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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO BÁRBARA DE MEDEIROS REIS NATAL,RN 2014 Vila Marta de Medeiros Moradia para idosos com doença de Alzheimer

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

BÁRBARA DE MEDEIROS REIS

NATAL,RN

2014

Vila Marta de Medeiros

Moradia para idosos com doença de Alzheimer

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

BÁRBARA DE MEDEIROS REIS

Vila Marta de Medeiros

Moradia para Idosos com doença de Alzheimer

NATAL/RN

2014

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BÁRBARA DE MEDEIROS REIS

Vila Marta de Medeiros

Moradia para Idosos com doença de Alzheimer

Trabalho Final de Graduação apresentado à disciplina Trabalho Final de Graduação, do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRN, como pré-requisito para obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.

Orientadora: Prof. Dra. Gleice Azambuja Elali.

NATAL/RN

2014

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Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte / Biblioteca Setorial de

Arquitetura.

Reis, Bárbara de Medeiros.

Vila Marta de Medeiros: moradia para idosos com doença de Alzheimer/ Bárbara de Medeiros Reis. – Natal,

RN, 2014.

102f. : il.

Orientador: Gleice Azambuja Elali.

Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia.

Departamento de Arquitetura.

1. Habitação – Casas de Vila – Monografia. 2. Moradia – Idoso – Mal de Alzheimer – Monografia. 3.

Moradia – Acessibilidade – Monografia. I. Elali, Gleice Azambuja. II. Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. III. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 728.31

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me trouxe nos braços até aqui e me deu força para seguir em frente em

todos os momentos;

A minha mãe, que merece toda a minha admiração. Meu exemplo de generosidade,

dedicação, bondade e amor. A quem devo muitas das coisas boas que carrego

comigo.

Ao meu pai, por acreditar em mim, pelo apoio e esforço, pelo amor e por me ensinar

a ser uma pessoa digna.

Ao meu irmão, um parceiro, que direta e indiretamente abriu mão de muitas coisas

para que eu pudesse alcançar esse objetivo

Aos meus avós (in memoriam) Antonio, Lila e Irene, meus incentivadores desde

criança e até hoje, de onde estiverem.

A voinha Marta (in memoriam), que eu tanto amo e sinto falta. Minha inspiração para

esse trabalho.

A Diego, pelo amor, paciência e cuidado. Você me faz feliz.

A Micarla, minha dinda, que sempre está ao meu lado e em quem me espelho para

tantas coisas.

A minha família, em especial a Lucinha, que sempre me apoiou nos estudos.

A minha orientadora Gleice Elali, pela compreensão, confiança, paciência e

dedicação.

As amigas de infância e do Neves, especialmente Mariana e Rafhaelly, por sempre

estarem presentes.

As minhas amigas para toda a vida, Gabi e Taísa, que me ensinam todos os dias o

que é amor de amiga-irmã.

Aos amigos de faculdade, principalmente Hannah Santos, Ingrid Monteiro, Marcela

Silva, Daphne Godoy e Marina Medeiros, por compartilhar as angústias e risos.

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a todo o corpo docente do curso

de Arquitetura e Urbanismo, sobretudo Giovana Paiva, pelos ensinamentos que

levarei para vida.

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RESUMO

REIS, Bárbara M. Vila Marta de Medeiros. Moradia para idosos com doença de Alzheimer. Trabalho Final de Graduação. Natal: UFRN, 2014.

Embora na atualidade a camada idosa da população esteja cada vez maior, a

sociedade ainda não está totalmente preparada para lidar com as pessoas com mais

idade, sobretudo quando há problemas de saúde física e mental decorrentes do

avanço da idade, como é o caso de pessoas com doença de Alzheimer. Frente a tal

constatação, esse TFG consiste no anteprojeto arquitetônico para uma moradia

coletiva de idosos com doença de Alzheimer, a ser instalada na Região

Administrativa Leste da cidade de Natal-RN. O desenvolvimento da proposta teve

base em pesquisas bibliográficas, estudos de referências diretos e indiretos, análise

dos condicionantes projetuais e elaboração da proposta com memorial descritivo e

justificativo. A instituição, com área construída de 2.404,12m², foi implantada em lote

4.819,75m². Seu programa de necessidades foi distribuído em seis blocos com até

dois pavimentos interligados pela área central: a praça. Para assegurar a

acessibilidade plena na instituição, os blocos foram distribuídos em niveis que se

conectam por rampas. A concepção do anteprojeto adotou o conceito de vila, e o

partido arquitetônico foi conduzido pela prioridade em estabelecer a integração entre

a instituição e a comunidade e evitar a segregação do convívio social.

PALAVRAS-CHAVE: Anteprojeto Arquitetônico. Idoso. Moradia. Mal de Alzheimer.

Acessibilidade.

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ABSTRACT

REIS, Bárbara M. Vila Marta de Medeiros. Moradia para idosos com doença de Alzheimer. Undergraduate Final Assignment. Natal: UFRN, 2014.

Currently the elderly segment of the population is growing, however the society is still

not entirely prepared to deal with this population, especially when there are physical

and mental problems resulting from age advance, as in people with Alzheimer's

disease. Based on this observation, this FGW is the architectural draft for a collective

dwelling elderly with Alzheimer's disease, to be installed on the east side of the city of

Natal, Brazil. The proposal was based on literature searches, direct and indirect

studies of references, analysis of projective conditions and preparation of the

proposal with descriptive and justificatory memorial. The institution, with built area

2.404,12m² was located in lot 4.819,75m². The program of necessities was

distributed in six blocks with up to two floors interconnected by the central area: a

square. To ensure complete accessibility to the institution, the blocks were distributed

in levels that are connected by ramps. The design of the draft adopted the village

concept and the architectural style was driven by the priority to establish the

integration between institution and community in order to prevent segregation from

society.

KEYWORDS: Architectural draft. Elderly; Dwelling. Alzheimer. Accessibility.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fachada frontal do De Hogeweyk. ............................................................ 33

Figura 2 - Planta baixa da vila De Hogeweyk. ........................................................... 34

Figura 3 - Teatro. ....................................................................................................... 35

Figura 4 - Supermercado........................................................................................... 35

Figura 5 - Clínica de fisioterapia e salão de beleza. .................................................. 35

Figura 6 - Paisagismo. .............................................................................................. 36

Figura 7 - Vegetação ................................................................................................. 36

Figura 8 - Tabuleiro de xadrez. ................................................................................. 37

Figura 9 - Fonte da praça principal. ........................................................................... 37

Figura 10 - Mobiliário. ................................................................................................ 37

Figura 11 - Mobiliário da praça central. ..................................................................... 37

Figura 12 - Saguão de acesso. ................................................................................. 38

Figura 13 - Recepção. ............................................................................................... 38

Figura 14 - Via interna principal. ................................................................................ 38

Figura 15 - Diferentes estilos de moradia. ................................................................. 39

Figura 16 - Vista da passarela. .................................................................................. 40

Figura 17 - Localização do Cidade Madura em João Pessoa. .................................. 41

Figura 18 - Residencial Cidade Madura. ................................................................... 42

Figura 19 - Moradores do Cidade Madura.................................................................40

Figura 20 - Implantação do Condomínio Cidade Madura...........................................41

Figura 21 - Acesso e entorno precários.....................................................................41

Figura 22 - Via central do Residencial........................................................................42

Figura 23 - Núcleo de Assistência à Saúde.............................................................. 42

Figura 24 - Salas do Núcleo de Assistência à Saúde................................................43

Figura 25 - Bloco administrativo e portaria. ............................................................... 46

Figura 26 - Praça Central...........................................................................................44

Figura 27 - Centro de Vivência. ................................................................................. 48

Figura 28 - Academia da Terceira Idade. .................................................................. 48

Figura 29 - Redário e mesas para jogos....................................................................45

Figura 30 - Horta. ...................................................................................................... 48

Figura 31- Detalhe do bloco de concreto...................................................................46

Figura 32 - Calçada e via central................................................................................46

Figura 33 - Paginação de piso da praça.....................................................................46

Figura 34 - Acesso aos equipamentos coletivos........................................................46

Figura 35 - Canteiro central e frente das casas.........................................................46

Figura 36 - Palmeiras. ............................................................................................... 49

Figura 37 - Planta baixa das unidades habitacionais (sem escala)...........................47

Figura 38 - Acesso às varandas das casas geminadas. ........................................... 50

Figura 39 - Sala estar e jantar....................................................................................48

Figura 40 - Quarto......................................................................................................48

Figura 41 - Banheiro...................................................................................................48

Figura 42 - Área de serviço........................................................................................48

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Figura 43 - Cozinha. .................................................................................................. 51

Figura 44 - Varanda. ................................................................................................. 51

Figura 45 - Atividade recreativa no Solar da Gávea...................................................50

Figura 46 - Fachada principal do Solar da Gávea......................................................50

Figura 47 - Área externa para lazer e convívio..........................................................51

Figura 48 - Jardins do Solar. ..................................................................................... 54

Figura 49 - Recepção.................................................................................................52

Figura 50 - Sala de estar............................................................................................52

Figura 51 - Mobiliário do Solar da Gávea...................................................................52

Figura 52 - Móvel antigo.............................................................................................53

Figura 53 - Piano bar.................................................................................................53

Figura 54 - Quarto do Solar........................................................................................53

Figura 55 - Pavilhão original.......................................................................................54

Figura 56 - Lar dos Velhinhos de Piracicaba nos dias atuais....................................54

Figura 57 - Universo de Estudo..................................................................................60

Figura 58 - Pirâmide etária por Região Administrativa de Natal................................61

Figura 59 - Planta baixa e perfil esquemático do terreno...........................................64

Figura 60 - Terreno escolhido e rosa dos ventos.......................................................65

Figura 61 - Símbolo internacional de acesso - Proporções e cores...........................69

Figura 62 - Módulo de referência e área para manobra sem deslocamento. ............ 75

Figura 63 - Organograma...........................................................................................79

Figura 64 - Croqui esquemático proposta 01 (sem escala). ..................................... 87

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LISTA DE SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas;

ATI - academia da terceira idade;

CEHAP - Companhia Estadual de Habitação Popular da Paraíba;

DML - depósito de material de limpeza;

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

ILPI - Instituição de Longa Permanência para Idosos;

LVP - Lar dos Velhinhos de Piracicaba;

NBR - Norma Brasileira;

PDN - Plano Diretor de Natal;

RDC - Resolução Da Diretoria Colegiada;

SEDH - Secretaria de Desenvolvimento Humano da Paraíba;

SEMURB - Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo;

TFG - Trabalho Final de Graduação.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Recuos estabelecidos para o Município de Natal............................ 68

Quadro 02 - Áreas mínimas para ambientes estabelecidas pelo Código de

Obras de Natal.....................................................................................................

69

Quadro 03 - Previsão do número de vagas. ...................................................... 71

Quadro 04 - Dimenões dos ambientes recomendados pela Resolução............. 74

Quadro 05 - Quadro de funcionários. ................................................................. 77

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SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................04

ABSTRACT................................................................................................................05

LISTA DE FIGURAS...................................................................................................06

LISTA DE SIGLAS......................................................................................................08

LISTA DE QUADROS................................................................................................09

SUMÁRIO.................................................................................................................. 12

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

PARTE I - REFERENCIAL TEÓRICO ......................... Error! Bookmark not defined.

1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA TERCEIRA IDADE ........................................ 18

1.1 ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA................................................ 18

1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DESTINADAS A TERCEIRA IDADE ......................... 23

1.3 ACESSIBILIDADE, LIMITAÇÕES MOTORAS E NECESSIDADES

AMBIENTAIS DA PESSOA COM ALZHEIMER ..................................................... 25

PARTE II - REFERENCIAL EMPÍRICO ...................... Error! Bookmark not defined.

2 ESTUDOS DE CASO.......................................................................................... 32

2.1 ESTUDOS DIRETOS ................................................................................... 32

2.1.1 DE HOGEWEYK, HOLANDA ........................................................................ 32

2.1.2 CIDADE MADURA, JOÃO PESSOA/PB ....................................................... 41

2.2 ESTUDOS INDIRETOS ............................................................................... 52

2.2.1 SOLAR DA GÁVEA, RIO DE JANEIRO/RJ................................................... 52

2.2.2 LAR DOS VELHINHOS DE PIRACICABA, PIRACICABA/SP ....................... 57

PARTE III - A PROPOSTA .......................................... Error! Bookmark not defined.

3 CONDICIONANTES PROJETUAIS ................................................................. 62

3.1 A ESCOLHA DA LOCALIZAÇÃO ................................................................. 62

3.2 CONDICIONANTES FÍSICO-AMBIENTAIS ................................................. 65

3.2.1 LOCALIZAÇÃO, ACESSO E ENTORNO DO TERRENO ...................... 65

3.2.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOTE ............................................................. 67

3.2.3 ANÁLISE BIOCLIMÁTICA E ORIENTAÇÃO QUANTO AO SOL E AOS

VENTOS ............................................................................................................. 68

3.3 CONDICIONANTES LEGAIS ....................................................................... 69

3.3.1 PLANO DIRETOR DE NATAL ............................................................... 70

3.3.2 CÓDIGO DE OBRAS E EDIFICAÇÕES DO MUNICÍPIO DE NATAL ... 71

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3.3.3 CÓDIGO DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO E

PÂNICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. ..................................... 72

3.3.4 NBR Nº 9050/2004 ................................................................................ 72

3.3.5 RDC Nº 283 ........................................................................................... 75

3.3.6 DECRETO Nº 8.204, DE 13 DE JULHO DE 2007. ................................ 77

4 CARACTERIZAÇÃO DOS USUÁRIOS ........................................................... 79

5 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO ............... 80

5.1 ORGANOGRAMA ........................................................................................ 83

6 PROPOSTA ARQUITETÔNICA ...................................................................... 83

6.1 CONCEITO E PARTIDO .............................................................................. 84

6.2 MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO ............................................ 88

6.2.1 IMPLANTAÇÃO ..................................................................................... 88

6.2.2 ACESSOS E ESTACIONAMENTO ....................................................... 90

6.2.3 CASAS TIPO 01 .................................................................................... 91

6.2.4 BLOCO 01 - APARTAMENTOS, SETOR DE SAÚDE E

ADMINISTRAÇÃO .............................................................................................. 92

6.2.5 BLOCO 02 - SERVIÇOS ....................................................................... 94

6.2.6 BLOCO 03 - LAZER E HORTA.............................................................. 95

6.2.7 BLOCO 04 - FUNCIONÁRIOS ............................................................... 96

6.2.8 PRAÇA .................................................................................................. 96

6.3 ESPECIFICAÇÕES DE MATERIAIS E SISTEMA CONSTRUTIVO............. 98

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 100

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 101

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INTRODUÇÃO

Na sociedade capitalista, a condição social de um indivíduo está associada a

sua capacidade de produção. Dessa forma, em muitas situações, o idoso, por ser

considerado fora da camada economicamente ativa, acaba por ser colocado à

margem da sociedade, especialmente quando seu domínio da comunicação e das

habilidades intelectuais mostra-se reduzido, o que se torna ainda mais evidente no

caso de pessoas com Alzheimer.

Partindo desse entendimento, o tema proposto para este Trabalho Final de

Graduação (TFG), que contempla as áreas de Projeto de Arquitetura e Psicologia

Ambiental, é o desenvolvimento do anteprojeto arquitetônico de um espaço

destinado à moradia de idosos com Alzheimer, tendo como meta maior contribuir

para sua inclusão social e melhor qualidade de vida.

O desejo de tentar propiciar melhor qualidade de vida a idosos que enfrentam

a perda parcial ou integral da memória, surgiu da experiência pessoal de

acompanhar minha avó (hoje falecida) durante o desenvolvimento de sua doença

demencial, período em que testemunhei vários casos de idosos excluídos pela

sociedade por não possuírem uma memória plena, condição que agravava ainda

mais suas dificuldades. Além disso, com frequência são divulgados casos de idosos

abandonados ou sofrendo maus tratos, situação que aponta claramente para a

dificuldade das famílias lidarem cotidianamente com estes idosos (em função de

inúmeros fatores, entre os quais as exigências do mundo do trabalho/estudo) e para

sua eventual institucionalização.

Esse quadro geral despertou em mim a necessidade de me valer do meu

papel de futura arquiteta para contribuir para essa causa social, entendendo que o

arquiteto, enquanto responsável pela qualidade dos espaços que cria, tem a

atribuição de proporcionar às pessoas melhores condições de moradia, lazer,

trabalho e, portanto, de vida.

