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Viagens na Minha Terra (1846) Almeida Garrett (1799 – 1854)

I. Biografia João Batista da Silva Leitão

(1799, Porto – 1854, Lisboa),

apelidado de Almeida Garrett, do

nome de uma ascendente paterna, de

remota origem irlandesa, que viera

para Portugal no séquito de uma

princesa.

Com a invasão francesa

(1808), retira-se para as terras da ilha

Terceira, onde o pai era proprietário.

Em 1816, Universidade de Coimbra,

no curso de Direito. Nesta época

(1819), seu principal modelo literário

era Filinto Elísio (Pe. Francisco Manuel do Nascimento). A universidade,

em que predominam os filhos da burguesia, é atingida pelo liberalismo

europeu. Em 1817, escreve O Campo de Santana, sobre o enforcamento de

Gomes Freire de Andrade. Participa da Revolução Liberal de 1820. Surgem

as tragédias filosóficas: Lucrécia e Mérope, contra os tiranos. Em 1821, é

processado pela publicação dO Retrato de Vênus, considerada materialista,

ateia e imoral.

Em 09 de junho de 1823 ocorre a “Vilafrancada”, golpe de Estado

que abole a Constituição de 1822. Foge para a Inglaterra. Casa-se com

Luísa Midosi, de 15 anos. Emprega-se como correspondente comercial

numa filial da Casa Lafitte, no Havre. Em 1824, já na França, escreve

Camões (1825) e Dona Branca (1826) obras iniciadoras do Romantismo

português. Dona Branca surge em 1826. Declara pela primeira vez “não

olhar as regras nem os princípios, não ser clássico nem romântico”.

Regressa para Portugal em 1826 (morte de D. João VI e outorga da

Carta Constitucional por D. Pedro IV). Participa da política. A

contrarrevolução absolutista estava em marcha. Em maio de 1828, D.

Miguel restaura o antigo regime. Garrett vai de novo para o exílio inglês.

Juntamente com Alexandre Herculano participa da expedição vitoriosa de

D. Pedro IV (1832/3). No regresso a Lisboa foi nomeado secretário de uma

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comissão encarregada de propor um plano geral de educação e ensino

público. Volta à diplomacia como cônsul-geral em Bruxelas.

Revolução de Setembro. Garrett participa das reformas culturais: foi

ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação

do Conservatório de Arte Dramática. Eleito deputado à Assembleia

Constituinte de 1838. Entretanto, em 1841, novo triunfo da

contrarrevolução. Oposição de Garrett à ditadura de Costa Cabral. “É esta a

época mais fecunda e original da sua carreira literária, também a de mais

intensa vida passional” (D. Adelaide Pastor e Rosa Montúfar Infante, a

Viscondessa da Luz, inspiradora do livro Folhas Caídas).

Em 1851, ocorre a Regeneração, coligação de setembristas e

cartistas moderados. Garrett volta para a vida pública e é nomeado

Visconde, Par do Reino (1851). Em 1853, incompatibilizado com o novo

governo regenerador volta para o seu refúgio literário.

II. Características da obra

Viagens na Minha Terra foi publicado originalmente em folhetins

na Revista Universal Lisbonense entre 1845

e 1846, sendo os seus 49 capítulos editados

em livro apenas em 1846. Tida como obra

ímpar no Romantismo português por sua

estrutura e linguagem inovadoras. O livro é

produto de uma viagem realmente feita por

Garrett, de Lisboa a Santarém, em 1843, a

convite do político liberal Passos Manuel.

O Estilo Digressivo de Garrett

pressupõe o desvio e retardamento do

assunto. Ele parece não estar preocupado em

contar uma história, pois está sempre

desviando ou suspendendo a narrativa. Os

assuntos são variados e concatenados de

uma forma livre. Essa estrutura “anárquica”

está presente na obra do inglês Laurence

Sterne e do autor de Viagem em Volta do meu Quarto, o francês Xavier de

Maistre. Aqui, no Brasil, somente em 1881, com Memórias Póstumas de

Brás Cubas, de Machado de Assis.

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O livro contém três histórias: a dos amores de Carlos e Joaninha (o

narrador fica sabendo da história através do relato de um amigo. O

desfecho, por intermédio de Frei Dinis e da carta de Carlos a Joaninha); a

da viagem do autor e a da Guerra Civil travada entre o nosso D. Pedro I (D.

