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Serie: Horda dos magos ocultos Livro: O nascimento de um mago Capitulo 1: Inicio de um grande futuro Já era de manhazinha, os guardas do castelo de Oneore começavam a se espreguiçar de uma noite longa e pacata. Os poucos raios de sol dissipavam a escuridão da noite, os pássaros saiam de seus ninhos, os habitantes faziam seus primeiros movimentos nas ruas. Os guardas que vinham para a troca de turno já estavam uniformizados e bem arrumados para algumas horas de trabalho, que normalmente nada de especial acontecia. Os tempos de paz entre os reinos já duravam uns 15 anos desde a ultima guerra que acabou com metade do continente. Dois guardas tomavam rumo aos portões do castelo, conversavam algo sobre como estava difícil a ressaca devido a bebedeira na taverna na noite passada, reclamavam de dor de cabeça. Mal entraram no turno e já esperavam estar livre dele. No alto do muro escutaram um choro, parecia que cortaram as pernas traseiras de um porco e este estava a gritar feito louco, nunca haviam escutado algo parecido, interessantemente o som não era alto, mas podia-se ouvi- lo de longe. Espiaram de onde vinha o som e repararam que vinha da base do portão. Enrolado num pano estava um bebe se remexendo, quando viram aquilo se espantaram e foram ver se era realmente um bebe. Quando se aproximaram, o barulho era realmente ensurdecedor. Molly passava por aquele momento na rua para pegar agua e levar para sua casa, ela foi chamada pelos guardas para que levasse o bebe para longe. Ela era filha da taberneira e poderia dar um jeito na criança. A maioria dos guardas tem famílias e não pretendem adotar outra criança. A garota embalou o bebe nos braços e foi andando para sua casa enquanto tentava faze-lo se calar. Por aquele

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Serie: Horda dos magos ocultos

Livro: O nascimento de um mago

Capitulo 1: Inicio de um grande futuro

Já era de manhazinha, os guardas do castelo de Oneore começavam a se espreguiçar de uma noite longa e pacata. Os poucos raios de sol dissipavam a escuridão da noite, os pássaros saiam de seus ninhos, os habitantes faziam seus primeiros movimentos nas ruas. Os guardas que vinham para a troca de turno já estavam uniformizados e bem arrumados para algumas horas de trabalho, que normalmente nada de especial acontecia. Os tempos de paz entre os reinos já duravam uns 15 anos desde a ultima guerra que acabou com metade do continente.

Dois guardas tomavam rumo aos portões do castelo, conversavam algo sobre como estava difícil a ressaca devido a bebedeira na taverna na noite passada, reclamavam de dor de cabeça. Mal entraram no turno e já esperavam estar livre dele. No alto do muro escutaram um choro, parecia que cortaram as pernas traseiras de um porco e este estava a gritar feito louco, nunca haviam escutado algo parecido, interessantemente o som não era alto, mas podia-se ouvi-lo de longe. Espiaram de onde vinha o som e repararam que vinha da base do portão. Enrolado num pano estava um bebe se remexendo, quando viram aquilo se espantaram e foram ver se era realmente um bebe.

Quando se aproximaram, o barulho era realmente ensurdecedor. Molly passava por aquele momento na rua para pegar agua e levar para sua casa, ela foi chamada pelos guardas para que levasse o bebe para longe. Ela era filha da taberneira e poderia dar um jeito na criança. A maioria dos guardas tem famílias e não pretendem adotar outra criança. A garota embalou o bebe nos braços e foi andando para sua casa enquanto tentava faze-lo se calar. Por aquele barulho os moradores ficavam encarando ela por onde passava. Foi sussurrando cantigas pelo caminho e quando chegou a porta da taverna ja havia se calado.

A mãe estava arrumando e limpando o salão quando Molly chegou e logo perguntou, sem ao menos se virar:

- Cadê a agua, minha filha?

A pobre senhora não havia percebido o bebe nas mãos da filha.

- Olha mãe, os guardas acharam esta criança nos portões, ele chorava de um jeito estranho, mas cantei a musica que você cantava para eu dormir e logo ele se calou.

- O que é isso criaturinha, trazendo seres que não lhe pertencem para esta casa. A mãe dele deve estar a sua procura!

- Mas ele passou a manhã toda lá no frio sozinho, deve estar com fome. Tem alguma sobra de ontem?

- Primeiro de tudo obedeça a sua mãe. Segundo, bebes não tomam cerveja nem comem carne, eles precisam de leite e você já me sugou tudo o que tinha - disse ela apontando para os seios - Leve ele para sua tia Dessi, ela deve conhecer alguém para tomar conta do bebe.

- Posso ir lá agora então?

- Toma seu café e depois deixo ir. Fique sabendo que quando voltar vai me ajudar arrumar a bagunça que os guardas de ontem fizeram, só porque estão na defesa da cidade acham que podem tudo, imundos...

A frase foi cortada ai, a garota pensou que iria ter continuação, mas não teve.

- Não fique ai me olhando com essa cara de dúvida, vai logo para voltar logo também.

A tia Dessi morava um pouco longe dali e com o bebe em mãos seria mais cansativo. Molly tinha apenas 10 anos e não era muito atlética, porém muito atrevida, já havia se cansado de ser castigada pela mãe depois de suas viagens. A cidade inteira já a conhecia pelas suas invasões, confusões, brigas, discussões que fazia em publico. Sua tia a casamenteira da cidade, conhecia todos os casais e todos os romances de todas as pessoas, secretamente inclusive do conde e ainda vestígios de puladas de cerca do rei, mas, claro, nada era verdade, boatos andam mais rápido que cavalos de guerra e se modificam mais que borboletas, essas coisas não eram levadas muito a serio. Se tivesse alguém nessa cidade que saberia alguém que pudesse e gostasse de ter um bebe era ela.

No meio do caminho ela se depara com um homem alto porém magro e enrolado nuns mantos escuros com capuz e uma enorme mochila com algumas coisas saltadas para fora, alguns panos, galhos e plantas faziam parte disso, logo que o viu sabia que era estrangeiro, a pele morena denunciava-o como morador das ilhas do sul, que eram sempre bem quentes, eles geralmente nao vinham para o norte pela falta de interesse em nossas terras, mas principalmente pelo clima. A curiosidade já esticava seus cabelos e agitava sua mente em perguntas, seguiu o homem um pouco e logo depois o homem para e vira-se. Ela consegue ver os olhos marrons como a casca de uma arvore.

