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Versão: 1.01 - 2015

A versão mais recente deste Guia pode ser obtida gratuitamente em www.andremassaro.com.br/GEFAT

1Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Introdução

Parte 1 - O que é educação financeira e por que se importar com isso

O fenômeno da “financeirização”

A ligação entre dinheiro e stress

Finanças pessoais e seu impacto nas empresas

Educação financeira: O que é e o que não é

O papel das empresas na educação financeira

Parte 2 - Benefícios para o empregador e para os funcionários

Um metabenefício

Benefícios para o empregador

ÍNDICE

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06

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Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015 2

Índice

Informações legais: É permitida a cópia e a distribuição não comercial desta obra É proibida a exploração comercial, edição, modificação e reprodução parcial desta obra por quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito do autor. Todos os direitos reservados - André L. Massaro - 2013 – São Paulo – Brasil

Benefícios para o funcionário

Qual o ROI da educação financeira no ambiente de trabalho?

Parte 3 - Estruturando e implementando um programa de educação financeira

Qual o objetivo do programa?

Qual é o público

O planejamento do programa

O desenvolvimento do programa

Testando o programa

Aplicando o programa

Avaliação e feedback

Educação continuada

O perfil ideal do educador financeiro

Sobre o Autor

Apoio

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28

3Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Este Guia foi criado para orientar empresários, executivos, profissionais de recursos humanos e assistentes sociais sobre a im-portância da educação financeira no ambiente de trabalho, e tam-bém sobre como implementar ações e programas com o objetivo de capacitar funcionários e colaboradores a melhor gerir aquela que é a maior contrapartida que recebem por seu trabalho: o dinheiro.

O dinheiro está presente na realidade de qualquer cidadão que viva em uma sociedade moderna e organizada. Mesmo assim, poucos assuntos são tão causadores de angústia e conflitos quanto o dinheiro.

A inabilidade em compreender o funcionamento básico do

dinheiro, da economia e dos instrumentos financeiros leva as pes-soas a tomarem decisões que, com frequência, comprometem ne-gativamente sua qualidade de vida e de sua família.

Porém, mais e mais evidências surgem de que os efeitos negativos dessas decisões financeiras têm uma propagação mais ampla, atingindo empresas e a sociedade como um todo. Por isso, a educação financeira, que é a capacidade de uma pessoa entender o que é o dinheiro e como geri-lo, tornou-se um tema mais atual que nunca.

Muito se discute sobre a responsabilidade da educação financeira, se ela é do próprio indivíduo, das escolas, do Estado,

INTRODUÇÃO

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015 4

Introdução

das instituições financeiras, das empresas ou de todos simultanea-mente. Enquanto se procura pelo responsável, algumas empresas já se adiantaram e estão investindo em programas de educação fi-nanceira, pois estão observando na prática e também em dados de pesquisas (apresentados neste Guia), que as decisões financeiras de seus empregados e colaboradores estão impactando negativa-mente suas atividades e seus resultados.

5Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

O fenômeno da “financeirização”

Houve uma época no Brasil, há não muito tempo, em que era realmente difícil obter empréstimos e financiamentos. Era muito mais vantajoso, para as instituições financeiras, emprestar dinheiro para o governo financiar o déficit público do que para os consumidores e empreendedores. Cartão de crédito era algo para poucos, um símbolo de status. A forma de financiamento mais co-mum era o cheque pré-datado, um tipo de operação financeira que beira a total informalidade. Não havia a abundância de instrumen-tos de crédito e financiamento que temos hoje.

O mesmo ocorria do lado dos investimentos. Na mente da maioria das pessoas, “investir dinheiro” era sinônimo de cader-neta de poupança ou imóveis, e aposentadoria era obrigação do governo - ponto final.

Porém, a realidade mudou. Com alguns anos de atraso, co-meçou a ocorrer no Brasil, notadamente a partir do início do sécu-lo atual, um fenômeno que vem sendo chamado, mundialmente, de “financeirização”.

Conceitos financeiros relativamente complexos (ao menos para o público leigo) estão cada vez mais presentes nas transa-ções do dia a dia. Pessoas acabam se deparando, nos assuntos mais

PARTE 1O QUE É EDUCAÇÃO FINANCEIRA E POR QUE SE IMPORTAR COM ISSO

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Parte 1 - O que é educação financeira e por que se importar com isso

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

triviais, com a necessidade de tomar decisões que demandam algum domínio de conhecimentos financeiros, e que podem fa-cilmente ter consequências negativas se não forem adequada-mente ponderadas.

Tudo indica que o processo de financeirização do Brasil está ainda no começo. Se virmos o que é praticado nas econo-mias mais maduras e desenvolvidas, podemos concluir que a tendência é que as questões financeiras se tornem ainda mais complexas, tanto pelo lado dos tomadores de dinheiro (aqueles que se utilizam de operações de crédito) quanto pelo lado dos investidores (que buscam opções para aplicar seus recursos fi-nanceiros excedentes).

Com o aumento da complexidade das questões financei-ras, há também o aumento da angústia e do stress das pessoas. Decisões que, antigamente, eram fáceis (até por falta de opções), hoje são eventos de difícil resolução e de consequências, muitas vezes, imprevistas.

