victor de carvalho calvanese
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LEVANTAMENTO DOS MIRIÁPODES OCORRENTES NA SERAPILHEIRA DE UM FRAGMENTO DE FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL EM SÃO ROQUE- SPTRANSCRIPT
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E
TECNOLOGIA DE SÃO PAULO
CAMPUS SÃO ROQUE
VICTOR DE CARVALHO CALVANESE
LEVANTAMENTO DOS MIRIÁPODES OCORRENTES NA SERAPILHEIRA DE UM FRAGMENTO DE
FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL EM SÃO ROQUE- SP
São Roque
2014
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA
E TECNOLOGIA DE SÃO PAULO - CAMPUS
SÃO ROQUE
VICTOR C. CALVANESE
LEVANTAMENTO DOS MIRIÁPODES OCORRENTES NA SERAPILHEIRA DE UM FRAGMENTO DE
FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL EM SÃO ROQUE- SP
São Roque
2014
Trabalho de conclusão de Curso apresentado
como requisito para obtenção do título de
Licenciado em Ciências Biológicas, sob a
orientação do professor Doutor Márcio Pereira.
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C167
CALVANESE, Victor de Carvalho.
Levantamento dos miriápodes ocorrentes na serapilheira de um fragmento de
floresta estacional semidecidual em São Roque-SP / Victor de Carvalho
Calvanese – 2014.
52 f.
Orientador: Profª. Dr. Márcio Pereira.
TCC (Graduação) apresentada ao curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas do Instituto Federal de São Paulo – Campus São Roque, 2014.
1. Levantamento faunístico 2. Myriapoda 3. Mata da Câmara I.
CALVANESE, Victor de Carvalho. II.Tìtulo.
CDD: 574
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Victor de Carvalho Calvanese
LEVANTAMENTO DOS MIRIÁPODES OCORRENTES NA SERAPILHEIRA DE UM FRAGMENTO DE FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL EM SÃO ROQUE- SP
Aprovado em: 08/12/2014
Banca Examinadora
Prof.º Dr. Sandro Gazzinelli Instituição: IFSP- São Roque
Julgamento:___________________ Assinatura:___________________
Prof.º MSc. Glória Cristina C. Miyazawa Instituição: IFSP- São Roque
Julgamento:___________________ Assinatura:___________________
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Estado de São Paulo – Campus de
São Roque, para obtenção do título de Licenciado
em Ciências Biológicas.
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“Maré mansa não forma bom marinheiro.”
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AGRADECIMENTOS
Quando olho para trás e vejo tudo que passou nestes valorosos quatro anos
em que pude retomar o gosto pelo aprender acadêmico, parece que tudo, mais tudo
mesmo já estava me esperando, e eu agradeço profundamente a deus, ou sei lá
como descrever essa força que nos impulsiona a um objetivo quando existe uma
vontade verdadeira de se conquistar algo especial.
Outra “entidade” muito especial a que devo meus mais sinceros
agradecimentos, e que sem sua existência meu mundo seria muito menos colorido e
menos inspirador é minha esposa Adele, a qual me ajudou nos bons e maus
momentos, me incentiva, compartilha e participa ativamente de cada momento
realmente importante nesses últimos 10 anos em que estamos juntos, me dando
apoio e sendo muitas vezes muito paciente.
Agradeço ao meu mestre de kung fu Ilson Furquin, por me ensinar a ser
humilde e a batalhar por aquilo que eu quero. Agradeço especialmente a todos que
contribuíram com o aperfeiçoamento desta arte por esses mais de 800 anos de
existência do estilo Garra de Águia, que muito mais do que uma arte marcial é uma
filosofia de vida.
Agradeço a meu pai Oscar e mãe Jurema, que mesmo muitas vezes não
podendo estar presentes nas situações de alegrias ou de tristezas, estavam sempre
me apoiando e torcendo por mim. A meu irmão e cunhada que sempre foram muito
importantes e legais, sendo além de parentes grandes amigos...Valeu Bato e
Rosinha. A minha avó Neusa, bióloga e pessoa sem igual no mundo, por seu
caráter, inteligência e visão de mundo!
A todos os meus amigos “das antigas”, família Black Thorn, obrigado pelas
conversas até de manhazinha que muitas vezes valem mais do que ouro, estamos
sempre juntos, para o que der e vier. Aos novos amigos que fiz nesta jornada espero
que este seja só o começo.
Certas pessoas são realmente muito bacanas ao ponto de compartilhar suas
próprias conquistas com os outros sem esperar algo em troca. Valeu Dr. João e toda
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a turma do Instituto Butantan, por todo o apoio dado para a execução deste trabalho,
por toda as informações e ensinamentos sobre a arte da taxonomia, e acima de
tudo, por terem aberto para mim uma porta tão espetacular!!!!
Gostaria de agradecer a todos do IF- São Roque, professores (em sua grande
maioria verdadeiros mestres de vida), pessoal da administração, sempre tão
prestativos e atenciosos, ao pessoal da limpeza, segurança e a todos os outros
envolvidos, e que tornaram esse sonho possível! Em especial gostaria de agradecer
a dois grandes professores que me orgulho de chamar de amigos, Márcio e
Fernando, que me acompanharam desde o início no Projeto Pibid, me apoiaram no
meu projeto Pibic e mais do que tudo, abriram os meus olhos para esse maravilhoso
mundo da Biologia, e isso não tem preço!
A todos muito obrigado!!!!!!!
