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Presidente Augusto Ernesto Timm Neto Vice-Presidente Joseida Elizabete Timm Reitor Marcos Fernando Ziemer Vice-Reitor Valter Kuchenbecker Pró-Reitor de Administração Levi Schneider Pró-Reitor de Graduação Ricardo Prates Macedo Pró-Reitor Adjunto de Graduação Pedro Antonio González Hernández Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Erwin Francisco Tochtrop Júnior Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Ricardo Willy Rieth Capelão Geral Gerhard Grasel VETERINÁRIA EM FOCO Disponível eletronicamente no site www.ulbra.br/medicina-veterinaria/revista.html Indexadores AGROBASE - Base de Dados da Pesquisa Agropecuária (BDPA), CAB Abstracts, LATINDEX Comissão Editorial Prof. Ms. Carlos Santos Gottschall Prof. Dr. Luís Cardoso Alves Prof. Dr. Sérgio José de Oliveira Conselho Editorial Prof. Dr. Adil K. Vaz (Univ. Estadual de Lages) Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP - Jaboticabal) Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG) Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS) Prof. Dr. Cesar H. E. C. Poli (UFRGS) - Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero Profa. MSC. Cristine Bastos Dossin Fischer (ULBRA) Prof. Dr. Eduardo Malschitzky (ULBRA) Prof. Dr. Emerson Contesini (UFRGS) Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha) Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL) Prof. Ms. João Sérgio Coussirat de Azevedo (ULBRA) Prof. Dr. Joaquim José Ceron (Univ. Murcia/Espanha) Prof. Dr. Julio Otávio Jardim Barcellos (UFRGS) Profa MSC Maria Inês Witz (ULBRA) Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS) Prof. Dr. Luiz Cesar Fallavena (ULBRA) Profa. MSC Maria Helena Amaral (CRMV/RS) Profa. MSC. Maria Inês Witz (ULBRA) Profa. Ms. Mariangela da Costa Allgayer (ULBRA) Prof. Dr. Paulo Ricardo Loss Aguiar (ULBRA) Prof. Dr. Renato Silvano Pulz (ULBRA) Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO) Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ. Austral do Chile) Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA) Secretaria do Curso de Medicina Veterinária ULBRA - Av. Farroupilha, 8001 - Canoas - Prédio 60 - Sala 01 CEP: 92425-900 - Fone/fax: (51) 3477.9284 E-mail: [email protected] Carlos Gottschall: [email protected] Sergio Oliveira: [email protected] Editora da ULBRA Diretor - Astomiro Romais Coordenador de periódicos - Roger Kessler Gomes Capa - Everaldo Manica Ficanha Editoração - Roseli Menzen Endereço para permuta Universidade Luterana do Brasil Biblioteca Central - Setor Aquisição Av. Farroupilha, 8001 - Prédio 05 CEP: 92425-900 - Canoas/RS, Brasil E-mail: [email protected] Solicita-se permuta We request exchange On demande l'échange Wir erbitten Austausch Matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitida com referência à fonte. V586 Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. Vol. 1, n. 1 (maio/out. 2003)- . Canoas : Ed. ULBRA, 2003- . v. ; 27 cm. Semestral. ISSN 1679-5237 1. Medicina veterinária – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil. CDU 619(05) VETERINÁRIA EM FOCO Revista de Medicina Veterinária o Vol. 8 - N 1 - Jul./Dez. 2010 ISSN 1679-5237

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Page 1: VETERINÁRIA EM FOCO - ulbra.br · Marcos Fernando Ziemer Vice-Reitor Valter Kuchenbecker Pró-Reitor de Administração Levi Schneider ... Midian Nikel Alves de Souza 31 Uso de vacina

PresidenteAugusto Ernesto Timm Neto

Vice-PresidenteJoseida Elizabete Timm

ReitorMarcos Fernando Ziemer

Vice-ReitorValter Kuchenbecker

Pró-Reitor de AdministraçãoLevi Schneider

Pró-Reitor de GraduaçãoRicardo Prates Macedo

Pró-Reitor Adjunto de GraduaçãoPedro Antonio González Hernández

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-GraduaçãoErwin Francisco Tochtrop Júnior

Pró-Reitor de Extensão e Assuntos ComunitáriosRicardo Willy Rieth

Capelão GeralGerhard Grasel

VETERINÁRIA EM FOCODisponível eletronicamente no site

www.ulbra.br/medicina-veterinaria/revista.html

IndexadoresAGROBASE - Base de Dados da Pesquisa

Agropecuária (BDPA), CAB Abstracts, LATINDEX

Comissão EditorialProf. Ms. Carlos Santos Gottschall

Prof. Dr. Luís Cardoso AlvesProf. Dr. Sérgio José de Oliveira

Conselho Editorial

Prof. Dr. Adil K. Vaz (Univ. Estadual de Lages)Prof. Dr. Angelo Berchieri Jr. (UNSSP - Jaboticabal)

Prof. Dr. Antonio Bento Mancio (UFMG)Prof. Dr. Carlos Tadeu Pippi Salle (UFRGS)

Prof. Dr. Cesar H. E. C. Poli (UFRGS)

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero

Profa. MSC. Cristine Bastos Dossin Fischer (ULBRA)Prof. Dr. Eduardo Malschitzky (ULBRA)Prof. Dr. Emerson Contesini (UFRGS)Prof. Dr. Francisco Gil Cano (Univ. Murcia/ Espanha)Prof. Dr. Franklin Riet-Correa (UFPEL)Prof. Ms. João Sérgio Coussirat de Azevedo (ULBRA)Prof. Dr. Joaquim José Ceron (Univ. Murcia/Espanha)Prof. Dr. Julio Otávio Jardim Barcellos (UFRGS)Profa MSC Maria Inês Witz (ULBRA)Prof. Dr. Luiz Alberto Oliveira Ribeiro (UFRGS)Prof. Dr. Luiz Cesar Fallavena (ULBRA)Profa. MSC Maria Helena Amaral (CRMV/RS)Profa. MSC. Maria Inês Witz (ULBRA)Profa. Ms. Mariangela da Costa Allgayer (ULBRA)Prof. Dr. Paulo Ricardo Loss Aguiar (ULBRA)Prof. Dr. Renato Silvano Pulz (ULBRA)Dra. Sandra Borowski (FEPAGRO)Prof. Dr. Victor Cubillo (Univ. Austral do Chile)Prof. Dr. Waldyr Stumpf Junior (EMBRAPA)

Secretaria do Curso de Medicina VeterináriaULBRA - Av. Farroupilha, 8001 - Canoas - Prédio 60 - Sala 01CEP: 92425-900 - Fone/fax: (51) 3477.9284E-mail: [email protected] Carlos Gottschall: [email protected] Sergio Oliveira: [email protected]

Editora da ULBRADiretor - Astomiro RomaisCoordenador de periódicos - Roger Kessler GomesCapa - Everaldo Manica FicanhaEditoração - Roseli Menzen

Endereço para permutaUniversidade Luterana do BrasilBiblioteca Central - Setor AquisiçãoAv. Farroupilha, 8001 - Prédio 05CEP: 92425-900 - Canoas/RS, BrasilE-mail: [email protected]

Solicita-se permutaWe request exchangeOn demande l'échangeWir erbitten Austausch

Matérias assinadas são de responsabilidade dos autores. Direitos autorais reservados. Citação parcial permitidacom referência à fonte.

V586 Veterinária em foco / Universidade Luterana do Brasil. – Vol. 1, n. 1(maio/out. 2003)- . – Canoas : Ed. ULBRA, 2003- . v. ; 27 cm.

Semestral.

ISSN 1679-5237

1. Medicina veterinária – periódicos. I. Universidade Luterana do Brasil.

CDU 619(05)

VETERINÁRIA EM FOCORevista de Medicina Veterinária

oVol. 8 - N 1 - Jul./Dez. 2010ISSN 1679-5237

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1Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 2010

Sumário3 Editorial

Artigos científi cos4 Estimación del tamaño del atrio izquierdo por planimetria ecocardiográfi ca Carlos Horacio Lightowler; Márcio Aurélio da Costa Teixeira; Ricardo Javier

Barrios; Rodolfo Fabiían Garcia Cabana

11 Diagnóstico citopatológico de afecções mamárias em cadelas: revisão Marcia Moleta Colodel; Renata dos Santos Ramos; Noeme Sousa Rocha

23 Qualidade microbiológica do queijo minas frescal de produção artesanal comercializado na cidade de Jales/SP

Leonardo Aurélio da Silva; Dora Inés Kozusny-Andreani; Danila Fernanda Rodrigues Frias; Midian Nikel Alves de Souza

31 Uso de vacina autógena monovalente (sorogrupo D) no controle do footrot em um rebanho ovino no estado do Rio Grande do Sul

Paulo Ricardo Centeno Rodrigues; Luiz Alberto de Oliveira Ribeiro; Cláudio Chiminazzo; Luis Felipe Dutra Correa; Carla Menger Lehugeur; Fernando Magalhães de Souza; Luis Fernando Guerrero Gracia; Gustavo Felipe Lopes

46 Resposta imunológica contra o footrot dos ovinos promovida por vacina autógena monovalente e por vacina comercial polivalente

Paulo Ricardo Centeno Rodrigues; Luiz Alberto de Oliveira Ribeiro; Cláudio Chiminazzo; Luis Felipe Dutra Correa; Carla Menger Lehugeur; Leonardo Canali Canellas; Fernando Magalhães de Souza

54 Desempenho reprodutivo de éguas crioulas submetidas a controle reprodutivo ou monta a campo

Fabrício Centeno Marino; Amadeu Uberti Durand; Paulo Ricardo Loss Aguiar; Eduardo Malschitzky

63 Desempenho reprodutivo de éguas crioulas submetidas a controle reprodutivo em diferentes sistemas de manejo

Amadeu Uberti Durand; Fabrício Centeno Marino; Henrique Kurtz Löf; Paulo Ricardo Loss Aguiar; Eduardo Malschitzky

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70 Bicarbonato, albumina sérica bovina e heparina afetam a integridade do acrossomo do espermatozoide bovino pós-descongelação?

Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari; Beatriz Ramos Bertozzo; Monica Yurie Machado Shiroma; Paulo Roberto Rojas Scaldelai; Eliane Vianna da Costa e Silva

80 Efeito do estresse calórico in vitro em folículos pré-antrais de Bos indicus Hélder Silva e Luna; Anna Letícia Rigo Munhoz; Carmem Estefânia Serra Neto

Zúccari; Viviane Bento da Silva; Iraceles Aparecida Laura

89 Desempenho produtivo de novilhos de corte em pastagem rotacionada de Panicum maximum cv mombaça em regimes de integração lavoura pecuária

Diego Ocampos Olmedo; Júlio Otávio Jardim Barcellos; Pedro Paniagua; Ildefonso Horita; Maria Eugênia Andrighetto Canozzi

103 Normas editoriais

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EditorialPrezado leitor,

Este editorial se propõe a falar da pesquisa, um dos tripés da Universidade Luterana do Brasil, juntamente com o ensino e a extensão. A Universidade reconhece que o professor universitário tem de ir muito além da informação, constituindo-se em um exemplo de docente preocupado com a formação científi ca, tecnológica e ética de seus estudantes, apoiando o espírito investigativo que se refl ete na atitude científi ca que tem a crítica, a análise, o método e a criatividade trabalhados no dia a dia do universitário. A pesquisa na Medicina Veterinária, que envolve muitas vezes a experimentação animal, assume maior importância neste contexto. Em 2009, o Decreto nº 6.899 dispôs sobre a composição do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal – CONCEA, criando o Cadastro das Instituições de Uso Científi co de Animais – CIUCA, mediante a regulamentação da Lei no 11.794, de 8 de outubro de 2008, que dispunha sobre procedimentos para o uso científi co de animais. Os nove artigos dos Princípios Éticos na Experimentação Animal (COBEA) detalham a responsabilidade que o pesquisador tem neste processo, devendo realizar pesquisas que tenham relevância para a saúde humana e animal, propiciem a aquisição de conhecimentos ou o bem da sociedade, mas que preservem o bem-estar dos animais, seres dotados de sensibilidade, de memória e que, por vezes, sofrem sem poder escapar à dor. Com base nestes Princípios Éticos, este volume da revista Veterinária em Foco apresenta artigos científi cos nacionais e internacionais nas áreas de pequenos e grandes animais, além da área de tecnologia de alimentos, com um artigo de qualidade microbiológica de queijo minas frescal, um dos queijos mais populares do Brasil.

Boa leitura.

Cristine Dossin Bastos Fischer

Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA

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Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 20104 n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.4-10Canoas

Estimación del tamaño del atrio izquierdo por planimetria ecocardiográfi ca*

Carlos Horacio LightowlerMárcio Aurélio da Costa Teixeira

Ricardo Javier Barrios Rodolfo Fabiían Garcia Cabana

RESUMENLos autores establecen el valor de la planimetría atrial izquierda en perros normales y estudian

su correlación con el peso corporal. El cálculo del coefi ciente de determinación indicó que la variable peso es altamente predictiva del tamaño atrial izquierdo (R2=0,96), estableciéndose la ecuación de regresión lineal Área/Peso como AREA = 1.2111 + 0.2645 x Peso corporal.

Palabras clave: Planimetría atrial izquierda. Correlación peso/área atrial izquierda. Ecocardiografía.

Estimate left atrial size by echocardiographic planimetry

ABSTRACTThe authors establish the value of left atrial planimetry in normal dogs and study their

correlation with body weight. The calculation of the determination coeffi cient indicated that the variable weight is strongly predictive of left atrial size (R2=0,96) and establish the linear regression equation Area / Mass as AREA = 1.2111 + 0.2645 x body weight.

Keywords: Left atrial planimetry. Correlation weight/left atrial area. Echocardiography. Dogs.

INTRODUCCIÓNLa regurgitación mitral provocada por la enfermedad valvular degenerativa

crónica es, sin ninguna duda la causa más importante de insufi ciencia cardíaca en perros (BONAGURA; SCHOBER, 2009).

Carlos Horacio Lightowler – Profesor Titular de Enfermedades Quirúrgicas y Cardiología. Hospital Escuela de Medicina Veterinaria. Facultad de Ciencias Veterinarias. Universidad de Buenos Aires. E-mail: [email protected] Javier Barrios – Especialista en Cardiología Clínica Veterinaria. Hospital Escuela. Facultad de Ciencias Veterinarias. Universidad de Buenos Aires. Rodolfo Fabiían Garcia Cabana – Especialista en Cardiología Clínica Veterinaria. Hospital Escuela. Facultad de Ciencias Veterinarias. Universidad de Buenos Aires. Márcio Aurélio da Costa Teixeira – Diagnóstico por Imagem. Hospital Veterinário. Faculdade de Veterinária. Universidade Luterana do Brasil. Canoas/RS. Brasil. ULBRA Canoas.

Endereço para correspondência: Av Farroupilha, nº 8001. Bairro São José. Canoas/RS. CEP: 92425-900. Fone: (51) 3477.4000. Fax: (51) 3477.1313. E-mail: [email protected]

*El presente estudio forma parte del Proyecto de Investigación VE-016 aprobado y fi nanciado por la SECyT de la UBA, Programación Científi ca 2008-2010

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5Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 2010

El ultrasonido es la herramienta más idónea para el diagnóstico de la enfermedad pues permite identifi car las lesiones valvulares, confi rmar la presencia de la regurgitación valvular, verifi car y cuantifi car los fenómenos de la remodelación cardíaca, estimar las presiones intracardíacas y valorar el grado de alteración de las funciones diastólica y sistólica (ARRAYAGO et al., 2008; BONAGURA; SCHOBER, 2009; LIGHTOWLER, 1996).

Al existir una falla valvular se ponen en juego los distintos mecanismos de remodelamiento cardiaco y, igual que los ventrículos, el atrio modifi ca su geometría en respuesta a dos condiciones que son la sobrecarga de presión y de volumen (PIÑEIRO, 2005).

La relación existente entre el incremento del tamaño del atrio izquierdo y el aumento de las presiones de llenado ha sido validada por mediciones invasivas, tanto en sujetos sanos como en pacientes con enfermedad mitral. El aumento del tamaño atrial izquierdo debido a sobrecarga de presión es generalmente secundario al incremento de la poscarga atrial en la insufi ciencia mitral o a la disfunción diastólica (LANG et al., 2005).

Descartando la existencia de patología primaria atrial, enfermedad congénita cardiaca o enfermedad mitral, el incremento del volumen atrial generalmente refl eja una elevación en las presiones de llenado ventricular. Durante la diástole ventricular el atrio izquierdo es expuesto a las presiones del ventrículo izquierdo. El incremento en la rigidez o la falta de compliance del ventrículo izquierdo provocará que la presión dentro del atrio izquierdo aumente, manteniendo así un adecuado llenado del ventrículo. Este incremento de la tensión de la pared llevará a la dilatación de la cámara y a un estiramiento del miocardio atrial. Por lo tanto el volumen atrial se verá incrementado con el desarrollo de disfunciones diastólicas. Además los cambios estructurales atriales expresan la cronicidad de la exposición a la anormal presión de llenado, proveyendo una información predictiva del grado de disfunción diastólica (NAGUEH et al., 2009; PIÑEIRO; MIGLIORE, 2003).

Desde tiempo atrás, la determinación del tamaño del atrio izquierdo a través de las mediciones en modo-M ha probado ser un poderoso marcador pronóstico de eventos cardiovasculares futuros. Sin embargo, más recientemente se ha demostrado que la evaluación del tamaño atrial a través de la planimetría ecocardiográfi ca es una técnica más exacta, dado que la medición clásica suele ocultar parte del tamaño atrial, dado que esta no se dilata en forma regular (FEIGENBAUM, 1995; LEUNG et al., 2008; PIÑEIRO, 2005; VALOCIK et al., 2009).

El objetivo del presente estudio fue determinar el valor de la planimetría del atrio izquierdo en perros normales correlacionándolo con el peso corporal con el objeto de utilizar dicho valor como pronóstico evolutivo y predictivo en la enfermedad mitral crónica canina.

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Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 20106

MATERIALES Y MÉTODOSSe incluyeron en el presente estudio 30 perros sin evidencia de enfermedad

cardiovascular, la cual fue descartada por medio de la evaluación clínica, el estudio electrocardiográfi co y la ecocardiografía bidimensional. Se estudiaron 26 machos y 22 hembras, con pesos entre 2,5 y 36 Kg de peso y edades comprendidas entre los 12 meses y 12 años.

Se utilizaron tres ecógrafos: Kontron, modelo Sigma Iris 440 con transductor sectorial mecánico de 7,5 MHz, Fukuda-Denshi modelo 750XT con transductor microconvexo multifrecuencia (6,5-8 MHz) y SonoScape, modelo S8 con transductor phased array multifrecuencia (4-7 MHz) y microconvexo multifrecuencia (5-9 MHz). Como equipos periféricos se emplearon una videoimpresora marca Sony modelo UP 870MD, una videograbadora VHF, marca Philips modelo VR354 y un almacenador de video externo, marca Pinnacle.

Los estudios ecocardiográfi cos se realizaron con los pacientes en estación y sin ninguna forma de sujeción química.

La medición se realizó desde la ventana paraesternal izquierda en la imagen apical de cuatro cámaras. La circunferencia y el área se midieron desplazando los calipers de los equipos y el cálculo fue obtenido a través del software correspondiente. La medición se realizó en telediástole en el último ecotomograma en el cual la válvula mitral permanece cerrada; a los efectos del cálculo, los espacios anecogénicos correspondientes a las venas pulmonares fueron descartados (Figura 1).

FIGURA 1 – Planimetría atrial izquierda. Se muestra una imagen apical de dos cámaras. Las fl echas indican las venas pulmonares, que se descarta para el cálculo.

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7Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 2010

Los valores fi nales empleados para el procesamiento estadístico fueron el promedio de cinco mediciones tomadas de ecotomogramas distintos, el cual se realizó empleando el software Statistic 8.0

TABELA 1- Resultados de la estadística descriptiva

Número de casos 30

Media 5,72

Desvío Estándar 2,57

Variancia 6,65

Error estándar 0,47

Mínimo 1,81

1er Cuartil 3,55

3er Cuartil 7,75

Máximo 10,97

Se procedió al análisis de los datos de la variable Área Atrial Izquierda (cm2) por medio de estadística descriptiva obteniéndose los siguientes resultados (Tabela 1). La Figura 2 mostra la representacion gráfi ca del resultados.

FIGURA 2 – Representación gráfi ca.

Utilizando la prueba de regresión lineal simple se determinó que AREA = 1.2111 + 0.2645 x Peso corporal. La asociación es estadísticamente signifi cativa estableciéndose un valor P <0.0005

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Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 20108

El cálculo del Coefi ciente de determinación (R2) arrojó un valor de 0,96 indicando que la variable Peso es altamente predictiva del Área atrial izquierda ( Figura 3).

Se determinó la normalidad de las variables involucradas Área atrial Izquierda y Peso corporal, por medio del Test de Shapiro – Wilk para la variable Área una P= 0,2729 y para Peso P= 0,2403.

FIGURA 3 – Línea de regresión para el área atrial en función del peso con los límites de confi anza.

DISCUSIÓN Y CONCLUSIONESEl atrio izquierdo cumple tres funciones fi siológicas de importancia que afectan

el llenado ventricular izquierdo y su rendimiento. Este atrio actúa como un bomba contráctil que aporta entre el 15% y el 30% del llenado ventricular izquierdo, actúa como depósito que recoge la sangre que aportan las venas pulmonares durante la sístole ventricular y se comporta como “conducto” para el paso de la sangre almacenada desde ella hacia el ventrículo izquierdo al principio de la diástole ventricular (SPENCER et al., 2001).

Se sabe hoy con certeza que el tamaño del atrio izquierdo está asociado a la evolución adversa de muchos trastornos cardiovasculares (TSANG et al., 2003).El aumento en el tamaño de la aurícula izquierda se relaciona con mucha frecuencia al aumento de la tensión sobre su pared como consecuencia del aumento de la presión de llenado (APPLETON et al., 1993; SIMEK et al., 1995).

En la bibliografía veterinaria no se han podido encontrar referencias específi cas a la estimación del tamaño atrial por medio de la planimetría.

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9Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 2010

Es importante el hecho de que, como se ha demostrado en este trabajo, exista una importante correlación del tamaño atrial izquierdo con el peso corporal y que este sea altamente predictivo del tamaño atrial. Ello implica que, a partir de la curva de regresión puede estimarse el tamaño atrial izquierdo promedio para un determinado peso corporal el, en su defecto utilizar la fórmula alométrica obtenida para conocer el área atrial normal para el peso.

REFERENCIASAPPLETON, C. et al. Estimation of left ventricular filling pressures using two-dimensional and Doppler echocardiography in adult patients with cardiac disease: additional value of analyzing left atrial size, left atrial ejection fraction, and the difference in duration of pulmonary venous and mitral flow velocity at atrial contraction. J Am Coll Cardiol. 1993; 22:1972-82.ARRAYAGO, I. et al. Evaluación de la función diastólica en caninos con insuficiencia mitral crónica asintomáticos. 1º Congreso de Veterinaria Hospitalaria de Corrientes. Facultad de Ciencias Veterinarias, Universidad Nacional del Nordeste. Corrientes, Argentina. 12 y 13 de Noviembre 2008. (nº 27.474 libro nº 05 folio nº 105).BONAGURA, J.; SCHOBER, K. Can ventricular function be assessed by echocardiography in chronic canine mitral valve disease? Journal of Small Animal Practice. 2009; 50 (Suppl 1):12-24.FEIGENBAUM, H. Echocardiography. 5.ed. Lea & Febiger, Pennsylvania, USA. 1995.LANG, R. et. al. Recommendations for Chamber Quantification: A Report from the American Society of Echocardiography’s Guidelines and Standards Committee and the Chamber Quantification Writing Group, Developed in Conjunction with the European Association of Echocardiography, a Branch of the European Society of Cardiology. J Am Soc Echocardiogr. 2005; 18:1440-1463.LEUNG, D. et al. Echocardiographic evaluation of left atrial size and function: Current understanding, pathophysiologic correlates, and prognostic implications. Am Heart J. 2008; 156:1056-64.LIGHTOWLER, C. Detección de lesiones proliferativas del endocardio valvular canino por medio de la ultrasonografía. Archivos de Medicina Veterinaria. Universidad Austral de Chile. 1996; 28(2):143-151.NAGUEH, S. et.al. Recommendations for the evaluation of left ventricular diastolic function by echocardiography. J Am Soc Echocardiogr. 2009; 22(2):107-133.PIÑEIRO, D; MIGLIORE, R. Algoritmo diagnóstico para la evaluación de la función diastólica del ventrículo izquierdo mediante ecocardiografía y Doppler cardíaco. Rev. Arg. Cardiol. 2003; 71(6):453-457.PIÑEIRO, D. Cap 9. Valvulopatías, En Piñeiro, D. (Ed.) Ecocardiografía para la toma de decisiones clínicas. Editorial Médica Panamericana. Buenos Aires, Argentina. 2005.

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Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 201010

SIMEK, C. et al. Relationship between left ventricular wall thickness and left atrial size: comparison with other measures of diastolic function. J Am Soc Echocardiogr. 1995; 8:37-47.SPENCER, K. et al. Effects of aging on left atrial reservoir, conduit, and booster pump function: a multiinstitution acoustic quantification study. Heart 2001; 85:272-7.TSANG, T. et al. Left atrial volume as a morphophysiologic expression of left ventricular diastolic dysfunction and relation to cardiovascular risk burden. Am J Cardiol. 2002; 90:1284-9.TSANG. T. et al. Prediction of risk for first age-related cardiovascular events in an elderly population: the incremental value of echocardiography. J Am Coll Cardiol. 2003; 42:1199-205.VALOCIK, G. et al. Left atrial volume as a predictor of heart function. Bratisl Lek Listy. 2009; 110(3)146-151.

Recebido em: set. 2010 Aceito em: nov. 2010

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11Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 2010

Diagnóstico citopatológico de afecções mamárias em cadelas: revisão

Marcia Moleta ColodelRenata dos Santos Ramos

Noeme Sousa Rocha

RESUMOAs afecções mamárias em cadelas são encontradas rotineiramente na clínica de pequenos

animais. O uso do exame citopatológico como meio diagnóstico nas lesões mamárias vem crescendo nas últimas décadas na Medicina Veterinária. As vantagens desse exame estão relacionadas à rapidez, ao baixo custo, efi cácia, simplicidade e ao fato de ser pouco invasivo. As amostras mamárias destinadas ao exame citopatológico podem ser obtidas através da secreção glandular ou, mais comumente, por citologia por punção com ou sem aspiração. Para a obtenção de resultados clinicamente relevantes, é fundamental a obtenção de boas amostras e a interpretação básica da morfologia e da disposição detalhada de cada célula. Em virtude disso, ainda que o resultado seja inconclusivo, a citopatologia permite distinguir lesões neoplásicas de infl amatórias, hiperplásicas e degenerativas, além de auxiliar na identifi cação de agentes infecciosos e direcionar a uma conduta terapêutica e prognóstica mais rápida e adequada, portanto deve ser usada para diagnosticar afecções mamárias. O presente trabalho tem por objetivo incentivar os profi ssionais médicos veterinários a inserir na lista de auxílios diagnósticos de lesões de mama de cadela o exame citopatológico.

Palavras-chave: Mama. Cadela. Diagnóstico. Citopatologia.

Cytopathologic diagnosis of mammary affections in bitches: Review

ABSTRACTMammary affection in bitches is a routine finding in small animal clinic. The use

cytopathological examination as a means to obtain mammary lesion diagnosis in the last decades in Veterinary Medicine. The advantages of this examination are: it is fast, cheap, effective, simple and little invasive. The mammary samples for cytopathology exam may be obtained from glandular secretion or more commonly via fi ne needle cytology that may be performed with or without aspiration. In order to obtain relevant clinical results, it is important to get good samples and have good knowledge of cell morphology and cell disposition. Despite lowing inconclusive results, the cytopathology allows to distinguish neoplastic lesions from infl ammatory, hyperplasic or degenerative. It can also help in the identifi cation of infectant agents and guide a fast and appropriate

Marcia Moleta Colodel e Renata dos Santos Ramos são Médicas Veterinárias. Pós-graduandas em Medicina Veterinária pela UNESP – Botucatu/SP.Noeme Sousa Rocha é Médica Veterinária, PhD, Livre-Docente, Professora do Departamento de Clínica Veterinária da UNESP – Botucatu/SP.

Endereço para correspondência: Serviço de Patologia Veterinária, Departamento de Clínica Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Campus de Botucatu. Distrito de Rubião Jr, s/n, CEP: 18618-000, Botucatu, São Paulo. E-mail: [email protected]

n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.11-22Canoas

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therapy. Therefore it can be used to diagnose mammary conditions. The objective of this study is to encourage veterinarians to insert the cytopathology examination in the array of auxiliary tests for mammary lesions in bitches.

