7 2 2.3
Razões por que recorriam a instituições Conseguem ajudar 3 13 1 5.6 4 4.7 Porque têm mais informação 1 4.3 2 11.1 3 3.5 Porque se pode confiar 2 11.1 2 2.3
Não responde 13 56.5 6 33.3 7 36.8 14 53.8 40 46.5
114
Também se perguntou a quem pediam ajuda na escola caso estivessem numa situação
de violência no namoro (Tabela 51).
Tabela 51
Onde se dirigiam na escola para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Na escola onde se dirigiam Funcionário/a da escola 3 13 2 11.1 4 21.1 2 7.7 11 12.8 Professor/a 8 34.8 3 16.7 1 5.3 10 38.5 22 25.6 Direção da escola 5 21.7 3 16.7 4 21.1 3 11.5 15 17.4 Polícia 1 4.3 2 10.5 1 3.8 4 4.7 Diretor/a de turma 5 21.7 1 5.3 2 7.7 8 9.3 Gabinete de Apoio à Promoção do Ambiente Escolar (GAPAE)
4 17.4 4 4.7
Psicólogo/a 4 17.4 5 27.8 2 10.5 11 42.3 22 25.6 Amigos/as 4 22.2 4 15.4 8 9.3 Enfermaria 1 5.3 1 1.2 Não procuravam ninguém 2 11.1 4 21.1 3 11.5 9 10.5 Não responde 6 26.1 4 22.2 4 21.1 8 30.8 22 25.6
Os/as alunos/as elegeram os/as professores/as (25.6%), a/o psicólogo/a (25.6%) e a
direção da escola (17.4%). Seguidamente, justificaram as razões pelas quais não se dirigiam a
ninguém na escola (Tabela 52).
Tabela 52
Razões por que não se dirigiam a ninguém na escola para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Porque o funcionário/professor não faz nada
2 8.7 2 2.3
Porque a direção não faz nada 3 16.7 3 3.5 Porque a direção não pode fazer nada/não
servia de nada 1 5.3 1 1.2
Porque não conhece e não têm confiança nas pessoas da escola
3 16.7 3 3.5
Porque na escola não se mantem a confidência
4 21.1 4 4.7
Porque fazer queixa ou falar a um professor implica falar com os pais
3 16.7 3 3.5
Não se sentem à vontade para falar com os professores
2 7.7 2 2.3
Não há onde recorrer 4 15.4 4 4.7
Na opinião destes/as alunos/as não recorriam à direção, aos funcionários e
professores/as porque não fazem nada, além de que na escola não mantêm a confidência
(4.7%) e porque não há onde recorrer (4.7%).
115
Posteriormente, também explicaram as razões porque se dirigiam às diferentes pessoas
na escola (Tabela 53).
Tabela 53
Razões por que se dirigiam na escola a pessoas diferentes para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Funcionários São autoridade e segurança 2 8.7 4 21.1 6 7 Protegem e ajudam a resolver o problema 1 3.8 1 1.2 Temos mais afinidades com eles 2 11.1 2 2.3
Diretores de turma Podem ajudar a resolver o problema 2 8.7 2 2.3
Professores São autoridade 3 13 3 3.5 São justos 4 4 4.7 Podemos confiar de que tratam bem dos
assuntos 1 4.3 1 5.3 3 11.5 5 5.8
Temos mais afinidades com eles 2 11.1 2 7.7 4 4.7 Protegem e ajudam a resolver o problema 1 3.8 1 1.2 Compreende os/as alunos/as 1 3.8 1 1.2
Direção Tem o dever de ajudar a resolver o
problema 3 13 1 3.8 4 4.7
Têm autoridade e tratam melhor do assunto
2 8.7 2 11.1 2 10.5 6 7
Podem falar com aos pais sobre o assunto 2 8.7 1 5.3 3 3.5 É um bom local para desabafar 1 5.3 1 1.2 É o local adequado para fazer queixa 1 5.3 1 5.3 Porque protege 1 3.8 1 5.3
Psicóloga Pode fazer algo para os ajudar a resolver o
problema 3 13 3 16.7 5 19.2 11 12.8
Porque tem mais experiência de vida 1 5.6 2 7.7 3 3.5 Sentem mais segurança 2 11.1 2 2.3 Porque protege 1 3.8 1 1.2 Trata de psicopatas 1 5.3 1 1.2 Podem confiar 1 3.8 1 1.2 Compreende os/as alunos/as 1 3.8 1 1.2
Gabinetes (GAPAE) Podiam fazer algo para os ajudar a resolver
o problema 2 8.7 2 2.3
Enfermaria Porque tratam das feridas 1 5.3 1 1.2
Amigos Podem confiar 1 5.6 1 1.2 Não têm vergonha 1 5.6 1 1.2 Compreendem-nos 1 3.8 1 1.2
Não responde 8 34.8 5 27.8 3 15.8 14 53.8 30 34.9
Como se pôde verificar na tabela 51, as pessoas mais preferidas pelos/as alunos/as
para pedir ajuda seriam os/as professores/as, a direção e o/a psicólogo/a. Na tabela 53
116
justificaram as suas opções, dizendo que recorreriam aos/às professores/as porque confiam,
tratam bem do assunto (5.8%) e são justos (4.7%), além de que têm mais afinidade com eles/as
(4.7%). À direção porque tem o dever de ajudar (4.7%) e tem autoridade e tratavam melhor do
assunto (7%). Para terminar, ao/à psicólogo/a porque pode fazer algo para os/as ajudar a
resolver o problema (12.8%).
Seguidamente, explicaram as razões porque pediam, ou não, ajuda aos pais (Tabela 54).
Tabela 54
Razões por que falavam, ou não, com os pais para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Porque recorriam aos pais Tem mais força e batiam no/a agressor/a 3 13 3 3.5 Os pais são as pessoas em quem mais
confiam para ajudar e confidentes 10 43.5 1 5.6 2 7.7 13 15.1
Confiam na mãe para ajudar a tomar decisões
1 4.3 1 5.6 2 10.5 4 4.7
Tem mais experiência de vida e conhecem-nos desde que nasceram
3 13 2 7.7 5 5.8
Porque não recorriam aos pais Porque têm vergonha de contar aos pais
ou não se sentem tão à vontade 1 4.3 1 5.6 1 5.3 3 11.5 6 7
Os pais culpavam-nos por se deixarem ser vítimas
1 5.3 1 1.2
Têm outra maneira de pensar e queriam resolver os problemas à maneira deles
2 11.1 2 2.3
Podiam reagir mal 1 5.3 1 1.2 Falava com o irmão ou irmã porque sente-
se mais à vontade do que com os pais 3 16.7 3 3.4
Falava com o irmão ou irmã porque confia mais neles e percebem-nos mais do que os pais
2 11.1 2 2.3
O irmão batia no/a agressor/a 2 8.7 2 2.3 Não responde 8 34.8 10 55.6 15 78.9 20 76.9 53 61.6
Os/as alunos/as dirigiam-se aos pais porque são as pessoas em quem mais confiam
para ajudar (15.1%), porque têm mais experiência de vida e conhecem-nos desde que nasceram
(5.8%). Por outro lado, não recorriam aos pais porque têm vergonha de lhes contar por não se
sentirem à vontade (7%). Outros falavam com o/a irmão/a, porque se sentem mais à vontade do
que com os pais (3.4%).
Na tabela seguinte explica-se o porquê que os/as alunos/as se dirigiam aos/às
amigos/as (Tabela 55).
117
Tabela 55
Razões porque falavam com os amigos para pedir ajuda se estivessem numa situação de violência no namoro
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Porque recorriam aos amigos Confiam neles 12 52.2 8 44.4 5 26.3 3 11.5 28 32.6 Podem apoiá-los e ajudar 8 34.8 3 16.7 1 5.3 1 3.8 13 15.1 Podem bater no agressor/a 8 34.8 1 5.3 9 10.5 Têm mais afinidades com eles 7 38.9 1 5.3 4 15.4 12 14
Porque não recorriam aos amigos Não se pode confiar neles 3 13 1 5.6 2 10.5 6 7 Não recorreria porque tem mais confiança
nos familiares (pais e irmã) 1 4.3 1 5.3 4 15.4 6 7
Nunca se recorre aos amigos 1 4.3 1 1.2 Não responde 9 39.1 7 38.9 11 57.9 18 69.2 45 52.3
Os/as alunos/as recorriam aos/às amigos/as porque confiam neles/as (32.6%), porque
podem ajudar e apoiá-los/as (15.1%). Por outro lado, alguns/as alunos/as referiram que não
pediam ajuda aos/às amigos/as porque não se pode confiar (7%) e porque têm mais confiança
nos familiares do que nos/as amigos/as (7%).
Estratégias utilizadas na escola. Foi perguntado aos/às alunos/as quais seriam
para eles/as as estratégias que podem ser utilizadas na escola para prevenir a violência física no
namoro (Tabela 56).
Tabela 56
Caraterização das estratégias a usar na escola para prevenir a violência física no namoro adolescente (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Separar os rapazes das raparigas 4 17.4 2 10.5 6 7 Usar uniformes, porque evitava a discussão
por causa da roupa 4 17.4 4 4.7
Câmaras de segurança e seguranças 4 17.4 6 31.6 10 11.6 Não namorar 3 13 1 3.8 4 4.7 Colocar cartazes de sensibilização 4 17.4 4 22.2 2 10.5 10 11.6 Fazer campanhas de sensibilização 7 38.9 6 23.1 13 15.1 Fazer palestras de sensibilização 10 43.5 3 16.7 11 42.3 24 27.9 Aulas de educação sexual 3 16.7 3 3.5 Haver mais atenção por parte dos/as
professores/as, funcionários/as e alunos/as sobre a violência
4 15.4 4 4.7
Aconselhar/levar a um psicólogo 2 7.7 2 2.3 Avisar os/as alunos/as para denunciarem
os casos de violência no namoro 4 22.2 4 4.7
Não fazer nada 1 5.6 4 21.1 5 5.8 Não sabe 2 7.7 2 2.3 Não responde 8 34.8 6 33.3 7 36.8 11 42.3 32 37.2
118
As estratégias que podem ser utilizadas para prevenir a violência física no namoro na
escola são a realização de palestras ou ações de sensibilização (27.9%) ou a realização de
campanhas de sensibilização (15.1%), entre outras. Contudo, alguns/mas alunos/as referiram
que não faziam nada (5.8%).
A tabela 57 descreve as estratégias que os/as alunos/as utilizariam para prevenir a
violência verbal no namoro adolescente.
Tabela 57
Caraterização das estratégias a usar na escola para prevenir a violência verbal no namoro adolescente (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Castigos e multas quando dissessem um palavrão
7 30.4 7 8.1
Palestras/ações de sensibilização 2 11.1 2 2.3 Ensinar a saber dizer “não” mantendo o
respeito 3 16.7 3 3.5
Mais segurança na escola 1 4.3 1 1.2 Campanhas de sensibilização 2 11.1 4 15.4 6 7 Aumentar a educação na escola e em casa 4 21.1 1 3.8 5 5.8 Aconselhar a falar com o psicólogo ou com
alguém 4 15.4 4 4.7
Aumentar o carinho diminuindo a agressividade
1 5.6 1 3.8 2 2.3
Não somos capazes de eliminar 8 34.8 2 11.1 8 42.1 6 23.1 24 27.9 Não sabe 2 10.5 2 2.3 Não responde 11 47.8 9 50 7 36.8 14 53.8 41 47.7
Para alguns/mas alunos/as eles/as não são capazes de eliminar a violência verbal
(27.9%). As estratégias por eles/as indicadas foram os castigos e multas (8.1%) e as campanhas
de sensibilização (7%) através, por exemplo, de vídeos para sensibilizar os/as jovens a não
exercer violência. Também se devia aumentar a educação das pessoas na escola e em casa
(5.8%) e também aconselhar os/as jovens a conversar com um psicólogo ou com outra pessoa
(4.7%).
Na tabela 58 estão descritas as estratégias que os/as alunos/as utilizariam para acabar
com a humilhação através da internet ou sms no telemóvel na escola.
Para acabar com a humilhação através da internet ou de sms no telemóvel na escola
seria eliminar o facebook e outras redes sociais (37.2%), proibir o acesso a séries, sites e redes
sociais (11.6%) e denunciar na polícia ou a outra pessoa este tipo de violência (8.1%). Contudo,
cerca de oito alunos/as afirmaram que não são capazes de eliminar.
119
Tabela 58
Caraterização das estratégias a usar na escola para acabar com a humilhação através da internet ou sms no telemóvel na escola
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Proibir o acesso a séries/sites e redes sociais
5 21.7 5 26.3 10 11.6
Controlo parental e escolar 2 8.7 2 7.7 4 4.7 Eliminar o facebook/redes sociais 12 52.2 9 50 6 31.6 5 19.2 32 37.2 Fazer queixa à polícia ou a outra
pessoa/denunciar sites 2 11.1 1 5.3 4 15.4 7 8.1
Acabar com os telemóveis ou muda-se de número
3 15.8 3 3.5
As pessoas serem mais respeitadoras 3 13 3 3.5 Mostrar os perigos da internet e os
cuidados a ter para se protegerem 6 23.1 6 7
Não somos capazes de eliminar 1 4.3 4 22.2 3 15.8 8 9.3 Não responde 6 26.1 3 16.7 8 42.1 11 42.3 28 32.6
Estratégias a utilizar no local onde vivem. Também se perguntou aos/às
alunos/as quais as estratégias a utilizar para prevenir a violência no namoro no local onde vivem
(Tabela 59).
Tabela 59
O que podemos fazer para prevenir a violência no namoro no local onde vivemos
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Reforçar a guarda policial 7 30.4 7 8.1 Denunciar 13 56.5 4 22.2 3 11.5 20 23.3 Pedir ajuda 4 22.2 4 4.7 Pedir ajuda aos vizinhos 6 26.1 2 11.1 8 9.3 Mobilizar o condomínio para anunciar o
problema 4 22.2 4 4.7
Aconselhar/informar as pessoas 2 8.7 5 27.8 7 26.9 14 16.3 Haver no local um psicólogo 2 8.7 2 2.3 Campanhas de sensibilização 2 11.1 6 23.1 8 9.3 Palestra 1 3.8 1 1.2 Não somos capazes de prevenir 1 4.3 2 11.1 10 52.6 1 3.8 14 16.3
Não sabe 1 3.8 1 1.2 Não responde 8 34.8 5 27.8 9 47.4 13 50 35 40.7
A estratégia mais evidente seria denunciar os casos de violência no namoro (23.3%),
seguindo aconselhar e informar as pessoas sobre o problema (16.3%), embora, alguns/mas
alunos/as tivessem referido que não são capazes de eliminar a violência no namoro no local
onde vivem (16.3%).
120
Por fim, perguntou-se-lhes o que eles/as e todos nós podemos fazer para não haver
violência na nossa relação de namoro (Tabela 60).
Tabela 60
O que podemos fazer para não haver violência na nossa relação de namoro (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Impor limites – ter consciência até onde se pode ir
3 13 1 5.6 3 15.8 3 11.5 10 11.6
Respeitar o outro 14 60.9 8 44.4 7 36.8 8 30.8 37 43 Ser fiel 3 13 3 15.8 6 7 Não deixar exercer poder 6 33.3 3 15.8 9 10.5 Não namorar 2 8.7 1 5.3 3 3.5 Se for uma relação violenta terminar a
relação ou terminar antes que se torne violenta
3 13 6 31.6 2 7.7 11 12.8
Denunciar à polícia 2 8.7 2 2.3 Dialogar sobre os problemas e resolvê-los
a bem percebendo o ponto de vista da outra pessoa
4 17.4 3 16.7 4 21.1 14 53.8 25 29.1
Confiar no outro/a 3 13 8 44.4 10 52.6 16 61.5 37 43 Controlar os ciúmes 8 44.4 6 23.1 14 16.3 Partilhar sentimentos 1 5.6 2 7.7 3 3.5 Ser compreensivos 4 22.2 7 26.9 11 12.8 Ser amigo um do outro 3 15.8 3 3.5 Ser sincero 5 19.2 5 5.8
Não responde 7 30.4 1 5.6 5 26.3 5 19.2 18 20.9
Para não haver violência no namoro os/as alunos/as defenderam que deve haver
respeito (43%) e confiança num relacionamento (43%), numa relação baseada no diálogo de
forma a resolver os problemas tendo em conta o ponto de vista da outra pessoa (29.1%). Além
disso, devemos controlar os ciúmes (16.3%) e ser compreensivos (12.8%). Por último, disseram
que se alguém estiver numa relação violenta deve terminar essa relação ou terminar antes que
se torne violenta (12.8%).
Discussão. Os/as participantes neste estudo referiram através das suas investigações
que em Portugal existe violência no namoro nos/as jovens, tal como foi verificado em estudos
realizados por Caridade (2008) e Ferreira (2011). Os estudos internacionais também
comprovam as investigações realizadas pelos/as alunos/as que referiram que uma em cada
cinco pessoas do sexo feminino, incluindo adolescentes, têm sido abusadas sexualmente ou
fisicamente por um homem na sua vida (OMS, 1997).
121
Na discussão em grupo focal deram a sua opinião sobre a gravidade da violência no
namoro na escola e no local onde vivem. A maioria dos/as alunos/as que responderam a esta
questão referiram que existe pouca ou não há violência quer na escola quer no local onde vivem.
Os/as alunos/as que disseram que existe pouca violência justificaram-na dizendo que pode
haver porque já presenciaram violência verbal, e porque as pessoas a escondem não dando a
conhecer a violência que sofrem, tal como refere Caridade (2008) e Mirsky (2003). Também
acrescentaram que na escola não há violência porque pouca gente namora e os/as adolescentes
são sensatos/as. No local onde vivem pode haver porque já presenciaram violência verbal, há
etnia cigana, existem mais pessoas, é um local com bares e também porque as pessoas podem
esconder e não contar.
Os/as alunos também descreveram o que faziam caso tivessem um/a amigo/a numa
situação de violência no namoro, mencionando que para o/a ajudar davam-lhes conselhos e
conversavam com a vítima, faziam queixa do/a agressor/a ou até mesmo falavam com o/a
agressor/a. Acrescentaram que também podiam realizar palestras ou então não se metiam se
não fosse amigo/a deles/as.
Como foi demonstrado, os/as alunos/as nas suas investigações em grupo e na
discussão em grupo focal mencionaram algumas estratégias que podem ser adotadas para
prevenir a violência no namoro. Nas suas investigações em grupo o diálogo foi indicado como
uma forma de resolver e prevenir os conflitos, assim como é defendido pelo CDC (s.d) e por
Ferreira (2011) e, o respeitarem-se mutuamente também mencionado pelo CDC (s.d). Esta
aprendizagem manteve-se no final do projeto.
Nas investigações em grupo mencionaram a análise de folhetos, debates sobre o tema,
análise de notícias de jornal, entre outras que vão de encontro às ideias que lhes foram
fornecidas no material didático que selecionaram para a sua investigação. Contudo, no final do
projeto referiram estratégias a usar na escola que podiam ser palestras/ações de sensibilização,
campanhas de sensibilização com material, como vídeos ou panfletos, para informar as pessoas
e desta forma prevenir a violência no namoro como se verifica em estudos semelhantes (Viegas
& Vilaça, 2011; Vilaça, 2007), sendo os panfletos uma forma de dar a conhecer o tema (Martin
et al., 2012). Também referiram que se deve aconselhar a pessoa a ir falar com um/a
psicólogo/a, tal como já tinham dito os/as alunos/as no estudo de Viegas e Vilaça (2011) e
aumentar a educação em casa e na escola, tal como é defendida na educação dos/as jovens
(Chiodo et al., 2009), desenvolvendo assim estratégias de prevenção que possam ser adotadas
122
por toda a comunidade (CDC, s.d). Também mencionaram que para eliminar a violência social
através da internet devia eliminar-se o facebook, proibir o acesso a sites e redes sociais ou
denunciar os casos de violência.
Para prevenir a violência no local onde vivem também devia denunciar-se os casos de
violência no namoro e aconselhar e informar as pessoas. Contudo, quer na escola quer no local
onde vivem, alguns/mas alunos/as disseram que não havia nada a fazer ou que não eram
capazes de prevenir pois as pessoas gozam, não vão mudar de ideias pois só com os erros é
que aprendem e também porque é difícil de eliminar.
Por fim, para não haver violência nos seus relacionamentos mencionaram que deve
haver respeito e diálogo sobre os problemas, como referido anteriormente, havendo confiança,
controlo dos ciúmes e mais compreensão entre casal. No caso de estar numa relação de
namoro violenta, terminar o namoro tal como é também verificado na literatura (Ferreira, 2011)
ou terminá-lo antes que se torne violento.
No que diz respeito a quem recorriam caso sofressem de violência no namoro, quer na
investigação que fizeram quer na discussão em grupo focal mencionaram os/as melhores
amigos/as, tal como se verifica em vários estudos (Caridade, 2008; Ferreira, 2011; Martin et al.,
2012; Ohnishi et al., 2011) e os pais ou familiares (Caridade, 2008; Martin et al., 2012).
Também mencionaram a polícia como um serviço mais formal (Martin et al., 2012) ou
psicólogos (Caridade, 2008; Ohnishi et al., 2011). Na discussão em grupo focal ainda
acrescentaram a mãe ou irmão/irmã (Ohnishi et al., 2011).
Justificaram a sua escolha dizendo que na mãe, nos pais e familiares pode confiar-se e
porque os pais e a mãe têm mais experiência de vida, podendo ajudá-los/as/apoiá-los/as e
percebê-los. Os pais, a polícia, psicólogos e amigos/as têm mais informação e podem os ajudar.
Acrescentaram ainda que com os/as amigos/as é mais fácil desabafar do que com os pais.
Sendo os pais e os/as amigos/as a fonte de apoio mais referida, também alguns/mas
alunos/as explicaram porque é que não recorriam a cada um deles. No que diz respeito aos pais
justificaram que não recorreriam porque têm vergonha de lhes contar ou não se sentem à
vontade recorrendo então ao/à irmão/irmã. Aos/às amigos/as, não recorriam porque não se
pode confiar recorrendo aos familiares porque têm mais confiança neles.
Quanto aos pedidos de ajuda na escola, os/as alunos/as na discussão em grupo focal
elegeram os professores, a psicóloga e a direção da escola como preferência no pedido de ajuda
mas, no estudo de Ohnishi et al. (2011) o resultado é o oposto, sendo referido que nenhum dos
123
participantes pediu ajuda aos professores. Na investigação em grupo também mencionaram o/a
diretor/a de turma tendo sido referido também no final do projeto.
Uma quarta parte dos/as alunos/as elegeram os professores porque confiam, são justos
e têm mais afinidade com eles, e a direção porque tem autoridade na escola e tem o dever de
ajudar a resolver o problema. Por último, escolhiam a psicóloga porque também podia ajudá-los
a resolver o problema. No entanto, houve uma minoria de alunos/as que não se dirigiam a
professores/funcionários ou à direção da escola porque consideraram que não fazem nada para
os ajudar, porque não há confidência na escola e porque também não há onde possam recorrer.
4.3.5. Visões para o futuro sobre a violência no namoro
Turma A. A visão da turma sobre o que desejavam para o namoro no futuro foi:
Para o futuro queremos que no namoro entre os adolescentes haja felicidade, prosperidade, confiança,
lealdade, liberdade. Queremos que o namoro seja uma relação descontraída e verdadeira, séria e fiel, com
carinho e afetividade sem qualquer tipo de violência física, verbal, psicológica ou sexual. Além disso, no
namoro deve haver respeito um pelo outro nas tomadas de decisão, não pressionando o/a parceiro/a para
ter relações sexuais (Turma A).
Turma B. Nesta turma B acrescentaram que antes de namorarem deve haver uma boa
amizade conhecendo-se bem um ao outro, onde ambos partilhem tudo em conjunto. Ainda
acrescentaram que os rapazes e raparigas deviam ter aulas de autodefesa como se pode ver a
seguir:
Para o futuro gostaríamos que o namoro entre os adolescentes fosse baseado no respeito pelas ideias e sua
equidade, que haja confiança um no outro e respeito na relação, onde ambos partilhem em conjunto tudo,
mas antes de serem namorados devem ter uma boa amizade e conhecerem-se bem um ao outro. Por fim,
numa relação de namoro as raparigas deviam ter aulas de autodefesa sendo que os rapazes também
(Turma B).
Turma C. A turma C organizou assim as suas visões:
A turma gostaria que o namoro entre os adolescentes no futuro fosse baseado na liberdade, confiança e no
respeito, havendo respeito nas opiniões. No relacionamento o/a namorado/a não sufoque dando espaço na
relação, partilhando coisas. No relacionamento deve haver uma melhor comunicação e conversa entre os
parceiros sendo o namoro baseado no amor e carinho (Turma C).
124
Esta visão tem de novo em relação à turma B a liberdade, o amor e carinho e em relação
à turma A a partilha. Acrescentaram ainda que deve haver comunicação e diálogo entre os/as
namorados/as, sendo que no relacionamento o/a namorado/a deve dar espaço na relação, não
sendo referidas na turma A e B.
Turma D. Segue-se as visões apresentadas à turma:
A turma gostaria que o namoro entre os adolescentes no futuro fosse baseado na cumplicidade, que
houvesse mais sinceridade, houvesse exclusividade no namoro e respeito. Queremos que no futuro o/a
namorado/a pense no/a companheiro/a e não só nele/a próprio/a, que o namoro seja por amor e não por
interesse e que sejam fiéis um ao outro. Não queremos que as relações sexuais sejam forçadas, queremos
que aconteçam naturalmente. Havendo algum problema no relacionamento, queremos que os namorados
dialoguem sobre os problemas um com o outro e não com outras pessoas (Turma D).
As visões acrescidas que não foram identificadas nas três turmas anteriores foram a
sinceridade, a exclusividade e que o namoro não deve ser por interesse, sendo que o/a
namorado/a não deve pensar só nele/a próprio/a.
Discussão. As turmas no geral perspetivaram um namoro adolescente onde houvesse
respeito, confiança, partilha de sentimentos e liberdade. Neste estudo, os/as alunos/as foram
capazes de desenvolver visões utilizando esta metodologia de ensino, tal como já tinha sido
conseguido noutros estudos semelhantes (Rodrigues & Vilaça, 2011; Vilaça, 2006; Vilaça &
Jensen, 2010).
4.4. Ações e mudança
Todas as turmas escolheram como ação contribuir para o aumento de conhecimento
dos seus pares sobre a violência no namoro e, no final, estabelecer um contrato com os
comportamentos e atitudes que todos/as se comprometiam a seguir para prevenir a violência no
namoro. O que mudou de turma para turma foi o material selecionado para educar e a avaliação
da ação.
Turma A. Para realizar a sua ação à turma apresentaram os seus trabalhos em
powerpoint, cartolina e em vídeo. Os resultados das fichas das avaliações feitas por estes/as
alunos/as aos seus pares encontram-se no apêndice 6.
125
Turma B. Na turma B foram realizados cinco trabalhos de grupo que foram
apresentados em powerpoints, cartolinas e vídeos. Os resultados das fichas das avaliações feitas
por estes/as alunos/as aos seus pares encontram-se no apêndice 7.
Turma C. Na turma C foram realizados quatro trabalhos de grupo que foram
apresentados em powerpoints e num software de apresentação chamado powtoon. Os
resultados das fichas das avaliações feitas por estes/as alunos/as aos seus pares encontram-se
no apêndice 8.
Turma D. Na turma D foram realizados quatro trabalhos de grupo que foram
apresentados em powerpoints, em cartolina e apresentaram vídeos de sensibilização. Os
resultados das fichas das avaliações feitas por estes/as alunos/as aos seus pares encontram-se
no apêndice 9.
Discussão. Os/as alunos/as para atingir as suas visões e agir de forma a eliminar a
causa do problema da violência no namoro escolheram a educação pelos pares para ensinar às
turmas o que aprenderam sobre a problemática e assim prevenir a violência no namoro,
provocando a mudança. Para realizar a ação a cada turma os/as alunos/as juntamente com a
formadora planificaram a ação tendo delineado quem ia representar o grupo na apresentação da
ação. As ações foram apresentadas a quatro turmas, umas do 7º ano e outras do 8º ano, que
não participaram no projeto. Nas ações as turmas apresentaram os trabalhos resultantes da fase
de investigação realizada durante o projeto educativo, assim como no estudo de Rodrigues e
Vilaça (2011). As apresentações dos trabalhos foram realizadas através de powerpoints, vídeos,
cartolinas e powtoon.
No final da ação os/as alunos/as entregaram uma ficha de avaliação para averiguar se
a sua ação resultou na mudança desejada, tal como no estudo de Rodrigues & Vilaça (2011).
No geral, verificou-se que os/as alunos/as de todas as turmas gostaram da ação
realizada. A avaliação da ação mostrou que a turma conseguiu identificar as principais causas da
violência no namoro tais como o desrespeito, o controlo e os ciúmes. Também demonstraram
conhecimento acerca das consequências da violência no namoro dizendo que podem ser as
marcas físicas, o suicídio, as perturbações psicológicas, a depressão, o consumo de álcool e
drogas, perda de apetite, sentir-se triste, o isolamento, o medo e terminar o namoro.
Na ficha de avaliação também avaliaram o seu conhecimento acerca das estratégias e
das fontes de apoio a quem se pode recorrer em casos de violência no namoro. As estratégias
126
mais identificadas pelas turmas foram os pedidos de ajuda, falar com alguém e pedir conselhos,
conversar com a família ou amigos, o diálogo com o/a namorado/a ou ligar à polícia.
As pessoas mais mencionadas pelos/as alunos/as para o apoio foram os/as
psicólogos/as, familiares, os pais, melhores amigos/as, polícia e as associações.
Estes resultados demonstraram que a ação teve um impacto positivo nos pares
verificando-se que tinham conhecimento acerca do tema apresentado.
4.5. Avaliação do projeto pelos/as participantes
4.5.1. Avaliação das sessões
Seguidamente são apresentadas as avaliações das sessões que surgiram da análise de
conteúdo dos diários. No apêndice 10 estão as respostas à questão “O que gostaram mais nas
sessões?”.
