viii mais do que palavras saiba mais sobre a comunicação ... escolher as brincadeiras...

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Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 1 Guilherme tem 3 anos de idade e parece não gostar de estar com outras pessoas. Prefere brincar sozinho, fazendo seu trem de brinquedo ir para frente e para trás sobre os trilhos. Quando não está brincando com seus trens, Guilherme está sempre se mexendo, correndo da sala para a cozinha e para a sala de novo. Seus pais estão preocupados, porque ele ainda não fala e não responde quando o chamam pelo nome. como escolher as brincadeiras participativas e como brincá-las com seu filho. O Capítulo 6, “Ajude seu filho a entender o que você diz”, trata de como você pode ajustar sua maneira de falar para que ele possa entender. O Capítulo 7, “Use Ajudas Visuais”, apresenta o que você pode fazer com obje- tos, figuras e escrita para ajudar seu filho a entender situações, organizar sua vida e se expressar. Você pode reproduzir as figuras usadas nesse capítulo para fazer AjudasVisuais para o seu filho. No Capítulo 8, “R.O.D.A. nas suas Rotinas”, tratamos de como usar todas as estratégias dos capítulos anteriores para incentivar interação, compreensão, inde- pendência e conversação durante as rotinas diárias. O Capítulo 9, “Aproveite a Música ao máximo”, se vale do amor do seu filho pela música para melhorar sua interação e sua comunicação. O Capítulo 10, “Que venham os livros!” sugerimos alguns e discutimos sobre como usá-los de forma estruturada para ajudar seu filho entender mais palavras e desenvolver novos pensamentos e maneiras de se comunicar sobre eles. O Capítulo 11, “Traga os brinquedos”, descreve os tipos de brinquedos que aju- darão seu filho a desenvolver habilidades para brincar e se comunicar. Finalmente, no Capítulo 12, “Vamos fazer amigos”, há sugestões práticas sobre como promover amizades nas quais seu filho continue a usar suas novas habilidades de comunicação. O glossário no final do livro é uma maneira mais fá- cil de lembrar-se dos significados de termos usados ao longo do livro. Usando as estratégias apresentadas neste livro, você pode proporcionar para seu filho um ambiente que promova a aprendizagem e a comunicação e permita que toda a família possa participar e se divertir! Com alguma paciência e persistência, você pode ajudar seu filho a desenvolver todo o seu potencial nos primeiros anos de vida. viii Mais do que palavras

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Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 1

Guilherme tem 3 anos de idade e parece não gostar de estar com outras pessoas. Prefere brincar sozinho,

fazendo seu trem de brinquedo ir para frente e para trás sobre os trilhos. Quando não está brincando com

seus trens, Guilherme está sempre se mexendo, correndo da sala para a cozinha e para a sala de novo.

Seus pais estão preocupados, porque ele ainda não fala e não responde quando o chamam pelo nome.

como escolher as brincadeiras participativas e como brincá-las com seu filho.

O Capítulo 6, “Ajude seu filho a entender o que você diz”, trata de como você

pode ajustar sua maneira de falar para que ele possa entender.

O Capítulo 7, “Use Ajudas Visuais”, apresenta o que você pode fazer com obje-

tos, figuras e escrita para ajudar seu filho a entender situações, organizar sua vida

e se expressar. Você pode reproduzir as figuras usadas nesse capítulo para fazer

AjudasVisuais para o seu filho.

No Capítulo 8, “R.O.D.A. nas suas Rotinas”, tratamos de como usar todas as

estratégias dos capítulos anteriores para incentivar interação, compreensão, inde-

pendência e conversação durante as rotinas diárias.

O Capítulo 9, “Aproveite a Música ao máximo”, se vale do amor do seu filho

pela música para melhorar sua interação e sua comunicação.

O Capítulo 10, “Que venham os livros!” sugerimos alguns e discutimos sobre

como usá-los de forma estruturada para ajudar seu filho entender mais palavras e

desenvolver novos pensamentos e maneiras de se comunicar sobre eles.

O Capítulo 11, “Traga os brinquedos”, descreve os tipos de brinquedos que aju-

darão seu filho a desenvolver habilidades para brincar e se comunicar.

Finalmente, no Capítulo 12, “Vamos fazer amigos”, há sugestões práticas

sobre como promover amizades nas quais seu filho continue a

usar suas novas habilidades de comunicação.

O glossário no final do livro é uma maneira mais fá-

cil de lembrar-se dos significados de termos usados ao

longo do livro.

Usando as estratégias apresentadas neste livro, você pode

proporcionar para seu filho um ambiente que promova a

aprendizagem e a comunicação e permita que toda a família

possa participar e se divertir! Com alguma paciência e

persistência, você pode ajudar seu filho a desenvolver

todo o seu potencial nos primeiros anos de vida.

viii Mais do que palavras

Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 3

Os pais de Guilherme não sabem como ajudá-lo a se comunicar. Nem mesmo sabem

se o filho os ouve quando falam com ele. Mas certamente sabem muitas coisas sobre

o filho. Sabem de que comida, brinquedos e atividades ele gosta. Os pais de Gui-

lherme podem não ter percebido, mas estas informações são importantes e podem

ser usadas para ajudá-lo.

Quando você sabe do que seu filho gosta, você sabe o que o motiva a se comunicar.

Observe do que seu filho gosta e do que ele não gosta

Com quais brinquedos

seu filho gosta mais de

brincar?

Qual é a comida

preferida de seu filho?

De que tipo de

atividade física seu

filho gosta?

Com quem seu filho

gosta mais de ficar?

Algumas crianças dão pistas claras sobre o que gostam e o que não gostam. Por

exemplo, pode ser que seu filho brinque sempre com o mesmo brinquedo ou puxe você

até a porta da frente repetidas vezes. Nessas situações, é fácil perceber do que ele gosta.

Mas, às vezes, é preciso observá-lo mais atentamente para descobrir as preferências

dele. Desta forma, pode ser que descubra que ele gosta de pular, correr de um lado para

o outro ou engatinhar por baixo dos móveis ainda mais do que você pensava.

As coisas das quais seu filho gosta podem ser difíceis de entender

4 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 5

As coisas das quais seu filho não gosta podem ser difíceis de entender Seu filho pode fazer outras coisas difíceis de entender

6 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 7

As ações de seu filho mostram como ele percebe o mundo – através de movimento, tato, visão, audição e olfato.