Como em nossa cidade não existem instituições especificamente destinadas

à moradia de pessoas com Alzheimer, foi definido como universo de estudo o

Município de Natal, Rio Grande do Norte, tendo como recorte a sua Região

administrativa Leste, especificamente o bairro Lagoa Seca.

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15

Diante da necessidade de atender aos idosos enquanto grupo social, esse

anteprojeto propõe um espaço destinado à moradia coletiva de idosos com doença

de Alzheimer, que possibilite a eles boas condições de conforto, acessibilidade e

saúde mental. O objetivo geral é criar um espaço que incentive o convívio social a

estes idosos, oferecendo a eles um local de habitação que possa contribuir para sua

saúde física e mental, por meio de espaço físico adequado, que contenha

equipamentos e atividades relacionados ao estímulo à memória e a busca pela

integração com a sociedade. Como objetivos específicos foram definidos:

Analisar projetos direcionados a moradia para idosos, quanto à sua

concepção e funcionamento;

Realizar estudo sobre as necessidades ambientais de pessoas com

Alzheimer, por meio de pesquisas e entrevistas no âmbito social e

médico;

Levantar as normas que regem o funcionamento das ILPI’s;

Analisar alguns aspectos construtivos, funcionais e visuais necessários

ao anteprojeto proposto.

A fim de atingir os objetivos propostos e levando em consideração o objeto de

estudo definido, metodologicamente o TFG foi desenvolvido em quatro etapas:

Etapa I – Pesquisa Bibliográfica, com estudo da literatura referente ao

tema;

Etapa II – Entendimento das necessidades da pessoa com Alzheimer,

por meio do contato com famílias e com médicos (entrevistas);

Etapa III – Realização de estudos de referência diretos e indiretos;

Etapa IV – Desenvolvimento do anteprojeto arquitetônico, considerando

as diferentes fases projetuais como um processo dinâmico de interação

entre o projetista e o objeto arquitetônico que requer constante ação-

reflexão (SCHON, 2000; LAWSON, 2011).

O produto final do TFG é apresentado em dois volumes: esta parte escrita,

desenvolvida em três partes, e a gráfica, correspondente ao anteprojeto

arquitetônico para a moradia coletiva.

O presente volume discute as três primeiras etapas supracitadas e as

características da proposta. Sua primeira parte diz respeito ao referencial teórico; a

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16

segunda discorre sobre o referencial empírico e a terceira apresenta a proposta

arquitetônica desenvolvida.

A parte gráfica é formada por nove pranchas e perspectivas, organizadas

agrupando por setores os desenhos de plantas baixas, cortes, fachadas e detalhes.

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17

1

REFERENCIAL

TEÓRICO

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18

1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DA TERCEIRA IDADE

O envelhecimento é um processo dinâmico, progressivo, inevitável, com ritmo e características específicas em cada pessoa, implicando alterações morfofisiológicas e, consequente repercussão familiar, econômica e social (SENA, 2008, p. 233).

A sociedade contemporânea busca a longevidade. Através das ciências e dos

avanços tecnológicos se tem alcançado cada vez mais progresso nesse sentido,

porém não está preparada para ela. Devido à falta de planejamento para essa

mudança demográfica, o mundo capitalista não está pronto para atender as

demandas sociais que o envelhecimento traz e as principais consequências disso

são as condições inadequadas em que vivem os idosos.

Iniciando esse TFG, esse capítulo inicial trabalha quatro aspectos ligados à

problemática do idoso na sociedade contemporânea: envelhecimento e qualidade de

vida; políticas públicas destinadas à terceira idade; necessidades ambientais da

pessoa com Alzheimer; acessibilidade.

1.1 ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA

Como qualidade de vida entende-se a “percepção do indivíduo de sua

posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive, e

em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (FLECK et al,

1999, p. 20, apud PEDROSO et al, p.113).

O avanço da idade requer maiores cuidados para que se alcance um bom

nível de qualidade de vida. A pessoa idosa passa a necessitar de cuidados e

atenção específicos, pois cresce o leque de possíveis problemas sociais, emocionais

e de saúde física e mental, interferindo diretamente na qualidade de vida do

indivíduo.

Segundo Gunther e Khoury (2006, p. 298), “o envelhecimento humano é um

processo que pode oferecer riscos ao bem-estar psicológico e à boa qualidade de

vida, uma vez que se faz acompanhar por perdas significativas para o indivíduo que

envelhece”.

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19

Apesar de ser resultado de um avanço social que conduz ao aumento da

expectativa de vida, o envelhecimento no Brasil tem se deparado com questões que

dificultam a promoção da qualidade de vida. Segundo Couto, Koller e Novo (2006, p.

315), “a aceleração do envelhecimento populacional não foi acompanhada de

planejamentos adequados para o atendimento de idosos”. Luzardo (2006) afirma

que, em nosso país, a complexidade dos problemas sociais relacionados ao impacto

provocado pelo aumento da expectativa de vida das pessoas reflete diretamente na

manutenção da saúde dos idosos.

De acordo com Ramos (2003, apud FREIRE et al, 2012, p. 534), “com o

aumento da população idosa, há também um aumento de doenças crônicas e

incapacitantes, bem como uma mudança na saúde pública”. Neste contexto, é

necessário fazer reflexões a respeito das doenças que atingem a terceira idade,

dentre as quais estão as síndromes demenciais, sobretudo o Alzheimer.

Segundo Rose (2006, apud NEUMANN, 2010, p. 56), “se todos os seres

humanos atingirem sua suposta idade máxima, todos teriam a doença”. Diante

disso, é válido enfatizar que as doenças crônicas degenerativas características da

terceira idade, como o Alzheimer, não somente se configuram como uma questão

social atual, mas também futura, o que torna necessário o planejamento político e

social para atender a essa demanda.

A palavra demência vem do latim dementia e é um termo utilizado para denominar as disfunções globais cognitivas, que geralmente são acompanhadas de transtornos do humor e do comportamento. É mais bem definida como uma síndrome, ou seja, um conjunto de sinais e sintomas produzidos por causas diferentes. A doença de Alzheimer é a principal causa de demência e pode ser definida como uma condição que provoca deficiência cognitiva progressiva, onde a memória é a parte mais afetada, principalmente a capacidade de reter novas informações, mas na medida em que a doença evolui outras funções cognitivas como: orientação, linguagem, julgamento, função social e habilidades de realizar tarefas motoras (praxias) também declinam. (NEUMANN, 2010, p. 52)

A literatura nesse campo aponta que os sintomas iniciais da doença são as

perdas na memória de curto prazo, seguidas de prejuízos na orientação temporal e

espacial, na atenção, na linguagem, na capacidade e habilidades para desempenhar

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as atividades da vida diária, além das mudanças comportamentais (LUZARDO,

2006).

Questões como o preconceito, a falta de suporte familiar, a negação da

doença, a ausência de colaboração da família, dificuldade dos familiares para lidar

com agressividade e comportamento antissocial causados pela doença, dificuldade

de ordem financeira para a compra de medicamentos de alto custo podem provocar

o tratamento tardio e consequentemente o avanço da doença e de seus sintomas,

tornando o problema mais grave.

Com a progressão da doença também progride a gravidade dos sintomas. A perda de memória prejudica ainda mais as atividades da vida diária (AVDs), piorando a desorientação espacial e pessoal, havendo também mudanças comportamentais, como depressão e agressividade (BRUST, 2000 apud NEUMANN, 2010, p. 60).

Na etapa final da doença, o idoso perde sua independência motora e

intelectual, precisando de cuidados em tempo integral e, portanto, de cuidadores. Na

escolha do cuidador, a família se depara com inúmeros problemas, tanto em termos

de habilitação dos candidatos tanto quanto de empatia destes com o idoso, uma vez

que situações de conflitos entre ele e o idoso podem aumentar as possibilidades de

institucionalização. Embora um membro da família em geral seja mais facilmente

aceito, nem sempre há pessoas com disponibilidade e, no caso de famílias com

poucos membros, há poucas opções de revezamento e, ainda, a impossibilidade de

dedicação integral, pois a pessoa que cuidaria do idoso pode ser a mesma que

precisa trabalhar para promover o sustento do doente.

Além disso, no Brasil existem fatores agravantes da situação das pessoas

idosas, como a precariedade da saúde pública, que não dispõe de infraestrutura

suficiente para atendê-las adequadamente. Conforme Vono (2007, p. 22), no Brasil

ainda estamos construindo nossa visão e atenção ao idoso, pois “o idoso é novo em

nosso país, assim como as leis e os estudos sobre o processo de envelhecimento”.

A implicação disso é o aumento do número de pessoas doentes e o rápido avanço

das doenças degenerativas naqueles que não tem de condições de tratar.

Nos dias de hoje, muitos problemas que afetam a saúde dos idosos podem ser considerados fatores de ordem social, mais especificamente de ordem econômica. Os problemas de infraestrutura

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socioeconômica, pessoal e familiar predispõem, muitas vezes, os idosos a processos patológicos que poderiam ser evitados ou retardados. (FREITAS, 2012, p.16)

Para o autor, “os cuidados oriundos de redes informais de apoio constituídas

por filhos, esposos, outros parentes e amigos têm representado a mais importante

fonte de suporte para pessoa idosa”. Entretanto, na sociedade contemporânea, é

importante ressaltar que nem sempre é possível que o idoso seja cuidado pela

família, o que pode ser ocasionado pela sobrecarga ou pelo contexto de vida.

Devido a fatores como a necessidade de exercer atividades remuneradas e

demais tarefas pessoais e a falta de condições financeiras, para algumas famílias

não é possível dar a assistência direta que o doente necessita, nem mesmo

contratar um profissional cuidador. As consequências dessa impossibilidade podem

ser graves, visto que o idoso pode não receber cuidados, sofrer violência e

abandono. Sobre isso, Queiroz (2010, p. 490) destacou que “a existência de alguma

dependência é uma característica comum aos idosos vítimas de negligência e maus-

tratos”. Apesar de a Política Nacional de Saúde do Idoso enfatizar que o idoso deve

ser cuidado preferencialmente pelos familiares, nesses casos é preciso se

considerar a possibilidade de institucionalização.

Embora prevaleçam os estudos que demonstram associações negativas ao processo de asilamento ligado ao isolamento, a baixa auto-estima, declínio funcional, entre outros efeitos. Também existe uma corrente de estudiosos que recomendam essas instituições para àqueles idosos que possuem dependência total e impossibilidade de recuperação, levando-nos a considerar o valor social dessas instituições. Ainda, deve - se considerar a importância dessas instituições àqueles idosos que moram sós e que não têm família, pois esses locais tornam-se um lugar de proteção e de cuidado em situações de vulnerabilidade social (TELLES FILHO; PETRILLI FILHO, 1999, apud MEDEIROS, 2012).

O Estatuto do Idoso prevê a institucionalização, nesse tipo de situação, em

Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI’s), a fim de proporcionar ao

idoso, não só o doente de Alzheimer, a qualidade de vida que lhe é necessária,

através de moradia com espaços adaptados a suas limitações e de assistência por

parte de profissionais capacitados.

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A institucionalização passa a ser um “mal necessário”: pelo menos os idosos estarão sendo assistidos, cuidados, e teriam a companhia de outras pessoas (MAZZA, 2004, p. 74).

As motivações para a institucionalização podem ser diversas, para Bessa e

Silva (2008, p. 258), “o ingresso na instituição decorre da solidão, das necessidades

de cuidados, dos conflitos familiares e das perdas de entes queridos”. A mesma

autora relaciona o processo de adaptação após a institucionalização às motivações

do ingresso, havendo casos nos quais o idoso não se adapta satisfatoriamente e sim

se acomoda a uma realidade imutável.

Como alternativa para melhor adaptação do idoso ao novo lar, pode-se

priorizar aquilo que Vono define por acolhimento - “uma atitude humanizada que

significa agregar à eficiência técnica e científica valores éticos, além de respeito e

solidariedade ao ser humano” - tornando possível uma institucionalização que

ofereça melhor qualidade de vida, como vem a propor este trabalho.

Nesse sentido, o projeto de moradia para idosos deve buscar seguir diretrizes

no ramo da psicologia ambiental, como a possibilidade de personificação dos

espaços. O idoso pode ter a alternativa de, ao mudar-se para o novo lar, levar seus

objetos pessoais, seus móveis e demais itens que possam auxiliar na manutenção

da sua identidade, na adaptação e identificação do seu espaço.

A integração com a comunidade externa à instituição e a localização próxima

a equipamentos de lazer, como as praças, permitem a convivência entre vizinhos, o

que favorece a vida social ativa da pessoa idosa; a flexibilidade dos horários e dias

de visita, afastando a imagem de um ambiente que remeta à internação e ao

isolamento. O estímulo à criação de laços afetivos entre os próprios moradores da

instituição, e entre eles e a comunidade, pode diminuir a possível impressão de que

o idoso institucionalizado estaria excluído da sociedade, devolvendo a ele a

sensação de vida social ativa.

A acessibilidade é um ponto importante na vida do idoso. O envelhecimento

acarreta dificuldades de locomoção, aumentando as limitações do indivíduo e

tornando necessário que os espaços sejam livres de barreiras, ofereçam segurança

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para locomoção e garantam a acessibilidades a todas as pessoas, quaisquer que

sejam as suas deficiências.

Desse modo, este trabalho buscará desenvolver um projeto destinado ao

público da terceira idade levando em consideração as questões e peculiaridades que

interferem no seu bem estar social, mental e físico, para que a institucionalização

venha a ser solução, e não problema, oferecendo a ele as melhores condições

possíveis de vida.

1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DESTINADAS A TERCEIRA IDADE

Institucionalizar o idoso no Brasil é uma prática que atualmente não é bem

aceita pela sociedade e pelo poder público, na forma da legislação. A realidade dos

antigos asilos criou a ideia de exclusão e abandono do idoso institucionalizado.

Entretanto, as mesmas políticas que recomendam o acolhimento familiar entendem

que os idosos abandonados e vítimas de negligência são uma realidade da

sociedade atual, tornando necessária a criação de meios que atendam a essas

pessoas, que também têm o direito à moradia digna. Para esses casos, foram

criadas as ILPIs, a fim de promover a institucionalização dessas pessoas

necessitadas, podendo essa atitude ser considerada, inclusive, como medida de

proteção.

Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) - Instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinada a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade e dignidade e cidadania. (BRASIL. RDC 283, 2005).

As ILPIs são locais de moradia em tempo integral para atender idosos que se

encontram em situação de abandono ou negligência familiar e de inexistência de

vínculo familiar e com a sociedade.

A Política Nacional do Idoso define como idoso a pessoas com idade superior

a sessenta anos. Essa lei foi sancionada com o intuito de garantir os direitos sociais

da pessoa idosa “criando condições para promover sua autonomia, integração e

participação efetiva na sociedade” (BRASIL. Política Nacional do Idoso, 1996).

Sobre atendimento destinado a pessoa idosa, a lei determina que deve ser

prioritariamente através da família, porém prevê e permite a institucionalização em

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casos de idosos que não tenha condições de sustento para garantir a própria

sobrevivência.

Cabe aos órgãos e entidades públicos a criação de incentivos e alternativas

para atendimento ao idoso, através de moradia, centros de convivência e de

cuidados. No que diz respeito à habitação e urbanismo, a legislação determina que

sejam eliminadas barreiras arquitetônicas e urbanas, a fim de garantir o livre acesso

a todos.

De acordo com a Política Nacional do Idoso, compete ao poder público

promover a assistência social ao idoso em situação asilar ou não asilar, sendo esta

prevista em casos de inexistência da família, de abandono e carência de recursos

financeiros para suprir as necessidades básicas da pessoa idosa.

Entende-se por modalidade asilar o atendimento, em regime de internato, ao idoso sem vínculo familiar ou sem condições de prover à própria subsistência de modo a satisfazer as suas necessidades de moradia, alimentação, e saúde e convivência social. (BRASIL. Política Nacional do Idoso, 1996).

O Estatuto do Idoso determina que o amparo ao idoso é papel da família, da

sociedade e do Estado, garantindo, com prioridade, seu direito à vida, à dignidade, à

moradia digna, à saúde, à educação, ao lazer, à liberdade, à cidadania e a

participação e integração comunitária.

