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Roberta Matassoli Duran Flach Violência de gênero no namoro: sentidos atribuídos por estudantes universitários Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Serviço Social da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Orientador: Profa. Sueli Bulhões da Silva Co-orientador: Profa. Ludmila Fontenele Cavalcanti Rio de Janeiro Abril de 2013

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Roberta Matassoli Duran Flach

Violência de gênero no namoro: sentidos atribuídos por estudantes universitários

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Serviço Social da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.

Orientador: Profa. Sueli Bulhões da Silva Co-orientador: Profa. Ludmila Fontenele Cavalcanti

Rio de Janeiro Abril de 2013

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Roberta Matassoli Duran Flach

Violência de gênero no namoro: sentidos atribuídos por estudantes universitários

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social do Departamento de Serviço Social do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Profa. Sueli Bulhões da Silva Orientador

Departamento de Serviço Social – PUC-Rio

Profa. Ludmila Fontenele Cavalcanti Co-Orientador

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Profa. Rosana Morgado Universidade Federal do Rio de Janeiro

Prof. Antonio Carlos de Oliveira Departamento de Serviço Social – PUC-Rio

Profa. Mônica Herz Vice-Decana de Pós-Graduação do

Centro de Ciências Sociais – PUC-Rio

Rio de Janeiro, 29 de abril de 2013

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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou

parcial do trabalho sem a autorização da universidade, do autor, e do

orientador.

Roberta Matassoli Duran Flach

Graduou-se em Serviço Social na UFRJ (Universidade Federal do

Rio de Janeiro) em 2007. Especializou-se em Formulação e Gestão

de Políticas Sociais em Seguridade Social na ESS (Escola de Serviço

Social) da UFRJ em 2010. Pesquisadora do NUPPE (Núcleo de

Políticas Públicas Indicadores e Identidades) da ESS/UFRJ. Área de

Pesquisa: Prevenção da violência sexual contra a mulher. Trabalha

como Assistente Social do Corpo de Bombeiros Militar do Rio de

Janeiro.

Ficha Catalográfica

CDD: 361

Flach, Roberta Matassoli Duran Violência de gênero no namoro: sentidos atribuídos por

estudantes universitários / Roberta Matassoli Duran Flach ; orientador: Sueli Bulhões da Silva ; co- orientador: Ludmila Fontenele Cavalcanti. – 2013.

106 f. ; 30 cm Dissertação (mestrado)–Pontifícia Universidade Católica do

Rio de Janeiro, Departamento de Serviço Social, 2013. Inclui bibliografia. 1. Serviço social – Teses. 2. Violência. 3. Namoro. 4.

Gênero. I. Silva, Sueli Bulhões da. II. Cavalcanti, Ludmila Fontenele. III. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Serviço Social. IV. Título.

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À minha família, em especial à minha filhinha

Bernadete que, ainda dentro do meu ventre, tem me

ensinado o poder de amar tanto alguém que sequer,

tivemos o prazer de conhecer.

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Agradecimentos

À Deus, que não permitiu que eu desanimasse e desistisse mesmo nos momentos

em que as tribulações pareciam ser intermináveis;

Aos meus pais que sempre me incentivaram e apoiaram em todos os momentos da

minha vida, mesmo quando não era o que eles de fato queriam para mim;

Ao meu marido, por toda a paciência, dedicação, cumplicidade, apoio emocional,

choros, abraços, afagos e noites em claro que passou ao meu lado segurando

minha mão e dizendo baixinho.... “– Já deu tudo certo”;

À minha primogênita, Bernadete, que chegou “meio de surpresa”, justamente na

fase mais intensa academicamente da mamãe, transformando a minha vida;

À Capes, pelo incentivo financeiro, sem os quais teria sido difícil realizar este

estudo;

À Professora Sueli Bulhões, pelo compromisso, profissionalismo e apoio

acadêmico essenciais para que este estudo pudesse ser terminado. Agradeço por

todas as vezes que ficou horas comigo nas orientações com o máximo de zelo e

paciência procurando entender e me auxiliar na construção desse estudo, visando

com isso atingir a qualidade que se espera de uma dissertação de mestrado;

À Professora Ludmila Cavalcanti, por sempre exigir de mim muito além daquilo

que eu acreditava ser capaz de fazer e por cobrar excelência na confecção do

estudo. Agradeço todo apoio e confiança a mim dirigida e por acreditar que eu

seria capaz de dar conta de tudo;

Aos entrevistados, por terem prontamente se disponibilizado e contribuído para a

ampliação de estudos sobre a temática da violência de gênero no namoro juvenil;

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A todos os meus amigos e familiares que contribuíram de maneira direta ou

indireta para a elaboração deste trabalho, meus sinceros agradecimentos.

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Resumo

Flach, Roberta Matassoli Duran; Silva, Sueli Bulhões. Violência de Gênero

no Namoro: Sentidos Atribuídos por Estudantes Universitários. Rio de

Janeiro, 2013, 106 p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Serviço

Social, Pontifícia Universidade católica do Rio de Janeiro.

Esta dissertação teve como objetivo conhecer os sentidos atribuídos por

universitários à violência de gênero no namoro. Para tal, procedeu-se um estudo

de natureza qualitativa, no qual foram realizadas entrevistas semiestruturadas,

baseadas em roteiro, com os estudantes universitários, entre 18 e 24 anos, do

curso de graduação em serviço social da PUC-Rio. A opção por essa faixa etária

se deu em função da juventude ser considerada pelo Ministério da Saúde

brasileiro, como sendo o período compreendido entre 15 e 24 anos. As entrevistas

foram gravadas, com a permissão dos entrevistados, e contaram com a

participação de 14 alunos, sendo 11 moças e 03 rapazes. As informações coletadas

foram discutidas com base na técnica de análise de conteúdo, em sua modalidade

temática. A análise dos resultados foi dividida em duas temáticas, uma relativa ao

“namoro” e a outra a “violência no namoro”. No “namoro”, foram identificadas

cinco categorias: (1) sentidos atribuídos ao namoro; (2) tipos de relacionamento;

(3) intimidade no namoro; (4) prova de amor e (5) gravidez. Na “violência no

namoro”, foram identificadas quatro categorias: (1) sentidos atribuídos à violência

no namoro; (2) causas da violência no namoro; (3) vivência de violência no

namoro e (4) resolução de conflitos. Os principais achados apontam que, na

atualidade, há diversos tipos de relacionamentos que são definidos como namoro,

no qual a prática do ato sexual passa a ser vista como algo inevitável. Apesar

disso, a motivação à iniciação sexual se dá de maneira diferenciada para rapazes e

para moças. Observou-se também que o namoro, por ser entendido pelos

participantes deste estudo como um relacionamento estável, acaba sendo visto

como um espaço de confiabilidade e segurança, podendo ser dispensável o uso de

preservativo durante o ato sexual. Outro achado deste estudo se relaciona à

compreensão de alguns participantes de considerarem atos violentos praticados

pelos parceiros como provas de amor e de cuidado. Dessa forma, o limiar entre o

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tolerável e intolerável variava de acordo com o processo de socialização do

indivíduo, o que pode contribuir para a ocorrência de práticas violentas e dificultar

a identificação dos mesmos como violentos. Em suma, o estudo constatou que a

violência ocorrida no namoro juvenil se apresenta como um grave problema de

saúde pública, necessitando de maior investimento em pesquisas que contemplem

essa temática.

Palavras-chave

Violência; namoro; gênero.

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Abstract

Flach, Roberta Matassoli Duran; Silva, Sueli Bulhões (Advisor). Gender

Violence in Dating: meanings assigned by university students. Rio de

Janeiro, 2013, 106 p. MSc. Dissertation - Department of Social Work,

Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro.

The aim of this research was to understand the meanings attributed to

gender violence in dating by university students. Bearing this in mind, we

developed a qualitative study with semi-structured interviews based on a script

with students, between 18 and 24 years old, from the undergraduate course in

social work at PUC-Rio. The choice for this age group was due to the fact that the

Ministry of Health in Brazil considers youth as the period between 15 and 24

years of age. The interviews were recorded, with the permission of the

respondents, and included the participation of 14 students (11 girls and 03 boys).

The data was collected and interpreted in the light of thematic content analysis.

The analysis revealed two thematic fields: "dating" and the "dating violence." In

the "dating" field, five categories were identified: (1) meanings attributed to

dating; (2) relationship types; (3) intimacy in dating; (4) proof of love; and (5)

pregnancy. In the "dating violence” field, four categories were identified: (1)

meanings attributed to dating violence; (2) causes of dating violence; (3)

experiences of dating violence; and (4) conflict resolution. The main findings

indicate that, at present, there are several types of relationships that are defined as

dating, in which the practice of sexual intercourse is seen as inevitable.

Nevertheless, the motivation to sexual initiation occurs for boys and girls

differently. It was also observed that dating is understood by participants as a

stable relationship and is consequently seen as a space for reliability and security.

In other words, condom use can be dispensed during sexual intercourse. Another

finding relates to the understanding of some participants consider violent acts

committed by partners as evidence of love and care. Thus, the threshold between

tolerable and intolerable varied according to the process of socialization of the

individual, which may contribute to the occurrence of violent practices and hinder

their identification as violent. To sum up, the study found that the violence in

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juvenile dating presents itself as a serious public health problem which also

requires more investment in further research.

Keywords

Violence; dating; gender.

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Sumário

Introdução 14

1. Novas formas de “amar”, velhas construções de gênero 28

1.1. A construção do conceito de gênero

1.1.1. Gênero e relações amorosas

28

30

1.2. As novas formas de relacionamento afetivo contemporâneo

38

2. “Nunca passei por isso mas... numa briga... ela me bateu no rosto...”

42

2.1. Considerações sobre juventude e violência 42

2.2. Violência de gênero no namoro juvenil 48

3. Sentidos atribuídos por estudantes universitários à violência ocorrida no namoro

54

3.1. Percurso metodológico 54

3.2. Namoro 57

3.3. Violência no Namoro 77

4. Considerações Finais 87

5. Referências Bibliográficas 91

6. Apêndices 101

7. Anexos 105

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Lista de Siglas

ACS Agentes Comunitários de Saúde

BVS Biblioteca Virtual em Saúde

CBMERJ Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro

CEDAW Comitê para Eliminação de Discriminação contra a Mulher

CLAVES/

FIOCRUZ

Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde

Jorge Careli, da Fundação Oswaldo Cruz

ESF Estratégia de Saúde da Família

HMAF Hospital Maternidade Alexander Fleming

NUPPII Núcleo de Políticas Públicas, Indicadores e Identidades

OMS Organização Mundial de Saúde

PIBEX Programa Institucional de Bolsas de Extensão

PSF Programa de Saúde da Família

PUC-Rio Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

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(...)

Mas é ciúme, ciúme de você

Ciúme de você, ciúme de você

Este telefone que não para de tocar

Está sempre ocupado quanto eu penso em lhe falar

Quero então saber logo quem lhe telefonou

O que disse, o que queria e o que você falou

Só de ciúme, ciúme de você

Ciúme de você, ciúme de você

Se você me diz que vai sair

Sozinha eu não deixo você ir

Entenda que o meu coração

Tem amor demais meu bem e essa é a razão

Do meu ciúme, ciúme de você

Ciúme de você, ciúme de você.

Música: Ciúme de Você

(Cantor Roberto Carlos)

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Introdução

“Namoro é o começo de um relacionamento sério, né? Onde você conhece o seu parceiro

para ter ou não algo mais sério depois, é onde tudo começa. Ah! Uma vida a dois começa pelo

namoro.” (F9)

Esta pesquisa se insere na linha Violência, Família e Direitos Sociais do

Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e teve como objeto de estudo os sentidos

atribuídos por universitários à violência de gênero no namoro.

A violência de gênero no namoro é um tema pouco estudado no Brasil,

ainda mais quando comparado com estudos desenvolvidos por outros países

como, Estado Unidos, Canadá e Portugal, bem como, com outros tipos de

violência que já vêm sendo estudados desde a década de 1960, como é o caso da

violência intrafamiliar, da violência contra a mulher, em 1970 e por último, em

1980, da violência doméstica (Schraiber et al, 2005).

Enquanto categoria de estudo, a “violência de gênero” surge no final dos

anos de 1990 como uma tentativa de explicar a radicalização das desigualdades na

relação entre homens e mulheres, sendo a violência proveniente dos conflitos de

gênero e da forma violenta de lidar com eles. (Schraiber et al, 2005).

Acredita-se que a violência de gênero no namoro se dê em função da

existência de disputas de poder, no qual um quer ter o controle sobre o outro

dentro da relação íntima. Almeida (2007) ao tratar acerca desta categoria de

estudo, ratifica não só a presença destas disputas de poder dentro das relações

íntimas como também acrescenta que esta disputa

(...) visa produzir a heteronomia, a potencializar o controle social e, em última

análise, a reproduzir a matriz hegemônica de gênero na sua expressão

microscópica. (...) num quadro de disputa pelo poder, (...) revela que o uso da força

é necessário para manter a dominação. (Almeida, 2007, p. 28).

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A violência de gênero no namoro pode ser percebida nas suas mais variadas

expressões, em qualquer esfera, seja ela pública ou privada. Na sociedade, apesar

do século XXI estar vigente há pouco mais de uma década, este tipo de violência

ainda não é percebida por algumas pessoas que orientadas por uma construção

social desigual de papéis femininos e masculinos, tem contribuído para a

marginalização da mulher e para que o homem continue sendo visto como

provedor, chefe de família, detentor do poder e a mulher como responsável pela

organização da casa, cuidado dos filhos e afazeres domésticos.

Para Saffioti esta desigualdade,

(...) longe de ser natural, é posta pela tradição cultural, pelas estruturas de poder,

pelos agentes envolvidos na trama de relações sociais. Nas relações entre homens e

entre mulheres, a desigualdade de gênero não é dada, mas pode ser construída, e o

é, com freqüência. (...) a violência de gênero pode ser perpetrada por um homem

contra outro homem, por uma mulher contra outra. Todavia, o vetor mais

amplamente difundido da violência de gênero caminha no sentido homem contra

mulher, tendo a falocracia1 como caldo de cultura. (2004, p. 71).

A distribuição desigual de poder e as relações assimétricas que se

estabelecem entre homens e mulheres provoca a desvalorização do feminino e sua

subordinação ao masculino, aprofundam a desigualdade de gênero e legitimam as

situações de violência de gênero (Minayo & Souza, 1999), uma vez que, as

próprias mulheres passam a naturalizar, banalizar e relativizar as violências que

sofrem, passando a não percebê-las como tal (Kronbauer & Meneguel, 2005).

Assim, em virtude destas referências e do seu caráter relacional optou-se,

neste estudo, por adotar a categoria violência de gênero para estudar a violência

no namoro. O uso do conceito “violência de gênero” deixa aberta a possibilidade

do vetor dominação-exploração, enquanto as demais definições2 tendem a marcar

1 Falocracia é atitude tendente a assegurar e a justificar a dominação das mulheres pelos homens;

machismo. (Dicionário on line, 2012). 2 Almeida (2010) adverte para o perigo existente em se utilizar, como tendo significados idênticos,

distintas expressões para nominar a violência. Desta forma, a autora conceitua e distingue quatro

terminologias frequentemente presentes no discurso sobre a questão: “Violência contra a mulher

enfatiza o alvo contra o qual a violência é dirigida. É uma violência que não tem sujeito, só objeto;

acentua o lugar de vítima, além de sugerir a unilateralidade do ato. Não se inscreve, portanto, em

um contexto relacional. Violência doméstica é uma noção espacializada, que designa o que é

próprio à esfera privada – dimensão da vida social que vem sendo historicamente contraposta ao

público, ao político. Enfatiza, portanto, uma esfera da vida, independentemente do sujeito, do

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claramente a presença masculina como a do agressor e a feminina como a de

vítima.

O interesse pela complexidade do fenômeno da violência de gênero no

namoro teve início ainda na graduação do curso de serviço social na Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e foi se intensificando na medida em que dava

início aos estágios curriculares e as pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de

Saúde Reprodutiva e Trabalho Feminino, agora Núcleo de Políticas Públicas,

Indicadores e Identidades (NUPPII), da Escola de Serviço Social da UFRJ.

A partir da realização de estágio curricular em Serviço Social, iniciado em

março de 2005, no Hospital Maternidade Alexander Fleming (HMAF),

maternidade municipal de referência para gestação de risco e para o atendimento

às mulheres em situação de violência3 sexual houve a possibilidade de

acompanhar alguns atendimentos às mulheres nesta situação de violência, o que

não só despertou o interesse pelo tema, mas também fez com que esse tipo de

violência contra a mulher ocupasse um lugar de destaque durante a formação

profissional.

As mulheres atendidas, no referido serviço, apresentavam-se muito abaladas

emocionalmente e por vezes sentindo-se co-responsáveis pela violência sofrida.

Durante os atendimentos a estas mulheres, foi possível perceber dois tipos de

situações, uma relacionada à violência cometida por desconhecidos e a outra

relacionada à violência cometida por conhecidos da pessoa em situação de

violência.

objeto ou do vetor da ação. Violência intrafamiliar aproxima-se bastante da categoria anterior,

ressaltando, entretanto, mais do que o espaço, a produção e a reprodução endógenas da violência.

É uma modalidade de violência que se processa por dentro da família.(...) A exemplo da violência

doméstica, o sujeito e o objeto da ação não são determinados na estrutura de poder familiar e o

vetor da ação é diluído. (...) Violência de gênero designa a produção da violência em um contexto

de relações produzidas socialmente. Portanto, o seu espaço de produção é social e o seu caráter é

relacional.” (Almeida, 2010, p. 23-24). 3 Todas as vezes que for necessário se referir a vítima, foi adotada a expressão “em situação de

violência”. A opção por adotar essa expressão, se deu por entender que a expressão “vítima” não

permite a percepção de reação por parte de quem sofreu violência, como se fossem imóveis,

passivas e incapazes de se defender e de romper com aquela violência vivida. Na posição vitimista

não há espaço para se ressignificarem as relações de poder, revelando um conceito rígido de

gênero. A violência visa abrir caminho para maior efetivação da dominação e a passividade é nesta

relação a consequência e não a causa da violência de gênero. (Saffioti, 2001; Almeida, 2005).

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Quando a violência era cometida por uma pessoa desconhecida, de certa

forma, a verbalização do ocorrido era menos difícil e a procura pelo serviço de

saúde parecia ser menos traumática. Nestes casos, a busca pelo atendimento num

serviço de saúde de referência para situações de violência era, quase sempre, a

primeira atitude tomada pela pessoa logo após sofrer a agressão.

Entretanto, quando o mesmo tipo de violência era cometido por alguém

conhecido, a pessoa em situação de violência nem sempre conseguia falar sobre o

ocorrido e quando chegava ao serviço, já havia passado semanas da ocorrência da

violência, e a procura pelo serviço de saúde se dava em função do aparecimento

de sintomas relativos às doenças sexualmente transmissíveis ou a uma gravidez

não planejada. Assim, as consequências da violência sofrida, e não o ato violento

propriamente dito que só era verbalizado no momento do atendimento clínico, é

que as levavam a procurar o serviço médico.

Essa dificuldade em verbalizar a violência sofrida, quando esta era cometida

por alguém conhecido, é reconhecida por Oshikata, Bedone e Faúndes (2005) que

destacam que, nesses casos, o baixo índice de denúncias está relacionado com o

fato da maioria das agressões ocorrerem em ambientes familiares e por pessoas

conhecidas da pessoa em situação de violência, onde existe um vínculo

sentimental ou hierárquico.

Neste mesmo ano, em setembro, já interessada na temática da violência

sexual contra a mulher houve a possibilidade de fazer parte, da pesquisa

“Prevenção da Violência Sexual: Avaliando a Atenção Primária no Programa de

Assistência Integral a Saúde da Mulher4”, e do projeto de extensão “Prevenção da

Violência Sexual”, na qualidade bolsista do Programa Institucional de Bolsas de

Extensão (PIBEX).

Através desses estudos, houve a oportunidade de entrevistar profissionais da

atenção básica, em especial Agentes Comunitários de Saúde (ACS) do então

Programa de Saúde da Família (PSF), atualmente Estratégia de Saúde da Família

4 A pesquisa buscou analisar as percepções dos profissionais de saúde envolvidos na atenção

primária no PAISM e no Programa de Saúde da Família (PSF) e indicar alternativas que

favorecesse a prevenção da violência sexual nas unidades primárias de saúde. A pesquisa

avaliativa, de abordagem qualitativa, foi realizada no Município do Rio de Janeiro junto a 3

Centros Municipais de Saúde (CMS) e a 7 equipes do PSF. Foram realizadas 93 entrevistas,

analisados 12 protocolos de atendimento às pessoas em situação de violência sexual e 50 sites

sobre a temática.

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(ESF) e foi possível observar semelhanças no padrão de verbalização da violência

relatado pelas mulheres em situação de violência do HMAF.

Isto é, assim como as mulheres atendidas no HMAF, os ACS ao

verbalizarem situações de violência sexual ocorridas dentro da comunidade,

geralmente não as reconheciam como algo passível de ocorrer dentro da

comunidade. Para os ACS não havia a ocorrência de violência sexual cometida

por estranhos dentro da comunidade devido à presença de uma “lei local5”

defendida pelo “poder paralelo6”. Porém, quando a violência era cometida por

alguém conhecido do ACS ou próximo da pessoa em situação de violência, os

mesmos se mostravam confusos e, por vezes, despreparados quanto à forma de

conduzir a situação.

Em situações como esta última, em virtude do agressor passar a ser o primo,

irmão, compadre, vizinho do ACS e não mais um estranho, a notificação da

violência7 se tornava uma tarefa difícil de ser executada e nem sempre esses

profissionais conseguiam separar a sua vida privada do seu papel de profissional a

serviço da saúde pública.

