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humana - o 11 mem I bo d homel1l- implica por i 6 c nflito e a de articulaçã oei 1. A . cicdade, com

conjunto rganizado e estável d rel ç-es, s6 pode c n­tituir-se e manter- e atravé d Estado e da p lítica que, num tal c ntexto, fWlci nam com limitações da liberdade individual. Nã há eiedadc civil que pré-exista ao Estado. É ele, pel c ntrário, que a c nstitui.

. Mas «e cad de naturez » pode, n entanto, ser pcn­'ado diferentemente. L cke inverte s termos das prenússas hobbesiana . pcs imismo de um dá lugar ao optinúsmo do utr . A bondade da natur za humana - agora assu­mida - ó não c nduz à perfeitJ harmonia devido à escassez do bens. conflito não está ínsito no pr6prio modo de ser humano antes se manifesta c mo luta contra a e ca sez. Ao Estado e ao Poder cumpre ag ra a tarefa de ordenar a ociedade pré-existente de tal mod que seja garantida a liberdade de acção do homens. A de~ordem, que a limitações fí icas engendram, é anulada pela actuação d Estado liberal. Liberal porque a conduta humana é, «no estado de natureza», dirigida por uma lei racional derivada de Deus. Assim sendo, o único poder legítimo e conveniente é que po sibilita o livre desenvol­vimento dessa acção racional.

Surge então um novo problema. A actuação livre gera desigualdades cada vez mais profunda que, por seu rumo, são factor de conflito . Para Locke uma tal situação é inultrapassável.

Embora por vias diferentes tanto em Hobbe~ como em Locke o princípio egoísta desl!mboca no conRito social 2.

D . Hume tentou superar a teorização fundada no princípio do egoísmo. Para ele em vez de uma lei

(2) Cf. C. NAPOLEO ., Smith, Ricardo, Marx, cit., 41.

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racional há antes um sentimento de procura do útil na esfera pessoal e colectiva (3). O juízo moral, aferido pela virtude, fundamenta-se na utilidade individual e colectiva dos actos humanos. A simpatia, como oposto ao egoísmo tout COUlt,

leva o homens a agirem para o bem dos outros como mei de obter o máximo de vantagem para si próprios.

Toda a problemática dos juízos morais tende a cindir a acção humana cm dois comportamentos antagónico!.: o egoísmo (mal) e o altruismo (bem). Ora é justamente neste terreno que se situam os primeiros escritos de A. Smith. O seu grandioso projecto - que nunca conclui­ria - de escrever uma rustória das «Ciências Liberais e das Belas Artes» (4) mostra-nos a preocupação globali­zante do seu pensamento. A dualidade acima referida é incompatível com uma visão integrada da acção dos homens O único modo de resolver a questão será a demarcação de esferas relativamente autónomas onde os princípios condu­tores da acção sejam diversos mas acabem por se integrar harmoniosamente no conjunto (5).

A <<Fábula das Abelhas~ de Mandeville fornece o pretexto para Smith expor as suas próprias ideias. Mas o ataque à concepção dos «vícios privados, públicas virtudes» não chega a ser de modo algum arrasante. Como diz J. Robinson, Smith «admite que há nisso alguma verdade(6),

(3) Sobre D. Hume ver L. BAGOLlNT. Esperienza Giuridica e Poli­tica Nel Pensiero Di D. RI/me. G. Giappichelli-Editore. 2.' ed .• Torino. 1967.

(4) Cf. SCHUMl'ETBR. Ristory ...• cit .• 104. (5) Já no pensamento do próprio D. Hume não há uma demar4

cação absoluta entre simpatia e egotsmo. As regras da moralidade e da justiça (o direito) têm a sua origem no interesse individual alterado lia sua direcção. Cf. BAGOLINl. Esperietlza ...• cit .• 22.

(6) J. ROBINSON. Economic Philosophy-An Essay on Economics as a BrandI of Ethics That is Striving to Become a Science. Aldine Publishing Company. Chicago. 1963. 19.

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ou na formulação mais explícita de Myrdal s «vícios não são tão imorais como i o» (7)! A economia torna-se no campo privilegiado da dem nstração das excelências do egoísmo e, nessa medida, o «vício» transmuta-se em virtude. A «Riqueza das Nações» é, deste modo, a tentativa de prova de que o «self-intereSb> está para a economia como a

impatia» está para a moral. O conjunto social torna-se harmonioso já que ambos permitem obter uma maximi­zação individual e colectiva (8).

Pode então aÍlrmar-se que < ob o ponto de vista das suas origens ideológicas a Economia Política é uma gran­diosa tentativa de demonstrar em termos cientilicos o que deve ser» (9). Nesta perspectiva os conceitos de direito, jHsto, defler, têm o seu equivalente no domínio da economia; o valor. Este conceito revela-se es encial porque se articula com um egundo conjunto de problemas de algum modo paralelo à dicotomia egoísmo faltruísmo. Na Teoria Clás­sica o valor aparece ligado à justificação do próprio sistema social. O problema da propriedade dominava as preocupa­ções da época (10) . As obras de jusnaturalistas como

(1) G. MYlU)ALL. Politicai Elelllenl ...• cit .• 45. (8) Cf. NAPOLEONl. SMITH ...• cit., 45-46. (9) G. MYlU)ALL, Politicai Element ... , cit. , 57. Em A. Smith é explicitamente aflIll1ado um tal desiderato. Mas

mesmo em autores muito posteriores a ligação directa entre preocupações éticas e a economia está presente. J. Bates Clark, por exemplo, escreveu: .0 direito à existência de um sistema social presente depende da sua honestidade. A acusação que pesa sobre a sociedade é a de explorar o trabalho... Se esta acusação fosse provada, todo o homem justo dever-se-ia tomar num socialista e o seu empenho em transformar a sociedade mediaria e exprimiria o seu sentido de justiça». The Distribution of Wealth , trad. italiana, UTET, Torino, 1916, 25.

(10) As formas de apropriação s6 surgem como problemáticas por contraposição à ordem feudal. No modo de produção feudal as relações de propriedade eram comandadas pelos laços sanguíneos que através da sucessão auto-reproduziam o sistema sem necessidade de qualquer outra justificação. A evocação divina, possibilitada pelo papel domi-

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Hobbes e Locke fornecem a resposta necessária: a proprie­dade funda-se no trabalho. Para Snúth, como Ricardo,

valor tem igualmente de basear-se no trabalho (11). A justificação da propriedade no plano moral identifica-se com a sua dimensão econ6mica. A economia adquire importância na medida em que lhe cumpre agora a tarefa essencial de expor cientificamente a razão de ser do sistema social existente. Mas a teoria do valor dos clássicos ingleses transporta para o âmbito da ciência uma dualidade normativa. Por um lado a justificação ética da proprie­dade pelo trabalho impõe o corolário do liberalismo econ6-mico; mas por outro subverte aquela conclusão: a existên­cia de ganhos de capital, isto é, sem trabalho, corta a ligação entre trabalho e propriedade. A tensão que se gera no interior da teoria clássica é tanto mais forte quanto a pr6pria concepção de dever contida na filosofia do direito natural passa pela realidade existente. Com efeito na cor­rente jusnaturalista «as leis morais não derivam da ordem natural das COlsas. Antes identifica o ser com o dever ser» (12) (13).

nante da Igrej a. põe acima de toda a suspeita o direito de propriedade nobiliárquica e clerical. Uma vez destruída a estrutura social e politica do feudalismo aparece então o problema da legitimação (ética primeiro e económica depois) da propriedade.

(11) Cf. MYRDALL. Politicai Element ...• cit .• 70. (12) Idem. 28. (1 3) Por esta razão o universalismo a-historicista dos clássicos

ingleses não se identifica com o dos neoclássicos. Para os primeiros o carácter eterno dos conceitos económicos resulta da referência a uma determinada sociedade que «se tomou correspondente à natureza. (C. NAPOLBONl. Valore. trad. porto sob o título cO Valor na Ciência Ecenómicat. Editorial Presença/Martins Fontes. Lisboa. 1977. 103.) Quer dizer que as leis são o resultado da observação da sociedade capitalista que. como forma adulta ou [mal da evolução. se tomou natural porque já extirpada dos elementos primitivos anteriores.

Para os neoclássicos a universalidade e a negação da dimensão histórica resulta da consideração de que as categorias conceituais

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Temos assim que a tentativa mitruana de demons­tração da harmonia através da teoria econ6mica acaba por ser frustrada. A integraçã da cc nomia no quadro da fuosofia d direito natural pr duz a duas vertentes d liberalismo: a revolucionária, repre entada pelo sociali mo pré-marxista c o liberalismo con ervador adoptad pela Escola Clás ica Inglesa (14).

A contradição perpassa, aliá, por toda a obra de Smith. A pretensão de harmonia, simbolizada pela mão invisível, é formalmente contraditada pela demonstração das oposições de classe. As contundentes invectidas contra os proprietários fundiários - «que gostam de colher onde nunca semearam» (IS) - tem pouco a ver com uma visão harmoniosa ma muito com a teoria do valor real (16). O «rude estado» de que fala Sm.ith desempenha o papel de paradigma onde as relações conform.es ao direito natural podem ser observadas. Quando, porém, se vê na necessi­dade de confrontar o arquétipo com a sociedade que conhece verifica que não condizem. A recusa da aplicação da teoria do valor trabalho à sociedade capitalista não resolve a contradição que pode detectar-se na duplicidade de funções do valor. Mas urna tal recusa era por outro lado

dizem respeito ao próprio Homem, como entidade psicológica (e ani­mal, já que o cálculo prazer-dor é igualmente válido para uma cobaia de laboratório) e portanto sem necessidade de qualquer referencial his­tórico determinado. Cf. NAl'oLEONl, Valore, cit., e ainda Eruc ROLL, A History of Econol/l;c Thought, 4.' ed., Faber and Faber, L TD., London, 1973, trad. brasileira de Cid Silveira, Compa hia Editora Nacional, São Paulo, 1977, 365.

(14) Cf. MYRDALL, Politicai ... , cit., 71. (15) A. SMITH, Ati lnquiry luto The Nature Alld CalHes af The

Wealth afNations, T. Nelson and Sons, Edinburg, 1901, L. l, Cap. VI, 21-(16) Ricardo, embora menos violento ao nível da linguagem, não

deixou também de assinalar a oposição de interesses dos proprietários fundiários e da sociedade em geral. Ver infra.

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perigosa. O fundamento ético da organização social não p deria então ser encontrado. Quando Ricardo generaliza a teoria do valor a capitalismo tenta proteger esse flanco que estava desguarnecido. Mas ao fazê-lo desnuda por completo a contradiçã sempre presente: a existência do lucro contradiz a ba e do sistema erguido sobre o trabalho. Abre assim a porta ao postulado revolucionário da liber­dade exposto por Marx (17) .

A teorização das relações económicas está subordinada, no pensamento de Smith, à pré-visão - como diria Schum­peter - que de tem da sociedade no seu conjunto. Um dos ex;emplos mais marcantes deste facto é o seu conceito de troca. A troca é habitualmente considerada como um dos elementos essenciais das relações económicas (18). Mas para Smith, mais do que isso, ela é anterior à própria acção económica. Tem um fundamento pré-económico. A permuta dos bens não teve origem na necessidade física de produtos, é antes algo que está contido na própria natureza humana. Esta ideia que está expressa na «Riqueza das Nações», transitou da «Teoria dos Sentimentos Morais» onde Smith se debruçou sobre esta questão. Segundo ele é a mera existência de razão e de linguagem que implica a troca entre homens. Primeiro a troca de ideias; depois a troca de bens como extensão daquela (1 9). A tendência para trocar deriva da própria lei natural e é anterior à circulação de produtos. Como realidade meta-económica a troca está

(17) Cf. MYRDALL, Politicai .. . , cit., 78. (18) Sobre o assunto pode ver-se J. J. TEIXElRA. RmBIRO,

«o Objecto da Economia Política. , Boletim de Ciência Ecollómicas da Fac. de Direito de Coimbra, VoJ. XXIII, Coimbra, 1980.

(19) Cf. NAPOLBONI, Smith ... , cit., 50. No cap. II do livro I, embora declarando não ser o momento

azado para uma tal indagação, Smith sempre diz que a propensão para a troca ccomo parece ser mais provável, é a consequência necessária da razão c da linguagem» (p. 6) .

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já pressuposta quando a abordagem da economia é empreen­dida. O primeiro problema será então da regra da troca. Por outras palavras, o problema do valor.

2. O surgimento da teoria do valor

Os Fisiocratas não possuíam qualquer teoria do valor porque verdadeiramente não dispwiliam de uma teoria da troca. A circulação do «produit neo>, que encontramos em Quesnay, obedece apenas a Ulua condição de equilíbro global e não é especificado o valor individual das permutas. A troca processa-se entre classes definidas e diferenciadas social e economicamente. A actividade de cada uma delas está ligada (com a óbvia excepção da dos proprietários) a bens de diversa natureza - produtos agrícolas uns; produtos manufacturados outros. De resto o próprio acto originário da circulação do excedente - o pagamento da renda - não é sequer uma troca em sentido económico.

Com A. Smith não é mais possível olhar a floresta e esquecer as árvores. A análise da divisão do trabalho com que Smith abre a «Riqueza das Nações» (20) pulveriza o mercado e as suas relações. A troca individualmente considerada torna-se mais impol tante que a apreciação genérica do conjunto (21). Por outras palavras, a regra a que obedecem os grandes agregados resulta da acumulação das regras individuais.

Por outro lado a análil.e de Smith, tendo por base a divisão classista, ultrapassa a perspectiva fisiocrática. As classes passam a ser deftnidas em termos do modo como se participa na produção e já não pelo tipo de bens produzidos

(20) Vide os cap. I a V. (21) Relembr~se Turgot e o seu posicionamento, claramente de

transição, entre os Fisiocratas e A. Smith.

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ou, o que é o mesmo, pelo sector económico em que se integram os indivíduos. A redefmição das classes resulta da g neralização de um outro importante conceito fiSl(~ crático: o trabalho produtivo (22).

Ao detectar em outros ramos de actividade, para além da agricultura (23), a possibilidade de criação de um exce­dente, Smith passa da produção concreta à produção em geral. Com isso a matriz do acto produtivo desloca-se do objecto - no caso a terra - para o agente transformador -o trabalho. Nesta medida o conceito de trabalho abstrac­tiza-se porque se desliga de uma actividade concreta. O acto de trabalho é em si mesmo gerador de valor independentemente do objecto sobre que incide.

A emergência do excedente nos diferentes ramos de actividade põe agora pela primeira vez com acuidade o problema da sua medição. O procedimento fisiocrático de comparação entre quantidades de bens agrícolas é impossível de manter, pelo menos de uma forma directa (24). Um padrão de medida será desde então o elemento chave para a progressão de toda a teoria.

(22) Veja-se NAPOLEONl, Smith ... , cit., 54, onde acentua a identi­dade do conceito de produtividade, ou mais exactamente de trabalho produtivo, como aquele que é capaz de gerar um valor superior ao seu próprio custo. Trata-se, portanto, do conceito clássico de excedente.

(23) Não pretendo abordar aqui a questão do trabalho produtivo e improdutivo e o decorrente conceito de produção. Faço apenas notar que, embora generalizada, a noção fisiocrática continua a ter grande peso no âmbito da obra de Smith. Desde logo porque o seu alargamento permanece confmado ao domínio físico, i e, o trabalho só é produtivo quando se projecta em coisas, em bens corpóreos Além disso e em contradição com a sua própria teoria, Smith atribuirá ao trabalho agrí­cola lima produtividade acrescida. Cf. Wealth of Nations, cit., 61. Ver ;1I[,a.

(24) Indirectamente o procedimento é similar, transformando quantidades fisicamente homogéneas em quantidades homogeneizadas

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3. O padrão de valor

Se é verdade que o trabalho adquire uma dimensão abstracta porque considerado em i mesmo, não é meno certo que por outro lado se subjectiviza. Deste binómio abstracçãojsubjectivização o trabalho surge como medi­dor do val r. Enquanto trabalho abstracto está presente. em toda e qualquer actividade e constitui, por isso, um ponto de unidade da produção; enquanto trabalho desenvolvido por homens implica um dispêndio de energia e esforço que todos podem avaliar por si próprios. É universal porque subjectivamente sentido por todos (25): «What every thing really costs to the man who wants to acquire it, is the toil and trouble of acquiring ir» (26).

pelo valor. Mas, para além disto, o papel dos produtos agrícolas nunca deixou de ser fundamental. Assim na teoria ricardiana, identifi­cados com os bens salário; assim na teoria marxista, embora de um modo bem mais matizado.

Nos mais recentes estudos de ponta da economia teórica manifes­ta-se aliás a mesma ideia básica. A importância dos bens salário para a teorização ricardiana pode hoje ser reinterpretada a uma nova luz. A divisão sraffiana entre produtos básicos e não básicos é, no fundo, urna fórmula geral do caso particular de Ricardo. Na medida em que os bens agócolas participam, através da alimentação, em todos os sectores produtivos desempenham um papel determinante em todo o sistema. Só que, hoje em dia, essa caracteóstica não é exclusiva da alimentação - basta pensar-se no caso da energia para ver que assim é. (Sobre a importância da distinção entre produtos básicos e não básicos ver SRAFFA, Productioll of Cotnlllodities By Means of COllllllodities, cit., 8-9 e especialmente Apêndice B).

(25) Sobre a essencialidade das perspectivas objectivo/subjectivo na construção de um sistema teórico e das conclusões que ele permite obter, ver a resposta de Hilferding à cótica de Bohm-Bawerk ao sistema teorético de Marx. Ambas as obras se encontram publicadas no mesmo volume sob o titulo, cK. Marx and the dose of is sistenu, e prefaciadas por P. Sweesy (AUGUSTUS M. Km.BY, Publishers, Clifton, 1975). Além do prefácio de Sweesy, que destaca o aspecto em questão, ver especialmente p. 184 ss ..

(26) Wealth of Nations ... , cit. , cap. V, 12.

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o duplo carácter, abstracto e subjectivo, do trabalho torna-o elegível em referência comum e universal c logo utilizável com padrão.

Numa difcrcnte per pectiva o valor tcm a sua origem na subjectividade (27). Os bcn só adquirem valor porque a sua produção impõe uma sensação fisicamcnte penosa a quem trabalha. Nas palavras de Smith, o trabalho de um homem é sempre uma perda «of his ease, his liberty, and his hapincss~ (28) (29). Mas a penosidade do trabalho para além de razão valorativa, de explicação da própria origem do valor, é simultaneamente configuradora da grand~za d valor (30) . Os bens valem porque custam (31) a produzir

(27) Padrão de medida e origem do valor são dois problemas distintos embora embricados um no outro. Como muito justamente faz notar M. Dobb, nem sempre estas duas questões são devidamente separadas. (Cf. M. DOBB, Theories o[ Value and Distribu/iol/ Sil/u A. Smith, trad. porto de Álvaro de Figueiredo, sob o título, Teorias do Valor e Distribuição Desde A. Smith, Ed. Presença, Lisboa, 1977, 66) .

Desde já pretendo enfatizar esta distinção visto que, como veremos, Smith permanece fiel ao padrão de valor mas altera a sua ongem.

(28) Wealth o[ Na/iol/s .. . , cit., L. I, cap. V, 14. (29) Marx veio a defender uma posição oposta a esta. Para

ele o trabalho não representa uma pel/a mas antes o modo por excelência de realização humana. Só o trabalho alienado pode ser figurado como penoso. Daí que Marx tenha enveredado pela concepção objectiva de trabalho.

Também Ricardo recusou a posição de Smith. Não se encontra na teoria ricardiana nenhum desenvolvimento da concepção subjectivista de Smith. Seria bastante mais tarde, especialmente por efeito da obra de Jevons, que a ideia de penosidade do trabalho voltou a ser um dos elementos fundamentais da teoria económica. Ver W. S. JEVONS, The Theory o[ Politicai Ecollollly, trad. francesa sob o título La Teorie de L' Econolllie Politique, Giard & Briere, Paris, 1909. Confrontar espe­cialmente o cap. V, onde expõe a sua cteoria do trabalho», e que abre com uma significativa citação de A. mith (p. 246).

(30) Uma outra distinção essencial, a juntar à assinalada na nota 27, diz respeito ao padrão de valor e à grandeza do valor. Uma coisa é a referência de medida, outra a grandeza concreta do que é medido. Ver iI/ira.

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acumulação se podem desenvolver quer no mesmo sentido quer em sentido inverso (93) .

A identidade ricardiana entre as duas acumulações e respectivas taxas condicionou o desenvolvimentos poste­riores que, ironicamente, negaram a análise de Ricardo (94) .

Mas deve ter-se cm atenção uma importante referência institucional subjacente, que mais tarde seria totalmente invertida, e que é essencial para a compreensão do ponto três.

O empresário ricardiano não é um puro «chefe de orquestra» - como lhe chamou Marx (95) -, um mero coordenador de factores produtivos. Ao invés a função coordenadora deriva da propriedade empresarial, i. é., do capital que faz funcionar. Para além do capital próprio, eJGÍste uma outra parcela dos fundos das empresas que são obtidos no mercado do dinheiro, conforme as necessidades do tráfego e do processo produtivo (96). A coexistência destes dois tipos de capital (próprio e de empréstimo)

(93) MARX, Capital, L. III, T. II, p. 146 55. (94) Logo após J. B. Say, a linha do pensamento económico que

se tomará dominante imputa a taxa de juro directamente ao capital. Enquanto preço ou índice da escassez de capital, o juro é entendido como resultantt do mero jogo da oferta e procura de capital livre. A confusão entre capital técnico e capital fmanceiro reduz o rendimento do capitalista­-empresário ao juro. Com a defmitiva emancipação teórica da figura do empresário surge, pela primeira vez, o problema do lucro como rendimento autónomo A identificação ricardiana dá assim origem a uma analítica que nada tem a ver com a teoria de Ricardo. (Sobre o facto de ter sido Ricardo o primeiro a proceder à identificação juro/lucro, vrr SCHUMPETBR, Teoria do Desenvolvimento Económico , p. 183).

(95) MARx, Capital, L. III, p. 5I. (96) «There is perhaps no manufacturer, however rich, who

limits his business to the extent that is own funds alone will allow: he has a1ways some portion of this floating capital, increasing or di mi­nishing according to the activity of tht demand for his commoditiest (Principies, p. 89).

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é fillldamental para a explicação ricardiana da wuformidade das taxas de lucro e a realizaçã de um sistema de «preços naturais».

A migraçã do capital, que garante ajustamento dos mercados aos «caprichos do gost ou às alterações na população» (97), faz-se atravé do mercado monetário e sem afectar o capital própri . As flutuações da procura incrementam ou din1.Ínuem a produção. Os emplesário satisfazem a exigências do mercado aumentando ou diminuindo a parcela dos fundos de empréstimo conforme o nível de produção requerido. «Quando aumenta a procura de seda e diminui a dos tecidos de algodão, o fabricante des­tes lião tratlsJere o seu capital para a illdtÍstl'ia da seda; prefere despedir alguns dos seus operários e deixar de pedir empréstimos aos bancos ou aos possuidores de moeda» (98).

A separação do capital em dois tipos permite a reali­zação da unformidade das taxas de lucro sem que seja preciso um desinvestimento real.

Mas considerar como situação normal a existência desta duas formas de capital comporta um corolário teó­rico que está contido no ponto três acima referido. É que, neste caso, a capacidade de endividamento é praticamente ilinutada. Como se supõe que a parte dos capitais próprios é sempre muito superior aos de empréstimo, a necessidade de fundos, que conjillltura]mente pode aumentar, é sempre satisfeita, dada a garantia de reembolso representada pelos capitais próprios.

Quando, a propósito do papel dos bancos, Ricardo admite que a uma taxa de juro inferior à de lucro todos os montantes de dinheiro disponíveis pelas instituições

(9') Ibitkm. (98) IbiJem. O sublinhado é meu.

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de crédito são emprestados (99), é porquc a procura de fundos não apenas aumenta mas é uma procura solvável. São precisamente os capitai pr6prios que garantem o reembolso dos créditos. Dada a relação implicitamente suposta entre os dois tipos de capital, o grau de endivi­damento das empresas não tem quaisquer condicionantes. Nestes termos os mcrcados fmancciros funcionam de um modo perfeito, comportando-se como qualquer outro mercado.

Mais adiante tercmos oportunidade de voltar a esta questão c verificar que os pressupostos ricardianos não são realizáveis. O funcionamento e pecwco do mercado finan­ceiro e o modo como é calculada a taxa de lucro provoca alterações de monta quer ao rúvel empírico quer te6rico (100).

Detenhamo-nos finalmente nas relações entre juro e lucro quanto ao aspecto qualitativo.

A identificação quantitativa entre taxa de juro e taxa de lucro resulta, como vimos, da inércia da esfera monetá­ria - que transforma automaticamente a acumulação monetária em real- e do fWlcionamento do mercado fmanceiro . Assim, juro e lucro podcm considerar-se rendimentos do capital. Quando a teoria do valer-tra­balho foi abandonada pelos autores posteriores a Ricardo, o rendimento do capital transformou-se no pagatnwto pela utilização de um factor, afastado que foi o espectro da «exploração». Por outro lado, a acumulação monetária, como forma mais pura da existência do capital cm abstracto, torna-se no ponto te6rico de referência. A típica remune­ração do capital é o juro. Pela primeira vez o problema do lucro como rendimento aut6nomo se irá pôr.

(99) Cf. Pri"ciples, p. 364. (100) Ver infrn, parte final , algumas das implicações.

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t3R

A Identificação quantitativa que Ricardo detectou, no long praz, entre as taxas de jur e lucro, vai metam rfo ear- e em identidade qualitativa. que pre­tend agora mo trar é que, mesmo admitind a identidade quantitativa, daí na tem de rc ultar a identidade quali­tati a. A natureza d lucr e d jur nã é a 111e~ma .

Recorrerei, bretud, a um recent modelo «neo--ricardianoll n qual, mantendo pre upostos essenCIaIS de Ricard , e nclui p la diferença radieal entre d is c nccit (1 01).

uponha- e um i tema econónlÍc em progress téc­nico e uma p pulaçã cre centc. O ben capitais aumentam proporcionalmente à população, pel que se verificam rendimento c n tante à escala. Esta ituação de equilíbrio ó pode manter- e a comunidade no seu conjunto nã

eon umir a totalidade d pr duto gerad pelo sistema. Para que acréscimo à capacidade produtiva se efectuem têm de utilizar- e recur o na produção de bens capitais. O consumo global erá, por isso, menor do que seria com uma populaçã constante.

Sejam doi ben, A e B, requerendo iguais quantidades do trabalho mas em que o primeir é produzido só com trabalho directo e o egundo com trabaUlo directo e indirecto . Na condições supostas, o bem B torna-se relativamente mais calO. Com efeito, para se manter uma produção constante per capita é necessário utilizar trabalho na produção de bens capitais, o que reduz a quantidade de bens de consumo produzíveis (102). Em termos de ben de consumo actuais, o crescimento da

(101) A exposição subsequente acompanha de perto a obra de L. PA INETTl , S/rue/llrlll Chllllge alld Ecollomie Grotv/h-A tlteoreticlIl essay 0 11 the JYlllllllic$ of the rvelllth of /1l1tioll5 CUP, Cambridge, 1983.

(102) Cf. PA INETIl , cit., p. 129.

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população faz diminuir a produtividade do trabalho social, vist exigir um desvio para acrescentar a capacidade produtiva. A produtividade do trabalh em termos de B é assim menor que em termos de A (que não exige aumento da capacidade produtiva) (l03). O preço de B terá de ser maior que preço de A na proporção das diferenças de produtividade do trabalho. O sistema rea­lizará a condição de um equilíbrio dinâmico se existir uma taxa de lucr sobre os ben capitais igual à taxa de cresci­mento da população (l04). Neste sentido pode aftrmar-se - como Ricardo - que existe uma «taxa natural» de lucro que mantem o equilíbrio dinâmico, e que é comandada pela taxa de crescimento da população (sendo dado

coeficlente capttal/produto) (105). Por outro lado, sendo dada a taxa de crescimento da população, são as condições técnicas que xigem um certo montante de investimento.

Seguindo as coordenadas essenciais do modelo ricar­diano, a poupança global identifica-se com o nível de investiment de equilíbrio. Os lucros realizados pelas

(103) Idelll . (104) Tomemos o seguinte exemplo. Se a população crescer 2%

ao ano e o coeficiente capital produto for 4, teremos, para uma produção constante per capita, 8/4-2 = 0. e a população crescer 50% a acumulação tem de aumentar ua mesma medida: 16/4-4=0.

(105) As condições do modelo podem ser alteradas admitiJldo população constante e progresso técnico. Neste caso o produto per capita sobe continuamente, o mesmo sucedendo à procura global para que se mantenha a condição de equilibrio dinâm.ico. Se as taxas de crescimento da procura (e da produção) dos bens A e TI fossem iguais então o bem TI seria mais caro do que A. Com efeito a produtividade em termos de A é maior que a produtividade em termos de B. Os bens capitais usados na produção deste último devem incluir uma taxa de lucro igual à taxa de crescimento da procura (e produção) de B. Como durante o processo d.inâmico há alterações nas procuras dos vários bens, deverão formar-se tantas taxa «naturais. de lucro quanto o sectores produtivos (PA lNETTI, cit., p. 130).

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empresas ão exactamente suficientes para garantir esse investimento, elldo, portant auto-financiada (106).

Imagine- e ag ra um sist ma em que t da a produção re ulta exclusivamente de trabalh direct. A inexistência de investimento impossibilita qualquer poupança global. T do o prod ut é con umido em que seja possível diferir o consumo para além d próprio peri do. Embora invia­bilizada a poupança gl bal, daí nã dec rre que o mesmo uceda à poupança individuai . Mesm no interior d

círculo fechad em que e representa o istema produtiv , há lugar a troca inter-pessoais de poupança. Todos os que não utilizar 111 integralmente o seu rendimento do período podem colocá-l a di por dos que pretendem consumir para além do rendimento corrente. É clar que, no con­junto, as operaçõe de poupança positiva e negativa têm de anular- e para que o equilíbri da procura de bens se mantenha .

Serve este caso para demonstrar que a emergência de activos fmanceiros não está necessariamente ligada à acumu­lação de capital no âmbito de um sistema estacionário ou expansivo (l07) . Vamos agora introduzir estes activos finan­cerros no sistema de preços dinâmicos.

Vimos que a diversidade técnico-produtiva altera os preços relativos pela vatiação das produtividades resultante do crescimento populacional oule do progresso técnico. As taxas de acumulação das empresas são determmad?s pelas condições de equilíbrio do sistema. Deixemo-Ias de parte e fixemos a atenção nos activos financeiros que existem illdepeltdel1tcmel1.te delas.

(106) Recorde-se o pressuposto, comum a toda a teoria clássica, egundo o qual o lucro é integralmente investido e os salários total­

mente consumidos. (HI7) C( P A TNETTI , cit., p . 156.

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Como o total dos débitos/créditos tem de anular- e surge de imediato uma dificuldade. A unidade de conta escolhida, que será uma mercadoria do sistema funcionando c mo numerário, tem uma relação variável com todas as outras mcrcadorias (108). Com efeito as variações dos nívei de produtividade reflectem-se 110 sistema de pt eços relativos fazendo-os também variar. Se a igualdade débi­tos /créditos for calculada em termos de uma mercadoria particular, essa igualdade já não será válida para qualquer outra mercadoria. A dificuldade só podc ser ultrapassada se for cobrada uma taxa de juro que corrija a discrepância. A possibilidade de um pagamento recebido ser aplicado nOUlro bem, mantendo-se anulados os Ilafores pos;t; vos e negativos, implica não uma única taxa de juro mas um sis­tema de taxas. Haverá tanta taxa de jmo quantos os sectores produtivos, que produzem bens de preços vari­áveis .

Teremo , assim, por um lado, uma estrutura de taxas de lucro fixadas nos vários sectores e que auto-financiam o investimento de equilíbrio; por outro, uma estrutura de taXias de juro determinadas pelas relações entre pou­panças positivas e negativas, e pelo sistema de preços relativos.