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SUMÁRIO
1. Introdução ....................................................................................................................................... 11
3. Materiais e métodos ...................................................................................................................... 14
3.1. Descrição da área ................................................................................................................... 15
3.2. Metodologia de Coleta e triagem ......................................................................................... 17
3.2.1. Levantamento preliminar ................................................................................. 17
3.2.2. Extrator Winkler ................................................................................................ 18
3.2.3. Armadilhas Pitfall .............................................................................................. 20
3.2.4. Coletas aleatórias diurnas (C.A.D.) .................................................................. 21
3.3. Metodologia de identificação ................................................................................................ 22
3.4. Chave de identificação ilustrada .......................................................................................... 23
4. Resultados ...................................................................................................................................... 23
4.1 Táxons identificados ................................................................................................................ 23
4.2- Metodologias de coleta .......................................................................................................... 26
4.3- Chave de identificação ilustrada .......................................................................................... 30
5. Discussão ........................................................................................................................................ 46
6. Conclusão ....................................................................................................................................... 49
7. Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 50
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Calvanese, V. de Carvalho. Levantamento dos Miriápodes ocorrentes na
serapilheira de um fragmento de floresta estacional semidecidual em São
Roque- SP. [Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em
CiênciasBiológicas]. Instituto Federal de São Paulo. São Roque, 2014.
RESUMO
Apesar da grande diversidade de espécies e da complexidade apresentada pelo
grupo Myriapoda, pouco se conhece sobre sua sistemática e biologia. A descrição
de espécies e mesmo o conhecimento básico da ocorrência de famílias e gêneros
na maioria dos ambientes do Brasil ainda são precários. Dessa forma, o presente
trabalho é um levantamento faunístico de um fragmento de floresta Estacional
semidecidual, conhecido como Parque Natural Municipal de São Roque (SP) ou
"Mata da Câmara". A pesquisa ocorreu nos anos de 2013 e 2014 a partir de três
metodologias de coleta, visando o conhecimento da fauna local do grupo estudado
presente na serapilheira da mata. Foram coletados 20 morfotipos e desses táxons
15 foram identificados, sendo a maioria em nível de gênero e confirmadas por
especialistas. Este trabalho traz os resultados desta pesquisa, e é apresentado
como Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências Biológicas pelo Instituto
Federal- Campus São Roque. Os resultados apresentam uma lista taxonômica dos
espécimes coletados, uma breve análise das metodologias de coleta com um
informativo sobre a frequência da ocorrência do material coletado e chave de
identificação ilustrada para os espécimes do parque.
PALAVRAS CHAVE: Levantamento faunístico, Myriapoda, Mata da Câmara.
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ABSTRACT
Despite the great diversity of species and complexity presented by the group
Myriapoda, little is known about its biology and systematic. The description of
species and even the basic knowledge of the occurrence of families and genera in
most of Brazil are still precarious environments. Thus, the present work is a faunal
survey of a fragment of semi-deciduous forest state, known as Municipal Natural
Park of São Roque (SP) or "Forest of the House." The research took place in the
years 2013 and 2014 from three collection methodologies, seeking knowledge of the
local fauna of the study group present in the leaf litter of the forest. 20 morphotypes
were collected and of these 15 taxa were identified, mostly in the genus level and
confirmed by experts. This work behind this search, and is presented as Thesis
Completion of course in Biological Sciences from the Institute Federal- Campus São
Roque. This monograph can be found taxonomic list of the species collected, a brief
analysis of the sampling methodology with an update on the frequency of occurrence
of the material collected and illustrated identification key for specimens of the park.
KEYWORDS: faunal survey, Myriapoda, IFSP- Campus São Roque.
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1. Introdução
A floresta estacional semidecidual sofre um processo histórico de
fragmentação devido à expansão agrícola e urbana, especialmente no interior do
Estado de São Paulo (LEITE & RODRIGUES, 2008). De um total de 80% do
território do Estado coberto por vegetação nativa no passado, hoje se têm menos de
13% dessas formações como remanescentes (KRONKA et al., 2003).
A diversidade biológica nesses locais está ligada ao tamanho e formato do
fragmento (VIANA, 1991; PRIMACK e RODRIGUES, 2001), mas também está
fortemente relacionada à diversidade de condições locais e ao histórico de
perturbação da área (PARKER & PICKET, 1999). Em uma paisagem fragmentada
as mudanças na estrutura da vegetação podem afetar a abundância de
invertebrados (DIDHAM, 1997), sendo que os artrópodes normalmente contam com
uma grande riqueza de espécies (STORK & GRIMBACHER, 2006).
Dos vários artrópodes que compõem a meso e macrofauna do solo destes
fragmentos de floresta, os miriápodes se destacam. Nos ambientes de mata eles
ocupam principalmente as serapilheiras, troncos em decomposição, cantos de
pedras e são, em sua maioria, detritívoros ou saprófagos, podendo algumas
espécies serem carnívoras (KNYSAK & MARTINS, 1999; COUTO, 2008).
Os miriápodes, de modo geral, compreendem um grupo zoológico
taxonomicamente complexo, com uma grande diversidade de espécies (KNYSAK &
MARTINS, 1999). Estão divididos em quatro classes: Chilopoda e Diplopoda, os
mais estudados, e Pauropoda e Symphyla, menos conhecidos devido a seus hábitos
crípticos e tamanhos diminutos. Exercem importante papel ecológico nos ambientes
terrestres ocupando diversos nichos. Os diplópodes, por exemplo, participam
ativamente da cadeia energética da serapilheira dos ecossistemas florestais,
promovendo a mistura da matéria orgânica e dos minerais no solo, facilitando a ação
de decompositores menores (SILVA et al., 2003) e, consequentemente, a ciclagem
de nutrientes. Já a Classe Chilopoda conta com representantes entre a mesofauna e
macrofauna edáfica de artrópodes predadores (MOÇO et al., 2005; COUTO, 2008),
capazes de inocular veneno através de suas forcípulas (COLEMAN & CROSSLEY,
1996; UHLIG, 2005), ajudando a controlar as populações de artrópodes nas florestas
contribuindo para a manutenção do equilíbrio de seu ecossistema.
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Apesar de realizar funções vitais para o funcionamento dos ecossistemas,
pouco se sabe sobre a biologia, morfologia ou filogenia dos miriápodes em relação a
sua provável real dimensão (SIERWALD & BOND, 2007), principalmente devido ao
pequeno número de especialistas que se dedicam ao estudo destes animais.