Keywords: Mammary gland. Female dog. Diagnosis. Cytopathology.

INTRODUÇÃOAfecções nas mamas em cadelas são comuns e constituem excelentes exemplos

em que o diagnóstico rápido pode ser fundamental para obter-se uma boa resposta terapêutica. O aumento das mamas pode estar associado com várias lesões, como cistos, infl amação, hiperplasia e neoplasia benigna ou maligna. Dados obtidos da história clínica, idade, esterilização e fase em que a intervenção cirúrgica foi realizada, ciclo estral, terapia hormonal, simetria glandular, contorno, consistência e tamanho da lesão, aderência ao tecido adjacente, taxa de crescimento, presença de ulceração e evidência de metástase são informações importantes na investigação da enfermidade mamária. Após o exame clínico completo e caracterização clínica da doença, atualmente se recorre ao exame citopatológico, antes mesmo da classifi cação histopatológica, para auxiliar no diagnóstico (BAKER; LUMSDEN, 2000; HENSON, 2003; BURINI, 2007).

O exame citopatológico consiste na análise microscópica das alterações morfológicas de células individuais estendidas em lâminas histológicas, fi xadas e coradas. As células podem ser obtidas por esfoliação ou por punção. A citologia por punção foi introduzida na prática médica por Martin e Ellis em 1925, após modifi cações da metodologia padrão de citologia esfoliativa, desenvolvida pelo médico Georgios Papanicolaou, na metade do século XIX. Com o sucesso da técnica, cresceu sua utilização e, atualmente, ela é amplamente empregada na rotina na Medicina Humana. Na Medicina Veterinária, a primeira referência a respeito do uso deste exame é de Cole e Evans na década de 30 do século XX, antes mesmo da invenção dos cortes histológicos e, com o aumento de sua utilização na Medicina Veterinária brasileira no fi nal da década de 80, houve melhoria signifi cativa na preparação e interpretação do material aspirado de várias afecções, inclusive das neoplasias mamárias (CASTILLO et al., 1988; ROCHA, 1998; GUEDES et al., 2000; HATAKA, 2004; SIMEONOV, 2004; ROCHA, 2008).

As vantagens desse exame complementar estão relacionadas à rapidez do diagnóstico, ao baixo custo e à sua efi cácia. Além disso, é um método simples de ser executado, minimamente invasivo, que não requer qualquer tipo de sedação, pois causa desconforto mínimo ao paciente e pode ser realizado no ambulatório. Isso permite que se realizem múltiplas colheitas e amostras em série, particularmente interessantes quando surgem resultados inconclusivos ou quando existe suspeita de recidiva da lesão. Destaca-se ainda a importância da técnica na avaliação da representatividade de uma biopsia cirúrgica e como auxiliar na avaliação da margem cirúrgica de forma superior ao exame macroscópico isolado (ROGERS et al., 1996; ROCHA 1998; GUEDES et al., 2000, CHOI et al., 2004; SIMEONEV, 2004; SIMEONOVA et al., 2004; ROCHA, 2008).

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Estudos foram realizados a fi m de se determinar a efi ciência, sensibilidade e especifi cidade desta técnica em neoplasias mamárias. Na Medicina Humana, foi observada uma variação entre 64,8 e 93%, 88,8 e 97% e 87 e 100%, respectivamente (HAMMOND, et al., 1987; ALMEIDA et al., 1998; CRUZ; LARLOS, 2002; CHOI et al., 2004; SUCRE et al., 2006; FURTADO et al., 2007). Em Medicina Veterinária, a concordância diagnóstica observada entre citopatologia e histopatologia variou entre 63 e 92,9%, a sensibilidade entre 65 e 88,6% e a especifi cidade entre 83 e 100% (ALLEN et al., 1986; HELLMÉN; LINDGREN, 1989; ZUCARI et al, 2001; CASSALI et al., 2007). Para ALLEN et al. (1986); HELLMÉN; LINDGREN (1989), esta variação pode ocorrer, em parte, por se tratar de lesões classifi cadas como lipoma ou alterações fi brocísticas que podem, na citoaspiração, resultar em escasses de material e por isso são assumidas como insufi ciente, ou então, por fatores relacionados com a obtenção e processamento do material, ou até mesmo, a tratamento prévio.

Através da citopatologia, é possível distinguir lesões neoplásicas de infl amatórias agudas ou crônicas, hiperplásicas e degenerativas, além de auxiliar na identifi cação de agentes infecciosos o que permite reduzir o número de biópsias invasivas e direcionar a uma conduta terapêutica e prognóstica mais rápida e adequada, evitando, muitas vezes, intervenções cirúrgicas, quimioterapia e radioterapia arriscada e desnecessária (ZUCCARI et al., 2001; FURTADO et al., 2007).

Uma grande porcentagem de resultados falso positivos ou falso negativos pode ser evitada ao aprimorar a técnica para obtenção de amostras para exame citopatológico. Boas amostras e um treinamento adequado em citopatologia são essenciais para a obtenção de resultados clinicamente relevantes (SIMEONOV; STOIKOV, 2006; CASSALI et al., 2007).

TÉCNICAS DE COLHEITA DAS AMOSTRAS MAMÁRIASAs amostras das lesões mamárias destinadas ao exame citopatológico podem

ser obtidas da secreção glandular ou, mais comumente, por citologia por punção com ou sem aspiração. Para a punção por aspiração ou citologia aspirativa por agulha fi na (CAAF), geralmente utilizam-se agulhas hipodérmicas descartáveis de 0,6 a 0,7 mm de diâmetro externo por 25 mm de comprimento, conectadas a seringas plásticas descartáveis de 10 ml acopladas ou não a citoaspirador. Após anti-sepsia da pele, fi xa-se a lesão entre os dedos indicador e polegar de uma das mãos estendendo a pele que o reveste, com a outra mão introduz-se a agulha na lesão e aplica-se sucção tracionando o êmbolo da seringa, o que cria pressão negativa dentro da seringa e faz com que as células sejam aspiradas. Movimenta-se a agulha para frente e para trás, em várias direções para amostrar uma área signifi cativa da lesão sem, no entanto, retirá-la do nódulo evitando que o ar penetre na seringa mantendo a diferença de pressão. Finalizado os movimentos, solta-se o êmbolo enquanto a agulha ainda estiver dentro da lesão e ele retornará espontaneamente a posição de repouso original. A agulha é então removida do local da punção, o material é depositado em lâmina histológica

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em um único local, em forma de botão e procede-se o esfregaço e a imediata imersão em álcool etílico absoluto para fi xação ou o material é fi xado em metanol 100% após secar ao ar ambiente por aproximadamente cinco minutos. A fragilidade celular obriga a pronta e efi caz preparação do material. Prefere-se a aspiração da periferia de uma grande massa, ao invés da região central, a qual pode apresentar apenas material necrótico e obtêm-se amostras de múltiplas áreas (ROCHA 1998; ZUCCARI et al., 2001; AMARAL et al., 2004; SIMEONOVA et al., 2004; HATAKA, 2004; SIMEONOV; STOIKOV, 2006; ROCHA, 2008).

Uma punção bem feita não deve conter sangue, e o material deve fi car na agulha sem invadir a seringa, com exceção de material cístico. Neste caso, o líquido presente na seringa deve ser centrifugado, e somente o conteúdo celular da citocentrifugação é depositado em lâmina para análise. No caso de mais de uma formação no mesmo animal, deve ser colhido material de todas as massas. Na punção sem aspiração também denominada de capilaridade adotam-se os mesmos procedimentos da punção aspirativa à exceção da aspiração (ROCHA, 1998; ROCHA, 2008).

As amostras fi xadas em álcool etílico absoluto poderão ser coradas com Shorr ou Papanicolaou que coram em tons alaranjados e esverdeados, estruturas ácidas ou basofílicas e são usadas principalmente para interpretar alterações nucleares. Amostras fi xadas com metanol são coradas com Giemsa ou Diff-Quik, também conhecida como panótico, que são básicas ou acidofílicas e apresentam maior utilidade para interpretar alterações no citoplasma da célula e dos limites celulares. Neste sentido, recomenda-se processar no mínimo três lâminas, uma para corar com Shorr ou Papanicolaou, outra para corar com Giemsa ou Diff-Quick, e a terceira sem corar, mantida em álcool etílico absoluto, para futuros esclarecimentos que forem necessários para o diagnóstico (HATAKA, 2004; ROCHA, 2008).

Utililiza-se microscópio óptico para a leitura dos exames citopalógicos. Para tal, o material é observado em aumento de 10x para avaliação de quantidade celular, distribuição e qualidade da coloração; 20x para avaliar arranjo celular e tipos celulares; e aumento de 40x para a análise morfológica individual das células, tais quais as características citoplasmáticas, cromatina nuclear, evidência nucleolar, limite e forma das membranas citoplasmática e nuclear, presença de fi guras de mitose e de infi ltrado infl amatório. Toda extensão do esfregaço deve ser percorrida para que o padrão celular seja avaliado (AMARAL et al., 2004; HATAKA, 2004).

Este exame deve ser interpretado associado à história clínica, exame físico e, algumas vezes, a outros exames laboratoriais complementares como microbiológicos, micológicos e parasitológicos (SCHMITT, 1997; FURTADO et al., 2007; ROCHA, 2008; BASTAN et al., 2009), ou até mesmo a punções guiadas por imagem, análise em microscopia eletrônica do material colhido, utilização de citometria de fl uxo e imunocitoquímica, que foram sendo recursos incorporados à prática da citopatologia ao longo dos anos (HELLMÉN; LINDGREN, 1989; ZEKAS et al., 2005; VERNAU, 2005; ZUCCARI et al., 2008; SCHMITT et al., 2008).

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APLICAÇÃO DA CITOPATOLOGIA NO DIAGNÓSTICO DE AFECÇÕES MAMÁRIAS EM CADELAS

Citologia mamária normalA mama em repouso apresenta um parênquima pouco desenvolvido e um estroma

abundante. Nesta fase, ao exame citológico, o material puncionado geralmente é acelular ou revela celularidade pobre composta por pequena quantidade de células epiteliais normais. Células mioepiteliais raramente são observadas. Hemácias e adipócitos são comuns. Se presente, as células epiteliais estão coesas e tendem a unir-se, pois possuem desmossomos, formando agrupamento que lembram ácinos ou estruturas tubulares. Individualmente, estas células são bem diferenciadas, o que implica similaridade em tamanho e forma, são cúbicas, contém quantidade moderada de citoplasma basofílico à coloração de Giemsa ou Diff-Quik e a relação nuclear: citoplasmática normal. O núcleo é central, basofílico, arredondado a oval, com tamanho aproximado de um eritrócito. Os limites nucleares são lisos e o padrão de cromatina é vesicular, com trama delicada reticular (cromatina condensada) e sem nucléolos visíveis. Células mioepiteliais podem ser observadas como células fusiformes ou alongadas com núcleo basofílico e oval, os limites citoplasmáticos são geralmente pouco defi nidos e os agrupamentos celulares são raros (ALLEM et al., 1986; PELETEIRO, 1994; SHULL; MADDUX, 1999; BAKER; LUMSDEN, 2000; HENSON, 2003; HATAKA, 2004).

Ao fi nal da gestação e durante a lactação, o parênquima mamário torna-se muito desenvolvido e o estroma torna-se muito reduzido, pela diminuição do tecido adiposo e do tecido conjuntivo intra e interlobular. O exame citológico mamário caracteriza-se pelo baixo a moderado número de células epiteliais secretoras distribuídas de forma individualizada ou formando agrupamentos celulares. Estas células epiteliais são grandes e mostram sinais de ativação em forma de citoplasma abundante apresentando vacúolos secretores (citoplasma espumoso) que podem conter material secretório amorfo e basofílico. O núcleo está aumentado, é excêntrico, uniforme, redondo ou oval. O nucléolo é pequeno, redondo e muito aparente e há hipercromasia uniformemente distribuída. O citoplasma secretor pode dar origem a aglomerados de secreção basofílica, amorfa e espessa observados ao fundo (fundo proteico). Gotículas de lipídeo e adipócitos são comuns. Células mioepiteliais normais, macrófagos e neutrófi los podem aparecer de forma ocasional (SHULL; MADDUX, 1999; BAKER; LUMSDEN, 2000; HENSON, 2003).

Cistos mamáriosEm punção de cistos mamários podem ser observadas células epiteliais do

revestimento cístico as quais podem estar coesas, dispostas em agrupamentos que lembram papilas e podem apresentar discreto pleomorfi smo nuclear. Também podem ser observadas hemácias, células espumosas, macrófagos, debris celulares e cristais de colesterol que aparecem como grandes estruturas cristalinas retangulares, frequentemente

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com um canto chanfrado. Cistos infl amados ainda podem apresentar neutrófi los. Os cistos mamários podem coexistir com tumores mamários benignos e/ou malignos. Portanto, a aspiração ou biopsia de áreas sólidas de uma massa associada com um cisto deve ser realizada para excluir a presença de neoplasia mamária simultânea (SHULL; MADDUX, 1999; HENSON, 2003).

Hiperplasia mamária Na citopatologia, observa-se uma população uniforme de células epiteliais

cuboidais organizadas em espessos agregados. As células epiteliais caracterizam-se por núcleos arredondados, densos, com nucléolos pequenos e quantidade escassa de citoplasma basofílico à coloração de Giemsa. Pode haver também populações de células mesenquimais fusiformes com núcleos ovais estreitos, um a dois nucléolos, e citoplasma adelgaçado. As células mesenquimais exibem variação moderada do tamanho do núcleo (anisocariose) e do tamanho da célula (anisocitose). Quantidade moderada de matriz extracelular basofílica pode estar associada com as células mesenquimais (BAKER; LUMSDEN, 2000; HENSON 2003).

Infl amação/infecção mamáriaA avaliação microscópica da celularidade da amostra da secreção das mamas

inflamadas e/ou infectadas geralmente apresenta valor diagnóstico; no entanto, pode haver necessidade de punção com agulha fi na para a detecção de lesões focais. Deve-se sempre determinar o tipo celular predominante para caracterizar o processo infl amatório. O predomínio de neutrófi los com morfologia normal ou apresentando alterações degenerativas como picnose, cariólise e cariorrexe, caracterizam os processos infl amatórios agudos. A infl amação é considerada crônica quando, além de neutrófi los, há numerosas células mononucleares representadas principalmente por macrófagos ativados que são células grandes com núcleo excêntrico, ocasionalmente identado. Estes macrófagos podem unir-se formando células gigantes multinucleadas. Linfócitos e plasmócitos também podem ser observados. Na infl amação crônica ativa há grande quantidade de neutrófi los, macrófagos ativados e/ou células gigantes multinucleadas. Pode ainda apresentar numerosos linfócitos e plasmócitos (BAKER; LUMSDEN, 2000; HENSON, 2003).

Microorganismos infecciosos podem ser vistos no interior de neutrófi los e, menos comumente, de macrófagos, indicando um processo séptico. Os microorganismos mais comumente observados em culturas incluem estreptococos, estafi lococos e bactérias coliformes, embora raramente outros tipos de bactérias e fungos possam ser isolados. A cultura da secreção da mama infl amada ou do material aspirado e os testes de sensibilidade são valiosos no estabelecimento da terapia antibiótica apropriada (HENSON, 2003, MEUTEN et al., 2005).

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O componente infl amatório quando presente no esfregaço pode mascarar uma lesão neoplásica, particularmente no caso de carcinoma infl amatório. Portanto, a confi rmação diagnóstica de mastite deve ser feita após o tratamento clínico adequado desta enfermidade e uma nova colheita de material para reavaliação deve ser efetuada em trinta dias caso haja persistência da afecção (ZUCCARI et al., 2001; ROCHA, 2008).

Neoplasias mamáriasAs neoplasias mamárias em cadelas podem ser classifi cadas citomorfologicamente

como benignas ou malignas e, com base na origem, em epitelial, mesenquimal ou tipo mista. Segundo ALLEN et al. (1986), os critérios de malignidade aplicáveis são, hipercelularidade no esfregaço com baixa coesão celular; pleomorfi smo celular; canibalismo celular; variação moderada a acentuada no tamanho da célula (anisocitose) e do núcleo (anisocariose); aumento no tamanho dos núcleos (macrocariose) com alta proporção núcleo:citoplasma denominadas de células “nuas”; padrões irregulares de distribuição de cromatina (granular ou reticular); amoldamento nuclear (um núcleo de uma célula multinucleada é comprimido por outro adjacente); presença de vários nucléolos no mesmo núcleo ou macronucléolos ou ainda anisonucleolos. Pode haver atividade mitótica elevada e fi guras de mitose anormais. Se três ou mais critérios de malignidade estiverem presentes, o tumor é classifi cado como maligno.

Tumor epitelial benigno de mama (Figura 1) apresenta quantidade moderada a elevada de células epiteliais, de aspecto homogêneo, fi rmemente aderidas entre si, dispostas em camadas ou agregadas (clusters) em um formato que pode lembrar um ácino. Essas células apresentam aspecto uniforme com cromatina nuclear lisa e, ocasionalmente, pequenos nucléolos solitários arredondados proeminentes. O componente fi brocístico que são as células espumosas relacionadas à atividade secretora da glândula pode estar presente. Tumor epitelial maligno de mama (Figura 2) apresenta grande variabilidade de tamanhos e formas celulares com pouca coesão celular, verifi cando células epiteliais pleomórfi cas soltas no esfregaço. Estas células tendem a apresentar formas nucleares e nucleolares bizarras (MACCIÓ et al., 1998; SHULL; MADDUX, 1999; BAKER; LUMSDEN, 2000; ZUCCARI et al., 2001; HENSON, 2003, HATAKA, 2004; MEUTEN et al., 2005).

Tumor complexo benigno de mama é caracterizado pela presença de células epiteliais secretoras de aspecto uniforme associadas a células individualizadas ou agregadas de origem mioepitelial. A caracterização do tumor misto benigno de mama se dá pelo componente mesenquimal (Figura 3), isto é, pela presença de mucopolissacarídeo secretado pelas células mioepiteliais para formação do tecido ósseo e cartilaginoso, e/ou pela presença de osteoblastos, osteoclastos. Tumor complexo e misto maligno de mama caracteriza-se pela presença de células epiteliais,

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mioepiteliais (complexo) e mesenquimais (misto) com uma destas populações exibindo característica nuclear e celular de malignidade (PELETEIRO, 1994; MACCIÓ et al., 1998; SHULL; MADDUX, 1999; BAKER; LUMSDEN, 2000; ZUCCARI et al., 2001; HENSON, 2004; MEUTEN et al., 2005).

FIGURA 1 – Citoaspirado de tumor epitelial benigno de mama. Presença de células epiteliais, de aspecto uniforme, formando cluster. Coloração de Giemsa (Obj. 20).

FIGURA 2 – Citoaspirado de tumor epitelial maligno de mama. A) Observa-se grande celularidade da amostra com a presença de inúmeras células soltas (Obj. 10). B) Acentuada anisocitose, anisocariose, células binucle-

adas (setas vermelhas) e evidência nucleolar (setas pretas) (Obj. 40). Coloração de Giemsa.

A B

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FIGURA 3 – Citoaspirado de tumor de mama apresentando grande quantidade de componente mesenquimal (seta). Coloração de Giemsa (Obj. 10).

O carcinoma inflamatório é uma classe à parte na classificação dos tumores mamários caninos, caracterizando-se pelo grande infi ltrado infl amatório polimorfonuclear (neutrófi los não degenerados e macrófagos), entremeado por grandes células epiteliais pleomórficas que exibem várias características de malignidade (ZUCCARI et al., 2001; HENSON, 2003).

Carcinomas de célula escamosa, osteossarcoma, fi brossarcoma, lipossarcoma, hemangiossarcoma, mastocitoma podem ser encontrados na mama e apresentam aspecto citológico semelhante aos encontrados em outros locais (HENSON, 2003; HATAKA, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAISTodo aumento de volume mamário que não esteja relacionado à lactação pode

ter relação com processos infl amatórios/infecciosos, hiperplásicos ou neoplásicos e deve ser tratado como entidade clínica distinta. A necessidade de obter um diagnóstico rápido, com trauma mínimo ao paciente e a baixo custo sem, no entanto, interferir na qualidade do resultado é uma tendência mundial. Neste aspecto, o exame citopatológico pode ser indicado como meio diagnóstico efi caz, pouco invasivo e barato para diagnóstico inicial de lesões em mamas das cadelas, inclusive para distinguir tumores benignos de malignos e o grau de invasão tecidual. Estas informações possibilitam ao clínico ou cirurgião o delineamento da melhor estratégia terapêutica ou cirúrgica para cada caso.

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Recebido em: jul. 2010 Aceito em: jan. 2010

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23Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 2010

A B

Qualidade microbiológica do queijo minas frescal de produção artesanal comercializado

na cidade de Jales/SPLeonardo Aurélio da Silva

Dora Inés Kozusny-AndreaniDanila Fernanda Rodrigues Frias

Midian Nikel Alves de Souza

RESUMOAvaliou-se a qualidade microbiológica de 40 amostras de queijos minas frescal produzidos

artesanalmente e comercializados na cidade de Jales/SP. As amostras foram obtidas em supermercados e propriedades rurais. Utilizou-se a metodologia padrão para análises microbiológicas em alimentos. Foram realizadas as seguintes análises microbiológicas: quantifi cação de coliformes totais e fecais e de Staphylococcus coagulase-positiva e coagulase-negativa. Todas as amostras apresentaram coliformes totais e fecais, com confi rmação de Escherichia coli. Dessas amostras, 95% apresentaram contagens de coliformes totais de 3,3 x 106 NMP/g, em 92,5% contagem de 2,3 x 105 NMP/g de coliformes fecais, acima da permitida pela legislação para coliformes. As contagens de S. aureus foram de 4,5 x 107 UFC/g e de Staphylococcus coagulase-negativa entre 3,3 x 103 e 3,2 x 106 UFC/g. Os resultados microbiológicos revelaram o risco potencial que este produto pode signifi car para a saúde pública.

Palavras-chave: Queijo minas frescal. Coliformes. Staphylococcus aureus. Staphylococcus coagulase-negativa.

Microbiological quality “minas frescal” cheese hand made marketed in Jales City, SP

ABSTRACTIt was evaluated the microbiological quality of 40 samples of minas frescal cheese handmade

produced in the Jales City, SP. These samples were obtained at supermarkets as well as on farms. It was used the standard methodology for microbiological analyses in food. These are the

Leonardo Aurélio da Silva é Discente do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo) – Campus Fernandópolis/SP. Bolsista do Programa de Iniciação Científi ca da Unicastelo.Dora Inés Kozusny-Andreani é Profa. Dra. do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo) – Campus Fernandópolis/SP, Laboratório de Microbiologia.Danila Fernanda Rodrigues Frias é Doutoranda, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP/Jaboticabal, Departamento de Medicina Preventiva e Reprodução Animal.Midian Nikel Alves de Souza é Bióloga, Laboratório de Microbiologia, da Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo) – Campus Fernandópolis/SP.

Endereço para correspondência: Faculdade de Ciências Agrárias, Laboratório de Microbiologia Unicastelo. Caixa Postal 121, CEP 15600-000 – Fernandópolis/SP. E-mail: [email protected]

n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.23-30Canoas

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microbiological analyses which were performed: quantifi cation of total and fecal coliforms and of Staphylococcus coagulase-positive and coagulase-negative. All the samples presented total and fecal coliforms, with confi rmation of Escherichia coli. 95% of these samples presented a count of 3,3 x 106 NMP/g, in 92.5% count of 2,3 x 105 NMP/g of fecal coliforms, which is above the count allowed by legislation for coliforms. The counts of S. aureus were of 4,5 x 107 UFC/g and of Staphylococcus coagulase-negative between 3,3 x 103 and 3,2 x 106 UFC/g. The microbiological results revealed the potential risk that this product can mean to public health.

Keywords: Minas frescal cheese. Coliforms. Staphylococcus aureus. Staphylococcus coagulase-negative.

INTRODUÇÃODentre os produtos derivados do leite, o queijo é considerado um veículo frequente

de patógenos de origem alimentar e, em especial, os queijos frescos artesanais, por serem, na maioria das vezes, elaborados a partir de leite cru e não sofrerem processo de maturação. A contaminação microbiana desses produtos assume destacada relevância tanto para a indústria, pelas perdas econômicas, como para saúde pública, pelo risco de causar doenças transmitidas por alimentos (FEITOSA et al., 2003).

O queijo minas frescal possui grande suscetibilidade a contaminações com substâncias tóxicas, microrganismos patogênicos que podem estar presentes no leite ou que, de alguma forma, tenham sido veiculadas durante os processos de produção, armazenamento e distribuição (CATÃO; CEBALLOS, 2001).

Devido à alta umidade, e por não ser prensado, é comum observar-se, na embalagem, durante a comercialização, um depósito de soro exsudado pelo produto. Essa dessora favorece o crescimento microbiano causando odores desagradáveis (ISEPON et al., 2003). Dependendo do tipo e da quantidade de microrganismos presentes, pode haver alterações signifi cativas nos queijos, que podem diminuir seu valor de comercialização ou torná-lo impróprio para o consumo (TRONCO, 2003).

Diversos microrganismos podem ser encontrados contaminando o queijo minas frescal, destacando-se os coliformes totais e termotolerantes, que são bioindicadores utilizados para verifi car as condições de higiene dos alimentos (ROCHA et al., 2006). O grupo dos coliformes fecais compreende bactérias originárias do trato gastrointestinal de humanos, animais de sangue quente e de outros ambientes como vegetais e solo. Os coliformes totais e termotolerantes são bacilos Gram-negativos não formadores de esporos, capazes de fermentar a lactose com produção de aldeído, ácido e gás a 35-37o

C e 44-44,5o C, respectivamente (SILVA et al., 2007).

As bactérias do gênero Staphylococcus são cocos Gram-positivos pertencentes à família Micrococcaceae e, por se dividirem em planos diferentes, quando vistas ao microscópio aparecem na forma de cacho de uva. São facultativas anaeróbias, com maior crescimento sob condições aeróbias, quando, então, produzem catalase. As espécies que apresentam interesse potencial em microbiologia de alimentos são coagulase positiva, como Staphylococcus aureus, Staphylococcus hyicus e Staphylococcus intermedius (QUIN et al, 2005; SILVA et al., 2007).

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Segundo Fagundes e Oliveira (2004), estudos evidenciaram que espécies coagulase negativas são capazes de produzir toxinas em condições laboratoriais, como S. xylosus, S. haemolyticus, S. epidermidis, S. cohnii, S.chromogenes, S. warneri, S. sciuri e S. lentus. Este fato demonstrou que outras espécies de Staphylococcus, além de S. aureus, são capazes de produzir enterotoxinas, embora esta característica já tivesse sido relatada, também, para outras espécies coagulase positivas, como S. hyicus e S.intermedius.

O presente trabalho objetivou avaliar a qualidade microbiológica do queijo minas frescal produzido artesanalmente, pela quantifi cação de coliformes totais e fecais e Staphylococcus coagulase positiva e negativa.

MATERIAL E MÉTODOSForam avaliadas 40 amostras de queijo minas frescal produzidas artesanalmente

e comercializadas em supermercados, padarias, quitandas e feiras livres da cidade de Jales, localizada no noroeste do Estado de São Paulo. As amostras foram adquiridas aleatoriamente no período de janeiro a outubro de 2008. As amostras estavam envolvidas em embalagens plásticas fechadas com feixe metálico, não contendo qualquer informação sobre sua origem, informação nutricional e data de fabricação e/ou validade.

Durante o transporte, as amostras foram mantidas em caixas isotérmicas contendo gelo, com o intuito de evitar que fatores externos interferissem no produto e nos resultados das análises microbiológicas. As amostras foram processadas imediatamente à chegada no Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Ciências Agrárias, Unicastelo, Campus de Fernandópolis/SP.

De cada amostra de queijo minas frescal, foram colhidos assepticamente 25g, os quais foram triturados e transferidos para 225 mL de água salina peptonada estéril (0,1%). Esta diluição correspondeu a uma proporção de 1:10, ou seja, 10mL do homogeneizado continha um mililitro da amostra. A partir da diluição inicial, a diluição 1:100 foi feita retirando-se 1 mL da diluição inicial e adicionando-se a 9,0 mL do diluente (água salina peptonada 0,1%) em um segundo tubo; a diluição 1:1000 foi preparada retirando-se 1mL da diluição 1:100 e adicionado a 9,0 mL do diluente em um terceiro tubo, observando-se sempre o uso do mesmo diluente. Estas diluições 10-1, 10-2 e 10-3 foram usadas para posterior procedimento microbiológico.

Para contagem de coliformes totais, termotolerantes e Escherichia coli foi empregado o método clássico do Número Mais Provável (NMP) citado por Silva et al. (2007). As amostras de queijo diluídas em água peptonada (0,1%) foram submetidas a teste presuntivo: três alíquotas de três diluições foram inoculadas em uma série de três tubos de Caldo Lauril Sulfato Triptose (LST) por diluição. O LST contém lactose, e a observação de crescimento com produção de gás a partir da lactose, após 24-48h de incubação a 35o C, é considerada suspeita (presuntiva) de conter coliformes.

Para a confi rmação dos coliformes totais e termotolerantes, uma alçada de cada tubo suspeito foi transferida para tubos de Caldo Verde Brilhante Bile 2% (VB) e Caldo

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Escherichia coli (EC), meios seletivos que contêm lactose. A observação de crescimento com produção de gás nos tubos VB, após 24 a 48h de incubação a 35o C, foi considerada confi rmativa de coliformes totais. Crescimento com produção de gás nos tubos EC, após 24h de incubação a 45,5o C, foi considerada confi rmativa da presença de coliformes termotolerantes.

Os tubos de EC positivos para coliformes termotolerantes foram considerados suspeitos da presença de E. coli. Para confi rmação, uma alçada de cada tubo foi estriada em Ágar Levine Eosina Azul de Metileno (L-EMB), meio seletivo diferencial para distinguir E. coli dos demais coliformes termotolerantes. Quando se observou desenvolvimento de colônias típicas de E. coli (colônias com brilho metálico ou pretas) duas colônias foram isoladas para as provas bioquímicas de indol, vermelho de metila (VM), Voges Proskauer (VP) e citrato (método denominado IMViC).

A presença de Staphylococcus aureus foi analisada pelo método de contagem direta em placas como descrito por Silva et al. (2007). De cada amostra de queijo foram retirados 25 g, triturados e diluídos em 225mL de água peptonada (0,1% p/v). A partir desta solução foram realizadas diluições seriadas, as quais foram inoculadas (0,1mL) e espalhadas com pérolas de vidro em placas de petri contendo Agar Baird-Parker (BP). Também foram inoculadas placas com 1mL da primeira diluição, distribuindo o volume em quatro placas, três com 0,3mL e uma de 0,1mL. Este procedimento foi realizado como método e segurança, presumindo que poderiam existir amostras com contagem de S.aureus inferiores a 100UFC/g de queijo. As placas inoculadas foram incubadas a 35o C por 24-48h. Foram contadas as colônias típicas que são circulares com 2-3mm de diâmetro, pretas ou cinzas escuras, lisas, convexas com bordas perfeitas, massa de células esbranquiçadas nas bordas, rodeadas por uma zona opaca e/ou um halo transparente.

Para confi rmação foram selecionadas 5 colônias típicas para o teste da coagulase. Cada colônia foi transferida para tubos de Caldo Infusão Cérebro Coração (BHI), o inóculo foi perfeitamente homogeneizado com o caldo e uma alçada de cada tubo de BHI foi transferida para tubos com Agar Triptecase Soja (TSA) inclinados. Os tubos foram incubados a 35o C por 24h. Os tubos de TSA foram utilizados para teste da catalase e reservados também para possíveis testes adicionais, enquanto que os tubos de BHI foram empregados para o teste de coagulase. O testes de catalase e coagulase foram realizados de acordo com a metodologia descrita por Cappuccino e Sherman (1996).

RESULTADOS E DISCUSSÃOTodas as amostras de queijo minas frescal apresentaram coliformes totais e fecais

(Tabela 1). Das 40 amostras avaliadas, duas (5%) apresentaram-se dentro do padrão para coliformes totais e três (7,5%) para colifomes fecais. Verifi cou-se, em relação a estes microrganismos, um número muito elevado de queijos (95 e 92,5 %) que não se enquadraram nos padrões exigidos pela legislação (BRASIL, 1996; 2001). Em 100% das amostras foi confi rmada a presença de Escherichia coli (Figura 1), indicando um alto nível de contaminação fecal, o qual pode estar relacionado à qualidade da matéria-prima ou

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ao processamento. Números elevados de coliformes fecais foram constatados, também, em queijos minas frescal comercializados em Estados do nordeste (FLORENTINO; MARTINS, 1990; ARAÚJO et al., 2001; FEITOSA et al., 2003) e sudeste, em Jaboticabal/SP (SALOTTI et al., 2006).

TABELA 1 – Contagens de coliformes totais, coliformes termotolerantes, Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Staphylococcus coagulase negativos isolados de queijo minas frescal de produção artesanal.

Microrganismos Contagens Número de amostras %

Coliformes totais (NMP/g)3,3 x 106

1,4 x 102

38

2

95

5

Coliformes fecais (NMP/g)2,3 x 105

1,0 x 102

37

3

92,5

7,5

Escherichia coli (NMP/g) 2,8 x 102 40 100

Staphylococcus aureus (UFC/g) 4,5 x 107 40 100

S. Coagulase-negativa (UFC/g)3,2 x 106

3,3 x 103

19

9

47,5

22,5

NMP: Número Mais Provável; UFC: Unidade Formadora de Colônias.

O número de coliformes acima de 1,0×103 UFC/mL é indicativo de defi ciências de higiene na produção de leite, sendo os coliformes considerados indicadores de contaminação do ambiente e resíduos de fezes (BRITO et al., 2002). O grupo dos coliformes fecais é considerado o principal agente causador de contaminação associados à deterioração de queijos, causando fermentações anormais e estufamento precoce dos produtos (ALMEIDA; FRANCO, 2003). Estes microrganismos são destruídos pela temperatura de pasteurização. E em alimentos processados é considerada uma indicação útil de contaminação pós-sanitização ou pós-processo, evidenciando práticas de higiene e sanitização aquém dos padrões requeridos para o processamento de alimentos (SILVA et al., 2007).

FIGURA 1 – Colônias de Escherichia coli cultivadas em Ágar Levine Eosina Azul de Metileno (L-EMB), isoladas de amostras de queijo minas frescal de produção artesanal.

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A contagem de bactérias do gênero Staphylococcus evidenciou a presença de Staphylococcus coagulase positiva e negativa (Tabela 1). Em 100% das amostras foram isolados Staphylococcus aureus (Figura 2), em contagens de 4,5 x 107 UFC/g, valores considerados acima do limite permitido pela legislação (BRASIL, 2001), evidenciando que todos os queijos apresentavam condições higiênico-sanitárias insatisfatórias, sendo impróprios para o consumo.

Dentre os diversos tipos de microrganismos patogênicos que podem ser transmitidos através do leite e derivados, destaca-se o Staphylococcus aureus, cuja importância na epidemiologia das doenças veiculadas por alimentos decorre de sua alta prevalência e do risco de produção, nos alimentos contaminados, de toxinas causadoras de gastrenterites alimentares (PEREIRA et al., 2000; FAGUNDES; OLIVEIRA, 2003). A contagem de 4,5 x 107 UFC/g é preocupante porque a população bacteriana presente nos queijos avaliados encontra-se entre os valores requeridos pelas cepas enterotoxigênicas para produzirem enterotoxinas em quantidades sufi cientes para causar intoxicações alimentares (ALMEIDA FILHO; NADER FILHO, 2000).

FIGURA 2 – Colônias de Staphylococcus aureus cultivadas em Ágar Baird-Parker (BP), isoladas de amostras de queijo minas frescal de produção artesanal.

A presença de S. aureus em 100% das amostras de queijo minas frescal pode estar relacionada com a manipulação durante o processamento e/ou armazenagem e venda, pois os manipuladores representam os principais meios de transmissão dessas bactérias. Os resultados verifi cados neste trabalho foram similares aos obtidos por Lubeck et al. (2001) e superiores aos obtidos por Salotti et al. (2006) que identifi caram a presença de S. aureus em 20 % das amostras.

Contagens elevadas de Staphylococcus coagulase-negativa foram verifi cadas em 70% das amostras avaliadas (Tabela 1), das quais 47,5% apresentaram 3,2 x 106

UFC g-1 e 22,5% de 3,3 x 103 UFC g-1. As cepas não produtoras de coagulase podem produzir enterotoxinas e, deste modo, oferecer risco ao consumidor (PEREIRA; PERERIRA, 2005).

A elevada carga microbiana encontrada nos queijos evidenciou que pode ter ocorrido, em algum momento do processamento do queijo, as seguintes possibilidades: a) contaminação decorrente da má qualidade da matéria-prima, b) ser oriunda dos

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manipuladores, c) de condições conservação em temperaturas impróprias, d) de armazenamento em locais inadequados, e) pelo contato com superfícies que não foram submetidas à sanitização prévia.

Para diminuir os riscos de contaminação, é recomendável que o leite, matéria-prima na produção de queijos, passe por um processo de pasteurização e que ainda seja implantado um programa de segurança alimentar do tipo Análise de Perigo e Pontos Críticos de Controle (APPCC). É necessário, também, maior atenção das autoridades sanitárias em relação à produção e comercialização, uma vez que a ingestão de queijo minas frescal contaminado por bactérias patogênicas e suas toxinas pode causar sérios riscos à saúde humana (VIEIRA et al., 2008).

CONCLUSÃOOs queijos minas produzidos artesanalmente apresentaram elevada contagem

de Staphylococcus aureus (coagulase-positiva), Staphylococcus coagulase-negativa e de coliformes totais e fecais evidenciando que podem ter ocorrido falhas durante o processamento, tais como má qualidade da matéria-prima, contaminação oriunda dos manipuladores, contato do alimento com superfícies contaminadas ou temperaturas impróprias para a conservação. Nestas condições, os queijos avaliados são impróprios para o consumo humano, com base nos padrões microbiológicos vigentes na Legislação Brasileira.

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Recebido em: out. 2009 Aceito em: maio 2010

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Uso de vacina autógena monovalente (sorogrupo D) no controle do footrot

em um rebanho ovino no estado do Rio Grande do Sul

Paulo Ricardo Centeno RodriguesLuiz Alberto de Oliveira Ribeiro

Cláudio ChiminazzoLuis Felipe Dutra CorreaCarla Menger Lehugeur

Fernando Magalhães de SouzaLuis Fernando Guerrero Gracia

Gustavo Felipe Lopes

RESUMOEste trabalho avaliou a efi cácia de uma vacina autógena monovalente (sorogrupo

D) com adjuvante oleoso no controle do footrot (FR) em ovinos de uma propriedade rural do município de Santiago/RS. Foram vacinados 347 ovinos, duas doses com intervalo de 30 dias por via subcutânea (SC), administradas na região axilar (150 animais) e na região inguinal (197 animais). Um grupo de 75 animais não recebeu a vacina, constituindo o grupo controle. Os dados mostraram que a prevalência do footrot no grupo de ovinos vacinados (V), que inicialmente era de 4%, sofreu uma redução para 2% na semana 23, chegando a zero na semana 30. No grupo controle (C), a prevalência de animais infectados foi de 6,7% no início do experimento, teve uma redução para 5,3% na semana 23 e, ao fi nal, estava em 3,7%. Observou-se uma redução gradativa no número de ovinos infectados nos dois grupos, entretanto a eliminação seletiva ocorrida no grupo controle prejudicou a análise estatística dos dados. Em cinco ocasiões durante o experimento, amostras de sangue foram colhidas da jugular dos animais para verifi car títulos de anticorpos aglutinantes contra o antígeno presente na propriedade. Os resultados mostraram diferenças signifi cativas (p<0,001) entre os títulos

Paulo Ricardo Centeno Rodrigues é Médico Veterinário, Especialista, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFRGS.Luiz Alberto de Oliveira Ribeiro é Médico Veterinário, Doutor, Professor Associado da Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS.Cláudio Chiminazzo é Médico Veterinário, Mestre, Laboratório Hipra.Luis Felipe Dutra Correa é Médico Veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFRGS.Carla Menger Lehugeur é Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFRGS.Fernando Magalhães de Souza é Acadêmico da Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS.Luis Fernando Guerrero Gracia é Acadêmico da Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS.Gustavo Felipe Lopes é Médico Veterinário autônomo.

Endereço para correspondência: Rua Buenos Aires, 402 apart. 202, Bairro Jardim Botânico, Porto Alegre/RS. CEP: 90670-130. E-mail: [email protected]

n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.31-45Canoas

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de anticorpos aglutinantes contra Dichelobacter nodosus no soro de ovinos vacinados e não vacinados durante o experimento. A análise das reações vacinais locais apontou a região inguinal como o melhor local para a aplicação da vacina com adjuvante oleoso por via SC e também demonstrou uma relação direta entre a idade dos ovinos e o percentual de reações vacinais locais e a severidade dessas reações. Os resultados sugerem que a vacina autógena com adjuvante oleoso obteve sucesso no controle da doença.

Palavras-chave: Footrot. Vacina autógena com adjuvante oleoso. Ovinos.

Use of an autogenous monovalent vaccine (serogroup D) in the control of footrot in a sheep fl ock in the State of Rio Grande do Sul

ABSTRACTThis study evaluated the effi cacy of autogenous monovalent vaccine (serogroup D) with

oil-adjuvant in the control of footrot in sheep from a farm in the municipality of Santiago/RS. 347 sheep were vaccinated, two doses with an interval of 30 days by subcutaneously administered in the axillary region (150 animals) and in the inguinal region (197 animals). A group of 75 animals did not receive the vaccine, constituting the control group. The data showed that the prevalence of footrot in the group of sheep vaccinated (V) initially set at 4%, was reduced to 2% in 23 weeks, reaching zero at the last inspection. In the control group (C) the prevalence of infected animals was 6.7% at baseline, was reduced to 5.3% at week 23 and the end was 3.7%. There was a gradual reduction in the number of infected sheep in both groups, however the selective elimination occurred in the control group affected the statistical analysis. Blood samples were collected from the jugular vein of the animals to see evidence of agglutinating antibodies against the antigen present on the property on fi ve occasions during the experiment. The results showed signifi cant differences (p<0,001) between antibody titers against Dichelobacter nodosus in the serum of sheep vaccinated and not vaccinated during the experiment. The analysis of local vaccine reactions showed the inguinal region as the best place for the application subcutaneously oil-adjuvant vaccine and also demonstrated a direct relationship between the age of the sheep and the percentage of local vaccine reactions and the severity of these reactions. The results suggest that autogenous oil-adjuvant vaccine succeeded in controlling the disease.

Keywords: Footrot. Autogenous oil-adjuvant vaccine. Sheep.

INTRODUÇÃOO footrot (FR) é uma enfermidade específi ca dos ovinos e outros ruminantes

que, sob condições ambientais favoráveis, é altamente contagiosa (EGERTON, 1971, 2007). É uma doença crônica, necrosante, da epiderme interdigital e matriz do casco que, na sua forma virulenta, leva à manqueira, com graves prejuízos à saúde geral do animal, causando perda de peso, queda na produção de lã e diminuição da fertilidade dos rebanhos acometidos (JENSEN; SWIFT, 1982; RIBEIRO, 2007).

O agente essencial desta doença é o Dichelobacter nodosus, um bastonete Gram-negativo, obrigatoriamente anaeróbio, cuja presença é indispensável para que ocorra um surto de FR. A presença do Fusobacterium necrophorum, entretanto, é fundamental para a penetração do D. nodosus na epiderme interdigital (BEVERIDGE, 1941; EGERTON et al., 1969). A epiderme interdigital, que é o sítio primário da

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infecção, deve estar devidamente desvitalizada para que ocorra, posteriormente, a invasão bacteriana. Essa condição é usualmente obtida através da prolongada exposição à umidade e contaminação fecal. Para o estabelecimento do D. nodosus, é necessário que ocorra, anteriormente ou simultaneamente, a infecção com o F. necrophorum para facilitar a invasão da epiderme (EGERTON et al., 1969; ROBERTS; EGERTON, 1969).

A doença afeta ovinos de todas as idades e sexos e está presente em todos os países onde ovinos são criados comercialmente. No Brasil, a enfermidade é endêmica, afetando rebanhos ovinos e caprinos, ocasionando severas perdas na produtividade (BLOOD; RADOSTITS, 1991; RIBEIRO, 2007). Ribeiro (1978; 1985) demonstrou que o FR é endêmico em rebanhos ovinos no Estado do Rio Grande do Sul (RS) e comprovou clínica e laboratorialmente a presença do FR em rebanhos de 42 municípios que englobam 85% da população ovina desse Estado do Brasil.

Os trabalhos iniciais com vacinas contra o FR demonstraram que a imunidade está associada à presença na vacina de amostra de D. nodosus antigenicamente semelhante à causadora do surto. Trabalhos de identifi cação sorológica do agente mostraram uma variedade de sorogrupos e sorotipos. Na Austrália, o sistema para a classifi cação sorológica do D. nodosus descreve 10 sorogrupos (A ao I e o M) e identifi ca alguns sorotipos, totalizando 19 subtipos (CLAXTON et al., 1983; CLAXTON, 1986; DAY et al., 1986; GHIMIRE et al., 1998; RIBEIRO, 1981).

Segundo Ribeiro (1995), no RS foram identifi cados, até aquele ano, sete sorogrupos: A, B, C, D, E, F e H, sendo os mais prevalentes o E, D e B, nessa ordem de importância.

Segundo Egerton et al. (1994), a combinação de múltiplos sorotipos de D. nodosus em uma mesma vacina resulta numa resposta imunológica menor para cada sorotipo quando comparada com a administração de cada sorotipo isoladamente. Esse fenômeno é conhecido como competição antigênica e foi observado em vários experimentos onde vacinas monovalentes demonstraram sua superioridade em prevenir e curar o FR, quando comparadas com vacinas multivalentes. Thorley e Egerton (1981) utilizaram vacinas contra o FR com posterior desafi o por amostras homólogas e observaram com uma razoável resistência à infecção, títulos de aglutininas acima de 3200 (título médio geométrico = 11,64).

Egerton et al. (2002) realizaram um experimento em ovinos e caprinos (aproximadamente 9500 animais) submetidos a um programa de erradicação do footrot virulento (FRV), em uma região do Nepal onde a enfermidade é endêmica, comparando o uso de vacina autógena administrada duas vezes (grupo A), vacina comercial multivalente seguida de vacina autógena, uma dose de cada (grupo B), vacina comercial multivalente administrada duas vezes (grupo C) e animais não vacinados (grupo D). Demonstraram a superioridade do uso da vacinação específi ca (grupo A) na redução da prevalência da infecção e na manutenção de títulos de anticorpos protetores por mais tempo que nos outros grupos (6 meses).

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O uso de vacina autógena monovalente foi utilizada por Gurung et al. (2006) para tratar e prevenir a reinfecção por amostra virulenta de D. nodosus em ovinos no Butão. Nesse experimento a vacinação foi utilizada em todo rebanho (605 ovinos) durante dois anos consecutivos (1999-2000) e nenhum outro tratamento contra o FR foi utilizado a partir desse instante. Nenhum dos 88 animais infectados do rebanho apresentou sinais de FR 30 dias após a primeira dose de vacina, e o rebanho manteve-se livre da doença durante os quatro anos de duração desse programa de erradicação.

Na Austrália, Dhungyel et al. (2008) obtiveram sucesso na erradicação de FRV e footrot intermediário (FRI) em dois rebanhos acometidos pela doença, utilizando vacinas autógenas monovalentes, contendo os sorogrupos F e C respectivamente. No primeiro caso, houve uma redução no número de animais infectados de 44% (antes da vacinação) para 2% em três meses, 0,5% em 4 meses, sem casos clínicos aos 5 meses, e mantendo-se livres por 16 meses após a vacinação. No segundo caso, a prevalência era de 8,5% antes da vacinação, reduziu para 2% em 3 meses, 0,3% aos 6 meses, e sem casos clínicos aos 18 meses após a vacinação.

Tendo em vista os resultados obtidos com o uso de vacinas autógenas no controle do FR em outros países e não havendo informações sobre a utilização de vacinas autógenas em rebanhos brasileiros, foi elaborado o presente experimento. Os objetivos deste experimento foram avaliar as reações vacinais locais, estimar o título de anticorpos contra D. nodosus em ovinos vacinados e utilizar e avaliar a efi cácia de uma vacina autógena no controle do FR em um rebanho naturalmente infectado.

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi realizado durante o ano de 2009, em uma propriedade rural

localizada no município de Santiago⁄RS. Foi utilizado um rebanho ovino cruza Texel, com 650 animais entre carneiros, ovelhas, borregas, cordeiros machos e fêmeas.

Localização e histórico da propriedadeO município de Santiago localiza-se na região centro-ocidental rio-grandense,

numa altitude de 409 m acima do nível do mar, latitude–29° 11’ 30” e longitude 54° 52’ 02”, possui clima subtropical úmido. Na região predominam os solos do tipo neossolo, latossolo e argissolo. Os dados climatológicos dessa região durante o ano de 2009 estão demonstrados na Figura 1.

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FIGURA 1 – Temperatura média mensal e precipitação pluviométrica mensal durante o ano de 2009 na Região Central do Rio Grande do Sul (EMBRAPA, 2010).

A propriedade rural ocupa uma área de 715 ha, dividida em nove potreiros de tamanhos variáveis. Na propriedade são criados bovinos e ovinos de corte e a produção de soja ocupa uma área de 200 ha.

Os ovinos são criados extensivamente e alimentados com pastagem nativa e azevém semeado nos potreiros após a colheita da soja. O manejo sanitário dos animais consiste em vacinações anuais contra clostridioses e aplicações de vermífugos em períodos determinados pelo proprietário.

A partir de 2005 o rebanho ovino começou a sofrer surtos de FR com graves prejuízos à produtividade geral. No primeiro grande surto, em 2005, os animais foram tratados com sulfato de cobre 5 a 10% no pedilúvio, quimioterapia parenteral nos casos mais graves e descarte dos animais renitentes aos tratamentos. No ano de 2006 todo o rebanho recebeu duas doses, com intervalo de 30 dias, da vacina Foot-vac® do Laboratório Hipra, antes da primavera, diminuindo muito o surgimento de casos novos na primavera e verão seguintes. Em 2007 houve um surto grave no inverno e, em 2008, outro surto ocorreu durante a primavera.

Colheita e processamento de amostrasNo início do experimento foi colhido material necrótico das partes mais ativas

do espaço interdigital de oito ovinos naturalmente infectados com lesões de FR. Para tanto, utilizaram-se palitos portugueses estéreis, que, impregnados do material das lesões, foram introduzidos em tubos contendo meio de transporte de Thorley estéril,

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sendo mantidos sob refrigeração a 8 °C, e transportados em caixa de isopor com gelo para processamento no laboratório (THORLEY, 1976).

Posteriormente o material foi semeado em placas de Petry contendo meio de cultura ágar casco a 4%, e incubadas em anaerobiose a 37 oC por 96 horas. Até dez colônias de cada placa foram semeadas em placas de ágar casco a 4%, usando 1⁄4 de cada placa para cada cultura. As placas foram novamente incubadas anaerobicamente a 37 oC por 96 horas. As amostras purifi cadas foram semeadas em ágar casco a 2 % e incubadas nas mesmas condições acima referidas. As colônias foram identifi cadas através de sua morfologia característica e pela coloração de Gram, conforme Ribeiro (1981). As placas com crescimento puro de D. nodosus foram lavadas com solução formalina tampão fosfato-salino (FPBS), pH 7,4, e o conteúdo armazenado em frascos mantidos sob refrigeração a 4 oC para posterior processamento.

Preparação do antígeno para sorologia e sorotipagemAs culturas puras de D. nodosus, cultivadas em placas de Petry com ágar casco

a 2%, foram colhidas em 0,4-0,5 ml de FPBS e sua concentração foi ajustada até conter aproximadamente 5 x 108 células/ml, equivalente ao tubo 3,5 da escala de MacFarland (BIER, 1990). O antígeno preparado a partir da amostra isolada foi testado com antissoros de cada sorogrupo (A-I), ocorrendo aglutinação com o antissoro D (CLAXTON et al., 1983).

Preparação da vacinaUma vacina monovalente (sorogrupo D) com adjuvante oleoso contendo

amostras de D. nodosus colhidas na propriedade foi utilizada. O antígeno anteriormente preparado foi emulsifi cado em óleo Montanide. A proporção da suspensão de células no óleo foi 40:60. A preparação conteve aproximadamente 5 x 108 D. nodosus células/ml da vacina (GURUNG et al., 2006).

VacinaçãoO grupo experimental foi formado com 422 fêmeas ovinas, divididas

aleatoriamente em dois grupos, grupo vacinado (V) e grupo controle (C), e identifi cados com brincos numerados. O grupo vacinado (V) foi composto com 347 ovelhas e recebeu duas doses, 2 ml por dose, da vacina autógena por via SC, com 30 dias de intervalo. O grupo vacinado foi dividido em dois subgrupos: grupo Va (n=150) – vacinado na região axilar esquerda e grupo Vb (n=197) – vacinado na região inguinal esquerda. Os animais restantes (n=75) foram mantidos como controles sem vacinação (grupo C).

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Avaliação das lesões podaisTodos os ovinos do grupo experimental tiveram seus cascos avaliados no início

do experimento (dia zero), 23 e 30 semanas após. Nessas ocasiões, os ovinos tiveram suas lesões classifi cadas conforme o método desenvolvido por Egerton e Roberts (1971), que estabelece uma escala de lesões com escores que vão de zero a quatro, onde zero corresponde à ausência de FR e quatro à lesão mais grave, envolvendo descolamento das partes duras do casco. Foram considerados infectados ovinos que apresentaram, no mínimo, um dos cascos com escore dois.

Colheita de sangue para sorologiaForam realizadas colheitas de sangue diretamente da veia jugular, utilizando

tubos vacutainer sem anticoagulante (Becton-Dickinson, Rutherford, NJ, USA) de dez ovinos do grupo controle e dez ovinos do grupo vacinado, em cinco ocasiões durante o experimento, para determinar os títulos de aglutininas contra o D. nodosus. Logo após a colheita, as amostras de sangue foram deixadas coagular a temperatura ambiente, sendo os soros coletados, identifi cados e mantidos a – 20 °C até serem processados. As amostras foram colhidas no início do experimento (dia zero), e as quatro, sete, 23 e 30 semanas.

Teste de aglutinação em tubosO teste de aglutininas K (antígeno de superfície) foi realizado usando a técnica

descrita por Egerton (1973), que consiste na adição de 0,1 ml de soro ovino a 0,9 ml de solução fi siológica em um tubo de ensaio, produzindo uma diluição inicial 1/10. Diluições com 0,5 ml de solução fi siológica foram preparadas. A seguir, 0,5 ml de uma suspensão de antígeno contendo aproximadamente 5 x 108 células/ml foram adicionadas a cada tubo. O teste foi incubado por no mínimo quatro horas a 37 oC. O título fi nal foi a mais alta diluição em que foi observada aglutinação fl ocular. Com esses dados foi calculado o título médio geométrico (GMT) para os dois grupos em cada ocasião.

Avaliação das lesões vacinaisOs ovinos dos grupos Va e Vb foram avaliados em relação às reações vacinais

locais 30 dias após a vacinação. As reações foram classifi cadas quanto à gravidade em R1, R2, R3 e R4. Sendo R1 granuloma vacinal com até 2 cm de diâmetro, R2 de 2 a 4 cm, R3 de 4 a 6 cm e R4 acima de 6 cm.

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Análise estatísticaO Teste Exato de Fisher foi utilizado para comparar animais infectados e não

infectados dentro da mesma semana e o Teste Q de Cochram foi utilizado para comparar diferenças entre as semanas. Os resultados sorológicos foram avaliados através da análise de variância (ANOVA) para medidas repetidas. O Teste Qui-quadrado foi utilizado para comparar a ocorrência de lesões vacinais nos dois locais de vacinação e a correlação entre a idade dos ovinos e as lesões vacinais. O Teste de Mann-Whitney foi utilizado para verifi car a diferença entre os locais de vacinação em relação à gravidade das lesões vacinais.

RESULTADOS E DISCUSSÃOOs dados referentes à prevalência de animais infectados por FR no grupo de ovinos

vacinados (V) e controles (C) encontrados nos diferentes períodos de inspeção estão demonstrados na Tabela 1.

TABELA 1 – Prevalência de animais infectados no grupo de ovinos vacinados (V) e controles (C) encontrados nos diferentes períodos de inspeção.

Grupos

Número de ovinos ⁄ Semanas

zero 23 30

Examinados Infectados (%) Examinados Infectados (%) Examinados Infectados (%)

V 347 14(4) 153 3(2) 104 0(0)

C 75 5(6,7) 38 2(5,3) 27 1(3,7)

Os dados mostraram que a prevalência do FR no grupo de ovinos vacinados (V) que inicialmente era de 4%, sofreu uma redução para 2% na semana 23, chegando a zero na última inspeção. No grupo controle (C), a prevalência de animais infectados foi de 6,7% no início do experimento, teve uma redução para 5,3% na semana 23 e ao fi nal estava em 3,7%. Na comparação entre os dois grupos dentro da mesma semana, e entre semanas diferentes, não houve diferenças estatisticamente relevantes.

Por razões alheias ao experimento, durante o período experimental houve uma redução signifi cativa no número de animais nos dois grupos (V e C), que conduziram a um resultado inesperado no percentual de animais infectados no grupo controle. Na semana zero haviam cinco ovinos infectados (nº 52, 53, 54, 55 e 56) no grupo controle, que foram eliminados e não foram avaliados nas semanas 23 e 30; na semana 23, um dos dois ovinos infectados (nº 72) também foi eliminado e tampouco foi avaliado na semana 30. Do início do trabalho até a semana 23 houve uma redução de 49% no número de animais do grupo controle, e de 64% em relação

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à semana 30. Certamente os animais infectados nas semanas zero e 23, e que não foram avaliados na semana 30, estariam infectados na última avaliação, aumentando a taxa de infecção nesse grupo, sem contar os 42 ovinos que pertenciam ao grupo controle, não foram avaliados na semana 30, e poderiam estar infectados. Com isso, no mínimo, teríamos sete animais infectados na última inspeção, elevando a taxa de infecção no grupo controle para 9,3%.

Os dados encontrados na avaliação do grupo vacinado (V) se assemelham aos observados por Gurung et al. (2006), que obtiveram remissão total das lesões em um rebanho de 605 ovinos, dos quais 88 estavam infectados por FR, utilizando uma vacina autógena administrada duas vezes com intervalo de 30 dias. Quatro anos após essa medida, sem qualquer outro tratamento contra o FR, o rebanho permanecia livre da doença. Na Austrália, Dhungyel et al. (2008) obtiveram sucesso na erradicação de FR utilizando vacinas autógenas monovalentes, com resultados semelhantes aos obtidos neste experimento.

O resultado surpreendentemente baixo na taxa de infecção do grupo controle, mesmo com condições ambientais altamente favoráveis à disseminação da enfermidade, deveu-se a eliminação seletiva realizada pelo proprietário, especialmente visando animais cronicamente infectados pelo FR. Essas duas medidas, vacinação e eliminação seletiva, constituem a base dos programas de erradicação do FR (ABBOTT; LEWIS, 2005; HOSIE, 2004). Durante o ano de 2009 nenhum outro tratamento contra o FR foi utilizado na propriedade, além da vacinação com a vacina autógena.

Em cinco ocasiões foi colhido sangue para medir os títulos de aglutininas contra o D. nodosus no soro dos ovinos. As médias e o GMT de aglutininas K estão demonstrados na Tabela 2.

TABELA 2 – Média e título médio geométrico (GMT) de aglutininas K contra o Dichelobacter nodosus no soro de ovinos não vacinados (grupo C) e vacinados (grupo V).

Semana Grupo C Grupo V

Média GMT Média GMT

0 160 7,22 a 176 7,42 a

4* 176 7,42 a 4992 11,82 b

7 128 6,92 a 12800 13,52 c

23 144 7,12 a 320 8,22 d

30 160 7,22 a 232 7,72 a

a,b,c,d Valores não seguidos da mesma letra diferem signifi cativamente (p < 0,001).* Revacinação.

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Os dados da Tabela 2 podem também ser visualizados na Figura 2.

FIGURA 2– Título médio geométrico (GMT) de aglutininas K contra o Dichelobacter nodosus no soro de ovinos não vacinados (grupo C) e vacinados (grupo V) e título de anticorpos considerados protetores (THORLEY;

EGERTON, 1981).

Os resultados das provas sorológicas foram submetidos à análise estatística e demonstraram uma diferença signifi cativa (p<0,001) entre os títulos do grupo não vacinado e vacinado na quarta, sétima e 23 semanas do experimento, comprovando a efi cácia da vacinação e da revacinação na proteção contra o D. nodosus, ao mesmo tempo, no grupo vacinado somente entre as semanas 0 e 30 não verifi caram-se diferenças signifi cativas. Estes resultados estão de acordo com Egerton e Thorley (1981) e Gurung et al. (2006), que encontraram títulos médios de anticorpos de 7825 e 3020 em animais vacinados com vacina oleosa às seis e quatro semanas, respectivamente, após a vacinação; e quatro semanas após a revacinação encontraram títulos médios de 16750 e 12770.

Trinta dias após a vacinação, foram avaliadas as reações vacinais em dois locais diferentes de aplicação, região axilar e região inguinal. Os resultados estão demonstrados na Tabela 3.

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TABELA 3 – Resultados das reações vacinais na região axilar (grupo Va) e inguinal (grupo Vb) dos ovinos e o grau de severidade das reações vacinais em cada grupo.

Grupo Nº ovinosLesões (%) Reações vacinais (%)

Sem Com R1 R2 R3 R4

Va 120 68 (56,7) 52 (43,3) 25 (20,8) 17 (14,1) 5 (4,2) 5 (4,2)

Vb 176 138 (78,4) 38 (21,6) 23 (13,1) 12 (6,8) 2 (1,1) 1 (0,6)

Os resultados foram submetidos à análise estatística e demonstraram uma diferença signifi cativa (p<0,001) entre as reações vacinais encontradas em cada local de administração, sendo a região inguinal o local onde ocorreu um número muito menor de reações.

Em relação ao grau de severidade das reações vacinais locais, os resultados demonstraram uma diferença signifi cativa (p<0,001) entre a administração na região axilar e inguinal. Dos ovinos que receberam a vacina na região axilar, 8,4% tiveram reações mais graves e 34,9% tiveram reações de menor gravidade. Dos ovinos que receberam a vacina na região inguinal, 1,7% tiveram reações mais graves e 19,9% tiveram reações de menor gravidade. A ocorrência de miíases não chegou a ser um problema nos dois grupos, pois somente três animais foram infectados, dois no grupo da região axilar e um no grupo da região inguinal.

Claxton (1981) avaliou as reações vacinais locais em 19 ovinos que receberam vacina contra o FR com adjuvante oleoso por via SC na base da orelha esquerda, e observou que as reações desenvolveram-se lentamente, atingindo o nível máximo na 4ª semana, com a regressão ocorrendo rapidamente, entre seis a sete semanas após a vacinação. Observou ruptura e saída de secreções em 78,9% dos animais, e perda da lã em 84,2% dos ovinos, com área média de 7,45 cm2. O aumento de volume observado foi medido em cm2, a maior medida foi de 25,9 cm2 na 4ª semana após a vacinação.

A principal queixa dos criadores de ovinos em relação ao uso de vacinas contra o FR eram as reações vacinais no local de aplicação, os experimentos de Claxton (1981) demonstraram essa preocupação, entretanto os resultados encontrados nesse experimento diferem muito dos observados por Claxton, certamente a evolução dos adjuvantes oleosos usados atualmente pela indústria farmacêutica explica essa diferença.

Os resultados obtidos com a avaliação das reações vacinais e o grau de severidade dessas reações observadas na região axilar, relacionadas com a idade desses animais, constatada através do exame dos dentes, estão demonstrados na Tabela 4. Conforme Silva (2005) a idade dos ovinos pode ser determinada através do exame dos incisivos, animais com dentes de leite (DL) tem menos de um ano de idade, com as duas pinças (2D) possuem em torno de 18 meses de idade, com as duas pinças e os dois primeiros médios (4D) possuem em torno de dois anos de idade, com as duas pinças, os dois primeiros médios e os dois segundos médios (6D) possuem em

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torno de três anos de idade, com as duas pinças, os primeiros e segundos médios e os dois cantos (8D) possuem acima de 4 anos de idade, os animais com oito dentes são também chamados de “boca cheia” (BC).

TABELA 4 – Reações vacinais na região axilar (grupo Va) relacionada com a idade dos ovinos e o graude severidade das reações vacinais.

Idade Nº ovinosLesões (%) Reações vacinais (%)

Sem Com R1• R2• R3• R4•

DL* 26 20 (76,9) 6 (23,1) 2 (7,7) 3 (11,6) 1 (3,8) -

2D* 12 6 (50) 6 (50) 4 (33,4) 1 (8,3) - 1 (8,3)

4D* 10 7 (70) 3 (30) 1 (10) 2 (20) - -

6D* 25 12 (48) 13 (52) 6 (24) 4 (16) - 3 (12)

BC* 47 23 (48,9) 24 (51,1) 12 (25,6) 7 (14,9) 4 (8,5) 1 (2,1)

Total 120 68 (56,7) 52 (43,3) 25 (20,8) 17 (14,1) 5 (4,2) 5 (4,2)

* Idade dos ovinos pelo exame dos dentes, DL signifi ca dente de leite, 2D dois dentes, 4D quatro dentes, 6D seis dentes e BC boca cheia.

•R1 granuloma vacinal com até 2 cm de diâmetro, R2 de 2 a 4 cm, R3 de 4 a 6 cm e R4 acima de 6 cm.

Os resultados obtidos com a avaliação das reações vacinais e o grau de severidade dessas reações observadas na região inguinal, relacionadas com a idade dos ovinos, constatada através do exame dos dentes, estão demonstrados na Tabela 5.

TABELA 5– Reações vacinais na região inguinal (grupo Vb) relacionada com a idade dos ovinos e o grau de severidade das reações vacinais.

Idade Nº ovinosLesões (%) Reações vacinais (%)

Sem Com R1• R2• R3• R4•

DL* 36 36 (100) - - - - -

2D* 18 16 (88,9) 2 (11,1) - 2 (11,1) - -

4D* 11 10 (90,9) 1 (9,1) 1 (9,1) - - -

6D* 29 22 (75,9) 7 (24,1) 5 (17,2) 2 (6,9) - -

BC* 82 54 (65,9) 28 (34,1) 17 (20,7) 8 (9,8) 2 (2,4) 1 (1,2)

Total 176 138 (78,4) 38 (21,6) 23 (13,1) 12 (6,8) 2 (1,1) 1 (0,6)

* Idade dos ovinos pelo exame dos dentes, DL signifi ca dente de leite, 2D dois dentes, 4D quatro dentes, 6D seis dentes e BC boca cheia.

•R1 granuloma vacinal com até 2 cm de diâmetro, R2 de 2 a 4 cm, R3 de 4 a 6 cm e R4 acima de 6 cm.

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Os resultados obtidos e apresentados nas Tabelas 4 e 5 foram submetidos à análise estatística e demonstraram que há uma associação estatisticamente relevante (p<0,001) entre a idade dos ovinos e o percentual de animais com lesões vacinais, e também uma correlação estatisticamente signifi cante (p<0,001) entre a idade dos animais e a severidade das lesões vacinais, considerando os dois locais de vacinação. Ficou demonstrada uma relação direta entre a idade dos ovinos e o percentual de reações vacinais locais e a severidade dessas reações.

CONCLUSÃOA análise dos dados obtidos no presente trabalho permitiu as seguintes

conclusões:

1. A vacina autógena monovalente (sorogrupo D) com adjuvante oleoso induziu resposta imune nos animais vacinados, sugerindo uma ação efi caz no controle do FR nesta propriedade.

2. O título médio geométrico (GMT) de anticorpos aglutinantes presentes no soro dos animais vacinados e revacinados demonstraram ser protetores contra o FR.

3. A análise das reações vacinais indicou a região inguinal como o melhor local para a aplicação da vacina oleosa por via SC.

4. Foi comprovada uma relação direta entre a idade dos animais e a ocorrência e severidade das reações vacinais locais.

AGRADECIMENTOSNossos agradecimentos ao Laboratório Hipra pelo auxílio na produção da vacina e

dos antígenos para as provas sorológicas. À laboratorista Jane Mendes Brasil, à Médica Veterinária Marília Scartezzini e aos estagiários do laboratório de microbiologia do HV/ULBRA pelo auxílio nos testes sorológicos, ao motorista Valter Velasques, Alves da Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS, pelo auxílio nos trabalhos de campo; ao Sandro Madeira Cardinal e a todos os campeiros da Fazenda Liberdade, sem os quais este trabalho não teria sido possível.

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Recebido em: maio 2010 Aceito em: set. 2010

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Resposta imunológica contra o footrot dos ovinos promovida por vacina autógena

monovalente e por vacina comercial polivalente

Paulo Ricardo Centeno RodriguesLuiz Alberto de Oliveira Ribeiro

Cláudio ChiminazzoLuis Felipe Dutra CorreaCarla Menger Lehugeur

Leonardo Canali CanellasFernando Magalhães de Souza

RESUMOEste trabalho avaliou a resposta imunológica provocada por uma vacina monovalente

(sorogrupo D) e por uma vacina polivalente (7 sorogrupos) contra o footrot. Trinta fêmeas ovinas, com idades variadas, foram divididas aleatoriamente em 3 grupos de 10 animais: grupo controle (C) que não foi vacinado, grupo vacinado com vacina monovalente (Vm) e grupo vacinado com vacina polivalente (Vp). Os ovinos vacinados receberam duas doses (2 ml por via subcutânea na região inguinal) com quatro semanas de intervalo. Amostras de sangue foram colhidas da jugular dos animais para verifi car títulos de anticorpos aglutinantes contra o Dichelobacter nodosus no início do experimento (dia zero) e em outras três ocasiões, semanas 4, 7 e 12. Os resultados mostraram diferenças signifi cativas (p<0,001) entre os títulos médios geométricos (GMT) de anticorpos aglutinantes contra Dichelobacter nodosus no soro de ovinos vacinados (Vm e Vp) e não vacinados (C) na quarta, sétima e 12ª semanas do experimento. Em relação aos títulos médios geométricos (GMT) entre os grupos Vm e Vp houve diferenças estatisticamente signifi cativas na quarta e sétima semanas. A vacina monovalente induziu títulos de aglutininas superiores contra o Dichelobacter nodosus em comparação com a vacina polivalente.

Palavras-chave: Footrot. Vacina monovalente. Vacina polivalente.

Paulo Ricardo Centeno Rodrigues é Médico Veterinário, Especialista, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFRGS.Luiz Alberto de Oliveira Ribeiro é Médico Veterinário, Doutor, Professor Associado da Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS.Cláudio Chiminazzo é Médico Veterinário, Mestre, Laboratório Hipra.Luis Felipe Dutra Correa é Médico Veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFRGS.Carla Menger Lehugeur é Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFRGS.Leonardo Canali Canellas é Médico Veterinário, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da UFRGS.Fernando Magalhães de Souza é Acadêmico da Faculdade de Medicina Veterinária da UFRGS.

Endereço para correspondência: Rua Buenos Aires, 402 apart. 202, bairro Jardim Botânico, Porto Alegre (RS). CEP: 90670-130. E-mail: [email protected]

n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.46-53Canoas

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Immunological response against ovine footrot promoted by autogenous monovalent and a commercial polyvalent vaccine

ABSTRACTThis study evaluated the immune response elicited by a monovalent (serogroup D) and a

polyvalent vaccine (7 serogroups) against footrot. Thirty ewes, of various ages were randomly divided into 3 groups of 10 animals: control group (C) was not vaccinated, group vaccinated with monovalent vaccine (Vm) and the group vaccinated with polyvalent vaccine (Vp). The sheep were vaccinated with two doses four weeks apart, the dose was 2 ml subcutaneously in the inguinal region. Blood samples were collected from the jugular vein of the animals to determine agglutination titers against Dichelobacter nodosus in the beginning of the experiment (day zero) and in other three occasions, weeks 4, 7 and 12. The results showed highly signifi cant differences (p<0,001) between the geometric mean titers (GMT) of antibodies against Dichelobacter nodosus in the serum of sheep vaccinated (Vm e Vp) and unvaccinated (C) in the fourth, seventh and 12th weeks of the experiment. For the geometric mean titers (GMT) between the Vm and Vp groups there was statistically signifi cant differences in the fourth and the seventh weeks. The monovalent vaccine induced titers of higher against Dichelobacter nodosus compared with the polyvalent vaccine.

Keywords: Footrot. Monovalent vaccine. Polyvalent vaccine.

INTRODUÇÃOO footrot (FR) é uma enfermidade contagiosa dos ovinos e caprinos transmitida pelo

Dichelobacter nodosus, uma bactéria Gram-negativa, não esporulada e obrigatoriamente anaeróbica, que não sobrevive mais que sete dias fora do casco dos ruminantes (EGERTON, 2007). Na sua forma virulenta causa grave claudicação, podendo afetar um ou mais membros do animal, acarretando severo prejuízo ao seu estado produtivo geral (EGERTON, 1997; RIBEIRO, 2007).

Egerton e Merrit (1970) demonstraram a presença de anticorpos com poder bactericida em ovinos vacinados e não vacinados. Egerton e Roberts (1971) descreveram níveis de anticorpos aglutinantes em ovinos vacinados e não vacinados, que foram experimentalmente desafi ados com amostras virulentas de D. nodosus. Egerton e Merrit (1973) demonstraram a presença de anticorpos aglutinantes contra antígenos de superfície (K) e somáticos (O) através dos diferentes tipos de aglutinação que eles causam e demonstraram um aumento de 100 vezes no título de aglutininas K e O após vacinação contra o FR utilizando vacinas com adjuvante oleoso ou sulfato de alumínio e potássio.

Estudos posteriores, conduzidos por Stewart (1973) e Walker et al. (1973) revelaram que o D. nodosus possuía estruturas como a pili, com capacidade de gerar resposta imunogênica em coelhos e ovinos. Egerton (1973) classifi cou 33 isolados de D. nodosus em três diferentes sorogrupos: A, B e C, tendo como base seus antígenos de superfície K. Stewart (1978) demonstrou que vacinas contra o FR que utilizaram pili purifi cadas foram capazes de proteger ovinos desafi ados com amostras homólogas, entretanto vacinas com outros extratos antigênicos, contendo antígenos O e lipopolissacarídeos da parede celular, não foram capazes de oferecer a mesma proteção.

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Thorley e Egerton (1981) compararam a efi cácia de vacinas emulsifi cadas em óleo, com anterior ou não adsorção em sulfato de alumínio e potássio, e cada uma dessas vacinas foi preparada com células piliadas e não-piliadas de D. nodosus. Os melhores resultados foram obtidos com vacinas que utilizaram amostras piliadas e foram primeiramente adsorvidas em sulfato de alumínio e potássio antes da emulsifi cação em óleo. Nesse experimento os autores correlacionaram com uma razoável resistência à infecção por cepas homólogas título de aglutininas acima de 3200 (título médio geométrico = 11,64).

Os resultados encontrados por Raadsma et al. (1994) demonstraram a infl uência da competição antigênica na redução dos títulos de aglutininas K quando vacinas polivalentes confeccionadas com pili de D. nodosus são utilizadas. Conforme O’Meara (1993) as vacinas monovalentes recombinantes que utilizam pili são superiores na indução de altos títulos de aglutininas K e na produção de imunidade de mais longa duração. Por outro lado, segundo o mesmo autor, as vacinas polivalentes, a cada incorporação adicional de sorogrupo, acarreta uma redução nos títulos de anticorpos aglutinantes e no poder de proteção frente à agressão experimental.

A efi ciência de vacinas autógenas monovalentes como estratégia de controle do FR em propriedades rurais foi demonstrada por Egerton et al. (2002) e Gurung et al. (2006), onde o poder de proteção e terapêutico da vacina esteve associado a altos títulos de anticorpos aglutinantes.

O presente trabalho teve como objetivo comparar a resposta imunológica, medida pelos títulos de anticorpos aglutinantes, produzida por uma vacina autógena monovalente e uma vacina comercial polivalente.

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi realizado em uma propriedade rural, localizada no município de

Glorinha, no Estado de Rio Grande do Sul, região Sul do Brasil. Foi utilizado um rebanho ovino cruza Texel com 50 animais, entre setembro de 2009 e janeiro de 2010. Os ovinos são criados extensivamente e alimentados com pastagem nativa. O manejo sanitário dos animais consiste em vacinações anuais contra clostridioses e aplicações de vermífugos em períodos determinados pelo proprietário.

Foram escolhidas aleatoriamente 30 fêmeas ovinas com idades variáveis, e identifi cadas através de brincos numerados. A seguir foram formados três grupos experimentais com dez animais em cada grupo: grupo Vm – vacinado com vacina monovalente, grupo Vp – vacinado com vacina polivalente e grupo C – grupo controle sem vacinação. Os ovinos foram avaliados quanto à idade, através do exame dos dentes, e lesões de FR nos cascos. Durante todo o experimento nenhum ovino apresentou lesões de FR.

Os grupos Vm e Vp foram vacinados no dia zero e revacinados quatro semanas após, com 2 ml por via SC, na região inguinal direita na vacinação e na região inguinal esquerda na revacinação.

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Vacinas utilizadasUma vacina monovalente (sorogrupo D) e outra vacina polivalente (contendo sete

sorogrupos) com adjuvante oleoso (Montanide) contendo amostras de D. nodosus foram cedidas pelo Laboratório Hipra. A proporção da suspensão de células no óleo foi 40:60. A preparação conteve aproximadamente 5 x 108 D. nodosus células/ml em cada vacina (GURUNG et al., 2006).

Preparação do antígeno para sorologiaCulturas puras de D. nodosus que serviram para a produção das vacinas foram

cultivadas em placas de Petry com ágar casco a 2%, foram colhidas em 0,4-0,5 ml de uma solução formalina tampão fosfato-salino (FPBS), pH 7, e sua concentração foi ajustada até conter aproximadamente 5 x 108 células/ml, equivalente ao tubo 3,5 da escala de MacFarland (BIER, 1990). O antígeno utilizado para avaliar os títulos de anticorpos aglutinantes produzidos pela vacina polivalente foi do sorogrupo B.

Colheita de sangue para sorologiaForam realizadas colheitas de sangue diretamente da veia jugular, utilizando tubos

Vacutainer® sem anticoagulante (Becton-Dickinson, Rutherford, NJ, USA) dos dez ovinos de cada um dos grupos, em quatro ocasiões durante o experimento, para determinar os títulos de aglutininas contra o D. nodosus. Logo após a colheita as amostras de sangue foram deixadas coagular a temperatura ambiente, sendo os soros coletados, identifi cados e mantidos a – 20 °C até serem processados. As amostras foram colhidas no início do experimento (dia zero), e as quatro, sete e 12 semanas.

Teste de aglutinação em tubosO teste de aglutininas K foi realizado usando a técnica descrita por Egerton (1973),

que consiste na adição de 0,1 ml de soro ovino a 0,9 ml de solução fi siológica em um tubo de ensaio, produzindo uma diluição inicial 1/10. Diluições com 0,5 ml de solução fi siológica foram preparadas. A seguir, 0,5 ml de uma suspensão de antígeno contendo aproximadamente 5 x 108 células⁄ml foram adicionadas a cada tubo. O teste foi incubado por no mínimo quatro horas a 37 oC. O título fi nal foi a mais alta diluição em que foi observada aglutinação fl ocular. Com esses dados foi calculado o título médio geométrico (GMT) para os três grupos em cada ocasião.

Análise estatísticaOs resultados sorológicos encontrados foram avaliados através da análise de

variância (ANOVA) para medidas repetidas.

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RESULTADOS E DISCUSSÃOEm quatro ocasiões foi colhido sangue para medir os títulos de aglutininas contra o

D. nodosus no soro dos ovinos. As médias e o GMT de aglutininas K estão demonstrados na Tabela 1.

TABELA 1 – Média e título médio geométrico (GMT) de aglutininas K contra o Dichelobacter nodosus no soro de ovinos não vacinados (grupo C), vacinados com vacina monovalente (grupo Vm) e vacinados com vacina

polivalente (grupo Vp).

SemanaGrupo C Grupo Vm Grupo Vp

Média GMT Média GMT Média GMT

0 152 7,02 a, 1 168 7,22 a, 1 168 7,22 a, 1

4* 144 7,02 a, 1 5248 11,92 b, 2 1728 10,62 b, 3

7 160 7,22 a, 1 13824 13,42 c, 2 4736 11,92 c, 3

12 208 7,52 a, 1 5120 11,82 b, 2 2752 10,92 b, 2

a,b,c Valores em cada coluna não seguidos da mesma letra diferem signifi cativamente (p<0,001).1,2,3 Valores em cada linha não seguidos do mesmo número diferem signifi cativamente (p<0,001).

* Revacinação.

Os dados da Tabela 1 podem também ser visualizados na Figura 1.

FIGURA 1 – Título médio geométrico (GMT) de aglutininas K contra o Dichelobacter nodosus no soro de ovinos não vacinados (grupo C), vacinados com vacina monovalente (grupo Vm), vacinados com vacina

polivalente (grupo Vp) e títulos considerados protetores (THORLEY; EGERTON, 1981).

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Os resultados das provas sorológicas foram submetidos à análise estatística e demonstraram uma diferença signifi cativa (p<0,001) entre os títulos do grupo não vacinado (C) e vacinado (Vm e Vp) na quarta, sétima e 12ª semanas do experimento, ao mesmo tempo verifi caram-se diferenças signifi cativas (p<0,001) entre o grupo Vm e Vp na quarta e sétima semanas. As diferenças observadas entre o grupo C e os grupos Vm e Vp demonstraram a efi cácia das duas vacinas em produzir resposta imune nos ovinos vacinados. As diferenças observadas entre os títulos médios geométricos (GMT) dos grupos Vm e Vp, na quarta e sétima semanas, são provavelmente resultado da competição antigênica que ocorreu entre os sete sorogrupos que compõe a vacina polivalente, conforme anteriormente sugerido por O’Meara (1993) e Raadsma et al. (1994).

Na quarta semana, a média dos títulos de aglutininas no grupo Vm foi de 5248 e no grupo Vp de 1728, resultados semelhantes foram encontrados por Schwartzkoff et al. (1993), que estudando os efeitos da competição antigênica sobre a efi cácia das vacinas multivalentes contra o FR, encontraram médias de 19020 e 2070, respectivamente, ao comparar duas vacinas, a primeira, monovalente de pili purifi cada, emulsifi cada em adjuvante incompleto de Freund, a segunda, polivalente de células inteiras e piliadas, contendo oito sorogrupos, adsorvida em hidróxido de alumínio e posteriormente emulsifi cada em óleo, avaliando o sorogrupo A. Em estudo anterior, Ribeiro (1981) encontrou resultados semelhantes, quando comparou três vacinas monovalentes (sorogrupos A, C e D) com uma vacina polivalente, contendo os mesmos três sorogrupos em sua formulação, na produção de anticorpos aglutinantes contra D. nodosus. As vacinas foram adsorvidas em sulfato de alumínio e potássio com posterior emulsifi cação em óleo. A média dos títulos das vacinas monovalentes, quatro semanas após a vacinação, foi 5096, 485, 8914, para os sorogrupos A, C e D, respectivamente, e a média dos títulos da vacina polivalente foi 422, 844 e 1114 para os mesmos sorogrupos. Somente a média dos títulos do sorogrupo C foi maior na vacina polivalente. Resultados parecidos foram encontrados por Egerton et al. (2002), que comparou a produção de anticorpos aglutinantes contra D. nodosus entre uma vacina autógena monovalente (sorogrupo E) e uma vacina comercial contendo 10 sorogrupos, e verifi cou um aumento de duas vezes nos títulos da vacina monovalente quando comparada à vacina polivalente, ao mesmo tempo verifi cou que os títulos considerados protetores produzidos pela vacina monovalente persistiram por seis meses.

Segundo Ribeiro (1981) o poder terapêutico e protetor das vacinas contra o FR está relacionado à identidade entre a amostra presente na vacina e a amostra de D. nodosus presente no surto. Os títulos de anticorpos capazes de acelerar a cura de lesões de FR não foram ainda claramente determinados. Como o poder protetor da vacina está relacionado a altos títulos de anticorpos aglutinantes no soro de ovinos vacinados, pode-se presumir que o poder terapêutico esteja também associado a altos títulos. Essa hipótese é reforçada pelos excelentes resultados obtidos no controle e até mesmo na erradicação do FR, quando vacinas monovalentes ou no máximo bivalentes foram utilizadas (EGERTON et al., 2002; GURUNG et al., 2006).

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Novos experimentos devem ser conduzidos para que o título terapêutico das vacinas contra o FR possa ser estimado.

CONCLUSÃOA análise dos dados obtidos no presente trabalho, permitiu as seguintes

conclusões:

1. As vacinas monovalente e polivalente com adjuvante oleoso induziram resposta imune nos animais.

2. Os títulos médios geométricos (GMT) de anticorpos aglutinantes presentes no soro dos animais vacinados e revacinados, produzidos pela vacina monovalente, demonstraram ser protetores contra o FR na quarta, sétima e 12ª semanas.

3. Os títulos médios geométricos (GMT) de anticorpos aglutinantes presentes no soro dos animais vacinados e revacinados, produzidos pela vacina polivalente, avaliada em relação ao sorogrupo B, demonstraram ser protetores contra o FR até a sétima semana.

AGRADECIMENTOSNossos agradecimentos ao Laboratório Hipra pela doação das vacinas e dos

antígenos utilizados neste experimento. Aos profi ssionais do Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, Médicos Veterinários Augusto César da Cunha e Sandra Maria Borowski, e aos laboratoristas Erenice Oliveira da Silva e Fábio Gomes pelo auxílio nos testes sorológicos. Aos alunos do Projeto de Extensão Universitária Bovinos de Leite (2009/2) do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA/RS e campeiros da Fazenda da Saudade pelo auxílio nos trabalhos de campo, sem os quais este trabalho não teria sido possível.

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Recebido em: maio 2010 Aceito em: set. 2010

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Desempenho reprodutivo de éguas crioulas submetidas a controle reprodutivo

ou monta a campoFabrício Centeno Marino

Amadeu Uberti DurandPaulo Ricardo Loss Aguiar

Eduardo Malschitzky

RESUMOO objetivo deste estudo foi comparar o desempenho reprodutivo de éguas manejadas

com monta a campo com o de éguas submetidas a controle reprodutivo e monta controlada. Foram avaliados os dados reprodutivos de 433 éguas crioulas, com idades entre 4 e 28 anos, na temporada reprodutiva 2009-2010. Os animais apresentavam condição corporal ≥4 (numa escala de 1 até 5) e foram mantidos exclusivamente a campo em pastagens nativas melhoradas, sem suplementação. As éguas foram submetidas a dois sistemas de manejo: G1- Monta a campo (202 éguas, alocadas em oito grupos compostos por um garanhão e em média 20,3 éguas (mínimo oito e máximo 30 éguas), sendo realizado um único diagnóstico de gestação, 20 dias após a retirada do garanhão da manada); G2 – Controle reprodutivo (231 éguas foram examinadas, através de palpação retal e exame ultrassonográfi co, sendo cobertas através de monta controlada quando apresentavam um folículo pré-ovulatório (>35mm), associado a uma redução do grau de edema uterino. As coberturas eram feitas através de monta natural controlada, com as éguas contidas através de maneias. Todas as éguas receberam uma injeção de 3000 UI de gonadotrofi na coriônica humana (hCG) imediatamente após a cobertura. O diagnóstico de gestação realizado no 14° dia após a detecção da ovulação). Os dados foram comparados através do teste de qui-quadrado. Para a comparação, dentro de cada grupo as éguas foram subdivididas em residentes temporárias e permanentes. As éguas manejadas através de controle reprodutivo apresentaram uma taxa maior de prenhez do que aquelas trabalhadas com monta a campo (G1=87,6%; G2=96,5%). Entre as residentes temporárias, a taxa de prenhez das éguas manejadas com monta a campo (G1=80%) foi menor (p=0,0002) do que a das éguas submetidas ao controle reprodutivo (G2=98,7%). Nas residentes permanentes, uma tendência (p=0,06) a taxa de prenhez superior foi encontrada nas éguas submetidas ao controle reprodutivo (G1=89,8%; G2=97,4%). Nas éguas do G1, foi observada uma tendência (p=0,078) para uma melhor prenhez das éguas residentes permanentes. Conclui-se que, apesar da monta a campo resultar em índices de

Fabrício Centeno Marino é médico veterinário formado pela ULBRA.Amadeu Uberti Durand é médico veterinário formado pela ULBRA.Paulo Ricardo Loss Aguiar é médico veterinário, Mestre, Doutor e Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária da ULBRA.Eduardo Malschitzky é médico veterinário, Mestre, Doutor e Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária ULBRA.

Endereço para correspondência: Eduardo Malschitzky. Rua Santo Antônio, 754, São Leopoldo/RS, CEP: 93010-280. E-mail: [email protected]

n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.54-62Canoas

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prenhez satisfatórios, quando um grande número de residentes temporárias deve ser coberto, a utilização do controle reprodutivo e da monta controlada é recomendado.

Palavras-chave: Eqüinos. Monta a campo. Controle reprodutivo. Prenhez.

Reproductive performance of pasture mated and hand mated Criollo Mares

ABSTRACTThe aim of this study was to compare the pregnancy rates of pasture bred and in-hand

bred criollo mares. Data of a commercial herd consisting of 433 mares, 4 to 28 years old, body condition score ≥4 (crescent range from 1(thin) to 5 (obese)) and kept exclusively in native pasture without supplementation, in 2009/2010 breeding season, were evaluated. The effect of different reproductive managements was evaluated comparing pregnancy rates of the (G1) pasture breeding (202 mares) (G2) hand breeding (231 mares have been examined at maximal intervals of 48 hours, in order to evaluate follicular growth and grade of uterine edema. Both groups were composed of permanent and temporary mares. Mares in G2 have been bred when a pre-ovulatory follicle (>35mm) and low grade of uterine edema were found. All mares in this group received an injection of 3000 IU of human chorionic gonadotropin (hCG) immediately after breeding. A new examination was performed 36 to 48 hours after breeding to confi rm ovulation). Pregnancy diagnosis was performed 14 days after ovulation (day 0) in G2 mares. In G1 mares, a single clinical and ultrasonography examination was performed at the end of breeding season. The data were compared by chi-square test and within each group the mares were sub-divided into permanent and temporary residents. A signifi cant difference between G1 (87.6%) and G2 (96.5%) mares was observed (p=0.0005). In resident mares, a lower pregnancy rate (p=0.0002) was observed in pasture breeding (G1=80%) in comparison of hand breeding mares (G2=98.7%). A tendency (p=0.06) was observed in permanent mares (G1=89.8%; G2=97.4%). In pasture breeding, permanent mares tended (p=0.078) to present a higher pregnancy rate that temporary mares. In conclusion, hand breeding results in a higher pregnancy rate that pasture breeding when there is temporary mares on the herd.

Keywords: Mares. Reproductive management. Pasture breeding. Pregnancy rates.

INTRODUÇÃOOs equinos são uma espécie gregária e formam uma ordem social bem

defi nida, estabelecendo uma hierarquia linear clara. Em grupos estáveis, os animais adultos tendem a permanecer juntos, com relações individuais em duplas que podem permanecer por toda a vida (MILLS; NANKERVIS, 1999). Um excesso de densidade social geralmente resulta na quebra do comportamento de rotina dos equinos (FRASER, 1992). Isolamento, superlotação, manuseio áspero durante a rufi ação e outras práticas, o excesso de manejo ou confi namento geram aumento dos níveis dos hormônios do estresse, levando a uma queda nos níveis dos hormônios reprodutivos, especialmente em éguas virgens e nas com potro ao pé (IRVINE; ALEXANDER, 1994).

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Estudando os índices reprodutivos de 2106 éguas Puro Sangue de Corrida em dois diferentes sistemas de manejo num mesmo centro de criação, Malschitzky et al (2007) observaram uma melhora na taxa de prenhez de éguas falhadas e uma redução das taxas de morte embrionária de éguas com potro ao pé, especialmente daquelas cobertas no cio do potro, com correções do manejo visando a redução do estresse. O manuseio dos animais foi diminuído, o uso de cocheiras foi reduzido ao mínimo necessário pela a utilização de alimentação a campo e a suspensão da prática da rufi ação. Além disso, o número de componentes de cada lote foi reduzido para um máximo de dez e a estabilidade foi mantida, através da formação a partir da categoria e data de parição e da não permissão da entrada de novos animais nos grupos formados. Os resultados sugerem que a busca pela manutenção em condições mais próximas daquelas que ocorreriam em animais de vida livre podem melhorar o desempenho reprodutivo.

Comparados aos resultados observados em equinos em vida livre, animais manejados com monta controlada tendem a apresentar menor vigor sexual, menores taxas de fertilidade e uma maior incidência de disfunção sexual, esta especialmente em garanhões (MCDONNEL, 2000).

Na raça Crioula, a monta a campo é um método de cobertura ainda muito utilizado pelos criadores, acreditando-se que favoreceria a permanência da rusticidade, considerada um dos caracteres fundamentais da raça. A monta a campo permite a obtenção de índices muito bons de prenhez, muitas vezes superiores aos obtidos com a monta controlada, com muito menos trabalho (BOWEN, 1987). Ao considerar os resultados de prenhez no cio do potro, éguas mantidas em condições semisselvagens apresentam taxas muito elevadas, se comparadas aos resultados observados em éguas domesticadas e manejadas artifi cialmente (MCDONNELL, 2000). Além disso, não são observados casos de distocia, retenção de placenta ou endometrite pós-parto. Essas diferenças são atribuídas basicamente à maior atividade física das éguas mantidas em liberdade, que possivelmente exerce uma infl uência positiva sobre a involução uterina. Por outro lado, Bowen (1987) salienta o maior risco de prejuízos, causado por acidentes, envolvido com esta prática, especialmente pelo alto valor dos animais. Além disso, deve-se considerar que o método difi culta a supervisão, que fêmeas de temperamento mais agressivo podem não ser cobertas e problemas reprodutivos podem não ser identifi cados rapidamente. Embora tenham sido publicadas várias observações quanto às altas taxas de prenhez de éguas de populações semisselvagens, há uma falta de estudos comparativos da fertilidade de éguas cobertas a campo com a de éguas cobertas por monta controlada, tornando difícil concluir sobre os méritos de cada sistema (CURRY et al., 2007).

Os objetivos deste trabalho foram comparar os índices de prenhez de éguas manejadas através de monta a campo com aqueles de éguas submetidas a controle

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folicular e monta controlada e avaliar o efeito estabilidade dos componentes dos lotes sobre a taxa de prenhez, comparando se os resultados de residentes temporárias e permanentes.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram avaliados os dados reprodutivos de 433 éguas crioulas, com idade entre 4 e 28 anos, alojadas em um centro criatório localizado na Província de Buenos Aires, Argentina, na temporada reprodutiva 2009-2010. Os animais apresentavam condição corporal mínima 4 (numa escala de 1(magra) até 5 (obesa)) e foram mantidos exclusivamente a campo em pastagens nativas melhoradas, sem suplementação.

As coberturas foram realizadas por garanhões de fertilidade comprovada e pelo menos duas temporadas na reprodução.

As éguas foram submetidas a dois sistemas de manejo:

G1 – Monta a campo: As éguas (n=202) foram divididas em oito grupos, de acordo com o garanhão pelo qual foram servidas. Cada grupo era composto por um garanhão e em média 20,3 éguas (mínimo oito e máximo 30 éguas por grupo). Durante o período de coberturas, era realizada uma avaliação do comportamento reprodutivo do garanhão, através da observação semanal. Um único exame reprodutivo foi realizado por palpação retal e ultrassonografi a, 20 dias após a retirada do garanhão da manada, visando diagnosticar a prenhez e estimar a idade gestacional.

G2 – Controle reprodutivo: As éguas (n=231) foram examinadas, através de palpação retal e exame ultrassonográfi co, antes do início da temporada de coberturas ou no momento de sua chegada a propriedade. Visando reduzir o número de animais trazidos até o centro de manejo para exames, as éguas foram divididas em quatro grupos, havendo a migração das éguas entre lotes, de acordo com a situação reprodutiva (éguas em cobertura, a espera de diagnóstico de gestação, com gestações entre 15 e 45 dias e com gestações de mais de 45 dias). O controle reprodutivo era realizado através de palpação retal e exame ultrassonográfi co. As éguas foram cobertas quando apresentavam um folículo pré-ovulatório (>35mm), associado a uma redução do grau de edema uterino. As coberturas eram feitas através de monta natural controlada, com as éguas contidas através de maneias. Todas as éguas receberam uma injeção de 3000 UI de gonadotrfi na coriônica humana (hCG) imediatamente após a cobertura. Um novo exame era realizado 72 horas após a realização da cobertura, visando confi rmar a ovulação. Os diagnósticos de gestação foram realizados aos 15 e 45 dias após a ovulação. Éguas com diagnóstico negativo retornavam ao grupo de éguas a serem cobertas.

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Dentro de cada manejo, os animais foram divididos em dois grupos, de acordo com a origem:

Residentes permanentes: Éguas que permanecem na propriedade ao longo de todo o ano.

Residentes Temporárias: Éguas recebidas na propriedade no início ou durante a temporada reprodutiva. As éguas eram incluídas nos seus respectivos grupos imediatamente ao entrarem na propriedade, independente do manejo a que foram submetidas.

Os dados foram comparados através do teste de qui-quadrado e para as comparações, as éguas foram subdivididas, de acordo com o tempo de residência, em .em temporárias e permanentes.

RESULTADOSAs taxas de prenhez de residentes permanentes e temporárias, submetidas aos

diferentes manejos estão apresentadas na tabela 1.

TABELA 1 – Taxas de prenhez em éguas crioulas residentes temporárias e permanentes, submetidas a diferentes manejos reprodutivos

Grupo

Monta a campo Controle reprodutivo

nPrenhez

nPrenhez

N % n %

Permanantes 157 141 89,8a, A 152 145 97,4b

Temporárias 45 36 80c, B 79 78 98,7d

Total 202 177 87,6e 231 223 96,5f

Letras diferentes (a, b) na linha indicam diferença para p=0,06 (χ2=3,49) Letras diferentes (c, d) na linha indicam diferença para p=0,0002 (χ2=13,57) Letras diferentes (e, f) na linha indicam diferença para p=0,0005 (χ2=12,15) Letras diferentes (A, B) na coluna indicam diferença para p=0,078 (χ2=3,10)

As éguas manejadas através de controle reprodutivo apresentaram uma taxa maior de prenhez do que aquelas trabalhadas com monta a campo (96,5% VS. 87,6% respectivamente).

Entre residentes permanentes, uma tendência (p=0,06) a taxa de prenhez superior foi encontrada nas éguas submetidas ao controle reprodutivo. Já nas residentes temporárias, a taxa de prenhez das éguas manejadas com monta a campo (80%) foi menor (p=0,0002) do que a das éguas submetidas ao controle reprodutivo (98,7%).

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A comparação das taxas de prenhez de éguas residentes permanentes e temporárias trabalhadas com monta a campo, revelou uma tendência (p=0,078) para uma melhor prenhez das residentes permanentes.

DISCUSSÃOUma maior taxa de prenhez foi observada nas éguas manejadas com

controle reprodutivo e monta controlada do que nas éguas manejadas com monta a campo.

O principal objetivo do controle reprodutivo é a máxima eficiência reprodutiva na utilização de um garanhão, permitindo reduzir o número de saltos por ciclo ao mínimo, o que diminui o risco de esgotamento do macho, além de evitar a contaminação excessiva do útero, especialmente de éguas mais velhas e daquelas susceptíveis a endometrite (PYCOCK, 1993). A indução da ovulação, que é predominantemente feita através da administração do hCG, reduz o número de inseminações necessárias por ciclo, resultando num programa reprodutivo mais efi ciente e melhorando as taxas de prenhez quando da utilização de sêmen resfriado, congelado ou de baixa qualidade, ou quando um grande número de éguas deve ser coberto por um mesmo garanhão (SAMPER et al., 2002). Através da monta controlada, pode-se ainda identifi car problemas reprodutivos e realizar os tratamentos necessários; éguas que não seriam cobertas, seja por preferências individuais (PICKEREL et al., 1993) ou devido a problemas hierárquicos tem a realização da cobertura garantida (BOWEN, 1987). O conjunto destes fatores deve ter infl uenciado no melhor desempenho das éguas submetidas à monta controlada observado no presente estudo. Além deles, características ligadas ao comportamento da espécie equina e efeitos do estresse social podem se considerados.

Observa-se que enquanto entre as éguas residentes temporárias, a diferença na taxa de prenhez é expressiva (98,7% vs 80%, respectivamente para monta controlada e monta a campo), nas éguas permanentes apesar de uma tendência estatística, a diferença não foi tão evidente (89,8% vs. 97,4%). Além disso, comparando somente os resultados das éguas manejadas com monta a campo, também se observou tendência a menor prenhez nas residentes temporárias, sugerindo que o estresse social tenha afetado negativamente o desempenho reprodutivo.

Estudando o efeito de um novo ambiente e da instabilidade social sobre os níveis de cortisol em éguas, Irvine e Alexander (1998) observaram que as éguas permanentes sempre apresentaram comportamento agressivo contra os novos animais, mesmo que não provocadas. Mesmo após a estabilização da hierarquia, os animais subordinados permaneceram com o eixo hipotálamo-hipófi se-adrenal hiperativo. Além disso, a efi ciência reprodutiva das éguas dominantes na hierarquia de um harém é superior aquele dos animais subordinados (CURRY et al, 2007). No grupo estudado, as éguas residentes permanentes permaneciam juntas, sem

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alteração da composição do grupo ao longo do ano, algumas já há vários anos, sendo a estabilidade interrompida somente pela chegada de residentes temporárias nos meses da temporada reprodutiva. Este aspecto poderia explicar a tendência observada para um menor índice de prenhez das éguas residentes temporárias em manada, em comparação aquele das residentes permanentes. Por outro lado, a proporção de éguas residentes temporárias nas éguas manejadas com monta a campo (22,3%) foi menor do que entre as éguas manejadas com controle reprodutivo e monta controlada (34,2%) e nestas últimas alterações de componentes de lotes, em função da situação reprodutiva, seriam potencialmente ainda mais frequentes. Isto sugere que, além do estresse social, outros fatores poderiam estar afetando negativamente o desempenho reprodutivo das éguas mantidas em manadas.

Para viver em uma sociedade, os indivíduos devem ser capazes de reconhecer os demais e lembrar sua relação com cada um. Equinos naturalmente não formam grupos de mais de dez ou 20 animais. É possível que vinte represente o limite mental da memória social de um equino e, provavelmente, seu círculo social seja ainda menor (menos de dez animais). Além deste número, os indivíduos podem não ser capazes de se organizar em um grupo social adequado, especialmente quando o espaço é limitado (MILLS; NANKERVIS, 1999). Embora certa densidade populacional seja desejável, por serem animais gregários, na natureza, o grupo requer um grande território para manter a estabilidade hierárquica. Em condições de domesticação, sem espaço, uma densidade similar àquela natural seria considerada superlotação (FRASER, 2001). No presente levantamento, a média de éguas por manada foi de 20,3 animais, com alguns grupos contando com 8 éguas e um garanhão. Embora em condições experimentais tenha sido demonstrado que um garanhão possa realizar a monta, com bons índices de prenhez, em um grupo de 20 éguas com o ciclo sincronizado, mesmo que mantido no harém por um período de nove dias (BRISTOL, 1982) ou que o tamanho do harém parece não infl uenciar a fertilidade (GINTHER et al., 1983), dados de vários estudos com o gênero Equus em vida livre demonstram que o numero médio de éguas em cada harém é de sete (1 a 9) (CURRY et al., 2007). Um estudo de 16 anos de observação do comportamento de cavalos Misaki demonstrou que o número de éguas no harém é determinante para a fertilidade. Este estudo demonstrou que quando o harém era composto por mais de seis éguas, a taxa de parição era signifi cativamente reduzida e que acima deste número, um maior número de produtos não era fi lho do garanhão do harém. Grupos de equinos domésticos, manejados em manada, tem características de comportamento muito semelhantes aos rebanhos mantidos em liberdade (GINTHER, 1992). Éguas jovens de outros bandos que passem por um harém estável normalmente não são protegidas, cortejadas ou cobertas pelo garanhão do harém, sendo toleradas por ele, como um visitante, por curtos períodos, ou rejeitada; éguas maduras são, na maioria das vezes, forçadas a se afastar pelo garanhão (e eventualmente também pelas éguas do harém, mostrando uma capacidade do garanhão de reconhecer e apresentar comportamentos distintos com animais de diferentes categorias sociais (MCDONNEL, 2000). Quando

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novas éguas foram introduzidas em um harém estável, o garanhão manteve as fêmeas recém introduzidas afastadas do restante do grupo em média por quatro dias, demonstrando um comportamento agressivo contra elas (GINTHER et al. , 2002). Em muitas situações, uma nova égua, introduzida depois que o garanhão já esteja num grupo estável, pode não ser aceita por ele, podendo até ser severamente agredida. O sucesso reprodutivo de muitos rebanhos comerciais submetidos a monta controlada, onde as interações sociais entre o garanhão e as éguas são muitas vezes limitadas ao momento da cobertura, demonstram a habilidade dos garanhões a responder sexualmente mesmo com uma quantidade pequena de estímulos, seja por uma capacidade inata, ou pelo condicionamento (MCDONNEL, 2000). A utilização do controle reprodutivo pode contrapor os efeitos negativos do estresse social e de certas características de comportamento sobre o desempenho reprodutivo. DURAND et al. (2010) observaram que boas condições de instalações e a habituação gerada por anos sucessivos de controle reprodutivo, em condições similares às do presente trabalho, poderia resultar em bons resultados de prenhez. Além disso, a divisão em lotes de acordo com a situação reprodutiva geraria lotes com menor número de componentes a alta taxa de prenhez acaba por reduzir o risco potencial de maior frequência de alterações de componentes do grupo.

Conclui-se que, mesmo podendo resultar em boa efi ciência reprodutiva, a utilização da monta a campo não é tão efi ciente quanto o controle reprodutivo, especialmente quando um número expressivo de residentes temporárias deve ser coberto.

REFERÊNCIASALEXANDER, S. L.; IRVINE, C. H. G. The effect of social stress on adrenal axis activity in horses: the importance of monitoring corticosteroid binding globulin capacity. Journal of Endocrinology v.157, p.425-432, 1998.BOWEN, J. M. Management of the Breeding Stallion. In: MORROW, D.A. Current Therapy in Theriogenology 2. Philadelphia, W.B. Saunders, 1986.BRISTOL, F. Breeding behavior of a stallion at pasture with twenty mares in synchronized oestrus. Journal of Reproduction and Fertility (Suppl.) v.32, p.71, 1982.CURRY, M. R.; EADY, P. E.; MILLS, D.S. Reflections on mare behavior: Social and sexual Perspectives. Journal of Veterinary Behavior v.2, p.149-157, 2007.DURAND, A. U. et al. Desempenho reprodutivo de éguas crioulas submetidas a controle reprodutivo em diferentes sistemas de manejo. Veterinária em Foco, v.8, n.1, 2010. (no prelo) FRASER, A. F. The Behavior of the Horse. Oxon, CABI Publishing, 2001.GINTHER, O. J. Reproductive Biology of the Mare. Cross Plains, Equiservices, 1992.GINTHER, O. J. et al. Herding and snaking by the harem stallion in domestic herd. Theriogenology v.57, p.2139-2146, 2002.

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Recebido em: ago. 2010 Aceito em: set. 2010

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Desempenho reprodutivo de éguas crioulas submetidas a controle reprodutivo em diferentes sistemas de manejo

Amadeu Uberti DurandFabrício Centeno Marino

Henrique Kurtz LöfPaulo Ricardo Loss Aguiar

Eduardo Malschitzky

RESUMOO objetivo deste estudo foi verifi car o efeito de diferentes sistemas de manejo para

controle reprodutivo, na fertilidade de éguas crioulas. Foram acompanhadas 330 éguas com idades entre 4 e 26 anos, com condição corporal ≥ 3 (escala de 1 (magra) até 5 (obesa)) na temporada reprodutiva 2009/2010, na região da campanha. As éguas foram submetidas a controle reprodutivo por um mesmo técnico através de palpação retal e ultrassonografi a, a intervalos de 48-72 horas. As coberturas foram realizadas por garanhões de fertilidade comprovada, quando um folículo de diâmetro ≥35mm, associado a uma redução do grau de edema uterino. No momento da cobertura, todas as éguas recebiam uma dose de 1400 UI de hCG, visando induzir a ovulação. O diagnóstico de gestação era realizado 14 dias após a detecção da ovulação e semanalmente, a partir do primeiro diagnóstico positivo. Para a realização dos exames os animais eram trazidos para uma mangueira de manejo, com sombra e água. Os animais foram mantidos em duas propriedades em manejos distintos: G1- 130 éguas, sendo 60 residentes temporárias, divididas em lotes de 30 animais e permanecendo em média duas horas na mangueira para a realização do controle folicular, que vinha sendo realizado há dois anos; G2 – 200 éguas, sendo 30 residentes temporárias, divididas em lotes de 60 animais e mantidas em média 7 horas na mangueira para a realização do controle reprodutivo, que vinha sendo realizado há oito anos. As taxas de prenhez foram comparadas através do teste do qui-quadrado. Não foram observadas diferenças nas taxas de prenhez (G1=86,9%; G2=83%) – (χ2 =0,933; p=0,34) – e morte embrionária (g1=2%; G2=3%). Apesar do manejo e mangueira potencialmente menos estressante, com lotes menores e menor tempo de permanência em mangueira para as éguas do G1, não foi observada diferença no desempenho reprodutivo entre as propriedades. A habituação gerada pelo maior número de anos de controle reprodutivo, as

Amadeu Uberti Durand é médico veterinário formado pela ULBRA.Fabrício Centeno Marino é médico veterinário formado pela ULBRA.Henrique Kurtz Löf é médico veterinário, Mestre em ciências veterinárias pelo PPGCV-UFRGS.Paulo Ricardo Loss Aguiar é médico veterinário, Mestre, Doutor e Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária ULBRA.Eduardo Malschitzky é médico veterinário, Mestre, Doutor e Professor Adjunto do Curso de Medicina Veterinária ULBRA.

Endereço para correspondência: Eduardo Malschitzky. Rua Santo Antônio, 754, São Leopoldo/RS, CEP: 93010-280. E-mail: [email protected]

n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.63-69Canoas

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boas condições de sombra e água das mangueiras e a menor proporção de éguas residentes temporárias (G1=46%; G2=15%) nas éguas do G2 possivelmente expliquem o bom resultado. Conclui-se que quando um grupo grande de animais é submetido a controle reprodutivo, a habituação ao manejo e a redução do número de residentes temporários pode compensar os efeitos estressantes do confi namento prolongado.

Palavras-chave: Éguas. Controle reprodutivo. Prenhez. Manejo.

Effect of Management System to Reproductive Control on Pregnancy Rates in Criollo Mares

ABSTRACTThe aim of this study was to verify the effect of different management systems to

reproductive control, fertility of criollo mares. Data of two commercial herds consisting of 330 mares, 4 to 26 years old, body condition score ≥3 (crescent range from 1(thin) to 5 (obese)), in 2009/2010 breeding season were evaluated. Mares were examined by the same technician, at maximal intervals of 72 hours, in order to evaluate follicular growth and grade of uterine edema. Both groups were composed of permanent and temporary mares. Mares have been bred when a pre-ovulatory follicle (>35mm) and reduction in grade of uterine edema were found. All mares received hCG (1400 UI) immediately after breeding. Another examination was performed 36 to 48 hours after breeding to confi rm ovulation. Pregnancy diagnosis was performed 14 days after ovulation (day 0). Animals were brought to a corral, with shade and water to examinations. The effect of different reproductive managements was evaluated comparing pregnancy rates of the (G1) Herd One: 130 mares (60 temporary), divided in 30 animals bands, at the third year of hand breeding; (G2) Herd Two: 200 mares (30 temporary). Pregnancy rates were compared by testing Chi-square. No differences were found in pregnancy rates (G1 = 86.9%; G2 =83%) – (χ2 = 0.933; p = 0.34)-and embryonic death (g1 = 2%; G2 = 3%). Despite the management potentially less stressful, with smaller groups and less time spent in curral for mares of G1, difference was not observed in reproductive performance between groups. The habituation generated by the largest number of years of reproductive control, good shadow and water hoses and the smallest proportion of mares temporary residents (G1 = 46%; G2 = 15%) in mares of G2 possibly explain the good result. We concluded that when a large group of animals is subjected to reproductive control, habituation to management and reducing the number of temporary residents may offset the effects of prolonged confi nement distress.

Keywords: Mares. Reproductive management. Pregnancy rates. Distress.

INTRODUÇÃOOs equinos, quando em vida livre, apresentam uma hierarquia claramente

estabelecida. Neste grupo social estável, os animais adultos permanecem juntos por vários anos com fortes relações individuais que podem durar uma vida inteira (MILLS; NANKERVIS, 1999). Uma vez estabelecida a ordem hierárquica, o animal dominante necessita apenas ameaçar o subordinado para ter acesso ao local desejado ou prevenir a invasão de seu espaço social. Como tais relações tendem

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a durar muitos anos, elas reduzem as disputas dentro de um grupo, contribuindo para a sua estabilidade (KEIPER, 1988). Transtornos na ordem social predispõem à redução do bem-estar (FRASER, 2001). Cavalos confi nados com companheiros novos e hostis respondem mediante a retirada de confronto ou lutando por um lugar na hierarquia (MILLS; NANKERVIS, 1999). A densidade social excessiva em cavalos frequentemente resulta em agitação, luta e uma ruptura da rotina diária de atividades (FRASER, 2001). O confi namento em espaços reduzidos pode, muitas vezes, difi cultar a retirada do confronto, levando a situações de estresse social crônico (MILLS; NANKERVIS, 1999).

O estresse crônico diminui a secreção de gonadotrofi nas, prejudicando a reprodução. Entretanto, quando transitório ou agudo, seus efeitos são menos evidentes (TILBROOK et al., 2000). Ambientes estressantes causam a liberação de analgésicos naturais e estes opioides endógenos, particularmente as β-endorfi nas, inibem o pulso do hormônio liberador de gonadotrofi nas (GnRH) na fase lútea, sendo também uma importante causa da diminuição nos níveis hormonais, que culminam no anestro invernal (IRVINE; ALEXANDER, 1994).

Como resultado do estresse, há uma queda no nível de hormônios sexuais e grande quantidade de prolactina é produzida, sendo esse hormônio responsável pela redução da sensibilidade da hipófi se ao GnRH. Outro grupo de hormônios do estresse são os glicocorticoides, que reduzem a sensibilidade das gônadas ao hormônio luteinizante (LH). Em muitas espécies, há evidencias de que um componente importante no aumento do LH é a inibição da ação dos opioides. Qualquer alteração no ambiente, que aumente os níveis de opioides no cérebro, pode diminuir a frequência dos pulsos de GnRH e, portanto, inibir a secreção de LH e a ovulação. O isolamento, a superlotação, manuseio excessivo e outras operações diárias de manejo (especialmente se conduzidas de maneira pouco cuidadosa), podem levar a um aumento no nível de hormônios do estresse, que levariam a uma diminuição dos hormônios reprodutivos, especialmente em éguas com potro ao pé (IRVINE; ALEXANDER, 1994).

Comparando dados reprodutivos de 2106 éguas Puro Sangue de corrida, Malschitzky et al. (2007) observaram que manejo intenso, com rufi ação diária, grande tempo de permanência em cocheira, trocas frequentes de componentes de lote e grupos com número médio de 20 animais resultaram em taxas superiores de morte embrionária em éguas com potro ao pé e em taxas menores de prenhez em éguas falhadas em comparação aquelas observadas quando medidas de manejo foram adotadas para reduzir o tempo de confi namento e manter uma maior estabilidade de lotes, compostos por um número menor de animais. Após as alterações de manejo, a taxa de morte embrionária foi especialmente reduzida nas éguas cobertas no cio do potro, nas quais há infl uência também de outros fatores estressantes, como o aumento

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da demanda energética e a atenção constante ao recém-nascido, que gera uma alteração temporária no padrão de pastejo da mãe (GINTHER, 1992).

O objetivo deste estudo foi verifi car o efeito de sistemas de manejo para a realização do controle reprodutivo, com potenciais diferenças no que diz respeito ao estresse, sobre a fertilidade de éguas crioulas.

MATERIAL E MÉTODOSForam acompanhadas 330 éguas crioulas, com idades entre 4 e 26 anos, na

temporada reprodutiva 2009/2010, na região da campanha. As éguas apresentavam condição corporal ≥ 3, numa escala de 1 (magra) até 5 (obesa). Todas as éguas foram submetidas a controle reprodutivo por um mesmo técnico, a cada 48-72 horas. Eram avaliados o tamanho e fl utuação dos folículos e o grau de abertura da cérvice através da palpação retal, sendo o diâmetro do maior folículo medido e o grau de edema uterino avaliado através da ultrassonografi a. As coberturas foram realizadas por sete garanhões de fertilidade comprovada, quando um folículo pré-ovulatório (≥35mm), pouco tônus do colo uterino (1, numa escala de 1 (frouxo) até 3 (tônus evidente)) e o grau de edema uterino de 2 a 3, numa escala de 1 (sem edema) a 3 (edema pronunciado) era observado. Imediatamente após a cobertura, todas as éguas recebiam uma dose de 1400 UI de hCG, visando induzir a ovulação. Um novo exame era realizado 48 a 72 horas após a cobertura, visando confi rmar a ovulação, sendo uma nova cobertura realizada em caso de não identifi cação de um corpo hemorrágico. Éguas susceptíveis à endometrite eram submetidas a tratamentos pós-cobertura, com 20 UI de ocitocina e, eventualmente, lavagem uterina com solução salina, seguida da infusão de 5x106 UI de penicilina G potássica. O diagnóstico de gestação era realizado a partir do 14° dia após a ovulação (dia 0) e semanalmente, a partir do primeiro diagnóstico positivo. Para a realização dos exames, os animais eram trazidos para uma mangueira de manejo, com sombra e água. Os animais foram mantidos em duas propriedades com diferenças no manejo, identifi cadas como G1 e G2:

G1- 130 éguas, sendo 46% residentes temporárias, divididas em lotes de 30 animais e permanecendo em média duas horas na mangueira para a realização do controle folicular, que vinha sendo realizado há duas temporadas reprodutivas.

G2 – 200 éguas, sendo 15% residentes temporárias, divididas em lotes de 60 animais e mantidas em média 7 horas na mangueira para a realização do controle reprodutivo, que vinha sendo realizado já há oito temporadas reprodutivas. Éguas agressivas eram identifi cadas e examinadas antes das demais, para evitar confrontos. No mesmo estabelecimento, as éguas retornavam a mangueira mais três vezes por semana, permanecendo por um período médio de duas horas, para que fossem realizadas as coberturas.

Em ambas as propriedades, os animais eram divididos em lotes, de acordo com sua situação reprodutiva (éguas em controle folicular, éguas ovuladas e éguas prenhes).

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As taxas de prenhez e morte embrionária foram comparadas através do teste do qui-quadrado.

RESULTADOS E DISCUSSÃOOs resultados de prenhez e morte embrionária dos dois grupos estão apresentados

na Tabela 1.TABELA 1 – Taxas de prenhez e morte embrionária em éguas crioulas submetidas a controle reprodutivo

em diferentes sistemas de manejo, na temporada reprodutiva 2009/2010.

GRUPOPrenhez Morte embrionária

n % n %

G1 113 86,9 4 2

G2 166 83 6 3

Não foi observada diferença signifi cativa na taxa de prenhez entre os dois grupos (χ2= 0,933; p=0,337). De igual forma, a taxa de morte embrionária foi semelhante nos dois grupos (χ2=0,001; p=0,97).

Apesar das diferenças entre os manejos dos grupos, não foram observadas diferenças signifi cativas nas taxas de prenhez e morte embrionária. Possivelmente, esse resultado deva-se a habituação dos animais do G2 ao sistema de manejo, à retirada dos animais agressivos o mais cedo possível do grupo e a uma ótima condição de mangueira com água e sombra disponíveis. Além disso, a maior proporção de residentes temporárias no G1 em comparação ao G2 pode ter impedido que o menor número de animais e o menor tempo de confi namento tenham resultado em melhor desempenho reprodutivo.

Comparando 50 éguas de diferentes status reprodutivos, Berghold et al. (2007) observaram uma tendência a maior concentração de cortisol fecal 24 e 72 horas após a chegada das éguas a uma central de IA do que as éguas residentes na central e utilizadas para ensino e pesquisa reprodutiva. Os autores concluíram que o manejo de exames ginecológicos e a perda dos companheiros podem atuar como fatores estressantes, entretanto a exposição prolongada leva à habituação.

A habituação é o processo de eliminação de uma resposta a um estimulo, através da repetição do mesmo estimulo até que ele não induza mais a resposta. Equinos podem ser habituados a qualquer estimulo que induz reação de medo, menos a estímulos dolorosos (MILLER, 1993). Nos animais do presente estudo, apesar do tempo de confi namento do G2, confrontos raramente foram observados e comportamentos sociais típicos, como o asseio mútuo, foram observados com frequência, durante o período em que permaneciam na mangueira. Éguas formam fortes relações sociais com animais de nível hierárquico próximo, que fi cam evidentes pela proximidade que mantém entre si e pelo asseio mútuo (CLUTTON-BROCK et al., 1976, apud CURRY

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et al., 2007). Estas relações provavelmente sejam reforçadas com o maior tempo de residência e servem para reforçar a posição hierárquica sem a necessidade de agressão. Tais agrupamentos entre éguas podem ter um papel mais importante para a manutenção da estabilidade social do que a ligação das éguas com determinado garanhão (CURRY et al., 2007). As éguas deste grupo já eram submetidas a esse tipo de controle há oito anos. Como os lotes são divididos por categoria reprodutiva e tempo de gestação, há uma proporção pequena de residentes temporárias e os índices de parição são altos, há uma forte tendência de que os grupos permaneçam juntos ao longo dos anos, levando a uma redução de disputas hierárquicas quando submetidos ao confi namento. Nos animais do G1, por outro lado, o controle reprodutivo é realizado há apenas dois anos e, embora seus lotes sejam divididos da mesma maneira que no G2, um grande número de residentes temporárias é recebido a cada temporada reprodutiva.

Alexander e Irvine (1998), ao investigar o efeito do estresse social nos níveis de cortisol livre de um grupo de éguas, observaram que, ao introduzir novos componentes em um grupo pré-formado, os animais residentes sempre se comportaram agressivamente contra os recém-chegados, atacando-os mesmo sem serem provocados. Quando novas éguas foram introduzidas em um harém estável, comportamento similar foi apresentado por um garanhão, que manteve as fêmeas recém introduzidas afastadas do restante do grupo em média por quatro dias, demonstrando um comportamento agressivo contra elas (GINTHER et al., 2002). Em situações de introdução em um grupo estável, os recém-chegados, com raras exceções, demonstram sempre um comportamento submisso, que leva a uma elevação nos níveis de cortisol livre, mesmo após duas semanas de estresse induzido, mostrando que os animais não se tornam acostumados rapidamente (ALEXANDER; IRVINE, 1998). Em outras espécies gregárias, foi demonstrado que o eixo hipotálamo-hipófi se-adrenal fi ca hiperativo na maioria dos animais enquanto persistir a instabilidade social, enquanto nos animais subordinados o nível permanece elevado mesmo após estabilização da hierarquia (SAPOLSKY, 1990 apud ALEXANDER; IRVINE, 1998).

Comparando taxas de prenhez de éguas submetidas a controle reprodutivo, em condições de mangueira similares as do presente experimento, com aquelas de éguas mantidas em manadas e submetidas a exame reprodutivo somente ao fi nal da temporada reprodutiva, Marino et al. (2010) observaram que a taxa de prenhez das residentes temporárias cobertas a campo foi inferior a daquelas submetidas a controle rotineiro, mesmo com este grupo tendo um percentual maior de residentes temporárias. Além disso, foi observada tendência a uma taxa menor nas residentes temporárias do que nas permanentes cobertas a campo, levando à conclusão de que o controle reprodutivo pode contrapor os efeitos do estresse social, quando um grande número de residentes temporárias deve ser coberto.

No presente estudo, a repetição do manejo em mangueira por mais tempo e a menor proporção de residentes temporárias parece ter sido sufi ciente para contrapor os efeitos do estresse gerado pelo maior período de confi namento para a realização do

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controle reprodutivo. Estes resultados sugerem também que pode haver uma melhora na taxa de prenhez à medida que a prática seja empregada em anos sucessivos.

CONCLUSÃOConclui-se que quando um grupo grande de animais deve ser submetido a controle

reprodutivo, a habituação ao manejo, a redução do número de residentes temporários, a manutenção da estabilidade dos lotes e boas condições ambientais durante o período de confi namento podem compensar os efeitos estressantes inerentes a esta prática de manejo.

REFERÊNCIAS ALEXANDER, S. L.; IRVINE, C. H. G. The effect of social stress on adrenal axis activity in horses: The importance of monitoring corticosteroid binding globulin capacity. Journal of Endocrinology v.157, p.425-432, 1998.BERGHOLD, P.; MÖSTL, E.; AURICH, C. Effects of reproductive status and management on cortisol secretion and fertility of oestrous horse mares. Animal reproduction science, v.102, p.276- 285, 2007.CURRY, M. R.; EADY, P. E.; MILLS, D. S. Reflections on mare behavior: Social and sexual Perspectives. Journal of Veterinary Behavior v.2, p.149-157, 2007.FRASER, A. F. The Behavior of the Horse. Oxon: CABI Publishing, 1992.GINTHER, O.J. Reproductive Biology of the Mare. Cross Plains, Equiservices, 1992.IRVINE, C. H. G.; ALEXANDER, S. L. The Role of Environmental Factors in Reproduction in the Mare. ARS Veterinária, v.10, n.2, p.33-41, 1994.KIEPER, R. R. Estructura Social. Clinicas Veterinarias de Norte America – Practica Equina, v.2, p.1-19, 1988.MALSCHITZKY, E. et al. Management strategies aiming to improve animal well-being increase reproductive performance. Pferdeheilkunde, v.24; n.1, p.124-125, 2007.MARINO, F. C. et al. Desempenho reprodutivo de éguas crioulas submetidas a controle reprodutivo ou monta a campo. Veterinária em Foco, v.8, n.1, 2010 (no prelo).MILLER, R. M. Imprint training of the newborn foal. Colorado Springs: The Western Horseman Inc., 1993.MILLS, D.; NANKERVIS, K. Equine Behavior: Principles and practice. Lowa: Blackwell Science Ltda., 1999. TILBROOK A. J.; TURNER A. I.; CLARKE I. J. Effects of stress on reproduction in non-rodent mammals: the role of glucocorticoids and sex differences. Rev Reprod., v.5, 105-113, 2000.

Recebido em: ago. 2010 Aceito em: set. 2010

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Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 201070

Bicarbonato, albumina sérica bovina e heparina afetam a integridade

do acrossomo do espermatozoide bovino pós-descongelação?

Carmem Estefânia Serra Neto ZúccariBeatriz Ramos Bertozzo

Monica Yurie Machado ShiromaPaulo Roberto Rojas ScaldelaiEliane Vianna da Costa e Silva

RESUMOO trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do bicarbonato, albumina sérica bovina e

heparina sobre a integridade do acrossomo do espermatozoide bovino criopreservado, durante incubação in vitro. Doses comerciais de sêmen de dez touros foram submetidas às análises de motilidade, vigor, integridade da membrana plasmática (eosina/nigrosina-EN) e status acrossomal (trypan blue/Giemsa-TBG), nos momentos pós-descongelação, pós-wash e pós-incubação por 5 horas a 37ºC. Após a descongelação e lavagem por centrifugação em solução salina 0,9% (wash), as doses foram fracionadas e submetidas aos seguintes tratamentos: Talp-sp (controle); Talp-sp sem bicarbonato; Talp-sp sem albumina sérica bovina e; Talp-sp acrescido de heparina. Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Duncan. Todas as características espermáticas sofreram efeito do tempo de incubação, diferindo signifi cativamente dos valores obtidos pós-descongelação. Houve efeito signifi cativo de tratamento para reação acrossomal verdadeira, com os maiores percentuais nos tratamentos controle (2,72±0,40) e com heparina (2,31±0,44), sendo que este último não diferiu dos demais. Houve interação signifi cativa entre os momentos de avaliação e os tratamentos para a variável reação do acrossomo verdadeira, com os maiores valores nos tratamentos controle e com heparina (4,65±0,79 e 4,30±0,94%, respectivamente), não havendo diferença entre si. De acordo com os resultados obtidos conclui-se que a presença do bicarbonato ou da albumina sérica bovina no meio de cultivo, leva ao aumento de espermatozoides apresentando reação do acrossomo verdadeira.

Palavras-chave: Capacitação. Criopreservação. Sêmen. Touro.

Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; Laboratório de Biotecnologia da Reprodução Animal; Departamento de Zootecnia; Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia; Campo Grande/MS – Brasil; Professora Associada II; E-mail: [email protected] Beatriz Ramos Bertozzo, Monica Yurie Machado Shiroma e Paulo Roberto Rojas Scaldelai são Bolsistas de Iniciação Científi ca (PIBIC – CNPq) – Curso de Medicina Veterinária; Faculdade Medicina Veterinária e Zootecnia; Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; Campo Grande/MS – Brasil.Eliane Vianna da Costa e Silva – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; Departamento de Medicina Veterinária; Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia; Campo Grande/MS – Brasil. Professora Adjunta IV.

Endereço para correspondência: Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari. Rua Mário de Andrade, 251 – Casa 33. Campo Grande/MS. CEP 79032-260. Fone: (67) 3345.3634.

n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.70-79Canoas

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Bicarbonate, bovine serum albumin and heparin affect acrosomal integrity of bovine post-thawing?

ABSTRACT The aim of this work was to evaluate de effect of bicarbonate, bovine serum albumin and

heparin on sperm acrosome integrity of bovine cryopreserved semen, during in vitro incubation. Commercial doses from ten bulls were submitted to analysis of motility, vigour, plasmatic membrane integrity (eosin/nigrosin – EN) and acrosomal status (trypan blue/Giemsa), after thawing, wash and 5 hours incubation at 37ºC. After thawing and washing by centrifugation with saline solution at 0.9%, doses were fractionated and submitted to following treatments: Talp-sp (control); Talp-sp bicarbonate free; Talp-sp bovine serum albumin free and; Talp-sp plus heparin. Data were submitted to ANOVA and means were compared by Duncan’s test. All sperm characteristics changed along incubation time with values differing signifi cantly from those observed after thawing. Treatment had signifi cant effect on the percentage of true acrosome reaction with the highest values being observed in control (2.72±0.40) and heparin (2.31±0.44) groups, this last being equal to the others. There was signifi cant interaction between moments and treatments for true acrosome reaction variable with the highest values being observed in control and heparin groups (4.65±0.79 and 4.30±0.94%, respectively), although none difference had been found between these values. These results indicate that the presence of bicarbonate or bovine serum albumin in culture medium enhance the number of spermatozoa showing true acrosome reaction.

Keywords: Bull. Capacitation. Cryopreservation. Semen.

INTRODUÇÃOO processo de criopreservação causa injúrias à célula (WATSON, 2000;

HAMMERSTEDT et al., 1990). Contudo, é necessária a preservação de uma população de espermatozoides com potencial fecundante, apta a passar por processos fi siológicos que incluem a capacitação espermática (CAP) e a reação do acrossomo (RA), para o sucesso da fecundação (YANAGIMACHI, 1994; AMMAN; HAMMERSTEDT, 1993).

A capacitação espermática está relacionada a mudanças fisiológicas e bioquímicas da membrana plasmática, que permitem interações entre espermatozoides e ovócitos. Dentre outras, ocorrem modifi cações na fl uidez da membrana, no fl uxo de íons e efl uxo de colesterol (ROLDAN; GOMENDIO, 1992; GORDON, 1994; PÉREZ et al., 1996; HARRISON; GADELLA, 2005).

Oviduto e útero representam sítios fi siológicos da capacitação in vivo. No entanto, esta pode ocorrer in vitro, sob condições que mimetizam a composição eletrolítica do fl uido do oviduto. Em geral, os meios contêm substratos energéticos como piruvato, lactato e glicose, uma fonte proteica como a albumina sérica bovina (ASB), íons bicarbonato e cálcio. Todavia, o exato mecanismo de ação desses compostos para promover a capacitação, em nível molecular, é pouco conhecido (VISCONTI et al., 1998).

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O principal componente desencadeador da capacitação é o bicarbonato (HARRISON et al., 1996, FLESCH; GADELLA, 2000). Ele ativa diretamente uma adenilato ciclase espermatozoide específi ca que se liga a proteína kinase A (PKA), a qual, via fosforilação da tirosina da proteína, ativa direta ou indiretamente o deslocamento de fosfolipídeos, levando a uma alteração da assimetria da membrana, que resulta em células capacitadas. A ASB, além da função nutricional, é responsável pela retirada do colesterol da membrana plasmática do espermatozoide, causando alterações na sua fl uidez e diminuição da relação colesterol:fosfolipídio (CROSS, 1998). A heparina remove as proteínas do plasma seminal adsorvidas à membrana espermática, portanto inibidoras da capacitação (CORMIER; BAILEY, 2003). A ligação da heparina ao espermatozoide bovino induz mudanças no ambiente intracelular, estimulando a elevação da concentração de cálcio, da adenosina monofostato cíclica (AMPc), da fosforilação da tirosina proteica e do pH (CORMIER; BAILEY, 2003; LANE et al., 1999; LECLERC et al., 1990).

O trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do bicarbonato, albumina sérica bovina e heparina, sobre a integridade do acrossomo do espermatozoide bovino criopreservado, durante incubação in vitro.

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi conduzido no Laboratório de Biotecnologia da Reprodução

Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Doses comerciais de sêmen de dez touros, pós-descongelação a 37ºC/30 segundos, foram acondicionadas em tubo cônico e submetidas à lavagem em solução salina a 0,9% (wash), por centrifugação a 700 G, durante 5 minutos. Ressuspendido o pellet, este foi fracionado e feita a diluição em volume fi nal de 500 μL, de acordo com os seguintes tratamentos: 1) meio Talp-sp (PARRISH et al., 1988), contendo 5 mg/ml de ASB – fração V livre de ácidos graxos e 25 mM de NaHCO3; 2) Talp-sp sem adição de bicarbonato, sendo o pH corrigido com NaOH (1 N) ; 3) Talp-sp sem adição de albumina sérica bovina e; 4) Talp-sp acrescido de heparina, na concentração fi nal de 10 μg/mL. Após a diluição as amostras foram incubadas a 37ºC por 5 horas.

Alíquotas de sêmen foram submetidas às análises de motilidade/vigor, integridade da membrana plasmática (eosina/nigrosina-EN) e status acrossomal (trypan blue/Giemsa-TBG) nos momentos: pós-descongelação (PD), pós-wash (PW) e pós-incubação (PI).

A motilidade espermática foi estimada pela deposição de uma gota de sêmen entre lâmina e lamínula, aquecidas a 37ºC, sob microscopia de contraste de fase, com objetiva de 40x. O resultado foi expresso em percentagem conforme a proporção total de espermatozoides móveis. O vigor foi expresso segundo escala padronizada de zero a cinco (0-5).

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A avaliação da viabilidade espermática foi feita em esfregaço de sêmen corado pela eosina/nigrosina (1:1), conforme proposto por Hancock e modifi cado por Barth e Oko (1989). A eosina penetra através da membrana plasmática lesada, corando as células mortas em rosa e a nigrosina dando o contraste de fundo, permite detectar espermatozoides vivos não corados. Foram contadas, sob imersão ao microscópio ótico de campo claro (Zeiss), 200 células por lâmina.

A integridade do acrossomo foi avaliada empregando-se a técnica de dupla coloração (trypan blue/Giemsa – TBG) descrita por Didion et al. (1989). A solução corante de Giemsa foi preparada em cubeta plástica com 27 ml de água deionizada acrescida de 3 ml da solução estoque de Giemsa (Merck). Foram armazenados 50 μl de trypan blue 0,4% (Sigma Aldrich do Brasil) com 50 μl de sêmen em tubo cônico e, incubados em banho-maria (MD 100 – Fanem) a 37◦C por 15 minutos. Após, foram adicionados 2 mL de solução salina, e as amostras submetidas à centrifugação (Excelsa Baby I – Fanem) por 5 minutos. O pellet foi ressuspendido, o esfregaço confeccionado e a lâmina seca a temperatura ambiente. Após fi xar em metanol por 5 minutos e estarem secas, as lâminas foram imersas em solução de Giemsa overnight. As lâminas foram lavadas com água deionizada, secas e avaliadas ao microscópio de campo claro (Zeiss) sob imersão. Os espermatozoides foram classifi cados como: vivos (TBG-V) – acrossomo corado em roxo ou rosa pelo Giemsa e região pós acrossomal não corada; mortos (TBG-M) – corados em azul pelo trypan blue na região pós-acrossomal e acrossomo corado em roxo ou rosa pelo Giemsa; reação do acrossomo verdadeira (TBG-RAV) – acrossomo e região pós-acrossomal não coradas e; reação do acrossomo falsa (TBG-RAF) – acrossomo não corado e região pós-acrossomal corada em azul.

O delineamento experimental foi em parcelas subdivididas considerando o efeito fi xo de tratamento e momentos de avaliação como subparcelas. Adotou-se a análise de variância, pelo procedimento GLM do Programa Estatístico SAS (1999), para o estudo dos efeitos fi xos sobre as variáveis dependentes (motilidade, vigor, integridade das membranas plasmática e acrossomal). As médias foram comparadas pelo teste de Duncan, em nível de 5% de signifi cância (SAMPAIO, 1998). Quando houve interação signifi cativa entre efeitos fi xos, as médias foram ajustadas e comparadas pelo teste t de Student (p<0,05). Para o estudo da associação entre as variáveis foi usado o teste de correlação de Pearson.

RESULTADOS E DISCUSSÃOTodas as características espermáticas analisadas sofreram efeito do tempo de

incubação, diferindo signifi cativamente dos valores obtidos pós-descongelação. Os valores de motilidade, vigor e integridade das membranas plasmática e acrossomal, em relação aos momentos de avaliação, estão apresentados na Tabela 1.

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TABELA 1 – Valores de motilidade, vigor e integridade das membranas plasmática e acrossomal, durante incu-bação in vitro a 37ºC/5 horas, do sêmen congelado de touros (n=10).

Variáveis (%)* Momentos**

Pós-descongelação Pós-wash Pós-incubação

Motilidade 61,25 ± 1,30a 37,5 ± 2,37b 27,5 ± 2,40c

Vigor (0-5) 3,13 ± 0,05b 3,15 ± 0,10b 3,60 ± 0,15a

EN-Vivo 48,81 ± 3,00a 42,23 ± 2,40a 33,60 ± 2,21b

EN-Morto 49,83 ± 3,00c 57,60 ± 2,37b 66,50 ± 2,21a

TBG-Vivo 41,70 ± 2,57a 35,90 ± 2,14a 23,60 ± 2,00b

TBG-Morto 35,24 ± 2,10b 47,30 ± 1,72a 43,60 ± 1,84a

TBG-RAV 1,78 ± 0,24b 1,35 ± 0,18b 3,13 ± 0,40a

TBG-RAF 22,36 ± 1,35b 15,63 ± 1,24c 28,38 ± 2,10a

* EN = eosina/nigrosina; TBG = trypan blue/Giemsa; RAV = reação acrossomo verdadeira; RAF = reação acrossomo falsa.

** letras diferentes na mesma linha indicam diferença signifi cativa entre médias pelo teste de Duncan (p<0,05).

Embora tenha ocorrido uma redução signifi cativa da motilidade pós-wash, esta não foi acompanhada pela perda da integridade da membrana plasmática, pois o percentual de células vivas não diferiu entre os momentos pós-descongelação e pós-wash, para as duas técnicas de coloração utilizadas. Houve alta correlação (r = 0,76; p<0,0001) para a categoria de células vivas entre as técnicas da eosina/nigrosina e trypan blue/Giemsa. Os coefi cientes de correlação entre motilidade e espermatozoides vivos, para eosina/nigrosina e trypan blue/Giemsa, foram 0,59 (p<0,0001) e 0,64 (p<0,001), respectivamente. Garner et al. (1986) e Ericsson et al. (1993) encontraram coefi cientes similares para sêmen bovino (0,55; p<0,05 e 0,78; p=0,02, respectivamente).

A motilidade diferiu signifi cativamente entre os momentos, com o menor percentual sendo observado pós-incubação e o coeficiente de correlação entre momento x motilidade foi de –0,72 (p<0,0001). De fato, a capacidade de biossíntese do espermatozoide é muito limitada, pois a maioria dos compostos necessários para sua função é sintetizada durante a espermatogênese, o que caracteriza o espermatozoide como uma célula de metabolismo catabólico (AMANN; GRAHAM, 1993). Além disso, a motilidade é o processo com maior demanda energética e apresenta correlação positiva com as concentrações de ATP, as quais diminuem ao longo do tempo, após a descongelação (JANUSKAUSKAS; RODRIGUEZ-MARTINEZ, 1995). Yamashiro et al. (2006) compararam as características espermáticas do sêmen ovino coletado em tubos contendo diluente suplementado ou não com 5% de ASB e verifi caram aumento signifi cativo da motilidade das células que entraram em contato com a albumina. O mesmo não ocorreu no presente estudo, pois não houve diferença entre os tratamentos para essa variável.

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O vigor foi signifi cativamente superior ao término da incubação, indicando de forma indireta uma provável ocorrência de motilidade hiperativada nos espermatozoides capacitados (HAN-CHEN; SUAREZ, 2001; YANAGIMACHI, 1994), considerando que o maior percentual de células que sofreram reação do acrossomo verdadeira também foi obtido pós-incubação (p<0,05).

A capacitação espermática também foi estimada pela ocorrência da reação do acrossomo. Houve efeito signifi cativo de tratamento para o número de células com reação acrossomal verdadeira, com os maiores valores nos tratamentos controle e com heparina, sendo que este último não diferiu dos demais (Tabela 2).

TABELA 2 – Valores médios (± desvio padrão) de reação do acrossomo verdadeira e falsa, no sêmen congelado de touros (n=10), de acordo com a técnica do trypan blue/Giemsa, considerando

os diferentes tratamentos.

Variável (%)

Tratamentos*

Talp-sp

(controle)

Talp-sp

sem NaHCO3

***

Talp-sp

sem ASB***

Talp-sp

com heparina

TBG-RAV** 2,72 ± 0,40a 1,62 ± 0,23b 1,71 ± 0,33b 2,31 ± 0,44ab

* letras diferentes na mesma linha indicam diferença signifi cativa entre médias pelo teste de Duncan (p<0,05).** TBG = trypan blue/Giemsa; RAV = reação acrossomo verdadeira.*** NaHCO3 = bicarbonato de sódio; ASB = albumina sérica bovina.

Parrish et al. (1989) relatam que substratos glicolíticos como a frutose, glicose ou manose podem inibir a capacitação, por promoverem acidifi cação intracelular durante a glicólise, em oposição à necessária alcalinização induzida pela heparina. A glicose inibe a fosforilação da tirosina proteica, durante a capacitação espermática induzida pela heparina, sendo inclusive adicionada nos diluidores de sêmen com o objetivo de inibir a criocapacitação (CORMIER; BAILEY, 2003). No entanto, a composição dos meios usados no presente experimento diferiu apenas quanto à presença ou não de heparina, ou seja, possuíam lactato e piruvato como substratos energéticos, descartando-se assim um possível fator que pudesse ter levado a baixa resposta à heparina.

Além disso, de acordo com Parrish et al. (1988), para que a heparina capacite o espermatozoide bovino, é necessário que esta se ligue ao gameta, sendo esse processo dependente da dose e do tempo utilizados. Apesar da concentração usada (10 μg/mL) encontrar-se dentro dos valores relatados pela literatura (CHAMBERLAND et al., 2001; PARRISH et al., 1994; UGUZ et al.,1994) e o tempo de incubação adotado (5 horas) ter sido superior ao mínimo recomendado, de 4 horas (PARRISH et al., 1994; PARRISH et al., 1989; PARRISH et al., 1988), os resultados sugerem que a heparina não foi efi caz na indução da capacitação. Contudo, é provável que essa baixa ocorrência de RAV se deva a não utilização de um agente indutor da reação do acrossomo como a lisofosfatidilcolina, normalmente empregada para se avaliar o status da capacitação (PARRISH et al., 1988; UGUZ et al., 1994; CORMIER; BAILEY, 2003).

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Os menores valores de TBG-RAV foram observados nos meios com ausência da ASB ou do NaHCO3. Além disso, houve interação signifi cativa entre momentos de avaliação e tratamentos para a variável TBG-RAV, sendo maior o número de reações verdadeiras no controle, ou seja, com a presença de ASB e bicarbonato e no tratamento em que houve a adição de heparina (Tabela 3), não havendo diferença entre si.

TABELA 3 – Médias ajustadas da variável reação do acrossomo verdadeira (%), no sêmen congelado de touros (n=10), de acordo com a técnica do trypan blue/Giemsa, considerando a interação entre os momentos de

avaliação e os diferentes tratamentos.

Momentos

Tratamentos*

Talp-sp

(controle)

Talp-sp

sem NaHCO3**

Talp-sp

sem ASB**

Talp-sp

com heparina

Pós-descongelação 2,25 ± 0,46b 2,10 ± 0,39b 1,06 ± 0,63b 1,61 ± 0,39b

Pós-wash 1,25 ± 0,20b 1,10 ± 0,28b 2,10 ± 0,59b 0,95 ± 0,19b

Pós-incubação 4,65 ± 0,79a 1,65 ± 0,46b 1,90 ± 0,48b 4,30 ± 0,94a

* Letras diferentes na mesma linha indicam diferença signifi cativa entre médias pelo teste t de Student (p<0,05).** NaHCO3 = bicarbonato de sódio; ASB = albumina sérica bovina.

Davis et al. (1980) verificaram que após a incubação de espermatozoide epididimário de rato, por 5 horas, em meio Krebs-Ringer bicarbonato, acrescido de 4% de ASB, houve aumento do conteúdo de fosfolipídios na membrana plasmática e redução da proporção colesterol:fosfolipídio. Em solução aquosa a ASB se adere à membrana plasmática e ao haver a interação dos fosfolipídios com a proteína, ela se torna mais permeável. Go e Wolf (1985) relataram a existência de um fl uxo bidirecional de colesterol e fosfolipídios entre as células e a proteína do meio de cultivo, resultando em decréscimo de colesterol e aumento dos fosfolipídios. Com essa redução da concentração de colesterol é acelerado o processo de fusão espontânea das membranas plasmática e acrossomal externa. De fato, resultados de pesquisa demonstraram que a albumina, como aceptora de esteroide, promove o efl uxo de colesterol que, por sua vez, aumenta a permeabilidade aos íons cálcio e bicarbonato levando à ativação da adenilato ciclase, com consequente aumento da concentração do AMPc, o qual se liga a uma proteína kinase A e, via fosforilação da tirosina proteica, leva uma série de reações que, por fi m, tornam a célula capacitada e apta a sofrer a reação do acrossomo (YAMASHIRO et al., 2006; GADELLA et al., 2001; FLESCH; GADELLA, 2000; VISCONTI et al., 1998).

A capacitação in vitro pode ser induzida através da incubação do espermatozoide em meio específi co defi nido, sendo que um dos componentes responsáveis por induzi-la é o bicarbonato (HARRISON et al., 1996; FLESCH; GADELLA, 2000) e somente espermatozoides funcionalmente maturados no epidídimo são sensíveis a ele (GADELLA; VAN GESTEL, 2004). Colenbrander (2002), em estudo in vitro com espermatozoide

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equino, verifi cou o efeito do bicarbonato no processo de capacitação, levando a alteração no conteúdo e na distribuição dos lipídeos de membrana. Avaliando o efeito da heparina sobre a capacitação in vitro de sêmen suíno, Dapino et al. (2006) consideraram como meio não capacitante o Talp-sp preparado sem a adição de CaCl2, bicarbonato e albumina sérica bovina; e capacitante, aquele acrescido de 15 mM de bicarbonato. Após a capacitação com heparina, a reação do acrossomo foi induzida com ionóforo de cálcio (A23187) e, pela técnica da clortetraciclina (CTC), verifi caram que o percentual de células apresentando padrão B (capacitadas), não diferiu quando nos meios de incubação estavam ausentes o Ca+2 ou o HCO3

-, apesar da presença da heparina.

CONCLUSÃODe acordo com os resultados obtidos conclui-se que a presença da albumina sérica

bovina ou do bicarbonato, no meio de cultivo, leva a um aumento da ocorrência de espermatozoides apresentando reação do acrossomo verdadeira. Portanto, um aspecto importante a ser considerado quando da manipulação laboratorial das amostras de sêmen durante a execução de testes que avaliam a qualidade seminal.

REFERÊNCIASAMANN, R. P.; GRAHAM, J. K. Spermatozoal function. In: McKINNON, A. O.; VOSS, J. L. Equine Reproduction. Pennsylvania: Lea e Febiger, cap. 80, p.715-45, 1993.AMANN, R. P.; HAMMERSTEDT, R. H. In vitro evaluation of sperm quality: an opinion. Journal of Andrology, v.14, p.397-406, 1993.BARTH, A. D.; OKO, R. J. Preparation of semen for morphological evaluation. In: Iowa State University Press. Abnormal Morphology of Bovine Spermatozoa. 1 ed. Iowa: Ames, 1989, p.8-18. CHAMBERLAND, A. et al. The effect of heparin on motility parameters and protein phosphorylation during bovine sperm capacitation. Theriogenology, v.55, p.823-835, 2001.COLENBRANDER, B. Capacitation dependent lipid rearrangements in the plasma membrane of equine sperm. Theriogenology, v.58, p.341-345, 2002. CORMIER, N.; BAILEY, J.A differential mechanism is involved during heparin and cryopreservation-induced capacitation of bovine spermatozoa. Biology of Reproduction, v.69, p.177-185, 2003.CROSS, N. L. Role of cholesterol in sperm capacitation. Biology of Reproduction, v.59, p.7-11, 1998. DAPINO, D. G.; MARINI, P.; CABADA, M. O. Effect of heparin on in vitro capacitation of boar sperm. Biology Research, v.39, p.631-639, 2006.DAVIS, B. K.; BYRNE, R.; BEDIGIAN, K. Studies on the mechanism of capacitation: Albumin-mediated changes in plasma membrane lipids during in vitro incubation of rat sperm cells. Proc. Natl. Acad. Sci. USA, v.77, p.1546-1550, 1980.

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Recebido em: mar. 2009 Aceito em: nov. 2009

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Efeito do estresse calórico in vitro em folículos pré-antrais de Bos indicus

Hélder Silva e LunaAnna Letícia Rigo Munhoz

Carmem Estefânia Serra Neto ZúccariViviane Bento da Silva

Iraceles Aparecida Laura

RESUMOO presente estudo teve como objetivo verifi car o efeito do estresse calórico na viabilidade

e morfologia nuclear de folículos pré-antrais bovinos in vitro. Os ovários foram obtidos em abatedouro e divididos em duas metades, uma para o controle (sem estresse calórico) e a outra aquecida a 42ºC por 20 min em solução salina de NaCl a 0,9 %. Para análise da viabilidade, os folículos foram isolados mecanicamente e classifi cados em não viáveis ou viáveis quando foram corados ou não com o azul de tripan, respectivamente. Para análise da morfologia nuclear, as amostras foram fi xadas em Carnoy e encaminhadas para rotina histológica clássica. Diferença signifi cativa (P<0,05) na viabilidade folicular foi observada entre o controle (76,8 %) e folículos submetidos aos estresse calórico (62,5 %). Em relação análise histológica no grupo controle, 87,2 % apresentaram-se normais. No grupo exposto ao estresse calórico, todos os folículos analisados apresentaram alteração na morfologia nuclear. Conclui-se que folículos pré-antrais bovinos são sensíveis ao estresse calórico in vitro.

Palavras-chave: Fertilidade. Folículos Ovarianos. Vaca.

Effect of in vitro heat stress in preantral follicles of Bos indicus

ABSTRACTThe aim present was to evaluate the effect of heat stress in the viability and nuclear

morphology of bovine preantral follicles in vitro. Ovaries were obtained from a slaughterhouse and were divided into two halves, one for control (no heat stress) and the other heated to 42°C for 20 min in NaCl solution 0.9 %. For analysis of viability, the follicles were mechanically isolated and classifi ed as non-viable or viable when they were stained or not with trypan blue, respectively. For analysis of nuclear morphology, the samples were fi xed in Carnoy and sent for routine histology. Signifi cant difference (P <0.05) in follicular viability was observed between the control (76.8 %)

Hélder Silva e Luna é Médico Veterinário, Doutor, Professor Adjunto do Curso de Biologia, Campus de Três Lagoas, da UFMS.Anna Letícia Rigo Munhoz é Bióloga Autônoma.Carmem Estefânia Serra Neto Zúccari é Médica Veterinária, Doutora, Professora Associada do Curso de Medicina Veterinária, Campo Grande, da UFMS.Viviane Bento da Silva é Bióloga Autônoma.Iraceles Aparecida Laura é Bióloga, Doutora, Professora Adjunta do Curso de Biologia, Campo Grande, da UFMS.

Endereço para correspondência: Campus de Três Lagoas – UFMS. Av. Ranulpho Marques Leal, 3484, Três Lagoas/MS, CEP 79620-080, CP 210. Tel. (67) 3509.3711. E-mail: [email protected]

n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.80-88Canoas

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follicles and subjected to heat stress (62. 5%). For histological analysis in the control group, 87.2 % were normal. In the group exposed to heat stress, all the follicles examined showed changes in nuclear morphology. Concluded that bovine preantral follicles are sensitive to heat stress in vitro.

Keywords: Fertility. Ovarian follicle. Cow.

INTRODUÇÃOO estresse ocasionado pelo calor, em especial em bovinos de alta produção leiteira,

tem levado à redução na performance reprodutiva (De Rensis; Scaramuzzi, 2003), como redução da taxa de detecção de cios, alterações na foliculogênese ovariana e taxas de concepção (Badinga et al., 1993; Rodtian et al., 1996). Em situações de temperatura ambiente elevada, a temperatura corporal é controlada pela vasodilatação periférica, sudorese e frequência respiratória, permitindo a perda de calor corporal. No entanto, quando os mecanismos fi siológicos da termorregulação não são sufi cientes, ocorre hipertermia, causando o estresse calórico (Rhines et al., 1973).

O efeito do estresse calórico na fertilidade de vacas pode ser resultado do efeito direto da elevação da temperatura ovariana na qualidade do ovócito (DE Rensis; Scaramuzzi, 2003). Por outro lado, a produção de gonadotrofi nas, desenvolvimento folicular, desenvolvimento de corpo lúteo e produção de progesterona são afetados negativamente pelo estresse calórico em vacas (Gilad et al., 1993; Wolfenson et al., 1993; LEW et al., 2006; Torres-JUnior et al., 2008), contribuindo na redução da performance reprodutiva.

Estudos quanto ao estresse calórico em bovinos têm sido realizados com a exposição do animal a elevadas temperaturas em câmaras bioclimáticas (Ferreira et al., 2006) ou expondo in vitro gametas ou embriões. Neste sentido, Edwards e Hansen (1996) aqueceram embriões de 2 células a 42 °C por 80 min e verifi caram produção de proteínas especifi cas do estresse calórico. Existem mecanismos celulares de defesa ao estresse térmico, destacando-se uma classe de proteínas que atuam nos choques térmicos (heat shock proteins). Estas atuam no redobramento das proteínas (Becker et al., 1994) e aumento da rapidez de remoção de proteínas desnaturadas do organismo (Terlecky, 1994). O estresse calórico pode levar à produção de radicais livres, além de induzir processo de apoptose em ovócitos e embriões (Edwards et al., 2001; Paula-Lopes; Hansen, 2002). Assim, o uso de antioxidantes em vacas, sob estresse calórico, contribuiu na melhora da performance reprodutiva (Arechiga et al., 1998). Estudos mostram que células da granulosa dos ovócitos estimulam a produção de antioxidantes além de proteger as células dos efeitos do calor (Geshi et al., 2000).

Estudos in vitro com estresse calórico tem sido realizados em ovócitos antrais (Payton et al., 2004), mas não em ovócitos pré-antrais, sendo importante sua investigação quanto aos efeitos do calor, uma vez que estes são responsáveis por 90% da população folicular ovariana (Saumande, 1991). Pesquisas com folículos pré-antrais poderão contribuir na elucidação dos efeitos do estresse calórico na redução da performance reprodutiva de bovinos. O presente trabalho teve como objetivo verifi car o efeito do estresse calórico in vitro na viabilidade e morfologia nuclear de folículos pré-antrais bovinos.

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MATERIAL E MÉTODOS

Obtenção de ovários e exposição ao estresse calóricoOvários bovinos foram obtidos em abatedouro e transportados ao laboratório à

temperatura ambiente, a qual variou entre 28 e 30ºC durante o experimento, em bolsas plásticas contendo solução salina de NaCl a 0,9%, por período de 50-60 min. Os ovários foram lavados em álcool a 70 % e em seguida duas vezes em solução salina. Cada ovário foi dividido em duas metades, sendo uma direcionada ao grupo controle (sem aquecimento) e outra aquecida a 42 °C, em banho-maria, imersos em solução salina por 20 minutos.

Análise da viabilidade de folículos isoladosPara análise de viabilidade folicular, foram utilizados cinco ovários de diferentes

animais. O isolamento foi realizado mecanicamente com o uso do míxer (Nuttinck et al., 1993), em solução salina. Após fragmentação ovariana, a solução obtida foi fi ltrada em malhas de nylon de 300 e 100 μm, respectivamente. Em seguida, o fi ltrado foi distribuído em lâminas de microscopia e adicionado o corante azul de tripan a 0,4% na proporção fi nal de 5%. Folículos viáveis permaneceram não corados e folículos corados foram considerados inviáveis (Figura 1).

FIGURA 1 – Folículo pré-antral bovino viável (a) e inviável (b); (obj. 20).

Análise histológicaPara análise histológica, três ovários, de diferentes animais, foram divididos em

duas partes, uma encaminhada imediatamente para a fi xação por 12h em Carnoy e a outra parte dirigida para rotina histológica clássica após exposição ao estresse calórico. Foram realizados cortes seriados de 5 μm de espessura e corados por hematoxilina e eosina e os folículos pré-antrais primordiais e primários analisados com o uso de microscópio óptico em aumento de 400 X. Consideraram-se folículos primordiais aqueles que apresentavam

a b

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uma camada de células da granulosa de forma pavimentosa ou pavimentosa-cubóide ao redor do ovócito e folículos primários aqueles com uma única camada de células da granulosa de forma cuboide ao redor do ovócito. A morfologia nuclear foi considerada anormal quando os folículos apresentavam cromatina condensada (Figura 2).

FIGURA 2 – Folículo primordial com morfologia normal (a) e folículo primário anormal com núcleo condensado (seta), células da granulosa desorganizadas e citoplasma retraído (b); (obj. 40).

Análise estatísticaAs comparações estatísticas no presente estudo foram realizadas pelo teste de

Qui-quadado (χ2).

RESULTADOS E DISCUSSÃOUm total de 2537 folículos foram isolados, sendo 1117 do grupo controle e 1470 do

grupo submetido ao estresse calórico. Para viabilidade folicular o corante azul de tripan

a b

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foi usado (Santos et al., 2006). Os resultados obtidos no presente estudo mostram redução signifi cativa da viabilidade folicular após exposição ao estresse calórico (P<0,001). No grupo controle, 76,8 % (858/1117) apresentaram-se viáveis, enquanto apenas 62,5 % (919/1470) no grupo exposto ao estresse calórico foram considerados viáveis.

Para análise histológica, 109 folículos foram observados entre primordiais e primários. As observações mostraram alterações na estrutura nuclear do folículo. No grupo controle, dos 55 folículos analisados, 87,2% apresentaram normalidade da estrutura nuclear. Por outro lado, no grupo exposto ao estresse calórico, todos os 54 folículos pré-antrais analisados apresentaram alteração nuclear, caracterizada por condensação da cromatina. Este fato indica possível degeneração induzida pelo calor e mostra extrema sensibilidade dos folículos pré-antrais ao estresse calórico. Não foi observado diferenças de termo resistência dentro das fases foliculares estudadas (primordial ou primária).

Em bovinos, vacas expostas ao estresse calórico apresentam uma alta incidência de mortalidade embrionária (Putney et al., 1989), sendo a fase de clivagem do embrião muito sensível às elevadas temperaturas, independentemente da espécie (Krininger et al., 2003). Após exposição do tecido ovariano ao calor, no presente estudo, verifi cou-se redução da viabilidade dos folículos e alterações da estrutura folicular. Este resultado mostra evidente ação do estresse calórico no folículo. Estudos em ovócitos antrais mostram efeitos deletérios atribuídos ao calor. Aroyo et al. (2007) ao submeterem camundongos a hipertermia de 1,5 °C, verifi caram alterações de membrana nos ovócitos, indução de apoptose e diminuição no desenvolvimento embrionário. Outra pesquisa mostrou que ovócitos coletados de vacas holandesas em estações mais frias e fecundados in vitro apresentaram maiores taxas de desenvolvimento de blastocistos quando comparado àqueles coletados no verão (Al-Katanani et al., 2002).

Diferentes temperaturas têm sido aplicadas in vitro em células de mamíferos para indução do estresse calórico. Coakley (1987) sugere que células de mamíferos são capazes de sobreviver à temperatura de 40 °C por 3h e que incubações por períodos superiores a este podem levar à morte celular. Estudos em bovinos expuseram ovócitos e embriões a altas temperaturas in vitro, os quais utilizaram temperaturas que variaram entre 41 e 42 °C por períodos de 1-4 horas (Ealy et al., 1995; Edwards e Hansen, 1996; Sugiyama et al., 2003). Ealy et al. (1995) aqueceram a 41-42°C embriões de 2 células por período de 3h, onde verifi caram redução do desenvolvimento embrionário. Resultados similares foram encontrados por Sugiyama et al. (2003) ao submeterem embriões bovinos a temperatura de 41 °C por 4h. Em relação à alterações nucleares, Roth e Hansen (2004) relataram indução de apoptose em ovócitos bovinos submetidos a estresse calórico por 12 horas a 41 °C durante a maturação in vitro. No presente estudo, o tecido ovariano foi exposto por apenas 20 min a 42°C, período sufi ciente para redução da viabilidade folicular e alteração da morfologia nuclear. Estes resultados indicam que hipertermia in vitro a 42°C afeta a viabilidade e morfologia de folículos pré-antrais. Neste sentido, estudos nesta área são necessários a fi m de se esclarecer os efeitos de diferentes temperaturas e períodos de tempo nas estruturas de folículos ovarianos pré-antrais das diferentes espécies de mamíferos, em particular de bovinos.

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Outro aspecto importante que se tem discutido refere-se à composição lipídica da membrana, em que estudos apontam associação com a susceptibilidade ao calor. Em estudo relacionado à sazonalidade, realizado por Zeron et al. (2001), os autores verifi caram que, durante o verão, as membranas dos ovócitos apresentavam uma maior quantidade de gordura saturada e, no inverno, maior quantidade de mono e polinsaturadas. Estas diferenças foram associadas com o decréscimo da viabilidade e competência do ovócito. Ainda, a dieta pode infl uenciar na composição lipídica da membrana. Estudos sugerem que ovócitos com maiores proporções de gordura saturada em sua composição aumentam a sensibilidade ao calor (Arav; Roth, 2008). Ovelhas (Zeron et al., 2002) e vacas leiteiras (Fouladi-Nashta et al., 2004) alimentadas com dietas ricas em gordura polinsaturada apresentaram aumento na integridade da membrana de ovócitos e de embriões, resultantes de ovócitos aspirados e fecundados in vitro. Assim, a manipulação nutricional e a sazonalidade podem interferir na susceptibilidade ao estresse calórico.

Por outro lado, a origem genética dos animais pode ser fundamental na resistência ao estresse calórico. Estudos demonstram que animais Bos indicus são mais termoresistentes do que animais Bos taurus (Rocha et al., 1998). No entanto, existem entre as raças Bos taurus animais resistentes ao estresse calórico, a exemplo da raça Romosinuano (Hernandez-Ceron et al., 2004). Entretanto, outros estudos mostram que vacas Bos indicus mantidas por 28 dias sob estresse calórico apresentaram alterações na foliculogênese e comprometimento na competência do ovócito (Torres-JUnior et al., 2008). No presente estudo, os ovários foram obtidos de animais Bos indicus, fato que, apesar da redução signifi cativa da viabilidade (P<0,05), pode ter infl uenciado nos resultados obtidos. Sugerem-se estudos com folículos pré-antrais de animais taurinos para comparações dos efeitos do estresse calórico.

Atualmente, os estudos com estresse calórico em bovinos concentram-se em ovócitos antrais, entretanto, os folículos pré-antrais representam 90% da reserva de gametas de um ovário. Desta forma, em função dos resultados encontrados, sugere-se que o estresse calórico reduza a performance reprodutiva em função de perdas de viabilidade folicular desde fases pré-antrais, indicando que cuidados, principalmente com animais não adaptados ou de alta produção sejam tomados no intuito de minimização de efeitos do estresse calórico na fi siologia reprodutiva.

CONCLUSÃOA exposição do tecido ovariano a hipertermia in vitro leva à redução da

viabilidade folicular e altera a estrutura morfológica nuclear dos folículos pré-antrais em bovinos. Outros estudos em bovinos com folículos pré-antrais necessitam ser realizados a fi m de se elucidar os efeitos do estresse calórico na foliculogênese.

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AGRADECIMENTOSAgradecemos ao Frigorífi co Buriti pelo fornecimento dos ovários e ao técnico

Cláudio Oliveira pelo apoio na confecção das lâminas histológicas.

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Recebido em: out. 2009 Aceito em: mar. 2010

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Desempenho produtivo de novilhos de corte em pastagem rotacionada de

Panicum maximum cv mombaça em regimes de integração lavoura pecuária1

Diego Ocampos OlmedoJúlio Otávio Jardim Barcellos

Pedro PaniaguaIldefonso Horita

Maria Eugênia Andrighetto Canozzi

RESUMOO objetivo deste experimento foi comparar o desempenho produtivo de três raças bovinas

de corte (Brahman, Hereford e Brangus) durante três anos, mantidas em sistema rotacionado sobre capim-mombaça, em regimes de integração lavoura pecuária. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com três raças e três repetições. Nove potreiros (0,682 ha cada) foram subdivididos em nove piquetes e submetidos ao pastejo rotacionado, com quatro dias de utilização e 32 dias de descanso. Foram utilizados quatro animais-marcadores por potreiro e animais reguladores em número variável. Durante o inverno foi fornecida uma suplementação com grãos (1% PV). Os pastos foram amostrados no pré-pastejo para estimar a massa de forragem, a proporção dos componentes morfológicos e o valor nutritivo (%PB e NDT). Os bovinos foram pesados a cada 32 dias. Os animais da raça Brahman e Brangus tiveram maior ganho de peso (678 e 619 g/novilho/dia, respectivamente) do que os Hereford (510 g/novilho/dia). O verão (janeiro–março) foi o período de maior capacidade de suporte nos anos estudados (3,39 U.A.). No entanto, esta maior capacidade de suporte não foi sufi ciente para compensar o menor ganho de peso vivo dos animais neste período em comparação aos outros períodos do ano (primavera e inverno). O desempenho satisfatório, associado às outras importantes características de adaptação da raça Brahman, permitem posicioná-la como a raça de melhor desempenho nestes sistemas pastoris com suplementação.

Palavras-chave: Ganho de peso. Lotação. Suplementação em pastejo.

Diego Ocampos Olmedo é Eng. Agron., M.Sc. Aluno de Doutorado do PPG-Zootecnia. Professor da Universidade Nacional de Assunção, Paraguai.Júlio Otávio Jardim Barcellos é Méd. Vet., D.Sc., Professor do Departamento de Zootecnia – Faculdade de Agronomia da UFRGS.Pedro Paniagua – Faculdade Ciências Agrárias – Universidade Nacional de Assunção/Paraguai.Ildefonso Horita – Pesquisador CETAPAR – Alto Paraná – Paraguai.Maria Eugênia Andrighetto Canozzi – Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária/UFRGS. Bolsista PIBIC/CNPq.

Endereço para correspondência: Maria Eugênia Andrighetto Canozzi. Av. Bento Gonçalves, 7712 – Depto. Zootecnia – Fac. Agronomia da UFRGS. Porto Alegre/RS – 91.540/000. E-mail: [email protected].

1 Trabalho de pesquisa fi nanciado pelo Centro Tecnológico Agropecuário do Paraguai/CETAPAR.

n.1v.8Veterinária em Foco jul./dez. 2010p.89-102Canoas

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Veterinária em Foco, v.8, n.1, jul./dez. 201090

Performance of three breeds of beef cattle steers in Panicum maximum cv mombaça under rotational stocking in integration

schemes of livestock farming

ABSTRACTThe purpose of this experiment was to compare the performance of three beef cattle breeds

(Brahman, Hereford and Brangus) for three years manteined in rotational system on mombaça-grass under integration schemes of livestock farming. The experimental design was completely randomized (CRD) with three breeds and three repetitions. Nine paddocks (0.682 there each) were divided into nine sub-paddocks and subjected to rotational grazing, with four days of use and 32 days of rest. Four animals by paddocks were used like markers and regulators in variable numbers. During the winter was provided a supplemental grains (1% BW). The pastures were sampled in the pre-grazing to estimate the mass of forage, the proportion of morphological components and nutritional value (CP% and TDN). Steers were weighed every 32 days. The Brahman and Brangus steers performed better averaging (678 and 619g/steer/day, respectively) that the Hereford (510g/steer/day). The summer (January-March) was the period of greater support capacity over the years studied (3.39 AU), however, this increased suppord capacity was not enough to offset the lower animal body weight gain in this period compared to other year´s periods (spring and winter). The satisfactory performance, coupled with other important features allow positioned the Brahman breed as the race for best performance in these grasing rotational systems with supplementation. Keywords: Supplementation on pasture. Stocking rate. Weight gain.

INTRODUÇÃOA integração dos sistemas agrícolas e pecuários vem ganhando força como

alternativa para a solução de alguns problemas das lavouras e pastagens contínuas. Com essa integração, pode-se reduzir os riscos de degradação e melhorar as propriedades químicas, físicas e biológicas do solo e o potencial produtivo de grãos e forragem avaliados em conjunto (IKEDA et al., 2007). Nesse sentido, a bovinocultura de corte se constitui uma atividade interessante para aumentar a matéria orgânica dos solos através dos dejetos dos animais e da biomassa produzida pelas pastagens implantadas. Por outro lado, as terras com potencial para a agricultura têm elevados custos e a produção de carne nessas regiões somente se justifi cará pelo uso de pastagens com altas taxas de acúmulo de matéria seca, associado ao emprego de biotipos animais com alto potencial de ganho de peso (HORITA, 2005).

A produtividade animal em pastagem é determinada pela lotação dos pastos e pelo ganho de peso dos animais. O consumo de forragem, por sua vez, depende do valor nutritivo do pasto, da oferta de forragem e da estrutura do ressalvo (REIS et al., 2004).

A suplementação dos animais a pasto surge como uma alternativa para correção de possíveis defi ciências protéicas, energéticas e minerais, maximizando, dessa forma, o sistema de produção. Em função da sazonalidade quantitativa e qualitativa das pastagens

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cultivadas, o uso da suplementação dos rebanhos na época crítica tem sido vital para minimizar as defi ciências nutricionais da pastagem (PAULINO et al., 2004). Contudo, a resposta à suplementação é variável. Silva et al. (2009) destaca que o desempenho com suplementação em pastejo é determinado pela interação de uma gama de fatores relacionados às interações forragem:suplemento:animal, as quais são caracterizadas individualmente em cada experimento. Somada as exigências próprias do sistema integrado, estão as exigências do consumidor. Stolowski et al. (2006) relatam que os consumidores estão dispostos a pagar melhores preços pela carne que tenha um nível adequado de maciez, pois esta característica organoléptica é considerada como a mais importante neste produto. Entre as alternativas disponíveis, tem se avaliado bovinos taurinos adaptados, animais produtos de cruzamentos e animais zebuínos jovens.

O presente trabalho teve como objetivo principal comparar o desempenho de três raças de novilhos de corte com diferentes potenciais de crescimento mantidos em pastejo rotacionado de Panicum maximun cv mombaça.

MATERIAL E MÉTODOSO experimento foi conduzido no período de junho de 2004 a 2007, no Centro

Tecnológico Agropecuário do Paraguai (CETAPAR), situado no município de Yguaçu, a 280 km de Assunção.

O padrão climático da região é descrito, segundo a classifi cação do Koppen, como pertencente à faixa de transição entre Cfa e Aw tropical úmido. As temperaturas máximas do ano situam-se entre 33 e 35oC e as mínimas variam de 13 a 15oC. A precipitação média anual é de 1560 mm (Figura 1), com distribuição irregular ao longo do ano. O período da seca inclui os meses de junho a setembro e parte de outubro, coincidindo com o período invernal.

FIGURA 1 – Temperaturas médias, mínimas, máximas e precipitação mensal por ano de avaliação.

A área experimental apresenta um solo classifi cado como latossolo vermelho distrófi co. Após o período agrícola, procedeu-se a implantação da pastagem

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com capim mombaça, na quantidade de 8 kg/ha e, posteriormente, foi feita uma compactação do solo com uma gradagem leve. Entre fi nal de outubro e início de novembro de 2003, efetuou-se por cobertura uma aplicação de 50 kg de N/ha.

Foram empregados nove potreiros subdivididos em nove piquetes cada um (0,682 ha). Foram manejados sob lotação intermitente, com quatro dias de utilização e 32 dias de descanso, com um total de 108 novilhos testers com média de 10 meses de idade e pesos iniciais de 190 ± 36 kg de três raças: Hereford adaptado (12 por ano), Brahman (12 por ano) e Brangus (12 por ano), além de reguladores em número variável. Os animais foram identifi cados, pesados e distribuídos de forma homogênea e aleatória nos potreiros, dando início ao período experimental em maio de 2005.

Os animais foram mantidos em pastagem de capim-mombaça e receberam uma suplementação invernal na quantidade de 1,0% do peso vivo (PV). Todos os suplementos consistiram em uma mistura de resíduo de silo de grão de soja, milho e sal mineral (Tabela 1).

TABELA 1 – Composição percentual do suplemento empregado no período invernal, conforme ano de avaliação.

Ingrediente

Fornecimento do suplemento 1% P.C.

Ano 1 Ano 2 Ano 3

% % %

Milho grão 19,6 24,6 24,6

Resíduo de silo de grão de soja 80 75 75

Suplemento mineral 0,3 0,4 0,4

Proteína Bruta (%) 27,56 27,87 27,92

Nutrientes Digestíveis Total (%) 75,00 75,30 75,36

A suplementação foi fornecida diariamente, aproximadamente, às 9 horas. O consumo de suplemento foi controlado e corrigido a cada 32 dias, após a pesagem dos animais. Os ingredientes do suplemento energético-protéico foram amostrados no início do período experimental e foram repetidos anualmente para ajustar a oferta e manter a mesma qualidade nos três anos avaliados.

A coleta de amostras para estimar a disponibilidade da forrageira foi realizada no início do experimento e repetida após cada pesagem referente ao ciclo de pastejo (32 dias), por meio de 5 áreas por piquete, escolhidas aleatoriamente e delimitadas por um quadro metálico de 1m2 de área. As amostras foram separadas em duas porções para avaliação da disponibilidade de matéria seca (MS) e das frações folhas, colmo e material morto.

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Todas as amostras foram armazenadas em sacolas e encaminhadas ao laboratório de Bromatologia do CETAPAR. Após, foram secadas em estufa de circulação forçada de ar (65oC por 72 horas) até peso constante, sendo então pesadas e moídas em moinhos do tipo Wiley, com peneira de malha de 1mm, para determinar os teores de proteína bruta (PB), conforme o método descrito por Prates (2007), e energia pelo método enzimático de JLTA (2000), tanto para as amostras de pasto como para o suplemento fornecido.

A cada 32 dias os animais foram pesados após um jejum de 16 horas. Os animais testers estimaram a qualidade nutricional do pasto através do ganho médio diário (GMD). Foi computado o número de dias que os animais reguladores foram mantidos na pastagem e os ganhos obtidos pelos mesmos. Os ganhos dos animais testers e reguladores foram levados em consideração para estimativa de capacidade de suporte por área. Foi adotado o teor médio de 20% de MS da forragem para os cálculos. Ajustou-se a uma oferta diária de massa de forragem (MF) de 5,0% do peso corporal (PC) em todos os períodos avaliados.

Os períodos experimentais foram de 305, 296 e 290 dias de duração para o primeiro, segundo e terceiro ano, respectivamente. Os dados foram agrupados por períodos (32 dias cada) e avaliados por estação do ano. Os parâmetros de produtividade animal avaliados foram ganho médio diário (GMD) (kg/cab/dia); taxa de lotação média (TL) por ano/período avaliado (UA/ha) e produtividade animal por unidade de superfície (kg de ganho de peso/ha/ano). Com relação às forrageira, os parâmetros avaliados foram massa de forragem (MF) (kg MS/ha), calculada diretamente através de cortes na condição de pré-pastejo e padronizados a 20cm do solo; acúmulo de forragem (AF) (kg MS/ha/período), calculado pela diferença entre as massas de forragem no pré-pastejo atual e no pós-pastejo anterior de cada piquete e taxas de acúmulo de forragem (TAF) (kg MS/ha/dia) que foram calculadas dividindo-se o acúmulo de forragem pelo número de dias de rebrotação.

O delineamento estatístico foi inteiramente casualizado, com três raças, três repetições e quatro unidades experimentais por repetição, sendo os dados analisados pelo procedimento GLM do pacote estatístico SAS®, versão 8.0 para Windows® (SAS Institute, 2002). Foi empregado o peso inicial como covariável para ajustar os GMD. A comparação de médias foi realizada pelo teste de Tukey ajustado, adotando-se um nível de signifi cância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃOTodos os animais foram submetidos a disponibilidades de forragem de modo a

garantir uma oferta de MF de 5,0% do PV. De acordo com Minson (1990) e Euclides et al. (1998), essa disponibilidade deve ser de 2000 e 2500 kg de MS/ha, de modo a garantir alta seletividade e de 1000 kg MS/ha para não ser limitante.

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A utilização dos valores de acúmulo de forragem (AF) serve, unicamente, como ferramenta para avaliar a taxa de acúmulo do pasto (TAFD) que é a chave para o entendimento do potencial produtivo de uma determinada planta submetida a um manejo específi co (Tabela 2). Correia (2006) avaliando as taxas de acúmulo de forragem diária (TAFD), com intervalos de 21 dias entre pastejos fi xos (IEP), encontrou TAFD de 175,1 kg MS/ha/dia, sendo em todos os casos superiores aos TAFD encontrados no presente trabalho, porém em diferentes condições de temperatura, luminosidade e precipitação, fatores que infl uenciam fortemente essas respostas.

TABELA 2 – Acúmulo de forragem (AF), taxa de acúmulo de forragem diária (TAFD) e taxa de lotação(U.A. – 400 kg), conforme o ano e a estação.

Ano Estação MesesAF

kg MS/ha

TAFD

kg MS/ha/dU.A/ha

Primavera out-dez 10590 (1216) 116 (9) 3,72

Verão jan- mar 11321 (1299) 124 (10) 3,98

Ano 1 Outono abr-jun 10134 (1230) 111(13) 3,56

Inverno jul-set 4839 (478) 53 (5) 1,70

Média 9221(1110) 101(9) 3,24

Primavera out-dez 9038 (806) 99 (7) 3,18

Verão jan- mar 9403 (735) 103 (12) 3,30

Ano 2 Outono abr-jun 8490 (722) 93 (12) 2,92

Inverno jul-set 4382 (425) 48 (6) 1,54

Média 7828 85,8 2,74

Primavera out-dez 7493 (833) 87 (10) 2,79

Verão jan- mar 8217 (725) 90(9) 2,89

Ano 3 Outono abr-jun 7669 (856) 84 (9) 2,70

Inverno jul-set 4291 (425) 47 (6) 1,50

Média 6917 (720) 77 (8) 2,47

O sistema empregado foi com intervalo fi xo entre pastejo. Portanto, a coleta de forragem de qualidade em quantidade e de forma efi ciente fi cou limitada, uma vez que poderia resultar em intervalos entre pastejos mais longos ou mais curtos do que o necessário, de acordo com a época do ano (SILVA; CORSI, 2003; SILVA, 2004). O grande entrave para adoção desta metodologia de manejo é a difi culdade existente para se transmitir esta tecnologia desenvolvida por pesquisadores para o meio rural. Por este motivo, tem se empregado o intervalo entre pastejos fi xo.

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Houve diferenças (P<0,05) entre os anos avaliados e entre as diferentes estações dentro do ano quanto as disponibilidades do capim mombaça (Tabela 2). Esses resultados são compatíveis com os resultados existentes na literatura para pastos tropicais bem manejados e fertilizados com níveis variáveis de N, cujos ganhos médios diários encontrados variam de 0,490 a 0,731 kg/cab/dia (GOMIDE; GOMIDE, 2001).

Para todas as estações as disponibilidades iniciais foram mantidas ao redor de 2000 kg MS/ha. As ofertas, aparentemente, não foram limitantes ao longo do ano, mas durante o período invernal observou-se, em média, uma diminuição da disponibilidade.

Fica evidente o efeito do manejo empregado quanto à composição bromatológica da planta. Euclides et al. (2008) relataram variações entre 8,0 e 9,9% PB no período seco e 9,7% a 12,6% de PB no período das águas. A forrageira apresentou uma qualidade média anual de 9,4% PB e 56% NDT para o primeiro ano; 7,36% PB e 61% NDT para o segundo ano e, fi nalmente, 6,33% PB e 54% NDT para o terceiro ano, com variações estacionais que demonstram o efeito do IEP fi xo na qualidade.

O conteúdo de PB para inverno, primavera e outono apresenta-se adequado para ganhos de até 0,500 kg/dia (NRC, 1996) e as concentrações de NDT levemente inferiores às exigências para ganhos acima de 0,600 a 0,700 kg/dia. No segundo ano, foram observados aumentos na digestibilidade (inverno) que elevaram a média anual de NDT e as baixas temperaturas proporcionaram o decréscimo da velocidade de alongamento das hastes destes pastos. Somado a isto, o fato de não ocorrer geadas fortes permitiu a manutenção da qualidade média da forragem maior com relação aos outros anos avaliados. A diminuição das concentrações de NDT e PB, assim como da quantidade de AF no terceiro ano comparadas aos dois primeiros anos do estudo, é produto de uma queda dos níveis de precipitação pluviométrica e das altas taxas de extração com o manejo empregando IEP´s fi xos, que prejudicaram o crescimento da forrageira em certos períodos do ano (inverno). Segundo Reis et al. (2004), a queda do valor nutritivo da forragem está associada às condições climáticas e de manejo, as quais determinam a taxa de crescimento das plantas.

As diferenças encontradas nos pesos iniciais (P<0,05) (Figura 2) condicionaram o emprego do mesmo como covariável para análise dos GMD nas raças avaliadas. Não foram detectadas interações (P>0,52) entre ano e raças.

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H: Hereford; BH: Braford; BG: BrangusFIGURA 2 – Evolução do peso corporal médio para as três raças por período experimental e ano avaliado.

Os ganhos médios diários foram analisados considerando o efeito raça e ano, sendo encontrada interação (P<0,01) entre os dois fatores (Tabela 3). Os anos de maior ganho médio de peso foram os dois primeiros (0,683 e 0,621 kg/cab/dia), superiores aos ganhos do terceiro ano (0,502 kg/cab/dia), o qual coincidiu com uma diminuição na qualidade (Figura 3) e quantidade (Tabela 2) do capim mombaça.

TABELA 3 – Médias para ganho médio diário (kg/cab) em relação ao grupo genético nos três anos avaliados.

Grupo

Genético

Ano 1

kg/cab/dia

Ano 2

kg/cab/dia

Ano 3

kg/cab/dia

Média

Brangus 0,716(0,025) 0,647(0,023,) 0,493(0,023) 0,619 (0,015)a

Brahman 0,719(0,025) 0,690(0,023) 0,624(0,023) 0,678(0,020)a

Hereford 0,615(0,026) 0,527(0,023) 0,388(0,023) 0,510(0,016)b

Média 0,683(0,019)A 0,621(0,015)A 0,502 (0,022)B

a, b Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na coluna, para a mesma característica, diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

A, B Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na linha, para a mesma característica, diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

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FIGURA 3 – Qualidade nutricional do capim mombaça nos três anos avaliados (2004/2005 – 2006/2007).

O Hereford, biotipo de Bos taurus adaptado no Paraguai, sendo um animal de frame menor que os outros, precisa de uma maior concentração energética no alimento durante o período de engorda para manter ganhos de peso similares aos biotipos de frame superiores (Brangus e Brahman) (DI MARCO et al., 2007). Isso pode explicar a superioridade de animais das raça Brahman e Brangus em relação ao Hereford.

Os ganhos médios apresentados por raça e ano são similares aos obtidos por Difante et al. (2010) com 0,664 kg/dia, levemente inferiores aos ganhos obtidos por Ramalho (2006) e superiores na média aos ganhos obtidos por Euclides et al. (2008). A suplementação no primeiro inverno permitiu que os animais atingissem pesos de abate aos 20 meses de idade.

A suplementação no período invernal permitiu elevados desempenhos (Tabela 4). Por outro lado, no período de verão, com as temperaturas mais elevadas e os maiores índices pluviométricos, associados aos intervalos fi xos de pastejo, ocorreu uma redução do ganho de peso. Estes intervalos resultaram numa forragem de baixo valor nutritivo, com elevada proporção de colmos e de material morto na massa de forragem pré-pastejo, resultado de uma menor efi ciência de pastejo (TRINDADE, 2007). Segundo NRC (1996), o potencial de ganho em pastagem com 8,3% PB e 65,5% DIVMS seria de 0,72 kg/dia, similar aos ganhos obtidos na primavera e inverno, coincidindo com a melhor oferta forrageira em qualidade (Figura 2), contudo superiores em média ao apresentado neste trabalho para os períodos de verão e outono.

Período do Ano

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TABELA 4 – Médias para ganho médio diário (kg/cab) da interação estação-ano, nos três anos avaliados.

Ano Primavera

Estações

Verão Outono Inverno

Ano 1 0,842(0,023)Aa 0,421(0,015)Ba 0,594(0,023)Ba 0,878(0,018)Aa

Ano 2 0,772(0,024)Aa 0,485(0,026)Ba 0,373(0,023)Bb 0,856(0,020)Aa

Ano 3 0,720(0,023)Aa 0,426(0,020)Ca 0,300(0,022)Cb 0,663(0,020)Bb

a, b Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na coluna, para a mesma característica, diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

A, B, C Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na linha, para a mesma característica, diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

O manejo do pasto pode alterar a composição morfológica da forrageira, afetando a produção e a efi ciência de utilização da forragem produzida (ZEFERINO, 2007). Além disto, existe um sincronismo entre os processos de aparecimento, alongamento e senescência de folhas. Esse sincronismo em plantas tropicais está associado ao alongamento do colmo (SILVA, 2004). Desta forma, ao iniciar o sombreamento das folhas do dossel, inicia-se o alongamento do colmo para permitir a emissão de folhas novas em condição de maior disponibilidade de luz e temperatura, coincidindo com os meses do verão, resultando em aumento na temperatura, luminosidade e precipitação.

O verão teve as médias de temperatura mais altas em relação aos outros períodos do ano, sendo a máxima de 32oC, a mínima de 23oC e a média geral de 26oC (Figura 1). Isto condiciona fortemente o conforto animal e o crescimento da forrageira. O resultado é o aumento na fração colmo e material morto, causando a redução das relações folha:colmo e material vivo:material morto e, consequentemente, afetando negativamente o valor nutritivo da forragem acumulada (SARMENTO, 2003). Com isto, no verão ocorreu um decréscimo na qualidade (PB e NDT) da forrageira, o que pode justifi car os desempenhos inferiores dos animais neste período (Figura 2).

O efeito da melhor qualidade de pasto e a suplementação durante o período invernal produziu ganhos diários de peso maiores durante os três anos avaliados, pois todos os grupos genéticos não apresentaram diferenças estatísticas (P>0,15) (Tabela 5). Foi detectada uma diminuição de 26% no ganho de peso no terceiro ano para todos os biotipos em relação aos períodos invernais do primeiro e segundo ano.

A fi nalização do período da primavera coincide com o ponto no qual o Hereford (frame 3) atinge pesos médios de 300 a 320 kg. O Hereford, como biotipo pequeno, caracterizado pelo rápido amadurecimento e terminação precoce (DI MARCO et al., 2007), apresenta uma maturidade fi siológica antecipada, aumentando, com isto, as

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exigências de energia para o mesmo ganho de peso vivo em comparação aos outros biotipos de menor precocidade biológica e, coincidentemente, maior efi ciência de ganho de peso vivo.

TABELA 5 – Médias para ganho diário médio (kg/cab) da interação estação x ano x grupo genético nos três anos avaliados.

Estações Brangus

Grupo Genético

Brahman Hereford

Primavera

Ano 1 0,928(0,041)Aa 0,850(0,050)Aa 0,746(0,040)Aa

Ano 2 0,835(0,048)Aa 0,814(0,058)Aa 0,667(0,040)Ba

Ano 3 0,682(0,047)Bb 0,870(0,042)Aa 0,610(0,042)Ba

Verão

Ano 1 0,357(0,042)Bb 0,498(0,051)Ab 0,410(0,041)Ba

Ano 2 0,507(0,040)Aa 0,588(0,048)Aa 0,360(0,041)Bb

Ano 3 0,463(0,055)Aa 0,589(0,050)Aa 0,224(0,051)Bb

Outono

Ano 1 0,690(0,067)Aa 0,672(0,073)Aa 0,420(0,066)Ba

Ano 2 0,424(0,049)Ab 0,491(0,056)Ab 0,204(0,049)Bb

Ano 3 0,278(0,055)Bc 0,406(0,050)Ab 0,216(0,051)Bb

Inverno

Ano 1 0,890(0,050)Aa 0,860(0,058)Aa 0,885(0,049)Aa

Ano 2 0,824(0,049)Aa 0,867(0,049)Aa 0,867(0,049)Aa

Ano 3 0,549(0,055)Ab 0,635(0,050)Ab 0,504(0,051)Ab

a, b Médias seguidas por letras minúsculas diferentes na coluna, para a mesma característica, diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

A, B Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes na linha, para a mesma característica, diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey.

Na estação de verão, ocorreu o maior diferencial de ganho médio de peso entre os biotipos avaliados. Neste período, como foi descrito anteriormente, as altas temperaturas e precipitação foram determinantes para a manifestação das diferenças entre as três raças estudadas. O Brahman teve ganhos de 0,498 a 0,589 kg/cab/dia, sendo 22% superior ao Brangus e ao Hereford no primeiro ano. No segundo e terceiro ano, as diferenças com o Brangus não foram signifi cativas (P>0,10), mas ainda assim foram superiores aos ganhos apresentados pelo Hereford (P<0,01).

Estudos demonstram a maior relação pele/massa corporal nos zebuínos, assim como um maior número de glândulas sudoríparas e com o dobro de tamanho por unidade de superfície. Isto possibilita que os zebuínos submetidos a temperaturas de 27oC não tenham sudoração aumentada. Os taurinos, entretanto, têm sudoração menos efetiva e maiores difi culdades para regular efi cientemente a temperatura corporal por mecanismos fi siológicos. Na medida em que a temperatura exterior aumenta acima dos 27oC, não

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aumenta a taxa de sudoração, diminuindo sua capacidade de termorregulação efetiva (FINCH, 1986; BEATTY et al., 2006). Esta difi culdade para manter a temperatura corporal diminui o consumo de alimento, prejudicando o desempenho destes animais em relação aos Bos indicus (FINCH et al., 1982). Os ganhos médios diários no período de verão, mesmo sendo baixos comparados com os outros períodos do ano, estão em concordância com trabalhos anteriores quando os animais ganharam em média 0,440 a 0,460 kg/animal/dia durante o período das águas (EUCLIDES et al., 1998). Durante o verão, o maior estresse calórico comparativamente aos outros biotipos avaliados, somado as altas taxas de acúmulo que provocam mudanças na arquitetura da planta, diminui o tamanho de bocado e obriga os animais a aumentarem o tempo gasto em pastejo para compensar a perda (FINCH, 1986; ZEMMELINK, 1986). Este paradoxo de ter que aumentar o tempo de pastejo em decorrência da forrageira e a impossibilidade de pastejar mais tempo pelo estresse calórico leva a uma diminuição do consumo e com ele a menores ganhos de peso (BEATTY et al., 2006).

Durante o outono, existe um efeito combinado da maior exigência energética dos animais (que atingem um peso aproximado de 350 kg) e a falta de qualidade sufi ciente do capim mombaça para atender às exigências destes animais. Segundo o NRC (1996), o capim nestas condições garante ganhos de 0,300 a 0,400 kg/dia para animais destes pesos.

A análise combinada do GMD dos animais testers e dos animais reguladores permitem estimar a produtividade total em kg/ha/ano nestes sistemas, em função do biotipo empregado, mostrando resultado favorável ao Brahman. É importante salientar que, nos anos avaliados, os pesos fi nais obtidos ao término de cada ciclo resultaram em carcaças sem cobertura de gordura, o que não dá a garantia de comercialização aos melhores preços. Outro ponto a ser destacado, é a exigência dos frigorífi cos no Paraguai por carcaças de 230 kg, ainda não atingidas por estes biotipos nos pesos fi nais alcançados (Figura 2). O emprego de IEP´s fi xos de 32 dias prejudicou o ajuste da taxa de lotação, pois o tempo de ajuste possivelmente foi longo para certos períodos do ano (verão) e curto para outros (inverno). O gado zebuíno (Brahman) manteve uma produtividade média de 1603 kg/ha/ano, apresentando um desempenho superior em 24% ao Hereford e similar ao Brangus nas mesmas condições de manejo e alimentação (Tabela 6).

TABELA 6 – Médias para ganhos de peso por ha (kg/ha/ano), por raças (testers e reguladores)e anos avaliados.

Raça2004/05

kg/ha/ano

2005/06

kg/ha/ano

2006/07

kg/ha/ano

Ў

kg/ha/ano

Hereford 1583(160)b 1245(130)b 827(99)c 1218(137)b

Brahman 1890(135)a 1620(185)a 1301(159)a 1603(190)a

Brangus 1732(188)a 1436(156)ab 1018(118)b 1395(150)ab

a,b Médias na coluna seguida de letras minúsculas diferentes diferem (P<0,05) entre si pelo teste de Tukey.

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CONCLUSÃOO biotipo Brahman foi o de melhor desempenho produtivo na recria em pastejo,

potencializado pelos maiores ganhos de peso nos períodos mais quentes do ano, devido a uma melhor adaptação com relação aos outros biotipos avaliados. Nos anos avaliados, observa-se efeito benéfi co da suplementação invernal, permitindo um equilíbro entre todas as raças avaliadas neste período do ano.

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Recebido em: ago. 2010 Aceito em: nov. 2010

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Normas editoriais

POLÍTICAS E REGRAS GERAISA revista VETERINÁRIA EM FOCO, publicação científi ca da Universidade Luterana

do Brasil (ULBRA), com periodicidade semestral, publica artigos científi cos, revisões bibliográfi cas, relatos de casos e notas técnicas referentes à área de Ciências Veterinárias, que a ela deverão ser destinados com exclusividade. É editada sob responsabilidade do Curso de Medicina Veterinária da Ulbra.

Os artigos científi cos, revisões bibliográfi cas, relatos de casos e notas devem ser enviados em tres cópias redigidas em computador, em word, fonte 12, Times New Roman, espaço duplo entre linhas, folha tamanho A4 (21,0 x 30,0 cm), margem direita 2,5cm e esquerda 3cm. As páginas devem ser numeradas e rubricadas pelos autores. Os trabalhos devem ser acompanhados de ofício assinado pelos autores.

Os artigos serão submetidos a exame por 3 pesquisadores com atividade na linha de pesquisa do tema a ser publicado, tendo a Revista o cuidado de manter sob sigilo a identidade dos autores e dos consultores. Disquetes serão solicitados após a submissão dos trabalhos e aprovação pelos consultores.

1- O artigo científi co deverá conter os seguintes tópicos: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Keywords; INTRODUÇÃO (com revisão da literatura); MATERIAL E MÉTODOS; RESULTADOS E DISCUSSÃO; CONCLUSÃO; AGRADECIMENTOS; REFERÊNCIAS.

2- A revisão bibliográfi ca deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Key words; INTRODUÇÃO; DESENVOLVIMENTO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS.

3- A nota deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Keywords; seguido do texto, sem subdivisão, abrangendo introdução, metodologia, resultados, discussão e conclusão, com REFERÊNCIAS.

4- O relato de caso deverá conter: Título (em português e inglês); RESUMO; Palavras-chave; ABSTRACT; Keywords; INTRODUÇÃO (com revisão de literatura); RELATO DO CASO; RESULTADOS E DISCUSSÃO; CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS.

ORGANIZAÇÃO DO TEXTOTítulo

Deve ser claro e conciso, em caixa alta e negrito, sem ponto fi nal, em português e inglês.

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Autores

Deve constar o nome por extenso de cada autor, abaixo do título, seguido de informação sobre atividade profi ssional, maior titulação e lugar/ano de obtenção, Instituição em que trabalha, endereço completo e E-mail.

Resumo e abstract

O resumo deve ser sufi cientemente completo para fornecer um panorama adequado do que trata o artigo, sem, porém, ultrapassar 350 palavras. Logo após, indicar as palavras-chave / key words (mínimo de três) para indexação.

Citações e referências

Citações bibliográfi cas no texto deverão constar na INTRODUÇÃO, MATERIAL E MÉTODOS E DISCUSSÃO no artigo científi co, conforme exemplo: um único autor (SILVA, 1993); dois autores (SOARES; SILVA, 1994); mais de três autores (SOARES et al., 1996). Quando são citados mais de um trabalho, separa-se por ponto e vírgula dentro do parênteses (SOARES, 1993; SOARES; SILVA, 1994; SILVA et al., 1998).

Referências devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabeticamente pelos sobrenomes dos autores, elaboradas conforme a ABNT (NBR-6023).

Tabelas e fi guras

As Tabelas e Figuras devem ser numeradas de forma independente, com números arábicos. As Tabelas devem ter o título acima das mesmas, escrito em letra igual à do texto, mas em tamanho menor.

As Figuras devem ter o título abaixo das mesmas.

Tabelas e Figuras podem ser inseridas no texto.

Endereço para correspondência

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