violência na nova literatura da colômbia _ cultura _ el paÍs brasil

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7/25/2019 Violência Na Nova Literatura Da Colômbia _ Cultura _ EL PAÍS Brasil http://slidepdf.com/reader/full/violencia-na-nova-literatura-da-colombia-cultura-el-pais-brasil 1/6 CULTURA  Violência na nova literatura da Colômbia Jovens escritores do país debatem com Patrício Pron como esse problema se reflete na sua literatura Cartagena - 1 FEV 2016 - 10:29 BRST A violência na Colômbia está nos nomes, gruda na roupa e acaba por se manifestar nas palavras. Faz menos barulho que os fuzis da selva, mas tem o mesmo efeito que 50 anos de guerra. “Vivemos, desde a origem da República, uma história de horror e iniquidade, de abuso”, diz Álvaro Robledo. “E é mais do que natural que a arte dê conta disso. É um tema inevitável.” O escritor colombiano (Medellín, 1977) prefere narrar em seus romances como o indivíduo enfrenta o medo e o atravessa. Seus colegas Melba Escobar, Amalia Andrade e Andrés Felipe S olano tampouco se interessam em descrever o ruído das balas. E nada indica que o iminente acordo de paz entre o Governo e as FARC faria sua literatura mudar. LITERATURA › ANA MARCOS

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CULTURA

 Violência na nova literatura da ColômbiaJovens escritores do país debatem com Patrício Pron como esse

problema se reflete na sua literatura

Cartagena - 1 FEV 2016 - 10:29 BRST

A violência na Colômbia está nos nomes, gruda na roupa e acaba por se

manifestar nas palavras. Faz menos barulho que os fuzis da selva, mas tem o

mesmo efeito que 50 anos de guerra. “Vivemos, desde a origem da

República, uma história de horror e iniquidade, de abuso”, diz Álvaro

Robledo. “E é mais do que natural que a arte dê conta disso. É um tema

inevitável.” O escritor colombiano (Medellín, 1977) prefere narrar em seus

romances como o indivíduo enfrenta o medo e o atravessa. Seus colegas

Melba Escobar, Amalia Andrade e Andrés Felipe S olano tampouco se

interessam em descrever o ruído das balas. E nada indica que o iminente

acordo de paz entre o Governo e as FARC faria sua literatura mudar.

LITERATURA ›

ANA MARCOS

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do ano que passou

A luta de Ricardo

Piglia para seguir

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Guadalajara, ocupido que quer

flechar o Brasil

Nascidos nos anos setenta e oitenta, eles conviveram

com narcotraficantes e se assustaram com as explosõesde carros-bomba. Esse pano de fundo permeia as novas

gerações através de formas narrativas que pouco têm a

ver com o narcorromance e os livros escritos por sicários

ou guerrilheiros das FARC. “Meu romance mais recente,

La Casa de la Belleza, fala das pequenas violências que

não são catalogadas como tais. De certa forma,

perdemos a capacidade de vê-las, porque estão imersas

no cotidiano da desigualdade colombiana”, diz Escobar

(Cali, 1976) no hotel Santa Clara, quartel-general

extraoficial do Hay Festival, cuja 11ª. edição terminou

neste domingo na cidade colombiana de Cartagena.

É o que Patrício Pron descreve como efeito anestésico:“Às vezes, os temas de grande relevância produzem

certo cansaço pela repetição”. O escritor argentino,

De esquerda para a direita, os escritores colombianos Álvaro Robledo, Melba Escobar, AmaliaAndrade e Andrés Felipe Solano. /DANIEL MORDZINSKI

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também de passagem pela cidade caribenha, entra na conversa e defende

perspectivas inéditas, as menos evidentes, para atrair novamente o leitor.

“Quanto à violência, e em virtude da sua banalização por intermédio do

romance policial, é imprescindível que se contribua para o esforço social de

pensar nela a partir de outra dimensão.”

NÚMEROS DO HAY FESTIVAL

Melba Escobar reconhece que, ao sair do conceito único associado à

violência na Colômbia, encontrou pequenos gestos, igualmente

contundentes, que saltaram para a sua literatura. “Só na Índia e na Colômbia

a sociedade está dividida em estratos”, diz, “e isto limita os pontos de

intercessão entre as pessoas, provocando a violência através da

desigualdade”. Ao seu lado, Amalia Andrade, 10 anos mais nova, recorda o

dia em que viu o gato da sua família, em sua Cali natal, entrar numa casa em

frente à sua, e ninguém reagiu. “Não podemos fazer nada, o vizinho é um

traqueto”, disseram-lhe. Nesse dia, descobriu que traqueto significava

narcotraficante, e que o homem da porta ao lado se dedicava a vender

drogas. “A violência sempre fez parte da minha vida, e às vezes sinto que até

certo ponto se espera que os escritores colombianos falem dela”, afirma.

“Mas, se alguma vez eu fizer isso, acho que tentarei falar a partir do humor,

pois não estou na posição do ativista, e ainda menos na Colômbia, onde

desconfio de tudo.”

Participação: 55.000 espectadores, dos quais 25% tiveram acesso gratuito aos

eventos.

144 eventos em 4 capitais departamentais (Cartagena, Medellín, Riohacha e

Bogotá) e 6 municípios dos departamentos de Bolívar, La Guajira e Magdalena

Presença de 8.000 crianças e adolescentes entre o público.

Palcos: 34

Convidados: 150, de 19 países

Veículos de comunicação que cobrem o evento: 58, de seis países

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A sátira foi a forma que Pron encontrou para penetrar na guerra das

Malvinas, uma das feridas abertas da Argentina. “Ocorreu um debate muito

interessante, fiquei contente de que a sociedade não aceitasse textos desse

tipo, porque é na sua não aceitação que eles adquirem sua relevância

política. A literatura que me parece mais relevante é a que vai contra”, opina.

Na Colômbia, o humor se transformou em tábua de salvação. “Por recebertantos golpes, aprendemos a rir para não chorar”, diz Robledo. “Há um

grande grau de cinismo a partir do horror, e não da opulência, e nós,

colombianos, sobrevivemos aprendendo a rir da própria existência, por mais

terrível que seja. Por isso dizem essas tolices de que somos o país mais feliz

do mundo, e somos bastante bons no cinismo, seja qual for a sua

manifestação.”

Andrade, autora de Uno siempre cambia el amor de su vida, “um invento

literário que se afasta da tradição”, concorda com Robledo no paralelo

oposto à arte da denúncia. “Com grandes exceções, não me diz grande

coisa, é um pretexto para tentar sermos bons”, observa o autor. “Sinto um

pouco de pudor ao tentar usufruir da violência”, justifica Andrés Felipe

Solano (Bogotá, 1977), último ganhador do prêmio Biblioteca de NarrativaColombiana, “mas a verdade é que a sensação ao redor, o medo e a ameaça

decretados pela violência, a propulsão pelo mal e a recursividade que esta

gera estão presentes no que faço. E Pablo Escobar era isso”.

Solano teme etiquetar a Colômbia com uma violência própria, o que

equivaleria a “apropriar-se dela com um orgulho estranho e macabro”. Porisso, em seu trabalho e nas suas palavras sempre existe uma comparação –

com Madri, onde vive agora, com a Coreia, onde já viveu. “É uma

manifestação própria do capitalismo, há histórias de violência em todo lado,

e acho complicado levá-las à literatura sem ser panfletário”. À sua frente

estão Pron, Escobar e Los estratos, de Juan Cárdenas, uma história de

violência em ambientes extenuantes, que todos os escritores mencionam

como um dos melhores exemplos de como se aborda esse tema atualmenteno país. “Não me sinto cômodo com o que se torna programático”,

argumenta Solano. “Depois de 50 anos de guerra e vivendo em Bogotá, é

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Três ingredientesque não deveríamoscolocar no café

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“Antes de dizer quesonegamos, queprove”, rebate o pai

 (EL PAÍS)

muito difícil para mim abstraí-la; na verdade, a persigo”, responde Escobar,

ao mesmo tempo em que reconhece e comemora o fato de que havia 10

anos não encontrava tanta heterogeneidade entre seus colegas.

Na opinião de Pron, o eventual acordo de paz com as FARC imporá aos

autores colombianos “a tarefa de contribuir para a discussão de como se

constrói um relato coletivo do seu passado e presente que fomente a

coesão. Quando esse relato se consolidar e adquirir popularidade, os

escritores terão a tarefa de rompê-lo e questioná-lo. A literatura tem um

papel nessa permanente revisão do passado”.

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