Muitas crianças com TEA, como as mostradas nas páginas anteriores, reagem de formas

incomuns ao mundo ao seu redor. Isto acontece porque elas podem não sentir as coisas

da mesma forma que você e eu. Seu filho pode ser hipersensível a certas sensações, o

que significa que uma pequena quantidade da sensação pode estimulá-lo intensamente.

Se o seu filho é hipersensível, ele pode se afligir e tentar evitar as sensações que o inco-

modam. Por exemplo: Lucas, uma das crianças descritas anteriormente, é hipersensível

ao som do aspirador de pó, por isso cobre os ouvidos para bloquear o barulho.

Ao mesmo tempo, seu filho pode ser hipossensível a certas sensações e bus-

cá-las, porque é necessária uma grande quantidade da sensação para estimulá-lo.

Crianças que são hipossensíveis ao movimento são particularmente ativas, porque

correm de um lado para o outro, balançam o tronco ou pulam buscando provocar

as sensações que precisam. Por outro lado, há crianças que são hipossensíveis às

sensações, e mesmo assim são passivas. Elas mal reagem ao mundo à sua volta,

porque não estão obtendo estímulos suficientes.

É possível que seu filho tenha reações contraditórias às sensações – ele pode ser

hipersensível a algumas e hipossensível a outras. Muitas crianças com TEA são hi-

possensíveis à fala e não respondem a ela, muito embora outros sons as incomodem.

Vai ser difícil que seu filho preste atenção ao que você diz, se ele tiver dificuldades

em ouvir sons da fala.

Os comportamentos das crianças nas páginas 3, 4 e 5, com exceção de Bruno,

podem ser explicados pelas situações às quais são hiper ou hipossensíveis.

Da mesma forma que muitas crianças com TEA, Bruno, o menino que não sabe

pedalar seu triciclo, tem dificuldades com planejamento motor, ou seja, para ele é

difícil planejar e executar movimentos.

Quando seu filho tem dificuldades de planejamento motor, pode trombar com as

coisas. Ou pode ser que brinque com os brinquedos de uma forma repetitiva, pois acha

mais fácil aprender um só conjunto de ações do que aprender muitos. Falar é difícil para

algumas crianças com TEA, em parte porque a fala requer muito

planejamento motor da boca, língua

e aparelho vocal.

Bruno tem dificuldades com o planejamento

motor. Ele não consegue planejar e executar

as ações necessárias para andar de triciclo.

MOVIMENTO

TATO

Associe as preferências e ações de seu filho à maneira como ele sente o mundo

Estas crianças são hipersensíveis a

algumas sensações e tentam evitá-las

Estas crianças são hipossensíveis a

algumas sensações e procuram senti-las

Miguel tenta evitar movimento e tem medo da

escada rolante.

Gui corre pela casa para buscar movimento.

João se incomoda quando seu pai

toca sua cabeça.

Luana gosta de sentir pressão

sobre seu corpo.

8 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 9

Pedro gosta do cheiro

do cabelo de sua mãe.

VISÃO

Jaqueline tenta evitar a luz em seus olhos. Gabriel gosta de observar seus

dedos movendo-se rapidamente

AUDIÇÃO

Alguns sons parecem ser altos demais

para Lucas.

Ao mesmo tempo, parece não ouvir quando

seu pai o chama.

OLFATO

Karen não come macarrão porque não gosta

do cheiro de molho condimentado.

O pai transforma o amor de

Guilherme por movimento

em uma brincadeira

interativa.

Estas crianças são hipersensíveis a

algumas sensações e tentam evitá-las.

Estas crianças são hipossensíveis a

algumas sensações e procuram senti-las.

Identifique as preferências sensoriais de seu filho

As visões, os sons, os cheiros, toques e movimentos de que seu filho gosta ou não

gosta são chamados de preferências sensoriais. Será mais fácil entender o compor-

tamento de seu filho se você identificar as preferências sensoriais dele.

Elas também mostrarão por

onde você começa para ajudar seu

filho a se comunicar. Se ele receber

a informação através de seu senti-

do preferido, pode ser que consiga

prestar atenção por mais tempo e

aprender mais. Ao identificar as

preferências sensoriais de seu fi-

lho, saberá quais atividades podem

ser motivadoras e prazerosas tanto

para ele quanto para você. Preencha

a lista de verificação sensorial nas

páginas 10 a 13 para registrar quais

sensações seu filho busca ou evita.

10 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 11

As preferências sensoriais do meu filho

Observe as preferências sensoriais de seu filho. Depois, marque os quadrados que se

aplicam ao seu caso.

MOVIMENTO

Meu filho é hipossensível ao movimento e busca o movimento assim:

pulando

balançando o corpo

girando

gostando de brincadeiras “brutas”, por exemplo,

ser jogado para o alto

correndo de um lado para o outro

de outras maneiras: _________________

Meu filho mostra que é hipersensível ao movimento assim:

mostrando medo em escadas e escadas rolantes

mostrando medos em balanços, gangorras e

escorregadores

irritando-se ou enjoando-se ao andar de carro

de outras maneiras: _________________

Meu filho tem dificuldades de planejamento motor: é desajeitado ou tromba com as coisas

não usa brinquedos de forma apropriada

brinca com o mesmo brinquedo horas a fio

não imita as coisas que eu faço

realiza uma atividade apenas uma vez (por

exemplo, ele desce pelo escorregador uma vez)

vaga sem objetivo

passa muito tempo deitado

tem dificuldades para assoprar velas

me entende mas não fala

tem dificuldades para “achar” uma palavra que já disse antes

não pronuncia corretamente as palavras que sabe dizer

tem uma voz incomum

outros: ___________________

Meu filho mostra que é hipersensível ao tato:não gosta de coisas pegajosas nas suas mãos (por exemplo:

massinhas, argila e tinta)

gosta ou detesta certas texturas de roupas

não gosta de vestir chapéus e luvas

não gosta de lavar ou cortar o cabelo

não gosta de comidas crocantes ou difíceis de mastigar

outros: ________________

TATO

Meu filho é hipossensível ao tato e busca essa sensação assim:

