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vide Revista experimental de reportagens, produto do trabalho de campo feito em Cristalina, Goiás, pelos estudantes de jornalismo da Faculdade de Comunicação na Universidade de Brasília. Relatos da economia, política, cidade, ambiente, turismo e cultura do Município. Edição Única|Março de 2013

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videRevista experimental de reportagens, produto do trabalho de campo feito em Cristalina, Goiás, pelos estudantes de jornalismo da Faculdade de Comunicação na Universidade de Brasília.

Relatos da economia, política, cidade, ambiente, turismo e cultura do Município.

Edição Única|Março de 2013

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Tão próxima e tão distante da nossa origem, nos debruçamos sobre Cristalina com o propósito de descobrir como é este dia-a-dia traçado por seus cidadãos. Isto é, conhecer os cristalinenses e que cidade é essa que eles constroem, cada um com sua contribuição. Logo, abordamos tanto aspectos mais gerais, que colocam em questão a administração dos bens que circulam pela cidade, quanto os personagens que tornam vivas tais feições. O olhar particular e humanizado complementa e dá sentido ao olhar mais contextual. E vice-e-versa.

Com curiosidade e disposição, nossa equipe partiu de Brasília buscando fazer jus à cidade que tem como símbolo o desbravador. Ao rascunhar as pautas, alguns temas já surgiram de pronto: agropecuária, mineração, comércio de cristais e o turismo. Com um pouco mais de pesquisa, evidenciamos os problemas administrativos no desenvolvimento de Cristalina. A superlotação das penitenciárias, o horror do crack, os problemas na infraestrutura, a potência industrial e imobiliária, as falhas no sistema de saúde, um projeto esportivo de destaque, a precariedade das opções de lazer e da própria estrutura turística.

Carta dos editores

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Contudo, era necessário ir além se quiséssemos proporcionar ao leitor e à leitora uma visão mais completa da cidade. A equipe da revista Vide – turmas de Técnicas de Jornalismo e Fotojornalismo da Universidade de Brasília –, então, trouxe à tona questões sobre o cotidiano das pessoas que moram ali e sobre a formação cultural da cidade. Descobrimos a produção do artista popular e personagem da história cristalinense, Seu Germano, a tradição culinária e religiosa do leste goiano. Também investigamos as riquezas contidas no entroncamento rodoviário e a diversidade de origens da população. Assim, iniciamos, na prática, o fazer jornalístico – humano, proativo e real. Boa leitura.

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ooo Expediente

Editores ChefesEduardo BarrettoEmily Almeida

EditoresAlessandra AzevedoCamila CuradoGabriel LuizLaura TizzoMarina MartinsNívea RibeiroThiago Amâncio

Diretores de ArteAdriano BelmiroBeatriz FerrazCaio CorrêaCamila CuradoIsabella Lima

Editor de FotografiasHermano Araújo

Rerpórteres e FotógrafosAdriano BelmiroAna Teresa MaltaAnna de MoraesBarbara BruzBeatriz FerrazCamila CuradoCarina ÁvilaCaroline BcharaEduardo BarretoElias GuerraEmily AlmeidaGabriel LopesGabriel LuizHermano AraújoIngrid BorgesIsabella LimaKarla Beatriz OliveiraLaura TizzoMarina MartinsMônica NubiatoNayara FerreiraNívea RibeiroPaulo Caproni Sophia CostaThiago Amâncio

Orientador de ReportagensDavid Renault

Orientadora de FotografiasProfessora Susana Dobal

Universidade de BrasíliaFaculdade de ComunicaçãoDepartamento de Jornalismo Segundo semestre de 2012

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o ooEconomia e Política

8 Uma nova colonização12 Uma cidade com potencial não aproveitado16 Infra-estrutura é obstáculo para progesso20 Cristais impor tados 22 Entroncamento clama por melhor aproveitamento

Cidade

24 Espor te traz um novo futuro para Cristalina28 Saúde em Cristalina é feita de fachadas32 Escolas rurais preparadas para o começo do ano36 Quem compra o valor notícia?41 À união falta a força

Turismo

45 Projetos e projeções do novo Parque Ecológico de Cristalina47 Turismo Internacional: Um aeropor to pra 201450 Balneário das lajes em reetruturação

Cultura

54 A religião e os desaf ios da fé em Cristalina58 Cristalina: Berço de um ar tista sem igual 62 Ofício de resitência e esforço diários 68 Inf luências e tradições reunidas num só cardápio74 Lazer noturno em Cristalina é precário

Sumário6 Cristalina, sua gente,

sua história77 Perf il82 Coluna Social

88 Making Of

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O viajante desavisado que passa pela BR 040 ou 050 que decide entrar em Cristalina – seja para dormir uma noite, para uma refeição ou para comprar lembranças – é surpreendido de várias maneiras. Primeiramente, é uma surpresa uma cidade tão singular se localizar em um entroncamento de duas grandes rodovias federais. Como cada um percebe as singularidades, é pessoal, com certeza. Mas nossa equipe de reportagem vivenciou, conversou e apurou várias facetas de Cristalina, para trazer ao leitor informação de onde não costuma vir.

É fácil perceber que em cada rua Também é expressa na praça da cidade, com uma prefeitura nova. No gabinete do prefeito, muitos cristais, além de quadros dele mesmo, do governador e da presidente. Por sinal, o prefeito parece fissurado com sua imagem: em toda repartição pública, como um símbolo religioso, está seu quadro. Na prefeitura, há mais de uma dezena deles. O culto ao líder é, pelo menos, estimulado. O prefeito usa botinas, mas veste casaco de couro e usa o celular mais caro. Em uma cidade desigual, tal contradição é a menor.

Conta-se que os bandeirantes toparam com a farta Serra Velha durante a busca por ouro e esmeralda, ainda quando se completaria três séculos que Cabral avistou as terras brasileiras. O senhor Sebastião Marinho levou amostras das rochas especiais dali para o Sudoeste. Mas era cristal, não era ouro. A região, então, só veio a ter atenção outra vez quase cem anos depois, quando os comerciantes de ouro franceses de Paracatu (MG), Lepesqueur e Leboissière, mandaram souvenires dos cristais para os parisienses.

Sem demora, os burgueses franceses se encantaram pela pureza, utilidade e beleza dos cristais. O sucesso na exportação estava apontado nas decorações das salas e nas indústrias óticas francesas. Empolgados com a lucratividade do novo negócio,

a dupla retorna à região a fim de explorar o minério da que já seria a Serra dos Cristais. Mas era necessário garimpeiros para extrair o minério. Por isso, vieram tropas das proximidades tirar a pedra bruta para ser posteriormente lapidada em centros industriais europeus. Era a faísca do povoamento.

Quando o comércio dos cristais começou a enfraquecer, Emílio Levy, outro francês, deu novo fôlego à extração nos garimpos, com as trocas por tecidos e bugigangas. Em 1883, ele constrói a primeira residência, em contraste às transitórias choças de pau-a-pique de teto de folha de buriti e capim. Daí em diante, não parou de passar e chegar gente.

A extração e o comércio dos cristais impulsionavam o crescimento do povoado do Arraial de São Sebastião da Serra

“Se é cidade, tem gente. Se tem gente, constrói história. Quem passa por Cristalina constrói sua história. Quem fincou suas raízes lá, mais.”

CRISTALINA, sua Por Eduardo Barretto e Emily Almeida Azarias

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dos Cristais, pertencente à Santa Luzia (hoje Luziânia), com gente trazendo um pouco de cada de suas diversas origens. Ipameri, Paracatu, Alemanha... Que se complementaram aos gaúchos, cariocas e até árabes que povoaram a região um século mais tarde. Ainda por volta de 1890, a missão Cruls atravessou o vilarejo para demarcar o território da futura capital, algo que viria a ser determinante para intensificar a urbanização tempos depois.

A emancipação do Arraial para Distrito de São Sebastião dos Cristais veio a acontecer em 1901, como uma ação de Marciano Aguiar, Plácido de Paiva, Nicolau Batista de Oliveira e outros com o propósito de pacificar a região que vinha sendo ocupada por malfeitores, atraídos pela prosperidade do minério. Dali, com certeza, saíram várias lendas de criminosos como Zé Mangabeira, Quintino Barnabé, João Matador, dentre

outros. Cerca de quinze anos depois, o distrito elevou-se a Município de São Sebastião dos Cristais. E, por fim, Cristalina, como nos é apresentada agora.E a cidade assim foi germinada. Aos poucos, se descobriu outras riquezas além do minério: a paisagem natural, o artesanato das pedras, a agropecuária, a indústria, o comércio. O caminho natural de muitas goianas. Sem, porém, perder seu brilho. Nessa

linha do tempo, foi consolidando a receptividade tímida de seus cidadãos, a simplicidade interiorana mesclada a dinâmica metropolitana, a convivência harmônica entre o rural e o urbano. Hoje, integra a metrópole do Entorno do Distrito Federal, sendo uma das cidades mais independentes e uma das que mais cresce.

As próximas páginas de dedicam a desdobrar melhor essa cidade e seus aspectos na atualidade. Desde os potenciais e as especialidades, té os obstáculos ao desenvolvimento e os males tragos com o crescimento urbano e populacional descontrolado

gente, sua história

Igreja são Sebastião. Foto deEmily Almeida

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UMA NOVACOLONIZAÇÃOGraças ao investimento privado, Cristalina abandonou a dependência

da mineração e agora é mais um polo do agronegócio brasileiro

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PIBR$ 620 milhões

Petrolina

Cristalina

São Desidério

R$ 624 milhões

R$ 559milhões

No início do ano, os dados divulgados pelo IBGE sobre

Cristalina impressionaram: o PIB agrícola da cidade ficou em torno de R$ 624 bilhões em 2010. A pequena cidade goiana, antes lembrada apenas pela extração de cristais, ficou então conhecida nacionalmente como a maior produtora agrícola do Brasil, seguida por Petrolina (PE) e São Desidério (BA), de acordo com a mesma pesquisa.

Para Daniel Vaz, um dos diretores do Sindicato Rural de Cristalina, esse resultado não é surpresa. O sindicalista, também vereador da cidade, afirmou que o clima ameno, o regime de chuvas e a altitude são algumas das características que fazem Cristalina tão produtiva, e a população local, que acompanha o desenvolvimento de perto, já esperava que o PIB fosse atingir nível tão alto quanto o de 2010.

Mas a principal razão desse desempenho é a irrigação. Implantado por produtores de outros estados nos anos 80, o sistema de irrigação de Cristalina é tão imponente quanto os resultados gerados, e o

município já é o maior irrigador da América Latina. Enormes pivôs molham 55 mil hectares de rodízios de culturas com grande valor agregado, como feijão, milho, alho, soja, trigo e outras 31 variedades que escoam para todo o país e até para o exterior. A água captada da chuva enche diversas barragens construídas pelos produtores dentro de suas fazendas e garante o plantio mesmo em períodos de seca. Dessa forma, a produção é ininterrupta e depende cada vez menos das condições climáticas – apesar dos prejuízos causados pela chuva excessiva nos últimos meses, em especial na safra de soja.

Além da geração de lucros diretos, o agronegócio movimenta praticamente toda a economia do lugar. O comércio de insumos, maquinário agrícola e equipamentos de sistemas hídricos é crescente, os quase 20 mil trabalhadores rurais aquecem o mercado de serviços e o número de investidores e técnicos que vão à cidade fazer visitações já é notável, ajudando assim o turismo, o comércio local e, inclusive, a venda de artesanato de cristal. O pequeno parque industrial existente também depende da produção agrícola, já que as quatro fábricas instaladas produzem enlatados e outros derivados alimentícios.

Reportagem: Nívea RibeiroFotografia: Gabriel Luiz

agrícola

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Apesar disso, “a cidade não acompanha o crescimento agropecuário”, denuncia Luiz Figueiredo, dono de uma das maiores fazendas leiteiras da região e membro do SRC. De acordo com o produtor, os problemas estruturais são muitos e não há interesse público suficiente, a despeito da cobrança

regular de impostos, sendo a iniciativa privada a responsável maior pelo crescimento da região. Do estudo dos solos do cerrado à construção de estradas e instalação de fiação elétrica, as obras necessárias ao aprimoramento rural, até as que deveriam ser feitas pelo governo, são resultado da insatisfação dos

fazendeiros, que preferem investir diretamente em infraestrutura a esperar ações do poder público, situação comum em diversas outras regiões brasileiras onde o agronegócio tenha se desenvolvido rapidamente.

Em Cristalina, nem a política deixa de ser pautada

Estábulo na Fazenda Figueiredo: saúde dos animais é monitorada por meio de chips eletrônicos

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pela agropecuária, por meio da pressão de sindicatos, cooperativas e ONGs criados por ou para produtores. Além do SRC - e bem mais modesto que esse - há também o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR), que se propõe a representar as classes assentadas e trabalhadoras do campo. A realidade dos produtores que formam o STR é totalmente distinta daquela dos

que dão fama ao município: em grande parte vindos após 1995, quando houve a fundação de 11 assentamentos da Reforma Agrária nas redondezas do centro urbano, os agricultores familiares não possuem capital para investimentos em tecnologia de ponta e infraestrutura.

Logo, ao contrário dos grandes produtores que contam com poder econômico e técnico, os assentados ainda são dependentes das chuvas, das safras anuais, das obras estruturais do Estado e da venda apenas em escala local. Para eles, ainda são de extrema importância ações como o oferecimento de cursos de capacitação, apoio financeiro à compra de maquinário e inovações tecnológicas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e interferências diretas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que garante que parte dos alimentos das merendas de grupos escolares

e outros órgãos públicos deve vir de plantações familiares.

Mesmo com dificuldades e em um mercado desleal, muitas famílias cristalinenses conseguem lucrar com suas lavouras e ajudam a fortalecer o comércio local. “Quem movimenta Cristalina são os trabalhadores rurais. Os grandes produtores plantam aqui, tiram tudo o que querem e levam o dinheiro todo para fora”, diz Gilio Carradore, um dos fundadores e atual tesoureiro do STR. De uma forma ou de outra, Cristalina é mais uma cidade interiorana a vivenciar o impacto do boom agropecuário que têm atingido áreas antes pouco produtivas do país, com todos os benefícios e controvérsias de algo que pode considerado uma variação moderna de desbravamento.

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UMA CIDADE COM POTENCIAL NÃO APROVEITADO

Quedas de energia, estradas em más condições e falta de mão de obra qualificada inibem um crescimento ainda maior de Cristalina.