Segundo o Estatuto, o idoso tem direito ao respeito, que consiste “na

inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral, abrangendo a preservação da

imagem, da identidade, da autonomia, de valores, ideias e crenças, dos espaços e

objetos pessoais” (BRASIL, Estatuto do Idoso, 2003). Dessa forma, é válido salientar

a importância da personalização do espaço, que será uma das diretrizes projetuais

desse trabalho.

Os programas de assistência à pessoa idosa devem ser executados, de

preferência, em seus lares. O idoso tem direito ao atendimento domiciliar, mesmo

nos casos em que mora em instituição de longa permanência, minimizando a

necessidade de internação hospitalar e mantendo o doente em seu ambiente de

conforto: o seu lar.

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É dever das instituições para idosos “manter padrões de habitação

compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação

regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob

as penas da lei”. (BRASIL. Estatuto do idoso, 2003).

Como forma de priorizar a qualidade de vida e o bem-estar social dos idosos,

o Estatuto do Idoso determina que as instituições adotem princípios como:

preservação de laços familiares; preservação da sua identidade; atendimento

personalizado e em pequeno número de pessoas; manutenção na mesma

instituição, sempre que possível; participação em atividades comunitárias e respeito

aos seus direitos e garantias.

Diante desse quadro geral, como esse TFG focaliza especialmente os idosos

com Alzheimer, os próximos itens estão especificamente direcionados para

comentar esta situação.

1.3 ACESSIBILIDADE, LIMITAÇÕES MOTORAS E NECESSIDADES

AMBIENTAIS DA PESSOA COM ALZHEIMER

O Alzheimer enquanto doença degenerativa e progressiva impõe à pessoa

uma realidade que a torna dependente psicológica e fisicamente, pois os vários

estágios de degeneração fazem com que perca o domínio sobre suas capacidades e

habilidades intelectuais, emocionais e motoras.

Dentre os fatores que participam desse processo est ão os ambientes social e

físico, visto que surgem necessidades que abrangem do lar à comunidade onde vive

(ALMBERG; PAULSSON, 1991). Nesse contexto se faz necessário repensar a forma

de planejamento da comunidade e do projeto de habitação destinados a esse

público, priorizando o que esses autores apresentam como palavras-chave para o

bem estar desse indivíduo: atividade, identidade e segurança. Atividade como

prática de inclusão, integração e participação na comunidade; identidade através da

preservação e respeito às características individuais e à história dessa pessoa e

segurança principalmente no sentido preventivo, ou seja, evitando acidentes e

traumas que possam agravar o estado de saúde do idoso.

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Para que se possa obter os três itens fundamentais citados, oferecer

assistência profissional e pessoal se faz indispensável, tanto no uso do espaço

como no seu planejamento, o que deve levar em consideração as necessidades

dessas pessoas, visto que um ambiente adequado deve permitir ao indivíduo o

pleno uso de suas capacidades.

As limitações físicas são uma das consequências do Alzheimer que, além de

debilitar o idoso do ponto de vista cognitivo, atinge também o sistema motor e o

torna progressivamente dependente. Essas limitações, exigem a adaptação do

espaço físico. Para Dorneles (2006), as necessidades físicas são mais facilmente

reconhecidas que as demais, visto que no projeto de espaços para idosos elas são

as primeiras a serem observadas. Elas possuem relação com a saúde física, a

segurança e o conforto dos usuários no ambiente e por isso "um ambiente projetado

para suprir as necessidades físicas do idoso deve estar livre de obstáculos e ser de

fácil manutenção, para evitar acidentes" (DORNELES, 2006, p.35).

O tema "acessibilidade espacial" está se tornando cada vez mais comum em nosso país, e refere-se à possibilidade de plena integração entre as pessoas e os ambientes, sem segregá-las e permitindo que as atividades sejam realizadas com êxito, por todos os diferentes usuários. Garantir a acessibilidade parar todos é uma tarefa difícil, pois deve-se abranger as necessidades espaciais de pessoas com as mais diferentes restrições, ou seja, pessoas com limitações em desempenhar atividades devido às suas condições físicas associadas às características dos ambientes. (GÓIS, 2012, p. 78).

Do ponto de vista da orientação, a acessibilidade é um problema

prático óbvio. Almberg e Paulsson (1991) destacam que eliminar os riscos e

estabelecer um sentimento de confiança entre os moradores exigem certas medidas

no layout e equipamentos.

Para analisar a acessibilidade, Bins Ely e Dischinger (2012) destacam os

quatro componentes exigidos para que o espaço construído seja considerado

acessível.

Orientação e informação - relacionadas com a compreensão dos ambientes, permitindo que um indivíduo possa situar-se e deslocar-se a partir das informações dadas pelo ambiente, sejam elas visuais, sonoras, arquitetônicas, entre outras. Por exemplo, quando não se consegue identificar todo um ambiente a partir de seus diferentes pontos, a presença de mapas e placas informativas contribui para a orientação do usuário.

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Deslocamento - condições de movimentação e livre fluxo que devem ser garantidas pelas características das àreas de circulações, tanto no sentido vertical como no horizontal. A implantação de pisos regulares e antiderrapantes, a presença de corrimãos e patamares em escadas e rampas, presença de faixa de mobiliário fora das áreas de circulação etc., são exemplos de características que contribuem com este componente. Uso - componente relacionado com a participação em atividades e utilização dos equipamentos, mobiliários e objetos dos ambientes, e é garantido a partir de características ergonômicas adequadas aos usuários e de uma configuração espacial que permita ao usuário sua aproximação e presença, como no caso de mesas para jogos com espaço para cadeiras de rodas.

Comunicação - facilidade de interação entre usuários e ambiente, que pode ser garantido a partir de configurações espaciais de mobiliário ou tecnologias assistivas, como terminais de informação computadorizados, para o caso de pessoas com problemas auditivos e de produção lingüística.

Dorneles (2006) expõe as principais diretrizes projetuais a serem seguidas no

desenvolvimento de projetos para idosos, com base nos quatro componentes

supracitados. A respeito da orientação e informação, a autora sugere: (i) a

setorização das atividades e a diferenciação dos cenários a partir do uso texturas,

materiais e vegetação diferentes; (ii) ambientes bem iluminados para evidenciar os

obstáculos, desníveis e acidentes. (iii) uso das cores para diferenciar os

equipamentos e suas funções, e alertar para situações de possível risco. Para tanto,

é recomendado utilizar:

Texturas e cores diferenciadas em pisos com desnível;

Cores diferentes em pisos e paredes, visto que o idoso tem dificuldade de

perceber o limite da circulação;

Mobiliário com cores contrastantes com as do ambiente para não serem

confundidos;

Variação de formas e volumes de planos e equipamentos para facilitar a

percepção de perspectiva e profundidade.

No aspecto deslocamento, é essencial o cuidado com os tipos de piso, que

devem ser antiderrapantes e anti-reflexo; além disso, o mobiliário deve ser instalado

fora da faixa de circulação dos passeios e circulações e as diferenças de níveis

devem ser superadas prioritariamente por rampas.

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Quanto ao uso, deve-se observar as questões de ergonomia, minimizando

esforços por parte do usuário. Como exemplo, pode-se citar as jardineiras e hortas

elevadas que permitem o manuseio sem que o idoso precise se abaixar. Nesse

caso, os objetos e mobiliários devem ser bem fixados na base e ter cantos

arredondados, excluindo as quinas vivas causadoras de acidentes. Nas áreas de

estar devem haver espaços livres para acolhimento de cadeira de rodas.

Sobre a comunicação, a principal indicação é de que a configuração espacial

das áreas coletivas facilite a interação entre os usuários, permitindo por exemplo

conversas paralelas e frontais.

É válido enfatizar que "ao se projetar espaços para idosos, é importante que

se definam prioridades, para o caso de não ser possível colocar em prática todas as

soluções encontradas" (DORNELES, 2006, p.64) a fim de promover o máximo de

adaptabilidade e acessibilidade possíveis.

De acordo com entrevista realizada com a médica geriatra Miriam Reyko, tal

preocupação precisa estender-se à coletiva. A nível de comunidade é importante

priorizar a sociabilização da pessoa idosa, promovendo atividades de interação entre

ela e a vizinhança, esforço ainda maior em relação aos idosos com Alzheimer.

Comunicar a pequena comunidade onde o idoso habita (instituição) com a grande

que o circunda (bairro) em atividades como lazer e comércio é uma alternativa para

a criação de laços sociais. Dar ao doente a opção de realizar suas próprias compras

(sob supervisão de profissional) pode ser um exemplo de atividade rotineira que o

remeta à vida que levava antes da doença, além de contribuir para a não exclusão,

que é fundamental no exercício de suas habilidades.

O avanço dos estágios do Alzheimer leva o idoso a situações de

desorientação tanto no sentido de tempo, como de espaço e identidade. A perda da

noção de identidade, o não reconhecer-se, está associado também ao ambiente

onde vive, visto que é importante viver em um ambiente conhecido, manter contato

com parentes, ter relações sociais e de memória (RITCHIE; EDGERTON, 2014).

Como a capacidade de localizar-se em espaços pouco conhecidos e até mesmo nos

mais íntimos, como sua própria casa, é reduzida, incapacidade que pode gerar

inatividade e apatia, fazendo com que deixe de interagir com as pessoas e com o

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ambiente e tenha problemas de linguagem e no reconhecimento de objetos

(RITCHIE; EDGERTON, 2014).

Para a geriatra Miriam Reyco, é importante que, respeitando as limitações de

cada um, se desenvolvam atividades em grupo e se crie uma rotina na qual a

pessoa tenha compromissos e responsabilidades individuais e com a comunidade,

como, por exemplo, cuidar de jardins e hortas (a exemplo do modelo de jardim para

idosos), auxiliar na limpeza da casa, ter horários para praticar exercícios físicos,

participar de oficinas de artesanato, musicoterapia, grupos de leitura etc.

O jardim para idosos prevê adaptações para áreas ajardinadas relacionadas às modificações que ocorrem com o envelhecimento, pois alega que utilizar jardins e estar em contato com a vegetação e elementos naturais serve como terapia, contribuindo para melhorar as condições físicas e emocionais das pessoas da terceira idade e, também, suas habilidade cognitivas e sua interação social. Algumas sugestões de projeto são a presença de espaços de descanso à sombra para os idosos, presença de espaços para os jardineiros ensinarem sobre as plantas para quem tiver interesse , presença de floreiras e hortas elevadas que evitem o idoso se abaixar e se levantar com frequência, cujas bordas podem servir como assento, entre outras (KERRIGAN, 2005, apud DORNELES, 2006, p. 61).

No planejamento dos espaços deve-se observar algumas recomendações do

corpo médico, sendo a principal delas a eliminação de riscos, ou seja, os ambientes

devem ser projetados de forma a garantir o máximo de segurança. No âmbito

coletivo, destacam-se: (i) o traçado de caminhos óbvios, que não ofereçam várias

alternativas, de circuitos fechados; (ii) a sinalização visual com o uso de desenhos e

cores distintas; (iii) eliminação de barreiras visuais e físicas favorecem a sensação

de orientação.

No âmbito individual, a mudança do lar do idoso para um ambiente novo pode

fazer com que ele perca as referências espaciais que já são difíceis de ser mantidas.

A dificuldade de memorizar novas informações torna necessário que as antigas

estejam presentes no dia-a-dia, como estímulo à memória e como forma de manter

as referências.

Segundo Góis (2012), é "importante personalizar o ambiente. Tal atitude gera

o sentimento de pertinência ao local, contribuindo para a manutenção da identidade,

controle da situação e auto-estima do idoso". Nesse sentido, Almberg (1991),

aconselha permitir ao idoso portar sua própria mobília como forma de personificar o

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novo lar, pois seu caráter pessoal pode ser mantido a um grau notável, mesmo em

fases posteriores.

As conexões e o layout são fundamentais na identificação dos ambientes,

exigindo providências como: layout da casa simples e de fácil entendimento; evitar

corredores com uma grande quantidade de portas; as conexões entre o indivíduo e

os espaços comuns devem ser simples e fechadas; ambientes como a varanda ou

terraço, sala de estar e TV, música, jogos, sala de trabalho em grupo são essenciais.

Cozinhar, arrumar a mesa, lavar a louça, ler, fazer artesanato e exercícios

para memória são atividades comuns de grande valor terapêutico para os idosos

com demência. (ALMBERG; PAULSSON, 1991). Além disso, uma cozinha comum

envolve riscos porque nela mistura-se o uso do forno, armários, geladeira e

congelador; um ambiente com muitos quartos se torna mais difícil e confuso para as

pessoas com demência (RITCHIE; EDGERTON, 2014).

Deve-se dar atenção ao que a geriatra Reyco chama de "trânsito domiciliar",

para facilitá-lo o espaço onde a pessoa irá circular deve ser claro (o que facilita a

orientação e previne acidentes) e livre de barreiras e elementos que confundam.

Para isso, é recomendado utilizar: boa iluminação natural e artificial; reduzir a

mobília, vidros e espelhos (visto que a mobília diminui as possibilidades de

deslocamento, os vidros dificultam a delimitação do espaço e do objeto o qual

compõe podendo causar acidentes e os espelhos, além de representarem os

mesmos riscos dos vidros comuns, podem causar ainda problemas de identificação

daquela pessoa que sequer se reconhece).

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REFERENCIAL

EMPÍRICO

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2 ESTUDOS DE CASO

O referencial empírico trata dos estudos de caso de projetos que tem o

enfoque proposto nesse TFG, ou seja, que abrigam idosos, especialmente aquele

com Alzheimer. Os estudos foram feitos de forma direta (visitas aos locais) e

indireta, através de pesquisa bibliográfica em livros e na internet.

2.1 ESTUDOS DIRETOS

Os estudos diretos foram realizados em De Hogeweyk, Holanda e no

Condomínio Cidade Madura, João Pessoa/PB, Brasil.

2.1.1 DE HOGEWEYK, HOLANDA

O estudo direto em um espaço destinado a idosos com Alzheimer e

síndromes demenciais foi realizado na Holanda, uma vez que não localizamos

espaços com esse enfoque no Brasil. Durante a participação no Programa Ciências

Sem Fonteiras, entre agosto/2013 e julho/2014, visitei a vila De Hogeweyk, em

Weesp, periferia de Amsterdam, escolhida por ser reconhecida como modelo

mundial nesse campo. O acesso foi restrito às áreas comuns da vila, não sendo

possível entrar e fotografar as residências, por questões de privacidade e segurança

dos idosos.

De Hogeweyk (figura 1) é uma instituição financiada pelo governo holandês

que foi concluída em 2009, depois de ter sido uma casa de repouso tradicional. A

decisão de transformar a antiga construção nessa comunidade experimental foi

tomada ao se perceber que a solução para melhorar a qualidade de vida desses

idosos não era somente abrigá-los, e sim dar moradia adequada ao seu tratamento,

segundo a oficial de informação da instituição, Isabel van Zuthem:

Alzheimer está se tornando um grande problema e todo mundo está buscando respostas de como lidar com isso no futuro (...) Nós perguntamos, o que é mais importante na vida das pessoas? Se eles vão para uma casa de repouso, devem ser capazes de levar uma vida normal

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ou o mais normal possível. Então nós destruímos a antiga e construímos a vizinhança nova. (THE TIMES JOURNAL, 2012)1

Figura 1 - Fachada frontal do De Hogeweyk.

Fonte: acervo próprio, 2013.

Conhecida também como "vila do futuro", a comunidade recebe pessoas com

demência grave que necessitam de cuidado 24h por dia. Além das residências,

conta com áreas de convivência, como: restaurante, café, teatro, cabeleireiro,

supermercado, uma grande praça com uma fonte e equipamentos para jogos e

lazer.

A vila, que ocupa todo o quarteirão, foi implantada em blocos de

apartamentos, comércio e espaços para lazer conectados por vias internas (figura

2). Logo após a entrada/recepção é possível encontrar uma praça principal, à direita

o teatro e à esquerda o bloco comercial, onde estão localizados o supermercado,

café, salão de festas e restaurante (figuras 3 e 4). Na via principal, estão o salão de

beleza, as clínicas médicas e de fisioterapia (figura 5).

Embora se trate de um grande empreendimento, é importante notar que foi

subdividido em setores menores de habitação, os quais se concentram em torno de

pequenas praças, a fim de criar referencias mais “fixas” para os usuários, que se

adaptam melhor a esta escala.

1 Tradução livre da autora do original em idioma inglês: “Alzheimer's is becoming a bigger and bigger problem

and everyone is looking for answers of how to deal with in the future (...) We asked, what is important in life

for people? If they come a nursing home, they should be able to lead a normal life, or as normal possible. So we

demolished the old and built a neighbourhood.”