Pedro IV, em Portugal) e seu irmão, D. Miguel, entre 1830 e 1834. O

primeiro, representando a burguesia liberal (constitucionalistas) e o

segundo, os conservadores (realistas). Essa oposição também se faz

presente no antagonismo entre frades (Portugal Antigo) X barões, o

capitalismo moderno e sem escrúpulos. O materialismo (Sancho Pança) e o

idealismo (Dom Quixote). Enfim, entre Carlos e D. Dinis.

Essa estrutura digressiva também afeta o foco narrativo. Em suas

considerações usa-se o foco em primeira pessoa; na história amorosa e nas

cenas da guerra civil, o foco em terceira pessoa.

III. Resumo dos Capítulos

Capítulo I Citação de Xavier de Maistre, autor de Viagem ao Redor do meu

Quarto, romance digressivo que serviu de modelo a Garrett, escrito em

1794. No entanto, a paisagem e a beleza da sua terra impediram Garrett de

ficar preso em seu quarto. O autor confessa que pretende contar tudo sobre

a sua viagem até Santarém. Parte em 17 de julho de 1843. Embarca, com

outros companheiros, numa “carroça do ancien régime”, comandada pelo

capitão Sr. C. da T. Entram numa “regata de vapores”. Descreve Vila

Franca e divaga sobre o charuto e Lord Byron. Presencia a discussão de 12

homens. Cinco são de Alhandra (homens do sul), camponeses e toureiros.

Os demais, de Ìlhavo (homens do norte), agricultores e navegadores. Para

vencer a discussão, um dos ílhavos pergunta: quem é mais forte: o touro ou

o mar?

Capítulo II Metalinguagem: o autor comenta a própria obra afirmando que ela

será um sucesso. Disserta sobre a tendência espiritualista (D. Quixote) e a

materialista (Sancho Pança), comparando-as com o progresso da

humanidade (sempre andam juntas). Chegam em Vila Nova da Rainha e

dirigem-se para Azambuja. O companheiro de vapor Sr. L. S. convida-o a

viajar em sua carroça. Questiona o filósofo Jeremias Benthan. Reclama das

estradas da região. Chama o rio Vouga de “Nilo Português”. Assusta-se

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com a feiura da mulher que o recepciona, no hotel. “Cai-me a pena da

mão”.

Capítulo III

Conversa com o leitor e caracterização do Romantismo. Crítica à

burguesia: “... cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de

miseráveis”. Reflexões sobre a literatura. Descrição da estalagem e da

“bruxa”. Partem para o pinhal de Azambuja.

Capítulo IV

Sobre a modéstia e a inocência. Confessa que nunca larga a obra do

filósofo Addison. A beleza da mulher está na modéstia. Aconselha o leitor

a saltar de capítulo.

Capítulo V

Desilude-se com o pinhal de Azambuja. Explica ao leitor a

falsidade dos livros românticos portugueses, baseados nas obras francesas.

Daí para diante, até Santarém, vai de mulinha. Relembra o velho amigo

Marquês do F.

Capítulo VI

Elogios e críticas aos Os Lusíadas. Superioridade do Romantismo

sobre as obras clássicas. Sobre Dante Alighieri (A Divina Comédia). Sobre

o Marquês de Pombal.

CapítuloVII

Sobre as belezas da França e a delícia de um sorvete no verão.

Chega à cidade de Cartaxo. Elogio ao seu café. Crítica aos lisboetas que

não viajam. Conversa com o dono do estabelecimento sobre o alfageme

(barbeiro ou fabricante de espadas) da cidade. Visitam o amigo D. Passeio

pela cidade. Sobre os ingleses, o vinho do Porto, da Madeira e do Cartaxo.

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Capítulo VIII

Continuam a viagem, a cavalo e mula. Descrição da beleza da

paisagem e da charneca entre

Cartaxo e Santarém. Por ali

passara o imperador D. Pedro

em sua última revista ao

exército liberal, depois da

batalha de Almoster (18 de

fevereiro de 1834). “Toda

guerra civil é triste. E é

difícil dizer para quem mais

triste, se para o vencedor ou

para o vencido”, exclama o

narrador. Chegam à ponte da

Asseca.

Capítulo IX

Há cinquenta ou sessenta anos vivia ali um dramaturgo mediano

chamado Ênio – Manuel de Figueiredo (1725 – 1801). Comentários sobre

algumas de suas peças teatrais. Admira o título da peça Poeta em Anos de

Prosa, comentando que deveria haver livros sem títulos ou títulos sem

livro. Com ironia fala de três poetas modernos: Napoleão, Sílvio Pélico e o

barão de Rothschild. “O primeiro fez a sua Ilíada com a espada, o segundo

com a paciência, o último com o dinheiro”. Em Asseca, o general Junot foi

ferido no rosto. Episódio da infância, quando castigado pelo pai ao comprar

um retrato de Napoleão Bonaparte. Esse foi o seu primeiro pecado político

que, com o tempo e sua militância liberal, trouxeram perseguição e exílio

na França. Admiração pela Madame de Abrantes. Metalinguagem e

conversa com o leitor que ficou parado no meio da ponte da Asseca.

Chegam ao maravilhoso Vale de Santarém.

Capítulo X

Descrição das belezas do Vale de Santarém. Encanta-se com uma

casa na clareira das árvores. Da janela meio aberta canta um rouxinol. Um

companheiro de viagem diz-lhe que ali habitava uma moça de olhos verdes,

a menina dos rouxinóis. Apeiam e escutam a história da “janela dos

rouxinóis”.

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Capítulo XI

Apologia do amor. Começa a contar a história ouvida. “Era no ano

de 1832...”. Descrição de uma velha cega com mais de 70 anos (D.

Francisca). Trabalhava numa fiandeira. Chama sua netinha Joaninha.

CapítuloXII

Aparece a netinha, ajuda a vovó

e vão merendar. Descrição de Joaninha,

16 anos. Divagações do autor sobre a

toilette feminina (“Em geral, as

mulheres parecem ter no cabelo a

mesma fé que tinha Sansão...). Retoma

a descrição da menina. Seus olhos eram

verdes. Sem motivo chora. Nisso

aparece Frei Dinis, “o austero guardião

de S. Francisco de Santarém”.

Capítulo XIII

O narrador diz não gostar de

frades, “moral e socialmente”, a não ser

do ponto de vista artístico. Embelezam, com seus trajes, a paisagem urbana

e rural. São mais poéticos que os barões. Estes, são os mais desgraciosos e

estúpidos animais da criação. “Este capítulo deve ser considerado como

introdução ao capítulo seguinte em que entra em cena Frei Dinis...”.

Comentários sobre suas obras que contém frades.

CapítuloXIV

“Este capítulo não tem divagações, nem reflexões, nem

considerações de nenhuma espécie; vai direito, e sem se distrair, pela sua

história adiante”. Com a retirada de Joana, conversam sobre Carlos. Estava

com os liberais que vieram das ilhas e desembarcaram no Porto. Não

acredita na vitória dos conservadores devido aos seus pecados. A avó

lamenta pelo neto amado. Já, Frei Dinis, afirma ser ele “maldito”.

Capítulo XV

“Quem era Frei Dinis? ... um homem que se fizera frade, já velho e

cansado do mundo... homem de princípios austeros, de crenças rígidas, e de

uma lógica inflexível e teimosa...”. Detestava os liberais. O liberalismo

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reduzia-se em duas coisas: “duvidar e destruir por princípio, adquirir e

enriquecer por fim”. Tinha cinquenta anos. “Como e por que deixara ele o

mundo?”. Todas as sextas-feiras, no mesmo horário, ia encontrar-se com D.

Francisca, cuja família reduzia-se à Joaninha e “um ausente, um rapaz de

quem há dois anos quase que se não sabia”.

Capítulo XVI

Antes de ser frade, chamava-se Dinis de Ataíde e seguira a carreira

das armas, das letras, da magistratura até tornar-se Frei Dinis da Cruz, da

Ordem de São Francisco, a ordem religiosa mais decadente de todas. Dos

seus bens, retirou módica quantia e doou o resto para D. Francisca Joana,

a velha ceguinha. A velha só tinha um neto e uma neta. A neta era

Joaninha, filha única de seu único filho varão, órfã de pai e de mãe. O neto,

órfão também, nascera póstumo, e custara a vida a sua mãe, filha querida e

predileta da velha.

Dinis de Ataíde, corregedor da comarca, frequentava a casa de D.

Francisca. Desde a morte do filho e do genro, “que ambos pereceram

desastradamente num dia cruzando o Tejo num saveiro em ocasião de

grande cheia, ele nunca mais lá tornara”. A nora e a filha da velha tinham

morrido também. E, na mesma hora em que Frei Dinis professava em São

Francisco de Santarém, “vestia D. Francisca aquela túnica roxa que nunca

mais largou”. Alguns anos depois, começa a frequentar a casa de D.

Francisca, todas as sextas-feiras.

Frei Dinis preocupava-se com Carlos (21 anos), “já no último ano

de Coimbra e ia formar-se em Leis...”. Era o ano de 1830. O jovem, um

dia, veio visitar a família, numa sexta-feira. Conversa com Frei Dinis e diz

que vai emigrar para a Inglaterra, pois está desgostoso com a sua casa e o

mando de um estranho aqui. Para a avó, alega motivos políticos. Era contra

D. Miguel e sofria perseguição política. Carlos parte para Lisboa, Inglaterra

e alguns meses depois, está na ilha Terceira.

Na sexta-feira seguinte, depois da partida de Carlos, Frei Dinis teve

uma larga conferência com a avó. Durante três dias a velha ficou fechada

no seu quarto a chorar...”. No fim do terceiro dia estava cega”.

E assim se passaram dois anos.

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Capítulo XVII

Na sexta seguinte, o frade veio com a notícia (foi até Lisboa) de que

achava que Carlos estava no Porto, fazendo parte do pequeno exército de

D. Pedro. Trazia uma carta de Carlos, vinda pelo cônsul de França.

Capítulo XVIII

A carta era endereçada apenas para Joaninha. Nenhuma palavra

para mais ninguém. Mas, Joaninha mente, dizendo que o primo pedia a

benção da avó. Um ano transcorre sem notícias de Carlos. A guerra civil

continuava, em meados de 1833.

Capítulo XIX

Joaninha anuncia a vinda de soldados e povo... era a retirada de 11

de outubro. Os constitucionais perseguiam os realistas. Aqueles tinham seu

quartel general em Cartaxo. D. Miguel fortificara-se em Santarém e a casa

da velha era o último posto militar ocupado pelo seu exército. Os feridos

ficaram a cargo de Joaninha e com Frei Dinis, no mosteiro. E assim se

passaram os meses. E Joaninha passou a ser chamada, por ambos os

exércitos de “a menina dos rouxinóis”. Tinha a liberdade de passear sem

ser molesta pelos soldados.

Capítulo XX Joaninha dorme num banco do bosque, acompanhada por um

rouxinol. Surgem soldados e um oficial (capitão). Descrição do belo moço

que não tinha ainda 30 anos. Interrupção da descrição por parte do

narrador. O personagem era Carlos. Abraços e beijos. Carlos não sabia que

a avó ficara cega. Dirigem-se para a casa de D. Francisca.

Capítulo XXI

Entretanto, as sentinelas inimigas impediram a passagem de Carlos.

Joaninha segue sozinha. Carlos, ao voltar é ferido levemente no braço

esquerdo pelos próprios camaradas.

Capítulo XXII

No dia seguinte, Carlos recebe uma carta de Joaninha. O jovem

passara a noite em claro, pensando na prima, agora uma moça. Por outro

lado, amava outra mulher. “E essa mulher era bela, nobre, rica, admirada,

ocupava uma alta posição no mundo... e tudo lhe sacrificara a ele, exilado

desconhecido”. Era Georgina.

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Capítulo XXIII

Carlos pensa na avó e em Frei Dinis. Sobre os dois pesava uma

acusação criminosa. Ele jurara nunca mais pisar naquela casa, mas o que

dizer a Joaninha? O narrador cita um trecho poético pensado (“fotografia

mental”) por Carlos em relação aos olhos verdes de Joaninha, azuis de

Georgina e pretos de Soledade”. Que honra e glória para a escola romântica

se pudéssemos ter a coleção completa” do pensamento de Carlos. Crítica à

escola Clássica.

Capítulo XXIV

Reflexão: “Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias;

tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolice”. Crítica ao

homem feito pela sociedade. Encontra Joaninha. Os dois conversam. Ele

tem 15 anos a mais que Joaninha. Ela conta que foi Frei Dinis o culpado da

cegueira da avó. Carlos percebe que Joaninha desconhecia os “fatais

segredos da família”. Há quinze dias D. Francisca está acamada. A guerra

civil na região já completou um ano. Joaninha pensa em conversar com o

comandante realista para permitir a passagem de Carlos. Nota uma

semelhança entre Carlos e D. Dinis, quando aquele franze a testa.

Capítulo XXV

Joaninha confessa seu amor a Carlos e desconfia que ele não a ama,

que já está compromissado.

Capítulo XXVI

Divagação sobre Roma, o historiador português Duarte Nunes,

Shakespeare, o inglês entusiasta de Abelardo e Heloísa, os Lusíadas... até

explicar que a história contada no próprio cenário é bem mais interessante.

Por isso, ficou escutando a narração do companheiro de viagem. Mas, está

na hora de partir para a cidade de Santarém, não que a história de Joaninha

tenha acabado. É apenas o fim do primeiro ato.

Capítulo XXVII

Santarém está decadente, mas seus olivais mantém a antiga glória.

Descrições das grandes construções da cidade. Procura a casa do seu

amigo, “ao pé mesmo da famosa e histórica Igreja de Santa Maria da

Alcáçova”.

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Capítulo XXVIII

Decadência da Igreja de Santa Maria da Alcáçova. Por extensão,

critica a arquitetura pombalina, pós terremoto. Encontra o amigo Sr. M.P.

Conhece sua família. Depois, abluções, jantar, conversas e repouso. De

manhã, pela janela, avistou a bela paisagem do rio Tejo. Pensa nos versos

introdutórios de Fausto (Goethe).

Capítulo XXIX Diferenças entre o imaginar e o sentir. Divagações metalinguísticas:

o leitor que quiser um livro de viagem que leia o padre Vasconcelos.

Almoçam e conversam sobre Santarém. Transcreve a trova popular de

Santa Iria. Pretende discutir esse assunto no capítulo seguinte.

Capítulo XXX

História da milagrosa Santa Iria, Santa Irene, “que deu o seu nome a

Santarém...”. Análise do poema do capítulo anterior.

Capítulo XXXI

Visita aos monumentos de Santarém. A certa altura, o companheiro

de viagem pede para continuar a história de Joaninha. O narrador diz que

não pretende mais interromper o relato.

Capítulo XXXII O narrador pede para o leitor lembrar-se do capítulo XXV. Os

constitucionais preparam-se para as batalhas de Pernes e Almoster. Carlos

apresenta-se ao quartel general. Carlos é ferido e levado para uma cela do

Convento de São Francisco em Santarém, ainda inconsciente. É assistido

por Georgina. Também presente, Frei Dinis. Passaram dias, semanas. A

avó e a prima não sabiam do paradeiro de Carlos. Georgina diz-lhe que não

o ama.

Capítulo XXXIII

Carlos e Georgina conversam sobre o passado amoroso. Conta que

veio a Portugal com uma família da sua amizade. Consegue transitar até

Santarém e encontra Carlos prisioneiro no hospital dos feridos. Com a

ajuda de D. Dinis conduz Carlos até ao convento. Nesse ínterim, descobre

que Carlos ama e é amado por Joaninha. Por isso, não o ama mais. Nisso,

entra Frei Dinis no quarto.

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Capítulo XXXIV Frei Dinis diz que Carlos detesta-o, mas ele o perdoa. Mais ainda, o

ama e pede para ele deixar de amaldiçoá-lo. Informa que o exército realista

foi vencido pelos constitucionais. Estes venceram na Asseiceira e aqueles

fugiram para o Alentejo. Carlos questiona a Frei Dinis: “E quem assassinou

meu pai, quem cegou minha avó, e quem cobriu de infâmia a minha... a

toda a minha família?” Frei Dinis diz que foi ele, por isso suplica para

Carlos matá-lo.

Capítulo XXXV

Georgina pede a Carlos para perdoá-lo e afaga o velho. Carlos

abraça-o. No entanto, ao pedir para Carlos também perdoar sua mãe, o

militar fica furioso e quer matar o frade. Nesse momento aparece a avó e

Joaninha (16 anos). D. Francisca grita: “Filho, meu filho! É teu pai, meu

filho. Este homem é teu pai, Carlos”. Carlos desmaia. É socorrido pelas

duas mulheres que amava. Georgina confessa que não o ama mais e pede

para Joaninha protegê-lo. Está de partida para Lisboa. A avó conta a Carlos

que sua mãe amou a D. Dinis. O outro e seu tio (pai de Joaninha) armaram

uma embosca na charneca, à noite. Os corpos foram jogados no rio. A mãe

de Carlos morre de “pesar e de remorsos”. D. Dinis torna-se frade e se

autoflagela. A avó fica cega de tanto chorar. Carlos abraça o pai e a avó e

sai do quarto, dando a entender que logo voltaria. Três dias depois recebem

uma carta, de Évora, dizendo que estava junto com o exército

constitucional.

Capítulo XXXVI

Todos estavam curiosos com o fim da história. Carlos é considerado

um homem imoral, sem princípios, sem coração por amar duas mulheres.

“Amanhã o fim da história da menina dos olhos verdes”. No caminho

encontram o antigo amigo, o barão de P. Passeiam pela cidade. Lamento

pelo abandono do patrimônio histórico de Santarém.

Capítulo XXXVII

Não conseguem visitar o túmulo de Pedro Álvares Cabral. Encontro

com o barão de A. Visita à Igreja do Santo Milagre. Sepultura de D. Maria,

filha de D. João VI. História do homem das botas que enganou a todos, em

Lisboa, dizendo que atravessaria o rio, de Lisboa a Almada, com suas

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“botas de cortiço”. Desviando a atenção do povo, conseguiu trazer de volta

para Santarém o “Santo Milagre”. Jantam.

Capítulo XXXVIII Depois do jantar vão à Ribeira. Desiludidos com o lugar voltam e

vão tomar chá no elegante salão da B. de A. Divagações sobre os ridículos

da alta sociedade. Divagações filológicas (origem da palavra galimatias).

Decide acabar o capítulo.

Capítulo XXXIX

Promete voltar com a história de Joaninha. Mas, por enquanto,

pretende almoçar e terminar seus estudos arqueológicos em Marvila de

Santarém. Sobre os jesuítas. Visita ao grande santo S. Frei Gil (o Fausto

português). Ao visitar o seu túmulo descobre que está sem cadáver. “Quem

foi o anátema que se atreveu a tal sacrilégio?...”

Capítulo XL Três homens

chegam ao antigo

Mosteiro das Claras.

Levavam uma espécie

de cofre que foi

deposto no altar. Era o

ano de 1834. As freiras

chegam em procissão,

cantando. Um dos três

homens era um frade

velho franciscano. Os

outros dois eram dominicanos. O cofre guardava o corpo do bem-

aventurado S. Frei Gil. Era para as irmãs guardá-lo. “Assim desapareceu do

túmulo o corpo de S. Frei Gil de Santarém”. Hoje o narrador pode contar

porque os liberais já são mais tolerantes. O cuidado é com os barões que

estão atrás dos poucos bens das freiras.

Capítulo XLI O franciscano velho que roubara o corpo do santo era Frei Dinis.

Passeia pelo real Convento de S. Francisco de Santarém. O que será feito

de Joaninha e dos seus? Só sabe que depois da cena noturna do Mosteiro

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das Claras, Frei Dinis saiu de Santarém; nesse mesmo dia Georgina saíra

para Lisboa, levando em sua carruagem a avó e a neta, sem novas de

Carlos, somente a carta que escrevera junto de Évora. O narrador diz

também estar cansado de Santarém.

Capítulo XLII

Entretanto, não pode partir sem ver o túmulo de El-rei Fernando,

segundo marido de D. Leonor Teles. Encontrando-o amaldiçoa os

iconoclastas que não cuidam do patrimônio histórico. “Mais dez anos de

barões e de regime da matéria...”. Acredita apenas no povo, “o povo está

são: os corruptos somos nós, os que cuidamos saber e ignoramos tudo”.

Capítulo XLIII

Vão embora de Santarém, não sem antes parar na casa de Joaninha.

Encontra D. Francisca e Frei Dinis. Fica sabendo que Joaninha morrera.

Tem acesso à carta de Carlos.

Capítulo XLIV

A carta datava de maio de 1834. Era endereçada apenas para

Joaninha. Sente-se perdido. Conta-lhe sua história. Na Inglaterra conhecera

uma família com três irmãs. Apaixona-se por Laura.

Capítulo XLV

Continuação da carta. Descrição de Laura. Noutro dia, recebe uma

carta de Júlia (a mais velha), convidando-o para almoçar.

Capítulo XLVI

(Cont.). Júlia diz que Laura não pode amá-lo, pois está

comprometida. Em três meses irá partir para a Índia. Os dois choram.

Aparece Laura. Jantam. Naquela noite Laura partiria para o País de Gales.

Na carruagem, Carlos e as três irmãs dirigem-se até a estalagem. Confessa

que o único alívio durante a viagem foi pensar no vale e em Joaninha.

Capítulo XLVII

(Cont.). Chegam à estalagem. Laura parte. Voltam e Carlos vai para

casa. No dia seguinte, o pai, L. William R., parte para o País de Gales. Fica

três dias sem vê-las. No quarto dia encontra Júlia. Passam os dias juntos.

Três meses depois, Laura casa-se e parte para o Oriente.

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Capítulo XLVIII

(Cont.). Numa manhã, encontra Georgina. Viera avisá-lo de que

Júlia estava doente. Com o tempo, apaixona-se por Georgina, mas tem que

partir para o Açores, na Ilha Terceira, onde refugiara-se o partido

constitucional. É consolado por uma freira de nome Soledade. Diz que não

a amou. Dali veio para Portugal. O resto da história já é conhecida.

Confessa que ao ver Joaninha sentiu que só a ela amara. Entretanto, sabe

que a mulher que o amar será infeliz eternamente. “Não quero, não posso,

não devo amar a ninguém mais”. Por isso, dá-lhe adeus. Pensa em se fazer

homem político e agiota. “Adeus, minha Joana, minha adorada Joana, pela

última vez, adeus!”

Capítulo XLIX Acabando de ler a carta de Carlos devolve-a a Frei Dinis. Este diz

que Carlos virou barão, engordou e enriqueceu. E vai ser deputado

qualquer dia. Joaninha enlouqueceu e morreu nos braços de Georgina e da

avó. Georgina é abadessa de um convento em Inglaterra. D. Francisca “não

vê, não ouve, não fala e não conhece ninguém”. O narrador monta em seu

cavalo e vai encontrar os companheiros.

Exercícios

01. "Neste despropositado e inclassificável livro (...), não é que se quebre, mas

enreda-se o fio das histórias e das observações por tal modo, que, bem o vejo e o sinto, só com muita paciência se pode deslindar e seguir em tão embaraçada

meada." Eis como o autor vê sua obra, dentro da qual faz reflexões como esta: "o

povo, o povo está são; os corruptos somos nós, os que cuidamos saber e ignoramos tudo." (Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett).

Nessas duas orações citadas, respectivamente, encontramos:

a) Metalinguagem e digressão; c) digressão e metalinguagem; b) Intertextualidade e digressão; d) paródia e paráfrase.

c) Paródia e intertextualidade.

02. “Oh! Sancho, Sancho, nem sequer tu reinarás entre nós! Caiu o carunchoso trono de teu predecessor, antagonista e às vezes amo; açoitaram-te essas nádegas

para desencantar a famosa del Toboso, proclamaram-te depois rei em Barataria, e

nesta tua província lusitana nem o paternal governo de teu estúpido materialismo pode estabelecer-se para cômodo e salvação do corpo, já que a alma... oh! a

alma...” (Trecho do segundo capítulo de Viagens na Minha Terra, de Almeida

Garrett)

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Considerando o trecho acima, assinale a alternativa incorreta.

a) O interlocutor do autor é Sancho Pança, fiel escudeiro de Dom Quixote de la

Mancha; b) O autor valoriza o espiritualismo diante do materialismo e afirma que nem

mesmo o materialismo podia reinar naquela época e naquele lugar;

c) O materialismo conseguiu se estabelecer em Barataria, uma região da Espanha, mas nessas terras lusitanas não conseguiria;

d) O espiritualismo já estava há tempos perdido e nem mesmo o materialismo

conseguia ser útil; e) Dom Quixote apanhou nas nádegas para que Dulcineia del Toboso visse quem

realmente era o cavaleiro.

