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“A história oficial: o Direito à Memória e à Verdade e o papel dos meios de
comunicação na ditadura argentina”
Debate – ACIEPE – DDHH pelo cinema Dra. Carolina I Miño – DGE – UFSCar
DSo – UFSCar – 2012
O filme Diretor: Luis Puenzo Roteiro: Aída Bortnik e Luis Puenzo Produção: Marcelo Piñeyro Elenco: Norma Aleandro (Alicia), Héctor Alterio (Roberto), Chunchuna Villafañe (Ana), Hugo Arana (irmão de Roberto), Analia Castro (Gaby).
“A história oficial” (La historia oficial, 1985)
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
Frases para começar a reflexão
“Entender a história é se preparar para entender o mundo”
“Nenhum povo poderia sobreviver sem memória”
“A história é a memória dos povos” (de Alicia, no começo da primeira aula desse ano)
“No país do ‘não me lembro’, dou três passinhos e me perco” (música da Maria Elena Walsh, cantada por Gaby na banheira)
“O general é o único com quem ela ‘não brinca’, temos que reconhecer que ela também tem seus limites”
(Frase da Alicia sobre a mulher que falou mal deles na mesa do jantar)
“Todos seus filhos eram subversivos!”
“Se levaram eles terá sido por alguma razão” (Frase de uma das colegas de Alicia do colegial)
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
O filme - fatos
• Alicia, professora de História de classe média, acreditava na “a história oficial”
que lia nos livros didáticos e que os jornais e revistas contavam
• Ana foi sequestrada pelos militares, que a torturaram e a violentaram. Relata
sobre bebês que nasceram em cativeiro e eram levados das mães.
• Alicia toma consciência da possibilidade da sua filha ter sido irregularmente
“adotada” e ser filha de detentos-desaparecidos*
• Alicia começa a investigar a origem de Gaby visitando hospitais, igrejas e até
participa de uma manifestação das Madres de Plaza de Mayo
• Os contatos de Roberto com a máquina repressora do regime militar e seus
cúmplices civis foram chaves para “conseguir” Gaby;
• Contraponto: forte silêncio da maioria das famílias que adotaram bebês (ou
meninos/as) entre 1976 e 1985.
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
* Pessoas ssequestradas durante a ditadura
militar na Argentina no período de 1976-1983
O filme - fatos
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
“A história real” – roubo de bebês
• Durante o golpe cívico militar (1976-1983) houve um plano sistemático para o
roubo de bebês, comprovadamente existente;
• O exército difundiu manuais com instruções a serem executadas com
crianças ou bebês durante o seqüestro dos seus pais, ou se um bebê nascia
em cativeiro;
• Os militares ou civis que ficavam com os bebês os registravam como sendo
filhos naturais ou adotivos e se eliminava qualquer registro anterior;
• Em muitos casos, o próprio assassino dos pais ficava com o bebê/criança;
• Cerca de 400 bebês, crianças e jovens tiveram sua identidade roubada na
Argentina entre 1976 e 1985.
Fonte: Quadrat 2003 © Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
Movimento pela busca das crianças desaparecidas na Argentina durante o golpe cívico-militar de 1976-1983
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Abuelas de Plaza de Mayo
A pergunta que não quer calar.....
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012 www.abuelas.org.ar
Madres de Plaza de Mayo
www.madres.org © Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
Elas andam ao redor da pirâmide da praça toda quinta-feira há 35 anos!!! (30 de abril de 1977)
ONGs - DDHH
• “Associação Civil Abuelas de Plaza de Mayo”: ONG que visa encontrar e
restituir às suas legítimas famílias todas as crianças e bebês sequestrados aos
desaparecidos durante a repressão política e criar as condições para que nunca
mais se repita tão terrível violação aos direitos das crianças, exigindo castigo
aos responsáveis.
• Ações: 1) denuncias e reclamações perante às autoridades governamentais,
nacionais e internacionais; 2) apresentações perante a Justiça; 3) solicitações
de colaboração dirigidas ao povo; 4) pesquisas pessoais;
• Criaram o Banco de Dados Genéticos (Lei Nacional Nº 23.511)
• “Associação Civil Madres de Plaza de Mayo”: ONG criada espontaneamente
por mulheres que juntavam na Praça de Maio (BsAs), procurando pelos seus
filhos sequestrados pelos ditadores;
• Hoje a associação tem Rádio, Universidade Popular, Cooperativa de Construção
Civil, Biblioteca Popular, livraria, Editora, jornal e organizam seminários,
congressos, oficinas, cursos, atividades culturais, etc.
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PNDH-3 - Eixo Orientador VI Direito à Memória e à Verdade
“A memória histórica é componente fundamental na construção da identidade
social e cultural de um povo e na formulação de pactos que assegurem a não-
repetição de violações de Direitos Humanos, rotineiras em todas as ditaduras, de
qualquer lugar do planeta. Nesse sentido, afirmar a importância da memória e da
verdade como princípios históricos dos Direitos Humanos é o conteúdo central da
proposta. Jogar luz sobre a repressão política do ciclo ditatorial, refletir com
maturidade sobre as violações de Direitos Humanos e promover as necessárias
reparações ocorridas durante aquele período são imperativos de um país que vem
comprovando sua opção definitiva pela democracia.”
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012 Vannuchi, P. prefácio ao PNDH-3, pág. 19
PNDH-3 - Direito à Memória e à Verdade
Diretriz 23: Reconhecer a memória e a verdade como Direito Humano da
cidadania é dever do Estado
Objetivo Estratégico I: Promover a apuração e o esclarecimento público das
violações de Direitos Humanos praticadas na repressão política ocorrida no
Brasil...a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a
reconciliação nacional.
Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção pública da verdade
Objetivo Estratégico I: Incentivar iniciativas de preservação da memória histórica
e de construção pública da verdade sobre períodos autoritários.
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PNDH-3 - Direito à Memória e à Verdade
Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com a promoção do direito à
memória e à verdade, fortalecendo a democracia
Objetivo Estratégico I: Suprimir do ordenamento jurídico brasileiro eventuais
normas remanescentes de períodos de exceção que afrontem os compromissos
internacionais e os preceitos constitucionais sobre Direitos Humanos. - A memória da repressão ocupa um lugar central no processo de reconstrução
do tecido social (Bogado 2006)
O 24 de março é o “Dia Nacional da Memória, pela Verdade e a Justiça”,
feriado nacional na Argentina desde 2006, para lembrar o golpe Cívico-Militar de
1976.
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“Argentina julga genocidas”
• 273 pessoas condenadas por crimes contra a humanidade cometidos durante
o terrorismo de Estado (somente 43 têm condena firme).
• 875 pessoas processadas.
• 15 juízos (orais e escritos) estão sendo conduzidos, nos que se julgam crimes
cometidos contra 460 vítimas.
• 7 novos juízos orais já têm data de início.
• 107 netos recuperados (os dois últimos em agosto e outubro de 2012!!).
Dados da Unidade Fiscal de Coordenação e Seguimento de causas de violação aos Direitos Humanos durante o terrorismo de Estado da Procuradoria Geral da União (Argentina).
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Direito à Memória e à Verdade
Direito à Identidade
• Informar ao jovem o seu passado é um dever: Convenção sobre os Direitos da
Criança (ONU) (Brasil 1990; Argentina 1994)
• Ferramenta legal para condenar aos civis e militares que cometeram crimes
durante as ditaduras.
• Argentina: Unidade Especial da Procuradoria Geral da Nação (22/10/2012),
para casos de apropriação ilegal de bebês e crianças durante a ditadura.
Objetivo: sistematizar os procedimentos jurídicos e os passos da investigação
policial/judicial.
• Brasil: Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça: subcomissão
permanente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados. Objetivos: contribuir e fiscalizar os trabalhos da Comissão Nacional
da Verdade (CNV) – Lei 12.528/2011); Examinar e esclarecer as graves
violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988.