Num tom misterioso ele a encara aproximando-se um pouco.

- Quem seria esta jovem mãe bisbilhoteira que esta a me seguir?

Fica assustada por uns segundos com a pergunta, já pensava em milhões de maneiras de ser raptada, roubada ou até mesmo que ele fosse seu pai desaparecido que não reconheceu a própria filha.

- Ele não é meu filho, como pode eu com 10 anos já ser mãe. Desculpe por te seguir é que vi que você não é daqui e fiquei curiosa, senhor...?

- S, para você é senhor S. Pude sentir sua curiosidade, mas mais do que isso senti a energia deste bebe, sou um mago preventor acima de tudo, posso ver que este garoto não é igual a todos nos, tome cuidado com ele.

Quase que ignorando a ultima parte da conversa, pois sua mente parou quando disse que era um mago preventor, diz.

- Que legal. O que faz aqui? Pode medir o meu futuro? Aonde você vai? Pode me levar com você.

Acabara de esquecer que tinha que levar o bebe para sua tia.

- Calma lá com as perguntas. Mas respondendo-as. Vim medir o futuro do filho do conde. Não vou medir seu futuro. Vou claro, para a cidadela e nem pensar que posso levar a senhorita comigo. Mas não vou esquecer-me de mencionar esse bebe para eles, para onde a jovem vai?

- Para a casa da tia Dessi. Depois vou para a taverna ajudar minha mãe.

- Então vá logo, o conde já esta a minha espera, depois de muito tempo ele me convenceu a vir a esta terra, quero acabar com isso logo e voltar. que nosso futuro possa se cruzar novamente.

Ela fez um cumprimento esticando a saia um pouco para o lado e se abaixando, o homem simplesmente se virou e continuou seu caminho. Travessa porem inocente Molly continuou rumando para seu destino, sem saber o que tinha feito. Sua tia estava comendo uns lanchinhos quando a garota chegou.

- Entra minha querida, gostaria de chá? - ela olha para o bebe nas mãos de Molly - e quem é este anjinho que me trouxe? - os biscoitos que comia eram a coisa mais desinteressante em sua casa nesse momento.

- Não sei o nome dele, os guardas achara ele no portão hoje de manhã e quero achar alguém para cuidar dele.

- Me da ele aqui. - o bebe foi entregue a ela - Ele deve ter uns nove ou dez meses e não parece ser dos arredores. Tenho que falar com meus contatos para ter certeza, mas por enquanto ele pode ficar na minha casa que eu cuido dele. Você trouxe para a pessoa certa queridinha, sabe que adoro crianças.

- Minha mãe bem que falou que iria gostar de saber. Agora tenho que voltar para ajudar minha mãe lá em casa. Se achar alguém não se esqueça de me avisar, hein!

- Claro, vá lá ajudar sua mãe.

Ela volta para sua cadeira, com o bebe nas mãos. Da um leve sorriso quando o bebe agarra seu dedo indicador. Molly já tinha saído há alguns minutos, mas ainda assim ela ficava sentada ali olhando para o bebe, pensando já ter visto um rosto parecido, ou essa energia que ele emanava.

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O conde Menior estava inquieto em saber a chegada do melhor preventor que havia encontrado, finalmente depois de varias cartas trocadas o mago veio. Logo que chegou foi enviado ao quarto do garoto, que fazia naquela semana dois anos de vida e já estava sendo preparada uma festa, por isso o castelo estava agitadas, pessoas corriam de um lado para o outro, enviando cartas para famosos bardos e poetas, arrumando o banquete e outros preparativos. Sir Menior estava sentado numa cadeira feita de carvalho ao lado do berço do filho, logo que viu o mago chegar levantou-se e o cumprimentou.

- Olá caríssimo companheiro, sente-se, gostaria de beber alguma coisa?

- Não, obrigado, álcool torna as medições imprecisas.

- Como foi de viagem? O senhor deve estar cansado, gostaria de se deitar antes de começarmos?

- A viagem foi boa, fora os buracos e ladroes na fronteira. Vamos fazer isso agora para me deixar livre desse serviço.

- Posso ficar aqui para ver?

- Sim, claro fique a vontade. - disse ele colocando a mochila no chão e tirando plantas galhos e coisas estranhas de dentro - Mas não diga uma palavra sequer e não me interrompa nem um momento, de preferencia fique no canto da sala.

- Certo.

Em alguns minutos o quarto feito de pedras claras e madeira virou um mosaico de peças das mais variadas espalhadas por todos os cantos. Galhos eram presos ao redor do cômodo, mobiles eram pendurados, plantas esverdeavam o lugar, cheiro de balsamo e incenso tomava conta do ambiente, as cortinas foram fechadas e foi aceso um fogo que hora era azul e roxo, mas mudava para vermelho e laranja, o bebe foi colocado numa almofada no centro do quarto e foi despejada areia colorida, fazendo retas e círculos e se combinavam mechas com fogo eram colocadas em alguns cantos dessas linhas de areia. O senhor S ajoelhou-se perto da cabeça do menino que dormia tranquilamente sem saber o que acontecia.

O preventor recitou por uns instantes umas palavras incompreensíveis e de repente o conde, que observava aquilo do canto do quarto quietinho, pensou ter visto o fogo tomar forma de uma espada e voltar ao normal em segundos. Logo isso se repetiu e se repetiu varias vezes. A areia se erguia no ar, mas sem mudar o formato que havia sido feito pelo senhor S, a areia flutuava mais e mais alto, ela girou e ficou bem em cima do bebe de frente para os dois. O fogo, em muito pouco tempo, fez uma fogueira incandescente no quarto todo, mas não sentia calor algum e logo se apagou, o fogo tinha se apagado completamente. Olhou novamente e viu que no meio dos desenhos o fogo, com o formato de ponta de flecha, estava pairando e mudando de forma e de tamanho rapidamente. A areia começou a girar, as formas giravam para todos os lados, umas lentas e outras mais rápidas, mas não se chocavam. Um som começou a surgir, os mais variados tipos. Trote de cavalos, o choque de espadas, gritos, pássaros batendo asas, algo parecido com um bebe chorando de maneira estranha, o correr de um rio e um crepitar de madeira queimando. Esse show continuou por alguns minutos e foi ficando tudo mais lento com sons mais calmos e voltando ao normal para como estava antes de tudo. Quero dizer que ficou como antes mesmo, a areia, os galhos e plantas , mobiles e até mesmo o odor tinha ido embora, o resto do material foi para a mochila do mago instantaneamente.