gostando de longos abraços

enrolando-se em cobertores

espremendo-se em locais apertados (por

exemplo, atrás do sofá)

insistindo em usar roupas justas

deitando esparramado no chão

esbarrando nas pessoas

batendo palmas

segurando objetos

pondo objetos na boca

rangendo os dentes

raramente chorando quando se machuca

de outras maneiras: ______________

12 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 13

SOM

Meu filho é hipossensível ao som:parece não ouvir o que as pessoas

dizem

gosta de música e certos sons

gosta de brinquedos que fazem

certos sons

gosta de quando eu falo com ele de

um jeito animado

outros: ___________________

VISÃO

Meu filho é hipossensível a coisas que vê e procura sensações visuais assim:

acendendo e apagando as luzes

observando movimentos repetitivos (por

exemplo: o virar de páginas de livro, o abrir

e fechar de portas, seus dedos se mexendo

diante de seu rosto)

enfileirando coisas

olhando para as coisas com o canto do olho

olhando para as coisas de ângulos incomuns

outros: ___________________

Meu filho é hipersensível ao som e pode evitá-lo: tapa os ouvidos

chora quando uso eletrodomésticos (lava-

louças, aspirador de pó, secador de cabelo)

gosta de quando uso uma voz macia

consegue ouvir os sons mais sutis

outros: ____________________

Meu filho é hipersensível a coisas que vê e às vezes evita algumas sensações visuais:

prefere o escuro

pisca frequentemente

evita o sol

outros: _______________

14 Capítulo 1

OLFATO E PALADAR

Meu filho é hipossensível a alguns cheiros e gostos e busca estas sensações:

explora coisas lambendo e cheirando-as

gosta de comidas muito condimentadas

outros: ____________

Diferentes tipos de aprendizes

Estilos de aprendizagem baseiam-se na for-

ma como assimilamos informação. Podemos

aprender através da visão, do toque e/ou da

audição. Também temos diferentes tipos de

memória – algumas pessoas têm mais facili-

dade de se lembrar de acontecimentos do que

outras. Algumas pessoas aprendem detalhes,

enquanto outras gostam de ver o todo. A

maioria das pessoas tem um estilo de aprendi-

zagem preferido – a maneira pela qual apren-

dem melhor. Seu filho também tem um estilo

de aprendizagem preferido.

Aprendizes de rotinasMuitas crianças com TEA, como Michele, obtêm informações memorizando coisas

sem pensar. Essas crianças memorizam uma enorme quantidade de informações – tais

como números e letras – quando pequenas, e muitos fatos sobre assuntos específicos

quando crescem. Se por um lado podem re-

citar a informação palavra por palavra, por

outro freqüentemente não entendem o que

estão dizendo.

Aprendizes GestaltMuitas crianças com TEA memorizam senten-

ças como um todo sem compreender o signi-

ficado de cada palavra. Crianças que proces-

sam a informação desta forma têm um estilo

de aprendizagem “gestalt”. Por exemplo, se

der ao seu filho um brinquedo de banheira e

disser “Ponha isso na água”, pode ser que ele

atenda. Contudo, se der a ele um brinquedo de

banheira e disser “Ponha isso na estante”, pode

ser que ele o ponha na água. Seu filho come-

te esse erro porque associa qualquer frase que

Meu filho é hipersensível a alguns cheiros ou gostos e evita estas sensações:

gosta de comidas suaves ou

insípidas

é sensível a certos cheiros (por

exemplo: perfume)

outros: ___________________

Entenda o Estilo de Aprendizagem do seu Filho

Michele sabe falar os números de um a dez,

mas não entende o conceito de quantidade.

Felipe usa o verso memorizado de uma música para

dizer ao pai que está triste. Ele pode não entender as

palavras, mas sabe que a frase fala de tristeza.

16 Capítulo 1

contenha a palavra “ponha” com uma ação

específica, independentemente das outras

palavras da frase.

Ao contrário de outras crianças que

aprendem a falar usando palavras isoladas

e depois gradualmente adquirem frases de

duas palavras e sentenças curtas, crianças

que são aprendizes gestalt começam a falar

repetindo sentenças inteiras. Crianças com

aprendizagem gestalt costumam lembrar de

tudo em uma situação, mas quase sempre

não conseguem discernir o que é importan-

te do que não é.

Na figura da pág. 15, por exemplo, Fe-

lipe não consegue dizer ao pai como está se

sentindo com as próprias palavras. Em vez

disso, repete um trecho que memorizou de

uma música que ele associa com tristeza.

Aprendizes VisuaisSe o seu filho gosta de olhar livros ou ver

TV, pode ser um aprendiz visual. A maio-

ria das crianças com qualquer dificuldade

de linguagem aprende melhor quando vê

coisas do que quando as ouve. Uma vez

que a visão é o sentido mais forte, muitas

dessas crianças ficam encantadas por li-

vros ilustrados e vídeos.

Aprendizes “mãos na massa”Se o seu filho gosta de apertar botões, abrir

e fechar portas e/ou consegue entender o

mais complicado dos brinquedos, o mais

provável é que ele seja um aprendiz “mãos

na massa”, que aprende melhor pegando

ou mexendo nas coisas.

Aprendizes AuditivosSe o seu filho gosta de conversar e ouvir

outros conversando, pode ser um aprendiz

auditivo, que gosta de obter informações

através da audição. Não é comum que uma

criança com TEA dependa primariamente

da aprendizagem auditiva.

Coloque suas observações em prática

Suas observações sobre o estilo de apren-

dizagem de seu filho dão informações adi-

cionais para ajudá-lo.

Se o seu filho tem boa memória de rotina,

aprenderá melhor em atividades realiza-

das sempre da mesma maneira. Dentre

elas, atividades com números e letras.

Se o seu filho é um aprendiz gestalt, pode

aprender a dizer uma sentença inteira

antes de uma palavra isolada. Sua tarefa

é ajudá-lo a entender as partes do todo.

Se o seu filho é um aprendiz visual, apre-

sente as informações através de coisas

que ele possa ver. Exemplo: quando dis-

ser uma palavra mostre-lhe o próprio ob-

jeto ou uma foto. Crie oportunidades para

aprender com livros ilustrados e vídeos.