Após a análise feita aos diários das sessões dos/as alunos/as conclui-se que a grande
maioria dos/as alunos/as gostaram das sessões realizadas. Na primeira sessão o que gostaram
mais foi o tema em si e a apresentação do projeto. Na segunda sessão, foi ver os vídeos que a
formadora apresentou. Na terceira sessão, foi partilhar as suas ideias em turma e novamente o
tema. Na quarta sessão, foi fazer a investigação sobre o tema e do marcador de pesquisa que
ajudou na investigação. Na quinta sessão, gostaram de planificar o trabalho de grupo e trabalhar
em grupo. Na sexta sessão, o que mais gostaram foi a apresentação dos trabalhos dos outros e
de apresentar o seu próprio trabalho de grupo. Na sessão sete, também mencionaram ter
gostado da apresentação dos trabalhos dos outros grupos da turma. Na oitava sessão, gostaram
de planificar a ação e de terem aumentado o seu conhecimento. Por último, na nona sessão o
que gostaram mais foi da dinâmica da sessão e de planificar a ação para os pares.
No apêndice 11 estão apresentadas as repostas dos/as alunos/as à questão “O que
gostaste menos nas sessões?”.
Como pode verificar-se na primeira sessão o que gostaram menos foi o barulho da sala.
Na segunda sessão, foi identificado por um grupo a música do vídeo observado, o grupo e o
tema, o último vídeo apresentado na sessão, as condições de visualização e audição da sala e as
interrupções da professora acompanhante. Na terceira sessão e quarta sessão, mencionaram o
barulho da turma. Na quinta sessão, foi identificado por um grupo que não gostaram do grupo
de trabalho e do tema, ter havido poucos computadores, o barulho da sala e as interrupções da
professora acompanhante. Na sexta, sétima e oitava sessão, novamente o barulho da sala, o
127
grupo e o tema. Por último, na nona sessão foi mencionado novamente o barulho da sala.
Contudo, em todas as sessões vários grupos mencionaram que gostaram de tudo no projeto.
Por fim, apresenta-se os resultados da última questão dos diários das sessões dos/as
alunos/as “O que gostariam de mudar na sessão para gostarem mais dela?” (Apêndice 12).
A maior parte dos grupos gostaram das sessões como foram apresentadas. No entanto,
acrescentaram que gostavam que houvesse mais vídeos, mais prática incluindo trabalhos
práticos, que houvesse menos barulho nas sessões, entre outras. Acrescentaram também que
gostavam de mudar de grupo e que a professora acompanhante não estivesse presente durante
as sessões.
4.5.2. Opinião final sobre o projeto
No final da discussão em grupo focal foi perguntado aos/às alunos/as o que gostaram
mais, o que gostaram menos, o que gostariam de mudar e sobre a continuidade do projeto “Agir
para prevenir: diz não à violência no namoro”. A tabela 61 descreve a opinião dos/as alunos/as
sobre o que gostaram mais no projeto.
Tabela 61
O que gostaram mais sobre o projeto: “Agir para prevenir: diz não à violência no namoro”
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Gostamos de tudo no projeto 5 21.7 4 22.2 5 26.3 8 30.8 22 25.6 Trabalhar nos computadores porque foi
mais interativo 1 4.3 6 31.6 7 8.1
Ter aprendido mais sobre o assunto através das informações investigadas
10 43.5 6 33.3 5 26.3 6 23.1 27 31.4
Informar os outros sobre como prevenir a violência no namoro
5 27.8 5 5.8
Trabalhar em grupo 6 26.1 1 3.8 7 8.1 Dinâmica do projeto 6 23.1 6 7 Das informações sobre prevenção da
violência no namoro trabalhadas 7 30.4 4 21.1 11 12.8
De desenvolver capacidades de trabalho em grupo
2 8.7 2 2.3
Ter realizado e observado vídeos 3 13 2 11.1 5 19.2 10 11.6 Realizar e apresentar o trabalho de grupo 4 17.4 6 33.3 2 10.5 4 15.4 16 18.6 De estudar as consequências da violência
no namoro porque fala da realidade das coisas, o que pode acontecer/o que acontece
2 10.5 2 2.3
Da ação realizada com outra turma 1 4.3 2 11.1 1 5.3 2 7.7 6 7 Não responde 5 21.7 8 44.4 5 26.3 13 50 31 36
128
Todos/as os/as alunos/as que responderam a esta questão (n=55) deram uma opinião
positiva acerca do projeto. Vinte e dois deles/as afirmam ter gostado de tudo no projeto. Houve
alunos/as que gostaram de ter aumentado o seu conhecimento sobre o tema da violência no
namoro através das informações investigadas (31.4%) e 12.8% das informações sobre a
prevenção da violência no namoro trabalhadas durante as sessões. Além disso, também
gostaram de realizar e apresentar o trabalho de grupo (18.6%).
A tabela 62 descreve a opinião dos/as alunos/as sobre o que gostaram menos no
projeto.
Tabela 62
O que gostaram menos sobre o projeto: Agir para prevenir: diz não à violência no namoro (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
Não gostaram do projeto, do grupo e do tema da violência no namoro
4 22.2 4 4.7
Trabalhar em grupo 4 17.4 4 22.2 8 9.3 Visualizar powerpoints informativos nas
primeiras sessões 1 5.3 1 1.2
Escrever os diários das sessões e responder às questões
3 13 1 5.6 3 15.8 7 8.1
Barulho da sala 2 11.1 1 3.8 3 3.5 Duração das sessões ser curta 6 23.1 6 7 Da ação realizada com a outra turma 5 26.3 5 5.8 A professora acompanhante estar presente
no projeto 5 21.7 2 11.1 7 26.9 14 16.3
Projeto ocupar muitas aulas 2 8.7 1 5.3 3 3.5 O projeto ter acabado 4 17.4 4 4.7
Não sabe 1 5.3 1 1.2 Não responde 9 39.1 11 61.1 10 52.6 12 46.2 42 48.8
Os/as alunos/as das turmas A, B e D apontaram para o facto de não gostarem da
presença da professora acompanhante no projeto (16.3%). Além disso, referiram que não
gostaram de trabalhar em grupo (9.3%) e de escrever os diários das sessões (8.1%), justificando
que davam muito trabalho. Um grupo da turma B disse que não gostou do projeto, do tema nem
do grupo (4.7%).
A tabela 63 mostra as opções de mudança que os/as alunos/as gostavam que fosse
alterado no projeto.
Vinte e um alunos/as não alteravam nada no projeto. Alguns/mas deles/as gostavam
que a professora acompanhante saísse da sala (10.5%). Acrescentaram ainda que retiravam os
diários das sessões (8.1%).
129
Tabela 63
O que gostavam de mudar no projeto: Agir para prevenir: diz não à violência no namoro (N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
A professora acompanhante sair da sala 3 13 6 23.1 9 10.5 Mais interação 2 8.7 1 5.6 3 3.5 Não ter de escrever os diários 3 13 3 16.7 1 5.3 7 8.1 Fazer numa só aula a planificação do
trabalho 3 16.7 3 3.5
Apresentar o trabalho a várias pessoas fora da escola
1 5.6 1 1.2
O grupo 4 22.2 4 4.7 O tema 4 22.2 4 4.7 O tipo de colaboração dos colegas da
turma 1 3.8 1 1.2
Nada 5 21.7 4 22.2 6 31.6 6 23.1 21 24.4 Não responde 11 47.8 6 33.3 12 63.2 14 53.8 43 50
O mesmo grupo que referiu na questão anterior que não gostou do projeto, do tema e do
grupo voltou a referir que não gostaram do grupo e do tema de trabalho (4.7%).
Para terminar, questionou-se os/as alunos/as sobre a continuidade do projeto na escola
(Tabela 64).
Tabela 64 Opinião sobre a continuidade do projeto na escola
(N=86)
Categorias Turmas TOTAL
A (n=23) B (n=18) C (n=19) D (n=26)
f % f % f % f % f %
O projeto devia continuar Sim 18 78.3 13 72.2 16 84.2 21 80.8 68 79.1 Não 1 5.6 1 1.2
Razões pelas quais o projeto devia continuar Alterar mentalidades 3 13 3 3.5 Informar e sensibilizar sobre a violência no
namoro 15 65.2 10 55.6 15 78.9 17 65.4 57 66.3
Para ajudar os adolescentes que sofrem violência no namoro
9 39.1 5 27.8 4 21.1 18 20.9
Para ajudar os adolescentes a agir para prevenir a violência no namoro
9 39.1 3 16.7 5 26.3 13 50 30 34.9
Para a formadora continuar aqui 2 8.7 2 2.3 Para que um dia os filhos possam viver
num mundo sem violência no namoro 1 4.3 1 1.2
Estes temas merecem atenção e devem sempre continuar
8 42.1 8 30.8 16 18.6
Razões pelas quais o projeto não devia continuar
Porque as pessoas têm a noção de como parar com a violência no namoro
1 5.6 1 1.2
Não responde 5 21.7 4 22.2 3 15.8 5 19.2 17 19.8
130
Mais de metade dos/as alunos/as mencionaram que o projeto deveria continuar pelo
facto de proporcionar informação e sensibilizar as pessoas sobre a violência no namoro (66.3%),
ajudando os/as adolescentes a agir para prevenir a violência no namoro (34.9%). Além disso,
pode ajudar os/adolescentes que sofrem deste problema nos seus relacionamentos (20.9%).
Contudo, um elemento de uma turma referiu que o projeto não deveria continuar pois, na sua
opinião, as pessoas têm noção de como parar com a violência no namoro.
Concluindo, no geral todas as turmas deram uma opinião positiva acerca do projeto.
Apenas um grupo de uma turma mencionou que não gostou muito do tema nem de trabalhar
em grupo.
131
CAPÍTULO V
CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES
5.1. Introdução
Este capítulo, depois desta breve introdução (5.1), descreve as principais conclusões
deste estudo (5.2). Seguidamente, é analisado o impacto desta investigação (5.3), tanto a nível
pessoal (5.3.1), como a nível da instituição em que este se realizou (5.3.2). Por último, é feita
também uma análise do impacto deste estudo ao nível do conhecimento na área de
especialização do mestrado (5.3.3) e as implicações da investigação (5.4).
5.2. Conclusão da investigação
Este foi um estudo que visou avaliar o impacto de um projeto educativo orientado para a
ação de alunos/as do 9º ano de escolaridade na prevenção da violência no namoro, com
duração de aproximadamente cinco meses, durante nove/dez sessões.
Em primeiro lugar, começou por fazer-se um diagnóstico inicial que responde ao
primeiro objetivo: “Identificar os tipos de violência entre adolescentes no recreio na escola”.
Relativamente a este primeiro objetivo, os resultados apontam para a existência de
violência física e verbal nos recreios entre adolescentes. No que concerne à violência física foram
observados pontapés, bofetadas e empurrões. Quanto à violência verbal foram observados
insultos, pressões, gozo, inferiorização e chantagem.
Em segundo lugar, foi implementado um projeto educativo orientado para a ação de
alunos/as do 9º ano de escolaridade que teve como primeiro objetivo: “Caraterizar como evoluiu
o conhecimento orientado para a ação de alunos/as do 9º ano na prevenção da violência no
namoro durante o desenvolvimento de um projeto educativo orientado para a ação”.
Os resultados mostraram que no início do projeto os/as alunos/as já tinham algum
conhecimento acerca da violência no namoro, tendo sido identificados pelos grupos quatros
tipos de violência nomeadamente, a violência física, a violência psicológica, a violência sexual e a
violência verbal. Em cada tipo de violência descrevo as mais referidas pelos/as alunos/as. No
que concerne à violência física foi referida a porrada, a agressão física e os estalos. Na violência
132
verbal mencionaram as discussões, os insultos e a agressão verbal. No que diz respeito à
violência psicológica mencionaram a expressão “violência psicológica”, a perseguição, as
ameaças e a chantagem. Por último, na violência sexual foi mencionada a violação e o abuso
sexual.
Estes resultados já tinham sido referidos em estudos anteriores (por exemplo, APAV, s.d;
CDC, 2014; Caridade, 2008; Ferreira, 2011; Giordano et al., 2010; Howard at al., 2007; Martin
et al., 2012; Saltzman et al., 2002; OMS, 1997).
Também surgiram das ideias em grupo consequências e causas da violência no namoro
tendo sido agrupadas em consequências de nível físico, psicológico e sociais. A nível físico as
principais consequências identificadas foram o suicido, a gravidez indesejada e a morte. A nível
psicológico as depressões, a insegurança, a vergonha, o sofrimento, o medo, o perdão e a
perda. Por último, a nível social a solidão e os pedidos de ajuda. A nível físico as principais
causas identificadas foram os ciúmes, a desconfiança, o consumo de álcool ou drogas, a
obsessão, a mentira, a vingança e a raiva. A nível social foi a falta de respeito e a traição.
Os resultados obtidos nas chuvas de ideias em “post-it”, também foram divididos em
causas e consequências a nível físico, psicológico, social e sexual, não tendo sido identificadas
causas de nível físico e sexual. As principais consequências a nível físico foram as marcas
físicas, as facadas e baleamentos, o suicídio, o homicídio, a morte, a hospitalização da vítima, a
gravidez indesejada e a asfixia. A nível psicológico identificaram o trauma psicológico, as
perturbações psicológicas, a depressão, a falta de confiança noutras pessoas e em si
próprios/as, a insegurança, a vergonha, a tristeza, o sentir medo, a baixa autoestima e o receio
de namorar outra vez ou não conseguir outro relacionamento. A nível social foram o
isolamento/solidão e terminar o namoro. Por fim, a nível sexual identificaram a violação.
Quanto às causas, a nível psicológico, identificaram os ciúmes, seguido da desconfiança,
da insegurança, do consumo de álcool ou drogas e a mentira. A nível social as principais causas
mencionadas foram a traição, os insultos, as discussões, as más influências dos pares e da
família e o querer controlar o/a namorado/a.
Vários estudos revistos mostraram os mesmos resultados (Ali & Naylor, 2013; Alleyne et
al., 2011; APAV, s.d; Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Giordano et al., 2010;
Howard et a., 2007; OMS, 1997; Sinclair et al., 2013).
Estes primeiros resultados do projeto educativo indicam que os/as alunos/as já tinham
algum conhecimento acerca da violência no namoro, as suas consequências e causas.
133
Os resultados obtidos no final do projeto sobre o que é o namoro e os tipos de violência
no namoro, as consequências, as causas, a gravidade da violência no namoro e as estratégias
para eliminar o problema, apresentam-se em seguida.
1) a) O que é o namoro
Para os/as alunos/as a nível do comportamento é uma partilha de sentimentos, é ter
respeito um pelo outro, é estar sempre disponível quando o/a outro/a precisa e é desabafar
sobre os problemas. A nível dos sentimentos é gostar um do outro, é confiar no/a namorado/a e
é ser feliz. Estas ideias vão ao encontro do que a APAV (s.d) considera um relacionamento
saudável. Também referiram que a orientação sexual dos namorados pode ser hetero, homo e
bissexual, tal como mencionado por alguns investigadores (Costa, Machado, & Antunes, 2009;
Saltzman et al., 2002; Stader, 2011). Como já foi referido na secção 4.3.1 os/as alunos/as
descreveram o que é o namoro homo e heterossexual e as suas diferenças no namoro.
b) O que é a violência no namoro.
Na descrição sobre o que é a violência no namoro incluíram os/as namorados/as
homossexuais.
Para os/as alunos/as a violência pode ser física, sexual, psicológica/emocional e verbal.
Os tipos de violência física descritas pelos/as alunos/as neste estudo foram os mesmos no
início e no fim do projeto (estalos ou bofetadas, socos e pontapés). Também mencionaram a
agressão física e a porrada. Estes resultados também se verificam em vários estudos (Caridade,
2008; Ferreira, 2012; Martin et al., 2012; Howard et al., 2007; OMS, 2002). Na violência verbal,
os/as alunos/as no início do projeto e no final do projeto identificaram os insultos, as discussões
e a agressão verbal, podendo os insultos e as discussões estar relacionados com a agressão
verbal, tal como se verificam noutros estudos (Caridade, 2008; Ferreira, 2011; Giordano et al.,
2010).
A nível psicológico o conhecimento dos/as alunos/as evoluiu surgindo novos tipos de
violência nomeadamente, os ciúmes, as desconfianças, o desrespeitar o/a outro/a e obrigar o/a
outro/a a fazer o que não quer e não gostar e não apoiar. Estes resultados estão de acordo com
a APAV (s.d) e Caridade (2008).
Por último, na violência sexual o seu conhecimento evoluiu dizendo que a violência
sexual acontece quando o/a namorado/a obriga o outro a ter ou fazer relações sexuais como
134
referido em vários estudos (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; OMS, 2002). Estes
resultados mostram que algumas das suas ideias iniciais mantiveram-se no final do projeto,
tendo surgido novas ideias que demonstram a evolução do seu conhecimento.
Casos de violência que conhecem
Neste tópico os/as alunos/as descreveram casos que conheciam de violência física no
namoro, tal como bater, dar estalos ou puxar o cabelo. Estes resultados vão ao encontro de
vários estudos (Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Franklin & Kercher, 2012; Howard
et al., 2007; Martin et al., 2012; OMS, 2002; Saltzman et al., 2002).
Os casos de violência verbal que contaram basearam-se nos insultos e nas discussões.
Também contaram situações em que o rapaz ou a rapariga ameaçou contar coisas sobre a sua
intimidade. Os resultados basearam-se em publicar fotos íntimas da namorada na internet ou
em público ou ameaçar a rapariga de divulgar segredos íntimos dela. Contaram ainda um caso
em que a rapariga descobre que o rapaz a filmar as suas relações sexuais e agride-o, publicando
na internet o momento da agressão. A nível social, as situações observadas basearam-se em
insultos, discussões e em postar fotos da outra pessoa na internet. Estes resultados podem
verificar-se em outros estudos (APAV, s.d; Caridade, 2008; CDC, 2014; Ferreira, 2011; Giordano
et al., 2010; Stader, 2011).
A nível sexual descreveram situações em que obrigam a ter relações sexuais ou
ameaçam contar coisas íntimas para ter relações sexuais. Também descreveram situações que
envolvem o álcool ou drogas, tendo sido baseadas no uso de álcool ou drogas em outra pessoa
ou de se aproveitarem pelo facto de a pessoa estar alcoolizada ou drogada para terem relações
sexuais. Estas situações estão de acordo com a investigação (APAV, s.d; Saltzman et al., 2002).
Neste seguimento ainda mencionaram que este tipo de casos pode acontecer na escola
e no local onde vivem porque pode acontecer em qualquer lado a qualquer pessoa, porque
os/as adolescentes não estão informados/as dos perigos e porque na adolescência os/as jovens
podem beber e drogar-se e aproveitam-se da sua inconsciência. Também pode acontecer devido
às influências dos/as amigos/as. Estes resultados estão de acordo com vários estudos (Connolly
et al., 2004; Leen et al., 2013; Vilaça, 2007).
Ainda acrescentaram que para pressionar uma pessoa para ter relações sexuais dizem
ao rapaz/rapariga que se não tem relações sexuais é porque não gosta dele, ameaçam terminar
o namoro, seduzem ou diminuem a autoestima dessa pessoa. No entanto, para obrigar uma
135
pessoa a ter relações sexuais recorrem à agressão física, drogam-nos/as ou alcoolizam-nos/as.
Estes resultados estão de acordo com outros estudos (APAV, s.d; Saltzman et al., 2002; Vilaça,
2007).
Nesta secção ainda mencionaram as diferenças no namoro entre homo e heterossexuais
tendo sido referido que o homem heterossexual e o que faz de homem na relação gay são os
que têm mais força física na relação. Também acrescentaram que os homossexuais são menos
violentos que os heterossexuais o que não é verificado no estudo de Costa, Machado e Antunes
(2009).
2) Consequências da violência no namoro.
As principais consequências da violência física, identificadas a nível físico foram as
marcas físicas, o suicídio e o homicídio, mantendo as suas ideias desde o início do projeto até ao
fim. A nível psicológico mencionaram o trauma psicológico, a depressão as perturbações
psicológicas e a baixa autoestima, tendo mantido as suas ideias ao longo de todo o projeto
educativo. A nível social, nas ideias iniciais e no final do projeto descreveram que a relação pode
terminar, e que a vítima pode-se isolar, mantendo estas ideias no início, nas investigações e no
fim do projeto. As principais consequências da violência verbal, a nível físico, foram o homicídio
e o sentimento de querer matar o/a outro/a pessoa, tendo evoluído o seu conhecimento no final
do projeto ao referir como consequência as náuseas. A nível psicológico, referiram a tristeza, a
vergonha e o sentir medo do/a agressor/a mantendo-se estas ideias desde o início até ao fim do
projeto, tendo no final do projeto acrescentado a humilhação. A nível social, identificaram a
solidão/isolamento e o receio em procurar ajuda e de desabafar com outras pessoas. No final do
projeto acrescentaram ainda o sentimento de traição.
As consequências da violência sexual para as raparigas, identificadas a nível físico
pelos/as alunos/as foram a gravidez indesejada, as infeções sexualmente transmissíveis e
suicídio, aumentando o seu conhecimento ao acrescentar o aborto.
A nível psicológico, mencionaram o trauma psicológico e a vergonha sendo mantido o
seu conhecimento desde o início até ao fim do projeto. A nível social, a vítima isola-se. No final
do projeto, acrescentaram que os pais quando sabem do que lhes aconteceu expulsam-nas de
casa se estiverem grávidas e que são mal vistas pela sociedade, tendo o seu conhecimento
evoluído. Para os rapazes, a nível físico, mencionaram as infeções sexualmente transmissíveis e,
no final do projeto, acrescentaram ainda o ser pais sem querer. A nível psicológico, as
136
consequências mais evidenciadas foram o trauma psicológico e o medo de ter relações sexuais.
Embora desde o início do projeto até ao fim tivessem referido o medo em geral, aqui
especificaram-no. A nível social, a vítima isola-se e, tal como para as raparigas, são mal vistos
pela sociedade.
Também mencionaram as consequências para a pessoa que é ameaçada de contarem
coisas sobre a sua intimidade. A nível físico, referiram as insónias tendo evoluído o seu
conhecimento. A nível psicológico, referiram o medo, a vergonha e a tristeza, tendo no final do
projeto acrescentado que a vítima sente-se na obrigação de ceder à chantagem, tendo de fazer o
que o/a namorada querer. A nível social, mencionaram a solidão/isolamento, acrescentando
nas suas ideias finais o medo de socializar e de se aproximar de alguém. Na discussão em
grupo focal, também mencionaram o que costuma fazer uma pessoa que é ameaçada de
contarem coisas sobre a sua intimidade. A nível físico, mencionaram o suicídio, tendo evoluído o
seu conhecimento ao acrescentar a automutilação. A nível psicológico, a pessoa que é
ameaçada sente medo e, tal como referido anteriormente, o conhecimento dos/as alunos/as
evoluiu quando acrescentaram que a vítima sente-se na obrigação de ceder à chantagem. A nível
social, a vítima pode isolar-se. No final do projeto acrescentaram que a vítima vai falar com os
pais ou polícia, amigos ou com outra pessoa.
Na discussão em grupo focal ainda descreveram as consequências das relações sexuais
forçadas sob o efeito do álcool ou drogas, tendo sido referida a gravidez indesejada/ser pai sem
querer e as infeções sexualmente transmissíveis. O ser pai sem querer, tal como já referido a
propósito das consequências da violência sexual nos rapazes, foi um conhecimento novo que
aprenderam. A nível psicológico, o seu conhecimento manteve-se desde o início do projeto ao
mencionarem o trauma psicológico, a tristeza e as perturbações psicológicas. A nível social, a
vítima isola-se e fica com medo de sair à noite, tendo esta consequência emergido na discussão
em grupo.
Por último, também referiram as consequências da violência social. A nível físico,
mencionaram o suicídio ou tentativa de suicídio e a morte. A nível psicológico mencionaram a
tristeza, a vergonha e, acrescentaram ainda a humilhação demonstrando a evolução do seu
conhecimento. A nível social, a vítima isola-se. Na discussão em grupo acrescentaram que a
vítima quando sofre de violência através das redes sociais apaga ou desativa a conta do
facebook.
137
Na discussão dos resultados desta secção são confrontados estes resultados com a
investigação que tem vindo a ser realizada acerca deste tema. Além disso, mostra a evolução do
conhecimento dos/as alunos/as havendo ideias que se mantiveram até ao final do projeto
educativo e havendo outras ideias que aprenderam através das investigações aumentando o seu
conhecimento acerca do problema.
Muitos destes resultados estão de acordo com vários estudos (APAV; s.d; CDC, s.d;
Chiodo et al., 2009; Howard et al., 2007; Marshall et al., 2013; Mirsky, 2003; Mpiana, 2011;
OMS, 1997; Ohnishi et al., 2011; Population Council, 2004; Sinclair et al., 2013; United Nations
Population Fund, 2005).
3) Causas da violência no namoro
Na discussão em grupo focal também foram identificadas as causas da violência física,
verbal, sexual, no namoro hetero e homossexual. Os ciúmes foram identificados como causa da
violência física, verbal, no namoro heterossexual e homossexual, a nível psicológico. Na violência
física, no namoro hetero e homossexual também identificaram, a nível psicológico, como causa a
desconfiança. Por último, também foram mencionadas a nível psicológico, a insegurança e as
perturbações psicológicas como causas da violência física e verbal. Este conhecimento manteve-
se desde o início até ao fim do projeto.
Na violência sexual, a nível psicológico, o seu conhecimento evoluiu ao identificar causas
novas tais como o facto de quererem ter relações sexuais e ter prazer, e o querer perder a
virgindade. As perturbações psicológicas foram novamente mencionadas mantendo-se o seu
conhecimento desde o início do projeto. Também na violência sexual, a nível psicológico,
identificaram as causas de abusarem sexualmente de uma pessoa sob o efeito do álcool ou das
drogas que foram o querer ter relações sexuais e porque não conseguem convencer a pessoa a
ter relações sexuais quando está consciente. O conhecimento dos/as alunos/as progrediu em
relação às causas que tinham identificado no início do projeto.
Os/as alunos/as identificaram como causa da violência física, verbal, no namoro hetero
e homossexual, a nível social, o controlar o/a companheiro/a tendo sido mantida as suas ideias
desde o início até ao fim do projeto. Também mencionaram os insultos/desrespeito como causa
da violência verbal e no namoro heterossexual tendo sido mantidas as suas ideias. Na violência
física, a nível social, mencionaram o sentimento de traição tal como nas ideias iniciais do
projeto. Também mencionaram as causas que leva o rapaz e a rapariga a terem relações
138
sexuais, a nível social, mencionando que ambos o fazem porque querem exibir a sua experiência
sexual perante os/as amigos/as, para ter a mesma experiência sexual deles/as e porque os/as
amigos/as pressionam para ter relações sexuais. Estas ideias surgiram na discussão em grupo
focal demonstrando a sua aprendizagem.
No violência sexual, a nível social, também mencionaram que uma pessoa abusa
sexualmente de outra porque quer exibir a sua experiência sexual aos/às amigos/as e viola para
vingar-se do/a ex-namorado/a provocando-lhe ciúmes. Também explicaram porquê que fazem a
pessoas que estão sob o efeito de álcool ou drogas, justificando que também querem exibir a
sua experiência sexual e porque consideram que a vítima não se vai lembrar. Estas ideias
também surgiram na discussão em grupo focal demonstrando a sua aprendizagem.
Os/as alunos/as também descreveram as causas da violência no namoro heterossexual,
a nível social, mencionando os desentendimentos e a falta de comunicação. No namoro
homossexual disseram que também acontece devido aos desentendimentos. Acrescentam ainda
no final do projeto que acontece porque os amigos, a família e a sociedade não aceitam a sua
orientação sexual.
Algumas das causas referidas pelos/as alunos/as estão de acordo com alguns estudos
(APAV, s.d; Caridade, 2008; Ferreira, 2011; Giordano et al., 2010; Leen et al., 2013; Machado,
2010; Vilaça, 2007).
4) Gravidade da violência no namoro e estratégias de mudança
Na discussão em grupo focal deram a sua opinião sobre a gravidade da violência no
namoro na escola e no local onde vivem dizendo que existe pouca ou não há violência quer na
escola quer no local onde vivem. Dos/as alunos/as que disseram que existe pouca violência
justificaram-na dizendo que pode haver porque já presenciaram violência verbal e porque as
pessoas escondem. Também acrescentaram que na escola não há violência porque pouca gente
namora e os/as adolescentes são sensatos/as. No local onde vivem pode haver porque já
presenciaram violência verbal, é um local com etnia cigana, também porque existem mais
pessoas, com bares nas redondezas e também porque as pessoas podem esconder e não
contar.
139
Estratégias
Os/as alunos também descreveram o que faziam caso tivessem um/a amigo/a numa
situação de violência no namoro, mencionando que para o/a ajudar dava-lhe conselhos e
conversavam com a vítima, faziam queixa do/a agressor/a ou até mesmo falavam com o/a
agressor/a. Acrescentaram também que podiam realizar-se palestras ou então nem se metiam
se não fosse amigo/a deles/as.
Os/as alunos/as disseram algumas estratégias que podem ser adotadas para prevenir a
violência no namoro, tendo sido mencionado o diálogo, o respeito e confiança pelo/a outro/a, o
controlo dos ciúmes e a partilha de sentimentos. E em último caso terminar uma relação
violenta ou que se pode vir a tornar violenta.
Os/as alunos/as no final do projeto mencionaram algumas estratégias a usar na escola
para prevenir a violência física tendo sido referidas as palestras/ações de sensibilização e as
campanhas de sensibilização. Para prevenir a violência verbal mencionaram os castigos e as
multas como forma de punição da violência verbal. Acrescentaram ainda que se deve aconselhar
a pessoa a ir falar com um/a psicólogo/a e aumentar a educação em casa e na escola. Para
acabar com a humilhação através a internet ou sms devia-se eliminar o facebook, proibir o
acesso a sites e redes sociais ou denunciar os casos de violência.
Para prevenir a violência no local onde vivem também devia-se denunciar os casos de
violência no namoro e aconselhar e informar as pessoas. Contudo, quer na escola ou no local
onde vivem alguns/mas alunos/as disseram que não há nada a fazer ou que não são capazes
de prevenir pois as pessoas gozam, não vão mudar de ideias pois só com os erros é que
aprendem e também porque é difícil de eliminar.