Impressionado com aquilo tudo não demorou a perguntar:

- E então, como foi? Como mediu?

- Não se desespere, seu filho terá um enorme futuro, ira fazer parte de coisas grandiosas para o reino. Claro que como mago preventor não posso dizer os detalhes do futuro de seu filho, pois uma vez que alguém saiba seu futuro ela tende a muda-lo e eu perco a reputação por medir um futuro "errado". Eu, dizendo ou não para você, se filho e uma outra pessoa serão pessoas importantes para o futuro do reino. Por isso deve fazer com que sua mente seja forte e não desvie o caminho, pois muitos tentarão força-lo a ir para o lado errado e é, em parte, seu dever fazer com que isso não aconteça. Sugiro para que ele sempre use um lenço amarelo amarrado ao corpo, para que possa

identifica-lo mais facilmente por seus companheiros e por inimigos. - Essa ultima parte disse quase que num sussurro. - E antes de tudo deve cuidar do garoto que acaba de chegar nessa cidade, ele esta na casa da tia Dessi e que este use um lenço vermelho e deve ser amigo de seu filho, pois se não forem amigos na idade adulta o reino todo estará um caos. - disse com a maior naturalidade do mundo, como se fosse algo do cotidiano.

- Como assim outra criança? Quem é esse?

- Seu filho e este menino sem nome vão livrar o reino do mal. devem ser aliados a qualquer custo, mas não imponham isso sobre eles. os meninos devem fazer isso por conta própria. É isso que eu posso dizer, e pessoalmente a criança que eu digo, acho que é bom dar o nome de Kirian. Ele tem cara de kirian - disse o Senhor S dando um sorriso de quem acaba de fazer uma piada.

- Se o senhor diz isso, vou mandar busca-lo agora e cuidar dele. - faz um sinal para os criados prepararem mensageiros para irem pegar o bebe.

- Mais uma coisa. Qual o nome do seu filho. Não que eu me importe, mas é bom deixa-lo de acordo com seu futuro.

- O nome dele é Menior II.

- Ohhh que lindo o pai dando seu próprio nome para o filho, mas pelos dragões antigos não faça isso. isso iria prejudica-lo. Para você se encaixa bem, mas para ele nem pensar. Mude o mais rápido possível para... Huummm... Deixe-me ver. - fuçou em sua mochila e pegou um livro pequeno porem lacrado com um cadeado de bronze. Sem nem mesmo pegar uma chave o cadeado se abre e o mago procura algo em suas paginas. - Ahaa! Achei, aqui está. Essa historia é maravilhosa, adoro esse livro. O personagem principal é um príncipe e sobe um castelo quem é protegido por um dragão, apenas para salvar seu amor que esta presa em uma torre. - Da um leve suspiro encantado. - o nome desse príncipe é Caligan, também como irá ser o seu filho. Parabéns seu filho é um herói. - Abanou a mão com desdém e fez uma cara de falsa animação revirando os olhos.

Meio confuso com aquilo tudo e sem relutar Sir Menior coloca o bebe no berço e os dois saem do quarto. Os criados levam o senhor S para seus aposentos depois de muita insistência do conde para que fosse embora apenas depois da festa de aniversario.

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Foram enviados dois mensageiros para a casa da Tia Dessi para explicar o que aconteceu e pegar o bebe. Em alguns minutos ele chegam na casa da tia Dessi. Eles batem na porta e escutam um gritinho assustado.

- Ui, não entrem, estou tomando banho, em alguns minutos já saio. - Escutaram um barulho de algumas pedras caindo dentro da agua. - Meus sais de banho, queridos. Eles fortalecem a pele e me deixam sempre bonita. - Claro que não eram pedras normais. Itens mágicos faziam parte da vida das pessoas, mas eram raros.

Sem alternativa os mensageiros esperaram sentados ao lado da porta por bem mais que alguns minutos. Já estavam quase dormindo quando a porta se abre e eles veem a Tia Dessi. Uma mulher linda de cabelos ruivos trançados caindo sobre o ombro, Seu rosto era incrivelmente liso e sem rugas para uma mulher com seus trinta e vários anos, vestia um vestido verde com cintos de couro da cintura até a base dos seios, que serei franco, eram perfeitos. Os mensageiros não esperavam pela sua aparição assim e acabaram encarando "eles".

Com um risinho Tia Dessi diz com a maior calma:

- Queridinhos, meu rosto é um pouco mais em cima.

Instantaneamente ficaram corados. Fingiram que arrumavam a roupa e começaram a conversa.

- Podemos entrar senhor... - não souberam terminar.

- Senhorita. Sinto-me nova demais para começarem a me chamar de senhora. Mas entrem, entrem. Gostariam de uma xicara de chá?

- Não obrigado. - disse um dos mensageiros enquanto entrava, o outro ficou para fora para assegurar a segurança da conversa. - Vou direto ao assunto. Precisamos levar o bebe que esta com você. Aqui esta a carta escrita pelo próprio conde. - E lhe entregou a carta lacrada com um selo real.

Olá Tia Dessi

Desculpe o incomodo, mas foi dito a mim que devo tomar conta deste bebe. Não sei se ficou sabendo do mago preventor que contratei para medir o futuro de meu filho. Ele me falou que esta criança irá ser de grande importância para todo o reino.

Sei como gosta de crianças e não iria dá-lo para mim tão fácil assim, por isso peço que venha pessoalmente ao meu palácio para podermos conversar e explicar a situação.