Em um cenário assim, a educação financeira se torna algo mais relevante e importante do que nunca. O correto en-tendimento do dinheiro e dos instrumentos financeiros se tor-nou uma ferramenta essencial para assegurar o desenvolvimen-to e a qualidade de vida de famílias e de indivíduos.

A ligação entre dinheiro e stress

A ligação entre problemas financeiros e stress é largamen-te documentada. A Associação americana de psicólogos (American Psychological Association) realiza, desde 2007, a pesquisa anual Stress in America, que procura mapear as fontes de stress e seus efeitos entre os cidadãos americanos.

Em sua primeira edição, de 2007, a pesquisa indicou que o dinheiro era a segunda maior fonte de stress dos americanos (a primeira fonte de stress era o trabalho em si). A partir de 2008, em todas as edições, o tópico “dinheiro” ocupou a primeira colocação entre as fontes de stress. Na última edição divulgada da pesquisa (referente ao ano de 2014), “dinheiro” está na primeira colocação, afetando 69% dos entrevistados.

O dinheiro é a maior causa de stress nos Estados Unidos.64% dos americanos afirmam sofrer de stress associado a questões financeiras

64%

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Parte 1 - O que é educação financeira e por que se importar com isso

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Infelizmente, não há, ainda, uma pesquisa similar feita no Brasil, mas é razoável imaginar que os números apurados nos EUA sejam consistentes com outros países, inclusive o Brasil.

A educação financeira dá às pessoas o poder de gerenciar seus recursos de forma mais eficiente e tomar melhores decisões. Investir em educação financeira no ambiente de trabalho é atacar diretamente a maior fonte de stress dos trabalhadores.

Finanças pessoais e seu impacto nas empresas

Em maio de 2014, foi divulgada, pela SHRM (Society for Human Resource Management), uma pesquisa chamada “Financial Wellness in the Workplace”, indicando que 70% dos profissionais de RH acreditam que os desafios financeiros dos em-pregados têm impacto na performance da empresa.

Pesquisas informais, feitas por profissionais de educação finan-ceira no Brasil, indicam que essa percepção também é válida por aqui.

Os principais impactos dos problemas financeiros de fun-cionários nas empresas são:

Queda de produtividade (decorrente de presen-teísmo/absenteísmo)

Funcionários que enfrentam desafios financeiros utilizam tempo de trabalho para cuidar de questões financeiras pessoais.

A consultoria PricewaterhouseCoopers realiza e publica, anualmente, a pesquisa Employee Financial Wellness Survey, para avaliar a realidade financeira de funcionários de empresas nos EUA. A última edição da pesquisa, publicada em abril de 2015, reporta que 20% dos funcionários admitem que assuntos financei-ros se tornam uma distração durante o trabalho, e 37% dos funcio-nários admitem usar três ou mais horas de trabalho, por semana, para cuidar de questões financeiras pessoais.

Turnover elevadoTem se tornado comum, em empresas brasileiras, funcio-

nários pedirem demissão (sendo que alguns até acabam forçando uma demissão sem justa causa por parte do empregador) para le-vantar verbas rescisórias e utilizá-las no pagamento de dívidas.

Diversas pesquisas indicam que, no Brasil, o medo de per-

Segundo a SHRM (Society for Human Resource Management), 70% dos profissionais de RH nos Estados Unidos acreditam que os problemas fi-nanceiros dos empregados afetam a performance dos empregadores

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Parte 1 - O que é educação financeira e por que se importar com isso

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

der o emprego vem diminuindo. Essa percepção de maior facilida-de para se recolocar no mercado de trabalho acaba incentivando esse tipo de atitude.

Problemas decorrentes de stressO stress leva a doenças, que levam a uma utilização maior

dos benefícios de saúde, aumentando a sinistralidade e, consequen-temente, aumentando os custos para o empregador.

O stress decorrente de problemas financeiros leva também a conflitos, deterioração do clima interno da empresa, desempenho profissional insatisfatório, erros e acidentes de trabalho.

Perda da eficácia dos benefíciosA utilização adequada de certos benefícios demanda, por par-

te dos funcionários, o conhecimento de alguns conceitos de finanças.Muitas vezes, os funcionários não entendem corretamen-

te o objetivo e as vantagens de determinados benefícios. Um caso clássico são os planos de previdência complementar, onde há con-tribuição proporcional por parte do empregador. Ao não tirar má-ximo proveito desse tipo de benefício, o funcionário está, na prática, “jogando dinheiro fora”.

Ao não entender corretamente os benefícios, eles acabam per-dendo a eficácia, pois os funcionários não percebem as vantagens que estão sendo oferecidas a eles. Os ganhos de engajamento e lealdade es-perados com os benefícios podem ser prejudicados ou mesmo perdidos.

Pressões financeiras sobre as áreas de pessoal (como adiantamentos e “vales”, entre outros)

Alguns funcionários precisam, recorrentemente, de socorro fi-nanceiro por parte de seus empregadores, na forma de adiantamentos de salários e de outras verbas trabalhistas. A empresa acaba virando um “banco”, exercendo atividade de crédito, porém sem ser remu-nerada por isso.

A popularização das linhas de crédito pessoal, com desconto di-reto na folha de pagamentos (o “crédito consignado”), está ajudando a aliviar um pouco a pressão sobre o fluxo de caixa das empresas, mas, por outro lado, está criando um grande contingente de trabalhadores que está se tornando dependente desse tipo de instrumento, o que acarreta em custos financeiros para o funcionário, que diminuem seu poder de com-pra e, consequentemente, o valor (tanto real quanto percebido) do salário.

Risco aumentado de fraudes internasFuncionários sujeitos a pressões financeiras pessoais aca-

bam sendo mais propensos a praticar atos fraudulentos e lesivos ao empregador.

37% dos funcionários despendem, pelo menos, três horas de trabalho por semana para cuidar de questões financeiras pessoais.Employee Financial Wellness Survey 2015 (PricewaterhouseCoopers)

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Parte 1 - O que é educação financeira e por que se importar com isso

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Educação financeira: O que é e o que não é

Uma coisa notável sobre finanças pessoais é que a grande maioria dos problemas nessa área não é composta de problemas propriamente “financeiros”. São problemas de comportamento, de crenças, de distorções lógicas e cognitivas, de valores pessoais e até problemas de natureza moral.

Uma boa gestão financeira pessoal está associada à disci-plina e à consistência. Para que a pessoa tenha uma vida financeira saudável, é importante, antes de qualquer coisa, que ela desenvol-va BONS HÁBITOS financeiros.

Educação financeira não é informaçãoÉ um erro comum confundir educação financeira com in-

formação financeira. Distribuir aos funcionários uma cartilha de finanças pessoais ou criar um site com informações não é a mesma coisa que oferecer educação financeira. Informação é algo que se esquece, enquanto a boa educação forma hábitos que perduram.

A informação financeira não costuma ser algo visto como relevante pelo funcionário, a não ser que ele seja devidamente sen-sibilizado sobre a importância do assunto. O mundo hoje não sofre de falta de informação financeira, e sim de excesso.

No momento em que este Guia está sendo atualizado, uma pesquisa sobre “finanças pessoais” no Google retorna,

As empresas também sofrem com os problemas financeiros dos funcionários

• Queda de produtividade (decorrente de presenteísmo/absenteísmo)

• Turnover elevado

• Problemas decorrentes de stress

• Perda da eficácia dos benefícios

• Pressões financeiras sobre as áreas de pessoal (adiantamentos)

• Risco aumentado de fraudes internas

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Parte 1 - O que é educação financeira e por que se importar com isso

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

aproximadamente, 3,3 milhões de resultados. Uma pesquisa pelo mesmo termo em Inglês (“personal finance”) retorna mais de 230 milhões de resultados.

A quantidade de sites, blogs, livros, cartilhas, apostilas, cursos e seminários de finanças pessoais e educação financeira que existe é algo que beira o incalculável. A maioria das instituições financeiras tem suas próprias iniciativas de educação financeira, com sites dedicados, material didático e todas as informações que alguém possa precisar.

Mesmo com toda essa gigantesca massa de informação, a angústia e o stress das pessoas com o assunto não diminui. Investir meramente em informação financeira é algo que serve apenas para aumentar o “ruído” e a redundância, dando uma falsa sensação de que se está “fazendo algo”, quando, na verdade, não se está fazen-do nenhuma contribuição efetiva para uma mudança qualitativa.

Educação financeira não é aconselhamentoHá um velho provérbio que diz que “é melhor ensinar a

pescar do que simplesmente dar o peixe”.No contexto de finanças pessoais, a lição contida nesse pro-

vérbio é particularmente verdadeira. Pode-se dar o melhor acon-selhamento financeiro possível, mas a decisão é do indivíduo e as consequências dessa decisão (positivas ou negativas) dizem res-peito, majoritariamente, ao indivíduo e sua família. Se a decisão

for errada, a “dor” não será de quem deu o conselho, e sim de quem tomou a decisão.

Empregadores precisam ser particularmente cuidadosos com aconselhamento financeiro, pois eles podem se tornar corresponsá-veis por potenciais consequências negativas desse aconselhamento.

Fora do Brasil, em economias mais desenvolvidas, já há histórico de empresas que geraram passivos trabalhistas por cau-sa de aconselhamento financeiro fornecido aos funcionários (seja através de pessoal interno ou de profissionais contratados para este fim) que os induziram a decisões que resultaram em algum tipo de prejuízo ou perda.

Além da questão dos possíveis passivos trabalhistas, o aconselhamento financeiro sofre da mesma limitação da informa-ção financeira: não desperta o interesse no assunto e não forma bons hábitos.

O que é educação financeira e o que se espera delaEducação financeira é a capacidade de entender o que são

os recursos financeiros e de tomar decisões que envolvam o uso desses recursos, de forma racional, eficiente e sustentável.

O que se espera de uma pessoa financeiramente educada é que tenha conhecimentos rudimentares de finanças e que consiga aplicá-los em sua vida cotidiana. Entre esses conhecimentos rudi-mentares estão:

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Parte 1 - O que é educação financeira e por que se importar com isso

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

• Como o dinheiro é obtido e gasto (receitas e despesas)• Qual a relação do dinheiro com o tempo• O que é taxa de juros e como calculá-la• Qual o preço real daquilo que se adquire• Qual a diferença entre desejos e necessidades• O que são crédito, investimento e poupança• Quais os instrumentos financeiros mais populares• Como controlar e planejar o uso do dinheiro (controles e

orçamentos)

Conforme já mostrado neste texto, a relação entre dinhei-ro e stress é real e bem documentada, então espera-se que pesso-as bem educadas financeiramente também sejam mais saudáveis, mais felizes, mais produtivas e que consigam proporcionar, a si mesmas e às suas famílias, uma melhor qualidade de vida.

O papel das empresas na educação financeira

A educação financeira e a administração das finanças pes-soais dos funcionários não deveriam ser preocupação da empresa. A obrigação da empresa com relação às finanças dos funcionários é, ao menos em princípio, pagar aquilo que foi combinado (e em dia).

Porém, na prática, as coisas funcionam de forma um pou-co diferente. Apenas “cumprir as obrigações” não está sendo su-ficiente, e a prova disso são as mais que documentadas perdas de produtividade que a empresa sofre por conta da gestão financeira deficiente dos funcionários.

Educação financeira não é um problema da empresa. Mas como a empresa é quem sofre o impacto da falta de educação financei-ra, aquilo que, em tese, não deveria ser um problema dela, passa a ser.

A educação financeira está fortemente associada às finan-ças pessoais. E como o próprio nome sugere, “finanças pessoais” diz respeito ao indivíduo ou, no máximo, seu círculo de convívio mais próximo (como a família). Em um mundo perfeito, a educa-ção financeira deveria ser responsabilidade do indivíduo, mas a prática mostra que são poucas as pessoas que, espontaneamente, investem em sua própria capacitação financeira. Muitas pessoas apenas se preocupam com o assunto quando a situação já é grave ou mesmo fora de controle.

Educação financeira não é apenas informação

Educação financeira não é aconselhamento

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Parte 1 - O que é educação financeira e por que se importar com isso

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Hoje em dia, vemos inúmeras iniciativas de educação financeira promovidas pelo governo, por escolas e mesmo pe-las próprias instituições financeiras, preocupadas com a uti-lização inadequada de seus produtos e serviços por parte de clientes que não estão preparados e informados para tomar decisões financeiras sensatas.

Mas, na prática, a empresa tem se revelado uma instância mais eficiente para aplicação da educação financeira, pois ela tem acesso ao público adulto (que é, efetivamente, quem toma as de-cisões financeiras) e uma grande capacidade de influência sobre essas pessoas, podendo inclusive dispor de certo poder de coação, promovendo programas de treinamento e capacitação de partici-pação compulsória para seus funcionários e colaboradores.

Ao investir em educação financeira, as empresas não ape-nas atacam os efeitos danosos à sua produtividade, mas cumprem um importante papel social, capacitando as pessoas a tomar me-lhores decisões, decisões essas que acabam tendo impactos positi-vos na sociedade como um todo.

13Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

PARTE 2BENEFÍCIOS PARA O EMPREGADOR E PARA OS FUNCIONÁRIOS

Um metabenefício

A educação financeira é mais que um simples benefí-cio. Ela pode ser considerada um “metabenefício”, pois tem a capacidade de potencializar e transformar as demais contra-partidas e benefícios que a empresa proporciona.

O dinheiro, que é indiscutivelmente a maior contrapar-tida que a empresa oferece pelo trabalho, é diretamente po-tencializado pela educação financeira. Funcionários educados financeiramente conseguem utilizar o dinheiro de forma mais

eficiente, gerando assim maior valor para si mesmos e para suas famílias. Quem é mais bem capacitado financeiramente consegue “fazer mais” com a mesma quantia de dinheiro.

As demais contrapartidas e benefícios também são potencializados. Ao entender melhor o funcionamento dos benefícios, o funcionário passa a dar maior valor a eles. Os benefícios e iniciativas associados à qualidade de vida são particularmente impactados pela educação financeira, já que ela ataca o stress em sua causa principal, que são os problemas financeiros.

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Parte 2 - Benefícios para o empregador e para os funcionários

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Benefícios para o empregador

Dentre os principais benefícios da educação financeira para o empregador, podemos destacar:

Aumento geral de produtividadeFuncionários com a vida financeira “em ordem” despendem

menos tempo de trabalho cuidando de questões pessoais. A empresa obtém mais valor pelas horas pagas.

Redução do turnoverFuncionários com problemas financeiros se sentem pres-

sionados a deixar o emprego para levantar verbas trabalhistas ou a procurar outro emprego com salário maior. A educação financeira no ambiente de trabalho ajuda a aliviar ou mesmo eliminar essa pressão.

Redução do absenteísmo/presenteísmoAo reduzir-se o stress, reduzem-se também as ausências

por motivos de saúde ou particulares. O stress reduzido também aumenta a concentração, o foco e o rendimento dos funcionários no ambiente de trabalho.

Redução dos custos associados ao stressAlém dos problemas de absenteísmo e presenteísmo, o

stress gera outros custos de difícil mensuração, como aqueles de-correntes de um ambiente de trabalho hostil e de conflitos inter-nos. A educação financeira reduz o stress e, consequentemente, ajuda a reduzir esses custos.

Aumento do engajamentoAo investir em educação financeira, o empregador está en-

viando ao funcionário um importante sinal de que “se importa” com sua situação.

Isso gera aumento do engajamento e da identificação do funcionário com seu empregador.

Redução de problemas e custos com saúdeO stress é um dos grandes causadores de problemas de

saúde. Problemas de saúde geram ausências no trabalho, queda na produtividade e aumento da sinistralidade dos planos de saúde, impactando diretamente as finanças da empresa.

Ao atacar o stress, a educação financeira colabora para redu-zir os problemas de saúde e os demais problemas a eles associados.

Alívio da pressão financeira sobre o RH (folha, adiantamentos)

A prática de conceder adiantamentos de salário e de benefícios (os famosos “vales”) gera custos e desorganização financeira na empresa.

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Parte 2 - Benefícios para o empregador e para os funcionários

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Em uma empresa em que os funcionários são financeiramente educados e capacitados, o RH pode focar seus recursos e seu tempo na-quilo que é realmente relevante (a gestão de pessoas), e não em operar como “banco” para socorrer financeiramente funcionários em apuros.

Ajuda na identificação de pessoas cronicamente desorganizadas

A desorganização financeira raramente é um fenômeno isolado. Muitas vezes, é apenas a “ponta do iceberg” de uma de-sorganização pessoal mais ampla.

Um funcionário que recebe educação financeira e ainda as-sim permanece financeiramente desorganizado está emitindo si-nais importantes para o empregador. Uma pessoa nessa situação está indicando que precisa de algum tipo de ajuda mais especia-lizada, ou então que não está em condições de assumir papéis e posições que envolvam grandes responsabilidades.

Otimização/Potencialização da utilização e o en-tendimento dos benefícios

As empresas investem cada vez mais em benefícios, mas muitas vezes esses benefícios não são claramente compreendi-dos pelos funcionários. Muitas pesquisas, inclusive, mostram que, frequentemente, funcionários acabam não tirando proveito dos benefícios por desconhecimento de como eles funcionam.

A utilização e a escolha de alguns benefícios envolvem de-cisões financeiras relativamente complexas. Capacitar funcioná-rios a entender conceitos básicos de finanças ajuda-os a enxergar o real valor daquilo que estão recebendo de seus empregadores, trazendo melhoras até mesmo em lealdade e engajamento.

O não uso adequado desses benefícios é um custo para a empresa. É um “dinheiro jogado fora”, uma vez que o funcionário não reconhece seu real valor.

Redução do risco de fraudes internasFuncionários que têm suas finanças “em ordem” são me-

nos propensos a adotar medidas extremas como cometer atos de fraude contra seus empregadores.

Aumento da transparência nas decisões de remuneração

Funcionários e colaboradores mostram insatisfação e frus-tração com decisões sobre salários, promoções, bonificações e ou-tros benefícios, especialmente em tempos de crise (seja setorial ou da economia como um todo).

Funcionários mais bem capacitados financeiramente têm maior facilidade em entender as circunstâncias econômicas e de negócios por trás desse tipo de decisão, reduzindo a insatisfação e a desconfiança.

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Parte 2 - Benefícios para o empregador e para os funcionários

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Benefícios para o funcionário

Melhora do processo de tomada de decisão

A tomada de decisão deficiente leva a um gerenciamento de riscos pessoais igualmente de-ficiente, onde a pessoa acaba não obtendo as co-berturas necessárias (caso de seguros e planos de saúde), não consegue formar um patrimônio que lhe permita aposentar-se dignamente e não di-versifica seus investimentos de forma adequada.

Não saber tomar decisões adequadamen-te acaba induzindo funcionários a aderirem a es-quemas fraudulentos ou simplesmente danosos às suas circunstâncias e expectativas pessoais.

Obtenção de maior valor real de seu pacote de benefícios

Alguns funcionários, por não disporem de uma base mínima de conhecimentos finan-ceiros, acabam não utilizando seus benefícios da forma mais eficiente.

Um exemplo típico é facilmente obser-vado nos benefícios previdenciários. Em uma

empresa onde o empregador contribui com uma parcela correspondente à contribuição do fun-cionário em um fundo de pensão (o “match”), não aproveitar ao máximo esse benefício é, lite-ralmente, perder dinheiro.

No entanto, muitos funcionários dei-xam de contribuir para poderem dispor daque-le valor que seria aplicado no pagamento de dí-vidas, encargos financeiros ou em despesas do dia a dia.

Melhora do bem-estar geral e desem-penho profissional

Quando falamos de stress, é impor-tante não nos limitarmos aos problemas de saúde e à perda de produtividade por ele cau-sada. Reduzir o stress significa aumentar a qualidade de vida e o bem-estar geral do fun-cionário. Ocorre, efetivamente, um “aumento de felicidade”.

Funcionários menos estressados se rela-cionam melhor com suas famílias, com seus co-legas, com seus superiores e se sentem melhor no ambiente de trabalho.

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Parte 2 - Benefícios para o empregador e para os funcionários

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Quais os benefícios para o empregador?

• Aumento geral de produtividade

• Redução do turnover

• Redução do absenteísmo/presenteísmo

• Redução dos custos associados ao stress

• Aumento do engajamento

• Redução de problemas e custos com saúde

• Alívio da pressão financeira sobre o RH (folha, adiantamentos)

• Ajuda na identificação de pessoas cronicamente desorganizadas

• Otimização/Potencialização da utilização e o entendimento dos benefícios

• Redução do risco de fraudes internas

• Aumento da transparência nas decisões de remuneração

Quais os benefícios para o empregado?

• Melhora do processo de tomada de decisão

• Obtenção de maior va-lor real de seu pacote de benefícios

• Melhora do bem-estar geral e desempenho profissional

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Parte 2 - Benefícios para o empregador e para os funcionários

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Qual o ROI da educação financeira no ambiente de trabalho?

A mensuração do retorno sobre o investimento (ROI) de iniciativas de treinamento e capacitação é algo extremamente de-safiador. Existem muitas metodologias, muitas dúvidas e pouco consenso entre os especialistas.

Nos Estados Unidos, o ROI dos programas de educação fi-nanceira em ambientes de trabalho começou a ser estudado nos anos 90 do século XX pelo National Institute for Personal Finance Employee Education (da Virginia Tech), sob coordenação do Dr. E. Thomas Garman.

Posteriormente, o instituto se tornou uma fundação chama-da PFEEF (Personal Finance Employee Education Foundation), dedicada ao estudo da educação financeira em empresas e seus efeitos.

A PFEEF desenvolveu um modelo de ROI baseado nas pes-quisas do Dr. Garman, que já foi utilizado e validado em várias empresas dos EUA. Este modelo considera cinco variáveis: os re-sultados de uma avaliação proprietária feita com os funcionários, o número de funcionários, o salário médio, os custos com turnover (treinamento e reposição de funcionários) e os gastos com saúde/seguro médico.

Segundo a PFEEF, o ROI de um programa de educação financeira no ambiente de trabalho pode chegar a três dólares para cada dólar investido.

Mais informações podem ser obtidas no site da PFEEF em www.pfeef.org

3 para 1

É o retorno sobre o investimento (ROI) da educação financeira no ambiente de trabalho

19Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

PARTE 3ESTRUTURANDO E IMPLEMENTANDO UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Qual o objetivo do programa?

O primeiro passo para que uma empresa possa desenvolver um programa bem sucedido de educação financeira é ter claramen-te identificados os motivos que a levaram a considerar a adoção do programa, para que os objetivos possam ser corretamente definidos.

Normalmente, os motivos que levam uma empresa a ado-tar um programa de educação financeira são:

• Perda de produtividade• Promoção dos benefícios oferecidos (para aumento do engajamento)• Fortalecimento da responsabilidade social corporativa e da

qualidade de vida dos funcionários

Tendo identificado claramente qual a motivação (ou as mo-tivações) da empresa, é possível estabelecer os objetivos. Alguns exemplos de objetivos:

• Diminuir o absenteísmo/presenteísmo• Diminuir o nível de endividamento dos funcionários• Aumentar a adesão a esquemas de previdência complementar• Aumentar a adesão a benefícios relevantes que envolvam

coparticipação • Ajudar os funcionários a tomarem decisões de consumo

mais conscientes• Fortalecer a imagem da empresa como entidade socialmente

responsável

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Parte 3 – Estruturando e implementando um programa de educação financeira

Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho - André Massaro - Versão: 1.01 - 2015

Qual é o público

Quando se fala em educação financeira (em um contexto mais amplo, e não apenas empresarial), raramente um programa é perfeitamente adequado para todos os perfis de público.

Um programa pode ter maior ou menor grau de aprovei-tamento por um determinado público, e isso depende de vários fatores, como as necessidades individuais, a motivação, o nível so-cioeconômico, o conhecimento prévio do tema e a capacidade de absorção de conceitos que, para muitos, são complexos e abstratos.

Um programa adequado para profissionais operacionais dificilmente será adequado para aqueles de nível executivo e ge-rencial. Da mesma forma, um programa voltado para jovens em início de carreira não fará nenhum sentido para profissionais em preparação para a aposentadoria. Funcionários cronicamente en-dividados terão muito pouco a aproveitar de um treinamento so-bre investimentos. É preciso determinar claramente as caracterís-ticas e necessidades de cada grupo para que não haja desperdício de esforços e de recursos.

O planejamento do programa

Para o adequado planejamento de um programa de edu-cação financeira no ambiente de trabalho, é importante que haja

uma “força-tarefa” interna para fazer o levantamento dos objeti-vos, a definição dos públicos, as necessidades e quais os recursos disponíveis para a implementação do programa.

Existem também três perguntas que precisam ser respon-didas na fase de planejamento:

- Quais os recursos disponíveis?Aqui estamos falando de dinheiro e de tempo.A maioria das organizações tem um orçamento bastante

restrito para treinamentos e capacitação, e algumas são ainda mais restritivas com relação ao tempo que estão dispostas a disponibili-zar para os funcionários participarem do treinamento. Abrir mão de algumas horas de trabalho de um funcionário para um treina-mento sobre um assunto que não está diretamente relacionado à atividade da empresa pode representar um custo de oportunidade significativo.

- É necessária a participação de profissionais externos?Muitas empresas têm os recursos e o conhecimento para

desenvolver um programa de educação financeira internamente, o que pode representar uma redução relevante de custos.

Outras empresas precisam recorrer a profissionais externos, ou por não terem os recursos internamente ou porque se conclui que o desenvolvi-mento interno de um programa de educação financeira é antieconômico.

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Parte 3 – Estruturando e implementando um programa de educação financeira

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Algumas empresas optam por profissionais externos, com atuação dedicada à educação financeira, como uma forma de sina-lizar para os funcionários e colaboradores a importância do tema e também de dar maior credibilidade ao programa como um todo, par-tindo da lógica popular que diz que “santo de casa não faz milagre”.

- Se houver a utilização de profissionais externos, quais os critérios determinantes para uma escolha?

Fatores como custos, credibilidade, histórico de merca-do, abordagem metodológica e ausência de conflitos de interesse precisam ser considerados quando se opta pela contratação de profissionais externos.

Educação financeira e conflito de interesses

Um ponto que muitas vezes é negligenciado pelos con-tratantes de profissionais de educação financeira são a isenção e a existência de potenciais conflitos de interesses.

É bastante comum (infelizmente) o uso da educação financeira como um veículo para a promoção e divulga-ção de produtos financeiros.

Durante um treinamento de educação financeira, é praticamente inevitável que os participantes pergun-tem sobre questões específicas e peçam orientações so-bre produtos e serviços financeiros, e neste momento eles podem ser facilmente induzidos a tomar decisões e fazer escolhas que, talvez, não sejam de seu melhor interesse.

Inclusive, fora do Brasil (em economias mais desen-volvidas), já há histórico de programas de educação finan-ceira que geraram passivos trabalhistas para os empre-gadores, pois os participantes foram induzidos (de forma intencional ou não) a tomar decisões que resultaram em perdas financeiras.

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Os empregadores precisam estar permanentemente atentos para não fornecerem qualquer espécie de aconse-lhamento financeiro. Caso um programa de educação finan-ceira seja conduzido por pessoal interno, é preciso que eles se-jam preparados para enfrentar esse tipo de situação sem expor o empregador a riscos trabalhistas.

Caso se opte por profissionais externos, esse risco é ainda maior, principalmente se esses profissionais tiverem ligações com instituições financeiras ou se es-tiverem envolvidos na distribuição e promoção de pro-dutos financeiros.

Isso significa que programas de educação financeira conduzidos por profissionais do mercado financeiro são “ruins” ou “viciados”? Não necessariamente, mas a empre-sa precisa se cercar de todos os cuidados para não acabar sendo corresponsável por eventuais decisões financeiras infelizes de seus funcionários.

O desenvolvimento do programa

Nesta fase, definem-se o escopo e o conteúdo do programa.Também se definem qual a forma (ou formas) de apresen-

tação, quais serão os matérias de apoio e quais mecanismos de feedback e mensuração serão utilizados.

Formas de apresentação de um programa de educação financeira• Autoestudo• Palestras• Cursos e workshops online/vídeos• Cursos e workshops presenciais• Cursos e workshops híbridos• Jogos, dinâmicas e atividades interativas presenciais• Jogos, dinâmicas e atividades interativas online• Coaching/Treinamento individual

Algumas formas de mensurar os resultados de um programa• Adesão ao fundo de pensão• Aderência a outros pacotes de benefícios• Redução do crédito consignado• Entrevistas e questionários• Utilização de focus groups (de preferência antes do programa)

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Testando o programa

Antes de colocar o programa “em produção”, é preciso tes-tá-lo com um “grupo piloto” para ver a adequação geral do con-teúdo, do tempo e dos materiais envolvidos.

Aplicando o programa

Antes de aplicar propriamente o programa, é necessário definir uma estratégia de divulgação.

A divulgação é importante, independentemente de o pro-grama ser de participação voluntária ou compulsória. Se for de participação voluntária, a divulgação é especialmente importante, pois o público interessado precisa, antes de qualquer coisa, saber que um programa com aquelas características estará disponível.

No caso de um programa compulsório, a divulgação não é algo crítico, mas é também necessária para comunicar aos partici-pantes a importância do programa, seus objetivos e quais são os resultados esperados.

A aplicação do programa deve ser imediatamente seguida de uma avaliação de reação, para saber a impressão dos partici-pantes sobre o programa em si, as pessoas responsáveis pela apli-cação (instrutores, facilitadores etc.), os materiais utilizados e o entendimento/aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos.

Avaliação e feedback

Além da avaliação de reação imediatamente após a apli-cação do programa, é importante fazer avaliações qualitativas periódicas com os participantes, para observar se houve ou está havendo mudança de comportamento e hábitos.

Participação: voluntária ou compulsória?

Um programa de participação compulsória assegu-ra a presença das pessoas. Um programa de participa-ção voluntária pode ter custos menores e ser mais bem aproveitado pelos participantes.

Em geral, o programa compulsório é melhor (muitas pessoas têm resistência ao tema e precisam ser persua-didas a participar). Porém, um programa de participa-ção voluntária pode fornecer pistas e sinais importantes sobre os funcionários. Um funcionário com problemas financeiros que “desdenha” de um treinamento dessa natureza está comunicando algo sobre seus valores pes-soais e suas prioridades.

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Em alguns casos, é possível a adoção de avaliações quan-titativas, mais objetivas e confiáveis. Isso depende, naturalmente, do objetivo do programa e se há indicadores que permitam a men-suração.