A quem recorrer
Os/as alunos/as na discussão em grupo disseram a quem recorriam para pedir ajuda
se estivessem numa situação de violência no namoro, tendo sido mencionados os/as melhores
amigos/as, os pais, a mãe e a polícia.
Justificaram estas escolhas, dizendo que na mãe e nos pais pode-se confiar e porque, os
pais e a mãe tem mais experiência de vida podendo ajudá-los/as/apoiá-los/as e percebendo-os.
Os pais, a polícia e amigos/as têm mais informação e podem os ajudar. Acrescentaram ainda
que com os/as amigos/as é mais fácil desabafar do que com os pais. Ainda acrescentaram que
dirigiam-se aos pais porque são quem mais confiam para ajudar e porque têm mais experiência
140
de vida e conhecem-nos desde que nasceram. Outros/as alunos/as disseram que não recorriam
aos pais por vergonha de lhes contar ou por não se sentirem à vontade recorrendo então ao/à
irmão/irmã.
Por um lado, justificaram que recorriam aos/às amigos/as porque confiam neles/as,
porque podem ajudá-los/as e apoiá-los/as. Por outro lado, não recorriam os/às amigos/as
porque não se pode confiar recorrendo então aos familiares uma vez que têm mais confiança
neles.
No que diz respeito aos pedidos de ajuda na escola, os/as alunos/as na discussão em
grupo focal elegeram os professores, a psicóloga e a direção da escola. Justificaram que
recorriam aos professores porque podem confiar, são justos e têm mais afinidade. Também
recorriam à direção porque tem autoridade e têm o dever de ajudar a resolver o problema. Por
fim, a psicóloga pois pode ajudá-los/as a resolver o problema.
No entanto, houve alunos/as que não recorriam à escola justificando que a direção, os
funcionários e professores/as não fazem nada, além de que na escola não mantêm a
confidência e porque não há onde recorrer.
As estratégias e as fontes de apoio referidas pelos/as alunos/as também podem ser
encontradas na literatura (Caridade, 2008; CDC, s.d; Chiodo et al., 2009; Ferreira, 2011; Martin
et al., 2012; Ohnishi et al., 2011; Viegas & Vilaça, 2011; Vilaça, 2007).
O segundo objetivo do projeto educativo foi “Caraterizar o tipo de ações desenvolvidas
por alunos/as do 9º ano na prevenção da violência no namoro durante o desenvolvimento de um
projeto educativo orientado para a ação”.
No final das sessões, cada turma foi capaz de escolher outra turma da escola para
realizar a sua ação e assim contribuir para o aumento de conhecimento dos seus pares sobre a
violência no namoro e, no final, foi capaz de estabelecer um contrato com os comportamentos e
atitudes que todos se comprometiam a seguir para prevenir a violência no namoro. O que
mudou de turma para turma foi o material selecionado para educar e a avaliação da ação. As
quatro turmas conseguiram apresentar nas suas ações os trabalhos já investigados e realizados
durante o desenvolvimento do projeto educativo, tal como já se tinha conseguido no estudo de
Rodrigues e Vilaça (2011). Os trabalhos apresentados basearam-se em temas relacionados com
a violência no namoro tais como as consequências, as causas, porque se mantém a vítima
numa relação de namoro violenta, a quem se pode recorrer nestes casos e como se pode
prevenir, isto é, estratégias que podem ser utilizadas na prevenção da violência no namoro. Os
141
trabalhos foram apresentados em powerpoint, cartolinas, em vídeos e num software de
apresentação chamado powtoon.
Todas as turmas foram capazes de elaborar e implementar um instrumento de avaliação
para analisar se a ação resultou na mudança desejada. Este resultado está de acordo com o
estudo de Rodrigues e Vilaça (2011).
No final do projeto o objetivo foi “Caraterizar a opinião de alunos/as do 9º ano sobre o
projeto educativo orientado para a ação na prevenção da violência no namoro”.
A maior parte dos/as alunos/as gostou de tudo no projeto, de ter aumentado o seu
conhecimento sobre o tema da violência no namoro através das informações investigadas e das
informações sobre a prevenção da violência no namoro trabalhadas durante as sessões. Além
disso, também gostaram de realizar e apresentar o trabalho de grupo.
Quanto à sua opinião sobre o que gostaram menos as turmas A, B e D apontaram para
o facto de não gostarem da presença da professora acompanhante no projeto. Além disso,
mencionaram o facto de não gostarem de trabalhar em grupo e de escrever os diários das
sessões. No entanto, um grupo da turma B disse que não gostou do projeto, do tema nem do
grupo.
Relativamente ao que mudariam, vinte e um alunos/as não alteravam nada no projeto,
no entanto, gostavam que a professora acompanhante saísse da sala. Acrescentaram ainda que
retiravam os diários das sessões. O mesmo grupo da turma B que não gostou do tema nem do
projeto mencionou que mudaria de grupo e de tema de trabalho.
Por fim, quanto à continuidade do projeto mais de metade dos/as alunos/as
mencionaram que o projeto deveria continuar pelo facto de proporcionar informação e
sensibilizar as pessoas sobre a violência no namoro, ajudando os/as adolescentes a agir para
prevenir a violência no namoro. Além disso, pode ajudar os/adolescentes que sofrem deste
problema nos seus relacionamentos. Contudo, um elemento de uma turma referiu que o projeto
não deveria continuar pois, na sua opinião, as pessoas têm noção de como parar com a
violência no namoro.
No geral todas as turmas deram uma opinião positiva acerca do projeto.
142
5.3. Impacto da investigação
Nesta secção será analisado o impacto do projeto educativo ao nível pessoal (5.3.1), ao
nível institucional (5.3.2) e também o seu impacto no conhecimento da área de especialização
do mestrado (5.3.3).
5.3.1. Impacto do projeto educativo e posterior investigação a nível pessoal
A nível pessoal cresci muito e adquiri muitas competências para elaborar o projeto
educativo que implementei e que posteriormente permitiu-me o desenvolvimento desta
investigação. O projeto educativo permitiu-me conhecer a realidade e o mundo do trabalho, o
que foi muito gratificante e enriquecedor. Além disso fez-me perceber que existem muitas áreas
onde posso intervir e áreas essas que nos permitem fazer mudanças proporcionando um estilo
de vida melhor.
Além disso a experiência que obtive fez-me sentir útil e com capacidade para ajudar
os/as alunos/as demonstrando-lhes que podem ter relacionamentos saudáveis, ajudando-os/as
a prevenir e a intervir em situações de violência no namoro.
Também o facto de o material didático ser realizado por mim, foi muito enriquecedor e
senti-me realizada por o ter feito, permitindo que no futuro com as competências que fui
adquirindo possa trabalhar com adolescentes e outras faixas etárias.
Toda a investigação e a experiência de lidar com os/as jovens permitiu-me adquirir
hábitos de reflexão que me ajudarão a integrar-me em contextos futuros ao longo do meu
percurso profissional e pessoal. Assim, em qualquer contexto serei capaz de analisar o contexto,
pensar e depois implementar conforme as necessidades desse mesmo contexto. Durante a
investigação foi-me possível conhecer melhor os/as adolescentes e como lidar com eles/as o
que foi muito importante e me fez crescer muito pessoal e profissionalmente.
A elaboração desta dissertação além de permitir o meu crescimento pessoal e
profissional também teve um impacto positivo ao adquirir uma bagagem de experiências e de
conhecimento que anteriormente não possuía e pela qual consegui a realização da mesma,
apesar de todos os obstáculos que fui defrontando ao longo da sua realização.
5.3.2. Impacto ao nível institucional
A implementação do projeto educativo para além de ser pensado para atingir os
objetivos da investigação também foi inserido no projeto educativo da escola na área de
143
Educação para a Saúde que trabalha muitos temas relacionados com a Educação Sexual. O
tema da “Violência no Namoro” teve, desde logo, um parecer muito positivo pela parte de
alguns/mas professores/as que abraçaram com muito positivismo e agrado o tema que iria ser
trabalhado com os/as alunos/as.
O projeto educativo implementado foi muito bem aceite pelos/as alunos/as que, no
geral, se mostraram interessados/as e motivados/as pelo tema e pelas professoras das
respetivas turmas tornando-se uma mais-valia para todos.
Em síntese, pode verificar-se que teve um impacto positivo tendo em conta a evolução
do seu conhecimento, como é demonstrado no capítulo dos resultados e, além disso, pela
opinião positiva que os/as alunos/as na discussão em grupo focal fizeram acerca do projeto
implementado.
5.3.3. Impacto no conhecimento da área de especialização do mestrado
A investigação realizada e respetivo projeto educativo foram adequados e perfeitamente
inseridos na área de especialização deste Mestrado em Estudos da Criança - Intervenção
Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias pois, possibilitou a implementação de estratégias e
programas de prevenção e intervenção indo ao encontro das necessidades dos indivíduos,
objetivo este que esta especialização pretende que se desenvolva, como ações que melhorem os
contextos de vida dos indivíduos e que sejam adequados ao contexto.
O projeto educativo, o desenvolvimento de ações e a investigação realizada permitiram o
aprofundamento dos saberes teórico-práticos no domínio da educação e da investigação com
adolescentes.
5.4. Implicações da investigação
As conclusões decorrentes desta investigação mostram como é importante desenvolver
este tipo de projeto educativo orientado para acção nas escolas, pois a sua implementação pode
ter resultados muito positivos na saúde dos/as adolescentes ao capacitá-los/as para prevenirem
situações constrangedoras e prejudiciais que os/as afeta ao longo do seu percurso de vida,
tendo implicações na sua saúde. Além disso, permite que os/as adolescentes possam agir sobre
o problema provocando mudanças no seu estilo de vida e condições de vida.
144
Outra implicação dos resultados deste estudo é chamar a atenção para a importância
que os/as alunos/as atribuem ao desenvolvimento de redes de suporte na comunidade,
especialmente quando não existem na família, embora o suporte familiar seja crucial.
Por último, as escolas deviam adotar projetos que utilizassem a metodologia IVAM
(Investigação, Visão, Ação e Mudança) de modo a capacitar os/as alunos/as para acção na
promoção da saúde e, mais especificamente na prevenção da violência no namoro no seu
próprio percurso de vida e na sua comunidade.
A nível da investigação sobre a prevenção da violência no namoro, este estudo também
tem algumas implicações, enumerando-se, em seguida algumas investigações que seria
interessante realizar, nomeadamente:
- reproduzir este estudo noutras escolas para analisar se surgiam resultados
semelhantes;
- investigar se os resultados alcançados neste estudo tem estabilidade temporal (fazer
um estudo longitudinal com os mesmos alunos)
- trabalhar com alunos/as de outra faixa etária a problemática em estudo;
- investigar, tal como aconteceu em alguns estudos revistos, se na população
adolescente em Braga os factores de risco e de proteção para a violência no namoro
já identificados são semelhantes;
- investigar a influência de pares educadores/as na prevenção da violência no namoro
nas escolas;
- investigar qual é o impacto da formação de professores em prevenção da violência no
namoro no desenvolvimento de projectos educativos eficazes nas escolas.
145
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Despacho n.º 2506/2007 retirado de http://www.dgidc.min-
edu.pt/educacaosaude/index.php?s=directorio&pid=107
152
153
APÊNDICES
154
155
APÊNDICE 1
Planificação do Projeto Educativo
1ª Sessão
Objetivos
Compreender a metodologia de trabalho do projeto “Agir para prevenir: Diz não à
violência no namoro”
1ª Atividade - Apresentação do projeto e da metodologia a seguir
Duração: 35 minutos
Material: Folheto nº 1 – Apresentação do Projeto
Descrição: Distribuição do folheto aos/às alunos/as e apresentação da metodologia a
seguir no projeto. Organização da turma em grupos mistos de 5-6 alunos.
2ª Atividade - Avaliação da sessão
Duração:10 minutos
Material: Diário das Sessões
Descrição
- Os/as alunos/as devem responder oralmente em grupo, no final da aula, a três perguntas
que estão no Diário das Sessões: 1) O que gostaram mais na sessão? Porquê?; 2) O que
gostaram menos na sessão? Porquê?; 3) O que gostariam de mudar na sessão para
gostarem mais dela? Um elemento do grupo deve levar o Diário para casa para fazer o
registo das respostas dadas oralmente na aula pelos colegas (Tarefa nº 1).
2ª Sessão
Objetivos
Compreender o que é a “violência no namoro”
Conhecer consequências da violência no namoro
Aprender a comunicar mais abertamente no grupo
Obter do grupo informação relevante para planificarem as atividades seguintes
156
1ª Atividade - Visualização de um filme sobre violência no namoro e chuva de
ideias
Duração: 30 minutos
Material: Filme da APAV e outros (http://www.youtube.com/watch?v=wgwS2-I08E8),
(http://www.youtube.com/watch?v=kK0zQONmaqk)
(http://www.youtube.com/watch?v=55Fd8zcG5M0)
(http://www.youtube.com/watch?v=cvAmaznSOeQ) (6 min)), projetor multimédia, folha,
caneta.
- Tarefa nº 2- Chuva de ideias sobre a violência no namoro.
Descrição
- Visualização de quatro vídeos sobre a violência no namoro. Seguidamente, pedir aos
grupos para escreverem na folha de papel distribuída (Tarefa nº 2) todas as “palavras” que
conhecem sobre “violência no namoro”.
- Em seguida, fazer uma “Chuva de ideias em Post-it”: distribuir a cada aluno/a duas folhas
de “post-it” e dizer-lhe que quando o professor fizer uma pergunta terão 2 minutos para lhe
responder. Deve responder a cada pergunta numa folha de “post-it” diferente. As questões
são: 1ª - Quais são as consequências da violência no namoro?; 2ª O que faz com que as
pessoas sejam violentas no namoro?
2ª Atividade – Avaliação da sessão
Duração: 10 minutos
Material: Diário das sessões
Descrição: Seguir a metodologia da 1ª sessão (tarefa nº1).
3ª Sessão
Objetivos
Compreender a metodologia de trabalho do projeto “Agir para prevenir: Diz não à
violência no namoro”
Compreender o que é a “violência no namoro”
157
Conhecer consequências e causas da violência no namoro indicadas pela turma
Conhecer as estratégias para prevenir a violência no namoro indicadas pela turma
Conhecer os recursos onde recorrer quando há violência no namoro indicados pela
turma
Aprender a planificar a investigação a realizar pela turma e grupos para adquirir o
conhecimento orientado para agir na prevenção da violência no namoro (consequências
e causas da violência no namoro e estratégias de mudança)
Aprender a regular a sua autoaprendizagem.
Desenvolver competências de seleção das fontes de investigação.
1ª Atividade – O que é a violência no namoro
Duração: 20 minutos
Material: PowerPoint nº1; Folheto nº 2 – O que é a violência no namoro?
Descrição
- Discussão em turma sobre o que é a violência no namoro e sobre as consequências,
causas e estratégias de mudança identificadas pelos/as alunos/as na tarefa nº 2 chuva de
ideias (PowerPoint nº1). Distribuição do folheto aos/às alunos/as sobre o que é a violência
no namoro.
2ª Atividade - Planificação da investigação a realizar pela turma
Duração: 15 minutos
Material:
- Tarefa nº 3 – Planificação da investigação do grupo.
- Folhetos: nº 3 – Consequências para as vítimas da violência no namoro; nº 4 – Porque se
mantém uma relação de namoro violenta?; nº 5 – A quem recorrer quando há violência no
namoro; nº 6 – Quais são as causas da violência no namoro?; nº 7 – Como se pode
prevenir a violência no namoro?
- Notícias de jornal sobre violência no namoro;
- Informações para pesquisa orientada na Internet sobre a violência no namoro (sugestão
para continuar a investigação em casa ou na escola);
- Estudo de caso sobre estratégias para prevenir a violência no namoro;
158
- Entrevista/ ou questionário elaborada em turma para investigar o que é a violência no
namoro, quais as suas consequências e causas e o que se pode fazer para não haver
violência no namoro;
-Outro material informativo recolhido pelos/as alunos/as.
Descrição
- Distribuição em turma pelos grupos das questões de investigação: (Questão 1 - Quais são
as consequências para a vítima da violência no namoro?; Questão 2 - Porque se mantém
uma relação de namoro violenta? Questão nº 3 - A quem recorrer quando há violência no
namoro? Questão 4 – Quais são as causas da violência no namoro?; Questão 5 – Como se
pode prevenir a violência no namoro?
- Distribuição da grelha de planificação da investigação do grupo a cada grupo,
juntamente com o material que podem escolher para fazer a sua investigação. Entrega de
uma notícia, um estudo de caso e um panfleto com informações relacionadas com cada
questão.
- Trabalho de grupo para planificação da investigação.
3ª Atividade - Avaliação da sessão
Duração: 10 minutos
Material: Diário das Sessões
Descrição: Seguir a metodologia da 1ª sessão (tarefa nº1).
4 e 5ª Sessões
Objetivos
Desenvolver competências de investigação.
(Re)Construir conhecimento orientado para a ação na prevenção da violência no
namoro.
Aprender a trabalhar colaborativamente em grupo
Aprender a resumir os dados de investigação para divulgar o que aprenderam
159
1ª Atividade – Investigação em pequeno grupo
Duração: 30 minutos
Material: Selecionado pelos grupos na sessão anterior. Entrega de um marcador de
pesquisa.
Descrição: investigação em grupo com elaboração de material (cartaz, folheto,
PowerPoint, filme, teatro, etc.) para apresentar a investigação realizada à turma (numa
mesa redonda constituída pelo porta-voz de cada grupo).
2ª Atividade - Avaliação da sessão
Duração: 10 minutos
Material: Diário das Sessões
Descrição: Seguir a metodologia da 1ª sessão.
6ª e 7ª Sessões
Objetivos
Desenvolver competências de comunicação verbal e não verbal.
(Re)Construir conhecimento orientado para a ação na prevenção da violência no
namoro.
Duração: 30 minutos
Material: elaborado pelos grupos na sessão anterior; projetor multimédia; outro material a
indicar pelos/as alunos/as.
Descrição: Organização de uma mesa redonda constituída pelo porta-voz de cada grupo e
moderada por cada aluno/a. O moderador deverá dar 10 minutos para cada grupo
apresentar o que investigou.
2ª Atividade - Avaliação da sessão
Duração: 10 minutos
Material: Diário das Sessões
Descrição: Seguir a metodologia da 1ª sessão.
160
8ª Sessões
Objetivos
Desenvolver a criatividade.
Desenvolver competências de planificação de ações para resolver problemas.
Desenvolver competências de planificação da avaliação de ações.
1ª Atividade – Desenvolvimento de visões sobre o namoro
Duração: 10 minutos
Material: nenhum
Descrição: Partilha em turma sobre o que gostariam que acontecesse no futuro no
namoro entre adolescentes.
2ª Atividade – Planificação de uma ação sobre o namoro
Duração: 20 minutos
Material: nenhum
Descrição:
- Discussão em turma sobre o que querem fazer a seguir para contribuir para eliminar o
problema da violência no namoro entre os/as adolescentes e como podem avaliar se essa
ação resultou nas mudanças desejadas.
- A/s ação/ões a realizar pelos/as alunos/as para a sua própria turma, para outra/s
turma/s ou para a escola inteira, deverão ser sugeridas pelos/as alunos/as e professor/a,
mas têm que ser obrigatoriamente selecionadas pelos/as alunos/as sozinhos ou em
conjunto com o/a professor/a. As ações, poderão ser, por exemplo:
* Mesas redondas em que alguns/algumas alunos/as fazem uma apresentação do
que sabem sobre o problema e como o resolver e um/a especialista finaliza com
uma apresentação que complementa a dos/as alunos/as, seguindo-se a
elaboração de um contrato com um conjunto de regras para todos os presentes se
comprometerem a seguir para não haver violência no namoro. Este contrato deve
ser assinado por todos os presentes para estabelecer o compromisso;
161
* Dramatização de um teatro, seguido de um debate com a presença de um
especialista e elaboração e assinatura por todos os presentes do contrato;
* Elaboração de um vídeo ou documentário sobre a violência no namoro, seguido
de debate e elaboração e assinatura por todos os presentes do contrato;
* Elaboração de folhetos pelos/as alunos/as e sua distribuição ou uma exposição
de trabalhos;
* Educação dos pares repetindo com eles/as algumas das estratégias de mudança
que aprenderam, ou outras semelhantes.
- Refletir com os/as alunos/as sobre as barreiras que podem encontrar para a realização de
cada ação e as barreiras que poderão impedir que as ações resultem nas mudanças
desejadas.
3ª Atividade - Avaliação da sessão
Duração: 10 minutos
Material: Diário das Sessões
Descrição: Seguir a metodologia da 1ª sessão.
Número de Sessões e atividades a nível da escola variável (em
função da motivação de alunos e professores
Objetivos
Desenvolver a capacidade de implementação de ações para eliminar as causas da
violência no namoro
Desenvolver competências de comunicação verbal e não verbal.
Aumentar a autoconfiança na sua capacidade de resolução de problemas.
Desenvolver competências de avaliação de ações.
Atividade – Implementação e avaliação de ações
Duração: A definir por professores e alunos/as.
Material: A definir por professores e alunos/as.
Descrição: A definir por professores e alunos/as/as.
A avaliação do projeto educativo planificada coincide com a avaliação prevista para esta
intervenção/ investigação.
162
163
PROJETO
“AGIR PARA PREVENIR: DIZ NÃO À VIOLÊNCIA NO NAMORO”
Ana Gonçalves - [email protected]
Estudo de Caso – A quem recorrer quando há violência no namoro?
A Marta e o André têm 16 anos. Namoram há um ano e embora estudem em escolas
diferentes, passam muito tempo juntos. Contrariamente ao costume, nas férias de verão ficaram
muito tempo sem se ver, pois a Marta teve de ir para os avós que moravam noutra cidade.
Para a Marta este tempo afastada do namorado foi um alívio. O André era muito
agressivo com ela, controlava todos os seus passos e queria que tudo fosse à maneira dele. Até
a obrigava a mostrar as mensagens no seu telemóvel! Controlava com quem falava e chegava a
proibi-la de andar vestida com certas roupas! Um dia até chegou a rasgar-lhe a roupa por cheirar
a um perfume que ele desconhecia! Mesmo em férias ele não parava de mandar mensagens e
de ligar constantemente a perguntar o que ela fazia ou com quem estava.
A Marta tinha uma grande amiga a Filipa, que era vizinha dos avós. Esta amiga era o
grande apoio da Marta. A ela a Marta conseguia confidenciar todas as suas zangas com o André
e de como ele a tratava. A Filipa, como conhecia bem o seu relacionamento no namoro apoiava-
a, fazendo com que ela sentisse que não estava sozinha e que não era responsável pelo
comportamento agressivo e controlador do namorado.
Um dia, a Filipa aconselhou a Marta a conversar com alguém para a ajudar a resolver
este problema. Explicou-lhe que o controlo é uma forma de violência e que a violência nunca é
uma forma de expressar amor ou paixão por outra pessoa. Disse-lhe que tinha de acabar com
aquela agressão do André. Pediu à Marta para falar com os pais ou com alguém de confiança
que a pudesse ajudar. Também lhe ensinou como contactar algumas instituições tais como a
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV—707 200 077); a escola (psicóloga,
professores, funcionários); o Instituto Português da Juventude (IPJ) entre outras, onde podia
aconselhar-se melhor e compreender melhor o que era a violência no namoro e como podia
acabar com ela.
Discussão
1 - Que tipo de violência no namoro está presente neste caso?
2 - Qual foi o impacto do que aconteceu na vítima?
3 - Que parte desta história foi mais prejudicial para a vítima?
4 - O que farias se fosses a vítima?
5 - Como é que esta história contribuiu para te ajudar a prevenir a violência no namoro?
Apêndice 2
Material didático
164
PROJETO
“AGIR PARA PREVENIR: DIZ NÃO À VIOLÊNCIA NO NAMORO”
Ana Gonçalves - [email protected]
Estudo de Caso – Causas da Violência no Namoro
Certo dia nas férias de verão três amigas, a Alexandra, a Marta e a Catarina foram juntas
à praia e conheceram três rapazes, o João, o Miguel e o Fernando. A Catarina e o Miguel
começaram a conhecer-se tornando-se namorados.
No seu relacionamento, a Catarina começou por impor algumas regras no namoro,
impedindo o Miguel de se relacionar com os amigos. Decidiu sozinha, sem o consultar, várias
questões no namoro, como, por exemplo, quando iam ao cinema, que filme iam ver ou a que
festas iam. Além disso era muito ciumenta e proibiu-o de falar com outras raparigas.
O Miguel acredita que estas atitudes e os ciúmes da Catarina são uma demonstração de
amor. Por essa razão respeita as suas atitudes. O Miguel acredita que é preferível viver assim
numa relação do que estar sozinho.
O relacionamento da Catarina e do Miguel foi piorando. Um dia a Catarina cometeu um
grande erro, deu uma bofetada ao Miguel por vê-lo a conversar com uma amiga. O Miguel ficou
chateado com o que tinha acontecido, mas como gosta muito da Catarina perdoou-a e não quis
terminar a relação. Também sentia vergonha em assumir que abandonou a relação por ser
vítima de violência. Além disso, sentia-se culpado pelo que aconteceu.
O Miguel continuou junto de Catarina e acredita que ela vai mudar. Acredita que aquela
bofetada foi única e, por isso, não é preocupante. Acredita que aquela situação não vai voltar-se
a repetir! O problema é que se sente inseguro. Na escola já ouviu dizer que por vezes isto não
acontece só uma vez!
Discussão
1 - Esta história é de violência no namoro ou não? Porquê?
2 - Que tipo de violência está presente neste caso?
3 - Qual foi o impacto do que aconteceu na vítima?
4 - O que farias se fosses a vítima?
5 - Que parte desta história foi mais prejudicial para a vítima?
6 - Se fosses amigo/a da vítima o que farias?
7 - Como é que esta história contribuiu para te ajudar a prevenir a violência no namoro?
165
PROJETO
“AGIR PARA PREVENIR: DIZ NÃO À VIOLÊNCIA NO NAMORO”
Ana Gonçalves - [email protected]
Estudo de Caso – Consequências da Violência no Namoro
O Ricardo e a Maria ambos com 15 anos conheceram-se num encontro com amigos nas
férias da páscoa. Curiosamente nunca se tinham encontrado apesar de estudarem na mesma
escola. No final do 2º período começaram a namorar. Certo dia, a Maria saiu com os seus
colegas de turma para ir almoçar e entre eles estavam presentes duas raparigas e três rapazes.
A Maria disse ao Ricardo que ia almoçar com umas amigas mas não referiu que
também iam rapazes. O Ricardo nesse dia também foi almoçar. Quando chegou ao restaurante
deparou-se com Maria e com os seus colegas sentados numa mesa a jantar. Ficou zangado por
Maria não lhe ter dito que também iam rapazes.
Quando estiveram juntos na escola, o Ricardo gritou com ela, denegrindo a sua imagem.
Insultou-a à frente de toda a escola, chamou-lhe nomes e acusou-a de mentirosa e traidora.
A Maria sentiu-se envergonhada e triste pelo sucedido. Além disso, sentiu-se culpada
pelo que tinha acontecido. Para piorar a situação deixou de se alimentar direito, isolou-se e
deixou de sair com amigas com medo de alguma represália por parte do namorado. A partir
desse dia submeteu-se apenas à vontade dele.
Discussão
1 - Que tipo de violência no namoro está presente neste caso?
2 - Qual foi o impacto do que aconteceu na vítima?
3 - Que parte desta história foi mais prejudicial para a vítima?
4 - O que farias se fosses a vítima?
5 - Como é que esta história contribuiu para te ajudar a prevenir a violência no namoro?
166
PROJETO
“AGIR PARA PREVENIR: DIZ NÃO À VIOLÊNCIA NO NAMORO”
Ana Gonçalves - [email protected]
Estudo de Caso – Como se pode prevenir a violência no namoro
A Rita e o Luís, namorados há algum tempo, tinham no seu grupo de amigos um casal
de namorados, o Pedro e Joana, que namoravam desde a mesma altura que eles. O Pedro e a
Joana tinham quase sempre conflitos entre si. O Pedro era muito ciumento e achava que o
controlo sobre a Joana era normal e que faz parte de qualquer relação.
A Rita e o Luís não achavam o que se passava entre eles correto e achavam que o Pedro
estava a tornar-se obsessivo, controlando todos os passos da Joana e, até, proibindo-a de estar
com a família e amigas.
A Rita, preocupada com a Joana, que era a sua melhor amiga, tentou conversar com ela
sobre a sua relação com o Pedro e aconselhou-a a informar-se sobre sites importantes como o
da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima – www.apavparajovens.pt), onde ela podia
verificar se está ou não numa relação de namoro violenta. Caso estivesse, o site poderia ensiná-
la sobre o que fazer.
A Rita, também a aconselhou a integrar-se e a participar em programas de prevenção da
violência no namoro que estavam a decorrer na escola que frequentavam. Ela participava nesses
projetos e, por isso, sabia que lá se demonstravam “soluções não violentas” para a resolução de
conflitos nas relações de namoro. Sabia que esse projeto a podia ajudar muito e ela não
precisava de se expor. Ninguém precisava saber que ela estava a ser vítima de violência no
namoro.
A Rita ainda lhe contou que nesses programas os participantes tinham de planificar,
implementar e avaliar estratégias de mudança dos estilos de vida e/ou condições de vida para
eliminar as causas da violência no namoro, descrevendo as visões que têm para o seu futuro e o
da sua comunidade em relação ao problema da violência no namoro. Disse que o fundamental
desses projetos era aprenderem a comportar-se e a viver na escola e na sociedade que
gostariam de ter. Disse-lhe que um dos sonhos mais importantes dos colegas que estavam no
projeto era que deixasse de haver violência no namoro e na sociedade, em geral.
A Joana seguiu os conselhos da amiga. Começou a frequentar esses projetos e
convenceu o Pedro a participar também. O seu relacionamento melhorou e o Pedro começou a
controlar os ciúmes. O controlo que ele lhe fazia no passado também começou a desaparecer.
Agora o seu relacionamento começava a ser, cada vez mais, um relacionamento baseado na
confiança e no respeito mútuo, onde o amor verdadeiro começava a surgir.
Discussão
1 - Que tipo de violência no namoro está presente neste caso?
2 - Qual foi o impacto do que aconteceu na vítima?