Reportagem: Gabriel LuizFotografias: Hermano Araújo

O terminal do caixa eletrônico que Sebastião de Oliveira usava desligou após um blecaute. Isso nunca lhe tinha acontecido.

Foi com quase duas horas de atraso que a coletiva de imprensa com o primeiro prefeito a ser reeleito da cidade, Luiz Carlos Attié (PSD-GO), começou. Ele dava uma entrevista à rádio local quando a energia caiu e adiou o restante do cronograma. E assim, de início, percebe-se um dos gargalos mais aparentes da região. Com o maior PIB agrícola do país e um crescimento invejável de 228% em cinco anos, segundo o IBGE, parece absurda a proibição de irrigar as lavouras, sob pena de multa, durante o horário de pico – entre as 18h e 21h. O que se vê é que Cristalina cresce, mas a infraestura não acompanha o mesmo ritmo.

Luiz Carlos Figueireido, paranaense que se mudou para Cristalina há 26 anos, é um dos maiores produtores da região. Os números impressionam: são mais de 18 mil litros de leite por dia, 500 mil pés de café, cerca de

17 tipos diferentes de cultura. Entretanto, Figueiredo lamenta não poder investir da forma como queria. “Tudo o que se tem aqui hoje pode ser duplicado, mas por causa dos problemas, dá até um desânimo de querer fazer mais”, diz. Apesar de achar o clima da cidade perfeito para a produção por possibilitar quatro safras anuais, ele teve de desistir de um novo projeto de irrigação e de mais uma fazenda leiteira por não haver energia nem para dar conforto suficiente aos animais nem para armazenar o leite. Visando a se prevenir dos blecautes, Figueiredo desembolsou R$ 20 mil na compra de geradores, somente

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Sorveteria às escuras: o prejuízo para a dona chegou a R$ 11 mil.

ativados em caso de emergência. Já o plano de redução de tarifa de energia do governo federal é recebido como um alívio pelos produtores, mas mesmo assim, a conta de luz é considerada salgada: R$ 77 mil somente em uma plantação de café e hortaliças na Fazenda Figueiredo.

Daniela Guimarães é dona de uma sorveteria movimentada em Cristalina. Ela conta que em dezembro do ano passado, durante o “apagão” que atingiu todo o Brasil, chegou a ficar

sem luz por cerca de nove horas durante cinco dias seguidos. Oito freezers de depósito foram derretidos; um prejuízo de R$ 11 mil para a empresária, que teve de gastar mais R$ 4 mil comprando um gerador. Daniela entrou com um pedido de indenização às Centrais Elétricas de Goiás (CELG), órgão responsável pela distribuição na região. Porém, ainda não recebeu nenhuma compensação financeira.

Até mesmo sacar dinheiro no caixa eletrônico é um desafio

devido à inconstância elétrica da cidade. Sebastião de Oliveira, 77 anos, teve sorte de estar somente conferindo o saldo na hora em que a luz caiu. “Que bom que eu não pedi pra sacar”, diz, aliviado. “Conheço gente que teve o dinheiro debitado, mas não conseguiu retirar o valor porque a máquina tinha parado de funcionar”, continua o aposentado.

Ciente do entrave, a prefeitura culpa a falta de investimentos na área nos últimos 20 anos

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por parte dos governos estadual e federal. A usina hidrelétrica de Batalha, empreendimento Eletrobras/Furnas situado entre Cristalina e Paracatu (MG), é um investimento de R$ 740 milhões e forneceria energia suficiente para uma cidade de 130 mil habitantes. No entanto, Cristalina, a apenas 108 km da usina, não é beneficiada pela eletricidade produzida. Outra hidrelétrica, Corumbá III, a somente 34 km da cidade, poderia prover energia para uma cidade de 230 mil habitantes, mas não abastece Cristalina por falta de linhas de transmissão que as interliguem.

Esquivando-se das críticas apresentadas durante a coletiva, o chefe de gabinete do prefeito, Vanderlei Meireles, garante existir um projeto em elaboração que visa a instalar painéis fotovoltáicos em todos os órgãos públicos do município, migrar toda a iluminação pública para LEDs -- mais econômicas -- e, finalmente, construir uma usina solar na cidade. O que

sobrasse da geração poderia ser vendido aos agricultores irrigantes, suprindo uma parte da demanda crescente de Cristalina por eletricidade. O projeto, uma parceiria público-privada, ainda não seduziu nenhum investidor.

Não é a primeira vez que a cidade recorre ao capital privado para suprir seu déficit estrutural. Agricultores tiveram de fazer uma “vaquinha” de R$ 150 mil no ano passado para reconstruir pistas, pontes e tapar buracos em estradas de barro, por onde é escoada maior parte da produção. “Não deveria ser nosso trabalho fazer estradas bem feitas para não ter de ficar toda hora consertando, mas não podemos ficar esperando para sempre”, retoma Luiz Figueiredo. O produtor também precisou construir dormitórios em suas fazendas e comprar ônibus para que os trabalhadores não dependam de um transporte público inexistente.

Outro desafio para Cristalina é resolver a questão da mão de obra desqualificada. Grande parte dos trabalhadores do campo vêm de fora: são agrônomos, zootécnicos que emigram de São Paulo ou do Sul. Indústrias como a gigante francesa do mercado de conservas, Bonduelle, se instalam no município, mas terminam contratando em cidades vizinhas, como Luiziânia. Para o prefeito Attié, isso não é um problema. “Primeiro a gente traz os componentes principais para atrair a indústria e gerar empregos, depois a gente pensa em melhorar a qualidade do trabalhador. Uma coisa de cada vez”. Ele cita como exemplo os cursos oferecidos pelo SEBRAE e SENAI. Cursos esses que têm dificuldade de preencher todas as vagas já que não há demanda suficiente. Tampouco existem cursos voltados para o campo, como agronomia, nas faculdades da cidade. Por isso, a mão de obra especializada é tão valorizada e bem paga. Contudo, um dos motivos para o desinteresse

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Ordenha na Fazenda Figueiredo. A produção de leite é uma das atividades do campo que mais demandam energia

na formação por parte do trabalhador é o fato de Cristalina estar vivendo uma situação de pleno emprego, uma vez que quase metade da população local trabalha nas lavouras, que não exigem tanta qualificação, e mesmo assim pagam um salário considerado alto -- na faixa de R$ 1,5 mil mensais.

O crescimento cristalinense é inegável e deve manter esse ritmo acelerado. Como um

projeto de iniciativa política pessoal do prefeito, o aeroporto da cidade foi inaugurado em uma cerimônia simbólica no dia 4 de fevereiro. Com um custo inicial de R$ 6 milhões de reais, o empreendimento é pensado para o transporte de cargas e de passageiros. O que acaba atraindo outros investimentos: somente no começo de 2013, quatro importantes empresas do setor de bens de capital anunciaram o interesse em se instalar na cidade.

No entanto, a terra dos cristais precisa urgentemente solucionar seus gargalos estruturais se quiser crescer com perspectiva mais segura e sustentável. A pergunta que o produtor Luiz Figueiredo se faz é mais que pertinente: “como uma cidade que todos consideram uma potência e tem tudo para ser ainda maior pode conviver com tantos problemas básicos?”

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INFRAESTRUTURApara o progresso

é o obstáculo

Uma cidade em amplo crescimento é confrontada diariamente por problemas estruturais básicos

TEXTO: KARLA OLIVEIRAFOTOGRAFIAS: ANA TERESA MALTA

DIAGRAMAÇÃO: ISA LIMA

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Considerada uma das principais cidades no entorno da capital Federal, a cidade de Cristalina tem uma extensão de aproximadamente 6.200 km², sendo apenas 0,19% de área urbana. Tem sido apontada como um dos polos de desenvolvimento econômico da região centro-oeste, mas o crescimento não é capaz de esconder grandes problemas em sua infraestrutura.

Com um plano diretor aprovado há aproximadamente dois anos, como informa com veemência o prefeito Luiz Attié (PSD/GO), Cristalina apresenta problemas considerados como primários pela maior parte da população. Buracos nas ruas, inacessibilidade em todas as partes e coleta de lixo precária são alguns dos pontos mais visíveis nesse progresso desordenado, totalmente distoantes do discurso apresentado pelo Plano Diretor da cidade.

O perfil de ocupação urbana da cidade de Cristalina aponta uma grande concentração da população no setor central e uma ocupação menos densa nos bairros periféricos. Essa informação é relevante para entender as questões estruturais e ter uma maior visibilidade dos problemas da cidade. Como o próprio Plano Diretor diz, o “crescimento da malha urbana, obrigou “o poder público e

expandir a infraestrutura para regiões escassamente ocupadas, como as redes de água, esgoto e drenagem, asfalto, iluminação pública e coleta de lixo.” Sendo estes os pontos de maior aferição na abordagem do crescimento da malha urbana e adequações as regras mínimas traçadas pelos documentos governamentais.

Uma cidade prioritariamente com construções horizontais vem passando por mudanças a olhos vistos, que incluem as construções de empreendimentos verticais com padrões bem luxuosos comparados aos imóveis vizinhos. Se antes uma única construção vertical, o residencial Cristal Park, determinava o desenvolvimento da cidade, agora outros seis complexos imobiliários marcam o que todos consideram o progresso da cidade de Cristalina e resultado da riqueza produzida pela cidade.

Marcelo da Silveira, 37 anos, dono de uma corretora de imóvel e responsável pela venda direta de um empreendimento, o Residencial Dona Deja, confirmou que o crescimento imobiliário da cidade de Cristalina tem sido feito em passos largos e com características bem próximas do bairro de Águas Claras, no Distrito Federal. Destaca-se o alto padrão das construções, que ostentarão traços

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Arquitetônicos diferenciados e muita beleza alterando o perfil anteriormente imposto na cidade. Essas mudanças ainda apresentam inserção de áreas de lazer, segurança monitorada e acabamento de luxo, e elevam o valor do metro quadrado que atualmente custa aproximadamente R$ 3,5 mil. O alto custo das construções é reflexo da abertura fiscal e de inserções de pelo menos mais 4 novas fábricas na cidade nos próximos anos.

O contraste entre o velho e o novo é visto em vários pontos da cidade. Ainda é perceptível que no centro da cidade ou bairros próximos não há

registro de favelas ou aglomerações de construções irregulares, mas existe um alastramento de assentamentos, loteamentos irregulares e mesmo de invasões nas partes periféricas, como os dos bairros Belvedere Velho, Nordeste, Cidade Nova, entre outros. A revitalização e crescimento em áreas mais abastadas e permanência de problemas de esgoto, moradia e pavimentação em áreas menos abastadas são pontos críticos e que mostram a precariedade da vivência dos habitantes dessas áreas e, da forma desordenada de implantação estrutural na cidade.

Como nem só de moradias se faz um progresso, o governo se vê

obrigado a se adequar as regras do crescimento e deverá rever suas ações para atender rapidamente as obras de infraestrutura e extinguir as lacunas apresentadas a olhos vistos aos moradores e visitantes. Calçadas totalmente irregulares dificultam o caminhar pelas ruas que ainda mostram buracos e bocas-de-lobo abertas ou mesmo com tampas quebradas sendo capazes de se tornarem verdadeiras armas contra a população.

No Plano Diretor tão enfatizado pelo prefeito Luiz Attié há a informação de que “não há no município dispositivo legal que exija padrões construtivos e de acessibilidade

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As construções verticais substituem

as construções horizontais.

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visando facilitar a circulação e bem-estar de portadores de deficiência física, idosos ou debilitados. Nota-se, inclusive, que diversos edifícios públicos não contam com rampas de acesso, tampouco banheiros adaptados a cadeiras de rodas.”.

Aumento populacional e o crescimento da cidade geram acúmulo de detritos em grande quantidade. A coleta no período de 31 de janeiro à 2 de fevereiro, do corrente ano, não foi feita diariamente e foi possível perceber que existe uma incoerência entre o que é apresentado pelo Plano Diretor, informações coletadas em entrevistas e a realidade.

O investimento em infraestrutura esta longe do necessário, como acontece com várias cidades brasileiras. O aspecto fiscal é grande empecilho nas restrições de investimentos, mas muitas vezes o desenvolvimento de projetos também são resultados da ineficiência governamental que em parte paralisa diante do engessamento das etapas dos procedimentos públicos.

A cidade de Cristalina precisa de um volume crescente de investimentos em infraestruturas, considerando inclusive a parceria com iniciativa privada. Sem essa parceria público-privada e uma continuidade de ações se torna impossível a adequação das obras às normas consolidadas pelo Plano Diretor da cidade.

Uma cidade em amplo progresso, com perfil diferente das típicas cidades do interior e intitulada como “A bola da vez” precisa se adequar às novas realidades, para tornar possível a vivência de seus moradores e dos que farão em breve parte dessa realidade afastando apenas das projeções difundidas pelo governo local. Contraste entre a evolução e o retrocesso no desenvolvimento imobiliário.

As ruas da cidade mostram a inacessibilidade para o caminhar do cidadão.

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Desde sua formação, Cristalina tem sido palco de um grande

encontro de culturas. De gaúchos a comunidades árabes, a cidade foi abrigo de muitos imigrantes enquanto a economia se baseava na exploração de cristais e, hoje, continua acolhendo pessoas de diversas partes do país e do mundo, devido à consolidação da produção rural e a chegada das indústrias. O crescimento surpreendente da região nos últimos anos evidencia boas oportunidades para quem vem de fora

Segundo dados do censo de 2010, do IBGE, 32% dos residentes não

CristaisImportadosDesbravada por imigrantes, a cidade é casa de incontáveis naturalidades.

nasceram na Região Centro-Oeste. O município tem por volta de 48 mil habitantes, dos quais 20 mil estão empregados no campo. Gílio Carradore, Diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, afirma que nem 5% dos trabalhadores do campo nasceram em Cristalina. São nordestinos, nortistas, sulistas ou mesmo pessoas do Centro-Oeste que se empregam nas vastas etapas de produção agrícola e fazendas de leite. Na cidade o quadro é diferente, mas não é preciso andar muito para conhecer um gaúcho dono de churrascaria, um sergipano locutor na rádio local ou uma baiana vendendo acarajé na praça.

Claudinéia Dias dos Santos chegou a Cristalina há dois meses, vinda de Taquaritinga, São Paulo.

O marido trabalhava em indústria de alimentos de Monte Alto e recebeu a proposta de transferência para o novo polo de fabricação em Cristalina, inaugurado em 2012. Quando se casaram, há um ano e meio, já esperavam uma oportunidade para mudar de cidade: estavam à procura

Reportagem: Hermano AraujoFotografia: Beatriz Ferraz e Hermano Araujo5 6

Claudinéia está há dois meses em Cristalina. Hoje, trabalha em uma perfumaria.

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5 6Ele começou a trabalhar para o grupo paranaense em 1987, 20 anos antes de se mudar com a esposa para Cristalina.

Gerente operacional encarregado de várias funções no campo, Jomaro está feliz

com a troca e também não pensa em voltar para sua terra natal. “Lá não dava mais para crescer”, comenta como quem, em oposição, acredita no contínuo desenvolvimento do município goiano.

Todavia, o fluxo de pessoas para a região não é recente. A mineração e o comércio de gemas foram responsáveis por intenso deslocamento de indivíduos. É o caso de Eva Kozak, que chegou ao Brasil há mais de seis décadas e, após algum tempo, se estabeleceu em Cristalina, onde comercializava cristais com o marido, Radif. Muito lúcida e receptiva, essa senhora síria de 92 anos conta, com

de melhores condições de trabalho. Claudinéia não esconde que a adaptação tem sido difícil, mas afirma que está gostando muito da cidade e que não quer retornar, de maneira alguma.

História similar, contexto distinto: Jomaro Gonçalves chegou à região acompanhando a transferência de uma fazenda leiteira de Mandaguari, Paraná.

português de traços árabes, que a cidade é excelente para morar. Mas recorda saudosista de um passado muais calmo e tranquilo.

Movimento Inverso

Nádia, filha de Eva Kozak, é cristalinense. Foi a primeira professora com curso regular na cidade. Hoje, administra com a irmã uma escola e também a faculdade pioneira de Cristalina. Ela alega que no interior as pessoas não valorizam a educação e que isso é sintomático na cultura local: “os jovens estão mais preocupados com roupas de marca do que com profissionalização”. No entanto, muitos cristalinenses deixam a cidade para estudar ou trabalhar fora. Hoje são prefeitos, advogados, servidores públicos, engenheiros, entre outros.

Jomaro está satisfeito com a mudança de cidade e faz apostas sobre o futuro.

Eva Kozak e Nádia. “Esta é a minha caçulinha”, conta a mãe orgulhosa.

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Proximidade da cidade com rodovias poderia ser fonte de renda e emprego para a cidade de Cristalina, mas só é aproveitada por pequenos estabelecimentos na beira das estradas.

Entre quatro rodovias, duas federais e duas estaduais, encontramos Cristalina, caminho de quem ou sai de Brasília rumo cidades do Sudeste e Centro Oeste. Cristalina é sempre lembrada nas cidades próximas pelo fato de se encontrar em um entroncamento rodoviário importante para Estados como Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Mercadoria de vários cantos passa por lá. O benefício para o Estado é claro, mas o que a cidade ganha com isso?

Segundo o prefeito, Luiz Carlos Attié, mais ações para explorar essa característica do município poderiam ser tomadas. O comércio local poderia mudar de foco, de modo a receber pelo menos parte das mercadorias que hoje saem do Sudeste para Brasília ou outras cidades maiores. É uma questão de logística que não beneficiaria apenas a cidade, mas também as vizinhas.

Se esses produtos

parassem aqui, o comércio de Cristalina seria

o ponto de distribuição,

diz Attié.

1“”

Reportagem: Isabella LimaFotgrafia: Nívea Ribeiro

clama por melhor aproveitamento

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Enquanto as tais ações não são tomadas, quem leva vantagem do entroncamento são os pequenos estabelecimentos da periferia da Cidade, os chamados “beira de estrada”. Restaurantes, hotéis, pousadas e postos de gasolina atendem à demanda dos viajantes que passam por lá. No Posto e Restaurante JK, às margens da BR-040, os caminhoneiros são os principais clientes. Lá eles podem passar a noite, descansar e assistir à TV, tudo de graça. Para Jorge de Lima, do Rio de Janeiro, dormir ali já virou rotina. Sobre a vida de caminhoneiro, o carioca diz que já se acostumou a viver longe da família:

não tem bicho de sete cabeças

Outro caminhoneiro que se dá bem na profissão e já passou muitas vezes por Cristalina é Alex Masiero Cardoso, de 38 anos – o Furão, como é conhecido. Empregado da Transportadora Natal, descendente de italianos, tem todas as suas despesas pagas pela empresa e recebe 10% de comissão sobre o valor do frete. Ele conta que a maioria das empresas de transporte de carga não se preocupa com a qualidade de vida dos caminhoneiros.

Apesar da sorte que tem hoje, Alex já passou por maus bocados na carreira. Ele conta que já trabalhou por 39 horas seguidas e usou drogas durante seis anos para ficar acordado no trânsito. Muitos caminhoneiros recorrem aos entorpecentes para trabalhar, e como eles sempre passam por Cristalina, isso se torna um problema para a cidade. Para o prefeito Luiz Carlos Attié, o desenvolvimento traz tanto coisas boas como ruins. Ele considera ser necessária uma ação do Governo Federal,

porque a ajuda do Município não é suficiente. Outro problema envolvendo o

entroncamento é a condição das estradas. As rodovias que passam por Cristalina (BR-040, BR-050, GO-309 e GO-436) são todas de responsabilidade federal e estadual, logo o governo de Cristalina não pode fazer muita coisa quanto a isso. Há mais de um ano o governador Marconi Perillo, de Goiás, prometeu a revitalização das rodovias do Estado, o que vem acontecendo, mas nenhum dos trechos mais próximos a Cristalina recebeu o benefício.

Cristalina pode usar o entroncamento e a sua posição privilegiada no estado para alavancar sua economia e se tornar um centro comercial, mas ainda falta a atenção do Governo para o assunto. Enquanto isso o lugar serve de abrigo para os caminhoneiros, sem trazer muito proveito para a cidade.”“

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Criado em 2002, pelo vereador Zé Orlando (PSD), o programa atende crianças e adolescentes com idades entre 07 e 16 anos, oferecendo prática desportiva, e acompanhamento psicológico e acadêmico.

Uma parceria entre prefeitura, profissionais da área de educação física e escolas da cidade, no intuito de estimular o crescimento saudável da juventude cristalinense, proporcionando melhor qualidade de vida e reforçando a luta contra as drogas.

Uma ideia que deu certo, diz Zé Orlando. O vereador, conta que o projeto começou tímido, com apenas 30 crianças e uma estrutura improvisada.

Reportagem: Gabriel LopesFotografias: Alessandra Azevedo, Laura Tizzo e blogdozeorlando.

Em meio a um momento de dificuldades para a área de esportes no município de Cristalina, um projeto chama atenção - O Bola de Cristal.

fFEsporte traz um novo

futuro para Cristalina

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Hoje, dez anos depois, o Bola de Cristal tem em média 800 inscritos, com atividades em três diferentes pontos da cidade e seis opções de esporte handebol, futsal, vôlei, basquete, futebol de campo e capoeira. De acordo com Zé, que reclama da falta de incentivo dos governos estadual e federal, todo o apoio vem da prefeitura. Segundo o vereador, é a administração regional quem fornece os locais e materiais para a realização das aulas, além da liberação de professores da rede pública como coordenadores.

Atualmente, para entrar no programa a criança deve ser inscrita pelos pais ou responsável legal e, posteriormente, passar por um exame médico e de aptidão física.

Alguns dos critérios de permanência no Bola de Cristal são frequência escolar, bom comportamento e notas positivas no boletim.

A cada bimestre são gerados relatórios sobre os jovens participantes, que tem seus rendimentos e posturas avaliados tanto pelos técnicos quanto pelas escolas nas quais estão matriculados.

Em casos problemáticos, como abandono escolar e brigas, por exemplo, o aluno é afastado dos jogos e passa por um período de acompanhamento. Somente após solucionada a dificuldade é que o atleta poderá retornar as atividades normais. De acordo com a direção do Bola de Cristal, hoje, todas as escolas do município colaboram com a ideia. “Aqui não ensinamos apenas a jogar bola, promovemos o desenvolvimento humano por meio do esporte”, fala Thiago Bernardes

Vereador Zé Orlando, co-fundador do projeto

(30), um dos professores do projeto. Para ele, questões físicas são importantes e devem ser trabalhadas, como a melhoria da coordenação motora dos alunos, porém, os resultados de maior destaque estão presentes no dos próprios jovens.

Thiago conta que, a medida em que os estudantes vão se envolvendo na ideia, eles se tornam mais abertos para conversarem sobre obstáculos pessoais, aumentam sua auto estima,aprendem a pedir ajuda e, na maioria das vezes, se tornam amigos dos técnicos. Outro ponto, ressalta o professor, é a criação de uma cultura a favor da educação. “As crianças não só procuram tirar boas notas, como começam também a entender que a escola é fundamental para tudo aquilo que elas desejarem um dia”, diz ele.

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fFCELEIRO DE TALENTOS

Não só como um impacto positivo para a sociedade de Cristalina, o projeto tem sido apontado como um grande incubador de talentos. Exemplo disso é a jovem Susan Cortes. Hoje, com 16 anos, joga no time de baquete do Ourinhos, em São Paulo, e já defendeu as seleções goiana e brasileira nas categorias de base. Mas foi no Bola de Cristal, em 2008, que a armadora começou sua carreira.

De acordo com a mãe, Vanderlene Cortes, a filha sempre gostou de esportes e no começo chegou a treinar no time dos meninos. Vanderlene ressalta também o diferencial do programa para o desenvolvimento de Susan. “O Bola de Cristal contribuiu para a auto estima dela, mostrou a importância dos estudos e mais do que isso, deu à minha filha um imenso senso coletivo”, conta. Além de Susan, o projeto já revelou vários adolescentes para times goianos de futebol, como o Vila Nova, o Anápolis e o Atlético Goianiense, da segunda divisão do campeonato brasileiro.

Estádio Municipal de Cristalina, Goiás

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Estádio Municipal de Cristalina, Goiás

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Saúde em Cristalina é feita de FACHADASREPORTAGEM Laura TizzoFOTOGRAFIA Eduardo Barretto

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A cerca de 130 quilômetros da capital do país, está Cristalina, município goiano com aproximadamente 45500 habitantes, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. Apesar de seu tamanho reduzido, se comparado ao de Brasília, Cristalina tem muita história pra contar no que diz respeito à saúde pública.

O Hospital Municipal Chaud Salles, único hospital público da cidade, teve de ser reformado em 2011 após uma suspeita de o local funcionar como uma clínica de abortos. Lá, em 2010, foram encontrados recipientes com feto e material biológico armazenados de forma incorreta: dentro de vidros comuns, imergidos em formol e colocados em caixas de papelão.

O prefeito Luiz Carlos Attié, que já estava no cargo desde a época, comandou uma reforma no hospital quando o caso veio à tona. A estrutura física encontrada na

Reformado há pouco tempo, o Hospital Municipal Chaud Salles se mostra, à primeira vista, capaz de atender à população. Os fatos, porém, provam o contrário.

Reformado há pouco tempo, o Hospital Municipal Chaud Salles se mostra, à primeira vista, capaz de atender à população. Os fatos, porém, provam o contrário.

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inauguração do dia 17 de dezembro de 2011 foi completamente diferente da que estava em vigor anteriormente. A fachada ganhou nova cara, as alas de enfermaria passaram a contar com televisão e banheiros com mais espaço e novos profissionais foram contratados.

Se, por um lado, o Chaud Salles passou por uma restauração e ampliação física, por outro, o serviço de atendimento permaneceu como era antes. Assim que se passa da fachada e

caminha rumo ao interior do hospital, é comum encontrar pacientes à espera de uma consulta. Muitos deles, há mais de duas horas sentados.

Sônia Moreira, moradora da zona rural, passou por situação semelhante no dia 02 de fevereiro. À espera fazia mais de uma hora, ela conta que voltou para se consultar no sábado depois que o médico não compareceu ao atendimento marcado na terça-feira da mesma semana, dia 29 de janeiro.

O caso da moradora Leila Aparecida também serve de exemplo sobre a demora a ser consultada. Ela estava acompanhando o pai, que tinha uma complicação na próstata e necessitava de atendimento o mais rápido possível. Além da longa espera, Leila aponta problemas ainda mais sérios: “Sabe desde que horas que eu estou aqui? Desde meio dia. E me disseram que meu pai vai ser atendido às 16 horas. Dizem que está cheio de médico aqui, mas desde quinta-feira que eu estou correndo atrás

A dor não espera o médico. Pacientes passam mal enquanto aguardam atendimento.

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disso porque meu pai tem que operar, e mesmo com todos os exames feitos, os médicos ficam me empurrando pra lá e pra cá dizendo: ‘Não sou médico disso não’”.

Quem mora em Cristalina e tem a opção de se consultar em outros lugares, principalmente em clínicas particulares, prefere não arriscar a ir ao Hospital Municipal Chaud Salles. A maioria das pessoas

entrevistadas afirmou não confiar no atendimento dos médicos locais. Os que não demonstram revolta, apenas dizem: “em toda cidade é assim”, ou “saúde no Brasil é precária mesmo”.

Fernanda Andrade, chefe do serviço de enfermagem do hospital, apresenta uma versão dos fatos que não condiz com as realidades de pacientes como Sônia Moreira e o pai de Leila. De acordo com ela, “Ali [o atendimento] é rapidinho.

Geralmente, demora uns vinte, trinta minutos no máximo. Pode haver mais espera se caso, por exemplo, o paciente está lá embaixo passando mal, mas enquanto isso está acontecendo um parto. Aí complica, mas é muito difícil acontecer isso”.

O secretário de saúde Maks Wilson Louzada também discorda dos relatos contados pelas pacientes. “Esses, com certeza, são casos isolados. Pode ser que eles estejam esperando para serem atendidos por especialistas, pois os médicos vêm em dias específicos. Quando é pronto socorro o atendimento é imediato”.

Sobre os planos para a gestão, o secretário disse que pretende trazer a hemodiálise ao município, que é o processo no qual uma máquina limpa e filtra o sangue, realizando a função que um rim doente não conseguiria fazer, construir mais duas unidades básicas de saúde, e aprimorar a situação vigente.

A parcela da população com menos visibilidade social é justamente a que mais sente os principais problemas de saúde pública de Cristalina.

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ESCOLAS RURAIS PREPARADAS PARA O

COMEÇO DO ANO

A Coordenadora Pedagógica do Meio Rural de Cristalina, Elizabeth Rodrigues da Silva Pedroso afirmou que as escolas rurais foram preparadas para o começo do ano letivo 2013, com a formação e capacitação de diretores, professores, secretários e coordenadores pedagógicos por meio da Secretaria da Educação do Município.

Os programas foram realizados entre os dias 18 e 21 de Janeiro e consistiu em orientações acerca de relacionamentos interpessoais

e planejamento acadêmico, que contribuam para um ano letivo proveitoso.

Segundo Elizabeth Pedroso, além da pedagogia, a Coordenação Pedagógica do Meio Rural assiste às escolas com merendas avaliadas por nutricionistas. Num universo de dez estabelecimentos rurais, as Municipais Paulo Gontijo, Itagiba José de Souza, Manoel Gonsalves e Souza Lima distam a mais de 100 km do Centro de Cristalina, mas têm merecido a mesma atenção que as escolas

urbanas.Questionada sobre as

dificuldades que a classe acadêmica rural enfrenta, a coordenadora citou a chuva como uma das principais, por deixar as estradas sem condições de deslocamento, o que motivou o adiamento do calendário letivo de 28 de Janeiro para 18 de Fevereiro. “O transporte está regular, mas ainda existe muita dificuldade para se transitar”, disse.

A Presidente do Conselho

Apesar disso, os alunos enfrentam o problema da falta de transporte, por causa das chuvas que deixam as vias de acesso sem condições de tráfego.

REPORTAGEM Adriano BelmiroFOTOGRAFIA Adriano Belmiro e Camila Curado

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Municipal de Educação e representante da Secretaria Municipal de Educação de Cristalina, Eloiza de Lourdes Cardoso, disse que grandes investimentos municipais, estaduais e federias destinam-se às escolas rurais, face à importância que as mesmas desempenham, na medida em que servem para suprir a carência sentida pelos alunos destas localidades.

A respeito da efetividade do cumprimento de seus papeis,

a Presidente do Conselho admitiu que as escolas rurais ainda têm muito a melhorar. “Elas procuram cumprir as suas funções de educar e formar, mas as dificuldades nunca faltam”.Eloiza Cardoso apontou a falta de infraestruturas adequadas como sendo um dos principais problemas que algumas escolas enfrentam, mas, mesmo assim, segundo ela, há escolas rurais em melhores condições que as da cidade.

Segundo a presidente, o nível

de satisfação dos alunos e pais melhorou consideravelmente. Há dez anos as escolas da zona rural eram esquecidas e os pais eram insatisfeitos com esta situação. Hoje há famílias com condições de enviarem os seus filhos à cidade, mas elas preferem que permaneçam na comunidade. Este é um sinal de satisfação dos pais, de quem a escola espera mais participação no processo de formação acadêmica dos filhos.

CHUVAS DIFICULTAM OS

ESTUDOS NA ZONA RURAL

O mau estado das estradas entre as comunidades de Cristalina torna o calendário letivo flexível.O fator climático também e contribui para o elevado número de acidentes cm meios de transporte.

O Secretário Municipal da Educação, Luciano Rogério, disse que por ser um mês em que as estradas ficam transitáveis, em Julho as aulas continuam, para repor o “atraso estratégico” dos primeiros dias de aulas, em

Elizabeth Pedroso, Coordenadora Peda- gógica do Meio Rural

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janeiro ou fevereiro, que são bastante chuvosos.

Apesar das dificuldades, o responsável pela Educação revelou que além das duas escolas rurais inauguradas no ano passado, o município contará com mais uma escola cujo funcionamento deve acontecer a partir de julho próximo.

O Ensino Integral é um dos projetos do Governo Federal ao qual aderiu a Secretaria Municipal de Educação e que contempla todas as escolas da zona rural. O projeto consiste no atendimento integral das crianças com o café da manhã, almoço e lanche na parte da tarde.

O ensino especial é uma realidade nas escolas rurais. Todas as escolas contam uma sala para e professores preparados para atender aos alunos com dificuldades de aprendizagem. As salas contam com computadores e material didático-pedagógico próprio para que essas crianças alcancem a mesma formação dos demais colegas, disse o

Secretário Rogério. No ensino superior, Cristalina

conta com três faculdades: FACEC – Faculdade Central de Cristalina, UEG – Universidade Estadual de Goiás e FESURV – Universidade de Rio Verde. Alem destas, Luciano Rogério disse que o IFG – Instituto Federal Goiano já deve realizar vestibulares em agosto, com vários cursos ligados à agronomia.

Em Janeiro a prefeitura cortou o transporte gratuito a 330

estudantes universitários, mas como resultado das negociações das duas partes, o prefeito Luiz Carlos Attié assinou dia 6 de Fevereiro o decreto 13.571, dispondo sobre bolsa universitária para transporte. O decreto pode ser lido na íntegra no portal www.facebook.com/CristalNoticias.

Após seis dias letivos, Kelly Soares de Oliveira, Diretora da Escola Municipal Professora Sumaia Salles Cozac, recebeu nossa equipe de reportagem

Secretário Municipal da Educação, Luciano Rogério Fernandes

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para falar sobre os principais problemas dos alunos da zona rural que procuram formação na cidade.

A diretora disse que o cansaço e o atraso, em função da distância percorrida, são as principais dificuldades que os alunos da zona rural enfrentam e que por este motivo as atividades do calendário são adaptadas de acordo com as circunstâncias desses alunos, que moram a vários km da cidade.

De manhã a escola recebe os alunos com o café da manhã, seguido do almoço em torno de 10 horas e todos os professores fazem trabalhos adaptados pra esses alunos. “Nós sabemos as dificuldades que estes alunos enfrentam na tentativa de chegarem cedo à escola.” Dos 550 alunos da Escola Cozac no turno da manhã, 240 são da zona rural, em cumprimento ao regulamento que prevê prioridade a esses alunos também na cidade.

Luciene Ferreira, mãe e

encarregada de educação de dois filhos, de 16 e 10 anos, que moram na fazenda e estudam na Escola Municipal Professora Sumaia Salles Cozac, fala sobre as dificuldades que eles enfrentam por causa da falta de transporte escolar. Explicou que o número de alunos na situação de seus filhos é grande, e que em 2012

o problema ocorreu durante todo o ano. “Em dezembro os meus meninos não vinham para a escola porque os ônibus não passavam para pegá-los. Quando passavam era uma semana sim e outra não e há registros de capotamentos de carros”, disse Luciane.

A sucessão das greves dos servidores da secretaria dos

transportes contribuía para a falta de manutenção dos ônibus. Danificados, eram substituídos por carros que também circulavam ocasionalmente e que não ofereciam segurança aos estudantes a bordo. Para Luciane, vários alunos da zona rural, matriculados nas escolas da cidade, estão literalmente

estagnados em função da falta de transportes e como consequência as salas estão mais vazias.

Ao lado de sua mãe, entristecido, Fabiano Araújo Ferreira, 10 anos, disse que entra às seis horas da manhã e que a sua vida estudantil não tem sido fácil. “Para chegar cedo eu levanto às cinco e meia. Tenho tido muita dificuldade de transporte, mas a pesar disso, atrasa pouco.”

Luciane Ferreira, e filho que busca formação na cidade

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REPORTAGEM Ana Teresa Malta e Thiago AmâncioFOTOGRAFIA Emily Almeida, Ingrid Borges e Isabela Oliveira

P e s s o a l i d a d e , s e n s a c i o n a l i s m o e dedicação. A mídia de Cristalina tem características próprias, mas é a dependência de grupos políticos que se destaca.

Q U E M compra o VALOR notícia?

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Em cidades menores, a relação com as notícias é diferente. O morador de Cristalina não está acostumado a ver a cidade nos grandes noticiários. Ele busca informações nos pequenos jornais impressos e nas rádios locais, além do tradicional boca-a-boca. Já para os comunicadores, a principal dificuldade é a livre obtenção de recursos. Faltam anúncios

publicitários de setor privado. Com isso os chamados valores-notícias, que são critérios que definem a importância de uma matéria jornalística, se tornam dependentes do financiamento

por grupos políticos.O jornalista Elio Motta, do

Correio Cristalinense, explica que “a rixa política é muito grande, o próprio comércio é dividido. Nós caímos na mão da prefeitura. Temos um contrato de quatro anos”. Não se trata de um acordo pelo espaço destinado a publicidade e sim ao jornalismo. O prefeito Luiz Attié conseguia visibilidade

positiva com o jornal, que desde a reeleição, em outubro de 2012, destina todas as matérias de capa às vitórias e boas medidas do político.

A situação da rádio comunitária Líder FM é mais delicada. O diretor da rádio, Silvano Leite, é também assessor de comunicação do prefeito. A legislação acerca da radiodifusão comunitária proíbe que os meios desse tipo estabeleçam vínculos que os sujeitem a administração ou orientação de caráter político-partidário ou comercial, dentre outros aspectos.

Sobre o assunto, Attié afirma que “não tem ainda um jornal da cidade sem que haja um comprometimento com alguém que financie.” Ele argumenta que o setor de comunicação é algo que ainda está sendo desenvolvido e que não exige nada dele [silvano] Então o setor de comunicação é algo que ainda está sendo desenvolvido. [...] Eu não exijo nada dele [Silvano]. É lógico que ele não vai chegar lá na rádio e falar que não gosta de mim”.

Integrantes de outros meios também apresentam relação direta com a política local. Dono do Jornal de Cristalina, Eliézer

Silvano Leite é diretor da rádio Líder e assessor de comunicação do prefeito Attié.

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Bispo foi eleito vereador duas vezes, em 1988 e 1992, além de ter sido assessor de comunicação de Edu Martini, candidato de oposição ao governo atual. O locutor da rádio Diocesana Serra dos Cristais, Castro Neto, foi prefeito da cidade entre 2001 e 2004. Elio Motta e Silvano Leite foram candidatos a vereador na última eleição, ambos em partidos da coligação de Attié, mas não obtiveram sucesso.

Outro fator que dificulta o financiamento independente é a distribuição gratuita. Bispo

explica que a população não tem a cultura de comprar jornal. Ele utiliza como estratégias para a sustentabilidade o uso de contribuições pelo aparecimento na coluna social do veículo, algumas assinaturas, os anúncios e a produção de matérias pagas, para comerciantes e políticos.

Há ainda a competição com mídias externas, como os jornais Diário da Manhã e O Popular, ambos produzidos em Goiânia. A rádio Serra Dourada é a mais ouvida na cidade, porém não produz conteúdo local. Ela é

representante de uma rede de rádios do estado Goiás, o que lhe permite certa autonomia política. A rádio Diocesana conta com o apoio da paróquia quando os anúncios não atingem a verba necessária.

Para além da questão financeira, as mídias de Cristalina são marcadas pela grande dedicação dos comunicadores, que trabalham com equipes reduzidas. No caso de Bispo, ele sozinho faz o Jornal de Cristalina. “Só não faço diagramar. Eu que corro atrás dos anunciantes,

Nelson Firmino, locutor da Rádio Diocesana, diz que rádio só é diversão para

quem ouve, para quem faz é um trabalho como qualquer outro”

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fotografo e escrevo. E contrato ajuda para distribuir. Mas eu mesmo já distribuo uns 800 jornais.”

Tamanho empenho acaba por trazer pessoalidade para as mídias. Editor do Folha da Serra, Luiz Cenci conta que o jornal ainda não é muito conhecido na cidade, por isso ao distribuí-lo os moradores perguntam se é “do Motta” ou “da Ester” [do jornal Cristalina Agora]. A locutora do programa de culinária da rádio Diocesana, Márcia Rodrigues, diz que costuma ser reconhecida na rua e às vezes recebe presentes, como ovos e galinhas, mas já chegou a ganhar uma leitoa.

Cenci também afirma que a participação da população surpreendeu logo nas primeiras edições. Por meio de e-mails e telefonemas, o jornal recebe su- gestões de pauta principalmente relacionadas à necessidade de regularização de registros de terrenos e casas e à problemas na infraestrutura de energia elétrica e esgoto.

Temáticas relacionadas à violência também estão presentes. Motta conta que recebe ligações da polícia e vai cobrir acidentes mesmo de madrugada. Ele acredita que “a

Eliézer Bispo consegue produ- zir sozinho o Jornal de Cristalina. “Só não faço diagramar. Eu que corro atrás dos anunciantes, fotografo e escrevo.”

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população gosta de ver sangue. A rede de televisão Record consegue audiência por isso”. Da mesma emissora, o programa Balanço Geral é inspiração para Silvano Leite, que antes de mudar para a rádio Líder foi responsável por um quadro policial na rádio Diocesana.

Seja em pequenas ou grandes cidades a comunicação está sujeita aos mais diversos interesses. O valor notícia pode ser comprado, influenciado ou controlado por diferentes agentes, sendo motivo

LEGISLAÇÃO

Lei 9.612, artigo XI: “a entidade detentora de autorização para execução do Serviço de Radiodifusão Comunitária não poderá estabelecer ou manter vínculos que a subordinem ou a sujeitem à gerência, à administração, ao domínio, ao comando ou à orientação de qualquer outra entidade, mediante compromissos ou relações financeiras, religiosas, familiares, político-partidárias ou comerciais”.

de discussões em várias partes do mundo.

O locutor da rádio Diocesana, Nelson Firmino, descreve as características dessa poderosa (e perigosa) ferramenta: “o fantástico da comunicação é você poder fazer um trabalho que vai ajudar outras pessoas, ainda que indiretamente.” Ele diz que é um trabalho diferente, porque através dele é possível mudar comportamentos, entrar nos lares e no trabalho das pessoas. “Você muitas vezes não sabe aonde chega. Mas chega.”, conclui.

Cristalinense lê o Jornal de Cristalina

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À UNIÃO FALTA FORÇACom um presídio superlotado, o município de Cristalina enfrenta problemas na área de segurança, devido à falta de policiais, ao descaso com a infraestrutura e ao crescente tráfico de drogas.

dessa falta de cumplicidade:-Em primeiro lugar, a responsabilidade pela ordem e segurança em uma cidade é da própria população. O trabalho da PM é só manter essa ordem. E muitas vezes o povo se esquece disso e quer que a PM faça tudo por eles. De nada adianta o

nosso trabalho sem a ajuda dos cidadãos. Eles são nossa boca, nossos ouvidos e nossos olhos.Além da ajuda da população no que diz respeito à segurança como a escolarização de menores, prevenção contra crimes e constante vigilância,

Reportagem: Paulo RicaroFotografia: Gabriel Lopes

Escritório da Polícia Militar do CIOPS

Com um déficit em recursos humanos e materiais, as autoridades têm de “se

virar” para atender às demandas da população, que se sente insegura devido à falta de policiamento.

