verÇosa cultura e educação nas alagoas

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edição HiS:tória, histórias

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Page 1: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

Sª edição

HiS:tória, histórias

Page 2: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

-CULTURAEEDUCAÇAO N A S A LA G O A S:

História, histórias

Page 3: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

1

----- - - --

Elcio de Gusmão Verçosa

,...,

CULTURA E EDUCAÇAO N A S A L A G O A S:

História, histórias

i kdicilch1 ao 200º Aniversário da Emancipação Política das Alagoas

5ª edição

/Edufal Maceió, 2015

Page 4: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

w llNJVERS)J)AJ>E FEDERAL DJ:: Al,A(;OAS

Reitor Eurico de Barros Lôbo Filho

Vfoe-reitora Rachel Rocha de Alme1d3 Barros

Diretor.a da Eduíal Maaa Stela T(l!T~ Barros Lameiros

Conselbo Editorial Eduíal Mana Stela Torres Barros Lameiras (Presidente)

Fernanda Lins de Lima (Se<-retruiu) Andcrson de Alcnca1 Mcnczc'

Brnno César Cavalcanti Cícero Peric les de OJh·eira Ç~nall111

Ewico Eduanlo Pinto de Lemos Fernando Antônio Gome~ de Andrade Fernando Sílvio Cavalc:mte Pimentel

Geraldo Maiela Gaudêncio Faria Janaina xisto de Barros Lima

José Jvamilsoo da Silva Barbalho

Coordenaç>io Lditorial: Re>1sJo.

Capa: Diagramação:

Fernanda L1ns lvanilda VtTÇosa Edmil\on Va•concclos Sim<'ne Cavalcante

Supen•isíio gráfica: Márci,1 Roberto \"1eirJ de \-leio

V482c

Caralogaçào na fonte Universidade Federal de Alagoas

Departamento de Tratamemo T~cnico da E.ditc1ra da Ufal Bibliotecária responsável: Fernanda Lms de Lima

Vcrços:i, Elc10 de Gusmão. Culrura e educação nas Alagoas : história. hlSlórias / Elcio

de Gu.çmào Verçol'a. - Maceió : E.DL:FAL. 2015. 186 p . j].

lSBN: 978-85-71i7-996-9.

1. Cducaç!ío -Al;~oas. 2. Cultura-Alagoas. 1. Título.

Direitos desta rd1cão reservados j Edufal · Editora da Universidade Fc<lrral dr A lagoa. Cent;{l de ln~resse Comun1tat10 (CIC) "''" i.ocrival .\frio Mota. <ln - Campu< A C. Simões Cid:uie Un1verSJt.in.i. \factu)IA1 Cep 57072-970 Contatos: www.cJufal.com.b: 1 con1a1~Jufal.com.br 1(82) 3114- 111 l!l!!3

CDU; 981(fi15.5)

t::ditora afiliada:

As.sc:x:IAç:AO lftASIUJIU OE EDffORAS UHIYERSnAIUAS

Page 5: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

Para os educadores e educadoras que, apesar dos pesares, continuam a dar o melhor da sua juventude e do seu entusiasmo para a promoção humana e social da infância e da juventude das .:'\lagoas.

Page 6: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

'' l o lll d eito, o presente no gual somos convidados a nos encerrar não é nada

por si; é apenas o prolongamento do passado, do qual não pode ser separado sem perder grande parte de todo seu significado. O presente é formado por inúmeráveis elementos, tão estreitamente entrelaçados uns aos o utros que é dificil percerbcr onde começa um, ende termina outro, o que cada um é e quais suas relações; a observação imediata, pois,

só nos fornece uma impressão vaga e confusa. A única maneira de distinguí-los, de d111sociá-los, de introduzir, portanto, uma certa clareza nessa confusão, é procurar na hlstc'iria como eles vieram acrescentar-se gradativamente uns aos outros, combinar-se

e organizar-se."

Émile DURKHEIM

Page 7: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

SUMÁRIO

Aptct'rntação 13

C) liv10 e o homem 17

l,:1r.1 começo de conversa 21

A hases para a ocupação do território ao SuJ de 25 P rnnmln1co

J'.) • como se constitui a vida social em terras 37 nlagoanas

Alagoas ad Austrum 53

A consolidação do Projeto Colonial 55

mphn111 e 05 espaços na luta pelo poder 63

C11111 .1 l{cpi.'1hlk:l chegará alguma modernidade 97 llnalmcntc às Alagoas?

Será finalmente agora o fim das Oligarquias? 131

Chegará o desenvolvimentismo também à Terra 147 dos Marechais?

Como se fora um epílogo - a propósiro de dois fatos marcantes da atualidade 165

Hdcrências bibliográficas 177

Page 8: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

APRESENTAÇÃO Reeditar o texto do Prof. Elcio de Gusmão

Verçosa, Cultura e Educação nas Alagoas: História, Histórias, constitui uma iniciativa feliz da Edufal, que não poderia ser mais oportuna. Ele é parte de um estudo de maior enYergadura, sua tese de doutoramento, B11rorracia e Oligarquia: um est1tdo de caso sobre o poder 11nil'ersitário, realizada na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Celso de Rui Beisiegel, que foi aprovada com a nota máxima por uma banca examinadora da qual tive a honra de fazer parte.

Ao recorrer à História, pondo o foco de seu estudo sobre a cultura, esse trabalho do Prof. Verçosa evidencía, ao mesmo tempo, a originalidade de um tratamento teórico e metodológico capaz de lançar uma nova luz sobre a problemática educacional, não só de Alagoas como também, pela via da comparação, de todo o Brasil.

O cliálogo entre culrura e História não é, em si mesmo, uma novidade. Ele corresponde a wn processo c.lt aproximação entre dois campos do saber na área das Ciências Humanas, a Antropologia e a Hístória, que, embora recente em seus resultados mais visíveis, notadamenre no campo da chamada História das mentalidades, tem, no entanto, suas raízes ainda na primeira metade do século, mais especificamente na produção dos historiadores franceses ligados à escola dos Annales, contrapartida da produção amropológ]ca e sociológica veiculada pelo L: -4nnée Sociologiq11e, publicação destinada à Yeiculação dos trabalhos do círculo de pesquisadores gue se reuniam em tomo de l~mile

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 13

Page 9: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

Durkheim, no momento mesmo em que, na França, a Sociologia se consolidava como campo autónomo do saber.

:No campo da historiografia, os trabalhos pioneiros de Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernand Braudel tiveram o mérito de, ao se posicionarem contra o entendimento da História como narrativa de acontecimentos ou dos feitos de grandes homens, que chamariam de Histoire événementie!le, desentranhar dos fatos as estruturas que os sustentam e lhes dão inteligibilidade, sejam elas as estruturas socioeconômicas - numa aproximação evidente com a problemática marxista - sejam elas as estruturas mentais - aproximando-se portanto, também da problemática antropológica de Durkheim e !\farcel j\fauss -que, no plano da cultura, informam, como sua condição de possibilidade, não só o pensamento dos t,l'!andes homens, mas também o da massa anônima da gente comum, graças a cuja humilde ação quotidiana efetivamente se faz a História. O resultado desses esforços foi a descoberta de gue, sob a aparente uniformidade do seu transcurso, a História não é una, mas plural, estilhando-se o tempo homogêneo na diferença da duração, gue permite distinguir sua escansâo diversa em diferentes domínios da vida social, bem como ritmos distintos de transformação, segundo se trate de estruturas de curta ou de longa duração.

Eis, portanto, a origem dos trabalhos recentes e de tanto sucesso dessa nova História1

, gue busca em fenômenos C\'Ídentemente menores - as elucubrações religiosas de um humilde moleiro do Friuli no final do século À''\lI2, um massacre de gatos por aprendizes de uma oficina gráfica em Paris do século XVlll 3, ou a invenção da praia, território do vazio4

- os sinais precursores de uma mudança de sensibilidade e mentalidade que torna, enfim, compreensíveis, nos próprios termos em guc foram vividos por seus protagonistas, os grandes acontecimentos da História, sejam eles os processos da Inguisiçào, a ReYolução Francesa ou as transformações que, no século XIX europeu, dariam origem à nossa modernidade. Esta é uma História de características nitidamente antropológicas, que tem como contrapartida as incursões cada vez mais

14

Jacques Le Goff e Pierre Nora. T-li.<Mria. ,"-:o;•11J Prohim1a.r. Nwa.r Abürdagem. No!'OJ Ob;No.r (3 vol.). Rio de .Janeiro: Francisco Alves, 1988.

C:irlo Ginsburg. O Qr1eij6 e liJ 'I /m11es. São Paulo. Companhia das Lerrns, 1987.

Robert Darnron. O Grande 1Wasst1,Tf d~ G:itüs e outros e/>isrídios da histríri11 ru!turalfranct.w. Rio c.le .Janeiro: Editora Graal, 1986.

J\Jain Corbin. Território do I 'azjo. São Paulo: Companhia das] .erras, 1989.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

Page 10: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

frct111Lntes da Antropologia pelo campo da História. se1a para resgatá-la como terreno li git1mo de investigação antropológica, seja, sobretudo, para importar para o interior da disi 1plina questões teóricas e metodológicas que, testadas pelos historiadores, começam 1 11111tbr o borizonte das matrizes di~ciplinares, anunciando em certos casos a decisiva \ l1nd.1 da Antropologia em direção a novos parâmetros compatíveis com o que vem r.ndo chamado de pós-modernidade.-'

O grande mérit0 do trabalho do Prof. Verçosa reside, pois, na sua capacidade de, h:tl\cando-se nessa rica problemática já consolidada no campo de diálogo entre essas boas "izinhas<', a Antropologia e a História, aplicá-la com rigor à análise da História alagoana, 11•" ·' 1 <:contextualizar, através dela, o significado da questão educacional, numa sociedade 111 111 ada pela permanência de estruturas de longa duração que, em meio às transformações 11111 que passa essa sociedade, e apesar delas, constantemente reiteram, no plano da culrura, 1, rtho.r tradicional e oligárquico que parece ser sua característica essencial.

Nesse sentido, o trabalho retoma, em chave etnográfica, o diálogo com uma rica 11.1dição historiográfica que, de Sérgio Buarque de Holanda a Raymundo Faoro., - e à qual

dcn.:m agregar, mais recentemente, os trabalhos de Roberto da Matta, no campo da nu ( •f'I< 1l11v1a8 - tenta compreender, através do resgate das raízes do Brasil, o mistério da

I' 1111 11 ntl:i 1 l.ts oligarquias dos donos do poder e, ao mesmo tempo, rastrear, por entre lt p 1111 11 f\ 1 •· 1 transformações, os termos em que se coloca o dilema brasileiro frente n •'li" 1 11. d1 • l 1111 11, B1 ::isil. De fato, dividida entre uma ética arcaica da reciprocidade - em

IJllt' l n li lt 1.1111 l' h íl ld.1dt•<; sociais e políticas entre desiguais, o jeitinho brasileiro e o antigo 1 •• 1.;c1111 cl!l lh'p(1bhl 1 \'dha segundo o qual se deve dar aos amigos tudo, aos mimigos 11 h i - e. de outrn Lldo, rn. \ alores do individualismo possessivo, a impessoalidade das 111irm•l'> e a prcdonllflanc1:t <le uma ética do interesse, a sociedade brasileira parece oscilar r.111 mnrnemos distintos, entre dois siscemas valorati\'os opostos, centrados na figura da

1 1, p111 l'lu:mplo, ~farsh:ill S:ihlins. Lcla.s de Hist01ias • La mPertt' dtl rapíta11 Cook. .\fetefom. a11tropolo,~1t1 r IJ11tnri11. JIJ11 c-lf111,1 C.ctfüa Ed., 1988. Cf. também Teresa Caldeira./\ Pús-Moclernidade em Amropologm. NoroJ Est11dos (/ 1111 I/~ número 2 l, São Pauln, 1992.

l(1 1ht 1 t Dnrmon. O Brij<1 dr L11JJ(;11rctte ·Mídia, C11/t11M e &vo/11çii(/. Sfio Paulo: Compnnhia das Letras, l 990.

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n 11.l 1 lll da ~llltT3 . Camainis, 111ain11ffro1 e ber&ÍJ- por uma J«ib//J.g10 do d1l•llJ.1 branlnm. Rio de J:meiro: Ecl. Guan3hara, l IJ 1 fl q111 /a o bnuil, BraJ1f( Rio de Janeiro: Rocco, 1986; A ç.isa r a r11a. RJO de Janeiro: Ed. Guanab:ir:i. 1991.

Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias 15

Page 11: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

pessoa e do indivíduo, nos quais já se tentou idenaficar, respectivamente, as origens do atraso e da modernidade no Brasil.

Ora, a extrema novidadt que o trabalho do Prof. Verçosa apresenta consiste precisamente em escapar à facilidade dessa dicot0mia consagrada, para mostrar, a propósito da instituição moderna em que se constitui a universidade, que a permanência dessas esuururas ditas arcaicas não é algo que se opõe à modernidade, como uma sobrevivência indesejável e inesperada, mas, ao contrário, algo que, como re\·da de forma exemplar o caso das ,'\lagoas, se entrelaça inexcrica,·elmente aos processos de modernização. Na verdade, cais processos apenas reatualizam e ressignificam e~sas

estruturas, de modo a permitir-lhes continuar a cumprir a função a que se destinam, enquanto instrumentos de luta por prestígio e poder, valores característicos de uma sociedade que mantém com extraordinária estabilidade suas características oligárquicas, que vão de par com o erhos arist0cratizante dominante em sua cultura.

É nesse contexto que se revela toda a riqueza da análise do Prof. Verçosa em Cultura e Educação nas Alagoas: História, Histórias. Ao retraçar, desde os tempos coloniais, o processo de formação socioeconômica das Alagoas e de consolidação de uma mentalidade oligárquica como estruturas de longa duração, ele arma assim um quadro conceituai e empírico, a partir do qual se torna enfim possível compreender o significado que assume nesse contexto a problemática da educação, rastreada a partir da análise da constituição das instituições de ensino na Capitania, na Província e depois no Estado, que desaguaria, nos anos 60, na criação da UF AL. Kcssa trajetória, o pesquisador redescobre e nos transmite o sentido profundo das admiráveis pá6>inas em que, em Rttlzes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda evidencia o caráter ornamental da educação e da cultura que os caixeiros alagoanos eram ainda capazes de enunciar abertamente no inicio do século, mas que marcará em profundidade também o ensino livresco e a cultura retórica própria do mundo dos bacharéis, os filhos de elites oligárquicas que ainda hoje dominam o cenário econômico, político e intelectual das Alagoas.

Esta é uma contribuição de inestimável ,-alor para se repensarem os desafios que a educação hoje enfrenta em Alagoas, configurando uma espécie de siruaçâo-limfre cm que se refletem, como num espelho capaz de ampliar a imagem que capta, algumas das faces ainda mal conhecidas do problema da educação no Brasil.

Profa. Dra. Afaria Ltíria Montes Programa de Pós-Graduação cm Antropologia da Faculdade de Filosofia, U:tras e Ciéncias Humanas da USP

16 Cultura e Educação nas Alagoas · História, histórias

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O 1 IVRO E O llOMEM

Este é um livro que atingiu a marca de quatro edições esgotadas e vem circulando nas mãos de p.rofessores do ensino médio, nos gabinetes de planejadores da área educacional e, principalmente, nos cursos de graduação e pós-graduação do ensino superior. O caráter amplo, informativo e comprometido com a plena democratização do ensino, coloca-o na lista das leituras imprescindíveis sobre a realidade alagoana. Amplo, descreve os passos da formação do sistema de ensino; informativo, nos traz dados que permitem fazer um balanço sobre a evolução da educação em Alagoas; e, comprometido, envolve-se com as mudanças e o futuro do segmento educacional.

É a primeira obra que aborda a educàção de Alagoas numa perspectiva histórico-crÍtica. E contextualiza os aspectos socioeconôm.icos e culturais, permitindo a compreensão do fenômeno da baixa escolaridade e do analfabetismo como problemas intrínsecos da própria formação social alagoana. Para muitos, esta pesquisa é uma importante referencia sobre o ensino no Estado.

O Professor Elcio é um intelectual com uma linha bem definida de atuação: pesquisa e milita na área educacional. Esse modo de atuar condiz com sua formação universitária, marcada pelos anos do movimento estudantil antiditatorial (1967-1970), quando socialistas e católicos combinavam a luta pela democracia com debates sobre as mudanças necessárias para o país. Toda a obra de Elcio deve ser compreendida a partir de sua vida acadêmica, dessa militância pela

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 17

Page 13: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

educação, guc foi combinada às suas atividades de professor da Universidade Federal de Alagoas (LfAL).

A ati,·idade universitária numa região periférica tornou-se um fone esúmulo para que tratasse na sua dissertação de mestrado, do rema Idu1logia e prática pfda,gógir.a escolar, em que discute a questão da disputa pela hegemonia política nos fundamentos da educação. A tese de doutorado Bttrocracia e oligarquia: um estudo de caso sohre o poder rmiNrsitário, defendida na Universidade de Sno Paulo, caminha na mesma direção, trazendo uma análise profunda sobre as relações sociais e políticas, tendo corno foco a hegemonia na construção do poder universitário na Ufal.

Homem coerente com sua escritura, Elcio compreendeu que era necessário criar espaços para a intervenção inovadora. Por conta disso, vai participar da fundação do Centro de Educação (CEDU) que, a partir de sua estrutura de formação e pesquisa, incluindo a Pós-Graduação, passaria a exercer uma influência decisiva em toda a área educacional do Estado. Coerente com sua militância disputou, em 1980, a Presidência da Apal (amiga Associação dos Professores de Alagoas, fundada em 1965) hoje, Sindicato dos Trabalhadores na Educação de Alagoas - S~NTEAL. Posteriormente, em 1985, foi eleito Presidente da .Associação dos Docentes da Universidade Federal de Alagoas (ADUFAL).

Para lançar suas ideias extramuros do espaço acadêmico e sindical, procurou ampliar o diáJogo com a sociedade, pondo em circulação, a partir do ano de 1996, os livros: Cultura e Ed11raçà(J nas Alagoas: bistó1ia, hi.rlórias e Hutó1i11 do E.nsí110 S1rpnior tm Alagoas: Vf'rso f m 1erso. Com o esforço de analisar o passado do sistema educacional no Estado, esses trabalhos reforçaram a visão moderna para o presente e o futuro do ensino em Alagoas. No passo a passo dessa militância intelectual, Elcio se tornou o mais qualificado analista do processo educacional de ,AJagoas, e, como conselheiro representante do Sinteal foi eleito para o posto de Presidente do Conselho Estadual de Educação. ;\ marca de sua passagem no Conselho, onde lutou intensamente para encontrar novos caminhos que garantissem uma educação de: qualidade para todos, foi o trabalho de redemocratização e transparência do órgão.

A. sua contribuição na área institucional pode ser medida pela participação como avaliador do INEP /i\fEC, de cursos e instituições de I:nsino Superior; pelos com·ites gue recebe para participar de bancas de Pós-Graduação e prestar assessoria

18 Cultura e Educação nas Alagoas · História, histórias

Page 14: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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1 1 i1 1 110! \(l( .1mplos, corno o Plano Estadual de Educação e o Plano Municipal 1 llH 11~ ', 1 I• ~l.1ceió, as duas principais linhas da educação pública local. Mas, sua ..l11\~1111111 ln t1ial vai mais além. Em 1998, participou da organização do livro Educação

l '11/!/1rr1s P1íblicas: a implantação da nova LDB em dr.bate. No ano seguinte, lançou •11llD t/01 /r'.\"/(}.r didáticos na prática escolar: uma abordagem sociopolítica da ação docente. Em

11111 1 1111l 1li1 11t1 l fnr111arlio dos prefessores em Alagoas: ttm olhar retrospectivo sobre suas origens, 1 1plH1lu 1111 l11íd11 1111 livro do qual é organizador: Caminhos da Ed11caçào em Al~goas: da t " Hlfi •I()• t/1 ~t fll11t111. E para reconhecer sua contribuição ao tema regional, colocou n • I itl'I l 1dlcx1111 'obre a formação cultural do Estado, publicando, em 2002, o ensaio I 111111 11iln1111 ,J/,~~oana? além de vários outros trabalhos, todos voltados, direta ou ln11!1 111111 1111, para a realidade educacional alagoana.

J >c·pois de três décadas ininterruptas trabalhando como docente da UE-\L, ele p 111 1 .l dedicar seu tempo à Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), da qual 1111 111 oí c:ssor e pesquisador visitante, exercendo, atualmente, a função de professor

e 11111dtnador acadêmico da SECNE. Sua prática docente é compartilhada com as 1th 1cl.11 ks na policicfl educacional.

/ 11 flfts.ror Emérito da UE-\L, rítulo que recebeu por indicação de seus pares e 1 llllt 1 11 ,111 do Conselho Universitário, autor lido e comentado, mestre de princípios

fu 111L 1 1 li 1111 llm exemplo de intelectual coerente com o tempo em que vive, por sua p1oil11~111 ,•,1hosa e seu engajamento.

Cícero Pfrides de. Carvalho .

Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias 19

Page 15: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

PARA COMEÇO D E CONVERSA

\o elaborar este trabalho pensei estar dando os passos iniciais na construção de l!lllíl pnme1ra história da educação em terras alagoanas, \'isto que a produção existente 1111 ilmc::nte sobre o tema se constimi, em geral, de compilações esparsas de dados no l1111u de. trabalhos sobre a história mais geral das Alagoas ou então de estudos sobre 1111c t11u; específicas ou sobre personalidades ligadas à nossa ,-ida educacional.

A.o dar a largada para o p.reenchimento de tal lacuna, procurei, porém, ultrapassar 1} r: 11I11l1ue predominante na historiografia alago a na produzida até nossos dias. Tentando 111111.u n postura crítica assumida pelos historiadores da l-iistória No1 1a (LE GOFF; NORA,

IV~ \, 1988B e 1989) frente ao tipo de história que chamam de év/ne111entielle, também traduzida cm português por açontecimenta/ (REIS, 1994), que é a tônica da historiografia alagoana I ''e 1cluz1da até hoje. e que, sumariamente, pode ser entendida como uma História-ro11to, 1 olc .1th em fatos e personagens, penso estar dando uma contribuição em relação à nossa

hl '''''·'como um mdo. ÂMi1rn, propondo, em oposição ao que existe, uma História-problema, que procura

( 'I '' 11 1,.1sacteres gerais das instirnições sociais e das tJ1entalidades (vOVELLE. 1982: LE

1( 11 1, 1 •i•P), como uma das condições de se entender a História presente, inclusive nas 11rpl111 .is e permanências que evidencia em relação a esse passado, a ser radicalmente 1'1mprcendido como outro em relação ao presente, espero estar possibilitando, através e ln:; notas que seguem, um passo adiante na nossa historiografia sobre a temática mais t !iptt.1nca da educação.

F..sse tipo de História que me propus a esboçar aqui surge, na verdade, de um ltAlrwo com as Ciências Sociais e em particular com os pais fundadores da Escola ~· •t111l11JJ,tCa Francesa (BURKE. JCJYO), procurando captar fenômenos de longa duração (1111 11 11 , 11157; BRAllDRL, 1966) entranhados nas estruturas da vida social e da cultura. Este 1111 p:uccc.: ser o único enfoque capaz de fornecer parâmetros teóricos e metodológicos ndcqu.ulos para fazer frente à historia que tradicionalmente tem sido praticada pelos

111 \ 1 rn tt·ntando reconstituir o passado alagoano e, como parte dele, também, à história d 1 1 oli111 .1i; e práticas educacionais entre nós.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 21

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Dessa forma, procedendo a uma reconstrução histórica de mais longa duração, procurei, antes de mais nada, por intermédio de um mapeamento mais amplo, capaz de explicitar padrões de sociabilidade e formas de ação simbólica presentes no processo de organização e desenvolvimento da sociedade alagoana, extrair as regras e os valores que conformaram o modo de pensar, de conceber e de organizar a vida social. Ao agir desse modo, creio ter conseguido apreender, ainda que esguematicamente, no jeito de ser e de agir desta sociedade, o ethos que operou e continua ainda a operar no modo de conformar suas instituições, dentre as quais, evidentemente, encontram-se também as de natureza educacional.

i\feu intuito foi, como se pode notar, proceder a uma reconscimição histórica que enfocasse a realidade social a partir de uma postura marcadamente antropológica, retomando os elementos constitutivos da situação sociopolí6ca e econômica da época de criação das Yárias instituições sociais alagoanas - e dentre elas as especificamente educacionais - com o objetivo de já agora começar a construir uma explicitação das teias de poder que perpassaram e continuam ainda hoje a perpassar, simultaneamente, as relações sociais mais amplas na vida alagoana e aquelas que se estabelecem no interior de cada uma de suas instituições em particular.

E, uma vez que est.'l História nos revela o predomínio e a permanência das elites oligárquicas alagoanas, foi inevitável que o seu etho.r viesse a exigir minha especial atenção, até porque a História parece nos mostrar que, pelo menos em Alagoas, ele se constituiu sempre como modelo a ser admirado por todas as demais camadas e, em alguma medida, seguido em todas as instâncias da vida social.

Essa problemática põe em foco a velha discussão sobre o arcaico e o moderno na evolução da sociedade brasileira, retornando à questão clássica do sentido da co/onizafâO. Como em Alagoas, talvez mais do que em qualquer outra parte do Brasil, ela parece ter urna relevância incontestável, vi-me obrigado a voltar bem atrás na História, para apreender, já desde o momento inaugural da constituição da sociedade alagoana, aquelas estruturas que a marcaram em profundidade e, assim, configuraram o ethos que a caracteriza em sua singularidade. Para isrn, tomei a análise exemplar de Faoro (1975)

sobre o patrimonialismo t afomJrifliO do patronato brasileiro como ponto de partida e guia de leitura da história alagoana, sobretudo porque me permite fazer a ponte entre essa

22 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

Page 17: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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111 t 1n 1 d• longa duracão e análises recentes da sociedade nacional, que colocam em

llltl t 1\1 n que Da Matta (1979) denomina de dilema brasileiro. O estudo da sociedade

lftp• 11111 dni;a forma encaminhado poderá, quem sabe, contribuir para que seja lançada u1111 1111\'.l luz também sobre essa questão.

1 ,, 1dentememe que se fazer a história dos tempos mais recentes em Alagoas

1 ri 11' tarefa das mais fáceis, reconstruir também suas primeiras experiências exigiu uni l 1hor ainda mais árduo, seja porque delas pouco se disse até hoje, seja devido à n1.1111 1r.1 particular como as coisas foram ditas. Não obstante essa peculiaridade, tais

111.:r tnl! representam, contudo, a meu Yer, uma base a partir da qual pareceu-me ser 111•8!11\t1 a construção de uma explicação preliminar para a natureza e características d111 d11cnçâo em território alagoano e para os desdobramentos que vieram a ter na vida

r 11111 das Alagoas.9 Assim, essa história dos arontecimmtos, tal como a designam de uma perspccti,·a

i.;tÍtica os teóricos da NoYa História, hoje existente sobre as Alagoas, foi minha fonte

húsica. Procurei lançar mão1 ainda, de algumas fontes primárias disponíveis que, junto 1,; 1m outros documentos penosamente rastreados, e com o que consegui consultar na

lm,1r111teca do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, me deram possibilidade 1 111111 rcleitura, a meu ver, nova em relação às existentes. Algumas entrevisras que

1111111cw11 fazer contribuíram também, em muito, para a execução da tarefa que me u 11pwi, rm relação aos tempos mais recentes.

\ 111111011:111cia desse material é: tanm maior quanto mais se leva cm conta que, em terras alagoanas, os tloc11111l 111ns hmóricos tém sido objero de profundo descaso pela maior parte daqueles gue os deveri:1m ter cm h11a, ' ' 11cm~t1ca e cuidadosa guarda. Ressalvando se o Jnsriruto Hisrúrico e Geográfico de .-\lagoas que, a duras

, tem conseguido m:mrer em dia seu modesto mas bem cuidado acervo, buscar informação hiM• •rica cm pnll!JM~, na ma maioria sob a guarda do poder público em Alagoas, í.. tarefa quase impos~ín;I. tal a

ri b lc lfoc:i e a desordem reinante em seu arquivo público ou na única biblioteca estadual ali exisrenre.

Cultura e Educação nas Alagoas· Históna. lustórias 23

Page 18: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

AS BASES PARA A OCUPAÇÃO DO ·rJ~RRITÓRIO AO SUL DE PERNAMBUCO

Alagoas, como espaço político-administrativo autônomo, no contexto da (111111,1c;.ao sociaJ do Brasil, data de uma época relativamente recente, tendo ficado, 111 o ,ino de 1817, ligado formalmente a Pernambuco. Contudo, o território hoje 11r1 r · 11nndente ao Estado tem sua ocupação e seu desenvolvimento econômico e social

p l1111 1.1dos nos primórdios da colonização. Por isso mesmo, as raízes de sua vida social r. 1111htica têm de ser rastreadas ma.is além, desde o século )...'YI. Hi

Em todos os autores que se dedicaram ao estudo das origens e do lc ~·m·olvimento da sociedade brasileira e alagoana, uma afirmação é constante: o longo de nossa história colonial, o atual Estado de Alagoas, como de resto boa >:tcni-âo das terras que foram produto elos descobrimentos, até meados do século \ 1, 1nritório livre para a cobiça de navegadores, não veio a ser efetivamente ocupado

1 li 11' 1,1 1 a partir de então. I· • t abandono a que foi relegado o território aJagoano deveu-se, paradoxalmente,

111 p1n1c111 dt. t:xploraçâo do pau-brasil pensado pela Coroa portuguesa para os novos 1c111t1'nio~ descobertos. Havendo em grande profusão na nova terra este "símile das

111rm1rlo1ia.r rmmtais: o pau-brasil' (PAORO, 1975, p. 105) que, na ausência de metais e pedras 111 t•t insas, permitiria a sua Jnserção no projeto mercantil portugut:s, cuidou a Coroa de ncl11t;\l o sistema dejêítoria.r, já largamente utili:i:ado na Índia e na África com bastante

11(·1 • v>. Através desse sistema seria tocado o comércio sem a quebra da \·elha pra....:e 1111111111111pólio real sobre todas as aci,·idades comerciais que se desenvolviam no Reino. l llh? 111d11 o sistema de concessões, tão ao gosto da Coroa lusitana, esse monopólio 11 • • n i • cx<.!rcido diretamente, permanecendo, contudo, o rei com o controle de

Oblttl\ os clcsrc trabalh•). trata.remos, aqui, apcna5 da ocupação do rerrirono conduzida pelos europeus, fi 11 p~na 11 cena o elemento :iutócrone apenas n a medida em que este se antepõe :io projero colonizador.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 25

Page 19: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

Mediante carta de privilégio, na forma dos antigos usos portugueses para com os comerciantes c~trangeiros que agiam em ~cus territórios e para a exploração de domínios além-mar, o sistema armava-se em três vertentes: o rei, que dava a concessão e garantia a integridade do comércio, com armas e forças civis de controle do território; o rontratador, que tocava a empresa, armando as naus e Yinculando-se aos financiadores internacionais interessados na redistribuição da mercadoria na Europa e, finalmente, a feitoriri, de Yelha, útil e bem usada tradjção.

Essa instituição, porém, que em terras de outros continentes foi embrião de povoações prósperas e garantia da presença da metrópole, aqui deu lugar a "opma.r abrigos para re1mir'iü e proteção de df/êrentes mercndonas à espera de transporte" (FR..\'.:\CO, 19-1, p.

28). Por isso, e pela imensidão do território, esse modelo não edtava a presença dos comrabanclistas de pau-brasil, sobretudo os franceses '~freqüentes desde 1504, nem a cobiçc1 espanholo, perdidos todos, corsários e capitãf!s, na imensa costa hrasileim, capaz de alimentar um comércio lucrativo" (P:\ORO, 19-:;, p. 106) 11 , pondo em risco o monopólio e até a posse das novas terras. Além disso, a feitoria apresentou, desde logo, um ponto sumamente frágil, incontrolável mesmo: a dificuldade de comerciar com os habitantes da terra, refratários a alianças duradouras e insubmissos12

, o que golpeava no seu cerne o modelo de exploração - afinal, como conseguir exclusiY:idade das mercadorias sem estar preseme a cuidar delas? 1 sso deu à Coroa portuguesa a certeza de que o Brasil seria de quem o colonizasse e nele estabelecesse núcleos populacionais estáveis e leais.

li Em território alagoano, abundante em pau-br.1sil, hou,·e. durante os pnme1ro~ anos após r, oescobrimenro. p-ande presença de franceses que ali apomn·am em busca daquela mercack•na. Pro\'l disso e- o rc-gistro existentt'. no chamad<> mapa de Barleus, que repre~cma a parte mendional da Capirania de Pernambuco, datado de 1643. de um Jlflrf(/ dos rra11c1'.re.r nas imediaçôcs da lagoa :'lfondaú. Este, porém, é apenas \lm dos o·és ponos com ral denominação na~ costas alagoanas. Gabrid SCJares de Souza. t:m seu Tratado dmritir(I d() Bi·asi/, consigna em 1587 tré~ porro~ em Alago:t.~ com tal t!enom.inação: O Porto T eUi() dos 1 ranmes (quatro léguas antes do no São .Miguel), que yem a ser aquele mesm•) do mapa dL B:rrleus - hoit a Praia do Fr:mcés. delioa do~ rurmas; o Po1to _'\:oro dos Fra11<tm (duas iégua~ adiante da f07 daquele rio, na barra do rio Jequ1á) e. rinalmeme, o Í'1J110 tkJs frflll<rM

t.>mtegido pelos Baixios de D. Rodrigo, próximo à en~eada formada pelo óo Coruript';. hs~a abuodãncia de pau-brasil em rerritúriv alagoano foz. in<:lusi,·c, com que seu contrabnnt!o se prolongasse aré, pelo menos. 184(1. dara cm que foi apreendida em Coruripe uma embarcação françcsa, que já se acha\'a em parte carre~ada com aguei:< madeira. t{'ndo outro barco que também ali ~e encomraYa consegmdu fugir. Cf. S.-\.1\:T'A .. 'I-\. in .. \1 .T,\VIL\ (1988: :?3-24, nota 1).

12 Os grupos indígenas locais não estavam trabalhados como os da Índi;1 pelo contato com mouros e curopc:u>.

aceitando assim entrar no jop.o comercial português e trocar por mercadorias ouro e outros produt0s <la cerra .

26 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

Page 20: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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A 1r.ntariva de viabilizar esse projeto através de expedições colonizadoras, que 1 f11 • 1 11 1 h,1Jho da armada guarda-costas e exploradora com a expedição colonizadora,

nl• • 1 • jlll fez Martim Afonso de Souza, não atingiu o objetivo, permitindo tornar f ti 1 1 1 lt·scoberta pela posse que fecbasse o comércio do Brasil aos estrangeiros.

11,>111 .1~ povoações esparsas já existentes, obra de colonos degredados, desertores, li 11l1.11111s, sem a vigilância da burocracia real, eram inócuas do ponto de vista do controle t , l 1 e 'pi oração das riquezas da nova terra.

< ) pau-brasil, pela sua importância no contexto comercia] europeu, exigia mudanças Ih! h111n.1 el e.: ocupar o território. Afinal, além de seu valor comercial, seria através de um fl µ111 1• 1 \ 1sível e palpável como o comércio dessa madeira que" a esperança - quase a promessa 1 , 11/,11,/i1 prlo êxito espanhol nas suas colônias americanas- a esperanpa de ouro e prata poderia se tornar / 1 •li~ I" (rAOR0,1975, p. 107). Era indispensável, pois, ocupar o território.

Vale assinalar, porém, que, a despeito do malogro do modelo feitorial, com ele 1111.1111 lançados os elementos fundamentais - o político, o comercial e o territorial- para

1 1 l\p,111 sào comercial portuguesa que} segundo faoro,

vão perdurar />or três séculos, com alterarões apenas atfjetivas: os comercirmtf.r, em ceito momento, nâo podiaJJJ ser estrangeiros; 11s Jêito1ias se ak1rgaram em estabelecimentos /irodutivo.~ com rmrcadoria.r adequadas à demanda unjversal. No centro, pemmnente seria r1 domínio da realeza - o estamento - 1•inmladri ao capitalismo europeu (fAOR0,1975,

1' 106) .

A11ti 1111, 11pos .1 expedição de 1vlartim _.l\fonso de Souza (1530-1532), última tentativa 1111111111,n Jn(.;ta1s preciosos no novo continente, muda-se o modelo para que fiquem

~111 111tidos os propósitos: Dom João m institui as capitanias hereditdrias1 surgindo, pelo 1111 1 d1 'I ele outubro de 1534, a de Pernamlmco, também chamada de Nova Lusitânia, l 11111 n cx11· 11!l:m de 60 léguas de terras situadas entre o Rio São Francisco e o de Santa 1 1 ü de l 1.1111:11.td, incluindo assim nos seus domínios o território correspondente ao 111111 h;1.1cl11 dt· Alagoas.

' 1'1 ndo como intento o aperfeiçoamento do sistema de feitorias, quanto ao 1\ 11A1111 11111 llllc deverá se seguir, como condição fundaniental para a viabilidade do

)'' 11 111 d11 1 ,1111 Prado:

Cuhurn! E<luca~âo nas Alagoas História, histórias 27

Page 21: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

Para os .fins mercantis que Sl' tinha em vista, a ompaçào não se podia fazer como nas simplf.s feitorias, con1 um red11zido pessoal zncmnhido apmas do negócio, ma admíniJ'lraçâo e d~fesa armada: era preciso ampliar estas bases, criar um povoamento capaz de abastecer e manter as feitorias qttf. se fundassem, e organizar a produção dos géner&s que interessassem ao se11 romérrio. A idéia de povoar surge daí e só dnL Há um q}N.õlamento entre os tradicionais 0Í!/etii1os mercantis que assinah1111 o início da expansão !!ltramarina na Europa, e que são conservados, e as novas condiçr7es m1 qt1e se real.izard a etupresa. A queles oljetivos qm vemos passar para (; segundo p/(1110 nas colônias temperadas, se manterão aqt1i, e mam1râo j1roftmdame11tf afeição das colónias do nosso tipo, ditando-lhes o destino. No seu ro'!/unto, e vista no piano mundial e internarional. a colo11ÍZfi(ÔO dos trópicos toma o aspecto de uma vasta m;presa comercia~ 111ais comple.'>-:a que a antiga feitoria, mas semprl' com o mesmo carátfr que ela, destinada a f>:plorar os recursos nr1t1.frais de um território virgem e111

pr01:eito do comércio europeu. É este o z1erdadeiro sentido da coloniZfJfâO tropical, de. que o Brasil é uma das rtsultantes; e de explicará os ele1J1enfosflmdamentais, ta11to 110 económico ro!JJO no social, da formação e evolução histórica.r dos trópiros americanos

(PRt\D0,1948, p. 16).

Assim se procurava tocar sob nova forma de organização uma empresa comercial gue tinha como objetivo imediato o comércio do pau-brasil, logo seguido pela exploração do açúcar, cujos preços vinham se elevando nos mercados europeus desde a segunda década de 1500, sem se perder de vista a possibilidade das minas, tão avidamente já buscadas por outros expedicionários.

Nas cartas de doação e nos forais1-', junto com a exploração do pau-brasil, pode-se já antever o interesse dos capitais de Lisboa, portugueses e estrangeiros, pelos engenhos de açúcar. Segundo Varnhagen, o açúcar já estava presente como motivo mesmo antes da criação do sistema. Conforme afirmação sua, contradizendo a primazia c.1ue se atribui a Sâo Vicente no cultivo da cana, já em 1526 teria entrado em Portugal algum açúcar de Pernambuco e Itamaracá (VARNH1\GEN, 1963, p. 106).

Assim, no momento em gue D uarte Coelho Pereira assume, em 1535, a donataria de

.. ; l:~stes eran1 regulan1entos que c>utorga\'am aos donacirios poderes públicos de.. c.:onccder terras, recolher tributos., exercer. enfim, o poder político e administrativo 11os territórios recém-criados.

28 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

Page 22: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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1 ri 1nl1111 111 j(i se tinha certeza das possibilidades do cultivo da cana de açúcar nas 111\ 1 \ 1 1 q u 1 :1111a - "de feito, e111 nenhuma parte se ofereciam de modo tão cabal as condiçõn

rr 1'/r11 /'•llll rsta fSpécie de cultura: terras à discrição, adequado clima, to eim1ento da produção, 1 1 llllirlr1 prla escravarid' (AZEVED0,1947, p. 235)

J\ gora, a colonização das novas terras através de plantação, e não mais 1p 11 de simples extração de madeiras, vem estabelecer em definitivo, no nordeste

110 li1 u"il, um empreendimento de cunho capitalista - produção para o mercado A1111 l.1 q11t• dentro do espírito do "capitalismo mercantil e politicamente 01ientado ''como o

1lrn11111111,1 t·:ioro, e que caracteriza o século XVI português. Tal projeto traria em seu h11J11 11111,1 'lt'rie de consequências, que podem ser assim resumidas:

As relações entre os capitães-governadores e os r·eis e entre os potmtaclos rurais f' o governo tiverat11, de um lado, acentuado cunho patrimonial, pré-moderno. O donatário caracteliZfl·SP pela qstalidade duplr1, de fazendeiro<' antüridade, Sf'm a fusão de ambas, fusão incompatível com a ordem legal po11uguesr1.(..) O rú delit11ito11 tis 1•a11tagens da colonizaçiio. reservando para si o dízimo da colheita e do pesmdo, o monopólio do comércio do pau-brasil, das especiatias e das drogas, o quinto da.s pedras e metais preciosos. O governo portug11ês não pstnhr1 no negócio o seu capital, ao tempo escasso e comprometido com outras aventuras. Sf!"via-se de parliculares - nobres e ricos com sua.r cliente/as e parentes sem cabedal acenando-lhe.r com a op11lfncía e o lucro fácil, móveis de ação tipicamente capitalista, como capitalista seria a oferta aos pobres da fácil vida ame1icana. A propriedade mm/ brasileira tomo11 fôlego e se expa11di11 para a exploração de artigos exportáveis. ligados ao mercado mundial, pela via de Lisboa

(FAOR0,1975, p. 131).

Assim, o sistema de capitanias, obra do Estado, inv.estirá os donatários dos 1111drr~ s públicos que lhes serão, deste modo, delegados. As donatarias, porém, não \ , 1 u1nseguir dar conta cabalmente daquilo para que for:un criadas - defesa contra o 11111111~0 externo cobiçoso, controle do gentio sempre revoltoso, a par de um povoamento '>uhmisso e de uma empresa sob controle total da Coroa. O projeto em centralizador 1111•. moldes da política tradicional lusitana, mas não conseguia vencer uma realidade "' '' .1, inteiramente diversa da portuguesa: a dispersão territorial.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 29

Page 23: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

Agravada pela autoridade dos funcionáríos do rei e dos senhores de terra que cada vez mais iam adquirindo uma autonomia inadmissível sob quak1uer hipótese, a contradíção em que se debatia o sistema passou a exigir novo ajustamento no projeto político-administrativo há bem pouco instalado:

o comando da e.conom;a e da administração deveria, para consr-rvar o já tradicional

edifício do govemo portugt1ês, concentra1~se nas zelosas e áumentas Jllfios, mãos ávidas

de lucros e de pensões, do estamento bumrrático" (FAORO, 1975. p. 142).

Não era tolerável, sob risco de botar a perder a empresa real, que continuasse no Brasil o colono a agir da forma autárquica descrita por Frei Vícente do Salvador: "repúblico, nem zela OU trata do bem COJJ7U!JI, senão cada tlm do bem particular', estando na terra as "coisas trocadas, porque toda ela não é rep1Íbika, Hndo-o rt de cada u11/'(s.d., p. S9).

Faoro acentua inclusive, em sua visão da natureza do projeto colonizador português para o Brasil, o caráter controlador de empresário da Coroa portuguesa, no intuito de contrapor sua tese àquela de que o nosso pais teria sido ocupado em moldes feudais, sem deixar conmdo de assinalar os resultados práticos do desenvolvimento da empresa nos imensos e esparsos territórios:

Não jf: negue (sic), lodavia, os ~ffitos de.rantralizadorN, dispersivos das

donatarias. Efeitos ine1:ittfreis, derorrwtes do isolamento geográfico, da extensão

da ro.rftt. capates de ,gerar 11úcleos de autoridade socia~ sem que a administração

real permitisse a consolidação da autonomia política. As oligarqrlias locais.

resistentf.r ao co/Jtrole central, terilo s11a base no sémlo XVI, mal lo/eradas j/!1f1pre,

desde o advmto do governo-geral e da progressiva rentra!izt1çrio logo i;;.;tt1m·ada

(F1\0RO, 1975, p. 133) .

Esse germe de autonomia pode ainda ser melhor aquilatado se atentarmos para o que se segue, díto ainda pelo próprio Faoro:

30 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

Page 24: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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O exerrícto da v1erra ao ind{~ena r a obra do defeso e:x.1ema acent11avam use traço . da a11to11orma /,fazendo da a11totidade local o corpo de uma força militar autónoma. Os goNmadores tornavam-se verdadeiros sátrapas, an;pliando, por efrito das necessidades, pelo e.rtÍ!nulo à a11sé11cia de vi._~i/ância, a esfera de suas delegações. Os colonos hauriam a autoridade de seus recursos. i11s11bordi11a11d(J-.rt: contra os donatá1ios, sem respeito ao próp1io rei, dista11te, calado. inntt (F.\ORO. 19"'5. p. 142).

"íl·n<lo, pois, o modelo político-administrativo inadequado aos ímeresses do Rei, 1111 gi .1ndc a prosperidade econômica e prorrússora a empresa, cuidou a Coroa de 1 1l11w 11.,ionar o modelo para garantir o negócio. Afinal, a essa altura - 1549 - o açúcar t t i1 "1//1111r .ruredá11eo do ouro e da prata'' (F.A.ORO, 1975, p. 142), que ao rei e seus prepostos

111111• 11 1 :t ''ª defender. O controle sobre o localismo desenfreado e anárguico vai ser tentado através de

lllll poverno gue concentre os poderes, situando-se a meio caminho entre os dois polos 111. 111 auvos e promissores da colônia - São Vicente e Pernambuco. Era o Governo-Gera/,

ln 1111ado na Bahia em t.'>48, modelo. que, no entanto, não extinguia as capitanias: os 1 1pll. e'" passariam a ter seus poderes públicos incorporados ao sistema de Governo­( ft'I :il, o,c·ndo assim fiscalizados por um poder mais alto em assuntos militares, da fa7.enda

,J 1 Ili 11ça, mas, preservando ainda muito de sua autoridade como a de conceder 1r1111tm11.1 11 , por exemplo. Trata-se de um novo sistema jurídico-administrativo, que vai pt 1d111a1 por dois séculos. Contudo, respeitando os direitos vitalícios e hereditários d11 donatários, o Rei, através do Regimento e do documento de nomeação de Tomé de Sollza como primeiro Governador-Geral, vai manter em vigor, absolutamente ltl1111 .idos, duas dimensões da sua autoridade que merecem reparo e atenção - o poder puhh1 1 > e o patrimonial.

h:ita essa nova e definitiva tentativa de centralização através do Governo t •fl ti, 11 que está consignado nos documentos reais nem sempre vai ter força para 'il L11 11 1 t 1 H' t a realidade do dia-a-dia da colônia - as grandes distâncias e a dificuldade dr 1 c111111111c.1ção já assinaladas permanecem, "deixando, nas dobras do manto do _R,ovemo.

Wlllnl n:1m grandes e>m.:nsõcs de terra doadas não simplesmente a quem as pedisse, mas geralmente a um poue~ e capacidade de desenYoh-é-las economic:uneme.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 31

Page 25: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

nm1tas mergias sültas. que a Cüroa, em certos 111onm1tos, reprimirá drastiramente" mas, que em outros adrruttrá complacentemente. A rede de poder oficial será incapaz de controlar todo o mundo social que se constrój, inaugurando, com o vício haurido das capitanias, um dualismo de forças entre o Estado e a vida civil (E'\ORO, 1975. p. 149). O que essa política de centralização vai efetiYamcnte criar é uma "c11mpaça buromítira", submissa à Coroa, através de formas administrativas de eficácia já secularmente consagrada no Rtmo para o controle da vida local - os Conselhos e Municípios, que irão regular a vida politica nas diversas localidades existentes ou que passarão a existir.

Surge, assim, na \-:ida social e política brasileira, para aparencemente nunca mais ter fim, aquilo que Faoro chama de "paradoxo aparmte.", ou seja, o domínio das populações dispersas através da instituição do governo local que, com seus cargos públicos de governo, irá cona:ibuir, além do mais, para ampliar a restrita camada da aristocracia local.