3 - Que parte desta história foi mais prejudicial para a vítima?
4 - O que farias se fosses a vítima?
5 - Que estratégias encontrou a Rita para ajudar a Joana?
6 - Como é que esta história contribuiu para te ajudar a prevenir a violência no namoro?
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PROJETO
“AGIR PARA PREVENIR: DIZ NÃO À VIOLÊNCIA NO NAMORO”
Ana Gonçalves - [email protected]
Estudo de Caso – porque se mantêm numa relação violenta
A Mariana e o Tiago já namoram há dois anos e no início da sua relação tudo parecia
estar bem. Andavam sempre de mão dada, contavam tudo um ao outro, gostavam de sair juntos
e de partilhar todas as alegrias e tristezas.
Atualmente tudo piorou. Um dia o Tiago agrediu verbalmente a Mariana e deu-lhe um
encontrão por ela não querer ter relações sexuais com ele. Nesse mesmo dia, o Tiago na escola
insultou e humilhou a Mariana. No final do dia, arrependido, pediu-lhe desculpas e garantiu que
não voltaria a ter aquele comportamento. Deu-lhe um presente, acariciou-a manifestando-lhe
afeto, e pediu-lhe para ela esquecer o que ele lhe fez. Em seguida pediu-lhe perdão.
A Mariana depois das humilhações que viveu estava a pensar terminar a relação. No
entanto, sentia vergonha e tinha medo de não conseguir construir uma nova relação. Ela sentia
que não ia suscitar interesse em outro rapaz, por causa do que o Tiago lhe disse na escola.
Além disso gostava muito do Tiago e não sabia se tinha culpa no que aconteceu.
A Mariana perdoou o Tiago e acredita que o amor ultrapassa todos estes episódios de
violência. Acredita que o Tiago vai mudar. Acredita que se fizer o Tiago feliz ele não voltará a
tratá-la assim.
Discussão
1 - Esta história é de violência no namoro ou não? Porquê?
2 - Que tipo de violência está presente neste caso?
3 - Qual foi o impacto do que aconteceu na vítima?
4 - O que farias se fosses a vítima?
5 - Que parte desta história foi mais prejudicial para a vítima?
6 - Se fosses amigo/a da vítima o que farias?
7 - Como é que esta história contribuiu para te ajudar a prevenir a violência no namoro?
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PROJETO
“AGIR PARA PREVENIR: DIZ NÃO À VIOLÊNCIA NO NAMORO”
Ana Gonçalves - [email protected]
Notícia
Violência no namoro: são poucos os jovens que apresentam queixa
Estudo mostra que os jovens estão mais sensibilizados para a violência no namoro, mas ainda apenas nove por
cento das vítimas apresentam queixa às autoridades
Texto de Lusa • 13/02/2013 - 11:01 - http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/6639/violencia-no-namoro-sao-
poucos-os-jovens-que-apresentam-queixa
Os jovens estão mais sensibilizados para a violência no namoro, mas ainda são poucos os que procuram
ajuda e apenas nove por cento das vítimas apresentam queixa às autoridades, disse à Lusa a investigadora Sónia
Caridade.
“Constituindo a violência no namoro uma experiência pessoal caracterizada por sentimentos de vergonha,
embaraço, a grande maioria dos jovens não procura ajuda”, adiantou a autora de um estudo sobre este tema.
O medo de serem culpabilizados, de que o segredo não seja preservado, que os adultos os pressionem
para terminar a relação, acharem que não vão ser ajudados, temerem punições parentais (muitas relações são
proibidas pelos pais), faz com que os jovens não contem o que estão a passar.
Amigos são os principais confidentes Os seus “principais confidentes” costumam ser os amigos, mas, na grande maioria, “não reúnem
condições” para dar o “devido apoio”, ou porque também estão envolvidos em relações abusivas ou porque “legitimam um conjunto de crenças perpetuadoras do fenómeno”, explicou a investigadora da Universidade do Minho, que falava à Lusa a propósito do Dia dos Namorados.
Para despertar os jovens para esta problemática, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) tem realizado campanhas que alertam para a importância de valorizar todos os atos de violência, comportamentos puníveis criminalmente. “É fundamental investir na aproximação a estes jovens para os sensibilizar e promover neles uma postura de maior pró-acção quando estas situações lhe chegam”, disse Manuela Santos, da APAV.
A decisão de um jovem apresentar queixa ou expor esta experiência a um agente de autoridade “não é fácil de tomar”, preferindo dirigir-se a uma instituição de apoio. “A APAV recebe alguns pedidos de ajuda de jovens que partilham connosco as suas experiências de vitimação e nos pedem apoio e encaminhamento sobre o que podem fazer do ponto de vista legal”, contou Manuela Santos, adiantando que essas solicitações têm vindo a crescer.
Para a investigadora Susana Lucas, do Instituto Piaget, as campanhas de prevenção têm contribuído para “mudar o paradigma” da violência no namoro ser “uma coisa encoberta e mostrar às pessoas que não estão sozinhas”. “Felizmente já começa a existir alguma procura [por parte dos jovens] das autoridades e das associações de apoio à vítima que depois os encaminha para os trâmites legais”, disse Susana Lucas, adiantando que os maus-tratos começam por volta dos 13 anos.
O estudo nacional sobre a prevalência da violência do namoro envolveu 4.667 jovens com idades entre os 13 e os 29 anos, dos quais 25,4% relataram ter sido vítimas de, pelo menos, um acto abusivo no último ano e 30,6% admitiu ter sido agressor. Em termos de vitimação, os comportamentos emocionalmente abusivos lideram (19,5%), seguindo-se os fisicamente abusivos (13.4%) e a violência física severa (7,6%).
A legitimação da violência surge “mais elevada” entre os participantes mais novos, com menor formação e rapazes, que são educados para “serem mais fortes, emocionalmente pouco expressivos, competitivos e dominadores face às suas parceiras”. Uma “cultura de prevenção”, que envolva a promoção de relacionamentos saudáveis, a consciencialização dos jovens e modificação de comportamentos violentos é, para Sónia Caridade, a melhor forma de combater este fenómeno. Para isso, defendeu, terá de haver uma “articulação concertada” entre os jovens, entidades e agentes educativos (pais, professores, funcionários), os pares e a comunidade.
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“AGIR PARA PREVENIR: DIZ NÃO À VIOLÊNCIA NO NAMORO”
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Notícia
Violência no namoro: metade das vítimas perdoa agressor
Convicção de que não voltará a acontecer pode ser a explicação, adianta autora de
estudo
http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/tvi24-violencia-domestica-estudo-ultimas-namoro/1218526-
4071.html
Por: tvi24 / CLC | 2010-12-15 19:52
Um estudo que a investigadora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
da Universidade de Coimbra (FPCEUC) Suzana Lucas está a desenvolver revela que «50 por
cento das vítimas de agressão no namoro perdoam o agressor».
Suzana Lucas considera, de acordo com o mesma investigação, que aquela atitude resulta, em
grande parte dos casos, do facto de «o amor se sobrepor à própria violência». Há, no entanto,
outros factores, afirmou hoje Suzana Lucas à agência Lusa, à margem de uma conferência
sobre «violência no namoro», promovida pela Associação Académica de Coimbra (AAC).
A convicção, por parte da vítima, que a agressão que sofreu resultou de um acto isolado, que «o
outro vai mudar» o seu comportamento ou «o medo de represálias» são as razões mais
frequentemente apontadas pelas vítimas para justificaram o perdão ao agressor, acrescenta a
investigadora. Embora acredite que aquela atitude reflete, de algum modo, a realidade, o estudo
incide «apenas sobre 274 adolescentes vítimas de violência no relacionamento amoroso»,
adverte Suzana Lucas, sublinhando que a investigação que está a desenvolver, no âmbito do seu
doutoramento na FPCEUC, abrangerá mais de dois mil casos.
«Não são só os casais heterossexuais que vivem a violência», alertou, por outro lado, durante a
sua intervenção na conferência, Suzana Lucas, que também é autora do primeiro estudo sobre
violência no namoro realizado em Portugal, em 2003.
«Tanto a mulher como o homem são vítimas de violência», mas o tipo de agressão é,
normalmente, diferente, frisa a investigadora, referindo que o agressor masculino pratica, na
maior parte das situações, «violência física», enquanto a mulher adopta mais a agressão «verbal
e psicológica» e/ou «provoca ciúmes».
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Notícia
Um em quatro jovens já sofreu violência no namoro
por ALFREDO MENDES
16 fevereiro 2009
http://www.dn.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1172860#AreaComentarios
Alerta. Agressões físicas e psicológicas numa relação são crimes públicos
Afinal, a velha máxima de que "quanto mais me bates mais gosto de ti" ainda subsiste
durante a fase do namoro. Um estudo da Universidade do Minho revela que os jovens
"interpretam os actos de violência como sendo provas de amor".
Para além deste dado surpreendente, a investigação revelou outra realidade: um em cada quatro
jovens já experimentou violência no namoro, física ou psicológica. Numa festa-acção de
sensibilização realizada ontem em Matosinhos, Elza Pais, presidente da Comissão para a
Cidadania e Igualdade de Género (CIG), aludiu ao facto de vivermos numa sociedade com
algumas "desestruturações" ao nível dos afetos. E os jovens, precisou, "vivem as relações
afetivas cada vez mais cedo".
Elza Pais alertou para a necessidade de os jovens terem de estar atentos aos sinais de
violência, construindo uma relação saudável, que passe pela confiança, respeito e construção de
um projecto de vida. Na acção de sensibilização realizada em Matosinhos pela GIC, foi
distribuído um documento no qual constam os 13 mitos ou pecados mortais da violência no
namoro que devem ser evitados.
Um deles, realçou Elza Pais, trata-se do mito de que, com o tempo ou através do
casamento, o ciúme ou controle do parceiro podem passar ou atenuar. Porém, os estudos
referem de novo o inverso: tendem a agravar-se. Quanto ao dito "entre marido e mulher ninguém
mete a colher", nada de mais errado. A violência nas relações amorosas também é um crime
público. Para esclarecer os jovens sobre estas questões, a CIG disponibiliza uma linha verde
(800202148) e o sítio www.amorverdadeiro.com.pt.|
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Notícia
A violência no namoro
Quinta, 24 de Novembro de 2011
http://www.acomuna.net/index.php/contra-corrente/3567-a-violencia-no-namoro
A violência no namoro, tem sido progressivamente considerada um problema social muito relevante, merecendo a atenção por parte de alguns dos/as investigadores/as (Ver Callahan; Tolman; Saunders, 2003). No entanto não lhe é dada ainda a devida importância, nos discursos sociais e educativos, comparando com a violência doméstica. Estes investigadores/as, justificam esta disparidade a partir de um conjunto de fatores que têm condicionado a investigação neste domínio: as dificuldades associadas à própria definição de violência no namoro e à operacionalização desse conceito, a dificuldade de acesso dos investigadores a esta população (a necessária autorização dos pais e mães) e a inexistência de um estatuto legal, autónomo, alusivo à violência fora dos contextos domésticos. (Ver Hickman, Jaycox e Aronoff (2004).
Um estudo feito em Espanha com mulheres vítimas, comprovou que em 18,2% dos casos de agressões, estas se iniciaram antes de existir coabitação (Gómez; Méndez-Valdivia; Izquierdo; Muñiz; Díaz; Herrero; Coto, 2002).
Sabemos, no entanto, que a violência durante as relações de namoro não é um problema raro, alguns estudos têm revelado a existência de níveis preocupantes de violência nas relações de namoro, incluindo violência física (Straus, 2004). Em termos internacionais, estima-se uma prevalência situada entre os 21,8% e os 60% (Katz; Kuffel; Coblentz, 2002; Kaura; Allen, 2004; Magdol; Moffit; CaspiI; Newman; Fagan; Silva, 1997; Straus, 2004). Um estudo realizado em Portugal 2002, em contexto universitário, procurou caracterizar a prevalência do fenómeno da violência no namoro assim como, os valores culturais que o legitimam. (Ver Machado; Matos; Moreira, 2003). Concluindo que uma percentagem significativa de estudantes adotava comportamentos violentos no contexto das suas relações de intimidade: 15,5% referiu ter sido vítima de pelo menos um ato abusivo durante o último ano e 21,7% admitiram já ter adotado este tipo de comportamentos em relação aos seus/suas parceiros/as. Noutros estudos internacionais, verificou-se que, os comportamentos normalmente praticados, são considerados de “atos menos graves” de violência: insultar, difamar ou fazer afirmações graves para humilhar ou ferir, gritar ou ameaçar com intenção de meter medo, partir ou danificar objetos intencionalmente e dar bofetadas. Num estudo de Kaura; Allen, (2004), a taxa de violência física, sexual, era bastante reduzida, embora esses atos estivessem presentes (apertar o pescoço, atos sexuais contra vontade, murros, pontapés ou cabeçadas, bater com a cabeça na parede ou contra o chão, ameaças com armas).
A Violência no Namoro pode assumir-se como um prelúdio de violência conjugal, tornando-se crucial a intervenção e a prevenção deste tipo de violência nas camadas mais jovens. Uma vez que é nesta fase de desenvolvimento que se formam: a personalidade, a identidade e os padrões de relacionamento afetivo e interpessoal (Caridade & Machado, 2006; Duarte & Lima, 2006). As relações de namoro violentas caracterizadas pela restrição e controlo da autonomia da mulher usualmente originam um casamento abusivo. (ver Caridade e Machado (2006) e Matos (2000)). Tendo em conta todo este contexto, não faz sentido falar de violência conjugal sem focar a violência ocorrida numa etapa pré conjugal.
A violência expressa-se sob formas diversas, sendo a de maior visibilidade a física, sexual, psicológica, de discriminação sociocultural, e também de um certo mal-estar social, insegurança e incerteza. Algumas perspetivas e investigadores/as atribuem este tipo de violência a uma reprodução e repetição das relações familiares violentas que é perpetuado pelos jovens e crianças já em idade adulta.
Por isso, a violência no namoro é aceite por grande parte de rapazes e raparigas. O ciúme é naturalizado e “se o namorado não for ciumento é sinal que não gosta da rapariga”. O controlo que é feito tanto por rapazes como por raparigas, do telemóvel, é naturalizado. Temos reparado que as
172
raparigas na sua grande maioria “obedecem” sem questionar o namorado. O agressor isola a vítima e para além da violência psicológica que exerce frequentemente, a violência física não é frequentemente exercida. Sendo o mais comum o insulto, os empurrões, a violência emocional, verbal e económica, em casos extremos temos tido homicídios no namoro.
Este tipo de violência é quase sempre o início de um ciclo que se vai perpetuando. Sendo mais fácil, nesta primeira fase, as jovens abandonarem os agressores, uma vez que não têm compromissos formais, ou seja não são casadas e não têm filhos/as.
As jovens justificam sempre a violência como algo que é intrínseco aos rapazes não considerando as atitudes violentas destes como violência. O elas estarem sempre ao pé do namorado, quer dizer, que estes estão muito apaixonados e por isso querem estar sempre junto, sem ninguém. Não consideram estranho, o/a namorado/a não “autorizar” que elas/es falem ou andem com os/as colegas.
As discussões acontecem frequentemente por ciúmes, e consideram que quando se reconciliam é muito melhor, eles estão muito mais românticos.
A violência entre os pais muitas das vezes é reproduzida pelos filhos/as que assistem e a normalizam e naturalizam interiorizando estes modelos de vida em que a violência-amor é parte essencial para uma vida a dois.
Alguns jovens consideram normal obrigar as namoradas a ter relações sexuais durante o namoro contra a vontade das mesmas, e as raparigas pensam que só estão felizes se tiverem a proteção e segurança do namorado. Estas questões aparecem devido ao sistema patriarcal sexista que utiliza instrumentos de dominação e controle para manter o poder masculino e perpetuá-lo.
As jovens vítimas de violência dificilmente podem participar em todas as dimensões da vida social, cultural e politica uma vez que não têm as mesmas condições de outras jovens que não são vítimas de violência. As consequências são gravíssimas, alterações de comportamento, irritáveis, desobedientes, agressivos, baixa do rendimento escolar, falta de concentração, falta de hábitos de estudo, falta de autonomia e iniciativa.
As raparigas vítimas de violência de género ficam com marcas para o resto da vida que para recuperar devem ter acompanhamento e tratamento especializado.
Segundo Rêgo ”habituamo-nos a viver assim e não damos por nada. Disseram-nos que era assim. Sempre vimos que era assim. Começa nas primeiras roupas e nos brinquedos: “ É menino ou menina?” E, em conformidade, azul ou cor-de-rosa, carrinho ou boneca” (Rêgo, 2008:43).
As questões dos estereótipos de género estão presentes na educação que é dada a rapazes e raparigas na família e posteriormente na escola e sociedade “basta parar um pouco para ouvir, longínquas e presentes, as vozes de encorajamento e interditos a distinguir, a limitar, a marcar para a vida, quais os poderes de um homem e os poderes de uma mulher” (idem).
Os manuais escolares são transmissores das representações dominantes em torno da feminilidade e da masculinidade, levando os/as jovens a construções de identidade de género e à normalização de comportamentos. Mas também como “veículo ideológico, afigura-se hegemónico, evidenciando um elevado grau de convergência entre conceitos e valores que estruturam o seu discurso e as representações sociais que o senso comum incorporou e cristalizou” (Nunes, 2008:105).
Estas são algumas das questões que levam à violência doméstica e que foram incorporadas e cristalizadas. Muitas jovens ainda não denunciam a violência de que são vitimas, estão fragilizadas e precisam de apoio, mas também de perceber a construção social do fenómeno da violência doméstica, como se manifesta nos discursos, das atitudes e comportamentos. A prevenção primária e a sensibilização devem ser feita a jovens rapazes e raparigas desde muito cedo, para que possam mudar atitudes e comportamentos.
Ana Paula Canotilho
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“AGIR PARA PREVENIR: DIZ NÃO À VIOLÊNCIA NO NAMORO”
Ana Gonçalves - [email protected]
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Apenas 9% dos jovens apresentam queixa por violência no namoro
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=3050445&page=4
Publicado em 2013-02-13 Os jovens estão mais sensibilizados para a violência no namoro, mas ainda são poucos os que procuram
ajuda e apenas 9% das vítimas apresentam queixa às autoridades. Constituindo a violência no namoro uma experiência pessoal caracterizada por sentimentos de vergonha, embaraço, a grande maioria dos jovens não procura ajuda", adiantou a investigadora Sónia Caridade, autora de um estudo sobre este tema. O medo de serem culpabilizados, de que o segredo não seja preservado, que os adultos os pressionem para terminar a relação, acharem que não vão ser ajudados, temerem punições parentais (muitas relações são proibidas pelos pais), faz com que os jovens não contem o que estão a passar. Os seus "principais confidentes" costumam ser os amigos, mas, na grande maioria, "não reúnem condições" para dar o "devido apoio", ou porque também estão envolvidos em relações abusivas ou porque "legitimam um conjunto de crenças perpetuadoras do fenómeno", explicou a investigadora da Universidade do Minho, que falava à Lusa a propósito do Dia dos Namorados, que se assinala quinta-feira.
30% admitiu ter sido agressor
O estudo nacional sobre a prevalência da violência do namoro envolveu 4667 jovens com idades entre os 13 e os 29 anos, dos quais 25,4% relataram ter sido vítimas de, pelo menos, um ato abusivo no último ano e 30,6% admitiu ter sido agressor. Em termos de vitimação, os comportamentos emocionalmente abusivos lideram (19,5%), seguindo-se os fisicamente abusivos (13,4%) e a violência física severa (7,6%).
A legitimação da violência surge "mais elevada" entre os participantes mais novos, com menor formação e rapazes, que são educados para "serem mais fortes, emocionalmente pouco expressivos, competitivos e dominadores face às suas parceiras". Uma "cultura de prevenção", que envolva a promoção de relacionamentos saudáveis, a consciencialização dos jovens e modificação de comportamentos violentos é, para Sónia Caridade, a melhor forma de combater este fenómeno. Para isso, defendeu, terá de haver uma "articulação concertada" entre os jovens, entidades e agentes educativos (pais, professores, funcionários), os pares e a comunidade. Maus-tratos começam por volta dos 13 anos
Para despertar os jovens para esta problemática, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) tem realizado campanhas que alertam para a importância de valorizar todos os atos de violência, comportamentos puníveis criminalmente.
"É fundamental investir na aproximação a estes jovens para os sensibilizar e promover neles uma postura de maior pró ação quando estas situações lhe chegam", disse Manuela Santos, da APAV.
A decisão de um jovem apresentar queixa ou expor esta experiência a um agente de autoridade "não é fácil de tomar", preferindo dirigir-se a uma instituição de apoio.
"A APAV recebe alguns pedidos de ajuda de jovens que partilham connosco as suas experiências de vitimação e nos pedem apoio e encaminhamento sobre o que podem fazer do ponto de vista legal", contou Manuela Santos, adiantando que essas solicitações têm vindo a crescer.
Para a investigadora Susana Lucas, do Instituto Piaget, as campanhas de prevenção têm contribuído para "mudar o paradigma" da violência no namoro ser "uma coisa encoberta e mostrar às pessoas que não estão sozinhas". "Felizmente já começa a existir alguma procura [por parte dos jovens] das autoridades e das associações de apoio à vítima que depois os encaminha para os trâmites legais", disse Susana Lucas, adiantando que os maus-tratos começam por volta dos 13 anos.
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Ana Gonçalves - [email protected]
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Maioria dos jovens acha normal a violência no namoro
por Rute Coelho21 maio 2013
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=3230117
Oitocentos e oitenta e cinco alunos, com idades dos 11 aos 18 anos, consideram
legítimos comportamentos abusivos com as namoradas ou namorados, segundo inquérito feito
pela UMAR. Mais de metade dos rapazes e das raparigas acham que é normal proibir a
namorada/o de vestir certas roupas e de sair com determinados amigos/as. Entre os rapazes,
5% considera que agredir a namorada ao ponto de deixar marcas não é ser violento. 25% dos
rapazes e 13,3% das raparigas entendem que humilhar a namorada/o é legítimo e que ameaçar
a namorada ou o namorado é normal (15,65% dos rapazes acha que sim e 5% das raparigas
também). Estas respostas foram obtidas nas respostas a um questionário feito a uma amostra
de 885 alunos de escolas de Porto e de Braga no âmbito do Projeto Mudanças com Arte da
UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta).
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Agir para prevenir:diz não à Violênciano Namoro*http://www.cdc.gov/violenceprevention/intimatepartnerviolence/teen_dating_violence.html
* www.igualdade.gov.pt/INDEX_PHP/PT/ACCOES/PRATICAS_BEM_SUCEDIDAS/CAMPANHAS_E_PREMIOS/265_CAMPANHA_CONTRA_A_VIOLENCIA.HTM
* www.amcv.org.pt/pt/amcv-jovens
Ana GonçalvesMestranda do Mestrado em Estudos da Criança - Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias.
Vamos pesquisar?
Agir para prevenir:diz não à Violênciano Namoro
*http://www.slideshare.net/guest18a5ad/palestra-violncia-no-namoro
*http://naoaviolencianamoro.blogspot.pt/
*sosgirls.blogs.sapo.pt/3457.html
*www.graal.org.pt/files/EA_Guia_para_accao.pdf
*www.apavparajovens.pt/pt
*http://www.gaf.pt/intervencao/prevencaoeintervencaonaviolenciadomestica/informacoes/violencianamoro.php
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2002, p. 326)
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confu
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ue
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com
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s;
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ão e
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gia
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amoro
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olí
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30-10-2014
1
Universidade do Minho
Mestranda: Ana Gonçalves
Braga, Janeiro de 2014
Violência
no namoro
O que é a violência no namoro?
De acordo com a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) (s.d.), a
violência no namoro é definida como um acontecimento que ocorre no contexto das
relações de namoro na adolescência, em que um dos parceiros, ou ambos, recorre à
violência com o objetivo de exercer poder ou controlo sobre o outro parceiro, podendo
esta violência ser exercida através da violência física, verbal, emocional/psicológica e
sexual.
Tipos de violência:
Violência Física;
Violência Verbal;
Violência sexual;
Violência Psicológica/Emocional;
Violência social.
Violência Física
Uso da força com a intenção de ferir ou provocar ferimento à outra pessoa,
colocando em risco a sua integridade física. Tem como objetivo causar dano físico
que pode causar a morte, invalidez e ferimentos.
Exemplos:
Empurrões
Bofetadas
Socos
Pontapés
Tentativas
de asfixia
Agressões
com armas
ou objetos
Agarrar ou
prender
Violência Sexual
Acontece quando o namorado/a obriga a praticar atos sexuais (sexo anal,
sexo oral e/ou vaginal), mesmo quando não queres ou quando acaricia (ou força
carícias), sem que o outro queira!
Exemplos:
Ridicularização
do Desempenho
sexual
Pressão para
realizar atos
sexuais contra
vontade
Utilização de
drogas ou
chantagem
“Se gostasses
realmente de
mim…
fazias…”
Te chama nomes ou
grita.
Violência Verbal Violência Social
Quando o teu/ tua namorado/a:
Te intimida e ameaça
Te humilha, através de críticas
e comentários negativos (ex.:
“Não vales nada.”)
Quando o teu/ tua namorado/a:
Te humilha, envergonha ou tenta
denegrir a tua imagem em público,
especialmente junto dos teus
familiares e amigos.
Mexe, sem o teu consentimento, no teu
telemóvel, nas tuas contas de correio
eletrónico ou na tua conta do
Facebook.
Te proíbe de conviver com os
teus amigos e/ou com a tua
família .
Violência Psicológica/Emocional
Quando ocorrem atos que prejudicam a integridade psicológica e emocional
da vítima, limitando a sua liberdade e o seu desenvolvimento pessoal.
Exemplos:
Intimida ou
ameaça terminar a
relação como
estratégia de
manipulação
Controla o
tempo com
quem falas
Controla a
tua maneira
de vestir Liga
constantemente
ou envia
mensagens
Parte ou
estraga os
teus objetos
ou roupa
Controla o que
fazes nos
tempos livres e
ao longo do dia
Persegue,
proíbe, exige
submissão e
obediência
Faz com que a vítima se
sinta culpabilizada pelos
problemas da relação,
transferindo-lhe a
responsabilidade das
agressões
Insulta-te, humilha, agride
verbalmente, inferioriza-te e
desvaloriza-te à frente dos outros
Ignora os teus
sentimentos
27-10-2014
1
QUAIS SÃO AS CAUSAS DA
VIOLÊNCIA NO NAMORO?
Agir para prevenir: diz não à violência no Namoro
Universidade do Minho
Ana Gonçalves Mestranda em Estudos da Criança—Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias
Principais causas
As principais causas da violência no namoro são:
Þ não haver respeito mútuo na relação!
Þ pensarem que têm o direito a decidir determinadas coisas pelo/a namorado/a;
Þ acreditam que os ciúmes é uma demonstração de amor;
Þ acreditarem que são os causadores da violência;
Þ não poderem recusar ter relações sexuais quando o/a companheiro/a quer;
Þ acreditarem que uma bofetada ou insulto não é violência!
Þ acreditarem que é melhor estar numa relação violenta do que estar sozinho/a!
Þ acreditarem que bater só uma vez não é preocupante porque não vai voltar-se a
repetir! (e por vezes não é só uma vez).
FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À VIOLÊNCIA NO NAMORO
¨ Acreditar que o correto é o uso de ameaças ou violência para conseguir o que querem ou
expressar a frustração ou raiva;
¨ Usar álcool ou drogas;
¨ Não é possível controlar a raiva ou frustração;
¨ Sair com pares violentos;
¨ Ter múltiplos parceiros sexuais;
¨ Ter um amigo envolvido em violência no namoro;
¨ Estar deprimido ou ansioso;
¨ Ter dif iculdades de aprendizagem ou outros problemas na escola;
¨ Não ter supervisão e apoio dos pais;
¨ Testemunhar violência em casa ou na comunidade;
¨ Ter uma histór ia de comportamento agressivo ou bullying.
(CDC, s.d)
Mitos
Os adolescentes, por vezes, acreditam de forma errada que:
¨ a violência nas relações não é séria;
¨ as vítimas gostam de ser tratadas de forma violenta;
¨ entre homem e mulher não se mete a colher!
¨ o/a agressor/a bate no/a companheiro/a porque gosta dele/a;
¨ quanto mais me bates mais eu gosto de ti!
¨ a culpa foi do álcool ou das drogas.
PORQUE NÃO DEIXA A VÍTIMA A RELAÇÃO?
A vítima não abandona a relação porque:
¨ quando quer terminar a relação, os maus tratos podem se intensificar,
fazendo com que a vítima recue na sua decisão com medo de mais
represálias.
¨ gosta muito do companheiro e não quer terminar a relação;
¨ tem vergonha em admitir que está numa relação violenta e não quer
terminar.
A culpa de quem é?
Do agressor porque:
Þ pensa que pode decidir tudo o que quer!
Þ pensa que pode impor respeito!
Þ ser masculino é ser agressivo e usar a força!
Da vít ima porque:
Þ acha que o ciúme e agressão é demonstração de amor!
Þ sente que ele/a tem razão em bater -lhe pois ele/a é a causadora dos problemas.
Þ acha que é normal ser violento.
Þ não pode dizer não quando ele quer fazer amor.
27-10-2014
1
Planificação de uma ação sobre o namoro
ANA GONÇALVES
8ª SESSÃO
OBJETIVOS
DESENVOLVER A CRIATIVIDADE.
DESENVOLVER COMPETÊNCIAS DE PLANIFICAÇÃO DE AÇÕES PARA RESOLVER PROBLEMAS.
DESENVOLVER COMPETÊNCIAS DE PLANIFICAÇÃO DA AVALIAÇÃO DE AÇÕES.
1ª ATIVIDADE – DESENVOLVIMENTO DE VISÕES SOBRE O NAMORO
DURAÇÃO
10 MINUTOS
MATERIAL
NENHUM
DESCRIÇÃO:
PARTILHA EM TURMA SOBRE O QUE GOSTARIAM QUE ACONTECESSE NO FUTURO NO NAMORO ENTRE ADOLESCENTES.