Sir Menior

Ela fecha a carta e a joga na lareira, levanta os olhos um pouco assustada com a mensagem.

- Bem, se o conde quer falar comigo pessoalmente, devo ir agora. Que bom que já estou de banho tomado. Vamos?

O castelo estava agitado ainda mais agora, pois os criados foram ordenados para mudar todas as decorações, poemas e musicas para o novo nome do filho do conde. Ela foi para a sala principal do conde. Era uma sala ampla com armários, estantes com livros e pergaminhos, algumas armaduras velhas, nelas via-se perfeitamente que foram usadas em batalhas, quadros enormes nas paredes, um deles era do próprio conde sentado numa posição muito falsa, este estava na parede a cima de uma mesa de carvalho com detalhes dourados nas bordas, jarros de porcelana com desenhos azuis ao lado e uma poltrona com tecido vermelho na qual o conde estava sentado olhando para vários papeis em cima da mesa. Ele espiou por cima de alguns papeis e viu que a tia Dessi entrara.

- Ora, olá Dessi, veio mais rápido do que esperava.

Num tom não tão amável como antes ela joga as palavras na cara do conde, sem se importar:

- Você não tem ideia de como esse bebe é especial, mal peguei ele hoje de manhã e senti uma energia entrando pelas minhas mãos, não sei o que quer com ele mas não vou entrega-lo assim tão facilmente.

- Primeiro se acalme e deixe-me dizer meus argumentos em defesa. O senhor S., como gosta de ser chamado, mediu o futuro do meu filho, mudou até seu nome para Caligan e me aconselhou para ser o tutor desta criança. Ele e meu

filho devem se tornar colegas e sob minha supervisão isso se tornará mais fácil.

- Mas esse tal de senhor S é um estrangeiro desconhecido, como pode o senhor aceitar a palavra deste homem?

- Estou me correspondendo com ele já faz meses, ele previu a guerra dos grandes dragões e ainda fez parte do conflito, mas fez isso indiretamente por isso não foi reconhecido.

- Mesmo assim, não mude de assunto. Molly, a filha da taverneira, trouxe-me esta criança para arranjar uns pais para ele, mas bem do fundo do meu coração, aqueles olhos me encantaram, foi como se já fosse meu amigo a anos. Talvez devo ter conhecido os pais dele, mas não faço a mínima ideia de quem sejam. Quis ficar com ele, quero ser a mãe dele, sinto que ele é especial.

- E ele realmente é. Vou lhe contar algo que jamais deve contar para outro ser vivo. Na medição feita melo senhor S, ele e meu filho irão salvar esse reino do mal, mesmo que eu não saiba qual mal é esse ainda. Prometo que ele terá uma ótima educação, vou contratar professores de literatura, arco e flecha, espadas ou qualquer coisa que tenha vontade de fazer.

- Disso não tenho duvida - disse com desdém - Eles irão ser como irmãos, é seu dever fazer isso tudo. Mas ainda não me convenceu.

- Esta bem... Eu sei o que quer escutar. Ele poderá passar alguns dias na sua casa, se ele quiser. - enfatizou bem essa ultima parte.

- E na minha casa poderei ter minhas próprias conversas e refeições?

- Sim, não mandarei ninguém para espiar.

- Quem mencionou algo sobre espiões - falou com um sorriso meio forçado, não deixando escapar a ironia.

- Devo dizer também que já sei um nome para essa criança, Um nome sugerido também pelo senhor S, seu nome será de agora em diante Kirian. - levantou os braços rapidamente como se estivesse abrindo inicio de um espetáculo. - Para celebrar vou homenageá-lo na festa também. Agora que está tudo resolvido, vamos sair, tenho que dar a noticia aos empregados, ele não irão gostar nada disso, vai ser a terceira vez que vão mudar as preparações. Até a festa fique com ele, para que se acostume com você.

- Obrigada! - disse num tom forçado, como se fosse obvio esse resultado.

Tia Dessi seguiu de volta para sua casa com o bebe, Kirian, em mãos e o Conde foi dar as novas noticias aos empregados, que foram relutantes de inicio, mas era o que tinham que fazer. A cidade seguiu seu rumo nesses dias

com a maior naturalidade do mundo. O castelo na loucura dos preparativos, os habitantes e vendedores vivam normalmente e nesse momento dava se o inicio de uma grande historia.

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Capitulo 2: Mistérios no aniversario

Alguns dias se passaram e finalmente todos os preparativos para a festa estavam prontos. Vários moradores da cidade baixa e da cidade média foram convidados. Todos estavam muito empolgados. A festa de aniversario de Caligan prometia vários eventos, até mesmo uma apresentação teatral, mas o ápice seria a noite. O conde importou uns equipamentos feitos com uma tecnologia nova do reino Ducham que faz fronteira no leste. Boatos diziam que ele iria colorir o céu escuro.

Tia Dessi não se desgrudava de Kirian um momento sequer, mas estava sempre ao lado do conde e seu filho. Quem não soubesse da historia poderia jurar que aquele novo bebe era do conde e da tia Dessi. Molly e sua mão estavam lá também, mas com a equipe da taverna para ajudar a servir todos os convidados. O que não agradou nem um pouco a menina, ela não iria trabalhar num momento de festa e assim no primeiro momento que a mãe desviou o olhar prestando atenção e outra coisa ela foge. Molly já tinha entrado no castelo antes, mas nunca sendo convidada, ela conseguia invadir sem ao menos se notada, por isso já conhecia bastante os corredores do castelo.

Quando escapava em direção a escadaria que a levaria para o teto do castelo parou quando o conde começou a fazer um discurso, sentou-se num degrau e olhou atentamente. Ele bateu algumas palmas para chamar a atenção das pessoas e começou a falar:

- Senhoras e senhores convidados obrigado por comparecerem neste dia tão especial para mim e para meu filho. – Todos gritaram hey em sintonia, levantando suas taças de vinho e os camponeses, suas canecas de cerveja. – Darei inicio neste momento a festa de aniversario do meu filho Caligan. – A noticia da mudança do nome do filho do conde já tinha sido bastante discutida nos dias anteriores, então ninguém questionou. – Teremos um banquete a todo o momento, acompanhado de músicos, poetas e ainda a presença de um grupo de teatro. Ao cair da noite espero que todos vocês venham para o jardim atrás

do castelo para apreciar de um magnifico espetáculo de luzes, mesmo na escuridão, tenho certeza que todos irão adorar. – As pessoas cochicharam um pouco sobre isso, era algo que nunca haviam visto e era facilmente perceptível a palavra magia sendo dita por varias pessoas. – E isso não será feito com magia se foi isso que imaginavam. Tudo isso foi feito por trabalho manual e sem uso de magica. Agora vamos aproveitar este dia comendo, bebendo, sorrindo e festejando. – Diz isso levantando os dois braços e ao final gritou viva, sendo seguido por todos da sala.

Molly percebeu que a atenção se concentrava no conde e aproveitou o momento para continuar a subir as escadas. Andou por mais alguns minutos por corredores, entrava em lugares errados e tinha que voltar varias vezes até se lembrar do caminho. Quando chegou ao teto reparou que havia muitos pedaços de bambu ocos numas plataformas no chão, do topo deles tinha um fio saindo, mas era aos montes, podiam ter algumas dezenas ali. A curiosidade mais uma vez falou alto em sua mente e não demorou em espiar o que tinha no final dos fios. Dentro do buraco dos bambus tinha uma bola de couro bem firme e pesada, mas foi até ai. Aquilo estava muito bem organizado e alinhado, com certeza demoraram bastante para arrumar tudo e sabia que se algo desse errado e ela fosse descoberta seria severamente punida por sua mãe, e não era nada legal isso. Então ela se sentou no muro que protegia as pessoas de caírem e esperou pelo por do sol que esperava ser lindo neste dia.

Dentro do salão a festa continuava, um bardo terminava sua musica e todos repetiram juntos o ultimo refrão:

Ca nom poss'eu desto forçar

Deus, que me vos faz muit'amar

As pessoas batem palmas alegres, o bardo agradece gentilmente se curvando para todos. Agora a próxima atração é uma peça de teatro. O salão era enorme, as mesas gigantes formavam uma meia lua e ao centro as pessoas se apresentavam. Tia Dessi e o bebe kirian sentavam ao lado do conde e seu filho. Dessi vira-se para o conde e diz:

- Obrigada por nos colocar ao seu lado, estou muito agradecida.

- Mas é claro que iria colocar você aqui, esse bebe agora está sob meus cuidados e sendo assim você faz parte disso também.

- Ora, obrigada assim mesmo. E agora posso pedir desculpas formalmente pelo meu modo de dizer aquele dia, não sabia suas intenções para com este garoto, mas agora penso da mesma maneira que o senhor.

- Não precisa se desculpar, eu sabia que iria interpretar isso desse jeito, eu deveria ter dito isso de uma maneira melhor. Mas eu sei que Kirian e Caligan

irão ter um futuro unido e nada melhor para assegurar isso que sob minha supervisão.

- Disso não tenho duvida, ainda mais que...

Sua fala foi cortada pelo pequeno Caligan que puxava o braço do pai para pedir atenção.

- Pai, Pai olha só o que eles estão fazendo, eles pulam e fazem graça, é muito divertido. – Sua voz mostrava entusiasmo e espanto devido às piruetas dos atores.

- Sim meu filho, eles são mesmo incríveis.

Tia Dessi cutuca seu ombro e diz quase que sussurrando:

- Por acaso já falou para ele sobre o Kirian?

- Na verdade ainda não. Pretendo contar a ele num momento mais calmo, talvez amanhã de manhã mesmo.

A festa continuou por mais algumas horas o grupo de teatro fez várias apresentações, de drama a comedia, algumas acrobacias, que deixava os convidados de queixo caído. Alguns bêbados se reuniram no meio do salão e começaram a cantar, isso fez todos rirem, eles cantavam asneiras sobre as historias e os heróis lendários, uma comedia sendo cantadas pelos homens bêbados.

Chegando a noite Molly volta do telhado para sua mãe, que não estava desesperada, pois já se acostumara com os sumiços de sua filha, mas se não voltava em 3 horas dai sim ela começava a gritar com todos para acha-la. Ela simplesmente se juntou aos ajudantes, fisgando aqui e ali um docinho ou um salgado. Certo momento foi em direção a sua mão com alguns pratos sujos:

- Mãe, posso deixar esses pratos na cozinha e ir ficar com a tia Dessi e o bebe? – Essa ultima parte fui dita num tom um pouco baixo e como sua mãe estava ocupada em seu serviço não reparou.

- Claro filha, mas faz isso logo.

Fez um sorriso pelo seu plano ter dado certo, deixou os pratos na cozinha para que alguém lavasse e correu para os braços da tia Dessi.

- Oi Dessi, posso sentar com você?

Dessi estava dando comida para Kirian, virou-se espantada com a chegada da menina, sorriu e disse:

- Mas com toda certeza, sente no meu colo e coma alguma coisa. Já não vou comer mais, tanta gordura assim não irá me fazer bem.

- yey! E como vai o bebe? Ele é bonitinho não é? – Disse se acomodando em seu colo.

- Ele é uma graça, assim como a maioria dos bebes e assim como você quando era mais nova.

- Será que ele vai lembrar que fui eu que o peguei?

- Provavelmente não, mas vai gostar de saber disso, sem duvida.

- Fiquei sabendo que ele vai passar uns dias na sua casa também, quando ele estiver por lá posso ir também para ficar com ele?

- Venha quando quiser, e mesmo quando não estiver para tomar um pouco de chá.

As duas continuaram a conversar. Sir Menior estava a falar com o conselheiro do castelo. Era um homem honesto e de bom caráter, era o braço direito do conde, quase como seu substituto quando o conde viajava. Sua feição era rígida, sempre serio, sempre pensando ou organizando alguma coisa, mas era forte e corpulento, sabia manejar duas adagas como ninguém.

- Como assim o senhor está adotando aquela criança. – dizia indignado o conselheiro.

- Escute-me Dáureo, ele será importante para este reino, disso não tenho duvidas.

- Mesmo assim, o que é ele, algum bastardo inconsciente?

- Não. Não sei quem são seus pais, apenas sei que devo cuidar dele.

- Ainda assim não concordo com sua decisão, mas vou procurar saber seus precedentes, guarde minhas palavras. Sinto que este não será uma boa pessoa.

- Então se conseguir achar seus pais ficará grato, também gostaria de saber quem são eles. Mas por favor, não seja rude com o garoto. Vamos ver o que o futuro nos mostra.

- Se o senhor está com tanta confiança assim, não sou a pessoa certa para questionamentos. E irei lhe informar sobre qualquer informação que conseguir sobre ele.

- Estou agradecido, por tudo que já fez por mim e por me apoiar em minhas decisões, não sei o que seria de mim sem seus conselhos meu velho amigo.

- Posso não concordar com tudo que faz, mas sei que faz o possível para o bem de seus companheiros.

- Bem, está chegando a hora para nosso grande espetáculo, chame os ajudantes e vá para a parte superior do castelo para coordenar a soltura das bolas de fogo. Eu vou chamar os convidados para o jardim.

- Farei isso já senhor.

Os dois seguiram em caminhos opostos. Quando chegou ao salão o conde bateu palmas novamente para chamar a atenção dos convidados que riam com todos que estavam no centro agora. Os bardos, poetas e atores estavam improvisando alguma comedia, pois todos gargalhavam. Logo o conde tinha a atenção de todos.

- Amigos, chegou a hora dos fogos. Peço para que me sigam ao jardim e ver o espetáculo. E por favor, Dessi, poderia trazer meu filho com você?

Ela deu um grito no meio das vozes felizes que gritavam e iam para fora.

- Sim, pode deixar comigo.

Ela se dirigiu a Molly que estava ao lado dela brincando com o bebe.

- E você ficará feliz em levar o pequeno Kirian, não é?

- Yey! Sim. Obrigada.

- Vamos então!

E as duas se juntaram a multidão que se espremia pelas portas de saída. O jardim estava maravilhoso naquela noite, foram colocadas algumas velas para iluminar o caminho. A trilha com pedras que serpenteavam ao redor de pequenas arvores e montes com grama logo ficaram lotadas com as pessoas que se ajeitavam ansiosas para ver o que iria a acontecer. Dessi e as crianças ficaram sentadas num banco de mármore no centro do jardim. Mais a frente, entre o castelo e o jardim, o conde ficou em pé no degrau mais alto para que todos o vissem e começou a dizer:

- Em alguns segundos vocês irão presenciar algo que nunca foi visto até hoje. –Claro que era mentira, os que inventaram isso, por logica, já viram o que essas coisas fazem, mas para entreter as pessoas uma mentirinha não faz mal. – Algumas pessoas estão lá no teto – Apontou para a superfície do castelo – estão prontas e esperando nossa contagem para começarem, então vamos. Todos comigo.

E então começou a contagem. CINCO. A emoção martelava o coração das pessoas ali presentes. QUATRO. Os gritos ficavam mais intensos. TRES. Molly já nem se aguentava parada no banco de tanta ansiedade. DOIS. Dáureo apontava para a sequencia que iriam lançar as bolas de fogo. UM. Finalmente.

Começou. O primeiro a subir foi o mais surpreendente, todos se assustaram com o barulho que fez, e ainda mais com as cores vermelhas que apareceram logo depois. As bolas iam a mais de 30 ou 40 metros de altura. Mais dois subiram, faziam círculos após um estrondo enorme, esses eram verde e azul. Outros subiram. Vermelho, outro roxo, mais um azul. Foram subindo mais e mais com muitas cores, algumas se repetiam uma ou outra vez, mas mesmo assim encantavam as pessoas. Num certo momento todos se acostumaram com o barulho e passaram a apenas apreciar as cores, se perguntando como aquilo pode realmente não ser magia. Os bêbados começaram a gritar quando estouravam. Isso durou alguns minutos e quando acabou as pessoas ficaram mais um pouco ali, algumas sentadas outras deitadas, apreciando o momento que acabaram de presenciar.

Pouco a pouco as pessoas se levantavam, iam até onde Caligan estava, davam seus parabéns, felicidades e despedidas. Diziam adeus e agradeciam pela noite adorável ao conde e abraçavam uns aos outros e iam em bora para suas casas. O próprio conde dispensou os ajudantes que iriam limpar toda a bagunça. Agora era hora de todos descansarem. Isso contava para as crianças também. Dessi se aproximou do conde para se despedir.

- Obrigada por tudo Sir Menior.

- Não há porque agradecer, eu que devia fazer isso por olhar meu filho em certos momentos. Posso lhe ofertar a noite aqui se quiser ficar mais um pouco com o Kirian. Vou coloca-los para dormir agora mesmo e posso lhe arranjar um quarto.

- Não obrigada, amanha vou viajar para Niemars e fazer umas compras para a casa. Mas agradeço a oferta.

Molly entrega o Kirian para o conde e se despede do pequeno bebe. E corre para o lado da mãe impaciente em voltar para casa e descansar depois de tanto trabalhar. Depois disso Dessi e Sir Menior vão ao quarto para colocar os garotos para dormir.

- Eles são umas gracinhas. – Disse Tia Dessi depois de colocar Kirian no berço.

- Quero saber o que eles vão se tornar. Se pudesse acelerar o tempo. – Solta um ar de desanimo.

- É o destino deles serem poderosos, disso tenho certeza.

- Uma pena ser apenas eu para cuidar desses dois, acho que será difícil quando forem mais velhos.

- Saiba que estarei aqui para ajudar, não se esqueça disso.

- Agradeço desde já.

Os dois trocam alguns olhares por uns segundos, sem saber o que dizer.

- Bem. Acho que já vou indo, vou sair de manhã.

Meio envergonhado o conde ajeita a roupa e diz meio sem jeito.

- Ah, é mesmo, você vai viajar amanha. Tinha me esquecido. – Na verdade não tinha esquecido não. – Vou te acompanhar até a saída.

- Obrigada

Os dois vão até a porta do salão, iluminado apenas por algumas velas. Eles param a uns dois passos da porta. Encaram-se por mais alguns segundos. Finalmente tia Dessi estende a mão. Meio bobo o conde a pega e da um beijo.

- Obrigada pela noite maravilhosa.

- Eu que agradeço. Tenha uma boa viajem.

- E você cuide bem deles em minha ausência.

Ele fica ali parado, apenas observando a linda tia Dessi andar pela trilha de pedras até o portão principal. Antes de sair ela vira-se e assopra um beijo com uma mão em direção ao conde, que o finge pegar no ar. E assim ela vai em bora.

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Capitulo 3: O elo para o futuro

Dez anos se passaram. O reino mudou bastante durante esse tempo. O rei morreu a dois anos e fora substituído pelo seu filho Neilon de vinte e quatro anos. Pouco experiente ainda, mas era carismático e tinha o respeito do povo.

Oneore mudou bastante, assim como o reino. O comercio local cresceu e novas riquezas foram usadas para melhorias na cidade, como praças, fontes

monumentos. Foram feitas também mais dois campos de treinamento para guerreiros e arqueiros, mais quatro hospedarias e outra taverna.

Caligan aproveitava uma rotina de aprendiz de guerreiro. Estava sempre treinando duro para ser o melhor guerreiro do reino e se tivesse a chance, de ser o guarda costas oficial do rei. Ele já era bem mais forte que os outros de sua idade. Encarava até garotos mais velhos. Treinava bastante luta com espadas e artes marciais para lutas desarmadas. Infelizmente não era lá muito querido, ele gostava de mandar, de tentar ser o líder do grupo, mas não possuía espirito de liderança. Era como aqueles chefes de guerra malvados que não escutavam a opinião alheia.

Kirian por outro lado tinha a confiança de todos, mas nem se importava com isso, preocupava-se apenas em estudos e explorações nos arredores da cidade. Treinava como guerreiro, porem nunca gostou muito disso. Não gostava de muito esforço físico, mesmo sendo um tanto forte. Treinava às vezes com Caligan depois que lhe torrasse a paciência pedindo para lutar. Ele era forte, mas não conseguia ganhar de Caligan numa luta.

Falando nisso, a relação entre Kirian e Caligan não era a das melhores. Caligan o via como um falso irmão que entrou em sua casa, por perder sempre numa luta e possuir um jeito misterioso, ele não lhe dava muito respeito. No fundo, quando Caligan pedia uma luta com Kirian, era apenas para poder bater nele um pouco.

Como estava sob os cuidados do conde a maior parte da vida, Kirian não se importava com isso. Ele era um grande observador, sabia como as pessoas se sentiam apenas no olhar, era como um instinto. Tinha também um enorme dom para atuações, criava situações incríveis e mentia como ninguém. Logo que aprendeu a ler, com seus sete anos começou a ler muitos e muitos livros. Alguns livros eram de historias lendárias de heróis e monstros, livros de estudos e mais tarde passou a se interessar por alguns romances também. Com o tempo foi descobrindo mais livros pelo castelo, acabou um dia descobrindo uma sala um pouco escondida do resto do castelo, dentro dela havia vários livros sobre magia. Nesse mesmo dia foi pedir ao conde permissão para estuda-los. Vai até sua sala e o encontra lendo alguns papéis em sua mesa.

- Bom dia Sir Menior. O senhor esta ocupado?

- Ora, se não é meu filho Kirian. – Kirian não se sentia muito bem por ser chamado de filho pelo conde, sabia que não era realmente filho dele. - Não estou ocupado não, apenas revendo uns papeis, mas nada muito importante. O que deseja?

- Estava andando pelo castelo e achei uma sala com vários livros...

- Sabia que gostava de ler. – disse interrompendo a fala de Kirian. – Qual historia esta lendo agora?

- Espere. Eu quero fazer um pedido. Nessa sala tinha vários livros sobre magia e queria apenas permissão para poder estudar aqueles livros.

O conde arregalou os olhos e calou-se por uns segundos. Então disse finalmente:

- Bem... Ainda não esta na hora de estudar esse tipo de coisa.

- Mas eu sempre ouvi falar de magos antigos, que lutavam em batalhas usando poderes incríveis, o senhor não acha que lá possa ter algu...

- Desculpe Kirian. – fraquejou por um momento. – Mas apenas me escute, não estude isso. Magia é algo para poucos e não quero que se machuque.

Obviamente Kirian percebeu que havia alguma historia sobre magia por traz da mascara sorridente do conde, viu que não era hora de importuna-lo com isso. Mas mesmo assim, ele estava decidido. Magia era algo espetacular, e já faz anos que não se ouvem falar mais sobre magos. Esta era a sua chance e não iria joga-la fora apena por algum ressentimento do conde.

Agora já faz vários meses que kirian vem estudando magia em segredo. Ele, sorrateiramente, rouba um livro e vai escondido para alguma parte da floresta ou quando é noite e estão todos dormindo, ele estuda no alto de uma torre. Já consegue manipular agua e ar. É capaz de tocar uma lucare sem tocar os lábios no bocal. – Espécie de flauta de madeira que se parece com uma concha. – Faz uma brisa em cômodos fechados, movimenta a agua de um balde e esta a ponto de poder congelar a agua também. Como se pode ver, nada muito incrível.

Mas isso é o que ele faz voluntariamente. Já há anos coisas estranhas acontecem com ele. O mais recente acontecimento foi numa noite meio fria, a janela estava aberta, uma corrente de ar entra e acaba fazendo-o espirrar, mas o que saiu não foi ar, mas sim fogo, uma enorme labareda saiu por sua boca. Já aconteceu de tropeçar em seu quarto e quando estava prestes a cair de cara no chão, caiu em suas almofadas que deveriam estar em cima da cama.

O acontecimento mais marcante e que começou boatos pela cidade inteira fui numa vez que ia para a floresta para estudar. Passava por caminho que levava a floresta quando um carrinho com feno escorrega das mãos de um camponês em cima de um morro. O carrinho ia em direção ao Kirian que desatento não viu ele começar a descer, os camponeses gritaram alertando-o, ele vira a cabeça e o carrinho já pegara velocidade, se o acertasse ali iria ficar seriamente machucado. Por instinto virou o rosto para o outro lado cobrindo com uma mão. Mas jogou a outra mão como se fosse parar o carrinho. Gritou

por alguns segundos, esperando o choque que o levaria ao chão em uma dor tremenda, mas nada aconteceu. Olhou de volta para onde o carrinho deveria ter vindo e viu apenas os dois homens encarando-o como se fosse uma Phoenix azul fantasmagórica. Eles apontaram para o lado direito deles. Quando Kirian virou o rosto, viu algo que nunca iria imaginar ser possível. Uma rocha enorme acertou bem no meio do carrinho, que tinha uma roda a girar. Dias depois, boatos falavam que foi um meteoro, outros diziam que foi o garoto que usou magia, mas ninguém acreditava, ele era novo demais para saber esse tipo de magia.

O jeito misterioso de kirian incomodava seu quase irmão, Caligan. Que estava sempre se perguntando por que Kirian sumia de vez em quando. Certo dia resolveu segui-lo e ver o que ele fazia. Esperava pega-lo fazendo algo constrangedor como encontrando uma garota em segredo e assim espalhar isso para a cidade inteira. Viu o garoto saindo com um manto para fora dos portões e foi atrás dele. Ele entrou numa plantação de milho, isso dificultou sua perseguição. Quando o perdia de vista, pulava e procurava por galhos que se mexiam, logo que encontrava continuava seguindo. Depois ele entrou na floresta, fora de qualquer caminho feito. Fui se escondendo atrás das arvores e andando lentamente, sem perder ele de vista.

Kirian para em frente a um lago raso coberto por folhas secas que caiam das arvores em volta. Poucos raios de sol chegavam até o chão. Ele abre um livro que escondia no peito, procura por alguma passagem e lê por alguns minutos. Caligan estava prestes a voltar, pensando que ele vinha apenas para ficar distante dos outros para ler quando ele se levanta e coloca o livro sobre a pedra que estava sentado. Ele se vira para o lago, chacoalha as mãos no ar e começa a pronunciar algumas palavras estranhas. O ritmo daquela melodia aumentava fazendo correntes de ar, o vento ia em direção a ele, que parecia controlar aquilo tudo. O vento ficava mais forte e forma algo parecido com um mini furacão sobre a superfície da agua. De repente ele para, olha novamente para o livro e começa tudo de novo. Voltando no mesmo estagio de antes ele faz o mini furacão tocar a agua, transformando-se num ciclone. Assustado, Caligan da um passo para traz e acaba quebrando um graveto no chão. Rapidamente todo aquele espetáculo volta ao normal. Kirian olha para traz e diz:

- Quem está ai?

Silencio. O coração de Caligan batia muito rápido. Ficou parado por alguns segundos, esperando não ser visto.

- Caligan, é você que estava me seguindo então?

- Droga. – Pensou. Já que tinha sido descoberto saiu de traz da arvore.

- Como sabia que eu te seguia?

- Eu sabia que alguém estava me seguindo quando no milharal esse alguém ficava pulando atrás de mim, mas só fui saber que era você agora que vi seu braço atrás da arvore.

- Pare de se gabar. O que era isso tudo que estava fazendo?

- Agora que já me viu não tenho mais o que esconder. Estava praticando.

- Magia? – completou Caligan.

- Sim. Faz alguns meses que venho treinar na floresta sem que ninguém me veja. Pelo menos foi você a primeira pessoa que me viu. E é por isso que não irá falar para ninguém o que acabou de ver.

- O papai sabe disso?

- Não. Ele me aconselhou a não aprender isso, ainda. Mas quando achei esses livros não pude esperar para saber o que tinha neles.

- Esta dizendo que esses livros são do castelo?

- Isso mesmo. Achei-os numa sala meio escondida. Peguei os livros sem pedir, mas com total intenção de devolvê-los depois de ler.

Os dois ficaram quietos por uns segundos. De repente Caligan fala de maneira empolgada.

- QUE LEGAL! – Essa mudança de tom intrigou Kirian.

- Como assim? Não esta assustado por eu saber um pouco de magia? Não pretende me dedurar para o conde? O que esta acontecendo com você?

- Amigo. – essa foi uma das poucas vezes que Caligan chamou kirian de amigo. – Eu não acredito que esta estudando magia e não me contou. Eu sei de que sala esta falando, eu já tentei ler essas coisas ai também. Mas o papai não deixou, não sei por que.

- Foi a mesma coisa comigo. Ele pareceu triste com alguma coisa e não me deixou estudar.

- Você vem aqui só para treinar ou faz alguma outra coisa também?

- Isso depende do que eu vou fazer. Às vezes eu treino algumas poções, então procuro por animais, plantas e às vezes insetos.

- Teria como me ensinar alguma coisa?

- Não posso, já é difícil para eu mesmo aprender, ensinar eu não consigo.

- Tudo bem. Eu estou muito empolgado.

- Eu quero um dia poder lutar numa grande batalha e me tornar um herói. Daqueles que contam historias nos livros.

- Eu também. Poder derrotar os vilões com nossa força. Seria muito emocionante.

- Mas olha, está ficando tarde e é quase a hora de jantar. Eu não queria fazer muita coisa hoje, era apenas isso e voltar de qualquer jeito.

No caminho de volta Caligan estava como uma outra pessoa, fazia varias perguntas, estava muito mais do que na cara que ele se interessou por isso. E sem querer falou algo que iria selar a união do futuro dos dois garotos para sempre:

- Quando eu e você ficarmos maiores e mais fortes, vamos ser uma equipe, seremos aliados, companheiros de guerra. É uma promessa!

Nesse momento Caligan já não se importava mais se Kirian era um irmão verdadeiro ou não. Kirian pensou um pouco, fingindo que analisava bem a proposta.

- Mas é claro. – e soltou um sorriso para Caligan. – Eu serei o mago e você será o guerreiro mais forte do reino.

- já sei. Temos que ter nosso próprio cumprimento. Que tal isso.

Pegou a mão do amigo e apertou o punho, seguido por Kirian, depois viraram as mãos para cima entrelaçando-as.

- Esse será nosso cumprimento secreto. – Disse Caligan.

Os dois garotos deram um sorriso e seguiram em direção ao castelo.

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