De fato, sendo o cargo público, qualquer que fosse ele, uma comissão do Rei, sua mYestidura transformava quem o deúnha em portador de autoridade, conferindo-lhe, ao mesmo tempo, por um fenômeno de interpenetração inversa de valores, a marca da nobreza. Esse fenômeno é assim descrito por Faoro: "como o emprego ptíhliro era) ai11da no sécJ1/o XT ?f, atributo do nobre de sa11g11e Olf do cortesão criado nas dobras do 111a11/o real o exerrkio do cargo infrmdt o aCt1!amento 01istomítico aos s1íditos" (1975,p. 1-s). É o começo, no Brasil, de uma relação de compromisso entre os poderes público e privado <le natureza bem p(;'culiar, que irá se aperfeiçoando da Colônia ao Império, até chc.:gar plenamc.:nte desenvolvido à República.

Pelo projeto da Coroa portuguesa, o .Município'", que na metrópole t:lnha se constituído em instrumento eficaz para refrear os excessos da aristocracia e para

i~ (h M\micípios eram, na \erdadc, as ,·ilas. cujos forais para funcionamento eram. regra gcr~l. de outor~a dos

donatários das capitanias, com a aprO\·açào final do Rei. Sua criação dan-lhe o d1re1tt> de 1er as tcin1ar.i.r /t•ti:JÍi.

compostas de dQis JtÚzes ordi:iários e: rrés \•ereaclorc~. que consrituíam o núcleo de Gm crno, mais procurador.

rcso\lreiro e escridio, podendo havc:r 3inda outros funcionários conforme as necessidades, tais como Juiz e

Escrivão de Órtàos, Juí?.t:S dos Hospitais e ·' rpmisq1M oficiais que jJar dndio sr cfJslm11an1.fazer'. Essa composição,

que passa a ser regida a pm:ir de J6ú3 pelas Ordenações filipinas. irá perdurar por codQ o período colonial, indo até os primeiros anos de, Impüio, ma!s precisamcnrL aré IS28. A única 1lrcracào diuda pela preocupação

ccn:ralizadora da Coroa porruJtUesa será 1 in :roducào, a partir de 16'16, em localidade~ de maior imponáncia, de um .Juiz de rora, de nomeação real, no controle.: do núcleo <lo poder municipal, cm substituição aos juízes

ordinários.

32 Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias

Page 26: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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L dos ~'oca is, idor, uiz e: ição, miai, ação :Jd?.,

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1rlh111ns e rendas, serviria com igual propriedade no Novo .Mundo para

11 11111n ru autonomista do senhor de engenho e do fazendeiro, enquanto

•"'1••110 11 111licm o que pertencia ao Rei. Contudo, esse velho mecanismo de luta 1 ( 111111 ,1 .1 nobreza em terras de Portugal, aqui entre nós não ficou line de

t 1 11 lt:lln~ hem específicos em muítos aspectos, dos quais o mandonismo local 1 1 111111 m11iii característicos.

undo Leal (1975), o poder das Câmaras Municipais no Novo Mundo se 111\ c11 A m:irgem dos textos legais e, muitas '\'czcs, até contra eles. O Governo

h li' 111 ~ ' rnln exercido por um colegiado eleito dentre todos os "homens bons" que 1 li 111 1 ltrcunscrição e que er::im os únicos elegíveis, detinha urna gama imensa

l'lt 111111 1tM1s, algumas decorrentes muito mais do quotidiano dominado pelos 11li111f de· rcrra do que do prescrito na Jei. Na Yerdade, constituíam os "homens bons"~

lllfJ l11,111íl11Knte, todos os nobres de linhagem. Esse conceito, porém, foi se alargando 1 111h m no Brasil, incorporando os senhores de engenho e terras e a burocracia civil

1111l11n1 Dentre eles esta\'am teoricamente excluídos os operários, os mecânicos, os

1 r 11 dos, os judeus, os estrangeiros e todos os pertencentes à classe dos peões. P1 •1 l m, com o passar dos tempos, os lit:ros de 11obrtza existentes nas Cámaras para

l lf• • .los homens bon.r do lugar passaram a contar também com os comerciantes 1 H Ili ud• • t)UC, pela compra dos empregos, se elevavam à condição de nobres,

li 1 11fU 1111111 ,1quil0 que Faoro chama "aristocracia por.remelhanra" acarretada pela igualdade 111 11111111111ts, do consumo e do estilo de vida dos que adquiriam posses. Era a

llllltlllllhl.tdc de um processo já comum em Portugal, cm que "a b11rg1mia (..)não SJ(f?Jttga 111q111l11 " 11obreza, senão q11l' a esta se inc01pora, adni11do à .r11a co11sriê11cia sorial" e ''a via q11e

1111 l lútla1 as dasses e as 11m;~11lba no estammkl é o cargo público, imtrumenlo de amálgama t' controle 11711irt11s por parle do soberano" (FAORO, 1975, p. 175-176).

I '• 11 outro lado, a própria lei, na medida em que não separava os poderes nas suas h p11 1 11v

11', dava aos comissionados funções públicas de toda natureza, que esta·rnm

11rd1 11 11 l 111 1111icamente pelas subordinações gradativas dos controles, todos em geral

\ n 1 • •n•m 1a <las Cnmaras er~ enorme no quoridian•:> d:is locahdadcs que govcrna,·am poi~, além do mais, não 11 lrn<j\trl." 1motuiçt1c' o poder Executivo - o Prefem>. digamos a.ssim - como instànc1a diferenciada e

Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias 33

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muito distantes, e gue iam att: o Reí. A necessidade de lealdade das municipalidades, ditada pelas condições ob1em·as a que esta\Tam submetidos os negócios reais - ,-asridâo terrirorial, insuficiência do aparelho burocrático, constante perigo a que estavam submetidos os interesses econômicos monopolistas da Coroa pela ação dos índios e dos corsários estrangeiros - faziam com que a política centralista e controladora da Metrópole não apenas contemporizasse, até o limite da lealdade ao rei e aos seus negócios, com os poderes dos senhores rurais, como até lhes conferisse muitas vezes prerrogati\•as e faYores especiais.

Vários fatos confirmam esse reforço ao poder local como, por exemplo, a proteção dos grandes fazendeiros da cana contra a concorrência dos pequenos produtores de aguardente, mandando destruir-lhes as engenhocas17, ou o resguardo de seu pauimônio de execução por dfridas. Articulava-se. assim, segundo Leal, um poder imenso, difícil de conter enquanto marufcstação do poder privado, decorrente de uma estrutura cuja unidade fundamental era o extenso domínio rural, essencialmente monocultor e consriruído sobre o trabalho escraYo (LE.>\L, 1975, p. 65).

Com esse reforço do mandonismo local, dá-se, evidentemente, uma convergência de poderes - político, econômico e socíal - nas mãos dos latifundiários, tornando­os os centros efetivos do poder na colônia. Sobre a conjugação dos interesses dos proprietános de terra com n poder representado pelas Câmaras, diz-nos .Maria Isaura Pereira de Queiroz:

Exercimn, pois, as Cánum1s M1111icipr1ú inteim attloridf/dt> ('fll seus domínios. Nisto

não faziam mais do que refletir o poderio dos latifundiários, o sn1 interesse no gorem(I

local. Para utes senhores mrnis, o interesse partimlar eslat•a inextrincarthnmle

ronfimdido co111 o intrre_r;e JJlllniripa~· m resoluções to111t1da.r pela Cámara .\J11niapnl

não refletiam .rommlt a preocupação rom o ben1 C0'111ffl1 1 si!ll lambé111 a prP{Jcupacào d{J smho1· rural e111 drfandtr sms interesses prit1ado.r; não hal'ia stparação mtr<' 1ff1S r'

outros porqttt' r1 rralidade econômica, política e social da Coloí1ia r.ram {JS proprietálios

rurais (QUri.lROZ. 1976, p. 43).

,- As e1~~t11/Jt,r111 eram erlfrenagens mais ruclim<..'flrares do que: o~ cng<..'flhos que, opi;radas por pequenos produtores,

serviam para produzir aguardeme. rap3dura e mel, comcrc1a!Jzados no reduzido mercat!o interno.

34 Cultura e Educação nas Alagoas · História, histórias

Page 28: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

vezes

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encJa ndo­. dos ;aura

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lmnte .

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t>açào Uf1S ('

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1 1111 .. pois, desde gue se organiza a ocupação da terra e se institucionaliza a li lf 11 1 do poder, as incursões do interesse privado no domínio público, não 11111 1,1do mas, muitas vezes, até incentivado. Implanta-se aqui uma forma de 1~.11 1 cm que

a objetividade e a impessoalidade das relações mtre súdito e autoridadf.. com os vintf.llos racionais dr rompetências /imitt1das e controles hierárquicos1 será obra do futuro, do distante e incerto jitturo. Agora, o sistema i o de manda quem pode f obedecr quem temjuizu, aberto o acesso ao apelo 1'etijiet1dor do rei somente aos poderosos (FAORO,

1975, p. 172).

Quanto ao poder centralizador da Coroa, mais visível e efetivo apenas nos fins il d f.l culo 1..'Vll e, assim mesmo, nas regiões de mineração, este não vai estar ausente 11 ,., 1cgiõcs de latifúndio ocupadas desde o século XVI; pelo contrário, sua presença se d 1,1 1 justamente, através da transigência ao que não punha em risco o domínio real. l'l 111 poder constituído pelos "homens bons", reforçava-se o poder dos senhores, com

11 .11 ribuiçôes judiciais e de polícia ajudando a construir o poder do senhorato rural, 1111 lt,pcnsável ao bom êxito da tarefa colonizadora. 18

Fechando o arranjo da vida social, para além da estrutura político-administrativa 1111111tada para o desenvolvimento da empresa colonial, teremos a ação da Igreja. \ da irá caber, desde a regulamentação das alianças matrimoniais e o registro dos

11.1-.c1mentos, até a presença consoladora na morte. A assistência social será tarefa 11wisc exclusiva sua, por seu clero ou por suas Irmandades. O ensino será monopólio c·u, como sua há de ser a regulação da vida através dos ritos litúrgicos e dos

l t ibunais eclesiásticos. A Igreja logo virá a ser, também, a grande animadora da 1 tda social, através dos laços construídos por suas Irmandades e pelas festividades

11 O esquema venical de poder na época colonial era estrururado, na ordem descendente, do Rei, passando pelo Go\·ernador-Gc:ral, depois Vice-R<::i. descendo para os Capitães das çapir.anias, indo até as autoridades murucipais. Porém, como os Yínculos dessa hierarguia não eram muito bem explicit-ados, todos, inclusive as autoridades munidpais, se dingiam diretamente ao Rei <: aos que lhe estavam próximos na escala hierárquica, 11rropelando os graus intermediári•::>s c.le comando e reforçando presúgios e privilégios. 1\cresça-se a isso o faro 1 I ~ que, mesmo depois de criadas :is Comarcas com seus Ouvidores, estes niio tinham competéncia par:i julgar •~pessoas de mais qualidade e o clero, amando apenas sobre os "dt.l'd1s.rific,1d~s". U FAORO (19i5. p. 179190} .

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 35

Page 29: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

qut. congraçaYam as populações dispersas. ~as Yilas, nos poYoados, nos engenhos e tazendas, os clengos, aliados aos senhores, irão a1udar a qucbrar a resistência ao despotismo da dura e cruel realidade colonial, fazendo um conrrapomo aos padres burocratas que, num mundo carente de letrados, irão ter muitas tarefas a executar no Go\·crno. Será dentro dessa moldura geral, comum às terras do Novo Mundo em todo o período colonial, que irão se efetiYar a ocupação e a posse do território alagoano, com todas as consequencias políticas e sociais que daí adYirão.

36 Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias

Page 30: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

:nhos :1a ao a dres ar no todo Jane.\

COMO SE CONSTITUIU A VIDA SOCIAL EM TERRAS ALAGOANAS

Nas três primeiras décadas dos anos de 1500, quando vigorou o regime de 11111111.1s, o território ao sul da capitania de Pernambuco permaneceu entregue aos fUUt\'os da terra. Sendo o litoral de Alagoas, na época do descobrimento, terra de t 11111-. l! Potiguaras, estes vivendo ao norte, a partir da região onde se encontra hoje I • •11, 1 Calvo, e aqueles no sul, desde o início tiveram os portut,rueses muita dificuldade

111 1 it upar o território, a ponto de se afirmar, em referência sobretudo aos Caetés, que l >11.11 te Coelho Pereira precisou "irJ!,anhando tl palmos o que se lhe concedem a légua". 19

Nessa ocupação, um fato exemplar passaria, a partir de então, a povoar a 1111.1~inação dos colonizadores. Havendo naufragado nos Baixios de D. Rodrigo, próximo

loz do rio Coruripe, a nau Nossa Senhora da .LJ;url~ (16/ú6/1556), que levava a bordo com 1k~11no a Lisboa o bispo de Salvador, Dom Pero Fernandes Sardinha, este e muitos de 11 '"' 1 l>mpanheiros de viagem foram devorados pelos índios.20 O ato provocou uma

ptd ição punitiva, chamada por Moreno Brandão de "guerra de extermínio". Comandada 1 ( 11 Jcrúnimo de .Albuquerque, cunhado de Duarte Coelho, essa bandeíra sangrenta, "l11ktulo os autóctones, numa fúria louca, aos ;mpulsos de u111 ódio desabrido" (BRANDAO, 1909, p.

1 ~la afirmação é atribuída por Moreno Brandão (1909) a Sebastião da Rocha Pitta. :\la verdade, a dificuldade que IM·r:un os portugueses de lidar sobretudo com os Caetés parece ter sido agravada pela aliança da9ueles com , ,. Tnbajaras, inimigos tradicionais dos Caerés, pois consta que esres índios tinham relações bastante cordiais c111 11 os franceses que frcguentavam as costas alagoanas no primeiro século de:: nossa colonização. O casamento 41, lm'inimo de Alhuquerque com a filha do cacique Tabaiara i\rcoverde, selando a aliança dos senhores da 1 11•11 .mia com os principais inimigos dos Caeté~ parece ter sido um fato que mais acirrou o combate sem trégua ~ 1 •• fn<lios alago:ll1os contra o colonizador.

• 11,ur1do Moreno Brandão 1)90'>. p. W) e Cnivdro Costa (198.\ p. 12\ apoiados em Frei Vicente do Salvador,

P• • •lllpanhavam Dom Fernandes Sardi11ha nesta \·iagem a Lisboa, onde o bispo ia se queixar ao Rei do ( ,, 11 n nador-Gernl. "o pro1·edor-mr;r, /lntónio Cardoso df Barros. doi.< cÓ11<'.f!/!S, d:u's Jimlbere.r hom'fJda.r, 1111úto.r h(J111tm uob1'es

~,,,,,f 11111ito ,gentr, que po1· to,-/(1wç;n;1'Jlais de cen1 pessoa/ '. Rumando os sobreviventes do naufrágio para Olinda,

11 r '' 11 u, ''.foram mpiici,idos pelos ,·dva.gens", salvando-se apenas dois índjos baianos e um porrngtiés, por falarem a l 1 11 • t1 .~ 11va.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 37

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10), se não os exterminou, empurrou-os para tão longe, mtenor a dentro, que os afasto das areas de postenor ocupaçâo.-J

Datam mais ou menos dessa época duas outras cxpedições: uma empreenclida por Cristóvão Lins, que tinha como alvo o combate aos índios Potiguarns e outra por Duarte Coelho de Albuquerque, segundo donatário da capitania de Pernambuco, com o auxílio de seu irmão, Jorge Coelho de !\lbuquerque.22 Estamos, segundo Diégues Júnior, entre os anos de 1565 e 1575. Esse trabalho de combate aos índios Cactés e Potiguaras, nas áreas de interesse de colonização por todo o litoral sul da capitania de Pernambuco, parece ter sido tão radical que, apoiado em relatório de 1862, feito por ~fanuel Lourenço da Silveira, sobre o estado dos índios da ProYÍncia, Diégucs Júnior afirma que

11ão aparece/JI. 110.r aldtame11tos que .re co11Jhturm 110 .rolo alagoano n pmtir dQ sémlo .\177, elementos descendentes daquelas tribos: vias mrgm1 os restos dos rmiri.r e chumms em sttt dntas aldeins, <' carapotó.r, cnriri.r e aco12an1 e17111ma, a de Porto Rtril do Colrgio

(D1EÇ:L:ESJÚ:-110R, 1980, p. 81).

Eliminado o elemento que dificulr.aYa não só a fixação no terrirório mas, sobretudo, sua exploração nas bases econômicas preconizadas pela Coroa portuguesa, e feito o levantamento das potencialidades da região, estavam dadas as condições adequadas para a tarefa colonizadora, por volta da década de 80 do século ),,,'VI. Evidentemente den:riam já existir, ames clisso, alguns pequenos núcleos de população, sobretudo em Penedo e ao longo da rorn por onde haviam passado as expediçôes desde a década de 40. É certo, contudo, que é só a partir da expedição de Jerônimo de Albuquerque, secundada pela de Cristóvão Lins, que se estabelece o projeto colonizador portu~l"l.1ês em terras alagoanas.

Essa expc<liçào contra os C:acté> dumu, segundo Craveiro Costa (19fi3: 1 '-1, cerca de 5 anos c foi secundada por um edito real qu<. condenou os sobre,·1vences à errraL'idô~ p1rpitJ1a.

22 Segundo Sant'Ana. cm nota ao livro de Alradl. se não se pode afirmar com segurança ter sido Crisr<'>vào l .ins comandante dessa cxpc:<liçk., e segura a sua parricipacào, assim como a recompensa recebida atrnvés d.: uma ,-asra ~o:smaria guc ra à~ foL do rio J\languaba at~ o caho dt: Santo Agosrinh<>. cm Pcrnamhuco. Cf .".LT.-\\'ILA

íl 9~b, p 18. noto> S 9 ..

38 Cultura e Educação nas Ala!(Oas - História, histórias

Page 32: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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A ocupação do território, segundo Diégues Júnior, se deu a partir de três ft n11 bem definidas: uma ao nordeste do gue hoje corresponde ao Estado de

111~ 11 1'1, lendo Porto Calvo como núcleo de irradiação, outra no centro do liroral, 1 1111110 das duas grandes lagoas ali existentes, que deram nome à primeira

11.1~ ;10 - Alagoas23, enquanto o terceiro foi situar-se ao sudeste, com Penedo

1111111 t t:ntro irradiador. Como não podia deixar de ser, o intuito primordial desses ~líc 111.1incntos foi a exploração de uma das principais riquezas coJoniais a que

pt t !ltnva a região: "é no dese11vo!vimento da agrim!tura da cana-dl'-aç1.Jcm· que assenta a 1 ,1111, 11pâo de cada um desses núcleos fundamentais do povoamento das Alagoas., (DIÉGCES

lt IPH 1980, p. 41).

Foi CristÓYâo Lins o iniciador do processo de povoamento com finalidades 1 , 11111micas, vindo espalhando engenhos a partir do cabo de Santo Agostinho,

q111 t•ra o limite norte de sua sesmaria, até à região de Porto Calvo.:!4 Nesta região lundnu ele cinco engenhos e o povoado. Estamos por volta de 1590, mais ou menos.25

11111111 rom Cristóvão Llns, existem registros de outros senhores de engenho na região 1 l'nrto Calvo por volta de 1630, todos parentes daquele sesmeiro. Bem ao estilo

lt• t• ~'.t:IO, a ocupação do território constituía-se, assim, em um empreendimento r .. 11111111 , com grupos entrelaçados por laços de parentesco, sendo Cristóvão Lins tio Ir I{• 11l11go de Barros Pimentel, o qual, por sua vez, se casará com a neta de Cristóvão

l lttti, r111m processo endogâmico que dará à família quase dois séculos de controle 11h11 .1 rcgião. Nas outras regiões não irá acontecer de forma diferente. Proprietário,

111 1 p11rn, de dez engenhos de açúcar, Cristóvão Lins compartilhava com a parentela

H d11111inio da área pela subdivisão da sesmaria provavelmente já no ano de 1608, com

l 11•111rinclore~ c<:>mignam Yários nomes para t!ssa localidade::, provavdmt:nte fruw das variações acontecidas 1 •flJ"' .ln proces~o de desenvolvimento do povoado , sendo eles Ma,gdalmo de Suboríma, ou simplesmente

\1 1/,1. •1,1, \'1111/tl MaJi.1 Matlalmo d.-i Ligoa do Sul, A~goos do .\'11/ e, finalmente, Ala,goas. O mesmo fenômeno ·Jllll • 111m PNto Calvo, embora C'Jm m.:nor frequência, sendo chamado de Bo11m1ce.<.ro, Santo António dos /1 • 1{11 o p.1r.1. finalmente vir a ser chamado de Por/o Calvo.

11111 o pntk Yer, parte da sesma1ia encontrava-se na região su.1 do amai cerrirório de Pernambuco, o nde 1 11-11" \11 l .ins fundou também dois engenhos.

t 111 11d111hlicil estabelecer com exatidão as datas correspondentes aos fatos desse período, havendo sempre ld li''" 1111;1çà0, a partir de informações colhidas de notícias dadas por c.onremporâneos ou hisroriadnres do f 1 lr11 1 11d11 Ja coiorlÍ:lação.

Cultura e Educação nas Alagoas - Histôria, histórias 39

Page 33: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

a consequente reorganização das áreas de influência, ficando a parte norte com ele e seus descendentes diretos e a parte sul, até Paripueira, com Rodrigo de Barros Pimentel e seus tilhos.

A região das grandes lagoas, ocupada um pouco depois da de Porto Calvo, nasceu também da concessão de uma sesmaria a Diogo Soares da Cunha. Seu papel para a região foi muito semelhante ao de Cristóvão Lins para a região dos quatro rios, ou seja, o de repartir terras que vão constüuir outras sesmarias de menor porte mas, ainda assim imensas, além de fundar engenhos e levantar a povoação de Alagoas.

Para se ter uma ideia da dimensão dessas sesmarias, basta dizer que elas eram concedidas em léguas de terra, cabendo, por exemplo, a Diogo Soares, uma extensão territorial que ia da enseada da Pajuçara ao porto do Francês, com cerca de seis léguas por sete léguas de fundo. Outros sesmeiros que irão aparecer no início do século XVII \'ão ser também agraciados com extensões territoriais imensas, como ?vf.íguel Soares Vieira, que recebe uma sesmaria compreendida entre o Rio Santo Antônio Mcirim e a enseada da Pajuçara (cerca de G légu,'l.s), Antônio de Moura Casrro, com a posse das terras que vão do porto do Francês ao rio Coruripe (cerca de / Jéguas) e Belchior Álvares Ca.melo, com terras compreendidas entre os rios Coruripe e São Francisco.

Se pensarmos que uma légua corresponde hoje a 6 quilômetros (a légua de sesmaria correspondia a 6.600 metros), mesmo sem o conhecimento dos pontos geográficos que foram indicados como limites das sesmarias, dá para imaginar a imensidão dos latifúndios que são outorgados oficialmente aos primeiros colonizadores que, por sua vez, irão subdiYidir seus domínJos impossíveis de serem tocados como uma empresa única.

As escrituras de doação de novas sesmarias, por repartição da antiga, prescreviam todas a obrigação de quem as recebia de desenvolver a terra e povoá­la, assentando nela engenhos de açúcar. Neste processo, engenhos houve que nunca chegaram a moer ou logo se tornaram de fogo morto, mas é dessa forma que vão sendo ocupadas as regiões norte e central do litoral das Alagoas, indo-se

40 Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias

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h1 r t inr até onde os rios, todos de pequeno ou médio porte, permitissem

E li ao. \ povoação da região de Penedo também não fugiu à regra: o cultivo da

l•ll Ltmbém a meta, muito embora ela venha, logo depois, a ser suplantada

1 1 11.1~·no do gado, graças à conformação geográfica das áreas próximas ao rio

to 1 1,rncisco, propícias a pastagens . . Mas a cana continua forte, mais ao norte, nas

1• cios rios Poxim, Coruripe e, depois, São J\-1iguel. Aqui, a forma de ocupação Hl111li1·m nos moldes da empresa real portuguesa - ocupação oficialmente regulada

r I• • , 1111trole do Estado. S:ibe-se, pelas cartas de doação das sesmarias, que uma condição

1 • 1t11nl'dial para sua concessão era o assentamento de engenho nas terras 111 11padas. Claro que não é possível se sustentar ter sido a cana de cultiYo

1 x1 lusivo na região, nos primeiros tempos, pois os registros existentes afirmam

u l;C 11Hrário. Contudo, esses mesmos registros nos informam que a produção de

111111.1 s culturas, nos primórdios e mesmo depois - sobretudo da mandioca - se

ti t.tllUtva ao consumo interno. Segundo Heredia (1988), que levanta essa observação, " flr11'.rsário ressaltar que a idfia de produção de alimentos como atividade realizada em

111 11 /H1r j>Pq11enos prorluton's é recorrente e aparece em autores rle épocas d{fenmtes, qNe. a

1.11i1r/1•riza111 romo 'm!tura de pobres' "(HEREDIA, 1988, p. 42), o que significa dizer que 11 no era lavoura principal, portanto. Quanto ao gado, esse parece ter tido algum 11 kvo, embora circunscrito à região sanfranciscana.

Todos esses núcleos, estabelecidos nos fins do século XV!, só vão se cM fnbilizar nas primeiras décadas do século seguinte. Dessa época, há registros de \ 1111c e três engenhos na frente de Porto Calvo, trinta na frente de _Alagoas e nove

11 1 , 11 ca sob influência de Penedo. 26 .Já no início do século XVII, a importância dessas

p• '' c>:ições as transforma em sedes de freguesia, vindo todas três, já na terceira década d11 ~éc ulo, a ser elevadas à categoria de vilas, tornando-se assim sedes de Governo

fü subdiYidirmos esses engenhos pelas freguesias ciue j~ estavam instaladas nas regiões, teremos: 12 em Porto e 1lv<', t 1 em Camaragihe, 5 em São Bento, 2 no :'.\·feirim, 12 em Alagoas do Sul, 9 cm São Miguel. li em ,\lagoas 11,' Norte,_; em Santo Antonio :Vfeirim, 7 em Penedo e 2 no Poxim.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 41

Page 35: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

Municipal, com suas Câmaras e, consequentemente, com sua organização político

administrativa integralmente constituída e seus núcleos de poder devidamente

arranjados em torno dos potentados de cada região. Com um projeto económico bem definido para a região, temos, portanto,

um povoamento que não se dará de forma aleatória mas, pelo contrário, a partir

de uma estratégia oficial da Metrópole, onde se conjugam condições de solo e

clima, as águas do oceano e as bacias hidrográficas disponíveis: a região dos quatro

rios, ao norte, presidida pelos rios Manguaba, Camaragibe, Santo Antônio Grande

e Tatuamunha, aos quais se agregam rios menores, como o São Bento, Maragogi,

Comanda tuba, Mocaitá e Tapamundé; a região das grandes lagoas, ao centro, com as

lagoas Mundaú, ou do Norte, e Manguaba, ou do Sul, com seus afluentes principais, que são os rios Paraíba e }\1undaú e, finalmente, a região do rio São Francisco, no

extremo meridional da capitania27• É pois, "em derredor das águas, dos rios, fixando-se

nas suas ribeiras", que se vai desenYoJvendo a colonização das Alagoas. Sem tomar

distância do mar,

é nas rí._~11ris dos rios, dos pe.q11enos rios, que o senhor dt fn,gmbo encontra o melhor

colabomdorpara ma organiZfJçào econômica. É 110 rio q11e ele vai hf(srar não so111enti'

r1 rígHa p flra movimmtar a momda; nelt está ti água pam dar 11midr1de r10 solo, para

o h"ansporlf da produ_rào, para o hanúo dos animais, também para o seu banho e de

s11a família (...)É também na água, na água dos rios e Jla água do mar, que o hangiié

mcontra o melhor colaborador para o tra11sport1' de .rua p1-oduçrio (DIEGUES JÚ~IOR,

1980,p. 106).

,~ Esses rios e outros <.JUC depois vão ter suas rnargens ocupadas çram todos na,·cgávcis cnl un1 percurso c:nuc

duas a sete léguas.

42 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

Page 36: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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TTORAL ALAGOANO - OS RIOS DO AÇÚCAR

PERNAMBUCO

.1 :. ~f· H<

1 lllt ,ANIZAÇÃO: IVA!':I F. LI.l\'.li\ (1861) 1 l \PTAÇ1'0: ELCIO DE GUS:YL-\O VERÇOS;\

Valendo-se das vanrngens econômicas que os rios e lagoas ofereciam e o p11 •H•iro comercial de contaro fácil com a Metrópole, aqui o Governo colonial 1 1111lou, com a ajuda da cana, de reter o colonizador perto do litoral por muito tL 111pt>, diferentemente do que aconteceu em São Vicente, onde a cana não deu l l 11l1 a dos compensadores. Assim agindo, a Coroa "previne, w chama exc/J1sÚ'a111ente para

11.1111111!0 tem forças para fazé'-lo, as entradas ao m1âo, tolhendo, sobretttdo, o arbítr·io individua!'

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 43

Page 37: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

(TAPAJÓS, 1!156,p. '.!21). Isso explica a célebre metáfora do "carrmgue;o'', empregada por Frei Vicente do Sa!Yador ao se refenr à forma de ocupação das nm·as terras pelos primeiros colonizadores, dizendo que eles "co11tenta1J1-se de as andar arranhando rio longo do mar rottJo

carmzgm;o.r" (s.d, p. 61).

Cm engenho exigia uso intensivo de mão de obra, começando com a

construção da fábrica e derrubada da mata para o roçado, e seguindo com

sua manutenção, essa ainda mais custosa, que requeria braços para plantar,

limpar, cortar e tombar a cana, para cortar e carregar a lenha para as caldeiras,

para limpar os instrumentos de fabricar o açúcar, sem contar com os serviços

domésticos. Sendo o indígena local irreduth·el ao cativeiro e refratário ao tipo

de trabalho que o engenho exigia, junto com o senhor de engenho vai vir o

escravo africano para o trabalho de cultivar a cana, fabricar o açúcar e cuidar

dos demais sen·iços braçais da casa grande, rornando-se "os pés f as mãos do se11hor1',

conforme disse Vieira.18

Cirando Gandavo, Faoro lembra que a terra era abundante mas "a

primeira coisa q11e [ús proprieláriosj pretendelll alcançar são os escravos para lhn fazerem e gra1?Jtarm1 suu roçt1.r i>fa;;;_mdas, pf1rqne Si'm de.r não se pode smtmtar a terra" (19'5. p.

206). Esse desejo, contudo, irá exigir grandes investimentos, na maioria das vezes buscados junro aos financistas lisboetas, fazendo com que o endividamento pelo crédito penetre nessa e em outras operações de produção do açúcar para nunca mais se afastar.

Assim, o latifúndio e o trabalho escravo, bases da economia que está a se implantar em terras alagoanas, logo do contribuir no engendramento de uma organização social de natureza bem característica em que, com as franquias governamentais, o senhor de engenho, mestre de imensos domínios, vai exercer seu poder sobre grande território e mujta gente:

.. , Padre I\ntón.io \'1elra? no Srmtàfl d,1 10 Do111i11go tÍA Q11,1rtJ1na, cn1 São Luiz do J\f.1ranhàü~ proferido por \'Olt.a de 1635.

44 Cultura e Educação nas Alagoas - Htstóna. lustórias

Page 38: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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nos domínios roraís, a autoridade do proprietário não sqfria réplica. t11do se fazia

ron.rMntr sua vontade, muitas vezes caprichosa e despótica. O rngenho constituía Hm

organisfllo completo f. que, tanto quanto passive~ se bastava a si mesmo (HOL.o\NDA,

1991, p. 48).29

Era da crisa grande., pela palavra do senhor de engenho, que emanavam

li• liberações do dia a <lia. Ela presidia a sede da propriedade, onde estavam

111111l11•m a casa do engenho, a capela e as moradias de escravos e outros

1 t1h dhadores e agregados.

Objeto de abundante literatura (FREYRE,1937: DIEGUES J(1'IOR, 1949; ANDRADE,

1 1'11\NT'/1.J\A, 1970; HEREDL\,1988), a casa grande cipica da região tinha sempre proeminência

11l 11 l o conjunto arquitetônico que constituía a sede do engenho. Frequentemente

11111ldurada por palmeiras imperiais que rornavam possível identificar, já de longe, sua

I'' • .1~·üo, ela estava sempre situada no ponto mais alto do terreno. Quando isso não era

I" ·~ fvcl, edificavam-se pilares sobre os quais era posta, garantindo que o acesso a ela

1 1 li 11se sempre através de uma escadaria. Protegida por alpendres colocados na frente

1111~ dois lados, onde o senhor ficava a maior parte do dia olhando o movimento e

1r1 r bc.:ndo trabalhadores e visitantes, a casa tinha a área dos fundos completamente

1(' g1rnrdada, a maioria das vezes, inclusive, por cerca .

Se não havia, em geral, árvores na frente e nos lados, a partir dessa área

l l. 1 dta dos fundos estendia-se um imenso pomar com grande variedade de fruteiras,

l11d11 nté a mata ou se espalhando de ladeira acima. Aí era por onde se tinha acesso I • 11,·inha, área restrita ao pessoal da casa, mulheres que faziam o serviço doméstico 11h 1 !'ll1pervisão da senhora de eJJge.nho. A esta estava afeta toda a direção das tarefas

llp 1d.1s à vida doméstica. O interior da casa, protegido do mundo exterior, encerrava, d 1 p11rta de suas salas adentro, seus quartos e seus gineceus, onde se desenrolava o

1 11.m>s\lficiéncia e autarquia <los engenhos irá ter, cm AJagoas, vida longa, com os senhores rurais se il11 ,Joriando de só comprarem ferro, sal, pólvora e chumbo, de rodo o mais dispondo em suas cerras.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 45

Page 39: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

quotidiano das familias ''qut' se c0Jlstit11em os núcleos ft111damentais da sociedade alagoa11tl (DIEGL'E!'> Jú:-.JoR, 1980. p. :?03) ou, para ser mais preciso, da soCJedade que políaca economicamente vai conrar pelos séculos afora, evidentemenre. Era na grande sala de jantar, em torno de uma enorme e lama mesa, que a familia habitualmente se reuma, tendo frec1uentcmente convidados:

dr com11m nas horas das r~fúçõe.r as mnas .ff' ench;am. O smbor d!' fllgmho prl'Side 11 refeicno. na cabectira da 111esa. l\7o lado direito, Sf11fa1•a-se o ele111mlo feminino, pnmeiro as swÍJoras, começando pela .rt11hora dt m,~enho, dtpoi.r as moçaJ~ por JÍ/timo as meninas; 110 lado esquerdfJ fical'tlm os homens (DIEGU:::S

JÚNIOR, 1980, p. 211).

Ao lado da casa grande, colocada de modo 3 tornar-se bem visível, estava a capela. As \·ezes, também agregada ao próprio prédio da casa grande, em uma dependência de destaque chamada quarto de oratório. Em ali onde se desem·oh-ia grande pane da \'ida social do engenho, sendo ela, de certa forma, o testemunho ,-ivo e perene das gerações que tiveram o domínio daqueles territórios.

Além das comemorações das festas dos padroeiros, ali a família celebrava seus batizados, seus casamentos, pranteava e rememorava seus mortos. Nas suas paredes e no seu piso unham os senhores e seus familiares a última morada. Capela de engenho hom·e em Alngoas, como a do Engenho Peixe, em l pi oca, gue, segundo Espíndola (187 l), poderia, por sua imponência, ser considerada, ainda no século passado, como a melhor da província, suplantada apenas pela do povoado de Coqueiro Seco (ESPÍ1'DOU., 1871. p. 7).

Na frente da casa grande e da capela ficava um grande e espaçoso pátio, aberto e yazio, por onde se fazia a circulação de mercadorias, pessoas e animais, e onde ocorriam eventuais ajuntamentos, em festas ou situações de necessidade. Nos limites desse pátio, algumas edificações serviam de residência para os trabalhadores livres, formando, t0do o conjunto, o cercadü do engenho.

Voltada para a casa grande e de costas para o rio, dentro do conjunto do cercado estava a cosa do engenho propriamente dita, onde se desenvohi.a o processo do fabrico do açúcar.

46 Cultura e Educação nas Alagoas· História, histórias

Page 40: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

·urna,

·apel.a. enc1a . vida ições

)raYa suas

:ipela Jndo ~culo

.ieiro

:rto e

·nam )ácio, todo

cado )rJCO

1 •>rnpletando o conjunto, prox1mas à casa do engenho, achavam se as 'p:ira abrigar os escravos que, segundo observou Koster, eram "uma fila de

fUffM.1 moradas, lendo a aparência de asilos" (KOSTER, 1942, p. 95). Finda a escravidão, 11111.ilas vão ser transformadas nas casas de moradores, constituindo um padrão

1111c1onico de casas geminadas frequentemente encontradas, depois, nas usinas .11 ruados.

Esse padrão de assenramento vai se manter por séculos afora, chegando até ao 1 \tio \.X, adotado inclusive até a década de 50 pelas usinas. Junto ao sítio destinado

h f• • 1cléncias e à casa de engenho, a cana tem primazia na ocupação do espaço, com " 11 1 rns dos engenhos e das primeiras usinas divididas segundo os usos: os vales \l1111dos, irrigados pelos rios - as várzeas - e as colinas suaves - as encostas - eram Ih 11p.1dos pelo plantio da cana, os vales destinavam-se ao gado, as chãs·'º e grotas31

l t 1111 para o cultivo dos trabalhadores lines e as matas eram mantidas como reserva 1 H:rra descansada para planrio futuro. Mas eram, sobretudo, depósito de matéria

11111n:i para o fabrico e a comercialização do açúcar: da mara se tirava madeira para t 1 ·'' de morada, fábrica e senzalas, construção de canoas, barcaças e carros de boi, 1 ALI fabrico de caixas, barris e demais embalagens para o transporte do açúcar; da 111" 1 saía a energia da lenha para tocar o engenho. Muitos engenhos tiveram de parar li 1 moagem até defirutivamente, permanecendo de fogo morto, por destruição das

11111111s ao seu redor.3~

Encharcando todos os poros da sociedade, a dinámica do engenho irá criar, 111 \'1da social, política e econômica das Alagoas, desde seu nascedouro, o que Diégues 1 \ltl1or chama de "r11mlis1110 urbano", caracterizado pela influéncia rural na ,·ida da

1 1mhc'm chamadas de !abule1m.c, a~ rhiis ~ão planaltos baixos encontrado~ ao longo de toda a ci.tcn~lo 1,,, '' 111ca do Estado de Alagoas, que se orientam na direção oeste-leste, começando próiumas ao mar, com l11nalt aproximada de 50 metros, chq.(ando n ler altitudes superiores n 200 meuos no extremu oposw.

·111 extensão, no sentido litoral-iMerior, Yaria de 20 a 40 quilõmctros e apresentam declive sua\•e em ilirl'pO ao mar.

/\a 1,rri1,u são deprCS$ÕC~ ín~rcmcs formadas nas h~mlas das rf,,lr.

~·ido Sant'Ana, nesse prroccsso de destruição das reservas florcw1is n:i.r• st respeiran sequer madeira de lei, 1 •1 t• lo noócia de uso cm construções, cm Porrugal, de madeira de qualidade, reaproveitada da~ embalagens

t~ thcgavam com produrns brasileiros, sobreru<lo o açúcar. Ci s \:-,T'\K:\ ':9'(•. ;> 3lo.

Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias 47

Page 41: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

cidade, no seu movimento, no seu progresso, com tudo dependendo do engenho do poder que dele emanan. ~e essa característica nâc1 é e:xclusin de ,'\lagoas, aqui contudo, parece ser mais acentuada do gue na maioria das oucras regiões brasileiras devido ao caráter preeminente, de quase exclusividade, poderíamos dizer, que teY o açúcar e, junco com ele, o engenho, ao longo de toda a história econõmica nas Alagoas. Seguindo esse estilo é que irão se aglutinar os elementos constitutivos d sociedade alagoana em formação, criando-se, desenvolvendo-se e se expandindo as ''.famílias do a.rúcarl', as famílias nascidas em engenho (DIEGl'ES Jlõ~JOR. 1980. p.

84), dando origem "à cfrilizaçiio do litoral, mo/m1mte, dommnte recostada sobre o açúcm}' (f:\ORO, 1975, p. 153) .

E a base dessa organização será a família de estilo patriarcal "ondr os ví11mlos htológicos e afetivos q11e unem ao ch~fe os desrendmtes, colaterais e afi11s, além da fan111la~~em e d()s agregados de toda sorte, hão de preponderar sobre as dnvais ronsiden1ções ''. Esse será o padrão único da organização social aceitável que irá se desenvolver, "romo ""' todo 111dit1isÍl'e/, c11jos fllet!ibros se arham as.rociados, uns aos outros1 por senti111entos t deveres, 11111tct1 por inleressn 011 idéias". ~o engendramento desse modelo, cujo centro é o casal branco e seus filhos legítimos, "os escra11os das plantações e das casas, e não so111e11te r:srravos, como os agregados, dílata111 o círculo .familiar e, com ele, a autoridade imensa do pater-famüias" (HOL-\1'DA, 1991. p. 4-.49),

Procurando caracterizar com mais exatidão a natureza dessas relações no desem.Tokimento da nossa sociedade rural. nos diz ainda Holanda:

Em 111írko caraden'.rtiro em t11do se ronporta ramo se11 mode/Q da 011tig11idade, em q"e a própriu poiat'l'a '.'família", derit•ada df famulus, se acha eslntamn1tt immloda à !déia de l'Strt11•idão, e ef!I que mesmo os filhos são apenas os mm1bro1 lfr1·n do n11to co1po,

intrira111mle J11hordi11ado ao palliarra. os liberi (HOJ . .'\;-.;DA,1991, p. 4'>).

Evidentemente que isso irá fazer com qu<.:, como interpreta Holanda, a organização familiar passe a ser "a idéia mais normal de poder, de mpeitabilidade, da obediência e da coesão normal emre os homens" , levando a que venha a predominar cm toda a vida social sentimentos próprios da comunidade doméstica, com "uma acentuafàO singular111mte

48 Cultura e Educação nas Alagoas· Hb1oria, histórias

Page 42: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

'. 980, p.

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fnculos

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>erá o 'li todo 1ca por ranco , como 1ilias"

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n q11e a à idiia ·corpo.

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iíé'ncia vida

'IJJmte.

1 /r1 afrto, do irraciona~ do pessoal, e uma estagnação, ou antes uma atrofia correspondente da / ,,f,, ordenadora, disciplinadora, racionalizadora" na vida social, numa invasão permanente

l 1 1111\illco pelo privado, do Estado pela família ou, para usar uma expressão de Da M1111 1, da t''fla pela casa. Essa entidade sempre central e presente na vida social alagoana

1 1~!.im, gerar preferências sempre fundadas nos laços afetivos e da personalidade, l1ift11 ,indo sempre nossa vida pública e todas as nossas atividades e fazendo com que a I r1111idarle e a impessoalidade entre súditos e autoridade no trato da coisa pública passe,

111111t 1 diz Faoro, a ser um projeto lançado para um futuro bastante longínquo. O que irá se estruturar, a partir daqui, será aquilo que Da Matta chama

11 "ilica da identidade e lealdade 11erticais", a partir de núcleos que propiciarão tl ~tabelec.imento de elos num sistema hierárquico, com base na pessoa e nas ri,l,1ções pessoais, personalizando assim atividades não privadas que deveriam '1 essencialmente i1J1pessoais (DA MATTA, p. 1979). Dessa perspectiva, o que vai

p1 l dominar será a relação estabelecida entre superiores e infeóores, pelos laços dn ramilismo e da famulagem.

Como, porém, as leis e regulamentos oficiais continuado a ter circulação e ate, p1.111do necessário ou conveniente, serão invocados como fator de legitimidade, sua

11111vivência com o universo personaliZf1dO jrá dar lugar a dois padrões de referência que, 1111 luturo, se articularão, se alimentarão e se complementarão cada vez mais de modo e 1111plexo, onde haverão de coexistir, simultaneamente, um sistema de relações pessoais \.11111 um sistema legal de relações impessoais.

'\lo entanto, as consequências práticas da extensão desse fenômeno, que Da l\ h1t H1 coloca no centro do que chama de "dilema brasileiro", aqui, nos primórdios da l t ili mi:.::ação em terras alagoanas, ainda mal podem ser aguilatadas, tal o modo como t111l11 se imbrica de forma aparentemente natural entre esses grupos que se vão formar 111 1 l'1nla.r:nento da imensa vastidão territorial. .A.li terão prevalência sempre as normas

\ il11res ditados pelas relações concretas e de múltiplos significados que, no plano das /1111 111ções pessoais, marcarão o lugar de cada um na vida social, projetando-o portanto, 111111l 1t:m, na esfera político-administrativa e das leis que legitimam seu poder. Nessa 11t.1nbde tradicional, absolutamente referida à família patriarcal, será esse núcleo que irá

1111111 rtr" o ,~rande modelo por onde se hão de calca1~ na vidapolítica, as relafões mln governa11te.r e

Cultura e Educação nas Alagoas · História, histórias 49

Page 43: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

governados" (HOLANDA,1991:53), como uma lei moral inflexível que deve ser rigorosamen respeitada e cumprida, sendo as virtudes maiores na vida quotidiana também aquelas q têm lugar na convivência familiar, onde não há lugar para o arbítrio ou a iniciativa liv

do indivíduo, exceto no topo da pirâmide social. Tornar-se indivíduo attlÓnOJJjO, enquant tarefa que significa, antes de tudo, desvincular-se do eixo das relaçoes pessoais, qu ordenam o universo da casa e da familia, como meio de ligação com a totalidade soei (DA MATfA,1979, p. tso), será, não custa repetir, obra de um longínquo, de um remot penoso e incertíssimo futuro.

Num modelo social dessa natureza, onde a base é a família senhorial, casamento ocupa lugar fundamental como elemento estruturador do sistema. Assim em terras alagoanas, como, aliás, em roda sociedade tradicional, inclusive no rest do Brasil colonial,

os pais escolhia111 cuidadosamente as alianças OP para 1efôrçar os laços de parmtesco

resguardar .1 proptiedade de mãos estmnhas - uniões com p1imos, tios etc - ou para aumentar poder t prestígio, indo se unir a ON/ras fannlias de partirular no111eada ou fortuna. A nova familia fica estreitamente /~~ada às anteriores, qmr do noivo, qtttr da núvt1, tendo vt1lor tanto o parentesco por linha pttterna quanto por linha .waternrJ," os filhos casados ora cotJtinur11'a!1111101·and<í tom os pai.1; ora em casas que estes lhes dessem. O grupo famiíial nâo se limitr11'a então aos pais. ftlho.r, ag1·egados e escmvos; era muito mrúor, pois devido aos casamentos enh'e parelites, os troncos dasfamílias eram gerrihnente primos é12h"f si, e, 1·dacionados,1fornwvam um siste1J1a poderoso para a donúnação política e eronómica, para .i aquisir.tlo de prestí,gio e staft1s. O individuo qu;; não se achava preso ('integrado numr1f(!Jmtia, muito dificilmente podit1 prosperar e (/dquilir seJt lugar ao so

(QUEIROZ, 1976, p. 45).

Dessa forma ia-se ampliando em terras alagoanas o poder através de círculos familiares que se entrelaçavam, primeiro pela endogamia nas famílias até chegar àquilo que Diegues Júnior chama "endogamia da região". Dentro dessa dinâmica é que se vai amalgamando a sociedade das Alagoas, tendo o latifúndio e a família como bases: nascendo no engenho, nele se desenvolvendo e se espraiando pelos engenhos vizinhos, a família senhorial alagoana vai expandindo sua influência e

50 Cultura e Educação nas Alagoas· História, histórias

Page 44: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

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nlrufo os troncos das genealogias sociais e políticas dos "homens bons" das 1 it, 111mccando por Lins, Albuguerque, Barros, Pimentel, \Xanderley, Ac1oli, lh111 '°lo.ues, Bezerra, Calheiros, Gomes de Melo e Carvalho, cruzando-se, 1-. pt los laços do casamento, Lins com Acioli, Barros Pimentel com Wandcrley,

dr 1 ky com Mendonça, Mendonça com Uchôa, Albuquerque com Cavalcanti 1111 por diante, gerando em cada região, e até entre regiões, núcleos familiares 1 ndc:rão, de um modo geral, a pensar a dinâmica política e social a partir de

11 • \t:s particulares e de grupos. 1\ imobilização dos dois recursos básicos - terra e trabalho - como condições

h•p1•mávcis para a reprodução do sistema de p!a11tafion, que será nossa forma de ~t11d11çno, darit as condições perfeitas para esse tipo característico de relação social tfl!•, .1 pnrtir do engenho, vai tecendo os laços de submissão não apenas do escravo mas 11n1li1.;m do trabalhador livre, fundamentais para o futuro do sistema:

Um engenho m1 de monta._gem c11st0Ja; .fO!nmte quem tivesse rerias posses se abala11c01 a a 111011tá-lo no Brasil. Os sesmeiros menos abr1.r!t1dos, imposs;bí/itados de montar engenho, tornavam-se t1ibutrfrios dos senhore.f ricoJ, dando-lhes a cant1 para moer e pagando-o.r rom uma pr1rle da sr1fra, fórmando uma espécie de "clientela" dos ~~rnndes prop1ietá1ios. ~m torno destn.~ra11df's prop1ida1ios I' dos colo11os maú mnple.r, .rem trib11ttirio.r, bal'!a tl tum1t1 dos agregados, gmt.: de poucas posses q11( tinha do Remo e se mcostam noufr(J maiJ poderoso, rivmdo de prq11enos sen•iços, 011 de um qficio nnmnr:mdo, Olf n1r.rmo admitido a plantar ca11a em terra.r de 1m1 .renhor. Ctiavam-.re entre todos eles la.ros d1 serviros 1111ít11os lf de amizade, mjo resulttido foi o compadrio: o ''.renhor de nwnho" era convidado para padrinho rios.filhos dos colonoJ 1: ag1·fgados e, de ambos os lado.r, reforçados os lirwm de at1JÍZf1de e interessf pela Hmçào rel{í!/o.ra, SI' e.rperava tipoio,

ato..-ilív, d"..fesa 1 lealdadr (QUEIROZ, 1976. p. 38).

Tendo o grupo familiar como modelo de organização, é antes de tudo em 11111111 dos interesses privados e de grupos de interesse locais que vão ser pensadas e 1 11,11h idas as principais questões. O engenho, como forte polo de atração de tudo e J t• idos, continuará a articular a vida social até mesmo quando se iniciam os focos de 1 '' • iamento com algum caráter urbano na região. ~lesmo quando alguns dos povoados

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histólias 51

Page 45: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

são elevados à categoria de vilas, é do banguê que irão sair os homens bons com direi de escolher os governantes do lugar ou de ser por eles escolhidos para tal.

As cidades eram assim, nesse processo, apenas um prolongamento do engenhos. A elas, as famílias senhoriais iam muito raramente, nas grandes festas onde podiam exibir seu prestígio e poder, ou nos momentos de sérias crises ou d grandes decisões políticas.

As eleições dos Conselhos Murucipais, por exemplo, levando em conta ess ausência dos senhores de engenho dos núcleos urbanos, eram, por lei, realizadas nas proximidades do Natal, época em que todos os senhores se mudavam para a vila para os festejos de fim de ano. As poucas necessidades que, porventura, viessem a ocorrer nos grandes intersrícios entre as idas à cidade e gue não pudessem ser atendidas pelos vizinhos, eram resolvidas através do indefectível portad01; figura viva até algumas décadas atrás, que ia se entender com os comissários do senhor de engenho onde eles estivessem. "'.:\lo resto do tempo, continuariam os engenhos a ser os verdadeiros centros sociais e políticos da região.

52 Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias

Page 46: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

sem.

ais e

ALAGOA AD AUSTRUM

1.1 em franco processo de desenvolvimento na terceira década do século XVll, n 1 , rnmo de resto toda a capitania de Pernambuco, irá sofrer as conseguências da

1 A11 dos holandeses, gue aí chegam em 1630. Segundo os historiadores, essa innsão

, prn obstáculos à normalidade da vida em terras alagoanas, sem contudo anular a

tllhl c-rnnômica e política da região. Prova disso é que a elevação dos três principais

1 lt'lls de pov-oação - Porto Calvo, Alagoas do Sul e Penedo - à categoria de vila vai d 11 cm 1636, em pleno processo de ocupação holandesa na região, portanto. ~:bem 1.l.1dc tJUe, no afã de exaltar o sentimento nativista e de bravura dos habitantes da

11' '"· historiadores do período procuram realçar a dificuldade de com·ivência entre l 11 illfl e invasores, efetivamente presente, dando a entender y_ue a atividade produti\·a e

u1 1al foi praticamente desarticulada à época. Não se pode negar que engenhos foram

1ll ~11 U1dos, confiscados e incendiados e que muitos senhores de engenho se envolveram

thl 1.11c.fa de expulsar o invasor, que vinha prejudicando o curso normal do projeto

t 11111111al. Jvf as é verdade também, pelas notícias que nos dão os holandeses daquela época,

l'" 111uiros senhores com eles mantinham contatos, sendo informados e consultados

1111111110 a medidas administrativas relevantes tomadas pelos invasores.

A.li.ás, este seria um fato normal, considerando-se que, tendo chegado em terras

il l ·nanas em 1631 e delas sido expulsos no ano de 1654, ficaram os holandeses ali mais

llc .10 anos. ~a Yerdade, até mesmo as primeiras e mais pormenorizadas notícias que se

l m da época são justamente produzidas por holandeses que participaram da invasão

11u 'l\'(:ram na região. O fato é que Alagoas foi importante para os invasores, sobretudo

11rno fornecedora de alimentos, a ponto de se constituir numa proYÍncia do Brasil

h11l.mdês de :t'\assau, com direito a escudo marcado com o dístico 'Yilagoa ad , -ju.rlrum".

Por fim, a prova do estreitamento desses con tatos e de que, portanto, eles não

1 lt[8,tram a desorganizar a vida da região está no conhecido episódio da traição de. Calabar. ~li1l.110 ed ucado pelos jesuítas, senhor de três engenhos cm Porto Calvo, cortejado

pc l 1s tropas dos locais para nelas permanecer pela utilidade que seus conhecimentos

11 ti: 11ão teriam nos combates, Domingos Fernandes Calabar, por convicção declarada,

Cultura e Educação nas Alagoas • História, histórias 53

Page 47: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

gue afirma adquirida no com"'Ívio com os holandeses, acaba por se passar para o Jad do invasor, guiando-o inclusive nas temíveis emboscadas que desbarataYam os m armados combatentes de Matias de Albuquerque.

Em meío à negociação do destino de sua cidade entre as tropas em luta, Calab acaba por se entregar e sofre julgamento sumário, sendo enforcado e esquartejado para que as partes de seu corpo, expostas à entrada da cidade, servissem de exempl a quantos quisessem reeditar-lhe a ousadia. A própria cidade seria depois, em consequência, considerada maldita, conforme os usos da justiça portuguesa para tais crimes de lesa majestade.

54 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

Page 48: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

A CONSOLIDAÇÃO DO PROJETO COLONIAL

1 xpulsos os holandeses, o trabalho de reorganização da economia em Ide 'i lusitanos continuaria, no entanto, sofrendo os efeitos de um outro e

1td1• fato r de perturbação anterior até mesmo ao período da invasão. Refiro-me

111\'lc.lades dos inúmeros núcleos de negros guilombolas que, sob a liderança 111 1~utlombo dos Palmares, estendendo-se da serra da Barriga até a região

ílLI' hoje se encontra a cidade de Viçosa, irão continuar intranquilizando os

nhon.: s de engenho com suas incursões sobretudo na frente das Alagoas, para

1111·, guir vfrcrcs ou libertar outros negros da escravidão.

Com presença registrada na região desde 1630 - em período concomitante à

111 1 w holandesa, portanto - o Quilombo dos Palmares já irá sofrer a oposição das

""l' 1s holandesas, vindo a ser finalmente exterminado cm 1697 por forças comandadas

p lt1 bandeirante Domingos Jorge Velho, sob as ordens da Coroa portuguesa. 1 11r111da e salgada, a cabeça <lo líder guilombola Zumbi será enYiada para a capital

I' 111.1mbucana, enquanto o paulista receberá em recompensa do seu feito o domínio l l I< rras da região às quais haYia finalmente restituído a tranquilidade para a tarefa

1 '11lonização. Assim, embora durante os 6- anos de sua existência, Palmares tenha

1 l 1 ~cnrado uma grave ameaça à economia colonial, não chegaria, contudo, como

ptuk verificar, a torná-la im·iável.

Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias 55

Page 49: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

ALAGOAS-ÁREASDEPOVOAMENTO E COLONIZAÇÃO ATÉ FINS DO SÉCULO XVII

ESTADO de ALAGOAS

llllllllf CANA DI! AÇÚCAR

Pl!CUARIA

ORGANI7~1\ÇAO: h-an F. Lima ADAPTAÇÃO: .Ekio de Gusmão \'erçosa

PENEDO

Finalmente eliminados os focos de resistência dos negros dos quilombos e revitalizada a economia pela instalação de novos engenhos, chega-se ao início do século X\T[fl com um progresso capaz de ju$tÍficar que, em 1711, a região se torne Comarca de Pernambuco, com direito a um Ouvidor, tendo sua sede na cidade

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n

bos e

iodo

torne

idade

l 11•ons. ~ A condição de Comarca traz para a região, além do prescigío de uma

rhludc judicial, uma certa ordem legal antes inexistente e uma gama de nO\'OS

1 públicos, tais como Corregedor, Comandante Militar, Juízes Ordinários,

111111srns, Capitães-Mores etc.

Com a Ouvidoria, o Governo central faz mais permanente a sua

1 tt e nça, combatendo focos de desordens e crimes que se ampliaram sem

111111ole no rastro da desorganização do período anterior, em que os bandos

111\ idos para ataque e autodefesa se multiplicaram. Se parte dessa gente foi

t • 1o1ada aos engenhos, uns como trabalhadores, outros como rabras disponÍ\'eis

1 11 1 as tarefas de violência, outros ainda - o que era mais comum - conjugando

t 1luas funções, a produção assentada sobre o trabalho escravo não permitia que

desse guarida a todos, pelo ónus econômico que isso iria representar. Assim,

li 1h1 aram os "1•agab1mdos" 1

os "desompados", os "desordeiros" referidos por todos os

lij turiadores da vida alagoana que, sem lugar nos grupos familiares e faccionais

11t 111turados, iam se tornando disfuncionais ao sistema, e gue urgia enquadrar, até

1 1 1ue estavam disponíveis cm grande número para se alinhar com quem lhes desse

Ir\ 1 mes \·antagens nos momentos em que disputas por terras ou pelo poder se

li 1 \sem presentes. Afinal, alguma ordem institucional com controles claros tinha

I"' prevalecer, nessa sociedade agora já mais C()mplexa, para que a vida social e . . .

1 1111om1ca prosseguisse.

Sobre o alcance desses controles que a criação da Comarca instituía, diz

( 1 i\ erro Costa:

Se hem q11e esse rtmrso, que a lei tJSJ'f'j,urava,.fosse moroso e, não raro, ineficaz, por

SI' decidir semprt t'fll frmor do ma1~r J011e, a simples pres1:11ra dt' uma magistrattm1

\ ( •>marca, na \'erdade, fora cria,fa i:i em 170'.!, tendo como limires, ao norte o no Una e, ao sul o Rio São 1 r~nc1•c.:o. Quan10 à ~ua sede, Ala~oas, conanuaria a ser a pnnc1pal cidade da região, conw:m.:ndo-sc dcpo1~ cm 1Jp1tlll da Cap1rarua e da Província, rendo sido o se.u nome mudado para :\farechal Deodoro após a República.

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togada, nlra11ha ao meio, amparada pf'lafon;a das armas. ma;s OH menos próxt

sen:ir1 para cercear um p(Juco o poderio dr1s senhores de ü'rra, deixtmdo-ris com

suas arrogâncias e a.r mas violéi1cias nos limites do engenho 011 da Jazendo pasto

(COSTA, 1983, p. 66).

Esse melhor aparelhamento estatal, porém, se carrega consigo u cerceamento da violência autônoma de amplas camadas sociais - sobretud

daquelas formadas pelo povo comum - abre também novos espaços de violência através da disputa política por prestígjo e poder entre aqueles que têm bens

fortuna na região. Desta época datam as primeiras notícias da existência de algum process

organizado e formal de educação na região, através de aulas de Gramática mantidas pelos frades franciscanos nos conventos que acaba\ram de ser erguidos nas vilas d

Alagoas e Penedo. Instaladas mais precisamente no a.no de 1719, essas classes oferecidas sem qualquer

remuneração parecem ter sido as únicas iniciativas destinadas ao público, no campo educacional, até o nnal do século.

É verdade que já antes se registravam notícias vagas da existência, pelos

meados do século XVII, de urna escola fundada pelos jesuítas na fazenda de

Crubunúrim (hoje Porto Real do Colégio), às margens do rio São Francisco. Segundo Duarte, "11esta havia o ensinamento misturado à catequese) ensi110 q11e ia das primeiras letras

até a recitação da jaculatória e à redação de bilhetes" (Dl:ARTE, 1961, p. 28), uma vez que ali

não era .finalidade dos inacianos a manutenção de um colégio, mas a exploração

de uma fazenda de gado. Assim, o gue deve ter vigorado até o início do século X\1111, numa sociedade

eminentemente rural e claramente hierarquizada, como meio de acesso aos

rudimentos da cultura letrada, parece ter sido o ensinamento ministrado pelos preceptores, frequentemente os padres-capelães, em sua maioria membros das

famílias mais abastadas. Aprendizado de maior monta só se receberia através do

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elos

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e ali

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h ir. rnento para os centros maiores, com o ensino superior restrito à Metrópole.

11 111c: xistência de qualquer instituição educacional formalmente mantida pelos

tiÍI 111 cm território alagoano, sua expulsão, em 1759, parece não ter tido grandes

pr it ussões na região. \u progresso que vai se dar ao longo do século XVlll, com a expansão da cana­

l 1 Ú<.:ir. vem se juntar, no final da segunda metade do século, o desem·olnmento l 1 rulm•o do algodão34

, que trará para Alagoas uma maior interiorização, 1á em 1md 1mcnto desde o estabelecimento dos quilombos e seu consequente combate.:, e a

llli\.to de gado. De acordo com dados do início do século xrx, a Comarca de Alagoas, ainda

11111 ~rada à Capitania de Pernambuco, chega ao final da segunda década do século com \ 1l,1s e 13 freguesias, e com uma população de 111.973 almas, superior às populações

1 l .spírit0 Santo, Goiás, ~fato Grosso, Paratba, Paraná, Rio Grande do Norte, Santa ( 1 mna e Rio Grande do Sul (COSTA, 1931, p. 47).

Nesta época, não dispondo de condições porruárias adequadas, .Alagoas exporta\'ª ''ill 1< significativa de sua produção de açúcar e algodão através dos portos de Recife e h11l11.1, onerando o comércio local e emperrando o seu crescimento econômico, o que li 1 rnsscguir ainda por muitas décadas, praticando-se quase todo o comércio da região 11111\ 'CS da navegação de cabotagem.

Em território alagoano, nem mesmo os movimentos políticos de 1711 -

1\1 1 rn dos J\:fascates e, um século mais tarde, de 1 BP - Revolução Republicana, ml111rn com seu foco na capital da Capitania, vão ter repercussão sígnificatiYa. Se 1 p111ne1ro teve um mÓYel de cores bem locais, quase que restrito a Olinda e Recife, tlll poderá justificar a ausência de motivação para o envoh-imento dos senhores

1 ~·•mos, espraiados por territórios tão longínquos e dispersos, no segundo vai ol1.,nn de nota apenas a participação de Manoel Vieira Dantas e sua mulher ",

11li111cs do engenho Sinimbu, junto com sua família, agregados, parentes e alguns

l l ~lpndi10. já presente em s<>lo alai:.~·~no <lestle o início do século X\'JI1. vai ter expressão comerci:U pel:ls 111 llJ oln OuYidor José de .\lt:ndonça ~lattos .'\foreira (1779-1?98), autoridade lusitana que mi permanecer em

1 n~•. iniciando com su3 permanência um fone grupo com presença marcJnte nas luta> pelo poder local J(l

'I "d•i Império e dos primc1rM tempos da República.

1 li M' do pais do fururo \'isconde de Sinimbu. que será figura de prol na política da Pro\'íncia e do 1 mperio.

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aderentes, com repercussão na região cujo polo de irradiação era Penedo. Segun Diégues Júnior, um movimento como este, com propósito de mudanças no regi de governo, não poderia receber apoio e amparo <la parte dos senhores rurais qu já reuniam, em suas mãos todo o poder político local. Afina.l, "a polítira que part dos centros rnrais, os engenhos de açtira1~ era baseada no prestígio q11e os senhores davam coroa: (...) e conte.ntavam-se com o controle das câmaras municipais, dos postos reprt'sentativol (DIEGUESJÚ1'10K 19SO,p. 194), num jogo de reciprocidade plenamente satisfatório ao interesses de ambas as partes.

Vencida a Revolução Republicana de Pernambuco, Alagoas é desmembrada d Capitania, através de ato do Príncipe Regente, datado de 16 de setembro de 1817. H' controvérsia entre os historiadores sobre o verdadeiro móvel desse ato real - se par premiar a fidelidade dos alagoanos ao tempo em que punia a audácia pernambucan ou se em consideração ao nível de desenyo]vimento a que chegara a região. Não s pode negar que, a essa alrura, Alagoas já havia ultrapassado, em rendimentos, alguma Capitanias do norte, como a Paraíba, por exemplo (1\LT.-\vlL..o\,1988, p. 44); contudo, segundo Moreno Brandão, a criação da nova Capitania foj feita "visando e11.fraquecer Pernambuco, avmquinha11do-lhe a vastidão tenitoria~ e galhardoar os serviços prestadospor Alagoas na debdação do 111ovi1J1ento de 1817" (BRA~DAO. 1909. p. 42).

O que parece é que de fato a autonomia de Alagoas resultou da conjugação desses dois fatores: o político, como irão comprovar as reações adversas da nova Capitania aos movimentos vindouros de 24 e 48, e o econômico, pelas novas condições de controle administrativo criadas com a nova unidade. Afinal, Alagoas já contava a essa época, além de 13 freguesias, com 8 vilas, a maior parte delas distribuída ao longo do litoral, mas já com algumas a razoável distância da costa.36 A produção de açúcar já era significativa e o número de engenhos tinha atingido, em 1802, a importante cifra de 180 (SANT'A~A,

197 0. p. 192).

De fins do século XVIII e início do Século XIX, poucas são ainda as notícias existentes sobre a educação em terras alagoanas. Uma delas é a anuência unânime

;,, São fo:guesias as localidades de São 111ignel dos Campos, Pioca, São Bento, Camar~gibc. P::tlmcira, Colégio, Santa Luzia do Norte, enquanto Penedo, Porto Cah·o, A.lagoas, 1\ulaia, Poxim, 1\nadia, Porto de Pedras e J\faceió consriruem Yilas.

60 Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias

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da Câmara da cidade de Alagoas à proposta feita por D. Marial em 1798, a partir da qual se ni ter alguma iniciativa dos poderes públicos em termos de Educação entre nós. Concordando em que os homens livres contribuíssem para a manutenção de um Seminário em Olinda, logo a capital da Comarca vai ter uma cadeira de Gramática Latina mantida por aquela instituição. Se, aparentcmc.:me, aulas dessa natureza parecem ter utilidade restrita, servindo apenas para preparar candidatos para o sacerdócio e para estudos mais avançados na Europa, não podemos perder de vista seu caráter cultural dentro dos padrões da época, cujos efeitos iriam, com certeza, repercutir na preparação de futuros ocupantes de funções públicas, inclusive padres.

De fato, fundado e dirigido pelo bispo D om Azeredo Coutinho, substituindo a educação ministrada pelos jesuítas, com um raio de influência mais ampliada, o Seminário irá desenvolver uma "ação renovadora nos métodos e planos df msino", chegando a apresentar, segundo Gil berro Freire, "11m raráter quase esca11dalo.rú para o tempo'', provavelmente pelos ideais ilustrados veiculados no seu ensino.

Quanto a uma outra iniciativa do governo de D. Maria r, propondo às Cámaras Municipais o estabelecimento de pensões que permitissem aproveitar rapazes ·pobres para os cursos de Engenharia, Topografia, Hidráulica, Medicina e Cirurgia, em Coimbra ou na Academia de Ciências de Lisboa, sabe-se que a Cámara de Alagoas respondeu que se dispunha a subvencionar um estudante, "que ha11ia d,, farmar-st em medrcina' '. Consta ate que a Câmara chegou a assumir o compromisso formal de fazer chegar um estudante a Usboa, suprindo-o com Rs. 200$000 anuais para sua subsistência, ignorando-se, contudo, se isso foi de fato levado a cabo (COST1\, 1931:4).

Entretanto, além daquela primeira iniciativa de caráter público de que resultou a instituição das cadeiras de Gramática Latina, há o registro da abertura de uma outra cadeira de primeiras letras, também na sede da Comarca, e de outra, no ano seguinte (1soo), cm Santa Luzia do ~ortc, também na região das grandes lagoas. É tudo o que vamos ter até o início do século XIX. E até a segunda década deste século, mesmo com a autonomia definida, também não vamos ter novas iniciativas de grande monta, al~m da existência de mais duas cadeiras - Filosofia e Geometria - in:-taladas na capital. O trato da cultura letrada continuara, aré aqui, pelo que se pode deduzir, um monopólio dos dois conYentos franciscanos e dos poucos padres que po,·oaYam a região. A natureza eminenremente rural e escravista do meio não requeria, ainda,

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 61

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grandes esforços educacionais. Os centros regionais de cultura. nesta época. estaYa restntos a Olinda, Recife e Safrador. Em Alagoas, "a mlt11ra mtelectual t'iria de port. a dentro, nos da11stros sombrios. Cá fora, apenas o rumor efémero dos srrmões nos dias de po111 católica" (COST . .\. 1931, p. 5) .

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AMPLIAM-SE OS ESPAÇOS NA LUTA PELO PODER

Criada a Capitania das Alagoas, só dois anos depois - em 1819, portanto - é que assume o primeiro Governador, Sebastião Francisco de Mello Póvoas, neto do Marquês de Pombal. Sua primeira providência foi criar a Junta de /\rrecadação, com rc:presentações em Penedo e São :Miguel dos Campos, e a Alfândega de Jaraguá, além de for tificar o litoral. Cuidou ainda de fortificar a nova Capitania, criando duas companhias de Infantaria com 232 homens e uma de Artilharia com 109 soldados. Em confronto com a guarnição de 30 homens existente na antiga Comarca, trata-se de um contingente significativo, além de ser um bom campo de emprego para a plebe que antes só tinha guarida na lavoura ou corno capanga dos senhores.

Tendo desembarcado em Maceió, o Governador foi ficando na vila o maior tempo que podia, muito embora a capital da Capitania fosse a cidade de Alagoas. Em noúcias que dá ao \-Iinistro da Guerra, logo depois que assume o Governo, sobre a situação em que se encontra a Capitania, l\:Iello Póvoas informa, além do açúcar e do algodão, a produção de mandioca, azeite de mamona e a existência de madeira de lei para construção naval e tábuas, como se outros produtos, por acaso aqui encontrados, não merecessem registro especial, provavelmente pela insignificância da sua produção ou sua pouca importância comercial.

No plano político, autônoma Alagoas, o acirramento das lutas antes circunscritas ao âmbito local vai se expressar pela primeira vez, de forma realçàda já, na eleição às Cortes Portuguesas. Obedecendo ao decreto de 03 de junho de 1822, tem lugar o pleito, logo sendo impugnado por acusação de fraudes, motivando representação ao Príncipe Regente na qual ''punha-je à mostra uns tantos atos il~gais que inqui11avam de nulidad-e insanável as eleições procedidas" (BRA.t\DA0.1909, p. 51).

N'esta época, querendo caracterizar o atraso do meio, Craveíro Costa nos informa que a nova Capitania contava apenas com três de seus filhos detentores de diploma superior, sendo dois formados em Leis e um em Medicina (COSTA, 198\p. 131). Segundo

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ek. "fra notória a.falta df i11d111id1Hu que p11dfssem exercer as profissões liberais e até os cm:gos p1;/J/icos

mais modestos" (COSTA, 1931, p. 4).

Quando chega a Independência, A.lagoas se envolve no movimento, sendo essa, segundo Moreno Brandão. "uma das raras ocasiôts em que Alagoas colaborou efetirammte na e1'0Í1'cào politira do Brasil" (BRAJ\:DAO, 1909, p. 50).

De fato, até então Alagoas não tinha tido destaque por seu envolvimento em questões políticas de interesse mais geral. Tanto é assim que, mesmo nos moYimentos

antilusitanos que precedem a lndependência, os interesses locais são os que parecem estar mais presentes: buscando expurgar da administração os portugueses - os pés­de-chJ.11nbo ou man'nheiros, como eram chamados - são disputados de forma acirrada os

cargos por eles ocupados, assim como o domínio da Junta de Governo c1ue se forma para o controle da situação política regional. E esse localismo, agora realçado pdo

carárer mais amplo que tomará a disputa do poder, no processo de formação de um

sentimento nacional, Yai ser uma marca registrada que acompanhará a Yida polírica

alagoana, sem que aparentemente nada lhe mude o curso. Já em 1823, ainda com a Junta no poder, dá-se o que os historiadores Yào chamar a Sedição Portoralvmse, mo\'Ímento

armado que cria um Governo paralelo, chamado pelos sediciosos de Governo Temporário. Iminenre a lura armada, com os adepros da nova Junta ameaçando invadir a capital da Província, depois de refrc.::gas e eleições c1ue se sucedem, numa

luta de caráter eminentemente local, finalmente assume o poder, em julho de 1824, o primeiro GoYernador nomeado pelo Imperador. Na \'erdade, falando sobre o clima político e social desse período pós-independência, Brandão diz que "em Alagoas, as

altn·ações da ordem .re StHtdia111 rom freqiiênria, domi11a11do pouco mais 011 mmos extraordi11á1ia anarquia, mantida prlo caudi!búmo nefasto" (BR.A?\DAO, 1909, p. 52) . É que agora está claro

para os detentores do poder local que há muito mais por gue lutar, sendo hora de so ldar alianças e se antecipar na disputa, sob pena de serem preteridos por outros

grupos na ocupação dos cargos que, já abertos com a criação da Capitania, agora se ampliam e se re,·estem de maior significação política.

Referindo-se a Alagoas neste período, afirma Cra,·eiro Costa, sem arrodcios:

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Dentro de .re11s domínios o senhor era soberano. e 1wa soberania, tomando outro ospedo ao ser criada a capitania, solidificou-se ao inJ!,rmar na r:ida política, qm se instaurava . ."1,gom ú senhor Pf~rde a mdeza colonial no co11ta10 dt outras influências sociais: mas se expande, .rai11do da raia da propriedade mral e do.r limitrs do m1111icípio paro abrangf'r m1111irípios rirmnr•izinhos, ligando-se a outros magna/as, por diferentes meio.< de alian(a. (. . .)A Proríncia, p1incipah11ente ao norte, tomof(-Se 1m1 conglomerado de oligarqmas, cada qual com o sm poder cm trai, o seu chefe, ante o qual se dobrat·am todas as 11011/adu, se amoldamm toda.r as resistências. ( ... ) Eco11on1icamente. eram üs prod11torn de riq11eza: politicamente eram os ,grandes tieitoru; socialmente eram a aristocracia fa11stosa q11e a

monarquia bt'(1Sonava em baronato.r e t'Ísrondados (COST1\, 1983, p. 66-67).

Assim é gue, com a Constituinte de 1824 e a Assembléia Geral no âmbito nacional, além dos Conselhos locais e a Assembleia Provincial em perspectiva, a questão eleitoral, antes restrita ao Município, no que pese a limitação do sufrágio pelo censo econômico, vai ter daqui em diante t,rrande relevo para o Governo central, exigindo hegemonia mais ampla e b·ando o Império a uma relação cada vez ma.is estreita de compromisso com os senhores, cujos resultados já se podem vislumbrar. Neste momento, in1portava vencer pelo voto, nem que para isso se tivesse de lançar mão da fraude ou da violência.

Nestas escaramuças pelo poder local, agora condição para se aspirar a pretensões mais altas, os alagoanos vêem chegar a Revolução de 1824 - a Confederação do Equador - com o envolvimento apenas de um potentado da Província - o mesmo Manuel Vidra Dantas gue já havia participado da Revolução de 1817 - junto com mais dois senhores da região em que ficava seu engenho e um sem número de seus agregados. Logo debelada a re\-olta, de caráter limitado, já tendo assumido o primeiro Governador, D. Nuno Eugênio de Lossio e Seiblitz, têm lugar as eleições para o Conselho de Governo e o Conselho Geral da Província.

Para o primeiro Colegiado, composto de 10 membros eleitos pelos homens bons da terra, houve um que não pôde tomar posse por pesar, sobre ele, condenação por crime. Entre as primeiras medidas deste novo Conselho estava a criação de feiras nas sedes de todas as ,·ilas, o que denota a existência, a essa altura, de um certo mo•-imento comercial interno a cada região, assim como a divisão judiciária da província em duas Comarcas e a indicação de um Juiz de Fora para a capital. O Conselho Geral, criado por disposição

Cultura e Educação nas Alagoas· 1-hstóna, história~ 65

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constitucional, só vem a assumir em 1829. Coube a esse Conselho, entre outras medidas, elevar à condição de vila o povoado de Santa Lmia do Norte e cnar 4 cadeiras de aulas preparatórias - Francês, Retórica, Filosofia e Geometria - na capital da Província. Com a incumbência dada pela Con~tiruição Imperial de promover a instrução prin1ária, apressa-se o Governo provincial, contudo, cm ampliar apenas o ensino secundário.

Não podemos esqu<.:cer que, nesta época, além da carência, na Província, de pessoal intelectualmente aproa ocupar os cargos mais cobiçados no aparelho burocrático, já estava em pleno funcionamento a Faculdade de Direito de Olinda, criada em 1827,

na qual já se fazia necessário preparar os filhos de senhores da terra, criando as condições culturais para se assumir os postos de comando surgidos com a autonomia e, posteriormente, com a criação da Província.

Teve esse Conselho ainda o cuidado especial de declarar que a cidade de Alagoas seria sempre a sede do governo, como que tentando impedir por lei o que, já àquela altura, parecia inevitável - a perda da posição para Maceió que, desde a chegada de !vfello Póvoas, ·vinha assumindo primazia sobre a já velha capital.

Crescendo lentamente, a província vai chegar ao ano de 1831 com seu primeiro jornal - o fris Alagoense, devidamente qualificado como jornal politico, literário e mem.mti! - e mais duas vilas, Imperatriz e Assembleia3

', sendo criada logo no ano seguinte a vifa. de São .Miguel dos Campos. Keste ano já coma a Província com quatro Comarcas: Alagoas (englobando São ~liguei e Santa Luzia), l\faceió (incluindo Porto de Pedras e Porto Caln>), Aralaia (com as vilas de Assembléia e Imperatriz) e Penedo (com Poxim e Anadia).

A Guarda Nacional, criada em 183J, logo estará presente em Alagoas, com a função legalmente estabelecida de manter a ordem pública. Porém, com o posto de coronel geralmente concedido ao chefe político de cada comuna, e com as patentes de capitão outorgadas aos chefes locais influentes, além da íncumbência dada ao Co111elho de Qual~ficarão - composto em cada Município ptlos seis eleitores de segundo grau mais votados e presidido pelo Juiz de Paz - de declarar quem dewria integrar-se à reserva da Guarda e quem ficava isento ele serviço, essa instituição logo vai sen'Ír a outros propósitos.

;- Essas d;.ia~ c:id3dc~ ,;eram a ter dLp<>Í~ ~eus nomes mudados, sc:nd0 Imperatriz a cidade arJal de Un.iào do~ Palmares e ,\ssembleia a hoje cidade t.k \'içosa.

66 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

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"Ja prática, acompanhando as divisões das h.ierarqwas familiares, cada batalhão da Guarda Nacional representará, por assim dizer, uma parentela (QL"ElROZ,1976:184). Essa verdadeira insticucionali'.taçâo do poder privado, íunto com as prebendas e os títulos de nobreza concedidos pelo Governo Imperial irão, no dia a dia da Província, trazer um aumento descomunal do poder dos senhores rurais gue irá se concentrar em algumas poucas familias. Indicativo desse fato era o ditado em voga até início deste século, que dizia que "quem nrio era AiendoJJfa, era mandado'', como que parodiando outro ditado muito usado em Pernambuco para retratar situação semellrnnte e que em verso assim sentenciava: "Quem vÍf!er e111 Pernamb11ro/ Deve estar dPsenganado/ Que hd de ser Cava/ranti/ ou hd de Jft ravalgado" (LIMAJ(~IOR. p. 1975) .

Assim, estendendo sua ambição além dos quadros locais do tempo da Colônia, passam os senhores agora a ter ou pretender o controle do mando no âmbito mais geral de toda a Província, de u1 forma que

... meia dâzja de familias enriq11fcidas na lavoura, com prestí,gio vindo do período colonial, ficou, duranff toda a monarquia, dominando na província. Ao redor · delas graritavam miríade.r de satélites, desde o rabo ekitoral à t11rban111lta de anónimos, a aja dedicação os cb~(es das oligarquia.r recorría111, de quando em t•rz, quando era precúo opor à.força numlrira do voto a.forço decisiva do baramarte (COSTA, 1%3. p. 67).

Agora, mais bem aparelhados para a disputa de cargos e funções de presúgio, os chefes alagoanos vão se defrontar com mais uma ekição de peso, pondo em marcha velhas e novas artimanhas para controlar o poder: a fim de preencher os cargos de Deputado à Assembleia Provincial, criada pelo Ato Adicional à Constituição de 12 de agosto de 1834, logo houve uma composição entre os membros dos colégios eleitorais de duas comarcas, que deram naturalmente maioria aos representantes destas, numa eleição que, segundo J\foreno Brandão, estava completamente viciada, tais foram as 'Jakatruas rleilorais, praticadas por m!Ítuo acordo, mtn Alc1J?,Oas e Atalaia" (BRANDAn. 1909, p. 67).

Eleitos os D eputados, foi colocado à frente <lo colegi:ido Manoel Simões Costa, que.: lovo instituiu vantagens pecuniárias para os Deputado~ e criou inúmeros cargos

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 67

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fartamente remunerados. Como era de se esperar, houve reação ao resultado da eleição, havendo novo pleito em 1835. Contudo, o episódio deixa claro para todos que o jogo do poder, agora em um âmbito muito mais ampliado, tinha a potencialidade de colocar o mando político definitiYamente nas mãos de quem soubesse manobrar bem, não só as regras da reciprocidade, base de todo o controle do poder local desde tempos remotos, mas também o ordenamento institucional, que abria, como afirma Queiroz, até perspecriYas de YÔos mais altos:

A,~ora, ocupados m11it11s wr;~os da adn1inútra.rtio ptíblica por estes mesmos smhores rnrais, úto ~por Sl'tlS p(/mrtu e afilhados, constituídt1 a Assembléia dt reprnmtantes ddn, um novo se11ti111ento de poder· os invadia .. que não se conftnr111a rnai.r aos limites do 1mmicipio I' da província, ma..r que cob1ia todo o país, em fl>dos os setores de sur1 11ida

(QliEJROZ. 19i6. p. 67).

No campo educacional, uma das pnmeuas medidas da recém-imtalada Assembleia, concebida nesse espírito de controle do poder, . foi ampliar as aulas preparatórias de quadros para a política e a administração, bem como a área de atuação da Educação, criando duas cadeiras - Filosofia e Francés - para a vila de Penedo. A essa altura, já comando com cinco aulas de L::itim, duas de Francês, uma de Retórica, uma de Filosofia e uma de Aritmética, segundo Craveiro Costa "destinadas aos rapazes ricos" (COST1\. 1931, p. 7)3~, só cm 1836 vai ser regulamentado o funcionamento das escolas de primeiras letras, transcorridos quase vinrc anos de autonomia político­administrati,-a da região.

Sem maiores informações sobre as escolas então já existentes, as noticias sobre esse período dão coma de um ensino deplorável, deficiente e ao cargo de professores "pth maio1partl' ineptos e sem o menor t smíJ)llfo admitidos para o magistério, não tendo 011tm recomendação que o patronato, outro .rútema q11e a .rua vontade, outra tradifâti qlll' a incerteza do mitodo'' (COSTA,

I 931, p. 7). A competência dos professores, segundo Costa, era de tal forma limitada que

'' Sei,-undo informações dacb~ p<:lo Presitlenre Figu~ired.-, (amargo. em mensagem ao Conselho G..:r:il d:i PrO\ ínci:i no 2no de 18.'3, encomr:iva-se nga a cadeira de rilo~ofia, c5tindo as demais cm funci<)namcnto nos coon'.nW> franciscanos de :\lagoa.< e Penedo, co:n a freqüência de -7 alunos.

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~ determinacão do Governo pro,•incial, em 1837 , de que se adotasse o Método Lancastcr, seguindo a moda nacional, não fo1 implementada wna vez que "não havia na Província 11n1

só prqfessor capaz de praticar o método pedagógiro recomendado" (COSTA. 1931. p. 9).

A abdicação de D. Pedro l, ocorrida no início da década, teria trazido à Prm-íncia apenas alguma movimentação antilusitana, agravada pelo episódio localizado de expulsão dos portugueses residentes em Maceió, não fosse o que se seguiu. No intuito de se prevenir contra desdobramentos desagradáveis que pudessem advir da reação que se estan dando em Pernambuco, e também da animosidade dos habitantes locais contra os portugueses que habitavam sobretudo ?\faceió, cidade eminentemente comercial e, portanto, com f,'t'ande população de lusitanos, mandou o Presidente da Província proceder a um recrutamento na região de Porto Calvo, que se efetivou de forma truculenta, bem nos moldes da época. Protestando o líder de um aldeamento de caboclos da região de Jacuípe contra o recrutamento forçado, que se dera inclusive sem o seu conhecimento prévio, foi este assassinado em praça pública da cidade de Porco Calvo, ficando o assassino impune. Foi o bastante para que o grupo ligado à vítima se amotinasse sob a liderança de Vicente Ferreira Tavares Coutinho ·conhecido como Vicente de Paula, cuja atividade de desafiador da ordem vigente não vai se limitar a esse episódio.

Estava instalado em Alagoas o mo,~ünento denominado Caba11ad1.i39, que irá desenvob:er ações bélicas por todo o none da província de 1832 até 1835. Depois de derrotadas por '\árias vezes as forças armadas en\'iadas para combatê-la, e despendida pd:i Província a vultosa quantia de Rs.400.000$000 (quatrocentos contos de reis), a rebelião sú veio a ser apaziguada pela interferência do Bispo de Olinda que, na companhia do vigário de Alagoas, embrenhou-se nas matas frondosas onde se escondiam os cab1mos, conseguindo convencê-los a depor as armas.

'9 Trata-se c:~tc de um movimento lucal, nascido cm Pernambuco, sem qualquer relação com a Cobdlld.ff,tm.

ocorrida no Pará, inclusive em época di,·ersa n~35'-11H11; e por distinta razão, ainda que no período rt::gt:ncial. Em su:1 origem a C(l/Jdndda pcrnamb\1cana tinha um cunho rcsraur:idor, visando resrituir o poder a D. Pedro l, rejeirando a Rcgéncia e acusando-a de intuitos maléticos, republicanos, antirreligiosos e contrários à propriedade e à hierarquia familiar.Constiiuiu uma revolta de um grupo de origem popular, conduzido por líderes rúsúcos e cansmáticos, num movimento que assolou rr>do o \ale do rio Jacuipt. Tendo perdido pane de seu senric!o depois da morre de D. Pedro 1 (setembro dL l b:>4) . a rebciiào continuou, porém. ainda depois dessa data cm :\lagoa~.

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:Vfuito embora seja um movimento gue careça de estudos mais aprofundados capazes de determinar com mais precisão seus móYeis, sua natureza e suas implicações, o gue os escritos existentes parecem sugerir é que a Caha11ada foi uma reYolta popular detonada por um mocivo legítimo - contrapor-se à impurúdade patrocinada pelos poderosos da época - logo aproveitada por interesses de senhores, sobretudo os Mendonça, já muito fortes na região conflagrada gue, querendo reforçar seu poder a qualquer custo, foram cúmplices do movimento, dando-lhe com isso vida mais longa do que em outras circunstâncias lbe seria possível.

E assim vai se conformando a Província das Alagoas: no ano de 1s3g já estará inteiramente povoada, inclusive no alro sertã.o, onde foi criada a vila de Mata Grande. Com um pouco mais de duas décadas de autonomia político-admirústrativa, a essa alrura já percebiam, com clareza, os senhores, que era fundament.11 ter também a seu dispor alguns poderes privativos do Presidente da Província que, vindo de fora, por nomeação do Imperador, tinha grande peso nas disputas eleitorais, fazendo frequentemente pender a vantagem nas urnas para os candidatos que na ocasião fossem mais convenientes ao poder imperial.

Assim, a Assembleia Provincial, seguindo o exemplo de outras Prodncias e usando das atribuições que lhe faculta a legislação nacional, procura controlar poderes do Executivo em áreas cruá1is - no ámbito municipal cria Prefeitos e Subprefeitos com poderes de polícia, enquanto no plano judiciário mais geral, chama a si o poder de nomear e remover Juízes, e cria os Inspetores de Quarteirão, embrião da força policial.

Juncando-se a essas mudanças a criação do Chefe de Polícia para toda a ProYÍncia, têm-se os elementos fundamentais para se exercer na prática um maior controJc dos processos eleitorais, ainda censitários, é verdade, mas que precisam estar disciplinados para se controlar o poder na luta entre facçôes. E, nesse disciplinamento, importa\'ª opor algumas barreiras aos presidentes de ProYÍncia, 1'tJIJ(i/o.r dos q//{JÍJ passaram pe.la província

apenas para se elegerem deputados <~erais" (COSTA, 198.\ p. 118).

Frente ao esguema político que está se gestando e deverá vigorar por t0do o Segundo Reinado, e que já é vislumbrado pelas forças locais, preparam-se algumas armas que só irão tornar ainda mais fones os stnhores da terra, na medida em que

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l11 m•tnirnc:ntos gue permitem combinar o aparente rigor das leis com as tramas de I" 11 lc' ljll<: se tecem e se exercem nos processos sociais concretos. Agora, ainda mais 1 111nplcxa a convivência social, podemos ver em pleno curso, com toda clareza, o rngendramemo daquelas duas éticas - a da impessoalidade da lei e a das relações entre pessoas - a estruturar no plano mais global da sociedade alagoana as condições para a conv:ivéncia complexa de um sistema de relações pessoais com um sistema legal impessoal estabelecido para ter vigência universal, consolidando num só mundo, duas lógicas que hão de se alimentar e se complementar de um modo cada vez mais complexo daqui por diante, não como sobrevivências arcaicas de um passado colonial, mas como verdadeiros fatores estruturantes, como diria da ~Iatta (1979), do nosso "plano de nnvegnção social', com enraizamento profundo em toda a sociedade.

Essa combinação, porém, da lei com a famulagem exigirá ainda dos senhores alagoanos uma aprendizagem penosa, que um caso exemplar no campo da Educação poderá muito bem ilustrar. Lançando mão das prerrogativas que lhe conferia o Ato Adicional à Constituição de legislar sobre matéria educacional, a Assembleia alagoana logo aprova autorização legislativa que permite suprimento das aulas existentes sem qualquer prova de habilitação, "bastando) para ser professor primário, q11e o candidato soubesse ler e escrever, fosse versado em do11trina cristã e um tanto destro nas quatro operações fimdamentois do aritmitim", insriruindo-se assim na Educação, pela primeira vez em Alagoas de forma oficial explícita, "o regime do filhotismo político" (COST:\, 1931, p .9).

Informalmente já uma praxe, com as repercussões práticas de todos conhecidas, uma vez tornada lei, os não beneficiados vão fazer chover denúncias, sendo logo depois aprovada nova lei que mandava submeter a exames até os professores em exercício. Essa lei, porém, pelos interesses que iria contrariar, como era de se prever, logo vai se tornar inócua, sendo revogada para que tudo retorne ao ''normal".

Afinal, como diz Correia Titara, que Yiveu e~sa época, o ensino público era apenas um departamento administrativo sob a égide da politicagem. Tanto que a criação, em 1843, de um Conselho da Instrução Pública que será inclusive dirigido por Titara, não irá tra~er grande melhoria ao setor, pois nenhuma ação construt:iYa irá ele ser capaz de desenvoh·er em área tão impregnada de afilhadagem (COST:\, 1931, p. 12-13).

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 71

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Iniciado o Segundo Império, decorridas portanto mais de duas décadas desde gue a antiga Capitania fora desmembrada de Pernambuco, continuava Alagoas em "um estado lastimoso de atraso e descultura" (BR.A~DÃO, 1909, p. 76), em contraste flagrante com as potencialidades de sua natureza. Suas rendas limitadas e sua situação deficitária vão cada vez mais se agravar. A província apresentava no período 1837-

1839 a seguinte situação:

RECEITA E DESPESA DA PROvi~Cli\ DE AL.AG01\.S K'O PEIÚODO 1837 /1839:

EXERCÍCIO RECEITA DESPESA

1837-1838 73.461$947 73.297$938

1838-1839 98.098$754 152. 923$630

FOKTE: Moreno Brandão, 1908, p.77.

Já a essa altura com 20 frehruesias, 5 comarcas e 15 municípios, a situação da Província era precária, estando "a força pública com soldo atrasado, o funcionalismo percebendo um terto de seus vmcimmlos" (ALTA\.'IL-\, 1988, p. 55), enguamo era constantemente violada a ordem pública, com o assassinato de Juízes e o uso de armas liberado.

Assim, por exemplo, pouco tempo antes, no ano de 1839, de uma imponância marcante para a Província, pois é quando se dá a transferência da capital da cidade de Alagoas para Maceió, esse episódio proYocará um conflito de sérias consequências. A situação da Justiça é de tal forma lastimável que Silva Neves, que preside a Província nesta época, dirá, a propósito da sedição, que os responsáveis escaparão impunes uma vez que, "pelo sistema.Judiciário vigente eles. os a/a~~oanos, tc~riam de julgar uns aos outros" (1L\RROQUIM, 1922, p. 85), já que valiam, acima de tudo, ns relações de grupos e parentelas.

Na verdade, as próprias feiçôes do conflito atestam esse fato. Se~rundo Altavila (1988), a mudança da capital já começara, na verdade, em 1819, quando o primeiro Governador da então recém-criada Capitania fizera melhoramentos na povoação às margens do Atlântico e dera a ela preferência no estabelecimento da sua própria

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, ii'l \ mudanca efetiva porém, gue teve como marco simbólico a transferência 1 L1 l'c..•souraria da Província, não se dará de forma pacífica - na verdade quase se 1111lrn lima nova edição da Guerra dos 1v1ascates em A.lagoas. A cidade de Alagoas 1cs1stirá enguanto puder, inclusive com grupos armados, prendendo o Presidente da Prm íncia e preparando-se para defender a primazia da ,-clha cidade sobre a nova e estratégica Maceió. O Vice-Presidente, Sinimbu4

tt, garante a transferência do cofre e organiza a resistência na nova cidade. Vencida a refrega, são substituídos dez deputados que apoiaram a posição de Alagoas e se faz aprovar a transferência da capital. Até o Juiz de Direito. que tinha votado conrra a transferência, sofreu pena de suspensão.

No ano seguinte, um grupo de Deputados tenta ainda inviabilizar na prática a transferência, negando-se a dar quorum às reuniões da Assembleia sob a alegação de "não poder a Assembléia funcionar na rasa em que sr achava e que era i11dece11te, acanhada e incon.rtitJfcional" (BRA:-JDAO, 1909, p. 76). O local a que os Deputados se referiam era o consistório da Igreja de N ossa Senhora do Rosário, destinada às reuniões pelo Presidente da Província. Essa resistência não se esvaziaria facilmente, permanecendo a Assembléia sem se reunir até 1842.

Na verdade, além do predomínio de uma cidade sobre outra, que já é c1uestão de grande monta, o que estava em jogo era o poder de Sinimbu, em franca ascensão, contra os velhos senhores que vinham secularmente dominando o poder na antiga capital que, desde a criação da Capitania, "se enfrt'//lra aos dnrrgromentos da politiragn11,fazmdo a político de discórdias, vivendo da política exaltada dos gmpelbos, na inrotnpreensào das ne.ressidodes econoiJ1itas da prot•ínria" (COSTA, 1983, p. 106) .

De fato, as razões declaradas para a transferência da capital tinham em vista, com muita clareza, a situação estratégica de Maceió. >'a sua mensagem aos legisladores, encaminhando para Yotaçào o ato de transferência, dizia o presidente Silva Neves:

•" Traca-sc de João Lin~ \'ieira Cansançi<> d'- Sinimbu que ~e tornara, mais tarde, o Visconde de Sinimbu. Tendo adquirido grande pro1eçào na vida nacional a partir de sua ado na polírica alagoana. foi Premleme de vánas Províncias, diplomata, Minisrro várias \'CZc5, Presidenre do Conselho de Ministros <: Conselheiro de Estado, terminando sua vida como Senador do 1 mpério.

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Um de vós, senhores. 11ão /JaNrá, examinando esta questão pdo lado dos inifresses púb/;cos, que não reronhe.ra que a vila de Macúó, pela surt j)osíçào 111arftima e.

topogrdftra, l de todos os pontos da província, aqt1ele que melhor condirões reúne para srr a capital. o rtsse.nto da administração. Colocado no cm/ro da pro!'Í11cia, na bordf/ de t11JJ porto vasto, capaz de entreter relarõe.s de comlrcio com todas as partes do mundo, ela n1em10 servindo hojf df centro r1 todo o comércio intNior e madtimo mais importante, assento das duas rf}artiçôf'S mais interessantes que fazem pmte dr1 adn1;,tistração, a(fândega e tesouraria, a 11í/a dr Afocfió é h<je, pela natureza das cousas, o ponto p1incipal da província (SILVA NEVES, 1927, p. 47) .

Era, evidentemente, uma razão de ordem pública significativa, mas com repercussões na correlação de forças políticas que tornavam tudo o mais secundárío para os que, naquele momento, ou controlavam importantes posições ou pretendiam logo controlá-las. Usando até das am1as da adulação, ao lado do esforço parlamentar, no intuito de preservar a primazia representada pela sua cidade, tentariam ainda em 1840, os habitantes da antiga capital, aliciar o novo Presidente da Província, "r('Cebendo-o mire lottça11ias e festas, ao espoucar do Jogm:tório, e ao despetalar de flores balsâmicas" (BRJ\~DAO, 1909, p. 76), sem qualquer resultado, porém.

Buscando municiamento para os futuros embates políticos, tudo na província, nesta época., era passível de instrument.ali.zação. A Polícia, que será criada em 1 841, com algumas prerrogativas judiciais, terá uma importância excepcional, juntamente com a Justiça. Se, como demonstra Leal (1975), em todo o Brasil ''a organiZfçào policial, no Império (.) esteve sempre dom; nada pelo espírito partidário íeJ a comipção da magistratura, porseus vínculos politico.~ era fato notóri0 [smd~7 justamente no interior qut mais sefazem sentir os efeitos da policia e da justiça partidárias "(LEAL,

1975, p. 197), em Alagoas a situação não será diferente, chegando mesmo a agravar-se. Com os grupos de poder procurando, passo a passo, ocup1t as posições de mando que tinham sido abertas em tão curto espaço de tempa41

- desde a emancipação em 1817, passando pda criação da Província e chegando-se ao Segundo Reinado, tinham-se passado apenas

41

74

Se tivermos em mente que antes da criação da Capitania já se haviam passado mais de trés séculos de colonização em que o foco do podt:r t: das lucas por ele se da\·am em Olinda e Rt:dfe, centros de decisão regional, os senhore~ alag;oanos, que não tinham muito como ter peso signit-icadvo na região como um todo e, consequcmcmenn::. no cenário ma.is amplo do reino, agora tinham um c~mpo novo, todo aberto para de:>, numa velocidade tal que era preciso se apressar para não perder as ocasiôes que se aprc~entavam ou que era necessário criar para rer o controle da siruação, rend0 com isso repre.sentaçâo maís geral<: força suficiente para barganhar cargos, prebendas e honrarias.

Cultura e Educação nas AlagQa~ - História, histórias

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11 111 J 1 I. dtm décadas - um grande embate político Yru se dar em Alagoas ainda ti•• 11 tÍ• i• • 1 l1 '" .1nos 40, que irá transportar para o cenário mais geral da Prm'Íncia o que era (1111]11111 ,H'IHJlccer nas lutas mais restritas de âmbito paroquial.

fü.J1ro-me à revolta de Usos e Cabelttdos (1844) que, segundo ~oreno Brandão, 11 •I ",, prdllfhar das l11tas, mais parífiras, p(Jrf!JJ não menos utéreis, do partidarismo em Alagoal' (1111\f',.Dt\o,1909, p. 79). Iniciada através de insultos pela imprensa a Bernardo de Souza l•1.111co, Presidente da Província, sob a chancela de José Tavares Bastos e Francisco lnaquim Barros Leite, com apoio dos Mendonça, dos Pereira da Rosa e dos Calheiros, l ntrc outros, a comenda foi se polarizando até descambar em luta armada.

O móvel de roda essa revolta era puramente facciona}: os Conservadores, desconfiados da posição do Presidente, francamente favorável aos Liberais, liderados por Sinimbu42

, e inconformados com as alterações nos cargos públicos da Província, que tinham desalojado seus correligionários da \•ida burocrática, viram, com a oposição que se formou a partir do combate na imprensa, a oportunidade de enfrentar Sinimbu,

que detinha o controle total da situação. A disputa nas eleições municipais acontecidas na época só acirrará mais os

ânimos, agravando a já delicada situação. Ademais, diz Craveiro Costa que "e11h·r os dois ,~r11pos interp1mha-se. intransponível, a barreira do ódio pnsoal" (COST,\, 1983:114), plenamente compreensível desde qu1:: se perceba que as lutas políticas ali travadas nada tinham a ver com ideias, e sim com questões que envolviam defesa de parentelas e das condições para tê-las sob proteção: ''11ão h011ia um fim elevado nesta lasti111dvel desordem política; o interesse pessoal, a ânsia do poder em o seu móvel" (COSTA, 1983, r· 115), sendo apenas "IHta de interesses regionais pelo domínio de posifões ojiriais e pela mpremacia de fann1ias poderosas" (COSTA, 1983, p.

142).Nessa refrega contavam os Conservadores com o apoio do funcionalismo e do comércio de ?\1aceió, dominado pelos portugueses, totalmente absorvidos pelos Yalores senhoriais dominantes. Foi um confronto armado onde lutaram senhores com seus moradores, seus escravos e toda sua gente, preconizando a existência dos ''cabras do futuro" (DlEGUESjé!'JOR, 1980,p.195).

' 2 Sobre: cst:i 6g1.1ra de alta projeção polític:i durante o Segundo Reinado, ntirma Cra"eiro Cosra, seu biógrafo, guc se rracava de "umn upltilldída fig11ra de rallfli/ho". Cf. COS.T,\ (1983, p. 1 O).

Cultura e Educação nas Alagoas· História, histórias 75

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Essa contenda entre Lisos (Conservadores) e Cabelutkís (Liberai si trazia no seu bojo sobras da velha luta pela mudança da capital, na qual Tavares Basros liderou os adeptos da permanência da capital em Alagoas, rendo sido derrotado em seus intentos justamente pela ação de Sinimbu. Derrotado o movimento pelas forças do Governo, com o apoio dos partidários de Sinimbu, os Lisos vão, contudo, logo controlar a situação, por uma manobra bem característica de facções oligárquicas cm luta pelo poder . É que um dos lideres desta facção, Francisco Joaquim, tendo fugido para o Rio de Janeiro, consegue de seu irmão, o Senador Luiz Dantas de Barros Leite, além da anistia para os revoltosos, a nomeação de um Governador favorável ao grupo, que logo irá garantir a eleição de alguns Lisos como Deputados Gerais. Essa desforra dos Conservadores vai ainda mais atiçar os ânimos e pôr mais lenha na já acesa fogueira das lutas políticas na província. A Revolução Praieira, empreendida em Recife em 1848, não vai ter cm Alagoas "mais do que a platónica repermssào dr 11m apoio d<' ordem moral' (.BRAJ'\D.:\O, 1909, p. 88), passando sem que encontre grande eco na PrO\-Íncia. Era a atitude esperada daqueles que, se ames

já estavam contentes com a aliança celebrada com a Coroa portuguesa, em troca do poder municipal, agora se sentiam ainda mais sacisfeit0s, uma vez que podiam "recebfr rf}rr.rentafões mais altas - as dep11tr1çiiN p1YJvinciais ou gerais, a senatoria do imperado1; as comendas, os títulos de grande::;_a" (DIEGCES Jl':-.JJOR.. 1880, P· 194).

Os senhores alagoanos continuavam, assim, dando sua comribuição para a sustentação da estabilidade poli rica nacional e 'ím.rmo as lutas partidária.r entre consen'tldores e liberais não perturbariam o ritmo dessa orientação. de plmo apoio à coroa, de s1guranfa das instittliçiies 111011drq11icas" (DIEGlJES JÚNIOR, 1980. 194) . Afinal, se no resto do país era quase sempre assim, nada de diferente se poderia esperar encontrar nessa terra, onde os interesses dos grupos se sobrepunham a qualquer outra coisa. Ali, sobretudo, nad:i havia mais pareciJo com um saq11ore111a do que um l11zia, como se costuma·rn dizer em referência a ConservaJores e Liberais.

">Jaquele ano de 1848, a Província contava com uma população de 207.249 habitantes, sendo 59.775 escravos e 147.474 liHes. Destes, apenas 22.566 eram alfabeti;.:ados, havendo apenas 2.073 alunos matriculados em cursos primários que eram ministrados em 44 escolas.

Será criado, porém, no ano seguinte, pdo Governo provinciaL o Liceu de Maceió que centrafrlará as cadeiras aYuls:is para o ensino secundário, já existentes. Essas

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lu1 11 1111 r·1mpo da educação, contudo, parecem estar seriamente comprometidas l 1 f 111mnt11mo era conduzido o ensino, como se pode ver pela fala do Presidente da

11111\ 1111 i.1, dtrt1(1da em 1850 à Assembleia Provincial:

priflleira111mte não se te!JI ainda ho;e ffgulado o método df ensino, que todo se arha

entregue ao t1rbfhio dos prof e.s.rori:s, muitos dos fJ!fais mal .raberão repetir o que apenas

tiverem lido, Sffll poderem apreriar a com:etlif11ria da doutrina, ne!1l a ocasião t 1mio de

i11Cf{/cá-/a no e.sphito dos mmi11os. Em segundo lt~~ar ob.rm1a-.re. a frou:x:idàr, com q11r

são inspecio!ladas as aulas primárias,já quanto ás comli.rões de moralidade, capacidade

e a.r.rid11idadc do.r pr~fessores, já q11a11to à capacidade material das mesmas casa.r: os

membros d(JS co1nissões /orais de instrução, sob r1yo atestado se 111andam pa.gr1r os

ordmados dos profis.rores, tem-.re pi'la maíorpa11t se mostrado pouco e.rcmp11losos em

manifestar as irregularidades da.r escolas.

Essas observações feitas por José Bento da Cunha Figueiredo, que irá governai a Província de 1849 a 1853, sobre a forma como se vinha conduzindo a educação pública na época, deixa claro o papel das injunções políticas no funcionamento do setor. Isso evidentemente iria aumentar ainda mais o descrédito para a educação mantida pelo goyerno, sendo, com certeza, o principal mociYo para o aumento das escolas privadas, a respeito das quais, infeliimeme não dispomos de dados mais pormenorÍ7.ados. Sabemos, apenas, que já eram inúmeras e que nelas "os servmtes eram

ucravo.r e aqueln que conduziam os ai1111os para as classes ti11ha111. ainda. o seu nome verdadeiro: pedagogos" (VILELA, 1982, P· 14).

Será sob a Presidência de José Bemo da Cunha Figueiredo que as facções políticas irão se institucional;zar em partidos, instalados em Alagoas, segundo Brandão, "por imitação dos grandes re11tro.r narionaiJ", pronvelmente pela falta de conteúdos ideológicos bem marcados que pudessem justificar seu antagonismo (BRA?>:D..\o, 1909, p. 88-89).0

faccionalismo, que nos primeiros tempos do Império tinha outras formas de expressào4\

;; Entre essas formas de expressão. nas primeiras décadas de ~;da da Província encontra-se a{é o confromo c:mrc Magisuacura <:: Govc:rn<> (1836í1 R37), aguda c::vidcnremcntc de c:xrraçào local, canalizando os anseios do$ senhores, cada um com seu jornal, 11 se esgrimirem mutuamente.

Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias 77

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agora dispunha de um canal legalmente instituído para dar vazão às tensões geradas

pela luta encarniçada pelo poder. Um dos instrumentos priYilegiados no combate partidário será o jornal,

cada facção com o seu44• Será, pois, "na imprensa, nas pu,g11as l'ttmmtes que se tra1·aram

11os arraiais da polítira /oral" (COSTA: 1983, p. 142) que, daqui em diante até a República, irão se projetar aqueles que passarão a ser considerados como expoentes da cultura local. Sem dúvida, serão estes os que se an·orarào em dignos interlocutores do Imperador que se considerava um erudit0 e um sábio, quando de sua visita a Maceió, em 1859. Todavia, como cultura e poder naqueles tempos jamais andaram

distantes nas Alagoas, será o Barão de Jaraguá, entre outros potentados, quem recepcionará Sua Majestade nessa visita que, no entanto, decepcionaria a todos, já que ''.feita com a ce.ltridade vertiginosa rom que D. Pedro 11 sabia viqja1~ e, portanto stm grandn 11a11tagms para a província, onde S. 1\Jqjeslade apenasf<'z 11ma drrrama de ro11dt>corações, frustrando ta111him mui/os i11t11ilos de certos home.n.r perdidos que pensal'am atuar no â11i1110 do Imperador com reqt1i11tes dt ostentarão lurnliana, para satisfação de suas vaidades de alarves" (BIV\l\DAO. 1909, p. 91).

Na Yerdade, /\lagoas já era, nessa época, terra de bacharéis. Com cerca de 134 doutores formados apenas na Faculdade de Direito de Olinda, agora já transferida para Recife (BEVIL\CQUA, 1927), a província caminhara rápido na formação de ciuadros para a \'ida pública, se considerarmos a situação em gue se encontrava nos seus primórdios. Isso, inclusive, já devia estar contribuindo para complicar e acirrar as lutas políticas por

funções públicas, pelo ciue se pode depreender das palavras do Presidente Souza Dantas, em 1862, em sua mensagem ao Legislati,·o:

O número dos que já estão habilitados para serem nomeados jl!izes de. direito é

extraortlinán'o. Entre tantos pretendentes ijd rlijicílitJ10 ser esrolhido um para l'.iH cargo.

" :\ rdaçào entre faccionalismo provincial e imprensa pode: ser avaliada pc:lo~ t».emplo> a seguir: no c;onflirn entre l\fagistrarura e GoYerno, o primeiro combatia através <lo jornal O Prori11tM110, enquanro o GoYerno manrinha O J:dw, . ·J/a_eqanr1; os Us111 e Caheludor se esgrimiam. aqueles por inrcrmédio de () Aia,ÇúaJIO e estes arr:ivés de A 1 'úzAl'~""·ma. Criados os parri<los, ConserYadores tém O Timbre, enquanto Liberais controlam O Ttnlfl6.

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J il\ci': não querendo rra;-er a público em documento oficial o sentido simbólico p11ll11111 do bacharelismo que já invade a Província, arremata o chefe do Executivo

11111111 111cnsagcm:

Não obstante os ex(~uos t'encilnmtos dos juízes municipais t promotorrs, abu11dam os candidatos a tai.r lugares. Es-sas pmfi.rsõn 11ão se tomavdo rhfir1s e pouco tant'!fosrts; ao passo qur os estudos absorvem somr1.r qut, st fossem empregadas como capital 11111110

profissão produti1•a, dariam mais i11lerr.rse em 11111ito menos tn11po.

Aliás, as quantias que os pais tinham de desembolsar para formar um filho doutor naqueles tempos e tudo o mais que envolvia a empreitada, tornaram-se lenda que chegou até nossos dias. Com frequência ouvia-se falar, por exemplo, das privações e falências sofridas por senhores de engenho que insistiam em manter filhos Lstudando em Recife, Safrador ou mesmo no Rio de Janeiro. É que o grau de bacharel se apresenta,·a, naquela realidade, como um curso de cultura geral, que amplia\ .i e complementava os conhecimentos, dando ao seu portador o salvo-conduto par.t os cargos públicos e o exercício da função política. Gestavam-se, assim, os nossos tfü 1

conhecidos políticos pr~fissionais, bacharéis em Direito de preferência, em sua maioria oriundos agora das famílias menos abastadas, pelas facilidades que a Academia de Olinda e depois de Recife Yinham propiciando desde o início do Império. Com saber, habilidade e competência para as confabulações, esses doutores, espécie de sábioJ"

do mundo político provincial, irão ser na verdade, cada vez mais, os representantes dos senhores rurais, gozando de várias regalias, desde que se mantenham fiéis aos que os puseram no poder.

Com o Liceu em pleno funcionamento nesse período, no entanto lamentaria já o Presidente Sá e Albuquerque, alguns anos antes - 1855, precisamente - em fala à Assembléia, que os esrudantes mais aplicados continuavam dando preferência a Recife e Salvador para realizar seus estudos em vez do estabelecimento público local. Na verdade, o interesse <leste Presidente ewn·a voltado mesmo para o ensino agrícola. Tendo fechado o Colégio de Educandos Artífices, criado um ano antes para o ensino das primeiras letras e das profissões de alfaiate, sapateiro e músico às crianças pobres, por ser, segundo ele, muito dispendioso e de utilidade muito circunscma, propôs Sá e Albuquerque, no seu

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lugar, um Colégio de l:.ducandos Agrícolas, cuja propo~ra pedagógica logo cuidou de explicitar nos seguintes termos:

Eu não quero sdbios agrícolas, qun·o moço.r ed11rados no campo. sahrndo apenas ligeiras 11oções teóriras dr agricultura e o T11a11ejo de algum i11stm111rnto agrícola: não quero aspirantes a 1~mpregos públicos; tjl!trO trabalhadores de um espírito mais 011 menos rultivado, morali'-ados e económicos; não quero

J11t11ro.r desrontentes das instituições do país. quando não se acharem ro11tentes com a sorte: quero homens pouco ambiriosos e SHJJ1amente interessados na paz pública e 11a permtméncia dos governos. sfjam eles de que política foretJJ (J\pud

CRA'\'EJRO COSTA, 1~J31, p. 47).

Essa era, e,·idrmemente, uma proposta sem base na realidade social das Alagoas da época e na direção oposta às esperanças que, naquela época, se deposita\•a na educação, ramo que, aprovada a jdeia em 1859, ela não só não chegou a str efetiYada, como foi definitivamente abonada, com o Colégio cxrinto dois anos depois pelo mesmo Legislativo que o aprovara.

Como a educação não apresentava melhorias significativas, sendo evidentemente, impossível atacar o filhmismo que fl.orescía na educação pública da província e que era a razão principal de seu descalabro, tentou-se, por essa época, atacar o problema por outra Yertente, atribuindo-se os resultados ddicientes ao mau uso dos métodos de ensinar ou, antes, à sua. ausência. Dessa forma, o Governo Provincial, em 1857, rendo noticia do ~1érodo de Leitura Rápida, do porruguês Antônio Feliciano de Castilho que, no Rio de janeiro, vinha tendo, segundo diziam, enorme aceitação, para l:í em'.iou o professor José Francísco Soares que, depois <le dominá-lo, deYeria rerornar para Alagoas e transmiti-lo aos educadores da terra. O curso normal para preparação de professores era já uma idéia, volta e meia presente nas falas dos políticos da terra mas que só irá ser criado no final da próxima década - em 1869 precisamente - anexo ao Liceu de :Maceió.

Com o adYento Ja Guerra do Paraguai (1865/ 1870) , na qual, se~l"lindo os historiadores, Alagoas teve uma participação de relevo, o em-io de contingentes para

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1 h1111 ele \·eu-c;e. na Yerdade. à reahzacão. por toda a ProYÍncia, dos tão famigerados 1cc1111.tmcntos. Transformados cm "uma caçada bárbara e iJJJpiedosa de homens'~ deles "a.r tmmlri1r1a.r brutais dos potentados sertanejos se vafemm para exercer atos de ferozes vingan_ras, firmando prla prepotência sem corretivo, um poderio dupótico e sang1únário", fornecendo, assim, para a freme de batalha os "l'oltmtários amarratkJs" (BR.-\~DAO. 1909, p. 93).

Esses recrutamentos, aliás, tiveram triste memória ao longo de todo o Império, tendo sido em Alagoas sempre discricionários e violentos. Já em 1830, o Presidente da Província dava notícia, através de carta, falando sobre a lentidão do recrutamento de 1829, de que ''Os encarregados do mesmo só remetem miseráveis 111nt11tos, ficando os filhos dos Senhorn rle engenho e de Oficiais das 3 linhas e de. empregados ptÍblicos, q11e até o presente ainda não assentou praça nem 11111 só".

Segundo Antônio da Silva Lisboa, em informação datada de 1859,

qun11do SI' ahrr esta caçada dr homens para o exército, espalha-se o tnror por todo fJ c1111tro do Pmríncia; os braros faltam à lavOlf1"tt, porque se fJcultam nas matr1.r e os e11cm-regados dessas p1isões (com a devida exceção) não deixam de 1;proveitar-se de.rse fm·orável ensrjo parn praticarem z:inga11çr1.r e perseguirem t1/gumas rezes aqueles q11e 111a11 trabalhafJI. mas tjllt' injflizmrnle caíram 110 seu desa.grado (SAKT'ANA, 1970,

p. 159- 160).

Assim, frente a um conflito das proporções da Guerra do Paraguai e à quantidade de combatentes por ela requeridos, não tardaram as reações contra o Presidente que dava cobertura a tal forma de recrutamento, às quais ele procurou responder com retaliações, atingindo os adversários naquilo que mais lhes era caro - os seus correligionários alojados nos cargos públicos. O espaço político dos dois partidos àquela altura já se tornara estreito para o grande número de mandatários que tinham seus afilhados a defender, tendo nascido daí o Partido Progressista, uma dissidência dos Liberais que, contudo, vai logo se aliar aos Consen·adores. São reagrupamentos que, a exemplo do que ocorreria no resto do país, proli ferariam daí em diante, através de cisões que iriam ocorrer freme a qualquer problema concreto que Yiesse a se colocar <liame de um determinado grupo: ''111110 pa1te da maio1ia passava a apoiar a oposipào. que .refortaleria e .ruhia" (QCEIROZ, 1976, p. 79).

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Assim, exaltados os ânimos, a rotatividade dos Presidentes da Pwvíncia, que já era alta desde o início, agora mais se acelera.45 Apenas à guisa de exemplo, registrando-os como instantâneos da vida política daqueles tempos, podemos citar dois fatos bastante ilustrativos do clima da Província na época. O primeiro: mandado para apaziguar os ânimos, Antônio Moreira de Barros é logo abandonado pelos seus correligionários por se recusar a fazer retaliações contra os adversários. Tendo procedido a algumas punições de irregularidades comprovadas por inquéritos feitos na forma da lei, sua situação se agrava, sendo '1tima de rodo tipo de acusações pela imprensa que, em }Jagoas, desde seu surgimento, em 1831, vinha proliferando de modo célere, parecendo mais servir como arma de combate das várias facções que a controlavam que a qualquer outro fim.46

Sebrundo Moreno Brandão, :\foreira de Barros era punido simplesmente por governar "em t.JJna terra onde as noções de direito estão em um estado simplesmente embrionário" (1909, p. 96).

Porém, revendo esse episódio à luz das questões que orientam a nossa leitura da história alagoana, dir-se-ia que o Presidente era reprovado por não respeitar a regra suprema

45

82

Basta citar. para se ter tima idéia desse processo, a série de Presidentes que sucederam ao f{'Crutador ;\lencastre, com seus períodos de governo: Benjamin da Rocha Vicm1. dois dias; Gaudino Augusto da >!atividade e Silva, um més e oito dias; Tomaz Espíndola, oito dias; João Francisco Duarte, um mês e três dias; 1\ntônio Moreira de Barros. oito meses; Graciliano 1\rescides de Bam)S Pimentel, dois meses e çjoco dias; Silvério l'ern:rndes de Araújo Jorge, pouco mais de dois meses.

Aos esrudiosos da história regional tem causado alguma esrranheza a exi~tência em Alagoas, no século XIX. de um "1::x:tmord1111irio mimrro dejorn,ii.r qHC ârc11l.m1m mi i11tnir;1· t tltl capital da p1·ovb1âa" (CW.-\J.C1\'-1Tf, 1957, TE:-O:ÓRJO.

19s;), cuja explicação, para eles, e~d no fato de que "o_Jomal era, pratica11Je11te, o Jinirfl divtrtimmM ou entretemnmito do ,;poca" (TF.N(lRlO, 1987. p. 4). Embora sej~ essa uma explicação válida, lendo-se o conteúdo dos periódicos , parece não ser a única, porém, nem talvez a mai~ importante. Se nos lembrarmos de que o voto nesta época era censirário e de que o maior concingeme de kitores dos jornais, se não o seu público exclu~ivo. eram os senhores de bens e recursos, que eram os eleiwres, fiça fácil de imaginar o poder do jornal na construção ou demolição de reputaç<>es, no granjeamento de adesôes a uma causa e, consequentemente, no fortalccimemo de facções, coisa que, :iliás, ainda vale para os cüas de hoje, embora com menor exclusividade, rendo em vista a concorrência de outrns meios de comunicação com maior raio de amplitude. É impossível, inclusive, fazer a história da imprensa alagoana sem se analisar a fre<Juência com que se empastelavam oficinas gráficas desde o surgimento dos jornais na região aré a década de 5() deste séc.:ulo. O poder politic:o-infornnti\'O dos jornais pode ser ainda aferido por um fato que ou1·i do encarregado da biblioceca do Jmciruto Himiric.:o de Alagoas e que pude, inclusive, compro,·ar quando lá esri\'e pesquisando para este trabalho: ainda hoje \'ão pessoas ao Instituto fazer consulta a jornais do passado. çom o intuito de retirar deles matérias que desabonem familiares ou pessoas Ligadas aos ccmsulcmcs, às vezes até conseguindo seu intento, como pude: c.:onsr.atar pelos recortes foim:. nos jornais arquivados.

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•nt, l)\l finto consistia em le\'ar as normas do direito até onde elas não ,;essern a invadir, ~1111111 11\1 e 1111minar os ditames dos sagrados laços das relações de lealdade e afilhadagem. e Hlll 11 ln f .li o: em 1868, no governo meteórico do Dr. Silvério de Araújo Jorge, durante uma

flr li( I• '• l hcgou-se até a crucificar um eleitor em São Miguel dos Jvfilagres, por se contrapor à 1 11 l .111 dommante no lugar. Para ~1oreno Brandão que, junto com Craveiro Costa, é quem 11wllto1 e mais detalhadamente faz a crônica política de Alagoas,

l11do isso se.fazia, dizjn111, para cons(J/idar definitivamente o podetio de uma fa111ília 11111110

terra onde, esqu(uida.r 011 ainda não SfJbidas as conq11i.rta.r do evani{,rlho da democracia, as tendências absorventes e oligárquicas dn.r pandilbas e das farcõe.r rrlegartJJn para um plano infetior as nem.ridades da prorincia (BRANDA0,1909, p. 99-WO).

Enquanto isso, a economia açucareira, já em franco declínio, será suplantada na década de 60 pelo algodão que, desde os fins dos anos so, ,-inha tendo sua produção aumentada, graças ao incremento da demanda provocado pela Guerra Civil Americana, parecendo ser uma alternativa de rendas para a Província.

Passado o conflito na América do Norte, porém, o algodão perde importância freme ao velho açúcar, que novamente volta a assumir seu lugar de destaque. Da importância do algodão nessa época, ficará como testemunho um fato no mínimo curioso: criada uma sociedade - a Companhia União Mercantil - para a implantação de uma fábrica de tecidos em Fernão Velho, nos arredores de Maceió, com a esperança de que um outro ramo industrial pudesse diversificar a economia47

, totalmente submetida à ditadura da cana de acúcar, c.:m 187-t, menos de dez anos depois de estar funcionando a fábrica, gue produzia apenas tecido grosseiro para vestir escravos e servir de sacana, a assembleia dos acionistas conclui gue o pessoal empregado era excessivo ...

Engolfada em escaramuças políticas gue se sucedem, só no final da década de 60, sob a Presidência de José Bento da Cunha Figueiredo Júnior48

, é que Alagoas vai

'" Prnibido durame rodo o período colonial, ci benefici:tmento do al~odão, que rinha sido autorizado CC>m a chegada de D. João VI ao Brasil. logo volcou :1 se r impedido por lei cm 181(), assim permanecendo durante o Primeiro Remado, obrigando o <e1<>r algodoeiro a ,,;,·er do mercado externo. Só a partir da J\faiorida<le é que os uarados que davam o monopólio do algo<lào llagoano à Inglaterra e à França foram rcYogados, abrindo para a lavoura •) mercado .Interno.

•• Tratl-SC do filho de José Bento da Cunha figueiredo, aquele que instituiu a~ organiza~·õcs partidárias na

províncil. na década de 50.

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Schwarcz, em construir com as múltiplas faces da supremacia do senhor rural uma '·espécie de mito de.formação da identidade" alagoana, e resgatar a saga civilizadora da Província por ele empreendida, que cabia ao membros do Instituto recompor e conservar, segundo os moldes de seus congêneres do llio de Janeiro e de Pernambuco, que lhe serviam de modelo (SCHWARCZ, 1993).

Segundo Craveiro Costa, até então fora "a política, principalmente, a formadora da mentalidadt< alagoa11a", com a produção de seus intelectuais quase toda esparsa nos jornais. De outro meio não disporiam as elites da Província, pois "o livro era coiw inacessiv1,/ ao meio provinciano" (COSTA, 1983, p. 139-144). Esse campo neutro, patrocinado pela iniciativa oficial não conseguirá, porém, mudar muito a paixão e o estilo políticos no dia a dia das Alagoas. Mesmo a institucionalização da vida política da Província, que ocorrera na década anterior através da criação dos partidos Conservador e Liberal, na verdade "menos representantes de idéias do que de pessoas e famílias" (HOLAl"DA, 1991, p.

125), em quase nada veio alterar a rotina violenta com que os grupos costumavam resolver suas pendências. Ali, o crime, "impune, havia proliferado ao ensombro da proterào dos magnatas e prepotentes·~ com seus "caudilhos que aparceirados com os membros numerosos

de suas.familias e rom os seqt1azes obtidos pelo terror ou pelas a!iciações do dinheiro, tran{/Õr111r1.m os sertõe.r em arena dos anfiteatros, matam por prazer, suí?}u,gam, affa.ram, destroem t11do com s11a implacabilidade sem par" (BRA!'-JDÃO, 1908, p. 89-90).

É que esses partidos representavam apenas "o 111a;1to sob o qual se esconde11 a.força dos chefes locais,- stta realidade como 'partido polítiro' no sentido da arregimentação de pessoas l'l1l

torno de. um programa 011 de um ideal, não existiu: liberais, comervadorrs. aJ· idéias dr, seus membros não apresentavam divmidade palpável' (Ql'EIROZ, 1976, p. 79) . Dentro desse quadro e com tal concepção de política,

86

o ambiente esfal'rJ saturado de partidarúmo e as lutas dos partidos emm as únims n11mifestr1rôes dr1 e>..-isténcia politira da província, à pmte todos os seus interesses capittJir, os quais 11unm

merecemm dois minutos de atenção do paTte das adminútra_rfies efmffas que ihe trnçavam a trq/dória, sel7/ 01imtá-la parti tJ solução dos seus múltiplos proble111as económicos (..) Só vúava111 fias a politicage.1JJ, nas dem1badas dos adverstinos e nas manohra.r inderomsas dos

p/vtpelhos que.faziam rH Incas dtJ poíítitâ proánriana (COSTA, ·1983, p. 122-123).

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

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Deste panorama pintado com tintas bastante fortes parece só ter escapado a administração Bento ] úruor gue, pelo menos, deixa Maceió com um aspecto menos precário e um pouco mais habitável. >1 Por cnguanto, as eleições vão se sucedendo, deixando "nisles nrordações - chaci11as,jraudes, 1•iolénciasdorna/ismo desenfreado) lares difamados)

.familias esfaceladas" (A.LTAV ILA, 1988, p. 70-71).

Na década de 70, o açúcar continua ainda, em meio à profunda crise, sendo produzido c1uasc gue inteiramente nos moldes da colônia. De fato, dos 404 proprietários de engenhos que responderam a um questionário distribtúdo pelo Governo, 235 tinham suas moendas movidas por animais, sendo apenas 18 movidos a vapor e os demais pela força da água; só os privilégios governamentais é que vinham mantendo a maioria em funcionamento até então (SANTi\Ni\, 1970, p. 329).

A navegação, até agora quase toda de cabotagem, com exportação dos produtos alagoanos feita ainda via Recife e Salvador, finalmente tem inauguradas linhas regulares para a Europa, diminuindo, assim, o ônus adicional que vinha pesando sobre os principais produtos de exportação.

No início dessa década, com uma população de 310.000 habitantes, Alagoas contava com um contingente escolarizável de 78.470 crianças e jovens, dos guais apenas 9.483 freqüentavam escola. O descrédito do ensino público nessa época atingia até o Liceu que, fundado em 1849 e funcionando por uma década até ser extinto, fora restaurado em 1863, com o intuito de melhorar o ensino secundário na Província. Entretanto, isso na verdade só tinha conseguido piorar a situação das cadeiras avulsas que o antecederam. Os íovens cujas famílias tinham recursos continuavam saindo para fazer fora seus estudos preparatórios para os exames gue lhes permitiriam ingresso no ensino superior, até porque estudando em Recife ou Salvador, com os professores que os iriam argüir, teriam mais facilmente garantida sua aprovação.

Para os que ficavam em Maceió, já havia colégios renomados com freqüência significativa, já que os Parcelados, como eram também conhecidos os Exames Gerais de

:.i Contudo, as obras só agor~l por ele rc.aljzadas, quando o as·úcar se encontra cm decadência, num conrexto onde a arrecadação tributária é precária e dominada pelo faccionalismo, como tudo o mais, vão aprofundar o já crónico deficit que se vem \TrÍticancl<J desde o início da Provincia: em 1369 ele iá é de R. 2~1 :5225606, passando para R 333:3J6SS24 no ano seguinte. Cf. TI!:-.JÓRJO (1987).

Cultura e Educação nas Alagoas· História. histórias 87

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Preparatórios que davam dire1to ao ingresso nos cursos superiores, feitos até 1875 apenas nas cidades onde havia Faculdades, começarão a ser rcabzados em A.lagoas a partir dessa data. Assim, tanto o Liceu quanto os colégios Bom Jesus, São José e Ginásio Alagoano passarão a receber alunos para esses exames, muito embora os professores destes fossem, segundo Abelardo Duarte (1961), os mesmos do Liceu Provincial. Quanto ao resto da Província, só o Colégio Nossa Senhora da Penha cm Penedo estava autorizado a realizar os Parcelados, tornando-se, assim, compreensível a importância que o Liceu continuará a ter ainda por muitas décadas na hisrória da Educação em Alagoas.

É fato, conrudo, que o Liceu, com uma história pontilhada de tumultos e indisciplina desde sua criação, vai ver refletir-se no seu quotidiano, ainda na década de 80, a vida tumultuada que se tornara regra no dia a dia da Província. Emblemático da \'iolência que migrava da rua para dentro da instituição é o tumulto havido cm 1886, quando da realização dos exames no final do ano, em que vários alunos, exigindo aprovaçfo, agrediram professores com pauladas. Dentre os agressores, figuravam vários professores do Llceu de Artes e Ofícios que há pouco tinha sido criado para atender aos filhos da população pobre de-Maceió. Alguns dos agressores virão, inclusive, a ser mais tarde professores do próprio Liceu, como que a mostrar que em Alagoas continua\•a a valer a regra de que "manda quem pode e obedece q11e111 temjmzo ".

De sua parte, o Governo dispensava já c1uancia significativa com a Educação, comprometendo, por exemplo, em 1882, mais da guarta parte de suas rendas. A situação geral do setor, porém, continua,·a catastrófica: "o prefessor primário, pessi111a11Jente remunerado, era ffm sen;o da polítira, constante111ente de Herodes a Pilatos, e dessa sua condição 111isera11da 1ràtga1'a­

se desmrandv o magisti1io e pal111atoreando a petizada" (COSTA. 1931. p. 18).

O movimento pela abolição da escravidão vai encontrar Alagoas com um contingente bastante reduzido de escrn\7 0S - 15.269 para uma população de 485.000

homens livres, segundo dados de matrícula e arrolamento de 188' citados por Arrnr Ramos (1937, p. 284).52 Isso explica a campanha que vai se desem·olver sem gran<les

.: Se consi<lerarnlos que e1n !Fi4.2 h:n·ia cm Alagoas 3-.675 escravos para u1T1a população de 167.619 Jj, res~ suhjndo

o número de escr:\\'oS p~rl 4-. ·lfi no censo <le 186(1 conduzido p•>r TomaL Espbdola, que enconrrou unu população li'·rc de 2115.3%, c~sa queda drastica no an<> da Abolição é. sem dú,·ida, s1~ncatica. Cf. s.~:--T·\'.\.,~ 119711.

r 41s ...

88 Cultura e Educação nas Alagoas - História. hi~'tórias

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1 • tr11c · n i ProYíncia que. já havendo Yenclido parte s11~nificativa dos escravos de llli 111d.t dispunha para o florescente polo cafeeiro do Sudeste, estava, neste ponto, lw ,1 u11do alternativas através do trabalho livre para as lavouras da cana e do algodão, (1111• ainda domina,•am inteiramente nossa economia.

Lmbora Sérgio Buarque de Holanda (1991. p. 126) afirme que a abolição rrnlia marcado o fim do predomínio agrário no Brasil, para Alagoas isso deixa de ""r verdade, inclusive pelas próprias razões por ele invocadas: se em São Paulo, com o c.af é, como ele mesmo afirma, a lavoura deixa progressivamente de ser o modo de t'lda do fazendeiro para constituir apenas seu meio de vida, eliminando-se, com sua mudança para a cidade, a autarquia da propriedade rural e configurando-se um tipo de atividade que exige menos capitais e não necessariamente o ativo representado pelas terras de latifúndio, em Alagoas, a dependência quase exclush·a do açúcar e do algodão - duas culturas que estruturam formas de '.ida social fortemente marcadas pelo tradicionalismo - irá empurrar, para um tempo a perder de Yista, o dcsvencilhamento da sociedade alagoana da dependência em relação ao velho engenho e ao rurali smo que por ele é engendrado.

Esse tradicionalismo que poderia, de alguma forma, ter sido rompido ou mesmo atenuado por uma cliversificação de culturas, pela incorporação de novas técnicas ou por novos investimentos, não vai ocorrer, até porque a lavoura canavieira cada vez mais decadente, com uma deterioração que se agranra na década de 70 e 80, não seria capaz de incorporar novos gastos sem sacrificar ainda mais os ganhos já bastante reduzidos.~3

A tentativa feita pelos hangiiezt>hw ainda no ano de 187 5 de superar a crise através do Comício Agrícola de Quitunde e Jetituba, movimento associativo dos senhores da região norte, revelou-se infruófera, tendo vida curta. As soluções de natureza técnicas apontadas por essa agremiação caír~m no v:izio. Em 1889, opinando sobre a crise, e mais especificamente sobre a saída do problema da mão de obra através do trabalho

·.; Com a queda do preço mn:rnacional do açúcar que passou de 2S29S na safra de 1855/56 para lS85u na década de 7(1, mais os efeitt)s da seca de rn--c e a concorrência do açúcar de beterraba na Europa na década de 80. a culturl canavieira vai chegar ao final do século sem grandes pcrspccova> ele superação da crise que vinha se aprvfundando já há mais de três décadas.

Cultura e Educação nas Alagoas· História, histórias 89

Page 81: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

do imigrante, cuja presença Yinha sendo cogitada como um substituto do braço escravo há algum tempo, clirá o Barão de }'vfondaú:

O .ra/drio 11íio poderá atingir a alturn de snthfazer às nece.rsidade.r jísfra.r dP

homens babiluados a tratamento mais co11fortdn·I do que o usado pelos nossos

trabalhadores rurai.r, pelo q11e me parece que o 111aior urgência de 110.rsa lai:o11ra

é por mquanlo n1tlhorar o qualidade e di111i1111i1· o msto dos prod11los agricola.r,

abrindo-se estradas, construindo-se pMtes e .fundando-se escolm agrírola.r

(SANT'1\1't\, 1870, p. 155).

E será a saída pela diminuição dos custos que irá prevalecer, só que através de duas vertentes bem específicas. Faltando dennitivamente o braço escravo, já há algum tempo escasso, a redução de custos pelo lado da mão de obra será uma delas. Isso irá se efetivar, basicamente, atra,·és da generalização da figura do morador como forma dominante da for~a de trabalho, secundado pelo sitiante. A existência de trabalhadores não escraYos na lavoura cana,·ieira em troca de soldo data de seus primórdios, sobretudo para as tarefas mais qualificadas, como já se pode verificar em Antonil (1967). Contudo, o uso de homens. livres sem qualificação é registrado em vasta literatura desde o início do século XIX, na condição de moradotrs em terra de trato de cana e na qualidade de sitiantn na periferia da propriedade, os quais, além de constituir uma boa reserva de mão de obra, tinham uma importame função geo-polícica de reforço do poder do senhor, quando este precisava de homens para resolver suas pendências. Como, porém. nessa época ainda era relatiYamente abundante a mão-de-obra escrava, muitos desses homens. cujas condições de trabalho e de ,;da eram extremamente instáveis. irão perambular entre uma propriedade e outra pelas cerras alagoanas, constituindo as kvas de "tagabundol', "delinqiientel', "indolentes", "oriosos", como eram denominados pelos senhores, já que conforma,·am, na verdade, um "excesso de reserva de 111ào de obra" (7'·fOlJRA, 1993, p. 93).

1\ presença dessas "c!assespnigüsrd' já é registrada em 1842, na fala do Presidente da Província, :\fanuel feli7..ardo de Souza e J\·felo, à Assembleia Provincial:

90 Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias

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Ninguém Je sentia se~"ro, principalmente ffOS sertões. .-1. L'ida dos nossos co11ridodâos dependia wnplesmente do arbítrio de a/gffm assassino 011 da riqueza e influência de seus am~~os. Conhecei.r o estado lamentável o que chr;gou nossa provfncia e a 1nudança qm Jf'

opero11nestes1Íltimos 111cses. Tal 1nelho1iafoi de,.ido. prinmran1ente, a uma força policial t•aknte q11e co11seg"i" txp11!sar da provinàa seiscmtos e oito vagabundos e delinq;ientes: em .reg1111do lugar ao 11otárel ínpulso que tomou a Guardo j\iado11al e, finalmente, ao exemplo proporcionad<t por dnro exemções" (apud K.IDDER, 1980, p. 157).

A essa altura, o controle dessa população ainda se daYa portanto pela força armada, mudando-se o padrão de dominação, do meio para o fim do século, com a absorção dessa gente na substituição do braço escravo. Tod;wia, tanto no caso do morador quanto do sitiante, dificilmente o pagamento do trabalho envolveria uma relação monetária, senão de forma marginal. Na verdade, o contrato que os ligava ao engenho consistia na cessão, por parte do senhor, de terras que poderiam ser por eles cultivadas mediante certas condições, das quais a principal era que. em troca da moradia e da terra para plantar, desse o chefe da família, sem qualquer pagamento, alguns dias da semana - em geral variando de um a trés - para o trabalho do engenho, podendo eventualmente também receber uma paga por outros dias, além daqueles da condição, em que Yiessem a trabalhar, ele e outros elementos da família, na lavoura do engenho. A relação com o sitiante poderia se dar também através da troca do uso do sítio pelos produtos ali cultivados.

Após a abolição, a moradia constituirá uma forma de absorção quase imediata dos escravos agora transformados em trabalhadores livres, enquanto no caso dos sitiantes eles constituirão uma saída para a crise graças à disponibilidade de terras do engenho não aptas ao cultivo da cana que, cedidas aos trabalhadores da Ja,•oura, lhes permitirão, através de trabalho seu e de sua família, complementar a paga reduzida ou inexistente que o senhor de engenho lhes dispensava.

Será essa, além do mais, uma fórmula imobilizadora de mão de obra que, de quebra, manterá a dependência de amplas camadas da população agora livre, reforçando os laços tradicionais de famulagem. Este padrão de organização da produção, que vai buscar alguma competitividade pelo lado do aviltamento da remuneração da mão de obra, se estenderá depois para as usinas, com uma permanência maior que em outras regiões e, num certo sentido, chegará também até à indústria têxtil, só que aqui

Cultura e Educação nas Alagoas · História. histórias 91

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principalmente pelo uso masÚ\'O do trabalho das mulheres e das crianças. É esta lógica que irá contribuir em A.lagoas para a construção de uma sociedade nova, agora sem escravos, mas necessariamente pobre e dependente (AL\.IEIDA, 1991, p. 32-33), eliminando em definitivo aquela tendência mod<::rnizante posterior à Abolição que é aponcada por Sérgio Buarque de Holanda.

A outra vertente para o enfrentamento da crise seria a busca, embora tímida, de uma fonna mais racional de produção do açúcar que pudesse servir de alternativa ao modelo do engenho, então exclusivo. A proposta de racionalização viria através dos mgenhos centrais, projeto acalentado pelo Governo Imperial e o da Província desde a década anterior, que consistia na implantação de instalações exclusivamente industri:üs que, incorporando tecnologias atualizadas de fabrico do açúcar, moeriam as canas plantadas pelos proprietários da região onde eles fossem implantados, não tendo os proprietários desses embriões de usinas permissão para ter suas próprias canas. Porém, não havendo a proposta prosperado na Província, diferentemente do que ocorrera cm Pernambuco, pelo tradicionalismo, pela sobranceria e pelo espírito autárquico dos senhores das Alagoas, esta solução de racionalização da produção com ganhos de produtividade \'ai ficar adiada para depois da República (SA>JTA~A, 1970, p. 338).

A razão do fracasso dos engenhos cmtmis em ;\lagoas não foi ainda de\'idamente estudada mas quer me parecer que, considerando o grau de interdependência que o modelo instituía, seria muito d.ificil esperar gue os donos dos engenhos centrais 'i.essem a depender exclusivamente de canas alheias, e que também o senhor do banguê, tornando seu engenho de fago-1110110, aceitasse depender de quem tivesse os instrwnentos para moer sua cana e pagar sabe Deus quanto por elas, se é que nii.o Yiesse a se recusar de moê-las, fazendo-lhe retaliações e, assim, tirando suas cão prezadas autonomia e força.

Desse modo, inviabilizando-se essa solução, por enquanto será ainda o engenho ban,gue que dominará a economia - em número de H<O no começo do século, eles continuarão a crescer, a despeito da crise, pulando para 682 em 1883 (SANTANA, 1970,p. 230).

Nessas condições, a saída encontrada no campo do fabrico do açúcar para enfrentar a improdutividade do velho bangüê vai ser a falsificação do açúcar, que vinha sacrificando sua yualidade e adulterando seu peso real desde a década de :-o, a exemplo do que havia já acontecido também com o algodão (DIEGUES.JC->i10R, 1980.p. 127-rn), o que prejudicaria ainda mais a colocação do produto em condições favorá,-eis no mercado internacional.

92 Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias

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~ºcampo do transporte, só ne::sta década, depois de anos de estudos, é que ,·ão 8Ct concluídos os dois primeiros ramais de estrada de ferro, com uma extensão total

de 1 )0 quilômetros. Frente à crise que assim se amplia, não é de estranhar que, na área da

1 ducação, fazendo-se um balanço geral do que no Império se realizou em toda a Província, se constate que a República não irá herdar uma situação animadora -cm termos relativos ela será, no que diz respeito à. instrução primária, ainda pior de que quando se começou a desenvolver o sistema - como pode ser observado pelo quadro gue segue:

QUADRO GERAL DA EDUCAÇAO PRIMARIJ\ KA PROVÍNCL\ DE AL\GOAS

A.i~O ESCOLAS ALCKOS POPULAÇAO ESCOLAR

Nl ABSOLUTO o;., 1835 26 1 . 1 6 o 20.000 5. 8 o 1836 38 1. 6 9 6 22.000· 7. 7 o 1867 1 o 4 5. 2 3 4 50.000 1o.4 6 1872 1 1 6 5. 5 5 8 78.470 7. o 8 1889 1 8 4 6. 4 5 8 120.000 s. 3 8

F01'TE: CRAVEIRO COSTA, 1931, p. 18/19

Se considerarmos o atendimento da população em todos os níveis de ensino, inclusive com a participação da iniciativa filantrópica e privada, veremos que a situação é ainda bastante restritiva, como consta do quadro a seguir:

Cultura e Educação nas Alagoas· História. histórias 93

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DADOS GERAIS DA EDUC\.ÇAO DAS AL.\GOAS E\11888:

TIPOS DE ESCOL!\ Nl DE ESCOL.\S N1 DEALU~OS ASSISTENCIAIS 04 593 PRii\tLARIAS P(lBLJCAS 184 6.458 APRENDIZES ~L'\RINHEIROS 01 55 COLEGJOS PARTICCL.\RES 22 777 AULAS A\TLSAS EM PENEDO 02 CURSO NORMAL 01 58 LJCEU DE .M.ACEIO 01 226 LICEU DE ARTES E OFICIOS 01 637 TOTAL 216 8.850

f'01'TE: CRA\'1:.TRO COSTA. 1931, p. 21

O setor educacional público das Alagoas chegará ao final da década dr 80 dispondo, sct,rundo Vilela, apenas de um único prédio escolar mandado construir pelos poderes públicos exclusivan1emc para esse fim, assim mesmo através de subvenção popular (\1LELA. 19!.<0). Antes disso tem-se noácia apenas de um outro prédio próprio cm Santa Luzia do Norte. incorporado ao patrimônio do Estado por doação do Juiz de Direito daquele município (v1LEL.A., 1980, p. 17). /\.quase totalidade das escolas, portan to, continuaria funcionando em casas alugadas pelos professores que, para isso, contavam com uma gratificação fixada em lei (VTLEU., 1980, p. 13).

Preca.riamente instaladas, sobre e~sas "escola/' diria Tomxc Espindola, diretor geral da Instrução Pública em 1872, que são "fxíguos espaços tomados da.r rasas alugadas, onde vi11em o prqfessor e toda a sua família. pois, o que ele recebe, a título de qjztda, nào lhe permdf alu,gar outro prédio que sf destine, exclusÍ1'a1vmte, à escola)) (ESPÍNDOL.A., 1872, p. 7). Essa será uma situação que ainda haverá de perdurar por muito tempo.

Quanto ao curso normal, instalado desde llW), anexo ao Liceu, para preparar os futuros professores, pelos seus 51> alunos em 1888, percebe-se o atratl\'O gue o magistério exercia sobre a nossa juventude se comparado, por exemplo, com os 637 alunos que se

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p11 parnnm no Liceu de Artes e Oficios. Este, embora fosse tradicionalmente uma escola llC!itÍnada à~ camadas mais pobres da população e treinasse para os ofícios manuais, no rntanm, pela frequência, parecia preparar para misteres mais bem remunerados do q11c.: o de ensinar às crianças das ,'\lagoas.

Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias 95

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COM A REPÚBLICA CHEGARA ALGUMA MODERNIDADE FINALMENTE ÀS ALAGOAS?

Caracterizada como uma civilização de natureza eminentemente rural, de base

latifundiária, será assim com um perfil profundamente arcaico que A.lagoas irá ingressar

na República, que ali vai chegar, como em outras partes do país, sem grandes alaridos

e com um certo atraso - só no dia 18 de novembro é que o Comandante das tropas

federais irá fazer gestões para que o representante do já extinto Império se afaste do

Governo, orgaruzando em seguida uma Junta de Governo.

Os primeiros dias foram de surpresa geral, "co111 um pânico extraordinário e

110 meio das maiores t•acilações" mas, "conherída a realidade do.r fatos, romeraram as adesõe.r"

(COSTA,t 983, p. 162), com muitos monarquistas de ontem se apresentando como republicanos históricos. Os primeiros tempos que irão se seguir "não.foram desigNais dos to1-mmtosos dias políticos da 111011arquir1" (ALTAVILA, 1988, p. 83) . .A alta rotatividade

dos chefes de Governo que deu a Alagoas, em ""! anos de Prm.-íncia, a triste cifra

de 139 administrações e o infeliz recorde de 61 Presidentes, "a maioria náufragos da.r

paixôe.r polítira.r" (ALT:\VlL\,1988, p. 66)54, irá continuar pelos primeiros anos do novo

regime. Até 1897, o jovem Estado irá ter um tal rodízio de governadores e de Junta~

Governativas, com deposiçôes e intervenções de forças federai s, em meio "à mesma .'Velha} inlran.rigência dos gmpos políticos e111 jfroz disp11ta" (TE:-.:óruo, 1995, p. 101), que haverá

até recusas de assumir o poder por parte de autoridades que rejeitam "o prnmte de ,grego" que lhes põem às mãos (f\LTA\'1LA, 1988. p. 66). Segundo Tenório, que retrata esse período mais pormenorizadamente

' '-'o cómpuro chs administrações estão incluídos também os c:xcrcícios dos \'ice-Presidentes. o que não vai consoruir um rccordt nacional; conrudo, o número de Pre~1dcntcs em·i~dos para a Pro~·ínc12, dentre os quais apenas do1~ eram alagoanos, ,.ai superar até Pernambuco e Minas Gerais , cada um com ;.9 .C' ALT1WIL\ l'Jbb, ,. $ (,(1)

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 97

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1>i11Jt t' dois g.01 e mos se sucederam no esporo de apena.r sete anos, sete mese.r e 13 dias. exatamente do dia 18 de 11on1t1bro dr 11189, quando do adm1to da primeira ]1111/a

Go1,.ernativa, até o dia 1:! de junho de 1897, quando lotJJou pom' Manuel Duarte, governador eleito pelo .mfrágio direto. Dia.r houve, como na deposição de Gahino Bf'.muro, q11e mhiram e raíra;n cincr, gorcmado1·eJ~ recorde que nem a demorracia holn'itma alcanrou. (. . .)~°\;aqueles dias do começo do not:o l'f._!!/1t1e. o fragor encarniçado dn.r disp11tas dos clãs <~erou 11111 período de terror onde mm lihtrdade.r i11di1idfltm, nem 1n111111dades

ro11grm11ais, ne1n smtenças judiciais tram respeitadas pelo g01·m10 do rorone/ Besouro

(TE:-IÓRlO, 1995, p. Wl).

Na verdade, se o ret,rime republicano, trazendo um sistema representativo ampliado de Governo para o interior de uma estrutura econômica e social arcaica e ultrapassada, vai colocar para o país como um todo. o desafio de uma equação espinhosa que os prin1eiros anos irão, com boa dose de dificuldade, se encarregar de acomodar, em Alagoas, pelo seu maior arcaísmo, a situação será ainda bem mais complicada. Tendo-se, de um lado, a extensão do voto a amplas camadas da população, majoritariamente rural e agregada aos senhores de engenho e, de outro, uma região cuja forma dominante de posse da terra é o latifúndio, a necessidade de garantir a estabilidade política irá naruralmeme desaguar no leito da velha relação de compromisso entre u poder público e o poder privado, agora aperfeiçoado e corporificado na polítira dos coronéis.

O coro!le!is1J10, gue tem suas raízes já no mandonísmo local que vem dos tempos da Colônia e atravessa wdo o Império"', vai encontrar agora, com o advento da República, um campo propício para se estrururar como forma política dominante em cerras alagoanas. Tendo seu eixo central na figura do rorone/56 que, segundo Leal, não é mera sobrevivência do poder p!Í\'ado hipertrofiado nos períodos anteriores, mas sim uma forma peculiar de manifrstaçào daquele poder, o coro11elismo \·ai comcituir uma adaptação em virtude da qual os resíduos do antigo e exorbitante poder privado irão

~~ É sobretudo no Segundo Jimperio, período em que Ala.e;o~s se desenvulvt enquanto espaço policica e admirustraú\·aineme autônomo. ljUl'. u man<lonismo iocal se fortalece.: - para ,, "home.1t1 bo11/' das ;\Jai;:oa~, "a poue dt bens q11e lhe pn711irim um f11tul'o dt.rprr!Jopado dt nfJda lhe mnria, m" ser lnm;tt-.orone! da G11ard{/ !\·arim1r1! t the.ft puhtiro dt, se:1 !oc.11' Cf $ .\l'T \1' \ :1<;~n. r· 3117).

"' ,\ denoIP.Ínaçào n:m do~ antigos ou 7:11!01" coronéis da exrinra Guarda Nacion?J.

98 Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias

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nn < yuir coexistir com o novo regime politico de extensa base representativa (LEAL.

1 1 i;, p. ~o). Ele represemará, sobretudo, um compromisso e uma troca de proveitos,

l<'tHlo como referências principais a estrutura agrária, o familismo e tudo o mais que dai <lccorre - rnandonismo, filhotismo e dependência - cuja principal conseqüência no plano político será o falseamento do voto.

Se a desorganização dos serviços públicos cm todo o país vai reforçar o poder dos r(Jronéis, em ~i\.lagoas. onde o Estado enquanto prestador de serviços vinha, há muito, sendo um grande ausente para a maioria da população, a presença do rorone/ vai se mostrar com grande ngor. Exercendo extraoficialmeme as funções do Estado, ele ,.ai ter sua ascendência preservada. Entre as funções comumentc assumidas pelo corone4 resumidamente enumeradas por Leal, temos desde os préstimos pessoais - como arranjar emprego, emprestar dinheiro, avalizar títulos, obter créditos, contratar ad,·ogado, influenciar jurados, estimular e ''prfpamr'' testemunhas, pro,·idenciar médico e remédios,

ceder animais para viagem, dar pousada e refeição, impedir que a polícia importune seus protegidos, batii!ar afilhado ou apadrinhar casamento, receber correspondência, compor desavenças, forçar casamento em caso de descaminho de rnermres - até garantir

as benfeitorias para os lugares onde é chefe político (LEAL, 19.,5, p. 38), dentre as quais se encontra a criação da escola e a nomeação do professor.

Esse paternalismo, gue implicará agora abertamente:: a utilização privada dos bens públicos, será a marca dominante do rorondismo, no contexrn de uma estrutura patrimonialista que rem no familismo um dos aspectos fundamentais e cuja base se

encontra nas relações de lealdade e confiança pessoal. Sua contrapartida será a negação de pão e água aos inimigos, registrada cm

alguns ciirados tão conhecidos por nós: ')>ara os amigos pão, para os inimigos prm" ou "t10J· amigos os.favores da lfi, aos i11imigos os rigores da lei'1

• O conflito de facções será o grande responsáYel pelo fortalecimento da lealdade dentro do grupo, reforçando os laços da parentela, sejam eles carnais, espirituais ou de simples aliança.

Assim, tendo como regra o recurso simultâneo ao favor e ao porrete, ver-se-á

gue "aquele que pode Jazei· o bem se torna mais poderoso quando está em condições de fazei· o mal'~ sendo aqui o apoio do oficialismo estadual ao chefe do Município, seja por ação, seja por omissão, de máxima in1portância (LEJ\L. 1<>75, p. 41).

Cultura e Educação nas Alagoas - História, lustória~ 99

Page 90: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

Tendo assun gue est.ar de bem com o poder que controla o erário, os empregos,

os favores e a força policial - "o cqfre das groça.r e o podfr da desgmçrl' - o coro11el ,.ai agir

junto ao Governo, como condição para garantir sua munificência. Responsável por

sua clientela, "o primeiro dever do chtfe /oral é alcançar a vitória, o que s~g11ijica obter para sua

corrente o apoio da situação estadual". Para ele, na política, só vai ha\'er uma Yergonha: perder

(LEAL:J 975. p. 39-42) . Junto com os doutores, seus prepostos, na maioria das vezes saídos

de sua família ou dos grupos afins, o coronel irá se constituir num verdadeiro resumo das

instituições sociais da época. Assim, a solidaric:dade politica apagará todos os pecados,

admitindo até a delingüência, se esta for necessária para defender os interesses dos

gue dele dependem. O voto, gue no Império era bem de troca entre eleitores de nível

socioeconômico mais elevado, agora vai sé-lo num âmbito mais ampliado:

1Y11ma .rociedade t111 que as r.dações básicas se havia111 .rempre regido pela miprr,ddade

do dom e contrt1-don1 dentro da pa~·entela, tanto no interior da 1111:.rmt1 camada, q11anto

entre ramadas de posição sóri.o-r:ronómira d!ferente, o mes1J10 moddo se estmde ao Sf/oi·

políhro, no momento em que este .~a11/1a amplitude (QllE.TRO!., 1976. p. 179).

Neste contexto, Yai ainda mais ser reforçado, se é que é possível, o Yelho

tipo de política com forte marca localista já secularmente praticado em Alagoas,

onde a afetividade tem um imenso peso. Essa política \-ai engendrar um sistema

cm que dois aspectos - o presúgio dos coronlis e o prestígio que o poder público

lhes outorga por empréstimo - são mutuamente dependentes e funcionam ao

mesmo tempo como determinantes e determinados: a liderança do coronel força

a reciprocidade do Governador, assim corno sem o poder público o coroml seria

extremamente fragi lizado.

Persistindo a mesma organização rural de antes, com o mesmo tipo de

propriedade, a mesma forma de produção e a família como ponto cenual de referência

da organização social, o corone/vai se constituir numa

100 Cultura e Educação nas Alagoas · História, histórias

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espfde dt tfemento socioeconô!Jlico polarizador, que servia de ponto de reledncia

/l(lra se conhect'r n distribuição dos ind;vid11os no espaço social, Jom1111 l'Stes sef/S

pa,.es ou seus inferiam·. Era o elrmento rhave para .re saber quais tis linhas políticas

dfrisórias entre os gmpos e os subgrupos 1u1 estmtura tradirio11al brasi/eirn"

(QOETR0/., 1976. p. 164).

Assim, buscando uma acomodação, nos primeiros anos da República, além

das escaramuças políticas, pouco se apresentará de monta a ser registrado no plano

econônúco e administrativo em i\lagoas. Será por essa época gue irão aparecer as

primeiras usinas de açúcar, no começo apenas engenhos ampliados, sem maior impacto

na estrutura produtiva do Estado. No campo político, as refregas são violentas e a

instabilidade, a marca registrada.

Como ilustração desse clima, alguns exemplos sigoificatfros: tendo

renuo7iado Pedro Paulino da Fonseca, irmão do Marechal, que foi o primeiro

Governador eleito depois de proclamada a República, o seu vice, Araújo Góes, não

se sustenta muito tempo no poder; contudo, antes de deixar o governo, "espil~gardeia

o po1•0 inerme tt111J1a passeata de hostilidade ao governo" (COSTA, 1983. p. 163). Outro exemplo:

em 1893, o Governador Gabino Besouro, por divergências políticas com os poderosos

locais consegue, através de ato legislativo, mudar a sede do Murucípio de Água Branca,

no sertão, para o povoado Várzea do Pico, trocando o nome deste para Capiá. O ato

só será desfeito dois anos depois, tendo sido derrubado o Governador (.MARROQL•L\1,

1<>22. p. 69). Esse era o clima no início da República.

No campo educacional, corno era de se esperar, pela manutenção das mesmas

bast's sociais, será ainda o ensino secundário que irá capitalizar as atenções políticas.

sendo o Llceu equiparado ao Ginásio Nacional (1893), vindo depois a criar-se um curso

de Agrimensura (189') a ele anexo, e sendo-lhe também outorgada a prerrogativa de

poder realizar exames de madureza. Serão esses exames, inclusive, que irão contribuir

para aprofundar o descrédito do ensino ministrado por aquela escola oficial, como

relata Craveiro Costa:

Cultura e Educação nas Alagoas - História, história~ 101

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de todos os Estados, na época 1·egula111entar, afi11iam centenas de candidatos aos

nossos facílimos certificados com que país Íl!escroptdosos faziam os filhos.forçarem as portas das escolas superiores do país "(COSTA, 1931, p. 36-37).

O Liceu consolida, assim, a sua famigerada carreira de verdadeira fabrica de exames preparatórios, que irá se estender ainda por toda a próxima década, através de provas anuais abertas para quem a elas quisesse se submeter, apelidadas por Lima Júnior, que também por elas passou, de "exames elétricos" (IJ:-.ll\Jl:NIOR. 1963, p. 19).

Quanto à educação primária, "a ação educacional continuou como dantes: a criação da escola e a nomeação do professor rle acordo com o rles~jo dos chqfes políticos", no que pesem as inúmeras reformas nacionais e locais que todos, estarrecidos, viam ser decretadas.

Na realidade, as reformas educacionais que vinham se sucedendo, mercê da

legislação republicana que, a exemplo do Império, mantinha o ensino básico como

responsabilidade de cada unidade da federação, caíam no vazio, "/Jois o filhotismo

sempre anulava os seus melhores propósitos". Apenas entre as reformas de caráter geral, Craveiro Costa assinala 5 até 1901, dizendo que foram inúmeras as de natureza parcial,

"01·a alcanrando exclusivamente a instrttfàú prímária, ora modi;ficando a re._g;,tfamenlaçâo do ensino

secundário, ora alterando ainda pontos essenriais dos r~gulamentús eJ11 c~gor para acomodação de

interesses i11divid11ais" (COSTA,1931, p. 19,21,54). Em 1899, Alagoas contava com 251 escolas

elementares, não havendo até essa data nenhuma participação municipal no setor.

Procedendo a uma análise mais detalhada da política regional que, segundo

Leal, é aquela que nos pode fornecer as exatas dimensões do c01w1eiúmo, devido às

peculiaridades que o fenômeno assume nos diferentes locais e em diferentes épocas

da nossa história, vamos encontrar em Alagoas alguma estabilidade política só a

partir de 1900, no contexto da política dos go1)('rnadores, que tem seu elo primário na

1-?olitica dos coronéis. Sendo um sistema político cuja condição de êxito "residia na sua capaczdadf de

acomodar os interesses regionais, assegurando q1J(' as pretensões das lideranças e.stad11ais não rir:ssem a comprometer o equilíbrio do poder ao 11ível do govemo rmtral" QoRDAO, 1985, p. 101), aquela politica, propiciando um rearranjo nos grupos locais que se engalfinhavam, vai trazer à cena política do Estado uma oligarquia mais bem definida e duradoura, com amplitude

102 Cultura e Educaçã.o nas Alagoas · História, histórias

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1 lu il, r l/Cndo com gue Alagoas vá ser controlada nos próximos 12 anos por Euclides l 111 1 r !teu grupo.

!.:.leito "pelos processos 11igentel', Euclides Malta vai governar Alagoas de forma p1 1 1111alisca por três períodos de 3 anos (1900/1903 -1906/1909 -1909 -1912), só cedendo 11 01dc:1rn do Executivo por um período - 1903/ 1906 - assim mesmo para seu irmão J1)Aqu1m Vieira Malta, segundo Craveiro Costa "através de 11111a prmmta fraternal", ficando tudo cm família (COSTA, 1983, P· 163 165).

O controle do poder nas mâos de uma familia, nesta época, em Alagoas, foi de 1.11 forma proverbial que ... i\zcredo, chefe político de Mato Grosso e correligionário de 1 ~ucudes !\falta, certa feita lhe disse: "Fizeste muito bem, Euclides, só elegmdo os teus. E11, como 11t';o tenho parentes, cada u111 que mando para o governo do J\1ato Grosso, é um traido1;' (QCEIROZ,

1976, p. IP).

O poder dos MaJta vai se espraiar por todos os setores da vida alagoana de forma avassaladora. ~o confronto com seus adversários, tomam emprestado de Gabino Besouro o exemplo proverbial de demonstração de força, deslocando sedes de i\f unicípios a seu talante: transferem, em 1904, a sede do Município de Parayba (atual Capela) para Cajueiro, mudando o nome deste para Euclydes Malta, ato que só será desfeito em 1912, derrubada a oligarquia; no sertão, em 1908, a mudança ainda é mais drástica - passa-se a juriscliçâo de Pão de .Açúcar para Mata Grande, que ficava a mais de 100 km (M1\RROQUl.M, 1922). Quem quisesse se confrontar com o poder estabelecido, depois disso, que pusesse suas barbas de molho. Oligarquia fone, os Malta tinham ao seu lado um Legislativo que, trabalhando apenas dois meses por ano, aprovava ad referend11111 rodos os decretas executiYos que lhe eram enviados (~UR..-\1'D:\,

195~. p. 103). Assim se resumia a ação da Assembléia, segundo o testemunho de um "legislador" da época:

1Vão me demorei em adaptar-me à convivéncia do 1-r:banho, pondo de lado toda a metafisica das minhas construções politiras. A realidade, aqui e ali11nde, era aquela e, quem não a compremdr..rse e m11!ra ela se insurgi..rse, teria qm damar no deserto. Comprm1di isto de início, mas o que concorrm para em co111promisso.fõi a minha esti111a pessoal ao Chefe (MIRAKDA.1957. p. 10:;). Dentre as razões para a estima que Guedes de ~vliranda devoran ao Chefe poder-se-ia com certeza incluir o que ele mesmo confe::ssa em suas memórias: "Eucb·des Vieira :\falta iniciou-me 11a vida

Cultura e Educação nas Alagoas - História, hístórías 103

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política. Det•r,-lhe a eleição à A.rse111bléia e a minha 1101JJeacào. el/I 1101·embro de 1911, para a Escola Normal (MlR:\'!'(D.\, 1951, p. 103). fazendo referéncia a uma das eleições realizadas nessa época, Félix Llma Júnior diz, em tom irônico, que

até o.r dif11nlo.r tinham votado, 11/.lfl/(J 1ma11i111idade confortadora. na chapa oz~anfr;,ada no Palácio do Governo OI/ na residéncir1 do Coronel Pae.r Pinto ... Não se falcwa em 110/0

Sfcreto. Ou 111elho1~ já haria roto .rf'creto. Secreh:Uimo.' O f/eitor rmbia 11m mvflopP

fechado, 11a boca do urna, e votava sP111 saber em quem" (Ll.\L\ JL':-:roR. 1966, p. 8).

Assim, embora essa institucionalização do poder de umn oligarquia, sem que houvesse aquela alternância de poder que no Império descarregava tensões, tenha acirrado a.inda mais as lutas locais, a continuidade de uma administração por um bom espaço de tempo, coisa nunca vista em .-\lagoas, trouxe ao menos para a capital do Estado alguma modernização.

Sede de Diocese desde 1900, '01aceió era, contudo, uma cidade de feiçôes ainda claramente provincianas, em que ''na zona s11b11rbana ('mesmo na 11rbafltl 011t'it1-.re, de t'ez em qHando, o melrmcd/iro chiado dos carro.r de bois com eixos ensf'hr1dos c11idadosammte pelos ca1·reiros 11 (L1Mr\Jé1'10R..,1966:2t\ rendo chegado até a República e continuado ainda por alguns anos praticamente como a deixara Bento Júnior na década de 60 do século passado, contando com o Palácio do Gm'erno, o Tnbunal de Justiça, o Teatro Deodoro e três grandes praças - Deodoro, Floriano e Sinimbu - que foram construídos no governo dos Malta, mudando um pouco o aspecto provinciano que caracterizava a capital.

Alagoas, porém, continuava mergulhada em profunda crise, numa situação em que "as rmdas eram pequenas. as i11d1Í.rhias parcas, tivendo pmosammtr" (COSTA, 1983, p. 167).

Na primeira década da República, em meio à falta crônica de recursos para tocnr a lavoura canavieira, os banguezeiros e os usineiros que começavam a surgir só conta,·am, no Estado, com duas casas bancárias - Caixa Comercial (antign Caixa Econômica da cidade de :;\faceió) e Banco Emissor da Bahia - dependendo o crédito quase rodo dos grandes comerciantes exportadores de açúcar e fornecedores de insumos e dYeres, os grandes beneficiários da crise, alguns dos quais vão se tornar, inclusiYe, usineiros. Este é o caso do porrut:,rues :tvfanoel Joaquim da Sih'a Leão que, rendo Yindo de Setúbal para

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\ l 1 •n 1 nn 1848, de7 anos depois 1á é dono de um engenho, havido por dividas de seu d111111, .1umentando assim seu patrimônio e de sua família até Jeyantar uma das primeiras l 111 ,111m..:s usinas no Estado, ainda hoje em pleno funcionamento.

Entretanto, a usina, que se instala no Estado a partir de 1892, em lugar de 1 a "l'frdadeira m•ol11rão industria/" assinalada por Fernando Aze'\·edo (1944), capaz

dr. introduzir, junto com a indústria têxtil em expansão, relações de trabalho de 11nture%a plenamente capitalista, vai chegar ao início da primeira década deste •;éculo em Alagoas como engenhos apenas transformados5'\ com os m esmos vícios desces, agora em escala ampliada (Sk"\JT ,-\1':\, 1970:336), trazendo, de quebra, maior concen tração fundiária e controle sobre as mais amplas camadas da população. Ao deter a posse das melhores terras e o pouco crédito disponível, ela representa a continuação da tarefa secular que a cana de açúcar vem realizando na sociedade alagoana, "det•omndo l11do e1JJ tomo de si, engolindo terras e 111ai.r terras, dissolvendo o hti1J111s do solo, aniquilando as peq11enas mlt11ras indejesa.r e o próprio capital h11n1tmo, do qual s11t1 cultura tira toda a seiva., (C.i\STRO, 1952, p. 192).

O banguê ainda domina a produção, com os senhores de engenhô lutando bravamente para preservar seus priYilégios. A fundação da Sociedade de Agricultura Alagoana (1<>01) e do Sindicato Agrícola de .Alagoas (1904), sob a liderança de bangüezeiros, alguns já participanrts do Comício Agrícola, na década de 70 do século XIX, é uma rentati\·a de salvar o setor canavieiro sem, contudo, obter grande êxito. Esse esforço de alguns senhores de engenho mais esclarecidos de mitigar a situação de crise tem pouca eficácia prática para reverter o primitivismo com que se tocava a produção. Em 1904, Messias de Gusmão, Presidente da Sociedade de Agricultura de Alagoas, dizia que "o arado, moderníssima invençrlo dos tempos bíblico!' ainda era considerado uma novidade a despertar desconfianças - e continuará a sê-lo durante muiros anos ainda, segundo Sanc'Ana, que afirma serem tanto o arado quanto a grade usados nesta época apenas por 5% dos proprietários dos quase 900 engenhos existentes no Estado. Esta sin1ação é confirmada por Isidoro Rodrigues Costa que, em resposta a um questionário da Comissão de Inquérito sobre a indústria açucareira, em 190"', informa também que a cultura da

,. Em 1902, Alagoas contava com 6 usinas • Brasileiro, Leão, S1rumbu, Serr.1 Grande. Apoltn:hto. Sanca Ismênia - rrês delas ainda em funcionamento até hoje.

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cana-de-acúcar em Alagoas era feita a enxada, pois ''pouros, muito po11cos são os at,rimltores que poss11en1 arados r instmmentos modernos de plantio" (SA~T':\S,.\,1970, p 118).

O atraso era a regra até nas usinas, segundo as respostas àquele questionário - exceção feita à usina Brasileiro, cujos donos, franceses, fa:úam largo uso de arados, mesmo tendo sua usina em terras acidentadas. Tal atraso nào apenas na experimentação e aplicação de técnicas mais atualizadas, mas até no uso dos meios técnicos já consagrados, vai se prolongar por toda a década. Se em 1902, Afonso de Mendonça lamentava não haver no Estado instituição agronômica que pudesse orientar na adubação do solo, essa só Yai ser usada nas usinas a partir de 1910, assim mesmo de forma experimental.

Tentando infundir sangue novo à atrasada e decadente lavoura canavieira, consegue a recém-fundada Sociedade Agrícola, em 1905, que o Governo lhe ceda por 20 anos as instalações da falida usina \\'anderley, em Saruba, onde instala um campo de experiências e um posto zootécnico. Diante do atraso do meio e das expectativas dos produtores agrícolas, o que irá funcionar ali, de fato. será uma escola prática de preparo de trabalhadores rurais para o sen'iço no campo, onde serão ensinadas noções de manejo de equipamentos agrícolas e animais domésticos, além dos oficias de carpinteiro, pedreiro, ferreiro e de fabricante de laticínios que, inclusive, irão ter prevaléncia sobre a função agrária. Quanto a pesquisas e experimentos, não consta tenham sido ali desenYolvidos de forma significativa, tanto assim que a irrigação, que parece ter sido experimentada pela Estação de Satuba em 1907, só irá chegar a algumas usinas a partir da década de 30.

Tendo aquela estação-escola, cinco anos depois, passado para o controle do Governo com o nome de Aprendizado Agrícola de Satuba, ela não chegaria, contudo, a mudar a sua sistemática de trabalho.

No setor educacional, começam a surgir nesta época, timidamente, os primeiros grupos escolares, substituindo as escolas isoladas. A avaliação que delas faz Araújo Rego, que assume em 1904 a Direção da Instrução Pública do Esrado, retrata a situação dramática em que se encontravam essas escolas, por ele chamadas de "casas e.rrola1·e.r".

Tendo sido até então a forma quase única de escola, elas "eram 'infert&s ca.rt'bre.;', privadas de todo o conforto, onde .re i111ohilizavam diante de um indivíduo arvorado em prefessor algumas dezenas dl' a/imos a se i111becilizarc111 nc1s rotinfim_; tar~fas do J'ilabán.o, ria tabuada

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lt. rt1lrd rmn ". ~o seu relatório sobre administrações passadas, feiro em 1905 ao ( 10\ crno do Estado, o Diretor da Instrução Pública continua dizendo que, no 1 1111do, até então "não havia uma só esrola instalada em prédi(J próprio: todas f1111cionaiatJ1 Nll r11.rr1s comuns, de a/11gne!', sendo o mobiliário, "e111 muitas, caixas vazia.r de querosene e

ho1•i ,1 rscvlas em q1Je os alunos sr senta11am no próprio solo, como se t•i11 até o ano passado [ 1904}

1111111 dos grupos escolares da capital". No afã de retratar a miséria da educação alagoana, parecia ter esquecido o

diretor da Instrução Pública de registrar em seu relatório a construção da Escola \iode/o, aquela mesma inaugurada pelo Governo Provincial nos idos de 1881, na Praça das Princesas - atual Deodoro - cuja construção se dera às expensas da contribuição popular. Isso porém se justifica: logo tendo deixado de se destinar aos fins escolares para os quais fora erguido, o prédio passou a ser a sede do Senado Esrndual56 e, em seguida, o edifício do Supremo Tribunal do Estado. ~o frontispício do prédio, contudo, continuaria, como a testemunhar, segundo Vilela, ''o esbulho e a arbitran.edade praticada'', a placa de mármore com a inscrição "o POI o Á

J,VFA.:YCM", mbstrando para todos que, por obra das aucoridades, esta havia cedido lugar à velhice (VILEL.\, 1980, p. 32-33) . Tendo voltado, no final da primeira década deste século, a servir outra vez aos fins educacionais a que se destinava originariamente, não conseguiria, porém, chegar aos nossos dias como prédio escolar, sendo hoje, mais uma ve2, um prédio formalmente dedicado à infância, mas, de fato, abrigo da Academia Alagoana de Letras.

A criação de grupos escolares ao longo da oligarquia Malta não impedirá que, cm 1913, venha a ser afirmado em relatório de José Antônio Marques sobre a higiene escolar, apresentado ao Governador Clodoaldo da Fonseca, o que segue:

As escola.r públicas, em 1\.iareió, 11ào possuem imtalaçü:s especiais apropriadas aos .fim a q11e se destinam, fi111riona11do e111 rasas particulares. 110 próprio do111icílio d(Js prqfessores, ondf a população escolar vive e111 pe1feita prisão, sm1 ar, sem luz.

' " ~o t-srado irá vigorar, ~cguin<lo o modelo ic::dcral, o ~istcma b1cmncrnl - ct 1111 c:im:irn csrndual e senado estadual - até 19.•0, quando, então, será instituída a .~sembléia Legi~l:i111·a 1-smlu~I como 111stância única do poder legisl:mrn.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, hi\tÓna~ lOí

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J\:o interior, por seu rumo, a siruacâo era ainda pior já que os professores das Yilas e povoados seguiam recebendo dez cruzeiros para o aluguel de uma sala de aula e seis para o querosene consunúdo no chamado curso supletiYo noturno para alfabetização

de adultos (VILEL>\., 19&0. P· 14).

Sobre o magistério, dizia o Diretor da Instrução Pública, em seu relatório de 1905, que a profissão estava "a confimdir-sr com os meios de vida ordinários, simples,ganha-pão de 1m1as tantas mediocridades, que a exploravam rom a sefregttidão de quem não fe!IJ aptidão para mais

nada". A respeito do Curso Normal também não é alentadora a situação rerr::i.tada: para Araújo Rego ele é "refúgio das aias de estimação e de rapaligas atoleimadas e sem rmmos pecuniários", tendo se transformado em instituição de caridade "onde à custa da rufnt1 de gerações inteiras se formavam dotes para moças pobres" (COSTA, 1931, p. 23). Essa é a primeira \'ez em que tal situação de descalabro, de rodos conhecida, era posta desta forma em um documento oficial.

Por outro lado, no Liceu Yào continuar acontecendo os "prepamló1ios elétrico!' onde ':re arranjava, às prnsas, o mrso de humanidades" (LIJ\L-1 J(l\JOR. 1963, p. I 9) 5''. A reforma por que vai passar ainda nesta. década será a criação de um curso de bacharel

em Ciências e Letras, cuj1 finalidade será, conforme membro da Congregação, propiciar aos alunos "os 1mios dt' apeifti.çoar os sms co11hecimentos e de adquirir um título altamente hM1mso e cercado das maiore.r garantias" (DCARTE. 1961, p. sei). Tendo formado a sua primeira turma em t 91<1, a solenidade que encão ocorreria seria feita como exigia o titulo, com colação de grau, barrete e juramento. Embora formalmente de nÍ\ e!

secundário, esse curso demonstra, pela nomenclatura e pelos ritos, a importância que tinha ser bacharel numa terra onde a única instituição de ensino superior então existente formava para o sacerdócio.

De fato, os cursos superiores de Filosofia e Teologia v:inham sendo mantidos, desde 1902 pelo Seminário de Maceió, primeiro no Convento de São Francisco, na cidade de Alagoas e, a partir de 1904, no .i\lto do Jacutinga, onde ainda hoje encontra-se o pré<lio

construído por Dom Antônio Brandão, primeiro bispo de Alagoas.

•· Sobre esse~ examtts diz Fcfu. Lima J umor que: "rtn 1909 o r1do11~ sr tnrbm de eslmia111u t'Odios. r(/>romdos. dt PtmtJJn/111.-0, da Pamího, tÍQ Crard, d(! Ric Grande do ~Yqrle, IÚ Sn-gipt. dn Bahia. poro fa:;y-r l'xmHtJ 110 Lit-t:1 ... Ero,,; os prrpedl1111r<JJ 11101iws por,; pilhn'i.i t jMle de a{emJl(J.! de.rordms.". Cf. LIMA Jl~IOR. ("\•6, p. 1 Ri1,.

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C .om a criação, em 1900, da diocese de Alagoas, com sede em Maceió, logo vão 1 ti .tzidos para essa cidade irmãos e irmãs francesas que se encarregarão da educação

il 11 juventude bem nascida do Estado. O Liceu de Artes e Ofícios, dirigido às crianças pobres, que em 1900 havia sido

11 e 1rganizado pelo Governo Estadual, tornara-se apenas reduto de amigos do Governo 1p1<.' desejavam ser contribuintes do Montepio dos Servidores. Como primeira iniciativa kderal, só no final da década irá surgir a Escola de Aprendizes Artífices, que será a 11t:mente do ensino técnico-industrial no Estado.

Tendo já experimentado alguns movimentos grevistas nos setores portuário, têxtil e de transporte, todos concentrados na cidade de Maceió, o Estado vai assistir cm 1912 a uma drástica mudança na cúpula do poder local.

Com o advento da política à .ralvarõn. a situação dos 1.falta no poder torna-se insustentável, tendo o líder da oligarquia c.1ue deixar o Governo, caindo, porém, de armas nas mãos. No contexto da política em curso, o grupo dos lvfalta será substituído por outro mais afinado com o poder central. Elege-se o Coronel Clodoaldo da Fonseca, cunhado do Marechal-Presidente Hermes e filho do ex-governador Pedro Paulino da Fonseca, que era irmão de D eodoro.

Assumindo o Governo do Estado em 1913, Clodoaldo da Fonseca co11stttl11d um grupo que, corn alguns arranjos, terá o controle do poder político até 1930. Nn verdade, mais uma vez se assistirá ao retorno do controle absoluto, agora em âmbito mais ampliado, daqueles mesmos senhores mais ligados ao setor açucareiro que, com alternância das principais facções, tiveram o domínio da máquina político-adnúnistrativa ao longo de todo o Império.

Dentro do estilo local de fazer política, Clodoaldo da Fonseca, logo que assume, vai patrocinar uma grande "de.rmhada", demitindo os adversários e seus protegidos, dando guarida aos mais diversos interesses dos correligionários. Começa já a crescer a figura de José Fernandes de Barros Lima, articuJador da oposição aos ~falta, mentor da nova aliança e futuro mandatário absoluto do grupo no poder. O clima político passa a ferver:

O furor do ódio dfstncadeOl!-se como um venda/){/!, sacudindo e ensandftendo toda a populr1çâo do Estado. d(fm11ciada por uma espécie df "divo1tium r1quarum"partidário. Até as fa111ílias se dif!idirmn, dnavi11rlas e irreco11ciliáveís. A imprensa dfgradou-st,

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tnmrformmido-se oJ'jornais, q11er Jit11aâonístas, q11er de oposicào. em pr1sq11i1JJ. arra.stan#

pelas l'asas da mpma t da rrdsmia a honra e a d1g11idade dos r1drrrsáno1 (~O.RJ\.1\.D:\,

1957, p. 134).

Alagoas vai atravessar o mandaro de Clodoaldo da Fonsc.:ca rnbressaltada, assistindo ao confronto das facções em luta, traduzido em atentados, tiroreios e até em pequenos episódios bizarros. J\penas para se ter uma idéia do faccionalismo e da politização de tudo o que se fazia naqueles tempos, tendo o governador Clodoaldo mandado planear árvores nas ruas centrais da cidade, cuja sombra só iria beneficiar os moradores, seus adversários políticos, altas horas da noite, cortavam as que fica\'am em freme às suas casas ou lhes botavam água fervendo(LlMAJÚ~lOR. 1966). Por outro lado, a luta verbal travada pela imprensa, ciue veicula quase só fatos políticos de interesse local, contribui para acirrar ainda mais os ânimos.

O próprio processo sucessório vai ser de tal forma tumultuado que, feita a apuração, consideram-se elcicos os candidatos das duas facções. Depois de marchas e contramarchas, tendo os dois assumido o poder, um perante o Lq,rislativo e outro freme ao Judiciário, o que permite ,·islumbrar a dimensão do faccionalismo, torna-se Governador o engenheiro João Batista Acioli Júnior (1915/1918), senhor de engenho prestig-iado na região norte do Estado.

Buscando a concórdia através de acordo, o Governador é forçado, a certa altura do GO\·erno, a romper com seu partido, o que significa sobretudo se confrontar com Fernandes Lima, seu amigo pessoal(){' e chefe supremo da facção, "dúcorda11do dos métodos anarrônicos de i11tra11sigi11cia adotados pelos sem rorrehgío11á1ios que lhe robrar1a111 co171 j11ros se!7lfticos o preço de sua candidat11rt.1 e de s11fi eleição ao G011erno do Estado" (.tvIIR.Al\DA, 1957, p. 125).

Os episódios de ,·iolência continuariam a acontecer com freqüência, realimentando o velho faccionalismo, desta vez entre Democratas comandados pelo Bacharel José Fernandes de Barros Lima e ConsenTadorcs, agora liderados apenas pelo

"'' BaristJ :\cioli 1: h:rnandes ljma t"ram tão amigos que, numa fotografia oforcc1cla por. aquele a fcrnandcs l .1m,~. foi feita a seguinte deJicatória: "A Jolilbm ao corpo" - o corpo era remandes Lima. Depois da ruprura, coma Guc;:des de Miranda, este mostrava a forogra6a publicamente, critica:'ldo a ing.raridão e a dcslcaldadt da ".w1.b,.a" que se rccu>:i.rn a seguir o corpr> que füe deu origem. Ci. :\IJR ,\:-;D;. 11957. p. 95;.

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· 1111ncl jacinto Pae~ Pinto da Sih·a a quem Euch·des Malta, depois de desbancado do 1111dcr e exilando-se em Recife, para não mais ret0rnar a Alagoas, deixaria a liderança da facção por ele comandada.

Cioso de seu poder, Fernandes Lima cem ao seu lado a Liga dos Combatentes, l)rganização paramilitar chefiada pelo sargento reformado do Exército Manuel Luiz da Paz. Esse grupo chega ao ponto de se confrontar de armas em punho com a policia de Batista Acioli, quando este procurou garantir a manifestação política dos correligionários de Gabino Besouro, candidato ao Governo, contra a chapa encabeçada por Fernandes Lima.

Ao mesmo cempo, no plano econômico, o setor açucareiro alagoano desde o início da década vinha tendo uma situação menos desfavoráYcl, saindo paulatinamenrc da crise e expandindo extraordinariamente a produção, graças à melhoria das condições de preço no mercado internacional durante a Prim<.:ira Grande Guerra, como resultado da desorganização da produção do açúcar de beterraba na Europa. ?'o entanto, já então, ames do seu final, começa a ter outra vez os preços aYiltados, chegando aos anos 20

numa nova críse de proporções alarmantes. Os preços caem de tal forma no final da década que muitos plantadores acham melhor soltar o gado no canavial do que moer suas canas, visto que o produro, quando vendido, não pagaria o custo de sua produção. Engenhos e usinas começavam a ser dados cm pagamento das dividas contraídas para financiar a produção.

Nessa quebradeira, muitos senhores tradicionais da vida alagoana que não conseguiram atravessar a borrasca mudaram-se para as cidades, sobretudo Maceió, onde ralYcz fosse possível se abrigar em alguma sinccura oficial que os amigos, com poder no Governo, pudessem oferecer. Os mais altivos, em pequeno número, que conseguiram preservar ainda alguma porção de terra sem, contudo, dispor de meios para faze-la produzir, passaram a constituir um punhado de arruinados de triste lembrança, cuja representação paradigmática, na curiosa imagética popular, é o famoso ·:e.uaxinim de fraque", nome com o qual ficou conhecido um senhor de engenho da região norte do Estado que, tendo qu(;:brado e não dispondo de quem para ele trabalhasse, era visto nos mangues que cercavam sua propriedade, vestido de fraque e cartola, tirando caranguejo dos buracos, tal qual faziam os guaxinins, para se alimentar.

Entretanto, os baoguês sobreviYentes ainda são os maiores produtores, continuando a plantar sementes degradadas à base da foice e da enxada e a fabricar seu

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açúcar em tacha e; a fogo nu. extraindo o caldo da cana em moendas de pressão simples. com grande prejuízo no aprovciramemo de uma matéria prima já degradada e pobre por falta de adequada seleção.

Por sua vez, o parque têxtil, atividade industrial ma.is importante depois do açúcar, embora chegue ao final dos anos 10 com 9 fábricas de tecidos, contudo consegue empregar apenas menos de 6.0n(1 trabalhadores, em sua maioria mulheres e crianças (SAl\'T'AN:\, 1970, p. 66-67). Com as demais atividades industriais representadas pelos ramos de alimentação, couro, pele, ossos, metalurgia, cerâmica, produtos químicos e análogos, mobiliário, edificação e sal totalizando menos de l(JU/o da economia, a crise de produtividade do set0r açucareiro vai cada vez mais se refletir de forma acentuada em toda a vida do Estado, com os orçamentos sujeitos a oscilações que impedem qualquer planejamento com algum critério.

A economia, 1á débil, se mostra ainda mais fraca se lenrmos em coma que boa parte da produção do Estado escoava através de outros centros - o norce encaminhando seus produtos para Recife e o sul para Sergipe e Bahia. A situação do porto de .Maceió era uma das principais causas desse fenômeno. Tendo si.do a principal razão da transformação da cidade em capital, já gue ali se dispunha de duas enseadas - Jaraguá em mar aberro, adequada aos períodos de mar calmo, e Pajuçara, protegida por arrecifcs, perfeita para os tempos de mar re,·olto - o assoreamento <lesta vinha impedindo, já há algum tempo, a entrada de embarcações maiores que, se fundeassem em Jaraguá, nas tempestades do inverno ou nos dias de vento nordeste, que costuma soprar nas estações da prima,·era e do ,-erào, corriam sérios riscos, além de ter seu carregamento impedido pelas grandes ondas. Essa incerteza provocava, assim, a falta ele fregüéncia regular das linhas transatlânticas, perturbando as exportações.

A isso se juntava também a situação viária, outra grande responsável por esse desyio já secular - a falta de estradas ou sua condição precaríssima cominua\·a sem c1ualguer solução favorável. Se a situação das regiões que tinham fácil acesso ao mar já era difícil, imagine-se como ficavam os centros produtores localizados no oeste do Estado, onde distâncias mal servidas de estradas onerm·am absurdamente os custos de uma produção já realizada em condições altamente precárias.

Contudo, no gue pese o atraso da sua economia e das condições de transporte, Alagoas tinha exportado, no período compreendido entre 1912 e 1921, segundo

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do ~cn-ico de Inspeção e Fomento Agrícola, a guantia de Rs. 209.532:000$000,

!ti p1" nndo os estados do Maranhào, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraiôa, Piauí 111~ Cnrnrina.

Dominado pelo latifún dio e com o minifúndio em crescimento pi' 'IJ.' t'sSÍYO, o Es tado irá terminar a segunda década deste século com um total il 1 H 10 propriedades en tre as quais predomina em extensão, se não em número, 11 1 ngenho que, controlando a economia, ainda dependente do açúcar, avança acmpre mais, junto com as jovens usinas, sobre antigas áreas destinadas à p111Jução de gêneros alimentícios.

PROPRIEDADES RURAIS E1'l ALAGOAS NO ANO D E 1920, POR ÁREA, N"Ú!vfERO E PERCENTUAL SOBRE A ÁREA TOTAL

ÁREA OCCP.ADA N(:MERO O/ ·o D O TOTAL COM MENOS DE 100 ha. 6. 107 13,9 COM l\L>\IS DE- 100 ha 2. 733 86,1

FONTE: Cícero Péricles, 1982, p. 4

Este regime de concentração fundiária já ditado pela forma de exploração econômica, como se não bastasse a origem nas sesmarias do tempo da Colônia, fora reforçado pelo Governo da oligarquia Malta que, de 1901 a 1909, tinha \·endido extensas porções de terras públicas aos senhores já detentores de grandes latifúndios cheios de áreas devolutas. Para se ter uma idéia mais exata da extensão e das consequências do fenômeno, o único cereal que Alagoas exportava em escala regular neste início de século era o milho. O feijão e o arroz, base alimentar dos alagoanos, ''inham regularmente de fora , havendo em algumas ocasiões importação até de farinha de mandioca (Si\>IT"At-<A, W?{;).

É nesse cenário de crise gue, eleito Fernandes Llma em 1918, com o lema político "n11110 aos campos", tirando do cenário político Batista Acioli que se recolhe à sua usina, ,>\lagoas tem sua política oficial \'igorosamente direcionada para seu leito histórico de composições com as grandes forças do interior, os famosos coro111is e majores. Agora no

Cultura e Educação nas Alagoas • História, história~ 113

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controle absoluto dos instrumentos formais do poder de Estado, o "caboclo indômito"', como Fernandes Lima gostava de ser chamado, vai governar o Estado de forma ímpar, confrontando-se com os adversários, protegendo os correligionários e cortejando os humildes. Chefe da coligação de forças que, nas salva_fôes, pegou em armas para derrubar os ~faltas, "ning11fm lhe ottsavd recusar uma decisão. De resto, sabia ordenar e impor-se. E foi inexorável nessas decisões" (MIRANDA,1957, p. 99).

Entretanto, debatendo-se numa crise que cada vez mais se aprofunda, o Governo, nos interstÍcios das confabulações políticas, vai ter de buscar saídas. j\ principal delas, de acordo com os compromissos políticos assumidos, é a renúncia fiscal. Na mensagem de 1922 ao Legislativo, é proposta e logo aprovada uma redução do imposto sobre a exportação, no caso do açúcar de 8 para 2% e para o algodão de 12 para 5%. A outra medida considerada pelo Governo como capaz de reverter a crise será a abertura de um crédito de R 500.000$000 para acudir os banguezeiros - soma que, embora reduzida, era significativa para os cofres públicos do Estado (S.A:\IT'ANA 1970, p. 312).

Os problemas econômicos, porém, rufo decorriam apenas das dificuldades da L'lVoura. Outras mazelas a agravavam. Uma delas era um famigerado empréstimo externo tomado pelo governo Euclydes Malta, em 1906, até então sem pagamento, ímpossibilitando o Estado de ter acesso a novos recursos. Diz Fernandes Lima, ainda em sua mensagem de 1922, que

mqua11to os Governadores e Prrsidmtes dos dt'mais ntado~ qm téJJ1 rompromissos

extemo.~ podem prerisar o 'q11a11t11m' de .mas dívidas, nós não temos meios de

a/mrar o q11e rea!mmte estamos devendo. (..) Com as emúsões cla11desti11as df títulos em duplicata e atl em triplicata, não hti possibilidade de uma veriftcarrlo da cifra exata a q11e montam os nossos compromissos.

Pesando a culpa dessas falcatruas sobre \X'anderley de Mendonça, ilustre membro de familia açucareira já nossa conhecida, que fora o intermediário do Governo Malta na transação com bancos franceses, a posição do Governador de tornar pública a situação, dizendo ser impossível ao Governo solucioná-la, só indignava pareda da elite alagoana que, sabendo ter sido Fernandes Lima companheiro de infâncía do negociador, não admitia que o Governo nada fizesse para solucionar o problema, livrando-o da prisão

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·, 1 u cm Paris. Esse problema, gue vai durar quase três décadas, renderá para o U11\ 1 111.1clor a pecha de infiel a uma velha amizade, gravíssima para os da terra.

Outro problema, também grave, com que se defronta o Governo nessa época ~ 1 "lc\·ação das despesas públicas com aposentadorias, que vinham crescendo \ 111111nosamcme desde o inicio da República. Diz o GoYernador, em sua mensagem f!(•' Deputados: 'Ten1 sido nor/Jla de minha ad!Jlinistrarão, aliás com a vossa patriótica r,,/,1hr1racào, só atender a pedidos dessa 11at11reza [aposentadorias, jubilarões, etc._; 11os rigoro.ros 1t1111os da lel'. Pela fala do Governador, fica claro que se tratava de benefícios em 1~1 ,1nde parcela concedidos ao sabor dos interesses partidários, pois afirma ele vir 11.'ndo ''.fm:revmmte resistência a concessões desses.favores, que.foram tão liheralizados e171 divfrsos f>erlodos de nossa vida rfpuhlicana ". A cobrança do imposto territorial já aprovado gue, embora diminuto (0,15% do valor venal de cada propriedade), poderia ser um alívio para a crise, não será feita enquanto Fernandes Lima for Governador, por razões bastante ób,·ias.

Embora se apresentat'ldo como grande construtor de estradas de rodagem, tendo feito mais de 400 quilômetros, seu Governo vai, na verdade, abrir caminhos em grande parte bem semelhantes às antigas estradas carroçáveis, muitas ainda sujeitas à variação das marés ou das enchentes nas estações chuvosas.61 Quanto à Educação, no período que vem desde a queda da oligarquia Malra, temos ainda uma siruaçâo tão precária que faz com que Fernandes Lima, ainda em sua mensagem de 1922, afirme c1ue "a instrução ptíblica, entre nós, está a precisar de inadiánl e radical reforma".

Embora ponha a culpa principal da situação nos professores, não deixa, porém, de reconhecer como responsabilizáveis por ela as "conte111plações, tolerâncias e ab11sos inveterado!' que assolam o setor e que, segundo ele 'Jazem falhar, na prática, os bons i111J1itos de todas as r~fim11as sobrf' a nossa Instrurão Pública".

E reformas não haviam faltado. Três outras já ha·viam sido feitas, desde aquela última de 1901, todas tanto mais inócuas quanto mais amplas. Essa pletora de reformas,

" Com um scror especializado - o Departamento de Viação e Obr.i5 Púbhc3~ - instituído apenas cm 1924, já nu go,erno Costa Rêgo, só emào é qu..: :\lagoas vai ter sua primeira estr:ida d~ntro das especificações da Inspctona Pedem! de- Emadas, do Ministéno <le Viação e Obr:l~ Públicas. Traia-se da em.ida :\faceió-São :\úguel d(•~ Campl)~. com 6- quilômetros de extensão. somente inaugurl\da em t '128 CI. ~Al\"1.\'.\ \ 119~0. p. 313)

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em que os governantes diziam estar todas as esperanças de solução para o problema educacional, vão totalizar, desde a proclamação da República até agui, um número avassalador de 7, segundo Craveiro Costa (1931, p. 39) apenas contadas as "de caráter geral", e que estão assim distribuídas: 1892, 1894 Oogo anulada, dois meses depois de decretada), 1895, 1901, 1906, 1912, 1915. Esta última, sobretudo, pretendia uma reforma radical, vinda pelas mãos de Luiz de Toledo Piza Sobrinho que, recém-chegado de São Paulo, remava transplantar de lá o modelo escolar e pedagógico, seguindo-se a estas mudanças algumas outras menores. Contudo, reconhece o Governador, como que fazendo um mea culpa, que, para melhorar a Educação "é precúo uma ação co11stan/f, de vmitos ano.s uma tenaz f prolongada propaganda e decididas resisté11cias" que ele, pelos compromissos com os coronéis, não irá bancar.

Apontando como principal problema educacional de seu Governo as cadeiras vagas, sobretudo no interior, cujas titulares, tendo-as abandonado, ''contam com a complacência dos fiscais do ensino para os atestados gratuitos", nada faz de concreto a esse respeito além de lamentar-se, dada a teia de reciprocidade que enlaça a todos, indo do Governador ao chefe político, passando pelos fiscais até chegar às professorinhas.

Enquanto isso, dados apresentados em 1921 à Conferência Interestadual de Educação, convocada pelo Governo Federal para tratar da difusão da escola primária pelo país, davam conta de que, em Alagoas, a matrícula nesse nível de ensino representava apenas 60/..) da população escolar, à frente apenas dos esrados de Goiás e do Piauí que atendiam a 5% de seus alunos em idade escolar. Se confrontados com os índices de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, que atendiam respectivamente a 57%,

56(/o e 44(/o (>JAGLE. 1978, p. 268-269), os números de Alagoas são significativos do gue se tinha conseguido com a política educacional desenvolvida nos mais de trinta anos de regime republicano em terras alagoanas. Na verdade, em termos relativos, o atendimento escolar no seu nível mais elementar continuava sendo praticamente idêntico ao que se fazia no final do Impé1io.

Apesar de t0do esse atraso, porém, é por volta desta época que irá surgir a primeira experiência laica de ensino superior em território alagoano. Refiro-me à Academia de Ciências Comerciais de Alagoas, fundada em 1916, que só será precedida pelo Seminário Diocesano.

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Contando iá, desde sua fundação, com os cursos de Filosofia e Teologia, e tendo 1 111ni > primeiros alunos os seminaristas alagoanos que Dom Antônio Brandão recolhera dt: clltrros seminários da região, o Seminário de Nossa Senhora da Assunção continuaya ,111·~wndo os moldes do Concilio Tridentino, na busca da promoção da "piedade e lfl/~e.ndade dos costumes'' daqueles que iriam servir à Igreja, "sflhministrando-lbes o ensino dn tftrr1pli11a tanto filosófica, co11Jo teológica, bf'bido nas fa11tes do Do11tor Angélico" (\'ASCO:'\CELO~. 111.t'l, p. 32-33).

A influéncia desse Seminário sobre a sociedade alagoana, até hoje pouco tratada pelos historiadores alagoanos, pode ser ª'·aliada a partir de alguns dados significativos: desde 1902 dele saíram padres formados em número crescente e por ele passaram, até 1991, 1.141 alunos, 21% dos quais chegaram a se ordenar presbíteros (LEITE. 1992),

irrndiando-se a partir dele, portanto, um tipo de saber ql1e chegou a atingir até os mais longínquos rincões do território alagoano. Essa influência seria inclusive muito mais específica e confessional do que, por exemplo, a que exercia o Seminário de Olinda, no início do século XIX, na medida em que este estava voltado para a formação de clérigos e leigos, enquanto aquele destinava-se unicamente à preparação do clero e, portanto, Yeiculava especialmente saber eclesiástico.

Já a Academia de Ciéncias Comerciais, criada em 1916, surgiu sob os auspícios da Sociedade Perseverança e Auxilio dos Empregados no Comércio de Maceió ou simplesmente a Persevera11ra, como sempre foi mais comumente conhecida a tradicional e prestigiada associação dos comerciários da cidade que vinha, já desde o Império, mais precisamente desde 1879, tendo sido inicialmente denominada Sociedade Perseverança e Auxílio dos Caixeiros de Maceió.

Com a emblemática denominação de academ;a, como a garantir que ninguém tivesse dúvida sobre a natureza do empreendimento, esta é, de fato, a primeira instituição educacional de ensino superior teoricamente dedicada a conhecimentos de natureza cicnáfica, a ser implantada cm Alagoas. Voltada para um setor bem específico do ramo terciário da economia, como que para consolidar o conjunto de atividades que foi a própria razão do surgimento da cidade de Maceió - o comércio - o conhecimento ali veiculado parece, contudo, ter tido uma configuração bem específica. Pelo menos é o que se pode depreender da concepção que dele nnham os que aquela instituição frequc:ntavam, consubstanciada nas ideias vc:iculadas pelo C(/(//ICl'll, jornal dos estudantes

Cultura e Educação nas Alagoas - Histona, lmtó11as 117

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daguela Academia. Numa matéria divulgada em 1917, por exemplo, de caráter claramente publicitário, tentando atrair novos alunos, assim é dito: 'Vinde estudar, pois vemos na instrução o mais he/o dos adornos (..),· na instrução, caríssiJJ1ús colegas, encontrarf.Ís Jlào só os elm1entos de q14e precisais para bem poderdes fazer jus à confiança que em vós depositam os patrões quando vos confiam os seus interesses, como tamhém um enjeite que nos impõe ao conceito da sociedade".62

Embora sendo uma escola destinada à formação dos trabalhadores do comércio que, pela natureza das tarefas envolvidas, exigia o domínio de saberes cienóflcos e de marcada natureza técnica, pelo que vemos no jornal, os argumentos para motivar novos alunos a ingressarem na Academia parecem estar impregnados de razões que têm muito mais a ver com os valores aristocráticos próprios das oligarquias que controlavam Alagoas, naquela época, do que com os valores peculiares de uma ocupação urbana como o comércio . .Isso fica ainda mais claro ~luando lemos no mesmo jornaJ que cursar a Academia de Comércio seria "enveredar por esse caminho 11ohilitante do est11do". Reafirmando mais adiante que "os que.fazem estejornalzinho véem no saber o maú recomendável dos ador11os", o ideário ac1ui sintetizado parece não deixar dúvidas de ciue o conhecimento ali buscado, e provavelmente também ali veiculado, tinha uma forte carga ornamental e de forma nenhuma utilitarista, como seria de se esperar de uma instituição daguela natureza.

A hegemonia intelectual dessas duas primeiras instituições de ensino superior no cenário intelectual das Alagoas foj marcante, não apenas pelo seu pioneirismo mas, sobretudo, pela força de sua constante presença. Se o saber escolástico, através dos egressos do seminário, estava constantemente presente nos púlpitos e nas demais instâncias utilizadas pela Igreja para impor a sua pedagogia, ele não deixava de ter curso também através da presença de padres e leigos formados pelo Seminário que, oriundos em geral de famílias oligárquicas e tidos como de notório saber, ocupavam posições importantes, sobretudo no mag1stéri.o, no funcionalismo público e na política. A presença especificamente eclesiástica na direção de escolas e no magistério em Alagoas daria um estudo à parte, tal é o número de padres como donos de escolas e professores, no início deste século e mesmo depois, acompanhando o processo de crescimento urbano no Estado.

62 O (fidurt11, %.ú2.19: 7.

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Ouanto à Academia de Ciências Comerciais, basta ver a imprensa da época para 11 f< 1 uma idéia da dimensão por ela representada no contexto da sociedade maceiocnse. A11n1.1da na significação socíoassistencial assumida pela Perseverança, sua mantenedora e 1 111 cuja sede funcionava, a Academia era presença constante e destacada nos jornais d Maceió, desde quando, em julho de 1916 era noticiada com realce sua instalação.63

A Academia de Ciências Comerciais, porém, por mais que procurasse valorizar 11 saber por ela ministrado, e por mais que fosse prestigiada pelas autoridades, pela imprensa e pela sociedade, estava fadada pela sua própria natureza a lidar, no plano real, com saberes práticos que constituíam o mundo do guarda-livro e do contador por ela preparados, e a emitir um diploma de limitado valor simbólico no universo aristocratizado e credencialista da sociedade onde estava instalada. Assim, freme a essa realidade concreta, urgia, para as camadas urbanas oriundas de estratos médios e pobres que começa,•am timidamente a se ampliar, buscar a criação de uma verdadrira academia, conformada segundo os cânones das grandes e prestigiosas profissões, essas sim verdadeiramente nobilitantes, mas acessíveis apenas a um reduzidissimo número de jovens cujos pais podiam arcar com as despesas para enviá-los a estudar cm Recife ou, ainda mais longe, em Salvador, no Rio de Janeiro ou até cm São Paulo. I: e o qu1: .,e buscará já em 1918, com a tentacin de se fundar uma Academia de Direito.

À frente do empreendimenro se encontrará, pela primeira vc~, o nomt: tk Agostinho Benedito de Oliveira. Por iniciativa desse pequeno funcionário burocrático do Liceu Alagoano, chegou a ser elaborada uma lista de futuros professores sem que, porém, a iniciativa fosse levada à freme. (SAKf'A.'.A. 1965:65). Se haYia algum interesse por esse empreendimento da parte de pessoas do nível social de Agostinho, por enxergarem nele um caminho de ascensão social, não foi ainda dessa vez que os senhores doutores egressos de famílias senhoriais se dispuseram a assumir a criação de uma academia para formar i·erdadtiros bacharéis.

Chegando até 1924 sem outra alternativa de educação superior além da oferecida pela lgreja e pelo comércio, Maceió seria saudada, naquele ano, por uma nova iniciativa, desta feita bem diversa das anteriores. 'Na edição do Jornal de Alagoas de 24 de janeiro, sai

''' Parn uma visão mai~ pormenorizada do lugar de destaque as~umido pela Academia de Ciência~ Comerciais na socic:.cla<le alagoana," \'LKCOSA. 1995.

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com destaque a manchete: "T ài funcionar msla ridade uma escola df A,~ronomía". Dizendo ter a escola como finalidade a formação de engenheiros agrónomos, a matéria lamenta o atraso educacional de Alagoas frente a "certos estados da I'edf/'arão 111mos populosos e rep1·1'se11tando expre.ssõespolíticas menos importantes q11t a nossa terra", citando nominalmente os casos do Paraná, de Santa Catarina e do Amazonas. Pela matéria, percebe-se inclusive a desconsideração à Academia de Comércio, quando se dizia que "não temos mtre nós um estabelfcimento de ensino supfrior", atitude, aliás, que iria se repetir no futuro, parecendo denotar o elitismo de credenciados em outras profissões mais nobilitantes. Projetando um curso nos moldes da Escola Superior de Agronomia, com o imuit0 de obter futuro reconhecimento e equiparação aos estabelecimentos federais de igual natureza - afinal a credencial era o que efetivamente parecia contar - alguns de seus idealizadores deveriam, muito provavelmente, esperar alcançar mais sucesso do L}ue \·inha tendo o Aprendizado Agrícola Federal de Saruba, estabelecimento que deveria ser mantido pelo Governo Federal para ensinar técnicas agrícolas mas que, até então, Yinha tendo sua finalidade completamente desvirtuada, fo rmando rodo tipo de arúfice, menos técnicos agrícolas.

Essa esperança de sucesso, de fato, estava mesmo muito mais no sigillficado da credencial do que propriamente nos efeitos práticos do saber agronõmico, como se pode ver pelo que opinaram os fundadores: "O novo estabr:lecí111ento de ensino suplrior', di:tíam eles, "vai Jamltar a 1J1t1ilos de nossos conlrnfzneos a.facilidade de obterem um diploma de habilitarão para cargos i11!p01ta11tn mn a dijimltosa e dispendiosirsimt1 necessidade de tll!Jtl longa permanfncit1 fm OH!ras capitai.r".M Com esses propósitos, a Escola de Agronomia de Alagoas te\"C: o início de suas aulas no dia 2 de abril de 1924, no palacete da Per.re11erm1ça, onde passou a funcionar.65 :Kesta solenidade, um dos fundadores da escola, que era engenheiro agrónomo, fez referência às vanragens de "11ma luta bem orientada contra o.rpromsos rotineiros da c11ltura do solo". Citando exemplos de São Paulo, !\tinas Gerais, Rio Grande do Sul, Japão e .Austrália, onde o emprego da ciência agronômica Yinha dando seus frmos, o orador manifestou a esperança de contar com o apoio público para o desenvolvimento <lo empreendimento. Como isto não veio a acontecer, porém, a iniciativa não prosperou e logo veio a encerrar suas ati\•idades.

"' ]ornai :ie. -11.t:tw.J, ~4.01.1924.

120 Cultura e Educação nas Alagoas · História, histórias

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Se civermos em consideração a história das práticas agrícolas levadas a efeito c111 Alagoas, cujo espírito tradicionalista conformado pelos processos de trabalho \ltnha sendo reforçado pela crise secular da cana de açúcar, sua principal cultura c1 onomicamente relevante, fica fácil entender a falência do empreendimento, por mais p;11 adoxal que isso possa parecer. Com a produção do açúcar assentada ainda àquela t poca sobre o engenho banguê, a demanda de novas técnicas de plantio e do uso de insumos modernos por parte dos senhores de engenho e mesmo das usinas, ainda verdadeiros engenhos ampliados, era algo inconcebível Continuava tendo predominância a cultura extensi\·a assentada sobre a máxima exploração de mão de obra quase gratuita de moradores e lavradores agregados, junto com arranjos internos em cada unidade produtora para enfrentar a falta de competitividade do setor pela baixa produtividade (sz:vrRECSA .. '-i11, 1990). Pensar cm competiçâo via produtividade através da incorporação de novos conhecimentos e de novas técnicas exigia espírito aberto e recursos para investir, fatores escassos, para não di:ter inexistentes, em Alagoas naquele momento. Quanto ao diploma, já que a situação era essa, mais Yalia investir noutro mais nobilitante e, por isso mesmo, mais útil. Estamos, a esta altura, no final do segundo mandato consecuri\·o de Fernandes Lima que vai fazer seu sucessor na pessoa do jovem jornalista Pedro da Costa Rêgo, eleito para o período 1924/1928. Tendo atuado em Alagoas por um cuno espaço de tempo como assessor do Governo de Clodoaldo da Fonseca, ames pouco vivia no Estado, demorando-se mais no Rio de Janeiro, em cujo jornalismo militava e onde "na verdade, era o seu !t~~ar" (LIMA JC~JOR, 1963, p. 95). Personalidade forte, logo vai romper com seu mentor, afastando-se de alguns coronéis que vinham dando as cartas ao jogo politico no período anterior. Talvez por isso tenha feito um Gm•erno em tudo caracterizado como \'Íolento, sendo pintado pelos que sobre ele escreveram como ''tini

ditador em plmo regime democrático" (LAGES FlLHO. 1979. p. 45), com decisões muito pessoais e inesperadas. Senhor absoluto de suas ações à freme do Executivo, Costa Rêgo era cortejado pelos que o cercavam. 'Verdades só ouvia ele de lvianoel Bolachinha, o Guabiraba, tipo que entrou para a lenda como figura estranha e atrevida, a quem o Governador "0111•ia sorri11do, co1t1 condesce11déncia de 11111 potentado da &nascmça para co111 o bobo dn corte"(:tvfENDO~Çi\J(::\llOR, 19'79,p. 97).

Vendo .. se às yo]tas com os fenômenos da impunidade e do cangaço, que já então agia solto no Estado, Yai ele dizer em sua mensagem ao LegislatiYo, no ano de 1925:

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Co,,,b111: a i111p11nidadt dos grandes. de sicários utabeleridos 110 /lJetO mm/ com o aparato dt 111n 11erdadeiro 41 Poder do Estado.{...) Ostmlavam em q11alq11erpartf e nas lealdadfs onde residiam privil{~ios. ,gwernava111 toda polída. ma,gistrat11ra, /isto, inslnJfào f' até ohras públicas, co11trola11do o J'1m1icipio. Estit'f para ser abatirlo 1naú de '""ª vez. vitima df tocrúas. A morte. ne.rse.r transe.,~ 11ão me ass11sto11.

Essa forma de agir na política aJagoana. de gue se veriam ainda ouo·os exemplos, não foi até hoje de,•idamente analisada pelos estudiosos da história de .Alagoas nem por interessados em compreender a mentalidade politica brasileira. Cercado por um grupo de jovens doutores, gue daqui por diante vão ser conhecidos como "o gmpo do Costa R(rso", o que parece é que ele, a seu modo, procurava atenuar o ciuadro de profundo arcaísmo que emoldurava Alagoas. Combatendo a impunidade, ao lado do jogo de azar e do candomblé, como que numa missão ci,·ili7.atória, não respeitou antigas praxes do Governo, mandando "cobrar itllpostos dos correli,giwários e adverscirios. sem discriminação, não

reJpeitando os plil'ilégios 111J1 la11/o feudais de smhorn de engmho, mineiros ~fa:::;,mdeiros" (:-.fE)'::DONÇA

JUKJOR, 1979, p. 99).

Uma outra amostra do que parece ser sua busca por modernidade foi a introdução, pela primeira vez na rusrória alagoana, do sorteio de pontos na hora da realização dos concursos, ferindo de morre o empreguismo dos Yelhos donos do poder. Também no Llceu, onde os poderosos abrigavam muitos de seus afilhados, quase sempre bacharfis, teYe início o que Abelardo Duarte denomina de "a fase d.os ro11C11r ... ús'', com a abertura, em 1924, de inscrições para exames de provas e títulos a fim de preencher cadeiras vacantes, contrariando a praxe sobretudo do período republicano de, uma vez nga uma cadeira, fazê-la ocupar por lemes interinos ou entregar sua regência a um catedrático, mediante o pagamento de vantagens adicionais. Esse controle chegou a um ponto gue "a ammnlação dl' cátedras passou dos limites e se er{giu em r~gra geral.- 11n1 pnfesso1· amvmlando duas 011 mais cátedras. EterniZf11t1111-se as am11111larõei' (Dt.:.r\RTF., 1961, p. 155).

Colocando-se desta e de outras formas contra os que sempre tinham tido o \·erdadeiro controle da situação estadual, teYe Costa Rego, eYidenremente, que usar força igual para combatê-los. Sua posição de um cerro desdém frente aos tradicionais senhores rurais parece resumir-se de modo exemplar no tom que marca sua mensagem de 1925 ao LegislatiYo:

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Toda riqueza do EstadfJ CfJ1Jti1111a a rr/;011Jar na velha c11/t11ra ro/011ial c11ja precaritdadt' as própriasjomalhas das usinm nàv dissiparam. ]ungidos a indústria ar11careira, só como eleflJmlo s11bs1diáriv temos tratado e ainda assim debaixo de proce.rsos rotineiros, de nossa 011/ra fonte de renda, a c11/t11ra do algodão, que mnmo atrasada, emperida pelo regime do latifúndio, de proprietários inativos e decadentes, já de11 a Alagoas o mrto df sua ind1ístria dt fiação e tecela,~tm.

J omalista de profissão, conhecendo a imprensa local. sempre facciosa, talvez por •~so não tenha hesitado cm fechar jornais e banir jornalistas, como nota Mendonça Júnior:

No sfu gonrno a imprensa local ficou reduzida ao Jornal de Alagoas, ó1~~ão do Partido Denwcrata, q11e. apoiava o ,Y,01•f!mo1 O Semeador, p(IJ1r;-iioz da ~~rr!Ja Católica, o Diário Oficial, qm se rtstringia à p11hlicacào dos atos ofiriai.r e o jornal h11111oríslfro O Bacurau q11e1 seg1111do oJ· prffeitos da comédia grega, rindo, procurat"O corrigir os

cos'11111eJ~ o que não me consta tinsst conseguido (.ME))DONÇA JÚNIOR,1979, p. 89).

Com uma longa história de atentados que só na história republicana até 11>25

somam mais de 10 apenas em Maceió, atingindo jornais com empastelamentos \'iokntns

e com tentativa de morte vários jornalistas, todos por brigas de fac:ç{1cs, :l impn n'a de oposição é obrigada a se calar neste período, não sem que antes, por mais de.: uma \'cz.

tenham jornalistas e homens de oficina permanecido armados nas redações a fim de

garantir a edição dos jornais (FERREIRA, 1979. p. 50).

Contudo, a desp eito dessa violência <..Jlle caracteriza sua atuação, na tentativa de imprimir à '·ida das Alagoas um novo ritmo, pintando-a com novas tintas de modernidade, Costa Rêgo parece não ter fugido de um dos "·~ores mais caros ao policico alagoano - a lealdade e a gratidão aos amigos. Seguindo a m áxima exemplar registrada por Oliveira Viana - ''sou capaz de todas as coragens) nm1os da coragem dt resistir

aos amigos'' - assim que assume o Governo, vai buscar Batista Acioli do ostracismo em que se encontrava para colocá-lo no Senado Federal, ''saldando", segundo Guedes de Miranda, "uma dlt•ida de favorn rfcebidos, .rfguindo a máxima de Cícero: 'Grarus debet esse qui accepit bencficiwn' ".Essa ação, na verdade, que é ao mesmo tempo uma aliança com um poderoso adYersário de Fernandes Lima, o "t•elho rbefe tribal da política alagoana", é uma

Cultura e Educação nas Alagoas · História. histórias 123

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demonstração de gue. apesar de rudo. sabe ser fiel. anulando a acusacão de felonia. tão freqüentemente assacada pelos políticos alagoanos em várias circunstâncias da vida pública do Estado, gue os adversários lhe atribuem (MIR:\NDA, 1957, p. 95).

Querendo modernizar também a Educação, patrocina o Governo cm 19:?5

mais uma reforma, no contexto das muitas que por essa época foram feitas em outros Estados, de norte a sul do pais. Seus resultados, porém, não mod1ficaram muito o quadro existente, como nos diz Craveiro Costa:

Chego11 [a r~(orma} a dar ao público a ihuào de q11e o prob/n11a ia ser a/acach seriamente .• Has, no final das contas, tudo ficou e111 bonitas festas escolares, com bailr1dos e representarões q11e ensinaram às mocinhas do Escola Normal e pti11cipal111e11te 11a dolorosa recordação das compressões bHrorrdticas de qw fai vitima o 111agi.rtfrio. O professor. finda a mcenaçào, continua o mesmo flmríontirio desprestigiado e miseravelmente pago de outi-ora, c1;jo mímero não a11mentou, e a

escola ainda 11iio ensina tTquelas 'coisas melhores e de maior proveito' que o velho M ontaigne ex{gia como fimdamento da sua J1ti!idade (COSTA, 1931 , p. 27).

Com mais de 1.200.000 habitantes no final da década, Alagoas, mergulhada cm males crônicos, apresenta um cenário que não difere muito do que foi aqui já tantas Yezes retratado quando nos referimos a diversos períodos de sua história. A cnse nos preços dos produtos de exportação prosseh>ue, estradas continuam ainda precaríssimas e o Norte ainda esptra por uma estrada de ferro gue nunca Yai chegar. Com Yias férreas que não ultrapassam o Agreste - assim mesmo através de um ramal que, saindo da antiga estrada i\Iaceió/ Palmares/ Pernambuco, somente em 1911 Yai, Yia Palmeira dos Índios, atingir Porto Real do Colégio no Rio São Francisco - o Estado só dispõe de um pequeno trecho de trilhos no sertão, desde o início precário e altamente deficitário, gue saindo de Piranhas. no alto sertão, logo entra em Pernambuco. rumo à cidade de Jatobá. A estrada de ferro do Norte, pela região açucareira, planejada desde 1 &'"'O e com implantação aprovada ainda no século XIX, pela crise já presente, nunca vai sair do papel.

124 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

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FERROVIAS DE ALAGOAS

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ESTADO de ALAGOAS PRINCIPAIS FERROVIAS

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.Mesmo assim, Maceió mi receber ainda no governo Costa Régo linha aérea regular que, primeiro fazendo seus pousos na lagoa, logo iria contar com um aeroporto com o nome do Governador.

Entretanto, o sertão continua produzindo guase que só para o seu consumo, por lhe terem faltado até então os mais elementares meios de transporte e frete, e a situação sanitária ainda tem a tuberculose, o impaludismo e doenças gastro-intestinais liderando as causas dos óbitos que são superiores aos nascimentos.

Cultura e Educação nas Alagoas - Históna. lustórias 125

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Em 1927, terminado o mandato de Costa Rêgo, este faz seu sucessor na

pessoa de Álvaro Paes, consolidando um predomínio político gue irá empurrar

Fernandes Lima definitinmente para as hostes adYersárias. Para o Legislativo

que, segundo ~fendonça Júnior, apresentava uma representação mais autêntica

da sociedade alagoana, teremos eleitos naquele ano: dos 5 Senadores pelo Estado,

um sacerdote católico, um usineiro-bacharel, um senhor de engenho-bacharel, um

grande comerciante e um farmacêutico-agricultor que já fora duas vezes Prefeito

de 1faceió; dos 35 Deputados Estaduais, 18 eram portadores de curso superior e

sete pertenciam à Academia Alagoana de Letras.

Celeiro de bons políticos, como se pode ver por esse número de

representantes no Legislativo, a .Academia t\lagoana de Letras pode, aliás, ser

ainda citada por uma referência muito singular: segundo 1-fendonça Júnior, a

quase rotalidade de seus fundadores e de seus patronos não deixou sequer um

lino publicado (1979, p. 97).

Mas a modernidade, que Jª começa a tomar conta dos principais centros

brasileiros ecoa também na capital alagoana, sem contudo deitar raízes profundas.

Crescendo ainda em meio a um travo <le arcaísmo, é assim que ela será pintada por

um de seus coevos:

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Ca.ra.r n:lúa.r, de pared(1,r 111eias, espre111ida.r J.tma.r nas ott!ras, su11 aeração

1tert1 /11111i110.ridade.. Serápos sanitários pnraríssi!Jlos. O máximo de. couforto

consistia no piso de mosaico e no forro de madeira. Os mesmos Pdifícios

p1Íhlico.r de hoje ( .. ) e alglfns palacetes particulares( ... ). .A Companhia

Alagoantt de Trilho Urhano (CATU} ligava o centro a todos os arrabaldes com

os seus bondes rMtcf'iros mas baratos. Auto1116veis pflrtimianr eram tm1 luxo e os de

pra(tl não chegavrm1 a 1'Ínte. Mas, Afocr:ió foi uv1r1 dru piimeiras cidades do Brasil a

instalar t(Afones automátirvs. O sei'l'ÍfO de rigua não tratadtJ, segundo cu más lí11g11t1s,

aiusava uma série de moléstias, entre as quais a núipe.la, domça qHe tinha especial

Cultura e Educação nas Alagoa$ · História, histórias

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prediluào pelas pernas das moras bonitas. A l11z elitnca cerra11a o m1 expedunlf

à meia noite, arontrcmdo ainda qm: a ptiblica não aparecia tfll noites de lua.{. . .)

Apt'.ra1· disso 011 por iuo !llesmo, 1\ÍtJreió era 11t11a cidadezinha e11rtJ11tadora onde

todos sf' conheciam.( .. .) Os ci11ema.r Floriano e Capitólio iniciavam o sistema

sonoro com a Melodia da Broadway e a Marcha dos Granadeiros. O Odeon,

& Delícia e o Ideal contúmavan1 a exibir os filmes mudo.r. {...)Por estf tmtpo, surgi11

o charleston 11Jais da11çado nos cabaréJ~ romo o Gato Preto, 110 Trapiche da Barra,

do que 110.r rlubes lllt1ndanos. (. .. ) As festas de igr~1as ainda lra11shordavam para

os adros ornamentados em jogos dt raipiras e rr,/eta, trivolis, paslôris e chega11ças.

O.r majores Can!flo t' Acioíi, 1•estidos a carátn~ co111anda1;am os doiJ grupos qt1f

Sf mfrentavam na arte dP bem caralgar 11ma .rfla, como diria D. Di11iz nas suas

msi11a11ças, nas cat·alhadas. ( .. .) Hai·ia ainda a missa das de;v aos domingos, na

Catedral, freqiientada mais por elfgáncia do que por devoção, as orações de maio no

Livra111ento, em que os maiores oradores sacros exaltt11•at11 a Virgem lvf.aria, enq11anto

rapazp e moras i11iciava111 namoros que, às ve':\_eI· tern1i11al'ani e1" casammto e oulrtu

vezes em soneto.r pama.ria110.r. 1\fas, no ropit11/o rtl~e,ioso, ronvlm lembrar as susou

de cahoclo da .~frúdr1, 11r1 Estrada Nova, com os .reu.r delic10.ros ca11to.r nf11r11s. (. .. ).A

jrfg11esia drz Aiiúda Sf' recrutava nas 111aú tfel'Odas camadas S(Jâais da terra.{. . .) As

bmtdaJ de nu;sica do 201 Batalhão de Caçadores e da Polícia J..filitt1r rfaliza1•aJ11

refreias dominicais nas praças dos j\tf.artiJios e Deodoro. (..) .A.r 11itrola.r dindgara111

mtísiras cariocas.(. .. ) Sorveterias, rasas de chá e bares nào eram m11itos. (..) Os

sara11sfa111iiian~.r ainda estava111 e111 flloda e al/'11 das danças ao so1J1 de orqutstras,

das vitrolas 011 dos pianos, havia os rtcilatit1os.( .. .j Os banhos de mar ainda nàfl .rt

batiam incorpor.;do aos hábitos locais. Só as smhoras residentu 110 .Aterro de Jaraguá

se alrf'viam a mjámtor o sais& ele111mto, como era de bom <~&sto dizer-se, os olhares

masculinos cintilanlo de co11mpiscf11rir1 e, principalmente, a lí11g11rJ bisbilhoteira e

fm·11a das da1nas dollliciliadas f!ll arthias urhanas mais recatado.r (~11:.NDO:\ç. \

JÚNIOR, 1979, p. 91-92).

Cultura e Educação nas Alagoas· História, histórias 127

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Nesse cenário, o movimento literário mais ou menos intenso que vem dos li da década anterior fat: surgir cm Maceió, ao longo dos anos 20, algumas agrcmiaçô que vão congregar estudantes e bacharéis gue povoam a cidade. De fato, de 1880 até 1922,

só a faculdade de Direiro de Recife diplomou 342 alagoanos (BEVJLÁCQUA, 1927), isso sem contar com os médicos formados na Bahia e alguns outros doutores diplomados no Rio de Janeiro e em outros centros urbanos brasileiros de maior destaque.

De posse de sua carta, retornando ao torrão nat:i.l, "um aradémiro, estudante dt Direito, lvledici11a 011 Engmharia, considemva-se um ser raro. depositário da Ciincia e dono do ta/euto, embora fosse ignorante e burro. As moças disp11tavam-se, al111~jando casar ro111 o fut11ro do11tor" (:--.nRAJ\:DA, 1957, p. 81).São estes jovens que vii.o projetar-se nos meios da cultura de Alagoas através das nm·as instituições que por isso mesmo irão prosperar. A partir da Academia Alagoana de Letras, que é fundada em 1919, vamos ver surgir, ao longo da década seguinte, dentre outras, a Academia dos Dez Unidos, o Cenáculo Alagoano de Letras e o Grêmio Guimarães Passos, agremiações voltadas para a literatura, com ênfase especial no gênero poéàco.

Na verdade, o número de poetas crescia à medida que aumenta\'a o número de bacharéis que circulavam sobretudo em ~faceió . Sobre o fenômeno comenta Tadeu Rocha:

Se o hrichard.f úíio ./l11to fazia ve1:ro.r, porque ffa 111es1110 poeta, muilo.r 011/ro.r harhan:is escreviflm sonetos porque eram advogados, ;11!z.es e f1111rionários públicos. E não se ronrebia 11m bom bacharel q11e nâo cometi ue alguns vr:rsos. Por outro lado, mMim.~ dmti.rtas, agrô110111os e ret1:1ind1io.r tamhim 11amorava!ll as mu.ra.;, com ou sem jeito pam isso, quando não se 1i1/g01•an1 prqfu11dos àmtista.r. {...) Padres, médicos, vdni11ários. agrônomos e bacharéis tinhalll de fr1z1 r belos dismrsoi, emprega11dtí p11larra.r dijiceis, que .ró os iniriados do sánscrito, do gr(go e 110 /11tim podiam entender. .'1,1.r dimmos de inproriso. porque a.r falarõe.r esnitt1s 11rio rtco111e11davam bem os senhlírn dolflorr.r"

(ROCHA, t979, p. 2<>-2').

Assim, o modernismo, que se fizera presente no Rio de Janeiro e em São Paulo de forma estrepitosa já em 22, só vai fazer eco na província bem mais tarde. O evento denomínadoA.rte I\.iot•a, realizado em l\faceió em 1928 para comemorar o modernismo nos moldes da Semana de Arte >1oderna, durou apenas um dia, sem qualguer repercussão

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p• • rerior. E mesmo isso só ocorreria como resultado do fato de Jorge de Lima. cm 1 '' • conduzido pelas mãos de José Lins do Rego, que vivia na cidade, ter resolvido 11111lper com os cânones da poesia bem comportada que era praticada com fervor até pt los jovens in1berbes do Grêmio Guimarães Passos. Assim, mesmo estes, num primeiro 111omcnto, também rejeitam o novo credo literário.

Quanto a Jorge de Lima, ao aderir ao modernismo seria ferozmente t ombatido pelos senhores da cultura, em termos que ele próprio comenta: ':,.1q11i mt

rha111a1JJ de demolidor, de f11t11rista, de chefe de certa igrefinha em qtte oficiam u111 ba11do de meninos q11e e11 perverti" (SAl'\T'AN.'\,1980, p. 40-41). Segundo palavras de Lima Júnior, com isso ':f orge de Lima passou a ser, na cidade, um agitador, um homem qm queria introd11::;Jr no nosso cenário plácido 11ma ar/e q11e nem todos - inc/míve eu - aceitavam. E, até, não compree11dia111. L, de certo modo, repudiavam" (LIIvL\Jl:NJOR,1963, p. 74). Tanto era assim que, saindo de Maceió,Jorge de Lima em 1931 e José Lins do Rego em 1935, volta tudo a ser como dantes, no quartel de Abrantes. O Grêmio Guimarães Passos que, com a derroca do candidato do fundador e presidente Manuel Diégues Júnior, em 1929, "perdera a sede e também os seqrli/hos, os bolinhos, as broas, os refrescos, o café (servido por D. L11iz111ha. mãe de Manoel Diegun) e ainda os saraus musicais" (SA..1'.!T'ANA.1980, p. 46), Jogo nra Academia e se enche de notáveis, acomodando-se à estética dominante. Quanto àc; demais agremiações, simplesmente feneccm e morrem, continuando, apenas, a mesmice.· da velha Academia de Letras que, junto com o velho Instituto Histórico, congrega a intelectualidade alagoana.

Os senhores que integram essa nata da elfre letrada, compartilhando do mesmo apego aos valores da personalidade que foram plasmados no espaço da rasa, base da formação social alagoana e ainda sua referência fundamental, seguem assim acomodados à ''.ratisfaràíJ com o saber aparmlf, clf)o fim está em si mesmo" (c.\KDIDO, 1991. p. xn1). Dessa forma, Alagoas chegaria ao ano de 1930, sob o controle agora do grupo comandado por Costa Rêgo, que irá ocupar uma cadeira no Senado na vaga deixada com o falecimento de Batista Acioli. A Assembléia Legislativa continuava a mesma dos velhos tempos, funcionando apenas durante três meses do ano (Lil\·fA JÜN!OR:l 963, p. 35). Deste modo, a campanha para as eleições Presidenciais vai atingir Alagoas, reacendendo um clima <le guerra.

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Em franca decadência política, Fernandes Lima, com um pegueno grupo de correligionários, apóia a Aliança Liberal, enquanto Costa Rêgo empresta seu prestígio à candidatura de Júlio Prestes. Sobre essa campanha, diz um de seus participantes:

Em Alagoas, com exceção do senador Fernandes Lima e dP um reduzido 111ímero de seus seguidores, todos éramos perrepistas. Por isso e mais ainda em comeqüéncia da habilidr1de prnstidigitadora dos mesários. a mtlioria esmagadora dos eleitores s1~fragou os nomes dos ra11didatos do Partido Democrata que, co111 r1 deposição de Euclides Af alta, em 1912, ascmdfra ao poder e nelt sr conservm1a aimsammte (:vfENDONÇ.!\ JÚ~IOR, 1979, p. 95).

Quem da oposição conseguiu se eleger para o Senado e Câmara Federal foi, como <le vezes anteriores, degolado pela Comissão de Reconhecimento de Poderes das duas Casas - instituto eficaz no plano federal para garantir no legislativo o predomínio dos governistas. Fervilhando os boatos sobre urna esperada revolução a vir de Minas e do Rio Grande, que surgiam no Relógio Oficial no centro de ~\laceió e se espalhavam pela cidade inteira, o grupo no poder sentia-se contudo seguro, como relembra Mendonça Júnior: "Viveríamos no melhor dos mundos posstÍJeis nâo fosse a avassaladora crise do aç1ícar que atingia a lavoura e o comércio, refletindo-se na receita orçamentária do estc;.do (ME!'-:DONÇAJCNIOR, 1979, p. 95).

130 Cultura e Educação n<ts Alagoas - História, histórias

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SERÁ FINALMENTE AGORA O FIM DAS OLIGARQUIAS?

A Revolução de 30 chega a :Maceió sem maiores confrontos, com o Governador \karo Paes fugindo pelas portas dos fundos do Palácio. A população adere em massa à nova situação, enfeitando-se de lenços Yermelhos e dando vivas aos novos senhores do poder: 'Húmens i/11stres, pacalús e tímidos burg11eses exibira11111ma brnsco e estarrecedora ferocidade t1lahafada em chita 'encarnada' ·~ diz Guedes de Miranda, referindo-se, através da alusão à co.r vermelha, símbolo dos revolucionários que passou a ser ostentada por muitos alagoanos, à adesão de última hora ao movimento vitorioso, sem, contudo, esconder sua mágoa de derrotado (MlRANDA, 1957,p. 141-142) .

. Mendonça Júnior, também Yencido pela revolução, lamenta:

O povo aderia, se mfeitando de ga11ga 1•er;m/ha. Subitamente, o ala,goano, quase unanit1mt1e11te governista, se /ornou revolucionário e, se maiort>s não faraJJ1 as adesõt>s, f q11e, em dit1ersas cidades, se esgotw fí

estoq11e de jà:;;_mdo mcarnada'' (i\IF.~DOl'\C,:A JL '.\JIOR, 19"'.'9. p. 95) .

Com esse movimento vai de fat0 se encerrar, ainda que temporariamente, mais um ciclo oligárquico de quase 20 anos marcado pelo domínio forte de Fernandes Lima e Costa Rego. :Maceió contava nessa época com 103.930 habitantes, ocupando o oitavo lugar entre as capitais brasileiras. Dispondo de relcfones automáticos já há uês anos e de aeroporto com linhas aéreas regulares66

, tinha, contudo, apenas um único hospital geral mantido pela Sarna Casa de l\-1.isericórdia, o mesmo e velho hospital criado pela caridade pública desde o tempo do Império, além de um hospício destinado aos doentes mentais, também construido no século passado.

' ' O serviço de tclcfonc:s aummáaco$, instalado = !'>:!-, s1:d o M.'!,'l111do dt·(~l' t1pt1 a func1nnar no pais. Já o servico aéreo comercial em pane operado por hidrü3viõe~ que pou(,l\'3rn 03 l~gu2, era fcao pela~ companhia~ Ginm1ft Aeropostalt, Condor e für.arr.

Cultura e Educação nas Alagoas · Historia, bhtéu i11s 131

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A situação cultural também continuava deplorável - não dispondo de biblioteca aberta ao público, a única existente na cidade era a mantida pelo Instituto Histórico, /\ Educação era ainda bastante restritiva, com o setor público estadual oferecendo à população, além das escolas isoladas, apenas 5 grupos escolares, mais o Liceu e a Escola Normal.

No Liceu, que em 1929 havia atendido apenas a 94 alunos em caráter regular, parece que continuavam se realizando ainda "exames elétricos" pois, havendo matriculado 582 jovens para exames finais e 150 para os parcelados, teYe um índice de aprovação global de 91,93% desses alunos. Já a escola Normal, que tinha um número maior de alunos regulares, parecia vir primando pela moralidade pois, rendo já reprovado 167

dos seus 234 alunos, tinha esse fato apresentado como "provr1 de que acabara o regime de pistolào"(cosTA,1931,p. 42). Outras escolas secw1dárias públicas seriam encontradas apenas em Penedo, Atalaia e Pilar.

Este panorama, na verdade, reflete a situação geral do setor em todo o Estado: com apenas S grupos escolares em todo o interior, predominam ainda as escolas isoladas, atendendo a um total de 12.349 estudantes. Se somarmos esse número aos 2.936 alunos atendidos pelos grupos escolares da capital e do interior, teremos 15.285 alunos atendidos pelo sistema estadual, frente a uma população em idade escolar de mais de 100.000 crianças e jovens. Quanto às escolas privadas e municipais, que chegavam a 117, atendiam apenas a 3.213 alunos. O Estado contava, nesta época, com quase. 500 professores, sendo 420 estaduais, 27 municipais e 50

particulares. Prédios próprios para o setor, porém, apenas 10 que era tudo o que o Governo havia construído até aqui, continuando a maioria das escolas a funcionar em "prédio af11gado pelo professor por quantia .rupt1ior a qm~ lhe drí o orçamento estad11r11", como diz Graciliano Ramos ainda em 1935, quando Diretor da Instrução Pública (RAMOS, 1935, p. 13-14).

Com a Educação do Estado quase toda voltada para o domínio da chamada ''cultura gemi', a única escola agrícola pouco vai atuar como tal pois, com apenas dois alunos formados em 1930 para o manejo de equipamento agrícola e um aluno estudando silvicultura, o c1ue predominava ali eram os cursos de marcenaria, ferraria, mecânica, sapataria, alfaiataria, inclusive com exploração econômica desses misreres (COSTA, 1931, p. 2i)

132 Cultura e Educação nas Alagoas · História. histórias

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O orcamento público para Educação, que já representara 1/5 das receitas 1.1dw11s, só decrescera ao longo da década, oscilando entre 15 e 9°'o, a despeiro de maior

U1 h:ini:tação e, consequentemente, maior demanda por escolas. Tendo os revol11cionários assumido o poder, uma vez afastados os carcomidos,

1111c era como eram depreciativamente chamados os derrotados, Alagoas vai ter, de nutubro de 1930 a maio de 1934, três interventores militares que, vindos de fora, não rnnseguem conviver com o ambiente político local. A estabilidade só vai surgir com .1 nomeação de Osman Loureiro de Farias, senhor de terras e tradicional produtor de açúcar alagoano, no bojo de uma grande aliança, fazendo com isso, segundo um carcomido, sucumbir a frágil convicção que ainda alimentava a facção de 3 de outubro (MlR..Al'\01\, 1957, p. 144) .

Essa aliança, que rearticula :is antigas oligarquias, é resultado das condições econômicas e sociais que permanecem intocadas no Estado, permitindo a um de seus promotores assim se referir à rearticulação:

Nós, vmcido.r mas vivús na força dos 11ossos ele111mlos, attzbávamos de .fnzrr uma co1vpo.riçõo para as fleições federais e estaduais q11e se aproximavam.

Desta composição, faziam parce representantes da industria, do comércio, da lavoura, do clero e dos profissionais liberais que, segundo Carlos de Gusmão, encerrava o que de melhor havia na sociedade alagoana (GL-S~1.An 19-0, p. 14-:-). Com esses representantes, Osman Loureiro vai governar o Estado até 1940, primeiramente como Interventor, depois, em decorrência da Constituinte de 34, no período que Yai de T de maio de 1935 a 24 de novembro de 1937, como Governador constitucionalmente eleito, e finalmente, com o golpe de 1937, que dá origem ao Estado Novo, mais uma vez como Inrervencor.

Sob seu governo, de fato, o sistema primário de Educação vai conhecer um certo desenvolvimento, graças sobretudo à ajuda federal que, a partir do movimento de 30, assumirá fi.nalmenre seu papel de suplência no desenvoh'1mento da rede escolar de estados pouco desenvolvidos como Alagoas. Data desse período a construção de uma rede de prédios próprios para a educação estadual na capital e no interior, com uma sit,rnificativa ampliação da oferta e melhoria da qualidade do ensino na rede elementar

Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias 133

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mantida pelo Estado. Conhecido como ''o ,govemador que constmiu mais prédios esco/arn q11t

todos os governos retmidas" (\ILEU, 1982. p. 256), foi sob a administração de Osman Loureiro que se edificou, finalmente, o primeiro prédio próprio para a \'elha Escola l"ormal de :\-íaceió e para a Escola de Aplicação a ela anexa.

Data desse período o surgimento de novas tentativas de abertura de outras escolas de ensino superior, desta vez, porém, numa pletora de iniciativas que faz com que, até 1935, surjam sete projetos.<>" O mais importante deles, porém, será justamente resultado da iniciativa de Agostinho de Oli,·eira, que mais uma ''e:t faz surgir a idéia de uma Academia de Direito. Comixendo no Liceu A.lagoano com professores que constituíam a elite intelectual e que eram, majoritariamente, bacharéis cm Direito, procurou Agostinho, outra vez, trabalhar a sua ideia de ver criada em Alagoas uma instituição formadora de bacharéis.

Desta feiu, a iniciativa produziu frutos pelo interesse que tiveram vários catedráticos do ,-elho Liceu, alguns deles em completo ostracismo político, graças à Yitória recente da .Aliança Liberal que os desbancara do poder estadual, do qual alguns participavam com destaque já há algumas décadas. Todos oriundos da aristocracia rural ou a da ligados de algum modo, logo divisaram na iniciativa a forma de se afirmarem perante a sociedade e frente aos novos mandatários do movimento de 30, buscando reverter, com a nova posição, a siruacâo desfavorável que passaram a ocupar e que lhes valera até a pejorativa alcunha de rarcomidos, dada a rodos os apeados do poder. Quanto a Agostinho, que passa a trabalhar nos sen·iços burocráticos da nova escola juntamente com dois de seus filhos, e cuja história social e profissional era representativa de muitos pequenos e hurni.ldes servidores, o sucesso dessa iniciativa seria uma possibilidade concreta de ascensão e melhoria efetiva de vida.

Conjugados esses elementos com o surro de desem·olvimento urbano que ,-inha sendo timidamente ensaiado desde as duas décadas passadas e que então começa,·a a melhor se definir, estarão dadas as bases para o aYanço do empreendimento. Tendo tido como seu berço o Liceu Alago:mo, a. Faculdade Livre de Direito de Alagoas, conseguiu

.- O pmne:ro fo1 a Escola Superior de Comércio de ..\lagoa~. a r<::sp<::iw da qual consta apenas um:i noúcrn dad;i por Sam'Ana (1%~) . ~cm m.iiores comentários e sem maiores noticias m imprensa da époc.t, o que nm len a concluir pelo fracas~o do empreendimento.

134 Cultura e Educação nas Alagt1as · História, histórias

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111r• liatamenre atrair a simpatia até do tenente-coronel interventor que. apenas decorridos ~ 111cses da primeira reunião, e ainda sem estar a escola funcionando, bfil.xou decreto

111 18 de agosto de 1931, reconhecendo o empreendimento como de utilidade pública. Embora a nova escola tenha vindo logo a sofrer as consequências do elitismo

e do faccionalismo dominantes em Alagoas, e que nunca estiveram ausenres de llllalquer situação nova que se apresentasse, fazendo com que ora fosse chamada pejorativamente de Acade1J1ia do Agosti11bo, ora fosse vista com desdém pelos "q11e faz.mi dns mesas de cafés 11111 parlamento de dncrenças e de ha11alidades", como dizia naquela época o 1ornal do Go\·erno revolucionário68, em franco namoro com o novo empreendimento, ela rapidamente se desenvolveu. Vista pelo Diário de Afaceió, órgão oficial do Governo interventor, como uma instituição "tão necessária à mocidade alagoana como o pão é necessário ao bomem" 69 , era notória a simpatia com que o Governo via o empreendimento, porquanto a través dele enxergava a possibilidade de que se "abrissem largas estradas para 11011os cursos de qm tanto careciam os nossosjovens prepamtorianos, lcon10.; mrsos de agronomia, agninensura,farmáâa, odontologia e 011tros"-º. Essa simpatia e o apoio daí decorrente, fruto do potencial democratizante e modernizante que os alíancistas enxergavam na iniciativa, não ficaram só em palavras, mas logo se traduziram em atos concretos, indo desde o reconhecimento precoce do interesse público da instituição; 1 e sua oficialização até a cessão de imóvel e recursos financeiros para a construção de sede permanente para a Faculdadc.-2 Além do imóvel na Praça do Montepio dos Artistas, atual Bráulio Cavalcante, o Governo interventor concedeu, a título de empréstimo, a quantia de Rs. 120:000$000, correspondente a 74,58'% do total de Rs. J 70:000$000, contratado para a construção do novo prédio.73

Deste modo, comando com tão significativo apoio, a Faculdaçie de Direito de Alagoas estaria funcionando já em setembro de t 934 em prédio próprio, especialmente

'" Diário de Macri1í, 26.03.1933.

"" Viário de M11rúó, 26.03.1933.

Diári() ddlarrió. 14.03.1933 . • , Feiro lHT;l\'cS do Decreto n1 153(1. de.: 18.08.1931.

• Decreto 1.i45, di: 2:;.02.1933.

-, Conforme con~ta da ata da Congreizaçà<> de 23.11.1933.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 135

Page 126: VERÇOSA Cultura e Educação Nas Alagoas

construido para ela, saindo assim das dependências do Liceu Alagoano. Da parte da Faculdade, a reciprocidade pelos favores recebidos, se não se efetivava publicamente pela manifestação da sua djreção ou dos seus catedráticos - afinal, já seria esperar demais dos ainda ontem donos do poder - tornar-se-ia patente através da palavra dos estudantes em eventos como o que foi noticiado com destaque pela imprensa nos seguintes termos: ~-4 homenagem que, ho/e à noite. os E.r!Nda11/es da Euuldade de Direito vão prestar aos Srs. Interventor Federal e Secretário Geral do Estado, é bem uma prova mJ1ito eloqiiente da simpatia com que a mncidade d!' Alagoas tem recebido os atos do sm atual got•emo".-4

A relação aparentemente cordial e pacífica ou pdo menos não hostil, entre a lntervenroria e os carcomidos que detinham o controle da Faculdade não significaria, contudo, que Alagoas se modernizara e que a boa paz na política do Estado vencera o faccionalismo, instaurando a convivência civili;~ada entre adversários políticos. Nas eleições legisJaci,·as reali:.:adas em maio de 1933, de cujas urnas sairiam ''cnccdores unicamente os candidatos do Governo revolucionário, as fraudes que garantiram resultados tão surpreendentes seriam veementemente denunciadas pelos desbancados do poder, e as refregas, que Yinham amorrecidas há algum tempo, seriam retomadas. Impossibilitado por esse acirramento de continuar na condução política do Estado, tal a reação dos carcomidos que se viram frustrados nos seus intentos de voltar ao poder, se não no Executivo, pelo menos no Legislativo - afinal, do Judiciário nunca haviam sido afastados - o interventor Afonso de Carvalho que, segundo um futuro professor da Faculdade de Direito de Alagoas, "11ào dPvia ter lido II Príncipe de Maq11iard' (Gl;Si\1ÀO:l970:J29) terminou sendo demitido pelo Governo Federal no início de 1934.

Em seu lugar foi posro Osman Loureiro, que já fora Secretário Geral do Governador destituído. Esse cargo era, na época, de altíssima relevância politica e administraciYa, uma vez que Alagoas, por não ter renda superior a quime mil contos de réis, não podia, pelas normas da ditadurn em vigor, ter ourras Secretarias, enfeixando-se nas mãos do Secretário Geral todo o complexo administratfro esrndual. \1ais tarde, tendo se afasrndo do Governador por di\·ergências com "a{guns politiqueiro! q111" o rereatam" (LOCREIR0,19'0:79),

exercia ele o cargo de representante das usinas alagoanas no nascente Jnstituto do Açúcar, quando Vargas o nomeou para goYernar Alagoas.

"• Diário de ~faceió, <19.031933.

136 Cultura e Educação nas Alagoas - Histôria, histôrias

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Sendo Osman Loureiro um dos catedráticos da Faculdade de Direito de \lagoas, esta logo vai gozar de todo o -apoio necessário à sua consolidação. Já nos primeiros meses do seu Governo, por exemplo, recebe e atende prontamente ao pedido da Congregação, de renúncia da quantia emprestada pelo Governo à Faculdade para a construção de sua sede.'5

~o rastro do êxito da Faculdade de Direito, a década de 30 irá assistir ao ~urgimenco de outras iniciativas no campo do ensino superior. Já tendo presenciado o fracasso da Escola Superior de Comércio de Alagoas, Maceió vai testemunhar a criação, em janeiro de 1932, da Faculdade Llwe de Odontologia e Farmácia, seguida, logo no mês subsequente, pela Escola de Agronomia e Comércio de Alagoas, depois denominada Escola de Agricultura, ambas com a participação do nosso conhecido Agostinho de Oliveira, a essa altura já afastado da Faculdade de Direito de Alagoas. Sem qualquer estrurura a partir da qual pudessem se desenvolver e sem o mesmo respaldo político que fora emprestado à Faculdade de Direito, elas nasceram já fadadas ao fracasso. A Escola de Agricultura, por exemplo, funcionando precariamente no edifício da Escola ~ormal, inaugura suas aulas com u·ma constatação terrificante, feita pelo seu diretor. Dizia ele, na solenidade de abertura das aulas: "nós não temos'"'' prldio próprio para funcio11a1; não temos 11111 laboratório; não te111os um campo para experiénria: não tr111os maquinário". 76 Afinal, nada tinham, além da vontade de funcionar. Assim, com tantas limitações, nem mesmo a escolha do General Góis Monteiro como patrono elo tmpreendimento foi suficiente para garantir-lhe o sucesso. Dadas como cx1stenres pelo IBGE ainda em 1934, o fato é guc essas duas escolas desapareceram sem deixar maiores Yescigios a partir daquele ano.

Contudo, mais uma tentativa de criação de outra escola de ensino superior seria feita no ano seguinte, de novo com o concurso tena7. de Agostinho de Oliveira e mais uma vez na área de Farmácia e Odontologia. Fundada como as outras, sem infraestrutura, começou a funcionar com o pomposo nome de Academia no prédio da Escola Normal, então sítuado na Rua .João Pessoa, antiga do Sol, no local onde hoje se encontra o Grupo Escolar Fernandes Lima. Depois, a falta

" Para maiores detalhes sobrC' a tr:11ert>ri3 da F3culdadc: de Direito de :\lagoa~. cf. \'ERÇOSA. 1995 e J'l'l­

•• jomnl ~ Alngvai, l:?J•'.IQ.;3_

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 137

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de prédio próprio leva a ec;cola para a Rua do Macena, hoje Cincinato Pinto, para um prédio situado no local onde hoje funciona a Delegacia de Plantão. Finalmente, ainda sem teto, irá funcionar no prédio da Faculdade de Direito de Alagoas, em período noturno, conforme se pode constatar pelas atas da Congregação desta Faculdade. Sua maior dificuldade inicial, porém, foi mesmo a carência de candidatos habilitados para ingressar em seus cursos. Embora nesta época já estivesse em vigor a reforma do ensino secundário, feita por decreto de abril de 1931 e consolidada por outro em abril do ano seguinte, estabelecendo a exclusividade do curso seriado e a exigência de sua conclusão para acesso às Faculdades, até então "im/>1wava o sistema de 'prfparatórios' e de exames parcelados, para ingresso no msino superior, sendo o currículo seri(ldo, quando existente, pMco procumdo (RO;\-L\l'\ELLl, 1989. p. 135). Essas mudanças recentíssimas não tinham podido ainda repercutir na vida daqueles que procuravam ingressar nos cursos superiores, de tal forma que, para neles ingressar. precisanm ainda ter sido aproyados naqueles antigos e rradicionais exames.

Assim, a maior parte daqueles poucos alagoanos que tinham condições de se submeter aos cursos de preparatórios ou de ser aprovados nos exames parcelados e, em seguida, arcar com os custos de um curso superior, se já não estaYam estudando fora, vinham dando preferência ao curso de Direito, pelo significado simbólico de que se revestia o seu diploma. A direção da Escola, porém, não se dando por vencida, logo buscou contornar o problema através de um expediente gue, aliás, já fora também utilizado pela Faculdade de Direito e que consistia na admissão de alunos sem os pré­requisitos formais, procedimento este que, mesmo cm Alagoas, evidentemente irá lhe render grandes e intransponíveis problemas no futuro, já que o controle do ensino superior era da alçada do Gm·erno Federal.

A.inda uma outra iniciativa, surgida em 1935, merece registro, seja porque foi mais uma na área de Agronomia, seja porque se deu no interior, justamente na cidade de Viçosa, onde depois a L'FAL iria implantar a sua área de Cit:ncias Agronômicas. O empreendimento, com o nome de Escola de Agronomia de Alagoas, foi oficialmente instalado no dia 13 de outubro. >\esta solenidade, referindo-se às possibilidades da non escola em confronto com as tentativas frustradas de 1933 em l\laceió, disse um dos oradores, com otimismo: "O pertinetro essenriahmnte urbano d(I capd(I/ do e.rtado 11ào

138 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

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mportr11 1a mn11 e.rmla mjo fim é preparar homens para o campo. As leis co1111ms de adoptacão 11e~ara111 lo.~<1 as possibilidadn de êxito daq11ela iniciativa. As possibilidades do meio r11ral garantirão 111el/Jor ,, existência de 11111 i11stit11to da natureza do qm estamos trata11do".-7 l'ão imaginava o autor dessa reflexão que, no futuro, outra instituição também criada em Viçosa iria fazer Jllstamente a trajetória inversa e, o que é mais curioso, com apoio num argumento totalmente oposto àquele. A entusiástica expectativa de sucesso dessa empreitada deixa bem claro os altos ideais que moviam seus promotores, patente na fala de um professor quando da aula inaugural da Escola. Nessa ocasião ele dizia ser aquele um empreendimento que estava "vivendo 11Jais do idealismo do q11e mesmo de realidade".~~ Evidentemente que a confiança no dinamismo económico da cidade de Viçosa, à época com três usinas de açúcar e dez descaroçadeiras de algodão, não deixava de ser um dado real. Logo, porém, se mostraria insuficiente para manter funcionando uma instituição de ensino agronómico. Mesmo o esforço de seus criadores para leYar à frente aquela instituição teve pouco efeito prático, embora realizassem uma exposição municipal de implementos e produtos agrícolas e buscassem auxílio financeiro do Governo do Estado.79

Lutando para atrair as atenções, criando fatos que transcendessem ao fechado mundo interiorano, os dirigentes da nova Escola chegaram até a transformar a primeira aula prática de campo, realizada cm 28 de maio de 193', em autênnca celebração, assim descrita por uma testemunha: "Para o rompo. que fica a cerra dr HIJI kilómetro di.rtanlf da cidade, seg11iram diversos a1domóveis conduzindo os alunos da escola de a,gronomia e mflitas 011tras pessoas. (. . .) Os mriosos se apinhavam em 110/la das máquinas t1gdcolas. Ao começar o arado a revolnr o solo, foram /arados foguetes. Df'j)ois que a grade de discos recortou a terra arada, Jài sert:ido H111 ropo de rrrveja aos presentes.,. go Tendo atraído para a atividade um número expressivo de autoridades locais, a 'J>rúneira a11la prática do carvpo dr: experiéncia/', como foi denominada, terminou com um brinde, proposto pelo diretor ao Governador do Estado e outras autoridades de quem a direção da

J(lmn/ dt Aln,w1ns.::? 10l'l.i5.

Jornal O C/nrim. órgão da Escola de ,\gronomia de .Alagoas, 4.Q.1.19'>7 •

•. , O Clarim. ;~·.<·• 19r

"'' O Clarim, 3t•.<•S . 1~3i.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias 139

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escola esperava apoio. A reportagem do evento assim termina: "0111•iram-se t•it-as an go1•erno do Estado e aos seus a11xiliares. Cerca de cinco horas regressou a alegre co111zttva) trazendo as melhores impressõn Eram notados os corp11lentos bois de propriedade do nosso amigo l11anoel L o11reiro, que vieram para buscar as máquinas agrícolas". 81

Tudo, porém, foi em vão. Desde a preocupação de que "arndos e outros instrumentos de campo.fossem vistos e examinados pelos donos de fazendas", como se se tratasse de verdadeiro gabinete de mriosidades. até o cuidado de que os novos aparelhos agrícolas, desconhecidos do agricultor, rústico e rotineiro, ''.fossem o~;"eto de trabalho metódico e inleligmle"8~ e de que a primeira aula prática se transformasse "numa verdadeira ftstt1110 campo'·, como a denominou O Cla1im, não foram capazes de vencer algo mais forte - a estrutura tradicional da agricultura aJagoana, em consórcio com uma cultura tenazmente resistente a qualquer moderni2ação. Assim, a Escola de Agronomia morreu e, com ela, o sonho de alguns poucos idealistas. Contudo, enquanto tantas tentativas iam resultando em fracasso, a Faculdade de Direito e a Academia de Farmácia e Odontologia prosseguiam avançando.

Direito já tinha conseguido, em 1934, formar sua primeira turma de 35 bacharéis em Ciências Jurídicas e Sociais, dentre os quais se encontravam duas mulheres, o que tornava o feito, já em si altamente significativo, marcada.mente singular.

A essa altura, com a situação política rearranjada através da Fre11lt Única proposta pelo General Gói~ i\fonteiro e arciculada por Osman Loureiro, que trouxe de volta ao primeiro plano da política alagoana velhas oligarquias derrubadas temporariamente pela Revolução de 30, os fundadores da Faculdade de Direito passaram a ter alguns de seus catedráticos não apenas no Executivo e no Judiciário mas também no LegislatiYo, consolidando assim o apoio à Faculdade em todas as frentes. O primeiro grande fruto dessa situação logo iria ser colhido: tendo a Congregação apoiado e encaminhado ao Governador o pedido, formulado pelos estudantes, de estadualização da Faculda<le, este Jogo seria acatado, levando-a integralmente para o âmbito do Estado.83

~· O Clarim, :OIJl1S :9:>".

' 2 () Cltmm, 3ú.115.1'J3'.'

.\ est:idual.i.zação foi íeita pela Lei :il 1250 de 01 dt junho dê 1936.

140 Cultura e Educação nas Alagoas · História. histórias

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Agora gozando do patrocrn10 integral do poder público estadual, que 1w.umira todos os seus encargos, a Faculdade poderia se ver aliviada de alguns problemas que a afligiam e punham em risco a sua sobrevivência, como a diminuição de candidatos. Na verdade, íá desde 1933 que o Conselho Técnico­Administrativo vinha patenteando sua preocupação com a redução do número de alunos, ainda mais agravada pelo afastamento dos estudantes que no início tinham sido matriculados irregularmente.

Contudo, paradoxalmente, já nesta época fazia-se notar a presença de alunos de outros Estados prestando exames na Faculdade de Direito de Alagoas, fato que, com o passar dos anos, só tenderia a crescer. Em 1934, por exemplo, se entre os 25

alunos inscritos para exames em Introdução à Ciência do Direito, 22 eram alagoanos, em Direito Civil e Direito Penal, que eram cadeiras do terceiro ano, de um total de 41 inscritos, 27 seriam de outros Estados, 23 dos quais oriundos de Pernambuco. Em 1935 o fenômeno se repetiria, chegando ao seu auge cm 1941. Se considerarmos as recomendações frequentemente lavradas em atas, tanto da Congregação quanto do Conselho Técnico-AdminisrrariYo, para se ter rigor nos processos de admissão e de avaliação dos alunos, essa presença de alunos de fora de Alagoas para se submeterem a exames em cadeiras a\'ulsas, sobretudo oriundos do Estado vi:únho, cuja Escola de: Direito, pela tradição e renome, era ainda bastante procurada pelos filhos da elite alagoana, deixa de ser algo, à primeira vista, estranho e passa a ser plenamente compreensível. O fato é que as facilidades nos processos avaliativos admitidas pela Faculdade eram em tudo semelhantes ao que, desde o século passado, se usava pôr em prática no velho Liceu donde ela nasceu.

Esses fatos logo iriam minar a reputação da nova institl1ição. Não contando já desde o início com a boa vontade de parcela da sociedade que via a Faculdade de Direito como uma iniciativa de carcomidos, o clima de afrouxamento reinante nos ritos académicos iria provocar reações que, justas ou não, haveriam de acarretar sérios danos à escola. No jornal dos estudantes da Faculdade pode-se sentir o peso das críticas, quando ali se lê que "11ma campanha sórdida f infamanlt' {é) dirigida 110 sentido dt' desprestigiar e desmoralizar a nossa FaC11/dadt de Direito".84 Lamentando que ·'ala..P,oanos

'" Folha 1\Clldémica, fevereiro <le 193~.

Cultura e Educação nas Alagoas - História. h1stónas 141

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l~~itimos tenta111 rahotar a Famldade de Direi lo do seu Estado". o jornal afirma que'· se procura

negar termi11a11ftt11r:11te a nossa capacidade (eu me refiro a .l'Uagoas) para possuir e manter uma escola superiot1'. No conteúdo-desabafo das matérias do jornal, percebe-se também o mal-estar provocado pela natureza comparativa da avaliação que se fazia da Faculdade com a do Estado vizinho - um verdadeiro movimento tendente à ''prmamb11ralizarão"

de Alagoas, segundo um dos articulistas. O que, de fato, se pode concluir dessa polêmica é que, a par do profundo desconforto gue causava a ª''aliação comparativa da instituição com centros tidos como de excelência, as alusões aos problemas apontados eram debitadas não à sua possível existência mas, à má vontade e à falta de espírito de alagoanidade dos que não queriam reconhecer a excdência do empreendimento e dos que o levavam a efeito. O fato é que essa situação de descrédito acabaria custando à instituição a alcunha pejorativa de j aqflfira que passou a lhe ser imputada. Sem registro preciso da data de seu surgimento e da conceituação do que aquele termo pudesse significar, o que ela parece traduzir, além do seu peso achincalhante no modo de dizer, é a metáfora que tem por base a árvore do mesmo nome que, no Nordeste, existe em abundância nas beiras das estradas e cujos frutos se encontram desde a raiz e em profusão, matando assim generosamente a fome dos pobres desvalidos que por ela passam ...

Por volta de 1935, com seus catedráticos fundadon::s gozando dos privilégios da lei que os isentava de concursos, a escola já havia incorporado novos professores, para cuja invesadura no cargo de forma legal era no entanto exigido concurso até então não realizado. É que aqui se tentava sq.,ruir rnmbém uma outra praxe adotada pelo Liceu durante bastante tempo, que consistia em, uma vez vaga uma cátedra, ocupá-la por lentes interinos ou entregar sua regência a um catedrático, mediante o pagamento de vantagens adicionais. Nesses casos, inclusive, "a acul!111laçào passou dos limites f Sf n·igiu em r~gra gerai: u111 prq(essor dc1111111la11do duas ou mais cátedras. F..temizaram-se as acut11u!tzções" (DC:\RTE.

1961, p. 155). Esse fato fica patente pela insistência do Inspetor sobre a necessidade de se efetuarem os concursos, registrada até o ano seguinte, nas suas observações no Livro de Visitas à Faculdade. Todavia, os concursos feitos a partir de então e até a década seguinte para o provimento das cátedras seriam realizados quase todos com candidatos únicos, ha\•endo registro de apenas uma reprovação, com empate na disputa em que dois candidatos se inscreveram.

142 Cultura e Educação nas Alagoas - História, histórias

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Quanto à Academia de Parmácia e Odomologfa, já em 1917 fora oficializada, cnm 1111<.:u nome mudado para Escola de Farmácia e Odontologia. Embora tivesse conseguido lormar, naquele ano, sua primeira turma de 30 dentistas e 15 farmacêuticos-guímkos, C'ncomrava-se, passados apenas três anos de sua fundação, engolfada em problemas administrativos de toda ordem, sendo o principal deles a existência de muitos alunos ilegalmente matriculados. Esses problemas, porém, não impediram que ela tives~e sido e~tadualizada pelo Governo junto com a Faculdade de Direito e passasse, assim, a gozar dos privilégios da chancela integral do poder público estadual e da confiança dos estudantes guc, vendo-a sob o manto oficial, acreditavam na eficácia jurídica de seus futuros diplomas, pelo menos no âmbito do Estado.

Assim, as úrucas escolas de ensino superior n::con.hecidas pelo Governo Estadual - a Academia de Ciências Comerciais, envolta em profunda crise, não era encarada pelo Governo como instituição de ensino superior85 e o Seminário era tido como instinúção privada e de caráter especial - e sobrcvh-entes dentre as sete que apareceram na década, no veio do avanço urbanístico por que emão passava Maceió, ,·ão chegar ao final de 1937

tendo que se defrontar com um impasse gue poria em cheque o tão decantado espírito público de abnegação e de doação que povoaYa os discursos dos docentes de ambas as escolas. Refiro-me à famosa Lei de Desac111mtiação86, que determinava a impossibilidade de que se tivesse mais de um emprego público, impondo aos que, a partir de sua vigência, c:sti,·essem legalmente acumulando postos, que se demjtissem de um deles por livre escolha. Se essa determinação do Estado ~orn atingi.a boa parte dos docentes da Escola de Farmácia e Odontologia, no caso da Faculdade de Direito de Alagoas dela só escapavam dois professores, sendo um deles o próprio Governador, já que o exercício do mandato, por não configurar emprego público, deixa\'a-o fora do alcance da lei.

A solução não se ft:z esperar e, por solicitação de ambas as Congregações, ainda no final do ano de 1937 o Governador desestadualiza as duas insrirnições8', permitindo

'-' Pdo decn~ro l.i45, de 25.02. 1933, que oficializa a Faculdade de Direito, istl• t'Stá muito cl:iro num dos se.us C(•nsiderandos gue, gualilicando esta como " 1í11irn ejfa/Je/eci111mto de en.rino S11pnim·exi.rtmte 110 EsttJdo", deixa de fora a 1\c3dc:mia, então em plena ati\'idacle.

Trnt~va-sc do dispositivo dccC>rrcmc do 1\rtigo 17~ da Constituiçà1> do Est.1do ).Jo,·o, de to de novcmhro de 1•n·. ~ão cenclo tido acesso ao diplom:i lq;al refereme à Faculd:idc cl"' Farm:ícm e Odontologia, pud<:, porlm, compulsar o Decreto n1 232.\ de: ';t de dezembro de l<l37 , que rcvoJlOU l Lei l.:?50 que estaduall.2ou a FaculdJde de Dtrcico de :\lagoas.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, história~ 143

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assim gue rodoc; permanece<><>em em suas cátedras. acumulando essa função com outra

de natureza pública, uma vez que as Faculdades passavam a ser mstiruições privadas e. com isso, fora da alçada da nova legislação.

Em apenas 20 dias transcorridos da \•igéncia da Lei dr Drsammulação estaria assim afastado o obstáculo que obrigava quase todos os senhores catedráticos a ter que optar por

um de seus empregos. Mesmo estando rlesestadualizadas, as escolas continuariam, porém, por força dos decretos que as fizeram retornar à condição de instituições particulares, a gozar do principal pri-vilégio que motivara sua estadualização anteriormente, ou seja, da garantia de que "o Governo do Estado prestará às facttldade.c o auxílio qHe se tornar necessário à sua ma1mlmfâO ef11nc-io11amento", tal como consta literalmente daqueles diplomas legais.

Se dos registros históricos sobre o ensino superior cm .!\lagoas consta apenas, de forma pontual, uma sequência de estad11alização e desl'stadualização e, no caso de

Farmácia e Odontologia, seguida imediatamente por nova estadualizaçào, sem mais, com essas considerações feitas até aqui parece ficar claro que aquele minueto de natureza

legal constittúu, na verdade, um jogo de conveniências de quem tinba prestígio e força política, bem de conformidade com o estilo local, segundo o qual o que menos parece contar é o interesse público, substituído a cada caso pela conveniência particular de

quem tem poder para faze-la prevalecer. No início da década de 40, passada a febre de fundação de escolas, o ciclo de

experiências fracassadas iria se encerrar com a dissolução da Escola de Farmácia e

Odontologia. Tendo sido incapaz de sanar seus "erros dr 01igevl', que cada vez mais se agraYaram nos anos seguintes, e não resistindo a uma inspeção externa, mesmo estadualizada, foi fechada em 1941 pelo Interventor Federal, tendo os seus diplomados que buscar outras instituições para revalidar seus ótulos. Já a Faculdade de Direito, precisando sair da crise em que se enconrra,·a, buscaYa finalmente melhorar sua imagem, pelo que se pode depreender das notícias na imprensa, que ressaltam "o ri._~or nas provas e ofliJJ d~finitivo da cola" patrocinado pelos seus professores.65 Com a A.cadetma de Ciências Comerciais já transformada em Escola Técnica de Comércio, de nível secundário, sob a égide do Sindicato dos Empregados do Comércio no Estado de Alagoas, ficaria assim apenas a Faculdade de Direiro que, junto com o Seminário Diocesano, irão conseguir

~· )om,i/ r/e Alt~P,oas. 1 0.06. e 21 .06.1941.

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lt ~\·cssar toda a década como únicos estabelecimentos de ensino superior em território ~l 11-1rnrno até gue, finalmente, em 1949, mercê do apoio policico a ela emprestado, passa li 1mcgrar o sistema federal de ensino superior89, resolvendo em definitivo a penúria l111anceira que sempre pusera em risco sua continuidade. Frente à concretização de um 11rojcto que muitos consideravam impossível, abrir-se-á, na década seguinte, em meio a 11m clima de euforia e de enormes expectativas, um novo ciclo de iniciativas no âmbito tio ensino superior./\ essa altura Alagoas contava apenas com 1.003 profissionais de nível i,uperior, montante este que, sobre uma população de 1.093.137 habitantes, correspondia .1 apenas 0,09% da população total de todo o Estado.90

"' Lei 1.014, de 24 de de:ccmbro de 1949.

~(' Cf. Censo de 1950 - Anuário E stctistico d11 Bro;il/ IBGE.

Cultura e Educação nas Alagoas - História, hístólias 145

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CHEGARÁ O D ESENVOLVIMENTISMO TAMBÉM À TERRA DOS MARECHAIS?

Os anos 50 chegam para Alagoas trazendo um clima político saudado por alguns -;egmentos como precursor de um novo tempo. Logo no irúcio da década, a campanha seguida da eleição, contra todas as expectativas, de um jovem político da CDK - Arnon de ~folio - para o Governo do Estado, derrotando o grupo que estava no poder e que era qualificado pela propaganda adversária como a oligarquia dos Gríú A1onteiro, seria imecliatamente vista, sobretudo por alguns setores da ainda pequena classe média alagoana, como indicação de que "Ak1goasjá t1ão era mais a mesma'~ o que levava a esperar por relações políticas civilizadas e menos truculentas do que as que eram presenciadas ainda em Alagoas.

Evidentemente que a nova fo1ma assumida pela campanha do candidato eleito contribuiria em muito para esse chma de expectativa de novos tempos. Pela primeira vez, Alagoas presenciaria os efeicos de um mark.eting eleitoral de características jamais vistas no Estado. Os comícios montados como autênticos espetáculos, a presença do candidat0 em todos os pomos do Estado, o uso de histórias em quadrinhos retratando a trajetória pessoal e política do candidato, os jingles, as fotos coloridas e bem retocadas por profissionais, os santinhos, os lápis e calendários como instrumento de propaganda, o uso do ráruo na campanha - tudo leva\'a à idéia de que, sem dúvida, a modernidade estava finalmente chegando pelas mãos daquele político jovem e cosmopolita (TE~ÓRIO, 1994. p. 69-70).91

E a modernização era de fato uma necessidade. O Estado chegara até ali com uma economia ainda quase que inteiramente assentada na cana de açúcar e no algodão e nas indústrias geradas por essas culturas. Se, no caso do açúcar, o setor tinha conseguido resistir até então à hegemonia do sudeste, principalmente por causa da política protecionista de cotas de produção tenazmente administrada pelo IAA, quanto ao algodão, sobretudo o atraso tecnológico das 11 fábricas de tecido existentes em Alagoas prenunciava já uma derrocada que não tardaria a ocorrer. De fato, a indústria têxtil alagoana trabalhava nessa

~· A. ba~c para a consrruçilo desse: esboço da vida social de ;\lagoas e d~ Mact10, na <lécadJ de 50, ftiro a paror daqui. são os dados presentes no trabalho do historiador alago:ino Douglas Apratto Tenório (1994); a leaura por mim realizada, comudo. é ..:x3ramcme o oposto do que ali se encontr.1

Cultura e Educação nas Alagoas - História. histórias 147

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época com eguipamenros extremamente antiguados, precisando, por isso mesmo, de excessiva mão de obra, o que fazia com que seu ritmo de produção variasse de 1 O a 25% a menos do que o restante do pais e, além disso, sua produção estava dirigida a um mercado consumidor de muito bai"a renda (TE:t'\ÓRIO, 1994:73). Dessa forma, novas fontes de riqueza para o Estado eram também uma necessidade premente, a que a hábil propaganda do candidato ú.torioso se encarregara de garantir responder.

AJagoas, ainda que de forma lema, vinha já se urbanizando. A população de Maceió, por exemplo, tinha quase gue dobrado entre 1920 e 1950, passando de 74.166

para 120.980 habitantes. Entretanto, a população do Estado crescera apenas de 978.748

para 1.093.137 moradores. Vale assinalar gue esse crescimento geral reduzido foi devido sobretudo à intensa migração para outros Estados ocorrida nesse período, fazendo, inclusive, com que entre 1920 e 1940 tivesse ocorrido uma redução no número total de habitantes do Estado de AJagoas, evidenciando assim as flagrantes distorções graças às guais avançava o processo de urbanização.

Quanto ao setor educacional, embora ainda rcstriti,·o e altamente elicizado, tinha no entanro uma oferta significati\·ameme mais ampliada que há duas décadas atrás, como se pode constatar no quadro gue set,rue:

ALUNOS CONCLUIN TES POR MODALIDADE DE ENSIN O EXISTENTE N O ESTADO DE ALAGOAS ENTRE 1932/1946

ANO 1932 1934 1946

-::.IODALIDADE PRI;\L\RIO 941 1.914 2.608 SECUKD.ARIO 54 67 30 DOMESTICO 16 30 30 IJ\'DUSTRIAL 03 117

COMERCIAL 14 07 64 :\RTISTICO 31

PEDAGOGICO 18 15 47

TOTAL 1.043 1.914 3.437 . . . . rO.\!TE: IBGE - ,\nuanos Estausucos

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Todavia, servicos como transporte, água, esgoto e energia elétrica deixavam parente o atraso em que se encontra\·a ainda a sociedade alagoana. O recenseamento c.lc 1950 indica que só contava com esgoto e água encanada a cidade de Maceió, assim mesmo através de redes insignificantes - a água, por exemplo, alcançava apenas 3,86º:º das residências. A energia elétrica, por sua vez, só era desfrutada por 9,58% das moradias, enquanto apenas 8,84% delas contavam com aparelhos sanitáríos.92 Por isso mesmo, o progresso já experimentado por outros Estados brasileiros era também uma necessi<lade urgente para A.lagoas, a fim de que se desse seu ingresso integral e definitivo no mundo dos bens e serviços criados pela civilização ocidental e que tinham sido ampliados significativamente no pós-guerra.

Assim, diante de tantas expectativas, nem mesmo o faro de que na CDN alagoana se encontrava parte ponderável das velhas oligarquias rurais que tinham estado no poder há até bem pouco tempo e a evidência de que a vitória do novo Governador tinha precisado do auxilio do PSD, um partido de oligarcas, presidido pelo Coronel Ismar, também um Góis Monteiro como os que se queria desbancar do poder, foram capazes de empanar o brilho das promessas de uma nova aurora de democracia e ptogresso tão habilmente proclamada pelos vencedores.

É bem verdade que entre os Góis Monteiro havia uma cisão que vinha desde a década de 30 e que sempre colocara o 11inistro Silvestre, com seus seguidores de um lado e o Cel. lsmar, com seus aliados de outro, envolvendo até tiroteios e mortes de parte a pane . .Mas, acima deles, até porque fora a origem do poder de ambos, estaYa o GencraJ Pedro 1\urélio de Góis .Monteiro, condestivel da Revolução de 30 e espécie de parriarca a pacificar os irmãos nas horas de exacerbação do permanente confüto entre eles, fazendo com que, por sobre as divergências, houvesse, para os comuns dos alagoanos, os Góis Monteiro e prnnto. Assim, basrnva a menção de opor-se a qualquer um deles para que se pensasse numa transformação radical.

E. de fato, bem ou mal, o progresso viria, fazendo com que, ao longo da próxima década, se testemunhassem efetivamente algumas alterações sobretudo nos campos econômico e social. Embora não tivesse mudado tanto quanto se esperava desde o início dos anos cinqüenta, o Estado já não era, contudo, exatamente

'; ~ (( IBGE - Anuárjo Escaásaco1

19.50.

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o mesmo daquela época O cn:<>cimento urbano tinha se acelerado bem mais, alterando significativamente o perfil de distribuição da população alagoana .. Maceió, por exemplo, pulara de um pouco mais de 120.000 habitantes em 1950 para 170.134

no final da década. Esse crescimento de mais de 41 % é bastante significativo se considerarmos que Alagoas inteira tinha experimentado, no mesmo período, um incremento populacional global de pouco mais de l 6'Yo, passando de Hl93.137 para 1.271.062 habitantes.

Outras cidades do Estado, porém, chegaram a crescer até mais do que a capital entre 1950 e 1960 pois, enqminto a população rural havia aumentado em apenas 4%,

a urbana iria atingir um acréscimo de cerca de 50% no cômputo geral. O número de Municípios quase dobrara nesse período, passando de 37 para 69 e trazendo, com essa fragmentação, o surgimcnm de novas lideranças, que iriam ocupar espaços antes controlados por velhos caciques. Isso evidentemente traria para o primeiro plano, com relação ao poder, uma nova hierarquização municipal, numa completa reformulação da geopolítica do Estado trE~ÓRIO, 1994, p. 71).

A agroindústria açucareira continuaria dominando a economia. Mas na ocasião, bem mais protegida pelos poderes públicos, não íria deixar de lançar mão dos incentivos generosos a ela dispensados para encaminhar o reequipamento de muitas de suas unidades industriais, melhorando o nível técnico de sua produção agrícola e iniciando a ampliação e diversificação das áreas de plantio. De fato, o atraso técnico nessa área, até aquele período bastante acentuado, iria começar a sofrer sensível alteração, principalmente através da urili7.açào de áreas de tabuleiros, antes consideradas improdutivas pelos produtores de cana, e do emprego de novos ímplementos, aumentando assim sensivelmente a produtividade do setor. Jsso, e\' identemente, representaria um revigoramemo considerável da economia do Estado, ainda que viesse a sif,l11Íficar o inicio de uma restrição cada vez maior ao cultivo dos géneros alimentícios tradicionais, de vital importância sobretudo para as populações mais pobres. Essa forma de crescimento econômico iria fazer, inclusive, com que o Estado de .:\lagoas passasse a ser cada vez mais um importador de géneros alimentícios, a partir do momento em que, já na década de 50, começaria a expandir-se a ocupação pela cana dos tabuleiros tradicionalmente utilizados por sitiantes-plantadores para a agricultura de subsistência.

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Outros ramos do setor primário de alto valor econômico, como o fumo, o arroz o leite, iriam crescer também cm importância econômica no período, atraYés da

• 1rupação de áreas impróprias para o cultivo da cana e do seu manejo mais racional. A 1ndustrializaçào, porém, tantas vezes prometida e tão ansiosamente esperada por setores P.tgnificativos da população alagoana, continuaria apenas como um projeto sempre mais distante. Até o setor têxtil, que representava já um embrião de vida fabril, definbava, ameaçando desaparecer de uma vez por todas. A presença da Petrobrás justamente nessa época, a fazer prospecção e a explorar já algum petróleo em áreas do Estado, não deixaria de ser um alento. Seu futuro, contudo, do ponto de vista econômico, era uma incógnita que só o tempo se encarregaria de solucionar. Assim sendo, Alagoas, ainda que com um perfil económico sensivelmente modificado, chegaria ao final da década ainda como um Estado essencialmente agricola e com uma produção predominantemente Yoltada para a exportação.

No setor de serviços algumas modificações significativas seriam também registradas. O abastecimento de água encanada, ames restrito a .Maceió, se estendera para rodas âs sedes municipais. A criação da CF.AL - Companhia de Eletricidade de Alagoas - conseguira já ampliar significativamente a oferta de energia elétrica. No setor rodoviário, iria finalmente se dar a pavimentação asfáltica das duas primeiras estradas de percurso mais longo - uma de ~laceió a Palmeira dos Ínclios e outra de Maceió à fronteira de Pernambuco. Embora cobrissem uma pequena área do Estado e, portanto, não fossem de fato de tão longo percurso assim, representavam, contudo, uma ampliação significativa da possibilidade de comunicação pelo menos entre algumas regiões, já que o que esta\'a disponiYel até encào era uma malha viárfa que só com muito boa vontade se poderia afirmar ser inteiramente carroçável. Além disso, recuperar-se-iam outras estradas construidas, na sua maioria, ainda na década de 20.

Também a oferta de oportunidades educacionais nos rúveis primário e médio se ;unpliaria significativamente, tanto no setor público quanto no privado. A rede de escolas secundárias públicas, antes ainda restrita, seria expanclida significativamente atra\·és da construção de noYos colég)os na capital e cm cidades importantes do interior, como Palmeira dos Índios, São 1'·Liguel dos Campos e Santana do Ipanema.

~a área privada, a atuação oficial se complementaria com a criação de Ginásios, Escolas de Comércio e de Formação de Professoras Primárias em um

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número considerável de Municípios do interior e até na capital graças sobretudo à ação da CNEG - Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, que veio para Alagoas logo depois de sua criação em Pernambuco, na década de 40. Tendo surgido com o objetivo sobretudo de criar escolas secundárias para atender aos jovens que, por morarem em áreas desassistidas pelo poder púbJico, em geral interrompiam seus estudos após a conclusão do primário, no Estado da deu início à sua atuação com um caráter marcadamente comunitário. Através da mobilização dos profissionais com formação superior, como advogados, médicos, agrônomos e padres, que residiam nessas regiões desassistidas por força do seu trabalho e se dispunham assim a assumir as aulas, a Campanha mantinha as escolas criadas com doações e verbas captadas junto aos poderes públicos. Com o tempo porém, não apenas o nome desse mo"-'irnento seria alterado para CNEC - Campanha Nacional de Educandários da Comunidade -como teria, pelo menos em Alagoas, sua política redirecionada, passando a ser quase sempre uma fachada para empreendimentos utilizados por seus responsáveis como meios de auferir prestígio político, na maioria das vezes traduzido em votos e até polpudos rendimentos, em troca de uma educação de qualidade duvidosa oferecida a crianças e jovens das classes populares.

De todo modo, com o aumento da rede escolar daí resultante, a Educação ganharia peso político no seio do Governo, sendo, então, criada uma Secretaria para tratar exclusivamente de seus interesses e descentralizada sua política através de representações regionais. Essas ações abririam novas oportunidades para uma parcela maior da população estudantil até então limitada apenas ao curso primário, ampliando os horizontes de muitos jovens que ames viam a educação dos niveis mais avançados como um privilégio de poucos.

A criação, ao longo da década de so, na capital do Estado, pela iniciativa privada, de 7 Faculdades - ·Medicina, Filosofia, Economia, Engenharia, Serviço Social e duas de Odontologia - que irão se juntar à sobreYivente Faculdade de Direito, viria a representar uma ampliação ainda maior desses horizontes para um grupo específico93, fa:tendo com <1ue, em Alagoas, a posse de um diploma em algumas das mais prestigiosas profissões

?J Para um conhecimento mais detalhado de como se formou o sistema universitário nas ,-\lagoas. cf. VlmCOSA.

1996 e 1997.

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• h nh'cl superior passasse a ser "um sonho qut' já podia ser l'ivido pelasfa111ílias de classe média" l'l L'l\ÓRIO, 1994. p. 76).

Sob muitos outros aspectos, porém, Alagoas continuaria ainda muito parecida com o que era há dez anos atrás e até muito antes. Se, pelo crescimento econômjco mais acentuado, novos bens e serviços tinham sido introduzidos no dia a dia da população, e se um rirmo menos lento passara a se impor a algumas de suas rotinas, velhos hábitos e antigas formas de levar a vida permaneciam, configurando uma "travessia de do;s tempos históricos que se cruzam" (TE:\!ÓlUO, 1994. p. 77). Mesmo Maceió, centro econômico e político mais importante do Estado, ainda que exposta ao cosmopolitismo do pós-guerra, com as iniciativas daí decorrentes, "qHe visavafJI atualizar o país com relação à modernidade do.r centros indmtrializ.ado.r" (TffNÓRl0,1994, p. 79),

insistia ainda em manter muito de seu perfil de cidade interiorana. As relações de vizinhança e de compadrio eram ainda fortes e dominantes,

assim como continuavam como hábito sagrado as cadeiras nas portas para os bate-papos do fim de tarde. 1\o abastecimento da população, feito pelas vendas, predomina\'ª ainda a caderneta, para cujo uso a confiança no freguês continuava sendo o critério exclusivo. J\a área central da cidade, as Praças Pedro II (conhecida como da Catedra~, Floriano Peixoto (ainda hoje dos A1artirios) e Drodoro formavam um triângulo que continuava a abrigar a mruor parte do pequeno comércio da época, ou melhor, a circunscreYer praticamente todas as atividades comerciais da cidade que mereciam ser mencionadas naquela época e que assim permaneceriam ainda por muitos anos, a ponto de, ainda hoje, muitos moradores da cidade, quando se dirigem para aquela área, dizerem simplesmente que "estão indo para o Comércio". Antes um dos espaços públicos preferidos pelos poucos homens abastados para exibir suas roupas caras e sua cordialidade aos comuns dos mortais, o Comi.reio mudara apenas no sentido de que tinha passado a servir de palco para a ostentação de carros de cujo interior os mesmos potentados passariam a acenar, exibindo sua proverbial bonomia, ainda elogiada como sinal de que eles, embora ricos e poderosos, "não tinham qualquer bondade". A expressão, que designa no linguajar popular das Alagoas ausência de orgulho ou ostentação de sinais de distinção, provavelmente se origina numa referência às qualidades típicas dos home.ns-bons que, desde o Império, como indivíduos capacitados ao \'Oto e ao exercício

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de funcões políticas, representaYam - provavelmente ainda hoje representam, n mentalidade do povo - as únicas pessoas dignas de serem le\·adas em consideração na vida social.

As diferenças políticas, porém, quando punham em risco interesses importantes, eram ainda frequentemente resolvidas atraYés de métodos tradicionais violentos, polarizando opiniões e ressuscitando velhas alianças. O exemplo extremo e emblemático da presença ainda bem viva desse tradicional estilo de resolver pendéncias políticas continua a ser o tiroteio entre Deputados do Governo e da oposição, ocorrido em 1957, no plenário da Assembleia Legislativa Estadual em meio à tentativa de impeachment do Go'\·ernador. Do duelo anunciado resultaram ferimentos e até morte entre os contendor.es.94

Entretanto, o Café Central e a Helvética continuariam a ser os lugares da moda e sempre mais frequentados por uma classe média em crescimento, á'\;da por saber da versão mais completa e arual de rudo o que acontecia na cidade e que não era publicado nos jornais ou neles saía filtrado pelos ú1tercsses dos grupos que os controlavam. Os prét-à-poJter eram ainda um enorme luxo gue limitava as lojas que os comercializavam a um número insignificante de consumidores. O comum continuava sendo a confecção em casa das próprias roupas ou o recurso a costureiras e alfaiates, sobretudo porque o ní\'cl econômico da classe média assim o exigia. A casa t a fanúlia permaneceriam o único abrigo realmente sebYUrO para a mulher honrada, ''smdo poucas as que saíam sozinhas para O comércio, para as 1J1afi11és dvs cinelJ/flS, para OS d11bes, 111édiros 011 dentista.;, Sf111 a co1J1panhia de jàmiliares'' (TENÓR10, 1994, p. 80). O cinema era, como em todo lugar, uma das principais formas de entretenimento da classe média. A freqüência a ele, porém, se constituía numa ocasião privilegiada de se exibir, talvez só superada pela ida às missas dominicais ou festivas.

A propósito, a Igreja Católica continuaria a manter ciosamente sua hegemonia sobre toda a sociedade, com uma presença ainda forte e decisiva nos mais diversos campos da vida dos maceíoenscs. Seja através do controle das diversões públicas, seja

<;< S<)ore esse episódio, cujo conhecimt.:nto é funci:unc:m:il paro o emend1mc:nro da '·mod1ern1dadt:" i;. alagoanJ, faz-se indispemável a leitura do rrnb~lho do historiador Douglas Aprntto Tc.:nório. imirnlad(• ';4 Tra,gédio do P1~p11/ü1110 til/ AligM.r", EDL.:FAL, 1995.

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I ' l, 1 ')olic1amenco das formas trnd1cionais de se Yestir e de se conduzir socialmente, •11.1 atuação continuava vigilante e publicamente acatada. Eram, por exemplo, muito .111vos em todas as paróquias o Centro de Orientação Cinemategráfica e o Apostolado 1 tncmarográfico, para orientar os fiéis na escolha dos filmes. Se algumas ousadias hhcralizantes vindas do sul do país, como as trazidas por companhias teatrais, eram .1presencadas ao público, logo recebiam o ataque de "despudoradas, atentatórias à moral pt;blica, nrdadeiras afrontas q11r. exploram as paixões httmanas".95 Até a frequência das mulheres às rerimônias religiosas sem véus e vestidos de manga comprida era ainda inaceitáYel na cpoca pelo clero maceioense, que punha ''missas, rádios,jomais católicos (...)a servico de 11ma cruzada contra essas tentativas perniciosas de mi.danças nos costumes" (rEKÓRJO, 1994. p. so). Ate'.· a caridade para com os mais desfavorecidos só era considerada legítima se feita através dela. A campanha do quilo promovida pelos espírit:as para manter suas obras de caridade, por exemplo, era combatida como "11111a semente astuciosa qJ1e bem demonstra o op01t1111ismo de set1 inspirador - o espírito das trevas" 96 e , portanto, proibida à cooperação dos católicos.

Prosseguindo "reverenciada pelas autoridades em todos os níveis que não dispensa111 seus Te De111n e seu prestigio" (fE~ÓRIO, 1994, 79), era ela quem continuaria a patrocinar as principais festas da cidade, criando, por exemplo, através dos pastoris paroquiais organizados nas festas natalinas, espaços de congraçamemo e de solidariedade entre grupos sociais heterogéneos, já abandonados em muitas capitais brasileiras. A presença viva e vigorosa em suas festas de muitos folguedos populares por ela incentivados, seguia ainda reforçando muitos dos valores tradicionais de uma sociedade que não tinha pressa em mudar. De tal forma isso se daYa que, por exemplo, terminado o carnaYal, ainda "em comum 1mtitosfoliôes com s11asfamíhas saírem dos clubes para os templos para receberem as cinzas da quarta-feira". (TENÓRIO, 1994, p. 79).

Essa sociedade, porém, que já vira nascer no início da década muitas esperanças de transformações e de mudanças profundas, continuaria, no campo da política, a ser embalada até o começo dos anos 60 por um discurso trazido de outras phgas em gue '~r1perar ~atraso passa a .rrr a grande palavra de ordem 11os conconidíssimos comícios e nas campanhas políticas que a,gita111 o Estado, sobretudo a partir de 55" (TE.['.;ÓRJO, 1994, p. 81). E é nesse clima

?; Cf. O Snmad&r, jornal oncrn.I da 1\ro,u;d1occsc, 1·.c;.19ss.

% O Semeador. 12.ll.19%.

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gue, se por um lado concitava a socjedade à construção de um mundo de progress e moderrudade, por outro mantinha como válidos padrões tradicionais, gue vai ser constin.údo o embrião de um sistema uruversitário em Alagoas até seu nascimento efeti\'O. A ampliação de uma classe média ainda pequena mas já escolarizada e inteirada de suas possibilidades seria o componente novo a. pressionar e fazer ver aos políticos e aos doutores da terra que outras instituiçôes, além da de Direito, já poderiam ser pensadas para o Estado como um elemento a mais na construção do progresso.

De fato, com a chegada de 1960, a idéia de criação de uma Uruversidade Federal, embalada timidamente por alguns dirigentes de escolas, receberia uma força sempre mais crescente. Ainda que os relatos existentes sobre a criação da Universidade de .Alagoas insistam em secundarizar ou mesmo omitir a participação estudantil, ela foi, contudo, relevante.

A justificativa apresentada pelo movimento estudantil para a criação de uma llniversidade Federal era a de L}Ue sua concretização representaria mais recursos capazes

de garantir a pesquisa, maior declicaçào dos professores e, com isso, a formação de profissionais mais voltados para a realidade local. Reforçarido esse último ponto, os estudantes diriam ainda gue "o 11erdade.iro espírito universitário seria Jôrmado pela atenção aos problemas do Estado, buscando soluções es;xcíficas'', provavelmente numa referência à prática docente teórica e livresca de que tanto reclamavam e à necessidade de uma reforma do ensino superior brasileiro que, a essa altura, já andava de boca em boca e em luta por hegemonia no movimento estudantil.97

Já quanto aos professores e dirigentes das várias Faculdades, a confiança na possibilidade real de gue a reivindicação pudesse vir a se concretizar ficou circunscrita desde o início, apenas a alguns poucos. Como tinha acontecido nas tentarivas anteriores de federalização da Faculdade de :'.\íedicina, a federalizaçâo aterrorizava evidentemente alguns catedráticos, provocando comentários entre os gue queriam a criação da Universidade sobre certas resistências a uma instituição federal "em 1·irtude do r~gime de sele_çâo a que estão ohrigados os estabflecimentos dt, ensino superio11

'.9

1'. Das sete escolas particulares existentes em

~- O (jfs;ir11, n'' -:- -· setembro àc 1'.INJ.

~s O Clinico, n" 7 - setembro de !% •).

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\hgoas, a única que não demonstrou interesse em se integrar à Universidade foi a de "ien·iço Social. Dentre as outras, porém, acabaram ficando de fora do projeto resultante da minuta do l\.1EC a Faculdade de Odoncologia de Maceió, por ter sido preterida pela. de '\lagoas e a Faculdade de Filosofia, porque assim decidira o Diretor do Departamento de Assuntos Universitários do \IEC, que em seu lugar preferiu listar no rol das escolas guc comporiam a nova rnivcrsidade uma Faculdade de Farmácia que sequer existia em Alagoas. Além disso, a minuta defuúa também o número de cadeiras previstas para a Faculdade de ::Vfedicina, que não correspondia aos catedráticos em atividade e, assim, deixava de fo ra alguns fundadores (Art. 81.). E finalmente, estabelecia a obrigatoriedade de concurso para ocupação, em caráter defin.1tivo, das cadeiras criadas e, o que era pior, presidido por catedráticos de outras instituições de ensino superior, naturalmente de fora do Estado e com tempo certo para a rea!i:tação (An. !O), indo além do que muiros temiam.

Esse último dispositivo, sobretudo, tinha que ser alterado, pois batia frontalmente contra os interesses dos catedráticos-fundadores até da velha Faculdade de Direito, única escola alagoana onde até então tinham sido realizados concursos para docentes, sem que, contudo, os fundadores a eles se tivessem submetido. Sobretudo a determinação de que se realizassem concursos de títulos e de provas, dentro do prazo de três anos do primeiro provimento interino das cátedras criadas era inadmissível. Afinal, a praxe vivida desde os velhos tempos do Liceu Alagoano era em geral "as longas interinidadu d esprra df alguma lei que as acobe11asse" (M,-\CED0,1988). Como, porém, para relator do projeto em tramitação, feiro segundo os moldes exatos da minuta, fora nomeado um Deputado alagoano que já \·inha advogando a causa da federalização da Faculdade de .Medicina, facilmente se fizeram as alterações. A Faculdade de Filosofia entrou no lugar da de Farmácia, que foi eliminada (Art. 2·, alíneas e e f'), e a Faculdade de Odontologia de ~.f aceió seria fundida à de Alagoas após a criação (Art. 2", § 2"). Já as cadeiras previstas para a Faculdade de :;\'fedicina, em número de 22, passaram a ser 32 (.Artigo 8 '), sendo pre,1.sta a progressiva redução para 18 à medida que fossem Yagando (.-\rt. 8º. Parágrafo único). E, c1uamo à obrigatoriedade dos concursos, a solução seria ainda mais fácil - simplesmente eliminou-se o artigo. Assim, com o número 2.391-61, o substitutivo, uma vez aprovado sem qualquer alteração pela Comissão de Educação e Cultura, prosseguiria sua marcha rumo à aproYaçào definitiva. Através de múltiplos acordos, o projeto terminou sendo aprovado no prazo recorde de apenas três meses e catorze dias.

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Das articulações políticas feitas para que tudo corresse a contento, só um parlamentar alagoano ficou de fora mas, pelos interesses enyoh·idos, runguém deixou de se comprometer de algum modo com o projeto. Vários fatores iriam contribuir para que isso acontecesse. Como um empreendimento daquela nanireza interessava sobretudo às camadas médias da sociedade alagoana pela amplitude de seu alcance nos mais diversos campos, louco seria o político que não se comprometesse com sua aproYação. Ainda mais que a pressão social e política sobre cada um deles vinha até do interior, como pode ser comprovado por telegramas de Câmaras 1víunicipais cujo envio a imprensa registra.'>!/ Para completar, 1960 tinha sido um ano eleitoral, com rodos os compromissos daí decorrentes. Finalmente, havia a presença do Dr. Simões junto a todos, como porta-voz dos interesses das escolas e seus professores. Na qualidade de "embt1ixador ple11ipotencitirio': como veio a se autodenominar, só ao Senador Silvestre Péricles de Góis ?v1omeiro não haYia ele recorrido. Essa união dos representantes das cfü·ersas facções alagoanas em torno de uma causa comum parecia tão incrível que a imprensa, ao noticiar a criação da Universidade, via-se obrigada a destacar que "os nosso.r parlamentares ro111 assento nas casas legislativas fadc>mis estit•eram, pela primeira vez na histórir1 polftira de Alagoas, 11nidos em torno dessa ,grandf causa". 10

c1

Instirucionalizada a UFAL e transcorridos os dez primeiros anos de sua implantação, a década de -o representará para ...\lagoas mais uma oporrunidadc de modernização no bojo do projcco do Governo autoritário, então no poder. A industrialização do Estado que não se efetivara nas décadas passadas voltaria a ter destaque nos discursos oficiais. Seus efeitos, contudo, mais uma vez praticamente só se verificariam na agro-indústria sucro-alcooleira. O emprego intensivo de novas tecnologias no campo e a ocupação maciça, pela cana, de terras de tabuleiros antes utilizadas por sitiantes para a cultura de subsistência aumenta.ria consideravelmente a produti,idade da agro-indústria cana\ieira. Seu preço, porém, seria a expulsão destes para as periferias das cidades aumentando a pauperização com que vivem ainda hoje em meio ao caos urbano produzido pela favelização crescente que, des<le então, se verifica em ?vfaceió. i\ implantação de novas usinas e destila1ias e a modernização das já existentes para attn<ler ao Pró-.Akool

' Cf. j rm1al dr A/11,~'··'s, 12J•1.6L

l(IU Cf.Jornal dr_~1lt1..f/l(.'J. 1~.U1.61.

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;1mpliaria a produção do Estado, ao tempo em que aumentaria ainda ma.is o poderio econômico, político e social dos usineiros e grandes plantadores de cana. Tudo isso C1correria evidentemente através dos incentivos fiscais e de outros meios poscos à disposição dos produtores para o desenvolvimento do Estado. A perspectiva de transformação econômica através do Polo Cloro-A.lcool-Químico, que seria implantado em conjugação com a ampliação da produção do álcool, permaneceria praticamente restrita à indústria geradora de suas matér.ias primas, ao custo de se ter, à beira mar, em plena :Maceió, uma indústria de cloro e soda cáustica, de alássimo potencial de poluição do meio ambiente.

No setor educacional, tanto a rede pública de ensino básico quanto a própria LiFAL irão sofrer os efeitos do projeto militar. Enquanto a Universidade vai procurar seguir os ditames das reformas propostas para sua adaptação ao novo modelo econômico e social trazido pelo golpe de 1964, o ensino básico se ampliará sob a égide da LDB decretada em 1971, em meio a muita improvisação, abrindo espaço para um empreguismo desenfreado e para o uso do setor com fins eleitoreiros, configurando uma situação sem precedentes na história alagoana, cujos efeitos perniciosos àquela altura sequer dava para imaginar.

Neste ponto julgo ser desnecessário prosseguir com a prospecção da história alagoana na minúcia com que a vim até aqui recapitulando, sobretudo porque anteriormente, em busca da racionalidade gue orientou a evolução da Educação em .A.lagoas, já tivemos oportunidade de apreciar a significação do que alguns historiadores mais recentes como Sant'.r\na (1970), Altavila (1988) e Tenório (1994) têm apresentado como exemplos de modernizarão de Alagoas. Diferentemente deste, sobretudo, foi possível assinalar que o projeto de introdução de .Alagoas na modtmidade para o qual ha,·ia acenado Arnon de Mello no início da década de 50. resultaria naquilo que pudemos constatar na década seguinte - melhoria significativa da oferta de bens e serviços, sem que contudo se descartassem os modos de vida tidos como a11:aícos e u!trapa.rsado.r, no dia-a-dia da sociedade, tanto quanto do ensino superior e depois da Universidade que aguela sociedade iria criar.

Já a modernização autoritária, empreendida sobretudo na década de 70, na verdade, só de modo aparentemente paradoxal significou a ampliação em grau ainda maior do poder e do prestígio das mesmas oligarquias que, ao longo da história alagoana,

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comandaram a Yida política, sociocconômica e cultural do Estado. Seu efeito mais moderno, no final dessa década e na seguinte, se revelaria através do fenômeno Collor de Mello, cuja atuação finalmente trouxe ao conhecimenro de todo o Brasil o tradicional e ainda dominante estilo ala.~onno de fazer política, permitindo ao país sobrerudo experimentar seus efeitos. No campo da Educação, os resultados dessa modernização podem ser exemplarmente aferidos pela produtividade da UFAL. medida pelos organismos oficiais responsáveis pelo setor.

~asAlagoas, pc.:lo que pudemos avafür, as permanências tém sido sempre muito mais significati\·as e marcantes do yue as rupturas, e é sobre esse pano de fundo que devemos avaliar a questão da modernidade e os processos de modtrniznção que ali têm lugar, dentre os quais tomam especial releYo as políticas no campo da Educação. J\.fesmo a urbanização, com o crescimento por que passou sobretudo Maceió nas últimas décadas, não teve, como ,·imos, as características modernizantes de outras metrópoles brasileiras. Pelo contrário, ele se deu, antes de mais nada, graças ao crescimento de uma classe média constituída ainda sobretudo por senhores de terra e seus descendentes.

Saídos de seus engenhos em crise e ti·a7.endo consigo "mentalidade, preconceito.~ teor de t•ida com atrih11tos de sua p1imiti1•a condição" (l IOL\J~D;\,1991 , p. so), eles Yão se juntar aos funcionários e comerciantes já tradicionais na cidade. Por sua própria origem, esses nO\'OS contingentes dos extratos médios, tal qual os velhos homens de negócio, irão aceitar ou, antes, continuar copiando o modo de \'ida dos antigos senhores, ávidos por participar de seus privilégios e prerrogativas.

Na verdade, com relação à natureza dessa burguesia já instalada em !vlaceió, cuja denominação mesma parece imprópria, e até com relação às camadas populares, parece valer o que diz Sérgio Buarque de Holanda sobre uma História de outro r.empo:

Cofl!o 1mJ1 jemprt.fosse t'edado a netos de mecâniros alçarem-se à sit11acâo de nobres de linbn,gt:111 e mistmmwNe a ele.r. todos aspirat'anJ à ro11diâio de fidnlgo.r. O rwtltado.foi q11e os ratortS soriai.r e espirituais tmdicionalmmle t'Ínc11/ados a esst1 rondiçiio, também

.re tornara111 apanágio da burguf.fia em asamsào (HOl.ANDA,1991. p. 78).

Assim, uma 'ez na cidade, esses homens vindos dos engenhos irão ocupar e pensar em preparar seus filhos para ocupar nm os postos, sobrerudo nas profissões liberais, na política, no serviço público: nesse contexto, "m q11alidadrs do espírito s1tbstitmm)

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111ir1 raro, os títulos ho11oriftcos, e alg1ms dos seus dutinlivo.r materiais, como o anel de grau e t1 ct1rla dt hachan>f podm1 equivaler a autênticos brasões de 11obreza"(J-IOL>\~D1\, J 991, P- 51) e, como tais, i;alvo-condutos para o emprego e o sucesso.

Com o comércio e a indústria pouco significati,·os até hoje, esses setores, que em centros maiores eram também uma boa opção para as camadas médias, aqui vão ter pouco peso, até porque o tradicionalismo reinante fará com que se vejam como subalternos e, portanto, de pouco prestígio os empregos nessas áreas, marcados pela forte carga negativa associada ao trabalho manual, numa realidade onde a presença do escravo era tão próxima e constante. Na verdade, o setor público é que chegará até os dias de hoje como o grande empregador.

Segundo Queiroz (1979), a rigor, esse tipo de desenvolvimento, com uma industrialização incipiente, não pode ser considerado como produror de uma verdadeira modernização ou urbanização das formas de organização da vida social e das mentalidades, na medida em que estas se ligam à racionalização económica e ao capitalismo industrial. Diz ela, referindo-se ao país como um todo:

A do111i11ação de todo o crnário brasileiro pela agricultum jazia tom que contin11assem, como tipo.r de n:lacôes entre os homen.r, em todos os stlores, ora o pahiarca~ ora o pr1triv1011iaf (usando a tertninologia de Max Wf'bei~, o primeiro pela import!mcia d1;.da a orga111Zf1Cào familiar r à tradicào, o segundo pr la imp(ll1Ónc1a q11e tinham os brns dr fortuna e r1 grand1· propril'dade 1mobiliri1ia - a 111ais jJodtwosa alavanca, j1111tamt:11tl' com a política, para elevar o i11didduo na c.rca/11 social brasileira. de.rde remotos tmlj>os

coloniaís (Qt:EIROZ, 1979, p. 87).

Para Alagoas isso que se diz sobre um chamado Brasil arcaico ainda se aplica integralmente até hoje. O que ocorreu no Estado, no bojo desse crescimento urbano verificado a partir da década de 20, foj de fato o surgimento do que Holanda (1991)

chama de uma ·'burguesia por improvisação quase forçada", tendo as a ti rudes do patriciado rural como norma de conduta. Com gente rural cada vez mais assumindo as novas atividades que a modfrnidade pas~ou a criar, ti\-emos consolidada a ''posição s11prema de mta.r qualidades de imaginação I' 'inteligência'. em prgrdzo das manifestações do espírito prático e

po.ritivo"(IIOLANDA, 1991, P· 50).

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Na realidade, é com relação ao panorama intelectual, e no plano das mentalidad nas Alagoas, que o que disse Holanda sobre as décadas de 20 e 30 para o país como u todo ali parece ter permanecido YiYo, mesmo depois de transcorridas tantas décadas. A predominância, como forma paradigmática e consagrada de expressão cultural, do texto cnsaísrjco de natureza política, seguido da produção poética e retórica, resistiu aos últimos surtos de modernização, conseguindo chegar ar.é os tempos atuais como um modelo aparentemente inquebrantávcl de produção intelectual local, caracterizada por "um amor prommciatÍfl pelas formos fixas e pelos leis genériras, q11e circu11screl'em a realidotk complexa e difícil dentro do âmbito do.r noHos des~jos" (HOL\~DA,1991, p. 117).

Com um saber produzido por intelectuais ainda oriundos da casa-grande ou presos aos seus valores, o que vamos ter serão "consh7tfões da intdigénria que. representam repouso para a imaginação, ro111pardl'el à exig[ncia da regtrlaridadr a qur o compasso mt.,(Jical convida o c01po do da11çari110", num apego a "tudo q11a11to di.rpm.re qualqur:r trabalho mental at11rado e f11tigante" e num ''hon-or ao vogo, ao hesitante, ao fluido, que obrigam à rolaboroçào, ao esfarç6 e, por conseg11inte, a reria dependfncia e mesmo abdiraçiió da personalidade"(HOLA,}\,D:\, 1991. p. 11 i). Assim, sem o contrapomo do "npírito prátiro e posítívo" aquela velha atitude da intelectualidade local teve terreno fértil para continuar a se expandir pois, por essa mentalidade dominante, trabalho mental "niio sig12ificaforrosa111ente amor ao pensat11enlo esperulatit•o ( .. )mas amor à frase sonora, ao rerho tspontá11eo e ah1111dante, à erudição oslenlosa, à expressão rara", conformando uma situação em que "intelzge'11áa há de ser ornamento e prmda, não in.rln11m11to de co11hecitJJe11/o e de ar ão" (HOL-\1\DJ\, l 991, p . .50-5 t) como já acontecia na Academia de Comércio no início do século e parece continuar acontecendo em muitos círculos ainda hoje, refletindo-se sobre o que é produzido em mwtas áreas até me~mo na Universidade.

Esses valores se apoiam no gue há de mais anti-hm~~ués que é a "incaparidadt de jàzerprevalerer q11alq11er forma de ordenação impessoal f 111ecânica sobre as relocões de caráter orgânico e COl!ltt11a/, ro1110 as que se fundam no parente.rco, na vizinhança e na ami'"ade" (HOLA:--JDA, 1991. p.

99), e cujo~ resultados, como Yimos, a história alagoana se encarrega de explicitar. f\ outra face da moeda , nessa mentalidade, é uma aversão a tudo o gue possa signifiG1r sujeição da personalidade, Yalor supremo gue foi plasmado no ambiente: familiar, e que, inclusiYe, determina urna ânsia incontida por se::gurança e estabilidade com um mínimo de esforço pessoal e aplicação. Segundo Holanda, isso faz com gue só raramente haja uma aplicação de corpo e alma a um objeto exterior, constituindo-se assim personalidades

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notoriamente avessas às atividades monótonas e morosas e tendentes à exaltação da stngularidade individual como valor próprio, cuja síntese exemplar é o bacharelismú. E i;crá esse modelo de intelectualidade que seguirá amalgamando os anseios dos nossos .rábios da Pr·ovíncia aré os nossos dias, com as exceções, raríssimas por sinal, indo na maioria das vezes buscar espaço para expressão em ou eras paragens.

Enquanto isso, em meio ao tradicionalismo, pontificando, ficarão os medalhões, alimentados, segundo Da Matta (1979) , pelos valores de um mundo social dorninado pelo convencionalismo, pela ortodoxia das teorias e doutrinas e pelo conformismo, que impedem as soluções originais e profundas, num sistema que coloca tudo cm seus devidos lugares, estabelecendo hierarquias sobretudo entre iguais.

Este é o ethús profundo da sociedade alagoana, que só uma análise de longa duração de sua história nos permitiria decifrar e cuja expressão parece se manter, com toda força, na .Educação que ainda hoje se pratica em Alagoas em todos os níveis.

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COMO SE FORA UM EPÍLOGO - A PROPÓSITO DE DOIS FATOS MARCANTES DA ATUALIDADE

As vésperas de completarmos 200 anos de existência de J\lagoas como uni.dade político-administrativa autônoma, e passados quase 20 anos da escrita do texto "C11!tura e Educação nrtsA!ogoas: história, histórias", pareceu-me necessária a reflexão que aqui segue, até porque a leitura da sociedade alagoana feita pelo livro foi até a década de 1970.

Sendo esta a Sª edição e restando uma série de questões a mim dirigidas sobre a releitura que fiz da realidade histórica e socioeducativa das Alagoas, cabem, segundo entendo, à guisa de esclarecimento, as respostas dadas ao .Jornalista Odilon Rios para uma cntrevisb sobre a efeméride alagoana acima referida que, por questão de espaço, não foi publicada na íntegra. Essas questões são uma síntese completa das perguntas e questionamentos que venho recebendo ao longo dessas duas últimas décadas.

Espero que, com os esclarecimentos aqui f citos, fiquem evidentes algum~s posições minhas expressas em "C11/t11ra e Ed11cação nas Alagoas", bem como leituras que tenho feito nestes últimos 20 anos à luz do texto e das respostas que a realidade, quando por mim indagada, tem me mostrado: aqui as permanências são mais constantes que as mudanças, fazendo com que 1\lagoas, espelhando a síntese mais perfeita que jamais ouvi, seja, como nos ensina o mestre Dirceu Lindoso, "o que st a1J10 e dó?'.

Vamos, pois, à entrevista, com meus agmdecimemos ao Odilon pela oportunidade de prestar os esclarecimentos que sempre pensei indispensáveis e cuja oportunidade agora se apresenta.

Odilon Rios - Ao falar de educação cm Alagoas, o senhor disse gue o quadro hoje infelizmente ainda é de esperança e gostaria que fosse uma certeza. Não é um exagero?

Elcio Verçosa - Infelizmente, não. Os dados publicados a cada ano pelo INEP /?vlEC nos colocam em último ou, na melhor das hipóteses, em penúltimo lugar, quando se trata do rendimento da educação escolar. E aqui é bom ressaltar que o fenômeno não diz respeito apenas à educação pública, como se cosrumou considerar. O ENEM. tal

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como as ~rrnliaçôes <lo ENSI~ O FU>:DAMENTi\L cm todas as suas etapas (Provinha Brasil, Prova Brasil, etc ... ), têm mostrado que nossa ESCOLA PARTICULAR também tem deixado muito a desejar. Sob esse aspecto, o Piauí, por exemplo, rcm ficado em nossa dianteira quando se comparam resultados de avaliações feiras pelo poder público. E stando hoje aposentado da educação básica, faço questão de continuar sendo um observador do seu desenrolar, justamente para preserYar a minha fé na possibilidade de que tenhamos urna educação escolar mais produtiva num futuro bem próximo. Isro faço para prosseguir, como se autodenomina Boaventura de Sousa Santos, sendo um "otimista trá._~ico", um verdadeiro r\braão bíblico que espera contra roda a aparente possibilidade de esperança. Desgraçadamente, tc:nho de confirmar o que já disse várias vezes: nosso quadro de escolarização em todos os níveis e modalidades da Educação Básica, é de:: calamidade pública. Os jovens e adultos carentes das capacidades da leitura, da escrita e do cálculo são hoje, em .Alagoas, não mais os que não tiveram acesso à escola no chamado tempo adeguado; na sua esmagadora maioria são alagoanos e alagoanas que já freguentaram a escola e tiveram frustrado seu intento de dominar a cultura letrada, que é patrimônio de todos e não apenas de um grupo selecionado. A Educação de jovens e Adultos, no nívd elementar, que deveria ser algo com data marcada para acabar, porgue todos seriam escolarizados no tempo certo, aqui não decresce - muiro pelo contrário, quando consideramos os analfabetos em números absolutos, ou seja, considerando não o percentual, mas que cada número é uma vida ... Não é dura tal constatação de um fracasso crescente no campo da escolarização?! Isso nos mostra que, num certo sentido, o problema educacional é hoje ainda mais gra\·e do que antes: após a limitação do acesso das maiorias por séculos, segue-se hoje a demanda por wna democracizaç~o do domínio de saberes que, quando não atendida, mata o desejo e a esperança de te.r para si e para seus filhos aquilo que as pessoas das camadas populares sabem muito bem ser a chave mestra para uma vida digna e larga nesses tempos em gue vivemos, grafófilo e grafólatra em todas as suas dimensões ...

Odilon Rios - Em seu livro "Cultura e Educação nas Alagoas: 11istória, his tórias", o senhor faz um passeio pelas falas prm-inciais, logo depois gue A.lagoas se emancipou de Pernambuco.1\elas é possível notar que o modelo de educação nriava entre tentativas e erros. Educar era o grande objetivo/meta dos gestores nesta época?

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Elcio Verçosa - Numa leitura menos atenta das mensagens dos mandatários máximos e.lo Executivo i\lagoano, tem-se frequentemente a tentação de pensar que, desde suas origens, aqui a educação escolar, ao menos após a Emancipação de .Alagoas da Capitania de Pernambuco, foi sempre uma prioridade. Se a leitura dos discursos oficiais for feita, então, sem contemplar uma série histórica, somos levados a concluir que a prioridade dada à escolarização era absoluta, acé porque em muitos exercícios fiscais se gastava mais de 20 a 25% dos impostos estaduais ou se lançava mão de reformas como se aí residisse a chave do sucesso. Olhando-se, porém, o que cada Presidente/GO\·ernador diz oficialmente de seu antecessor, ou até mesmo de seu próprio mandaro anterior, quando, na República Velha, temos repetição de mandatos, vemos que há Governadores que falam mal até da própria política que executaram ... As minhas pesquisas e de orientandas minhas mostraram ad 11a11seam que a escolarização do povo alagoano em todo o Século XIX e nas quatro primeiras décadas do Século X..-X foi, predominantemente, de natureza privada. Prédios escolares feitos especialmente para tal fim são praticamente realizações dos anos de 1930 para frente. Antes, o que existiu foi para confirmar a regra. Um texto célebre de Graciliano Ramos no início dos anos de 1930, por exemplo, quando ele foi Diretor da Instrução Pública, mostra a indigência da chamada Escola Primária das nossas crianças naguele tempo ... Tirando-se o Liceu Alagoano, o Instituto de Educação e uma tentativa em Penedo, que depois feneceu, a educação escolar pública do Império e da República dos Coronéis era uma atividade exercida em casas particulares, com professores, na sua maioria, carentes de saber e de condições pessoais e materiais para superar o isolamento e a penúria em que as elites mergulhavam o povo - este, até uma cena altura de nossa história, composto por escravos, seus descendentes lançados à penúria pelas políticas "abolicionistas" ou trabalhadores rurais ligados às casas grandes como se fossem servos da gleba de um mundo quase medieval, dei.xado para trás pela maioria dos povos europeus há pelo menos três séculos ... A Igreja Católica, do alto de seu conservadorismo, mesmo depois da Proclamação da República, guando foi separada do Estado, era a grande mentora de um saber retrógrado, por meio dos vigários que frequentemente eram feitos inspetores escolares e, assim, governavam o currículo e a conduta das professoras ... Uma chamada ''moral ilibada" valia mais naqueles tempos do que mil diplomas e aprender a rezar era mais importante do que qualquer lição de ciências ou matemática ...

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Odilon Rios - Hoie. u lnep mostra gue as melhores escolas, na avaliação do Enem. são as particulares. As piores são as públicas. Educação é só uma questão que envolve dinheiro e status?

Elcio Verçosa - Seguindo o raciocínio que descnvoh·i anteriormente, tah·cz fosse mais correto dizer gue, em Alagoas, as escolas particulares de nível básico são, em média, menos ruins .. É isso pelo menos o que eu depreendo dos dados do INEP olhados em escala regional e nacional. Veja, dentre as escolas privadas do Nordeste, quantas estão entre as primeiras 500 no ENEJ\1 ou na Prova Brasil? Por mais que eu desconfie da capacidade de testes de avaliar rodas as potencialidades humanas que cabe a uma escola desenvolver em crianças e adolescentes, infeli;~mente, não posso deixar de reconhecer que, em termos de escolarização as nossas escolas públicas estaduais e municipais vêm de faro deixando muito a desejar. !\las, quando falamos das escolas públicas federais a coisa parece mudar de figura, não é mesmo? Aqui, elas ultrapassam as escolas particulares. Os Institutos Federais, por exemplo, figuram sempre no pelotão de freme das melhores escolas de Alagoas e de todo o Brasil. Por guê?! Com certeza, pela escala de atendimento, mas não somente: ali encontramos polícicas de cargos e salários, que são iguais às das UniYersjdades Federais, a par do modo como o GoYerno Federal financia as escolas de sua rede, superando até as escolas priYadas cm todos os sentidos. A forma descuidada e sovina como o Estado de Alagoas e a esmagadora maioria de seus Governos ~í unicipais têm trata<lo os prédios escolares, os docentes, os servidores, o modo como usam o setor educacional como moeda deitoreira somente pode resultar no rendimemo que a maioria de nossas crianças e nossos jovens podem, no fim, apresentar em termos de escolarização. O gue é que tem sido feito para atrair os melhores talentos para o magistério estadual ou municipal? Um piso salarial de menos de dois mínimos que, assim mesmo, é rejeitado por muitos geswres? Era fácil exigir dos professores compromisso vocacional guando o magistério era formado por um pegueno número de senhoritas e senhoras oriundas de familias que \' Íam no ato de ensinar, simplesmente, uma extens~o da maternidade, jontamcme com um modo de se ate:nder modestamente às necessidades pessoais das professoras! Hoje, ser professor/a é uma profissão com tudo o que essa exige, inclusiYe remuneração digna e possibilidade de ascensão numa carreira que Yem deixando até de ser honroso exercê-la! Nesse quesito, inclusive, as escolas particulares

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deixam mais a desejar gue as públicas. 'ão têm plano de carreira e remuneram abaixo do desejável seus docentes, com pouquíssimas exceções. Que o diga o SINPROAL. Se quer que eu fale, vou falar: a escola particular somente tem a produtividade que, às vezes, apresenta porque os pais, a par de um horário em que seus filhos ficam nela, custeiam outro turno, com professores de línguas, de reforço, com esportes, dança -ou seja, uma escolarização de tempo integral que, ao menos para o povão, é ainda uma promessa dos poderes públicos cm }...lagoas.

Odilon Rios - Professores é quem gerenciam, nas secretarias de educação, programas que deveriam melhorar os índices negarjvos da educação em .Alagoas. Por que os resultados deste modelo são inexpressivos ou não retiram o Estado dos piores lugares no país?

Elcio Verçosa - lnfefo~mente, vou ter que revelar o que em .Alagoas é um segredo de Polichinelo: aqui quem de fato governa a Educação Escolar raramente é professor/a. Observe os cargos comissionados das Prefeituras, examine, numa série histórica, os currículos dos Secretários - inclusive do Estado -, que dá para perceber que os verdadeiros mandatários, na grande maioria das vezes, costumam ser tudo, menos educadores. E quando o são, estão quase sempre submetidos a chefes de executivos que chegam ao cúmulo de sequestrar até os recursos do PDDE gue, como diz a sigla, significa PROGRAlvfA DINHEIRO DIRETO NA ESCOLA (o grifo é meu). Numa terra em que, dentre os entes federados que recebem acompanhamento externo do uso do recurso público federal, poucos escapam incólumes de reprovação, como acreditar que apenas bons planos - que é o que fazem educadores competentes - podem resultar em uma escola de qualidade? Se não é incomum se ver subtraídos recursos da alimentação de guem vive em insegurança alimentar, o que dizer dos recursos próprios, cuja auditagem nem sempre é feita visando aos interesses públicos? Você sabe quanto clinheiro federal destinado à realização de bons projetos para a educação é devolvido rodo ano por falta de que o Estado ou os Murucípios coloquem o pouquinho que lhes cabe para que as políticas aconteçam? Ah, se a educação fosse mister afeto apenas a educadores responsáveis e competentes como tantos/ as gue se encontram em nossas redes públjcas ... A história seria bem diferente!

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Odilon Rios - Alagoas é o terceiro Estado mais pobre do Brasil e o mais Y1olento, Maceió, diz o IBGE, tem o 41° melhor PIB do Brasil e é o quinto lugar que mais mata no mundo. Há relação entre' ioléncía e índices educacionais ruins?

Elcio Verçosa - r\ correlação é total. Maceió detém hoje mais da metade do PIB alagoano. Juntamente com Arapiraca vai parn quase dois terços, ficando, apenas, cerca de 35% para dividir entre os 100 municípios restantes. Isso expressa uma si mação diametralmente oposta à de São Paulo, por exemplo. Num quadro tão perverso de concentração de renda, mesmo que qualquer gestor público municipal que não fosse dessas cidades, quisesse desenYolver uma política própria que ti\·esse a escola como um dos instrumentos de combate à violência, que aqui está concentrada sobre os jovens pobres, nc:gros e subesco.larizados, dific.ilmente conseguiria de forma autônoma. Nem mesmo Maceió e Arapiraca seriam capazes, muito embora, Arapiraca tenha já mostrado que algumas coisas nm·as e produtiYas podem ser feitas n o campo educacional. Em última instância, dá para se perceber que, se a maior dificuldade para se ter uma educação para a pa'.l é a caréncia de recursos firnmceiros, a presença abundante desres sem uma postura repubfü:ana dos gestores, no sentido de privilegiar os interesses públicos sobre seus próprios interesses, pode piorar a situação, já que a corrupção é fator preponderante para a deslegitimação dos governantes, a par do consumo conspícuo de uma ínfima parcela da população que coloca os poucos ma1s ncos freme à esmagadora maioria dos excluídos até do saber, que é herança de todos. O povo não é bobo e \·em percebendo cada vez com maior clareza os meandros deste jogo em que se impõe cada vez mais o "salve-se guem puder", o gue dá origem a uma parcela social emergente que sonha em ficar no andar de cima, nem que, para isso, tenha até que ter nostalgia de uma ditadura que nunca viveu. Com isso, quero dizer o que nossos grandes pedagogos sempre afirmaram: se sem educação é impossh·el ir-se a qualquer canto ou se ter uma sociedade menos injusta, rnmente com educação escolar não se tem a panaceia universal para todos os males, inclusive a violência que hoje nos sufoca.

O dilon Rios - O senhor disse, ao defender uma escola em tempo integral e republicana, que o ambiente escolar deve ser rico, prazeroso, que atraia a criança, com professores felizes. O senhor disse também que Yencidos não podem formar ' 'encedores. Alagoas \·irou uma terra de ,·encidos?

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Elcio Verçosa - Sim, Alagoas é uma terra em que a esmagadora maioria de seus ''lventes são vencidos e humilhados pelo gue Gilberto Freyre chamava de "a Casa Grande". Infelizmente, isso não aflorou ainda à consciéncia de muitos, mas seus efeitos fazem­se presentes e são arrasadores na violencia, por exemplo. Na educação, temos o saldo do que Graciliano Ramos chamava uma escola "pobre e melancólica", com santos pendurados nas paredes e rituais de submissão contra os quais as nossas crianças e os nossos jovens se rebelam cada vez mais. E ali estão os/ as professores/ as, que recebem o ónus de serem os responsáveis pelo fracasso escolar, até pela falta de educação chamada de doméstica dos que lhes são confiados, ganhando migalhas e carecendo, em muitos casos, de uma consciência para si. Uma vez vencido, em bom número submetidos à síndrome de "BURN OUT", que é a doença profissional que destroça o entusiasmo de tantos educadores, como ter elã para formar vencedores? Como esperar que vencidos formem vencedores? Que humilhados formem seres alàvos e sujeitos de direitos?

Odilon Rios - Onde o senhor identifica, na nossa história, que o modelo pensado e imaginado para Alagoas pelos s<::us gestores começou a falhar?

Elcio Verçosa - Identifico na mesma fome apontada por Raymundo Faoro em seu insuperável trabalho chamado "Os donos do poder": refiro-me ao que, no projeto colonizador que foi plasmado para a sociedade brasileira, Faoro classifica, com base cm Max \Veber, de "patrimonialismo". Trata-se de um modo de se confundir o público com o privado, que herdamos da alma ibérica e que ainda sobrevive esparramado por todo este imenso Brasil. No caso de Alagoas - e aqui a tese é minha - esse "patrimonialismo» permanece como modo de ser e agir que estrutura a vida social e faz com que o "você sabe com quem está falando?" seja a regra e não a exceção. Numa terra em que o poder tem dono, em que se toma posse do cargo público, em que um prefeito, por exemplo, impede que um estudante utilize o transporte do município porque é da oposição ou apenas critica sua administração, num contexto desse, relações republicanas de liberdade e igualdade jamais poderão funcionar de forma adequada. Sei que a Escandinávia não é um mundo perfeito, mas tenho certeza de que o tanto que eles alcançaram no campo político e social resulta da crença inabalável que têm de que um juiz não é Deus, um deputado é apenas seu representante e de que um chefe de executivo é uma contingência

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do momento político, tão passageiro quanto agueles gue o seguem e lhe dão sustentaçâ<\ Pora disso, é o que vemos: a permanéncia da casa-grande querendo continuar a dominar o que considera sua senzala, representando qualquer resistência a isso a expressão da revolta e da frustração de quem ainda não se fez dono do poder. Nesse caldo de cultura, o que pode dar certo? Para mim, o risco é sempre de os emergentes desejarem desesperadamente ser senhores ...

Odilon Rios - Quando o se.nhor percebeu que a Alagoas heroica comemorada nos desfiles cívicos não existiu?

Elcio Verçosa - Eu desconfiava disso desde meu curso ginasial... Não sei se foi porque fui educado por holandeses, vendo a invasão batava de forma diferente dos livros oficiais, não sei se porgue, sendo portocalvense, nunca aceitei Calabar como traidor, precisando, para tanto, ir a fundo na história da colonização ... Somente sei que a minha sensibilidade social, somada a uma le.i tura de autores críticos da história e da política fizeram aflorar em mim um hábito de sempre perscrutar os mitos, fosse ele Pedro I, Pedro II, Sinimbu ou Deodoro da Fonseca. Penso que foi aí que surgiu a semente do historiador crítico gue me considero. Depois vjeram Max \:Çeber, Karl }'vfarx e hoje continuo, ainda, com mais perguntas do gue respostas. :\ão desconheço o que dizem antropólogos como Lévi-Strauss e Campbell sobre o sentido dos mitos para a vida humana, por isso mesmo entendo como eles se engendram, sobretudo agueles produzidos e alimentados pela nossa elite ou pelos que se pôem a seu serviço. É justamente porque os mfros vivem em nós gue gostaria de que nosso povo pudesse se postar criticamente diante deles, vi,·endo aqueles que lhes são favoráveis e que, com certeza, não são os exibidos por nossas elites. Nem mesmo o Palmares do modo como nos colocam como exemplo convém à maioria ...

Odilon Rios - A história diz que Alagoas começou a partir de uma traição, em 1817. De certa forma, a gente carrega a ideia de que seria melhor não termos expulsado os holandeses ou que o nosso território virasse um golfo, como sugeriu Graciliano Ramos. Alagoas seria melhor sendo pernambucana, gerida pelos holandeses ou um golfo?

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Elcio Verçosa - Se. <le um lado. sei que o indianismo romântico descolado da realidade jamais me permitiria gozar das maravilhas da ciência e da tecnologrn do mundo contemporâneo, de outro lado, entendo que qualquer forma de colonialismo sempre trouxe consigo uma carga predatória que submete e descaracteriza o colonizado. ~esse sentido, nem mesmo os holandeses são um modelo quando analisamos a Indonésia por eles colonizada. Quanto ao Golfo de que falava Graciliano, acredito ser essa solução apocalíptica justificável no seu caso, pelo tanto que Alagoas o sacaneou, a par de seu espírito cáustico e tendente a soluções extremas. Varrer-nos do mapa definitivamente não é a solução! Não sei se, sendo Pernambuco, teríamos aquele orgulho nativista que faz os pernambucanos orgulhosos de sua terra, enquanto ,·ivem o miro de Guararapes em todos os momentos de sua existência. O desejável é que, conscientes do que nos macula e nos aflige, trabalhemos para sermos uma sociedade liberta do latifúndio, com políticos embebidos pelo interesse público e uma justiça que seja guardiã desses nlores da cidadania, modernizada na sua economia e povoada por gente que sinta orgulho de ser livre e insubmissa, como se orgulha de ser amável e hospitaleira ... De outro modo, padeceremos do que Nelson Rodrigues chamava de "complexo de; ,;ra-lata", querendo

ser o que não somos ou poderemos ser ...

Odilon Rios - Quem é ou o que é a elite alagoana? O que ela quer?

Elcio Verçosa - /\ elite alagoana tem, como já sugeri, o modelo da Casa Grande e da Senzala, cunhado por Gilberto Freyre, como referência social, política e econômica, camuflada mas, tão vjva hoje quanto antes. Não é por acaso gue, quando um alagoano com poder rompe esse paradigma e se conduz com simplicidade é cantado em \'erso e prosa, o que, convenhamos, é um prato cheio para o populismo. Infehzmente, esse modelo arcaico e incompatível com o capitalismo moderno é paradigma para muitos alagoanos e muitas alagoanas que têm alguma posição ou um certo prestígio. É aquele modelo do "você sabe com quem está falando?", de que falam Faoro e da Matta, que, infdizmentc, é assumido até por gucm não tem um pau para dar num gato, como se dizia nos tempos em que o politicamente incorreto podia ser engraçado. O modelo de que falei faz com que a elite se pense superior e, como tal, seja sempre acatada e jamais c1uestionada. Desta turma tem gente até que vincula ascensão social com mérito. Mas,

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para eles, a meritocracia é wn discurso de legitimação, representando quase sempre um estorvo qLle, quando necessário, precisa ser tirado do caminho. E não se pense que isso é apanágio do latifundiário, ou, por outra, até pode ser, quando se pensa o latifúndio de forma metafórica. Nesse sentido, até n:a Academia esse tipo de modelo se expressa com mais frequência do que imaginamos, devendo tudo se comportar de conformidade com os interesses de quem tem ou pensa ter o poder e, com ele, atender a seus interesses ...

Odilon Rios - Quem é ou o que é o povo alagoano?

Elcio Verçosa - O povo alagoano é a grande maioria dos viventes dessa terra, os quais lutam como podem para sobre\'"Íver às circunstâncias gue lbes são impostas. Para isso, infelizmente, tem, as mais das vezes que se fazer de tolo, concedendo para sobreviver, abrindo mão de sua altivez por não confiar nas autoridades, mas, cheio de força vital e de criatividade como condição de construir sua vida e a dos seus.

Odilon Rios - Segundo o IBG E, 40 mil crianças em ,.\lagoas passam fome enquanto ? 1'1inistério Público revela uma folha de marajás com salários três vezes maiores que um do ministro do STF na Assembleia Legislativa. Nós chegamos ao :hm da nossa história?

Elcio Verçosa - Primeiro que tudo, preciso dizer gue não entendo que a bistória jamais tenha fim. Se você fala do fim dessa história ignominiosa de privilégios consagrados em lei e de um discurso de cidadania CUJO conteúdo ma.is profundo é a democratização dos privilégios para uma exígua minoria, reafirmo-me como "esperançoso trágico", no sentido de gue o fim dessa bandalha será a afirmação dos direitos das maiorias e isso não se dará sem grandes refregas e até traumas indesejáveis. Em terra de marajás, ser gabiru da merenda escolar pode ser rotina! Afinal, privilégio é algo de que não se abre mão, seja em que nível for, mas gue precisa ser arrebatado, se necessário, à força, pa.ra que se possa falar em democracia para o povo abgoano. A menos que nossa elite seja diferente de todas as gue a História registra ...

Odilon Rios - Quem ganhou nos 200 anos de Alagoas? A sabedoria, a violência ou a história oficial?

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Elcio Verçosa - Das três, as duas últimas apresentam, infcfümenrc, um escore altíssimo de ,·iródas, até porque a historia oficial encobre a 'iolencia ou a revela no c;entido Jado por Caroaci, como apanágio dos pobres e oprimidos. J\ sabedoria, no sentido da capacidade de encontrar um modo de sobreviver, também tem marcado tentos, mas, de um jeito que eu pessoalmente não gostaria que fosse, já que é, frequentemente, pela submissão ou pela estratégia de mascaramento do que se encontra no âmago da sua ação, como fez, por exemplo, o povo do candomblé. Precisamos trabalhar para que essa sabedoria saia do campo do folclore e emre para a cultura de todo dia, sobretudo no campo <la política e da convivência entre iguais em dignidade e liberdade, sendo aqui, também, as religiões de matriz afro, um exemplo a ser seguido nos dias de hoje.

Odilon Rios - Quando será o nosso "fim da história" alagoano?

Ekio Verçosa - Como já disse, ele - o fim da história - jamais ocorrerá. Na verdade, nossa história terá que a,·ançar num processo de transformação permanente, cujo alvo seja a justiça, a única via para a igualdade e para a paz. Quando falo cm jusàça, não estou me referindo ao direito positivado e ao aparato que hoje o opera, já que estes frequentemente tendem a se afastar do que é efetivamente justo, contentando-se com o que é juridicamente perfeito. De outro modo, a permanecer como estamos, ela - a história - registrará o aprofundamento do caos, numa luta fratricida em que prevalecerá a lei do mais forte, a menos que as forças progressistas assumam o papel yue lhes cabe. Caso voltemos à barbárie, ctitada pela falta de legitimidade das autoridades, numa regressão cujo ponto de retomada é impre,·isívcl, já que somente podemos projetar a história como tendência, somente o tempo pode dizer o que d.rá a ser essa terra que tanto amamos. Como sou otimista, ainda que trágico. que pre,·aleça a justiça ...

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