Segundo Lewinsohnl, et al. (2005) o número de espécies descritas para o Brasil é
estimada entre 400 - 500 mas, de acordo com, levantamentos mais recentes,
estima-se que apenas entre os diplópodes já existam cerca de 500 espécies
descritas, e este número vem crescendo.
De acordo com Gregory, et. al. (2007) o caso de monofilia do grupo
Myriapoda que já foi muitas vezes posto em xeque, hoje é sustentado por um grande
número de provas. Dentre as sinapomorfias do grupo, se destacam a estrutura e
movimentação do endoesqueleto tentorial cefálico, a estrutura da mandíbula e o
clássico argumento para sua monofilia, que é a abdução para as mandíbulas pelos
movimentos dos braços tentoriais anteriores, chamado de tentório oscilante. Uma
vez sendo considerado portanto, um grupo natural é garantido que um trabalho
taxonômico com o grupo corrobore também para o escopo de análise no campo
filogenético, o que se mostra hoje muito importante.
A literatura taxonômica tem sido estritamente descritiva, sem chaves de
identificação ou, ainda, extremamente sintetizada. No Brasil, as revisões recentes
referem-se especificamente à região Amazônica, destacando-se os trabalhos de:
Adis em 1989, que elaborou uma chave de identificação de miriápodes para a região
Amazônica, Golovatch em 1992 e 1994, que revisou a fauna neotropical de
diplópodes (Fuhrmannodesmidae e Paradoxomatidae), descrevendo um gênero e
sete espécies para Manaus -AM; e Pereira et al. (1995), que revisaram a ordem
Geophilomorpha (Chilopoda), descrevendo nove espécies da região amazônica
(KNYSAK, I. 1999). No Brasil, cinco coleções miriapodológicas se destacam: a do
Museu de Zoologia da USP (SP), a do Museu Nacional do Rio de Janeiro (RJ), a do
Instituto de Biologia da USP, a do Museu de História Natural Capão da Imbuia (PR)
e a do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (AM). A coleção do Museu de
Zoologia da USP é o grande repositório de miriápodes do Brasil, com cerca de 9.000
lotes.
13
Segundo Whittaker (2005), estamos em uma fase crucial do desenvolvimento
de estratégias e teorias em conservação, pois a diversidade em suas distintas
escalas está em declínio acentuado e há um número imenso de populações e
espécies que provavelmente serão extintas ainda este século.
No território brasileiro, apesar da maior parte das pesquisas terem sido
promovidas por pesquisadores estrangeiros, existem hoje taxonomistas dedicados
ao grupo, mas o que se pode observar é que existem áreas ainda muito pouco
pesquisadas, sendo raras ou inexistentes pesquisas taxonômicas em algumas
regiões do Brasil. Segundo Irene Knysak (2009), pesquisadora brasileira do Instituto
Butantan, é classificado como nenhum o grau de coleta e de conhecimento sobre
miriápodes no bioma Caatinga, e como ruim o grau de coleta e de conhecimento
sobre a região Nordeste. Segundo Brandão et. al. (1999) o número de especialistas
no Subfilo Myriapoda no Brasil é de apenas quatro pessoas, enquanto o ideal seria
de no mínimo dez. O que se vê hoje, 15 anos mais tarde, é que este quadro pouco
mudou, existindo hoje no Brasil cerca de três especialistas no subfilo.
Diante deste quadro este trabalho se justifica por contribuir para o
conhecimento da ocorrência e distribuição dos miriápodes em nosso país,
apresentando algumas técnicas de captura do grupo para a serapilheira, e uma
chave de identificação ilustrada que pode vir a auxiliar novas pesquisas. Este
trabalho traz uma lista com os gêneros ocorrentes na área relacionados com as
metodologias de coleta. São fornecidas ainda chave de identificação em nível de
gênero para os animais ocorrentes nas coletas.
Diante do montante de dados que se pode observar à partir das pesquisas de
coleta realizadas, este Trabalho de Conclusão de curso procurou atingir os
seguintes objetivos:
- Testar a eficiência de três metodologias de coleta de artrópodes do solo
para a captura de espécimes do Subfilo Myriapoda;
- Identificar os miriápodes ocorrentes na serapilheira do parque natural
municipal Mata da Câmara, em São Roque- SP, e fornecer uma lista com os
resultados;
14
- Elaborar chaves de identificação para os exemplares coletados do grupo na
área estudo.
Deste modo o cerne deste trabalho possui um caráter mais taxonômico do
que ecológico, uma vez que imaginamos que o primeiro passo para se conhecer a
biologia de um táxon é nomeá-lo.
3. Materiais e métodos
As pesquisas se iniciaram com a realização de um prévio levantamento dos
miriápodes da Mata da Câmara com o intuito de se verificar a potencialidade da área
para uma pesquisa mais elaborada. Foram realizadas coletas aleatórias manuais em
período diurno no 1º semestre de 2013 onde quadrantes de 2m2 foram delimitados
por barbantes e examinados. Foram verificadas 4 amostras por coleta, num total de
4 coletas. A partir dos resultados obtidos foram preparados um cronograma e
metodologias de coletas que permitissem verificar com maior eficiência os nichos
ocupados pelos miriápodes.
O pouco estudo sobre os miriápodes presentes na serapilheira da mata
Atlântica foi uma das grandes dificuldades para se estabelecer o melhor plano de
coleta, entretanto a partir da adaptação de um material de pesquisa elaborado para
a Amazônia e descrito no Amazonian Arachnida and Myriapoda (ADIS, 2002) e
seguindo as orientações fornecidas pelo laboratório de Artrópodes do Instituto
Butantan, em São Paulo a partir do curso “Lacraias” realizado em 2013, foi possível
estabelecer um plano de levantamento que fosse condizente com nossas
possibilidades e que ao mesmo tempo fosse efetivo.
As coletas foram realizadas a fim de abranger o prazo de um ano, entre o
segundo semestre de 2013 e primeiro semestre de 2014, englobando as estações
seca e chuvosa. Esta medida visou a abrangência de possíveis táxons que
pudessem vir a apresentar algum aspecto sazonal como, por exemplo, a busca ativa
por parceiro reprodutivo.