2ª ATIVIDADE – PLANIFICAÇÃO DE UMA AÇÃO SOBRE O NAMORO
DURAÇÃO
20 MINUTOS
MATERIAL
NENHUM
DESCRIÇÃO:
- DISCUSSÃO EM TURMA SOBRE O QUE QUEREM FAZER A SEGUIR PARA CONT RIBUIR
PARA ELIMINAR O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA NO NAMORO ENTRE OS ADOLESCENTES
E COMO PODEM AVALIAR SE ESSA AÇÃO RESULTOU NAS MUDANÇAS DESEJADAS.
A/s ação/ões a realizar pelos/as alunos/as para a sua própria turma, para outra/s turma/s ou para a escola inteira, deverão ser sugeridas pelos/as alunos/as e professor/a, mas têm que ser obrigatoriamente selecionadas pelos/as alunos/as sozinhos ou em conjunto com o/a professor/a. As ações, poderão ser, por exemplo: • Mesas redondas em que alguns/algumas alunos/as fazem uma apresentação do que
sabem sobre o problema e como o resolver e um/a especialista finaliza com uma apresentação que complementa a dos/as alunos/as, seguindo-se a elaboração de um contrato com um conjunto de regras para todos os presentes se comprometerem a seguir para não haver violência no namoro. Este contrato deve ser assinado por todos os presentes para estabelecer o compromisso;
• Dramatização de um teatro, seguido de um debate com a presença de um especialista e elaboração e assinatura por todos os presentes do contrato;
• Elaboração de um vídeo ou documentário sobre a violência no namoro, seguido de debate e elaboração e assinatura por todos os presentes do contrato;
• Elaboração de folhetos pelos alunos e sua distribuição ou uma exposição de trabalhos;
• Educação dos pares repetindo com eles/as algumas das estratégias de mudança que aprenderam, ou outras semelhantes.
- Refletir com os/as alunos/as sobre as barreiras que podem encontrar para a realização de cada ação e as barreiras que poderão impedir que as ações resultem nas mudanças desejadas.
Planificação de uma ação sobre o namoro
ANA GONÇALVES
27-10-2014
1
Como se pode prevenir a violência no namoro? Estratégias para a ação
Agir para prevenir: diz não à violência no Namoro
Universidade do Minho
Ana Gonçalves Mestranda em Estudos da Criança—Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias
A violência no namoro
educar para os direitos humanos;
fazer prevenção da violência no namoro;
aumentar o conhecimento e informação no contexto escolar;
divulgar pelos meios de comunicação social programas relacionados com a
violência no namoro;
denunciar relacionamentos violentos;
programas de autodefesa;
desacreditar e não seguir alguns provérbios, “Entre marido e mulher não se mete
a colher” ou “Quanto mais me bates mais eu gosto de ti”;
políticas eficazes;
programas escolares que permitam a construção de relacionamentos saudáveis.
Como prevenir a violência no namoro?
• planificar, implementar e avaliar estratégias de mudança dos estilos de vida e/ou
condições de vida para eliminar causas da violência no namoro;
• estar comprometidos como cidadãos ativos na prevenção da violência no
namoro no futuro;
• conhecer estratégias para eliminar as causas da violência no namoro.
Estratégias de prevenção
visualização de filmes; análise de folhetos; debates sobre o tema da violência no namoro; análise de notícias de jornal; pesquisa orientada na Internet; jogo de factos e mitos ou outro material informativo; elaboração e aplicação de entrevistas ou questionários para investigarem o que é
a violência no namoro e quais as suas consequências e causas. estudos de caso para aprenderem estratégias para eliminar as causas da
violência no namoro, nomeadamente demonstrar que podem existir consequências negativas resultantes da desigualdade de género dentro das relações de namoro;
demonstrar soluções não violentas para a resolução de conflitos nas relações, desenvolvendo comportamentos pro-sociais;
desenvolver competências de comunicação que podem prevenir comportamentos violentos;
dar a conhecer os recursos da comunidade aos quais as vítimas e os agressores podem recorrer.
O que fazer?
descrever as visões que têm para o seu futuro e o da sua comunidade em
relação ao problema da violência no namoro. Isto é, deverão dizer como
gostariam de se comportar e como gostariam que fosse a sociedade para
não haver violência no namoro;
planear, implementar e avaliar a/s ação/ões que vão realizar para
prevenir a violência no namoro.
Como se pode prevenir a violência no namoro? Estratégias para a ação
Agir para prevenir: diz não à violência no Namoro
Universidade do Minho
Ana Gonçalves Mestranda em Estudos da Criança—Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias
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Apêndice 3
Diário de aula da investigadora
3ª Sessão
Hoje dia 29 de Janeiro, terceira sessão, comecei por apresentar o powerpoint nº 1, onde
lhes apresentei uma breve definição do que é a violência no namoro, e os tipos de violência que
podem existir numa relação de namoro violenta. Neste powerpoint estavam agrupadas as
palavras que surgiram da tarefa nº2 – “Chuva de Ideias” e coloquei-as no respetivo tipo de
violência dando a conhecer aos/às alunos/as onde se inseriam e apresentei-lhes outros atos
violentos que eles não referiram.
De seguida, entreguei a todos os/as alunos/as o folheto nº 2 – O que é a violência no
namoro? onde está incluída uma definição de violência no namoro e todos os tipos de violência
que podem existir. Lemos em conjunto algumas partes do folheto pois o conteúdo era igual ao
que expliquei no powerpoint. Depois de ter terminado a apresentação do powerpoint e folheto
os/as alunos/as estavam interessados e uma aluna, a Cátia, questionou acerca da idade em
que começa a violência no namoro (“Em que idade começa a violência no namoro?”) e o
Cristiano questionou se é violência quando o namorado obriga a namorada a prostituir-se. (“É
violência no namoro quando o namorado obriga a namorada a prostituir-se?”). Depois destas
questões criou-se uma conversa onde a professora da turma também interveio explicando
aos/às alunos/as que há situações, tais como proibir de andar vestida de determinada forma,
que são também violência.
Seguidamente, após ter perguntado aos/às alunos/às se tinham alguma questão ou
dúvida, pedi-lhes que pegassem no folheto nº 1 – a metodologia IVAM, para lhes explicar o que
se irá fazer nas sessões seguintes, que incidirá na primeira fase do projeto, que é a investigação
do tema. De seguida, entreguei a tarefa nº 3 – Planificação da investigação do grupo, explicando
o que se irá fazer nas próximas duas sessões. Escrevi no quadro as questões de investigação
que se pretende que os/as alunos/as trabalhem - Questão 3 - Quais são as consequências para
a vítima da violência no namoro?; Questão 4 - Porque se mantém uma relação de namoro
violenta?; Questão 5 -A quem recorrer quando há violência no namoro? Questão 6 – Quais são
as causas da violência no namoro?; Questão 7 – Como se pode prevenir a violência no namoro?
(a questão 1 – metodologia IVAM e 2 – O que é a violência no namoro foram apresentadas por
mim).
198
Pedi aos/às alunos/as para escolherem em grupo (dando lhes liberdade de escolha) o
tema que vão querer investigar. Os grupos escolheram os temas que vão investigar, foram
escolhidas as questões nº 3, 4, 5, 7 não sendo escolhida a questão nº6. Nesta escolha do tema
houve discussão entre dois grupos pois queriam o mesmo tema, e se não fosse o tema que
queriam não faziam nada. Eu e a professora tivemos de intervir e decidir fazer sorteio entre
esses dois grupos. As alunas “pegaram-se” chateando-se a Cátia que pertencia a um grupo com
a Luísa que pertencia a outro grupo. Estes dois elementos pareceu-me que já não se davam bem
pela forma como falaram uma para a outra “Tu deves ter a mania, eu não tenho medo de ti”
(penso que foi deste género, não percebi muito bem). A professora teve de intervir pois não
cediam na escolha do tema, e chateou-se devido às “birras” que as alunas estavam a fazer e
pelo facto de essas alunas influenciarem o grupo na decisão dos temas, pois os restantes
elementos do grupo não se decidiam, calavam-se esperando pela decisão da Cátia e da Luísa.
Por fim, como sobrou uma notícia – a maioria dos jovens acha normal a violência -
distribui uma por grupo à turma e perguntei a alguém se queria ler. Lemos a notícia e por fim
pedi aos/às alunos/as que preenchessem o diário das sessões.
200
Apêndice 4
Protocolo da entrevista e exemplo de uma entrevista
Entrevista
Introdução: Esta entrevista pretende saber o que pensam e sentem sobre a violência no
namoro. Só as vossas respostas sinceras interessam, pois só assim poderemos contribuir para
prevenir a violência no namoro entre os/as adolescentes. Esta entrevista é anónima, por isso,
nunca ninguém saberá o que cada um respondeu.
I - Tipos de violência no namoro e suas consequências
1. O que é para vocês namorar?
2. Na vossa opinião, o que é a violência no namoro?
2.1.Contam-me, por favor, casos de violência no namoro que conheçam?
3. Já alguma vez presenciaram violência física entre namorados? (ex., empurrões, bater). (Se
sim) Podem contar-me o que aconteceu? (que idade tinham, eram da escola/ do local onde
vivem)
3.1. Quais são as consequências dessa violência?
4. Já alguma vez presenciaram violência verbal entre namorados? (ex., chamar-lhe nomes,
dizer que é feia, burra). (Se sim) Podem contar-me o que aconteceu? (que idade tinham,
eram da escola/ do local onde vivem)
4.1. O que sente a vítima quando é tratada assim?
5. O que é que alguns rapazes fazem para pressionar a namorada a ter relações sexuais sem
ela querer? Também há raparigas a pressionar os rapazes para terem relações sexuais? (Se
sim) o que fazem?
5.1. Quais são as consequências para as raparigas por terem relações sexuais sem
quererem? (Se disseram que os rapazes também são pressionados) E para os rapazes?
6. Alguma vez ouviram contar algum caso em que o rapaz ameaça a rapariga de contar aos
outros “coisas íntimas dela”? (ex. que teve relações sexuais com ela, que tem fotos dela
meia despida, que tem segredos dela). (Se sim) O que se passou? Também há raparigas
que fazem este tipo de ameaças aos rapazes? (Se sim) Como os ameaçam?
6.1. O que sente e pensa a pessoa que é ameaçada? O que é que costuma fazer?
7. Na vossa opinião, é possível haver casos em que uma pessoa obrigue a outra a ter relações
sexuais contra a sua vontade? (Se sim) Como é que isso pode acontecer?
7.1.Conhecem alguém a quem isso já aconteceu? (Se sim) O que aconteceu? (que idade
tinha, era da escola/ era do local onde vivem)
8. Podem contar-me situações que viram em filmes, ou na vida real, em que uma pessoa se
aproveitou do facto da outra estar sobre o efeito do álcool ou de drogas para ter relações
sexuais?
8.1.Na vossa opinião, isso pode acontecer com as pessoas que conhecem aqui na escola? E
no local onde vivem? Porquê?
8.2. Quais são as consequências para a pessoa a quem isso aconteceu?
9. Conhecem algum caso em que a namorada ou namorado foram vítimas de agressões
verbais e humilhação através da internet ou de sms no telemóvel? (Se sim) O que aconteceu
nesses casos?
9.1.Quais foram as consequências para a vítima?
201
10. (Se não falaram do namoro homossexual) Já alguma vez ouviram falar de gays ou lésbicas?
10.1. (Se sim) O que é para vocês um homossexual masculino ou gay? E uma homossexual
feminina ou lésbica? E um/a heterossexual?
10.2. Há alguma diferença no namoro entre homossexuais e heterossexuais? (Se sim)
Quais são essas diferenças?
10.3. Contam-me, por favor, situações de violência no namoro entre gays ou lésbicas que já
tenham visto em filmes, na escola ou no local onde vivem? Há diferenças entre a
violência no namoro entre homossexuais e heterossexuais? (Se sim) Quais?
II - Causas da violência no namoro
11. O que leva um dos/as namorados/as a ser fisicamente violento com o outro/a?
11.1. E a ser verbalmente desagradável com ele/a, desvalorizá-lo/a ou humilha-lo/a?
12. O que leva o rapaz a pressionar a rapariga para terem relações sexuais? (Se disseram que a
rapariga também pressiona) E a rapariga a pressionar o rapaz?
13. O que pode levar alguém a abusar sexualmente de outra pessoa? E a abusar de pessoas
que estão drogadas ou bêbadas?
14. Na vossa opinião, porque existe violência no namoro entre os jovens heterossexuais? E
entre os jovens homossexuais?
III – Importância do problema e formas de resolução
15. Na vossa opinião, qual é a gravidade aqui na escola da violência no namoro? Porquê? E onde
vivem? Porquê?
16. Se tivessem um (a) amigo(a) nestas situações o que poderiam fazer para o tentar ajudar?
17. A quem recorreriam para pedir ajuda se um dia estiverem numa destas situações? Porquê?
18. (Se não falaram da escola) Nesta escola, se lhes acontecesse ou estivessem a passar por
um episódio destes, sabiam onde podiam dirigir-se? (Se sim) Onde? Porquê?
19. (Se não falaram dos pais) Se estivessem a sofrer violência no namoro falavam com os
vossos pais? Porquê?
20. (Se não falaram dos amigos) Se fossem vítimas de violência no namoro recorriam aos
amigos? Porquê?
21. O que podemos fazer aqui na escola para prevenir a violência física no namoro entre os
adolescentes? E para eliminar a violência verbal? E para acabar com a humilhação através
da internet ou de sms no telemóvel?
22. O que podemos fazer para prevenir a violência no namoro no local onde vivemos?
23. O que é que cada um de nós pode fazer para não haver violência na nossa relação de
namoro?
IV – Opinião sobre o projeto
24. O que gostaram mais no projeto? Porquê?
25. O que gostaram menos no projeto? Porquê?
26. O que gostavam de mudar neste projeto?
27. Na vossa opinião, este projeto deveria continuar? Porquê?
28. Feedback: Há algum assunto sobre a violência no namoro que gostavam de acrescentar
nesta entrevista? (se sim) Qual?
202
Exemplo de uma entrevista – grupo 3 Turma C
Introdução: Esta entrevista pretende saber o que pensam e sentem sobre a violência no namoro. Só as vossas respostas sinceras interessam, pois só assim poderemos contribuir para prevenir a violência no namoro entre os/as adolescentes. Esta entrevista é anónima, por isso, nunca ninguém saberá o que cada um respondeu. Ent – então vamos começar pelos nomes. Começa assim por aqui. Vamos lá, digam. Flávia – Flávia. Marta – Marta. Cátia – Cátia. Alexandra – Alexandra. Nuno – Nuno. Ent – ok. I - Tipos de violência no namoro e suas consequências 1. O que é para vocês namorar? Ent – podem falar, podem falar todos mas um de cada vez. Está bem? Eu gostava que todos falassem. Flávia – eu não tenho namorado, não sei responder a isso. [risos] Ent – mas o que é para vocês namorar? Marta – sei lá, é uma pessoa em quem confiamos. [risos] Marta – a sério? Eu já respondi, tá! Ent – vamos lá, estejam à vontade para falar. Cátia – ter uma pessoa em quem confiamos, em quem conseguimos, com quem conseguimos desabafar e a pessoa tá lá para nós, apoia-nos. Nuno – às vezes. Cátia – prontos, pra mim sim, senão não há razão para namorar com uma pessoa assim. Se não nos der apoio. A gente não vai namorar né? Uma pessoa que nos ama, que nos trata bem. Marta – que nos dá carinho, etc. Cátia – e que também está lá para nos fazer ver a razão. Para mim. Agora és tu. Alexandra – sei lá! Marta – a sério? Alexandra - que gosta uma da outra. Marta – é para mim é isso tipo, uma pessoa gostar uma da outra e sentir confiança, não ter vergonha de falar com certas coisas né? Que às vezes temos. Cátia – companheirismo. Flávia – ajudar. Marta - e pronto, penso que é isso. 2. Na vossa opinião, o que é a violência no namoro? Cátia – é quando uma pessoa é agressiva. Tem atos violentos, tem. Flávia – não tem respeito. Cátia – exato. Marta – eu acho que quando há violência no namoro quer dizer que a outra pessoa não gosta da outra pessoa porque se gostasse não lhe batia, nem [não se percebe o que diz]. Nuno – pode ser ciumenta. Alexandra – e não a respeita. Marta – sim, falta de respeito. Cátia – mas isso não é um ato de amor. Nuno – pode ser ciumenta. Marta – não interessa. Cátia – isso não é um ato de amor. Nuno – isso não. Marta – e se não gosta e se vai agora tipo o namorado bater à namorada acho que isso não gosta da namorada. Cátia – não se trata só de bater, trata-se de às vezes não apoiar. Nuno – não tem respeito.
203
Marta – psicológica, etc. Cátia – não respeitar. Marta – acho que isso não é gostar de uma pessoa né?
2.1.Contam-me, por favor, casos de violência no namoro que conheçam? Marta – eu não conheço. Flávia – eu não conheço. Alexandra – também não. Nuno – também acho que não. Ent – ninguém conhece? Marta – não. Nuno – graças a deus. Marta – eu por acaso não conheço. Ent – e tu Cátia conheces ou não? Cátia – conheço mas não vou falar. E não tem nada a ver comigo. Ent – não queres falar então? Cátia – não, não é da minha vida, portanto. Ent – ok. 3. Já alguma vez presenciaram violência física entre namorados? (ex., empurrões, bater). (Se sim) Flávia – como assim? Tipo no meio da rua? Marta - eu já. Ent – se já alguma vez presenciaram? Cátia – já. Marta – se calhar. Flávia – também já. Marta - eu tava a passear na avenida. Flávia – sim. Marta - e prontos vi, mas. Ent – e podes contar o que é que aconteceu? Marta – tipo tava a discutir e ele deu-lhe, tipo assim um estalo na cara à rapariga. Tipo foi naquela ruinha. Cátia – no meu caso não. Marta - quem vai pra, ok eu não vou dizer o nome. Ent – não interessa. Cátia – tavamos na casa dela e era verão e ela queria usar uns calções de ganga muito curtos e ele não queria e, então, tentou puxar-lhe o cabelo para ela sair do quarto e não vestir os calções. Só que depois ela trancou-se no quarto e depois ligou à mãe e entretanto quando ligou à mãe ele foi embora. Marta – eu não. Eu só vi isso na rua porque tava a passar na rua e tipo presenciei isso. Ent – também tinhas dito? Flávia – eu vi num supermercado, não conhecia de lado nenhum, mas acho que ele era vinho ou qualquer coisa assim. Marta – bêbado? Flávia – sim, acho que sim. Ent – e o que viste? Flávia – ele queria levar vinho e a rapariga não deixava. E então ele começou a falar bué de alto para ela. Foi no minipreço. Cátia – mas eles namoravam? Flávia – acho que sim. Tavam juntos. Marta – os que eu vi namoravam, porque eles tavam tipo a discutir, etc. Cátia – sim, os que eu conheço namoram há anos. Marta - e de repente ele pregou-lhe assim tipo um estalo. Cátia – ainda hoje namoram. Marta - ele pregou-lhe assim um estalo. Flávia – mas tavam juntos os que eu vi. Cátia – mas os que eu referi ainda hoje namoram. Ent - que idade tinham sabem mais ou menos? Marta – os que eu vi deviam ter prai trintas. Cátia – na altura em que aconteceu ou a idade que têm agora?
204
Ent – como vocês quiserem. Que idade tinham na altura. Cátia – na altura ela tinha dezasseis e ele tinha dezoito. Marta – eu pelo que eu percebi na, na, tipo nas feições e etc, por volta de, ele devia ter prai uns trinta e cinco e ela prai uns trinta. Por aí. Flávia – eu também. Marta – é por aí. Flávia – vinte e tal, trintas. Ent – ok, e vocês não viram nada? Nuno – que eu me lembre. Ent – ok.
3.1. Quais são as consequências dessa violência? Marta – acho que. Flávia – medo. Marta – tanto como se fosse namorado ou namorada acho que ficam. Nuno – desentendimentos. Marta – com problemas tipo ficam com medo. Flávia – traumas. Marta – traumas. Cátia – auto-estima baixa. Marta – sim. Cátia – ficam a sentir-se mal com elas próprias a achar que têm a culpa. Flávia – falta de confiança. Falta de confiança nelas próprias. Marta - ficam perturbadas porque depois se acabam a relação querem começar outra relação, não têm tanta confiança por. Flávia – medo. Marta – sim. Têm medo do que se possa acontecer mesmo. Nuno – ganham depressões. Ent – mais alguma coisa? Cátia – e em último caso matam-se. Mais nada acho eu. 4. Já alguma vez presenciaram violência verbal entre namorados? (ex., chamar-lhe nomes, dizer que é feia, burra). (Se sim) Cátia – já. Flávia – ai já. Marta – já. Alexandra – dessa vez sim. Ent – todos? Flávia – sim. Marta – eu já. Sim. Ent – e então contam um de cada vez. Podem contar-me o que aconteceu então? (que idade tinham, eram da escola/ do local onde vivem). Marta – ok, o que eu presenciei foi aqui na escola. Foi aqui na escola prai no 8º ano a que a rapariga, coitada, tava a falar pó namorado e ele começou-lhe a dizer, “ai não sei quê és feia, e não sei quê e não sei que mais”. Pá mas a rapariga tava a falar normal, tava a falar tipo de coisas de sair e etc. E ele “ah, não tens nada que sair porque tu pá és uma pessoa horrível” e não sei quê e não sei que mais. Mas eram namorados mesmo tipo. Ent – e que idade tinham? Marta – deviam andar no 8º ano também. Ent – eram aqui da escola então? Marta – eram, eram aqui da escola. Ent – outro? Cátia – oh, vários. O casal que eu conheço. Eles ainda hoje estão juntos. As horas que estão juntos vai fazer acho que seis anos e eles num mês tão três semanas mal e uma semana bem mas não se largam. E é mesmo, é um relacionamento mesmo muito agressivo, não só violência física como verbal a toda hora. Já chegou ao ponto de ele ir a casa dela chamar nomes à mãe dela e a ela. Tocar na campainha e depois estava cá fora a berrar e os vizinhos todos a ouvir, coisas assim. Ent – e que idade têm? Cátia – agora? Agora ela tem 19 e ele tem 21 se não me engano, vinte, vinte e um.
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Ent – são então do local onde vives? Não são aqui da escola? Cátia – daqui da escola não mas são de Braga. Ent – ok. Alexandra – o que eu vi também é de cá da escola. E tavam, eram um casal a discutir. Ent – e que idade tinham? Alexandra – prai doze. E depois ele começou-lhe a chamar nomes. Marta – e agora que falei em vizinhos também já reparei num tava, não era do meu prédio né, mas é do prédio ao lado. Por exemplo, também já vi o homem tipo tinha prai quarenta e tal anos, a dizer nomes, a chamar nomes à mulher e a dizer “pá não prestas! Não sabes fazer nada, odeio-te”. Etc. Flávia – os meus vizinhos do lado discutem muito. Eles devem ter pai vinte não? Devem ter pai vinte anos. Uma vez tava a rapariga a sair do carro, ele desceu o prédio foi lá fora agarrou-a, a rapariga não queria subir ele obrigou-a. Sempre a discutir, tão sempre a discutir ao meu lado. Só que, acho que chamar a polícia uma vez. Ent – e tu Nuno queres dizer? Nuno – aquilo banal, passar na rua e ver. Casais a discutirem, a chamar nomes.
4.1. O que sente a vítima quando é tratada assim? Nuno – humilhada. Alexandra – medo. Flávia – vergonha. Alexandra – medo. Cátia – vergonha, humilhação. Marta – culpa. Culpa muitas vezes sente culpa do que tá a acontecer. Cátia – se calhar um pouco raiva dela mesmo porque pensa que podia ter evitado a situação. Fica mais, se calhar, sensível, mais em baixo, mais… sei lá. Marta – talvez o que a vítima deve sentir em muitos casos, se calhar, é que só lhe apetecia desaparecer do mundo. Cátia – e triste porque se calhar agora quer ter uma vida mais social e não consegue por causa disso. De resto não sei. 5. O que é que alguns rapazes fazem para pressionar a namorada a ter relações sexuais sem ela querer? Marta – muitos casos agarram-nas e prontos acontece. Nuno – violam-nas. Flávia – ou então fazem chantagem emocional. Marta – não mas é verdade. Em muitos casos. Flávia – ameaçam acabar com a relação. Nuno – [não se percebe o que diz] mas é verdade. Marta – em muitos casos, em muitos casos agarram as vítimas e prontos e não há quem pare não é? Porque. [risos] Marta – oh, fogo. Tipo se ele tá a agarrar não pode chegar lá e dizer “olha pára” porque tão os dois sozinhos. Ela não tem força! Flávia – ameaça acabar com a relação. Marta – a sério vocês não percebem pá! Ent – ameaça acabar com relação, disseste Flávia? Marta – oh setora mas não é verdade? Há alguém que pode, imagine tão os dois. Há alguém que possa parar por acaso? Não, não pode né? [falavam ao mesmo tempo] Cátia – não, é um assunto sério só que. Marta – é verdade! Cátia – foi a maneira como tu disseste que meteu piada. Mas é um assunto sério. Marta - porque, por exemplo, se o namorado pode agarrá-la e não vai chegar ali se os. Flávia – eles são mais fortes. Marta – dois estão sozinhos ninguém pode chegar lá “olha pára com isso”. Que ela pode não ter força né? Oh prontos foi a maneira que eu disse, ok! Nuno – nós tavamos a rir disso não foi, não é da situação. Ent – então o que é que fazem? Cátia – chantagiam um pouco. Se calhar ameaçam. Marta – batem. Cátia – sim às vezes recorrem à agressão.
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Marta – ameaçam que batem [não se percebe o resto]. Cátia – ou então. Como é dizer aquilo tipo convencem com outras palavras, falinhas mansas, digamos assim. De resto não sei. Ent - Também há raparigas a pressionar os rapazes para terem relações sexuais? Marta – deve haver. Flávia – há. Nuno – cada vez pior. [risos] Marta – não. Pode haver sim. Nuno – é verdade. Ent - (Se sim) e o que é que fazem? Marta – devem fazer o mesmo que os rapazes talvez. Cátia – eu acho que não. Eu acho que é. Eu nem sei que vou dizer isto e vou ser gravada. Não. Mas acho que as mulheres conseguem muito mais facilmente convencer um homem a ter relações sexuais do que um homem uma mulher. Nuno – isso é verdade. Cátia – pois tipo. Uma mulher basta chegar lá e. Flávia – fazer-se. Cátia – exato. Marta – eah, eah. Cátia – acho que é muito mais fácil e quer depois ele, queira ou não, de início não queria portanto foi convencido, não foi por vontade, não foi iniciativa própria. Marta – mas também há muitas mulheres que batem nos homens. Cátia – sim. Ent – ok.
5.1. Quais são as consequências para as raparigas por terem relações sexuais sem quererem? Marta – talvez. Nuno – podem engravidar. Cátia – traumas. Traumas muito grandes. Marta – talvez, sim pois. Porque depois imagina se elas encontrarem o rapaz ideal depois. Alexandra – vão ter medo. Marta – vão ter medo de. Nuno – vergonha. Marta – eah. Medo, vergonha disso. Ent – o que é que disseste Flávia? Flávia – nada, setora, nada. Ent – não, mas não disseste? Flávia – não, depois por exemplo para, têm medo de começar uma relação com alguém e depois têm medo que a outra pessoa queira. Nuno – tem sempre receio. Flávia - faça o mesmo que a outra. Ent – o que é que disseste Nuno? Nuno – continuam a ter receio depois por passar por uma situação dessas. Marta – têm medo, vergonha do que possa vir a acontecer. Cátia – ou pior porque há. Cada, em vez de estar a desaparecer cada vez há mais. Certas tradições de família em que a mulher só pode ter relações sexuais com um homem mesmo que não seja, agora já nem é casar mas tem que ser o homem com quem a pessoa vai ficar. Eu por exemplo, como moro num bairro de, que tem alguns ciganos, digo que há raparigas que foram obrigadas a fazer e que agora não podem se quer tar lá. Tão, os pais compram um apartamento, tão num sítio e eles ficam lá isolados. Não podem tar em contacto. Marta – eu vi foi. Cátia – e nós tamos a falar de nós como senhores como eles nos chamam mas esquecemo-nos que infelizmente há outras pessoas que também passam por isso. Marta – eu vi numa reportagem foi. Cátia – e para eles ainda é pior. Marta – que há um país assim longe daqui que a rapariga, é a primeira vez da rapariga é com o pai. Com o pai dela. Nuno – fogo!
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Marta – a sério. Não deixam de tipo. Essa reportagem tipo só o pai é que pode tirar a virgindade à rapariga e depois é que vai ela vai casar com outro homem. Ent – e em que país? Marta – oh pá é aqueles assim tipo da Indonésia ou lá o que é isso. Aquelas. Ent – e tu tavas a falar da etnia cigana, não era Cátia? Cátia – sim. Eu conheço muitos e dou-me com muitos porque eu moro perto do bairro [nome] e ou eles, alguns ainda têm aquela tradição mais rígida em que só, só tem relações sexuais depois do casamento e não pode divorciar-se tem que ficar sempre com a pessoa e não é quando ela quer que eles tem relações sexuais. É quando ele quer. Quando ele quer, ela tem de estar ao dispor dela e mais nada. Nuno – se for preciso se calhar todos os dias [não se compreende bem]. Cátia - mas há outros que agora são um pouco, se calhar, digamos que mais modernos em que pode ter relações sexuais mas tem que comprometer-se, ou seja, depois no futuro vão casar e vai ficar com ele para toda a vida. Não pode depois, um cigano não quer uma cigana que já não seja virgem. Não quer. E eles, eles fazem mesmo do tipo, eles têm relações sexuais e se não sangrar é porque já não é virgem, é porque já não é pura e é isolada do bairro. Flávia – acho que toda a gente se lembra, mas aquelas meninas que mal têm pai oito anos têm que casar com homens muito mais velhos. Ai, isso aí também. Marta – não, mas eu só queria que, na Indonésia acho que foi um bocado estúpido porque a rapariga pode escolher com quem quer perder a virgindade, agora o pai fazer ela perder acho que isso é estúpido. Ent - (Se disseram que os rapazes também são pressionados) E para os rapazes quais são as consequências de ter relações sexuais sem quererem? Cátia – isso não sei, mas não sei mesmo. Marta – eu também não sei. Nuno – também acho que não há nenhuma. Marta – talvez os rapazes, talvez os rapazes. Cátia – há rapazes mais sensíveis que outros. Há rapazes que se calhar também ficam com traumas. Marta – talvez os rapazes mais sensíveis. Cátia – ficam com algum receio, algum medo porque há rapazes mais sensíveis que outros. Marta – acho que talvez os rapazes mais sensíveis ficam. Nuno – pode haver depois é arrependimento. Marta – os rapazes mais sensíveis também ficam assim com, podem ficar até com mesmo com medo e etc de voltar a acontecer.