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Brasil – Comissão da Verdade
10/05/2012: Membros: Rosa Maria C Cunha, José Carlos Dias,
Gilson Dipp, Cláudio Fonteles, Paulo Sérgio Pinheiro, Maria Rita Kehl, José Paulo
Cavalcanti Filho. Prazo : 2 anos! Salário: R$ 11.179,36/mês.
Objetivos:
• esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações de DDHH
durante o regime militar;
• promover o esclarecimento dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos
forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria;
• encaminhar aos órgãos públicos competentes toda e qualquer informação obtida
que possa auxiliar na localização e identificação de corpos e restos mortais de
desaparecidos políticos.
Será que rola? O Comitê pela Verdade e a Memória (Brasília) esperava que a
Comissão contasse com pessoas ligadas aos organismos de DDHH.
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
Argentina – adoção ilegal de bebês
• Grupo Clarín: dono dos canais de TV mais vistos e dos Jornais mais lidos na
Argentina.
• Atual diretora, Ernestina Herrera de Noble: foi comprovado que adotou
ilegalmente duas crianças suspeitas de serem filhos de desaparecidos (em 1976
e 1978).
• Mentiu sobre o processo de adoção das crianças, apresentou testemunhas
falsas e falsificou documentação.
• A juíza que deu em adoção às crianças teve participação comprovada em outros
processos ilegais de adoção de crianças durante a ditadura.
• Só em 2009 a justiça ordenou um teste de DNA aos “filhos” de EH Noble com o
objetivo de compará-los com o Banco Nacional de Dados Genéticos.
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
A história real – adoção ilegal de bebês
• O material confiscado às vítimas (filhos) tinha sido previamente contaminado
com DNA de três pessoas diferentes.
• Durante dois anos não houve avanços na causa.
• Em 2011, surpreendentemente, os “filhos” apresentaram-se por vontade própria
para “doar sangue” para o teste.
• O que tinha acontecido? A sua “perito de parte” era ex-diretora do BNDG tinha
roubado um computador com informação chave de famílias de desaparecidos.
Alertou-os para o fato deles não corresponderem às famílias do BNDG.
• No momento: como chegaram novos dados ao banco, os dados dos “filhos” da
dona do Clarín permanecem sendo investigados.
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012 Marcela e Felipe Noble Herrera
Eixo Orientador V – Educação e Cultura em DDHH
Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à
informação para a consolidação de uma cultura em Direitos Humanos.
• Objetivo Estratégico I: Promover o respeito aos DDHH nos meios de
comunicação e o cumprimento de seu papel na promoção da cultura em DDHH.
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
Direito à Verdade
• A “história oficial” foi deliberadamente inventada pelos militares, com a
cumplicidade ilimitada e inescrupulosa dos meios de comunicação hegemônicos e
monopólicos da época;
• Esses meios ainda exercem o papel de cúmplices dos militares e da oligarquia
racista, classista e discriminadora ao ajudar a ocultar crimes contra a humanidade.
PNDH-3
Direito à Verdade
“Total normalidade”
“Argentina ganhou da Polônia”
Manchete do Jornal “Clarín” de quinta-feira 25 de março de 1976
– dia seguinte ao golpe
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012 © Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
Fatos reais – cumplicidade dos meios
O motivo do brinde: “Inauguração” de uma fábrica de papel para jornal da empresa Papel Prensa, apropriada ilegalmente por meio de tortura e
morte dos seus verdadeiros donos (1978)
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
Ernestina Herrera de Noble O ditador Rafael Videla
Diretora e dona
Jornal mais lido
O monopólio dos meios gráficos: o caso “Papel Prensa”
• Papel Prensa: Empresa produtora de papel para jornais.
• Os donos da empresa, a família Graiver, foram detidos em 1977 e perderam
seus direitos civis e econômicos; todos os seu bens passaram às mãos dos
militares ditadores;
• A finais de 1978 as ações da empresa passaram às mãos do Grupo Clarín que
hoje inclui os 3 jornais mais lidos, vários canais de TV e emissoras radiais;
• O Grupo Clarín controla a produção, comercialização e distribuição do papel e
isso limita aos demais meios para difundir a sua opinião (violando o Pacto de
San José de Costa Rica).