03. Leia o excerto abaixo: “... Carlos volta a Portugal para combater os liberais, Joaninha ama e é

amada por Carlos, mas este deixara na Inglaterra outra mulher, Georgina. Em

combate, perto da casa de D.Francisca, o rapaz cai ferido e é levado para o mosteiro de Frei Dinis... Este franciscano matara o pai de Carlos e o pai de

Joaninha. Desfecho: Joaninha morre demente, Georgina foi ser freira e Carlos é

deputado e barão” a) O resumo acima é do livro Viagens na Minha Terra, de Almeida

Garrett. Procure reler o texto e localize uma informação incorreta. Cite-a

e dê a correta ocorrência do fato.

b) O livro citado é uma mistura de relato jornalístico, literatura de viagem, divagações sobre vários temas, comentários críticos e uma história

trágica, envolvendo Carlos e Joaninha. A narrativa não é linear, mas

fragmentada, como faria Machado de Assis, décadas depois. Como é chamado essa técnica narrativa que fragmenta a narrativa?

04. Leia atentamente o trecho abaixo:

“ Ora bem; vai-se aos figurinos franceses de Dumas, de Eugénio Sue, de Vítor Hugo, e recorta a gente, de cada um deles, as figuras que precisa, gruda-as

sobre uma folha de papel da cor da moda, verde, pardo, azul — como fazem

as raparigas inglesas aos seus álbuns e scrap-books; forma com elas os grupos e situações que lhe parece; não importa que sejam mais ou menos

disparatados. Depois vai-se às crônicas, tiram-se uns poucos de nomes e

palavrões velhos; com os nomes crismam-se os figurões; com os palavrões iluminam-se… (estilo de pintor pinta-monos). — E aqui está como nós

fazemos a nossa literatura original”.

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra.

Explique a ironia do trecho “E aqui está como nós fazemos a nossa literatura original”, no final do texto transcrito

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05. (PUC-SP/2013) Ainda assim, belas e amáveis leitoras, entendamonos; o

que eu vou contar não é um romance, não tem aventuras enredadas,

peripécias, situações e incidentes raros; é uma história simples e singela, sinceramente contada e sem pretensão.

O trecho acima integra a obra Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett.

Considerando a obra como um todo, pode-se afirmar que a história a ser contada pelo narrador é a:

a) da paixão de Joaninha dos olhos verdes por seu primo Carlos, com

quem casa e vive feliz. b) da indecisão de Carlos, ante o amor de várias mulheres, sua saída de

Santarém e regresso à Inglaterra.

c) do sofrimento da menina dos rouxinóis pela perda do amado e seu

abandono ao destino inexorável, que a leva ao enlouquecimento e à morte por desgosto.

d) do retorno de Carlos à Inglaterra, retomando sua trajetória de homem

público, e seu casamento com Georgina.

06. Assinale a alternativa incorreta sobre o romance Viagens na Minha Terra:

a) Um dos momentos mais importantes da narrativa é a passagem pelo Vale de

Santarém, relatada no capítulo X, e a contemplação de uma casa que desperta a

curiosidade e estimula a imaginação do narrador.

b) No final da viagem, o narrador-viajante passa pelo Vale de Santarém e lê uma carta

(de tom autobiográfico) que Carlos escrevera à Joaninha, sendo uma espécie de

epílogo do romance.

c) Complementando as inúmeras digressões, o narrador comenta a história de Carlos e

Joaninha evitando ilações de teor crítico e social.

d) No romance não há apenas uma única e linear instância de comunicação narrativa,

uma vez que, além do relato da viagem, encontramos também a narrativa que é

instituída pelo companheiro de viagem que conta a história de Carlos e Joaninha e a

que se traduz na carta de Carlos a Joaninha.

e) A narrativa é desencadeada por um narrador anônimo, empenhado numa viagem a

Santarém e interessado de disseminar várias digressões de tendência ideológica ao

longo de seu discurso.