6. Alguma vez ouviram contar algum caso em que o rapaz ameaça a rapariga de contar aos outros “coisas íntimas dela”? (ex. que teve relações sexuais com ela, que tem fotos dela meia despida, que tem segredos dela). (Se sim) Marta – eu nunca ouvi isso. Alexandra – eu também não. Flávia - não. Marta – não presenciei isso. Ent – e vocês os dois? Flávia – não. Ent – e vocês os dois a Cátia e o Nuno? Nuno – acho que não. Marta – a única coisa que vi prontos, oh pá, podem se rir mas a única coisa que vi foi na televisão. Em séries e qualquer coisa. Flávia – o Justin Bieber e Selena Gomez [fala ao mesmo tempo] Marta – eah. Ent – tem de ser um de cada vez. Marta – por exemplo em série ou muitas vezes notícias de famosos e isso mas assim realmente nunca vi. Realmente nunca vi, porque por exemplo, o Justin Bieber ameaçou a Selena disso. Flávia – eah. Marta - Que ia contar, que ia meter nas redes sociais fotos íntimas deles e etc. Ent – não conhecem então? Se quiserem falar de alguma série ou filme ou. Marta – realidade nunca vi nada disso. Flávia – eu também não. Cátia – oh na realidade já. Aquele casal ele, ele ameaçou mandar as fotos pa a mãe dela só. Fotos íntimas deles. Ent – e o que é que se passou nesse caso?
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Cátia – já não me lembro porque eles tavam sempre a discutir mas, sei que quase sempre ou tinha a ver com os ciúmes por ela se dar bem com toda a gente ou pela roupa. Era sempre. Ent – e chegou a postar ou não? Cátia – não. Depois não. Ent - Também há raparigas que fazem este tipo de ameaças aos rapazes? (Se sim) Cátia – deve haver. Marta – eu nunca vi, mas deve haver. Flávia – deve haver. Ent – e como é que os ameaçam? Nuno – da mesma forma. Cátia – dizendo. Marta – ai, isso já ouvi. Cátia – pode ser pra várias coisas. Podem ameaçar tipo se não fizeres isso, ou se não voltares para mim, ou se não tivermos relações outra vez, ou qualquer coisa eu posto as nossas fotos. Ou mostro as nossas fotos a esta pessoa ou mando para os teus pais, ou. Marta – havia um vídeo muito visto no youtube, não tinha nada de mal, calma. Só que ele ia gravar e a namorada apanhou-o e depois agrediu-o e etc. Nuno – ah. Flávia – eu vi. Cátia – eu também vi. Vi a filmá-la. Marta – eah. Cátia - a ter relações sexuais. Marta – para amostrar. Cátia - mas ela viu a câmara. Marta - Eah. Cátia – e bateu-lhe mas continuou a filmar e bateu-lhe, mas bateu-lhe mesmo. Marta – mesmo. Cátia - e depois postou no facebook e disse “vou mostrar a toda a gente agora a canalha de homem que és” e assim. Tentar filmar um homem, um homem e uma mulher a terem relações sexuais. Nuno – isso não era brasileiro? Marta – é. É. Ele tipo queria filmar que a ia apanhar, é desta que a vou apanhar. Depois ela descobriu a câmara. Ent – mas isso foi no? Marta – no youtube. Cátia – tava no youtube. Ent – ok.
6.1. O que sente e pensa a pessoa que é ameaçada? Flávia – medo. E pensa como é que eu vou sair disto. Marta – eu acho. Flávia – vergonha. Nuno – como é que as pessoas vão reagir. Marta – eu acho que ela se vai sentir com vergonha, tipo sozinha. Nuno – humilhada. Marta – sim humilhada. Ent - O que é que costuma fazer? Cátia – normalmente diz que sim. Normalmente quando é ameaçada acaba por fazer o que a pessoa que está a ameaçar quer. Marta – ou então. Nuno – porque tem sempre medo. Marta – ou então. Cátia – exato. Marta – ou então. Cátia – por receio, por medo de ser exposta de alguma forma. Marta – ou então pode fazer naquele próprio dia e depois tentar suicidar-se ou qualquer coisa do género. Cátia – porque as ameaças não param a partir do momento em que aceitou uma, ele vai faz outra vez. Nuno – vai a segunda, vai a terceira. Cátia – vira rotina. Ent – querem referir mais alguma coisa?
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7. Na vossa opinião, é possível haver casos em que uma pessoa obrigue a outra a ter relações sexuais contra a sua vontade? (Se sim) Marta – sim. Flávia – sim. Nuno – sim. Cátia – não percebi a pergunta. Ent – Na vossa opinião, é possível haver casos em que uma pessoa obrigue a outra a ter relações sexuais contra a sua vontade? Cátia – sim. Marta – sim. Flávia – sim. Marta – e cada vez mais, acho que cada vez mais pessoas fazem isso. Ent – e como é que isso pode acontecer? Flávia – já falamos antes. Cátia – sim já dissemos. Ent – como é que uma pessoa pode obrigar a outra a ter relações sexuais contra a sua vontade? Marta – aquilo que eu disse. Nuno – forçar. Marta - mas de uma forma mais coisa. Cátia – sim ameaçar, convencer. Marta – agarrá-lo. Cátia - com falinhas mansas. Marta – agarrá-lo e depois fazer. E não pode haver ninguém que vá lá impedir. Flávia – ameaçar acabar a relação. Alexandra – sim. Nuno – não pode? Marta – não porque se tiver sozinho, duas pessoas assim sozinhas. Nuno – mas se, por exemplo, se alguém vir e se aperceber chega lá. Marta – mas se ninguém vir. Se ninguém vir. Nuno – sim, isso. Marta – não podem parar né? Não podem impedir. [risos] Marta – não podem impedir. Não podem impedir isso. Cátia – sim. Sim, tá certo, prontos.
7.1.Conhecem alguém a quem isso já aconteceu? (Se sim) Flávia – eu não. Alexandra – também não. Nuno – ser obrigado? Cátia – ser obrigado. Nuno – ser obrigado ou outras? Marta – ah eu vi isso foi numa série de televisão. Cátia – ser obrigado ou ser convencido? Nuno – para ver se me lembro de. Marta – eu vi isso. Ent – se conhecem alguém que uma pessoa obrigue a outra a ter relações sexuais contra a sua vontade? Marta – eu só vi isso no I Love It. Em que ele drogou-a. Ent – onde? Cátia – drogou-a. Marta – no I Love It. Ent – ah. Marta - e tipo eles tavam a ver. Nuno – acho que conheço. Marta – e prontos. O Tomás obrigou-a, filmou e tudo que era para mostrar depois ao outro namorado dela e prontos. Ent – e o que é que aconteceu então nesses casos? Nesse caso. Marta – ele descobriu e acabou com ela.
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Ent – disseste que conhecias Nuno e então queres contar? Nuno – dois gémeos. Dois gémeos que são do pior. Ent – são do pior? E então queres contar o que é que aconteceu? [risos] Cátia – duas gémeas? Nuno – dois gémeos. Cátia – ah! eu pensei que eras tu e duas gémeas [risos]. Nuno – fogo! Flávia – não, como assim dois gémeos. Tipo? Nuno – não podem conhecer rapariga nenhuma. Tentam sempre levá-las para a cama, forçam-nas. Cátia – os dois? Nuno – sim. Cátia – tipo ao mesmo tempo? Ou cada um na sua vida? Nuno – cada um na. Marta – ah tava a ver fogo! Cátia – há casos assim só tava a perguntar. Marta – pois tipo já tava a ver que uma rapariga dava para os dois. Nuno – mas sei lá se já aconteceu isso. Ent – e que idade têm? Nuno – têm a minha idade. Cátia – dezasseis. Nuno – dezasseis. Ent – e são do local onde vives ou aqui da escola? Nuno – são do local. Ent – do local onde vives. Nuno – onde eu vivo. Ent – ok. 8. Podem contar-me situações que viram em filmes, ou na vida real, em que uma pessoa se aproveitou do facto da outra estar sobre o efeito do álcool ou de drogas para ter relações sexuais? Marta – no I Love It. Flávia – eu vi no Sol de Inverno. Ent – então podem começar uma de cada vez. Marta – eu vi no I Love It. Foi como eu disse, por exemplo, o Tomás era obcecado pela Bia prontos e é obcecado. E depois faz sempre. E ela tinha um namorado, que era o Nuno, e depois. [alguém a interrompe] Não és tu cala-te! Depois tipo ele, ele tinha bué de ciúmes disso né? E então andava sempre a fazer cenas e então ele, o Tomás, drogou-a. Cátia – drogou-a. Marta – drogou-a numa bebida e tipo eles fizeram os dois e ele filmou e prontos aconteceu. Ent – e tu Flávia? Flávia – no Sol de Inverno tipo a Margarida ia a muitas festas, daquelas festas onde tem muita gente para fazer coisas em grupo e então ela tomava bebidas com droga. Depois o Luís que era mau filmou ela a ter relações sexuais. Porque ela, ela tava drogada não é? Marta - mas tipo não era só com uma pessoa. Flávia – era com várias e então o Luís filmou ela a fazer relações sexuais e depois ameaçou pôr na internet e a Margarida ficou muito mal e tentou-se suicidar. E depois a Marta disse para desistir da escola e ela desistiu, mas agora ela quer que volte à escola. Mas não é esta Marta, é Marta do Sol de Inverno. Cátia – eu vi mas foi na vida real. Eu saio à noite e sei lá talvez em bares e discotecas e vejo várias raparigas, os rapazes chegam oferecem uma bebida, oferecem duas, oferecem três e quando ela já tá naquele estado dizem “eu vou-te levar a casa ou levo-te para minha casa” e levam. Eu não! sou uma boa menina mas, mas já vi vários, vários, vários mesmo. E tenho uma, uma pessoa próxima de mim que tem uma irmã nesta escola, por acaso, que ela estava muito bêbada e tava sob o efeito de droga também e eles tavam pois, em vez de irem para casa foram fazer uma paragem. Tava ela, três rapazes e mais uma rapariga e eles pararam não sei onde e depois saiu toda a gente e ficou só essa rapariga que eu conheço e um rapaz. E eu, ela diz que não se lembra bem mas que sentiu dores, porque ela era virgem e quando acordou tava cheia de dores, tinha sangue, tinha prontos, ficou super mal e ela não se lembra, que é pior. Para além de ela ter sofrido a humilhação de provavelmente ser violada, ela não se lembra, tem dores e ela nem o conhecia. Não se lembra, normalmente a primeira vez as pessoas querem que seja uma coisa especial. E, nem sequer saber o nome dele é um bocado. Deu para ela aprender acho eu.
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Ent – sim. Na vossa opinião. Vocês querem contar alguma? Nuno – o que eu já vi foi em bares meterem drogas no copo. Marta – eu pensei que isso só dava nos filmes. Alexandra – também eu. Ent – na vossa opinião. [risos] Cátia – nota-se mesmo que não sais à noite.
8.1.Na vossa opinião, isso pode acontecer no local onde vivem? Marta – como assim? Cátia – em casa? Ent – no local onde vivem no, na vossa rua… [risos] Ent – na vossa rua… Marta – na nossa casa? Ent – não, na vossa rua. Marta – ah! [falavam ao mesmo tempo] Ent – ou aqui na escola? Marta – é assim, por exemplo. [falavam ao mesmo tempo sem se perceber]. Ent – vamos lá então. Marta - lá por vivermos numa rua, não quer dizer que. Desculpa. Flávia – toda a gente vive numa rua. Cátia – tas a falar mal do meu bairro? Marta – não! Cátia – fala, fala. Marta – não! Lá por vivermos numa rua não quer dizer que todas as pessoas da rua possam ir lá, também pode ir gente de fora né? De outros sítios e outra coisa. Pode acontecer sim. Ent – então na vossa opinião, pode acontecer com as pessoas que conhecem aqui na escola? Cátia – sim. Marta – sim. Nuno – pode acontecer com qualquer um. Ent – então todos dizem que sim, não é? Cátia – sim. Ent – ok. E no local onde vivem? Cátia – sim. Marta – pois é o que eu tou a dizer. Não é. [falavam ao mesmo tempo]. Ent – e então porquê? Uma de cada vez. Marta – por exemplo, na rua que eu vivo, por exemplo, não vão andar só pessoas dos prédios, podem andar outras pessoas quais queres. Sim pode acontecer. Ent – e vocês? Porque é que acham que? Cátia – porque eu moro perto de uma área assim um bocadinho… Marta – o quê? Cátia - A minha casa não mas mesmo pertíssimo tem uma área muito conflituosa e sim. Ent – ok.
8.2. Quais são as consequências para a pessoa a quem isso aconteceu? Cátia – das relações sexuais enquanto tá alcoólica? Ent – sim de se terem aproveitado de ela estar com? Cátia – trauma. Alexandra – sente vergonha. Marta – acho que sente tristeza por não ter sido com a pessoa ideal. Nuno – e não terem… [falavam ao mesmo tempo] Nuno - incertezas também. Não saberem com quem é que foi. Cátia – não há pessoa ideal.
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Marta – prontos vai ficar tipo. Nuno – ficam sempre na dúvida. Marta – eah e se ainda por cima depois não conhecerem a pessoa ficam tipo. 9. Conhecem algum caso em que a namorada ou namorado foram vítimas de agressões verbais e humilhação através da internet ou de sms no telemóvel? (Se sim) Cátia – eu só, o único casal que eu conheço que seja agressivo de todas as formas. Marta – eu já vi foi no facebook. Alexandra – eu não. Ent – sim. Marta – tipo o namorado a postar. Cátia – acho que sim também indiretas. Marta – eah. Não, e mesmo o namorado postou mesmo no, tipo no perfil dela a dizer que. Cátia – isso também já vi. Marta – que era uma estúpida e o que aconteceu. Pá, coisas mesmo más. Cátia – eu vi com uma rapariga aqui da escola. Marta – coisas mesmo más. Alexandra – eu nunca vi. Ent – e então o que aconteceu nesses casos? Começa uma de cada vez. Marta – como assim o que aconteceu nesses casos? Cátia – o que aconteceu pra haver essa… Ent – o que é que aconteceu? Marta – eu não sei. Eu sei que tipo de um momento para o outro, por exemplo, tava no facebook e aquilo apareceu do nada. Flávia – na página inicial. Marta – eah na página inicial e tipo fiquei parva porque ele dizia que, que ela era uma estúpida que, que não queria fazer nada com ele, e que não gostava da relação que eles tinham porque que ela era muito, que não gostava de fazer isso. E então ele, ela tipo depois, as pessoas, eu acho que se isso me acontecesse a mim acho que era envergonhativo porque toda a gente a ver aquilo acho que, pá, também tinha de ter dois dedos de testa né? Não vamos publicar coisas no facebook ainda por cima da nossa vida privada. Ent – e tu Cátia? Cátia – eu é, uma rapariga aqui da escola, que namorou com um rapaz que andava na minha escola antiga de [nome] e toda a gente o conhecia de vista e ele postava no facebook coisas do género “não sei porquê que saíste à noite ontem e não me disseste. Foste uma porca” mas mesmo no mural para toda a gente ver. E depois era, ela mandava para ele, mas no mural em vez de falarem no chat, “eu faço o que quiser, eu juro que não tive com ninguém” e depois ele respondia pó mural dela “foste uma porca e ainda por cima foste de vestido e não sei quê. E tiveste com este e com aquele. Disseram-me e têm fotos. És uma porca, és uma” prontos, coisas assim. Marta – e num grupo, por exemplo, há um grupo no facebook que é - Vamos fazer mais um grupo de raparigas no facebook - aparece lá muitas, muitas raparigas a desabafarem com as outras raparigas, que aquilo é mesmo só de raparigas, a dizerem que os namorados postam coisas no facebook delas, no mural delas e que têm fotos íntimas deles e etc. Assim muitos casos. Flávia - eah lá no grupo tem muitas raparigas assim. Cátia – eu até tenho essa coisa, mas nunca lá fui. Marta - é mas tem coisas. Flávia – pois tem, por acaso também já vi. Marta - aparecem lá raparigas que ficam grávidas assim do nada. Flávia - raparigas que pedem ajuda porque o namorado pressiona a ter relações sexuais. Marta - outras raparigas que tiveram a primeira vez relações sexuais e depois dizem que se arrependeram porque já estão grávidas. E etc. Flávia – não tavam preparadas. Cátia – novas mães. Marta – e outras porque dizem que. Cátia – não trabalham, não têm sustento próprio. Marta – outras dizem que. Cátia – não têm responsabilidade. Marta – tipo uma rapariga de treze anos disse que, que fez com o namorado dela que tinha pai dezasseis e disse que não usou preservativo e que tem medo que tenha alguma doença e etc. Cátia – mas isso a idade não importa. Eu tenho, eu tenho, vou fazer dezasseis.
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Marta – sim. Não tou a dizer que, da idade mas tipo raparigas assim novas e tipo que vão lá postar cenas assim. Cátia – sim. Marta - portanto tou a dizer tipo pode acontecer em qualquer idade, que não há idades para isso. Ent – ok.
9.1.Quais foram as consequências para a vítima? Que é humilhada através da internet ou de mensagens. Cátia – toda a gente fica a saber um pouco sobre própria, da sua privacidade, intimidade. Marta – eu acho, desculpa. Podes falar. Cátia – fala. Já está. Já acabei. Alexandra - vergonha. Marta – eu acho que se isso me acontecesse, eu acho que apagava o facebook, não deixava ali tar para toda a gente ver. Alexandra – apagavas. Marta – apagava. Cátia – tu podes ter aquilo durante trinta segundos, hoje em dia já toda a gente conhece o print, por exemplo. Marta – eah. Cátia – pode tar trinta segundos e alguém faz um print. Flávia – eu não conheço. Cátia - e passados quinze minutos está em todas as redes sociais de toda a gente, a ser divulgado, a ser partilhado, etc. Marta – ou então. Flávia – eu não conheço. Cátia – e não só no facebook, no Ask, no Instagram, em todas. Marta – ou então apagava o status ou então tipo apagava o facebook, tipo. Cátia – eu conheço uma rapariga que na brincadeira pôs no facebook “estou grávida”. E ela pôs durante dois minutos nem digo tanto. Marta – lá no grupo apareceu. Cátia – quando tirou aquele bocado, foi cortado, fizeram print, cortaram. Já tava no facebook pai de vinte pessoas e depois já iam com aquele link ao Ask dela perguntar “Tás mesmo grávida?” e não sei quê. Em dois minutos as pessoas conseguem logo aquela informação. Portanto, quem é humilhado pela internet é humilhado a vida toda ou pelo menos durante bastante, bastante tempo mesmo. Não é alguma coisa que se apague e acabou. Ent – ok. 10. (Se não falaram do namoro homossexual) Já alguma vez ouviram falar de gays ou lésbicas? Flávia - claro. Marta – claro que sim. Nuno – quem é que não ouviu. [risos]
10.1. (Se sim) O que é para vocês um homossexual masculino ou gay? Marta – é assim, eu não, eu não pá, não sou contra nada disso né? Ent – mas o que é para vocês? Marta – oh pá, para mim tipo. Flávia – tem gostos diferentes. Marta – eah tem gostos diferentes. A única coisa que me mete impressão é, por exemplo, eles tarem no meio da rua, a beijarem-se. Isso mete-me um bocado de, não é nojo, mas impressão prontos. Cátia – eu sou contra. Respeito mas sou contra. Ent – ok. Mas o que é para vocês um homossexual masculino ou gay? Cátia – é uma pessoa que tem uma atração pelo mesmo sexo. Ou seja por homens. Marta – eah. Ent - E uma homossexual feminina ou lésbica? Cátia – o mesmo, que gosta do mesmo sexo. Marta – que não gosta de homens, pronto. Ent – e uma hetero… Nuno – [não se percebe] a imaginar. Marta – na cama. Nuno – gays ou lésbicas a fazer.
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[risos] Flávia – na cama. Ent - E um/a heterossexual? Cátia – um heterossexual somos nós. Acho eu. Marta – eah. Nuno – gosta das duas. Flávia – das duas. Cátia – não! Nuno – não? Cátia – hétero não! Isso é bissexual. Bissexual gosta dos dois sexos. Heterossexual é gosta do sexo oposto. Eu gosto de homens, tu gostas de mulheres. [falavam ao mesmo tempo sem se perceber] Marta – ah pronto.
10.2. Há alguma diferença no namoro entre homossexuais e heterossexuais? (Se sim) Marta – pode haver. Flávia – há. Na cama. Ent – vamos lá. Um de cada vez então. Marta – oh setora não percebi. Ent – então é assim. Há alguma diferença entre, no namoro, entre homossexuais e heterossexuais? Há ou não? Marta – há. Cátia – há coisas que não podem fazer com tipo dois homens e uma mulher fazem. Marta – há. Ent – então quais são diferenças? Cátia – nas relações sexuais. Marta – tipo o homem. Cátia – e acho que também, se calhar, na maneira de estar porque, por exemplo, quando a gente está com o nosso namorado a gente sente protegida, sente-se, é um carinho diferente que uma mulher não consegue dar a uma mulher. Acho eu! Quer dizer, eu não sei né? Mas o carinho que eu sinto vindo de um homem é muito diferente daquilo que sinto vindo de uma mulher. Pra mim! Marta – eu acho que mesmo prontos nas relações sexuais é impossível fazer alguma coisa com uma mulher. Flávia – tipo uma mulher não tem nada para dar. Marta – penso eu! Acho que é. Oh pá, e acho que não. Por exemplo, enquanto tivermos um homem com o nosso namorado ou qualquer coisa tipo, podemos, tipo sei lá ser um momento só nosso né? Enquanto se for duas raparigas tipo acho que elas não podem fazer nada. Cátia – podem fazer. Ent – e vocês querem referir alguma coisa? Flávia – mas não têm nada. Olha só se for. [falavam entre si sem se perceber] Nuno – há auxilio de. Ent – querem referir alguma coisa? Cátia – não.
10.3. Contam-me, por favor, situações de violência no namoro entre gays ou lésbicas que já tenham visto em filmes, na escola ou no local onde vivem? Nuno – isso acho que nunca vi. Cátia – eu vi que. Marta – eu só vejo filmes também. Cátia – mas é diferente porque era, ele era gay, por exemplo, ele trabalhava, ele era soldado ou qualquer coisa, tinha qualquer coisa a haver com guerras e isso, militar uma coisa assim. E ele tinha x tempo, x meses durante o ano de férias para ele e, ele dizia ao resto dos companheiros que ia passar um cruzeiro só com mulheres e etc mas, na realidade ele era homossexual, mas não era assumido. E então, ele ia para um bar, para uma rua só com bares gays e ele era gay mas ele tinha vergonha disso. Então, ele traiu um homem e depois quando o homem se começava a fazer com ele, eles já estavam mais a sós, quando se começava a fazer mais a ele, ele ficava com aquele nojo de estar a gostar e matava-o. Foi a única coisa que eu vi. Marta – eu não. Eu já vi foi tipo assim no Físico-química. Nuno – na vida real? Cátia – não, não no CSI.
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Nuno – ah ok. Marta – num programa que se chama Físico-química que dá na Sic Radical. Em que, em que ele, ele era gay também tinha medo de assumir e depois ele tipo não queria, não queria, não queria ser gay, prontos. Mas ele gostava de homens e então ele descobriu um amigo dele, que depois era gay e esse amigo obrigou-o a fazer tipo de uma forma mesmo violenta. E então. Ele ficou tipo com trauma e matou-se depois. Cátia – próxima. Ent - Há diferenças entre a violência no namoro entre homossexuais e heterossexuais? (Se sim) Flávia – deve haver. Alexandra – eu acho que não. Cátia – acho que sim. Acho que sim. Acho que a violência que há entre duas mulheres e a violência que há entre dois homens. Marta – é bem diferente. Cátia – e um homem e uma mulher é completamente diferente. Marta – eah. Ent – então quais são as diferenças na violência no namoro? Flávia – os homens sabem os pontos fracos. Marta - E não só, e os homens tipo. Cátia – nada a ver. As mulheres se calhar têm menos força, menos. Marta – e acho que. Eah. Cátia – os homens normalmente são mais decididos, ou seja, se calhar conseguem pôr um fim aquilo mais rápido. Marta – enquanto que as mulheres não. Cátia – do que fosse, por exemplo, dois gays. Um deles eventualmente consegue parar mais rápido, enquanto a relação tá no inicio, enquanto tá a começar a ser violento e etc. do que um homem e uma mulher. A mulher se calhar é o. Nuno – tem menos força. Cátia – o elo mais. Marta – mais fraco. Cátia – fraco. Nuno – frágil. Cátia – mais frágil. Exato, não é fraco, é frágil. Ent – querem referir mais alguma coisa? II - Causas da violência no namoro 11. O que leva um dos/as namorados/as a ser fisicamente violento com o outro/a? Alexandra – ciúmes. Marta – ciúmes. Cátia – tá a falar de gays ainda ou de normais? Ent – não. Marta – é normais. Cátia – para mim. Ent – agora no geral não é? Para vocês… Marta – talvez. Ent - o que leva um dos/as namorados/as a ser fisicamente? Alexandra – os ciúmes. Marta – talvez, prontos, vamos voltar ao mesmo sítio. Ciúmes, não querer ter relações. Cátia – às vezes a roupa, se calhar o facto de ser um pouco possessivo do género “és minha não tens que estar com mais ninguém”. Marta – como a Cátia disse ao bocado tipo ser. Alexandra – ser agressivo. Marta – ela ser social com as outras pessoas e ele não gostar que ela converse com outras pessoas etc. Cátia – é um ser possessivo. Marta – sim. Cátia – desconfianças. 11.1. E a ser verbalmente desagradável com ele/a, desvalorizá-lo/a ou humilha-lo/a? Marta – se calhar. Cátia – acho que os mesmos.
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Marta – eah. Cátia – acho que tanto pode dar para violência verbal como para física. Marta – ou então digamos que ele, ele ou ela sente-se líder da relação. Tipo. Cátia – sim. Marta – líder. Nuno – eu é que mando. Marta – que ele é que tem que mandar, que ele é que tem que mandar, que ele é que tem que fazer. Ela tem que fazer tudo o que ele manda, por exemplo. Cátia – ou ele tem que fazer tudo o que ela manda. Marta – ou ele ou ela. Sim ou ele ou ela. Ent – o que é que disseste Nuno? Nuno – prontos, ele é que… Cátia – sim. Nuno - tem. Pensa que ele é que manda. Marta – ou ela sim. Nuno – ele ou ela. Ent – ok. 12. O que leva o rapaz a pressionar a rapariga para terem relações sexuais? (Se disseram que a
rapariga também pressiona) Cátia – se calhar a idade. Flávia – desejo. Cátia – já conheci vários que, por exemplo, ele ia fazer dezasseis e queria que a namorada tivesse relações sexuais com ele no dia dos anos porque queria perder aos dezasseis e prontos a idade, o facto de acharem “bom já tenho idade, já tenho maturidade já posso fazer, já posso começar. Os meus amigos todos começaram com esta idade também vou fazer com esta idade”. Marta – eah talvez. Cátia – e depois prontos. Marta - Tipo ele pensa que já por, por exemplo, namorarem sei lá pai há três meses ou mais, ou menos, ele pensa que já pode fazer o que quer com a rapariga e tipo ou com o rapaz, se for uma ela, e pensa que já pode ter relações sexuais quando quer e quando lhe apetece, etc. Ent – ok. E a rapariga a pressionar o rapaz? Cátia – se calhar porque com o passar do tempo digamos que as hormonas. [falavam ao mesmo tempo sem se perceber]. Nuno – aos saltos. Cátia – tou a falar a sério. Marta – aos saltos. Cátia – não, mas tou a falar a sério. Marta – sim. Cátia - chega ao ponto que a mulher simplesmente sente necessidade de fazer e prontos. Nuno – pode levar aquilo. Cátia – e pressiona o homem. Quer e pronto, precisa de companheiro não é? Marta – e acontece. E acontece, e acontece. Ent – querem referir mais alguma coisa? Marta – não. 13. O que pode levar alguém a abusar sexualmente de outra pessoa? Cátia – o facto de a outra pessoa não querer. O facto de. Marta – tamos. Cátia – de ter força psicológica o suficiente para dizer que não. E então a outra pessoa não aceita o não como resposta e obriga-a. Marta – tamos a falar tipo… Ent – o que é que pode, no geral. Marta – sim mas entre namorados? Ou. Ent – sim, sim, sim. Flávia – isso é violação. Marta – por exemplo, eu ouvi dizer, ouvi um caso no Goucha que, por exemplo, ele, oh pá a sério, vocês! Cátia – continua, continua.