Desde o início de 2014 a pesquisa de levantamento e identificação dos
miriápodes da Mata da Câmara recebe fomento institucional através do programa
PIBIC, financiado pela CAPES.
15
3.1. Descrição da área
O estudo foi realizado no Parque Municipal de São Roque (23º31'26 S e
47º06'45 W), conhecido como Mata da Câmara, localizado na cidade de São Roque,
a cerca de 60 km de São Paulo (Figura 1 a 5). O parque possui 128 ha, e a cerca
de 100 anos é tido como área de conservação, entretanto apenas em 1999
transformou-se em Parque Natural Municipal de São Roque (Lei Municipal 2.499, de
19/03/1999). O clima da região é Cfb (classificação de Köppen), com temperatura
média de 18° C e precipitação anual de 1.100 a 1.400 mm (SETZER, 1966). A
vegetação é classificada como Floresta Estacional Semidecidual. (RIZZINI, 1979;
BRASIL, 1992). Geologicamente, a região é classificada como Grupo São Roque,
que se caracteriza por sua composição granítica e calcária (ALMEIDA et al., 1981).
O relevo é do tipo montanhoso, com altitudes variando de 850 a 1.025 m
(PONÇANO et al., 1981). O principal tipo de solo da região é Argiloso (EMBRAPA,
1999), sendo esta reserva circundada por pastos, plantações comerciais e estradas.
As figuras de 1 a 5 exibem de um modo geral as características da Mata da
Câmara.
Figura 1- Entrada do parque municipal da Mata da Câmara.
16
Figura 2- Aspecto geral da área de estudo - Mata da Câmara (São Roque, SP).
Figura 3- Aspecto geral da área de estudo - Mata da Câmara (São Roque, SP).
Figura 4- Aspecto geral da área de estudo - Mata da Câmara (São Roque, SP).
17
Figura 5- Visualização aérea da Mata da Câmara (São Roque, SP). Fonte: Google Earth 2013.
3.2. Metodologia de Coleta e triagem
3.2.1. Levantamento preliminar
O presente trabalho vem sendo desenvolvido desde o início de 2013 por meio
de um levantamento preliminar que contou com 4 séries de coletas manuais
realizadas nos meses de abril e maio do referido ano. A cada dia de coleta foram
selecionadas, aleatoriamente, 4 áreas de 2m2 onde haviam troncos em
decomposição e serapilheira em barranco ou em local plano. Em seguida estas
áreas foram delimitadas com barbantes e, com o auxílio de lanterna e lupa, o
material de solo foi analisado com intenção de se localizar exemplares do grupo
Myriapoda. Os indivíduos foram coletados com o uso de pinças, acondicionados em
recipientes de plástico com álcool a 70% e levados para o laboratório de Zoologia do
Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) – Campus São
Roque.
Em laboratório, sob estereomicroscópio, os indivíduos foram identificados
com auxílio de chaves dicotômicas, buscando sempre que possível alcançar o nível
de gênero.
18
Por meio da comparação dos resultados obtidos nas coletas, com outros
levantamentos encontrados na literatura, foi constatada a potencialidade da área
para uma pesquisa mais aprofundada.
Os resultados desta primeira parte da pesquisa foram publicados na II
Jornada Científica do IFSP- Campus São Roque (2013) e na revista Scientia Vitae
(SANTIAGO, et al., 2013).
3.2.2. Extrator Winkler
Os extratores Winkler’s foram confeccionados a partir das especificações
sugeridas por especialistas pertencentes ao Laboratório de Artrópodes do Instituto
Butantan, em São Paulo. Já orientações técnicas como tempo de extração,
quantidade de material a ser analisado e periodicidade de coletas foram baseados
no trabalho: Quantitative extraction of macro- invertebrates from temperate and
tropical leaf litter and soil: efficiency e time - dependente taxonomic biases of the
Winkler extraction (FRANCK et al., 2004).
A cada coleta foram extraídas cinco amostras originadas de dois quadrantes
de cerca de 50 cm X 50 cm por 5 cm de profundidade de serapilheira escolhidos de
forma aleatória no interior da mata, buscando-se coletar material dos mais diferentes
microambientes. Esse material foi disposto em sacos (como aqueles usados para
embalar laranja) de modo a ficarem suspensos sobre o líquido mortífero e isolados
do ambiente pela estrutura de pano (Figuras 6 a 8) permanecendo enclausurado nos
extratores por seis semanas, sendo recolhidos os resultados semanalmente. O
material coletado foi analisado sob esteromicroscópio em laboratório. Foram
realizadas três coletas nas seguintes datas: 07/09/2013; 20/11/2013; 04/05/2014.
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Figura 6- A: Saco utilizado para conter as amostras durante a extração; B: Amostras dispostas no
saco para extração.
Figura 7- Preparação dos Extratores Winkler;
20
Figura 8- Extratores Winkler armados para a extração.
3.2.3. Armadilhas Pitfall
A montagem das armadilhas do tipo Pitfall foram baseadas em diversos
trabalhos dentre eles a Orientação de coleta da EMBRAPA (1999), Metodologia de
coleta de artrópodes Instituto Butantan (2013) e Amazonian Arachnida and
Myriapoda por J. Adis (2002).
A cada coleta foram dispostos 20 copos plásticos de 500 ml devidamente
armados com líquido mortífero álcool 70%, de forma aleatória por uma área de
aproximadamente 200 m X 200 m (Figura 9 e 10). Após uma semana as armadilhas
foram retiradas e analisadas em laboratório sob estereomicroscópios. Buscou-se
repetir este procedimento pelo menos uma vez em cada estação do ano para evitar
a ausência de espécies sazonais. Assim as datas das coletas foram: 07/09/2013;
01/12/2013; 05/04/2014.
21
Figura 9- Montagem da armadilha Pitfall- A: Material utilizado; B: Copo plástico enterrado para
preparação da armadilha; C: Armadilha já com cobertura de embalagem de alumínio.
Figura 10- Armadilha Pitfall pronta.
3.2.4. Coletas aleatórias diurnas (C.A.D.)
Foram feitas inúmeras incursões no local de coleta, normalmente na parte da
manhã, buscando-se inspecionar os lugares de ocorrência esperada para os grupos
conhecidos de miriápodes (Figura 11 e 12). Como material básico foi utilizado
lanterna, equipamentos de jardinagem (como rastelo e pás de mão) e potes
coletores com álcool 70% como líquido mortífero. Os resultados foram analisados
sob esteromicroscópio em laboratório.
Figura 11- Ambientes analisados nas coletas.
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Figura 12- Aspecto da serapilheira do parque.
3.3. Metodologia de identificação
A princípio, o material coletado foi morfotipado segundo as chaves de
identificação elaboradas por J. Adis et al. (2002) para a região neotropical e nas
descrições de gêneros desenvolvidos por Minelli et al. (2011). Para a confirmação
dos resultados buscou-se o auxílio de especialistas, entretanto devido a escassez de
profissionais em nosso país, alguns táxons identificados não puderam ser
confirmados. Os Chilopoda e os Symphyla foram identificados basicamente em
comparação com os representantes da coleção do Laboratório Especial de Coleções
Zoológicas do Butantan, e por chaves de identificação cedidas por pesquisadores do
Laboratório de Artrópodes, também do Instituto Butantan. Os Diplópodas foram
identificados sob a orientação do Mestrando João Paulo. Pauropodas não foram
ocorrentes nas pesquisas.
Os espécimes coletados foram conservados em álcool 70%, e identificados
parte no laboratório de Zoologia do Instituto Federal Campus São Roque (Chilopoda
e Symphyla) e parte no Laboratório de Coleções Especiais do Instituto Butantan
(Diplopoda). No caso dos Diplópodes e Quilópodes maiores foram usados
Estereomicroscópios com aumento entre 20x e 40x. Sínfilos e alguns Geofilomorfos
de pequeno porte tiveram suas diminutas estruturas taxonômicas observadas em
microscópio com aumento de 40 x e 100 x.
23
3.4. Chave de identificação ilustrada
Toda a parte de registro dos táxons identificados foi realizada no Laboratório
Especial de Coleções Zoológicas (LECZ) do Instituto Butantan em São Paulo- SP.
Fotos: As fotos digitais foram obtidas por meio do equipamento Leica EC3
Digital Câmera e Drawing Tube, M- Series.
Ilustrações: Os rascunhos dos desenhos foram feitos com lapiseira 0,5 mm
em estereomicroscópio Leica M3C com câmara clara acoplada. O acabamento foi
feito sobre mesa de luz e o desenho final foi produzido com caneta de nanquim 0,5
mm.
4. Resultados
4.1 Táxons identificados
Devido à dificuldade de se distinguir certos caracteres em muitos dos táxons
quando em estágio juvenil, foram selecionados para identificação apenas os
indivíduos adultos. A seguir é fornecida uma lista com os gêneros identificados,
entretanto em alguns casos só foram possíveis identificações em nível de família.
A classe mais representada foi a dos Diplopoda, sendo também a que
apresentou maior diversidade contando com 13 gêneros identificados, seguido dos
Chilopoda com 6 gêneros. Pertencente à classe Symphyla, apenas um gênero foi
identificado, embora este, em algumas coletas fosse muito bem representado em
certas regiões do parque.
Foram identificados os seguintes táxons:
Classe Chilopoda
Ordem Scolopendromorpha
Família Cryptopinae
1- Cryptops LEACH,1815.
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Família Scolopocryptopinae
2- Dinocryptops miersii NEWPORT, 1845.
Ordem Geophilomorpha
Família Schendylidae
3- Schendylops COOK,1899.
Família Aphilodontidae
4- Aphilodon SILVESTRI, 1898.
Família Ballophilidae
5- Ityphilus COOCK, 1899.
Ordem Lithobiomorpha
Família Henicopidae
6- Lamyctes NEWPORT, 1844.
Classe Diplopoda
Ordem Polyxenida
Família Polyxenidae
7- Espécie 1.
Ordem Polydesmida
Família Chelodesmidae
8- Brasilodesmus BROLEMANN, 1929.
Família Paradoxosomatidae
9- Gonodrepanum ATTEMS, 1914.
10- Catharosoma sp.
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11- Orthomopha gracilis C. L. KOCH, 1847.
Família Cryptodesmidae
12- Apomus sp.
Família Oniscodesmidae
13- Crypturodesmus SILVESTRI, 1897.
Ordem Spirobolida
Família Rhinocricidae
14- Rhinocricus padbergi HUMBERT E DE SAUSSURE, 1890.
15- Rhinocricus KARSCH, 1881.
Ordem Spirostreptida
16- Espécie 1.
17- Espécie 2.
Família Pseudonannolenidae
18- Espécie 1.
Ordem Polyzoniida
Família Siphonotidae
19- Espécie 1.
Classe Symphyla
Família Scutigerelleidae
20- Hanseniella BAGNALL, 1913.
26
4.2- Metodologias de coleta
Tanto o extrator Winkler como as armadilhas de queda Pitfall obtiveram uma
variedade paralela de doze gêneros cada (diferentes entre si) no total das coletas.
As coletas manuais aleatórias também foram bastante eficazes alcançando um total
de 15 táxons amostrados.
Os extratores Winkler se mostraram mais eficazes que as outras
metodologias em relação à captura de espécimes muito pequenos normalmente
variando entre 0,5cm a 2 cm, como por exemplo alguns geofilomorfos, litobiomorfos,
Polyxenidas, e outros pequenos diplópodes. Entretanto o extrator Winkler não se
mostrou muito eficaz para a captura dos também pequenos symphyla.
As armadilhas do tipo Pitfall apresentaram resultado mais representativo para
a captura de exemplares entre 1cm e 5cm (médio porte), como Diplópodes do
gênero Brasilodesmus.