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Figura 2 - Planta baixa da vila De Hogeweyk.

Fonte: www.detail-online.com/architecture/topics/dementia-village-de-hogeweyk-in-weesp-019624.html

Segundo a administração, foi observado que os idosos passavam muito

tempo sentados ao ar livre, um espaço importante para a qualidade de vida deles e

que necessitaria de atenção especial no projeto. As áreas livres foram projetadas

pelo arquiteto paisagista Niek Roozen para incentivar o convívio entre as pessoas.

Cada jardim remete a uma atmosfera diferente para estimular o uso em atividades

diversas (figuras 6, 7, 8 e 9). O mobiliário das áreas de convivência possui em cores

fortes que, segundo a administração, é uma forma de chamar a atenção e tentar

estimular o uso (figuras 10 e 11).

LAZER HABITAÇÃO

HABITAÇÃO

ADM. LAZER

COMÉRCIO

COMÉRCIO E SAÚDE APOIO/

HABITAÇÃO

APOIO

HABITAÇÃO

LAZER

LAZER

ACESSO

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Figura 3 - Teatro.

Fonte: acervo próprio, 2013.

Figura 4 - Supermercado.

Fonte: http://gizmodo.uol.com.br/vila-pacientes-

demencia/

Figura 5 - Clínica de fisioterapia e salão de beleza.

Fonte: acervo próprio, 2013.

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Figura 6 - Paisagismo.

Fonte: www.niekroozen.com/en/project/Nursing-Home-De-Hogeweyk/

Figura 7 - Vegetação

Fonte: www.niekroozen.com/en/project/Nursing-Home-De-Hogeweyk/

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Figura 8 - Tabuleiro de xadrez.

Fonte: acervo próprio, 2013.

Figura 9 - Fonte da praça principal.

Fonte: acervo próprio, 2013.

Figura 10 - Mobiliário.

Fonte: acervo próprio, 2013.

Figura 11 - Mobiliário da praça central.

Fonte: acervo próprio, 2013.

Apesar de ser referência na área, a proposta da vila também vem recebendo

críticas, visto que é uma espécie de "faz de conta" no qual os idosos estão em

constante tratamento, pois todas as pessoas que trabalham como funcionários

desses ambientes comuns são treinadas como cuidadores de idosos com demência.

O morador acredita, por exemplo, estar indo ao supermercado fazer compras

normalmente, quando na verdade os atendentes ao seu redor são pessoas

capacitadas para cuidar dele. À essas críticas, a representante, Isabel van Zuthem,

responde que a verdade sobre o funcionamento da vila não é segredo para os

residentes, porém essa informação é esquecida por eles em poucas horas. A

administração afirma, ainda, que o tratamento é eficiente, porque com o passar dos

anos é possível observar a diminuição do uso de medicamentos, de modo que o

idoso passa menos tempo "dopado". Assim, a "fantasia" faz parte do tratamento

desenvolvido em De Hogeweyk e, para isso, todo o ambiente foi construído de forma

a ser reconhecido como "normal" pelo idoso, fazendo com que ele se sinta mais

confortável. Dentro da vila os moradores têm a liberdade e segurança de ir e vir

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como quiserem, já que só é permitida a entrada a pé ou de bicicleta. Existe somente

um acesso, pelo saguão, onde a recepcionista pode controlar o fluxo de pessoas,

sejam elas residentes, funcionários ou visitantes (figuras 12, 13 e 14).

Figura 12 - Saguão de acesso.

Fonte: acervo próprio, 2013.

Figura 13 - Recepção.

Fonte: acervo próprio, 2013.

Figura 14 - Via interna principal.

Fonte: acervo próprio, 2013.

O projeto de interiores das casas visa ajustar-se a diversos estilos de vida

(figura 15). São sete propostas: urbano, cristão, classe alta, caseiro, indonésio,

cultural e rústico, escolhidos de acordo com o estilo de vida que o idoso levava

anteriormente. As residências são ocupadas por uma média de seis moradores, que

possuem quartos individuais ou duplos e dividem as áreas sociais. São 152

residentes idosos, distribuídos em 23 casas e com 4 cuidadores para cada um deles.

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Figura 15 - Diferentes estilos de moradia.

Fonte: http://gizmodo.uol.com.br/vila-pacientes-demencia/

As áreas comuns (comércio e lazer) estão dispostas no pavimento térreo,

enquanto os apartamentos estão distribuídos entre o térreo e o primeiro pavimento.

A circulação vertical é feita por um elevador que funciona por sensor de presença.

Há, ainda, uma escada não disponibilizada aos idosos (franqueada aos

funcionários). Horizontalmente existem largas circulações livres de obstáculos e de

diferenças de nível, garantindo a acessibilidade. Na parte superior existe uma

passarela (figura 16) que serve como circulação e para apreciação da vista.

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Figura 16 - Vista da passarela.

Fonte: http://www.tagesschau.de/ausland/demenzdorf100.html

Pessoas com mesmo estilo de vida compartilham casas, e em cada rua são

mesclados diferentes estilos de vida, visto que, no projeto, o convívio e a troca entre

os vizinhos são importantes para a socialização.

Na entrada de cada casa existe uma campainha, o que facilita a privacidade e

remete às casas comuns da cidade, onde moravam. As casas possuem 16

variações de desenhos, porém a configuração base é a entrada por uma sala de

estar, que possui um banheiro social e que pode ser integrada à cozinha, cuja

localização e o tamanho variam de acordo com o estilo de vida da casa (na casa de

estilo "Indonésia" as cozinhas são maiores para que todos possam participar das

atividades que ali se desenvolvem, em outras há cozinha americana ou, ainda,

tradicional).

Após a sala estão os corredores, geralmente dois, que conectam três ou

quatro quartos. Existe, ainda, um modelo que possui apenas um corredor que

conecta a sala aos seis ou sete quartos da casa. Para cada três quartos existe um

banheiro de uso compartilhado, o que é justificado pela administração pelo fato do

idoso com Alzheimer já não utilizar o banheiro de modo independente.

Ao fim desse estudo, pode-se fazer um paralelo entre os dois países: Holanda

e Brasil. Sabe-se que realidade brasileira é bem diferente da holandesa nos

aspectos econômicos e culturais e, consequentemente, na qualidade de vida.

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Exemplo disso é que no nosso país não existem instituições desse tipo, mesmo

havendo necessidade. Apesar da Holanda apresentar vantagem sobre o Brasil em

relação ao preparo para atender sua população idosa (e não só ela), pode-se utilizar

esse exemplo como referência para tentar implantar na nossa realidade esse tipo de

instituição que tem a proposta de oferecer o bem estar ao idoso, do ponto de vista

social e de saúde. Dessa forma, serão aplicados nesse TFG alguns princípios

adotados no De Hogeweyk, como o treinamento de todos os funcionários como

cuidadores; a abertura da instituição ao público, possibilitando o convívio com a

comunidade e a realização de atividades e instalação de equipamentos apropriados

ao público alvo.

2.1.2 CIDADE MADURA, JOÃO PESSOA/PB

O Residencial Cidade Madura é um condomínio horizontal que ocupa uma

área de aproximadamente 1,25 hectares, localizada em Mangabeira, João Pessoa,

Paraíba (figura 17). O bairro está na região periférica da capital e é caracterizado por

ser de uso comercial e residencial.

Figura 17 - Localização do Cidade Madura em João Pessoa.

Fonte: google maps (2014), adaptado pela autora.

Inaugurado em junho de 2014, o Cidade Madura (figura 18) é produto do

Programa Habitacional de mesmo nome, desenvolvido pela Secretaria de

Desenvolvimento Humano (SEDH), responsável pela implementaçao e manutenção

do projeto social, e pela Companhia Estadual de Habitação Popular (CEHAP),

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responsável pela construção e manutenção da obra, com o objetivo de viabilizar

moradia digna à pessoa idosa. O Programa é regulamentado pela Política Estadual

do Idoso através de Decreto.

Esse Programa tem como objetivo promover o acesso de idosos de ambos os sexos, que não dispõem de condições de permanecer na família, à moradia digna e equipamentos para a convivência social e lazer em condomínio habitacional adequado às necessidades das pessoas idosas, a ser implementado de acordo com as diretrizes da Política Estadual, destinando-se: I - ao atendimento às pessoas que já tenham completado 60 (sessenta) anos de idade, com independência para realizar o auto cuidado diário, com renda mensal de até 05 (cinco) salários mínimos, preferencialmente sós, podendo ser acompanhado por cônjuge ou companheiro; II - à construção de moradias e respectivas áreas de convivência social (lazer e afins), projetadas para as pessoas idosas, em núcleos habitacionais horizontais; III - ao fortalecimento da rede de proteção e defesa dos direitos das pessoas idosas, inserindo a moradia como um componente da atenção integral à população idosa. (PARAÍBA, Decreto n° 35.072, 2014)

Figura 18 - Residencial Cidade Madura.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Idealizado por Emília Correia Lima, presidente da CEHAP, é um dos primeiros

condomínios do Brasil construído pela instituição para abrigar apenas pessoas com

idade acima de 60 anos (figura 19). De acordo com a SEDH e a CEHAP,

responsáveis por estabelecer os requisitos para admissão do morador do Programa

Habitacional Cidade Madura, para ser contemplado, o idoso deve:

ter possibilidade de locomoção e lucidez compatíveis com as atividades

de rotina e atividades a serem desenvolvidas em grupo; visto que o Estado

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promoverá a manutenção da edificação e dos serviços, porém não atuará como turor

dessas pessoas;

ser residente, há pelo menos dois anos, no município onde o

residencial está localizado;

possuir rendimento mensal máximo de cinco salários mínimos e ser

cadastrado nos Programas Habitacionais da CEHAP;

estar em situação de abandono;

ser morador de ILPI;

não possuir casa própria;

ser aposentado ou pensionista do Estado.

O condomínio foi construído com recursos do Governo do Estado da Paraíba

e cedido a esses idosos em comodato vitalício, sendo esses responsáveis pelo

pagamento das taxas de água, energia elétrica e condomínio.

Figura 19 - Moradores do Cidade Madura.

Fonte: acervo próprio, 2014.

O empreendimento foi projetado pela equipe técnica do setor de Projetos da

CEHAP, sob a liderança dos arquitetos Júlio Gonçalves e Rafaela Mabel Silva

Guedes. Segundo a Companhia, a obra durou cerca de 18 meses e custou em torno

de R$ 4 milhões. O local de implantação (figura 20) foi escolhido de acordo com a

disponibilidade de terreno dentre as opções que já eram abastecidas de

infraestrutura básica (água, energia elétrica, telefonia, transporte público). Apesar se

tratar de zona urbana e, especificamente, do bairro mais populoso da cidade, o

empreendimento se encontra na extremidade leste de Mangabeira, numa quadra

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segregada, pois seu entorno imediato ainda não é pavimentado e não está ocupado

(figura 21).

Figura 20 - Implantação do Condomínio Cidade Madura.

Fonte: CEHAP, 2014.

Figura 21 - Acesso e entorno precários.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Conforme a equipe técnica, o projeto partiu das configurações básicas de um

condomínio fechado: uma vila com uma via central (figura 22) e equipamentos

coletivos. Objetivando dotar de conforto e habitabilidade, o condomínio possui

somente 40 residências, sendo permitido um morador ou um casal por residência e

vetada a presença da família como moradora, somente como visitante. Para

desenvolver o projeto, a equipe usou como diretrizes referências de ILPI's e as

normas técnicas, especialmente a NBR 9050, que diz respeito à acessibilidade.

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Figura 22 - Via central do Residencial.

Fonte: acervo próprio, 2014.

O condomínio Cidade Madura é composto por 40 casas geminadas; área

para lazer e blocos de serviços. No que diz respeito aos serviços, o local possui um

Núcleo de Assistência à Saúde (figuras 23 e 24), equipado para promover

atendimento preventivo através da ação de profissionais de enfermagem e

psicologia; bloco de administração (figura 25) com banheiros adaptados para

deficientes e sala para depósito de materiais, visto que a limpeza geral é de

responsabilidade do governo, e na portaria, a segurança noturna é feita por policiais

da reserva (Guarda de Reserva) em parceria com o Governo do Estado.

Figura 23 - Núcleo de Assistência à Saúde.

Fonte: acervo próprio, 2014.

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Figura 24 - Salas do Núcleo de Assistência à Saúde.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 25 - Bloco administrativo e portaria.

Fonte: acervo próprio, 2014.

O lazer se encontra na praça central (figura 26) e conta com o Centro de

Vivência (figura 27) composto por almoxarifado, duas salas livres para as quais

ainda será dado uso com atividades relacionadas ao lazer, a área aberta em forma

de terraço e dois banheiros adaptados para deficientes; a academia da Terceira

Idade (figura 28), onde haverá a instrução de profissional de educação física; redário

(figura 29); mesas para jogos (figura 29); horta (figura 30), cultivada pelos

moradores.

O Residencial possui área verde distribuída em toda sua extensão, o

paisagismo é constituído por elementos construídos e vegetação. A paginação do

piso em blocos de concreto varia as cores de acordo com o uso de cada espaço:

blocos na cor cinza foram aplicados na via central e nos passeios de pedestres

(figuras 31 e 32); na cor vermelha, na praça central (figura 33) e na cor amarela

(figura 34), nos acessos aos blocos de equipamentos de uso coletivo. A vegetação é

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predominantemente grama, que pode ser encontrada nas frentes das casas

(recuos), nos canteiros centrais e na praça (figuras 35 e 36); também há alguns tipos

de palmeiras, árvores e arbustos.

Cada casa é conectada à vizinha geminada pelo mesmo acesso que leva às

suas respectivas varandas (figura 38). A ventilação e iluminação natural dos

ambientes é feita por janelas e cobogós, as esquadrias são em madeira e o piso em

cerâmica, porém não é antiderrapante, o que oferece perigo aos idosos por ser

escorregadio. As casas são compostas por uma sala (figura 39); um quarto (figura

40); um banheiro (figura 41); área de serviço (figura 42); cozinha (figura 43) e

varanda (figura 44), nesta sendo possível colocar rede e cadeira de balanço,

elementos bastante utilizados na região Nordeste. Dentre os ambientes, somente o

banheiro é adaptado para deficiente, os demais ambientes não são adaptados para

acesso de cadeira de rodas, visto que não possuem dimensões mínimas para a

circulação e giro de cadeira de rodas, embora as portas obedeçam à largura mínima

exigida pela NBR 9050 (80cm).

Figura 26 - Praça Central.

Fonte: acervo próprio, 2014.

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Figura 27 - Centro de Vivência.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 28 - Academia da Terceira Idade.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 29 - Redário e mesas para jogos.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 30 - Horta.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Quanto às condições de conforto ambiental, observa-se que não houve um

posicionamento adequado dos ambientes em relação à ventilação e insolação, o que

resultou em prejuízo para algumas unidades habitacionais, visto que foi projetado

um modelo de habitação e esse foi rebatido, gerando as casas geminadas. Essas

duplas foram mais uma vez "espelhadas", originando casas posicionadas de frente

às primeiras sem que houvesse alterações de planta baixa. Nesse modelo de vila,

no qual existe uma reprodução e espelhamento da planta baixa (figura 37) sem

modificação na disposição dos ambientes, verifica-se que parte das residências não

ecebe ventilação adequada e alguns ambientes podem receber insolação excessiva

e inadequada, causando desconforto térmico. Há também problema de conforto

térmico nas áreas comuns do condomínio, porque não existem árvores adultas que

ofereçam sombreamento, o que torna os equipamentos instalados ao ar livre (como

a praça e a academia da terceira idade) subutilizados, já que na região Nordeste

existe um índice de insolação alto, fazendo com que as pessoas procurem esses

espaços somente no início da manhã, fim de tarde ou à noite.

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Figura 31- Detalhe do bloco de concreto.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 32 - Calçada e via central.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 33 - Paginação de piso da praça.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 34 - Acesso aos equipamentos coletivos.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 35 - Canteiro central e frente das casas.

Fonte: acervo próprio, 2104.

Figura 36 - Palmeiras.

Fonte: acervo próprio, 2104.

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Figura 37 - Planta baixa das unidades habitacionais (sem escala).

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

Figura 38 - Acesso às varandas das casas geminadas.

Fonte: acervo próprio, 2014.

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Figura 39 - Sala estar e jantar.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 40 - Quarto.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 41 - Banheiro.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 42 - Área de serviço.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 43 - Cozinha.

Fonte: acervo próprio, 2014.

Figura 44 - Varanda.

Fonte: acervo próprio, 2014.

No intuito de atender aos idosos de outras regiões do estado, o Governo está

em fase de finalização de mais dois condomínios, em Cajazeiras e Campina

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Grande, e segundo a equipe técnica, tem a meta de instalar, nos próximos quatro

anos, um condomínio em cada uma das 20 maiores cidades da Paraíba.

Por ser um projeto pioneiro, é possível perceber que o Cidade Madura ainda

necessita de melhorias. Acerca da acessibilidade, por exemplo, não existe

sinalização tátil e alguns ambientes não foram dimensionados para uso de cadeira

de rodas, como os quartos. Todavia, esse condomínio prova que o poder público é

capaz de promover moradia digna aos idosos, abrindo espaço para uma nova

realidade.

A cessão do imóvel em comodato vitalício; o caráter público do

empreendimento; o modelo de casas geminadas em pequeno número para garantir

uma boa assistência; a existência de equipamentos coletivos que promovam o

convívio entre os moradores, de áreas verdes e de serviços de assistência são

aspectos que servirão de referência nesse TFG.

2.2 ESTUDOS INDIRETOS

Os estudos diretos foram realizados no Solar da Gávea, Rio de Janeiro/RJ e

no Lar dos Velhinhos de Piracicaba, Piracicaba/SP, Brasil.

2.2.1 SOLAR DA GÁVEA, RIO DE JANEIRO/RJ

O Solar da Gávea está localizado no bairro da Gávea, região Sul da cidade do

Rio de Janeiro. É uma instituição particular destinada a moradia de pessoas da

terceira idade e cujo regime de moradia pode ser permanente, temporário ou diário

(sendo então chamado de hospedagem no Centro Dia).

Os serviços oferecidos pelo Solar da Gávea contam com recreação (figura

45), salão de beleza e coffee shop, biblioteca, capela, atelier, que podem ser

utilizados como referência nesse TFG, visto que o projeto procura proporcionar ao

idoso uma vida social ativa, utilizando estímulos à memória, à criatividade e ao

convívio social. Além desses serviços, o Solar conta com psicologia, enfermagem,

fisioterapia, fonoaudiologia, medicina e nutrição. Nesse TFG somente serviços de

psicologia, enfermagem e medicina estão no programa de necessidades, porém

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previstos somente como assistência pontual, e não como serviços clínicos, uma vez

que não é a intenção da instituição enfocar em serviço médico, e sim habitacional.

Figura 45 - Atividade recreativa no Solar da Gávea.

Fonte: www.solardagavea.com.br

O Solar (figura 46) possui quatro pavimentos e está dividido em três volumes:

um térreo e dois verticais. Os pavimentos possuem atendimento diferenciado, e as

pessoas são distribuídas neles conforme suas necessidades de assistência,

incentivando o convívio.

Figura 46 - Fachada principal do Solar da Gávea.

Fonte: www.solardagavea.com.br

A fachada do Solar da Gávea é na cor amarela com detalhes em pedra que

demarcam espaços como o acesso principal. As áreas externas (figuras 47 e 48)

são compostas por jardins com bancos e mesas, criando áreas de convívio,

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descanso e contemplação. Não foram identificados equipamentos de uso esportivo,

como quadras ou piscina.

Figura 47 - Área externa para lazer e convívio.

Fonte: www.solardagavea.com.br

Figura 48 - Jardins do Solar.

Fonte: www.solardagavea.com.br

Fonte: www.solardagavea.com.br

Os ambientes são mobiliados de forma a oferecer conforto e segurança e os

espaços são acessíveis, com barras de apoio, portas adaptadas e rampas.

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Os ambientes de uso comum são integrados visualmente ao meio externo por

panos de vidro, como na recepção e no refeitório. A recepção (figura 49) possui

sofás, poltronas, mesa de centro e vasos com plantas, além de um balcão para

atendimento, porém não é adaptado para cadeirantes, o atendimento é em pé. O

mobiliário é em madeira cor clara, com estofados em cores alegres e suaves:

amarelo, verde e azul.

Figura 49 - Recepção.

Fonte: www.solardagavea.com.br

Além da integração visual com o ambiente externo, há integração entre os

ambientes internos. O piano bar, a sala de estar e o refeitório, por exemplo, estão

dispostos em um mesmo espaço, sem divisórias, proporcionando sensação de

amplitude e possibilitando a livre circulação entre eles. Esses ambientes também

contam com esquadrias de vidro que permitem contato visual com os jardins

externos, e o mesmo padrão de mobiliário da recepção.

Figura 50 - Sala de estar.

Fonte: www.solardagavea.com.br

Figura 51 - Mobiliário do Solar da Gávea.

Fonte: www.solardagavea.com.br

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A sala de estar (figura 50) divide-se em dois ambientes mobiliados com sofás,

poltronas, mesa de centro e mesa lateral (figura 51). O mobiliário do refeitório é

composto por mesas com quatro cadeiras e segue o padrão de cores dos demais

ambientes. O piano bar possui móveis antigos (figura 52), como o aparador, a

cristaleira e o próprio piano, suas mesas são quadradas, com lugar para quatro

cadeiras (figura 53).

Figura 52 - Móvel antigo.

Fonte: www.solardagavea.com.br

Figura 53 - Piano bar.

Fonte: www.solardagavea.com.br

Todos os quartos (figura 54) possuem banheiros próprios e podem ser de uso

individual ou coletivo (compartilhados por até três pessoas). As esquadrias são em

vidro, os móveis são no mesmo padrão do mobiliário de todo o Solar: madeira de cor

clara e tecidos e estofados verdes, amarelos e vermelhos. Cada idoso tem sua

cama, seu criado mudo e seu espaço no guarda-roupa.

Figura 54 - Quarto do Solar.

Fonte: www.solardagavea.com.br

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O Solar da Gávea é um estudo de referência a ser seguido nesse TFG no

sentido do estímulo ao contato com a natureza, com o meio externo e ao convívio

social. Além da acessibilidade encontrada na maior parte de seus ambientes e o

incentivo a práticas recreativas, a fim de proporcionar melhor qualidade de vida ao

idoso.

2.2.2 LAR DOS VELHINHOS DE PIRACICABA, PIRACICABA/SP

Fundado em 1906, na cidade de Piracicaba, São Paulo, o Lar dos Velhinhos

de Piracicaba (LVP) (figuras 55 e 56) surgiu da iniciativa do banqueiro Pedro

Alexandrinho de Almeida. Anos depois, o asilo passou a receber a colaboração das

irmãs franciscanas da Congregação Coração de Maria, de quem recebe apoio até os

dias atuais.

Figura 55 - Pavilhão original.

Fonte: www.lardosvelhinhospiracicaba.org.br/

Figura 56 - Lar dos Velhinhos de Piracicaba nos dias atuais.

Fonte: ikoinosono.org.br/wordpress/2012/10/18/visita-ao-lar-dos-velhinhos-de-piracicaba/

Inicialmente, a instituição se chamava "Asylo de Velhice e Mendicidade", o

nome "Lar dos Velhinhos de Piracicaba" surgiu apenas em 1951. Com a gestão de

Jairo Ribeiro Mattos, a partir de 1971, o lar deixou o modelo de asilo e adotou o

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conceito de Cidade Geriátrica, pioneiro no Brasil. Nessa mesma administração, o

LVP que está implantado numa área de aproximadamente 15 hectares recebeu

intervenções paisagística e urbanística, uma nova capela para substituir a primeira

que havia sido ocupada pela sala de eventos, uma residência para as irmãs

colaboradoras, um refeitório com cozinha industrial, um pavilhão administrativo e

quatro novos residenciais para os idosos, ampliando a construção que até então

contava com apenas três pavilhões, sendo um masculino, e a antiga capela.

A instituição beneficente oferece aos seus mais de 400 moradores teto,

roupa, alimentação, higiene, cuidados médicos e lazer, sendo gratuitos para

pessoas carentes e mediante contribuição financeira para os idosos que podem

pagar.

Os idosos carentes residem nos pavilhões de quartos coletivos. Já os idosos

aposentados podem optar por pavilhões de quartos coletivos e privativos e contribuir

com os custos do LVP. Aqueles que têm condições de se manter financeiramente

podem ocupar, além dos quartos privativos (para aqueles que precisam de

assistência constante), os "flats", que podem ser compostos apenas por quarto e

banheiro (26m²) e também por cozinha, sala e varanda (52m²); ou os chalés (70m²),

onde podem residir sozinhos, com a família ou cuidadores particulares. Os chalés

hoje ultrapassam o número de 100 unidades e, devido ao custo diferenciado, são

oferecidos como moradia vitalícia mediante pagamento de uma taxa específica,

porém esses imóveis permanecem como propriedade da instituição, o que garante o

repasse a outros idosos após o falecimento ou mudança do morador.

Além de moradia, os idosos têm a sua disposição os seguintes serviços:

lavanderia, dispensário de medicamentos, fraldário, fisioterapia, enfermagem,

assistência social, acompanhamento médico preventivo, orientação dentária,

manutenção elétrica e hidráulica, orientação espiritual e transporte até a cidade em

casos de atendimentos de urgência.

Nos casos dos idosos incapacitados e acamados dos pavilhões, os serviços

de higiene, medicação e alimentação são realizados nos próprios alojamentos. Além

de receberem assistência no leito, eles são posicionados de maneira a receber

iluminação natural dentro do quarto.

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Há funcionários contratados e voluntários (estes últimos sendo maioria), que

prestam serviços religiosos (diariamente é celebrada a Santa Missa pela Capelão

que ali reside); de assistência médica e social (assistente social, médico,

enfermeiros, fisioterapeuta, dentista); de costura e artesanato; de beleza

(cabeleireira, barbeiro e manicure); e outras especialidades diversas. Durante os

intervalos das refeições, os moradores podem se sentar ao sol ou à sombra das

árvores ou nas varandas e fazer caminhadas pelas alamedas do Lar.

Em reforma recente, foram construídos um viveiro de pássaros e um novo

coreto para realização de serestas. Em fase de finalização, está sendo construído o

Memorial do Lar, um espaço destinado à conservação e exposição da história da

Casa e de seus benfeitores, que conta ainda com dois espaços para eventos sociais

internos e externos.

Para arcar com os custos mensais de 340 mil reais (valores atualizados em

2008 pela instituição), o Lar arrecada cerca de 200 mil reais através da contribuição

dos internos, auxílios de associados, investimento público, aluguel de espaço para

propaganda e de imóveis. A fim de tornar o LVP auto-suficiente financeiramente são

realizados bazares e recebimento de itens doados pela comunidade, que atua como

importante colaboradora da entidade; doação e redução de preços por parte de

empresas fornecedoras de equipamentos e materiais; e disponibilidade de áreas não

utilizadas como o muro externo para publicidade e parte da área não construída

cedida em comodato a empreendimentos comerciais.

Esse estudo indireto, que surgiu como referência através de consulta ao TFG

de Gondim (1997), teve como principais contribuições para a presente proposta as

atividades e serviços oferecidos, e como referência arquitetônica a criação de um

coreto para uso em eventos.

2.3 CONTRIBUIÇÕES PARA O TFG

A realização dos estudos de referência supracitados foi fundamental na

elaboração da proposta da moradia coletiva, sobretudo os estudos diretos.

A visita realizada em De Hogeweyk, na Holanda foi a principal fonte que

embasou esse trabalho, servindo inclusive para direcionar a elaboração do partido

arquitetônico. A forma de funcionamento da instituição, com abertura para a

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Vila Marta de Medeiros 05

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comunidade (acesso controlado na entrada) inspiraram a criação de ambientes na

proposta, a exemplo do setor comercial.

O Condomínio Cidade Madura foi determinante no conceito adotado para o

anteprojeto proposto. O formato de vila com casas geminadas em torno de um

espaço central permeável visualmente foram as principais informações observadas

nesse modelo.

Quanto ao Solar da Gávea, os tipos de atividades oferecidas para os idosos

foram importantes para direcionar o setor de lazer desse trabalho. No Lar dos

Velhinhos de Piracicaba, além das atividades oferecidas, a referência arquitetônica

do coreto foi adotada.

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3

A PROPOSTA

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3 CONDICIONANTES PROJETUAIS

O referencial teórico e os estudos de caso realizados foram determinantes

para a delimitação das diretrizes projetuais para o funcionamento de edificações

destinadas ao idoso, sobretudo os doentes de Alzheimer, e portanto servirão de

suporte na elaboração desse anteprojeto.

3.1 A ESCOLHA DA LOCALIZAÇÃO

Em um empreendimento voltado para idosos, sobretudo aqueles com algum

tipo de dependência física ou mental, o entorno é fator determinante no bom

desempenho da instituição. Em vista disso, na definição do recorte espacial, a

localização do lote foi definida a partir dos seguintes critérios:

Estar em Região Administrativa cuja pirâmide etária da população seja

caracterizada por uma maior proporção de idosos;

Estar localizado em bairro carente de equipamentos desse tipo (fator

não restritivo no Município de Natal devido a inexistência de

estabelecimentos específicos para pessoas com doença de Alzheimer);

Estar em área calma, com residências próximas, para que haja

participação da comunidade no dia-a-dia da instituição;

Apresentar em seu entorno equipamentos de comércio e serviços para

garantir a integração do idoso à sociedade;

Estar próximo a equipamentos de suporte ao idoso, como hospitais e

clínicas;

Oferecer facilidade de acesso de veículos e pedestres.

Considerando requisitos supracitados e o censo demográfico realizado pelo

IBGE em 2010, no qual as Regiões Leste e Sul são as que concentram maior

número de idosos do Município de Natal (figura 58), a Região Administrativa

escolhida para a proposta foi a Leste e o bairro foi Lagoa Seca (figura 57). A Região

foi criada pela Lei Ordinária nº 03878/89, é constituída por 12 bairros e limita-se com

o Rio Potengi (Norte), com o bairro Lagoa Nova (Sul), com o Parque das Dunas e o

Oceano Atlântico (Leste) e com o Rio Potengi (Oeste). Segundo o censo, possui

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Figura 57 - Universo de Estudo.

LOCALIZAÇÃO DE NATAL NO RIO GRANDE DO NORTE Fonte: Elabora pela autora a partir de base cartográfica do IBGE, 2014.

DESTAQUE PARA O BAIRRO LAGOA SECA. Fonte: SEMURB,2013.

Fonte: Elaborado pela autora a partir de imagem do Google maps, 2014.

LAGOA SECA

TERRENO

ESCOLHIDO

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população de 117.900 habitantes, sendo 17.337 maiores de 60 anos, e renda média

mensal de 2,86 salários mínimos (IBGE, 2010).

Figura 58 - Pirâmide etária por Região Administrativa de Natal.

Fonte: IBGE, 2010.

Por sua vez, Lagoa Seca foi criada pela Lei nº 251/47 e teve seus limites

redefinidos pela Lei nº 4.327/19. Está inserida na Região Administrativa Leste e

ocupa uma área de 61,09ha (SEMURB, 2013). Ela integra a Zona Adensável da

cidade, para a qual o Plano Diretor de Natal estabelece o coeficiente de

aproveitamento máximo de 3,5.

O bairro limita-se com o bairro Barro Vermelho (Norte), com Lagoa Nova

(Sul), com Tirol (Leste) e com o Alecrim (Oeste). As principais vias de acesso são as

avenidas Prudente de Morais, Bernardo Vieira, Jaguarari, Alexandrino de Alencar e

Romualdo Galvão (as quatro últimas delimitam o bairro), segundo o Código de

Obras do Município, as três primeiras são classificadas como vias arteriais e as duas

últimas como coletoras.

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3.2 CONDICIONANTES FÍSICO-AMBIENTAIS

3.2.1 LOCALIZAÇÃO, ACESSO E ENTORNO DO TERRENO

No bairro, além das diretrizes citadas anteriormente, a escolha do

terreno baseou-se ainda na sua dimensão (tendo em vista o pré-dimensionamento e

o programa de necessidades a ser proposto), na legislação e na topografia. Quanto

a topografia, a indicação é que seja predominantemente plana ou apresente pouca

diferença de nível, de forma que sejam priorizadas as normas de acessibilidade,

evitando o uso de escadas e prevendo a instalação de rampas.

O terreno selecionado tem acessos pelas ruas Currais Novos (para a qual

está voltada a testada noroeste); Cel. Silvino Bezerra (testada sudoeste) e

Presidente Quaresma (testada sudeste), sendo as duas primeiras classificadas pelo

Código de Obras de Natal como vias locais e a última como coletora.

A Rua Presidente Quaresma é asfaltada e as demais são pavimentadas com

paralelepípedo, as três possuem sentido duplo de direção. Na Rua Presidente

Quaresma é possível perceber maior tráfego de veículos e pedestres, devido a

presença do Hospital Antônio Prudente, da sede de TV Ponta Negra, de pontos

comerciais e edifícios residenciais multifamiliares. Já as demais vias são

caracterizadas pela predominância de residências unifamiliares de um pavimento.

Atualmente a área é ocupada pelo estacionamento da TV Ponta Negra e contém

uma edificação abandonada.

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PPRANCHA RESUMO - UNIVERSO DE ESTUDO

S

SEM ESCALA

Fonte: acervo da autora, 2014.

Fonte: espacohapvida.wordpress.com

Fonte: acervo da autora, 2014.

Fonte: acervo da autora, 2014.

Fonte: acervo da autora, 2014.

Fonte: Google maps, 2014.

Terreno escolhido e uso do solo do entorno.

TV Ponta Negra.

Hospital Antonio Prudente.

Vistas do terreno escolhido.

Área residencial da Rua Currais Novos.

Área residencial da Cel. Silvino Bezerra

LEGENDA USOS:

TERRENO ESCOLHIDO

RESIDENCIAL

COMERCIAL

SERVIÇOS

INSTITUCIONAL

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Vila Marta de Medeiros 05

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3.2.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOTE

O terreno escolhido foi resultado do parcelamento dos lotes na época do

desenvolvimento do bairro, por isso as testadas frontais são menores que as

laterais. Sua forma é trapezoidal (figura 59), totalizando 4.819,75m², com testadas

das seguintes dimensões:

Testada Sudoeste (SO): 34,54m;

Testada Noroeste (NO): 95,95m;

Testada Nordeste (NE): 63,37m;

Testada Sudeste (SE): 94,81m.

O terreno apresenta desnível de 3,50 metros no sentido longitudinal, que é

atenuado devido ao grande comprimento da área (95,95m). Além disso, a maior

inclinação ocorre apenas junto a R. Cel. Silvino Bezerra e pode ser minimizada com

o uso de estratégias projetuais.

Figura 59 - Planta baixa e perfil esquemático do terreno.

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

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3.2.3 ANÁLISE BIOCLIMÁTICA E ORIENTAÇÃO QUANTO AO SOL E AOS VENTOS

Para a análise bioclimática, foram levadas em consideração a insolação e

ventilação natural. A partir da rosa dos ventos da cidade de Natal (figura 60), é

possível perceber que a ventilação é predominantemente proveniente da direção

sudeste, como se pode ver na rosa dos ventos (figura 60) o que evidencia que essa

fachada deve receber as principais aberturas da edificação. Como estratégia de

condicionamento térmico para a cidade de Natal, deve-se permitir a ventilação

natural cruzada permanentemente, para que o ar se renove e mantenha os

ambientes em temperatura agradável.

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No presente anteprojeto, a habitação foi pensada como prioridade na implantação

de forma a ser posicionada de modo privilegiado em relação as outras edificações,

visto que é o local de maior permanência. Além disso, são propostas aberturas com

esquadrias em madeira tipo tabicão, que permitem o maior controle da abertura, e os

brises aparecem na fachada norte solução projetual que permite proteger os

ambientes da radiação solar direta através de sombreamento.

Figura 60 - Terreno escolhido e rosa dos ventos.

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

3.3 CONDICIONANTES LEGAIS

A realização de um projeto arquitetônico deve levar em consideração a

legislação vigente, que indica aspectos relacionados à tipologia da edificação e aos

critérios para a escolha da localização, entre outros. As principais diretrizes legais

para esse TFG serão: o Plano Diretor de Natal; o Código de Obras e Edificações do

Município de Natal; a NBR 9050 (Lei de Acessibilidade a Edificações, Mobiliário,

Espaços e Equipamentos Urbanos); a RDC 283 (Regulamento Técnico que define

normas de funcionamento para as Instituições de Longa Permanência para Idosos,

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de caráter residencial) e o decreto nº 8.204 (Norma Técnica Especial que

regulamenta o funcionamento de Instituições de Longa Permanência destinadas a

idosos no Município do Natal). A seguir, será feita uma breve explanação a respeito

da legislação citada, a fim de evidenciar os aspectos que intervirão nas decisões

projetuais a serem tomadas.

3.3.1 PLANO DIRETOR DE NATAL

O Plano Diretor de Natal (PDN), Lei Complementar Nº 082/2007, é o

instrumento que estabelece as diretrizes para a produção do espaço urbano na

cidade, entre as quais as principais indicações a serem observadas nesse TFG são:

O coeficiente de aproveitamento máximo é de 3,5, pois conforme o

macrozoneamento do município, o bairro Lagoa Seca está inserido na Zona

Adensável;

A taxa de ocupação máxima admitida para edificações térreas é de 80%, para

efeito de ocupação não sendo computados pergolados, beirais, marquises e

caramanchões;

A taxa de impermeabilização máxima permitida é de 80%;

Os recuos devem estar em consonância com o Quadro 01;

O gabarito máximo é de 90m.

Quadro 01 - Recuos estabelecidos para o Município de Natal.

Fonte: Plano Diretor de Natal, 2007.

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3.3.2 CÓDIGO DE OBRAS E EDIFICAÇÕES DO MUNICÍPIO DE NATAL

O Código de Obras de Natal, Lei Complementar Nº 055/2004, regulamenta a

realização de projetos e o licenciamento de obras na cidade. Dentre suas diretrizes,

influenciarão nesse TFG:

"Todo projeto deve prever áreas destinadas ao estacionamento ou à guarda

de veículos, cobertas ou não (...)" (Capítulo II, Art. 18), com sinalização de

advertência (sonora e luminosa) no acesso ao estacionamento;

Para efeito de cálculo do estacionamento podem ser computadas as áreas

livres resultantes do recuo frontal, desde que este seja igual ou superior a

cinco metros e sejam respeitados o passeio e o acesso ao lote;

O número de vagas de estacionamento é dado em função da hierarquização

das vias e tipo de uso;

As áreas destinadas a estacionamento, abrigo e guarda de veículos não são

computadas no cálculo da área construída total;

A calçada deve ter largura mínima de 2,50m, sendo 1,20m de faixa livre para

a circulação de pedestres, com piso tátil indicativo de limites e barreiras

físicas;

A unidade habitacional deve ter área construída de 30,00m², no mínimo;

As aberturas voltadas para o limite do lote não podem ter distância inferior a

1,50m e sua superfície, quando destinada à ventilação, iluminação e

insolação deve ser igual ou superior a um sexto (1/6) em casos de ambientes

de uso prolongado e um oitavo (1/8) nos ambientes de uso transitório;

Todo compartimento da edificação deve áreas, dimensões, pés direitos

mínimos determinados de acordo com o Quadro 02;

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Quadro 02 - Áreas mínimas para ambientes estabelecidas pelo Código de Obras de Natal.

Fonte: Código de Obras e Edificações do Município de Natal - Lei Complementar Nº 055/2004.

3.3.3 CÓDIGO DE SEGURANÇA E PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO E PÂNICO DO ESTADO DO

RIO GRANDE DO NORTE.

O Código estabelece as recomendações básicas de seguraça contra incêndio

para edificações do Estado do Rio Grande do Norte. Conforme o Código, o

empreendimento proposto classifica-se como edificação residnecial, de altura inferior

a nove metros e área construída superior a 750m². Para esse tipo de

empreendimento são requisitados os dispositivos de proteção contra incêndio:

prevenção móvel (extintores de incêndio); prevenção fixa (hidrantes); sinalização e

escada convencional.

Para efeito de cálculo da área construída, é considerada a área de

projeção das marquises e beirais para o pavimento térreo, até o limite de um metro

de projeção. Não são computados na área construída elementos como jardins,

pergolados, espelhos e instalações similares.

3.3.4 NBR Nº 9050/2004

Criada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a NBR

9050/2004 é a norma brasileira que disciplina a Acessibilidade a Edificações,

Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos. Voltada para garantir o ir e vir das

pessoas no espaço urbano e edificações, a NBR 9050 considera que pessoas com

deficiência que utilizam cadeira de rodas necessitam de ambientes acessíveis para

entrada, permanência e deslocamento. Para tanto recomenda, entre outros:

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Os corrimãos e barras de apoio, dentre outros objetos, devem possuir seção

circular de diâmetro entre 3,0 cm e 4,5 cm com afastamento mínimo de 4,0

cm da parede ou outro obstáculo;

As informações sobre os ambientes existentes devem ser dadas por meio de

sinalização tátil, sonora e visual;

A acessibilidade aos serviços, edificações, mobiliário, espaços e

equipamentos deve ser indicada, em local visível, por meio do símbolo

internacional de acesso, como na figura 61. Ele consiste em um pictograma

na cor branca sobre fundo azul e pode também ser representado em preto e

branco;

Figura 61 - Símbolo internacional de acesso - Proporções e cores.

Fonte: ABNT - NBR 9050/2004.

O piso deve ter superfície regular, antiderrapante, firme e estável e

possuir sinalização tátil de alerta cromodiferenciada instalada quando

houver situação que envolva risco de segurança. O piso tátil direcional

será aplicado na ausência ou descontinuidade de linha-guia

identificável;

Desníveis de qualquer natureza devem ser evitados nas rotas

acessíveis. Quando superiores a 5 mm, devem ser tratados como

forma de rampa;

Quanto aos corrimãos, devem ser construídos em materiais rígidos, ser

fixados firmemente, oferecer segurança na utilização, estar sinalizados,

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devem ser preferencialmente de seção circular (sem arestas vivas),

com largura entre 3,0 cm e 4,5 cm, sendo mantido um espaço livre

mínimo de 4,0 cm entre ele e a parede. Sua projeção pode incidir na

largura mínima recomendada para a rampa em até 10 cm de cada

lado. A instalação deve ser em ambos os lados das rampas, escadas

fixas e degraus isolados. Quando instalados lateralmente, devem

prolongar-se pelo menos 30 cm antes do início e após o término da

rampa ou escada;

A largura das rampas deve ser determinada em função do fluxo de

pessoas, sendo 1,50 m a largura mínima estabelecida para as rampas

em rotas acessíveis e 1,20 m o mínimo admissível. Na inexistência de

paredes laterais, as rampas devem incorporar guias de balizamento

com altura mínima de 0,05 m instaladas nos limites da largura da

rampa;

O dimensionamento dos corredores deve ser feito em relação ao fluxo

de pessoas, garantindo uma faixa livre de obstáculos;

Todas as portas devem ter um vão livre mínimo de 0,80 m e 2,10 m de

altura. As portas de sanitários, vestiários e quartos acessíveis em

locais de hospedagem e de saúde devem possuir um puxador

horizontal associado à maçaneta;

Quanto ao estacionamento, a previsão do número de vagas para

pessoas com deficiência se dará de acordo com o Quadro 03:

Quadro 03 - Previsão do número de vagas.

Fonte: ABNT - NBR 9050/2004.

Os sanitários e vestiários de uso comum ou uso público devem ter no

mínimo 5% do total de cada peça instalada acessível, respeitada no

mínimo uma de cada. Na instalação de bacias sanitárias devem ser

previstas áreas de transferência lateral, perpendicular e diagonal.

Quando houver box acessível, a bacia sanitária deve estar posicionada

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de forma que atenda às condições de transferência e do lado oposto ao

da porta, cuja abertura deve estar voltada para a parte externa do box.

Junto ao lavatório também deve haver barra de apoio, na mesma altura

dele;

As áreas de transferências devem atender às dimensões mínimas do

módulo de referência;

O passeio de pedestres deve ter faixa livre com largura mínima de 1,50

m, sendo admissível o mínimo de 1,20 m e deve ser completamente

livre de obstáculos;

Espaços destinados a pessoa em cadeiras de rodas devem ter as dimensões

mínimas de 0,80 m por 1,20 m, além da faixa mínima de 0,30 m de largura na frente

e/ou atrás. O módulo de referência (projeção no piso) indicado pela Norma é de

0,80m x 1,20m. Conforme a figura 62, o módulo e as dimensões para manobra são:

para rotação de 90° = 1,20 m x 1,20 m;

para rotação de 180° = 1,50 m x 1,20 m;

para rotação de 360° = diâmetro de 1,50 m.

Figura 62 - Módulo de referência e área para manobra sem deslocamento.

Fonte: ABNT - NBR 9050/2004.

3.3.5 RDC Nº 283

Regulamento Técnico criado pela Resolução Da Diretoria Colegiada, a RDC

nº 283, de 26 d setembro de 2005 define normas de funcionamento para as

Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), de caráter residencial, dentre

as quais destaca-se a necessidade de promover:

Ambiência acolhedora;

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Convivência mista entre os residentes de diversos graus de

dependência;

Integração dos idosos, nas atividades desenvolvidas pela comunidade

local;

Participação da família e da comunidade na atenção ao idoso

residente;

Atividades que estimulem a autonomia do idoso;

Promoção de condições de lazer como: atividades físicas, recreativas e

culturais.

Segundo a Resolução, o quadro de funcionários da ILPI deve prever:

Para atividades de lazer: um profissional para cada 40 idosos, com

carga horária de 40 horas semanais;

Para serviços relativos à limpeza: um profissional para cada 100 m² de

área interna ou fração por turno, diariamente;

Para serviço de alimentação: um profissional para cada 20 idosos,

garantindo a cobertura de dois turnos de 8 horas;

Para serviço de lavanderia: um profissional para cada 30 idosos, ou

fração, diariamente.

É recomendado que a instituição realize atividades de educação permanente

na área de gerontologia, com o intuito de aprimorar tecnicamente a atuação dos

profissionais envolvidos na prestação de serviços aos idosos.

Acerca da estrutura física, a ILPI deve oferecer condições de habitabilidade,

higiene, salubridade, segurança, garantia do acesso a todas as pessoas com

dificuldade de locomoção e deve atender às seguintes especificações:

Pisos externos e internos (inclusive escadas e rampas) devem ser de

fácil limpeza e conservação, antiderrapantes, uniformes, com ou sem

juntas;

Janelas e guarda-corpos devem ter peitoris de 1,00 m, no mínimo.

Os ambientes recomendados para compor a instituição são:

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Quadro 04 - Dimenões dos ambientes recomendados pela Resolução.

AMBIENTE ÁREA MÍNIMA OBSERVAÇÕES

Dormitórios de 2 a 4 pessoas

5,50m² por leito Deve ser dotado de banheiro

Dormitórios de 1 leito 7,50m²

Sala de atividades coletivas para até 15 residentes

1,00m² por pessoa

Sala de convivência 1,30m² por pessoa

Sala de atividades de apoio individual e sócio familiar

9,00m²

Refeitório 1m² por usuário Além do local para guarda de lanches, de lavatório para higienização das mãos

Almoxarifado indiferenciado 10m²

Vestiário para funcionários 0,50m² por pessoa/turno Separado por sexo e contendo 01 bacia sanitária, 01 lavatório e 01 chuveiro para cada 10 funcionários ou fração

BWC para funcionários 3,60m² por pessoa/turno Separado por sexo Fonte: elaborado pela autora com base nos dados da RDC nº 283/2005.

Além desses ambientes supracitados, a ILPI deve ter ainda: sala

administrativa/reunião; espaço ecumênico e/ou para meditação; cozinha; despensa;

local para guarda de roupas de uso coletivo; local para armazenamento de material

de limpeza; lixeira ou abrigo externo para armazenamento de resíduos até o

momento da coleta; área externa descoberta para convivência e realização de

atividades ao ar livre.

3.3.6 DECRETO Nº 8.204, DE 13 DE JULHO DE 2007.

Consiste na Norma Técnica Especial que regulamenta o funcionamento de

ILPIs no Município de Natal, estabelecendo normas e critérios para seu

funcionamento em termos legais, físico-estruturais, operacionais, ocupacionais e

higiênico-sanitários.