“A união faz a força”, já dizia o velho provérbio. Mas quem é que faz a união? É pela falta de resposta a perguntas como essa que oficiais dos departamentos policiais de Cristalina lamentam as dificuldades enfrentadas na área de segurança.

O mais intrigante é que todos esses problemas que a cidade enfrenta são fruto, na verdade, de um problema maior: a falta de cumplicidade entre as partes envolvidas.

O Capitão Carlos Alberto da Silva, subcomandante da 32ª Cia Independente da Polícia Militar (CIPM), falou de alguns exemplos

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o capitão falou também da sobrecarga da PM com relação às suas reais competências: -A Polícia Militar, em tese, deveria atender somente os casos sob mandato judicial e os de flagrante delito. Mas é muito comum fazermos o trabalho da Polícia Civil, pelas suas limitações. Sem contar o fato de que somos a polícia mais próxima da população. Se a pessoa está com um problema

de falta de luz na sua rua, por exemplo, ela liga 190, mesmo não sendo da nossa competência.

Na área de infraestrutura, a construção do Gabinete de Gestão e Integração Municipal (GGIM) pela prefeitura poderia ter sido de grande ajuda tanto para a PM quanto para a Polícia Civil, mas pela falta

de oficiais necessários para o monitoramento das câmeras e pela distância do Gabinete em relação aos postos policiais e delegacias, esse recurso não pode ser bem explorado.

O Gabinete conta com 24 câmeras espalhadas pela cidade, um ou dois operadores

terceirizados e faz o trabalho de monitoramento das ruas que antes era feito por viaturas, aliviando um pouco a sobrecarga de serviços da PM.

Esse tipo de estrutura, entretanto, deveria estar fisicamente integrada ao Centro Integrado de Operações de Segurança (CIOPS), que, pelo

espaço físico limitado, abriga somente escritórios da PM e da PC. O Corpo de Bombeiros, que, na teoria também deveria estar no CIOPS, fica na zona central de Cristalina. Se o CIOPS e o GGIM funcionassem juntos, os serviços prestados à comunidade seriam muito mais eficientes. Por esse mesmo motivo o Capitão Carlos levou o Centro de Operações da PM (COPOM) para perto do Gabinete que fica no centro da cidade, mas disse que o mais correto seria que todo o CIOPS também fosse para lá.

Com efeito, a transferência do CIOPS da periferia de Cristalina para a zona central traria muitos benefícios logísticos e estratégicos, além da possibilidade de melhor atender a população. Mas por razões de valorização imobiliária, o CIOPS vai continuar onde está. “Eis aí mais um exemplo da prevalência dos interesses particulares sobre os interesses da população” diz o Capitão.

Outro exemplo de falta de cumplicidade pode ser observado na relação entre polícia civil do Estado de Goiás e do Distrito Federal. Segundo o Delega

Escritórios do CIOPS: Pouco espaço; muito trabalho.

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do Vitor Oliveira Magalhães, a integração entre a polícia goiana e a do DF é muito precária, a começar pelo banco de dados, que ainda não foi padronizado, nem unificado. Somado a isso, há o problema da defasagem estrutural entre as duas organizações: enquanto a Polícia Civil de Goiás conta com cerca de 3000 policiais para uma área de 340.000 Km², o DF tem à sua disposição mais de 6000 homens, circunscritos a uma área 56 vezes menor.

O Delegado afirma que isso não seria um problema tão grande caso houvesse um real comprometimento com a segurança do país como um todo, mas o que torna o trabalho da PC de Goiás ainda mais difícil são atitudes legalistas como as de agentes que deixam de perseguir um bandido ao ver que ele acaba de deixar os limites do DF.

Ele comenta também que as linhas territoriais são imaginárias: para o bandido tanto faz estar um quilômetro dentro ou fora de um estado.

O Delegado conclui dizendo que se a polícia se deixa limitar por esse tipo de circunstância só está dando mais oportunidades para os criminosos agirem. E eles têm agido.

As principais ocorrências registradas na delegacia são: furtos, roubos, assaltos a residências, homicídios e porte de entorpecentes. A maior parte dos crimes na cidade tem relação direta ou indireta com o tráfico de drogas, que é mais intenso nos bairros afastados do centro, como Belvedere e Lustosa.

O tráfico é influenciado pelo intenso fluxo de cargas e pessoas na BR 040,050 e 251, que cortam a cidade. Nas

duas primeiras, o número de assaltos a ônibus é preocupante: até março do ano passado foram registrados sete casos.

A cadeia municipal opera acima da capacidade: há 107 presos para apenas sete celas. E a tendência é que a lotação aumente.

Com sorte, a construção de um novo presídio, mais afatado do centro da cidade, se inicia ainda este ano, dependendo do tempo que levar o processo de desapropriação na nova área.

Delegado Vitor no escritório da Polícia Civil

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O Diretor da Unidade Prisional de Cristalina, Gélson Carlos Rosa está à frente do projeto, levantando recursos municipais e de iniciativa privada.

Recursos, que a princípio, não deveriam ser necessários, já que o dinheiro disponibilizado pela União é mais do que o suficiente pra se fazer um ótimo presídio, segundo o Capitão Carlos.-Numa escala municipal, pode-se dizer que a criminalidade em cristalina é relativamente alta, mas não exorbitante. – Diz o Delegado Vitor. -Dado o número de habitantes, deveria ser mais

tranquila. Mas esse problema, bem como outros de caráter social, são comuns ao contexto do entorno e Brasília.

Exemplo disso é o do consumo do crack nos bairros mais pobres. Além de ser uma cidade-dormitório para os que saem de Brasília, ainda temos o agravante da violência e do tráfico por causa das BRs, que não é um fator tão comum a outras cidades pequenas.

De maneira geral, entretanto, Cristalina é uma das cidades com o menor índice criminal

do Centro-Sul. O “foco quente” da violência está mesmo é nas cidades de Luiziânia, Valparaíso e Novo Gama, segundo o Capitão Carlos, da 32ª CIPM. Ele comenta que o entorno é, na verdade, um bolsão que logo vai virar uma bomba, afetando todo o DF.

Apesar desse quadro preocu

pante, ainda há uma perspectiva de melhora para a questão da falta de oficiais da polícia civil e militar a partir de Janeiro de 2014, com a realização de um concurso para agentes, escrivães e delegados no fim de fevereiro.

Além disso, há um levantamento de recursos municipais pela PM, PC e pelo Corpo de Bombeiros a serem investidos na ampliação e melhoramento do espaço físico do CIOPS, da Cadeia Municipal, e das demais unidades de segurança da cidade.

É um bom começo. Resta agora conscientizar a população para que saibam como contribuir para o melhoramento dos serviços prestados e esperar que as autoridades municipais e estaduais desenvolvam uma visão mais integral da segurança do país.

Operador de câmera em exercício no GGIM.

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PROJETO E PROJEÇÕESAinda com obras em etapas iniciais, o Parque Ecológico de Cristalina promete ser uma opção de lazer e entretenimento para os moradores

Reportagem: Nayara FerreiraFotografia: Paulo Caproni

Com as obras iniciadas no começo de 2012, o Parque Ecológico Topázio,

um dos grandes projetos previstos no plano de governo do atual prefeito Luiz Attié, gera expectativas positivas na população da cidade. Localizado ao lado do bairro Belvedere - considerado anteriormente o bairro mais violento - o Parque surge para suprir a demanda de lazer e entretenimento da cidade. Segundo o Secretário de Obras e Serviços Urbanos, Valter Thomás de Sousa, a conclusão das obras está

prevista para o final deste ano.Na área onde as obras

são realizadas, a principal preocupação é com a formação da lagoa. Recentemente ela passou por processos de ampliação para corrigir erros de contenção de água observados na primeira experiência. Questionado sobre quanto será investido na construção do Parque, o Secretário de Planejamento e Desenvolvimento, Sinaldo Silva, explica que não há um levantamento de custo fechado, visto que não conta com intervenções do Governo Federal, e os recursos que viabilizam a realização do projeto,

como o maquinário e a mão de obra, são exclusivos da Prefeitura.

Serão disponibilizados no local a pista de caminhada, espaços equipados para a realização de atividade física ao ar livre, parquinho para as crianças, quiosques e a praça de alimentação. Maria dos Reis, 31 anos, moradora do bairro Belvedere há aproximadamente um ano diz ter boas expectativas, e se sente privilegiada por morar na rua localizada em frente ao Parque. Acrescenta que o bairro é pobre e não conta com nenhum ponto de lazer para os adultos e crianças.Além dos benefícios que o Parque promete oferecer aos

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cidadãos cristalinenses, é preciso pensar também na construção e manutenção sustentável do espaço. Projetos de recuperação de áreas degradadas e aumento da fiscalização e proteção ao meio ambiente são pontos consideráveis do Plano de Governo do atual prefeito. Porém, nas obras do Parque, a fiscalização está deficitária, são poucos fiscais ambientais disponíveis para operações como essa. Concursos públicos para contratação de profissionais da área como engenheiros ambientais, agrônomos e geólogos, são necessários, afirma Cléber Assis, Secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos.

A Secretaria de Meio Ambiente trabalha em conjunto com a Secretaria de Obras e Serviços Urbanos e a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento na construção do Parque. Propostas de paisagismo são analisadas para o local, assim como parcerias com o Saneamento de Goiás (SANEAGO) para estudos ligados à manutenção da qualidade da água da lagoa do local, foram mencionados como importantes.

As pretensões são grandes, planeja-se a utilização de produtos recicláveis nas obras e, viabilizando essa ação, está em processo de finalização o Galpão de Triagem de Resíduos Sólidos. Sinaldo Silva conta que serão oferecidos cursos para os membros da Associação dos Coletores de Resíduos Sólidos de Cristalina, para que eles estejam capacitados a realizar o trabalho.

Mais que um cartão de visitas da cidade, o Parque Ecológico Topázio, tem capacidade e deve trazer consigo benefícios para a saúde e bem-estar da população. A consolidação desse espaço como área que promove o

turismo, o lazer e também o contato com a natureza, depende também da fiscalização. É necessária a adoção de medidas de proteção e preservação do local para garantir a continuidade de acesso e utilização.

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O Aeroporto Regional de Cristalina, nome ainda provisório, está com entrega prevista para janeiro de 2014. As obras terão início ao final de março deste ano, logo após o fim do período das chuvas. Em cinco de fevereiro deste ano, o prefeito Luiz Attié assinou o convênio com o Governo Federal. Para a primeira etapa da obra, o investimento é de R$ 2.476.318,00, que corresponde à construção da pista de pouso e decolagem, o cercamento da área e a infraestrutura básica para atender a voos diurnos.

A área destinada ao aeroporto

tem 622.440 m² e está localizada ao km 73 da BR-040, próxima a Polícia Rodoviária Federal. A pista é do tipo CRA2C, ou seja, apropriada para operação de uma aeronave com capacidade de 40 passageiros (de pequeno e médio porte) e terá condição de ser ampliada para atender demanda futura. As rotas a serem realizadas ainda não estão definidas, mas estima-se que o aeroporto contará com voos que atendam a capacidade da pista e estejam autorizadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Conscientes da necessidade

de explorar o potencial turístico em prol do desenvolvimento econômico, o poder executivo municipal firmou parceria com uma consultoria especializada no desenvolvimento de projetos para o setor. Entre os objetivos está o desenvolvimento do o turismo internacional, preparando a cidade para a Copa de 2014.

Segundo o secretário

municipal de turismo, cultura e desenvolvimento econômico Willian Souto, esse potencial turístico exige a implantação de infraestrutura adequada.

Reporter: Monica Dubiato

Fotografia: Carina Ávila

Turismo internacional: um aeroporto para 2014Obra terá início no segundo trimestre de 2013, com previsão de conclusão em 10 meses. Cristalinenses esperam atrair turistas estrangeiros durante a Copa.

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“A construção do Aeroporto Regional de Cristalina será de fundamental importância para o desenvolvimento econômico e turístico do nosso município e esperamos um crescimento significativo na economia da cidade”, explica Souto.

O município tem aproximadamente 48 mil habitantes, e é um dos contemplados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), investimento anunciado pela presidente Dilma Rousseff em dezembro de 2012 destinado às cidades turísticas do país. A região se destaca pela produção agrícola e o cenário turístico está diretamente ligado à extração

e artesanato de cristais, além das fazendas e cachoeiras que atraem para o turismo ecológico.

Segundo o site Redecol Brasil, a Agência Goiana de Transportes e Obras (AGETOP), divulgou em julho de 2008 que o governo do Estado de Goiás autorizou a construção de sete terminais aeroportuários em municípios do interior, entre eles o de Cristalina. Segundo o projeto, o terminal teria 107 m² de área construída, com saguão, sanitários, lanchonetes, área de vigilância sanitária, sala de administração e uma sala da ANAC. Na ocasião, o custo da obra foi estimado em R$ 148,42 mil.

No entanto, ao que tudo indica o aeroporto não recebeu

os investimentos prometidos e a matéria de número 45.761 (referência do link excluído) foi retirada do ar no site da AGETOP. No projeto padrão previsto, o aeroporto teria as seguintes especificações: 1.100 x 23 m, pista asfaltada e sem terminal de passageiros, para comportar pousos e decolagens de aeronaves de porte médio e pequeno. A prefeitura de Cristalina foi questionada sobre o fato, mas não se pronunciou até o fechamento da revista.

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Turismo regional

As Festas religiosas, o comércio, o artesanato, e os poderes místicos dos cristais, e também a culinária goiana atraem para Cristalina os turistas mineiros de Paracatu e Unaí, de Brasília e dos municípios goianos Cidade Ocidental, Luziânia e Ipameri. Nos dias em que a equipe de reportagem esteve na cidade, visitantes de Brasília e do Maranhão estiveram na cidade interessados no artesanato e na tranquilidade do local.

A advogada Maria do Socorro Farias de Oliveira, 66, de São Luiz, elogiou a organização da cidade. “As ruas são largas, limpas. Adorei o passeio”, conta. Acompanhada pelos irmãos, a costureira Osmarina Dias Vaz, 81, e o assistente administrativo Marcos Farias, 50, aproveitaram para comprar cristais. A sexta-feira chuvosa que marcou o primeiro dia de fevereiro, impediu os passeios rurais. “Gostaria de visitar a Pedra do Sol, mas a chuva atrapalhou”, desabafa o Sr. Farias. Ainda assim, a família apreciou a comida goiana e visitou lojas de artesanato.

A matriarca Zilda Farias, 85, aconchegou-se na poltrona confortável do Centro de Atendimento ao

Turista (CAT), um quiosque localizado ao lado da Prefeitura, para descansar da caminhada que fizeram durante toda a manhã pelas lojas de artesanato. Enquanto a família obtinha informações sobre os passeios, com a voz baixinha, ela admite: “estou gostando muito da cidade”.

Dona Osmarina elogiou o almoço de um restaurante local e disse que se sente atraída pelos bons fluídos dos cristais. Ela comprou um cristal com o símbolo da justiça para presentear a sobrinha que completa 27 anos e que está se formando em Direito. “Vou costurar um saco de veludo para embalar o presente”, descreve orgulhosa como será o embrulho do presente escolhido.

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De acordo com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Cristalina, novas medidas foram adotadas e o espaço recebeu cerca de 2 mil pessoas no Carnaval

Balneário das lajes em reestruturação

REPORTAGEM Alessandra Azevedo e Caroline BcharaFOTOGRAFIA Sophia Costa e Marina Martins

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Balneário das lajes em reestruturação Com uma área de 400 mil

metros quadrados e localizado a aproximadamente 12 km do centro de Cristalina, o Balneário das Lajes é um espaço de lazer de grande importância para a região. Costumava atrair um grande número de visitantes, principalmente por suas praias artificiais e quedas d’água, antes de enfrentar sérios problemas com a estrutura física.

O preço cobrado pela entrada no local (R$ 20,00 por dia) era um dos fatores de descontentamento dos turistas, os quais não viam propósito em pagar para frequentar um lugar sem condições de atender a demanda. A Vigilância Sanitária e o Corpo de Bombeiros optaram, então, em janeiro de 2013, pela interdição do Balneário para que fossem tomadas medidas necessárias para a melhoria da infraestrutura local, de preferência até o Carnaval, quando ocorre o CarnaLajes.

Segundo dados da Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Cristalina, até o final de 2012, o Balneário era de responsabilidade do governo, que mantinha a prestação de serviços nas mãos de empresas terceirizadas. As companhias eram contratadas por um período indefinido de tempo, que variava de acordo com a administração em vigor.

A solução adotada pela Prefeitura para resolver a questão da precariedade da

infraestrutura do local foi a implementação de uma parceria público-privada. Este tipo de associação se dá quando o parceiro privado, no caso, o vencedor da licitação, assume o compromisso de disponibilizar à administração pública ou à comunidade uma certa utilidade mensurável mediante a operação

e manutenção de uma obra previamente financiada e de responsabilidade do governo. O agente privado, em contrapartida, é remunerado pelo governo ou por meio de uma combinação de tarifas cobradas dos usuários dos

O CarnaLajes ocorre anualmente no Balneário das Lajes e é uma festa típica do carnaval de Cristalina. Apesar dos problemas de infraestrutura enfrentados recentemente no local, o evento foi realizado em 2013 e aconteceu no período de sexta-feira (08/02) a terça-feira (12/02). Segundo o novo administrador do Balneário, Eudes Spíndola, os cinco dias de folia contaram com área de camping, restaurante

e segurança reforçada, incluindo salva-vidas.

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serviços mais recursos públicos.

Para tornar a parceria viável, foi aberta, em janeiro de 2013, uma licitação. A empresa vencedora do processo foi Gerontur, cujo dono, Eudes Menezes Spíndola, está inserido no ramo e é proprietário da Pousada Vivendas e do Natura in Thermas Park, em Rio Quente, Goiás. Um dos planos do proprietário é levar artistas plásticos para ajudar na restauração do Balneário, além de pedreiros e carpinteiros a fim de agilizar o processo. De acordo com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura, a lici- tação tem validade de 20

anos, e a meta para o primeiro ano é de investir R$2.300.000,00 no local.

Entre as prioridades da empresa está a regularização do espaço para que seja novamente aberto à visitação. Além disso, em momento posterior, visa a construção de um hotel para abrigar os visitantes, que estão previstos em maior número para a Copa do Mundo de 2014. Segundo informações do Secretário de Cultura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Willian Souto, o local encontra-se impossibilitado de acolher turistas até o término da reforma dos banheiros.

Entretanto, os interessados em conhecer o local, não dependendo da infraestrutura, podem fazer rápidas visitas.

Outro problema do Balneário das Lajes é o acesso ao local. Até o início de fevereiro, não havia opções de ônibus fazendo o trajeto, e os que pretendem visitá-lo precisam pegar táxis ou ir com meio próprio de transporte. A estrada encontra-se em péssimas condições, e a sinalização é escassa. São quilômetros de estrada vicinal, bastante esburacada, com uma piora devido às contínuas chuvas de janeiro, o que torna o acesso ao Balneário um desafio para o turista.

A prefeitura demonstrou intenções de disponibilizar ônibus para levar turistas futuramente, mas ainda não há nenhum plano concreto a esse respeito. Manifestou, também, interesse em melhorar as estradas da região, caso o Balneário seja

Posto de saúde abandonado: o novo responsável pelo Balneário, Eudes Spíndola, promete reestruturar a região

Outras opções de turismo

Pédra Chapéu do Sol

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Outras opções de turismo

CACHOEIRAS

Cristalina tem, entre os diversos atrativos naturais, as cachoeiras, sendo as mais famosas a do Arrojado e a dos Borella. Apesar de estarem todas localizadas em propriedades particulares, são abertas à visitação. A Cachoeira do Arrojado, localizada a aproximadamente 15 quilômetros do centro da cidade, ainda recebe o público, enquanto a dos Borella vetou recentemente o acesso aos visitantes, visto que estes deixavam o local muito sujo e não se preocupavam com a sua preservação.

O Secretário de Cultura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Willian Souto, afirmou que a prefeitura busca estabelecer contato com os proprietários das cachoeiras para que então possa ser negociada uma melhoria na infraestrutura e um consequente aumento dos turistas na região.

RESERVA PARTICULAR DO

PATRIMÔNIO NATURAL

(RPPN)

Assim como as cachoeiras, é um local privado aberto a visitações, com a diferença de que as visitas são feitas somente mediante agendamento prévio. Localizada a 13 quilômetros

de Cristalina, possui vários quiosques e área de camping. Seu responsável, o jornalista Jaime Sautchuk, publicou um livro contendo estudos sobre a flora e a fauna locais.

PEDRA CHAPÉU DO SOL

Localizada a cerca de seis quilômetros do centro de Cristalina, a Pedra Chapéu do Sol é composta basicamente de quartzito, rocha cujo mineral de composição principal é o quartzo. Com peso estimado em 100 toneladas, é parte da Reserva Legal Parque das Pedras, na fazenda Sucupira, e está equilibrada há milhões de anos sobre uma base de pouco mais de um metro de diâmetro. Em sua formação, há inscrições rupestres que ainda permanecem em estudo.

Assim como acontece com a estrada que leva ao Balneário das Lajes, o a estrada a qual dá acesso à Pedra está deteriorada e quase não existe sinalização, o que dificulta a chegada dos turistas ao local.

Pédra Chapéu do Sol

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fA religião

e desafios da fé em Cristalina

Católicos, evangélicos e outras manifestações religiosas mantêm convívio harmônico, mas estão em constante

disputa para cativar novos fiéis.

No calendário de Cristalina (distante 130 km de Brasília), as duas principais manifestações religiosas têm feriado municipal: os católicos comemoram o dia do padroeiro São Sebastião em 20 de janeiro; os evangélicos têm o feriado em 31 de outubro, dia Reforma Protestante. Padres e Pastores promovem ações sociais em prol dos carentes. As lideranças religiosas mantêm o consenso de que a religião é o caminho para o equilíbrio das famílias e para afastar os jovens das drogas e do comportamento marginal.O município tem 48.463 habitantes, segundo a estimativa populacional

realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012. Cristalina tem 75% da população de formação católica – o maior índice da diocese de Luziânia em 2011. Estima-se que 15% frequente alguma congregação evangélica e outros 10% sigam outra manifestação religiosa (espiritismo, maçonaria e o misticismo influenciado pela cultura dos cristais).A primeira igreja católica da cidade é a Matriz de São Sebastião, feita de adobe em 1948 e restaurada em 1993, no bairro Cristalina Velha. O ano de 1948 também marca a fundação da Loja Maçônica Acácia Cristalinense.

Antes mesmo dos católicos se fixarem, em 1924 os alemães que se instalaram na região fundaram a primeira Igreja Evangélica de Cristalina, uma Igreja Batista. O Pastor Samuel Joeder de Paula Silva, 22 anos assumiu a Igreja Batista de Cristalina há um ano e nove meses, quando decidiu mudar-se de Taguatinga (DF) para a cidade, em maio do ano passado. Formado em Teologia, tornou-se o pastor mais jovem da turma e, também, o mais jovem de Cristalina. Bastante comunicativo e empolgado com o trabalho religioso, ele conta que a decisão de assumir a liderança em

Texto de Mônica Nubiato MatosFotografias de Adriano Belmiro

Diagramação de Isa Lima

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fCristalina partiu da comunidade Batista com o objetivo de aumentar o público jovem e promover as ações de mudança. “Como a Igreja Batista tem muitos anos na cidade, somos respeitados. Há uma coexistência com os católicos, mas a gente tem que cumprir aquilo que a Bíblia determina, que é pregar o evangelho. E quando a gente vai abordar alguém, numa tentativa de uma mudança de vida, a pessoa dá um passo para trás, porque são gerações e gerações de católicos resistentes à mudança”, explica Silva. Para o pastor, o comportamento tradicional é característica das cidades de interior, o que dificulta qualquer proposta de mudança. “É preciso ter sabedoria na abordagem. Não adianta eu chegar atacando a outra religião, eu quero ganhar ovelhas”, diz. Atualmente, a igreja Batista tem aproximadamente 70 “ovelhas” - como são chamados os fiéis da congregação. As missas e celebrações católicas recebem em média 250 fiéis nas igrejas. Cristalina tem 33 bairros, além

do Povoado de São Bartolomeu e o Distrito de Campos Lindos. Segundo o Padre Geraldo da Silva Bueno, 40, Pároco da Matriz de São Sebastião desde dezembro de 2011, em cada bairro ou distrito tem uma comunidade ou capela católica. Ele assumiu a Paróquia após a morte do Padre José Borsato Flores, que comandou a Matriz de São Sebastião desde 1974. “O povo cristalinense foi bastante acolhedor, tem boa participação nos trabalhos sociais da igreja e nas pastorais. Ainda estou me adaptando a eles e eles a mim”, diz Bueno, admitindo sentir saudades de Luziânia, onde vivia antes da mudança. “Como a Igreja Batista tem muitos anos na cidade, somos respeitados. Há uma coexistência com os católicos, mas a gente tem que cumprir aquilo que a Bíblia determina, que é pregar o evangelho. E quando a gente vai abordar alguém, numa tentativa de uma mudança de vida, a pessoa dá um passo para trás, porque são gerações e gerações de católicos resistentes à mudança”, explica Silva. Z

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ZLocalizada no bairro Cristalina

Velha, a Igreja Matriz São Sebastião representa a tradição e história dos

católicos no município.

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iPara o pastor, o comportamento tradicional é característica das cidades de interior, o que dificulta qualquer proposta de mudança. “É preciso ter sabedoria na abordagem. Não adianta eu chegar atacando a outra religião, eu quero ganhar ovelhas”, diz. Atualmente, a igreja Batista tem aproximadamente 70 “ovelhas” - como são chamados os fiéis da congregação. As missas e celebrações católicas recebem em média 250 fiéis nas igrejas. Cristalina tem 33 bairros, além do Povoado de São Bartolomeu e o Distrito de Campos Lindos. Segundo o Padre Geraldo da Silva Bueno, 40, Pároco da Matriz de São Sebastião desde dezembro de 2011, em cada bairro ou distrito tem uma comunidade ou capela católica. Ele assumiu a Paróquia após a morte do Padre José Borsato Flores, que comandou a Matriz de São Sebastião desde 1974. “O povo cristalinense foi bastante acolhedor, tem boa participação nos trabalhos sociais da igreja e nas pastorais. Ainda estou me adaptando a eles e eles a mim”, diz Bueno, admitindo sentir saudades de Luziânia, onde vivia antes da mudança. O novo pároco, que tem apenas seis anos de vida religiosa, jeito tímido e o rosto de expressões tranquilas, já enfrenta os primeiros desafios com a comunidade católica: a decisão de mudar o local da tradicional festa do padroeiro São Sebastião, antes realizada na Praça da Igreja em Cristalina Velha, para as instalações da Creche São Vicente de Paulo. O objetivo disso é preservar a festa religiosa realizada na própria igreja, separando-a da festa social. Segundo o pároco, os jovens vinham

desrespeitando a igreja, que sofria até atos de vandalismo durante os festejos. A população aceitou a transferência da festa com certa relutância. No entanto, o mesmo motivo levou o Padre Borsato a mudar o local da Festa do Divino para a São Vicente de Paulo, que, até 1989, também era realizada na Praça de São Sebastião. A Festa do Padroeiro e a Festa do Divino são as principais comemorações religiosas em Cristalina e atraem um público médio de três mil pessoas por dia. Neste ano, a chuva e a mudança do local não contribuíram para a presença maciça do público. O Padre Bueno

Localizada no bairro Cristalina Velha, a Igreja Matriz São Sebastião representa a tradição e história dos católicos no município.

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ilestima que nos seis dias de festejos estiveram presentes seis mil pessoas.Atualmente, encontramos diversas denominações evangélicas na cidade, como as igrejas Deus é Amor, Assembleia de Deus, Universal do Reino de Deus, Mundial e Graça e Vida – essas duas últimas consideradas as maiores, com estimativa de 600 seguidores cada. Os católicos também têm variações na cidade, com a presença de manifestações da Renovação Carismática. Além das instituições evangélicas e católicas, Cristalina tem representantes do espiritismo.

Ações sociaisO trabalho das igrejas católica e evangélica beneficia aproximadamente 1500 crianças no município. São escolas, creches e abrigos para crianças em situação de abandono e risco. Todos os serviços são filantrópicos e o município contribui com a folha de pagamento dos funcionários. A igreja católica administra cinco creches e um abrigo infantil, um lar para idosos e uma casa de recuperação para mulheres em tratamento contra a dependência química. Para o Padre Bueno, “o trabalho social é a colaboração da igreja para manter-se próxima à comunidade, e a parceria com a prefeitura funciona muito bem”.A Igreja Batista mantém o Centro Batista de Assistência à Criança (CEBASC) e recentemente cedeu uma sala para o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), prestando atendimento às mulheres vítimas de abuso sexual. O Pastor Silva explica que a maior incidência de abuso sexual ocorre durante as colheitas e é potencializada pelos extremos socioeconômicos de Cristalina. “Muitos homens, vindos de outros lugares, passam cerca de dois meses aqui. Nesse período ocorre a maior incidência de violência sexual, prostituição infantil, e ficam muitas crianças grávidas”.

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Místicos e Espíritas representam uma pequena parcela das manifestações religiosas locais.

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Repórter: Ingrid Borges Fotógrafa: Caroline Bchara

Cristal ina: berço de um artista sem igual

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Repórter: Ingrid Borges Fotógrafa: Caroline Bchara

Dono das prosas mais famosas de Cristalina, Germano Oliveira de Melo, ou melhor, Seu Germano é definitivamente um homem de diversas facetas: foi alfaiate-calceiro, motorista, comerciante, garimpeiro e hoje, aposentado, divide o tempo entre seus maiores prazeres, a arte e a leitura.

Gonçalves Dias, Castro Alves e José de Alencar estão entre os autores apreciados pelo artista que gosta de ler de tudo, quer dizer, quase tudo. Paulo Coelho não está entre seus preferidos. “Sou muito mais meu livrinho simples que O Alquimista”, diz vaidoso. Com boletim invejável, o amor pelos livros vem desde a infância, e se só chegou a 5° série foi apenas pela falta de infraestrutura. Perguntado se nunca pensou em sair da cidade para se formar respondeu:

Com aproximadamente 100 obras, o maior sonho do Seu Germano é vender todo o acervo para que seus trabalhos permaneçam unidos.

Nasci em CristalinaNunca fiquei preocupado.Estudar em outra cidade,

Foi caso descartado,Não vou ficar com inveja

De nenhum cabra formado...

Esses versos e toda arte comentada estão registrados no tal livrinho citado acima. A vida e a Arte de um Garimpeiro (livro sobre sua obra) foi ideia da esposa, dona Diana Cosac. Casados há 47 anos, pais de 2 filhos e avós de 3 netos, Seu Germano se diz um homem apaixonado e muito carinhoso refere-se à esposa como “minha senhora”.

Católico, a religião também é tema para seu trabalho, exemplo é a música composta pelo mesmo: Jesus, meu rei. “Gostaria que Agnaldo Rayol a cantasse com voz de tenor”, confessa. Falando em música, é fã mesmo das antigas, aquelas bem românticas, como ele, “modéstia a parte sou uma pessoa romântica”. Flamenguista roxo, não perde um jogo do rubro negro, e quem pensa que o interesse em esportes parou por aí, se engana, Seu Germano adora andar de bicicleta.

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Filho de Simão de Oliveira e Amélia Flores de Oliveira, o cristalinense despertou seu talento graças à novela Selva de Pedra. No folhetim, a atriz Regina Duarte deu vida a uma artista plástica. Ao ver o personagem em ação, disse que também iria fazer “umas coisas dessas”, dessa forma nascia o poeta, o compositor e o escultor. Mas Seu Germano não gosta muito de falar a respeito, tomou raiva de Regina que nunca respondeu a carta na qual agradecia pela inspiração.

Simples e idealista, sua arte retrata memórias antigas e figuras que compõem a história da cidade. No ateliê, peças que denunciam a corrupção e a violência apelam por paz, mostrando o homem utopista detrás do artista. Tranquilo e sem pressa, faz tudo sozinho com o uso de ferramentas rústicas. Madeira, corda e lata são algumas das matérias-primas utilizadas por Seu Germano, mas o que realmente domina o seu acervo é o cristal. “Cristal é minha marca registrada”, afirma.

Seu Germano com a obra “Eu”

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Membro fundador da Academia Cristalinense de Ciências, Letras e Artes já expôs em Luziânia, Goiânia, Valparaíso e Brasília. Na última fez uma de suas exposições mais importantes. Foi em novembro de 1995 para a princesa do Japão na sua passagem pelo Brasil em comemoração do centenário da amizade entre ambos os países. Ao longo de 40 anos repletos de arte, recebeu inúmeros prêmios e homenagens, umas delas da Universidade de Brasília (UnB). Ainda assim espera maior reconhecimento, quem sabe um espaço fixo para exibição de seu trabalho.

Altruísta, emotivo, rico em felicidade e por que não em sonhos? O artista de 75 anos de idade,“achando pouco” como ele mesmo fala, sonha com o mundo. “Tenho vontade de fazer um filme mostrando todas as minhas peças”. Realmente não há como Cristalina estar mais bem representada.

Obra “Os Picaretas”

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OFÍCIO DE RESISTÊNCIA E ESFORÇO

DIÁRIOS

Famílias de Cristalina dão voz à tradicional cultura do artesanato com cristais e percebem que o trabalho conjunto é a melhor saída para se fortalecerem

TEXTO Anna de MoraesFOTOS Emily AlmeidaDIAGRAMAÇÃO Isa Lima

Cristalina avança a passos largos nos últimos anos, motivada pela explosão econômica que lhe garante, hoje, reconhecimento nacional e internacional quando o assunto é o desenvolvimento agropecuário da região. Em meio a mudanças na arquitetura dos bairros e nas feições do povo, constituído por pessoas de vários lugares do país, a cultura que deu o nome à cidade ainda

resiste e procura se fortalecer: é o trabalho artesanal com cristais.

Na região central, tornou-se comum encontrar pequenas lojas vendendo bijuterias, pedras brutas ou souvenires do Cerrado lapidados em cristais, herança de um comércio iniciado há décadas e passado de uma geração para outra. Mesmo com diversas formas de trabalho florescendo

em diversas áreas no interior de Goiás, garimpeiros, lapidários, artesãos e joalheiros garantem sustento se unindo em busca de estabilidade.

Criada em 2002 para manter o artesanato fortalecido na região, a Associação dos Artesãos foi uma forma de alavancar essa união dos setores envolvidos com os cristais como obras de

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varte, e visa fomentar o trabalho do artista que não possui condições financeiras de adquirir um local físico para vender produtos.

Hoje encabeçada por William Souto, um dos fundadores e também Secretário de Cultura da cidade, esta forma de cooperativa

fomentada na Associação já tem sede definitiva quase finalizada, para ser entregue em maio de 2013 e abrigar a 9ª Feira de Cristais, também chamada FECRIS, vitrine de compra e venda dos produtos e de divulgação dos criadores de Cristalina para clientes de todo o Brasil.

Através do trabalho em equipe, a Associação conseguiu reunir profissionais para consolidar o papel de quem “tira leite de pedra” a partir da manipulação diária dos cristais. O Arranjo Produtivo Local (APL) é uma rede de trabalho com as pedras da cidade e de outras localidades que deu mais autonomia para Cristalina, sem precisar recorrer a serviços fora da região para ter as peças finalizadas.

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O importante para Railon é a qualidade de produção das peças, com delicadeza, pois são quebradas facilmente. De acordo com ele, “a natureza gastou tantos milhões de anos para formar as pedras; a gente tem que respeitar. Não é porque ela sai fácil, que vamos acabar com ela rapidamente. É preciso aperfeiçoá-la da melhor forma possível”.

Ao comprar pedras e cristais já lapidados por pessoas como o próprio Railon ou seus funcionários, os vizinhos da Rua da Saudade, situados na loja Henrique Joias, exercem o trabalho de joalheiros, confeccionando joias e demais acessórios ao mesclar essas preciosidades com ouro e prata, seja sob encomenda ou para expor no espaço físico da loja, há 28 anos.

Quem está em cada parte do arranjo produtivo local

Railon Rodrigues, lapidário há mais de 30 anos e um dos mais reconhecidos na cidade, aprendeu o ofício no meio familiar. Ele inseriu-se no ramo através da esposa, o qual aprendeu com o irmão já experiente na lapidação de pedras. Agora, Railon orienta o filho a fim de deixá-lo, futuramente, responsável pelos negócios da família, que já conta com dois outros funcionários.

Apesar de viajar pelo Brasil para trocar experiências com outros lapidários e realizar cursos de capacitação, segundo Railon, a vitrine “mais preciosa” que possui é a filha. ‘Ela anda com as joias que produzo, as amigas perguntam e logo compram as peças que ela mesma está usando.’

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Com a formação de técnico agrícola nas mãos, José Henrique Ataídes decidiu seguir com o ofício de joalheiro, anteriormente praticado pelos pais e avós e, hoje, também feito pelos irmãos. Contratou José Antônio há 15 anos e Marcos Vinícius há nove para ajudá-lo na joalheria. Ambos se aperfeiçoam mais a cada dia, com o apoio da Associação dots Artesãos e os cursos que ela oferece.

A particularidade com que cada joia é criada exige alguns dias, dependendo da técnica utilizada. Mesmo com cursos de fundição – técnica que permite produzir joias em larga escala -, os joalheiros dizem preferir a criação artesanal, pois dá particularidade às peças e mais liberdade para os artistas criarem joias diferentes.

Em meio à demanda contínua por produtos, José confessa já ter derretido aliança de casamento várias vezes para não desapontar clientes, na falta de ouro em Cristalina, pois este material vem de Brasília poucas vezes por mês. Esta situação causadora de conflitos dentro de casa hoje é compreendido pela esposa, que admira a suavidade e a atenção dedicada às joias por parte do marido.

Depois de terem peças como essas ou mesmo outros souvenires de artesãos espalhados pelos bairros de Cristalina, os produtos são repassados para as lojas especializadas em vender o material para turistas ou moradores da região.

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Aymara, comerciante há 15 anos, começou a confeccionar bijuterias para si mesma. Quando perguntada sobre o preço das clássicas árvores de pedras feitas por artesãos locais e revendidas tem todas as lojas especializadas, ela afirma que a mais barata sai por R$ 3. “Minha base é assim: uma pessoa vem aqui em casa fazer as minhas unhas e me cobra R$ 20,00 pela mão de obra, mesmo com os materiais sendo meus. Comparando com as fases de fabricação das árvores, me parece muito injusto vê-las vendidas por tão pouco: R$ 3,00 é um absurdo, não é? As pessoas de Cristalina não valorizam o próprio trabalho” ela desabafa, indignada, sem poder subir os preços por causa da concorrência.

Um dos concorrentes da loja de Aymara é o senhor Guido Arantes, comerciante responsável pelo Centro Mundial dos Cristais, galpão localizado na beira da estrada, próximo ao entroncamento que dá início à cidade. Fundado em 2000, este centro tornou-se referência e, hoje, vende uma

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aAs pedras são comercializadas de várias formas: brutas,

lapidadas, ou tranformadas em objetos de decoração

gama de produtos diferentes, com cristais e demais pedras como matéria-prima. Os preços são mais altos em relação aos encontrados dentro da cidade, mast a iniciativa de vender para os que transitam pela estrada, segundo o senhor Guido, é de divulgar o trabalho local.

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Por trás de cada etapa de constituição de uma joia, seja ela um chaveiro de R$ 1,00 ou peças vendidas para a Rússia, há uma vida em busca de sustento e reconhecimento. Mas não é só isso. Os artesãos mantêm viva a história de seus antepassados. Através da tradição cristalinense de trabalho com pedras, essas pessoas resistem a formas massivas de criar produtos e honram a cidade, ao transformar o nome Cristalina em arte pelas mãos dos que nela habitam.

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Influências e Tradições Reunidas em um só Cardápio

O município goiano conhecido como “a terra dos cristais” possui um lucrativo agronegócio na região, fato que gerou um alto índice de imigração gaúcha, nordestina e estrangeira nas últimas décadas. Com isso, novos hábitos foram adicionados a antigos costumes preservados das raízes indígenas, como cremes e quitutes feitos à base de milho, e heranças dos tempos de escravidão, a exemplo a feijoada e o feijão tropeiro. Assim, acompanhado por frutos nativos, a gastronomia cristalinense se constitui.

Descendo os morros de paralelepípedo do bairro de Cristalina Velha, onde se preservam parte da história da cidade, mora Dona Angélica Lopes. Cristalinense de 84 anos, ela é uma representante viva das tradicionais cozinheiras que guardam na memória receitas culinárias herdadas de uma geração para outra. Aprendeu cedo a utilizar temperos típicos da região: alho, cebola, sal e açafrão. Gengibre para o peixe assado e hortelã e pimenta malagueta para determinados tipos de carnes.

Os frutos do cerrado bastante consumidos são o popular pequi, as espécies de palmito guariroba (ou gueroba) e camargo e o jatobá-do-cerrado. Eles e tantos outros estão presentes no livro Flores e Frutos do Cerrado, de Carolyn C. Proença, Rafael S. Oliveira e Ana Palmira Silva, no qual se destaca o uso do jatobá, em Cristalina, na forma de farinha crua ou adicionada a biscoitos e bolos. A obra responsável por mapear a flora da segunda maior vegetação do país está presente na casa de Dona Angélica, que afirma utilizar os frutos já citados e hortaliças como a serralha e a taioba.Donas do Cardápio

Reporter: Camila CuradoFotografia: Nayara Ferreira e Camila Curado

Doce de mamão recheado é uma das sobremesas típicas dos goianos e muito apreciado pelos cristalinenses.

A formação gastronômica de Cristalina passa por famílias que preservam tradicionais hábitos goianos e por influências mineiras, gaúchas e até árabes.

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Influências e Tradições Reunidas em um só CardápioA formação gastronômica de Cristalina passa por famílias que preservam tradicionais hábitos goianos e por influências mineiras, gaúchas e até árabes.

Ela cozinha a guariroba com frango e o pequi, claro, com arroz. Também faz frequentemente piaba assada, carne de porco e galinha caipiras, macarronada com queijo e galinhada.

“Gosto de fazer de tudo! E guardo as receitas na memória”,

afirma. Isso inclui quitutes como pão de queijo, roscas, biscoitos, bolo de mandioca e uma torta de frango cuja massa assemelha-se à do empadão goiano.

Outra especialidade são os doces de mamão recheado, de figo, de casca de laranja e de cidra, feitos em enormes panelas de tacho. O atual prefeito Luiz Attié já provou dessas delícias, saboreadas junto à muçarela trançada, quando frequentava a antiga casa de Dona Angélica. Ao se lembrar das refeições provadas, ele confessa: “Pessoas como ela preservam um vasto conhecimento da cultura goiana, que deve ser preservado, passado adiante”. Dona Angélica mostra uma de suas

especialidades: o doce de mamão recheado.

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Dona Sônia é a prova de a tradição culinária de Cristalina tem sido passada adiante. Afinal, ela aprendeu a cozinhar com quem era, até há pouco tempo, uma das cozinheiras mais antigas da cidade, Dona Odete. E, hoje, além de fazer os salgados e refeições do clube AABB, Sônia também trabalha em grandes eventos , como confraternizações da prefeitura, casamentos e aniversários, junto a uma equipe de quatro pessoas comandadas por ela. E, assim, possibilita aos moradores da cidade experimentarem a genuína culinária cristalinense.

Ela não faz só os pratos típicos da região, como também comidas nativas de outros lugares, principalmente do Sul. Devido à quantidade de sócios gaúchos no clube, ela inclui no cardápio dos finais de semana o porco desossado (costelão). E das experiências obtidas por ela durante os mais de 20 anos de cozinha, está a participação no Festival do Alho, Batata e Cebola*

O Festival do Alho, Batata e Cebola - ABC da boa mesa: muito sabor entre três amores reúne chefes de cozinha de várias localidades interessados em ensinar e aprimorar receitas que utilizem essas três hortaliças. Em parceria com a Secretaria da Educação de Cristalina, o evento convida alunos e professores para assistir a palestras ministradas sobre essas culturas, as principais da cidade. Agricultores também se reúnem para discutirem sobre técnicas de plantio e práticas de manejo sustentável e doam as matérias primas utilizadas pelos cozinheiros durante a festa. Fazem parte da realização a Associação Nacional de Produtores de Alho (Anapa), a Associação Brasileira da Batata (Abba) e os Produtores de Cebola de Cristalina e região. Esse ano, a 4ª edição do festival, que se iniciou em 2009, será em setembro.

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Jantares de festas também são feitos pelas irmãs Maria Auxiliadora e Maria de Nazaré, funcionárias do Hotel Goyas. Embora as mãos sejam mineiras, o cardápio é goiano. Segundo elas, “independente do pedido, o feijão tropeiro e o creme de milho nunca faltam, porque o pessoal da cidade gosta muito”. O tempero utilizado por elas não é muito diferente do de Dona Sônia nem do de Dona Angélica.

Segundo a nutricionista do restaurante Churrascaria Rodeio*, Mônica Sousa, o tempero goiano não é forte como o da Bahia e de Minas Gerais. Porém, ela explica que o Estado preserva forte tradição sertaneja em utilizar banha de porco, uma ameaça à saúde. Ela elabora o cardápio junto à chefa de cozinha da churrascaria, Dona Irene Rodrigues. Natural de Unaí, ela defende: “A culinária mineira e a goiana são completamente diferentes. O tempero muda muito. Aqui, no dia a dia, eles comem arroz com pequi, linguiça e salada. Enquanto em Minas se tem carne de lata e de sol”.

CHURRASCARIA RODEIOO restaurante mais indicado pelos moradores para os visitantes da cidade é a Churrascaria Rodeio, renomada entre os cristalinenses e muito frequentada por turistas – inclusive embaixadores. Embora o dono seja gaúcho e o principal atrativo do local seja o churrasco, o cardápio é variado e os funcionários ilustram a multiplicidade de imigrantes brasileiros no município.

Além da variedade de carnes e pratos tipicamente goianos, a Churrascaria Rodeio também oferece diversos tipos de salada.

Funcionárias do Hotel Goyás, as irmãs Maria Auxiliadora e Maria de Nazaré, há anos, cozinham para festas de casamento e aniversário em Cristalina.

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Nascida em Salvador e há cinco anos no município, a Barraca da Liu levou à terra dos cristais o gosto do cururu, vatapá e da típica pimenta baiana. “No começo, os moradores daqui estranhavam o camarão e, por isso, não compravam muito o acarajé. Mas, hoje, o movimento cresceu”, afirma. O resultado dessa miscigenação de sabores e costumes é um povo receptivo e disposto a absorver novidades e aprender.

O restaurante de Francisca Cozac é conhecido na cidade mais pelo nome da dona do que do próprio estabelecimento. O motivo se deve ao fato de ela saber cozinhar bem e de pertencer a uma família de árabes cuja matriarca é Eva Cozac, 92, que chegou à Cristalina com o marido quando ainda tinha 27 anos. No restaurante de Dona Francisca, charutos, quibes e esfirras estão presentes no cardápio e não são encontrados em nenhum outro lugar da cidade.

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Receita De D. Angélica: Doce de Mamão Rechedo

Ingredientes:6 mamões8 gemas de ovo caipira300 grs de coco ralado1 lata de leite condensado3 xícaras de açúcarCravo à gosto (opcional)PalitosÁgua

Modo de fazer:Raspe os mamões e faça um corte em uma das beiradas para retirar as sementes. Depois, junte a tampa cortada com palitos ao mamão já limpo. Coloque-os em uma panela e cubra-os de água e adicione os cravos (se quiser). Ao fogo brando, vá adicionando o açúcar aos poucos. Deixe cozinhar por várias horas (segundo Dona Angélica, os mamões ficam duas tardes cozinhando para que o açúcar entre bem) até formar o melado e dar o ponto de cristalizar.

RecheioEm uma panela, adicione o leite condensado, o coco e as gemas de ovo. Mexa até dar ponto. Se ficar muito mole, adicione mais coco.Dica: Coma os doces de mamão recheado com queijo ou muçarela trançada.

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Sem diversão, jovens reclamam que sistema turístico é defasado. Secretaria de Turismo garante tomar medidas para que o setor cresça qualitativamente

Reportagem: Marina MartinsFotografias: Alessandra Azevedo

e Laura de Falco

LAZER NOTURNO DE CRISTALINA É PRECÁRIO

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O turismo ecológico, rural e de extração de cristais atrai o

público que prefere opções de lazer diurnas, como exemplo, Balneário das Lajes, pedra Chapéu de Sol e Cachoeira do Arrojado são pontos interessantes de visitação. No entanto, quando o assunto é divertimento noturno e as possibilidades que a cidade oferece, a situação é mais delicada.

Segundo o Secretário de Cultura, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Willian Souto, não há investimento em relação ao turismo noturno e atualmente o sistema apresenta falhas.

Com o déficit apresentado pelo turismo cristalinense, jovens entre 18 e 25 anos buscam alternativas em outras cidades. Luziânia e Paracatu são as mais procuradas, tendo em vista a maior oferta de diversão nesses lugares. “As pessoas querem novidades, por isso sempre vamos às festas fora de Cristalina.” explica

Para quem gosta de opções mais tranquilas, como bares e chopperias, a cidade é um bom atrativo. Camila Lepesquer, 23 anos, conta que, quando quer se divertir, a melhor opção é ir para bares com os amigos. Entres os mais famosos da cidade estão Chatobol, Zé Lobinho e Sensation Beer. Para se alimentar e se divertir ao mesmo tempo, a Churrascaria Rodeio e a Pizzaria Ouro verde são referências na cidade e, para dançar, a escolha é a boate Biver Fest House.

Há cerca de três anos, uma prática bem comum entre os jovens da região era estacionar carros com som automotivo na Praça da Liberdade. Adolescentes ficavam ali com amigos e a diversão era garantida pela bebida alcoólica, conversas e música. Entretanto, esses encontros geravam brigas e confusões, então, para preservar a população da cidade, a Prefeitura de Cristalina resolveu proibi-los.

João Flávio, 20 anos, estudante. Em novembro de 2011 o

Cadastur, cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam no setor turístico, executado pelo Ministério do Turismo, começou a ser feito em Cristalina.

A Secretaria de Turismo da região, com apoio da Goiás Turismo, cadastrou cerca de 40 empresas, entre elas bares, restaurantes e lanchonetes. A previsão é que até o dia 30 de março todos os estabelecimentos estejam regularizados. Em levantamento feito pela Secretaria de Turismo, cerca de 14 bares e chopperias são os lugares mais frequentados em Cristalina. No entanto, esse lazer é voltado para o morador da cidade, não há divulgação turística noturna para os visitantes. A estudante Paula Vitor, cristalinense que atualmente mora em Brasília, afirma que não houve melhoria desde a época que foi embora até os dias de hoje.

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Com a finalidade de melhorar qualitativamente o turismo e lazer da cidade, a Secretaria de Turismo está com cerca de seis projetos em andamento. Willian Souto garante que as medidas serão de extrema importância para a melhoria deste setor.

O Centro de Atendimento ao Turista (CAT) é um desses projetos, e o único concluído desde maio de 2011. A intenção é funcionar como local de apoio para fornecer informações sobre lazer, hospedagem e alimentação para os visitantes.

O Mapa Cultural e Turístico da cidade, no qual constarão informações sobre a prefeitura, museu, pontos turísticos, restaurantes, produtos artesanais e telefones importantes, será realizado em parceria com a

faculdade Instituto Federal de Minas Gerais. A previsão é que o produto seja distribuído ainda em fevereiro.

Outro projeto importante é a Praça da Juventude, uma parceria do Governo Federal com a Secretaria de Turismo de Cristalina. O objetivo é oferecer esporte público de qualidade para a população e tornar-se ponto de encontro e referência para os jovens.

Por fim, a Revitalização do bairro de Cristalina Velha é o plano que visa à reestruturação patrimonial, manutenção dos edifícios históricos e também da memória individual, coletiva e urbana.

Uma das casas noturnas mais frequentada por quem procurada se divertir

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Eliézer Bispo

Graduado em Letras, levou a sério a dedicação às palavras. Ele trabalhou no jornal Sudeste Goiano, produziu uma revista chamada Padrão e agora conduz o Jornal de Cristalina – mas conseguiu ir além do discurso jornalístico.

Em casa ele guarda com cuidado registros da história da cidade, como os livros do historiador cristalinense Otto Mohn e os diários manuscritos do avô Leão Rodrigues da Fonseca, cujos relatos ele publicou no livro “Cristalina em Letras”.

Fotos por Ingrid Borges

Ano 1967, 28 de setembro: Como os outros dias, depois que Moema foi para Goiânia, acho-me sozinho, distraindo-me com meus amigos livros.

”Trecho de Cristalina em Letras

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O Jornal de Cristalina (acima à esq.) é mensal e tem tiragem de cerca de 2500 exemplares. Entre 2005 e 2006 Eliézer produziu a revista Padrão (acima).

Ano 1968, 09 de fevereiro:Faz hoje 40 anos que aqui cheguei com minha família, então composta de dez pessoas[...]. Quanto trabalho, quanto dissabor tenho passado nesses 40 anos de existência em Cristalina.

Trecho de Cristalina em Letras

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Detalhes da caligrafia: o avô chegou ainda nos anos 1920 e deixou, registrado em um diário, relatos do cotidiano e do contexto histórico do país.

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Seu Germano

Ó minha amada CristalinaTerra hospitaleira e encantadaSerás sempre uma meninaE minha eterna namorada

Cristalina é uma riquezaQue encanta viajantesCom sua esplêndida belezaE seus cristais brilhantes

Aqui em Cristalina eu nasciAqui em Cristalina eu cresciSe eu tiver que escolher.

Aqui eu quero deleitarAqui eu quero ficarAqui, eu quero morrer.(Declaração de Amor à Cristalina)

Fotos por Caroline Bchara

Quero noites de estrelasQuero roda de brincadeiras,Ser bom, eu sempre quis...

Quero muita alegria,Repleta de sabedoria,

Mas o que eu quero mesmo...É ser feliz.

”Do poema “Quero noites estreladas”

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Obras “Os Picaretas” (acima), “Símbolo da Paz” (dir.) e “Brasil e Japão” (abaixo à dir.)

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Coluna SocialConstruída por alunos de Fotojornalismo do segundo semestre de 2012

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Seu Alarico Gonçalves, 82 anos, cristalinense de natureza e coração, proseia baixo e devagar conosco, enquanto retorna para casa com sua pamonha sagrada de cada dia, comida típica dos moradores da cidade.

Foto de Nayara Ferreira

Simão Angêlo é “microfonista profissional” no comércio e locutor em uma rádio local. Sergipano, rodou o Brasil todo até se fixar em Cristalina. É um desses queridos, mas misteriosos personagens do interior do país.

Foto de Hermano Araújo

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Novamente de passagem por Cristalina, o caminhoneiro catarinense Alex “Furão” Masiero viaja sempre ao lado de sua cadela Chérie.

Foto de Nívea Ribeiro

Embora seja a primeira visita de Marco Antônio (10) à sua tia Lair em Cristalina, ele já conhecia os famosos ETs que ela coleciona por fotos. “Acho muito legal. Gosto mais deste aqui porque tem quase a minha altura”, diz o jovem morador

de Campinas do Sul (RS).

Foto de Gabriel Luiz

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Aos 22 anos Elias Lima “perdeu a memória”. Hoje

tem 43 anos e reside no Lar dos Idosos São Vicente de Paula. Gosta de repetir as

frases dos outros e de posar para a câmera.

Foto de Ana Teresa Malta

Seu José Pires, agricultor.

20 anos de Cristalina, 82 de mundo.

Foto de Paulo Caproni

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Rafael Silva, cristalinense de 18 anos. “Montador de Ótica” por profissão e capoeirista de coração.

Foto de Ingrid Borges

Quem quer dinheiro? Roberto Honório da Silva quer. O pernambucano de 53 anos mora em Cristalina há 11 e jura que há 10 anos ganhou na Telesena, mas até hoje espera receber o prêmio de R$ 2 milhões.

Foto de Thiago Amâncio

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“Hoje sou taxista, mas já fiz de tudo um pouco nessa vida”. - Edson de Sousa, aposentado da Polícia Rodoviária Federal e natural de Cristalina.

Foto de Caroline Bchara

Seu Carlos só tem uma reclamação: “O dinheiro sumiu, rapaz. Não sei explicar”. Há quatro anos, o sorveteiro aparece magicamente em Cristalina quando o calor importuna.

Foto de Eduardo Barretto

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