Esta realidade sinalizava a dificuldade real do ACS de nomear a ocorrência

de um comportamento violento entre parceiros íntimos, principalmente quando

relacionada a um espaço privado e, portanto, “imune” aos olhos do poder público,

e, de certa forma contribuía para reforçar a existência de uma relação assimétrica

socialmente construída e que permanece arraigada em nossa sociedade,

colaborando para a produção e reprodução dessa capa de legitimidade que a

violência de gênero contra a mulher ocorrida, em especial, no espaço privado,

ocupa ainda nos dias atuais na sociedade brasileira.

5 “Lei” no qual, as mulheres da comunidade não poderiam ser abusadas sexualmente por

estranhos, pois o conhecimento do fato pelo poder paralelo seria “corrigido” com a morte do

agressor. 6 A literatura costuma se referir desta forma ao poder do tráfico de drogas dentro das comunidades,

no qual o tráfico cria e defende leis próprias para manutenção e sobrevivência daquela população

dentro da comunidade. 7 É uma informação emitida pelo setor de saúde ou qualquer outro órgão, ou pessoa às autoridades

com a finalidade de promover cuidados sócio-sanitários direcionados à proteção das vítimas. O ato

de notificar dá início a um processo que objetiva a interrupção de atitudes e comportamentos

violentos no âmbito da família e por parte de qualquer agressor. (Brasil, 2002, p. 14).

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Em 2006, ao integrar outra pesquisa intitulada “Avaliação dos núcleos de

atenção às mulheres em situação de violência sexual8”, foi possível observar o

quanto era difícil, até mesmo para os profissionais, que eram continuamente

capacitados pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro para o atendimento à

mulher em situação de violência sexual, tratar as sequelas resultantes da violência

sexual. Durante essa pesquisa, em diversos momentos os profissionais relatavam

não se sentirem à vontade não só para atender, como também para lidar

psicologicamente com a violência verbalizada pela pessoa em situação de

violência. Acrescente-se a isso, os constantes relatos acerca da ausência de suporte

psicológico e de infraestrutura para a condução desse tipo de atendimento nas

unidades pesquisadas.

Instigada pelos conhecimentos até então adquiridos e orientada por leituras

(Ministério da Saúde, 2005, 2005a; Muños-Rivas et al, 2009; Straus, 2004) que

afirmavam que a violência não cessava com a ocorrência da gestação, pelo

contrário, a violência não só se intensificava como se deslocava do rosto, para a

barriga, houve a possibilidade de retornar ao HMAF para a realização de

monografia de final do curso de graduação, no qual foi desenvolvida uma

pesquisa de cunho qualitativo junto a 17 gestantes do pré-natal do referido

hospital, sobre os sentidos atribuídos por elas à violência sexual cometida pelo

parceiro íntimo.

O trabalho final intitulado: “Violência sexual ou dever conjugal? O véu da

(i)legalidade nas relações íntimas” possibilitou perceber que a dificuldade das

gestantes de se reconhecerem em situação de violência sexual era percebida por

elas como “algo natural” a que a mulher deveria se submeter, algo que fazia parte

da sociedade e que não iria mudar. Tal dificuldade ora era atribuída a uma

possível subordinação da mulher ao homem, ora a um problema psicológico,

8 A pesquisa, pioneira no município do Rio de Janeiro, pretendeu analisar a incorporação dos

parâmetros sugeridos na Norma Técnica de Atendimento à Mulher Vítima de Violência Sexual

(Ministério da Saúde, 2005) pelos núcleos; analisar as percepções dos profissionais de saúde

inseridos nos núcleos, dos gestores das unidades onde os núcleos estão situados e das mulheres

atendidas pelos núcleos acerca do atendimento prestado; construir um modelo de monitoramento

dos núcleos e propor medidas de aprimoramento. A metodologia adotada privilegiou a

triangulação de métodos e técnicas, através das abordagens quantitativa e qualitativa, na

construção de indicadores na coleta de dados e na análise do material sobre os 05 (cinco) núcleos

de atendimento às mulheres em situação de violência sexual nas maternidades municipais do Rio

de Janeiro.

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patologizando aquele que comete a violência, retirando dele a responsabilidade

pelo ato de violência cometido.

Afinal,

[(...) às vezes acontece né, do marido tá [referindo-se ao desejo de manter relação

sexual] e a gente não. Tá cansada do dia a dia, da casa, dos filhos e aí chega a

noite, a gente só quer descansar, dormir né, e às vez o marido vem, a gente até

cede, não considerando aquilo como uma violência sexual, mas por fazer o papel,

alí de esposa, de mulher, essas coisas. (Gest9. 13)];

[Ah, tem sempre aquela insistenciazinha básica do namorado, do marido que quer e

começa a chantagem emocional, diz que vai procurar mulher na rua, aí a gente

acaba cedendo por medo, por insegurança (...). (Gest. 01)].

O referido estudo apontou também a dificuldade dos profissionais de saúde

em lidarem com a questão da violência sexual no pré-natal, uma vez que, apesar

do pré-natal ser uma oportunidade ímpar para o estabelecimento de vínculo entre

o profissional e a gestante, nem sempre esse espaço era utilizado com o objetivo

de investigar possíveis vivências, por essas gestantes, de violências ocorridas

dentro do relacionamento íntimo.

Estes resultados, associados à contribuição de autores como Minayo &

Souza (1999), Saffiotti (2004), Kronbauer & Meneguel (2005), Adeodato et al

(2005) e Almeida (2010) reforçam a ocorrência da violência de gênero contra a

mulher como algo relacionado à cultura machista e patriarcal presente na

sociedade, à questão de gênero, vergonha em admitir que a relação amorosa não

deu certo, à dependência financeira e/ ou emocional, à existência de filhos fruto

do relacionamento do casal, assim como à expectativa dos parceiros reduzirem as

agressões ao longo da convivência.

É interessante notar que essa expectativa por parte das mulheres de que o

parceiro irá mudar pode ser explicada pelo que estudiosos da violência contra a

mulher identificam como “ciclo da violência”. Este seria o que a literatura

convencionou adotar por 3 fases que ocorrem como um ciclo ininterrupto de

9 As falas apresentadas, com o código “Gest”, foram retiradas das entrevistas analisadas na

monografia final de curso de graduação, na qual foi adotado o código Gest a fim de preservar o

anonimato das entrevistadas.

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violência: Agressão – Lua de Mel – Tensão, no qual, a violência vai se

intensificando, num espaço de tempo cada vez menor. Durante a fase da Lua de

Mel o parceiro pede desculpas, diz que não vai mais acontecer, que foi uma coisa

de momento, por vezes compra presentes como forma de desculpa até que,

recomeça a fase da Tensão, as discussões voltam a se intensificar e ocorre a

Agressão, depois desta novamente surgem as promessas de que não vai mais

acontecer e assim sucessivamente podendo levar ao óbito da mulher em algum

momento desse ciclo da violência. (Saffioti, 2004; Ministério da Saúde, 2011).

Diante da experiência até então acumulada, foi possível questionar se muitas

das violências informadas pelas gestantes não teriam tido início ainda na fase do

namoro e interpretadas como “prova de amor”, ciúme ou desconfiança nas

relações afetivas. Foi, então, a partir destas perguntas que o interesse em estudar a

ocorrência da violência de gênero na etapa do namoro começou a ganhar forma.

Mediante o que foi até aqui exposto, considerou-se que os sentidos

históricos de gênero contribuem para a ocorrência de comportamentos como

aceitação, justificação e naturalização da violência. Partiu-se do pressuposto de

que os sentidos e as práticas discursivas orientam as ações dos indivíduos e dos

grupos numa sociedade, e que a violência é um comportamento aprendido e

reproduzido nas relações sociais.

Ao definir como objeto de estudo, os sentidos10

atribuídos à violência de

gênero no namoro por universitários, pretendeu-se responder às seguintes

questões: 1. Quais sentidos são atribuídos ao namoro; 2. Quais sentidos são

atribuídos à violência no namoro? e 3. Como as relações de gênero atravessam a

percepção da violência no namoro?

Conforme foi assinalado, há uma lacuna com relação às publicações a

respeito da temática da violência de gênero no namoro. Isto é, ao se realizar

levantamento bibliográfico utilizando a palavra-chave: “violência no namoro” nos

bancos de dados da “Biblioteca On Line da PUC-Rio”, do “Google Acadêmico” e

da “Biblioteca Virtual em Saúde (BVS)”, no período de 2006 a 2011, a

quantidade de artigos, livros, monografias, dissertações e teses que de fato

retratem a problemática da violência de gênero no namoro é ínfima.

10 Neste estudo adotou-se a categoria sentidos atribuídos a fim de identificar os conceitos,

definições e opiniões fornecidas pelos participantes durante a realização das entrevistas.

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Diante disso, foi necessário ampliar a buscas incluindo outras palavras-

chave, a saber: “violência nas relações íntimas”, “violência no casamento”,

“violência contra a mulher”, “violência de gênero”, “violência doméstica” e

“violência intrafamiliar” nos mesmos bancos de dados anteriormente informados

e período.

Na base de dados da Biblioteca On Line da PUC-Rio foi encontrada 3

(três)11

dissertações de mestrado, uma utilizando a palavra-chave “violência

contra a mulher”, a segunda com a palavra-chave “violência intrafamiliar” e a

última com a palavra-chave “violência de gênero” e “violência doméstica”. Mas,

apesar da ampliação das buscas não foi possível encontrar nenhuma publicação

com as palavras-chaves: “violência no namoro”, “violência nas relações íntimas”

e “violência no casamento”.

No banco de dados do Google Acadêmico, foi possível encontrar com a

palavra-chave “violência no namoro”: 2 (duas)12

dissertações de mestrado e 1

(uma)13

tese de doutorado ambas brasileiras, 1 (uma)14

monografia de graduação e

3 (três)15

artigos, de Portugal.

Na BVS, a quantidade de publicações acerca da “violência no namoro” é

ínfima, 3 (três) artigos, ainda mais se comparada a outras temáticas. Quando

utilizamos as palavras-chave: “violência contra a mulher”, “violência de gênero”,

“violência doméstica” e “violência intrafamiliar”, os resultados se alteram

bastante em termos de quantidade16

.

Esta lacuna na produção científica acerca da violência no namoro pode ter

relação com a baixa visibilidade do fenômeno pela sociedade brasileira, seja

porque não é visto como um tema que mereça destaque no meio científico, seja

porque não se percebe o espaço do namoro, como um local onde pode e, por

vezes, acontece situações de violência.

11 NORONHA (2010), CIRQUEIRA (2007) e PASSOS (2006)

12 ALMEIDA (2010) e NASCIMENTO (2009)

13 CASTRO (2009)

14 OLIVEIRA (2004)

15 CATARINO et al (2010), DIXE et al (2010) e FACUNDO et al (2009)

16 Com a palavra-chave “violência contra a mulher” foi possível encontrar 144 artigos, com a

palavra-chave “violência de gênero”, foi encontrado quase 250 artigos, com a palavra-chave

“violência doméstica”, foi encontrado cerca de 280 artigos e com a palavra chave “violência

intrafamiliar” encontramos 64 artigos.

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Sobre essa carência e marginalização de estudos na área da violência de

gênero no namoro, temos a contribuição de Caridade e Machado (2006) que

salientam para o fato de estar ocorrendo recentemente uma modesta ampliação de

publicações nesta área. Para tal, trazem como contribuição as diferentes

terminologias adotadas internacionalmente para tratar sobre a violência no

namoro, como “dating violence” ou “courtship violence” e “violencia en el

noviazgo”.

Retornando ao referencial teórico pesquisado, foi possível encontrar apenas

3 (três) publicações nacionais - Almeida (2010); Nascimento (2009) e Castro

(2009) - sobre o fenômeno da violência ocorrida no namoro, todas da Cidade de

Recife17

.

Diferente da contribuição fornecida por Castro (2009) e Almeida (2010),

dirigida aos jovens de 15 a 19 anos, a pesquisa realizada por Nascimento (2009)

teve como público-alvo, jovens entre 18 e 29 anos. Em ambos os estudos a relação

entre os sentidos dados pelos entrevistados à violência ocorrida no namoro foi

realizada através de análise comparativa18

.

No que se refere aos artigos estrangeiros, observou-se uma tendência de

agrupamento seguindo duas linhas de abordagens. A primeira voltada ao

conhecimento dos sentidos atribuídos a violência no namoro, com 3 (três)19

publicações e a segunda voltada à relação do uso abusivo de álcool com a

ocorrência de violência no namoro, com 1 (uma)20

publicação.

A quantidade superior de publicações internacionais aponta para um maior

investimento no estudo desse fenômeno fora do Brasil. Quando é ampliada a

busca por outros tipos de publicações sobre violência no namoro, é possível

17 Tanto a tese de doutorado do Castro, quanto a dissertação de mestrado da Almeida são

originárias do Programa de Pós Graduação da FIOCRUZ, através do Centro de Pesquisas Aggeu

Magalhães e tinham relação com o CLAVES, se constituindo num braço de uma pesquisa maior

realizada pelo referido centro de pesquisa, que já vêm se dedicando a estudos na área da violência

entre jovens estudantes através da pesquisa intitulada “Vivência de violência nas relações afetivo-

sexuais entre adolescentes”. E que no ano de 2011 vai culminar na organização do livro “Amor e

Violência: Um paradoxo das relações de namoro e do ‘ficar’ entre jovens brasileiros”. 18

Na pesquisa de Castro (2009) e Almeida (2010), o estudo comparativo foi realizado entre

estudantes do ensino público e do ensino privado. Já no estudo de Nascimento a comparação foi

realizada entre jovens de grupos populares e jovens de camadas médias. 19

OLIVEIRA (2004), CATARINO et al (2010) e DIXE et al (2010) 20

FACUNDO et al (2009)

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encontrar uma variedade incontável de vídeos e propagandas governamentais em

Portugal acerca da prevenção da violência no namoro.

Fato esse, que não se repete no Brasil, cuja primeira experiência de vídeo

sobre violência no namoro foi divulgada na semana do Dia dos Namorados, em

2011, resultado de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Assistência

Social e o grupo Elos pela Saúde, ambos localizados no Estado do Rio de Janeiro,

no qual jovens estudantes tiveram a iniciativa de produzir um vídeo abordando a

violência cometida entre namorados hetero e homossexuais.

Recentemente, em agosto de 2011, através de uma iniciativa pioneira no

país, foi publicado o livro “Amor e Violência: Um paradoxo das relações de

namoro e do ‘ficar’ entre jovens brasileiros”21

, como resultado de uma pesquisa

realizada pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge

Careli da Fundação Oswaldo Cruz (Claves/ Fiocruz) com estudantes de escolas

públicas e privadas de dez capitais brasileiras, sobre a temática da violência nas

relações afetivo-sexuais entre jovens. Entre as conclusões apontadas pelos autores

está a necessidade, no caso brasileiro, de maior aprofundamento de estudos nesta

temática, uma vez que apesar da sua relevância social, ainda é um tema discutido

muito recentemente pela literatura científica brasileira.

Segundo Gomes e Cordeiro (2010) essa recente visibilidade do fenômeno da

violência no namoro pode ter relação com o interesse da mídia em noticiar

situações de violência cometidas por ex-namorados e namorados. De acordo com

os autores, na composição dessas matérias, profissionais de diversas áreas e

especialidades colaboram a fim de analisar os casos apresentados e propor

soluções para as questões.

Ainda sobre o referencial teórico pesquisado pode-se afirmar que há pelo

menos três diferentes perspectivas sobre a violência de gênero ocorrida no

namoro.

Os autores que defendem a primeira perspectiva vislumbram a

probabilidade de haver violência aumentada, a medida que existe o desejo de

dominação, que é exercido independentemente de o parceiro dominante ser

21 Esse livro é resultado de uma pesquisa de âmbito nacional realizada através de uma parceria

entre o Claves e a ENSP/Fiocruz, intitulada “Vivência de violência nas relações afetivo-sexuais

entre adolescentes”.

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homem ou mulher. Defendem a existência de simetria na violência entre

namorados, no qual num relacionamento entre homem e mulher ambos cometem e

sofrem, igualitariamente, a violência. (Kerman & Powers, 2006; Medeiros &

Straus, 2006; Straus, 2004).

Os que defendem a segunda perspectiva procuram compreender os fatores

que invisibilizam tal violência e que contribuem para que os jovens se mantenham

em relacionamentos violentos. Esses autores afirmam que o ciúme é

frequentemente adotado como justificativa para a violência, desempenhando,

mesmo que de forma confusa, uma demonstração de amor. Nestes casos, a

violência seria encarada de maneira divergente para os homens (sendo uma

resposta às provocações femininas) e para as mulheres (como uma forma de

intimidação). (Caridade; Machado, 2006; Méndez; Hernández, 2001).

Os autores que defendem a terceira perspectiva apontam a violência como

fruto da assimetria das relações de gênero. Essa perspectiva tem como referência o

feminismo e a construção da identidade de gênero, esta última compreendida

como fator que reforça desigualdades e hierarquias nas relações íntimas. (Matos,

2006).

Feitas essas observações acerca das três perspectivas a respeito da

ocorrência de violência de gênero no namoro, é preciso destacar que, é necessário

ter maior atenção para não cometer dicotomias, nas quais a mulher ocupa sempre

o papel de vítima e o homem o de algoz.

Gomes e Cordeiro salientam para o fato de que

Compreender a violência de gênero permite uma expansão da noção de violência

em direção aos aspectos que constituem as práticas sociais, que não se fixa no

marcador de gênero apenas, mas considera outros marcadores de diferenças e

desigualdades como classe, raça, etnia, idade, etc., que atuam inter-relacionados

com gênero. (Gomes & Cordeiro, 2010, p. 4).

Vale ressaltar que, quando se trata do fenômeno da violência de gênero há

um consenso de que, esse tipo de violência é uma forma de violação aos direitos

humanos.

No plano internacional o Brasil participa como signatário de diversos

acordos que visam o enfrentamento da violência cometida contra a mulher.

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Almeida destaca a

(...) Declaração e no Programa de Ação da Conferência Mundial de Direitos

Humanos, realizado em Viena, em 1993; ratificado e ampliado na Convenção

Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, a

Convenção de Belém do Pará, adotada pela OEA em 1994; assim como no

Programa de Ação da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em

Pequim em 1995, que, ademais propõe que os Estados promovam a ratificação e

aplicação de todos os instrumentos internacionais, inclusive a Convenção contra a

Tortura e outras Penas ou Tratamento Cruéis, Desumanos ou Degradantes. (2007,

p.3).

No plano nacional há Constituição Federal de 1988, parágrafo 2º do artigo

5º, no qual os direitos e garantias decorrentes de acordos e tratados internacionais

assinados pela República Federativa do Brasil devem ser cumpridos; o Programa

Nacional de Direitos Humanos I e II (PNDH I), em 1996 e (PNDH II), em 2002,

que incorpora, no que diz respeito à violência de gênero, diversas metas a serem

cumpridas quanto à formulação e execução de programas e políticas sociais, apoio

a pesquisas e decisões decorrentes de conferências e acordos internacionais

assinados.

Recentemente, a Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), que foi formulada e

aprovada após forte pressão de organizações internacionais, exigindo o

cumprimento dos acordos e tratados dos quais o Brasil era signatário e que eram

veementemente contra práticas de violência contra as mulheres.

O fato de existir tamanho reconhecimento legislativo nacional e

internacional não impede que ocorram violações de direitos humanos.

Os direitos humanos das mulheres são cotidianamente violados dependendo

do contexto cultural ao qual estejam inseridas, como por exemplo, nas

comunidades africanas, no qual a mutilação genital feminina é considerada algo

que faz parte da cultura local e, dessa forma, “aceita” por todos que fazem parte

daquela cultura. Da mesma forma, são tratados os casos de estrupo de mulheres

em tempos de guerra, pois, como afirma Almeida (2007),

A violência de gênero, estrutural e universal, acentua-se exponencialmente em

tempo de guerra, contexto no qual as mulheres sofrem abusos sexuais

generalizados: são, frequentemente, violentadas, engravidadas à força, obrigada a

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prostituir-se em troca de alimentos, contagiadas com o vírus da aids, torturadas,

mutiladas, assassinadas, usadas como escudos humanos, submetidas a todo tipo de

comércio sexual, ou forçada a prestar serviços diversos. (Almeida, 2007, p. 4).

Após realizar a análise do referencial teórico pesquisado, os resultados

obtidos apontaram haver, poucas bibliografias brasileiras que tratem da temática

da violência no namoro, bem como para a necessidade de ampliações de estudos

nesta área.

Os estudos nacionais e internacionais existentes vêm destacando que a

violência nos relacionamentos íntimos tem sua gênese antes mesmo do

relacionamento conjugal, já demonstrando os primeiros sinais de uma relação

violenta ainda na fase do namoro, sendo esta violência, praticada por meio de

ciúmes, proibições, coações e controle excessivo, muitas vezes, confundidas como

prova de amor e dedicação do namorado(a) ao parceiro(a).

Para melhor entendimento da pesquisa desenvolvida, a presente dissertação

está estruturada em três capítulos.

No primeiro capítulo será realizada uma reflexão sobre o conceito de

gênero, as relações baseadas em papéis diferenciados atribuídos a homens e

mulheres, a desigualdade de gênero e as novas formas de relacionamento afetivo

contemporâneo.

No segundo capítulo será apresentado o conceito de violência de gênero

ocorrida no namoro, a sua invisibilidade cultural, assim como as conseqüências

que afetam a vida daqueles que sofrem a violência. Também será realizada

algumas considerações sobre juventude e violência.

No terceiro capítulo será apresentado o caminho metodológico adotado e os

resultados apontados pelo estudo. Para tal o capítulo foi dividido em três partes.

Na primeira parte, o percurso metodológico, na segunda os resultados relativos à

temática do namoro articulando com o referencial teórico sobre o namoro e na

terceira parte os resultados relativos à violência ocorrida no namoro articulando,

da mesma forma, com o referencial teórico correspondente.

Nas considerações finais será possível conhecer novos objetivos teóricos

para a ampliação de estudos voltados à temática da violência ocorrida no namoro

juvenil.