Nos sistemas que têm servido de base ao nosso raciodnio verifica-se uma multipJicidade de taxas tanto de lucro como de juro. Foram defmidas como taxas naturais, em sentido ricardiano, na medida em que atisf."\Zem as condições de equilíbrio . No entanto, uma economia capita­lista é incompatível com tal diversidade. Os mecanismos

(108) Trata-se afmal do problema ricardiano da medida invariável tal como ele se lhe apresentou pela primeira vez aquando das sua investigações monetárias. Ver supra nota 47.

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in tituci nalS cm que ela e m ve anulam ~sa diferen­a (l09). V ~amo cm.

A ta. a de jur que equilibram p der de compra ã paralelas à taxa de lucr que ass guram nível de

inve timent. P rém, «pode exi tir uma taxa de juro em qualquer taxa de lucr , c pode existir uma taxa de

lucro na ausência de uma ta. a de jurO» (110). A distinçã é não ó teórica e c nceitual como qualitativa. As taxas de lucro dependem da taxa de cre cimento da população e/ou da taxa de cre cimento da procura (produção) per capita, logo d cre cimento da produtividade ectorial (incluindo rodas as fase m ntante que influenciam a produçã final, maxime a de bens capitais) (111). Ora só por mero acaso a média da taxas de lucro se identificará

(109) Os mec:lllismos institucionai revelam aqui a sua importân­cia. Repare-se que o modelo que vimo seguindo é perfeitamente compaóvel com uma ociedade socialista. Mas nesta as condicionantes Institucionais são totalmente diversas. Assim, a multiplicidade de taxas de lUClO que é impensável num sistema de organização capitalista é, pelo contrário, perfeitamente realizável numa sociedade socialista. (Cf. PA INETII, p. 151)Esta possibilidade permite, aliás, lima organização produtiva mais racional porque dispensa a distorção de preços em relação ao sistema maturalt, que é implícita nas economias de lucro nivelado.

(110) PASlNETTI, cit., p. 174. (III) Pasinetti designa e te conjunto por sector vertical integrado

ou ector hiper-integrado e no qual estão contidos todos os passos produtivos antecedentes do produto final. O procedimento corresponde basicamente a uma análise do tipo input-output de W. Leontief. Mas enquanto neste último os coeficientes de produção e os outputs são referidos a indústrias- dando assim um quadro de relações inter­-indústriais -, a análise vertical integrada retém -sectores produtivost. Estes podem ser achados a partir da matriz de Leontief e representam inputs de trabalho e o respectivo stock de bens de produção usados. Pode deste modo construir-se um quadro derivado da matriz de relações inter-industriais com coeficientes integrados de trabalho e uni­dades de capacidade produtiva (Ver PA INETTI , cit., p. 109 a 114).

Veja-se ainda $l/pra nota 56, onde se refere esta questão ligada ao problema da determinação do valor dos meios de produção.

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com a média das taxas de jur (112). P rém, como a cc II mia capitali ta se funda no princípio d lucro e no capital c mo abstracçã , há uma tendência inerente para a igualização das taxas de lucr . A circulação do capital do ectores meu s lucrativos para os mais lucrativos realiza esse bjectivo ao mesmo tempo que inviabiliza a derivaçã directa dos preços das quantidades de traba­lho (113). Como a peregrinação do capital se faz através do mercad monetário e financeiro a perequação das taxas de lucro imbrica-se na das taxas de juro. No mercado do dinheiro c nRuem as operações das empresas que fazem circular o capital com as operações dos particulares que tr _ cam s at rros. A partir daqui, embora a derivação teórica das dua taxas tenha sido feita pOl caminhos completamente diferentes , nã é mais po sível destrinçar uma da outra. No mesmo cadinho onde todos .e fundrm acaba por se formar uma taxa uniforme em que as transacções cruzadas dos particulares c das empresas se fun­dem por completo . . Por esta razão a taxa de juro tende, erradamente, a ser identificada qualitativamente com a taxa de lucro (114) .

Para terminar uma última nota.

Temos suposto, na esteira de Ricardo, que as taxas de lucro «naturais» (ou a sua média) são as exigidas pelas condições de equilíbrio c simultaneamente representam

(112) cThe natural rates of profit will in general be differenc from the natural own-rates of interestlt (PASINETTI, cit., p. 174) .

(113) « ... this analysis amounts to a demonstration that a theory of value in terms of pure labour can never reflect the price structure that emerges from the operation of the market in a capitalist economy, simply because the market is a institucional mechanism that makes proportionaJiry to physical quantities of labour impossible to realise. (PASINETTI, cit., p. 153).

(114) Cf. PASINETTI, cit., p . 175.

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