vidas secas (1938) de graciliano ramos (1892/1953) · 1. mudança - a família no ambiente da seca...

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Vidas secas (1938) de Graciliano Ramos (1892/1953) 7. 1

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Vidas secas (1938)

de Graciliano Ramos

(1892/1953)

7.

1

2

A minha gente quase muda vive numa casa

de fazenda; as pessoas adultas, preocupadas com

o estômago, não têm tempo de abraçar-se.

4

A prosa regionalista brasileira em 4 momentos:

1. no Romantismo (1836/1881): de maneira

idealizada, autores como José de Alencar,

Alfredo de Taunay, Bernardo Guimarães,

Franklin Távora retratam as várias regiões do

Brasil com pouca fidelidade, destacando

o lado exótico e pitoresco.

2. no Pré-modernismo (1902/1922): com

consciência crítica da realidade nacional,

autores como E. da Cunha, M. Lobato, Graça

Aranha, Lima Barreto, entre outros pesquisam a

linguagem, o folclore, a sociologia, a política, e a

economia das diversas regiões.

5

3. no Modernismo de 30: com preocupação neorrealista social, autores como Rachel de Queiroz, Lins do Rego, Jorge Amado, Érico Veríssimo procuram expressar as mazelas

sociais e existenciais: tradição, cangaço, seca, sensualidade, misticismo, miséria, ignorância, coronelismo... A prosa regionalista de 30 ou neorrealista social inicia-se com A bagaceira

(1928), de Américo de Almeida, e convive com os problemas ideológicos da Era Vargas.

4. no Modernismo de 45: com preocupação social, típica do neorrealismo, e com caráter universal,

isto é, conferindo ao regional uma dimensão universal. São as obras de J. G. Rosa –

Sagarana (1946), Grande sertão: Veredas (1956).

6

Vidas secas (1938):

*Foco narrativo: 3ª. pessoa, onisciente;

*Análise psicológica das personagens (estilo machadiano);

*Precariedade e incomunicabilidade: náusea existencial;

*Predomínio do discurso indireto livre;

* Seu Tomás da Bolandeira: referência;

* vidas miseráveis x terras secas;

*Tempo: semiciclo da seca;

*Espaço: interior de Alagoas;

* Neorrealismo Social de 30;

* Prismático e desmontável.

7

8

Romance desmontável, segundo o escritor Rubem Braga:

reunião de contos, ou seja, cada capítulo é um conto e pode ser lido separadamente.

São 13 capítulos que contam a trajetória de uma família de retirantes nordestinos:

1.“Mudança” ......................13.“Fuga”

7. “Inverno”

(chuva)

1. Mudança - A família no ambiente da seca (”miudinhos,

perdidos no deserto queimado”) e a caracterização de

cada membro da família de retirantes.

2. Fabiano – Suas interações com a vida, a seca e a família.

É uma vaqueiro competente e conhecedor do seu ofício.

3. Cadeia - Fabiano está na cidade e apresenta dificuldades

de comunicação. Acaba envolvido pelo Soldado Amarelo e

preso; na cadeia; “leva surra de facão”.

9

4. Sinhá Vitória -

Apresentação de Sinhá

Vitória, seus afazeres e

responsabilidades. Seu

sonho é ter uma “cama

de tiras de couro, igual

a do Seu Tomás da

Bolandeira”.

10

5. Menino mais novo – Tem em Fabiano seu modelo; em

sua ingenuidade tenta imitá-lo, ao “montar um bode”.

6. Menino mais velho – Está curioso com o significado da

palavra “inferno”; pergunta a mãe e recebe “cocorote na

cabeça”. A ignorância gera, não raro, violência. Conclui que

o “inferno” é a miserabilidade da vida que levam.

11

7. Inverno Chega o tempo das águas. A família está

reunida em torno do fogo. Fabiano e sinhá Vitória articulam uma conversa entrecortada, “minguada”, que tentam remediar “falando alto”:

“Não era propriamente conversa: eram frases soltas, espaçadas, com repetições e incongruências. Às vezes uma interjeição gutural dava energia ao discurso ambíguo. Na verdade nenhum deles prestava atenção às palavras do outro: iam exibindo as imagens que lhe vinham ao espírito, e as imagens sucediam-se, deformavam-se, não havia meio de dominá-las. Como os recursos da expressão eram minguados, tentavam remediar a deficiência falando alto.”

INCOMUNICABILIDADE

12

8. Festa - Festa de Natal na cidade: Sinhá na igreja; Fabiano

no bar, pensando em se vingar do Soldado Amarelo; e os

Meninos no parque de diversão, “nomeando as coisas”.

“... queira dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia a mão de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”

9. Baleia - Fabiano

vislumbra “princípio de

hidrofobia” em Baleia,

e resolve dar cabo ao

sofrimento. Atira, mas

“... a carga alcançou

os quartos traseiros”.