Para esse TFG deve-se aplicar as recomendações correspondentes ao tipo

de instituição em questão, um estabelecimento Tipo IV, ou seja, de médio porte com

a presença de pessoas idosas portadores de dependência física e/ou mental. Para

essa classificação, deve haver:

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Um profissional enfermeiro responsável por supervisionar as ações de

enfermagem realizadas pelo técnico no mínimo seis horas diárias;

Um profissional técnico de enfermagem durante as vinte e quatro horas

para cada dez idosos;

Um nutricionista, um fisioterapeuta e um terapeuta ocupacional no

mínimo quatro horas, diariamente;

Um médico responsável pela avaliação dos idosos quinzenalmente;

Psicólogo, assistente social, educador físico, odontólogo e

fonoaudiólogo sempre que houver necessidade;

Um cuidador para cada cinco idosos, ou fração, por turno.

A respeito das instalações físicas, é válido salientar:

Deve haver pelo menos dois acessos independentes, sendo um

destinado aos idosos e outro aos serviços;

Os corredores principais e rampas devem apresentar largura mínima

de 1,50 m e equipados com corrimão nas duas laterais;

Deve ser observada a dimensão linear mínima dos dormitórios de 2,50

m. A área mínima equivalente a um dormitório é de 6,5 m² quando se

tratar de apenas um leito e de 5 m² por leito para cada 4 leitos, sendo

este o número recomendado por dormitório e o máximo permitido de 6

unidades. O afastamento mínimo entre dois leitos paralelos deve ser

de 1,0 m e de 1,50 m entre um leito e outro fronteiriço. Entre o leito e a

parede, a distância mínima é de 0,50 m;

O serviço de nutrição e dietética deve conter cozinha, refeitório e

despensa. O refeitório também poderá ser utilizado para realização de

atividades recreativas e ocupacionais, com área mínima de 1,5 m² por

pessoa;

A ILPI deve contar com área de recreação e lazer, inclusive de

localização externa, sendo a área mínima de 1 m² por leito instalado;

Instalações sanitárias de uso geral do estabelecimento deverão ser

separadas por sexo, ter acessos independentes e dispor de banheiro e

vestiários para funcionários;

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Todas as salas com função de atendimento direto ao paciente deverão

possuir lavatório;

Deve haver local exclusivo para armazenagem de roupa suja, o que

deverá ocorrer em depósitos secos, fechados, resistentes e de fácil

higienização, enquanto aguarda a lavagem;

Toda a roupa limpa do estabelecimento deve ser armazenada em local

exclusivo, isolado da roupa suja, podendo ser utilizado armário e

dependências físicas.

4 CARACTERIZAÇÃO DOS USUÁRIOS

Com o propósito de oferecer melhor qualidade de vida aos idosos com doeça

de Alzheimer, esse trabalho propõe uma alternativa de instituição residencial para

esse público, localizada em Natal/RN, constituída por habitação que ofereça

condições de conforto e equipamentos de assistência e lazer.

O equipamento proposto é destinado não somente aos moradores, mas

também a comunidade do entorno, visto que oferece setor de comércio e praça

aberta ao público, notadamente para realização de feirinha semanal. Esse contato

com a comunidade visa trazer benefícios do ponto de vista econômico e, sobretudo,

da integração social.

Acerca do tipo de investimento, pretende-se um empreendimento subsidiado

poder público em relação à construção e a manutenção, porém passível de

contribuição de alguns moradores a partir da avaliação da sua renda, a exemplo do

que acontece no Lar dos Velhinhos de Piracicaba e outras instituições brasileiras,

nas quais é estabelecida uma renda máxima para pessoas isentas de pagamento de

aluguel, de modo que aqueles que usufruem do serviço, mas tem rendimentos de

maior monta, contribuem financeiramente com o empreendimento.

Como uma ILPI, a instituição será destinada a pessoa com idade igual ou

superior a 60 anos, com o diferencial de ser voltada para um público específico e

ainda pouco atendido no país por esse tipo de instituição. Conforme exposto no item

"Condicionantes Legais", devido ao aspecto residencial voltado para pessoas com

possível dependência física e/ou mental, a instituição se enquadra na classificação

"médio porte de tipo IV" (Decreto nº 8.204/2007).

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Vila Marta de Medeiros 05

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Para atender ao número de 24 idosos, fez-se a estimativa do número de

funcionários necessários por turno para dar-lhes assistência (Quadro 05), com base

em depoimentos médicos e de cuidadores do grupo "Cuidando de Quem Cuida" que

funciona do Posto de Saúde de Candelária, Natal/RN.

Quadro 05 - Quadro de funcionários.

SETOR NÚMERO DE

FUNCIONÁRIOS E FUNÇÃO

Administração 1 recepcionista, 1 diretor/administrador; 1 assistente social

Serviços 1 vigilante; 20 auxiliares de limpeza; 2 cozinheiros;

24 cuidadores; 1 auxiliar de lavanderia

Saúde 1 enfermeiro; 3 técnicos de enfermagem; 1 nutricionista;

1 fisioterapeuta; 1 médico (semanalmente); 1 psicólogo

Comércio 4 vendedores e 1 cabeleireiro

5 PROGRAMA DE NECESSIDADES E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

Por se tratar de uma tipologia pouco recorrente, o programa de necessidades

do empreendimento proposto baseou-se principalmente nos estudos de caso

realizados para a determinação dos ambientes que iriam compor a proposta. O pré-

dimensionamento dos espaços foram estabalecidos conforme as recomendações

encontradas nos condicionantes legais e os não contemplados pela legislação foram

baseados pela disposição de layout.

O programa é constituído por oito setores: administrativo; comercial; lazer;

habitação; serviços; saúde; apoio geral e funcionários.

SETOR AMBIENTE ÁREA (m²)

ADMINISTRATIVO

Recepção 15m²

Administração 12m²

WC 4m²

SETOR AMBIENTE ÁREA (m²)

COMERCIAL

Mercadinho 15m²

Padaria 12m²

Café/lanchonete 12m²

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Salão de beleza 12m²

SETOR AMBIENTE ÁREA (m²)

LAZER

Sala de música 25m²

Sala de artesanato (oficina) 25m²

Sala de leitura 25m²

Praça 700m²

Academia da Terceira Idade 40m²

Lazer coberto/salão de festas 100m²

Horta coletiva 100m²

WC Feminino 4m²

Wc Masculino 4m²

SETOR AMBIENTE ÁREA (m²)

HABITAÇÃO

Casa tipo 01 -

Varanda 10m²

Sala 10m²

Quarto 10m²

Bwc 6m²

Cozinha 6m²

Área de serviço 6m²

Aptos Bloco 01 -

Varanda 10m²

Sala 10m²

Quarto 10m²

Bwc 6m²

Cozinha 6m²

Área de serviço 6m²

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SETOR AMBIENTE ÁREA (m²)

SERVIÇOS

Refeitório 60m²

Cozinha dietética 5m²

Sala nutricionista 6m²

Despensa diária 5m²

Despensa geral 6m²

Cocção e preparos 35m²

Higienização de louça 5m²

Louça limpa 4m²

Lavanderia 6m²

Roupa limpa 4m²

Roupa suja 4m²

Depósito de material de limpeza 4m²

SETOR AMBIENTE ÁREA (m²)

SAÚDE

Recepção 15m²

Consultório médico 12m²

Atendimento psicológico 12m²

Enfermaria 12m²

Sala curativos 12m²

Despensário de medicamentos 6m²

WC 6m²

SETOR AMBIENTE ÁREA (m²)

APOIO GERAL

Estacionamento 430m²

Guarita 6m²

Gerador 10m²

Casa de gás 7m²

Casa de lixo comum 7m²

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Casa de lixo hospitalar 7m²

Reservatório de água 16m²

SETOR AMBIENTE ÁREA (m²)

FUNCIONÁRIOS

Estar 20m²

Descanso 20m²

Copa 8m²

Vestiários 8m²

Sanitários 8m²

5.1 ORGANOGRAMA

Para melhor compreensão da disposição dos ambientes, foi elaborado o

organograma (figura 63) que diferencia por cores os setores do programa de

necessidades

Figura 63 - Organograma.

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

6 PROPOSTA ARQUITETÔNICA

Esse capítulo apresenta e descreve o processo de projetual desde a sua

concepção até a proposta arquitetônica final.

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6.1 CONCEITO E PARTIDO

Como nesse TFG é trabalhado um tema pouco discutido no Brasil, os estudos

de referência, sobretudo o realizado na Holanda, foram fontes essenciais para a

definição do conceito de projeto e concepção do partido.

A meta geral da proposta foi projetar espaços que associassem a moradia às

atividades de estimulação da memória (musicoterapia, artesanato, leitura, exercício

físico etc.), ao mesmo tempo em que se proporcionasse integração social, abrindo o

espaço para a comunidade, através da atividade comercial, por exemplo.

Unindo a experiência holandesa, as referências indiretas e as características

da área de intervenção (um bairro que, conforme o Plano Diretor de Natal, conta

com grande concentração de vilas), o projeto adotou o conceito de vila, que

orientou a proposta, entendendo-se vila no sentido brasileiro popular, como

“alinhamento de residências que forma uma rua particular, geralmente sem saída

pelos fundos, e cuja entrada se abre para uma via pública” (HOUAISS, 2013, p. 880)

ou “conjunto de pequenas habitações, geralmente idênticas e dispostas de modo

que formam rua ou praça interior” (FERREIRA, 2010, P. 673). É válido salientar que

não foi adotada a definição do Plano Diretor de Natal, conforme o qual vila é "o

conjunto de casas contíguas, no mesmo lote, destinadas predominantemente a

habitações de aluguel, com algum nível de precariedades urbanísticas e ambientais,

caracterizadas pela implantação encravada no interior dos quarteirões ou fundo de

quintais".

Partindo desse conceito, foram propostas habitações conjugadas, dispostas

em duas linhas no terreno, uma de casas geminadas e outra de 14 unidades

conjugadas (bloco de apartamentos com dois pavimentos), que abrem-se para uma

praça onde são disponibilizadas atividades de lazer e convívio. A praça passou,

então, a ser o centro da instituição, pois além de possibilitar múltiplos usos, permite

a grande permeabilidade visual e física do empreendimento, seja para quem entra

na instituição, seja para os idosos que estão em casa.

O partido arquitetônico foi determinado a fim de garantir o estímulo ao

convívio entre as pessoas e a quebra da segregação comumente encontrada em

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instituições de longa permanência, priorizando a integração das moradias entre si,

com os espaços internos da instituição e com o entorno.

Além de se definir estas linhas gerais, e indicar-se antecipadamente que se

trataria de um espaço parcialmente aberto para a comunidade embora

controlado (para a própria segurança dos idosos institucionalizado), o ponto-chave

da concepção foi a habitação. Por se tratarem de moradias para idosos com

Alzheimer, priorizou-se por desenvolver uma casa adaptada às necessidades do

idoso, com base nos parâmentros de acessibilidade, conforto ambiental e

personificação dos espaços. A ideia principal é fazer com que o idoso crie e

mantenha referências relativas à noção de lar, dando oportunidade para que, ao

acessar o espaço público ele continue a reconhecer sua habitação, podendo

facilmente retornar a ela. Para isso internamente as residências devem ser

personificadas, ou seja, cada idoso deve ter a alternativa de levar para a instituição

sua própria mobília e os objetos que gosta. Externamente, para diferenciar as

unidades entre si, optou-se por texturas e cores diferenciadas, dando maior

identidade não só aos blocos, mas a cada unidade.

Do ponto de vista volumétrico, a topografia do terreno foi determinante na

implantação dos blocos e setores. Inicialmente, o desnível de 3,50m aparentou ser

uma barreira no desenvolvimento do anteprojeto, pois poderia dificultar a plena

acessibilidade. No entanto, gradativamente surgiram alternativas para utilizar esse

desnível a favor do projeto, o que, inclusive, permitiu o aumento do número de

residências devido ao surgimento de níveis diferenciados entre os blocos. Para isso

foi criado um muro de arrimo contornando parte da praça, cujo início é a rampa que

margeia as casas geminadas. A rampa funciona como elemento de conexão entre

os vários setores do empreendimento, o que torna seu uso indispensável: (i) no nível

inferior, o da praça, se encontram a entrada, os setores administrativo e de

comércio, e algumas residências; (ii) no nível superior estão os setores de apoio,

inclusive refeitório, e a maior parte dos apartamentos; (iii) os patamares dão acesso

às casas geminadas em nível intermediário.

Para estender à comunidade a ideia de integração e permeabilidade

encontradas no interior da instituição, foram criados pontos de comércio distribuídos

entre as residências da maior testada do terreno e que tem contato com a via

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pública. As lojas (padaria, mercadinho, café/lanchonete e salão de beleza) se abrem

para a via pública através de portas e se voltam para a área interna por meio de

janelas/guichês, permitindo que os funcionários atendam a ambos sem risco a

segurança dos idosos. Essa ideia foi adaptada a partir da experiência em De

Hogeweyk, sendo importante salientar que, assim como acontece naquela

instituição, para que os moradores usufruam de tratamento adequado, todos os

funcionários das lojas deveriam ser treinados como cuidadores.

Em termos formais, as decisões projetuais seguiram dois vieses, um

relacionado à habitação (que exigia uma identidade de fácil leitura) e o outro relativo

ao espaço de integração, que necessitava de volumes, cores e identidade visual

convidativas ao uso como locais de atividades coletivas e de lazer.

Para obter o produto final do anteprojeto foram desenvolvidos vários estudos

preliminares que levaram em consideração a integração com o entorno, os acessos,

os volumes, a segurança, o programa de necessidades e, principalmente, o perfil

dos usuários, expostos nas figuras 64, 65 e 66.

PROPOSTA 01

Na fase da proposta 01 (figura 64) foram realizados os primeiros estudos, a

nível de desenho esquemático. O acesso principal se daria pela esquina da Rua

Presidente Quaresma com a Rua Currais Novos. Nesse ponto já foi estabelecido

que o estacionamento seria localizado na testada de maior dimensão, para que as

vagas fossem distribuídas de forma linear, para não comprometer as demais

dimensões do terreno e para que os veículos não tivessem acesso ao interior do

lote, já que há pouca possibilidade do idoso morador dirigir (por sua condição de

saúde) e isso confere maior segurança aos moradores. O setor de comércio estaria

junto ao acesso; o de saúde próximo à via pública principal, o de apoio/funcionários

na parte de maior desnível do terreno; o lazer na parte central e as residências

posicionadas paralelas às maiores testadas (assim se atingiria um maior número de

residências), visando ainda privilegiar sua posição de forma a receber o máximo de

ventilação natural possível, de acordo com os ventos predominantes na cidade de

Natal, na direção sudeste.

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Figura 64 - Croqui esquemático proposta 01 (sem escala).

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

PROPOSTA 02

Nessa proposta (figura 65) foram mantidos os posicionamentos do

estacionamento; residências a noroeste; bloco de saúde; bloco de apoio/funcionários

e lazer. As principais modificações foram no acesso, que passou a ser pela Rua

Presidente Quaresma; no setor de comércio que acompanhou o acesso e na

implantação; das residências a sudeste em relação aos pontos cardeais, visando

melhorar as condições de ventilação.

Figura 65 - Croqui esquemático proposta 02 (sem escala).

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

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PROPOSTA 03

A proposta 03 (figura 66) diz respeito à proposta final do anteprojeto. Nesse

caso, a principal modificação em relação à proposta anterior é que as residências a

sudeste foram rotacionadas para que as menores fachadas, onde estavam previstos

o estar e o dormitório tivessem suas aberturas voltadas para sudeste, priorizando a

ventilação. Os setores de comércio e saúde passaram a compor o mesmo bloco que

as residências conjugadas, criando um bloco de uso misto. A horta se aproximou do

setor de lazer e se manteve próximo ao setor de apoio onde está também o

refeitório, onde seriam utilizados os produtos colhidos.

Figura 66 - Croqui esquemático proposta 03 (sem escala).

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

6.2 MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO

Nesse item será apresentado o produto final desse TFG, a Vila Marta de

Medeiros. O anteprojeto foi elabora em linguagem clara, a fim de permitir o bom

entendimento e representação técnica. Os itens a seguir descrevem resumidamente

a proposta gráfica correspondente às pranchas do outro volume.