Por exemplo, a eficácia de um programa com o objetivo de promover um esquema previdenciário pode ser mensurada pela quantidade de funcionários que aderem ao esquema após a aplica-ção do programa.

A eficácia de um programa com o objetivo de diminuir o endividamento pode ser mensurada pela diminuição dos adianta-mentos e pela diminuição do número de funcionários que utiliza crédito pessoal com desconto em folha (crédito consignado).

É também de fundamental importância que se adote uma rotina de revisão e atualização do programa, do conteúdo e dos materiais de apoio.

Educação continuada

Na primeira parte deste texto, foi falado que a maioria dos problemas de finanças pessoais não é composta de problemas ver-dadeiramente financeiros e sim de problemas comportamentais, que envolvem mudança de hábitos.

É muito difícil mudar hábitos com ações isoladas, por isso é importante que a educação financeira tenha uma continuidade e

uma regularidade ao longo do tempo, para que os funcionários não percam de perspectiva a importância de saber gerir seus recursos de forma eficiente, para seu próprio benefício, de suas famílias e de suas carreiras profissionais.

Implementação de um programa de educação financeira

Resumo

• Definição dos objetivos do programa• Definição do público-alvo• Planejamento• Desenvolvimento• Aplicação• Avaliação e feedback• Educação continuada

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O perfil ideal do educador financeiro

Um bom educador financeiro, independentemente de ser um profissional interno ou um especialista contratado, deve pos-suir as seguintes características:

Ser um bom comunicador“Finanças” não costuma ser um tema “divertido”. Para a

maioria das pessoas, é exatamente o oposto, um tema aborreci-do, árido, intimidador e percebido como algo muito difícil.

Por isso, o educador financeiro deve ser particular-mente hábil na comunicação, utilizando linguagem sim-ples, envolvente e sem o uso desnecessário de jargões e termos técnicos.

Ser pacienteCada pessoa está em um diferente “momento” no que

tange à educação financeira. Alguns já têm conhecimentos avançados, enquanto, para outros, falar de finanças é como falar em uma língua alienígena.

Cabe ao educador financeiro identificar qual o estágio de conhecimento de cada pessoa e entender que as pessoas têm ritmos de aprendizagem diferentes.

Ter conhecimento do assuntoA relação entre um educador financeiro e seu público é,

antes de qualquer coisa, uma relação de confiança. É fundamen-tal para o sucesso de um programa de educação financeira que o participante perceba o educador financeiro como um profissional competente e que sabe o que está falando.

Ser mais “educador” do que “financeiro”Em educação financeira, o termo “educação” não vem an-

tes de “financeira” por acaso. Educação financeira não é apenas colocar uma pessoa falando de finanças e economia ou discutir se o investimento “a” é melhor que o investimento “b”.

É importante que o educador financeiro tenha um conheci-mento sólido de finanças (conforme dito no tópico anterior), mas a habilidade de ensinar e, principalmente, motivar os participantes é o que determina o sucesso ou não do programa.

Ser livre de conflitos de interesseO educador financeiro deve ser isento e ter o interesse de

seu público como prioridade absoluta. A partir do momento em que o educador financeiro tem a possibilidade de auferir benefício pessoal com os conhecimentos que ele transmite e com as decisões de seu público, a relação de confiança fica comprometida.

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Entender a diferença entre “informação”, “educação” e “aconselhamento”

Informação financeira não é educação financeira. Para fornecer informação financeira não é preciso um educador finan-ceiro, basta fornecer um livro, um folheto, uma apostila e pronto, a “informação” está dada.

Já o aconselhamento implica em uma relação de de-pendência. Se há dependência do participante em relação ao educador, então o programa falhou.

Educação é capacitação. A pessoa precisa ser capaz de “fazer”, do contrário não se pode dizer que ela foi educada.

Não interferir nas decisões do públicoO educador financeiro entende que a as consequências,

boas ou ruins, das decisões financeiras dos indivíduos dizem res-peito apenas a eles mesmos. A obrigação do educador é prover às pessoas os elementos que permitam uma tomada de decisão cons-ciente, mas não a decisão em si.

Se o educador financeiro interfere na decisão, ele (ou quem o contratou) se torna corresponsável pelas consequências daquela decisão.

Especificamente no caso da educação financeira em ambien-tes de trabalho, o educador financeiro deve ser particularmente aten-to à “não interferência”, de forma a não expor o empregador a riscos.

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SOBRE O AUTOR

André Massaro é educador financeiro, consultor e especialista em finanças pessoais, com larga experiência no desenvolvimento e implementação de programas de educação financeira e previdenciária em empresas, órgãos públicos, en-tidades sem fins lucrativos e instituições de ensino.

Atua como palestrante, conferencista, instrutor e faci-litador para temas de finanças, investimentos e economia. É também professor de finanças em cursos de pós-graduação e professor do Instituto Educacional BM&FBovespa.

É autor do blog “Você e o Dinheiro” do portal EXAME, além dos livros “MoneyFit” (Matrix Editora), “Por dentro da bolsa de valores” (Matrix Editora) e “Dinheiro é um santo remédio” (Editora Gente).

www.andremassaro.com.br

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