Se o seu filho é um aprendiz “mãos na

massa”, deixe-o aprender manipulando e

pegando coisas. Escolha brinquedos que

ele possa movimentar usando as mãos.

Comunicação

A comunicação acontece quando uma pessoa envia uma mensagem para outra pes-

soa. Você pode enviar a mensagem de diversas maneiras: expressões faciais, gestos

e palavras. E pode enviar a mensagem por diferentes motivos, tais como pedir ajuda

ou compartilhar uma idéia. Às vezes, as formas com as quais alguém se comunica

são chamadas de “modos” de comunicação, e as razões pelas quais alguém se co-

munica são chamadas de “porquês”.

Interação

A interação ocorre sempre que você e seu filho fazem coisas juntos e respondem um

ao outro. É a base da comunicação de mão dupla ou recíproca. Toda vez que você e

seu filho interagem, fazem uma conexão que inicia a comunicação.

Devido ao estilo de aprendizagem e necessidades sensoriais, todas as crianças

com TEA têm algum grau de dificuldade para interagir com o outro.

Para estabelecer interações bem sucedidas, seu filho precisa reagir aos outros

quando é abordado e iniciar interações por conta própria. Para o seu filho, responder

pode ser mais fácil do que iniciar. Se ele entende o que você diz, pode responder aos

seus comandos e perguntas simples. Contudo, pode ser que ele tome a iniciativa apenas

para atender as necessidades dele ou para pedir algo. Pode demorar até que ele inicie a

interação simplesmente para mostrar algo ou para ser sociável.

Entenda o que é comunicação

O pai tem dificuldade de interagir com Caio, porque seu

filho está mais interessado em olhar para as rodas girando.

Embora Eduardo saiba falar, sem interação

ele e sua mãe não conseguem conversar.

18 Capítulo 1

Vítor responde ao comando de seu pai.

Andréa inicia uma interação para pedir ajuda.

Quando Juliana gira começa uma interação

com sua mãe simplesmente para ser

sociável. Isto é um grande avanço!

A capacidade que seu filho tem de interagir depende também da personalidade

dele, das pessoas com quem fica e das coisas que faz. Ao saber como seu filho in-

terage, você pode planejar melhor como ajudá-lo a participar em interações sociais

que sejam prazerosas para ele.

Algumas crianças interagem apenas com seus pais

e familiares adultos em alguns jogos e atividades.

Algumas crianças conseguem integrar-

se e brincar com outras crianças.

Saiba como e porque seu filho se comunica

Embora Rafael não fale, consegue mostrar ao pai

o que quer, sem palavras.

Seu filho pode não dizer nenhuma palavra, mas comunicação é mais do que

palavras. Quando seu filho leva você até a geladeira, está lhe dizendo que quer

beber suco. Quando chora ou bate o pé no chão, está contando que está bravo ou

frustrado. Quando lhe dá um largo sorriso, está mostrando que você é especial

para ele. Mesmo quando abana as mãos, está lhe dizendo alguma coisa a respeito

de como se sente.

Crianças se comunicam pelas ações, sons ou palavras. Perceber como seu filho

se comunica ajudará você a desenvolver seus talentos e ensinar-lhe outras formas

de comunicação, um passinho de cada vez. Por exemplo, se o seu filho não emite

som algum, pode ser que não esteja pronto para falar. Você deverá começar mos-

trando a ele uma forma mais fácil de se comunicar – talvez através de gestos.

A percepção a respeito de como seu filho se comunica, no entanto, é apenas

uma pequena peça do quebra-cabeça. Você não pode se preocupar com o modo

dele se comunicar sem saber também por que ele se comunica. Uma vez sabendo o

motivo da comunicação, se é para solicitar, comentar ou dizer como se sente, você

poderá ajudá-lo a encontrar mais maneiras e motivos para se comunicar.

20 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 21

Perceba como seu filho se comunica

Seu filho se comunica usando mais do que palavras!

Há muitas formas diferentes de se comuni-

car, e algumas são socialmente mais apropriadas

do que outras. Ainda assim, tudo o que seu fi-

lho faz, inclusive balançar o tronco, correr de um

lado para o outro e agitar os dedos na frente do

próprio rosto comunicam algo sobre ele.

Pode ser que seu filho se comunique de uma das seguintes maneiras:

Ecolalia

“Ecolalia” é um termo que descreve a repetição

de palavras ditas por outras pessoas. É um traço

comum na fala de crianças com TEA.

Primeiro, seu filho pode repetir palavras que

ouviu sem entender o que significam. Pode ser que

ele faça isso por diversas razões e não para comu-

nicar uma mensagem diretamente a você. De fato,

pode ser que você nem esteja quando ele fizer isso.

Ao repetir palavras ou frases, seu filho pode estar

tentando se acalmar, prestar atenção em uma ativi-

dade ou simplesmente praticar a fala.

Ecolalia é um bom sinal. Mostra que a co-

municação de seu filho está se desenvolvendo.

Logo ele pode querer começar a usar essas pala-

vras e frases repetidas para comunicar-lhe algo.

Por exemplo, depois de repetir o que você diz,

pode olhar para você ou chegar mais perto de

um objeto. Ou pode se lembrar das palavras que

você usou para perguntar se ele queria beber

alguma coisa, e depois usar as palavras memo-

rizadas para fazer uma pergunta. As palavras

que seu filho aprende com a ecolalia abrem a

porta para comunicação com significado.

A expressão facial e a linguagem corporal

de Karen dizem à mãe exatamente como se

sente na hora de comer macarrão.

Primeiro, seu filho aponta para algo

sem olhar de volta para você...

Chorando ou gritando

Movendo-se até ficar bem próximo

das pessoas e coisas de seu interesse,

ou virando-lhes as costas

Usando gestos ou expressões faciais

Tentando conseguir o que quer

indicando com a mão aberta

Levando sua mão para conseguir

que você faça coisas para ele

Olhando para as coisas que quer

Apontando para as coisas, sem olhar

para você.

Olhando ou apontando para coisas

que quer e então olhando para

você. Alternar o olhar entre você

e um objeto chama-se Atenção

Compartilhada. Significa que seu

filho consegue comunicar a você os

interesses dele.

Comunicando–se com figuras

Emitindo sons

Usando palavras

Usando sentenças

Usando ecolalia

...depois aponta e olha para você para ter certeza de

que você está olhando para a mesma coisa.

Seu filho pode dizer o que quer

apontando para uma figura...

Quando seu filho começa a falar,

pode ser que repita o que ouvir das

outras pessoas. Isto é chamado

de “ecolalia”, e muitas vezes é um

sinal de que a sua comunicação

está se desenvolvendo.

...ou ao dando-lhe uma figura do

que ele quer.

22 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 23

Seu filho pode mostrar comunicação pré-intencional para:

se acalmar durante alguma atividade

praticar alguma atividade

se concentrar ou se orientar

reagir a uma experiência prazerosa ou

desagradável

conseguir coisas que ele quer

protestar ou recusar. Os primeiros

protestos que seu filho faz são

normalmente respostas automáticas a

coisas que ele não gosta. Quando chora,

vira a cabeça ou empurra sua mão, está

evitando você, mais do que tentando dizer

como está se sentindo.

A comunicação de seu filho pode ser intencional. A comunicação será mais

fácil quando seu filho entender que o que ele faz tem efeito sobre outra pessoa.

Comunicar-se com o propósito de enviar uma mensagem chama-se comunicação

intencional, e representa um grande avanço para o seu filho.

Seu filho pode se comunicar intencionalmente por diferentes razões

Protestar ou recusarProtestos ou recusas não intencionais tor-

nam-se intencionais quando seu filho envia a

mensagem diretamente a você. Por exemplo,

em vez de simplesmente empurrar sua mão

ele pode primeiro olhar para você. Ou em vez

de chorar e dar as costas quando você oferece

algo que ele não quer, pode sacudir a cabeça

em sinal de “não”. Protestos ou recusas inten-

cionais revelam que seu filho:

não quer o que você está oferecendo

não quer começar uma atividade

quer parar uma atividade

Há diferentes tipos de ecolalia:

Seu filho repete palavras ou frases,

geralmente a última parte do que

foi dito, imediatamente depois de

ouvi-las. Esta é a chamada ecolalia

imediata.

Seu filho memoriza ou “recupera”

partes de palavras ou frases que

ouviu e então as usa um dia, uma

semana, um mês ou mesmo um ano

depois. Esta é a chamada ecolalia

tardia. Geralmente, uma criança

repete algo que ouviu em uma

situação emocional. Por exemplo,

um menino pequeno ouve sua mãe

gritar “Larga!” quando pega uma

tesoura, e então repete a expressão “Larga!” sempre que alguém parecer bravo

com ele. Nesta situação, o menino entende quando as palavras são usadas, mas

não entende o que as palavras realmente significam.

Seu filho muda as repetições dizendo-as num tom diferente ou mudando algumas

das palavras, na tentativa de adaptá-las aos diferentes contextos. Esta é a chamada

ecolalia branda, e é um sinal positivo de que seu filho entende como usar as

palavras com sentido.

Observe por que seu filho se comunica

A comunicação de seu filho pode ser pré-in-

tencional. Ele pode fazer ou dizer coisas sem ter

a intenção de provocar um efeito nas pessoas.

Por exemplo, ele pode repetir palavras que co-

nhece mesmo quando não há ninguém no re-

cinto, ou pode fazer o movimento de tentar al-

cançar um brinquedo quando ninguém estiver

olhando. Essas ações são chamadas de comuni-

cação pré-intencional, porque seu filho envia a

mensagem sem ter a intenção de fazê-lo. Con-

tudo, você pode interpretar essas ações como se

fossem comunicações dirigidas a você.

Lucas repete algumas das palavras de seu

pai para responder perguntas.

A mãe sabe o que Rubens quer, mesmo

que ele não esteja dirigindo a mensagem

diretamente a ela.

Michele está contando em voz alta para se concentrar

no livro. Ela não percebe que sua mãe está fazendo

uma pergunta.

Guilherme deve olhar para seu pai antes de empurrá-

lo para que o protesto seja intencional.

24 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 25

Pedir

Seu filho pode pedir para mostrar que ele quer:

comida ou bebida

um brinquedo, um objeto ou uma atividade

sua ajuda

permissão para fazer algo

Sara está mostrando à mãe que quer

alguma coisa que está na geladeira.

Quando seu filho começa a se comunicar por outros motivos além de atender às pró-

prias necessidades, está progredindo para se tornar um verdadeiro comunicador.

Por exemplo, seu filho pode pedir por razões sociais, tais como:

pedir para continuar com brincadeiras corporais, chamadas “Brincadeiras com

Gente”, como fazer cócegas ou andar de cavalinho

nas pernas do papai. Ele pode fazer isso puxando

suas mãos para o corpo dele ou sacudindo o corpo

para mostrar que quer mais.

(Para saber mais sobre “Brincadeiras com Gente”,

veja o Capítulo 5).

obter informação

mostrar às outras crianças que ele quer

brincar com elas

Paulo mexe o corpo para pedir

que a mãe continue a brincadeira,

um sinal claro de que está começando

a pedir com intenções sociais.

Conforme seu filho se torna mais sociável, ele se comunica por mais motivos.

Seu filho pode se comunicar para res-

ponder aos outros das seguintes for-

mas: seguindo instruções, fazendo uma

escolha ou respondendo perguntas.

Seu filho pode se comunicar para cum-

primentar ou dar tchau.

Seu filho pode se comunicar para cha-

mar sua atenção.

Seu filho pode se comunicar para mos-

trar-lhe algo ou fazer um comentário.

26 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 27

Seu filho pode se comunicar

para fazer perguntas.

Seu filho pode se comunicar

para falar do passado e do futuro.

Continuum da Comunicação Intencional

Enxergar a capacidade de comunicação intencional de cada criança dentro de um

continuum é de grande ajuda. Em um extremo do continuum, estão as crianças que

se comunicam principalmente para obter coisas que querem. No outro extremo, es-

tão as crianças que se comunicam por diversos motivos, tais como fazer perguntas,

comentar algo ou simplesmente para serem sociáveis.

Esta criança, puxando o braço do pai,

- comunica-se apenas para conseguir

as coisas que quer.

Esta criança usa a fala

para ser sociável.

Seu filho pode se comunicar para ex-

pressar sentimentos, para dizer que está

feliz, triste ou com medo.

Seu filho pode se comunicar para fazer

de conta ou imaginar.

Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 29

O estágio de comunicação de seu filho depende de quatro coisas:

Da capacidade de interagir com você

De como ele se comunica

Por que ele se comunica

Da compreensão dele

É importante identificar o estágio de comunicação de seu filho, para que você tenha

uma boa idéia do que ele consegue e do que não consegue fazer, bem como do que

você pode esperar que ele consiga a seguir. Saber disto ajudará a definir metas e dar

o tipo de ajuda que ele precisa.

As descrições das crianças nos quatro estágios de comunicação podem ajudá-lo

a identificar o estágio de comunicação de seu filho. Os quatro estágios são:

Estágio de Interesses Próprios

Estágio de Pedidos

Estágio de Comunicação Básica

Estágio de Parceria

Nem todas as crianças passam por todos esses estágios nessa ordem, mas muitas

começam no estágio de Interesses Próprios, progridem para os estágios de Pedidos

e Comunicação Básica e finalmente chegam ao estágio de Parceria com o passar

do tempo. Outras crianças podem ter características de diversos estágios. E, é claro,

crianças reagem de formas diferentes dependendo das pessoas com quem estão, das

situações em que se encontram e de suas personalidades próprias e únicas.

Após ler as descrições das crianças em todos os estágios, observe seu filho de

perto durante uma semana. Depois, preencha a lista de verificação “Como e Por quê”

no Capítulo 2 na página 84, para identificar o estágio de comunicação de seu filho.

O Estágio de Interesses Próprios

Renata, que tem 2 anos e meio, é bastante independente. Gosta de fazer sozinha a maioria

das coisas, embora não brinque com brinquedos. O que mais gosta de fazer é brincar

no parque. Sempre que vê sua mãe se preparando para sair, Renata começa a pular de

animação. Muitas vezes, tenta abrir a porta sozinha. Mas como não alcança a maçaneta,

sempre se frustra e chora. A mãe fica imaginando por que Renata nunca pede ajuda.

Renata nunca pede para a mãe ajudá-la a abrir a porta. Uma criança no estágio de Interesses Próprios

não dirige nenhuma mensagem diretamente a você.

Saiba qual o estágio de comunicação de seu filho

30 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 31

Uma criança no estágio de Interesses Próprios aparenta querer brincar sozinha

e mostra-se desinteressada pelas pessoas em torno dela. Ainda não entende que

pode afetar outras pessoas enviando uma mensagem diretamente a elas, de forma

que sua comunicação é primordialmente pré-intencional. Você sabe como ela está

se sentindo pela observação de seus movimentos corporais, gestos, gritos e sorrisos.

Muitas crianças pequenas estão no estágio de Interesses Próprios quando recebem

pela primeira vez o diagnóstico de TEA.

Uma criança no estágio de Interesses Próprios pode fazer algumas das coisas a seguir:

interagir com você muito brevemente e

quase nunca com outras crianças

querer fazer coisas sozinha

olhar ou tentar pegar as coisas que

quer

não se comunicar intencionalmente

com você

brincar de formas incomuns

fazer sons para se acalmar

chorar ou gritar para protestar

sorrir

gargalhar

não entender quase nenhuma palavra

Renata ainda não sabe

como brincar com sua bonequinha.

O Estágio de Pedidos

Rafael é uma criança de 3 anos de idade que está no estágio de Pedidos, e se comunica

principalmente puxando e conduzindo os outros para pedir coisas que ele quer. Durante o

banho, Rafael puxa a mão de seu pai para pedir mais cócegas; quando quer sair, conduz

sua mãe à porta da frente. Rafael também puxa quando quer que um de seus pais lhe

dê um biscoito do armário da cozinha. Seus pais estão frustrados porque é difícil obter e

manter a atenção dele.

Para mostrar que quer mais cócegas, Rafael olha para o pai e puxa sua mão em direção à própria barriga.

32 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 33

A criança no estágio de Pedidos está começando a entender que pode pedir coisas

a alguém, puxando ou conduzindo você.

O Estágio da Comunicação Básica

César brinca por horas a fio de brincadeiras corporais como Pega-pega e Cócegas com os

pais e seu irmão. A mãe segura seus ombros e diz “Pronto? Atenção: um, dois, três e...”

espera que ele olhe para ela antes de gritar “Já!”, mostrando que a brincadeira começou.

A mãe geralmente se cansa do jogo antes do César! Às vezes, César começa o jogo com

outras pessoas dizendo “Já!”. César também usa algumas outras palavras. Geralmente, faz

o sinal de “abrir” com a mão, que aprendeu na pré-escola, para pedir à mãe que abra a

caixa de uvas passas, mas às vezes ele diz “abrir”.

Rafael puxa sua mãe até a porta, pedindo para ir

ao parque.

Rafael também puxa seu pai para

pedir biscoitos.

Uma criança que está no estágio de Pedidos acaba de começar a perceber que as

ações dela podem ter efeito sobre você. Puxando e conduzindo as pessoas, é capaz

de pedir coisas que precisa ou que gosta. Gosta especialmente de Brincadeiras com

Gente do tipo físico, como “Cócegas” e “Achou!”. Quando você faz uma pausa du-

rante a brincadeira, olha para você ou mexe o corpo para continuar a brincadeira.

A criança no estágio de Pedidos pode fazer algumas das seguintes coisas: interagir brevemente com você

usar sons para se acalmar ou se concentrar

“ecoar” algumas palavras para se acalmar ou se concentrar

tentar pegar as coisas que ela quer

comunicar-se principalmente quando precisa de algo, conduzindo ou puxando a

sua mão para pedir coisas que ela quer.

pedir que você continue uma Brincadeira com Gente do tipo físico, como

Cócegas ou Pega-pega, através do contato ocular e/ou sorriso e/ou movimentos

de corpo e/ou sons.

seguir comandos conhecidos ocasionalmente, se conseguir entender o que

tem que fazer

entender as etapas de rotinas conhecidas

A criança que está no estágio de Comunicação Básica é capaz de usar o mesmo gesto,

som ou palavra de forma constante para pedir coisas que gosta ou para dizer que

quer continuar a brincadeira depois que ela começou.