6.2.1 IMPLANTAÇÃO

O empreendimento, com 2.404,12m² de área construída (figura 67) é

composto por seis setores distribuídos em diferentes blocos edificados que serão

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descritos nos itens subsequentes. Trata-se de uma vila constituída por um conjunto

de edificações destinadas à moradia de idosos com Alzheimer, contendo, ainda,

equipamentos de apoio e lazer. A partir da evolução do zoneamento exposta

anteriormente, foi definido o conjunto de blocos, a saber:

Bloco 01: apartamentos, comércio e setor de saúde preventiva;

Bloco 02 - Serviços/ apoio: abriga equipamentos como cozinha, lavanderia,

refeitório;

Bloco 03 - Lazer/horta: abriga o lazer coberto e a horta acessível (suspensa);

Bloco 04 - Funcionários: abriga o estar e descanso dos funcionários.

Casas Tipo 01: residências geminadas;

Lazer: praça central do empreendimento;

Entrada/Acesso: guarita e controle de acesso.

Figura 67 - Vista superior.

.

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

Na elaboração do anteprojeto houve a preocupação com as questões

ambientais e legais, buscando respeitar e adequar a proposta aos condicionantes.

Ao ser definido o conceito de vila, optou-se por separar os blocos de uso

diferenciado (serviço, funcionários, apoio geral) e manter a conexão os espaços

destinados à moradia.

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A proposta buscou propiciar as melhores condições de conforto ambiental

possíveis para o programa de necessidades estabelecido, buscando criar nas

edificações grandes aberturas no sentido dos ventos predominantes (sudeste);

protegendo as fachadas mais expostas à insolação direta indesejada; possibilitando

a criação de microclimas através de áreas verdes e sombreadas nos espaços de

convivência.

6.2.2 ACESSOS E ESTACIONAMENTO

O acesso principal à Vila se dá pela Rua Presidente Quaresma, onde está

localizada a baia de embarque e desembarque de passageiros. O acesso de

serviços, para abastecimento de suprimentos e acesso de funcionários ocorre pela

via local Rua Cel. Silvino Bezerra. Por decisão projetual não se tem acesso de

veículos no interior da Vila, a fim de que seja priorizada a segurança dos idosos, a

não ser em casos de emergência. Para os veículos de visitantes e pessoas que

busquem a área comercial do empreendimento, foi previsto o estacionamento fora

do lote, na Rua Currais Novos, por onde se tem contato direto com as lojas e que

não se distancia muito do acesso principal. De acordo com o Código de Obras do

Município, são vagas: 01 vaga/unidade habitacional e 01 vaga/60m² do setor

comercial, dessa forma o estacionamento possui vagas excedentes, totalizando 35.

Devido ao fato de o público alvo ser idoso, as vagas de deficientes e idosos foram

previstas em número maior que o exigido pela legislação (5% para idoso e 2% para

deficientes), sendo 5 unidades destinadas a idosos e 3 a deficientes.

O acesso principal ocorre pela guarita (figura 68) onde é feito o controle de

pessoas que circulam, para isso foi criada uma sala de controle/acesso ligada à

guarita. A edificação da guarita é emoldurada por um pórtico em concreto armado

que sombreia os ambientes e sob o qual está o letreiro de identificação da Vila Marta

de Medeiros.

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Figura 68 - Acesso principal.

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

6.2.3 CASAS TIPO 01

As casas tipo 01 foram o ponto inicial do projeto das edificações. Por se tratar

de uma proposta de moradia, a residência foi tratada como prioridade desde a

implantação no terreno até a definição do seu dimensionamento, planta baixa e

volumetria.

O que determinou a distribuição dos ambientes foi a posição da casa em

relação aos pontos cardeais, visto que se fazer uso da ventilação natural cruzada e

para isso os quartos (ambientes de longa permanência) foram posicionados de

modo a receber a ventilação natural predominante, proveniente do sudeste.

Como forma de priorizar a ventilação cruzada e possiblitar a flexibilidade da

planta baixa, o quarto foi alinhado com a sala (figura 69), visto que eles têm as

maiores aberturas e são os espaços de maior permanência. A proposta de

flexibilidade entre esses dois ambientes se deve também à ideia de personificação

dos espaços. Desse modo, a casa pode atender a várias propostas de layout, ou

seja, o idoso pode mobiliar sua residência como desejar, criando e mantendo

referências associadas ao conceito de "lar".

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Figura 69 - Planta baixa Casa tipo 01 (sem escala).

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

Como alternativa de promover a personificação, os materias e texturas de

revestimento para as fachadas e paredes internas são indicados como sugestão,

pois essas definições ficariam a critério do idoso morador de cada casa. Como

proposta, sugere-se a diferenciação por texturas (pedra, casquilho, tijolo aparente,

concreto aparente, entre outros) entre os blocos de casas geminadas e a

diferenciação por cores entre as casas que dividem o mesmo bloco (figura 70).

Figura 70 - Fachada frontal Casa tipo 01 (sem escala).

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

6.2.4 BLOCO 01 - APARTAMENTOS, SETOR DE SAÚDE E ADMINISTRAÇÃO

O bloco 01 diz respeito a uma edificação de uso misto que tem dois

pavimentos. O térreo está no nível inferior, nível da praça, e o pavimento superior

está a 3,50m de altura em relação a ela e pode ser acessado pela rampa que

margeia a praça no lado oposto.

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Assim como os demais blocos que possuem uso residencial (casas tipo 01 e

setor de funcionários), esse possui cobertura em telha colonial com inclinação de

25%. Apesar de também ser residencial, esse bloco abriga mais três tipos de uso:

setor de sáude, administrativo e comércio.

Por se estender longo de quase toda a testada de maior dimensão do lote e

ter contato direto com o meio externo por causa do uso comercial, foi necessário dar

um tratamento diferenciado à fachada desse bloco (figura 71). O uso misto

proporcionou o jogo de volumes para dar dinamicidade à fachada, pois o setor de

saúde ficou mais recuado que os demais (que já possuiam recuo acima do exigido

(3,00m) por ter recebido o estacionamento com vagas a 90º); o setor comercial

recebeu recuos diferenciados para abrigar mesas e foi criado um volume que saca

da fachada para comportar o letreiro dessas lojas. O setor residencial, apesar de ter

sido padronizado pelas plantas baixas dos apartamentos, recebeu balcões e

aberturas que sacam da fachada e são protegidos por brises mistos (horizontais e

verticais) que servem de protetores solares necessários à essa fachada recebe

grande parte da insolação no período da tarde, o que motivou a disposição da planta

baixa de forma diferenciada da casa tipo 01, pois foi necessário inverter as posições

entre o quarto e a cozinha (figura 72) para que o quarto não ficasse exposto à essa

insolação e pudesse receber ventilação natural proveniente do sudeste.

Figura 71 - Vista do bloco 01 a partir da Rua Currais Novos.

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

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Figura 72 - Planta baixa do apartamento do bloco 01.

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

6.2.5 BLOCO 02 - SERVIÇOS

Esse bloco foi locado na parte mais elevada do lote, não somente devido à

elevação, mas também por se tratar da porção do terreno que recebe maior

insolação direta no período da tarde, que é um fator negativo para as condições de

conforto térmico dos usos das outras edificações e é apropriado para o uso desse

bloco. A partir do acesso principal ao lote, se chega a esse setor através da rampa

que margeia a praça central, enquanto o acesso de serviço é feito por um portão

localizado na Rua Cel. Silvino Bezerra.

O setor de serviços compreende a cozinha (recebimento, sala do nutricionista,

cocção e preparos, louça limpa, higienização de louças e depósito de alimentos); a

lavanderia (roupa suja, área de lavagem, roupa limpa e área de varal); depósito de

material de limpeza (DML) e refeitório apoiado por lavatório e sanitários.

Esse setor, assim como o bloco 03 foi deferenciado dos demais por meio da

cobertura utilizada, pois para ele foi projetado uma platibanda. A justificativa para

essa escolha é facilitar a identificação visual por tipo de uso por parte dos idosos.

O refeitório tem uma grande parte aberta com possibilidade de fechamento

através de painéis corrediços em madeira. Essa alternativa foi pensada porque esse

ambiente pode ser utilizado não só para refeições, mas ainda para reuniões e

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palestras. A partir dele é possível visualizar todo o empreendimento, porém a

edificação está conectada somente ao bloco 01 através de um pergolado.

6.2.6 BLOCO 03 - LAZER E HORTA

O setor de lazer do bloco 03 diz respeito ao salão de festas com um conjunto

de salas localizados no nível inferior do terreno. As salas são destinadas à

atividades terapêuticas, apontadas pelo corpo médico (em entrevista) como

essenciais ao bem estar do idoso com Alzheimer, pois é uma forma de mantê-lo

ativo, e se dividem em sala de música, sala de leitura e sala de artesanato. O salão

de festas corresponde a um grande vão aberto de um dos lados que tem a proposta

de receber eventos, bailes, atividades culturais e de lazer.

No pavimento superior desse bloco está a horta acessível. Ela foi pensada

como proposta de atividade de rotina para os idosos e para isso tinha que ser

adaptada para deficientes ou pessoas com dificuldade de locomoção, por isso foi

projetada de forma a permitir a aproximação da cadeira de rodas ou de cadeira

comum (figura 73).

Figura 73 - Detalhe da horta acessível.

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

A escolha dessa localização para a horta suspensa se deu porque ela pode

ocupar o pavimento superior sem bloquear a permeabilidade visual do conjunto e

por estar próximo ao refeitório. Por ser um espaço aberto, foi protegida por

jardineiras de 1,10m de altura.

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6.2.7 BLOCO 04 - FUNCIONÁRIOS

O setor de funcionário recebeu o mesmo tratamento das casas tipo 01, por se

tratar de uma área de repouso e, portanto, de longa permanência. Apesar de ter dois

pavimentos, a volumetria se manteve, visto que foi instalado o mesmo tipo de

cobertura e o mesmo desenho externo da planta baixa, apesar de haver variações

nos ambientes internos. Seus ambientes compreendem: no térreo - sala de estar;

vestiários e sanitários masculino e feminino separados; varanda e copa; no

pavimento superior - três ambientes de descanso, terraço e sanitários masculino e

feminino separados; a circulação vertical é feita por escada.

Assim como o setor de serviços, o bloco 04 foi implantado no nível superior

do terreno, mas nesse caso a estratégia projetual foi permitir que mesmo estando

nesse setor, os funcionários pudessem visualizar e monitorar todo o

empreendimento. Devido ao fato de estar no nível mais elevado do lote e possuir

dois pavimentos, esse bloco foi utilizado para instalação dos reservatórios de água,

dispensando um possível castelo d'água. Esse volume dos reservatórios foi

acrescido ao bloco e seu dimensionamento foi determinado pelo cálculo de consumo

de água (número de usuários/turno x 200litros/dia x 2 dias).

6.2.8 PRAÇA

A praça foi pensada para ser o elemento central da vila (figura 74),

conectando visualmente os diferentes blocos, correspndendo a uma área interna

ampla e convidativa para uso dos moradores e visitantes. A definição dos seus

equipamentos foi feita com base no referencial teórico, sobretudo na entrevista com

a geriatra.

Formalmente, a proposta foi consequência do formato do próprio terreno, a

partir disso os espaços foram divididos em duas porções de acordo com suas

funções. Logo na entrada do empreendimento, se encontra uma área sombreada

por árvores, diferenciada das demais pelo uso de piso em bloco intertravado de

concreto na cor azul e pelo elemento central que remete a equipamento urbanístico

antigo que até hoje pode ser encontrado em várias cidades do interior do estado do

Rio Grande do Norte: o coreto. Essa porção da praça, por ser central, estar próxima

ao acesso principal do empreendimento e por ter grande área livre será destinada à

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realização da feirinha semanal aberta ao público. Além disso, a intenção de se

projetar o coreto como elemento central é para que ele possa ser usado em eventos

e serestas, além de ser elemento decorativo do conjunto.

Na outra porção da praça foi proposta uma academia da terceira idade (ATI),

que, conforme a geriatra entrevistada e corroborando o TFG de Cipriani (2013), para

otimizar o uso e as condições de conforto, deve estar em área sombreada, para isso

foi projetado um camanchão em madeira com forma circular que receberá vegetação

do tipo trepadeira, o que proporcionará um microclima para que esse espaço fique

mais agradável térmicamente. A ATI, além de se destacar pelos equipamentos de

ginástica e o caramanchão, possui piso em bloco intertravado na cor vermelha. No

entorno da ATI existem bancos para descanso e espaços permeáveis forrados por

grama e com arbustos como a ixora, por exemplo. O acesso à academia pode ser

feito por três passeios sombreados por árvores e que possuem mesinhas de jogos

para estimular o convívio entre os moradores. As conexões entre as duas porções

da praça e os demais blocos edificados é feita por passeios em bloco intertravado na

cor cinza.

Figura 74 - Vista da praça.

Fonte: elaborado pela autora, 2014.

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6.3 ESPECIFICAÇÕES DE MATERIAIS E SISTEMA CONSTRUTIVO

Os materiais foram definidos levando em consideração a manutenção e o tipo

de uso proposto. Assim, buscou-se aplicar materiais com boa durabilidade,

resistência e que oferecessem segurança aos usuários, visto que pessoas com

dificuldade de locomoção necessitam de maiores cuidados nesse aspecto.

O sistema estrututral adotado para a Vila foi convencional, com superestrutura

em concreto armado (lajes, pilares 20 x 20 cm e vigas). A opção por esse sistema

construtivo apresenta vantagens no que diz respeito ao custo, pois é um sistema

plenamente conhecido no país, facilitando a contratação de mão-de-obra e a

aquisição do material, além de ter grande durabilidade e facil manutenção.

A execução das paredes externas e internas do empreendimento será em

tijolo cerâmico de oito furos, assentados em argamassa de cimento, areia e aditivos

necessários.

A maior parte das edificações possui coberta em telha de barro do tipo

colonial com estrutura de caibros e ripas em madeira. Porém, para facilitar a

diferenciação dos setores por parte dos idosos, os blocos de uso não-residencial

foram projetados em platibanda. Esses blocos são o de lazer/horta e apoio, ambos

possuem laje nervurada para que os grandes vãos do refeitório (setor de apoio) e

salão de festas (lazer) fossem vencidos sem prejudicar a plástica da volumetria.

Os passeios internos e externos serão executados em blocos

intertravados na cor cinza, apropriados para tráfego leve, meio fio pré-moldado em

concreto e acabamento em placas de sinalização tátil de alerta, com cor diferente da

do piso intertravado. Os pisos da praça serão diferenciados por cores (azul e

vermelho) conforme o equipamento instalado.

Nas paredes internas das áreas molhadas será aplicado revestimento

cerâmico de piso a teto com cor clara. Todos os ambientes internos terão piso em

cerâmica antiderrapante, exceto o setor de saúde que tem piso vinílico devido aos

cuidados com higiene.

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Quando necessário, serão executados forros em gesso convencional (placa

60 x 60 cm) pintados com tinta látex na cor branco neve. Os demais forros serão as

próprias lajes com aplicação de massa acrílica na cor branco neve.

As paredes que necessitarem de pintura devem ter acabamento com tinta

acrílica em cores claras, exceto nas fachadas das casas tipo 01, onde as cores

devem ser contrastantes e devem ser escolhidas pelo morador.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A elaboração desse TFG partiu do desejo pessoal de buscar, na arquitetura,

alternativas de proporcionar melhor qualidade de vida aos idosos com doença de

Alzheimer, haja vista a experiência pessoal de contato com esse grupo social, dentro

do contexto familiar.

A procura por referências diretas e indiretas apontou a existência de espaços

de diversos tipos destinados a esse público. No entanto, todos eles destinados ao

idoso de modo genérico, sem a especificidade de atender a pessoas com Alzheimer,

o que reforçou a ideia de que esse tipo de empreendimento se faz necessário.

Levando em consideração que a qualidade de vida do idoso está relacionada

a diversos fatores, dentre os quais estão o ambiente e suas relações, buscou-se

nesse anteprojeto promover um espaço de moradia coletiva que integrasse o idoso à

comunidade, ao mesmo tempo que respeitasse a sua individualidade. Para tanto, foi

proposta uma instituição coletiva, na qual são desenvolvidas atividades e relação

entre os idosos e entre ele e a comunidade, porém, com habitações individuais.

No desenvolvimento da proposta arquitetônica foram levadas em

consideração principalmente as referências estudadas, a partir de então foram

definidos o conceito de vila e o partido de distribuir os setores em blocos levando em

consideração a permeabilidade visual, acessibilidade e integração social.

Ao fim desse Trabalho Final de Graduação, estou cada vez mais convicta de

que é necessário e possível propor uma arquitetura voltada para as pessoas, com

base no bem estar social e que o arquiteto pode ser um profissional capaz de

produzir espaços que contribuam para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

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