vieira, p. a. caracterização das unidades geomorfológicas

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Universidade Federal de Goiás Instituto de Estudos Sócio-ambientais Programa de pesquisa e Pós-Graduação em Geografia Mestrado em Geografia Caracterização das Unidades Geomorfológicas Geoambientais da Planície do Bananal Pedro Alves Vieira Orientador: Drº. Edgardo Manuel Latrubesse Goiânia, 2002

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Page 1: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Universidade Federal de Goiás

Instituto de Estudos Sócio-ambientais Programa de pesquisa e Pós-Graduação em Geografia

Mestrado em Geografia

Caracterização das Unidades

Geomorfológicas Geoambientais da

Planície do Bananal

Pedro Alves Vieira Orientador: Drº. Edgardo Manuel Latrubesse

Goiânia, 2002

Page 2: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

(GPT/BC/UFG)

Vieira, Pedro Alves

V657c Caracterização das unidades geomorfológicas Geoambientais da Planície do Bananal / Pedro Alves Vieira. - Goiânia, 2003. 148 f. : il. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, 2003. Referências : f. 136-140 Inclui lista de figuras e de tabelas Anexos

1. Geomorfologia – Planície do Bananal 2. Fi- siografia 3. Pesquisa geomorfológica – Planície do Bananal 4. Geologia I. Universidade Federal de Goiás. Instituto de Estudos Sócio-ambientais II. Título. CDU: 551.4.032

Page 3: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Pedro Alves Vieira

Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Geoambientais da Planície do Bananal

Dissertação de Mestrado apresentada

ao Programa de Pesquisa e Pós

Graduação em Geografia da

Universidade Federal de Goiás, para

a obtenção do título de mestre em

Geografia.

Área de concentração: Ambiente e

Apropriação do Espaço no Cerrado.

LINHA DE PESQUISA: Estudos

Geoambientais

Orientador: Drº. Edgardo Manuel Latrubesse

Goiânia, 2002

Page 4: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Aos meus pais Aluízio e Maria (in memoriam), pelo carinho e dedicação.

Page 5: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

AGRADECIMENTOS

Ao IESA – Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, pela possibilidade do

desenvolvimento deste trabalho.

As professoras Dra Luciana M. Lopes e Selma Simões de Castro,

participantes da banca de qualificação desta dissertação pelos importantes

comentários e valiosas sugestões, que tornaram esse momento muito

gratificante.

Ao professor Dr. Hurtado e Mirta Cabral, pela sua simplicidade e

entusiasmo com a pesquisa e por seus ensinamentos no trabalho de campo.

Ao Laboratório de Geologia e Geografia Física, na pessoa de seu

coordenador Edgardo M. Latrubesse, pela utilização das instalações do

laboratório para a elaboração desta dissertação.

Ao Laboratório de Geoprocessamento do IESA, em especial aos Professores

Laerte, Ivanilton, Vanilda, e Ana Maria pelas valiosas contribuições na

utilização dos softwares para confecção mapas produzidos neste trabalho.

Aos colegas do Laboratório de Geologia e Geografia Física.

Aos inesquecíveis colegas de turma do mestrado: Solange, Jaqueline,

Roberto, Paula, Ary, Sandro, Pedro, Ronaldo e Luís (in memorian).

As amigas Kênia e Cinttia pela colaboração na formatação da dissertação.

E, principalmente:

Page 6: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Ao professor Dr. Edgardo Manuel Latrubesse, pela orientação segura e

eficiente e pelo apoio em todos os momentos.

Aos meus irmãos, que mesmo distante me acompanharam e me deram força

nessa jornada.

Aos meus sobrinhos Frank e Keila pelo carinho e hospedagem.

A Bizú (minha outra metade) pelo seu apoio e entusiasmo em cada etapa

que foi sendo conquistada na minha vida acadêmica.

A UEG, unidade de Itapuranga e Goiás, pela compreensão quando de

minhas ausências neste período.

Em especial ao amigo de infância Sebastião Edson e sua esposa Iolanda,

pelo carinho entusiasmo.

Ao companheiro e amigo Maximiliano Bayer, pela afinidade e entrosamento

que conseguimos em todo trabalho de campo.

Page 7: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

SUMÁRIO Pag´s Índice de Ilustrações 08 Lista de Gráficos 08Lista Figuras 09Lista de Tabelas 10 RESUMO 12 ABSTRACT 14 INTRODUÇÃO 15 Capítulo 1 - Procedimentos Metodológicos, Técnicas E Materiais 20 Capitulo 2 – Pressupostos Teóricos e Metodológicos 31

2.1 – Sistema Geomorfológico 322.2 – Unidades Geomorfológicas e Subunidades Geoambientais 34

Capítulo 3 - Bases Físicas Regionais 36

3.1 - localização e aspectos geográficos da área de estudo 373.2 – Solos 453.3 – Vegetação 473.4 - Uso / Ocupação 47

Capítulo 4 - Geologia Regional 48

4.1. Resultados Geológicos Da Área De Estudo 534.1.1.Gnaisse Com Espesso Saprólito 534.1.2. Quartzitos 534.1.3.Conglomerado E Coluvios Laterizados 564.1.4. Formação Araguaia 584.1.5. Formação Araguaia/ Terraço Fluvial 614.1.6 – Holoceno Aluvionar 624.1.7 – Tectônica 62

Capítulo 5 – Unidades Geomorfológicas e Subunidades Ambientais 68 5.1 - Evolução Dos Trabalhos Geomorfológicos Da Área De Pesquisa 695.2 - Unidades Geomorfológicas 76

5.2.1 - Unidade De Aplanamento Regional 775.2.1.1 - Subunidade Geoambiental Com Lagos Maiores Assentados Sobre Sedimentos Laterizados E Savana Arbóreas Densa Ou Cerradão

79

Page 8: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Pág´s

5.2.1.2 - Subunidade Geoambiental Com Lagos Pequenos E Geometria Arredondada Assentados Sobre Rochas Do Cristalino E Dos Sedimentos Da Formação Araguaia Com Vegetação Do Cerrado

88

5.2.1.3 - Subunidade Geoambiental De Altos Estruturais Com Forma Aguçada Sustentada Por Quartzito

91

5.2.2. Unidade Geomorfológica Planície Agradacional Ligeiramente Dissecada 935.2.2.1 – Subunidade Geoambiental Áreas de Escoamento Impedido com Campos De Murundus

94

5.2.2.1.1 - Descrição Morfológica De Um Perfil De Solo Exemplo Para Essa Unidade

96

5.2.2.2 – Subunidade Geoambiental De Planície Com Paleocanais E Áreas Inundáveis

105

5.2.2.3 -Subunidade Geoambiental De Planície Fluvial Com Vegetação De Galeria

112

5.2.3 - Unidade Geomorfológica Planície Aluvial Dos Rios Araguaia E Do Peixe 113 Capítulo 6 - Discussão Dos Dados 115

6.1- Reposicionamento Espacial De Unidades Geológicas 1166.2- Modelo Da Gênese Dos Lagos Da Unidade De Aplanamento Regional 1186.3 - Dinâmica Hidrogeomorfológica Da Planície Do Bananal 1216.4 - Planície Aluvial Do Rio Araguaia e do Peixe 124

Capítulo 7 - Considerações Finais 127

Bibliografia 135

Anexos 141 Anexo 01 – Ficha de Campo 142

Apêndice 143 Apêndice 1 – Mapa Geomorfológico 144Apêndice 2 – Perfil Geológico da Planície do Bananal 145Apêndice 3 – Dinâmica Piezométrica da Planície do Bananal 146Apêndice 4 – Localização dos Pontos de Coletas e Análises 147Apêndice 5 – Perfil Geológico Ponte Itacaíu – GO/MT 148

Índice de Ilustrações Lista de Gráficos Pág´s Gráfico 01 Distribuição anual da pluviosidade 41

Gráfico 02 Balanço Hídrico da Região de Luís Alves - GO 45

Page 9: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Lista de Figuras

Pág´s Figura 1 Equipamentos utilizados no trabalho de campo e laboratório 26

Figura 2 Mapa de localização 38

Figura 3 Planície do Bananal na área de estudo 40

Figura 4 Coluna estratigráfica regional (Planície do Bananal) 51

Figura 5 Coluna estratigráfica local da Planície do Bananal 52

Figura 6 Unidades geológicas da área de estudo 54

Figura 7 Quartzitos da unidade de aplanamento regional 55

Figura 8 Conglomerados da unidade de aplanamento regional em destaque direções de paleocorrentes. 57

Figura 9 Sedimento grosseiro da formação Araguaia encontrados na margem do rio Araguaia – Barreira de São Domingos 59

Figura 10 Sedimento grosseiro da Formação Araguaia, margem da calha do Rio Araguaia – Barreira de São Domingo. 60

Figura 11 Unidades da Planície Aluvial do Rio Araguaia 63

Figura 12 Roseta de fratura 65

Figura 13 Mapa Geoplógico 66

Figura 14 Paralelismo dos Rios Corixinho, Corixão e Cristalino demonstrando nítido controle tectônico. 67

Figura 15 Morfométria da Lagoa da Baia 84

Figura 16 Classes Granulométricas do Testemunho da Lagoa da Baia –Unidade de Aplanamento Regional 85

Figura 17 Morfométria da Lagoa do Brejo 86

Figura 18 Classes Granulométricas da Unidade Geomorfológica de Aplanamento Regional 87

Figura 19 Formação Araguaia 92Figura 20 A Fotos dos Campos de Murundus 97

Figura 20 B e 20 C

Classes Granulométricas do Sedimentos da Formação Araguaia 98 e 99

Figura 21 Croqui do Perfil Exemplo – RADAMBRASIL, 1983 100

Figura 22 Áreas Inundáveis da Planície do Bananal 106

Figura 23 Morfométria de Vertente 111

Figura 24 Evolução dos Lagos Tipo 01 120

Figura 25 Evolução dos Lagos Tipo 02 121

Page 10: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Lista de Tabelas

Pág´s Tabela 01 Síntese das Unidades Geomorfológicas 77

Tabela 02 Subunidade Geoambiental Com Lagos Maiores Assentados Sobre Rochas Lateríticas/ Cristalino – Lagoa da Bahia/ Margem Norte.

80

Tabela 03 Subunidade Geoambiental com Lagos Maiores Assentados sobre Rochas - Lagoa da Bahia/ Margem Sul. 80

Tabela 04 Subunidade Geoambiental Com Lagos Maiores Assentados Sobre Rochas Lateríticas/ Cristalino – Lagoa da Bahia/ Centro da Lagoa.

81

Tabela 05 Subunidade Geoambiental Com Lagos Maiores Assentados Sobre Rochas Lateríticas/ Cristalino – Lagoa do Brejo. 81

Tabela 06 Subunidade Geoambiental Com Lagos Maiores Assentados Sobre Lateríticas e Savanas Arbóreas Densa ou Cerradão. 82

Tabela 07 Unidade Geoambiental de Lagos Pequenos e Geometria Arredondada – Poço nº 01 – Cocalinho – MT. / Hotel Araguaia.

89

Tabela 08 Característica do Perfil Exemplo – RADAMBRASIL, 1983 101

Tabela 09 Descrição morfológica do perfil de solo – Campus de Murunduns. 101

Tabela 10 Poder Hidrogeniônico: (pH) do solo. 102

Tabela 11 Coberturas vegetais de campos de murundus, segundo a classificação de Dambros (1983). 103

Tabela 12 Unidade Geoambiental de Escoamento Impedido com Campos de Murundus – Poço nº 06- Faz. Talismã (Próximo ao Rio Corixão).

103

Tabela 13 Unidade Geoambiental de Planície Fluvial com vegetação de galeria - Ponto do Rio Corixão – Faz. Talismã. 104

Tabela 14 Unidade Geoambiental de Planície Fluvial com vegetação de galeria - Ponto do Rio Corixão – Ponte que liga Cocalinho a Serra do Calcário.

104

Tabela 15 Unidade Geoambiental de Planície Fluvial com vegetação de galeria - Sistema hidrológico de subsuperfície / hidrologia do freático – Poço nº 07- Faz. Santa Silva

104

Tabela 16 Aplanamento Regional. 123

Tabela 17 Planície Agradacional Ligeiramente Dissecada 123

Page 11: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Resumo

Page 12: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

O objeto de nosso estudo a Planície do Bananal, encontra-se posicionada

entre o rio Javaés ou Braço Menor do Araguaia (a leste) e o rio das Mortes

(a oeste). Prolonga-se para norte, adentrando a Folha SC.22 Tocantins. Para

o sul, perde sua continuidade, fragmentando-se em áreas menores, onde a

mais expressiva é a que envolve o rio Corixão.Esta planície representa

aproximadamente 12% do total da superfície da bacia do rio Araguaia.

Ocupando uma superfície de mais de 90.000 Km2, esta importante unidade

geológica/geomorfológica compreende áreas de deposição fluvial

holocenica e áreas de acumulação pleistocenica, a qual encontra-se

intimamente ligada aos processos de inundação. É definida como uma das

maiores áreas de sedimentação fluvial do continente, semelhante ao

Pantanal de Mato Grosso do Sul, Pantanal de Guaporé, os Lhanos do

Orinoco e do Beni, assim como algumas partes do Chaco. Esta planície

também apresenta uma das mais importantes áreas sujeitas a inundações

sazonais, e das mais desconhecidas do ponto de vista de sua dinâmica

hídrica e evolução geomorfólogica.

Com fim de elaborar um mapa geomorfológico da área em estudo, aplicou-

se basicamente a metodologia de mapeamento geomorfológico de

Latrubesse et al (1998) e Latrubesse (1999), a qual surgiu de adaptações ao

sistema de classificação e mapeamento geomorfológico proposto para

planícies deposicionais por Iriondo (1986). Os atributos relacionados como

variáveis de estado (por exemplo, áreas sujeitas a inundações) e controle

sobre as relações das unidades geomorfológicas com as unidades

vegetacionais da região, adaptou-se um sistema de unidiades terreno ao

estilo dos Land System do ITC (1991), os quais, nesta dissertação, foram

chamados de Unidades Geoambientais. As unidades geoambientais

definidas desta forma estão organizadas num sistema de classificação

hierárquico dependente da unidade geomorfológica identificada.

Apresentamos como produto final deste trabalho o mapeamento na escala

de 1:100.000 de três unidades geomorfológicas e seis subunidades

geoambientais para a Planície do Bananal.

Page 13: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Abstract

Page 14: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

Object of our study, the Bananal Plain lies between the Javaés River and a

minor branch of the Rio Araguaia River (east) and Rio das Mortes (west).

It goes to the north, coming into the Radambrasil SD 22. On the south, The

Bananal plain loses its continuity, breaking up in small areas, where the

most expressive is that than involves the Rio Corixão. This plain represents

about 12% of the total drainage area of the Araguaia River Basin.

Occupying an area of more than 90.000 km2, this important

geologic/geomorphologic unit includes areas of holocenic river deposition

and areas of Pleistocene accumulation. The Bananal plain is defined as one

of the biggest areas of river sedimentation of the continent. This plain also

represents one of the most important areas that suffer seasonal floods and

one of the most unknown under the point of view of its hydrological and

geomorphologic evolution.

With the aim of to elaborate a geomorphologic map of the area under study,

we used basically the methodology of geomorphologic mapping of

Latrubesse et al (1998) and Latrubesse (1999). This methodology resulted

from adaptations of the geomorphologic classification and mapping system

proposed for depositional plains by Iriondo (1986). The attributes listed as

state variables (for instance, area subject to flood) and control over the

relationships of the geomorphologic units with the vegetation units of the

region, we adapted a system of units of land in the way of Land System

from ITC (1991). In this dissertation, they were called of

Geoenvironmental Units. The geonvironmental units are organized in a

hierarchical classification system dependent on a identified

geomorphologic unit.

Sedimentological profiles, boreholes by mechanic auger and vibracore were

obtained for several units. Physicochemical parameters and the seasonal

oscillations of the surficial water and water table were measured.

Page 15: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

15

Introdução

Page 16: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

16

A planície do Bananal foi escolhida para ser objeto de nosso

trabalho por dois motivos importantes: primeiro por se tratar de uma área

que apresenta uma dinâmica de inundação sazonal e, segundo, pela sua

história tectônica e sedimentar recente. Haja vista, também, que ela é quase

que totalmente desconhecida do ponto de vista de sua dinâmica

hidrogeomorfológica. Além disso, possui um sistema hidrológico que

mantêm uma grande biodiversidade e dá suporte a um dos mais importantes

corredores ecológicos do país, que conectam dois importantes biomas: o

cerrado e o amazônico.

É uma das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade

do cerrado e tem sido alvo de amplas discussões políticas, sociais e

científicas na Região Centro-Oeste. Essas discussões têm como ponto

central os projetos governamentais, que pretendem incentivar planos de

gestão sobre desenvolvimento regional, desenvolvimento sustentável e

expansão do ecoturismo, sem levar em consideração toda sua complexidade

e importância para um meio ambiente equilibrado.

Estudos sobre a planície do Bananal, abordando diferentes focos

de análises, estão sendo desenvolvidos por pesquisadores da geologia,

pedologia, biologia, geografia, dentre outros, com a finalidade de subsidiar

a tomada de decisões e implementação de planos de gestão na região, o que

fornece informações quanto ao tipo de manejo que pode ser feito neste

sistema natural, tais como: viabilidade de implantação da hidrovia no

principal sistema fluvial que drena essa planície, represas; sistema de

irrigação, ecologia e biodiversidade em ambientes aquáticos fluviais e

lacustres, etc.

O estudo proposto nesta dissertação, que tem como título

“Caracterização das Unidades Geomorfológicas/Geoambientais para a

Planície do Bananal”, está inserido nas pesquisas que citamos

anteriormente e enquadrado no Projeto “Morfodinâmica atual e evolução

quaternária da planície aluvial do rio Araguaia: suas implicações

ambientais”, financiados pelo Programa CNPq Centro-Oeste n.º 520812/99-

9, sob a coordenação do Prof.º Drº. Edgardo Latrubesse.

Page 17: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

17

Tendo em vista a carência de informações sobre pesquisas

científicas sobre a planície do Bananal no que refere, principalmente, à

dinâmica hidrogeomorfológica e sua evolução sedimentar, acreditamos que

este seja um projeto de aplicabilidade imediata e que aportará fundamentos

técnico-científicos na tomada de decisões dos futuros projetos de gestão

dos recursos naturais dessa planície, a qual é estratégica para a região

Centro-oeste.

Estudos sobre o comportamento hidrogeomorfológico são

fundamentais para o planejamento e desenvolvimento dos recursos naturais,

especialmente, para um sistema naturalmente frágil, como a Planície do

Bananal, por apresentar sedimentação recente e periodicamente inundável.

Nesta dissertação, propõe-se o estudo da dinâmica

hidrogeomorfológico da planície do Bananal em um trecho que vai do

município de Barra do Garças (MT) a Luiz Alves (GO). Para alcançar este

objetivo, foram determinados os parâmetros físico-químicos de águas,

identificadas o funcionamento da dinâmica piezométrica da planície, o

comportamento do sistema fluvial e dos corpos lacustres, identificadas as

li tologias que compõem as unidades geomorfológicas e geoambientais, bem

como determinadas às inter-relações entre as variáveis geomorfológicas de

estado e de transformação que participam na construção dessa paisagem

natural.

Para que pudessemos executar com eficácia a nossa pesquisa,

elegemos um recorte da planície do Bananal, o qual é representada por uma

linha longitudinal de 200 Km, distância que une a cidade de Aruanã e Luiz

Alves ao longo do sistema fluvial mais importante da área, o rio Araguaia,

e uma faixa de 80 Km de largura ao longo do mesmo, sendo 60 Km pela

margem esquerda (estado de Mato Grosso) e 20 Km pela margem direita

(estado de Goiás), perfazendo uma área de 16.000 Km², dentre um total de

90.000 Km² de planície do Bananal conforme dados de Latrubesse et al

(1999).

A escolha desse recorte da planície justifica-se, em nossa

pesquisa, pela sua representatividade e importância; as quais foram

Page 18: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

18

definidas após interpretação de imagens de satélite Landsat 5 com sistema

de sensor Thematic Mapper (TM), banda pancromática de 15 metros de

resolução espacial de composição RGB/543, em escala de 1/250.000,

ampliada a 1/100.000 e campanhas de campo, conjugando a isto a

possibilidade da representação cartográfica dos objetivos. A essa escolha

somou-se também a viabilidade do acesso ao campo.

A área de recorte posiciona-se entre os paralelos de 13°S e 15ºS e

os meridianos 50º 30’ W e 51º 30’ w. O município da cidade de Cocalinho

– MT fica eqüidistante de Aruanã e Luiz Alves, e é considerada área

representativa da planície do Bananal e do recorte aqui adotado para a

pesquisa, o que já foi feito por outros autores, entre eles Latrubesse et al

(1999). Isso nos permite, a partir deste centro urbano pela rodovia MT-

326, executar uma seção E – W (perfil no campo que nos permitirá a coleta

de dados referente aos atributos hidrológicos, li tológicos, tectônicos,

ambientais etc.) ao longo das principais unidades geomorfológicas e

subunidades geoambientais da planície.

Os objetivos no trabalho serão os seguintes: Analisar e

individualizar as fácies sedimentares da planície do Bananal; Avaliar a

dinâmica hidrogeomorfólogica atual; Elaborar o mapa de unidades

geomorfológicas e suas respectivas subunidades geoambientais que

representam a atual morfodinâmica de degradação/agradação e a dinâmica

hidrológica.

Os objetivos abordados no trabalho foram contemplados nos

capítulos que foram estruturados em seis seguidos das considerações finais.

No primeiro capítulo, Procedimentos Metodológicos, Técnicas e

Materiais discutem o referencial teórico sobre os temas abordados na

pesquisa.

O Segundo Capítulo, Pressupostos Teóricos e Metodológicos

demonstrará e citará os fundamentos que corroboraram de maneira

adequada à área estudada.

Page 19: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

19

No desenvolvimento do terceiro capítulo, Bases Físicas

Regionais, está contida todas as bases físicas regional, descrevendo o

clima, solos, vegetação e demais componentes da área de pesquisa.

O quarto capítulo descreve a Geologia Regional, fornecendo

subsídios aos dados tabulados em perfis e descrição de barranco, estes

coletados nas campanhas durante um intervalo de dois anos, estabelecendo

assim, condições de se obter resultados mais concretos da área ainda pouco

pesquisada.

O capítulo quinto, Unidades Geomorfológicas e Subunidades

Geoambientais estabelecem as unidades geomorfológicas, as subunidades

geoambientais, descrevendo as várias subdivisões que ainda não foram

pesquisadas por outros estudiosos tendo este à responsabilidade de dar

suporte a pesquisas vindouras, visto que, este estudo está em uma escala

dentro dos padrões em geral.

No sexto capítulo, Discussão dos Dados, discute-se os dados

obtidos na pesquisa, caracterizando a gênese dos lagos, as fácies litológicas

das unidades geomorfológicas dentre outros.

No sétimo capítulo, Considerações Finais, relata-se as

considerações que foram adequadas ao trabalho como também algumas

conclusões a respeito da cartografia temática (geologia, geomorfologia).

Page 20: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

20

Capítulo 1- Procedimentos

Metodológicos, Técnicas e Materiais

Page 21: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

21

Para alcançar os objetivos propostos para a presente pesquisa, foi

adotada uma seqüência operacional em etapas de trabalho, o uso das

técnicas e materiais correlatos pertinentes. Passamos agora, a descrever,

dentro de cada etapa, os procedimentos, as técnicas e os materiais

utilizados.

1ª ETAPA: ESCOLHA DA ÁREA DE PESQUISA

Os critérios adotados na escolha do município da cidade de

Cocalinho – MT como área chave da pesquisa se deve ao fato de que tal

município apresenta as principais unidades geomorfológicas identificadas

para toda nossa área de trabalho através da homogeneidade de formas, de

textura litológica, da hidrologia (fluvial e lacustre), da tectônica, da

dinâmica inundacional, quando submetida a uma análise de imagens de

satélite da série LANDSAT 5 com sistemas de sensores TM.

Esta representatividade dos 90.000 Km² de área da planície do

Bananal na região de Cocalinho, é somado à facilidade de acesso no campo

a todas as unidades geomorfológicas e subunidades geoambientais

identificadas neste projeto, haja vista que a rodovia MT – 326 corta

transversalmente todas as unidades no sentido E – W.

Nesta etapa também foi feita a revisão bibliográfica dos temas da

pesquisa e áreas afins.

2ª ETAPA: ELABORAÇÃO PRELIMINAR DA DOCUMENTAÇÃO

CARTOGRÁFICA

Inicialmente, realizamos o levantamento cartográfico básico;

fizemos recobrimento de toda área adquirindo as folhas SC-22, SD-22, de

acordo com a carta Internacional do mundo na escala 1:1. 000.000. E na

escala de 1:250. 000, folhas SC-22-X-A, SC-22-X-C, SC-22-Z-A, SC-22-Z-

C, SD-22-X-A, SD-22-X-C, SD-22-Y-B, e cartas a 1:100.000 executadas

pela DSG e IBGE.

Page 22: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

22

Depois, fizemos a Interpretação de fotografias aéreas na escala de

1:60. 000 de 1967 para o recobrimento de uma faixa ao longo do canal

fluvial do rio Araguaia para a elaboração da carta base.

Aquisição de imagens geradas pelo satélite Landsat 5 TM, órbita

ponto: 233 – 70, de composição RGB/543 de julho de 1997 para representar

o período seco e março de 2000 para o úmido, que fez o recobrimento em

formato digital do recorte de área adotado, e que representasse um período

seco e um úmido.

De posse de toda esta documentação cartográfica, foi elaborado

um mapeamento preliminar, no qual obtivemos a primeira aproximação das

unidades geomorfológicas/subunidades geoambientais, segundo critérios de

interpretação da homogeneidade visual das formas do terreno.

3ª ETAPA: TRABALHOS DE CAMPO

Foram realizadas cinco campanhas com duração de 12 dias cada.

A primeira foi para reconhecimento da área e teste dos

equipamentos;

As demais foram para coleta de dados e validação dos produtos já

existentes.

Apresentamos, a seguir, os principais equipamentos utilizados nas

campanhas:

− Trado Mecânico E M B I

− Sonda Vibracore

− Multianalizador Horiba U S – 21

− Bússola com clinômetro

− Teodolito

Page 23: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

23

− Fichas de campo para entrevista e descrição

morfosedimentar

− GPS

− Imagens de Satélite Landsat 7, TM, ano de 1997/2001 escala

1:250.000, ampliada a 1: 100.000.

4 ª ETAPA – EQUIPAMENTOS E PRODUTOS GERADOS

A)PERFIS SEDIMENTOLÓGICOS

Foram descritos vinte perfis sedimentológicos em barrancos de

rios e ao longo de estradas. As informações levantadas para cada perfil

foram incluídas numa ficha, nomeadas ficha de campo, a qual cumpre a

função de armazenar as informações sobre dados morfosedimentares como

textura, estrutura, córtex de alteração, paisagem da região. E também,

função de tal ficha é ordenar, pelo grau de importância, os parâmetros a

serem observados e coletados (Anexo 01). Foram coletadas, em campo,

sessenta amostras de caracterização sedimentar (textura, córtex de

alteração, estruturas, espessuras) das fácies litológicas que compõe as

unidades, resultantes da descrição de barrancos;

B) DESCRIÇÃO DE PERFIS EM POÇOS DE TRADAGEM

Como a área se caracteriza pela escassez de afloramentos, foi

necessário realizar uma série de perfurações para obter informação de sub-

superfície dos sedimentos das unidades da planície do Bananal. Para isso

foi utilizado um trado mecânico EMB1, disponível no LABOGEF e foram

realizadas quatro perfurações a trado mecânico gerando quatro perfis e

quarenta e oito amostras. As amostras foram descritas macroscopicamente

(granulometria, córtex de alteração). A través da utilização de um motor,

introduz-se no terreno uma broca coletora, a qual vai rosqueada a uma

haste conectante que se liga a outra. Tal broca é acoplada ao motor e é

rotacionada quando o motor entra em funcionamento, gerando, como

Page 24: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

24

produto, amostras deformadas de sedimentos que são coletadas a cada

0,3m. Nos furos foi indicada a profundidade do nível freático.

C) SONDAGEM A VIBRACORE

Em ambientes saturados em água, como acontece em alguns

pontos da planície do bananal, a qual é parcialmente inundada

sazonalmente, é possível obter-se testemunhos indeformados de sedimentos

sub-superficiais utilizando uma sonda vibracore. A sonda consta de um

motor com um mangote que liga o motor a tubos de alumínio de 50 mm de

diâmetro e 06m de comprimento. O mangote transmite vibração ao tubo que

liquifica os sedimentos penetrando neles.

D) AMOSTRAGEM DE SEDIMENTOS

Foram coletadas em campo sessenta amostras de sedimentos

obtidas em perfis e perfurações por trado mecânico.

E) O MULTIANALISADOR HORIBA US – 21

Parâmetros físico-químicos de águas freáticas e superficiais

foram obtidos com a utilização de um multianalisador Horiba U-S 21 do

Laboratório de Limnologia do ICB. O multianalisador Horiba U-S 21 é um

equipamento de simples operacionalidade, com leituras imediatas de pH,

TSD – Total de Sólidos Dissolvidos, OXD – Oxigênio Dissolvido,

Temperatura em ºC, CDT – Condutividade.

No total, foram controlados sete poços e seis pontos em sistemas

fluviais da região, alguns deles durante diversas campanhas.

F) POSICIONAMENTO DE PERFIS E POÇOS POR G P S.

Dados de posicionamento em coordenadas geográficas de perfis,

poços de água, perfurações e pontos de controle de campo para o

mapeamento foram obtidos utilizando o Sistema de Posicionamento por

GPS – System Position Global - por satélite. Foram utilizados os GPS

Garmin 12 e Trimble.

Page 25: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

25

G) LEVANTAMENTO DE VERTENTES, GEOFORMAS E DE DADOS

ESTRUTURAIS

Perfis morfométricos foram levantados em vertentes, lagos e

canais fluviais com os seguintes equipamentos: bússola Brunton, teodolito

e trena. No total, foram levantados três perfis morfométricos em distintas

geoformas. Dados de fraturas e outras estruturas geológicas foram

levantadas utilizando a bússola Brunton. (Figura 1).

5ª ETAPA: TRATAMENTO DOS DADOS ADQUIRIDOS EM CAMPO

Nesta etapa, foram processadas no laboratório de sedimentologia

- LABOGEF – Laboratório de Geologia e Geografia Física - as análises

físicas (textura, grau de arredondamento e esfericidade) e mineralógicas

(composição mineral) das amostras de sedimentos coletadas em campo, bem

como, dados de fratura, geologia, e comportamento da superfície

piezométrica.

Para os testemunhos obtidos por sonda vibracore, geraram

“fotologs” descrevendo-se as fácies dos sedimentos.

Para os dados de profundidade do freático foi gerado um perfil

que traduzisse o comportamento da superfície piezométrica para a área de

estudo

Para caracterização de vertentes e geologia foram realizadas

transectos e outras representações cartográficas.

Desde o ponto de vista cartográfico, com as informações obtidas

no campo e nas cartografias existentes, elaborou-se perfil geológico

(transecto) de todas as unidades geológica/geomorflógica da região.

Page 26: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

26

Page 27: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

27

Com esses dados tabulados, pôde-se determinar os tipos de fácies

para a Planície do Bananal e compartimentar as unidades geomorfológicas e

subunidades geoambientais.

Foram executados em campo:

− Um perfil morfométrico com uso de teodolito;

− Três perfis morfométricos com o uso de trena e bússola;

− Controle dos poços para obter as medidas do nível do freático e

de parâmetros físico-químicos;

− Construção de um perfil geológico/geomorfológico transversal

à planície do Bananal de direção E-W, ao longo da rodovia

MT-326, um total de 110 Km;

− Um perfil geológico na região de Itacaiú com a extensão de

800m.

Do cruzamento das curvas granulométricas com dados físico-

químicos da hidrologia, medidas de atitude de planos tectônicos, perfis

morfométricos, azimutes, mergulho e o mapa de unidades geomorfológicas

e subunidade geoambiental, foi possível perceber a redefinição do contorno

das unidades e subunidades.

6ª ETAPA: MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DEFINITIVO

O mapeamento baseou-se substancialmente no sistema de

classificação geomorfológica de Latrubesse et al (1998).

O mapeamento teve várias etapas:

1ª etapa – foi feita a interpretação da imagem e de um mosaico

de fotografias aéreas, com objetivo de obter uma visão geral da

geomorfologia da área de estudo, incluindo suas relações com áreas

adjacentes. Subseqüentemente, as unidades geomorfológicas e outros dados

de variáveis de estado visíveis, na imagem, são mapeados provisoriamente.

Também se utilizou uma legenda provisória.

Page 28: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

28

2ª etapa - consultou-se todas fontes de informações disponíveis,

tais como a literatura existente, mapas temáticos, dentre outros. O

mapeamento provisório, os tipos de informação requerida e sua visibilidade

na imagem constituíram a base para a definição da escala do trabalho.

Para caracterizar as unidades geomorfológicas e subunidades

geoambientais da planície do Bananal foram realizadas, em junho de 2000,

uma campanha com Bayer pesquisador das unidades morfológicas do rio

Araguaia, em junho de 2001, com pesquisadores das Universidades

Estaduais de Maringá, Federal de Goiás, Federal do Rio de Janeiro e

Nacional Del Litoral, Santa-Fé-Argentina. Este trabalho foi realizado nas

localidades de Aruanã e Cocalinho, sendo realizada sondagem e furos em

áreas chaves ao longo de uma secção transversal à planície do Bananal

(sentido leste-oeste) a partir da cidade Cocalinho-MT, bem como o

levantamento da dinâmica hidrológica e dos parâmetros físico-químicos da

água através de medidas feitas em poços.

3ª etapa - o mapeamento e o levantamento do terreno passou por

duas etapas. A primeira para o reconhecimento de uma área maior da

planície, região que compreende de Registro do Araguaia –MT a Luiz

Alves-GO (primeira campanha). A segunda campanha, para coleta de dados

em escala de mais detalhe em áreas chaves de cada unidade

geomorfológica, isto é a cada associação de geoforma, na região de

Cocalinho-MT. O mapa foi todo verificado em campo.

4ª etapa - uma carta topográfica foi preparada de tal forma a

incluir informação topográfica que facilitasse a localização dos fenômenos

observados em imagem no terreno, uma vez transferidos os principais

pontos da imagem de satélite para o mapa nos permitiu uma verificação da

interpretação e validação no campo. A interpretação de detalhe das imagens

(1:100.000) resultou, fundamentalmente, na delineação das unidades

geomorfológicas e de sua subdivisão em subunidades geoambientais, no

traçado das formas do relevo individual e processos usando símbolos

lineares.

Page 29: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

29

5ª etapa - o sistema de drenagem foi mapeado com suficiência de

detalhe. O desnível vertical do terreno foi estabelecido mediante curvas de

níveis e cotas. Nesta fase do trabalho, foi indicado dado litológico

provisório mediante interpretação da imagem e dos mapas temáticos

(geológico, geomorfológico, pedológico, uso e ocupação, dentre outros).

Tão importante quanto a interpretação de imagens, e tal qual, o

levantamento de campo procedeu-se do geral para o particular.

Nesta pesquisa foram analisados dados sedimentológicos e

hidrológicos da planície do Bananal, onde foram identificada as diferentes

fácies texturais dos sedimentos e respectivamente assembléia mineral, bem

como os parâmetros físico-químicos da água e a dinâmica do freático. Isso

a partir de uma série de variáveis de sedimentologia e hidrologia.

Neste estudo, foram utilizados dados hidrológicos de sete poços;

duas lagoas - lagoa do Brejo e da Bahia -; quatro rios - o Araguaia, do

Peixe, Corixinho, Corixão e Cristalino -. Para análise morfosedimentar

util izou-se variáveis fornecidas por três furos a trado, duas sondagens e

perfis de barranco.

Em outubro de 2001 e abril de 2002, em outras campanhas, foi

redefinido o contorno das unidades geomorfológicas, foram feitas novas

medidas do freático e da hidrologia como um todo. Um perfil geológico

numa secção transversal à planície foi levantado e os contornos das

subunidades geoambiental foram redefinidos. Também foram

georeferenciados pontos de encharcamento dentre outros.

Os dados já existentes da planície do Bananal e os coletados em

campo foram processados em laboratório de sedimentologia e laboratório

de geoprocessamento. Do cruzamento dos dados, foi possível o

agrupamento de distintas variáveis para composição de unidades

geomorfológicas / subunidades geoambientais, gerando como produto final

o mapa de unidades geomorfológicas / subunidades geoambientais.

6ª etapa - a digitalização em programa SPRING do mapa de

informe final na escala 1: 100.000 foi a última fase de nosso trabalho. A

Page 30: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

30

análise final das imagens foi uma parte essencial, assim como análises em

laboratório de sedimentologia das amostras geradas por furos e coletas nos

barrancos. Por fim, definiu-se a estrutura e hierarquia da legenda as cores e

os símbolos lineares.

7ª ETAPA: REDAÇÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO

De posse de todos os dados coletados, passamos a estruturar a

redação final da pesquisa realizada.

Page 31: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

31

Capítulo 2 – Pressupostos Teóricos e Metodológicos

Page 32: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

32

2.1 - SISTEMA GEOMORFOLÓGICO

Segundo Iriondo (1986), um sistema geomorfológico tem uma

estrutura interna definida, caracterizada pelas suas variáveis de estado, tais

como: litologia, pendente regional, estruturas, e outras. Estas variáveis de

estado inter-relacionam-se e modificam-se por processos climáticos,

morfológicos, geológicos, tectono-estruturais, ou seja, variáveis de

transformação. São numerosas as variáveis como a erosão, transporte,

sedimentação, intemperismo, oscilação da superfície piezométrica,

contração/expansão das águas de superfície, etc. Tais variáveis são agentes

de transformação que se interagem por aportes externos de energia e

matéria: variação térmica solar, ventos, precipitação de chuva, e outros.

A estrutura de um sistema e seus processos determinam o comportamento típico para cada tipo de sistema. A mudança de uma variável externa produz reajuste em todos os parâmetros do sistema. Em geral, os sistemas podem ser caracterizados pelo seu grau de estabilidade, o qual varia entre limites amplos... (Iriondo, 1986).

A metodologia de Iriondo (1986), baseia-se no enfoque sistêmico,

resultando na integração dos componentes geomorfológicos /

geoambientais, que envolvem o sistema natural.

Segundo o “ITC System of Geomorphologic Survey” (1991), o

propósito de um levantamento geomorfológico é proporcionar informações

concisas e sistemáticas sobre as formas do terreno, os processos

geomorfológicos e os fenômenos naturais conexos. Os mapas elaborados

não são somente documentos científicos em si mesmos, mas também

valiosas ferramentas em estudos de recursos naturais e, particularmente,

para a avaliação de riscos naturais, devido à relação entre as características

geomorfológicas do terreno e outros fatores ambientais.

Assim, é necessária uma síntese para relacionar a “expressão”

geomorfológica do terreno com as condições ambientais predominantes.

Page 33: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

33

Isto é, a informação morfológica e morfográfica devem ser complementadas

com dados ambientais (solos, hidrologia, vegetação, etc).

A fácie litológica e os materiais superficiais são de especial

importância por sua relevância geomorfológica e sua potencial importância

econômica.

Neste trabalho, as variáveis de estado estão representadas pela

hidrologia, tectônica e a geologia. Já as variáveis de transformação estão

representadas pelos processos hidrogeomorfológicos, tais como: erosão,

sedimentação, inundação, oscilação do freático, bem como pelos processos

físico-químicos da água.

Seguindo a mesma linha de classificação de Iriondo (1986), a

metodologia aplicada no Zoneamento Ecológico e Sócio Econômico do

Estado de Rondônia e Mato Grosso (Latrubesse et al. , 1999) representa um

estágio mais avançado na tentativa de ajustar os estudos às particularidades

do meio físico regional, tais como unidades denudacionais.

Novas contribuições para aprimorar o mapeamento de unidades

deposicionais inundáveis foram dadas no Projeto Zoneamento de fronteiras

Brasil-Bolívia (Latrubesse et al. , 1999), onde, com o fim de mapear as

regiões alagadiças do vale do Guaporé e as complexas faixas fluviais dos

principais rios da região, foram criadas novas categorias de classificação.

Segundo Iriondo (1986) áreas alagáveis com sedimentação e

inundações ativas possuem, em geral, uma baixa estabilidade, já que não

absorvem com facilidade as perturbações (regulação), reagindo rapidamente

e modificando-se em função da nova situação (adaptação).

Já no trabalho do Zoneamento Ecológico e Sócio Econômico do

Estado de Rondônia, Latrubesse (1999) comenta que estes tipos de sistemas

são muito frágeis. Variando os valores de estabilidade dentro de limites

pequenos, um input abrupto, por ação de uma variável externa, produz

mudanças drásticas no sistema em tempos extremamente curtos, do ponto

de vista geológico.

Page 34: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

34

O tempo de resposta encurta-se incrivelmente se o gerador deste

input externo, da mesma forma que os processos aceleram-se pelas

modificações produzidas nas variáveis dos sistemas. Que podem ser

afetados profundamente até por fenômenos naturais, considerados

instantâneos do ponto de vista geológico, como por exemplo, a presença de

uma temporada de seca extrema. A atividade humana pode produzir, por

sua vez, situações irreversíveis que afetam enormes porções destes sistemas

em períodos mínimos de tempo.

Com o fim de elaborar um mapa geomorfológico da área de

estudo, aplicou-se basicamente a metodologia de mapeamento

Geomorfológico de Latrubesse et al (1998) e Latrubesse (1999), as quais

surgem de adaptações ao sistema de classificação e mapeamento

geomorfológico proposto para planícies deposicionais por Iriondo (1986).

Os atributos relacionados como variáveis de estado (por exemplo, áreas

sujeitas a inundações) e controle sobre as relações das unidades

geomorfológicas com as unidades vegetacionais da região, adaptou-se um

sistema de unidades de terreno ao estilo dos Land System do ITC (1991) os

quais, nesta dissertação, foram chamados de Unidades Geoambientais. As

Unidades Geoambientais definidas desta forma estão organizadas num

sistema de classificação hierárquico dependente da unidade geomorfológica

identificada. Vejamos esta classificação: feições geomorfológicas que se

destacam (independentemente de serem ativas ou inativas), processos

morfogenéticos dominante (inundável ou não inundável, por exemplo),

assim como tipo de vegetação ou ambiente biótico dominante (murundus,

vegetação em galeria e outros).

2.2 – UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS E SUBUNIDADES

GEOAMBIENTAIS

No estudo da área da planície do Bananal, os canais fluviais, a

geometria e o tamanho dos sistemas lacustres, os condicionamentos

tectônicos das geoformas, a dinâmica piezométrica e de inundação, os

Page 35: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

35

parâmetros físico-químicos da hidrologia foram reunidos à medida que

apresentam, entre eles, um conjunto que reflete homogeneidade de formas e

processos, para se chegar a um primeiro nível de compartimentação das

unidades.

Considerar as unidades geomorfólogicas da planície como um

sistema com fisiologia própria embora interdependentes implicaria em dar

relevância às relações existentes entre os componentes da paisagem além da

extensão e da cronologia da modelagem desses compartimentos.

As unidades geomorfológicas seriam:

− Unidade geomorfológica de aplanamento regional;

− Unidade geomorfológica Planície agradacional l igeiramente

dissecada;

− Unidade geomorfológica Planície Aluvial do Rio Araguaia e do

Peixe.

Da inter-relação da “expressão’’ geomorfológica do terreno com

variáveis ambientais (solo, vegetação, hidrologia, dentre outros), foram

determinadas também as subunidades geoambientais”.

Esses sistemas geomorfológicos e suas subunidades

geoambientais podem ser considerados sistemas físicos abertos, nos quais

acontece contínua troca de matéria e energia.

Page 36: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

36

Capítulo 3 - Bases Físicas Regionais

Page 37: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

37

3.1 - LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA AREA

DE ESTUDO

Localizado no Centro Oeste brasileiro, interior do País, a área de

estudo compreende a Planície do Bananal e parte das unidades de relevos

dissecados do embasamento cristalino aflorantes no oeste do Estado de

Goiás.

A planície do Bananal, que é uma unidade geológica /

geomorfológica importante na região e que constitui foco desta dissertação,

encontra-se posicionada na depressão do Araguaia, precisamente no médio

Araguaia entre o rio das Mortes a Oeste e o braço menor do Araguaia, o

Javaés a Leste ao longo da direção norte-sul, entre os paralelos 8º e 16º de

latitude sul e 49º e 52º de longitude oeste, abrangendo parte dos estados de

Goiás Mato Grosso e Tocantins (Figura 2).

A planície é drenada pelo rio das Mortes e rio Araguaia. Esse

último nasce na serra do Caiapó, numa altitude acima de 850 m, na divisa

dos Estados de Goiás e Mato Grosso e corre no sentido norte-sul. Seus

principais afluentes são os rios Babilônia, Diamantino, do Peixe, Caiapó,

Claro, Vermelho, Crixás-Açu e Formoso pela margem direita e Cristalino e

o rio das Mortes, com aproximadamente 60.000Km² de área, que é o seu

mais importante tributário, pela margem esquerda.

A área está inserida na parte centro-sul da Folha SC-22-Tocantins

e central da folha SD-22-Goiás, de acordo com a carta Internacional do

mundo na escala 1:1.000.000. E na escala de 1: 250.000 folhas SC-22-X-A,

SC-22-X-C, SC-22-Z-A, SC-22-Z-C, SD-22-X-A, SD-22-X-C, SD-22-Y-B.

Page 38: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

38

Page 39: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

39

Essa unidade geomorfológica representa uma área de transição

climática entre as Regiões Amazônica e Centro – Oeste. Como faixa de

transição entre duas regiões morfoclimáticas distintas, os fatores

li tológicos, geomorfológicos e pedológicos desempenham um papel

importante que será refletido na biodiversidade e, conseqüentemente, na

evolução da paisagem.

Essa planície é pouco conhecida do ponto de vista de suas

potencialidades econômicas e de sua biodiversidade, embora esteja

conectada a rodovias goianas e mato-grossenses, GO - 164 e MT - 326 e,

apesar desse desconhecimento, os representantes governamentais discutem

a possibilidade de conexão dessa região a importantes portos do país por

sistemas de HIDROVIA (Araguaia-Tocantins), apesar de essa planície

apresentar um alto grau de fragilidade (áreas inundáveis com sedimentação

recente) para esse tipo de projeto.

Está distante 500 Km da capital do estado (Goiânia), 750 Km da

capital federal (Brasília), 1340 Km da cidade de São Paulo e 1750 da

cidade do Rio de Janeiro.

Inserida na bacia do rio Araguaia, a planície do Bananal possui

uma sedimentação fluvial e características de uma hidrodinâmica peculiar

de encharcamento sazonal que a qualifica como uma área úmida.

Segundo Latrubesse e Stevaux (2001), a planície do Bananal é

uma das maiores áreas de sedimentação aluvial quaternária da América do

Sul, que junto ao Pantanal de Mato Grosso do Sul, Pantanal de Guaporé, os

Lhanos do Orinoco e do Beni, assim como alguma parte do Chaco, também

apresenta uma das mais importantes áreas sujeitas a inundações sazonais, e

das mais desconhecidas do ponto de vista de sua dinâmica hídrica e

evolução geomorfológica sedimentar quaternária do continente.

Considerando a extensão da referida planície, ela representa

aproximadamente 12% do total da superfície da bacia hidrográfica do rio

Araguaia, ocupando uma superfície de mais de 90.000 Km² (Figura 3).

Page 40: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

40

Page 41: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

41

A área de estudo encontra-se sob o domínio climático tropical

semi-úmido, o qual é caracterizado por uma estação chuvosa (verão) e uma

estação seca (inverno), temperaturas médias anuais em torno de 25°C, com

a média do mês mais quente de 26ºC e a dos meses mais frios, junho-julho,

de 22ºC. As máximas térmicas aparecem no mês de setembro, apresentando

uma temperatura média de 38,5°C, e as mínimas em julho com uma

temperatura média de 15°C O clima é de natureza continental tropical,

devido à sua posição continental, não sofrendo o efeito direto da

confluência intertropical. Apresenta-se semi-úmido com tendência a úmido

e caracteriza-se, segundo Koppen, no tipo AW, de savanas tropicais, com

quatro a cinco meses secos.

As características climatológicas predominantes da região são:

− -Precipitação média anual: cerca de 1.600 mm;

− -Período chuvoso: de outubro a abril. Maio é o mês de

transição para o período seco, o qual vai de junho a agosto

(Gráfico 1).

Gráfico 01 - Distribuição anual da pluviosidade

Page 42: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

42

A região média do Araguaia encontra-se sob condições

meteorológicas influenciadas pelas frentes frias que bloqueiam a expansão

da massa continental equatorial, formada na própria região amazônica, em

expansão para o sul.

Essas frentes têm origem na transição da estabilidade de inverno

para a instabilidade de verão. Elas surgem entre outubro e novembro de

cada ano e persistem até março com ocorrência máxima entre dezembro e

janeiro. Quando essas frentes se sucedem a intervalos curtos, os efeitos de

todas elas se associam sem interrupção, acarretando precipitação

generalizada e prolongada.

Além dessas precipitações características, ocorrem também as

intensas localizadas, provenientes de instabilidades convictas que ocorrem

ao longo das ondulações equatoriais e das frentes frias.

A mEa origina-se na zona de altas pressões, do anticlone do

Atlântico Sul. É constituída pelos alísios de sudeste do Atlântico, compõe –

se de duas correntes: uma inferior fresca e carregada de umidade, gerada

pela intensa evaporação do oceano; outra superior, quente e seca, de

direção idêntica. Separadas por uma inversão de temperatura, que não

permite o fluxo vertical do vapor, a mEc possui caráter estável e seu

domínio assegura, em geral, bom tempo.

A mEc forma-se na zona aquecida do Continente Sul–americano,

caracterizada pela presença de florestas e savanas, onde dominam as chuvas

e ventos fracos do regime depressionário, sobretudo no verão.

Durante o inverno - maio a setembro - é praticamente constante o

domínio dos alísios de sudeste da massa Equatorial Atlântica (Ea) com

ventos de nordeste e leste, responsáveis pelo regime de seca e estabilidade

com céu claro e dias ensolarados.

As massas polares que conseguem alcançar a área provocam

chuvas frontais e são responsáveis pelo abaixamento das temperaturas,

podendo originar mínimas de até 0°C.

Page 43: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

43

Há domínio absoluto da Equatorial Continental (Ec) durante o

verão – novembro a março - que forma linhas de instabilidade. As chuvas

são constantes e só em ocasiões especiais é que há o retorno da alta

tropical, trazendo seca e instabilidade.

Durante cinco meses, maio a setembro, o tempo apresenta-se

seco, com totais mensais inferiores a 40mm, precipitando-se, neste período,

menos de 6% do total anual. A época chuvosa compreende os meses de

novembro a março, contribuindo, em média, com cerca de 80%, e sempre

mais que 60%, do total anual precipitado. Eventualmente, em janeiro e

fevereiro, ocorrem seqüências de vários dias sem chuva, denominados de

“veranico’’.

De forma absoluta, janeiro é o mês mais chuvoso, seguido de

novembro e dezembro. O mês de menor índice pluviométrico é julho,

seguido de agosto em condições semelhantes.

Na região em estudo, a variação de latitude não é fator de

influência sobre a configuração térmica. Somente a época do ano e a

conformação do relevo e altitude é que aparecem como fatores de

influência.

A escassez de estações climatológicas na região impede a

constituição de um referencial adequado à distribuição geográfica das

temperaturas médias. Os pontos referenciais são representados pelas

estações de Aruanã, ao sul, e projeto Rio Formoso, ao norte. A distância

entre elas é de aproximadamente 370 Km, estando Luiz Alves praticamente

eqüidistante.

A variação da temperatura média anual do ar e da água é pequena,

seja em termos espaciais ou temporais. Predominam temperaturas médias

anuais do ar ao redor dos 25°C, se verificarmos as partes mais baixas;

valores de até 26°C, podendo atingir, 22º C nas partes elevadas. De modo

geral, percebe–se uma evolução térmica, com valores crescentes no sentido

noroeste.

Page 44: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

44

Assim, a temperatura média anual do ar varia entre 24ºC e 27°C,

enquanto da água fica em torno de 28º C, verificando pouca alteração no

decorrer do ano.

Na região em estudo, a distribuição anual da umidade relativa

apresenta valores elevados no período chuvoso, novembro a abril , com

índices médio superiores a 80%, enquanto que, no período seco, julho a

setembro, atinge seus mínimos, com valores entre 50% e 60%.

Os registros disponíveis indicam uma média de 2500 horas anuais

de insolação em Porto Nacional e Aragarças, e de 2300 em Goiás.

Estimamos uma quantidade média de 2300 horas em Luiz Alves.

O mapa de pressão, contendo as linhas isóbaras, elaboradas pela

ENGEVIX, considerando o período de 1949 a 1973, evidencia uma

regularidade da pressão: média de 1.008 m. b.

Observa–se a maior incidência dos ventos nas direções leste e

nordeste. A velocidade predominante não excede a 2 m/s e a probabilidade

de ocorrerem velocidades extremas de mais de 7 m/s é muito baixa.

Com base nos valores medidos em Aragarças, Aruanã e Projeto

Rio Formoso, têm-se totais anuais de precipitação entre 1.600 e 2000 mm.

Configura na região um balanço hidrológico com evaporação x

precipitação apresentando:

− Superávit de quatro meses do ano (novembro / dezembro /

janeiro / fevereiro.) com excesso de 162.67 mm de água ou

1626.76 m3/há e;

− Déficit de oito meses consecutivos (março / abril / maio /

junho / julho / agosto / setembro. / outubro), com um total de

862.09 mm de água ou 8620.87 m3/há (Gráfico 02).

Page 45: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

45

Gráfico 02 - Balanço Hídrico da Região de Luís Alves – GO.

3.2 - SOLOS

Os solos existentes na área de estudo são:

• SOLOS HIDROMÓRFICOS

Compreende solos que sofrem grande influência do lençol

freático, permanente ou temporariamente, tais como:

• LATERITAS HIDROMÓRFICA

São solos hidromórficos, pouco profundos a profundos,

imperfeitamente a mal drenados, de baixa permeabilidade. O horizonte A é

do tipo fraco a moderado. O horizonte plíntico e o concrecionário são

constantes nestes solos e encontra-se numa profundidade variável de 60 a

120 cm. O relatório do projeto RADAMBRASIL (1983), descreve solos do

tipo Lateritas Hidromórfica como sustentados geologicamente pela

Cobertura Sedimentar do Bananal.

Page 46: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

46

Tais solos estão situados numa altitude de 216 metros, relevo

plano em declividade, inferior a 1%, sujeitos à inundação, cobertos de

cerrado, cerrado parque e varjões.

Fisicamente possuem textura variável desde média (15-35% de

argila) até argilosa (35 a 60 % de argila) podendo apresentar textura

arenosa (0-15% de argila na superfície). A relação silte / argila é variável,

com predominância de números maiores do que a unidade, indicando

predominância das partículas tamanho silte (0,05-0,002 mm).

O cortéx de alteração é predominante nesses solos no matiz

10YR , com valores e cromas variados de preto, na superfície, a cinzento

claro nos sub-horizontes . Sempre ocorrem mosqueadas nos sub-horizontes

B, comuns a abundantes, pequenas médias e grandes, distintas e

proeminentes nos matizes 10YR com valores e cromas elevados, nos

matizes 7,5 YR e 2,5 YR com valores altos e cromas baixos.

• SOLOS GLEIZADOS

São solos classificados na ordem dos hidromórficos, fortemente

gleizados, pouco desenvolvidos, com grande influência do lençol freático

durante todo ano. São encontrados nas partes côncavas do relevo plano.

• LATOSSOLO AMARELO PLÍNTICO-PLINTOSSOLO

Compreende solos com horizonte B latossolico , moderadamente

drenados, desenvolvidos a partir de materiais pleistocênicos de natureza

argilo-arenosa. A seqüência de horizontes é A, B, C com espessura em

torno de 300 cm. A presença de plintita até a profundidade de 150 cm

evidencia a saturação com água de alguns sub-horizontes durante alguns

meses do ano. O relevo é plano e a vegetação dominante é o cerrado com

variação para campos de várzea.

Page 47: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

47

3.3 - VEGETAÇÃO

A vegetação da planície do Bananal constitui-se basicamente de

formações vegetais do tipo savana, comumente denominada de cerrado.

As diferentes fisionomias vegetais da planície do Bananal serão

caracterizadas segundo as denominações adotadas pelo projeto

RADAM/IBGE (1982), os quais apresentam as seguintes formações

fitoecológicas para a planície:

− Floresta Estacional Semidecídua Aluvial com dossel

emergente-Vazantes – código – Fae;

− Savana Parque ou Campo Sujo com floresta de galeria –

Varjões com murunduns – código – Spf;

− Savana Arbórea Aberta com floresta de galeria – código – Saf;

− Savana Arbórea Densa ou Cerradão –código – Sd;

− Vegetação gramímeo-lenhosa de lagos com floresta de galeria –

código – Sgf;

− Área de atividade antrópica de pecuária – código – Ap.

3.4 - USO / OCUPAÇÃO

A região da planície do Bananal, situada entre os rios das Mortes

e o Araguaia, embora com excesso de água no período de maior

precipitação pluviométrica (outubro / março), apresenta um potencial de

exploração muito grande. No entanto, atualmente, esta planície só vem

sendo utilizada em pecuária de manejo extensivo com o aproveitamento das

espécies de capim nativo.

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48

Capítulo 4- Geologia Regional

Page 49: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

49

As unidades geológicas da planície do Bananal são constituídas

por rochas do pré-cambriano Indiferenciado, as quais constituem o

Complexo Goiano (granitos e gnaisses) aflorando a leste de Cocalinho no

estado de Goiás. As rochas do Complexo Goiano afloram também na

margem esquerda do rio Araguaia a oeste, no estado de Mato Grosso, entre

Cocalinho e Itacaíu. Rochas pré-cambrianas do Grupo Estrondo (quartzitos)

afloram em uma pequena área a oeste, posição central da área mapeada em

nosso trabalho e, ao norte. No extremo oeste, há presença de rochas

cabonaticas de idade cambriana da Formação Araras. A região conta, ainda,

com uma extensa cobertura detrítico-laterítico e depósitos aluvionares e

coluvionares pleistocênicos.

Este embasamento rochoso que aflora no setor norte da área é

considerado, como sendo do Grupo Estrondo, que teve datações

radiométricas diversas, exigindo-se revisão de considerações que, no

princípio, o colocou no Proterozóico Superior com metamorfismo ocorrido

ao final do Ciclo Brasiliano na Evolução sofrida pela Plataforma Sul

Americana no Brasil . Esta nova postura se deve em face das primeiras

datações (426 a 581 Ma) obtidas por Hassui et al, 1975.

Atualmente, conforme se verifica no Mapa Geológico do Brasil

ao milionésimo, DNPM (1987), e levando-se em conta datações

radiométricas mais recentes, o Grupo Estrondo, situado na faixa Paraguaia-

Araguaia de dobramento, é posicionado cronologicamente junto ao Grupo

Tocantins.

O relatório do projeto RADAMBRASIL descreve a unidade

geomorfológica da depressão do Araguaia, como desenvolvida sobre uma

grande variedade de rochas do Pré-Cambriano Indiferenciado.

Estas rochas constituem o Complexo Goiano (gnaisse e granitos

predominantes), rochas pré-cambrianas do Grupo Araxá (micaxistos e

quartzitos) e rochas do Grupo Tocantins (filitos com intercalações de

quartzitos sericíticos e calcários).

Page 50: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

50

A região conta, ainda, com uma grande extensão de cobertura

detrítico-laterítico e depósitos aluvionares e coluvionares pleistocênicos.

Barbosa et al (1966), denominaram Formação Araguaia a

sedimentação terciária pliocênica observada em muitos lugares ao longo do

Tocantins e do Araguaia e na faixa intermediária entre esses dois rios.

Para Barbosa et al (1966) essa formação assemelha-se à Formação

Barreiras do nordeste brasileiro. Descreve o autor pra esses sedimentos

espessura máxima de 80 metros.

Barbosa et al (1966) descrevem essa formação como constituída

inicialmente por um conglomerado basal petromítico com seixos mal

rolados, seguidos por uma sucessão de siltes e areias siltosas mal-

estratificadas de cores variadas, expostas em forma de altos paredões

avermelhados, principalmente, ao longo do rio Araguaia. Esses sedimentos

silticos e arenosos são constituídos de sedimentos tipicamente fluviais,

apresentando até cinco níveis de seixos sub-rolados e subangulares.

Quanto à cobertura sedimentar do Bananal, Barbosa (1966)

refere-se a estes depósitos pleistocênicos como pertencentes aos rios

Tocantins e Araguaia.

São constituídos por sedimentos areno-argilosos consolidados e

inconsolidados, com colorações variadas, muitas vezes, em estágio

avançado de laterização.

As faixas de ocorrências desses sedimentos, de uma maneira

geral, recobrem em parte as rochas das unidades litoestratigráficas mais

antigas.

Estudos sísmicos feitos por Araújo & Carneiro (1977), na ilha do

Bananal, concluem que espessos sedimentos pleistocênicos desta ilha

assentam-se a uma grande profundidade sobre um substrato que estaria a

170 m a 320 m.

Julgamos importante apresentar uma síntese da geologia da região

em forma de um quadro para que se possa visualizar o conjunto da relação

entre as unidades geológicas, l i tologias e idades geológicas (Figura 4 e 5).

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4.1 - RESULTADOS GEOLÓGICOS DA ÁREA DE ESTUDO

Como fora mencionado, no inicio desse capítulo, na área de

estudo são registradas cinco unidades litoestratigráficas: gnaisse do

Complexo Goiano, quartzitos do Grupo Estrondo, sedimentos fluviais

conglomeráticos e coluvios laterizados, sedimentos da Formação Araguaia

e sedimentos holocênicos de calha fluvial (Figura 6).

4.1.1 - GNAISSE COM ESPESSO SAPRÓLITO

Rochas do embasamento cristalino, aflorando próximo à lagoa da

Baía, sustentam, na área, altos estruturais que configuram uma geoforma

com vertente côncava/convexa. Rochas do pré-cambriano Indiferenciado do

Complexo Goiano, localmente, apresentam-se sob nítido bandeamento de

direção NE/SW. Desenvolve-se, também, na região, um sistema de

falha/fratura de direção NE/SW e uma espessa camada de saprólito

laterizados (Figura 6).

4.1.2 - QUARTZITOS

Litológias de idade Pré-cambriana, representantes do Grupo

Estrondo (Hassui et al, 1975), afloram na área de pesquisa, em sua parte

central. Essas rochas sustentam uma morfologia alongada de direção

NE/SW, que em imagem de satélite foi delimitado afloramento de 20 km de

extensão, 05 de largura e, em cartas topográficas, altitudes que alcançam

até 293 m.

Essas rochas pré-cambrianas afloram às margens da rodovia MT-

326, a 10 km de Cocalinho, local que apresenta um sistema de fraturamento

proeminente preenchido por veios de quartzo de direção NW/SE. (Figura

7).

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4.1.3 - CONGLOMERADO E COLUVIOS LATERIZADOS

A unidade litológica dominante na parte oriental da área mapeada

apresenta direções de paleocanais leste–oeste.Esses sedimentos fluviais

afloram nas margens do rio Araguaia: entre a margem esquerda do Araguaia

e o rio Corixinho, próximo a afloramentos de rochas do cristalino e entre a

margem direita e o rio do Peixe na Faz. Planície Verde. Nesse local, o

afloramento de laterita estrutura-se em forma de uma faixa estreita com

direção leste-oeste, embutida nos sedimentos quartzozos lixiviado da

Formação Araguaia.

No fundo de lagoa, foi registrada estrutura de resquício de

dissolução de laterita (esqueleto laterítico) a exemplo dos depósitos de

fundo da lagoa da Baía. Já no sopé da “Serra” de quartzitos, ocorre um

coluvio laterizado, o qual sustenta o relevo mais elevado na área.

É o caso do afloramento às margens da rodovia MT-326 a 10 e 20

km respectivamente da cidade de Cocalinho-MT. Já na Faz. Planície Verde,

margem direita do rio Araguaia, ocorre a interface Laterita / Terraço

Fluvial.

Os afloramentos de laterita na área de pesquisa revelam um

conglomerado oligomíctico que apresentam seixos angulosos de quartzo e

quartzito, diâmetro médio de 4,0 cm e diâmetro comum de 11,0 cm. Esses

seixos podem alcançar até 30 cm. Essas lateritas apresentam-se com cortéx

de alteração vermelho escuro.

As variáveis: mineralogia, diâmetro dos seixos e direção de

paleocorrentes, fornece a possibilidade de correlação entre os vários

afloramentos de laterita e coluvios laterizados da área pesquisada. Ambos

os afloramentos indicam mineralogia semelhante (quartzo e quartzito) e

mesma direção de paleocorrentes (leste-oeste) (Figura 8).

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4.1.4 - FORMAÇÃO ARAGUAIA

Os sedimentos da Formação Araguaia, na área de pesquisa, são

constituído de sedimentos arenosos fracamente consolidados a

inconsolidados de provável idade pliocênica/pleistocênica, ocupa toda parte

ocidental da área mapeada a partir do rio Corixinho da Saudade e a margem

direita do rio Araguaia a leste de Cocalinho.

O produto de campanha realizada na área de estudo, onde

executamos um furo a trado mecânico e complementamos com sondagem a

Vibracore no interior dessa unidade (setor ocidental da área de estudo),

apesar da pouca profundidade atingida, permite ter um maior detalhamento

do comportamento textural desses sedimentos e determinar a posição do

freático. (vide Apêndice 3). Atingimos a profundidade de 5,90 m; sendo:

2,70 m de espessura com o trado e 3,20 m com a sondagem a Vibracore. Já

uma nova tradagem atingiu, nos primeiros 06 m da unidade, na margem

direita do Araguaia, setor oriental, sedimentos quartzosos “lavados” o que

demonstra intenso processo de lixiviação dos sedimentos de provável idade

terciária. Os sedimentos maciços desse depósito foram descritos em

afloramentos de barranco na margem do rio Araguaia na Barreira de São

Domingos, do rio Vermelho próximo a Aruanã e na margem do lago

Dumbazinho (Figura 9 e 10).

O produto dessa tradagem, somado à sondagem, como já foi

mencionado, permite a composição de um perfil com uma descrição de

detalhe do conjunto de fácies texturais. Esta descrição será apresentada na

unidade ambiental.

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4.1.5 - FORMAÇÃO ARAGUAIA/ TERRAÇO FLUVIAL

Depósitos fluviais afloram no setor extremo oriental da área de

pesquisa, margem direita do rio Araguaia, mapeado também por Bayer

(2002) na margem esquerda como Terraço fluvial. Essa unidade litológica

configura uma topografia altamente plana, lagos pequenos e arredondados,

campos de murundus e a uma fisionomia vegetal do tipo Savânica densa/

Savana parque.

A tradagem, no interior desses sedimentos, alcançou 06 metros de

areia altamente lixiviada, o que permitiu a descrição da textura e

mineralogia. Constitui-se de sedimentos quartzosos, homogêneos, que

apresentam alto grau de arredondamento e esfericidade, predominantemente

de fácie areia média/fina S(m, F) e córtex de alteração esbranquiçada na

composição de todo o perfil .

Esses sedimentos também foram identificados, aflorando na

margem do rio Araguaia-Barreira de São Domingo -, do rio Vermelho

próximo à cidade de Aruanã e em barranco do lago Dumbasinho. Nesses

afloramentos, identifica-se um conglomerado polimitico com os seixos

indicando a direção de paleocanal. Imbricamentos segundo direção Sul -

Norte.

Na composição do perfil , esse afloramento apresenta-se, da base

para o topo, a seguinte composição textural: um metro de areia-seixosa -

Sc , parcial a totalmente laterizada, com seixos de quartzo sub-arredondado

e diâmetro máximo de 3 cm. 0,5 metro de areia média a fina, siltosa – Sf

(m,F), homogênea, estrutura maciça com núcleos de oxidação. 0,7 metros

de uma lente conglomerática – G, quartzosa, base erosiva, contactos retos

com seqüência deposicional interna granodecrescente, depósito provável de

paleocanal. 0,5 metros de areia fina a muito fina – Sm (F, f) , com

importante quantidade de silte, seqüência interna deposicional

granodecrescente, parcialmente alterada. Termina a seqüência deposicional

com uma areia fina siltosa, com abundante participação de argila e matéria

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orgânica, estrutura maciça, alterada pelos processos pós-deposicionais

como a bioturbação e oxidação dos materiais (Vide Figura 9 e 10).

Também, para melhor caracterização desta unidade, foi executado

um perfil geológico, resultado de uma seqüência de 20 furos com

profundidades de 30 metros cada na região de Itacaiú.

4.1.6 - HOLOCENO ALUVIONAR

Na área de estudo, os depósitos cenozóico-holocênicos são

sedimentos compostos essencialmente de fácie areia seixosa Sc (F,m, G).

Esses sedimentos estão restritos às calhas dos principais cursos de água e

do sistema hidrológico incipiente que drenam a área. Além disso, eles

correspondem aos depósitos de ambiente de canal ativo de Bayer (2002).

O Rio Araguaia é um exemplo, pois transporta a maior parte do material

como carga de fundo. Esta carga de fundo está composta principalmente de

areias e seixos de até alguns centímetros de comprimento. Esses depósitos

apresentam-se mal-selecionados, com grãos angulosos a bem arredondados.

Nos leitos dos sistemas fluviais do Corixinho da Saudade, Corixão,

Cristalino e dos paleocanais, constata-se sedimentos na fácie areia

média/fina S (m, F), com matriz siltosa (Figura 11).

4.1.7 - TECTÔNICA

Nos estudos de Mamede (2000), no trabalho em que faz uma

reavaliação dos fatos geomorfológicos apresentados nos volumes 22 e 25 da

série de Levantamentos de Recursos Naturais do Projeto RADAMBRASIL,

tece várias considerações sobre a tectônica da região. Para o rio Araguaia,

no trecho em que corta a planície do Bananal, a autora apresenta o seguinte

comportamento:

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O rio Araguaia está direcionado no sentido S-N, desde a bifurcação do rio Javaés ou braço menor do Araguaia até a confluência com rio Tapirapé. A partir daí, toma direção SSO-NNE até o Travessão Três Pontas a montante da cidade de Conceição do Araguaia, retomando, então, a direção S-N. Segundo a autora, essa inflexão na planície do Bananal está relacionada a um certo controle estrutural.

Na carta tectônica do Brasil, Ferreira (1971) registra evidências

tectônicas representadas por falhas cobertas e paralelas entre si, com

direcionamento norte-sul, que condicionaram as trajetórias do rio Araguaia

e Braço Menor do Araguaia ou rio Javaés.

Outros autores também explicaram, por meio da magnetometria, o

padrão estrutural dessa unidade morfotectônica. Eulálio (1980) fez uma

análise interpretativa de perfis aeromagnetométrico entre as localidades de

Bandeirantes e a serra do Roncador. Nessa análise, ele constatou uma

espessura de sedimentos em torno de 4500 m.

Posteriormente, Hales (1981) inferiu uma espessura de 5.000 m,

contudo, não fez referências ao comportamento da sedimentação durante os

ciclos. Referiu-se, apenas, a refratores rasos de 200 a 300 m que,

possivelmente, representam a espessura dos sedimentos terciário-

quaternário.

Os dados de fratura e planos de falha coletados na área de estudos

em afloramentos de cristalino ao longo do rio Araguaia, em afloramentos

na Serra de quartzitos e em gnaisses próximo a lagoa da Bahia, porção

central da área fazendo um total de total de cinqüenta medidas permitiu

estabelecer os sistemas de fraturamento para a região. Os dados indicam a

presença de dois sistemas com direcionamentos, NE/SW, e NW/SE. (Figura

12).

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65

Para esses dois sistemas de fraturas, adotamos como sistema

principal o de direção NE/SW, por estar em concordância com o sistema

regional.

Esta tectônica é responsável pelo padrão do sistema hidrológico

instalado na porção oriental da área pesquisada. Esse sistema é

representado pelo sistema fluvial do rio Araguaia, que corta nossa área de

trabalho com direção NE/SW, e os sistemas lacustres de geometria

alongada a exemplo da lagoa da Baía, que apresenta seu eixo maior

concordante com o sistema tectônico secundário NW/SE e eixo menor com

o sistema principal, ou seja, sistema tectônico regional de direção NE/SW

(Figura 13).

Já a superfície ocidental da área, que tem sua morfologia

sustentada por sedimentos fracamente consolidados a inconsolidados

estruturado segundo direção sul-norte de idade cenozóica-pleistocênica-

holocênica, o paralelismo, o direcionamento NE/SW e o padrão retilíneo

dos canais fluviais representados pelos rios autóctones - Corixinho da

Saudade, Corixão e Cristalino, parece-nos evidências de que a tectônica

encoberta e impressa no substrato cristalino, é refletida pelo

comportamento hidrológico instalado nesta superfície (Figura 14).

Figura 12 - Roseta de fratura – 50 medidas – Em rochas do cristalino.

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Capítulo 5 – Unidades

Geomorfológicas e Subunidades

Geoambientais

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5.1 - EVOLUÇÃO DOS TRABALHOS GEOMORFOLÓGICOS DA

ÁREA DE PESQUISA

Mamede (1999), no relatório do projeto RADAMBRASIL (Folha

Goiás SD-22, 1983), transcreve uma evolução de conhecimento sobre a

planície do Bananal que vai de 1880 a 1970. Esse espaço de tempo é

dividido, pela autora mencionada, em dois períodos.

O primeiro período (1880 a 1914) é representado por observações

esparsas efetuadas por viajantes e naturalistas, e por descrições deixadas

pelos geólogos estrangeiros do séc. XIX. Observações de natureza

geográfica refletiam as tendências da época, cuja preocupação foi descrever

a paisagem e precisar a sua localização, características que predominaram

durante os séculos XVII e XVIII. Representam esse período os trabalhos de

Matos (1880), Derby (1895) e Coudreau (1895). O maior interesse dos

pesquisadores foi pela ilha do Bananal. Fonseca (1880) descreve o rio

Araguaia no que diz respeito à latitude das nascentes desse rio. Descreve,

também, todos seus afluentes. Coudreau (1897) refere-se às amplas praias e

águas tranqüilas do rio Araguaia e aos campos de Tapirapé como “constante

e completamente inundados com muito poucos arbustos”. Já Derby (1895)

documentou a existência do devoniano marinho no centro de Mato Grosso.

O segundo período, 1915 a 1969, é o que abrange maior

quantidade de observações, tanto de natureza geológica quanto

geomorfológica. O maior apoio, neste período, ao desenvolvimento do

conhecimento técnico-científico sobre a área da planície do Bananal vem

por parte das entidades governamentais, como o DNPM, o Ministério da

Agricultura, a PETROBRÁS e a Fundação Conselho Nacional de Geografia.

O extenso vale do rio Araguaia e suas adjacências formam uma

área de grande interesse nas pesquisas da região Centro Oeste. As

preocupações dos pesquisadores, nessa área, foram com sua delimitação,

gênese e datação. Teixeira (1932) a ela refere-se como uma “peneplanície

gnáissica”, tectonicamente deprimida entre o pé da escarpa da serra Negra

e Bom Jardim.

Page 70: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

70

Toledo (1962), observando os aspectos do rio Araguaia, refere-se

a Serra do Roncador como uma “cuesta em evolução”. Além disso, atribui

sua origem a um clima mais seco no passado. Barbosa et al (1966), a

denominam “Serra do Roncador”.

Lofgren (1936) atribui ao Pliocêno a idade das areias e argilas ao

longo do rio Araguaia sem, contudo, oferecer evidências que a confirme.

Lofgren (1946) reconheceu, próximo às cidades de Araguaiana e Registro

do Araguaia-MT, a presença de gnaisses no leito do rio Araguaia.

Posteriormente, Almeida (1948) denomina a área de “peneplanície

Araguaia”.

Barbosa (1958) identifica uma superfície aplainada, que forma

largas faixas em ambos os lados do rio Araguaia. Afirma que a idade dessa

superfície é provavelmente pleistocênica.

Rego (1936) mapeou os sedimentos da ilha do Bananal como

Terciário-Quaternário da Amazônia. Barbosa e Gomes (1957) surpreendem

os estudiosos ao descobrirem a largura de 120 Km dessa unidade e atribuem

essa feição peculiar à presença de fossa tectônica (graben).

Barbosa et al (1966) reafirmam o caráter tectônico da referida

ilha, dizendo tratar de uma área de subsidência. Afirmam, ainda, que a ilha

do Bananal é a expressão mais importante do Pleistocêno no Brasil . Além

disso, observam que a sedimentação Pleistocênica está embutida no

Pliocêno, havendo assim, um degrau na passagem de uma para outra

formação.

O vale do Araguaia e a ilha do Bananal são aspectos

geomorfológicos que despertaram muitos interesses na última década

devido à grande extensão e profundidade do pacote sedimentar, aliando isso

ao possível tectonismo que os afetou. O resultado foi uma paisagem sui

generes no centro do país. Barbosa et al (1970) identificaram no

interfllúvio Mortes–Araguaia, através de fotografias aéreas, diferentes

níveis de terraços, os quais os levaram a concluir sobre a existência de três

idades de aluviões. Nos terraços mais antigos, os aluviões encontram-se

estabilizados e laterizados e a eles atribuem idade pliopleistocênica. Já

Page 71: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

71

para os aluviões do terraço intermediário, tais autores admitem idade

pleisto-holocênica, enquanto relacionam os dos terraços mais baixos ao

período atual.

Barbosa et al (1966) denominaram de Formação Araguaia os

sedimentos terciários (Pliocênicos) observados ao longo do rio Araguaia.

Os autores descreveram uma seqüência iniciada por um conglomerado basal

petromítico, com seixos mal rolados, seguidos por uma sucessão de siltes e

areias siltosas mal estratificadas e de cores variegadas, constituindo

barrancos avermelhados ao longo do rio Araguaia.

Os mesmos autores referiram-se aos depósitos pleistocênicos dos

rios Araguaia-Tocantins, cuja maior expressão ocorreria na ilha do

Bananal, correspondendo provavelmente a uma área de subsidência

diferencial de caráter tectônico. Essa área de subsidência diferencial não

fora confirmada nos trabalhos de Araújo e Carneiro (1977), através de

estudos sísmicos efetuados na região.

Hales (1976) sugeriu considerar a ilha do Bananal como uma

bacia tectônica do tipo horst e graben .

No desenvolvimento do Projeto RADAMBRASIL definiram-se

unidades geomorfológicas de maneira a dividir o relevo em unidades que

permitissem o tratamento individual das formas e processos. Essas unidades

não têm uma dimensão prefixada e foram representadas nos mapas de

acordo com as semelhanças e relacionamento das formas do relevo e sua

posição altimétrica.

Ao concluir o relatório do projeto RADAMBRASIL, Mamede et

al (1983) sobre a unidade geomorfológica da planície do Bananal,

reconheceram várias fases na formação dessa planície, tais como:

− Fase de endorreísmo seguido de abatimento tectônico (pós-

terciário);

− Fase de colmatagem;

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72

− Fase de formação de diques aluviais (rios Araguaia e das

Mortes em nível mais alto que o atual);

− Fase de reentalhamento do rio Araguaia (cortando as

concreções, diques aluviais, e depositando em suas margens e

calha materiais de idade holocênica).

Já Eiten (1985), sobre a planície do Bananal, descreve um perfil

transversal de uma vertente típica de campos de murundus a nordeste de

Santa Izabel, correlacionando a distribuição fisionômica vegetal com a

morfologia e a dinâmica hidrológica.

A partir de 1990, com a intensificação da produção econômica da

região, surgem os primeiros trabalhos que tratam do assunto de uma

maneira mais agressiva.

Com a idealização do projeto de navegação - HIDROVIA

Araguaia-Tocantins - fez-se necessária a elaboração do EIA (Estudo de

Impacto Ambiental)- e do RIMA (Relatório de Impacto do Meio Ambiental)

em cumprimento à legislação ambiental vigente.

O EIA e o RIMA, apresentados junto aos órgãos ambientais

competentes, classificam, as litologias pertencentes a nossa área de estudo

como cobertura cenozóica e Formação Araguaia..

Cunha et al (1981) consideram que a dinâmica fluvial e os

aspectos fisiográficos da cobertura sedimentar do Bananal são reconhecidos

por meio de dois componentes geomorfológicos: a planície fluvial

caracterizada pela presença de lagos de barragens e de meandros; meandros

colmatados e diques fluviais, e áreas de acumulação muito baixas ,

sujeitas a inundações periódicas, constituídas, em sua maior parte, por

solos argilosos relativamente compactados.

A referida cobertura é constituída por sedimentos areno-

argilosos, mal consolidados, de coloração variada, muitas vezes,

laterizados. Eles recobrem as rochas mais antigas da região, principalmente

ao longo da mesopotâmia dos rios das Mortes, Araguaia e i lha do Bananal.

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73

Araújo et al (1983) referem-se à área em estudo como unidade

morfoestrutural e morfoescultural da planície do Bananal

predominantemente de acumulação e aplainada, com orientação ao longo da

direção N-S (norte e sul), posicionada entre os paralelos 8º e 16º de

latitude sul e 49º e 52º de longitude oeste ao longo de boa parte do curso

dos rios Araguaia e das Mortes. Citando Mamede et al (1981), Araújo diz

que a ilha do Bananal é constituída por depósitos aluvionares e

coluvionares areno-argilosos inconsolidados pleistocênicos. Além disso,

ela possui altitude média entre 200 e 220 metros, sendo contornada a leste

e oeste pela depressão do Araguaia com altitudes em torno de 240 metros.

Segue Mamede et al (1983) a unidade geomorfológica da planície

do Bananal distingue-se por dois compartimentos morfoesculturais: áreas

de acumulação inundáveis (Aai) , caracterizadas geralmente por baixos

interflúvios, e extensas planícies fluviais (Apf) . A primeira encontra-se

representada, sobretudo, na parte meridional da ilha do Bananal, e a

segunda distribui-se em longas faixas deposicionais contíguas ao longo dos

rios principais e caracterizadas por depósitos de sedimentos

inconsolidados.

O projeto de irrigação Luiz Alves do Araguaia, implantado em

1997 pelo governo do Estado de Goiás, gerou vários relatórios, conforme

afirmação da empreiteira ONA Engenharia S.A. Segundo eles,

geomorfologicamente, a área de Luiz Aves consta de uma planície extensa

que tem seus limites, freqüentemente, estabelecidos com a unidade

geomorfológica da depressão do Araguaia.

Essa planície contorna Luiz Alves por relevos geralmente

conservados, mas, às vezes, dissecados, correspondendo a um relevo de

planície fluvial, principalmente ao longo do baixo Araguaia. Com meandros

e marcas que se movimentam e modificam ao longo do tempo, em uma

adaptação à estrutura subjacente ou sotoposta. Salienta-se na unidade

morfológica em análise duas feições: áreas de acumulação inundáveis e

áreas de planícies fluviais.

Page 74: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

74

O relatório da empreiteira ONA Engenharia S.A. descreve a

geologia da região de Luís Alves-GO como depósitos sedimentares que

configuram um relevo, inequivocamente, como de planície, com

declividade entre 0,017 % a 0,02 %.

Essa deposição sedimentar é representativa dos sedimentos da

Formação Bananal e está cronologicamente relacionada ao Pleistocêno.

A ilha, na sua quase totalidade, é recoberta por sedimentos mais

recentes do Holoceno, principalmente por nítidos aluviões às margens dos

rios Araguaia e Verde, nos barrancos do Lago Luís Alves e nas faixas que

contornam as vazantes que contribuem para a drenagem da área em questão.

No geral, os sedimentos Pleistocênicos apresentam-se já

consolidados, no entanto, existem alguns sedimentos inconsolidados. Além

disso, ocorre, no entorno de Luiz Alves, um hidromorfismo intenso e

conseqüente das oscilações do lençol freático.

Os sedimentos observados vão da fácie arenosa a argilo-arenosa,

passando por areno-argilosos, com entremeios de cascalho em alguns

pontos e apresenta-se com cortéx de alteração variada que vai do cinza-

claro ao mais escuro nas camadas superficiais. Mais profundamente

observa-se um tom amarelado sobre o qual estrias avermelhadas de óxido

de ferro entremeiam.

Edafologicamente, esses sedimentos são caracterizados como

horizontes Plínticos.

Em 1999, sob a coordenação do Professor Latrubesse, Goiânia-

GO sediou o International Symposium on Geomorphology of Large Rivers

(GLOCOPH-IAG).

Para Latrubesse et al (1999), os sedimentos aluviais de idade

quaternária ocupam uma área de 93,527 Km², o que corresponde a 12,00%

da área de drenagem da bacia Araguaia / Tocantins. Consideram a região de

Cocalinho-MT como área representativa da planície do Bananal e que a

região divide-se em três unidades geomorfológicas: superfície de

Page 75: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

75

aplanamento regional , terraços e planícies aluviais do rio Araguaia e

rio dos Peixes como pertencente à Planície do Bananal .

Os grandes projetos de pesquisa executados pelas equipes do

Projeto Zoneamento Sócio Econômico do estado de Rondônia e de Mato

Grosso do Sul entre 1996-1999 propôs a utilização de uma classificação

geomorfológica genética, baseada nas relações de causa-efeito. A área da

planície do Bananal situada no estado de Mato Grosso foi mapeada segundo

esse sistema de classificação.

Em 1999, resultante de um contrato entre a HAITAR

(Administração das Hidrovias do Tocantins e Araguaia) e IBGE (Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística), desenvolve-se um estudo para

análise física, biótica e uso da terra na planície do Bananal. Este estudo

elege uma área de 80,352 Km² da bacia do rio Araguaia na área entre Barra

do Garças-MT e Luís Alves-GO. Fica o estudo intitulado como Diagnóstico

Ambiental da Bacia do rio Araguaia. Disso resultou um relatório

GEOAMBIENTAL para a planície do Bananal entre Barra do Garças - MT e

Luiz Alves – GO.

Latrubesse e Stevaux (2002), descrevem a geomorfologia geral

Araguaia, apresentando para a mesma caracterização geomorfológica

regional, bem como apresentam uma descrição de suas características

hidrológicas.

Latrubesse e Stevaux (2002) compartimentam o rio Araguaia em

três unidades geomorfológicas: alto, médio e baixo Araguaia. Bem como

apresenta a descrição e rica ilustração de cada uma dessas unidades.

Page 76: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

76

5.2 - UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS

Foram mapeadas, em nosso trabalho, três unidades

geomorfológicas: uma recobrindo toda parte oriental da área, o que

corresponde a Unidade Geomorfológica de Aplanamento Regional que

ocupa aproximadamente 50% dos 4.000 km² mapeados; na porção ocidental,

a Unidade Geomorfológica Planície Agradacional ligeiramente dissecada

com aproximadamente 45% da área; e a terceira unidade de planície fluvial

do rio Araguaia e do Peixe com aproximadamente 5% da área.(Apêndice 1).

Como foi mencionado no Capítulo II, para elaborar um mapa

geomorfológico da área de estudo aplicou-se basicamente a metodologia de

mapeamento Geomorfológico de Latrubesse et al (1998) e Latrubesse

(1999), as quais surgem de adaptações ao sistema de classificação e

mapeamento geomorfológico proposto para planícies deposicionais por

Iriondo (1986). Para atributos relacionados como variáveis de estado (por

exemplo, áreas sujeitas a inundações) e controle sobre as relações das

unidades geomorfológicas com as unidades vegetacionais da região,

adaptou-se um sistema de unidades de terreno ao estilo dos Land System do

ITC (1991), o qual, nesta dissertação, foi chamado de Subunidades

Geoambientais. As unidades Geoambientais definidas desta forma estão

organizadas num sistema de classificação hierárquico dependente da

unidade geomorfológica identificada. Vejamos esta classificação: feições

geomorfológicas que se destacam (independentemente de serem ativas ou

inativas), processo morfogenéticos dominante (inundável ou não inundável,

por exemplo), assim como tipo de vegetação ou ambiente biótico dominante

(murundus, vegetação em galeria e outros).

Segundo os critérios e metodologia mencionados acima, foram

mapeadas as seguintes unidades geomorfológicas e subunidades

geoambientais para nossa área de trabalho: (Tabela 1)

Page 77: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

77

Tabela 01 – Síntese das Unidades Geomorfologicas

Unidades Geomorfológicas Subunidades Geoambientais

Lagos Maiores Assentados sobre

Lateritas e Savanas Arbóreas Densa

ou Cerradão

Lagos Pequenos e Geometria

Arredondada Assentados sobre

Rochas do Cristalino e dos

Sedimentos da Formação Araguaia

Com Vegetação de Cerrado

Aplanamento Regional

Altos Estruturais com Forma

Aguçada Sustentada por Quartzito

Áreas de Escoamento Impedido com

Campos de Murundus

Planície com Paleocanais e Áreas

Inundáveis

Planície Agradacional l igeiramente

dissecada

Planície Fluvial com Vegetação de

Galeria

Planície Aluvial dos rios Araguaia e do Peixe

5.2.1 - UNIDADE DE APLANAMENTO REGIONAL

A Unidade de Aplanamento Regional é sustentada por litologias

arqueanas (gnaisses), quartzito de idade pré-cambriano do Grupo Estrondo,

as quais afloram com formas aguçadas em níveis altimétricos elevados, uma

extensa cobertura detrítica-laterítico, bem como pelos sedimentos da

Formação Araguaia. A unidade comporta um sistema hidrológico que se

apresenta sob um nítido condicionamento tectônico. É o caso do sistema

Page 78: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

78

fluvial do rio Araguaia, do Peixe e dos sistemas lacustres a exemplo da

lagoa da Baía.

Essa unidade apresenta os níveis altimétricos mais elevados da

área mapeada, podendo atingir 293m no topo dos afloramentos do

cristalino-quartzitico pré-cambriano do Grupo Estrondo e 240 m sobre os

sedimentos e coluvios laterizados nas proximidades das margens do rio

Araguaia.

Também, no que refere à vertente, a referida unidade apresenta

formas convexas e côncavas com valores de ângulos levantados com uso de

bússola de 6º e 4°, respectivamente, como se podem ver nos perfis

levantados na lagoa da Bahia e do Brejo.

O limite desta unidade, na parte ocidental com a Unidade

Geomorfológica Planície Agradacional ligeiramente dissecada, parece estar

estabelecido pelo sistema fluvial do rio Corixinho da Saudade.

O relatório do projeto RADAMBRASIL (folha SD-22-Goiás), em

seu mapa geomorfológico na escala de 1:1.000.000, apresenta para área,

mapeada como Unidade Geomorfológica de Aplanamento Regional, as

seguintes unidades geomorfológicas: t41- relevo de topo aplanado, com

ordens de grandeza das formas de dissecação >1750 m < 3750, e

intensidade de aprofundamento de drenagem muito fraca-, a12- formas

aguçadas, Aai – e Apf - planície fluvial da unidade geomorfológica da

planície do Bananal e superfície pediplanada da Depressão do Araguaia -

Ep – .

A referida unidade geomorfológica apresenta dois sistemas de

fraturas dominantes: um principal de direcionamento nordeste / sudoeste

(NE / SW) e um secundário de direção noroeste / sudeste (NW / SE).

Esta unidade representa aproximadamente 50% da área mapeada,

ocupando toda parte oriental (Vide Figura 13). Na área de trabalho, ela

encontra-se dividida por três subunidades geoambientais menores assim

denominadas:

Page 79: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

79

1. Subunidade Geoambiental com lagos maiores assentados sobre

Sedimentos laterizados e Savana Arbórea Densa ou Cerradão;

2. Subunidade Geoambiental com lagos pequenos e geometria

arredondada, assentada sobre rochas do cristalino e dos

Sedimentos da Formação Araguaia com vegetação de Cerrado;

3. Subunidade Geoambiental de altos estruturais com forma

aguçada e sustentada por quartzitos;

5.2.1.1 - SUBUNIDADE GEOAMBIENTAL COM LAGOS

MAIORES ASSENTADOS SOBRE SEDIMENTOS

LATERIZADOS E SAVANA ARBÓREAS DENSA OU

CERRADÃO

Esta subunidade geoambiental representa um sistema lacustre que

possui predomínio de morfologia alongada e dimensões maiores que o

padrão, assentado sobre o capeamento laterítico (Vide Apêndice 1). Esse

sistema lacustre configura o resultado de uma associação genética ligada ao

nítido condicionamento tectônico e processos de dissolução de laterita, o

que leva a coalecência entre lagos menores.

Para variável ambiental “solos”, foram utilizados os dados de

perfil de solo mapeado pelo projeto RADAMBRASIL (1983) para a

descrição dessa unidade. (Perfil de n° P 99 e coordenada 14° 16’ S e 50°

37’ W) ressalta um Latossolo Vermelho-amarelo, Álico, textura média,

profundidade de 1,80 m.

Essa subunidade geoambiental é classificada como área que não

sofre inundação e é coberta por uma Savana arbórea densa, Savana arbórea

esparsa; áreas de Savanas antropizadas com uso de capim introduzido;

A fisionomia vegetal dessa unidade segundo as denominações

adotadas pelo projeto RADAM/IBGE (1982) é:

− Savana Arbórea Densa ou Cerradão –código – Sd;

Page 80: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

80

− Vegetação gramímeo-lenhosa de lagos com floresta de galeria –

código – Sgf;

Os parâmetros físico-químicos Temperatura (T=ºC), Potencial

hidrogeniônico (pH), Oxigênio dissolvido (OXD=mg/l), Total de Sólidos

Dissolvidos (TSD=g/l.), Condutividade (CDT=mS/m), Transparência

(TRP=m), Profundidade (PRF=m) que caracterizam o sistema hidrológico

dessa subunidade para a data de junho / 2001 e maio de 2002, estão

representados por dados de campo tabulados abaixo. Vejamos:

Tabela 02. Subunidade Geoambiental Lagos Maiores Assentados sobre

Lateritas e Savanas Arbóreas Densa ou Cerradão.

Sistema Lacustre / Hidrologia de Superfície

DATA T°C pH OXD. TSD. TRP. PRF. CDT.

01/06/01 28,5 6,8 7,10 0,02 1,60 1,60 3,50

Parâmetros

Hidrológicos 13/05/02 30,0 6,30 8,60 0,01 ----- ----- 1,0

Lagoa da Bahia / margem norte 14º 31’ 17,7 “/ 51º 06’ 53,5”

Tabela 03. Subunidade Geoambiental Lagos Maiores Assentados sobre

Lateritas e Savanas Arbóreas Densa ou Cerradão.

Sistema Lacustre / Hidrologia de Superfície

DATA T°C pH OXD. TSD. TRP. PRF. CDT.

01/06/01 28,7 6,80 8,20 0,02 1,10 1,10 2,10

Parâmetros

Hidrológicos

Lagoa da Bahia/ margem sul 14º 31’ 32,7 “/ 51º 07’ 02,5”.

Page 81: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

81

Tabela 04. Subunidade Geoambiental Lagos Maiores Assentados sobre

Lateritas e Savanas Arbóreas Densa ou Cerradão.

Sistema Lacustre / Hidrologia de Superfície

DATA T°C pH OXD. TSD. TRP. PRF. CDT.

01/06/01 28,30 6,60 8,20 0,01 2,30 2,30 1,80

Parâmetros

Hidrológicos ---------- ----- ------ ------ ----- ----- -----

Lagoa Da Bahia / Centro Da Lagoa 14º 31’ 17,7 “/ 51º 06’ 53,5”

Tabela 05. Subunidade Geoambiental Lagos Maiores Assentados sobre

Lateritas e Savanas Arbóreas Densa ou Cerradão.

Sistema Lacustre / Hidrologia de Superfície

DATA T°C pH OXD TSD TRP PRF CDT

01/06/01 30,20 6,90 7,30 0,04 1,10 1,10 5,0

Parâmetros

Hidrológicos 13/05/02 30,0 6,8 6,90 0,03 ----- ----- 4,80

Lagoa do Brejo 14º 34’ 43,2 “/ 51º 07’ 45,6”

Para controle dos parâmetros físico-químicos coletados do

sistema lacustre dessa subunidade, procurou-se referenciá-los com dados do

freático de poço, os quais encontram-se posicionados na área sobre zonas

de interflúvios. Vejamos:

Page 82: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

82

Tabela 06. Subunidade Geoambiental Lagos Maiores Assentados sobre

Lateritas e Savanas Arbóreas Densa ou Cerradão.

Hidrologia do Freático

DATA T°C pH OXD. TSD. TRP. SP. CDT.

01/06/01 28,30 5,60 5,70 0,05 ----- 4,10 8,20

Parâmetros

Hidrológicos 13/05/02 28,30 5,8 4,20 0,03 ----- 3,20 4,0

Faz. Água Limpa (sede da serraria) 14º 31’ 36,81 “/ 51º 07’ 05,62”

Para essa subunidade, executamos duas sondagens, uma sobre a

lagoa da Baía e a outra na lagoa do Brejo (Vide Figura 13).

A sondagem sobre a lagoa da Bahia atingiu 2,5 m. Das amostras

geradas a partir dela, quatro foram processadas:

− Para o intervalo de classe granulométrica –1 ≤ Φ ≤ 1 as

amostras apresentam tendência semelhante, com menos de 5%

de peso na classe gravosa com seixos de 3 mm de diâmetro;

− Intervalo de 1 ≤ Φ ≤ 4 com amostras na profundidade de 1,1 m

e 2,3 m apresentam tendências semelhantes com amplitudes

suavizadas com picos na classe 2 (areia média), 3 (areia fina)

e 4(areia muito fina) e percentagem em peso para ambas

amostras está na média de 28% o que caracteriza a fácie areia

média/fina a muito fina na base do perfil;

− Intervalo de 2 ≤ Φ ≤ 4, com amostras na profundidade de 0,2m

e 0,5m, tem-se picos na classe 3 (areia fina) e 4 (areia muito

fina), o que ressalta uma delgada fácie de areia muito fina na

posição de 0,5 m e fina no topo.

Já quanto à propriedade química, o pH da área, apresenta valores

de 4,5 a 5,8 para o solo e 5,8 a 6,8 para a hidrologia lacustre, a exemplo do

que apresenta a lagoa da Bahia e de 4,7 a 4,9 para o freático a exemplo de

dados do poço de nº 1 (Vide Figura 13 e Apêndice 2 ). Quanto à tectônica

Page 83: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

83

impressa, a exemplo, da morfologia da lagoa da Baía, ela apresenta o eixo

maior condicionado ao sistema tectônico secundário de direção

noroeste/sudeste e o eixo menor condiciona-se ao sistema principal de

direção nordeste/sudoeste. Possui uma morfologia de fundo chato e registra

depósitos atuais de pequenas estruturas do tipo “esqueleto residual de

laterita” sobre o seu leito.

A presença de esqueleto de laterita no fundo das lagoas e valores

de pH de 4,7 a 4,9 para as águas do freático, sugere-se a possibilidade de

que essas formas representam uma dinâmica de dissolução por águas do

freático, águas, as quais concentra-se com maior intensidade sobre as

regiões mais afetadas pelos sistemas conjugados de fraturas, bem como em

concordância com a pendente regional que na área foco encontra-se rumo

norte. Esta relação fica bem ilustrada pela lagoa da Baía. (Vide Figura 13).

As vertentes das geoformas dessa subunidade apresentam-se sob

morfologia convexa / côncava com ângulos apresentando valores de 6° e 4º

respectivamente, os quais foram levantados, utilizando-se bússola Brunton

e fita métrica (Figuras 15 e 18)

Page 84: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

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Page 85: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

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87

Page 88: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

88

5.2.1.2 - SUBUNIDADE GEOAMBIENTAL COM LAGOS

PEQUENOS E GEOMETRIA ARREDONDADA ASSENTADOS

SOBRE ROCHAS DO CRISTALINO E DOS SEDIMENTOS DA

FORMAÇÃO ARAGUAIA COM VEGETAÇÃO DO CERRADO

Esta subunidade representa a parte mais oriental da área de nosso

trabalho, sendo mapeada em quase sua totalidade no estado de Goiás.

Ocupa a margem direita do sistema fluvial do rio Araguaia e limita-se em

sua parte mais oriental pelo sistema fluvial do rio do Peixe (Vide Apêndice

1).

Do ponto de vista da caracterização pedológica, descrevemos,

para essa subunidade, Areias quartzosas e solos da classe dos Gley Pouco

Húmicos.

O sistema hidrológico instalado nessa subunidade comporta um

sistema lacustre caracterizado por uma grande quantidade de lagos de

pequena dimensão e morfologia arredondada, assentado sobre litologias de

interface Laterita / Formação Araguaia/Cristalino, e está geneticamente

ligado a processos incipientes de dissolução.

Temos aí representados lagos com morfologia arredondada e

diâmetro médio de 400 m para o período de seca. Esse resultado é

apresentado a partir de uma amostragem feita em imagem de satélite

LANDSAT 5 TM de 23 lagos.

Esse sistema lacustre constitui a variável hidrológica, a qual

individualiza esta subunidade. Além disso, este sistema apresenta uma

dinâmica hidrológica fora de fase para com a dinâmica dos sistemas

fluviais do rio Araguaia pela face oeste e do rio do Peixe pela face leste. A

dinâmica hidrogeomorfológica desse conjunto de pequenos lagos está

diretamente ligada à dinâmica de precipitação da região.

Para controle da dinâmica hidrogeomorfológica, procurou-se

caracterizar a dinâmica da Superfície Piezométrica (SP.) e os parâmetros

Page 89: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

89

físico-químicos Temperatura (T=ºC), Potencial hidrogeniônico (pH),

Oxigênio dissolvido (OXD=mg/l), Total de Sólidos Dissolvidos (TSD=g/l),

Condutividade (CDT=mS/m.), Transparência (TRP=m.), Profundidade

(PRF=m.) do sistema lacustre dessa subunidade.

Referendou-se a dinâmica hidrogeomorfológica dessa subunidade

util izando, para controle dos parâmetros físico-químicos, dados da

hidrologia de poço. Para se ter uma visualização geral dos parâmetros

físico-químicos e da dinâmica da superfície piezométrica foi feita à

espacialização desses poços, sobre o perfil geológico que corta esta

subunidade. Tais poços têm seus parâmetros físico-químicos de hidrologia

descritos a seguir:

Tabela 07. Subunidade Geoambiental Lagos Pequenos e Geometria Arredondada

Assentados sobre Rochas do Cristalino e dos Sedimentos da Formação Araguaia Com

Vegetação de Cerrado.

Hidrologia do Freático

DATA T°C pH OXD TSD TRP SP CDT

02/06/01 28,7 4,90 670 0,10 ----- 4,70 15,30

Parâmetros

Hidrológicos 13/05/02 28,30 4,70 5,90 0,07 ----- 3,80 10,90

Poço n.° 01 – Cocalinho – MT. / Hotel Araguaia

Como já fora mencionado, a dinâmica do freático dessa

subunidade e do rio Araguaia mostra-se fora de fase, como podemos

observar no dado de Superfície Piezométrica – SP do poço e o nível da

água à margem esquerda do rio Araguaia na cidade de Cocalinho – MT.

Nesse local, os dados apresentam valores de quatro metros e setenta

centímetros para a piezometria de poço e três metros e cinqüenta

centímetros de nível da água no barranco do rio (SP. do poço – 4,70 m,

nível da água no barranco do rio Araguaia – 3,50 m), na data de 02/06/01.

Page 90: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

90

Esta relação da dinâmica hidrológica entre o sistema fluvial e o

freático pode ser explicada pela condição do sistema fluvial de um rio

alóctone como o rio Araguaia, condição que faz com que o rio receba fluxo

de entrada de energia em áreas que estão fora da área mapeada. Explica-se

também essa relação devido à diferença de velocidade do fluxo da água nos

diferentes sistemas hidrológicos comparados: o fluvial e o freático. Dessa

forma a velocidade de fluxo no fluvial pode chegar a metros por segundo

(m / Seg.) e do freático a centímetros por dia (cm / d).

Para uma melhor caracterização da geologia dessa subunidade,

executamos um furo na unidade geológica da Formação Araguaia.

O furo sobre afloramentos dessa unidade, na Faz. Aricá, atinge 6

m. Do total de amostras geradas, foram processadas duas, devido ao alto

grau de homogeneidade granulométrica apresentada pelos sedimentos

(Figura 19).

Para o intervalo de classe granulométrica:

− –1 ≤ Φ ≤ 1 tem-se zero de percentagem de peso para os

sedimentos gravosos.

Para as profundidades de:

− 1m e 4,5m as amostras, apresentam classes granulométricas

com tendências semelhantes de concentração de peso, porém,

em classes diferentes.

− 1m - sendo o pico para a classe 2 (areia média) acima de 50%

de peso;

− 4,5m - pico para a classe 3 (areia fina) com peso acima de

55%. Fica determinada, assim, a fácie areia média/fina para

essa unidade.

Page 91: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

91

5.2.1.3 - SUBUNIDADE GEOAMBIENTAL DE ALTOS

ESTRUTURAIS COM FORMA AGUÇADA SUSTENTADA POR

QUARTZITO

Esta subunidade comporta o maior afloramento do cristalino em

nossa área de estudo. São rochas quartzíticas de idade pré-cambriana do

Grupo Estrondo. Tal subunidade apresenta afloramentos com formas

aguçadas e sustenta um relevo alongado e estreito em níveis altimétricos

que chegam a alcançar 293 m em contraste com níveis altimétricos da

região, que estão entre 240 e 245 m (Vide Figura 12 e Apêndice 1).

Essa morfologia, que lembra um Horst, possui direcionamento

concordante com a tectônica regional de direção NE / SW de

aproximadamente 20 km de extensão e 05 km de largura. A referida

morfologia expõe, também, um segundo sistema tectônico de

direcionamento NW / SE, responsável por um proeminente jogo de

fraturamento.

A tectônica secundária de direção (NW / SE) é responsável pela

intensa geração de veios de quartzo, os quais irá, também, fornecer os

seixos para a extensa cobertura de coluvios laterizados que sustentam a

Unidade Geomorfológica de Aplanamento Regional (Vide Figura 11 e

Apêndice 1).

Seguindo os mesmos critérios já mencionados de classificação da

fisionomia vegetal, temos uma Savana parque, com representantes em nível

de espécie tais como:

− Anacardium sp – Anacardiaceae – Lenhosa – Cajueiro;

− Macaerium acutifolium – Leguminosae – Lenhosa – Jacarandá

do campo;

− Enterolobium contortisilicum – Leguminosae - Lenhosa –

Tamboril;

Dipteres alata - Leguminosae - Lenhosa –Baru.

Page 92: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

92

Page 93: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

93

5.2.2 - UNIDADE GEOMORFOLÓGICA PLANÍCIE

AGRADACIONAL LIGEIRAMENTE DISSECADA

Do ponto de vista da dinâmica hidrológica esta unidade é

extremamente importante por apresentar um intricado sistema hidrológico

de superfície e uma complexa dinâmica de inundação.

Esta unidade assenta sobre os sedimentos inconsolidados de

provável idade pleistocênica/holocênica da planície do Bananal. Na área de

trabalho, encontra-se posicionada entre níveis altimétricos de 240 a 243m.

Das inter-relações entre as variáveis de estado (sedimentos

inconsolidados) e as variáveis de transformação (dinâmica de precipitação)

configura para a unidade, geoforma plana com processos degradacionais

incipientes que vão gerar no período das cheias - máximas precipitações –

(dez. /março), a dinâmica de encharcamento de grande parte da área. Além

disso, a referida unidade comporta um sistema hidrológico autóctone

incipiente e um grande número de paleocanais.

O sistema fluvial desta área está representado pelos rios

Corixinho da Saudade, Corixão, Cristalino e paleocanais.

A cartografia do projeto RADAMBRASIL (1983) mapeia para

essa unidade áreas de acumulação inundável-Aai – e Apf - planície fluvial

da unidade geomorfológica da planície do Bananal a oeste da área estudada

a partir do rio Corixinho, superfícies pediplanadas da Depressão do

Araguaia - Ep – também a oeste entre o rio Corixão e Cristalino.

Para a descrição pedológica da área foi utilizado o perfil de solo

mapeado pelo projeto RADAMBRASIL (1983). Perfil de número P 98 e

coordenada 13° 11’ S e 51° 22’W à 51 km de Cocalinho-MT, estrada

Cocalinho rio das Mortes.

As informações fornecidas por esse perfil foram extrapoladas

para toda essa unidade. Que revela um solo da classe Laterita Hidromórfica

com argila de atividade baixa a moderado, textura arenosa / média, relevo

plano. (Vide Figura 13).

Page 94: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

94

Foram mapeadas as tipologias vegetacionais dessa unidade

adotando o critério de comportamento hidrogeomorfológico tais como:

quando existe uma drenagem organizada com talvegues definidos, tem-se a

floresta de galeria. A floresta aparece também em manchas depressionárias

sujeitas a inundações mais longas ou então em pequenas manchas em relevo

mais alto.

Quando, entre as calhas principais, se intercalam zonas

inundáveis, observam-se tufos de vegetação sobre termiteiras extintas

compondo a paisagem de Savana Parque.

Esta unidade geomorfológica é sustentada por sedimentos

arenosos inconsolidados na fácie S (areia média/ areia fina) de idades

cenozóica-pleistocênica-holocênica, representadas por l itologias da

Formação Araguaia. Ela recobre aproximadamente 45 % da superfície de

nossa área de pesquisa e encontra-se dividida, em nosso trabalho, por três

subunidades geoambientais menores. Tais subunidades geoambientais são:

− Subunidade Geoambiental Áreas com escoamento impedido e

Campos de Murundus;

− Subunidade Geoambiental de Planície com Paleocanais e Áreas

Inundáveis;

− Subunidade Geoambiental de Planície Fluvial com Vegetação

de Galeria.

5.2.2.1 – SUBUNIDADE GEOAMBIENTAL ÁREAS COM

ESCOAMENTO IMPEDIDO E CAMPOS DE MURUNDUS

Essa subunidade distribui-se em pequenas manchas mais elevadas

no terreno por toda a superfície da Unidade Geomorfológica Planície

Agradacional l igeiramente dissecada, bem como na parte oriental da

Unidade Geomorfológica de Aplanamento Regional. É a esse conjunto de

formas circulares e elevadas no terreno, e na sua grande maioria,

Page 95: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

95

colonizadas por termiteiros que se dá o nome de campos de murundus

(Figura 20A).

Esta subunidade geoambiental caracteriza-se por um conjunto de

morfologias circulares em níveis altimétricos mais elevados, o que não

permite que atual dinâmica de inundação promova o total encharcamento

dessas áreas. Bem como por um deficiente e intrincado sistema de

escoamento superficial o que leva a inundação das partes baixas entre os

murundus.

Esse conjunto de murundus constitui-se de morfologias circulares

e de uma geometria que apresenta diâmetro que vai de 3,0 m e altura, na

posição central de 1,0 m, até, diâmetro de 15,0 m. Para Mamede (2001),

esse conjunto de morfologias circulares está ligado a um passado mais seco

da planície e, portanto, ela está menos sujeita às inundações laminares.

Nesse período, segundo a autora, deu-se a colonização dos interflúvios por

savanas e por termiteiros. Eiten (1985) em estudo a NE de Santa Isabel

mostra em perfil a relação atual entre a dinâmica inundacional e os campos

de murundus.

Da integração de dados de tradagem mais vibracore nessa

unidade, temos 5,90 m de perfil com a seguinte descrição:

Da base para o topo tem-se a seguinte descrição:

- De 5,90 m a 5,40m , tem-se uma fácie gravosa Sc (m, g,) com a

presença de seixos de quartzo com diâmetro máximo de 1,0 cm,

altamente fraturado, boa esfericidade e angulosidade média-alta.

Essa fácie litológica apresenta um córtex de alteração laranja

claro.

− De 5,40 m a 5,05 m , em contato transicional tem-se uma matriz

na fácie areia média fina S(m, F), presença de núcleos

esféricos de argila com diâmetro de 0,5 cm e o mesmo córtex

de alteração da fácie anterior.

− De 5,05 m a 4,0 m , fácie arenosa S(F, m), com alto teor em

silte, mosqueamento plíntico e plintitas de diâmetro com

Page 96: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

96

variância de 1,0 mm a 1,0 cm e córtex de alteração laranja

escura.

− De 4,0 m a 3,30 m , fácie areia média/fina S(m, F) , com

mosqueamento branco, cortéx laranja escuro.

− De 3,30 m a 2,70 m , S(m, F) (areia média/areia fina) com

cortéx esbranquiçado e um suave mosqueamento laranja,

estando, nesta profundidade de 2,70 m , o posicionamento do

freático para a data de 02/06/01.

− De 2,70 m até a superfície do terreno prossegue a fácie

arenosa, S(m, F) e cortéx esbranquiçado(Figura 20B e 20C).

Todos os contatos, resultado da composição desse perfil , não

mostram transição de textura brusca. Já quanto ao cortéx de alteração, essa

transição é brusca a partir de 2,70 m de profundidade. Passa de um branco

que é constante até a profundidade de 2,70 m , a um cortéx alaranjado nos

níveis abaixo.

Como já fora mencionado anteriormente, a classe de solo dessa

subunidade é classificada como Laterita Hidromórfica com argila de

‘atividade baixa a moderado, textura arenosa / média e relevo plano. O que

é descrito a seguir por um perfil de solo util izado como exemplo.

5.2.2.1.1 - DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA DE UM PERFIL DE

SOLO EXEMPLO PARA ESSA UNIDADE

Classificação – Laterita Hidromórfica álica com argila de

atividade baixa a moderado, textura arenosa / média, relevo plano.

Unidade de mapeamento – Hla5.

Localização: A 51 km de Cocalinho, estrada Cocalinho rio das Mortes. 13°

11’ S e 51° 22’ W (Figura 21).

Page 97: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

97

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101

Tabela 08. Situação, declive e cobertura vegetal sobre o perfil com local

plano de até 2% de declive e sob cobertura de campo graminoso.

Características do Perfil Exemplo

Altitude 243 m

Litologia Sedimentos consolidados e inconsolidados

Formação geológica Cobertura Sedimentar do Bananal

Período Quaternário

Relevo local Plano

Relevo regional Plano

Erosão Não aparente

Drenagem Imperfeitamente drenado

Vegetação primária Savana Parque

Tabela 09. Descrição morfológica do perfil de solo – Campos de Murundus

Horizonte Profundidade Descrição Morfológica

A1 0 – 25 cm bruno escuro (7,5 YR 3/2, úmido), cinzento-escuro (10 YR 4/1, seco); areia franca, grãos simples, soltos, não- plástico e não-pegajoso, transição clara.

A3 25 – 42 cm bruno-escuro (7,5 YR 4/2, úmido), bruno (7,5 YR 5/2, seco), areia franca; grãos simples soltos, não-plástico e não- pegajoso, transição gradual.

B1 42 – 56 cm bruno (7,5 YR 5/2), mosqueado comum, médio e distinto, bruno forte (7,5 YR 5/6); franco-arenoso; maciça; friável, l igeiramente plástico e ligeiramente pegajoso; transição gradual.

Page 102: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

102

Continuação da Tabela 09

Horizonte Profundidade Descrição Morfológica

B21pl 56 – 90 cm cinzento-brunado-claro (10 YR 6/2), mosqueado abundante, grande e distinto, bruno-amarelado (10 YR 5/8) e comum, pequeno e proeminente vermelho (2,5 YR 4/6); franco-arenoso; maciça; friável; ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso; transição gradual.

B22pl 90 – 130 cm cinzento-brunado-claro (10 YR 6/2), mosqueado abundante, grande e distinto, bruno-amarelado (10 YR 5/8) e comum, pequeno e proeminente vermelho (2,5 YR 4/6); franco-arenoso; maciça; friável; ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso; transição gradual.

B23pl 130 – 170 cm coloração variegada, constituída de cinzento-brunado-claro (10YR 6/2), bruno-amarelado (10 YR 5/8), vermelho (2,5 YR 5/8), vermelho (10 YR 4/6); franco-arenoso; maciça; friável; l igeiramente plástico e ligeiramente pegajoso.

OBS. Raízes: abundantes finas no A1, comuns finas no A3, raras finas nos demais horizontes.

Tabela 10. Poder Hidrogeniônico: (pH) do solo

Horizonte Profundidade Descrição do pH

A1 O – 25 cm pH – 5,4.

A3 25 – 42 cm pH – 4,9.

B1 42 – 56 cm pH – 5,5.

B21pl 56 – 90 cm pH – 5, 6.

B22pl 90 – 130 cm pH – 5,4.

B23pl 130 – 170 cm pH – 5,7.

Page 103: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

103

Tabela 11. Já a cobertura vegetal desses campos de murundus, descreve

segundo a classificação de Dambrós (1983).

Espécie Gênero e Família Tipo e nome

popular

Subunidade

Geomorfológica

Stryphnodendron adstringes –

Leguminosae Lenhosa – Barbatimão Campos de murunduns

Sclerolobium aureum – Leguminosae Lenhosa – Carvoeiro Campos de murunduns

Vochysia lankeana – Vochysiaceae Lenhosa – Escorrega

macaco Campos de murunduns

Platypodium elegans – Leguminosae Lenhosa – Jacarandá

canzil Campos de murunduns

Passamos, agora, a descrever os dados da hidrologia de poços

util izados para controle da dinâmica hidrogeomorfológica dessa subunidade

geoambiental. São dados referentes ao período de seca, junho de 2001 e

maio/2002 (Vide Apêndice 2).

Tabela 12. Subunidade Geoambiental de escoamento impedido com Campos

de Murundus

Sistema Hidrológico de Subsuperfície / Hidrologia Do Freático

DATA T°C pH OXD. TSD. TRP. SP. CDT.

03/06/01 28,60 5,50 8,30 0,06 ----- 2,90 7,40

Parâmetros

Hidrológicos 12/05/02 28,90 5,80 5,90 0,06 ----- 2,40 8,60

Poço de N° 06– Faz. Talismã (próximo ao rio Corixão) 14° 11’ 24,95” S / 51° 14’ 53” W

Para efeito de comparação entre o sistema hidrológico do freático

e fluvial autóctone, os quais compõem a dinâmica hidrogeomorfológica da

Unidade Geomorfológica Planície Agradacional ligeiramente dissecada da

Planície do Bananal, utilizamos a hidrologia do sistema fluvial próximo ao

Page 104: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

104

poço citado acima (poço de n° 06) e o sistema fluvial autóctone do

Cristalino (Vide Apêndice 3).

Tabela 13. Subunidade Geoambiental de Planície Fluvial com vegetação de

Galeria

Sistema Fluvial Autóctone – Rio Corixão / Hidrologia de superfície

DATA T°C pH OXD. TSD. TRP. SP. CDT.

03/06/01 28,60 5,50 8,30 0,06 ----- ---- 7,40

Parâmetros

Hidrológicos 12/05/02 26,30 5,80 5,90 0,01 ----- ---- 0,90

Ponto Do Rio– Faz. Talismã 14° 11’ 25” S / 51° 14’ 53” W

Tabela 14. Subunidade Geoambiental de Planície Fluvial com vegetação de

Galeria

Sistema Fluvial Autóctone – Rio Cristalino / Hidrologia de superfície

DATA T°C pH OXD. TSD. TRP. SP. CDT.

03/06/01 27,60 6,10 9 30 0,02 ----- ---- 1,70 Parâmetros

Hidrológicos --------- ------ ------- ------ ----- ----- ---- ------

Ponto do Rio – Ponte que liga Cocalinho / Serra do Calcário

Tabela 15. Subunidade Geoambiental de Planície Fluvial com Vegetação de

Galeria Sistema hidrológico de subsuperfície / hidrologia do freático.

Sistema Hidrológico de Subsuperfície / Hidrologia do Freático

DATA T°C pH OXD. TSD. TRP. SP. CDT.

03/06/01 28,70 4,90 10,05 0,13 ----- 5,80 18,50 Parâmetros

Hidrológicos

12/05/02 28,70 5,40 8,0

0,10

-----

4,20

15,90

Poço de N° 07 – Faz. Santa Silva 14° 12’ 10,85” S / 51° 17’ 22,64” W

Page 105: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

105

5.2.2.2 – SUBUNIDADE GEOAMBIENTAL DE PLANÍCIE COM

PALEOCANAIS E ÁREAS INUNDÁVEIS

Esta subunidade caracteriza-se pelo seu total encharcamento no

período de máxima precipitação que, para a região, acontece entre os meses

de janeiro e fevereiro. O encharcamento ocupa toda essa parte mais baixa

do terreno em estudo, o qual, apresenta altitudes próximas aos 240 m.

Nesse terreno, pode-se evidenciar um intrincado sistema de

drenagem deficiente associado a uma rede de paleocanais.

Foi executado, para melhor caracterizar a geologia e determinar a

posição do freático, uma tradagem no interior dessa subunidade (Figura

22), a qual alcançou 5,9 m de profundidade. O furo revela uma fácie

arenosa em todo o perfil . E, na profundidade de 1,70 a 2,0 m, um nível de

0,30m de plintitas. O nível do freático é de 2,30 m na data de 02/06/01.

O parâmetro textura desses sedimentos foi um dos elementos

importantes nesse trabalho, pois constitui uma propriedade intrínseca a eles

e que influencia diretamente a dinâmica hidrogeomorfológica, e

conseqüentemente, segundo a metodologia desse trabalho já mencionado

anteriormente, na compartimentação das unidades geomorfológicas.

Para tanto, foi processada e analisada uma série de amostras, que

passa a ser descrito a seguir.

Para esta subunidade, executamos dois furos e uma sondagem

(Vide Figura 13) para descrever seu comportamento textural como:

Page 106: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

106

Page 107: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

107

Composição do perfil - Furo de trado nº 1 mais sondagem

Esta composição gera um perfil de 5,9 m (Vide Figura 20). Para

este perfil , foram processadas seis amostras que resultam no seguinte perfil

com respectivas classes texturais:

− O perfil apresenta, para os primeiros 3 m (tradagem), no

intervalo de classe granulométrica de -1 ≤ Φ ≤ 1, semelhanças

quanto a concentração de sedimentos grosseiros menos de 1%

de peso das amostras.

− No intervalo de 1≤ Φ ≤ 3, a composição apresenta

comportamento de amplitude semelhante aos picos na classe 2

(areia média) com percentagem em peso variando entre 40 e

50%, o que caracteriza uma fácie areia média.

No intervalo de classe 3 ≤ Φ ≤ 5, a composição mostra a mesma

tendência, ou seja, percentagem em peso menor que 10%, convergindo para

uma concentração em peso muito pequena para a classe 6(silte).

Para a profundidade de 3 m a 5,9 m (sondagem), no intervalo de

classe entre –1 ≤ Φ ≤ 1, mostram - se tendências semelhantes, porém,

concentrações em pesos diferentes, sendo concentração acima de 15% para

a os sedimentos de base do perfil e menos de 1% para o restante do perfil;

o que caracteriza uma fácie gravosa para a base desse perfil .

No intervalo de classe entre 1 ≤ Φ ≤ 4, têm-se picos para a classe

2, com percentagem em peso acima de 40% para a profundidade de 4,6m a

5,9m (fácie areia média) e pico para classe 3, com percentagem acima de

60% para a profundidade de 3,10m (fácie areia fina) (Vide Figura 20).

Da integração desse perfil podemos sintetizar da base para o

topo:

− 5,90 m a 5,40 m, - fácie S(m, g) (areia média/areia grossa) com

presença de grânulos de quartzo com diâmetro máximo de 1,0

cm, altamente fraturado, boa esfericidade e angulosidade

média-alta, apresentando um cortéx de alteração laranja claro.

Page 108: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

108

− De 5,40 m a 5,05 m, - em contato transicional, tem-se uma

matriz na fácie S(m, F) (areia média / areia fina com núcleos

esféricos de argila em diâmetro de 0,5 cm com o mesmo cortéx

de alteração anterior).

− De 5,05 m a 4,0 m, - S(F, m) (areia/fina/areia média) com alto

teor em silte, mosqueamento plíntico e plintitas de diâmetro

com variância de 1,0 mm a 1,0 cm, cortéx de alteração laranja

escura.

− De 4,0 m a 3,30 m, - S(m, F) (areia média/areia fina), com

mosqueamento branco, cortéx laranja escuro.

− De 3,30 m a 2,70 m, - S(m, F) (areia média/areia fina) com

cortéx esbranquiçado e um suave mosqueamento laranja,

encontrado, nesta profundidade de 2,70 m, o posicionamento

do freático para a data de 02/06/01.

− De 2,70 m até a superfície do terreno, prossegue a fácie

arenosa, S(m, F) (areia média/areia fina) e córtex

esbranquiçado.

Composição do perfil - Furo de trado nº 2

O furo de trado nº 2 atingiu 5,5 m de profundidade, localizado na

unidade ambiental de áreas inundadas (Vide Figura 13). Tal furo deu

origem a uma série de amostras, das quais foram processadas 04 em função

da homogeneidade dos sedimentos.

O perfil apresenta, para o intervalo de classe de –1 ≤ Φ ≤ 1,

semelhanças quanto à concentração de sedimentos grosseiros.

Para o intervalo de classe entre 1 ≤ Φ ≤ 2 (areia grossa), a fácie

da base do perfil (4 m) mostra uma curva granulométrica com amplitude

maior, exibindo um comportamento suavizado, enquanto o restante das

amostras apresenta um comportamento menos suave.

Page 109: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

109

No intervalo de 2 ≤ Φ ≤ 4, caracteriza o predomínio da fácie areia

média/fina para os sedimentos de unidade de topo da Formação Bananal.

No intervalo de 4 ≤ Φ ≤ 5, as amostras apresentam a mesma

tendência de fácie com areia muito fina, ou seja, em torno de 10% de peso.

Vale ressaltar que esta tendência converge para uma concentração muito

pequena, menos de 1% para a classe 6 (silte).

Fica determinados, pela composição textural dos sedimentos da

Unidade Geomorfológica Planície Agradacional da planície do Bananal,

duas fácies, uma com grânulos e uma outra com areia media/fina, que

imprime para essa unidade geomorfológica uma característica de intensa

movimentação de elevação e rebaixamento do nível freático. Isso torna essa

planície muito sensível quanto à variação do fluxo de água e de sedimentos

que entram no sistema.

Essa unidade assenta-se sobre um Latossolo Vermelho álico que,

devido às características de homogeneidade do terreno, interpretamos como

a classe de solo que é referendada pelo perfil de n° 98 já mencionado

acima.

No que se refere à cobertura vegetal, temos a fisionomia de uma

Savana parque com um tapete graminoso. Para representar essa fisionomia

foram identificadas as seguintes espécies de plantas:

− Curatella – Dillenaceae – Lenhosa – Lixeira;

− Americana – Cypiraceae – Graminea - -----------; .

− Alibertia sessetis – Rubiaceae – Lenhosa – Marmelada;

− Bysonima sp – Malpighiaceae – Lenhosa – Murici;

− Vochyisia tucanorum – Vochysiaceae – Lenhosa – Pau de

tucano.

A dinâmica hidrogeomorfológia dessa subunidade geoambiental é

referendada no trabalho com a caracterização feita a partir do

monitoramento da hidrologia, representada pelos sistemas fluviais

Page 110: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

110

autóctones do Corixinho da Saudade, Corixão e Cristalino, bem como do

freático, por meio dos dados dos poços de nº 06 e 07 (Vide Figura 13).

As vertentes que configuram a geoforma dessa subunidade

caracterizam-se por serem retas e largas e por apresentarem pendente local

entre 1% e 2%. (Vide perfil levantado com teodolito) (Figura 23).

Todos os contatos entre as fácies presentes nesse perfil ,

referindo-se a textura, se dão de forma transicional. Já quanto ao cortéx de

alteração, essa transição é brusca a partir de 2,70 m de profundidade. A

transição passa de um branco, que é constante até a profundidade de 2,70

m, a um córtex alaranjado nos níveis abaixo.

Na dinâmica de inundação a que Mamede et al (1983) referem-se,

o processo dinâmico de encharcamento não fica claro. Não são constatadas

evidências de que o encharcamento dessa subunidade dá-se pela saturação

do freático pelo regime de precipitação e posterior inundação de superfície,

ou se há um transbordamento dos sistemas fluviais autóctones ou ambos os

processos. E também com relação, à dinâmica de inundação da planície,

permanece certa obscuridade quanto à influência ou não dos sistemas

fluviais autóctones nesse processo de inundação. Também, os autores não

fazem menção sobre a existência ou não de algum tipo de relação entre

essas áreas inundadas apresentadas e o sistema fluvial alóctone principal da

região, representado pelo rio Araguaia.

Page 111: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

111

Page 112: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

112

5.2.2.3 -SUBUNIDADE GEOAMBIENTAL DE PLANÍCIE

FLUVIAL COM VEGETAÇÃO DE GALERIA

Esta subunidade ambiental caracteriza-se por apresentar uma

seqüência de depósitos arenosos inconsolidados de idade holocênica ao

longo dos sistemas fluviais autóctones dos rios Corixinho da Saudade,

Corixão e Cristalino.

O sistema fluvial que compõe essa subunidade apresenta nítido

controle tectônico, o qual é refletido pelo padrão retilíneo e pelo

paralelismo desses três rios, segundo padrão tectônico regional impresso na

área de direção nordeste / sudoeste (NE /SW) (Vide Figura 13).

A metodologia aplicada para a análise e compreensão da dinâmica

hidrogeomorfológica dessa subunidade geoambiental é a mesma aplicada

nas demais unidades, ou seja, monitoramento do freático, por meio do

controle dos parâmetros da hidrologia de poço, bem como da hidrologia

fluvial. Isso nos permite realizar o cruzamento de dados hidrológicos do

sistema freático e do fluvial.

Do ponto de vista das adaptações pedológicas, temos: Areias

Quartzosas e Solos Gley Pouco Húmicos.

Segundo caracterizações científicas adotadas pelo projeto

RADAM/IBGE (1982), a vegetação da subunidade geoambiental da planície

fluvial com vegetação de galeria, é Floresta Estacional Semidecidual

Aluvial com dossel emergente.

Page 113: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

113

5.2.3 - UNIDADE GEOMORFOLÓGICA PLANÍCIE ALUVIAIS

DOS RIOS ARAGUAIA E DO PEIXE

Esta unidade geomorfológica é classificada separadamente por

apresentar uma dinâmica hidrogeomorfológica independente. (Vide fig. 11.)

A unidade possui uma planície aluvial que abrange diferentes

aspectos, sendo formada por sedimentos holocênico e pleistocêno tardio.

Os sedimentos mais antigos são caracterizados pela presença de

conglomerado e depósitos arenosos altamente laterizados formando um tipo

de crosta concrecionada.

Delgadas laminações de areias finas, silte e argila caracterizam

estes depósitos localizados geralmente na parte superior dos perfis

sedimentares. Formam corpos geralmente tabulares de vários metros de

largura e espessuras inferiores a 0.5 m. Os materiais são depositados por

correntes tractivas de baixo regime e pela decantação dos elementos mais

finos nos setores do canal principal mais distantes dos fluxos principais.

Em muitos casos apresentam sua estrutura modificada por processos pós-

deposicionais como oxidação e bioturbação.

Estes depósitos forma acumulações lenticular, de material fino

(silte e argilas), maciço e de cor escura, podem se apresentar parcialmente

oxidados. A espessura destes depósitos é inferior a 0,3 m e o comprimento

máximo destas formas pode alcançar até dois metros. Geralmente

representam a decantação, nos setores deprimidos, dos materiais

transportados em suspensão por pequenos canais estabelecidos no topo dos

bancos de areia.

Depósitos formados pela acumulação de sedimentos finos com

uma alta percentagem de matéria orgânica apresenta-se, maciça,

intensamente bioturbada, podendo conter restos vegetais e núcleos de

oxidação. Esta fácies é reconhecida a partir de testemunhas de perfurações

e gerada em ambientes de baixa energia, distante dos fluxos principais,

onde prevalecem os mecanismos de decantação.

Page 114: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

114

Os processos pedogenéticos desenvolvem, nesse setor, tendo um

solo aluvial que, devido à intensa umidade e aos depósitos de finos,

sustenta uma densa mata de galeria. Essa mata de galeria pode ser

exemplificada utilizando-se da classificação taxionômica de Gênero /

espécie e Família, representada por: Scheelia phalerata – Palmae –

Lenhosa – Bacuri. Sedimentos síltico – arenosos inconsolidados da planície

de inundação do rio Araguia; Ingá uruguense - Leguminosae - Lenhosa –

Angá. Sedimentos sílt ico – arenosos inconsolidados da planície aluvial do

rio Araguia (paleocanal).

Page 115: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

115

Capítulo 6 - Discussão Dos Dados

Page 116: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

116

6.1- REPOSICIONAMENTO ESPACIAL DE UNIDADES

GEOLÓGICAS

Para margem esquerda do rio Araguaia na área entre Cocalinho e

Itacaíu, os mapas geológicos do RADAMBRASIL trazem como rochas do

Complexo Goiano, do Grupo Estrondo e uma grande área de cobertura

sedimentar quaternária do Bananal. Na realidade o que o RADAMBRASIL

considera como sendo cobertura sedimentar quaternária do Bananal é

identificada como sedimentos da Formação Araguaia. Identificações feitas

através de mapeamentos realizados nas margens esquerda entre Cocalinho e

Itacaíu e direita entre os rios Araguaia e do Peixe. Assim fica

reposicionada espacialmente a cobertura sedimentar do Bananal pelos

sedimentos da Formação Araguaia.

A análise feita a partir do perfil demarcado em imagem de

satélite e executado em campanha com orientação leste-oeste e 110 Km de

extensão, totalmente referenciado com dados diretos de campo (paradas 1,

1a 1b e 1c, 2, 3, 4, 5, 6, 7, , 8, 9.), permitiu- nos fazer reconsiderações a

respeito da geologia da área de pesquisa (Vide Figura 13). As quais são

apresentadas a seguir:

− Gnaisses Arqueanos.(parada 4)

− Quartzitos de idade Pré-cambriana (parada 6);

− Conglomerados e Coluvios laterizados de provável idade

Terciario médio-superior (paradas 2, 3, 5 e 7);

− Formação Araguaia de provável idade Terciária/Quaternária

(parada 1a, 1b e 1c, 8 e 9 );

− Sedimentos quartzosos de calha fluvial, planície aluvial, e de

paleocanais de idade holocênica (parada 1);

A cartografia do nosso trabalho espacializa as seguintes unidades

geológicas:

Page 117: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

117

Sedimentos inconsolidados a fracamente consolidados da

Formação Araguaia mapeados, com predomínio, em quase toda margem

direita do rio Araguaia a leste de Cocalinho. Aflora, também, nessa região

pequenas manchas de Laterita embutidos nos sedimentos da Formação

Araguaia.

Já na margem esquerda, entre o Araguaia e o rio Corixinho,

predominam os conglomerados fluviais e Coluvios laterizados, com

pequenos afloramentos de quartzitos e gnaisses com saprólitos.

No setor ocidental, setor oeste de Cocalinho, entre os rios

Corixinho e Cristalino, voltam a aparecer os sedimentos inconsolidados da

Formação Araguaia. Ao longo dos canais fluviais e dos paleocanais,

sedimentos quartzosos de idades holocênicas podem ser identificados (Vide

Figura 13 e Apêndice 3).

Já quanto ao arranjo espacial dessas unidades litológicas, na

Figura 8 do Capitulo 4, nota - se claramente as direções das paleocorrentes

com orientações leste-oeste, o que indica a antiga estruturação do sistema

fluvial, hoje totalmente reorganizada segundo direção sul-norte a exemplo

do rio Araguaia. Na figura citada acima, observa-se também o ressalte

topográfico entre a unidade laterizada e os sedimentos da Formação

Araguaia. O que pode ser entendido como uma interface dos sedimentos da

superfície de aplanamento regional e os sedimentos da Formação Araguaia,

ou seja, uma unidade geológica de transição entre esses sedimentos.

Os seixos grosseiros da Formação Araguaia e do conglomerado

laterizado apresentam um conjunto de dados lineares, os quais indicam as

direções de paleocorrentes para as unidades de lateritas e da Formação

Araguaia. Esses dados posicionam os sedimentos da Formação Araguaia

com orientação sul-norte, e os conglomerados e areias laterizados leste-

oeste.

Na margem direita do rio Araguaia, região de Cocalinho, os

sedimentos conglomeráticos laterizados, orientados segundo o antigo

sistema fluvial leste-oeste, hoje é cortado pelo atual rio Araguaia.

Page 118: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

118

Do ponto de vista dos dados geológicos, foi possível identificar e

estruturar em campo estas unidades litológicas, porém, o contorno que faz

o delineamento do contato litológico entre a unidade da Formação Araguaia

e a unidade dos sedimentos fluviais laterizados, mostra-se de difícil

constatação em campo. O que reforça a tese de uma unidade geológica de

transição.

Os afloramentos dos sedimentos da Formação Araguaia na área de

pesquisa mostram-se estéreis quanto á presença de matéria orgânica, tanto

nos furos de tradagem quanto nos barrancos, o que não permitiu fazer

datações para os sedimentos pelo método de radiocarbono C1 4. Fica a

recomendação, para trabalhos posteriores, a tentativa de datação desses

sedimentos pelo método de Termoluminescência.

Para a Formação Araguaia, como já mencionado, executamos três

furos, sendo um de 5,5 m a oeste de Cocalinho, margem esquerda do

Araguaia, onde foi encontrado sedimento arenoso na fácie areia média com

predomínio de mais de 95% de quartzo. Na margem direita, a leste, de

Cocalinho, perfurou-se 6 m de uma areia lavada de fácie areia média,

também, com mais de 95% de predomínio de quartzo. Nas descrições de

barranco do Rio Araguaia, na Barreira de São Domingos, foi descrita uma

fácie gravosa na base do barranco.

Também foi feito um perfil em rede, resultado de uma seqüência

de furos com 30 m de profundidade na região de Itacaiú a sul de Cocalinho.

São furos de fundação da ponte de Itacaiú – (ponte de ligação Goiás / Mato

Grosso). Nesse perfil , esses sedimentos são sobrepostos por sedimentos

recentes da planície aluvial do Rio Araguaia. Tal trasecto atinge 800m e

mostra composto predominantemente pela fácie arenosa (Vide Apêndice 5).

6.2- MODELO DA GÊNESE DOS LAGOS DA UNIDADE DE

APLANAMENTO REGIONAL

Page 119: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

119

Essa unidade é sustentada por litologias do cristalino, sobreposta

por uma cobertura de conglomerado com matriz arenosa e colúvios

laterizados, caracterizada por uma grande quantidade de lagos e um

evidente sistema de fraturas de direção NE/SW E NW/SE.(Vide Figura 13).

Para reforçar o que já foi citado, executou-se uma sondagem no

leito da lagoa da Baía, o qual, gera testemunho de 2,5 m. Para este

testemunho é identificado a fácie areia média/fina com mais de 95% de

quartzo. O que corrobora com a tese de que esse depósito de conglomerado

laterizado possui uma proeminente matriz arenosa.

A água do freático como já fora mencionado, nessa área,

apresenta, para o fator acidez, um pH entre 4,7 a 5,5. Para o sistema

lacustre entre 6,6 a 6.8 e, para o solo, entre 4,9 e 5,7.

Esses dados evidenciam que o sistema lacustre, por sofrer uma

entrada direta de água no sistema, seja por precipitação direta ou

escoamento superficial, apresente o pH próximo a 7.

O conjunto desses processos (precipitação e escoamento

superficial) leva o sistema lacustre, á apresentar um pH próximo ao neutro,

a exemplo de pH apresentado pela Lagoa da Bahia (6,6 a 6,8).

Já o sistema hidrológico de subsuperfície apresenta-se como uma

solução mais acidificada, provavelmente, resultado de intenso processo de

lixiviação e conseqüente acidificação do freático, com pH entre 4,7 a 5,5.