• Esse grupo mantém um conflito com os trabalhadores da empresa Artes
Gráficas Rioplatense pela injusta demissão de 119 empregados, proibição da
organização sindical, espionagem e outros assuntos.
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
Lei de Meios de Comunicação Audiovisual
• Cria a Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (AFSCA)]
• Regula os critérios de outorga de licenças de operação, monitora a qualidade
do serviço, atendimento de critérios de pluralismo, ética, divulgação de
informações de interesse público, respeito à Constituição e às leis, proteção
especial a crianças e jovens e garantias à produção local.
• Referência para democratização da mídia e instrumento de combate aos
monopólios;
• Resolução 296: exige às emissoras televisivas que incluam na sua
programação canais públicos abertos (INCAA TV, Telesur, Paka Paka e CN 23);
• O Grupo Clarín ainda se nega a cumprir essa lei. Prazo: 7-D-2012;
• Os meios monopólicos de comunicação pressionam contra a garantia dos
Direitos à Comunicação, à Memória e à Identidade.
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Lei de Meios de Comunicação – “7D”
• 4500 licenças de serviços audiovisuais repartem-se entre 2500 titulares, que
estão em regra (Afsca).
• 250 licenças repartem-se entre 20 grupos, que terão de se adequar à
normativa.
• Um só Grupo já apresentou um plano de adequação.
• O governo pensa que os 19 restantes o farão em tempo e forma
• 250 licenças são do Grupo Clarín, o único que não dialoga com o governo
para cumprir com a lei.
• Modus operandi: em uma cidade com duas operadoras de TV a Cabo, o
Grupo Clarín vendía as transmissões de futebol* a uma só delas. A outra falia,
pois ninguém contrata uma operadora sem futebol. Clarín comprava muito
barata a operadora vencida, revertia os contratos e deixava a outra sem nada.
O grupo acabava comprando as duas licenças, em clara demonstração de
abuso de poder.
* Desde o primeiro governo CFK, as transmissões de futebol são obrigatoriamente públicas e abertas (Futebol para Tod@s)
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
“Os irmãos que hoje recuperam sua identidade incorporam-se a um país com
memória, verdade e justiça, o que ajuda a dimensionar a grande tragédia que
temos vivido mas também [ajuda] a dimensionar a vida con identidade, [saber] de
que amor surgimos“.
Martín Fresneda, Secretario de Direitos Humanos da Argentina
Gracias Néstor Kirchner !!! (1950-2010)
Material complementar
• Série documental “Acá estamos – historias de nietos que recuperaron su identidad” Canal Encuentro. www.encuentro.gov.ar
• Série de ficção “23 pares” – Capítulo 3. www.cda.gov.ar
• http://www.youtube.com/watch?v=BGAfReBkGxQ
• http://www.youtube.com/watch?v=po7efZgDWeI&feature=related
• http://www.youtube.com/watch?v=ddOzmE_P_Bg&feature=related
• http://www.youtube.com/watch?v=C3Yv2TkAw_U
• http://www.youtube.com/watch?v=y4iJY5EXcko&feature=youtu.be
• http://www.youtube.com/watch?v=UKHahYGEgW4&feature=player_embedded#!
Vídeos
© Miño, CI – ACIEPE DDHH pelo cinema - 2012
Websites
www.madres.org.ar www.abuelas.org.ar www.hijos-capital.org.ar www.desaparecidospoliticos.org.br www.cnv.gov.br
Filmes
• “Infancia clandestina” – 2012 – Benjamín Ávila • “Verdades verdaderas” – 2011 – Nicolás Gil Lavedra • “Cordero de Dios” – 2008 – Lucía Cedrón • “La mirada invisible” – 2010 – Diego Lerman • “Trelew” – 2004 – Mariana Arruti
- http://www.abuelas.org.ar/material/libros/LibroGenetica.pdf - Quadrat, SV. 2003. História, São Paulo 22(2): 167-181.
Textos
Muito obrigada!!