Nos seus últimos

instantes, sonha:

Sonho de Baleia: acabar com a seca.

13

preá entre caroás (bromélias)

14

10. Contas - As contas do

Patrão não batem com as

de Sinhá Vitória. Fabiano

confia na mulher.

Ameaças, desalentos e o

fatalismo do destino.

11. O Soldado Amarelo –

Encontro e possibilidade

da desejada vingança. O

recuo fatalista perante a

autoridade: “governo é

governo”.

12. O mundo coberto de penas – As aves de arribação

competem com o gado, bebem a pouca água que resta, mas

são alimento em abundância. Em seguida, alçam voo.

13. Fuga - Mesmo quadro, forçando a retirada da família;

os meninos na frente. A esperança de uma vida melhor.

15

homem=animal

começo e recomeço

seca X miséria

romance cíclico

1.“Mudança” 13.“Fuga”

16

“O voo negro dos urubus fazia círculos

altos em redor de bichos moribundos.”

17

18

comportamento

homem=animal

homem como animal – século XIX

animal como homem - século XX

Baleia Fabiano

19

Homem

BICHO

Animal

FABIANO

BALEIA

SONHO* DESEJO*

intelectualidade

instinto

* acabar com a seca e a miséria.

20

“Família de Retirantes”(1944)

de Cândido Portinari

1.“Mudança”

2. “Fabiano”

3. “Cadeia”

4. “Sinhá Vitória”

5. “O Menino Mais Novo”

6. “O Menino Mais Velho”

7. “Inverno”

8. “Festa”

9. “Baleia”

10. “Contas”

11. “O Soldado Amarelo”

12. “O Mundo Coberto de Penas”

13. “Fuga”

13 capítulos: semicírculo da seca.

21

Verão e Inverno na Caatinga:

22

23

Mudança: a retirada espontânea.

Entrava dia e saía dia. As noites cobriam a terra de chofre. A tampa anilada baixava, escurecia, quebrada apenas pelas vermelhidões do poente.

Miudinhos, perdidos no deserto queimado, os fugitivos agarraram-se, somaram as suas desgraças e os seus pavores. O coração de Fabiano bateu junto do coração de sinhá Vitória, um abraço cansado aproximou os farrapos que os cobriam. Resistiram à fraqueza, afastaram-se envergonhados, sem ânimo de afrontar de novo a luz dura, receosos de perder a esperança que os alentava.

busca de uma vida melhor,

mais justa e digna e menos miserável

solidariedade

e perseverança

24

Iam-se amodorrando (adormecendo) e foram despertados por Baleia, que trazia nos dentes um preá. Levantaram-se todos gritando. O menino mais novo esfregou as pálpebras, afastando pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensanguentado, lambia o sangue e tirava proveito do beijo.

(...) Sinhá Vitória remexeu no baú, os meninos foram quebrar uma haste de alecrim para fazer um espeto. Baleia, o ouvido atento, o traseiro em repouso e as pernas da frente erguidas, vigiava, aguardando a parte que lhe iria tocar, provavelmente os ossos do bicho e talvez o couro.

Fatalismo humanização

25

Fabiano tomou a cuia, desceu a ladeira, encaminhou-se ao rio seco, achou no bebedouro dos animais um pouco de lama. Cavou a areia com as unhas, esperou que a água marejasse e, debruçando-se no chão, bebeu muito. Saciado, caiu de papo para cima, olhando as estrelas, que vinham nascendo. Uma, duas, três, quatro, havia muitas estrelas, havia mais de cinco estrelas no céu. O poente cobria-se de cirrus (flocos de nuvens) - e uma alegria doida enchia o coração de Fabiano.

Pensou na família, sentiu fome. Caminhando, movia-se como uma coisa, para bem dizer não se diferenciava muito da bolandeira de seu Tomás. Agora, deitado, apertava a barriga e batia os dentes. Que fim teria levado a bolandeira de seu Tomás?(...)

animalização reificação discurso indireto livre

26

Bolandeira:

engrenagem principal de um engenho

27

REIFICAÇÃO

ou

coisificação:

tornar o homem

coisa

ou

mercadoria

Fabiano meteu-se na vereda que ia desembocar na lagoa seca, torrada, coberta de catingueiras e capões de mato. Ia pesado, o aió (bolsa) cheio a tiracolo, muitos látegos (cordas) e chocalhos pendurados num braço. O facão batia nos tocos. Espiava o chão como de costume, decifrando rastos. Conheceu os da égua ruça e da cria, marcas de cascos grandes e pequenos. A égua ruça, com certeza. Deixara pelos brancos num tronco de angico. Urinara na areia e o mijo desmanchara as pegadas, o que não aconteceria se se tratasse de um cavalo. 28

DOMÍNIO

Universo

do

vaqueiro

NÁUSEA

Universo

alheio

Incomunicabilidade

Incompreensão

Acanhamento

Impotência

Solidão

Medo

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30

Fim prof. zebuino