34 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 35

A criança que está no estágio de Comunicação Básica começou a usar gestos,

sons, figuras ou palavras específicas para pedir coisas em situações muito motiva-

doras, como pedir brinquedos ou comidas preferidas.

Quando a criança que está no estágio de Comunicação Básica começa a com-

partilhar sues interesses, olhando para alguma coisa e em seguida olhando de volta

para você, ela desenvolveu atenção compartilhada, um grande avanço no aprendi-

zado da comunicação.

César compartilha com o pai seu interesse pelo porco de brinquedo.

O que esperar que uma criança no estágio de Comunicação Básica faça: interagir com você e com pessoas conhecidas em situações conhecidas

brincar Brincadeiras com Gente por mais rodadas e brincar com você por mais tempo

pedir que você continue algumas Brincadeiras com Gente corporais prediletas, tais

como Cócegas e Pega-pega, usando as mesmas ações, sons ou palavras toda vez que

vocês brincarem

em algumas situações, repetir o que você diz, para pedir ou responder (usar ecolalia

imediata)

fazer pedidos intencionais por coisas motivadoras (por exemplo, comida, brinquedos,

Brincadeiras com Gente do tipo corporal, ajuda) usando figuras, gestos ou palavras

começar a protestar ou recusar usando a mesma ação, som ou palavra

ocasionalmente usar movimentos de corpo, gestos, sons ou palavras para obter sua

atenção ou mostrar algo a você.

entender frases simples e familiares

entender os nomes de objetos e pessoas familiares sem dicas visuais

dizer “oi” e “tchau”

responder perguntas do tipo Sim ou Não, “O que é isto?” e fazer escolhas (veja o

Capítulo 4, páginas 124-125)

César faz o sinal com a mão e repete a

palavra “abrir”, para pedir uvas passas.

Marcos dá ao pai uma figura para pedir

bolinhas de sabão de verdade.

Quando seu filho está no estágio de Comunicação Básica, suas interações so-

ciais duram mais. Sua comunicação é mais intencional, embora ainda se comunique

principalmente para pedir que você faça coisas para ele. Nesta fase, entendeu que

pode usar a mesma forma de comunicação – gestos, sons, figuras ou palavras – em

certas situações. Por exemplo, ele sempre pode pedir por suco ou seu vídeo favorito

entregando uma figura ou dizendo uma palavra. Mas pode continuar a puxar ou

conduzir você para outras coisas, como passear.

Uma criança no estágio de Comunicação Básica pode começar a “ecoar” mui-

tas coisas que ouve, às vezes para comunicar algo. Entende muito do que você

diz, se tiver pistas visuais e se você usar frases simples e curtas. Quando por fim

ele iniciar as interações – chamando o seu nome, apontado para algo que quer

mostrar e alternando o olhar entre você e aquilo em que está interessado – a co-

municação de duas vias está começando!

36 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 37

O Estágio de Parceria

Fábio é um Parceiro de comunicação e brincadeira. Gosta de interações com outras

pessoas e é capaz de estabelecer conversas curtas sobre seus próprios interesses. Apesar

disso, suas conversas frequentemente são interrompidas porque ele não entende o que as

outras pessoas estão dizendo ou porque não consegue se lembrar das palavras que precisa

usar. Quando isto acontece, costuma se valer da repetição do que alguém acabou de dizer.

O Parceiro é um comunicador mais efetivo do que crianças em outros estágios.

A menos que tenha dificuldades na produção da fala, consegue falar e conduzir

conversas simples. Também consegue falar sobre o passado e o futuro, como o que

fez na escola ou o que quer no seu aniversário. Às vezes, crianças no estágio de

Parceria não conseguem produzir suas próprias palavras, mas utilizam palavras ou

frases memorizadas. Isto acontece mais freqüentemente em situações não familiares

e quando não entendem tudo o que está sendo dito.

Quando uma criança que está no estágio de Parceria se comunica sobre seus

próprios interesses, ela não tem dificuldades. Contudo, em situações não conheci-

das, geralmente acha difícil captar as regras da conversa. Por exemplo, pode não

considerar se o que diz faz sentido para o ouvinte. Pode começar uma conversa

com “Eu fui lá”, sem perceber que o ouvinte não tem idéia de onde é “lá”. Ou pode

começar uma conversa sempre com a mesma frase memorizada, por exemplo, “De

que cor é o seu carro?” ou um verso da sua música preferida.

Uma criança no estágio de Parceria gosta de brincar com você e com outras

crianças, mas às vezes brinca sozinha porque não tem certeza do que fazer e dizer,

principalmente em brincadeiras imaginativas. Ela se sai muito melhor em brinca-

deiras corporais, como correr ou balançar, ou em jogos estruturados nos quais possa

aprender as regras.

Uma criança no estágio de Parceria pode fazer algumas das coisas abaixo:

participar em interações mais longas com você

ser mais bem sucedida em participar com outras crianças nas brincadeiras com

rotinas conhecidas

usar palavras ou outro método de comunicação para:

. pedir

. protestar

. cumprimentar

. chamar sua atenção para algo

. fazer e responder perguntas

começar a usar palavras ou outro método de comunicação para:

. falar sobre o passado e o futuro

. expressar sentimentos

. fazer de conta

construir suas próprias frases

ter conversas breves

às vezes consertar ou corrigir o que ela diz quando alguém não a entende

entender os significados de uma série de palavras diferentes

A comunicação entre um Parceiro e outra pessoa pode se romper quando a

conversa for muito complicada para ele.

38 Capítulo 1

A criança no estágio de Parceria pode ainda mostrar dificuldades na comunicação. Ela pode:

resistir a brincar com outras crianças quando não souber o que fazer, como em

brincadeiras imaginativas, que dependem de linguagem e faz de conta

usar ecolalia quando não entende o que alguém está dizendo ou quando não

consegue construir suas próprias frases

ter dificuldade em participar de conversas. Ela pode:

. responder aos outros, mas não iniciar conversas por conta própria

. tentar manter a conversa dentro de seus assuntos preferidos

. cometer erros gramaticais, principalmente com pronomes, como “você”, “eu”,

“ele” e “ela”

. confundir-se quando a conversa fica complexa e as pessoas não falam

diretamente para ela

ter dificuldade com as regras de conversação. Ela pode:

. não saber como começar e terminar uma conversa

. não ouvir o que outra pessoa diz

. não permanecer dentro do assunto

. não acompanhar o que está sendo dito de forma apropriada (por exemplo, não

pedir que as pessoas esclareçam o que disseram quando não entender)

. dar informação demais ou insuficientes

não captar regras sociais sutis que a outra pessoa está enviando através de

expressões faciais e linguagem corporal

entender errado ironias

ou jogos de palavras,

porque interpreta

literalmente o que as

pessoas dizem

Um Parceiro freqüentemente

quer brincar com outras

crianças, mas não

sabe como pedir.