As coletas manuais apresentaram a maior diversidade de gêneros
amostrados, em parte porque a compreensão da biologia dos grupos permite a
verificação dos nichos disponíveis e também porque alguns animais se encontram
em ambiente inalcançáveis pelas outras duas metodologias de coleta utilizadas,
como por exemplo, no interior de troncos ou enterrados a certa profundidade.
A Tabela 1 relaciona as metodologias de coleta com os táxons identificados.
A quantidade de indivíduos presentes nas coletas é apresentada por gráficos
(Figura).
Tabela 1: Eficiência das metodologias de coleta.
Winkler Pitfall C.A.D. Total de espécimes
CLASSE CHILOPODA
ORDEM
SCOLOPENDROMORPHA
Família Cryptopinae
Cryptops sp.
X X X 32
Família
Scolopocryptopinae
27
Dinocryptops miersii X 3
ORDEM
GEOPHILOMORPHA
Família Schendylidae
Schendylops sp. X X 50
Família Aphilodontidae
Aphilodon X X 9
Família Ballophilidae
Ityphilus sp. X 3
ORDEM
LITOBIOMORPHA
Família Henicopidae
Lamyctes sp.1 X X X 52
CLASSE DIPLOPODA
ORDEM POLYXENIDA
FAMÍLIA POLYXENIDAE
Espécie 1 X X X 72
ORDEM POLYDESMIDA
FAMÍLIA
CHELODESMIDAE
Brasilodesmus sp. X X 13
FAMÍLIA
CRYOTODESMIDAE
Apomus sp. X X 92
FAMÍLIA
ONISCODESMIDAE
28
Crypturodesmus sp. X X 26
FAMÍLIA
PARADOXOSOMATIDAE
Catharosoma sp. X X 16
Gonodrepanum sp. X X 12
Orthomopha gracilis X 4
ORDEM SPIROBOLIDA
FAMÍLIA
RHINOCRICIDAE
Rhinocricus padbergi X 6
Rhinocricus sp.2 X 4
ORDEM
SPIROSTREPTIDA
Espécie 1
X X X 3
Espécie 2 X X 13
FAMÍLIA
PSEUDONANNOLENIDAE
Espécie 1.
X 5
ORDEM POLYZONIIDA
FAMÍLIA SIPHONOTIDAE
Espécie 1 X 1
CLASSE SYMPHYLA
FAMÍLIA
SCUTIGERELLEIDAE
Hanseniella X X X 115
TOTAL 531
- A Tabela 1 relaciona os táxons coletados às metodologias de coleta empregadas no trabalho-
29
Resultado das três coletas realizadas por meio de coletores Pitfall
Figura 13- Número de indivíduos capturados por coleta nas armadilhas Pitfall.
Resultado das três coletas realizadas através dos extratores Extrator Winkler
Figura 14- Número de indivíduos capturados por coleta nos extratores Winkler’s.
30
4.3- Chave de identificação ilustrada
A seguir é fornecida uma Chave de identificação para os miriápodes
ocorrentes nas coletas realizadas na serapilheira do Parque municipal da Mata da
Câmara em São Roque- SP:
1- Corpo com 12 pares de pernas, não esclerotizado, com duas fiandeiras
bem visíveis, adultos com cerca de 2- 3 mm......................................................Classe
Symphyla- Hanseniella sp. (Figura 15 e 16)
-Corpo diplossegmentado (Figura 17- b)..........................Classe Diplopoda (2)
- Corpo dividido em segmentos simples (figura 17- a), presença de forcípula
(Figura 18), 15, 21 ou 23 pares de
pernas...........................................................................................Classe Chilopoda (7)
2- Corpo com 13 segmentos e de aspecto macio, com a presença de
agrupamentos de cerdas, animais pequenos de cerca de 0,5-
1,0mm...........................................Ordem Polyxenida, Família Polixenidae (Figura 19)
- Corpo com 19 ou 21 segmentos.................................Ordem Polydesmida (3)
- Corpo com mais de 25 segmentos...............................................................(6)
3- Corpo com 19 ou 21 segmentos, com paranota do segundo segmento
aumentado em relação as demais...............................Família Paradoxosomatidae (4)
- Animais relativamente grandes, adultos medindo em média cerca de 6 cm,
..............................................Família Chelodesmidae - Brasilodesmus sp. (Figura 20)
- Pequenos animais possuindo os adultos cerca de 5 mm, capacidade de se
enrolar, corpo não achatado...............................................................................Família
Oniscodesmidae - Crypturodesmus (Figura 21)
31
- Pequenos animais com adultos medindo em média 10 mm. Corpo
relativamente achatado. Colum completamente cobrindo a
cabeça.......................................Família Cryptodesmidae - Apomus – (Figura 22 e 23)
4- Gonopódios sem tibiotarso e sem solenômero..............Subfamília
Strongylosomida- Gonodrepanum (Figura 24)
-Gonopódios sempre com tibiotarso, e muitas vezes com solenômeros, o
tíbio-tarso tem função de proteção................................................................Subfamília
Orthomorphinae (5)
5- Carenas laterais muito pouco aparentes................Catharosoma (Figura 25)
-Tibiotarso e solenômeros separados em toda a extenção. Com carenas
laterais........................................................................Orthomorpha gracilis (Figura 26)
6- Corpo com mais de 25 segmentos no adulto, gonópodes do macho abertos
no seg. 11, sulgo transversal na região média, saindo da altura do labrum
alcançando a parte superior da fronte (Figura 27- A); Metum como na Figura 29
....................Ordem Spirobollida- Rinocricus sp. (Figura 28)
- Corpo com mais de 25 segmentos no adulto, omatídeos organizados de
forma relativamente triangular, sem sutura média transversal no rosto (Figura 27- B);
Metum como na Fig. 30..................................................................Ordem
Spirostreptida- (Figura 31)
- Parte rostral em forma de “bico”............................................................Ordem
Polyzoniida, Família Siphonotidae ( Figura 32)
7- Corpo com 15 sementos portadores de pernas no adulto...................Ordem
Lithobiomorpha, Gênero Lamyctes (Figura 33 e 34)
32
- Corpo com 21 ou 23 segmentos............................................................Ordem
Scolopendromorpha (8)
- Corpo com mais de 27 segmentos, sem olhos......................................Ordem
Geophilomorpha (9)
8- 21 segmentos, sem olhos, tamanho variando de pequeno a médio (1- 5
cm), último par de pernas com projeções como dentículos, presentes na tíbia e tarso
(Figura 35- B)..........................................................Cryptopinae- Cryptops- (Figura 35)
- 23 segmentos, com espiráculo no 7º
segmento...................................Scolopocryptopinae- Dinocryptops miersii (Figura 36)
9- Último par de pernas altamente grosso em ambos os sexos, sub cônico,
estreitando-se para a parte distal
final.................................................................Balophilidae- Ityphilus (Figuras 37 e 38)
- Último par de pernas alongado e sem garras. Garra da segunda maxila
pectinizada (Figura 42) ..........................................Schendylidae- Schendylops
(Figuras 39, 40, 41 e 42)
- Último par de pernas alongado, com garra e com numerosos órgãos coxais
abertos em cada coxa. Garra da segunda maxila não pectinizada, e com um espinho
apical..................................................Aphilodontidae- Aphilodon (Figuras 43, 44 e 45)
33
Figura 15- Symphyla- Aumento de 40 x e 115 x.