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Marta – que tipo ele diz que tavam a pensar legalizar a pedofilia. Acho que essas pessoas que abusam dos outros. Ent – onde? Flávia – no você na tv. Marta – no você na tv. Ent – não. Onde é que queriam legalizar? Alexandra – aqui. Marta - queriam aqui em Portugal, legalizar a pedofilia. Chegou-lhe aos ouvidos, prontos. E eu acho que, quando uma pessoa, oh pá, ou legaliza a pedofilia ou é pedófilo, acho que num, num tem tipo. Cátia – mas eu acho que devia haver um limite de pedofilia. Do género pedofilia para mim é quando um homem já feito viola uma criança. Marta – sim. Cátia – ou um adolescente. Mas eu acho e conheço várias relações de em que o rapaz tem, por exemplo, dezoito, dezanove anos, namora com uma rapariga de dezasseis, dezassete, e isso para mim, eu não considero pedofilia. Flávia – isso não. Cátia - porque por exemplo, o meu namorado tem dezoito anos mas a minha mãe conhece-o e aceitou isso. E isso para mim não é pedofilia. Marta – eu tou a falar de cerca de. Cátia – sim, sim eu percebi. Flávia – de crianças pequenas. Marta – um homem pai de quarenta anos violar já uma rapariga pai de dezasseis ou qualquer coisa. E é assim, acho que isso é estupido porque essas pessoas não devem ter algum, pá, não devem ter assim sei lá sabedoria ou qualquer coisa. E acho que quem quer legalizar a pedofilia é pior que o próprio pedófilo. Cátia – claro. Marta - porque acho que isso não tem pés nem cabeça. Por amor de deus. Agora. Cátia – ainda por cima em crianças. Marta – e é assim. Cátia – pedofilia com crianças, e as crianças normalmente têm mais dificuldade depois de crescer. Marta – eah. Cátia – crescem mais traumatizadas com aquela imagem na cabeça. Marta – e depois é tipo. Cátia – e é muito mais difícil depois de se associarem a pessoas. Nuno – e depois não podem sequer ver um homem. [falavam ao mesmo tempo] Marta – e se legalizassem isso. Flávia – ou uma mulher. Marta – e se legalizassem isso. Nuno – sim. Marta – acho que toda a gente aqui, por exemplo em Portugal, se legalizassem a pedofilia. Flávia – eu tinha medo de viver aqui. Marta - tinham medo de andar na rua. Era uma coisa que, pá. Cátia – se já temos agora, imagina se isso fosse legal. Marta – eah, exato. Por, exemplo, já ouve casos. Nuno – em qualquer canto. [falavam ao mesmo tempo] Ent – um de cada vez. Marta – contaram-nos a nós na turma das raparigas, penso que todas ouviram, que naquele país da Índia ou qualquer coisa, que um homem arrebentou uma miúda. Nuno – ai isso foi a setora que contou não foi? Marta – eah. Cátia – um homem de quarenta anos que casou. Marta – sim. Cátia - com uma rapariga de cinco anos e na noite núpcias ela [não se percebe]. Marta – arrebentou-a toda. Acho que isso é estúpido. Cátia – morreu. Marta - eu acho que isso nem devia existir né? Ainda por cima é contra a vontade da criança, a criança não. [falavam ao mesmo tempo sem se perceber] Nuno – ela se calhar nem sabia o que.
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Marta – é assim, uma criança de, por exemplo, dos zero anos até, até ter uma maturidade para decidir, para ter uma maturidade para decidir, acho que não devia ser obrigada a casar. Só se quisesse casar porque ela aí já tinha maturidade para decidir se quer ou não. Cátia – sabes que isso não é decisão dela, isso também é das tradições. Marta – sim. Cátia - da família, da etnia. Marta - pois eah. Cátia – da raça. Marta – eu sei. Cátia - Isso difere de muitas coisas infelizmente. Ent – então vamos lá. E a abusar de pessoas que estão drogadas ou bêbadas? O que é que pode levar alguém a abusar de pessoas que estão drogadas ou bêbadas? Flávia – traumas, arrependimento. Marta – não. Cátia – não. Ent – o que é que pode levar? Cátia - o que pode levar. Às vezes também é problemas em casa. Marta – ou então. Cátia – às vezes a pessoa. Nuno – só veem uma. Cátia - vê o que acontece em casa e tenta fazer. Flávia – ah quer fazer igual. Cátia - por exemplo, quando o pai é agressivo a. Nuno – os filhos vão. Cátia - ele tem tendência a ser também, porque ele também quer ter uma mulher que o respeite como se calhar a mãe respeita o pai. Como tem medo ao pai e ele quer ser igual e leva, e as mulheres igual. As mulheres às vezes é o contrário, as mulheres às vezes quando não têm o pai presente na vida delas, que é o caso de muitas, de muitas raparigas de hoje em dia, quando não têm o pai devidamente presente na vida delas são mais frágeis e não se querem dar por uma relação, querem ser o elo dominante da relação, querem fazer tudo como elas querem e acontecem essas coisas. Marta – ou então aproveitam-se mesmo do facto da pessoa estar drogada ou bêbada e pronto. Cátia – exato. Tá com vontade, a pessoa tá bêbada, tá drogada é mais fácil de conseguir o que se quer. Marta – eah. Nuno – por exemplo, de outra forma não consegue e aproveita. Cátia – exato. Ent – ok. 14. Na vossa opinião, porque existe violência no namoro entre os jovens heterossexuais? Flávia – heterossexuais é tipo nós? Cátia – somos nós. Porque não há conversa, não há diálogo na relação. Alexandra – não se respeitam. Marta – e no meio daquilo, e no meio daquilo tudo acho. Cátia – não há comunicação. Marta – no meio daquilo tudo acho que não há amor porque se houvesse amor acho que não acontecia nada disso. Cátia – eah. Ent – ok. E entre os jovens homossexuais? Marta – também a mesma coisa. Se calhar não há amor entre eles e aproveitam pa andar ali. [risos] Marta – oh pá! para andar ali à porrada né? Cátia – fala direito meu. Ent – ok. III – Importância do problema e formas de resolução 15. Na vossa opinião, qual é a gravidade aqui na escola da violência no namoro? Cátia – aqui na escola? Ent – sim. Marta – aqui na escola não vejo assim muito. Vi foi no 8º ano aquela situação. Cátia – quer dizer, se calhar eles até são agressivos.
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Flávia – sem nós sabermos. Cátia - ao menos não se dão aqui ao. Marta – ou se calhar. Flávia – quase de certeza só que nós não sabemos. Marta – sim ou se calhar são agressivos e se calhar ninguém sabe e só a vítima e ele é que sabe. Cátia – exato. E se soubéssemos também não podias fazer grande coisa. Ent – então aqui a gravidade é baixa ou é? Marta – como assim? Cátia – baixa. Nuno – acho que é baixa. Ent - Porquê? Alexandra – eu também acho que é baixa. Cátia – porque a gente não a vê. [risos] Ent - E no local onde vivem? Flávia – também baixa. Alexandra – também. Marta – também é baixa mas como eu digo lá por andarmos na nossa rua não quer dizer. Cátia – baixa não né? Pelo menos na minha não. Ent – então porquê que é baixa e porquê que não é? Marta – é assim, por exemplo, eu digo que é baixa porque é assim, eu não vejo. E como eu digo, por exemplo, lá por eu morar, lá por meu morar na minha rua não quer dizer que outras pessoas das outras ruas não possam vir lá aquela rua né? Aquilo o ar é de todos ninguém tem que andar ai a coisar. Cátia – na minha porque normalmente na etnia cigana, como eu já disse, o homem é quem manda e tem tendência a ser violento quando a mulher não quer fazer ou quando tenta dar a opinião própria, quando tenta ser ela a dizer alguma coisa, a mandar em alguma coisa tem tendência a ficar violento. Ent – ok. 16. Se tivessem um (a) amigo(a) nestas situações o que poderiam fazer para o tentar ajudar? Cátia – se fosse meu amigo ou minha amiga, primeiro falaria com a minha mãe e perguntava o que é que ela acha que eu devo fazer, se eu devo falar com os pais, se devo primeiro ir à polícia e depois isso dependendo do conselho da minha mãe era o que eu faria. Marta – eu tipo se tivesse assim uma amiga nesta situação primeiro falava com ela, apoiava e prontos e dizia também o que, o que eu acho que faria se tivesse nessa situação. E depois dependendo, é assim, há gente que num, não quer denunciar. Mas acho que se ela tivesse mesmo num caso muito, muito sei lá, assim num caso mesmo muito mau que tivesse a ser espancada todos os dias, eu acho que para o bem da minha amiga se ela tipo, se não fosse muito contra a minha opinião eu acho que a ajudava e denunciava. Cátia – mas se não fosse meu amigo eu não me metia. Alexandra – eu também denunciava [não se ouve bem]. Marta – sim, eu também se não fosse meu amigo também não me metia. Cátia – eu se soubesse de um caso de violência mas se não conhecesse não me metia. Ent – também denunciavas Alexandra? Ok. 17. A quem recorreriam para pedir ajuda se um dia estiverem numa destas situações? Marta – eu recorro à minha mãe. Cátia - à minha mãe. [falavam ao mesmo tempo] Ent – vamos lá, uma de cada vez. Marta – eu recorro à minha mãe. Cátia – eu também. Alexandra – eu também à minha mãe. Marta – aos meus pais, prontos à minha mãe ao meu pai. Cátia - à minha mãe, eu. Marta – mais à minha mãe do que. Ent – então. Mãe. Marta – mãe. Alexandra - mãe. Flávia – mãe e amigos. Cátia – mãe.
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Nuno – se nós passamos por essa situação? Marta – se eu tivesse nessa situação. Ent – se tivessem sim. Marta – eu recorreria à minha mãe mas depois a minha mãe também preocupada falava com o meu pai né? Ent – ok. Marta – prontos. Ent – e porquê que recorreriam, portanto, neste caso à mãe e aos amigos? Flávia – oh eu recorreria aos amigos porque prontos são da minha idade. Marta – sim. Eu recorreria por exemplo. Flávia – é à minha mãe porque é minha mãe. Nuno – e tens mais à vontade se calhar. Marta – eu se tivesse que recorrer recorreria, prontos, não vou dizer que tipo recorria à Cátia prontos, porque acho que ela tem mais mentalidade para essas coisas e me ajudava na situação né? Mas também recorreria à minha mãe porque prontos é minha mãe sinto confiança nela e ela ajudava-me sim nessa situação. Ent – então se tivessem a sofrer de violência no namoro recorreriam aos pais por causa de, porquê? Cátia – mãe é mãe. Dá aqueles conselhos. Marta – eah. Cátia – sabe sempre o que fazer. Já passou por, se calhar, já passou pela mesma situação ou sabe de situações semelhantes, sabe como se resolve. Marta – eu recorria à minha mãe porque também. Cátia – experiência. Marta – por o que a Cátia disse e porque eu tenho uma grande ligação com a minha mãe. Cátia – também eu. Marta – e recorreria também, por exemplo, à Cátia porque acho que ela tem tipo pá, pode ter dezasseis anos mas acho que já tem, prontos já tem uma mente adulta e ajudava-me nessa situação. Ent – ok. E tu Nuno? Queres referir a quem querias recorrer? A quem recorrerias? Nuno – se calhar recorria primeiro aos meus amigos e depois aos meus pais. Depende não sei. Ent – ok. Nuno – nunca me aconteceu isso. Ent – e porquê que recorrerias a eles? Nuno – porque se calhar tenho mais à vontade. Não é que não tenha à vontade com os meus pais. Ent – ok. Nuno - mas. Ent – não falaram aqui da. Queres dizer mais alguma coisa? Nuno – não. Ent – não falaram aqui da escola. 18. (Se não falaram da escola) Nesta escola, se lhes acontecesse ou estivessem a passar por um
episódio destes, sabiam onde podiam dirigir-se? (Se sim) Cátia – como assim, se tivéssemos a passar na escola e víssemos isso a acontecer? Ent – não. Se vocês estivessem, estão a viver isso não é? Cátia – ah ok. Ent - Violência no namoro. Cátia - A passar pela situação. Ok. Ent – sabem onde é que poderiam dirigir-se? Nuno – aqui na escola? Ent – sim. Flávia – não há aquele coiso? Marta – eu não sei. Cátia – ao GAAF, ao GAAF não é? Flávia – é isso GAAF gabinete de qualquer coisa de família. Ent – então a onde Flávia? Cátia – GAAF. Flávia - GAAF, Gabinete de apoio à família acho eu. Ent – e porquê que recorreriam ao GAAF? Flávia – eu não recorreria. Marta – eu também não. Alexandra – também não.
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Ent – então ninguém recorreria? Cátia – sabemos onde mas não recorreríamos. Marta – eu não recorreria. Ent – e tu Nuno? Flávia – também eles não fazem. Marta – é assim, eu não vou dizer que. É assim eu não recorreria porque também é assim, não vou tar a dizer a minha vida a toda a gente né? Mas acho que não. Cátia – e também porque eles dizem que é confidencial. Marta – eah. Cátia - mas não é. Marta – não é porque depois toda a gente sabe. Cátia – porque por exemplo, eu não nesta escola mas em [nome] tive que por uma situação que andar em psicólogo e diziam que eram confidencial supostamente mas os setores depois na semana seguinte “Olha se precisares de alguma ajuda por causa desta situação, desta situação, desta situação” e eu só tinha contado à psicóloga portanto e foi por isso que mudei de escola até para aqui, porque prontos. Marta – toda a gente sabia da tua vida. Cátia – queriam que eu fosse este ano, por exemplo, pó, pó psicólogo mas só por ir só para ter a certeza se está tudo bem porque como a minha mãe emigrou também agora há pouco tempo e eu reprovei no ano passado por faltas, se calhar para me sentir mais à vontade se precisasse para falar com alguém mas eu recusei-me a ir, não consigo. Marta – acho que isso é estupido. Então se uma pessoa diz que é confidencial uma pessoa vai saber da vida de toda a gente. Cátia – sim, e se tivéssemos. Nuno – eu tenho uma opinião das psicólogas. Flávia – eu acho que se estão meter na vida das pessoas. Nuno – eu penso que as psicólogas é para saber da vida dos outros. Cátia – exatamente. Marta – é assim, por exemplo, acho que não há melhor psicóloga que, por exemplo, quem tiver uma relação, por exemplo, a Cátia já disse que tem uma relação boa com a mãe, e eu também. Acho que não há melhor psicóloga. Nuno – isso é. Marta - do que alguém da nossa família, por exemplo, a minha mãe. Nuno – em alguém que tu confies. Marta – é tipo, quem tiver uma relação forte com a mãe acho que não há melhor psicóloga do que a nossa própria mãe, porque é da nossa família e compreende-nos. Cátia – na nossa vida, tamos a passar por uma fase má com o nosso namorado íamos falar com uma pessoa que não conhecemos? Nuno – que não conhecemos de lado nenhum. Marta – eah pois. Cátia – não faz sentido para mim pelo menos. 19. (Se não falaram dos pais) Se estivessem a sofrer violência no namoro falavam com os vossos pais? Porquê?
[responderam na questão 17] 20. (Se não falaram dos amigos) Se fossem vítimas de violência no namoro recorriam aos amigos? Porquê?
[responderam na questão 17] 21. O que podemos fazer aqui na escola para prevenir a violência física no namoro entre os
adolescentes? Marta – como assim não percebi desculpe? Ent - O que podemos fazer aqui na escola para prevenir a violência física no namoro entre os adolescentes? Flávia – eu acho que eles não vão ouvir. Marta – é assim, não vale apena fazer, por exemplo, flyers nem nada porque a maioria das pessoas não ouve. Cátia – não vão ler. E se fizermos. Nuno – deitam fora, gozam. Cátia - apresentação eles não vão ouvir. Marta – ou literalmente gozam com as pessoas que tamos a falar daqui. Cátia – portanto não há nada. Flávia – têm que aprender com os erros. Cátia – só quando as pessoas sentem na pele é que aprendem, mais nada.
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Marta – acho que é mais isso. Ent - E para eliminar a violência verbal? Flávia – o mesmo. Marta – mas não vale apena fazer. Cátia – é igual. Nuno – acho que não há nada que a elimine. Marta – é igual porque, digo por experiência própria, quando fomos aquela turma acho que eles não tavam a ouvir nada. Ent - E para acabar com a humilhação através da internet ou de sms no telemóvel? Cátia – o mesmo é tudo igual. Flávia – só quando tiver o coiso. [risos] Marta – é mesmo. Só quando a pessoa sentir na própria pele ali o que é. Eles vão, vão parar. 22. O que podemos fazer para prevenir a violência no namoro no local onde vivemos? Flávia – nada. Marta – nada. Cátia – nada também. 23. O que é que cada um de nós pode fazer para não haver violência na nossa relação de namoro? Marta – ah isso já somos nós. Acho que isso. Flávia – conversar. Marta - já temos que conversar e pôr. Cátia – tem que haver comunicação, tem que haver confiança. Marta – e temos que pôr ali respeito. Nuno – respeito. Cátia – muito respeito. Marta – e se continuar. Cátia – acima de tudo, companheirismo. Marta – e se houvesse esse tipo de violência e continuasse a haver acho que tínhamos pôr ali um ponto final e acabava-se a história né? Penso eu. Cátia – tem que haver limites. Marta – é. Cátia - tem de saber os limites um do outro e respeitá-los. Marta – porque nós não somos nenhuns bonecos. Nuno – saber quando tão a brincar e quando tão a falar a sério. Marta – nós não somos nenhum, nós não somos nenhum saco de box nem tipo robôs para tar a ouvir coisas que não gostamos muito menos para levar porrada de uma pessoa que pá, entrou na nossa vida porque gostamos dessa pessoa, acho eu. Ent – ok. Agora sobre o projeto. IV – Opinião sobre o projeto 24. O que gostaram mais no projeto? Marta – o quê que gostamos mais no projeto? Cátia – neste projeto? Ent – sim. Cátia – ficamos a aprender muitas coisas. Marta – sim. Cátia – ficamos a aprender que, que até uma simples conversa onde haja um insulto pode ser considerado violência e que se não for parado naquela hora ou naquele dia. Marta - pode progredir. Cátia – ou naquele momento. Marta – coisas piores. Cátia – pode, exato, progredir para coisas piores como. Marta – e a acho que. Cátia - a violência física. Marta – sim. Nuno – também por uma conversa.
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Marta – e acho que. Nuno - não vamos logo denunciar. Marta – e acho que aprendi também, aprendi. Cátia – não vais denunciar! Mas se tiveres a ter uma conversa com a tua namorada em que ela te diz algo que não deve não vais denunciar mas vais dizer “Olha tens cuidado. Isto que não se repita porque para a próxima não fica assim”. Nuno – falamos. Cátia – exato. Marta – e acho que aprendi que, por exemplo tamos, por exemplo, fizemos aqui um projeto né? Aprendi que há poucas pessoas ainda que sabem que. Nuno – que existe violência no namoro. Marta – não. E que sabem que a violência no namoro é grave e não sabem parar, nem sabem denunciar nem e nem fazem queixa nem nada. É mesmo. Alexandra – porque têm medo. Marta – sim. Flávia – têm que levar porque amam a pessoa. 25. O que gostaram menos no projeto? Porquê? Cátia – nada. Eu gostei de tudo. Eu pelo menos gostei de tudo. Marta – eu também gostei de tudo. Flávia – eu também. Cátia – não foi pesado. Nuno – eu também. Marta – não foi uma coisa assim que tivéssemos que fazer. Cátia – foi simples e foi super educativo. A gente aprendeu imenso. 26. O que gostavam de mudar neste projeto? Marta – nada. Cátia – no projeto? Ent – sim. Marta – acho que não mudava nada. Cátia - nadinha. Marta – nada. 27. Na vossa opinião, este projeto deveria continuar? Cátia – sim. Alexandra – sim. Marta – acho que deviam, tipo, este projeto acho devia passar. Cátia – e acho que devia passar pelos mais novos também. Flávia – devia passar na via, como é que se diz? Marta – devia passar. Alexandra – na via pública. Marta – não. Acho que este projeto. Nuno – de mão para mão. Marta – este projeto devia passar não só nas escolas também como em palestras assim com. Flávia – não só este como outros iguais. Marta – adultos e com mesmo com pessoas do 5º ano também para aprenderem. Cátia – eu acho que não devia ser só feito aos dos nonos ou terceiro ciclo. Flávia – violência doméstica em adultos e tudo. Cátia – acho que até deviam fazê-lo logo no primeiro ciclo porque, por exemplo, o meu sobrinho chega a casa com coisas da alimentação e tem o cuidado de ler aquilo para a minha mãe e tem, é quando eles são mais novos é que eles captam mais estas coisas e acho que fica sempre bom porque, por exemplo, tem coisas que a gente aprende sobre a alimentação, por exemplo, em miúdos que hoje a gente lembra-se às vezes e é por termos aprendido em miúdos porque se fosse agora provavelmente a gente não ligava nenhuma. Marta – eah. Eu acho que se fosse agora. Cátia – quando são novos eles querem saber dessas coisas porque “bom se eu tiver uma relação no futuro eu prometo que não deixo ninguém bater!”. Marta – eah.
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Cátia - e eles são muito assim e eu acho que isso devia ser feito quando eles são mais miúdos. Marta – por exemplo, eu acho que se agora, por exemplo, se nós aprendêssemos agora uma coisa nova que eles aprenderam em miúdos, acho que nós não íamos ligar porque prontos pensamos que já sabemos tudo e não precisámos de saber mais nada. Ent – ok. Na vossa opinião, este projeto deveria continuar? Marta – sim. Alexandra – sim. Ent – porquê? Marta – porque dá a conhecer. Flávia – não dissemos isso agora? Alexandra – pois foi. Cátia – acho que sim. Nuno – foi. Flávia – Acho que já tinha dito. Ent – ah então. Marta – pois porquê, mas não disse o porquê. Cátia – dissemos. Marta – ah ok. Ent – mas fui eu que pus na pergunta o que gostavam de mudar. Flávia – corta. Ent – não foi? Ok. Marta – prontos mas mais uma coisa acho que devia andar, tipo passar por mais pessoas para também aprenderem que. Flávia – fora de escolas e tudo. Marta – acho que também para aprenderem. Alexandra – e pelos adultos também. Nuno – redes sociais. Marta – eah. Acho que também para aprender que não existe nenhuma relação. Cátia – sim posso criar um grupo nas redes sociais que as pessoas agora ligam mais às redes sociais do que a bocados de papel e etc. Marta – e acho que também não existe uma relação sem amor tipo só com violência. Flávia – e não só na violência no namoro porque há muita gente adulta casada. Nuno – há muito tipo de violência. Flávia – homens e mulheres que, porque a relação já dura há muito tempo admitem tudo. Ent – ok. 28. Feedback: Há algum assunto sobre a violência no namoro que gostavam de acrescentar nesta entrevista? (se sim) Qual? Flávia – não. Abordámos tudo. Ent – ok.
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Apêndice 5
Ex.mo Senhor Diretor da Escola Doutor…
Ana Cristina Leite Gonçalves, Licenciada em Educação, número de telemóvel , email
[email protected], aluna do Mestrado em Estudos da Criança, Especialização em Intervenção
Psicossocial com Crianças, Jovens e Família, encontra-se a desenvolver o projecto de investigação
“Violência no namoro: uma intervenção com alunos do 9º ano de escolaridade”, realizado no
âmbito da dissertação de Mestrado em curso no Instituto de Educação, na Universidade do Minho, sob a
orientação da Doutora Maria Teresa Vilaça, Professora Auxiliar do Instituto de Educação da referida
Universidade.
Este estudo tem como principal objetivo investigar os efeitos de um projeto de educação para a
saúde orientado para a ação na prevenção da violência no namoro, no desenvolvimento da competência
para a ação dos alunos neste âmbito. Neste sentido, vem muito respeitosamente, requerer que V.
Excelência se digne autorizar a realização deste projeto e a a recolha de dados do referido estudo em
quatro turmas do 9º ano de escolaridade nas aulas de SAE, na instituição que preside, para o que junta
os documentos abaixo assinalados. Os dados serão recolhidos através da observação da autora deste
estudo das atividades a desenvolver e de uma entrevista de grupo no início e no fim do projeto educativo.
A entrevista será anónima, respeitará todos os princípios éticos da investigação, será validada por duas
especialistas em Educação Sexual e será pedida autorização ao Ministério da Educação.
Declaro, sob o compromisso de honra, que não tornarei públicos dados que permitam a
identificação dos alunos, que me disponibilizo a fornecer prévio ao deferimento, todos os esclarecimentos
solicitados pelo Responsável da instituição que preside ou pelo Ministério da Educação, que entregarei à
Escola um exemplar do trabalho qualquer que seja o destino que lhe seja dado e que apenas iniciarei a
investigação após ter conhecimento formal do deferimento.
Documentos:
X Resumo/projeto de investigação;
X Entrevista a usar;
X Modelo de consentimento a utilizar;
X Parecer da orientadora científica;
Pede deferimento,
Braga, _____ de ________________ de 2013
_______________________________________
(Ana Cristina Leite Gonçalves)
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VIOLÊNCIA NO NAMORO UMA INVESTIGAÇÃO COM ALUNOS DO 9º ANO DE ESCOLARIDADE
DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO INFORMADO
Exmo(a). Encarregado(a) de Educação
Eu, Ana Cristina Leite Gonçalves, encontro-me a desenvolver o projeto de investigação “Violência
no namoro: uma investigação com alunos do 9º ano de escolaridade” realizado no âmbito da dissertação de Mestrado em Estudos da Criança – Área de Especialização em Intervenção Psicossocial com Crianças, Jovens e Famílias, em curso no Instituto de Educação, na Universidade do Minho, sob a orientação da Doutora Maria Teresa Machado Vilaça, que tem como principais objetivos: (1) identificar os tipos de violência no namoro entre adolescentes no recreio na escola e as formas como as vítimas lidam com a situação de violência no namoro; (2) caraterizar como evoluiu o conhecimento orientado para a ação de alunos do 9º ano na prevenção da violência no namoro durante o desenvolvimento de um projeto educativo e (3) analisar como evolui a participação de alunos do 9º ano durante a planificação, desenvolvimento e avaliação do projeto orientado para a ação na prevenção da violência no namoro.
Pretende-se que o estudo inclua quatro turmas do 9º ano de escolaridade. Os alunos de cada turma
irão trabalhar em pequenos grupos de quatro elementos nas aulas de SAE. Os dados serão recolhidos através da observação da autora deste estudo e de uma entrevista de grupo no início e no fim do projeto educativo. A entrevista será anónima, respeitará todos os princípios éticos da investigação e será validada por duas especialistas em Educação Sexual e pelo Ministério da Educação.
Assim, solicita-se a V. Exa., como Encarregado/a de Educação de um/a aluno/a de uma das
turmas onde se pretende desenvolver este projeto educativo, autorização para a participação do seu/sua educando/a no projeto educativo, bem como para a recolha dos dados acima referida.
Neste sentido, pedimos autorização para a participação do/a seu/sua educando/a no estudo. O seu
contributo é muito importante porque nos permitirá identificar se existe violência no namoro neste grupo etário e como lidam os jovens com este problema social.
No caso de decidir deixar o seu educando participar agradecemos, desde já, a sua colaboração e
pedimos-lhe que assine a declaração abaixo.
(Cortar pelo picotado) ................................................................................................................
Declaro que me foi explicado o que era o estudo e retirei todas as dúvidas que me surgiram sobre ele, sobre a participação do meu educando no projeto e sobre a forma como os dados da entrevista irão ser recolhidos e tratados. Fiquei consciente que a informação recolhida é estritamente confidencial e será apenas utilizada para fins de investigação.
Mais uma vez, agradecemos a colaboração. Eu, ________________________________________________________________ tomei conhecimento do estudo acima descrito e aceito que o/a meu/minha educando/a ___________________________________, n.º ____ da turma do 9.º _____, participe no mesmo. Assinatura: ________________________________________________________________
______________________,_____ Novembro de 2013
227
Apêndice 6
Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma A)
A tabela 1 apresenta o conhecimento adquirido sobre as causas da violência no namoro.
Tabela 1
Causas da violência no namoro identificadas pelos pares
(N=24)
Causa f % Porque se mantém numa relação de namoro violenta
f %
Físicas Não têm respeito 2 8.3 Querer ter relações sexuais 3 12.5 Tem medo do/a namorado/a 5 20.8 O/a namorada recusa ter rel. sexuais 10 41.7 Por ciúmes e ter medo de perder o/a
namorado/a 1 4.2
Obriga o/a namorado/a ter rel. sexuais 4 16.7 Pensa que pode vir a melhorar a relação
1 4.2
Psicológicas Gostam do/a namorado/a 11 45.8 Ciúmes 7 29.2 Não gostam um do outro 1 4.2 Acredita que os ciúmes é uma
demonstração de amor 6 25 Sente-se culpado/a 1 4.2
Desconfiança 1 4.2 Porque escondem a violência 1 4.2 Invasão de privacidade 2 8.3 Não responde 5 20.8
Sociais Controlar a maneira de vestir 12 50 Controla o/a namorado/a 7 29.2 Não haver respeito mútuo 16 66.7 Desentendimentos 1 4.2 Ser machista 2 8.3
Para os/as alunos/as a causa mais referida é não haver respeito mútuo na relação
seguindo o controlar a maneira de vestir do/a namorado/a. No que diz respeito às razões
porque que se mantêm numa relação de namoro violenta, justificaram dizendo que acontece
porque gostam muito do/a namorado/a ou até por terem medo dele/a.
Na tabela 2 descreve-se as consequências que os pares identificaram.
Tabela 2
Consequências da violência no namoro identificadas pelos pares
(N=24)
Consequências f % Consequências f %
Físicas Sociais Marcas físicas 9 37.5 Isolamento 4 16.7 Suicídio 4 16.7 Terminar o namoro 2 8.3
Psicológicas Abandono escolar 1 4.2 Perturbações psicológicas 3 12.5 Desentendimentos 1 4.2 Depressão 2 8.3 Não responde 6 25 Infelicidade 1 4.2 Baixa auto-estima 1 4.2 Consumo de álcool e drogas 2 8.3 Falta de apetite 4 16.7 Nervosismo 2 8.3 Ansiedade 2 8.3
228
As consequências mais referidas pelos pares foram a nível físico, as marcas físicas e o
suicídio. A nível psicológico referiram as perturbações psicológicas, a depressão e a vítima
começar a consumir álcool e drogas. Por último, a nível social, mencionaram o isolamento e
terminar a relação de namoro.
A tabela 3 descreve a quem pode recorrer-se em casos de violência no namoro.
Tabela 3
A quem recorrer se estiver a ser vítima de violência no namoro
(N=24)
A quem recorrer f %
Melhores amigos 6 25 Pais 8 33.3 Pai 1 4.2 Mãe 1 4.2 Família 5 20.8 Associações (APAV) 4 16.7 Psicólogo/a 10 41.7 Profissionais de saúde 2 8.3 Adultos 1 4.2 Professores 1 4.2 Não responde 2 8.3
As pessoas mais referidas pelos/as alunos/as foram os/as psicólogos/as, os pais,
os/as melhores amigos/as e a família.
Na tabela 4 apresentam as suas estratégias para prevenir a violência no namoro.