Embora a forma de você interagir com seu filho dependa da sua personalidade e da

dele, há alguns papéis comuns que todos os pais tendem a assumir. Vamos dar uma

conversada sobre esses papéis, quando eles são úteis para a aprendizagem do seu

filho e quando não são.

O Papel do “Ajudante/Professor”

Quando seu filho parece não saber como fazer coisas ou não consegue se comunicar, é

natural querer ajudá-lo. Mas se você fizer as coisas para seu filho sempre, ele não terá

a oportunidade de mostrar que consegue fazer mais do que você poderia esperar.

Perceba Como Você Afeta a Comunicação do Seu Filho

Seu filho pode ser capaz de

fazer mais do que você pensa.

40 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 41

Muitas vezes, contudo, principalmente se estiver no estágio de Interesses Pró-

prios, seu filho pode não entender o que você espera que ele faça. Nesses casos, vai

precisar que você seja o seu “Ajudante”.

A Regra do AjudanteA “Regra do Ajudante”, a seguir, vai ajudá-lo a identificar quando convém ser o

Ajudante de seu filho, e o que você pode fazer para dar a ajuda que ele precisa: Peça

uma vez e espere. Peça de novo, acrescentando ajuda.

Peça para seu filho fazer algo e espere a resposta. Se não responder, peça de

novo. Ao mesmo tempo, guie-o delicadamente para fazer o que você pediu. Veja

como a mãe de Érico usa a “Regra do Ajudante” para ajudá-lo a vestir a camisa.

Após uma semana, a mãe de Érico ainda precisa pedir-lhe para levantar os braços duas vezes,

mas não precisa mais dar tanta ajuda quanto antes. Agora, só precisa tocar o cotovelo dele

para lembrá-lo de levantar os braços acima da cabeça.

Érico precisa de um pouco de ajuda para

responder ao pedido da mãe.

A mãe pede uma vez e espera que Érico

responda. Quando ele não responde, ela pede

de novo, levantando os braços dele acima da

cabeça para ajudá-o a vestir a camisa.

Depois de um mês, Érico

já consegue levantar os

braços depois da primeira

vez que a mãe pede.

42 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 43

O Papel do “Não Perturbe”

Se o seu filho não se mostra interessado em interagir com você e raramente deman-

da sua atenção, é tentador acreditar que é o seu jeito de mostrar independência. Em-

bora todas as crianças precisem mesmo de tempo para elas mesmas, é importante

que seu filho aprenda a interagir, coisa que não poderá fazer sozinho.

Persista nas tentativas de se juntar ao seu filho no que ele estiver fazendo. Por

exemplo, se ele está assistindo televisão sozinho, sente bem ao lado no sofá. Ou se

ele está brincando com um barbante, tente puxar o barbante até obter sua atenção.

Ele pode ficar bravo e empurrar você; mesmo assim, isto é preferível a não haver

interação. Depois que começar a interagir mais com seu filho, pode ser que enfim

ele perceba que brincar pode ser mais divertido se você estiver junto. (Para mais

sugestões de como se juntar ao seu filho, veja o Capítulo 3).

O Papel do “Atarefado”

Às vezes a vida parece uma corrida contra o relógio. Pense em todas as coisas que

tem que fazer de manhã: levantar-se, tomar banho, vestir seu filho, fazer café da

manhã, fazer as camas, levar o cachorro para passear, etc. Você provavelmente vive

correndo para cumprir sua agenda. Todos esses momentos apressados são momen-

tos nas quais seu filho poderia estar aprendendo algo. Se, por um lado, nem sempre

é possível diminuir o ritmo, por outro, cinco minutos extras no café da manhã

ou quando estão se vestindo podem fazer a diferença. Lembre-se que

seu filho precisa de mais tempo para entender o que está acon-

tecendo à sua volta e para pensar sobre o que deve fazer

ou dizer. Ele aprenderá melhor quando você “parar

de apostar corrida e diminuir o ritmo”!

Em vez de deixar seu filho

“fazendo as coisas dele”...

...tente fazer coisas juntos. Diminua o ritmo e dê a

seu filho a chance de se

comunicar com você.

44 Capítulo 1 Saiba mais sobre a comunicação de seu filho 45

O Papel do “Parceiro” O Papel do “Animador”

Seu filho aprende muito quando você é parceiro dele na brincadeira.

Você e seu filho provavelmente brincam juntos, como de Cócegas ou Achou! Mes-

mo quando você não está ensinando habilidades específicas ao seu filho durante

essas brincadeiras, ele está aprendendo muito sobre comunicação por ter você como

“Parceiro” de brincadeira.

Conforme seu filho entende mais e se torna um comunicador mais capaz, pre-

cisará de menos orientações suas. Em outras palavras, quando ele consegue fazer

e falar mais, você pode fazer e falar menos! Se fizer perguntas e sugestões demais,

poderá inibir seu filho a iniciar suas próprias conversas. Quando você está no papel

do Parceiro, deixe seu filho conduzir e responda ao que ele fizer.

Como pai ou mãe, você geralmente é um bom animador.

Todas as crianças se beneficiam de um “oba!” e um abraço. Quando você recom-

pensa as tentativas de seu filho de entender e se comunicar, aumenta a chance de que

ele tente de novo. Mas a forma de fazer o elogio também é importante. Por exemplo,

quando seu filho bebe todo o leite, você pode dizer “Muito bem!”. Embora seu filho

perceba que você está feliz, pode não entender o que as palavras “muito bem” signifi-

cam. Faça um elogio descritivo que diga exatamente por que está fazendo festa para

ele. Depois que ele terminar o leite, diga algo como “Oba! Tomou todo o leite!”. Assim,

ele consegue fazer a conexão entre suas palavras e as ações dele.