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1 Novas formas de “amar”, velhas construções de gênero

“A minha amiga abandonou a faculdade, levou três anos pra passar na UERJ e abandonou

porque a namorada tinha ciúmes dela na faculdade (...) a garota tinha ciúmes de tudo, de

tudo(...) tem um trabalho de grupo pra fazer na casa de fulano...”Eu vou junto!” e ficava lá

(...) esperando terminar, até que teve uma hora que a menina não agüentou, pediu pra ela

largar a faculdade e ela largou.” (F9).

1.1 A construção do conceito de gênero

No Brasil, o surgimento do termo gênero aparece como uma resposta do

movimento feminista ao essencialismo biológico, se caracterizando como um

grande avanço, para a época. Conforme Saffioti destaca,

(...) deu-se, indubitavelmente, um passo importante, chamando-se a atenção para as

relações homem-mulher, que nem sempre pareciam preocupar (ou ocupar) as (os)

cientistas. Era óbvio que se as mulheres eram, como categoria social,

discriminadas, o eram por homens na qualidade também de uma categoria social.

Mas, como quase tudo o que é óbvio passa despercebido houve vantagem nesta

mudança conceitual. (...) A interpretação do caráter relacional do gênero, todavia,

deixa, muitas vezes, a desejar. (2004, p. 110).

Atualmente é possível encontrar certa confusão entre sexo e gênero, muitas

vezes utilizados como sinônimos quando na realidade possuem definições

distintas uma da outra.

O sexo refere-se à parte biológica presente em homens e mulheres, isto é,

refere-se ao aparelho biológico e seu funcionamento nos homens e nas mulheres.

Já o gênero refere-se às características desiguais existentes nas relações sociais

entre homens e mulheres, que são construídas socialmente a partir da

característica biologizante do ser humano, o sexo.

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Olinto ressalta que o conceito gênero surge nos anos 1970 e significa a

(...) “distinção entre atributos culturais alocados a cada um dos sexos e à dimensão

biológica dos seres”. O uso do termo gênero expressa todo um sistema de relações

que inclui sexo, mas que transcende a diferença biológica. O termo sexo designa

somente a caracterização genética e anátomo-fisiológica dos seres humanos. (1998,

p. 162).

As relações baseadas nesta distinção de papéis diferentes atribuídos a

homens e mulheres reforçam uma diferenciação que na prática não existe, é

somente fruto de uma construção cultural, que aprofunda e desqualifica

especialmente a mulher na sociedade, como se ela tivesse menos qualificação para

desempenhar os mesmos papéis tradicionalmente atribuídos aos homens por ser

biologicamente diferente deles (Saffioti, 2004).

Cabral e Diaz (1999) acrescentam ainda que, em geral, às mulheres são

atribuídas características relativas à reprodução e ao cuidado da família, no qual a

sexualidade é reduzida à genitalidade. Já os homens são preparados para viver o

prazer da sexualidade, no qual o exercício da sexualidade é visto como um sinal

de masculinidade.

A desigualdade de gênero é um problema social grave e que afeta a todas as

classes sociais, etnias, raças e culturas. É, portanto, um fenômeno estrutural

instituído social e culturalmente, que se processa de forma quase imperceptível e

cotidianamente na sociedade por todas as pessoas e instituições sociais.

Segundo Saffioti, a desigualdade

(...) longe de ser natural, é posta pela tradição cultural, pelas estruturas de poder,

pelos agentes envolvidos na trama de relações sociais. Nas relações entre homens e

entre mulheres, a desigualdade de gênero não é dada, mas pode ser construída, e o

é, com frequência. (2004, p.71).

É possível afirmar que a presença constante desse tipo de desigualdade entre

homens e mulheres, reforça a prática de relações assimétricas, preconceituosas e

discriminantes, que colocam sempre a mulher numa forma de subordinação, e

inferioridade quando comparada ao homem. Para Saffioti (2004), essas práticas

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reforçam uma suposta “fragilidade” do corpo da mulher em detrimento do corpo

“forte” do homem e normatizam condutas diferenciadas para mulheres e homens

na sociedade.

Essas relações assimétricas e desiguais que a categoria gênero permite

observar cotidianamente também estarão presentes nos relacionamentos

amorosos, construções históricas influenciadas pelas peculiaridades de seu tempo.

Dentre essas diversas formas inclui-se a idéia de “amor romântico”, que surgiu a

partir do século XVII.

1.1.1 Gênero e relações amorosas

Segundo Branden, “o amor romântico é um vínculo passional espiritual-

emocional-sexual entre um homem e uma mulher, que reflete o profundo respeito

pelo valor do outro” (1980, p. 13).

A essa atração passional, conhecida por amor romântico, há uma série de

entendimentos que vão desde o mais profundo êxtase até o sofrimento mais

insuportável que uma pessoa é capaz de suportar.

Dentre as mais variadas expressões desse amor romântico, há autores que

associam esse amor a uma natureza temporária, irracional e que deixa por onde

passa desilusões e desencantos. Já outros, acreditam que o amor romântico é um

ideal inatingível (Branden, 1980).

Branden acrescenta que devido a essas expressões diversas do que seja amor

romântico e de como este poderia ser vivenciado por homens e mulheres em seu

cotidiano diário, encontra-se atualmente,

(...) um número cada vez maior de pessoas experimentando diferentes formas de

relacionamento, que não incluem a intimidade e a vulnerabilidade de um intenso

envolvimento com outra pessoa. Algumas abriram mão da esperança de terem

qualquer envolvimento passional, considerando-o não só falso, como também

pernicioso. (1980, p. 11).

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A existência de um número cada vez maior de pessoas que está abrindo mão

de relacionamentos presenciais pode ter relação com a própria alteração da

dinâmica social da atualidade - uma vez que, é possível se relacionar

emocionalmente com alguém sem estar de corpo presente, podendo ser através da

internet, telefone, grupos de bate-papo, e outros meios eletrônicos amplamente

disseminados na sociedade de consumo ocidental, assim como, com o fato de

quem já vivenciou um relacionamento amoroso, em muitos momentos, não

conseguir entender o que pode ter ocorrido para o seu término, deixando um

grande vazio e uma série de interrogações a respeito de tal “fracasso”, que muitas

vezes são e poderão ser sempre inexplicáveis.

Todavia, vale fazer aqui uma reflexão sobre a trajetória da história do amor

nas diversas sociedades mundiais, com o propósito de ilustrar como a se deu a

união das pessoas em laços afetivos. Isto é, a mola impulsionadora da união entre

homens e mulheres nas diferentes sociedades.

Nas sociedades primitivas, não foi o amor ou o desejo pelo outro e sim, os

interesses econômicos, as necessidades práticas de sobrevivência e manutenção

das famílias, sendo incompatível com as sociedades primitivas a vigência de um

ideário de amor romântico como se concebe atualmente.

Branden ressalta que

(...) a sobrevivência numa sociedade pré-industrial dependia, de modo crucial da

força e das aptidões físicas, a divisão do trabalho entre homem e mulher era

predominantemente determinada com base em suas respectivas capacidades físicas.

A força física superior do homem e a necessidade de proteção da mulher,

especialmente durante os períodos de gravidez e parto, justificavam a desigualdade

dos sexos e a subordinação da mulher ao homem. (1980, p.20).

Diferentemente da perspectiva da sociedade primitiva, o conceito de amor

adotado e difundido na sociedade grega vem baseado na ideia de amor como um

vínculo passional profundo, com uma mútua admiração entre dois seres humanos,

concebido como um vínculo muito especial, mas que tem pouca relação com as

atuais formas brasileiras de relacionamento íntimo, ou mesmo com a instituição

do casamento como concebido na sociedade brasileira.

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O casamento na sociedade grega tinha por objetivo a procriação,

manutenção da família e do cuidado da casa, bem como a possibilidade de receber

um dote. Assim como nas sociedades primitivas, era um jogo de interesses, e,

portanto, sem nenhuma relação com o fato de estar amando, ou de estar

apaixonado por alguém. Para os gregos, este profundo e significativo amor fazia

parte da educação dos rapazes e era vivenciado no contexto de relações

homossexuais, uma vez que, o amor vivido nessa relação passional acabava por

elevar a mente e as emoções de ambos. Contudo a relação homossexual como

prática sexual, posterior a esse processo de aprendizado, era condenada na

sociedade grega, assim como as mulheres eram educadas para serem submissas

aos homens e tinham muito pouco status perante a lei. (Branden, 1980).

Esse amor passional, tão intensamente vivenciado pelos homens na

sociedade grega, era inadmissível na sociedade romana, sendo o envolvimento

passional entendido como uma ameaça à sociedade, uma espécie de loucura

intensamente reprimida. Quando se tratava de um relacionamento com vistas ao

casamento, a relação romana era bem semelhante à grega, uma vez que em ambos

os casos, os casamentos somente ocorriam a fim de assegurar interesses políticos

e financeiros.

Nesse momento, há que se fazer um parêntese com relação ao significado do

papel atribuído à família neste contexto societário. A cultura difundida em Roma,

com relação à família, passou a valorizar vários aspectos até então

marginalizados, dentre eles, estão a virgindade entre as mulheres solteiras e a

fidelidade entre as casadas.

Em virtude dessa mudança cultural, sem precedentes na história da

construção das sociedades até então descritas, a mulher assumiu um outro status

na sociedade romana “e deu origem ao primeiro ideal de felicidade doméstica e ao

mútuo respeito entre homens e mulheres” (Branden, 1980, p. 27).

Paralelamente a essa valorização da castidade feminina difundida pela

sociedade romana, temos a disseminação do ideário moralizante cristão nas

sociedades ocidentais. A esse respeito, Branden esclarece que

(...) o Cristianismo trouxe para homens e mulheres um ideal de amor

consistentemente altruísta e não sexual. O amor e o sexo, com efeito, eram

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proclamados como pertencendo a pólos opostos; a fonte de amor era Deus; a fonte

do sexo era o demônio. (...) A abstinência sexual foi considerada o ideal moral. O

casamento (...) foi uma concessão relutante do Cristianismo, contra a depravação

da natureza humana e que tornou esse ideal alcançável na realidade. (1980, p. 28).

A fim de manter o controle sobre a sexualidade dos povos, passou a ser

funcional que se investisse em normas de conduta sexuais aprovadas e outras

repudiadas socialmente. Foi, então, a partir deste novo contexto histórico que em

fins do século VI, a Igreja ganha maior força de atuação e repressão, adotando e

difundindo regras severas sobre os relacionamentos entre homens e mulheres,

promovendo e sancionando o casamento como uma prática idealizadora,

proibindo o divórcio e os casamentos subsequentes sem a autoridade papal.

O Cristianismo, na Europa Medieval, contribuiu intensamente para que as

mulheres perdessem todos os direitos até então adquiridos com os romanos. As

mulheres passam a ser consideradas vassalos dos homens, animais domésticos e

desalmadas.

O amor romântico, dentro deste contexto, não era algo bem aceito pela

Igreja, que o via como grande e principal responsável pelos vícios e pecados

praticados naquela sociedade.

No entanto, com o advento da Reforma Protestante no século XVI, “a idéia

de castidade como desejo divino é rejeitada e o sexo passa a ser mais aceito,

apesar de o ‘prazer’ permanecer como algo errado” (Ribeiro et al, 2011, p. 55), o

amor conjugal existia somente para fins de procriação, não havia espaço para

paixões, desejos, romances. No casamento deveria ser predominante o respeito em

detrimento do prazer, “a prole legítima era o único projeto saudável. Seu cuidado,

a única meta: - as moças, naquele tempo, eram educadas para casar e ser dona-de-

casa, educar os filhos muito bem (...)” (Del Priore, 2011, p. 252-253).

Já no século XIX, foram surgindo novas transformações sociais e

econômicas nas sociedades como um todo e com a sociedade brasileira não

poderia ser diferente. O Brasil, na transição entre os séculos XIX e XX foi

fortemente influenciado por esses novos comportamentos, alterando não só as

relações interpessoais entre homens e mulheres como também, a ordem e

hierarquia social da época. Segundo Del Priore (2011), as mulheres começavam a

dizer não, o casamento por conveniência passou a ser visto como algo

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vergonhoso, reformas urbanísticas ocorreram e deram origem às grandes cidades,

e com essas, novos espaços de entretenimento, como circos, teatros, cinema. De

acordo com a autora,

Surgem os veículos automotores, os transatlânticos, os aviões, os telefones, os

utensílios eletrodomésticos, o rádio, o cinema e a televisão, a anestesia e a

penicilina etc. O impacto dessa revolução científico-tecnológica se faz sentir nos

hábitos do dia-a-dia e, por conseguinte, nas formas de relacionamento. (Del Priore,

2011, p. 232).

Esses novos valores que começam a se fazer presentes na vida dos

brasileiros, começaram a substituir valores atrelados ao mundo rural - que passam

a ser vistos como antiquados e atrasados - para valores atrelados ao progresso, à

cidade.

A composição familiar que outrora era de uma média entre 10 a 20 filhos,

passa a ser de 5 a 7, a disparidade entre os cônjuges abre espaço para a quase

igualdade, há consagração do casamento civil e da liberdade de culto. (Del Priore,

2011).

Del Priore (2011) destaca que toda a ameaça ao casamento, era considerada,

na realidade brasileira, como “imoral” e o Código Civil de 1916 ainda mantinha o

compromisso com a indissolubilidade do vínculo matrimonial. A mulher era

considerada incapaz para exercer certos atos e se mantinha em posição de

dependência e inferioridade perante o marido a quem cabia: representar a família,

administrar os bens comuns e fixar o domicílio do casal, já a mulher nem

trabalhar podia sem que o esposo autorizasse. Este Código também defendia o uso

de legítima violência masculina contra os excessos femininos, assim como o

crime passional e o adultério masculino. O adultério feminino era tido como

crime, um escândalo e uma vergonha.

Não foi só a relação marital que se alterou no Brasil após a modernização

das grandes cidades, também o namoro sofreu influências desse processo. Os

bondes, cafés e as praças eram os locais preferidos para dar início ao flerte. As

moças passeavam sempre acompanhadas por amigas ou por damas de companhia

e quando o namoro amadurecia a ponto de chegar ao conhecimento dos pais da

moça, assumia um caráter de compromisso condicionado ao aceite dos pais e à

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preservação da reputação e honra da moça, representada na sociedade burguesa

pela manutenção da virgindade, bem supremo exigido em troca de conseguir um

bom partido para casar (Del Priore, 2011).

Então, ter relação sexual antes de estar casada era algo inaceitável, uma

vergonha para a família, considerado um passo falso, mesmo que a relação sexual

tenha sido com o namorado ou noivo. A virgindade era o que a mulher tinha de

bem mais valioso e como tal deveria ser muito bem cuidado.

Várias foram as influências exercidas sobre a sociedade brasileira para que a

idéia de amor romântico se expressasse de maneira tão intensa a partir do século

XIX. Dentre essas influências estão a criação do espaço do lar, a modificação da

relação existente entre pais e filhos e a invenção da maternidade, como se fosse

inerente à vontade feminina o “dom” de ser mãe.

Apesar de Giddens (1993) não estar retratando a sociedade brasileira, suas

reflexões podem auxiliar, uma vez que também em seus escritos discute essa

questão da idealização da mulher como mãe, como pode ser observado a seguir:

A idealização da mãe foi parte integrante da moderna construção da maternidade, e

sem dúvida alimentou diretamente alguns valores propagados sobre o amor

romântico. A imagem da “esposa e mãe” reforçou um modelo de “dois sexos” das

atividades e dos sentimentos. As mulheres eram reconhecidas pelos homens como

sendo diferentes, incompreensíveis – parte de um domínio estranho aos homens.

(...) As ideias sobre o amor romântico estavam claramente associadas à

subordinação da mulher ao lar e ao seu relativo isolamento do mundo exterior.

(Giddens, 1993, 53-54).

Menezes aponta ainda que o amor romântico, “como idéia de perfeição ética

e estética, promete um tipo de felicidade na qual o indivíduo encontra plenitude

numa perfeição de adequação física e espiritual ao outro”. (2007, p. 561). O ideal

de perfeição presente no amor romântico promete a completude através da

adequação perfeita entre o corpo e a mente.

Essa crença que torna o grande amor como verdadeiro, vem da qualidade sagrada

do mito que é dada pelos seres sobrenaturais, seus criadores. (...) quando se

encontra este grande amor, há muito a se festejar, mas sua perda irá ser festejada às

avessas, ou seja, amaldiçoando-o e assim chorando aquilo que deveria ser, mas não

foi. Vem daí o sentimento de melancolia. (Menezes, 2007, p. 565).

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Menezes alerta que apesar de ter sua origem no século XIX, o mito do amor

romântico, ainda é vivenciado nos dias atuais, em pleno século XXI, embora as

pessoas não se dêem conta disso, pois, ao dar explicações para as coisas

inexplicáveis que acontecem no dia-a-dia, o mito constrói um mundo melhor, uma

perspectiva mais positiva.

De acordo com a autora, “no mito do amor romântico, por ser estruturante,

quando dois amantes se separam ou não conseguem se achar, perdem toda a razão

de viver, reforçando a tristeza da perda sofrida.” (2007, p. 565).

O século XX, sofrendo influência da I e II Guerras Mundiais, também

trouxe mudanças significativas quanto às relações afetivas, uma vez que o receio

diante da proximidade da morte fez emergir o desejo pelo prazer imediato e pela

atuação da mulher na esfera social e trabalhista.

É dentro deste contexto, onde surgiram as primeiras reivindicações em

busca de maior autonomia sobre o corpo e a sexualidade feminina, que algumas

ideias de amor romântico começam a se fragmentar “(...) dando espaço para o

surgimento do amor confluente, baseado nas relações emocionais equânimes, em

que doação e recebimento caminham juntos” (Ribeiro et al, 2011, p. 56). No amor

confluente, a presença e ausência de reciprocidade do prazer sexual passam a ser

associadas à dissolução e à manutenção de um relacionamento. (Giddens, 1993).

Na idade moderna, a popularização da mídia contribuiu para que novas

formas de se portar e se relacionar amorosamente se disseminassem, atingindo de

forma especial a juventude.

Para Ribeiro et al, há

(...) um excesso de “comercialização do amor romântico”, como um ideal de

relacionamento no qual a busca pela unidade com o outro de maneira intensa e

fusional é por demais exigida. A idéia do amor romântico liga-se ao ideal de

felicidade, só sendo feliz quem o atinge. No mesmo sentido, os papéis de gênero

estão ligados à expectativa de eternidade da paixão. (2011, p. 56-57).

A essa profusão de novas formas de relacionamento afetivo, que não se

restringem unicamente ao namoro surge, entre a juventude brasileira, mais

especificamente no final da década de 1980, a expressão “ficar”, com o propósito

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de caracterizar, relações amorosas sem maiores compromissos ou expectativas à

longo prazo, no qual é permitido desde beijos até relação sexual.

Ainda de acordo com Ribeiro et al,

Nos dias atuais, (...) o amor não é pré-requisito (...). A prática do ‘ficar’ constitui o

resultado de um jogo social e cultural que implica uma aprendizagem amorosa,

podendo ser vista como um tipo de testagem para o namoro com o (a) parceiro (a)

com quem se ‘fica’, ou não. (2011, p. 57).

Vale ressaltar que concomitante a prática do namoro e do ficar, há a

expressão “pegar”, entendida como um ato espontâneo, sem compromisso, focado

num interesse físico e sexual, cuja motivação advém da beleza e sensualidade.

Autores como Oliveira et al (2007), Justo (2005) e Abramovay, Castro e

Silva (2004) se esforçam na busca por tentar definir um conceito para as práticas

do ficar, pegar e namorar.

O “pegar” é visto pelos jovens como um ato espontâneo, sem repetição, nem

compromisso, no qual o interesse é exclusivamente pelo aspecto físico do outro,

quer seja pela beleza, quer seja pela sensualidade (Oliveira et al, 2007).

Já o “ficar”, de acordo com Justo (2005) e Abromavay, Castro e Silva

(2004), caracteriza-se por ser um relacionamento superficial, breve, passageiro,

episódico e sem compromisso, no qual a fidelidade não é algo considerado

obrigatório na relação, que na grande maioria das vezes, tem duração de somente

algumas poucas horas, sem envolvimentos mais profundos.

O namoro pode ser representado como um ato contínuo e repetitivo do ficar,

ganhando contornos de maior compromisso e de oficialidade perante a família e

amigos. (Oliveira et al, 2007)

Cabe destacar que não há uma fórmula precisa para o desenvolvimento das

práticas afetivas do pegar, ficar e namorar, todas podem ocorrer

concomitantemente, não impedindo que uma suplante a outra. Não se pode tratar

tais definições como práticas evolutivas e/ou estanques, elas são transversais e

dispensam categorizações. (Ribeiro et al, 2011).

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1.2 As novas formas de relacionamento afetivo contemporâneo

É geralmente através do ato de ficar que muitos rapazes se iniciam

sexualmente, já que a cobrança pela precocidade da realização do primeiro ato

sexual é muito mais intensa sobre os rapazes do que sobre as moças. (Aquino et

al, 2003).

Essas cobranças sobre os rapazes, como bem destacam estudos como os de

Kinsman et al (1998), Wenner-Wilson (1998), Mott et al (1996) e Romer et al

(1994) tendem a ser realizadas tanto pelos seus próprios pares quanto pelos seus

pais, que não medem esforços para assegurar o aprendizado sexual dos rapazes,

iniciando-os até mesmo por meio da contratação de serviços sexuais de garotas de

programa.

A perda da virgindade para os rapazes é um fator encarado não só como um

ritual de passagem para a vida adulta como uma questão de honra, de auto

afirmação da masculinidade e possibilidade de demonstrar amadurecimento e

experiência sexual.

Todavia, o mesmo não pode ser dito do comportamento sexual esperado das

moças. Nestes casos, a preservação da virgindade pelo máximo de tempo possível

não só é algo desejável, como incentivado, pelos pais e pela sociedade em geral.

Essa diferenciação pode ser facilmente observada na afirmação de Borges,

Latore e Schor (2007) que constataram a diferença entre as expectativas e atitudes

maternas e paternas em relação à conduta sexual de seus filhos e filhas.

De acordo com esses autores,

(...) os garotos parecem sentir-se mais liberados a iniciar a vida sexual

independente do casamento, ao passo que as garotas pressentem que tal prática está

em desacordo com os desejos de seus pais e mães, respondendo, muito

provavelmente, à lógica das relações de gênero. (Borges, Latores & Schor, 2007, p.

1592).

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Convivendo com esses novos tipos de relacionamento amorosos é possível

destacar também os relacionamentos virtuais, realizados por meio de sites de

relacionamento da internet.

Através desses sites pode-se investir em uma gama de relacionamentos, de

natureza bastante distinta, há aqueles voltados para a busca de novas amizades,

assim como tantos outros voltados ao namoro, casamento e, o tipo mais recente,

àqueles cujo único objetivo é arranjar um parceiro para ter uma relação sexual

sem compromisso.

Segundo Melo, Carneiro e Caputo, estima-se que um em cada cinco

relacionamentos comece hoje na internet. (...) A questão filosófica é se a indústria

do relacionamento amoroso, com sua eterna promessa de novos namoros, é um

sinal da morte do sexo com compromisso. (2013, p. 67-68).

Outra questão amplamente levantada nas pesquisas atuais que tratam acerca

dessas novas formas de se relacionar amorosamente, está ligada ao impacto

causado pelo avanço tecnológico na sociedade, que não só encurtou distância,

como também trouxe outros hábitos e costumes à sociedade brasileira.

Ainda de acordo com Melo, Carneiro e Caputo (2013), a própria

popularização dos carros, das viagens de avião e especialmente, do acesso à

internet contribuiu para nos dias atuais, existirem cerca de 40 milhões de pessoas

que estão casadas com pessoas de nacionalidade diferente da sua.

Coexistindo com todas as outras formas de relacionamento anteriormente

destacadas, há o namoro, que mesmo passando por muitas mudanças, ainda

preserva características bem conservadoras para a atualidade e que também

diferem da prática do ficar, pegar e do relacionamento virtual.

Uma das principais características marcantes do namoro é a sua

publicização à família e amigos, assumindo um status de relacionamento amoroso

sério e comprometido.

Outro aspecto muito característico e ainda presente nos relacionamentos

atuais, apesar de toda a liberação sexual experimentada na contemporaneidade, é o

pedido de “prova de amor” por parte dos rapazes às moças com quem namoram.

Geralmente essa prova de amor vem mascarada na suposta falta de amor e

confiança da namorada pelo namorado, no qual este último afirma que se a moça

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realmente gosta dele assim como diz, deveria se entregar sexualmente a ele, como

demonstração de seu amor.

Com base em Ribeiro et al,

(...) a expressão “prova de amor” é utilizada pelos jovens para se referirem a

estratégia de convencimento da garota para que aceite ter relações sexuais com o

namorado, sobretudo quando a virgindade dela está em jogo. (...) A pressão para

fazer sexo, por parte de alguns meninos, também incomoda muitas garotas que

consideram isso uma expressão de machismo. (2011, p. 72).

Diante do fato de muitas meninas tentarem retardar ao máximo a sua

primeira relação sexual, quando esta ocorre, geralmente, o é de maneira

desprotegida e pouco ou nada programada.

Seja envolvida pelo desejo de experimentar, seja porque acredita que seu

namorado “mereça”essa prova de amor, os jovens tendem a manter relações

sexual sem o uso de nenhum método contraceptivo, ampliando os risco de contrair

uma DST/ AIDS ou gravidez.

Estudos22

que tratam acerca da sexualidade e iniciação sexual de jovens,

vêm destacando a preocupação, quando há, dos jovens somente com a prevenção

da gravidez, que se traduz pelo uso contínuo de pílula anticoncepcional pelas

meninas, ou pelo uso inadequado da pílula do dia seguinte, como método

contraceptivo.

Entretanto, quando essas medidas falham e a moça se vê grávida, outras

questões se somam a gravidez, agravando ainda mais a situação. Dentre essas

questões está o despreparo dos jovens para lidar com a situação, o medo de

verbalizar o ocorrido aos pais, a incerteza do que acontecerá com sua vida social e

escolar a partir disso, sendo a prática de um aborto inseguro, constantemente

cogitado como uma forma de solucionar o “problema”.

22 GUBERT & MADUREIRA (2008); BORGES (2007); BORGES, LATORRE & SCHOR

(2007); TORRES, BESERRA & BARROSO (2007); BERTOLDO & BARBARÁ (2006);

TEIXEIRA et al (2006); BORGES & SCHOR (2005); SILVA et al (2005); SALEM (2004) e

RIETH (2002).

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Diante de tantas mudanças, foi percebido que velhas práticas como a do

aborto inseguro, ainda estão enraizadas em nossa sociedade e contribuindo para a

esterilização e morte de milhares de jovens ano após ano no Brasil (OMS, 2002).

Observamos também que a diferença de gênero, de papéis atribuídos e

portanto, das cobranças societárias permanecem quase ilesas, já que as moças

ainda são responsabilizadas pela manutenção de sua conduta moral e sexual.

Da mesma maneira são cobradas como únicas responsáveis pelo cuidado

sexual e reprodutivo, sendo facilmente responsabilizadas quando qualquer coisa

dá errado, como quando ocorre a gravidez.

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2 “Nunca passei por isso mas.... Numa briga...ela me bateu no rosto...”

“O ex-namorado dela que faleceu agora, ele tinha AIDS e como prova de amor ele pediu que ela

transasse com ele sem camisinha. Quando ela veio me contar, eu falei “Ele é louco! E você será

mais loca ainda de dar prova de amor, porque ele no mínimo tinha que pedir pra você botar

camisinha como prova de amor a você.”” (F9).

2.1 Considerações sobre juventude e violência

Definir um conceito único para o termo “juventude” não é uma tarefa fácil,

uma vez que muitas são as pesquisas e organizações que já tentaram fazê-lo, sem

que com isso fosse universalmente adotado um ou outro conceito de juventude.

A literatura que versa sobre a temática da juventude vem trabalhando com

uma pluralidade de conceitos distintos do que é ser jovem. Para Nascimento e

Cordeiro,

(...) a distinção entre juventude e adolescência relaciona-se aos sentidos dados a

cada um dos termos. Segundo as autoras, adolescência abrange pessoas entre 10 e

20 anos, vincula-se a um sentido etário mais ligado ao âmbito individual,

cronológico, com significados negativos como, por exemplo, dependência e

irresponsabilidade. Ao passo que a juventude abrange pessoas entre 15 e 24 anos,

vincula-se a significados mais positivos como, por exemplo, independência e

criatividade e relaciona-se a um sentido mais coletivo, geracional. (Nascimento &

Cordeiro, p.520, 2011).

O conceito de juventude surge pela primeira vez através da Organização das

Nações Unidas (ONU), em 1985, em virtude do “Ano Internacional da

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Juventude”, que passa a considerar como juventude a faixa entre 15 e 24 anos de

idade23

.

Mas, a juventude nem sempre foi foco de atenção das políticas

governamentais, de acordo com Camarano et al, os primeiros estudos sobre

juventude datam dos anos de 1920 e foram produzidos por sociólogos, fortemente

influenciados pela Escola de Chicago cujos trabalhos voltados para este segmento

tiveram início devido ao

(...) surgimento das gangues e do acirramento dos conflitos urbanos em território

dividido por diversas etnias, os jovens foram vistos pela ótica da desorganização

social. Tal idéia caracterizou a Escola de Chicago e reverberou sobre boa parte do

conhecimento acadêmico da área da juventude entre os cientistas sociais. (2004,

p.2).

Atualmente, podemos observar que a imagem negativa que se fazia da

juventude no início do século XX permanece inalterada no século XXI, já que é

possível encontrar na mídia contemporânea brasileira uma variedade de elementos

que tendem a associar a juventude com sujeitos inconsequentes e propensos ao

desvio e ao delito, explorados em noticiários de violência e drogas. (Castro &

Abramovay (2002); Camarano et al, 2004).

A imagem mais comum quando se pensa ou se fala sobre juventude é aquela

que a coloca numa fase de transição entre o mundo infantil e sem

responsabilidades e a vida adulta e responsável.

Porém, diferentemente do que comumente se pensa sobre juventude24

, essa

fase da vida não pode mais ser considerada como um simples período transitório

entre a infância e a vida adulta. De acordo com o Instituto Cidadania,

23 O IPEA comenta esta delimitação da ONU considerando que: O entorno etário escolhido baseia-

se em fundamentos apropriados, pois as entradas e saídas dessa fase coincidem com importantes

períodos de transição no ciclo da vida. O limite inferior considera a idade em que já estão

desenvolvidas as funções sexuais e reprodutivas, que diferenciam o adolescente da criança e repercutem na sua dinâmica física, biológica e psicológica. O limite superior diz respeito ao

momento em que os indivíduos normalmente concluem o ciclo da educação formal, passam a fazer

parte do mercado de trabalho e constituem suas próprias famílias, caracterizando assim, de forma

simplificada, a transição para a fase adulta. (IPEA, p.5, 2004). 24

A condição juvenil se desenvolve em múltiplas dimensões. Os jovens são sujeitos com

necessidades, potencialidades e demandas singulares em relação a outros segmentos etários.

(Instituto Cidadania, 2004, p.12).

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Esse período se alongou e se transformou, ganhando maior complexidade e

significação social, trazendo novas questões para as quais a sociedade ainda não

tem respostas integralmente formuladas. (...) Ela corresponde a uma etapa de

profundas definições de identidades na esfera pessoal e social, o que exige

experimentação intensa em diferentes esferas da vida (Castro & ABramovay

(2002); Camarano et al, 2004, p.12).

A juventude é, então, considerada tanto como a fase da vida na qual as

ambiguidades e contradições são mais evidentes, quanto o período no qual se está

mais propenso a questionar a realidade e experimentar mudanças.

É em meio a essas mudanças ocorridas na sociedade contemporânea que a

juventude está inserida, e não diferente dos demais cidadãos está exposta a

diversos tipos de comportamentos violentos.

A violência é um fenômeno de tão difícil conceituação, pois adquire de

acordo com a cultura e a época vivida, distintos comportamentos e expressões,

estando relacionada com a forma como o indivíduo é socializado e com as práticas

culturais vigentes na sociedade em que este indivíduo está inserido.

Neste estudo, foi adotada a noção de existência de um poder para analisar o

fenômeno da violência contemporânea, o que permite englobar, até mesmo, as

mais sutis formas de violência expressas nas relações amorosas. Muitas vezes,

escondidas atrás de práticas culturais tradicionais do machismo, autoritarismo,

patriarcalismo e tratadas como atos naturais e que já fazem parte da sociedade – já

que sempre existiram – e, são cotidianamente perpetuadas por todos os

indivíduos.

Dentre as organizações internacionais, a OMS se destaca por ser aquela, que

se diferenciou das demais por definir o uso intencional de força física ou poder

como uma característica intrínseca ao ato de violência. Segundo esta organização,

a violência é entendida como o

(...) uso intencional da força física ou poder, real ou em ameaça, contra si próprio,

contra outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade, que resulte ou tenha

grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de

desenvolvimento ou privação. (OMS, 2002, p. 5).

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Chauí (1998) caracteriza violência como toda ação que se utiliza da força

para coagir, constranger, mudar a vontade, o desejo e limitar a liberdade de

escolha do indivíduo.

Já Gilberto Velho (2001) afirma que apesar do senso comum considerar

como violência somente a agressão física, a violência deve ser considerada desde

o momento em que há possibilidade ou ameaça de seu uso com o intuito de se

conseguir assegurar um poder.

Para outros autores, como Arendt (2001), a violência é um instrumento

para o indivíduo alcançar algo que almeja, no qual a manifestação do ato

violento tem uma causa, a recuperação de um poder perdido ou almejado.

Mas também pode ser entendida enquanto violência simbólica, “uma

estrutura que exprime por sua vez as relações de força entre os grupos ou as

classes constitutivas da formação social” (Bourdieu & Passeron, 2011, p. 28), com

o objetivo de impor e de inculcar certas significações previamente

convencionadas cultural e socialmente, perpetuando um poder simbólico25

, de

construção de uma realidade, de um sentido para o mundo.

Segundo Macedo et al a violência “articula-se intimamente com processos

sociais que se assentam, em última análise, numa estrutura social desigual e

injusta” (2001, p. 516).

Outros autores como Minayo & Souza (1999) ao problematizarem sobre o

fenômeno da violência na sociedade contemporânea adotam outras tipologias tais

como, violência estrutural, violência cultural e violência da delinquência26

.

No Brasil, durante a década de 1990, cresceram as discussões sobre o

fenômeno da violência. Esse fato pode estar relacionado com o aumento da

criminalidade neste período, já que no período de 1977 a 1994 há uma elevação

de 160% dos homicídios no Brasil, chegando o país a ocupar a primeira posição

entre as causas de morte. (Mello Jorge et al, 1997).

25 O poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a

cumplicidade daqueles que não querem saber que lhes estão sujeitos ou mesmo que o exercem

(BORDIEU, 2010, p. 7-8). 26

Nestes casos, a “violência estrutural” é entendida pela desigualdade de acesso ao mercado de

trabalho e aos bens vitais à sobrevivência humana; por “violência cultural”, as agressões ocorridas

entre os pares devido a uma construção cultural e por “violência da delinquência”, os crimes

contra a pessoa física e o patrimônio. (MINAYO & SOUZA, 1999).

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A ocorrência desses homicídios nos espaços urbanos brasileiros vem sendo

associada a outros fatores existentes nesses ambientes, tais como a elevada

concentração populacional, as desigualdades sejam na distribuição de riquezas,

sejam no acesso as oportunidades de ensino, trabalho, habitação e saúde, a alta

competição entre os indivíduos e grupos sociais, o uso abusivo de álcool, a

impunidade, o tráfico de drogas, dentre outros.

Segundo o “Mapa da Violência 2011: os jovens do Brasil”, essa violência

cotidiana é um aspecto representativo e problemático para a sociedade atual, em

especial nos grandes centros urbanos, onde os índices de criminalidade e

narcotráfico têm aumentado bastante.

Waiselfisk aponta ainda para o fato de ter tido nas últimas décadas,

(...) um alargamento do entendimento da violência, uma reconceituação de suas

peculiaridades pelos novos significados que o conceito assume, de modo a incluir e

a nomear como violência acontecimentos que passavam anteriormente por práticas

costumeiras de regulamentação das relações sociais, como a violência intrafamiliar

contra a mulher ou as crianças, a violência simbólica contra grupos, categorias

sociais ou etnias, a violência nas escolas etc. (2011, p.9-10).

Todavia, como dito anteriormente, ainda existem dificuldades para se

conceituar o que é ou não violência. Diante disso, no Brasil se convencionou

adotar as estatísticas de morte por violência como um indicador geral da

ocorrência de violência na sociedade, uma vez que, este seria o principal dado

fidedigno da ocorrência de violência, pois o identificador é a emissão de certidão

de óbito, quando outras fontes de dados mascaram o número real de violência,

dependendo da pessoa que sofreu a violência denunciar o fato, a um órgão oficial.

Retornando ao fato da maior parte da violência estar concentrada nos

grandes centros urbanos, ainda de acordo com Waiselfisk (2011), o espaço urbano

aparece como sintoma, símbolo, representação da civilização e da barbárie

moderna. (Waiselfisk apud Dubet, 2011, p.11).

A violência tal como se expressa na sociedade brasileira, assumiu limites

que são culturalmente permitidos e tolerados, como se fosse algo que faz parte

invariavelmente da sociedade e das relações interpessoais, assumindo um nível de

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tolerância que, por vezes, naturaliza a violência e a torna invisível, silenciosa e

difusa na sociedade brasileira.

Para Nascimento e Cordeiro, parece que nos últimos tempos,

(...) o Brasil descobriu que namoro, violência e juventude se entrecruzam na

dinâmica de diferentes casais de namorados, uma vez que notícias sobre violência

cometidas por ex-namorados ou namorados têm sido amplamente exploradas na

mídia impressa e televisiva. (2011, p.516).

Sendo assim, se no Brasil, os estudos sobre violência no namoro parecem

ser recentes, o mesmo não pode ser dito de países como Estados Unidos e

Portugal. Caridade e Machado (2006) destacam a carência e marginalização de

estudos que focam diretamente na violência ocorrida no namoro, sendo mais

prevalentes os estudos voltados para a violência na relação conjugal.

Um estudo pioneiro no Brasil, organizado por Minayo, Assis e Njaine

(2011), da ENSP/Fiocruz, destaca não só essa questão da pouca produção acerca

da violência ocorrida no namoro, como traz novos contributos científicos a

temática. Segundo as autoras, durante a pesquisa realizada, diversos adolescentes

destacaram a violência psicológica que sofrem durante o namoro como um

problema de efeitos prejudiciais para as suas vidas (2011). Dentre elas se

destacam:

(...) as agressões verbais, as tentativas do parceiro de controlar a vida, as

chantagens emocionais e as pressões que sofrem para realizar certos atos ou adotar

determinadas condutas têm efeitos muito mais duradouros e graves em suas vidas

do que algumas agressões físicas e sexuais pelas quais já passaram (...). (Minayo,

Assis & Njane, 2011, p. 98).

Ainda sobre a mesma pesquisa, o outro tipo de violência amplamente

apontada pelos adolescentes, foi a violência verbal, chegando a atingir 85% das

opiniões dos jovens pesquisados.

Ser vítima desse tipo de abuso implica vivenciar pelo menos um dos seguintes atos

cometidos pelo (a) parceiro (a): brigas por ciúmes, emprego de tom de voz hostil,

ouvir coisas ruins de seu passado e que o deixavam com raiva, insultos,

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depreciações, ridicularizações, ser vigiado para saber onde está, ser culpabilizado

pelos problemas, ser acusado de paquerar outra pessoa e ser ameaçado com o

término do relacionamento. (Minayo, Assis & Njaine, 2011, p. 100).

Esse tipo de violência é encarado pelos adolescentes como um ato

corriqueiro, caracterizado pela perda de controle e necessidade de extravasar a

raiva, reforçando e justificando a cultura de violência presente na sociedade

brasileira contemporânea.

2.2 Violência de gênero no namoro juvenil

Apesar da violência ocorrida contra a mulher ter tido sua maior visibilidade

a partir da década de 1970 em virtude da luta do movimento feminista e da

Organização das Nações Unidas (ONU), foi somente em 1979 que o Brasil passou

a ser signatário do primeiro Tratado de âmbito internacional que visava a

promoção e defesa da mulher, conhecido como “Convenção sobre a Eliminação

de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher”.

Fato similar a esse ocorreria novamente somente durante a década de 1990

que, historicamente, foi a época na qual, conseguiu-se assegurar e ampliar

estratégias, em âmbito internacional, de combate à violência cometida contra as

mulheres.

Dentre as estratégias adotadas pelo governo brasileiro neste período está a

participação do país, como signatário, da “Convenção Interamericana para

Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher”, ocorrida em 1995, assim

como, de duas outras conferências mundiais: a Conferência Mundial sobre

Direitos Humanos (Declaração de Viana)27

, ocorrida em Viena, em 1993, e a

Conferência Mundial sobre Mulher, Desenvolvimento e Paz28

, ocorrida em

Pequim, em 1995.

27Considerada um marco na defesa dos direitos das mulheres, sendo a primeira conferência a

reconhecer internacionalmente os direitos humanos femininos. 28

Recomendou aos governos medidas para o combate à violência contra a mulher.

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Em 2001 se vislumbrou pela primeira vez a possibilidade de se ter um

levantamento de dados não subnotificados, sobre a violência cometida contra as

mulheres. Esses dados seriam levantados através de denúncias individuais sobre

situações de violência cometidas contra a mulher fornecidas por meio do

preenchimento do Protocolo Facultativo da Convenção para Eliminação de Todas

as Formas de Discriminação contra a Mulher.

Todavia, apesar do Brasil ser signatário de vários tratados internacionais,

convenções e conferências, o país não estava cumprindo com o assinado

internacionalmente, fazendo com que, por meio de forte pressão de organizações

internacionais, fosse publicada em 2006 a Lei 11.340/6 ou Lei Maria da Penha29

,

que foi um grande avanço no que concerne à garantia de proteção aos direitos da

mulher.

Em que pesem os avanços obtidos com a Lei Maria da Penha e do fato da

violência ocorrida contra as mulheres, em especial no âmbito privado, ser

considerada uma violação dos direitos humanos, esse tipo de violência ainda está

entre os problemas menos reconhecidos no Brasil. Para Oliveira et al (2011), isso

ocorre em virtude da desvalorização cultural da mulher na sociedade, que a coloca

numa posição subalterna em que o desequilíbrio nas relações de poder tem como

principal efeito a violência ocorrida contra elas.

A violência ocorrida no namoro, assim como a violência ocorrida em outros

tipos de relacionamentos amorosos, está atravessada por questões culturais de

gênero marcadas por polaridades que tendem a enquadrar o masculino e o

feminino como categorias essenciais e naturais, nas quais são estereotipados

papéis específicos para cada gênero. (Minayo et al, 2011).

De acordo com Oliveira et al,

Somos marcados por polaridades que tendem a enquadrar o certo e o errado ou o

masculino e o feminino como categorias essencialistas ou naturais. Romper com

29 A publicação da Lei Maria da Penha possibilitou a criação de mecanismos para coibir a

violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição

Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as

Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a

Mulher. A nova legislação, que modifica a legislação nacional (Código de Processo Penal, o

Código Penal e a Lei de Execução Penal), requer a criação de Juizados de Violência Doméstica e

Familiar contra a Mulher e exige que se coloquem em prática outras providências, de caráter

diverso. (CAMPOS, 2007, p. 10-11).

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tais dicotomias implica o questionamento e a constante reflexão sobre certos

modelos de existência instituídos no campo social. O que é permitido, o que é

interdito, aquilo que é considerado violência ou não são também parte dessa

construção cultural e da mesma forma passam pela reprodução de modelos. (2011,

p. 139).

Atitudes machistas, de controle excessivo e ciúmes são atos corriqueiros e

presentes não só nos relacionamentos amorosos dos adultos como também no

namoro da juventude brasileira.

Segundo pesquisa realizada por Oliveira et al (2011), foi possível observar

que no namoro a violência verbal destaca-se por sua elevada frequência, seguida

da violência sexual sofrida, das ameaças e da violência física.

A presença de pelos menos uma forma de violência no relacionamento

amoroso dos jovens brasileiros é, geralmente, considerada comum e corriqueira,

como algo intrínseco à relação amorosa, quando na verdade é resultado de uma

cultura que romantiza o amor para as mulheres e naturaliza o sentimento de posse

e ciúme para os homens.

Tais atos são, em inúmeros momentos, justificados pelo viés de uma visão

arcaica no qual a mulher é tida como propriedade e objeto de poder masculino.

(Minayo et al, 2011). Esse tipo de visão arraigada na vida social possibilita a

ocorrência de violência nas relações interpessoais.

Oliveira et al chamam esse fenômeno de violência30

cultural entendido

como algo naturalizado e internalizado no dia a dia de uma sociedade (2011,

p.134), cuja cultura

Reúne as formas de pensar, sentir e agir de uma sociedade, por meio da

comunicação, da cooperação e da repetição dessas ações. Toda cultura tende a

adotar como certos alguns comportamentos e práticas e rechaçar outros. A

violência cultural se apresenta inicialmente sob forma de discriminações e

preconceitos que se transformam em verdadeiros mitos. (2011, p. 135).

Esses comportamentos e práticas, culturalmente aceitos, trazem consigo

diversas consequências negativas à saúde física e mental da juventude, que vão

30 A incidência desse tipo de violência é apontada por estudos como o de Méndez e Hérnandez

(2001), Aldrighi (2004), Caridade e Machado (2008) e Minayo et al (2011).

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desde danos imediatos, como uma internação de urgência, até mesmo aqueles de

longo prazo, como depressão, tentativas de suicídio, ansiedade, uso abusivo de

álcool e drogas.

Há também outros estudos31

realizados no contexto universitário que

destacam a coerção sexual ocorrida no namoro como um fator expressivo,

atingindo cerca de 50% das estudantes.

Méndez e Hernández (2001) salientam ainda que nem sempre a violência se

apresenta no primeiro contato, por vezes leva tempo até que ela se manifeste no

relacionamento.

Alguns indícios podem ser observados como forma de alerta para a

prevenção da violência, contribuindo para que a pessoa rompa com essa relação

violenta ou desenvolva conhecimento sobre o que seria considerado uma situação

de violência. Entre os indícios se “destacam, o controle e isolamento, a

agressividade verbal, a falta de reconhecimento dos próprios erros, as diversas

formas de humilhação e depreciação da parceira, etc.” (Mendéz & Hernández,

2001, p. 127).

A convivência diária com atos de violência os mais diversos pode ser um

fator de grande probabilidade à banalização de atos violentos sofridos no namoro.

Segundo Carla Machado, coordenadora de um projeto nacional no Minho,

em Braga/ Portugal, que trata do fenômeno da violência sexual no namoro, o

número de jovens entre 15 e 25 anos que sofre violência no namoro chega a

atingir 25%. Segundo a pesquisadora,

(...) o fenômeno é ainda mais preocupante nas novas gerações, que começam a

agredir-se cada vez mais cedo, no ensino secundário e profissional. [Chegando] a

tolerar a violência sexual, pois, para eles, relações sexuais forçadas não são o

mesmo que violação, nem sequer são crime. (Machado, p.1, s/ano)

Para esses jovens, apalpões, toques, ciúme e o próprio ato sexual não são

entendidos como atos de violência, sendo considerados até mesmo como prova de

amor, que Minayo et al, interpretam como estratégias românticas orientadas por

valores de dominação e subjugação, ou seja,

31 CARIDADE e MACHADO (2008) e ALDRIGHI (2004).

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(...) muitos meninos fazem uso de estratégias românticas para transar com suas

parceiras, com o argumento de que isso é prova de amor. E, muitas meninas, em

tais circunstâncias, reproduzem valores de subjugação. (...) A pressão para transar

costuma acontecer já no ‘ficar’ em alguns casos e se torna comum na situação de

namoro que representa, para os jovens de hoje, um compromisso bastante forte,

embora informal. (2011, p. 208).

Navarro (2004) acrescenta, que os jovens em busca da defesa do que

entendem por “amor romântico”, acreditam que o amor verdadeiro ultrapassa o

limite da razão, onde todos os atos são desculpados e feitos em nome do “amor”.

Dentre as atitudes de violência praticadas em nome desse “mito do amor”

estão a chantagem, a manipulação, as ameaças, a força física, a imposição da

ingestão de álcool e drogas, dentre outros.

Esses atos de violência acabam sendo produzidos e reproduzidos pela via de

um poder simbólico32

, no qual mecanismos sutis de dominação e exclusão são

utilizados com o propósito de obter o controle de um sobre o outro. (Bourdieu,

1999; Vasconcellos, 2002).

No imaginário do amor romântico, em que se idealiza um parceiro,

projetando nele um futuro a ser compartilhado, o namoro pode ultrapassar os

limites da razão, tudo se desculpando em defesa desse amor (Gomes, 2011).

Segundo Mendéz e Hernández, “a idéia romântica de que no amor pode

tudo, joga contra as mulheres (...) socializadas para tolerar as adversidades que

afetam as relações, coisa que não ocorre com os homens” (2001, p. 128).

A ocorrência de violência no namoro diverge da crença de que esse período

seria a melhor fase da vida de um casal e, lidar com essa violência, muitas vezes

simbólica, constitui um grande desafio. Acrescente-se a isso a inexistência de

ações consolidadas de prevenção à violência no namoro juvenil.

Esse dado pode estar relacionado com o fato das questões relativas ao

namoro e a relação homem/ mulher ainda serem concebidas como problemas de

32 Quando os modelos hegemônicos de gênero são padronizados para pensarmos o ‘ser homem’

em oposição ao ‘ser mulher’, a violência simbólica pode ser instaurada. Isso ocorre principalmente

quando se associam mecanicamente certas características consideradas como femininas às

mulheres e, em contrapartida, as vistas como tipicamente masculinas aos homens. Essa associação,

em que se exclui a possibilidade de essas características se intercambiarem entre o ‘ser homem’ e

o ‘ser mulher’, pode configurar uma faceta da violência simbólica. (GOMES, 2011, p. 145).

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ordem privada, o que num futuro próximo poderá contribuir para que a violência

iniciada no namoro continue sendo reproduzida no casamento.

Minayo et al (2011) enfatizam a necessidade de ampliarmos estudos e ações

voltadas a prevenção das situações de violência no namoro juvenil, uma vez que

esse tipo de violência já é considerada preditiva da ocorrência de violência no

contexto conjugal.

É preciso para isso que seja desnaturalizado as diversas formas de abuso

ocorridas nas relações interpessoais. Com base em Minayo et al

(...) grande parte dos rapazes e moças considera normal a agressão verbal ou física

na resolução de seus conflitos amorosos. Romper com tais práticas e

representações implica o questionamento e a constante reflexão sobre certos

modelos de existência instituídos no campo social. (2011, p. 209).

Diante disso, compreender como se configura o fenômeno da violência de

gênero no namoro exige de todos, um olhar diferenciado visando a

desnaturalização desse complexo fenômeno.

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3 Sentidos atribuídos por estudantes universitários à violência ocorrida no namoro

“(...) se você chega ao ponto de agredir é porque ou o ponto de vista tá muito

absurdo, ou porque a coisa tá realmente muito séria, se você aceita uma vez você vai dar

brecha pra aceitar a próxima, a próxima, a próxima (...)”. (F9)

3.1 Percurso metodológico

Para tentar responder às questões orientadoras desta dissertação optou-se

por uma abordagem qualitativa uma vez que, segundo Minayo, é o tipo de

pesquisa capaz de trabalhar melhor com o universo dos significados, valores,

motivos, aspirações, correspondendo a um espaço mais profundo das relações, ou

seja, um processo que não pode ser quantificado. (Minayo et al, 2001).

A abordagem qualitativa se preocupa em compreender e explicar com maior

aprofundamento e abrangência a dinâmica das relações sociais seja esta, de um

grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma política ou de uma

representação. (Minayo, 199, p. 102).

Consideramos a abordagem qualitativa a mais adequada, uma vez que o

objeto de investigação requeria considerar os sentidos atribuídos por

universitários à violência de gênero ocorrida no namoro.

Ao discorrer sobre a contribuição das abordagens qualitativas para a análise

de questões, Deslandes e Gomes (2004) afirmam que as discussões sobre elas

remetem “a uma ampla diversidade de vertentes e filiações oriundas da sociologia,

antropologia, psicologia, história, dentre outras disciplinas afins.” (p. 103).

Deslandes e Assis (2002) acrescentam que o estudo qualitativo também tem “(...)

a pretensão de trabalhar com o significado atribuído pelos sujeitos aos fatos,

relações, práticas e fenômenos sociais: interpretar tanto as interpretações e

práticas quanto as interpretações das práticas.” (p.197).

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A relevância que as autoras conferem à interpretação do material coletado se

processa quando apenas a descrição dos fatos não é mais suficiente. Nesse

momento, a descrição sistematizada das informações e dados coletados, durante a

realização de entrevistas, constitui, tão somente, uma condição prévia que vai

possibilitar a produção de um conhecimento novo.

É, portanto, esse conhecimento gerado a partir das sucessivas aproximações

com a realidade que vai fazer com que o pesquisador assuma uma postura

interpretativa. (Deslandes & Gomes, 2004).

Como instrumento de coleta de dados foi adotado a entrevista semi-

estruturada, baseada em roteiro, com perguntas abertas e fechadas formuladas a

partir do delineamento do objeto. Essa entrevista foi gravada em MP3 e

posteriormente transcrita, conforme descrito no Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) (Anexo 1). O roteiro da entrevista (Anexo 2) foi estruturado

em 3 eixos: 1. Dados de identificação; 2.Namoro; e 3.Violência no namoro.

Foram convidados a participar da presente pesquisa os alunos do curso de

Graduação em Serviço Social da PUC-Rio. A opção por estes universitários se

deu em função da facilidade de acesso aos mesmos, interesse da Coordenação do

Curso no desenvolvimento da pesquisa e a necessidade de observação dos prazos

estabelecidos pela CAPES para a realização de um mestrado.

Os critérios de inclusão para a participação nas entrevistas foram: 1. Estar

matriculado e cursando o curso de graduação em serviço social da PUC-Rio; 2.

Idade entre 18 e 24 anos; 3. Ambos os sexos; e 4. Concordar em participar.

A opção por essa faixa etária se deu em função da juventude, recorte etário

deste estudo, ser considerada tanto pela OMS, quanto pelo Ministério da Saúde

brasileiro como sendo o período compreendido entre 15 e 24 anos. Todavia, em

virtude da idade mínima brasileira considerada como maioridade legal ser de 18

anos, optamos por fazer um recorte dentre a faixa etária da juventude,

considerando a mesma a partir dos 18 e não dos 15 anos.

Em relação ao número de estudantes entrevistados, foi observada a técnica

de saturação de respostas que consiste em suspender a inclusão de novos

participantes, quando os dados avaliados passam a ser redundantes ou repetidos,

tornando assim, dispensável à coleta de mais dados (Fontanella, Ricas, Turato,

2008).

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Para a análise das falas dos entrevistados foi utilizada a técnica de análise de

conteúdo, na modalidade temática, que consiste em descobrir os núcleos de

sentido que compõe uma comunicação cuja presença ou freqüência signifiquem

alguma coisa para o objeto analítico visado (Minayo, 1994).

Com o propósito de assegurar o anonimato dos participantes do estudo,

adotou-se a identificação (F) para as mulheres e (M) para os homens, seguidos da

numeração ordinal correspondente a participação na pesquisa.

A fim de realizar a análise dos dados foram adotadas as seguintes etapas: 1.

leitura flutuante; 2. definição das categorias de análise; 3. identificação dos

núcleos de sentido; e 4. análise e articulação com os referenciais teóricos.

A pesquisa foi submetida e aprovada pela Câmara de Ética (Anexo 3) do

Conselho de Ensino e Pesquisa da PUC-Rio em sua 442ª reunião realizada em

11/07/12, em cumprimento à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,

que regulamenta pesquisas envolvendo seres humanos.

Foi solicitado à Coordenação de Graduação do Departamento de Serviço

Social da PUC-Rio autorização (Anexo 4) para realização das entrevistas junto

aos alunos de graduação do curso de Serviço Social, tendo sido autorizado em

05/09/2012.

Com o propósito de estimular a participação dos alunos no referido estudo,

foi realizado contato direto nas turmas do 2º, 4º, 6º e 8º períodos do curso de

graduação em Serviço Social, no qual foi feito convite aos estudantes para

participar da mesma, apresentando o foco do estudo, os critérios de inclusão para

a participação e, neste primeiro contato, coletando os dados daqueles alunos que

gostariam de participar da pesquisa de maneira voluntária, para que

posteriormente pudesse ser agendada a entrevista em lugar mais adequado.

Cabe informar que os períodos do curso de Serviço Social da PUC-Rio

seguem a ordem de entrada dos alunos na universidade. O curso de Serviço Social

não possui entrada de alunos no meio do ano. Assim, como a pesquisa foi

realizada no segundo semestre de 2012 as turmas correspondiam apenas a

períodos pares.

Após este primeiro momento, foi realizado contato telefônico com os alunos

que demonstraram interesse em participar da pesquisa, agendando dia e horário

para a realização das entrevistas. A Coordenação da Graduação disponibilizou, no

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próprio Departamento, uma sala para que as entrevistas ocorressem de forma a

que os alunos se sentissem respeitados quanto à sua segurança e privacidade.

As entrevistas foram realizadas entre o período de 11/09/2012 a 20/09/2012,

contaram com a participação de 14 alunos, sendo 11 moças e 03 rapazes e tiveram

duração total de 5 horas, 16 minutos e 40 segundos. Houve predomínio da faixa

etária de 20 a 24 anos, não tendo sido entrevistado nenhum aluno(a) com idade

inferior a 18 anos e nem maior de 25 anos.

O período do curso no qual foi possível encontrar mais estudantes dentro

dos critérios de participação desta pesquisa foi o 2º período do Curso de

graduação em Serviço Social.

3.2 Namoro

Neste subcapítulo foram analisados os resultados relacionados com a

temática “Namoro”, os quais foram agrupados dentro das seguintes categorias: 1.

Sentidos atribuídos ao namoro; 2. Tipos de relacionamentos; 3. Intimidade no

namoro; 4. Prova de amor e 5. Gravidez.

A fase da juventude é, geralmente, entendida como um período de transição

para a conquista da autonomia psicológica e emocional, no qual as relações

íntimas que se desenvolvem conferem, ao mesmo tempo, segurança emocional e

uma forma de distanciamento das relações parentais. (Bertoldo & Barbará, 2006).

É dentro dessa fase de transição, que se coloca o namoro e seus significados

para a juventude contemporânea. Muitos são os estudos33

que tentam conceituar o

significado de namorar, ficar, pegar, dentre outros tipos variados de

relacionamentos amorosos praticados na atualidade, apesar desta não ser uma

tarefa fácil.

33 Ver Vieira e Cohn (2008), Oliveira et al (2007), Bertoldo e Barbará (2006); Jesus (2005, Justo

(2005), Rieth (2002) e Malaggi et al (s/ano);

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Segundo o estudo, no que diz respeito a categoria “sentidos atribuídos ao

namoro”, a maioria dos entrevistados definiu namoro como uma relação de

respeito, dedicação, companheirismo e amor.

“Uma relação de respeito, onde cada um saiba... respeitar o espaço do outro, os

limites, né? Entre esse relacionamento, mostrar-se, né, dedicar-se a pessoa.” (M1)

“Namoro pra mim... tem que ter o amor, que realmente tem que ter o respeito, que

tem que ter um sentimento verdadeiro...”. (M3)

“Acho que namoro pra mim é uma troca de companheirismo, é estar do lado de

alguém que se gosta, o respeito também, o namoro se baseia num respeitar com

quem você está do lado, independente de sexo ou qualquer coisa.” (F1)

“Namoro pra mim, eu acho que é um relacionamento entre duas pessoas, que tem

que haver cumplicidade, respeito.” (F4)

“...Namoro é disponibilidade, é entrega, é companheirismo, parceria,

entendeu?...”. (F11)

De acordo com Bertoldo e Barbará, “o namoro é caracterizado, sobretudo,

pela estabilidade da associação entre duas pessoas, que é inversamente

relacionado à probabilidade que uma pessoa vai deixar a relação.” (2006, p. 229).

Autores como Malaggi et al acrescentam que namoro pressupõe,

“compromisso, fidelidade, dedicar mais tempo à pessoa, podendo ou não envolver

sexo (...) envolve amor, confiança e demonstração de afeto”. (s/ ano, p. 5),

significados similares aos levantados por este estudo.

Oliveira et al afirmam ainda que “o namorar tende a ser representado (...)

como decorrente de um ato contínuo (...) que, com o tempo e a permissão de

ambos, ganha contornos de maior compromisso e de oficialidade frente à família e

ao grupo social”. (2007, p. 501).

Assim, o namoro acaba adquirindo um status de relacionamento duradouro,

sério, no qual se pressupõe conhecer e participar socialmente dos eventos

familiares dos pais do(a) namorado(a), assim como estar mais disponível para a

pessoa amada.

Atualmente o ato de namorar “envolve, para a grande maioria,

compromisso, beijo, abraço, fidelidade e carícias. Para a metade destes (...) o

namoro envolve sexo”. (Malaggi et al, s/ano, p. 4).

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O namoro conforme é concebido e vivenciado nos dias atuais, em nada se

parece com a forma de namorar das décadas de 30, 40 e 50 que aos jovens só

eram permitido o chamado flerte, a troca de olhares, sorrisos e gestos.

O namoro galante, cortês, que era mantido com regras muito bem definidas,

com encontros marcados e aos olhos dos pais, seguidos de diálogos constantes e

discussões sobre o futuro, foram trocados com a chegada do movimento hippie,

que queria o amor livre, sem a obrigatoriedade da existência de consentimento dos

pais.

Da mesma forma, na década de 1980 deu-se início a chamada “amizade

colorida”, seguido dos anos 1990 da prática do ficar, um relacionamento casual e

momentâneo (Jesus, 2005), presente até os dias atuais, mas com novos contornos

e fragmentação, surgindo também o pegar, um relacionamento espontâneo com

liberdade completa. (Oliveira et al, 2007).

A análise das entrevistas, permitiu observar também o quanto o

temperamento do(a) namorado(a) pode influenciar para o início ou término da

relação.

Neste caso, a maioria dos entrevistados apontou a sinceridade,

honestidade, responsabilidade, simpatia, afinidade, integridade, o caráter e o

humor, como aspectos determinantes para a ocorrência do namoro.

“Eu acho que sinceridade é uma das coisas que eu valorizo muito também, são

rapazes responsáveis sabe? Responsabilidade com trabalho, com a família. Eu

procuro ver também como é que ele se relaciona com os pais, eu acho isso

importante. Principalmente, sinceridade, responsabilidade, são as primeiras

coisas assim que eu começo a observar e o relacionamento com a família.” (F2).

“Sinceridade, honestidade e a pessoa ser compreensiva ...”. (F3).

“Afinidade, ter coisas em comum comigo, me fazer rir, me sentir bem ...”.

(F5).

“Bom humor, simpatia, é... sinceridade, essas coisas.” (F10).

“O respeito pelo outro, pelo o que o outro faz, né (...) a compreensão pelo

que o outro faz, acho que pra mim é primordial.” (M2).

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De acordo com uma pesquisa coordenada por Goldenberg e Jablonshki

(2001), o bom humor é muito valorizado por ambos os sexos, ocupando o

primeiro lugar entre as qualidades esperadas no parceiro pelas mulheres e o

segundo lugar pelos homens.

Como foi possível constatar as relações íntimas vêm sofrendo bruscas

modificações ao longo da história recente. É fato que o namoro, antes da

revolução sexual, consistia em uma relação que antecedia o casamento, tinha curta

duração e as interações eram controladas pelos pais. Atualmente, diversos tipos de

relacionamento interpessoais são definidos como namoro, desde uma relação curta

e sem compromisso até a co-habitação. (Bertoldo & Barbará, 2006).

Diante de tantas mudanças sociais e culturais, a juventude vive a tensão

gerada pelo modelo de namoro antigo e da atualidade, sendo atraídos tanto pela

promessa de segurança, confiança e fidelidade fornecida pelo namoro antigo,

como também pela promessa de maior independência, liberdade e autonomia do

namoro atual.

É dentro deste contexto que aparece o ficar como principal núcleo de

sentido presente na categoria “tipo de relacionamento”. Neste caso, o ficar é

entendido pelos participantes como um relacionamento sem nenhum

compromisso, que poderá ou não evoluir para um namoro no futuro.

“É a pessoa com quem você tá se relacionando sem nenhum compromisso..., de tá

todo dia, de ligar toda hora, de da satisfação, não tem muito isso, você fica quando

quer, quando você não quer não fica.” (F1).

“... ficar, eu acho que sei lá, aconteceu de conhecer alguém noite passada, ai a

pessoa me ligou, a gente tá ficando, acho que é o ato antes do namoro.” (F5).

“Hoje em dia tem a ficada... tem uma, minha irmã até diz que tem o fixo. A pessoa

que ela fica sempre, mas que ela faz o que ela quiser a hora que ela quiser, que

é exatamente pra não manter o compromisso sério, é só ter com quem ficar quando

tiver sozinha.” (F9).

“Assim o ficar, você fica com a pessoa, sei lá... troca uns beijos por ai, mas sem

compromisso nenhum, entendeu? Você encontra, pode ser que você fique, pode ser

que você não fique.” (F11).

“... o ficar, que você não tem compromisso nenhum com a pessoa, que você tá

ficando, fica com uma pessoa hoje e amanhã fica com outra, e depois com

outra...” (M3).

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Abramovay, Castro, Silva (2004) ressaltam o ficar como uma forma de

interação afetiva e sexual da juventude contemporânea, no qual as regras e os

acordos são menos complexos e passa a ser uma alternativa ao namoro.

Ainda de acordo com os mesmos autores,

Em muitos depoimentos, sejam eles de moças ou de rapazes, o ficar é classificado

como uma modalidade de interação afetiva caracterizada pela superficialidade e

pela ausência de compromisso. Os depoimentos indicam que esse tipo de interação

traz para os jovens uma certa descontração no que se refere aos códigos

estabelecidos para as relações de namoro. (Abramovay, Castro, Silva, 2004, p. 88).

Para Justo, “o ficar é um relacionamento afetivo bastante popular entre os

adolescentes e caracteriza-se por ser breve, passageiro, imediatista, volátil e

descompromissado.” (2005, p. 61), que, na maioria das vezes, tem duração de

apenas algumas horas ao longo de uma noitada, sem maiores consequências ou

envolvimentos futuros.

Já para Oliveira et al,

O ficar, por sua vez, é descrito como um relacionamento em que os atores sociais

possuem uma intimidade e uma proximidade maiores, se vêem em uma freqüência

que pode adquirir uma regularidade e até desembocar em um namoro. (2007, p.

500).

Como se pode perceber definir o ato de ficar não é fácil e depende da

perspectiva que cada autor tem do que seja esse tipo de relação amorosa.

Entretanto, pode-se afirmar que, na prática, as três definições destacadas pelos

autores, Abramovay, Castro, Silva (2004), Justo (2005) e Oliveira (2007),

procuram caracterizar a vivência contemporânea do ato de ficar pela juventude.

Essa vivência vem sendo expressa pela juventude como um tipo de

relacionamento descompromissado, o que pode estar demonstrando certo

desencanto da juventude com o relacionamento duradouro, o casamento e a união

estável ou até mesmo, estar relacionado com processos identitários geracionais e

com o desejo de ser diferente dos pais.

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Todavia, ainda que o ficar seja a novidade dos dias atuais e que no seu

discurso haja certa flexibilização das relações hierárquicas tradicionais de gênero,

onde se pressupõe interações igualitárias entre rapazes e moças, na prática ainda

são vivenciados conflitos relativos à permanência de valores relacionados aos

papéis distintos atribuídos à homens e mulheres na sociedade.

De acordo com estudo realizado por Abramovay, Castro e Silva, para os

rapazes a prática de ficar com várias moças, recebe uma valorização positiva

(...), reeditando os princípios e respaldando o sistema de valores sociais e morais

que dignificam a masculidade. O que vale é a possibilidade de se tornar cada vez

mais experiente na amorosidade e sexualidade. Para as moças, o ficar pode

estabelecer limites (...) diferentemente dos jovens, uma variedade grande de

parceiros resulta numa atribuição de valor negativo. Ainda que, para ambos, o ficar

venha se tornando uma possibilidade, (...) fluida para a iniciação dos jogos

amorosos e sexuais (...) persistem, com o ficar, códigos restritivos, preconceitos e

interdições. (2004, p. 92).

Porém, diferentemente da unanimidade que o núcleo de sentido ficar

adquiriu entre as respostas dos participantes, a possibilidade de se relacionar

amorosamente pela internet, também ganhou destaque e dividiu a opinião dos

entrevistados, demonstrando o quanto é difícil caracterizá-lo.

Para uma parte dos entrevistados, a internet tem sido considerada um espaço

de interação social onde novas formas de se relacionar estão sendo construídas,

seja pela sua praticidade, por diminuir a distância entre as pessoas ou por poder

auxiliar os mais introvertidos a se comunicarem. Diante disso, a internet acaba se

constituindo num espaço em que a aproximação e a interação são amplificadas.

“Eu acho que sim. Sim. Eu acredito mais em um relacionamento pela internet,

principalmente assim, no começo. No começo do namoro, no começo do

relacionamento, mesmo porque você tá conhecendo e eu acho que, ajuda bastante,

e também a falta de tempo que existe hoje em dia.” (F7).

“Acho que sim! Acho que através de uma conversa, né? Você acaba descobrindo

afinidade com outra pessoa e se identificando...” (F11).

“Eu acho que é possível sim, se houver fidelidade eu acho que sim.” (M2).

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Autores como Vieira e Cohn (2008) acreditam que o principal fator que

contribuiu para a ampliação e generalização do acesso a internet, nos últimos anos

está associado à despreocupação com a imagem física, com o corpo visível, com a

necessidade de contato físico.

(...) quando as pessoas se conhecem na Internet, a aparência física de cada um

influencia menos do que em uma relação presencial; aproximamo-nos das pessoas

mais pela conversa, pelas idéias. (...) Outro aspecto interessante nas relações

virtuais é a privacidade, muitas vezes a interação instantânea se restringe às

pessoas que estão interagindo. Isso faz com que esses momentos possam ser

extremamente íntimos, de maneira semelhante, a quando estamos completamente a

sós com outra pessoa. (2008, p. 97).

Já para outra parte dos entrevistados, é impossível manter um

relacionamento amoroso pela internet.

“Não, acho que é impossível, mas também não acredito que seja concreto. Você

pode gostar da pessoa, mas eu acho que, mesmo conhecendo, palavras é diferente

no ato, então você pode conversar muito bem com a pessoa, ter muita afinidade,

mas quando você conhecer pessoalmente ela pode não ser aquilo tudo que é

virtualmente.” (F5).

“Não, nem pensar, na minha concepção não! Porque eu sou uma pessoa assim...

pelo menos, na minha idéia de relacionamento, a pessoa tem que tá junto, que tá

perto, sabe? Aquela coisa de calor humano, de toque, de conversar frente a

frente... sabe? No meu pensamento não existe, pela internet, nem pensar!”. (F10).

“Acho que não, porque você não consegue transmitir pra pessoa através da

escrita, eu acho né, aquele papo que você tá..., a noção das palavras, eu posso

dizer uma coisa, mas o tom soar diferente... Não! Não acredito muito nisso não.”

(M1).

Ainda segundo Vieira e Cohn,

O preconceito contra as relações amorosas apenas virtuais ainda é grande (...) a

internet é considerada um ótimo lugar para conhecer outras pessoas e construir

amizades, mas, para uma relação amorosa, o risco de ilusão é considerado maior do

que em relações presenciais, e a presença do corpo ainda é considerada, por alguns,

indispensável. (2008, p. 106-107).

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Em geral, o que foi possível constatar através da análise dos resultados foi

que, àqueles que consideraram a possibilidade de se relacionar amorosamente pela

internet, o fez ou porque já vivenciaram a experiência e deu certo ou porque

conheciam alguém que já vivenciou. Nesses casos,

Defendem que a aproximação é facilitada pelas ferramentas virtuais, que a relação

está mais ligada à personalidade da outra pessoa do que à atração física e que é

mais fácil conhecer o outro na esfera virtual do que presencialmente, assim como

que a manutenção do relacionamento é menos conflituosa. (Vieira & Cohn, 2008,

p. 109).

Ao analisar a categoria “intimidade no namoro” foi possível observar que

a maioria dos entrevistados acredita que manter relações íntimas com o(a)

parceiro(a) faz parte do namoro e que o fato de ter maior intimidade contribui para

a realização do ato sexual.

“... eu acho que hoje, não por mim, mas assim, pelo que eu vejo, é praticamente

essencial, principalmente a parte do homem (...) mas, admiro muito quem

consegue ter um relacionamento sem relação sexual.” (F4).

“Sim, acho que é inevitável, dependendo do objetivo de vida da pessoa, da religião

também, mas acho que uma hora há de acontecer.” (F5).

“Sexo? Sim. Hoje em dia é quase fundamental, é muito raro você... só as pessoas

mais...evangélicas que, dependendo da pessoa, se for muito fiel, opta por não ter

relação sexual, mas normalmente sim.” (F9).

Segundo Rieth (2002), a relação sexual no namoro é apontada pela

juventude como algo inevitável, uma conseqüência de maior intimidade do casal.

“As jovens elegem os namorados como parceiros ideais, enlaçando o sexo no

contexto de uma relação amorosa” (Rieth, 2002, p. 79).

No entanto, há que se observar que, apesar dessa maior liberdade fornecida

à mulher na teoria, no momento em que essa liberdade passa a ser vivenciada na

prática, ainda predominam o preconceito e estereótipos de papéis socialmente

construídos.

De acordo com pesquisa realizada por Justo (2005) esse tipo de preconceito

é praticado também nos dias atuais e pelas próprias meninas, que tendem a

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recriminar àquelas que “ficam” com bastante frequência, principalmente se o

“ficar” envolver relações sexuais. “(...) essas meninas passam a ser vistas como

“galinhas”, “não-sérias” e “não-confiáveis”, passíveis de rejeição tanto da parte

dos meninos como das meninas”. (2005, p. 74).

Percebe-se então, o quanto os papéis tradicionais de gênero continuam

presentes e fortalecidos na sociedade contemporânea, no qual às mulheres são

estimuladas a atrasar ao máximo sua primeira relação sexual sendo exigidas

posturas conservadoras e recatadas, e os homens, a serem fortes, viris e a

demonstrarem sua masculinidade através do início precoce da atividade sexual.

(Gubert & Madureira, 2008).

No entanto, outros entrevistados discordaram do fato do namoro ser um

espaço no qual possa ocorrer relações íntimas.

“Ah! Relação íntima num namoro... eu não concordo, não concordo porque tipo

(...) meu pensamento em relação a isso é de acordo com a Bíblia, sabe? (...) ela é

bem clara na relação que, assim, que a relação tem que ser depois do casamento e

eu sou de acordo com a palavra de Deus, eu vivo aquilo.” (M3).

Esta discordância pode ter relação com a maneira como a religião é

vivenciada pelos sujeitos pesquisados podendo interferir na vida cotidiana. Em

geral, as religiões procuram orientar os jovens com ensinamentos que defendem a

abstinência sexual como o método contraceptivo a ser praticado antes do

casamento e que a relação sexual deve ser praticada unicamente para os fins de

procriação e não para satisfação do desejo sexual.

A relação entre o início da vida sexual e a religiosidade é reconhecida por

autores como Hardy e Raffaelli (2003), apesar de ainda ser uma temática pouco

explorada na literatura científica, especialmente no Brasil.

Outra parte dos participantes entende que ter o namorado como um amigo

é uma consequência de maior intimidade adquirida durante a relação amorosa.

“Pra mim, intimidade é você poder contar pra pessoa, qualquer coisa, acho que é

você ter um amigo pra além de um namorado, um amigo, de você ter feito uma

besteira e poder contar com aquela pessoa, eu acho que é... se baseia nisso.” (F1).

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“(...) meu amigo é meu namorado, eu acho que essa é a melhor e maior das

intimidades, porque quanto mais você tem diálogo, melhor né?” (F4).

Bertoldo e Barbará, sobre a intimidade no namoro, salientam que as relações

íntimas são pensadas baseadas em representações compartilhadas, no qual a

parceria e a amizade prevalecem, “revelando deste modo um pacto de

mutualidade que dura enquanto a relação satisfizer a ambos” (2006, p. 235).

Nesse tipo de discurso, o namoro é entendido também por uma relação de

amizade que possibilita conhecer e aceitar melhor o parceiro, sendo este

considerado aquele com quem pode contar nos momentos difíceis. Da mesma

forma, há também a idéia de fidelidade e cumplicidade, visando à felicidade

mútua e o respeito à individualidade do parceiro.

A amizade na relação do namoro indica uma mudança na forma como o

namoro era visto antes e aponta para uma direção no qual prevalece uma relação

mais igualitária entre os parceiros, todavia, apesar dessa mudança há distinções

claras de gênero, no qual o papel atribuído aos homens é diferente do atribuído às

mulheres.

Vale relembrar que as moças vinculam a relação sexual no namoro a

estarem com a pessoa que amam, que tem afinidade e intimidade.

“Foi legal, foi muito bom. Assim porque, meu noivo foi meu primeiro e único

relacionamento assim, né? Sexual, e foi uma experiência muito boa.” (F2).

“Olha, assim, foi tranquilo porque, foi com esse namorado que eu to hoje, a gente

conversou muito antes, era a minha primeira vez e era também a primeira vez

dele...” (F7).

Já os rapazes entendem a relação sexual no namoro como algo que faz parte

da relação. A busca masculina, em geral, é pela experiência sexual e esta não

pressupõe a necessidade da existência de um vínculo afetivo forte para que ocorra

a relação sexual.

Também foi possível observar nesta categoria que dois dos entrevistados

não haviam tido a sua primeira experiência sexual. Neste caso, a relação

sexual não foi apontada como algo intrínseco ao ato de namorar, como para outros

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participantes e sim como um ato que deve acontecer com alguém especial, do qual

se goste verdadeiramente. “Não. Tô esperando alguém especial... mas se tiver

uma namorada que eu goste e tal mesmo, que eu veja mesmo que é aquilo que eu

quero pra minha vida, aí sim.” (M2).

Rieth (2002) afirma que a virgindade tende a aparecer como um valor

pessoal e íntimo, atribuído à dependência de encontrar a pessoa certa, sendo

provável que a primeira relação sexual aconteça durante o namoro.

A virgindade vem sendo re-significada na contemporaneidade através de

novos discursos, “mas permanece uma referência que norteia comportamentos,

delimita atitudes e ainda é um marco na diferenciação dos gêneros na cultura

brasileira”. (Abramovay, Castro, Silva, 2004, p. 73).

Persiste no imaginário social a idéia de que o sexo masculino deve ser viril e

iniciado sexualmente o mais rápido possível – o que muitas vezes é feito com a

conivência e apoio dos próprios pais – para que com isso adquiram mais

experiência e eficiência na vida adulta.

Esse tipo de comportamento é destacado por Abramovay, Castro e Silva, no

qual os adultos de referência, como os pais,

Colaboram na reprodução de tal ideologia de gênero, considerando que homens e

mulheres podem lidar diferentemente com apelos da libido, e que as jovens,

“naturalmente” dominam a vontade sexual, retardando sua iniciação. (2004, p.

74).

Ainda com base em Abramovay, Castro e Silva, a iniciação sexual34

é

considerada um rito de passagem que envolve o trinômio infância-adolescência-

juventude na busca pela afirmação da virilidade e da autonomia,

O que no senso comum se traduz como o “tornar-se homem” e o “fazer-se

mulher”, perpassando, portanto, sentidos identitários diversos, como o que se

entende por masculino e feminino e as realizações das trocas afetivas. (2004, p.

68).

34 A idade da primeira relação sexual tem sido usada como um indicador pela literatura atual para

amparar o debate sobre iniciação sexual. A idade média da primeira relação sexual no Estado do

Rio de Janeiro é de 14,4 anos para o sexo masculino e 15,2 anos para o sexo feminino. (UNESCO,

2001).

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É dentro desse contexto sócio-cultural que são expressas a sexualidade

feminina e masculina. No caso do sexo feminino, a lógica em relação à iniciação

sexual é bem diversa da expressa e socializada aos do sexo masculino. “A

ausência de experiência sexual é vista como uma estratégia de seleção para

relacionamentos que entrelacem o sexual com o afetivo, em um plano de relação

estável (...)”. (Abramovay, Castro, Silva, 2004, p. 74).

As mulheres continuaram, em sua maioria (82,9%), guardando a primeira vez para

ser compartilhada com pessoas cujo relacionamento compreendesse um

compromisso, como, por exemplo, namorados ou noivos, persistindo uma idéia não

apenas romântica sobre o sexo, mas também de “entrega”. (Borges & Schor, 2005,

p. 504).

Esses dados demonstram que ainda vigoram mecanismos de controle e

coerção que atuam por meio de um poder simbólico, sobre o desejo dos jovens em

iniciar ou não sua vida sexual.

Dessa forma, os rapazes se vêem pressionados socialmente, pelos pais e

amigos a iniciar o mais rápido possível a vida sexual e as moças são compelidas a

retardarem o máximo possível a mesma prática sexual, visando com isso evitar

sofrer preconceitos e discriminação pela sociedade e pelos namorados.

Abramovay, Castro e Silva acrescentam ainda que (...) o que mais preocupa

as moças é o receio de que a condição de não serem mais virgens provoque o

afastamento dos namorados e a perda de consideração por parte desses e do

encanto nas relações, o que potencializa inseguranças (2004, p. 83).

Sobre esse sentimento de insegurança foi possível observar neste estudo que

parte dos entrevistados que informou ter tido sua primeira experiência sexual, a

vivenciou com medo e insegurança.

“Foi muito insegura, muito medo, eu acho que por ser muito nova, assim, muito

diferente, então... eu acho que a gente pensa muito nos pais, na reação dos pais

saberem, não sei o que? (...) Aquela coisa muito de virgindade, de ficar grávida,

entendeu? (...) o medo que segurou um tempão, mas depois acabou acontecendo.”

(F3).

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Como foi possível perceber a primeira relação sexual vem sendo relatada

pela juventude como uma oportunidade que se apresenta de repente, sem qualquer

planejamento, embora seja esperada.

O medo e a insegurança estão muito mais associados ao risco dos pais

descobrirem e da gravidez, do que de contraírem alguma doença sexualmente

transmissível (Rieth, 2002).

Aponta também para a dificuldade desses jovens negociarem métodos

seguros de prevenção de DST/ AIDS e gravidez não planejada, o que tende a

aumentar ainda mais a sensação de insegurança e medo, como se o ato sexual

fosse um erro, ou algo feio que devesse ser feito escondido.

Outra parte dos participantes afirmou que a primeira relação sexual, embora

tenha acontecido naturalmente, estava sobre efeito de bebida alcoólica e não

esperava que a primeira relação ocorresse da forma como ocorreu.

“Foram tranquilas, foram todas muito tranquilas, apesar da minha primeira vez

ter sido com uma garota de programa, foi bem... tenso, porque ela era minha

amiga, mas era algo que a gente não esperava, tava todo mundo bêbado e acabou

acontecendo, além de ter sido a minha primeira relação homossexual (...) “. (F9).

O uso de álcool é entendido por diversos autores como Torres, Beserra e

Barroso (2007) e Silva et al (2005) como um fator potencializador de

comportamentos de risco.

Segundo Silva et al (2005), o uso de álcool favorece a adoção de práticas

irresponsáveis como dentre outras coisas, a prática sexual desprotegida.

Torres, Beserra e Barroso destacam ainda que

Graças ao atual formato das relações de gênero desiguais, as mulheres encontram-

se em uma situação de grande vulnerabilidade em relação às doenças sexualmente

transmissíveis (DSTs) em decorrência de seu comportamento sexual desprotegido,

creditando confiança nos parceiros. (2007, p. 297).

Outros participantes do estudo destacaram que sua primeira relação sexual

foi realizada por meio da contratação de serviços sexuais fornecidos por

prostitutas.

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“Já, ahhh foi algo assim... foi na época em que eu... eu queria só assim tipo,

experimentar, sabe? (Risos) tipo, época em que sei lá, posso falar? Meu pai me

levou pra um lugar e tal, com prostitutas mesmo e aí rolou, sabe? É, na verdade,

deixa eu falar, não foi nem meu pai, foi o pai de um amigo meu. Ele justificou que

já estaria na hora, que tava na hora... (risos) tipo, eu tinha uns 15 anos (...)”.

(M3).

Segundo Teixeira (2006), a primeira relação sexual feminina é

predominantemente realizada com o namorado, já a masculina é com a menina

que “ficou” ou garota de programa.

Esse dado reforça a cultura social de gênero que descrimina e diferencia

rapazes e moças a partir de sua estrutura biológica, ou seja, é cobrado aos rapazes

seja pelos seus pais, seja pelos amigos, a “perda” da virgindade o mais cedo

possível, nem que para isso seja necessário contratar os serviços de mulheres mais

velhas e mais experientes. “(...) a virgindade se apresenta como um problema para

os rapazes com mais idade. Aparecem as pressões dos pares, sendo cobrada a falta

de iniciativa masculina.” (Rieth, 2002, p. 89).

A influência ou pressão dos amigos como motivador para a iniciação sexual reforça

a importância do grupo e das demandas por ele exercidas. Além disso, indica a

força do olhar dos outros, especialmente homens, na construção da masculinidade,

pois a aprovação dos mesmos é necessária para a confirmação de si como homem

(...). (Gubert & Madureira, 2008, p. 2251).

Ainda de acordo com Gubert e Madureira, “a precocidade da iniciação

sexual, em um sistema de valores que destaca as características hegemônicas da

masculinidade, permite ao adolescente mostrar-se mais viril, mais másculo, mais

homem para os demais”. (2008, p. 2250).

Salem (2004) reforça que para os rapazes, a relação sexual, especialmente a

primeira, é uma questão de honra, não importando muito com quem será

praticada.

Esse tipo de cobrança faz com que os rapazes se sintam intimidados,

inseguros e muitas vezes com seus desejos negligenciados em nome de uma regra

de conduta estigmatizante, que força os mesmos a exercerem práticas sexuais as

quais nem sempre estão preparados ou desejosos em fazê-lo.

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Essa cobrança social para que os rapazes se iniciem sexualmente com maior

brevidade possível, pode ser um fator motivador para que os mesmos cobrem de

suas namoradas a demonstração do verdadeiro afeto que sentem por eles, expresso

através da entrega da virgindade como prova de amor.

Na categoria “prova de amor”, a maior parte dos entrevistados relatou

conhecer alguém que já tenha vivenciado uma situação no qual o(a) namorado(a)

exigiu uma prova de amor.

Dentre as provas de amor pedidas estão: a perda da virgindade, a realização

de ato sexual desprotegido com o parceiro que é soropositivo, o abandono dos

estudos e a realização de tatuagem com o nome do(a) namorado(a).

“Eu já tive um namorado... namorado não, um ficante né, uma pessoa que eu

ficava né, nem faz tanto tempo, aí falou que, se eu gostasse realmente dele, tinha

que ter relação.” (F1).

“Sim. Só não foi muito feliz. (...) ele ficou me pressionando, eu era virgem, ele

também era, aí ficou me pressionando que era um prova de amor que eu tinha que

fazer pra ele e uma hora eu acabei cedendo, mas não foi, claro! Como eu

esperava.” (F5).