Figura 16- Symphyla- Aumento 25x e 20 x.
Figura 17- A- Diplossegmento, aumento 10 x; B- Segmento simples, aumento de 27 x
34
Figura 18- Forcípula; Aumento de 47 x.
Figura 19- Polyxenida - Aumento de 35 x e 30 x.
35
.
Figura 20- Brasilodesmus- Aumento de 9x.
Figura 21- Crypturodesmus - aumento de 27 x e 85 x.
Figura 22- Apomus - aumento de 21 x e 64 x.
36
Figura 23- Apomus - aumento de 21 x e 64 x.
Figura 24- Gonodrepanum - aumento de 11 x.
Figura 25- Catharosoma - Aumento de 8 x e 14 x.
37
Figura 26- Orthomorpha gracillis- aumento de 8 x e 20 x.
Figura 27- Parte rostral de: A- Spirobolida, a seta indica a sutura labial; B- Spirostreptida, sem sutura
labial.
Figura 28- Rinocricus sp.
38
Figura 29- Spirobolida; em A- Rinocricus sp- parte ventral da cabeça dissecada e B- Rhinocricus
padbergi- complexo gnatal. M- Metun.
Figura 30- Spirostreptidae - Aumento de 9x e 33x.
39
Figura 31- Spirostreptida; em A- Espécie 1 - parte ventral da cabeça dissecada e B- Espécie 2 -
complexo gnatal. M- Metun
Figura 32- Polyzoniida- Siphonomatidae - Aumento de 11x e 94x.
Figura 33- Lamyctes- Aumento de 30 x e 70 x.
40
Figura 34- Lamyctes - Aumento de 74 x e 22 x.
Figura 35- Cryptops; A- vista dorsal em aumento de 7x; B- Estruturas como dentículos presentes na
tíbia e no tarso aumento de 15x.
Figura 36- Dinocriptops miersii,- A- Visão dorsal da cabeça aumento de 7 x e B- Visão ventral da
cabeça aumento de 7,5 x.
41
Figura 37- Balophilidae- Ityphilus – Vista dorsal- Aumento de 12 x.
Figura 38- Balophilidae- Ityphilus – A- aumento de 110x; B- aumento de 115x.
Figura 39- Shendylidae- Shendylops - Corpo inteiro- Aumento de 7 x; A- Vista dorsal; B- Vista ventral
42
Figura 40- Schendylidae- Shendylops- Último par de pernas, aumento de 76 x.
Figura 41- Schendylidae- Shendylops- Parte ventral da cabeça, aumento de 115 x.
43
Figura 42– Segunda maxila pectinada de Schendylops,- Aumento de 200 x.
44
Figura 43- Aphilodontidae- Aphilodon - Corpo inteiro, aumento de 11 x A- Vista dorsal; B- Vista
Ventral.
Figura 44- Aphilodontidae- Aphilodon - Último par de pernas aumento de 91 x e 78 x.
45
Figura 45- Aphilodontidae- Aphilodon - Aumento de 62 x e 50 x.
46
5. Discussão
O trabalho de levantamento dos miriápodes da Mata da Câmara pode agir no
sentido de contribuir através de dados para o conhecimento de aplicação de
técnicas de coleta de artrópodes terrestres. Os espécimes coletados foram
tombados no Laboratório Especial de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan
podendo assim serem consultados para uma eventual comparação taxonômica.
Além dos dados fornecidos neste trabalho existem diversas outras análises a serem
realizadas com os dados desta pesquisa, como comparações biogeográficas de
distribuição e descrição de espécies.
As metodologias de coleta, embora baseadas em bibliografia anterior de
muita qualidade e consagrados, como às orientações da EMBRAPA (1999),
sofreram adaptações para se enquadrarem à realidade do projeto e a novas ideias
que foram surgindo ao decorrer das coletas.
Por se tratar de um subfilo muito diversificado e abundante no ambiente de
mata este levantamento se restringiu a serapilheira. Os miriápodes podem
apresentar diversas características comportamentais que dificultam sua captura
como, por exemplo, o confinamento de espécimes muito pequenos no interior de
gravetos podres como ocorre com alguns Geofilomorfos, ou o hábito de apresentar
uma migração periódica por diferentes camadas do solo nos diferentes horários do
dia, como ocorre com alguns espécimes da classe Symphyla, como muitas vezes
descrito na literatura o que nos levaram a propor algumas adaptações nas
metodologias de coleta quando necessário.
