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GEOGRAFIA AGRÁRIA Assentamento de trabalhadores rurais dos Cocais - Município de Casa Branca-estado de São Paulo Autores: Fadel David Antonio Filho Adler Guilherme Viadana Enéas Rente Ferreira Adalzilio Machado Neto Adler Guilherme Viadana Antônio de Oliveira Lima Enéas Rente Ferreira Fadel David Antonio Filho João Cleps Junior Mari Urbani Samira Peduti Kahil (in memoriam) Sandra de Castro Pereira Sílvio Carlos Bray 2013

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Page 1: Viadana AGRÁRIA Antônio de Oliveira Lima Assentamento de ... · projeto amplo, a reunir aproximadamente 100 pesquisadores, com o empenho de professores, alunos da gradu-graduação

GEOGRAFIA AGRÁRIA

Assentamento de trabalhadores rurais dos

Cocais - Município de Casa Branca-estado de São Paulo

Autores:

Fadel David Antonio Filho

Adler Guilherme Viadana

Enéas Rente Ferreira

Adalzilio Machado Neto

Adler Guilherme Viadana

Antônio de Oliveira Lima

Enéas Rente Ferreira

Fadel David Antonio Filho

João Cleps Junior

Mari Urbani

Samira Peduti Kahil (in memoriam)

Sandra de Castro Pereira

Sílvio Carlos Bray

2013

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AUTORES/ ORGANIZADORES:

Fadel David Antonio Filho

Adler Guilherme Viadana

Enéas Rente Ferreira

COLABORADORES:

Adalzilio Machado Neto

Adler Guilherme Viadana

Antonio de Oliveira Lima

Fadel David Antonio Filho

João Cleps Junior

Mari Urbani

Samira Peduti Kahil (in memoriam)

Sandra de Castro Pereira

Sílvio Carlos Bray

2013

Page 3: Viadana AGRÁRIA Antônio de Oliveira Lima Assentamento de ... · projeto amplo, a reunir aproximadamente 100 pesquisadores, com o empenho de professores, alunos da gradu-graduação

SUMÁRIO Apresentação .............................................................................................. 1 A Experiência do 1º Ano no Assentamento Rural dos Cocais – Município de Casa Branca, SP .................................................................. 4 João Cleps Junior ; Samira Peduti Kahil (in memoriam) ; Sílvio Carlos Bray. Os projetos de assentamentos de trabalhadores rurais no Estado de São Paulo .................................................................................. 10 Enéas Rente Ferreira ; João Cleps Junior ;Sílvio Carlos Bray. Qualidade (d) e Vida no Assentamento do “Cocais” – Casa Branca (SP). ...................................................................................... 18 Mari Urbani ; Enéas Rente Ferreira. Os 10 anos de atividades do Assentamento Rural dos “Cocais” no município de Casa Branca – SP .......................................................... 39 Enéas Rente Ferreira e Silvio Carlos Bray 13 anos de Assentamento dos Cocais: Município de Casa Branca (SP) ....................................................................................... 52 Enéas Rente Ferreira ; Adalzilio Machado Neto ; Antônio de Oliveira Lima ; Sandra de Castro Pereira. O desempenho do geógrafo na elaboração de laudos periciais ambientais: o exemplo da instalação de um presídio em Casa Branca, SP. ........................................................................................ 56 Fadel David Antonio Filho ; Adler Guilherme Viadana. Assentamento dos Cocais: 28 anos ......................................................... 70 Adler Guilherme Viadana ; Fadel David Antonio Filho ; Enéas Rente Ferreira. Anexos ........................................................................................................ 86

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APRESENTAÇÃO

Trabalhava no Câmpus da UNESP em Presidente Prudente durante o ano de

1986, quando fui envolvido na proposta de estudos pela universidade no intuito de

avaliar cientificamente os assentamentos rurais do estado de São Paulo. Foi um

projeto amplo, a reunir aproximadamente 100 pesquisadores, com o empenho de

professores, alunos da graduação e da pós-graduação. Os Câmpus da UNESP

envolvidos nesta tarefa foram os de Araraquara, Botucatu, Jaboticabal, Ilha Solteira,

Marília, Rio Claro e Presidente Prudente.

O estudo denominado “Análise e Avaliação dos Projetos de Reforma Agrária

e Assentamento no Estado de São Paulo”, foi coordenado pelas

professoras doutoras Vera Lucia Silveira Botta Ferrante e Sonia Maria P.

Bergamasso a envolver pesquisadores na qualidade de professores e alunos

bolsistas numa experiência multidisciplinar fundamental para esta trajetória. Como

fruto deste projeto, cita-se o 1º Censo de Assentamentos Rurais do Estado de São

Paulo, o início da Coleção Retratos de Assentamentos e um riquíssimo processo de

formação de jovens pesquisadores.

Após a distribuição dos assentamentos rurais para os citados Câmpus da

UNESP, cada uma destas unidades acadêmicas, ficaria responsável pelos

assentamentos geograficamente mais próximos de si, visto que a Universidade

Estadual Paulista está presente em todos os quadrantes do território bandeirante. O

Câmpus de Rio Claro, por exemplo, assumiu os assentamentos Araras I e II, Sumaré

I e II e o Cocais em Casa Branca.

No decorrer do processo fui transferido da UNESP de Presidente Prudente

para a de Rio Claro. Como conhecia todo o processo da investigação em questão,

acabei fazendo parte da equipe de Rio Claro. Tive como desempenho na pesquisa

que estava sendo levada à efeito, singular participação na aplicação de um extenso

questionário nos assentamentos de Casa Branca e Sumaré.

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Em 1986 surgiu a primeira publicação sobre o Assentamento de Casa Branca,

produzida por João Cleps Junior, Samira Peduti Kahil e Silvio Carlos Bray, este

último atuando como coordenador do grupo de Rio Claro.

Daí tivemos a ideia de ir acompanhando o assentamento da mesma maneira

que um médico acompanha o seu enfermo durante o transcorrer de sua vida.

Dois anos após foi produzido o segundo artigo com publicação e

apresentação no IIº EGAL- Montevideo/Uruguai - no qual houve uma sessão de

debates entre os professores de Rio Claro e os de Presidente Prudente, discutindo

sobre o projeto de assentamentos rurais da UNESP no estado de São Paulo.

Participei como um dos colaboradores na autoria deste artigo científico e por

questões particulares a pesquisadora Samira Peduti Kahil se retirou do grupo de

pesquisa.

No ano seguinte, com bolsa do CNPq a aluna Mari Urbani elaborou o trabalho

“Qualidade (d) e Vida no Assentamento dos Cocais - Casa Branca - SP”. Para o

mesmo, ela utilizou os dados levantados dos questionários aplicados nos

assentados, com a finalidade de se obter informações sobre: localidade de origem,

detalhamento dos membros das famílias, modos de produção, etc.

Ao completar a primeira década, juntamente com o professor Silvio Bray,

escrevemos o artigo "Os 10 anos de atividades do assentamento rural dos "Cocais"

no município de Casa Branca-SP". Trabalho apresentado no XII Encontro Nacional

de Geografia Agrária [Rio Claro/Águas de São Pedro] publicado pelo Boletim de

Geografia Teorética.

Pouco tempo depois dos 13 anos da implantação do referido assentamento

rural, juntamente com 3 bolsistas PAE da UNESP visitamos o local. Os dados

observados foram apresentados num encontro de estudos agrários, promovido pela

UNESP de Presidente Prudente (1.998) pelo professor doutor Bernardo Mançano.

Detalhe relevante nesta jornada acadêmica foi que a bolsista Sandra de Castro

Pereira, cursando o segundo ano noturno de Geografia defendeu brilhantemente o

artigo em meio aos doutores da Geografia Agrária Brasileira.

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No ano de 1999 os professores doutores Adler Guilherme Viadana e Fadel

David Antonio Filho foram convocados pela então Polícia Florestal e de Mananciais

da PMSP para a elaboração de um Laudo Pericial Ambiental sobre a edificação de

um presídio a montante do Assentamento dos Cocais em Casa Branca. Entre as

principais opiniões técnicas dos peritos foi sugerida a construção de lagoas de

decantação que receberiam os dejetos de 2500 pessoas pertencentes aos detentos

e funcionários. Após os estudos realizados, concluíram que o presídio não deveria

ser construído no local. Fato que infelizmente aconteceu.

Em 2013, quando o assentamento completou 28 anos, realizei com os

professores doutores Adler Guilherme Viadana e Fadel David Antonio Filho uma

nova visita ao local e constatamos que o principal problema dos assentados

está na dificuldade da obtenção de água potável para consumo e suspeita de

possível contaminação dos poços artesianos e “olhos de água” existentes no lugar.

Organizamos então uma documentação fotográfica para ilustrar os fatos

constatados e apresentada no último capítulo deste livro.

Agradeço a estagiária do Departamento de Geografia Jessica Corgosinho

Marcucci pela contribuição na edição do presente livro.

Procurei manter neste livro, os artigos em sua forma mais próxima possível do

original. Creio que o mesmo, apresenta-se diferenciado em sua elaboração,

contribuindo para os estudos da Geografia Agrária. Faz-se desejo que tenham uma

boa leitura.

Enéas Rente Ferreira.

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Universidade Federal de Minas Gerais

Instituto de Geociências

7º Encontro Nacional de Geografia Agrária

Conferencias e Comunicações – Volume II

Belo Horizonte - 1986 (p.33-37).

A Experiência do 1º ano no Assentamento Rural dos Cocais – Município de Casa Branca, SP.

João Cleps Junior1

Samira Peduti Kahil (in memoriam) 2

Sílvio Carlos Bray3

INTRODUÇÃO

Há que se reconhecer por certo, o recuo pelo Mirad-Incra4 no objetivo central

da então apresentada proposta para a realização do Plano Nacional de Reforma

Agrária. Evidentemente que se reconheça também, que a questão da Reforma

Agrária hoje, no Brasil, está sendo um problema de interesses antagônicos. Todavia,

torna-se fundamental no presente momento concentrar esforços para poder corrigir

as distorções quem venham apresentar qualquer projeto de assentamento de

trabalhadores rurais, e garantir esse movimento de luta por condições mais dignas

desta população de camponeses ou de trabalhadores assalariados que possuem

uma ideologia camponesa.

Mal ainda iniciado o processo pelos órgãos federais, cabe ainda mostrar

como a questão fundiária vem sendo proposta pelos governos estaduais. O estudo

1 Pós-graduando, IGCE – UNESP – Rio Claro. 2 Departamento de Planejamento Regional, IGCE – UNESP – Rio Claro. 3 Departamento de Planejamento Regional, IGCE – UNESP – Rio Claro. 4 (Ministério Extraordinário para o Desenvolvimento e a Reforma Agrária - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)

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do Projeto de Assentamento ‘’Cocais’’ no município de Casa Branca vem

caracterizar essa política ao nível de Estado de São Paulo.

As ações do Governo do Estado de São Paulo têm sido diferenciadas

segundo três grandes situações dominiais, em relação às quais tem intervindo: as

terras públicas estaduais; as terras de domínio indefinido e as terras de particulares.

O caso do projeto ‘’Cocais’’ insere-se no exemplo de assentamento de

trabalhadores rurais em terras públicas estaduais que procura envolver a

participação dos beneficiários em todas as fases do programa. De acordo com os

objetivos básicos do Plano de Aproveitamento de Terras Públicas, o processo de

transferência de terras públicas próprias do Governo do Estado ou das que são

entregues à sua responsabilidade pode ser feita em duas etapas: na primeira, com

duração máxima de 5 anos, as terras são cedidas, mediante pagamento de uma

anuidade, preferencialmente a grupos de trabalhadores rurais que se organizem,

voluntariamente, em algum tipo de associação (sociedade civil ou cooperativa) a fim

de lhes darem aproveitamento adequado com seu próprio trabalho; na segunda, as

terras serão transferidas aos beneficiários em caráter permanente, de acordo com a

modalidade que estes, livremente determinarem – sendo necessária a aprovação

legislativa no caso de alienação. Nesse tipo de projeto os assentados (através das

sociedades civis e cooperativas) celebrarão contratos de cessão de terras com

órgão de poder público encarregado de executar o processo de aproveitamento.

Nesse contrato, estipular-se-ão, de comum acordo, e após discussão com os

beneficiários, as condições básicas de exploração econômica do imóvel e a forma

de organização do trabalho no interior de cada grupo (parcelas individuais,

exploração conjunta, etc.); bem como a operação financeira da sociedade (compras,

vendas, contabilidade, remuneração do trabalho, etc.).

Estes são os mecanismos que ora regulam o Projeto de Assentamento

‘’COCAIS’’ no município de Casa Branca e outros P.A. como: da Fazenda Pirituba

(município de Itaberá), Araras, Sumaré e Jacilândia sob a responsabilidade da

Secretaria de Assunto Fundiários do Governo do Estado de São Paulo.

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O ASSENTAMENTO RURAL DOS COCAIS

O Assentamento Rural dos Cocais localiza-se no município de Casa Branca –

SP, próximo à sede municipal, numa antiga área do Hospital de Hansenianos da

Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Com a desativação do referido

Hospital da fazenda Cocais, passou as terras agrícolas para a Secretaria da

Agricultura e Abastecimento do Estado, com o devido interesse da Prefeitura

Municipal de Casa Branca. A transferência da gleba para a Secretaria de Agricultura

e Abastecimento (SAA) teve a finalidade de servir ao Programa Fundiário do atual

Governo Paulista.

O total das terras dos Cocais é de 721 ha, sendo que 145 ha correspondem

ao Centro de Reabilitação (antigo Hospital de Hanseníase), 120 ha são área de

Reserva Florestal (cerrados), e os 455 ha restantes foram destinados para o

Assentamento, que teve início em setembro de 1985.

As famílias inscritas para o assentamento foram sorteadas, num total de 26,

onde o responsável tinha experiência anterior na agropecuária.

Das 26 famílias da gleba dos Cocais, entrevistamos 15, sendo que a maioria

dos assentados não são camponeses, mas possuem uma ideologia camponesa. A

maioria dos trabalhadores compõe-se de assalariados mensalistas – residentes e

não residentes nas propriedades da região – e o restante encontramos boias-frias,

tratoristas e também meeiro e antigo pequeno proprietário rural.

O critério de escolha dos trabalhadores baseou-se em: experiência na

lavoura, maior número de filhos e disponibilidade.

Dos 455 ha, 14 ha foram destinados à Agrovila, correspondendo a cada

parceleiro, 1 lote de 50m por 100m para a construção das residências e está sendo

dotado de energia elétrica e água. Além desse lote com características urbanas na

Agrovila, o parceleiro passou a ter a partir de setembro de 1986, o direito de uma

área em torno de 13 ha destinados ao cultivo.

Os atuais assentados querem a terra como patrimônio, isto é, como local de

morada e subsistência. Para a construção das casas na Agrovila, apenas a terça

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parte dos assentados dispuseram de recursos próprios, na construção de suas

moradias, e os demais 2/3 encontravam-se totalmente descapitalizados.

Sendo a área dos Cocais anteriormente coberta por vegetação de cerrado e

reflorestada com eucaliptais, a madeira dos eucaliptais cortada redundou no

aproveitamento para o madeiramento de cobertura para todas as moradias

previstas.

O referido assentamento foi desenvolvido em bases empresariais modernas

com o apoio da Companhia Agrícola, Imobiliária e Colonizadora (CAIC) e o Instituto

de Assuntos Fundiários (IAF). Ambos os órgãos foram desligados no início de 1986

da Secretaria da Agricultura e Abastecimento e passaram a constituir a Secretaria

Extraordinária de Assuntos Fundiários do Governo do Estado de São Paulo.

A CAIC é responsável pelo serviço de infraestrutura do assentamento como:

limpeza (destocar com trator de esteira), demarcação e construção de curvas de

nível e demais técnicas de conservação do solo. Ao IAF, através de um Engenheiro

Agrônomo, acompanha o trabalho com orientação e assistência técnica aos

assentados.

Os financiamentos para a compra do primeiro trator (usado), plantadeira,

grade, carreta, animais de tração e demais instrumentos de trabalho e insumos

(adubo e fungicidas) foram conseguidos junto à Caixa Econômica Estadual, através

de empréstimos, onde cada assentado torna-se fiador do outro, fato que torna mais

difícil o Banco executar qualquer ação em caso de atraso no pagamento como

também se perde menos tempo na cidade. As sementes foram fornecidas pela SAA,

através da Casa da Agricultura do Município.

Durante o ano agrícola 85/86, foi adotado o sistema coletivo de produção de

terras, que redundou na produção de arroz e milho em maior escala e feijão para o

consumo. O despreparo dos assentados quanto ao trabalho coletivo, aliado ao

projeto inicial de cada um ter a sua terra para cultivar, levou a maioria, a não aceitar

o trabalho em forma de produção coletiva, e tivemos as seguintes opiniões: ‘’cada

pessoa quer desenvolver atividades diferentes do trabalho coletivo’’; ‘’não funciona

porque não existe responsabilidade de todos – uns trabalham e outros não; seria

bom se todos passassem da mesma forma’’; ‘’existem os chupins’’; ‘’uns trabalham

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com a família e outros não participam como deviam’’; ‘’ a organização coletiva só

funciona para a compra de máquinas e insumos, pois, 26 famílias juntas compram o

que uma não pode comprar’’; ‘’na busca de financiamentos é melhor em grupo do

que só’’; ‘’vale o trabalho coletivo pela amizade e união’’; ‘’acho melhor a gleba

particular, onde cada família vai tocar do jeito que quiser e arrumar uma forma de se

ter dinheiro’’; ‘’vai ser melhor cada um ter sua terra’’.

Durante setembro de 1985 a setembro de 1986, não ocorreu uma política de

apoio à construção da casa própria no assentamento. Por outro lado, o referido

empréstimo para a lavoura não teve o mínimo de período de carência, que

permitisse que com a renda a venda dos produtos ocorresse melhoria das condições

de vida em relação ao início do assentamento. Nesse primeiro ano dos assentados o

dinheiro arrecadado da venda da colheita do arroz e milho (adquirida pelo Banco do

Brasil) serviu apenas para saldar os compromissos com o empréstimo levantado.

Como saldo receberam apenas cada família Cz$4.700,00 do Fundo Assistencial,

onde compraram animal para o trabalho e alguns restos de materiais para

construção para as suas casas na Agrovila.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Os assentados no primeiro ano de experiência no Projeto Cocais, veem a

terra como patrimônio e local de morada subsistência. Deseja o título de garantia de

posse da terra, como segurança de sobrevivência.

A política creditícia para o Associativismo também da Caixa Econômica

Estadual para pequenos agricultores, serviu de base para os Assentamentos no

Estado de São Paulo.

Por outro lado, como os trabalhadores sem terra e os trabalhadores

assalariados são na sua maioria totalmente descapitalizados, necessitam em

qualquer assentamento do país, de um período de carência para o pagamento das

dívidas contraídas – na esperança da melhoria das suas reais condições de vida –

de no mínimo 3 anos. Dentro desse enfoque colocamos o seguinte: Se o Estado

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Nacional tem sido paternalista durante a implantação dos assentados desprovidos

de formas organizativas e dos instrumentos de produção?

O Proálcool instituiu um período de 6 anos para as agroindústrias; e na

década de 70, alguns laranjeiros paulista contraíram empréstimos com 10 anos de

carência.

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II EGAL (Encontro de Geógrafos da América Latina)

Montevidéu – Uruguai, 1988, p. 67-78

Os projetos de assentamentos de trabalhadores rurais no estado de São Paulo

Enéas Rente Ferreira5

João Cleps Junior6

Sílvio Carlos Bray7

RESUMO

O presente trabalho procura analisar o processo recente de implantação dos

projetos de assentamentos de trabalhadores rurais no Estado São Paulo, dando

especial atenção ao exemplo do projeto Cocais, munícipio de Casa Branca (SP).

Considerando o aspecto de a organização da produção agrícola observa-se a

coexistência do trabalho comunitário e familiar, onde tem se verificado que, o

primeiro tem permitido um avanço socioeconômico e político dos assentadores

envolvidos no projeto.

A experiência em assentamentos e reforma agrária em São Paulo, teve início

no Governo Carvalho Pinto (1959/1962) através da Lei de Revisão Agrária.

Esse tímido início de acesso a terra pelos trabalhadores rurais de então, foi

extinto ao decorrer dos governos que os sucederam com a ditadura militar.

Somente a partir do processo de abertura democrática, conquistado com as

eleições diretas para governador do estado, aliado a mobilização do movimento

5 Departamento de Geografia – UNESP/ Rio Claro / Brasil 6 Pós-Graduando – IGCE – UNESP / Rio Claro / Brasil 7 Departamento de Planejamento – UNESP/ Rio Claro / Brasil

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estadual passou a acatar ainda que gradualmente, as reinvindicações pela

população de áreas rurais ociosas.

O ano de 1983 veio marcar o reinício de uma série de focos e tensões sociais

no Estado de São Paulo, principalmente nas regiões do Vale do Ribeira e Pontal do

Paranapanema, áreas com graves distorções fundiárias e onde a questão da posse

da terra não estava judicialmente definida.

Em fase das mobilizações populares na luta pela pose da terra, levou o

governo de São Paulo em 1983, a criar a Coordenadoria Sócio-Econômica Da

Secretaria da Agricultura e Abastecimento, subdividida no Instituto de Assuntos

Fundiários (IAF) e Instituto de Cooperativismo e Associativismo, realizando o

inventário dos bens imóveis rurais do Estado.

A partir deste ano foram implantados sob a responsabilidade dos órgãos

competentes os Projetos da Reforma Agrária e Assentamentos em São Paulo.

(Conforme Figura 01).

Em 1985, o governo implantou as leis 4925 e 4957 sobre os assentamentos,

tratando sobre os planos públicos de revalorização e aproveitamento de recursos

fundiários do Estado e sobre a alienação de terras públicas aos trabalhadores rurais

que as ocupem e as explorem.

As ações do Governo do Estado de São Paulo têm sido diferente segundo

três grandes situações dominiais em relação as quais tem intervido: as terras

públicas estaduais, as terras de domínio ainda indefinido e as terras particulares.

O caso do Projeto Cocais insere-se no exemplo de assentamentos de

trabalhadores rurais em terras públicas estaduais que procure envolver a

participação dos beneficiários em todas as fases do programa. De acordo com os

objetivos básicos do Plano de Aproveitamento de Terras Públicas, o processo de

transferência de terras públicas próprias do Governo do Estado ou das que são

entregues a sua responsabilidade pode ser feita em duas etapas: na primeira, com

duração máxima de 5 anos, as terras são cedidas, mediante o pagamento de uma

anuidade, preferencialmente a grupos de trabalhadores rurais que se organizam,

voluntariamente, em alguns tipos de associação (sociedade civil ou cooperativa) a

fim de lhe darem aproveitamento adequado com seu próprio trabalho; na segunda,

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as terras serão transferidas aos beneficiários em caráter permanente, do acordo

com a modalidade que antes, livremente determinarem - sendo necessária a

aprovação legislativa no caso de alienação. Neste tipo de projeto, os assentados

(através da sociedades civis e cooperativas) celebrarão contrato de cessão de terras

com o órgão de poder público encarregado de executar o processo de

aproveitamento. Nesse contrato, estipular-se-ão, de comum acordo, e após

discussão com os beneficiários, as condições básicas de exploração econômica do

imóvel e a forma de organização do trabalho no interior de cada grupo (parcelas

individuais, exploração conjunta, etc.), bem como a operação financeira da

sociedade (compras, vendas, contabilidade, remuneração do trabalho, etc.).

Estes são os mecanismos que ora regulam o Projeto de Assentamento

Cocais no município de Casa Branca e nos demais.

Os projetos que se apresentam com ação do Governo de São Paulo (Figura

1), apenas os assentamentos de Araras e Casa Branca, contam com um plano

prévio.

É neste contexto que o Projeto Cocais de Casa Branca se insere, como um

bom exemplo da Política de Assentamentos de São Paulo.

CARACTERIZAÇÃO GERAL

O assentamento de trabalhadores rurais do Cocais, localiza-se no município

de Casa branca, próximo á sede municipal, numa antiga área do Hospital de

Hansenianos da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Com a desativação

do referido hospital, essa área da Fazenda Cocais foi incorporada pela Secretaria de

Agricultura e Abastecimento em 1985, com o objetivo de servir ao Programa de

Assentamentos e reforma Agrária do governo paulista em convênio com a Prefeitura

Municipal de Casa Branca.

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Figura 01.

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A área total da fazenda Cocais era de 720 ha, sendo que 145 ha corresponde

às instalações do antigo hospital – hoje Centro de Reabilitação Mental -, 120 ha

foram destinados para a reserva florestal de cerrados do município, e o restante num

total de 455 ha, foram destinados ao Projeto de Assentamento dos Trabalhadores

Rurais.

A origem desse projeto difere da maioria dos projetos de assentamentos

implementados no Estado de São Paulo, pois envolveu a participação da Prefeitura

Municipal e Secretaria de Agricultura (figura 01), através do IAF (Instituto de

Assuntos Fundiários).

Esses órgãos tiveram a iniciativa e o controle de todas as fases de

organização e planejamento do assentamento, como: a infraestrutura, a seleção e

instalação das famílias na gleba.

O processo de seleção das famílias inseridas teve como responsáveis:

I- Um representante do Instituto de Assuntos fundiários, que era o Presidente;

II- Um representante da Prefeitura Municipal;

III- Um representante da Câmara Municipal;

IV- Um Engenheiro Agrônomo, designado pela Divisão Regional Agrícola da

Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria de

Agricultura e Abastecimento;

V- Um representante da categoria dos trabalhadores rurais indicado pela

FETAESP (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de

São Paulo) ou Sindicato dos Trabalhadores Rurais;

VI- Dois representantes da sociedade civil, escolhidos pelos anteriores.

A seleção baseou-se principalmente na experiência dos envolvidos no

trabalho agrícola, na maior quantidade de filhos e residência e vivencia na região.

Inicialmente o assentamento passou a contar com a participação de 26 famílias e

hoje com 23.

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A maioria dos assentados é composta de antigos trabalhadores assalariados,

tanto permanentes como temporários (de tratoristas a boias-frias); além de antigos

parceiros e pequenos proprietários rurais.

INFRAESTRUTURA DO PROJETO

A infraestrutura foi implantada com apoio da Companhia Agrícola Imobiliária e

Colonizadora (CAIC) do Estado através da limpeza e destoca do terreno,

demarcação e construção de curvas de nível e demais técnicas de conservação dos

solos. Por outro, o trabalho de orientação técnica aos assentados coube ao Instituto

de Assuntos Fundiários (IAF) que destinou um agrônomo responsável pela

coordenação do projeto.

Da área total do projeto 14 ha foram destinados a agrovila, correspondendo a

casa parceleiro 1(um) lote de 50x100 m para a construção da residência, onde

posteriormente foi dotado de água e energia elétrica.

Sendo a água da fazenda Cocais coberta por vegetação desta última foi

aproveitada para madeiramento de cobertura das moradias e demais construções

previstas na agrovila.

ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO.

Os trabalhadores trouxeram experiências diversificadas para o assentamento.

No primeiro no agrícola (safra 85/86), adotou-se o sistema coletivo de

exploração das terras. Entretanto, o despreparo dos assentados quanto à produção

coletiva, aliado a ideia de exploração familiar da terra, acabou prevalecendo à

segunda.

Então, adotou já no segundo ano agrícola a forma de exploração familiar da

terra. O assentamento passou a partir da safra 86/87, a ter além de um lote na

agrovila, o direito de uma área em torno de 12 ha. Cabe ressaltar que o lote da

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agrovila de 5000 m² possui um caráter complementar de subsidência das famílias,

como criação de animais e aves, hortas e pomares.

A partir da safra 86/87 a exploração dos lotes foi realizada com tarefas

coletivas e familiares. As tarefas coletivas passaram a ser o preparo do solo, plantio,

colheita, armazenamento e comercialização. As tarefas familiares consistiram na

escolha dos tipos de culturas, nos tratos culturais e financeiros.

Na primeira safra 85/86, de produção coletiva, a cultura predominante foi a do

arroz, com uma área plantada de 312 ha.

Na segunda safra 86/87, de produção familiar tivemos 192 ha de arroz, 92 ha

de milho e 48 ha de feijão.

Na terceira safra 87/88, as principais culturas foram de 96 ha de feijão, 96 ha

de soja, 72 ha de arroz e 72 ha de milho.

No primeiro ano agrícola do assentamento (85/86)- em virtude da organização

coletiva, foi possível que os assentados obtivessem junto á Caixa Econômica do

Estado de São Paulo, os financiamentos necessários para a aquisição de 1(um)

trator e implementos/insumos agrícolas.

A partir de 1986 com o parcelamento da gleba e a urgência de novos

financiamentos houve a necessidade da criação de uma associação entre os

assentados, da elaboração de um Estatuto e Regimento Interno.

OS AVANÇOS OBTIDOS PELOS ASSENTADOS DE CASA BRANCA

Considerando a forma de organização da produção, coexiste a exploração do

trabalho comunitário e do trabalho familiar.

Quanto à forma de exploração comunitária, o avanço é explicado pela

organização dos envolvidos através da criação da Assembleia dos Assentados.

Essa associação teve papel importante para a aquisição de maquinários agrícolas,

insumos, construção de escolas – até o 4º ano do primeiro grau-, construção de

depósito para armazenagem da produção, construção do barracão para máquinas e

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17

implementos, eletrificação e água para as residências da agrovila e até um telefone

para o uso das famílias dos assentados.

Na safra de 87/88, após quatro anos no assentamento, todas as 23 famílias

construíram suas residências de alvenaria. Também por meio de um balanço da

evolução da tecnologia utilizada, apresenta um resultado econômico bastante

satisfatório dos trabalhadores assentados. Atualmente possuem 3 tratores, uma

carreta para transporte, 32 carroças, além de um conjunto de equipamentos para

arado, grades, etc. Encontramos duas família que já implementaram o sistema de

irrigação abrangendo uma área de 24 ha.

Através do planejamento prévio do projeto, a sua forma de organização

associativa, o número famílias envolvidas, a assistência intensiva de 1 (um)

agrônomo e um técnico do IAF (desde a implementação do assentamento), vem

garantindo uma receita para os investimentos e capitalização, gerando melhores

condições de vida para as famílias do Projeto Cocais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Análise e Avaliação dos Projetos de Reforma Agrária e Assentamento no Estado de

São Paulo. São Paulo - UNESP – 1987. (Projeto Inicial)

CLEPS Jr; KAHIL, S; BRAY, S. C. A experiência do primeiro ano no assentamento

rural dos Cocais – Município de Casa Branca (SP). 7º Encontro Nacional de

Geografia Agrária. II Anais – Belo Horizonte – UFMG – 1986 – 33-37.

FERRANTE, V. L. B. e SILVIA, M. A. M. – A política de assentamento; O jogo das

forças sociais no campo. V Conferência Científica de Ciências Sociais. Havana,

Cuba, fevereiro de 1987.

LEITE, S. P. A política de assentamento no Estado de São Paulo: 1983 – 1987.

PIPSA. Campinas. 1987.

PEREIRA, L. B. Os projetos de assentamento em São Paulo (um diagnóstico

preliminar). Reforma Agrária. Campinas – ABRA, 16 (2): 43/51 – 1986.

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18

Bolsa de Iniciação Científica – CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico).

Qualidade (d) e Vida no Assentamento do “Cocais” – Casa Branca (SP).

Mari Urbani8

Enéas Rente Ferreira9

INTRODUÇÃO

AS POLÍTICAS FUNDIÁRIAS DE REFORMA AGRÁRIA

Os fatores que intervém no sentido da colonização do Brasil, entre os quais a grande escassez de mão -de-obra e grandes extensões de terras disponíveis, definiram a sua estrutura fundiária altamente concentrada onde grandes contingentes de população se acha desprovida de terras, o que tem ocasionado muitos conflitos sociais no campo. (Ferrari, Silveira e Libório, 1988).

Tentando minimizar estes conflitos, o governo federal tem, ao longo da

história, proposto vários planos de Reforma Agrária.

Foi no Governo de João Goulart no início da década de 60, que esses planos

de Reforma Agrária assumiram proporções maiores com a criação da

Superintendência de Reforma Agraria (SUPRA) em 1962.

Com o início da ditadura militar, há uma mudança na política referente à

Reforma Agrária. O estatuto da Terra foi aprovado, como forma encontrada de

arregimentar setores antes empenhados na efetivação de distribuir terras e dissolver

conflitos e tensões latentes em torno do assunto.

8 Discente / Estagiária de Graduação em Geografia – UNESP – Rio Claro (SP) / 1989. 9 Professor / Orientador - Departamento de Geografia – UNESP/ Rio Claro / Brasil.

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19

No período pós-64, executou-se, durante o Governo Médici, e politica de

Colonização da Amazônia, que reconhecidamente foi um instrumento de repressão

aos movimentos sociais rurais e não obteve os resultados previstos em decorrência

da forma de operacionalização do Plano de Integração Nacional (PIN) e do Pro

Terra.

Em 1970, com a orientação do Instituto Nacional de Colonização e reforma

Agrária (INCRA), tentou-se desenvolver a “Metodologia para Programação

Operacional dos Projetos de Assentamento de Agricultores”. Ainda no decorrer da

década de 70 e início da década de 80, foram implantados outros projetos de

assentamentos/colonização pelo INCRA, mantendo o caráter conservador que

assumia este tipo de intervenção.

Somente a partir do processo de abertura democrática, aliado à mobilização

do movimento dos trabalhadores rurais sem terra, o governo estadual passou a

acatar ainda que gradualmente, as reinvindicações pela ocupação de áreas rurais

ociosas.

Atrelado a esta política agrária federal, sem o poder de desapropriação e

limitando-se ao aproveitamento de terras públicas, o Governo do Estado de São

Paulo deu início, em 1983, à implantação da sua política fundiária, baseada em duas

diretrizes básicas;

a) O programa de Assentamento de Trabalhadores Rurais;

b) O processo de regularização fundiária.

A experiência em assentamentos e reforma agrária em São Paulo, teve seu

início no Governo Pinto (1959/1962) através da Lei de Revisão Agrária.

Esses tímido início de acesso a terra pelos trabalhadores rurais de então, foi

extinto ao decorrer dos governos que sucederam com a ditadura militar.

O Estado de São Paulo dispõe de extensas áreas de terras –devolutas- de

boa qualidade e de clima favorável que são hoje utilizadas com pastagens ultra-

extensivas, incompatíveis com os benefícios trazidos por grandes investimentos

públicos que dera á agricultura do Estado uma das melhores infraestruturas

produtivas e um dos melhores sistemas de pesquisa e assistência técnica integral.

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20

Ao mesmo tempo a irrigação de áreas férteis ás margens dos rios e barragens,

desde que acompanhada da redistribuição das terras por ela valorizadas, poderá

contribuir para um ponderável e rápido aumento da produção, do emprego, e de

todos os benefícios sociais dela decorrente.

“Sanados os problemas fundiários que atrofiam o desenvolvimento de

diversas regiões, o Estado de São Paulo poderá acelerar ainda mais o dinamismo e

a modernização de sua agricultura”. (PNRA/ 1986).

É importante salientar que existem ainda no Estado de São Paulo mais de

milhão de hectares de terras particulares agriculturáveis que não estão sendo

utilizadas com agricultura, pastagens, florestas. Por sua vez, o único levantamento

mais objetivo – a cobertura aerofotogramétrica do Estado – revela a existência de

4.8 milhões de ha de terra “sem ocupação agropecuária ou florestal definida”. A

parte desse total deve corresponder a terras potencialmente agriculturáveis supera,

1 milhão de ha e está mais concentrada na região Sudeste.

Não somente é no Sudeste que a cobertura aerofotogramétrica indica a maior proporção de áreas sem ocupação definida, como é fato largamente comprovado pela observação empírica que ali existem as maiores extensões de áreas aptas à agricultura, mas totalmente inaproveitadas. (PNRA/1986)

Verifica-se, portanto, que boa parte das terras aptas à agricultura do Estado

de São Paulo não está cumprindo a sua função social. Ao invés de buscar os

resultados do uso nacional da terra, muitos proprietários visam apenas, ou

principalmente a valorização fundiária que decorreu de grandes obras públicas ou do

influxo indireto de outras atividades da iniciativa privada. Mantendo terras inativas ou

mal aproveitadas, esses proprietários vedam o acesso dos trabalhadores rurais ao

meio de que necessitam para viver e produzir, dificultando o progresso do Estado da

nação.

O processo de Reforma Agrária será orientado de acordo com um conjunto de

Programas que assume função e graus hierárquicos diferentes, mas que

apresentam complementariedades, interdependência e que a priori, utilizará as

terras ociosas públicas do Estado.

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21

O Programa Básico, que define e configura o processo de transformação das

relações de propriedades e melhoria de condições de acesso a terra, é o Programa

e Assentamento de Trabalhadores Rurais, a concepção do projeto técnico contará

em dois níveis e fases, com uma participação direta dos beneficiários, em particular

no que se refere às decisões sobre as formas processórias de uso da terra.

A partir de 1983 foram implantados sob a responsabilidade dos órgãos

competentes aos Projetos de Reforma e Assentamento em São Paulo.

Em 1985, o governo estabeleceu as leis 4925 e 4957 sobre os

assentamentos, tratados sobre os planos públicos de valorização e aproveitamento

de recursos fundiários do Estado e sobre a alienação de terras públicas aos

trabalhadores rurais que as ocupem e as explorem.

O presente estudo pretende avaliar o processo de assentamento, no que diz

respeito à melhoria das condições de vida das famílias beneficiadas, uma vez que, a

estratégia e as diretrizes do Programa de Assentamento de trabalhadores Rurais

propõem medidas que seguramente têm esse objetivo.

LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O assentamento Rural dos “Cocais” está localizada próximo à sede municipal,

numa antiga área do Hospital de Hansenianos da Secretaria da Saúde do Estado de

São Paulo. (FIGURA 1). Com a desativação do referido Hospital da Fazenda Cocais,

as terras agrícolas passaram para a secretaria da agricultura e abastecimento do

Estado com o devido interesse da prefeitura municipal de Casa Branca em

transforma-las em áreas de assentamento de trabalhadores rurais. A transferência

da gleba para a secretaria de agricultura e abastecimento (SAA) teve a finalidade de

servir ao Programa fundiário do atual governo paulista.

O projeto “Cocais” insere-se no exemplo de assentamento de trabalhadores

rurais em terras públicas estaduais, procurando envolver os beneficiários em todas

as fases do Programa. O processo de transferência de terras públicas próprias do

governo do Estado pode ser feita em duas etapas:

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22

Figura 1. Org. URBANI E FERREIRA – 89.

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23

- a primeira com duração máxima de cinco anos, as terras são cedidas

mediante pagamento de uma anuidade, preferencialmente a grupos de

trabalhadores rurais que se organizam, voluntariamente em algum tipo de

associação (sociedade civil ou cooperativa) a fim de lhes darem o aproveitamento

adequado com seu próprio trabalho;

- na segunda, as terras serão transferidas aos beneficiários em caráter

permanente de acordo com a modalidade que estes, livremente determinarem –

sendo necessária a aprovação legislativa no caso de alienação.

No contrato, estipular-se-ão, de comum acordo, e após discussão com os

beneficiários, as condições básicas de exploração econômica do imóvel e a forma

de organização do trabalho no interior de cada grupo; bem como a operação

financeira da sociedade (compras, vendas, contabilidade, remuneração do trabalho,

etc.)” (CLEPS, BRAY, KAHIL, 1987).

O total de terras dos “Cocais” é de 721 ha, sendo 455 ha destinados para o

assentamento, que teve início em setembro/85.

O critério de escolha dos trabalhadores baseou-se em experiência lavoura,

maior número de filhos e disponibilidade.

Dos 455 ha, 14 ha foram destinados à Agrovila, o assentamento passou a ter,

a cada parceiro, 1 lote de 50 m por 100 metros para a construção das residências e

foi dotado de energia elétrica e água. Além desse lote com características urbanas

na Agrovila, o Assentamento passou a ter, a partir de setembro de 1986, o direito de

uma área em torno de 13 ha destinado ao cultivo.

Os financiamentos para compra do primeiro trator (usado), plantadeira, grade,

carreta, animais de tração e demais instrumentos de trabalho e insumos (adubos e

fungicidas) foram conseguidos juntos a Caixa Econômica Estadual através de

empréstimos, onde casa assentado torna-se fiador do outro, fato que torna mais

difícil ao Banco executar qualquer ação em caso de atraso no pagamento, como

também se perde menos tempo na cidade.

No primeiro ano dos assentados o dinheiro arrecadado da colheita serviu

apenas para saldar os compromissos com empréstimo levantado.

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24

O referido assentamento foi desenvolvido em bases empresariais modernas

com o apoio da Campanha Agrícola Imobiliária e Colonizadora (CAIC) e o Instituto

dos Assuntos Fundiários (IAF). Ambos os órgãos foram desligados no inicio de 1986

da Secretaria da Agricultura e Abastecimento e passaram a constituir a Secretaria

Extraordinária de Assuntos Fundiários do Governo do Estado de São Paulo (SAEF),

Universidades Estaduais, Casas de Agricultura e Bancos Estaduais.

METODOLOGIA E OBJETIVOS

Este trabalho faz parte de um projeto mais amplo, contando com 7 campus e

8 institutos da UNESP10, em 27 núcleos com 30 assentamentos, distribuídos pelo

Estado de São Paulo. Sendo que este refere-se ao Assentamento dos “Cocais” –

Casa Branca (SP).

O instrumento usado para levantamento dos dados foi um formulário de

informações, contendo 203 questões de caráter variado, agrupados em 11 itens.

Para preencher os objetivos deste trabalho foram tomados os seguintes itens:

- A família no Assentamento;

- Condições de vida e habitação;

- Condições de saúde;

- Condições de educação;

- Projetos de vida.

Através das questões contidas nestes itens obteve-se os seguintes dados:

- de caráter individual: idade, sexo, grau de instrução e perfil migratório da

família;

- condições de vida no assentamento e 10 Araraquara, Jaboticabal, Marília, Presidente Prudente, Rio Claro, Ilha Solteira, Botucatu ( Institutos de Medicina e Ciências Agrárias).

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- perspectivas futuras da comunidade.

O trabalho de campo, que procedeu a aplicação das questões foi feito no

período de março-junho de 1989 e seus resultados serão analisados e discutidos a

seguir.

Este trabalho tem por objetivo fundamental contribuir para uma avaliação das

condições de vida no assentamento rural dos “Cocais” (SP), e através desta

avaliação constatar ou não validade do Programa de Assentamentos de

trabalhadores Rurais.

APRESENTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO ASSENTAMENTO

POPULAÇÃO a) Idade e Sexo: A população deste estudo é constituída de 155 pessoas

residentes no assentamento “Cocais”, em Casa Branca (SP),

distribuídas em 22 famílias, com idades variando entre 77 anos e 1

mês (TABELA 1) e de ambos os sexos, sendo que do total, 68 são do

sexo feminino e 87 do sexo masculino.

TABELA 1 – DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO POR IDADE (N = 155)

0-

5

5-

10

10-

15

15-

20

20-

25

25-

30

30-

35

35-

40

40-

45

45-

50

50-

55

55-

60

60-

65

65-

70

70-

75

75-

80

Total

15 15 27 24 21 9 9 5 6 10 8 5 - - - 1 155

b) Perfil Migratório: Com o objetivo de caracterizar a população do

assentamento, o formulário levantou dados quanto ao perfil migratório

da população, segundo:

- local de origem: município onde residam;

- zona de moradia (rural ou urbana);

- setor de ocupação.

(TABELA 2)

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26

Estes dados permitiram avaliar o fluxo migratório dos vários tipos humanos

assentados em Casa Branca (SP).

Os deslocamentos dessas pessoas ocorreram durante o período de 1931 a

1985, ano em que teve início o processo de assentamento.

Podemos observar que a grande maioria dos assentados são provenientes da

região de Casa Branca; salvo uma exceção, em que o assentado migrou de Bom

Conselho (PE). (FIGURA 2).

TABELA 2 – PERFIL MIGRATÓRIO

Nº Município Rural/Urbana Período Ocupação Rel. de

Trab. Culturas

Dir.

Trab.

Herd.

Terras

01 C. Branca Rural 1966-

1989 Trab. Rural Assalariado Laranja Sim Sim

02

Mococa SP

Rural

1941-

1976

Lavrador

Assalariado

Café,

Laranja,

Milho e

Arroz.

Não

Não

C. Branca Rural 1976-

1989 Lavrador Assalariado Laranja Sim -

03

Esp. Santo

do Pinhal

Rural

-1960

Retilheiro

Assalariado

-

Não

Não

Vargem Gr.

Do Sul

Rural

1966-

1985

Agricultor

Meeiro

Arroz,

Feijão e

Milho

Sim

Não

C. Branca Rural 1985-

1989 Agricultor Proprietário

Arroz,

Feijão,

Milho

- -

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27

04

Sta. Rita

Passa

Quatro

Rural

-

Lavrador

Assalariado

Arroz,

Feijão, Café

Sim

Não

C. Branca Rural - Lavrador Assalariado Arroz,

feijão, Café Sim Não

05 C. Branca Rural 1970-

1989 Lavrador Assalariado Arroz, Cana Não Não

06

S. José do

R. Preto Rural

1934-

1946

Lavrador Assalariado Café Não Não

Tambaú Rural 1946-

1962 Lavrador Meeiro Cereais Não Não

C. Branca Rural 1962-

1989 Lavrador Assalariado Laranja Sim Não

07

Tapiratiba Rural 1930-

1944 Lavrador Assalariado Café Não Não

Aceburgo

MG Rural

1944-

1950 Lavrador Assalariado Café Não Não

C. Branca Rural 1950-

1989 Lavrador Assalariado Cereais Não Não

08

Bom

Conselho-PE Rural

1935-

1958 Lavrador Assalariado Cereais Não Não

Pres.

Wenceslau Rural

1958-

1966 Lavrador Autônomo Cereais Não Não

Bandeirantes

– PR Rural

1966-

1976 Lavrador Parceiro Cereais Não Não

Limeira Rural/Urbana 1976-

1980

Vendedor

Metalurg. Assalariado - Sim Não

C. Branca Rural 1980- Hortaliças Meeiro Verduras Não Não

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28

1989

09

S. João da

B. Vista Rural - Lavrador - Todo tipo - Não

C. Branca Rural - Lavrador - Todo tipo - Não

10 C. Branca Rural Até

1989

Cortador

Lenha e

Lavrador

Assalariado

Cereais,

Legumes

Laranja

Sim Não

11

Aguaí Rural 1951-

1965

Menor de

Idade - - - Não

C. Branca Rural 1965-

1989 Agricult. Assalariado Cereais Sim Não

12

Sta. Rita de

Caldas Rural - Lavrador Assalariado Viticultura Não Não

C. Branca Rural A p/

1962

Lavrador e

Administ.

Fazenda

Assalariado

e Parceiro

Viticultura,

Citric. e

Café

- Não

13

Guaranésia-

MG Rural 1942

Menor de

Idade - - - Não

C. Branca Rural - - - - - Não

14 C. Branca Rural Até

1989 Lavrador - Cereais - Sim

15

Tapiratiba –

SP Rural

1939-

1951

Menor de

Idade - - - Não

C. Branca Rural 1951-

1989 Lavrador

Assalariado

Parceiro Cereais Não Não

16

S. Sebastião

da Gama Rural

1989-

1953

Trabalhava

em Colônia Assalariado Café Sim Não

C. Branca Rural/Urbana 1953-

1989

Trabalhou na

cidade e

Lavrador

Assalariado Cereais Sim Não

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29

17

C. Branca Urbana 1966-

1978 Menor - - - Não

Sta. Rita do

Viterbo Rural

1978-

1985 Leiteiro Assalariado - Sim Não

R. Preto Rural 1985 Ajudava os

pais - Cereais Não Não

Porto

Ferreira Urbana 1985 Cerâmica Assalariado - Sim Não

C. Branca Rural 1985-

1989 Assentado - - - Não

18

Campestre –

MG Rural

1937-

1944 Menor - - - Não

Tambaú Rural 1944-

1953 Menor - - - Não

C. Branca Rural 1953 Lavrador Assalariado Cereais Não Não

Sta. Cruz

das

Palmeiras

Urbana 1953 Servente

Pedreiro Assalariado - Sim Não

Araras Urbana 1953-

1957 Fábrica Assalariado - Sim Não

C. Branca Rural 1957-

1989 Lavrador Assalariado Cereais Não Não

19 C. Branca Rural Até

1989 Lavrador Assalariado Cereais Não Sim

20

Guaranésia

– MG Rural

1939-

1948 Menor - - - Não

Asseburgo Rural 1948-

1954 Lavrador Autônomo Cereais Não Não

Guaranés Rural 1954-

1967 Lavrador Assalariado Cereais Não Não

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Asseburgo Rural 1967-

1968 Lavrador Assalariado Cereais Não Não

C. Branca Rural 1968-

1989 Lavrador Assalariado Cereais Sim Não

21

Tapiratiba Rural 1929-

1931 - - - - Não

Pres.

Prudente Rural

1931-

1946 Estudante Colono - - Não

Nova Pátria Rural 1946-

1947 Lavrador Arrendatário

Hortelã

Pimenta

Algodão

Milho e

Arroz

Não Não

Óleo – SP Rural 1947-

1954 Lavrador Colono Café Não Não

Sta. Cruz do

Rio Pardo Rural

1954-

1970

Fiscal na

Fazenda Assalariado - Não Não

São Paulo Urbana 1970-

1980 Assalariado Assalariado - Sim Não

C. Branca Rural 1980-

1989

Administrador

de Fazenda e

Assentado

Assalariado Cereais - Não

22

Poços de

Caldas – MG Rural

1952-

1958 - - - - Não

Águas da

Prata- SP Rural

1958-

1962

Gado e

lavoura Assalariado Cereais Não Não

Sta. Cruz

das Palmeira Rural

1962-

1966

Gado e

lavoura Assalariado Cereais Não Não

Itobi Rural 1966-

1970

Gado e

lavoura Assalariado Cereais Não Não

Vargem Gr Rural 1970- Lavoura Parceiro Cebola Não Não

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31

do Sul 1973

Águas da

Prata Rural

1973-

1974 Lavoura Assalariado

Café,

algodão e

soja

Sim Não

Vargem Gr

do Sul Urbana

1974-

1980 Lavoura Assalariado

Milho,

Batata Sim Não

C. Branca Urbana 1980-

1982 Lavoura Assalariado

Soja,

Palma,

Algodão

Sim Não

Itobi Rural 1982-

1983 Lavoura Parceiro Cebola Sim Não

Vargem Gr

do Sul Urbana

1983-

1985 Indústria Assalariado

Metalúrgica

e Cerâmica Sim Não

C. Branca Rural 1985-

1989 Lavoura Proprietário Cereais Sim Não

Das 22 famílias entrevistadas, seis chegaram a se estabelecer em zona

urbana exercendo atividades ligadas aos setores secundário e terciário. Nota-se na

tabela 2 (Perfil Migratório) que a grande maioria sempre trabalhou no campo e que a

relação de trabalho mais comum era a assalariada e nem sempre o trabalhador tinha

seus direitos garantidos por lei (carteira de trabalho assinada).

As causas da migração foram sempre a busca de melhores condições de

trabalho e vida.

c) Situação Salarial: A situação salarial dos assentados é discutível

quando traduzida em números, pois quando inqueridos sobre este

assunto se mostram pouco à vontade. As respostas demonstram que:

dos que responderam a esta questão (60,0% dos entrevistados) a

maior parte, 54,2%, recebem de 1 a 3 salários mínimos, 5,8% recebem

1,5 salário e 1 salário.

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32

Figura 02.

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33

CONDIÇÕES DE VIDA NO ASSENTAMENTO

De acordo com o levantamento realizado, detectou-se que a maior parte das

famílias teve suas condições de vida modificadas para melhor após a vinda para o

assentamento. Os pontos mais lembrados pelos entrevistados como referencial

desta melhoria foram:

- alimentação

- moradia/Casa própria

- trabalho

- energia elétrica

- saúde e saneamento

- poder aquisitivo

Entretanto, os assentados ainda enfrentam várias dificuldades, quais sejam:

transporte, irrigação, falta de maquinário, dificuldades de financiamento, falta de

escola e de lazer; ainda foi citada a questão da legalização da posse da terra, cuja

preocupação, embora não muito comentada, foi percebida no decorrer das

conversas.

A) Saúde e Saneamento:

As respostas dadas às questões relativas às condições de saúde indicaram

que a grande maioria goza de boa saúde, isto pode ser constatado inclusive

através da observação dos indivíduos assentados, que demonstram estar

fisicamente bem.

Dentre as famílias entrevistadas 31,0% apresentaram doenças consideradas

simples como, por exemplo, gripe e 13,6% já apresentaram problemas de

intoxicação por agrotóxicos. Presume-se que tal problema ocorre devido à

desinformação quanto aos cuidados que devem ser tomados com a utilização de

agrotóxicos, pois, percorrendo o assentamento foram encontrados galões de

produtos químicos jogados a céus aberto, sem que sejam tomadas as devidas

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precauções. Foram tomados alguns depoimentos de assentados que fizeram

referência à utilização indiscriminada de agrotóxicos nas imediações que

frequentemente causam problemas à comunidade devido ao forte odor que é trazido

pelos ventos no momento da aplicação dos produtos.

Como já foi citado os assentados enfrentam algumas dificuldades com relação ao

transporte, dificuldade esta que interfere nos cuidados com a saúde da comunidade

principalmente das crianças, já que esses precisam se locomover até a cidade de

Casa Branca para gozarem de benefícios de saúde, pois os assentamento não

possui hospital, nem mesmo posto de saúde. É importante salientar que o

assentamento é desprovido de transporte como ônibus, dificultando a vida dos

assentados no dia – a – dia, pois o assentamento dista 7 km de Casa Branca.

Apesar dos assentados enfrentarem dificuldades com o transporte para cuidarem

da saúde, eles possuem convênios médico-dentário, o que ameniza a situação.

Quanto ao saneamento, constatou-se que todo o assentamento é provido de luz

elétrica e a água é retirada da um único poço artesiano grande. A instalação

sanitária é para uso exclusivo de cada família, sendo 59,1% dentro de casa; 40,9%

fora de casa, dividindo-se em quatro tipos:

• Fossa séptica → 65,4%

• Fossa seca →18,1%

• Fossa negra →10,0%

• Valeta → 4,5%

B) Habitação:

A questão habitacional foi uma conquista para todos os assentados. Isto foi

percebido tanto pelas respostas dadas às questões do formulário, quanto em

conversas, quando todos se mostram satisfeitos com suas moradias.

Todas as casas são de alvenaria como número de cômodos variando entre dois

e seis. O piso das casas, em sua maioria 85,5% é feito de cimento; 10% são feitos

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de tijolos e 4,5% feito de cerâmica. Todos possuem cobertura de telha de cerâmica;

apenas uma casa é coberta com telha “Eternit”.

Quanto à aquisição do material para construção das casas, todos utilizaram a

madeira resultante do desmatamento da área do assentamento e compraram o

restante dos materiais de acordo com as posses e necessidades de cada família.

C) Educação:

A infraestrutura escolar do assentamento se resume em uma sala de aula que

funciona em prédio provisório, tipo barracão. O sistema de funcionamento é o

multisseriado, ou seja, as 34 crianças que a frequentam, cursam séries diferentes

do primeiro grau. (TABELA 3)

TABELA 3 – NÍVEL DE ESCOLARIDADE DOS ASSENTADOS (N=155)

PRIMÁRIO GINÁSIO* COLEGIAL** SUPERIOR ANALFABETOS TOTAL***

COMPLETO 26 5 3 1 13 48

INCOMPLETO 40 13 3 - - 56

CURSANDO 29 5 - - - 34

TOTAL 95 23 6 1 13 138

*ATUAL 1º GRAU

**ATUAL 2º GRAU

***17 INDIVÍDUOS NÃO ESTÃO EM IDADE ESCOLAR

Conforme mostra a Tabela 3, a população de assentados possui um nível de

escolaridade que parece de acordo com os padrões da população rural brasileira.

Há vários casos de analfabetismo e muita evasão escolar, demonstrado pelo

número de pessoas que não concluíram o primeiro grau. Deve-se, no entanto, notar

que existe um número considerável de jovens que ainda estão cursando o primeiro e

segundo grau e, salientar ainda, que há um indivíduo com curso técnico e outro com

curso superior, completos.

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PERSPECTIVAS DE VIDA FUTURA

A par dos levantamentos que forneceram dados à situação de vida real dos

assentados, foi feito um segundo levantamento também através de formulário,

buscando elencar as medidas consideradas pela população dos assentados, como

fundamentais para contribuírem na elevação do nível de vida no assentamento.

As respostas dadas indicaram que a vida de todos mudou para melhor, pela

estabilidade que agora tem no assentamento. Isto ficou claro ao serem perguntados

se eles pretendem ficar no assentamento e todos foram unanimes em responder que

sim, justamente pelas condições de vida que agora alcançaram.

O formulário permitia também que os assentados pudessem opinar sobre a

perspectiva de educação para seus filhos e netos. A maioria defende que seria

interessante que existissem todos os níveis escolares desde alfabetização de

adultos, até segundo grau e cursos profissionalizantes. Entre estes os mais

indicados foram:

• Mecânico

• Técnico agrícola

• Culinária e nutrição

Foi ainda colocado que a melhor época para o ano letivo seria o período da

entre – safra, pois por causa da lavoura muitas crianças e jovens em idade escolar

são obrigados a abandonar a escola, causando decepção aos pais, pois quando

inquiridos sobre: “quanto tempo gostaria que os filhos estudassem?” 22,7%

responderam que gostariam que os filhos completassem o primeiro grau; e 77,3%

gostariam que os filhos chegassem ao nível superior.

O que mais impressionou, foi que para o futuro o principal desejo e

preocupação é com o título de posse da terra. Todos os entrevistados sem exceção

acreditam que o documento, é a maior garantia que tem no presente para facilitar a

produção (crédito e financiamento) e, no futuro a maior segurança para os filhos.

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CONCLUSÃO:

Para concluir deve ser salientado que quando da realização do trabalho com

formulários, geralmente as respostas não são totalmente verdadeiras; talvez por

medo de represálias, já que os assentados sentem-se inseguros por não possuírem

ainda o título da terra.

O maior problema de inverdades ocorreu quando se inquiriu sobre a situação

salarial. Pouco mais da metade responderam a esta questão, sendo que pelas

respostas os salários variam entre: 1 a 3 salários mínimos a 1 salário mínimo. Mas,

em conversa e observações pode-se perceber que alguns dos assentados possuem

sistemas de irrigação próprios; outros compraram terrenos e construíram casa para

os filhos casados. Note-se que começam a existir casamentos entre as famílias dos

assentados.

De acordo com o objetivo do trabalho podemos concluir ainda, que o

Programa de Assentamento de Trabalhadores Rurais têm alcançado suas metas

como:

- participação direta dos beneficiários em todos os níveis e fases da

implantação do assentamento.

- utilização, em primeira mão, das terras ociosas do Estado, para maior

valorização e aproveitamento, o que tem acontecido no assentamento dos ‘’Cocais’’

(SP).

Apesar de todas as dificuldades, comuns a toda a sociedade brasileira, os

assentados estão felizes com as suas conquistas, em assembleias promovidas pela

associação existente no assentamento e isto demonstra, acima de tudo, capacidade

e organização.

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BIBLIOGRAFIA ANTEPROJETO do Plano Regional de Reforma Agrária – PRRA para 1986. MIRAD,

INCRA (Diretoria Regional de São Paulo).

ANTONIO, A. Pereira.. ‘’Organização do Espaço Agrário no Projeto Integrado de

Colonização Rebojo-Inca. Município de Estrela do Norte – SP.’’

CLEPS, Jr. J.. ‘’O processo de Assentamento Rural no Pontal do Paranapanema: A

Gleba do Ribeirão Bonito. UNESP, Presidente Prudente, 1986.

CLEPS, Jr. J., FERREIRA, E. R., BRAY, S. C.. ‘’Os projetos de Assentamento de

Trabalhadores Rurais no Estado de São Paulo’’. Anais II Encontro de Geógrafos da

América Latina, Montevideo, Uruguai 1988, p. 67-78.

CLEPS, JR. J., KAHIL, S., BRAY, S. C.. ‘’A experiência do primeiro ano no

assentamento rural dos Cocais – Município de Casa Branca (SP). 7º Encontro

Nacional de Geografia Agrária. II Anais – BELO Horizonte – UFMG, 1986, p. 33-37.

ESTUDOS Básicos Para o Planejamento Municipal: Regente Feijó. Curso: Gerente

Urbano II, 1980 (CNDU-SEP/CAP-UNESP/IPEA).

FERRANTE, V. L. B. e SILVA, M. A. M.. A política de assentamento: O jogo das

forças sociais no campo. V Conferência Científica de Ciências Sociais – Havana,

Cuba, fevereiro de 1987.

PEREIRA, L. B.. Os projetos de Assentamento em São Paulo (um diagnóstico

preliminar). Reforma Agrária. Campinas – ABRA, 16(2): 43/51, 1986.

PROPOSTA de Políticas Emergenciais para o desemprego sazonal dos Boias –

Frias, outubro, 1984.

SPELLER, M. A. R.. ‘’Morbidade levantada pelo estudo dos serviços de saúde da

Região do Polonoroeste’’. Universidade – Revista, UFTM, Cuiabá, ano IV, n.3, set-

dez.,1984.

VIANA, M. T. R.. São Miguel Paulista o chão dos desterrados (Um estudo de

migração e de Urbanização). Dissertação de Mestrado, USP, 1982.

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XII Encontro Nacional de Geografia Agrária Rio Claro/Águas de São Pedro.

Bol. Geogr. Teor. 25 (49-50): 627-638, 1995.

Os 10 anos de atividades do Assentamento Rural dos “Cocais” no município de Casa Branca – SP.

Enéas Rente Ferreira11

Silvio Carlos Bray12

Resumo

A área do Assentamento dos Cocais foi incorporada pela Secretaria da Agricultura

do Governo de São Paulo em 1985, num total de 575 h.. Nesta área foram

assentadas 23 famílias de trabalhadores rurais. Dos 575 ha., 14 ha. foram

destinados à Agrovila, onde os assentados construíram as suas residências em lotes

de 5000 m2 cada um, dotados atualmente de água encanada e energia elétrica.

Também, cada assentado recebeu 13 ha. para o cultivo. Atualmente o principal

cultivo é o de milho e arroz.

Palavras chaves: Assentamento Rural, Reforma Agrária e Trabalhadores Rurais.

The organization process o ver 10 years of the rural settlement of Cocais, at Casa Branca municipality - State of São Paulo (Brasil)

Abstract

The Cocais settlement area was incorpored by Agriculture Sacretaryship ofthe São

Paulo government in 1985, with 575 ha. In this área were set 23 country

worker'sfamilies. Among 575 ha., 14 ha. had been used by the Agrovila, where the

seated had built their houses in five Thousand m2 (about) each one, which has water

closed and eletrical energy. Besides, each family got 13 ha. for cultivation. Nowadays

the main cultivation is corn and rice.

Key words: Rural Settlement, Agrárias Reform and Rural Workes.

11 Departamento de Geografia/ UNESP/ Rio Claro/ Brasil.

12 Departamento de Planejamento Regional/ UNESP/ Rio Claro / Brasil.

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Introdução

A experiência em assentamentos e reforma agrária em São Paulo, teve o seu

início no Governo Carvalho Pinto (1959/1962) através da Lei de Revisão Agrária.

Esse tímido início de acesso a terra pelos trabalhadores rurais de então, teve

continuidade no Governo de Adhemar de Barros se extinguindo no decorrer dos

governos que se sucederam com a ditadura militar após 1964.

Somente a partir do processo da abertura democrática, conquistado com as

eleições diretas para governador do Estado em 1982, aliado à mobilização do

movimento dos trabalhadores rurais sem terra, o governo estadual passou a acatar

ainda que gradualmente, as reinvindicações pela ocupação de áreas rurais ociosas.

O ano de 1983 veio marcar o reinício de uma série de focos e tensões sociais

no Estado de São Paulo, principalmente nas regiões do Vale do Ribeira e Pontal do

Paranapanema, áreas com graves distorções fundiárias e onde a questão da posse

da terra não estava judicialmente definida.

Em face das mobilizações populares na luta pela posse da terra, levou o

governo de São Paulo em 1983, a criar a Coordenadoria Sócio-Econômica da

Secretaria da Agricultura e Abastecimento, subdividida no Instituto de Assuntos

Fundiários e o Instituto de Cooperativismo e Associativismo, realizando o inventário

dos bens imóveis rurais do Estado.

A partir desse ano foram implantados sob a responsabilidade dos órgãos

competentes os Projetos de Reforma Agrária e Assentamentos em São Paulo.

Em 1985, o governo de São Paulo implantou as Leis 4925 e 4957, tratando

sobre os assentamentos e os planos públicos de valorização e aproveitamento de

recursos fundiários do Estado e a respeito da alienação de terras públicas aos

trabalhadores rurais que ocupem e as explorem.

Há que se reconhecer por certo, o recuo pelo Mirad-Incra no objetivo central

da então apresentada proposta para a realização do Plano Nacional de Reforma

Agrária. Todavia, torna-se fundamental no presente momento concentrar esforços

para poder corrigir as distorções que venham apresentar qualquer projeto de

assentamento de trabalhadores rurais, e garantir esse movimento de luta por

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condições mais dignas desta população de camponeses ou de trabalhadores

assalariados que possuem uma ideologia camponesa.

Mal ainda iniciado o processo pelos órgãos federais, cabe ainda mostrar

como a questão fundiária vem sendo proposta pelos governos estaduais. O estudo

do Projeto de Assentamento "Cocais" no município de Casa Branca vem caracterizar

essa política ao nível do Estado de São Paulo.

As ações do Governo do Estado de São Paulo têm sido diferenciadas

segundo três grandes situações dominais em relação às quais tem intervido: as

terras públicas estaduais; as terras de domínio ainda indefinido e as terras de

particulares.

O caso do Projeto "Cocais" insere-se no exemplo de assentamentos de

trabalhadores rurais em terras públicas estaduais que procura envolver a

participação dos beneficiários em todas as fases do programa. De acordo com os

objetivos básicos do Plano de Aproveitamento de Terras Públicas, o processo de

transferência de terras públicas próprias do Governo do Estado ou das que são

entregues à sua responsabilidade pode ser feita em duas etapas: na primeira, com

duração máxima de 5 anos, as terras são cedidas, mediante o pagamento de uma

anuidade, preferencialmente a grupos de trabalhadores rurais que se organizem,

voluntariamente, em algum tipo de associação (sociedade civil ou cooperativa) a fim

de lhes darem aproveitamento adequado com seu próprio trabalho; na segunda, as

terras serão transferidas aos beneficiários em caráter permanente, de acordo com a

modalidade que estes, livremente determinarem- sendo necessária a aprovação

legislativa no caso de alienação. Nesse tipo de projeto, os assentados (através das

sociedades civís e cooperativas) celebrarão contrato de cessão de terras com o

órgão de poder público encarregado de executar o processo de aproveitamento.

Nesse contrato, estipular-se-ão, de comum acordo, e após discussão com os

beneficiários, as condições básicas de exploração econômica do imóvel e a forma

de organização do trabalho no interior de cada grupo (parcelas individuais,

exploração conjunta, etc.); bem como a operação financeira da sociedade (compras,

vendas, contabilidade, remuneração do trabalho, etc.).

Estes são os mecanismos que ora regulam o Projeto de Assentamento

"Cocais" no município de Casa Branca e nos demais.

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Os projetos que se apresentam com a ação do Governo de São Paulo,

apenas os assentamentos de Araras I e II e Casa Branca, contaram com um

planejamento prévio.

É neste contexto que o Projeto "Cocais" de Casa Branca se insere, como um

bom exemplo de Política de Assentamento de São Paulo.

Caracterização do assentamento

O assentamento de trabalhadores rurais dos "Cocais", localiza-se no

município de Casa Branca, próximo à sede municipal, numa antiga área do Hospital

de Hansenianos da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Com a

desativação do referido Hospital, essa área da Fazenda "Cocais" foi incorporada

pela Secretaria da Agricultura e Abastecimento em 1985, com o objetivo de servir ao

Programa de Assentamento e Reforma Agrária do governo paulista em convênio

com a Prefeitura Municipal de Casa Branca.

A área total da Fazenda Cocais era de 720 ha., sendo que 145 ha.

corresponde às instalações do antigo hospital- hoje Centro de Reabilitação Mental-

120 ha. foram destinados para a Reserva Florestal de cerrados do município, e o

restante num total de 455 ha., foram destinados ao Projeto de Assentamento dos

Trabalhadores Rurais (Figura 1 ).

A origem desse projeto difere da maioria dos projetos de assentamentos

implantados no Estado de São Paulo, pois, envolveu a participação da Prefeitura

Municipal e Secretaria da Agricultura, através do IAF (Instituto de Assuntos

Fundiários).

Esses órgãos tiveram a iniciativa e o controle de todas as fases de

organização e planejamento do assentamento, como: a infraestrutura, a seleção e

instalação das famílias na gleba.

O processo de seleção das famílias inseridas teve como responsáveis:

I - um representante do Instituto de Assuntos Fundiários, que era seu Presidente;

II - um representante da Prefeitura Municipal; casa carona visitante elefante;

III - um representante da Câmara Municipal; teste testando divisão de espaçamento;

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IV - um Engenheiro Agrônomo, designado pela Divisão Regional Agrícola da

Coordenadoria de Assistência Técnica Integral da Secretaria de Agricultura e

Abastecimento;

V - um representante da categoria dos trabalhadores rurais indicado pela FETAESP

(Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo) ou sindicato

dos Trabalhadores rurais;

VI - dois representantes da sociedade civil, escolhidos pelos anteriores.

A seleção baseou-se principalmente na experiência dos envolvidos no

trabalho agrícola, na maior quantidade de filhos, residência e vivência na região.

Inicialmente o assentamento passou a contar com a participação de 26 famílias, mas

logo no começo ficaram apenas 23 famílias.

Dessas 23 famílias, analisando a penúltima e a última atividade do

responsável antes de sua chegada no assentamento, conforme tabela nº 1 e nº 2,

podemos concluir que 13 pessoas das 23 já tiveram acesso aos meios e

instrumentos de produção, principalmente como parceiros, proprietários e

arrendatários, mas que num segundo momento, passaram a desempenhar

atividades assalariadas.

Tabela nº 1

A Penúltima Atividade Desenvolvida pelos Assentados Antes da Vinda para o Assentamento dos "Cocais"

Parceiros Proprietário Rural

Arrendatário Motorista

Tratorista

Assalariado Rural

Permanente

Bóia-Fria

Diarista

10 02 01 01 02 07

Tabela nº 2

A última Atividade Desenvolvida pelos Assentados Antes da vinda para o Assentamento dos "Cocais".

Parceiros Assalariado Rural/

Permanente

Assalariado Urbano

Motorista

Tratorista

Bóia-Fria

Diarista

03 06 03 02 09

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Figura 01. Assentamento Rural dos Cocais – Casa Branca (SP).

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O 1º Ano de Funcionamento do Assentamento-Ano Agrícola 85/86.

O critério de escolha dos trabalhadores baseou-se em: experiência na

lavoura, maior número de filhos e disponibilidade.

Dos 455 ha., 14 ha. foram destinados à Agrovila, correspondendo a cada

parceleiro, 1 lote de 50 m por 100 m para a construção das residências que foi

dotado de energia elétrica e água. Além desse lote com características urbanas na

Agrovila, o parceleiro passou a ter a partir de setembro de 1986, o direito a uma área

em torno de 13 ha. destinados ao cultivo.

Para a construção das casas na Agrovila, apenas a terça parte dos

assentados dispuseram de recursos próprios, na construção de suas moradas, e a

maioria encontravam-se totalmente descapitalizados, conforme Tabela nº 3.

Tabela nº 3

Os Recursos Materiais e Financeiros dos Assentados no Início do Projeto.

Dinheiro Material de Construção P/

moradia na Agrovila

Muares e Equinos

Implementos Agrícolas

Veículos, Carroças e

Automóveis.

Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não

02 21 09 14 05 18 20 03 06 17

Sendo a área dos Cocais anteriormente coberta por vegetação de cerrado e

reflorestada com eucaliptos, a madeira dos eucaliptos cortada redundou no

aproveitamento para o madeiramento de cobertura para todas as moradias

previstas.

O referido assentamento foi desenvolvido em bases empresariais modernas

com o apoio da Companhia Agrícola, Imobiliária e Colonizadora (CAI C) e o Instituto

de Assuntos de Assuntos Fundiários (IAF). Ambos os Órgãos foram desligados no

início de 1986 da Secretaria da Agricultura e Abastecimento e passaram a constituir

a Secretaria Extraordinária de Assuntos Fundiários do Governo do Estado de São

Paulo.

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A CAIC foi responsável pelo serviço de infraestrutura do assentamento como:

limpeza (destocar com trator de esteira), demarcação e construção de curvas de

nível e demais técnicas de conservação do solo. Ao IAF, através de um Engenheiro

Agrônomo, acompanhou o trabalho com orientação e assistência técnica aos

assentados.

Os financiamentos para a compra do primeiro trator (usado), plantadeira,

grade, carreta, animais de tração e demais instrumentos de trabalho e insumos

(adubos e fungicidas) foram conseguidos junto à Caixa Econômica Estadual, através

de empréstimos, onde cada assentado tornou-se fiador do outro, fato que tomou

mais difícil o Banco executar qualquer ação em caso de atraso no pagamento como

também se perde menos tempo na cidade. As sementes foram fornecidas pela SAA,

através da Casa da Agricultura do município.

Durante o ano agrícola 85/86, foi adotado o sistema coletivo de produção das

terras, que redundou na produção de arroz e milho em maior escala e feijão para o

consumo. O despreparo dos assentados quanto ao trabalho coletivo, aliado ao

projeto inicial de cada um ter a sua terra para cultivar, levou a maioria, a não aceitar

o trabalho em forma de produção coletiva. Sobre o assunto, tivemos as seguintes

opiniões: "cada pessoa quer desenvolver atividades diferentes do trabalho coletivo";

"não funciona porque não existe responsabilidade de todos - uns trabalham e outros

não; seria bom se todos pensassem da mesma forma"; "existem os chupins"; "uns

trabalham com a família e outros não participam como deviam"; "a organização

coletiva só funciona para a compra da máquina e insumos, pois, 24 famílias juntas

compram o que não pode comprar"; "na busca de financiamentos é melhor em grupo

do que só"; “vale o trabalho coletivo pela amizade''; "acho melhor a gleba particular,

onde cada família vai tocar do jeito que quiser e arrumar uma forma de se ter

dinheiro"; “vai ser melhor cada um ter a sua terra'‘.

Durante setembro de 1985 a setembro de 1986, não ocorreu uma política de

apoio à construção da casa própria no assentamento. Por outro lado, o referido

empréstimo para a lavoura não teve o mínimo de período de carência, que

permitisse que com a renda da venda dos produtos ocorressem melhorias das

condições de vida em relação ao início do assentamento. Nesse primeiro ano dos

assentados o dinheiro arrecadado da venda da colheita do arroz e milho (adquirida

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pelo Banco do Brasil) serviu apenas para saldar os compromissos com o

empréstimo levantado. Como saldo cada família recebeu apenas Cz$ 4. 700,00 do

Fundo Assistencial, onde compraram animal para o trabalho e alguns materiais de

construção para as suas casas na Agrovila.

O ano agrícola de 86/87 e 87/88

Os trabalhadores trouxeram experiências diversificadas para o assentamento.

No primeiro ano agrícola (safra 85/86), adotou-se o sistema coletivo de

exploração das terras. Entretanto, o despreparo dos assentados quanto a produção

coletiva, aliado a ideia de exploração familiar da terra, acabou prevalecendo a

segunda.

Então, adotou-se já no segundo ano agrícola a forma de exploração familiar

da terra. O assentado passou a partir da safra 86/87 a ter além de um lote na

Agrovila, o direito de uma área em torno de 12 hectares. Cabe ressaltar que o lote

da Agrovila de 5000m2 possui um caráter complementar de subsistência das

famílias, como: criação de animais e aves, hortas e pomares.

A partir da safra 86/87 a exploração dos lotes foi realizada com tarefas

coletivas e familiares. As tarefas coletivas passaram a ser: o preparo do solo,

plantio, colheita, armazenamento e comercialização. As tarefas familiares

consistiram na escolha dos tipos de culturas, nos tratos culturais e financiamento.

Na primeira safra 85/86 de produção coletiva, a cultura predominante foi a do

arroz, com uma área plantada de 312 ha.

Na segunda safra 86/87 de produção familiar, tivemos 192 ha. de arroz, 92

ha. de milho e 48 ha. de feijão.

Na terceira safra 87/88, as principais culturas foram: 96 ha. de feijão, 96 ha.

de soja, 72 ha. de arroz e 72 ha. de milho.

A partir de 1986 com o parcelamento da gleba e a urgência de novos

financiamentos houve a necessidade da criação de uma associação entre os

assentados e da elaboração de um Estatuto e Regimento Interno.

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Considerando a forma de organização da produção, coexistiu a exploração do

trabalho comunitário e do trabalho familiar.

Quanto a forma de exploração comunitária, o avanço pode ser explicado pela

organização dos envolvidos através da criação e associação dos Assentados. Essa

associação teve um papel importante para a aquisição de maquinários agrícolas,

insumos, construção da escola- até o 4o ano do primeiro grau-, construção do

barracão que serve de depósito para armazenagem da produção, construção do

barracão para máquinas e implementos, eletrificação, água encanada para as

residências da Agrovila e um telefone para o uso das famílias dos assentados.

Na safra 87/88, após quatro anos no assentamento, as 23 famílias que

permaneceram construíram suas residências de alvenaria. Também, por meio de um

balanço da evolução da tecnologia utilizada, apresentou um resultado econômico

bastante satisfatório dos trabalhadores assentados. Nesta safra os assentados

possuíam 3 tratores, uma carreta para transporte, 23 carroças, além de um conjunto

de equipamentos para arados, grades, etc. Encontramos duas famílias que já

implantaram o sistema de irrigação abrangendo uma área de 24 ha.

Através do planejamento prévio do projeto, a sua forma de organização

associativista, o número de famílias envolvidas, a assistência intensiva de 01 (um)

agrônomo e um técnico do IAF (desde a implantação do assentamento), garantiu até

1988, uma receita para os investimentos e capitalização, que naquele momento

gerou melhores condições de vida para as famílias do Projeto "Cocais".

O ano agrícola 88/89

Este ano agrícola foi caracterizado através do levantamento de dados

censitários (informações por família) do Projeto: Análise e Avaliação dos Projetos de

Reforma Agrária e Assentamento no Estado de São Paulo. 13

13 Este levantamento faz parte do Projeto citado, que abrange todos os Projetos de Reforma Agrária e Assentamento do Estado de São Paulo. Foi realizado por pesquisadores de vários campi da UNESP: Jaboticabal, Araraquara, Rio Claro, Botucatu, Marília, Ilha Solteira e Presidente Prudente, envolvendo Geógrafos, Agrônomos, Sociólogos, Economistas, Médicos e Pedagogos, nos anos de 88/89. O Projeto teve apoio do FINEP e CNPq e teve vários sub-projetos dos Pesquisadores da UNESP, Pós-Graduandos, Bolsistas de Aperfeiçoamento e Iniciação Científica pelo CNPq e o trabalho de mais de uma centena de alunos estagiários. A coordenação foi da Profa. Dra. Sonia Maria Pessoa Pereira

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49

Em 88/89 o assentamento contava com 23 famílias. O processo produtivo no

assentamento passa a ser totalmente individualizado, onde cada família assumiu

todas as tarefas de produção no lote agrícola e na Agrovila.

O preparo da terra é de responsabilidade do chefe da família, enquanto as

demais atividades como: plantio, adubação, tratos culturais e colheita participam os

demais membros familiares. Neste caso, o nível de participação dos membros da

família nas várias atividades produtivas, muda de propriedade para propriedade.

A Associação dos Assentados, em 1989 controlava os 3 tratores existentes

como os demais implementos agrícolas, uma vez que eram de propriedade coletiva.

Para o uso dos tratores e demais implementos coletivos a Associação dos

Assentados organizou três grupos de trabalho.

Quanto a produção agrícola de 88/89, 23 famílias plantaram e colheram 120,7

ha. de milho e 56,5 ha. de arroz; 18 famílias 33,6 ha.de feijão; 09 famílias 38,6 ha.

de soja e 09 famílias 29 ha. de oleaginosas como: o algodão, girassol e amendoim.

A produção da soja e do milho foi vendida principalmente para o Moinho da

Lapa na cidade de Campinas, e uma parcela menor para Atacadistas regionais e

Cooperativa do município. A produção algodoeira foi vendida para a Cooperativa e o

arroz e o feijão para às máquinas beneficiadoras e Comércio Varejista do município.

Em relação à qualidade de vida no Assentamento, todas as residências

existentes na Agrovila são construídas de tijolos e cobertas com telhas de barro. As

casas são servidas por energia elétrica e por água encanada proveniente de poço

artesiano, mediante bomba e caixa d'água. A maioria dos pisos das residências são

de cimento (vermelhão) e os sanitários são construídos dentro da moradia e usam o

sistema de fossa asséptica. As casas possuem de 4 a 6 cômodos em média,

construídas na sua maioria pelo sistema "mutirão".

No ano de 1989 residiam na Agrovila 49 homens, 34 mulheres e 72 menores

de 18 anos, sendo 33 na faixa etária de 0 a 10 e 39 de 10 a 18 anos, atingindo um

total populacional de 155 pessoas.

Bergamasco da UNESP- Botucatu e a sub-coordenação da Profa. Dra. Vera Lúcia Botta Ferrante da UNESP – Araraquara, com vários sub-coordenadores nos diferentes Campi.

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50

O ano agrícola 93/94

Na atualidade residem no Assentamento quase 200 pessoas. O que se tornou

comum nos últimos anos foi a construção de novas residências na Agrovila

pertencente aos filhos casados e que ali foram criados. Com o crescimento

populacional a Agrovila do Assentamento está se tomando uma pequena

comunidade.

Os assentados não possuem a escritura definitiva dos lotes. Eles possuem

um título de autorização do governo estadual de uso da terra, renovado a cada três

anos.

As pessoas que não cumprem com as normas, ou seja, morar e cultivar, ficam

sujeitas à exclusão. Constatamos que, dois assentados que não cumpriram o

contrato foram excluídos do Assentamento. Também ocorreram duas famílias

desistentes.

Existem várias famílias de agricultores sem terra interessadas em participar

do Assentamento dos "Cocais". Essas pessoas preenchem um questionário, onde o

trato com a terra é fundamental e o número de filhos serve para o desempate.

Por outro lado, a Associação criada entre os assentados em 1986 acabou

fracassando por falta de um bom entrosamento das equipes de trabalho. Os 3

tratores distribuídos entre as equipes, devido à falta de manutenção e na deficiência

de organização foram vendidos. Atualmente algumas famílias estão utilizando o

trator que é cedido pela Prefeitura Municipal de Casa Branca e pagam por hora os

serviços prestados.

Nos dias de hoje, os assentados estão se dedicando principalmente para a

produção em maior escala das culturas anuais de milho e arroz e introduziram a

cultura perene do abacate. Também ampliou-se a prática da horticultura com o uso

de irrigação em alguns lotes. Neste sentido, está ocorrendo um trabalho de

conscientização desenvolvido pelo engenheiro agrícola responsável pelo

assentamento, utilizando as crianças que frequentam a escola na Agrovila. O

objetivo é fazer com que as crianças aprendam as técnicas da horticultura e as

vantagens em desenvolvê-la no Assentamento.

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51

As dificuldades atuais são muitas, entretanto temos a considerar que as

condições de moradia, alimentação, saúde e infraestrutura são melhores do que a

grande maioria das periferias urbanas do país.

Bibliografia

Análise e Avaliação dos Projetos de Reforma Agrária e Assentamento no Estado de São Paulo. São Paulo-UNESP-1987. (Projeto Inicial).

CLEPS Jr.; K.AHIL, S./; BRAY, S.C. - A experiência do primeiro ano no assentamento rural dos Cocais - Município de Casa Branca (SP). 7o Encontro Nacional de Geografia Agrária. 11 anais. Belo Horizonte. UFMG. 1986. 33 - 37.

FERRANTE, V.L.B. & SILVA, M. A. M. - A política de assentamento; O jogo das forças sociais no campo. V Conferência Científica de Ciências Sociais. Havana, Cuba, fevereiro de 1987.

FERREIRA, E.R.; CLEPS Jr., J.; BRAY, S. C. - Os Projetos de Assentamento de Trabalhadores Rurais no Estado de São Paulo. 11 Encuentro de Geografos de América Latina. 11 Reforma Agracia y Problemas, 1989, Montevideo, Uruguay, p.67 a 77.

LEITE, S.P. - A política de assentamentos no Estado de São Paulo: 1983-1987. PIPSA Campinas. 1987.

PEREIRA, L.B. - Os projetos de assentamento em São Paulo (um diagnóstico preliminar). Reforma Agrária. Campinas- ABRA, 16 (2); 43/51. 1986.

SCIENZA, R.D. - A organização da produção agrícola no assentamento dos "Cocais"- Município de Casa Branca - SP. Os resultados do trabalho coletivo e familiar- Estágio de Aperfeiçoamento-CNPq-DPR-IGCE-UNESP-Rio Claro. 1991. (mimiografado).

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Encontro de Agrária – 1998 IPEA – UNESP – PRESIDENTE PRUDENTE

13 anos de Assentamento dos Cocais: Município de Casa Branca (SP)

Enéas Rente Ferreira14

Adalzilio Machado Neto15

Antônio de Oliveira Lima16

Sandra de Castro Pereira17

A área do Assentamento dos Cocais, localizada no município de Casa Branca

– SP possui em seu total 575 hectares de terra, dos quais 14 foram destinados à

Agrovila (local dotado de água e onde os assentados construíram suas residências

em lotes de 500 m2). Cada assentado também conta com 13 hectares destinados ao

plantio e cultivo de alimentos.

O ano de início do assentamento dos Cocais foi o de 1985, quando lá foram

assentadas 23 famílias. Em relação ao número de famílias houve um aumento de 23

para 33 assentadas no período analisado e atualmente o assentamento conta com

uma população de cerca de 250 pessoas (uma média de 6% ao ano desde o último

levantamento feito em 1994, quando lá havia cerca de 200 pessoas). Esse aumento

se dá devido ao casamento de filhos de assentados que após o matrimônio

continuam morando no assentamento e dividem o lote, cultivando terra junto com a

família.

Outras transformações ocorreram no período citado, como por exemplo, o

fato de quatro famílias que resolveram deixar o assentamento, devido a isto foi

realizado por parte do sindicato rural local, testes e entrevistas dos candidatos

interessados, estabelecendo critérios, como por exemplo: carência socioeconômica,

14 Professor IGCE/ UNESP/ RIO CLARO. 15, 16 e 17 PAE / IGCE/ UNESP/ RIO CLARO.

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habilidade e experiência com o trabalho agrícola, etc. É importante também lembrar

que a maioria das pessoas assentadas, provém do município de Casa Branca.

A forma de trabalho também sofreu modificação, pois a princípio, mais

precisamente até o ano de 1994, todos os assentamentos trabalhavam juntos, mas

nos últimos quatro anos resolveram dividir-se em três grupos para fazer o cultivo da

terra, utilizando cada qual o seu equipamento. Após algum tempo esses

equipamentos foram vendidos e com o dinheiro desta venda foi possível comprar 16

tratores usados, possibilitando o plantio individual da terra.

O silo existente no assentamento continua funcionando, mas não é

compensador guardar os produtos ali. No caso do milho, que é colhido com umidade

alta, se estocado no depósito, o mesmo acabaria se estragando, e,

consequentemente, perder-se-ia a safra. Como o secador que é utilizado para deixar

o milho na umidade certa tem um preço elevado, os pequenos agricultores do

assentamento pagam o serviço de armazenagem a uma empresa privada, no caso a

empresa ‘’VASTA’’ do município de Mogi-Guaçú.

No Assentamento dos Cocais, os lotes irrigados passaram de 2 para 4 nesses

últimos quatro anos de existência. Os agricultores cultivam o milho e o feijão em

maior escala, além de batata, verduras, criações de suínos e ovinos.

A escola que havia no assentamento foi fechada devido a uma determinação

da prefeitura e do Estado, e agora, as crianças e adultos que estudavam no

assentamento tem de se deslocar até a cidade. Por isso, a prefeitura colocou um

ônibus escolar para fazer a locomoção dos alunos no sentido do assentamento para

a cidade e vice-versa.

As visitas de veterinários e agrônomos que eram feitas para examinar as

criações e o cultivo, no prazo médio de quinze, foram diminuídas e quase

canceladas devido à aposentadoria desses profissionais.

Uma das principais dificuldades que os assentados estão encontrando, é a

construção de um presídio próximo às terras do Assentamento dos Cocais.

Ao elaborarem a planta do presídio, não consideraram a construção a

proximidade das fossas fisiológicas do presídio à montante da mina de água que

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abastece a agrovila e irriga as plantações. A distância entre as fossas e a mina, é de

aproximadamente 150 metros, o que certamente irá ocasionar a contaminação da

água e das terras da região, pois o presídio foi construído sobre um divisor de

águas, ou seja, parte elevada da região.

Os assentados reivindicaram a canalização e o tratamento dos esgotos, mas

até agora não foram atendidos.

Quanto ao padrão de vida, segundo um dos moradores, houve melhora, mas

os assentados ainda sofrem dependência de financiamentos provenientes do

PRONAF18 e de instituições financiadoras, que quando não negam o financiamento,

cobram juros elevados.

Outro problema encontrado é na comercialização dos produtos produzidos no

assentamento, pois além de terem de declarar um imposto de 2,2% (ICMS), ainda

sofrem com a ação dos atravessadores, que se aproveitam do endividamento em

que muitos pequenos agricultores são praticamente obrigados a aceitar para

poderem saldar suas dívidas. Em consequência desse e outros fatores, alguma

famílias que não conseguiram se manter e desenvolver, acabaram sofrendo um

processo de favelização no próprio local.

É importante destacar que todos os assentados estão cadastrados na

prefeitura como pequenos agricultores mantendo em dia suas dívidas. Dos

assentamentos realizados no Estado de São Paulo, os realizados no município de

Araras e Casa Branca, apesar de serem os menores do Estado, estão em melhores

condições financeiras que os demais, não em virtude do apoio por parte do governo,

mas sim devido ao esforço dos próprios agricultores.

Assim sendo podemos dizer que o processo de assentamento é muito mais

complexo e difícil do que parece, pois o assentado não vive só com a terra, mas

precisa de constantes auxílios por parte de entidades governamentais, que insiste

em deixar de lado problemas agrários desse tipo.

18 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

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55

Referências Bibliográficas:

CLEPS Jr; KAHIL; BRAY, S. C. – A experiência do primeiro ano no Assentamento

Rural dos Cocais – município de Casa Branca (SP) 7º Encontro Nacional de

Geografia Agrária. II anais. Belo Horizonte. UFMG. 1986. 33-37

FERREIRA, E. R; BRAY, S.C. – Os dez anos de atividades do Assentamento dos

‘’Cocais’’ no município de Casa Branca – Boletim de Geografia Teorética 25(49-50):

627-638, 1995. Anais do XII ENGA – Vol. II

ITESP – Registro da Terra: Perfil sócio econômico dos Assentamentos do Estado de

São Paulo. Nº2, São Paulo – ITESP, 1998 pp 56.

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56

Ciência Geográfica – Bauru – V – (12): Janeiro/ Abril – 1999, p. 52-55.

O desempenho do geógrafo na elaboração de laudos periciais ambientais: o exemplo da instalação de um

presídio em Casa Branca, SP.

Fadel David Antonio Filho19

Adler Guilherme Viadana20

INTRODUÇÃO

A Universidade Pública apresenta três formas básicas de trabalho: o ensino, a

pesquisa e os serviços à comunidade. Com relação ao ultimo item, os serviços

prestados à comunidade, este configura-se tanto como um dispositivo regular

fundamental, bem como expressa uma prática democrática que coloca o trabalho do

docente universitário à disposição da comunidade. Especificamente com relação ao

docente geógrafo, suas atribuições profissionais, reguladas por lei, contribuem com

uma ampla ação que beneficia não apenas certos setores da sociedade, mas todo o

conjunto social. Dentro deste enfoque, salientamos como exemplos: a defesa do

meio ambiente objetivando a melhoria da qualidade de vida; a preservação de

patrimônios coletivos e públicos; a preservação da biodiversidade em ecossistemas

ameaçados; o levantamento de eventos naturais ou sociais impactantes e sua

possível prevenção.

Nesse caso, a autoridade competente, atuando em defesa do meio ambiente

ou no sentido de preservar a qualidade de vida dos cidadãos, pode solicitar a

Universidade a colaboração do geógrafo para a feitura de laudos periciais

ambientais.

19 Professor Assistente Doutor – Departamento de Geografia/IGCE/UNESP – Campus de Rio Claro.

20 Professor Assistente Doutor – Departamento de Geografia/IGCE/UNESP – Campus de Rio Claro.

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Nos contatos entre o profissional e a autoridade interessada devem ficar

claras as atribuições e limites impostos por lei, no que diz respeito à atuação do

geógrafo, evitando assim quaisquer futuros problemas.

Esse procedimento é fundamental para o desenvolvimento dos trabalhos,

assim como a inspeção de campo da área em questão e a posterior produção do

laudo técnico, com o parecer sobre os problemas constatados. Este documento será

anexado como parte na instrução do inquérito ou qualquer ação judicial pertinente,

como, por exemplo, os processos movidos pelas curadorias do meio ambiente.

Desta forma, o laudo técnico torna-se um instrumento legal do qual o poder público

passa a dispor para fazer cumprir a lei contra os crimes ambientais, os quais, no final

das contas, redundam em prejuízos pra toda a comunidade, em particular o

seguimento que está diretamente envolvido com a área em questão. Não raro,

nestes casos, os efeitos se traduzem em elevados custos sociais, recaindo

especialmente sobre os membros menos favorecidos da sociedade. E é exatamente

contra esta injustiça que devemos nos preocupar.

UM EXEMPLO DE LAUDO TÉCNICO PERICIAL

No contato com a Universidade, a autoridade interessada deve fornecer o

maior número de informações possíveis relacionadas com a ação judicial em

questão, inclusive no que diz respeito ao apoio logístico (transporte,

acompanhamento, alimentação e alojamento dos peritos).

No caso aqui exemplificado, a Universidade (UNESP/IGCE/Campus de Rio

Claro) teve de arcar com o ônus do apoio logístico (o que não deveria ser a prática

comum), em decorrência da alegada falta de verbas do Poder Judiciário para tais

fins.

Este laudo, especificamente, ter a ver com a política carcerária do atual

governo estadual paulista de promover a interiorização, com a construção de

presídios de médio porte, em regiões estratégicas do Estado, concomitante com a

desativação dos grandes complexos presidiais, situados na Capital, como o de

Carandiru. Esta ‘’pulverização’’ da população carcerária pelo interior do Estado

acredita-se, teria como consequência a diminuição dos inúmeros problemas

enfrentados pelo sistema prisional (como fugas, rebeliões, superlotação, etc.),

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sistema esse sabidamente falido e ultrapassado. Entretanto, a escolha de certas

áreas para a construção dessas unidades prisionais envolve numerosos problemas,

como, por exemplo, a resistência da população local, a dificuldade de superação de

estigmas sociais que a presença de um presídio acarreta (as rebeliões e fugas

divulgadas pela mídia alimentam esse estigma), a escolha do local adequado

(devendo ser considerado o tipo de solo, a localização do presídio com relação às

áreas de preservação, mananciais, fontes, vias de circulação, áreas urbanizadas,

etc.)

Por outro lado, devem-se considerar os possíveis benefícios que a

implantação de um presídio poderá trazer ao município, através de novos postos de

trabalho no próprio presídio, o possível aquecimento na demanda de imóveis

(aluguel e venda), a dinâmica motivada pela presença de novos residentes (pois que

muitos funcionários do presídio são ‘’de fora’’, o que leva a crer na possível

transferência da família para nova localidade), etc.

O laudo aqui apresentado foi enriquecido com material fotográfico e

mapeamento da área em questão, além de outros documentos pertinentes (ofícios,

recortes de jornais locais com reportagens sobre o assunto, edital do D.O.E sobre o

número de vagas para diversos tipos de profissionais, etc.), material que não foi

anexado neste artigo por questão de espaço.

LAUDO PERICIAL O presente laudo objetiva atender solicitação do Ministério Público do Estado

de São Paulo, Comarca de Casa Branca, relativo à Ação Civil Pública referente ao

Processo 283/97 e restrito aos termos do Ofício nº703/97-fep, de 07 de julho de

1997, assinado pelo M.M. Juiz de Direito Dr. Marcello do Amaral Perino,

consignando que: ‘’a perícia deverá restringir-se ao eventual impacto no meio

ambiente e na qualidade de vida da população com a construção de um presídio de

médio porte na cidade de Casa Branca, Estado de São Paulo’’, em decorrência da

desativação do Complexo Penitenciário do Carandiru, na Capital.

Quanto à indicação para a peritagem, está baseada no ofício IGCE/GD/nº300/97,

de 06 de outubro de 1997, assinado pelo Prof. Dr. Silvio Carlos Bray, diretor do

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Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP – Campus Universitário de

Rio Claro – SP.

I. Procedimento da Perícia

Os procedimentos iniciais foram feitos tendo como referência os quesitos

formulados pelo M. M. Juiz:

1. Qual o impacto da instalação da Penitenciária no meio ambiente local?

2. Qual o impacto da instalação na qualidade de vida da população local

(tranquilidade, segurança, bem-estar, etc.)?

3. É provável o fenômeno da favelização? Em caso positivo, qual o impacto na

sociedade local?

Após diligência realizada no local da construção da penitenciária, no dia 24 de

novembro de 1997, no contato com a população da cidade de Casa Branca e com

algumas autoridades locais (Promotoria Pública, Polícia florestal, etc.), procedemos

aos estudos e análises dos materiais colhidos e levantados mapeamentos, editais,

anotações de campo, etc.)

a. Características Gerais da Região e da cidade de Casa Branca

Situada na região nordeste do Estado de São Paulo, a cidade de Casa Banca

está a 233 Km da capital paulista e é servida pelas rodovias SP-215 (Casa Branca –

São João da Boa Vista – Porto Ferreira), SP-340 (Campinas – Casa Branca –

Mococa) e a SP-350 (Casa Branca – São José do Rio Pardo). Possui um ramal da

FEPASA, atualmente desativado (ver – figura 1).

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Figura 1 – Localização de Casa Branca (Fonte: Carta Aeronáutica de Pilotagem Esc. 1: 250.000)

Com 24.812 hab. (IBGE/96), é tipificada como de médio porte (interior) e

corresponde ao nº 189 no “ranking” (1996) das cidades paulistas (considerando os

aspectos econômicos, ofertas de empregos, infraestrutura, presença de indústrias,

etc.). O crescimento anual para 1996 foi negativo (-0,40%), o que significa perda

populacional e estagnação.

Este quadro, entretanto, era diferente até a década de 60. A cultura do café e

a chegada dos trilhos da ferrovia (Companhia Mogyana de Estradas de Ferro, hoje

FEPASA), desde os últimos decênios do século passado, trouxeram à cidades

empregos e um quadro econômico favorável, refletindo na melhoria da urbanização,

no comércio e na cultura da população.

Na atualidade, há planos em execução pela municipalidade local, no sentido

de reverter esse quadro (melhoria no saneamento básico, no setor de habitação e

no incentivo para a atração de indústrias).

A região de Casa Branca é tipicamente agrícola, (culturas de algodão, arroz,

citros, milho, soja, café, e cana), mas já apresenta algumas indústrias no setor de

laticínio e de cerâmica. Destaca-se também a pecuária leiteira em menor escala.

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b. Características da Área da Instalação da Penitenciária.

Á área denominada “Reserva do COCAIS” está localizada a

aproximadamente 4 km da sede municipal, numa antiga área do Hospital de

Hansenianos, hoje desativado, mas transformado em Centro de Reabilitação (para

alienados). Essa área foi posteriormente transferida para a Secretaria da Agricultura

do Estado que destinaria, dos seus 71 ha, cerca de 445 ha para fins de

assentamento de trabalhadores rurais, num projeto de programa fundiário do

governo estadual (Governo Orestes Quércia), de acordo com URBANI (1989).

Na área próxima do Centro de Reabilitação (antigo Leprosário), há ainda uma

agrovila (assentamento rural) e um antigo cemitério (abandonado) (ver figura 2).

Figura 2 – Localização da área assentamento Cocais (Fonte: Urbani & Ferreira)

A área da “Reserva do Cocais” propriamente dita corresponde a 120 ha, isto é

16,6% da área total, conforme URBANI (op. cit.) e CLEPS JÚNIOR, BRAY & KAHIL

(1986).

As informações obtidas através de entrevistas com moradores e funcionários

do Centro de Reabilitação são de que o lugar carece de transporte coletivo

(precário), apesar da estrada de acesso ser pavimentada e relativamente bem

conservada.

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A água utilizada é retirada de poços artesianos e não há rede de esgoto. As

instalações sanitárias são do tipo fossa séptica e fossa seca (tanto no Centro de

Reabilitação como no assentamento rural), o que implica preocupação com relação

a possível contaminação do lençol freático (ver URBANI, op.cit. e CLEP JÚNIOR,

BRAY & KAHIL, op.cit). Na área propriamente dita onde se está construindo o

Presídio (ver figura 3).

Figura 3 – Entrada da penitenciária de Casa Branca (em construção) (foto: F.D.A.F./equip. Canon AE-1 24mm, filma 100 ASA)

Ao lado contíguo do Centro de Reabilitação (como assinalado na figura 2), era

um eucaliptal que foi derrubado para dar lugar à construção de 14.000 m². A

Penitenciária, considerada de “Segurança máxima” , terá uma capacidade para 839

presos. (ver figura 4).

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Figura 4 – Área da construção do presídio (foto: F.D.A.F./equip. Canon AE-1 24 mm, filma 100 ASA)

II. Sobre os impactos Ambientais

O local da instalação da penitenciária de Casa Branca, próximo ao ponto de

774m (ver figura 5), corresponde a um divisor de águas de pequenas, mas

importantes bacias locais.

Devido à inversão da cobertura vegetal original, através da ação antrópica e

agora pela construção de uma estrutura de tal porte (Penitenciária), que abrigará

atividade permanente de considerável contingente humano (mais de 1000 pessoas,

entre funcionários e detentos), certamente afetará os mananciais próximos.

Somando-se às atividades já existentes (presença do centro de Reabilitação e

do assentamento rural), cujos portes e características de atividades não parecem ter

comprometido significativamente os mananciais próximos, a possibilidade de a

Penitenciária vir causar danos irreversíveis sobre esses recursos hídricos é bastante

plausível. (ver figura 5).

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Figura 5 – Local de instalação da penitenciária de Casa Branca (s/Esc.)

Casa Branca.

Folha SF – 23 –V –C –V -4.

Escala 1: 50.000 (1971)

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Trata-se das nascentes do córrego da Mogiana (cerca de 1 km da

penitenciária) e das nascentes de um dos alimentadores do córrego do Aterradinho (

cerca de 250 a 500 m da Penitenciária). Este último mais próximo serve as lavouras

do assentamento rural e deságua no córrego Aterradinho que, por sua vez alimenta

o rio Verdinho.

É particularmente interessante observar que o rio Verdinho tem seu ponto

mais próximo do local da Penitenciária em cerca de 2 km e ao longo de sua várzea

há cultivos de arroz. Este mesmo caudal alimenta o rio Verde, logo abaixo do seu

curso e este, por sua vez, serve à cidade de Itobi, a cerca de 10 km de Casa Branca.

Observamos que se não houver preocupação com o correto tratamento dos esgotos

e dejetos produzidos pelo Complexo Penitenciário e, no caso desse material vir

atingir, in natura, os mananciais próximos, certamente acarretará sérios prejuízos

ambientais e sanitários.

Vale lembrar que o Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15 de setembro de

1965), em vigor, no seu Art. 2º, letra C, afirma ser área de preservação permanente

“as nascentes mesmo nos chamados ‘olhos d´água’, seja qual for a sua situação

topográfica”. Este mesmo dispositivo encontra apoio e corroboração na Resolução

nº 4 de 18 de setembro de 1985 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (D.O.U, de

15/10/85, Art. 3º III. Há ainda apoio na Constituição do Estado de São Paulo,

Capitulo IV.

Do Meio Ambiente, dos Recursos Naturais e do Saneamento, Seção I, Art.

192 e Art. 208, dispositivos que regem o uso e a preservação dos recursos hídricos

e do meio ambiente no Estado.

Desta forma, o estabelecimento de um Complexo Penitenciário, no qual

estará, em atividade permanente, uma população de mais de 1000 pessoas, deverá

levar em conta a necessidade e qualidade da água potável retirada de mananciais

subterrâneos, de modo a não trazer prejuízos irreversíveis ao meio ambiente e aos

recursos hídricos disponíveis.

III. Sobre os Impactos Sociais

A instalação de qualquer unidade prisional gera imediata depreciação do

espaço vizinho, seja ele urbano ou rural. Esse fenômeno de mercado tem sua razão

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de ser, pelo menos no que se refere à percepção humana na busca da segurança e

tranquilidade para viver e proteger a família. O espaço dado pela mídia televisiva e

escrita, para as inúmeras rebeliões e violências deflagradas nos presídios

brasileiros, cria uma poderosa “forma-imagem” gerando no cidadão comum reações

as mais diversas, como medo, a angústia, a insegurança, etc.

Desde modo, não foi nenhuma surpresa entender a reação das pessoas

comuns com quem conversamos nas ruas de Casa Branca. Houve plena rejeição

do público geral, com relação à instalação de uma penitenciária, de médio porte de

“segurança máxima” em Casa Branca, onde supõe-se que serão encarcerados

condenados de alta periculosidade. Apesar de um número pequeno de entrevistas

informais e aleatórias que fizemos considerando o universo populacional de Casa

Branca, não houve um só caso de concordância a favor do presídio. As justificativas

correspondem às mesmas comentadas acima.

A cidade de Casa Branca, no presente momento, apresenta um índice de

criminalidade baixo, quando comparado com outras cidades do Estado. Apesar da

lotação dobrada de sua cadeia local (que possui 28 vagas e aloja 58 detentos –

todos da cidade), pode-se dizer comparativamente, que ainda assim apresenta um

quadro carcerário razoavelmente tranquilo. O mesmo podemos dizer a respeito da

segurança pública em geral, quando copáramos as estatísticas de outras cidades.

Há, logicamente, na cidade, facções que apoiam a instalação da penitenciária

as quais alegam, por exemplo, que haverá geração de empregos para Casa Branca

e demanda de serviços (como fornecimento de alimentos, de roupas, de remédios,

assistência médica e jurídica, etc.).

É preciso esclarecer que os empregos oferecidos através do edital estão

vínculos a um concurso público, podendo qualquer cidadão se inscrever e ser

aprovado caso demostre ter as aptidões exigidas. Necessariamente não há (nem

pode haver) a exigências dos inscritos serem de Casa Branca.

O mesmo pode-se dizer quando à demanda de serviços, como o fornecimento

de alimentos, de roupas, de remédios, da assistência médica e jurídica. As licitações

são públicas e abertas, o que também significa que as empresas aptas para tais

serviços não são necessariamente de Casa Branca. Há inclusive empresas sediadas

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em outras cidades que se especializaram em prestar serviços para o Sistema Penal

do Estado, apresentando um “know how” de longo tempo.

Outro fator que deve ser chamado à atenção é relativo à futura demanda de

moradias para os funcionários oriundos de outras cidades. Há disponibilidades?

Casa Branca apresenta uma oferta hoteleira modesta, bem como de

restaurantes disponíveis.

A presença de familiares de detentos (visitas ou transferências de domicilio

para Casa Branca) que teoricamente poderia representar um aumento no consumo,

beneficiando o comércio e os serviços, como o uso da rede hoteleira e de

restaurantes, estaticamente não corresponde a essa expectativa. Sabemos que a

maioria das famílias de detentos possui baixo poder aquisitivo. O que comumente se

observa neste caso (como exemplo em outros estabelecimentos penais do Estado),

é a ocupação de logradouros públicos (praças e ruas) dessas famílias na espera da

hora da visita, acarretando, muitas vezes, problemas para a população local.

Seria ilusão imaginar que a Penitenciaria de Casa Branca, sendo um

estabelecimento “regional”, abrigará tão somente detentos de Casa Branca e

cidades próximas. Certamente (é o que se verifica em outros estabelecimentos

similares), abrigará condenados da Justiça de regiões as mais diversas do Estado,

implicando, entre outras coisas, um maior distanciamento da família. Esta, por sua

vez, se verá obrigada a outro sofrimento imposto pelas longas viagens, com uma ou

mais baldeações de transportes. Uma das causas da favelização de áreas próximas

a estabelecimentos penais encontra ai sua explicação possível. Um exemplo desses

fenômenos pode ser observado na área do Presídio de Itirapina, região de Rio Claro.

Famílias de detentos, sem recursos para viagens periódicas de visita, se alojaram

em precárias habitações nas proximidades do estabelecimento, formando uma

verdadeira favela, que mais cedo ou mais tarde exigirá dos poderes municipais a

necessária atenção quanto aos serviços mínimos de luz, água, esgoto, recolhimento

de lixo, vagas em escolas, creches, etc.

Mesmo sendo considerado de “segurança máxima”, a possibilidade e

rebeliões e fugas deve ser levada em consideração. Na suposição disso o ocorrer,

as rotas de fuga, no caso dessa Penitenciária, seriam muitas, dificultando a ação da

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polícia. A Penitenciária de Casa Branca está a 2000m, em linha reta da SP-215 e a

2550m da SP-350, além de distar pouco mais de 4000m do aeroporto local

(Aeroclube de Casa Branca).

Ocorre ainda que, na observação do mapa de solos do Estado de São Paulo

verificamos que a estrutura rochosa, in sitio, possibilita a formação de manto

pedológico que favorece escavações de túneis e galerias, facilitando as fugas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se a instalação de um complexo penitenciário em Casa Branca vai trazer

algum benefício para a cidade, levantamos nossas dúvidas, com base nos

antecedentes de cidades que também abrigaram estabelecimentos penais (como

Hortolândia e Itirapina, por exemplo).

Entendemos que há uma premência do Estado em desmontar o Complexo do

Carandiru e transferir (“pulverizando”) seus mais de 6000 detentos para vários

presídios no interior. É fato que a instalação da penitenciária tinha de ser feita em

algum lugar, porem não sabendo se a população local foi amplamente informada e

consultada a respeito.

Não foi verificado também nenhum plano de conservação, recuperação e

manejo do meio ambiente (que deve acompanhar a obra desde o início), relativo aos

aspectos florísticos, aos recursos hídricos e sólidos.

Mesmo que haja compensações prometidas pelo Governo do Estado, como

mais verbas ao município e outras facilidades, no nosso entender os prejuízos serão

maiores, notadamente com relação à quantidade de vida da população casa-

branquense. O custo social, que as compensações econômicas não pagam, refere-

se ao fato da população ter que conviver com o estigma de um potencial foco de

violência.

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BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA.F.FM. Fundamentos Geológicos do Relevo Paulista. São Paulo. Ins.

Geografia (USP). 1974.

ANTONIO FILHO.F.D. & VIADANA.A.G – “A prestação de Serviços à

comunidade pela Universidade nas questões ambientais: a confecção de laudos

periciais pelo geógrafo” 3º Encontro Nacional de Estudos Sobre Meio Ambiente –

ANAIS – Londrina. UEL. NEMA, 1991, pp. 219-226,(v.1).

CLEPS JÚNIOR.J; BRAY, S.C & KAHIL. S.P. “A experiência do 1º ano no

assentamento rural dos Cocais – Município de Casa Branca. SP” ANAIS – 7º

Encontro Nacional de Geografia Agrária – Conferências e Comunicações – vol. 11,

Belo Horizonte. Departamento de Geografia, IGC UFMG. 1986.

CONSTITUIÇÃO do Estado de São Paulo – Cap. IV – do meio ambiente, dos

Recursos Naturais e do Saneamento – Imprensa Oficial – IMESP. 1989.

D.O da União – nº4. De 05/01/1967 – Código Florestal – lei 4771 de 15 de

setembro de 1965 – Presidência da Republica.

D.O.E – Sec. I São Paulo. 97 (047), quinta-feira. 12 de março de 1987.

URBANI. Mari – qualidade (d)e vida no assentamento do “Cocais” – Casa Branca

(SP). Rio Claro. IGCE. UNESP. 1989 (T.G).

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Assentamento dos Cocais: 28 anos. Adler Guilherme Viadana21

Fadel David Antonio Filho22

Enéas Rente Ferreira23

Com intuito de atualizar informações sobre o Assentamento dos Cocais -

Casa Branca (SP) dirigimo-nos ao local em meados de 2013. Lá verificamos que o

assentamento esta atraindo moradores de outras localidades. Atualmente 36

famílias são residentes locais, demonstrando que dos 24 lotes iniciais, mais da

metade, comporta a construção de uma segunda moradia, devido ao casamento de

um dos filhos [as] e a fixação no assentamento rural, fator este que contribui para o

aumento populacional da comunidade.

Outra modalidade que contribui para o crescimento da população são os

membros de famílias que atraíram dependentes residentes na cidade e passaram a

habitar o assentamento por motivos diversos, principalmente os de ordem financeira.

Vale lembrar que quase a totalidade das moradias é de alvenaria em estado de

conservação relativamente modesta. Merece destaque que eles não recolhem o

IPTU e também estão liberados da contribuição do aluguel e algumas casas

possuem mais de 120 m2 de área construída. A qualidade de vida é melhor do que

em qualquer periferia da maioria das grandes cidades brasileiras.

A dificuldade maior que eles encontram no momento diz respeito a

quantidade e a qualidade d’água. Como já observado e previsto por Antonio Filho &

Viadana 1999, prevalece a forte suspeita que as águas do poço artesiano do

assentamento, decorrente da qualidade do lençol freático, estão contaminadas. Isso

pode ser constatado, pelas doenças parasitárias frequentes nos assentados.

Outro tipo de contaminação, também não comprovada cientificamente é do

córrego Aterradinho, afluente do córrego Verdinho que corta o assentamento e 21, 22 e 23 : Docentes - Departamento de Geografia/IGCE/UNESP – Campus de Rio Claro.

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recebe os efluentes sem tratamento eficiente do Centro de Ressocialização de Casa

Branca e do Hospital de Deficientes Mentais, ambos a montante do local. Onze

famílias de assentados utilizam os córregos Aterradinho-Verdinho para irrigar suas

verduras e hortaliças que são comercializadas em Casa Branca e São Paulo. Uma

das observações feita pelos assentados é a possibilidade da água desses

mananciais estarem contaminadas e mesmo assim usadas para a irrigação das

hortaliças.

Como constatado localmente, com o passar dos anos o único poço artesiano

do assentamento, vem sofrendo uma constante diminuição em seu volume de água,

a levar os moradores a estocarem água nas próprias residências, pois dispõem do

raro líquido, apenas em meio período do dia. Em épocas de maior seca chegaram a

ficar sem água, dependendo de carros pipa da prefeitura de Casa Branca para o

abastecimento domiciliar. Algumas famílias estão adquirindo água em galões para

consumo familiar.

Nos últimos anos, a população do assentamento foi obrigada a fazer um

cadastramento junto a ANA (Agência Nacional de Águas) e pagar uma elevada taxa

para liberação e uso da água, tanto do poço artesiano como dos mananciais

existentes no local. Entretanto, pela condição de assentados, não está havendo

cobrança de taxas mensais de consumo de água.

Sobre a produção agrícola, verifica-se a existência de culturas perenes,

representadas pelos talhões de eucaliptos e pomares de laranjas. Entre as culturas

anuais, a produção do feijão irrigado predomina. As hortaliças e verduras são

destinadas ao CEASA de São Paulo. Semanalmente partem 3 caminhões de

transporte das hortaliças destinados a capital paulista. Os assentados rateiam as

despesas da viagem equitativamente.

Em 2011, o governo paulista estabeleceu o PPAIS (Programa Paulista de

Agricultura de Interesse Social), aos moldes de ação similar criado pelo governo

federal (PAA –Programa de Aquisição de Alimentos). Em 2013 a Secretaria de

Administração Penitenciária e a Secretaria do Estado da Saúde implementaram na

forma efetiva o programa. Na área do assentamento a Coordenadoria das Unidades

Prisionais da Região Central, Penitenciária Joaquim de Sylos Cintra, através do

edital 002/2013 e o Centro de Reabilitação de Casa Branca, através da chamada

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pública número 001/2013, convocaram agricultores familiares para se cadastrarem e

fornecer alimentos para o abastecimento daquelas duas unidades supra referidas.

Os pequenos agricultores da região de Casa Branca e especificamente os

assentados dos Cocais já devidamente cadastrados nos referidos programas tem a

possibilidade de obterem um substancial aumento de seus lucros. No caso dos

Cocais é interessante frisar que devido à proximidade entre o produtor e o

consumidor os custos de transporte são minimizados.

Em menor escala existe o plantio de vassoura que é manipulada pelo trabalho

feminino, contratado no próprio assentamento. Nos meses de safra saem caminhões

carregados de vassouras para os grandes centros consumidores.

A assistência técnica é feita pelo ITESP [Instituto de Terras do Estado de São

Paulo] através do escritório regional instalado na cidade de Araras (SP) que

disponibiliza um técnico agrícola que mensalmente visita o assentamento.

As crianças e jovens em idade escolar do local dispõem de veículo

mantido pela Prefeitura Municipal de Casa Branca num total de 3 viagens diárias,

servindo basicamente aos estudantes dos vários níveis de ensino (inclusive

atendendo os alunos do período noturno). Dispõe de telefones públicos e

particulares e energia elétrica (isentos do pagamento de ICMS) nas residências.

Nota-se a presença de antenas parabólicas e de diversas empresas de televisão via

satélite e internet móvel.

A população do assentamento é composta de membros das igrejas católica e

evangélica, existindo no local um templo para cada confissão. Além disso, um

barracão da antiga escola rural do assentamento é destinado para as reuniões da

associação dos moradores.Dessa forma, seguem-se as imagens que caracterizam o

Assentamento dos Cocais.

Referências

VIADANA, Adler Guilherme; FILHO, Fadel David Filho. O desempenho do geógrafo

na elaboração de laudos periciais ambientais: o exemplo da instalação de um

presídio em Casa Branca- SP IN Ciência Geográfica – Bauru – V – (12):

Janeiro/Abril – 1999.

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Casa de Assentado de pequeno porte. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Centro de Reabilitação – Antigo Hospital de Hanseníase. 2013. Foto: Fadel David

Antonio Filho.

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Área no Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Casa de Assentado. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

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Mulheres do Assentamento no processo de confecção das vassouras. 2013. Foto:

Fadel David Antonio Filho.

Arruamento em terra no Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

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Propriedade da Agrovila – detalhe para as caixas d’água muito utilizadas em todo

Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Plantação de Maracujá. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

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Arruamento – com orelhão à esquerda. 2013.

Foto: Fadel David Antonio Filho.

Plantação de feijão irrigado. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

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Corte de Eucalipto e plantação ao fundo. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Corte de Eucalipto. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

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Produção de Laranja na Agrovila. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Templo Evangélico. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

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Moradia em alvenaria com mais de 120 m2. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Moradia em alvenaria com mais de 120 m2- Vista Frontal. 2013. Foto: Fadel David

Antonio Filho.

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Antiga Escola do Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Campo preparado à espera de plantio. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

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Terra preparada para plantio. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

Assentado no uso de tração animal. 2013. Foto: Fadel David Antonio Filho.

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Lagoa de decantação dos dejetos do atual Centro de Reabilitação. 2013. Foto:

Fadel David Antonio Filho.

Lagoa de decantação dos dejetos – vista da saída para o Córrego Verdinho. 2013.

Foto: Fadel David Antonio Filho.

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Placa Informativa na entrada do Assentamento. 2013. Foto: Fadel David Antonio

Filho.

Penitenciária Joaquim de Sylos Cintra – Casa Branca (SP). Foto: Ary Molinari. 2010. Fonte: <<http://noticias.terra.com.br/brasil/policia/vc-reporter-policia-encontra-

pomba-com-celular-preso-ao-corpo-em-sp,1fa81054a250b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>> Acesso em:

06/08/2013.

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Penitenciária “Joaquim de Sylos Cintra" – Casa Branca (SP): visão geral do presídio, mostrando três áreas de lançamento de esgoto de mais de 2 mil pessoas no lado

direito da foto.

Fonte: <<http://wikimapia.org/#lang=pt&lat=-21.783552&lon=-47.012504&z=17&m=b>>. Acesso em: 06/08/2013.

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ANEXOS

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ANEXO 1. CHAMADA PÚBLICA N.º 001/2013.

Para informações mais detalhadas acesse:

<<http://www.itesp.sp.gov.br/itesp/acoes-detalhes.aspx?c=299>

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ANEXO 2. CHAMADA PÚBLICA N.º 002/2013.

Para informações mais detalhadas acesse:

<<http://www.sap.sp.gov.br/download_files/pdf_files/editais/edital-p-casa-branca.pdf>>.

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GEOGRAFIA AGRÁRIA

Assentamento de trabalhadores rurais dos Cocais - Município de Casa Branca-

estado de São Paulo

“ Os assentamentos rurais estão vinculados a questões da organização e produção agrícola por trabalhadores rurais, o trabalho comunitário e familiar, o uso da terra e a ações concernentes a reforma agrária, no que diz respeito às políticas públicas envolvidas.

Na presente obra, é possível constatar a contribuição dos docentes e discentes de geografia com o exemplo do Assentamento Rural do Município de Casa Branca – “O Assentamento Rural dos Cocais”, sendo um assentamento de trabalhadores rurais em terras públicas estaduais.

Aqui se constatam as características do assentamento, problemas enfrentados (ambientais e sociais), e demais transformações que ocorreram ao longo do tempo desde sua criação.

Dessa forma, o conteúdo reunido tem caráter didático a estudantes de graduação, como também atende a pesquisadores e demais interessados que queiram se aprofundar no tema, dentro do contexto exposto bem como sua relação com demais áreas do conhecimento. ”.

Jessica Corgosinho Marcucci

Discente de Geografia- UNESP – Rio Claro (SP).

Adalzilio Machado Neto

Adler Guilherme Viadana

Antônio de Oliveira Lima

Enéas Rente Ferreira

Fadel David Antonio Filho

João Cleps Junior

Mari Urbani

Samira Peduti Kahil (in memoriam)

Sandra de Castro Pereira

Sílvio Carlos Bray