“Sim, a minha irmã. (...) O ex-namorado dela que faleceu agora, ele tinha AIDS e

como prova de amor ele pediu que ela transasse com ele sem camisinha.” (F9).

Segundo Borges (2007) algumas adolescentes iniciam a vida sexual mais

porque se sentiram pressionadas pelos seus parceiros, do que por desejo ou

vontade própria. Ainda segundo o autor,

O relacionamento sexual iniciado em uma relação de namoro tem significado

especial entre as mulheres, pois há a possibilidade de conjugar a iniciação sexual

com amor ou paixão; a isso, soma-se a preocupação feminina em se preservar no

espaço público. (Borges, 2007, p. 603).

De acordo com Heilborn (2006) a relação sexual no namoro é vista, por

46% dos jovens entre 18 e 24 anos, como uma prova de amor dada ao parceiro(a).

Fato esse também constatado por Marques (2008) no qual os jovens

participantes de sua pesquisa informaram que a entrega de uma pessoa a outra

através do ato sexual é considerada uma prova de amor.

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Esses dados indicam o quanto, a primeira relação sexual como prova de

amor ainda tem um peso grande na sociedade contemporânea, apesar da mudança

sócio-cultural da atualidade, na qual há mais liberdade sexual e menos cobranças

quanto à manutenção da virgindade e casamento.

Sobre a categoria “gravidez” foi possível observar alguns núcleos de

sentido associados, dentre estes estão o uso ou não de método contraceptivo e a

interrupção da gravidez.

A maior parte dos entrevistados afirmou adotar como método

contraceptivo, a camisinha.

“(...) sabe, os homens nunca gostam de usar camisinha, não sei o que, mas assim,

eu sempre colocava essa condição. Às vezes eu usava até os dois, tinha época que

eu usava anticoncepcional e usava camisinha também, de tão maluca que eu era,

de se prevenir por causa do filho (risos).” (F3).

“Camisinha, sempre!” (M1).

Apesar da ampla divulgação na mídia sobre os benefícios e malefícios da

ausência de uso de camisinha para disseminação de doenças sexualmente

transmissíveis (DSTs), é possível observar dentre os participantes, em especial, do

sexo feminino, que a preocupação maior é com a ocorrência de gravidez.

“(...) como é uma coisa que a gente evita, sempre quando acontece nunca é com

preservativo e ai a gente sempre fica com aquela coisa de, de caraca assim... eu

nem penso muito em doença e era pr’eu pensar né? Eu penso muito em gravidez

(...) eu nunca tomei remédio, o que eu tomo, as vezes, é a pílula do dia seguinte

(...).” (F8).

“... eu tomo remédio, pílula anticoncepcional.(...) eu já namoro a quase cinco

anos, então até doi ou três anos de namoro a gente usava camisinha também, mas

hoje em dia não mais.” (F10).

A ausência do uso de preservativo, no caso do namoro, pode estar

relacionada à idéia de “imunidade” às DST/AIDS, justificado pelo fato de

conhecer o outro. A existência de um parceiro sexual fixo se apresenta como uma

espécie de “fator” preventivo às DST. (Rieth, 2002).

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Mas como foi possível constatar durante a análise, geralmente, após realizar

o ato sexual desprotegido, especialmente as moças sentem remorso devido ao

medo de engravidar, o que as levam a adotar o uso da pílula do dia seguinte, como

um método contraceptivo.

Ainda segundo Rieth (2002), o risco da gravidez na adolescência, para as

moças, vem associado ao fato de serem muito novas para assumir a

responsabilidade pelo cuidado de outrem, além de ser uma fase no qual perderiam

muitas oportunidades de liberdade que tal idade oferece.

De acordo com Abramovay, Castro e Silva, “(...) tradicionalmente, o tema

da contracepção é associado às mulheres, tendo como referência a preocupação

em evitar uma gravidez”. (2004, p. 171).

Acrescente a isso, o fato da negociação do uso da camisinha esbarrar em

padrões sociais pautados em relações de gênero que podem contribuir para que as

mulheres abdiquem do seu direito de decidir pela melhor momento para

engravidar e como preferem se prevenir em relação a DST/AIDS. (Abromavay,

Castro & Silva, 2004).

Verificamos que há o uso inapropriado da pílula do dia seguinte, como se

este fosse de fato, um método contraceptivo de uso contínuo, ignorando-se os

riscos dessa prática para a vida sexual e reprodutiva, seja por falta de

conhecimento, seja pela tranqüilidade e praticidade que o uso da medicação gera

na moça que teve relações sexuais desprotegidas.

Sobre o uso da pílula do dia seguinte como método contraceptivo, Drezett

destaca que “o uso frequente e repetitivo, ao longo tempo, resulta em maior

número de falhas, o que a torna inferior a outros métodos contraceptivos usados

de maneira programada e ininterrupta”. (2010, p. 71).

O uso da pílula do dia seguinte é recomendando somente em situações

especiais, nunca em substituição a outro método contraceptivo, já que seu uso

inadequado, pode acentuar as modificações hormonais sendo prejudicial a saúde

da mulher.

A pílula do dia seguinte ou contracepção de emergência (CE) é um método

anticonceptivo que, diferente de outras formas de evitar a gravidez, deve ser

utilizado após uma relação sexual forçada e desprotegida, não devendo ser usada

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de forma planejada ou programada, nem em substituição a qualquer outro método

contraceptivo.

Foi possível observar que no caso desta pesquisa, o uso da pílula do dia

seguinte não tinha relação com um ato sexual forçado, muito menos com a falta

de acesso ao método contraceptivo, ou a informações sobre como consegui-los e

usá-los.

O que o uso da pílula do dia seguinte sugere é que o modelo de relações de

gênero ainda presente na sociedade brasileira colabora para que as moças tenham

dificuldades na negociação com seus namorados quanto ao uso do preservativo.

Essa dificuldade na negociação contribuiu para que as moças assumam, em

muitos momentos, a responsabilidade não só com o uso de um método, como as

conseqüências advindas do não uso, o que pode levá-las a um comportamento de

risco às DST/ AIDS e a praticar determinados atos que colocam em risco a própria

saúde sexual e reprodutiva.

Outra parte dos entrevistados afirmou conhecer alguém que tenha ficado

grávida durante o namoro e que acabou optando pela interrupção da gestação.

Os conhecidos dos entrevistados, que passaram pelo processo de interrupção

da gravidez, o fizeram muitas vezes de maneira insegura e colocando em risco a

própria vida.

”(...) uma fez dois numa clínica (...) e eu acho que o último aborto que ela fez teve

sequelas, porque hoje em dia, ela tem um companheiro e ela está um tempo já

tentando engravidar, e eu lembro que na época ela teve uma hemorragia e tudo

mais (...) porque ela tava tendo que usar aquelas fraldas porque ela tava, assim,

jorrando sangue, sabe?”. (F2).

“(...) uma das minhas melhores amigas, ela interrompeu com 15 anos de uma

maneira ridícula, foi café, canela com leite... essas misturas caseiras ... e ela não

pode ter filhos até hoje, ela ta com 27 anos, ela já tentou engravidar mil vezes e

ela não consegue. Ela já gastou mais de 20 mil reais em tratamento, por conta

desse aborto que ela fez na adolescência. (F9).

Segundo Perpétua (2010), a gravidez na adolescência, especialmente

quando indesejada, é um dos grandes desafios enfrentados pela saúde reprodutiva,

já que seu nível é considerado alto e frequentemente está associado ao

abortamento inseguro, aumentando o risco de mortalidade materna e infantil.

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Abramovay, Castro e Silva (2004) acrescentam que no Brasil são realizados

um milhão de abortos clandestinos por ano, sendo considerada a quinta maior

causa de internação hospitalar de mulheres no Sistema Único de Saúde (SUS), a

causa de 9% dos óbitos maternos e de 25% dos casos de esterilidade por

problemas tubários.

Esses dados apontam à necessidade de maior investimento público em

ações de promoção e prevenção efetivas de orientação sexual, que avancem além

das campanhas de saúde que ocorrem em datas pré-estabelecidas.

Ao buscarmos saber sobre as percepções dos universitários acerca do

namoro, foi possível observar que a prática desse tipo de relacionamento oscila

ora em um sentido mais conservador, no qual há valorização de aspectos do

passado como ser respeitador, carinhoso, comprometido com a parceira e sua

família, baseados na ideia de um amor romântico, ora em um sentido mais

contemporâneo, no qual o relacionamento passa a ser descompromissado e de

curta duração.

Da mesma forma, observamos diferenças quando o tipo de relacionamento

em questão é o ficar, ou seja, enquanto dos rapazes são esperados que tenham

muitas experiências amorosas, expressas por meio da grande quantidade de

parceiras, das moças são esperadas que saibam estabelecer limites a essa

variedade e dessa forma, consigam se preservar e se valorizar sexualmente.

Há diversas mudanças sociais e culturais ocorrendo na atualidade e são em

meio a essas transformações que a juventude tem iniciando as suas práticas

amorosas, afetivas e sexuais.

Dentre as transformações atuais está a internet como um meio de se

relacionar amorosamente sem sair de casa e sem a necessidade de interação física.

A sua maciça ampliação pode estar relacionada com o fato do jovem nem sempre

se sentir contemplado nos estereótipos expostos cotidianamente pela mídia, tais

como ser bonito, magro, bem vestido e sedutor, encontrando na internet uma

forma de interação social e possibilidade não só de fazer novos amigos como

também de se relacionar amorosamente.

Outro aspecto, em que se nota a presença de estereótipos diferenciados

quanto ao papel ocupado na relação afetiva por moças e rapazes, foi o namoro,

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destacado pelos participantes deste estudo como um tipo de relacionamento no

qual há maior intimidade, levando por vezes, a prática de atos sexuais.

Enquanto espera-se que as jovens cultuem atos de fidelidade e

companheirismo, dos rapazes exige-se exatamente o oposto, sob a defesa de ter

um instinto sexual incontrolável. Aos rapazes é “permitido” e “aceito” a

infidelidade, todavia, se a mesma for praticado por uma jovem, esta será

imediatamente tratada como “menina fácil” e “sem vergonha”.

Acrescente a isso o fato desse tipo de preconceito ser praticado não só

pelos rapazes, mas também por moças, demonstrando o quanto a cultura

diferenciada de gênero ainda se mantém nos dias atuais.

Essa urgência da iniciação sexual masculina contribui para que persista, no

imaginário social, a ideia de que os rapazes devem ser viris, experientes,

másculos. Sendo a relação sexual, no caso dos rapazes, entendido e defendido

socialmente, como algo necessário, como um rito de passagem da adolescência

para a vida adulta.

Foi constatado a dificuldade encontrada pelas jovens quanto à negociação

do uso de um método contraceptivo com seus namorados, cabendo às mesmas

total responsabilidade pelas consequências de manter relações sexuais

desprotegidas. A ideia de amor romântico presente na relação estável do namoro

contribui para que as moças se coloquem em risco para a ocorrência da gravidez

ou do desenvolvimento de alguma DST, acreditando no papel que a fidelidade

ocupa no ideário romântico.

Quando, por ventura, ocorre durante a relação, uma gravidez indesejada, as

jovens acabam optando por adotar práticas clandestinas de abortamento,

colocando em risco suas próprias vidas.

Diante desses resultados foi possível perceber o quanto ainda faz-se

necessário a ampliação de estudos que procurem conhecer: 1. As vivencias de

namoro contemporâneo praticado pelos jovens brasileiros; 2. Os receios e

inseguranças vividos pelos jovens em seus relacionamentos amorosos; 3. As

dificuldades enfrentadas pelos jovens para a manutenção do namoro e 4. Como as

relações de gênero atravessam a percepção desses jovens sobre o binômio namoro

e violência.

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3.3 Violência no Namoro

Neste subcapítulo foram analisados os resultados relacionados à temática

“Violência no Namoro”, os quais foram agrupados dentro das seguintes

categorias: 1. Sentidos atribuídos à violência no namoro; 2. Causas da violência

no namoro; 3. Vivencia de violência no namoro e 4. Resolução de conflitos.

Sobre os “sentidos atribuídos à violência no namoro” predominou o

núcleo de sentido comportamentos violentos. As idéias associadas a este núcleo

de sentido foram à ocorrência de violência física, verbal, psicológica, moral,

sexual e a opressão ao parceiro.

“Pra mim, não é só bater, tem a violência moral também, que é não deixar o

companheiro se relacionar com outra pessoa, ter amizades, namorado não pode

colocar uma roupa, não pode cortar o cabelo, não pode pintar a unha (...)”. (F6).

“Violência pra mim é, a partir do momento que acaba o respeito já... Porque

quando acaba o respeito você começa a tratar a outra pessoa de uma forma que

não é mais legal, sabe? Então, a partir daí pode começar tanto a violência verbal,

se o cara for mais agressivo, de repente a violência física, sabe?”. (F10).

“... violência não só no contato físico, a violência verbal também, porque tipo...

quando você tá brigando... você xinga muito ou sei lá... isso machuca, palavra

acho mais forte, você fala coisas indevidas, diz palavras de violência também, a

ponto de perder o controle, agredir o parceiro, a parceira...” (M1).

“Violência no namoro, eu acho que é tudo aquilo que oprime o namorado ou a

namorada, que priva de fazer o que gosta, o que não gosta, né, ou ameaças ou

sexo forçadamente, acho que é um leque aí de coisas.” (M2).

“Violência... tem várias...tipo... violência pode ser a violência no caso de bater né?

Violência quando você não tem... violência moral, tipo você desrespeita, xinga a

garota, você obriga ela a fazer sexo sem ela querer, né? Acho que tudo isso é

violência.” (M3).

Embora os jovens entrevistados tenham destacado que qualquer tipo de

violência que ocorra no namoro deve ser repudiado, parte desses jovens não

conseguiu perceber determinados atos ocorridos dentro de seu namoro, como atos

de violência. Outra parte somente identificou esses atos como violentos durante a

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entrevista, denotando o caráter pedagógico que a entrevista pode ter sobre os

participantes.

Essa dificuldade de reconhecimento de atos de violência ocorridos no

namoro também foi identificado por Nascimento & Cordeiro (2011). De acordo

com esses autores, existem múltiplas questões que contribuem para o não

reconhecimento de determinados atos, como sendo violência.

Dentre essas múltiplas questões está o fato dos jovens restringirem a

violência somente ao âmbito físico, não sendo considerado violência, quando a

namorada ou namorado os xingam, cerceiam suas saídas ou ameaçam terminar a

relação. (Nascimento & Cordeiro, 2011).

Outro aspecto diz respeito ao entendimento de que determinados atos

violentos são demonstração de amor e cuidado pelo parceiro, como por exemplo,

controlar aquilo que o outro faz ou não permitir que ele tenha convívio com outras

pessoas. (Nascimento & Cordeiro, 2011).

A juventude por vezes confunde cuidado e afeto, com cárcere privado,

cerceamento, controle e opressão. Atos que precisam ser amplamente debatidos e

discutidos entre a juventude com o propósito de evitar que num futuro próximo

esse namoro “violento” evolua para uma união estável da mesma forma

“violenta”.

Todavia, vale destacar que, para os universitários entrevistados, parece

haver o início de algumas mudanças a respeito da concepção naturalizada

socialmente dos papéis de gênero, no qual a violência era vista como um

problema de ordem privada e como tal deveria ser resolvida.

As mulheres que se encontravam em situação de violência fosse esta

cometida pelos pais, irmãos, parentes próximos, ou cônjuges deveriam “aceitá-

las” como parte da relação familiar, na qual cabia ao homem o papel de provedor

e chefe de família.

Quando foi observado falas de moças e rapazes reagindo a tal

comportamento violento, afirmando que a prática de atos violentos é algo

inaceitável socialmente, percebeu-se um avanço no que tange à discussão e

tratamento dessa problemática.

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Também foi identificado nesta categoria, o núcleo de sentido (in)tolerável

no namoro, expresso pelos entrevistados por meio de uma mesma prática, a

traição.

“Eu não ia gostar se meu namorado me traísse, mas eu acho que é tolerável,

acredito que sim.” (F5).

“Violência, não aceito de jeito nenhum!” (F6).

“(...) Eu não tolero traição.” (F9).

“(...) Digamos que o relacionamento é uma... é um... prédio, tipo... quando há

traição ele fica com a estrutura comprometida, quer dizer, na verdade desaba...

desaba totalmente, sabe?” (M3).

Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, “tolerar” significa: 1. Suportar

com resignação, paciência; 2. Ser conivente com, permitir. Já “intolerável”

significa: 1. Que não se pode tolerar, insuportável; 2. Que não se consegue aturar.

(Bechara, 2009).

O limiar entre o tolerável e o intolerável varia de acordo com o processo de

socialização a que uma determinada pessoa é exposta, ou seja, se a mulher

acredita que a traição é algo que faz parte da natureza do ser homem na sociedade

brasileira, ela vai ser muito mais tolerável à prática da traição do que aquelas que

entendem os papéis femininos e masculinos com igualdade de direitos.

Essa diferenciação entre o que se permite ou não numa relação amorosa

pode contribuir para práticas de atos violentos, uma vez que, abre precedente para

que um dos parceiros assuma uma posição de poder sobre o outro, demonstrada

através do medo de romper com a relação após a traição, ou ainda por meio da

baixa auto-estima, que faz com que a mulher se submeta a determinadas situações

por achar que não é merecedora do parceiro, ou por não se sentir segura

emocionalmente para lidar com o término da relação.

Houve outro grupo de entrevistados que afirmou não aceitar uma traição em

hipótese alguma. Esse dado aponta o quanto à fidelidade é um fator importante

para a manutenção do relacionamento amoroso.

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Ao analisar a categoria “causas da violência no namoro”, a maioria dos

entrevistados informou o ciúme como principal fator desencadeador da violência

neste tipo de relação amorosa.

“Acho que a insegurança, o impor da pessoa também, te impõe muita coisa e você

acaba aceitando, sendo submissa...” (F1).

“No namoro, acho que a principal é ciúme, pelo menos é o que eu mais vejo. As

maiores brigas entre namorados é ciúme.” (F9).

““Porque você não fez o que eu queria”, “Porque é ...eu não gosto que você faça

isso nesse dia”, “Porque eu não gosto que você saia com essa roupa”. Eu acho

que é mais o ciúme mesmo.” (M2).

O ciúme como principal fator responsável pelos atos violentos vem sendo

destacado também por outros autores como Barroso, que afirma que o namorado

brigão é, não raras vezes, visto como protetor e a expressão de ciúme exagerado

considerada uma “prova” de amor. (2008, p. 7).

Essa relação na qual o ciúme ocupa ora o papel de destruidor ora o de

dedicação e lealdade, pode contribuir para a ocorrência de situações de violência

que sequer serão percebidas como tal, já que os atos de ciúme passam a ser tão

corriqueiros que podem fazer parte da relação amorosa.

No que diz respeito, a categoria “vivencia de violência no namoro”, a

totalidade dos entrevistados afirmou que é possível ocorrer atos de violência no

namoro. Esses atos geralmente se expressam por meio de agressões físicas,

relação sexual forçada e proibições diversas.

“Ah! Não sai! Fica em casa”, aí eu acabava saindo, ele me ligava “Tô indo aí te

buscar”, eu ficava com muito medo, eu sabia que ele não ia fazer nada comigo, o

meu medo era dele agredir os meus amigos, entendeu?”(F1).

“Às vezes assim, a pessoa não quer ter um relacionamento naquele dia, uma

pessoa com o namorado, e eles querem forçar, é uma violência e também tem a

violência agressiva, no caso de bater.” (F3).

“Um exemplo bem recente. A garota tava, o namoro deles estava em crise, né? E

enfim, eles estava brigando direto, tipo, se desrespeitando um ao outro e tal, o

garoto foi lá na casa da garota chamou ela de todos os nomes mais horríveis que

você possa imaginar (...) daí então, quando ela ía na casa dele, ele batia nela...”

(M3).

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Também foi possível verificar como a violência psicológica está presente

nos relacionamentos amorosos vivenciados pelos jovens pesquisados. Esse tipo de

violência ainda é invisível na sociedade, já que diferente da agressão física ou

sexual, não deixa marcas visíveis, mas pode levar a depressão e ao suicídio.

“(...) eu tinha muito medo do meu ex-namorado, muito medo, muito medo. Ele

nunca me fez nada, mas por eu saber que ele era uma pessoa muito agressiva com

os outros, isso me deixava com muito medo dele. (...) Olha só... eu acho que a

violência psicológica é a pior violência (...) fica na mente.” (F1).

“(...) violência psicológica (...) eu já ouvi casos de amigas dizerem que o

namorado disse pra ela: “Pô, minha ex é muito mais bonita que você”. Sabe? Eu

acho isso uma violência também. (...) a experiência que eu tenho assim com as

minhas amigas, é que os namorados, os rapazes que são militares, eles são muito

opressores, (...) eles se acham muito, que sempre estão um patamar acima (...).”

(F2).

O que se observou por meio das falas, foi que muitos jovens enfrentam

violências graves em seus relacionamentos, e muito desses atos são justificados

socialmente e tratados com pouca ou nenhuma importância, já que se trata

“somente” de um namoro.

No entanto, ao se banalizar esses atos de violência expressos tão

precocemente, pode-se estar, em contrapartida, reforçando e legitimando a

continuidade desses atos de violência não só no namoro, como também no

noivado, casamento e união estável.

De todos os entrevistados, uma parte, destacou o fato de que também há

ocorrência de violência no namoro virtual. Para tal, foi levado em consideração

o acesso massificado da Internet, Webcam e Sites de relacionamento.

“Eu acho que sim, seria com palavras e também tem a questão da câmera, da

webcam que hoje em dia também acontece muito de pedir pra tirar a roupa, fazer

coisas desse tipo, virtualmente, né?” (F3).

“Virtual? Olha... acho que sim... essa violência que eu digo da falta de respeito um

com outro, sabe? Tanto via bate-papo, como hoje tá bem, a tecnologia tá bem

avançada, tipo em brigar com o outro na frente da câmera, xingar, se desrespeitar,

acho que isso é uma violência, sabe?” (M3).