Na Unidade em estudo, temos dois sistemas lacustres bem

definidos: um conjunto de lagos pequenos e arredondados que podem estar

traduzindo uma fase incipiente de dissolução, mostrando o estágio de não

coalescência entre os lagos. A Figura 24 mostra um certo alinhamento

entre esses sistemas, resultado de possível condicionamento tectônico, bem

como um estiramento segundo o alinhamento NW/SE, o que evidencia uma

tendência a coalescência desses lagos, portanto esse sistema lacustre parece

registrar um estágio inicial na evolução do segundo sistema lacustre, ou

seja, dos lagos estirados e maiores.

Page 120: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

120

Page 121: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

121

Diante de tal quadro, apresentamos para os sistemas lacustres

dois processos operantes na evolução. Didaticamente serão apresentados,

nesse trabalho, como lagos do tipo 1 e tipo 2.

Os lagos do tipo1 são pequenos e arredondados. Já os lagos do

tipo 2, são maiores e alongados.

Os lagos de tipo 1 mostram uma evolução associada a processos

incipientes de dissolução das lateritas e estágio de não coalescência entre

os lagos (Vide Figura 24). Os de tipo 2 evolui pela associação de sistema

de fratura e processos de dissolução e estágio final de coalescência entre os

lagos (Figura 25).

6.3 - DINÂMICA HIDROGEOMORFOLÓGICA DA PLANÍCIE

DO BANANAL

Como já fora mencionado, a dinâmica de encharcamento constitui

atributos relacionados como variáveis de estado e um dos parâmetros de

controle sobre as relações das unidades geomorfológicas e unidades

Geoambientais. Nesse sentido, o processo morfogenético dominante

(inundável ou não inundável, por exemplo), torna-se fundamental na

caracterização das unidades geomorfológicas .

Para tanto, na tentativa de uma caracterização hidrológica das

unidades geomorfológicas, discutimos o comportamento do freático e dos

parâmetros físico-químicos tais como: Temperatura - (T=ºC), Potencial

Hidrogeniônico – (pH), Oxigênio Dissolvido – (OXD=mg/l), Totais de

Sólidos Dissolvidos – (TSD=g/l), Superfície Piezométrica – (SP=m),

Condutividade – (CD=mS/m), Transparência – (TRP=m), Profundidade –

(PF=m), dos sistemas hidrológicos por unidades geomorfológicas.

Começamos por agrupar esses dados nas tabela 16 e 17:

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122

Page 123: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

123

Tabela 16. Aplanamento Regional

Sistema hidrológico lacustre Sistema hidrológico do freático

T°C – 28,3 a 30,20 T°C – 28,30

pH – 6,30 a 6,90 PH – 4,7 a 5,8

OXD. – 6,90 a 8,60 OXD. - 4,2 a 6,7

TSD. - 0,01 a 0,04 TSD. – 0,03 a 0,1

SP. - -------------- SP. – 3,2 a 4,7

PF.- 1,10 a 2,30 PF. - --------------

TRP. – Total TRP. - -------------

CDT. – 1,0 A 4,80 CDT. – 4,0 a 15,30

Tabela 17. Planície Agradacional ligeiramente dissecada

Sistema Hidrológico Fluvial Sistema Hidrológico do freático

T°C – 26,3 a 28,6 T°C – 28,60 a 28,90

pH – 5,5 a 6,10 PH – 5,50 a 4,90

OXD. – 5,90 a 9,30 OXD. – 5,90 a 10,05

TSD. - 0,01 a 0,06 TSD. – 0,06 a 0,13

SP. - -------------- SP. – 2,40 a 5,80

PF.- --------------- PF. - --------------

TRP. – Total TRP. - -------------

CDT. – 0,9 a 7,40 CDT. – 7,40 a 18,50

Page 124: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

124

6.4 - PLANÍCIE ALUVIAL DO RIO ARAGUAIA E DO PEIXE

Como podemos observar nas tabelas acima, os parâmetros físico-

químicos não constituem um conjunto de variáveis que nos permitem fazer

uma diferenciação das unidades, uma vez que os valores de TSD, OXD,

CDT, oscilam muito. Já a temperatura, o poder hidrogeniônico e o nível do

freático são muito semelhantes para ambas unidades. O nível do freático

oscila para pontos diferentes da superfície de Aplanamento regional, de

3,20 m a 4,70 m. O que se deve as grandes variações das pendentes locais

para as geoformas dessa unidade. Já a Planície Agradacional ligeiramente

dissecada apresenta valores da posição do freático entre 2,40 m a 5,8 m. Na

realidade, o valor de 5,8 m é isolado, pois o resultado das medidas de dois

poços e duas tradagem caracteriza uma superfície piezométrica para essa

unidade na ordem de 3,0 m pra o mês de junho (Vide Figura 11 e Apêndice

2).

Isto indica que, apesar da baixa declividade das vertentes para

quase toda unidade, declividade absoluta menor que dois por cento. O valor

de 5,80 m para o poço próximo ao rio Cristalino revela a posição de um

vale que apresenta vertentes com uma declividade que se distancia do

comportamento médio da unidade.

Como fora descrito, a dinâmica hidrológica do freático para

unidade de Planície Agradacional ligeiramente dissecada oscila no mínimo

em três metros, posição registrada para o mês de junho, princípio do

período de seca para a região e o total encharcamento nos meses de

janeiro/fevereiro.

Os sistemas fluviais dessa unidade comportam um complexo

sistema de canais e paleocanais. Este intrincado sistema nasce, desenvolve-

se e morre dentro dessa unidade a exemplo dos rios Corixão e Cristalino. Já

os paleocanais mostram um comportamento de canais ativos no período de

cheias e inativos na seca. Assim, esse complexo sistema trabalha os

próprios sedimentos dessa planície(Vide Apêndice 1).

Page 125: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

125

Vale considerar que esta unidade é sustentada por sedimentos

arenosos da Formação Araguaia. Constitui-se de sedimentos detríticos,

homogêneos, com classe granulométrica predominante na fácie areia média

de mineralogia com mais de 95% de quartzo e provável idade pleistocênica

(Vide Figura 13).

Como já fora descrito, o freático oscila de no mínimo três metros,

diferença entre as medidas do nível (3,0 m) no mês de junho e a total

inundação. Esse comportamento hidrológico faz ressaltar três unidades

ambientais para a Planície: Unidade Inundada com Paleocanais,

Escoamento impedido com Campos de Murundus e Planície Fluvial.

É de extrema importância o entendimento de como funciona a

inter-relação entre as variáveis de estado e as de transformação para que se

tenha uma boa compreensão da dinâmica hidrológica.

Assim, a homogeneidade granulométrica apresentada pelos

sedimentos de topo da Formação Araguaia equivale à homogeneidade

textural de sedimentos classificados por Mello & Teixeira (1967), como de

permeabilidade de 0,1 cm/seg. Logo os sedimentos da Formação Araguaia

podem ser classificados como de alta permeabilidade. As condições de: alta

permeabilidade, baixa profundidade media do freático, vertente larga e

retil ínea, declividade absoluta menor qude 2% confere para a planície uma

dinâmica rápida de saturamento do freático e conseqüente encharcamento

das partes baixas dos interflúvios dessa unidade. Encharcamento que,

segundo as entrevistas feitas junto a moradores da região ocorre geralmente

a partir do mês de janeiro/fevereiro.

A partir da dinâmica de encharcamento, inicia-se na planície o

processo incipiente de degradação/agradação. Com isso inicia-se, também,

o funcionamento da intrincada rede de paleocanais.

Isto vem demonstrar que a dinâmica de encharcamento da planície

está intimamente ligada ao regime de precipitação local e que a dinâmica

de encharcamento e de subida das águas dos sistemas fluviais dessa

planície mostra estar em fase. Ou seja, a subida do freático e das águas dos

sistemas fluviais dessa unidade acontece simultaneamente.

Page 126: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

126

As condições de alta permeabilidade dos sedimentos da planície e

rio autóctone em vales encaixados com diques marginais imprimem aos

sistemas fluviais a condição de impossibilidade de contribuir no processo

de encharcamento da planície, pois, quando há um provável

transbordamento, a planície já se encontra inundada. Quando ocorre o

transbordamento, as águas dos sistemas fluviais acabam por represar o

sistema incipiente de paleocanais que passa a funcionar, a partir de então,

como operador dos processos agradacionais.

Page 127: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

127

Capítulo 7 - Considerações Finais

Page 128: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

128

A região de Cocalinho pode ser usada como uma área

representativa da planície do Bananal e a rodovia MT-326 permitem ter

acesso a um transecto leste-oeste ao longo dessa principal unidade

morfológica. A bacia sedimentar do Bananal é formada por um complexo de

falhas normais com blocos elevados sobre o substrato que controla

tectonicamente a evolução sedimentar dessa bacia.

Na região de Cocalinho, identificamos três unidades

geomorfológicas:

a) Unidade de Aplanamento Regional;

b) Planície aluvial do Araguaia e do rio do Peixe;

c) Planície Agradacional ligeriramente dissecada.

A superfície de aplanamento regional estende ao longo da borda

leste da bacia. Foi desenvolvido sobre rochas do pré-cambriano

(principalmente quartzitos). No setor a oeste de Cocalinho aflora: gnaisses,

saprólitos e quartzito. A população de seixos angulosa de quartzo e

quartzito é produtos residuais de saprolitos de rochas do escudo. O

processo de laterização se desenvolveu em clima subúmido.

Sobre a superfície de aplanamento instala-se um sistema de

drenagem que começa a produzir dissecação. Os sedimentos aluviais e

coluviais são depositados nos vales com sentido leste-oeste. O que é

evidenciado pelos dados de paleocorrentes dos sedimentos dessa unidade

(Vide Figura 13 e Apendice 1).

A planície do Bananal é coberta por extensos sedimentos

quaternários. Partes desses sedimentos estão incluídos confusamente na

Formação Bananal, os quais estão incluídos nos sedimentos quaternários de

diferentes unidades e idades. A planície do Bananal é formada

principalmente por depósitos de sedimentos aluviais e esta extensa planície

é temporariamente inundada durante a estação chuvosa pela precipitação

local. A idade destes sedimentos é ainda pouco conhecida, mas nós

sugerimos como sendo do pleistoceno tardio os sedimentos que afloram na

Page 129: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

129

área e incluímos esses sedimentos na unidade geológica da Formação

Araguaia.(vide mapa geológico e geomorfológico)

A Unidade Geomorfológica Planície Aluvial do rio Araguaia e do

Peixe possui uma complexa planície deposicional formada por sedimentos

holocênico e pleistocêno tardio?. Os sedimentos mais antigos são

caracterizados pela presença de conglomerado e depósitos arenosos

altamente laterizados formando um tipo de crosta concrecionada.

Interpretamos este episódio de sedimentação como um período árido onde

grandes quantidades de sedimentos entram no sistema fluvial pelos

processos de aplanamento regional. A presença de seixos angulosos é

indicativo de um pequeno transporte do local de origem dos sedimentos

fluviais. Um período mais árido de baixo nível das águas pode ser

interpretado como origem dos sedimentos que posteriormente serão

laterizados

Do ponto de vista da cartografia temática apresentamos algumas

reconsiderações cartográficas a respeito do trabalho do RADAMBRASIL.

Para a geologia, os dados de campo reposicionam espacialmente

as seguintes litologias:

− O que foi mapeado como Formação Bananal entre o rio

Corixinho e margem esquerda do rio Araguaia, posiciona-se

uma cobertura sedimentar conglomerática laterítica e colúvios

laterizados de provável idade Terciária.

− Já pela margem direita do Araguaia, essa formação é mapeada

como Formação Araguaia com uma interface de cobertura

laterizada, registrada em afloramentos na região da Faz.

Planície Verde, e que é classificada nesse trabalho como uma

unidade geológica de transição entre a cobertura sedimentar

detritica-laterítica e os sedimentos da Formação Araguaia.

No local onde afloram fili tos do Grupo Cuiabá, foram

identificados quartzitos, aos quais fazemos correlações com as litologias do

Grupo Estrondo de (Hassui et al, 1975).

Page 130: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

130

Para as unidades geomorfológicas, foi reposicionada

espacialmente as áreas de superficie pediplanada entre os rios Cristalino e

Corixão, por Unidade Planície Agradacional Ligeiramente Dissecada. Entre

os rios Corixinho e margem esquerda do Araguaia as superfícies

tabuliformes, foi mapeada como Unidade de Aplanamento Regional. Entre a

margem direita do Rio Araguaia e o rio do Peixe, as superfície

pediplanadas por Unidade Geomorfológica de Aplanamento Regional.

Apresentamos nesse trabalho como produto final:

− Mapa de unidades geomorfológica e ambiental na escala de

1/100.000;

− Mapa geológico e hidrológico na 1/100.000;

− Um perfil geológico de 110 Km de extensão;

− Um perfil que reproduz o comportamento da superfície

piezométrica das unidades geomorfológicas;

− Um perfil geológico de 880m de extensão, com informações de

30 m de profundidade da Formação Araguaia para a região de

Itacaíu.

No desenvolvimento desse trabalho, estudamos a dinâmica

hidrogeomorfológica da planície do Bananal em um trecho que vai do

município de Aruanã (GO) e Luiz Alves (GO). Foram identificados

parâmetros físico-químicos de sua hidrologia, bem como o funcionamento

da dinâmica piezométrica da planície e o entendimento dos processos de

encharcamento de grande parte dela. Procurou-se o entendimento do

funcionamento dos sistemas lacustres, e a identificação das litologias que

compõe as unidades geomorfológicas e geoambientais. Por fim procuramos

compreender os processos resultantes das inter-relações entre as variáveis

de estado e de transformação que entra na construção dessa paisagem

natural a qual compõe esse importante ecossistema da planície do Bananal.

A planície do Bananal com seu complexo sistema

hidrogeomorfológico/geoambiental, no trecho que compreende a área entre

Aruanã (GO) e Luíz Alves (GO), foi pesquisada utilizando-se de um

Page 131: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

131

cronograma de execução ou fases de trabalho, um conjunto de

equipamentos, técnicas e métodos específicos que possibilitaram o

entendimento e descrição da área encharcada. Assim, foi possível

identificar os processos desencadeados pela dinâmica hidrológica, frente as

variáveis de estado.

A partir de então, adotamos um critério de análise e descrição

morfológico – genético, estabelecendo para a planície do Bananal as

relações do tipo “causa – efeito” entre as variáveis de estado e as variáveis

de transformação na formação de sua paisagem natural.Procedendo dessa

forma, foi possível individualizar áreas da planície com características de

superfícies semelhante, o que nos permitiu a compartimentação da planície

do Bananal em três Unidades Geomorfológicas e seis Subunidades

Geoambientais:

A) – Unidade I - Unidade Geomorfológica de Aplanamento

Regional.

Subunidades geoambientais:

a - Subunidade Geoambiental Lagos Maiores Assentados

sobre Sedimentos Laterizados e Savanas Arbóreas

Densa ou Cerradão ;

b - Subunidade Geoambiental Lagos Pequenos e

Geometria Arredondada Assentados sobre Rochas do

Cristalino e dos Sedimentos da Formação Araguaia

Com Vegetação de Cerrado;

c - Subunidade Geoambiental Altos Estruturais com

Forma Aguçada Sustentada por Quartzito.

Unidade II – Unidade Geomorfológica Planície

Agradacional ligeiramente dissecada.

Subunidades geoambientais :

Page 132: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

132

a – Subunidade Geoambiental Áreas de Escoamento

Impedido e Campos de Murunduns;

b - Subunidade Geoambiental de Planície com

Paleocanais e Áreas Inundáveis;

c – Subunidade Geoambiental de Planície Fluvial com

Vegetação de Galeria.

C) – Unidade III - Planície Aluvial do rio Araguaia e do Peixe

Como já fora discutido, os dados de campo tais como: geologia,

dados dos sistemas de fraturas e de paleocorrentes levam-nos às seguintes

considerações a respeito da formação da planície do Bananal:

1. – O sentido leste-oeste das paleocorrentes indicadas pelos

sedimentos conglomeráticos laterizados registra uma fase de

basculamento tectônico de blocos do cristalino, promovendo

uma rampa escalonada com um conseqüente e antigo sistema

fluvial estruturado segundo direção geral Leste – Oeste;

2. – Fase de instalação de uma superfície de aplanamento

regional que vai fornecer grande quantidade de sedimentos

que entra no sistema fluvial. Provavelmente esse período

registra fase de um clima mais árido, o que vai favorecer

baixos níveis das águas e intenso processo de laterização

desses sedimentos. Os quais registram seixos com diâmetro de

11cm até 30 cm e paleocorrentes com direcionamento leste-

oeste;

3. – Fase de instalação do sistema lacustre por processos de

dissolução das lateritas;

4. – Fase de um maior gradiente hidráulico do sistema fluvial do

rio Araguaia e conseqüente formação de um terraço fluvial

estruturado segundo direcionamento da tectônica regional, ou

seja, sul – Norte; deposição e estruturação dos sedimentos

Page 133: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

133

arenosos, fácie areia média/fina S (m, F) fracamente

consolidado, estruturado segundo direção Sul – Norte da

Formação Araguaia;

5. – Fase de reentalhamento do rio Araguaia cortando o terraço

fluvial e deposição de sedimentos holocênicos, bem como de

instalação do sistema hidrológico autóctone da planície do

Bananal sobre os sedimentos da Formação Araguaia.

Como também, já fora discutido anteriormente, entendemos o

funcionamento da dinâmica hidrogeomorfológica da planície e os processos

de encharcamento de grande parte dessa área como sendo o resultado de

saturação do freático pela dinâmica atmosférica (precipitação de 1600 a

2000 mm de chuva), bem como pelo barramento dos paleocanais pelos

sistemas fluviais autóctones principais do Corixinho da Saudade, Corixão e

Cristalino.

Esse regime pluviométrico, também, é o responsável pelo intenso

estado de lixiviação em que-se encontra os sedimentos de topo do terraço

fluvial, classificados pelo RADAMBRASIL como sedimentos quartzosos

indiferenciados.

A partir do levantamento morfométrico, em campo, das formas

degradacionais/agradacionais das unidades geomorfológicas da planície, foi

possível fazer a modelagem das vertentes em: predomínio de vertentes

côncavas / convexas com respectivos ângulos 6º e 4ºpara a unidade

geomorfológica de Aplanamento Regional e vertentes largas e retas com

declividades menores que 2% para a unidade geomorfológica de

Degradação Incipiente da planície do Bananal.

Acreditamos que esse tipo de trabalho dê uma contribuição

técnica-cientifica à sociedade bem como aos nossos governantes, uma vez

que há necessidade de criar planos de gestão para essa delicada e complexa

ecorregião que tem na hidrologia a sustentação de uma das mais ricas

biodiversidades do planeta, alem de contar com o principal sistema fluvial

do Centro Oeste, o rio Araguaia. Torna-se, portanto um ecótono entre os

biomas Cerrado e Amazônia.

Page 134: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

134

Assim, torna-se imprescindível o desenvolvimento de mais

pesquisas de detalhe para que se possa determinar, com maior precisão,

modelos de evolução morfosedimentar / morfohidrológica e a proposição de

modelos paleoambientais, paleoclimaticos e paleohidrogeomorfológico para

essa planície.

Page 135: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

135

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Page 136: VIEIRA, P. A. Caracterização das Unidades Geomorfológicas

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Anexos

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142

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143

Apêndices

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TRABALHO DE CAMPO NºLocalização: Coordenadas: Data: Codico para Associação de Fácie:

Litologia: A

de FacieFacie

ssociação SubambientePoço: ( ) Perfil: ( )

( ) m ( ) m Cor Fósseis Paleocorr

entesEst. Sed.

Dique marginal

Smao Dique Marginal

0

PântanoFmo

Pântano e zonaalagadas

1 Smo2 Smao3

PlanícieFmo Planície de

Inundação4 Smo5 Smao "crevasse"6

AbandonoSma Abandono de

Canal - LagoOxbow

7 Smo8 Smao9

Canal

Ss Canal: barra

central, barra

lateral, mega

ondulações,

barras

emergentes ...

10 SmoF S G Sm

SaoCota local: SmaHidrologia: SacVegetação: SmcaPedologia SmaoEstação

Fluviométrica

Canal (Sistema

Entrelaçado

Smc Canal: barra de cascalho,

despositos de GmDunas Eólicas

10

8

7

6

54

3

2

1

0

9

ANEXO 01 - Ficha de Campo