A princípio cinco metodologias que contemplavam os objetivos do projeto
foram encontradas na literatura, entre elas o Funil de Berlese, flotação de solo,
armadilhas de queda (Pitfall), extratores Winkler e coletas manuais. A partir de testes
realizados, foram escolhidas três metodologias para o levantamento: o extrator de
artrópodes em serapilheira “Winkler”, a armadilha de queda do tipo Pitfall, e coletas
manuais aleatórias. Os principais motivos para a escolha foram a quantidade e
diversidade de espécies coletados nos testes, bem como a possibilidade de realizar
os procedimentos periodicamente, entretanto uma análise comparativa mais
aprofundada destes métodos fogem do escopo do presente trabalho.
47
A diversificação dos métodos e a abrangência de todas as estações do ano
neste levantamento buscaram garantir uma análise eficaz da área, demonstrando
através dos dados das coletas certa sazonalidade de alguns grupos e uma análise
mais profunda pode revelar importantes aspectos biológicos dos miriápodes, mas
que, no entanto fogem do escopo deste trabalho.
Em relação às metodologias de coleta, os extratores Winkler se mostraram
muito eficientes, especialmente entre a segunda e quarta semanas de exposição do
material para extração, sendo coletadas diversas famílias de Quilópodes e
Diplópodes. Os Sínfilos apesar de em algumas coletas se mostrarem abundantes,
não apresentaram um padrão de frequência, sendo muitas vezes ausentes nas
amostras obtidas em diferentes metodologias.
Alguns indivíduos consideravelmente pequenos foram capturados em
abundância exclusivamente a partir desta técnica, e muitos dos quais pertencem a
grupos muito pouco estudados e com poucas espécies descritas para nossa região,
como é o caso de alguns Geofilomorfos da Família Geophilidae (gên. Ribautia) e
Diplópodes da ordem Polyxenida. Tais comparações dos resultados obtidos nas
coletas e literatura taxonômica do grupo sugerem que talvez existam diversas
espécies a serem descritas na região, abrindo campo para novas pesquisas na área
a partir desta metodologia.
As armadilhas Pitfall se mostraram eficazes para indivíduos de maior porte, e
que de certa forma sejam errantes. Foram feitas algumas alterações em relação aos
trabalhos consultados, como por exemplo, a cobertura da armadilha com
embalagens de alumínio, do tipo usado em marmita. Tal adaptação permitiu além da
proteção contra chuva, uma melhor visualização em meio à mata, facilitando o
rastreamento das armadilhas. Foram mantidas orientações fornecidas por Informe
Técnico da EMBRAPA (2006) quanto à disposição e quantidade das armadilhas.
As coletas manuais aleatórias obtiveram resultados expressivos,
apresentando grande valia na captura de espécimes de acesso restrito ou difícil,
como no caso de alguns Cryptops, escondidos no interior de troncos e de Sínfilos
que parecem se concentrar em grande número em determinados microambientes
favoráveis, sendo ausentes na maior parte da área analisada. Os maiores
Geofilomorfos (família Shendylidae) foram predominantemente capturados sob esta
48
metodologia, onde normalmente se encontravam entre os primeiros 5 cm de
profundidade do solo, entre raízes e galerias.
As chaves de identificação foram produzidas a partir de caracteres
taxonômicos utilizados nos trabalhos consultados. O material fornecido é específico
para o local do trabalho da coleta, entretanto algumas descrições ou imagens podem
auxiliar na identificação de animais de outras localidades a nível abrangente, como
por exemplo, família.
A obtenção das imagens dos espécimes foi toda realizada no Laboratório de
Coleções Especiais (Butantan).
O fascinante mundo dos miriápodes demonstra uma grande variedade de
nichos ocupados e hábitos entre os diferentes táxons, onde alguns destes animais
participam da ciclagem da matéria e outros podem trabalhar ativamente na captura e
controle de potenciais pragas urbanas. Os miriápodes, mesmo que ainda pouco
estudados demonstram possuir um importante papel na manutenção do equilíbrio de
seu ambiente, e muitas dos táxons coletados parecem depender inclusive deste
ambiente extremamente complexo e equilibrado como o de uma mata relativamente
preservada para continuarem existindo, o que torna muito desses grupos suscetível
a desaparecerem junto com as matas antes mesmo de serem reconhecidos pela
humanidade.
Por meio de todas as pesquisas taxonômicas realizadas para identificar os
espécimes coletados, foi possível perceber diversas lacunas no conhecimento sobre
a ocorrência e distribuição dos gêneros de todas as quatro classes de miriápodes no
Brasil, em especial a classe Symphyla e Pauropoda. Quando se tratando da
identificação, a falta de espécies tipo já identificadas, para comparação e muitas
vezes a falta de chaves fez necessário a interpretação das descrições dos gêneros
contidos no livro The Myriapoda (MINELLI, 2011).
49
6. Conclusão
O Subfilo Myriapoda se mostrou constantemente representado nas coletas
realizadas periodicamente no prazo de um ano na serapilheira do parque municipal
da Mata da Câmara, sendo presentes três das quatro classes que formam o táxon.
As metodologias de coleta testadas se mostraram eficazes, apresentando
resultado que embora variáveis, foram sempre constantes.
A identificação em nível de gênero foi possível na maioria dos casos.
O manual de identificação foi elaborado especificamente para os animais
coletados na mata, embora algumas imagens encontradas no trabalho possam
auxiliar na identificação em nível não específico de animais de outras localidades.
O campo de pesquisa relativo ao estudo da taxonomia do Subfilo Myriapoda
parece ser bastante promissor uma vez que ao que tudo indica ainda restam muitas
áreas a serem amostradas em nosso país, e mesmo laboratórios de grande porte
contam com acervos com muitos espécimes ainda não identificados, havendo
grandes chances de existirem muitas espécies ainda não descritas.
Além de todo o conhecimento adquirido com a realização desta pesquisa e
consequente Trabalho de Conclusão de Curso, pude entrar em contato com o
mundo da taxonomia, conhecendo seus princípios metodológicos e campos de
atuação. Pude também entrar em contato com especialistas da área e conhecer
laboratórios especializados na prática, sendo que este trabalho acabou por me
direcionar a minha área pretendida de atuação nas Ciências Biológicas.
50
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