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Muitos casais fazem uso da tecnologia moderna para registrar fatos, fotos e

eventos vividos durante o relacionamento amoroso. Enquanto o relacionamento

está “vivo”, “intenso”, não há nenhum problema em realizar gravações e

fotografias até mesmo dos atos sexuais mais íntimos.

No entanto, tem-se observado, seja por meio de reportagens televisionadas,

seja por meio digital, que o término do relacionamento funciona como um

agravante, para que imagens que pertenciam somente à intimidade do casal,

passem a ser mal utilizadas por um dos parceiros, com o propósito de difamar o

outro devido ao término da relação.

Sobre esse uso inadequado de imagens relativas ao período de vigência do

relacionamento, Agostini e Agostini (2009) salientam que as imagens íntimas

gravadas em meios eletrônicos, geram incontáveis transtornos aos envolvidos, que

vêem imagens que deveriam ficar restritas ao casal, sendo publicizadas com o

término da relação amorosa.

Quando um casal passa a se relacionar (...) os participantes desenvolvem,

inicialmente, certa intimidade afetiva. (...) Nesse momento de cumplicidade, seja

por fetiche seja por desejo de transgredir a normalidade, o casal resolve filmar (ou

fotografar) o ápice de sua intimidade: o ato sexual. Aquela imagem então guardada

na memória dos companheiros passa a ser imortalizada pelo processo de gravação

digital.(...). No fim do amor, o ser humano tende a justificar o fracasso da união

atribuindo o outro a culpa pelo evento indesejado. (...) Devido à quebra da

expectativa de preenchimento das necessidades de afeto, amor, convivência,

conforto material, aliada às idéias de rejeição, abandono, angústia e sofrimento,

muitos ex-companheiros resolvem se vingar (Agostini & Agostini, 2009, p. 98).

Essa facilidade de disponibilizar imagens e vídeos na internet é discutida por

Starobinas (2006) como um grave problema enfrentado pela sociedade brasileira,

uma vez que a ausência de legislação para lidar com a criminalidade digital

contribuiu para a ocorrência, do que o autor chamou de um “Estado delinqüente”

no mundo virtual.

“(...) na frente do computador a gente faz tudo, a gente dorme, faz tudo, tipo... tem

sexo hoje virtual e você... a gente tem a opção de gravar tudo né, faz foto, dá print,

não sei o que, e você não sabe se a pessoa ta fazendo isso do outro lado ou não. Já

tive amigos que já fizeram isso e depois postaram fotos das meninas na internet.

Eu acho isso uma forma de violência, uma coisa que os dois estão participando

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disso ao mesmo tempo, mas que, a qualquer momento eu posso usar isso contra

você.” (M1).

A análise das falas proporcionou maior conhecimento acerca das práticas da

juventude diante da internet, como foi possível perceber, nem sempre a pessoa

que aceita realizar determinados atos íntimos diante da câmera de webcam tem

conhecimento de que sua imagem está sendo gravada ou mesmo exposta

diretamente na internet.

Dentre as diversas mudanças ocorridas na sociedade contemporânea, a

ampliação do acesso a internet e ao computador contribuiu, de certa forma, para a

disseminação de novas práticas de violência, tais como a exposição da imagem

digital, seja por meio de vídeos ou fotos sensuais, no meio virtual.

Essa exposição virtual sem consentimento contribuiu para que novas

práticas de violência se perpetuem, de forma ainda mais rápida e profunda.

A outra parte dos entrevistados, no entanto, informou já ter vivenciado

alguma situação de violência no namoro.

“A L. já me deu um tapa, numa briga com discussão... ela me bateu no rosto. (...)

eu fiquei tipo assim, seu corpo reage querendo avançar, mas não que isso, você

não vai bater nela!”. (M1).

“(...) na verdade como ele era muito mais tranquilo, leva tudo na brincadeira,

então isso me irritava muito e eu ficava descontrolada, ia em cima dele, tipo...

dava uns tapas nele, pegava a vassoura (risos)...” (F3).

Como pode ser observado nos fragmentos acima os jovens participantes

deste estudo tanto sofrem quanto infringem atos de violência contra seus(uas)

namorados(as) e nem sempre percebem esses atos como violência e os que

percebem, por vezes atribuem o ocorrido a atos esporádicos atrelados a algum

comportamento momentâneo do(a) parceiro(a).

De acordo com o estudo realizado pela Escola Básica de Santiago Maior

sobre a violência ocorrida no namoro, geralmente,

(...) vítimas e agressores, não percebem que a violência não é “aceitável”. Muitos

jovens “toleram” e chegam a “desculpabilizar” a violência: “Só fez aquilo porque

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estava descontrolado, perdeu a cabeça” ou “tem medo de a/o perder”. São

afirmações recorrentes. (s/ ano, p. 1).

Cabe destacar que a maioria dos entrevistados afirmou conhecer casos de

violência ocorrida no namoro ou ter vivenciado os próprios, atos de violência em

seus namoros anteriores ou atuais.

“Teve uma amiga minha que ela, a gente tava numa festa e ela chegou e começou

a dançar, tava tudo bem... aí eu acho que o namorado dela... assim, tava tudo bem,

todo mundo junto, de repente (...) ele começou a ficar com ciúme dela e aí puxou

ela, ela não queria ir (...), ele saiu, foi pra casa, nisso ela foi pra casa depois de

um tempo(...) e eles começaram a discutir, e aí ele acabou com ela, que ele deixou

ela toda marcada, foi horrível, o estado físico dela que ela ficou, ela ficou toda

machucada mesmo, porque ele bateu pra valer.” (F3).

“... minha vizinha, ela tem 16 anos (...) o atual [namorado] descobriu que ela tava

ficando com outro. Ele [o namorado] foi lá, pegou uma garrafa de vidro e rasgou

o rosto dela todinho...” (F6).

“Acho que o principal foi o da minha prima (...) ela [a namorada] já chegou

puxando o cabelo da H. e jogando a H. pro lado, xingando a H.(...) foi muito feio,

muito violento e a H. se machucou muito, a H. saiu sangrando de lá (...).” (F9).

“Lembrei agora dessa menina... ehhhh, ela tava bebendo numa festa e eu disse pra

ela três vezes, pra parar de beber, na quarta vez eu gritei com ela, eu acho que

isso é uma violência, né? (M2).

Da mesma forma, constatou-se que outra forma de praticar a violência nem

sempre percebida, se dá por meio de exigências feitas pelo(a) namorado(a). Em

um dos casos identificados, a pessoa teve que abandonar a faculdade pública, por

ciúmes da namorada.

“A minha amiga largou a faculdade. Levou três anos pra passar pra UERJ e

abandonou porque a namorada tinha ciúmes dela na faculdade (...) a garota tinha

ciúmes de tudo, de tudo, tem um grupo... tem trabalho de grupo pra fazer na casa

de fulano... “Eu vou junto” e ficava lá que nem um dois de paus esperando

terminar, até que teve uma hora que a menina não aguentou, pediu pra ela largar

a faculdade e ela largou.” (F9).

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Como é possível observar na fala acima, a violência ocorre também em

relações homoafetivas, já que a pressão da namorada sobre a outra jovem fez com

que a mesma, abandonasse a faculdade para qual havia se dedicado anos para

conseguir aprovação no concurso público.

Entre os entrevistados participantes desse estudo, foi recorrente encontrar

em suas falas relatos de cenas de ciúmes e cobranças.

Em outro caso identificado, a entrevistada relatou que tinha receio de que o

namorado agredisse física e verbalmente os seus amigos. “Já. Não agora, nesse

meu relacionamento, mas no relacionamento anterior... de sair com as minhas

amigas, tipo, eu até saía, mas toda vez que eu saía tinha algum problema, ele

ficava de cara feia e tal...” (F10).

Em outros casos, a namorada impedia o entrevistado de encontrar com

colegas ou mesmo de ter amizade com outras meninas, por ciúmes.“Já... numa

decisão bem imatura, mas já (risos) como eu falei, tipo “Ah não quero que você

fale com tal garota porque eu não gosto dela”, tipo essas coisinhas bobas...”

(M3).

Pesquisa realizada por Nascimento e Cordeiro também destacou o ciúme

como principal motivo de cobrança e por vezes brigas entre os casais. De acordo

com esses autores, o desejo de ter o (a) namorado (a) só para si evidencia (...),

direta ou indiretamente, a dificuldade de partilhar esse outro (namorado e

namorada) com outras pessoas e atividades. (2011, p. 521).

Essa desconfiança gera tensões na relação que podem evoluir para situações

de violência física, psicológica e/ ou verbal. Quando chega a esse estágio,

geralmente os jovens, passam a mentir para seus parceiros ou omitir as saídas com

amigos.

Sobre a categoria “resolução de conflito”, a maioria dos entrevistados

relatou adotar como estratégia o diálogo/conversa.

“Eu procuro conversar sempre, porque eu falo muito, falo muito e aí eu sempre

quero tá dialogando, debatendo, sabe?... eu gosto quando a pessoa expõe o que tá

achando errado: -”Oh! Não to gostando disso, disso, disso e disso”, então vamos

conversar até a gente chegar num denominador comum, sabe?”. (F10).

“Eu sempre tento mostrar os dois lados da moeda... E eu acho que o diálogo

resolve tudo.” (M1)

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“Pra resolver um conflito acho que tudo é conversando, ouvindo um ao outro,

sabe? Eu acho que é por aí... conversando, procurando ouvir cada um a sua

posição e é isso.” (M3)

Segundo pesquisa realizada pela Escola Básica de Santiago Maior,

É normal que entre um casal de namorados surjam alguns conflitos, mas é

importante diferenciá-los das situações de violência. Os conflitos surgem em

diversas ocasiões e resolvem-se através do diálogo e da procura conjunta de

soluções. Não há que temer os conflitos, pois eles ajudam a construir uma relação

saudável a dois. (s/ano, p.1).

Apesar da maturidade expressa por parte dos jovens entrevistados que

procuram resolver seus conflitos no relacionamento vivenciado através da prática

do diálogo e dessa prática ser saudável para a manutenção do relacionamento, não

se pode esquecer que a violência de gênero está presente em qualquer tipo de

relacionamento, seja este homossexual ou heterossexual, o que sugere a

necessidade de realização de novos estudos sobre a temática.

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4 Considerações Finais

Este estudo pretendeu conhecer os sentidos atribuídos por universitários ao

namoro, à violência ocorrida durante o namoro e como as relações de gênero

atravessam a percepção dos participantes sobre a violência no namoro.

Para tal, iniciou-se o estudo através da realização de amplo levantamento

bibliográfico com o propósito de conhecer o que havia de publicação nacional e

internacional acerca do fenômeno da violência no namoro.

Observou-se que há uma reduzida publicação nacional sobre a temática da

violência no namoro, expressa por meio de três publicações nacionais, destas,

duas eram dissertações de mestrado e uma tese de doutorado, e todas as três se

constituíam num braço de uma pesquisa maior realizada pelo grupo de pesquisa

CLAVES, na cidade de Recife.

Outro fato observado durante a análise do referencial teórico pesquisado foi

que os estudos que abordam sobre a violência no namoro têm, em sua maioria,

como foco, a faixa etária de 15 a 19 anos, não expandido até a faixa

correspondente a juventude, considerada até os 24 anos.

As demais publicações que abordavam o fenômeno da violência no namoro

eram internacionais, e seguiam basicamente duas linhas de pesquisa. Uma, que

buscava conhecer os sentidos atribuídos à violência ocorrida no namoro e a outra,

que visava verificar se o uso abusivo de álcool contribuía de alguma forma para a

ocorrência de atos violentos no namoro.

Foi somente no segundo semestre de 2011, que o estado brasileiro teve a sua

primeira grande publicação, resultado de uma pesquisa quanti-quali realizada em

âmbito nacional, cujo foco estava voltado à reflexão da violência ocorrida nas

relações afetivo-sexuais de jovens de 15 a 19 anos, ou seja, a violência no

namoro.

Esta dissertação de mestrado é um estudo de natureza qualitativa, realizado

com os estudantes universitários, na faixa etária entre 18 e 24 anos, do curso de

graduação em serviço social da PUC-Rio.

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A preocupação em realizar entrevistas com estudantes de 18 a 24 anos se

deu em função dos estudos científicos nacionais e internacionais apontarem para o

fato da violência ocorrida nos relacionamentos íntimos ter seu início antes do

casamento ou união estável, ou seja, muito dos atos violentos vivenciados no

ambiente doméstico e intrafamiliar têm sua gênese ainda na fase do namoro,

contudo, não são percebidas como tal.

Essa baixa percepção dos atos de violência na fase do namoro, pode ter

relação com a construção cultural e com a forma como as pessoas são

socializadas. Atos como proibir, cercear, coagir, ter ciúmes são comumente

confundidos como prova de amor do(a) namorado(a) pelo(a) parceiro(a), quando

na verdade, podem ser os primeiros sinais de um comportamento violento.

A juventude é entendida como uma fase de transição, no qual as relações

amorosas conferem maior segurança emocional e distanciamento das relações

parentais e, é em meio a essa transição que se desenvolve o namoro e seus

significados.

Retornando a proposta inicial deste estudo, objetivou-se conhecer quais

sentidos são atribuídos, por esses universitários participantes do estudo, ao

namoro.

Identificou-se que apesar da existência de vários tipos de relacionamento

ocorrendo concomitantes ao namoro os participantes deste estudo ao definirem

namoro, afirmaram ser uma relação onde se deve ter respeito, dedicação,

companheirismo e amor pelo(a) parceiro(a).

Assim como, afirmam que para iniciarem um namoro, o(a) parceiro(a) deve

ter algumas qualidades tidas como essenciais para que o relacionamento dê certo,

dentre essas qualidades estão: a simpatia, honestidade, responsabilidade, caráter e

sinceridade.

Ainda sobre o namoro, foi possível constatar que a relação sexual no

namoro juvenil contemporâneo é entendida como algo natural e inevitável e,

portanto, esperado pela maioria dos entrevistados.

Apesar de o discurso liberal estar ganhando maior destaque na sociedade

contemporânea, a prática diverge do discurso. As relações sociais ainda são

assimétricas e desiguais. A sociedade convive com práticas conservadoras e

outras modernas de relações sociais no mesmo momento histórico.

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A desigualdade de gênero afeta a todas as classes sociais, etnias, raças e

culturas, e sua percepção se expressa de forma diferenciada para cada pessoa e

instituição social.

É em meio a esse processo de socialização, que esses jovens participantes da

pesquisa, se relacionam amorosamente e da mesma forma, são influenciados.

A sociedade continua reproduzindo estereótipos no qual o homem para

provar sua masculinidade, além de forte, deve ser viril, iniciar a experiência

sexual tão logo seja possível, não importando a forma. Não se respeita o desejo

dos rapazes de terem sua primeira relação sexual quando desejam e por vezes, os

obrigam a ter sua primeira experiência sexual com garotas de programa.

Neste caso, quando é exigida dos rapazes a relação sexual precoce, no qual

o seu desejo e autonomia de decisão são extirpados, essas atitudes podem ser

caracterizadas como atos de violência.

Os sujeitos pesquisados também destacaram durante o estudo que sentem

insegurança e medo ao ter relação sexual com seus parceiros. Isso ocorre, pois, a

relação sexual, apesar de esperada, nem sempre é planejada e em diversos

momentos, realizada sem qualquer proteção às DST/AIDS ou gravidez

indesejada. O que leva, neste último caso, muitas jovens a recorrerem a práticas

de abortamento clandestino, colocando em risco sua vida.

Dando continuidade a análise dos resultados obtidos, buscou-se conhecer

também os sentidos atribuídos a violência ocorrida no namoro. A partir desta

análise foi possível identificar que a maioria dos participantes repudia qualquer

tipo de comportamento violento no namoro. Contudo, parte dos participantes não

reconhecem determinados atos que sofreram ou cometeram, como atos violentos.

Outro destaque importante é para o fato de a maioria dos entrevistados já

terem vivenciado alguma situação de violência ocorrida no namoro. As violências

relatadas são as mais diversas, tais como, agressões físicas, proibições, exigências

que podem colocar em risco a vida da pessoa, entre outras.

Com vistas à superação das lacunas e limites desta dissertação sugere-se

novos objetivos teóricos para a ampliação de estudos voltados à temática da

violência ocorrida no namoro, tais como: 1. A realização de novas pesquisas

comparativas em diferentes contextos sobre os sentidos atribuídos pela juventude

à violência no namoro; 2. A avaliação de projetos de prevenção na área da

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educação em diferentes contextos; 3. A realização de novas pesquisas que possam

verificar até que ponto a violência ocorrida na vida conjugal não teve seu início

ainda na fase do namoro e 4. A verificação de como a violência no namoro se dá

nas relações homoafetivas.

A sugestão desses novos objetivos teóricos se deu em função da análise e

levantamento bibliográfico realizado ao longo da confecção deste estudo, no qual

foi possível constatar que há países como Portugal em que há diversos projetos e

ações especialmente na área da educação, voltados à prevenção da violência

ocorrida no namoro juvenil, denotando a importância de se discutir esse fenômeno

antes que o mesmo aumente de intensidade, ou mesmo coloque em risco a vida

desses jovens.

No caso brasileiro observamos as primeiras iniciativas através de ações e

projetos, sob forma de parceria entre a Prefeitura do Estado do Rio de Janeiro e o

Grupo Elos pela Saúde, com os jovens de escolas públicas municipais do Estado

do Rio de Janeiro. Essas iniciativas ocorrem anualmente através de Campanha de

Prevenção a Violência no Namoro, sendo realizada todo o dia 12 de Junho, data

em que se comemora no Brasil o “Dia dos Namorados”.

Como dito ao longo deste estudo, no Brasil, ainda há poucas iniciativas que

dêem conta deste fenômeno, dada a sua baixa visibilidade, inclusive junto aos

próprios jovens, que nem sempre conseguem perceber que os atos que praticam e

sofrem, são atos violentos. Daí a importância de se investir em novos estudos e

pesquisas que tratem desta temática, a fim de que, a longo prazo, seja possível a

redução dos riscos da ocorrência de violência ainda na fase do namoro.

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6 Apêndices

6.1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pesquisa: Violência de gênero no namoro: sentidos atribuídos por

estudantes universitários

Prezado(a) estudante,

Você foi selecionado(a) e está sendo convidado(a) para participar da

pesquisa intitulada “Violência de gênero no namoro: sentidos atribuídos por

estudantes universitários” que tem como objetivo analisar os sentidos atribuídos à

violência de gênero no namoro por universitários das cinco regiões brasileiras.

Este é um estudo baseado na abordagem qualitativa, utilizando como método a

entrevista semi-estruturada.

Suas respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em

nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Quando

for necessário exemplificar determinada situação, sua privacidade será assegurada

uma vez que seu nome será substituído por uma letra aleatória. Os dados

coletados serão utilizados apenas NESTA pesquisa e os resultados divulgados em

eventos e/ou revistas científicas.

Sua participação é voluntária, isto é, a qualquer momento você pode

recusar-se a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu

consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o

pesquisador ou com a instituição em que você estuda.

Sua participação nesta pesquisa consistirá em responder as perguntas a

serem realizadas sob a forma de roteiro. A entrevista será gravada em mp3 para

posterior transcrição – que será guardada por cinco anos e incinerada após esse

período.

Você não terá nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras. Não

haverá riscos de qualquer natureza relacionada à sua participação. O benefício

relacionado à sua participação será de aumentar o conhecimento sobre a temática

da violência no namoro.

Informo que uma cópia deste documento, devidamente assinada, ficará

com o participante da pesquisa e outra com o pesquisador.

Como responsável pela pesquisa, estarei disponível para esclarecer suas

dúvidas sobre o projeto e sua participação, no seguinte telefone (21) 9439-4468 e

no endereço eletrônico: [email protected]. Caso prefira você também pode

entrar em contato com minha orientadora, professora Doutora Sueli Bulhões da

Silva nos telefones: (21) 3527-1290/1291.

Declaro ter compreendido o conteúdo do TERMO DE

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e estou de acordo em participar

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do estudo proposto, sabendo que dele poderei desistir a qualquer momento, sem

sofrer nenhuma punição ou constrangimento.

__________________________

Sujeito da pesquisa

_______________________

Pesquisadora Roberta M. D. Flach

Rio de Janeiro, ____ de ____________ de 201___.

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6.2 Roteiro de Entrevista

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Pesquisa: Violência de gênero no namoro: sentidos atribuídos por

estudantes universitários

Dados de identificação

1. Sexo

2. Idade

3. Período do curso

Namoro

1. O que é namoro pra você?

2. Existem outros tipos de relacionamento? Quais?

3. É possível relacionar-se amorosamente pela internet? De que forma?

4. O que te atrai numa pessoa para querer namorá-la?

5. Pode haver relação íntima no namoro?

6. O que caracteriza a intimidade no namoro?

7. Você já teve relação sexual?

8. Algum namorado(a) já te pediu uma “prova de amor”? Como ocorreu?

9. Você faz uso de métodos contraceptivos com seu parceiro(a) sexual? De que

forma?

10. Alguma vez você ou alguém que você conheça teve que interromper uma

gravidez durante o namoro? Como ocorreu?

Violência no namoro

1. O que é tolerável numa relação amorosa? Por quê?

2. O que é intolerável numa relação amorosa? Por quê?

3. Você já teve que deixar de fazer algo/alguma coisa que gosta a pedido de seu

namorado?

4. Quais estratégias você usa para resolver as situações de conflitos no seu namoro?

5. É possível existir violência no namoro?

6. O que é violência no namoro?

7. Quais são as causas da violência no namoro?

8. É possível ocorrer violência num namoro virtual? De que forma?

9. Você já vivenciou alguma situação de violência em seu namoro? Como ocorreu?

10. Você gostaria de relatar algum episódio de violência ocorrida no seu namoro

ou no namoro de alguém que você conheça?

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6.3 Solicitação de Autorização à Coordenação de Graduação

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7 Anexos

7.1 Aprovação da Câmara Ética da PUC-Rio

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