Tabela 4
O que se deve fazer e as estratégias para prevenir a violência no namoro identificadas pelos pares
(N=24)
O que se deve fazer f % Estratégias f %
Pedir ajuda 24 100 Não deixar que exerça violência 2 8.3 Estratégias Falar com um psicólogo 1 4.2
Ler notícias/revistas/jornais 3 12.5 Falar com a mãe 1 4.2 Ver filmes/documentários 1 4.2 Falar com alguém e pedir conselhos 5 20.8 Assistir a debates 1 4.2 Conversar com o/a namorado/a 1 4.2 Pedir ajuda 2 8.3 Manter o respeito e a confiança 1 4.2 Pesquisas na internet 1 4.2 Fazer queixa 2 8.3 Não namorar 4 16.7 Não sabe 1 4.2 Terminar o namoro 3 12.5 Não responde 2 8.3
Quanto ao que se deve fazer caso esteja a ser vítima de violência no namoro, toda a
turma respondeu que deve pedir-se ajuda. Quanto às estratégias a utilizar, mencionaram que
deve falar-se com alguém e pedir conselhos e ler notícias sobre o tema. Além disso
acrescentaram que deve terminar-se o namoro ou então não namorar.
A tabela 5 apresenta a opinião dos/as alunos/as acerca da ação.
229
Tabela 5
Opinião sobre a ação identificadas pelos pares
(N=24)
O que gostaste mais f % O que gostaram menos f %
Visualizar o vídeo 15 62.5 Powerpoint 4 16.7 Cartolina 2 8.3 Vídeo 8 33.3 Powerpoint do tema das consequências 2 8.3 Gostaram de tudo 3 12.5 Aumento do conhecimento (interessante) 1 4.2 Apresentação do tema das
estratégias 2 8.3
Gostaram de tudo 2 8.3 Cartolina 3 12.5 Não responde 1 4.2 Não gostou de nada 1 4.2
Não respondeu 4 16.7
No final da ação os pares deram a sua opinião sobre a ação dizendo que o que
gostaram mais foi de visualizar o vídeo (62,5%), no entanto, outros disseram que não gostaram
de ver o vídeo (33.3%).
230
Apêndice 7
Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma B)
Na tabela 1 estão as opiniões dos pares acerca da ação.
Tabela 1
Opinião sobre a ação identificadas pelos pares
(N=18)
Gostaram da apresentação f %
Sim 18 100 Pontos fracos
Computador 2 11.1 Falarem em tom baixo 2 11.1 Não responde 14 77.8
Pontos fortes Demonstraram que não é bom estar numa relação violenta 1 5.6 Boa apresentação dos trabalhos 6 33.3 Aumento do conhecimento 8 44.4 Vídeos 4 22.2 Não responde 1 5.6
Como se pode verificar todos os/as alunos/as gostaram da ação. No entanto
identificaram pontos fortes e fracos da ação, dizendo como pontos fortes o aumento do
conhecimento e que gostaram da apresentação dos trabalhos pelos/as colegas. De negativo,
mencionaram que os/as alunos/as a apresentar falaram em tom de voz baixa e o computador.
Contudo, 77.8% dos pares não referiram qualquer ponto fraco.
A tabela 2 apresenta as consequências identificadas pelos pares.
Tabela 2
Consequências da violência no namoro identificadas pelos pares
(N=18)
Consequências f % Consequências f %
Psicológicas Sociais Perturbações psicológicas 1 5.6 Isolamento 4 22.2 Depressão 5 27.8 Terminar o namoro 5 27.8 Perda de apetite 7 38.9 Ter problemas sociais 1 5.6 Sente-se triste 8 44.4 Ambígua 2 11.1 Falta de confiança 2 11.1 Não responde 5 27.8 Sente medo 1 5.6 A vítima fica tímida 1 5.6 Nervosismo 1 5.6 Sente-se humilhada 1 5.6
As consequências mais identificadas pelos pares foram, a nível psicológico, a tristeza, a
perda de apetite e a depressão. A nível social, terminar o namoro e isolar-se.
A tabela 3 mostra porque que se mantêm as vítimas numa relação de namoro violenta.
231
Tabela 3
Porque se mantém a vítima numa relação violenta identificadas pelos pares
(N=18)
Porque se mantém numa relação de namoro violenta f %
Tem medo do/a namorado/a 8 44.4 Acredita que a relação e o/a namorado/a irão mudar/melhorar 8 44.4 Gosta do/a namorado/a 4 22.2 Quer manter a relação 1 5.6 Sente-se culpabilizado/a 1 5.6
Para os/as alunos/as a vítima mantém-se numa relação de namoro violenta porque têm
medo do/a namorado/a e porque acreditam que a relação e o/a namorado irão mudar ou
melhorar.
Seguidamente, descreve-se a quem se pode recorrer numa situação de violência no
namoro (Tabela 4).
Tabela 4
A quem recorrer em casos de violência no namoro identificadas pelos pares
(N=18)
A quem recorrer f %
Amigos 1 5.6 Pais 2 11.1 Família 1 5.6 Polícia (PJ/PSP) 17 94.4 APAV 10 55.6 Linha Nacional de Emergência Social (LNES) 7 38.9 Instituto Português da Juventude (IPJ) 8 44.4 Pessoas de confiança 1 5.6 Adultos 1 5.6
Como pode verificar-se quase toda a turma elegeu a polícia, e mais de metade a
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
A tabela 5 apresenta as causas da violência no namoro referidas pelos pares.
Tabela 5
Causas da violência no namoro identificadas pelos pares
(N=18)
Causas f % Causas f %
Psicológicas Sociais Ciúmes 6 33.3 Exercer controlo sobre o/a outro/a 6 33.3 Falta de confiança 5 27.8 Não responde 4 22.2 Perturbações psicológicas 2 11.1 Não querer ter relações sexuais 2 11.1 Recusar um pedido ao/à namorado/a 1 5.6
232
A nível psicológico as causas da violência no namoro identificadas pelos pares foram os
ciúmes e a falta de confiança. A nível social mencionaram o controlo sobre o/a namorado/a.
A tabela 6 descreve as opiniões dos pares acerca de como se pode prevenir a violência
no namoro.
Tabela 6
Como prevenir a violência no namoro identificadas pelos pares
(N=18)
Como prevenir a violência no namoro f %
Terminar a relação se for violenta ou antes que se torne violenta 4 22.2 Conversar com o/a namorado/a 6 33.3 Falar com os/as amigos/as 5 27.8 Falar com os pais 1 5.6 Falar com familiares 10 55.6 Ligar para a PSP 2 11.1 Ligar para a APAV 2 11.1 Ligar para LNES (144) 2 11.1 Ligar para a IPJ 2 11.2 Não deixar que mande na relação, não se culpabilizando 1 5.6
Para os/as alunos/as a melhor forma de prevenir a violência no namoro será falar com
os familiares e amigos/as e com o/a namorado/a para resolver o problema.
233
Apêndice 8
Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma C)
Na tabela 1 está a opinião dos pares acerca da ação.
Tabela 1
Opinião sobre a ação e apresentação da ação identificadas pelos pares
(N=23)
Opinião sobre a ação f % Opinião sobre a ação f %
Gostaram da sessão Gostaram dos apresentadores Sim 15 65.2 Sim 12 52.2 Mais ou menos 8 36.8 Mais ou menos 7 30.4
O tema foi interessante Não 4 17.4 Sim 18 78.3 Aprenderam alguma coisa Mais ou menos 5 21.7 Sim 14 60.9
Acharam importante Mais ou menos 9 39.1 Sim 22 95.7 Mais ou menos 1 4.3
Mais de metade da turma gostou da ação apresentada pelos/as colegas, achando-a
interessante e importante, tendo gostado também dos apresentadores. Por fim, toda a turma
aumentou o seu conhecimento.
A tabela 2 revela se os/as alunos/as conheciam ou não as causas e consequências da
violência no namoro.
Tabela 2
Conheciam as causas e consequências da violência no namoro identificadas pelos pares
(N=23)
Conheciam as causas e as consequências da violência no namoro f %
Sim 13 56.5 Mais ou menos (algumas) 3 13 Não 5 21.7 Já conhecia algumas pessoas 1 4.3 Não conhecia as causas mas conhecia as consequências 1 4.3 Conhecia as causas e não conhecia as consequências 1 4.3
Como pode verificar-se mais de metade dos/as alunos/as disseram que conheciam as
causas e as consequências, contudo não podemos verificar se realmente conheciam pois não
lhes foi questionado quais são as causas e as consequências.
Na tabela 3 é mencionada a opinião dos pares acerca de manterem-se, ou não, numa
relação de namoro violenta.
Mais de metade dos/as alunos/as referiu que não se mantinham numa relação de
namoro violenta. Contudo, quatro alunos/as disseram que sim, justificando que mantinham-se
se gostassem da pessoa e porque podia mudar o/a namorado/a.
234
Tabela 3
Mantinham a relação de namoro se fosse vítima de violência no namoro
(N=23)
Mantinham a relação de namoro se fossem vítimas de violência no namoro f %
Sim 4 17.4 Não 16 69.6 Não sei 3 13
Mantinha a relação de namoro porque Se gostasse muito dessa pessoa 3 13 Porque poderia mudar o/a namorado/a 1 4.3
Não mantinha a relação de namoro porque Uma relação violenta não é amor 1 4.3 Deve haver respeito 1 4.3
A tabela 4 descreve as fontes de apoio a quem se pode recorrer em situações de
violência no namoro. Nesta turma os/as alunos/as dirigiam-se de preferência aos/às melhores
amigos/as, aos pais, à família e à polícia.
Tabela 4
A quem recorrer em casos de violência no namoro identificadas pelos pares
(N=23)
A quem recorrer f %
Melhores amigos 9 39.1 Pais 7 30.4 Família 7 30.4 Polícia 7 30.4 Instituições 1 4.3 Professores 2 8.7 Alguém que confiasse 1 4.3 Não sei 1 4.3 Não responde 2 8.7
No final da ação também lhes foi perguntado se tinham alguma medida de prevenção a
acrescentar (Tabela 5).
Tabela 5
Alguma medida de prevenção a acrescentar identificadas pelos pares
(N=23)
Têm alguma medida de prevenção a acrescentar f %
Sim 1 4.3 Não 19 82.6 Não sei 2 8.7 Não responde 1 4.3
A maior parte da turma não acrescentou qualquer tipo de medida para prevenir a
violência no namoro. Apenas uma pessoa disse que tinha uma medida para acrescentar, mas
não a revelou.
235
Apêndice 9
Avaliação do desempenho dos pares educadores (Turma D)
Na tabela 1 apresentam-se as opiniões sobre a ação identificadas pelos pares.
Tabela 1
Opinião sobre a ação e apresentação da ação identificadas pelos pares
(N=23)
Gostaram da apresentação f %
Sim 16 69.6 Mais ou menos 7 30.4
Ficaram esclarecidos Sim 20 87 Mais ou menos 3 13
Vão ajudar a prevenir a violência no namoro Sim 19 82.6 Mais ou menos 1 4.3 Não 2 8.7 Não responde 1 4.3
Gostaram da forma como foram apresentados os trabalhos Sim 15 65.2 Mais ou menos 8 34.8
Mais de metade da turma gostou da apresentação da ação e dos trabalhos
apresentados, tendo ficado esclarecidos acerca do tema. Quase toda a turma admitiu ajudar a
prevenir a violência no namoro, excepto dois/duas alunos/as.
A tabela 1 apresenta a continuidade da opinião da turma acerca da ação.
Tabela 1
Opinião sobre a ação e apresentação da ação identificadas pelos pares (cont.) (N=23)
O que mudariam na apresentação f % Gostaram menos f %
Nada 14 60.9 A cartolina apresentada 2 8.7 Apagavam as luzes para se ver
melhor as apresentações 3 13 Os/as apresentadores/as não terem
falado, só leram 1 4.3
A organização da apresentação da ação
2 8.7 Vídeo 2 8.7
Os/as apresentadores podiam interagir mais com os pares
1 4.3 Apresentação do tema das estratégias para prevenir a violência no namoro
1 4.3
Apresentação 1 4.3 Gostamos de tudo 16 69.6 Não sei 2 8.7 Não sei 1 4.3
Gostaram mais Vídeos 3 13 Da apresentação dos trabalhos 6 26.1 Da interação dos apresentadores 1 4.3 Do tema das consequências 1 4.3 Do tema como prevenir a violência
no namoro 2 8.7
Do tema porque se mantém a vítima numa relação de namoro violenta
1 4.3
Gostamos de tudo 8 34.8 Não sei 2 8.7
236
Como pode verificar-se mais de metade da turma não mudaria nada na apresentação da
ação. Cerca de oito alunos/as referiram que gostaram de tudo, tendo alguns/mas especificado
que gostaram mais da forma como foram apresentados os trabalhos e os vídeos.
Quando questionados/as acerca do que gostaram menos, mais de metade não teve
opinião negativa, apenas, alguns/mas referiram que não gostaram da apresentação em cartolina
e do vídeo.
Seguidamente, apresentam-se as consequências da violência no namoro identificadas
pela turma (Tabela 2).
Tabela 2
Consequências da violência no namoro identificadas pelos pares
(N=23)
Consequências f % Consequências f %
Físicas Psicológicas Marcas físicas 1 4.3 Sente vergonha 2 8.7 Suicídio 5 21.7 Sente-se triste 6 26.1 Anorexia 1 4.3 Perseguição 1 4.3
Psicológicas Raiva 1 4.3 Trauma psicológico 1 4.3 Perturbações psicológicas 1 4.3 Sociais Depressão 3 13 Solidão 1 4.3 Ansiedade 1 4.3 Não partilha os seus sentimentos com os
outros 1 4.3
Sente medo 4 17.4 Não sei 2 8.7 Medo de iniciar uma nova relação 1 4.3 Não responde 4 17.4
A consequência a nível físico mais referida pelos/as alunos/as foi o suicídio. A nível
psicológico foi a vítima sentir-se triste e com medo. A nível social a vítima isola-se e não partilha
os seus sentimentos com os outros.
Seguidamente perguntou-se-lhes a opinião sobre manter-se numa relação de namoro
violenta quando se ama de verdade (Tabela 3).
Tabela 3
Opinião sobre manter-se numa relação de namoro violenta quando se ama de verdade
(N=23)
Acham que mantém numa relação de namoro violenta f %
Sim 2 8.7 Não 20 87 Não sei 1 4.3
Não mantinham porque Terminava o namoro 3 13 Não se aceita que alguém de quem se goste os magoe 1 4.3 Tem medo do/a agressor/a 2 8.7
237
Mais de metade da turma disse que não se deve manter numa relação de namoro
violenta, justificando que a vítima tem medo do/a agressor/a e termina o namoro.
Seguidamente, referem a quem pode-se recorrer em casos de violência no namoro
(Tabela 4).
Tabela 4
A quem recorrer em casos de violência no namoro identificadas pelos pares
(N=23)
A quem recorrer f %
Melhores amigos 8 34.8 Pais 2 8.7 Pai 1 4.3 Mãe 2 8.7 Família 9 39.1 Polícia 4 17.4 Associações (APAV) 3 13 Psicólogo 1 4.3 Centros de saúde 1 4.3 Não responde 3 13
As fontes de apoio mais evidentes são a família, os/as melhores amigos/as e a polícia.
A tabela 5 apresenta as causas da violência no namoro identificadas pela turma.
Tabela 5
Causas da violência no namoro identificadas pelos pares
(N=23)
Causas f % Causas f %
Psicológicas Sociais Ciúmes 9 39.1 Controlar o/a namorado/a 4 17.4 Desconfiança 1 4.3 Desrespeito 2 8.7 Consumo de álcool ou drogas 1 4.3 Não sei 2 8.7 Perturbações psicológicas 1 4.3 Não responde 8 34.8 Depressões 1 4.3 Deixarem-se de se amar 1 4.3 O/a agressor/a pensa que sabe tudo e
não quer os sentimentos da namorada 1 4.3
As principais causas a nível psicológico identificadas pela turma foram os ciúmes. A nível
social foi o controlo que o/a namorado/a exerce.
A tabela 6 descreve as estratégias que podem ser usadas para prevenir a violência no
namoro. As principais estratégias identificadas pelos/as alunos/as foram o diálogo com o/a
namorado/a ou então denunciar à polícia ou falar com alguém.
238
Tabela 6
Estratégias para prevenir a violência no namoro identificadas pelos pares
(N=23)
Estratégias f % Estratégias f %
Dialogar com o/a namorado/a 5 21.7 Terminar o namoro 2 8.7 Pagar multas 1 4.3 Não ter ciúmes 1 4.3 Denunciar/ligar à polícia 4 17.4 Não ser violento/a 2 8.7 Falar com familiares e amigos 1 4.3 Haver respeito 1 4.3 Falar com alguém 3 13 Bater no/a agressor/a 1 4.3 Ligar à APAV 2 8.7 Não sei 2 8.7 Ter um relacionamento sério 1 4.3 Não responde 1 4.3 Ser verdadeiro/a 2 8.7
239
Apêndice 10
O que gostaram mais
Tabela 1
O que gostaram mais nas sessões
O que gostaram
mais
Turma A (n= 4) Turma B (n= 4) Turma C (n= 4) Turma D (n= 4)
G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4
Sessão 1 Apresentação do
projeto √ √ √ √ √ √
O tema √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ Trabalhar em
grupo √ √
Não responde √ √ Sessão 2 Ver os vídeos √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ O tema √ Dinâmica da
apresentação √ √ √
Apresentação do powerpoint
√
Atividade “post-it” √ Partilhar ideias em
turma √
Aumento do conhecimento
√
Gostamos de tudo √ Sessão 3 Tema √ √ √ √ Dinâmica da
apresentação √ √ √
Partilhar ideias em turma
√ √ √ √ √
Atividade “post-it” √ √ Aumento do
conhecimento √
Gostamos de tudo √ √ √ Não responde √ √ Sessão 4 Marcador de
pesquisa √ √ √ √
Dinâmica da apresentação
√
Planificar a investigação
√ √
Fazer a investigação
√ √ √ √ √ √
Usar os computadores
√ √ √
Aumento de conhecimento
√
Conviver com o grupo
√
Gostamos de tudo √ √
240
Tabela 1
O que gostaram mais nas sessões (cont.)
O que gostaram
mais
Turma A (n= 4) Turma B (n= 4) Turma C (n= 4) Turma D (n= 4)
G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4
Sessão 5 Planificar o trabalho de grupo
√ √ √ √ √ √ √ √
Trabalhar em grupo
√ √ √ √ √
Usar os computadores
√ √
Discussão em grupo
√
Acabar a tarefa √ √ Ter compreendido
a dinâmica do projeto e as tarefas
√
Gostamos de tudo √ Sessão 6 Dinâmica da
apresentação √ √
Aumento de conhecimento
√
Trabalhar em grupo
√
Apresentação dos trabalhos dos colegas
√ √ √ √ √ √
Apresentar o seu trabalho de grupo
√ √ √
Gostamos de tudo √ Não responde √ √ √ √ √ √ Sessão 7 Dinâmica da
apresentação √ √
Apresentação da sessão pela formadora
√
Planificar a ação √ √ Trabalhar em
grupo √
Apresentação dos trabalhos dos colegas
√ √ √ √ √
Apresentar o trabalho de grupo
√
Pensar nas visões para o futuro
√
Gostamos de tudo √ √ Não responde √ √ √
241
Tabela 1
O que gostaram mais nas sessões (cont.)
O que gostaram
mais
Turma A (n= 4) Turma B (n= 4) Turma C (n= 4) Turma D (n= 4)
G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4
Sessão 8 Planificar a ação √ √ √ √ Dinâmica da
apresentação √
Treinar a apresentação para os colegas
√
Aumentar o conhecimento
√ √ √
Ideia de apresentar a ação
√
Abordagem de tópicos em falta pela formadora
√ √
Trabalhar em grupo
√
Ideia de realizar as fichas para avaliar a sessão
√
Gostamos de tudo √ √ Não responde √ Sessão 9 Tema √ Dinâmica da
sessão √ √ √
Planificar a ação √ √ √ Apresentação dos
trabalhos √ √
Assinar o contrato √ Aumentar o
conhecimento √ √
Ser a última sessão
√
Trabalhar em grupo
√ √
As explicações da formadora
√
Gostamos de tudo √ √ √
242
Apêndice 11
O que gostaram menos
Tabela 1
O que gostaram menos nas sessões
O que gostaram menos Turma A (n= 4) Turma B (n= 4) Turma C (n= 4) Turma D (n= 4)
G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4
Sessão 1 Não ter desenvolvido o
tema na 1ª sessão √
Estar em grupo grande √ A apresentação não ser em
powerpoint √
Barulho da sala √ √ √ Falta de tempo para aprofundar o tema
√
Interrupções da professora acompanhante
√
Gostamos de tudo √ √ √ √ Não responde √ √ √ √
Sessão 2 A música dos vídeos não
era adequada √
O grupo e o tema √ Último vídeo √ As condições visuais e
auditivas dos vídeos √
Interrupções da professora acompanhante
√
Gostamos de tudo √ √ √ √ Não responde √ √ √ √ √ √ √
Sessão 3 A sessão ter acabado √ O powerpoint ser pequeno √ Barulho da turma √ √ O grupo e o tema √ Ficar sentado a olhar para
a professora √
Distribuição dos trabalhos de grupo
√
As condições de visualização do powerpoint
√
As interrupções da professora acompanhante
√
Gostamos de tudo √ Não responde √ √ √ √ √ √ √
Sessão 4 O grupo e o tema √ Haver poucos
computadores √
Barulho da sala √ √ Interrupções da professora
acompanhante √
Gostamos de tudo √ √ √ Não responde √ √ √ √ √ √ √ √
243
Tabela 1
O que gostaram menos nas sessões (cont.)
O que gostaram menos Turma A (n= 4) Turma B (n= 4) Turma C (n= 4) Turma D (n= 4)
G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4
Sessão 5 O grupo e o tema √ Haver poucos
computadores √
Barulho da sala √ Interrupções da professora
acompanhante √
Gostamos de tudo √ √ √ √ Não responde √ √ √ √ √ √ √ √
Sessão 6 O grupo e o tema √ Barulho da sala √ Gostamos de tudo √ √ Não responde √ √ √ √ √ √ √ √ √ √ √
Sessão 7 O grupo e o tema √ Barulho da sala √ Gostamos de tudo √ √ √ √ √ Não responde √ √ √ √ √ √ √ √ √
Sessão 8 O grupo e o tema √ Barulho da sala √ Gostamos de tudo √ √ √ √ √ Não responde √ √ √ √ √ √ √ √ √
Sessão 9 O grupo √ Barulho da sala √ √ √ Falta de ordem dos
colegas √
Falta de concentração dos colegas
√
Estar sentado a olhar para a professora
√
Preencher os “diários das sessões”
√
Condições da sala a nível visual e sonoro
√
Interrupções da professora acompanhante
√
Gostamos de tudo √ √ √ Não responde √ √ √ √ √
244
Apêndice 12
O que mudariam no projeto
Tabela 1
O que gostariam de mudar nas sessões
O que gostariam de mudar Turma A (n= 4) Turma B (n= 4) Turma C (n= 4) Turma D (n= 4)
G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4
Sessão 1 O panfleto ser a cores √ Mais filmes, fotos e outros
projetos que suscitem interesse
√ √
Comportamento dos grupos √ Mudar de tema √ Acrescentar powerpoints √ Falar mais durante as
sessões √
A formadora falasse mais alto
√
Ser mais prática √ A professora acompanhante
sair da sala √
Nada, porque gostaram de tudo
√ √ √ √ √
Não responde √ √ Sessão 2
Mais ação no vídeo √ Comportamento dos
grupos √
Ver mais vídeos √ √ O grupo √ Ser mais prática √ Condições audiovisuais da
sala √
A professora acompanhante sair da sala
√
Nada, porque gostaram de tudo
√ √ √ √
Não responde √ √ √ √ Sessão 3
Vídeos maiores com situações verídicas
√
Comportamento dos grupos
√
O grupo √ Mais diversão e menos
trabalho √
Ser mais prática √ A professora
acompanhante sair da sala √
Nada, porque gostaram de tudo
√ √ √ √ √ √
Não responde √ √ √ √ √
245
Tabela 1
O que gostariam de mudar nas sessões (cont.)
O que gostariam de mudar Turma A (n= 4) Turma B (n= 4) Turma C (n= 4) Turma D (n= 4)
G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4
Sessão 4 Ver mais vídeos √ Diminuir o barulho √ √ √ O grupo √ Mais diversão e menos
trabalho √
Continuar com este tipo de aulas
√
Mais tempo de sessão √ A professora
acompanhante sair da sala √
Nada, porque gostaram de tudo
√ √ √
Não responde √ √ √ √ √ Sessão 5
Ver mais vídeos √ Diminuir o barulho √ √ O grupo √ Continuar com este tipo
de aulas √
Os inconvenientes da professora acompanhante
√
A professora acompanhante sair da sala
√
Nada, porque gostaram de tudo
√ √ √ √ √
Não responde √ √ √ √ Sessão 6
Ver mais vídeos √ O grupo √ A professora
acompanhante sair da sala √
Nada, porque gostaram de tudo
√ √ √ √
Não responde √ √ √ √ √ √ √ √ √ Sessão 7
Mais vídeos √ Mais trabalhos práticos √ √ O grupo √ A professora
acompanhante sair da sala √
Nada, porque gostaram de tudo
√ √ √ √ √ √
Não responde √ √ √ √ √ √
246
Tabela 1
O que gostariam de mudar nas sessões (cont.)
O que gostariam de mudar Turma A (n= 4) Turma B (n= 4) Turma C (n= 4) Turma D (n= 4)
G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4 G1 G2 G3 G4
Sessão 8 Conseguir trabalhar mais
e organizar melhor √
O grupo √ Diminuir o barulho √ A professora chamar à
atenção os/as alunos/as √
A professora acompanhante sair da sala
√
Nada, porque gostaram de tudo
√ √ √ √ √ √
Não responde √ √ √ √ √ Sessão 9
Falar mais sobre o trabalho e fazer mais trabalhos
√
Grupo e tema √ Ser mais divertido √ Estar mais atentos √ Diminuir o barulho √ Melhores condições
audiovisuais √
As sessões serem só com a formadora
√
Nada, porque gostaram de tudo
√ √ √ √ √ √
Não responde √ √ √ √
247
Anexo 1
Fichas de avaliação elaboradas pelos/as alunos/as
Violência no Namoro
1. Depois de teres visualizado um vídeo sobre as causas da violência no namoro, decerto que conseguirás indicar-nos algumas dessas causas. Assinala com uma cruz as opções que consideras corretas.
Não haver respeito mútuo na relação;
Poderem recusar ter relações sexuais quando o/a companheiro quiser;
Acreditar que os ciúmes é uma demonstração de amor;
Controlar a maneira de vestir.
2. Escreve dentro do retângulo abaixo outras causas da violência no namoro.
3. Na apresentação dos trabalhos:
3.1.O que gostaste mais? Porquê?
3.2. O que gostaste menos? Porquê?
4. O que deves fazer se estiveres a ser vítima de violência no namoro?
Esconder a verdade
Pedir ajuda
Não fazer nada para que a situação melhore
5. Quais são as consequências da violência no namoro?
6. Na tua opinião, porque é que as pessoas se mantêm numa relação violenta?
7. A quem podem recorrer os adolescentes quando são vítimas de violência no namoro?
8. Quais as estratégias para prevenir a violência no namoro?
Obrigada pela atenção!
Turma A
248
Avaliação da sessão - Violência no Namoro
Nome:____________________________________________________________________
Turma/Ano : ____________ Data : ______________
Sim
Gostaram da apresentação?
Não
Pontos Fracos Pontos Fortes
Algumas questões sobre a apresentação:
1) Quais são as consequências de uma relação violenta?
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
2) Porque se mantém a vítima numa relação violenta?
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
3) A quem recorrer nestas situações?
________________________________________________________________
________________________________________________________________
4) Quais são as causas destas relações violentas?
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
5) Como se pode prevenir estas situações?
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
Apresentado pela turma B
Obrigado pela atenção!
249
Projeto: “A violência no namoro”
Trabalho elaborado por: Turma C
Avaliação da sessão
Questão
Gostaste da sessão? Achaste o tema interessante? Achaste importante? Gostaste dos apresentadores? Aprendeste alguma coisa?
Algumas questões sobre o tema:
1. Antes de visualizares os slides apresentados e o vídeo sabias quais eram as causas da
violência no namoro? e das consequências?
2. Se fosses vítima de violência no namoro, mantinhas essa relação? Se sim, porquê?
3. Se fosses vítima de violência num namoro a quem recorrerias?
4. Têm alguma medida de prevenção a acrescentar?
Obrigada pela colaboração
250
Violência no Namoro
Para concluir esta apresentação vamos entregar um formulário para sabermos se ficaram
esclarecidos sobre o assunto “Violência no Namoro”. Na seguinte tabela assinalada com uma X o smile
que tu escolherias para cada alínea.
1. O que mudariam na apresentação?
2. O que gostaram mais?
3. O que gostaram menos?
4. Quais as consequências para as vítimas de violência no namoro?
5. Acham que se mantém uma relação violenta quando se ama de verdade?
6. Se sofresses de violência no namoro a quem recorrias?
7. Quais são as causas da violência no namoro?
8. Diz algumas estratégias para prevenir a violência no namoro.
Trabalho realizado pela turma D
Obrigado pela atenção!
a) Gostaram da apresentação
b) Ficaram esclarecidos
c) Vão ajudar a prevenir a violência no namoro
d) Gostaram da forma como foi apresentado o trabalho
251
Anexo 2
Contrato PROJETO
“AGIR PARA PREVENIR: DIZ NÃO À VIOLÊNCIA NO NAMORO”
Ana Gonçalves - [email protected]
Contrato
1. Sempre que tivermos ciúmes falamos com o/a namorado/a.
2. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a me magoe, bata, empurre, chute ou
ameace agredir!
3. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a me chame nomes, grite, humilhe,
intimide e me ameace!
4. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a me obrigue a praticar atos sexuais
contra a minha vontade, que acaricie quando eu não quero, que goze com o meu
desempenho sexual, ou que chantageie para ter relações sexuais.
5. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a controle a minha maneira de vestir!
6. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a controle os meus tempos livres, com
quem falo ou com quem saio!
7. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a me faça sentir culpabilizado/a pelos
problemas da nossa relação!
8. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a ignore os meus sentimentos!
9. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a me persiga!
10. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a me humilhe em público!
11. Não vou deixar que o/a meu/minha namorado/a mexa nas minhas coisas sem
consentimento!
Comprometo-me a seguir o contrato que elaboramos na minha vida futura: