vi-€¦  · web view18. sistemas, fluxos e agregados macroeconÔmicos. 18.1 definição e...

45
VI- NOÇÕES GERAIS DE MACROECONOMIA 18. SISTEMAS, FLUXOS E AGREGADOS MACROECONÔMICOS 18.1 Definição e Objetivo da Macroeconomia a) Estuda os aspectos amplos e globais reunidos em agregados econômicos, seus comportamentos e relações entre si nas seguintes estruturas: mercado de bens e serviços (produto, renda nacional e consumo); mercado de trabalho (emprego, taxa salarial); mercado monetário e de títulos (moeda, preços e quantd. de títulos); mercado cambial (comércio internacional, taxas de câmbio). b) Tem como principal objetiv analisar de maneira agregada como são determinadas as seguintes variáveis econômicas: nível geral de preços; nível de produto; taxa de salários; nível de emprego; taxa de juros; quantd. de moeda; preço e quantd dos títulos; taxa de câmbio e quantidade de divisas. 18.2 Sistemas Real e de Intermediação Financeira da Economia a) Setor Real - área da economia onde se realizam as operações de geração de bens (produtos tangíveis) e de serviços não-financeiros (produtos intangíveis, comunicações, transporte, comércio). b) Setor de Intermediação Financeira - Área da economia onde se realizam operações de custódia, intermediação, compensação e liquidação de ativos considerados não-reais, como a moeda, os títulos de crédito, ações e outros papéis negociáveis em mercados específicos. 18.3 Fluxo Monetário e de Bens e Serviços - 60

Upload: phamnhan

Post on 11-Sep-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

VI- NOÇÕES GERAIS DE MACROECONOMIA

18. SISTEMAS, FLUXOS E AGREGADOS MACROECONÔMICOS

18.1 Definição e Objetivo da Macroeconomiaa) Estuda os aspectos amplos e globais reunidos em agregados econômicos, seus

comportamentos e relações entre si nas seguintes estruturas: mercado de bens e serviços (produto, renda nacional e consumo); mercado de trabalho (emprego, taxa salarial); mercado monetário e de títulos (moeda, preços e quantd. de títulos); mercado cambial (comércio internacional, taxas de câmbio).

b) Tem como principal objetiv analisar de maneira agregada como são determinadas as seguintes variáveis econômicas: nível geral de preços; nível de produto; taxa de salários; nível de emprego;

taxa de juros; quantd. de moeda; preço e quantd dos títulos; taxa de câmbio e quantidade de divisas.

18.2 Sistemas Real e de Intermediação Financeira da Economiaa) Setor Real - área da economia onde se realizam as operações de geração

de bens (produtos tangíveis) e de serviços não-financeiros (produtos intangíveis, comunicações, transporte, comércio).

b) Setor de Intermediação Financeira - Área da economia onde se realizam operações de custódia, intermediação, compensação e liquidação de ativos considerados não-reais, como a moeda, os títulos de crédito, ações e outros papéis negociáveis em mercados específicos.

18.3 Fluxo Monetário e de Bens e Serviços

Figura 1Fluxos gerais da economia

Fluxo monetário Fluxo de bens e serviços

a) Principais Agregados do Setor Real (Economia Sem Governo) produto nacional (PN) - é o resultado da atividade produtiva global.

Avaliação do desempenho da economia como um todo e significa o valor total das transações feitas com bens finais durante um ano (valor adicionado). Este dado interessa a todos os agentes econômicos.

- 60

Mercado de fatores

Mercado de produtos

Famílias Empresas

Setor RealSetor Interm. Financeira

Tabela 1– Cálculo do Valor AdicionadoAtividades Vendas Custos intermediários matérias-primas p/origem Valor produtivas Primária Secundária Terciária adicionado bruto

Primárias 150 15 25 50 60Secundárias 320 50 70 90 110Terciárias 480 35 140 175 130

Total 950 100 235 315 300

Tabela 2 –Determinação do ProdutoAtividadesprodutivas

Vendas Valor dos fornecimentos intermediários

Valor dos bens/serviços finais

Primárias 150 100 50Secundárias 320 235 85Terciárias 480 315 165

Total 950 650 300

renda nacional (RN) – é o total de pagamentos feitos aos fatores de produção que foram utilizados para a obtenção do produto.

Tabela 3– Cálculo da Renda (a custo dos fatores)Atividades Valor Custo dos fatores

produtivas adicionado Salários Aluguéis Juros Lucros Depreciações

Primárias 60 40 5 1 12 2Secundárias 110 55 17 2 23 13Terciárias 130 70 13 17 25 5

Total 300 165 35 20 60 20

PN= RN= Valor adicionado (equivalentes)

b) Formação de Capital Poupança - parcela da renda nacional que não é consumida no período. As

famílias não gastam toda sua renda em bens de consumo (poupam)

RN= Consumo + Poupança

Investimento – é o gasto com bens que foram produzidos, mas não foram consumidos no período e que aumentam a capacidade produtiva da economia para os períodos seguintes. É formado pela soma dos novos investimentos em bens de capital (máquinas e imóveis) e pela variação de estoques de produtos.

- 61

PN= Consumo + Investimento

Poupança= Investimento(Sem governo e sem comércio internacional)

c) Outras Medidas de Produto Produto Nacional Bruto – representa o total de todos os bens produzidos,

inclusive máquinas e equipamentos que irão repor àquela parcela de equipamentos, que foi desgastada no período imediatamente anterior ao processo de produção (depreciação);

Produto nacional líquido – representa a diferença entre o valor de todos os bens produzidos e a parcela de depreciação;

PNB= PNL + Depreciação

d) Dispêndio Nacional – são as duas formas de destino de todos os bens e serviços produzidos por um país: consumo e acumulação. A acumulação esta ligado ao processo de formação de capital.

Tabela 4 – Destinação da renda agregadaAtividades produtivas Bens/serviços produzidos Consumo Acumulação

Primárias 50 40 10Secundárias 85 60 25 Terciárias 165 150 15

Total 300 250 50

Figura 2Do produto ao dispêndio nacional (sem governo)

= =

- 62

Depreciações

Produto Nacional

Bruto

Produto Nacional Líquido

Renda Nacional Consumo

Dispêndio Nacional

(Consumo)

PoupançaAcumulação

18.4 A economia com Governo

a) Fontes das receitas do Governo Tributos Diretos – tributos sobre os ativos e as rendas das famílias e das

empresas; Tributos Indiretos – tributos sobre as transações intermediárias e finais,

isto é durante o processo de produção; Outras Receitas Correntes – tudo aquilo que não é tributo (dividendos,

emolumentos, tarifas, empréstimos compulsórios e contribuições sociais).

b) Novas definições de produto Produto a Custo de Fatores – valores apresentados sem incorporar os

impostos indiretos cobrados pelo governo nos diversos estágios da produção;

Produto a Custo de Mercado - valores apresentados com incorporação dos impostos indiretos cobrados pelo governo nos diversos estágios da produção menos os subsídios.

PN a preços de mercado= PN a custo dos fatores + Impostos indiretos

Tabela 5Produto a Custo dos Fatores e a Preços de Mercado

Composição do Atividadesvalor adicionado Primárias Secundárias Terciárias Total

1. Produto a custo dos fatores 58 97 125 280 Salários 40 55 70 165 Aluguéis 5 17 13 35 Juros 1 2 17 20 Lucros 12 23 25 60

2. Produto a preço de mercado 70 135 145 350 Produto a custo dos fatores 58 97 125 280 Depreciações 2 13 5 20 Tributos indiretos líquidos 10 25 15 50

- Tributos indiretos 14 27 17 58- Subsídios 4 2 2 8

- 63

Tributos indiretos líquidos

c) Renda Pessoal Disponível – é a renda nacional a custo dos fatores menos os tributos diretos sobre ela e mais as transferências do governo.

Tabela 6 – Determinação da Renda Pessoal DisponívelEspecificação Valores

Custo dos fatores (renda nacional) 280Tributos diretos sobre a renda (-) 40Transferências (ativos e inativos) (+) (+) 15

Renda pessoal disponível 255

d) Destinação da Renda Agregada- do total dos bens e serviços produzidos, parte é consumido e parte é acumulado pelas unidades familiares, empresas e governo.

Tabela 7 – Destinação da Renda AgregadaAividades produtivas

Bens/Serviços produzidos

Consumo Acumulação

Famílias Governo Total Fam./Empresas Governo Total

Primárias 70 39 6 45 9 1 10Secundárias 135 58 17 75 18 12 30 Terciárias 145 148 22 170 3 17 20

Total 350 245 45 290 30 30 60

Figura 3Do Produto ao Dispêndio Nacional (com Governo)

= = = =

- 64

Tributos diretos

líquidos

Depreciações

Produto Nacional

Bruto

Produto Nacional Líquido(a custo

dos fatores)

Renda Nacional

Renda Pessoal

Disponível

Dispêndio Nacional

(Consumo)

Acumulação

Produto Nacional Líquido(a preços

de mercado)

18.5 A Economia com Transações Externasa) Em termos contábeis, as transações com o exterior envolve 4 categorias de

fluxo: Exportações de Mercadorias e Serviços - venda de mercadorias para

exterior, receitas cambiais c/serviços prestados a estrangeiros decorrentes de viagens, transportes, seguros e outras e dispêndios das rep. diplomáticas instaladas no país;

Importações de Mercadorias e Serviços – compras de mercadorias estrangeiras, despesas cambiais c/serviços adquiridos de estrangeiros e dispêndios das rep. diplomáticas da nação no exterior;

Resultado Líquido dos Pagamentos/Recebimentos pelo Emprego dos Fatores de Produção – remunerações do tipo salários, juros arrendamentos e aluguéis, patentes, lucros e outros remetidos ou recebidos do exterior, como contrapartida pela utilização interna de recursos pertencentes a estrangeiros.

Saldo do Balanço de Pagamentos das Transações Correntes – resultado dos fluxos anteriores Sendo positivo= desacumulação e no caso de negativo= acumulação.

Tabela 8Saldo do Balanço de Transações Correntes

Fluxos agregados Valores

a) exportações de mercadorias e serviços 15b) importações de mercadorias e serviços 20c)recebimentos por rendas de fatores 5d)remessas de rendas de fatores 10

Saldo do balanço de transações correntes -10(a) –(b) + (c) – (d)

b) Outros Conceitos de Produto e Renda Produto Interno e Renda Interna - representa o que é gerado dentro do

território econômico de um país e corresponde ao produto/renda nacional mais a renda enviada para pagamento dos fatores de produção do pessoal não-residente e menos a renda recebida do exterior para pagamento de fatores de produção dos residentes no país;

- 65

Rendas líquidas enviadas p/esterior (5)

Tributos diretos menos transferências (25)

Depreciaçãocapital fixo (20)

Tributos indiretos menos subsídios (50)

18.6 Resumo dos Conceitos ConvencionaisConceito Adição/subtração Conceito

PIB (-) renda líquida enviada para o exterior PNBPNB (-) depreciação do capital fixo PNLPNL (-) tributos indiretos (+) subsídios RNRN (-) tributos diretos (+) transferências RPD

Figura 4Do Produto Interno Bruto à Renda Pessoal Disponível

PIB PNB PNL RN RPD(350) (345) (325) (275) (250)

18.7 Relações Intersetoriais

a) Principais Componentes Insumos – produtos de outras etapas; Valor Adicionado – produto da etapa atual; Valor Bruto da Produção – insumo + valor adicionado

c) Matriz das relações intersetoriais As linhas indicam o destino do que é produzido

Exemplo da linha 1: do total das saídas do setor primário (163), 100 foi absorvido por todos os setores sob a forma de insumos em transações intermediárias e 63 foi para o mercado final sob as formas indicados na tabela a seguir;

As colunas indicam a origem dos insumos empregadosExemplo da coluna 1: a produção primária absorveu 93, sendo 90 proveniente do mercado interno e 3 de importações. O restante para completar o valor de produção corresponde ao valor adicionado

- 66

Produto Interno Bruto

Produto Nacional

Bruto

Produto NacionalLíquido

(a preços de mercado)

RendaNacional

Renda Pessoal

Disponível

Tabela 9Matriz de Relações Intersetoriais

Origem Destino dos produtosdos insumos Transações intermediárias Procura final Valor da

Produção primária

Indústria Prod. de serviços

Subtotal

Consumo Acumu-lação

Expor-tações

Subtotal

produção

1. Setores 90 210 350 650 290 65 15 370 1.020Primário 15 50 35 100 45 12 6 63 163Secundário 25 70 140 235 75 42 5 122 357Terciário 50 90 175 315 170 11 4 185 500

       2. Setor externo 3 12 5 20

Importações 3 12 5 20       

3. Valor adicionado 70 135 145 350Custo dos fatores 58 97 125 280Depreciações 2 13 5 20Trib. indiretos líquidos 10 25 15 50

       Valor da produção 163 357 500 1020

- 67

19- SETOR PÚBLICO E A ECONOMIA

19.1 Caracterizaçãoa) entidade componente do Estado Nacional;b) garante os interesses privados (segurança e defesa, direitos de propriedade,

organização das atividades segundo seus objetivos) através da base jurídico-institucional visando o desenvolvimento global;

c) realiza atividades de cunho econômico e social, cujos objetivos são de: justiça, segurança, afirmação nacional, desenvolvimento econômico, bem-estar social;

d) espaço de manifestação de conflitos de interesses sociais;e) organizador e controlador de interesses contraditórios;f) poder estabelecido em três níveis no Brasil (federal, estadual, municipal) e

conservador em termos de estrutura sócio-política e econômica;

19.2 Principais Causas Determinantes da Expansão do Setor Públicoa) crises econômicas mundiais leva o setor a combater o desemprego, aumentar

gastos na área social e com obras;b) existência de guerras;c) avanço da legislação social em razão de maior presença de novos grupos

sociais (seguro social, auxílio-desemprego, etc);d) expansão das despesas com saúde, educação, lazer e outras em função do

aumento da população e aumento da renda per capita;e) modernização dos meios de transporte (estradas, portos, aeroportos);f) urbanização acelerada e mudanças tecnológicas (motor a combustão) fez

aumentar os gastos com estradas e outras infra-estrutura;g) expansão da industrialização (implantação de atividades básicas nos países

subdesenvolvidos - siderurgias, bancos de desenvolvimento etc);

19.3 Funções Públicasa) Alocativa (Específicas) – ligada ao fornecimento de bens e serviços não

oferecidos adequadamente pelo sistema de mercado. Gera empregos diretos, realiza investimentos e demanda materiais de consumo. Pouca variação entre países. Ex: justiça, defesa nacional, segurança, serviços de meteorologia e de despoluição;

b) Distributivas – ligada à redistribuição de rendas através dos serviços de saúde, educação, saneamento, previdência e seguro social. Gera empregos diretos, realiza investimentos e demanda materiais de consumo. Grande variação entre países e depende da orientação política do governo e combatividade dos sindicatos e entidades da sociedade organizada;

- 68

c) Estabilizadora (Banco Central) – relacionada ao monitoramento dos níveis de preço e emprego. Emite dinheiro, controla a quantidade de dinheiro em circulação, inclusive a capacidade dos bancos de criarem moeda escritural, tabela preços, realiza política fiscal;

d) Crescimento Econômico – voltada para o aumento na geração de renda emprego através de: Política Econômica – conjunto de medidas para induzir o comportamento

dos agentes privados através de impostos, normas e regulamentações, racionamento e outros meios redireciona investimentos, privilegia setores – políticas fiscal, rendas, monetária, cambial, comercial, agrícola, industrial.

Agente Econômico – empreendimentos econômicos (produção de insumos para o setor privado, atua em áreas menos rentáveis ou de mais longo prazo e para redução de custos privados – pesquisa e tecnologia). Diferente do setor privado já que seu objetivo principal não é o lucro.

19.4 Setor Público na Economia

a) realiza arrecadação Tributação deve seguir 2 Princípios:- Princípio da neutralidade – permite a não alteração dos preços relativos de

mercado, corrigir ineficiências observadas no setor privada;- Princípio da equidade – tributação de maneira justa entre as pessoas. Principais Efeitos:

- Reduz dinheiro em circulação (renda disponível) através da cobrança de impostos;

- Aumenta os custos dos produtos (cobrança de impostos) provocando expansão dos seus preços;

- Permite realização de atividades sociais e transferências de renda (abono familiar, salário-família, seguro contra desemprego, subsídios).

b) Realiza Gastos (contratando serviços ou pagando funcionalismo) Principais Efeitos:

- Aumenta número de empregos permitindo que maior número de pessoas passem a ter renda e, conseqüentemente, aumento da demanda por bens;

- Cria economias externas para o capital privado o que aumenta os investimentos privados e por sua vez aumento da demanda de matéria-prima.

c) Realiza Atividades Produtivas (Estado-Produtor) Principais Efeitos:

- Aumenta número de empregos;- Produz insumos básicos (energia, petróleo, água;

- 69

- Produz bens e serviços vitais para o progresso social (defesa, justiça, saúde, educação, etc);

- Aumento do estoque de capital do país (estradas, portos, prédios).

19.5 Empresas Estatais e Privatização

a) Aparecimento das empresas estatais No mundo depois da 2ª guerra aumentou a intervenção do Estado na

economia através da criação de empresas públicas ou mistas; No Brasil a partir de 1950 em áreas consideradas estratégicas como

petróleo (Petrobrás), siderurgia (CSN), energia (Eletrobrás), Telecomunicações (Embratel), aviação (Embraer);

b) Privatização (Desestatização) A partir de 1979 governo inglês resolve liquidar participações de governo

em companhias mistas (governo conservador de Thatcher); Governos francês e alemão fazem o mesmo em 1986 e 1990,

respectivamente; Na América latina isto ocorre no Chile no período de 1974-81, Costa Rica

e Honduras -1985, Argentina, Colômbia e México – 1989, Panamá, Uruguai e Venezuela – 1990, Brasil e Nicarágua – 1991, Peru – 1992 e Equador, Guatemala e Paraguai – 1994.

Privatizações brasileiras – Usiminas (1991), Aços Piratini, Siderúrgica do Nordeste, Petroquímica do Sul e Siderúrgica de Tubarão (1992), CSN, Cosipa e Açominas (1993), Embraer (1994). Telebrás e RFFSA (1998)

- 70

20 - MOEDA, CRÉDITO E SISTEMA MONETÁRIO

20.1 Intermediação, Mercados Financeiros e Criação da Moeda

Na atividade de intermediação financeira é utilizado como objeto de transação os ativos financeiros – são ativos não-reais que não satisfazem a nenhuma necessidade de forma direta mas usados como meios para aquisição de bens e serviços que atenderão às necessidade a que se destinam. Têm graus de liquidez superior à maior parte dos ativos reais e podem proporcionar rendimentos a seus detentores (moeda corrente, títulos de créditos, ações, letras de câmbio, etc)

20.2 Categorias de Mercado FinanceirosEm função dos tipos de operações e dos fins que se destinam o setor de intermediação financeira apresenta os seguintes mercados:a) Mercado monetário – opera com papel-moeda e moeda escritural;b) Mercado de crédito – opera c/empréstimos de uma maneira geral;c) Mercado de capitais – opera com ações e outros papéis;d) Mercado cambial – opera com moedas estrangeiras.

20.3 Moedaa) Evolução Histórica

Época inicial (trocas de produtos com produtos); com aumento da produção, aparecimento das comunidades, crescimento

das trocas comerciais e divisão social do trabalho, surge as necessidades de se realizar trocas mais importantes através de bens que tinham aceitação geral (sal, gado, bambu, metais, etc);

Destaque para os metais preciosos visto que tinham:- Aceitação geral (valor em si); durável; raro; divisível e fácil transporte;- Limitações: necessidade de pesagem (balança sensível) e especialistas. Desenvolvimento da cunhagem (moeda c/figura p/mostrar seu valor) e

recunhagem o que acarretou o surgimento da inflação; Processo de cunhagem feito por cunhadores particulares (ourives) que

tinham cofres seguros p/guardar o ouro p/cunhagem e surgimento dos recibos negociáveis (papel-moeda). Moeda c/equivalência em metal. Aparece então mais recibos do que quantidade de metal sob depósito;

Processo de cunhagem passa para o governo (emissão de papel-moeda) e a moeda-papel passa por períodos de lastros parciais em padrão-ouro (fracionalmente lastreada) até o abandono deste tipo de padrão;

Atualmente o papel-moeda tem garantia apenas legal e fiduciária (em confiança). Não existe qualquer lastro em ouro, sendo estágio mais avançado.

- 71

b) Estágios da moeda (resumo) Estágio do Escambo – período de poucas trocas, atividade produtiva não

está voltada para o mercado. Trocas de produto com produto; Estágio Moeda-Mercadoria– caracterizado pelo uso de uma mercadoria-

padrão p/trocas (sal, gado, metais, etc). Limitações: perecíveis, pouco raras, reprodutíveis, indivisíveis, dificuldades de pesar e avaliar por exemplo o metal;

Estágio da Moeda Simbólica – uso do metal p/fazer moedas cunhadas, as quais eram garantidas pelo soberano, facilita as trocas;

Estágio da Moeda-Escritural – fase do depósito em instituições especializadas (recibos de depósitos, notas bancárias, cheques);

Estágio da Moeda Eletrônica – fase onde a moeda refere-se à vários tipos de registros eletrônicos representando uma diversidade de ativos.

c) Características da Boa Moeda Fácil transporte e manuseio; Divisibilidade; Raridade; Durabilidade; Aceitação generalizada.

d) Funções da Moeda Meio ou instrumento de troca – possibilidade de tudo adquirir; Reserva de valor – existência de um valor intrínseco; Unidade de conta – permite somar várias mercadorias; Padrão para pagamentos diferidos – medida p/pagamentos futuros.

20.4 Tipos de agregados financeiros

a) Ativos MonetáriosÉ a própria moeda. Não proporciona rendimentos a seus detentores, pois não estão aplicados, são ativos prontos, disponíveis. São os meios de pagamentos dos agentes econômicos, é a liquidez por excelência (M1).

b) Ativos Não-MonetáriosProporciona rendimentos aos seus detentores. São os títulos de renda fixa ou variável de emissão do governo ou do sistema financeiro. Quando os mesmos são de alta liquidez, ou praticamente quase-líquidos são chamados de quase-monetários.

Tabela 1 – Composição dos Ativos Financeiros – Brasil/94

- 72

Ativos financeiros Valor dos ativos % em relaçãoR$ milhões % ao PIB

1. Papel-moeda emitido (A) 10.046 - -2. Caixa em moeda corrente sist. financeiro (B) 1.424 - -

3. Monetários, Líquidos 23.081 13,1 3,3 Papel-moeda em poder do público (A-B) 8.622 4,9 1,2 Depósito à vista do público sist. bancário 14.459 8,2 2,1

4. Não-monetários, Quase-líquidos 152.364 86,9 21,7 Fundos do mercado monetário1 12.791 7,3 1,8 Títulos públicos em poder do público 36.974 21,1 5,3 Depósitos em caderneta de poupança 44.945 25,6 6,4 Títulos emitidos pelo sistema financeiro2 57.654 32,9 8,2

Total 175.445 100,0 25,01 São os fundos de aplicação financeira a curto prazo e depósitos especiais remunerados;2 São os certificados de depósitos a prazo, letras de câmbio e letras hipotecárias.

c) Tipos de Agregados (observar na Tabela acima)M0 - moeda em poder do público – meio circulante (papel-moeda e moedas

metálicas);M1 – M0 + depósitos a vista nos bancos comerciais;M2 – M1 + Fundos mercado monetário + Títulos públicos em poder do público;M3 – M2 + Depósitos de poupança;M4 – M3 + Títulos privados (emitidos pelo sistema financeiro).d) Características

M0 (moeda manual, corrente) e M1 são ativos líquidos e valores em forma de dinheiro e que são usados como meios de pagamento;

Os depósitos à vista do público no sistema bancário são chamados de moeda-escritural ou moeda-bancária;

M2, M3 e M4 são os agregados não-monetário, quase-moedas e rendem juros;

Os ativos financeiros não-monetários não são meios de pagamento, embora possam se constituir em reservas que para efeito de liquidar transações podem se transformar em disponibilidades monetárias. Têm menor grau de liquidez que os monetários.

e) Moeda Escritural (cheque não é moeda, o depósito é que a moeda) a moeda escritural ganha a preferência do público por: ser de fácil

transporte e manejo, mais seguro por ser nominal, dispensa troco, serve como recibo (contabilização e comprovação) e é utilizada para se obter novos créditos.

20.5 Funções dos Bancos

- 73

a) Bancos Comerciais- Intermediação Financeira: transfere recursos de agentes superavitários

para agentes deficitários;- Transmutação de Ativos: transforma certos ativos em outros;- Câmara de Compensação: intermédia trocas de moeda ou a liquidez da

economia.b) Banco Central

- Banco dos Bancos: recebe dep. compulsórios dos bancos comerciais; fornece empréstimos de liquidez e redesconto (tx. de redesconto) e coordena funcionamento câmaras de compensação;

- Superintendente Sist. Financeiro Nacional: baixa normas, fiscaliza, controla, autoriza e decreta intervenção e liquidação de bancos;

- Executor Política Monetária: regula a expansão dos meios de pagamento e controla a liquidez da economia como um todo;

- Banco Emissor – detém o monopólio de emissão de moeda;- Banco de Governo – financia o tesouro nacional, administra a dívida

pública interna e externa e as reservas internacionais do país.

20.6 Oferta de Moeda Medição da Oferta

- a oferta monetária ocorre pela expansão dos agregados M1 (em sentido restrito), M2, M3 e M4 (em sentido amplo);

- a oferta monetária é medida pela soma dos estoques de cada agregado no final de períodos definidos.

Aumento da Oferta- através das emissões de moeda feitas pelo Banco Central;- através dos depósitos à vista realizados junto aos bancos.

Multiplicação da Moeda (expansão da moeda-escritural)- Moeda-Escritural – representa o direito que o depositante possui

sobre uma quantia que foi depositada à vista nos bancos comerciais. Não é dinheiro emitido e só existe do ponto de vista contábil;

- Destino dos Depósitos – quando os depósitos à vista são realizados, uma parte é destinada ao encaixe voluntário do próprio banco, outra parte refere-se ao recolhimento compulsório determinado pelo Banco Central e uma terceira retorna aos agentes econômicos sob a forma de empréstimos.

- Efeito-Multiplicador – corresponde a possibilidade de criação de moeda-escritural e decorre da capacidade dos bancos comerciais emprestarem parte do dinheiro depositado. E, este efeito ocorre em função do seguinte processo:

1. a oferta monetária (M) é dado por: moeda em poder do público mais depósitos a vista nos bancos comerciais

- 74

M= PMPP + DVSB2. um aumento desta oferta poderá acontecer através da compra feita

pelo Banco Central de títulos da dívida pública que estão em poder do público, então:

M= PMPP + DVSB3. portanto em decorrência do aumento do DVSB, crescerão também

os encaixes voluntários dos bancos (EV), recolhimentos compulsórios (RC) e empréstimos (E)

DVSB = EV + RC + E4. Estes novos empréstimos acabarão por gerar novos depósitos que

por sua vez proporcionarão novos empréstimos, e, assim, sucessivamente.

5. em resumo, esta propagação multiplicativa produzirá sucessivas adições ao estoque da moeda escritural (aumento dos meios de pagamento)

6. a magnitude do efeito multiplicador (K) é inversamente proporcional à taxa global (R) relativa aos encaixes voluntários, recolhimentos compulsórios e retenções feitas pelos agentes. Deste modo:

Então supondo-se R= 0,25, o valor e K= 4

7. Exemplo do efeito-multiplicador com depósito inicial de 10.000 e taxa global de encaixe igual à 0,25

Tabela 2 – Efeito-multiplicador da moeda escrituralEtapas

do processoDepósitos à vista

(DVSB)Retenções

(EV + RC)Empréstimos

(E)

Injeção inicial 10.000 2.500 7.500Primeira etapa 7.500 1.875 5.625Segunda etapa 5.625 1.407 4.218Terceira etapa 4.218 1.055 3.163Quarta etapa 3.163 791 2.372Quinta etapa 2.372 593 1.779

Efeito-multiplicador (A) 32.878 8.221 24.657Efeito-multiplicador (B) 7.122 1.779 5.343Efeito-multiplicador (C) 40.000 10.000 30.000A – efeito multiplicador nas 5 primeiras etapas; B - efeito multiplicador nas demais etapas até próximo de zero e C – efeito multiplicador no final do processo.

1K= R

- 75

Base Monetária - é a soma da quantidade de papel-moeda emitido mais as reservas bancárias (voluntárias e compulsórias) que os bancos mantém no Banco Central.

Instrumentos de Controle da Oferta Monetária- fixação da taxa de recolhimentos compulsórios – exigência do BC;- Operações redesconto de títulos – empréstimos através de redesconto

de títulos;- Operações de mercado aberto – operações de compra e vende de

títulos;- Controle seletivo de crédito – seleção de setores, regiões, categorias

de agentes econômicos preferenciais para operações financeiras.20.7 Demanda por moeda

As empresas/famílias necessitam moeda (liquidez) que são retidas em:i) mãos; ii) cofres das empresas; iii) dep. à vista nos bancos comerciais.

Razões da procura por moeda:- Transação – necessidade de realizar pagamentos e compras diversas

para satisfação de necessidades de consumo e acumulação;- Precaução – necessidade de atender as incertezas do futuro,

previsíveis ou não e se garantir com valores líquidos até os próximos ingressos;

- Especulação – necessidade de realizar ganhos especulativos através de compras de ativos reais e financeiros, aproveitamento das oportunidades nos setores real e financeiro;

- Outros:. expectativas quanto variação futura dos preços;. usos e costumes quanto aos prazos de liquidação de operações;. grau de desenvolvimento do sistema financeiro;. nível e repartição da renda

Magnitude das RetençõesAs quantidades de moeda por tipos de retenção variam, principalmente, em função de: - Transação e Precaução - função direta da renda agregada (a nível

das pessoas e a nível nacional) e inversa dos custos de oportunidades;- Especulação – função inversa das taxas de juro.

Moeda e Nível de Preços- excesso de moeda aumento dos preços;- escassez de moeda redução dos preços.

- 76

21. NOÇÕES SOBRE INFLAÇÃO

21.1 DefiniçõesFenômeno monetário constituído por um aumento contínuo e generalizado dos preços de todos os bens e serviços produzidos na economia em determinado período de tempo.

21.2 Efeitos do Processo Inflacionárioa) Distribuição da Renda – redução do poder aquisitivo dos segmentos que têm

rendimentos fixos e menores (assalariados, rendas de aluguel);b) Balanço de Pagamentos – aumento do preço do produto nacional e estímulo

às importações e desestímulo às exportações provocando diminuição do saldo do balanço comercial (combate através das desvalorizações cambiais e isto provoca aumento dos preços dos insumos básicos importados);

c) Mercado de Capitais – redução das aplicações nos mercados de capitais e expansão da aplicação em terras, imóveis (busca de proteção);

d) Nível de Investimentos – redução das iniciativas empresarias em função das incertezas qto. ao futuro e de maior segurança na aplicação de títulos reajustados de acordo c/inflação (desestímulo à produção).

21.3 Causas da inflação (tipos)a) Inflação de Demanda - excesso de demanda agregada em relação à produção

disponível de bens e serviços – dinheiro demais à procura de poucos bens. meios de Combate – políticas que reduzam demanda agregada de bens:

- políticas de redução dos gastos do governo (maior comprador);- políticas de restrição da quantidade de moeda e de crédito;- políticas de aumento da carga tributária.

b) Inflação de Custos – aumento dos insumos (custos de produção) ou lucros excessivos gerando aumento dos preços do produtos. Exemplos: aumentos de energia e expansões salariais acima dos aumentos de produtividade da mão-de-obra (sindicatos com alto poder de barganha); elevação de lucros acima dos aumentos de custo de produção (empresas c/elevado poder de monopólio ou oligopólio). Meios de Combate – políticas de controle geral dos preços:

- Políticas salariais mais rígidas;- Políticas fiscais sobre os lucros auferidos pelos oligopólios;- Políticas de controle de preços dos produtos.

c) Inflação Inercial – consiste na prática generalizada da indexação gerando uma autopropagação da inflação. Correção dos custos de fatores e dos preços dos produtos por índices de inflação passada.

21.4 Medição da InflaçãoInflação é medida através de diferentes números-índices de preços

- 77

a) Número-Índice – estatística que visa medir a variação relativa e preços de um agregado de bens e serviços em uma seqüência de períodos de tempo. Atendem a diferentes objetivos e têm diferentes níveis de abrangência setorial ou espacial.

b) Cálculo de Número Índice – através dos preços coletados em intervalos de tempo regulares, ponderados por suas relativas importâncias de acordo com o tipo de agregado e comparados com os preços anteriores

Tabela 1 – Cálculo Simplificado da Taxa de Inflação)Produtos Peso (%) Var. preço (%) Cálculo

A 30 20 0,3 x 0,2= 0,06B 10 30 0,1 x 0,3= 0,03C 20 50 0,2 x 0,5= 0,10D 40 40 0,4 x 0,4= 0,16

Total= 0,35

c) Tipos de Números-Índices INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor (restrito) - IBGE

abrange 10 regiões metropolitanas e Brasília e famílias com rendimento de trabalho assalariado entre 1 a 8 pisos salariais. Aplicação geral, periodicidade mensal (consumo varejista);

IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor (amplo) - IBGEMesma abrangência geográfica e periodicidade que INPC mas envolvendo famílias com renda entre 1 a 40 pisos salariais s/distinguir fonte de renda. Aplicação financeira (consumo varejista);

IPC-FIPE – Índice e Preços ao Consumidor da FIPE (USP)Abrangência voltada para cidade de São Paulo e famílias com renda familiar entre 1 a 20 SM. Periodicidade semanal/mensal;

IGP – Índice Geral de Preços (FGV)É composto da soma de três outros índices: IPA – índice de preços por atacado; IPC-BR – índice de preços ao consumidor-Brasil; INCC-índice nacional da construção civil;

IGP-M – Índice Geral de Preços de Mercado (FGV)Metodologia de cálculo semelhante ao IGP. Aplicação financeira;

Índice da DIEESE – refere-se à cesta básica.

- 78

IX - COMÉRCIO INTERNACIONAL E GLOBALIZAÇÃO

22. NOÇÕES SOBRE COMÉRCIO INTERNACIONAL

22.1 Fatores Determinantes de Crescimento do Comércio entre países

a) Graus crescentes de especializações em função do tamanho dos países, diversidade dos recursos naturais e ocorrências localizadas ampliam as trocas reais e financeiras entre nações;

b) Intensidade diferentes de uso e a imobilidade ou quase-imobilidade dos fatores de produção (terra, mão-de-obra e capital) entre países levam a existência de várias economias com diversos níveis de produção e de produtividade;

c) Vantagens decorrentes do intercâmbio (especialização, ganhos de escala, aumento da eficiência, qualificação tecnológica e diversidade de produtos).

22.2 Taxas de CâmbioÉ o preço da divisa, mede o valor externo da moeda nacional;Sofre influências da quantd. da oferta (exportadores) e da demanda de moeda estrangeira (importadores);Supera contradição do internacionalismo do comércio com o nacionalismo das moedas.

a) Comportamento dos Exportadores e ImportadoresTabela 1 –Taxas, Preços e Comportamento do Comércio

Taxa de câmbio Preço produto de exportação ComportamentoEm dólares Em real

2,00 4,00 8,00 Desejam exportar mais1,00 4,00 4,00 Desejam exportar menos

Taxa de câmbio Preço produto de importação ComportamentoEm dólares Em real

2,00 2,00 4,00 Desejam importar menos1,00 2,00 2,00 Desejam importar mais

b) Quando Usada como Medida de Política Econômica:afeta rentabilidade dos investimentos;afeta distribuição de renda entre setores, grupos ou países.

c) Determinação da Taxa de Câmbio (Primeiro Referencial)Para estabelecer equivalência entre os preços nacionais e internacionais.

- 79

Tabela 2 – Determinação da Taxa de CâmbioProduto Preço Valor da taxa (R$)

Nacional (R$) Internacional (US$) 19,00 15,00 11,00A 10,00 0,50 9,50 7,50 5,50B 10,00 0,60 11,40 9,00 6,60C 10,00 0,66 12,54 9,90 7,26D 10,00 0,75 14,25 11,25 8,25E 10,00 0,80 15,20 12,00 8,80F 10,00 0,85 16,15 12,75 9,35

equilíbrio: US$ 1.00= R$ 15,00;com inflação de 40%, o equilíbrio passa a ser de US$ 1.00= R$ 19,00;com aumento de produtividade de 20%, o equilíbrio passa a ser de US$

1.00= R$ 11,00;

d) Tipos de Taxas de câmbio: comercial, paralela, flutuante, turismo, etc.

e) Arbitragem: transações de compra e venda de moeda que ocorrem entre Estados, regiões de um país (leva o equilíbrio da taxa de câmbio).

e) Especulação: ato de reter a moeda visando aumento da taxa de câmbio (leva aumento da taxa de câmbio).

22.3 Balança de pagamentos

Registro contábil de todas as transações de um país com outros países do mundo (exportações, importações, fretes pagos a navios estrangeiros, empréstimos que recebe/envia, capital das empresas que entram/saem, etc).

a) Forma de Registro ou Lançamentos todas as compras de moeda estrangeira são registradas no lado esquerdo e

representa saída de divisas (débito); todas as vendas de moeda estrangeira são registradas no lado direito e

representa entrada de divisas (crédito).

b) Divisão da Balança de Pagamentos Balança de Transações Correntes

- balança comercial – registra valores das exportações e importações;- balança de serviços – registra valores dos serviços;- balança de transferências unilaterais – registra os valores transferidos dos

residentes para pessoas que moram no exterior e os recebimentos dos residentes feitos pelos que moram no exterior;

Balança de Capitais – registra capital das firmas estrangeiras que entram no país, empréstimos de empresas, FMI, etc.

c) Valor das Balanças (Saldo)- 80

Saldo da Balança de Pagamentos deve estar sempre em equilíbrio ou seja seu saldo é sempre igual a zero;

Saldo das Balanças de Transações Correntes, Comercial, Serviços ou de Capitais podem ser deficitárias ou superavitárias (ver Tabela 3);

Para que saldo da balança de pagamentos seja = 0, trabalha-se c/balança de capitais. A balança de capitais ajusta a balança de pagamentos.

Tabela 3 – Balança de pagamentosDébito Crédito

1. Balança de transações correntes1.1. Balança comercialImportações 17.000 Exportações 14.000

Saldo (déficit) 3.0001.2. Balança de serviçosTransportes e juros 5.000 Transportes 3.000

Saldo (déficit) 2.0001.3. Balança de transferências unilateraisEnvio de valores 1.000 Recebimento de valores 2.000

Saldo (superávit) 1.000Saldo balança transações correntes 4.000

2. balança de capitaisIngresso de capitais 1.000Empréstimos do exterior 1.000Diminuição de reservas 1.000Empréstimo FMI 1.000Saldo (superávit) 4.000

Principal conclusão: saldo negativo da balança de transações correntes de um país significa transferência de renda (poupança) dos outros países para este país.

22.4 Teoria do Comércio Internacional

a) Mercantilismo – intensificação das trocas visando benefícios unilaterais. Muita exportação e pouca importação, ênfase nas exportações para ter balança comercial positiva, através: Acumulação de metal no país (ouro e prata) significava riqueza; Colonialismo através do monopólio comercial com as colônias; Industrialismo protecionista com taxas de importação; Controle das Operações Cambiais p/evitar perdas de reservas; Nacionalismo.

22.5 Globalização

- 81

a) ConceitoFenômeno conhecido como processo de internacionalização do comércio, das finanças, da produção. Embora seja fenômeno antigo o termo foi usado pela 1ª vez na crise de 1929, comumente utilizado a partir dos anos 80.

b) Síntese Histórica Período Romano

Intercâmbio entre as regiões: norte da África, Europa e Oriente próximo impondo aos povos dominados a Pax Romana;

Período MercantilistaIntercâmbio entre a Europa e as colônias consistindo uma europeização do mundo sob a forma de domínio caracterizado de Pax Européia (maior parte do tempo Pax Britânica). Século XX (Pax americana)

- Até 1ª metade comércio mundial retrai devido: crise de 29 e 2 guerras;- Processo impulsionado após 2ª guerra mundial c/bipolarização,

(EUAxURSS), expansão das corporações transacionais, intensificação do intercâmbio comercial e crescimento da renda mundial;

- Aceleração do processo nas 2 últimas décadas.

Tabela 4 - Crescimento do volume do comércio mundial e do PIBEspecificação 1953/73 1973/80 1980/85 1986/90 1991/95

Comércio (A) 7,80 4,60 2,40 5,20 6,00PIB (B) 4,80 3,30 2,60 3,40 2,60A/B 1,63 1,39 0,92 1,52 2,31Obs. Ritmo de crescimento do comércio pós 73 é inferior ao observado no período anterior e

função das restrições impostas pelos países desenvolvidos.

c) Globalização no Final do Século XX Características

- estágio de globalização mais abrangente, veloz e complexo impondo novo ordenamento das relações no mundo e no interior de cada país;

- redução do poder dos estados nacionais na definição de suas políticas. Antes, em função da bipolarização, relações internacionais operavam-se através dos estados nacionais tendo como componente principal a ideologia. Hoje, as questões econômicas têm primazia e as corporações transacionais detêm grande importância política;

- com aumento dos países subdesenvolvidos no comércio internacional, países ricos utilizam c/mais intensidade restrições não tarifárias para proteger suas indústrias, quotas de importação e normas (técnicas, fitossanitárias, de qualidade, meio ambiente, condições de trabalho),

- 82

restrições voluntárias e leis comerciais (talvez estas normas tenha reduzido ritmo de crescimento deste comércio pós/1973. V. Tab. 17).

Fatores Impulsionadores- existência de maior poder da Organização Mundial do Comércio

(anteriormente GATT) promovendo liberalização comercial;- incorporação ao mercado capitalista de produto e capital do mundo

socialista (1/3 da humanidade);- expansão das corporações multinacionais e transnacionais no comércio

mundial e suas transferências para países emergentes com baixo custo da mão-de-obra, crescimento do mercado interno e recursos naturais.

crescimento do comércio mundial superior ao crescimento da renda;- devido ao aumento da participação países emergentes (Brasil) neste

comércio visando aumentar o bem estar e o crescimento econômico, estes países crescem e se especializam (25% das exportações mundiais de manufaturas são realizadas pelos países emergente graças à estratégia de promoção às exportações iniciada à partir dos anos 60);

- desregulamentação das transações financeiras internacionais (liberalização à entrada e saída de recursos financeiros);

- crescimento das tecnologias de informação e comunicação e modernização e expansão dos meios de transporte (facilitando acessos, reduzindo custos);

- surgimento dos fundos mútuos de investimento e de pensão e diversificação das aplicações financeiras mundiais;

- mudança do regime cambial provocando flutuação da taxa de câmbio entre as moedas do mundo. A partir da década de 70, a taxa de câmbio nominal fixa (padrão dólar/ouro) é alterada para a taxa de câmbio flutuante. O valor da moeda fica em função da oferta e procura e da intervenção do Banco Central;

- consenso de Washington – reunião de trabalho do FMI, BIRD e do Tesouro Americano (início dos anos 90) recomendando aos países subdsenvolvidos que adotassem políticas de abertura de seus mercados e estabelecesse Estado Mínimo (privatização das atividades produtivas, desregulamentação, abertura dos mercados) visando solucionar: inflação alta; déficit em transações correntes;crescimento econômico insuficiente; e, distorções na distribuição de renda.

Principais Conseqüências- 83

- crescimento da riqueza financeira do mundo, passando de US$ 7 trilhões para US$ 35 trilhões entre 1983 e 1995;

- aumento das transações financeiras anuais feitas fora do país de origem de 35% para 150% do PIB dos países do G-7;

- transferência dos empréstimos internacionais dos bancos oficiais para os bancos privados. Hoje a maior parte do dinheiro encontra-se nas mãos dos bancos privados, corporações transnacionais, fundos de investimentos e de pensões e especuladores;

- aparecimento do capital volátil especulativo (hot money) diferente do capital de investimentos;

- substituição de produtos, capital e tecnologia nacionais pela idéia de “fábrica global”. Cada vez mais se intensifica fusões, incorporações, associações, compras de empresas em escala mundial e terceirização da produção. Peças e componentes de um produto são fabricados em diversos países ou empresas se unem para lançarem produto mundial (carro por exemplo);

- aumento da competitividade e redução dos custos dos produtos através de aperfeiçoamento tecnológico, reengenharia empresarial, qualidade total, automação; terceirização, produção de escala, deslocamentos de empresas para outros países, eficiência administrativa e gerencial, agressividade comercial, entre outros;

- multipolarização econômica com a formação dos blocos econômicos regionais (Ver Tabela 18);

- aprofundamentos das diferenças socioeconômicas entre os países ricos e pobres agravando a exclusão social de camadas de população ou de países inteiros que não conseguem acompanhar os padrões de competitividade;

- crises econômicas em função da existência de déficit externos das contas correntes nos seguintes países:

. México em 1994;- Tigres asiáticos em 1997 (inicialmente Tailândia, Malásia, Filipinas,

Indonésia e depois Taiwan, Coréia, Hong Kong);- Brasil em 1997 e Rússia em 1998.- aumento da concentração da riqueza nas mãos de uma elite reduzida; do

desemprego, da pobreza e da miséria.

- 84

Tabela 5 – Multipolarização EconômicaBlocos econômicos Objetivos Países

NAFTA– Tratado de Livre Comércio da América do Norte (1989)

Zona de livre comércio Canadá, USA e México

MCCA – Mercado Comum Centro Americano (1961) União alfandegária Costa Rica El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá

CARICOM – Comunidade do Caribe (1968) União aduaneiraCoord. de políticas públicas

5 países da região do Caribe

PA – Pacto, Comunidade ou Grupo Andino (1969) Mercado comumCoord. de políticas industriais

Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela

MERCOSUL –Mercado Comum do Sul (1987) Mercado comumAtuação p/ o desenvolvimento

Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai

EU – União Européia (1957) Zona de livre comércioHarmonização políticas públicasUnião monetária

Alemanha, Áustria, Finlândia, Suécia, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal e Reino Unido

EFTA – Associação Européia de Livre Comércio Área de Livre Comércio Aústria, Finlândia, Islândia, Liechtenstein, Noruega, Suécia e Suiça

CEI – Comunidade de Estados Independentes (1991) Acordos multilaterias e econômicos Rússia, Bielorússia, Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Armênia, Azerbaijão, Cazaquistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Turcomênia, e Quirquízia

- 85

Blocos econômicos Objetivos Países

CEAO – Comunidade Econômica da África Ocidental Coord. de políticas públicasAcordo multilateral de defesa e não agressãoConst. fundo de desenvolvimento

7 países

CDAO – Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (1997)

África do Sul, Angola, Botsuana, Congo, Lesoto, Malavi, Maurício, Moçambique, Namíbia, Seychelles, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue

Fórum econômico da Ásia e do Pacífico (1989) Liberalização do comércio Japão, Coréia do Sul, China, Tailândia, Cingapura, Malásia, Indonésia, Taiwan, Filipinas, Austrália, Nova Zelândia, USA, Canadá e outros países

ASEAN – Associação das Nações do Sudeste Asiático (1997)

Área de Livre Comércio Brunei Darussalam, Cingapura, Filipinas, Indonésia, Malásia, Tailândia e Vietnã

APEC – Associação de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (1989)

Área expandida de livre comércio Proposta de Reunir NAFTA, ASEAN e outros países do Pacífico

ALCA – Área de Livre Comércio das Américas (1994) União aduaneira Proposta americana de reunir todos os blocos da América

- 86